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BIOGEOGRAFIA
GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
4 ECOSSISTEMAS E BIOMAS................................................................................ 20
5 BIOGEOGRAFIA BRASILEIRA............................................................................. 34
6.2 Os efeitos de borda podem ser de primeira, segunda ou terceira ordem ........... 44
2
6.6 Mosaicos, corredores ecológicos e reservas da biosfera ................................... 50
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 BIOGEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
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Extinção: os seres vivos se dividem e desaparecem devido a um evento
de extinção que mantém isoladas as populações restantes, de forma que
acabam sofrendo especiação (surge novas espécies).
Dispersão: a partir de um conjunto de processos, os seres vivos se fixam
em um local diferente daquele em que viviam os seus progenitores. Com
isso, pode ocorrer, por meio da colonização de áreas afastadas, uma
especiação por quebra genética.
Vicariância: os seres vivos sofrem um processo de evolução
desencadeado por um ou mais eventos geológicos em uma área que é
habitada por um determinado grupo. O grupo pode sofrer especiação caso
seja dividido e perca totalmente o contato genético.
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2.1 Evolução da ciência biogeográfica
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Essa definição se deu a partir de dados de clima e de geologia que foram
fundamentais para traçar a regionalização e, a partir dela, pôde-se contatar que: a)
cada domínio morfoclimático corresponde a uma ampla área própria com padrões
característicos e específicos de clima, topografia e vegetação; b) as faixas que
separam os domínios apresentam vegetação de tipo intermediário (transição); c)
dentro de cada domínio pode haver intromissões de vegetação característica de
outros domínios (AB'SÁBER, 1977).
Portanto, os estudos fitogeográficos no Brasil, sobretudo os desenvolvidos
pelo geografo brasileiro Aziz Ab'Saber, foram fundamentais pois sua classificação
auxiliou a identificar e análise dos padrões de distribuição de espécies da fauna e da
flora pelas diferentes regiões, além de contribuir para os estudos e catalogações
sobre a diversa biogeografia do país.
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para que uma espécie exista em algum lugar, alguns aspectos devem ser
considerados: inicialmente, a sua ocorrência se dará somente onde ela for capaz de
chegar; depois, ela necessitará de condições e recursos apropriados para a sua
sobrevivência; e, por fim, a ocorrência dessa espécie não poderá ser impedida por
um competidor ou um predador. Se esses três aspectos estiverem presentes no
processo de colonização, a espécie terá chances reais de sobreviver e de se
estabelecer em uma determinada área.
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refúgios atuais de vegetação como aspectos xerofíticos que ocorrem na área do
bioma pampa. Um grande número de cactáceas chegou a esse local há cerca de 18
mil anos, durante o pico do último período glacial, quando um enorme corredor
semiárido passou a interligar o nordeste brasileiro ao norte da Argentina.
Com o retorno do período úmido e a consequente expansão dos biomas
adaptados às condições de maior umidade, esse corredor foi interrompido. No
entanto, em diferentes porções do bioma pampa, espécies relictuais desse passado
semiárido se mantêm ainda hoje graças a existência de um solo pobre em
nutrientes, que, ao mesmo tempo em que garante as condições mínimas para a
sobrevivência desses organismos, também dificulta a instalação de outras espécies
mais exigentes e com maior estrutura (MARCHIORI, 2004).
O mesmo pode-se dizer da manutenção de grandes manchas do cerrado em
plena Amazônia, onde as condições de grande umidade seriam incompatíveis com a
existência de uma formação savânica, a qual só é protegida da competição pelas
espécies florestais adaptadas ao clima úmido atual em razão do solo pobre em
nutrientes, que colmatou as áreas de paleocanais onde se instalaram essas
manchas de cerrado há pouco mais de 7 mil anos.
Em relação ao clímax climático, as áreas de floresta ombrófila densa que
ocorrem no Brasil são a melhor expressão da dinâmica de uma estrutura controlada
pelas condições climáticas. A vegetação de grande porte que se desenvolve ali
necessita de um grande aporte de nutrientes para se manter, o que é incompatível
com o reduzido estoque natural de minerais que existem nos solos pobres em que
esse ecossistema ocorre. Apesar disso, a alta temperatura e a grande concentração
de umidade existente nesse ambiente permitem que praticamente toda a matéria
orgânica morta depositada no solo seja reciclada em no máximo 15 meses. Percebe-
se, assim, que a condição climática de temperatura e umidade representa um
potencial para que a floresta possa produzir grande parte dos próprios nutrientes de
que necessita, os quais são recoletados pelas endomicorrizas antes mesmo que
entrem em contato com o solo, que é utilizado apenas como fonte suplementar de
abastecimento (FIGUEIRÓ, 2015).
As endomicorrizas correspondem ao tapete de raízes mais finas, localizadas
entre a superfície do solo e a base da serapilheira, que ocorrem em praticamente
todas as áreas de florestas tropicais do planeta e auxiliam na absorção de macro e
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micronutrientes pelas plantas. São, na verdade, uma simbiose entre determinados
tipos de fungo e as raízes das plantas. Os fungos auxiliam as raízes na função de
absorver água e sais minerais do solo, já que aumentam a superfície de absorção e,
em troca, a planta transfere aos fungos os carboidratos de que necessitam para a
sua sobrevivência e que não conseguem sintetizar.
