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FACAS NAS GALINHAS

De DAVID HARROWER

Tradução Fábio Ferretti

Se ninguém cuida de mim, eu não cuido de ninguém. Não eu, não.

Personagens:
Mulher Jovem, uma camponesa
Pony1 William, um lavrador
Gilbert Horn2, um moleiro

Cena Um

Campo.

Uma cabana no fim de um vilarejo. Final de tarde .

Mulher Jovem Eu não sou um campo. Como posso ser um campo? Como é um campo? Plano.
Molhado. Nublado. Eu não sou nenhum campo.

William Eu nunca disse isso.

Mulher Jovem Falou que eu sou um campo quando estou sentada aqui.

William Eu falei que você é como um campo.

Mulher Jovem Falou que eu sou um campo quando estou sentada aqui.

William Eu falei que você é como um campo. Parece um campo.

Mulher Jovem É a mesma coisa.

William Nada disso, mulher.

Mulher Jovem Se eu sou como um campo devo ser um campo.

William (ri) A gente não tem que ser uma coisa, pra ser como ela

Mulher Jovem como assim?

1
A palavra "pônei" é uma derivação do francês antigo “poulenet”, em português “Potro”. Durante a Revolução Industrial,
particularmente na Grã-Bretanha, eles foram usados para transportar o carvão das minas. Sua utilidade foi observada por
agricultores que observaram que um pônei poderia superar um cavalo de tração em pequenas propriedades rurais.
2
Chifre, Genitália masculina. To horn: Trair, chifrar, colocar chifres em alguém.
William Não precisa ser a coisa.

Mulher Jovem Que mais eu sou? Fogo?

William Estou com os pés cheios de lama. Mal posso senti-los.

Mulher Jovem ... Sapato? Cama? Porta?

William É por isso que se usa... Como.

Mulher Jovem Nunca ouvi isso antes.

William Como, mulher. A lua é como um queijo. Parece um queijo. Mas não é.

Mulher Jovem Você foi lá em cima pra ver? A Lua é a Lua. Por que ela é como o queijo?

William É o que todo mundo diz (ouve barulho}. O que foi isto? Os cavalos?

Mulher Jovem Então o queijo é como a Lua?


William Não. Vou lá ver os cavalos. Tem alguma coisa errada.
Mulher Jovem O queijo é como a Lua?
William Eu sei mais do que você.
Mulher Jovem Eu sei.
William Você pode ser qualquer coisa que eu quiser. Eu disse que você era como um campo.
Você parecia um campo quando estava sentada lá. Agora não. Não é mais. Agora que você não
está sentada lá não é mais.
Mulher Jovem Vou te dizer como eu sou. Eu sou como eu sou. Nada além disso.
William Você é bonita.
Mulher Jovem Você é bonita.
William Agora sim. A mais bonita da vila.
Mulher Jovem É aquele campo? (ela toca nele) Fala. É aquele campo?
William Você ainda não viu o campo.
Mulher Jovem Que campo é então?
William Poucos na vila conhecem
Mulher Jovem Onde fica?
William Não muito longe. No caminho das minas.3
Mulher Jovem Eu trabalho em todos os campos, em toda parte.
William É naquela direção.
Mulher Jovem Já fui por lá.

3
Em inglês: Out-Bye. Palavras usada na escócia com sentido de “não muito distante” e também relacionado à direção dos terrenos
das minas de carvão. ‘Out-bye land’: lugar de prados de feno, pastos e arvores podadas.
William Ele é o mais longe de todos. O último.
Mulher Jovem Eu já vi todos os campos que existem.
William É um campo bom. De bom tamanho. Todos esses anos nunca vi ele enganar, ser
teimoso ou magoar os outros. Foi feito para um homem, um cavalo e um arado. É bom e plano
até chegar à encosta, mas nada que possa cansar um homem. O solo é bom e rico - para que
tudo possa crescer nele do mesmo jeito. Quando se precisa descansar a grama que cresce é
muito boa, e é a mais doce das redondezas. É o que os cavalos diriam depois da pastagem.
Entendeu agora, mulher.
Mulher Jovem Eu vou lá um dia. Volto e te digo o que eu vi.
William Eu preciso me lavar antes de ir ver os cavalos.
Mulher Jovem (saindo) O queijo que as outras mulheres fazem são como a lua. O meu queijo é
como queijo.
William – Antes, eu deitava lá e os cavalos pastavam lentamente ao meu lado. Uma vez, olhei
para cima e eu senti como se todo o meu corpo virasse ao avesso. Era como se tudo que
estivesse dentro de mim fizesse parte daquela grama, do prado4. Vermelha. Molhada.
Corações de coelho misturados com saliva das vacas. Eu nunca disse nada. Do mesmo jeito que
eu puxei o potro no parto em dezembro, nuvens saiam de mim. Quase tinha esquecido isto.
Antes de escurecer eu levava-os de volta até a vila para os currais, mas com aquele campo
ainda na minha cabeça. Por que ainda penso nele? Eu era apenas um menino. Poderia ter
vivido naquele campo toda a minha vida se tivessem me deixado. A lama está fedendo.

Cena dois

Campo aberto.

Mulher Jovem entra carregando uma cesta.

Mulher Jovem O vento sopra. O sol brilha. A lavoura cresce. O céu -... O pássaro
- voa, as nuvens-... A árvore... O que? Fica em pé. As arvores ficam em pé. O
céu-... O céu-... O coelho corre. As nuvens-... correm? ... crescem? As folhas nas
arvores...se penduram? O céu —... O céu-...

Cena Três
Campo.
William em mangas de camisas, comendo. Mulher Jovem senta-se. Entre eles a
cesta descoberta
William Você está doente?
Mulher Jovem Não.
William Com febre?

