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Dinis”
Manuel Pessanha foi um almirante real português. Ele era descendente de uma
família genovesa de navegadores experientes. Desempenhou um papel importante
na renovação da Marinha Portuguesa. Desempenhou também delicadas missões
diplomáticas como embaixador do rei de Portugal junto da Sé Apostólica.
Foi por diversas vezes enviado junto da corte pontifícia de João XXII na qualidade
de embaixador para tratar de assuntos delicados em nome do rei. Frequentemente,
a título de compensação, quer no Reino de Inglaterra, quer no período em que
gravitou na órbita da corte francesa , foram-lhe oferecidas as rendas provenientes
de diversas actividades e foram-lhe confiados bens pertencentes à já extinta Ordem
do Templo .
Dinis especifica que nomeia Manuel Pessanha almirante do reino de acordo com a
rainha consorte e o príncipe herdeiro. Sabemos que o cargo de Almirante já existia
no Reino de Portugal, nomeadamente durante o reinado dionisino, embora, como
veremos, este se eleve a verdadeira instituição somente com a e na pessoa de
Manuel Pessanha. Mesmo assim, vale a pena recordar que Nuno Fernandes
Cogominho foi provavelmente destituído do cargo, prerrogativa exclusiva do rei, pelo
seu facciosismo e pelo apoio prestado ao infante durante a primeira fase das
desavenças que precederam o rebentar da guerra civil. Sabemos que devido à sua
falta de imparcialidade, Nuno Fernandes Cogominho foi obrigado a exilar-se no
vizinho Reino de Castela onde, talvez mesmo em 1316, terminou a sua existência.
A este ponto, o facto de o contrato com o recém eleito almirante ter sido assinado
na presença do infante Afonso e da rainha consorte D. As vicissitudes que
envolveram o almirante anterior tiveram que obrigar D. Dinis a reflectir não só sobre
o poder e as prerrogativas do funcionário régio que se preparava para nomear, mas
também sobre a necessidade de uma escolha bem meditada.
Nos vizinhos reinos ibéricos, a opção por um estrangeiro para chefe supremo da
marinha de guerra tinha-se tornado, ao longo do tempo, um costume consolidado:
basta pensar no siciliano Ruggero de Lauria ou, como aparece referido nas fontes
catalãs, Roger de Llauria, e nas aragonesas, Rocher de Lauria, almirante mor do
Reino de Aragão, que, não obstante as vicissitudes de que foi protagonista, se fez
sepultar ao lado, aliás, literalmente aos pés do rei Pedro III de Aragão e da Sicília,
no panteão régio da Coroa, o Mosteiro de Santes Creus, em sinal de ligação e
fidelidade ao soberano18. 13A designação de um estrangeiro para o ofício de
Almirante mor do Reino, acto que por alguns foi interpretado como um risco por
parte de D. Dinis, pois a escolha de um forasteiro poderia incomodar o meio local,
sobretudo a “gente de mar” que a ele devia ser sujeita, na verdade revelou-se
vencedora e não somente pela introdução de novos conhecimentos e práticas em
âmbito marinheiro, já conhecidas e até utilizadas nos vizinhos reinos ibéricos,
circunstância não menos importante em termos de estratégia militar. Deste modo,
com um gesto de grande valor estratégico e inovador com respeito aos hábitos
locais, mas em linha com o que se passava nas restantes monarquias europeias, o
monarca resolveu confiar tal cargo a um estrangeiro, um “sabedor de mar” já
apreciado junto de diversas cortes europeias pelas suas qualidades humanas e as
suas actividades comerciais e marítimas.
Sobre Ruggero de Lauria: Frei Francisco Brandão na Monarquia Lusitana refere que
não devia ter sido fácil tarefa para os emissários do rei achar uma “pessoa capaz a
quem [o rei] pudesse confiar hum lugar de tanta importância”17: nas entrelinhas,
intui-se não somente as muitas responsabilidades que tal figura deveria assumir,
mas também os perigos que podiam provir de uma opção errada. é nesta
perspectiva que deve ser lido o contrato onde muito se insistia no vínculo de
homenagem e de vassalagem com que o almirante se ligava ao monarca, sobre a
necessidade de ele prestar juramento de fidelidade e lealdade ao soberano sobre os
Santos Evangelhos. As vicissitudes que envolveram o almirante anterior tiveram que
obrigar D. Dinis a reflectir não só sobre o poder e as prerrogativas do funcionário
régio que se preparava para nomear, mas também sobre a necessidade de uma
escolha bem meditada. R. S. Lopez - Benedetto Zaccaria ammiraglio e mercante
nella Genova del D (...)
Este já não era um cargo, mas tornou-se uma dignidade, verdadeira instituição,
transmissível por via hereditária, dotada de poder jurisdicional sobre a "gente de
mar" (que directamente do almirante dependia, desde logo para a sua subsistência),
título bem diverso do "Almirante de direito e costume" que existira no passado e que
parece corresponder ao cargo assumido por Nuno Fernandes Cogominho.
