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Os índices utilizados para análise da estrutura patrimonial estabelecem relações entre as fontes de financiamento

próprio e de terceiros. Visam evidenciar a dependência da entidade em relação aos recursos de terceiros.
Para a referida análise, os seguintes índices são apresentados: i) endividamento; ii) composição do endividamento;
iii) imobilização do PL; iv) imobilização dos recursos não correntes. De acordo com Martins, Diniz e Miranda (2018),
a principal limitação dos índices de estrutura patrimonial se refere à falta de correção monetária dos elementos utilizados
no cálculo dos quocientes, notadamente o Ativo Imobilizado.

6.1 ENDIVIDAMENTO

O índice de endividamento mostra quanto a empresa tem de dívidas com terceiros (passivo circulante + passivo
não circulante) para cada real de recursos próprios (patrimônio líquido). Indica a dependência que a entidade apresenta
com relação a terceiros e, nesse sentido, o risco a que está sujeita.

Não se pode dizer que um índice de endividamento alto seja bom ou ruim. É necessário analisar a qualidade da
dívida (prazo de vencimento, taxa de juros, risco de moeda – se em reais, se em dólar etc.), pois se uma empresa tiver
alto endividamento com terceiros a longo prazo e baixo custo, pode ser extremamente interessante do ponto vista da
rentabilidade que os sócios desejam. No entanto, endividamentos caros, a curto prazo, podem deixar a empresa em
situação difícil, provocando quedas, inclusive, na rentabilidade.
Um bom parâmetro para se avaliar o índice de endividamento é a média do setor no qual a empresa está inserida.
Por exemplo, os índices de endividamento do setor bancário, por definição, têm que ser muito maiores que os de uma
indústria de roupas ou de brinquedos.

6.2 COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO

Para analisar a solvência de uma entidade, é importante conhecer os prazos de vencimentos de suas dívidas. Nesse
sentido, o índice de composição do endividamento revela quanto da dívida total (passivo circulante + passivo não
circulante) com terceiros é exigível no curto prazo (passivo circulante).
Do ponto de vista financeiro, é comum que a empresa busque recursos de longo prazo para financiamento do Ativo
Não Circulante e recursos de curto prazo para financiamento do Ativo Circulante. Embora não existam regras fixas, pois
cada entidade possui uma estrutura de capitais que otimiza seus resultados, uma empresa com níveis mais elevados de
endividamento no longo prazo terá melhores condições de gerar recursos para fazer frente aos compromissos num
momento de crise, por exemplo. Ao passo que uma empresa que tenha grande parte de suas dívidas vencíveis no curto
prazo, se surpreendida por uma crise, terá que tomar decisões desfavoráveis do ponto de vista econômico para conseguir
cumprir suas obrigações de curto prazo (p. ex., queima de estoques a preços baixos, grandes descontos para recebimento
de clientes etc.). Ou seja, uma empresa com menores níveis de endividamento no curto prazo, via de regra, oferece
menor risco.

6.3 IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

O índice de imobilização do Patrimônio Líquido apresenta a parcela do capital próprio que está investida em ativos
de baixa liquidez (ativos imobilizados, investimentos ou ativos intangíveis), ou seja, ativos não circulantes deduzidos
dos ativos realizáveis a longo prazo.

Quanto mais recursos próprios a empresa investir em ativos de baixa liquidez (imobilizado, investimentos e
intangíveis), menos sobrará para investir em Ativos Circulantes, consequentemente, terá que financiar as aplicações de
curto prazo com recursos de terceiros. O ideal é que a empresa financie o Ativo Circulante com recursos próprios para
diminuir a dependência de terceiros e, consequentemente, o risco.
Matarazzo (2010) compara a situação de uma entidade com altos índices de imobilização do Patrimônio Líquido
à de “[...] uma pessoa que, para manter sua saúde, deve tomar obrigatoriamente, todos os dias, determinados remédios.
Pode ocorrer que essa pessoa leve uma vida tranquila e tenha vida longa. A dependência à medicação, contudo, é sinal
de que sua saúde não é muito boa”.
É preciso considerar também parâmetros setoriais para análise desse indicador, pois o nível de imobilização de
uma empresa energética, por exemplo, será diferente daquele de uma empresa que tenha por principal ativo, o capital
humano, como uma empresa de auditoria.

6.4 IMOBILIZAÇÃO DE RECURSOS NÃO CORRENTES

Este índice mostra o percentual de recursos de longo prazo aplicados nos grupos de ativos de menor liquidez
(imobilizado, investimentos e intangível).