4
Out-bye Grass: grama do out-bye
Mulher Jovem Não.
William O que é então? Tem alguma coisa errada com você?
Mulher Jovem Nada.
William Estava te olhando.
Mulher Jovem To aqui. Com a sua comida e do o cavalo.
William Estava vendo você... parada lá. O que você estava fazendo?
Mulher Jovem Eu estava olhando. Eu estava olhando para...
William Para onde...?
Mulher Jovem Eu vi uma... uma poça, uma poça onde se podia ver a terra. A
chuva fresca deixou uma poça de agua limpa . Pude ver as rachaduras na terra
nela. vi as pegadas dos passaros, vi o sol brilhando. Você tem um nome para
isso?
William Poça.
Mulher Jovem Não. O nome certo.
William Poça é o nome certo.
Mulher Jovem Como assim?
William Vai direto ao ponto, mulher. Nao fica procurando chifre em cabeça de
cavalo.
Mulher Jovem Uma poça é escura, enlameada. Não se pode ver nada nela. Mas a
que eu vi tinha agua limpa e clarinha. O que é então?
William Uma poça. Não deixa de ser uma poça. Eu já disse antes. poça escura,
clara poça. É a mesma coisa.
Mulher Jovem As coisas mudam cada vez que eu olho para elas.
William Algumas mudam, outras não. fica com o que você já sabe. É a melhor
coisa. Não fica ali parada, olhando. O pessoal da vila vai ver e falar. Você sabe
como é este povo.
Mulher Jovem Eu não sei nada. Sei muito pouco. Quando o vento mexe nas
árvores e elas fazem assim... (balança-se) O que é isto? Tem um nome para isso?
Por que o vento faz isto? Vendo isto por debaixo das folhas . Não sei se é certo
olhar. O que é isso?
William Um dia você vai compreeder. Você saberá. Voc ê duvida de Deus?
Mulher Jovem Não. Nunca duvidei de Deus.
William Você é jovem ainda, é por isso. Eu não. Você saberá. Escuta, chega
desta conversa. O que você fez de manhã?
Mulher Jovem Depois que você saiu, eu matei duas galinhas e dei comida para
as outras.Eu dei uma em troca de um saco de sal; a outra eu pendurei sobre o
fogo para secar. Peguei quatro cenouras da terra e lav ei-as. Eu tirei agua doce
do poço. Fiz uma vela com o resto do sebo . Derrubei uma faca no chão. Coloquei
as peles para curtir. Derreti manteiga e fiz o molho . Eu teci uma colcha para o
Inverno. Passei o pente fino no meus cabelos procurando piolhos. Me ajoelhei e
rezei. Eu fiquei olhando minhas mãos. Eu trouxe a sua comida e a do cavalo.
Ele come, levanta a testa quando ela fala que a faca caiu, olha para o cavalo.
William Trabalhamos duro desde que o sol nasceu . Você não vai comer?
Mulher Jovem Vou olhar você comendo. É melhor. Come como um cavalo.
Ele faz uma imitação grotesca de um cavalo mastigando - Ela ri.
William Isto é a unica coisa que todos tem em comum. T odos gostam de comer.
Nunca conheci um homem ou uma mulher que não gostasse. Não importa onde
eles estejam, eles comem.
Mulher Jovem É o que você fica pensando quando está arando ? É que o que
você vê? Outros lugares. Ou tras pessoas. Comendo.
William Todos os lavradores se cansam de olhar pra terra, para baixo. Escura.
Acabam machucando as costas e o pescoço. Se olhassem para esquerda ou para
direita eles cairiam. Eu olho para o céu. Ai dói meu pescoço e machuca meus
olhos.
Mulher Jovem Não fomos feitos para olhar para cima por muito tempo. Senão
os nossos rostos estariam em cima das nossas cabeças, ret os.
William Eu sei.
Mulher Jovem Mas Deus vê tudo. Ele vê cada coisa. Ele tem nome para cada uma
das coisas.
William Isso mesmo. Nossos rostos estão aqui, olha ndo para frente. Pro norte.
Mulher Jovem E tudo o que precisamos olhar está entre a terra e o céu. Eu
estou feliz por nós.
William Feliz pelo que?
Mulher Jovem Por termos casado. Se eu não tivesse casado com você eu teria
me casado com outra pessoa, mas não seria a mesma coisa. Pensei isso assim
que vi você.
William Põe leite pra mim
Mulher Jovem É como quando eu estou beijando teu pau.
William Vem. Come.

Cena Quatro
Lado de fora da cabana. Madrugada.
Mulher Jovem (chamando e caminhando em direção aos currais) William?
William?
William Shiii. Shiii. Pra Lá. Tudo bem agora. Quieta.
Mulher Jovem William, William, será-que-ele-tá-aqui? William, William, será-
que-ele-tá-lá? (entra). William!
William fecha a boca mulher ou juro por Deus que eu mesmo faço isso.!!!!
Mulher? ... O que foi que eu te disse no dia que casamos ? Você só vem no curral
se me pedir. Os cavalos vão ficam com medo de você . Eles não conhecem você.
Vai assustá-los.
Mulher Jovem Desculpa William... Mas até quando vai durar isso?
William Não é pelos cavalos. Talvez no próximo verão. Eles têm que confiar em
seu cheiro. Na sua voz. Todos eles.
Mulher Jovem ...onde você está?
William Na última baia.
Mulher Jovem A cama está vazia. Está fria.
William Eu fiquei fora a maior parte da noite.
Mulher Jovem (indo na direção do curral ) O que?
William Pode voltar! A égua está sofrendo. Está tremendo.
Mulher Jovem Ela está morrendo?
William Não. Está prenha.
Mulher Jovem Só isso?
William É sua primeira vez, mulher.
Mulher Jovem quando eu carregar nosso primeiro você será assim cuidadoso
William Vai pra dentro mulher. Está frio.
Mulher Jovem Você sabe de qual deles é?
William Do desgraçado ali. Falei pra ele ficar longe. (para o cavalo). O que foi
que eu te disse? Pra ficar longe. É a ultima vez que confio nele. Agora entra.
Mulher Jovem Você vem?
William Já te falei. Ela precisa de mim aqui.
Mulher Jovem Ela está parindo agora ?
William Não. Mas eu não vou deixar ela sozinha. E la não sabe onde está. Ela é só
uma menina.
Mulher Jovem Prefere viver no curral com os cavalos do que comigo .
William Eu sou assim, mulher. Você sabe disso
Mulher Jovem Tem uns meninos na vila que pod eriam te ajudar.
William Não quero ajuda deles , estes cavalos são especiais. Os meninos não. É
você que eu quero comigo. E você está. Agora entra e vai comer. É você que vai
fazer o meu trabalho hoje.
Mulher Jovem O que tenho que fazer?
William Você deveria saber. É preciso moer os grãos.
Mulher Jovem Tenho que ir ao moinho?
William Eu vou ficar com ela.
Mulher Jovem Você quer que eu vá lá?
William Foi o que eu disse.
Mulher Jovem ...Hoje?
William Prefere que os grãos apodreçam e passemos fome ? Hein? A carroça está
carregada. Poe este desgraçado aqui pra puxar. (pro cavalo) Fique longe de mim.
Mulher Jovem Dizem que ele matou a esposa grávida e o filho que ia nascer. E
que os homens e as mulheres que desapareceram, agora são gatos e cabras e
macacos. Iam de lugar em lugar, dormiam juntos e cantavam por comida.
William Ele sabe que você é minha esposa. Sabe o que eu faria.
Mulher Jovem Sempre ouvi falar do moleiro. Desde quando eu era uma menina.
William Tudo que você precisa é odi á-lo. É o que ele espera. Ódio. Com toda a
sua força. É o costuma do povo.
Mulher Jovem Odeio ele!
William De novo.
Mulher Jovem Eu odeio ele!
William Mais forte!
Mulher Jovem Eu odeio ele! Pra começar não vou mostrar que tenho medo dele .
Eu odeio todos os moleiros. Seus corpos deveriam ser jogados no açude. Eu
ficaria lá olhando eles, até inchar e feder.
William Estás com ódio agora. Um onze avos da saca é dele 5. Ele não pode
roubar mais. Pede pra ele ser rápido, pra arregaçar as mangas .
Mulher Jovem Arregaça as mangas moleiro !
William ...Quando ele estiver pesando a farinha. Um onze avos da saca. Não tira
o olho do safado, nem dos nossos grãos.

Cena Cinco

Moinho

Som suave de um rio.


Mulher Jovem descarrega a primeiro saca de grãos com muita dificuldade.
Gilbert Horn aparece, observa -a. Ela percebe mais continua a descarregar.
Gilbert Você quer ajuda com os sacos?
Mulher Jovem (baixo) Não chegue perto de mim.
Gilbert Perguntei se você precisa de ajuda com seus grãos.