Deve-se salientar que o clima não significa necessariamente uma vegetação
de grande porte, mas o máximo desenvolvimento possível atingido por uma
fitocenose nas condições ambientais em que se encontra. Da mesma forma, é
importante considerar o clímax como um conceito que auxilia a compreender as
possibilidades de desenvolvimento de uma formação vegetal em determinadas
condições, e não o estágio final e acabado que uma formação chega na sua vida
adulta. É preciso lembrar que as etapas de sucessão vegetal se reiniciam, em uma
microescala de análise, cada vez que uma clareira se abre na floresta devido à
morte de indivíduos senis, ou, em uma escala mais ampla, cada vez que o
ecossistema sofre algum grau de perturbação mais intensa, como uma catástrofe
natural ou um impacto antropogênico concentrado (FIGUEIRÓ, 2015).
Em determinada perspectiva, o ecossistema florestal pode ser visto como um
mosaico sucessional de diferentes idades e estruturas. Cada uma dessas fases é
composta por organismos que trocam matéria e energia entre si e com o exterior,
contribuindo para uma evolução fora do equilíbrio no sistema como um todo, o que
não impede que se compreenda como se comporta essa evolução estrutural
espacialmente fragmentada ao longo do tempo. Cada fase da sucessão vegetal é
acompanhada por uma determinada zoocenose a ela relacionada e apresenta
características diferenciadas quanto à produtividade primária, à biomassa e à
diversidade de espécies.
As sucessões podem ser classificadas como primárias quando se trata de
colonização de áreas anteriormente sem vida, e secundárias quando a comunidade
primária é destruída e dá origem a uma sucessão posterior. O clímax a ser atingido
na sucessão secundária não precisa necessariamente ser igual ao da sucessão
primária, tendo em vista a possibilidade de mudança do substrato entre uma e outra.
Quando o novo clímax difere do anterior é chamado disclímax.
As sucessões primárias podem se dividir em xéricas, quando ocorrem em
ambiente eco, em mésicas, com certo grau de umidade, e em hídricas quando
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ocorrem em ambiente com muita umidade, como é o caso de pântanos e lagoas
soterradas por sedimentação (FIGUEIRÓ, 2015).
Enquanto o mosaico de estágios sucessionais corresponde às variações
espaciais que ocorrem no interior do ecossistema, os diferentes estratos ou sinúsias
correspondem às variações verticais que se observa dentro do ecossistema, que
definem a distribuição dos nichos e as relações interespecíficas que deles decorrem
e que ajudam no controle populacional.
O nicho ecológico não pode ser confundido com o habitat em que a espécie
vive, já que ele corresponde ao conjunto dos elementos abióticos do ecossistema,
ao passo que o nicho corresponde à localização exata onde a espécie ocupa dentro
do ecossistema em termos físicos ou funcionais. Como corresponde a um conceito
n-dimensional, pode-se afirmar que o nicho envolve pelo menos três grandes
definições para a vida da espécie no ecossistema: os recursos que a espécie utiliza,
a sua resposta as condições do meio e as interações que estabelece com as demais
espécies (FIGUEIRÓ, 2015).
Esse conjunto de questões define a localização exata da espécie dentro do
ecossistema. É como se o habitat dissesse em que hotel é feita a hospedagem,
enquanto o nicho define as condições do quarto utilizado nesse hotel. Obviamente
que dois clientes que não se conhecem não podem ser enviados ao mesmo quarto.
Desse modo, há que se ter sempre um equilíbrio entre o número de quartos
disponíveis e o número de hóspedes a fim de evitar que a disputa pelo quarto
(disputa) prejudique ambos. Da mesma forma, sempre que um hóspede abandona o
hotel (extinção local da espécie) o seu quarto (nicho vago) passa a ser ocupado por
um novo hóspede (recolonização do nicho).
Quanto mais uma formação vegetal avança em direção a uma nova condição
de clímax, mais diversificada vai ficando sua estrutura, já que os novos nichos vão
sendo criados, impulsionando o aumento da biodiversidade. Em alguns casos,
impactos de pequena magnitude que estejam já de certa forma ligados à dinâmica
natural do ecossistema também contribuem para aumentar a sua complexidade,
uma vez que abrem nichos temporários para espécies colonizadoras que ali não
poderiam sobreviver se não fossem esses impactos, que alteram a estrutura
ecossistêmica de forma pontual no espaço e no tempo.
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Já os impactos de maior magnitude ou sistemáticos que levam a uma
degradação estrutural do sistema, produzem empobrecimento da biodiversidade,
pois eliminam as espécies adaptadas às condições climáxicas mais restritas, além
de abrir espaço para a instalação de espécies generalistas, com mais rusticidade,
que tendem a tomar conta do ambiente e eliminar as demais.
O comportamento dos organismos no espaço e no tempo dentro de uma
sucessão depende da sua capacidade de se adaptar a uma série de fatores
ambientais, como temperatura, luz, umidade, vento, salinidade, e essa capacidade
varia substancialmente de uma espécie para outra. O intervalo de tolerância entre os
parâmetros máximo e mínimo admitidos por cada espécie para cada um dos fatores
ambientais é chamado de amplitude ecológica (FIGUEIRÓ, 2015).
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bacalhau, por exemplo, produz mais de 4 milhões de ovos por ano, ao passo que os
peixes de água doce geralmente não produzem mais do que alguns milhares.
No reino vegetal, as plantas se reproduzem por esporos, gerando milhões de
esporos por ano, enquanto as frutíferas produzem menos sementes. Apesar dessas
diferenças, não é possível estabelecer uma relação tão direta entre a capacidade
reprodutiva e a abundância de espécies na biosfera, pois geralmente aquelas mais
fecundas apresentam maior índice de mortalidade. Por sua vez, as espécies menos
fecundas acabam apresentando menor taxa de mortalidade e maior longevidade do
que as mais fecundas, o que de certa maneira equipara a luta das espécies pela
sobrevivência em termos de capacidade reprodutiva (FIGUEIRÓ, 2015).
