EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 23

formava monitores militares e já se preparava para orientar também as escolas de adultos e adolescentes,
além do Exército francês.
Por ocasião das comemorações do Centenário da Escola de Joinville-le-Pont, (1852-1952)
diversas solenidades foram realizadas, com a presença de altas autoridades francesas, inclusive o Inspetor
Geral de Esportes da França, Coronel Jacques Desroys du Roure, que disse, entre outras palavras, num
artigo publicado num dos Cadernos Técnicos do Instituto Nacional de Esportes do ano de 1952 (publi­
cação bimestral), o seguinte: Um dia, será necessário escrever a História da Educação Física no mundo. Os escri­
tores, então, salientarão a participação da Escola Normal de Ginástica e de Esgrima de ]oinville-le-Pont e
observarão que ela foi um dos estabelecimentos de ensino especializados do Século XIX e parte do Século XX. O
papel da Escola de ]oinville não foi somente sobre o plano histórico, mas também considerada um laboratório.
A Escola de ]oinville compreendeu o valor do esporte na Educação Física: esse foi seu grande mérito.

Escola Militar de ]oinville-le-Pont.

24 NESTOR SOARES PUBLIO

A Escola de ]oinville não foi somente, durante muito tempo, a primeira, mas a única entidade de
Educação Física e de Esgrima e um dos grandes laboratórios da França.
Durante a guerra (1939/45), toda a Escola foi ocupada pelos invasores e pilhada, os arquivos foram
queimados e o Camp de Saint-Mur convertido num imenso depósito de material. A Escola foi reconstruída, conti­
nuou sua caminhada até completar seus 100 anos de existência; todavia, todo seu trabalho, seus arquivos e
lembranças foram queimados pelos alemães, por ocasião da derrocada de 1940.
Praticamente, no dia em que a Escola de ]oinville comemorava seu centenário, comunicando de certa
forma o fim de suas atividades, surgia ali, em sua substituição, para dar continuidade ao seu trabalho, o Instituto
Nacional de Esportes.
Um artigo, publicado num dos Cadernos Técnicos de 1952, nos arquivos da Biblioteca do Insti­
tuto Nacional de Esportes de Paris, cita especificamente o Centenário da Escola e a inauguração do Insti­
tuto, fazendo menções ao legendário Ballet de Joinville, à Esgrima Ornamental da Escola Superior de
Esgrima, aos movimentos "quadrados" da Ginástica sueca da época, movimentos de Ginástica em
conjunto, Ginástica com bastão e o box-savat, todos introduzidos na Escola de Educação Física da, então,
Força Pública, hoje Polícia Militar de São Paulo, pelos integrantes da Missão Francesa que fundaram a
pioneira da Educação Física no Brasil.

Le fameux ballet de Joinville couronnait les exhibitions plastiques du cadre de l'Ecole.

Peut-être 1e reverrer-vous - ou le verres-vous- à 1'occasion des manifestations qui se dérouleront
à l'I.N.S. pour féter le Centenaire de l'Eco1e. (En décors de fond: la redoute de la Faisanderte).

O Bailado da Escola de ]oinville-le­

Pont.
Cahier Technique do INS nº 20 de
abril de 1952.

Segundo Barrull (1984), escrevendo sobre a Festa Federal Masculina de 1896, em Alger, na
França, publica a foto acima e diz que: os ginastas executavam, efetivamente, exercícios coreográficos, dos quais
o mais célebre, aquele que está ainda na memória, foi sem dúvida o Ballet executado pela Escola de ]oinville. Esse
Ballet foi executado em 1952, por ocasião da comemoração do centenário da Escola de Joinville (1852-
1952).

