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Por meio das análises horizontal e vertical, é possível avaliar cada uma das contas ou grupo de contas das

demonstrações contábeis de maneira rápida e simples, comparando as contas entre si e entre diferentes períodos. Isso é
feito utilizando simplesmente o conceito matemático da regra de três simples. Essa técnica permite que se possa chegar
a um nível de detalhes que outros instrumentos não permitem, pois é possível avaliar cada conta isoladamente.

4.1 ANÁLISE HORIZONTAL

A análise horizontal é um processo de análise temporal que permite verificar a evolução das contas individuais e
também dos grupos de contas por meio de números-índices. Inicialmente é necessário estabelecer uma data-base,
normalmente a demonstração mais antiga, que terá o valor índice 100. Para encontrar os valores dos próximos anos,
efetuamos a regra de três para cada ano, relacionado com a data-base, conforme apresentado no Quadro 10.

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QUADRO 10 – Análise horizontal do balanço patrimonial da Cia. Grega

Como pode ser percebido, no Balanço Patrimonial da Cia. Grega, todos os valores do período “1” são iguais
a 100, pois esse é o período tomado como base. Já os percentuais dos anos seguintes são obtidos por meio da regra
de três. Tomando-se Contas a Receber, por exemplo, divide-se o valor $ 1.603 por $ 1.445 e multiplica-se por 100,

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obtém o índice 110,9. Da mesma forma, no período “3”; divide-se o valor $ 1.624 por $ 1.445 e multiplica-se por 100,
obtém-se o índice 112,4.

A variação se refere ao que exceder ou faltar para o índice do período base, neste caso, 100. No exemplo de Contas
a Receber pode-se notar que no período “2” houve um aumento de 10,9% em relação ao período “1”, enquanto no
período “3” houve um aumento de 12,4% em relação ao período “1”.

Quais contas da Cia. Grega apresentaram as variações mais relevantes em termos percentuais
nos períodos analisados? Quais variações lhe chamam a atenção?

O Quadro 11 apresenta a análise horizontal da demonstração dos resultados da Cia. Grega para três períodos. O
cálculo dos índices é feito da mesma forma, ou seja, dividindo-se os valores de cada conta dos anos posteriores pelo
valor da respectiva conta no período “1” e multiplicando-se por 100.

QUADRO 11 – Análise horizontal da demonstração do resultado do exercício da Cia. Grega

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Como pode ser observado no Quadro 11, as receitas tiveram um crescimento de 68,2% entre os períodos “1” e “2”,
enquanto os custos dos produtos vendidos cresceram 74,1%. Com isso, o lucro bruto obteve um incremento percentual
pouco menor que as vendas, ou seja, 59,6%. As despesas operacionais tiveram um aumento médio de 59% entre os
períodos “1” e “2”. Entre os períodos “1” e “3” o resultado financeiro teve um incremento de 31%. Assim, a empresa
saiu de um resultado líquido de $ 407 para $ 601 no período “2”, ou seja, um crescimento de 47,7%.
Assaf Neto (2015) destaca os cuidados necessários com a análise horizontal com base negativa. Nessas situações,
segundo o autor, os números índices ficam incorretos, tornando a análise horizontal ilusória. Para solucionar esse
problema, Assaf Neto (2015) sugere alterar o sinal da conta do período base que está com o sinal negativo. Veja o
exemplo a seguir.

O exemplo acima apresenta resultado negativo na linha Resultado antes dos Tributos no período 2, mas a base
(período 1) é positiva, portanto o índice foi corretamente calculado, ou seja, –500, o que significa que houve uma
variação negativa de 600% (– 500 – 100).
Já o Resultado Líquido no período 2 apresenta um índice com variação positiva de 140, o que não é verdade, pois
o período 1 estava com resultado líquido de – R$ 50,00 e no período 2 o prejuízo foi ainda maior: – R$ 70,00. O resultado
piorou, e o índice aparece positivo, o que não faz sentido para a figura do resultado. Da mesma forma, no período 3,
mesmo havendo resultado líquido positivo, o índice ficou negativo, pois a base (período 1) é negativa.
Para solucionar este problema, precisamos alterar o sinal da base (período 1), conforme demonstrado a seguir.

