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Mestre Eckhart
Tratados e Sermões
Prefácio
Paulo Borges
Introduções
Mestre Eckhart ou
«o homem de quem Deus nada escondeU>>
Paris: cf. PAULO BORGES, «Do Bem de Nada ser. Supra-existência, aniqui
lamento e deificação em Marga rida Porete», Mediaevalia, tex tos e estudos,
n.º 25 (Po rto, 2006) .
1 «[ . . ] wo Gottes Grund und der Seele Grund ein Grund sind»
. -
11 «in den einfaltigen Grund , in die stille Wüste, in die nie Unters
" Cf. M ES TRE ECKHART, Predigten, Werke , II, 69, textos e versões de
Ernst B enz, Karl Christ, B runo Decker, Heribert Fischer, Bernhard
Ge yer, Joseph Koch, Josef Quint, Konrad Weib e Albert Zimme rrnann,
editados e comentados por Ni klaus Largier, Frank furt no Meno, Deut
scher Klassiker Verlag, 2008, pp. 53 e 55.
1 5 M ES TRE ECKHART, Predigten , Werke, l, 52, p. 555.
PREFÁCIO 11
"Cf. lbid., p. 555. Cf. também pp. 561 e 563. Cf. PAULO BORGES, «Ser
ateu graças a Deus ou de como ser pobre é não haver menos que o In
finito - a-teísmo, a-teologia e an-arquia mística no sermão "Beati paupe
res spiritu... ", de Mestre E ckhart», in Philosophica, 1 5 (Lisboa, 2000),
pp. 61 -77.
17 MESTRE ECKHART, Predigten, Werke , !, 52, p. 563.
12 TRATADOS E SERMÕES
20
«Buda, Eckhart e eu próprio, ensinamos no essencial a mesma
coisa» -Senilia (1 858), Der handschriftl. Nachlass, editado por A. Hubscher,
IV/2, Frank furt, 1 975, p. 29 ; citado em W. HA LBFASS, Indien und Europa.
Perspektiven ihrer geistigen Begegnung, Base !, 1 98 1 , pp. 1 2 9 e 1 32; citado em
ALrns M. HAAS , «Correspondances entre la pensée eckhartienne et les
religions orientales», in AAW, Voici Maftre Eckhart, p. 373 .
21
D. T. S uzuKI, Mysticism: Christian and Buddhist, Londres/Nova
Iorque, Routledge Classic, 2006, pp. 5-6 .
22
KEu1 NISHIT ANI , Kami to zettai mu, 1 948. Cf. também as referências
a Eckhart na obra fundamental deste autor: La Religión y la Nada, intro
dução de James W. Heisig, tradução de Raquel Bouso García, Madrid,
Ediciones Siruela, 1 999, sobretudo pp. 1 1 2-1 1 9.
23
D ie Gottesgeburt in der Seele und der D urchbruch zur Gottheit: Z wei
Hauptthemen der Mystik Meister Eckharts, Gütersloher Verlagshaus Gerd
Mohn, 1 965 ; lo., Z en y Filosofia, Barcelona, Herder, 2004, pp. 5 1 - 1 34.
Sobre a escola de Kyoto, cf. J AMES W. H EISIG, Filósofos de la Nada. Un en
sayo sobre la Escuela de Kyoto, prólogo de Raimon Pannikar, Barcelona,
Herder, 2002.
14 TRATADOS E SERMÕES
PAULO BORGES
Universidade de Lisboa
* * *
1
Da verdadeira obediência
' Para a presente tradução dos Tratados e de alguns dos Sermões ale
mães de Mestre Eckhart, se rvimo-nos fundamentalmente das versões
em alemão contemporâneo de JOSEF Q UINT, Meister Eckhart, Deutsche Pre
digten und Traktate, ed . D iogenes, 1 979, Zurique. També m -nos socorre
mos da ed ição crít ica da Kohlhammer Verlag, Meister Eckhart, die deuts
chen und lateinischen Werke, ed itado sob os auspícos da Deutschen
Forschungsgeme inscha ft, 1 958, Estugarda, em que a obra alemã do mís
t ico renano é ed itada e traduz ida igualmente por Josef Qu int, nome c i
me iro na fixação e tradução dos textos de Eckhart do alto-méd io alemão
para alemão contemporâneo.
