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FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO

DE ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO: UM
ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA
MOVELEIRA
Diego Madalena1
Pierry Teza2

Resumo
Atualmente é possível observar as constantes mudanças pelas quais passa o
ambiente, que é alterado em seus mais amplos e diversificados âmbitos, sejam
eles culturais, políticos, econômicos ou sociais. No cenário empresarial, como um
dos maiores afetados com as transformações ocasionadas, as organizações têm
almejado cada vez mais resultados em função de redução de custos, ampliando seus
esforços em qualidade, produtividade, competitividade e excelência. O presente
trabalho investigou como são formuladas as estratégias de produção industrial
em uma organização industrial do setor moveleiro. A abordagem de pesquisa ***
adotada foi a qualitativa, sendo a estratégia de pesquisa o estudo de caso. Como
1 Especialista, e-mail:
resultados, verificou-se, entre outros, que: a) a organização não possui um processo
diegomdln@gmail.
de formulação de suas estratégias formalmente definido; b) a função produção com
na prática possui valorização da organização como diferencial competitivo; e c)
2 Mestre, e-mail: pierry.
a estratégia de produção não atinge os níveis operacionais de maneira eficiente.
teza@gmail.com
Ainda foram identificados os seguintes pontos de melhoria na formulação e
implementação das estratégias de produção na organização: a) a comunicação entre ***
as partes envolvidas no processo de formulação e implementação das estratégias de
produção também pode ser otimizada pelo uso de rotinas formalizadas para tal; b)
a organização deve evitar separar os processos de formulação e de implementação
das estratégias, tendo em vista aproveitar contribuições dos diversos envolvidos,
direta e indiretamente, no processo; e c) as categorias de decisão são tratadas e
recebem os devidos planos de ações, porém não existe formalidade na categorização
das decisões por parte da estratégia de produção.

Palavras-chave: Estratégias de Produção. Indústria Moveleira. Estudo de Caso.

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1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, é possível observar as constantes o intuito de gerar as informações necessárias
mudanças pelas quais o ambiente é alterado para formulação e implementação adequadas
em seus mais amplos e diversificados âmbitos, das estratégias de produção.
sejam eles culturais, políticos, econômicos ou
As estratégias de produção, ou estratégias fun-
sociais.Tais mudanças no ambiente competitivo
cionais, são aquelas em que as decisões levam
alteraram sensivelmente as concepções básicas
em consideração as expectativas da organização,
de como produzir bens. Uma diferenciação vem
o dinamismo do consumidor e do mercado
ocorrendo no setor industrial, em que a função
no qual a organização encontra-se inserida,
produção deixou de ser apenas um componente
as atividades de seus concorrentes e os recur-
produtivo e passou a ser um diferencial compe-
sos da empresa. A capacitação tecnológica, as
titivo (CORRÊA; GIANESI, 1994; SLACK
habilidades das pessoas e a organização das
et al., 2007).
funções são componentes indispensáveis nesta
A capacidade gerencial para controlar o processo estratégia devido à necessidade de traduzir os
de mudança dependerá dos conhecimentos objetivos do negócio, organizando os recursos
sobre os fatores que favorecem ou provocam para apoiá-lo. (SLACK et al., 2007).
resistência às mudanças (MATTOS, 2002).
Dado o contexto apresentado, este artigo re-
lata os resultados de um estudo que objetivou
Nas práticas adotadas investigar como são formuladas as estratégias
na gestão industrial, são de produção industrial em uma organização
enfatizadas a formulação industrial do setor moveleiro. Nesse sentido,
e a implantação das pretende-se fazer uma contribuição empírica ao
estratégias de produção, tema estratégias de produção, baseando-se não
apenas na literatura sobre o tema, mas também
pelas quais o gestor
em trabalhos anteriores (por exemplo, PAIVA,
deve direcionar as ações
1999; CARIDADE, M. D.; TORKOMIAN,
produtivas, para adequá- 2001; D’ANDRÉA, 2006).
las aos objetivos da
organização. O artigo segue apresentando, na seção 2, a
fundamentação teórica utilizada no estudo. Na
seção 3, são apresentados os procedimentos me-
Para uma maximização dos resultados das
todológicos utilizados, com vistas a alcançar o
organizações em função da competitividade
objetivo proposto. Na seção 4, são apresentados
empregada na função produção, são necessários
e discutidos os resultados obtidos. Finalmente,
cada vez mais o desenvolvimento e o aperfei-
na seção 5, são explicitadas as considerações
çoamento das técnicas e métodos empregados
finais do trabalho.
nas estratégias corporativas e de negócio, com

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A presente seção tem como objetivo apresentar HASTERLY, 2011), conforme disposição a
as principais bases teóricas utilizadas no estu- seguir.
do de caso apresentado. Para Mintzberg et al.
Sob a perspectiva de Barney e Hesterly (2011),
(2000), a estratégia representa uma adaptação
a integração vertical é o nível de integração
entre um ambiente dinâmico e um sistema
que uma empresa possui internamente em sua
de operações estável, em uma concepção de
cadeia de valores. A integração pode ser para
que a organização se ajusta continuamente
trás ou para frente: para trás, quando incorpora
ao ambiente em que está inserida. Segundo
internamente estágios do início da cadeia de
Porter (1986), o que determina o sucesso ou
valores, e para frente, quando incorpora estágios
fracasso de uma organização é a concorrência.
mais ao fim da cadeia. Uma empresa implemen-
Nesse contexto, estratégia é a busca de uma
ta uma estratégia de diversificação corporativa
posição favorável, estabelecendo lucratividade
quando opera em vários setores ou mercados
e sustentabilidade em função das forças que
simultaneamente. Segundo Barney e Hesterly
determinam a concorrência. Para Slack et al.
(2011) ainda, uma aliança estratégica existe
(2002) e Paiva (2009), as estratégias são dividas
sempre que duas ou mais organizações inde-
de acordo com as influências hierárquicas que
pendentes cooperam no desenvolvimento, na
as definem: estratégia corporativa, a estraté-
produção ou na venda de produtos ou serviços.
gia de negócios, estratégia funcional (também
Já os termos fusões e aquisições são geralmente
chamada por outros autores como operacional
utilizados de maneira intercambiável, embora
ou de produção).
não sejam sinônimos. Uma empresa faz uma
A estratégia corporativa refere-se às decisões aquisição quando compra uma segunda em-
e organizações a um nível macro, ou seja, a presa. A fusão é considerada a estratégia pela
definição de quais negócios adquirir, de como qual duas empresas concordam em interagir
capitalizar os recursos financeiros necessários a suas operações de forma relativamente igual
tal aquisição e como gerenciar as relações entre (HARRISON, 2005). Sob o aspecto interna-
os diferentes negócios. O ambiente externo, cionalização, Barney e Hesterly (2011) definem
fatores econômicos, sociais e políticos, aliados que a operação de empresas em diversos países
aos aspectos culturais e aos valores dos dirigen- simultaneamente é resultado da implementação
tes, são os principais fatores que influenciam de estratégias de internacionalização.
as decisões deste nível estratégico (SLACK et
A estratégia de negócios é estabelecida a cada
al., 2002). De acordo com Barney e Hesterly
unidade de negócio. Assim, consiste em orien-
(2011), as estratégias corporativas são aquelas
tar o negócio em um ambiente composto por
em que, em geral, a organização atua em dois ou
mercados, consumidores e concorrentes, ou seja,
mais mercados simultaneamente. As principais
a partir dela são definidas a missão, as metas,
estratégias corporativas são: integração vertical,
as formas de estabelecimento da competiti-
diversificação; alianças estratégicas, fusões e
vidade no mercado e a maneira como serão
aquisições, internacionalização (BARNEY;

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coordenadas as atividades funcionais (SLACK Skinner (1969) é um pouco mais abrangente
et al., 2002). Segundo Barney e Hesterly (2011), ao considerar a estratégia como um composto
uma empresa opta por adotar uma estratégia de planos e políticas pelas quais a empresa
de negócio de liderança em custo, quando foca pode almejar vantagens competitivas sobre seus
em ganhar vantagem competitiva por meio da competidores, o que inclui planos e políticas que
redução de custos a níveis inferiores do que seus se aplicam à produção e à venda de produtos a
concorrentes. De maneira oposta, a estratégia nichos específicos de consumidores.
de diferenciação de produto, que, segundo os
autores, é uma estratégia de negócio em que as
empresas buscam ganhar vantagem competitiva
aumentando o valor percebido de seus produtos
em relação aos valores de outras empresas.

