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FOMENTO À PESQUISA

ARTIGOS ELABORADOS PELOS BOLSISTAS APROVADOS NO


EDITAL DE FOMENTO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO BÁSICA
FOMENTO À PESQUISA
ARTIGOS ELABORADOS PELOS BOLSISTAS APROVADOS NO
EDITAL DE FOMENTO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO BÁSICA

São Luís, 2021


Fomento à Pesquisa - Artigos elaborados pelos
bolsistas aprovados no Edital de Fomento à Pesquisa Secretaria de Educação
em Educação Básica do Governo do Estado
Esta publicação foi elaborada pela Faculdade Latino-Americana de
do Maranhão
Ciências Sociais (Flacso Brasil). A edição desta obra foi viabilizada por
Governador do Estado do Maranhão
meio do projeto “Trilhos da Educação - Assessoria técnico-pedagógica
Flávio Dino de Castro e Costa
para o fortalecimento da educação básica nos municípios ao longo da
Secretário de Estado da Educação
Estrada de Ferro Carajás”, realizado por meio de parceria estabelecida
entre a Flacso Brasil, a Vale e a Secretaria de Educação do Governo do Felipe Costa Camarão

Estado do Maranhão. Sua distribuição eletrônica ou impressa é gratuita. Subsecretário de Estado da Educação
Danilo Moreira da Silva
Secretária Adjunta de Gestão da
Rede do Ensino e da Aprendizagem
Nadya Christina Guimarães Dutra

Vale

Presidente
Eduardo Bartolomeo
Vice Presidente da Vale
Luiz Eduardo Osorio
Diretor de Relações Institucionais
Luiz Ricardo Santiago

Faculdade Latino
Americana de Ciências
Sociais – Flacso Brasil

Diretora
Salete Valesan Camba
Coordenadora do Programa Cidadania,
Participação Social e Políticas Públicas
Kathia Dudyk
Sumário
Apresentação ........................................................................................................ 09

Artigos da graduação
Formação profissional: as dificuldades enfrentadas pelos professores
em início de carreira - Brena Alves de Matos Ribeiro ........................................................ 13

Trilhos da Educação Educação remota e a teoria rogeriana em escolas de ensino médio público
estadual em São Luis-MA – Daniele Garcia Almeida ......................................................... 25

Coordenação Geral
Kathia Dudyk A literatura negra de autoria feminina no ensino médio:
Coordenação de Articulação e propostas gamificadas – Natanael Vieira ............................................................................ 41
Gestão Interna
Bárbara Alves Nonato Formação continuada de professores em metodologias ativas no município de
Coordenação de Fomento Ficha Técnica Bacabeira-MA - Nelvanir Ribeiro Pereira e Edvaldo Costa Rodrigues ............................... 63
à Pesquisa
Michelle Ferreti
Organizadoras Educação antirracista no maranhão: mapeamento de regimes de
Coordenação de Conteúdo
Kathia Dudyk e Michelle Ferreti colaboração no campo das artes visuais - Rodrigo Ferreira Gomes ................................. 79
Carolina Albuquerque Silva
Tutor
Coordenação Pedagógica
Alderico Segundo Santos Almeida O uso de aplicação gamificada no auxílio do ensino da química no
Camila Castanho
Autores ensino médio - Sarah Afonso Mota ...................................................................................... 93
Coordenação de Ações de
Juventude Adriano Da Silva Borges
Edvard Sales Ferreira Neto Anaildo Pereira Da Silva Artigos do mestrado
Coordenação Brena Alves De Matos
O desafio de educar alunos indígenas em escola urbana
Administrativa-Financeira Daniele Garcia Almeida
Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli .................................................111
Márcia de Câmera Campos Lídia Cristina Costa Nunes
Equipe Natanael Vieira
Alfabetização digital: um estudo sobre os nativos digitais
Nelvanir Ribeiro Pereira
Aline Quintão, Ana Letícia Anaildo Pereira da Silva ...................................................................................................... 135
Oliveira, Danuel Sucupira, Rodrigo Ferreira Gomes
Sarah Afonso Mota Memória e sociedade: uma construção interdisciplinar entre
Fernanda Valesan, Flávio
os componentes curriculares História e Artes
Revisão técnica
Vinícius Silva, Juliana Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos .................................................... 159
Nascimento Lima, Pedro Margareth Doher
Gorki, Polianna Geysa Projeto gráfico e diagramação
Rodrigues e Wilna Sena. Jimmy Carter F. L. e Vitor Soares
Apresentação Além do alinhamento e adequação
Essa publicação reúne artigos das propostas aos parâmetros técnicos
e acadêmicos do edital, a seleção dos

Apresentação
elaborados pelos bolsistas aprovados
no Edital de Fomento à Pesquisa em bolsistas também levou em conta a
Educação Básica organizado pela abrangência territorial dos projetos e
Faculdade Latino-Americana de critérios de diversidade de gênero e raça
Ciências Sociais (Flacso Brasil) em de seus proponentes. Foram priorizadas

parceria com a Secretaria Estadual de candidaturas de mulheres, pessoas

Educação do Maranhão e a Vale. Trata- negras, indígenas, LGBTQIA+, pessoas


com deficiência e representantes de
se de uma iniciativa no âmbito do projeto
povos e comunidades tradicionais,
de assessoria técnico-pedagógica para
bem como de autores que residem ou
fortalecimento da educação básica
desenvolvem suas pesquisas na zona
nas escolas públicas de 23 municípios,
rural e nos municípios localizados no
localizados nas proximidades da Estrada
trajeto da Estrada de Ferro Carajás.
de Ferro Carajás.
Das 17 inscrições recebidas, nove
Direcionado a estudantes de
projetos foram selecionados, sendo seis
graduação em pedagogia e de mestrado
deles de estudantes da graduação (67%)
em educação, o edital de fomento à
e três do mestrado (33%). Dentre os
pesquisa foi lançado com o objetivo de
bolsistas contemplados, constam quatro
contribuir para o aprimoramento de
pessoas do gênero feminino (44%) e
políticas públicas educacionais, abrindo
cinco do gênero masculino (56%). Seis
a possibilidade de converter dados estão matriculados na Universidade
científicos em produtos ou propostas Federal do Maranhão (UFMA) nos campi
de apoio pedagógico. Os projetos de São Luís, Imperatriz, Bacabal e São
apresentados foram desenvolvidos a José do Ribamar e outros três estão
partir do tema geral: “A educação no vinculados à Universidade Estadual do
Maranhão nos últimos cinco anos” Maranhão (UEMA) nos campi de São
e deveriam contemplar questões Luís, Timon e Itapecuru.
relacionadas ao ensino médio, ao No conjunto dos artigos produzidos
ensino médio integrado, à formação de pelos estudantes de graduação, Brena
professores, à gestão democrática e ao Alves de Matos Ribeiro analisa as
regime de colaboração, com enfoque dificuldades enfrentadas por educadores
necessariamente na educação básica. em início de carreira e destaca alguns

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Artigos elaborados pelos bolsistas aprovados no
Edital de Fomento à Pesquisa em Educação Básica
aspectos que podem contribuir para na sociedade de forma geral: Carolina científica e a fortalecer a presença de
o aperfeiçoamento da formação de de Jesus e Maria Firmina dos Reis. sujeitos de origens, trajetórias e classes
professores, a partir de uma articulação Dispondo também da gamificação sociais distintas na universidade
mais profunda e direta entre teoria e enquanto um instrumento pedagógico, pública, entendendo esse fator como
prática. Sarah Afonso Mota nos apresenta o fundamental para diversificar os
Tendo em vista os desafios impostos aplicativo Bazinga, uma plataforma olhares e aportar novas perspectivas ao
pela pandemia da covid-19 no campo interativa de ensino de química que ela processo de produção de conhecimento
da educação, Daniele Garcia Almeida mesma desenvolveu para auxiliar os no estado do Maranhão. Essa presença
realiza uma escuta dos estudantes professores na formação de alunos do mais heterogênea de atores sociais
da rede pública estadual de São Luís/ ensino médio. nas diferentes etapas da educação
MA e de suas experiências com ensino Entre os artigos elaborados pelos superior tem potencial de gerar objetos
remoto ao longo do primeiro semestre bolsistas de mestrado, Adriano da Silva de pesquisa, reflexões e análises mais

de 2021, enquanto Nelvanir Ribeiro Borges endereça os desafios de educar plurais, ricas e instigantes tanto para
fins acadêmicos quanto para subsidiar a
Pereira analisa as potencialidades das alunos indígenas em escolas urbanas, a
formulação, implementação e avaliação
metodologias ativas no processo de partir de uma experiência no município
de políticas públicas.
ensino-aprendizagem no âmbito da de Imperatriz/MA. Já Anaildo Pereira
Como nos ensina Paulo Freire, o
formação continuada de professores no da Silva procura compreender os
conhecimento é um processo que
município de Bacabeira/MA. fatores que influenciam o analfabetismo
transforma tanto aquilo que se conhece
Rodrigo Ferreira Gomes e Natanael digital e desenvolve uma proposta de
como também o conhecedor e emerge
Vieira pautam a educação antirracista formação dos estudantes para melhor
através da invenção e reinvenção,
como uma prioridade na agenda uso das TICs no contexto educacional.
através de um questionamento inquieto,
pública. O primeiro investiga as Por fim, Lidia Cristina Costa Nunes
impaciente, continuado e esperançoso
percepções de educadores de artes apresenta os resultados do processo
de homens no mundo, com o mundo
visuais sobre conteúdos étnico-raciais, de construção de um museu virtual a
e entre si. E a pedagogia engajada e
partindo da premissa de que a sala respeito do Centro de Ensino General
problematizadora propõe não apenas
de aula é um espaço privilegiado de Artur Carvalho, localizado na cidade
uma visão múltipla e crítica da realidade,
vivências e de acesso a conhecimentos de São Luís/MA, buscando valorizar
mas um engajamento que se articule
afrocentrados para combater o racismo a interdisciplinaridade entre História para a transformação dela.
estrutural. Já o segundo desenvolve e Artes enquanto uma proposta Boa leitura!
propostas pedagógicas gamificadas, pedagógica contemporânea e inovadora.
tendo por base a literatura produzida A partir desse breve panorama sobre
por duas importantes escritoras negras os artigos, destacamos que o edital de
insuficientemente reconhecidas e fomento à pesquisa também se propõe
valorizadas nos currículos escolares e a democratizar o acesso à produção

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Artigos elaborados pelos bolsistas aprovados no Artigos elaborados pelos bolsistas aprovados no
Edital de Fomento à Pesquisa em Educação Básica Edital de Fomento à Pesquisa em Educação Básica
ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

Formação Profissional:
As Dificuldades Enfrentadas
pelos Professores em Início
de Carreira
Brena Alves de Matos Ribeiro
Graduanda do curso de licenciatura plena
em pedagogia pela Universidade Estadual
do Maranhão, Teresina/PI.
E-mail: brenamatos1230@gmail.com.

Resumo as professoras recém-formadas no


Este artigo apresenta e discute os Maranhão, onde elas relataram suas
resultados de uma pesquisa realizada primeiras experiências ao sair do curso
por mim, estudante do 8° período e adentrar para a realidade em sala
do curso de licenciatura plena em de aulas nas escolas. Para analisar
pedagogia, juntamente com a Faculdade os resultados da pesquisa foram
Latino-Americana de Ciências Sociais utilizados métodos mistos, combinando
(Flacso Brasil). Este estudo teve como abordagens quantitativas e qualitativas,
objetivo identificar a importância da coletados por meio de um questionário.
clareza e organização da didática As informações da prática pedagógica
repassada em sala de aula durante o obtida no projeto foram submetidas à
curso de pedagogia a fim de preparar análise, que permitiram a interpretação
melhor os professores recém-formados dos resultados, principalmente quanto à
para a sala de aula. O espaço utilizado forma que a imersão na prática pedagógica
para realizar este acompanhamento docente contribui com o processo de
foram as parcerias estabelecidas com desenvolvimento e a aprendizagem do

Formação Profissional: As Dificuldades Enfrentadas pelos Professores em Início de Carreira


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pedagogo em sua formação inicial, e como considerando a mesma um processo consideradas os relatos de experiências valoração no que corresponde à formação
uma boa organização dessas práticas, contínuo, sistêmico e planejado assim e vivências nas salas de aula. O profissional. Em vista, no decorrer dos
repassadas durante o curso, ajudaria como as aprendizagens necessárias problema de pesquisa intitulado “Quais anos algumas profissões deixaram
muito o professor iniciante a encarar a e imprescindíveis à promoção do dificuldades de articulação entre teoria de existir e outras surgiram, todavia,
dura realidade, assim ele já teria noção desenvolvimento profissional. e prática constituem obstáculo para a a profissão professor se transforma,
do que estaria por vir. Os resultados da Desse modo, analisar a capacidade prática docente do professor iniciante?” adquire novas características com o
pesquisa evidenciam uma relação direta de articulação entre teoria e prática a surgiu a partir das leituras mencionadas objetivo de responder às demandas
da divergência entre teoria e prática e a partir da formação que os professores antes, em especial, a de García (1999), da sociedade vigente. Assim sendo, a
realidade fora da sala de aula no curso, recebem na formação inicial torna-se por trazer significância aos conceitos de profissão docente requer dinamização
com isso foi necessária uma reflexão preponderante para o entendimento de formação, formação inicial, suas etapas nas práticas pedagógicas e sociais, além
sobre como isso afetaria diretamente o como tais dificuldades são reconhecidas e implicações no trabalho docente, de que professores são responsáveis por
desempenho e o desenvolvimento dos e trabalhadas; daí ser imprescindível que também é respaldado nas práticas
formar todas as outras profissões e mais,
professores e como poderíamos intervir verificar como ocorre a formação inicial pedagógicas diante das dificuldades
a área de pedagogia possui vertentes,
ou buscar medidas que pudessem dos educadores do curso de Licenciatura docente.
podendo o egresso assumir funções
resolver ou amenizar tal situação. Plena em Pedagogia, de modo que se Em contrapartida, o que se pode
desde ser professor, coordenador
Palavras-chave: Formação inicial. venha descrever, a partir de relatos de evidenciar é que o curso de pedagogia
pedagógico, psicopedagogo, dentre
Teoria e prática. Prática docente. experiências e vivências, como aliam torna-se escolhido, em sua grande
outras mais, enfim, abrange um campo
a teoria aprendida no curso à prática parte, por indivíduos de baixa renda,
vasto de atuação.
1 Introdução desenvolvida na sala de aula. ou até mesmo é colocado como
De acordo com o que foi dito, é
Analisar as dificuldades enfrentadas Com o intuito de nos apoiarmos segunda opção dentre as escolhas. Por
necessário pensar a formação do
pelos professores iniciantes recém- nas questões levantadas acima, conseguinte, abre-se um parêntese
educador não restringindo apenas a
formados no curso de pedagogia no utilizamos livros de Aranha (1994), para explicar o motivo da Licenciatura
teorias e a mesmice em que fazem o
processo de formação profissional García (1999), Libâneo (2008), Pimenta Plena em Pedagogia, no Brasil, não
estar entre os cursos almejados como ensino do curso de pedagogia, como
vigente torna-se importante em (1994), Tardif (2002), dentre outros, o
virtude de ser o início de sua trajetória que nos possibilitou o entendimento outros, embora tenha um índice elevado também, refletir além de teorias e

profissional, momento ímpar que que a relação teoria e prática pode, em de empregabilidade (PIMENTA, 1999) práticas. Em virtude disso toma-se como
certamente influenciará a sua prática e muitos casos, possuir pontos positivos sendo que são demasiados fatores que exemplo o professor iniciante em sala
trajetória profissional. e negativos, não obstante, os teóricos contribuem para que isso aconteça, de aula, tendo que enfrentar situações
Diante disso, o presente estudo objetiva trazem em seus estudos essas questões. dentre eles, as dificuldades enfrentadas corriqueiras no ambiente escolar, porém
analisar as dificuldades enfrentadas Além disso, retoma a relevância acerca pelos professores iniciantes que é o não são familiares para ele que concluiu
pelos alunos egressos licenciados do conceito de formação profissional dos objeto de estudo deste trabalho. recentemente a Licenciatura, sendo que
em pedagogia. Faz-se necessário professores diante de uma perspectiva Entretanto, tanto o curso de não sabe como lidar com situações que
destacar no contexto educacional a de continuidade, de articulação entre Licenciatura Plena em Pedagogia quanto não foram ensinadas na graduação e
compreensão da formação docente, teoria e prática, de maneira que sejam as demais licenciaturas possuem a sua muito menos em estágios curriculares.

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Nesse sentido, a reflexão das A formação do professor passou por etapas de pré-treino, enquanto a fase da social, político, cultural, econômico.
dificuldades que os professores, tanto grandes transformações no decorrer formação continuada engloba a iniciação Dado que os cursos de licenciatura
os experientes, quanto os professores do tempo, transformações essas que profissional e a formação constante. desenvolvam alunos com conhecimentos
iniciantes, encontram no âmbito escolar, tiveram um grande salto na educação Segundo Pimenta (1994, p. 30), “a e habilidades, envolvendo atitudes e
se faz necessária e urgente na escola no Brasil, principalmente com várias identidade do professor não é algo valores humanísticos e profissionais que
da contemporaneidade. Repensar o renovações nos cursos de formação imutável, nem externo que possa ser lhes possibilitem a construção constante
lugar e o papel da formação inicial inicial e continuada, mas que ainda adquirido, mas é um processo de dos seus saberes-fazeres docentes
no processo formativo do professor é precisa ter melhorias na busca da construção do sujeito, historicamente em meio as necessidades, desafios,
de preponderante importância para a descoberta da identidade do professor, situado”. O que é explicitado como a dificuldades que a docência e a prática
constituição da sua identidade docente, esta é decisiva no processo de ensino- formação do professor é dada de acordo social lhes confere diariamente.
em vista da qualidade do trabalho a aprendizagem, pelo fato da figura com o momento histórico em que o Como afirma García (1999, p. 11), “a
ser desenvolvido no exercício de sua do docente representar um espelho mesmo está situado, é daí que o mesmo formação de professores representa
profissão. Não podemos deixar de para os seus educandos. Além disto, começa a fazer sua formação, mas um dos elementos fundamentais
salientar que a formação profissional, verifica-se que o investimento em que com o passar dos anos e com as através dos quais a didática intervém e
por mais que seja bem realizada, formação progressiva do professor é renovações sua prática também deveria contribui para a melhoria na educação
possui limitações estruturais que estão benéfico para o seu desenvolvimento mudar, mas nem sempre é o que ocorre, de qualidade de ensino”. Logo, uma das
condicionadas ao espaço escolar e pessoal e profissional, o incentivo à o professor continua sendo visto como disciplinas disponibilizadas no curso de
pessoal também. referida descoberta implica, também, um mero transmissor de conhecimentos, formação de professores, a Didática,
Dito isso, mencionamos que as difi- na qualidade de educação e formação sem didática, sem teorias e sem práticas, fundamenta-se na maneira de como se
culdades enfrentadas pelos professores profissional e identitária do corpo às vezes até sem conhecimentos, é dá a elaboração do planejamento de aula
recém-formados se devem a situações docente estruturante do sistema de quando a autora vai tratar dos pilares em si, por assim dizer, constitui-se no
que estão além do ingressar no magis- ensino. da educação, para ela ter sempre uma desenvolvimento do conteúdo (temática
tério, todavia estão configurados no sis- Assim, de acordo com García (1999), o reflexão sobre sua prática de ensino e da aula), dos objetivos (atitudinais,
tema de ensino como um todo, de modo conceitodeformaçãoprofissionalengloba de como ele vai utilizar seus métodos procedimentais e de valores), da
que as dificuldades podem vir a serem o ensino, a docência, o domínio adequado e práticas educativas em sua docência, metodologia, dos recursos, das
crescentes e acentuadas quando viven- da ciência pedagógica como sendo a exercício em sala de aula. metodologias e dos referentes teóricos
ciadas pelos docentes iniciantes. Assim arte de ensinar, sendo imprescindível De acordo com Pimenta (1999), no embasados na prática educativa, por
sendo, tal conjunto de dificuldades leva a competência profissional. Conforme curso de formação inicial é esperado isso a Didática contribui para a melhoria
os docentes ao isolamento, solidão, de- Santos (2005), dentro do campo que se forme o professor, colaborando na qualidade de ensino.
senvolvimento de síndromes, depressão, conceitual da formação profissional, o com a sua formação no exercício da Sendo assim, é indispensável o
e até mesmo abandono do magistério ou processo formativo dos professores está atividade docente, mensurando que o embasamento do educador em princípios
por questionamento da sua escolha pro- alicerçado na conexão entre a formação ato de ensinar contribua com o processo básicos de uma docência que seja clara
fissional, ocasionando a frustração pro- inicial e continuada, de modo que, para o de humanização dos alunos que estão para todos os envolvidos, para que o
fissional. autor, a fase da formação inicial envolve historicamente situados em um contexto mesmo seja visto e reconhecido como um

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professor que desenvolve estratégias e Estas pesquisas têm como objetivo na construção do conhecimento técnico, com questionários fechados para os
proporcionar maior familiaridade com
metodologias de ensino para envolver os evitando os achismos e as possíveis professores recém-formados, em que
o problema, com vistas a torná-lo mais
educandos na temática da aula, a fim de explícito ou a construir hipóteses. Pode interferências pessoais nos resultados foram utilizados para o desenvolvimento
que a aprendizagem seja significativa e se dizer que essas pesquisas têm como da pesquisa. do trabalho. Me baseei nas ideias dos
objetivo principal o aprimoramento de
não apenas memorizada (TARDIF, 2002). Também bibliográfica, onde foi feita a autores e compus o corpo do projeto,
ideias ou a descoberta de intuições.
Para além, o trecho a seguir destaca Seu planejamento é, portanto, bastante partir de estudos de autores, que foram e tenho a pretensão de utilizar para
muito bem a afirmação acima de que: flexível de modo que possibilite a utilizados no embasamento da pesquisa trabalhos futuros que podem trazer
consideração dos variados aspectos
e que deram norte ao objetivo proposto. algum pensamento desenvolvido sobre
A formação passa sempre pela relativos ao fato estudado.
Segundo Gil (2002, p. 44):
mobilização de vários tipos de saberes: o assunto.
saberes de uma prática reflexiva,
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida O público-alvo foi composto por
saberes de uma teoria especializada,
saberes de uma militância pedagógica.
Concordando com a exposição de com base em material já elaborado, alunos recém-formados no curso de
constituído principalmente de livros e
O que coloca elementos para produzir a Gil (2002), compreendemos que a pedagogia (os futuros pedagogos) que
artigos científicos. Embora quase todos
profissão docente dotando-a de saberes pesquisa de caráter exploratório pede
específicos que não são únicos, no sentido
os estudos sejam exigidos algum tipo de devem pensar na sua graduação como o
que o pesquisador interaja com o campo trabalho dessa natureza, há pesquisas
de que não compõe um corpo acabado início de tudo e que, uma educação pela
desenvolvidas exclusivamente a partir
de conhecimentos, pois os problemas de observação, de modo que busque
de fontes bibliográficas. Boa parte metade, sem aliar teoria à prática, não
da prática profissional docente não entender sobre a temática abordada, dos estudos exploratórios pode ser será suficiente para a sua completude
são meramente instrumentais, mas
falando aos interlocutores da pesquisa definida como pesquisas bibliográficas.
comportam situações problemáticas
As pesquisas sobre ideologias, bem
profissional. A teoria avulsa não possui
que requerem decisões num terreno com propriedade e entendimento
como aquelas que se propõem à análise respaldo nem notoriedade na sua
de grande complexidade, incerteza, dos agentes do campo de pesquisa, das diversas posições acerca de um
singularidade e conflitos de valores formação profissional, tampouco na
das suas regras, crenças, costumes. problema, também costumam ser
(PIMENTA, 1994, p. 30). sua dedicação no decorrer do processo
desenvolvidas quase exclusivamente
Desse modo, exige que o pesquisador
mediante as fontes bibliográficas. formativo.
tenha familiaridade com o problema
A coleta de dados foi feita através
2 Metodologia que a pesquisa visa analisar e sanar e
da análise do material impresso e de
A presente pesquisa é caracterizada que também se distancie emocional e Foi feita a abordagem qualitativa para
entrevista semiestruturada, onde foi
como sendo bibliográfica, de campo e afetivamente dos participantes do estudo, uma análise de dados e uma comparativa
exploratória, por meio da abordagem com vistas a manter a objetividade do feito um comparativo das ideias dos
sobre os estudos dos autores, analisando
qualitativa. Para a fundamentação estudo e da ética de pesquisador. suas pesquisas na educação, suas autores, fundamentado todo o trabalho.
teórica desta pesquisa, optamos pela De acordo com Oliveira (2010), percepções e ideias para com elas obter A partir dos autores, foram expostos
busca de alguns teóricos que entendem o distanciamento emocional e o objetivo pretendido do trabalho a ser seus pensamentos, posições, situações-
sobre os passos metodológicos da afetivamente que o pesquisador precisa executado. O campo de pesquisa foi feito problemas, suas justificativas, para
pesquisa para dar sustentação aos ter dos participantes do estudo requer a partir de estudos de material impresso, compor todo o desenrolar do trabalho
argumentos expostos. neutralidade, em virtude do estudioso se de livros, revistas, dissertações, artigos e, por fim utilizamos suas conclusões
Será exploratória como explica Gil manter fiel à realidade que está sendo científicos, trabalhos de conclusão e respostas das suas discussões para
(2002, p. 41): exposta, investindo no seu aporte teórico de curso e por meio de entrevistas, concluir a pesquisa.

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Para além, a entrevista semiestru- e atenção tanto dos alunos quanto da na troca mútua de conhecimento entre com suas desigualdades, suas práticas e
família, que podem ser decorrentes do
turada é ferramenta importante neste professor-aluno e vice-versa. docências diversificadas.
contexto social e cultural de cada família.
processo de pesquisa, uma vez que será Com isso, busquei meios e ideias mais Dando continuidade à fala da partici- Assim, a didática é um processo que
vigente a ética profissional ao serem fáceis para trabalhar com eles, usando pante número 1, requer do profissional uma reflexão
elaboradas e realizadas as perguntas materiais de fácil acesso, para assim ativa de sua prática docente em função
conseguir chamar a atenção e ajudar os Quando estava no estágio, tive
referentes à temática deste projeto, pre- de uma transmissão segura e clara de
alunos no processo de aprendizagem. experiências e vivências diferentes
servando sempre a identidade e o sigilo daquelas de quando assumi uma sala de conhecimentos e técnicas em sala de
do entrevistado. As perguntas foram ob- aula, embora as duas escolas possuam aula, que mostram claramente que
estruturas dignas e acolhedoras
jetivas e de modo optativas a depender Corroborando com a fala da o profissional está em sala da aula.
para os alunos, no estágio eu apenas
do desejo do entrevistado de respondê- Segundo Libâneo (2006, p. 28):
participante, e, também da autora acompanhava os alunos e ajudava o
-las ou não. professor com suportes no decorrer da
Pimenta (1994), a mesma aponta que O processo de ensino é uma atividade
aula. Em sala de aula, a realidade era
a formação inicial e contínua está outra, pois enquanto professora me
conjunta de professores e alunos,
3 Análise e dicussão de dados organizado sob a direção do professor,
sempre em processo de mobilização de deparei com alunos de diferentes ritmos
A primeira questão do instrumento de e situações. No estágio pude perceber
com a finalidade de prover as condições
conhecimentos, é necessário saber que e meios, pelos quais os alunos assimilam
pesquisa buscou verificar as experiências que a família dos alunos da zona urbana
ativamente conhecimentos, habilidades,
as competências e habilidades partem se fazia mais presente e participativa do
dos participantes ao finalizarem o curso atitudes e convicções. Este é o objetivo
do princípio que a ação pedagógica que os da zona rural. As dificuldades e
e adentrar em sala de aula, o que passou anseios eram diferentes do alunado da
da didática. Os elementos constitutivos

na cabeça deles e como eles lidaram tem que ser reflexiva, fazendo menção da didática, o seu desenvolvimento
escola urbana. Com isso, precisei buscar
histórico, as características do
com as dificuldades de ser professor à atuação dos professores e de como meios alternativos para ajudar os alunos
processo de ensino-aprendizagem e a
iniciante. Como diz a fala da participante será absorvida pelos seus alunos. Em e fazer com que a família se tornasse
atividade de estudo como condição de
mais presente na escola.
continuidade, os saberes que compõem desenvolvimento intelectual.
número 1,
uma teoria especializada requer que o
Quando assumi uma sala de aula me
deparei com diversas realidades, pois
docente, ao aplicar uma teoria em sala Dando continuidade ao trecho do texto Como já havíamos mencionado, o
nem tudo é igual ao que estudamos de aula, saiba do que se trata, quem a de Pimenta (1994), é realizado o reforço
na faculdade. Na escola, convivendo
professor deve fazer sua didática através
desenvolveu e qual a sua efetividade. de que, ao adentrar no espaço escolar,
e vivenciando várias experiências, da reflexão sobre os ensinamentos e
pude aprender muitas coisas, como Em virtude disto, reforça-se a o professor irá se deparar com diversos sobre uma análise do meio social em
conhecer o nosso alunado, a escola, informação acima de que o profissional tipos de alunos, culturas e linguagens que estão inseridos e fazer sua prática.
as necessidades e dificuldades de
cada aluno e família no âmbito escolar.
inicial e de formação continuada devem diferentes; o convívio com os educandos Baseados nesses aspectos, buscando
Com isso, tive que estar sempre me refletir sua prática docente, buscando distintos também considera o ambiente sempre um aperfeiçoamento de sua
reinventando e buscando meios para
meios de aprimorar seus conhecimentos externo, que diverge do âmbito escolar e didática e fazendo dela sua melhor
ajudar e inserir os alunos em um só
contexto. Quando assumi a sala de aula, e sua desenvoltura em sala de aula, de sua carreira profissional. arma no ensino, sempre levando em
a realidade foi bem diferente daquela sempre com intuito de fundamentar O enfoque para a formação inicial consideração seus alunos e como eles
vivenciada no estágio, pois ao assumir
uma sala de aula da zona rural pude
conhecimentos claros e concisos que e continuada baseia-se no ambiente aprendem a partir de uma boa regência
perceber os déficits de aprendizagem os alunos possam aprender facilmente, social em que o profissional se encontra, em sala de aula.

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Partindo para a experiência da aqueles que tenham mais dificuldade, docente, começando esse processo na indispensável as seguintes informações
participante número 2, a mesma já seja em função da diversidade existente formação inicial para então se chegar na que fará com que você e seus alunos
teve um processo, digamos que menos no ambiente ou mesmo o aluno que tem formação continuada. Assim, englobará a se desenvolvam melhor. Em sala de
difícil, do que a participante número um desenvolvimento mais lento, não valorização do curso, do profissional que aula o aluno é o centro, então um bom
1. A participante número 2 afirma que incluindo o aluno especial. se quer formar e fazer o mesmo refletir professor é aquele que guia os seus
nos estágios obrigatórios do curso se sobre o tipo de professor que deseja ser alunos. Você precisa transmitir tudo
deparou com situações diferentes da 4 Considerações finais e como será visto pelos seus discentes; aquilo que eles precisam aprender.
aprendida no decorrer do curso, o que É notório que o tema abordado é muito pensar numa educação inclusiva e de Estude seus alunos antes de entrar em
a fez buscar meios para desenvolver discutido por autores e os mesmos têm qualidade que reforce a importância do sala. É interessante que você converse
melhor sua didática em sala de aula, seus pensamentos e conclusões sobre papel do educador na sociedade, criar com a coordenação da sua escola para
para que em sala de aula, após o fim a formação profissional, apoiando- o pensamento global sobre educar, de saber como são seus alunos, como é o
do curso, não se espantasse com outra se na relevância da formação docente forma que entenda que a educação é comportamento, buscando conhecer
realidade. Da mesma forma fiz eu, inicial ser o primeiro passo para o uma via de mão dupla entre aprender e ao máximo suas necessidades para se
até porque decidi trabalhar esse tema emergir da perspectiva de continuidade, ensinar. preparar e saber como lidar. Mostre e dê
através de experiências como essa, que na especialidade do processo, de Sendo assim, o presente artigo segurança, o aprendizado é um desafio,
me fizeram pensar e refletir, se mais maneira que a teoria aliada à prática do apresentou uma experiência com então os alunos precisam saber que
professores não passaram pela mesma professor recém-formado encontra-se estudantes que provocou a curiosidade podem contar com você para conseguir
situação. em processo contínuo de construção, e o interesse frente aos desafios que a lidar com isso. Um bom professor tem
Ademais, a participante número 2, planejamento, flexibilizações. carreira docente impõe. A experiência o dom de ensinar, sente paixão pela
desde os estágios, sempre foi mais Em suma, a formação de professores prática fez emergir a valorização do sua profissão, então demonstre isso
proativa. Antes mesmo dos estágios já na sociedade contemporânea é cada processo de planejamento de uma com clareza e simplicidade. Os alunos
era auxiliar em sala de aula, então tinha vez mais exigida e torna-se necessária aula, este que muitas vezes acaba por precisam saber o porquê de aprender
mais noção de como era o processo, enquanto mediação na construção de ser secundarizado na rotina de alguns sobre determinadas coisas.
diferente da participante número 1, processos integrantes da cidadania dos professores que atuam na sala de aula. Trabalhe sempre com o lúdico, é
que foi entender como funcionava alunos. Ser professor não é uma tarefa Os participantes da pesquisa perceberam essencial que o aluno se divirta e aprenda
após o fim do curso, quando entrou fácil e tem toda a sua complexidade de que “preparar-se” é essencial para ao mesmo tempo, pois ele sentirá prazer
em uma sala de aula. Existem muitas fatos, situações e conflitos que todos os melhor condução da aula e preparação de em aprender. Aposte em aulas divertidas,
realidades em sala de aula nas escolas dias precisam ser superados, de maneira conteúdos. Os participantes observaram, em ambientes fora da sala de aula, com
e cada professor deve sempre buscar que este profissional é responsável ainda, que relacionar teoria e prática dinâmicas e outras coisas. Dê espaço
meios para adaptar-se ao ambiente, ao em ajudar os alunos na superação do é fundamental, uma vez que elas não para seus alunos falarem o que pensam,
aluno, colocando sempre à frente suas fracasso e das desigualdades escolares. podem ser separadas, pois fazem parte como se sentem e comece a ouvi-los.
necessidades e dificuldades, e assim Portanto, é preciso que se façam do mesmo corpo. Tenha empatia, dê credibilidade ao que
fazer com que o aluno se desenvolva políticas públicas voltadas para se Então, para você, professor iniciante, eles fazem, crie ambientes em sala que
igualmente perante aos outros, mesmo repensar a formação profissional ao adentrar em sala de aula será faça com que eles interajam entre si,

Formação Profissional: As Dificuldades Enfrentadas pelos Professores em Início de Carreira


22 | Trilhos da Educação Brena Alves de Matos Ribeiro | 23
ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

que ensinem uns aos outros. Marque a PIMENTA, Selma Garrido. Formação de
vida do seu aluno, assim como eu espero professores: identidade e saberes da Educação Remota e a
Teoria Rogeriana em
que esse artigo marque sua vida. Espero docência. In: PIMENTA, Selma Garrido
sinceramente que tenha ajudado. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade

Escolas de Ensino Médio


docente. São Paulo: Cortez, 1999. p.
REFERÊNCIAS 15-16.

Público Estadual em
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. PIMENTA, Selma Garrido. O estágio
História da educação e da pedagogia: na formação de professores-unidade

São Luís/MA
geral e Brasil. 3. ed. rev e ampl. São teoria e prática? São Paulo: Cortez,
Paulo: Moderna, 2006. 1994. p. 20-28

Daniele Garcia Almeida


BECKER, Fernando. A epistemologia do TARDIF, Maurice. Saberes docentes e
Graduanda em Pedagogia, UFMA, São Luís/MA.
professor: o cotidiano da escola. 10. ed. formação profissional. 2. ed. Petrópolis: E-mail: danig.almeida@hotmail.com.
Rio de Janeiro: Vozes, 1993. p. 37-38. Vozes, 2002.

GARCÍA, Carlos Marcelo. Formação


de professores para uma mudança
educativa. 2. ed. Porto: Porto Editora,
1999. p. 11.
Resumo ritmo e da orientação de seu processo
O ensino remoto emergencial, de aprendizagem. Esta pesquisa
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar
decorrente da pandemia da covid-19, trabalhou com 50 alunos do 1° ano do
projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
iniciada em 2020, potencializou falhas ensino médio da rede estadual em
Atlas, 2002. p. 41-44.
e acertos na educação brasileira. Os São Luís/MA, com o intuito de ouvi-los
brasileiros reinventaram-se no meio sobre suas vivências neste contexto
LIBÂNEO, José Carlos. Prática
de uma crise sanitária e humanitária, e o início de seu ensino médio. Os
Educativa, Pedagogia e Didática. 34.
adotando novas estratégias e resultados da amostra comprovam
ed. São Paulo: Cortez Editora, 1994. p.
instrumentos de ensino para as aulas que mais da metade de suas respostas
25-28.
não pararem por completo. Desse modo, deram-se de forma negativa quanto
o presente estudo busca visibilizar suas experiências de aula no primeiro
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer
uma pedagogia humanista como semestre de 2021, e que esta maioria
pesquisa qualitativa. 3. ed. Petrópolis:
complemento na educação pública, não se sente acolhida e não identificam
Vozes, 2010.
uma educação centrada no aluno – uma assistência compreensiva pela
requer que os estudantes possuam escola em que estudam. Nesse sentido,
papel fundamental na determinação do faz-se necessário destacar o quão

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
24 | Trilhos da Educação Daniele Garcia Almeida | 25
significativo é inserir os alunos nas pode contribuir para a aprendizagem de cumprir as metas da escola, em con- cada estudante um caso subjetivo, como:
decisões que facilitem o conhecimento, significativa, além de identificar as sequência, há um fortalecimento de es- a realidade pessoal, social e econômica
valorização e respeito em seus processos mudanças estatísticas do ensino médio gotamento mental (OLIVEIRA, 2015). que cada um vive, a saúde mental,
de desenvolvimento. Por conseguinte, público no Maranhão nos últimos cinco Decerto, a volta às aulas na pande- a experiência de transição ensino
uma escola que proporcione o ensino anos através de dados educacionais. mia em 2021 trouxe várias demandas fundamental-médio e a diminuição
centrado no aluno consegue promover Portanto da abordagem Rogeriana 1
aos alunos do 1° ano do ensino mé- da interação presencial e do apoio
um ambiente acolhedor e facilitador com é essencial compreender sua dio público. A mudança ensino funda- pedagógico.
olhar positivo e empático, possibilitando aplicabilidade à realidade educacio- mental-médio no contexto pandêmico, Consoante aos aspectos já apontados,
uma abertura à autonomia de seu nal maranhense, podendo atuar transfigurou-se a uma passagem mais direciona-se o objeto deste estudo para a
aprendizado. diretamente, mas não unicamente, como difícil e delicada que o natural, haven- educação humanista e suas relações em
Palavras-chave: Ensino Remoto um instrumento de aprendizagem e de do inquietudes e responsabilidades aos escolas de ensino médio público estadual
Emergencial. Educação Humanista. convívio escolar. Assim, exploraram-se estudantes, tornando-se comum o sen- em São Luís/MA no contexto remoto do
Aprendizagem Significativa. alguns impactos na aprendizagem dos timento de insuficiência e a dificuldade primeiro semestre de 2021, dado que
alunos que intensificaram na pandemia,
em gerenciar o tempo de estudo e res- a educação centrada no aluno não se
como exemplos: o sentimento de
Introdução peitar sua produtividade. Ademais, lidar configura como um método de ensino,
desamparo e a dificuldade em gerenciar
A presente pesquisa partiu do com o isolamento social e a pressão de mas uma concepção de educação.
as atividades escolares.
interesse em investigar os impactos do apresentar um bom desempenho nos Destarte, verifica-se que algumas
A ausência de uma gestão pedagógica
ensino remoto emergencial decorrente estudos, outrossim, há o fato que estão escolas almejam que os alunos mante-
centrada no estudante, acaba por acar-
da pandemia da covid-19 a alunos entrando na adolescência – fase da vida nham produtividade, contudo, nem todas
retar o afastamento deles ao ânimo em
especialmente do 1° ano do ensino em que a construção de sua identidade é oferecem as devidas assistências. O cor-
aprender. O sufocamento da liberdade
médio público estadual em São Luís – muito forte –, onde Oliveira (2015, p. 13 po pedagógico deve estar disposto a es-
de aprender acontece quando o aluno
capital do Maranhão –, e tornar visível apud EVANS, 1979, p. 66) destaca que no cutar as reivindicações dos estudantes
está desestimulado e/ou desinteressa-
a importância da relação empática em período de ensino médio, os alunos “na- no que concerne à compreensão de suas
do, porém, mesmo assim ainda há uma
sala de aula, incentivando o autocuidado turalmente possuem curiosidades mui- possibilidades (sejam elas pessoais, so-
cobrança de produtividade sobre ele.
dos alunos diante seu processo de to diversas sobre o que está acontecen- ciais, econômicas, físicas ou mentais),
Esse distanciamento faz com que os es-
aprendizagem. do em suas vidas, que vão além da sala demonstrando empatia e interesse, e
tudantes tenham dificuldade em focar
Desse modo, teve-se o objetivo de aula”, e tudo isso influencia a saúde desenvolver estratégias que favoreçam a
nos estudos ou acabam compreendendo
de produzir uma análise sobre essa a aprendizagem apenas como obrigação mental e ao processo de aprendizagem aprendizagem significativa2 , visto que a
temática com base teórica em estudos desses jovens. educação deve despertar e desenvolver
publicados acerca da educação na 1 Esta teoria sustenta que a aprendizagem é um processo
Sendo assim, este projeto tem como suas potencialidades (OLIVEIRA, 2015).
“individual, singular e peculiar de cada sujeito, de forma que
pandemia, da Teoria Humanista de Carl a vivência precisa ser considerada”, porque cada aluno possui
problemática central identificar as
seus interesses, então o aprender é efetivado conforme o 2 Conceito desenvolvido por David Ausubel, aprendizagem
Rogers e da educação centrada no aluno indivíduo se autodirige. O papel do professor na abordagem dificuldades por parte dos alunos frente significativa é aquela que resulta de uma experiência
centrada no estudante/aluno é de facilitar a aprendizagem transformadora, onde há a progressão e efetivação de conceitos
no ensino médio, com o escopo de expor de seus alunos, dando importância a suas particularidades, ao ensino remoto emergencial. Tendo diretos e fixados com as informações preexistentes do indivíduo
vivências e habilidades, permitindo que o aluno seja o próprio (subsunçores), ou seja, ela atua como uma gradação ao
como a educação centrada no estudante construtor de sua aprendizagem (LIMA et al., 2018). em vista os vários fatores que tornam conhecimento do aluno (MOREIRA, 2012).

