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REVISTA DE DIREITO

DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

JUS1\Ç~

DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA

Nº 21 - 1994
OUTUBRO / DEZEMBRO
REVISTA DE DIREITO DO TRIBUNAL DE REVISTA DE DIREITO
JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

STIÇA

EDITORA DEGRAU CULTURAL DIREÇÃO DA REVISTA

Diretor: Desembargador JOÃO CARLOS PESTANA DE AGUIAR SILVA


RIO DE JANEIRO: SÃO PAULO:

Praça Mahatma Ghandi, 2/2 2 andar Rua Barão de Itapetininga, 15/térreo


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EM CONV~NIO COM A JUiZES REDATORES


Editora Espaço Jurídico
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CEP 200311-100 - Rio de Janeiro - RJ Drª PAULO GUSTAVO REBELLO HORTA
Tel.: 262-6612
Drª CONCEiÇÃO APARECIDA MOUSNIER TEIXEIRA ARAÚJO
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34 (815.3) Drª ELIZABETE FILLIZOLA ASSUNÇÃO
R 454
Drª DENISE FROSSARD LOSCHI
Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro n 1 - jun.Q Drª DURVAL HALE
1985· Rio de Janeiro, Tribunal de Justiça, 1985 - v. semestral. Drª ROBERTO DE ALMEIDA RIBEIRO
Dr. Luís FUX
Nota histórica: de 1941 a 1945, foram publicados 26 nLlmeros da Revista de
Jurisprudência do Tribunal de Apelação, do antigo Distrito Federal, editada pela Drª EUNICE FERREIRA CALDAS
Imprensa Nacional. Drª GEORGIA DE CARVALHO LIMA
Drª CRISTINA TEREZA GAULlA
Tftulos anteriores: n Q 1-33, 1962-74: Revista de Jurisprudência do Tribunal de
Justiça do Estado da Guanabara; segunda fase, n Q 34-50, 1975084; Revista de
Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Diretores: 1962-71, Tenório, Oscar - 1972-74, Tostes Filho, Olavo, 175-78, Silva,
Romeu Rodrigues - 1978-80, Tostes Filho, Olavo - 1981-84, Passos, José Paulo
Joaquim da Fonseca. - 1985-87, Gusmão, Paulo Dourado de. - 1988 - Freitas, Paulo ASSISTENTES
Roberto de Azevedo. - 1989, Domingues, Rui Octávio, - 1990, Cunha, Luiz Fernando
Whitaker Tavares da. - 1993, Aguiar, João Carlos Pestana de.
Drª MARIA DE JESUS GASPARINI LAMEIRA (Chefe do serviço de Expediente)
1. Direito - Rio de Janeiro (Estado) - Periódicos. 2. Direito - Rio de Janeiro (Estado) Drª AURORA CAMPANHA MALLET
- Jurisprudência. 1. Rio de Janeiro (Estado) Tribunal de Justiça. 11. Tenório, Oscar, dir Drª GEORGINA VILLAS BOAS PIMENTEL BRANDÃO
111. Silva, Romeu Rodrigues, dir. IV. Tostes, Olavo, dir. V. Passos, José Joaquim da
Dr. CEZAR BASTOS DE OLIVEIRA JÚNIOR
Fonseca, dir. VI. Gusmão, Paulo Dourado de, dir. VII. Freitas, Paulo Roberto de
Azevedo, dir. VIII. Domingues, Rui Octávio, dir. IX. Cunha, Luiz Fernando Whitaker Drª VALÉRIA GAMA FRAZÃO
Tavares da, dir. X. Aguiar, João Carlos Pestana de, dir. XI
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DOUTRINA
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procedimento. E eu a extraio de um dO,s
· , 'Ia" só atingirá as normas gerais,
da ef Icac , . meus escritos " especialmente para subli-
COMPET~NCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE _ fetando as normas partlculare.s, que
nhar a distinção - que o confronto dos arts.
SOBRE ~ROCEDIMENTOS EM MATÉRIA PROCESSUAL * nao a . m da competência legislativa da
escapa 21, I, e 24, XI, da Constituição ~orna
União. impositivo - entre processo e procedimen-
Or. Sergio Bermudes to diferença que, conquanto CARNELUTTI
Professor e Advogado Mais duas observações ~a~ecem-,me i.n-
chame "tênue, para não dizer capilar", anda
Basta o fato obJetivo da lneXIS-
teress antes . , longe de tornar-se imperceptível. Enquanto
• Palestra na Associação dos Magistrados _ . de lei federal sobre normas gerais
tenClaque os Estados e o Distrito Federal o processo é uma unidade, !ormada pelos
do Estado do Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 1992 para t- atos por intermédio dos quais se exerc~ a
