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CODIGO CIVIL

DOS

ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

I
OBRAS DO AUTOR

Historias da Faculdade de Direito do Recife, 2 vols.


br. 35|000, ene 50$000
Estudos Jurídicos (Historia, Philosophia e Critica). 1 voi.
in-8.0 de 300 pags. br. 10$000, ene 17$000
Codlgo Civil eommentado:
1.° volume, br. 25$; ene 32$000
2.° volume, br. 25$; ene 22$000
3.° volume, br. 25$; ,ene 32$000
4.° volume, br. 25$; ene. .......... C 32$000
5.° volume, br. 20$; ene 27$000
6.° volume, br. 20$; ene 27$000
Direito Civil (Theoria geral). 2." edição, 1 vol. in-8, br.
20$000, ene 27$000
Lições de legislação comparada. 2.» edição. 1 vol.,
br. 12$, ene 17$000
Direito das obrigações. 1 vol., br. 30$, ene 35$000
Criminologia e direito. 1 vol. br. 7$, ene 12$000
Juristas philosophos. 1 vol. br. 7$, ene 12$000
Direito das successões. 1 vol. br. 30$, ene 35|000
Em defeza do projecto de Codigo Civil brasileiro. Livra-
ria Francisco Alves, Rio, 1906, br. 10$, ene 17$000
Esboços e 0fragmentos de philosophia e literatura, 1 vol.
in-8. de 295 pags. ene 7$00
Direito publico internacional. 2 vols., br. 60|000, ene. 70|0'
Direito internacional privado (Princípios elementares de).
Rio de Janeiro, 1934. 1 vol.
Direito da família. 1 vol. in-8.0 de 653 pags., ene $
Estudos de direito e economia 0política. 2.» ed. Rio de
Janeiro, 1901. 1 vol. in-8. , ene $
CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO
V REGIÃO

CODIGO CIVIL

DOS

ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

COMMENTAQO

POR

Cio vis Beviláqua

CONSELHO REGIONAL DO TRABALH'


la. REGIÃO
Sexta edição.

VOLUME I

LIVRARIA FRANCISCO ALVES


166, Rua do Ouvidor, 166 — Rio de Janeiro
S. PAULO J BELLO HORIZONTE
292, Rua Libero Badaró | Rua Rio de Janeiro, 655
19 4 0
N? 1181

T 8 VI

iHa.A
c
T
A' minha mulher

Amélia de Freitas Beviláqua

e ás minhas filhas
CONSELHO REGJON«L DO TRABALH^
1«. REGIÃO

Floriza e Doris

Se o interesse' sociedade
domina as relações do direito civil, mais
intensa é nelle a influencia da familia.
No Codigo Civil, occupa longo es-
paço o pensamento da familia; neste
livro, o affecto do lar foi luz inspira-
dora, de irradiação suave, mas persis-
tente .

Clovis Beviláqua
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. Leg-es sacratissimse qua? constringunt homi-
num vitas, intelligi ab omnibus debent, ut uni-
versi prsescripto earum manifestius cognito vel
inibita declinent, vel permissa sectentur.

Cod.j 1, 14 (De legihus), 1, D.

Kein Gesetzbuch ist, je vom Himmel gefal-


len, und keines der Gegenstand einer augen-
blicklichen Offenbarung gewesen, und diejeni-
gen, welche glaubten, etwas aus ihrem Geist zu
schaffen, haben fast nur dem Geist der Kultur
gedient, in der sie lebten und der sie ihr Denken
entnahmen.

J. Kohlbr Lehrhuch des buergcrlichen Re-


chts, 1, § 1.°, II,

Um Codigo Civil não é obra da sciencia e


do talento unicamente; é, sobretudo, a obra dos
costumes, das tradições, em uma palavra, da
civilização, brilhante ou modesta, de um povo.

José de Alencar, Relatório do Ministério da


Justiça, 1869.
■ - .

.
/

PRELIMINARES

I CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO


lav REGIÃO
necessidade da codificação do direito civil pátrio

1. As codificações, além de corresponderem ás


necessidades mentaes de clareza e systematização,
eonsütuem, do ponto de vista social, formações or-
gânicas do direito, que lhe augmentam o poder de
precisão e segurança, estabelecendo a harmonia e a
reciproca elucidação dos dispositivos, fecundando
princípios e institutos, que, no isolamento, se não
desenvolveriam sufficientemente, contendo, canali-
zando e orientando energias, que se poderiam pre-
judicar, na sua acção dispersiva.
Por isso apresentam-se na historia do direito,
como phase normal da evolução, que, partindo da
Huidez inicial das ordens mais ou menos arbitrarias,
das sentenças de varia inspiração, e dos costumes,
v
ae em busca de formas definidas, firmes e lúcidas,
yue traduzam, melhor, as exigências, cada vez mais
apuradas, da consciência jurídica, e, melhor, disci-
plinem os interesses dos indivíduos e dos agrupa-
uientos sociaes.
2, No Brasil, além das condições geraes, que, em
tuda a parte, solicitam as codificações, havia condi-
ções próprias, que as reclamavam insistentemente.
Proclamada a independência, em 1822, já, no anuo
seguinte, a lei de 20 de Outubro de 1823, mandando
10 CODIGO CIVIL

vigorar, no Império, as Ordenações, leis e decretos


promulgados pelos reis de Portugal, até 25 de Abril
de 1821, lhes dava uma autoridade provisória; em-
quanto se não organizar um novo Codigo, ou não fo-
rem especialmente alteradas. A Constituição do
Império, mandada cumprir4 por lei de 25 de Março
de 1824, no n. XYIII, do art. 179, solemnemente, de-
clarou:- Organizar-se-á, quanto antes, um Codigo Ci-
vil e um Criminal, fundados nas sólidas hases da jus-
tiça e da equidade.
3. São manifestações de uma necessidade sen-
tida, e da intenção de dar-lhe provimento. Esses bons
desejos, porém, se não puderam realizar senão agora,
depois de grandes e continuados esforços. E, durante
esses estirados noventa e quatro annos (1), depois
de nossa independência politica, permanecemos sob
o domínio das Ordenações do reino, já revogadas no
paiz de sua origem, e a respeito das quaes dizia Tei-
xeira de Freitas serem pobríssimas e reclamarem
copioso supplemento (2). "Seus collaboradores, ac-
crescentava, ou pela escassez de luzes, de que têm
sido accusados, ou, por fugirem a maior trabalho,
reportaram-se, muitas vezes, ao direito romano, e,
mesmo, geralmente, o autorizaram, mandando, até,
guardar as glosas de Accursio, e as opiniões de Bar-
tolo e mais doutores" (3).
Sobre essa base mal construída, vieram accumu-
lar-se, no decurso de tres séculos, as leis extravagan-

(1) Esta introducção foi escripta em 1916.


(2) Consolidação das leis civis, 3.a ed., p. XXXII.
(3) TjOco cita to. Sobre o valor das Ordenações philippinas. ve-
iam-se; Mello Frtorb, Historia júris civilis lusitani, cap. 9. §§ 91
à 93: Coelho da Kocha, Ensaio soõre a historia do governo e da,
legislação de Portugal. § 251; Cândido Mendes, Codigo phlippino,
ps. XXIV-XXVIII; e Martins Júnior, Historia do direito nacional,
ps. 99 a 102.
w

PRELIMINARES 11

tes, promulgadas sol) a pressão de necessidades di-


versas, obedecendo a impulsos differentes, e consa-
grando preceitos divergentes.
Era forçoso sahir desse emmaranhado cipoal,
que mais servia para desenvolver o espirito de chi-
cana do que para resguardar as possibilidades juri-
dicas
II CONSELHO RCGEEEL DO TRABÁLHf
la, R_GlÃO
tentativas de codificação do direito civil pátrio:
a) PRIMEIROS PROJECTOS
4. Em 1845, o illuslre advogado e, depois, insi-
gne diplomata, Francisco Ignacio de Carvalho Mo-
reira, barão de Penedo, apresentou, ao Instituto da
Ordem dos Advogados Brasileiros, a sua memória
ucerca Da revisão geral e codificação das leis civis e
do processo, no Brasil (4), demonstrando que, em
fuce do estado de nossa legislação, "esparsa, antino-
unca, desordenada e numerossima", era indispen-
sável tratar de a remodelar de accordo com as ne-
cessidades do tempo.
5. Eüzebio de Queiroz, penetrado das mesmas
1
4éas, mas julgando muito difficil a elaboração de
um Codigo Civil, lembrou que se adoptasse, como
tal, o Digesto portuguez, de Correia Telles. Consul-
tado a respeito, o Instituto da Ordem dos Advogados
uianifestou-se desfavoravelmente (5).
6. Vingou, então, o pensamento de se effectuar,
como trabalho preparatório do Codigo Civil, a conso-