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
26 | Trilhos da Educação Daniele Garcia Almeida | 27
Por isso, em concordância com estudo. E quanto aos procedimentos, para mapeamentos dos participantes os estudos; como foi sua adaptação
Oliveira (2015 apud ROGERS, 1978a, técnicas ou tipos de pesquisa, no que voluntários e a atividade vivencial, de com esse modelo; se recebem apoio
p. 164), efetivar uma aprendizagem alude aos meios, trata-se de uma forma remota, para a escuta deles. da família e da escola; quais métodos
significativa não é apenas absorver o pesquisa bibliográfica – servindo • Mapeamento dos participantes ativos de ensino aplicados por seus
conteúdo transmitido pelo professor, para contextualizar o assunto com A escolha da série em questão ocorreu professores eles conseguem identificar
esta também molda a identidade e o embasamento teórico, com informações pelo fato de os alunos terem entrado no e principalmente, como está sua saúde
comportamento do aluno, devendo-se encontradas em livros e sites acadêmicos ensino médio no meio de uma pandemia, mental.
dar importância à singularidade de cada que abordam o assunto deste estudo – e e a escolha em trabalhar com alunos Respeitando os três princípios básicos
um, não descartando seus interesses, de uma pesquisa-ação, pois houve uma de diversas escolas foi com o intuito de da Teoria Rogeriana – autenticidade,
sentimentos e emoções, porque todos cooperação entre a pesquisadora e os ouvir a realidade e experiências – pela empatia e respeito (ROGERS, 1986)
esses fatores fazem parte da construção pesquisados, considerando-se a fala de perspectiva deles, através de suas falas –, a vivência facilitadora permitiu a
de sua aprendizagem. cada participante (NASCIMENTO, 2016, – não só de uma escola, proporcionando confortabilidade dos participantes e
Nessa linha de intelecção, a presente p. 8 apud THIOLLENT, 2005). assim, uma escuta e discussão mais reflexão sobre seus progressos. Por um
pesquisa tem como mote incentivar Como norteadores desse trabalho, abrangente. lado, espera-se que tenha contribuído
a aplicação de metodologias ativas e utilizaram-se autores da Psicologia e da O formulário obteve 50 participantes para a autonomia emocional e intelectual
integrativas centradas nos alunos em Pedagogia – Carl Rogers (1986), David de 16 escolas diferentes, onde relataram deles, que tenham aproveitado o
escolas públicas, como uma forma de Ausubel (1963), Paulo Freire (1996) algumas dificuldades e pontos positivos momento de fala e escuta, continuem
valorizar seu ritmo de aprendizagem e e Vigotski (1978) – como principais de suas experiências no primeiro se autoavaliando e sejam estimulados
inseri-los mais nas decisões em sala de referências teóricas para desenvolver as semestre do ano de 2021. Os resultados a significar sua aprendizagem. Por
aula. semelhanças de suas teorias à realidade demonstraram que a maioria dos alunos outro lado, espera-se que as escolas
educacional pública maranhense. anseia por uma participação maior com públicas proporcionem frequentemente
Metodologia “O impacto da pandemia na educação a escola. Logo, é notório a importância a realização de debates em que os
Adotando as classificações de mostrou não apenas a urgência de de a instituição possuir um ouvir ativo, alunos sejam os motivadores, adotando
Nascimento (2016) quanto aos tipos mecanismos para a implementação em que ela se dispõe no campo lógico assim, novas estratégias para ensino-
de pesquisas, este projeto é de da educação a distância no Brasil, mas de referência de seus alunos, ou seja, aprendizagem, metodologias ativas e
natureza aplicado, de modo a produzir também garantir a saúde mental dos se coloca no lugar do estudante e tenta uma nova relação escola-aluno.
conhecimento para pôr em prática sobre alunos” (CORDEIRO, p. 1, 2020). Isto entendê-lo. As atividades vivenciais ocorreram
a situação abordada. Quanto ao método, posto, a prática desta investigação deu- • Vivência facilitadora em três dias, divididas em quatro grupos
é de caráter qualitativo, considerando a se através de uma vivência facilitadora No segundo momento da coleta de pequenos. O primeiro grupo com três
realidade e subjetividade dos indivíduos centrada nos alunos de diversas escolas dados, o objetivo das vivências foi ouvir participantes, o segundo com dois, o
envolvidos na pesquisa. Sua finalidade é públicas estaduais em São Luís/MA. os estudantes sobre suas experiências terceiro com três e o quarto com dois.
de categoria exploratória para tornar a As ações para coleta de dados escolares e impressões sobre a Estes foram alguns dos estudantes que
questão mais clara, visando promover o e informações desenvolveu-se em assistência do corpo pedagógico no responderam ao formulário e puderam
melhor entendimento possível sobre este duas etapas: um formulário online contexto remoto: como eles lidam com comparecer ao encontro virtual,

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
28 | Trilhos da Educação Daniele Garcia Almeida | 29
totalizou-se dez participantes de cinco aulas presenciais pelas aulas digitais e, consequentemente, sua série de às aulas, porém não invalida os outros
escolas diferentes. Os roteiros para enquanto durar a pandemia da covid-19. adaptações aos alunos e professores, impasses (SEDUC, 2021).
conduzir a conversa foram adaptados Após a publicação desta portaria houve de acordo com a Secretaria de Estado Cordeiro (2020, p. 11) aponta alguns
conforme as respostas no formulário a necessidade do corpo pedagógico e da Educação (Seduc) aproximadamente fatores pertinentes ao se pensar em
dos participantes de cada grupo, e foi alunos adaptarem-se ao novo modelo 24% das escolas públicas estaduais não educação remota: a valorização dos
papel da pesquisadora garantir um educacional. Com isso, os meios ofereceram aulas online. O impacto é profissionais de educação – visto que
ambiente tranquilo que facilitasse a tecnológicos tornaram-se fundamentais visível quando não só algumas escolas eles replanejaram suas metodologias
interação dos envolvidos e direcionar as para a realização desse método, contudo, deixaram de oferecer seus serviços, –, a importância da família se fazer
falas aos assuntos desejados. Todos se nem todos os alunos possuem acesso a mas também quando oferecidos, presente no processo educacional, a
comunicaram bastante e o retorno sobre esses recursos (CORDEIRO, 2020). muitos alunos relataram dificuldades utilização de tecnologias e a importância
o encontro foi positivo. Mostrando assim Ao analisar os dados do Instituto de o governo investir na educação. O
de adaptação ou não puderam assistir
que, se o aluno está em um ambiente Brasileiro de Geografia e Estatística aluno em meio a esses fatos torna-se
aula por falta de recursos tecnológicos
acolhedor, em que ele se encontra (IBGE), de 2018, sobre as matrículas no o principal beneficiário ou por vezes,
(CARDOSO, 2020).
1° ano do ensino médio da rede estadual
protegido, ouvido e cuidado, que Para tanto, o Artigo 205 da Constituição o principal prejudicado. Por isso, é
maranhense, entre os anos de 2017
possa se expressar e que o professor/ Federal de 19884 assegura: essencial atentar-se à abertura de
e 2018, identifica-se uma redução de
facilitador demonstre empatia, ele espaços para ouvi-lo, de modo a fazê-lo
aproximadamente 9,4%. No ano de 2018, A educação, direito de todos e dever
se sentirá motivado a gerenciar seu participar das elaborações para a sala
do Estado e da família, será promovida
as matrículas do ensino médio estadual
autocrescimento. e incentivada com a colaboração de aula (virtual).
correspondiam a 86,4% do total de
Embora cada estudante tenha da sociedade, visando ao pleno Rogers (1986, p. 280) concebe o sentido
matrículas no Brasil e em 2020 passou desenvolvimento da pessoa, seu preparo
relatado suas dificuldades singulares, as de “um novo objetivo educacional: um
para 84,1%. Nesse sentido, percebe- para o exercício da cidadania e sua
vivências levantaram pontos pertinentes qualificação para o trabalho. clima para a mudança”, sobre as rápidas
se que antes do contexto pandêmico, o
e esperados, que quando generalizados, mudanças sociais e o conhecimento como
número de novos alunos nesta categoria
as queixas tornaram-se as mesmas: acompanhante delas, exigem-se sempre
já apresentava diminuição. No Maranhão,
sobrecarga e sentimento negativo em No primeiro semestre de 2021, o mudanças dos indivíduos e a educação
pelo menos 90% de suas matrículas
relação a seus estudos no primeiro Governo do Maranhão disponibilizou requer novas técnicas de ensino, novas
referem-se ao ensino médio público
semestre de 2021. a entrega de pelo menos 200 mil chips metodologias e novos objetivos. A
estadual (INEP, 2020). O que representa
Considerações teóricas com acesso gratuito à internet durante escola, como lugar social e integrador,
um grande público de estudantes na
Tendo em vista o isolamento social o ano letivo aos alunos do ensino médio tem como principal papel construir um
rede estadual.
que acontece no Brasil desde março estadual para conseguirem prosseguir espaço livre, transformador, acolhedor
No estado maranhense, em 2020,
de 2020 por conta da pandemia da seus estudos. Esta é uma das possíveis e que forma cidadãos críticos, ativos
a pandemia trouxe diversos desafios
covid-19, foi necessário a realização de às escolas. Além do ensino remoto medidas de aumentar a acessibilidade e independentes, agregando assim às
um ensino emergencial. A portaria n° pessoas que devem estar dispostas
4 BRASIL. Constituição Federal 1988. Art. 205. Brasília: Senado,
343, de 17 de março de 20203 , publicada 3 MEC. Portaria n° 343, de 17 março de 2020. Brasília. 1988. Disponível em: <https://www.senado.leg.br/atividade/ à evolução, para isso, os professores
Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria- const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_205_.asp>. Acesso
pelo MEC, autoriza a substituição das n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376>.Ignatimi hilicae em: 10 abr. 2021. devem ser abertos, assertivos, flexíveis e

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
30 | Trilhos da Educação Daniele Garcia Almeida | 31
terem habilidade interpessoal. Ademais, uma transformação de conhecimento de seus alunos, isso transmite confiança É interessante observar que a minha
experiência discente é fundamental para
o autor discute a escola como algo que: adquirido. Segundo o autor: para que eles hajam de forma coerente
a prática docente que terei amanhã ou
quando adultos (aprenderão a agir de que estou tendo agora simultaneamente
Há que se descobrir um meio de [...] fica mais fácil para o aluno organizar
desenvolver, dentro do sistema seus subsunçores, hierarquicamente, acordo consigo próprio e não em busca com aquela. É vivendo criticamente
educacional como um todo e em cada se na matéria de ensino os tópicos de afeto ou aprovação), identifica-se a minha liberdade de aluno ou aluna
estão sequenciados em termos de que, em grande parte, me preparo
um dos seus componentes, um clima então, um dos fundamentais papeis da
no qual a inovação não seja temida, dependências hierárquicas naturais, para assumir ou refazer o exercício de
ou seja, de modo que certos tópicos
escola. Visto que, os indivíduos tendem minha autoridade de professor. Para
no qual as capacidades criativas dos
administradores, dos mestres e dos dependam naturalmente daqueles que a se desenvolver de forma positiva e isso, como aluno hoje que sonha com
alunos são mantidas e estimuladas os antecedem (MOREIRA, 2012, p. 21). que há um potencial criativo em cada ensinar amanhã ou como aluno que já
ao em vez de serem abafadas. Há que ensina hoje, devo ter como objeto de
um e somente com alguma interrupção
se descobrir um meio de desenvolver Por isso, a aprendizagem significativa minha curiosidade as experiências que
um clima, no sistema, através do
esse potencial não se desenvolve, esta venho tendo com professores vários e
faz-se presente na educação centrada
qual o foco se projeta não sobre o chamada tendência atualizante faz- as minhas próprias, se as tenho, com
no aluno, em que ambas se entendem
ensinar, mas sobre a facilitação da se presente na evolução dos alunos meus alunos. O que quero dizer é o
aprendizagem autodirigida. Só assim se numa educação colaborativa, reflexiva, seguinte: não devo pensar apenas sobre
(ROGERS, 1986). Bem como Capelo
poderá desenvolver o indivíduo criativo, que insere o estudante desde o processo os conteúdos programáticos que vêm
que está aberto à totalidade da sua (2000; GOBBI et al., 1998, p. 144 apud sendo expostos ou discutidos pelos
de planejamento até a efetivação de sua
experiência; ciente dela, a ela receptivo ROGERS; KINGET, 1977) destaca que: professores das diferentes disciplinas,
e continuamente em processo de aprendizagem e prepara-o em vários
mas, ao mesmo tempo, a maneira mais
mudança. E só dessa forma poderemos aspectos para seu desenvolvimento Todo o organismo é movido por uma aberta, dialógica, ou mais fechada,
dar efetividade a uma organização tendência inerente a desenvolver todas
pleno, tanto intelectual quanto emocional autoritária, com que este ou aquele
educacional criativa, que esteja também, as suas potencialidades e a desenvolvê-
professor ensina (FREIRE, 1996, p. 60).
continuamente, em processo de
e futuramente profissional, para que las de maneira a favorecer sua
mudança (ROGERS, 1986, p. 280). ele seja flexível e possa adaptar-se conservação e enriquecimento. […] A
tendência atualizante não visa somente
a mudanças. Desse modo, o docente
[…] a manutenção das condições Da mesma forma, Oliveira (2015, p.
assume o lugar de facilitador, e o aluno elementares de subsistência como as
Assim, a educação centrada no aluno 46) salienta a diferença que a autoridade
de construtor da aprendizagem. Isto necessidades de ar, alimentação etc.
preza pelo estímulo da criatividade e Ela preside, igualmente, atividades mais e o autoritarismo podem fazer em sala
posto, a empatia surge como o principal
complexas e mais evoluídas tais como
autonomia dos estudantes. Sob o mesmo de aula, de modo que a relação de poder
caminho para realizar transformações a diferenciação crescente dos órgãos e
ponto de vista, a proposta central de prejudica no ensino-aprendizagem
que fortaleçam a autoavaliação e funções; a revalorização do ser por meio

David Ausubel (1963) quanto à realização autonomia do aluno (INSFRAN, 2020).


de aprendizagens de ordem intelectual, quando o professor apenas transmite
social, prática […].
de uma aprendizagem significativa é Abertura crescente à experiência, o conteúdo ao passo que o lado ouvinte
o uso de metodologias e estratégias aumento da vivência e confiança nos somente absorve as informações,
sequencial e gradual. O ensino- educandos, são características do Assim como Rogers (1986) defende o descartando o fato que este ouvinte é um
aprendizagem deve ser motivador para processo de aprendizagem na teoria professor como um facilitador, libertador indivíduo por inteiro; “antes de se tratar
que os alunos resgatem conhecimentos de Rogers. O professor (facilitador de e líder grupal que deve descartar a de professor e alunos, são pessoas
anteriores e somem com o que estão crescimento) deve ter espontaneamente, percepção de hierarquia e controle sobre que possuem experiências, angústias,
estudando no presente, e assim ocorre aceitação e aprovação dos sentimentos o aluno, Paulo Freire expõe: sonhos, desejos e emoções próprias, que

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
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não deveriam ser ignoradas no processo das e debates em sala de aula são gran- a redução dos alunos em contribuir nas falta de suporte tecnológico para que os
educacional”. des aliadas para a expressão dos alunos aulas online, já que segundo eles, não estudantes acompanhassem as aulas
Diante disso, é fundamental oferecer e efetivação da aprendizagem. Estas veem sentido e não sabem de que forma virtuais.
momentos de escuta e acolhimento. são grandes ferramentas que além de colaborar. Ademais, a partir das respostas do
Esses espaços são os principais possibilitar uma aprendizagem signifi- Ao perguntar aos alunos como se formulário, observou-se que o modelo
contribuintes no processo ensino- cativa, autoconhecimento e afetividade sentiram em ter iniciado o ensino médio remoto provoca uma confusão na divisão
aprendizagem, além de conseguirem no espaço – por meio da concentração de forma remota, todas as respostas do tempo dos estudantes. Acerca disso,
promover a criatividade, comunicação e na execução dessas atividades – tam- voltaram-se de forma negativa, refletindo muitos respondentes descreveram
compreensão de sentimentos, emoções bém permite que o professor identifi- um grande impasse e frustração desses que as atividades são passadas em
e desejos. É de grande relevância que conflitos e dificuldades escolares jovens. O ensino médio é um novo ciclo períodos curtos ou de forma constante,
demonstrar a valorização das percepções e até mesmo pessoais de seus alunos, da vida acadêmica simultaneamente o que provoca uma sensação de
dos alunos para que desenvolvam senso contribuindo assim para a elaboração à adolescência, no caso deles, essa que os alunos devem estar sempre
crítico e autonomia, tendo como objetivo de novas estratégias de aprendizagem. experiência de certa forma está sendo disponíveis às atividades escolares e
a longo prazo a facilidade de formular Esses momentos que fogem do ensino só e cingida; eles não têm a mesma estarem produzindo integralmente.
suas próprias ideias exercitando a tradicional facilitam a interação e com- interação e convívio escolar como Consequentemente, esse sistema
criatividade, o autoconhecimento e o partilhamento social, ajudando na cons- em tempos presenciais. Dos 50 atrapalha a administração do tempo
autocuidado. trução e reconstrução de saberes. Desse participantes, 39 são recém-chegados na entre aulas, estudo, lazer e descanso do
A educação, especialmente no modo, a construção do conhecimento se escola em que estudam, então, grande indivíduo, de modo que, quando não se
momento remoto, deve despertar torna social, não competitivo e individual parte deles nem conhecem de fato as dedicam integralmente à escola, surge
as forças positivas de crescimento (VIGOTSKI, 1978). pessoas que compõem sua escola, bem a sensação de baixa produtividade e
que existem em cada aluno, a como os funcionários, colegas de classe, insuficiência.
aprendizagem vai além da acumulação Resultados professores e gestores. Além disso, falando-se das
de conhecimentos. Portanto, produzir Assim sendo, o formulário e as Para que as consequências não sejam experiências em sala de aula virtual, os
aprendizagem profunda e significativa vivências aplicados para esta pesquisa piores, eles relataram desenvolver alunos demonstraram gostar quando
requer apresentar conteúdos de forma levantaram pontos essenciais a serem estratégias de estudo – como videoaulas, seus professores se fazem presente;
realista, aplicável, que faça sentido para discutidos e considerados por todos leitura online dos conteúdos, resolução dos 50 respondentes, 44% se sentem à
os alunos. Neill concorda com Rogers e que estejam envolvidos na educação de questões e criação de resumos para vontade nas aulas online, 16% não e 40%
é crítico da maioria das “universidades e escolar. Neste contexto pandêmico, fixação dos conteúdos – que utilizam ocasionalmente. Dado isso, não se deve
escolas porque desenvolvem o intelecto 60% dos alunos pesquisados julgam meios tecnológicos, e quem não possui ignorar que as aulas remotas também
ao mesmo tempo que se descuidam das que sua produtividade caiu por sentir esses instrumentos, torna-se difícil são um desafio para os docentes, onde
emoções” (OLIVEIRA, 2015, p. 61 apud dificuldade em manter concentração e praticar. Mesmo que algumas escolas alguns solidam valor em manter um
NEILL, 1975, p. 225). estímulo nesse modelo educacional. É públicas estaduais em São Luís/MA diálogo saudável e sincero com os alunos
Com isso, metodologias ativas como fato que esse modelo emergencial se tenham disponibilizado chips com e incentivam a interação entre todos. Em
jogos, dinâmicas, desafios, aulas inverti- tornou limitado em alguns pontos, como internet, ainda assim há uma excessiva relação à escuta por parte da escola,

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
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88% dos alunos desejam mais espaço demora muito a responder os alunos, já a melhoria da qualidade de ensino- de alguma forma, seja positiva ou
para serem ouvidos e compreendidos. a outra descrita, oferece esse auxílio. aprendizagem, com a participação negativamente, por isso é importante
Na segunda etapa para o Igualmente, o terceiro grupo relatou da comunidade escolar –, dos dez ter cuidado em como essa atmosfera
desenvolvimento da pesquisa, a que suas escolas escutam mais os participantes de cinco escolas, apenas escolar está influenciando as conexões
vivência facilitadora, realizada através professores do que os alunos e que eles uma foi relatado ter este profissional. pessoais de cada indivíduo.
da plataforma de reunião Google Meet, não se sentiram acolhidos no primeiro Este dado é preocupante porque a
cada grupo manifestou um assunto semestre de 2021, em contrapartida, os escola deve amparar os discentes e eles Considerações finais
foco que definiu o rumo da conversa. alunos são unidos e criaram entre si uma apresentaram o contrário disso. Diante do exposto, verifica-se a
O primeiro grupo de alunos relatou relação de suporte. Por fim, o quarto Portanto, nota-se que, a falta de significância da aplicação de uma
bastante dificuldade em concentração grupo identifica uma desorganização, uma elaboração pedagógica humanista pedagogia humanista nas escolas, esta
e interação nas aulas. Além dessa falta de comunicação do corpo pedagógico em algum momento trará ao aluno contribuiria para uma melhor educação
barreira, muitos se queixaram que e julgam que alguns professores não o sentimento de desamparo. Não pública estadual. Os estudantes sentem-
alguns professores não dão abertura demonstram se importar com suas perceber sentindo em participar nas se desnorteados, como se estudar fosse
dificuldades. Ao falar sobre a concepção aulas e não estar diante de metodologias
para conversas espontâneas fora mecânico e atender o que a escola deseja,
ativas, impede a compreensão e afeta
do conteúdo programado por eles. de uma educação centrada no aluno não havendo espaço para entenderem o
diretamente na aprendizagem. Os
Tendo isso em vista, eles se sentem como complementar para que o ensino que eles mesmo querem e avaliar seu
pesquisados relataram não acreditar
bastante – segundo suas palavras – seja mais humanizado e que coloque processo de crescimento. Diante do
que estejam preparados para o 2° ano do
“desanimados, culpados, abandonados o estudante como protagonista, eles modelo remoto e ainda após ele, que
ensino médio, fazendo isso uma questão
e solitários”. O segundo grupo queixou- expressaram esperança por saber que levantará outros desafios, é importante
inquietante.
se de ter aulas extremamente reduzidas, existe uma forma didática diferente da o educador não adotar sempre um único
Os professores enquanto profissionais
principalmente as disciplinas da área que eles já têm contato. modelo de ensino. Ele deve avaliar a
qualificados para saber ensinar, devem
de Ciências Humanas, e estas são Além de lamentarem-se da pouca situação social e dos alunos, colocando
exprimir que estudar e aprender não
essenciais para o desenvolvimento dinâmica, em geral, de seus professores, os interesses de seus educandos em
deve causar sofrimento e angústia.
do senso crítico, reflexão e percepção eles possuem a total necessidade de um primeiro lugar.
Em concordância com Freire (1996)
do estudante acerca de sua realidade psicólogo escolar. Os discentes relataram Lima et al. (2018 p. 164) pontua
de que educar não é apenas transferir
sociopolítica. Apesar da Base Nacional que se sentem sobrecarregados e a importância de a relação aluno-
conhecimento, há de ser elaborada
Comum Curricular (BNCC) estabelecer ansiosos e não pensam que estão em professor transcender a sala de aula, já
uma zona acolhedora e aberta à
as disciplinas a serem ofertadas, nem uma favorável zona de desenvolvimento. individualidade de cada discente. que o discente é o próprio construtor de
todas as escolas cumprem com essa Cerca de 54% concordam que sua saúde Através do convívio escolar, todos sua aprendizagem e seu professor está
responsabilidade, visto que alguns mental afetou sua produtividade escolar. inseridos nesse meio, são reconstruídos na posição de facilitador. Para isso, a
estudantes se queixaram de não ter Por mais que seja lei ter psicólogo no educação deve ser o meio que permita
professores de História, Geografia, Arte, ensino básico5 – onde seu artigo e 5 BRASIL. Lei n° 13.935. Dispõe sobre a prestação de serviços a autodescoberta. Não obstante, o relato
de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação
Biologia, Projeto de Vida e as Eletivas. parágrafo primeiro garante agregar básica. Brasília: Senado, 2019. Disponível em: <http://www. dos alunos transmite uma instituição de
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13935.
Quanto à assistência, uma das escolas no desenvolvimento de ações para htm>. Acesso em: 9 ago. 2021. ensino que dificulta o contato deles com

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
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sua própria essência, dado que o mais aprendizagem, não devendo se tornar significativa, desenvolvimento e saúde proposto-por-carl-rogers/>. Acesso em:
valorizado no sistema é o conteúdo a ser apenas acumuladores e reprodutores de mental dos alunos e não apenas seu 31 jul. 2021.
aplicado e a devolutiva dos alunos em informações. desempenho escolar, de modo que todos CARDOSO, R. Estudantes apontam
forma de notas – esperadas – altas. Um grande desafio das escolas os alunos tenham acessibilidade a seus desafios do ensino à distância no
Para que não haja o sentimento é promover o que Rogers chama direitos, sobretudo a uma educação de Maranhão durante a pandemia. G1
de solidão nos estudantes, o corpo atmosfera favorável e clima psicológico qualidade. MA. São Luís. 2020. Disponível em:
escolar pode demonstrar disposição seguro, onde há liberdade para aprender <https://g1.globo.com/ma/maranhao/
e interesse nas habilidades de seus e ensinar, para evolução, sem sofrer REFERÊNCIAS noticia/2020/07/06/estudantes-
alunos, compreendendo seus diferentes pressões ou censuras externas (LIMA apontam-desafios-do-ensino-a-
BRASIL. Constituição Federal 1988.
distancia-no-maranhao-durante-a-
aspectos que constituem sua forma de ser et al., 2018, p. 164). Em vista disso, Art. 205. Brasília: Senado, 1988.
pandemia.ghtml>. Acesso em: 13 abr.
e sua forma de aprender. “Corresponde a realização frequente de vivências Disponível em: <https://www.senado.
2021.
a uma metodologia educativa que facilitadoras nas instituições de ensino leg.br/atividade/const/con1988/
englobe o desenvolvimento pessoal do permitiria a troca de experiências entre CON1988_05.10.1988/art_205_.asp>.
CORDEIRO, Karolina M. A. O impacto da
estudante e não apenas o intelectual” o corpo pedagógico e seus alunos, de Acesso em: 10 abr. 2021. pandemia na educação: a utilização da
(LIMA et al., 2018, p. 169). Essas e modo a esclarecer pontos positivos e
tecnologia como ferramenta de ensino.
outras características contemplam negativos de seus processos e juntos BRASIL. Lei n° 13.935. Dispõe sobre 2020. Disponível em: <http://repositorio.
a visão de Carl Rogers sobre uma elaborar medidas que permitam uma a prestação de serviços de psicologia idaam.edu.br/jspui/handle/prefix/1157>.
educação livre e inclusiva, entendendo melhoria coletiva. e de serviço social nas redes públicas Acesso em: 10 abr. 2021.
que a aprendizagem significativa é um A troca de afetos torna o processo de educação básica. Brasília: Senado,
processo contínuo e multiplicador. Por escolar menos pesado, mais proveitoso e 2019. Disponível em: <http://www. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia:
isso, os ensinamentos das escolas estimulante, assim, haveria gratificação planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- saberes necessários à prática
devem ser para a vida, e não para apenas tanto do corpo pedagógico por ter 2022/2019/lei/L13935.htm>. Acesso em educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
absorver conteúdo e ser aprovado de sucesso em seu trabalho em contribuir 9 ago. 2021. (Coleção Leitura).
série. no desenvolvimento de seres críticos e
Quando os alunos recebem um ensino autônomos, quanto dos estudantes por CAPELO, Fernanda de M. Aprendizagem IBGE. Censo escolar - sinopse.
ativo e integrativo, mais positivo será seu aproveitarem o processo escolar de forma centrada na pessoa: contribuição para Disponível em: <https://download.inep.gov.
crescimento, aprendizagem e autonomia. leve e ainda haver grande contribuição a compreensão do modelo educativo br/brasil/ma/13/78117?tipo=grafico/77908>
Para tanto Ausubel quanto Rogers, o que para sua vida pessoal. Por isso, espera- proposto por Carl Rogers. Revista de Acesso em: 13 abr. 2021.
é aprendido de forma significante, torna- se que essas questões sejam vistas com Estudos Rogerianos A Pessoa como INEP. Censo escolar 2020. Brasília:
se consciente e causa transformações na sensibilidade em proporcionar ações Centro, n. 5, set. 2000. Disponível em: Inep, 2021. Disponível em: <https://
identidade do estudante principalmente de acolhimento, apoio e assistência nas <https://encontroacp.com.br/material/ download.inep.gov.br/censo_escolar/
em seu pessoal (LIMA et al., 2018, p. escolas públicas, exigindo desenvolver textos/aprendizagem-centrada- resultados/2020/apresentacao_coletiva.
165). Em suma, os alunos precisam e pôr em prática políticas públicas que na-pessoa-contribuicao-para-a- pdf>. Acesso em: 13 abr. 2021.
ser estimulados e verem sentido na enfatizem e valorizem a aprendizagem compreensao-do-modelo-educativo-

Educação Remota e a Teoria Rogeriana em Escolas de Ensino Médio Público Estadual em São Luís/MA
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ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

INSFRAN, Fernanda; LOPES, Juliana. Classifica%C3%A7%C3%A3o%20da%20


Educação centrada em estudantes: Pesquisa.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2021.
práticas e conversações. Curitiba: CRV, OLIVEIRA, I. A. D. de. Carl Rogers na A Literatura Negra de
Autoria Feminina no
2020. Cap. 2-3. educação de ensino médio. 2015. 126 f.
Dissertação (Educação, Arte e História

Ensino Médio: Propostas


MEC. 2020. Portaria n° 343, de 17 da Cultura) - Universidade Presbiteriana
março de 2020. Brasília. Disponível Mackenzie, São Paulo, 2015. Disponível

Gamificadas
em: <https://www.in.gov.br/en/web/ em: <http://tede.mackenzie.br/jspui/
dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco- handle/tede/2876>. Acesso em: 4 abr.
de-2020-248564376>. Acesso em: 10 2021.
abr. 2021.
Natanael Vieira1
ROGERS, C. Liberdade para aprender
Graduando em Letras Língua Portuguesa e
LIMA, Letícia D.; BARBOSA, Zildete em nossa década. Porto Alegre: Artes Literaturas de Língua Portuguesa/CESIM,
C. L.; PEIXOTO, Sandra P. L. Teoria Itapecuru Mirim.
Médicas, 1986. E-mail: natanaelvieira357@gmail.com.
Humanista: Carl Rogers e a educação.
Caderno de Graduação - Ciências SEDUC. Seduc orienta comunidade
Humanas e Sociais, UNIT, Alagoas, v. escolar para recebimento de 200 mil
4, n. 3, p. 161. Disponível em: <https:// chips com pacotes de dados. 2021.
periodicos.set.edu.br/fitshumanas/ Disponível em: <https://www.educacao.
article/view/4800>. Acesso em: 14 abr. ma.gov.br/seduc-orienta-comunidade- Resumo ouçam suas vozes e posicionamentos.
2021. escolar-para-recebimento-de-200-mil- A presente pesquisa possui como Assim, foi necessário fazer uso de uma
chips-com-pacotes-de-dados/>. Acesso objetivo central ressaltar a importância pesquisa de campo e bibliográfica para
MOREIRA, M. A. O que é afinal em: 13 abr. 2021. de trabalhar obras de autoria negra e fortalecer ainda mais a dissertação
aprendizagem significativa? Revista feminina dentro do meio educacional, deste produto final. Em suma, esta
cultural La Laguna Espanha, 2012. VIGOTSKI, L. S. Mind in Society – The possibilitando quebras de preconceitos pesquisa permite diferentes reflexões
Disponível em: <http://moreira.if.ufrgs. Development of Higher Psychological e aumentando novas análises sobre em torno de cultura e escrita negra,
br/oqueeafinal.pdf>. Acesso em: 15 abr. Processes. Cambridge MA: Harvard os dados históricos contidos por colocando a mulher como protagonista
2021. University Press, 1978. trás da literatura negra. Neste caso, e os alunos como receptores de novos
este trabalho criou duas propostas conhecimentos literários, mudando
NASCIMENTO. F. P. do. Classificação pedagógicas gamificadas em torno das assim seus pensamentos em torno do
da Pesquisa. Natureza, método ou obras: Úrsula de Maria Firmina e Quarto ensino de literatura, além de possibilitar
abordagem metodológica, objetivos e de Despejo, diário de uma favelada ao professor novos mecanismos
procedimentos. Brasília: Thesaurus, de Carolina de Jesus, onde fomentam de trabalhos em sala de aula, em
2016. Disponível em: <http:// dados importantes sobre o negro em conformidade com as propostas
franciscopaulo.com.br/arquivos/ sociedade e permitem que os leitores pedagógicas aqui destacadas.

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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Palavras-chave: Literatura negra. Como há necessidade de falar da país, considerada a primeira romancista Em conformidade com os pressupos-
Mulher negra. Ensino de literatura. literatura negra em sala de aula para negra brasileira. tos citados, esta pesquisa teve como
Gamificação. Propostas. corroborar acerca da valorização do Desse modo, a tecnologia estará meio de investigação a metodologia de
negro na atualidade e contribuir para a presente dentro das propostas, uma campo e bibliográfica, pois necessitou
Introdução formação crítico-social dos estudantes vez que assim terá mais chances de se de análises in loco com aplicações de
A literatura negra é uma união de do ensino médio, este projeto delimita- aproximar às diversas realidades dos questionários contendo perguntas aber-
vozes de resistências que buscam se em preparar propostas pedagógicas alunos e consequentemente poderá tas e fechadas, onde foi usado o Google
proliferar suas verdadeiras realidades, acerca de obras de escritoras negras mudar o pensamento dos estudantes Forms direcionado para professores de
sejam passadas ou atuais. Ela permite atrelado à tecnologia. sobre o ensino de literatura. Eles literatura do ensino médio e, por outro
com que diferentes pessoas leiam alguns Pensando de modo interdisciplinar, terão novas visões a respeito dessa lado, foi necessário analisar obras, arti-
anseios e sofrimentos repassados para esta pesquisa destaca que o problema transmissão de conhecimento e facilitará gos científicos e materiais já publicados
o papel através da escrita de autoria central é a falta de trabalhos, análises e acerca do assunto aqui abordado. E, após
na disseminação discursivas das obras
negra. Em conformidade com Sousa debates em torno de livros de escritores a coleta das informações, foi possível ter
de autoras negras.
(2006, p. 79), após o surgimento dessa negros e negras, mas focando na uma maior facilidade na elaboração das
Ademais, a mulher sempre foi
literatura específica a imagem do transmissão de informações na sala propostas pedagógicas.
colocada em posições inferiores aos
negro foi reinventada, pois esse grupo de aula, onde há uma maior facilidade Nesse sentido, necessário destacar
homens, isso torna-se mais evidente
buscava através da própria literatura de se trabalhar esse aspecto. Nisso, é algumas indagações que se pretende
quando ela é mulher, escritora e negra.
sua “identidade e autoafirmação”. Mas ponderável destacar que esse projeto responder através desta pesquisa: o
Essa exclusão social vem acontecendo
é possível ver que mesmo com essa se delimita numa perspectiva entre o professor de literatura aborda temáticas
desde muito tempo, conforme Souza
alternativa de empoderamentos ainda ensino de literatura alicerçado com a que falam sobre a literatura negra? O
(2006), isso vem de um “processo
há espaços privados e há presença do tecnologia, onde serão utilizadas duas professor usa diferentes metodologias
histórico de opressão e exclusão da
racismo institucional e estrutural que obras de autoras negras e serão feitas de ensino? Por que o uso da gamificação
mulher por nossa sociedade patriarcal,
ascendeu desde o período da escravidão. duas propostas pedagógicas gamificadas pode tornar o ensino de literatura negra
que poderão ser aplicadas nas turmas pautada e normatizada pelo discurso mais prático e eficiente? As obras
O negro sempre foi colocado em
posições que não equivale a sua riqueza do ensino médio. masculino e branco, assim vimos as selecionadas possibilitaram-lhes uma
cultural e não corresponde a sua enorme Somado a isso, as obras escolhidas mulheres, especialmente as negras, nova concepção do que foi ser negro
contribuição histórica e social, além foram: O quarto de despejo, diário de ficarem relegadas ao silenciamento” antigamente e no presente século?
de ter vivido vários anos em situações uma favelada, autoria de Carolina Maria (SOUZA, 2006, p. 1). Assim, pensando As propostas pedagógicas realmente
desumanas. Nesse caso, falar do negro de Jesus, catadora de lixo, pobre, mãe em quebrar esse paradigma, a ideia são aplicáveis em diferentes situações
é abrir espaços para a divulgação de solteira e que conseguiu ascensão após presente visa focar apenas em escritoras educacionais? E, dessa maneira,
suas obras, é fortalecer a cultura leitora, a publicação da referida obra; e por negras, possibilitando a inserção e será possível ter alguns resultados
a memória do Brasil; possibilitar que fim, a obra Úrsula, autoria de Maria empoderamentos dentro das escolas do pertinentes que dará novos olhares para
diferentes pessoas possam refletir sobre Firmina dos Reis, escritora, professora, ensino médio, mas de modo dinâmico e as pesquisas em torno dos negros na
o que consta em seus escritos. criadora da primeira escola mista do assimilativo. escola.

