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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA - UNOESC

Campus de Joaçaba
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ENGENHARIA DE ESTRUTURAS
METÁLICAS

DANIELE CRISTINA FICANHA

ESTUDO DE CAMPO COM REESTRUTURAÇÃO DE PROJETO DE


CAMISAMENTO DE UM SECADOR DE GRÃOS

Joaçaba
2014
0

DANIELE CRISTINA FICANHA

ESTUDO DE CASO COM REESTRUTURAÇÃO DE PROJETO DE


CAMISAMENTO DE UM SECADOR DE GRÃOS

Trabalho apresentado para a conclusão do curso


de Pós-Graduação Latu Sensu em Engenharia de
Estruturas Metálicas da Universidade do Oeste de
Santa Catarina, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Especialista em Engenharia
de Estruturas Metálicas.

Orientador: Msc. Douglas Roberto Zaions


Co-orientador: Esp. Paulo Cesar Padilha

Joaçaba
2014
1

DANIELE CRISTINA FICANHA

ESTUDO DE CASO COM REESTRUTURAÇÃO DE UM PROJETO DE


CAMISAMENTO DE UM SECADOR DE GRÃOS

Trabalho apresentado para a conclusão do curso


de Pós-Graduação Latu Sensu em Engenharia de
Estruturas Metálicas da Universidade do Oeste de
Santa Catarina, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Especialista em Engenharia
de Estruturas Metálicas.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Profª. Dra. XXXXXXXXXXXX
Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC

_________________________________________________
Profª. MSc. XXXXXXXXXXXX
Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC

_________________________________________________
Eng. Civil XXXXXXXXXXXX
Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC
2

Dedico este trabalho a meus pais, fonte de meus


conhecimentos e saber. Graças a eles, tornei-me uma
pessoa capaz de lutar, para que meus sonhos e objetivos
fossem sempre alcançados, sem jamais desanimar.
Considero-me forte porque eles me ensinaram a ser forte.
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela chance da nova vida, por estar sempre no
meu caminho, iluminando e guiando às escolhas certas.
A minha família de sangue, meus pais Anselmo, Zenir e Johnny, à base de tudo
para mim, apoiando-me nos momentos difíceis com força, confiança, amor,
ensinando-me a persistir nos meus objetivos e ajudando a alcançá-los.
A minha nova família, o meu noivo Jaison Kostuchenko e minhas duas
companheiras caninas Yuca e Weezy, agradeço pela compreensão, amor,
paciência, e a recepção calorosa de todos os dias.
Ao gerente da Comil Silos e Secadores Ltda, o Eng. Jeferson Sarreta, meu
primeiro professor profissional, agradeço pelas aulas, incentivo e cobrança.
Aos colegas de trabalho de todos os dias, Eduardo, Fábio e Mariane, agradeço
pela ajuda, ensinamentos e descontração.
A empresa Comil Silos e Secadores Ltda, pela oportunidade e fidúcia em me
repassar tamanha responsabilidade e confiar a mim tal função, Engenheira
Calculista.
A todos os amigos que me apoiaram nas horas mais difíceis.
A todos que, de uma forma ou de outra, colaboraram para que este trabalho
fosse realizado com êxito.
4

“Tudo é possível para quem sabe o que deseja, e se


resolve conquistá-lo.”
(A. C Jesus)
5

RESUMO

O modelo estrutural usualmente adotado para o dimensionamento do camisamento


de secadores de grãos utiliza elementos de treliça e/ou malha por elementos finitos,
e é calculado através de uma análise estática e linear ou não linear geométrica. Nas
hipóteses de carregamento utiliza-se o peso próprio da estrutura e a carga incidente
do vento através de uma ‘carga estática equivalente’, e as condições de apoio
geralmente são modeladas como engastes. Neste trabalho é avaliada a ocorrência
de um sinistro ocorrido em um camisamento de secador que o levou ao colapso
estrutural no período de montagem durante uma rajada de vento de 120 km/h.
Avaliaram-se três condições: 1) o projeto estrutural atual do camisamento do
secador com os apoios engastados; 2) o projeto atual durante a montagem e no
instante da rajada de vento com apoio somente no sentido do peso próprio da
estrutura e; 3) reestruturação do projeto e solução de montagem. Os dados obtidos
através da análise estática revelaram que o software utilizado e a modelagem
estrutural elaborada foram capazes de simular o comportamento da estrutura a ação
do vento e peso próprio. Completando o estudo é realizada uma análise comparativa
dos projetos e verifica-se a inviabilidade de uma reestruturação e opta-se por utilizar
nichos de concreto e chumbadores durante a montagem utilizando os mesmos perfis
atuais da estrutura.

Palavras-chave: Vento, engastamento, montagem, projeto estrutural, sinistro.


6

ABSTRACT

The structural model usually adopted for dimensioning the camisamento of grain
dryers using truss elements and / or finite element mesh, and is calculated using a
static, linear or nonlinear geometric analysis. In the event of loading is used the self
weight of the structure and the incident wind loading through an 'equivalent static
load', and support conditions are often modeled as bezels. We studied the
occurrence of such an accident in a camisamento dryer that led to structural collapse
during assembly during a wind gust of 120 km / h. We evaluated three conditions: 1)
the current structural design camisamento the dryer with engastados support; 2) the
current design during assembly and at the time of blast supported only toward the
own weight of the structure and; 3) restructuring the design and assembly solution.
The data obtained through static analysis revealed that the software used and the
structural model developed were able to simulate the behavior of the structure to the
wind and self weight. Completing the study is carried out a comparative analysis of
the projects and there is the impossibility of a restructuring and it is chosen to use
niches and concrete anchor bolts during assembly using the same current profiles of
the structure.

Keywords: Wind, cantilever, assembly, structural design, sinister.


7

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores mínimos do fator estatístico – S3 ............................................... 39


Tabela 2 – Ações permanentes diretas agrupadas ................................................... 45
Tabela 3 – Ações variáveis consideradas separadamente ....................................... 46
Tabela 4 – Procedimentos metodológicos ................................................................ 50
8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Tipo de secagem ...................................................................................... 18


Figura 2 – Diagrama Tensão X Deformação do aço ................................................. 21
Figura 3 – Modelos de comportamentos físicos do aço ............................................ 24
Figura 4 – Mapa das Isopletas – NBR 6123:1988 ..................................................... 34
Figura 5 – Fator Topográfico – S1............................................................................. 36
Figura 6 – Fator S2 ................................................................................................... 38
Figura 7 - Coeficiente de arrasto para corpos de seção constante ........................... 41
Figura 8 – Principais componentes de um secador................................................... 52
Figura 9 – Torre de Secagem.................................................................................... 53
Figura 10 - Descarga dosadora volumétrica ............................................................. 55
Figura 11 – Camisamento do secador ...................................................................... 56
Figura 12 – Estrutura do camisamento em ambos os lados ..................................... 57
Figura 13 – Chapas onduladas do camisamento ...................................................... 58
Figura 14 – Coluna de sustentação da estrutura de camisamento ........................... 59
Figura 15 – Travamento do camisamento ................................................................. 60
Figura 16 – Detalhes do travamento no camisamento .............................................. 60
Figura 17 – Modelagem do camisamento atual......................................................... 65
Figura 18 – Solicitações dos perfis – Projeto atual.................................................... 66
Figura 19 – Resistência das chapas laterais – Projeto atual ..................................... 67
Figura 20 – Deformações máximas – Projeto atual................................................... 68
Figura 21 – Condições dos apoios – Situação do Sinistro ........................................ 69
Figura 22 – Resistências dos perfis – Situação de Sinistro ....................................... 70
Figura 23 – Solicitações dos perfis – Situação do Sinistro ........................................ 71
Figura 24 – Deformações absolutas ao longo da estrutura – Situação do Sinistro ... 72
Figura 25 – Movimentação da estrutura de base – Situação do Sinistro .................. 73
Figura 26 – Nicho de concreto como solução de montagem .................................... 75
9

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Vistoria técnica no local da obra......................................................... 62


Fotografia 2 – Deformação dos anéis de vento ......................................................... 62
Fotografia 3 – Ruptura dos tirantes ........................................................................... 62
Fotografia 4 – Deslocamento dos montantes base ................................................... 63
Fotografia 5 – Deformação da porta.......................................................................... 63
10

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ltda – Limitada
MEF – Método dos Elementos Finitos
NBR – Norma Brasileira
STRAP – Structural Analysis Program
UNIOESTE – Universidade do Oeste do Paraná
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 14
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................... 15
1.1.2 Objetivos específicos ........................................................................ 15
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................... 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 17
2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE SECAGEM .................................. 17
2.1.1 Tipo e Regime de Secagem ............................................................... 18
2.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS E TIPOS DE ANÁLISE PARA
DIMENSIONAMENTO DA ESTRUTURA .................................................................. 19
2.2.1 Conceitos Fundamentais ................................................................... 19
2.2.1.1 Análise Elástica Linear de 1ª Ordem .................................................... 20
2.2.1.2 Efeitos Não Lineares ............................................................................ 21
2.2.1.2.1 Efeitos Geometricamente Não Lineares............................................... 22
2.2.1.2.2 Efeitos Fisicamente Não Lineares ........................................................ 23
2.2.1.2.3 Tipos de Fenômenos de Instabilidade.................................................. 25
2.2.2 Tipos de Análise ................................................................................. 25
2.2.2.1 Análise Elástica Linear ......................................................................... 26
2.2.2.2 Análise Não Linear ............................................................................... 26
2.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS – MEF ................................... 27
2.3.1 Configuração de Aplicação do FEA na Estrutura............................ 27
2.3.2 Tipos de Análise ................................................................................. 28
2.3.3 Tipos de estrutura .............................................................................. 29
2.4 MODELAÇÃO DA ESTRUTURA PARA ANÁLISE - LIGAÇÕES ......... 29
2.5 ESCOLHA DO MÉTODO DE ANÁLISE ............................................... 30
2.6 CÁLCULO DOS ESFORÇOS DE DIMENSIONAMENTO -
CARREGAMENTOS ................................................................................................. 31
2.6.1 Carregamentos Verticais ................................................................... 31
2.6.2 Carregamento Horizontal - NBR 6123:1988 – Forças devida ao
vento em edificações .............................................................................................. 32
2.6.2.1 Forças Estáticas Devidas ao Vento ..................................................... 33
2.6.2.1.1 Velocidade Básica do Vento – Vk ........................................................ 34
12

