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Projeto de Lei 4.

726/2016

Autor: Deputado COVATTI FILHO

Relator: Deputado FERNANDO MONTEIRO

Redação Atual:

Art 23. Consideram-se dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias:

I - importadas, ao desamparo de guia de importação ou documento de


efeito equivalente, quando a sua emissão estiver vedada ou suspensa na
forma da legislação específica em vigor;

II - importadas e que forem consideradas abandonadas pelo decurso do


prazo de permanência em recintos alfandegados nas seguintes condições:

a) 90 (noventa) dias após a descarga, sem que tenh sido iniciado o seu
despacho; ou

b) 60 (sessenta) dias da data da interrupção do despacho por ação ou


omissão do importador ou seu representante; ou

c) 60 (sessenta) dias da data da notificação a que se refere o artigo 56 do


Decreto-Iei número 37, de 18 de novembro de 1966, nos casos previstos no
artigo 55 do mesmo Decreto-lei; ou

d) 45 (quarenta e cinco) dias após esgotar-se o prazo fixado para


permanência em entreposto aduaneiro ou recinto alfandegado situado na
zona secundária.

III - trazidas do exterior como bagagem, acompanhada ou desacompanhada


e que permanecerem nos recintos alfandegados por prazo superior a 45
(quarenta e cinco) dias, sem que o passageiro inicie a promoção, do seu
desembaraço;
IV - enquadradas nas hipóteses previstas nas alíneas " a " e " b " do
parágrafo único do artigo 104 e nos incisos I a XIX do artigo 105, do
Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966.

V - estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese


de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de
responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a
interposição fraudulenta de terceiros.

§ 1° O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste


artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias.

§ 2° Presume-se interposição fraudulenta na operação de comércio exterior


a não-comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos
empregados.

§ 3° As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente


ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da
respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a
mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida,
observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto no 70.235, de
6 de março de 1972.

§ 4° O disposto no § 3° não impede a apreensão da mercadoria nos casos


previstos no inciso I ou quando for proibida sua importação, consumo ou
circulação no território nacional.

(...)

Art 27. As infrações mencionadas nos artigos 23, 24 e 26 serão apuradas


através de processo fiscal, cuja peça inicial será o auto de infração
acompanhado de termo de apreensão, e, se for o caso, de termo de guarda.
§ 1º Feita a intimação, pessoal ou por edital, a não apresentação de
impugnação no prazo de 20 (vinte) dias implica em revelia.

§ 2º Apresentada a impugnação, a autoridade preparadora terá o prazo de


15 (quinze) dias para remessa do processo a julgamento.

§ 3º O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado


quando houver necessidade de diligências ou perícias, devendo a
autoridade preparadora fazer comunicação justificada do fato ao Secretário
da Receita Federal.

§ 4º Após o preparo, o processo será encaminhado ao Secretário da Receita


Federal que o submeterá a decisão do Ministro da Fazenda, em instância
única.

Redação Proposta:

Art. 1º O Art. 23 do Decreto-Lei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, passa a


vigorar com a seguinte redação:

“Art. 23 .............................................................................................

§ 2º Presume-se interposição fraudulenta na operação de comércio exterior


a não-comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos
empregados, desde que comprovado dolo ou fraude, e observado o disposto
no § 5º ao § 9º.

......................................................................................................

§ 5º Não se presume interposição fraudulenta nas operações de comércio


exterior as importações por conta e ordem de terceiros bem como as
importações por encomenda quando assim caracterizadas nos termos da
legislação específica.
§ 6º O dolo e a fraude, para efeitos do inciso V do caput e § 2º deste artigo
não serão presumidos em caso de pagamento integral dos tributos devidos
na operação, devendo o dano ao Erário ser econômico-financeiro, e não
apenas informação errônea na Declaração de Importação, que fica sujeita à
multa do art. 69, §1º, da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003.