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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Portanto, introduzir a literatura negra Sabe-se que há uma boa porcentagem organização Quilombhoje. Com base isso, a pesquisa analisou 258 romances
dentro do meio educacional é validar a de produções que compactuam com a nisso, Correia (2010, p. 35) se posiciona publicados por três reconhecidas
história do negro e respeitar os lugares significância da literatura negra, assim dizendo que os Cadernos Negros são: editoras entre 1990 e 2004, onde revelou
de falas desse grupo que tanto sofreu em como diversas escritoras que enaltecem que 93,9% dos autores publicados
[…] são uma inauguração de um tipo
torno das terras brasileiras e que ainda essa nomenclatura literária, Maria de literatura feita, baseada no lixo da eram brancos, 72% do sexo masculino
sofrem. Outrossim, trabalhar com obras Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, cultura, valorizando as experiências, e 68% residiam em São Paulo ou no
a multiplicidade dos acontecimentos, Rio de Janeiro. Ademais, analisou-se
de mulheres negras e escritoras em sala Elizandra Souza, Conceição Evaristo etc.
insanidades e desabafos, que de início
de aula é quebrar certos estereótipos Só que, no entanto, há poucos trabalhos fugiu das oficialidades, entretanto,
também a questão dos personagens

que são proliferados de geração a e poucas disseminações de suas obras apesar de não ter tido escapatória no nos romances, chegando aos seguintes
nas escolas e bibliotecas públicas mar da institucionalizada indústria dados: 7,9% dos personagens eram
geração por grupos que não querem ver cultural, continua porta-voz da escritura
em comparação às obras de autores negros e só 5.8% desses protagonistas.
a ascensão da mulher e tampouco do dos vencidos e derrotados.
brancos, além de que não há projetos ou As ocupações vividas pelos personagens
povo negro.
feiras escolares que possuem temáticas Destarte, segundo a Lei de Diretrizes refletem uma grande diferença, sendo
que suscitem nos alunos a curiosidade e Bases (LDBEN) – Lei nº 9.394 de 20 que 20,4% dos negros eram bandidos
Literatura negra: primeiras
de ler obras de autores negros e negras. de dezembro de 1996 – no Artigo 26- ou contraventores, 12% empregados
análises
Em consonância com o objeto cen- A, “Nos estabelecimentos de ensino domésticos e 9,2% escravos. Também
Ao analisar a presença da literatura
tral desta pesquisa, a literatura negra fundamental e de ensino médio, públicos é importante trazer como interferência
negra atualmente no contexto escolar
gamificada, atrelada às referidas justifi- e privados, torna-se obrigatório o estudo que na ficção a maioria dos personagens
é possível ver pouca disseminação
cativas, buscou alguns aportes teóricos da história e cultura afro-brasileira e brancos morrem por acidente ou
de obras de autoria negra, além de doença, nos romances analisados 61%
de suma importância que fortalecem indígena” (Redação dada pela Lei nº
encontrar resistências em espaços dos negros são assassinados.
de modo coerente esta investigação, a 11.645, de 2008).
necessários de debates e articulações Assim sendo, a LDB reforça
exemplo, Periódico Cadernos Negros O racismo predomina em diferentes
de conhecimentos, a exemplo, o meio a necessidade de estudos mais
(1978); Lei nº 9.394/1996; Almeida (2017 categorias para com os negros de nosso
educacional. Por meio disso, a escola apud MADEIRA), Medeiros (2018); Cuti país, isso é notório ao refletir em torno aprofundados em torno das produções
deve ter uma postura inclusiva e fazer (2010) e outros. da matéria jornalística feita pela Carta de autorias negras, e principalmente
realmente o seu papel de formar pessoas Desse modo, é necessário destacar Capital (2017) que menciona de forma dentro da sala de aula, ambiente onde os
do bem, pessoas que se enxergam nas que as publicações dos Cadernos Negros coerente sobre a pesquisa publicada estudantes negros passarão a se sentir
obras trabalhadas na sala de aula. Assim, surgiram em 1978 publicando poemas e em 2012 intitulada, o estudo Literatura incluído em novos contextos. Almeida e
é de fácil afirmação ver que muitos contos e tornando-se automaticamente Brasileira Contemporânea – Um Medeiros reiteram:
alunos conhecem mais autores brancos um dos principais meios de fomentar as Território Contestado (Editora Horizonte/ A verdade é que o País não superou
do que autores negros, e o não trabalho sensibilidades poéticas e as visões de UERJ) que possibilita enxergar resquícios a escravidão, que se alimenta sem
de obras que fazem parte da literatura mundo dos diferentes escritores negros sistema formal, nutrindo o racismo na
de um racismo institucional, dificultando
estrutura social, mantenedor do modo de
em questão acaba por aumentar esse daquele período. Importante dizer que de modo crucial a entrada de escritores produção e como prática entranhada nas
índice. essa iniciativa está sobre o controle da negros no mercado editorial. Somado a relações políticas, econômicas, jurídicas,

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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culturais e familiares, definindo os desse pressuposto, é viável afirmar que até o presente momento, mas, sabe-se formas de versos e prosas. Por meio
lugares sociais como regra e não como
por meio dessa definição, a literatura que essa terminologia literária engloba disso, Evaristo (2005) diz:
exceção (ALMEIDA, 2017 apud MADEIRA,
2018, p. 217). se faz presente através das artes, dos uma variedade de autores negros e
As escritoras negras buscam inscrever
poemas, da pintura, da música e de negras que destacam em seus escritos no corpus literário brasileiro imagens de
diferentes expressões artísticas. os anseios, sofrimentos, o passado autorrepresentação. Criam, então, uma
literatura em que o corpo-mulher negra
Mediante o que foi falado anteriormente E, conforme cita Cuti (2010), é neces- cruel vivido por eles e pelos seus
deixa de ser o corpo do “outro” como
é válido dizer que o racismo estrutural sário ensinar a literatura brasileira, mas descendentes. Desta forma, Ironides objeto a ser descrito, para se impor como
está inserido, notadamente, de forma inserir autores negros, pois é através da Rodrigues, um dos grandes intelectuais sujeito-mulher-negra que se descreve,
a partir de uma subjetividade própria
enfática dentro das raízes do nosso país, literatura que podemos ler a mimese vi- negros e influenciadores das discussões
experimentada como mulher negra na
uma vez que instituições e grupos sociais vida por cada escritor: que se pautam aqui, declara à Luiza sociedade brasileira (EVARISTO, 2005, p.
pregam o racismo de modo desumano e Lobo sobre o conceito de literatura 54).
Os sentimentos mais profundos vividos
com uma visão de inferiorizar as pessoas negra e que foi citada na obra do escritor
pelos indivíduos negros são o aporte para
negras, esquecendo automaticamente a verossimilhança da literatura negro- Eduardo Assis Duarte. Ele diz:
Ao refletir sobre a inserção da mulher
da grande contribuição que esse povo brasileira. [...] O sujeito étnico negro
do discurso enraíza-se, geralmente, no A literatura negra é aquela desenvolvida no campo da literatura encontra-se a
deu à formação cultural do Brasil. por autor negro ou mulato que escreva
arsenal de memória do escritor negro. E questão do gênero, cor e discursos de
A literatura é um conhecimento a memória nos oferece não apenas cenas sobre sua raça dentro do significado do
que é ser negro, da cor negra, de forma inferiorização. Por um lado, a mulher
fundamental para o crescimento do passado, mas formas de pensar e
sentir, além de experiências emocionais
assumida, discutindo os problemas sempre foi colocada em posições
formativo e consciente de cada estudante, que a concernem: religião, sociedade,
(CUTI, 2010, p. 87-89). inferiores aos homens, onde se coloca
e principalmente para os jovens do racismo. Ele tem que se assumir como
negro (LOBO, apud DUARTE, 2014, p. 21). em discussão acerca da capacidade
ensino médio que estão se preparando
física, intelectual e emocional e em
para ingressar no ensino superior. Nisso, Para tanto, ensinar sobre literatura situações que desprivilegiam as suas
ressalta-se que as informações obtidas e literatura negra é permitir que os Destarte, o enunciado acima destaca reais competências. Por outro, questão
por textos e obras de cunho literário e alunos ouçam e reflitam sobre os sobre o conceito de literatura negra e abordada por este trabalho, nota-se a
que engrandece a literatura possibilita acontecimentos históricos vividos por permite dizer que os autores que fazem relação com a cor, especificamente a
aos estudantes novas oportunidades de esse grupo social que até hoje, mesmo parte dessa significância possuem maior cor negra, motivo este que ascendeu
ampliar a retórica, escrita e ver o mundo com a sua enorme contribuição cultural autoridade de expressar sobre as suas historicamente racismos, falas,
e seus acontecimentos de outras formas, para construção histórica do país, vivências, ou seja, pode-se ratificar que extermínios de pessoas incluídas nesse
conhecer novos escritores, outros ainda passa por momentos que não os referidos autores possuem um lugar aspecto racial, em que a mulher negra
estilos literários etc. Além de facilitar compactuam com as suas importâncias. de fala. é inserida em um espaço de múltiplas
sua entrada para sua futura graduação, Assim, a mulher e escritora negra adversidades e fatores que impedem
meta de muitos discentes. A literatura negra e a mulher se insere numa abordagem mais de ascender. Através disso, surgem os
Desta forma, vale dizer que segundo negra: segundas análises aproximada da sua realidade, pois a diferentes discursos que as colocam
Aristóteles, a Literatura é mimese, ou A conceituação sobre o conceito de literatura negra vem possibilitar que em situações de desprivilégio, por isso
seja, a imitação da realidade. Partindo literatura negra se insere em discussões suas vozes sejam ecoadas em diferentes a necessidade de ter uma literatura

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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voltada para os escritores negros e Nesse sentido, ressalta-se que a essa formação escolar entrava numa Não observamos obras de autores
escritoras negras. literatura é um espaço de formar pessoas situação que os alunos eram inseridos negros nas bibliotecas, há poucos
Sabendo que a literatura é uma fonte que reflitam sobre o seu contexto e que numa “preparação apressada”, com trabalhos, poucos alunos conhecem
de necessidade para debates, acrescenta tenha consciência do seu papel social. a assimilação de regras educacionais escritores negros e escritoras negras. Os
aqui a presença da mulher negra e Desse modo, vale destacar: elementares. Desta forma, Zilberman professores de literatura não trabalham
escritora, pois, sabe-se que ela parte (2008), por outro lado, ratifica que essa obras em torno desses grupos que
A maior conquista que a negritude
de um lugar sem identidade e começa alcançou [...] foi a liberdade de crise de não comprometidos em aprender contribuíram de forma sofrida para
a ter contato com a escrevivência, a expressar conteúdos que integram sobre a literatura é a falta de leitura pela a construção histórica do nosso país.
elementos, características culturais ou
questionar e ressignificar sua própria maioria dos alunos e pela dificuldade em Ademais, é possível dizer que poucos
preocupações referentes à diáspora
existência. Com essa ideia, Alves (2010) negra por meio do uso de uma língua entender sobre os processos culturais alunos se sentem motivados a aprender
diz: literária que corrói a língua canônica e literários que estão/estiveram em acerca da área literária devido ao uso de
(AGUSTONI, 2013, p. 43).
torno da formação do nosso país. Esses metodologias que não correspondem ao
É de um lugar de alteridade que desponta
a escrita da mulher negra. Uma voz que desafios estão cada vez mais evidentes cenário que estão inseridos a maioria
se assume. Interrogando, se interroga. e coloca o ensino de literatura numa dos alunos, ou seja, cenário tecnológico,
Cobrando, se cobra. Indignada, se
Em consonância, a literatura negra
indigna. Inscrevendo-se para existir e privilegia o grupo que desde muito tempo aprendizagem sem significância. onde muitos estudantes possuem um
dar significado à existência, e neste ato viveu de modo desumano e inseridos em Tendo como premissa de que há maior engajamento e aptidão.
se opõe. A partir de sua posição de raça necessidade de ampliar o ensino de Sabendo que os alunos não se sentem
e classe, apropria-se de um veículo que
espaços de silenciamentos. Atualmente,
pela história social de opressão não lhe esse pilar serve para tornar os espaços literatura, em específico, de literatura motivados a aprender acerca da literatu-
seria próprio, e o faz por meio do seu mais inclusivos e que empodere a negra nas escolas, principalmente ra, faz-se mais que necessário a criação
olhar e fala desnudando os conflitos da
mulher, negra e escritora, fazendo com em torno dos espaços educacionais de novas estratégias ou propostas que
sociedade brasileira (ALVES, 2010, p. 6).
que a sua escrita seja lida e sentida em maranhenses, é de fácil afirmação de beneficiem esse grupo e que fomentem
diferentes setores do meio social. que para promover discussões acerca os diversos conhecimentos contidos nas
Quando a literatura negra dá a da temática de modo mais presente e obras que se inserem na denominação
possibilidade de a mulher negra gritar Gamificação e literatura negra inclusiva, a sala de aula deve propor da Literatura Negra, mas privilegiando
suas dores através da escrita é possível Com base em Zilberman (2008), meios de ensinar sobre as situações obras de mulheres negras e que eviden-
ver a quebra do paradigma colocado no destaca-se que há uma crise no ensino presentes nas diferentes obras. Deste ciem as riquezas literárias contidas atra-
meio social há tempos, o silenciamento de literatura, devido à temática ter modo, o professor deve buscar outras vés das suas escritas de resistências.
e a inferiorização da mulher, negra e perdido a eficiência pedagógica que a metodologias que facilitem o aluno a Em consonância, a gamificação surge
escritora, principalmente em torno classe burguesa tinha como objetivos buscar novas interpretações literárias como uma estratégia facilitadora para o
do mercado editorial. Permitir que e interesses. Ao pensar sobre o projeto e se imergir nas histórias pelos nossos ensino de literatura negra nas escolas,
diferentes grupos sociais e diferentes educacional que foi elaborado nas descendentes escravizados e que até uma vez que esse meio dinamizador
classes sociais reflitam sobre as diversas últimas décadas do século XX, momento hoje há pessoas e instituições que possui, de acordo com Busarello,
escrevivências é possibilitar espaços que a escola possuía uma visão de insistem em inseri-los nos espaços de Ulbricht e Fadel (2014, p. 14), a ideia
mais inclusivos e empoderados. formar mão de obra, infere-se que inferioridades. da gamificação consiste em fazer uso

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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“[...] dos elementos dos jogos aplicados escritoras que também estão sendo
Descrições dos
Alunos do ensino médio, de 15 a 16 anos, envolvidos com jogos e meios tecnológicos.
em contextos, produtos e serviços mencionadas nesta pesquisa. jogadores

necessariamente não focados em Portanto, o ensino de literatura negra Nível da


Fácil.
atividade
jogos, mas com a intenção de promover necessita de novos modos de repasse
a motivação e o comportamento do dos conhecimentos literários aos alunos, Componentes Conquistas, pontos e equipes.

indivíduo”. e por esse meio, a gamificação torna-se


Através dessa discussão, é possível algo fulcral, mas não se esquecendo Espera-se que o professor apresente de forma clara a ideia da atividade, prepare o cenário e insira-
Resultados os em um novo cenário, tentando mudar a concepção dos alunos perante o ensino de literatura,
dizer que a gamificação tem o potencial de colocar como meta estabelecer esperados fazendo eles terem interesse em saber mais da história dos negros, mas para isso devem ler livros
da literatura negra e ler também obras de escritoras negras.
de aumentar o engajamento em uma maior afetividade entre professor,
processos de não jogos em níveis literatura, gamificação e tornar assim, Fonte: O Autor (2021).

massivos (GRIFFIN, 2014). Nisso, a uma educação que possibilite aos seus
escola em espaços de discussões em aprendizes um maior acolhimento e Observação: os dados aqui apresentados são hipotéticos, tudo pode ser modificado
torno da literatura possibilita a inserção transmissão de informações. Dando conforme a necessidade de cada turma.
desse fator como estratégia de ensino e ênfase de modo coerente à memória
empoderamentos das escritoras negras resistente do povo negro, do povo que até
que compõem as significâncias da hoje influencia a cultura e as ideologias Análises pertinentes sobre a Em consonância, a história apresenta
literatura negra e suas discursividades, de nosso país. obra o quarto de despejo, diário elementos de relevâncias para promover
de uma favelada, de Carolina as discussões em sala de aula, elementos
Quadro 1 - Proposta gamificada¹: O Quarto de Despejo, Diário de Maria de Jesus estes que devem ser identificados pelos
uma favelada, de Carolina Maria De Jesus É importante dizer que a obra, Quarto alunos, um dos principais contextos
O professor deve preparar a sala e inserir no contexto dos ideais da gamificação. Assim, o docente
deve dividir a turma em quatro grupos; apresentar a obra em questão; compartilhar quais são
de Despejo, traz em seus diários (divididos que a história está inserida é a fome,
Contexto
os objetivos da atividade; quais as recompensas; apresentar dados biográficos acerca da obra e em dia, mês e ano) a abordagem de onde a autora a intitula da cor amarela.
esclarecer acerca da atividade.
forma escrita sobre a favela de Canindé. A presente escritora tentava se afastar,
Analisar a obra e compreender a narrativa que a personagem está inserida, além de discutir fatos
Objetivos
da história do Brasil que possibilite somar com os debates dentro da sala de aula.
Através dele, a escritora Carolina narra mas às vezes ela chegava com força
de forma coerente como consegue em sua família (sendo que, para ela, a
Cenário Uma turma do ensino médio com 40 alunos, dividida em quatro grupos com 10 alunos cada. sobreviver sendo catadora de lixo e metal pior dor era ver seus filhos passando
em São Paulo e como a falta de dinheiro fome). Destarte, ela trabalhava muito
Ler a presente obra (prazo de sete dias) e preparar uma síntese geral do que foi lido (três laudas,
no mínimo). Usar o aplicativo Canva para elaborar uma linha do tempo das discussões históricas
e de trabalho afetam a sua vida. Através para comprar comida, além de receber
Atividade acerca do negro, contida na obra. Por fim, o grupo deve enviar todo o material por e-mail, um dessa narrativa, a autora expõe como algumas doações e buscar restos de
dia antes da aula de Literatura e dia seguinte apresentar presencial ou através do Google Meet o
material produzido. é sua rotina, seus sacrifícios para criar alimentos nas feiras e, até mesmo, no
seus três filhos, sendo mãe solteira, e lixo.
Recompensas Nota máxima ao grupo que melhor se sobressair e medalhas para ambos os ganhadores.
tinha que trabalhar para manter tudo Ao ler a obra nota-se que há muitas
Compromisso com a atividade proposta; engajamento; atenção aos detalhes; aprendizagem sobre
Competêcias
as discussões acerca da obra e como manusear o aplicativo Canva; incentivo à leitura, à escrita,
sozinha. E ainda havia que lidar com o passagens que coloca o leitor em um
Desenvolvidas
conhecimentos acerca do negro; interesse maior pela literatura etc. preconceito de não casar de novo. estado emocional reflexivo, observa-

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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se isso em um trecho muito famoso de Na obra em questão, também
Quarto de Despejo, onde é exposto que podemos ver que a religiosidade possui Figura 1 - Fotos das variações de capas da obra Quarto de Despejo,
diário de uma favelada (1960)
a fome se difere da embriaguez (pois uma grande importância para autora,
para Carolina muitos de seus vizinhos pois é através desse pilar que ela é
se embebedam para esquecerem sua motivada a não desistir e impulsionada
condição social, sua miséria e sua fome), a continuar sua rotina mesmo com
ela diz que: “a tontura do álcool nos seu sofrimento por causa de suas
impede de cantar. Mas a da fome nos faz crenças religiosas e sua fé. Outrossim,
tremer. Percebi que é horrível ter só ar Carolina relata diversos problemas de
dentro do estômago”. seus vizinhos, denunciando a violência
Por outro lado, a autora expõe, doméstica que as mulheres sofriam,
também, além de ser negra, favelada principalmente, pelo alcoolismo de seus
e pobre, a invisibilidade social também maridos.
torna-se um fator que lhes inferioriza, Por fim, a obra Quarto de Despejo Fonte: O Tempo (2020).

pois ela e seus filhos tornam-se fomenta relatos fiéis das dificuldades
automaticamente pessoas invisíveis, vividas por uma mulher, negra e
Quadro 2 - Proposta gamificada²: Úrsula, autoria de Maria Firmina dos Reis
ignoradas por aqueles que têm maior pobre em meio à favela, enfatizando
Apresentação da obra; definição dos objetivos; explicação de como vai funcionar a atividade, assim,
condição social e que não sentem na pele as vivências e dificuldades para criar CONTEXTO o professor deve deixar claro os fatores que serão usados na sala de aula, pois há a necessidade de
preparar os alunos para serem inseridos no contexto discursivo da obra.
a dor da violência e da pobreza. Nesse seus três filhos, além de sobreviver em
Possibilitar aos alunos novos conhecimentos acerca da literatura negra; apresentar uma autora
cenário apresentado, Carolina conta meio à sua condição de invisibilidade OBJETIVOS
negra, escritora e maranhense; fomentar diversos contextos de debates no momento atual (a
escravidão, a submissão da mulher; o racismo e outros); incentivar a leitura de obras de escritoras
que escreve em seus diários, materiais e sua miséria, e mesmo com todos negras na escola.
encontrados no lixo, como uma maneira os empecilhos encontra, através da
Uma turma do ensino médio com 40 alunos, dividida em quatro grupos com 10 alunos cada.
de fugir um pouco da sua realidade, religiosidade, esperanças de mudança
mesmo sentimento vivido por muitos apesar de tudo o que passa diariamente.
escritores que usam a escrita como meio CENÁRIO Uma turma do 1º ano do ensino médio com 40 alunos.
de pensar em outro contexto. A escritora
sentia que ao escrever ela podia ter
Atividade individual. A presente atividade deve ser contínua, deve começar a partir de março até
mais esperança e isso a fazia sonhar na novembro, cada mês será uma obra diferente, ou seja, a obra Úrsula será a primeira e o professor
pode deixar que os alunos escolham as outras obras, ou o professor pode definir, a exemplo: Quem
hipótese de que algum dia alguém iria tem medo do feminismo negro? De Djamila Ribeiro – mês de abril; A cor púrpura, de Alice Walker –
ler os seus relatos contidos nos diários e mês de maio; Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves – mês de junho; Olhos d’água, de Conceição
Evaristo – mês de julho; Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil, de Sueli Carneiro – mês de
assim proliferar o entendimento mínimo ATIVIDADE agosto; Mulheres, raça e classe, de Angela Davis – mês de setembro; Eu sei por que o pássaro
canta na gaiola, de Maya Angelou – mês de outubro, Quando me descobri negra, de Bianca Santana
do que ela havia passado, tirando-a de – mês de novembro). Após esclarecer acerca das leituras, o professor deve solicitar que cada aluno
seu status de invisível. apresente um resumo no decorrer de março a novembro sobre cada obra lida, enfatizando as
narrativas em que os negros estão inseridos, possibilitando as diferentes interpretações e análises
por parte dos alunos. Ao chegar em dezembro, os três alunos que se sobressaíram na elaboração
dos resumos e que conseguiram ler todas as obras serão os premiados.

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RECOMPENSAS Certificados e medalhas aos alunos que ficarão em 1º, 2º e 3º lugar e nota máxima na disciplina. depoimento dos outros, ou seja, há uma em meados do século XIX, e mais difícil
COMPETÊNCIAS impressão sobre lembrança própria ainda era encontrar uma escritora negra
Compromisso com a atividade proposta; engajamento; competitividade; incentivo à leitura de obras
DESENVOLVIDAS
de autoria negra; protagonismo; se sentirão motivados e desafiados, e outros. e na dos outros ao serem realizadas e pobre, levando assim, a autora a lançar
descrições por diversos pontos de vista. a sua obra sob o pseudônimo “Uma
DESCRIÇÕES
DOS JOGADORES
Alunos do ensino médio, de 15 a 16 anos, envolvidos com jogos e meios tecnológicos.
Ademais, o enredo possibilita o leitor maranhense”.
NÍVEL DA
Médio. refletir sobre a memória do passado Para tanto, o livro Úrsula entra
ATIVIDADE
COMPONENTES Conquistas, pontos, competividade, engajamento e execução. do negro africano que se torna agente para a história ao se transformar no
Espera-se que os alunos se sintam engajados a conquistar as recompensas supracitadas; que o
do romance, logo mostra sua história primeiro livro abolicionista da literatura
RESULTADOS professor esteja presente auxiliando-os e que promova uma competição implícita para a obtenção
ESPERADOS máxima de conhecimentos acerca das obras trabalhadas, enfatizando principalmente a necessidade
através de seus próprios conceitos e brasileira, onde mostra fatos sobre
de respeito e trabalho com as obras de autoria negra e feminina.
vivências, fato muito difícil de acontecer resistência tanto dentro da obra como
Observação: os dados aqui apresentados são hipotéticos, tudo pode ser modificado conforme a
necessidade de cada turma. na literatura brasileira na época da na vida da autora, fato que contribui para
publicação do livro. Assim, esta narrativa entender que os fatores sociais atuam

dá voz ao negro e possibilita com que na formação da obra e na vida social do


autor. E através disso, a presente obra
Análises pertinentes sobre a novembro de 1917), é construído com outras pessoas reflitam sobre seus
possibilita aos leitores que conheça fatos
obra Úrsula, de Maria Firmina base nesse cenário: mostrando, por anseios e gritos.
históricos e quando usada em sala de
dos Reis meio de narrativas pessoais de alguns Outrossim, encontra-se como
aula pode fomentar diversas discussões
A obra Úrsula permite-nos a personagens, como era a sociedade elemento social a escravidão e utilizado
e empoderamentos em torno do negro
refletir sobre a formação da literatura escravocrata da época. Por esse ideal, pela autora como modo de crítica à
em sociedade.
maranhense, assim como a literatura os diferentes discursos foram divididos sociedade da época com o objetivo de
Discussões dos resultados
brasileira em geral, onde entre diversos em quatro blocos, nos dois primeiros o mostrar o verdadeiro valor de ser ético
O presente trabalho teve como ideiais
fatores e manifestações foram trazidas enredo do romance conta como Tancredo em sociedade. O objetivo principal dessa
metodológicos a pesquisa de campo e
pela colonização e que assim trouxe ao e Úrsula se conheceram no momento em obra é desconstruir a condição social
local diferentes culturas, como as dos que salvam a vida de um cavalheiro que do negro, visto por muito tempo como
portugueses, franceses e holandeses conta toda a sua vida cheia de conflitos objeto e transformado em escravo.
(estes dois muito presentes na formação familiares, assim como ocorre nos dois Através disso, esse ato desconstrutivo
da cidade de São Luís), além, é claro, da últimos em que Úrsula comenta como escravocrata acerca do negro é debatido
cultura vinda com os escravos africanos. fora sua vida de escrava, além da mãe dentro da obra em alicerce com as
Destarte, é possível perceber que os Susana descrever qual o verdadeiro discussões sobre o patriarcalismo
romances brasileiros, desde o período sentido da liberdade, explicando como e é desmitificado no enredo ao ser
oitocentista, traziam características conseguiu sobreviver a uma viagem exemplificado a relação amorosa entre
do que era visto e vivido no cenário dentro de um navio negreiro. Úrsula, Tancredo e o tio comendador.
social e político. O romance Úrsula, de Nesse sentido, vale dizer que a Por outra discussão, há um destaque
Maria Firmina dos Reis (São Luís, 11 presente obra traz comparações sobre
muito relevante nesta obra: era difícil Fonte: Editora Taverna (2018).
de março de 1825 – Guimarães, 11 de o passado não vivido de acordo com
de se encontrar uma escritora no Brasil

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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bibliográfica, pois por um lado necessitou Ademais, os entrevistados afirmam ir além do que é permitido dentro da sala sua própria obra literária, valorizando
sua identidade, vivências e resistências,
fazer a aplicação de um questionário que “Uma grande parte dos alunos de aula, é fazer o aluno se inserir em um
levando o leitor a lerem autores negros
abordando sobre o ensino de literatura não gosta de literatura, tem uma certa papel reflexivo e ver com pensamentos constituindo assim um importante
negra e gamificação, onde foi analisado repulsa aos textos literários, isso já vêm que lutar por representatividade e veículo de conhecimento (Entrevistado
C).
as respostas de dez professores de internalizados por não terem o hábito da igualdade racial é um dever de todos,
Língua Portuguesa e suas respectivas leitura”. Esse fator acaba acarretando incluir essa discussão no contexto
Em consonância, o questionário
literaturas, tendo perguntas abertas e numa baixa aprendizagem e possibilita o escolar é dar oportunidade de falar da
também indagou acerca da importância
fechadas. Por outro lado, foi necessário os surgimento de uma repulsa mediante a lei, porém de forma mais dinâmica e leve.
de se estudar a literatura negra nos
embasamentos téoricos da significância assimilação dos conteúdos literários. Nisso, um dos entrevistados responde:
dias atuais, e teve respostas bem
Por outro viés, um dos professores “Sim, eu a conheço. Mas, ainda é preciso
de uma pesquisa bibliográfica, onde seus relevantes. O entrevistado D disse: “Sim,
reitera: “Não, um dos fatores da não rever alguns quesitos para aplicar até mesmo para quebrar essa visão
fundamentos téoricos deram suportes
motivação talvez seja que os alunos a lei com eficácia”. Destarte, assim eurocêntrica, combater a discriminação
relevantes para a presente discussão
sempre foram ensinados a reproduzir como há necessidade pensar em novas racial, e valorizar a cultura negra como
estabelecida nesse tópico.
conceitos e não a elaborá-los. Outro metodologias de ensino da literatura, parte essencial da nossa história”. O
Ao analisar as respostas do formulá-
ponto negativo, é associar o castigo com há necessidade de falar da literatura entrevistado F diz: “Sim, pois dialoga com
rio foi visível perceber que os professo-
estudo. Fez algo de errado? Vá estudar”! propriamente feita pelos negros e nossa nacionalidade, faz um mergulho
res participantes estão de um a dez anos
Através disso, preocupa-se refletir colocar em ênfase dentro da sala de aula na história do africano no Brasil, que
sendo docentes da disciplina de literatu-
sobre como o ensino de literatura está em conformidade com o exposto pela lei precisa ter visibilidade acerca de sua
ra em escolas e faculdades públicas ou
sendo repassado e como os alunos estão n° 10.639. cultura e descendência”.
privadas, isso permite inferir que ambos Ao indagar a respeito do que os
fazendo essa recepção assimilativa. Somado a isso, percebeu-se que
possuem diferentes visões acerca do en- professores achavam que seria literatura
Adentrando às discussões em ambos os contribuintes desta pesquisa
sino literário. Assim, ao fazer a pergun- negra, foi visto alguns conceitos distantes
torno da perspectiva do negro dentro dão sugestões de livros para os seus
ta, com base nas suas experiências, qual do ideal por trás dessa temática,
do ensino, foi perguntado acerca do alunos, tanto de autores brancos quanto
é a sua opinião a respeito do ensino de conhecimento da Lei n° 10.639 que inclui surge assim, a preocupação de inserir de autores negros, tais como: Úrsula,
literatura? Observa-se que os entrevis- a obrigatoriedade da temática “História ainda mais essa disciplina não apenas Defeito de cor; Escravidão na sua pele;
tados enfatizaram que é uma disciplina e cultura afro-brasileira” no currículo na vivência do docente por meios de Cor negra e preconceito; Casa grande
de papéis fulcrais para o desenvolvimen- oficial da rede de ensino e como o docente formações continuadas, mas também na senzala; Quilombo Santa Joana; O triste
to crítico-social dos estudantes, “O en- aplica essa lei nas aulas de literatura. vida dos alunos através da aplicabilidade fim de Policarpo Quaresma, de Lima
sino de literatura é de fundamental im- Após refletir sobre as respostas dadas das propostas gamificadas. Através Barreto; Úrsula, de Maria Firmina dos
portância para o processo formativo dos pelos docentes, é notório observar que disso, um dos professores entrevistados Reis; Quarto de despejo: diário de uma
alunos. Nesse sentido, o trabalho com há aplicabilidades que enfatizam essa pontua de modo coerente acerca da favelada, de Carolina Maria de Jesus; O
textos literários faz-se imprescindível lei, mas de forma moderada e sem muita literatura negra, ele diz: ódio que você semeia e outros.
para o contexto educativo” (Entrevistado aceitação por partes do corpo discente. Para mim é uma Literatura que
Tendo como base de reflexão, a
A). Trabalhar o que enfatiza essa questão é apresenta o negro sendo seu autor da educação básica nos propõe diversas

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


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reflexões para a nossa formação Através disso, o gráfico abaixo ressalta é relevante que os docentes já tenham a importância de trabalhar sobre a
humanística e social. Desse modo, ao dados importantes: algum conhecimento acerca desse literatura negra dentro das escolas, não
refletir acerca da inserção do negro em Tendo como base o gráfico acima, contexto. apenas pela essência literária contida
debates literários nas aulas de literatura percebe-se que os dados hipotéticos Por outra discursividade, todos os dentro de suas mais diversas narrativas,
na época do ensino médio é possível deste trabalho se tornaram reais, professores entrevistados acreditam que mas também pela necessidade de
ver a exclusão desse grupo social uma vez que 91,7% dos professores a gamificação serve como uma prática possibilitar uma representatividade
nos debates e dentro das bibliotecas. entrevistados ressaltam que há mais metodológica para melhorar o ensino de autoria negra dentro dos espaços
de literatura e facilita na divulgação e educacionais.

Gráfico 1 - Presença de livros de autores brancos e autores negros


análise das obras de autoria negra em Ao incluir a mulher, negra e escritora

Na escola em que trabalha/trabalhou, você observou a presença mais de livrosW de autores brancos
espaços que os excluem. Desta forma, dentro de novas discussões é perceptível
ou de autores negros? a escola atrelada ao professor de ver uma inclusividade necessária, pois,
12 respostas literatura deve discutir não apenas livros historicamente, o negro influenciou
de autores brancos, mas de autores de forma impactante na construção
negros, em concentração com obras de histórica e cultural de nosso país.
mulheres negras, pois é um agente que Assim, a mulher sempre foi colocada
+ Livros de autores brancos. desde muitos anos passa por situações numa posição inferior as dos homens, e
8,3% que desmerecem a sua importância e essa inferiorização é ainda mais visível
91,7% + Livros de autores negros.
acabam por desprivilegiar as suas reais quando a mulher é negra.
Não tinha nem biblioteca. competências. Sabendo da importância de ler obras
Por fim, a literatura negra é uma de autoria negra e feminina, a escola
fonte de representatividade do povo deve ter posicionamentos mais firmes
Fonte: O Autor (2021). que até no presente século ainda passa dentro de seu contexto, deve propagar
por situações de silenciamentos, de discussões e análises em sala de aula
apagamentos históricos e um racismo e o professor de literatura será um
livros de autores brancos nas escolas literatura negra e principalmente sobre
que tira em alguns casos a oportunidade dos principais agentes de ascender as
que eles trabalham do que obras de as diferentes narrativas e vozes emitidas
do negro, da negra mostrar a sua diversas manifestações de interpretações
autores negros. Possibilita-nos dizer pelos escritores negros e escritoras
voz. Trabalhar nessa perspectiva é existentes nas obras que contemplam a
que a sociedade deste então fomenta negras, pensou-se em englobar as
usar a democracia a favor de um povo significância da escrevivência literária.
aparelhos racistas e excludentes para características da gamificação ao ensino que construiu culturalmente um país Partindo do ideal que é necessário
com o negro, isso torna-se ainda mais aqui em destaque. Assim, 91,7% dos chamado Brasil. trabalhar tais perspectivas que enfatizam
ascendente quando são obras de professores entrevistados conhecem ou os traços culturais da cultura negra, a
mulheres, negras e escritoras. já ouviram falar da gamificação, isso, Considerações finais gamificação, assim como enfatizou a
Observando a necessidade de proliferar na lógica, possibilita a inserção desse Tendo em vista a intenção central pesquisa feita com os dez professores de
os conhecimentos literários acerca da meio dentro de diferentes aulas, pois deste trabalho, afirma-se com convicção literatura, torna-se um elemento fulcral

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


58 | Trilhos da Educação Natanael Vieira | 59
para a proliferação de tais conhecimentos devem promover ações que permitam contemporânea. Belo Horizonte: CUTI. Literatura negro-brasileira. São
e aporias em torno da mulher negra, pois a inserção de obras de autoria negra no Nandyala, 2010. Paulo: Selo Negro Edições, 2010.
gamificar uma aula possibilita inserir os corpus de suas bibliotecas; o professor
alunos em contextos de protagonismo de literatura deve propagar e indicar BOCCATO, V. R. C. Metodologia DAMASCENO, Victoria. Escritores
e engajamento, elementos essenciais obras que façam os alunos entenderem da pesquisa bibliográfica na área negros buscam espaço em mercado
existentes nos diferentes jogos. a base histórica por trás dos negros e odontológica e o artigo científico como dominado por brancos. Carta
Assim, Maria Firmina se imortaliza negras e desse modo tornar a escola forma de comunicação. Rev. Odontol. Capital. Disponível em: <https://
ao escrever de forma impecável a mais acessível para discussões literárias Univ. Cidade São Paulo, São Paulo, v. www.cartacapital.com.br/cultura/
obra Úrsula e Carolina de Jesus se em torno da literatura negra. 18, n. 3, p. 265-274, 2006. escritores-negros-buscam-espaco-
insere num patamar de relevância Portanto, esta pesquisa é fruto de em-mercadodominado-por-brancos/>.
ao possibilitar aos leitores conhecer diversas incomodações, uma delas é BUSARELLO, R. I.; ULBRICHT, V. Acesso em: 18 fev. 2021.
diferentes situações que acontecem com permitir a representatividade de autoras R.; FADEL, L. M. A gamificação e a
o negro nas favelas brasileiras, onde sua negras e beneficiar os discentes de sistemática de jogo: conceitos sobre a DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura

obra, Quarto de Despejo, diário de uma conhecimentos que irão transformar as gamificação como recurso motivacional. afro-brasileira: 100 autores do século
XVIII ao XX. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
favelada, permite a inserção do leitor formações crítico-social e desse modo In: FADEL, L. M. et al. (Org.).
para navegar historicamente sobre os serão sujeitos pensantes e conscientes. Gamificação na educação. São Paulo:
EVARISTO, Conceição. Fêmea fênix.
fatores acometidos em torno do negro. Assim, esta investigação é essencial Pimenta Cultural, 2014. p. 11-37.
Maria Mulher – Informativo, ano 2, n.
Deste modo, ao trabalhar as duas obras para o atual momento, pois promove
13, 25 jul. 2005.
em sala de aula de forma gamificada, o diferentes olhares em torno da mulher CORREIA, Severino do Ramo.
professor de literatura estará quebrando negra em sociedade. Quilombhoje: um tambor expressando
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas
o paradigma de que essa disciplina é as vozes literárias negras. 2010. 86 f.
de pesquisa social. 6. ed. São Paulo:
algo enfadonha e automaticamente REFERÊNCIAS Dissertação (Mestrado em Literatura
Atlas, 2008
estará mudando o pensamento dos AGUSTONI, Prisca. O Atlântico em e Interculturalidade) - Universidade
discentes, além disso, eles estarão Movimento signos da diáspora africana Estadual da Paraíba, Campina Grande,
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar
inseridos em um contexto favorável para na poesia contemporânea de língua 2010. projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
a sua aprendizagem acerca da literatura portuguesa. Belo Horizonte: Mazza Atlas, 2008.
negra. Edições, 2013. CUTI. Literatura negra brasileira:
Para tanto, a literatura negra notas a respeito de condicionamentos. GRIFFIN, Daniel. Gamificação em
gamificada é um instrumento para ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é In: QUILOMBHOJE (Org.). Reflexões E-Learning. Ashridge Business School,
permitir os negros, especificamente a racismo estrutural? Belo Horizonte sobre a literatura afro-brasileira. 2014. Disponível em: <http://www.
mulher negra e escritora, de gritar seus Letramento, 2018. São Paulo: Conselho de Participação e ashridge.org.uk/Website/Content.nsf/
incômodos, seus sofrimentos e quebrar Desenvolvimento da Comunidade Negra wELNVLR/Re fontes: + Gamification + in
o racismo que diferentes grupos os ALVES, Miriam. BrasilAfro Brasileira do Estado de São Paulo, 1995. + e-Learning? Opendocument>. Acesso
impõem. Nesse alicerce, as escolas Autorrevelado: literatura brasileira em: 26 ago. 2021.

A Literatura Negra de Autoria Feminina no Ensino Médio: Propostas Gamificadas


60 | Trilhos da Educação Natanael Vieira | 61
ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

Formação Continuada
JAUSS, Hans Robert. A história da negros para publicar livros no Brasil.
literatura como provocação à teoria Revista Biblioo Cultura informacional.

de Professores em
literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Disponível em: <https://biblioo.info/
Paulo: Ática, 1994. os-desafios-as-autorasnegras-e-aos-

JESUS, Ilma Fátima de. O pensamento


autores-negros-para-publicar-livros-
no-brasil/>. Acesso em: 18 fev. 2021. Metodologias Ativas no
do MNU - Movimento Negro Unificado.
In: SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves; SILVA, Cassandra Ribeiro de O. Município de Bacabeira/MA
BARBOSA, Lucia Maria de Assunção Metodologia e organização do projeto
Nelvanir Ribeiro Pereira1
(Orgs.). O pensamento negro em de pesquisa: guia prático. Fortaleza:
educação no Brasil: expressões do Editora da UFC, 2004 Edvaldo Costa Rodrigues2
movimento negro. São Carlos: Editora
1 Graduanda em Pedagogia-Licenciatura pela Universidade
da UFSCar, 1997, p. 47. ZILBERMAN, R. Literatura, escola e Estadual do Maranhão, São Luís/MA.
leitura. In: SANTOS, J. F.; OLIVEIRA, L. E-mail: nelvanirribeiro2@gmail.com.