2.6.2.1.2 Fator Topográfico – S1......................................................................... 35


2.6.2.1.3 Rugosidade do Terreno, Dimensões da Edificação e Altura Sobre o
Terreno – S2. ............................................................................................................ 36
2.6.2.1.4 Fator Estatístico – S3 ........................................................................... 38
2.6.2.1.5 Coeficiente de Arrasto e Força de Arrasto ........................................... 40
2.6.3 Carregamento de construção ........................................................... 43
2.6.4 Carregamento das Ações da Variação de Temperatura ................. 43
2.7 COMBINAÇÃO DAS AÇÕES ............................................................... 44
2.7.1 Ações Permanentes ........................................................................... 45
2.7.2 Ações Variáveis .................................................................................. 45
2.8 VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA ....................................................... 46
2.9 CONSIDERAÇÃO DAS IMPERFEIÇÕES ............................................ 47
3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................... 49
3.1 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................ 49
3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS ............................................................ 50
3.3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES .......................................................... 51
3.4 ELABORAÇÃO DO PROJETO ............................................................ 51
3.5 FINALIZAÇÃO DO RELATÓRIO E PROJETO .................................... 51
4 MEMORIAL DESCRITIVO: CARACTERIZAÇÃO do OBJETO E ÁREA Do
ESTUDO...................................................................................................................... 52
4.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ............................................ 52
4.1.1 Torre de secagem............................................................................... 53
4.1.2 Funil de descarga ............................................................................... 54
4.1.3 Descarga ............................................................................................. 54
4.1.4 Camisamento ...................................................................................... 55
4.1.5 Ventiladores ........................................................................................ 56
4.1.6 Elementos Estruturais do Camisamento ......................................... 57
4.1.6.1 Chapas onduladas do corpo ................................................................ 58
4.1.6.2 Colunas de sustentação da estrutura ................................................... 59
4.1.6.3 Anéis de vento e tirantes de travamento entre torre e camisamento ... 59
4.2 DESCRIÇÃO DA ÁREA DO SINISTRO ............................................... 61
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................. 64
5.1 ANÁLISE ESTRUTURAL DO PROJETO ORIGINAL ........................... 64
13

5.1.1 Modelação da Estrutura ..................................................................... 64


5.1.1.1 Análise de Estabilidade da Estrutura.................................................... 66
5.2 ANÁLISE ESTRUTURAL DO PROJETO NA DATA DO SINISTRO .... 68
5.2.1 Modelação da Estrutura ..................................................................... 69
5.2.1.1 Análise de Estabilidade da Estrutura.................................................... 70
5.3 REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO .................................................. 73
5.3.1 Modelação da Estrutura ..................................................................... 74
5.3.2 Solução para montagem .................................................................... 74
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................. 76
7 REFERÊNCIAS ................................................................................... 78
14

1 INTRODUÇÃO

A agricultura tem sido atualmente fator de garantia de superávit comercial


brasileiro. Infelizmente, de acordo com projeções do IBGE e dados da Conab, na
safra 2013/2014 o Brasil deverá produzir 186 milhões de toneladas de grãos,
enquanto a capacidade de armazenagem do país é de apenas 121 milhões de
toneladas, ou seja, um déficit no mínimo de 35% para estocar o que será produzido.
Vale ressaltar que a agricultura brasileira vem aumentando ano a ano a área
plantada batendo recordes de produção. No entanto, para cada aumento de
produção existe a necessidade do aumento da capacidade de processamento e
armazenagem.
O acondicionamento, limpeza, secagem e armazenamento de produtos são
considerados uma solução de grande importância para aumentar o valor agregado
do produto devido à economia de espaço físico, assim como um aumento
significativo no tempo de conservação deste produto. Produtos destinados à
indústria de alimentos devem possuir garantia de qualidade na qual é fundamental
na definição do preço.
A secagem de grãos é uma das mais antigas operações usadas em
indústrias agrícolas, que tem por finalidade retirar parte da água neles contidos.
A secagem pode ser definida como um processo simultâneo de transferência
de calor e massa entre o produto e o ar de secagem, realizada de diferentes
maneiras, de acordo com o produto em questão. Na maioria das vezes, o ar é
utilizado como meio secante, que entrega calor aos grãos ao mesmo tempo em que
extrai a umidade. Os principais sistemas de secagem contam com secadores
mecânicos, onde o produto a ser secado transita, em bateladas ou de forma
contínua, para que se retire a sua umidade. Sua classificação se dá pela forma do
fluxo de ar e do produto.
As estruturas destes secadores geralmente são constituídas de aço. O
produto permanece em colunas verticais construídas de chapas de aço perfuradas,
este local pode ser denominado de torre. Para enclausurar o ar quente desta torre
se faz necessário isolá-lo através do camisamento de chapas metálicas, estas por
15

sua vez devem suportar o seu peso próprio e a carga de vento incidente nas suas
faces.

1.1 OBJETIVOS

Este estudo tem um objetivo focado e claro e, para alcançá-lo com sucesso
definiram-se objetivos: geral e específicos.

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho é reprojetar o camisamento do secador


modelo CM 150DR COL da Comil Silos e Secadores Ltda adequando-o as situações
de dimensionamento, montagem e funcionamento através de um estudo de campo.

1.1.2 Objetivos específicos

Para que seja alcançado o objetivo geral deste estudo, definiram-se objetivos
específicos, sendo eles:

a) Dimensionar a estrutura atual do camisamento do secador utilizando o


software Structural Analysis Program – STRAP (versão 2009) e
simulando-o por elementos finitos;
b) Identificar os problemas existentes do atual projeto;
c) Planejar a situação de montagem em obra utilizando o software STRAP e
simulando-o por elementos finitos;
d) Caracterizar os elementos que afetam a estrutura do projeto final;
e) Reprojetar o camisamento do secador adequando o projeto com a
situação em obra;
f) Calcular as cargas de vento incidente na montagem e término;
16

g) Avaliar as cargas e combinações possíveis que possam ocorrer no


período de montagem e após a conclusão da mesma.

1.2 JUSTIFICATIVA

A secagem é um processo de suma importância na qualidade do produto


final. A qualidade de um produto depende no uso final do produto que, por sua vez,
apresentará as características necessária de qualidade que deverá ser conservada.
Assim, é o critério de conservação de qualidade do sistema que dita o processo de
secagem. Para tanto, se faz necessário que a estrutura do secador seja eficiente e
segura para garantir tal processo.
Um projeto de engenharia muitas vezes não se resume apenas a cálculos e
desenhos, mas também as especificações corretas conjunto de fabricação e
processo de montagem, sendo estes definidos pelas limitações e restrições da
fabricação e pela mão de obra na montagem.
Solicitações diferentes das previstas em projeto e que podem acontecer
durante a etapa de fabricação, montagem até a sua finalização bem como durante a
etapa de uso podem provocar falhas com consequências na segurança humana e
econômicas.
Diante de um sinistro ocorrido na cidade de Rio Bonito do Iguaçu PR, no dia
21 de Outubro de 2013 em um secador de grãos produzido pela empresa, decidiu-se
reprojetar a camisa do secador levando-se em considerações necessidade
relacionadas com projeto, com a montagem e sua interação.
17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O secador é responsável pela secagem dos grãos através do calor, para que
os mesmos possam ser armazenados por um período maior, pois a presença de
umidade acarreta na deterioração do produto. Por isso a estrutura deve garantir
calor suficiente para avalizar a secagem.
A vedação da torre de secagem é garantida pelo camisamento. A estrutura é
composta por anéis de vento e chapas laterais. A concepção estrutural no projeto
deve levar em consideração a etapa da montagem até a sua operação.
A revisão bibliográfica aqui apresentada é constituída de uma breve
elucidação dos principais conceitos do tipo e regime de secagem; conceitos
fundamentais e tipos de análise para dimensionamento de estruturas; Método dos
Elementos Finitos e seu funcionamento na resolução de problemas estruturais; dos
principais conceitos da teoria fundamental que rege dinâmica das estruturas; dos
métodos usuais de consideração do efeito do vento em edificações de acordo com a
Norma Brasileira - NBR 6123:1988; e por fim, dos parâmetros de verificação da
estabilidade global de estruturas.

2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE SECAGEM

A secagem é uma das etapas do pré-processamento dos produtos agrícolas


que tem por finalidade retirar parte da água contida nos grãos. Pode ser definido
como sendo o processo de transferência de calor e de massa entre o produto e o ar
de secagem, tendo por desígnio reduzir o teor de umidade do produto a nível
adequado a sua armazenagem por um período prolongado (UNIOESTE, 201?, p.
02).
De acordo com Silva et al. (20??, p. 111) a secagem é definida por dois
sistemas: natural e artificial. Onde a natural acontece na própria planta em campo,
sem a interferência do homem. Já na secagem artificial existe a interferência do
homem, acelerando e melhorando o processo.
18

2.1.1 Tipo e Regime de Secagem

Os secadores da Comil Silos e Secadores Ltda estão dimensionados para


fazer o processo de secagem de forma mais rápida e racional, com o máximo de
aproveitamento térmico. Para isto, a secagem é feita com o duplo reaproveitamento
de ar.
Estão projetados para trabalhar em regime de trabalho de até 24 horas por dia,
podendo secar com coluna inteira e com resfriamento.

Figura 1 – Tipo de secagem

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

Chamamos de secagem em coluna inteira aquela em que toda a torre do


secador é usada com ar aquecido e secagem com resfriamento aquela que utiliza
aproximadamente 1/3 da torre fazendo o resfriamento do produto antes da
armazenagem.
19

2.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS E TIPOS DE ANÁLISE PARA


DIMENSIONAMENTO DA ESTRUTURA

É indispensável no dimensionamento e verificação de segurança de uma


estrutura à aquisição de um conjunto de resultados de esforços e deslocamentos
que só é possível através da realização de uma análise.
Assume-se então a necessidade de ter uma noção completa do conjunto de
análises disponíveis, e conhecer de forma intransigente os conceitos de cada tipo de
análise e o grau de aproximação dos resultados obtidos frente aos resultados exatos
e reais que acontecem na estrutura (PAIVA, 2009, p. 13).
De acordo com Paiva (2009, p. 13) os esforços em uma estrutura isostática
devem ser determinados através de regras de equilíbrio estático, utilizando uma
análise global elástica. Já, os esforços em uma estrutura hiperestática podem ser
determinados usando uma análise global elástica ou uma análise global plástica.
A análise global elástica fundamenta-se na hipótese da relação tensão-
deformação do material ser linear, em qualquer ponto da estrutura e qualquer nível
de tensão atuante.
A análise global plástica pressupõe a plastificação de algumas zonas da
estrutura, como exemplo, tem-se a formação de rótulas plásticas, e só pode ser
efetuada se a estrutura verificar determinados requisitos, entre os quais, materiais
com um comportamento dúctil e secções suficientemente compactas e, um
contraventamento lateral adequado (PAIVA, 2009, p.13).
Quanto à análise de uma estrutura tem-se a de primeira ordem ou de
segunda ordem. Na análise de primeira ordem os esforços internos e os
deslocamentos são obtidos a partir da geometria inicial indeformada da estrutura. Na
análise de segunda ordem, os esforços internos são influenciados pela configuração
deformada da estrutura (PAIVA, 2009, p.13).