Finalmente, as estratégias de produção, ou


estratégias funcionais, são aquelas em que as
decisões levam em consideração as expectativas
da organização, e seu objetivo é traduzir os
propósitos do negócio, organizando os recursos
para apoiá-lo. (SLACK et al., 2002). Assim, nos
três níveis hierárquicos, as estratégias de negó-
cios geram o ambiente em que as estratégias
Após as considerações anteriores, verifica-se
funcionais operam e a estratégia corporativa
o enfoque dado à função produção, deixando
gera o ambiente no qual a estratégia de negócios
de ser apenas um setor reativo às ações co-
se aloca (SLACK et al., 2002). A estratégia
merciais e de executora das ações estratégicas,
corporativa visualiza a organização como um
passando a influenciar diretamente as defini-
sistema de partes e áreas funcionais interco-
ções estratégicas coorporativas. Dessa forma,
nectadas, cada uma funcionando exatamente
procura-se tornar perceptível a conexão entre
conforme o esperado, para alcançar os objetivos
a estratégia coorporativa e a função produção
prospectados. (KRAJEWSKI, 2009).
das organizações.

2.1 Estratégias de produção Segundo Platts (2002),


Para Corrêa e Gianesi (1994), o principal estratégia de produção é
objetivo da estratégia de produção é o definida como um padrão
aumento da competitividade da organi- de decisões que envolve
zação por meio da padronização coerente duas linhas paralelas de
de decisões e da organização dos recursos
aspectos: as estruturais e as
produtivos, para que a otimização destes
de infraestruturas.
recursos potencialize a competitividade no
mercado de atuação da organização.

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Esses aspectos determinam a capacidade do que influenciam diretamente as tomadas de
sistema produtivo, bem como especificam como decisão na função produção das organizações.
o sistema deverá operar o conjunto de objetivos Para Paiva (2009), como sistemática do processo
produtivos a fim de consistirem com os objetivos de implantação da estratégia de produção, a
competitivos da organização. organização deve definir os seus critérios com-
petitivos, alinhando-os às suas estratégias de
negócio. A função produção deverá utilizar tais
2.2 Conteúdo das estratégias critérios na adequação da estratégia de produção
de produção em função das categorias de decisões geradas
sob cada critério. Dessa forma, ações serão
Os principais componentes que definem o
tomadas mediante a análise de tais categorias,
conteúdo de uma estratégia de produção são
para dar suporte às necessidades geradas pelas
os critérios competitivos diretamente ligados
estratégias de negócio e corporativa, conforme
à estratégia competitiva (ou de negócios) da
pode ser observado na Figura 1.
empresa e às categorias de decisão a longo prazo,

Figura 1: Conteúdo das estratégias de produção e a relação com as demais estratégias

Estratégia
Corporativa
Feedback

gera
Estratégia de Negócios Critérios Competitivos

nem
defi

Estratégia de Produção
definem Aspectos Estruturais
Aspectos Infraestruturais ] Categorias de Decisão
geram

Planos de Ação Implementação

Fonte: Dos autores (2013)

O processo de integração das estratégias da prioridades que a organização deve valorizar


organização, mostrado na Figura 2, está in- para competir de forma igualitária no mercado
terligado. Dessa forma, uma ação leva a outra onde se encontra inserida. Ou seja, em função
na organização como um todo. A aplicação da das competências internas da empresa, do tipo
estratégia de produção nas empresas inicia-se de mercado, do mercado de atuação, do nível
pela definição de seus critérios competitivos, da concorrência e do tipo de produto que ela
relacionados às estratégias corporativas e de produz, a empresa deverá priorizar alguns cri-
negócio, em função do mercado em que se térios competitivos, maximizando a utilização
encontra inserida a organização. As estratégias de seus recursos, capacidades e oportunidades
de negócio, por sua vez, dão origem aos critérios para se tornar competitiva.
competitivos, que formam um conjunto de

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Dessa forma, observa-se que, conforme os 2.2.1 Critérios competitivos
recursos humanos, físicos e tecnológicos, das
Os principais elementos que definem o con-
necessidades dos seus clientes e do desempenho
teúdo de uma estratégia de produção são os
dos concorrentes, os critérios competitivos são
critérios competitivos relacionados à estratégia
definidos de acordo com a melhor adequação
competitiva da empresa e às categorias de deci-
à realidade da organização, para proporcio-
são de longo prazo, que influenciam a tomada
nar a melhor estruturação possível da função
de decisão na função produção das empresas
produção, para que ela suporte, de forma sa-
(SLACK et al., 2007). Swamidass e Newell
tisfatória, tais critérios competitivos. Assim,
(1987) consideram o conteúdo da estratégia da
a diferenciação das estratégias de produção
produção em quatro critérios competitivos: cus-
aplicadas em diferentes empresas se deve ao
to, qualidade, flexibilidade e confiabilidade. Já
peso de cada critério competitivo e à maneira
Muscat e Fleury (1993) consideram as seguintes
como cada um é buscado efetivamente no dia
dimensões competitivas: custo, qualidade, tem-
a dia do setor de produção (SANTOS; PIRES,
po, flexibilidade e inovação. Conforme Salles
1998). Esses elementos deverão gerar os planos
(1998, p. 68), a dimensão inovação é argumen-
de ação necessários para a implementação da
tada pela possibilidade de a organização ir além
estratégia, que finalmente podem proporcionar
da flexibilidade, “[...] por não se tratar apenas
uma retroalimentação à estratégia de negócio
de responder, ainda que de maneira rápida, à
com relação aos resultados em função dos cri-
demanda estabelecida pelo mercado; inclusive
térios definidos.
criando novos mercados para produtos únicos
Os critérios competitivos são divididos por e inovadores.”
Slack et al. (2007) em qualidade, rapidez/ve-
Slack et al. (2007), de maneira mais abrangente,
locidade, confiabilidade, flexibilidade e custos,
retoma essa temática considerando que, quan-
que, por sua vez, deverão gerar as categorias de
do se pretende compreender a contribuição
decisões, representadas pelas ações que a função
do aspecto estratégia em qualquer atividade,
produção deverá realizar para que tais critérios
é importante entender um cenário no qual se
competitivos sejam gerados. As categorias de
identifiquem os benefícios internos e externos
decisões são divididas em dois grupos, as estru-
em que as “atividades” se derivam da obtenção
turais e infraestruturais. As categorias de decisão
de cada um dos cinco objetivos de desempe-
que compõem o grupo de decisões estruturais
nho da empresa, caracterizados nas seguintes
são classificadas em: capacidade de produção,
dimensões competitivas: custo, confiabilida-
instalações de produção, tecnologia de produção
de, flexibilidade, qualidade, rapidez. Com a
e integração vertical e relação com fornecedores.
mesma abrangência, Paiva (2009) considera
As categorias de decisão que compõem o grupo
que existem cinco critérios competitivos que
de decisões infraestruturais, segundo Slack et
se relacionam à estratégia de negócios, sendo
al. (2007), são classificadas em: planejamento,
eles os custos, a qualidade, o desempenho das
controle e organização da produção, força de
entregas, a flexibilidade e a inovatividade. O
trabalho e gerência de qualidade.
Quadro 1 apresenta as definições dos critérios
competitivos utilizados no estudo.

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Quadro 1: Critérios competitivos

Critério Competitivo Definição

Ao “fazer as coisas certas”, a produção se propõe a influenciar a qualidade


Qualidade
dos bens e serviços da organização.

Ao “fazer as coisas mais rapidamente”, a produção procura influenciar a


Rapidez / Velocidade
velocidade com que os bens e serviços são fornecidos.

Ao “fazer as coisas a tempo”, a produção objetiva influenciar a confiabilidade


Confiabilidade
de entrega de bens e serviços.

A capacidade de “mudar o que e como se faz”, em que a produção procura


Flexibilidade
absorver a flexibilidade, com a qual a empresa produz bens e serviços.

Para empresas que concorrem diretamente em preços, o custo será seu


principal objetivo e provavelmente será o primeiro e principal objetivo a
Custos ser empregado. Quanto menor o custo de seus bens produzidos, ou de seus
serviços prestados, menor poderá ser o preço fornecido aos seus clientes /
consumidores.

