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Sociologia Geral

Aluna: Eliza Celi Heringer Soares

Resumo do livro “O Nascimento das Fábricas” de Edgar de Decca

“Dentre todas as utopias criadas a partir do século XVI, nenhum se realizou tão
desgraçadamente como a da sociedade do trabalho”
O autor Edgar de Decca expressa nesse trecho sua indignação acerca da organização do
trabalho e da mudança de significado do trabalho pregada pela indústria capitalista.
O autor destaca a mudança da palavra trabalho de punição e atividades de
extremo cansaço para uma imposição de valor positivo na sociedade moderna, em que o
labor saiu da posição de desprezo à de maior importância. Dessa forma, exemplificou
com os ideias de Adam Smith que aponta o trabalho como fonte de toda a riqueza e
Hannah Arendt “ fonte de toda a produtividade e expressão da própria humanidade do
homem”. Assim, ele pontua que o principal impulsionador para a revolução industrial
foi a mudança de pensamento e não só os avanços tecnológicos de produção, o que é
amplamente disseminado por vários pensadores e historiadores, apesar da invenção da
máquina definir a fábrica como lugar de superação das barreiras humanas, segundo
Engels.
A nova positividade exigiu do trabalhador uma submissão ao padrão de produção
e colocou uma bússola moral sobre o tempo útil e produtividade no local de trabalho.
Decca coloca a imposição de ideias da classe dominante sobre o resto da
sociedade como o ponto de sucesso da revolução industrial. Nesse sentido, agir de
acordo com as “regras do jogo” é algo predeterminado pelo mercado, ditando não só as
tecnologias eficazes, mas também impedindo cogitar outras tecnologias. Isso
exemplifica a “ impotência social” , um domínio social no qual os homens se veem
impossibilitados de pensar além de registros que se impõem à vista de todos como uma
ordem natural. Isso não significa que não exista capacidade em desenvolver novas
técnicas, mas que nos é vetado pensar na possibilidade de poder mudá-las. Portanto, a
divisão do trabalho não esta referida a questão de maior ou menor produtividade do
trabalho, mas sim à apropriação mesma dos saberes.
A nova ordem imposta pela burguesia e a noção de tempo útil, essas introjeções
de um relógio moral no corpo de cada homem demarca decisivamente os dispositivos
criados por uma nova classe em ascensão. As exigências imperiosas para o comerciante
que se envolve na esfera do mercado como autocontrole e critica à ociosidade
demarcam a valorização do tempo e mostram todo o artefato moral de uma classe de
mercadores que se impõe a si mesma os critérios de sua identificação: tempo é dinheiro.
É a demonstração de como as ideias de uma classe dominante tornaram-se as
idéias dominantes de toda a sociedade através de um persistente trabalho de imposição
de novos valores, pela imagem do tempo como moeda no mercado de trabalho. O
mercado se transforma em uma entidade universal na qual os homens reconhecem a si
próprios e se opõem a qualquer dispositivo imaginário que coloque a ordem social fora
do âmbito desse novo universo. A imagem do capitalista toma um lugar imprescindível
para o próprio processo de trabalho, suprimindo a luta de classes.
Stephen Marglinm, no livro “Para que servem os patrões”, acompanha o
desenvolvimento do “putting-out system”, primeira organização do sistema de
produção, em que capitalista tem o acesso ao mercado e veta aos trabalhadores direto
esse contato, mas, ainda assim esses últimos ditam o
processo de produção. A figura do capitalista no interior do processo produtivo, e o
trabalhador, distante do mercado, tanto para a obtenção de matéria-prima como para a
comercialização de seus produtos, detém, única e exclusivamente, o controle do
processo de trabalho. No sistema de fábricas, esses trabalhadores foram reunidos num
mesmo local de trabalho, não pelos avanços das técnicas de produção, mas pelo
aumento do controle e do poder do capitalista sobre o conjunto de trabalhadores que
ainda detinham os conhecimentos técnicos e impunham a dinâmica do processo
produtivo.
Na fábrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilância e outras formas de controle
tornaram-se tangíveis a tal ponto que os trabalhadores acabaram por se submeter a um
