Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/258927790
CITATIONS READS
0 1,502
10 authors, including:
Leonardo Quintella
Fundação Oswaldo Cruz
73 PUBLICATIONS 1,102 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS HISTOPATOLÓGICOS DAS LESÕES CUTÂNEAS DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA View project
All content following this page was uploaded by Leonardo Quintella on 26 May 2014.
1 – Serviço de Zoonoses, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Av. Brasil 4365,
21045-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail address: isabele.santos@ipec.fiocruz.br ;
2 – Serviço de Anatomia Patológica, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ), Rio de Janeiro, Brasil;
3 – Serviço de Anatomia Patológica Doutor Jefferson Andrade dos Santos - Faculdade de Veterinária - Universidade
Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.
RESUMO: SANTOS, I. B. dos; MIRANDA, L. H. M. de; OKAMOTO, T.; FIGUEIREDO, F. B.; SCHUBACH,
T. M. P.; LEME, L. R. P.; QUINTELLA, L. P.; TORTELLY, R. Leishmaniose tegumentar americana canina no
rio de janeiro – revisão. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 28 n 1, p.
27-38, jan-juh, 2008. A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma zoonose amplamente distribuída no território
brasileiro. No estado do Rio de Janeiro é endêmica, causada por Leishmania (Viannia) braziliensis e transmitida pelo
flebotomíneo Lutzomyia intermedia. Possui evolução crônica e acomete a pele e mucosas, isoladamente ou em
associação, de seres humanos, cães, gatos e eqüinos. Nos cães, se caracteriza pela presença de lesões cutâneas ulceradas,
por vezes recobertas por crostas, geralmente únicas, localizadas nas orelhas, bolsa escrotal, focinho e membros, e tem
a esporotricose como principal diagnóstico diferencial. O diagnóstico definitivo depende da identificação de formas
amastigotas em tecido ou promastigotas em meios de cultura. Os anticorpos anti-Leishmania podem ser identificados
no soro utilizando-se as técnicas de ensaio imunoenzimáitco e reação de imunofluorescência indireta, podendo ocorrer
reações cruzadas. A intradermoreação de Montenegro é um teste de hipersensibilidade que pode ser utilizado como
diagnóstico auxiliar. O controle da LTA canina é realizado por meio de borrifação do domicílio e peridomicílio com
inseticidas e utilização de coleira de deltametrina.
ABSTRACT - SANTOS, I. B. dos; MIRANDA, L. H. M. de; OKAMOTO, T.; FIGUEIREDO, F. B.; SCHUBACH,
T. M. P.; LEME, L. R. P.; QUINTELLA, L. P.; TORTELLY, R. American tegumentary leishmaniose in dogs
from Rio de Janeiro, review. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 28
n 1, p. 27-38, jan-juh, 2008. American tegumentary leishmaniasis in dogs from Rio de Janeiro – review. American
tegumentary leishmaniasis (ATL) is a zoonosis widely found in Brazil. In Rio de Janeiro it is endemic, caused by
Leishmania (Viannia) braziliensis and transmited by the flebotomíneo Lutzomyia intermedia. This is a diseases with
cronic evolution and can affect the skin and mucosae, separately or in combination, of humans, dogs, cats and horses.
In dogs, ATL is characterized by the presence of ulcerated cutaneous lesions, sometimes covered with crusts, frequently
single, on the ears, scrotal bag, nose and limbs, and has a sporotrichosis as the main differential diagnosis. A definitive
diagnosis depends on the identification of amastigotas in tissue or promastigotas in culture. Antileishmanial antibodies
are present in the serum of some patients as detected by enzyme-linked immunosobernt assay and immunofluorescent
assays, although cross-reactions may occur. Leishmanin skin Montenegro test detects hipersensitivity and can be
used in the differential diagnosis. The control of canine ATL is executed with insecticides that are sprayed inside and
outside the dwelling and dogs are fitted with deltamethrin-impregnated collars.