A capacidade de disseminação de uma espécie pode ser ativa, quando a
propagação dos novos indivíduos ou de suas diásporas é promovida pela própria
espécie, graças a mecanismos de adaptação estrutural, ou passiva, quando a
propagação é realizada por elementos externos às espécies, que podem ser do
meio, como vento, água, outras espécies, ou mesmo o homem. Vale dizer que é
chamada de diáspora uma parte do corpo do organismo capaz de ser propagada
para novas áreas e dar origem a novos indivíduos daquela espécie, como galhos,
frutos, raízes e sementes (FIGUEIRÓ, 2015).
A disseminação ativa é uma forma de disseminação que ocorre
principalmente entre os animais devido à sua capacidade de locomoção. Seja nas
incursões diárias atrás de alimentos, seja nas migrações sazonais em busca de um
clima mais favorável. Todavia, não se pode confundir disseminação ativa com o
movimento natural de transumância que algumas espécies fazem dentro da sua
própria área de ocorrência, já que a disseminação pressupõe a ocupação de novas
áreas.
A disseminação passiva ocorre quando um agente externo dissemina os
indivíduos ou suas diásporas para novas áreas e a proporção do número de
indivíduos ou diásporas disseminadas é diretamente proporcional à distância
percorrida pelos agentes disseminadores. A eficácia da disseminação passiva
depende fundamentalmente da natureza dos agentes de transporte e da capacidade
de adaptação dos organismos disseminados às novas condições ambientais. Os
principais agentes de disseminação correspondem ao vento, à água e aos animais,
embora algumas espécies possam se disseminar por mais de um agente, como é o
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caso do junquinho da água (Phragmites communis), que se dissemina tanto pelo
vento quanto pela água (FIGUEIRÓ, 2015).
É chamada de anemocória a disseminação pelo vento de pequenos
indivíduos (insetos, aranhas, bactérias ou algas), diásporas pequenas ou diásporas
providas de dispositivos particulares. Essa forma de disseminação é rápida e de
grande alcance.
Para que diásporas possam ser disseminadas pelo vento é fundamental a
existência de algumas características morfológicas especiais como esporos ou
sementes pequenas, em que o transporte é bastante rápido e percorre grandes
distâncias. Algumas plantas chegam a ser carregadas inteiras pelo vento, como é o
caso da rosa de jericó (Anastatica hierochuntica), cujos frutos amadurecem durante
a estação seca, perdendo as folhas, enrolando os galhos e formando, assim, uma
bola espinhenta que protege os botões e é rolada pelo vento a grandes distâncias,
como geralmente vemos em filmes de cowboys no oeste americano. Quando retorna
o período úmido, a planta se desenrola, fixa raízes no solo e solta sementes (Figura
1).
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disseminação é chamado de antropocória. Assim, as espécies diretamente ligadas
ao homem ou às suas atividades podem ser introduzidas em novas áreas de forma
intencional ou espontânea (FIGUEIRÓ, 2015).
Em relação à amplitude ecológica, deve-se considerar que vários fatores
podem representar um obstáculo para a disseminação de espécies para novos
territórios. A capacidade que uma espécie tem de suportar variações de clima,
umidade, pH, temperatura e outros fatores é o que se chama de amplitude
ecológica. Para cada característica do meio, a espécie vai apresentar um ponto
ótimo, que demarca o grau daquela variável em que as condições para a
sobrevivência são ideais. Graus superiores ou inferiores a esse ponto ótimo
demarcam territórios em que as condições de sobrevivência da espécie são apenas
toleráveis, com menor densidade de indivíduos. Deve-se considerar que a amplitude
ecológica possui um papel decisivo na disputa entre espécies para a conquista de
um território. Dessa forma, as espécies que suportam uma grande amplitude
ecológica tendem a levar grande vantagem competitiva sobre aquelas intolerantes a
grandes variações ecológicas (FIGUEIRÓ, 2015).
Sobre o potencial evolutivo, pode-se destacar três processos distintos de
adaptação que derivam do potencial evolutivo de uma espécie: os ecótipos, as
mutações e as hibridações. O primeiro se caracteriza como a possibilidade de
indivíduos da mesma espécie se adaptar a condições ecológicas diferentes,
apresentando modificações na sua estrutura física e/ou fisiológica — conhecidas
como plasticidade fenotípica, um exemplo bastante conhecido é a mudança da
coloração do pelo de animais árticos.
As mutações representam alterações aleatórias no código genético de uma
espécie, podendo levar ao aparecimento de mecanismos adaptativos que favoreçam
a sobrevivência e a disseminação de novos indivíduos da espécie para novos
territórios. As hibridações referem-se à capacidade de compatibilização por meio de
cruzamentos sucessivos de informações genéticas de duas espécies distintas, com
vistas a melhoria da capacidade adaptativa e/ ou produtiva do híbrido a ser gerado,
que é, na maioria das vezes, infértil.
Os fatores externos correspondem a um obstáculo à dispersão da espécie, o
qual precisa ser vencido pelo jogo dos mecanismos internos vistos na seção
anterior. Entre os principais agentes externos que interferem na dispersão de
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organismos destacam-se: geológico-geomorfológicos, temperatura, luminosidade,
umidade e fatores biológicos.
