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Perícia de Engenharia: dúvidas e respostas sobre uma área de

fundamental importância para a sociedade

A “perícia” é um   exame técnico de caráter especializado . Na


Engenharia ela é de fundamental importância para a segurança do
usuário de edificações, já que através dela é feita a prevenção de
possíveis desastres.

 
Isso é feito por meio de laudos e estudos aprofundados que detectam o
grau de comprometimento de estruturas. Esses laudos também apontam
soluções técnicas para que eventuais problemas sejam
corrigidos, visando a segurança das pessoas.

 
Para que se tire qualquer dúvida sobre o trabalho de um Perito de
Engenharia, bem como responsabilidades técnicas e afins, o site do
Crea-PA conversou com um especialista da área, o Engenheiro Civil
Alexandre Ferreira, que também é presidente da Associação Brasileira de
Engenheiros Civis (Abenc-PA). Acompanhe: 

  
Quando é exigida a elaboração de Laudo de Perícia de Engenharia?

 
R: Sempre que houver sintomas aparentes de patologia (s) em uma
edificação, demonstrando que algum sistema está em processo de
falência, que fatalmente pode evoluir para uma situação grave, logo, nos
leva à preocupação maior que é a segurança dos usuários da edificação.

 
 

Quais as partes componentes desse Laudo?

R: O laudo técnico pericial é o relato pormenorizado do profissional


especialista designado para avaliar determinada situação de dano,
centrada em suas prerrogativas de conhecimentos técnicos. O laudo
deve traduzir com precisão as impressões e conclusões captadas
pelo especialista, em torno do fato litigioso, por meio de mapeamento
e identificação dos fatos e amparado em ensaios e projetos e
documentação técnica da edificação.

 
Para evitar a ocorrência de trabalhos periciais onde prepondera a
superficialidade, ou que são executados sem a utilização de qualquer
instrumento de suporte às conclusões desejadas, não se observando os
requisitos contidos na Norma Técnica, é que se deve atender aos
requisitos abaixo:

a) Indicação da pessoa física ou jurídica que tenha contratado a


produção da prova técnica e do proprietário do bem objeto do laudo
pericial;

 
b) Requisitos atendidos na perícia : 1) à metodologia empregada; 2) aos
dados levantados; 3) ao tratamento de cada elemento coletado na perícia
e trazido ao laudo; 4) à menor subjetividade inserida no laudo.

 
b1) Requisitos Essenciais: O levantamento de dados deve trazer todas as
informações disponíveis que permitam ao perito elaborar seu parecer
técnico. A qualidade do laudo pericial deve ser assegurada quanto à: 1)
Inclusão de um número adequado de fotografias de cada local periciado,
com exceção daqueles casos onde ocorrer impossibilidade técnica; 2)
Execução de croquis de situação; 3) Descrição sumária de cada bem
objeto da perícia nos seus aspectos físicos, dimensões, áreas, utilidades,
materiais construtivos, etc.; 4) Indicação e perfeita caracterização de
eventuais danos e/ou eventos encontrados.

 
b2) A qualidade do laudo pericial deve estar assegurada quanto à:
Inclusão de um número ampliado de fotografias, garantindo maior
detalhamento por bem periciado; Descrição detalhada dos danos e locais
nos seus aspectos físicos, dimensões, áreas, utilidades, materiais
construtivos, etc.; 1) Apresentação de plantas individualizadas, que
podem ser obtidas sob forma de croqui; 2) Indicação e perfeita
caracterização de eventuais danos ou eventos encontrados, com planta
de articulação de todas as fotografias utilizadas perfeitamente
numeradas; 3) Análise de danos, avarias e/ou eventos encontrados,
apontando as prováveis causas e consequências; 4) Ensaios
laboratoriais, quando se fizerem necessários.

 
b3) Condições a serem observadas: Ao perito é obrigatório a
especificação, em qualquer parte do laudo pericial, dos requisitos
obedecidos, sejam eles essenciais ou complementares, devendo
apresentar justificativa fundamentada nas hipóteses em que isto não
ocorrer (situações especiais).

 
c) Relato e data da vistoria, com as informações relacionadas em:

1) Construções: descrição, compreendendo classificação; características da


construção, com ênfase para fundações, estrutura, vedações, cobertura e
acabamentos; quantificação, abrangendo número de pavimentos e/ou
dependências, dimensões, áreas, idade real e/ou aparente e estado geral
de conservação;

2) Instalações, equipamentos e tratamentos: compreendendo as instalações


mecânicas, eletromecânicas e eletrônicas de ar condicionado; elétricas e
hidráulicas, de gás; de lixo; equipamentos de comunicação interna e
externa de sonorização, tratamento acústico e outros.

