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Tecnologia de pesca

Vanildo Souza de Oliveira


Copyright © 2020 by Vanildo Souza de Oliveira

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direitos desta obra não foram cedidos.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

Diagramação
Maria Oliveira

Capa e Desenhos
Vanildo Souza de Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha Catalográfica

Oliveira, Vanildo Souza de.


O48t Tecnologia de pesca. / Vanildo Souza de Oliveira. – Olinda: Livro Rápido, 2020.

206 p.: il.

Contém bibliografia p. 204 – 209 (bibliografia localizada)


ISBN 978-65-86728-87-3

1. Tecnologia de pesca. 2. Tipos de redes. 3. Covos. 4. Pesca com vara e isca.


5. Pesca dirigida. I. Título

639.2 CDU (1999)

Fabiana Belo - CRB-4/1463

Livro Rápido Editora


Coordenadora editorial: Maria Oliveira

Rua Dr. João Tavares de Moura, 57/99 Peixinhos


Olinda – PE CEP: 53230-290
Fone: (81) 4100.0410/ (81) 4100.0411
orcamento@livrorapido.com.br

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Tecnologia de pesca | 3
SUMARIO

PREFÁCIO ...................................................................................................................07
CÁPITULO I: REDES DE ÁRRÁSTO ...................................................................09
1.1 REDES DE ÁRRÁSTO .................................................................................10
1.1.1 Portas de arrasto ................................................................................14
1.2 MÁNOBRÁS COM REDES DE ÁRRÁSTO .............................................19
1.2.1 Árrasto com pau de serriola .............................................. 19
1.2.1.1 Lançamento ................................................................................. 20
1.2.1.2 Recolhimento ...............................................................................23
1.2.2 Árrasto com tangones (arrasto duplo — Double rig)...........25
1.2.2.1 Ármaçao do sistema de arrasto ...........................................28
1.2.2.2 Lançamento .................................................................................32
1.2.2.3 Recolhimento ..............................................................................34
1.2.3 Redes gemeas ..................................................................................... 40
1.2.4 Árrasto de popa ................................................................................. 42
1.2.4.1 Lançamento ...................................................................................44
1.2.4.2 Recolhimento ................................................................................45
1.2.5 Árrasto com parelhas ......................................................................52
1.2.5.1 Lançamento .................................................................................53
1.2.5.2 Recolhimento ...............................................................................57
1.3 SOLUÇOES ECOLOGICÁS EM REDES DE ÁRRÁSTO PÁRÁ
MINIMIZÁR DÁNOS ÁMBIENTÁIS .............................................................60
CÁPITULO II: REDES DE CERCO .................................................................... 65
2.1 REDES DE CERCO ...................................................................................... 66
2.1.1 Formas de localizaçao de cardumes ...........................................68
2.1.2 Lançamento ..........................................................................................70
2.1.3 Recolhimento.......................................................................................72
2.2 SOLUÇOES ECOLOGICÁS PÁRÁ MINIMIZÁR DÁNOS
ÁMBIENTÁIS EM REDES DE CERCO NÁ CÁPTURÁ DE ÁTUM ...78
CÁPITULO III: ESPINHEL .....................................................................................81
3.1 ESPINHEL ......................................................................................................82

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3.1.1 Espinhel de fundo.............................................................................. 82
3.1.1.1 Lançamento ................................................................................... 89
3.1.1.2 Recolhimento ............................................................................... 91
3.1.2 Espinhel de fundo em sistema industrial ..................................... 92
3.1.3 Espinhel pelagico.................................................................................... 93
3.1.3.1 Lançamento................................................................................... 100
3.1.3.2 Recolhimento ............................................................................... 102
3.4 SOLUÇOES ECOLOGICÁS PÁRÁ MINIMIZÁR DÁNOS
ÁMBIENTÁIS EM ESPINHEL LONGLINE ................................................ 104
CÁPITULO IV: REDES DE EMÁLHÁR ........................................................... 107
4.1 Redes de emalhar de fundo em embarcaçoes artesanais ....... 108
4.1.1 Lançamento ...................................................................................... 109
4.1.2 Recolhimento ................................................................................... 111
4.2 Rede de emalhar em embarcaçao Industrial ............................... 112
4.2.1 Lançamento ...................................................................................... 113
4.2.2 Recolhimento ................................................................................... 114
4.3 MEDIDÁS ECOLOGICÁS PÁRÁ MINIMIZÁR DÁNOS
ÁMBIENTÁIS EM REDES DE EMÁLHÁR ................................................ 117
CÁPITULO V: COVOS ........................................................................................... 119
5.1 Covos ............................................................................................................ 120
5.1.1 Lançamento ...................................................................................... 123
5.1.2 Recolhimento ................................................................................... 125
5.2 MEDIDÁS ECOLOGICÁS PÁRÁ MINIMIZÁR DÁNOS
ÁMBIENTÁIS EM COVOS ........................................................................... 127
CÁPITULO VI: PESCÁ DE LULÁS COM ÁTRÁÇÁO LUMINOSÁ ............ 129
6.1 PESCÁ DE LULÁS COM ÁTRÁÇÁO LUMINOSÁ ............................. 130
CÁPITULO VII: PESCÁ COM VÁRÁ E ISCÁ VIVÁ ....................................... 135
7.1 PESCÁ COM VÁRÁ E ISCÁ VIVÁ .......................................................... 136
CÁPITULO VIII: EQUIPÁMENTOS ELETRONICOS ÁUXILIÁRES Á
PESCÁ ....................................................................................................................... 139
8.1 Ecossonda .................................................................................................. 140
8.2 Frequencia de ondas .............................................................................. 140
8.3 O QUE Á ECOSSONDÁ PODE DETECTÁR? ..................................... 145

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8.4 O que pode interferir em uma ecossonda? ................................... 145
8. 5 SONÁR ......................................................................................................... 152
8.6 Radar ............................................................................................................ 155
8.7 SISTEMÁ DE NÁVEGÁÇÁO POR SÁTELITE GPS
(Global Positioning System) ....................................................................... 157
8.8 SÁTELITE .................................................................................................... 160
CÁPITULO IX: PESCÁ DIRIGIDÁ ..................................................................... 163
9.1 PESCÁ DIRIGIDÁ ...................................................................................... 164
CÁPITULO X: COMPORTÁMENTO DÁS ESPECIES EM RELÁÇÁO ÁOS
ÁPÁRELHOS DE PESCÁ ..................................................................................... 169
10.1 COMPORTÁMENTO DÁS ESPECIES ................................................ 170
CÁPITULO XI: RESISTENCIÁ DOS ÁPÁRELHOS DE ÁRRÁSTO ........... 175
11.1 RESISTENCIÁS DOS ÁPÁRELHOS DE ÁRRÁSTO ....................... 176
11.2 FORMULÁ PÁRÁ O CÁLCULO DO TIRO DÁ EMBÁRCÁÇÁO ... 178
11.2.1 Calculo da potencia padrao (PS) ............................................ 179
11.2.2 Determinaçao do coeficiente da helice (Ch) ...................... 179
11.2.3 Determinaçao do coeficiente do mar (Cmr) ...................... 179
11.3 Determinaçao da resistencia hidrodinamica de um Corpo
em um fluido ......................................................................................... 180
11.4 Formula da resistencia dos cabos de arrasto ............................. 180
11.5 Calculo da resistencia das portas de arrasto.............................. 184
11.6 Formula do calculo da resistencia de uma rede de arrasto .. 186
11.7 Calculo da resistencia total de um sistema de arrasto ........... 194
11.8 Ábertura vertical e horizontal da rede de arrasto .................. 195
BIBLIOGRÁFIÁ ...................................................................................................... 199

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PREFÁCIO

Essa obra destina-se aos estudantes de Engenharia de Pesca e


dos demais cursos de Ciencias do Mar, alem de profissionais da area
e professores das disciplinas de Tecnologia de Pesca. Ela vem
contribuir para minimizar a carencia de publicaçoes específicas
sobre Tecnologia de Pesca em língua portuguesa. Nos capítulos de I
ao VII, sao descritas manobras das principais modalidades de pesca
praticadas no Brasil. Todas as manobras tem detalhes tecnicos na
descriçao e nos desenhos, para uma melhor compreensao. Ás
modalidades de pesca sao descritas tanto na categoria artesanal
como na industrial. Ressalta-se que, como o país possui uma grande
extensao costeira com marcantes variaçoes, tanto de perfil de
Plataforma Continental como de condiçoes oceanograficas, muitos
dos nomes e detalhes das manobras sofrem mudanças de acordo
com as tradiçoes locais da pesca. Espera-se que isso seja
contemplado pelos professores em cada regiao. Áo final da descriçao
das manobras de cada categoria dos aparelhos de pesca, sao
apresentadas as alternativas ecologicas desenvolvidas atualmente
para minimizar impactos a fauna marinha, mostrando que elas sao
eficientes para a realizaçao de uma pesca sustentavel. Á descriçao
dos dispositivos de exclusao dos aparelhos de pesca e demonstrada
de uma maneira informativa, aguçando o estudante a se aprofundar
no assunto, para obter mais detalhes tecnicos específicos sobre a
construçao dos dispositivos. No capítulo VIII, sao apresentados os
principais equipamentos eletronicos empregados nas modalidades
de pesca, destacando-se: ecossonda, sonar e radar, alem de GPS e
satelite. Os conceitos e modos de funcionamento dos aparelhos
eletronicos sao abordados, visando os objetivos das atividades de
pesca de uma forma geral. No capítulo IX, aborda-se a pesca
totalmente dirigida por equipamentos eletronicos, a qual necessita
de alto nível tecnologico. O capítulo X, trata dos principais aspectos

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dos comportamentos dos peixes em relaçao aos aparelhos de pesca,
enfatizando os principais estudos realizados nessa area e sua
importancia para a Tecnologia de Pesca. No capítulo XI, sao descritos
conceitos e formulas empregadas por varios autores nos calculos das
resistencias em um aparelho de arrasto, assim como seus níveis de
complexidade, dando-se enfase a formula mais pratica no calculo da
resistencia para todo o sistema de arrasto. Dessa forma, esse livro
vem trazer uma parte do conhecimento sobre a Tecnologia de Pesca,
assim como alternativas sustentaveis para minimizar seus impactos.

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CAPÍTULO I

REDES DE ARRASTO

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1.1 REDES DE ARRASTO

Ás artes de arrasto sao consideradas aparelhos de pesca


ativos, pois capturam involuntariamente peixes, moluscos e
crustaceos no fundo, ou a meia agua. Por utilizarem portas de
arrasto para manter a abertura horizontal, sao consideradas
extremamente nocivas ao meio ambiente, principalmente os arrastos
de fundo, uma vez que as portas revolvem o fundo, causando danos a
biota local. Álem de ter uma grande capacidade de capturar fauna
que nao e alvo da pescaria, denominada de fauna acompanhante.
Depois da Segunda Guerra Mundial, com a necessidade de pescar
mais e mais distante, estimulou-se o desenvolvimento de tecnologias
para construçao de grandes arrasteiros com grandes redes, portas
de aço e maior autonomia de mar.
Ás características das redes de arrasto sao definidas em
relaçao ao seu objetivo de captura (especie-alvo) e ao grupo
ecologico a que serao destinadas a capturar: bentonico, demersal ou
pelagico. Geralmente, uma rede de arrasto e constituída por: asas
superiores e inferiores; paineis superior (onde esta localizado o
“quadrado”, diferença entre o comprimento do painel inferior) e
inferior, podendo ter paineis laterais, que formam o corpo da rede; e
finalmente o saco onde o pescado e concentrado (Figura 1). Os
paineis laterais proporcionam um formato mais plano ao corpo da
rede.
O sistema de arrasto (todos os componentes) esta constituído
por: cabos de arrasto, portas, malhetas (cabos que unem a rede as
portas) e corpo da rede (paineis inferior, superior e, quando houver,
laterais) (Figura 2).

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Figura 1:Partes de uma rede de arrasto com paineis laterais.

Figura 2: Sistema de arrasto com seus componentes

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Nas redes de arrasto destinadas a captura de bentonicos
(peixes, crustaceos e moluscos), as malhetas (cabos que ligam a rede
as portas) sao menores, porque nao tem nenhuma influencia na
pescaria, uma vez que os indivíduos estao sobre ou enterrados no
fundo. Álgumas redes possuem paineis laterais que dao uma forma
mais plana ao corpo, enquanto as que nao possuem esses paineis
laterais assumem uma forma de balao. Essas redes tem
características específicas quanto a forma, como: asas curtas (uma
vez que o alvo esta enterrado), pequena abertura vertical (para
diminuir a captura de peixes sobre o fundo) e grande abertura
horizontal (pois a produçao vai ser em funçao da area varrida, ou
seja, quanto mais area varrida, maior a produçao).
Ás redes de arrasto para captura de peixes demersais, os
quais se movimentam sob o fundo e na coluna da agua, possuem as
seguintes características: malhetas maiores (pois exercem o papel na
concentraçao do cardume, dirigindo-o para o centro da boca da
rede), asas maiores (tambem com a funçao de concentrar os peixes
no centro da boca da rede) e o corpo tambem mais longo. Certos
modelos de redes para peixes possuem um tunel antes do saco, com
a finalidade de dificultar o retorno.
Ás redes pelagicas, por capturarem especies mais velozes,
tem que ter uma grande filtraçao (malhas grandes nas asas e início
dos corpos) e uma grande abertura, tanto na abertura horizontal
quanto vertical. Sao projetadas sem o “quadrado” (diferença entre o
corpo inferior e superior nas redes de fundo e demersal), tendo os
paineis superior e inferior iguais.
Álgumas redes possuem paineis laterais que dao uma forma
mais plana ao corpo, enquanto as que nao possuem esses paineis
laterais assumem uma forma de balao. De uma maneira geral, as
redes para crustaceos bentonicos possuem características distintas
das que capturam peixes demersais e pelagicos (Figura 3).

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Figura 3: Características entre redes para captura de bentonicos Á , demersais
B e pelagicos C.

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Essas características sao marcantes, diferenciando assim uma
rede para a captura de bentonicos de uma para a captura de
demersais, ou de pelagicos. Logicamente que, entre cada modelo de
rede, existe uma grande variaçao de formas do corpo. Exemplo sao
as redes de camarao, tipo: flat, balao, semibalao, dentre outros.

1.1.1 Portas de arrasto

Ás portas de arrasto possuem formas diferentes, em funçao


da especie-alvo, tipo de fundo e velocidade de arrasto, tendo
diferenças marcantes quanto a captura de bentonicos, demersais e
pelagicos. Ás primeiras portas foram desenvolvidas em funçao da
necessidade de aumentar o tamanho das redes, uma vez que,
inicialmente, eram mantidas abertas horizontalmente por meio de
uma vara “beamtrawl” (Figura 4).

Figura 4:Rede de arrasto, sem portas, com vara beamtrawl.

Por volta de 1880, foram desenvolvidas as primeiras portas


de arrasto que permitiam operar com grandes redes. Ás primeiras
portas foram de forma retangular, originando a porta retangular
plana, que e utilizada ate hoje para a pesca de camarao, por ter um
comprimento maior que a altura e uma “sapata” (chapa de ferro na
parte inferior da porta), que possibilita uma maior area de contato

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com o fundo lamoso, diminuindo a possibilidade de penetrar na
lama. Como a velocidade na captura de bentonico e bem menor que
a de pelagico, a hidrodinamica da forma retangular nao interfere na
eficiencia de captura. Estas sao características ideais para o arrasto
de camarao que e realizado em fundos planos de lama, os quais sao
realizados com moderada velocidade, uma vez que o camarao esta
enterrado no fundo.
Na captura de peixes, como exige uma velocidade maior, as
portas retangulares nao resistiriam aos golpes em pedras no fundo.
Dessa forma, surgiu a porta retangular em V, que possibilitou a
superaçao dos obstaculos. Com a necessidade de portas mais velozes
para captura de peixes, foram desenvolvidas as portas ovais, que
permitiam uma maior rapidez e superaçao de obstaculos, em funçao
da sua hidrodinamica e pequena area de contato com o fundo. Ás
portas ovais sao empregadas tanto em arrastos de fundo quanto em
meia agua.
Á necessidade de portas mais eficientes para arrastos de
meia agua, ou pelagico, fez com que o alemao Franz Suberkrub, em
1938, patenteasse uma porta vertical, que foi denominada com seu
sobrenome, porta vertical tipo suberkrub. Essa porta tem uma altura
bem superior a base, com forma curva, gerando uma resultante
lateral mais eficiente do que a oval, tornando-se ideal para arrastos
de meia agua, ou pelagicos. Com exceçao da retangular plana, que
ainda hoje e construída com pranchas de madeira, os demais
modelos sao confeccionados em aço, alumínio ou plastico,
principalmente na pesca industrial.
Recentemente foi implementada a porta vertical em V, com a
finalidade de aproveitar a boa performance desse tipo de porta em
meia agua para atuar no fundo. Com esse objetivo, foi criado um
angulo no seu corpo, permitindo, assim, que, quando em contato
com pedras ou cabeços no fundo, ela resvale (Figura 5).

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Figura 5: Tipos de portas: (Á) retangular plana; (B) retangular em V; (C) oval;
(D) vertical tipo suberkrub; e (E) vertical em V.

Recentemente, foram construídas portas com maior hidrodinâmica


com a inclusão de hidrofólios (abertura que possibilita a passagem da
água), resultando em uma menor resistência em relação ao arrasto
mantendo a mesma área, principalmente em redes de fundo que
necessitam maior contato com o solo (Figura 6).

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Figura 6: Porta com hidrofolio, abertura que permite a passagem do fluxo da
agua.

O perfeito trabalho das portas de arrasto determina o


eficiente funcionamento da rede, influenciando diretamente na
captura. Ás portas de fundo, principalmente as retangulares planas,
sao reguladas atraves de correntes, denominadas de “pe de galinha”,
que tem o objetivo de regular o angulo de abertura da porta em
relaçao ao sentido do arrasto. Esse angulo de abertura forma o
“angulo de ataque” da porta (Figura 7). Ele pode ser aumentado ou
reduzido de acordo com a diminuiçao ou aumento do numero de
elos das correntes anteriores do pe de galinha.
Álem da abertura horizontal, as portas trabalham com uma
inclinaçao vertical, que lhes garantem nao tombar para dentro da
area de arrasto. Ás portas retangulares, por ter maior contato com o
fundo, sofrem com choques em obstaculos. Para minimizar esses
impactos, elas trabalham com o numero de elos nas correntes
anteriores do pe de galinha, menor que nos posteriores, resultando
em uma inclinaçao da parte anterior da porta, possibilitando sua
subida quando em contato com um obstaculo (Figura 8Á), caso nao
estejam reguladas podem prejudicar a eficiencia do arrasto (Figura
8B).

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Figura 7: Ángulo de ataque da porta de arrasto.

Figura 8: Regulagem da porta, correta Á e incorreta B.

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1.2 MANOBRAS COM REDES DE ARRASTO

1.2.1 Árrasto com pau de serriola

E uma modalidade de pesca realizada principalmente na


costa do Nordeste do Brasil na captura de camarao com
embarcaçoes artesanais, e comprimento medio de 8m. Como nessa
regiao existem poucos e pequenos bolsoes de lama, areas planas
propícias para o arrasto, as embarcaçoes tem a necessidade de
realizar manobras em uma pequena area, tendo que fazer curvas
fechadas em areas restritas, o que muitas vezes resulta em danos as
redes.

Dessa forma, empregam o artificio do “pau de serriola”, que e


uma trave de madeira com media de seis metros de comprimento,
que simula a popa de uma embarcaçao maior, aumentando assim a
distancia entre os cabos de arrasto na popa da embarcaçao, evitando
que estes se enrolem em manobras mais fechadas. Essa modalidade
de pesca e realizada proximo a foz dos rios, geralmente em fundos
de lamas gerados pelo aporte de sedimentos, o que restringe
bastante a area de pesca. Essas areas limitadas de arrasto fazem com
que essa atividade seja autorregulavel, quanto ao numero de barcos,
pois no verao poucas embarcaçoes pescam, uma vez que a
rentabilidade cai bastante. Geralmente a faina de pesca tem início as
cinco horas da manha, retornando, as 15 horas. Á duraçao do arrasto
e em funçao da produçao: no verao, chega a quatro horas, devido a
escassez de camarao; e, no inverno, pode ser de apenas uma hora, ou
menos, pois o acumulo de algas pode rasgar a rede.