Os fatores geológico-geomorfológicos referem-se à ocorrência de áreas
montanhosas que atuam tanto de forma direta, constituindo uma barreira à
expansão, quanto indireta, por meio da modificação das condições de solo,
temperatura, pressão e umidade à medida que uma espécie tenta ultrapassar essa
barreira. Também inclui os mecanismos referentes às dinâmicas fluviais, que podem
separar duas populações distintas da mesma espécie (FIGUEIRÓ, 2015).
A atuação da temperatura se dá principalmente pela regulação dos principais
processos fisiológicos dos organismos. As espécies adaptadas a climas mais
quentes apresentam um crescimento mais rápido e um metabolismo bem mais
acelerado do que as espécies de clima frio. Assim, a absorção de nutrientes, o
metabolismo e a produção de fitomassa decrescem proporcionalmente com a
diminuição da temperatura.
A luminosidade é uma das principais variáveis de regulação da estrutura e da
composição da vegetação, já que a quantidade e a qualidade da radiação
condicionam grande parte dos processos fisiológicos das plantas. Assim, a
quantidade de energia recebida por um solo coberto por floresta varia entre 2% e
30% da radiação incidente na base da troposfera, dependendo da densidade das
copas e da estrutura da vegetação. A disponibilidade de energia luminosa é um fator
limitante para a fotossíntese e, consequentemente, para a regeneração e o
crescimento das espécies de sub-bosque. Considerando a grande interação
existente entre a disponibilidade de energia luminosa e a estrutura da vegetação, é
possível estabelecer uma relação de interdependência entre a estrutura biótica e a
presença de luz, em que os níveis de luminosidade medidos possam ser
considerados descritores do grau de degradação/regeneração do ecossistema
florestal estudado.
A água desempenha um papel fundamental na vida das plantas: para cada
grama de matéria orgânica produzida e incorporada pela planta, são necessárias
500g de água, que é absorvida pelas raízes e transportada pelo corpo da planta,
sendo usada nas diferentes reações celulares de fotossíntese e, posteriormente,
perdida para a atmosfera por meio da evapotranspiração. Assim, um pequeno
desequilíbrio no fluxo da água pode causar déficit hídrico e mau funcionamento de
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muitos processos celulares, comprometendo a sobrevivência dos organismos.
Diante disso, mais importante do que o total local de precipitação é a sua distribuição
ao longo do ano, que vai definir um balanço entre a entrada (precipitação) e a perda
(evapotranspiração) de água pelo sistema ao longo do tempo.
Em relação aos fatores biológicos, considera-se um obstáculo à expansão de
uma espécie o aparecimento de outras espécies prejudiciais, que podem ser
parasitas, predadores ou mesmo rivais, competindo por água, luz ou nutrientes.
Nesse grupo ainda pode ser incluída a ação antrópica, seja na ação direta sobre a
redução do número de indivíduos, ou indiretamente, no empobrecimento da
biodiversidade, alterando os limites ambientais toleráveis pelas espécies devido a
impactos ambientais de diferentes intensidades (FIGUEIRÓ, 2015).
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vai aumentando, fatalmente a ocorrência intraespecífica (entre indivíduos da mesma
espécie) tende a levar a uma condição máxima de crise de recursos, a partir da qual
as taxas de mortalidade vão se ampliar, fazendo a população flutuar negativamente
até que se alcance um novo patamar de estabilidade dinâmica entre os recursos e o
tamanho da população. Isso ocorre especialmente quando, na ausência de
predadores (ou quando seus predadores forem extintos), ou de competição
interespecífica (entre indivíduos de espécies distintas), a população daquela espécie
é controlada exclusivamente pela oferta de recursos, o que se chama de curva de
crescimento em J. Em alguns casos, a explosão populacional chega mesmo a ser
estimulada pelo aumento excessivo de oferta de recursos no meio, como ocorre em
ambientes com interferência antrópica.
Já quando os predadores estão presentes, o controle populacional se dá não
só pela competição intraespecífica, mas também pelos mecanismos de predação, o
que confere uma flutuação mais suave para as taxas de crescimento populacional,
dentro daquilo que se chama de curva de crescimento em S. A curva de crescimento
real de uma população é, portanto, resultado da interação entre seu potencial biótico
e a resistência imposta pelo habitat em que ela vive. Em uma representação gráfica,
o crescimento de uma curva em forma de S, que ascende até o limite máximo de
indivíduos que o ambiente consegue suportar, é denominado carga biótica máxima
do ambiente (Figura 2) (FIGUEIRÓ, 2015).
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Diante disso, observa-se que a predação representa um mecanismo
extremamente importante dentro do ecossistema. Embora possa parecer prejudicial
às presas ela é, na verdade, um benefício para a sua população uma vez que
constitui um fator seletivo, diminuindo a competição intraespecífica e contribuindo
para o aparecimento de processos evolutivos da espécie.
Por meio de mecanismos de adaptação, algumas espécies de predadores são
dotadas de características anatômicas e funcionais bastante desenvolvidas para
capturar suas presas. Mas, da mesma forma que os predadores desenvolveram
evolutivamente atitudes comportamentais e estruturas destinadas à predação, as
presas também desenvolveram mecanismos para evitá-la, dos quais se destacam o
padrão críptico, a coloração de advertência e o mimetismo.
O padrão críptico corresponde a uma estratégia desenvolvida por espécies
palatáveis para criar uma estrutura de camuflagem que permita ao indivíduo se
misturar com as cores e os padrões do fundo e assim diminuir as chances de ser
identificado pelo predador. A coloração de advertência é uma estratégia
desenvolvida por espécies não palatáveis tóxicas ou venenosas para advertir a sua
natureza aos predadores por meio de colorações muito fortes. Isso permite aos
predadores reconhecê-las com mais facilidade e evitá-las. O mimetismo corresponde
a uma estratégia geralmente desenvolvida por espécies palatáveis, mimetizando
espécies não palatáveis e, com isso, reduzindo a pressão predatória sobre os
indivíduos dessas espécies (FIGUEIRÓ, 2015).
