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Roxanne Cabral – M8 – 2020.

1 – Doenças Infecto-Parasitárias

LEISHMANIOSE VISCERAL E ESQUITOSSOMOSE


A L. longipalpis adapta-se facilmente ao peridomicílio e a
LEISHMANIOSE VISCERAL variadas temperaturas: pode ser encontrada no interior dos
domicílios e em abrigos de animais domésticos. A atividade
Doença crônica e sistêmica, que, quando não tratada, pode
dos flebotomíneos é crepuscular e noturna.
evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.

Lutzomyia longipalpis

Europa/África/Ásia: Phlebotomus spp;

Sinonímia: Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundun.


Transmissão
A transmissão ocorre pela picada dos vetores infectados pela
Etiologia Leishmania chagasi.
Protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania.

Nas Américas, a Leishmania infantum (antiga


chagasi) é a espécie comumente envolvida na transmissão
da leishmaniose visceral (LV).

 Não ocorre transmissão de pessoa a pessoa.

Leishmania

Essas formas são menos comuns que a transmissão vetorial.

Ciclo de transmissão

Obs.: L. brasilienses – causa a forma cutâneo mucosa.

Reservatório
 URBANO: o cão é a principal fonte de infecção
A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos
humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que
no homem.

 SILVESTRE: a raposa e os marsupiais.

Vetor
No Brasil, 2 espécies de flebotomíneos estão relacionadas
com a transmissão da doença:
 Lutzomyia longipalpis (mosquito-palha), a principal; e
 Lutzomyia cruzi, também incriminada como vetora em
áreas específicas dos estados do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul.

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 O inseto inocula a forma promastigota (flagelada) na


pele do hospedeiro;

 Essas formas promastigotas migram para o sistema


retículo-endotelial (SRE) no sangue ou dentro de
fagócitos;

 No SRE, são fagocitadas por macrófagos e dentro deles


se transformam em formas amastigotas.

 As amastigotas passam então a se multiplicar


intensamente dentro desse macrófago até rompê-lo;

 As amastigotas livres no sangue são sugadas pelo


mosquito-palha, transformam-se em promastigotas
dentro dele e reiniciam o ciclo.

SRE: a forma amastigota tem afinidade pelo SRE, causando


hipertrofia dos órgãos desse sistema, como baço e fígado. Os dados dos últimos 10 anos revelam a periurbanização e a
urbanização da LV, destacando-se os surtos ocorridos no Rio
de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Araçatuba (SP),
Porque a LV é tão grave?
Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina (PI), Natal (RN), São
Luís (MA), Fortaleza (CE), Camaçari (BA) e as epidemias
ocorridas nos municípios de Três Lagoas (MS), Campo
Grande (MS) e Palmas (TO).

Epidemiologia
No Brasil, é uma doença endêmica, no entanto têm sido
registrados surtos frequentes. Inicialmente, sua ocorrência
estava limitada a áreas rurais e a pequenas localidades
urbanas, mas encontra-se em franca expansão para grandes
centros. A LV está distribuída em 21 Unidades da Federação,
atingindo as cinco regiões brasileiras.

 Mais comum naqueles com o sistema imune


imaturo/ineficiente, como crianças, jovens (raros) e
imunossuprimidos;

 A doença é mais frequente em crianças com menos de


10 anos (41,9%) e o sexo masculino é
proporcionalmente o mais afetado (62,8%).

 É comum em criança devido a relativa imaturidade


imunológica celular, agravada pela desnutrição, tão
comum nas áreas endêmicas, além de uma maior
exposição ao vetor no peridomicílio.
Na década de 1990, aproximadamente 90% dos casos
notificados de LV ocorreram na região Nordeste. À medida  Também acomete comumente e os IDOSOS.
que a doença se expande para as outras regiões, essa
situação vem se modificando e, em 2012, a região Nordeste  Frequente na Índia e África;
foi responsável por 43,1% dos casos do país.
Só uma pequena parcela de indivíduos infectados
desenvolve sinais e sintomas da doença.
Após a infecção, caso o indivíduo não desenvolva a doença,
observa-se que os exames que pesquisam imunidade celular ou
humoral permanecem reativos por longo período. Isso requer a

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presença de antígenos, podendo-se concluir que a Leishmania ou Em casos raros, pode ocorrer doença febril aguda com
alguns de seus antígenos estão presentes no organismo infectado progressão rápida sintomas.
durante longo tempo, depois da infecção inicial.
Quadro Subagudo / Crônico
Quadro clínico O início dos sintomas geralmente é insidioso ou subagudo,
É uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de com progressão lenta de mal-estar, febre, perda de peso e
longa duração, perda de peso, astenia, adinamia, esplenomegalia (com ou sem hepatomegalia) durante um
hepatoesplenomegalia e anemia, dentre outras. Quando período de meses.
não tratada, pode evoluir para o óbito em mais de 90% dos
casos.
 A Esplenomegalia é a característica mais marcante.
Características:
o Consistência aumentada (firme);
o Indolor, mas pode estar dolorosa em alguns
casos (aumento rápido do baço com distensão
da cápsula);
o O paciente pode se queixar de desconforto
abdominal e plenitude.

 Pode haver ou não hepatomegalia (menos comum que


a esplenomegalia).

Período de incubação
Homem: 10 dias a 24 meses, com média entre 2 e 6 meses;

Cão: varia de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7 Leishmaniose visceral: paciente com hepatoesplenomegalia
meses.
 Pode haver linfadenomegalia.
Infecção Assintomática
 Grande parte das infecções por leishmaniose são Como os parasitas se replicam no sistema retículo-endotelial,
assintomáticas, refletindo a capacidade do sistema altas quantidades de parasitam se acumulam no baço, fígado e
imunológico do hospedeiro em controlar o parasita. medula óssea.

 Sorologias detectam infecções subclínicas no início de Pode ocorrer anemia grave devido à supressão da medula
seu curso; óssea, hemólise e sequestro esplênico.