Fonte: Adaptado de Swamidass e Newell (1987), Slack et al. (2007), Paiva (2009)

2.2.2 Categorias de decisão tomada de decisão. Assim como em relação aos


critérios competitivos, nas visões dos autores,
Após as análises e definições dos critérios com-
pode-se observar que não existe muita diferença
petitivos, parte-se para a definição das ações que
entre as categorias de decisão, apenas umas são
deverão ser implantadas para que os critérios
mais detalhadas que as outras. Para o desen-
competitivos escolhidos sejam atingidos. Estas
volvimento deste trabalho, foram utilizadas as
ações podem ser divididas em categorias de
estratificações definidas por Slack et al. (2007)
decisão, que são um conjunto consistente de
para as categorias de decisão.
decisões individuais que impactam na função
produção das empresas sob a justificativa de
cooperar no alcance dos critérios competitivos 2.2.2.1 Aspectos estruturais
desejados (SLACK et al., 2007).
Para Slack et al. (2007), as categorias de decisão
Conforme Slack et al. (2007), as categorias de que compõem o grupo de decisões estruturais
decisão podem ser divididas por sua natureza são classificadas conforme a seguinte disposição
em dois grupos: estruturais e infraestruturais. no Quadro 2: capacidade de produção, insta-
A estratificação das categorias de decisão se lações de produção, tecnologia de produção e
faz necessária a fim de contribuir com a orga- integração vertical e relação com fornecedores.
nização e sistematização para a facilitação da

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Quadro 2: Categorias de decisões estruturais

Critério Competitivo Definição

Capacidade de Está relacionada às decisões a respeito da capacidade das instalações, sendo


produção determinada pela planta, pelos equipamentos e pelos recursos humanos.

Estão relacionadas às decisões sobre localização geográfica, tipo de processo


Instalações de produção
produtivo, volume e ciclo de vida.

Envolve desde equipamentos utilizados até processos de produção (por


Tecnologia
projeto, job shop, por lote, linha de montagem, fluxo contínuo).

Integração vertical
e relação com Está relacionada à decisão de produzir ou comprar.
fornecedores

Fonte: adaptado de Slack et al. (2007)

Outros autores exibem diferentes percepções forma adequada, não correndo o risco de perder
sobre as categorias estruturais. Para Paiva vendas, ou ficando com a sua produção ociosa
(1995), as instalações de produção estão di- e elevando o seu custo (SLACK et al., 2007).
retamente ligadas ao nível de foco de cada
A categoria decisiva de tecnologia produti-
unidade produtiva e considera, para isto, a lo-
va é encarada como assunto de técnicos, em
calização geográfica, os processos produtivos,
que uma decisão, independente da estratégia
o volume de produção e o ciclo de vida dos
competitiva organizacional, tem como objetivo
produtos. Para Pires (1995), deve-se levar em
único a maximização da eficiência dentro de
consideração também o mix de produtos, o nível
uma perspectiva gerencial tradicional. Por outro
de especificidades dos recursos produtivos, a
lado, pela perspectiva estratégica, a gerência
logística de abastecimento (matéria-prima) e
de operações inclui a percepção quanto aos
a disponibilidade e custo de mão de obra.
critérios competitivos elencados sob a con-
Segundo Hayes (1978) e Wheelwright (1984), cepção da estratégia corporativa, utilizando
as capacidades de produção são decisões ligadas tal decisão para atingir os objetivos definidos
à demanda de mercado, portanto, designando (FLEURY; PROENÇA, 1993). Para Stuckey
às organizações a decisão de optar por tornar e White (1993), a integração vertical é uma
sua capacidade acima, abaixo ou acompanhando das decisões mais importantes na estratégia de
a demanda. Como as decisões relacionadas à produção de qualquer organização, definindo
capacidade produtiva exige das empresas um seu posicionamento na cadeia produtiva e o
conhecimento da demanda de produção, no grau de relacionamento com os demais elos
momento em que as mesmas desenvolverem da mesma (fornecedores e clientes).
a capacidade de estimar a sua demanda, a ca-
pacidade produtiva pode ser dimensionada de

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2.2.2.2 Aspectos infraestruturais disposição no Quadro 3: planejamento, controle
e organização da produção, força de trabalho e
As categorias de decisão que compõem o grupo
gerência de qualidade.
de decisões infraestruturais, segundo Slack et
al. (2007), são classificadas conforme a seguinte

Quadro 3: Categorias de decisões infraestruturais

Critério Competitivo Definição

Planejamento, controle
Relacionados diretamente ao suporte das decisões tomadas e à implantação
e organização da
dos sistemas gerenciais.
produção

Atua sobre as políticas existentes, para que mantenham os funcionários


Força de trabalho
motivados, trabalhando em equipe e buscando atingir as metas da empresa.

O gerenciamento desta categoria de decisão deve especificar como as


Gerência de qualidade responsabilidades serão alocadas, que ferramentas de decisão e medição
deverão ser utilizados e quais os métodos de treinamento serão aplicados.

Integração vertical
e relação com Está relacionada à decisão de produzir ou comprar.
fornecedores

Fonte: adaptado de Slack et al. (2007)

Em relação às categorias infraestruturais, tam-


2.3 Processo de formulação
bém outros autores exibem percepções diver-
gentes. Para Hayes e Schmeenner (1978), a or- de estratégias de produção
ganização da produção está diretamente ligada Segundo Platts (1992), após estudar o proces-
às condições organizacionais da empresa a fim so de formulação da estratégia de produção
de garantir um fluxo eficaz de trabalho, ou seja, em oito empresas, foi possível perceber que
são decisões relativas à organização da função algumas características processuais devem ser
produção em função de uma contribuição direta perseguidas para se obter um bem-sucedido
ao cumprimento das estratégias de negócio e desenvolvimento de estratégias de produção,
corporativa. Em muitas situações, eles são os as quais serão expostas a seguir. Inicialmente,
diferenciais competitivos das organizações. A faz-se necessária uma definição clara da es-
categoria de decisões denominada gerência da trutura do processo de formulação, pois os
qualidade diz respeito aos controles e garantia participantes dos processos sentem-se mais
da qualidade dos produtos, processos da orga- seguros e confortáveis ao saberem quais pró-
nização. As decisões inerentes a esta categoria ximos passos serão dados (PLATTS, 1992).
devem definir os padrões e formas de controle da Outro fator que deve ser destacado diz respeito
qualidade dos produtos e processos da empresa à participação individual e em grupo de cada
(NETO, 1999). integrante do processo de formulação, com o

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intuito de gerar compromisso, entendimento e modelos de Hill e Platts-Gregory, que funda-
entusiasmo (PLATTS, 1992). Como terceira mentam teoricamente os métodos utilizados na
característica, relaciona-se o gerenciamento empresa pesquisada. O modelo desenvolvido
da implementação. Assim, a organização fica por Terry Hill, denominado Metodologia Hill,
ciente das limitações de tempo e recursos, não dá grande ênfase à integração entre marketing
desenvolvendo estratégias que vão além de suas e produção. Em virtude disso, desenvolveu-se
condições físicas, gerenciais, financeiras e ma- critérios qualificadores e ganhadores de pedidos,
teriais (PLATTS, 1992). Finalmente, a última estreitando ainda mais a relação entre os dife-
característica diz respeito ao ponto de entrada, rentes mercados de atuação e da valorização dos
sendo este o primeiro contato dos membros critérios por parte da organização (SLACK et
da empresa com os preceitos da estratégia de al., 2007). Segundo Slack et al. (2007), o modelo
produção. Dessa forma, este contato inicial sugere a conexão entre os diferentes níveis da
deve ser bem conduzido, pois o resultado a ser estratégia. Slack et al. (2007, p. 105) consideram
obtido e as contribuições de cada envolvido que a metodologia Hill vê o processo como
devem ficar claras (PLATTS, 1992). interativo, em que a produção gira em torno
da compreensão das exigências estratégicas de
longo prazo da organização e dos desenvolvi-
mentos de recursos específicos necessários ao
apoio da estratégia. Outro método utilizado
para dar sustentação e direcionamento às ações
estratégicas de produção foi desenvolvido por
Ken Platts e Mike Gregory. Conforme Slack
et al. (2007), a Metodologia Platts-Gregory se
diferencia da metodologia Hill quando compara
o desempenho da organização às práticas do
mercado desejado, diferentemente da meto-
dologia Hill, que, por outro lado, posiciona
Alguns modelos foram criados por diversos
sua estratégia de produção em função da ne-
autores para auxiliar os gestores na aplicação,
cessidade dos consumidores sobre os fatores
formulação e implementação das estratégias de
competitivos (SLACK et al., 2007).
produção. Serão explanados neste trabalho os

