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INTRODUÇÃO
Muitos me perguntam sobre quais livros ler para estudar cinema, então decidi elaborar um
guia de leituras dividido em estágios de conhecimento, contendo também uma sugestão de
ordem para ler tais livros. Essa ordem não é obrigatória, mas pode ajudar na linearidade
dos seus estudos.
Os livros são divididos em fases da seguinte forma: na primeira fase, são livros que dão
uma base histórica e da linguagem do cinema. Na segunda fase, estudam-se teorias
específicas da linguagem, além de elementos dessa linguagem. E na terceira fase,
aprofundamos os conhecimentos sobre mise-en-scène, ou unidade estilística.
FASE 1
Para quem nunca leu sobre cinema e quer ter um repertório básico sobre história e
linguagem, indicarei quatro livros. É interessante ler ao menos um ou dois desses.
O livro de Mark Cousins é o que mais indico para quem está começando a ler sobre cinema,
porém a versão em português, atualmente, está esgotada. Existe um e-book disponível,
mas em inglês.
Cousins não apenas descreve a história do cinema, mas também propõe um recorte mais
pessoal. É um livro informativo e crítico. O autor, por exemplo, tem uma visão diferente do
cinema clássico da de outros teóricos. Ele cria um termo (realismo romântico fechado) para
falar sobre os filmes clássicos de Hollywood e apresenta reflexões mais específicas.
Além de falar sobre grandes filmes e grandes cineastas, o autor também comenta sobre
cineastas experimentais, cineastas menos conhecidos e contextualiza o momento histórico
dos filmes.
Tudo sobre Cinema é uma alternativa ao livro de Mark Cousins. Foi organizado por Philip
Kemp e conta com a participação de vários colaboradores.
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Por ter autores diferentes, não propõe um recorte pessoal como Cousins. Mas é
extremamente informativo e tem linguagem fácil e direta.
O autor brasileiro não propõe um recorte exatamente cronológico, mas separa o conteúdo
da obra por regiões do mundo e por movimentos cinematográficos. Mostra como o cinema
atua como uma expressão cultural em cada uma dessas regiões.
O livro tem uma abordagem mais “enciclopédica” e segue um formato informativo. Ballerini
tem uma linguagem fácil e didática. Ao final de cada capítulo, traz uma lista de filmes
essenciais sobre o assunto que trata.
e
Apesar de ter o mesmo nome do livro de Ballerini, História do Cinema Mundial, d
Mascarello, é um livro mais limitado.
Ele apresenta alguns movimentos mais básicos do cinema mundial, como a Nouvelle
Vague, o Neorrealismo Italiano e o cinema de Hollywood. Porém como cada capítulo é
escrito por um autor diferente, esses temas possuem abordagens muito distintas.
O livro não deixa de ser uma boa leitura informativa no que diz respeito a aspectos mais
básicos, mas o livro de Ballerini é mais organizado e completo.
FASE 2
Depois de termos uma base histórica, iremos estudar a linguagem do cinema. As teorias e
os elementos específicos dessa linguagem.
O QUE É O CINEMA?
ANDRÉ BAZIN
Esse livro contém alguns dos textos mais importantes de André Bazin, um dos críticos
fundadores da Cahiers du Cinéma e um dos teóricos mais importantes do mundo.
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A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
MARCEL MARTIN
Esse é um livro antigo, mas um clássico para quem estuda cinema. Martin é pontual ao
definir aspectos básicos da linguagem cinematográfica. O autor escreve sobre montagem,
decupagem, elipses, elementos sonoros e etc. Define muito bem tais aspectos mais
essenciais da linguagem.
O livro de J. Dudley Andrew fala sobre várias teorias da linguagem do cinema. Não é um
livro que expõe uma teoria específica, mas comenta sobre as teorias de autores importantes
como André Bazin, Serguei Eisenstein e Christian Metz.
O livro não deve substituir a leitura de tais autores, mas serve como uma obra que sintetiza
e até confronta algumas dessas teorias. É uma obra que dá um ótimo panorama sobre
alguns dos teóricos mais essenciais do cinema.
Além de falar sobre algumas teorias do cinema, Robert Stam comenta sobre tendências
teóricas que vão além do audiovisual. Tendências que influenciaram ou foram influenciadas
pelo cinema, como a Escola de Frankfurt, teoria queer, feminismo e etc. Ele concilia teorias
do cinema com expressões culturais e artísticas de forma geral.
A linguagem do autor é mais acadêmica e menos acessível do que a dos autores da fase 1,
porém é uma leitura interessante por propor essa ponte do cinema com outros temas
culturais globais.
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Esse livro é um caso bem específico. Ele toca em vários aspectos do cinema, como história
do cinema, crítica, produção, aspectos essenciais da linguagem, traz uma definição do que
é forma fílmica para os autores e fala sobre mise-en-scène.
Em termos de conteúdo, o livro é muito abrangente. Ele acaba tocando em vários aspectos
dos livros da fase 1 e da fase 2. Porém eu não acho que essa obra deva substituir todos os
livros de tais fases pois é interessante termos contato com autores e perspectivas
diferentes.
FASE 3
Após ter o conhecimento obtido com os livros da primeira e da segunda fase, é interessante
começar a estudar os aspectos da mise-en-scène.
Nesse livro, Oliveira Jr. fala sobre a origem do termo e sobre teorias mais contemporâneas
da mise-en-scène. Sobre como a ideia de encenação audiovisual foi se transformando ao
longo da história.
Ele parte de uma tradição da crítica francesa, a qual concebeu muito dessas ideias. Oliveira
Jr. comenta, também, sobre uma possível crise na mise-en-scène que surge no cinema
moderno e no contemporâneo.
Crise no sentido de que surgiram e vêm surgindo filmes que desafiam possíveis
convenções da mise-en-scène, que propõem unidades estilísticas cada vez mais complexas
e abstratas.
O CINEMA E A ENCENAÇÃO
JACQUES AUMONT
Aumont fala bastante sobre a virada do primeiro cinema para o moderno, comenta sobre
como as concepções de plano e decupagem afetam a ideia da encenação audiovisual. O
livro tem uma linguagem mais acadêmica. É interessante se ler com algum conhecimento,
quando já se entende sobre história do cinema e elementos da linguagem.
O mais interessante do livro de Adrian Martin é que ele não se foca somente na tradição da
crítica francesa sobre mise-en-scène. A obra mostra como essas ideias foram recebidas
por outros críticos e outros contextos.
O autor também reflete sobre a ideia de filme dispositivo, que são filmes que criam regras
para suas próprias mise-en-scène, ou seja, que impõem um certo princípio para a
encenação. Uma tendência que pode ser percebida em um certo cinema contemporâneo.
CONCLUSÃO
Essas três fases são apenas uma sugestão. Se você já leu alguns dos livros em outra
ordem, não se preocupe. Todas essas obras acabam sendo essenciais para a sua
formação.
Alguns conceitos ou termos podem não ser compreendidos à primeira vista, mas o
importante é continuar a leitura. Mesmo que você não entenda tudo o que, por exemplo,
André Bazin escreva em um ensaio, provavelmente você irá conseguir assimilar a ideia
principal. Por isso é sempre interessante estar relendo tais obras mais definidoras.
Existem ainda vários outros livros que podem complementar essas fases. Essa aula serviu
para apresentar apenas alguns que eu considero essenciais.