(4) Revista do Instituto dos Advogados, I, ps. 145 e segs.; SÁ


Vianna. Augusto Teixeira ãe Freitas, 1903, p. 98; Joaquim Nabuco,
qw estadista do império, IIT, p. 506-508; Sacramento Bt.akb. Dic-
cionario fniliographico 'brasileiro; Cândido de Oliveira, Legislação
Co
mparaãa, ps. 203 e segs. A memória do Barão de Penedo foi ti-
rada em separado, no anno de 1846.
(5) SA Vianna, Augusto Teixeira ãe Freitas, p. 98.
12 CODIGO CIVIL

lidação do direito privado commum em vigor, tarefa


confiada a Teixeira de Freitas, por contracto de 15
de Fevereiro de 1855. Em 1858, estava conclnida e
approvada a Consolidação das leis civis (6), e, logo,
se cogitava da elaboração do Codigo, segundo se vê
do dec. n. 2.318, de 22 de Dezembro desse annc.
7. Era natural que essa nova empreza fosse con-
fiada ao eminente jurisconsulto, que lhe preparara
o terreno. Effectivamente, a 10 de Janeiro de 1859,
Nabuco de Araújo, achando-se á frente do Ministé-
rio da Justiça, contractou, com Teixeira de Freitas,
o preparo de ura Projecto do Codigo Civil, que deve-
ria concluir-se até 31 de Dezembro de 1861. Mais
tarde, esse prazo foi prorogado até 30 de Junho de
1864.
Por dec. de 23 de Junho desse anuo, foram ex-
pedidas as intrucções para o exame do Projecto, em
parte já publicado. A commissão incumbida desse
trabalho, e da qual fizeram parte, o Visconde do Urü-
guay, Nabuco de Araújo, Caetano Alberto Soares,
Ribas, Braz Florentino, Furtado, Mariant, e Lou-
renço Ribeiro, suspendeu os seus trabalhos a 31 de
Agosto de 1865, tendo celebrado dezesete sessões, nas
quaes apenas se discutiram os primeiros artigos do
Projecto (7).

(6) E' das mais estimadas obras jurídicas do Brasil, e consti-


tue um verdadeiro monumento de erudição e capacidade organiza-
dora. Tiraram-se, em: vida do autor, tres edições desse livroT ai"
official, em 1857; a 2.a em 1865 e a 3.a em 1875. Em 1877 appare-
ceram os Aããitaméntos : d'Consolidação das leis civis, pelo mesmo
jurisconsulto. Recentemente appareceu a quarta edição annotada
por Martinho Garcbz. A Consolidação foi vertida para o francez,
em resumo, pelo egregio Raotjl pe la Grasserxb, no volume Codè
civil du Yénczucla, Lois Civiles du Brésil, Paris, 1897.
(7) SA Vianna, op. cit., ps. 147-155; Joaquim Nabuco, Um Es-
tadista do império, III, ps. 512-514. O relatório do Br. Caetano Al-
berto e os pareceres de outros membros da Commissão foram pu-
blicados em volume, de qpe dá noticia SA Vianna, p. 152, nota 61.
PKELIMINAEES 13

Desgostou-se Teixeira de Freitas com a Commis-


são e com o pouco apreço, que, ao seu ingente es-
forço, dava ou parecia dar o publico brasileiro. Foi-
Ibe suave conforto, nesse* estado de desalento, o fran-
co reconhecimento do seu mérito pelo jurisconsulto
argentino Velez Sarsfield, que, para o Projecto de
Codigo Civil Argentino, lhe acceitou o methodo, a
doutrina e grande parte do articulado.
8. A obra interrompida não mais foi retomada
pelo autor, que, em seguida, imaginou refundil-a em
obra de mais vasto alcance.
Sobre o trabalho de Teixeira de Freitas repro-
duzo aqui o que alhures escrevi:
"Apreciado, mesmo na sua forma de Esboço, que
não era ainda a definitiva, no pensamento do ju-
rista (8), é um edificio de grandes proporções (4.908
artigos) e de extraordinária solidez, talhado, na ro-
cha viva dos bons principios, pela mão vigorosa de
nm artista superior, e, ao mesmo tempo, recortado,
internamente, por excessivas minúcias, que, talvez,
desapparecessem, quando o autor retirasse da obra
ns andaimes, que ali puzera, emquanto lhe erguia as
altas muralhas. A analyse, a decomposição dos prin-
cipios, foi conduzida com admirável vigor e segu-
rança; mas, procurando traduzir as relações de di-
reito civil, em todas as suas infinitas variedades, por
mn preceito legal, foi mais longe do que convinha a

CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO


1«, REGIÃO
(8) Publicado o Esboço, em 1860, previne Teixeira de Frei-
tas que o faz para depurar, com a estampa, o longo trabalho, de
Que fôra encarregado, expondo-se á censura de todos e á sua pró-
pria. E, em carta a Nabuco, escrevia: "jamais passou pela intenção
do autor, nem é do seu caracter, dar por Projecto de Codigo Civil
o que elle só compuzera como ensaio, e, lealmente, publicara sob
o titulo de Esboço" (Apuã Joaquim Nabuco, Um estadista do im-
pério, III, p. 512, nota 2).
14 CODIGO CIVIL

uma obra legislativa. Dahi a dispersão, cxue demorou


a obra, e, afinal, inutilizou, para o fim immediata-
mente almejado, uma tão grande somma de esforço.
"E' uma pagina dolorosa, a mais dolorosa da
historia intellectual da jurisprudência brasileira,
essa, em que o sábio jurista renega e despedaça todo
o seu trabalho anterior, sacrificando-o, com a he-
róica abnegação de um estoico, ao que elle julgava a
verdade scientifica (9).
"Mas, se o Esboço não poude ser transformado
em lei, entrou para o acervo da jurisprudência pá-
tria, como a sua producção mais valiosa, pela rique-
za, segurança e originalidade das idéas.
"Uma das suas mais significantivas originalida-
des é, sem duvida, a ordem adoptada para a distri-
buição das matérias, como se pôde ver pelo schema
seguinte:

Parte Geral:

^ Pessoas.
Dos elementos do direito.... I- Coisas.
Pactos.
Direitos pessoaes em geral.
I Dos direitos pessoaes ^ Direitos pessoaes, nas relações de família.
Direitos pessoaes, nas relações civis.
Direitos reaes, em geral.
( II Dos direitos reaes Direitos reaes, sobre coisas próprias.
Direitos reaes, sobre coisas alheias.

( III Disposições communs aos 1 ^ Herança.


direitos reaes e pes-'. Concurso de credores.
soaes Prescripção.

(9) Ver essa historia em SA Vianna, op. cit. ps. 167 e segs.:
Joaquim Nabuco, op. cit.,, ps. 513 e segs.: Coelho Rodrigues, Pro-
jecto do Codigo Civil, Rio 1897. Introducção histórica, ps, I a 111,
PEELIMIN ARES 15

"Não temos o articulado correspondente ao ter-


ceiro livro da parte especial, ü trabalho ficou in-
completo. Mas podemos aprecial-o, em seu conjun-
cto, na lição, que delle nos offefece o Codigo Civil
argentino
9. Em 1872, sendo Ministro da Justiça Duarte
iie Azevedo, foi declarada a rescisão do contracto en-
tre o governo e Teixeira de Freitas, para a elabora-
ção de um Projecto de Codigo Civil. As razões desse
acto constam do aviso de 18 de Novembro de 1872:
"Não podendo o Governo Imperial acceitar o plano
proposto por Y. S. (Teixeira de Freitas), em sua re-
presentação de 20 de Setembro de 1807, para a orga-
nização de dois codigos, um geral e outro especial,
tem considerado rescindido, como também a V. S.
parece, em sua declaração de 8 do corrente, o con-
tracto de 10 de Janeiro de 1859, que com V. S. cele-
brara, para a redacção do projecto do Codigo Civil
do Império, já pelo tempo decorrido, já porque Y. S.
declarou, na sua mencionada representação, que,
pela desharmonia profunda entre o seu pensamento
e as vistas do Governo Imperial, julga-se inhabilitado
para redigir aquelle Projecto" (10).
Nabuco de Araújo, que tanto se interessara para
ver ultimada por Teixeira de Freitas a obra, que o
grande jurisconsulto iniciára, foi encarregado de sub-
stituil-o, quando uma desintelligencia profunda en-
tre elle e o Governo o afastara, definitivamente, da
magna empreza.

