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Nessas construções, veremos (1) como devem provar que suas performances
identitárias não são “só uma fase” para serem aceitas, mas assim reforçam
a ideia de identidades fixas/estáveis, (2) como suas construções identitárias
reproduzem e/ou subvertem a tendência de definir a sexualidade com base
no sexo/gênero da(s) pessoa(s) desejada(s) e (3) como as construções de
performances bissexuais não-promíscuas excluem e/ou abrem outras
possibilidades da diversidade sexual (p. 7).
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Epistemologias Bissexuais (Udis-Kessler 1991, 1995; Däumer 1992; Eadie
1993; Garber 1995; Ault 1996; Prabhudas 1996; Pramaggiore 1996), a
abordagem da Análise das Narrativas (Labov 1972; Linde 1993; Riessman
1993; Bastos 2005) e o arcabouço teórico-analítico das Táticas de
Intersubjetividade (Bucholtz e Hall 2003, 2004, 2005), incorporando também
contextualizações etnográfico-históricas (p. 15).
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Consoante Butler (1990, 1993), as identidades de gênero e sexualidade não
são expressões de alguma propriedade essencial do corpo ou da mente; são
constituídas no decorrer do tempo através de o que uma pessoa faz e diz
repetidamente e, assim, assumem uma aparência de “naturalidade. [...]
gênero e a sexualidade são performativos: produzem o que nomeiam” (p. 16
-17).
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As narrativas nos oferecem uma oportunidade excepcional para
estudar as relações entre discursos, identidades e sociedades
(Fabrício e Bastos 2009) (p. 18)
[...] "política bissexual" cujo trabalho, consoante Eadie, "se trata tanto de
desmontar todo o aparato que mantém a díade heterossexual/homossexual
quanto criar um terceiro termo para adicionar ele" ([1993) 1999: 122) (p.
20).
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De modo semelhante, a falta de estudos queer sobre a bissexualidade
tem reforçado o binário heterossexual/homossexual que a Teoria Queer
supostamente pretende desestabilizar (p. 20).
Primeiro [...] do século XVII ao início do século XX, foi usada para se referir
a pessoas cujos corpos tinham uma combinação de atributos biológicos ou
anatômicos considerados femininos e masculinos – pessoas que na
atualidade chamamos de hermafroditas ou intersexuais (p. 26).
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levava os indivíduos a se desenvolverem como heterossexuais ou
homossexuais enquanto amadureciam (ver Freud [1905] 2006;
Heenen-Wolff 2010) (p. 26).
Terceiro [...] usada para indicar um desejo sexual que “combina” ou “une”
a heterossexualidade e a homossexualidade (p. 26).
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A invenção da bissexualidade como identidade e do/a bissexual como sujeito
-[...] as informações que tenho encontrado sobre as primeiras instâncias do
uso da palavra “bissexual” como um rótulo identitário sugerem que este uso
teve origem nos Estados Unidos da América (p. 33).
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-Para Garber ([1995] 1999), muitas das discriminações contra a bissexualidade
e pressões de se encaixar em um dos lados do binário
heterossexual/homossexual vêm do fato de a bissexualidade perturbar essas
“certezas” da heterossexualidade e homossexualidade (p. 35).
-É ingênuo pensar que um grupo minoritário que sofre
discriminações não tenha seus próprios preconceitos. Mesmo dentro dos
grupos de “minorias sexuais” que lutam contra a normatização heterossexual,
operam
outras relações de poder resultando em outros processos
internos de normatização (p. 35).
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escraviza a época: a homossexualidade e a bissexualidade eram
consideradas doenças, e a heterossexualidade como "normal"
porque oferecia a possibilidade da reprodução (p. 37).
Escala Kinsey
-Os estudos científicos mais conhecidos sobre a bissexualidade foram
realizados pelo biólogo
estadunidense Alfred Kinsey (1894-1956) [...]