 Posteriormente, o desenvolvimento de uma resposta  Tríade sintomática:


imune protetora mediada por células a LV pode ser 1. Febre moderada/alta prolongada (2-3 meses);
detectado através do teste de pele (reação de 2. Hepatoesplenomegalia não dolorosa e endurecida
Montenegro). (devido a hipertrofia desses órgãos consequente a
o Embora um teste reativo seja excelente indicador presença de amastigotas);
diagnóstico, um teste não reativo geralmente não 3. Pancitopenia (devido a ocupação física da medula
exclui a infecção. óssea, hiperesplenismo associado a esplenomegalia
e por produção de citocinas inflamatórias que
A maioria dos pacientes com infecção subclínica abriga inibem a hematopoiese);
parasitas viáveis ao longo da vida e pode desenvolver doença
se ocorrer reativação da infecção num contexto de  Quadros carenciais (casos avançados): caquexia,
imunossupressão. hipoalbuminemia e edema;

Quadro agudo  Inversão da taxa albumina/globulina: queda da taxa de


 Especialmente febre alta e hepatoesplenomegalia albumina e aumento da taxa de gamaglobulina;
(dolorosa no início)
 Disfunção hepática

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o Colabora para hemorragia quando em Examinar o material aspirado de acordo com esta sequência:
associação com trombocitopenia;  Exame direto
 Isolamento em meio de cultura (in vitro)
 Hemorragias espontâneas (epistaxe, gengivorragia,  Teste molecular (PCR) para detecção do DNA do parasita.
etc.)
Detalhes sobre os testes diagnósticos:

 Diarreia crônica e síndrome de má-absorção (ocorre


 Exame direto: distensão de aspirado de medula óssea (três
devido a invasão do parasita no intestino). amostras) corado pelo Giemsa;
O diagnóstico histopatológico requer a visualização de
 Outros: hiperpigmentação da pele, insuficiência renal amastigotas (são corpos esféricos ou ovoides que possuem
leve, icterícia, HDA, etc. um núcleo grande e uma organela proeminente,
semelhante a uma haste, profundamente manchada,
chamada cinetoplasto). As amastigotas são geralmente
encontrados nos macrófagos, mas podem ser vistos fora
das células.

Complicações
Amastigotas presentes em medula óssea biopsiada de pacientes com
Infecção bacteriana secundária a neutropenia (principal leishmaniose visceral.
causa de morte).
 Exemplo: otite média aguda, infecções do trato urinário
e respiratório, piodermites, tuberculose (?).

Hemorragias devido à plaquetopenia


 Comuns: gengivorragia e epistaxe;
 Outras: HDA, hemorragias de retina, etc.

ICC aguda devido à anemia (hipercinesia);

Morte por desnutrição.


Amastigotas no interior de macrófagos

Diagnóstico
 Cultura do aspirado em meio NNN (Neal, Novy, Nicolle –
ágar, cloreto de sódio, água destilada, sangue humano ou
Diagnóstico laboratorial ESPECÍFICO de coelho)
Baseia-se em exames imunológicos e parasitológicos. o 5 dias a 4semanas para o diagnóstico.
o Possui sensibilidade menor que o exame direto.
Imunológico
Pesquisa de anticorpos contra Leishmania (ELISA) Teste de Montenegro

Títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir


positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim,
o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações
clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica.

Parasitológico
É o diagnóstico de certeza feito pelo encontro de formas
amastigotas do parasito, em material biológico obtido
preferencialmente da medula óssea – por ser um procedimento
mais seguro –, do linfonodo ou do baço. Este último deve ser
realizado em ambiente hospitalar e em condições cirúrgicas.

Obs.: O método mais sensível é o aspirado de baço, que só é


feito em regiões endêmicas, como Ceará e Bahia.

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Os pacientes co-infectados com HIV-VL tendem a ter títulos


de anticorpos relativamente baixos, mas as técnicas
moleculares têm boa sensibilidade dado os altos níveis de
parasitemia em amostras de sangue periférico.

A confirmação histopatológica ou molecular é necessária


para o diagnóstico definitivo.

Tratamento
Sempre que possível, a confirmação parasitológica da
Pode até ser usado para controle de cura. doença deve preceder o tratamento. Porém, quando o
diagnóstico sorológico ou parasitológico não estiver
Diagnóstico laboratorial INESPECÍFICO disponível ou na demora da sua liberação, o tratamento
 Hemograma: pancitopenia; deve ser iniciado.

 Eletroforese de proteínas: inversão da taxa albumina Tratamento ambulatorial x hospitalar: usamos o escore do
(↓)/globulina(↑); ocorre aumento policlonal de MS para definir.
imunoglobulinas (hipergamaglobulinemia). O tratamento engloba terapêutica específica e medidas
adicionais, como hidratação, antitérmicos, antibióticos,
 Elevação de VHS e PCR; hemoterapia e suporte nutricional. Exames laboratoriais e
eletrocardiográficos deverão ser realizados durante o
 Outros: TGO, TGP, fatores de coagulação, função renal, tratamento para acompanhar a evolução e identificar
amilase, radiografia de tórax, etc. possível toxicidade medicamentosa.