(10) Apuã SÁ Vianna, op. cit, ps. 225-226; Coel-ho Rodrigues,


Projecto do Codigo Civil, p. 283, da ed. de 1897.
16 CODIGO CIVIL

A lilsloria de Nabuco está, beliainente, contada


por seu egregio filho, na ohra a tantos respeitos con-
siderável, Vm estadista do império (11).
Iniciado o trabalho, em 1873, a morte colheu o
laborioso jurisperito, em 1878, antes de terminar a
construcção ideada. O fragmento encontrado, no seu
espolio literário, e que é apenas uma das variantes do
projecto em formação, abrange 118 artigos do titulo
preliminar e 182 da Parte geral. Além desse ar-
ticulado, ficaram numerosos cadernos de notas não
publicadas. Não é licito, com esses elementos, formar
juizo seguro sobre o conjuncto da obra; mas a trans-
parência dos dispositivos e a extensão dada ao di-
reito internacional privado permittem-nos dar aco-
lhida á conjectura de Joaquim Nabuco, certos de que
a ternura filial apenas deu mais agudeza á penetra-
ção do historiador: — "não seria a creação de um
puro philosopho, de um professor de universidade,
e, sim, de um estadista mais preoccupado do effeito
pratico da legislação, a que ligasse o seu nome, do
seu alcance social, internacional mesmo, da clareza,
comprehensão e vastidão da lei, do que da metaphy-
sica do direito" (12).
10. Fallecendo Nabuco, não ficou interrompida
a obra da codificação do nosso direito civil, porque
Felicio dos Santos tomou a si a tarefa. Em 1881,
apresentou os seus Apontamentos ao Governo, que
nomeou uma commissão para estudal-os e emittir
sobre elles parecer. Não lhes sendo favorável a
opinião dos revispres, resolveu o Governo aproveitar

(11) Vejam-se as paginas 521 a 540 do III vol. Leia-se, lam-


bem, o que escreveu Epitacio Pessôa, quando Ministro da Justiça,
em sua Exposição, de 10 de Novembro de 1900. O contracto de Na-
buco foi aprovado pelo dec. n. 5.164, de 11 de Dezembro de 1872,
(12) Um estadista do império, III, p. 529.
ÍKELIMINABES Í7

os jurisconsultos assim reunidos, para elaborar um


projecto definitivo.
0 plano de Felicio dos Santos é o seguinte: a
Parte geral do Codigo Civil distribue-se por três li-
vros: — Das pessoas, das coisas e dos actos jurídicos,
em geral; a Parte especial obedece a divisão seme-
diante: — Das pessoas, das coisas e dos actos jurí-
dicos, em particular (13). Foi Coelho da Rocha o
inspirador dessa classificação arbitraria, cujas in-
congruências a crítica do tempo, não sem azedume,
poz em relevo.
Será, porém, injustiça desconhecer os méritos do
trabalho, que nos deixou o jurisconsulto mineiro. Ha
nelle idéas justas, e, em muitos pontos, foi aprovei-
tada a lição da experiência, quer a da critica dos
píojectos anteriores, quer a da pratica forense.
11. A Commissão nomeada para rever os Apon-
tamentos de Felicio dos Santos, e que foi incumbida
^ie elaborar um projecto, era composta dos Drs.: La-
pa yette, Ribas, Justino de Andrade, Coelho Rodri-
gues e Ferreira Yianna, aos quaes se juntou o autor
(
ios Apontamentos. Nomeada a 9 de Novembro de
t881, logo se viu desfalcada de dois de seus membros,
Ribas e Justino. Em seguida, Felicio dos Santos, jul-
gando-se desprestigiado, também se retirou. Afinal,
com a entrada de Lafayette para o Ministério de 24
ite Maio de 1883, na qualidade de seu Presidente, ex-
tinguiu-se, de facto, a Commissão, que apezar dos
bons desejos de uns e da competência de todos, em
ÇONSELHO RLGIONAL DO TRABALHO
K REGIÃO
(13) Felicio dos Santos publicou um Comvientario ao seu pro-
lecto, em cinco volumes, 1884-1887. Em Coelho Rodrigues, ap. cit.
Ps. 227-234, lê -se a historia e a critica do Projecto Felicio dos San-*
tos. Veja-se também E. Espinola, Bystema ãe direito civil brasi-
leiro, 1, pS. 12-14.
Codigo Civil — 1.° vol. 2
u <'01)10.0 OIVÍL

nada adeantou o preparo do Projecto do Codigo Ci-


vil. Todavia somente em 1886 foi, legalmente, dissol-
vida, por aviso de 27 de Fevereiro.
"E, assim, acabou-se, inerte e ingloriamente, •
aquela Commissão, recebida com applausos de mui-
tos e com as esperanças geraes", diz Coelho Rodri-
gues (14), que a ella pertenceu, e muito se esforçou
para que fosse productiva.
12. Em 1889, foi nomeada outra Commissão,
composta dos Drs. Silva Gosta, Olegario, Affonso
Penna, Dantas, Coelho Rodrigues e (José Júlio, sob
a presidência do Ministro da Justiça, que era o Con-
selheiro Cândido de Oliveira, e do Imperador (15).
Trabalhou-se, activamente, e muito se fez em poucos
mezes; porém, cahindo, a 15 de Novembro, a Monar-
chia, foi a Commissão dissolvida.
13. A Republica preferiu volver aos trabalhos
individuaes, sendo o Dr. Coelho Rodrigues incum-
bido de preparar o Projecto do Codigo Civil (dec.
de 15 de Junho de 1890). Era, então. Ministro da Jus-
tiça o benemerito Campos Salles.
O Projecto Coelho Rodrigues, concluido em 1893,
não foi acceito pelo Governo, por lhe ser contrario
o parecer da Commissão encarregada de revel-o (16).
Mas o autor, representando o Estado do Piauhy no
Senado Federal, offereceu o seu trabalho a essa casa
do Congresso, que, a 6 de Novembro de 1896, resol-
veu que fosse o Governo autorizado "a contractar.

(14) Op. cit., p. 238.


(15) Cândido db Oliveira, Legislação comparada, ps. 209-213,
cLi informações minuciosas sobre os trabalhos desta Commissão.
(16) Yejam-se esse parecer, a resposta do autor do Projecto,
a replica da Commissão e a tréplica do autor, no citado livro de
Coelho Rodrigues, ps. 61 e segs.
PRELIMINARES 19

com um jurisconsulto ou com uma commissão de ju-


risconsultos brasileiros, a révisão desse Projecto".
A classificação adoptada pelo Dr. Coelho Ro-
drigues é a seguinte:

Lei preliminar.

- Das pessoas.
Parte geral Dos bens.
( Dos actos e factos jurídicos.

/ Das obrigações.
i Da posse, da propriedade e dos outros di-
Parte especial ... x reitos reaes.
I Do direito da família.
^ Direito das successões.

