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https://comunidade.institutopontoazul.com.br/89361-curso-2-tudo-sobre-pseudociencia/2496186-aula-02-
afinal-o-que-e-pseudociencia-c-m-ferreira (link restrito a membros do IPA+)

Regras pertinentes do Instituto Ponto Azul (IPA+) à luz desse artigo meu abaixo:

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criticar ideias, e não pessoas.
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Apesar de eu ter certeza que não violo as regras do grupo ao passar esse artigo para
algumas pessoas, e apesar de eu entender ser ilegal que o conteúdo que eu
reproduzo abaixo seja impedido de ser divulgado, peço que quem tiver contato com
esse artigo meu só o divulgue após contato comigo ou com o psicólogo Daniel
Gontijo, que criou o Instituto Ponto Azul. Meu email,
juliocbsiqueira2012@gmail.com, e email de Daniel (Email do instituto),
institutopontoazul@gmail.com

Crítica à Vídeo-Aula do Psicólogo C. Ferreira – aula 2 do Instituto


Ponto Azul do curso de Tudo sobre Pseudociências.

Iniciei as críticas com um comentário geral, seguido de mensagem dividida em diversas


partes. Substituí todos os emoticons ou por alternativas mais antigas ascii ou por mera
exclusão dos mesmos.

Bem... Daniel. Prezado Daniel. Ferreira. Ferreira... Terminei de ver o vídeo agora. Estou
simplesmente estarrecido e horrorizado. Antes de começar a sessão de bordoadas, vou
explicar os motivos e pertinência dos pescotapas epistemológicos ( :-) ), bem como a
natureza deles (ou seja, porque eles não deverão merecer remoção da plataforma; claro,
a decisão final é do Daniel, como eu deixei bem claro para ele em email que enviei
ontem). E é fundamental eu frisar veementemente que, apesar de eu não lançar mão da
simpatia acolhedora e sincera mineira do Daniel (que chega ao ponto de quase
demandar a renomeação do IPA para IPQQ, Instituto do Pão de Queijo Quentinho, meu
respeito à totalidade dos seres humanos em geral, e aos meus contendores em especial,
beira as raias do infinito. É comum de início minha abordagem dar a impressão
justamente do contrário. Mas que ninguém se engane: minha arrogância instrumental
nasce da minha inabalável consciência da monumental grandeza daqueles à quem me
dirijo, e de todo e qualquer ser humano, praticamente (com raríssimas exceções, a
quem, invariavelmente, devoto o silêncio...). O vídeo de Ferreira tem muitos pontos
bons, muitos pontos de valor inescapável, e muita legitimidade em sua reclamação de
base contra a Psicanálise, e dá pistas boas de problemas reais da Psicanálise. Mas, há,
lamentavelmente, muita coisa vaga; muitas coisas erradas; e preocupantes sinais de
aparente fraude e desonestidade intelectual (ou, na melhor das hipóteses, desinformação
quase criminosa). O resumo dessa minha introdução à Crítica ao Ferreira seria a
seguinte frase: não se combate o roto com o esfarrapado. Estudei Kardec 6 anos
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intensamente antes de criticar o Kardecismo (e mantive por 20 anos o site Criticando


Kardec, que fechei agora). Algo bem mais simples que a Psicanálise. Ferreira não
precisa estudar tanto. Mas tem que dar o passo do tamanho da perna. E falar a verdade,
ao invés de distorcer e de falar inverdades (não sei se foram mentiras, ou seja,
inverdades deliberadas; mas foi muito muito muito ruim. Doloroso mesmo de ver). Esse
é um tema grave. Muito grave. Daí a gravidade com que o abordo. Segue, em breve,
minha crítica. Por ora, um abraço. Julio Siqueira.

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 1:

Bem, vou tentar ser o mais sucinto possível. Primeiro vou indicar o que me parecem
serem erros de informação, ou coisas que podem ter sido não tão bem definidas. Sempre
há a possibilidade de que quem esteja errado seja eu, então tomem isso (e quase tudo
mais que eu disser, em qualquer mensagem passada ou futura) mais como uma dica do
tipo "pulga atrás da orelha" do que como uma rota segura rumo à Verdade Final (ou
rumo à Verdade Afinal :-) ). Sempre tentarei indicar o tempo onde aparece o problema.

17 minutos e 4 segundos, e também


17 min e 50 seg.
Nestes dois pontos são comentados, primeiro, Epistemologia, e, segundo, Metafísica.
Não tenho exatamente uma correção a fazer, e sim um comentário que (se correto...)
talvez ajude no entendimento (a meu ver do jeito que está no vídeo não ajuda muito...).
Metafísica (ou, em sinônimo, Ontologia) seria a Realidade em si. Epistemologia seria o
que nós conseguimos entender da Realidade. Alguns acreditam (não me peçam
citação...) que a Realidade em si é impossível de ser verificada ou conhecida. E então
nosso conhecimento, nossas visões a respeito da Realidade, seria sempre algo
incompleto, provisório, sujeito a melhoras sem nunca chegar à perfeição. Isso (penso) é
a raiz da ideia popperiana de que não se pode demonstrar a realidade de uma teoria.
Dizem (sem citações, desculpem-me :-) ) que a origem do termo Metafísica foi
acidental. Aristóteles teria escrito sobre a Física, e iria escrever algo além, que chamou
de "além da Física" (meta física). Então não se saberia se o que Aristóteles queria dizer
por Metafísica é o que eu disse acima, já que se perdeu o texto dele sobre isso (ou nunca
foi escrito, sei lá). Mas existe um conteúdo metafísico ao qual temos acesso, e apenas
esse: nossa própria experiência subjetiva (em inglês, Phenomenal Consciousness,
Qualia).

