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CARACTERIZAÇÃO DA CASCA DE
AMENDOIM COMO BIOMASSA PARA
APROVEITAMENTO ENERGÉTICO
Janeiro de 2021
Sumário
3
utilização como biomassa para geração de calor e eletricidade, dentre outras
vantagens como a diminuição da dependência de importação de produtos
energéticos fósseis, o desenvolvimento da economia regional e a diminuição de
emissões de CO2 e outros poluentes. No entanto, é importante salientar que por
se tratar de uma área nova, existe uma grande necessidade de estudos mais
aprofundados e de uma maior caracterização dos aspetos da biomassa, pois seu
uso também acarreta algumas desvantagens como gestão das cinzas, logísticas
de transporte e o alto investimento financeiro.
Fez-se também um estudo de caso, considerando a criação de uma unidade
fabril de processamento de amendoim (limpeza, secagem, descasque e
distribuição), pois não existe em Portugal, o que faz com que o maior produtor
de amendoim envie suas produções para a Espanha e Holanda que realizam
estes processos. Esta unidade, caso utilizasse o resíduo do descasque, a casca
de amendoim, como biomassa para geração de energia, produziria cerca de
2.346.960 kWh e que se fosse utilizado para o consumo anual da fábrica geraria
uma economia de 321.768,21 €.
4
ÍNDICE
SUMÁRIO .............................................................................................................................. 3
ÍNDICE ................................................................................................................................... 5
NOMENCLATURA ................................................................................................................ 7
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8
2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 14
3 METODOLOGIA....................................................................................................... 15
5
4.2 Poder Calorífico Superior ................................................................................ 19
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 26
ANEXOS ............................................................................................................................ 28
6
Nomenclatura
%U – Teor de Humidade
TG – Análise Termogravimétrica
7
1 Introdução
1.1 Enquadramento
Nos dias de hoje é inconcebível pensar viver sem uma fonte de energia.
Tendo em conta o aumento do aquecimento global, das emissões de dióxido de
carbono para a atmosfera e da instabilidade dos preços do combustível é
improrrogável ter de pensar numa fonte de energia mais ecológica e económica.
Neste contexto, além das energias renováveis, como a energia geotérmica,
a eólica, hídrica e fotovoltaica, tem-se investido e investigado cada vez mais a
potencialidade do uso da biomassa. Com o uso biomassa, que além de ter
origem em recursos renováveis e cujo tratamento não imite gases que
contribuam para o efeito de estufa, tem-se variadas fontes de energia, seus
subprodutos não são prejudiciais para o ambiente e cujo acesso das fontes é
fácil e barato.
A biomassa, no sentido lato da geração de energia, engloba toda a matéria
orgânica, de origem tanto vegetal como animal, passível de ser convertida em
energia ou produtos que viabilizem a produção da mesma. A energia contida na
biomassa resulta da captura da energia solar pelas plantas, que posteriormente
a vão transformar em energia química, através do processo de fotossíntese.
Apesar de ser um recurso energético complexo, a biomassa pode ser convertida
em várias outras formas de energia, desde eletricidade, biocombustíveis ou
calor.
Num sentido mais ecológico pode-se dizer que biomassa é parte
biodegradável dos produtos e resíduos da agricultura, da floresta e indústrias
associadas e dos resíduos industriais e urbanos. Simplificando podemos dizer
que são designados por biomassa os resíduos naturais, os resíduos resultantes
das atividades humanas, ou seja, subprodutos da pecuária, pesca, agricultura,
florestas ou exploração da indústria da madeira e a parte biodegradável dos
resíduos sólidos urbanos (lixo doméstico). Ambos os resíduos mencionados têm
a característica de serem recursos renováveis num curto período de tempo.
8
Com tanta diversidade de escolha de matérias-primas como biomassa é
necessário saber a origem e as propriedades das mesmas de forma a saber qual
o produto pretendido e facilitar a seleção do processo de conversão.