Trabalho de incontestável merecimento, eslava,


perfeitamente nas condições de se converter em lei,
depois de revisto nos termos da resolução do Senado,
a
que acima se alludiu.
14. Além dos Projectos mencionados, que influi-
ram na evolução das idéas do paiz, porque foram
discutidos, um houve, que passou quasi despercebido,
por não ter vindo á luz da imprensa. Refiro-me ao
Projecto do Sr. Visconde de Seabra, autor do Proje-
cto do Codigo Civil portuguez.
Ignoro se chegou a escrever um trabalho com-
pleto. Delle vi apenas, em manuscripto, que se con-
serva na Secretaria da Justiça, o titulo preliminar e
alguns artigos sobre a Capacidade civil e seu exer-
cido . O autor, na folha de rosto, se declarava natural
do Rio de Janeiro e cadete honorário do antigo re-
gimento de cavallaria de linha, de Minas Geraes. Pro-
curava, por esse modo, desfazer as prevenções do
amor proprio nacional.
OOD1GO <31 VIL

III
TENTATIVAS DE CODIFICAÇÃO DO DIREITO CIVIL PÁTRIO:

b) O PROJECTO QUE SE CONVERTEU NO CODIGO CIVIL

15. Quando Ministro da Justiça, no Governo Pro-


visório, o Dr. Campos Salles contractara, como se
viu, o preparo de um Projecto de Codigo Civil, com o
Dr. Coelho Rodrigues, conhecido professor da Fa-
culdade de Direito do Recife, distincto parlamentar
e polemista intrépido. Era de esperar que, assumin-
do a presidência da Republica, em Novembro de
1898, esse problema, de novo preoccupasse a alta
administração do paiz.
E assim foi, realmente, não só porque o Presi-
dente llie sabia aquilatar a importância, do ponto de
vista do nosso desenvolvimento economico e mo-
ral (17), como, ainda, porque fora cbamado a dirigir
a pasta da Justiça uma alta intelligencia devotada ao
cultivo do direito: Epitacio Pessqa.
16. boi deste eminente collega de então que re-
cebi o honroso convite (18), para elaborar um novo
Projecto, aproveitando, tanto quanto possivel, sem
prejuízo das minhas idéas, o do Dr. Coelho Rodri-
gues, cujos méritos se deixavam perceber, depois que
passara a onda subversiva da critica inclemente e,
até certo ponto, incompetente, que o declarara im-
prestável (19).

(17) Campos Salles, Da propaganda á Republica, S. Paulo,


1908, ps. 314 e seguintes, onde o eminente homem de Estado narra
quanto fez no sentido de realizar essa grande obra nacional.
(18) Carta de 25 de Janeiro de 1899.
(19) Coelho Rodrigues, Projecto do Codigo Civil, Rio de Ja-
neiro, 1897, Introãucção histórica, ns. 22 a 33, e 101, e ps. 61 a 126.
onde se lê a discussão travada entre a Commissão revisora e o
autor do Projecto.
PKBLIMINABES 21

17. Chegando ao Rio de Janeiro, a 27 de Março,


pude, nos primeiros dias de Abril, iniciar o trabalho,
que estava ultimado em fins de Outubro. Impresso
em seguida, foi remettido a alguns jurisconsultos,
cujo parecer o Governo solicitou, porque, então, se
pensava em ouvir os doutos, isoladamente, para que
o autor, attendendo á critica dos competentes, melho-
rasse a sua obra, antes de ser remettida ao Congres-
so (20). Mais tarde, prevaleceu um outro modo de vêr,
e os jurisconsultos ouvidos foram convidados e rever
o Projecto, reunindo-se em commissão, sob a presi-
dência do Ministro da Justiça.
18. Antes de apparecer o projecto, antes mesmo
de iniciado, soffrera, de dois emeritos jurisconsultos,
reparos depreciativos.
Em dois eloqüentes artigos publicados na Im-
prensa, que, então, dirigia, o eminente Senador Ruy
Barbosa mostrava enxergar, claramente, no futuro,
que a pressa dada á empreza da codificação civil,
forçosamente" haveria de produzir uma obra "tos-
ca, indigesta, aleijada" (21). O escolhido era um no-
viço ainda não amadurecido para empreza de tal por-
te. A "sua escolha para codificar as nossas leis civis

as
(20) O Projecto foi, primeiramente, publicado em avulso, sem
s Observações para o seu esclarecimento, que foram escriptas em
eg'uida
s
e tiradas á parte, em numero muito reduzido de exempla-
^ - O publico sómente as conheceu pelo Jornal do Commercio.
l^ez-se, depois, uma pequena edição do Projecto com aquellas ob-
servações, em 1900. A exiguidade dessa primeira tiragem e a im-
possibilidade, em que se achou o autor, de publicar, na Revista de
Jurisprudência, a sua exposição de motivos, como aliás, era do seu
oesejo, valeram-lhe a má. vontade desse periódico. (Veja-se o vo-
lume IX, de 1900, ps. 97 a 99. 115 a 134, 228 a 242, 326 a 337; etc).
■A 13 de Maio de 1900, o Diário òfficial (n. 127) publicou o Pro-
locto na integra.
Leia-se, ainda o que escreveu E. Espinoua, Bystema de direito
civil brasileiro. I, ps. 16 a 19 da 2.a edição.
(21) A Imprensa, Rio de Janeiro, 14 de Março de 1899.
22 CODIGO CIVIL

fora um rasgo do coração, não da cabeça" (22) . So-


bretudo, faltava-lhe "um requisito primário, essen-
cial, soberano para taes obras: a sciencia da sua lín-
gua, a vernaculidade, a casta correcção do escrever.
E o teor de um codigo ba de ser irreprehensivel.
Qualquer falha na sua estructura idiomatica assume
proporções de deformidade" (23).
0 Dr. Inglez de Souza augurava mal do Proje-
cto, porque as codificações pareciam obras inadequa-
das ao nosso tempo: "Não se justifica, por nenhuma
conveniência publica, a codificação das nossas leis
civis, nem a opinião está preparada para essa ingente
tarefa, nem o momento é azado para pensar em tra-
çar, definitivamente, o circulo em que hão de girai-
as actividades sociaes, nas relações de dlrieto pri-
vado" (24).
19. Esses dois primeiros e notáveis adversários
do Projecto mantiveram-se irreductiveis até ao fim,
como se terá oportunidade de ver. Felizmente, para
desafogo da opinião e amparo do fraco projectista,
outras vozes surgiram, benevolas e esperançosas, em
vários pontos do paiz (25). E, assim, ponde a obra
se iniciar sob bons auspícios, e proseguir, desassom-
bradamente. Aliás, era um dever a cumprir. Impu-
nha-o, irrecusavelmente, a profissão; imperiosamente
o exigia o sentimento das necessidades do paiz. E os

(22) A Imprensa, Rio de Janeiro, 15 de Março de 1899. Não


sei se, paia me confiar tão árduo e alevantado conimettimento.
Epitacio Pbssôa cedeu, antes, ao affecto do que á razão. O que é
certo é que o trabalho commum nos encontrara collegas, e nos dei-
xou amigos, que se estimam, tanto mais fortemente, quanto melhor
se conhecem.
(23) A Imprensa, de 15 de Março.
(24) Revista Brasileira, Rio de Janeiro, vol. XVII, Marco do
1899, ps. 275.
(25) A Republica, Fortaleza, 4 de Abril de 1899; A Noticia,
Therezina, 4 de Março de 1899; Pharol, Juiz de Fóra, 8 de Agosto
PRELIMINARES 23

deveres cumprem-se, quaesquer que sejam os obsla-


culos, que se lhes opponham.
20. Dos jurisconsultos, cujo parecer o Governo
solicitara, dois enviaram, por escripto, as suas im-
pressões sobre o Projecto: os Conselheiros Duarte de
Azevedo e Aquino e Castro .
O do primeiro é um estudo accurado e erudito.
Ainda que, algumas vezes, injusto, por não ter at-
tendido, sufficientemente, aos intuitos dos dispositi-
vos, é um trabalho valioso, que foi, opportunamente,
aproveitado pelos revisores do Projecto (26). O se-
gundo, mais geral e mais francamente benevolo ao
Projecto (27), é também um documento merecedor
de apreço, pelo espirito liberal, que o anima.
21. Não parecendo mais acertado ouvir, indivi-
dualmente, os jurisconsultos, como, a principio, se
pensava, e, ao meu ver, com melhor razão, nomeou
o Governo uma Commissão revisora, que iniciou os
seus trabalhos no dia 29 de Março de 1900, e os en-
cerrou a 2 de Novembro do mesmo anuo.