§ 7º O disposto no inciso V do caput somente será aplicável às pessoas que


comprovadamente agirem em conluio para a prática da infração e dela se
beneficiarem, não sendo aplicável àquele que agiu de boa-fé, ainda que seja
importador, adquirente, encomendante ou terceiro;

Redação Sugerida:

Decreto-Lei 1.455/66

Art 23. Serão punidas com a pena de perdimento das mercadorias, desde
que comprovado o dano efetivo ao erário, as infrações relativas às
mercadorias: (...)

V - estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese


de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de
responsável pela operação, mediante fraude ou simulação;

§ 1° O dano efetivo ao erário consiste na diminuição de arrecadação da


União por meio de uma das ações descritas no caput.

§ 2° Presume-se interposição fraudulenta na operação de comércio exterior


a não-comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos
empregados [Revogado] (...)

Art 25. As mercadorias nas condições dos artigos 23 e 24 serão guardadas


em nome e ordem do Ministro da Fazenda, como medida acautelatória dos
interesses da Fazenda Nacional.
§ 1° A fiscalização, nos 05 (cinco) dias subsequentes à guarda das
mercadorias notificará o contribuinte mediante termo contendo:

a) a base legal de incidência da pena de perdimento;

b) descrição dos fatos que embasam a retenção;

c) o enquadramento dos fatos na descrição legal;

d) a possibilidade de o contribuinte apresentar garantia na forma de seguro


garantia, fiança bancária ou depósito para o desembaraço das mercadorias
importadas.

§ 1° O valor da garantia é o valor aduaneiro das mercadorias apurado pela


fiscalização.

§ 2° A não notificação do contribuinte na forma descrita neste artigo


culmina em nulidade do procedimento.

Art. 27 As infrações mencionadas nos artigos 23, 24 e 26 serão apuradas


através de processo fiscal, cuja peça inicial será o auto de infração
acompanhado de termo de apreensão, e, se for o caso, de termo de guarda.

§ 1° O rito do processo de apuração da aplicação da pena de perdimento é o


descrito no Decreto-Lei 70.235/72.

Art 39. O Ministro da Fazenda definirá os casos em que poderá ser


admitida, mediante as garantias que entender necessárias, a liberação de
mercadorias importadas objeto de litígios fiscais, antes da decisão final.
[Revogado]

MP 2.158-35

Art. 80. A Secretaria da Receita Federal poderá:

I - estabelecer requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica


importadora ou exportadora por conta e ordem de terceiro; e
II - exigir prestação de garantia como condição para a entrega de
mercadorias, quando o valor das importações for incompatível com o
capital social ou o patrimônio líquido do importador ou do adquirente.
[Revogado]

Lei 11.281/06

Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que


adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante
predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros.

§ 1º A Secretaria da Receita Federal:

I - estabelecerá os requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica


importadora na forma do caput deste artigo; e

II - poderá exigir prestação de garantia como condição para a entrega de


mercadorias quando o valor das importações for incompatível com o
capital social ou o patrimônio líquido do importador ou do encomendante.

§ 2º A operação de comércio exterior realizada em desacordo com os


requisitos e condições estabelecidos na forma do § 1º deste artigo presume-
se por conta e ordem de terceiros, para fins de aplicação do disposto nos
arts. 77 a 81 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001.

§ 3º Considera-se promovida na forma do caput deste artigo a importação


realizada com recursos próprios da pessoa jurídica importadora,
participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à
aquisição dos produtos no exterior. (Incluído pela Lei nº 11.452, de 2007)
[Revogado]

Decreto Lei 37/66

Art. 32 (...)

§ 1°. É responsável solidário:


III - o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de
importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa
jurídica importadora.

IV - o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de


procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora.

§ 1° Considera-se por conta e ordem de terceiros a operação de importação


em que o importador ostensivo figura como mandatário do real adquirente
das mercadorias importadas.

§ 2° Considera-se por encomenda a operação de importação em que o


importador ostensivo adquire com recursos próprios mercadoria estrangeira
para venda a encomendante pré-determinado.