2.2.1 Conceitos Fundamentais

O comportamento de uma estrutura, submetida a um conjunto de ações, deve


ser analisada através da consignação das relações entre as ações e os efeitos por
20

elas provocadas, por exemplo, as tensões, deformações e deslocamentos. A


determinação dessas relações requer o entendimento das seguintes equações:

a) Equações de equilíbrio: instituem relações entre forças aplicadas e tensões


desenvolvidas no elemento;
b) Relações constitutivas: relacionam tensões e deformações;
c) Relações cinemáticas: instituem relações entre deformações e
deslocamentos;
d) Equações de compatibilidade: destinam-se a garantir que a estrutura respeite
as ligações dos vários elementos entre si e dos vários elementos com o
exterior (PAIVA, 2009, p.13).

O nível de precisão dos resultados da análise de uma estrutura depende em


grande parte, do número e tipo de hipóteses simplificativas adotadas (DIAS, 2007, p.
05).

2.2.1.1 Análise Elástica Linear de 1ª Ordem

A resultante da análise elástica linear de 1ª ordem é a adoção de hipóteses


simplificativas na descrição do comportamento geométrico da estrutura e do
comportamento físico do material, as quais se designam por hipóteses de
linearidade material e geométrica (PAIVA, 2009, p. 14).
A linearidade física é designada como a adoção de uma relação constitutiva
elástica linear no comportamento do material, a que corresponde uma relação
proporcional entre as tensões e deformações.
A linearidade geométrica é a adoção da hipótese dos pequenos
deslocamentos, na qual as “equações de equilíbrio são estabelecidas na
configuração indeformada da estrutura e as relações cinemáticas são formuladas
com termos lineares” (PAIVA, 2009, p. 14).
O aço é um dos variados materiais que apresentam um comportamento
elástico linear na fase inicial de carregamento, o qual se mantém em regime elástico
21

até atingir a tensão de escoamento (ƒE) e posteriormente se caracteriza por


deformação em regime plástico, conforme demonstra o gráfico a seguir:

Figura 2 – Diagrama Tensão X Deformação do aço

Fonte: Universidade Federal do Paraná (2014)

Ao adotar as hipóteses da linearidade física e geométrica, é plausível aplicar


o princípio da sobreposição de efeitos às análises elásticas lineares (DIAS, 2007, p.
06).

2.2.1.2 Efeitos Não Lineares

A análise elástica linear (de 1ª ordem) para avaliar uma estrutura tem seu
comportamento muito limitado. Não se leva em consideração uma série de fatores
de natureza geométrica e física, que quase sempre ganham relevância à medida
que o nível de carregamento e de deformação aumenta. Além de, não revelar a
degradação de resistência de uma estrutura devido ao regime plástico do material
constitutivo e, os fenômenos de instabilidade (PAIVA, 2009, p. 15).
Assim, os efeitos não lineares estão fortemente ligados às duas hipóteses
referidas anteriormente e podem ser classificados em efeitos geometricamente não
lineares e efeitos fisicamente não lineares. Onde:
22

a) Efeitos geometricamente não lineares: referem-se ao estabelecimento


das equações de equilíbrio na configuração deformada da estrutura e
estão associados às relações cinemáticas com termos não lineares.
b) Efeitos fisicamente não lineares: referem-se à existência de uma
relação constitutiva não linear e estão associados à degradação de
rigidez, escoamento e plastificação do material sob o aumento da
deformação (DIAS, 2007, p. 07).

A seguir apresenta-se uma caracterização mais detalhada dos efeitos


geométrico e físico não lineares.

2.2.1.2.1 Efeitos Geometricamente Não Lineares

De acordo com Paiva (2009, p. 15) estes efeitos são “considerados na análise
de estruturas através da implementação de relações cinemáticas com termos não
lineares e/ou da determinação das equações de equilíbrio na sua configuração
deformada”. Neste caso, as relações cinemáticas contêm termos não lineares, o que
se deve ao fato de não se adotar a hipótese dos pequenos deslocamentos e
deformações.
A segunda maneira de considerar os efeitos geometricamente não lineares
está relacionada com os aspectos geométricos na determinação das equações de
equilíbrio com base na configuração deformada da estrutura. Alguns dos aspectos
geométricos normalmente considerados são os seguintes:

a) O deslocamento de uma extremidade da barra em relação à outra;


b) A deformação axial devido às tensões axiais e/ou à distorção da barra;
c) A deformação por corte da barra, a qual pode ser relevante se a barra
for curta;
d) Instabilidades locais das secções, locais das barras e globais do
pórtico.
23

De acordo com Dias (2007, p. 08) a parcela de deformação de uma barra por
esforço transverso é, na maioria dos casos, muito inferior à parcela de deformação
por flexão. A influência da deformação por esforço transverso deixa de ser
desprezível em barras cujo comprimento não exceda 3 vezes a maior dimensão da
seção. Este efeito não é incluído neste trabalho, uma vez que todas as barras
inseridas na estrutura apresentada podem ser classificadas como esbeltas.
A ocorrência de fenômenos de instabilidade local nas paredes da seção de
uma barra pode acarretar na capacidade resistente da mesma. A utilização de perfis
com paredes finas, e perfis de aço conformados a frio, podem aumentar a
importância deste fenômeno (DIAS, 2007, p. 08).
Neste trabalho, uma vez que parte dos perfis utilizados é bastante susceptível
a estes fenômenos por apresentarem elevada esbelteza nas placas que os constitui,
a consideração dos fenômenos de instabilidade terá muita importância. Além destes,
serão ainda tidos em consideração os fenômenos de instabilidade global.
Outro aspecto relevante neste estudo é à consideração de ligações semi-
rígidas entre elementos da estrutura e/ou entre a estrutura e a fundação. A
consideração de ligações semi-rígidas, em substituição das ligações rígidas, torna a
estrutura mais flexível e pode aumentar a suscetibilidade da mesma aos efeitos de
2° ordem.
Para tanto, visto que o estudo de ligações não constitui um dos objetivos do
presente trabalho, admite-se que as ligações serão sempre rígidas entre elementos
e entre a estrutura e a fundação.

2.2.1.2.2 Efeitos Fisicamente Não Lineares

Os efeitos materiais estão de modo óbvio relacionados com as propriedades


físicas dos materiais.
A hipótese da linearidade física admite que a relação constitutiva do material
seja linear. De acordo com Paiva (2009, p. 16) e a Figura 2 observar-se esta
hipótese como válida sempre que:
...o nível de tensão seja inferior à tensão de
cedência do material (e.g., o aço), o que sucede para
carregamentos de valor baixo a moderado. Ao atingir
a tensão de cedência, o aço perde capacidade
24

resistente para incrementos de carga e também a


capacidade de recuperação da forma inicial. A
descarga tem lugar numa trajectória de equilíbrio
paralela à fase elástica, após a qual o aço exibe uma
deformação permanente (ou deformação residual).
Após o patamar de cedência, a curva tensão-
deformação do aço exibe um ligeiro endurecimento, o
qual não é normalmente tido em consideração nas
análises plásticas.

Com isto, o comportamento físico não linear do aço pode ser beirado através
de vários modelos, com diferentes níveis de aproximação do comportamento real,
tais como se verificam na Figura 3:

Figura 3 – Modelos de comportamentos físicos do aço

Fonte: PAIVA (2009)

A Figura 3-a refere-se ao modelo rígido-plástico no qual não considera a


ocorrência de deformação do material até se atingir a sua tensão de escoamento. A
partir do momento em que se atinge esta tensão o material apresenta deformações
ilimitadas sob tensão constante.
A Figura 3-b, modelo elasto-plástico, retrata o comportamento elástico linear
do material até atingir a tensão de escoamento, apresentando de seguida
deformações ilimitado a tensão constante.
A Figura 3-c, modelo elasto-plástico com endurecimento, tem um
comportamento “igual ao apresentado pelo modelo elasto-plástico, mas com um
limite máximo do patamar de escoamento, após o qual exibe um ligeiro acréscimo
de resistência que pretende modelar o endurecimento” (PAIVA, 2009, p. 15).
Para implementar a hipótese de não linearidade material requer-se a
consideração de modelos que insiram, de maneira mais ou menos aproximada, o
modo como a plastificação se propaga nos elementos. Para isso destacam-se os
modelos de rótula plástica, onde se concentra toda a plasticidade na secção e
25

espalhamento plástico, onde se permite aproximar o espalhamento plástico


simultaneamente na secção e ao longo do comprimento da barra (DIAS, 2007, p.
09).

2.2.1.2.3 Tipos de Fenômenos de Instabilidade

De acordo com Paiva (2009, p. 19) e Dias (2007, p. 10) em barras com seção
de parede fina, os fenômenos de instabilidade podem classificar-se nos seguintes
tipos:

a) Fenômenos de instabilidade local: caracterizam-se pela deformação das


seções transversais no seu plano, permanecendo o eixo da barra
indeformado;
b) Fenômenos de instabilidade global: caracterizam-se pela deformação do eixo
da barra, ocorrendo apenas deslocamentos de corpo rígido das seções
transversais;
c) Fenômenos de instabilidade mistos: caracterizam-se pela ocorrência
simultânea de deformação das seções transversais e do eixo da barra. A
ocorrência de instabilidade ao nível da estrutura é classificada em local e
global. Onde, os fenômenos de instabilidade local deformam uma parte da
estrutura, permanecendo a restante estrutura na configuração inicial. E para
os fenômenos de instabilidade global a deformação ocorre em todas as
barras da estrutura.

2.2.2 Tipos de Análise

A verificação de segurança e o dimensionamento de uma estrutura requerem


um conjunto de resultados de esforços e deslocamentos, possíveis somente através
da realização de uma análise. Então, faz-se necessário ter uma ciência completa do
conjunto de análises disponíveis e conhecer, de uma forma rigorosa, os conceitos
26

subjacentes a cada tipo de análise e o grau de aproximação dos resultados obtidos


perante aos resultados reais (DIAS, 2007, p. 11).

2.2.2.1 Análise Elástica Linear

Este tipo de análise linear (1ª ordem) refere-se ao tipo de análise mais
simples. Visto que adota as hipóteses tanto de linearidade física quanto geométrica.
E a relação entre carga e deslocamento também é sempre linear.
Este tipo de análise permite obter uma estimativa simples dos esforços
resultantes da aplicação das forças em cada barra da estrutura, porém não permite
implementar os demais fatores existentes no comportamento estrutural e material
referentes aos efeitos não lineares (DIAS, 2007, p. 11).
Porém, a exatidão dos resultados obtidos através da análise elástica de 1ª
ordem diminui com o aumento de carga, pois aumentam os efeitos não lineares na
estrutura. Estes, caracterizados por esforços elevados e elevadas deformações, nos
quais os efeitos não lineares adquirem estima relevância. Para esses níveis de
esforço, não é aceitável desprezar o escoamento do material nem os deslocamentos
sofridos pelos pórticos (DIAS, 2007, p. 11).