5
Peck: Na Escócia, o peck era utilizado como uma medida para secos, até a introdução de unidades de pesos e medidas em 1824.
O peck equivalia a cerca de 9 litros (para o trigo, ervilhas, feijão e farinha) e cerca de 13 litros (para cevada, aveia e malte).
Mulher Jovem Não. Não preciso de sua ajuda.
Gilbert Se fizer...
Mulher jovem Dou conta sozinha!
Gilbert É a primeira vez que você vem aqui.
Mulher Jovem Mas eu sei como fazer.
Gilbert Então sabe que é um trabalho chato e demorado . Onde está seu marido?
Está na cama doente como um inútil?
Mulher Jovem Ele está no campo, empurrando o arado, firme e forte.
Gilbert Ele acha que a esposa tem força suficiente para o trabalho, já que a
mandou sozinha.
Mulher Jovem Ele não me mandou moleiro . Eu vim. Agora faça a pedra rodar.
Quero terminar logo.
Gilbert Venha e fale pra ela você mesma. É bonita, não é? Você quer terminar
logo? Fale com ela. A pedra só faz o que quer. Não ouve ninguém. Nem mesmo
uma mulher sozinha. Você vai se sentar e esperar como todos os outros. Seu
marido não lhe disse que era assim?
Mulher Jovem Para onde os grãos vão ?
Gilbert Pra lá. Vou abrir a água do rio, pra ela chegar até a roda. Espere na
minha casa. Lá tem fogo e um banquinho pra sentar-se.
Mulher Jovem Vou ficar aqui. De pé.
Gilbert A pedra está velha. Vai demorar.
Mulher Jovem Vou ficar aqui. Bem aqui.
Gilbert Assim que começar a rodar você vai preferir não ter ouvidos .
Mulher Jovem Vou ficar aqui parada até que eu veja minha farinha .
Ele sai. A roda começa a girar. O barulho cresce, torna-se ensurdecedor, ela
coloca as mãos nos ouvidos por um tempo tentando diminuí -lo. Finalmente sai.

Cena Seis

Casa de Gilbert.

Ele está sentado à mesa. A Mulher Jovem aparece na porta.


Mulher Jovem Está muito frio lá.
Gilbert Quer alguma coisa pra esquentar 6. Um trago? (Ela nega) Vai entrar ou vai
ficar ai?
Mulher Jovem Vou ficar aqui mesmo.
6
Ale (tipo de cerveja).
Gilbert Você não se importa se eu tomar um trago?
Mulher Jovem Pode fazer o que quiser. A casa é sua.
Ele bebe e faz um som.
Gilbert Aaauuhhhh. Ah... Trabalhar... Trabalhar,... Trabalhar...
Mulher Jovem Nem te dói às costas já que é a pedra que faz o teu trabalho .
Gilbert Hum? (Silêncio, ele bebe mais.)É Preciso ser um homem especial para
ser moleiro. Os moleiros trabalham duro. Sozinhos. O povo da vila não tem a
menor idéia disso. (Longo silencio... aponta para a porta.) Vê aquilo? Aí. Aí. Tem
um nome. Você sabia disso? Toco de Porta. 7 Isto aí é o toco que fecha a minha
porta... Não é isso que o teu povo acredita ?
Mulher Jovem Em que?
Gilbert Quando uma coisa tem um nome é pra ser usado?
Mulher Jovem Não sei o que você está... Nem pense que eu vou fechar a porta,
Moleiro.
Gilbert E se ficar ai, o vento frio vai congelar minha casa .
Mulher Jovem Eu quero ver meus grãos.
Gilbert Eles estão lá.
Mulher Jovem Eu trouxe cinco sacos...
Gilbert Eu sei. Eu contei.
Mulher Jovem E vou levar os cinco sacos.
Gilbert Como vou roubá-los se estou sentado aqui ?
Ele se levanta para beber mais. Começa a assobiar baixinho. Ela vai ficando mais agitada, olhas
para os grãos, olha para ele.
Mulher Jovem Pode parar! Pare!
Gilbert Hum?
Mulher Jovem Se não vou chamar meu marido pra dar um jeito em você. Pare, eu já disse! . .
Por que você está rindo? PARE!
Gilbert Mais uma vivendo sob a terra. Com poeira nos olhos, camponesa. Boca aberta e
ouvidos atentos. Enterrando-os com o nome de Gilbert Horn. Quais os podres que tens na
cabeça?
Mulher Jovem Eu tenho nada.
Gilbert Não? Não pensas no poder mágico que tenho? Nos feitiços mortais? Nada sobre as
plantas que são colhidas de forma especial. Nada dos ossos e olhos das aves e animais que
precisam ser conservados em pó? Nada de minha esposa e do meu filho? Nem que eu matei os
dois? Que eu não quero uma família? Nada disso passa ai na sua cabecinha?

Mulher Jovem Tá com um bafo do cão! (Começa a se afastar.)

7
Door-Stump ( é um toco de madeira usado para segurar a porta)
Gilbert Vai onde, cabeça de bosta8?

Mulher Jovem Longe de você Cão dos infernos.

Gilbert Esse lugar é o fim do mundo. Nada que preste.

Mulher Jovem To de olho em você. Não vou nem virar de costas. E nem pense em tocar em
mim senão morre.

Ele volta e senta-se novamente. Ela esta quase saindo.

Gilbert... Você é casada com o Potro William, não é? (Ela para) É com ele que você divide a
cama? O lavrador de vila. Potro William.

Mulher Jovem Não. Não.

Gilbert Não?

Mulher Jovem Deixe-o em paz.

Gilbert Este não é o nome dele? Potro William.

Mulher Jovem O nome dele é William.

Gilbert Ouvi dizer que era Potro William.

Mulher Jovem Não fale assim?

Gilbert É como o povo da vila o chama.

Mulher Jovem É mentira.

Gilbert É assim que eles falam: Potro William

Mulher Jovem É mentira!

Gilbert E a noiva do Potro.

Mulher Jovem Cuspo na cara de quem falar isso.

Gilbert Ouvi dizer que é por causa do amor que ele tem pelos cavalos novos.

Mulher Jovem Não...

Gilbert Não? . . . Então é por um? Um cavalo em especial?

Mulher Jovem ... Isso é inveja.

Gilbert Inveja? Há muito tempo que não ouço alguém falar disso. Foi o povo da vila que te
disse que é isso?

Mulher Jovem É claro.

8
Dung-Brain: Cérebro-esterco
Gilbert Como pode ser inveja?

Mulher Jovem Inveja da gente. Do povo da vila.

Gilbert Inveja de você, do Potro e todos que vive nesse fim de mundo? Onde tudo e todos
apodrecem? Como posso ter inveja?

Mulher Jovem Eu sei. É o olhar. Os olhos. Como os do diabo.

Gilbert Tenta.

Jovem mulher O que?

Gilbert Ter Inveja.

Mulher Jovem Não posso.


Gilbert Por quê?
Mulher Jovem Por que não a tenho Idiota.
Gilbert É o que eles dizem.
Mulher Jovem Eles quem?
Gilbert O que você acha?
Mulher Jovem De que?
Gilbert Pra ele os cavalos vem em primeiro lugar ?
Mulher Jovem Não. Em primeiro lugar estou eu.
Gilbert Você.
Mulher Jovem E sempre.
Gilbert Então você não gosta?
Mulher Jovem Gosto do amor, mas de que do mal .
Gilbert Você não gosta quando eles o chamam de Potro William?
Mulher Jovem Já disse pra não falar assim.
Gilbert Você não gosta de “Potro William”.
Mulher Jovem Não. Não.
Gilbert Entendeu?
Mulher Jovem O que?
Gilbert A gente não consegue controlar a língua dos outros.
Ela sai.
Cena Sete

Cabana.

William encontrar A Mulher jovem lá.