regime de trabalho ditado pelas normas dos mestres , o que representou, o domínio do
capitalista sobre o processo de trabalho.
Ja no Brasil, se aproximarmos dos textos de observadores da colônia que
descrevam o engenho, é possível confundi-los com textos como os de Engels que
descrevam as “satânicas fábricas escuras” escritos em 1844. A situação dos
trabalhadores pode assemelhar-se com as descritas em sermões do Padre Vieira de
1633, em q ele relata a presença de fornalhas ardentes alimentadas por trabalhadores
exauridos e caldeiras ferventes de exalam calor e fumaça que empesteiam o céu, o
escurecendo, assim como os vulcões quando entram em erupção.
Outro escritor, Antonio de Barros Castro, para sua tese de doutorado, caracteriza
o trabalho dos escravos nos engenhos brasileiros como jornadas de trabalho tão extensas
quanto fisicamente possível, divisões e especializações de trabalho e sem descanso,
cada parte da produção passa por um grupo diferente de escravisados. O produto
produzido não era dos escravos e sim dos engenhos.
A autora Alice Canabrava também compartilha da ideia de especialização do
trabalho, porém em um nível muito mais simplório; divisão de tarefas por sexo, sendo
classificado por esse critério os aptos para o trabalho no engenho e outros capacitados
apenas para tarefas complementares, e pontua que esse aspecto estabelece a
peculiaridade do sistema de produção.
O trabalho que ocorria nos engenhos não era, pelos moldes revolucionário, um
trabalho qualificado, pois este não era assalariado, mas sim escravo. E um ponto
importante de diferenciação entre esses dois é que no primeiro a disciplina era imposta
através da extrema especialização, que impedia o trabalhador de ter domínio total das
técnicas de produção, e no segundo a disciplina era garantida por um método severo e
autoritário que suprimia formas de resistência.
Alice discorre também sobre a evolução tecnológica dentro dos engenhos que os
transfomaram na usina de açúcar e possibilitaram um aumento exponencial na
produção. A autora fala sobre a adoção de antilhas, da utilização da água como força
motriz e também aponta o papel do senhor de engenho para o funcionamento da
produção como um todo.
O senhor de engenho agia como representante do poder e prestígio do sistema,
deveria ser opulento e autoritário, ostentar qualidades que expressam capacidade, modo
e agenda, além da habilidade de administrar, ter conhecimentos intelectuais e morais,
experiência, ou seja, ser um homem preparado. Pois so assim, era possível manejar o
sistema do engenho açucareiro.
Por fim Edgar de Decca questiona o porquê do sistema de fábricas ser vitorioso e
o esboço dele, o engenho açucareiro, não. Um dos principais pontos destacados por ele
é a imposição de pensamento sobre a ideia de trabalho e a remuneração, ainda que
baixa.
Ele aponta que dentro da própria realidade do confronto entre capital e o trabalho,
a tecnologia, ainda q seja índice de aumento de produtividade e base material para
acumulação de capital, o fator disciplinar aplicado sobre a classe trabalhadora, controla
hierarquicamente a produção, impedindo o trabalhador de fazê-la. Isso funcionou
porque, segundo Decca, o sistema de fábrica soube impregnar a bússola moral no
imaginário da força laboral de maneira tão intrínseca que esta era incapaz de distinguir
que essa ideia não partia dela, mas sim de uma classe dominante. A disseminação desse
sistema nas várias instituições, sejam elas públicas ou privadas, permitiram e
legitimaram o controle da disciplina e conhecimentos tecnológicos na esfera fabril.
Por isso, no mercado capitalista a tecnologia associada ao fator disciplinar foram
elementos determinantes na constituição desse mercado, ja que expandiram a produção
e aumentaram o consumo crescente de bens de produção. Assim, nesse perspectiva, o
sistema de fábrica tornou-se vitorioso, pois nele desenvolveram-se as condições para
que a tecnologia pudesse transformar os elementos prioritários para a acumulação de
capital. Dessa maneira, as formas arcaicas e pre capitalistas (as usinas açucareiras) deu
lugar à organização sociais capitalistas de trabalho (as fabricas).

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