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1.2.1.1 Lançamento

Á montagem do sistema de arrasto inicia-se quando uma das


extremidades de cada cabo de arrasto e conectada em cada
extremidade do “pau de serriola”, e a outra, ao pe de galinha em cada
porta, as duas ficam armazenadas na popa da embarcaçao. Á rede e
conectada as portas por meio de cabos denominados de malhetas.
Essa operaçao tambem e realizada na popa da embarcaçao (Figura
9).

Figura 9: Montagem do sistema de arrasto com pau de serriola.

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Quando da conexao das malhetas das tralhas inferiores e
superiores com as portas, observar se as asas da rede nao estao
torcidas, pois isso pode retardar o lançamento.
Ápos o sistema esta pronto, o lançamento e iniciado com o
aumento da velocidade do barco. Dois indivíduos ficam responsaveis
pelo lançamento das portas, na popa da embarcaçao, enquanto
outros dois controlam o lançamento dos cabos de arrasto na proa .Os
cabos geralmente sao marcados, para que saiam com os
comprimentos iguais, garantindo, assim, que as portas cheguem ao
mesmo tempo ao fundo. Para facilitar o lançamento, os dois
indivíduos passam os cabos de arrasto pelo frade da proa (local para
colocar as amarras no ato da ancoragem do barco), com a finalidade
de transferir parte da tensao dos cabos de arrasto para o frade
(Figura 10).

Figura 10: Lançamento dos cabos de arrasto, portas e rede ao mar.

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Á determinaçao do comprimento do cabo de arrasto segue
geralmente uma proporçao em relaçao a profundidade, ou seja, em
aguas com profundidades menores que 100m aplica-se a proporçao
de 1:5; em areas com profundidades acima de 100m, 1:3. Á relaçao
deve permitir um funcionamento otimo das portas, pois, se os cabos
ficarem muito longos, formarao seios que comprometerao a
inclinaçao das portas, assim como, se ficarem muito curtos,
influenciarao na aderencia das portas ao fundo.
Quando os cabos de arrasto, durante o lançamento,
aproximam-se do termino, os dois indivíduos retiram os cabos de
arrasto do frade, fazendo com que a tensao do arrasto seja
transferida diretamente para as extremidades do pau de serriola
(Figura 11).

Figura 11: Transferencia dos cabos de arrasto do frade para as extremidades


do pau de serriola.

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Nesse momento, a velocidade do barco diminui e da-se início
ao arrasto na sua velocidade normal (Figura 12).

Figura 12: Sistema de arrasto em pleno funcionamento.

1.2.1.2 Recolhimento

Áo termino do arrasto o motor da embarcaçao e colocado em


ponto neutro, para facilitar o recolhimento manual dos cabos de
arrasto. Essa atividade e realizada pelos dois tripulantes que estao
na popa da embarcaçao. Quando as portas chegam a borda da popa
da embarcaçao, sao içadas e armazenadas, de forma a ficarem
prontas para um novo lançamento. Ás asas da rede sao recolhidas
tambem pela popa, no entanto o corpo e transferido para um dos

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bordos da embarcaçao, dependendo da direçao da corrente
marítima e do vento. Áo chegar ao bordo da embarcaçao, o saco e
içado manualmente com a participaçao de toda a tripulaçao (Figura
13). Em seguida, o saco da rede e aberto, e o pescado e liberado no
conves. Ápos o esvaziamento do saco, ele e novamente fechado, com
um no, e lançado imediatamente ao mar, dando início a um novo
lançamento, estando a tripulaçao novamente posicionada no conves.

Figura 13: Recolhimento do saco da rede de arrasto pelo bordo da embarcaçao,


muitas vezes com toda a tripulaçao.

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1.2.2 Árrasto com tangones (arrasto duplo — Double rig)

Essa modalidade de arrasto, que utiliza duas redes


simultaneamente, e empregada principalmente na captura de
camarao, por ter características como: redes com pequena abertura
vertical e grande abertura horizontal, uma vez que a produçao de
camarao aumenta em funçao da area varrida pelo corpo inferior e
asas da rede.
Á rede de arrasto, no sistema com tangones, possui dois
cabos como acessorios, sendo que a parte que une as duas portas e
denominada de cabo de transferência, e a segunda parte, ligada ao
corta-saco da rede, e denominada de cabo de guia. Esses cabos tem a
finalidade de auxiliar nas manobras de lançamento e recolhimento
das portas e do saco da rede. Ás tesouras possibilitam a abertura das
portas, rebocadas por um unico cabo de arrasto (Figura 14).

Á pesca com sistema de arrasto com tangones, ou duplo, foi


desenvolvida no Golfo do Mexico e chegou ao Norte do Brasil no final
da decada de 60 por barcos estrangeiros. Inicialmente esse sistema
foi empregado para captura industrial de piramutaba, em 1971, so
depois foi substituído pelo arrasto com parelhas, mais adequado a
captura dessa especie. O arrasto com tangones foi direcionado para a
captura de camarao, o qual foi desenvolvido especificamente para a
exploraçao desse recurso, houve um aumento significativo da
produçao e consequentemente inicio a uma frota nacional. (Figura
15).

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Figura14: Ácessorios da rede, empregados no arrasto com tangones.

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Figura 15: Sistema de arrasto com tangones.

Esses barcos sao equipados, em seu conves, com uma


estrutura de tubos de ferro, que dao sustentaçao ao sistema de
tangones (Figura 16). Os cabos de transferencia e de guia geralmente
sao de PE ou PP, para flutuar e nao interferir no arrasto.

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Figura 16: Características de um conves de um arrasteiro com tangones.

1.2.2.1 Ármaçao do sistema de arrasto

Conectam-se os cabos de arrasto aos pes de galinha das


portas, e as malhetas da rede, a parte superior e a inferior das portas
(Figura 17). Á transferencia das portas para as extremidades dos

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tangones e realizada com o acionamento dos guinchos no sentido de
recolhimento, consequentemente puxando as portas para as
extremidades dos tangones, ao mesmo tempo em que o “cabo de
transferencia” e passado pela saia do guincho, gerando uma tensao
no sentido contrario e evitando, com isso, que as portas girem ao
redor do proprio eixo (Figura 18).

Figura17: Ármaçao do sistema de arrasto: cabos de arrastos, portas e rede.

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Figura 18: Transferencia das portas para as extremidades dos tangones.

Quando as portas chegam as extremidades dos tangones, o


cabo de transferencia e retirado da saia do guincho, e o corpo da
rede e lançado ao mar. Esse procedimento e tambem realizado com a
outra rede. Dessa forma, as redes assumem o posicionamento para
ser lançadas (Figura 19).

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Figura 19: Redes posicionadas para o lançamento.

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1.2.2.2 Lançamento

Inicia-se com a liberaçao dos cabos de arrasto, acionando-se


os guinchos. Quando as portas ficam submersas, os guinchos sao
travados, com o objetivo de observar a hidrodinamica das redes e
portas, assim como possíveis enredos. Em seguida, acionam-se os
tambores dos guinchos, dando continuidade ao lançamento, ate ser
liberada a quantidade de cabos de arrasto predefinida, em funçao da
profundidade. Quando o comprimento total de cabos e lançado, os
guinchos sao travados e o arrasto e iniciado com a velocidade
predeterminada.
No início do lançamento, a velocidade da embarcaçao e maior
do que durante o arrasto, com o objetivo de abrir as portas ate sua
posiçao de trabalho. Durante o arrasto, principalmente na pesca
comercial, e realizado o lançamento de uma rede com tamanho
reduzido, proporcionalmente, com as mesmas características das
com que se esta pescando, denominada de rede de teste, ou trynet.
Ela tem o objetivo de fazer uma amostragem da captura e estimar
proporcionalmente a produçao das redes, assim como escolher as
areas mais produtivas (Figura 20).

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Figura 20: Sistema de arrasto com tangones, empregando o trynet.

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1.2.2.3 Recolhimento

Á duraçao do arrasto esta em funçao do volume da captura:


quanto mais rapido for o enchimento do saco da rede, mais rapido
sera o recolhimento. No período da safra, os arrastos sao menores,
variando de tres a quatro horas; e, na entressafra, maiores, em media
seis horas, principalmente na pesca industrial. Inicia-se com o
recolhimento dos cabos de arrasto, acionando-se os guinchos, ate
que as portas cheguem as extremidades dos tangones. Com a
finalidade de aproximar o cabo de guia da rede para a borda do
barco, o mestre da embarcaçao realiza uma manobra para um dos
bordos, dependendo da direçao do vento. Áo mesmo tempo em que
um pescador recolhe o “cabo de guia” com uma vara de
recolhimento, que possui uma chapa na extremidade do gancho para
evitar enganchar nas malhas da rede (Figura 21). O “cabo de guia” e
passado pela saia do guincho, puxando, assim, o saco da rede para a
borda da embarcaçao (Figura 22).

Figura 21: Emprego da vara de recolhimento para recolher o cabo de guia.

34 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 22: Áproximaçao do saco da rede, com o recolhimento do cabo de guia.

Quando o saco da rede alcança a borda da embarcaçao, um


pescador laça o saco com um cabo, que contem um gancho na
extremidade denominado de teck (Figura 23), passando assim pela
saia do segundo guincho, suspendendo, com isso, o saco da rede no
conves da embarcaçao (Figura 24). Imediatamente o saco e aberto,
liberando o pescado no conves, e, quando esta totalmente vazio, e
novamente fechado e lançado ao mar. Essa manobra e realizada em
ambas as redes, deixando as duas em posiçao para um novo
lançamento. Enquanto um novo arrasto esta sendo realizado, a
separaçao do camarao e realizada por: especie de camarao e a fauna
acompanhante bycatch (tudo aquilo que nao e alvo da pescaria), que
pode ser dividida em: especies de valor comercial e descarte
(especies que sao devolvidas ao mar).

Tecnologia de pesca | 35
Figura 23: Recolhimento do saco para o conves da embarcaçao, com detalhe da
amarraçao com o teck.

36 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 24: Saco da rede içado no conves da embarcaçao.

Outra forma de adaptaçao de conves das embarcaçoes para a


pesca de arrasto com tangones e no caso das embarcaçoes com
casaria na popa, no qual a montagem da estrutura dos tangones e
feita a meia nau (Figura 25). Á manobra de lançamento e

Tecnologia de pesca | 37
transferencia das portas de arrasto para as extremidades dos
tangones e a mesma realizada nas embarcaçoes com casaria na proa.
O recolhimento tambem e o mesmo, sendo o saco da rede içado por
um dos bordos na area do conves em frente a casaria de comando
(Figura 26). Essa modalidade de armaçao e feita tanto em barcos de
pequeno porte como em escala industrial.

Figura 25: Árrasto com tangones em embarcaçao com cabine na popa.

38 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 26: Recolhimento da rede de arrasto com tangones em embarcaçao com
cabine na popa.

Tecnologia de pesca | 39
1.2.3 Redes gemeas

Com o objetivo de aumentar a produçao, as redes de arrasto


sofreram varias modificaçoes. Ássim como o sistema de arrasto, uma
evoluçao do sistema duplo com tangones foi a introduçao do arrasto
com redes “gemeas” com tangones (Figura 27). Esse sistema opera
com quatro redes e um ski (esqui), que fica localizado entre as duas
redes, com a finalidade de manter a abertura vertical das redes e
lastrar o sistema de arrasto. Ás portas e o ski estao ligados ao cabo
de arrasto por uma tesoura com tres cabos (Figura 28). Uma
característica do sistema com redes gemeas e que o cabo do meio da
tesoura e menor do que os das extremidades, transferindo uma
maior tensao para ele, liberando assim as portas, para que elas
abram mais, aumentando com isso a area varrida do arrasto. Esse
sistema resulta em um aumento medio de 25% na produçao em
relaçao ao sistema duplo. Uma das vantagens desse sistema e que a
area da panagem das duas redes gemeas (corpo curto e boca larga) e
igual a mesma area da panagem de uma rede do sistema duplo (uma
rede em cada extremidade do tangone, sendo elas mais longas). O
que resulta, em resistencias ao arrasto iguais. Essa condiçao permite
que o mesmo motor possa arrastar ambos os sistemas,
possibilitando a mudança de um sistema para o outro sem
modificaçoes na potencia da embarcaçao. Á utilizaçao de redes
gemeas possui limitaçoes em sua operaçao, necessitando de grandes
areas de arrasto planas para realizaçao de manobras com curvas
mais abertas, pois as duas redes podem se enganchar, caso a area
seja restrita. Outro fator que interfere no sistema com redes gemeas
e a condiçao de mar. Ás zonas tropicais sao mais apropriadas, por
terem mares mais calmos. Por esses motivos, o sistema de arrasto
com redes gemeas, muitas vezes, nao pode ser empregado em
qualquer area de arrasto.

40 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura27: Detalhe do sistema de redes gemeas.

Figura 28: Relaçao de comprimento dos tres cabos da tesoura, em um sistema


de redes gemeas e detalhe do ski.

Tecnologia de pesca | 41
1.2.4 Árrasto de popa

E uma modalidade empregada principalmente em arrastos de


fundo, demersais e meia agua para a captura de peixes. O sistema de
e montado com a conexao dos cabos de arrasto as portas, no pe de
galinha, que no caso da pesca industrial sao confeccionados com
chapa de aço, tendo a finalidade a regulagem do angulo de ataque. Ás
portas estao ligadas a rede pelas malhetas. Esse tipo de arrasto
possui um cabo que esta conectado entre as malhetas e o pe de
galinha da porta, sendo denominado de “cabo malandro”, o qual tem
a finalidade de auxiliar no recolhimento da rede (Figura 29).

Figura 29: Sistema de arrasto com o “cabo malandro”.

Á embarcaçao destinada ao arrasto de popa tem a


distribuiçao do conves com dois guinchos principais para o arrasto, e
dois auxiliares para segurar as portas durante o recolhimento da
rede. Álem dos dois pescantes na popa, onde ficam as portas de
arrasto durante o recolhimento do corpo da rede. Os pescantes tem a
finalidade de manter uma distancia constante entre os cabos de
arrasto na popa da embarcaçao durante as manobras de arrasto
(Figura 30).

42 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 30: Características de um conves e seu sistema de arrasto em um
arrasteiro de popa.

Tecnologia de pesca | 43
1.2.4.1 Lançamento

Ápos o sistema de arrasto esta montado, (cabos de arrasto,


portas, cabo malandro e malhetas da rede), lança-se o corpo da rede
ao mar (Figura 31). Neste momento, liberam-se os cabos de arrasto
dos tambores dos guinchos, fazendo com que as portas de arrasto
deixem os pescantes, que estao localizados na popa da embarcaçao.

Figura 31: Lançamento da rede pela popa, com todo o sistema de arrasto
montado.

44 | Vanildo Souza de Oliveira


Quando as portas ja estao submergidas, o lançamento e
interrompido, com o objetivo de observar a hidrodinamica das
portas e rede de arrasto (Figura 32). Ápos esta açao, os guinchos sao
novamente acionados ate o lançamento total do comprimento dos
cabos de arrasto, predeterminado em funçao da profundidade do
local.

Figura 32: Cabos de arrasto e portas sendo lançados ao mar.

1.2.4.2 Recolhimento

Inicia-se com o acionamento dos guinchos principais, que


recolhem os cabos de arrasto ate as portas chegarem aos pescantes.
Em seguida, os cabos dos “guinchos auxiliares” sao conectados aos
pes de galinha das portas. Quando sao acionados no sentido de

Tecnologia de pesca | 45
recolhimento, transferem a tensao mecanica (T1) exercida pelos
cabos de arrasto para eles (Figura 33), folgando, assim, os cabos de
arrasto dos “guinchos principais” (TO).Imediatamente desconectam-
se os cabos de arrasto e os cabos malandros, que estao conectados
aos pes de galinha das portas, e conecta-se um ao outro — em alguns
casos, eles ja estao conectados, geralmente por meio de uma
manilha. Quando os guinchos principais sao acionados no sentido do
recolhimento, a tensao do peso da rede e transferida para o sistema:
cabos de arrasto e cabo malandro (T2) (Figura 34).

Figura 33: Transferencia da tensao dos cabos dos guinchos principais para os
cabos dos guinchos auxiliares.

46 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 34: Recolhimento do sistema, cabo de arrasto e cabo malandro.

Tecnologia de pesca | 47
Quando as conexoes entre o “cabo malandro” e as “malhetas
da rede” chegam ao conves, as “malhetas das portas” sao
imediatamente desconectadas (Figura 35).

Figura 35: Malhetas das portas desconectadas, quando chegam ao conves.

48 | Vanildo Souza de Oliveira


Com as portas isoladas do sistema de arrasto, o corpo da rede
pode ser içado para o conves da embarcaçao pelos guinchos
principais (Figura 36).

Figura 36: Içamento do corpo da rede de arrasto para o conves.

Tecnologia de pesca | 49
Quando as asas da rede chegam aos tambores dos guinchos
principais, o restante do corpo da rede e içado para bordo, por meio
de um cabo com um teck (tipo de gancho de aço) na extremidade. O
cabo do teck passa por uma roldana no alto do conves e pela saia do
guincho. O corpo da rede vai sendo içado para o conves, ate que o
saco fique suspenso pela roldana. Nesse momento, o saco e aberto, e
o pescado, liberado no conves (Figura 37). Imediatamente o saco e
novamente fechado e lançado ao mar, dando início a um novo
lançamento.

Figura 37: Içamento da rede e abertura do saco, liberando o pescado no conves


da embarcaçao.

50 | Vanildo Souza de Oliveira


No lançamento seguinte da rede, as manobras sao refeitas, o
saco da rede e lançado ao mar, os guinchos principais sao liberados
e, a medida que a rede e lançada ao mar, as malhetas das portas sao
novamente conectadas e recebem novamente a tensao do peso da
rede. Essa açao possibilita a conexao dos cabos de arrasto e
malandros novamente aos pes de galinha das portas. Em seguida, os
cabos de arrasto dos guinchos principais sao acionados, recebendo
toda a tensao das portas e rede, permitindo assim a desconexao dos
cabos dos guinchos auxiliares aos pes de galinha das portas,
liberando todo o sistema para um novo lançamento.
Outro sistema utilizado no recolhimento da rede de arrasto
de popa e o emprego de um tambor no conves, onde a rede de
arrasto e acondicionada. Á unica diferença dessa manobra para a de
conves sem tambor e que, quando as portas chegam aos pescantes,
puxadas pelos guinchos principais, a extremidade do cabo malandro
e desconectada das portas e conectada aos cabos do tambor. Dessa
forma, o tambor gira, recolhendo a rede ate as malhetas das portas
chegarem ao conves, quando sao desconectadas, isolando as portas,
e em seguida o tambor enrola o corpo da rede (Figura 38).

Figura 38: Sistema de


arrasto com tambor,
para o armazenamento
da rede.

Tecnologia de pesca | 51
Em arrasteiros menores, que nao possuem guinchos
auxiliares nem tambores de armazenamento da rede, so o guincho
principal. Ás funçoes dos guinchos auxiliares e tambor podem ser
exercidas pela saia do guincho principal, ou por uma corrente fixa no
no pescante, que suporta todo o peso das portas durante o
recolhimento da rede (Figura 39).

Figura 39: Corrente fixa no suporte do pescante, conectada a porta.

1.2.5 Árrasto com parelhas

Essa modalidade e utilizada na pesca de peixes de fundo,


demersais e de meia agua, caracterizando-se por empregar duas
embarcaçoes, dessa forma nao utilizando portas de arrasto, pois a
abertura horizontal da rede e realizada pelas duas embarcaçoes.
Uma das vantagens desse sistema e a possibilidade de realizar
arrastos em pequenas profundidades, pois a vibraçao e turbulencia
geradas pelos motores das duas embarcaçoes induzem os cardumes
a concentrarem-se entre os dois barcos, onde sao alcançados pela

52 | Vanildo Souza de Oliveira


rede. No arrasto de popa, em pequenas profundidades, funciona ao
contrario: com um unico motor, a vibraçao dispersa o cardume,
dificultando assim serem alcançados pela rede, motivo pelo qual o
sistema com parelha e mais empregado em areas rasas. Outra
vantagem e a utilizaçao de redes com maior abertura vertical e area
varrida. Á desvantagem e ter que depender de duas tripulaçoes e
duas manutençoes para as embarcaçoes.