2.2.2.2 Análise Não Linear

As análises de caráter não linear podem incorporar os efeitos não lineares de


forma total ou parcial.
A realização de análises não lineares requer frequentemente a resolução de
problemas de valores e vetores próprios e/ou utilização de procedimentos
interativos, visto que as condições de formulação das relações constitutivas e de
equilíbrio estão em constante alteração (DIAS, 2007, p. 12).
27

2.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS – MEF

Na concepção e dimensionamento de estruturas uma das principais etapas


consiste na análise estrutural, que visa à determinação dos deslocamentos, esforços
internos, reações de apoio, tensões e deformações decorrentes dos carregamentos
externos solicitantes (DEON, 2013, p. 28).
O método dos elementos finitos é um método numérico para resolver
problemas de engenharia complexos, difíceis de serem resolvidos de forma
analítica. Os resultados fornecidos por este método são suficientemente precisos
para aproximar-se de uma solução analítica complexa em que exigiriam muito tempo
e trabalho do calculista (MAIA, 2013, p. 98).
De acordo com Maia (2013, p. 98) a precisão da solução do problema esta
sujeito a vários fatores, tais eles:

.... da quantidade de variáveis consideradas, da precisão


das equações utilizadas no modelo usado para resolver
o problema físico e da quantidade de subdivisões do
modelo físico do problema (2D ou 3D) expressa por
formas geométricas como tetraedros (para problemas
tridimensionais) ou triângulos (para problemas
bidimensionais). Esse último fator depende do poder
computacional disponível.

O pretexto pelo qual se utiliza esse método é devido ao fato de que certos
problemas de engenharia envolvem estruturas complexas onde uma solução
analítica em cada ponto da sua geometria seria extremamente difícil de ser obtida.
Usando o FEA é possível obter uma solução do problema para estas estruturas de
forma rápida que é muito precisa em relação à solução analítica (MAIA, 2013, p. 99).

2.3.1 Configuração de Aplicação do FEA na Estrutura

Consiste basicamente em dividir a geometria envolvida no problema em


elementos finitos, sendo esses elementos conectados por nós. Onde os nós
representam as variáveis do problema que serão resolvidos.
Segundo Maia (2013, p. 99), para problemas lineares, o número de incógnitas
do problema é igual ao número de nós, e a solução do problema é obtida a partir da
28

resolução de um sistema de equações lineares onde as incógnitas são as grandezas


físicas atribuídas a cada nó.
A geometria composta por estes nós é chamada de malha. A resolução da
malha se dá a partir da união dos elementos adicionando-se as soluções obtidas
para cada nó. De forma que o resultado dessa adição resulte na solução final do
problema para a geometria utilizada de forma global.
Os resultados são exibidos de forma gráfica. As grandezas obtidas no
problema são utilizadas no projeto ou na análise de desempenho do material
utilizado na estrutura.
Ao aumentar-se a quantidade de nós utilizados, implicando em uma malha
mais refinada, a solução obtida por MEF torna-se mais próxima da solução analítica.
Entretanto, o tempo necessário para o cálculo desta solução aumenta (MAIA, 2013,
p. 99).

2.3.2 Tipos de Análise

A forma como o MEF é aplicado na estrutura dependem das simplificações


inerentes a cada tipo de problema. A primeira questão que se coloca é a sua
classificação quanto à geometria, material constituinte e ações aplicadas
(AZEVEDO, 2003, p. 02).
Alguns aspectos são necessários considerar na fase que antecede a análise
de uma estrutura, entre elas o tipo de análise: dinâmica ou estática e linear ou não
linear.
Em geral as ações sobre as estruturas são dinâmicas, devendo ser
consideradas as forças de inércia associadas às acelerações a que cada um dos
seus componentes se sujeita (AZEVEDO, 2003, p. 02).
Em muitas situações é razoável considerar que as ações são aplicadas de um
modo suficientemente lento, tornando desprezáveis as forças de inércia. Nestes
casos a análise designa-se estática (AZEVEDO, 2003, p. 02).
Nesta monografia apenas são considerados problemas em que se supõem
válidas as simplificações inerentes a uma análise estática.
29

Na análise de uma estrutura sólida, é usual considerar que os deslocamentos


gerados pelas ações exteriores são pequenos quando confrontados com as
dimensões dos componentes da estrutura. Nestas circunstâncias, admite-se que não
existe influência na modificação da geometria da estrutura na distribuição dos
esforços e das tensões, portanto, todo o estudo é feito com base na geometria inicial
indeformada. Se esta hipótese não for atendida, a análise é instituída não linear
geométrica (AZEVEDO, 2003, p. 03).
De acordo com Sánchez (2001, p. 21) a não linearidade torna o processo de
cálculo tão complexo que requer o auxílio de recursos computacionais.
Neste trabalho será abordada a análise linear com o auxílio do software
STRAP. Visto que se pretende trabalhar a situação do projeto em comportamento
elástico linear do material e em regime de pequenos deslocamentos, atendidos pela
análise linear.

2.3.3 Tipos de estrutura

As estruturas podem ser classificadas quanto à sua geometria como


reticulada, laminar ou sólida.
As estruturas laminares são as que se desenvolvem para ambos os lados de
uma superfície média, ou seja, um elemento cuja espessura é muito inferior às
restantes dimensões. Quando a superfície média é plana, a estrutura laminar pode
ser classificada como parede, laje ou casca (AZEVEDO, 2003, p. 03).
As estruturas reticuladas são constituídas por barras prismáticas, cujas
dimensões transversais são muito menores do que o comprimento do respectivo
eixo (AZEVEDO, 2003, p. 03).

2.4 MODELAÇÃO DA ESTRUTURA PARA ANÁLISE - LIGAÇÕES

Na modelação das ligações pode-se ter uma ligação rígida ou articulada, a


qual permite desprezar a influência da ligação na distribuição dos esforços que
atuam na estrutura, bem como as suas deformações globais.
30

As ligações numa estrutura podem classificar-se quanto à sua rigidez e


resistência. A classificação relativa à rigidez é relevante nas análises elásticas e
elasto-plásticas. Já a classificação relativa à resistência torna-se importante em
análises rigido-plásticas e elasto-plásticas (PAIVA, 2009, p. 18).
No que se refere à rigidez, uma ligação pode classificar-se como:

a) Articulada: onde existe a rotação relativa livre entre barras adjacentes num nó
e, por isso, não existe transmissão de momentos fletores;
b) Rígida: onde a rotação relativa entre barras adjacentes num nó está
totalmente impedida e, por isso, existe transmissão total de momentos
fletores;
c) Semi-rígida: onde a rotação relativa entre barras adjacentes num nó está
parcialmente impedida e, por isso, existe uma transmissão parcial de
momentos fletores.

Quanto à resistência, Paiva (2009, p. 19), cita a classificação de uma ligação


como:

a) Articulada: onde o momento fletor resistente da ligação é nulo e, por isso,


sempre inferior ao momento fletor resistente das barras a serem ligadas;
b) De resistência total: neste caso, o momento fletor resistente da ligação nunca
é inferior ao momento fletor resistente das barras a ligar.

2.5 ESCOLHA DO MÉTODO DE ANÁLISE

A análise elástica linear (1ª ordem) constitui o tipo de análise mais simples,
visto que adota as hipóteses da linearidade física e linearidade geométrica. A
relação entre carga e deslocamento é sempre linear.
Este tipo de análise permite obter uma estimativa simples dos esforços
resultantes da aplicação das forças em cada barra da estrutura.
A precisão dos resultados obtidos através da análise elástica de 1ª ordem
diminui com o aumento de carga (aumentam os efeitos não lineares) e torna-se mais
31

penalizador em estruturas com pouca restrição a deslocamentos laterais (locais ou


globais). Significa que este tipo de análise não deve ser utilizado isoladamente, no
dimensionamento de estruturas aos estados limites últimos, caracterizados por
esforços elevados e elevadas deformações, nos quais os efeitos não lineares
adquirem importância extrema. Para esses níveis de esforço, não é aceitável
desprezar a cedência do material nem os deslocamentos sofridos pelos pórticos. No
entanto, para certas verificações aos estados limites de serviço (carregamentos
típicos de baixo valor) os resultados obtidos por este tipo de análise são bastante
aceitáveis.
De forma a aproveitar estas propriedades e aumentar a precisão dos
resultados, é frequente aliar os resultados de uma análise elástica de 1ª ordem com
metodologias aproximadas que, de alguma forma, tenham em conta os efeitos não
lineares.

2.6 CÁLCULO DOS ESFORÇOS DE DIMENSIONAMENTO -


CARREGAMENTOS

Os carregamentos são descritos e regidos pela NBR 6120 – Cargas para o


Cálculo de Estruturas de Edificações (ABNT, 1980) onde estabelece as condições
exigíveis para determinação dos valores das cargas que devem ser consideradas no
projeto de estrutura de edificações, qualquer que seja sua classe e destino, salvo os
casos previstos em normas especiais.

2.6.1 Carregamentos Verticais

Segundo a norma brasileira NBR 6120:1980 (ABNT, p. 01) os carregamentos


verticais podem ser divididos em carregamentos permanentes e carregamentos
acidentais.
A carga permanente é constituída pelo peso próprio da estrutura e pelo peso
de todos os elementos construtivos fixos e instalações permanentes (NBR 6120,
1980, p. 01).
32

Já a carga acidental é toda aquela que pode atuar sobre a estrutura de


edificações em função do seu uso como, pessoas, móveis, materiais diversos,
veículos e etc. (NBR 6120, 1980, p. 01).