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heterossexuais ou homossexuais,
com vários graus intermediários de o que hoje chamamos de
bissexualidade (p. 38).
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heterossexual/homossexual ou da tríade heterossexual-bissexual-
homossexual (p. 39).
-Adicionalmente, reconhece a fluidez temporal da sexualidade, notando
que uma pessoa pode ser classificada em categorias diferentes durante
períodos diferentes da vida (p. 39).
-Na sua época, o pensamento de Kinsey era extremamente inovador (e
controverso), particularmente pelas visões da sexualidade humana como
um contínuo, a noção que a sexualidade não é fixa, mas pode mudar com o
decorrer do tempo; insistência que a heterossexualidade não é o
comportamento majoritário que parece ser; sugestão que todo ser humano
é o que hoje chamamos de bissexual ou tem “tendências” bissexuais; e pela
insistência que as práticas homossexuais não são patológicas (p. 39-40).
-Porém, nas suas considerações sobre o que hoje chamamos de
bissexualidade, Kinsey só incluiu experiências sexuais concretas
classificadas em dois grupos – com homens ou com mulheres –, e fatores
“psicossexuais” como excitação e desejo. Não levava em consideração
afetividades, preferências para certos atos sexuais ou performances
identitárias além do binário de experiências com homens ou mulheres, as
maneiras nas quais as pessoas se identificam ou como constroem sua
própria sexualidade, etc (p. 40).
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-Fritz Klein (1932- 2006), um psiquiatra austríaco-estadunidense que fazia
pesquisa sobre a sexualidade humana e era ativista que lutava para os
direitos das pessoas bissexuais, propôs essa grade no livro The Bisexual
Option: A Concept of One Hundred Percent Intimacy (1978) (p. 40)
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-Embora a Grade de Klein possa ser vista de certa maneira como um passo
adiante com respeito à Escala de Kinsey, continua problematizando a
sexualidade humana como uma questão só de preferência para homens
e/ou mulheres (ou para pênis e/ou vaginas), ligada à questão das categorias
identitárias de heterossexualidade e homossexualidade. Adicionalmente,
apresenta esses sete fatores como elementos separados constituindo a
sexualidade, em vez de componentes inextricavelmente interrelacionados (p.
42-43).
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mostra a impossibilidade de
categorizar a sexualidade humana (p. 44).
-Em vez de usar o binário heterossexual/homossexual para entender a
sexualidade humana, Garber ([1995] 1999) sugere simplesmente partir da
sexualidade como uma categoria geral. Propõe um modelo tri-dimensional
parecido a uma fita de Möbius, no qual “as categorias da heterossexualidade
e homossexualidade não são mais radicalmente distintas, mas escorrem dentro
e através de si mesmas” (Angelides 2001: 3), mostrando a fluidez
inclassificável da sexualidade humana.
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podem desejar e
fazer o amor com aqueles ou aquelas que amam. Na nossa cultura hoje, esta
clivagem é
considerada um sintoma. (2010: 79)(p. 47).
-O problema é que essas duas categorias [heterossexualidade e
homossexualidade] têm se tornado os dois grandes eixos a partir dos anos 1970, e
que por causa da insistência nesse binário, as pessoas que se identificam
como bissexuais (e qualquer pessoa que não quer se encaixar em um dos
lados dos extremos), frequentemente sofrem de problemas de discriminações
(p. 47).
Teorias Queer
-"etimologia da palavra [...] No passado seu significado era "estranho", mas com
o decorrer do tempo começou a ser usada como uma palavra depreciativa para
falar das pessoas que faziam performances identitárias não-heterossexuais [...]
foi reapropriada pelos movimentos LGBT para sublinhar que ser diferente da norma
heterossexual não era anormal(p. 27).
-[...] dois usos atuais paradoxais da palavra “queer”: a partir dos anos 90, queer
começou a ser usado como uma palavra guarda-chuvas para facilitar a referência a
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toda performance identitária não-heteronormativa, mas “[i]ntelectualmente, se
refere ao que não está alinhado com nenhuma identidade em particular e que
resiste à categorização” (Sauntson 2008: 271-272) (p. 50).