Os elementos componentes dos grupos Investimentos, Imobilizado e Intangível possuem vida útil bastante superior
aos demais ativos. Dessa forma, desde que a firma possua recursos no Exigível cujos prazos sejam compatíveis com o
prazo de duração dos elementos do Ativo Não Circulante mencionados, ou suficientes para a empresa gerar recursos
capazes de resgatar as dívidas de longo prazo, é perfeitamente possível que se financie parte do Imobilizado com
recursos de terceiros.
Índices de imobilização de recursos não correntes superiores a 1,0, entretanto, significam que a entidade está
imobilizando recursos de curto prazo (passivo circulante), o que é um sinal de desequilíbrio financeiro (ASSAF NETO,
2015).
A parcela de recursos não correntes que financia o Ativo Circulante é o Capital Circulante Líquido (CCL), que
representa a parcela das aplicações de curto prazo que são financiadas por recursos de longo prazo, portanto, são “folga
financeira”, conforme demonstram as Figuras 13, 17 e 18.
No Quadro 18 é reproduzido o Balanço Patrimonial da Cia. Grega. Na sequência são calculados os índices de
estrutura patrimonial da entidade para os três períodos.

QUADRO 18 – Balanço Patrimonial da Cia. Grega

Partindo-se do Balanço Patrimonial, são calculados os índices de estrutura patrimonial da Cia. Grega, conforme
demonstra o Quadro 19.
QUADRO 19 – Índices de estrutura patrimonial da Cia. Grega

Interpretando os índices de estrutura patrimonial da Cia. Grega

O índice de endividamento revela que a empresa possuía no período “1”, em dívidas, o equivalente a 85% do seu
patrimônio líquido. Nos períodos “2” e “3” o nível de endividamento caiu, correspondendo a 65% do seu PL no período
“3”. Tal variação ocorreu em função do aumento do PL, pois o valor total do capital de terceiros permaneceu o mesmo
entre o período “1” e “3”. Com a queda no indicador, o endividamento médio da empresa ficou compatível com o setor
que no período 3 é 68%.
Já o índice de composição do endividamento mostra que no período “1”, apenas 43% da dívida era de curto prazo,
mas ao longo do tempo, a dívida vem sendo transferida do longo para o curto prazo, chegando a 64% no período “3”.
Como houve aumento no Passivo Circulante de 48,3% e redução do Passivo Não Circulante de 36,8%, verifica-se a
transferência de dívidas de longo prazo para curto prazo.
O índice de imobilização do patrimônio líquido mostra que a empresa imobilizou 57% do seu PL no período “1”.
Nos períodos “2” e “3”o imobilizado se manteve praticamente estável, mas com o aumento do PL e a redução nos
investimentos e imobilizados, o índice de imobilização foi reduzido para 0,48 no período “2” e “0,40” no período “3”.
Da mesma forma, o nível de imobilização de recursos não correntes, que representava 38% no período “1”, vem caindo
ao longo do tempo, ficando em 0,33 no período “3”.
Logo, vê-se que os níveis de endividamento dessa empresa são até que satisfatórios, apesar de não sabermos ainda
o custo dos empréstimos. Apenas a aproximação do vencimento das dívidas que eram de longo prazo começa a apertar
um pouco a folga financeira da empresa. De qualquer forma, aparentemente nada que preocupe ainda o diretor
financeiro. Ou você discorda e acha que a empresa deveria sair correndo e pedir novos financiamentos de longo prazo
para saldar os de curto prazo?

Exercícios

1) Com base no Balanço Patrimonial da Cia. Medusa, apresentado no Quadro 20, calcule os índices de endividamento,
composição do endividamento, imobilização do patrimônio líquido e imobilização de recursos não correntes para
os três períodos.

Sabendo-se que o endividamento médio do setor de cosméticos nos períodos 1, 2 e 3 foram, respectivamente: 1,33; 1,12
e 1,27, quais conclusões podem ser tiradas dos indicadores apurados?

QUADRO 20 – Balanço patrimonial da Cia. Medusa


2) Com base no Balanço Patrimonial da Cia. Zeus, apresentado no Quadro 21, calcule os índices de endividamento,
composição do endividamento, imobilização do patrimônio líquido e imobilização de recursos não correntes para
os três períodos. Quais conclusões podem ser tiradas dos índices apurados?

Quadro 21 – Balanço Patrimonial da Cia. Zeus

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