2.6.2 Carregamento Horizontal - NBR 6123:1988 – Forças devida ao vento em


edificações

A ação do vento é decorrente da interação entre o ar em movimento e as


construções, exercendo-se sob a forma de pressões aplicadas nas suas superfícies.
O vento pode de maneira geral ser considerado como atuando na direção horizontal,
devendo admitir-se que pode ter qualquer rumo (PAIVA, 2009, p. 97).
De acordo com Chamberlian (201?, p. 01) “o vento não é um problema em
construções baixas e pesadas com paredes grossas, porém em estruturas esbeltas
passa a ser uma das ações mais importantes a determinar no projeto de estruturas”.
A maioria dos acidentes ocorre em construções leves, principalmente de grandes
vãos livres.
A norma brasileira NBR 6123:1988 estabelece as condições exigíveis no
atendimento das forças devidas à ação estática e dinâmica do vento, para efeito de
cálculo em edificações. Entretanto ela cita em seu item 1.2 que as diretrizes
apresentadas não se aplicam a edificações de formas, dimensões ou localização
fora do comum, casos estes em que estudos especiais devem ser levados em
consideração para a determinação das forças de vento atuantes e seus efeitos.
As principais causas dos acidentes, listadas por Chamberlian (201?, p. 01)
devidos ao vento são:

a) Falta de ancoragem de terças;


b) Contraventamento insuficiente de estruturas de cobertura;
c) Fundações inadequadas;
d) Paredes inadequadas;
e) Deformabilidade excessiva da edificação.
33

De acordo com Machado (2003, p. 15) as forças devidas ao vento, são por
natureza, dinâmicas. Porém, de acordo com a NBR 6123:1988 (ABNT, p. 33), a
velocidade média do vento conservar-se-á constante por um longo período de
tempo, produzindo efeitos que podem ser considerados estáticos nas estruturas,
enquanto a parcela decorrente das rajadas podem induzir o aparecimento de efeitos
de natureza dinâmica.
De acordo com Blesmann (1989) apud Deon (2013, p. 45) a referida norma
expõe três maneiras básicas para a determinação dos esforços decorrentes do
vento, sendo um deles de natureza estática e os demais de natureza pseudo
dinâmica. Porém, todas as maneiras expostas abordam o esforço produzido pelo
vento com sendo uma carga estática equivalente à ação real, que é de natureza
dinâmica.

2.6.2.1 Forças Estáticas Devidas ao Vento

O método de determinação das forças estáticas devidas ao vento é


determinado através da velocidade básica do vento, com a consideração de fatores
de ponderação que estão relacionados às características do local onde a estrutura
será implantada. E com isso determinar a velocidade característica do vento que
permite definir a pressão dinâmica (NBR 6123, 1988, p. 04).

A força devido ao vento depende da diferença de pressão nas faces opostas


da parte da edificação em estudo, denominados coeficientes aerodinâmicos
(CHAMBERLIAN, 201?, p. 05).
A NBR 6123:1988 (ABNT, p. 04) permite calcular as forças a partir de
coeficientes de pressão, forma e força. Os coeficientes de forma têm valores
definidos para diferentes tipos de construção nos quais foram obtidos através de
estudos experimentais em túneis de vento. A força devida ao vento através dos
coeficientes de forma pode ser expressa por:

F = (Cpe – Cpi) q A
34

Onde Cpe e Cpi são os coeficientes de pressão de acordo com as dimensões


geométricas da edificação, q é a pressão dinâmica e A a área frontal ou
perpendicular a atuação do vento. Valores positivos dos coeficientes de forma ou
pressão externo ou interno correspondem a sobrepressões, e valores negativos
correspondem a sucções (NBR 6123, 1988, p. 04).
Através do coeficiente de força é possível determinar a força global do vento
sobre uma edificação ou parte dela (Fg). E ao final, tem-se a força global na direção
do vento (Fa).

2.6.2.1.1 Velocidade Básica do Vento – Vk

Entende-se, de acordo com o prescrito na NBR 6123:1988 (ABNT, p. 05),


como velocidade básica do vento, a velocidade de uma rajada de 3 segundos,
excedida em média uma vez em 50 anos e medida a 10 metros acima do terreno,
em campo aberto e plano. Como regra geral, admite-se que o vento básico pode
soprar de qualquer direção horizontal.
Para a determinação da velocidade básica do vento, dispõe-se de um mapa
de isopletas para todo o Brasil, conforme Figura a seguir. As velocidades básicas
foram medidas em aproximadamente 49 cidades brasileiras, e se consideraram
velocidades com módulo acima de 30 m/s.

Figura 4 – Mapa das Isopletas – NBR 6123:1988

Fonte: NBR 6123 (1988)


35

Após a definição da região da obra a velocidade básica do vento deve ser


multiplicada por três fatores para a obtenção da velocidade característica do vento -
Vk:
Vk = q S1 S2 S3

Nessa expressão, S1 é o fator topográfico, que considera as variações do


relevo do terreno, S2 é o fator combinado, que considera as dimensões da
edificação e a altura sobre o terreno e S3 é o fator estatístico que considera o grau
de segurança requerido e a vida útil da estrutura.

2.6.2.1.2 Fator Topográfico – S1

A determinação do fator S1 leva em consideração três possíveis terrenos e


devem ser adotados os seguintes coeficientes:

a) Terreno plano ou fracamente acidentado: 1,0


b) Taludes e morros:
- Taludes e morros alongados nos quais pode ser admitido um fluxo de
ar bidimensional soprando no sentido indicado na Figura 5;
- No ponto A (morros) e nos pontos A e C (taludes): 1,0
- No ponto B: onde S1 é em função da altura média a partir da
superfície do terreno no ponto considerado (z);
c) Vales profundos e protegidos de ventos de qualquer direção: 0,9.
36

Figura 5 – Fator Topográfico – S1

Fonte: NBR 6123 (1988)

2.6.2.1.3 Rugosidade do Terreno, Dimensões da Edificação e Altura Sobre o


Terreno – S2

De acordo com a referida norma, este fator considera “o efeito combinado da


rugosidade do terreno, da variação da velocidade do vento com a altura acima do
terreno e das dimensões da edificação ou parte da edificação em consideração”.
Para fins de rugosidade, a NBR 6123:1988 (ABNT, p. 08) classifica os
terrenos em cinco categorias:

a) Categoria I: superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de 5 km de


extensão, medidos na direção do vento incidente. Enquadram-se nessa
categoria: mares calmos, lagos e rios e pântanos sem vegetação;
b) Categoria II: terrenos abertos em nível ou aproximadamente em nível, com
poucos obstáculos isolados, tais como árvores e edificações baixas.
Enquadram nessa categoria: zonas costeiras planas, pântanos com
37

vegetação rala, campos de aviação, pradarias e charnecas e fazendas sem


sebes ou muros. A cota média do topo dos obstáculos é considerada inferior
a 1,0 m;
c) Categoria III: terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como sebes
e muros, poucos quebra-ventos de árvores, edificações baixas e esparsas.
Enquadram nessa categoria: granjas e casas de campo, com exceção das
partes de mato, fazendas com sebes e muros, subúrbios a considerável
distância do centro e com casas baixas e esparsas. A cota média do topo dos
obstáculos é considerada igual a 3,0 m;
d) Categoria IV: terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco
espaçados, localizados em zona de florestal, industrial ou urbanizada.
Enquadram nessa categoria: zonas de parques e bosques com muitas
árvores, cidades pequenas e seus arredores, subúrbios densamente
construídos de grandes cidades e áreas industriais plena ou parcialmente
desenvolvidas. A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual a
10,0 m;
e) Categoria V: terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes, altos e
pouco espaçados. Enquadram nessa categoria: florestas com árvores altas,
de copas isoladas, centros de grandes cidades e complexos industriais bem
desenvolvidos. A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual ou
superior a 25,0 m.

Faz-se necessário considerar na determinação das ações do vento, para a


definição das partes da edificação, as características construtivas ou estruturais que
originem pouca ou nenhuma continuidade estrutural ao longo da edificação.
No que se referem às dimensões das edificações, a NBR 6123:1988 (ABNT,
p. 09) as classifica em três classes, com intervalo de tempo para o cálculo das
velocidades médias de 3, 5 e 10 segundos respectivamente:

a) CLASSE A: todas as unidades de vedação, seus


elementos de fixação e peças individuais de
estruturas sem vedação. Toda edificação na qual
a maior dimensão horizontal ou vertical não
exceda 20 m;
b) CLASSE B: toda edificação ou parte de edificação
para a qual a maior dimensão horizontal ou
38

vertical da superfície frontal esteja entre 20 e 50


m;
c) CLASSE C: toda edificação ou parte de edificação
para a qual a maior dimensão horizontal ou
vertical da superfície frontal exceda 50 m.

Os valores de resumidos para as cinco categorias de rugosidade do terreno e


três classes de dimensões das edificações encontram-se na Tabela 2 da referida
norma e expressa a seguir:

Figura 6 – Fator S2

Fonte: NBR 6123 (1988)

2.6.2.1.4 Fator Estatístico – S3

Este fator é fundamentado em conceitos estatísticos, e considera o grau de


segurança requerido e a vida útil da edificação.
39

De acordo com o descrito no item 2.6.2.1.1 deste trabalho, a recorrência da


rajada de vento é em média 50 anos. “A probabilidade de que a velocidade Vo seja
igualada ou excedida neste período é de 63%” (NBR 6123, 1988, p. 10).
Este nível de probabilidade adotado é considerado adequado para edificações
normais destinadas a moradias, hotéis, escritórios, etc.
Na ausência de uma norma específica sobre segurança nas edificações, os
valores mínimos do fator S3 são os indicados na Tabela 3 da referida norma:

Tabela 1 – Valores mínimos do fator estatístico – S3

Fonte: NBR 6123 (1988)

A carga de vento sobre estruturas parcialmente executadas, descritas no item


4.1 da NBR 6123:1988 (ABNT, p. 04) depende do método e da sequência da
construção. É razoável admitir que a máxima velocidade característica do vento, não
ocorrerá durante um período pequeno de tempo. Assim sendo, a verificação da
segurança em uma estrutura parcialmente executada pode ser feita com uma
velocidade característica menor, descrito no item 5.4, Grupo 5 da Tabela 3 da
referida norma.
40

2.6.2.1.5 Coeficiente de Arrasto e Força de Arrasto

Em edificações altas a consideração do vento recebe um tratamento dentro


da análise global. Em que a superposição de efeitos externos (forma) com efeitos
internos (aberturas) é obtida por meio de um comportamento global da edificação, e
pode ser representado por um único coeficiente, o coeficiente de arrasto
(GONÇALVES, 2007 apud DEON, 2013, p. 52).
A força de arrasto, segundo a NBR 6123:1988 (ABNT, p. 05 e 19), pode ser
obtida pela soma vetorial das forças de arrasto que atuam sobre a edificação. De
acordo com a referida norma a força de arrasto pode ser calculada pela expressão:

Fa = Ca q Ae

Nessa equação temos, Ca como coeficiente de arrasto, Ae a área efetiva e q


a pressão dinâmica. A pressão dinâmica é obtida pela expressão em N/m²:

q = 0,613. Vk²

O item 6.3.1 da referida norma, ressalva o valor do coeficiente de arrasto para


o vento incidindo perpendicularmente a cada uma das fachadas de uma edificação
retangular em planta e assente no terreno, levando-se em consideração as
condições de ventos de baixa ou alta turbulência.
De acordo com Deon (2013, p. 53) um vento de baixa turbulência “é
caracterizado por possuir ausência de obstruções em seu trajeto, o que o faz possuir
força global superior a ventos de alta turbulência”. Os ventos de alta turbulência, por
sua vez, apresentam obstáculos em seu trajeto, que o fazem perder força.
Conforme a NBR 6123:1988 (ABNT, p. 19) um edifício pode ser considerado
em zona de alta turbulência quando a sua altura não ultrapassa o dobro da altura
média das edificações que o circundam. Caso contrário, deve ser considerado como
localizado em zona de baixa turbulência.
Para corpos de seção constante e eixo vertical assente no terreno devem-se
utilizar os dados na Tabela 10 da referida normativa e Tabela 2 deste trabalho.
41