3) Constatação de danos: Caracterizar, classificar e quantificar a extensão


de todos os danos observados; as próprias dimensões dos danos definem
a natureza das avarias, qualquer que seja a nomenclatura (fissura, trinca,
rachadura, brecha, fenda, etc.).

4) Condições de estabilidade do prédio. Qualquer anormalidade deve ser


assinalada e adequadamente fundamentada,

5) Fotografias detalhadas e perfeitamente legendadas e indicadas o local no


mapa de danos.

  
d) Diagnóstico da situação encontrada ;

 
e) Conclusões, Correções e remediações recomendas;

  
f) Nome, assinatura, número de registro no CREA e credenciais do
Perito de Engenharia.

 
g) Anexar: Memórias de cálculo, resultados de ensaios e outras
informações relativas à sequência utilizada no laudo pericial

 
Nas Perícias de Engenharia, é obrigatória a Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) instituída pela Lei nº 6496/77.
Ressalte-se que, tanto o laudo pericial quanto o parecer técnico, são
documentos de Engenharia e envolvem responsabilidades técnica e civil
dos profissionais autores.

 
Quais os procedimentos técnicos que devem ser adotados num
Laudo pericial?

R: Os acima elencados com destaque inicial de procedimentos


de Vistoria “in loco”, mapeamento dos danos, registro fotográfico,
realização de ensaios e testes destrutivos e não destrutivos,
instrumentação da patologia ativa, estudo dos projetos de arquitetura e
engenharia, e realização de manutenções periódicas de rotina e
obrigatórias.
 

Precisa descrever o sistema estrutural existente?

 
R: Sim, ele é a parte que permite a sustentação da edificação, estável
e segura, nesse sistema estão compostas as fundações, cintas, pilares e
lajes intimamente interligados. Correm por dentro do sistema estrutural os
sistemas de água, esgoto, energia elétrica, etc.Se o sistema estrutural
estiver comprometido, todos os demais sistemas serão levados a falência.

Precisa identificar pontualmente os danos existentes?

 
R: Sim, através do mapeamento dos danos é que irá se determinar os
testes de verificação que devem ser feitos: medições de trincas,
corrosão de armaduras, ensaios de ultrassom, pacometria, esclerometria,
extração de corpo de prova cujos resultados vão amparar e fundamentar
a extensão do problema, as conclusões e indicações de correção pelo
profissional especialista em perícias de engenharia. O sintoma local nem
sempre representa que a patologia está ali instalada. O sintoma pode ser
o resultado de um processamento de danos proveniente de outro (s) local
(is) de edificação.

 
Como identificar as causas dos danos observados?

 
R: Inicialmente pelo rastreamento e pesquisa aprofundada dos
sintomas visíveis como destacamento de reboco, trincas, afundamento
da edificação, desnivelamentos de pisos, vazamentos de águas,
destacamento de tintas, bolor, etc. e aprofundamento de pesquisa interna
e externa dos sistemas afetados.

Os danos observados podem ter relação com a manutenção dos


sistemas da edificação?

 
R: Sim, na grande maioria das vezes, esses danos são oriundos da
ausência ou manutenção feita sem critérios técnicos, qual seja,
desatendimento dos procedimentos e prazos prescritos pelas normas
técnicas vigentes. A manutenção deficiente ou inerte leva a falência dos
sistemas que compõem uma edificação, podendo levá-la ao
desabamento .
Que sistemas são esses?

 
R: Sistema estrutural (fundações, cintas, paredes autoportantes, pilares e
lajes), sistema de vedação (paredes), sistema de água e esgoto, caixas
de passagem, caixas de gordura, sistema de ar condicionado, sistema de
iluminação e energia elétrica, sistema de impermeabilização, sistema de
pinturas, cobertura, tudo o que integra a edificação.

Cada sistema tem um prazo de manutenção diferenciado?

 
R: Sim, posto que são feitos de materiais diferenciados. Pelas normas
técnicas de desempenho as edificações e precedidos da devida
manutenção, devem apresentar Vida Útil de Projeto (VUP). Para
exemplificar: sistema estrutural (em torno de 50 anos), pisos internos (em
torno de 13 anos), vedação vertical interna (em torno de 20 anos),
cobertura (em torno de 20 anos), sistema hidrossanitário (em torno de 20
anos). Essa norma também fixa critérios e requisitos que os sistemas
devem atender como: Desempenho estrutural; Segurança ao fogo;
Segurança; Estanqueidade; Desempenho térmico; Desempenho acústico;
Durabilidade e Manutenibilidade; Funcionalidade e acessibilidade;
Conforto táctil, visual e antropodinâmico.