1890; e, sobretudo, o Ilomsnogon, Bahia,, 1899, devida à. gene-


rosa amizade de Adherbal de Carvalho e José Luiz da Fonseca Ma-
galhães, na qual collaboraram homens do mais elevado valor mo-
ral e intellectual, como Coelho Rodrigues. José Hygino, Costa Bar-
RADASy Cândido de Oliveira, João Vieira, Ouro Preto, Affonso Celso,
Lagbuda de Almeida. Eunapio Dbirô, Araripb Júnior, Jose Anísio,
Adherbal de Carvalho, Svlvio Romero, Freire dé Carvalho.
Merece, também, especial menção o artigo, que, sob o titulo
Codigo civil, escreveu o dilecto amigo e notável jurisperito. Af-
Ronso Cláudio, no Estado do Espirito Santo, de 27 de Abril de 1900.
Mais tarde, no Diário da Manhã, de 26 de Maio de 1909, Affonso
Cláudio volveu ao assumpto.
(26) Encontra-se esse Parecer nos Trabalhos da Commissão
especial da Gamara dos Deputados, Rio de Janeiro, 1902, vol. II,
ps. 12 a 26, e no Coãigo Civil brasileiro, trabalhos relativos a sua
Elaboração, II, ps. 126 a 152.
Citar-se-á esta obra, resumidamente. — Elaboração.
(27) Está publicado nas Actas dos trabalhos da Commissão
revisora do Projecto de Codigo Civil, Rio de Janeiro, 1901, pagi-
10 a 14; Elaboração, I, ps. 321-324,
24 CODI0O CIVIL

Fizeram parte dessa Commissão os seguintes ju-


risconsultos:
Olegario Herculano d'Aquino e Castro, antigo
magistrado, Presidente do Supremo Tribunal Fe-
deral, e membro da Commisssão nomeada, em 1889,
pelo Sr. Visconde de Ouro Preto, para organizar o
Godigo Civil do Império (28) ;
Joaquim da Costa Barradas, ex-magistrado da
monarchia e da Republica, acatado por sua grande
erudição jurídica e longa pratica adquirida nas fun-
cções de julgar e patrocinar causas, o que lhe permit-
tia apreciar o direito em funcção, por todos os seus
aspectos;
Amphilophio Botelho Freire de Carvalho, lam-
bem antigo magistrado, e, no momento, advogado;
uma das intelligencias mais lúcidas, que já serviram
ao direito em nosso paiz, como, eloqüentemente, af-
firmam os seus discursos, quer na Constituinte, quer
na Gamara dos Deputados, e as suas razões, eluci-
dando pontos de nosso direito constitucional ainda
mal conhecido;
Francisco de Paula Lacerda de Almeida, jurista
theorico e pratico, autor de uma obra notável sobre
as Obrigações, que, mais tarde, foi seguida de outras
egualmente preciosas, entre as quaes se destacam:
Das pessoas jurídicas, Direito das cousas e as Suc-
cessões; a primeira, original e de um accentuado
cunho philosophico; a segunda, obra simples e com-
pleta; a terceira, elegantíssima na concepcão e na
doutrina;
João Evangelista Sayão de Bulhões Carvalho,
presidente do Instituto da Ordem dos Advogados

C OELI10 Rod
i Rigues, Projecto do Coãigo Civil pre-
Janeirp, 1897 documentada do mesmo e dos anteriores. Rio dí>
PRELIMINARES 25

Brasileiros, e romanista, para quem o direito não


era, simplesmente, uma sciencia a ser cultivada, e
uma arte a ser applicada, mas uma religião, que nos
dá o sentimento profundo do dever, na vida domes-
tica e social, e nos aponta, nos afastamentos do fu-
turo, o doce reinado da justiça, para o qual devemos
marchar sem desfallecimento. Infelizmente, este es-
clarecido espirito não acompanhou os trabalhos da
Commissão, delia se afastando logo em começo. Mas
não se desinteressou do Projecto, para o qual foi tra-
balhar no Instituto da Ordem dos Advogados.
Esta commissão de homens encanecidos no es-
tudo do direito era presidida pelo Ministro da Jus-
tiça, espirito poderoso e brilhante, a quem um seguro
e
claro senso juridico chamaria, naturalmente, a essa
presidência, se lh'a não designasse o alto posto da
administração publica, em que se achava investido,
22. Foram consideráveis as modificações intro-
duzidas no Projecto pela Commissão revisora, con-
trariando outras, que haviam sido desterradas por
incongruentes com a feição moderna do direito civil.
Depois de uma primeira revisão, que terminou a
6 de Agosto de 1900 (28 a), iniciou-se uma segunda
série de reuniões, com a presença do autor do Pro-
jecto (29), que conseguiu justificar e restabelecer al-
gumas das muitas disposições, que haviam sido con-
derunadas no primeiro exame. Não obstante, em
^aior numero as emendas subsistiram, e o espirito

or (28 a) Actas citadas, ps. 5 a 389, Elaboração, T, ps. 217 a 621


<im celebradas 51 reuniões.
(29) Celebraram-se 14 reuniões nesta segunda revisão, que
terminou
a a 2 de Novembro de 1900. Ve,1am-se as Actas, citadas,
P ginas 393 a 426; Elaboração, T, ps. 622-647.
26 CODIGO CIVIL

do Projecto perdeu alguma coisa da sua feição


originaria.
23. A divisão geral do Projecto como a distribui-
ção das matérias foi mantida, e é a que ainda se vê
no Codigo: a) Lei de Introducção; b) Parte geral,
desdobrada em tres livros: pessoas, bens, nascimento
e extincção dos direitos; e) Parte especial, com qua-
tro livros: Direito da família, Direito das coisas, Di-
reito das obrigações e Direito das successões.
Também as sub-divisões e a classificação dos in-
stitutos nos diversos titulos e capítulos foram respei-
tadas.
Mas certos dispositivos, que, melhor, accentua-
vam a feição liberal do Projecto, dcsappareceram ou
foram modificados (30).
Assim é que a Lei de introducção perdeu o ar-
tigo 30, que reconhecia, expressamente, a dissolução
do vinculo matrimonial, resultante do divorcio legal-
mente pronunciado, no estrangeiro, de accordo com a
lei pessoal dos cônjuges (31), muito embora, o Pro-
jecto não acceitasse, para o Brasil, a perversora e
dissolvente instituição do divorcio.
Na parte geral, art. 0.°, se fazia a declaração de
que a mulher, juridicamente egual ao homem, nas re-
lações civis, não perdia a sua capacidade pelo matri-
mônio, que, se é a sua dignificação social, não pôde
ser a sua degradação juridica. Essa idéa desdobra-
va-se em dispositivos da parte especial, que estabele-
ciam os direitos e deveres da mãe de família (arti-
gos 279 a 297), dando-lhe posição equivalente á de

(30) Juvenal Pacheco, O Coãigo Civil na Gamara dos Depu-


tados, Rio de Janeiro, 1902, ps. 5 a 9, faz uma inlicagão satisfa-
ctoria dos dispositivos característicos do Projecto primitivo.
(31) A defeza desta these se encontra nos Estudos de direito
e economia política, 2.a ed., Garnier, 1902, ps. 245 a 270 (O divorcio
no direito internacional privado).
PKBLIMINABES 27

seu companheiro e socio, permittindo-lhe a tutoria, a


caução fidejussoria, e ser testemunha em quaesquer
actos jurídicos.
A Commissão do Governo reagiu contra essas in-
novações, algumas das quaes vieram, afinal, a pre-
valecer no Congresso.
A's pessoas jurídicas estrangeiras, de direito pu-
blico, permittia o Projecto que adquirissem, no Bra-
sil, não somente os edificios de suas legações e con-
sulados, como os immoveis necessários a outros fins,
hde o Governo brasileiro não julgasse inconveniente
ficarem sob o dominio de um Estado estrangeiro (32).
No pedido de licença ao Governo local, estava o re-
conhecimento de sua soberania e a submissão á au~
loridade de lei nacional. Não se arreceiou a Commis-
são revisora dessa manifestação de fraternidade in-
ternacional, de desassombro e liberalismo jurídico,
reflectindo o humanismo, que domina a communhão
dos povos cultos (33). Mas a Gamara condemnou a
audacia. E, se alguma coisa ficou desse pensamento
no Projecto, devemos á intervenção do Senado, que,
infelizmente, se deixou ficar a meio caminho.
A determinação da responsabilidade civil do Es-
tado estava modelada, segundo a doutrina e a juris-
prudência (34), no art. 42, que a Commissão revi-
sora, respeitou, porém que, apezar dos intelligentes
esforços de Gastão da Cunha, a Gamara repelliu, para
s
er restabelecida no Senado, por suggestão de Ar-
thur Lemos.