LAKATOS, E. MA; MARCONI, M. de E. (Orgs.). Literatura & ensino. Maceió:


A. Fundamentos de metodologia EDUFAL, 2008. p. 45-60.
científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
ZILBERMAN, R. A leitura e o ensino de
literatura. Curitiba: Ibpex, 2010.
Resumo pedagógicos. Para coletar os dados,
LEITE, Lígia Chiappini Moraes. Invasão
Este artigo aborda o desenvolvimento aplicou-se um questionário com vistas
da catedral: literatura e ensino em
de uma pesquisa realizada com a identificar os conhecimentos dos
debate. 2. ed. Porto Alegre: Mercado
professores dos anos finais do ensino professores acerca das metodologias
Aberto.
fundamental em Bacabeira, município ativas. A partir dos dados oriundos desse
do estado do Maranhão. A investigação, instrumento foi possível montar uma
MADEIRA, Maria Zelma de Araújo;
de caráter descritivo, centra-se no oficina sobre duas metodologias ativas:
MEDEIROS, Richelly Barbosa de.
âmbito da formação continuada de aprendizagem baseada em problema
Racismo estrutural e desafios
professores e objetiva investigar as e mapa conceitual. Com essa oficina
dos movimentos negros na
potencialidades das metodologias ativas busca-se promover a conscientização
contemporaneidade. In: MACÁRIO,
no processo de ensino-aprendizagem. pedagógica acerca das potencialidades
Epitácio et al. (Org.). Dimensões da
A pesquisa está sendo desenvolvida de tais metodologias para o ensinar
crise brasileira: dependência, trabalho
de forma semipresencial, utilizando- e aprender, como: otimizar o tempo,
e fundo público. Fortaleza: UECE, 2018.
se plataformas digitais como Google proatividade e protagonismo do aluno,
NASCIMENTO, Débora do. Os desafios Meet para o contato com os sujeitos desenvolvimento de habilidades,
às autoras negras e aos autores da pesquisa: professores e técnicos-

Formação Continuada de Professores em Metodologias Ativas no Município de Bacabeira/MA


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estreitamento da relação professor- experiências acumulados ao longo da
aluno, entre outros. formação inicial, formação continuada
2 Edvaldo Costa Rodrigues e prática docente possibilitam lidar
Professor-orientador. Doutorando Palavras-chave: Formação de profes- com as demandas no cotidiano escolar,
em Educação pela Universidade sores. Metodologias ativas. Ensino Fun- fruto das necessidades psicossociais e
Federal do Ceará. Possui Mestrado damental. expectativas de aprendizagem de cada
em Educação pela Universidade educando. Decerto que, não basta ter
Federal do Maranhão. Graduado em Introdução conhecimento do conteúdo, é preciso
Pedagogia e História pela Faculdade Há alguns anos as tecnologias digitais também o conhecimento pedagógico,
Santa Fé. Possui pós-graduação em vêm invadindo as escolas e as salas de isto porque cada aluno apresenta uma
Supervisão Escolar pela Universidade aula, desafiando o corpo docente a pensar maneira distinta de aprender. Nesse
Cândido Mendes. Possui pós- novas formas de ensinar. No entanto com sentido, é preciso identificar quais
graduação em Escola, Família e a pandemia da covid-19 os professores estratégicas didáticas que respondem
Sociedade pela Universidade Federal viram a importância de estarem mais melhor às necessidades de cada sala de
do Maranhão. Possui pós-graduação conectados e instrumentalizados. Surge aula. A esse respeito, Laville e Dionne
em Psicologia da Educação pela então as metodologias ativas, tornando (1999) asseveram que na educação do
Universidade Estadual do Maranhão. as aulas mais expositivas, participativas, século XXI, os professores precisam
Pós-graduando em Informática na interativas. Nessa perspectiva, passar da condição de detentores do
Educação pelo Instituto Federal de
[...] a aula expositiva dialogada é uma conhecimento para facilitadores de
Educação do Maranhão. Atualmente é
superação da aula expositiva tradicional, aprendizagens, considerando que os
Técnico na área do Currículo Escolar uma vez que nela, o foco não está apenas
educadores apresentam necessidades,
da Secretaria Municipal de Educação no professor, o conhecimento é uma
criação compartilhada entre docente culturas e comportamentos diferentes.
de São Luís, Maranhão. Associado
e o discente, no qual o último não mais Entre tantas estratégicas que
da Sociedade Brasileira de Estudos permanece numa posição passiva. O
compreendem a discussão, pode-
Qualitativos. Universidade Estadual do ponto forte dessa estratégia é o diálogo
entre alunos e professor, havendo se destacar as metodologias ativas
Maranhão, e-mail: edvaldo.uemanet@
espaço para questionamentos, críticas, que, entre outras coisas, possibilitam
gmail.com, http://lattes.cnpq.
discussões e reflexões (MELLO; NETO;
dinamizar o processo de ensino-
br/8377444347355655. PETRILLIO, 2019, p. 81).
aprendizagem e dar protagonismo aos
A temática é um desafio para o educandos, a saber: aprendizagem por
corpo docente das escolas, onde tornar projetos, ensino híbrido, aprendizagem
as aulas mais atrativas e promover a baseada em problemas, gamificação,
aprendizagem significativa permite sala de aula invertida, aprendizagem
explorar as potencialidades de cada entre pares, cultura maker, storytelling,
aluno, sendo que os conhecimentos e estudos de caso, hands on, mapas

Formação Continuada de Professores em Metodologias Ativas no Município de Bacabeira/MA


64 | Trilhos da Educação Nelvanir Ribeiro Pereira e Edvaldo Costa Rodrigues | 65
conceituais, mapas mentais, entre professores, otimiza o pensamento desatentos, com fome ou sem fome do à elaboração e estruturação do curso de
outros. Nesse sentido, a relevância e o criativo, adaptabilidade, comunicação e conhecimento”. Quando reconhecemos forma contínua, esses correspondiam às
estudo do trabalho com as metodologias habilidades interpessoais. o caráter histórico do conhecimento, metodologias que supostamente iriam
ativas na formação continuada de nos resultam desencontradas a essas ser apresentadas no curso, tais como:
professores contribuem para a melhoria Metodologia percepções fechadas do conhecimento, mapas mentais, aprendizagens em pares
da prática educativa no ensino dos Considerando os protocolos de saúde pratos prontos favoráveis para qualquer e aprendizagem baseada em problemas,
componentes curriculares da educação em função da pandemia provocada pelo mente desde que esses sejam repassados sala invertida, cultura maker, estudos de
básica. novo coronavírus, covid-19, o curso foi com uma didática apropriada. caso e storytelling.
Considera-se o esforço desses desenvolvido na forma semipresencial, O primeiro passo do projeto foi a O curso foi desenhado a partir
professores para desenvolver sua utilizando-se plataformas digitais como apresentação para a coordenação da aplicação de um formulário
atividade docente através do ensino o Google Meet para a realização de pedagógica da rede de ensino do elaborado no Google Forms com a
remoto e com expectativas de voltar as estudos e apresentação de atividades município de Bacabeira/MA, juntamente participação dos professores dos anos
aulas presenciais tão logo as condições de sob a coordenação do bolsista e seu com os professores dos anos finais, finais da rede de ensino municipal
saúde pública permitirem. Desse modo, orientador. No que se refere a um realizada em um dia através de uma de Bacabeira/MA. Este apresentou
os objetivos da pesquisa somada com a aporte teórico-metodológico, a pesquisa reunião, no período da tarde, onde perguntas relacionadas à formação
relevância da pesquisa é contribuir para se insere no campo da pesquisa- foram apresentadas as justificativas do docente e alguns levantamentos de
a formação continuada dos professores descritiva que torna “[...] possível da pesquisa, os objetivos, resultados supostos conhecimentos a respeito das
de Bacabeira, estimulando-os a estudar dinamicamente os problemas, esperados, no intuito que todo corpo metodologias ativas e suas aplicações
utilizarem metodologias que despertam decisões, ações, negociações, conflitos discente se disponibilizasse à pesquisa, que foram usados para a elaboração do
no aluno a curiosidade por aprender, e tomadas de consciência que ocorrem reiterando que o processo de pesquisa, minicurso o qual atende às informações,
no intuito de tornar o processo de entre os agentes durante o processo de da troca de conhecimento, do diálogo, da especificidades e necessidades dos
ensino-aprendizagem mais significativo. transformação da situação” (THIOLLENT, crítica é que forma sujeitos autônomos, alunos da rede. Os componentes
Comparando-se à abordagem 1986, p. 19). Pensar em metodologias críticos capazes de compreender o curriculares, em que as metodologias
tradicional do ensino, podemos destacar ativas não se restringe, portanto, em mundo. foram aplicadas e ofertadas para compor
alguns benefícios como melhora do uso apresentar uma lista de métodos com Em um segundo momento foi o curso, foram escolhidos no formulário
da memória, estimula a compreensão conteúdo de forma teórica, está muito realizada uma reunião individual com dois ou mais votos, como mostra o
mais completa dos cenários e situações além disso. Antes implica reconhecer com os orientadores da Faculdade Gráfico 1.
do cotidiano, proporciona maior o caráter social, histórico, dinâmico e Latino-Americana de Ciências Sociais
conhecimento de conteúdo, desenvolve temporal do conhecimento e da sua (Flacso Brasil) para análise, ajustes e
o pensamento crítico aprimorado e produção. Arroyo (2004, p. 219) nos chama sugestões. Discutimos algumas etapas
capacidade de resolução de problemas, a atenção afirmando que “preparar uma quanto ao desenho e aplicação do curso.
ocasiona atitudes mais positivas em aula não é preparar um cardápio, menos Para preparação e formação interna da
relação ao aprendizado, traz mais ainda requentar pratos ou enlatados a pesquisadora e seu orientador foram
entusiasmo por parte de alunos e serem repassados a alunos atentos ou realizados estudos dirigidos referentes

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fundamental a mediação do professor que haja momentos de trocas. Na rede
e da professora que irá auxiliar, de ensino de Bacabeira/MA, cerca de
questionar, instigar o aluno a seguir o 72,7% dos professores afirmaram que
caminho. A memória é indispensável no uma memória perfeita é essencial à
processo de aprendizagem, mas para educação e 23,3% discordaram como
que este seja significativo é preciso mostra o Gráfico 3.

O formulário foi aplicado por oito dias, portuguesa, essa que é considerada a
tivemos a participação de 11 professores. língua materna, base da aprendizagem.
Nas disciplinas que eles lecionam Dentre eles 90,9% possuem pós-
na rede de ensino em Bacabeira/MA, graduação e 9,1% não possuem, é o que
mais da metade trabalham com língua o Gráfico 2 demonstra.

O ensino tradicional é baseado em uma como um educando de memória


sistematização de aprendizagem onde o perfeita. De acordo com Moran (2017),
professor detém todo o conhecimento as metodologias ativas são grandes Nos Gráficos 3 e 4 percebemos que a e socialização e nem desenvolver
e ao aluno cabe somente ouvir e copiar diretrizes que orientam os processos memória é indispensável no processo de o cognitivo do aluno para ser um
todo conteúdo, é preciso de fato inovar de ensino-aprendizagem e são elas aprendizagem, considerada um motor investigador, aquele que reconstrói os
as práticas pedagógicas para que o que concretizam as estratégicas que absorve e registra os conteúdos conhecimentos propostos. Designar
aluno não se adeque ao processo de desenvolvidas em sala de aula. ministrados em sala de aula, porém conteúdos que os alunos devem estudar
decodificação/memorização, pois esse O aluno precisa ser levado a refletir ela não armazena todas as resposta com o intuito que eles possam obter
aluno vai ser identificado pelo professor sobre a sua própria realidade, isso torna e não consegue promover a interação uma nota excelente é descredibilizar a

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autonomia que Paulo Freire sustenta em com uma problematização do conteúdo, com a mesma porcentagem, optou-se 1 – Título: Formação Continuada
sua obra “Pedagogia da autonomia” e os alunos serão instigados a tentar so- pelos mapas conceituais uma vez que de Professores Em Metodologias
todo seu trabalho construído. Ele enfatiza lucionar, buscar meios para chegarem a ela se encaixa melhor nas ferramentas Ativas em Bacabeira/Ma
que a educação é uma troca que ocorre um denominador comum, a uma solução que estão sendo usadas no ensino
pelo esforço de ambas as partes e suas que desproblematiza a situação criada remoto por hora estabelecido em Carga horária: 40 horas
palavras reforçam que quem ensina pelo professor ao dar início à discussão. decorrência da pandemia da covid-19. Público: ANOS FINAIS DA REDE DE
aprende ao ensinar. E quem aprende A metodologia, através dos mapas Além da abordagem ser prática, os ENSINO DE BACABEIRA/MA.
ensina ao aprender. conceituais, ajudou os alunos a desen- mapas conceituais fazem a elucidação Pesquisadora: Nelvanir Ribeiro Pereira
Dentre as metodologias propostas volver um mapeamento visual para or- dos conteúdos de forma que o aluno Instituição de ensino: Universidade
no formulário para os professores, na ganizar e comunicar, retendo o conheci- possa sempre relacionar conceitos, não Estadual do Maranhão (UEMA)
grande maioria dos votos, optaram por mento, desenvolvendo a potencialidade decorando-os, mas sim entendendo Formação: Graduação (cursando)
aprender: a aprendizagem embasada e facilitando a aprendizagem significa- seus significados ao ponto de relacionar Prof. Orientador: Edvaldo Santos
em problemas (ABP) e mapas concei- tiva. Foram apresentadas duas formas e atribuir significados, identificar as Rodrigues
tuais. Trabalhar com aprendizagem ba- de construção para esses mapas aos relações dos conceitos de acordo com
seada em problemas é essencial para a professores, os quais decidiram fazer as
o conteúdo que está sendo apresentado 2 - Justificativa
busca da autonomia, da argumentação produções por plataformas específicas e
pelo professor. O minicurso “Formação Continuada
fundamentada e amparada, preparação de fácil manejo. Com papel, folha e ca-
O curso foi ministrado através de de Professores em Metodologias
para o mundo de trabalho “[...] alunos a neta foi feito um esboço a mão e depois
oficinas online por três dias onde se Ativas em Bacabeira/MA” se justifica
aplicação de atividades de análise, sín- de finalizado, inserido na plataforma.
trabalhou na formação dos professores pela necessidade de uma formação
tese e avaliação da informação, em vez A aprendizagem baseada em pares,
com a duração de 40 minutos, com 15% significativa do corpo discente da
de simplesmente exigir uma resposta” estudos de caso, sala de aula invertida
do curso com a abordagem teórica e 25% rede Municipal de Bacabeira/MA e
(MUNHOZ, 2015, p. 84). A aula já começa e cultura maker foi o método que ficou
com as produções práticas. No uso das o protagonismo do aluno em sala
metodologias ativas nas aulas, tivemos de aula. Nota-se que a temática das
a troca de experiências, vivências e metodologias ativas ganha mais espaços
soluções de situações que ocorreram, e maior visibilidade social. O curso não
dificuldades encontradas e a elaboração exige nenhum conhecimento sobre o
de hipóteses que solucionassem as entendimento de qualquer método ativo,
dificuldades apresentadas. Dinamizando somente o comprometimento e dedicação
as aulas, tornando-as mais interessantes do professor com a sua turma e seus
de forma que o educando seja trazido alunos. Assim, tal abordagem encaixa-
por livre e espontânea vontade para se no objetivo da proposta de pesquisa
aprender. que se remete à troca de conhecimento
A seguir apresentamos a minuta do entre alunos e professores.
curso.

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3 - Objetivos • Fundamentação e sugestões para aprendizagens baseadas em problemas/ no “não pode erigir-se somente como
Objetivo geral: capacitar os professo- aprendizagens baseadas em problemas/ registros. Este funcionará como oficinas finalidade, nem se apresentar com im-
res com o trabalho das metodologias no registros. online, por meio de plataformas digitais. portância maior do que o aluno, ou so-
âmbito escolar em específico: aprendi- E por fim faremos uma socialização das brepujá-lo, uma vez que ele se constitui
zagem baseada em problemas e mapas 3ª AULA (27/09/2021) atividades realizadas durante o curso. fundamentalmente, como mediação en-
conceituais para que estes insiram es- • Seminário de Socialização- tre o professor e o aluno” (MELLO; NETO;
ses métodos na vida acadêmica de for- Produções e avaliações. 7 - Avaliação PETRILLO, 2019, p. 79). Mas garantir que
ma continuada. Inspirar cada professor, Ao final do curso foi feita uma todas as crianças aprendam e cada uma
dentro da sua área, a criar uma interação 5 - Público-alvo 3
avaliação por meio de um seminário oral conforme o seu potencial é o questiona-
aos objetivos que atenda o seu contexto. Escolas dos anos finais da rede de socialização (relatos de experiências) mento mais emblemático desde o final
Objetivos específicos: garantir aos municipal de ensino em Bacabeira/MA. com os professores a respeito das do século XX, que pode ser elaborada a
(Unidade Escolar Padre Possidônio dificuldades encontradas e quais os partir da análise de algumas variantes,
professores momentos de estudos teó-
Monteiro). meios que buscaram para resolvê-las. como a responsabilidade dos sistemas
rico-práticos sobre metodologias ativas;
oportunizar aos professores o diálogo, a A partir dessa avaliação, os professores de ensino, as condições estruturais das
6 - Metodologia relataram o que acharam da aplicação escolas e de trabalho dos professores,
troca de experiências e o aprofundamen-
O minicurso foi pensado para ser além do ser/estar na profissão docente.
to de conhecimentos relativos à prática do curso e quais os benefícios que o
desenvolvido através de dois módulos, Os alunos chegam às escolas com um
educativa e aos conteúdos de ensino; uso das metodologias ativas agregou
trazendo conteúdo e oficina: teórico e repertório de conhecimento e com an-
desenvolver nos professores competên- para a sua formação. Tivemos também
prático. No primeiro módulo foi feita a seios e expectativas diferenciadas, logo,
cias e habilidades no campo da escrita produções de mapas conceituais
preparação teórica dos professores onde os professores precisam estar prepara-
acadêmica. feitas pelos professores para que
serão expostos os conteúdos a respeito dos para administrar as demandas em
demonstrassem na prática o conteúdo
das metodologias ativas e no primeiro sala de aula, de modo a não desrespeitar
4 - Conteúdos aprendido. Relataram também que
encontro foi trabalhado o histórico dos o direito do aluno aprender – o que não
alunos serão capazes de desenvolver
métodos de ensino, contextualização é possível fazê-lo sem uma base con-
1ª AULA (23/09/2021) sua autonomia, sua confiança, enxergar
das metodologias ativas, contribuição ceitual e teórica, além da práxis sobre a
• Fundamentação teórica: John o processo de ensino-aprendizagem
para o desenvolvimento das habilidades, ação docente no chão da escola (PERRE-
Dewey. como algo tranquilo, se tornarão aptos a
aplicação e preparo de mapas conceituais NOUD, 2002).
• Contextualização das metodolo- resolver problemas e profissionais mais
e aplicação e preparo da aprendizagem
gias ativas. baseadas em problemas. qualificados e preparados para ministrar [...] é possível olhar retrospectivamente
• Contribuição de Dewey para a quaisquer conteúdos em sala. e refletir sobre a reflexão-na-ação.
No encontro seguinte foi feita a Após a aula, o professor pode pensar
educação. parte prática, a produção dos mapas no que aconteceu, no que observou, no
conceituais/registros e sugestões para Considerações Teóricas significado que lhe deu e na eventual
2ª AULA (25/09/2021) Na obra “Metodologias ativas: desa- adoção de outros sentidos. Refletir sobre
a reflexão-na-ação é uma ação, uma
• Fundamentação dos mapas 3 Como tivemos a participação de quatro escolas no formulário, fios contemporâneos e aprendizagem observação e uma descrição, que exige
a instituição escolhida para a aplicação do curso foi designada
conceituais/registros. pelo maior número de professores participantes por escola. transformadora”, um método de ensi- o uso de palavras (SCHÖN, 1992, p. 83).

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Ao discorrer sobre esse assunto nota- na sala de aula. Entre outras coisas dedução e generalização (MEDEIROS, cotidiano escolar atendendo as deman-
se que não existe uma única forma de possibilita desenvolver nos alunos 2014, p. 43). das educativas de cada aluno. Decerto
ensinar e de aprender, que os professores a autonomia e o interesse em novas Para trabalhar com as metodologias que cada professor, no contexto das me-
precisam recorrer a várias estratégias descobertas e aprendizagens. Nesse ativas o ideal é que os professores todologias ativas aprendem com o pro-
de modo a identificar e avaliar o que sentido Jófili (2002, p. 196) afirma que: possam passar por uma formação cesso e os resultados, passando a ser:
melhor responde às expectativas de continuada, uma vez que, nesse
O engajamento do aluno em relação a Curador, que escolhe o que é relevante
aprendizagem dos alunos. Desse modo, processo formativo há uma construção entre tanta informação disponível e
novas aprendizagens, pela compreensão,
é preciso buscar aporte em várias áreas pela escolha e pelo interesse, é de conhecimento que vai se ampliando ajuda a que os alunos encontrem sentido
no mosaico de materiais e atividades
do conhecimento, como a psicologia condição essencial para ampliar suas à medida que novos conhecimentos vão
disponíveis. Curador, no sentido também
possibilidades de exercitar a liberdade e
da aprendizagem, as tecnologias sendo incorporados a cada momento de cuidador: ele cuida de cada um,
a autonomia na tomada de decisões em
educacionais, entre outras. “Nesse diferentes momentos do processo que
formativo, sem depender unicamente dá apoio, acolhe, estimula, valoriza,
orienta e inspira. Orienta a classe, os
sentido, a reflexão unida diretamente à vivencia, preparando-se para o exercício da ação individual do professor, isto é,
grupos e a cada aluno. Ele tem que
ação que a sustenta é uma das fontes profissional futuro. [...] assegurar um a ação-reflexão-ação sobre o uso das ser competente intelectualmente,
ambiente dentro do qual os alunos
mais importantes de aprendizagem metodologias ativas em sala de aula vão afetivamente e gerencialmente
possam reconhecer e refletir sobre
(gestor de aprendizagens múltiplas e
profissional” (TARDIF; SCHILLING, 2018, suas próprias ideias; aceitar que outras sendo compartilhadas entre os sujeitos
complexas). Isso exige profissionais
p. 26). O que estamos enfatizando é que pessoas expressem pontos de vista aprendentes (FREIRE, 1996). A esse melhor preparados, remunerados,
diferentes dos seus, mas igualmente
a escola precisa sair de um processo de respeito Schön (2000, p. 15), assevera valorizados. Infelizmente não é o que
válidos e possam avaliar a utilidade acontece na maioria das instituições
escolarização em massa e investir cada dessas ideias em comparação com as
que:
educacionais (MORAN, 2015, p. 24).
vez mais em um ensino personalizado teorias apresentadas pelo professor.
Na topografia irregular da prática
– que considere as potencialidades/ profissional, há um terreno alto e firme,
inteligências múltiplas dos alunos. de onde se pode ver um pântano. No No que se refere às aproximações
E entre tantas possibilidades para O método ativo envolve a construção plano alto elevado, problemas possíveis
de serem administrados prestam-se a
teóricas em relação às metodologias
transformar a sala de aula em um de situações de ensino que possibilitam ativas, podemos destacar a interação
soluções através da aplicação de técnicas
espaço de socialização, descoberta e uma aproximação crítica do aluno com a baseadas em pesquisa. Na parte mais social de Vygotsky, a aprendizagem pela
realidade, proporcionando aprendizagem baixa, pantanosa, problemas caóticos e
aprendizagem significativa, encontra- experiência de Dewey, a aprendizagem
confusos desafiam as soluções técnicas.
se a metodologia ativa, que pode ser de forma autônoma e participativa. Os significativa de David Ausubel e a
entendida, segundo Pereira (2012, p. 6) alunos passam a depender cada vez autonomia de Freire.
como “[...] todo o processo de organização menos do professor, pois se sentem Isto quer dizer que os centros de ensi- Lev Vygotsky afirma que o
da aprendizagem (estratégias didáticas) mais confiantes na elaboração do no e a escola precisam formar professo- desenvolvimento do aluno se dá
cuja centralidade do processo esteja, pensamento. Assim, as atividades res para dominarem não apenas os con- através da interação social e esse
efetivamente, no estudante”. O trabalho devem gerar curiosidade e desafios para teúdos de ensino e a didática sobre eles, desenvolvimento social é fundamental
com metodologia ativa contraria a que os alunos se sintam motivados a mas também que aprendam a pensar, a para o aspecto cognitivo, pois por
exclusividade do professor e do livro realizá-las através de processos mentais cooperar e a correlacionar teoria e prá- meio dessa interação, no contato com
didático como as únicas fontes do saber complexos, como análise, síntese, tica, de modo a atuarem criticamente no parentes, amigos, professores, ele irá

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internalizar os signos e os instrumentos ensino ativo, onde os educandos passam a dia tornando-os mais ágeis, críticos ajustar com as ferramentas que se tinha.
que o fará desenvolver-se, provocando a assumir uma postura ativa no processo e também ajudando-os, ou seja, dando John Dewey já abordava as metodologias
novas aprendizagens através de de aprendizagem (BACICH, 2018). o suporte necessário para que possam ativas em suas perspectivas para a
metodologias ativas. As ideias de Dewey superar as dificuldades e obstáculos educação e as contribuições acerca
apontam que a escola deve proporcionar Resultados com a chegada de um problema. Através do que se podia fazer, inovar, instalar
momentos de aprendizagem que façam Com o minicurso realizado por meio dessas práticas educativas pretende-se e romper com o sistema de educação
sentido para o aluno, onde não deve haver das oficinais, os professores tornaram- perpassar os níveis de conhecer, refletir tradicional, ela surge então como uma
separação entre a vida e a educação, pois se agentes colaborativos para a e executar, contemplando uma educação nova forma de se trabalhar em sala de
para ele a educação é uma “contínua aprendizagem significativa dos seus significativa, participativa, troca de aula, buscando e abrindo espaços para
reconstrução de experiência” (DEWEY, alunos. Foram mediadores responsáveis conhecimentos, onde o aluno será um engajamento significativo e cada vez
1978, p. 7). Esse teórico esclarece que pelo desenvolvimento de cada aluno em capaz de desenvolver-se como cidadão maior entre os alunos, motivando assim
se aprende o que se pratica; aprende-se sala e observaram que seus alunos, cada crítico, questionador, ativo-protagonista o seu aprendizado.
por associação; não se aprende nunca um do seu jeito, começaram a buscar da sua aprendizagem, garantindo No processo, o aluno desenvolverá
uma coisa só; toda aprendizagem deve mais conhecimentos, fazendo pesquisas, assim sucesso no seu desenvolvimento a confiança e sua criatividade, logo
ser integrada à vida. elaborando mapas mentais e conceituais acadêmico, profissional e humano. desempenhará responsabilidades nos
Na aprendizagem significativa de David para a fixação do conteúdo. Houve seus estudos, serão discentes mais
Ausubel é defendido que quando alguém também um avanço no relacionamento Considerações finais participativos aprendendo por meio de
distribui significados a um conhecimento dos professores com seus alunos, pois A aplicação dos métodos ativos em suas próprias investigações.
prévio, logo, estabelece a aprendizagem estes começaram a enxergar seus sala de aula proporciona o protagonismo
significativa. Esse conhecimento prévio professores com outros olhos, não mais e provoca a autonomia do aluno, uma REFERÊNCIAS
do aluno deve ser considerado para o como aquele que era detentor de todo vivência que é indispensável para a FREIRE, Paulo. Pedagogia da
docente, a potencialidade do material e conhecimento e sim como aquele que o formação do corpo docente e discente, autonomia: saberes necessários à
a disposição do aprendiz em aprender. orienta em sala e lhe ajuda ao fornecer em ambas as partes aprendem juntos. prática educativa. São Paulo: Paz e
Daí se configura a aproximação com o e mostrar os caminhos que pode seguir. O compartilhamento de informações Terra, 1996.
método ativo. Para Freire (1996), um Com a execução do curso espera-se e experiências, entre outros aspectos
dos grandes problemas da educação agora alcançar um número maior de que influenciam no processo de ensino- BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs.).
tradicional é o fato dos educandos escolas, alunos e professores para o aprendizagem, ressaltam a importância Metodologias ativas para uma
serem estimulados a pensarem de estudo e aplicação das metodologias de traze-los para o ambiente em sala, educação inovadora: uma abordagem
forma mecânica, cabendo-lhes receber ativas, pois já se fala em metodologias alinhado com os projetos que valorizem téorico-prática. Porto Alegre: Penso,
e absorver uma quantidade enorme de ativas desde John Dewey. O curso a reciprocidade e o aprimoramento de 2018.
informações, sem terem a oportunidade enfatizou a importância de se trabalhar conhecimentos, trabalhando uma prática
de se manifestarem criticamente. Desse com os métodos ativos para que se enfatize educativa no contexto da atualidade, que DEWEY, John. Vida e educação. 10. ed.
modo, o despertar para a autonomia uma nova mentalidade, posicionamento em função da pandemia causada pelo São Paulo: Melhoramentos, 1978.
poderia ser ocasionado através de um dos alunos perante as situações do dia novo coronavírus a educação teve que se

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76 | Trilhos da Educação Nelvanir Ribeiro Pereira e Edvaldo Costa Rodrigues | 77
ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

JÓFILI, Zélia. Piaget, Vygotsky, Freire e a


construção do conhecimento na escola.
20- 22 set. 2012. Revista Thema, 2017,
v. 14, n. 1 288.
Educação Antirracista no
Educação: teorias e práticas. v. 2, n. 2,
p. 191-208, dez 2002.
PERRENOUD, Philippe. A prática
Maranhão: Mapeamento de
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean.
reflexiva no ofício de professor:
profissionalização e razão pedagógica.
Regimes de Colaboração
A construção do saber: manual de
metodologia da pesquisa em ciências
Porto Alegre: Artmed, 2002. no Campo das Artes
humanas. Tradução Heloisa Monteiro
e Francisco Settineri. Porto Alegre:
SCHÖN, D. A. Educando o profissional Visuais
reflexivo: um novo design para o ensino
Artmed, Editora UFMG, 1999. Rodrigo Ferreira Gomes
e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,
Graduando em fase final do curso em licenciatura
2000. em Artes Visuais pela Universidade Federal do
MEDEIROS, Amanda. Docência na
Maranhão (UFMA), São Luís/MA.
socioeducação. Brasília: Universidade E-mail: rodrigomes1997@gmail.com.
SCHÖN, D. A. Formar professores
de Brasília, Campus Planaltina, 2014.
como profissionais reflexivos. In:
NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e
MORÁN, José. Mudando a educação
sua formação. Lisboa: Dom Quixote,
com metodologias ativas. In: SOUZA,
1992.
Carlos Alberto de; MORALES, Ofelia
Elisa Torres (Orgs.). Coleção Mídias
Resumo vivências em sala de aula, que pode ser
TARDIF, Maurice; SCHILLING, Cláudia. O presente trabalho tem como objetivo um lugar de combate ao racismo. Dessa
Contemporâneas. Convergências
A noção de profissional reflexivo na apresentar reflexões sobre a educação forma é imprescindível que o racismo
Midiáticas, Educação e Cidadania:
educação: atualidade, usos e limites. antirracista a partir de uma pesquisa seja abordado no âmbito escolar.
aproximações jovens. v. II. PG: Foca
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, desenvolvida com 14 professores de Esta pesquisa verificou por meio de
Foto-PROEX/UEPG, 2015. Disponível
v. 48, n. 168, p. 388-411, abr./jun. artes visuais do ensino médio, no estado entrevista com os professores de artes
em: <http://www2.eca.usp.br/moran/
2018. Disponível em: <https://www. do Maranhão em concentração na ilha de visuais do ensino médio, que a maior
wp-content/uploads/2013/12/mudan-
scielo.br/scielo.php?pid=S0100- São Luís. A pesquisa almeja investigar as parte tem contribuído com conteúdos
do_moran>. Acesso em: 27 ago. 2015.
15742018000200388&script=sci_ percepções dos arte-educadores sobre afrocentrados, mas notou-se a ausência
arttext&tlng=pt>. Acesso em: 22 abr. os conteúdos de relações étnico-raciais, de materiais e conteúdos pedagógicos
PEREIRA, Rodrigo. Método Ativo:
2021. tendo como embasamento teórico sobre a arte afro-diaspórica.
Técnicas de Problematização da
autores afrodescendentes para abordar Palavras-chave: antirracista. Decolo-
Realidade aplicada à Educação
a temática. A importância que a educação nial.
Básica e ao Ensino Superior. In: VI
antirracista possui ao promover ao
Colóquio internacional. Educação e
educador e ao educando um melhor Pensar na construção de uma
Contemporaneidade. São Cristóvão, SE,
entendimento sobre o racismo está nas educação antirracista

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
78 | Trilhos da Educação Rodrigo Ferreira Gomes | 79
O presente trabalho tem como desconstrução pedagógica de ensino e compreendendo-a como um produto e nos anos iniciais (86,7%), no qual a
benéfico para todos” (MOTA, 2021, p. 19).
objetivo resgatar a cultura de matriz aprendizagem. maior parte desses números de alunos
africana por meio da educação no estado O processo educacional no Brasil é negra.
A partir do que é posto por Mota
do Maranhão, a partir de uma pesquisa sempre teve inúmeras adversidades, (2021), pode-se pensar que o processo É inevitável não enfatizar que o estado
que foi realizada com os professores de desde o que está implantado na matriz de escolarização das pessoas é marcado do Maranhão possui 74% da população
Artes Visuais da rede pública, visto que a curricular das disciplinas, sobretudo as por uma tentativa constante de negação negra, segundo o Instituto Brasileiro de
educação, na história colonial brasileira, de ciências humanas, até o modo como da sua identidade, história e cultura, Geografia e Estatística (IBGE) em 2012, e
por vezes deixou lacunas a serem se constroem as relações em sala de oriunda da imposição pela cultura branca um dos maiores em relação à população
preenchidas no que tange a conteúdos e aula. Em observância a isso, é importante eurocêntrica como um único modo de negra do país. Faz-se necessário refletir,

debates étnico-raciais. salientar que a forma como a educação conhecimento, poder, razão e ciência. a partir dos dados, que há um número
é executada nos dias atuais se deve ao Com isso, compreende-se que o expressivo de alunos negros que ainda
Desde a lei nº 10.639/03, que torna
fato de ainda adotarmos metodologias regime de colaboração, atrelado a não estão vinculados a uma educação
obrigatório o ensino de História e Cultura
tradicionais que não privilegiam as uma educação antirracista, é o melhor de nível superior, em comparação ao
africana e afro-brasileira no ensino básico
pautas étnico-raciais. Há ainda uma caminho para que alunos aprendam percentual de brancos identificados na
expandindo e focalizando demandas já
ausência de conteúdos programáticos a valorizar as diferenças e riquezas educação profissional concomitante ou
levantadas pela Constituição Federal de
específicos que poderiam estar sendo da cultura afro-brasileira e, desta subsequente (18,0%) e no ensino médio
1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da
apresentados nas diferentes disciplinas forma, estimular uma integração mais (16,8%).
Educação Nacional (LDB, 1996), nota-
das ciências humanas. respeitosa, condescendente, além de Nesse sentido, é imprescindível
se que ao passar dos anos os espaços
Um autor importante para este debate ser um instrumento potencializador implantar ferramentas e possibilidades
de reafirmação cultural afro-brasileira
é Fernando Henrique Mota. Em seu do protagonismo preto diante de sua para a educação antirracista no
sempre precisaram resistir à ausência
livro intitulado “O ensino antirracista na história. Maranhão, com o objetivo de inserir
de conteúdos específicos nos currículos
educação básica”, o autor coloca que: Para fundamentar a pesquisa sobre novas visões para os alunos de cor preta
da educação básica.
educação básica no estado do Maranhão que, por consequência do processo
[...] o estabelecimento de uma educação
A exclusão dessas narrativas ocorre educacional colonialista no Brasil, são
antirracista deve envolver toda a serão utilizados os dados do Censo
na estrutura curricular brasileira em preenchidos por pessoas brancas em
sociedade, não apenas os negros. Uma da Educação Básica do Maranhão. A
relação à abordagem pedagógica e profunda reflexão sobre a educação
diversos âmbitos.
pesquisa de 2019 mostra que foram
para as relações étnico-raciais leva-
promove desigualdade social na medida registradas 2 milhões de matrículas, As artes visuais são um campo
nos a concluir que o tema é urgente
em que os conteúdos e disciplinas que se não apenas para o público escolar 78.055 a menos em comparação com favorável para trazer questões étnico-
relacionam diretamente com as culturas negro. É fundamental aos estudantes
o ano de 2015, o que ocasiona a uma raciais. A união entre a arte e as
brancos, para que sejam capazes de
de matriz africana aparecem, de modo redução de 3,8% no total de matrículas. dinâmicas pedagógicas permite que
reconhecer a diversidade de matrizes
geral, de forma defasada. Esta pesquisa que compõem a cultura nacional, Dessa forma, o levantamento aponta se trabalhe os conteúdos de forma
almeja mapear e compreender as ações tenham elementos para compreender
que, em relação à cor/raça, pretos e sensível, interdisciplinar e através de
culturas que podem eventualmente não
desenvolvidas pelos professores que conhecer e reconhecer a necessidade de pardos apresentam maiores proporções materiais e ferramentas que promovem
possam ser perpetuadas enquanto se mobilizar pela igualdade de direitos, na educação de jovens e adultos (88,7%) a criatividade e cooperação entre os

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
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alunos. Considerando que uma sala de como eu poderia contribuir na educação Partindo do pressuposto de que as e estratégias de produção antirracista,
aula pode abrigar alunos pertencentes básica (sobretudo em escolas públicas, artes visuais podem ser utilizadas para onde solicita autores como Nilma Lino
às diferentes regiões, etnias e culturas, onde um número de crianças e jovens uma educação inclusiva e antirracista, se Gomes, Luiz Silvio de Almeida, bell
acreditamos ser possível realizar pretos e pretas são elevados) com intuito faz necessário perguntar aos professores hooks, Grada Kilomba, Ana Mae Barbosa,
atividades pedagógicas que estimulem de construir novas reflexões a partir de como ponto de partida: há conteúdos Thiago Henrique Mota, entre outros.
os alunos a conhecerem e aprenderem um currículo decolonial, oportunizando direcionados à arte afro-diaspórica? Essas e esses autores citados
sobre as diversas características étnico- uma visão mais igualitária e antirracista Diante disso, propõe-se realizar contribuem no campo educacional por
raciais, a partir das artes visuais. pelas crianças e jovens maranhenses. um mapeamento em relação às ações meio de uma perspectiva antirracista,
A necessidade de desenvolver este Nota-se que a maneira como a desenvolvidas pelos professores da rede em que propõem gerar discussões que
trabalho partiu de uma inquietude escola articula as questões raciais, pública do Maranhão. Através desta podem ser consideradas permeáveis
que surgiu em 2020, quando ocorreu cultura africana e afro-brasileira, ainda pesquisa será possível investigar como a partir de suas obras. Por meio dessa
uma onda de protestos devido ao é insuficiente, levando-se em conta a as/os docentes veem as mudanças nas pesquisa bibliográfica intenciona-se
assassinato brutal de George Floyd. O ausênciadeferramentaspedagógicasque propostas pedagógicas em relação à construir um embasamento teórico para
movimento chamado Black Lives Matter 1
possibilitem melhorar a compreensão inclusão de conteúdos voltados para fundamentar as análises que foram feitas
se perpetuou nos primeiros dias pelos e valorização dos conteúdos, mesmo educação antirracista; quais atividades a partir de todo processo da pesquisa,
Estados Unidos e logo depois se espalhou com a implementação de políticas elas/eles desenvolvem para promover a sobretudo a entrevista realizada com os
pelo mundo todo. Em virtude disso, toda públicas educacionais. Nesse sentido,
integração entre os alunos; como fazem professores de artes visuais.
a repercussão nos faz olhar de maneira é necessário que sejam trabalhados e
para estimular os alunos a conhecerem No segundo momento foi realizada
mais aguçada para população preta no estudados conteúdos vinculados aos não
e aprenderem sobre as distintas uma entrevista de caráter estruturada,
Brasil que passa pela necropolítica2, em brancos.
características étnico-raciais existentes a qual tem como objetivo traçar um
que a cada 23 minutos um corpo preto É fundamental ressaltar a importância
entre eles; além de outras análises diagnóstico aos posicionamentos
é morto segundo a Organização das de engendrar novos debates em sala
possíveis. Com base nas respostas dos professores da educação básica,
Nações Unidas. de aula acerca do que apontado por
coletadas será possível mapear e atrelado ao regime de colaboração. Para
Como futuro arte-educador, preto, Kabengele Munanga em seu livro
registrar ações que contribuam para a sistematizar o processo da entrevista
cotista de universidade pública e “Superando o racismo na escola”.
construção de um currículo mais justo foi necessário elaborar duas planilhas
residente em periferia, todas essas
[…] sabemos que nossos instrumentos do ponto de vista étnico-racial no estado. por meio do Excel para facilitar na
questões me levaram a questionar de trabalho na escola e na sala de
organização.
aula, isto é, os livros e outros materiais
didáticos visuais e audiovisuais carregam O processo de mapeamento Assim, a proposta elaborada foi,
1 Onda de protesto após a morte do norte-americano George
Floyd. O objetivo do movimento antirracista foi cobrar das os mesmos conteúdos viciados, das(os) professores primeiramente, uma coluna somente
autoridades que resguardem vidas negras.
depreciativos e preconceituosos em
2 Termo surgido por Achille Mbembe, professor de História A presente pesquisa é caracterizada com os nomes das escolas, onde cada
relação aos povos e culturas não oriundos
e de Ciências Políticas do Instituto Witwatersrand, em
Joanesburgo, África do Sul e na Duke University, nos Estados do mundo ocidental. Os mesmos como sendo bibliográfica, exploratória professor(a) atua; a segunda coluna os
Unidos. O conceito descreve como nas sociedades capitalistas,
instituições – como governos – articulam para restrição do
preconceitos permeiam também o e de campo. No primeiro momento nomes das/dos professores; a terceira
acesso à população preta, onde promovem as condições cotidiano das relações sociais de alunos
mínimas de sobrevivência. Estabelecem e criam regiões onde
entre si e de alunos com professores no
houve uma breve análise bibliográfica coluna os contatos de celular/telefone,
a vida é precária e onde a morte é autorizada. Ao fazer isso,
definem que indivíduos devem viver e quais devem morrer. espaço escolar (MUNANGA, 2005, p. 15). referente aos processos educacionais WhatsApp e E-mail.