1.2 Biomassa
9
biomassa num bom combustível, são o elevado poder calorífico, a baixa
temperatura de ignição, o elevado teor de voláteis e a elevada taxa de
combustão. Em contrapartida, existem fatores que podem limitar a eficiência de
combustão, como a humidade. Estas propriedades são determinadas através da
sua caracterização, sendo classificadas através da análise imediata e poder
calorífico. Através da análise imediata determinam-se os teores de humidade,
cinzas, matéria volátil e carbono fixo. Pode-se sujeitar ainda a amostra a uma
análise termogravimétrica para ter uma noção da relação da perda de matéria
com o aumento da temperatura.
1.2.2.1 Humidade
1.2.2.3 Cinzas
O teor de cinzas (base seca) determinado a 550 - 700 ºC na biomassa varia
normalmente entre 0,1 - 45 %, dependendo da espécie de biomassa. Este teor
e a sua composição química, afetam o comportamento dos processos de
conversão energética (a elevadas temperaturas), nomeadamente no que diz
respeito à formação de aglomerações, o que faz com que aumentem os custos
de manutenção, e por sua vez um aumento dos custos globais do processo[2].
11
1.3 A casca de amendoim como recurso energético em Portugal
12
Os amendoins têm uma variedade de usos na área industrial. Tintas,
vernizes, óleos lubrificantes, roupas de couro, polidor de móveis, inseticidas e
nitroglicerina são feitos de óleo de amendoim. Alguns processos de
saponificação utilizam óleo de amendoim, assim como a produção de diversos
cosméticos. A porção de proteínas do óleo é usado na fabricação de algumas
fibras têxteis[9].
As cascas de amendoim são aproveitadas no fabrico de plástico, gesso,
abrasivos e combustível. Estes são usados para fazer celulose (rayon e utilizado
em papel) e mucilagem (cola). A parte aérea da planta de amendoim é utilizada
para fazer feno. O bolo de proteína (farelo de bagaços), resíduo do
processamento do óleo, é usado na alimentação animal e como fertilizante do
solo. Também pode ser usado, como outros legumes e grãos, para fazer um leite
sem lactose, como bebida, o leite de amendoim. A planta que sustenta os
amendoins pode ser utilizada como alimento para animais de quinta.
O cultivo do amendoim em Portugal é uma tradição nos Açores
(nomeadamente Ilha de São Miguel), mas no continente ainda é recente e tem
vindo a evoluir ao longo dos anos tendo já atingido os 750 hectares de produção,
até porque Portugal é um grande consumidor deste fruto seco [10].
O ciclo da cultura do amendoim é anual e leva de 90 a 150 dias, com
plantio na primavera (maio) e sementeira no verão (junho). Seu plantio exige solo
fértil de textura arenosa. As zonas que melhor se desenvolve são de clima
tropical e subtropical, com temperaturas entre 25 a 35 ºC e humidade relativa
baixa a média[11].
A cultura do amendoim está totalmente mecanizada e entra perfeitamente
na rotação com outras culturas. É melhoradora de solo, porque fixa o azoto
atmosférico através das suas raízes profundas, e praticamente não precisa de
adubo, sobretudo azoto, nem de rega diária. A rotação com a cultura do
amendoim é vantajosa uma vez que esta também apresenta potencial enquanto
fixadora de azoto, particularmente importante nos solos em causa que são
arenosos (pobres)[12].
13
1.4 Análise de mercado
2 Objetivos
14
- Análise Termogravimétrica;
- Análise Imediata;
- Análise do poder calorífico superior;
3 Metodologia
15
procedimentos descritos na norma D1762-84 da American Society for Testing
and Materials (ASTM).
16
𝑚3 – Massa de cadinho + massa da amostra depois da retirada da
determinação de voláteis em gramas
4 Resultados e Discussão
18
A amostra ter apresentado um conteúdo maior de matéria volátil (98,00 ±
0,01 %) do que de carbono fixo (1,75 ± 0,31 %) é o esperado para biomassas
lenhocelulósica, pois estes dois índices são inversamente proporcionais.
O conteúdo de voláteis expressa a facilidade de se queimar o material e a
fração de biomassa remanescente na amostra após o aquecimento é o carbono
fixo. Combustíveis com alto índice de carbono fixo deverão queimar mais
lentamente, portanto requerem maiores tempos de residência nas fornalhas para
queima total em comparação aos combustíveis com baixo índice de carbono fixo.