30 TRATADOS E SERMÕES
2
Da oração mais poderosa e da obra suprema
3
Das pessoas que não se abandonam
e estão ch.eias de vontade própria
' Todas as c itações b íbl icas são ret iradas de: Bfblia Sagrada, D ifusora
Bíbl ica, (M iss ionários Capuch inhos) , L isboa, 1 3 .3 ed., 1 986. Fo i igual
mente consultada a ed ição da Bíbl ia, de Março de 2006, também da
D ifusora B íbl ica. Sempre que as c itações bíbl icas de Eckhart, incluídas
no corpo do texto, se d istanc iam com alguma relevânc ia da versão por
tuguesa c itada da Bíblia, optámos por inclu ir em nota o respect ivo texto
da versão portuguesa da B íbl ia.
TRATADO DO DISCERNIMENTO 35
4
Da utilidade do abandono que se deve realizar
interior e exteriormente
5
Atenta no que torna bom a essência e o .fundamento
6
Do desapego e da posse de Deus
7
Como o homem deve cumprir as suas obras
com o máximo de intelecto 4
8
Da constante determinação à suprema progressão
sendo tão justa, que ele se sinta por isso tão livre ou
tão seguro de si nessa obra, que o seu intelecto se
torne ocioso ou adormeça. Ele deverá elevar-se cons
tantemente com essas duas forças: a do intelecto e a
da vontade, e alcançar com estas o seu melhor no má
ximo grau, e prover-se com prudência exterior e in
teriormente contra todos os prejuízos; então ele nun
ca perderá nunca nada em qualquer coisa, senão que
progredirá sem interrupção para um grau superior.
9
Como a inclinação para o pecado
é sempre proveitosa para o Homem
10
Como a vontade tudo consegue,
e como todas as virtudes residem na vontade,
se esta for recta
11
12
Onde se trata dos pecados: como nos devemos
comportar quando nos encontramos em pecado
13
As duas espécies de arrependimento
14
Da verdadeira confiança e da esperança
15
Da dupla consciência da vida eterna
16
Da verdadeira penitência e da vida bem-aventurada
17
Como o homem se pode manter em paz,
quando ele se encontra em trabalhos exteriores,
como aqueles que Cristo e muitos santos realizaram;
como ele deverá (então) seguir a Deus
18
De que modo deve o 1wmem aceitar,
conforme as suas circunstâncias, igua,rias delicadas,
ekgante vestuário e companhia akgre,
de acordo com seu hábito natural
19
Porque permite Deus com frequência
que pessoas que são verdadeiramente boas,
sejam muitas vezes impedidas nas suas boas obras
20
Do corpo de Nosso Senhor, de como se deve recebê-lo
com frequência, de que modo e com que devoção
21
Do zelo
22
Como se deve seguir bem a Deus
e do bom modo de agir
23
10
«Todos os rios entram no mar, e o mar não transborda. Vão desa
guar no lugar donde saíram, para tornarem a correr.» (Ecl 1 ,7) .
1 26 TRATADOS E SERMÕES
11
«Porque eu mesmo quisera ser separado de Cristo» (Rm 9,3) .
136 TRATADOS E SERMÕES
lavras, tudo que chegue com Deus é bom, que seria dema
siado longo para expor aqui.
Diz Nosso Senhor: «Aquando da angústia estarei
ao seu lado» (Sl 90, 1 5) . A propósito diz S. Bernardo:
«Senhor, Tu estás connosco no sofrimento, então
dá-me todo o tempo para sofrer, para que Tu estejas
todo o tempo comigo, para que eu te possua todo o
tempo.»