4 ECOSSISTEMAS E BIOMAS
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4.1 Os biomas brasileiros e a necessidade de protegê-los
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4.2 Biomas e ecossistemas brasileiros
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Dessa forma, existe o bioma da Mata Atlântica e, no interior dele,
ecossistemas como a floresta ombrófila mista ou densa, os campos de altitude, a
mata de araucária, a restinga e os manguezais (Figura 2).
Ecossistema pode ser definido como um conjunto formado pelas interações
entre componentes bióticos, como micróbios, plantas e animais e, os componentes
abióticos, elementos químicos e físicos como o ar, a água, o solo e minerais. Esses
componentes se relacionam por meio da transferência de energia dos organismos
vivos entre si e entre estes e os demais elementos de seu ambiente (MORAES,
2012). A rede de interações entre organismos, e entre os organismos e seu
ambiente pode ser de qualquer tamanho, assim, não há limites máximos definidos
para um ecossistema, mas há algumas convenções para distinguir a compreensão e
possibilidades na pesquisa científica. Assim, temos, inicialmente, uma separação
entre os meios aquáticos e terrestres. Os ecossistemas aquáticos são os lagos,
naturais ou artificiais (represas), os mangues, os rios, mares e oceanos. Os
ecossistemas terrestres são as florestas, as dunas, os desertos, as tundras, as
montanhas, as pradarias e pastagens. Entre os ecossistemas brasileiros, existem
alguns de alta relevância:
Mata de Araucárias: ocorre no sul do Brasil, principalmente Santa Catarina
e Paraná e estendendo-se até São Paulo ao norte e até o Rio Grande do
Sul ao sul. A Mata de Araucárias é um ecossistema pertencente ao bioma
Mata Atlântica. Neste ambiente as chuvas são distribuídas ao longo do
ano e duas estações são bem definidas: o inverno, com temperaturas
baixas, e o verão, com temperaturas moderadas. O nome desse
ecossistema se deve à predominância de uma planta chamada araucária
(Araucária angustifólia). Há também a presença marcante de imbuia,
pinheiro-bravo e erva-mate, além de diversas outras espécies vegetais.
São observadas nesse ecossistema várias espécies de aves como
macuco, inhambus, gralha-azul, jacus, gralha-picaça, jacutinga, tucanos,
beija-flores, papagaios, periquitos, maitacas, entre outras. A araucária e,
por consequência, as aves associadas a ela estão aos poucos
desaparecendo, sendo que, atualmente, restam menos de 2% desse
ecossistema.
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Mata das Cocais: esse ecossistema ocorre na transição entre os biomas
Floresta Amazônica, Caatinga e Cerrado. Nesse ambiente há
predominância de coqueiros, ou palmeiras, na vegetação. São espécies
muito comuns o buriti, a carnaúba, o babaçu e o açaí, entre outras
vegetações. Já a fauna é diversificada e os frutos das palmeiras são a
base das diversas teias alimentares desse ecossistema. A carnaúba é de
extrema importância para os moradores das áreas em que ela ocorre;
seus frutos são comestíveis, a madeira é usada na fabricação de casas e
as folhas são fonte de fibras para a produção de cordas, chapéus, cestos.
Mas, o produto mais conhecido da carnaúba é a cera, que já esteve na
lista dos principais produtos exportados pelo Brasil.
Manguezais: no país, eles distribuem-se pela região litorânea, desde o
Amapá até Santa Catarina, constituindo uma das maiores extensões de
manguezais do mundo. Eles ocorrem em estuários, que são regiões onde
os rios se encontram com o mar. Assim, sofrem a influência das marés e
suas águas apresentam salinidade mais baixa que a do mar. Na maré alta,
a água invade os manguezais; na maré baixa, recua para o mar, expondo
o solo lamacento. As plantas dos manguezais apresentam raízes com
adaptações ao solo lodoso e com baixo teor de gás oxigênio. Possuem,
ainda, ramos que partem do caule em direção ao solo, onde penetram,
auxiliando, assim, a fixação da planta. A principal função desse
ecossistema é abrigar um grande número de animais marinhos para a
reprodução, principalmente espécies de peixes, camarões e caranguejos.
Os manguezais também são a fonte de sustento para muitas famílias que
vivem da coleta de caranguejos entre as raízes do mangue. Essa coleta
deve respeitar os períodos de reprodução dos caranguejos, para não
prejudicar a sobrevivência da espécie (MORAES, 2012).
Ecossistemas de restinga: constituído por vegetações que vivem sob a
influência direta do mar, exposta aos respingos da água salgada e à
elevada salinidade do solo. O sistema se inicia da areia da praia, com
plantas rasteiras que se fixam no solo arenoso e suportam os respingos do
mar, a vegetação rasteira ajuda a proteger e conservar o solo. As
restingas sofrem grande devastação no litoral brasileiro por causa da
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exploração imobiliária, gerando desequilíbrios em outros ecossistemas
que interagem com a restinga, como os manguezais. As dunas de areia
fazem parte desse ecossistema e podem se desestabilizar com a retirada
da vegetação e o nível de umidade na região se altera. Apesar de
existirem leis brasileiras visando proteger as áreas de restinga, esse
ecossistema é um dos mais ameaçados.