3. F. L. Jahn, o precursor da Ginástica Olímpica

Amsler (1952), la.nglade (1970), Steins (1978), Zwargz (1981) e Markwardt (1994) definem a
seguir o que foi a vida desse grande precursor da Ginástica:
Johann-Friedrich-Ludwig-Christoph-Jahn, o denominado Pai da Ginástica (Turnvater), filho de
um pastor protestante, nasceu em Lanz, nas cercanias de Lenzen, uma aldeia de Brandemburgo, próximo
de Elba, em Prignitz (Norte da República Democrática Alemã-RDA), em 11 de agosto de 1778, em um
momento em que a Prússia alcançava o seu apogeu.
Entre os seus quatro prenomes, ele resolveu adotar o de Friedrich.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 25

Mapa da Alemanha com identificação

das três cidades onde ]ahn viveu:
Lanz (Lensen), onde nasceu; Berlim, onde viveu;
e Freyburg (Unstrut), onde faleceu.

Em 1 796 inicia seus estudos de Teologia, em Halle, direcionando-se posteriormente para os

estudos de História e Lingüística. Nessa época começa também a trabalhar na obra "Costumes Alemães",
na qual se posiciona em relação à Ginástica patriótica, ressaltando a importância da resistência corporal.
No tempo da guerra de libertação contra Napoleão, essa obra serviu como um importantíssimo programa
para a educação nacional. Desde 1809 atuava como Professor auxiliar em Berlim, seguindo ao pé da letra o
que ele já havia escrito:

Caminhar, correr, saltar, lançar, sustentar-se, são exercícios que nada custam, que podem ser praticados
em toda parte, gratuito como o ar. Isso o Estado pode oferecer a todos: para os pobres, para a classe média e para os
ricos, tendo cada um sua necessidade.

Jahn encarregava-se da saída bissemanal dos alunos, que acontecia numa zona sem cultivo e
arborizada, chamada Hasenheide (Paradeiro das Lebres), onde se efetuavam batalhas simuladas. Em 19 de
junho de 1811, inaugura, na primavera, na floresta de Hasenheide perto de Berlim, o primeiro local para a
prática da Ginástica alemã ao ar livre.
Em 1813 ele participou da guerra, integrando o corpo de voluntários de Lutzow.
Sua participação na preparação e na execução da luta nacional de libertação contra o domínio
napoleônico, em 1813/1815, foi decisiva. Seguindo o seu "apelo", alunos universitários e ginastas se
engajaram na luta como voluntários. Porém, as grandes expectativas do povo alemão no Congresso de
Viena, depois da vitória sobre Napoleão, acabaram não se concretizando. A divisão em pequenos Estados
independentes foi mantida. Forma-se, então, principalmente entre os estudantes, um movimento de
oposição, visando à construção da unidade alemã. Friedrich Ludwig Jahn era um dos mais calorosos defen­
sores dessas idéias.
Assim como vários ginastas e instrutores, Jahn foi vítima da "perseguição demagógica", em 1819.
Foi acusado de conspiração como revolucionário de direita e de fazer propaganda subversiva à nação,
ficando detido por cinco anos.
Depois da libertação, Jahn chega a Freyburg em junho de 1825, procurando abrigo, já que a sua
permanência em Berlim tinha sido proibida, assim como em todas as cidades da Prússia onde houvesse
universidades ou colégios, para que não pudesse ter contato com estudantes. Por um curto período, morou
na pensão "Ao Urso Negro", depois com o mestre-costureiro Sachse, no Largo do Mercado.
26 NESTOR SOARES PUBLIO

Foto do atual Museu visitado pelo autor.

Foto da antiga casa de ]ahn, em

Freyburg, hoje Museu.
Das alte Freyburg, p. 14 7.