22 min e 56 seg.
Ferreira pronuncia Popper com o ó fechado (Pôper). Me parece que o correto seria com
o ó aberto (Póper). Pronúncia é questão de tempos, lugares e costumes. Se nos círculos
filosóficos que Ferreira frequentar a pronúncia for Pôper, então o adequado é falar
Pôper mesmo.

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 2: [ainda erros em geral]


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30 min e 24 seg, e
33 min e 15 seg.
Nesses dois pontos, e entre eles, Ferreira fala de indução e dedução. A meu ver ele não
definiu tais termos corretamente, e ainda tirou uma conclusão errada dessa definição
errada. Pelo meu entendimento, o que diferencia o pensamento indutivo do dedutivo é
que o indutivo parte de observações específicas para criar uma ideia geral, e o dedutivo
parte de uma ideia geral para prever observações específicas. Pensamento indutivo: vi
um gato comendo uma lagartixa e começar a tossir. Vi outro gato passar pelo mesmo. E
mais outro, e mais outro. Esse conjunto de observações me induziu à ideia de que se um
gato comer uma lagartixa ele tossirá. Essa ideia foi construída através do pensamento
indutivo. Pensamento dedutivo: sei que se um gato comer uma lagartixa, ele tossirá (li
em algum lugar, minha mãe me disse, ou construí essa ideia através do pensamento
indutivo descrito anteriormente). Alguém me pergunta: o que vai acontecer com esse
gato se ele comer essa lagartixa que eu vou dar pra ele? Minha dedução (meu
pensamento dedutivo): O gato tossirá. Ferreira define bem diferente. Mostra um mesmo
raciocínio, e diz que ele pode ser considerado Inválido (Dedução Inválida) se for visto
como um raciocínio dedutivo (32 min e 25 seg), mas que será considerado como Válido
(Indução Apoiada) se for visto como um raciocínio indutivo (33 min e 40 seg). Pra que
diabos serviria uma coisa dessas??!! De onde Ferreira tirou isso?! Se Ferreira estiver
certo nesse ponto, vou pra Praça Saenz Penha aqui na Tijuca RJ e fico relinchando
pelado na chuva por meia hora!

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 3: [ainda erros em geral]

O raciocínio que Ferreira mostra é o seguinte:

Premissa: 40% de uma amostra aleatória, adequadamente coletada e analisada, da


população brasileira afirmou que já havia se consultado com um psicólogo.

Conclusão: Logo, 40% dos brasileiros já se consultaram com um psicólogo.

Segundo Ferreira, se usarmos do raciocínio/pensamento dedutivo, a conclusão acima


está errada. Mas se usarmos do raciocínio/pensamento indutivo, a conclusão está certa.
Valei-me Felipe Neto Raiz! Isso Não Faz Sentido !!! Da internet, a definição que colho
agora é: O método indutivo é um método científico que obtém conclusões gerais a partir
de premissas individuais. Método dedutivo é um tipo de estrutura de raciocínio lógico
que, para chegar a uma conclusão específica, utiliza uma ideia generalista. Ou seja,
gatos e lagartixas. Consta que o indutivismo teria sido introduzido por Francis Bacon, lá
por volta do ano 1620. Era a Ciência partindo imaculada direto das observações e
experimentações puras, primitivas.

43 min e 40 seg.
Ferreira afirma que "Para o Popper, a Ciência funciona exclusivamente através de
raciocínios dedutivos. O raciocínio dedutivo é aquele que você tem a intenção de trazer
garantias". Novamente, não sei de onde Ferreira tirou isso, mas não vejo como isso
possa ser possível. Me perdoem a licença poética, mas por mais que Popper seja
burrinho e meio engessado, ele precisaria ser um asno completo para ter uma posição
dessas. Pelo menos uma parte volumosa (talvez a totalidade mesmo) do processo de
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falsificação é um processo baseado na indução. E aí Ferreira cita Hume e alude ao


Problema da Indução de um modo que parece igualmente errado. Eu colhendo agora da
internet (em inglês, tradução livre minha): "Primeiramente formulado por David Hume,
o *Problema da Indução* questiona nossas razões para acreditarmos que o futuro se
comportará como o (will resemble the) passado, ou mais amplamente, questiona
previsões sobre coisas (eventos) não observados baseadas em observações prévias". Me
parece que Ferreira entende errado algo, e usa esse algo errado pra construir mais
conhecimento errado.

45 min e 20 seg.
Ferreira diz que Popper não propôs um Método Científico, e sim ele estava tentando
descrever o que ele achava que já acontecia. De novo, me parece bem errado. Acho que
ele queria propor um método a ser adotado mesmo.

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 4: [ainda erros em geral]

1 hora, 11 minutos, 45 segundos.