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Perceba que, alterando o sinal da base, os índices ficam calculados corretamente. O resultado líquido do período 2
passa a apresentar o índice – 140, que significa um aumento de 40% no prejuízo: [–140 – (– 100)] = – 40%. Já no
período 3, o resultado líquido apresenta o índice de 30,0, que significa que houve um aumento de 130% no resultado
tendo por base o período 1, ou seja: [30 – (–100)] = 130%.
Assim, o correto é: para as contas cuja natureza é negativa, como as despesas, colocam-se seus valores em moeda
como positivos, e os números 100 que servem como base, também como positivos. Já para as linhas de resultado (lucro
bruto, lucro operacional, lucro antes dos impostos, lucro líquido etc.), colocam-se os valores em reais conforme seu
sinal, positivos ou negativos, mas os números 100 que servem como base ficam positivos para o caso de valores em
reais positivos ou ficam negativos para o caso de valores em reais negativos, conforme acima.

Analise as variações ocorridas entre os períodos “1” e “3” na demonstração de resultados do exercício da
Cia. Grega. Quais variações mais lhe chamam a atenção?

É óbvio que poderiam, no caso, ser adicionadas mais duas colunas, uma com base 100 para todos os valores do
período 2, e outra para o período 3 com os valores calculados como acima. Assim, ter-se-iam nesta última coluna as
variações apenas do período 2 para o período 3. Isso pode ajudar muitas vezes, mas também a poluição com tantas
colunas e tantos números nem sempre produz boa visualização. Isso depende dos objetivos de cada análise.
Iudícibus (2009) chama a atenção para o fato de que a análise horizontal ganha mais sentido quando é aliada à
análise vertical, pois a relevância das variações ocorridas ao longo do tempo depende da magnitude de cada conta na
composição do resultado. Ou seja, as análises horizontal e vertical devem ser utilizadas conjuntamente.

4.2 ANÁLISE VERTICAL

Os índices da análise vertical são calculados de forma semelhante aos índices da análise horizontal. Ambos são
calculados por meio da regra de três. A diferença é que na análise horizontal o foco é a variação temporal ocorrida em

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uma mesma conta. Já na análise vertical analisa-se a variação de uma conta em relação a outra conta (base) do mesmo
período.
A análise vertical é realizada mediante a extração de relacionamentos percentuais entre itens pertencentes à
demonstração financeira de um mesmo período. Os percentuais obtidos podem ser comparados entre si ao longo do
tempo e também podem ser comparados entre diferentes empresas. O objetivo é dar uma ideia da representatividade de
cada item ou subgrupo de uma demonstração financeira relativamente a um determinado total ou subtotal tomado como
base. O Quadro 12 apresenta a análise vertical do balanço patrimonial da Cia. Grega para três períodos.

QUADRO 12 – Análise vertical do balanço patrimonial da Cia. Grega

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Como pode ser observado no Quadro 12, Balanço Patrimonial da Cia. Grega, os totais do Ativo e Passivo + PL
são tomados como base (100%), enquanto as demais contas e grupos de contas são comparados com esses valores. Os
índices são obtidos por meio da regra de três simples. Tomando-se a conta Estoque de Matéria-Prima, no período “1”,
por exemplo, divide-se o valor $ 200 por $ 5.174 e multiplica-se por 100, obtém-se o índice 3,9. Ou seja, esse estoque
representa apenas 3,9% do ativo total.
A análise vertical pode ser utilizada para todas as Demonstrações Financeiras; no entanto, adquire, para certas
análises, mais relevância na análise da Demonstração do Resultado (DRE), em que os vários itens são calculados
comparativamente às vendas, brutas ou líquidas, inclusive as representações das despesas em relação às vendas.
O Quadro 13 apresenta a análise vertical da demonstração do resultado do exercício da Cia. Grega para os três períodos.

QUADRO 13 – Análise vertical da demonstração do resultado do exercício da Cia. Grega

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O cálculo dos índices é feito da mesma forma, ou seja, dividindo-se os valores de cada conta pelo valor das Receitas
Líquidas do mesmo período e multiplicando-se por 100. Tomando-se a conta CPV no período “1”, por exemplo, divide-
se o valor $ 1.846 por $ 3.092 e multiplica-se por 100. Obtém-se o índice 59,7.
A análise vertical dá ao analista uma ideia de proporcionalidade. A conta CPV, por exemplo, mostra que os custos
representaram 59,7% das vendas no período “1”, tendo alterado para 61,8% no período “2” e para 60,6% no período
“3”. Já as despesas com vendas representavam 21,1% das vendas no período “1”, tendo subido para 22,5% e 21,6% nos
períodos “2” e “3”, respectivamente. Enquanto as despesas administrativas representavam 6,4% das vendas no período
“1”, tendo caído para 6,1% e 5,6% nos períodos “2” e “3”, respectivamente. Isso permite uma visualização rápida da
evolução dessas participações sobre a receita.
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Interpretando as análises horizontal e vertical da Cia. Grega

