Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bruno Tavares
Gabriela Rodrigues
Ísis Mello
Kathleen Yasmin de Almeida
Monique Gonçalves d’Avilla
Renato Hajenius Aché de Freitas
Thaís Leal Silva
Vitória Vogel Dal Bosco
52
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
foi dada continuidade às primeiras experiências em educação sexual dos anos 20 e
30. Isso porque:
53
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
não efetivação dos PCN em relação à transversalidade da educação sexual (Da
Silva, Neto, 2006; Alencar et al., 2008; Lira, Jofili, 2010).
As temáticas de sexualidade, ao contrário do que é preconizado pelos PCN,
que seria seu tratamento transversal, são restritas às disciplinas de ciências e
biologia (Quirino, Rocha, 2012, 2013; Coelho, Campos, 2015). Desse modo, são
retirados os fatores culturais, sociais e até políticos de sua discussão, favorecendo
um discurso reducionista e que, muitas vezes, mantém inúmeros preconceitos aos
que escapam às normas de gênero e sexualidade. Inclusive, esse preconceito pode
se tornar um importante mecanismo de redução do desempenho escolar e até
resultar em evasão escolar (Miranda, 2013).
54
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
posicionamentos de ensino-aprendizagem que melhor conversem com suas
realidades.
Desse modo, a presente pesquisa teve como objetivo principal mostrar a
apreensão da percepção trazida pelos alunos acerca de gênero e sexualidade,
através da aplicação de um questionário diagnóstico. Além disso, buscou-se refletir
acerca de nossa prática enquanto um projeto de extensão, apontando alternativas
pedagógicas ao modelo biologizante e prescritivo de tratar Educação Sexual. Por
fim, esperamos que nossas experiências aqui relatadas sirvam como inspiração para
outras empreitadas educacionais, tanto a respeito de gênero e sexualidade, quanto
em outros enfoques.
Percurso Metodológico
A abordagem didático-pedagógica de nosso grupo segue princípios
freireanos, em que a educação é pensada de forma dialógica e problematizadora,
alcançando-se assim, uma visão crítica da realidade, levando à libertação dos
indivíduos (Freire, 2016). Na abordagem de Paulo Freire:
55
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
21 anos do CIEE (Centro de Integração Empresa-escola de Santa Catarina). O
Centro atende jovens que estejam regularmente matriculados em instituições de
ensino particular ou pública, cursando ensino médio, educação profissional, ensino
superior ou educação especial.
Um total de 72 alunos participou da pesquisa, sendo 43 do sexo feminino e 29
do sexo masculino1. Como forma de facilitar as posteriores análises dos
questionários, foi utilizado um sistema de marcação composto pela letra inicial do
sexo do indivíduo somado a um número. Por exemplo: o primeiro questionário do
sexo masculino recebeu o código M1, o segundo M2, e assim por diante. Ao fim,
formaram-se os códigos de identificação de M1 a M29 e F1 a F43.
A natureza da pesquisa aqui empreendida se caracteriza enquanto quali-
quantitativa. Primeiramente, utilizou-se a metodologia de Análise do Conteúdo
(Bardin, 1977) como forma de nortear a leitura e interpretação das respostas dadas
pelos alunos ao questionário aplicado. Tal análise segue uma ordenação:
1
Uma das limitações percebidas após a aplicação dos questionários foi o fato de não termos feito um
recorte quanto à orientação sexual e identidade de gênero dos alunos, de modo a relacioná-las com
nossas análises.
56
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
escolhida como ilustrativa de nosso trabalho, devido à sua potencialidade em
mostrar convicções e preceitos não formulados pelos alunos – levando-se em conta
a rapidez do processo–, mas que fazem parte de seus valores interpessoais.
Resultados e Discussão
2
O termo “biologização” está sendo utilizado no sentido de uma explicação única através de
conhecimentos biológicos.
57
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
b) Equidade de Gênero
Em relação às questões 3 e 4: “Quais profissões são para mulheres?” e
“Quais profissões são para homens?”, a maioria das respostas (F= 86% e M= 86%)
evidenciou que as profissões não estão necessariamente ligadas ao gênero, ou seja,
não existem profissões que só os homens ou só as mulheres podem exercer.
A maioria das respostas na questão 5 (F= 85,7% M= 89,6%): “Quais cores
são para meninos e quais cores são para meninas?”, apontam para a concepção de
que não deve-se associar cores aos gêneros, sendo que ambos podem explorar
todas as cores. Essa quebra de estereótipo das cores contrapõe a polarização: azul
para meninos e rosa para meninas, que é reconhecidamente reafirmada no espaço
escolar, inclusive nos materiais e livros didáticos (Duarte, Reis, Sá-Silva, 2017).
Ao responderem a questão 6: “Quais são os comportamentos para mulheres
e para homens?”, grande parte dos alunos (F= 67,4% M= 62%), afirmou,
novamente, o discurso de equidade entre os gêneros, onde o comportamento de
uma pessoa não deve estar atrelado diretamente ao seu gênero.
Assim como nas questões anteriores, as respostas da questão 7: “Qual o
papel do homem e da mulher na família?”, seguiram o discurso de equidade de
gênero (F= 60% M= 67,8%), segundo o qual os alunos expressam, de forma geral,
que não deve existir um papel pré-definido para o homem ou para a mulher na
família.