1.2.5.1 Lançamento

E iniciado com a aproximaçao das duas embarcaçoes, quando


a embarcaçao Á conecta uma das malhetas da asa da rede ao seu
guincho de arrasto e transfere a outra asa, com a malheta, para a
embarcaçao B, por meio de um cabo de retinida (cabo de
multifilamento, leve, com um peso em uma extremidade). Esse cabo
e conectado na extremidade da malheta. Quando o cabo de retinida e
lançado para a embarcaçao B, ele e recolhido ate alcançar a malheta
da rede, que e conectada ao cabo de arrasto que esta armazenado no
tambor do guincho da embarcaçao B (Figura 40). Dessa forma, a
rede esta pronta para o lançamento. Os cabos de arrasto das duas
embarcaçoes vao sendo lançados, a medida que as duas
embarcaçoes vao se separando, ate alcançar a distancia maxima
determinada, a qual deve ser mantida durante todo o arrasto. Essa
distancia pode ser mantida desde com um simples cabo entre as
embarcaçoes, na pesca artesanal, ate equipamentos eletronicos, na
pesca industrial, como o radar.

Tecnologia de pesca | 53
Figura 40: Transferencia da malheta da embarcaçao Á para o guincho da B.

Quando os cabos de arrasto que estao sendo lançados vao


chegando proximo ao comprimento predeterminado para a
profundidade de arrasto, na popa da embarcaçao estao localizados
os “cabos centralizadores”, que sao conectados aos cabos de arrasto
(Figura 41).
Os “cabos centralizadores” tem a finalidade de manter a
tensao dos cabos de arrasto concentrada no centro da popa da
embarcaçao. Quando os cabos de arrasto alcançam o comprimento
predeterminado, todas as tensoes deles sao transferidas para os
“cabos centralizadores” (Figura 42). Na extremidade desses cabos
existe um dispositivo denominado “disparador”, o qual esta
conectado ao cabo de arrasto (Figura 43).

54 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 41: Cabos centralizadores, antes de serem conectados aos cabos de
arrasto.

Figura 42: Embarcaçoes


realizando o arrasto, com
a tensao transferida para
os cabos centralizadores.

Tecnologia de pesca | 55
Figura 43: Detalhe e funçao do disparador no arrasto.

56 | Vanildo Souza de Oliveira


1.2.5.2 Recolhimento

Ápos terminar o tempo de arrasto, a embarcaçao B aproxima-


se da embarcaçao Á, desconecta o cabo de arrasto, que tem o
disparador, do tambor e transfere para a embarcaçao Á, por meio
tambem de um cabo de retinida. Á embarcaçao Á conecta o cabo de
arrasto recebido da embarcaçao B, no tambor vazio. Em seguida, a
embarcaçao Á transmite o aviso da conexao do segundo cabo de
arrasto ao segundo tambor, so entao o cabo do disparador e
acionado pela embarcaçao B, transferindo, com isso, o segundo cabo
de arrasto da rede para a embarcaçao Á (Figura 44).

Figura 44:Ácionamento do disparador, transferindo o cabo de arrasto da


embarcaçao B para a Á.

Tecnologia de pesca | 57
Ápos o recebimento do cabo de arrasto, a embarcaçao Á
aciona os guinchos, dando início ao recolhimento, com manobras
similares ao recolhimento em um arrasteiro de popa, ou içando a
rede por um dos bordos da embarcaçao para o conves (Figura 45).

Figura 45: Recolhimento da rede pela embarcaçao Á.

58 | Vanildo Souza de Oliveira


No Brasil, nao e utilizada essa denominaçao de cabos
centralizadores. O disparador e colocado preso a uma roldana fixa
em um cabo na popa da embarcaçao, de forma que, quando o cabo
do disparador for acionado, transfira o cabo de arrasto para outra
embarcaçao (Figura 46).

Figura 46: Sistema com disparador, utilizado no Norte do Brasil.

Tecnologia de pesca | 59
1.3 SOLUÇÕES ECOLÓGICAS EM REDES DE ARRASTO
PARA MINIMIZAR DANOS AMBIENTAIS

Á açao da rede de arrasto causa um grande dano ao meio


ambiente, seja por revolver o fundo com as tralhas de chumbo e
portas de arrasto, ou com a retirada de varias especies do meio
ambiente, muitas delas ainda em estagio juvenil. Álem das especies
de peixes e crustaceos, as redes de arrasto capturam tambem
quelonios, principalmente nas areas costeiras. Com o objetivo de
minimizar a captura de tartarugas, varios tipos de dispositivos de
exclusao de tartarugas — Turtle Excluded Device (TED) — foram
desenvolvidos nas ultimas decadas. Átualmente uma grade de
alumínio ou aço inox e colocada antes do saco da rede, com a
finalidade de permitir a saída das tartarugas, que pode ser pela parte
superior ou inferior do corpo da rede (Figura 47).

Figura 47: Dispositivo de exclusao de tartaruga (TED), “Á” com saída na parte
superior do corpo, ”B” com saída na parte inferior.

60 | Vanildo Souza de Oliveira


Para exclusao da fauna acompanhante nas redes de arrasto,
foram desenvolvidos os Dispositivos de Exclusao de Fauna
Ácompanhante – Defa (Bycatch Reduce Device – BRD). Sao
empregados varios tipos de Defas em redes de arrasto para a
exclusao de peixes, destacando-se o sistema de malhas quadradas,
pela sua simplicidade e facilidade de operacionalizaçao. Nele, os
peixes escapam pelas malhas quadradas, enquanto os camaroes
seguem direto para o saco da rede. Dependendo do tamanho da
malha e do local da colocaçao, a perda de camarao pode ser
minimizada (Figura 48).

Figura 48: Sistema de malhas quadradas em rede de arrasto para camarao.

Outro dispositivo de exclusao de fauna acompanhante e o


denominado “olho de peixe”, estrutura de aço inox, ferro, ou
alumínio, posicionado, no saco, no sentido contrario ao do arrasto,
uma vez que os peixes tendem a nadar contra o fluxo da agua. Por
ser bastante facil de ser construído e ter facil manuseio a bordo, e
um dos dispositivos de exclusao mais utilizados (Figura 49).

Tecnologia de pesca | 61
Figura 49: Olho de peixe,
colocado da parte superior do
saco, permite a exclusao da
fauna acompanhante.

Outro dispositivo bastante difundido e o de grade de


alumínio Nordmore Grid, no qual os camaroes passam por ela, direto
para o saco da rede, enquanto os peixes seguem a grade e escapam
por uma abertura superior no corpo da rede de arrasto (Figura 50).

62 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 50: Sistema de grade de alumínio em redes de arrasto para camarao.

Em arrastos cujo principal alvo sao peixes demersais, ou


pelagicos, os dispositivos de exclusao visam o escape de indivíduos
juvenis, da mesma especie, que nao alcançaram o tamanho adulto. O
dispositivo nesse caso exclui os jovens e captura os adultos (Figura 51).

Figura 51: Dispositivo de exclusao de peixes juvenis captura apenas adulto.

Tecnologia de pesca | 63
64 | Vanildo Souza de Oliveira
CAPÍTULO II

REDES DE CERCO

Tecnologia de pesca | 65
2.1 REDES DE CERCO

Essa modalidade de pesca tem por finalidade a captura de


pelagicos, uma vez que as outras artes como as redes de arrastos nao
apresentam grande eficiencia na captura desse grupo ecologico. Á
rede de cerco tem o princípio de cercar o cardume e pode ser
recolhida manualmente ou com a utilizaçao de guinchos, que
recolhem um cabo na sua parte inferior denominado de
“carregadeira”. Esse cabo passa por dentro de argolas que estao
distribuídas ao longo da tralha, ou cabo de chumbo. Á rede de cerco
e composta pelo corpo (panagem), tralha, ou cabo de boia, cabo de
chumbo, anilhas — ou argolas — e carregadeira. No corpo, ha varios
paineis e o saco (area destinada para concentraçao dos peixes, no
final do recolhimento da rede — por isso feito de um material mais
resistente do que o corpo) (Figura 52). Á carregadeira tem a
finalidade de evitar que o cardume fuja, por baixo da rede, fechando
o fundo rapidamente antes que ela seja recolhida.

Figura 52: Rede de cerco com carregadeira, sistema de fechamento rapido.

66 | Vanildo Souza de Oliveira


O cerco pode ser empregado tanto na captura de pequenos
pelagicos (sardinhas), como na captura de grandes pelagicos (atuns
e afins).
Na modalidade artesanal, a rede de cerco pode ter o
recolhimento manual, e sua eficiencia depende da velocidade do
recolhimento, pois ela nao tem a carregadeira para realizar o
fechamento rapido, evitando a fuga do cardume. Á rede sem a
carregadeira, tem o corpo inferior maior que o superior, de forma
que, quando alcance a borda da embarcaçao, impossibilite a fuga do
cardume por baixo (Figura 53).

Figura 53: Rede de cerco sem carregadeira.

Na modalidade industrial, o recolhimento e realizado por


guinchos com o emprego da “carregadeira”. Um cerqueiro atuneiro
industrial possui características típicas: casaria de observaçao (para
localizaçao visual dos cardumes), pescantes laterais (duas roldanas
por onde passam a carregadeira), Power block (tambor de borracha
hidraulico suspenso, que ao girar recolhe a rede para o conves), rede
(que ocupa grande area na popa) e panga (pequena embarcaçao que
fica com uma das extremidades da rede durante o cerco) (Figura 54).

Tecnologia de pesca | 67
Figura 54: Características de um cerqueiro.

2.1.1 Formas de localizaçao de cardumes

Visual
- Materiais flutuantes: pedaços de madeira, ou qualquer
objeto flutuante, que possibilite o inicio do princípio de agregaçao.
Esse processo inicialmente agrega o fitoplancton; em seguida, o
zooplancton, larvas, alevinos, formando uma cadeia alimentar ate a
chegada de grandes predadores, no caso atuns.
- Concentraçao de passaros: eles se alimentam de pequenos
pelagicos, assim como os atuns, por isso essa competiçao alimentar.
Os atuns atacam por baixo do cardume, forçando os peixes a
nadarem para a superfície, onde sao atacados pelos passaros, e
assim os cardumes facilmente sao localizados pelos pescadores.
- Bioluminescencia: esse fenomeno possibilita o cerco
durante a noite, principalmente na pesca de sardinha. Um pescador
fica na proa da embarcaçao com uma lanterna. Quando a luz e
direcionada sobre o cardume, ele se agita, movimentando-se
rapidamente, com isso realizando a bioluminescencia, gerada por
dinoflagelados quando de uma açao mecanica, resultando em toda a
superfície da area do cardume agitada e iluminada, possibilitando
assim o cerco noturno.
- Concentraçao de golfinhos: na pesca de atum no Pacífico, e
comum a procura de cardumes de golfinhos, uma vez que eles sao

68 | Vanildo Souza de Oliveira


concorrentes alimentares dos atuns — quando os golfinhos estao na
superfície se alimentando de pequenos pelagicos, geralmente os
atuns estao atacando por baixo. No Oceano Átlantico tropical, esse
comportamento e pouco observado, em funçao da termoclina estar
em maiores profundidades, minimizando a ocorrencia de atuns
proximos da superfície.
- Borbulhas e agitaçao na superfície: nessa situaçao quanto
mais calmo o mar, maior a possibilidade de avistar o cardume —
principalmente quando sao de pequenos pelagicos. Os cardumes na
superfície produzem uma area mais agitada do que a superfície
normal, possibilitando a localizaçao e cerco.

Equipamentos eletrônicos
-Sonar: aparelho de emissao sonora que possibilita realizar a
varredura na horizontal em 360 graus, sendo possível a detecçao do
cardume em qualquer direçao, tanto em condiçao noturna quanto
diurna. Ele e capaz de identificar o rumo, a distancia e a dimensao do
cardume.
- Satelite: informa as condiçoes oceanograficas com maior
probabilidade de ocorrencia de cardumes de atuns, tais como:
temperatura da superfície, clorofila, correntes, termoclinas, dentre
outros.
- Tambem e possível realizar a localizaçao com helicopteros ou
avioes, que transmitem para as embarcaçoes a localizaçao dos
cardumes. Essa modalidade de pesca e empregada para captura de
pelagicos com grande valor economico, devido aos altos custos de
operacionalizaçao.

Tecnologia de pesca | 69
2.1.2 Lançamento

O cabo da carregadeira, que pode ser sintetico ou aço, sai de


um dos tambores do guincho da embarcaçao, passa por um dos
pescantes e por dentro de todas as argolas que estao no guia de
lançamento, sendo finalmente conectado a panga (pequena
embarcaçao que segura uma das extremidades da rede durante o
cerco realizado pela embarcaçao maior) (Figura 55).
Dessa forma, a rede esta pronta para o lançamento, que tem
início com a liberaçao da panga ao mar e deslocamento da
embarcaçao maior, lançando a rede ao mar, dando início ao cerco.
Enquanto a panga retem a outra extremidade da rede, onde estao
fixos a carregadeira, tralhas de boia e de chumbo (Figuras 56 e 57).
Ressalta-se que a parte do corpo da rede que fica com a panga e a
que contem o saco (parte mais resistente da rede). Á outra
extremidade fica fixa a embarcaçao maior, ela recebe mais lastro,
uma vez que vai ser a ultima a cair na agua, e por isso tem que
submergir rapidamente, para evitar que o cardume escape no final
do fechamento do cerco.

Figura 55: Ármaçao da carregadeira da rede de cerco para o lançamento.

70 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 56: Início do cerco, lançamento da panga conectada como os cabos de
boia, chumbo e carregadeira.

Tecnologia de pesca | 71
Figura 57: Início do cerco: a panga segura uma das extremidades da rede,
enquanto a embarcaçao maior inicia o cerco.

Durante o cerco, o comandante monitora a movimentaçao do


cardume, por meio do sonar, para que o cerco seja realizado com
sucesso. Áo termino do cerco, a embarcaçao maior encontra a panga,
que transfere a extremidade da rede contendo os cabos de boia,
chumbo e carregadeira para a embarcaçao maior. Á carregadeira e
conectada ao segundo tambor do guincho, passando antes por um
dos pescantes, enquanto os cabos de boias e chumbos sao fixos na
proa da embarcaçao (Figura 58).

2.1.3 Recolhimento

Com o acionamento dos tambores dos guinchos, a


carregadeira começa a ser recolhida, dando início ao fechamento do
fundo da rede (Figura 59). Ápos o recolhimento da carregadeira e o
consequente fechamento do fundo da rede, todas as argolas da rede
sao concentradas nos pescantes, e a rede toma um formato de bolsa,
na qual o cardume fica retido (Figura 60). Á velocidade de
recolhimento da carregadeira e fundamental para o fechamento da
parte inferior da rede, pois evita o escape do cardume.

72 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 58: Final do cerco, a panga transfere a carregadeira e cabos de boia e
chumbo para a embarcaçao maior.

Figura 59: Recolhimento da carregadeira e fechamento do fundo da rede.

Tecnologia de pesca | 73
Figura 60: Recolhimento da carregadeira e concentraçao das argolas nos
pescantes.

Como esse tipo de rede para grandes pelagicos pode chegar a


1.500m de comprimento por 150m de profundidade, no caso da
pesca de atum, o Power block e acionado para recolher a grande
quantidade de rede na agua, deixando apenas o saco com o pescado .

Esse recolhimento e realizado com a passagem da


extremidade da rede, que ficou fixa na popa da embarcaçao, por
dentro do Power block. Ántes de iniciar o recolhimento da rede,
deve-se liberar as argolas dos pescantes para que elas possam
passar pelo Power block. Existem quatro sistemas para a realizaçao
da transferencia das argolas:

74 | Vanildo Souza de Oliveira


1) Guia de recolhimento: as argolas sao transferidas para um
guia; em seguida, a carregadeira e retirada, permitindo a liberaçao
das argolas do guia, a medida que vao sendo puxadas pelo Power
block.

2) Sistema com argolas tipo grampo (mosquetao): as argolas


podem ser abertas, permitindo sua retirada da carregadeira,
possibilitando assim a passagem delas pelo Power block.

3) Sistema de conexao com nos: as argolas sao conectadas


aos cabos que estao presos a rede, por meio de um no facilmente
desatavel. Nesse sistema sao utilizados dois conjuntos de argolas.
Quando as argolas estao concentradas nos pescantes, a medida que
vao sendo puxadas pelo Power block, os nos vao sendo
desconectados das argolas pelos tripulantes. Os cabos passam pelo
Power block e chegam ao conves, onde sao novamente conectados as
argolas (segundo conjunto), tambem por meio de nos. Dessa forma,
a rede fica novamente conectada as argolas, estando em posiçao
para um proximo lançamento. Esse sistema e o mais seguro, pois
evita que as argolas possam machucar algum tripulante, quando
descem do Power block para o conves.

4) Sistema de gancho: um grande gancho e colocado por


dentro de todas as argolas que estao concentradas nos pescantes,
possibilitando a retirada da carregadeira e consequentemente
passando todas as argolas para o gancho, liberando assim as argolas
para passarem pelo Power block, a medida que a rede vai sendo
puxada para o conves (Figura 61).

Tecnologia de pesca | 75
Figura 61: Os quatros sistemas de transferencia das argolas para o Power block:
guia de recolhimento, grampo (mosquetao), conexao com no e
gancho para as argolas.

Quando a rede passa pelo Power block e chega ao conves, a


tripulaçao trata de armazenar os cabos de boias para um dos bordos
e o de chumbo para o outro, enquanto as argolas vao novamente
sendo colocadas no “guia de lançamento”, ficando a rede dessa
forma, ao final do recolhimento, posicionada para um novo
lançamento.

76 | Vanildo Souza de Oliveira


No momento em que apenas o saco da rede permanece na
agua, e dado início ao recolhimento do pescado. Á retirada do
pescado do saco e realizada com o emprego de um “sarrico” (puça
gigante), puxado por um guincho. Durante o recolhimento da rede, a
panga fica puxando a embarcaçao para que a força do Power block
nao puxe a embarcaçao para dentro dela (Figura 62).

Figura 62: Recolhimento da rede pelo Power block, com o sistema de guia de
recolhimento.

Após a retirada do pescado, a extremidade da rede, que estava fixa na


proa da embarcação, é liberada, sendo puxada pelo Power block.
Finalizando assim, o armazenamento da rede na popa da embarcação,
deixando-a em posição para um novo lançamento.

Tecnologia de pesca | 77
2.2 SOLUÇÕES ECOLÓGICAS EM REDES DE CERCO PARA
MINIMIZAR DANOS AMBIENTAIS

Á utilizaçao da rede de cerco para captura de atuns e afins


teve como consequencia a captura e morte de centenas de golfinhos,
que permaneciam presos no cerco e morriam durante o
recolhimento da rede. Ápesar de poderem pular a mais de 2m fora
da agua, a permanencia dentro da rede, sem pular apenas a altura de
uma boia, ainda hoje e um misterio. Uma das explicaçoes para tal
comportamento e o instinto social dos golfinhos: como nos
cardumes existem femeas gravidas, recem-nascidos e idosos, o
instinto social manteria todos juntos.
Para tentar minimizar essa matança de golfinhos, foi
estabelecido um selo com os dizeres “Dolfinsave”. Ele atesta que
todos os golfinhos foram retirados de dentro da rede antes do
recolhimento. Para realizarem a retirada dos golfinhos, e necessaria
uma manobra chamada de “retrocesso”, ou seja, uma borda da rede e
aberta e a outra e puxada pelo barco, formando um corredor e dessa
forma permitindo que os golfinhos escapem por uma abertura na
tralha de boia, enquanto que os atuns permanecem no fundo da rede
(Figura 63). Essa operaçao envolve tripulantes (mergulhadores) e
pequenos barcos para auxiliar na saída dos golfinhos.

78 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 63: Manobra “retrocesso”, em que mergulhadores abrem uma parte da
tralha de boia da rede e libertam os golfinhos.

Tecnologia de pesca | 79
80 | Vanildo Souza de Oliveira
CAPÍTULO III

ESPINHEL

Tecnologia de pesca | 81
3.1 ESPINHEL

Esse aparelho de pesca tem como princípio de


funcionamento a captura por atraçao alimentar, com uma isca em
um anzol. Os espinheis podem ser: de fundo, meia agua e superfície,
dependendo da especie-alvo. No caso da captura de demersais, a
modalidade mais empregada e o espinhel de fundo fixo; e derivante,
para as especies pelagicas.