Ao analisar o Balanço Patrimonial da empresa, verifica-se que o Ativo Circulante apresentou um crescimento de
27,8% entre os períodos “1” e “3”, sendo que duas contas apresentaram as maiores variações. A primeira foi Caixa e
Equivalentes de Caixa com crescimento de 94,1%, representando 9,7% de todo o Ativo, e a segunda foi Aplicações
Financeiras com crescimento de 51,6%, representando 19,1% do Ativo. Isso mostra como essas duas contas cresceram
de valor e de importância relativa (percentual) no patrimônio da entidade. Cresceram bem mais do que a média das
outras contas. Bem, essa é a constatação de algo que ocorreu, mas resta agora saber: por que ocorreu? Acréscimo de
dinheiro pode ser por altos lucros, por venda de ativos imobilizados, por empréstimos novos, por aumento de capital
por parte dos sócios etc. Verifique, dessas possíveis causas e outras, quais as que respondem à questão neste exemplo.
Outra coisa: aumentar o caixa e as aplicações financeiras de curto prazo dá uma segurança financeira enorme, mas
não estará, com isso, perdendo-se oportunidades de aplicação em expansão da empresa que daria retorno muito maior?
O Passivo Circulante também apresentou uma variação de 48,3% entre os três períodos analisados, sendo que a
conta empréstimos cresceu 72,1%. Já o Passivo Não Circulante, composto apenas pela conta Financiamentos apresentou
queda de 36,8% entre os períodos “1” e “3”, o que poderia sugerir a transferência de dívidas de longo para curto prazo,
mas as contas são diferentes: uma é Empréstimos e outra é Financiamento. Você notou isso?
A conta de Fornecedores cresceu bem mais do que a conta de Clientes. O que poderia ter causado isso?
Modificação nos prazos médios de pagamento a fornecedores e de recebimento dos clientes? Ou aumento das compras
a prazo muito maior do que o das vendas a prazo? Procure as prováveis respostas a essa dúvida.
No Patrimônio Líquido, a variação mais expressiva ocorreu na conta Reservas de Lucros, que apresentou
crescimento de 88,8% entre os períodos “1” e “3”, representando praticamente ¼ de todo o ativo; isso evidencia
resultados positivos alcançados nos períodos analisados ou podem esses lucros se acumular por outros motivos? Nesse
exemplo não há a conta de lucros a distribuir no passivo, mas não poderia uma quantidade enorme deliberada a ser paga
estar no passivo num ano e os sócios decidirem fazê-lo retornar para lucros acumulados? Já pensou nisso?
Olhando-se a análise vertical, nota-se que é enorme o ativo circulante da empresa, comparativamente ao passivo
circulante, mas este último parece que cresceu mais, correto? Mas a folga financeira da empresa, ou seja, o seu capital
circulante líquido (ativo circulante, ou ativo em giro, menos passivo circulante, ou seja, a parte do ativo circulante que
não é financiada a longo prazo por terceiros nem pelo capital próprio), é enorme! Nada a preocupar quanto à liquidez
financeira da empresa a curto prazo. Correto? Ou existe o risco de essa conclusão não estar correta?
E que beleza: é bastante capital próprio colocado na empresa, e sua proporção inclusive aumenta, solidificando a
posição financeira dela. Ou será que a empresa está é perdendo oportunidades no mercado de pegar dinheiro barato de
terceiros, que poderia ser aplicado ganhando muito mais do que esse seu custo e, com isso, produzindo ainda mais
retorno para os sócios?
Que outras coisas ou dúvidas interessantes você levantou? Lembre-se: é importante saber o que mudou, mas é
fundamental saber o porquê da mudança. E nem sempre essa é tarefa fácil; muitas vezes, não se encontram as razões
olhando-se as demonstrações contábeis. Nós conseguimos é levantar hipóteses, e depois testá-las. Muitas vezes, os testes
resolvem as dúvidas, outras não. Daí a exigência, em muitos países, de a administração da entidade incluir, no relatório
da administração ou num relatório à parte, a análise feita pela própria administração, porque só ela, somente ela, tem
acesso a todas as informações. Do lado de fora é possível muita coisa por um bom analista, mas não tudo.
Quando se analisa a Demonstração do Resultado, contata-se que as receitas tiveram um extraordinário crescimento
de 95,5% entre os períodos “1” e “3”, entretanto os custos tiveram crescimento superior, atingiram 98,5% no mesmo
período. As despesas também tiveram crescimentos similares à receita, de modo que o resultado líquido apresentou
variação positiva de 85% ao longo dos três períodos. O acréscimo do resultado bruto em porcentagem inferior ao da