§ 3° O importador ostensivo poderá exigir do encomendante ou do real


adquirente garantia da realização do negócio.

§ 4° A posição de devedor solidário do real adquirente e do encomendante


independe de descrição em documentos fiscais ou em declaração de
importação.

Justificativas

1. Dos motivos jurídicos para a eliminação dos entraves burocráticos


às importações por conta e ordem e encomenda:

Como sabido, o Brasil é um Estado Democrático de Direito fundamentado


na livre iniciativa que possui como consectários imediatos a livre
concorrência e o livre exercício de atividade econômica lícita.

Assim, o livre exercício da atividade econômica e a livre concorrência são


limites gerais impostos ao Legislador Ordinário (visto que, por óbvio, a
Magna Carta deve ser lida e interpretada em sua totalidade e não em tiras,
como assevera Grau) traduzindo-se, na seara específica do Direito
Tributário, no “princípio da Neutralidade Fiscal”, positivado (EC 42/2003)
no artigo 146-A da Constituição Federal, in verbis:

Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios


especiais de tributação, com o objetivo de prevenir
desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de
a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo.

FERRAZ JUNIOR assevera que a neutralidade fiscal “deriva diretamente


da liberdade de iniciativa, seja no sentido da liberdade de acesso ao
mercado, seja no de livre conformação e disposição da atividade
econômica”, ademais “inibe a interferência estatal que impossibilite,
juridicamente ou de fato, a criação ou a continuidade de empresas
dedicadas a atividades lícitas ”.

Desta forma, a neutralidade fiscal apresenta três facetas, quais sejam “(i)
neutralidade fiscal enquanto interferência nula ou mínima do Estado no
jogo de mercado; (ii) neutralidade fiscal enquanto ausência de barreiras
estatais de ingresso e permanência no mercado; e (naquilo que nos importa)
(iii) neutralidade fiscal enquanto igualdade de condições no jogo de
mercado” .

Quando se fala em neutralidade fiscal pela perspectiva da igualdade de


condições, tem-se que a tributação deve ser instituída e regulamentada de
tal forma que não cause desigualdades entre aqueles que se encontram sob
a mesma situação jurídica, isto é, salvo casos necessários e justificados, o
tributo não pode causar desequilíbrios entre agentes econômicos
competidores diretos .
Pois bem, leiamos a elucidativa explicação disposta no sitio eletrônico da
Secretaria da Receita Federal sobre a importação na modalidade
encomenda:

A IMPORTAÇÃO POR ENCOMENDA É AQUELA EM QUE


UMA EMPRESA ADQUIRE MERCADORIAS NO
EXTERIOR COM RECURSOS PRÓPRIOS E PROMOVE O
SEU DESPACHO ADUANEIRO DE IMPORTAÇÃO, A FIM
DE REVENDÊ-LAS, posteriormente, a uma empresa
encomendante previamente determinada, em razão de contrato
entre a importadora e a encomendante, cujo objeto deve
compreender, pelo menos, o prazo ou as operações pactuadas
(art. 2º, § 1º, I, da IN SRF nº 634/06).

Assim, como na importação por encomenda o importador


adquire a mercadoria junto ao exportador no exterior,
providencia sua nacionalização e a revende ao encomendante,
tal operação TEM, PARA O IMPORTADOR CONTRATADO,
OS MESMOS EFEITOS FISCAIS DE UMA IMPORTAÇÃO
PRÓPRIA.