O hepatograma está inalterado em muitos casos. Recomenda-se o antimoniato de N-metil glucamina como
Obs.: O parasitismo no fígado ocorre nas células de Kuppfer fármaco de primeira escolha para o tratamento da LV,
e não nos hepatócitos e por isso que as transaminases exceto em algumas situações, nas quais se recomenda o uso
podem estar normais. da anfotericina B, prioritariamente em sua formulação
lipossomal.
O ECG pode ser feito para acompanhamento do tratamento
(dos efeitos dos medicamentos). Antimonial Pentavalente, IV ou IM, 20 dias
 Efeito colateral mais comum: artralgia.
Diagnósticos diferenciais  O antimonial pentavalente tem a vantagem de poder ser
administrado no nível ambulatorial, o que diminui os riscos
 Enterobacteriose septicêmica prolongada;
relacionados à hospitalização.
 Malária crônica (esplenomegalia tropical);  É mais tóxico do que Anfotericina B.
 Histoplasmose disseminada;
 Endocardite subaguda (apresenta quadro de anemia e
não pancitopenia);
 Linfoma;
 Tuberculose extrapulmonar – doença hepática e
esplênica;
 Abscesso hepático amebiano;
 Esquissotomose hepato-esplênica (não há febre como a
LV);
 Anemia falciforme;
 Forma aguda da Doença de Chagas;
 Febre Q (causada por Coxiella burnetti).
Anfotericina B, IV, 21 dias
 Efeitos colaterais: febre, flebite, calafrios, hipotensão e morte
Leishmaniose Visceral e Coinfecção pelo HIV
após a infusão. Com o uso crônico, pode causar hipocalemia,
Pacientes com co-infecção por HIV-VL pode ocorrer: IRA, anemia, além de ter efeitos tóxicos para coração e fígado;
 Menor incidência de esplenomegalia.  A anfotericina B é a única opção no tratamento de gestantes e
 Infecção parasitária de locais atípicos, incluindo o trato de pacientes que tenham contraindicações ou que
gastrointestinal, espaço peritoneal, pulmão, espaço manifestem toxicidade ou refratariedade relacionada ao uso
pleural e pele, se imunossupressão profunda; dos antimoniais pentavalentes.
 A decisão quanto à duração do tratamento deve ser baseada
na evolução clínica, considerando a velocidade da resposta e a
A tríade clássica da LV é também a manifestação mais comum
presença de comorbidades.
da doença na coinfecção: hepatoesplenomegalia, febre e
pancitopenia são observadas em 75% dos casos.  Preferível em pacientes mais graves, gestantes, menores de 2
anos.
 É mais potente que o antimonial

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Anfotericina B:
ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA
Doença parasitária, de evolução crônica, cuja magnitude da
prevalência, severidade das formas clínicas e evolução a
caracterizam como um importante problema de saúde
pública no país.

Outras drogas: Paramomicina e Miltefosina (não disponíveis no


Brasil).

Controle de cura Sinonímia: “Xistose”, “barriga d’agua” e “doenca dos caramujos”.


Essencialmente clínico:
 O desaparecimento da febre é precoce e acontece por Etiologia
volta do 5º dia de medicação; a redução da Agente etiológico: Schistossoma mansoni;
hepatoesplenomegalia ocorre logo nas primeiras Os agentes causadores da esquistossomose são platelmintos
(vermes achatados), da classe dos trematódeos (de forma foliácea),
semanas.
família Schistosomatidae, que apresenta como característica a
 Ao final do tratamento, o baço geralmente apresenta existência de sexos separados, com nítido dimorfismo sexual; a
redução de 40% ou mais, em relação à medida inicial. fêmea adulta, mais alongada, encontra-se alojada em uma fenda
 A melhora dos parâmetros hematológicos do corpo do macho, denominada canal ginecóforo.
(hemoglobina e leucócitos) surge a partir da 2ª semana.
 As alterações vistas na eletroforese de proteínas se
normalizam lentamente, podendo levar meses.
 O ganho ponderal do paciente é visível, com retorno do
apetite e melhora do estado geral. Nessa situação, o
controle por meio de exame parasitológico ao término
do tratamento é dispensável.
 O seguimento do paciente tratado deve ser feito aos 3,
6 e 12 meses após o tratamento, e na última avaliação,
se permanecer estável, o paciente é considerado Schistossoma mansoni
curado.
Vetor: caramujo Biomphalaria glabrata
As provas sorológicas não são indicadas para seguimento
do paciente.

Leishmaniose Dérmica Pós-Calazar


 Muito rara no Brasil, comum na Ásia
 O responsável pela manutenção da Leishmaniose nesse
caso é o próprio homem, porque possuem muitos
parasitas na pele.

Os caramujos são hospedeiros intermediários (o homem é o


hospedeiro definitivo) e possibilitam a reprodução
assexuada do helminto.

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Ciclo de transmissão No fígado, as formas jovens se diferenciam sexualmente e


1. O S. mansoni é habitualmente hóspede das vênulas crescem, alimentando-se de sangue. Ainda imaturos, os
tributárias do sistema porta, particularmente das veias parasitas migram para a veia porta, passando daí às suas
tributárias mesentéricas, onde completam sua evolução.
mesentéricas superiores e inferiores, do plexo
hemorroidário e mesmo da porção intra-hepática da
veia porta. No interior desses vasos, encontram-se 7. Depois os parasitos vão em direção ao plexo venoso
geralmente o macho e a fêmea, acasalados. hemorroidário (contracorrente) e depositam seus
ovos;
2. A fêmea é facilmente fecundada e inicia a postura dos
A partir de 27 dias da penetração das cercárias, após a migração
ovos no interior das vênulas da submucosa intestinal.
dos esquistossomos para as veias mesentéricas, inicia-se,
Esses ovos são eliminados junto com as fezes.
geralmente, o acasalamento. Os vermes adultos se localizam no
fígado e nos ramos terminais das veias mesentéricas, daí
migram para as vênulas da submucosa intestinal, onde se darão
as posturas dos ovos.

A migração dos ovos do vaso para a luz intestinal provoca micro-


hemorragias e áreas de inflamação responsáveis pelo
aparecimento de diarreia mucossanguinolenta e de outros
distúrbios gastrointestinais.
Ovos de S. mansoni

 Com a liberação dos ovos nas fezes, reinicia o ciclo.


3. Fezes contendo ovos entram em contato com água doce
e eclodem, liberando miracídios;
Ciclo de transmissão do Schistosoma mansoni:

4. Miracídios penetram no caramujo onde se reproduzem


assexuadamente, dando origem às cercárias, cerca de
20 a 30 dias depois. As cercarias então são liberadas na
água;

Cercárias – S. mansoni

5. Cercarias penetram ativamente na pele do homem em


contato com água contaminada.