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A abordagem qualitativa foi adotada no estudo dos dados e se valem de diferentes estratégias de
uma vez que emprega diferentes concepções investigação (CRESWELL, 2010). Dessa for-
filosóficas, estratégias de investigação e métodos ma, em função do estudo estar baseado em dados
de coleta, análise e interpretação dos dados. oriundos de entrevistas, observação participante
Embora os processos sejam similares, os proce- e análise documental, ou seja, múltiplas fontes
dimentos qualitativos se baseiam em dados de de dados, utilizou-se a abordagem qualitativa.
texto e imagem, têm passos singulares na análise Segundo Creswell (2010), é importante que as

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seguintes dimensões sejam do conhecimento organização. Observação participante é aquela
do pesquisador a fim de proporcionar um me- em que o pesquisador é conhecido e pode regis-
lhor delineamento do estudo: a estratégia de trar informações, caso ocorram (CRESWELL,
investigação, procedimentos de coleta de dados, 2010).
procedimentos de registro de dados, o papel do
Já os dados provenientes de análise documental
pesquisador, análise e interpretação dos dados.
vieram de manuais de procedimentos opera-
A estratégia de investigação adotada foi o cionais, catálogos de produção, materiais do
estudo de caso, que é um estudo de natureza departamento de comunicação e atas de reu-
empírica que investiga um determinado fenô- niões. A análise documental refere-se a docu-
meno, geralmente contemporâneo, dentro de mentos, escritos ou não, constituindo o que se
um contexto real de vida, quando as fronteiras denomina fontes primárias. O levantamento
entre o fenômeno e o contexto em que ele se de documentos da empresa foi utilizado para
insere não são claramente definidas. Trata-se permitir aos pesquisadores o acesso de dados
de uma análise aprofundada de um ou mais complementares às entrevistas.
objetos (casos), para que permita o seu amplo
Os procedimentos de registro de dados foram
e detalhado conhecimento. A principal ten-
utilizados para armazenar os dados coletados.
dência em todos os tipos de estudo de caso
As entrevistas, foram gravadas e posteriormente
é que estes tentam esclarecer o motivo pelo
transcritas. Já os documentos foram fotocopia-
qual uma decisão ou um conjunto de decisões
dos para análise posterior. Com relação ao papel
foram tomadas, como foram implementadas e
do investigador, uma vez que se está utilizando
os resultados alcançados (YIN, 2010). A orga-
a abordagem qualitativa, que é interpretativa, o
nização estudada foi uma indústria moveleira
investigador está envolvido em uma experiência
fundada a 12 anos, com aproximadamente 90
sustentada e intensiva com os participantes,
funcionários e atuação nacional. O foco de sua
aumentada pelo fato de alguns dados advirem
produção está centrado na produção de móveis
de observação participante, fortalecendo ainda
estofados de alto padrão, voltado ao público de
mais o seu papel. Isso introduz uma série de
Classes A e B.
questões estratégicas, éticas e pessoais ao pro-
Como procedimento de coleta de dados, fo- cesso de pesquisa qualitativa (LOCKE et al.,
ram utilizadas a entrevista semiestruturada, a 2007 apud CRESWELL, 2010). Com essas
observação participante e a análise documental. preocupações em mente, os investigadores iden-
As entrevistas foram aplicadas a três pessoas tificam explícita e reflexivamente seus vieses,
da organização – diretor comercial, diretor de seus valores e suas origens pessoais, tais como
P&D e coordenador de compras – seguindo gênero, história, cultura e aspectos socioeconô-
um roteiro de perguntas previamente elaborado. mico, que podem moldar suas interpretações
Optou-se por levantar os dados com profis- durante um estudo (CRESWELL 2010).
sionais provenientes dos níveis estratégico e
Segundo a perspectiva de Creswell (2010), o
tático, pois eles estão diretamente relacionados
processo de análise e interpretação dos dados
à formulação e à implementação das estratégias
envolve extrair sentido dos dados do texto e
de produção. Os dados de observação vieram
da imagem. Envolve preparar os dados para
de forma participante, uma vez que o pesqui-
a análise, conduzir diferentes análises, ir cada
sador esteve envolvido até recentemente na
vez mais fundo no processo de compreensão

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dos dados, representar os dados e realizar uma ser estabelecidos na proposta para comunicar
interpretação do significado mais amplo das uma percepção das atividades gerais da análise
informações. Vários processos genéricos podem de dados qualitativos.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS
A organização estudada nasceu de um projeto A e B. Seus clientes são principalmente lojistas,
para atender arquitetos e decoradores da alta estabelecidos em diversos estados do país. A
decoração da grande Florianópolis, estado de proposta de repensar o mobiliário enquanto
Santa Catarina, através de reformas e criações objeto de conforto e bem-estar esteve sempre
de produtos. Este projeto iniciou-se em junho aliada ao acabamento primoroso e à qualidade
de 2000, no município de São José, instalado excepcional, tanto no sistema construtivo como
em uma garagem de uma casa de madeira, com na matéria-prima.
apenas um funcionário. Na época, a empresa,
A marca se consolidou no mercado nacional,
apesar de recém-criada, já possuía know-how,
porém as inovações são constantes e fazem
pois seus sócios, mesmo sendo jovens, contavam
parte dos principais investimentos da empre-
com experiência no ramo, tendo trabalhado por
sa. Como no ramo da alta decoração do país
mais de 15 anos como funcionários de uma
existem inúmeros concorrentes que competem
grande empresa da alta decoração da Grande
das mais variáveis maneiras possíveis, é de suma
Florianópolis, de renome nacional. O negócio
importância as constantes reformulações e aper-
começou a fazer sucesso e a demanda pelos
feiçoamentos dos produtos, do atendimento, da
produtos aumentou. Então, a partir de fevereiro
forma de venda e pós-venda e principalmente
de 2001, após pesquisa de mercado, os sócios
da qualidade destes aspectos. O processo de
resolveram investir e especializar-se na fabri-
venda inicia com a encomenda do consumidor
cação de estofados de alto padrão, mudando-se
final ao lojista, que repassa o pedido à fábrica.
para Santo Amaro da Imperatriz. Todas as
Desta maneira, seu processo produtivo possui
unidades estão localizadas em Santo Amaro
as seguintes características: produção sob enco-
da Imperatriz, no estado de Santa Catarina.
menda, reduzidos estoques de produtos prontos,
Neste momento, o mercado-alvo passa a não
produção em pequenos lotes ou unitária, não
ser apenas a grande Florianópolis, mas sim
seriados, presença de produtos fora do modelo
lojistas do Brasil inteiro.
padrão feitos especialmente para determina-
Atualmente a empresa marca uma etapa de do cliente, diversas opções de acabamentos
expansão, com a consolidação do mercado e modelos, renovação periódica dos modelos
nacional e a abertura das exportações. Desde disponíveis (geralmente anual), oscilação perió-
o início, a empresa teve um objetivo definido: dica das vendas e consequentemente produção,
desenvolver móveis residenciais autorais, com diversidade de setores produtivos, como serra-
design 100% nacional e altíssimo padrão. A em- lheria, marcenaria, pintura, estofaria e outros,
presa produz móveis, principalmente, estofados além da grande variedade de matérias-primas
de alto padrão voltados ao público de Classes de alta qualidade empregadas.

86 E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016


aos planos corporativos da organização, as
4.1 Formulação das
metas organizacionais são instituídas a fim de
estratégias de produção assegurar que os objetivos corporativos sejam
De um ponto de vista abrangente, na empresa, alcançados. Tais definições geram, por sua vez,
o aspecto estratégia está diretamente ligado ao as diretrizes para a elaboração da estratégia de
conceito apresentado por Krajewski (2009), produção, que seguem a definição de Corrêa
em que a empresa busca técnicas e métodos e Gianesi (1994). Os autores definem como
apropriados para projetar processos que propor- principal objetivo da estratégia de produção o
cionarão competitividade à organização. Dessa aumento da competitividade da organização
maneira, a empresa direciona sua estratégia por meio da padronização coerente de decisões
corporativa em função de onde quer estar sob e da organização dos recursos produtivos, para
as influências dos fatores econômicos, sociais que a otimização destes recursos potencialize
e políticos que possam causar qualquer tipo a competitividade no mercado de atuação da
de turbulência que a afetem diretamente e/ou organização, alinhando as ramificações estra-
mesmo que imediatamente, resultando na alte- tégicas do modelo estratégico proposto pela
ração da estratégia corporativa como um todo. organização.