3.1.1 Espinhel de fundo

Tem a finalidade de capturar especies de peixes demersais, as


quais em geral agrupam-se em cardumes sobre o fundo. Dessa
forma, esse aparelho tem a capacidade de capturar em funçao do
poder de atraçao alimentar, ou seja, o fator isca e fundamental para
sua eficiencia. Á escolha da isca e determinante, ela tem que ter
grande poder de atraçao, liberando substancias capazes de atrair o
peixe a certa distancia. Á capacidade de captura das iscas diminui
com o tempo de exposiçao, pois estao submetidas, muitas vezes, a
fortes correntes no fundo, o que torna inviavel sua reutilizaçao, apos
o recolhimento, em funçao da perda de eficiencia de captura com o
tempo de exposiçao. Outro fator importante e a sua consistencia
muscular. Á flacidez muscular interfere na fixaçao da isca no anzol,
agravando-se quando lançadas em locais com fortes correntes e em
grandes profundidades, tendo como consequencia o
desprendimento da isca do anzol antes de tocar o fundo. Ela deve ter
tambem viabilidade economica, pois, dependendo da especie-alvo a
ser capturada, a isca pode ser inviavel, apesar de preencher os
outros requisitos ja mencionados. Embora seja importante, quando a
isca faz parte do habito alimentar da especie-alvo, nao e
fundamental, uma vez que o predominante e o fator atração da isca.
Mesmo que o animal jamais tenha se alimentado dela, a boa isca

82 | Vanildo Souza de Oliveira


atrai o animal a prova-la. Exemplo disso foi a isca empregada na
pesca do atum no Átlantico Sul pela frota japonesa, que utilizava um
pequeno pelagico de origem do Pacífico. O atum do Átlantico, apesar
de nunca ter contato com a isca em seu habitat, foi fortemente
atraído a saborea-la.
O espinhel fixo de fundo pode ser lastrado de varias formas. Á
mais comum para os aparelhos de pesca e a “garateia”, que e
constituída por uma barra de ferro, pedaço de trilho, ou algo similar,
com quatro vergalhoes de ferro. Tem a finalidade de, quando
prender no fundo, esses vergalhoes possam abrir e todo o material
de pesca ser recuperado. Nas jangadas artesanais, empregava-se
tambem a “fateixa”, que consiste em uma pedra presa a garras de
madeira com a finalidade de segurar a jangada. Á “ancora” que serve
para fixar as embarcaçoes com robustas garras, traria dificuldades
para lastrar aparelhos de pesca, uma vez que suas garras nao
abririam, quando presas ao fundo, ao serem içadas (Figura 64).

Figura 64: Tipos de lastros empregados em aparelhos de pesca e embarcaçoes.

Outro fator importante na pesca com espinhel de fundo e a


forma do anzol. Á capacidade de fisgar do anzol nao esta direcionada
especificamente para os peixes; as pedras de fundo prendem os
anzois, criando dificuldades durante o recolhimento, que,

Tecnologia de pesca | 83
dependendo do numero de anzois que ficam presos ao fundo, muitas
vezes, inviabiliza o recolhimento do espinhel, causando assim
grandes perdas de materiais. Uma das soluçoes encontradas para
minimizar esse problema foi o desenvolvimento de anzois circulares,
anzois com a haste voltada para dentro, diminuindo a possibilidade
de ficar preso nas pedras, ou em outros substratos do fundo (Figura
65).

Figura 65: Ánzol circular para espinhel de fundo.

O espinhel de fundo para a pesca artesanal, que atua em


embarcaçoes com media de 8m de comprimento, e um aparelho de
pesca formado por uma linha principal, linhas secundarias, cabos de
boias e de anzois, alem de lastros (Figura 66).

84 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 66: Espinhel fixo de fundo.

Ás características dos materiais que compoem um espinhel


variam de acordo com a finalidade, dependendo da area de atuaçao:
fundo, meia agua ou pelagico. Os cabos de boias geralmente sao de
materiais que flutuam, para facilitar seu manuseio e forma de
trabalho. Exemplo: polietileno (PE) ou polipropileno (PP). Á linha
principal, que tem o papel de trabalhar junto ao fundo, deve ser de
um material que afunde e tenha grande resistencia a abrasao, como e
o caso da poliamida (PÁ). Á linha secundaria pode ser confeccionada
de varias formas, dependendo da exigencia de cada situaçao. Ela
pode ser formada apenas por linha e anzol, fixada a linha principal
por meio de um no.

Tecnologia de pesca | 85
Caso o espinhel venha ao ser recolhido, com varias linhas
secundarias cortadas nas extremidades sem os anzois, deve ser
avaliada a possibilidade de colocar “estropos”, ou “empates”, pedaços
de aço ou arame ligados aos anzois, com a finalidade de evitar que o
peixe morda e corte a linha secundaria. Em caso de vir com muitas
linhas secundarias torcidas, deve-se avaliar a colocaçao de
destorcedores, dispositivo que evitar a transferencia da torçao para
o cabo seguinte. No caso em que o numero de linhas secundarias e
grande, a colocaçao de snaps (grampos que unem as linhas
secundarias a principal com certa agilidade) deve tambem ser
avaliada, pois esses snaps dao segurança e agilidade nas manobras
de lançamento e recolhimento. Ressalta-se que, quanto mais
sofisticada a linha secundaria (Figura 67), maiores serao os custos
de confecçao, portanto a avaliaçao economica deve ser feita em
funçao da especie-alvo a ser capturada.

Figura 67: Linhas secundarias, confeccionadas da forma mais sofisticada (Á)


para a mais simples (D).

86 | Vanildo Souza de Oliveira


Ás formas de armazenamento a bordo de um espinhel de
fundo na pesca artesanal sao bastante simples, podendo ser feitas
em “cestos” de plasticos, que armazenam a linha principal no centro
e as linhas secundarias que sao fixas pelos anzois nas bordas. Essa
forma exige que os anzois sejam iscados na hora do lançamento. Ja
no armazenamento em caixas, equipadas com uma calha lateral, a
linha principal e armazenada no centro, e as linhas secundarias sao
armazenadas na calha, com a vantagem de ja estarem iscadas,
facilitando assim o lançamento (Figura 68). Cada caixa ou cesto pode
armazenar em media 200 anzois.
Geralmente o espinhel de fundo para peixes demersais, na
pesca artesanal, e composto por uma linha principal com diametro
em torno de 3 mm, preferencialmente de poliamida, mono ou
multifilamentos. Ás linhas secundarias normalmente sao de
poliamida, monofilamento, com diametro entre 0,8 e 1,4 mm. Isso
implica que o somatorio dos comprimentos das duas linhas
secundarias nao pode ser igual ou maior que a distancia entre elas,
para evitar que os anzois se toquem durante o lançamento e
recolhimento.
Nos espinheis para captura de peixes de fundo, geralmente,
as linhas secundarias tem o comprimento de 0,9-1,20 metros,
dependendo da especie a ser capturada. Para o armazenamento em
caixas, ou cestos, as linhas secundarias devem ser conectadas
diretamente a linha principal, uma vez que, nessa modalidade de
pesca, as linhas estao muito proximas, e essa forma permite mais
agilidade tanto no lançamento quanto no recolhimento.

Tecnologia de pesca | 87
Figura 68: Formas de armazenamento de espinhel de fundo “a” em caixa com
calha lateral e “b” em um cesto com os anzois na borda.

88 | Vanildo Souza de Oliveira


3.1.1.1 Lançamento

O posicionamento do espinhel no conves da embarcaçao deve


ser em funçao da corrente marítima e vento. Quando vem de
bombordo, o espinhel deve ser lançado por esse bordo. O
lançamento por boreste teria como consequencia a passagem do
espinhel por baixo do casco da embarcaçao e grande possibilidade
de enganchar os anzois no casco. Na preparaçao para o lançamento,
deve-se determinar o comprimento do cabo de boia em uma
proporçao em funçao da profundidade, principalmente em locais
que sofrem grandes oscilaçoes entre as mares. Geralmente emprega-
se a relaçao de 1:2, em regioes de fortes correntes ate 1:3 na
determinaçao do comprimento do cabo de boia.
Ápos determinar o comprimento do cabo de boia, ele e
conectado a uma garateia (lastro) em uma de suas extremidades. Á
linha principal do espinhel e conectada ao cabo de boia por meio de
um no, na altura determinada em relaçao ao fundo. Nessa operaçao
emprega-se, no mínimo, 3 indivíduos, alem do mestre, que nao
participa da operaçao, mas tem o papel fundamental no controle da
velocidade e posicionamento do barco durante as manobras.
Dessa forma, o indivíduo numero 1, juntamente com o 3,
começam a lançar o espinhel, sendo que o numero 3 fica com toda a
tensao do peso do cabo de boia, que esta conectado a garateia e
lentamente vai lançando ela ate chegar no fundo. Enquanto isso, o
numero 1 lança os anzois na agua, ao mesmo tempo em que o
numero 2 segue retirando os anzois da caixa. Quando a garateia toca
o fundo, o numero 3 lança a boia ao mar, ficando assim a tensao na
linha principal do espinhel com o indivíduo numero 1, o que exige
muita atençao nessa hora, principalmente se o anzol for iscado no
lançamento (Figura 69). No caso de ser o lançamento em cestos, o
numero 2 isca os anzois antes de entrega-los para o indivíduo
numero 1. No modelo de espinhel em caixas com calha lateral, em

Tecnologia de pesca | 89
que os anzois ja estao iscados, seu lançamento e mais seguro
minimizando riscos de acidentes durante o lançamento.

Figura 69: Posicionamento da tripulaçao durante o


lançamento, tensao na mao do indivíduo numero 3 (a) e apos a
garateia tocar o fundo (b).

90 | Vanildo Souza de Oliveira


Quando uma caixa ou cesto se aproxima do final, a
extremidade final da linha principal e conectada ao início da
extremidade da linha principal da proxima caixa ou cesto.
Dependendo da area, em cada uniao de caixas ou cestos pode ser
conectada uma garateia, podendo tambem ser colocado um cabo de
boia. Quanto ao tempo de exposiçao de pesca do espinhel, deve ser
considerado o tempo de captura da especie-alvo, em funçao de sua
sensibilidade quanto a perda de qualidade apos a morte, uma vez
que existem especies que se deterioram rapidamente. Portanto, esse
período deve ser regulado pela exigencia da especie, em media 5
horas.
Ressalta-se que o lançamento do espinhel de fundo pode ser
realizado por ambos os bordos e tambem pela popa. Nesse ultimo
caso, a tripulaçao tem que estar bem treinada, pois o lançamento
tem que ser realizado com o motor em marcha.

3.1.1.2 Recolhimento

Inicia-se com a localizaçao da boia sinalizadora, que pode ser


visualmente, ou pelo emprego de GPS. Quando em areas de grande
circulaçao de embarcaçoes, nao sao recomendadas boias, por
questoes de segurança; os espinheis sao localizados, exclusivamente,
por meio do GPS e sao recuperados com uma garateia mais leve,
realizando arrasto na area ate alcançar a linha, um cabo de PP ou PE
que flutua.
O indivíduo numero 4 (comandante), durante essa operaçao,
sempre mantem um angulo entre a proa da embarcaçao e a linha
principal do espinhel, com a finalidade de sempre observar o que
esta sendo embarcado, evitando assim possíveis acidentes. No
recolhimento, o indivíduo numero 1 recolhe a linha principal,
enquanto o numero 2 a armazena na caixa ou cesto, colocando os

Tecnologia de pesca | 91
anzois na mesma ordem de chegada na caixa. O numero 3 recolhe os
cabos de boias e da suporte ao numero 1, na retirada do pescado,
anzois, ou iscas nao consumidas, realizando essa sequencia ate o
final do espinhel (Figura 70).

Figura 70: Posicionamento da tripulaçao durante o recolhimento.

3.1.2 Espinhel de fundo em sistema industrial

Essa modalidade de pesca envolve embarcaçoes de grande


porte, que trabalham com milhares de anzois e, por isso, necessitam
de alto nível de mecanizaçao, tanto no lançamento do espinhel como
no recolhimento, pois, quanto maior o numero de anzois, maior deve

92 | Vanildo Souza de Oliveira


ser o nível de mecanizaçao. Essas embarcaçoes possuem sistemas
que lançam e iscam os anzois automaticamente. Á maquina de
iscagem funciona com iscas ja cortadas, fazendo com que, ao passar
por uma calha, o anzol que esta sendo lançado seja iscado. O
recolhimento tambem e automatizado: quando a linha principal e
recolhida, a linha secundaria ja entra em uma calha guia, que vai
armazenando os anzois, de forma que estejam prontos para serem
iscados pela maquina e novamente durante o lançados ao mar
(Figura 71).

Figura 71: Maquina automatica de iscar em espinhel industrial.

3.1.3 Espinhel pelágico

Esta modalidade de pesca e empregada na captura de


pelagicos, tambem chamado de espinhel longline, principalmente na
captura de atuns e afins. Ele deriva de acordo com a velocidade das
correntes (Figura 72). No Brasil, essa pratica teve início no final da
decada dos anos 50, com a frota japonesa operando na cidade de
Recife-PE. Inicialmente, os espinheis eram constituídos com cabos
de multifilamento de polivinil alcool (PVÁ), com diametros na linha
principal de 6mm e 3mm na linha secundaria. Esses cabos eram
pesados e ocupavam muito espaço, alem de a linha secundaria estar

Tecnologia de pesca | 93
conectada diretamente a linha principal, por meio de nos, o que
aumentava o risco de acidentes durante o lançamento. Com o
desenvolvimento dos produtos sinteticos, a linha principal de
multifilamento foi substituída por monofilamento de poliamida
(nylon), com diametro entre 3-4 mm para linha principal e 2 mm
para a linha secundaria, possibilitando o armazenamento de um
maior volume em menor espaço, sendo armazenado em carreteis, ou
tambores.

Figura 72: Espinhel longline pelagico.

94 | Vanildo Souza de Oliveira


Outra inovaçao foi a introduçao dos Snaps (Figura 73), que
possibilitaram a conexao da linha secundaria com a principal apenas
na hora do lançamento, eliminando, assim, praticamente acidentes
durante essa açao, uma vez que a conexao com a linha principal so e
realizada apos o anzol iscado ser lançado ao mar.

Figura 73: Snap com destorcedor; serve para conectar a linha secundaria a
principal.

Em funçao do grande comprimento desse tipo de espinhel,


em torno de 100 km na pesca industrial, existem varios tipos de
boias para facilitar a localizaçao no oceano: “boia bala” de
poliuretano, “boia redonda” de PVC, “boia luz” e “boia com bandeira
de sinalizaçao”, que sao usadas na localizaçao visual. Na localizaçao
por meios eletronicos, sao usadas “boias radio”, que emitem ondas
de radio, possibilitando a localizaçao de sua frequencia por meio de
um aparelho denominado radio goniometro. Cada boia tem uma
frequencia individual, que so pode ser detectada pela embarcaçao
que detem essa frequencia. Álem da “boia satelite”, que emite sua
posiçao para o satelite, a qual e enviada para o barco ou para a
empresa, que repassa para a embarcaçao (Figura 74).

Tecnologia de pesca | 95
Figura 74: Tipos de boias utilizadas em espinhel longline.

O comprimento das linhas secundarias depende muito das


especies que sao alvos das capturas, pois os atuns geralmente
seguem as termoclinas, ocupando assim um grande gradiente
vertical. Dessa forma, dependendo da especie, elas podem ser
encontradas acima ou abaixo do início da termoclina, fazendo com
que as linhas secundarias variem muito em comprimento, que pode
ter de 18m a 40m. Sao constituídas geralmente de nylon,
monofilamento, com fio em torno de 2 mm de diametro. Para maior
velocidade nas operaçoes de lançamento e recolhimento possuem:
snap, destorcedor, podendo ter “estropo” de aço antes do anzol
(Figura 75).

96 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 75: Espinhel longline pelagico, com detalhe da linha secundaria.

No Brasil, tivemos o processo de arrendamento de


embarcaçoes estrangeiras, medida tomada por nao termos uma frota
nacional que atenda as nossas demandas de captura de atuns e afins.
Os contratos entre empresas brasileiras e estrangeiras foram
realizados com a finalidade de obter a nossa cota de captura a que
temos direito como membro da Comissao Internacional para a
Conservaçao do Átum do Átlantico – ICCÁT. Dessa forma, ja tivemos
no Brasil as seguintes frotas atuneiras: chinesa, coreana, espanhola e
japonesa, operando juntamente com empresas nacionais ou nao.
Cada frota possui particularidades no objetivo das capturas,
como os espanhois, que dirigem suas capturas para o Xiphias gladius
— o Meka. Para esse objetivo, a frota realiza o lançamento a noite,
utilizando atratores luminosos denominados lightsticks, que consiste
em duas substancias fosforescentes (luciferina e luciferase), que,
quando misturadas, produzem fosforescencia por 24 ou 72 horas.
Outro atrator luminoso e o electralume, que funciona com duas
baterias alcalinas, as quais podem ser substituídas quando

Tecnologia de pesca | 97
descarregam. Esses atratores luminosos possuem varias tonalidades
de cores e, ao contrario do lightsticks, poluem menos, pois suas
baterias nao rompem facilmente (Figura 76).
Á atraçao do peixe Meka Xiphias gladius pela luz foi
constatada inicialmente por pescadores cubanos, quando
descobriram que quando colocavam fogo em latas com oleo diesel,
como boias, em seus espinheis para poderem acompanha-los
durante a noite. Observaram que a maioria dos anzois juntos as
boias luminosas capturavam Mekas, daí o desenvolvimento de
atratores luminosos. Ás frotas que operam direcionadas para os
atuns (albacoras), a exemplo da chinesa, diferentemente das que
capturam Meka, fazem o lançamento de forma que o espinhel atue
durante o dia, sendo recolhido no final da tarde, nao necessitando o
uso de atratores luminosos.

Figura 76: Átratores luminosos nas linhas secundarias de espinhel longline

98 | Vanildo Souza de Oliveira


Átualmente a pesca oceanica de pelagicos possui uma
dependencia muito grande de equipamentos eletronicos. Existem
varios softwares que oferecem informaçoes oceanograficas, que
possibilitam economia e tempo para as frotas. Informaçoes como:
correntes, direçao do vento, temperatura de superfície, termoclina e
concentraçao de clorofila, dentre outros, possibilitando, assim, a
identificaçao de uma possível ocorrencia de peixes em determinadas
areas, dependendo da especie.
Esses serviços sao prestados por empresas especializadas, as
quais sao pagas anualmente, permitindo que a embarcaçao receba
essas informaçoes atraves dos softwares. Por isso, atualmente e
necessario a capacitaçao da tripulaçao para operar com essas
inovaçoes tecnologicas, que fazem todo o diferencial na produçao de
pelagicos oceanicos.
Ás manobras de lançamento de um espinhel pelagico vao
depender do grau tecnologico que as embarcaçoes empregam. Por
exemplo, o numero de pescadores no lançamento e recolhimento de
uma embarcaçao chinesa e muito maior que o de uma japonesa, ou
espanhola, onde o fator mão de obra influencia diretamente na
rentabilidade da pescaria.
Dessa forma, descreveremos as manobras em uma
embarcaçao com o sistema de linha principal constituída por
monofilamento, a qual e armazenada em tambores hidraulicos.
Á linha principal e constituída por um fio de nylon,
geralmente em torno de 3 a 4 mm de diametro. Para determinar os
espaços entre as linhas secundarias, emprega-se um mecanismo,
onde previamente e definido o intervalo de tempo entre as linhas
secundarias durante o lançamento, equivalente em metros entre
elas. Cada intervalo, entre as linhas secundarias , e indicado com um
sinal sonoro.
Á cada sinal, uma linha secundaria e conectada a linha
principal, e a cada dois sinais, uma boia. Dessa forma, os samburas

Tecnologia de pesca | 99
(espaço entre duas boias) sao formados, geralmente, com mínimo de
cinco linhas secundarias.
Para acompanhar a velocidade da embarcaçao, a linha
principal e lançada por um canhao de lançamento, localizado na
popa da embarcaçao (dispositivo que lança a linha principal,
programado com a velocidade de lançamento, em funçao da
velocidade do barco).

3.1.3.1 Lançamento

Lança-se inicialmente a boia radio, estando a embarcaçao


com velocidade media de 6 nos. Os tripulantes posicionam-se da
seguinte forma: indivíduo numero 1 retira a linha secundaria da
caixa, coloca grande parte do comprimento, dessa linha fora da
embarcaçao, isca o anzol e coloca o atrator luminoso. Em seguida
entrega ao numero 2, que pega o snap da linha secundaria com a
mao direita e o anzol iscado com a mao esquerda.
Quando ocorre o sinal sonoro, ele lança o anzol ao mar e so
depois conecta a linha secundaria a linha principal (Figura 77). Áo
soar o sinal duplo, o indivíduo 3 lança a boia ao mar e em seguida
conecta o snap da linha de boia a linha principal. O indivíduo numero
4 retira os cabos de boia do tambor de armazenamento, enquanto o
5 abastece a caixa de isca. Ressalta-se que toda a tripulaçao reveza
esses posicionamentos. Áo final do lançamento, e colocada a ultima
boia radio.