Ao penetrar ativamente na pele do homem, por meio de ação


combinada da secreção lítica das glândulas anteriores e dos
movimentos vibratórios, sobretudo da cauda, a cercária produz
Epidemiologia
uma irritação de intensidade variável de indivíduo para
indivíduo (urticária e exsudato pápulo-eritematoso em alguns A esquistossomose mansoni é uma doença de ocorrência
casos). tropical, ocorrendo principalmente na África, Leste do
Mediterrâneo e América.
Uma vez nos tecidos do hospedeiro definitivo, as cercárias
perdem a cauda e se transformam em esquistossômulos. Estes Na América do Sul, destacam-se a região do Caribe,
caem na circulação sanguínea e/ou linfática, atingem a Venezuela e Brasil.
circulação venosa, vão ao coração e aos pulmões, onde
permanecem algum tempo e podem causar certas alterações
No Brasil, a doença é endêmica nos estados de Alagoas,
mórbidas. Retornam posteriormente ao coração, de onde são
Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba,
lançados através das artérias aos pontos mais diversos do
organismo, sendo o fígado o órgão preferencial de localização Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
do parasita.

6. Os esquistossomos migram para as veias mesentéricas


e veia porta, onde se instalam e realizam reprodução
sexuada;

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Fisiopatologia espontaneamente. Esta manifestação clínica, conhecida


A embolização dos ovos e formação de granulomas ao seu como dermatite cercariana, decorre da morte de cercárias
redor na veia porta é a principal causa de hipertensão que penetraram na pele e dura, em geral, 24 a 72 horas
portal; (podendo estender-se por até 15 dias).
 Caracteriza-se por micropápulas eritematosas e pruriginosas
semelhantes a picadas de inseto e eczema de contato. O
diagnóstico é difícil, pois os sintomas são inespecíficos. A
história epidemiológica e os achados clínicos são muito
importantes para o diagnóstico.

Se o ovo passar do sistema porta-hepático, cai no coração


direito e dali vai para o pulmão, onde pode causar uma
arterite pulmonar, que pode evoluir para uma Hipertensão
Arterial Pulmonar (HAP) e cor pulmonale;

Após passar por pulmão e fígado, ovos ainda pode embolizar


para vasos que irrigam a medula espinhal, causando um
quadro de mielite transversa.
Dermatite Cercariana

Quadro Clínico
Geralmente a esquistossomose aguda é sintomática apenas
naqueles que não habitam regiões endêmicas, podendo
Suscetibilidade ocorrer uma síndrome de mononucleose (febre,
Qualquer pessoa, independentemente da idade, sexo ou hepatoesplenomegalia, astenia), diarreia (presença de
grupo étnico, uma vez entrando em contato com as granuloma necrótico e exsudativo) e Síndrome de Löffler.
cercárias, pode vir a contrair a infecção.
Síndrome de Löffler: decorrente do acúmulo de eosinófilos
Classificação nos pulmões, acarretando em uma pneumonite.
As manifestações clínicas correspondem ao estágio de  Clínica: tosse irritativa, dispneia, broncoespasmo,
desenvolvimento do parasito no hospedeiro. A maioria das hemoptise, infiltrado pulmonar migratório (todos os
pessoas infectadas pode permanecer assintomática, efeitos decorrentes da passagem do verme pelo
dependendo da intensidade da infecção. Clinicamente, a pulmão).
esquistossomose pode ser classificada em fase inicial e fase
tardia. Dependendo do número de parasitos e da sensibilidade do paciente, um
quadro descrito como forma toxêmica ou febre de Katayama pode
FASE INICIAL ser desenvolvido.
Os sintomas surgem cerca de três a quatro semanas após a
contaminação e incluem: linfodenopatia, mal-estar, febre, hiporexia,
tosse seca, sudorese, dores musculares, dor na região do fígado ou do
intestino, diarreia, cefaleia e prostração, entre outros.
A intensidade dos sintomas aumenta entre a quinta e a sexta semana,
coincidindo com o início da oviposição.
O doente apresenta-se abatido, com hepatomegalia e esplenomegalia
dolorosas, taquicardia e hipotensão arterial. O achado laboratorial de
eosinofilia elevada é bastante sugestivo, quando associado a dados
epidemiológicos.
 Começa logo após o contato com as cercarias;
 Alterações dermatológicas no local da penetração Diagnóstico clínico  só se define a partir de 45 dias do banho
infectante (antes disso não é possível fazer o EPF, pois não há produção
(dermatite cercariana); de ovos).
 Ocorrem também manifestações gerais, devido às  Ovos viáveis do verme nas fezes ou biópsia hepática revelando o
alterações em outros tecidos e órgãos. característico granuloma esquistossomótico na fase necrótico-
exsudativa
 Alteração de função hepática (laboratório)
1. Formas agudas  Eosinofilia intensa
a) Assintomática  USG abdominal  hepatoesplenomegalia inespecífica e a
presença de linfonodos periportais sugestivos
A maioria dos portadores não apresenta sintomas da doença
aguda. Às vezes, é diagnosticada nas alterações encontradas Os sintomas e sinais clínicos podem persistir por mais de 90 dias e a
nos exames laboratoriais de rotina (eosinofilia e ovos viáveis doença enquadrar-se na definição de febre de origem indeterminada.
de S. mansoni nas fezes).
Há, geralmente, remissão espontânea do quadro clínico nos casos não
tratados.
b) Sintomática
Logo após o contato infectante, alguns indivíduos queixam-
se de manifestações pruriginosas na pele, de duração
geralmente transitória, que cedem quase sempre

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FASE TARDIA Forma hepatoesplênica compensada:


 Tem como substrato anatômico a fibrose de Symmers;
 Caracterizada pela presença de hipertensão portal,
levando a hepatoesplenomegalia e suas complicações.
 Não há lesão das células hepáticas.

Adolescente e adulto com formas hepatoesplênicas:

Formas Crônicas
Iniciam-se a partir dos 6 meses após a infecção e podem
durar vários anos.
 Podem surgir os sinais de progressão da doença para
diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de
severidade, como hipertensão pulmonar e portal,
ascite, ruptura de varizes do esôfago.