Por este motivo, é razoável crer que ele participou, não só na qualidade de
informador dos acontecimentos junto da cúria pontifícia, mas também tomando
partido, como conselheiro e homem de confiança do soberano, nos dramáticos anos
da guerra civil que viram afrontar-se o monarca e o infante herdeiro de 1319 a 1324.
Pelas mesmas razões, afigura-se absolutamente compreensível o facto de o
almirante, não obstante o ofício que exercia, ter tido que esperar alguns anos a
carta de mercê com que D. Afonso IV confirmava tudo quanto D. Dinis estatuíra (21
de Abril de 1327) e não sem ter passado antes por provas em que teve de
demonstrar ao novo rei a sua fiabilidade e lealdade
Homem riquíssimo e potentíssimo, fiel e leal ao seu mandato, Manuel Pessanha foi
o braço direito de D. Dinis e teve que estar ao lado do rei, como de resto previa o
contrato, quando não andava empenhado em missões no estrangeiro ou em acções
militares. Não é por acaso que D. Dinis, uma vez concluída a primeira e violenta
fase do conflito, poucos dias antes de redigir o próprio testamento, no dia 13 de
Junho de 1322, emitia um novo diploma em favor do Manuel Pessanha,
especificando que “... ”, concedendo-lhe um aumento de 1000 libras anuais “por feu
e em nome de feu” à desde já vantajosa recompensa até então garantida. o dito
Almirante me servia bem e lealmente com muytas cousas e com grandes custas do
seu aver... 38 L. T. Belgrano - Documenti e genealogia, op. 39 L. T. Belgrano -
Documenti e genealogia, op.
sobre as zonas litorâneas e as suas gentes, bem como de usufruto dos réditos
não tendo sequer como questão central a História Marítima mas antes outras
escassa reflexão sobre as fontes utilizadas e/ou sobre conceitos e léxico, bem
como uma débil inserção nos debates mais actuais da História Marítima europeia,
uma situação que se tem vindo lentamente a reverter no século XXI, mas
todavia ainda de uma forma insuficiente
gerada pelas instituições políticas locais, como é o caso dos livros de notas de
enunciados, tendo porém a percepção de que, uma cabal resposta a todas elas
exige investigações de cariz mais aprofundado do que este texto permite, muitas
das quais ainda em aberto, como é por exemplo o caso, do estudo das estratégias
pelo mar e pelas regiões litorais na estratégia dos poderes, o texto a desenvolver
terá como linhas norteadoras as seguintes questões:
Atlântico /Mediterrâneo?
mercantil, na guerra naval, no avanço em direcção ao Atlântico sul, bem com ona
navegação marítima sem referentes anteriormente conhecidos. Em que medida as
medidas implementadas permitiram o aprofundamento e/ou a absorção de
conhecimento e experiência determinantes
tardias, como acontece com os livros de registo das chancelarias régias, uma
Antes
papa Honório III aos cruzados que participaram na conquista de Alcácer do Sal
no período medieval bem como a sua conexão com a rede fluvial, as quais
e o interior do reino. Tal permite compreender melhor as razões que vão conferir a
Portugal,
ao Atlântico sul e, entender ainda como a cidade de Lisboa, mercê das suas
extensão considerável do seu curso final, permitiu que tivesse assumido, desde
muito cedo, uma posição de charneira entre o Atlântico e o Mediterrâneo bem como
de paragem, quase sempre obrigatória, nas rotas de navegação medievais
reino medieval português, convém ainda determinar factores que possam ser
ter acontecido, pelo menos nos primeiros decénios pós-conquista, no caso dos
saberes ligados ao mar, tanto mais que no sul de Portugal se regista a presença
de mourarias nas cidades portuárias até aos finais do século XV, enquadradas
3. Primórdios
Se bem que a escassez documental possa estar a condicionar a visão
obtida, não parece ser ainda clara uma linha estratégica à escala do reino de
defesa dos interesses régios sobre o mar e as actividades que lhe estavam
associadas, pois o recurso pelos monarcas à rede monástica para a promoção da
ainda estava muito presente, como aconteceu, por exemplo, em 1144, com a
por mar das relíquias deste santo desde o actual cabo de S. Vicente onde então se
encontravam, para Lisboa, onde o seu culto conheceu grande expansão como
marítimas de Entre Douro e Minho, esitão a zona mais povoada do reino, sobre
conquista de Faro, em 1249. Por outro lado, no século XII tinha começado a
desenhar-se, de forma
ainda que incipiente, uma preocupação de controle régio das zonas litorâneas
Porém, está ainda por estudar a conexão entre as tácticas militares terrestres e as
marítimas, o que permitiria avaliar melhor o
4. Novas estratégias
tornaram premente uma maior atenção dos monarcas aos assuntos ligados ao
conjuntura interna que se estendera entre 1190 com a chegada em força dos
garantir o controle eficaz da linha de costa e a sua defesa face a possíveis disputas
e confrontos e, que colocasse Portugal nos cenários de disputa marítima
mas em que são detectáveis sinais da influência de ritmos das disputas políticas
seu lado, ainda que aplicada à região norte do reino e por isso privilegiando o
entre data imprecisa nos finais da década de vinte do século XIII e 1245, e por
de frequentar a corte de seu primo S. Luís, o que lhe teria permitido conhecer
orientações aplicadas por este monarca na gestão do seu reino acedeu,
reino que deveria resultar não apenas do facto de o terem percorrido e visitado
forma regular entre 1258 e 1311, os quais, apesar de terem outros objectivos,
informações podem ser avaras, tanto podiam exigir complexas acções diplomáticas
como aconteceu no caso da coroa castelhana como processar-se no
tempo longo da 2ª metade do século XIII que, por razões óbvias, vai considerar
Alcanises em 1297.