A quadriga que se encontra sobre a

Porta de Brandemburgo.
Foto cedida gentilmente pelo Prof.
José Carlos Eustáquio.
32 NESTOR SOARES PUBLIO

4. A batalha de Jena (1806)

Segundo Peyre (1888), Rodrigues (1913), Aubry (1936) e Savant (1974-1987), pode-se resumir a
Batalha de Jena da seguinte forma:
Depois de muitos problemas e tentativas para se evitar um confronto entre a França e a Prússia, o
Rei Frederico Guilherme III, convencido de que a guerra era inevitável, anunciou a seu povo a ruptura
com Napoleão e a declaração de guerra à França. Enviou, no dia 26 de setembro de 1806, um ultimatum a
Paris, exigindo a imediata retirada das tropas francesas do território prussiano. Esse ultimatum só foi
recebido por Napoleão no dia 7 de outubro, já em Bamberg, na Prússia. Os oficiais prussianos, embora
sem participar de campanhas há mais de dez anos, não acreditavam que os franceses tivessem condições de
enfrentá-los em campo aberto.
As tropas francesas, compostas de 200 mil homens, dos quais 40 mil cavalarianos, comandados
pessoalmente por Napoleão, iniciaram seu ataque no dia 8 de outubro e, à medida que avançavam, provo­
cavam o recuo das tropas prussianas (inferiorizadas numericamente, com um total de 160 mil homens)
que batiam em retirada, abandonando inclusive seus armamentos. Napoleão, todo confiante, entrou na
planície de Jena no dia 13 de outubro, tendo a batalha se desenrolado durante algumas horas do dia
seguinte, com verdadeiro massacre das tropas prussianas.
O Planejamento do emprego das tropas prussianas foi inadequado, e, quando o erro foi perce­
bido, já era tarde demais. Aconteceu grande confusão e desordem entre os prussianos. A desorganização
foi tão grande que a derrota se transformou em verdadeiro desastre.
A Corte de Berlim não previa uma possível derrota e, por isso, não tinha tomado nenhuma
precaução para prevenir as possíveis conseqüências de um fracasso.
O que deveria ser uma ofensiva prussiana transformou-se numa vergonhosa derrota.
No dia 27 de outubro de 1806, fez uma entrada triunfal em Berlim, pela Porta de Brandemburgo.
O velho edifício da Monarquia Prussiana desmoronou. O choque foi imenso. Os franceses
estavam em todos os lugares, ocupando as principais fortalezas, enquanto os censores franceses contro­
lavam a atividade intelectual.
Todos procuravam o remédio para o "desastre".
"Fichte", em seus "Discursos à Nação Alemã", em 1808, apela aos líderes para se voltar para a
educação e salvar a nação de suas misérias. O efeito desses discursos foi tremendo, fazendo surgir um
sentimento nacional intenso. A Alemanha tornou-se o centro da nação líder da prática e de idéias educa­
cionais. Essa publicação e seu resultado conduziram Jahn a escrever, em 1810, seu Die Deutsche

Napoleão em ]ena,
em 14 de outubro de 1806.
Pintura d'Horace Vernet.
Museu de Versailles.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 33

Batalha de ]ena.
Pintura de Ch. Thévenin.
Palácio de Grosbois.
Napoléon, 1936, p. 75.

Volkstum, criando, em seguida, sua ginástica com o objetivo de preparação da juventude prussiana para a
libertação.
A Prússia, mutilada em 1807, ressuscita em 1815. Vencido pelo patriotismo alemão.

5. A "Hasenheide"
Hasenheide tem um significativo histórico para o movimento de esportes.
Um estudante berlinense, Steins (1984), depois de muitas pesquisas e muito trabalho,
apresentou um relatório, que foi publicado pela Federação Alemã de Ginástica, em honra ao Dia da

Placa original em madeira.

Die Berliner Hasenheide, p. 54.
34 NESTOR SOARES PUBLIO

Placa atual com orientação sobre os pontos históricos. Jahn Eiche

Foto do autor, 1994. (Carvalho de ]ahn).
Foto do autor, 1994.