Ferreira apresenta uma tirinha cômica. A tira debocha do verificacionismo carnapiano,
do falsificacionismo popperiano, e do relativismo kuhniano. Me parece que no tocante
ao verificacionismo e ao suposto (mas inexistente na realidade) relativismo kuhniano, a
tirinha é débil (e totalmente inválida). Quanto a Popper, é parcialmente correta.

1 h, 35 min, 15 seg.
Ferreira entra em ponto potencialmente rico, ao começar a avaliar possíveis problemas
em Freud. A coisa evoluiu um pouco até logo mais à frente, 1h, 33min, e 38seg, onde
Ferreira faz a meu ver a melhor e mais bem embasada afirmação de toda sua aula:
"Você está lidando com o comportamento humano, você precisa de amostra, precisa de
ter dados suficientes para análises estatísticas e várias coisas, e hoje em dia o pessoal
ainda pegar esses dados e utilizar esses dados como se eles provassem uma teoria
universal sob o funcionamento psicológico humano é no mínimo questionável". Uma
afirmação equilibrada (nada dos destemperos senis sexagenários como os meus :-) ),
bem embasada e pertinente, social e politicamente robusta. Bonito mesmo. Nesse ponto
achei que as coisas só melhorariam. Mas estava muitíssimo errado. :-( .

1 h, 36 min, 02 seg.
Ferreira reclama do problema dos experimentos (dos casos clínicos, anedóticos) na
Psicanálise não serem repetíveis, e que uma das graves limitações das evidências
anedóticas para comprovar teorias universais sobre a psicologia humana é não serem
replicáveis. Não vejo bem desse modo. Mas é um ponto importantíssimo a se ter em
foco.

1 h, 46 min, 18 seg e 24 seg.


Nesse ponto, Ferreira começa a perguntar por uma estranha música que estaria tocando
ao fundo. Imediatamente antes eu havia dado uma pausa no vídeo dele para espairecer
ouvindo uma música. Ferreira ouviu, há mais de uma semana atrás, a música que eu
toquei hoje para espairecer da dor provocada em mim pelo vídeo dele... A música que
estavas ouvindo, Ferreira, era a do link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=aW6OzNRsUOM
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CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 5: [ainda erros em geral]

1 h, 56 min, 23 seg.
Nesse ponto Ferreira mostra um texto com um deboche generalizado à Psicanálise e à
postura dos psicanalistas frente a toda e qualquer objeção que alguém faça ao método e
à teoria. Há um grau de validade, a meu ver, bastante grande na lista apresentada. A
fonte citada é Rillaer. Mas uma coisa que fica faltando nesse tipo de situação é
justamente os momentos onde os psicanalistas de fato admitem problemas. Eu teria que
estudar muito pra defender a Psicanálise e os psicanalistas nesse ponto. Mas sei que há.
(por ora, vocês terão que ter Fé na minha afirmação :-) ). Já ouvi dizer que ao final da
vida Freud se mostrava muito abatido com esse problema, dos pacientes que não se
curavam, que voltavam a recair nos mesmos problemas mentais. Enfim, nesse ponto
acho que cabe ao crítico um pouco de busca para evitar incorrer em injustiças, ainda
que, repito, em grande medida a lista apresentada de reclamações de fato me pareça
possuir grande pertinência.

ISSO DE MINHA PARTE conclui a questão de erros (sob meu ponto de vista) ou
similares da parte de Ferreira. Há, com certeza, outros errinhos (na minha visão, claro)
que considerei menos importante citar.
PASSAREI AGORA (amanhã) a comentar PROBLEMAS DE VACUIDADE NO
CONTEÚDO DE FERREIRA e, lamentavelmente, VÍCIOS ÉTICOS, MORAIS, E
HUMANOS DE VULTO ASSUSTADOR. Haja Fátima Guedes!

Apenas uma inescapável pré conclusão, e devo alertar que pode ser uma conclusão
muito errada de minha parte. Acredito que qualquer leitor atento e intelectualmente
honesto perceberá que não há dúvidas que há gravíssimos problemas no conhecimento
de Ferreira. É extremamente difícil de entender como tal entendimento errado pode se
constituir em Ferreira, nos pontos onde assinalei. Isso deveria ter sido o que mais me
estupeficou. Mas tristemente não foi (e esse outro ponto ficará para amanhã). Em todo o
caso, entrevejo, ou prevejo, imensos problemas (erros) no entendimento de Ferreira a
respeito do que é dito por parte de psicanalistas e muitos outros profissionais e
pensadores. Alerto a Ferreira, e a quem com ele de fato se importe, da gravidade e do
dano potencial disso, na área onde atua, e no que ele se propõe a criticar. O mundo já
está ruim o suficiente. Vamos tentar não fazer ele ficar pior...

Abraços,
Julio Siqueira.