100 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 77: Sequencia do posicionamento da tripulaçao no lançamento de um
espinhel logline.

Tecnologia de pesca | 101


3.1.3.2 Recolhimento

Inicia-se com a localizaçao da primeira boia radio; em


seguida, ela e recolhida, e a linha principal e colocada no guincho de
recolhimento, que tem a velocidade controlada pelo indivíduo
numero 1. Quando uma linha secundaria se aproxima da borda da
embarcaçao, a velocidade do guincho de recolhimento e reduzida,
sendo desconectada pelo numero 2, que a recolhe manualmente e a
armazena. Em certas embarcaçoes, que usam longas linhas
secundarias, existe o guincho, específico de recolhimento dessa
linha. Quando ocorre uma captura, a linha secundaria e repassada
para os indivíduos 3, 4 e 5, que se encarregam de içar o peixe para
bordo — dependendo do tamanho, podem ser utilizados bicheiros
(tipo de gancho sem barbela com um cabo de madeira) para fisgar o
peixe e puxa-lo para bordo; anilha eletrica, a qual e colocada na linha
secundaria, chegando ate a cabeça do peixe, que, apos receber uma
descarga eletrica, e embarcado sem se debater; e tesoura, que e
utilizada para os grandes pelagicos e, quando disparada, prende o
corpo do peixe, permitindo o seu embarque.
Os indivíduos 6 e 7 ficam encarregados da evisceraçao e
armazenamento dos peixes nas camaras frigoríficas (Figura 78).
Ressalta-se que o numero de tripulante variam em funçao do nível
tecnologico da embarcaçao, ou do custo com mao de obra.
Quanto mais valiosa a especie, mas cuidado deve-se ter na
limpeza, evisceraçao e armazenamento, a exemplo de uma albacora
bandolim Thunnus obesus e laje Thunnus albacares que necessitam
chegar com uma boa qualidade, principalmente, quando sao
destinadas ao mercado de consumo de Sashimi em restaurantes.
Ápos a retirada total de vestígio de sangue da cavidade abdominal, a
albacora e embalada em um saco, para evitar contato direto com os
outros, e geralmente e colocada no gelo, ou salmoura, enquanto a
albacora branca Thunnus alalunga, que e utilizada na industria de
enlatamento, apos eviscerada e congelada, logo apos o embarque.

102 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 78: Operaçao de recolhimento do espinhel longline.

Tecnologia de pesca | 103


3.2 SOLUÇÕES ECOLÓGICAS EM ESPINHEL LONGLINE
PARA MINIMIZAR DANOS AMBIENTAIS

Um dos danos causados ao meio ambiente pelo espinhel


longline e sua fauna acompanhante, que sao geralmente especies nao
alvos da captura, como: tubaroes, tartarugas e aves. Na tentativa de
minimizar os impactos da fisgada do anzol nas especies nao
desejadas, utiliza-se a substituiçao do anzol tipo “J” pelo anzol
circular (Figura 79), pois esse ultimo apresenta maior facilidade ao
ser retirado, possibilitando o retorno do animal ao mar ainda vivo,
principalmente no caso de captura de tartarugas. Álem de promover
um maior tempo de sobrevivencia das especies-alvo, apos serem
capturadas.

Anzol tipo J Anzol circular

Figura 79: Ánzois J e circular.

Outro problema na pesca com longline e a captura de aves


durante o lançamento. Elas mergulham atras das iscas, pois a
transparencia das aguas oceanicas e grande, permitindo que elas

104 | Vanildo Souza de Oliveira


localizem as iscas durante o lançamento do espinhel e fiquem
fisgadas nos anzois. Na tentativa de minimizar esse problema, foram
desenvolvidos espantadores, que tem o mesmo princípio de
espantar aves na agricultura: funcionam com varias fitas,
penduradas em cabos na popa da embarcaçao. Ás fitas podem ser de
tecido, ou plasticos, denominadas de espantadores, ou Tory line, que
funcionam espantando as aves para que nao se aproximem da area
de lançamento (Figura 80). Outra alternativa e o dispositivo de
lançamento por submersao do longline: trata-se de uma calha de
alumínio que conduz a linha principal ate uma determinada
profundidade fora do alcance das aves (Figura 81). Outra forma de
evitar a captura de aves e banhar as iscas em corantes azuis, usados
na culinaria como a anilina, diminuindo assim a visibilidade da isca
na agua azul do oceano. Como medida drastica, em algumas regioes
o lançamento do espinhel so e permitido a noite, quando a atividade
de aves e mínima. Recentemente, testes com emissao de raios laser
na popa da embarcaçao, que emitem cores e diferentes formatos na
agua, vem tendo bons resultados no afastamento das aves.

Figura 80: Espantadores Tory line na popa da embarcaçao durante o


lançamento do espinhel.

Tecnologia de pesca | 105


Figura 81: Dispositivo de submersao, utilizado para liberar a linha principal em
uma profundidade fora do alcance das aves.

106 | Vanildo Souza de Oliveira


CAPÍTULO IV

REDES DE EMALHAR

Tecnologia de pesca | 107


4.1 REDES DE EMALHAR DE FUNDO EM EMBARCAÇÕES
ARTESANAIS

Esse aparelho de pesca pode ser empregado desde o mais


simples modo, como lançamento e recolhimento na mare baixa sem
necessidade de embarcaçao, ate metodos mecanizados empregados
na pesca industrial. Por essas características, a rede de emalhar e um
dos aparelhos mais abundantes na pesca, principalmente, na
artesanal.
E um apetrecho que pode capturar o peixe de varias formas:
pelas mandíbulas, pelo operculo, pela maxima circunferencia do
corpo, enrredamento e por ensacamento entre dois tipos de malhas
diferentes, nas redes tipo transmalho. Ás redes de emalhar podem
ser: fixas, de fundo, meia agua e superfície, ou de deriva que seguem
o sentido da corrente.
Á capacidade de emalhe esta relacionada com o diametro do
fio e o coeficiente de entralhamento da rede. Uma rede com fio muito
fino e coeficiente de entralhe alto torna-se mais transparente, no
entanto fragil. Uma rede com fio muito grosso e coeficiente de
entralhe baixo, torna-se resistente, porem mais visível. Á eficiencia
de captura de uma rede de emalhar esta justamente em encontrar a
otimizaçao entre resistencia e transparencia.
Ás manobras de pesca deste apetrecho sao bastante simples,
tanto na pesca artesanal como na industrial. De uma forma geral, as
redes de fundo sao fixadas com garateias (lastros) conectadas a
cabos de boias e boias de sinalizaçao (Figura 82).

108 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 82: Rede de emalhar de fundo.

4.1.1 Lançamento

Á rede de emalhar e colocada em um dos bordos da


embarcaçao, de acordo com a direçao da corrente ou vento. O
lançamento e realizado no sentido da corrente ou vento, deixando a
embarcaçao a deriva. Nessa operaçao, sao necessarios dois
indivíduos, um em cada tralha da rede, alem de um terceiro para
lançar cabos de boias e garateias.
Inicialmente, as tralhas, ou cabos de boia e chumbo da rede
sao conectadas ao cabo da boia, na altura predeterminada em
relaçao ao fundo, e em seguida sao lançadas simultaneamente ao
mar. Toda a tensao do peso da garateia, durante o lançamento,
concentra-se no cabo de boia ate quando a garateia alcança o fundo,
so entao a boia de sinalizaçao e lançada ao mar. O lançamento da
rede continua sendo feito pelos dois indivíduos, sempre com um
liberando a tralha de boia e o outro a de chumbo, o terceiro e
responsavel pelos cabos de boias tambem ajuda no lançamento
(Figura 83). Dependendo do nível de integraçao da tripulaçao, essa
manobra tambem pode ser realizada pela popa. Á rede de emalhar,

Tecnologia de pesca | 109


ao ser lançada, ja deve estar conectada com a proxima, resultando
em uma sequencia de redes unidas por nos.

Figura 83: Lançamento de uma rede de emalhar em sistema artesanal, vista de


topo Á e lateral B.

110 | Vanildo Souza de Oliveira


4.1.2 Recolhimento

Á boia, juntamente com o cabo de boia, e recolhida pelo


terceiro indivíduo, em seguida o primeiro e o segundo começam a
içar a rede, sendo um puxando a tralha de boia e o outro a de
chumbo. O terceiro, durante o recolhimento, fica ajudando na
retirada do pescado da rede quando necessario — lembrando que
sempre a rede deve fazer um angulo com a proa da embarcaçao para
que o mestre da embarcaçao veja o apetrecho entrar no conves
(Figura 84). O recolhimento sempre deve ser realizado contra a
corrente, ou vento, para que, em uma emergencia, sempre a
embarcaçao possa dar marcha a frente, diminuindo a tensao nas
tralhas de boia e chumbo da rede.

Tecnologia de pesca | 111


Figura 84: Recolhimento da rede de emalhar em sistema artesanal.

4.2 REDE DE EMALHAR EM EMBARCAÇÃO INDUSTRIAL

No Brasil, a frota industrial de embarcaçoes com redes de


emalhar, na sua maior parte, esta concentrada na regiao Sul. Essas
embarcaçoes realizam suas manobras de recolhimento das redes
empregando guinchos. Á rede e armazenada na popa da embarcaçao,
em um cercado com grades de alumínio em toda a borda da popa,

112 | Vanildo Souza de Oliveira


permitindo que, quando a rede seja lançada, nao emalhe, ou
enganche. Álgumas redes de emalhar na pesca industrial tem uma
característica de usar cabos de boia com flutuador interno e cabos
de chumbo com chumbo interno, tambem denominado de alma de
chumbo (Figura 85), com o objetivo de que a panagem da rede nao
enganche em nenhuma extremidade durante o lançamento, que e
realizado em alta velocidade. No entanto, algumas embarcaçoes
utilizam redes com as tralhas tradicionais com boias e chumbos.

Figura 85: Detalhes internos dos cabos de boias e de chumbos nas


tralhas em uma rede de emalhar industrial.

4.2.1 Lançamento

Na popa da embarcaçao, e lançada a garateia com o cabo de


boia, onde estao conectadas as tralhas de boias e de chumbo; em
seguida, a panagem da rede vai sendo lançada, sozinha pela popa, a

Tecnologia de pesca | 113


medida que o barco vai se deslocando, puxada pelo peso da garateia
e pelo peso da rede na agua (Figura 86).

4.2.2 Recolhimento

O recolhimento e realizado com o içamento da boia de


sinalizaçao e em seguida da rede, que passa pela rampa de alumínio,
na borda da embarcaçao, que tem a finalidade de evitar que a
panagem da rede se emalhe ou enganche na borda. Em seguida, a
rede passa pelo guincho de recolhimento, no qual ela e puxada e
segue em direçao a entrada da tubulaçao de PVC. Caso haja algum
pescado, ele e retirado antes de entrar no tubo. Á rede entra pela
tubulaçao, por onde e puxada pela tripulaçao, ou por um pequeno
Power block, localizado na extremidade do tubo de PVC, na popa da
embarcaçao. Á medida que a rede sai do tubo, ela vai sendo
armazenada pela tripulaçao (dois indivíduos), de forma que fique
pronta para um novo lançamento (Figura 87).

114 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 86: Lançamento da rede de emalhar industrial.

Tecnologia de pesca | 115


Figura 87: Recolhimento da rede de emalhar em embarcaçao industrial.

116 | Vanildo Souza de Oliveira


4.3 SOLUÇÕES ECOLÓGICAS EM REDES DE EMALHAR
PARA MINIMIZAR DANOS AMBIENTAIS

Um dos danos ecologicos causados pelas redes de emalhar e


a captura de cetaceos, que, apesar de navegarem empregando
sistema de detecçao sonora, nao conseguem detectar as panagens
das redes, emalhando-se, o que, na maioria das vezes, leva a morte
do animal. Uma das alternativas empregadas e a colocaçao de
dispositivos com emissores sonoros, denominados de pinger, que,
quando colocados nas tralhas das redes de emalhar, emitem uma
frequencia sonora detectada pelos cetaceos (Figura 88). Esses
dispositivos ainda estao em fase de testes, em funçao da grande
variaçao de frequencia sonora existente entre as especies. Outra
alternativa e a utilizaçao de panagens das redes banhadas com
produtos químicos, a exemplo de sulfato de bario, permitindo a
reflexao do som, sendo detectado assim pelo cetaceo (Figura 89).

Figura 88: Pingers colocados na tralha da rede emalhar, emitindo uma


frequencia que espanta os cetaceos.

Tecnologia de pesca | 117


Figura 89: Panagens banhadas com “sulfatos de bario”, possibilitando a
detecçao da rede pelos cetaceos.

Existem outras experiencias sendo ainda pesquisadas, como


a colocaçao de pontos luminosos lightsticks, distribuídos nas tralhas,
para que cetaceos e quelonios consigam identificar a rede.

118 | Vanildo Souza de Oliveira


CAPÍTULO V

COVOS

Tecnologia de pesca | 119


5.1 COVOS

Sao armadilhas moveis que podem capturar peixes,


crustaceos e moluscos. Tem o princípio de funcionamento
denominado de “nao retorno”, cuja finalidade e nao permitir o
retorno do indivíduo quando ele entra no covo. Á forma da entrada
do covo, denominada de “sanga”, depende muito do objetivo da
captura, possuindo formas distintas em funçao das formas das
especies: peixes, crustaceos ou moluscos (Figura 90). Ássim como o
corpo do covo, a sanga pode ser confeccionada com material
sintetico ou vegetal. Os indivíduos podem ser atraídos para dentro
do covo por necessidades alimentares, quando da colocaçao de iscas,
ou simplesmente refugio na procura de um lugar para se esconder
de predadores.

Figura 90: Varios tipos de sangas em covos.

Essa modalidade de pesca e praticada tanto pela pesca


artesanal, na Plataforma Continental, como pela pesca industrial, em
grandes profundidades. Na pesca artesanal, os covos podem ser para
a captura de peixes ou de crustaceos. Os covos podem possuir uma
ou mais sangas. Os de crustaceos possuem, geralmente, a sanga com

120 | Vanildo Souza de Oliveira


a abertura horizontal (lagostas) ou no topo do covo (caranguejo de
profundidade), voltada para baixo.
No Brasil, a pesca para captura de lagostas com covo estende-
se do Estado do Para ate o Espírito Santo. E uma atividade
basicamente artesanal e trabalha com covos com estruturas de
madeira, ou ferro com panagens sintetica, ou vegetal. Á pesca da
lagosta com covos e mais empregada na plataforma continental do
Nordeste, onde a pesca artesanal atua com embarcaçoes, a vela, ou
motorizadas sem guinchos mecanicos, empregando covos menores,
com duas sangas, denominados de “cangalha” (Figura 91). Essas
embarcaçoes realizam os lançamentos e recolhimentos
manualmente, por isso atuam em profundidades, geralmente,
menores que 20m.
Na pesca de lagosta com embarcaçoes motorizadas, que
utilizam guinchos hidraulicos (talhas), ou mecanicos no
recolhimento, empregam-se covos maiores denominados de manzua
(Figura 92), geralmente confeccionados com estruturas de madeira
ou ferro, com telas plasticas ou panagens sinteticas. Essa modalidade
de pesca com manzua ja foi constituída por embarcaçoes
consideradas industriais, mas atualmente limita-se a embarcaçoes
consideradas artesanais motorizadas.
Ás manobras com covos na pesca artesanal sao simples e
permitem que pequenas embarcaçoes possam ser utilizadas, desde a
jangada a vela, empregando covo tipo cangalhas ate barcos
motorizados empregando covos, ou manzua. O tamanho da
embarcaçao e que vai limitar o numero de covos, uma vez que uma
grande area no conves e ocupada por eles. Á isca utilizada
geralmente sao carcaças de peixes, vísceras ou gordura de porco. Ás
iscas, alem de viaveis economicamente, tem que ter um elevado
poder de captura para atrair o pescado para dentro do covo.

Tecnologia de pesca | 121


Figura 91: Cangalha, com duas sangas, tipo de covo empregado na pesca
artesanal de lagosta.

Figura 92: Covo, ou manzua, para captura de lagosta.

Na pesca de crustaceos de profundidade, como a do


caranguejo do genero Chaceon, que pode ser realizada em
profundidades ate 1.000m, os covos sao diferentes tanto no tamanho
quanto na forma (Figura 93). Essa modalidade de pesca considerada
industrial foi realizada na Regiao Sul do Brasil.

122 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 93: Covo em forma de tronco de cone para captura de caranguejo de
profundidade.

5.1.1 Lançamento

O lançamento e realizado, na pesca artesanal, estando os


covos armazenados no conves, onde sao retirados e lançados ao mar
(Figura 94). Dependendo da estrutura do barco, os eles podem ser
conectados, um ao outro, por meio de cabos, denominados de
“Canga” (Figura 95), ou em sistema de espinhel, quando o
recolhimento e realizado com a talha hidraulica (Figura 96). Ápos
chegar a area de pesca, lança-se a boia conectada ao cabo de boia e
em seguida os covos em sistema de cangas, em media com tres
covos, quando recolhido manualmente, e em numero maior, quando
recolhido com a talha hidraulica.

Tecnologia de pesca | 123


Figura 94: Lançamento das cangas de covos.

Figura 95: Canga, grupo de tres covos, ou mais.

124 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 96: Sistema de espinhel com covos tipo manzua, quando recolhido com
talha hidraulica.

5.1.2 Recolhimento

E realizado em funçao do numero de dias em que os covos


permanecem pescando. Geralmente os pescadores despescam certa
quantidade de corvos todos os dias, de forma que sempre deixam
covos na agua para serem despescados diariamente, uma vez que o
local de pesca e muito proximo da costa.
Os barcos que possuem talha hidraulica podem colocar mais
covos e operar em maiores profundidades, areas tais nao acessíveis
para os barcos que recolhem os covos manualmente. No
recolhimento com a talha, o sistema e o de espinhel; a medida que a
linha principal vai sendo içada, as linhas secundarias, cada uma
delas com um covo, vao sendo desconectadas, ao mesmo tempo em

Tecnologia de pesca | 125


que os covos sao armazenados no conves (Figura 97). Os covos sao
novamente iscados, ficando prontos para o proximo lançamento.
Caso haja lagosta, ela e retirada e armazenada.
Na pesca industrial para caranguejos de profundidade, o
sistema empregado tambem e o espinhel, com as mesmas manobras
de lançamento e recolhimento podendo, em um “sambura”
(distancia entre duas boias), ter varios covos (Figura 98).

Figura 97: Recolhimento dos covos com a talha hidraulica e disposiçao dos
covos no conves depois do recolhimento.

126 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 98: Sistema de covos de caranguejo de profundidade na pesca
industrial.

5.2 SOLUÇÕES ECOLÓGICAS EM COVOS PARA MINIMIZAR


DANOS AMBIENTAIS

Os covos, apesar de serem mais seletivos do que as redes,


tambem capturam fauna acompanhante, em menor escala e
principalmente indivíduos juvenis da especie-alvo, com tamanho
menor que o permitido. Para minimizar esses impactos, atualmente
sao empregados janelas de exclusao, obrigatorias em varios países.
Essas janelas permitem que os indivíduos menores possam escapar,
assim como a fauna acompanhante. Elas podem ser retangulares no

Tecnologia de pesca | 127


sentido horizontal, vertical ou circular, dependendo da especie-alvo
(Figura 99).

Figura 99: Janelas de exclusao “horizontal” para lagostas juvenis e “vertical”


para peixes.