Neste caso, a relação h/I1 dependem do comprimento do corpo e a dimensão de


referência I1, e, em diversos casos, do número de Reynolds, expresso por:

Re = 70000 VkI1 (Vk em m/s; I1 em m)

Embora a Tabela 10 da referida norma se refira a corpos fechados, pode-se


aplicar também aos corpos com um extremo aberto desde que a relação h/I1 seja
superior a 8 (NBR 6123, 1988, p. 19), assim ilustrada pela Figura abaixo:

Figura 7 - Coeficiente de arrasto para corpos de seção constante


42

Fonte: NBR 6123 (1988)


43

Para a definição de h, em seu item 6.3.4 (ABNT, p. 19) tem-se:

Se o vento puder passar livremente pelos dois


extremos do corpo, o valor de h a considerar para
o cálculo da relação h/I1 deve ser a metade do
comprimento do corpo. Se o corpo estiver
confinado em ambos os extremos por superfícies
suficientemente extensas relativamente à seção
transversal do corpo, a relação h/I1 é considerada
infinita. Se o confinamento nas condições
anteriores existir em apenas uma extremidade, o
valor de h a considerar para o cálculo da relação
h/I1 deve ser o comprimento real do corpo.

Para edificações paralelepípedas em ventos de baixa turbulência e alta


turbulência os coeficientes de arrasto podem ser obtidos nas Figuras 4 e 5 da
referida normativa.

2.6.3 Carregamento de construção

De acordo com a NBR 8681 (ABNT, 2003, p. 04) em seu item 4.3.2.4
estabelece que este carregamento seja considerado apenas nas estruturas em que
haja risco de ocorrência de estados limites, durante a fase de construção. “Devem
ser consideradas tantas combinações de ações quantas sejam necessárias para
verificação das condições de segurança em relação a todos os estados limites que
são de se temer durante a fase de construção”.

2.6.4 Carregamento das Ações da Variação de Temperatura

Em caso de temperaturas elevadas decorrentes do operacional do


equipamento, a NBR 8800 – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de
aço e concreto de edifícios (ABNT, 2008, p. 98) recomenda-se ser realizado o
dimensionamento da estrutura pela NBR 14323 - Dimensionamento de estruturas de
aço e de estruturas mistas aço-concreto de edifícios em situação de incêndio (ABNT,
2003).
44

De acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008, p. 16-19) as variações uniformes


de temperatura são ocasionadas pela variação da temperatura da atmosfera e pela
insolação direta. Correspondem também, às variações anuais da temperatura
ambiente que, por se processarem com lentidão, conduzem sucessivamente a
estados térmicos que se podem supor uniformes em todos os elementos da
estrutura.
Entretanto, como a estrutura em questão compõe-se de perfis formados a frio,
pode-se utilizar do coeficiente de ponderação desta ação pela NBR 14762 (ABNT,
2003, p. 10), que por sua vez, correspondem aos mesmos valores descritos na NBR
8681 (ABNT, 2003, p. 08), descritos no próximo subitem.
Neste trabalho apenas se representou variações uniformes de temperatura no
seu dimensionamento, visto que o camisamento não entra em contato com a
temperatura da torre de secagem.

2.7 COMBINAÇÃO DAS AÇÕES

No item 4.3.1.2, da NBR 8681 (ABNT, 2003, p. 05) em cada tipo de


carregamento as ações devem ser combinadas de diferentes maneiras, a fim de que
possam ser determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura. Devem ser
estabelecidas tantas combinações de ações quantas forem necessárias para que a
segurança seja verificada em relação a todos os possíveis estados limites da
estrutura.
As ações permanentes são consideradas em sua totalidade. Das ações
variáveis, são consideradas apenas as parcelas que produzem efeitos desfavoráveis
para a segurança (NBR 8681, 2003, p. 06).
As ações incluídas em cada uma destas combinações devem ser
consideradas com seus valores representativos, multiplicados pelos respectivos
coeficientes de ponderação das ações.
45

2.7.1 Ações Permanentes

As ações permanentes que provocam efeitos desfavoráveis são majoradas


pelos coeficientes de ponderação e minoradas os valores representativos daquelas
que provocam efeitos favoráveis para a segurança da estrutura. Sendo todas as
parcelas desta ação ponderadas pelo mesmo coeficiente, não se admitindo que
algumas de suas partes possam ser majoradas e outras minoradas (NBR 8681,
2003, p. 08).
Na Tabela 2 da referida norma é fornecido o valor do coeficiente de
ponderação a considerar se, numa combinação compreender todas as cargas
permanentes:

Tabela 2 – Ações permanentes diretas agrupadas

Fonte: NBR 8681 (2003)

2.7.2 Ações Variáveis

De acordo com a NBR 8681 (ABNT, 2003, p. 10) a majoração e minoração


das ações variáveis possuem a seguinte determinação:

...os coeficientes de ponderação das ações


variáveis majoram os valores representativos das
ações variáveis que provocam efeitos desfavoráveis
para a segurança da estrutura. As ações favoráveis
46

que provocam efeitos favoráveis não são consideradas


nas combinações de ações, admitindo-se que sobre a
estrutura atuem apenas as parcelas de ações variáveis
que produzam efeitos desfavoráveis. As ações
variáveis que tenham parcelas favoráveis e
desfavoráveis, que fisicamente não possam atuar
separadamente, devem ser consideradas
conjuntamente como uma ação única.

Os coeficientes de ponderação relativos às ações variáveis que figuram nas


combinações últimas, consideradas separadamente, salvo indicação em contrário,
estão descritos na Tabela 3 da referida norma.

Tabela 3 – Ações variáveis consideradas separadamente

Fonte: NBR 8681 (2003)

2.8 VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA

Segundo Flôr e Amaral (2013, p. 84), dimensionar uma estrutura requer


identificar todos os maneiras de colapso ou atitudes pela qual a estrutura poderia
atingir algum dos estados limites, para que se determinem níveis aceitáveis de
segurança contra essas ocorrências.
Os estados limites últimos (ELU) estão relacionados com a segurança da
estrutura, junto à resistência das peças às solicitações. Os estados limites de serviço
47

(ELS) se relacionam ao desempenho da estrutura sob as condições normais de


serviço (NBR 8681, 2003 p. 02).
De acordo com a NBR 8681:2003 (ABNT, p. 02) no período de vida da
estrutura usualmente é considerado os estados limites de serviço.
A segurança das estruturas deve ser verificada em relação a todos os
possíveis estados que são admitidos como limites para a estrutura considerada
(NBR 8681, 2003, p. 15).
As verificações de segurança devem respeitar às condições analíticas e às
condições construtivas.
Na verificação das condições analíticas, de acordo com as regras
estabelecidas pela NBR 8681:2003 (ABNT, p. 15) “verificam-se a segurança por
meio da comparação dos valores que certos parâmetros tomam na análise
estrutural, quando na estrutura atuam as ações a que ela está sujeita, quantificada e
combinada”.
Na verificação das condições construtivas “verificam-se as condições de
segurança em relação aos possíveis estados limites pelo atendimento das
exigências construtivas incluídas nas diversas normas referentes às estruturas feitas
com os materiais de construção considerados” (NBR 8681, 2003, p. 15).

2.9 CONSIDERAÇÃO DAS IMPERFEIÇÕES

A NBR 14762:2001 (ABNT) não cita a relevância das imperfeições nas


estruturas formadas por perfis a frio. Porém, a de se considerar no dimensionamento
da estrutura através da NBR 8800:2008 (ABNT, p. 28) na determinação dos esforços
solicitantes para os estados limites últimos.
No item 4.9.7.1 relata as considerações para estruturas de média
deslocabilidade, onde os efeitos das imperfeições iniciais do material devem ser
considerados na análise reduzindo à rigidez a flexão e a rigidez axial das barras
para 80% dos valores originais. Neste caso, os esforços solicitantes devem ser
obtidos considerando os efeitos globais e locais de segunda ordem. Ao aplicar este
método os coeficientes β1 e β2 devem ser considerados como descrito neste
parágrafo.
48

Para o caso de estruturas de grande deslocabilidade, item 4.9.7.2 da referida


norma, ressalva a importância de uma análise rigorosa, levando em consideração a
não linearidade geométrica e de material. No entanto, sugere a possibilidade de o
projetista adotar o mesmo procedimento utilizado no item 4.9.7.1 para as estruturas
de média deslocabilidade. Contudo, deve-se considerar que os efeitos das
imperfeições geométricas iniciais sejam adicionados as combinações últimas das
ações em que atuem as ações variáveis devidas ao vento.
49

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Com base nos objetivos, pode-se destacar que o trabalho envolve uma
pesquisa exploratória. A Pesquisa exploratória define objetivos para a pesquisa e
busca mais informações sobre determinados assuntos. Realiza descrições da
situação e pretende descobrir as relações existentes entre a pesquisa bibliográfica e
os elementos disponíveis para a elaboração do projeto.
O levantamento bibliográfico procura explicar os procedimentos para o
dimensionamento do camisamento do secador através da análise por elementos
finitos e a caracterização do aço utilizado de acordo com as normas regentes do aço
estrutural utilizado. Traz também fatores a serem considerados durante o processo
de montagem e a concepção do projeto final ideal a partir de referências teóricas
encontradas;
Com base nos procedimentos metodológicos, optou-se pelo estudo de
campo, pois utiliza muito mais as técnicas de observação. No estudo de campo
realizou-se a maior parte do trabalho pessoalmente enfatizando a experiência direta
com a situação de estudo. No estudo de campo, há uma imersão na realidade do
objeto de estudo para entendê-lo.

3.1 REVISÃO DE LITERATURA

A pesquisa tem como relevância contribuir com a concepção definitiva do


projeto dos secadores da Comil Silos e Secadores Ltda através do estudo de campo
especifico para que sejam obtidos os elementos necessários para a implantação
correta e definitiva na empresa, bem como, aumentar o conhecimento da área em
questão, para que possibilite futuramente outros projetos semelhantes em busca do
melhor projeto técnico funcional.
A partir da metodologia a ser seguida, compõe-se um trabalho específico e
direcionado em forma de estudo de campo, para isso propõe-se os parâmetros
abaixo:
50

a) Revisão bibliográfica, que possibilite o entendimento da problemática do


equipamento e da temática escolhida, disponibilidade de fabricação e de
fornecimento do aço, funcionamento dos equipamentos necessários ao
projeto, e de que forma o sistema é projetado, viabilizado e implantado;
b) Estudos de normas e leis de âmbito que possibilitem a compreensão da
elaboração do sistema completo de acordo com a legalidade;
c) Realização de análises documentais, levantamentos in loco, e
reconhecimento da área a ser analisada.