amastigota nos tecidos dos hospedeiros vetor ao meio ambiente modificado pelo
vertebrados (REY, 2001b). homem, hoje é freqüentemente encontrada no
Reservatórios peridomicílio, em abrigos de animais e
também no intradomicílio, criando um padrão
Até o momento não foram identificados epidemiológico de transmissão domiciliar e
animais silvestres como reservatórios de L (V.) peridomiciliar (OLIVEIRA-NETO et al.,
braziliensis, embora já tenha sido isolada de 1988, MARZOCHI & MARZOCHI, 1994;
roedores (FORTANI, 1960). Entretanto, é MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
freqüente o encontro de animais domésticos,
como os eqüinos, mulas e em especial o cão, Transmissão
em ambientes domiciliares e peridomiciliares,
albergando uma quantidade expressiva do A transmissão ocorre através da picada
parasito, sugerindo que sejam fontes de do inseto vetor. Quando a fêmea realiza o
infecção nesses locais (MINISTÉRIO DA repasto sanguíneo em animais ou pessoas
SAÚDE, 2000). infectadas ingerem macrófagos parasitados
A importância dos cães na transmissão por formas amastigotas de Leishmania. No
da LTA ainda não está esclarecida, alguns tubo digestivo do vetor há liberação das
autores os consideram como reservatórios amastigotas, ocorre a reprodução por divisão
secundários da doença ou elo na cadeia de binária e diferenciação em formas promasti-
transmissão humana (DIAS et al., 1977, gotas, que também se reproduzem por divisão
COUTINHO et al., 1985, FALQUETO et al., binária e migram para esôfago e faringe. A
1986), e outros sugerem que o cão se infecta infecção em novos hospedeiros vertebrados
acidentalmente, assim como o homem ocorre por meio de um novo repasto sanguíneo
(FORTANI, 1960; REITHINGER & DAVIES pela fêmea parasitada, onde essas liberam as
1999; SAVANI et al., 1999). formas promastigotas juntamente com a saliva.
Na derme do hospedeiro, as formas
Vetor promastigotas são fagocitadas por histiócitos
e/ou macrófagos, retornam à forma amastigota
O inseto vetor da LTA, no Rio de e se reproduzem até o rompimento das células
Janeiro é um flebotomíneo da espécie fagocitárias, ocorrendo a liberação de parasitos
Lutzomyia intermedia, conhecido popular- que são fagocitados por outras células num
mente como “mosquito-palha”, “tatuíra”, processo contínuo (REY, 2001B;
“birigui”, “cangalha”, “cangalhinha” entre MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004)
outros nomes. Este é pequeno, medindo de 1
a 3 mm de comprimento, possui coloração Aspectos clínicos da LTA canina
castanho clara ou cor de palha e corpo
revestido por pêlos. É facilmente reconhecível A LTA canina se caracteriza pela
quando pousa, pois suas asas permanecem presença de lesões cutâneas ulceradas
entreabertas e ligeiramente levantadas. A localizadas no nariz, orelhas, bolsa escrotal e,
atividade dos flebotomíneos é predominan- ocasionalmente, membros e cauda acome-
temente crespuscular ou noturna, mas nas tendo, isoladamente ou em associação, a pele
florestas e em lugares sombrios, as fêmeas se e as mucosas. É uma doença de evolução
mostram ativas durante o dia (MINISTÉRIO crônica e as lesões cutâneas geralmente são
DA SAÚDE, 2000; REY, 2001B). úlceras únicas, eventualmente múltiplas,
A espécie Lutzomyia intermedia era indolores, com bordos elevados e fundo
originalmente encontrada nas matas granuloso, com ou sem exsudato, podendo
participando do ciclo primário de transmissão ocorrer a formação de crostas. Alterações
da doença. Entretanto, devido a adaptação do macroscópicas internas não são observadas e
Figura 1: Forma amastigota (seta). Exame citopatológico de lesão cutânea ulcerada de um cão com leishmaniose
tegumentar americana. Giemsa. Obj. 100x.
Figura 2: Formas amastigotas (seta). Exame histopatológico de lesão cutânea ulcerada de um cão com leishmaniose
tegumentar americana. Hematoxilina Eosina. Obj. 100x.
áreas endêmicas e à semelhança clínica entre principal diagnóstico diferencial para LTA
ambas as doenças em diferentes estágios de canina no Rio de Janeiro.
infecção, a esporotricose vem se tornando o
Figura 3: Lesão ulcerada acometendo pele e mucosa no focinho de um cão com esporotricose
Figura 4: Lesão ulcerada acometendo pele e mucosa no focinho de um cão com leishmaniose tegumentar americana.