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 6: [omissões, vacuidades,e outros pontos mais ou


menos similares no conteúdo elaborado por Ferreira]

16 min e 05 seg.
Ferreira diz que a abordagem popperiana é uma das mais adotadas por cientistas
empíricos. Tenho minhas dúvidas. Na verdade, tenho *certeza* que isso não é assim.
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Popper fez uma receita de bolo redondinha de como a Ciência teria que ser feita. O ser
humano detesta regras. Jogaram a receita de Popper no lixo (graças a Deus!). Outros
filósofos da Ciência posteriores se dedicaram mais a descrever como de fato o processo
científico real se dá. É o caso de Thomas Kuhn, com sua brilhante, mas falha, "Estrutura
das Revoluções Científicas", ou como Paul Feyerabend com seu anárquico e pleno de
insights "Against Method". Quem descreve tudo isso maravilhosamente é o filósofo da
Ciência australiano, Alan Chalmers, em seu "O Que é Ciência Afinal?", um dos livros
mais brilhantes e pleno de honestidade intelectual que já li. Chalmers tem uma faceta
"filósofo-rural" (Outback Philosopher :-) ) que creio que Daniel Gontijo adoraria. Tipo
Pão de Queijo com Churrasco Australiano. :-) . Deem uma conferida no link abaixo:

https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQyeGo6I_APouyhzqq1nUjuxHKVd6wosv3cA
4wz2Z2Q6YPaHQC0p4tZ2I8OLXxVLlDPSU0&usqp=CAU

Sim. É ele mesmo (Chalmers, não Gontijo. E não confundir com o DAVID Chalmers,
que é outro filósofo badalado da modernidade, mas de outra área).

Então, nesse ponto eu acho que faltou uma investigação, uma pesquisada, por parte de
Ferreira sobre se a abordagem popperiana é a mais usada de fato, e quem concorda ou
não com tal avaliação. Na minha visão acho que ninguém nunca de fato usou da
abordagem popperiana. Mas acredito que a maioria dos cientistas atuais que estejam
atentos a esse ponto (que são a minoria ínfima do total dos cientistas, com certeza...)
ACREDITA que segue Popper, apesar disso ser completamente impossível de se fazer
(tipo, Missão Impossível Ultimate Edition).

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 7: [ainda omissões, vacuidades, e outros pontos


mais ou menos similares no conteúdo elaborado por Ferreira]

Um ponto geral que senti, ou uma vacuidade mais ubíqua, digamos assim, foi uma falta
mais generalizada de exemplificações dos problemas citados. Tipo assim, faltou em
muitos momentos não apenas citar o vício, mas descrever melhor como se deu o
problema, as palavras o mais contextualizadas possível do pobre criticado, e uma
análise do porque aquilo é um problema. Sim, Ferreira fez isso impecavelmente em
alguns pontos, e em outros fez mais ou menos bem, e em outros ainda fez de um jeito
terrivelmente mau. Mas em muitos onde valeria uma boa esmiuçada, Ferreira deixou ao
léu. Notem que eu não estou esmiuçando essa minha acusação... ( :-) ).

1 h, 43 min.
Ferreira critica a Neuropsicanálise. Bem, esse é talvez o exemplo mais importante
justamente do que citei acima. Tentei transcrever Ferreira o melhor possível: "Tem o
caso da Neuropsicanálise que normalmente o pessoal acusa muito de acontecer que a
Neuropsicanálise é meio que uma tentativa de integrar a Psicanálise com as
Neurociências e que é uma área que na realidade eles acusam de estar buscando de
antemão não realmente ver se tem uma coisa a ver com a outra, mas assim, eu vou
provar de um jeito ou de outro que essas coisas têm a ver e aí meio que pega estudos de
forma meio que sem muito critério ou meio que estudos específico que provam
exatamente, dão margem pra você interpretar eles da maneira como ficasse mais
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favorável para a Psicanálise, meio que força umas interpretações, olha, tá vendo esse
achado neurocientífico aqui, isso aqui o Freud já disse em outras palavras no livro tal.
(...). Meio forçada. (...). Exemplos escolhidos a dedo. (...). Pegar os casos que mais
favorecem". Então, essa gravíssima acusação bem que merece uma, umazinha, boa
esmiuçada, dando nome aos bois, citando o caso, como ocorreu, qual a afirmação que de
fato foi feita, por quê ela está errada, e etc. Ferreira só incluiu, pobremente, a citação a
dois livros, justamente livros dos proponentes da validade da Neuropsicanálise, "O
Novo Inconsciente" e "An Evidence-Based Critique of Contemporary Psychoanalysis.
Muito muito muito fraco esse ponto do vídeo de Ferreira. (alerta importante: ao eu dar
uma olhada rápida – desleixada – nos livros acima, me pareceu que eram a favor da
Neuropsicanálise, inclusive apesar do título do segundo livro; mas depois alguns
fragmentos de informação me levaram a achar que nesses livros talvez haja fortes
críticas à Neuropsicanálise; então, vejam esse ponto com cuidado, e se estiverem
interessados, estudem esses livros. Eu talvez faça isso, por meu interesse no
“inconsciente” e na consciência em especial).