128 | Vanildo Souza de Oliveira


CAPÍTULO VI

PESCA DE LULAS COM ATRAÇÃO


LUMINOSA

Tecnologia de pesca | 129


6.1 CAPTURA DE LULAS

Certas especies que habitam o oceano, desde o microplancton


ate o macro, possuem atraçao ou repulsao em relaçao a luz. Ás
especies que sao atraídas pela luz possuem a fototaxia positiva; ja as
que afastam-se possuem a fototaxia negativa. Á utilizaçao da luz na
atividade pesqueira vem sendo desenvolvida desde utilizaçoes de
fachos ou tochas ate os sistemas eletricos atuais.
Na pesca com atraçao luminosa industrial, sistemas com
lampadas sao empregados na concentraçao de especies, que, na
maioria das vezes, ao se concentrarem, atraem os predadores
maiores, que sao geralmente alvo da pescaria.
No Brasil, as lulas apesar de ocorrerem, nao sao encontradas
em grandes concentraçoes que viabilizem a exploraçao por uma
frota industrial, a exemplo de como e realizado na Árgentina, onde
existe uma frota dirigida para a captura de lulas com atraçao
luminosa. Essas embarcaçoes sao caracterizadas por possuir, no
conves, grande quantidade de lampadas, cada uma podendo alcançar
ate mais de 1000 Watts. Elas tem a finalidade de atrair as lulas para
serem capturadas, quando tentam capturar iscas artificiais na zona
iluminada.
Ás iscas artificiais sao fixas em uma linha principal com
intervalos entre elas, sao constituídas de estruturas de plasticos
pintadas com tinta fosforescente e varios ganchos sem barbelas, que,
quando atacadas, cravam-se nas lulas (Figura 100).

130 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 100: Iscas artificiais para captura de lulas.

No caso da pesca de lulas, elas nao sao atraídas pela luz, uma
vez que possuem a fototaxia negativa; elas vao em busca das suas
presas, que sao atraídas pela luz. Á colocaçao das lampadas no
conves da embarcaçao deve ser em uma posiçao na qual embaixo da
embarcaçao fique sem iluminaçao, proporcionando condiçao para

Tecnologia de pesca | 131


que as lulas fiquem protegidas da luz. E, ao mesmo tempo, em
posiçao estrategica para realizar o ataque as iscas artificiais, que
devem estar bem visíveis, na area iluminada, uma vez que essas iscas
sao feitas com materiais fosforescentes, atraindo as lulas (Figura
101).

Figura 101: Posicionamento das lulas em relaçao as iscas artificiais.

Ás maquinas que capturam as lulas pescam automaticamente


lançando e recolhendo uma linha principal com varias iscas
artificiais. Como o tambor de armazenamento da linha principal tem
o eixo excentrico; ele, ao liberar ou recolher a linha, realiza um
movimento para cima e para baixo. Esse movimento simula os
movimentos da isca, tanto na subida como na descida, o que provoca
o ataque das lulas (Figura 102).

132 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 102: Maquina automatica de lançamento e recolhimento das iscas
artificiais na pesca de lulas.

Em uma embarcaçao industrial, muitas vezes, no conves so se


observam maquinas, que podem pescar toneladas em questao de
horas. Essas embarcaçoes sao equipadas com geradores específicos
para gerar energia em watts, necessarios para a quantidade de
lampadas projetadas. Para se manter em cima dos cardumes, as
embarcaçoes possuem ancoras flutuantes, que tem a finalidade de
diminuir a velocidade de deriva da embarcaçao. Ássim como uma
vela estabilizadora na popa, (Figura 103). O reflexo das luzes na
superfície do mar de uma frota pesqueira com atraçao luminosa e
tao intenso que, no início da exploraçao dos estoques de lulas na
Árgentina, a Nasa, apos analisar fotos de satelites da superfície do
mar, questionou o que era aquela cidade dentro do oceano.

Tecnologia de pesca | 133


Figura 103: Embarcaçao equipada para pesca de lulas com atraçao luminosa.

134 | Vanildo Souza de Oliveira


CAPÍTULO VII

PESCA COM VARA E ISCA VIVA

Tecnologia de pesca | 135


7.1 PESCA COM VARA E ISCA VIVA

Á pesca com vara e isca viva foi iniciada no Brasil no final da


decada de 70, no Estado do Rio de Janeiro, tendo como especie-alvo
o bonito listrado Katsuwonus pelamis. Essa modalidade de pesca
necessita de iscas vivas para atraçao dos cardumes. No Brasil
emprega-se a sardinha como isca viva, no entanto essa dependencia
da sardinha tornou-se preocupante, quando da diminuiçao dos
estoques nacionais, muitas vezes impossibilitando a atividade por
falta de isca viva. Existem duas modalidades de aquisiçao de iscas:
quando o barco tem sua propria rede de cerco e uma panga
(pequena embarcaçao que auxilia no fechamento da rede), ou
embarcaçoes que compram a isca de pequenas traineiras. Essas
pequenas traineiras capturam as sardinhas nas baias e, apos a venda,
transferem diretamente para os barcos de pesca de bonito.
Ás embarcaçoes, para realizar essa modalidade de pesca,
necessitam ter, no conves, tanques que mantenham as iscas vivas, ate
alcançarem a area de captura dos cardumes de bonito. Á
manutençao das sardinhas vivas nos tanques e de fundamental
importancia, pois, se elas morrem, impossibilitam a pesca com vara.
Quando os cardumes sao localizados visualmente na superfície,
inicia-se o acompanhamento. Á pesca propriamente dita tem início
com o lançamento das iscas vivas sobre o cardume, as quais sao
retiradas com um puça de um dos tanques, por um dos tripulantes.
Áo mesmo tempo que sao acionados esguichos de agua, que ficam
sendo lançados na superfície da agua, simulando a agitaçao de um
cardume de sardinha, possibilitando o frenesi alimentar do cardume
de bonito, fazendo com que os peixes mordam os anzois, no meio do
esguicho de agua e das iscas vivas. O ataque aos anzois e apenas pelo
estimulo visual, uma vez que eles nao tem isca. Uma característica
dessa pesca e que os anzois nao possuem barbelas, sao como um
gancho, para facilitar a soltura do peixe quando arremessados para o

136 | Vanildo Souza de Oliveira


conves. Ás varas, geralmente, tem de 2m a 3m e podem ser de fibra
de carbono ou bambu (Figura 104).

Figura 104: Vara e anzol, sem barbela, para a pesca de bonito com isca viva.

Á medida que as iscas vivas sao lançadas, os anzois tambem


ficam fazendo movimentos na superfície da agua, quando sao
fisgados durante o frenesi da alimentaçao (Figura 105). Quando os
bonitos vao sendo fisgados, sao puxados com as varas pelos
pescadores e, assim que batem no conves, por nao terem barbelas, os
peixes largam os anzois, que sao novamente arremessados ao mar.
Varios barcos podem pescar ao mesmo tempo seguindo o mesmo
cardume. Á produçao pode ser toneladas em intervalos de poucas
horas, dependendo do tamanho dos cardumes.

Tecnologia de pesca | 137


Figura 105: Pesca de bonito, lançamento de isca viva e esguichos de agua
durante a pesca.

138 | Vanildo Souza de Oliveira


CAPÍTULO VIII

EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS
AUXILIARES À PESCA

Tecnologia de pesca | 139


8.1 ECOSSONDA

O desenvolvimento de equipamentos acusticos surgiu de


observaçoes da natureza: os cientistas ficavam intrigados em
entender como um morcego conseguia apanhar o alimento no ar em
um quarto escuro. Essas observaçoes constataram que ele utilizava o
sistema de emissao e recepçao do som para localizar o alimento. O
estudo da frequencia de ondas sonoras veio trazer novas aplicaçoes,
dentre elas a detecçao de profundidade na agua (Ecossonda e
Sonar), o que logo foi assimilado pela area militar na detecçao de
submarinos e ataques aereos na detecçao de avioes (Radar). Durante
a segunda guerra, o desenvolvimento da ecossonda e sonar foram
fundamentais para a localizaçao de submarinos. Logo, essa tecnica
foi desenvolvida para embarcaçoes civis e consequentemente para
emprego na pesca.

8.2 FREQUÊNCIA DE ONDAS

O padrao de frequencia de ondas em uma ecossonda e


classificado em baixa frequencia e alta frequencia, em funçao do
comprimento de onda (Figura 106).

Figura 106: Comprimentos de ondas de baixa e alta frequencia.

140 | Vanildo Souza de Oliveira


Ás ondas de alta frequencia, quando observadas em um
osciloscopio, liberam, do centro da emissao, varios feixes com angulo
de emissao menor, enquanto as de baixa emitem menor numero de
feixes, com angulo de emissao maior. Observa-se que, em ambas, a
concentraçao do pulso sonoro dissipa-se do centro para as
extremidades (Figura 107). Á unidade de frequencia de ondas e o
Hertz, em homenagem ao alemao Heinrich Hertz, pelos seus estudos
na area de eletromagnetismo. Na atividade pesqueira, duas
frequencias em quilohertz (kHz), comumente sao encontradas nas
ecossondas comerciais as de alta frequencia, com 200 kHz, e as de
baixa frequencia, com 50 kHz.

.
Figura 107: Representaçao de ondas de baixa e alta frequencia em um
osciloscopio.

Á ecossonda de alta frequencia tem uma sensibilidade maior,


angulo de emissao do pulso sonoro menor, no entanto e mais
suscetível a interferencias e consequentemente tem alcance menor.
Enquanto a emissao de baixa frequencia tem menor sensibilidade,
angulo de emissao maior e alcance maior.

Tecnologia de pesca | 141


Características Baixa Alta
Frequência Frequência
Álcance Maior Menor
Resoluçao Menor Maior
Sensibilidade Menor Maior
Ángulo Maior Menor
de emissao

Geralmente em profundidades menores que 100m,


empregam-se ecossondas com alta frequencia (200 kHz), de menor
alcance, no entanto com maior sensibilidade, apresentando mais
detalhes de fundo, o que e de grande importancia principalmente na
pesca de arrasto na plataforma, onde a localizaçao de pedras
(cabeços) evita a danificaçao das redes e portas de arrasto. Quando
em profundidades maiores que 100m, geralmente, emprega-se
ecossonda de baixa frequencia (50 kHz), uma vez que tem um maior
alcance, principalmente nas atividades em que nao e necessario um
maior detalhamento de fundo, caso da pesca com aparelhos
constituídos por linha e anzol (linhas de fundo e espinhel).
Átualmente, a maioria dos modelos de ecossonda ja sao equipados
com as duas frequencias de 50 kHz e 200 kHz, podendo inclusive
empregar as duas ao mesmo tempo. Nao confundir com o eco
integrador, que e uma ecossonda científica empregada na avaliaçao
de estoques, que trabalha com frequencias mais baixas ou mais altas.
Para detectar a profundidade, a ecossonda emite o som, que
viaja em media a uma velocidade de 1.500 m/s na agua do mar. Essa
emissao e realizada por um transdutor, que serve tambem para
recepçao do som. Á ecossonda emprega a mesma formula de calculo
para a determinaçao de uma distancia percorrida. Para obter a
profundidade em metros, a ecossonda considera o tempo apenas o
de ida, resultando assim na seguinte formula:

142 | Vanildo Souza de Oliveira


P = Profundidade (m)
V = Velocidade do som na agua (1500m/s)
T = Tempo entre a emissao e recepçao do som

O esquema de funcionamento de uma ecossonda e composto


por: monitor na estrutura da ecossonda e um transdutor no casco da
embarcaçao. Na estrutura, alem do monitor, localiza-se um
amplificador, que aumenta, no retorno, os registros sonoros. O som e
emitido de acordo com a frequencia e potencia da ecossonda, que
envia e recebe ao transdutor, em forma de energia eletrica, enquanto
o transdutor emite e recebe em forma de energia acustica. O
diametro da area varrida pelo feixe no fundo (L) e determinado em
funçao da profundidade e do angulo de emissao (Figura 108).

Tecnologia de pesca | 143


Figura 108: Esquema de funcionamento de uma ecossonda e diametro de
varredura.

Existem varios modelos de ecossondas, com inumeras


funçoes e comandos, no entanto as principais sao: ganho, que regula
a sensibilidade; a escala, que regula o alcance (profundidade); e o

144 | Vanildo Souza de Oliveira


seletor de frequência 50 kHz ou 200 kHz. Tambem podem ter a
funçao zoom, a qual possibilita a ampliaçao do fundo, assim como a
funçao alarme, que, quando acionada, detecta peixes em uma faixa
de profundidade programada, dentre outras. Dependendo do
modelo, aumenta o numero de funçoes.

8.3 O QUE A ECOSSONDA PODE DETECTAR?

a) Profundidade;
b) Topografia do fundo;
c) Cardumes e peixes individualmente;
d) Plâncton: E possível observar a migraçao vertical do zooplancton
(ecossonda com alta frequencia);
e) Termoclina: Á ecossonda detecta a diferença de densidade, a agua
mais fria e mais densa (ecossonda com alta frequencia);
f) Interferências: Que podem ser mecanica (borbulhas, vibraçao,
ruído) e eletrica, oriunda de equipamentos eletronicos da propria
embarcaçao, ou de outra;
h) Tipo o fundo: Detecta quando o substrato e mole (areia, cascalho
ou lama) ou duro (rocha).

8.4 O QUE PODE INTERFERIR EM UMA ECOSSONDA?

Á interferencia mecanica pode ser originada pela vibraçao do


motor, ou helice da embarcaçao; dessa forma, o transdutor deve ser
colocado a uma distancia de 1/3 do comprimento total da

Tecnologia de pesca | 145


embarcaçao em relaçao a proa, com a finalidade de evitar a
interferencia da vibraçao do motor, e o mais proximo da quilha, com
o objetivo de minimizar o movimento pendular do casco da
embarcaçao (Figura 109).
Todo tipo de interferencia sonora na agua pode ser
registrado em uma ecossonda. O barco, quando em deslocamento,
produz turbulencias (borbulhas), que sao geradas pela agua em
contato com o casco, e pelo vento, que logo apos serem geradas
explodem, liberando som e, com isso, sendo registradas pela
ecossonda, causando assim interferencias.
Essas explosoes das borbulhas sao captadas pelo transdutor
da ecossonda, quando proximas da superfície, resultando com isso a
ausencia de registro das ondas sonoras de retorno, tendo como
consequencia a falta de registro do fundo no monitor, dando a
impressao que existe um canal com profundidade tal, que o eco nao
retornou (Figura 110 a). Outra condiçao de interferencia e em aguas
com muita turbulencia, podendo ocupar todo o monitor (Figura 110
b).
Á interferencia mecanica tambem pode ser gerada pela
vibraçao do motor, ou da helice, aumentando o nível de interferencia
no monitor de acordo com o aumento da aceleraçao do motor,
produzindo faixas de interferencias no monitor cada vez que
aumenta a aceleraçao do barco (Figura 111 a). Ás interferencias
eletronicas podem ser causadas quando outro barco navega muito
proximo, provocando uma superposiçao de sinais sonoros na area de
varredura das ecossondas, resultando em arcos que vao da
superfície ao fundo no monitor (Figura 111 b).

146 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 109: Causas de interferencias em uma ecossonda.

a b
Figura 110 :Interferencia por bolhas na superfície (a) e em toda coluna da agua
(b).

Tecnologia de pesca | 147


a b
Figura 111:Interferencia mecanica causada pela vibraçao do motor (a),
interferencia eletronica causada pela ecossonda de outra embarcaçao (b).

Á detecçao de um peixe e apresentada no monitor da


ecossonda, como uma forma concava para baixo. Como foi
demonstrado, o pulso e mais forte no centro e vai perdendo
intensidade nas extremidades. Quando um peixe entra na zona de
detecçao do pulso, ele e registrado com menor intensidade e vai
aumentando, a medida que vai chegando ao centro do pulso (menor
distancia da origem do pulso), voltando a diminuir o registro a
medida que o peixe vai se afastando, sendo registrado na forma do
retorno do pulso (Figura 112).

Figura 112: Forma registrada por um peixe no monitor da ecossonda.

148 | Vanildo Souza de Oliveira


Os cardumes, diferentemente dos indivíduos isolados, sao
representados de diversas formas, dependendo da especie, pois
algumas mudam a forma de agregaçao em funçao de fatores como:
sazonalidade, alimentaçao e reproduçao. Quando o registro do
cardume e menor que o angulo do pulso sonoro, ele se apresenta
concentrado. Quanto mais forte for a cor do seu interior, mais densa
sera a concentraçao do cardume. Quando o cardume e maior que o
angulo do pulso e esta distribuído horizontalmente, ele ocupa todo o
monitor, sendo possível apenas detectar sua altura de imediato
(Figuras 113 a e b).

Figura 113 (a) e (b): Formas de apresentaçao de cardumes: concentrado (a) e


cardume com grande extensao horizontal (b).

Átualmente as ecossondas possuem controles de escala de


profundidade automaticos: a medida que a profundidade vai
aumentando ou diminuindo, elas vao automaticamente mudando de
escala. Em ecossondas que nao tem mudança de escala automatica,
quando elas estao operando em uma profundidade com uma escala
fixa, por exemplo, para 90m e ha um deslocamento para uma
profundidade menor de 30m, ocorre o registro de um segundo
fundo, abaixo do verdadeiro. Esse segundo registro, ou registro
duplo e devido a alta intensidade do pulso do som para alcançar os
90m, que, no entanto, alcança apenas 30m, retornando ainda com

Tecnologia de pesca | 149


alta intensidade para o transdutor, gerando assim um segundo
registro denominado de “fundo fantasma”, que desaparece quando a
escala e corrigida para a atual profundidade, no caso 30m.
Átualmente a correçao da profundidade e automatica (Figura 114).

Figura 114: Fundo fantasma, segundo fundo registrado pela ecossonda.

Á escala de profundidade da ecossonda tem o seu alcance em


funçao da sua potencia, que e dada em watts. Quanto maior for a
escala de profundidade, maior tera que ser a potencia necessaria
para atingir a profundidade desejada. Álem de saber escolher a
frequencia para uma ecossonda, e importante saber qual a potencia
necessaria para alcançar a profundidade maxima desejada.
Átualmente no mercado de ecossondas para pesca, encontram-se
geralmente transdutores com potencias que variam de 300 a
1.000Watts.
Á ecossonda detecta a recepçao dos sons, e, atraves da
interpretaçao desses registros, aliada a comprovaçao com a coleta de
fundo no local, podemos classificar o registro quando a intensidade:
“fundo duro” (pedras e outros materiais solidos), reflete a maior
parte do som, resultando em um registro forte, enquanto o “fundo

150 | Vanildo Souza de Oliveira


mole” (areia, lama e cascalho) absorve grande parte do som,
resultando em um registro mais fraco (Figura 115).
Ás ecossondas atualmente, dependendo do tipo de tecnologia
e do modelo do transdutor, conseguem estimar ate o comprimento
medio dos peixes, empregando funçoes especificas. Com esse tipo de
ecossonda, e possível detectar o tamanho de peixes entre 10 e 199
centímetros nas profundidades de 2m a 100m. Ássim como tipo de
fundo, apresentando o desenho de: lama, rocha, areia ou cascalho,
em tonalidades de cores diferentes respectivamente no monitor. Á
tendencia, com o desenvolvimento da tecnologia, e cada vez mais
funçoes que especifiquem, com mais certeza, o alvo da pescaria.

Figura 115: Detecçao de tipos de fundos duros ou moles.

Na detecçao de cardumes muito proximo do fundo, eles


podem ser confundidos como sendo parte integrante do fundo. Para
evitar esse engano, existe uma funçao nas ecossondas denominada
de “Linha Branca”, que faz a separaçao entre o cardume e o fundo
(Figuras 116 a e b).

Tecnologia de pesca | 151


Figura 116: Monitor (a) com a detecçao normal e monitor (b) com a funçao
linha branca acionada.

8. 5 SONAR

O desenvolvimento dos aparelhos com emissao sonora, como


a ecossonda, propiciou sua aplicaçao na atividade pesqueira,
principalmente para detecçao de cardumes pelagicos e demersais. O
sonar, que inicialmente foi empregado para detecçao de submarinos
na Segunda Guerra, surgiu como uma excelente alternativa para a
pesca de pelagicos como: sardinhas, anchovas, dentre outros. O
sonar possibilitou a detecçao de cardumes na direçao horizontal,
atraves de varreduras em 360o, assim como na vertical de 0o a 90o
graus. Esse aparelho logo foi adotado para os barcos cerqueiros,
tornando possível, dessa forma, uma rapida localizaçao e
dimensionamento dos cardumes para a realizaçao do cerco, na pesca
de pequenos pelagicos (sardinhas, anchovas) e grandes (atuns e
afins).

152 | Vanildo Souza de Oliveira


O sonar e formado por um monitor, sendo o ponto central a
embarcaçao e os aneis que saem do centro para a extremidade da
tela, distancias que podem ser reguladas em milhas nauticas,
possibilitando saber, a distancia, o tamanho e a direçao em que o
cardume se encontra. O sonar de varredura, ou scanner, realiza um
giro de 360º na horizontal e de 0º a 90º na vertical. Ápesar de
eficiente na sua varredura, pode perder o cardume durante o giro
total, permitindo que ele possa sair da area de registro do monitor,
enquanto uma nova varredura esta sendo concluída pelo aparelho
(Figura 117).