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
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A proposta seria de apenas uma modo que totalizou quatorze educadores Pode-se notar em diversos momentos aula. Portanto, a comunicação dos
entrevista com um número de 15 entrevistados. na escola, a ausência de conteúdos educadores referente aos estudos das
professores de artes visuais da rede Logo após as entrevistas concluídas, referentes à africanização, apenas culturas africanas e afro-brasileira é
pública do estado do Maranhão, em parte-se para o terceiro momento, quando está sendo perpassada por crucial para ser discutida em sala de
concentração na ilha de São Luís, para em que propõe analisar e processar meio da visão errônea eurocêntrica nos aula, baseada nas visões e nas vivências
que eles fossem indagados sobre os dados por meio das respostas livros de geografia, português, história dos educandos.
estratégias de colaboração por um ponto coletadas. O intuito de identificar como e em ênfase nas artes visuais. Assim, Nesse sentido, apontamos através da
de vista antirracista na educação. os professores estão dialogando com discutimos neste capítulo a importância entrevista realizada com os professores,
No primeiro momento foram as relações étnico-raciais, é buscado e necessidade de abordar as questões a qual sinaliza que grande parte acredita
verificados que apenas oito professores antes da conclusão final nessa etapa, étnico-raciais nas escolas públicas. na educação antirracista, é perceptível
tinham respondido ao questionário, seja que é desempenhar uma análise crítica O objetivo desta etapa é perceber que exista uma parcela considerável de
por meio da escrita ou por áudios. Vale baseada no conjunto de opiniões dos por meio das opiniões dos professores arte-educadores que buscam incluir
ressaltar que houve necessidade de arte-educadores. A forma pensada foi conteúdos afrocentrados para serem
entrevistados se a inclusão da Lei nº
utilizar cinco planilhas, em que consiste estudados e praticados em sala de aula.
pensar outras possibilidades para coletar 10.639/03 está sendo praticada de forma
pontuar os teóricos estudados a partir A partir disso, se faz necessário
as informações das/dos professores em respeitosa e contínua. Inicia-se esta
das respostas dos professores, para refletir sobre a importância dos mesmos
função da disponibilidade dos mesmos. discussão, o autor e professor Paulo
estabelecer melhor organização e como colaboradores na luta antirracista.
O total de entrevistados no primeiro Freire do livro “Pedagogia da Autonomia
compreensão das respostas e leituras A forma como o Brasil se baseia em um
momento foi alarmante, número pouco
bibliográficas. É preciso, sobretudo, e aí já vai um discurso racista e preconceituoso gera
expressivo, com isso foi fundamental destes saberes indispensáveis que o
Em continuidade às respostas, foram desvalorização de toda luta, igualdade e
elaborar novos métodos para atingir formando, desde o princípio mesmo de
transformadas em pequenos gráficos sua experiência formadora, assumindo- oportunidades. Desta maneira torna-se
uma contagem significativa. À vista
como os professores estão dialogando se como sujeito também da produção do fundamental que todos os professores,
disso, houve um preparo para realizar saber, se convença definitivamente de que
com a arte afro-diaspórica em sala não somente os das artes visuais, mas
mais uma entrevista, mas com um ensinar não é transferir conhecimento,
de aula. E por fim, a realização de um como um todo realizem estudos voltados
número menor de professores. mas criar as possibilidades para a sua
cruzamento entre pesquisa conceitual produção ou a sua construção (FREIRE, à temática étnico-raciais.
Foi estabelecida a sondagem dos
e os resultados obtidos, utilizando toda 1996, p. 12, grifo do autor).
educadores por meio de contatos que Abordar sobre o racismo nas escolas,
contribuição já adquirida por meio da especificamente, o racismo definido
estavam disponíveis no WhatsApp, Com base no que é dito por Freire
pesquisa bibliográfica para apresentar como estrutural, no qual aparece em
onde possibilitasse a solicitação dos uma avaliação do material recolhido. (1996) sobre a maneira como muitos decorrência da estrutura em que a
professores na lista, para identificar veem o ensino através da “transmissão sociedade normaliza e concebe como
verdades, padrões e regras baseadas
os/as arte-educadores, sobretudo
A perspectiva do arte educador de conhecimento”, observa-se que para
em preceitos discriminatórios de raça.
aqueles que são atuantes do ensino
sobre as práticas antirracistas compreender maneiras de ensinar se Assim sendo, é parte de um processo
médio em escolas públicas. Assim nas escolas parte da produção e construções de social, histórico e político que elabora
mecanismos para que pessoas ou grupos
foram identificados onze professores novas possibilidades a partir do que sejam discriminados sistematicamente
e seis colaboraram com a pesquisa, de é mediado pelo professor em sala de (ALMEIDA, 2019).

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
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Posto isto, é imprescindível que os A importância dos professores em compreendendo-a como um produto atividades, se comparada aos conteúdos
benéfico para todos (MOTA, 2021, p. 19).
professores trabalhem cada vez mais se conectar com saberes escolares, eurocentrados, menos explorada.
na sala de aula pautas étnico-raciais, realidade social, diversidade étnico- No entanto, a carência de uma
Partindo dessa premissa, pensamos
já que o ambiente escolar é o meio cultural, entre outros, é primordial formação continuada sobre as relações
no ensino e aprendizagem, sobretudo
onde se concentra um número alto para os educandos, uma vez que esses raciais é indispensável, tendo em vista as
na disciplina de artes visuais, em que
de reprodução racista. O autor que assuntos devem ser trabalhados em respostas dos professores/as, tange um
é necessário que os não brancos lutem
fomenta a importância dos professores suas vidas. enfraquecimento na forma como esses
pela inserção verdadeira de conteúdos
estarem capacitados para abordar essas Pensar sobre uma educação conteúdos são repassados. O campo
referentes à cultura dos povos africanos
questões é Kabengele Munanga, no livro antirracista envolve permitir que todas das artes visuais vive a partir da função
e afro-brasileira, mas a comunidade no
“Superando o Racismo na Escola”. crianças e jovens negras tenham suas social, cultural e da introspeção humana.
geral, de forma que não se torne algo
identidades acolhidas, não somente Portanto, requer um envolvimento com a
Para que a escola consiga avançar perene e superficial.
no espaço escolar, mas para além. identidade do outro, a partir do processo
na relação entre saberes escolares/ O ensino da arte tem passado
realidade social/diversidade étnico- A contribuição para atingir esse criativo e das discussões em sala de
gradualmente por algumas mudanças ao
cultural é preciso que os(as)
acolhimento além dos professores aula.
educadores(as) compreendam que longo dos séculos. Essas transformações
requer que a escola também articule em Barbosa (2008, p. 100) afirma:
o processo educacional também acontecem de maneira lenta e tendem
é formado por dimensões como a todas dimensões, como o currículo, a
a acompanhar a educação brasileira no Por meio da arte é possível desenvolver
ética, as diferentes identidades, a
formação e material didático.
diversidade, a sexualidade, a cultura, geral. Nesse sentido, ao apontar sobre a percepção e a imaginação para
O livro de Thiago Henrique Mota (2021), apreender a realidade do meio
as relações raciais, entre outras. E o ensino antirracista, é preocupante na
ambiente, desenvolver a capacidade
trabalhar com essas dimensões não intitulado como “Educação antirracista
medida em que as instituições escolares crítica, permitindo analisar a realidade
significa transformá-las em conteúdos
na educação básica”, discorre formas de
escolares ou temas transversais, mas públicas ainda aderem à metodologia percebida e desenvolver a capacidade
intervir nessas questões a partir de uma criadora de maneira a mudar a realidade
ter a sensibilidade para perceber como tradicional, dispositiva e repetitiva
que foi analisada.
esses processos constituintes da nossa visão menos segregada e mais coletiva.
de forma que causa pouca visão ao
formação humana se manifestam na
nossa vida e no próprio cotidiano escolar [...] o estabelecimento de uma educação sensibilizar e provocar o senso crítico Articular a educação antirracista por
(MUNANGA, p. 147). antirracista deve envolver toda a aos alunos. meio da dialética em sala de aula parte da
sociedade, não apenas os negros. Uma
Embora existam professores que vivência com o outro. Analisar, perceber
A partir desse debate, entende-se que profunda reflexão sobre a educação
para as relações étnico-raciais leva- tendem a contrapor esse sistema, ainda e inserir nas práticas as questões e os
os assuntos voltados para as relações nos a concluir que o tema é urgente sim temos um número insuficiente assuntos atrelados aos educandos é
étnico-raciais discutidos no âmbito não apenas para o público escolar
com abordagens de pautas de cultura fundamental para ir ao encontro com a
escolar estão para além dos conteúdos e negro. É fundamental aos estudantes
brancos, para que sejam capazes de africana e afro-brasileira. Muitos dos realidade e com um envolvimento mais
temas transversais. É necessário que os reconhecer a diversidade de matrizes professores entrevistados se permitem a transigente na educação.
docentes possam levar essas questões que compõem a cultura nacional,
exercer a pedagogia decolonial, por meio Devemos destacar que os negros
para vida fora da regência, com intuito tenham elementos para compreender
culturas que podem eventualmente não de discutições, materiais de audiovisual, representam 74% da população do
de estabelecer uma visão humanitária e conhecer e reconhecer a necessidade de textos, oficinas e projetos. Porém, a estado do Maranhão, segundo o censo
genuína. se mobilizar pela igualdade de direitos,
forma como são executadas essas do IBGE em 20123 . Ao perceber que não

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
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há um número significativo de projetos ção de representações positivas sobre o racistas é essencial que continuemos in- – seja através de pesquisas, danças,
negro e demais grupos que vivem uma
pedagógicos ativos direcionados para serindo debates no campo educacional. elaboração de obras artísticas, entre
história de exclusão. Mais do que sim-
a educação antirracista nas escolas plesmente apresentar aos alunos e as Segundo as Diretrizes Curriculares outras formas ligadas às artes visuais.
de rede pública do estado, se parte alunas dados sobre a situação de discri- para a Educação das Relações Étnico- Em vista disso, essa porcentagem de
minação racial e sobre a realidade so-
para discussão urgente, ao pensar em -raciais (2003) cabe à coordenação de professores nos remete a compreender
cial, política e econômica da população
políticas públicas educacionais, de modo negra, a escola deverá problematizar a todas as instituições escolares públicas que muitos ainda estão abaixo da metade
que surgem novas implementações ao questão racial (GOMES, 2002, p. 46).
e privadas promoverem a todo momen- em desenvolver temas voltados para Lei
ensino e aprendizagem para que siga a to aprofundamentos nos aspectos das nº 10.639/03.
A partir desse resgaste histórico sobre
partir de visões mais igualitárias. relações étnico-raciais que possibili- Apontar a escola nos dias atuais
o processo de escravização é notável que
Compreender os assuntos referentes à tem a integração dos professores/as a como um ambiente para se combater o
exista uma aniquilação na identidade, a
africanidade que podem ser trabalhados contribuírem com a temática a partir do racismo ainda é exaustivo e controverso
exemplo da raspagem no cabelo. Vale
a partir das manifestações artísticas acompanhamento didático. A partir da para ser debatido, ao que se observa
ressaltar que na contemporaneidade
maranhenses, pelas obras dos/das interculturalidade e dessas práticas ten- por meio da prática, onde cada qual
ainda circula fortes fragmentos dessa
artistas e principalmente ao inteirar-se parece pôr em práxis o que convém.
coerção, portanto essa reflexão que busca de a despertar o diálogo, o entendimen-
na história biográfica do criador da obra, Dessa maneira, é essencial apresentar
resgatar a ancestralidade à população to pela discriminação racial de modo a
é imprescindível para o desenvolvimento falas de professores/as que nos remete
preta tende por meio da pedagogia oportunizar um olhar mais igualitário.
do indivíduo. A notabilidade que os alunos a questionar que caminhos podemos
decolonial4 promover a irradicação e a Todos os professores/as demandam
possuem ao se conectar com aos artistas trilhar para discutir sobre a educação
reformulação das práticas racistas. conteúdos e materiais didáticos de
pretos/as do estado do Maranhão, tende antirracista, a partir da formação dos
forma intensificada sobre pautas raciais.
a decorrer a partir da identificação física professores em relação a conteúdos da
Como podemos enxergar Foi observado que 90% dos professores/
do aluno(a), sobretudo preto(a) e o ofício arte afro-diaspórica.
a educação antirracista no as possuem dificuldade em abordar
elaborado pelo(a) artista preto(a).
Maranhão? debates na sala de aula, dessa maneira Deixaram a desejar. Falo da minha
A autora Nilma Lino Gomes (2002)
Neste capítulo faz-se necessário ave- espera-se uma clareza na atuação da experiência de formação inicial. Apesar
pontua sobre a relação do corpo como de estar numa universidade federal,
riguar como os professores trabalham coordenação das escolas de ensino
forma de identidade e aproximação com não tive disciplina específica do tema,
em sala de aula a Lei nº 10.639/2003. médio, em ações governamentais e nas referências bibliográficas que me
o outro.
Apesar dos impasses, a maneira como políticas públicas educacionais, para que fornecessem bagagem para abordagem
e senti essa falta logo nos primeiros
Articular educação e identidade negra é os educadores se relacionam com as a concepção fragilizada e homogênea no
um processo de reeducação d olhar pe- anos do exercício docente. Meu
temáticas, observa-se que existe inte- âmbito educacional diminua. compromisso individual me fez buscar
dagógico sobre o negro. A escola, como
instituição responsável pela socializa- resse dos mesmos em colaborarem. Ao Um dos pontos importantes da esse conhecimento posteriormente.
Depois que formei, vi surgir um curso
ção do saber e do conhecimento histo- notar que 75% buscam conteúdos antir- entrevista é em relação ao número de
ricamente acumulado pela humanidade, de nível superior e específico na UFMA
possui um papel importante na constru- professores que costumam elaborar [Universidade Federal do Maranhão].
projetos, 40% tendem articular as Isso nos dá ânimo e esperança! Pode ser
4 A pedagogia decolonial refere-se às teorias-práticas de
formação humana que capacitam os grupos subalternos para que agora a formação inicial dos futuros
3 Porcentagem de negros no Maranhão. Disponível em: a luta contra a lógica opressiva da modernidade/colonialidade, pautas por meio de eventos ou grupos de professores aborde mais profundamente
<http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/11/negros- tendo como horizonte a formação de um ser humano e de uma
representam-74-da-populacao-do-maranhao-diz-ibge.html>. sociedade livres, amorosos, justos e solidários. projetos construídos no âmbito escolar esse e outros temas relevantes para uma

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
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educação realmente intervencionista descendentes e povos do continente com “o mito da democracia racial” a par- que possam vir apresentar um compro-
e transformadora. Mas, repito: ter ou
africano. tir de uma perspectiva histórica, antro- misso com a educação antirracista.
não ter esse tema aprofundado NÃO É
DESCULPA PARA PRATICAR A OMISSÃO pológica, política e sociocultural.
DOS MESMOS5 . A educação é viva, ela Oportunizar uma educação Portanto, explorar a prática pedagó- REFERÊNCIAS
continua após a formação inicial. A
reciclagem profissional é necessária!
antirracista no ensino médio gica antirracista se faz necessária na ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo
Não basta não ser racista. É necessário Para compreender o ensino sobre as medida em que se observa o espaço Estrutural. São Paulo: Editora Pólen,
educar antirracistas. Isso se de fato
relações étnico-raciais que perpassa onde a maior parte dos alunos de escola 2019.
formos acreditar no nosso papel de
educadores, isso se quisermos mudar o por um processo em que promove con- pública possuem suas vivências em co-
mundo. O mundo de alguém!”6 flitos, desestabiliza saberes construídos, mum. A importância do educador de se BARBOSA, Ana Mãe (Org.) Inquietações
oportuniza análises de estudos e de ex- e mudanças no ensino da arte. 2. ed.
defrontar com a realidade dos mesmos
periências cotidianas, a partir de novas São Paulo: Cortez, 2003.
Ao perceber que depoimentos como é um mecanismo primordial para que os
concepções, é necessário que as lutas
esses ainda estão presentes, possibilita encoraje a se reconhecerem como pro-
do movimento negro e as pautas raciais FREIRE, Paulo. Pedagogia da
um olhar mais otimista para construção tagonista de sua história e a partir des-
sempre resistam, já que o ensino a partir autonomia: saberes necessários à
de uma educação antirracista, ainda que sa perspectiva construir visões positivas
da participação do povo preto na cons- prática educativa. São Paulo: Paz e
é notável a ausência de implementações por meio de seu regaste ancestral.
trução da sociedade confirma que os Terra, 2004.
a políticas públicas educacionais, em Ainda há um tanto a percorrer para
currículos escolares ainda sustentam o
contrapartida as(os) arte-educadores que a educação antirracista consiga ser
racismo no estado do Maranhão. GOMES, Nilma Lino. Educação e
estão cada vez mais tendentes a percebida, bem mais que uma questão
Pontuar a ausência de materiais di- Identidade Negra. Aletria: Revista
contribuir com um currículo decolonial. atrelada ao conhecimento científico. É
dáticos antirracistas que provocam o de Estudos de Literatura, v. 9,
Em síntese, abordar as pautas étnico- preciso que pretos e brancos conside-
despreparo para o ensino das relações p. 38-47, 2002. DOI: https://doi.
raciais de maneira esporádica, se opondo rem essas discussões de maneira sen-
étnico-raciais. Refletir sobre a escassez org/10.17851/2317-2096.9..38-47
a seguir as diretrizes, pode-se afirmar
sível, humanitária e igualitária, de forma
que existe um currículo vivenciado de cursos para formação antirracista
que têm como objetivo oportunizar um que notem a História do continente afri- MOTA, Thiago Henrique. O ensino
no cotidiano eurocentrado, a partir
melhor preparo para os(as) professores cano sendo perpassada para além das antirracista na educação básica: da
da identidade, poder, conhecimento e
a partir do suporte técnico e metodoló- senzalas e sim em reinos africanos. formação de professores às práticas
razão de maneira a contribuir em uma
gico. Por fim, é visto que há necessidade de escolares. Porto Alegre: Editora Fi,
perspectiva racista e negacionista sobre
Percebe-se a estagnação ainda pre- políticas públicas educacionais que rea- 2021.
a importância cultural e social dos
sente dessas formações que, inevita- lizem projetos mais articulados e consis- MUNANGA, Kabengele (Org.).
velmente, dificulta os educadores a tentes no ensino médio com a temática Superando o racismo na escola.
caminharem por assuntos que visam étnico-racial, que não se expressem so- 2. ed. rev. Brasília: Ministério da
a discutir sobre a arte afro-diaspórica mente na aplicação da Lei nº 10.639/03, Educação, Secretaria de Educação
5 Grifo da professora entrevistada.
com facilidade. Deste modo, cabe ao(à) mas para a necessidade de produzir Continuada, Alfabetização e
6 Entrevista realizada com uma professora da rede
pública no estado do Maranhão (2021). professor(a) buscar formas para romper conteúdo pedagógico e epistemológico Diversidade, 1999. 204 p.

Educação Antirracista no Maranhão: Mapeamento de Regimes de Colaboração no Campo das Artes Visuais
90 | Trilhos da Educação Rodrigo Ferreira Gomes | 91
ARTIGOS DA GRADUAÇÃO

O Uso de Aplicação
Gamificada no Auxílio do
Ensino da Química no
Ensino Médio
Sarah Afonso Mota
Graduanda do curso de Química Licenciatura pela
Universidade Federal do Maranhão, Paço do Lumiar.
E-mail: sarah_afonsomota@hotmail.com.

Resumo o aluno terá acesso a resumos e ques-


O presente artigo relata o desenvol- tionários sobre o tema selecionado. A
vimento de um protótipo de aplicativo aplicação foi desenvolvida e para validar
chamado Bazinga, voltado para os es- sua aceitação foi realizada uma pesqui-
tudantes de química no ensino médio. sa de satisfação com alunos do tercei-
Tem como objetivo principal servir de ro ano do ensino médio. O resultado foi
apoio para professores e alunos no pro- satisfatório e com boas avaliações dos
cesso de ensino-aprendizagem, demo- alunos, tornando viável a continuação e
cratizar o conhecimento e transformar o lançamento do protótipo para um públi-
ensino da química em um momento de co maior.
diversão e interação através da gamifi- Palavras-chave: Aplicativo. Protótipo.
cação. O protótipo do aplicativo consiste Gamificação. Química. Ensino. Auxílio.
em opções de desafios de conteúdos de
química, sendo organizado por módulos Introdução
baseados na grade de conteúdos de quí- Não é de hoje que a tecnologia está se
mica do ensino médio. Nesses desafios espalhando pelo mundo e se inserindo no

O Uso de Aplicação Gamificada no Auxílio do Ensino da Química no Ensino Médio


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dia a dia de todos. Cada vez mais temos a oportunidade de motivar seus alunos ao É comum depois de certo tempo estudantes de química no ensino médio,
necessidade de aderir à tecnologia, seja estudo por aversão às novas tecnologias, esquecer algo estudado no passado pois promovendo um aprendizado interativo
na escola, no trabalho ou em casa. Nesse continuam com estratégias e abordagens o cérebro humano está sempre sendo e de fácil acesso com a apresentação do
sentido, as mudanças tecnológicas tradicionais quando as tecnologias exposto a novas informações e ele não é conteúdo e a realização de um simulado
inserem inovações que exigem sempre da informação e comunicação (TIC) já capaz de armazenar tudo de primeira. O de questões. Será um apoio para
novos saberes, novas habilidades, o que oferecem recursos pedagógicos que psicólogo Hermann Ebbinghaus estudou professores e alunos tanto em sala de
faz com que durante a vida seja preciso contribuem para despertar o interesse e o processo de esquecimento e concluiu aula quanto em casa visando a fixação
se qualificar, criar outras possibilidades curiosidade durante a aprendizagem de que se o conteúdo for continuamente dos conteúdos abordados no ensino
e construir novas competências. conceitos científicos (LEITE, 2019). revisado seguindo uma técnica de médio
Na escola é muito comum os alunos Atualmente, constata-se o uso repetição espaçada é possível reter O protótipo do aplicativo consiste em
reclamarem do ensino tradicional, no de aplicativos e dispositivos móveis 100% do conhecimento desejado. opções de desafios de conteúdos de
qual o professor domina o conteúdo no cotidiano por serem ferramentas Considerando a necessidade de química, sendo organizado por módulos
para simplesmente transmiti-lo aos versáteis e customizáveis de acordo com inovações nas estratégias de ensinar e baseados na grade de conteúdos de
alunos (SAVIANI, 1991), o conteúdo é a preferência de cada um. Novas formas aprender na sala de aula propõe-se o química do ensino médio. Nesses
normalmente abordado sem motivação de aprender e possibilidades cognitivas uso de aplicação gamificada no auxílio do desafios o aluno terá acesso a resumos,
e empolgação, gerando desânimo. com a tecnologia são ampliadas e ensino da química no ensino médio, no a um questionário sobre o tema
A forma de ensino tradicional tem o estão sendo exploradas ao máximo intuito de contornar as dificuldades dos selecionado e é possível ver o progresso
benefício de se preocupar em transmitir (ASSMANN, 2005). É possível unir em alunos criando curiosidade e vontade de de conclusão de suas atividades.
os conhecimentos acumulados ao longo um único aplicativo, recursos visuais aprender aquilo que está sendo exposto O Mínimo Produto Viável (MVP) do
da história, mas a forma como o conteúdo e auditivos que estimulam o estudo ao aluno pelo professor, e a técnica de aplicativo, proposta base de estruturação
é abordado com os alunos é um motivo com telas visualmente atraentes e repetição espaçada a fim de fixar o para que a aplicação funcione, consiste
de discussão (LEÃO, 1999). intuitivas (FONSECA; ALENCAR, 2016). conteúdo que o aluno deseja aprender. em:
O ensino da química é considerado um Uma nova modalidade de aplicativos O aplicativo proposto neste trabalho » Splash: tela de apresentação;
conteúdo complicado que requer mais tem se tornado comum, os aplicativos objetiva transformar o aprendizado da » Tela inicial: contendo módulos
atenção dos alunos ao estudar devido gamificados, que são aplicações com o química em um momento de diversão, (níveis) de conteúdos, progressão das
à complexidade dos seus conteúdos uso de elementos de games em diversos sendo acessível e interativo através tarefas e cards contendo os subtópicos
(JANKE, 2019). A química é geralmente contextos (DETERDING, 2011), podendo de resumos com boa visualização do módulo selecionado;
inserida aos alunos no 9° ano do ensino ser uma alternativa viável para os alunos e exercícios gamificados para a » Tela de conteúdo: contendo a
fundamental e aprofundada durante do ensino médio complementarem seus assimilação do conhecimento adquirido. explicação bem detalhada e organizada
todo o ensino médio. É uma disciplina estudos durante o momento atual, com sobre o conteúdo do card selecionado;
que requer dedicação e concentração, o o ensino em emergência por conta da Metodologia » Tela de desafios: contendo
que leva muitos estudantes a desistirem pandemia da covid-19. Esse trabalho tem como proposta exercícios sobre o card selecionado;
de se esforçar para a matéria. Muitos Não basta aprender o conteúdo, é o desenvolvimento de um aplicativo » Telas de certo ou errado;
professores de química estão perdendo a necessário fixá-lo a fim de não esquecer. chamado Bazinga voltado para os » Tela de conclusão do desafio.

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Os conteúdos do módulo são O modelo de ciclo de vida incremental os jogos motivam e engajam o indivíduo A educação gamificada tem como
referentes aos assuntos abordados em e iterativo foi o escolhido para esse (ALVES, 2015). objetivo empregar os elementos básicos
química durante os três anos do ensino trabalho, pois tem como vantagem a Quando idealiza-se utilizar a gamifi- dos games, descritos na Tabela 1, visando
médio. aceleração do tempo de desenvolvimento cação é necessário utilizar pelo menos “incentivar os alunos a aprenderem
Para o planejamento inicial até a en- do projeto como um todo e a redução um dos três elementos básicos dos ga- se divertindo, ou seja, despertar o
trega da aplicação foi utilizada um con- dos riscos envolvendo custos a um único mes: dinâmicas, mecânicas e compo- interesse dos educandos, aumentando
ceito do desenvolvimento de aplicações incremento. As etapas desse ciclo são nentes. Na Tabela 1 é possível visualizar sua vontade de aprender” (LEITE,
chamado ciclo de vida, que é uma estru- descritas na Figura 1. os três elementos e o que constitui cada 2017, p. 3). Dentre os benefícios que a
tura contendo processos, atividades e um deles. gamificação na educação possibilita,
tarefas envolvidas no desenvolvimento, 3 Considerações teóricas
Tabela 1
operação e manutenção de um software, 3.1 Gamificação na educação
desde a definição de seus requisitos até O termo gamificação vem do inglês
DINÂMICAS MECÂNICAS COMPONENTES
o término de seu uso (BEZERRA, 2002). gamification, utilizado pela primeira vez
Emoções Aquisição de recursos Avatar
Narrativas Avaliação (Feedback) Bens virtuais
Figura 1 - Ciclo de vida incremetal e iterativo Progressões Chance Boss

Relacionamentos Cooperação e competição Coleções

Restrições Desafios Combates


Recompensas Conquistas
Conteúdos
Transações
desbloqueáveis
Turnos Emblemas/Medalhas
Vitória Gráfico Social
Missão
Fonte: Bezerra (2002).
Níveis
Pontos
em 2002 por Nick Pelling, programador et al., 2014, p. 76). Essa prática começou Presentes
e escritor de investigação britânico a ser empregada com o objetivo de Ranking
(VIANNA et al., 2013). É uma aplicação que motivar, produzir engajamento e fidelizar Times
“se constitui na utilização da mecânica o cliente em projetos de marketing e Integração
dos games em cenários non games, ou aplicações para web (ZICHERMANN; Loops de engajamento
seja, fora de games, criando espaços de CUNNINGHAM, 2011), desde então foi- Regras
aprendizagem mediados pelo desafio, se estudando a sua empregabilidade no Narrativa
pelo prazer e entretenimento” (ALVES âmbito educacional, mostrando como Fonte: Adaptado (LEITE, 2017).

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têm-se o feedback instantâneo, a slides, lousa, livros) sejam substituídas, conhecimento com o que o mesmo já tinha 100% em sua memória, mas com o
elevação do comprometimento dos tendo como consequência uma aprendi- se transformado em novos conceitos. No passar do tempo ele vai se “desfazendo”
alunos, oportunidades de trabalho em zagem ineficiente. Contudo, esses novos entanto, se não houver revisão daquilo pois o seu cérebro não é capaz de reter
equipe e possibilidade de refazer mais de métodos apenas cooperam para o pro- que foi aprendido, a tendência é o todas as informações de uma vez, já que
uma vez as tarefas sem consequências cesso de ensino e não serão eles os cau- esquecimento (EBBINGHAUS, 1962). continuamente ele é exposto a novas
negativas (LEITE, 2017). Para os sadores do surgimento de uma “nova” Segundo o psicólogo Hermann experiências. Após 20 minutos do estudo,
professores, o benefício encontra-se na forma de aprender (LEITE, 2015). O en- Ebbinghaus, o esquecimento ocorre 42% das informações foram perdidas,
busca por “temas dentro do cotidiano sino gamificado e jogos educacionais, de maneira progressiva ao longo depois de uma hora foram 56% e depois
de seus estudantes a fim de elaborar portanto, devem ser apenas um com- do tempo e demora muito até uma de 30 dias 80% do conteúdo foi esquecido
aulas mais dinâmicas e que permitam plemento na construção e fixação de co- memória ser totalmente esquecida. (EBBINGHAUS, 1962). Na Figura 2 é
uma real compreensão dos conteúdos nhecimentos já desenvolvidos em sala Para ele, o conhecimento consiste no possível visualizar a proporção em que
ensinados” (COSTA; VERDEAUX, 2016, p. de aula (TAROUCO, 2009). “desmoronamento em partes e na perda as informações são perdidas.
78). de componentes separados, em vez Para combater e frear a curva de
3.2 Curva de esquecimento e do obscurecimento geral” portanto as esquecimento é necessário fazer
Métodos educacionais são propícios
aprendizagem por repetição espaçada lembranças daquilo que foi aprendido revisões acompanhando a curva e assim
paraousoemsaladeaulalevandoemconta
passam a ser mais difíceis de serem reter o conhecimento, esse método é
que a nova geração de “nativos digitais” Muitos estudantes, de todas as
evocadas com o tempo, chegando à chamado de aprendizagem por repetição
é mais receptível ao uso da tecnologia, idades, apresentam dificuldades em
curva de esquecimento estudada por espaçada. Nas primeiras 24 horas é onde
pois estão crescendo juntamente com fixar conteúdos. É comum apresentarem
Ebbinghaus (BADDELEY et al., 2011). ocorre a maior parte do esquecimento
a revolução digital e jogos eletrônicos, certo esquecimento quando voltam
Em estudos sobre o processo de e seguindo o método de repetição é
aderindo à tecnologia na sua formação de férias, recessos ou passam algum
esquecimento, Ebbinghaus concluiu que necessário revisar por cerca de 10
cultural (AZEVEDO, 2012) e é através de tempo sem estudar certos assuntos
após o ser humano estudar determinado minutos para cada hora/aula estudada
jogos que a criatividade, a originalidade e acabam tendo que estudar tudo
conteúdo o conhecimento fica retido no primeiro momento (WOZNIAK, 1992).
e a autonomia podem ser despertadas novamente. Absorvemos muita
(TAROUCO, 2009). Dessa forma, o uso informação ao longo dos dias e o cérebro
da gamificação é favorecido, pois pode precisa constantemente se reorganizar, Figura 1 - Ciclo de vida incremetal e iterativo
aproximar a aprendizagem ao cotidiano tornando inevitável o esquecimento ao
dos alunos, tornando o processo de longo do tempo (EBBINGHAUS, 1962).
ensinar e aprender novos conteúdos O processo de aprendizagem é um
mais natural e eficaz. assunto muito estudado no âmbito
É possível que os avanços tecnológi- educacional. Segundo Vygotsky (1988),
cos e os novos métodos de ensino ori- o aprendizado é desenvolvido a partir de
ginados desses avanços causem receio duas variáveis: o processo e o produto. O
aos professores de que as formas tra- processo é o conhecimento que o aluno
Fonte: Blog Folha Dirigida1.
dicionais de ensinar (aulas expositivas, já tem e o produto é a soma do novo

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A Figura 3 expressa melhor a proporção e da repetição do estudo as memórias Além das tecnologias utilizadas, toda todo, mas necessitando de um novo
de retenção de conhecimento em função vão ser fixadas e mais dificilmente aplicação deve seguir um planejamento incremento para correção de falhas.
do tempo com e sem revisão. esquecidas. adequado. Dentre os inúmeros desafios Embora a ferramenta apresente
A técnica de repetição espaçada em no desenvolvimento de software, um alguns bugs, o aplicativo encontra-se
sua essência indica o melhor momento 4 Resultados dos fatores cruciais para a completude usável com todas as funcionalidades
para se revisar o conteúdo a ser fixado 4.1 Desenvolvimento do protótipo de uma aplicação é a complexidade e fundamentais, passível de receber
a fim de reter 100% das informações A criação de uma aplicação móvel é eficiência das tecnologias utilizadas. atualizações com as devidas correções.
desejadas. Na Figura 3, a curva amarela rodeada de uma série de conceitos de Tal fator aliado à análise de requisitos
demonstra que com o passar dos dias tecnologia, mais voltados para a área captada durante o planejamento do 4.2 Fluxo de utilização e design das
projeto é determinante para o atraso telas
Figura 3 - Curva do esquecimento e repetição espaçada
na entrega de um software integral ou Por ainda ser um protótipo, a aplicação
parcialmente. será desenvolvida a partir de um Mínimo
Visando mitigar os atrasos e aumentar Produto Viável (MVP), que é o mínimo
a qualidade das entregas, foi-se utilizado necessário para o aplicativo funcionar,
o modelo de ciclo de vida incremental e sem muitas funcionalidades. Pensando
iterativo. Entretanto, alguns riscos não nisso, um fluxo de utilização simples foi
foram previstos e acabaram impactando desenvolvido e pode ser visualizado na
Fonte: DELL'ISOLA, (2008).
diretamente a entrega de algumas Figura 4.
de programação propriamente dita. Um um framework (conjunto de ferramentas funcionalidades. Após a rodada de testes A partir do momento em que se abre o
aplicativo basicamente é dividido em duas de desenvolvimento de aplicações web dos usuários foi apontado por um aluno protótipo, a tela de apresentação (Splash)
estruturas principais, o front-end e o e mobile) construído pelo Google para um bug na apresentação do progresso será visualizada enquanto o aplicativo
back-end. Robbins (2012, p. 9) define que facilitar a construção de interfaces para de cada módulo e no progresso geral, carrega, possível de se visualizar na
o front-end refere-se a qualquer aspecto dispositivos móveis multiplataforma não impactando a aplicação como um Figura 5. Essa tela tem o fundo roxo (cor
do processo de design que aparece ou se (que rodam tanto em dispositivos Android
relaciona diretamente com o navegador como em IOS) que tem o Dart como Figura 4 - Fluxo de Utilização
e interfaces de aplicações web ou mobile principal linguagem de programação.
enquanto o back-end concentra as Para a criação do back-end foi utili-
atividades que funcionam no servidor, zada a linguagem de programação Dart
como banco de dados e processamento para a construção da lógica e interações
de informações deixando as páginas na aplicação, e o armazenamento das
dinâmicas e interativas. informações dos usuários foi feito utili-
Para o desenvolvimento do front-end zando um banco de dados do tipo chave
do aplicativo foi utilizado o Flutter, que é e valor chamado Hive.
1 Disponível em: <https://folhadirigida.com.br/blog/curva-do-
esquecimento-como-superar/>. Acesso em: 20 jul. 2021. Fonte: O Autor (2021).

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Figura 5 - Tela de apresentação o mesmo visualiza o quanto de desafios a tela do conteúdo selecionado como
ele já resolveu, ícones de módulos de mostra a Figura 7.
conteúdos e seus respectivos cards/ A tela de conteúdo é organizada a
desafios contendo questões e resumos partir do título no topo e um quadro
sobre o tema selecionado. contendo todo o texto e imagem,
Ao selecionar um módulo de sua podendo ser deslizado conforme a
preferência e em seguida um card de extensão do texto e finalizada com um
desafio, o aluno será encaminhado para botão verde de “continuar”, que ao ser

Figura 7 - Tela de conteúdo

Fonte: O Autor (2021).

tema do design) e o logotipo do Bazinga Em seguida, o usuário será


centralizado e inspirado nos elementos encaminhado para a tela inicial, Figura
da tabela periódica. 6, contendo a logo do aplicativo, um
quadro com o progresso do usuário onde

Figura 6 - Tela inicial

Fonte: O Autor (2021).

Fonte: O Autor (2021).

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selecionado direciona o usuário para a selecionar a resposta desejada e
Figura 9 - Telas de certo ou errado
tela de simulado (Figura 8). confirmar ou pular a questão, no topo
Na tela de desafios, que contém da tela é possível mensurar o avanço
questões de múltipla escolha, é possível dos desafios de acordo com o total de

Figura 8 - Tela de simulado

Fonte: O Autor (2021).

o usuário pela finalização do desafio Lembrando que o aplicativo está


e mostra a sua quantidade de erros e na sua forma mínima, se resumindo a
acertos, podendo tentar novamente ou apenas essas telas centrais e o Bazinga
Fonte: O Autor (2021). voltar para a tela inicial. segue a ordem descrita pelo fluxo de
utilização.

questões. Selecionando o botão “pular”, As telas de certo ou errado são as Figura 10 - Tela de conclusão
o usuário seguirá para a próxima duas possíveis telas que aparecerão
questão até a conclusão do desafio, mas após confirmada a resposta dos
se o botão “confirmar” for selecionado, desafios e seguirão até a conclusão de
a resposta da questão será dada como todas as questões à medida em que o
certa ou errada. As telas de certo ou usuário aperta o botão “avançar”. A tela
errado estão disponíveis na Figura 9. de conclusão, Figura 10, parabeniza

Fonte: O Autor (2021).

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4.3 Pesquisa e validação 2. Qual é o seu nível de dificuldade em
Foi realizada uma pesquisa de química?
Figura 13 - Gráfico da pergunta 3 Figura 14 - Gráfico da pergunta 4
satisfação em relação ao aplicativo 3. Você usa algum aplicativo para
Bazinga para validar a sua usabilidade estudar?
segundo o usuário. Para tanto, foi 4. Qual é o seu nível de satisfação
aplicado um questionário para alunos do quanto ao aplicativo Bazinga?
terceiro ano do ensino médio do Centro 5. Como você avalia o design do
de Ensino Erasmo Dias, escola pública aplicativo?
localizada no município de Paço do 6. Como você avalia o conteúdo
Lumiar no Maranhão. exposto nos desafios?
Antes de responder ao formulário Ao todo 36 alunos foram entrevistados Fonte: O Autor (2021). Fonte: O Autor (2021).

os alunos tiveram acesso ao protótipo e suas respostas foram compiladas nos


e interagiram com o mesmo, lendo os gráficos das figuras a seguir:
conteúdos e realizando os desafios do
aplicativo individualmente. As perguntas Com base nos dados das Figuras 11 e
Figura 15 - Gráfico da pergunta 5 Figura 16 - Gráfico da pergunta 6
realizadas na pesquisa de validação 12, onde indagam aos alunos sobre suas
foram as seguintes: dificuldades em química, foi possível
1. Apresenta dificuldades na disciplina concluir que a maioria dos estudantes
de química? apresenta resistência ao estudar e
aprender química. No gráfico da Figura

Figura 11 - Gráfico da pergunta 1 Figura 12 - Gráfico da pergunta 2


Fonte: O Autor (2021). Fonte: O Autor (2021).

13 em resposta à pergunta sobre o uso avaliaram positivamente o design e 81%


de aplicativos para estudo, obteve-se avaliaram positivamente o conteúdo
um resultado de 81% para sim. Nas exposto. Em debate com os estudantes
perguntas sobre o design, o conteúdo e levando em conta suas respostas,
e satisfação do protótipo foi possível entende-se que um aplicativo simples
Fonte: O Autor (2021). Fonte: O Autor (2021). concluir que 92% dos entrevistados e direto, de fácil manuseio, pode ser a
ficaram satisfeitos com a aplicação, 97% solução para melhorar seus estudos

O Uso de Aplicação Gamificada no Auxílio do Ensino da Química no Ensino Médio


106 | Trilhos da Educação Sarah Afonso Mota | 107
em química, servindo de apoio ao que é conhecimento. In: ASSMANN, H. Redes gamification. In: Proceedings of the <https://folhadirigida.com.br/blog/
ensinado em sala de aula. digitais e metamorfose do aprender. 15th international academic MindTrek curva-do-esquecimento-como-
Petrópolis: Vozes, 2005. p. 13-22. conference: envisioning future media superar/>. Acesso em: 20 jul. 2021.
5 Considerações finais environments. ACM, p. 9-15, 2011.
Após a análise e discussão dos AZEVEDO, Victor de Abreu. Jogos LEÃO, Denise Maria Maciel.
resultados, tendo em vista que o protótipo eletrônicos e educação: construindo um EBBINGHAUS, H. Memory: a Paradigmas contemporâneos da
foi bem avaliado nas entrevistas e que, roteiro para a sua análise pedagógica. contribution to experimental psychology. educação: escola tradicional e escola
embora o aplicativo apresente um bug Renote – Novas Tecnologias na New York: Dover, 1962. construtivista. Ceará, p. 1-20, jul. 1999.
identificado por um aluno, as principais Educação, UFRGS, Porto Alegre, v. 10,
funcionalidades da aplicação estão nº 3, 2012. BEZERRA, Eduardo. Princípio de LEITE, Bruno Silva. Tecnologias no
ativas, concluindo que o Bazinga é uma Análise e Projeto de Sistemas com ensino de química: teoria e prática
ferramenta educacional importante, BADDELEY, A.; ANDERSON, M. C.; UML. Rio de Janeiro: Campus, 2002. na formação docente. 1. ed. Curitiba:
interativa e viável para o auxílio de EYSENCK, M. W. Memória. Porto ISBN 8535210326. Appris, 2015.
alunos e professores durante o processo Alegre: Artmed, 2011. 472 p.
de ensino-aprendizagem da química. FONSECA, Ana Rachel; ALENCAR, LEITE, Bruno Silva. Gamificando
A continuação do desenvolvimento do COSTA, T. M.; VERDEAUX, M. F. S. Maria Simone de Menezes. O uso de as aulas de química: uma análise
protótipo continua devido aos resultados Gamificação de materiais didáticos: aplicativos de saúde para dispositivos prospectiva das propostas de
positivos. uma proposta para a aprendizagem móveis como fontes de informação e licenciandos em química. RENOTE, v.
significativa da modelagem de educação em saúde. XIX Seminário 15, n. 2, 2017. Disponível em: <https://
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ASSMANN, H. A metamorfose R.; NACKE, L. From game design Esquecimento: o que é e como superar. NOVAS Tecnologias na EDUCAÇÃO
do aprender na sociedade do elements to gamefulness: defining Blog Folha Dirigida. Disponível em: [recurso eletrônico]. Porto Alegre,

O Uso de Aplicação Gamificada no Auxílio do Ensino da Química no Ensino Médio


108 | Trilhos da Educação Sarah Afonso Mota | 109
ARTIGOS DO MESTRADO

RS, 2004. Disponível em: <https://


www.lume.ufrgs.br/bitstream/
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O Desafio de Educar
pdf?sequence =>. Acesso em: 20 mar.
2021.
Alunos Indígenas em
VIANNA, Ysmar et al. Gamification Inc.:
Escola Urbana
como reinventar empresas a partir de
jogos. Rio de Janeiro: MJV Press, 2013 Adriano da Silva Borges1
[e-book]. Witembergue Gomes Zaparoli2

VIGOTSKI, Lev Semenovich; LURIA,


Alexander Romanovich; LEONTIEV,
Alex N. Linguagem, desenvolvimento e
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2010.