Em última análise, em que pese A OBRIGAÇÃO DO


IMPORTADOR DE REVENDER AS MERCADORIAS
IMPORTADAS AO ENCOMENDANTE
PREDETERMINADO, é aquele e não este que pactua a compra
internacional e deve dispor de capacidade econômica para o
pagamento da importação, pela via cambial. Da mesma forma, o
encomendante também deve ter capacidade econômica para
adquirir, no mercado interno, as mercadorias revendidas pelo
importador contratado . (...)
Como se pode facilmente aduzir do arrazoado, o órgão fazendário e de
fiscalização aduaneira e os contribuintes concordam, absolutamente, que a
operação de importação na modalidade “encomenda” não é nada mais,
nada menos, do que uma simples compra e venda, equivalente a uma
importação própria, como, aliás, deixa claro o artigo 3° da Instrução
Normativa SRF 1861 de 2018, in verbis:

Art. 3º Considera-se operação de importação por encomenda


aquela em que a pessoa jurídica importadora é contratada para
promover, em seu nome e com recursos próprios, o despacho
aduaneiro de importação de mercadoria estrangeira por ela
adquirida no exterior para revenda a encomendante
predeterminado.

Do mesmo modo, fisco e contribuintes concordam que a operação por


conta e ordem de terceiros não é nada mais, nada menos do que um
contrato de mandato (conforme explicação sobre o tema extraído do site da
Receita Federal):

A importação por conta e ordem de terceiro é um serviço


prestado por uma empresa - a importadora - a qual promove, em
seu nome, o Despacho Aduaneiro de Importação de mercadorias
adquiridas por outra empresa - a adquirente - em razão de
contrato previamente firmado, que pode compreender ainda a
prestação de outros serviços relacionados com a transação
comercial, como a realização de cotação de preços e a
intermediação comercial (art. 2º da IN RFB nº 1.861/2018).

Assim, na importação por conta e ordem, embora a atuação da


empresa importadora possa abranger desde a simples execução
do despacho de importação até a intermediação da negociação
no exterior, contratação do transporte, seguro, entre outros, o
importador de fato é a adquirente, a mandante da importação,
aquela que efetivamente faz vir a mercadoria de outro país, em
razão da compra internacional; embora, nesse caso, o faça por
via de interposta pessoa - a importadora por conta e ordem -,
que é UMA MERA MANDATÁRIA DA ADQUIRENTE.

Dessa forma, mesmo que a importadora por conta e ordem


efetue os pagamentos ao fornecedor estrangeiro, antecipados ou
não, não se caracteriza uma operação por sua conta própria,
mas, sim, entre o exportador estrangeiro e a empresa adquirente,
pois dela se originam os recursos financeiros.

No entanto, embora sejam simples compra e venda e prestação de serviços,


as importações por encomenda e por conta e ordem são cercadas de uma
série de obrigações acessórias impostas pela Secretaria da Receita Federal
que não são impostas aos importadores que operam na modalidade de
importação direta, em que apenas o importador figura na Declaração de
Importação. Dá-se, portanto, tratamento normativo diferente a situações
essencialmente iguais.

De proêmio, para que se possa realizar a operação por encomenda e por


conta e ordem, tanto o importador quanto o adquirente final da mercadoria,
precisam, anteriormente a importação, habilitar-se no SISCOMEX
(Sistema Integrado de Comércio Exterior) da Secretaria da Receita Federal.

Assim, devem apresentar ao órgão fazendário requerimento instruído com


cópia do documento de identificação do responsável legal pela pessoa
jurídica, e do signatário do requerimento; instrumento de outorga de
poderes para representação da pessoa jurídica; cópia do contrato social e da
certidão da Junta Comercial competente, além dos documentos de que trata
o caput; e, além, aderir ao Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) – caixa
postal eletrônica para comunicação entre o contribuinte e a Receita.
Insta ressaltar que, ainda que o artigo 17 da Instrução Normativa SRF
1.288/2012, determine um prazo máximo de 10 (dez) dias para a
habilitação no SISCOMEX, esta habilitação leva em média 2 (dois) meses
para ocorrer.

Após habilitarem-se no SISCOMEX, importadora e encomendante ou real


adquirente precisam entabular um contrato de importação por encomenda
ou por conta e ordem e, novamente, requerer à Secretaria da Receita
Federal a vinculação entre as empresas, o que, nos mesmos moldes
supramencionados, tem um trâmite interno naquele órgão de 2 (dois) meses
entre a data do protocolo do requerimento de vinculação e o deferimento da
mesma.

