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Porque estudar a leishmaniose?

Leishmaniose humana
Doença negligenciada associada ao aspecto social (OMS,
2014)

LV: Incidência de 200 a 400 mil casos, associados a 20 -


40 mil mortes anualmente (Alvar et al., 2012)
LT: 88 países, em 4 continentes: 1 – 1,5 milhões de casos
Brasil: disseminação nas últimas décadas
Dificuldade e alto custo no controle
Rio Grande do Sul
Formas de apresentação
• Cutânea
– Maior morbidade; úlceras
pelo corpo
• Mucocutânea
– Lesões graves nas mucosas
nasais e orais
• Visceral
– Maior letalidade; perda de
peso, anemia, febre,
esplenomegalia
Leishmaniose tegumentar

Leishmaniose visceral
Etiologia
ORDEM Kinetoplastida
FAMÍLIA Trypanosomatidae
GENERO Leishmania
SUB-GÊNERO Leishmania (LT) e Viannia (LT)

• LEISHMANIOSE CUTÂNEA E MUCOSA (LT)


– L.V. brasiliensis; L.L. amazonensis; L.V. guyanensis

• LEISHMANIOSE VISCERAL (LV)


– L. infantum chagasi
Ciclo biológico
Hospedeiros e reservatórios
Depende da espécie de leishmania

Didelphis spp
Lutzomyia sp.

Cerdocyon thous

Rattus rattus
Cães (reservatório primário)
Animais silvestres (reservatório primário ou
secundário)

Gravidade dos sinais clínicos


(OR=3.09, IC. 95%=
1.96–4.88, P<0.0001) Baseado em Quinnell e
Ser humano (reservatório acidental)
Courtenay (2009)
Vetor
Lutzomyia sp.
Aedes Aegypti X Lutzomyia sp.

0,5 cm de comprimento 2 a 3 milímetros


Vôo silencioso e mais longo; 0,5 m do chão Vôo silencioso e curto
Hematofagia predominantemente diurna Hematofagia crepuscular e noturna
Ovoposição em água parada, limpa ou suja Ovoposição em matéria orgânica
Ovo, larva, pupa e adulto : até 10 dias Ovo, larva, pupa e adulto : 30-40 dias
O período de incubação varia de 3 a 15 dias, Longevidade das fêmeas de 20 dias
geralmente cinco a seis dias Ciclo do parasito no inseto: 72 horas
Ovos resistentes por 450 dias, 10 hrs após a Período de incubação:
ovoposição » Humanos: 10 dias a 2anos (2 a 6 meses)
Capaz de infectar muitos indivíduos » Cães: 3 meses a vários anos (3 a 7 meses)
90% dos casos se concentram em...

Índia
(TL=2,4%)

Bangladesh
Sudão (TL=1,5%)

Iraque
Brasil
(TL=7,2%)
Etiópia

Sudão do Sul
(TL=20%)

OMS (2012)
90% dos casos de
leishmaniose
mucocutânea se
concentram no Brasil
(maior morbidade da
América), Bolívia e
Peru
Tabela 1. Incidência da Leishmaniose visceral humana na
América Latina, 2003 a 2008

95% dos
casos da
região

Alvar et al. (2012)


Entre 1993 – 2003 Atualmente a LV está presente
Aumento de 21,8% nos casos em aproximadamente 1600
de LV nas regiões Centro-oeste municípios brasileiros, em 19
e Sudeste das 27 UF (Brasil, 2014)

Figura 5. Distribuição dos casos de Leishmaniose visceral humana no mundo, 2010 OMS (2010)
Epidemiologia (LT)
 Entre 1988 e 2007, 554.475 casos humanos foram notificados no
Brasil, com uma média anual de 27.723 casos (17,3 casos/ 100 mil
habitantes)
 Durante os anos 1980, LT e LM se limitavam a 17 estados; em 2003 se
expandiram para 27 estados brasileiros
 A LM ocorre a taxas inferiores a 5% dos casos, variando entre
regiões; geralmente sua ocorrência está associadas a regiões de
introdução recente da LT e a epidemias
 Forma epidemica (derrubada de matas – animais silvestres); forma
endêmica (cães, equinos e roedores como reservatórios)
 Rio Grande do Sul
Primeiro caso – ano 2001; 2009 - 0,01 caso / 100 mil habitantes
Epidemiologia (LV)
Doença com apresentação crônica e sistêmica, cuja
letalidade, em caso de não tratamento, pode chegar a 90%
(BRITO et al., 2014)
 Brasil (1995 e 2010): 53.633 novos casos de LV, com TI=2,0
casos / 100.000 (Brasil, 2012)
 Rio Grande do Sul
Primeiro caso de LVC –2008 e LVH – 2009 (São Borja)
Até 2012: 12 casos (7 São Borja; 2 Itaqui; 1 Uruguaiana;
2 alóctones)
Epidemiologia
 Fatores de risco
Leishmaniose tegumentar
Doença de áreas desmatadas, rurais, peri-urbanas e urbanas