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Para Butler, como para Foucault, o corpo não tem um sexo até o
discurso lhe dar
este significado, no contexto das relações de poder (p. 51).
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Butler explica que “O gênero não deve[ria] ser construído como
uma identidade estável ou um lócus de [agência] do qual decorrem
vários atos; em vez disso, o gênero é uma identidade tenuemente
constituída no tempo, instituído num espaço externo por meio de
uma repetição estilizada de atos” ([1990] 2003: 200, grifos no texto
fonte) (p. 52).
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atribuído a um sujeito, devendo, ao invés disso, ser compreendido como
fundador e consolidador do sujeito ([1990] 2003:200) (p. 54.)
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identidades, daí emerge a questão crucial: que tipo de repetição
subversiva
poderia questionar a própria prática reguladora da identidade?”
([1990] 2003: 57) Para mudar a matriz heteronormativa para que
não marginalize certas performances identitárias, as mudanças
têm que surgir do interior do sistema através de atos
subversivos (p. 56).
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variáveis
separadas e aditivas em vez de inseparáveis e interligadas, e por não
considerar a materialidade do corpo, concentrando-se sobre corpos
como efeitos ou produtos discursivos (ver Prosser 1998) (p. 58).
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-Se uma das aplicações da Teoria Queer é enfraquecer as categorias
rígidas para abrir espaço na sociedade e na linguagem para a ampla
gama de identidades de gênero e sexualidade que existem e se
transformam continuamente, e se até as
performances identitárias que contestam a heteronormatividade
realizam outros
tipos de normalização e regulação, come pode, então, a Teoria
Queer ser compatível com uma ação política LGBT baseada nas
categorias identitárias? (p. 60).
Políticas identitárias
-As políticas identitárias são argumentos políticos baseados nos
interesses e perspectivas de grupos de pessoas, geralmente
grupos minoritários, que se consideram ligadas por “terem”
identidades sociais parecidas ou relacionadas (de raça, etnia,
classe social, gênero, sexualidade, religião, etc. (p. 60 - 61).
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-A teoria queer é cautelosa sobre os rótulos e as categorias,
mostrando seu potencial de excluir e marginalizar (p. 62).
[...] movimentos LGBT [...] constestam a marginalização de
sujeitos que não fazem performances hetenormativas, mas que
também têm seus próprios mecanismos internos de regulação.
[..] nem toda política identitária tem que ter uma visão essencialista
ou essencializadora das identidades (p. 62-63).
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(re)produção
das categorias identitárias prevalentes hoje em dia e das possíveis
implicações de
empregá-las em diferentes contextos, por exemplo para fazer ação
política (p. 63).
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se não tirarmos a teoria do gênero [Teoria Queer] fora da
sua torre de marfim para trabalhar nas ruas, podemos
estar presenciando o nascimento de um grande
movimento filosófico que consegue politicizar
praticamente tudo, mas não produz quase nada de
mudanças sociais organizadas e sistêmicas. (2004: 106)
(p. 64).
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-Os trabalhos principais sobre as epistemologias bissexuais foram
publicados pouco depois dos livros canônicos da Teoria Queer de
Butler e Sedgwick, e a influência dessas teóricas é visível nas
escritas dos/as epistemólogos/as bissexuais.
-Porém, em que diferem a ação desconstrutiva das
Epistemologias Bissexuais e a Teoria Queer? (p. 67).
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(4) performar uma identidade bissexual pode servir como
uma ponte entre diferentes performances identitárias (de
raça, gênero, sexualidade, etc.) para que trabalhemos
juntos/as, nos concentrando sobre nossas semelhanças e
objetivos em comum (Däumer [1992] 1999: 159-161) (p. 68).