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 8: [ainda omissões, vacuidades, e outros pontos


mais ou menos similares no conteúdo elaborado por Ferreira]

1 h, 53 min, e 25 seg.
Ferreira, no vídeo, critica um artigo publicado na prestigiosa JAMA, e usado por
Christian Dunker para defender a validade da Psicanálise. Ferreira apenas diz que o
artigo (metanálise) publicado na JAMA é muito muito muito ruim. Pode ser. Mas
Ferreira bem que poderia ter dado um feedbackzinho básico explicando o porque. Em
todo o caso, Ferreira coloca no vídeo a imagem do tal artigo (identificação do artigo),
bem como a identificação de um artigo que ele e colegas fizeram criticando tal artigo.
Na verdade, ao eu pesquisar, eles criticam muitos outros artigos (17 artigos). Essa
crítica deles não foi publicado na JAMA ainda ( :-) ), mas espero que tenha qualidade
para ser publicado em qualquer revista científica de qualidade, tanto nacional quanto
internacional. O fato é que, a princípio, a iniciativa de Ferreira e colegas nesse ponto é
muitíssimo boa, e mandatoriamente necessária! Não há como criticar Ferreira nesse
ponto sem uma leitura atenta do artigo que elaboraram. Se estiverem bastante certos em
suas afirmações e críticas, é um trabalho de validade indispensável, e muito gostaria que
fosse publicado na própria JAMA ou outra revista do nível. A propósito, um dos meus
maiores arqui inimigos é justamente (ou era) um dos mais importantes editores da Jama,
Andrew Skolnick. Então se Ferreira quiser publicar na revista, é só dizer que é inimigo
do Júlio Siqueira. :-) . (se ele fingir não lembrar, é só dizer que é um brasileiro que
photoshopou uma foto dele colocando palmeiras na careca dele em uma cena onde ele
investiga a paranormal russa Natasha Demkina no documentário da Discovery
Channel). Nosso país é bizarro. Pode até ser que não exista Racismo Reverso. Mas
existe algo muito mais punk: Pistolão Reverso! :-) :-) :-).

ISSO ENCERRA OMISSÕES E VACUIDADES (e justo com um caso onde, através da


citação adequada, Ferreira acabou fornecendo farto material. Muito bom.). AINDA
TENHO A PIOR PARTE para elaborar, provavelmente hoje ainda. Para essa parte final,
precisamos tomar fôlego e lembrar que todos somos humanos, estamos no mesmo
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barco, e todos erramos. Talvez o melhor título fosse: ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
QUEM NUNCA PECOU (já que eu estarei apedrejando os "pecados" de Ferreira).

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 9: [Quando os Cientistas Conhecem o (incorrem


no) Pecado...]

Essa parte nomeei em memória à Carl Sagan em seu capítulo 16 do Mundo Assombrado
Pelos Demônios, ainda que não devido estritamente aos tópicos abordado por ele neste
capítulo, mas mais pela ideia geral de nossa natural possibilidade de incorrermos em
erros diversos, especialmente com um grau de culpa, e dolo, de nossa parte. :-( .

O primeiro ponto que chamo à reflexão é a própria instituição Associação Brasileira de


Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE), e dentro disso o Núcleo de Investigações
em Psicologia Baseada em Evidências. Ferreira é vice presidente e membro fundador da
Associação. E é coordenador do Núcleo. E o Núcleo é Núcleo de Investigações.
Investigações... Tá parecendo até uma espécie de Xandão da Psicologia... :-) . Pelo que
entendi (corrijam-me por favor se eu estiver errado), Ferreira se formou no ano passado,
em 2022. Neste ano, iniciou o mestrado. E já é o chefe da polícia psicológica...! Ok,
talvez não seja essa a intenção do *Investigações*. E mesmo se for, nada impediria de
se conduzir as atividades pertinentes de modo científica e socialmente producente,
prudente, ético, e pertinente. Então, sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim. O que
vai dizer se é bom ou ruim são os frutos, não o rótulo.

1 h, 42 min, 30 seg.
Neste ponto, Ferreira critica, na tentativa da Psicanálise em demonstrar que funciona, o
problema dos exemplos escolhidos a dedo, em inglês cherry picking. E cita o problema
das evidências anedóticas, onde inclusive pode ocorrer o problema de usar-se o caso que
deu certo e jogar o caso que deu errado para baixo do tapete. O nome disso é fraude. E é
grave. Ocorre. Acredito mesmo que ocorre muito (e em muitas áreas). Mas ao falarmos
disso, é bom citarmos exemplos concretos. Ou seja, de alguma maneira apresentarmos
algo mais do que uma mera difamação de toda uma categoria profissional. Sei que não é
fácil. Mas é necessário acima de tudo tentar. Uma situação onde isso é bastante bem
exemplificado é nos estudos do parapsicólogo Ian Stevenson sobre crianças que alegam
lembrarem de vidas passadas. Houve acusações do tipo, bem elaboradas, bem postas, e
houve condições de se cotejar as possibilidades e condições disso ter se dado, e o
veredito, o saldo final, foi muitíssimo favorável a Stevenson (ele parece não esconder as
coisas).

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 10: [ainda Quando os Cientistas Conhecem o


(incorrem no) Pecado...]

Então fica essa veemente recomendação que, tanto quanto possível, o grupo de Ferreira
tente reunir e expor o que pareçam ser sinais de varredura para debaixo do tapete e
também o que pareçam ser sinais de NÃO VARREDURA para debaixo do tapete, para
os mais diversos casos concretos possíveis.
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1 h, 48 min, 40 seg.
Esse ponto é extremamente delicado e problemático. Ferreira coloca um slide com um
trecho da própria Associação Psicanalítica Internacional (IPA Raiz, e não IPA nutella
:-)). Lê o trecho que colocou, e aos exatos 1h, 49min, 28seg, conclui afirmando
categoricamente:

"Isso aqui é a Associação Psicanalítica Internacional falando".