rça m a qualquer tempo, sua compe en-
e função jurisdicional, o procedimento e a
1. O sistema da Constituição eficácia de lei estadual, no que lhe for con- . x e,
legislativa - tem
plena. Nao - eIes d e agua r-
Ol.::lem consoante a qual se desenvolvem e
Cla . , . d U ,- ara
trária". Eficácia, nesse parágrafo, empre- dar um certo prazo de lnerCla a . nlao p
se sucedem esses atos.
Quando se interpreta uma norma, há de gou-se, imperfeitamente, como sinônimo de putar a lei inexistente, nem, mUito menos)
se tomar a cautela de evitar-se que a ideo- vigência. Revogada embora, a lei continua ~eterpelá-Ia para agir num cer,to tempo,. E Como observa JOÃO MENDES, que,
In f' 'ente a inexistência da leI. Por ObVIO,
logia do intérprete prevaleça sobre a vonta- eficaz. Imagine-se a sentença, que fez atu- su ICI , I entre nós, foi o primeiro autor ~ estud~r o
de da lei, cujo comando deverá ser ar a sua vontade concreta, ato judicial que - se reputará inexistente a lei federa, se
nao . . - h u vocábulo procedimento, "o sufiXO nominal
sto que anterior à ConstltUlçao, o -
entendido,à luz,claro, dos princípios de subsistirá incólume à revogação, projetan- eIa, po t't ' mentum é derivado do grego menos, que
hermenêutica, tal como foi efetivamente do, no futuro, a vontade da lei, que deixou ver sido integrada à nova orde~ cons I UCIO- significa princípio de movimento, vida, ~or­
manifestado. Erra o intérprete que distorce de vigorar. I pelo fenômeno dito em doutnna da recep-
ça vital, e to, que é uma pa.rtícula expletlva.
a regra jurídica para afeiçoá-Ia aos seus n~ que também se poderia chamar da
çao, I va Como sufixo nominal, expnme o ato ~m ~eu
princípios ou conveniências. A enunciação das regras já permite con- absorção compatível, pelo qua u~a no modo de fazer e na forma em que e f~ltO,
templar o sistema da Constituição, no que carta política não revoga, mas revlgor~ ~s isto é exprime o ato regularmente formaliza-
normas precedentes, mediante a condlçao
O ar!. 24 da Constituição de 5 de outu- se refere à competência para legislar - do ... Assim, o processo é o movimen~o em
bro de 1988 trata da competência concor- limitemo-nos ao tema proposto - sobre de não contrariarem o seu comando, ou o
sua forma intrínseca; o procedimento e este
rente da União, dos Estados federados e do procedimento em matéria processual. A com- seu sistema. movimento em sua forma extrínseca, tal
Distrito Federal (excluídos, pois, do seu petência é da União, dos Estados e do como se exerce pelos nossos órgãos corpo-
âmbito os municípios), estabelecendo, no Distrito Federal, governada por estas nor- 2. Titularidade da competência espe-
rais e se revela aos nossoS sentidos" 2.
seu caput, que "compete à União, aos Esta- mas: cífica
dos e ao Distrito Federal legislar concorren- O processo é uma re,lação jurídica,
temente sobre ... ". Segue-se o rol das maté- a) a competência para estabelecer nor- Resta, agora, fixar o alcance do ,in~iso
consubstanciada numa série de atos, que
XI do ar!. 24 da Constituição da Republlca,
rias, na forma de incisos, dentre os quais mas gerais sobre procedimentos em maté- se praticam do modo qu~ a ,Ie.i deter~in~.
interessa aqui o de n. XI; "procedimentos ria processual é da União, o que afasta a De quem, afinal, é a competência p~ra le-
Esse modo é conseqüênCia loglca ?a. finali-
em matéria processual". idéia de competência concorrente; gislar sobre "procedimentos em matena pr~­
dade do processo. À vista do. obJetiVO do
cessual", e quais os limites ao seu exercl-
processo, os atos que o constituem se ha-
Os quatro parágrafos do artigo regulam b) a competência das unidades federa- cio? verão de praticar de um ou de outro modo.
a concorrência de competências: "No âmbi- das, diante das normas gerais editadas, é Em outras palavras, o processo se desen-