Por fim, após uma longa espera de quatro meses - e inúmeras diligências à
Alfândega - para poder iniciar a operação, a Importadora deve indicar no
campo complementar da Declaração de Importação, que realiza a operação
por encomenda de outrem.

Ora, se a Importadora desejasse realizar uma importação direta não


precisaria cumprir boa parte dessas obrigações. Bastaria habilitar-se no
RADAR, adquirir a mercadoria no exterior, e revendê-la no Brasil, sem
quaisquer dificuldades, sem quaisquer diferenças nos “efeitos fiscais” –
como acentuado pelo órgão fazendário.

Destarte, entre empresas do mesmo ramo de atividade - Importação e


Exportação de Bens – em operações com efeitos fiscais idênticos –
importação própria e importação por encomenda e por conta e ordem-
criam-se enormes desequilíbrios, violando o princípio constitucional da
neutralidade fiscal. Para se constatar esta verdade, basta rememorar que a
Receita Federal entende que o descumprimento de quaisquer dos requisitos
para realizar uma importação na modalidade “encomenda” (como exposto
acima) é causa suficiente para levar ao perdimento da mercadoria
importada por ocultação fraudulenta de terceiros (art. 23 V Decreto-Lei
1.455/76), o que não ocorre com a importação por conta própria.

Ora, se a operação de importação por encomenda e a operação de


importação direta são idênticas quer em seu conceito (compra para
posterior revenda) quer em seus efeitos fiscais, exigir um procedimento
anterior a importação (habilitação da encomendante no SISCOMEX e
registro do Contrato de Importação por encomenda) que leva mais de 4
(quatro) meses para completar-se - exclusivamente pela morosidade da
Secretaria da Receita Federal - é certamente criar obrigação insuportável
para o importador por encomenda, ainda mais observando-se a dinâmica
que hoje exige o comércio exterior.

Com efeito, justamente por determinar obrigações acessórias desiguais


entre pessoas jurídicas do mesmo ramo de atividade, que realizam a mesma
operação em seu conceito e efeitos, os requisitos da importação por
encomenda violam o princípio da neutralidade fiscal e sequer deveriam ser
exigíveis, não podendo, de forma alguma, seu descumprimento levar à
aplicação da pena de perdimento dos bens, como constantemente faz a
Receita Federal.

2. Do duplo grau de jurisdição em sede de perdimento:

O Brasil é um dos signatários do Acordo de Facilitação de Comércio (AFC,


doravante), matrícula que foi internalizada por meio do Decreto
9.326/2018. Em seu artigo 4° o AFC assegura o direito à interposição de
recurso de decisão administrativa:

ARTIGO 4: PROCEDIMENTOS DE RECURSO OU


REVISÃO
1. Cada Membro assegurará que qualquer pessoa para quem
a Aduana emita uma decisão administrativa tenha o direito,
dentro de seu território, a:

(a) uma revisão ou recurso administrativo a uma autoridade


administrativa superior ou independente da autoridade ou
repartição que tenha emitido a decisão; e/ou

(b) uma revisão ou recurso judicial da decisão.

2. A legislação de um Membro poderá exigir que uma revisão


ou recurso administrativo seja iniciado antes de um recurso ou
revisão judicial.

3. Cada Membro assegurará que os seus procedimentos de


recurso ou revisão sejam conduzidos de forma não
discriminatória.