Após essas análises, chegou-se à conclusão de que a maioria dos alunos se
posicionou em concordância com a equidade de gênero. Assim, criou-se a categoria
“Equidade de Gênero” a qual expressa tal posicionamento levantado pelos alunos,
nos diversos temas trabalhados nas questões: profissões, cores, comportamentos e
papel dos gêneros na família. E, como forma de melhor visualizar a categoria
formada, são apresentadas respostas ilustrativas dos alunos, separadas de acordo
com o tema das questões, as quais evidenciam a formação de tal categoria (tabela
01).
58
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
Tabela 01. Categoria “Equidade de Gênero”, resultado da análise do conteúdo (Bardin,
1977). Os números entre parênteses, logo abaixo dos temas, representam as respectivas
questões.
59
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
c) Práticas Pedagógicas em Educação Sexual: articulando múltiplos discursos
Concordamos com Maio, Oliveira e Peixoto (2018) quando afirmam que a
Educação Sexual ocorre tanto na igreja, quanto na família, mas que cabe à escola
uma abordagem científica sobre essas questões, jogando luz sobre as diversas
formas de vivenciar os gêneros e as sexualidades. Nesse sentido, pode-se afirmar
que:
As ações educativas decorrentes das famílias se distanciam muitas
vezes daquelas emanadas da escola, enquanto a primeira educa
seguindo suas tradições morais e, em sua maioria, religiosas, a
segunda educa sob o viés da ciência [ou assim deveria ser]. Talvez
seja esse um dos motivos que fez com que, ao longo da história, a
escola tivesse se constituído como espaço formal de ensino e
aprendizagem, com competência de discurso fundamentado nas
diversas ciências, se distanciando cada vez mais do senso-comum
(Maio, Oliveira, Peixoto, 2018, p. 53, grifo dos autores)
60
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
Considerações Finais
Como forma de apreender os principais significados e concepções dos alunos
em relação à temática de gênero e sexualidade, valemo-nos de um questionário
diagnóstico. E, utilizando como referencial metodológico, a análise do conteúdo
(Bardin, 1977), as respostas dos alunos ao questionário foram analisadas e
interpretadas, gerando assim, as principais concepções dos alunos acerca do tema
pesquisado.
Em relação às duas primeiras questões, referentes às categorias de homem e
mulher, notou-se que o discurso biologizante e essencialista de gênero preponderou
nas respostas dos alunos. Desse modo, a preparação das aulas de gênero que
foram ministradas, foi orientada levando em conta essa dificuldade dos alunos em
enxergar a categoria de forma multifatorial (biológica, psicológica, social).
Em relação às análises das questões posteriores, evidenciou-se um sentido
de equidade de gênero presente nas respostas da maioria dos estudantes.
Entretanto, na sala de aula, ao realizarem a Dinâmica da Bola, a maioria deles
associou ações e objetos estereotipados em relação às palavras “Menina” e
“Menino”. Tal fato evidencia um possível enraizamento de sentidos estereotipados
nos alunos, os quais só os expuseram quando tiveram que responder de forma
rápida.
Levando em conta tudo o que apontamos acima, reiteramos a importância de
se construir uma Educação Sexual que, para além de informações preventivas e
higienistas, abarque também os vários aspectos da sexualidade humana. E,
retomando a reflexão sobre as práticas pedagógicas em Educação Sexual na
atualidade, reiteramos a importância da articulação dos múltiplos discursos para se
alcançar um entendimento efetivo das questões de corpo, gênero e sexualidade em
suas diferentes dimensões (bio-psico-sociais), superando um reducionismo à
biologia.
Por fim, vale ressaltar que, como no passado, a educação sexual hoje pode
ser encarada enquanto um espaço de resistência à onda conservadora que impera
no Brasil e no mundo. Essa que se materializa por meio de ataques à educação, e
especificamente às pautas concernentes aos estudos de gênero e sexualidade,
resultando na retirada de termos como “gênero” e “orientação sexual” de importantes
documentos educacionais brasileiros (Santos, 2017). Assim, fica evidente a
necessidade da criação de espaços de discussão sobre a temática de gênero e
61
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
sexualidade, e inclusive de resistência aos ataques conservadores em relação aos
direitos de minorias historicamente adquiridos.
Referências
Alencar, R. A.; Silva, L.; Silva, F. A. & Diniz, R. E. S. (2008). Desenvolvimento de
uma proposta de educação sexual para adolescentes .Ciência & Educação, v. 14,
n. 1, p. 159-168.
62
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
Foucault, M. (1984). A história da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
Graal.
Lira, A. & Jofili, Z. (2010). O tema transversal orientação sexual nos PCN e a atitude
dos professores: convergentes ou divergentes? REMPEC - Ensino, Saúde e
Ambiente. Niterói, v. 3, n. 1, p. 22-41.
Maio, E. R.; Oliveira, M. & Peixoto, R. (2018). Formação em gênero e educação para
a sexualidade: considerações acerca do papel da escola. Revista NUPEM, Campo
Mourão, v. 10, n. 20, p. 51-62.
63
Guimarães, R. S.; Vergueiro, V.; Marcos, M. A. de & Fortunato, I. (org.).
Gênero e cultura: perspectivas formativas vol. 2
São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
-----
Santos, A.I. (2017). A nova Base Nacional Comum Curricular: uma análise da
exclusão dos termos gênero e orientação sexual à luz de Michel Foucault. V
Colóquio Nacional Michel Foucault: a arte neoliberal de governar e a educação.
Uberlândia, MG.
64