BARROS M.B.L., SCHUBACH A.O., FABER W.R., OSKAM L., VAN GOOL T.,
VALLE F.A.C., GALHARDO M.C.G., KROON N.C., KNEGT-JUNK K.J.,
SCHUBACH T.M.P., CONCEIÇÃO F.S., HOFWEGEN H., VAN DER WAL A.C. &
SALGUEIRO M., MOUTA-CONFORT E., KAGER P.A. 2003. Value of diagnostic
REIS R.S., MADEIRA M.F., CUZZI T., techniques for cutaneous leishmaniasis. J.
QUINTELLA L.P., SILVA J.P., CONCEICAO Am. Acad. Dermatol. 49:70-4.
M.J. & MARZOCHI, M.C.A. 2005. Positive
montenegro skin test among patients with FALQUETO A., COURA J.R., BARROS
sporotrichosis in Rio de Janeiro. Acta Trop. G.C., GRIMALDI-FILHO G., SESSA P.A.,
93:41-7. CARIAS V.R., DE JESUS A.C. & DE
ALENCAR J.T. 1986. Participation of the dog
CENEPI/ MINISTÉRIO DA SAÚDE. 1999. in the cycle of transmission of cutaneous
– (Notas de dados estatísticos). leishmaniasis in the municipality of Viana,
State of Espirito Santo, Brazil. Mem. Inst.
CHANG C.S. & CHANG KP. 1985. Heme Oswaldo Cruz. 81:155-63.
requirement and acquisition by extracellular
and intracellular stages of Leishmania FORTANI P.O. 1960. Sobre os reservatórios
mexicana amazonensis. Mol. Biochem. naturais da leishmaniose tegumentar
Parasitol. 16:267-276. americana. Rev. Inst. Med. Trop. São. Paulo.
2:195-203.
COUTINHO S.G., NUNES M.P.,
MARZOCHI M.C.A. & TRAMONTANO N. GENARO O., DA COSTA C.A., WILLIAMS
1985. A survey for american cutaneous and P., SILVA J.E., ROCHA N.M., LIMA S.L. &
visceral leishmaniasis among 1,342 dogs from MAYRINK W. 1990. Occurrence of kala-azar
áreas in Rio de Janeiro (Brazil) where the in the urban area of Grande Belo Horizonte,
human deseases occur. Mem. Inst. Oswaldo Minas Gerais. Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
Cruz. 80:17-22. 23:121.
G. 1988a. Canine American cutaneous SALMAN S.M., RUBEIZ N.G. & KIBBI A.G.
leishmaniasis: a clinical and immunological 1999. Cutaneous leishmaniasis: clinical
study in dogs naturally infected with features and diagnosis. Clin. Dermatol.
Leishmania Braziliensis braziliensis in an 17:291-96.
endemic area of Rio de Janeiro, Brazil. Am.
J. Trop. Med. Hyg. 38:52-8. SANTOS E.G., MARZOCHI M.A.C.,
CONCEICAO N.F., BRITO C.M. &
PIRMEZ C., MARZOCHI M.A.C. & PACHECO R.S. 1998. Epidemiological
COUTINHO S.G. 1988b. Experimental canine survey on canine population with the use of
mucocutaneous leishmaniasis (Leishmania immunoleish skin test in endemic areas of
braziliensis braziliensis). Mem Inst Oswaldo human American cutaneous leishmaniasis in
Cruz; 83:145-51. the state of Rio de Janeiro, Brazil. Rev. Inst.
Med. Trop. Sao Paulo; 40:41-7.
REED S.G., SHREFFLER W.G., BURNS
J.M., JR.SCOTT J.M., ORGE MDA G. & SANTOS I.B., SCHUBACH T.M.P,
GHALIB H.W. 1990. An improved FIGUEIREDO F.B, OKAMOTO T.,
serodiagnostic procedure for visceral PEREIRA A.S., LEME L.R.P., RIBEIRO F.C.,
leishmaniasis. Am. J. Trop. Med. Hyg. MADEIRA M.F., QUINTELLA L.P., PAES
43:632-39. R.A., SCHUBACH A.O. 2004. Diagnóstico
diferencial entre a leishmaniose tegumentar
RAMOS-VARA J.A. 2005. Techinical aspects americana e a esporotricose canina no Rio de
of immunohistochemistry. Vet Pathol. 42:405- Janeiro. Anais da XX Reunião Anual de
426. Pesquisa Aplicada em doença de chagas e
VIII de leishmanioses. 17.