to da legislação concorrente, a competên- suplementar; Exclua-se da indagação qual a titulari-
volve consoante um rito que, atentam n~
cia da União limitar-se-á a estabelecer nor- dade da competência para legislar sobre
sua finalidade a lei estabelece. O p~ocedl­
mas gerais" - rezá o § 12 • c) omissa a União quanto ao exercício direito processual. No particular, a con;pe-
mento não é, então, o processo em SI, mas,
da sua competência para legislar sobre nor- tência da União é privativa, como ~e le no sim, o modo pelo qual o processo se desen-
"A competência da União para legislar mas gerais de procedimento em matéria caput do ar!. 22 da carta e, n,o seu inCISO I.
volve. Para tornar possível o adequad? d.e-
sobre normas gerais - acrescenta o § 2º - processual, devolve-se às unidades federa- Também não será necessano demonstrar,
sempenho da função jurisdi,cional. o direito
não exclui a competência suplementar dos das a competência legislativa plena, que se vagarosamente, que o inciso X! ?O ar!. 24
determina que o processo, tnstrumen~o por
Estados." Esclareça-se logo que o caputdo haverá de exercer, no entanto, à vista das abrange procedimentos em matena proc,e~­
meio do qual a jurisdição atua, se realize de
artigo obriga a uma interpretação extensiva peculiaridades do Estado ou do Distrito Fe- sual de qualquer natureza, ass~m ,a clv~I,
certo modo, com exclusão de outros, modos
do étimo Estado, para que nele se inclua deral; inadmissível, portanto, que a unidade penal, trabalhista, fiscal, conclusao Inelu~a­
possíveis de desenvolvimen.'o. O modo de
também o Distrito Federal. federada edite norma incompatível com a vel a que leva o texto da norma, nao
desenvolver-se o processo e que se deno-
sua realidade; excludente de procedimentos de qualquer
mina procedimento.
"Inexistindo (em bom português se dirá espécie, mesmo daqueles regul~d?~ nos
"não existindo") lei federal sobre normas d) a competência plena será, neces- códigos, como o procedimento ordlnano e o
O procedimento é, portanto, o modo de
gerais - preceitua o § 3º -, os Estados sariamente, transitória, pois a superve- sumaríssimo. mover-se o processo. Desenvo~vendo-s~ de
exercerão a competência legislativa plena, niência da lei federal sobre normas gerais determinado modo, estabeleCido na lei, o
para atender as suas peculiaridades." suspenderá a eficácia (rectius, a vigência) Mas porque, conforme se apregoa, ~s
processo adquire uma form~. Daí. d~zerem
. da lei estadual, ·no que lhe for contrário. boas definições fundamentam as boas diS-
certos processualistas, com tnexatldao, que
Finalmente, o § 4º "A superveniência de Entenda-se, porém, que a revogação, ou, cussões, talvez caiba uma palavra sobre
lei federal sobre normas gerais suspende a como preferiu o constituinte, a "cessação
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precários, dispor que os prazos peremptóri-
o procedimento é a forma de exteriorização ção inicial e da contestação, a oportunidade fes Sor ALESSANDRO GROPPALI 4.
os se contarão em dobro ou em triplo para a
do processo. Nada menos exato. O procedi- das manifestações posteriores, a suscitação
As normas particulares vigoram, na unâ- parte cujo advogado não residir na comarca,
mento é modo que faz com que o processo de incidentes, tal, por exemplo, a ação de-
como pode ampliar o prazo dilatório, como o
adquira uma forma, não sendo, entretanto, claratória incidental na sua forma e a argüi- nime opinião dos doutos, dentro de. c~:ta
decêndio do art. 278 do Código de Processo
a forma em si mesma. Discordo da definição ção de suspeição ou de incompetência rela- rção de território, enquanto as gerais em
p? ência na extensão territorial correspon- Civil, que, obrigatoriamente, distancia a ci-
segundo a qual o procedimento é "o modo e tiva, a distribuição, ao modo de citar-se, aos