Ocupacional, gênero masculino (74%) com mais de 10 anos (90%)

Leishmaniose visceral
Caráter social, essencialmente ligados à pobreza e baixo nível
educacional, que conduzem a uma maior vulnerabilidade da
população, não apenas a LV, que pode funcionar como doença
secundária a outras enfermidades, como por exemplo, a aids (Argaw
et al., 2013; Belo et al., 2013)
Controle
 PVC-LV e PVC-LT
 Vigilância epidemiológica de casos suspeitos, vigilância etiológica e
entomológica, estratificação de áreas de risco da transmissão e
prevenção do contato humanos e cães-vetores, por meio de medidas
individuais e coletivas (vacinas, repelentes, dentre outras)

 Diagnóstico precoce associado ao tratamento de casos humanos,


redução no risco de transmissão por meio da eliminação dos
reservatórios (LV) e vetores (LV e LT) e educação em saúde a população

 Em áreas endêmicas para LV, essas ações são desenvolvidas de


acordo com a estratificação das áreas de risco

Inquérito canino Casos humanos Vulnerabilidade


Notificação compulsória
Instrução Normativa no 50, de 24/09/2013
“Leishmanioses” de notificação mensal de casos
confirmados ao Serviço Veterinário Oficial

Portaria no 1271 de 06/06/2014


Leishmaniose visceral ou tegumentar de notificação
compulsória semanal ao serviço de saúde
Portaria no 1426 de 11/07/2011
Dificuldade no controle
Controle do reservatório: reposição rápida de cães
(em média 4 meses), que em 15% das vezes são
soropositivos (Nunes et al. 2008; Moreira et al. 2004); falhas no
diagnóstico e elevado tempo entre diagnóstico e
eutanásia (Courtenay et al., 2002b; Quinnell e Courtenay, 2009)

Controle do vetor: elevado custo dos inseticidas


tópicos, baixa cobertura das borrifações, elevada
presença do mosquito fora do ambiente domiciliar,
principalmente no inicio da noite (Oliveira e Melo, 1994;
Courtenay et al. 2007)
Referencias consultadas
Informações OMS Brasil (inglês):
http://www.who.int/leishmaniasis/resources/BRAZIL.pdf?ua=1

MAPAS (doenças negligenciadas OMS, 2013):


http://apps.who.int/neglected_diseases/ntddata/leishmaniasis/leishmaniasis.html

Informações gerais Leishmaniose:


https://www.ufpe.br/biolmol/Leishmanioses-Apostila_on_line/nas_americas.htm
http://lineu.icb.usp.br/~farmacia/ppt/Leishmania2013.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde - Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasília: 1ª


ed, 5ª reimpressão 2014. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_controle_leishmaniose_vi sceral.pdf.
Acesso em 25/05/2014

COURTENAY, O., QUINNELL, R. J., GARCEZ, L. M., SHAW, J. J., DYE, C. Infectiousness in a cohort of Brazilian
dogs: Why culling fails to control visceral leishmaniasis in areas of high transmission. Journal of
Infectious Diseases , V. 186, P. 1314–1320, 2002.

QUINNELL, R.J., COURTENAY, O. Transmission, reservoir hosts and control of zoonotic visceral leishmaniasis.
Parasitology, v. 136, p. 1915-1934, 2009. doi:10.1017/S0031182009991156.
Leishmaniose medidas preventivas

CID 10 - B55 Leishmaniose


CID 10 - B55.0 Leishmaniose visceral
CID 10 - B55.1 Leishmaniose cutânea
CID 10 - B55.2 Leishmaniose cutâneo-mucosa
CID 10 - B55.9 Leishmaniose não especificada
Formas Manifestações Clínicas e as espécies de Leishmania
Clínicas

LC Lesão única ou raramente múltiplas, formando úlceras rasas ou profundas com


Leishmaniose bordas salientes e bastante delineadas.
cutânea L. (V.) braziliensis; L. (V.) guyanensis, L. (V.) panamensis; L. (V.) lainsoni, L. (L.)
mexicana; L. (L.) amazonensis, L. (L.) venezuelensis; L. (L.) peruviana; L. (L.)
pifanoi., L.(L.) chagasi, L.(L.) major, L.(L.) major- like, L.(L.) tropica.

LMC Acomete a mucosa orofaríngea a partir da úlcera cutânea. Pode causar


Leishmaniose desfiguracão e complicações respiratórias.
muco- cutânea
L. (V.) braziliensis, L.(L.) amazonensis

LCD Lesões difusas, papulares não ulceradas.