As manifestações clínicas variam de acordo com a


localização e intensidade do parasitismo, da capacidade de
resposta do indivíduo ou do tratamento instituído.
Apresentam-se nas seguintes formas:

Hepatointestinal A característica fundamental desta forma é a presença de


 Mais comum e leve; hipertensão portal, levando à esplenomegalia e ao
 Quase sempre assintomáticos; quando sintomáticos há aparecimento de varizes no esôfago. Os pacientes
sintomas inespecíficos  diarreias e epigastralgia; costumam apresentar sinais e sintomas gerais inespecíficos,
 Diagnóstico acidental por exame parasitológico de como dores abdominais atípicas, alterações das funções
fezes (EPF) de rotina; intestinais e sensação de peso ou desconforto no
 Fígado palpável, com nodulações que, nas fases mais hipocôndrio esquerdo, devido ao crescimento do baço.
avançadas dessa forma clínica, correspondem a áreas de
fibrose decorrentes de granulomatose periportal ou Às vezes, o primeiro sinal de descompensação da doença é a
fibrose de Symmers; hemorragia digestiva com a presença de hematêmese e/ou
 Algumas dessas formas evoluem para a melena. Ao exame físico, o fígado encontra-se aumentado,
hepatoesplênica; com predomínio do lobo esquerdo, enquanto o baço
aumentado mostra-se endurecido e indolor à palpação.
As provas de função hepática se mantêm dentro de valores A forma hepatoesplênica compensada predomina nos
normais. A biópsia hepática raramente fornece informações. adolescentes e adultos jovens.
O exame retossigmoidoscópico revela mucosa congesta,
granulosa, com pequenas ulcerações e, no exame de Forma hepatoesplênica decompensada:
fragmentos de tecido retirados por biópsia, encontram-se  Sinais de insuficiência hepática, principalmente devido à
com frequência ovos viáveis de S. mansoni. baixa perfusão do órgão decorrente das sucessivas
hemorragias (HDA).
O diagnóstico ocorre em muitas vezes de forma acidental,  Sempre pensar em associação com outras doenças de
quando o médico se depara com a presença de ovos viáveis fígado, como hepatite B, hepatite C e alcoolismo quando
de S. mansoni no exame de fezes rotineiro os sinais de alerta (icterícia e ascite) surgirem.

Hepática Inclui as formas mais graves de esquistossomose mansoni,


Fibrose periportal sem hipertensão portal e sem esplenomegalia; responsáveis pelos óbitos. Caracteriza-se por diminuição
A apresentação clínica dos pacientes pode ser assintomática acentuada do estado funcional do fígado.
ou com sintomas da forma hepatointestinal. Essa descompensação relaciona-se à ação de vários fatores,
 Ao exame físico, o fígado é palpável e endurecido, à tais como os surtos de hemorragia digestiva e consequente
semelhança do que acontece na forma hepatoesplênica. isquemia hepática e fatores associados (hepatite viral,
 Na ultrassonografia, verifica-se a presença de fibrose alcoolismo).
hepática, moderada ou intensa.
 Nessa forma clínica, o paciente não apresenta varizes de
esôfago e sangramento decorrente da ruptura de
varizes.

Hepatoesplênica: fibrose periportal com esplenomegalia;


A esquistossomose hepatoesplênica apresenta-se de várias
formas: compensada, descompensada ou complicada.

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obstrução vascular seja pelos ovos, vermes mortos ou reações


inflamatórias por deposição de imunocomplexos;
 Apresenta 2 foras: HAP e cianótica (mais grave)

Hipertensão Pulmonar – Sinal em RX de Tórax: abaulamento do arco médio .

Neurológicas: mielite transversa;


As lesões do SNC decorrem da presença de ovos e de
granulomas esquistossomóticos nesse sistema. Ao que parece,
os vermes migram para os vasos que nutrem as células do
sistema nervoso e aí depositam os ovos. A lesão mais frequente
na esquistossomose mansônica é a mielite transversa.

Alargamento do cone medular em paciente com mieloradiculopatia


esquistossomótica:

Paciente com forma hepatoesplênica descompensada

Renal: glomerulonefrite membrano-proliferativa


A síndrome nefrótica é a apresentação clínica mais comum.
Trata-se de uma complicação causada por imunocomplexos.

Doenças associadas que modificam o curso da


esquistossomose
 Salmonelose prolongada
 Abscesso hepático em imunossuprimidos (aids, infecção
pelo vírus t-linfotrópico humano [HTLV], pessoas em uso
de imunossupressores)
 Outras hepatopatias (virais, alcoólica, entre outras).

Diagnóstico Dieferencial
Formas complicadas
 Vasculopulmonar
 Glomerulopatia
 Neurológica
 Outras localizações: olho, pele, urogenital etc.
 Pseudoneoplásica (intestino)
 Doença linfoproliferativa (linfomas esplênicos)

Vasculo-pulmonar: ocorre em estágios avançados da doença e


é caracterizada por hipertensão arterial pulmonar (HAP) por

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Diagnóstico  O diagnóstico de certeza é feito pelo achado de ovos


Como a esquistossomose, em suas diversas formas clínicas, ou de granulomas periovulares no material
se assemelha a muitas outras doenças, o diagnóstico de examinado.
certeza só é feito por meio de exames laboratoriais. A
história do doente mais o fato de ser originário de (ou haver USG de veia porta (ver hipertensão portal) e abdominal (ver
vivido em) região reconhecidamente endêmica orietam o hepatoesplenomegalia);
diagnóstico. A ultrassonografia é de grande auxílio no diagnóstico da
fibrose de Symmers e nos casos de hepatoesplenomegalia.
Diagnóstico de fase aguda:
 Clínico ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA
 Epidemiológico Utilizada no diagnóstico e tratamento das varizes
 Laboratorial: gastroesofágicas resultantes da hipertensão portal na
o Pesquisa de antígenos do verme adulto esquistossomose hepatoesplênica.
o Hemograma mostrando eosinofilia importante
de > 20% (junto à estrongiloidíase, apresenta a Resumo dos exames específicos:
maior taxa de eosinofilia);

Diagnóstico de fase crônica:


EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES (achados do ovo é
padrão ouro)
 Método de Lutz (método qualitativo em que se pesquisa
ovos pesados);
 Método de Kato-Katz (quantitativo);
Exames Inespecíficos
São necessários 6 EPF negativo para confirmar
ausência da doença.