tação da audiência no processo sumaris-
a forma por que se movem os atos do proces- meios de praticar atos em outras comarcas, ~~nte à soberania do Estado. Na fe~er~ção, simo. Sei que o art. 182 da lei processual já
so", pois, sendo estática a idéia de forma, ao lugar dos atos processuais e ao respec- as normas gerais abrangem o terrltóno de
o o Estado, enquanto as particulares permite ao juiz prorrogar quaisquer prazos,
não cabe dizer que algo se move de determi- tivo tempo, inclusive os prazos, à maneira d
~ até sessenta dias, nas comarcas onde for
nada forma. Há um modo de mover-se, mas de se efetivar o direito de recurso, nas emanam das unidades (Estad "
os ou mUnlCI-
difícil o transporte. Entretanto, o permissi-
não uma forma de mover-se. O movimento, modalidades previstas na norma de proces- pios), circunscrevendo-se ao corresponden-
vo, razoável embora, pode mostrar-se insu-
realizado de certo modo, é que assume uma so. O procedimento compreende o modo de te território. ficiente, diante das peculiaridades locais,
forma. Se o procedimento é a ordem pela se colherem as provas que a lei processual
até porque a prorrogação nele prevista de-
qual se movem os atos do processo, ele é admite. Abrange a forma e a estrutura dos A competência, que a Constituição ou-
penderá, necessariamente, do pronun;i~­
modo de movimento e não forma de movi- pronunciamentos judiciais e a respectiva torga aos Estados federados - não aos
mento judicial. Não existindo tais pecullan-
mento. comunicação aos interessados. municípios - para legislar sobre procedi-
dades, prevalecerá sobre a lei estadual a
mentos em matéria processual (ressal~a­
legislação federal, diante do princípio que a
A distinção entre processo e procedi- Não basta, entretanto, distinguir pro- das as exceções já referidas), é co.mpeten-
doutrina alemã condensa na frase Bun-
mento - e não é demasiado enfatizar-se cesso e procedimento para que se fixe com cia para a edição de normas p~rllcular.es,
desrecht bricht Landesrecht (" o direito fe-
esse ponto - está em que aquele é a soma, proveito a exegese do inciso XI e dos quatro destinadas a vigorar no respectivo territó-
deral corta o direito local "), que assegura a
ou o conjunto, de todos os atos que se parágrafos do art. 24 da Constituição Fede- rio. supremacia da lei da União.
praticam para a composição da lide pelo ral. Em cada um desses parágrafos, regula-
Judiciário, ao passo que este é a ordem ou dores da competência declarada concor- J:: intuitivo que a Constituição deferiu
rente no caput do artigo, aparece a expres- competência aos Estados para legis.lar so- 4. Conclusão
a sucessão (rectius, a maneira de sucede-
rem) desses atos. A lei orde.na que o pro- são normas gerais. bre procedimentos, para que as unidades
Diante dessas considerações, pode-se
cesso deve desenvolver-se de certo modo, federadas possam adequar o modo pelo
dizer que normas gerais sobre procedimen-
estabelecido à vista da natureza da presta- 3. Normas gerais e normas particula- qual se desenvol~e ~ processo. à s~a reali-
to em matéria processual são aquelas
ção jurisdicional que se busca. O procedi- res dade - isso se Justifica e se Impoe, num
editadas para viger em todo o território na-
mento será, exatamente, esse modo de País continental, marcado por diferenças
cional, mas cuja incidência cessa diante de
desenvolvimento da relação processual. A Constituição reservou à União a com- de toda ordem. normas particulares, editadas pelos Esta-
petência para editar normas gerais sobre
dos, para vigorar no respectivo território, ou
Assim conceituado o procedimento, res- procedimento em matéria processual, re- Nesse contexto, a edição de normas
numa porção dele, em vista de peculiarida-
ta ao intérprete lembrar que a regra da servando às unidades federadas, como an- particulares - isto é, leis de vigência