Leishmaniose L. (L.) mexicana; L.(L.) pifanoi; L.(L.) amazonensis, L(L.) major- like
cutâneo- difusa

LV Atinge baço, fígado, medula óssea e linfonodos. Caracteriza-se por febres


Leishamniose irregulares, emagrecimento e diarréia.
visceral
L. (L.) chagasi; L.(L.) donovani; L.(L.) infantum, L.(L.) amazonensis

LPK Lesões nodulares e despigmentação da pele


Leishmaniose L. (L.) donovani, L.(L.) chagasi, L.(L.) amazonensis
pós kalazar
O Programa de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana (PV-LTA)
tem como objetivos:
• identificar e monitorar unidades territoriais de relevância epidemiológica;
• investigar e caracterizar surtos;
• monitorar formas graves com destruição de mucosa;
• identificar precocemente os casos autóctones em áreas consideradas não-
endêmicas;
• reduzir o número de casos em áreas de transmissão domiciliar;
• adotar medidas de controle pertinentes, após investigação epidemiológica,
em áreas de transmissão domiciliar;
• monitorar os eventos adversos aos medicamentos.

Vigilância Entomológica:

Terá como objetivo geral levantar as informações de caráter quantitativo e


qualitativo sobre os flebotomíneos em áreas de transmissão, bem como
naquelas sem transmissão, de forma a obter novos conhecimentos da
bioecologia das espécies de flebotomíneos de importância médico-
sanitária.
Armadilha luminosa Armadilha de Shannon.
Vigilância de reservatórios e hospedeiros

• Reservatórios silvestres
• Animais domésticos
Presença de animais, a fim de verificar possíveis fontes alimentares
e ecótopo favorável ao estabelecimento do vetor;
Presença de lixo, que poderá atrair animais sinantrópicos para as
proximidades do domicílio;
Condições de moradia, que facilitam o acesso do vetor.
Reservatórios Silvestres

Animais Domésticos
• Limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos;
• Manutenção de animais domésticos distantes do intradomicílio durante a
noite, de modo a reduzir a atração dos flebotomíneos para este ambiente;
• Em áreas potenciais de transmissão, sugere-se uma faixa de segurança de 400
a 500 metros entre as residências e a mata. Entretanto, uma faixa dessa
natureza terá que ser planejada para evitar erosão e outros problemas
ambientais.
• Manejo ambiental por meio de limpeza de quintais e terrenos, a fim de
alterar as condições do meio que propiciem o estabelecimento de
criadouros para formas imaturas do vetor (Inseticidas indicados para o
controle químico de vetores);
• Poda de árvores, de modo a aumentar a insolação, a fim de diminuir o
sombreamento do solo e evitar as condições favoráveis(temperatura e
umidade) ao desenvolvimento de larvas de flebotomíneos;
• Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir a aproximação de
mamíferos comensais, como marsupiais e roedores,prováveis fontes de
infecção para os flebotomíneos;
Diagnóstico Parasitológico para Leish. tegumentar
a) Demonstração direta do parasito

• É o procedimento de primeira escolha por ser mais rápido, de menor


custo e de fácil execução. A probabilidade de encontro do parasito é
inversamente proporcional ao tempo de evolução da lesão cutânea,
sendo rara após um ano. A infecção secundária contribui para diminuir a
sensibilidade do método; dessa forma, deve ser tratada previamente.
• Para a pesquisa direta, são utilizados os seguintes procedimentos:
escarificação do bordo da lesão, biópsia com impressão do fragmento
cutâneo em lâmina por aposição e punção aspirativa. A sensibilidade
desta técnica poderá ser aumentada pela repetição do exame e a leitura
de várias lâminas.
Diagnóstico (cont.)
b) Isolamento em cultivo in vitro (meios de cultivo)

É um método de confirmação da presença do agente etiológico que


permite a posterior identificação da espécie de Leishmania envolvida.
Os fragmentos cutâneos ou de mucosa obtidos por biópsia da borda da
úlcera são inoculados em meios de cultivo agar sangue modificado – Neal,
Novy e Nicolle (NNN) e Liver Infusion Triptose (LIT), entre 24ºC e 26ºC,
nos quais o parasito cresce relativamente bem. Após o quinto dia, já
podem ser encontradas formas promastigotas do parasito. Entretanto, a
cultura deve ser mantida até um mês sob observação antes da liberação
do resultado negativo.
Opcionalmente, pode-se utilizar material obtido diretamente das úlceras
por punção com tubo selado a vácuo (vacutainer®) contendo meio de
cultura.
Diagnóstico (cont.)
c) Isolamento in vivo (inoculações animais)

O material obtido por biópsia ou raspado de lesão é triturado em solução


salina estéril e inoculado via intradérmica, no focinho e/ou patas de
hamster (Mesocricetus auratus); as lesões no hamster em geral
desenvolvem-se tardiamente, a partir de um mês. Esses animais devem
ser acompanhados por três a seis meses.

Pela complexidade e pelo alto custo, esse método é pouco utilizado,


apesar de apresentar elevada sensibilidade entre os demais métodos
parasitológicos.
Final da Aula

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