4. Cada Membro assegurará que, no caso em que a decisão de


que trata a alínea (a) do parágrafo 4.1 não seja cientificada:

(a) dentro de prazos estabelecidos conforme especificado em


suas leis ou regulamentos; ou

(b) sem demora injustificada;

A nota 4 do AFC esclarece que decisão administrativa nos termos do artigo


4° é aquela mencionada pelo Artigo X.3 do GATT 1994:

4 – No presente Artigo, uma decisão administrativa é uma


decisão com um efeito jurídico que afeta os direitos e
obrigações de uma pessoa específica em um caso concreto.
Deve-se entender que uma decisão administrativa no presente
Artigo abrange uma ação administrativa, na acepção do
Artigo X do GATT 1994, ou a omissão em tomar uma medida
ou decisão administrativa, conforme previsto no direito interno
e no sistema jurídico de um Membro.

O Artigo X do GATT 1994 trata da Publicação e Apuração dos


Regulamentos Relativos Ao Comércio. Os itens 1 e 2 do Artigo X do
GATT 1994 tratam de questões atinentes a publicação de regras gerais de
conduta. A seu turno o item 3 do Artigo X do GATT 1994 giza acerca da
aplicação das normas gerais, ou seja, das decisões administrativas:

10.3 (a) Cada Parte Contratante manterá ou aplicará de maneira


uniforme, imparcial e equitativa todos os regulamentos, leis,
decisões judiciárias e administrativas da categoria visada no
parágrafo 1 de presente Artigo.

(b) Cada Parte Contratante manterá ou instituirá, logo que


possível, tribunais judiciários, administrativos ou de arbitragem,
ou instâncias que tenham por fim especialmente reexaminar e
retificar prontamente as medidas administrativas
relacionadas com as questões aduaneiras. Esses tribunais ou
instâncias serão independentes dos organismos
encarregados de aplicação das medidas administrativas e
suas DECISÕES serão executadas por esses organismos,
cuja prática administrativa dirigirão igualmente, a menos que
seja interposta apelação junto a uma jurisdição superior nos
prazos previstos para as apelações interpostas pelos
importadores, ressalvada a possibilidade da administração
central de tal organismo tomar medidas com o fim de obter uma
revisão da questão em uma outra ação, se houver base para
supor que a decisão é incompatível com os princípios fixados
pela lei ou com a realidade dos fatos.
Dá dicção acima temos que de um lado há medidas administrativas
relacionadas a questões aduaneiras; de outro há decisões administrativas
acerca das medidas administrativas; decisões proferidas por órgãos
superiores àqueles que tomaram e irão executar as medidas administrativas.
Portanto, o que o artigo 4° do AFC estabelece é um direito de revisão das
DECISÕES ADMINISTRATIVAS, não das medidas administrativas.

Pois bem. O artigo 142 do Código Tributário Nacional descreve o


lançamento como o ato administrativo tendente a aplicar no caso concreto
a legislação:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa


constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido
o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência
do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a
matéria tributável, calcular o montante do tributo devido,
identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da
penalidade cabível.

Em reforço o Artigo 299 do Regimento Interno da Secretaria da Receita


Federal do Brasil é claro dispor como competência do SEPEA executar as
atividades relativas às ações de combate à fraude no curso do despacho
aduaneiro.

Portanto, ainda que se possa enxergar certo conteúdo decisório no


lançamento, ele não é uma decisão e sim um método de aplicação do
direito ao caso concreto. Decisão pressupõe escolha entre caminhos, em
direito, escolha entre pretensões das partes (lide). Portanto, decisão
pressupõe contraditório e é fato que antes do lançamento de ofício não há
contraditório – basta rememorar que a Recorrente teve acesso a denúncia
com a notificação do auto de infração.
Ora, se lançamento não é decisão, impugnação não é recurso (por mais que
o ilustre Delegado de Alfândega insista em utilizar a palavra Recorrente).
Destarte, a decisão passível de revisão por meio de recurso é a proferida
pelo senhor Delegado de Alfândega e não pelo Auditor Fiscal no momento
da lavratura do auto de infração.

De todo modo, em sua parte final o artigo 4° do AFC giza acerca do direito
de interposição de novo recurso perante a autoridade administrativa:

O requerente tenha o direito de interpor NOVO


recurso perante a autoridade administrativa ou a
autoridade judicial ou a solicitar a essas autoridades
uma NOVA revisão, ou a interpor qualquer outro
recurso perante autoridade judicial.