competência do art. 24, XI, da Constituição tes se assinalou, competência suplemen- territorial limitada ao Estado federado, ou des regionais.
só dispõe acerca de competência para le- tar, que lhes permite elaborar normas de mesmo a uma porção dele - só se justifica
gislar sobre procedimentos; não sobre pro- caráter geral, se lacunosa a legislação fe- diante da existência de peculiaridades lo-
º
Quando o § 1 do art. 24 estabelece que,
"no âmbito da legislação concorrente, a
cesso, matéria da competência exclusiva deral pertinente. Além disso, outorgou-lhes cais, que tornem inadequada a incidência
competência da União limitar-se-á a esta-
da União, consoante o art. 21, I. competência plena, mas transitória, para da norma de âmbito geral.
belecer normas gerais", parece-me que o
legislar sobre procedimento em matéria pro-
A própria Constituição aponta nesse dispositivo não reduz a competência
Portanto, e exemplificativamente, só cessual, na ausência de normas federais.
legislativa da União à edição de normas
cabem no inciso XI do art. 24 matérias que Desprezadas as exceções, já suficiente- sentido. Convém notar que, mesmo quando
concede competência legislativa plena para genéricas, implantadoras de institutos o~
digam respeito ao modo de desenvolver-se mente referidas, dir-se-á que compete à
consagradoras de princípios. Apenas prol-
a relação processual, à sua dinâmica, ao União Federal legislar sobre processo, como legislar sobre procedimentos em matéria
be a União de editar normas particulares,
seu movimento; não o que a isso é estra- ainda editar normas gerais sobre procedi- processual, o § 3º do art. 24 a outorga aos
destinadas a certos territórios, porque, num
nho, como as condições da ação, os pres- mento em matéria processual. Estados e ao Distrito Federal, " para aten-
critério de valoração política, o constituinte
supostos processuais, a intervenção de ter- der as suas peculiaridades".
entendeu o Estado federado mais apto a
ceiros, as provas, os recursos, a coisa jul- Na classificação das normas jurídicas
Se, no caso, a competência legislativa identificar seus problemas e a adotar as
gada- elementos, como se sabe, atinentes quanto à sua extensão, ao conceito de nor-
plena, excepcionalmente deferida, se pren- providências legislativas destinadas a
às pessoas que reclamam a jurisdição, à mas gerais se contrapõe o de normas parti-
prestação jurisdicional e à sua eficácia: ins- culares. Sobre o assunto, consulte-se, com de à necessidade de atender peculiarida- resolvê-los.
tituições de processo e não de procedimento. proveito, na escassa literatura nacional, a des, a (ortiori, a competência para editar
A interpretação, que agora apresento,
monografia Da norma jurídica (forma e normas particulares também se encontra
faz muito acanhada a competência local para
O procedimento, contemplado a partir matéria),do saudoso Professor PAULlNO condicionada à existência dessas mesmas
peculiaridades. Por exemplo, pode a lei lo- legislar sobre procedimentos em matéria pro-
das fases que o integram, diz respeito ao JACQUES 3, e, na literatura estrangeira, a
cai do Estado muito vasto, de transportes cessual. Embora desaprove tamanha restri-
modo de postular, como a estrutura da peti- Introdução ao estudo do direito, do Pro-
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ção ao poder legiferante dos Estados, creio SO RIBEIRO BASTOS esta opinião melan-
que a construção oferecida à crítica é a cólica: "não é exagero afirmar-se que será NATUREZA JURíDICA DA FUNÇÃO DELEGADA
única que se harmoniza com um sistema que quase impossível os Estados legislarem ori- ESTUDO A PROPÓSITO DO ARTIGO 236 DA CONSTITUiÇÃO FEDERAL
provocou do acatado constitucionalistaCEL- ginariamente sobre qualquer assunto". 5
Edson Aguiar Vasconcelos
- Juiz de Direito -

