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As vozes antipedagógicas dos jovens e dos operários

 
A influência da pedagogia anglo-saxônica dominava a Europa e a pedagogia católica tentava se
renovar de alguma forma, os marxistas experimentam as teses de Marx sobre instrução-
trabalho e a prática alegre das escolas.
Um documento publicado por em 1967 por uma pequena editora. Lattera a uma professora
(carta a uma professora), foi escrita por alunos da escola de "Barbiana" juntamente com seu
professor, um padre com formação tradicional e rigorosa. Pela primeira vez na história, uma
crítica da escola é escrita em primeira pessoa pelos escolares.
"Antes de tudo, descobri a injúria exata para vos definir: vós sois somente uns superficiais. Sois
uma sociedade de mútua bajulação que sustenta porque sois poucos" (pág. 138). "Toda vossa
cultura é constituída assim. Como se o mundo fôsseis vós" (pág. 13).
A presunção dos professores e seu total descaso em relação à realidade de vida de seus alunos
e seus problemas são expostos com fúria. Junto dos professores a escola e tudo aquilo que
está com ela é visada como o após-escola: dessa vez com juízo ambivalente, de rejeição pelo
que ela é e de expectativa pelo que deveria ser.
E perante as discussões sobre a reforma surge o seguinte comentário:
" Discussões intermináveis entre partes que parecem opostas, mas, são iguais...Os de direita
propõem o estudo do latim, os de esquerda propondo a ciência. Não houve um sequer que
pensasse em nós...Ratos de museu para os de direita, ratos de laboratório para os comunistas.
Uns e outros longe de nós, porque nós não falamos e precisamos de uma língua de hoje e não
de ontem, de língua e não de especializações. Porque a língua que nos faz iguais. Igual é quem
sabe expressar-se e entender a expressão de outro. Que seja rico ou pobre, pouco importa.
Basta que fale".
A escola Barbiana é uma voz extraordinária e autêntica que vem de baixo, das áreas mais
camponesas, um meio camponês mais civilizado, mas sociologicamente atrasado. Mas
também há algo que os alunos de Barbiana e seu padre não enxergam: as especializações, ou
melhor, os fazeres das antigas classes dominantes.
Em 1968, foi o ano da revolta estudantil e juvenil, que explodiu com mais violência e clamor
onde menos se esperavam forças políticas. Por exemplo, as revoltas de maio na França. Mas
para quem estudou a história, durante milênios estudantes libertinos e rebeldes, filósofos e
reformadores denunciaram o sadismo pedagógico e, apesar disso, viu a escola continuar
escola; quem viu isso tudo, embora surpreso deve reconhecer os sinais da história e saber lê-
los com imparcial envolvimento. De fato, na aparente repulsa ao sadismo pedagógico, quem
sabe ler esses sinais irá notar que essa desigualdade é apenas aspecto particular da
desigualdade geral e desestruturada. Mas terá que lidar com o que podia ser, mas não foi, uma
página feliz na história da educação. É como escolher um texto ímpar em uma grande massa
de documentos. A sua maior limitação foi a abundância, a sua fraqueza na grande quantidade
de ideias, se tornando incapaz de se ater ao concreto.
Mas é necessário dizer que seus êxitos, sendo eles fracos ou nulos, daquela massa devem ser
responsabilizados não apenas os jovens, mas também os adultos que tinham medo que suas
palavras se tornassem fatos revolucionários, aos quais ninguém esperava, principalmente na
área de pedagogia. Dessa formas os estudantes ficaram sozinhos e a sua rebelião, em um ano
teve fim, mas deixou sinais: na pedagogia, na cultura e nos costumes.
Quanto aos movimentos dos produtores da classe operária industrial, esses que por se
considerarem excluídos e explorados, além de excluídos dos domínios, surgindo assim grandes
revolucionários que se opunham às formas de exploração e opressão. Seu maior objetivo não é
fazer a história se atrasar ou voltar para um tempo antigo como as outras reformas
camponesas, mas sim impulsionar o desenvolvimento geral da humanidade. Como na rebelião
estudantil, as revoltas operárias mostrará o grande valor do princípio, e conjuntamente com a
inteligência e o esforço geral, a dificuldade de inventar o futuro. Referimo-nos à experiência
italiana das "150 horas", como algo de consideração conclusiva.
Todos os contrato coletivos de trabalho da Itália que regulam as relações entre operários e
patrões das fábricas capitalistas privadas, contêm parágrafos referentes ao aprendizado e à
instrução dos trabalhadores. Eles são resultados de diversos anos de lutas, tanto dos
operários, quanto do exterior, por alguns apóstolos da instrução popular no decurso dos
últimos decênios do Oitocentos e dos primeiros Novecentos. Inicialmente se tratou da luta
contra o analfabetismo para os operários que nunca frequentaram uma escola; depois, a fim
de ensinar as tarefas técnicas para cada operário nas fábricas; mais tarde, superado o
problema do analfabetismo (em algumas regiões), algumas fábricas organizaram escolas de
fábrica de nível médio.
Dessa forma, o artesanato antigo, progressivamente destruído pela revolução industrial,
retorna às fábricas modernas. O aprendizado ou treinamento fornecido pelas empresas, varia
de três meses a dois anos, de acordo com a idade e grau de estudo do aprendiz. Vale ressaltar
que o aprendizado nas empresas visa qualificar o trabalho para a própria empresa. Até aqui
temos um âmbito puramente operário. Mais recentemente foi introduzida a ideia do
trabalhador-estudante e do estudante-trabalhador, os dois são uma figura moderna.
Já há tempo estes trabalhadores-estudantes tinham adquirido o direito a turnos de trabalhos
menores, que lhe facilitasse a frequência aos cursos. Mas um grande passo foi dado em 19 de
abril de 1973, com o sancionamento de mais uma concessão:
"...Além disso os trabalhadores-estudantes podem requerer no decurso do ano solar 120 horas
de licença não remunerada..." (art. 29);
"Os trabalhadores que, a fim de melhorar a própria cultura também em relação à atividade da
empresa, podem frequentar em instituições públicas...cursos de estudo...de usufruir de
licenças remunerada..." (art. 28).
O valor de princípio dessa inovação é enorme, também porque se insere num contrato que,
pela primeira vez, considera operários e patrões. Morre, assim, pelo menos idealmente, a
velha figura do produtor subalterno, e nasce a nova do operário culto. Inicialmente o operário
estudava para melhorar sua condição na empresa, em seguida, para poder sair da empresa e
do status de operário, agora, para, embora continue operário, para se tornar um homem culto.
Isso pelo menos na ideia.
No pequeno episódio de Barbiana, no vasto movimento estudantil de 1968, e na significativa
presença da classe trabalhadora, revela-se uma nova consciência das novas gerações. Uma
sociedade primitiva ou futura que não conhece a primeira opressão não conhece a outra. Mas
as sociedades que conhecem a primeira necessariamente conhecem as outras.
 
 
 
 

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