Ginástica de Berlim, festejando os 200 anos de F. L Jahn (1778-1978). Manfred Nippes, prefaciando
esse relatório, fornece diversos esclarecimentos sobre a Hasenheide, local arborizado, onde foram edifi­
cados os campos de ginástica (turnplatz) de Jahn. O nome Hasenheide veio do desejo do príncipe de
Bericht de cercar uma gleba de terra de 105 hectares para criação de coelhos e lebres (provavelmente,
para caça).
Atualmente, podemos fazer um pequeno passeio pelo Parque Público de Hasenheide e obter uma
série de informações. Logo na entrada do Parque havia uma placa de madeira, com desenho em alto relevo
do carvalho de Jahn e de uma paralela, esclarecendo, por escrito, que nas imediações foram feitos os
primeiros exercícios de Ginástica. No atual Volkspark Hasenheide, que foi feito de 1950 a 1954 e tem 6
hectares, quase a quarta parte do zoológico, aquela placa foi trocada por uma outra, com orientação sobre o
que pode ser visto em seu interior.
Começando um passeio na parte oeste do parque, passa-se no ]ahn Eiche (o carvalho de Jahn). A
história conta que nos galhos dessa árvore de 400 anos, tombada pelo governo alemão, foram feitos os
primeiros ensaios e treinos de Ginástica.
Por meio de carvalhos, castanheiras, prados etc., chega-se ao ]ahn-Denkmal (monumento de
Jahn), que antes estava a 80 metros mais ao norte. Foram feitas modificações, inclusive com o ginásio
fundado em 1934, porque foi ampliado o lugar em volta do busto do fundador. Hoje em dia, há crianças
que andam de patins nos lugares asfaltados e há, inclusive, muita vigilância policial com relação a certos
visitantes indesejáveis, principalmente os drogados. Mais adiante da estátua de Jahn, há grandes
gramados, muitas vezes freqüentados nos fins-de-semana por diversas famílias e visitantes de cidades
vizinhas. Em duas festas de Ginástica, realizadas em 1861, foram angariados fundos para o custeio da
estátua de Jahn, que foi inaugurada em 1O de agosto de 1872. A escultura foi feita pelo escultor Erdman
Enke e tem 4 metros de altura de bronze envelhecido pelo tempo.
Em 1936, quando de sua mudança de lugar, é que foram colocadas em evidência placas comemo­
rativas de todos os lugares do mundo, doadas por sociedades de Ginástica, chegadas ainda em 1872, na
data de sua inauguração.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 35

Primeira estátua de ]ahn.

Die Berliner Hasenheide, p. 51.

Entre essas placas dá-se ênfase a uma pedra que foi retirada do alto do Pão de Açúcar, no Rio de
Janeiro, por sete destemidos alemães, que o escalaram. A inscrição Deutscher Turnverein Rio de Janeiro
1962 (Sociedade Alemã de Ginástica do Rio de Janeiro) é a gravação constante na pedra.
Pesquisando, na Biblioteca do Arquivo Nacional no antigo Distrito Federal, Rio de Janeiro,
encontra-se, na caixa 530, no pacote 2, o documento 22, já amarelado e com letras manuscritas com tinta
preta nanquim, que se refere à fundação da Deutscher Turnverein Rio de Janeiro em 6/12/1861).
Continuando o passeio, encontram-se, mais adiante, lousas e placas em honra a dois colabora­
dores: Voight e Wagner. Chega-se, mais ao norte, a um pequeno zoológico. Em seguida, há um parque
infantil, com brinquedos e apetrechos infantis que convidam à ginástica. Mais a leste há um silêncio onde

Jahn Denkal = (Monumento atual).

Foto do autor 1994.
36 NESTOR SOARES PUBLIO

Pedra retirada do Pão de Açúcar.