I . ESCORÇO HISTÓRICO responsabilização por abusos de poder e


prevaricações.
A) • A TRADiÇÃO CARTORÁRIA - No
Brasil, por tradição política vinda das gran- A primeira Constituição Republicana
des províncias, todas as funções de apoio (1891), no art. 58, § 1º, atribuía aos pre-
das atividades jurisdicionais de primeira ins- sidentes dos tribunais o provimento dos
tância, desde que rentáveis, eram exercidas ofícios de justiça nas circunscrições judiciá-
por particulares, os quais se viam remune- rias.
rados mediante percepção direta das cus-
tas e dos emolumentos desembolsados pe- B) • OS CARTÓRIOS NOS ANTIGOS
las pessoas que figuravam como partes ou ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E DA
interessadas nos processos em tramitação, GUANABARA
de acordo com os regimentos específicos.
No desenvolvimento histórico da situa-
A esses particulares eram atribuídas ção, até passado recente, percebe-se a
funções de natureza processual, instrumen- ocorrência, em div.ersos Estados da Fede-
talizadoras da jurisdição, pelo que ficavam ração, de autêntica simbiose entre as fun-
subordinadas hierarquicamente ao Juízo a ções das serventias judiciais e extrajudiciais,
que se vinculavam, mas sem relação estando muito próximo de nós os exemplos
empregatícia com o Estado, embora, quase dos antigos Estados do Rio de Janeiro e da
sempre, fossem postos sob o agasalho de Guanabara, fundidos no atual ERJ.
estatutos de funcionários públicos.
A velha Província Fluminense nos legou
Em serventias judiciais não rentáveis, diversos "Ofícios" de atribuições mistas (ju-
os mesmos serviços ou eram prestados por dicial e extrajudicial), que vêm, paulatina-
servidores públicos, remunerados pelo Erá- mente, diminunindo em quantidade à medi-
rio, ou também por particulares, aos quais, da em que se criam e instalam as escrivanias
nesses casos, como compensação finan- das varas, havendo atualmente no território
ceira, eram dadas atribuições de natureza do antigo Estado do Rio diversas serventias
extrajudiciais. extrajudiciais oficializadas.

Esses particulares eram os titulares de O Estado da Guanabara, à sua vez,


Ofícios de Justiça, nome genérico das deixou quase todas as serventias extrajudi-
serventias judiciais e extrajudiciais. ciais sob o regime da desoficialização, res-
tando, ainda, poucas serventias judiciais
A qualidade de titular de Ofício vincula- (de Varas Órfãos e Sucessões) sob o regime
va, por investidura, o Escrivão ou Tabelião não oficializado.
à função judicial ou extrajudicial, não se
tratando, pois, de hipótese de lotação, de Devido às peculiaridades regionais e
maneira que não podiam esses titulares ser econômicas das áreas territoriais em que se
afastados ou removidos do órgão de atua- situavam os antigos Estados do Rio de Ja-
ção, por motivo de conveniência adminis- neiro e da Guanabara, observa-se que no
1 Considerações sobre o procedimento, in Direito processual civil-estudos e pareceres. trativa. território do primeiro há nítida tendência à
p. 4 - 6. oficialização das serventias, inclusive
2 Direito judiciário brasileiro, p. 264 e 265. A existência desses serventuários titu- extrajudiciais, pela pouca rentabilidade, por-
3 Especialmente o capo V. p 52 e S. lares já se faz notar na Constituição Imperi- que elas se afiguram sem atrativos para o
4 Principalmente o capo IV, p. 41 e S. al (1824), que, no art. 156, os equiparava, pessoal·não remunerado pelos Cofres PÚ-
5 Curso de direito constitucional, p. 271. sob a denominação de Oficiais de Justiça, blicos; ocorrendo movimento inverso no ter-
aos Juízes de Direito para os fins de ritório do segundo ex-Estado.

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