A coleta de informações referente à base de dados para o desenvolvimento


do trabalho propõe-se a estrutura segundo a Tabela 4:

Tabela 4 – Procedimentos metodológicos

LEVANTAMENTO ESPÉCIE FONTE A CONSULTAR

Relevo e vegetação
Cartográfico Levantamento in loco da área

Histórico de fatos semelhantes na Comil Silos e Secadores,


Documental
empresa e nas demais internet

Revisão Livros, Normas, Estudos de Caso e ABNT, AWS, ASTM, Eurocode


Bibliográfica materiais pertinentes ao assunto e bibliotecas

Fotografias Dependências da obra In loco

Análise de outros equipamentos com Setor de Engenharia Comil Silos


Diversos
a mesma concepção estrutural e Secadores Ltda
Fonte: a autora

3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS

Devido à ocorrência do sinistro localizar-se no Norte do Paraná o


levantamento de dados fotográficos foi possível logo após o sinistro. Já o
levantamento de dados do projeto se deu nos arquivos do sistema da empresa
Comil Silos e Secadores Ltda.
51

3.3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

Paralelamente a obtenção das informações da etapa antecedente procedeu-


se uma análise dos conceitos apresentados nos materiais pesquisados,
confrontando-as a fim de compor a teoria apresentada neste relatório.
Nesta etapa identificaram-se o conceito do projeto estrutural atual a fim de
assegurar-se da análise correta. Analisaram-se os principais fatores que levaram ao
colapso estrutural do sinistro no período da montagem do equipamento.
Com a análise de ambas as situações se fazem possível à elaboração de um
novo projeto capaz de garantir todas as variáveis durante a montagem e o
funcionamento do equipamento ao longo de sua vida útil.

3.4 ELABORAÇÃO DO PROJETO

De posse dos dados obtidos nas etapas anteriores procedeu-se a elaboração


da adequação do projeto estrutural, implantando o sistema completo para a fase de
montagem e funcionamento do equipamento.
Elaboraram-se também os detalhes construtivos necessários para melhor
entendimento do comportamento do sistema estrutural.

3.5 FINALIZAÇÃO DO RELATÓRIO E PROJETO

Por fim de posse de todos os documentos, informações e fotos obtidas nas


etapas anteriores procederam-se à montagem e diagramação deste relatório que é
parte complementar do projeto estrutural, objeto principal deste trabalho.
52

4 MEMORIAL DESCRITIVO: CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO E ÁREA DO ESTUDO

4.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

As principais partes que compõem a estrutura de um secador de grãos o qual


é o objeto de estudo desta monografia apresentam-se na Figura a seguir:

Figura 8 – Principais componentes de um secador

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

Na continuação se descrevem os itens identificados na Figura acima de


acordo com as informações disponibilizadas pela Comil Silos e Secadores Ltda.
53

4.1.1 Torre de secagem

É constituída de painéis e calhas dispostos em forma de coluna, por onde


escoam os grãos recebendo o ar de secagem e consequentemente perdendo
água, ou seja, onde se processa a secagem. Pode ser utilizada toda para
secagem ou 2/3 para secagem e 1/3 inferior para resfriamento. Na torre de
secagem está instalado o sistema de termometria, que monitora as temperaturas
de secagem, bem como escadas e plataformas para limpeza e manutenção.

Figura 9 – Torre de Secagem

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda


54

4.1.2 Funil de descarga

Está localizado na parte superior do secador, e possui capacidade


volumétrica e forma construtiva suficientes para suprir a diferença de volume dos
grãos com a redução da umidade na torre durante o processo de secagem, servindo
também de câmara de homogeneização na secagem intermitente. Tem como
função, receber o produto e distribuí-lo uniformemente na torre de secagem,
evitando que o ar quente proveniente da fornalha passe diretamente pelos dutos,
prejudicando o processo de secagem e causando riscos de incêndio. Possui
também plataformas para manutenção, escadas e tampas de inspeção que
permitem fácil acesso a sua parte interna.

4.1.3 Descarga

Consiste em um sistema composto por quadro de bandejas em chapa de aço


galvanizado que em movimento oscilante horizontal deslocam-se até a coluna de
grãos, carregando-se de um volume específico e em seguida descarregando-o para
o funil inferior. Este movimento é produzido por um braço motorizado e se repete
com certa frequência, proporcionando um descarregamento contínuo e muito
uniforme, independente das impurezas que possam estar misturadas aos grãos.
Esta descarga assim como o funil inferior é modulada, dotada de tampas de
inspeção e dispositivos que permitem melhor acesso para manutenção e limpeza do
equipamento.
55

Figura 10 - Descarga dosadora volumétrica

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

4.1.4 Camisamento

É o fechamento externo do secador, composto por painéis em chapa


galvanizada, produzidas de forma estrutural por onde circulam o ar de secagem e
resfriamento. Possui divisórias internas que possibilitam o duplo aproveitamento do
ar de secagem.
56

Figura 11 – Camisamento do secador

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

4.1.5 Ventiladores

Ventiladores axiais instalados na parte frontal do secador propiciam uma


velocidade uniforme, proporcionando um fluxo de ar homogêneo em toda a massa
de grãos que passa pela torre de secagem.
57

4.1.6 Elementos Estruturais do Camisamento

Os principais elementos estruturais do camisamento do secador estão


descritos na Figura a seguir:

Figura 12 – Estrutura do camisamento em ambos os lados


Camisamento no lado da fornalha: Camisamento no lado oposto da fornalha:

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

Onde:

a) Elementos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 - Painel constituído por chapas


onduladas galvanizadas 0,95mm ZAR 345 regidos pela NBR 7008 (ABNT,
2003), conforme representado no item 5.11.1.
b) Elemento 11, 12, 13 e 14 – perfis de aço galvanizado 1,55mm ZAR 345
regidos pela NBR 7008 (ABNT, 2003).
58

c) Elemento 16 – porta de acesso em chapa galvanizada 1,55mm ZAR 345


regidos pela NBR 7008 (ABNT, 2003).
d) Elemento 17 e 18 – vedação inferior da estrutura em chapa galvanizada
1,55mm ZAR 345 regidos pela NBR 7008 (ABNT, 2003) com limite de
escoamento de 345 MPa.

Nas uniões das chapas galvanizadas do corpo do camisamento é


utilizada massa de calafetar para garantir a estanqueidade do sistema.

4.1.6.1 Chapas onduladas do corpo

Estas chapas são constituídas pelo aço galvanizado ZAR 345:

Figura 13 – Chapas onduladas do camisamento

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda


59

4.1.6.2 Colunas de sustentação da estrutura

As colunas de sustentação da estrutura estão dispostas a cada 1859 mm.


São constituídas por um perfil que acompanha a ondulação da chapa do corpo
seguido por um perfil U.

Figura 14 – Coluna de sustentação da estrutura de camisamento

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

4.1.6.3 Anéis de vento e tirantes de travamento entre torre e camisamento

A distância entre os anéis de vento na direção vertical é de 914 mm e


dispostos conforme a Figura abaixo.
60

Figura 15 – Travamento do camisamento

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda

Figura 16 – Detalhes do travamento no camisamento

Fonte: Comil Silos e Secadores Ltda.


61

Onde:

a) Elementos 1, 2, 3 e 4 – tubo de diâmetro 32 mm com paredes de espessura


0,95 mm regidos pela NBR 6591 (ABNT, 1981).
b) Elemento 5 – abraçadeira galvanizada.
c) Elemento 6, 7 e 8 – suporte para travamento do tirante na estrutura da torre
em chapa galvanizada 3,00 mm ZAR345.
d) Elemento 9 – longarina de travamento em chapa galvanizada 2,70 mm
ZAR345.
e) Elemento 10 e 11 – reforço do montante base em chapa galvanizada 2,70 mm
ZAR345.
f) Elemento 12, 13, 14, 15 e 16 – coluna de sustentação do camisamento em
chapa galvanizada 1,95 mm ZAR345.
g) Elemento 17, 18 e 19 – tala de união das colunas de sustentação em chapa
galvanizada 1,95 mm ZAR345.
h) Elemento 26 – chumbador de fixação entre coluna de sustentação e base civil
de ½ X 2,34”.

4.2 DESCRIÇÃO DA ÁREA DO SINISTRO

O camisamento do secador em questão localiza-se na cidade de Rio Bonito


do Iguaçu – PR, e apresenta danos estruturais no equipamento modelo CM 150DR
COL da Comil Silos e Secadores Ltda.
Em vistoria no local da obra (Fotografia 1), verificou-se as seguintes
considerações:

I. Danos estruturais com efeito global em todo o camisamento do secador;


II. Deformação nos montantes internos do camisamento;
III. Deformação nos tirantes de suporte do camisamento.
62

Fotografia 1 – Vistoria técnica no local da obra

Fonte: a autora

O camisamento deste secador sofreu deformações após uma rajada de vento


de aproximadamente 120 Km/h, valores estes registrados pelas estações
meteorológicas próximas ao local do sinistro. Estas deformações implicaram no
sistema estrutural, conforme pode ser visualizado nas Fotografias a seguir:

Fotografia 2 – Deformação dos anéis de vento Fotografia 3 – Ruptura dos tirantes

Fonte: a autora Fonte: a autora


63

Fotografia 4 – Deslocamento dos montantes base Fotografia 5 – Deformação da porta

Fonte: a autora
Fonte: a autora

Este estudo de caso busca reestruturar todo o sistema do camisamento do


secador, analisando:

I. O dimensionamento do projeto de engenharia para verificar se a estrutura


atende as solicitações de cálculo e;
II. A concepção de montagem para verificar se a mesma atende os parâmetros
de projeto durante a montagem.
64

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 ANÁLISE ESTRUTURAL DO PROJETO ORIGINAL

O projeto atual do camisamento do secador atende as solicitações de cálculo,


assim como as cargas, combinações e segurança estão coerentes. No entanto, o
fator montagem não foi considerado para o projeto em questão o que culminou
acidentalmente aos danos estruturais apresentados neste estudo de caso.