Não, Ferreira. Lamentavelmente, isso aí não é a IPA Raiz falando. Isso é uma
construção grotesca que VOCÊ fez em cima do texto real deles, sendo que o texto real
deles é radicalmente diferente disso. Você fez exatamente o que você alegou, sem
provar, que os psicanalistas fazem ao relatarem (e publicarem) os casos bem sucedidos e
jogarem pra baixo do tapete os fracassados. Você escolheu a dedo. Você cherry picked.
Isso tem nome. E você sabe qual é. Fraude. Eu poderia não colocar desse modo, se eu
não tivesse achado na internet um artigo seu, que infelizmente foi aceito pra publicação
(revista Debates em Psiquiatria, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Explicarei
porque digo infelizmente), onde você, em meados de 2021 (mais de um ano ANTES de
você concluir o curso de psicologia), apresenta um conteúdo bem similar ao dessa aula
(nenhum problema nisso), sendo que nesse ponto da sua citação à IPA, fica mais claro
(Claríssimo, Ferreira...) a intenção de mau uso. Nesse artigo, você introduz esse
manuseamento textual que você elaborou em cima do verdadeiro texto da IPA nos
seguintes termos: "Uma das estratégias adotadas por certos psicanalistas para lidar com
essa falta de boas evidências costuma ser voltar-se para as suas experiências pessoais, e
podemos observar isso em um relatório publicado pela Associação Psicanalítica
Internacional:" Abaixo, o link para o seu artigo de pré formada.

https://philarchive.org/archive/FERSAP-17

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 11: [ainda Quando os Cientistas Conhecem o


(incorrem no) Pecado...]

Na sua construção textual, você fez o seguinte: mostra os trechos onde a IPA lista
poderosíssimos e numerosíssimos fatores para que se desacredite na Psicanálise. A
seguir, você coloca um indicativo de que pulou algumas palavras ou linhas. Coloca o
indicativo a seguir: (...). Por fim, você coloca uma frase da IPA afirmando que os
psicanalistas sabem que a Psicanálise funciona. Quem quer que veja essa criação sua,
conclui que a IPA é constituída de, na melhor das hipóteses, chimpanzés lobotomizados.
Mas o fato é que você subverteu não apenas a quantidade (nenhum problema nesse
ponto), mas a qualidade (a real estrutura) dos dois parágrafos pertinentes desta página
do trabalho da IPA (e isso sim é gravíssimo). São dois parágrafos da conclusão do
artigo (o título da seção é Summary and Conclusions. Limitations of the Evidence. E aí
seguem os dois parágrafos). O primeiro parágrafo, lista os problemas. Essa parte você
reproduziu fidedignamente, ou seja, deixou de fora muitas frases que apenas iam
acrescentando mais e mais itens dos problemas identificados (identificados e assumidos
pela própria IPA). O parágrafo seguinte, lista os contra pontos aos problemas!!!, e de
muito interessante, aparentemente cientificamente sólido, e aparentemente honesto
intelectualmente. E é só então, dentro desse contexto TOTALMENTE diferente, que
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eles colocam a frase onde falam da percepção e conclusão pessoal, baseada na lida
pessoal. A meu ver, é gravíssimo que um trecho com o grau de alteração feito por você
não tenha sido detectado pelos psiquiatras da Associação Brasileira de Psiquiatria. Mas,
sim, esse tipo de falha grotesca na revisão de artigos acontece amiúde, no Brasil e no
exterior. Lembro de um artigo horroroso que foi aceito pela JAMA (não aquele que
você citou; um outro muitos anos antes). Nature também não fica atrás.

O artigo da IPA pode ser acessado no link abaixo:

https://www.ipa.world/ipa/IPA_Docs/Open%20Door%202002.pdf

Vou colocar a seguir a construção de Ferreira e os dois parágrafos reais da IPA

CRÍTICA AO FERREIRA, PARTE 12: [ainda Quando os Cientistas Conhecem o


(incorrem no) Pecado...]

Texto do Ferreira (Nutella):

É fácil criticar os estudos psicanalíticos. Não há estudos definitivos que mostrem que a
psicanálise seja inequivocamente eficaz em relação a um placebo ativo ou a um método
alternativo de tratamento. Não existem métodos disponíveis que possam indicar
definitivamente a existência de um processo psicanalítico. A maioria dos estudos tem
grandes limitações que podem levar os críticos da disciplina a descreditar seus
resultados. Outros têm limitações tão graves que mesmo um revisor simpático a ela
pode estar inclinado a descreditar as descobertas (...) Como psicanalistas todos sabemos
que a psicanálise funciona. Nossa própria experiência de análise é provavelmente
suficiente na maioria dos casos para nos convencer de sua efetividade.