William Você deixou nossos sacos lá, mulher?
Mulher Jovem A pedra do moleiro está velha e ruim. Enquanto eu estava em pé congelando,
ele continuava sentado
William Todos os meus grãos ficaram com o moleiro
Mulher Jovem Amanhã os grãos ainda serão nossos, William.
William E como vou dormir esta noite.
Mulher jovem Dormiremos. Amanha de amanhã você pega a carroça com o cavalo e vai lá. A
farinha estará moída. Pronta.
William Você quer que eu vá lá?
Mulher Jovem Eu fico com a égua. Ou vou para o campo.
William Quando eu chegar lá, vou encontrá-lo sentado e rindo.
Mulher Jovem Não. Ele conhece você. Sabe o que você faz.
William Não? Não vai ri? O moleiro que não faz nada. Que está sentado com
nossos cinco sacos lá. Que nunca anda pelo campo e nunca empurrou um arado.
Pegando o que a gente plantou. Já demos a ele tudo o que ele quer. O moleiro
que tem medo da terra. Não vai rir, mulher? Você entrou na casa dele ?
Mulher Jovem Eu estava em pé congelando e ele sentado.
William Ele nunca sai dali. Fica sentado e falando.
Mulher Jovem E fala como fala.
William E sabe o que ele vai dizer a próxima pessoa que for ao moinho? Vai
contar a historia do lavrador e sua mulher que fugiu com medo.
Mulher Jovem Não corri.
William A esposa que deixou os grãos pra trás. O maldito moleiro ficará lá,
falando de nós. De jeito nenhum eu vou lá, mulher. Você não estava com ódio
dele. Onde é que esse ódio foi parar? Só vejo medo. Onde está o ódio?
Mulher Jovem Eu estava com ódio quando fui lá. Mas ele. De perto. Me
Olhando.
William Olhando para o que nunca vai ter.
Mulher jovem O que?
William Você sabe mulher. Uma esposa boa e forte. Nem é preciso eu te dizer.
Namorei você por anos . Vi você crescer. Te escolhi como minha esposa. A única
que poderia trabalhar tanto quanto eu . Que poderia suar tanto quanto eu. Que
apenas ouviria o que é certo. Escuta a pedra e não o moleiro. Tudo que ele tem
é a boca. Pra ficar falando dia e noite. Pra nada e pra ninguém. Agora volte lá.
Vai. Seja minha esposa.
Cena Oito

Campo

Mulher Jovem O sol aquece o vento que sopra. O vento empurra as nuvens no
céu. Nuvens negras seguram a chuva. Nuvem branca... O pá ssaro voa sob a
nuvem branca — até a árvore. Árvore é madeira. O pássaro é... Um pássaro. Um
é sorte, dois é azar, três é saúde, quatro é riqueza, cinco é doença e seis é a
morte. Ave morta, torta feita. O vento empurra a nuvem branca pra baixo do
sol. Nuvem branca é... O coelho corre no campo. Coelho é comida. O pássaro – a
árvore... Esconde o pássaro. O pássaro desaparece. O vento empurra a nuvem
branca pra fora do sol. Nuvem branca é... Nuvem branca é...

Cena Nove

Casa de Gilbert.

Gilbert está sentado na mesa, escrevendo com uma caneta tinteiro, A Mulher
jovem aparece, fica na porta. Ela olha pra ele e para a caneta. Finalmente ele
olha pra ela.
Gilbert Continuam sendo cinco. Você contou? Ainda tem cinco lá? ( Pausa) Só
falta um.
Mulher Jovem Eu vi.
Gilbert Aonde você foi?
Mulher Jovem Tinha outro trabalho pra fazer. Não podia ficar aqui, perdendo
tempo e ouvindo besteira.
Gilbert Não falta muito pra acabar.
Pausa longa.
Mulher Jovem Moleiro, você precisa de uma pedra nova. Quero ir pra casa antes
do céu escurecer.
Gilbert O Pedreiro está quase terminado a nova. Quando ele terminar os
homens da sua vila a rolarão para mim, até aqui.
Recomeça a escrever.
Mulher Jovem... O que é isso?
Gilbert o que?
Mulher Jovem... Isso ai.
Gilbert isso? Você não sabe o que é isso? É uma caneta. Uma caneta tinteiro.
Mulher Jovem Pra que você quer isso?
Gilbert Comprei no mercado, de um musico viajante.
Mulher Jovem Dinheiro da comida gasto num troço inútil .
Gilbert O preço foi justo.
Mulher Jovem Compra essas coisas com a farinha que rouba da gente .
Gilbert Olha como a luz do fogo brilha nela.
Mulher Jovem Pra que isso. Te dar de comer ?
Gilbert Não.
Mulher Jovem Te aquece do frio?
Gilbert Tem um bom peso na mão.
Mulher Jovem É um desperdício.
Gilbert E também escrevo com ela.
Mulher Jovem O que?
Gilbert ...Eu escrevo...
Mulher Jovem O que você escreve?
Gilbert O que eu f aço.
Mulher Jovem Moer o trigo. Parar a moagem. Moer o trigo. Parar a moagem.
Gilbert Muito mais do que isso.
Mulher Jovem Deve ser a nova brincadeira do fazendeiro. Escrever o que ele faz:
Nada. Você está querendo ser o novo fazendeiro agora, Moleiro?
Gilbert A minha vida é mais que trigo. Eu escrevo o que está aqui, na minha
cabeça. No fim do dia, todos os dias. Daqui... Pra aqui. (Pega vários papeis) Veja
quanto de mim tem aqui . Posso te dizer o que estava na minha cabeça ontem,
ou... No Inverno passado e na maioria dos dias desde que comecei a escrever .
Mulher Jovem Então é uma coisa do diabo!
Gilbert Do Diabo?
Mulher Jovem Devia ser queimado.
Gilbert Do Diabo, isso? Como assim?
Mulher Jovem É Deus quem coloca as coisas na sua cabeça e só ele quem pode
tirar. É pecado guardar.
Gilberto Camponesa, Não pode ter sido Deus que nos deu isto...
Mulher Jovem Não pra nós.
Gilbert... Para sabermos mais sobre o mundo?
Mulher Jovem É um troço feito pelo diabo.
Gilbert Posso escrever quem veio ao meu moinho, quem ficou lá fora, quem
entrou para beber, que não diss e uma palavra, quem me amaldiçoou, quem
parou na minha porta, quem ficou com medo de Gilbert Horn, quem deu as
costas e saiu correndo pra vila , pros braços do marido... (escreve). ... Carroça e
cavalo.
Pausa. Ela o percebe recarregando a caneta.
Mulher Jovem Você tirou aquilo dali!
Gilbert A tinta secou.
Mulher Jovem ... Então queima isso. Vai maldito, queima! Atira isso no fogo.
Gilbert Graças a Deus eu não nasci nesta vila. É um buraco negro. Onde as pessoas são
arrancadas do ventre mais velhas do que quando morrem. Os velhos ficam nas camas do
fundo e usam facas para tirar seu sangue. Em volta dos seus ossos só a noite escura. Onde
Tiram seus olhos e colocam pedras frias nos buracos.
Mulher Jovem Tu parece o diabo falando, rapaz!
Gilbert Diabo - o que mais uma pessoa daqui pode dizer diante de um homem que tem a
língua como melhor amiga do olho? Um homem que olha firme e lentamente para o mundo e
para tudo que tem nome. “O céu vai escurecer”. Não pra mim. Eu vivo sob um céu diferente.
Mulher Jovem É debaixo da terra que vamos te colocar, te cobrir até calar a tua boca.
Gilbert Estarei então como você. Embaixo da terra. Com as pedras nos olhos sem ver nada.
Nada.
Mulher Jovem Eu vejo.
Gilbert Sem saber de nada.
Mulher Jovem. Eu vejo. Sei o que eu vejo.
Gilbert Estrada. Lama. Cavalo. Aqui. Lá. Céu...
Mulher Jovem Vejo mais do que isso. Eu sei o nome da maioria das coisas deste mundo de
Deus.
Gilbert Então me fala.
Mulher Jovem Não vou te falar nada. Não vou te dizer o que se passa na minha cabeça.
Gilbert É porque fede a merda.