Com efeito, ainda que se entenda que impugnação é um recurso contra uma
decisão (auto de infração), o presente recurso deve ser recebido e julgado
nos moldes abaixo descritos.

Como se não bastasse a plena vigência do Acordo de Facilitação do


Comércio, o Protocolo de Revisão da Convenção Internacional para a
Simplificação e a Harmonização dos Regimes Aduaneiros, também
conhecimento como Convenção de Quioto Revisada, que versa sobre a
uniformização de normas que representam as melhores práticas de
Comércio Internacional adotada pela Organização Mundial das Aduanas,
está em processo de ratificação pelo Brasil.

No caso em comento, a Convenção de Quioto Revisada, já foi


promulgada pelo Congresso Nacional, aguardando apenas publicação da
Presidência da República.

Faz-se mister ressaltar, que o capítulo 10 da referida convenção destaca que


a legislação nacional do pais signatário deverá prever a possibilidade de
interposição de recurso em primeira instancia e após a prolação da decisão,
existe a previsão de recorrer para uma autoridade independente da
administração aduaneira.

Pede-se vênia para transcrição dos dispositivos constantes no capitulo 10:

CAPÍTULO 10 - RECURSOS EM MATÉRIA ADUANEIRA

A. DIREITO DE RECURSO

10.1. Norma

A legislação nacional deverá prever o direito de recurso em


matéria aduaneira.

10.2. Norma

Qualquer pessoa que seja diretamente afetada por uma decisão


ou omissão das Administrações Aduaneiras terá o direito de
interpor recurso.

10.3. Norma

A pessoa diretamente afetada por uma decisão ou omissão das


Administrações Aduaneiras deverá, após ter apresentado um
pedido às Administrações Aduaneiras, ser informada dos
fundamentos dessa decisão ou omissão dentro do prazo fixado
pela legislação nacional. Poderá, subsequentemente, interpor ou
não recurso.

10.4. Norma

A legislação nacional deverá prever um direito de recurso em


1ª instância perante as Administrações Aduaneiras.

10.5. Norma
Quando um recurso interposto perante as Administrações
Aduaneiras seja indeferido, o requerente deverá ter um
direito de recurso para uma autoridade independente da
administração aduaneira.

10.6. Norma

Em última instância, o requerente deverá ter direito de recurso


para uma autoridade judicial.

O que se depreende dos dispositivos acima, é que a estrutura recursal


presente em todos os procedimentos administrativos fiscais e judiciais será
aplicada a todas as questões aduaneiras, visto que com uma decisão
desfavorável a pessoa poderá interpor recurso no âmbito da administração
aduaneira (DRJ), caso seja desfavorável tem o direito de questiona a
decisão submetendo à análise de uma autoridade independente da
administração aduaneira (CARF).

Demais disso, ainda que esgotadas todas as instâncias na seara


administrativa, qualquer pessoa submetida a procedimentos da Aduana terá
o direito de questionar a decisão no Poder Judiciário, o que homenageia o
princípio da inafastabilidade da jurisdição, previsto no artigo 5º, XXXV da
Constituição Federal.

Estabelecidas tais premissas, é necessário mencionar que a Convenção de


Quioto Revisada avança para sua ratificação ao ordenamento jurídico
brasileiro, uma vez que o Congresso Nacional, no dia 19 de junho de 2019,
publicou o Decreto Legislativo nº 56 em que aprova o texto do referido ato
internacional.

Nesse sentido, uma vez nacionalizada a referida Convenção, os temas


constantes em seu bojo ganham status de lei ordinária na estrutura jurídica
brasileira, razão pela qual assume o mesmo patamar hierárquico que o
Decreto-Lei 1.455/76, tornando imperiosa a alteração deste Decreto-Lei
para evitar punições do Brasil na ordem internacional.

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