Parágrafos reais da IPA (parágrafos Raiz):

It is easy to be critical of psychoanalytic studies. There are no definitive studies which


show psychoanalysis to be unequivocally effective relative to an active placebo or an
alternative method of treatment. There are no methods available that might definitively
indicate the existence of a psychoanalytic process. Most studies have major limitations
which might lead critics of the discipline to discount their results. Others have
limitations that are so grave that even a sympathetic reviewer might be inclined to
discount the findings. For example, is the analyst in a position to judge the outcome of a
treatment? Not only is there the issue of a self-serving bias, but also is the context of
free association not totally incompatible with the systematic gathering of data
concerning adjustment and the like? Amongst the most common problems are: the lack
of use of standardised diagnoses, inadequate specification of the treatment procedures,
lack of control for selection biases in sampling, the absence of intent to treat controls
and the failure to follow up drop outs, the use of inexperienced therapists, the lack of
homogeneity of the patient groups considered, heterogeneous methods of intervention
and related to this the lack of a generally accepted manualised method of intervention,
the lack of statistical power, the lack of random assignments to treatment groups, lack
of independent assessment of outcome, lack of standardisation of measures of outcome,
(continua)
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PARTE 13

(continuando) questionable validity of some outcome measures, poorly matched


comparison groups, absence of control for the law of initial and of regression to the
mean, failure to take adequate baseline measures, and related to this reliance on
retrospectively collected data, inadequate detail on statistical analysis and inappropriate
statistics reported, inadequate control for intercurrent treatments, and so on.

Notwithstanding the many limitations, however, the sheer number of studies available is
encouraging, particularly the range of ongoing studies. This was by no means an
exhaustive review. Limitations of time principally prevented us from reviewing a large
number of investigations, some very well known, many with findings consistent with
those which were included. The review is labelled “open” to underscore our intention to
include further studies as time permits and as these are brought to our attention. The
emphasis has been on some less well publicised studies and studies with challenging
findings, not necessarily on investigations with the best methodology. Many of the
conclusions should therefore be heavily qualified in the light of the questionable
internal validity of the observations reported. In summarising these results, however, we
will adopt a cautiously optimistic attitude in relation to the evidence presented. It is not
that in this way we are turning a blind eye to the weakness of the evidence, but rather
we wish to highlight what could be shown by these studies and which way the evidence
currently points. Many of the ongoing studies are methodologically “state of the art”
and this is of course encouraging from the point of view of persuading sceptics in the
field. The present review, however, is intended for “internal” consumption. As
psychoanalysts we all know that psychoanalysis works. Our own analytic experience is
probably sufficient in most instances to persuade us of its effectiveness. The purpose of
the review was to assist in making accessible studies which have systematically
explored the patient groups which benefit from treatments administered by members of
our organisation. In general, the findings underscore the effectiveness of our work and
should encourage us to undertake further, even more rigorous, explorations of treatment
outcome.

Ué? Cadê os chimpanzés lobotomizados?...

PARTE 14

1 h, 59 min.
Nesse ponto Ferreira reclama contra os psicanalistas (e ainda passa a coisa como se
fosse um consenso dos psicanalistas, uma concordância geral) no tocante às questões da
doença, cura, saúde, e dos questionamentos da "Psicanálise" com relação a isso.
Novamente, Ferreira parece meramente fazer uma manipulação grotesca (falácia do
espantalho, strawman) da posição dos psicanalistas nesse ponto. Se Ferreira fosse da
área da Saúde (Êpa! Ferreira É da área da Saúde!!!), com certeza teria visto em seu
curso muitos questionamentos às noções de doença, de cura, de obrigatoriedade de
alguém ser curado, da proibição ou não de alguém sofrer, etc. Mas como Ferreira é (ao
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que parece...) FERREIRO, parece só entender a lógica do "uma no cravo, uma na


ferradura" (ou seja, neste caso, vida com ganhos mas sem dor como sendo o objetivo da
Saúde Humana. Não, Ferreira. Esse é o objetivo dos Ferreiros... Fortalecer os cavalos
com ferraduras sem machucá-los ou assustá-los no processo. A Saúde Humana não
pode deixar de lado as questões existenciais do ser humano. Veja o filme Uma Mente
Brilhante para entender porque às vezes mais vale sofrer com uma doença do que não
sofrer sem ela... E é apenas um dentre milhões de casos. Eu mesmo já vivenciei
diversos, na pele e na alma).

A parte 15 será a última. O último alerta quanto ao conteúdo fornecido por Ferreira.

Por ora, um abraço,


Julio Siqueira

PARTE 15

2 horas, 4 minutos, 36 segundos.


Ferreira afirma (mostrando em slide no vídeo): "As mudanças na teoria psicanalítica
não ocorreram por considerarem o balanço das evidências, mas sim por pressões
culturais. Ex: status patológico da homossexualidade ou inveja do pênis.". Em seu artigo
disponível online, há um raciocínio similar: "No caso da psicanálise, certas coisas
mudaram dos tempos de Freud para os dias atuais, mas além de não terem sido muitas,
também não foram adotadas frente ao surgimento de boas evidências. As grandes
teorias da psicanálise contemporânea continuam sem passar por testes empíricos [14],
evidenciando que as mudanças foram arbitrárias, e provavelmente visavam apenas
adaptar-se ao meio cultural da época. Um exemplo desse tipo de ocorrido é a alteração
do status patológico da orientação sexual de gays e lésbicas, bem como a questão da
inveja do pênis [4]. Uma teoria supostamente evoluir e mudar os seus conceitos ao
longo do tempo só é um mérito se a mudança for feita com base em boas evidências, e
não apenas por influências culturais; afinal, até mesmo os movimentos religiosos
mudam suas explicações sobre o mundo ao longo dos séculos, e isso não contribui para
torná-los científicos.". Novamente, esse erro aberrante passou batido pelos revisores
psiquiatras... Inacreditável. No trecho do vídeo a partir do momento indicado no início
desta Parte 15, Ferreira joga indiscriminadamente sobre TODA a comunidade
psicanalítica de TODOS os tempos a pecha hedionda e criminosa de só terem mudado
de ponto de vista e não considerarem mais a homossexualidade como uma doença por
conta da pressão dos movimentos LGBT e similares, e devido a conveniência
materialmente oportunistas. Nessa hora, bateu uma dor, um desconfiômetro apitando em
um volume medonho, e a vigorosa intuição de que algo muito errado, muito podre,
estava por trás dessas afirmações de Ferreira, mesmo eu não sendo nem adepto nem
defensor da Psicanálise ou de Freud. Fiz breve pergunta à minha esposa psicanalista, e
ela disse haver uma linda carta de Freud a uma mãe que o contactou em busca da cura
gay para seu filho. Levei mais de um dia até ter coragem de ter contato com esse
material. É dor demais. É indignação demais.