Em terceiro lugar, digo eu: que Deus está con
nosco no sofrimento, quer dizer que Ele próprio
sofre connosco. Verdadeiramente, quem conhece a
verdade, sabe que eu falo verdade. Deus sofre com o
homem, sim, Ele sofre ao seu modo primeira e in
comparavelmente mais do que aquele que sofre, que
sofre por Ele. Ora, eu digo: se Deus, Ele mesmo,
quer sofrer, então devo eu também sofrer justamen
te, pois se a minha atitude é recta, então eu quero
aquilo que Deus quer. Eu rezo todos os dias, e Deus
manda que eu reze: «Seja feita a vossa vontade!» e,
no entanto, quando Deus quer o sofrimento, então
eu quero queixar-me do sofrimento; isso é muito in
justo. Também digo eu por certo que Deus sofre
com tanto agrado connosco e por nós, que, se nós
quisermos unicamente sofrer por amor de Deus, Ele
sofre sem sofrimento. O sofrer é para Ele tão delei
toso que sofrer não é sofrer para Ele. Por isso, se a
nossa atitude for recta, então sofrer também não será
sofrer para nós; será para nós deleite e consolação.
Em quarto lugar, digo eu que a compaixão de um
amigo diminui naturalmente este sofrimento (pró-
1 50 TRATADOS E S ERMÕES
26
Cf. S. AGOSTINHO, l, 6, op. cit.
TRATADO DA CONSOLAÇÃO DIVINA 1 61
tinctio neqw: in natura divina neqw: in personis, omite nâch der natUre einicheit
(conforme a unidade da sua natureza); devido ao truncamento do tradu
tor também esta proposição foi examinada e condenada pelo Papa, na
bula in agro dominico, de 27 de Março de 1 329. Cf. LIBERA, op. dt. , p. 2 1 4.
1 72 TRATADOS E SERMÕES
MESTRE ECKHART
SOBRE OS SERMÕES
' «Quando iam no caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mu
lher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa» (Lc 1 0,38).
2 QUINT: «Com wie er war, da er noch nicht war (como ele era ainda
está unido com ela e ela com Ele, e ela alumia e res
plandece com Ele como um único Um e como uma
luz pura e límpida no coração do Pai.
Eu também j á disse muitas vezes que há uma
potência na alma que não toca nem no tempo nem
na carne; ela emana do espírito e permanece no espí
rito e é em absoluto espiritual. Nesta potência, Deus
é tão verdejante e florescente em toda a alegria e em
toda a glória, como Ele é em si mesmo. Essa alegria é
tão efusiva e de uma grandeza tão inaudita, que nin
guém a consegue anunciar a fundo. Pois o Pai eterno
gera sem cessar o Seu Filho eterno nesta potência,
de forma que esta potência é co-geradora do Filho
do Pai e de si mesma, enquanto o próprio Filho, na
potência única do Pai. Se um homem possuísse todo
cia e sustendo todas as coisas pela sua palavra poderosa» (Heb 1 ,3).
1 90 TRATADOS E SERMÕES
5 A vontade.
1 92 TRATADOS E SERMÕES
' Uma amálgama feita da tradução destas frases para latim, levou a
que elas fossem «incriminadas» no processo de Colónia. S egundo
LIBERA, as frases condenadas foram mais uma vez «senão reescritas»,
pelo menos «montadas» pela acusação. Op. cit. , p. 42 1 .
SERMÃ0 2
doutor da Igreja.
214 TRATADOS E SERMÕES
mente activa. Cf. MEISTER EcKHART, Die deutschen Werke, ed. por Josef
Quint, vol. III, p. 5 94, Verlag W Kohlhammer.
27 Besorgt (= preocupados) ou o mesmo que em verdadeiro cuidado.
2' «Cuidai, pois irmãos, em andar com prudência, não como insensa
3 2 «Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que,
pela sua palavra, hão-de crer em mim para que todos sejam um só»
ºº 1 7,20-21).