podem ser inseridas num contexto mais amplo de um ciclo de obras dionisinas
um texto foralengo.
Depois de
Afonso II, Sancho II e, pelo próprio Afonso III nos primeiros anos do seu reinado em
recompensa pelo apoio recebido para o fecho da conquista da região
–a instituição dispunha de comendas sediadas ao longo da costa algarvia, que
evidente, a tutela régia em dois pontos fulcrais, pois Tavira, assumia cada vez
uma posição charneira no contexto da costa algarvia. Nesse texto, que seguia o
fiscal, tendo esta última como corolário uma cuidada explicitação de impostos
fosse na altura mais vantajoso manter suas áreas portuárias na costa a sul de
Lisboa, mais articuladas com algumas das suas mais importantes comendas e mais
adequadas ao escoamento da produção cerealífera das suas vastas propriedades,
passou pela outorga de uma carta de foral a Castro Marim em 1277, que veio
foz dos rios mais importantes do reino, levou D. Dinis a desenvolver uma
doações, por vezes dos seus antecessores mas outras vezes sem origem precisa,
mas também na da rio Vouga e na margem sul do estuário do Tejo. Seu filho Denis
consolidou a presença
Vila Nova de Gaia por seu pai: encontrar um pólo de cobrança fiscal alternativo
conhecia.
as fontes mais tardias vão denominar de costeira ou costa do mar ou seja, de uma
linha de costa que sustentava a noção de que, quem exercia a soberania sobre
ela, tinha também direito a controlar o mar que lhe era adjacente, ainda que não
sejam claros os contornos e a amplitude dos seus limites.
régia localizadas na costa e sobretudo, nos estuários dos rios, assumiram a posição
sobretudo, pelo conteúdo dos forais, só podiam ter como corolário a existência
de construção naval, um pouco por toda a costa, ainda que em pequena escala,
como por exemplo acontecia no porto de Vila do Conde em 1258, para o qual
referida póvoa piscatória de Paredes, para a qual se previam seis caravelas. Tal
implicou para a sua sustentação, a implementação de medidas de apoio
diversificadas, traduzidas por exemplo, na promoção de melhores condições de
atracção de mão de obra especializada através da concessão de privilégios, a
facilitação do acesso a matérias primas e até a criação de um tributo novo, o
denominado calabre de
Porém, a construção de
um esforço que se dilatou, devido à sua envergadura, num tempo que não é
possível precisar, pois tratou-se de uma obra que provocou alterações profundas
Na opinião deste último autor, o modelo teria sido o das taracenas de Sevilha e
Proveniente de uma família que, para além dos seus interesses mercantis
associados
garantir que o número acordado se mantinha estável, podendo fazer vir, para
deste acordo tal era especialmente importante, pois o clima de tensão entre o
rei e o seu filho e herdeiro Afonso que condecireu mais tarde à guerra civil era
já uma realidade.
onde tinha de actuar, por certo com frequência. Não sendo a figura do almirante
uma novidade em Portugal pois a sua
Se até agora foi visível, que os monarcas dos séculos XII e XIII consideravam os
interesse ligados ao mar como um elemento importante das suas
estruturas portuárias, se bem que, neste último caso, Lisboa possa constituir
portuárias –apesar da já referida excepção de Lisboa– pois tal pode ser explicado
predomínio de uma muito pequena escala, que não justificavam tais iniciativas,
numa Idade Média em que tais iniciativas eram raras mesmo em portos de
actividades ligadas ao mar, sendo preciso esperar pelas centúrias seguintes para
9. Conclusões
Conseguiram
linha costeira hostil para a ocupação humanas para uma utilização do mar e da
costa como espaço de afirmação da sua autoridade e como elemento fundamental
de articulação dos espaços do reino e destes com a entidades exteriores
outras soluções que permitiram inserir o reino, de uma forma mais adequada,
parece pois revelar sinais de uma progressiva adaptação de uma realeza e de uma
sociedade a novas circunstâncias propiciadas pelo fim da Reconquista, nas quais os