Foto do autor, 1994.

plantas e grandes ánrores convidam ao descanso. Em seguida, passa-se pelo palco ao ar livre, onde há
apresentações no verão. Chega-se, então, a um longo declive que dá para um vale onde, no inverno, há
disputas de ski e, no verão, futebol e outros jogos. Os jovens alemães armaram tendas nesse local em 1966,
quando da comemoração dos 150 anos de fundação do Turnplatz, ocasião em que cantaram canções,
fizeram fogueiras etc. A leste, há uma escultura de ruínas (Trummerschutt), feita pelo escultor Rixdorfer
Hohe. Chega-se à plataforma superior, cuja subida leva de 15 a 20 minutos, de onde se tem uma visão
magnífica do centro de Berlim, com as torres de igreja, aeroporto e diversos prédios. Descendo da plata­
forma passa-se por um monumento em honra às mulheres que catavam destroços no tempo da guerra
(Trummerfrauen), chegando-se a um grande gramado, onde depois de algumas centenas de metros
reencontra-se, novamente, o canralho de Jahn, no mesmo ponto de partida.

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O autor ao lado da pedra incrustada

na base do monumento de ]ahn.
Foto do autor, 1994.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 37

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Volkspark

©
Hasenheide
Carta do Volkspark Hasenheide de
19 75. Die Berliner Hasenheide,
p.39. 1) Local do 1 2 campo (1811-
1812); 2) Local do 2 2 campo (1812-
1819-20); 3) Local do 3 2 campo
(1844-1934) e Monumento de ]ahn,
com a pedra retirada do Pão de Garnt$onfr1tdhof
Columb,ad,mrn
Açúcar; 4) Placa comemorativa de
Friesen; 5) Carvalho de ]ahn; 6)
Campo de Esporte da Sociedade de
Ginástica de Berlim; 7) Busto de
]ahn, no início da rua ]ahn com a
rua Hasenheide, numa das entradas
Xof
do atual Parque.

Na Hasenheide são festejadas, há mais de cem anos, todas as festas de Ginástica, demonstrações etc.
Três acontecimentos, na época do pós-guerra, foram principalmente festejados: a internacionalmente
conhecida festa dos 150 anos da fundação do campo de Ginástica, em 17 de junho de 1961; as Deutschen
Turnfestes, em homenagem aJahn, em 1968; e a inauguração do ]ugendlagers der 6 Gymnaestrada, em 197 5.
Em diversas obras escritas sobre a Ginástica em aparelhos, falou-se muito sobre o campo de
Ginástica na Hasenheide (Turnplatz), ficando-se com a impressão de que só existiu um campo de Ginástica
ao ar livre, mas na realidade existiram três deles:
Os três campos podem ser localizados num mapa da época, do parque público de Hasenheide.

O primeiro Turnplatz de 1811-1812

Esporadicamente, aparecem noticias a respeito do desenvolvimento da ginástica na Hasenheide.
Na Folha da Manhã (da Alemanha), de agosto de 1811, foi publicada a seguinte noticia:

Berlim, 18 de julho. Temos agora uma fotografia pequena de Jogos de Ginástica em frente ao portão
Hallischen Thore. Em conseqüência do esforço e do trabalho do Dr. ]ahn, a juventude de um ginásio local uniu­
se a ele e cercaram um local, onde, com aparelhos, jogam, correm, trepam, enfim, treinam tudo aquilo que dá
rapidez e leveza ao corpo. Isso acontece nas horas vagas sob supervisão do Professor, com roupas leves e, muitas
vezes, com espectadores.

Essa publicação no jornal foi a primeira informação oficial referente à Ginástica na Hasenheide,
chamando a atenção para a semelhança com os Jogos Olímpicos Olympischen Spiden, logicamente, referin­
do-se aos Jogos Olímpicos da antigüidade, já que os Jogos da era moderna seriam reiniciados somente em
1896.
38 NESTOR SOARES PUBLIO

O primeiro Turnplatz de
1811-1812.
Die Berliner Hasenheide, p. 40.