Dentre as técnicas para EPF, a mais utilizada é a técnica de


Kato-Katz, a qual possibilita a visualização e contagem dos
ovos por grama de fezes, fornecendo um indicador
quantitativo que permite avaliar a intensidade da infecção e Tratamento
a eficácia do tratamento. É o método escolhido para O tratamento da esquistossomose sem lesões avançadas
inquéritos coproscópicos de rotina nas áreas endêmicas e consiste na utilização de medicamentos específicos para a
em investigações epidemiológicas. cura da infecção. Cumpre estabelecer logo no início dois
diagnósticos: o da atividade parasitária por métodos
SOROLOGIA laboratoriais e o da forma clínica da doença.
Para fins de diagnóstico individual nas áreas de baixa
endemicidade, recomenda-se a realização complementar de
testes sorológicos. No SUS, estão disponíveis a Praziquantel, VO, dose única
Imunofluorescência Indireta (IFI) com pesquisa de IgM e o  Medicamento preconizado para todas as formas
Ensaio imunoenzimático (ELISA). clínicas, respeitados os casos de contraindicação;
 Distribuído pelo SUS.
BIÓPSIA RETAL
Consiste na retirada de fragmentos da mucosa retal e seu
exame, para a detecção de ovos em seus diferentes estágios
evolutivos. Pode ser útil também no acompanhamento da
eficácia do tratamento.
 Apesar de não indicada para utilização na rotina, pode
ser útil em casos suspeitos e na presença de exame
parasitológico de fezes negativo.
Glicocorticoide:
BIÓPSIA HEPÁTICA  Usar 48h antes do fármaco na fase aguda (febre de
 Dentre as biopsias para o diagnóstico da Katayama) e naqueles com envolvimento de medula
esquistossomose é a mais comum espinhal;
 Feita quando a doença se apresenta clinicamente grave  Naqueles com a forma avançada, usa-se um dia antes do
e quando os meios diagnósticos já mencionados não tratamento até sete dias depois para evitar inflamação
permitiram à confirmação da esquistossomose ou a sua ao redor dos parasitas mortos com consequente
diferenciação de outras hepatopatias. agravamento da HAP ou cor pulmonale.

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Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias

Medidas de Prevenção e Controle


 Controle dos portadores como estratégia de prevenção
(identificação e tratamento);
 Educação em saúde;
 Controle de hospedeiros intermediários;
 Saneamento ambiental.

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CASOS CLÍNICOS 2019.2 Existe a leishmaniose visceral e a cutânea.


Leishmaniose cutânea
CASO 8A  Na cutânea, há formação de uma lesão característica (nódulo
que depois se torna úlcera) no local da picada do flebotomíneo
Paciente de 18 anos, branca, casada, natural e procedente de infectado. Em geral, essa lesão ocorre em área exposta como
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, internada com história de mãos, calcanhares e rosto.
dois meses de febre, astenia, cansaço, hiporexia, mialgias e
 A úlcera tende a ser grande e de bordos elevados.
cefaleia.
 Doença de distribuição mundial.
Havia procurado várias vezes atendimento médico em unidades
Leishmaniose visceral
básicas de saúde, sempre recebendo tratamento sintomático.
 Também é distribuída no mundo todo, mas predomina na
América do Sul e América Central.
Ao exame: regular estado geral, emagrecida, hipocorada ++/4,
acianótica, anictérica, sem linfonodos palpáveis, febril (38,7°C),
 Em geral, há predominância de diferentes tipos de Leishmania
nos diferentes locais.
eupneica.
Obs.: Leishmania infantus e chagasi hoje são consideradas iguais
ACV e AR sem alterações.
(são sinônimos).
Fígado e baço palpáveis a 10 cm dos respectivos rebordos
Quadro clínico – Leishmaniose Visceral
costais.
Em geral o paciente chega para atendimento com um quadro
Presença de edema de membros inferiores com cacifo +/4+. crônico de febre e hepatoesplenomegalia a esclarecer.
 Se esses sintomas se apresentassem de forma aguda,
Exames colhidos na emergência: poderíamos pensar em Malária, Síndrome de Mononucleose,
 Hemograma: 2,3 milhões de hemácias/dL, 6,4g% de etc.
hemoglobina (anemia importante), 600 leucócitos
(leucopenia) com 60% de segmentados e 40% de linfócitos; Em geral não há linfonodomegalia. O paciente também se
70000 Plaquetas/mm3 (plaquetopenia). apresenta muito consumido, estando a doença também associada
à desnutrição, tendendo a redução de proteínas séricas que pode
 Proteínas séricas: albumina 1,5 g/dL.e globulina 4,1 g/dL/L
se manifestar por edema periférico e ascite. Na ectoscopia
(reduzidas)
podemos perceber fácies de doença crônica.
LEISHMANIOSE VISCERAL
Esse paciente geralmente é grave.
Aspectos gerais
A leishmaniose visceral era mais encontrada em regiões de floresta Exames inespecíficos - LV
no interior do Brasil (principalmente na Região Norte – Amazonas, Nos exames inespecíficos podemos observar:
Pará, etc.; interior do Nordeste) e em áreas de exploração agrícola,
porém, atualmente tem ocorrido surgimento de casos esporádicos PANCITOPENIA.
dentro de grandes centros urbanos (ex.: Rio de Janeiro) em animais  Motivo: invasão medular do parasita.
e humanos.
REDUÇÃO DE PROTEÍNAS PLASMÁTICAS.
A leishmaniose visceral é conhecida popularmente como Calazar.  Pode ocorrer inversão de albumina/globulina.
A transmissão da doença ocorre via vetorial. AUMENTO DE TRANSAMINASES, VHS, etc.
Vetor: flebotomíneos (mosquito palha)
 O vetor não é um mosquito, mas sim flebotomíneo  Exames Específicos - LV
Lutzomyia longipalpis. Teste rápido
 Identificação do antígeno parasitário.
Ciclo da Leishmaniose
 Na floresta (meio silvestre), existem reservatórios (gambás, Pesquisa direta da Leishmania spp.
raposas, etc.), que quando são picados pelo flebotomínio  Na Medula Óssea ou no Fígado ou no Baço (melhor, mas é
(Lutzomya), os infectam com Leishmanias. mais arriscado devido à chance de ocorrência de hemorragia
 O vetor pica então os cachorros e o ser humano, disseminando esplênica);
a doença dentro das cidades.  Coloração de Giemsa;
 São vistas formas amastigotas dentro de neutrófilos.
Para os seres humanos, o principal reservatório é o cão.
Cultura da Leishmania spp. em meio NNN
Os cães, normalmente, se tornam gravemente doentes pelo Calazar  Material coletado nos mesmos locais da Pesquisa Direta.
e o tratamento adequado, em muitos casos, não é alcançado. Com
isso, a orientação é o sacrifício do cão (medida que tem muita A pesquisa do parasita do sangue não é tão produtiva, pois é difícil
resistência do dono para ser aplicada, o que dificulta o controle da encontrar o parasita. É mais fácil encontrar o parasita no baço,
disseminação da doença). fígado ou medula óssea, pois esses são os locais onde o parasita se
aloja (sistema retículo endotelial – SRE).
Agente Etiológico
Leishmania spp. PCR do material genético da Leishmania spp.
 É um bom método, mas de difícil acesso.
As Leishmanias spp. são parasitas, quando intracelulares são
chamadas de formas amastigotas.