Parte 16
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Li a carta, em português e em inglês. (o original é em inglês). Essa carta foi usada de


modo intenso e bem sucedido pela comunidade LGBT brasileira em 2017! (um aninho
antes de Ferreira entrar na faculdade de Psicologia!...) contra a decisão de um juiz doido
que autorizou o tratamento de cura gay por parte de psicólogos. Tem a foto da carta na
internet. Tentei pensar sobre o histórico dela. Vejam, a carta foi enviada em 1948 de
modo anônimo para um determinado pesquisador da área da sexualidade (meu relato
pode conter alguns erros de memória). Esse pesquisador publicou essa carta em 1951.
Ela é de pleno e farto conhecimento desde então. E ela está totalmente alinhada com a
posição de Freud em vida com relação a esse ponto. A carta é de 1935. Freud estava
ainda em Viena, na pequena e frágil Áustria. Mas Hitler já comandava a Alemanha
desde 1933, e pesadas leis anti gays já estavam em prática feroz lá. Freud morava no
quintal desse cenário feroz anti gay. Em 1938, Freud foge para a Inglaterra. Sim.
Inglaterra. O país que condenou à PRISÃO por homossexualismo o brilhante cientista
Alan Turing, um Super Herói de guerra, já que quebrou o código nazista de
comunicações. É assim: a pessoa salva milhões de vidas, e vai pra cadeia porque dá o
rabo entre quatro paredes sem ninguém saber (e devido a uma denúncia ou algo assim).
Freud veio do quintal do extermínio de gays para o Império do aprisionamento de gays.
E em meio a essa balbúrdia louca, teve a coragem de escrever uma carta de lindo
suporte à mãe de um rapaz homossexual dos Estados Unidos. Vi a foto da carta. Minha
esposa não sabia, mas o remetente , anônimo, diz: HEREWITH I enclose a letter from a
Great and Good man which you may retain. From a Grateful Mother. Foi a própria mãe
que enviou a carta. E se intitula como agradecida. Teve a dor do seu coração suavizada
pela ação daquele homem. Aí não tem jeito. Vem a pergunta: Como Ferreira foi capaz
de fazer uma coisa dessas? Esse é o homem, nessa situação histórica, que Ferreira nos
leva a crer como anti gay. Digo do alto dos meus já decrépitos 60 anos que dói muito
ver uma coisa dessas. Deprime. Desnorteia. Ainda assim, reina o conhecimento de vida:
erros, todos cometemos. E sei que eu mesmo, em minha vida, já cometi erros bem
piores. Então farei apenas a mensagem 17, bola pra frente...

Parte 17: bola pra frente.

Recomendações veementes e sinceras: acho que Ferreira precisa estudar muito muito
muito mais. E tentar entender aqueles de quem ele discorda. Fiz 5 anos de psicanálise
(fui analisado). Mil problemas. Mas é uma coisa muito especial. Me curou? Não. Mas
salvou minha vida. Toda vez que tenho contato com fragmentos de Freud ou de Lacan,
percebo mil problemas. Então a seara que Ferreira escolheu (esse aspecto, de criticar a
Psicanálise) é de uma validade incomensurável. A mim não há dúvidas que Ferreira
possui um certo grau de sucesso (pertinência) na atuação que já faz. Mas como mostrei,
há falhas gravíssimas. Sua aula foi praticamente uma demonstração viva do que é
pseudociência e de como se dá a dinâmica do seu desenvolvimento. Ou seja: a aula de
Ferreira foi em imensa medida pseudociência viva! (e maléfica :-) ). Se eu fosse
Ferreira, eu retiraria aquele artigo da publicação (não sei qual o termo em português.
Em inglês, quando o autor de um artigo científico admite que seu artigo era inválido, ele
retract o artigo). O artigo é esse:

https://revistardp.org.br/revista/article/view/58
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Ainda acho que o melhor lugar para procurarmos e lutarmos contra as pseudociências é
no nosso próprio espelho. E sobre a Psicanálise em si, concluo meramente que continuo
concordando com Carl Sagan em seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios. A
maior parte da Psicanálise é pseudociência. A maior parte. Entenda-se: mais de 50% (ou
talvez algo até 70%). Qualquer condenação veemente indicando percentuais muito
maiores do que esse, provavelmente se trata de... pseudociência.

Abraços,
Julio Siqueira

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