e,
(32) Art. 23. — Este Codigo reconhece as jpessôas jurídicas
Ve «trangeiras;
mas as de direito publico não poderão possuir immo-
is no Brasil, sem prévia autorização do Governo Federal.
(33) Art. 21 do Projecto revisto.
(34) Veja-se Em, ãefeza do Projecto do Codigo Civil, Livraria
^•ancisco Alves. 1906, p. 71.
28 CO0IGO CIVIL

O erro de classificação do Codigo Civil francez


e do italiano, que incluem, no» direito privado, maté-
rias de direito constitucional e administrativo, taes
como a discriminação dos bens públicos pelas diver-
sas espheras da administração, a federal, a estadual
e a municipal, se nao reproduzia no Projecto primi-
tivo, que, além da doutrina dos próprios escriptores
francezes, tivera, para illuminar-lhe o caminho, o
exemplo do Codigo Civil allemao e do projecto
suisso. Mas a Commissão revisora seguiu outra rota,
e, se não fora a reacção do Senado, teríamos a lamen-
tar esse desvio de technica, em nosso Codigo Civil.
O reconhecimento dos filhos illegitimos de qual-
quer especie e a investigação da paternidade, com as
necessárias cautelas, eram conquistas da ethica e do
altruísmo, a que adherira a Commissão revisora (35).
Foi o Congresso que as repelliu, não reparando que
esse direito da hypocrisia, em vez de resguardar a
paz e a dignidade da família, é um mal que dete-
riora os tecidos da cellula social,
A perpetuidade do direito autoral não ponde
prevalecer (36), como também não ponde prevalecer
a insolvencia civil, idéa amadurecida na doutri-
na (37).
A inconstitucional exigência do registro, para a
validade do direito autoral era estranha ao Projecto
primitivo. E ao Droit cfauteur, de 15 de Julho de 1900
e de 15 de Fevereiro de 1901, não escaparam as dif-
íerenças entre os dois Projectos.

(35) Arts. 417 a 431 do Projecto primitivo.


(36) Art. 777.
^f'' Ent^e n,os'. Francisco db Castro Júnior defendeu, com
Paulo eCRioPl903Cia' a 00 opuscul0
~ Insolvencia civil. São
PRELlMIÍíAllES 29

No direito das obrigações, ensinuou-se um de-


feito de classificação jurídica pelo qual não pôde
responder o Projecto primitivo. E' o relativo á pro-
curadoria judicial, matéria de direito adjectivo, que
a Commissão revisora entendeu additar ao capitulo
do mandato (38).
24. Outras alterações houve. Mas puderam resis-
tir aos embates algumas idéas capitães, grossas pilas-
tras sobre as quaes repousava o entablamento do edi-
ficio. Por esse modo, a harmonia entre a ordem e a
liberdade, entre a tradição e o progresso, continuou
a ser a expressão geral, a idéa dominante do Proje-
cto. A concepção da posse, segundo Jhering nos In-
terdictos e na Besitzwille, a idéa da propriedade, sem
o absolutismo romano, a sua extensão ao espaço
aereo, a doutrina das declarações unilateraes da von-
tade, como fonte de obrigações, a simplificação das
figuras de contractos, a modificação da ordem here-
ditária, collocando o cônjuge superstite logo em se-
guida as ascendentes, a reducção da successibilida-
de dos collateraes ao sexto grau, são, entre outras,
idéas que se filiam ao Projecto primitivo.

IY

CRITICAS AO PROJECTO

25. Emquanto a Commissão revisora proseguia


no sèu trabalho, appareciam criticas ao Projecto, em
vários orgãos de publicidade. A mais impertinente
foi a do Sr. Torres Netto, que começou no Jornal do
Commercio, e, em seguida, passou para a Revista de

(38) Arts. 1.324 a 1.330, do Codigo.


80 CODiGO OlVlL

Jurisprudência (39). Nenhuma luz trouxe á discussão,


ainda que acompanhasse, minuciosamente, o arti-
culado do Projecto, e, com ares de superioridade,
suppuzesse descobrir um erro em cada dispositivo.
C. M., no Jornal do Brasil (40), foi também algum
tanto áspero com essa tentativa de codificação. E o
Dr. Amancio de Carvalho (41), condemnou os arti-
gos, em que se consideravam como erros essenciaes
sobre a pessoa, podendo servir de base á nullidade
do casamento, a moléstia grave, transmissível (ar-
tigo 257, 3.°) e o desvirginamento (arl. 259) . O pri-
meiro dispositivo era censurado, sob o fundamento
de que não ba um critério para determinar o que
seja moléstia grave; o segundo, por ser perigosa a
sua doutrina, e "attentatoria á moral social". A sem
razão do illustre professor ficou evidenciada em um
substancioso escripto de Afranio Peixoto, hoje auto-
ridade conspicua em assumptos de medicina publi-
ca (42). E Nina Rodrigues, em carta que me dirigiu,
ponderava: "Falha, como é, a sua elucidação da
questão fundamental (o diagnostico medico), a arte
medica não tem o direito de exigir que se sacrifi-
quem, ao seu ensino, as outras circumstancias, que
podem ter influido na indicação do prazo de dez
dias, para a reclamação da parte. Do contrario se

(39) Vol, IX, 1900, ps. 115 a 134, 228 a 242, e 329 a 337 (São
os fasciculos correspondentes aos mezes de Junho, Julho e Agosto).
rol. X, 1900, p. 18 a 32, 121 a 130, 223 a 241, e 321 a 327 (são
os fasciculos de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro).
(40) Edição de 22 de Junho de 1900.
(41) Correio Paulistano (S. Paulo), de 27 de Maio de 1900;
Revista de Jurisprudência, vol. IX, 1900, ps. 326 a 329, fasciculo
de Agosto.
(42) O Projecto de Codigo Civil brasileiro e a medicina legal,
na Revista, Acadêmica da Faculdade de direito do Recife, vol. IX,
ps. 105 a 113.
tKELIMINABES 31

tornará ella responsável pelo sacriíicio da mela-


de (43) das vietimas desse acto criminoso .
26. O Projecto primitivo não foi divulgado nos
centros jurídicos estrangeiros; mas alguns cultores
do direito, que o receberam, não lhe recusaram a sua
benevolência, que, se foi além do mérito real da obia,
é porque os objectos vistos á distancia perdem as
suas asperezas, as linhas se amenizam e as cores se
esbatem.
Não é por impulso de vaidade que me reino a
essas opiniões; antes é por uma necessidade de aco-
lher-me á sombra amiga e protectora dos mestres da
jurisprudência (44). Por isso não lhes transcrevo as
phrases lisongeiras, que a gratidão aichivou para
conforto intimo do espirito.
27. 0 Projecto revisto foi apresentado ao Presi-
dente da Republica, a 10 de Novembro de 1900.
Acompanhava-o extensa Exposição do Ministro, Epi
tacio Pessoa (45), na qual se mostravam a funcção
ethico-social das codificações, a sua historia, no mun-
do antigo, e no moderno, e as tentativas, aqui rea i
zadas, para systematizar o direito civil, a começar c c

