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Ave maria… Virgo serena foi o moteto mais famoso de Josquin, mas não apenas isso.
Ele também serviu de exemplo para uma vasta geração de músicos, exemplo do
trabalho de Josquin, suas características, estilo e capacidades. E esses músicos,
influenciados fortemente pela arte cativante de Josquin, elevaram esta obra a um
nível extremo, transformando ela em algo atemporal, uma peça perfeita que
deveria ser seguida, o apogeu da música - um clássico.

E esse clássico começa então a ganhar grande espaço no mundo musical, não
apenas durante a época de Josquin, mas até mesmo após sua morte. Petrucci
escolhe Ave Maria… Virgo serena para ser a primeira obra de sua primeira coleção de
motetos publicada em 1502. Mais de quatro séculos depois, em 1921, Albert Smijers,
um musicólogo alemão, também escolhe este moteto para abrir sua pioneira edição
das obras completas de Josquin. É encontrado em quase vinte manuscritos de meia
dúzia de países diferentes, e foi arranjado para instrumentos de teclado e para lute.

O texto, em louvor à Virgem Maria, é dividido em 3 partes: uma votiva antífona para
Virgem Maria, seguido de uma sessão para a Festa da Anunciação e finalizando em
uma dupla de rimas de uma oração comum do dia a dia. A antífona central é um
hino que ecoa “Ave”, de Gabriel, através de 5 estrofes, representando os cinco
maiores eventos na vida de Maria: a Imaculada Conceição, o Nascimento, a
Anunciação, a Purificação e a Assunção. A forma e o desenvolvimento do poema
ditavam a forma e o desenvolvimento do moteto, deixando claro os interesses de
Josquin no delineamento do texto.

Todos os três aspectos da nova relação entre música e texto são bem
exemplificados, baseando não só o texto na sequência gregoriana da Anunciação,
mas a melodia também. A primeira frase da melodia é quase inteiramente copiada
do canto, assim como o ritmo, e as sílabas acentuadas são majoritariamente
cantadas em notas de duração mais longa, buscando manter a clareza do texto. Cada
unidade deste texto é propositalmente construída ao redor das cadências dispostas
ao longo do moteto, reforçando o estilo de Josquin e suas características.
Análise harmônica

Josquin demonstrava uma preocupação com a unidade textual e musical, pois suas
cadências terminam em Dó, o que organiza a obra. Cada frase do texto apresenta
um assunto musical, que é continuamente retomado por outras vozes, da mais alta
para a mais baixa. Antes que a última termine sua frase a outra começa com um
novo sujeito, dando assim continuidade musical.

Ao início do hino, a textura muda de uma imitação de sujeitos para a homofonia.


Ainda assim, Josquin variou a textura com frequência ao decorrer da obra,
alternando duetos divididos, imitação e homofonia. Um contraste rítmico também é
feito, mas parece deixar tudo de lado para ressaltar, em uníssono, a frase “Ó mãe de
Deus, lembra-te de mim. Amém.”

Apesar de hoje em dia ser cantado por coros, na época de Josquin provavelmente
apenas alguns cantores a cantavam, talvez apenas um por parte. É uma peça
interessante de ser estudada, ouvida e cantada, pois cada parte e sessão tem sua
relevância, a textura muda gradativamente com o desenrolar da obra e as melodias
se desenovelam de maneira suave e lógica, ainda que com alterações rítmicas.

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