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Políticas de identidades coletivas bissexuais
-Ault critica fortemente a legitimização de uma identidade
bissexual,
alegando que é um caminho direto para o essencialismo e que
significa participar do reforço discursivo da sexualidade definida
com base no sexo/gênero do/a parceiro/a: “A construção e
definição de categorias é um exercício na imposição de ordem,
não um exercício na interrupção dela” ([1996] 1999: 184) (p. 69).
-A crítica de Däumer é menos aguda que aquela de Ault, mas
ela
concorda que é redutivo pensar a bissexualidade como uma
“terceira orientação sexual” ou uma “mistura de
orientações”, e que esse tipo de pensamento resulta na
simplificação das implicações sócio-políticas da bissexualidade
(p. 69).
-Outros/as teóricos/as, porém, reconhecem as vantagens de
usar o rótulo
bissexual, ter grupos de ativismo e/ou socialização bissexuais,
construir uma
identidade coletiva bissexual, lutar para a legitimização da
bissexualidade, etc (p. 69).
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-Os/as epistemologos/as bissexuais observam duas diferenças
principais nos tipos de grupos bissexuais – grupos que tentam
criar uma identidade coletiva bissexual, e grupos “não-
prescritivos” sobre as identidades que sustentam a
diversidade sexual em geral em vez de uma identidade “pré-
estabelecida” a ser adotada. Para Eadie ([1993] 1999), essa
segunda tipologia de coletividade é mais vantajosa porque
consegue criar um lugar de apoio psicológico sem fixar uma
identidade bissexual normativa (p. 70).
-Prabhudas oferece uma solução para uma política bissexual
que concilia
as duas vertentes divergentes nesse debate: (p. 70)
Bifobia e discriminação
-Outra preocupação dos/as epistemólogos/as bissexuais é que as
pessoas
identificando-se como bissexuais tendem a experimentar
problemas duplos de discriminação, preconceitos,
hostilidade e estigmatização da parte de pessoas que se
identificam como heterossexuais e da parte de pessoas que
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se identificam como homossexuais – um fenômeno chamado
de “bifobia”. Segundo Ochs e Deihl, essa bifobia vem “[d]o medo
do outro e [d]o medo do espaço entre nossas categorias” (1992:
69) (p. 70).
-Na visão de Klein, as pessoas identificando-se como
heterossexuais e
homossexuais têm medo da possibilidade da sua própria
ambiguidade sexual, e “não conseguem entender a capacidade
do/a bissexual de compartilhar suas preferências, mas não suas
aversões” ([1978] 1993: 11) (p. 71).
-[...] as razões para atitudes bifóbicas podem ter raízes parecidas
(como o medo à percebida ambiguidade da bissexualidade), mas
se manifestam em maneiras diferentes, têm efeitos diferentes, e
devemos lidar com elas em modos diferentes (p. 71).
-Para Garber ([1995] 1999), a bifobia é um “subproduto” da
homofobia, e
a bifobia não existiria se a homossexualidade não fosse reprimida
e
marginalizada (p. 71).
-Garber e Udis-Kessler sugerem que é necessário lutar
contra a homofobia, a bifobia sendo fácil de erradicar depois
(ver Garber [1995] 1999; Udis-Kessler 1991) (p. 72).
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A (invisibilidade da) bissexualidade nos trabalhos acadêmicos
-Segundo Storr (1999), a ideia da falta de trabalhos
acadêmicos sobre a
bissexualidade é um mito; a autora alega que há uma grande
quantidade de
trabalhos, alcançando quase todas as disciplinas. Embora
haja mais trabalhos sobre a bissexualidade do que é
geralmente reconhecido, isso não muda o fato de que em
comparação com a quantidade enorme de trabalhos sobre
gays e lésbicas, e mais recentemente também sobre
transexuais e travestis, o número de trabalhos sobre pessoas
identificando-se como bissexuais é minúsculo (p. 72).