266 TRATADOS E SERMÕES
fazia falta. Por isso é que tudo o que lhe deu, era para
mim destinado e deu-mo a mim tal como a Ele; daí
não excluo nada, nem a unição nem a santidade da
divindade, nem seja o que for. Tudo o que Ele algu
ma vez lhe deu na natureza humana não é para mim
mais estranho ou mais distante do que para Ele, pois
Deus não pode dar (apenas) pouco; ou Ele tem de
dar tudo ou absolutamente nada. A sua dádiva é in
teiramente simples e completa sem divisão e fora do
tempo, permanentemente (só) na eternidade; e ficai
disso tão cientes, como eu estar vivo: se nós houver
mos de receber assim d'Ele, então teremos de estar
na eternidade, elevados sobre o tempo. Na eterni
dade todas as coisas são presentes. Aquilo que está
acima de mim está tão próximo de mim e tão pre
sente como aquilo que está aqui junto de mim; e aí
receberemos de Deus aquilo que devemos ter de
Deus. Deus também nada reconhece exterior ao que
é seu, pois o seu olhar se dirige apenas para si mes
mo. O que Ele vê, tudo vê Ele em si. Por isso Deus
não nos vê, quando estamos em pecado. Por isso:
quanto mais longe estivermos n'Ele, tanto mais nos
reconhece Deus, quer dizer: desde que estej amos
sem pecado. E todas as obras, que Nosso S enhor
alguma vez realizou, deu-mas Ele para serem mi
nhas, que elas não são para mim menos dignas de
louvor do que as minhas próprias obras, que eu rea
lizo. Ora, visto que toda a sua nobreza é igualmente
nossa e igualmente próxima, de mim como d'Ele,
por que razão não recebemos então o mesmo? Ah,
SERMÃO 1 3 285
meida Monteiro, OP, extraída de: BENO!T BEYER DE RYKE, Maítre Eckhart,
Ed. Entrelacs, Paris, 2004.
324 TRATADOS E SERMÕES
1 6 a 1 8 d e Maio
de 1 304: E ckhart participa no Capítulo geral de To u
louse.
1 4 de Maio
de 1 3 07: É eleito Vigário-geral da Boémia, no Capítulo
geral de Estrasburgo.
7 de Junho
de 1 3 1 0 : Participa no Capítulo geral de Piacenza (Itália) .
8 de Setembro
de 1 3 1 0 : Eleito Provincial da Teutónia.
30 de Maio
de 1 3 1 1 : Capítulo geral de Nápoles. A sua eleição
curios amente não é confirmada nesse Ca
pítulo. Ficando disponível, o Capítulo envia-o
de novo a leccionar em Paris, pela segunda
vez. É uma honra excepcional q u e só tinha
ocorrido com São Tomás de Aquino.
1327:
- Período de Colónia. É nomeado Mestre no
Studium generale de Colónia, que tinha sido
fundado por Santo Alberto Magno. Redige o
Tratado do Desapego, quarto tratado alemão.
20 d e Setembro
de 1 326: Primeira presença de Eckhart perante a comis
são enc arregada de instruir o seu processo,
composta por Reinher Friso e Pedro d 'Estate.
2 4 d e Janeiro
de 1 327: Comparece pela segunda vez perante Reiner
Friso e Alberto de Milão. Eckhart faz apelo ao
Papa.
326 TRATADOS E SERMÕES
1 3 de Fevereiro
de 1 3 27: E ckhart proclama publicamente a sua ino
cência, na igrej a dos dominicanos de Colónia.
22 de Fevereiro
de 1 3 2 7 : Rej eição do apelo ao Papa por parte de Reiner
Friso e Alberto de Milão.
Primavera
de 1 3 27: Eckhart decide não aceitar essa decisão e viaja
até Avinhão p ara apresentar pessoalmente o
assunto ao papa João XXII.
27 de Março
de 1329: João XXII promulga a bula ln agro dominico
que condena Mestre Eckhart de forma pós
tuma, assinalando 1 7 proposições reputadas
como heréticas e 1 1 como suspeitas de here
sia. Porém, a publicação da bula é limitada à
diocese de Colónia.
ÍNDICE
PrefácW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Introdução a Mestre Eckhart ....................... . ............. . . . ............ 15
TRATADOS
Sobre os Tratados . ................................................................ 25
Tratado do Discernimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Tratado da Consolação D ivina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 03
Tratado sobre o Homem Nobre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 63
SERMÕES
S obre os Sermões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Sermão 1 ............................................................................. 1 85
Sermão 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 95
Sermão 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
Sermão 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1 2
Sermão 5 222
Sermão 6 229
Sermão 7 236
Sermão 8 241
Sermão 9 257
Sermão 1 0 261
Sermão 1 1 267
Sermão 1 2 274
Sermão 1 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
Sermão 1 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 8 9
Sermão 1 5 295
Sermão 1 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305
Sermão 1 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1 1
4 Tratados e Sermões
- Mestre Eckhart