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Sorologia Paciente com hepatoesplenomegalia de curso prolongado, sem


 Não contribui muito para o diagnóstico, pois a positividade história de febre, mas com relato de hemorragia digestiva.
do exame pode ser devido a uma infecção passada.  A hemorragia digestiva é causada, em geral, por varizes de
esôfago.
Existe ainda o Teste de Montenegro, mas esse não é feito dada sua
pouca contribuição diagnóstica. Locais de Esquistossomose
 África subsaariana
Tratamento  América do Sul (Brasil, Colômbia, etc.)
O paciente em geral está grave e a primeira medida é a
INTERNAÇÃO. Ciclo da Doença
 A leucopenia favorece a ocorrência de infecção secundária  O ciclo se inicia quando um Indivíduo infectado defeca
que pode se tornar muito complicada. próximo a coleção hídrica e libera ovos do Schistossoma
mansoni.
Medicamentos  Na natureza os ovos se rompem e liberam os miracídios, os
 Antimonial Pentavalente: pode ser feito ambulatoriamente. quais vão infectar os caramujos (Biomphalaria), dentros
IM ou IV, diariamente por 40 dias.  dos quais vão ter um ciclo assexuado;
 Posteriormente, o caramujo libera as cercarias, forma essa
Devemos nos atentar aos efeitos adversos e contraindicações que penetra de forma ativa na pele do indivíduo em contato
do antimonial. Pode causar alteração de ECG, toxicidade com a água contaminada.
hepática e renal, pancreatite, etc.  No organismo, a larva faz um percurso até alcançar o sistema
intestinal.
 Anfotericina B, IV, 3 semanas  No TGI o macho e a fêmea copulam e liberam ovos.
Existem critérios para uso de Anfotericina B e esses incluem
 A fêmea tende a ficar nos plexos mesentéricos inferior e os
pacientes com comorbidades, gestantes, idosos, crianças
ovos então são liberados, migrando para mucosa e luz
menores, etc.
intestinal, onde são liberados para o meio externo com a
defecção.
O controle de tratamento não é sorológico, mas sim de acordo com  Alguns ovos, são levados retogradamente até o fígado, pelo
a melhora clínica do paciente. sistema porta. Com o tempo, esses ovos começam a causar
congestão hepática (“entopem” o sistema venoso hepático). A
Profilaxia reinfecção e a carga parasitária muito elevada, contribuem
 Tratamento dos doentes para que o fígado fique cada vez mais comprometido, até que
 Melhorar o controle dos animais reservatórios um dia se torne fibrosado.
 Controle do vetor
 Adequado saneamento básico Em alguns casos, quando a pessoa sai da área endêmica, só há
 Em áreas endêmicas, medidas para proteção contra picada do formação de alguns granulomas no fígado, sem repercussão clínica
mosquito (repelente, mosquiteiros, etc.) significativa. Contudo, se o indivíduo permanece exposto em área
endêmica, com manutenção de reinfecção, pode ocorrer uma
Existe vacina para Leishmaniose para o cão, mas essa é cara e deve evolução mais facilmente para cirrose hepática.
ser feita de tempos em tempos.
Se a pessoa se expõem desde nova, a cirrose pode ocorrer a partir
Caso 8B da 3ª década de vida.
Paciente de 35 anos de idade, masculino, natural e residente em
Paracambi, RJ, procura atendimento ambulatorial queixando-se Não existe apenas o Schistossoma mansoni, mas também o
de que há mais de um ano vem notando aumento do volume Schistosoma japonicum e haematobium (mais comum no sudeste
abdominal. asiático, Japão, Índia, etc.)
 Schistossoma mansoni: tem preferência pelo
Relata que nunca teve qualquer problema de saúde salvo um
intestino/sistema porta;
episódio de hemorragia digestiva alta, quando precisou ficar
internado na emergência e receber hemotransfusão.  Schistossoma haematobium: tem preferência pelo tecido
renal e pode causar hematúria (há liberação de ovos que
Nega febre. Refere plenitude pós-prandial. provocam destruição glomerular, podendo evoluir para
doença renal crônica);
Comenta que desde a infância toma banho em um açude perto
de sua casa. O ovo pode se instalar em locais atípicos, como na medula espinhal
(plexo mesentérico se comunica com veias vertebrais) e causar
Ao exame: paciente hipocorado 1+/4+, hidratado, eupneico, mielite transversa.
anictérico, sem linfonodomegalias, MVUA sem RA, RCR 2T BNF
sem sopros; Diagnósticos Diferenciais
 Esquistossomose hepato-esplênica;
Abdome: fígado palpável a 5 cm do RCD e a 10cm do processo
 Hepatite crônica (de causa viral, alcoólica);
xifoide, doloroso a palpação, de superfície lisa, mas com
bordas rombas, Traube maçico e baço palpável a 3 cm do RCE,  Linfoma
indolor.  Leishmaniose Visceral
 Hepatocarcinoma
Membros inferiores sem alterações.
ESQUISTOSSOMOSE FORMA CRÔNICA.