Mulher Jovem Eu sei das coisas... Eu sei das coisas. Não preciso ficar falando
delas pra saber.

Gilbert inclina-se sobre a mesa e coloca a caneta perto dela.

Gilbert Então escreva sobre elas.

Mulher Jovem Não vou tocar nisso...

Gilbert Escreva o que viu quando vinha para o meu moinho. Mostre-me que
a vila tem mais do que caipiras com merda na cabeça.

Mulher Jovem Vão jogar pedras em você.

Gilbert Claro que sim...

Mulher Jovem Você está querendo levar pedradas? Eu falo pra eles.
Gilbert Tu não sabe escrever.

Mulher Jovem É claro que sei!

Gilbert Então prova. (ela balança a cabeça negativamente). Como isto pode
ser do diabo? Escreve.

Mulher Jovem Nós usamos giz.

Gilbert A caneta é melhor que o giz

Mulher Jovem Não vou escrever nada que passa na minha cabeça.
Gilbert O que eu posso fazer? É somente tinta no papel.
Mulher Jovem Não sei. Pode fazer qualquer coisa.
Gilbert Depois que você escrever jogo o papel no fogo.
Mulher Jovem Quer me enganar.
Gilbert Então fica com ele. Leva-o pra em casa. Mostre ao Potro o que você pode fazer.
Mulher Jovem (hesita) Não... Por que você quer saber o que tem aqui na minha
cabeça? É só meu.
Gilbert Como alguém um dia saber á? (Silêncio). Você sabe escrever?
Mulher Jovem Já disse que sim.
Gilbert Escreve alguma coisa sobre você. Algo que todo mundo já sabe.
Mulher Jovem O que você está querendo, moleiro ?
Gilbert ...Seu nome.
Silêncio, finalmente ela vem para a mesa. Ele entrega os papeis.
Mulher Jovem Sem truques.
Gilbert Nenhum.
Ela tem dificuldade em pegar a caneta. Determinada.
Mulher Jovem Vou te mostrar que não tenho merda na cabeça .
Ela mostra o papel para que ele possa ler.
Gilbert Sabe de uma coisa, esposa do potro. Agora você está belamente
nomeada.
Eles se olham. Ele se levanta. Ela volta para a porta com o papel.
Gilbert Sua farinha está pronta. Tenho que pegar a minha parte.
Cena Dez

Cabana.

William Chegou a Esposa. O Moleiro-assassino causou algum problema para ela ?


(ela nega com a cabeça) Ela guardou o cavalo no curral ? (Ela faz que sim). Ela
voltou com os nossos cinco sacos? (Ela faz que sim). Ela ficou de olho n a
farinha? (Ela faz que sim). Ela quer comer alguma coisa? (faz que não). Ela esta
cheia de farelos. Ela vai achar que eles estão saindo da sua pele. Ela vai pegar
água pra se lavar. Ela vai agradecer a ajuda do marido.

Ela vai em direção a água. Ela se olha com ar de cansada, dá um pequeno grito
quando ela vê as marcas pretas de tinta que estão no polegar e no dedo
indicador de uma das mãos.

Mulher Jovem Ai...!

William... O que foi mulher?

Mulher Jovem (ela congela) Fagulha. Do fogo. Vamos dormir William.

William Sem se lavar?

Mulher Jovem Você não pode agüentar um pouco de su or e sujeira por uma
noite?

William (arregala os olhos, com sorriso irônico ) A melhor coisa que você disse
desde que nos casamos.

Mulher Jovem. Vá dormir. Vou num segundo.

Ele vai em direção a cama. Ela mergulha os dedos na água e esfrega. William
assovia enquanto tira a roupa e deita-se na cama. Gilbert aparece rindo numa
visão para ela, vestindo um avental branco e encantador de moleiro. Junto a
seus pés um saco de farinha.

William Você vem, mulher?

Mulher Jovem Já vou, William, já estou...

Ela fecha os olhos tentando se livrar da visão . Simultaneamente ao som que faz
esfregando as mãos ouve-se o assobiar de William e o sorriso de Gilbert.

Com está a égua William?


William Está melhor...

Mulher Jovem Por Deus nosso senhor...

William Falou o que, mulher?

Gilbert desaparece.

Mulher Jovem É minha oração entes de dormir , William.

William É o melhor que você faz. Quando você estiver aqui, Deus não vai poder
te ajudar.

Em tom lascivo ele ri de si mesmo. Com os dedos limpos, ela vai para a cama.
Cena Onze

Mesma noite,

Pouco antes do amanhecer . A Visão de Gilbert reaparece. Ele pega farinha do


saco e bate nas mãos. Uma grande nuvem de farinha cobre o ar . Mulher Jovem
de camisolão vira-se na cama, espirra e acorda.

Mulher Jovem ...! Sai desta casa! Você! Fora! William. Põe pra correr William.
(se vira para acordar William, mas a cama está vazia) O que você fez com ele...?
Eu vou chamá-lo Ele vai se livrar de você! Ele vai acabar com você!

Corre para o curral, chega até a porta, para, escuta, levanta a mão para bater.
Antes que ela bat a ouve a voz de William.

William Isso mesmo querida. Você é Bela. E boa.

Mulher Jovem (Desce o braço devagar. Ri alegre e aliviada) Graças a Deus, o


potro tá nascendo. Obrigado.

Ouve-se novamente a voz quente e suave de William. Ela escuta. Está alegre.

William Não tenha pressa... Bem devagar... Você é bela, adorável. Ó, Minha
menina.

De dentro, ouve-se um sorriso feminino. Mulher Jovem olha para a porta do


curral. Novamente o riso. Ela corre para a casa, procurando Gilbert. Veste uma
roupa e em seguida vai pra fora da casa e sai.

Cena Doze

Campo. Antes do amanhecer.

Mulher Jovem Quando o sol nascer o vento quente vai bater no meu rosto.
Quando olhar para cima vou ver o sol a brilhar no céu. As nuvens... Serão
brancas. A safra... A safra crescerá forte numa terra boa. O pássaro cantará na
árvore alta. A árvore alta estará... Em pé e o vento quente balançará as folhas. O
coelho correrá numa terra boa onde a safra cresce forte. Um novo dia irá
começar e acabará de noite. A Noite acabará.

Cena Treze

Casa de Gilbert.

Mulher Jovem Canalha! Abra essa porta! Sai daí!


Gilbert ...Você está ai, lavrador? Eu nunca toquei nela. Nunca faria. Sei que é
sua mulher.

Mulher Jovem Você sabe onde ele está moleiro. Você o enfeitiçou. Só estou eu
aqui. Somente eu, desgraçado. Abra essa porta. Ficarei aqui até que você abra.
(A porta abre). Tire isso da gente, moleiro ! Você tem que tirar!

Gilbert O que você está dizendo?

Mulher Jovem Tire seu feitiço de mim e de meu lavrador. O que foi que nós te
fizemos?

Gilbert Que loucura é essa que você está falando?

Mulher Jovem Você tem inveja de nós! Vejo isso nos seus olhos agora.

Gilbert Vá pra casa.

Mulher Jovem Chamarei os outros homens aqui. Você fez o feitiço com isso?
Canalha. Mas a Água tirou tudo. Não pode ser um feitiço muito forte. Entrasse
na minha cabeça. Subiste até ela. Rindo. Jogando farinha sobre nós. Foi sua
mágica que o enfeitiçou para que ele fosse até o curral . Fazendo com que seu
sorriso parecesse o de uma mulher . Rasgando, o feitiço acaba?

Ela rasga o papel enquanto fala.

Gilbert O riso de uma mulher?

Mulher Jovem Acabou o feitiço? Fala moleiro.