E como reportado por Demirbas (1997) ao realizar-se a análise elementar,
podemos dizer que os maiores valores de voláteis presentes nas biomassas
fazem com que elas apresentem também uma alta reatividade, porém, como
possuem teores mais baixos dos conteúdos de C e H quando comparado ao
carvão fazem que com esses materiais apresentem menores valores de PCS[15].
A amostra analisada apresenta quantidade baixa de teor de cinzas, o teor
médio de cinzas encontrado para a amostra foi de 2,06 ± 0,07 %, que pode ser
considerado interessante, visto que um excesso de cinzas não é desejado
quando se deseja a utilização dessa biomassa em processos industriais, pois o
conteúdo presente nas cinzas pode gerar problemas de deposição,
incrustrações, aglomeração, entre outros, processos estes que prejudicam o
rendimento dos trocadores de calor e consequentemente diminuem a eficiência
do processo[16].
19
Média 0,2506 4248,6996 17,78
Uma vez que a cultura deste fruto seco se dá melhor em terrenos arenosos
e com abundância em calcário, solos característicos do sul de Portugal, seria
bastante dispendioso tentar a produção no Norte do país. No entanto, é no norte
do país onde está localizada a maior parte da população portuguesa (35,9 %),
bem como muitos dos parques industriais[19].
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Atualmente, a Torriba S.A. é uma organização de produtores de
hortofrutícolas pioneira e a maior produtora de amendoins de Portugal,
localizada na região do Ribatejo (figura 4), representa mais de 150 produtores
com uma área de produção de 6000 hectares total, onde em 2017, 450 hectares
destes eram destinados a cultura de amendoim[5].
Figura 4 – Localização no mapa de Portugal onde está localizada a região do Ribatejo e as vias de
transporte que nela passam.
Fonte: https://www.visitribatejo.pt/pt/mapa-do-ribatejo/conheca-o-ribatejo/
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de uma unidade fabril que realizasse estes processos na região Norte, mais
especificamente no parque industrial de Vila do Conde, por exemplo, os
diminuiria e facilitaria a dispersão do produto para retalho. E como a região em
que se localizam as plantações de amendoim é considerada o coração de
Portugal, pois é cruzada pelas melhores vias rodoviárias e ferroviárias o
transporte não seria um problema.
Esta nova unidade então, seria responsável pelos processos de limpeza,
secagem, descasque, classificação, embalagem e distribuição dos amendoins
das variadas indústrias deste produto, como mostra a figura 5. Já as cascas de
amendoim geradas na unidade de descasque seriam destinadas para a
produção de energia para o abastecimento da própria indústria e até mesmo
para a região em que está localizada.
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Como a cultura de amendoim pode ser uma cultura rotativa, seria
interessante investir em produção de energia reutilizando o descarte de cascas
outras matérias-primas para produção de energia diversificando a parceria com
outras indústrias do ramo alimentício para fazer as etapas de secagem, limpeza,
descasque, classificação, embalagem e distribuição de outras oleaginosas que
seguem um processo semelhante ao do amendoim.
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em tecnologias de conversão e processamento, é necessário continuar os
esforços de aprofundamento sobre o tema numa pespectiva de crescimento e
adaptabilidade de mercado e necessidade dos consumidores.
Dito isto, considera-se oportuno o desenvolvimento em trabalhos futuros as
seguintes linhas de investigação:
25
Bibliografia
[1] - Pires, R. M. (2008). “Alternativas Energéticas: O biocombustível, o biogás e
a biomassa sólida”. Aveiro. “Biomassa”. Jovem Socialista.
[2] - Vassilev, S. V., Baxter, D., Andersen, L. K., & Vassileva, C. G. (2010). An
overview of the chemical composition of biomass. Fuel, 89(5), 913-933.
[3] - Denari, G. B., & Cavalheiro, E. T. G. (2012). Princípios e aplicações de
análise térmica. São Carlos: IQSC, 40.
[4] - Louro, G., Rego, F., Monteiro, M., & Machado, H. (2013). As Fileiras
Baseadas na Floresta: Análise Sectorial. Silva Lusitana, 21(ESPECIAL), 01-19.
[5] – Torriba S.A. http://www.torriba.pt/produto/amendoim – Consultado em 02
de janeiro de 2021.