Já no verão de 1810 começaram, aos poucos, os treinos, num espaço doado pelo Senhor Herr V.
Schenck, mas para os exercícios mais trabalhados seriam necessários aparelhos, que não havia. Mais tarde,
os participantes aumentaram de 80 para 100, tendo Jahn dividido a turma em dois grupos. Com a chegada
do inverno, os trabalhos tinham que ser interrompidos, já que não havia local abrigado onde pudessem se
exercitar, nem local público que pudesse ser utilizado, em virtude da não aceitação, por parte das escolas,
em decorrência do domínio francês, que não via com bons olhos esse treinamento.
Jahn, em 1810, muitas vezes lanchava numa pequena casa de lanches de propriedade do guarda
florestal, dividindo seu lanche com os alunos menos afortunados. Como poderia o guarda florestal proibir
Jahn de utilizar as áreas para Ginástica, se com isso os fregueses aumentavam, fregueses esses que eram os
espectadores e que cresciam de número, dia a dia? O real dono do imóvel reformou-o e em pouco tempo
foi transformado num próspero restaurante, com música ao vivo.
Seu primeiro local de Ginástica foi erguido embaixo de grandes arbustos e cercado com grossos
troncos de pinheiro.
Devido ao inverno, Jahn edificou um anfiteatro de 1.600 lugares na Hasenheide, onde se assistia,
à noite, a exibições esportivas, à luz de fogueiras. Segundo relatório feito por Massmann (1859), havia
nesse campo um areião no qual se afundava até os tornozelos. Na época, Jahn colocava placas indicativas,
pensando não só nos alunos, mas já na possibilidade futura de contar com novos seguidores, adultos,
famílias etc.
Durre (1852) comentou que sempre aumentava o número de jovens em torno dele. Sua maneira
simples e natural de agir, como irmão mais velho frente aos jovens, tão contrário à maneira dos professores
da época, conquistava a todos. Quando esse local se tornou pequeno, sua primeira tarefa já estava
concluída: cativar a juventude.

O segundo Turnplatz, de 1812-1819/20

O campo anterior estava pequeno, perto dos cafés já construídos, portanto, foi feito um novo
campo, na parte oeste da Hasenheide. Bornemann disse, na época:
Neste princípio de verão está sendo doado um quadrado irregular da Hasenheide, de mais ou menos 225
metros de lado, para o novo campo de Ginástica. Cada jovem deverá contribuir com 14 groschen por ano. Os que
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 39

O segundo Turnplatz, de
1812-1819/20.
Die Berliner Hasenheide, p.43.

não tiverem condições de pagar e contribuir estarão isentos com seu bom comportamento e competência. Os apare­
lhos eram em parte semelhantes aos do campo anterior, apresentando algumas inovações.

O terceiro Turnplatz, de 1844-1934

Apesar das rígidas ordens de S. Majestade, depois de 1820, a Ginástica no campo foi praticada de
forma metódica, não oficial, ilegalmente. Brendicke (1908) escreve: ]ahn foi preso na noite de 13 para 14 de
julho de 1819 devido à participação em intrigas demagógicas, e foi enviado a Spandau e Kustrin, e, em 1820,
para Kolberg, deixando à juventude seu entusiasmo.
Na Páscoa de 1827, apesar das proibições, iniciaram-se os exercícios liderados por Wackernagal e
Lubeck, ameaçados, às vezes, com um bastão, pelo guarda florestal amigo de Jahn, mas ficava só na ameaça.
Aumentavam, dia-a-dia, os jovens no campo, apesar das proibições. Por ordem superior, de 6 de junho de
1842, foram liberadas todas as modalidades de Ginástica, tendo sido chamado a Berlim o correligionário de
Jahn H. F. Massmann, que já em 11 de agosto de 1843 inaugurava o novo campo de Ginástica.
O novo terreno teve de ser adaptado. Plantaram-se árvores, ergueram-se cercas, dando seus
limites com armações e aparelhos semelhantes aos antigos, devidamente localizados. O campo foi total-

O terceiro Turnplatz de 1844-1934.

Die Berliner Hasenheide, p. 44.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 41

Desenhos da capa do livro Die Deutsche

Tumkunst, de 1816. Biblioteca do autor.