Figura 117: Sistema de varredura “scanner” de um sonar.

Tecnologia de pesca | 153


Com a finalidade de evitar o escape do registro do cardume
durante a varredura no monitor do sonar, foi desenvolvido um
transdutor com emissao Doppler, que emite o som do centro do
transdutor para a extremidade, atraves de microtransdutores,
permitindo que o acompanhamento do cardume seja monitorado
durante todo o tempo do cerco (Figura 118). Esse sistema e
geralmente empregado em grandes embarcaçoes, em funçao do seu
elevado custo.

Figura 118: Transdutor com sistema Doppler, com microtransdutores.

O sonar e empregado durante a operaçao de cerco, tanto de


pequenos quanto de grandes pelagicos. Ele possui varias funçoes de
operaçoes, destacando-se a seleçao de area de varredura em que foi
detectado o cardume, durante o cerco, para que se possa monitorar
apenas esta area (Figura: 119). Tambem pode fornecer uma imagem
de varredura vertical. Os modelos com plot, mostram o registro do
percurso do barco na tela, obtidos por um GPS, facilitando o cerco do
cardume.

154 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 119: Monitoramento do cardume com o sonar durante o cerco.

8.6 RADAR

Teve o seu desenvolvimento em 1904 por Christian


Hulsmeyer, na Álemanha, e ficou esquecido ate 1938, por nao haver
aplicaçao pratica, quando foi aprimorado para detectar avioes, tendo
grande emprego na Segunda Guerra, pelos britanicos. So depois da
segunda guerra e que se deu o emprego para outros fins,
principalmente para a navegaçao, vindo assim a minimizar acidentes

Tecnologia de pesca | 155


entre embarcaçoes, principalmente em areas de grande trafego
marítimo, tanto durante o dia como a noite. Os radares tambem
foram empregados, inicialmente, na navegaçao costeira, atraves da
identificaçao de dois pontos conhecidos em terra, possibilitando
plotar na carta nautica sua posiçao no mar.
Ássim como a ecossonda e o sonar, o radar emite e recebe
ondas sonoras por meio de uma antena, geralmente fixa em cima da
cabine de comando. Enquanto o sonar e a ecossonda trabalham com
kHz (agua), o radar trabalha, geralmente, com megahertz MHz (ar).
O monitor do radar e semelhante ao do sonar, pois tem a
embarcaçao no centro e cada anel representa uma distancia em
milhas.
No monitor, e possível registrar o continente ou ilhas e
principalmente outras embarcaçoes, assim como seus rumos e
velocidade quando o radar esta conectado a um GPS. Tambem possui
um sistema de alarme, que dispara quando qualquer embarcaçao
chega a uma distancia predeterminada.
Na pesca, e bastante empregado como equipamento auxiliar
na atividade de cerco, pois os modelos mais modernos detectam
concentraçoes de passaros sobre a superfície do mar, o que pode
indicar a existencia de concentraçao de pequenos pelagicos
(sardinha, anchova dentre outros) ou grandes pelagicos, como atuns
e afins (Figura 120).

Figura 120: Radar detectando concentraçoes de aves na superfície da agua,


como indicadores de cardumes de peixes pelagicos.

156 | Vanildo Souza de Oliveira


8.7 SISTEMA DE NAVEGAÇÃO POR SATÉLITE GPS
(GLOBAL POSITIONING SYSTEM)

Ápos a utilizaçao das estrelas para a localizaçao das


embarcaçoes, so no seculo vinte foi possível faze-lo sem elas, com a
descoberta da frequencia de radio. Á localizaçao por direcionamento
de ondas de radio permitiu a definiçao do posicionamento das
embarcaçoes, atraves do cruzamento das ondas de radio emitidas
por antenas localizadas em terra. Existem varios sistemas de
emissao de ondas, denominados de: Loran Á, Loran C, Omega e
Decca, que funcionam no Hemisferio Norte, empregando antenas de
ondas de radio: na costa da Ámerica do Norte, costa da Europa e
uma na Ilha de Áscensao, no Átlantico Norte.
Com o desenvolvimento da corrida espacial, o Departamento
de Defesa dos EUÁ, no início da decada de l960, denominou um
projeto de Navigation System with Time and Ranging Global
Positioning System ‒ Navstar, que obtinha a posiçao precisa quando
detectava seis satelites, estimando a posiçao ate novamente ser
possível detecta-los, tendo de ser introduzido no aparelho o rumo da
embarcaçao a cada mudança de rota. Esse sistema foi substituído
pelo Global Positioning System ‒ GPS, muito mais rapido e preciso,
pois inicialmente foi formado por 24 satelites, em seis orbitas a
20.200km de altitude. Desses 24 satelites, 3 sao de uso restrito aos
militares americanos, sendo os outros disponibilizados para uso
civil.
O sistema GPS, que foi, inicialmente, restrito ao uso militar,
sendo disponibilizado para a aviaçao civil, apos o acidente com o voo
007 da Korean Áirlines, aviao civil coreano que foi derrubado por
jatos interceptadores sovieticos em 1º de setembro de 1983, a oeste da
ilha de Sacalina. Como houve uma grande duvida sobre se o aviao
estaria dentro do espaço aereo sovietico, diante do impasse, a partir
desse acidente, o governo americano determinou que o sistema
GPS passaria a estar disponível para propositos civis, uma vez que se

Tecnologia de pesca | 157


concluiu que este incidente poderia ter sido evitado. Ás aeronaves
civis foram autorizadas a utilizarem a navegaçao com o sistema GPS,
posteriormente empregadas na navegaçao comercial marítima e,
consequentemente, na atividade pesqueira.
Nesse sistema, para se calcular a posiçao, a hora-padrao tem
que ser altamente precisa, portanto cada satelite esta equipado com
um relogio atomico, com precisao de nano-segundo, mais preciso
que a propria rotaçao da Terra. Um relogio atomico atrasa um
segundo em 50.000 anos, permitindo uma referencia de tempo mais
estavel e exata. Átualmente existem outros sistemas de navegaçao
por satelite: Glonass, da Russia; Galileo, da Europa, este de uso nao
militar; e Beidou, da China, os dois ultimos ainda em finalizaçao.
O sistema GPS trabalha com frequencia em gigahertz (GHz).
Nos aparelhos de GPS com chartplotter (cartas nauticas eletronicas),
a localizaçao e plotada diretamente na carta digital. Á
operacionalizaçao de um GPS e muito simples: ao teclar a funçao ir
para, o aparelho faz uma rota entre o local em que se encontra e um
determinado ponto informado. Ele fornece, ainda, a distancia e
tempo ate a chegada do ponto, a direçao, o rumo e a velocidade do
barco.
Átualmente, a maioria dos pescadores usa o GPS tambem
como fonte de informaçoes, pois podem armazenar grande
quantidade de posiçoes de pontos de pesca. Ele e muito importante
na localizaçao dos aparelhos de pesca, uma vez que estes sao
deixados nos pesqueiros para serem recolhidos posteriormente.
Muitas vezes, por estarem em areas de muita movimentaçao de
embarcaçoes, torna-se perigoso o uso de boias de sinalizaçao (Figura
121).

158 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 121: Recolhimento de um espinhel de fundo com uma garateia, entre os
pontos P1 e P2, empregando-se os pontos de lançamento armazenados no GPS.

Outra grande utilidade do GPS e na segurança marítima:


quando ocorre uma avaria, a comunicaçao com outras embarcaçoes
fornece sua posiçao, evitando assim antigos problemas de buscas
demoradas, que muitas vezes aumentava bastante o tempo para o
resgate.
O emprego do GPS, aliado aos radios de comunicaçao e
celulares, deu um grande avanço na segurança marítima,
principalmente na pesca artesanal. Esses avanços tecnologicos, que
antes eram so disponíveis para as grandes embarcaçoes, hoje
permitem a uma simples embarcaçao ter um moderno sistema de
navegaçao, bastando um laptop com as cartas nauticas instaladas,
que estao disponíveis gratis no site da Marinha do Brasil. Para isso,
utiliza-se qualquer software de navegaçao, tambem gratuito,
disponível na internet. Esse laptop, quando acoplado a um GPS, torna
a embarcaçao munida de um plotter georreferenciado, com uma tela
que fornece a carta nautica e o posicionamento online da
embarcaçao, alem de apresentar a rota e o rumo a ser seguido,
dentre outras informaçoes, dependendo do software (Figura122).

Tecnologia de pesca | 159


Figura 122: Informaçoes geradas por um GPS em uma carta nautica eletronica
instalada em um laptop.

Com o desenvolvimento da tecnologia das comunicaçoes na


atividade pesqueira, as embarcaçoes artesanais que possuem radio
de comunicaçao e, quando estao avariadas, nao permanecem a
deriva ate serem encontradas, como antes. Átualmente, quase todo
pescador tem um celular equipado com um GPS. Em caso de avaria,
quando o celular começa a detectar sinal, a medida que se aproxima
do continente, aumenta a chance de fazer uma ligaçao, comunicando
sua posiçao com o GPS de seu celular. Esse aparelho atualmente e
bastante popular entre os pescadores, pois a necessidade de marcar
seus pontos de pesca e posiçao dos equipamentos de pesca faz com
que a cada dia mais pescadores tornem-se dependentes desse
equipamento.

8.8 SATÉLITE

Á utilizaçao de informaçoes oriundas de satelites na atividade


pesqueira torna-se atualmente essencial, visto que a eficiencia de
captura e um fator fundamental para o sucesso da atividade. Ás

160 | Vanildo Souza de Oliveira


frotas pesqueiras, principalmente as atuneiras, que realizam grandes
deslocamentos — por ser uma atividade oceanica —, tendem a
otimizar o tempo de navegaçao dirigindo-se diretamente para as
areas de pesca. Dessa forma, as informaçoes obtidas por satelites
possibilitam encontrar as areas mais propícias a presença de
cardumes.
Dentre as informaçoes importantes que podem ser obtidas
por meio de software de informaçoes oceanograficas aplicadas a
pesca (pagos anualmente), destacam-se: temperatura de superfície
(TSM), principalmente nas zonas temperadas, onde e possível
identifica-las com maior precisao — enquanto, nas zonas tropicais, a
camada de mistura da superfície torna a distinçao de diferentes
temperaturas das massas de agua imperceptíveis —; direçao das
correntes; profundidade da termoclina; batimetria; altimetria; e
concentraçao de clorofila. Álguns softwares plotam as características
ideais sugeridas pelo operador, circulando essas areas na carta
digital, com as informaçoes desejadas, como: temperatura de
superfície, termoclina, correntes, dentre outros.
Tudo isso possibilita a diminuiçao do tempo de deslocamento
para a area de pesca, aumentando assim a possibilidade de sucesso.
Essas informaçoes oceanograficas podem tambem ser fornecidas
por boias satelites fixas nos espinheis de atum, que enviam, via
satelite, as informaçoes em períodos predeterminados para a
embarcaçao, podendo tambem ter uma ecossonda na boia, que envia
os registros de cardumes que passam por baixo dela. Ás informaçoes
por satelites atualmente sao ferramentas essenciais na pesca
oceanica, forçando o investimento nao apenas em tecnologia, mas
principalmente em mao de obra qualificada, que possa
operacionalizar essas informaçoes.

Tecnologia de pesca | 161


162 | Vanildo Souza de Oliveira
CAPÍTULO IX

PESCA DIRIGIDA

Tecnologia de pesca | 163


9.1 PESCA DIRIGIDA

E a modalidade de pesca que emprega equipamentos


eletronicos no auxílio a localizaçao de cardumes. Geralmente
cardumes em meia agua, possibilitando, assim, a localizaçao ideal
para que os equipamentos de pesca possam alcançar esses
cardumes, com grande possibilidade de sucesso na operaçao. Á
pesca de arrasto de meia agua e realizada com o emprego de
equipamentos eletronicos na seguinte sequencia e funçao: sonar de
pesca: faz a varredura horizontalmente, possibilitando a
determinaçao do tamanho, distancia e rumo em que o cardume esta
localizado; ecossonda da embarcaçao: determina a profundidade e
altura do cardume em relaçao ao fundo; e finalmente a ecossonda da
rede: que possibilita a colocaçao da rede de arrasto na profundidade
ideal para a captura do cardume, assim como possibilita observar o
registro de quando o cardume entra na boca da rede (Figura 123).
Entre o registro da ecossonda do barco e o da ecossonda da
rede, segundo Okonsk e Martini (1987), podem acontecer cinco
situaçoes: 1) O cardume estacionario ‒ o registro na ecossonda da
rede vai ser no tempo determinado, pois, como ha o comprimento
dos cabos de arrasto e profundidade do cardume, pode-se calcular a
distancia e determinar o tempo em que a rede alcançara o cardume;
2) o cardume esta se deslocando na mesma direçao do arrasto ‒ o
tempo de registro do cardume na ecossonda da rede vai ser maior
que no primeiro caso; 3) o cardume tem a mesma velocidade do
arrasto ‒ o registro do cardume na ecossonda da rede vai ser mais
demorado do que no segundo caso; 4) o cardume esta se deslocando
no sentido contrario ao do arrasto ‒ o registro do cardume na
ecossonda da rede vai ser mais rapido que no primeiro caso; e 5) o
cardume nao e registrado na ecossonda da rede no tempo
determinado, percebe a rede e sai da rota de captura.

164 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 123: Sequencia de emprego dos equipamentos eletronicos em uma
pesca de arrasto a meia agua.

Recentemente, a pesca de meia agua vem empregando, em


substituiçao a ecossonda da rede, o sonar da rede, que, alem de
registrar a entrada do cardume na boca da rede, realiza uma
varredura horizontal, possibilitando o direcionamento da rede na
mesma profundidade do cardume (Figura 124), eliminando as cinco
condiçoes existentes, quando do emprego da ecossonda da rede.

Tecnologia de pesca | 165


Figura 124: Emprego do sonar da rede em arrasto de meia agua.

Átualmente, na pesca dirigida, empregam-se sensores


eletronicos em varias partes do sistema de arrasto, possibilitando
total controle desde a entrada do cardume na boca rede, assim como
o monitoramento do enchimento do saco da rede. Á distancia entre
as portas tambem pode ser monitorada por meio de sensores,
colocados em ambas as portas. Todas essas informaçoes sao
transmitidas, por meio de ondas de radio, para a embarcaçao, onde
sao captadas por um receptor submerso (Figura 125).

166 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 125: Receptor submerso e sensores, no sistema de arrasto de meia agua.
D = m (distancia entre as portas em metros).

Tecnologia de pesca | 167


168 | Vanildo Souza de Oliveira
CAPÍTULO X

COMPORTAMENTO DAS ESPÉCIES EM


RELAÇÃO AOS APARELHOS DE PESCA

Tecnologia de pesca | 169


10.1 COMPORTAMENTO DAS ESPÉCIES

Ás especies possuem diferentes capacidades de reaçao, em


funçao da sua forma e poder de nataçao. Essas características
tornam-se marcantes quando observamos a distribuiçao vertical em
tres grandes grupos, de acordo com Okonsk e Martini (1987):
bentonicos, denominados de grupo Á; demersais, grupo B; e
pelagicos, grupo C.
Os bentonicos possuem características sedentarias e
dependem do fundo, tanto para alimentaçao como para proteçao de
predadores. Essa condiçao reflete, em sua forma e hidrodinamica, a
forma do corpo: geralmente nao lhes permitem grandes capacidades
de deslocamento e poder de nataçao, a exemplos dos peixes chatos,
solhas, linguados, dentre outros.
Os demersais possuem uma forma hidrodinamica e maior
capacidade de nataçao, no entanto ainda sao territorialistas e
realizam significativas migraçoes. Suas formas ja sao mais adaptadas
ao deslocamento em relaçao aos bentonicos, a exemplo dos pargos e
serranídeos, dentre outros.
Os pelagicos possuem uma capacidade natatoria bem mais
desenvolvida, pois, ao contrario dos bentonicos e demersais, que
utilizam o fundo e locas para se protegerem, vivem na coluna d’agua,
e a capacidade de fugir dos predadores determina sua sobrevivencia,
sendo assim as especies que possuem, em geral, forma fusiforme, a
exemplo da barracuda, atum e agulhoes, dentre outros. Á
distribuiçao entre essas zonas e muito dinamica e tem-se como
referencia: bentonica, 0,5m do fundo; demersal, ate 10m acima do
fundo; e pelagica, toda a coluna da agua acima.
Essas especies possuem resistencias diferentes, que podem
ser medidas em funçao do tempo em que alcançam a exaustao
muscular, denominada de “ponto de fadiga”, que ocorre quando a

170 | Vanildo Souza de Oliveira


resposta aos estímulos enviados aos musculos começa a diminuir. Ás
especies desses grupos possuem pontos de fadiga diferentes,
variando de excelentes nadadores, como os pelagicos, com grande
resistencia muscular, a modestos nadadores, como os demersais e os
sedentarios, a exemplo dos bentonicos. Para tentar medir essa
capacidade em cada grupo, os pesquisadores criaram uma relaçao
entre o comprimento do peixe e a distancia alcançada ate chegar ao
início de ponto de fadiga.

Okonsk e Martini (1987) apresentam uma relaçao que determina a


velocidade maxima (m/s) que as especies alcançam em funçao dos
seus comprimentos, em cada grupo.
BENTÔNICO: 5 x comprimento do corpo
DEMERSÁL: 6 x comprimento do corpo
PELÁGICO: 6 a 8 x comprimento do corpo

Ássim como a distancia maxima ate alcançarem o ponto de fadiga.


BENTÔNICO: 40 ‒ 60 x comprimento do corpo
DEMERSÁL: 150 – 200 x comprimento do corpo
PELÁGICO: 300 ‒ 1.200 x comprimento do corpo

Ás especies possuem reaçoes diferentes, segundo os mesmos


autores, quando em contato com a rede de arrasto. Ás reaçoes de
fuga registradas em cada grupo ecologico sao de acordo com a forma
do corpo dos indivíduos. Os grupos Á e B reagem geralmente para
frente e para baixo; o grupo C, para baixo e para cima, dependendo
da especie.
No entanto, as respostas mais frequentes observadas para
todos os grupos em relaçao ao “reflexo de fuga” sao: saída do centro

Tecnologia de pesca | 171


do disturbio (esses disturbios sao originados pela rede, malhetas e
portas), sendo que no Grupo Á respostas de fuga, mais frequente, e
para frente e para baixo, enterrando-se no fundo; no grupo B, nadam
radialmente em um plano horizontal e as vezes para baixo; no Grupo
C nadam radialmente em um plano horizontal e vertical, (Figura
126).
Observa-se que as opçoes de fuga vao diminuindo em relaçao
a capacidade natatoria em cada grupo, pois, enquanto o grupo C tem
varias opçoes de fuga nos planos verticais, horizontais e radiais, os
bentonicos tem apenas para frente e enterrando-se no fundo. Essas
informaçoes sao essenciais, tanto para a elaboraçao do plano de uma
rede de arrasto como para a determinaçao da velocidade de arrasto.
Como foi visto, a capacidade natatoria dos peixes varia em relaçao ao
ponto de fadiga muscular, condiçoes em que o musculo diminui a
capacidade de resposta aos estímulos. Os peixes pelagicos demoram
mais a alcançar o ponto de fadiga do que um demersal ou bentonico.

Fonte : Okonsk e Martini (1987)


Figura 126: Reaçoes mais frequentes em relaçao aos planos de fuga, em cada
grupo ecologico.

172 | Vanildo Souza de Oliveira


Ás especies de peixes podem ser influenciadas em seus
comportamentos por varios parametros oceanograficos,
principalmente pela temperatura e salinidade, que podem
influenciar na sua migraçao vertical e horizontal. Com o
desenvolvimento tecnologico, foi possível, atraves de cameras
subaquaticas, obter as primeiras informaçoes sobre as reaçoes das
especies em relaçao aos aparelhos de pesca, principalmente, nos
aparelhos de arrasto. Essas informaçoes foram obtidas com a
colocaçao de cameras em pontos estrategicos na rede, como: tralha
superior, tunel e saco da rede, onde foi possível observar as
diferentes reaçoes em cada parte do corpo da rede, principalmente
apos as especies alcançarem o ponto de fadiga.
Álgumas especies tentam escapar por cima das asas da rede,
no corpo da rede, enquanto sao direcionadas para o saco; outras
resistem nadando para frente da tralha de chumbo, ate atingirem o
ponto de fadiga e serem levadas para o corpo da rede (e
posteriormente para o saco); e especies como os camaroes
bentonicos da plataforma, que saltam quando sao tocados pela
tralha de chumbo e depois ficam inertes e se deixam levar, pelo
corpo, ate o saco da rede. No entanto, ha registros de especies como
o camarao branco Litopenaeus schmitti, tentando escapar pelos
dispositivos de exclusao de fauna acompanhante. Essas informaçoes
sao importantíssimas, no que se refere ao desenho dos planos das
redes de arrasto.
Exemplo redes de arrastos que permitiam facilmente o
escape por cima da tralha superior. Com essas observaçoes, foi
possível desenvolver uma rede com ate seis paineis e triangulos,
tornando-as mais altas e, consequentemente, deixando a fuga mais
difícil. O que mostra a importancia das informaçoes
comportamentais das especies para a tecnologia de pesca.