(43) A fixação da metade funda-se na estatística de um me


co-legista
' (44,' Tenho em mente: «o
írsidade de Oviedo; JSl Pro,eclo * r;,lr,
Uno, Madrid, 26 de Janeiro de ãe droit inter-
> Julho de 1900; E. S. ZBBAhMS mesmo
T-tional privé Buenos-Aires, Maiço de i ' vst tx Mfybr (Ber-
rofessor Zbballos, de Icmio Vanni (Roma), ^^nsílto P^tuguez.
m) e de Auberto dos Reis, o conhecido ^
(45) Essa exposição se enc^"tJJí ^^.^rtidencio, vol. XI
ustiça, de Março de 1901, na Reviste " o1 j pS 159 a
)01 ps. 5 a 12 e nos Trabalhos da Gamara 1902, vol. l. P-•
52, e na Elaboração, I, ps. 648 a 654. "Mnv l
O Projecto revisto foi publicado no
se ( yol. I,
em volume, Typ. Nacional, a 2( )° q na Elaboração, I, 655
os Trabalhos da Gamara ps. 103 a
32 CODXGO GIVIL

1855, com o trabalho de consolidação confiado a Tei-


xeira de Freitas, aliás já precedido pelos estudos de
Carvalho Moreira, e a terminar pelo trabalho então
apresentado. Dessa invocação histórica, o Ministro
fazia resaltar as seguintes conclusões:
1. Que, desde 18oo, com pequenas interru-
pções, de 1886 a 1889 e de 1896 a 1899, o pensamento
brasileiro se tinha applicado, directa, e esforçada-
mente, á consecução de um Codigo Civil;
2.' Que esses esforços, mantidos perseverante-
mente, durante quarenta annos, e, corajosamente
recomeçados, sempre que os desfallecimentos ou ou-
tras circumstancias adversas os vinham interrom-
per, constituíam uma verdadeira cadeia, sem solu-
ção de continuidade, já porque o apparecimento das
mesmas pessoas, em duas ou mais tentativas, firma-
va, enti e estas, um bem accentuado traço de união,
já poi que os estudos successivamente feitos vieram
aplainando as difficuldades, robustecendo, com a
experiência, a razão jurídica, e concorrendo, com
valiosos subsídios para o trabalho de então, que se
apresentava, como o resumo dos precedentes, addi-
tado pelos ensinamentos da doutrina e da legislação
comparada" (46).
Estas verdades incontestáveis autorizam a affir-
mar que a codificação das leis civis nos consumiu
sessenta annos de trabalho, que tantos vão de 1855,
época do inicio da Consolidação, até 1915, ou cin-
coenta e quatro, se descontarmos os annos, de 1886
a 1889 e 1896 a 1899, em que houve dons curtos perio-
dos de remissão. E, nesse labor, esgotaram considerá-
veis energias, ralaram-se de fundos desgostos homens

raçãTl, p^T87a%54.Camara 1902


' ^ ^ PS
- 161 a 162: Elal0
-
PBBLXMINABES 33

de vasto saber jurídico, taes como Teixeira de Frei-


tas, Nabuco de Araújo, Felicio dos Santos e Coelho
Rodrigues, sem falar nos que collaboraram em com-
missões,
28. Em curta, mas expressiva mensagem, o ür.
Campos Salles apresentou ao exame do Congresso,
a 17 de Novembro de 1900, o Projecto de Codigo Ci-
vil revisto,
Antes que o Congresso o examinasse, os homens
do officio lhe vieram pesar o merecimento. O Dr.
Coelho Rodrigues escreveu uma série de artigos,
com certa malicia e com a vivacidade própria do seu
temperamento; mas não perderá o seu tempo quem
lhe meditar as observações e lhe ouvir as narrativas,
porque aquellas são conceituosas, e estas são de in-
teresse para a historia da elaboração do nosso Co-
digo Civil (47).
29. O Instituto da Ordem dos Advogados Brasi-
leiros tomou a peito contribuir para o aperfeiçoa-
mento da obra, que aos juristas, mais do que a
quaesquer outros, devia interessar. Sob a presidên-
cia de Bulhões Carvalho, examinou, detidamente, o
Projecto, e sobre elle emittiram pareceres os mem-
bros da Commissão nomeada para estudal-o. Esses
Pareceres, alguns dos quaes são excellentes mono-
graphias, foram estampados no vol, II dos Traba-
lhos da Gamara, em 1902 (48) .

C
(47) Apparecenão primeiramente, na Revista de Jurispruden-
a
«U vol. XI, 1900, ps. 210 a 214, e 310 a 318; vol. XII, 1901, ps. 7
H, 103 a 112, 213 a 222, e 301 a 308 foram esses artigos reedi-
tados nos Trabalhos da Gamara, 1902, vol. II, ps. 245 a 270, e na
Elaboração, II, pS. 153 a igo-, a critica do illustrado professor foi
respondida, ponto por ponto, em artigos qiA o Jornal do Commer-
cio publicou, de 1900 a 1901, e que também se lêem no citado vo-
lume dos Trabalhos da Gamara, ps. 270 a 298, no livro Em defeza.
Ps. 177 a 266, e na Elaboração, II, ps. 652 a 700.
(48) Elaboração, II, ps. 311 a 548.
Codigo Civil — 1.° vol. 3
34 CODIGO CIVIL

Torres Netto reproduziu, em parte, o que já dis-


sera sobre a Parte geral do Projecío; Lima Drum-
mond analysou o direito da familia; o Barão de Lo-
reto dissertou sobre os direitos reaes de garantia;
Amaro Cavalcanti estudou as obrigações em geral;
Fábio Leal occupou-se das doações, da locação e do
empréstimo; Solidonio Leite examinou o deposito,
o mandato, a gestão de negocios e a sociedade (49);
Sérgio Loreto falou sobre o instituto da fiança; Vil-
lela dos Santos tratou das successões.
Apreciada no seu conjuncto, a contribuição do
Instituto foi um dos melhores subsidies, com que
ponde contar o Congresso, e não deve ficar perdida
nos mal organizados volumes dos Trabalhos da Ca-
mara (50). Merece a attenção dos estudiosos.
30. Nina Rodrigues escreveu dois bons traba-
lhos sobre o Projecto de Codigo Civil em suas atti-
nencias com a medicina legal. O primeiro fôrma um
volume, com o titulo — O alienado no direito civil
brasileiro (Bahia, 1901) e foi reeditado nos Traba-
lhos da Camara, vol. II, ps. 299 a 359 e na Elabora-
ção, II, ps. 206 a 310. O segundo appareceu no Di-
reito (51), sob a inscripção — Apontamentos medico-
legaes ao Projecto do Codigo Civil Brasileiro.

(49) Este parecer, com a discussão e a votação na Commis-


são especial da Camara, foi tirado em volume (Porto, 1906).
(50) Além dos pareceres, ha um volume de Actas das reu-
niões da Commissão revisora do Instituto da Ordem dos Advoga-
dos Brasileiros (Rio de Janeiro, 1906, Imprensa Nacional). V. Ela-
boração, II, ps. 549 a 601. A discussão limitou-se ao começo da
Parte geral, tendo havido dezeseis reuniões, de 3 de Fevereiro a
14 de Setembro de 1901.
(51) Vol. 88, ps. 5 a 25. O Dr. Márcio Nery, mais tarde tam-
bém se occupou da incapacidade dos loucos, em face do Projecto
(V. Jornal do Commercio, de 24 de Fevereiro de 1904). Perante a
Commissão representou a medicina legal o Dr. Rodrigues Doria
(Trabalhos, vol. IV, ps. 62 a 65, 163 a 164 e 178 a 180),
PRELIMINARES 35

O Alienado no direito civil- brasileiro é um con-


sciençioso estudo de psychiatria forense, sobre a in-
capacidade civil nos estados de insanidade mental,
apontando as deficiências do Projecto, do ponto de
vista medico-legal. Não contribuiu pouco, devo crer,
para a inclusão da curadoria dos prodigos no Có-
digo Civil.
0 artigo publicado no Direito versa a respeito
da filiação legitima. Não tem a mesma amplitude e
profundeza scientifica do escripto remettido á Com-
missão da Camara.
A' doutrina e á critica dos dispositivos do Pro-
jecto (52), oppuz algumas objecções que, ainda ago-
ca, me parecem fundadas.
31. As Faculdades jurídicas officiaes não se ma-
nifestaram sobre o Projecto: mas, das livres, duas
emittiram pareceres; a de Minas Geraes (53), e uma
das do Rio de Janeiro, a Faculdade Livre de Di-
reito (54).
Os tribunaes superiores do Maranhão e do Rio
Grande do Norte apresentaram judiciosas observa-
ções (55). Ali Cunha Machado, e aqui Meira e Sá
eram seguros penhores da superioridade desses
votos.
Outros juristas, como Silva Barros, do Ceará,
Adherbal de Carvalho, Vieira Ferreira e Oliveira
Coelho, dirigiram-se á Commissão da Camara, sug-
gerindo idéas.