Jahn e Eiselen (1816) citam em seu livro: É preciso que o jovem ginasta saiba que o seu dever mais
sagrado, e o maior, é converter-se em um alemão, e permanecê-lo sempre, para trabalhar com todas suas forças pelo
povo e para a Pátria e para assemelhar-se a seus antepassados, os libertadores do mundo.

Parte I - Exercícios de Ginástica

I. Caminhar. Esse título significava principalmente longas caminhadas pelo campo.
II. Correr. Corridas em linha reta, corridas de resistência, corridas sobre linhas formando várias
figuras e outras formas que são descritas, cujos valores são discutidos. A corrida de fundo era praticada em
grupo; a corrida de velocidade desenvolvia-se numa pista retilínea de 200 pés (aproximadamente, 60
metros); executavam-se também as corridas individuais, em ziguezague, lateralmente, de costas, subindo ou
descendo. Marcha nas pontas dos pés; saltitamentos; e saltos no mesmo lugar preparavam para o salto,
propriamente dito.

Desenhos da contra capa do livro Die

Deutsche Tumkunst, de 1816.
Biblioteca do autor.
 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 45

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Jornal de Berlim de l 6/março/1919

sobre o "Bloqueio Ginástico".
Die Berliner Hasenheide, p. 14.

Apesar das proibições, havia ginastas que se aventuravam para os exercícios no campo. Por uma
circular, de 4 de janeiro de 1819, o governo prussiano colocou as sociedades Turnen sob a vigilância do
Estado.
Em 4 de abril de 1819, Eiselen comentava: Vivemos uma época difícil. Um amigo, Sand, assas­
sinou o poeta Von Kotzebue. O assassinato desse agente russo e defensor da política de Metternich, pelo
estudante Sand, a 23 de março de 1819, determinou a adoção de medidas excepcionais, originando o
alarme para a repressão. O povo estava esmagado por taxas enormes, nada se ouvia sobre a Consti­
tuição; a Ginástica proibida e o tempo de normalização política parecendo ainda estar remoto. O
inquérito com respeito a Jahn continuava, diversos de seus ginastas foram ouvidos e protocolos imensos
foram escritos.
Ninguém podia utilizar o campo. Em dezembro de 1819, foi convocado pelo chefe de polícia que
o cientificou que, por ordens superiores, deveria encerrar as atividades de Ginástica. É desanimador, dizia
ele, mas as evidências demonstram que não há previsão de reabertura das mesmas.
Uma comissão de inquérito, com sede em Mayence, perscruta a agitação subversiva. Reconhece
Jahn como inocente, mas o "Sistema Metternich" triunfa e Jahn foi acusado de alta traição e de conspirar
contra o governo, sendo hostilizado e perseguido. A Hasenheide foi fechada, toda terminação contendo o
radical turn foi proibida pela censura. Era preciso dizer: Leibesubungen (exercícios físicos) ou gymnastik
(ginástica).
O ministro Hardmenberg, que havia antes financiado os ginastas, assina a sentença de prisão. Na
noite de 13 para 14 de junho de 1819 Jahn foi preso, tendo seu filho mais moço morrido de difteria,
algumas horas mais tarde. Jahn foi aprisionado em Kolberg e condenado, a 13 de janeiro de 1824, a dois
anos de reclusão em uma fortaleza.
Aprisionado de 1819 a 1825 e depois recluso a uma residência forçada, o "Pai da Ginástica"
desapareceu de cena, mudando sua residência para Freyburg, próximo de Unstrut.
A prisão de Jahn foi uma explosão para o movimento Turnen. O engajamento por demais
político de Jahn e de sua Ginástica originou o "Bloqueio Ginástico" na Alemanha, de 1820 a 1842.
Tudo isso chocou, mas não impediu o alastramento da nova causa.
Eiselen, discípulo de Jahn, salvou a Ginástica durante a época crítica. Foi o responsável pelo
início da Ginástica em salões e estimulou a Ginástica para moças. Em 1825 abriu um salão de esgrima e
em 1828 um salão para ginástica.
 EVOLUÇÃO HISTÓRJCA DA GINÁSTICA OLÍMPICA 47