REITHINGER R. & DAVIES C.R. 1999. Is
the domestic dog (Canis familiaris) a reservoir SANTOS I.B., SCHUBACH T.M., LEME
host of American cutaneous leishmaniasis? A L.R., OKAMOTO T., FIGUEIREDO F.B.,
critical review of the current evidence. Am. J. PEREIRA S.A., QUINTELLA L.P., DE F
Trop. Med Hyg. 61:530-41. MADEIRA M, DOS S COELHO F., REIS R.
& DE O SCHUBACH A. 2007.
RE IT HINGER R., TE ODORO U. & Sporotrichosis: the main differential diagnosis
DAVIES C.R. 2001. Topical insecticide with tegumentary leishmaniosis in dogs from
treatments to protect dogs from sandy fly Rio de Janeiro, Brazil. Vet. Parasitology.
vectors of leishmaniasis. Emerging Inf. 19;143(1):1-6.
Deseases. 7:872-76.
SAVANI E.S., GALATI E.A., CAMARGO
REY L. 2001a. O complexo “Leishmania M.C., D’AURIA S.R., DAMACENO J.T. &
braziliensis” e as leishmaniases tegumentares BALDUINO S.A. 1999. Serological survey
americanas, p. 227-39. In: Rey L (ed.) for American cutaneous leishmaniasis in stray
Parasitologia. 3ª.ed. Guanabara Koogan, Rio dogs in the S. Paulo State, Brazil. Rev. Saúde
de Janeiro. Publica. 33:629-31.
& COSTA S.C. 2001a. Leishmanial antigens TAFURI W.L., RASO P., HERMETO M.V.,
in the diagnosis of active lesions and ancient VIEIRA-DIAS D. & MAYRINK W. 1993.
scars of American tegumentary leishmaniasis Comparative histopathologic study of the skin
patients. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 96:987- test in dogs from an endemic area of
96. tegumentary leishmaniasis, using 2 antigens:
Leishvacin and P10.000G. Rev. Soc. Bras.
Schubach TMP, Schubch AO, Silva V, Med. Trop. 26:11-4.
Monteiro P, Santos E, Duarte R. 2001b.
Avaliação da Intradermoreação e sorologia TAYLOR C.R. 1978. Immunoperixidase
para Leishmaniose em cães com esporotricose. techniques. Arch. Pathol. Lab. Méd. 102:113-
C. Animal. 10:193. 121.
SCHUBACH T.M.P., SCHUBACH A.O., UCHÔA C.M., SERRA C.M., DUARTE R.,
OKAMOTO T., BARROS M.B., MAGALHAES C.M., SILVA R.M.,
FIGUEIREDO F.B., CUZZI-MAYA T., THEOPHILO F., FIGLIUOLO L.P., HORTA
FIALHO-MONTEIRO P.C., REIS R.S., F.T. & MADEIRA M.F. 2001. Aspectos
PEREZ M.A. & WANKE, B. 2004. sorológicos e epidemiológicos da
Evaluation of an epidemic of sporotrichosis leishmaniose tegumentar americana canina em
in cats: 347 cases (1998-2001). Maricá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Soc. Bras.
Med. Trop. 34:563-68.
J. Am. Vet. Med. Assoc. 224:1623-29.
Schubach T.M.P., Schubach A.O., Okamoto T., World Health Organization (WHO). Health
Barros M.B.L., Figueiredo F.B, Cuzzi-Maya topics: Leishmaniasis. http//www.who.int/en
T., Pereira S.A., Santos I.B., Paes R.A., Paes- (acessado em 10/Out/2005).
Leme L.R. & Wanke, B. 2006. Canine
sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil:
clinical presentation, laboratory diagnosis and
therapeutic response in 44 cases (1998-2003).
Med. Micology. 44: 87-92.