Sob esta perspectiva, a estratégia corporativa


resulta nas ações que definem as estratégias de Na elaboração das
negócio da organização, em que as expectativas
estratégias de produção
dela são fundamentadas sobre as definições do
adotadas pela organização,
“onde estar” da estratégia corporativa. Nesta
etapa, assim como na anterior, as ações são
a função produção
definidas e aprovadas pelo conselho de gestão analisa como executar
da empresa, formado pelos três sócios-pro- as metas estipuladas
prietários e diretores da empresa, um assessor para o incremento do
jurídico e um assessor financeiro-tributário. faturamento estimado
Conforme entrevista concedida pelo diretor em função dos recursos
comercial, pode-se perceber a interatividade disponíveis. Assim, o foco
da organização com o mercado em que está das ações se direciona
inserida. É através da análise do mercado que
ao gerenciamento dos
a organização acompanha a dinâmica do con-
recursos disponíveis, sob a
sumidor e do setor, atuando junto aos clientes
e constatando suas necessidades.
perspectiva do desempenho
recente da função, da
Para estabelecer a forma de competição da capacidade tecnológica, da
organização em função de sua disponibilidade
habilidade do pessoal das
de recursos, a organização formaliza sua estra-
funções e sua organização.
tégia de negócio baseada em um orçamento
aprovado pelo conselho de gestão, que analisa
criteriosamente os investimentos, custos e des-
Conforme os estudos de Paiva (2009), como
pesas em função dos resultados projetados. A
sistemática do processo de implantação da es-
partir das delimitações de recursos destinados
tratégia de produção, a organização deve definir

E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016 87


os seus critérios competitivos, alinhando-os às das utilizadas atualmente. Do ponto de vista
suas estratégias de negócio. A partir desta con- corporativo direcionado a alianças estratégicas,
ceituação, a organização realiza o alinhamento fusões, aquisições e internacionalização, a em-
de suas estratégias de produção aos critérios presa não desenvolve nenhuma atividade que
competitivos estabelecidos pela estratégia de configura tais ações estratégicas. Com exceção
negócios (critérios que serão abordados mais da integração vertical, as outras estratégias cor-
a diante). porativas não foram analisadas pela organização,
que vem adotando este padrão ao longo de sua
existência.
4.1.1 Estratégias corporativas
Na organização estudada, as estratégias corpo-
rativas se comportam de acordo com os concei- 4.1.2 Estratégias de negócio
tos exibidos pelos estudos realizados por Slack Segundo Barney e Hesterly (2011), a estratégia
et al. (2007), nos quais o mesmo afirma que as de diferenciação de produto é uma estratégia
estratégias corporativas direcionam o restante de negócio em que as empresas buscam ganhar
das estratégias elaboradas pela organização. vantagem competitiva, aumentando o valor per-
Conforme Barney e Hesterly (2011), as es- cebido de seus produtos em relação aos valores
tratégias corporativas típicas são: a integração de outras empresas. Dessa forma, a empresa
vertical, a diversificação, as alianças estratégicas, adota tal estratégia a fim de fortalecer sua marca
as fusões e aquisições e a internacionalização. sob esta perspectiva de agregar desejo pelos
Foi possível observar que a organização realiza produtos da marca. O aspecto custo é analisado,
o processo de integração vertical para frente, comparando sempre os custos aos resultados.
em que ela absorve uma etapa da parte final de Porém, os preços de venda não são definidos
sua cadeia de valor. Neste caso, a empresa conta por eles, que, quando reduzidos, contribuem
com duas lojas próprias responsáveis por vendas apenas para um aumento da margem de lucro
diretamente no varejo. A integração vertical da empresa. Assim, a empresa adota a estratégia
para trás não é algo almejado pela empresa, de diferenciação de produto, não eximindo a
pois a organização não possui o intuito de participação do custo na formulação estratégica.
absorver os seus fornecedores componentes
A estratégia de negócio da empresa é desen-
de sua cadeia de suprimentos. Pelo contrário,
volvida de forma conjunta entre os diretores
existe o desejo de uma redução significativa de
da empresa e os três sócios proprietários que
produção interna de insumos provenientes do
atuam de maneira efetiva em cargos estraté-
processamento das matérias-primas oriundas
gicos, formando a alta administração. Dessa
de produção externa.
forma, os critérios competitivos são gerados
Com relação à estratégia de diversificação cor- a fim de suprir as necessidades da estratégia
porativa, a organização atualmente não desen- corporativa. Critérios estes, de acordo com os
volve nenhum trabalho que se baseia sobre este estudos descritos por Slack et al. (2007), em
conceito, pois suas ações são desenvolvidas sob que são elencados os cinco critérios principais
as influências do mercado onde atua, sem a para a posterior estruturação da estratégia de
intenção de desenvolver produtos direcionados produção de maneira que a mesma possa pro-
a outros nichos ou com tecnologias diferentes porcionar competitividade à organização, sendo

88 E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016


eles qualidade, velocidade, confiabilidade de O critério velocidade é visto pela organização
entrega, flexibilidade e custos. como algo que gera uma competitividade no
mercado, por ser um diferencial entre as em-
Cada critério competitivo é tratado de uma
presas do ramo. Ações que permitam reduzir o
forma diferente pelas organizações em geral. Na
tempo de ciclo dos processos, sejam eles produ-
empresa abordada neste estudo não é diferente,
tivos ou administrativos, são analisados cons-
porém cada organização elege quais os focos
tantemente, para de otimizá-los e proporcionar
de ação nos critérios que mais resultado pode
resultados diante dos anseios do cliente. Dentre
promover para a organização em seu mercado
dos aspectos apontados por Slack et al. (2007),
de atuação. Diante deste fato, analisamos os
a empresa realiza uma aplicação integrada aos
critérios segundo os aspectos levantados na
conceitos elencados pelo mesmo. A empresa
gestão.
pesquisada apresentou a flexibilidade como
A qualidade na empresa é algo que não é ge- critério competitivo, que é definido por Slack
renciado de maneira efetiva com a instituição et al. (2007) como a capacidade “mudar o que e
física de um departamento responsável, porém como se faz”. Dessa forma, a produção procura
a empresa busca que a mesma esteja presente absorver a flexibilidade, com a qual a empresa
intrinsecamente em todos os processos realiza- produz bens e serviços. Assim, a empresa busca
dos, como agente integrante. Prezam por este manter a flexibilidade a seus clientes como um
aspecto, pois alegam ser um fator de diferen- diferencial de mercado, conservando sempre
ciação de seu produto. Assim, quando ocorrem um planejamento prévio para que a flexibilidade
assistências técnicas, ações são tomadas imedia- não se torne padrão e para que prioridades sejam
tamente para que as situações não se tornem estabelecidas cronologicamente, a fim de não
recorrentes, pois a empresa aplica diretamente prejudicar a função produção como um todo.
as ferramentas apontadas nos estudos de Slack
O último critério competitivo almejado pela
et al. (2007), no qual afirma que qualidade é
organização pesquisada está associado aos cus-
um aspecto importante para a satisfação ou
tos, porém a empresa não utiliza o conceito
insatisfação do consumidor. Por outro lado,
proposto por Slack et al. (2007), em que o
internamente, a produção de qualidade tanto
autor destaca que quanto menor o custo de seus
reduz os custos como aumenta a confiabilidade.
bens produzidos, ou de seus serviços prestados,
A confiabilidade de entregas é outro critério
menor poderá ser o preço fornecido pela orga-
competitivo presente na estratégia de negó-
nização aos seus clientes. Para a organização, o
cio. Dessa forma, a empresa entende que este
que define seu preço de venda não é seu custo,
aspecto é indispensável ao seu estereótipo de
mas o mercado e seus concorrentes. O custo é
cliente. Assim, suas referências se adequam às
importante para a organização como forma de
definições de Slack et al. (2007), que afirma ser
projetar sua rentabilidade. Dessa forma, como
a confiabilidade um aspecto importante para o
consequência da necessidade da estratégia de
consumidor, analisado do ponto de visto externo.
negócios, os custos são gerenciados em seus
Internamente, a confiabilidade dentro da função
mais amplos níveis, conforme foi mencionado
produção aumenta a confiabilidade operacional,
anteriormente. O Quadro 4 exibe a forma com
dando mais estabilidade à operação.
que a empresa aplica os critérios competitivos
em função da conceituação de Slack et al. (2007).