1 O. Os museus em homenagem a Jahn

Na aldeia de lanz (Lenzen), onde nasceu, a antiga escola onde Jahn foi aluno converteu-se num
digno museu de recordações no qual se encontram numerosos documentos históricos valiosos, entre os
quais as edições originais de seus dois livros, publicados em 1810 e 1816. Um mapa topográfico de
Berlim, do ano de 1811, mostra o primeiro playground, ao ar livre, em Hasenheide.
Em Berlim, onde viveu, pode-se visitar o parque público de Hasenheide, onde se encontra o ]ahn
Eiche, o carvalho de Jahn, árvore de 400 anos, que foi tombada pelo governo, conservando ainda os pregos
que serviam de cabides para as roupas de seus alunos, e onde foram ensaiados os primeiros treinos de
Ginástica; e o ]ahn Denkal, monumento em sua homenagem, em cuja base estão em exposição as pedras
enviadas por sociedades alemãs de Ginástica do mundo todo, em sua homenagem.
Atualmente, uma das ruas que delimita o atual Volkspark Hasenheide chama-se Hasenheide e uma
de suas transversais recebeu o nome de ]ahnStrabe, com o busto de Jahn incrustado na parede do prédio
que fica num dos vértices do cruzamento. Mais uma homenagem da cidade de Berlim, no local onde Jahn
iniciou suas atividades. Logo na entrada do parque, junto a esse cruzamento, nota-se, ao longo, depois de
um grande gramado, entre as árvores da floresta, a estátua de Jahn, de 4 metros de altura, envolta pela
neblina no dia de nossa visita.
Na cidade de Freyburg (Unstrut), onde passou os últimos dias de sua vida e morreu, sua antiga
residência transformou-se no Friedrich Ludwig ]ahn - Museum .

..... ..
...�
líi♦
ifó

... •· .. ,. ···�

·•

]ahn em três idades de sua vida (1812, 1829, 1852).

FFG - Mémento de l'entreineur, 1986.
48 NESTOR SOARES PUBLIO

Cavalo de ]ahn · Interior do Museu de Freyburg.

Foto do autor.

A exposição do Museu documenta a vida de F. L. Jahn e torna digno seu significado para a
evolução do movimento ginástico na Alemanha. No inventário do museu pertence hoje ainda peças de
suas obras, como por exemplo o famoso cavalo ainda com rabos, e a maqueta de seu primeiro campo de
treinamento na Hasenheide, assim como esclarecimentos e fotos de toda sua existência.
Nesse local, Museu de Freyburg, os interessados poderão associar-se à Fundação de Jahn,
idealizada por amigos da Federação Alemã de Ginástica, para colaboração na manutenção de sua
memória.
Os sócios da Fundação têm direito a receber todas as publicações, revistas e boletins que são por
ela editados.

Quadro no interior do Museu de Freyburg.

Foto do autor.
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Homenagem ao pai da ginástica,

no túmulo, frente à sua antiga
casa; Medalha de ]ahn, maior
condecoração da Federação Alemã
de Ginástica da RDA;
A cidade de tendas de campanha
dos ginastas visitantes que cresce
de ano para ano.

Competições em Freyburg em memória a ]ahn (anualmente,

na última semana do mês de agosto).
Fotos da Revista La RDA y el Deporte, p. 18 (1983).

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en su 200º natalício

Fotos dos lugares onde viveu ]ahn.

Fotos da Revista La RDA y el Deporte, p. 20 (1978).

estar sendo colocado em dúvida na mente dos conselhos escolares contemporâneos, como ficou refletido
nos estudos sobre o assunto em Berlim.
Segundo, permanece ainda a pergunta: era Jahn um influente teórico da Educação Física ou era
simplesmente um praticante da arte da Ginástica? O problema parece ser mais forte quanto mais passa o