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UCs de proteção integral, que possuem maior relevância para a preservação da
biodiversidade, menos de 3% da superfície do território brasileiro encontra-se
dedicado oficialmente a esse objetivo.
Para piorar o cenário, essa porcentagem não está distribuída segundo
critérios de representatividade ao longo dos diferentes ecossistemas, reduzindo
drasticamente a efetividade do sistema que deveria proteger a biodiversidade do
país. Isso se deve ao histórico de uso e ocupação territorial e, por consequência, às
pressões antrópicas internas e externas diferenciadas ao longo da rede de UCs em
cada bioma. O bioma Mata Atlântica, por exemplo, não possui nem 2% do seu
território protegido por UCs; assim, 98% do espaço apresenta outras formas de uso,
como agricultura, cidades, estradas, hidrelétricas, remanescentes florestais, etc.
(Figura 3).
As distorções na representatividade dos ecossistemas são encontradas
inclusive dentro do mesmo bioma. Nas regiões mais ao sul, são encontrados centros
de endemismo da Mata Atlântica protegidos por um bom número de UCs. Ao mesmo
tempo, no Nordeste os centros de endemismo regionais estão sub-representados.
Conforme a ONG Conservação Internacional, uma organização que visa a
proteção de hotspots de biodiversidade da Terra, áreas selvagens ou regiões
marinhas de alta biodiversidade ao redor do globo, em estudo focado na Mata
Atlântica, indica que o atual sistema de UCs não protege adequadamente as
espécies ameaçadas. A extensão de área é insuficiente para garantir as metas de
proteção para as espécies, é preciso dar maior ênfase aos grupos mais ameaçados.
Várias das populações demograficamente estáveis das espécies que figuram nas
chamadas listas vermelhas estão restritas a UCs e suas probabilidades de
persistência, ligadas, em grande parte, ao futuro dessas áreas (MILARÉ, 2001).
A identificação dessas lacunas no SNUC é de extrema importância. Iniciativas
existem, e um bom exemplo é a revisão das áreas e ações prioritárias para
conservação por intermédio de workshops regionais de biodiversidade, que ocorrem
pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica
Brasileira, conhecido também apenas como Probio, desenvolvido no âmbito do
Ministério do Meio Ambiente. Assim, as áreas prioritárias para a conservação são
apontadas, iniciativas que são importantes para a produção de um diagnóstico da
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situação e do conhecimento científico da biodiversidade em escala regional e para
indicar as potenciais áreas para criação de UCs.
A fragilidade do SNUC no país não se resume a aspectos de natureza
técnico-científica ligados à sua extensão e distribuição. Também são associados à
falta de capacidade gerencial dos órgãos governamentais, que oferecem
instrumentos inadequados ao manejo e proteção das UCs.
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4.5 Comunidades tradicionais brasileiras
O mundo globalizado em que vivemos atualmente pode nos dar uma ideia
errônea de homogeneidade cultural, étnica e racial, de modo que podemos nos
esquecer dos povos e comunidades que tradicionalmente ocuparam nosso território
e fizeram dele um espaço culturalmente diverso e miscigenado (MILARÉ, 2001).
Preocupado com a proteção desses povos e comunidades tão importantes
para a história de ocupação do território brasileiro, o Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS) tem presidido, desde 2007, a Comissão Nacional de Desenvolvimento
Sustentável das Comunidades Tradicionais (CNPCT), que instituiu um importante
marco legal para essas comunidades em 2017, por meio do Decreto Federal nº
6.040, de 7 de fevereiro. Esse Decreto instituiu, no mesmo ano, a Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT),
a qual busca garantir e valorizar a diversidade socioambiental e cultural dos povos e
comunidades tradicionais, dando-os maior visibilidade e direitos, como o direito à
terra e o acesso aos recursos naturais indispensáveis para sua subsistência.
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No entanto, para garantir esses direitos, é importante que definir as principais
características que permitem adjetivar determinada população como tradicional. Por
isso, o Decreto nº 6.040/2007, no inciso I do art. 3º, define povos e comunidades
tradicionais como (BRASIL, 2007, documento on-line):
32
desconsiderando as populações que viviam ou utilizavam os recursos naturais
daquelas áreas para subsistência. Isso deu origem, então, aos atuais conflitos na
administração e no manejo das unidades de conservação.
Diante disso, desde a publicação da Lei Federal nº 9.985/2000 e do Decreto
nº 6.040/2007, os processos de constituição das unidades de conservação
passaram a ser mais participativos e democráticos, estudando as características
econômicas, sociais e ambientais da área e ouvindo a população local nas consultas
públicas (BRASIL, 2000; 2007). Além disso, as unidades de conservação de uso
sustentável viabilizaram a permanência das populações tradicionais no interior das
unidades, tornando-as agentes diretos na conservação da natureza.
Com base em informações do próprio ICMBio das 334 unidades de
conservação geridas pelo órgão, 87 delas acomodam aproximadamente 60 mil
famílias de população tradicionais, que vivem dentro dos limites das unidades
(INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, 2019).
Essas unidades são as Resexs, as RDSs e as Florestas Nacionais (Flona). Veja
mais detalhes na Figura 3.
5 BIOGEOGRAFIA BRASILEIRA
34
5.1 Natureza da biogeografia
35
A biogeografia pesquisa as razões da distribuição dos organismos, das
comunidades vivas e dos ecossistemas nas paisagens, países e
continentes do mundo (MUELLER, 1976).
A biogeografia estuda as interações, a organização e os processos
espaciais, dando ênfase aos seres vivos — vegetais e animais — que
habitam determinado local: o biótopo, onde constituem geobiocenoses
(TROPPMAIR, 2008).