E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016 89


Quadro 4: Critérios competitivos sob a visão da organização

Critérios Para a organização... Na prática...

Qualidade Produtos e processos. A qualidade está intrínseca nos processos.

Confiabilidade A empresa valoriza a credibilidade gerada


Credibilidade do cliente. pelo cumprimento de suas definições
de entregas junto aos seus clientes.

Tempo de ciclo curto, um diferencial A organização está em constante pesquisa,


Velocidade análise e estudo para a redução de seus
de mercado. tempos de ciclo dos processos.

Adaptação da produção de alteração Prioridades são redefinidas, sempre


Flexibilidade no planejamento em função das buscando atender às necessidades do
necessidades de urgência dos clientes. cliente, sem prejudicar a função produção.

O custo é avaliado pela empresa em todos


Custos Maior rentabilidade. os aspectos, sempre comparando custos
x resultados.

Fonte: Adaptado de Slack et al. (2007)

Dessa forma, os diferenciais apontados como estratégias de produção em função das necessi-
responsáveis pela competitividade dos produtos dades das estratégias de negócio e corporativas
produzidos pela empresa são impulsionados definidas e aprovadas pelo conselho de gestão.
pelos critérios competitivos adotados pela or- Dessa maneira, as estratégias de produção na
ganização, mantendo uma conexão entre os organização geram as categorias de decisões em
objetivos corporativos ao posicionamento de função das ações que deverão ser implantadas
mercado adotado. para que os critérios competitivos definidos
sejam atingidos. Tais categorias de decisão fo-
ram estratificadas neste trabalho segundo os
4.1.3 Estratégias de produção critérios de Slack et al. (2007), em que elas são
As estratégias de produção na empresa estudada divididas em categorias de decisões estruturais
são fundamentadas e aplicadas seguindo os e infraestruturais.
critérios de Platts (1992), em que afirma que
a estratégia de produção é definida como um
4.1.3.1 Análise estratégica estrutural
padrão de decisões que envolve duas linhas
paralelas de aspectos, as estruturais e as infra- Para Slack et al. (2007), as categorias de decisão
estruturais. Esses aspectos determinam como que compõem o grupo de decisões estruturais
o sistema produtivo deverá operar o conjun- são classificadas conforme a seguinte dispo-
to de objetivos produtivos e sua contribuição sição: capacidade de produção, instalações de
para o alcance dos objetivos competitivos da produção, tecnologia de produção e integra-
organização. Assim, a organização alinha suas ção vertical e relação com fornecedores. Com

90 E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016


relação à capacidade de produção, a empre- A organização utiliza processos tecnológicos
sa não possui um plano de vendas que possa e seus recursos dentro das disponibilidades de
projetar antecipadamente as necessidades de seu ramo de atuação. Atualmente, conta com
produção. Assim, o departamento de vendas um sistema ERP de ponta, desenvolvido de
se adequa à sazonalidade do mercado. Dessa acordo com as necessidades da empresa em
forma, não é possível determinar um plano de seus mais amplos aspectos. Em alguns de seus
produção baseado numa previsão de venda, processos produtivos, que, em sua grande maio-
gerando ações em consequências das geradas ria, são manuais e artesanais, a empresa investe
pelo mercado, ou seja, a produção se projeta de em automatização. Comparando as aquisições
acordo com as necessidades da área de vendas. da empresa à disponibilidade tecnológica do
A política estratégica da empresa preza pela ramo, pode-se avaliar apenas o CNC como
alocação externa da capacidade produtiva. não aproveitado dentro do processo, por fal-
Assim, caso existe a necessidade de aumentar ta de padronização de alguns processos e por
a capacidade produtiva, a função produção opta existir centros de usinagens mais modernos que
por maximizar o seu potencial produtivo com executam um maior número de cortes, deixan-
terceirizações e parcerias. do o produto pronto, além de eliminar alguns
processos pós-corte realizado atualmente.
Do ponto de vista de instalações, o objetivo
da empresa é manter suas áreas produtivas Quanto à integração vertical e à relação com
no mesmo parque fabril, eliminando riscos de os fornecedores, observou-se que a organiza-
avaria no transporte interno de mercadorias ção não possui o intuito de absorver os seus
de uma área produtiva para outra, gastos com fornecedores componentes de sua cadeia de
logística, mudanças e desperdício de tempo de suprimentos. Pelo contrário, existe o desejo de
colaboradores envolvidos no processo de carga uma redução significativa de produção interna
e descarga, entre outros aspectos, constituem de insumos provenientes do processamento
as principais justificativas deste processo. O das matérias-primas oriundas de produção
volume de produção é facilmente absorvido externa, pois o foco da empresa é desenvolver
pela estrutura produtiva em virtude da alta produtos acabados e não matéria-prima, uma
velocidade com que mercadorias são expedidas. vez que a absorção dos processos de produção e
Assim, a quantidade produtos acabados formam processamento das matérias-primas utilizadas
um pequeno estoque, que é renovado em uma pela organização possuem um alto custo de
média a cada cinco dias. O processo produtivo implantação. Sobre os fornecedores, atualmente
se encontra disposto de uma forma que não a empresa conta com um procedimento padrão
contribui de uma maneira dinâmica para o para seleção de fornecedores, descrito em sua
abastecimento da linha produtiva, em função política de compras, que conta com pré-requi-
do almoxarifado central encontrar-se longe da sitos básicos, como preço, prazo de pagamento,
maior parte da área produtiva, prejudicando qualidade, prazo de entrega para a inserção
também o processo de descarga de materiais. dos mesmos em sua cadeia de suprimentos. O
Por outro lado, a linearidade da disposição do intuito principal da relação com os fornecedores
processo contribui para a expedição das merca- está na construção de uma sólida parceria, não
dorias, seguindo um fluxo produtivo eficiente, estruturada apenas sob preços de produtos e
sem muitas ramificações e remanejamentos dos condições de pagamento e fornecimento, mas
produtos dentro da linha produtiva. sim sob a relação próxima entre empresa e

E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016 91


fornecedor. A organização não conta com um de compras que parte do processamento das
gerenciamento de indicadores de desempenho informações de necessidade do pedido no mo-
de seus fornecedores. mento da triagem do mesmo pelo departamento
comercial, dentro de um modelo de MRP. Os
prazos de ressuprimentos por parte de seus
4.1.3.2 Análise estratégica infraestrutural fornecedores são considerados para que o nível
As categorias de decisão que compõem o gru- de estoque se mantenha o menor possível dentro
po de decisões infraestruturais segundo são do prazo de reabastecimento, evitando possíveis
classificadas conforme a seguinte disposição: faltas de insumos no departamento produtivo.
planejamento, controle e organização da pro-
Sob a ótica da força de trabalho, a empresa
dução, força de trabalho e gerência de quali-
possui um modelo de gestão compartilhada,
dade. Em relação ao planejamento, controle
em que os membros das diretorias participam
e organização da produção, verificou-se que a
ativamente da disseminação de metas e resul-
função produção encontra-se organizada hie-
tados, contribuindo de forma muito positiva
rarquicamente sob uma visão e gestão moderna,
na estrutura organizacional. A organização
sem os diversos subníveis de direção, gerência,
considera que é de extrema importância os
coordenação e supervisão que se pode observar
treinamentos dos funcionários da produção, que
comumente nas empresas. Assim, a organização
devem ser capacitados de acordo com a neces-
possui uma diretoria industrial que direciona
sidade de seu setor produtivo. Este treinamento
diretamente os supervisores de produção, que
pode ser moldado também para a aquisição de
são quatro no total, e que, por sua vez, repas-
polivalência do funcionário. Atualmente o plano
sam as ações aos colaboradores. Atualmente
de treinamento é bem superficial.
o processo de produção é dividido em três
áreas: estofaria, marcenaria, metalurgia, que por Com relação à gerência da qualidade, a gerência
sua vez são divididas em setores. Verificou-se de produção possui ferramentas no sistema de
que cada setor produtivo possui seus deveres e informação também para gerenciar os tempos
obrigações bem definidas a partir do plano de produtivos de seus colaboradores, em que um
produção coordenado pela diretoria industrial. relatório informa onde os tempos de cada co-
O departamento de Planejamento e Controle laborador foram gastos, contabilizando suas
de Produção utiliza o sistema ERP da empresa horas produtivas e improdutivas. Os processos
para determinar o planejamento da produção. de melhorias nos aspectos produtivos são in-
As capacidades produtivas são mensuradas por fluenciados e direcionados por todos os departa-
homem/hora e os sequenciamentos levam em mentos da organização que, de forma conjunta,
consideração a disponibilidade de capacidade, o buscam auxiliar em um melhor desempenho
prazo de entrega, a disponibilidade de tecido e da operação como um todo. Porém, atualmente
o melhor mix de produtos a serem produzidos, tais informações não são utilizadas para o fim
utilizando o máximo de capacidade de todos os referido e as melhorias de processos são reali-
setores produtivos. Hoje a empresa baseia seus zadas conforme a identificação de necessidades,
estoques diante da política de estoque zero. Suas problemas com o produto ou reclamações e/ou
estocagens são baseadas em uma programação sugestões de clientes.