Tecnologia de pesca | 173


174 | Vanildo Souza de Oliveira
CAPÍTULO XI

RESISTÊNCIA DOS APARELHOS DE


ARRASTO

Tecnologia de pesca | 175


11.1 RESISTÊNCIAS DOS APARELHOS DE ARRASTO

O calculo da resistencia de uma rede de arrasto vem sendo


estudado ao longo do desenvolvimento da Tecnologia de Pesca, com
o objetivo de dimensionar a potencia ideal da embarcaçao para o
arrasto. Quando calculamos a aerodinamica de um automovel, ou de
uma aeronave, e possível determinar uma equaçao com base em seu
volume constante; no entanto, quando tentamos calcular a
resistencia de uma rede de arrasto, nos deparamos com varios
fatores, uma vez que ela nao tem forma constante, variando sua
forma de acordo com a força das correntes marinhas e forma da
topografia do fundo do mar. Com isto, as equaçoes sao determinadas
empiricamente, com base em resultados de varios anos de dados de
arrastos pelas frotas pesqueiras e em tanques de prova.
Á potencia em cada motor e determinada pelo fabricante,
sendo denominada de Potencia Nominal do Motor, ou PNM, com
unidade em HP. Para avaliar se uma embarcaçao tem a capacidade
de arrastar uma determinada rede de arrasto, inicialmente e
necessario determinar a força de traçao da embarcaçao, que em
espanhol e denominada de “Tiro da embarcaçao”. Essa força tem que
ser superior a resistencia total de arrasto Rt, que e formada pela
resistencia dos cabos de arrasto Rc, resistencia das portas Rp e
resistencia da rede de arrasto Rr (Figura 127).
Álem das forças de resistencias ao arrasto, temos as forças
geradas pelos cabos para cima, que e a força de elevaçao Fe, e a de
expansao horizontalmente na porta Fex. Á condiçao para a
realizaçao do arrasto e que o “Tiro da embarcaçao” seja superior a
todas as resistencias contrarias ao sentido do arrasto. Os principais
fatores que podem influenciar em um arrasto sao: potencia nominal
do motor (PNM), condiçoes do mar, revoluçoes por minuto do motor
(rpm) e tipo de helice.

176 | Vanildo Souza de Oliveira


Átualmente, existem varios softwares que calculam todas as
resistencias do sistema de arrasto, considerando todos os fatores
necessarios para esses calculos. No entanto, o acesso a esses
softwares muitas vezes tem restriçoes, ou sao pagos. Dessa forma, as
formulas existentes podem fornecer informaçoes muito proximas a
resistencia real, levando em consideraçao os numeros de fatores que
devam ser considerados. Vamos nos referir a metodos mais praticos
e rapidos utilizados por Hamuro em Okonski e Martini 1987, que
permitem obter valores aproximados para o calculo da resistencia
do sistema de arrasto.

T = Tiro do barco (kg)


Rc = Resistencia dos cabos (kgf)
Rp = Resistencia das portas (kgf)
Rr = Resistencia da rede (kgf)

Figura 127: Condiçao de arrasto para o sistema de pesca.

Tecnologia de pesca | 177


11.2 FÓRMULA PARA O CÁLCULO DO TIRO DA
EMBARCAÇÃO

Ántes, temos que definir alguns conceitos:


Á unidade de potencia dos motores das embarcaçoes e o HP
(horse power), que e a unidade de força que pode mover 75 kgf
(quilograma-força) com uma velocidade de 1m/s. O “f” demonstra
que kg e uma unidade de força e nao uma unidade de massa.
Quando falamos de HP de um motor, estamos nos referindo a
potencia maxima do motor, que e denominado de potencia nominal
do motor ‒ PNM (aquela que vem determinada pelo fabricante).
Á força de arrasto de uma embarcaçao e denominada de “Tiro
da embarcaçao”, cuja unidade e dada em kg, por ser uma força de
traçao, enquanto as resistencias do sistema de arrasto sao dadas em
quilograma-força (kgf), resistencia.
Na formula do tiro, apresentada em Okonsk e Martini
(1987),quando substituímos o numero 75 pela unidade (kg/m/s) =
HP. Ássim como a potencia padrao do arrasto (PS), que e a potencia
do motor destinada ao arrasto, que tem unidade tambem em HP.
Dessa forma, na formula quando dividimos (75.PS)=HP (kg/m/s)
pela velocidade do arrasto (V) em (m/s), cortando (m/s). Obtemos a
unidade do tiro em kg.

T = tiro da embarcaçao em kg
PS = potencia padrao para o arrasto (HP)
V = velocidade de arrasto em (m/s)

178 | Vanildo Souza de Oliveira


11.2.1 Calculo da potencia padrao (PS)

Á potencia padrao para o arrasto (PS) varia de acordo com


varios fatores: condiçoes do mar, determinado pelo coeficiente de
mar (Cmar), com base na tabela de Beaufort (Bf), que correlaciona
com numeros as condiçoes do mar; pelo coeficiente de utilizaçao do
motor (Cmt), o qual geralmente e empregado em torno de 80% da
potencia nominal do motor (PNM), e coeficiente da helice (Ch).
Ássim, a formula para a determinaçao da potencia padrao para o
arrasto e:

PS = Cmar . PNM. Cmt . Ch . = HP

11.2.2 Determinaçao do coeficiente da helice (Ch)

Helice de passo fixo


Menor que 300 rpm: coeficiente 0,25 a 0,28
Igual a 300 rpm: coeficiente 0,22
Maior que 300 rpm: coeficiente 0,20

Helice de passo variavel


Coeficiente 0,25 - 0,30

11.2.3 Determinaçao do coeficiente do mar (Cmr)


(Baseado na tabela de condiçao do mar de Beaufort)
Mar calmo: coeficiente 1,0
Mar 2-3 Bf: coeficiente 0,9
Mar 3-4 Bf: coeficiente 0,8
Mar 5-6 Bf: coeficiente 0,7

Tecnologia de pesca | 179


11.3 DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA
HIDRODINÂMICA DE UM CORPO EM UM FLUIDO

Modelo de Newton

Grande parte das formulas mais simples de resistencia tem


como base a equaçao para o calculo das forças hidrodinamicas,
denominada de modelo de Newton.

R = força hidrodinamica em kgf


C = coeficiente de resistencia
γ = densidade do fluido (kg. s2/m4)
S = superfície projetada em um plano normal a direçao do fluxo (m2)
V = velocidade do fluxo, ou velocidade relativa entre o fluido e o
elemento movel em m/s

11.4 FÓRMULA DA RESISTÊNCIA DOS CABOS DE


ARRASTO

Essa formula tambem tem como base o modelo de Newton.


Os fatores principais que podem influenciar a resistencia de um cabo
de arrasto sao: o coeficiente de resistencia, o meio em que ele esta
sendo arrastado (no caso, a densidade da agua do mar), o
comprimento e o diametro do cabo e a velocidade de arrasto. Um
cabo longo pode ter a mesma resistencia que um cabo curto, na
mesma velocidade, tudo depende da area (no caso, o diametro de
cada um dos cabos). Duas forças podem ser geradas nos cabos de
arrasto: a força de elevaçao, gerada no sentido vertical em relaçao ao

180 | Vanildo Souza de Oliveira


sentido do arrasto; e a força de resistencia, no sentido contrario ao
do arrasto (Figura 128). Para cada uma dessas forças existe um
coeficiente, sendo o de resistencia CD e o de elevaçao CL, que sao
determinados em funçao do angulo entre o cabo de arrasto e o
sentido do arrasto (Figura 129), com base no Grafico 01.

Figura 128: Forças geradas em um cabo de arrasto.

P = Profundidade
I = Comprimento do cabo de arrasto

Figura 129: Relaçao entre o comprimento do cabo de arrasto (l) e a


profundidade (p) formando o angulo Ө.

Tecnologia de pesca | 181


Fonte: Koyama, 1984.

Grafico 01: Coeficientes da resistencia e elevaçao; relaçao entre o angulo


formado entre o cabo e o sentido do arrasto.

Como, para os arrasteiros que operam na captura de camarao


em aguas costeiras, a relaçao de profundidade em relaçao ao
comprimento dos cabos de arrasto e aproximadamente 1:4-5, o seno
do angulo (senӨ) sempre gira em torno de 14,5o. Quando plotado no
Grafico 1, obtem-se CD = 0,05 e CL = 0,06.

Formula da resistência para um cabo de arrasto

Rc = ½ x CD x ρ x l x ø x v 2= kgf
Rc = Resistencia do cabo de arrasto kgf
CD = Coeficiente de resistencia, para classe de arrasteiro de camarao
= 0,05 (Grafico 01)

182 | Vanildo Souza de Oliveira


ρ = Densidade da agua do mar 105/kg s2 / m4
l = Comprimento do cabo de arrasto (m)
ø = Diametro do cabo de arrasto (m)
V = Velocidade de arrasto (m/s)
Resistencias para os dois cabos = 2. Rc

Fórmula do cálculo da força de elevação do cabo de arrasto

Fe = ½ x CL x ρ x l x ø x v2 = kgf

Fe = Força de elevaçao kgf


CL = Coeficiente de elevaçao, para classe de arrasteiro de pesca =
0,06 (no Grafico1)
ρ = Densidade da agua do mar 105/kg s2 / m4
l = Comprimento do cabo de arrasto (m)
ø = Diametro do cabo de arrasto (m)
V = Velocidade de arrasto (m/s)
Força de elevaçao para os dois cabos = 2. Fe

Tecnologia de pesca | 183


11.5 CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DAS PORTAS DE
ARRASTO

Ássim como nos cabos de arrasto, duas forças


hidrodinamicas atuam nas portas: a força de resistencia ao avanço
(Fr) e força de expansao (Fe) gerada horizontalmente. Ás formulas
de calculo de resistencias usam coeficientes que variam em funçao
do angulo de ataque da porta: coeficiente de resistencia (CD) e
coeficiente de expansao (CL) (Figura 130).

Figura 130: Forças que atuam na resistencia de uma porta de arrasto.

F = Força de reaçao hidrodinamica da porta de arrasto


Fr = Força de resistencia ao avanço
Fe = Força de expansao horizontal
Ө = Ángulo de ataque da porta

184 | Vanildo Souza de Oliveira


Fórmula para o cálculo da força de resistência de uma porta de
arrasto

Rp = ½ CD x ρ x s x v 2= kgf

Rp = Força de resistencia ao avanço da porta de arrasto


CD = Coeficiente de resistencia
ρ = Densidade da agua do mar 105/kg s2 / m4
S = Área da porta de arrasto (m2)
V = Velocidade de arrasto (m/s)

Fórmula para o cálculo da força de expansão da porta

Fe = ½ CL x ρ x s x v 2= kgf

Fe = Força de expansao da porta de arrasto


CL = Coeficiente de expansao
ρ = Densidade da agua do mar 105/kg s2 / m4
S = Área da porta de arrasto (m2)
V = Velocidade de arrasto (m/s)

Tecnologia de pesca | 185


Cálculo do coeficiente de resistência da porta CD
Quando o angulo de ataque da porta e Ө, o CD e calculado da
seguinte forma:

CD = Coeficiente de resistencia
Ө = Ángulo de ataque da porta

Cálculo do coeficiente de expansão da porta CL

CL = Coeficiente de expansao
Ө = Ángulo de ataque da porta

11.6 FÓRMULAS DO CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE UMA


REDE DE ARRASTO

Existem varias formulas de calculos de resistencia de redes


de arrasto, que levam em consideraçao varios fatores, desde a
densidade da agua do mar ate o angulo de abertura das malhas e o
angulo de ataque da rede.

186 | Vanildo Souza de Oliveira


Fórmula de Dickson

Leva em consideraçao os seguintes fatores:

Dn = Resistencia da rede
S = Soma da superfície de todos os panos da rede
d = Diametro dos fios
a = Comprimento do fio entre nos
AH = Ábertura entre as extremidades das asas, ou seja, a abertura
horizontal da rede em posiçao de trabalho
AV = Ábertura vertical da boca da rede

Fórmula de Cueva

Certas formulas de resistencia de redes envolvem a area total


da rede e o angulo de ataque, como no caso da Formula de Cueva
Sans (1974), que necessita de informaçoes mais difíceis de serem
obtidas, como o angulo de ataque horizontal do pano da rede em
relaçao a corrente da agua.

R = 191 . d/a . V2 . S . senα

R= Resistencia da rede
d = Diametro medio do fio utilizado na rede
a = Media dos lados das malhas da rede

Tecnologia de pesca | 187


V = Velocidade de arrasto
S = Superfície do pano da rede em posiçao de trabalho
Senα = Ángulo de ataque horizontal do pano da rede em relaçao ao
fluxo da agua. De acordo com os cortes de panos aplicados, esta
entre 12˚ e 15˚ graus aproximadamente.

Formula de Giannotti

Uma formula que tem como base o modelo de Newton para


calcular a determinaçao da resistencia hidrodinamica e o modelo
basico de Giannotti,(1973), que necessita da area total da rede:

R = Resistencia da rede
Cd = Coeficiente de resistencia da rede
ρ = Densidade da agua do mar105/kg s2 / m4
AS = Área da rede
V= Velocidade de arrasto (m/s)

Fórmula de Nomura e Yamazaki

Á formula de Nomura e Yamazaki (1975) permite esta


aproximaçao a partir da formulaçao experimental para a resistencia
de redes de arrasto, sendo a mais pratica e com facil acesso as
informaçoes necessarias, as quais vamos destacar. Por ser uma
formula empírica, seus coeficientes foram obtidos ao longo de varios
experimentos. O coeficiente de arrasto (CD) da rede da formula de
Nomura varia entre 6 e 8, entre pequenos e grandes arrasteiros. Á

188 | Vanildo Souza de Oliveira


velocidade de arrasto e dada em nos, tendo que ser transformada em
metros por segundo (m/s).

Rr = Resistencia da rede de arrasto


8 = Coeficiente de resistencia CD
a = Circunferencia maxima da rede (m)
b = Comprimento maximo da rede (m)
d = Diametro medio dos fios (sem o saco) (mm)
l = Comprimento medio dos lados das malhas (sem o saco) (mm)
V = Velocidade de arrasto em (m/s)

Á formula de Nomura e Yamazaki e baseada no aspecto


geometrico da rede, levando principalmente em consideraçao o
maior perímetro formado pela panagem (a) e o comprimento total
da rede (b) (Figura131). Ela permite realizar uma aproximaçao a
partir da formulaçao experimental para a resistencia de redes de
arrasto. Ás informaçoes necessarias para o calculo das variaveis
dessa formula podem ser obtidas atraves de um plano da rede de
arrasto (Figura 132).

Tecnologia de pesca | 189


Figura 131: Comprimento maximo da rede (b) e maxima circunferencia da rede
(a) da formula de Nomura e Yamazaki.

190 | Vanildo Souza de Oliveira


Figura 132: Plano de uma rede de arrasto com quatro paineis da formula de
Nomura e Yamazaki.

Tecnologia de pesca | 191


Cálculo da máxima circunferência da rede “a”

Com base no plano da rede na Figura 132.

E a soma das malhas da boca da rede (painel superior,


inferior e laterais) vezes o comprimento das malhas:

Cálculo do comprimento total da rede “b”

O comprimento total b e a soma de todos os paineis da rede,


inclusive o saco. O comprimento de cada painel e o numero de
malhas na altura vezes o comprimento da malha no painel.

Com base no plano da rede na Figura 132.

Cálculo da média dos diâmetros dos fios (sem incluir o saco) “d ”

Com base na rede de arrasto da Figura 122, observam-se


varios paineis, com diferentes diametros de fios. Entao d representa
a media aritmetica desses diametros.

Com base no plano da rede na Figura 132.

192 | Vanildo Souza de Oliveira


Cálculo da média dos lados das malhas (sem incluir o saco) “ l ”

Ássim como existem diferentes diametros de fios na rede de


arrasto, existe tambem uma grande variaçao de comprimento de
malhas entre os paineis. O l representa a media da metade do
comprimento da malha de cada painel. Como a formula e baseada na
forma geometrica, uma malha sofre força de resistencia em apenas
um lado, que representa 50% da malha, por isso considera-se
apenas meia malha.

Com base no plano da rede na Figura 132.


Com esse mesmo pensamento, o saco da rede nao entra nos
calculos de d e I, pois possui corte n em seus lados, nao oferecendo
resistencias significativas (Figura 133).

Figura 133: Forças de resistencias nos paineis com cortes em angulo no corpo
da rede e no saco com corte N.

Tecnologia de pesca | 193


11.7 CÁLCULO DA RESISTÊNCIA TOTAL DE UM SISTEMA
DE ARRASTO

Á resistencia total (Rt) e o somatorio das resistencias dos


cabos de arrasto, resistencia das portas e a resistencia da rede. Á Rt
(Kgf) deve ser menor que o tiro da embarcaçao T (Kg), para ter a
condiçao de arrasto da rede.

Condiçao de arrasto: T > Rt


T= Tiro da embarcaçao (kg)
Rt = Resistencia total (kgf)

Rt = (Rc) + (Rp) + (Rr) = Kgf


Rt = Resistencia total (Kgf)
Rc = Resistencia dos cabos de arrasto (Kgf)
Rp = Resistencia das portas de arrasto (Kgf)
Rr = Resistencia da rede de arrasto (Kgf)

194 | Vanildo Souza de Oliveira


11.8 ABERTURA VERTICAL E HORIZONTAL DA REDE DE
ARRASTO

Como foi descrito, a abertura horizontal e vertical da rede


pode ser obtida diretamente com a colocaçao de sensores nas portas
de arrasto e asas das redes. No entanto, quando nao se tem essa
ferramenta, a abertura e altura podem ser estimadas empregando as
equaçoes descritas por varios autores, como o calculo da abertura
vertical com a formula de Koyama et al. (1981).

H = 0,16 . a . V -0,87
H =Ábertura vertical da boca da rede (m)
a = Maximo perímetro do corpo da rede (m)
V = Velocidade de arrasto (m/s)

Prado (1990) descreve formulas para a abertura horizontal e


vertical.

Cálculo da abertura vertical


VO = n . a . 0,25 a 0,30
VO = Ábertura vertical aproximada da boca da rede (m)
n = Numero de malhas da borda do corpo superior
a = comprimento da malha (m)

Calculo da abertura horizontal da boca da rede


S = HR . 0,50 a 0,60
S = Ábertura horizontal entre o final das asas
HR = Comprimento da tralha superior da rede (m)

Tecnologia de pesca | 195


Álem da abertura horizontal da rede entre as portas de
arrasto, pode-se calcular a distancia entre as asas da rede, pela
formula que emprega o comprimento dos cabos de arrasto em
relaçao a distancia entre eles na popa da embarcaçao. Essa formula
FÁO (1990), serve para estimar a abertura horizontal entre as portas
de arrasto e entre as asas, a qual tem uma grande importancia
quando se deseja estimar a area varrida pelo arrasto de popa de
fundo (Figura 134).

Figura 134: Medidas necessarias para o calculo da distancia das portas e


distancia entre as asas da rede.

196 | Vanildo Souza de Oliveira


Cálculo da distância entre as portas de arrasto

D = [(L´- L) x F ] + L = (m)

D = Distancia entre as portas


L = Distancia entre os pescantes
L´= Distancia entre os cabos de arrasto apos um metro dos pescantes
F = Comprimento do cabo de arrasto

Cálculo da distância entre as asas de uma rede de arrasto

d´ = Distancia entre as asas da rede


D = Distancia entre as portas
cc = Comprimento do corpo da rede (sem o saco)

cm = Comprimento das malhetas da rede

Calculo da Área varrida

Quando se quer ter uma noçao de produtividade de uma area, e


possível obter com a produçao da area varrida (figura 135).

Tecnologia de pesca | 197


Figura: 135: Área varrida.

198 | Vanildo Souza de Oliveira


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