Gilbert Você olhou dentro do curral , esposa do potro?

Mulher Jovem Não ia olhar para mais um dos seus feitiços.

Gilbert O riso de uma mulher. Ha ha.

Mulher Jovem Tira o feitiço, moleiro. .. Por favor. Eu Imploro. Você quer deitar
comigo? Tira. Nos deixa em paz. Posso te dar prazer aqui, moleiro.

Gilbert Levanta... Tudo que eu preciso é de um beijo teu.

Ela o beija. Ele se deixa levar pelo beijo, por ela .

Mulher Jovem Acabou agora, hein... O feitiço acabou moleiro? (Ele encolhe os
ombros). O que foi? Acabou agora.

Gilbert Não sei. Só queria te beijar. É o único feitiço que eu sei.

Ele sorri. Ela o esmurra violentamente. Ele cai.

Mulher Jovem Que este homem morra da dor mais profunda meu Deus! Diabo!

Gilbert Foda-se! Eu não sou feiticeiro! Foda-se e fique bem longe de mim! Foda-
se e volte pra sua vil a calma! Foda-se e volte para seu homem ganancioso! E
corra! Corra! Você ainda pode pegar a filha do Robertson chupando o pau mole
dele.

Mulher Jovem se afasta. Ele bate à porta. Ela fica parada sozinha, do lado de
fora da casa de Gilbert.
Cena Quatorze

Casa de Gilbert.

Muito tempo depois. Mulher jovem continua fora da casa, Gilbert colocar um
cobertor em torno dela. Ela se vira e caminha para a casa, se senta à mesa, pega
a caneta, começa a escrever nas folhas de papel que estão lá.

Cena Quinze

Interior da casa de Gilbert.

Mulher Jovem está dormindo sobre a mesa, acorda, percebe o coberto de Gilbert sobre si.

Gilbert Anoiteceu. Estes papéis são mais macios que qualquer cama. Eu mesmo já dormi
neles.

Mulher Jovem O que estou fazendo aqui? O que foi que você fez?

Gilbert Nada. Você mesma pegou a caneta.

Mulher Jovem olha para a caneta, olha os papeis, lê.

Mulher Jovem "Esta sou eu. Estou vivendo agora. Outros viveram, muitos viverão. Eu nasci
aqui porque Deus quis assim. Ele me deixou sentado no colo da minha mãe para que eu
pudesse olhar para o mundo. Tudo que eu vejo e sei foi colocado na minha cabeça por Deus.
Tudo que ele criou está sempre aqui, do nascer ao por do sol, da terra ao céu. Nada pode ser
tocado ou segurado da mesma forma que eu toco numa mesa ou seguro as rédeas de um
cavalo. Nada pode ser vendido ou cozido. O mundo está aqui, na frente dos meus olhos. Tudo
o que preciso fazer é colocar nomes nas coisas do mesmo jeito que eu enfio a faca no pescoço
da galinha. É assim que eu sei que Deus existe. Eu olho para uma árvore, falo arvore e sigo em
frente. Mais tem mais de Deus na arvore que eu não sei o nome. A Cada dia eu quero saber
mais. Sobre uma poça cristalina. Sobre uma árvore quando é soprada pelo vento. Sobre a
cenoura que é mais doce do que as outras. E a terra fria embaixo da pedra. O hálito quente de
um cavalo cansado. O rosto de um homem à noite depois do trabalho. O som que
uma mulher faz quando nin guém a ouve. Eu sei que agora eu devo descobrir os
nomes por mim mesma. Eu devo parar e olhar de perto cada coisa e Deus me
recompensará. É assim que conhecerei Deus melhor. O povo da vila mentiu.
William mentiu. Não é porque eu não mereço. Não é porque eu sou jovem e eles
são velhos. Deus não deu nada pra eles . Agora eu sei disto. Eu vejo William
arando um campo. Eu não tenho nome s para as coisas que estão na minha
cabeça. Não é inveja. É mais do que inveja. E isto não me assusta. Eu vou olhar
de perto o suficiente para descobrir o que é. Todas as coisas na minha cabeça
foram colocadas lá por Deus. Cada nome que eu descobrir ficarei mais perto
dele.' (Ela pega a caneta e recomeça a escrever ) Não é inveja. Não é. O que é
então? O que é? O que é essa coisa? W illiam. (acaba o que estava escrevendo }
Não foi você que fez isto?

Gilbert Não.

Mulher Jovem Eu não estou triste nem sofrendo. Então isto é Deus. É Deus.

Ela derruba o cobertor, vai até a porta, olha para ele, sai . Ele olha para o que
ela escreveu.

Cena Dezesseis

Cabana. Noite

William está na cama. Mulher Jovem em cima dele.

William... É você? ... Mulher...?

Mulher Jovem Sim, William.

William... Estava aonde?

Mulher Jovem No último campo.

William Ahn?

Mulher Jovem O mais longe de todos. Não te dis se que eu iria até lá um dia.
Voltei pra te dizer o que eu vi

William Você ficou fora o dia inteiro, mulher...

Mulher Jovem Estava rezando.

William O dia inteiro?

Mulher Jovem Por nós, William. Rezando por nós e pelo o que temos. O campo
era tão bonito que eu tive que rezar William. Quanto maior a reza, maior a
recompensa de Deus. Pedi uma safra boa, William.

William Isso é bom.

Mulher Jovem E para os cavalos continuarem fortes.

William É a reza certa.

Mulher Jovem E pra a égua, rezei por ela.

William O potro nascerá até o fim da semana.

Mulher Jovem Não quero que ela sofra mais . Que fique gemendo.
William Me fala se você for lá de novo .

Mulher Jovem Falo.

William Você mora aqui, tem de ficar aqui. Não sair sem dizer nada. (Ele a
abraça) Gosto de te tocar, mulher. Procurei você por toda a vila . 'Você viu
minha mulher'? 'Você vi ram minha mulher'?

Mulher jovem O que eles disseram?

William Nada.

Mulher Jovem Até aonde você foi, William?

William Não pude ir muito longe. Eu tinha um campo para arar. E a Pedra nova
do moinho tinha que ficar de pé para ser rolada amanha.

Mulher Jovem Amanhã?

William Por isso eu precisava que tu voltasse logo . É nosso primeiro 'rolamento -
da-pedra' como marido e mulher. Os homens precisam dos gritos das mulheres
pra dar força. Agora vêm para a cama, mulher.
Mulher Jovem Eu tinha que ir, William. Tinha que ver este campo. Você estava
certo. É como eu. É um campo bonito.

William Foi o que eu disse. Agora deita mulher, deita.

Mulher Jovem Você não se lavou antes de dormir, William?

William Não.

Mulher Jovem Não se lavou?

William Minha esposa não estava aqui para me ajudar. Você não pode agüentar
um pouco de suor e sujeira por uma noite?

Mesma noite. Um pouco mais tarde .

Gilbert apareceu novamente. Mulher jovem mexe-se prazerosamente na cama


de. Os olhos abertos. Ela vai até o saco, pega a farinha e a esfrega em si .
William grita dormindo.

William aaaghhh! Uh... Ah.

Gilbert desaparece. Ela volta para a cama.

Mulher Jovem William.

William Você não ouviu, mulher? Estava caindo de você.

Mulher Jovem o que?

William A Pele... Sua pele... Eu estava com você, te tocando e começou a cair...
Como o couro do gado. Seca. ... Oh. Arrancada ainda quente. Deixando buracos
pelo corpo todo e,... Seus olhos nunca abriam. Você não ouviu mulher?
Rasgando. Ah. Você não ouvi u mesmo? Ah. Preciso de um pouco de água.

Ele sai tropeçando. Ela se deita.