92 E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016


infraestrutura. Com relação aos objetivos da
4.2 Implantação das
organização, essa tem como objetivo comum
estratégias de produção realizar um crescimento anual estimado de 5%
O processo de formulação das estratégias da ao ano, tendo uma lucratividade média de 20%
organização não é formalmente estruturado. do total faturado mensal. O fluxo de caixa é
Dessa maneira, o conselho de gestão realiza e atualmente um fator determinante para todas as
estabelece os caminhos que a empresa deverá ações da empresa no âmbito geral, pois o mesmo
tomar em função das análises do mercado e direciona as necessidades de atuação da gestão.
prospecções da organização e, em conjunto, Este fluxo é controlado semanalmente, avalian-
define as metas e ações que a empresa deverá do o desempenho atual das entradas geradas
tomar para que tais objetivos sejam alcançados. pela expedição de mercadorias e a necessidade
O próprio conselho define o foco no critério futura de faturamento dos 15 dias subsequentes,
competitivo a ser adotado por determinada analisando as despesas gerais e a receita que
área como prioridade em função da estraté- deverá ser gerada a partir das informações do
gia de negócio. São utilizadas ferramentas e departamento de planejamento de produção.
análises semelhantes às metodologias Hill e Em relação à estratégia de marketing, um dos
Platts-Gregory para a geração de seus critérios diferenciais da empresa é sua extensa gama de
competitivos. Posteriormente à definição de produtos, sendo um diferencial de mercado a
cada critério e das diretorias envolvidas nas sua marca ser completa em decoração. Outro
implementações, as estratégias são repassadas fator propulsor de vendas é a inovação da coleção
para a definição das ações que deverão ser ins- que ocorre todos os anos no mês de outubro,
tituídas a fim de gerar os resultados almejados sendo que esta renovação segue as tendências
pela organização. Assim, definidas as estratégias, dos principais polos de designers do mundo.
as ações são colocadas em prática e os resul-
Com relação a como os produtos ou serviços
tados mensurados sob a forma de relatórios
ganham os pedidos, os maiores diferenciais
ou através de reuniões, para finalmente serem
para o bom desempenho da marca estão atre-
repassados à gestão com o intuito de se analisar
lados à garantia da qualidade, trabalhando no
o alinhamento da estratégia aplicada.
programa de qualidade assegurada ao cliente, a
A metodologia Hill dá grande ênfase à inte- confiabilidade e credibilidade que a marca tem
gração entre marketing e produção. Em virtude com seus parceiros, muitos desde o surgimento
disso, desenvolveu-se critérios qualificadores e da empresa. Os prazos de entrega são outro
ganhadores de pedidos, estreitando ainda mais ponto positivo no processo de produção, pois
a relação entre os diferentes mercados de atua- a empresa presa por assegurar a entrega de seus
ção e da valorização dos critérios competitivos produtos na data prometida a seus clientes.
idealizados na estratégia de negócios por parte Muitas vezes, assume contratos em que um
da organização. Segundo Slack et al. (2007), o atraso de entrega gerar multa à organização,
modelo sugere a conexão entre os diferentes sendo que este fator gera muita credibilidade
níveis da estratégia, que é dividida em cinco para a marca.
passos, sendo eles: definição dos objetivos da
As estratégias de ocupação são denomina-
organização, estratégia de marketing, como os
das por Slack et al. (2007) como escolha do
produtos ou serviços ganham pedidos, quais
processo, com o intuito de definir o conjunto
as estratégias de ocupação do processo e da

E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016 93


de características estruturais da operação que o departamento comercial no caso de baixa de
são consistentes entre si e apropriadas à for- pedidos em carteira. O PCP também libera
ma como a organização deseja competir. Em as listas geradas pelo ERP da empresa para o
alguns de seus processos produtivos, que em almoxarifado distribuir os insumos necessários
sua grande maioria são manuais e artesanais, para a produção do planejamento no período
a empresa investe em automatização. No setor desejado e verifica a necessidade de recursos
de marcenaria, conta com um CNC moderno. humanos necessários para a execução do pla-
Já o setor de metalurgia conta com modernos nejamento. Em caso de necessidade, aciona o
equipamentos de lixa e polimento de aço inox, RH. O fluxo financeiro da empresa é baseado
e o setor de risco e corte de tecidos conta com no planejamento de produção, que determina
a mais nova aquisição da empresa, um CNC de a entrada de capital na organização por meio
corte de tecido a laser. A capacidade da empre- da expedição de mercadorias.
sa atualmente encontra-se definida através de
Outro método utilizado para dar sustentação e
cronoanálise dos processos produtivos. Desta
direcionamento das ações a serem desenvolvi-
forma, o departamento de vendas realiza suas
das na estratégia de produção são direcionadas
vendas de acordo com a ocupação das capa-
pelo método Platts-Gregory, que, conforme
cidades fabris de maneira a não extrapolar os
Slack et al. (2007), consiste em desenvolver a
limites produtivos e não prejudicar os prazos
compreensão da posição de mercado da em-
de entregas dos produtos aos clientes. O siste-
presa e da identificação dos fatores exigidos
ma de Planejamento e Controle de Produção
pelo mercado, comparando esses elementos ao
(PCP) dá suporte e determina a infraestrutura
nível de desempenho atingido em função da
necessária para o desempenho adequado da
operação. Assim, é possível analisar os aspectos
organização. O mesmo determina as ações a
definidos pela organização como importantes
serem desempenhadas pelos departamentos de
ao desempenho atual de seus concorrentes:
compras, comercial, almoxarifado, recursos hu-
prazo de entrega, confiabilidade, características,
manos, manutenção, expedição, financeiro, tudo
qualidade, flexibilidade, volume, preço/custo.
a partir do planejamento de produção. Após
Dessa forma, é possível observar quais os fatores
executado o planejamento, o departamento
que são relevantes no mercado de atuação e
processa as informações referentes ao consumo
os que, em relação aos concorrentes, precisam
de matérias-primas necessárias para a produ-
ser melhorados em virtude do desempenho da
ção e verifica as necessidades de compra e, em
função produção, contribuindo diretamente
caso de necessidade, aciona o departamento de
para o alinhamento da estratégia de produção.
compras. Da mesma forma, restringe ou aciona

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo aqui descrito teve como objetivo in- pesquisa qualitativa e a estratégia de estudo de
vestigar como são formuladas e implementadas caso. Os principais resultados alcançados com
as estratégias de produção em uma empresa do o estudo podem ser sumarizados nos seguintes
setor moveleiro. Utilizou-se a abordagem de pontos:

94 E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016


a) a função produção, na prática, possui As ferramentas e técnicas, mesmo que sejam
valorização da organização como dife- similares a metodologias consagradas, geram
rencial competitivo; resultados eficientes para a organização, porém
podem ser migradas às metodologias como a de
b) a organização não possui um processo
Hill e a de Platts-Gregory. A comunicação entre
de formulação de suas estratégias for-
as partes envolvidas no processo de formulação
malmente definido;
e implementação das estratégias de produção
c) a organização não possui ferramen- também pode ser otimizada pelo uso de rotinas
tas formalizadas para a geração de suas formalizadas para tal. Isso evitaria possíveis
estratégias; falhas no direcionamento de algumas ações.
É importante que a organização evite separar
d) as ferramentas e técnicas, mesmo que
os processos de formulação e de implementa-
sejam adaptações a metodologias consa-
ção das estratégias, tendo em vista aproveitar
gradas, geram resultados eficientes para
contribuições dos diversos envolvidos, direta
a organização;
e indiretamente, no processo. A organização
e) os critérios competitivos são bem defi- deve incorporar o aprendizado contínuo, uma
nidos pela estratégia de negócios, porém vez que, assim, ela pode aproveitar estratégias
o aspecto qualidade não é gerenciado emergentes, fruto desse aprendizado.
conforme a definição da estratégia;
Os critérios competitivos são bem definidos
f ) os impactos das estratégias sob a função pela estratégia de negócios, porém o aspecto
produção não são mensurados de ma- qualidade não é gerenciado conforme a de-
neira eficiente; finição da estratégia. Nesse sentido, não há
um controle efetivo da qualidade durante os
g) as categorias de decisão são tratadas e re-
processos, existindo apenas uma expectativa por
cebem os devidos planos de ações, porém
parte da organização da existência intrínseca da
não existe formalidade na categorização
qualidade. As categorias de decisão são tratadas
das decisões por parte da estratégia de
e recebem os devidos planos de ações, porém
produção;
não existe formalidade na categorização das
h) a estratégia de produção não atinge os decisões por parte da estratégia de produção.
níveis operacionais de maneira eficiente. Dessa forma, é importante criar certo nível de
formalismos nas ações, mas não deixando que o
Dentro dos aspectos levantados como passíveis
excesso de formalidades atrapalhe o pensamen-
de melhorias está a formalização do processo
to criativo e a identificação de oportunidades
de formulação das estratégias da organização.
de melhoria.

E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, Florianópolis, v. 9, n. 2, 2016 95


FORMULATION AND
IMPLEMENTATION
OF PRODUCTION REFERÊNCIAS
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ABSTRACT CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos
Currently it is possible to observe the constant changes qualitativos, quantitativos e misto. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
in the environment, which is altered in its broadest and
most diversified scopes, whether cultural, political, eco- D’ANDRÉA, C. Estratégias de produção e
nomic or social. In the business scenario, one of the largest organização de informações na web: conceitos para
affected by the caused transformations, organizations a análise de documentos na internet. Ciência da
have increasingly targeted results in terms of reducing Informação, v. 35, n. 3, p. 39-44, 2006.
costs, expanding their efforts in quality, productivity, FLEURY, P. F.; PROENÇA, A. Competitividade
competitiveness and excellence.This study investigated industrial e a gerência estratégica de operações.
how the industrial production strategies are formulated Revista de Administração, v. 28, n. 2, p. 3-21, 1993.
in an industrial organization of the furniture sector.
HARRISON, J. S. Administração estratégica
The research approach adopted was qualitative, with de recursos e relacionamentos. Porto Alegre:
the research strategy being the case study. As a result, it Bookman, 2005.
was verified, among others, that: a) the organization
does not have a process of formulating their strategies HAYES, R.; SCHMEENNER, R. W. How should
you organize manufacturing? Harvard Business
formally defined, b) the production function in practice Review, 1978.
has an appreciation of the organization as a competitive
differential; and c) production strategy does not reach KRAJEWSKI, L. J. Administração de produção e
operational levels efficiently. The following points of operações. São Paulo: Pearson Pretice Hall, 2009.
improvement were also identified in the formulation MATTOS, L. K. As mudanças organizacionais e
and implementation of production strategies in the seus gestores nas empresas na era da informação.
organization: a) the communication between the 2002. Dissertação (Mestrado Executivo). Fundação
parties involved in the process of formulation and Getúlio Vargas, São Paulo, 2002.
implementation of production strategies can also be MINTZBERG. H.; AHLSTRAND, B.;
optimized by using formalized routines for that; b) the LAMPEL, J. Safari de estratégia: um roteiro pela
organization should avoid separating the processes of selva do planejamento. São Paulo: Bookman, 2000.
formulation and implementation of strategies, in order
MUSCAT, A.; FLEURY, A. Indicadores
to take advantage of contributions from the various
de qualidade e produtividade na indústria
stakeholders, directly and indirectly , in the process; brasileira. Revista Indicadores de qualidade e da
and c) the decision categories are treated and receive produtividade, v. 1, n. 1, p. 57-78, 1993.
the appropriate action plans, but there is no formality
categorization of decisions by the production strategy. NETO, J. P. B. Formulação de estratégias de
produção industrial. Porto Alegre, 1999.
Keywords: Production
Strategies. Furniture Industry.
Case Study. Case Study.

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SOBRE OS AUTORES
Diego Madalena
PAIVA, E. L. Conhecimento organizacional e o Graduado em Gestão de
processo de formulação de estratégias de produção.
1999. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio Produção Industrial (SENAI
Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. - SC) e especialista em Gestão
PAIVA, E. L. Estratégia de produção e de Estratégica Empresarial
operações: conceitos, melhores práticas, visão de (SENAC - SC). Experiência
futuro. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
na área industrial desenvolvendo trabalhos de es-
PIRES, S. Gestão estratégica da produção.
truturação, operacionalização, implementações e
Piracicaba, SP: Ed. Unimpe, 1995.
implantações nas áreas de Planejamento e Controle
PLATTS, K. W.; GREGORY, M. J. A
Manufacturing audit approach to strategy de Produção, Estoques, Compras, Engenharia de
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contents. Chapman and Hall, 1992.
automatização de processos e gerenciamento de
PORTER, M. Estratégia competitiva: técnicas para cronogramas de implantação), Mapeamento de
análise de indústria e da concorrência. 7. ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1986. Processos,Custos Industriais (estruturação de custos,
definição de preço de venda,controladoria industrial)
SALLES, J. Gestão estratégica da manufatura. Tese
(Doutorado em administração) São Paulo, 1998, 145 e Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos e
f – Escola de Administração da Fundação Getúlio processos. Atualmente é Sócio e Gestor de Projetos
Vargas. São Paulo, 1998.
na empresa Megadev Tecnologia.
SANTOS, F. C. A.; PIRES, S. R. I. Prioridades
competitivas da administração estratégica da
manufatura: estudos de casos. In: Encontro Nacional
de Pós-Graduação em Administração, 22, Foz do Pierry Teza
Iguaçu/PR, 1998.

SKINNER, W. Manufacturing: missing link in Graduado em Administração


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SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Estácio de Sá de Santa
Administração da produção. São Paulo: Atlas, 2007.
Catarina (FESSC).
STUCKEY, J.; WHITE, D. When and when not to Especialista em Engenharia
integrate. Sloan Management Review, Spring, 1993.
de Produção pelo Centro Universitário Leonardo da
SWAMIDASS, P. M.; NEWELL, W. Manufacturing Vinci (UNIASSELVI). Mestre em Engenharia de
strategy, environmental uncertainty and performance:
a path analytic model. Management Science, v. 33, n. Produção e doutorando em Gestão do Conhecimento
4, p. 509-524, 1987. pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
WEELWRIGHT, S.; HAYES, R. Restoring Professor do Instituto Federal de Santa Catarina
our competitive edge: competing through (IFSC). Experiência docente em disciplinas da área
manufacturing. Toronto: Wiley, 1984.
de empreendedorismo, marketing, estratégia e mé-
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método.
4. ed.. São Paulo: Bookman, 2010.
todos científicos. Experiência profissional na área de
consultoria técnica e gerenciamento de projetos e
obras de engenharia. Membro do Grupo de Pesquisa
Data de recebimento: 31/10/2013
Data de aprovação: 13/12/2016 Inteligência, Gestão e Tecnologias para Inovação
(IGTI/UFSC) e do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Empreendedorismo e Inovação (GEPEI/IFSC).
Desenvolve pesquisas em Gestão da Inovação com

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foco em Métodos, Técnicas e Ferramentas para
Inovação (MTF-Is).

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