5.1.1 Modelação da Estrutura

A modelação desta estrutura se deu pelo auxílio do software STRAP onde


considerou os perfis em suas dimensões exequíveis pela fabrica e o fechamento
lateral do camisamento simulou-se através do método dos elementos finitos.
No entanto, ressalta-se que as chapas laterais de fechamento, como
demonstrada pela Figura 13, são de forma ondulada. A definição do tamanho e
detalhes das malhas do MEF torna o processo de cálculo pelo software muito
demorado quando muito detalhe de malhas. Vale ressaltar que o verdadeiro valor
está na confecção de um MEF mais próximo do real, porém, devido à dificuldade de
trabalhar com elementos grandiosamente detalhados (ondas das chapas), optou-se
pela análise das chapas planas.
Verifica-se pela Figura abaixo, que para o projeto atual considerou-se as
bases inferiores como já engastadas, o que de fato ocorre, assim que o
camisamento completar a sua montagem. Os apoios superiores (x1,x2) representam
a estrutura do teto e a plataforma que são apoiadas logo ao término do
camisamento. E os apoios laterais (simples) são referentes à ancoragem do
camisamento a estrutura da torre de secagem.
Os perfis utilizados e a espessura do camisamento não serão fornecidos, por
questões de sigilo empresarial.
65

Figura 17 – Modelagem do camisamento atual

5.1.2 Ações a Considerar: Peso Próprio e Vento

As ações consideradas para um camisamento de secador consistem


basicamente no peso próprio da estrutura e a carga advinda do vento.
Como a estrutura é composta por talas, emendas e parafusos, é utilizado um
fator de correção de 10% ao peso da estrutura para simbolizar o peso advindo
destes elementos de fixação. O carregamento do vento considerado foi de 97 kgf/m²
admitindo-o como uma carga global a estrutura.
Como as combinações se limitaram as ações de peso próprio e vento utilizou-
se um fator de segurança de 40%.
66

5.1.2.1 Análise de Estabilidade da Estrutura

Após o processamento desta estrutura com seus devidos carregamentos e


combinações é possível analisar o comportamento estrutural como um todo, onde:
- Os perfis utilizados apresentam resistências variantes de 15% a 52%,
ficando bem abaixo do seu limite (100%);

Figura 18 – Solicitações dos perfis – Projeto atual

- O comportamento do camisamento, este elaborado pelo MEF, apresentou


uma resistência máxima de 616 Kgf/cm² sendo que a resistência ao escoamento da
chapa lateral é de 3.516,82 Kgf/cm².
67

Figura 19 – Resistência das chapas laterais – Projeto atual

Quanto às deformações máximas, estas foram ocasionadas principalmente


pela ação do vento, onde se verifica através da Figura abaixo que o sentido da
deformação é o mesmo da rajada de vento simulada. Tem-se como valor absoluto a
deformação de 16,60 cm ocorrida nas regiões entre os perfis estruturais que dão
suporte ao camisamento e também localizado na região central do camisamento.
68

Figura 20 – Deformações máximas – Projeto atual

A análise geral para este projeto quanto às aplicações de cargas


combinações e modelagem no software simula a melhor condição real do que de
fato torna-se o projeto. As resistências dos perfis estruturais e chapas laterais
encontram-se dentro dos limites de resistência dos materiais utilizados para a
confecção dos mesmos. O que se salienta é a deformação das chapas laterais de
fechamento onde resultou para pontos críticos 16,60 cm, no entanto a base
engastada permaneceu sem deformação (1,30 cm).

5.2 ANÁLISE ESTRUTURAL DO PROJETO NA DATA DO SINISTRO

Conforme descrito no capitulo anterior no ia do sinistro as rajadas de vento


atingiram 120 km/h valores estes registrados pelas estações meteorológicas
próximas ao local do sinistro. O projeto atual é calculado para suportar esta carga
(97 kgf/m²).
69

No entanto, no dia do sinistro a montagem do equipamento estava sendo


realizado, com aproximadamente 95% da estrutura montada e fixada a torre de
secagem e a estrutura do teto.
Conforme demonstram as Fotografias do capítulo anterior, o engaste na base
não havia sido realizado. O único apoio entre o camisamento e a ancoragem era a
carga do seu peso próprio.

5.2.1 Modelação da Estrutura

A partir do projeto atual, modelou-se a estrutura para representá-la no


momento do sinistro. Retirando apenas os engastes e delimitando o apoio somente
ao seu peso próprio (x3), conforme Figura a seguir:

Figura 21 – Condições dos apoios – Situação do Sinistro


70

5.2.1.1 Análise de Estabilidade da Estrutura

Quanto à resistência dos mesmos perfis descritos pelo projeto atual, agora
somente com as restrições de apoio modificadas, temos um colapso na estrutura,
aonde perfis anteriormente com 52% chegaram a solicitar 268% (sendo os valores
maiores que 100% considerados inadequados). Verifica-se pela Figura a seguir, que
a tendência de problemas estruturais começa de baixo para cima o que de fato
ocorreu na obra.

Figura 22 – Resistências dos perfis – Situação de Sinistro

Pela Figura 23 se visualiza as solicitações com mais clareza, onde os perfis


de apoio a torre de secagem apresentaram solicitações acima de 100%, levando-os
a ruptura, e isto se comprova pela Fotografia ao lado.
71

Figura 23 – Solicitações dos perfis – Situação do Sinistro

Quando simulados apenas as restrições de peso próprio como sendo o apoio


de ancoragem da estrutura, o efeito do vento torna-se devastador. Os resultados
obtidos pelo software relatam com exatidão o corrido em obra, sendo possível
visualizá-los pelas Fotografias 1 a 4.
Na Figura 24 é possível visualizar que a deformação e o comportamento da
estrutura apresentada pelo software condizem com o ocorrido em obra. O que
reforça a necessidade de prever projetos estruturais atendendo todas as etapas de
concepção do mesmo.
72

Figura 24 – Deformações absolutas ao longo da estrutura – Situação do Sinistro

Na Fotografia 3 e Figura 25, identifica-se uma ranhura no piso, parte cedente


do camisamento na mesma direção do vento. A deformação apresentada no
software demonstrou 26,90 cm na região central da estrutura e, assim pode-se
analisar a distância percorrida pela estrutura através da marca de ranhura ocorrida
no piso, o que condiz possivelmente com a deformação proposta pelo cálculo.
73

Figura 25 – Movimentação da estrutura de base – Situação do Sinistro

5.3 REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO

A reestruturação do projeto partiu da necessidade de solucionar os problemas


ocorridos com secadores de grãos a partir do ocorrido no sinistro. Assim também,
como revisão das demais estruturas produzidas pela empresa.
A nova concepção buscou trabalhar com duas situações: equipamento em
período de montagem e equipamento em funcionamento.
74

5.3.1 Modelação da Estrutura

A modelação da estrutura ocorreu em duas etapas, ou seja, dois arquivos


com as mesmas características de desenho, perfis, cargas e combinações com a
diferença apenas nas condições de apoio.
O processo se tornou interativo, visto que a necessidade de atender as duas
situações em um único projeto requisitou várias simulações de perfis ao longo das
tentativas, até resultar em um projeto que pudesse atender ambas as situações.
Contudo, ao finalizar o projeto adequado, averiguou-se que a reestruturação tornou-
se inviável do ponto de vista econômico. O peso da estrutura dobrou e em
consequência o seu preço, assim como, a nova concepção estrutural exigiu novos
desenhos e processos de dobra diferentes para as chapas de fechamento lateral,
nas quais hoje, trabalha-se apenas com um modelo para facilitar a produção e o
escoamento de peças.

5.3.2 Solução para montagem

A partir da inviabilidade do projeto de reestruturação buscou-se uma


alternativa para solucionar eventuais problemas como o deste ocorrido. Inicialmente
concluímos a adequabilidade e eficiência do projeto atual nas suas condições de
funcionamento e partimos então para a solução da montagem.
Tendo em vista que a única diferença entre ambos os projetos foram: às
condições de apoio do equipamento em funcionamento (engastado: X1, X2 e X3) e a
condição de montagem (apoiado somente em x3: peso próprio), assim direcionando
o foco da solução na etapa de montagem.
A solução adotada foi à execução de nichos de concreto com barra de
ancoragem e chumbadores de diâmetro 24 mm em cada coluna vertical
(representadas pelos apoios no projeto). Onde, a montagem de cada anel do
camisamento juntamente com seus perfis estruturais é fixada a base através dos
chumbadores e inclusive, utilizando a própria furação destes perfis para prender-se
no chumbador. Este procedimento garante a condição de engastamento para a
estrutura e também na situação de projeto calculada.
75

Figura 26 – Nicho de concreto como solução de montagem


76

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A elaboração do projeto atual deste estudo desconsiderou o fator montagem


no seu dimensionamento. E consequentemente com a velocidade do vento elevada
no momento do sinistro resultou em um colapso estrutural do equipamento.
A avaliação do projeto atual perante o seu dimensionamento, carregamento e
combinações atendeu todas as recomendações normativas. Assim como a definição
dos perfis atenderam as restrições de fabricação da empresa. Porém, não se
considerou a possibilidade de uma rajada de vento durante o período de montagem.
E nesta situação o equipamento só é apoiado pelo seu peso próprio, assim, não
considerando o engastamento conforme projeto.
Uma das soluções previstas foi o dimensionamento de uma estrutura
simplesmente apoiada, na qual resultou no dobro de peso da estrutura atual
inviabilizando o projeto de reestruturação. Para que de fato fosse viável todo o
processo de concepção do projeto até seu funcionamento, adotaram-se nichos de
concreto que durante a montagem serviram como engaste para a estrutura
atendendo as condições de cálculo simuladas no software STRAP. Uma solução
simples, econômica e eficaz!
A partir deste estudo de caso contata-se que o sucesso de uma estrutura
metálica começa primeiramente pela elaboração de um excelente projeto. No
entanto a concepção de projeto deve abranger todas as situações até o
funcionamento do equipamento e isso incluiu: projeto de cálculo, fabricação,
montagem e funcionamento.
O engenheiro calculista que atua no projeto de estruturas metálicas é o
responsável por analisar projetos e especificações técnicas para a produção das
estruturas e viabilizar o projeto para todas as situações que possam intervir no
dimensionamento da estrutura assim, como, utilizar o máximo possível das
propriedades mecânicas do aço adequando-o a fabricação e montagem.
Identificando as inconsistências em projetos e propor soluções para adequação dos
mesmos. Além disso, criar estratégias para a fabricação industrial que aperfeiçoem
os serviços de montagem em obra.
77

Recomenda-se verificar nas estruturas metálicas que sofram a incidência de


vento se as condições de montagem são as mesmas que descritas no projeto
estrutural de cálculo. Uma solução econômica e eficaz é prever que em todos os
momentos da montagem a estrutura esteja engastada por meio de nichos de
concreto e chumbadores, garantindo a rigidez necessária para receber a carga do
vento.
78

7 REFERÊNCIAS

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devido ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.

______. NBR 6120: Cargas para o cálculo de estruturas. Rio de Janeiro, 1980.

______. NBR 14762: Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis


formados a frio – Procedimento. Rio de Janeiro, 2010.

______. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e


concreto. Rio de Janeiro, 2008.

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