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receita líquida apresentado nos períodos “2” e “3” se deve a quê? Ao aumento da quantidade de produtos vendidos
ocorrido nesses períodos? Ou a um extraordinário aumento de preços? Ou a ambos? (Veja que, se você não conhece o
segmento onde atua a empresa e não tem ideia do que aconteceu com ele, pode concluir erradamente...) Será que a
empresa diminuiu a margem bruta e vendeu, por isso, muito mais, e seu lucro bruto aumentou em valor mas diminuiu
em margem? Ou terá sido que os preços aumentaram demais porque houve uma demanda absurda sobre esses produtos,
mas o mercado quis mais dos produtos que tinham menor margem? Você pensou que diferentes razões poderiam levar
a essas mesmas demonstrações colocadas atrás? É interessante que as despesas de vendas aumentaram
extraordinariamente, mais do que o próprio crescimento das receitas. Por quê? Ou não é relevante gastar tempo porque,
afinal, a margem, passando de 40,3% para 39,4%, não é uma mudança significativa? Ainda mais que se recuperou um
pouco no período 3 com relação ao 2?
E que coisa chata: você viu um número gigante, crescimento de 486,7% na AH numa linha do resultado e ficou
curiosíssimo. Mas que perda de tempo! Os valores envolvidos são imateriais e não vale a pena gastar tempo com isso.
Os percentuais e os números índices também aprontam...
Etc. etc. etc... Esperamos que você tenha, na verdade, ido além do que colocamos aqui de análises e dúvidas quanto
a esses exemplos dados!

Exercícios

1) Observe as demonstrações de resultados da Cia. Pentágono, abaixo. Informe, com base na análise horizontal, quais
foram as variações ocorridas entre os períodos 1 e 2; e entre os períodos 2 e 3.

2) Faça a análise horizontal dos demonstrativos da Cia. Medusa1 a seguir apresentados. Suponha que as referidas
demonstrações já estejam padronizadas e em moeda constante.

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3) Agora, faça a análise vertical dos demonstrativos da Cia. Medusa.

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4) Com base nas variações apuradas nas contas do Balanço e DRE, a que conclusões você pode chegar a partir
dessa análise? Você consegue visualizar alguma tendência em termos de endividamento, de investimentos, de
liquidez de rentabilidade etc.?
5) Faça as análises horizontal e vertical dos demonstrativos da Cia. Zeus 2 a seguir apresentados. Suponha que as
referidas demonstrações já estejam padronizadas e em moeda constante.

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6) Com base nas variações apuradas nas contas do Balanço e DRE, a que conclusões você pode chegar a partir dessa
análise? Você consegue visualizar alguma tendência em termos de endividamento, de investimentos, de liquidez de
rentabilidade etc.?

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Atividade sugerida ao professor

1) Note que o cálculo é relativamente simples; utilizando uma planilha Excel, seria possível fazer as análises horizontal
e vertical em poucos segundos. O mais importante, portanto, é a análise crítica dos números apurados. Ou seja, qual o
significado de cada índice levantado? Essa interpretação sim, a máquina não consegue fazer... Nesse sentido é
recomendável que os cálculos de índices, quaisquer que sejam eles, venham sempre acompanhados de uma análise
qualitativa dos achados. Essa análise ajudará o aluno a desenvolver a habilidade de elaborar o relatório da análise das
demonstrações contábeis.
Para auxiliar os alunos a elaborarem as conclusões sobre o relatório, podem-se fornecer algumas dicas. Eles poderão
responder a algumas perguntas, como, por exemplo:
•A empresa está se endividando?
•Está realizando novos investimentos?
•Tem feito investimentos no imobilizado (parque fabril)?
•Qual é sua política de estocagem?
•Tem ampliado vendas?
•Como está se comportando em termos de resultados?
Respondendo a essas perguntas, eles estarão, automaticamente, preparando o relatório produto de sua análise.

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