Quem são os responsáveis pela manutenção de edificação?

R: O proprietário, síndico ou preposto destacado para tomar conta da


edificação. Acrescento que toda edificação deve ter um manual de
manutenção construído com base nas normas técnicas, porte e sistema
instalados.

 
Que malefícios podem causar à edificação a presença de infiltração,
seja em paredes, lajes ou vigas?

 
R: Desplacamento de rebocos e revestimentos, corrosão das armaduras
com expansão, dilatação interna dos componentes estruturais (pilares,
vigas e lajes), se nada for feito, o trincamento deve aumentar e evoluir
com o tempo, que pode vir a comprometer significativamente o sistema
estrutural, que vai abalar a solidez e estabilidade da edificação, com
danos espraiados aos demais sistemas, resultando no comprometimento
do uso da edificação.
A presença de água prejudica ou compromete o desempenho do
concreto armado em que sentido?

 
R: O concreto armado  é a união solidária do concreto com oaço , um
combate a compressão e outro combate a flexão. Se o aço é atacado pela
água, forma-se um processo químico de corrosão do sistema de
ferragem, que vem a comprometer o sistema estrutural instalado.

Uma simples vistoria visual é suficiente para apontar as patologias


existentes, sua origem e consequência?

 
R: Claro que não, a vistoria deve ser feita minuciosamente com
aparelhos para instrumentar todo o sistema estrutural e demais
sistemas comprometidos. A inspeção visual não permite que seja
verificada a situação interior das estruturas e interior dos demais
sistemas. Seria uma leviandade e irresponsabilidade profissional relegar a
vistoria somente ao plano visual.

Que instrumentos deve o perito utilizar em uma vistoria em


edificação de grande porte?

 
R: Prumos, trena, níveis óticos, níveis de mão, proceder a esclerometria,
ultrassom, pacometria, retirar amostras da estrutura, mapear os danos no
respectivo projeto, estudar profundamente os projetos da edificação,
estudar os planos de manutenção efetivadas na edificação. Fixar pontos
de referência fixos para medir a nível de estabilidade da edificação.

Havendo perigo iminente na edificação contra a segurança das


pessoas, que providências o Perito deve prescrever?

 
R: Imediatamente mandar isolar o local, escorar as partes
comprometidas, e afastar, imediatamente, o uso por parte dos
usuários até que seja prolatado o Laudo Técnico Pericial com
apontamento das patologias e respectivas causas, além de prescrição das
ações de correção e remediação.

 
Quais as normas da ABNT que fundamentam a Perícia Técnica, os
serviços de Manutenção e o Desempenho de Edificação?

R: Não é demais lembrar que as Normas de Engenharia prescritas pela


ABNT são normas de caráter técnico obrigatório, tal qual como
inferidas pela Lei do Consumidor. Identificação das Normas questionadas:
“Perícias de engenharia na construção civil” – NBR 13752/1996; “Norma
de Manutenção de edificações — Requisitos para o sistema de gestão de
manutenção”: NBR 5674/2012; “Normas de Desempenho das
edificações”: NBR 15575/2013 PARTES 1 a 5. Destacamos também como
muito importante a “Norma de Diretrizes para elaboração de manuais de
uso, operação e manutenção das edificações — Requisitos para
elaboração e apresentação dos conteúdos”: NBR: 14037/2011 Versão
Corrigida:2014 – essa norma é quem define os critérios de manutenção
das edificações pela criação de um manual de serviços e manutenção
requeridos aos sistemas da edificação.

 
a) prevenções de perda de desempenho decorrente das ações de
intervenção gerais ou pontuais nos sistemas, elementos ou componentes
da edificação;

b) planejamento, projetos e análises técnicas de implicações da reforma


na edificação;

c) alteração das características originais da edificação ou de suas


funções;

d) descrição das características da execução das obras de reforma;

e) segurança da edificação, do entorno e de seus usuários;

f) registro documental da situação da edificação, antes da reforma, dos


procedimentos utilizados e do pós-obra de reforma;

g) supervisão técnica dos processos e das obras.

 
Quem está apto a realizar perícias de Engenharia na área Civil, na
área Elétrica e na área Naval?

 
R: Os especialistas nas respectivas áreas tecnológicas. Na
Engenharia Civil, o Engenheiro Civil.  Na Engenharia Elétrica, o
Engenheiro Eletricista e correlatos. Na área Naval, o Engenheiro Naval. O
profissional que adentrar na área de conhecimento específico de outro
profissional estará exorbitando no desempenho de suas atribuições
técnicas e, assim, passível de julgamento e sanção da Comissão de
Ética do sistema Profissional, que pode levar a suspensão ou a cassação
do registro profissional.

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