WOZNIAK, P. A.; BIEDALAK, K. The


SuperMemo Method - Optimization of
Learning. Poznan: Informatyka, 1990. p.
Resumo aula. Observa-se que esses indígenas, ao
O presente artigo tem como objetivo chegarem na escola urbana, se deparam
1-9
refletir sobre a presença de alunos com uma realidade diferente daquela a
indígenasmatriculadosemescolapública que estão habituados na sua escola na
ZICHERMANN, G.; CUNNINGHAM, C.
urbana de Imperatriz/MA, considerando aldeia, por isso ocorre um processo de
Gamification by Design. Implementing
a reorientação, a representatividade e silenciamento e abdicação da sua língua
Game Mechanics in Web and Mobile
desafios encontrados para esses alunos materna, o que dificulta a compreensão
Apps. Canada: O’ReillyMedia, 2011.
em sala de aula em relação aos docentes da língua utilizada na escola e o seu
e demais profissionais que compõem processo de adaptação. Nesse contexto,
o espaço escolar. Realizou-se uma a materialização dessa pesquisa sobre
pesquisa na área educacional, visando esses desafios em contexto urbano
analisar as práticas pedagógicas por contribuirá para o aprofundamento no
parte dos professores da escola urbana e tema, reconhecimento da cultura, da
da aldeia, a partir das percepções desses identidade, transcendendo as fronteiras
profissionais da educação, apresentando do conhecimento e nos colocando
os desafios ao recebê-los em sala de em consonância com as abordagens

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


110 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 111
epistêmicas – relação entre o sujeito interculturais e multilinguismo3, que
1 Adriano da Silva Borges e o objeto estudado –, procurando são características predominantes
Mestrando do Programa de Pós- criar visibilidade para futuros debates desse povo. Mesmo diante deste cenário
Graduação em Formação Docente em envolvendo uma temática marginalizada, de pesquisas, identificamos que os
Práticas Educativas –PPGFOPRED da subordinada e silenciada no espaço da trabalhos em relação aos indígenas
Universidade Federal do Maranhão academia. em escola urbana ainda despertam
– UFMA. Graduação em história pela pouco interesse nos pesquisadores do
Universidade Estadual do Maranhão Palavras-chave: Desafios. Alunos Maranhão e no Brasil.
(UEMA). Participante do grupo de indígenas. Espaço urbano. Os efeitos práticos dessa percepção
Pesquisa em Diálogos Interculturais reducionista e preconceituosa contri-
e Práticas Educativas - DIPE – UFMA Introdução buem para que no Brasil os conheci-
e do Grupo ALMA - Re) escrevendo O Brasil é um país constituído por mentos acerca dos 305 povos indígenas
as Histórias das Comunidades 2 Witembergue Gomes Zaparolis grande variedade de grupos étnicos, diferentes e suas 274 línguas (IBGE,
Quilombolas em Alcântara - MA – Doutor em Letras pelo Programa com história, saberes e culturas diferen-
2010), de acordo, com os dados do Insti-
UFMA e do Grupo NEIHR - Núcleo de de Pós-Graduação em Ensino de tes. Ao falar dos povos indígenas obser-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística
Estudos Interdisciplinares em História Línguas e de Literaturas, Universidade va-se que o contato dos colonizadores
(IBGE), em seu último Censo (BRASIL,
das Religiões da UEMA. Bolsista pela Federal do Tocantins - UFT/ europeus transformou a forma desse
2010), o número de pessoas que se au-
FAPEMA 2015/2016 e pela Faculdade ARAGUAÍNA. Mestre em Educação pela povo, em sua relação com a sua educa-
todeclararam indígenas no país soma
Latino-Americana de Ciências Sociais Universidade Estadual do Pará – UEPA ção, “significa falar de uma diversidade
896.917. Desse quantitativo, os que es-
(Flacso Brasil) através da Secretaria (2010), na linha de pesquisa: saberes de povos, habitantes originários dessas
tão em área urbana correspondem a
de Educação do Estado do Maranhão Culturais e Imaginários da Amazonia. terras conhecidas na atualidade como
315.180, e na área rural 502.783, o que
(SEDUC/MA) e a Vale no ano de Especialista em Didática Universitária continente americano”, Luciano (2006,
representa 0,47% da população nacio-
2021. Membro do Centro de Cultura (2004) e Ciências Sociais (2005). p. 27). Que “viviam livres, alegres e sol-
nal, que dentre suas características for-
Negra Negro Cosme de Imperatriz Possui graduado em História pela tamente”, como gostava de dizer o an-
mam 305 etnias e falam 274 línguas.
do período de 2016 e Vice-presidente Universidade Estadual do Maranhão tropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (1922-
No Maranhão, a população indígena
2020/2022. E-mail: borges.adriano@ – UEMA. Graduado em Pedagogia 1997).
total é de 29.753, distribuídos em 22
discente.ufma.br Link do Lattes: pela Universidade de Uberaba - A educação escolar para os
terras. Em áreas rurais vivem 24.898
6260867755190668. ORCID: https:// UNIUBE. E-mail: wg.zaparoli@ufma. indígenas tem sido, nos últimos anos,
orcid. org// 0000-0002-5235-5028. um tema bastante explorado pelos e em zona urbana 4.855. Na cidade de
br. Link do Lattes: http:// lattes.cnpq.
pesquisadores devido a sua etnicidade Imperatriz/MA, os habitantes que se
br/92709221683542468. ORCID: https://
do seu pertencimento, a suas múltiplas declararam indígenas correspondem
orcid.org/0000-0003-34522600.
diversidades pedagógicas, culturais, a 487, de acordo com o Censo do
IBGE 2010. Essa presença na cidade
4 Nome dado em homenagem à imperatriz Tereza Cristina,
por meio da Lei nº 398, de 27 de agosto de 1856 através da tem características econômicas,
Assembleia do Maranhão sancionada pelo barão de Coroatá e
Manuel Gomes da Silva Belfort, então presidente. principalmente, pela falta das políticas

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


112 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 113
públicas para a população indígena em mentação em teóricos que trabalham teóricas sobre o tema investigado, e as escola do ensino médio da rede pública
áreas rurais. com a metodologia científica, enfocando quais permearão toda a elaboração do estadual da zona urbana do município
A materialização do artigo sobre o a realização da pesquisa na escola ur- trabalho”. Não se limitando somente ao de Imperatriz/MA. Ao que se refere aos
desafio de educar alunos indígenas bana, de acordo com a sua viabilidade. início da pesquisa, pois ao longo de todo aspectos físicos da escola pesquisada foi
em escola urbana da rede pública no A pesquisa foi desenvolvida com uma o percurso, com as pesquisas de campo, possível perceber a tamanha disparidade
município de Imperatriz4/MA é um abordagem qualitativa. Demo defende a com os novos dados encontrados, a entre a realidade da escola urbana e
fomento à pesquisa da Faculdade Latino- utilização quando considerar que: pesquisa bibliográfica se intensifica da aldeia, ficando em evidência na fala
americana de Ciências Sociais (Flacso em necessidade importante, para dar da professora da escola estudada, “os
A pesquisa qualitativa caracteriza-se
Brasil), da Secretaria de Educação do pela abertura das perguntas, rejeitando- respaldo às descobertas, para construir alunos indígenas na escola urbana
Estado do Maranhão (Seduc/MA) e da -se toda resposta fechada, dicotômica, os conhecimentos que se faz no campo, ficam muitos limitados, com os muros,
fatal. Mais de que o aprofundamento por
Vale. Pesquisa essa, que contextualiza mas que também precisa das referências não podendo sair não tendo a liberdade
familiaridade, convivências, comunica-
com a temática estudada no Mestrado ção (1980, p. 159). existentes. que a escola na aldeia proporciona”. Os

Profissional em Formação Docente Em seguida, as entrevistas com critérios da seleção são os professores
Essa abordagem é muito utilizada em professores e diretor de modo a refletir que estão atuando no ensino médio e
em Práticas Educativas (PPGFOPRED),
observação na área da educação, por sobre os principais desafios acerca que recebem os alunos indígenas.
trabalhando na dissertação da (UFMA),
se tratar de fenômeno complexo. Com da educação para alunos indígenas As rodas de conversa foram realizadas
campo Imperatriz.
isso, a pesquisa visa a compreensão dos que estão matriculados na escola em com três professores e um coordenador
O texto está organizado em introdução,
desafios enfrentados pelos professores área urbana, e para compreender da escola urbana, e dois professores da
metodologia da pesquisa, considerações
que recebem alunos indígenas em esses professores que recebem esses escola Indígena onde ocorreu o processo
teóricas – destacamos alguns aspectos
escolas urbanas, sobretudo, quanto ao alunos indígenas em sala de aula. No de escutar. Todos se disponibilizaram a
históricos referentes à trajetória da
respeito à diversidade cultural em sala decorrer desta investigação foram participar voluntariamente e anonima-
educação escolar indígena no Brasil e
de aula. Assim, compreendemos que realizadas entrevistas semiestruturadas mente da pesquisa. As entrevistas com
também a diferença entre a educação
esta abordagem foi a mais apropriada e observações no momento da aplicação professores da escola urbana acontece-
indígena e a educação escolar indígena,
para respondermos ao problema desta dos questionários com os professores ram no período que tivemos, de forma
as conquistas dos direitos indígenas,
pesquisa. que recebem os alunos indígenas em sala inesperada, o aumento da pandemia da
as políticas públicas por meio das leis A etapa inicial foi o levantamento de aula. De acordo com Severino (2007), Covid-19 no estado do Maranhão, im-
e diretrizes da educação indígena, os das referências bibliográficas sobre a entrevista semiestruturada é aquela
resultados das entrevistas com os os teóricos que trabalham a educação 7 A Companhia de Jesus foi criada com a finalidade de combater
em que as questões são direcionadas e o movimento protestante, e tinha como lema “Para a Maior
professores e a conclusão. escolar indígena, para a escrita da previamente estabelecidas.
Glória de Deus” (Ad Majorem Dei Gloriam). Tinham como
prioridade a atividade missionária e a educação religiosa, fato
que os levou a influenciar até mesmo as Índias e o Extremo
fundamentação do objetivo em estudo. Como caminho metodológico, a Oriente.
Aspectos metodológicos da A pesquisa bibliográfica segundo Gil presente pesquisa acontece em uma 8 As crianças indígenas eram tiradas de suas famílias, de

pesquisa
aldeia, e levado para internato para serem educadas em
(2008, p. 38) “proporciona o contato catequeses para ser gente ou civilizado.

Os pressupostos metodológicos para direto do pesquisador com as produções 6 Atualmente, mais de 160 línguas e dialetos são falados
9 O Marquês de Pombal é o nome pelo qual ficou conhecido
Sebastião José de Carvalho e Melo, diplomata e primeiro-
pelos povos indígenas no Brasil. Há muitos povos e indivíduos
a investigação proposta trazem os ins- indígenas que falam e/ou entendem mais de uma língua; e,
ministro português. Faz parte da geração de governantes
conhecida como déspotas esclarecidos que afetou o Reino e
5 Facilita a participação nas não raro, dentro de uma mesma aldeia fala-se várias línguas, suas colônias.
trumentos de pesquisa com a funda- videochamadas de trabalho. fenômeno conhecido como multilinguismo.

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


114 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 115
possibilitando os encontros presenciais. em Práticas Educativas (PPGFOPRED), Institute of Linguistics (SIL), outra valores sociais contando a única história
Os encontros aconteceram por meio da da Universidade Federal do Maranhão missão religiosa, ao povo indígena, com por parte dos conquistadores.
plataforma Google Meet5. (UFMA), campus de Imperatriz. o fundamento de integrá-lo à sociedade Assim, alterando a história, pensa-
Os encontros foram realizados nos por meio do trabalho (BRASIL, 2007). A mentos, lembranças e conhecimentos
meses de junho e agosto de 2021 (em julhoEducação escolar indígena no terceira, já sobre o golpe de 1964, que das futuras gerações indígenas num
não teve entrevista por causa das férias Brasil instalou no Brasil o regime militar10, processo estranho com muitas informa-
regulares dos professores da escola). O A educação escolar indígena (EEI), é marcada pelos surgimentos das ções e temor por parte dos indígenas
diálogo com o coordenador aconteceu no Brasil, segundo Ferreira (2001), é organizações não governamentais, aos europeus como um transplante cul-
de forma presencial, respeitando todos marcada por quatro fases. A primeira dando “início aos primeiros encontros tural (FERREIRA, 2001). Por isso, torna-
os procedimentos e protocolos da corresponde às experiências iniciais da de povos indígenas para discutir e -se necessário, neste momento, apre-
Organização Mundial da Saúde (OMS). escolarização para o povo indígena, que reiniciar seus direitos (NOVAES, 2006, sentar a construção da diferença entre
No período de férias aconteceram duas foi “via oral por meio de contos e fábulas, p. 1), destacando a implementação no a educação indígena e educação escolar
visitas técnicas na aldeia indígena em para as crianças utilizando-se de teatros governo Castelo Branco11 do Plano de indígena que serão tratados no próximo
Amarante do Maranhão, nas terras e presentes para conquistá-las” (FREIRE, Integração Nacional (PIN), com o objetivo segmento do texto com as suas especifi-
indígenas araribá, onde os alunos que 1980, p. 28). Através dos padres jesuítas de expandir as fronteiras internas do cidades e conceitos. A educação escolar
estão matriculados na escola urbana da Companhia de Jesus7, em 1549, no Brasil e, na década de 80, à gestão de desses povos indígenas tem sido, nos úl-
estudavam. Nesta visita, escutamos os modelo assimilacionista de submersão8, seus próprios processos educacionais. timos anos, um tema bastante explorado
professores indígenas para conhecer tendo como principal propósito “a Agora os próprios indígenas decidiam devido à diversidade pedagógica e cultu-
os principais motivos que levam a saída propagação da fé e o progresso das almas e regularizavam os processos de ral desses povos.
dos alunos indígenas para estudar na vida e doutrinas cristãs” (O’MALLEY, escolarização entre eles, fortalecendo o
em escola da cidade. Relataremos, de 2004, p. 39), até a sua expulsão em 1759, movimento indígena. Conceito de educação indígena X
modo geral, as falas dos professores. As pelo Marquês de Pombal , ministro do
9
Nesta direção, numa perspectiva educação escolar indígena
entrevistas com a comunidade tiveram Império português, que trouxe mudanças crítica, a educação escolar indígena, Conforme estudiosos, tanto os
a duração de mais de 10 horas de nas vidas dos povos indígenas, como a chegou para as comunidades indígenas antropólogos quanto os indigenistas,
gravação, grande parte dela em língua “transformação das aldeias indígenas como uma realidade desconhecida, os termos há mais de 20 anos vêm
materna indígena . Ressaltamos que as
6
em vilas” (GOMES, 2012, p. 85), visando imposta pelos colonizadores de modo que apresentando distinções entre a
rodas de conversa tiveram a presença a integração dos indígenas a sociedade todos tinham que aprender a conviver de educação indígena e a educação escolar
de alunos que fazem parte do mestrado colonial portuguesa. acordo com os métodos já estabelecidos indígena.
em andamento junto ao Programa de A segunda fase é marcada pelo Serviço pelos europeus. Conforme Thompson A primeira categoria foi estabelecida
Pós-graduação em Formação Docente de Proteção aos Índios e Localização de (1998, p. 18), um “motor de impactos e por Bartolomeu Melià, em 1979, que
Trabalhadores Nacionais (SPILTN), em transformações socioculturais”, uma melhor descreve esse termo em sua obra
10 A ditadura militar no Brasil foi marcada pela extrema
violência com a qual foram combatidos os opositores do regime. 1910, que se desdobra até a política de atitude de recriar as aldeias através da “Educação Indígena e alfabetização”. De
Prisões arbitrárias, torturas, estupros e assassinatos foram
realizados pelas forças militares e policiais no país. ensino da Fundação Nacional do Índio escolarização com viés religioso para acordo com Melià, educação indígena
11 Foi o 26º Presidente do Brasil, o primeiro do período da
Ditadura Militar, tendo sido um dos articuladores do Golpe
(Funai), e sua articulação com o Sumer inserir novas lembranças, costumes e está próxima de uma noção de educação
Militar de 1964.

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


116 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 117
enquanto processo total, global, o que Podemos verificar nos principais mo- Darcy Ribeiro (1922-1997), já tinha as Acerca dessa relação, percebe-se que
quer dizer que se ensina e se aprende mentos dessa trajetória, suas próprias formas de reprodução dos é através da educação indígena que são
a cultura indígena em termos de saberes, não se limitando à sala de aula. transmitidos seus saberes milenares.
1. a vida antes do nascimento, quando os
“socialização integrante”, aplicando-se pais adotam posturas para influenciar De acordo com Grupioni (2001, Essa transmissão de saberes, hábitos,
o ensino e a aprendizagem de modo a o comportamento que a criança vai ter p. 274), educação indígena são “as símbolos, linguagem, possuindo
na vida adulta; 2. o nascimento, que é
“satisfazer as necessidades fisiológicas, práticas tradicionais de socialização e espaços e tempo educativos próprios,
sempre um momento de celebração e
assim como a criação de formas de confraternização entre os familiares; 3. transmissão de conhecimentos próprios dos quais participam a pessoa, família
arte e religião”. Melià, destaca que a a passagem da vida de criança à vida a cada sociedade indígena”, cada uma e a comunidade, é de fundamental
adulta, marcada pelo ritual de iniciação;
“educação indígena é difícil de analisar com a sua cultura. importância para a preservação de sua
4. a vida madura, quando o indígena
principalmente porque não é parcelada. adulto ensina tudo que aprendeu aos cultura e de sua identidade. Tais saberes
[...] processos pelos quais uma sociedade
[...] as comunidades indígenas, que mais novos (SANTOS, 2006 apud SIMAS;
internaliza em seus membros um modo
fazem com que eles sejam diferentes
PEREIRA, 2010, p. 6).
simplesmente vivendo, estão se próprio e específico de ser, que garanta dos demais povos. Esse conhecimento
educando” (MELIÀ, 1979, p. 17). Esse sua sobrevivência e reprodução, ao longo é dominado pelos mais velhos, memória
Neste sentido, Ferreira (2001) de gerações, possibilitando que valores
processo cultural, por meio da educação contextualiza que é preciso lembrar e atitudes considerados fundamentais
viva da comunidade, a voz da experiência,
de cada indígena, é de interesse de que, antes do contato com os europeus, sejam transmitidos e perpetuados com a missão de passar para as futuras
toda a comunidade. Através de cada (GRUPIONI, 2001, p. 274). gerações os conhecimentos do seu povo
nas comunidades indígenas já existia
conhecimento, individual ou coletivos, uma educação, que os conhecimentos (FERREIRA, 2010).
Nesse estudo específico, os conceitos
são criados os indivíduos para que já eram transmitidos oralmente a partir A segunda categoria do presente
de educação indígena são formulados
possam conservar todos os elementos da compreensão da genealogia da tribo, trabalho ilustra bem como ocorreu esse
comparando-se às diversas sociedades,
da cultura para os conhecimentos onde uma das preocupações principais processo. O termo “educação escolar
em que existem tantos modelos de
tradicionais (BEALS, 1972). era com aprendizagem destes indivíduos, indígena” é atualmente utilizado para
educação quantos de culturas. Um dos
Para Ferreira (2001) é difícil descrever através de histórias e rituais. distinguir o ensino formal em contraponto
conceitos que se aproxima é do Iturra
a educação indígena em uma comuni- Para Kahn e Franchetto (1994, p. à educação informal desenvolvida no
(1994) que considera como processo
dade por ser tratar de uma construção 8), um “conjunto dos processos de processo de socialização tradicional
educativo o meio pelo qual aqueles que
diária, que ocorre durante todo o ciclo da socialização e de transmissão de e específica a cada povo indígena.
já têm em sua memória pessoal as
vida de um indígena. A construção des- conhecimentos próprios e internos Conceitos e características que vêm se
taxonomias culturais, o como e o porquê
ses saberes acontece com a participa- a cada cultura indígena”. Em seus desenvolvendo desde a chegada dos
da sua experiência histórica, e tentam
ção de todos os integrantes da comuni- próprios idiomas, sem precisar da colonizadores no Brasil.
transmitir estes saberes aos mais novos,
dade, de modo que a aprendizagem está escrita alfabética, uma forma própria No período do descobrimento, além
inserindo novos saberes, local e próprio,
no dia a dia, sempre com o princípio de de reproduções dos saberes, por meio da ocupação do território, trouxeram
de outra cultura.
que todos educam todos em qualquer da transmissão da oralidade. Isso deixa em sua bagagem outras formas de
situação do cotidiano – saberes e ideias claro que os indígenas que habitavam na 12 O Marquês de Pombal é o nome pelo qual ficou conhecido educação, uma filosofia bem distante
Sebastião José de Carvalho e Melo, diplomata e primeiro-
enraizadas, conhecimentos tradicionais terra brasílica, de forma livre, alegres ministro português. Faz parte da geração de governantes dos saberes tradicionais, já fixados, nas
conhecida como déspotas esclarecidos que afetou o Reino e
indígenas. e soltamente como diz o antropólogo suas colônias. comunidades indígenas, chegou “[...]

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


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impondo-se por meio de diferentes estabeleceu, com os povos indígenas, Até a expulsão dos missionários da Uma visão eurocêntrica e colonizadora,
Companhia de Jesus, em 1759, os
modelos e formas, cumprindo objetivos relações com o Estado lusitano, numa com intuito de modificar a cultura por
Jesuítas usaram a educação escolar,
e funções diversas” (GRUPIONI, 2006, prática de controle político e civilizatório, entre outras coisas, para impor o ensino meio da educação, visto que o colonizado
p. 43), com o objetivo de implantar aliado ao proselitismo religioso [...]”, no obrigatório em português como meio aparece assim como o outro da razão,
de promover a assimilação dos índios à
uma identidade nacional homogênea longo processo de construção da história o que justifica o exercício de um poder
civilização cristã.
para o apagamento das identidades da educação para os indígenas. disciplinar por parte do colonizador.
indígenas, ocasionando confrontos entre Conforme Zaparoli (2006, p. 136), a Esse período foi conhecido por De acordo com M. Silva (1994), os
os colonizadores com os habitantes das “primeira etapa da educação escolar in- “paradigma assimilacionista onde jesuítas consideravam os indígenas
terras recém-conhecidas. dígena pode ser situada entre o período se intenciona educar o índio para a como seres inferiores, acreditavam,
Neste sentido, como parte do colonial até as primeiras décadas do sé- negação de sua identidade e abdicação que por meio da catequese os indígenas
pressuposto histórico, a estruturação da culo XX, sendo marcada pela imposição de sua língua, de suas crenças e de seus se desenvolveriam e passariam a ser
educação indígena no Brasil teve início da cultura dominante sobre tais popula- padrões culturais” (MAHER, 2006, p. 17). humanos e civilizados.
com a chegada dos padres jesuítas, que ções”. Nas aldeias, justo com o ensino da Com isso, no primeiro capítulo do livro A educação escolar indígena que foi
desembarcaram em terras brasílicas doutrinação, os padres também incluí- Pedagogia da Tolerância (2014) intitulado implantada nas comunidades indígenas
em 1549. Segundo Simas e Pereira am elementos de ler, escrever e contar, “Viver é recriar: um diálogo sobre a não atendia as reais necessidades
(2010, p. 4), “assumiram sozinhos a numa espécie de união entre catequese educação indígena”, Freire descreve que a população estava precisando.
educação por 210 anos, até sua expulsão e ensino, revelando que “a instrução foi esse diálogo e questiona: “existe neles Compreendemos que a educação escolar
pelo Marquês de Pombal12, em 1759”. um meio” para a evangelização (CHAM- uma vontade realmente de ler e escrever para os indígenas passou a ter alguns
Um processo que dilacerou a cultura BOULEYRON, 2007, p. 62). Que ainda em português?” (FREIRE, 2014, p. 50). ganhos, de acordo com os escritos de
indígena, que tinha como estratégia hoje, temos a marca da presença dos A Educação foi uma maneira de Novaes (s/d, p. 6) “[...] caminha devagar,
a incorporação do nativo à sociedade missionários evangélicos que atuam em nortear, transformar a vida do povo porém nestes últimos anos ocorreram
como mão de obra. Em relação à religião grande parte do território nacional com indígena, as suas lembranças e história, várias conquistas e inúmeros obstáculos
buscavam sempre a inserção de novos projetos de alfabetização escolar nas al- para modelar e ser ajustada com a da foram ultrapassados [...]”. Com o passar
adeptos ao catolicismo. No ponto de deias do Brasil. metrópole. do tempo, novas legislações, a cultura
vista econômico, incluía o trabalho. Nesse sentido, é imprescindível en- 13 Os índios da etnia guarani estão entre os primeiros que
tiveram contato com os colonizadores. São divididos em três
Quando a escola foi implantada em área grupos: kaiowá, ñandeva e m'byá. O nome guarani significa
Contudo, mesmo indo contra os tender que “a escola entrou na comuni- pessoa. Hoje, esse povo habita nove estados brasileiros, além
indígena, as línguas, a tradição oral, da Argentina, Bolívia e Paraguai.
interesses dos indígenas, a educação dade indígena como um corpo estranho, o saber e a arte dos povos indígenas
14 Os grupos macro-jês costumam se dividir em duas metades,
escolar indígena foi a primeira que ninguém conhecia. Quem a estava foram discriminados e excluídos da sendo que os membros de uma metade só se casam com os
membros da outra metade e o homem que se casa passa a
sala de aula. A função da escola era
experiência escolar, introduzindo a colocando sabia o que queria, mas os ín- fazer parte do grupo da mulher. Dentro da cultura macro-jê
fazer com que estudantes indígenas tradicional não existiam roupas.
instituição escola no espaço indígena dios não sabiam” (FREIRE, 2004, p. 28). desaprendessem suas culturas e 15 “Escola Digna” tem por objetivo institucionalizar as
ações voltadas à promoção da aprendizagem e articulação
(FERREIRA, 2010). Neste sentido, Ângelo De maneira que a escola não pode ser deixassem de ser indivíduos indígenas. com as redes públicas de ensino, em todo o Maranhão, nas
Historicamente, a escola pode ter sido o comunidades indígenas. Tem como princípios: I - liberdade
(2002, p. 35) ressalta que o processo de uma ilha na comunidade, mas um espa- de pensamento e manifestação no ambiente escolar; II -
instrumento de execução de uma política gestão democrática na educação pública; III - valorização dos
escolarização surgiu “[...] dentro de uma ço de saber coletivo compartilhado. que contribuiu para a extinção de mais profissionais da educação; IV - respeito aos direitos humanos e
à sustentabilidade socioambiental; V - articulação, colaboração
política indigenista integracionista, que Conforme Ferreira (2001, p. 72), de mil línguas (FREIRE, 2004, p. 23). e cooperação institucional entre as redes públicas de ensino.

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


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e os hábitos indígenas tiveram um novo Isso tudo é de grande importância municípios, sendo quatro no Pará e 23 no pela degradação da terra. Para Cíntia
processo de ensino e aprendizagem, devido ao estado possuir um grande Maranhão, entre os quais o município de Guajajara, na atualidade está:
com um maior respeito às diversidades número de povos indígenas, distribuídos Amarante do Maranhão, onde moravam
Hoje, o nosso maior desafio é a
que são presentes nas comunidades em dois grandes grupos – Tupi-Guarani os alunos matriculados no colégio manutenção da nossa língua materna
indígenas em todo o Brasil.
13
e Macro-Jê –, inserindo no plano
14 Dorgival Pinheiro de Sousa, de acordo para os mais novos devido à entrada
com a professora Cíntia Guajajara. Um da tecnologia de “celulares” onde nós
Atualmente, o Ministério da Educação do direito à educação pública e de
não estamos utilizando em sala de aula,
qualidade indígena em idade escolar, os principais motivos para migração dos
(MEC) ficou responsável pelas políticas de forma a aprimorar a nossa cultura
respeitando suas trajetórias históricas indígenas para a cidade, em relação a materna (processo de escultar para a
públicas da educação escolar indígena,
de contato com a sociedade não indígena Educação, pesquisa da Flacso, na aldeia Juçaral do
conseguindo o direito do uso das suas povo Guajajara, julho de 2021).
línguas maternas no processo de e os seus processos próprios de ensino- [...] se dá pela falta de estrutura física

aprendizagem bilíngue (Artigo 78 da aprendizagem. Segundo o professor e de equipamento adequados para Portanto o desafio da educação
alunos e professores, e principalmente
Adalto, do povo Guajajara, “essa qualidade escolar indígena é propor um sistema de
Lei de Diretrizes e Bases da Educação pela falta de professores indígenas
na educação estava concretizando devido qualificados, para qualificar os alunos ensino de qualidade e diferenciado, no
Nacional, de 1996), que garante o direito
à criação e construção de nossas escolas da aldeia para garantir os lugares dos sentido de atender as especificidades de
à formação de professores indígenas da cidade. [...] Isto significa que muitas
nas aldeias pelo governo, chamada de um povo diferente da sociedade nacional,
e à educação específica diferenciada e famílias indígenas precisam migrar para
Escolas Dignas ”. Desse modo, a Seduc
15
a cidade em busca de uma educação considerando que seus horizontes de
intercultural nas comunidades indígenas
vem realizando alguns trabalhos para de qualidade enfrentando os diversos futuro não são os mesmos que os nossos,
(Artigo 79). No entanto, a transferência processos sociais urbanos (processo de
melhorar a educação escolar indígena e não reduzir a questão ao atendimento
dessa atribuição para os Estados se escultar para a pesquisa da Flacso, na
no Maranhão. aldeia Juçaral do povo Guajajara, julho por meio dos programas de inclusão
deu sem mecanismos que pudessem de 2021).
Nessa direção, o enfrentamento ao social dos anseios individuais, ainda
assegurar as especificidades dessas
grande capital nas Regiões Norte e que legítimos, de alguns dos estudantes
escolas. Entre outros motivos, de acordo com
Nordeste, que atua sob o argumento indígenas.
A realidade da educação escolar Mussi (2006), Sant’Ana (2010) e Vieira
de “desenvolver a região”, tem um de
indígena no Maranhão não é diferente (2015), o deslocamento dos índios e suas
seus focos a questão da terra, o que
famílias para o meio urbano em toda sua
Legislação da Educação Escolar
dos demais estados da confederação. mobiliza, dentre outros, a resistência do
história, da colonização à atualidade,
Indígena
O principal órgão responsável pela Movimento dos Trabalhadores Rurais Mesmo com as mudanças históricas
provocada pela globalização, pode ser
oferta de educação escolar indígena é a Sem Terra (MST) e das populações da legislação ao longo do tempo para o
justificada pela falta de trabalho nas
Secretaria Estadual de Educação (Seduc) indígenas. No que se refere às lutas povo originário, as mais significativas
comunidades indígenas, pela busca
que conta com o setor de Supervisão das populações indígenas do Maranhão, para a educação escolar indígena,
por escolarização, pela necessidade
de Educação Escolar Indígena que tem citamos o exemplo da construção da sem dúvida, ocorreram a partir da
de um tratamento de saúde, pelo
como meta a oferta de uma educação Estrada de Ferro Carajás (EFC), iniciada consolidação da Constituição Federal
desentendimento com lideranças e
escolar indígena pautada nos princípios em 1982 e concluída em 1985, cuja (BRASIL, 1988) após muita luta dos
16 São entidades privadas da sociedade civil, sem fins
da especificidade, diferenciação, estrutura ferroviária possui cerca de 892 lucrativos, cujo propósito é defender e promover uma causa movimentos indigenistas juntamente
política. São exemplos de outras entidades do terceiro setor as
interculturalidade e bilinguismo. quilômetros de extensão, abrangendo 27 associações de classe e organizações religiosas. com as organizações não governamentais

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


122 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 123
(ONGs)16. Essas conquistas se tornaram acesso às informações, conhecimentos e Cultura Afro-brasileira” (BRASIL, Partindo desse ponto de vista,
técnicos e científicos da sociedade
realidade, assegurando aos indígenas 2003), que inclui nos currículos das ao analisar o decreto que cria os
nacional e demais sociedades indígenas
suas especificidades étnico-culturais, e não indígenas (LDB, 1998, p. 163). instituições educativas a temática da territórios etnoeducacionais, observa-
cabendo à União o dever de protegê- História e Cultura Afro-Brasileira e se que não está ligada a divisão
las, respeitá-las e promovê-las. Isso Compreendendo a real necessidade Indígena, dentre outros conquistas, político-administrativa, com isso tem
representou um marco no avanço e de garantir o direito e o devido espaço passando a escola a ser vista como um a possibilidade da implementação e de
reconhecimento dos direitos dos povos aos povos originários brasileiro, e a enraizamento da Política de Educação
local de afirmação identitária dos povos
indígenas no Brasil e colocou fim à lógica ampliação da oferta de educação, foi Escolar Indígena, considerando a
indígenas.
tutelar de que os não indígenas detinham criada a Lei n° 10.172 (BRASIL, 2001), territorialidade das etnias, participação
Nesta discussão sobre os avanços
sobre os povos indígenas, com um e o Parecer nº 14/99 do Conselho indígena e a articulação entre os órgãos
da legislação escolar indígena, dos
novo olhar sobre a educação indígena, Nacional de Educação (CNE), que trata públicos (MEC, 2008). No que se refere à
povos indígenas que perpassa a própria
pois passaram a ser reconhecidos das diretrizes nacionais para a educação questão do território etnoeducacional, é
formação do Brasil como nação, é
seu valor histórico e social, os quais nas escolas indígenas, regulamentado importante ressaltar, as suas principais
importante mencionar a criação dos características,
se propuseram as novas leis a fim de pela Resolução CNE nº 03/99, conforme
territórios etnoeducacionais, proposta
suprir as necessidades destes grupos demonstrado no Congresso Nacional Cada território etnoeducacional compre-
via decreto nº 68.61, de 27 de maio
na construção da aprendizagem escolar. de Educação (FERREIRA; PRADO, enderá, independentemente da divisão
de 2009, com um caráter inovador no político-administrativa do País, as terras
Segundo Medeiros (2013), após a 2013). Superando as perspectivas
que diz respeito ao reconhecimento indígenas, mesmo que descontínuas,
Constituição Federal (BRASIL, 1988) que assimilacionistas, os indígenas vêm ocupadas por povos indígenas que man-
abriu um grande leque para as conquistas trazendo elementos frutos de conquistas da afirmação das identidades étnicas têm relações intersocietárias caracteri-

dos direitos, como a Lei de Diretrizes e democráticas que têm feito uma dos povos indígenas brasileiro para zadas por raízes sociais e históricas, re-
lações políticas e econômicas, filiações
Bases da Educação (LDB), Lei n° 9.394 contribuição grandiosa para a ampliação a construção de território pautados
linguísticas, valores e práticas culturais
(BRASIL, 1996), que estabelece em seu dos direitos relacionados à educação dos pelo viés educacional. Como podemos compartilhados (BRASIL, 2009, parágra-

verificar, no Artigo 1º do decreto nº fo único).


Artigo 78 do título VIII, que, povos indígenas em suas reformulações,
tanto na legislação como na política 68.61/2009,
O Sistema de Ensino da União, com Nesta direção, trazendo a organização
a colaboração das agências federais governamental. desses povos tradicionais, a organização
entende-se por territórios etnoeduca-
de fomento à cultura e de assistência E, recentemente, temos a conquista da cionais o território, mesmo que des- da educação, as suas territorialidades,
aos índios, desenvolverá programas
integrados de ensino e pesquisa para
Lei nº 11.645 (BRASIL, 2008), alterando contínuo, ocupado por povos indígenas
identidades étnicas e o seu processo de
que mantêm relações intersocietárias
oferta de educação escolar bilíngue e a Lei n° 9.394/1996, Lei de Diretrizes e identificação no viés da educação.
caracterizadas por raízes sociais histó-
intercultural aos povos indígenas, com Bases da Educação nacional (LDBN), ricas, relações políticas e econômicas, Indicando caminhos para proporcionar
os seguintes objetivos: I - proporcionar
aos índios, suas comunidades e povos,
modificada pela Lei n° 10.639/2003, filiações linguísticas, valores e práticas os povos indígenas a autonomia e autoria
a recuperação de suas memórias uma conquista oriunda do movimento culturais compartilhados. de seus processos educacionais e de
históricas; a reafirmação de suas negro, o qual ansiava pela inclusão no 17 Implantaram no país uma nova religião, uma nova língua e seus territórios, de maneira a diminuir,
identidades étnicas; a valorização de novas culturas e oprimiram fortemente os costumes dos índios.
suas línguas e ciências; II - garantir aos
currículo oficial das redes de ensino a Além disso, trouxeram escravos africanos para o Brasil e no âmbito legal, as desvantagens e
fizeram a mesma coisa com eles. De certa forma, é considerado
índios, suas comunidades e povos, o obrigatoriedade da temática “História etnocídio, pois exterminaram a cultura de um povo. a desvalorização a que seus povos

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


124 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 125
foram submetidos, fruto de século de comunidades, que estão diariamente suas limitações na sua aprendizagem. conhecimentos (GRUPIONI, 2001). Assim,
Tenho que repensar muitas coisas, com
colonização exploração e desigualdade pedindo socorro (SOS), em suas terras entendemos que se faz necessária uma
os próprios alunos (entrevista com o
impostas pela sociedade envolvida. que estão sendo usurpadas, pelos novos professor da escola urbana 03, agosto de reafirmação de suas identidades, uma
Trata-se, sobretudo, de “questionar as colonizadores tecnológicos. 2021).
redefinição étnica em contexto urbano
diferenças e desigualdades construídas e a percepção da escola como um dos
Rodrigues (2012, p. 2) explica que
ao longo da história entre diferentes Os desafios dos alunos espaços que aproximam a compreensão
esse processo de pensamento estereo-
grupos socioculturais, étnico-raciais, indígenas no espaço escolar em dos saberes legados pela população
tipado por parte dos alunos não indíge-
de gênero, de orientação sexual, entre Imperatriz/MA: as percepções indígena, em uma história plural não
nas e professores nas escolas urbanas
outros” (CANDAU, 2013, p. 152), ou seja, dos professores na escola
está relacionado à “aculturação ”, bem única.
os grupos historicamente excluídos que urbana e da aldeia.
como ressalta que devemos respeitar a Na fala do coordenador, ele deixa
reclamam por seus direitos, dignidade e As primeiras rodas de conversa
presença da cultura do outro, de forma bem claro que os professores que
respeito. revelaram o quanto a questão indígena
que assim avançamos na construção de participaram da pesquisa conhecem
Uma vez que, apesar dos avanços ainda carrega a influência negativa da
um olhar pela diferença nos permitindo e reconhecem a diversidade cultural
da legislação aos povos indígenas, na visão do colonizador, desde o ano de
vivenciar novos conhecimentos com ou- apresentada por seus alunos, e têm a
atualidade, eles são confrontados e 1.500.
tras culturas. consciência de que na sua sala de aula
vitimados por violências, em um longo Infelizmente, muitos estereótipos
Por outro lado, reconhecemos que
processo de etnocídio17 e genocídio, são heterogêneas, mais ainda com a
(FREIRE, 2000) ainda são mantidos e
existe a falta de políticas públicas que
e são silenciados através de políticas reproduzidos dentro da escola que deve chegada dos alunos indígenas, dando
direcionem as práticas educativas nas
públicas, que incentiva desenvolvimento a compreender que a escola precisava
ser espaço para o desenvolvimento das escolas urbanas que atendem alunos
de empreendimentos econômicos e ser um espaço mais plural com diálogos
potencialidades do sujeito através de das comunidades indígenas, o que fica
projetos de desenvolvimento estatais e entre as culturas indígenas e ocidental
uma perspectiva intercultural. evidente na fala do professor (02),
privados dentro dos territórios indígenas, de modo que abra um espaço de melhor
Percebe-se que os professores da
alinhada ao capital. Grupioni (2005) [...] nós professores na rede estadual e
escola urbana desconhecem a temática convivência entre os alunos indígenas e
lembra que a carta magna reconhece os próprios alunos não indígenas que es-
da educação escolar indígena e muitos se tão em sala de aula com os alunos indí- não indígenas.
aos indígenas “os direitos originários
sentem incomodados com a presença de genas, ainda não estão preparados para Segundo o coordenador, o maior
sobre as terras que tradicionalmente compartilhar as diversidades sociocultu-
alunos dentro das salas de aulas em que desafio para os que estudaram na escola
ocupam” (BRASIL, 1988), porém não rais, sua pluralidade, sua interculturali-
trabalham. O professor (03)18 da escola dade e especificidade trazidas pelos alu- urbana e voltam para a aldeia:
estão interessados em escutar essas
urbana demonstrou que compreende nos indígenas (entrevista com professor
da rede urbana 02, agosto de 2021). Os pais querem que os seus filhos saiam
18 Utilizaremos esse codinome no texto para proteger o essa relação, pois defende que,
anonimato dos professores da escola urbana e das aldeias para a cidade e voltem para a aldeia,
indígenas.
[...] a gente consiga utilizar os termos É importante considerar que alunos mas esse é um grande problema, porque
19 A aculturação é o nome dado ao processo de troca entre quando eles retornam para a aldeia
culturas diferentes a partir de sua convivência, de forma que corretos. Eu, diante de minha inquietação de culturas diferentes retirados das suas
a cultura de um sofre ou exerce influência sobre a construção e da minha ignorância, percebo quantas eles não têm uma política educacional
cultural do outro [...] a ressignificação culminou na mudança aldeias para morar na cidade carregam
de hábitos e assimilação por parte das culturas indígenas o vezes eu errei utilizando o espaço que desenvolva o que eles aprenderam
que pode ser percebido na mudança da forma como se vestem, de sala de aula erradamente com os consigo modos próprios de perceber o na escola urbana (entrevista com o
na construção de suas casas ou no gradual abandono de suas
línguas (RODRIGUES, 2012, p. 2). alunos indígenas, não observando as mundo, de se expressar e apreender os coordenador em junho de 2021).