[6] - Duarte, A. (2008). Amendoim–A «Noz Subterrânea». Cultivo em Aljezur. Al-
Rihana, Revista Cultural do Município de Aljezur, 4, 23-41.
[7] - Batalla, L., Nunez, A. J., & Marcovich, N. E. (2005). Particleboards from
peanut‐shell flour. Journal of Applied Polymer Science, 97(3), 916-923.
[8] - Melo, M. A. R., da Silva, E. V., Vasconcelos, G. C., Vasconcelos, E. H., &
Gouveia, A. (2016). Qualidade de biodiesel de soja, mamona e blendas durante
armazenamento Quality of biodiesel soy, castor beans and blends during
storage. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, 11(5),
143-148.
[9] - de Miranda, E. M. (2008). Amendoim forrageiro: importância, usos e manejo.
Embrapa Agrobiologia.
[10] - Silva, C. (2010) “Oportunidade para frutos secos”. Ciclo de conferências
fora da casca., p. 1-23.
[11] – Revista Jardins - https://revistajardins.pt/a-cultura-do-amendoim/ -
Consultado a 02 de janeiro de 2021.
[12] - Sabes, J. J. S., & Alves, A. F. (2014). O agronegócio do amendoim: estudo
e comparação dos padrões sazonais de comportamento dos preços no período
de janeiro de 1996 a dezembro de 2005. Available in: Acess, 3.
[13] - García, R., Pizarro, C., Lavín, A. G., & Bueno, J. L. (2012). Characterization
of Spanish biomass wastes for energy use. Bioresource technology, 103(1), 249-
258.
26
[14] - Demirbas, A., Gullu, D., Caglar, A., & Akdeniz, F. (1997). Estimation of
calorific values of fuels from lignocellulosics. Energy Sources, 19(8), 765-770.
[15] - Braz, C. (2014). Caracterização de biomassa lignocelulósica para uso em
processos térmicos de geração de energia. 2012 (Doctoral dissertation, Tese
(Mestre em Química)-Instituto de Química–Campus de Araraquara da
Universidade Estadual Paulista–UNESP, Araraquara).
[16] - Orozco, R. S., Hernández, P. B., Morales, G. R., Núñez, F. U., Villafuerte,
J. O., Lugo, V. L., ... & Vázquez, P. C. (2014). Characterization of lignocellulosic
fruit waste as an alternative feedstock for bioethanol
production. BioResources, 9(2), 1873-1885.
[17] - Martin, A. R., Martins, M. A., da Silva, O. R., & Mattoso, L. H. (2010).
Studies on the thermal properties of sisal fiber and its
constituents. Thermochimica Acta, 506(1-2), 14-19.
[18] - Jenkins, B., Baxter, L. L., Miles Jr, T. R., & Miles, T. R. (1998). Combustion
properties of biomass. Fuel processing technology, 54(1-3), 17-46.
[19] – Instituto Nacional de Estatística. https://www.ine.pt/ - Consultado em 03
de janeiro de 2021.
[20] – Cultura do Amendoim. https://www.vidarural.pt/producao/amendoim-
pode-entrar-na-rotacao-outras-culturas/ - Consultado em 03 de janeiro de 2021.
[21] - Base de Dados Portugal Contemporâneo. https://www.pordata.pt/Home -
Consultado em 03 de janeiro de 2021.
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Anexos
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0,0204
%Ash1 = 𝑥 100 = 2,133 %
0,9562
%Ash2 = 2,096 %
%Ash3 = 1,946 %
%CF2 = 1,99 %
%CF3 = 1,99 %
29
Anexo B – Conversão do PCS (cal/g) para (MJ/kg)
0,0041868 MJ/𝑘𝑔
PCS1 = 4286,6005 𝑐𝑎𝑙/𝑔 𝑥 = 17,94 MJ/𝑘𝑔
1 𝑐𝑎𝑙/𝑔
Como o ensaio foi realizado em duplicado, o valor de PCS foi a média dos
ensaios.
17,94 + 17,63
PCSmédio = = 17,78 MJ/𝑘𝑔
2
30
Anexo C – Cálculo do rendimento em energia
31