Cena Dezessete

Vila. Lado de fora da casa do pedreiro.

Em cena William e Mulher Jovem. Ouve-se barulho do povo

William Que pedra! Olhe o tamanho desta pedra. Pedreiro! O povo da vila está
orgulhoso de você. É a melhor pedra que já foi esculpida . Esta é a m elhor época
do ano. A vila toda reunida. Deus sabe disto. O dia esta lindo. O sol brilhando e
o vento em direção oeste. Foi tudo o q ue pedimos. Agüenta essa, moleiro,
sentado em seu moinho sozinho . Quando a pedra rola r, a terra vai tremer! Fique
firme e continue mulher. Grite para que teu homem-da-pedra tenha força.

Cena Dezoito

Lado de fora do moinho.

Mulher Jovem e William sentam -se após a nova pedra do moinho ser colocada.
Gilbert entra carregando um barril de aguardente 9.

William O que você quer moleiro? Estamos Descansamos.

Gilbert Agradecer ao povo pelo trabalho e pelo suor.

William Rolamos a pedra para nós, moleiro. Nosso aluguel só pode ser pago
com farinha.

Mulher Jovem E nosso pão só pode ser assado com ela.

Gilbert Como gratidão o moleiro oferece um trago. Querem?

William Os outros beberam?

Gilbert Alguns sim, outros não.

William Vou tomar uma dose moleiro .

Mulher Jovem William, pede pra ele beber primeiro.


Gilbert bebe e oferece a William.

Gilbert É uma pedra bonita... É mais que uma pedra – é um monumento. Uma
segunda igreja. Esculpida em partes iguais de amor e vida...

Mulher Jovem E quem ficou com ela? O que menos merece.

William ri.

Gilbert Tua mulher não toma um gole?

9
Whisky
William Quer mulher?

Mulher Jovem Quero. Isso é água, não é aguardente! Fraca e fria.

William Tens razão, mulher.

Mulher Jovem Usou como água do banho moleiro? Foi assim que a fermentou?

Gilbert Pra mim está boa.

Mulher Jovem É por isso que ninguém bebe com você.

William Vou tomar mais um. Vou te ajudar a acabar com isto.

Mulher Jovem Quer uma boa aguardente, moleiro. Vá na vila. Compre de nós.

William Agora sai moleiro. Deixe-nos.

Mulher Jovem cai no chão.

William Mulher? Mulher! O que você fez moleiro?

Gilbert ...Eu não fiz nada.

William Se é coisa tua, vou te matar.

Gilbert Eu juro lavrador.

William Mulher... (toca no rosto dela) Mulher estúpida. Estúpida. Ficou o dia inteiro em pé no
campo. Muitas orações e nenhuma comida. Temos trabalho para terminar. Não quer ver a
pedra velha ser quebrada?

Gilbert Eu quero guardá-la lavrador.

William Não. Está velha. Não serve mais. Quebrá-la é o que os homens gostam mais de fazer.

Gilbert Estou te pedindo lavrador. Quero guardá-la. Foi a última pedra usada por mim e minha
esposa. Serviu-me bem. Serviu bem a vila.

William vai colocá-la aonde moleiro? Na sua cama?

Gilbert Tem um galpão atrás da casa. Coloquem de pé, encostada na parede do fundo.

William resmunga.

Gilbert É uma longa caminhada até sua casa. Há fogo lá dentro. Sua mulher ficaria melhor se
ficasse aquecida.

William Se você conseguir colocá-la lá dentro. É o que você sabe fazer moleiro. Carregar
mulheres.
Gilbert Agradeço novamente, lavrador.

William Já disse. Não quero seus agrados. Esteja de pé quando eu voltar, mulher.

William sai. Gilbert grita.

Gilbert Lavrador! Diga aos seus homens para taparem o nariz. No galpão fica a minha privada.

Vira-se para ver a mulher jovem sentada. Saem ambos.

Cena Dezenove

Casa de Gilbert.

Mulher Jovem na cama. Gilbert perto ela. William entra

William Mulher? Levanta. O povo da vila já foi embora. Mulher. Você não tem nada que possa
dar a ela, moleiro? Eu te pago.

Gilbert Não tenho nada.

William Já é de noite, mulher. Preciso dormir. Não tens nenhum cavalo moleiro?

Gilbert Não é preciso. Dormi aqui com ela.

William Não consigo dormir em nenhuma cama que não seja a minha.

Gilbert Então a carregue você mesmo.

William Depois de duas pedras e da sua cachaça? (Olha em volta). É aqui onde você passa as
noites sentado?

Gilbert Na frente do fogo, como você.

William Fazendo quê?

Gilbert Cozinhando. Fumando. Lendo.

William Pra que todos estes livros?

Gilbert Para quando eu terminar um eu possa começar a ler outro.

William É por isso que você os coloca assim de pé um do lado do outro? É estranho. Não tem
mais nada aqui. Deve sentir falta de alguma coisa, hein?

Gilbert De que? (William mostra a mulher jovem)... Eu sou um homem como você.

William Você é um moleiro, moleiro. Não como eu. Nem de longe é como eu.

Gilbert Somente uma mulher especial ficaria com um moleiro. A maioria acredita que temos
vermes mortos em nossas calças.
William É mais do que isso moleiro. Muito mais do que está nas calças. Mais que ódio. Onde
você esteve?...

Gilbert Isso não me incomoda mais, lavrador.

William Você devia pedir a Deus pra ser como um de nós, Todo mundo te odeia. Até as
crianças correm de você. Já te perguntaste o por quê? Você pega uma parte de nossos grãos
pela moagem. Isso é a lei. Mas te odiamos mais que a lei. Nós somos estúpidos e cruéis.
Cegos. Odiamos mais do qualquer coisa que eu possa nomear. Sabe o porquê moleiro? Por que
é assim? Sua esposa era filha de um moleiro, não era? Tinha que ser. Ela te amou? ... E Você?
Quanto tempo faz que você não ver uma mulher aqui moleiro? Dormindo na sua cama. O que
vem na sua cabeça, olhando para ela? Olhe para ela. Olhe. Uma nova terra. Você se lembra das
cores que tem nela, o quanto cultivada ela pode ser, como ela te deixa sem fôlego? A terra
molhada, a cerração. A grama em volta das pedras. Você se lembra do cheiro? Você se lembra
da força? Assim como Deus, vamos cavá-la, mudar sua aparência para transformá-la numa
uma nova terra. Você se lembra de como ela muda? Como ela te engana? Pernas, Nuca.
Cintura. Braços. Peito. Os nomes estão errados, moleiro. Quem os colocou? Os homens nunca
coloca os mesmos. As mulheres não têm pernas. Não tem braços. Elas têm muito mais. Eu
tenho os nomes para tudo. Meus nomes. Ela sabe. Ninguém mais.

Gilbert Eu amei minha esposa.


William (ri) O povo iria me por pra correr se soubesse desta conversa.

Gilbert Por quê?

William Você vai na Igreja, como eu.

Gilbert Nunca escuto.

William "A glória de Deus é Deus, não a sua criação," é o que dizem agora. Eu preciso urinar.
Você acredita nisso moleiro? A Glória de Deus é Deus, não sua criação.

Gilbert Não sei.

William Não é Deus lá? Olha... Não é? Há muito tempo que você não ver uma. Olha. Vai se
lembrar.

Gilbert Ela é sua mulher.

William Eu sou um lavrador, moleiro. A terra fica fraca se você só a cultiva. Você precisa dar
descanso a ela. Sempre haverá outros campos para arar. - mais Deus.

Gilbert Você sabe onde fica o galpão. Vai em direção ao rio.