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


126 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 127
Fica claro na fala do coordenador que são poucos professores e escolas que as migrações para a cidade de Imperatriz/ domínio da língua português”. A exemplo
Ma existem há muitos anos. [...] no início,
ele endente que a sua escola também estão preparadas para estabelecer essa disso, pode-se citar a diferença entre
era somente para a comercialização de
possui um papel na formação política, socialização de culturas em sala de aula. produtos retirados da própria aldeia vogais e consoantes adotados pela etnia.
pois essa instituição não é apolítica. Para aprofundar o nosso entendimento e para a venda de artesanatos [...],
No entanto, ao deixar as escolas da aldeia
devido ao espaço econômico de grande
E isso pode ser observado no Estado sobre os desafios encontrados pelos para adentrar nas escolas urbanas, os
desempenho aos setores do comércio
através de concessões seletivas para as alunos matriculados em espaço e da prestação de serviços e hoje esse
indígenas encontram dificuldades, tanto
no que se refere ao relacionamento
políticas indigenistas na influência das da cidade foi necessário inúmeros deslocamento é pela falta de trabalho na
quanto ao que diz respeito a questões
comunidade, pela busca por uma melhor
práticas escolares. olhares e posturas por parte do relacionadas aos conteúdos abordados
escolaridade para os seus filhos, pela
Para os professores entrevistados, pesquisador. Postura desde um simples necessidade de um tratamento de saúde,
em sala de aula, já que falam e escrevem
em sua língua materna diferente da
de modo geral, os principais desafios distanciamento até uma aproximação e quando ocorre um desentendimento
língua utilizada nas escolas urbanas
com a liderança (Cacique) da aldeia
em relação à presença desses alunos sensível na própria aldeia, onde os alunos (entrevista com o professor da aldeia
(entrevista com o professor indígena
em sala de aula estão relacionados com estudavam, para capturar momentos (01), julho de 2021).
(01) setembro de 2021).

a sua língua, a escrita e a convivência significativos na ação de escutar, de


Conforme Melo (2009, p. 87), esse Dessa forma, por causa do
social, ficando evidente na entrevista ouvir com atenção os professores e
deslocamento para os espaços urbanos desconhecimento ocorre um processo
com o professor (01), comunidade. Sobre a migração dos
ganha “sentido quando os indígenas de silenciamento, causando a abdicação
indígenas para a cidade, os professores
[...] no início observei que eles ficavam
passam a acreditar que a vida na aldeia da língua materna por parte dos alunos
toda a aula em silêncio, [...] esse da aldeia contextualizaram:
é inviável ou quando se dão conta de indígenas em sala de aula.
silenciamento em sala de aula causava
que há muito tempo as florestas
uma discriminação em forma de que a possibilidade de acesso [...] é
deixaram de ser o lar de milhares de
bullying por parte dos outros alunos bastante limitado”. Isso reafirma o Considerações finais
indígenas. A realidade da nossa aldeia
não indígenas de forma corriqueira, em
não é diferente das outras do Brasil. pensamento de Mussi (2011, p. 207), “a O objetivo deste estudo é refletir so-
relação à sua língua e a dificuldade da
escrita (entrevista com o professor 01, Em relação à escassez de alimentos, os presença de família indígenas fixadas bre os desafios acerca dos povos indíge-
desmatamentos e o avanço das cidades
em agosto de 2021). nas cidades não é fato novo, talvez o que nas matriculados em escolas urbanas
sobre as matas são alguns fatores que
motivaram os povos tradicionais a seja realmente novo é o agravamento de de Imperatriz/MA, nos discursos dos
Nesse sentido, Grupioni (1996, p. 424), suas condições de sobrevivência”. Está
migrar para a áreas urbana. professores que recebem os alunos em
em pesquisa realizada sobre a temática, também relacionada à educação, ao sala de aula, para compreender de que
“[...] constatou que dentro da sala de Assim, na migração dos indígenas é chegarem na cidade essas famílias não modo eles podem contribuir para com-
aula, os professores revelam que são mal possível verificar que o contexto urbano têm apoio das autoridades nem suporte bater ou acentuar o desconhecimento, a
informados sobre o assunto, e os livros revela um novo mundo para esses necessário para realizar a matrícula nas intolerância e o preconceito contra esses
didáticos com poucas exceções, são grupos, possibilitando a reorganização escolas. De acordo com a professora
alunos no contexto urbano. Desta forma,
deficientes no tratamento da diversidade de seu modo de vida neste novo contexto (02) da escola indígena, os alunos que
verificamos que a pesquisa empreendi-
étnica e cultural existente no Brasil”. que estão inseridos. Para o professor retomam para a aldeia relatam que o “o
da tem grande relevância para o cum-
De modo que a presença de conflitos (01) de língua materna da aldeia, o maior desafio encontrado por eles é o
primento da Lei n° 11.645/08 – a qual
e tensões nas relações entre alunos deslocamento para a cidade é um ciclo
20 BRASIL. Lei nº 11.645. Brasília, 2008. Disponível em: <http:// estabeleceu as diretrizes e bases da
indígenas e não indígenas mostram que constante que acontece há muito tempo, www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.
htm>. Acesso em: 10 mar. 2021. educação nacional, para incluir no currí-

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


128 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 129
culo oficial da rede de ensino a obrigato- alunos indígenas e, consequentemente a solidariedade. São Paulo: Editora da Nacional. Lei nº 9.394. Brasília: MEC,
riedade da temática “História e Cultura superação das dificuldades na oralidade Universidade de São Paulo, 2001. 1996.
Afro-Brasileira e Indígena”20. da língua portuguesa e da escrita,
É importante considerar que alunos na convivência social, no processo BEALS, Ralph; HOIJER, Harry. BRASIL. Ministério da Educação.
de culturas diversas, mesmo vindos de de silenciamento, na discriminação Introducción a la antropologia. Parecer 14/99 do Conselho Nacional de
suas terras de origem para morar na que conduz ao bullying nas escolas Madrid:1972. Educação. Brasília: MEC, 1999.
cidade, trazem consigo modos próprios urbanas onde estão inseridos os alunos
de perceber o mundo, de se expressar indígenas. Com isso queremos contribuir BRASIL. [Constituição (1988)]. BRASIL. Referencial curricular

e apreender os conhecimentos. Assim, na construção do processo da educação Constituição da República Federativa nacional de educação escolar indígena.

entendemos que se faz necessária intercultural dos alunos indígenas numa do Brasil: promulgada em 5 de outubro 2. ed. Brasília: MEC, 1994.

uma reafirmação de suas identidades, escola urbana de Imperatriz/MA, bem de 1988.


BRASIL. Referencial curricular
bem como uma redefinição étnica em como o fortalecimento das suas culturas,
nacional para as escolas indígenas.
contexto urbano e entendendo a escola histórias e tradições que podem estar ou BRASIL. Lei nº 10.172, de janeiro
Brasília: MEC/SEF, 1998.
como um dos espaços que aproximam a não em processo de silenciamento. de 2001. Aprova o Plano Nacional
CANDAU, V. M. Multiculturalismo
compreensão dos saberes legados pela Por fim, esperamos que o resultado de Educação – PNE e dá outras
e educação: desafios para a
população indígena, em uma história desse processo de estudo, pesquisa providências. Brasília, 2001. Disponível
prática pedagógica. In: MOREIRA,
plural não única. e construção de escritas seja uma em: <http://www.planalto.gov.br/
A. F.; CANDAU, V. M. (Orgs.).
Utilizaremos as informações e os contribuição para a história da educação ccivil_03/lei/leis_2001/110172.htm>.
Multiculturalismo: diferenças culturais
dados que serão gerados para a escrita brasileira. Por isso, essa pesquisa não Acesso em: 20 mai. 2020.
e práticas pedagógicas. 10. ed.
do resultado do estudo e pesquisa se exaure neste momento, mas pode
Petrópolis: Vozes. 2013. p. 13-37.
no texto dissertativo e na criação de conduzir outras vertentes de pesquisa BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março
um produto de pesquisa que será um como verificar a aprendizagem de de 2008. Altera a lei nº 9.394, de 20 de
CANDAU, V. M. Concepção de educação
Manual Pedagógico de Orientações alunos indígenas na educação infantil, dezembro de 1996, modificada pela
intercultural. Rio de Janeiro: Editora
aos Professores, em forma de cartilha, na educação especial, na modalidade lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
PUC-Rio, 2014.
contendo as propostas/orientações substitutiva, na educação de jovens que estabelece as diretrizes e Base
aos professores que recebem alunos e adultos (EJA) em contexto urbano, da educação nacional, para incluir no CASTRO-GOMES, Santiago. Ciências
indígenas em sala de aula nas escolas dentre outras possibilidades de estudos. currículo oficial da rede de ensino a sociais, violência epistêmica e o
urbanas de Imperatriz/MA. obrigatoriedade da temática “História problema da invenção do outro. In: A
Almejamos que as orientações REFERÊNCIAS e cultura afro-brasileira e indígena”. colonialidade do saber: eurocentrismo
pedagógicas propostas por cada sujeito ARRUDA, R. S. V. Imagens do índio: Diário Oficial da União, Brasília, 11 mar. e ciências sociais. Perspectivas latino-
do processo de pesquisa e organizadas signos da intolerância. In: GRUPIONI, 2008. americanas.
por nós possam possibilitar a L. D. B; VIDAL, L. B; FISCHMANN, R.
compreensão da educação intercultural (Org.). Povos indígenas e tolerância: BRASIL. Ministério da Educação. Lei FERREIRA, M. K. L. A educação escolar
como um espaço de protagonismo dos construindo práticas de respeito e de Diretrizes e Bases da Educação indígena: um diagnóstico crítico da

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


130 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 131
situação do Brasil. In: SILVA, A. L. Luís Donizete Benzi (Org.). Formação fronteiras da educação. In: SILVA, Aracy
da; FERREIRA, M. K. L. (Orgs.). A de professores indígenas: repensando Lopes da; FERREIRA, Mariana Kawall
antropologia, história e educação. São trajetórias. Brasília: MEC; SECAD, 2006. Leal (Orgs.) Antropologia, história
Paulo: Global, 2001. e educação: a questão indígena e a
MAHER, Terezinha Machado. Formação escola. São Paulo: Global, 2001. p. 103-
FREIRE, Gilberto. Casa-grande & de professores indígenas: uma 120.
Senzala. 20. ed., Rio de Janeiro: Brasil - discussão introdutória. In: GRUPIONI,
América, 1980. Luís Donizete Benzi (Org.). Formação THOMPSON, Edward Palmer. Costumes
de professores indígenas: repensando em comum: estudos sobre a cultura
FREIRE, José Ribamar Bessa. Trajetória trajetórias. Brasília: MEC; SECAD, 2006. popular tradicional. 2. ed. São Paulo:
de muitas perdas e poucos ganhos. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Schwarcz, 1988.
Educação Escolar Indígena em Terra Pesquisa Social: teoria, método e
Brasilis: tempo de novo descobrimento. criatividade. 18. ed. Petrópolis: Vozes, VIEIRA, Carlos Magno Naglis. A criança
Rio de Janeiro: Ibase, 2004. 2001. p. 9-29. indígena no espaço escolar de Campo
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA Grande/MS: identidades e diferenças.
E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de O’MALLEY, John W. Os Primeiros 2015. 228 f. Tese (Doutorado em
2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Jesuítas. São Leopoldo: Ed. Unisinos; Educação) - Universidade Católica Dom
Bauru, SP: Ed. Edusc, 2004. p. 39. Bosco, Campo Grande, 2015.
LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o
que você precisa saber sobre os povos RODRIGUES, Lucas de Oliveira. ZAPAROLI, Witembergue Gomes.
indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Aculturação. Mundo Educação. 2012. Educação escolar apinayé: tradição
Ministério da Educação, Museu Disponível em: <http://mundoeducacao. oral, interculturalidade e bilinguismo.
Nacional, 2006. bol.uol.com.br/sociologia/aculturacao. Araguaína: 2016. 300 p.
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LUCIANO, G. Santos. O índio brasileiro:
o que você precisa saber os povos SANT’ANA Graziella Reis de. História,
indígenas no brasil hoje. Brasília: espaços, ações e símbolos das
Ministério da Educação, Secretaria de Associações Indígenas Terenas. 2010.
Educação Continuada, Alfabetização e 331 f. Tese (Doutorado em Ciências
Diversidade; LACED/Museu Nacional, Sociais) - Universidade Estadual de
2006. Campinas, Campinas, 2010.

MAHER, Terezinha Machado. Formação TASSINARI, A. M. I. Escola indígena:


de professores indígenas: uma novos horizontes teóricos, novas
discussão introdutória. In: GRUPIONI,

O Desafio de Educar Alunos Indígenas em Escola Urbana


132 | Trilhos da Educação Adriano da Silva Borges e Witembergue Gomes Zaparoli | 133
ARTIGOS DO MESTRADO

Alfabetização Digital:
um estudo sobre os
nativos digitais
Anaildo Pereira da Silva1

Resumo afetam o desenvolvimento educacional


O presente trabalho é fruto de um tecnológico dos discentes. E especifi-
projeto de pesquisa fomentado pela camente: identificar os alunos analfa-
Faculdade Latino-americana de Ciên- betos digitais; estudar o contexto social
cias Sociais (Flacso Brasil), Secretaria dos educandos; promover atividades
de Estado da Educação do Maranhão formativas para uso das tecnologias da
(Seduc/MA) e Vale. A temática versada informação e comunicação (TICs). Para
nesta pesquisa é a alfabetização digital fundamentar esta pesquisa, nos anco-
de “Nativos digitais” preconizado por ramos em Prensky (2001), no tocante ao
Prensky (2001). A questão norteadora estudo dos “Nativos digitais”, arrolamos
deste trabalho foi a seguinte: quais fa- os documentos que regem a educação
tores pesam para que os alunos da rede como os parâmetros curriculares nacio-
pública estadual de Gov. Newton Bello/ nais (PCNs) (2000) e Lei de Diretrizes e
MA sejam analfabetos digitais? Para Bases da Educação Nacional (LDBEN)
responder essa indagação traçamos 96. Trouxemos também Perrenoud
como objetivo investigar os fatores que (2000), Moran (2004) e Braga (2012) no

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


Anaildo Pereira da Silva | 135
tocante ao uso das tecnologias na edu- aos diversos setores da sociedade. A
cação e Azevedo (2003), que trata sobre chegada do novo século e as suas duas
1 Anaildo Pereira da Silva políticas públicas voltadas para o setor primeiras décadas mostraram o quanto a
Mestrando do Programa de Pós- tecno-educacional. Como metodologia, tecnologia é importante para os diversos
Graduação stricto sensu em Letras adotamos a pesquisa de campo experi- setores sociais, aqui em especial, o setor
da Universidade Federal do Maranhão mental atrelada à pesquisa bibliográfica. da educação.
(UFMA), Campus Bacabal. Graduado A amostra deste estudo consistiu em 10 Nesse sentido, retomo para este
em Letras, habilitação em Língua
alunos selecionados por meio de ques- trabalho a minha pesquisa intitulada
Portuguesa, Língua Inglesa e
tionário socioeducacional e tecnológico. “TICs no ensino de língua inglesa:
suas respectivas Literaturas pela
Por fim, concluímos que as condições mediações pedagógicas no processo
Universidade Estadual do Maranhão
sociais, dentre outros fatores apresen- ensino aprendizagem na turma do 3º
(UEMA), Campus Santa Inês. Bolsista
tados, é um fator preponderante na in- ano do ensino médio do C. E. Antônio
pela Faculdade Latino-americana
terferência da aprendizagem dos dis- Macêdo de Almeida – Gov. Newton Belo/
de Ciências Sociais (Flacso Brasil),
centes no tocante às TICs. Dessa forma, MA” desenvolvida no ano de 2018, sendo,
Secretaria de Educação do Estado do
propõe-se uma interferência no contex- pois, seu resultado final o trabalho de
Maranhão (Seduc/MA) e Vale. E-mail:
to escolar por meio de política pública conclusão de curso de Licenciatura em
profanaildo@gmail.com. Lattes: http://
educacional visando mudar a realidade Letras pela Universidade Estadual do
lattes.cnpq.br/8515763379257750.
do campo dessa pesquisa, bem como de Maranhão (UEMA), Campus Santa Inês.
toda rede estadual de educação. Nesta pesquisa abordei a importância
das Tecnologias de Informação e
Palavras-chave: Alfabetização digital. Comunicação (doravante TICs) no ensino
Educação. Ensino-aprendizagem. Nati- e ainda investiguei a existência e uso de
vos digitais. TICs. TICs, por parte dos docentes, na referida
escola nas aulas de Língua Estrangeira
Introdução – Inglês. Nesse sentido, constatou-
Vivendo o período que se habituou se que a prática docente por meio das
a chamar de “século da tecnologia TICs era praticamente inexistente, bem
digital”, em que tudo está conectado, ou como o conhecimento dos docentes
pelo menos deveria, é sem dúvida um e discentes para o manuseio e boas
momento que muitos educadores lutaram práticas educacionais com as mesmas.
e sonharam alcançar. No Brasil, vimos, Em 2018, constatou-se a fragilidade de
a partir da década de 1990, a expansão conhecimentos de manuseio tecnológico
tecnológica e as novas possibilidades por parte dos professores e dos
de comunicação começarem a chegar discentes e, dois anos depois, em 2020,

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


136 | Trilhos da Educação Anaildo Pereira da Silva | 137
a Pandemia Mundial da Covid-19 chegou sendo desenvolvidas remotamente, e LDBEN/96. Na baila teórica, trouxemos basilares da educação nacional e
ao Brasil e escancarou uma emergência alunos não possuem conhecimentos também Perrenoud (2000), Moran (2004) num segundo momento faremos uma
tecnológica e de manuseio da mesma. para manusear as tecnologias, isto é, e Braga (2012) no tocante ao uso das retomada histórica sobre as políticas
Frente a tal problema, o Governo do são analfabetos digitais, tornando-se tecnologias na educação, somando a públicas voltadas para a educação
Maranhão providenciou Workshops e assim, um possível fator de prejuízo esta base teórica, trouxemos Azevedo para que possamos compreender a
momentos formativos para os docentes na aprendizagem, já que que não (2003) que trata sobre políticas públicas importância da atuação governamental
fazer uso de redes e plataformas digitais conseguem acompanhar as atividades da voltadas para o setor tecno-educacional. para o desempenho dos educandos com
no âmbito educacional, contudo a classe mesma forma que aqueles que possuem A metodologia utilizada neste trabalho as tecnologias neste cenário.
discente não teve nenhum momento estes conhecimentos, e isso, poderá foi a pesquisa de campo experimental Desde sempre o homem procura
formativo e passou por dificuldades refletir nos conhecimentos para os anos atrelada à pesquisa bibliográfica. O se adaptar às inovações e utilizá-las a
em manusear os programas, sites e conseguintes (caso seja promovido para campo de pesquisa foi a escola Estadual seu favor nas diversas atividades que
plataformas. a série/ano subsequente) e até mesmo C.E. Antônio Macêdo de Almeida na desenvolve. Por exemplo, os recursos
A partir desse ponto, levantamos a no desempenho nos vestibulares (a cidade de Gov. Newton Bello/MA. A existentes na natureza, tais como: ossos,
problemática que gira em torno dos priori, uma realidade dos alunos de 3º amostra deste estudo consiste em dez pedras, árvores, são tecnologias que
“Nativos Digitais” preconizado por ano do ensino médio). alunos selecionados num universo de sempre estiveram presentes. Os homens
Prensky (2001), no qual afirma que os Diante do exposto e da realidade do 250 alunos por meio da aplicação de primitivos usavam também para se
nascidos a partir da década de 1990 campo desta pesquisa, surge a seguinte um questionário socioeducacional e proteger do frio e para se defender dos
(quando trata do contexto brasileiro) inquietação: quais fatores pesam para tecnológico. ataques dos animais que os ameaçava.
são nativos digitais, isto é, já nascem que os alunos da rede pública estadual Percebe-se nessas ações que a utilização
no contexto tecnológico e estão imersos de Gov. Newton Bello/MA sejam Fundamentação teórica desses recursos foi primordial para
nelas, possuindo assim, habilidades analfabetos digitais? O presente referencial teórico garantir a sua sobrevivência, uma forma
natas para seu uso. Todavia, mesmo Desse modo, tivemos como objetivo fundamenta a importância das inteligente que o homem encontrou para
vivendo no século da globalização e investigar os fatores que afetam TICs no ensino diante no cenário não desaparecer.
das tecnologias digitais, vimos, com o desenvolvimento educacional tecnológico proporcionado pelo século Atualmente, os PCNs (2000) afirmam
a chegada da pandemia mundial da tecnológico dos discentes. E de forma XXI, considerado como o século da que é preciso entender o impacto
Covid-19 que, até mesmo estes jovens específica: identificar os alunos informação digital e emergência gerada das tecnologias da comunicação e
(discentes) não possuem conhecimentos analfabetos digitais; estudar o contexto pela pandemia mundial da Covid-19. da informação, pois toda e qualquer
satisfatórios para manuseios dos social dos educandos; promover Observando ainda como essas novas inovação tecnológica trazem certo
diversos recursos disponibilizados como atividades formativas para uso das TICs. tendências tecnológicas estão sendo desconforto àqueles que, apesar de
ferramentas mediadoras de ensino- Para sustentar esta investigação, nos tratadas pelos alunos, os “Nativos conviverem com elas, ainda não a
aprendizagem remoto. ancoramos nos conceitos de Prensky Digitais” (PRENSKY, 2001). Em um entendem. Dessa forma, o professor
A importância desta pesquisa se (2001), no tocante ao estudo dos “Nativos primeiro momento falaremos da também deve procurar se adaptar às
justifica, uma vez que, num contexto de digitais”, arrolamos os documentos que importância das tecnologias no contexto novas tecnologias para que não se
pandemia e de atividades educacionais regem a educação como os PCNs (2000) educacional pautados nos documentos encontre em desvantagem na sala de

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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aula e até mesmo no seu cotidiano fora inciso II do Artigo 32 da LDBEN/96 ampliam a prática pedagógica”. E hoje, Estes aparatos tecnológicos podem
dela, já que elas “[...] fazem parte da vida precisa ser posto em prática, uma vez podemos acrescentar às palavras de proporcionar ao corpo discente a
das pessoas, elas não invadem a vida das que se escancarou o analfabetismo Moran (2004), as mídias sociais, as possibilidade de interagir com outras
pessoas (BRASIL, 2000, p. 12)”. digital das classes docente e discente. plataformas da Google acima citadas, pessoas que não seja o professor, pode
Essa recomendação dos PCNs (2000) Por isso, diante da realidade “digital”, entre outras. tornar a aprendizagem em algo mais
é essencial no contexto da pandemia tratadas pelos PCNs (2000) e pela Considerando as palavras de interessante e, é ainda, uma forma de
que exigiu, não somente os alunos, mas LDBEN/96, existe a necessidade de Perrenoud (2000) e Moran (2004), vale incentivar o uso responsável destas
que os professores saíssem de sua zona trabalhar a inovação em todas as partes. acrescentar que com a inserção das tecnologias em outras atividades do dia
de conforto e partir para o uso das TICs E na escola isso não deve ser diferente, novas tecnologias de informação e a dia, pois a comunicação é um fator
como sua nova sala de aula, sendo, pois, pois segundo Perrenoud (2000, p. 125), comunicação no ensino pode possibilitar crucial no ensino, capaz de socializar
desafiados a superar obstáculos. ao aluno, neste contexto, a oportunidade aquilo que se quer desenvolver, pode e
Usar dispositivos tecnológicos como o de gerenciar seu próprio aprendizado deve ser realizada com maior eficácia
A escola não pode ignorar o que se passa
aparelho celular, tablet e o computador, através da interação com os próprios através das TICs.
no mundo. As novas tecnologias da infor-
bem como os aplicativos da plataforma mação e da comunicação (TIC) transfor- colegas de classe por meio de aplicativos Com a globalização e a consequente
Google (Google Meet, Google Classroom; maram espetacularmente não só nossas
disponíveis para aparelhos celulares tais modernização da sociedade, mesmo
maneiras de comunicar, mas também de
Google Doc, etc.) no ensino, permite que como WhatsApp, Messenger, Instagram, que não esteja ao alcance de todas as
trabalhar, de decidir, de pensar.
se tenha um aproveitamento das aulas Facebook, Twitter, entre outros, e camadas sociais, as TICs facilitaram
e ainda estimula o autoconhecimento ainda melhorar suas habilidades a comunicação e a transmissão de
tanto do aluno quanto do professor. Assim, os professores, na qualidade comunicativas em língua estrangeira, informação que acontece com mais
Demo (2010 apud BRAGA, 2012, p. 12) de formados e formadores, podem por exemplo, com os diversos aplicativos agilidade. Observa-se que as informações
já afirmava que “[...] devemos ter em promover atividades formativas aos de prática comunicativa como Duo lingo, são disseminadas nos dias de hoje numa
mente que o computador hoje já passou alunos a fim de que possam melhorar seu Busuu e Live Mocha que estão disponíveis velocidade jamais vista antes, graças às

a fazer parte da nossa sociedade e das desempenho educacional neste contexto tanto para o computador quanto para tecnologias que foram desenvolvidas

políticas públicas educacionais”, a título de pandemia. Contudo, trabalhar com os para tais finalidades, o que permitiu uma
aparelhos celulares e que permitem um
analfabetos digitais é um fator que exige ampliação do poder comunicativo do ser
de exemplo de acordo com o referido acompanhamento do desempenho dos
humano. Isso se tornou mais evidente
autor, cita o projeto “Um Computador muito além do que algumas atividades alunos. Em relação a isso, Paiva (2001
com a necessidade do isolamento social
por Aluno - UCA” que objetiva inserir com pragmáticas sobre uso de TICs. Essa apud FELDMAN; GALBIATI, 2013, p. 5)
imposto pela Covid-19 nestes anos de
rapidez essa nova geração no universo necessidade confirma a preocupação concorda afirmando que:
2020-2021. Sobre isso, os PCNs afirmam
da tecnologia. E com isso atender o de Moran (2004) quando afirmou que
A partir de suportes teóricos sociointe- que:
que se dispõe no Artigo 32, inciso II da “com o advento da internet, das redes racionistas, os ambientes da internet
LDBEN/96. de comunicação em tempo real, da propiciam inúmeras oportunidades do Tanto através da ampliação da
estudante usar a língua de maneira co- competência sociolinguística quanto da
Assim, mediante o contexto da TV digital e do celular, surgem novas
municativa e significativa com outros competência comunicativa, é possível
emergência digital no cenário da possibilidades no processo de ensino falantes ou aprendizes de inglês em ta- ter acesso, de forma rápida, fácil e
pandemia da Covid-19, vemos que o e aprendizagem, que transformam e refas individuais ou colaborativas (p. 5). eficaz, a informações bastante diversas.

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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A tecnologia moderna propicia entrar em disseminação da ciência, cultura e da áreas de Matemática, Física, Química, Com a emersão das novas tecnologias,
contato com os mais variados pontos do
arte. Biologia e Letras (Língua Portuguesa)”, principalmente o computador e a
mundo, assim como conhecer os fatos
praticamente no mesmo instante em No Brasil, as políticas públicas sendo essa “a primeira ação oficial e internet, a partir da década de 1990, as
que eles se produzem (BRASIL, 2000, p. educacionais voltadas para tecnologia concreta para levar os computadores até escolas da rede privada logo trataram
30). deu-se início por volta de 1949 quando as escolas públicas” (OLIVEIRA, 2001, p. de inserir essas TICs no seu âmbito
o Presidente da República Gaspar 11). a fim de preparar seus alunos para o
Essa imediação, podemos vivenciar
Dutra propôs a criação do Conselho Tendo em vista que já havia começado mercado de trabalho já nos moldes das
nesta pandemia, onde as TICs se
Nacional de Pesquisas, que de fato só o processo de informatização da novas tecnologias. Assim, diante da
tornaram o principal meio de interação
aconteceu em 1951, e com a criação da educação, também se tornou necessário discrepância que se tinha entre a escola
social enquanto todos buscavam se
Coordenadoria de Aperfeiçoamento de capacitar os professores para fazer o pública e privada, no que diz respeito
resguardar de um vírus mortal, a
Pessoal de Ensino Superior (CAPES) uso adequado dessas novas tecnologias, ao acesso às tecnologias de informação
Covid-19. Nesse sentido, devemos nos
em 1952. Percebe-se que, até esse e para suprir essa nova necessidade foi e comunicação, o governo brasileiro
debruçar um pouco sobre as políticas
marco na história da educação no criado o projeto Formar em 1986. No resolveu criar o ProInfo como uma ação
públicas voltadas para o setor tecno-
Brasil, que apesar de não possuir um entanto, somente a partir de 1990 que que objetivava instalar computadores
educacional para entendermos o que
poder aquisitivo como Estados Unidos e as TICs começaram de fato a serem na área educacional no intuito de dar
temos e, principalmente o que ainda não
Canadá, procurou-se de variadas formas utilizadas na educação brasileira. O rádio as mesmas oportunidades de formação
temos, mas precisamos, pois são elas, e a TV foram dois recursos utilizados, profissional em termos tecnológicos que
inovar a educação.
um conjunto de disposições, medidas e Apesar das conquistas das TICs a mas que não atendiam as expectativas já os alunos das escolas privadas tinham.
procedimentos que regulam as atividades partir da década de 1950, só é criado que os horários das programações eram O ProInfo começou a ser implantado
governamentais no que diz respeito às um programa de informática de difíceis de conciliar com os horários das em 1997 pelo governo federal através
atividades de interesse público, ou seja, educação no Brasil quando, em 1981 e escolas. da Secretaria de Educação a Distância/
“é tudo o que um governo faz e deixa de 1982 as Universidades de Brasília e a Para que de fato fosse efetivada a Ministério da Educação (SEED/MEC)
fazer, com todos os impactos de suas Universidade Federal da Bahia realizam, presença das TICs nas escolas públicas que além de possibilitar a comunidade
ações e de suas omissões” (AZEVEDO, respectivamente, o primeiro e segundo foi criado pelo Ministério da Educação escolar o acesso às tecnologias
2003, p. 38). Seminário Nacional de Informática em o Programa Nacional de Informática modernas, também visava ser um
Já as políticas públicas educacionais Educação. na Educação (ProInfo), através da suporte pedagógico e administrativo e
são as medidas tomadas pelo governo Como resultado desses seminários foi Portaria n° 522, em 9 de abril de 1997. ainda aproximar as novas tendências
correlacionadas a educação e, estabelecido “um programa de atuação Em 2007 sofreu alteração no nome da sociedade globalizada à comunidade
especificamente para o uso de TICs na que originou o EDUCOM – Programa através do Decreto n° 6.300 e passou escolar.
educação. Assim, podemos afirmar Brasileiro de Informática na Educação” a ser chamado de Programa Nacional Como todo projeto, este também teve
que as políticas educacionais são (AZEVEDO et al., 2013). O objetivo do de Tecnologia Educacional. A finalidade alguns contratempos durante o período
instrumentos governamentais que têm projeto, segundo Moraes (1997) era desse programa é possibilitar o uso das de implantação do programa. Segundo
objetivos de responder as mudanças “produzir uma filosofia diferente ao TICs na ação pedagógica na educação Oliveira (2001, p. 43), “a meta de entregar
sociais e culturais da sociedade na uso do computador na educação, nas básica pública. todos os equipamentos que haviam

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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sido prometidos nos prazos previstos tema de ensino público; estimular a in- multiplicar a formação entre os demais na medida que uns vão capacitando os
terligação de computadores nas escolas
não foi viabilizada pelo ProInfo”, isso professores da escola de modo que outros e ainda estimulam seus alunos a
públicas, para possibilitar a formação de
fez com que a conclusão e a qualidade uma ampla rede de comunicações vincu- alcançassem toda a rede de professores. participarem também desse processo.
do programa fossem afetadas, pois “a lada à educação; fomentar a mudança de Houve também a descentralização da Nessa capacitação colaborativa
entrega dos equipamentos nas escolas cultura no sistema público de ensino de capacitação de professores e técnicos foi possível a criação dos Núcleos de
1º e 2º graus, de forma a torná-lo apto a
só foi concluída no ano de 1999, porém, de suporte na implementação do Tecnologia Educacional que funcionam
preparar cidadãos capazes de interagir
não na íntegra pois, em algumas delas, numa sociedade cada vez mais tecno- ProInfo, incentivando assim professores como estruturas descentralizadas que
os conjuntos de equipamentos foram logicamente desenvolvida; incentivar a a interagirem uns com os outros, o apoiam a iniciação tecnológica nas
articulação entre os atores envolvidos no
entregues em número inferior ao que destaca a importância de ter-se escolas públicas e visaram a formação
processo de informatização da educação
previsto” (OLIVEIRA, 2001, p. 43). brasileira; institucionalizar um adequa- um processo cooperativo entre estes, dos professores de 1° e 2° grau para
Apesar desse fato, o programa foi do sistema de acompanhamento e ava-
liação do Programa em todos os seus
implantado e tinha como objetivos Figura 1 - Pergunta 11
níveis e instâncias (BRASIL, 1997)
principais trazer uma melhoria na
qualidade no ensino-aprendizado; Observa-se que a implantação
a partir das novas tecnologias criar do programa não ficou a cargo
um ambiente para as escolas a fim somente das (SEEs), mas também da
de possibilitar um desenvolvimento sociedade, assinalando-se assim, que
cognitivo através das TICs e ainda educar
a comunidade é um agente crucial para
o aluno para ser um cidadão globalizado. Fonte: Pesquisador (2021).
que esse programa fosse implantado
A implantação do ProInfo ocorreu
com sucesso. E para que o programa Figura 2 - Pergunta 14
numa parceria entre o MEC e os governos
começasse a funcionar foi feita a
estaduais através das suas secretarias
capacitação com profissionais da área da
de educação (SEE) e com a sociedade
educação através das TICs preparando-
organizada sob as diretrizes estratégicas
os para adentrarem a nova cultura, a Fonte: Pesquisador (2021).
abaixo:
cultura da sociedade globalizada.
Subordinar a introdução da informática Segundo Oliveira (2001, p. 45) o uso educacional das TICs. Contudo, constatou-se que não basta ter os
nas escolas a objetivos educacionais es-
“vários professores, com qualificação ao fim deste processo, o ProInfo, núcleos tecnológicos, mas também
tabelecidos pelos setores competentes;
condicionar a instalação de recursos in- profissional em informática e educação,
Quadro 1 - Amostra selecionada
formatizados à capacidade das escolas foram selecionados e capacitados, pelas
para utilizá-los (demonstrada através da
respectivas secretarias municipais e Série/ano Nº de aluno de cada série/ano
comprovação da existência de infraes-
trutura física e recursos humanos à altu- estaduais da União, para exercerem a 1º Ano 04
ra das exigências do conjunto hardware/ função de multiplicadores nos NTEs”. 2º Ano 04
software que será fornecido); promover
Esses professores selecionados após 3º Ano 02
o desenvolvimento de infraestrutura de
Fonte: Pesquisador (2021).
suporte técnico de informática no sis- a capacitação tinham a missão de

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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pessoal capacitado para operá-los e educacionais serão muito mais eficazes questionários impressos e on-line discente da escola, campo de pesquisa,
colocar as novas tecnologias a serviço e a probabilidade de desenvolver gostos (através do Google Forms). A amostra sendo, pois, estes alunos oriundos
do ensino-aprendizado da comunidade pelas TICs e um aprendizado satisfatório final são aqueles alunos identificados, de famílias de baixa renda e que em
escolar visando a formação do cidadão sejam maiores do que o que se tem no após a análise dos questionários, como sua maioria moram na zona rural,
para o mercado globalizado. presente momento. analfabetos digitais. compartilhando assim das mesmas
Dessa forma, diante dos pressupostos O questionário aplicado contém 14 problemáticas como a falta de internet de
teóricos aqui expostos e do cenário que Metodologia perguntas relacionadas às condições qualidade, acesso a aparelhos celulares
nos impôs a pandemia da Covid-19, A metodologia utilizada neste trabalho socioeconômicas, educacionais e como objeto particular, entre outros.
sentimos que precisamos trabalhar de foi a pesquisa de campo experimental tecnológicas dos alunos da escola C. Dessa forma, a análise dos dados
alguma forma o ensino-aprendizagem somada à pesquisa bibliográfica. Tendo E. Antônio Macêdo de Almeida em Gov. diz respeito à amostra selecionada,
sobre as TICs com os alunos da rede como campo de pesquisa a escola da Newton Belo/MA. Dos 250 alunos, 70 sem menção ao universo total dos 250
pública, principalmente àqueles que rede estadual C. E. Antônio Macêdo responderam ao questionário com discentes do campo de pesquisa, por
são analfabetos digitais, pois feito de Almeida na cidade de Gov. Newton devolutiva, sendo 67 on-line por meio do compreendermos que a amostra, por si,
isso, supõe-se que os resultados Bello/MA, com um público de 250 Google Forms e três por meio impresso. representa este universo pesquisado.
Para escolher a amostra selecionamos
duas indagações presentes no formulário A aplicação do projeto
Figura 3 - Sumário do material de apoio
(Figuras 1 e 2), em que notamos uma Tendo, pois, selecionado a amostra, e
regularidade que nos levou à escolha da tomado conhecimento das necessidades
amostra. tecno-educacionais destes, elaborou-se
Nesse sentido, a amostra é formada um material de apoio a partir de textos
por 10 alunos de 1º a 3º ano do ensino já existentes na internet, principalmente
médio, conforme o quadro abaixo. no domínio Google, sobre algumas
É válido ressaltar que, a amostra, plataformas digitais em uso no período
representa com fidelidade a comunidade do ensino remoto, tais como: Google

Figura 4

Fonte: Pesquisador (2021).

Fonte: Autor (2021).

alunos regularmente matriculados, de Como procedimento metodológico


onde foi selecionada a amostra para o para obtenção da amostra realizou-
desenvolvimento da pesquisa. se uma coleta de dados por meio de 2 Com exceção do módulo 3 que foi em dois
encontros, por ser mais extenso.

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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Classroom, Google Meet e Google Doc. Durante a aplicação do minicurso, No questionário, socioeconômico e que foram devidamente respondidas.
Assim, este material de apoio ganhou o fizemos uso de recursos tecnológicos, tecnológico dispomos de 14 questões Destas, destacamos seis, por conside-
seguinte sumário. angariados pelo pesquisador, bem como
Este material foi construído para dar recursos próprios. Em cada encontro
apoio aos alunos durante o minicurso procuramos aplicar um módulo2, sendo
intitulado “Alfabetização digital: o este, mostrado e posto em prática em Figura 6
uso de plataformas Google no ensino seguida. Outrossim, o material de apoio
remoto”. O minicurso foi dividido em disponibilizado permaneceu com os
módulos, como se observa na Figura 3 alunos para a prática de atividades no
e ministrado em quatro encontros entre período de férias, isto é, julho/2021,
18 e 30 de junho de 2021. sendo elas do minicurso, bem como
Fonte: Autor (2021).

