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Estabilidade e resistência dos materiais II

Resenha: SILVA, Daiçon Maciel da; SOUTO, André Kraemer. Estruturas: Uma Abordagem
Arquitetônica. Porto Alegre: UniRitter Ed., 2015.

O livro trata da tecnologia das estruturas, de uma forma clara e com uma linguagem
pensada para ser compreensível pelos profissionais arquitetos, mas não descartando os
engenheiros. Os autores destacam que o entendimento equivocado do assunto acaba
muitas vezes por dividir a atuação destes profissionais da construção, mas isso não
colabora de forma efetiva e significativa para o avanço da tecnologia da construção no
espaço arquitetônico. Este acaba sendo um benefício do livro para o ensino nas faculdades
de arquitetura, devido à clara linguagem, pautada em exemplos projetuais práticos.
O autor inicia o texto conceituando estruturas e definindo “morfologia estrutural" , a
partir da forma, considerando origens e evoluções. Em sequência define os fatores
morfogênicos (razões determinantes da forma estrutural) e destrincha uma classificação
possível: funcional (habitação, tráfego, condução e contenção, onde são destacadas as
possíveis tipologias de cada categoria) ; técnica (como o cálculo estrutural); e estética
(onde a estabilidade da edificação é o elemento estético de maior força, tendo os elementos
decorativos como apêndices), estes fatores seguem ordem de importância na definição
formal da estrutura.
Em sequência, também aborda uma evolução histórica das formas estruturais,
destacando também os sistemas estruturais fundamentais, destacando a relevância deste
conhecimentos para os arquitetos, que lidam com a criação projetual.
Os autores acabam também por destacar a estabilidade como fator importante ao
abordarmos estruturas:
Através do projeto estrutural, as cargas gravitacionais, as
forças externas e as tensões internas são mantidas sob
controle e canalizadas ao longo de trajetos previstos; a
intenção é mantê-los num sistema de ação e reação
interdependente que dê o equilíbrio a cada componente
individual, assim como ao sistema estrutural como um todo.
(SILVA e SOUTO, 2015, pp.30-31)

Os autores também destacam, que existem etapas do desenvolvimento de um


projeto estrutural, como a formação da ideia (delineação da forma estrutural básica,
comprovação dos possíveis efeitos de variações térmicas, assentamentos de fundações,
escolha do material da estrutura e do método construtivo [...]) onde não há o requerimento
do uso de fórmulas matemáticas, somente depois da concepção do sistema estrutural é que
deve-se utilizar dos métodos matemáticos para testar e dimensionar cuidadosamente os
seus componentes, a fim de haver economia e primordialmente, segurança na edificação.
Ao conceituar as estruturas, o autor exemplifica com esquemas as equações de
equilíbrio, apresentando também a classificação dos elementos estruturais: lineares,
superfícies e volumes. Além disso, apresenta também os graus de estaticidade das
estruturas a partir do número igual, inferior ou superior de equações em relação às reações
nos apoios ( isostáticas, hipostáticas e hiperestáticas) dando sequência com a verificação da
estaticidade interna nas treliças.
As cargas que atuam na estrutura e os materiais também são abordados,
destacando as exigências estruturais do último, destacando o equilíbrio, a estabilidade, a
resistência, economia e a estética.
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Ao abordar os estados de tensão e solicitações, os autores diferenciam solicitações


simples e compostas e tensões normais e tangenciais, exemplificando-as. Em sequência
trata de estruturas submetidas a tração e compressão, destacando: cabos, treliças planas,
arcos funiculares,coberturas com cabos e treliças espaciais.
Por fim os autores,dedicam capítulos específicos para partes e tipos estruturais,
sendo eles: vigas, pórticos e arcos, entramados, placas e grelhas, cascas delgadas e
membranas, sendo o último, um dos temas que me despertou grande interesse.
A membrana é uma estrutura extremamente delgada, e por isso não resiste à
compressão, flexão e corte, apenas aos esforços de tração. Devido ao seu baixo peso, hoje
procuram-se meios para implementá-la estruturalmente. É uma estrutura resistente à
pressão dos ventos, entretanto move-se a partir de cargas variáveis, podendo vibrar por seu
baixo peso e por isso é aplicada apenas em coberturas temporárias.
Sua ação estrutural melhora com a tração antes da ação da carga (Tendo como
exemplo a lona utilizada por bombeiros, para a recolher pessoas de incêndios de altos
prédios) essa estrutura é classificada como um elemento protendido, pois ainda que não
haja cargas, existem tensões incorporadas (Ex. guarda- chuva). O emprego de membranas
deste último tipo, permite uma maior liberdade criativa, pois são mais estáveis e rígidas.
Usando os antigos dirigíveis Zeppelin, é exemplificado o tipo de membrana
pneumática, uma armação interna sustentava a membrana à tração por efeito da pressão do
hidrogênio; causando assim uma rigidez resistente às cargas do ar. As membranas podem
se submeter, portanto, à tração por efeito de uma pressão interna, quando preenchem por
completo um volume ou uma série de volumes separados.
Utilizando o exemplo didático, de um balão de festa infantil, os autores mostram as
tensões de tração em direções circunferencial e longitudinal (a tensão circunferencial
denomina-se também tensão de aro). Os balões inflados resistem à compressão, mas a
partir do momento em que esta se iguala à tração longitudinal devido à pressão interna, a
membrana irá flambar.
Embora exista pouco uso das membranas pneumáticas nas estruturas
arquitetônicas, devemos ter um bom conhecimento em virtude do surgimento de materiais
altamente resistentes à tração, como o poliéster. As membranas metálicas são muito
adaptadas para transferência de cargas, mediante tração, entretanto acabam sendo pouco
econômicas, além de ter tendência a vibração, fato que não ocorre com membranas de
concreto.
Por fim, em relação às membranas, os autores abordam as tensões. Ainda que a
membrana seja uma estrutura resistente bidimensional, não desenvolve tensões de corte e
flexão, pois sua espessura é muito pequena quando comparada ao vão. Portanto, a
capacidade de carga das membranas tem sua causa em outros tipos de tensões.
O quadrado da relação espessura/vão é proporcional às tensões de flambagem, e
para fins práticos, as membranas não podem desenvolver tensões de compressão, pois
flambam a valores consideravelmente baixos, reduzindo seu comportamento a uma rede de
cabos. A forma da membrana varia a partir de sua carga e adaptam-se as curvaturas aos
valores necessários para resistir à ela. Conclui-se que as membranas são instáveis, portanto
se faz necessário estabilizá-las a partir da ação de um esqueleto interno, pela tração
produzida por forças externas ou por uma pressão interna.
Por fim, conclui-se que o livro destaca a importância da compreensão das estruturas
de forma vinculada ao projeto por engenheiros e arquitetos, garantindo segurança,
durabilidade e otimização dos espaços arquitetônico.

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