-Adicionalmente, Breno e Galupo (2009) observam que muita
pesquisa feita sobre a bissexualidade no passado tem só
aumentado o número e a força de estereótipos e mitos sobre
pessoas que se identificam como bissexuais, particularmente
dado que tanta pesquisa sobre a bissexualidade tem se
concentrado sobre as relações nãomonogâmicas (p. 72).
Há, porém, uns/umas acadêmicos/as que trabalham mais
especificamente sobre a bissexualidade:
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-Surpreendentemente, apesar das possibilidades subversivas da
bissexualidade mencionadas nesta seção, há uma imensa e
preocupante falta de estudos sobre a bissexualidade nos
próprios Estudos Queer. A bissexualidade, quando não
totalmente esquecida, é geralmente mencionada só como parte
de uma lista (“gays, lésbicas, bissexuais, transexuais,
transgêneros, intersexuais...”), mas não examinada, questionada
e problematizada profundamente (p. 73).
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interdisciplinar que combina linguística, antropologia e sociologia
é, portanto, necessária para qualquer análise das construções
identitárias em narrativas. (1997: 280) (p. 76).
Segundo, uma
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ao seu próprio universo de referência, contribuindo para a
não reprodução, no âmbito específico da disciplina, de
uma certa ordem institucionalizada de posições, crenças
e valores hierarquizados. (Signorini 1998: 97) (p. 78).
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pelo outro no princípio de respeito pelo tempo do outro e do
reconhecimento do outro (p. 79).
Linguística Queer
-O campo específico da Linguagem Queer [...] foi unaugurado depois
da segunda metade dos anos 90 com a publicação do livro Queerly
Phrased, organizado por Ana Livia e Kira Hall (1997) (p. 81).
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-Borba caracteriza a queerificação da Linguística da seguinte
maneira:
Táticas de intersubjetividade
-[...] uma ferramenta teórico-analítica útil para entender os
mecanismos discursivos e performativos através dos quais são
criadas as identidades, sem essencializar essas performances
identitárias (p. 84).
-No artigo “The Contributions of Queer Theory to Gender and
Language Research”, Sauntson observa que o arcabouço das táticas
de intersubjetividade
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que a construção identitária é intersubjetiva, contextual e nunca
completa. (2008: 282) (p. 84).
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[...] a autorização é a legitimação de uma identidade através
de
uma instituição ou autoridade e suas estruturas de poder e
ideologias, dando certo grau de reconhecimento ao sujeito (p.
85).
→A deslegitimação acontece, inversamente, quando uma
autoridade é usada para eliminar ou negar a legitimidade de
uma identidade, e então, o seu poder, marginalizando e/ou
censurando o sujeito (ver Bucholtz e Hall 2003, 2004, 2005). (p.
85).
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narrativas de (re)construção da experiência organizam nossas
ações, nossa percepção de mundo e nossas ficções identitárias”
(Fabrício e Bastos 2009: 41-42). Essas "ficções identitárias", em
uma perspectiva queer, são chamadas de performances; as
narrativas são usadas para performar e projetar certas identidades
sociais.
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rede de relações sociais, crenças, valores; ou seja, ao contar
estórias, estamos construindo identidade (2005: 81) (p. 88).
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concentrar sobre os significados de contá-las e a maneira na
qual as experiências relatadas são situadas sócio-culturalmente e
nas interações (ver Oliveira e Bastos 2002) (p. 89).
Sair do armário
-As narrativas sobre o tema de "sair do armário" são fontes ricas
e complexas de construções identitárias discursivo-
performáticas (p. 89).
-[...] sair do armário é um processo, não algo que se faz uma vez
só. Esse processo dura necessariamente toda a vida, em função
da tendência na sociedade heteronormativa de presumir que uma
pessoa seja heterossexual até ela se "revelar" (ou ser revelada)
homossexual, bissexual, etc. (p. 89 - 90).