Figura 5

rarmos importantes para a concretiza- sociais destes alunos. Não obstante,


ção dos dados que estávamos à procura. é válido afirmar que, as condições
As primeiras indagações a serem socioeconômicas que circuncidam

Fonte: Autor (2021).


analisadas tratam da situação os nativos digitais (nossa amostra)
socioeconômica da amostra. Passemos, podem influenciar diretamente no
pois, a primeira delas. seu desenvolvimento do uso das
novas tecnologias de informação e
das atividades docentes em atraso nas sendo, pois, possível, a partir destes
Sobre essa indagação, sete alunos comunicação.
plataformas em uso na escola campo de trazer os resultados e discussões deste
afirmam que a residência onde vive é de Nessa investigação social, para
pesquisa. trabalho demonstrados no tópico a propriedade de sua família. Enquanto compreendermos o contexto em que
Para o término deste trabalho com seguir. Passemos a ele. três afirmaram que a casa em que vivem estes alunos estão inseridos, realizou-
a comunidade discente (amostra),
é alugada. Quanto ao tipo de material se a seguinte indagação:
aplicamos o mesmo questionário que as residências são construídas, Esta indagação permite que se
Resultados e discussões
(somente a amostra), mas desta vez 80% dos indagados afirmam que estas reflita sobre a renda destes familiares
Como mencionado na metodologia,
contendo apenas as questões 10 a 14 são feitas de taipa/barro, sendo apenas para investimento nas atividades
que se referem aos conhecimentos 70 alunos responderam ao questionário
20% residentes em casas de alvenaria. socioeducacionais destes alunos. Assim,
tecnológicos. Dessa forma, podemos e destes, 10 foram selecionados para Nesse sentido, pode-se observar entre os dez alunos, sete responderam
notar, por contraste, a evolução dos compor a amostra, os quais traçaremos que a presente indagação traduz, de que sim, que sua família é beneficiária
pesquisados com a aplicação do projeto, nossa discussão neste tópico. certa forma, um pouco das condições do programa bolsa família do Governo

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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Figura 7 que estes aparelhos são de uso pessoal baixa renda, sendo, pois, em muitos
e exclusivo dos discentes, uma vez que casos impossível adquirir um aparelho
a amostra é composta por pessoas de para estes indivíduos já que, recursos

Gráfico 1 - Antes do projeto, quais das plataformas abaixo você sabe fazer uso?
Fonte: Autor (2021).

Federal. Enquanto apenas três afirmam Tendo em vista o exposto, passemos


que não são beneficiários. a indagação a seguir que, por sua
Essa indagação frente a esta vez, pode confirmar as elucubrações
investigação, mostra-se relevante, anteriores expostas. Assim, diante do
uma vez que, por meio dela, pode-se cenário tecnológico proporcionado
observar que ainda existem famílias pelo século XXI, indagamos os sujeitos
que, mesmo sendo enquadradas dentro pesquisados: Fonte: Autor (2021).

dos requisitos para recebimento do


benefício, por algum motivo, não o Nesta indagação obteve-se os
conseguem. Outrossim, a inexistência seguintes dados. Dos dez discentes,
de um programa de renda básica no nove confirmam a existência de aparelho como Bolsa Família (quando a família é posse de um aparelho celular para
seio familiar destes alunos acaba celular em sua residência. Enquanto beneficiária), são destinados às despesas que se confirmasse ou descartasse
suprimindo a possibilidade de adquirir um afirma que não tem celular na sua mensais, como alimentação, vestimenta hipóteses emergidas das indagações
equipamentos tecnológicos, como residência. e material escolar básico, ficando assim, anteriores. Dessa forma, trouxemos o
tablets, smartphones, etc., que Observa-se que na residência de 90% a compra de um smartphone como uma seguinte questionamento.
podem auxiliá-los em sua caminhada dos discentes há a presença de aparelho expectativa de dias melhores.
Os resultados obtidos desta indagação
acadêmica na educação básica. celular, contudo, isso não significa dizer Por outro lado, 10% dos discentes
foram os seguintes. Dentre os dez alunos,
afirmam que em sua residência não
Figura 8 cinco afirmam possuir um aparelho
há a presença de aparelho celular,
celular de uso pessoal, isto é, não
concluindo-se assim que, nem mesmo
precisam compartilhar com o restante
a família tem condição de adquirir um
dos integrantes de sua família. Já quatro
aparelho celular para uso coletivo na
residência. alunos afirmam que não possuem um
Considerando a possibilidade da aparelho de uso pessoal, ou seja, existe
existência de aparelho celular nas apenas um aparelho para uso coletivo na
residências de uso pessoal ou coletivo, residência em que vive. Enquanto, um
Fonte: Autor (2021).
indagou-se ainda os sujeitos sobre a destes reside numa família sem acesso

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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a um aparelho celular, mesmo que de como mecanismos importantes para Outra opção que estava disponível, era do Google que interage diretamente com
uso coletivo. compreendermos o processo de o Google Doc, uma ferramenta de escrita o Google Classroom possibilitando que
Os dados expostos por meio das analfabetismo digital dos “Nativos
indagações acima se constituem Digitais” preconizado por Prensky Figura 9

Gráfico 2 - Depois do projeto, quais das plataformas abaixo você sabe fazer uso?

Fonte: Autor (2021).

os discentes façam uso para responder observarmos o processo evolutivo.


atividades na plataforma. Observa-se Assim, obtivemos os seguintes dados.
por meio do gráfico acima que nenhum Os resultados obtidos após a aplicação
dos dez alunos que compõem a amostra do projeto trazem um contraste
Fonte: Autor (2021). diz saber fazer uso dessa ferramenta. significante no que diz respeito ao uso
Tendo em vista o contexto histórico- das plataformas digitais utilizadas no
social do campo de pesquisa, considerou- período de atividades educacionais
(2001). Assim, nas questões a seguir, ferramentas tinham domínio. O resultado se ainda a possibilidade destes não remotas. Vejamos.
refletiremos sobre o uso de ferramentas dessas respostas está ilustrado no saberem fazer uso de nenhuma dessas No que diz respeito ao uso do
tecnológicas educacionais, antes e depois ferramentas. Assim, a opção que previa Google Classroom, nove dos dez
gráfico abaixo.
da aplicação do projeto “Alfabetização a falta total desse conhecimento obteve alunos afirmam saber; os dez alunos
Observa-se que 14% dos alunos
digital: um estudo sobre os nativos 22% de resposta, ou seja, 22% dos alunos afirmam que conseguem fazer uso do
afirmam saber fazer uso das plataformas
digitais”, de forma que se tenha um afirmam não saber usar as plataformas. Google Meet; oito deles afirmam que já
Google Classroom e Google Meet. O uso
espelho do processo de aprendizagem A ausência do conhecimento conseguem manusear o Google Docs;
dessas duas plataformas se tornaram,
proporcionado pelo projeto, bem como do manuseio dessas ferramentas, e todos afirmam saber agora usar o
no período de atividades remotas, aplicativo Minha Escola. Diante dos
compreender o que ainda pode ser feito configura-se, nesse contexto, como um
essenciais para o acompanhamento fator prejudicial a aprendizagem dos dados, observa-se que todos os alunos
para sanar as problemáticas existentes.
das atividades, assim, o percentual de discentes, uma vez que não conseguem passaram a ter um certo conhecimento
Na questão a seguir, indagou-se sobre
alunos que não sabem fazer uso dessas fazer uso dessas ferramentas para para manusear tais ferramentas.
o uso de plataformas digitais em uso
no período de atividades educacionais plataformas é superior a 50%, um índice acompanhar as atividades escolares. O contraste do conhecimento de antes
remotas. preocupante, uma vez que a comunidade Após a aplicação do referido projeto, e depois da aplicação do projeto é visí-
Esta indagação permitia que fosse docente as utiliza para ministrar as indagamos novamente a amostra para vel, uma vez que, os alunos conseguiram
marcado mais de uma opção, uma vez aulas e acompanhar o desenvolvimento aprender, por meio do projeto, a manu-
3 Esse fator se aplica a quatro dos dez alunos
que desejávamos saber sobre quais de atividades. que compõem a amostra. 4 Grifo do autor.

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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sear estas ferramentas, mesmo sendo, é a falta de acesso a aparelhos de 145, evidenciam os fatores sociais, eco- econômicas da amostra e concluímos que
o período de aplicação do projeto, muito qualidade ou que pelo menos que seja nômicos e tecnológicos que interferem o público é constituído de integrantes de
breve diante do tempo ideal. Outrossim, suficiente para desenvolver atividades. na educação digital da amostra, sendo família de baixa renda que possui pouco
o bom desempenho da amostra, mesmo Para os indagados, as condições de imprescindíveis para se apresentar uma poder aquisitivo. Esse é um dos fatores
diante dos percalços tecnológicos e so- seus aparelhos não contribuem para proposta de interferência na comunida- preponderantes que interferem no
ciais anteriormente apontados, eviden- se desenvolverem no espaço digital. de escolar. processo educacional dos discentes, uma
ciam que a presença das tecnologias de Ademais, a falta de orientação e Tendo finalizado as discussões, pas- vez que os familiares não podem adquirir
informação e comunicação acompanha- formação tecnológica faz com que sua samos às considerações finais do autor aparelhos celulares, por exemplo, de
da de orientação e formação à comuni- desenvoltura com as TICs não seja sobre o presente estudo. qualidade ou nem mesmo comprar
dade discente pode ser eficiente para o aprimorada, tornando-os analfabetos um para uso coletivo na residência.
processo de ensino-aprendizagem. funcionais das TICs. Considerações finais Dessa forma, com as indagações sobre
Dito isso, passemos a última indaga- Além dos fatores apresentados, uma No presente trabalho, tivemos com o uso das TICs, obtivemos respostas
ção realizada à amostra para refletirmos resposta chamou atenção, uma vez que inquietação, conhecer quais fatores contundentes de que, mesmo havendo
sobre o analfabetismo digital e compre- algum acesso a aparelho celular, por
o indagado relatou que “os principais pesam para que os alunos da rede
ender os fatores que envolvem essa pro-
obstáculos são o precário acesso a pública estadual de Gov. Newton Bello- exemplo, a falta de instrução e formação
blemática.
equipamentos e a falta de um olhar MA sejam analfabetos digitais. Para tecnológica dificulta a acessibilidade
Nesta indagação os discentes fizeram
específico para a tecnologia por parte tanto, traçamos como objetivo investigar dos discentes às plataformas digitais
uso de frases curtas e palavras-chave
de alguns professores”4. Este relato os fatores que afetam o desenvolvimento que podem ser complementares na sua
para respondê-la. Assim, passaremos a
possui um grande peso no tocante à educacional tecnológico dos discentes. caminhada estudantil.
descrição dessas dificuldades apresen-
presença de TICs nas escolas e o uso Especificamente buscamos: identificar Além das condições sociais dos
tadas pela amostra.
delas por parte dos docentes, já que os alunos analfabetos digitais; estudar discentes serem baixas, diversos
Observou-se que entre os nove
uma parte expressiva não conseguiu o contexto social dos educandos e problemas afetam o cotidiano destes. Por
alunos que têm acesso ao aparelho
fazer uso dos recursos tecnológicos para promover atividades formativas para o exemplo, a falta de acesso a aparelhos
celular, a principal dificuldade apontada
auxiliá-los nas atividades pedagógicas uso das TICs. tecnológicos de qualidade, acesso à
é a falta de internet de qualidade para
no ensino remoto, assim, tal deficiência Diante das respostas obtidas por meio internet de qualidade, falta de orientação
acessar sites, aplicativos e plataformas
refletiu diretamente no discente, que dos questionários, consideramos que os especializada, etc., afeta-os diretamente.
que os ajudem no dia a dia. Esse fator
por sua vez, sentiu falta de orientação objetivos deste trabalho foram alcan- O último fator, nos parece basilar para
é agravado, segundo eles, pelo fato de
residir na zona rural3 que dificulta o sinal para uso das plataformas educacionais çados, uma vez que conseguimos com- torná-los analfabetos digitais, uma vez

de operadora ou banda larga via fibra ou disponíveis para o acompanhamento das preender o contexto social da amostra e que, mesmo tendo acesso a aparelhos

rádio. atividades remotas. suas principais dificuldades no uso das tecnológicos necessitam de orientação
Outro fator preponderante, conforme Para finalizarmos os resultados e dis- tecnologias que afeta o desenvolvimento para aprenderem a fazer uso correto dos
se observou nas respostas da indagação, cussões desta pesquisa, acrescentamos da comunidade discente. recursos disponibilizados.
5 Esta questão foi feita aos alunos no período antes e depois do que as indagações realizadas, bem como Por meio das indagações, podemos Diante do exposto, propomos, por
projeto com finalidade de se obter um espelho do processo de
aprendizagem fruto da aplicação do projeto. o contraste apresentado pela questão constatar as condições sociais e meio desta pesquisa, que as escolas

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


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públicas da rede estadual de ensino do br/revistas/index.php/colabora/article/ MORAN, J. M. Os novos espaços
Maranhão, de modo especial a escola que viewFile/252/179>. de atuação do educador com as
foi campo de pesquisa deste trabalho, tecnologias. Texto publicado nos anais
sejam equipadas com laboratórios BRAGA, J. C. F. Ensino e aprendizagem do 12º Endipe – Encontro Nacional de
de informática ou de línguas, bem de línguas via redes de participação. Didática e Prática de Ensino.
como disponibilizar profissionais In: BRAGA, J. C. F et al. Integrando
tecnologias no ensino de inglês nos OLIVEIRA, E. N. A utilização dos
capacitados para manter e reger este
anos finais do ensino fundamental. 1. laboratórios de informática do ProInfo
ambiente tecnológico. Ademais, que o
ed. São Paulo: Edições SM, 2012. em escolas de Dourados – MS. 2001.
governo possa oferecer, por meio de
Dissertação Florianópolis, 2001.
política pública educacional, cursos de
formação das mídias digitais sociais BRASIL. LDBEN - Lei n° 9394/96, de
20 de dezembro de 1996. Brasília, PERRENOUD, P. Construir
e educacionais para que os alunos
Ministério da Educação, 1996. competências é virar as costas aos
possam desenvolver suas atividades, saberes? In: Revista Pátio, Porto Alegre,
pesquisas e intelectualmente conforme Artmed, ano 3, n. 11, jan. 2000.
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as exigências do mercado de trabalho
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Disponível em: <http://pead.ucpel.tche. Educação e Cultura, Brasília, jan. 1997.

Alfabetização Digital: um estudo sobre os nativos digitais


156 | Trilhos da Educação Anaildo Pereira da Silva | 157
ARTIGOS DO MESTRADO

Memória e Sociedade:
uma construção
interdisciplinar entre
os componentes
curriculares História
e Artes
Lidia Cristina Costa Nunes1
Patrícia de Sousa Santos2

Resumo interação e comunicação de pessoas,


O presente trabalho tem por objetivo empresas e organizações. Os perfis
apresentar os resultados referentes sociais do C. E. General Artur Carvalho
à construção do museu virtual do narram a história da escola e sua
Centro de Ensino General Artur comunidade por meio de imagens,
Carvalho, localizado na rua Armando fotos, relatos e vídeos; preservando
Vieira, s/n - Bairro de Fátima na a memória da unidade escolar e
cidade de São Luís/ MA. A pesquisa cultural a qual faz parte. No que tange
visa a interdisciplinaridade como uma o método de abordagem, a mesma é
proposta pedagógica contemporânea e de caráter qualitativo, por descrever e
inovadora das disciplinas curriculares compreender o processo de construção
História e Artes, promovendo assim, uma da memória em rede, de maneira geral e
articulação e aproximação entre elas. indutiva. Quanto sua natureza, a mesma
O museu virtual da escola em questão, insere-se na categoria aplicada por
é construído através das plataformas: buscar e investigar dados da escola em
Facebook e Instagram; redes sociais de vários lugares como Biblioteca Central

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 159
e Arquivo Público (físico e online) para imagens, relatos de moradores e vídeos
1 Lidia Cristina Costa Nunes obter informações necessárias para dos alunos, e a proposta pedagógica
Mestranda no Programa de Pós- essa construção. Em relação ao seu dos componentes curriculares História
Graduação em Cultura e Sociedade da procedimento é uma pesquisa-ação por e Artes, trabalhando o paradigma da
Universidade Federal do Maranhão. esse projeto ter a relação e associação interdisciplinaridade entre as disciplinas.
Aluna de licenciatura em Pedagogia e 2 Patrícia de Sousa Santos de ambas. Portanto, o presente trabalho Para reunir os artefatos históricos
Educação Profissional e Tecnológica Doutora em História pela Universidade refere-se à construção do museu em (imagens, fotografias e vídeos, etc.)
(EPT), curso ofertado pelo Campus do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Rede, trazendo uma proposta piloto para que narram a história da escola, dos
Caxias em parceria com o Centro Mestre em História do Brasil o ensino básico do estado do Maranhão alunos, da comunidade e da região na
de Referência Tecnológica do IFMA pela Universidade Federal do em que cada escola estadual construa qual a escola faz parte, foi necessária
(Certec) no Polo São Luís, através da Piauí. Graduada em História pela sua história e memória em rede, a pesquisa de campo: visitação ao C.
Universidade Aberta do Brasil (UAB). Universidade Federal do Piauí. preservando esses fenômenos, além E. General Artur Carvalho, Biblioteca
Graduada em Letras pela Faculdade Professora do Instituto Federal do de usá-los para fins didáticos, usando Pública Benedito Leite, Arquivo Público
Pitágoras do Maranhão em 2017. Maranhão (IFMA), Campus São João novo paradigma de educação como a do Estado do Maranhão, Jornal Pequeno
E-mail: lidia.sbvida@gmail.com. dos Patos. Filiada à Associação interdisciplinaridade. e 24° Batalhão de Infantaria de Selva.
Brasileira de História das Religiões Em vista disso, a pesquisadora bus-
(ABHR). Membro dos grupos de Palavras-chave: Museu virtual. cou explorar métodos para alcançar seu
pesquisa Clio & Mnemósine - Centro Facebook. Instagram. C.E General Artur objetivo de pesquisa como o método de
de Estudos e Pesquisas em História Carvalho. Robinson, conhecido pela sigla EPL2R
Oral e Memória. Membro do Grupo (E: explorar; P: perguntar; L: ler; 2R:
de pesquisa Laboratório de Estudos Introdução Rememorar e Repassar) onde explorou
de Populações Tradicionais e esses lugares de coletas de dados, per-
O presente trabalho, com duração
Etnologia (LEPTE). Lidera junto com
de cinco meses (maio a setembro guntando para si e para os outros que
Professor Dr. Thiago Coelho Silveira
de 2021), teve o propósito de coletar tinham conhecimento sobre a escola e a
o Laboratório de Estudos e Pesquisas
dados e informações para a construção época que ela foi fundada, lendo livros,
em História, Cultura e Poder (LAHIS).
do museu virtual nas plataformas documentos, jornais para levantar dados
Membro do Comitê de Pesquisa e
Facebook e Instagram da escola sobre a história e identidade da institui-
Inovação do IFMA - Biênio 2020-2022.
estadual C. E. General Artur Carvalho, ção para que assim, a pesquisadora re-
Tem como áreas de interesse a cultura
localizado na rua Armando Vieira, memorasse e repassasse os conteúdos
popular, educação e religiosidade
bairro de Fátima na cidade de São levantados na pesquisa para construção
popular católica, com ênfase para
Luís/MA. Os resultados deste trabalho do museu virtual.
os cultos devocionais, ritos afro-
são a entrega do museu virtual com o Em relação a isso, a pesquisadora teve
brasileiros, mercado religioso. E-mail:
objetivo de narrar a história da escola acesso aos documentos da escola como
patricia.sousa@ifma.edu.br.
e sua comunidade por meio de fotos, o Projeto político-pedagógico (PPP) –

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
160 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 161
o qual consta história e a identidade Já a história é a ciência que estuda como também o problema e a justifica- Metodologia
da instituição de sua origem até o ano fatos do passado e sua evolução em tiva. A Metodologia que expõe como foi A presente proposta foi desenvolvida
2018. Na biblioteca, a discente buscou relação aos objetos e indivíduos de feito esse trabalho, qual caminho per- para ser aplicada no C. E. General
matérias de jornais, imagens e relatos uma sociedade. Antes do século XX, a corrido para obter o resultado requeri- Artur Carvalho, localizada na cidade
que pudessem ser relevantes para a história servia para cultuar heróis, reis, do. As Considerações teóricas que traz metropolitana de São Luís/MA. O
construção do museu, assim se deu no políticos e colonizadores, restringindo autores relacionados ao tema proposto, caminho percorrido para a obtenção dos
Arquivo Público, Jornal Pequeno e 24º outros personagens culturais que dentre eles: Maurice Halbwachs (1877- resultados requeridos se deu por etapas
Batalhão de Infantaria de Selva. foram importantes na formação do povo 1945), sociólogo francês influenciado que foram importantes nesse processo
Como um recurso tecnológico e pe- brasileiro. Entretanto, a partir do século pela escola durkheimiana, é autor da de levantamento de dados. Na primeira
dagógico, o museu virtual possibilita ao XX, o ensino desse componente curricular obra A Memória Coletiva (2013); Pablo etapa, a pesquisadora dirigiu-se à escola
foi sendo desconstruído. Desde então para conhecer o lugar do discurso assim
aluno a ampliação de seus conhecimen- Gobira, professor e pesquisador da Rede
passou a abordar a problemática voltada como sua identidade e memória até
tos sobre patrimônios antigos e atuais Brasileira de Serviços de Preservação
para negros, mulheres, crianças, então construída. Na segunda etapa,
por meio da Internet. Nessa perspectiva, Digital do IBICT/MCTI, autor da obra A
operários, comerciantes, ou seja, para percebeu-se a necessidade de buscar
o mesmo proporciona uma mediação pa- Memória do Digital e outras questões
aqueles que não tinham histórias outros lugares de discursos como
ralela e complementar sobre a memória das Artes e Museologia (2019); Pierre
narradas pela sociedade. relatos de moradores, biblioteca, jornais,
e identidade de uma comunidade, além Nora, historiador francês reconhecido
Desse modo, vê-se a necessidade associação de moradores, arquivo
de apresentar informações e realidades pelos trabalhos voltados para identida-
de desenvolver uma prática de ensino público, quartel, etc. Por conta da
sobre ela. de, memória e ofício do historiador, au-
e pesquisa interdisciplinar onde busca pandemia causada pela covid-19 foram
É através da memória que a família, tor da obra Entre Memória e História: a
a relação da história da comunidade, entrevistados somente dois moradores
o Estado e as instituições pública e problemática dos lugares (1993), entre
na qual a escola faz parte com a arte da comunidade com perguntas abertas
privada asseguram a conservação e outros autores.
que a comunidade escolhida produz e/ que serão tratadas na sessão Resultados
transmissão dos costumes e valores de Os Resultados onde expõem os dados
ou produziu ao longo dos 50 anos de da pesquisa. E por fim, a terceira etapa
uma comunidade e, consequentemente, existência da unidade escolar por meio alcançados através da pesquisa sobre
onde a discente analisa os currículos
sua continuidade ao que se refere das plataformas digitais Facebook e identidade, memória e história da uni- das disciplinas História e Artes para
ao passado e presente. A memória e Instagram. Em vista disso, pretende- dade escolar referente às informações propor uma prática de ensino e pesquisa,
a história parecem sinônimos, mas se responder neste trabalho a referida que são usadas na construção do museu usando a interdisciplinaridade.
não são. Visto que a memória é um indagação: como os componentes como também as análises desses ins-
fenômeno vivo, sustentada por pessoas curriculares História e Artes podem trumentos para o desenvolvimento da Considerações teóricas
vivas e que está em constante evolução ser ferramentas de transformação e prática de ensino e pesquisa, abordan- Maurice Halbwachs (1877-1945)
e aberta para reflexão das lembranças preservação da memória escolar? do a interdisciplinaridade. E por fim, as criou o conceito de memória coletiva e
e esquecimento por ser vulnerável e O trabalho é dividido em sessões, sen- Considerações finais onde a mestranda individual, tendo influências dos seus
repleta de diversidade, podendo ser do a Introdução onde apresenta o tema expõe suas experiências e aprendizado professores: Émile Durkheim (1858-
manipulada. que pretende-se discutir neste projeto adquiridas nesse processo. 1917) e Henri Bergson (1859-1927).

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
162 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 163
Esse por fazer uma filosofia baseada na costumes e valores sociais. Consequen- pelo reconhecimento público de grupos forças culturais complexas e dinâmicas
de onde eles emergiram (GONÇALVES,
intuição, cujo resultado vinha por meio temente, colaborando para preservação e indivíduos. Esses bens, também são
2003, p. 246).
das experiências humanas. Aquele por da memória nesses lugares de discurso. transformados em atração turísticas
tratar de fatos sociais que são uniões A história e a memória muitas vezes envolvendo setor econômico e turístico e Com isso, percebe-se um entrelaça-
de uma consciência coletiva com a podem ser confundidas, mas na realidade, outros como: mento do fenômeno memória, identida-
consciência individual. elas se opõem. Enquanto a memória de e patrimônio quando se refere a lo-
[...] uma extensa rede de mercado
Segundo Domingues (2015), a memória é um fenômeno vivo, sustentadas por intimamente associada aos discursos do cais que produz e transmite discursos.
é um fenômeno social, algo recente que pessoas vivas, por isso ela está em patrimônio: companhias de transporte, Segundo o filósofo Michel Foucault (1926
redes de hotéis e de restaurantes,
abrange várias áreas do conhecimento constante evolução, estando aberta visitações turísticas, festivais, comércio
-1984), as instituições são responsáveis
como Psicologia, História, Sociologia também para reflexão das lembranças e de souvenires (postais, reproduções, em produzir e repassar discursos, tendo
e Filosofia. Com base na Sociologia, o para o esquecimento e sua manipulação. fotografias, filmes, objetos), edição e relações de poder e conhecimento.
circulação de jornais, revistas, livros
verbo contido na obra de Halbwachs A “história é a reconstrução sempre (GONÇALVES, 2003, p. 244).
Mas por que construir essa memória
para referir à memória é o recordar problemática e incompleta do que não em rede? Pablo Gobira (2019) propõe a
por fazer alusão às experiências vividas existe mais. A memória é um fenômeno Ainda segundo o autor, patrimônio preservação da arte por meio da tecno-
em um determinado tempo e espaço, sempre atual, um elo vivido no eterno envolve memória e identidade por estar logia. Para ele, a memória é algo que
resultando, assim, em lembranças. presente; a história, uma representação relacionada às recordações de um transcende o tempo das nossas ações.
A memória para Halbwachs é um do passado” (NORA, 1993, p. 9). Por ser povo e sua representação social, sendo Preservar esse fenômeno por meio de
elemento de coesão social, sendo que atual e um elo vivido, a construção de que essas representações culturais imagens, fatos históricos em acervo digi-
a memória coletiva está conectada à uma memória escolar faz-se necessária são construídas e propagada por seus tal significa visitar e revisitar as culturas
memória individual. Nesse sentido, o tanto para a instituição quanto para a membros desmitificando ou confirmando de um povo em diversas temporarieda-
tema memória tratado por Halbwachs comunidade por abordar o retrato do suas realidades pelo: de no tempo-espaço. Essas exposições
é visto como uma ampliação do projeto outro, ou seja, o que está na comunidade [...] processo de construção dessas
nas plataformas – Facebook, Twitter –
durkheimiano numa perspectiva está na escola também. Oferecendo a instituições situadas entre a são exemplos de ferramentas para fazer
memória e a história (tais como o memória.
social e psicológica, já que a memória elas oportunidades de transformação
patrimônio, as coleções, os museus, os
depende diretamente de condições social. monumentos, os arquivos), opera-se
Segundo o autor, a arte está relacio-
externas do indivíduo. Isso pode ser Dessa forma, a memória é alimentada um trabalho cuidadoso de eliminação nada com a história, ciência e tecnologia
das ambiguidades. Substituem-se por estar numa ordem digital, referindo-
trabalhado e desenvolvido na escola, por meio das lembranças globais ou
categorias sensíveis, ambíguas e
relacionando esses fenômenos com as flutuantes, particulares ou simbólicas. precárias (por exemplo, cheiro, paladar,
-se ao contexto atual e sua influência no
áreas do conhecimento, preservando e Por conseguinte, a memória coloca as tato, audição) por categorias abstratas e cotidiano das pessoas.
com fronteiras nitidamente delimitadas
construindo memórias escolar e social. lembranças no sagrado, enraizando- Estamos às voltas com o digital,
com a função de representar memórias
À vista disso, é através da memória as no concreto, no objeto, etc. Sobre e identidades. Essa eliminação da atravessados por ele e pelo virtual.

que a família, as instituições pública e patrimônio, Gonçalves (2003) discorre ambiguidade e da precariedade dos Nos encontramos ao redor de uma
patrimônios culturais pode colocar ordem volátil que aqui chamamos de
privada, assim como o Estado assegu- que este bem pode haver envolvimento em risco o seu poder de ressonância, arte digital, simbolizando as relações
ram a conservação e a transmissão dos político por ser um instrumento de luta seu poder de “evocar no expectado as entre arte, ciência e tecnologia no

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
164 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 165
contexto atual, pós-advento da revolução Dessa forma, a memória está relacio- Em suma, o museu é um recurso nova proposta administrativa chamada:
industrial eletro-eletrônica e digital,
nada ao tempo ou percepção do tempo comunicativo, podendo ser utilizado Maranhão Novo, estruturada para
que leva nosso cotidiano a uma viagem
ao mundo digital pleno, conectado – da
que se altera conforme as transforma- como recurso pedagógico, abordando desenvolver o respeito às liberdades e
conectividade (GOBIRA, 2019, p. 14). ções do cotidiano, principalmente o que várias áreas de conhecimento humano revitalização da ordem jurídica segundo
se refere à tecnologia. O que demons- como História por tratar de memórias ex-ministro de Trabalho, Dr. Ronaldo
Referindo à memória, arte e tra a necessidade de acompanhar essa e Artes por ser uma linguagem artística Costa Couto.
tecnologias, Milton Sogabe (2019) transformação para análise e pesquisas que envolve autonomia e criatividade. No primeiro momento, o CEMA
discorre que a arte-tecnologia como uma futuras, colaborando nas áreas da ciên- Assim como este setor vem se funcionou durante um ano em sistema
manifestação artística está presente no cia e tecnologia do país. apropriando da Internet para interagir fechado para experimentação,
Brasil desde a década de 50. Este meio Em relação ao museu como uma com seu público na criação de sites oferecendo cursos de formação para os
de discurso foi apresentado pelo então instituição de memória vem sofrendo para informar sobre seus acervos, a soldados do 24° Batalhão de Infantaria.
artista, Abraham Palatnik (1928-2020), mudanças como afirma Muchacho escola também pode valer desse setor A partir do ano seguinte (1970) funcionou
considerado pioneiro da arte cinética. (2005, p. 1540) que “motivou novas para narrar e compartilhar sua história, em sistema aberto, dando oportunidade
Produto que teve impacto em artistas formas de pensar o museu, havendo, identidade e sua produção artística tanto de ingresso para a comunidade geral,
jovens com idades de 20 anos, os quais agora, consciência de que necessita de dos alunos como dos professores. fundando assim, outras unidades desse
produziam pinturas para serviços se libertar do seu espaço tradicional sistema.
terapêuticos do Hospital Psiquiátrico e limitado, para se tornar acessível ao Resultados O CEMA R1, hoje nomeado por Centro

Dom Pedro I, no Rio de Janeiro. grande público”. O Centro Educacional do Maranhão de Ensino General Artur Carvalho foi
Nessa perspectiva, a museologia deve- (CEMA), depois Unidade Integrada, pioneiro no ensino a distância, após um
No século XXI vemos uma ampliação hoje Centro de Ensino Artur Carvalho ano de experiência em sistema fechado;
se adaptar conforme as necessidades
de manifestações artísticas através
que a sociedade demanda, sobre isso a foi fundado pelo governador da época a proposta de ensino expandiu-se para
dos dispositivos móveis, facilidade de
acesso à tecnologia digital e informações autora discorre: José Sarney em 1º de dezembro de outras localidades maranhenses e
técnicas na Internet, possibilitando 1969. O governador trouxe para a estados brasileiros. Com o objetivo
o surgimento de uma gama de O museu, como importante meio de
comunicação, tem de aproveitar todo
capital do estado, uma proposta de de diminuir o analfabetismo dos
artistas vindos de todas as áreas do
este desenvolvimento comunicacional ensino inovadora com parceria da TV maranhenses, o governador apostou
conhecimento, assim como jovens que
e tecnológico, no sentido de satisfazer Brasil Maranhão, emissora educativa esse método de ensino-aprendizagem
utilizavam os dispositivos interativos e
as novas correntes da museologia que
conhecimentos adquiridos nas redes
se debruçam cada vez mais sobre o
fundada também pelo então governador que perpetuou por outras administrações
sociais. Esses acontecimentos em pouco
papel do museu na sociedade atual. no mesmo ano para essa proposta de até o ano 2005. Esse recurso veio à tona
mais de 30 anos nos provocam uma
As novas media e em particular a ensino. novamente por conta da pandemia
sensação mista de senti-los tão próximos
Internet são um instrumento precioso
e, ao mesmo tempo tão distantes, Apesar de ser um período de incertezas covid-19, sendo uma saída para muitos
no processo de comunicação entre o
causando um paradoxo. Próximos, pelo museu e o seu público. A sua utilização para o Brasil por conta da instabilidade municípios e estados brasileiros como:
tempo cronológico passado, e distantes, como complemento do espaço físico política, econômica e auge de uma São José de Ribamar “LIGADOS educação
pela velocidade de grandes mudanças, do museu vem facilitar a transmissão
de tipos de pensamentos e tipos de
guerra fria causada pelo golpe militar, digital”, transmitido na TV aberta – para
da mensagem pretendida e captar a
obras realizadas nesse tempo (SOGABE, atenção do visitante, possibilitando uma José Sarney, trouxe para o estado uma os alunos do município, assim também
2019, p. 22). nova visão do objeto museológico.

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
166 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 167
entrevistados, em 1952 era dividido relevante tanto na história do Brasil
Figura 1 - Evento cultural em duas partes: Cavaco e Campina do quanto do Maranhão. O professor pode
Cavaco por possuir na época muitas relacionar esses fatos históricos com o
árvores e por seus habitantes colherem presente, levando em consideração os
cavaco dessas árvores. Segundo os discursos que eram proibidos na escola
moradores, comunidade era banhada que hoje se pode discutir. A escola é
por rio e mar que ao passar do tempo uma instituição de produção e saída
foram terraplanados para expandir o de discursos, podendo ser um lugar de
bairro. transformação social.
Diante disso, percebe-se um fato Com base nisso, os eventos culturais
Fonte: Acervo do C.E General Artur Carvalho (2012).
histórico e também a exposição de uma podem ser um desses mecanismos de
como o estado de São Paulo: Centro de Ribamar e Paço do Lumiar. A sala figura pública – José Sarney – que é transformação onde os professores po-
Mídias da Educação de São Paulo, onde era composta por alunos e um tutor.
os alunos assistem as aulas pela TV As disciplinas eram ministradas por Figura 2 - Perfil do Instagram
aberta e aplicativo em tempo real. professores especialistas por meio da
O CEMA teve várias unidades em toda TVE – Maranhão; ao mesmo tempo para
ilha de São Luís e outros municípios milhares de alunos em todo o estado.
maranhenses como São José de

Figura 2 - Perfil do Facebook

Fonte: Acervo pessoal (2021).

dem também trabalhar a interdiscipli- dentre elas História e Artes. História,


naridade dos conteúdos curriculares. pelos alunos fazerem um levantamento
Assim também, outras escolas ma- de dados das danças, músicas do esta-
Fonte: Acervo pessoal (2021). ranhenses podem representar e trans- do e Arte por representar esses perso-
mitir através das plataformas digitais nagens culturais para toda comunidade
Esse sistema começou na década de 70 mais de 67% de pessoas negras. Do sua identidade escolar e cultura da co- escolar.
e terminou no início dos anos 2000. catolicismo ao candomblé fazem munidade por meio de eventos culturais Sabe-se que a disciplina História, se-
Referente ao bairro de Fátima, seus rituais propagarem de geração a e sarais literários. Trabalhando a inter- gundo a Base Nacional Comum Curri-
é uma comunidade religiosa com geração. O bairro, segundo moradores disciplinaridade de várias disciplinas, cular (BNCC), é um componente curri-

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
168 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 169
cular integrado nas Ciências Humanas desenvolvimento da autonomia criativa e comunidade como eventos culturais, deste trabalho é a proposta pedagógica,
e Sociais Aplicadas do ensino médio. expressiva dos alunos através da relação e festas religiosas, eventos cívicos que abordando a interdisciplinaridade dos
Propõe uma ampliação e aprofunda- conexão da racionalidade, sensibilidade, fazem parte da história e identidade da componentes curriculares História e
mento desenvolvidos no ensino funda- intuição e ludicidade, impulsionando o escola. Artes, envolvendo o ensino e a pesquisa
mental, voltados para a educação ética conhecimento e o desenvolvimento do Os professores dessas duas discipli- na unidade escolar, usando o museu
dos alunos. Mas o que se entende por Eu, Nós e o Outro que está nessa etapa nas, História e Artes, podem desenvolver virtual nas plataformas digitais –
ética? Segundo o documento, a ética é de ensino na nomenclatura Si, Outro e o projetos de ensino e pesquisa na escola Facebook e Instagram – onde pretende-
entendida como juízo de apreciação da Mundo. com parcerias de agências de fomento se narrar a história da escola e sua
conduta humana que é necessária para Referente à proposta de ensino, como a Fundação de Amparo à Pesquisa comunidade por meio de fotos, imagens
vida humana, baseada nas ideias de jus- usar esses aplicativos para narrar a e ao Desenvolvimento Científico e Tecno- e vídeos de alunos, preservando e
tiça e solidariedade como proposta de história da escola é mecanismo que lógico do Maranhão (FAPEMA) e a Coor- apresentando a memória e identidade
compreensão e reconhecimento das di- desenvolve a proposta da BNCC quando denação de Aperfeiçoamento de Pessoal da escola por meio desses perfis sociais.
ferenças. trata das tecnologias e mídias que de Nível Superior (CAPES), sendo uma A pesquisadora teve muitos obstáculos
Nessa perspectiva, entende-se a estão expostas no dia a dia do aluno. As forma de motivação para os professores para obter as informações necessárias
necessidade em continuar trabalhar o plataformas Facebook e Instagram são e alunos para adentrar no ramo da ciên- para os resultados desta pesquisa, uma
campo de experiência: Eu, Nós e o Outro, redes sociais que a maioria dos alunos cia e tecnologia do país. delas era a carência de métodos de
trabalhando o sujeito e sua subjetividade, têm, podendo ser utilizadas como Os docentes da escola podem ter pesquisa, por não ter essa experiência
assim como o meio que esse sujeito recursos pedagógicos na pandemia e como referências os grupos de estudo nos ensinos anteriores.
está inserido e tudo que é construído e pós-pandemia, por possuírem recursos e pesquisa das universidades federal Um dos obstáculos encontrados
produzido fora deles. Abordando o tempo que chamam atenção dos alunos, além e estadual do Maranhão onde os na pesquisa foi a coleta de dados do
e espaço que as Ciências Humanas de construir memórias de produtos encontros dos integrantes acontecem então general Artur Carvalho, o qual é
permitem identificar, além de propor gerados na escola: Feira de Ciências, duas ou quatro vezes ao mês. Nesses homenageado por ser patrono da escola.
análises sobre os acontecimentos desses Sarais Literários, Colóquios, Mesas encontros, os integrantes junto com A pesquisadora foi várias vezes ao
fenômenos em várias circunstâncias e redondas, etc. Essas redes sociais estão o seu coordenador escolhem textos quartel para confirmar as informações
sua continuidade, mudanças e rupturas, conectadas, ou seja, o que posta em uma relacionados com o tema e objeto de coletadas sobre o general na internet,
assim como as permanências e suas automaticamente é postada em outra, pesquisa do grupo, gerando assim, mas não obteve sucesso. Logo, em
transformações. facilitando a administração da escola. produtos científicos para o meio outros lugares de discursos como
Assim como a disciplina de História No espaço Stories dessas mídias, a acadêmico. Arquivo Público do Estado do Maranhão
busca ampliar e aprofundar os conteúdos escola ou alguém que represente ela e Biblioteca Central Benedito Leite foi
do ensino fundamental, a disciplina pode compartilhar frases educativas, Considerações finais muito bem recepcionada. Espera-se que
Artes do ensino médio tem esse objetivo, poemas, avisos da direção, dicas de O trabalho apresenta a construção este trabalho possa colaborar para o
está integrada na área de Linguagens e leituras, homenagem, enquanto a do museu virtual do C. E. Gal Artur ensino e pesquisa do estado.
suas Tecnologias. Esse componente, sessão de Publicação compartilha as Carvalho, localizado no bairro de Fátima
segundo o documento, contribui no memórias dos eventos da escola e sua em São Luís, Maranhão. O resultado

Memória e Sociedade: uma construção interdisciplinar entre os componentes curriculares História e Artes
170 | Trilhos da Educação Lidia Cristina Costa Nunes e Patrícia de Sousa Santos | 171
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172 | Trilhos da Educação

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