36
caatinga, domínio dos mares de morros, domínio das araucárias e domínio das
pradarias (Figura 1).
39
e podem contribuir para a criação de unidades de preservação para este
sutil domínio paisagístico do território brasileiro.
Econômica: investiga a apropriação, o valor e o aproveitamento de
diferentes espécies vegetais e animais, em benefício da sociedade, sem,
contudo, comprometer a fisiologia da paisagem. Atualmente, em virtude da
biopirataria — principalmente na Amazônia —, exige do biogeógrafo
condutas que passam necessariamente pela ética e moral e, na forma
evidente, por concepções filosóficas que alicercem novas posturas de
pensar e agir sobre a preservação dos mais diversificados biomas.
Regional: trata do fator distributivo de plantas e animais em diferentes
regiões ou geossistemas que integram o mosaico da paisagem. Um
exemplo de estudo dessa área é o que resultou no modelo dos domínios
morfoclimato-botânicos em território brasileiro, com o estabelecimento de
suas respectivas áreas cores e seus corredores de transição (AB’SÁBER,
1977). O reconhecimento das potencialidades paisagísticas brasileiras
veio a corroborar o conceito de que as unidades de preservação devem
ser delimitadas, reunindo no mínimo dois ou três domínios.
Médica: consiste na investigação sistematizada da distribuição e as
causas da ocorrência de pragas e moléstias que, neste caso em particular,
tem a contribuir no grave problema da proliferação da dengue e
Biogeografia brasileira 7 da febre amarela, cujos vetores se propagam nos
ambientes aquáticos, localizados no campo ou na cidade. Pesquisas bem
conduzidas aparecem em Lacaz, Baruzzi e Siqueira Júnior (1972), com
considerações a respeito dos fatos essenciais de geografia física do Brasil
e a relação com alguns problemas de patologia humana. Além de
movimentos migratórios, doenças infecciosas e parasitárias e outros
temas como zoonoses, protozooses, helmintíases, viroses, riquetsioses,
cabe lembrar que a biogeografia médica se estende aos estudos da
propagação de pragas que afetam a produção agrícola.
Evolucionária: realiza o estudo dos seres vivos e as condições
geoecológicas que incidem para a evolução por meio da seleção natural.
Estudos recentes nesta área têm demonstrado casos de especiação em
tempo real. Como, por exemplo, o fato de que, em levantamentos
40
efetuados na América Central Continental e Insular e no Sudeste
brasileiro, o Lebiste reticulatus apresenta diferenciação na gama de cores
e quantidades de pintas sobre o corpo em função da maior ou menor
pressão de seus predadores e do ambiente aquático em que vive, que
pode ou não promover a sua proteção de ataques. Este processo traz,
como consequência, diversidade nos padrões de cores e pintas no corpo
do peixe, evidenciando diferenciações na mesma espécie ao longo de um
mesmo canal fluvial.
41
aparecimento das barreiras naturais, sejam quais forem a sua gênese ou
configuração (MARTONNE, 1954)
Atualmente, a visão evolucionária assume grande prestígio e relevância para
os que se dedicam a esse complexo e interessante estudo sistematizado,
denominado biogeografia. Sendo assim, a biogeografia pode ser admitida,
futuramente, como a ponte unificadora entre a geografia física e a geografia
humana, a ter como maior preocupação o estudo do homem e seus diferentes
ambientes e o entendimento de como o mundo se humaniza, agindo e
transformando a natureza, sem, contudo, desprezar o espaço que a biota ocupa
neste planeta.
42
borda é um dos motivos pelos quais é melhor criar grandes áreas de proteção do
que pequenos fragmentos. Vejamos sua definição a seguir.
Os efeitos de borda são tão prejudiciais que, além dos efeitos imediatos,
causam efeito de segunda e terceira ordem. Mas nem sempre ocorre esse efeito —
tudo depende de fatores como tipo de vizinhança, formato da área e grau de
isolamento (SCHIAVETT, 1996).
43
6.2 Os efeitos de borda podem ser de primeira, segunda ou terceira ordem
44
Biológico de terceira ordem:
distúrbios na população de borboletas no interior da floresta;
crescimento de animais “que gostam da luz”;
aprimoramento e crescimento demográfico das espécies insetívoras,
exceto as aves.
45
tamanho e sua riqueza diminui da base para o topo. Por isso a forma circular, que
não apresenta penínsulas, possuiria maior riqueza de espécies.
A partir da teoria de biogeografia de ilhas surgiram também os conceitos de
corredores naturais ou artificiais, que lembram os atuais corredores ecológicos.
Esses corredores são ligações entre áreas preservadas, principalmente pequenos
refúgios, que aumentam ou mantêm estável a riqueza específica, a diversidade das
espécies, o tamanho populacional e diminuem o cruzamento entre parentes, que
reduz a variabilidade genética (endocruzamento) (MACARTHUR;
WILSON,1963;1967).
O endocruzamento é um problema em áreas de preservação, pois a
diminuição da variabilidade genética pode levar à extinção de espécies. Assim surge
o conceito de população mínima viável, que é o número mínimo de espécies que
devem ocorrer em uma área para que não haja o endocruzamento e se mantenham
as diferentes características entre as mesmas espécies.
Ainda há o conceito de ilhas ambientais, que são áreas naturais isoladas por
um ambiente diferente. Como exemplo, podemos citar os fragmentos florestais em
meio a cidades (Figura 2). Essas ilhas possuem relação com as ilhas continentais e
oceânicas, pois têm dinâmicas parecidas. A partir do descobrimento dessa relação,
esses tipos de ilhas começaram a ser relacionados para o estudo de preservação
das áreas.