-Como sair do armário não é algo que se faz uma única vez, ficar
dentro
do armário também não pode ser reduzido a um ato ou escolha
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singular (ver
Chambers 2009) (p. 90).
-Por terem que decidir se assumir-se ou não em cada interação, sair
do armário ou ficar dentro são processuais (p. 90).
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conteúdo semântico e da forma estrutural (ver Wood 1997) (p.
91).
-Além de serem fontes ricas para a análise da construção discursivo
performativa das identidades, as narrativas sobre o processo de
sair do armário são usadas para “negociar a inclusão social”
(Fenge, et. al. 2010: 322) e articulam posições ideológicas e
desvendam normas, preconceitos, relações de poder, sistemas
de opressão de certas identidades, práticas sexuais, etc. (ver
Morrish e Sauntson 2007) (p. 91).
As entrevistas narrativas
-As três entrevistas principais eram semi-estruturadas e foram
gravadas em
áudio e depois transcritas (p. 101).
-[...] comecei as entrevistas pedindo para as agentes me contarem
suas histórias sobre o processo de sair do armário (p. 101).
-Além dessa pergunta inicial, eu tinha preparado perguntas sobre
como a participação no Grupo Arco-Íris tinha influenciado as
vidas das agentes e sobre experiências de discriminação ou
aceitação das suas performances identitárias bissexuais; porém,
narrativas sobre esses temas frequentemente surgiram sem
solicitação minha (p. 101).
-Adicionalmente, às vezes contei histórias pessoais da minha
própria vida para criar um vínculo de experiências compartilhadas e
uma relação entrevistadora-entrevistada menos assimétrica (p. 101).
-Concentrei-me sobre mulheres por duas razões: primeiro, porque
várias atividades no Grupo Arco-Íris (como a participação do
subgrupo Laços e Acasos)
são divididas por gênero, então, como mulher, conseguia fazer
mais observações etnográficas sobre as mulheres, e segundo,
porque não encontrei homens no GAI que se identificassem
como bissexuais (p. 102).
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Construções identitárias em narrativas sobre o processo de sair do
armário
-As narrativas sobre o processo de sair do armário de pessoas
que se identificam como bissexuais nos permitem entender não
somente como constroem suas identidades, mas como elas
compreendem o termo “bissexual(idade)” e a relevância e
influência do termo nos contextos situados das suas vidas (p.
108).
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lésbicas porque lhes falta lealdade à comunidade lésbica” (Lannutti
2009: 104) (p. 148).
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certos discursos heteronormativos (o binário homem/mulher) e
essencialistas (a fixidez das identidades), e de ignorar e excluir
outras possibilidades da diversidade sexual (p. 174).
-Se, por exemplo, os/as ativistas entenderem que a(s) sexualidade(s)
não são fixas e pre-estabelecidas, não será tão necessário insistir na
durabilidade das performances identitárias bissexuais para defender
essas performances (p. 174).
- Olímpia mostra um fenômeno útil que poderá ser levantado nas
discussões no Grupo Arco-Íris: o padrão duplo de as pessoas que
se identificam como heterossexuais ou homossexuais serem
aceitas automaticamente como tal, mas as pessoas que fazem
performances identitárias bissexuais terem
que “provar sua bissexualidade” para serem aceitas (p. 174).
-Olímpia construiu as categorias de
“trissexual” e “quadrissexual”, mostrando que a palavra
“bissexual” se concentra sobre o binário homem/mulher e não
contempla o desejo e a afetividade para outras performances
(trans)gêneras (transexual, intersex, etc.) (p. 175).
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Segundo, a ação de sair do armário como bissexual não é
necessariamente transformativa, nem para a pessoa que se
assume, nem para a posição invisibilizada e marginalizada das
performances identitárias bissexuais no movimento LGBT (p.
175).
Considerações finais
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inclusão social (Fenge, et. al. 2010) na categoria “bissexual” e como
membros “válidos” do movimento LGBT (p. 177).
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