William Você pensa que eu vou nessa escuridão.

Ele pega uma vela e sai. Mulher jovem senta-se, vai até a porta e sai. Gilbert segue-a.

Cena Vinte

Galpão

William está usando a privada. A luz da vela ilumina a velha pedra do moinho. Mulher Jovem e
Gilbert aparecem por trás da pedra. Eles empurram a pedra sobre William.
Cena Vinte e Um

Casa de Gilbert

Gilbert e Mulher Jovem estão frente a frente. Olham-se enquanto tiram a roupa. Do galpão
ouvem-se William. Gritos abafados de morte. Os gritos vão diminuindo até acabarem. Eles vão
para a cama.

Cena Vinte e Dois

Casa de Gilbert

Pausa

Um tempo depois. Mulher Jovem e Gilbert estão deitados juntos.

Mulher Jovem Você não disse nada.


Gilbert Estava esperando ele parar.
Mulher jovem Quem? Potro William? O lavrador da vila? Ouça. Ele se foi. Você
pode falar agora.
Gilbert Me diz o que você está pensando?
Mulher Jovem Em você. Cão dos infernos. Seu bafo de cão. Maldito moleiro. Por
quê?
Gilbert Eu estou pensando uma coisa, uma coisa.
Mulher Jovem O que é?
Pausa
Olha. O sol está nascendo.
Gilbert Igual à ontem.
Mulher Jovem Nunca o tinha visto do moinho . Nunca vi estas cores . É pra se
pensar. Olhe. É Deus nos dando mais dele. Olhe. Um novo mundo na nossa
frente. Na manhã que eu sai correndo, você falou, você gritou:...Foda-se.
Gilbert Foda-se.
Mulher Jovem Ninguém nunca disse isso para mim. Nunca tinha ouvido isso
antes.
Gilbert Foi a primeira vez que eu disse isso.
Mulher Jovem O que significa?
Gilbert Não sei. Ouvi de um vendedor de bíblia que acabara de voltar da
Alemanha. Ele gritou quando um menino estava mijando na sua tenda.
Mulher Jovem Foda-se. Agora é meu.
Gilbert Antes, quando estava ali... Ele disse, teu lavrador disse — 'O que você
vem na sua cabeça, moleiro, olhando para ela?’ Você ouviu? Eu vi a minha
esposa. A mulher que foi a minha esposa. De repente você estava lá. E Aqui. Na
minha cabeça. Sem roupa. Se mexendo . Suando. Gemendo como o vento. Olhos
abertos, braços abertos , eu beijava sua boca, sua boceta, o seu cabelo. Foi Deus
que te colocou ai? Meu corpo não parecia com nada que eu já vi em toda a
minha vida. Foi Deus que fez aquilo? Não... Não foi Deus. Foi o que disse o
lavrador. Foram suas palavras.
Mulher Jovem Não.
Gilbert Suas palavras me levaram a isso.
Mulher Jovem Tudo que ele falava era mentira .
Gilbert Eu sabia o que estava fazendo. Eu fiz.
Mulher Jovem Não. O lavrador não enxergava. Ele não sabia de nada. Eu não
sou como qualquer outra coisa. Você sabe disto
Gilbert Eu fiz.
Mulher Jovem Você sabe. Diga-me que você sabe agora.
Gilbert Não foi Deus. Fui eu. Você não entende mulher?
Mulher Jovem Não.
Gilbert Por que quis.
Mulher Jovem Pare com esta conversa. É ele. É ele.
Gilbert Para aonde você está indo?
Mulher Jovem O lavrador precisa ser enterrado. Sua boca será coberta com
terra.
Gilbert Enterrá-lo aqui?
Mulher Jovem Daqui a pouco amanhece. Tenho de voltar para a vila.
Gilbert Foi pelo que eu te disse, s obre seu Deus.
Mulher Jovem Não. Eu tenho que avisá-los que William partiu. Que a cama está
vazia e fria. Que os campos e os currais estão vazios.
Gilbert Teu povo ainda assim virá acertar as contas comigo ,.
Mulher Jovem Com o odiado moleiro.
Gilbert Não podem viver sem seu lavrador.
Mulher Jovem Não. “Ele me abandonou. Me trocou por uma esposa melhor. Ele
foi embora durante a noite. Estou sentada, sozinha perto do fogo. vejam minhas
poças de lágrimas. Eu sou a mulher de coração partido”.
Gilbert Até quando?
Mulher Jovem Até eles acreditarem.
Gilbert E depois?
Mulher Jovem Morar no moinho?
Gilbert Morar na vila? (Ela sai) Não é você. Sou eu.

Cena Vinte e Três

Currais.

Mulher Jovem ajudando a égua a parir .


Mulher Jovem Não tenha medo. Sinta as minhas mãos, mãos quentes. Sou a
esposa de William. Amiga. For ça. Calma. Isso. Respire agora. ... Ele está vindo.
Empurra querida, força. Cabeça e pescoço. Olhos, um pouco mais de força, pela
última vez... Isso. Isso. Olha mamãe... Vida. Um novo cavalo do mundo.

Cena Vinte e Quatro

Campo. É dia.

Algum tempo depois. Mulher Jovem em pé olha ao seu redor. Fala pra sim
silenciosamente Gilbert aparece. .

Gilbert O dia já acabou. Você não volt ou com o resto do povo? Eles estão
dizendo que você não está falando com ninguém. Ouvi-os falar sobre você no
meu moinho. Está trabalhando nos campos . Cuidando dos cavalos. Senta-se em
sua casa à noite. Não fala uma palavra.
Mulher Jovem Por que falar com qualquer um deles? Eles acreditam em mim.
Gilbert A Mulher de coração partid o.
Mulher Jovem Disse tudo que era preciso.
Gilbert Não vieram acertar nada comigo.
Mulher Jovem Você nunca fugiu.
Gilbert O povo da vila encontrará o moinho vazio amanhã.
Mulher Jovem Pra onde o moleiro vai ?
Gilbert Pra uma cidade onde não me chamarão de moleiro .
Mulher jovem Terá que ir pra muito longe.
Gilbert Quero ver mais do mundo. Já vi tudo aqui. Conheço tudo. Não há mais
nada aqui para aprender. Tudo que eu sei está aqui.
Mulher Jovem As coisas mudam toda vez que eu olho para elas, todas tem um
nome.
Gilbert Ainda vejo você. Sempre que acordo. Ouço as suas palavras.
Mulher Jovem ...Tantos nomes. Vou aprender cada um.
Gilbert Eu quero mais. Na cidade há livros, canetas e papel das pessoas que
deixaram as vilas. Eles falam o dia todo sobre cada coisa que há no mundo.
Mulher Jovem É o que te disseram?
Gilbert É preciso acreditar em alguma coisa.
Mulher Jovem Penso em coisas novas . Toda vez que eu olho. Novos nomes. Não
preciso está em outro lugar.
Gilbert Tem mais coisa que o povo tá falando .
Mulher Jovem O que?
Gilbert Que você fez o parto d a égua sozinha.
Mulher Jovem Os cavalos confiam em mim agora.
Gilbert Você olhou de perto ?
Mulher Jovem É um belo cavalo. Rápido e forte.
Gilbert O povo está dizendo que é William. Que é Potro William correndo no
campo.
Mulher Jovem Falam mais do que isso. Dizem que ele está mais feliz agora do
que nunca. O povo está certo. O potro está feliz.
Gilbert ...Toma, mulher do potro, escreve o que você sabe agora. Escreve o que
você vê.
Ele dar-lhe a caneta. Ele sai.
Mulher Jovem A vila precisa de um novo moleiro.
Fim.

São Paulo
28 de setembro de 2011.

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