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Quadro clínico Tratamento


Em geral, o paciente se apresenta com varizes de esôfago sem Praziquantel, VO, dose única
causa comum aparente (álcool, vírus, doença autoimune). Nesse Na fase crônica, o tratamento pode não ter tanto impacto, a
caso, DEVEMOS pensar no diagnóstico de esquistossomose, pois o depender do dano já instalado pelo parasita. O paciente deve
Brasil é um local endêmico. tomar o medicamento para evitar mais danos no futuro. Ainda, vale
 Pode haver história de banho de rio, de que conhece o ressaltar que o caso deve ser manejado por um especialista em TGI.
caramujo, etc.
Profilaxia
Fases da Doença  Saneamento básico
Fase aguda  Conscientização da população para não defecar em locais
 Irritação local; públicos
 Em geral não é feito o diagnóstico;
 Pode ocorrer doença febril aguda (Febre de Katayama). CASOS CLÍNICOS 2020.1

Fase Crônica CASO 8A


 Formação de granulomas hepáticos que vão aumentando com Paciente de 14 anos, branca, casada, natural e procedente de
o tempo e só causam sintomas em momentos mais Sobral, CE, transferida para o Rio de Janeiro para investigação
posteriores; diagnóstica.
 Forma Hepato-esplênica: alteração de transaminases, da
drenagem do baço, etc. Pode ser compensada ou Há 6 meses começou a apresentar febre, astenia,
descompensada (alteração de função hepática com sinais emagrecimento e aumento do volume do abdômen.
clássicos de insuficiência hepática).
Ao exame: paciente com fácies de doença crônica, muito
Diagnóstico emagrecida, hipocorada +++/4, acianótica, anictérica, sem
É um pouco difícil, sendo o exame parasitológico de fezes (EPF) a linfonodos palpáveis, febril (38,7°C), eupneica.
forma mais fácil.
ACV: RCR 2T, sopro sistólico pancardíaco 2+/6+, sem irradiações.
Ausculta pulmonar sem alterações.
EPF Abdômen: indolor, fígado palpável a 12 cm do RCD e baço
 Técnica de Kato-Katz – quantidade de ovos por grama de fezes. palpável a 20 cm do RCE, ausência de líquido livre na cavidade.
Quanto mais amostras, melhor, idealmente são necessárias 6 Membros inferiores com edema ++/+4 e petéquias.
amostras de fezes para diagnóstico.
Os exames de entrada, apresentavam:
Biópsia Retal  2,3 milhões de eritrócitos/dL, 6,4 g% de hemoglobina e 550
 Nas fases mais tardias, se a pessoa não está mais em área leucócitos com 62% de segmentados e 38% de linfócitos;
endêmica, pode acontecer de não haver mais parasita, 60.000 plaquetas/mm3.
permanecendo apenas a lesão hepática. Nessas fases pode ser  Proteínas séricas: albumina 1,0 g/dL e globulina 4,1 g/dL.
feita a biópsia retal. Leishmaniose Visceral

Biópsia Hepática Caso 8B


 O fígado vai se mostrar alterado em ultrassom – fibrose de Paciente de 35 anos de idade, masculino, natural e residente em
Symmers. Paracambi, RJ, procura atendimento ambulatorial queixando-se
 É feita PAAF dos nódulos hepáticos e em exame de que há mais de um ano vem notando aumento do volume
histopatológico podem ser visualizados granulomas abdominal.
eosinofílicos. Pode também ser visualizados os ovos (ovo
Relata que nunca teve qualquer problema de saúde salvo um
espiculado).
episódio de hemorragia digestiva alta, quando precisou ficar
internado na emergência e receber hemotransfusão.
Pesquisa de Antígenos no Sangue
Nega febre. Refere plenitude pós prandial.
Sorologia
 Pode ser positiva devido a infecção passada já resolvida. Comenta que desde a infância toma banho em um açude perto
de sua casa.
O diagnóstico principal é feito pela biopsia hepática e pela biopsia
retal. Ao exame: paciente hipocorado 1+/4+, hidratado, eupneico,
anictérico, sem linfonodomegalias, MVUA sem RA, RCR 2T BNF
Obs.: Na fase aguda, em especial nos primeiros 40 dias de infecção sem sopros;
(momento que pode ocorrer a febre de Katayama), não é possível Abdome: fígado palpável a 5 cm do RCD e a 10cm do processo
xifoide, doloroso a palpação, de superfície lisa, mas com
identificar ovos no EPF, pois esse é o tempo da migração do parasita
bordas rombas, Traube maçico e baço palpável a 3 cm do RCE,
até instalação no TGI e produção de ovos
indolor.
Membros inferiores sem alterações.
Exames inespecíficos
Eosinofilia Esquitossomose hepato-esplênica compensada
 O parasita induz a liberação de IL-5, que é uma citocina que A contaminação sucessiva na esquistossomose é que causa forma
estimula a liberação de eosinófilos. grave da Esquistossomose.

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