A premissa dessa teoria é que a redução da área de uma ilha (por
desmatamento, por exemplo) resultaria na redução da capacidade dessa ilha em
tolerar o mesmo número original de espécies. Ao contrário, ela toleraria apenas um
número de espécies correspondente àquele de uma ilha menor. Esse modelo tem
sido aplicado às UCs e prediz que quando 50% de uma ilha é destruída,
aproximadamente 10% das espécies que se encontram nessa ilha serão eliminadas.
46
Apesar de ainda prosseguirem os debates sobre as melhores formas de
conservação de áreas, acreditamos que a ênfase que a teoria de biogeografia de
ilhas dá à diversidade de espécies limita sua aplicação ao desenho de reservas. Isso
porque ele envolve muitas outras considerações importantes, como a raridade das
espécies e a representatividade dos hábitats.
Foram desenvolvidos diversos métodos para escolha e desenho de áreas
prioritárias para formação de UCs, mas, paralelamente, continuaram surgindo áreas
protegidas fruto de oportunismo. A representatividade que deve haver em um
conjunto de áreas protegidas, para assegurar a máxima proteção possível da
biodiversidade, é colocada em risco por esse oportunismo, pois há recursos
limitados para as reservas que acabam sendo usados em áreas menos importantes.
Os sistemas de UCs possuem, em geral, uma amostra rica em biodiversidade, dado
que muitas reservas foram alocadas em locais remotos ou simplesmente em áreas
que não apresentavam nenhum outro uso potencial (MACARTHUR;
WILSON,1963;1967).
47
6.4 Princípios da biogeografia de ilhas e espécies a serem protegidas
48
caracterizado por um modelo de gestão que busca a integração dos gestores de UC
e da população local na sua gestão das mesmas. Esse mosaico nada mais é do que
o conjunto de UCs, de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou
sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas que garantem a
presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento
sustentável.
Os mosaicos conseguem fazer com que haja maior interação entre a
população local, o governo local e os órgãos gestores de diferentes esferas de
atuação para promover ações de proteção das áreas ambientais. Os grandes
benefícios ultrapassam a conservação de pequenas áreas. Os mosaicos conseguem
melhorar as dinâmicas de grandes áreas, fazendo com que a sociodiversidade seja
respeitada, a fauna e a flora sejam protegidas e as atividades sejam desenvolvidas
de maneira sustentável. Um mosaico é composto por fragmentos naturais ou não
com diferentes formas, conteúdo e funções (LINO; ALBUQUERQUE, 2007)
O Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2010) é responsável por reconhecer
mosaicos, conforme procedimentos instituídos na Portaria nº 482, de 7 de dezembro
de 2010. Alguns dos mosaicos de UCs presentes no Brasil são:
Mosaico Capivara-Confusões
Mosaico do Litoral de São Paulo e Paraná
Mosaico Bocaina
Mosaico Mata Atlântica Central Fluminense
Mosaico Mantiqueira
Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu
Mosaico do Espinhaço Alto Jequitinhonha – Serra do Cabral
Mosaico Mico-Leão-Dourado
Mosaico do Baixo Rio Negro
Mosaico da Foz do Rio Doce
Mosaico do Extremo Sul da Bahia
Mosaico Carioca
Mosaico da Amazônia Meridional
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7 DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
O Brasil possui uma forte legislação ambiental, considerada uma das mais
completas e complexas do mundo. O Direito Ambiental é uma especialização de
fundo teórico, área que tem crescido gradativamente, mas todos os profissionais que
lidam com questões ambientais precisam conhecer as principais leis da área. As
regulamentações sobre o meio ambiente estão disponíveis e podem ser consultadas
na Internet, pois seria maçante e improdutivo todas serem abordadas neste capítulo.
A melhor forma de estudo da legislação ambiental é consultar o próprio documento
on-line, visto que é atualizado com frequência. O país nasceu com uma legislação
vinda de Portugal.
51
A evolução da legislação foi lenta e atrelada, muitas vezes, aos interesses de
Portugal, que via o Brasil apenas como fonte de riquezas para exploração. Esse
modo de crescimento afetou a natureza nacional e ainda é presente no país. Com o
Brasil independente e republicano, inúmeras leis surgiram e alteraram, de forma
definitiva, a relação da sociedade com o meio ambiente.
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I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas
representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais; 123Direito e legislação
ambiental;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas (Regulamento);
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa
do meio ambiente (BRASIL, 1981).
53
7.5 Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012
54
O direito do cidadão ao saneamento, conforme lido no Art. 12º, não necessita
ser realizado por um serviço público, ou seja, é de responsabilidade do governo
municipal ou de um consórcio entre as cidades, que pode terceirizar o serviço, desde
que mantenha o controle sobre o serviço ofertado e fiscalize.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Bibliografia Básica
Bibliografia Consultada
BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos
I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
19 jul. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm.
Acesso em: 17 fev. 2021.
FURON, R. La distribución dos Seres. Buenos Aires: Nueva Col. Labor, 1961.
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INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Critérios para a criação de UCs. [200-?].
Disponível em: <https://uc.socioambiental .org/a-criacao-de-uma-uc/criterios-para-a-
criacao-de-ucs>. Acesso em: 23 mar. 2021.
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SANTIAGO, E. Biogeografia. [S.l.]: InfoEscola, [20--?]. Disponível em: https://www.
infoescola.com/ciencias/biogeografia/. Acesso em: 3 mar. 2021.
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