(52) Em defeza, ps. 360 a 370.


(53) Trabalhos da Camara, II, ps. 81 a 100. De ps. 101 a 106
se encontra a minha resposta á parte desse parecer, que me fôra
communicada. Veja-se também o livro, Em defeza, ps. 157 a 175.
a
(54) Nos Trabalhos da Camara, vol. II, ps. 45 a 64. De ps. 65
30, pode ser vista a resposta, que lhe foi dada. Veja-se também,
o livro Em defeza, ps. 267 a 317.
(55) Trabalhos da Camara, vol. II, ps. 27 a 43.
36 CODIGO CIVIL

32. Yê-se pelo que acaba de ser exposto, que


liouve o louvável intuito de ouvir a nação, consul-
tando-se as corporações e os individuos de reconhe-
cida competência, para que tomassem parte na ela-
boração do Codigo Civil, e de todos os ângulos do
paiz se fizeram ouvir os que tinham alguma idéa a
apresentar, algum reparo a fazer.
A imprensa, em geral, mostrou-se interessada
pela reforma da legislação civil. Na impossibilidade
de apontar todas as suas manifestações a respeito,
destaco os artigos do fecundo jornalista e notável
homem de letras, Medeiros e Albuquerque.
Autor da lei que, primeiro, regulou, entre nós,
o direito autoral, foi este o assumpto, que o chamou
a discussão (56). O preclaro acadêmico advogava,
para a chamada propriedade literária, a classifica-
ção de mero privilegio temporário, combatendo a
idéa de direito, a um tempo, real, pessoal e perpetuo,
que o Projecto ousara propor. Não vingou a ousadia
da perpetuidade; mas, aos autores, se reconheceu
um verdadeiro direito á semelhança de qualquer ou-
tro dos que entram na esphera da legislação civil.

A DISCUSSÃO DO PROJECTO NA CAMARA EM 1901 E 1902

33. A discussão do Projecto, na Gommissão es-


pecial da Gamara, foi memorável, quer pela ampli-
tude do debate, em que tomaram parte, além dos

(56) Veja-se o Paiz (Rio de Janeiro, de 26 de Maio e de 9 de


Outubro de 1901. Confira-se, com o que abi se affirma, o que em
justificativa do Projecto, escrevi no Direito, vol. 85, ps. 321 a 329,
e vem reproduzido no livro, Em ãefeza, ps. 479 a 494.
PRELIMINARES 37

21 (57) representantes das diversas bancadas, vários


cultores do direito, de nomeada no fôro (58), e o au-
tor do Projecto; quer pelo interesse, cora que todos
se applicaram á consecução da fôrma jurídica ade-
quada ao meio social e ao momento histórico. Tra-
balhou-se de 27 de Julho de 1901 a 18 de Janeiro de
1902, celebrando-se sessenta reuniões. E na dis-
cussão, a que não faltaram, jámais a cordura e a di-
gnidade, manteve-se o pensamento na altura conve-
niente, para bem exprimir o estado de cultura do
paiz, em matéria jurídica.

(57) A Commissão especial, nomeada pelo Presidente da Go-


mara, a 26 de Julho de 1901, ficou assim composta: — Presidente,
J. J. Seabra, deputado pela Bahia; Relator geral, Sylvio Roméro,
deputado por Sergipe; Secretario, Francisco Tolentino, deputado
Por Santa Catharina; relatores parciaes: Azevedo Marques (São
Paulo), titulo preliminar das pessoas e dos bens; Frederico Bor-
ges (Ceará), dos factos e actos jurídicos; Anizio de Abreu (Piau-
hy), casamento, regimen de bens, dissolução da sociedade conju-
gai; Monjardim (Espirito Santo), relações de parentesco, tutela e
curatela; Luiz Domingues (Maranhão), posse e propriedade; Ar-
thur Lemos (Pará), propriedade literária; Benedicto de Souza
(Matto Grosso), direitos reaes sobre coisas alheias; Rivadavia
Correia (Rio Grande do Sul), direitos reaes de garantia; Oliveira
Figueiredo (Rio de Janeiro), obrigações; Tavares de Lyra (Rio
Grande do Norte), contractos, em geral, compra e venda; Teixeira
ãe Sá (Pernambuco), doação, locação, empréstimo; Araújo Góes
(Alagôas), deposito, mandato, edição, sociedade, parceria; Sá Pei-
xoto (Amazonas), constituição de rendas, seguros, fiança, títulos
ao portador, promessas de recompensa; Sá Freire (Districto Fe-
deral), liquidação das obrigações; Alfredo Pinto (Minas Geraes),
successão em geral, successão legitima; Alencar Guimarães (Pa-
raná), testamentos, inventários e partilha.
Os dezoito paraceres foram todos bem elaborados. Acham-se
publicados no vol. III dos Trabalhos da Gamara e no vol. II, pa-
ginas 761 a 1.102, da Elaboração.
(58) Tomaram parte na discussão do Projecto; Andrade Fi-
gueira, Coelho Rodrigues, M. Francisco Correia, Lima Drummond,
Salvador Muniz, Gabriel Ferreira, Solidonio Leite, Sérgio Loreto,
Amaro Cavalcanti, Didimb da Veiga, Bandeira de Mello, Fábio
Leal, Villela dos Santos, Araripe, Torres Netto; e os deputados
estranhos á Commissão: Júlio dos Santos, Rodrigues Doria, Adol-
Pho Gordo, Eduardo Ramos, Vergne de Abreu, Mourão e Fausto
Cardoso.
Como eram publicas as sessões, a assistência foi sempre nu-
merosa. Nem podia ser indifferente á sociedade a reforma das leis
relativas á personalidade civil, aos bens, e á família.
38 CODIGO CIVIL

Andrade Figueira apresentou-se como o cam-


peão do direito em vigor. "Quero que se saiba que
me acho aqui por dois motivos, disse elle á Commis-
são: primeiramente, para corresponder ao convite,
que me foi feito, e, depois, para fazer vingar os prin-
cípios da legislação patria, os princípios liberacs,
que nella se contêm...

Quanto a esse direito antigo, que prevalece ha


tres séculos, deixe-se que elle vigore, porque é bom,
e nao se fará melhor, lauto que o Projecto claudica,
quando dele se aparta, como pretende o orador de-
monstrar" (58 a).
Com esta orientação, possuindo, plenamente, o
direito positivo, nos seus preceitos como nas suas ap-
plicações praticas, e tendo educado o espirito em
diuturna opposição parlamentar, a sua critica ao
Projecto foi constante, pertinaz e irreductivel. Se o
prestigio de que gozava, no seio da Gommissão, como
jurisconsulto e estadista, representante da tradição
e do antigo regimen, nao fosse tao poderoso, a inter-
venção desse espirito, claro e forte, teria sido bene-
íica, expurgando o Projecto de algum excesso ou
desvio. Mas, influindo, consideravelmente, no ani-
mo dos que lhe ouviam a exposição simples, num
estylo fluente, exprimindo uma convicção inabalá-
vel, sem comtudo, conseguir afastar, por completo, as
idéas do Projecto, como conseguiu afastal-as, na
parte relativa ao direito internacional privado, per-
turbou a eurythmia da construcção, determinou in-

Tralalhos da Gamara, vol. IV, p. 5, V, e mais o vol. VI,


ÍÍIh ^1Vl1no portuguez
pratica ainda hoje Brasil, é oa mais
respeito de successão,
racional, o qual
o mais confor-
me a natureza das coisas... reputa-o mesmo mais perfeito do aue
o de qualquer outra legislação".
PRELIMINARES 39

congruencias, que, lisamente, foi elie o primeiro a


assignalar.
Coelho Rodrigues contribuiu também, de modo
distincto, para o esclarecimento das duvidas, e solu-
ção dos complicados problemas da legislação civil,
offerecendo os fructos de sua experiência e de sua
perspicácia.
Destaco esses nomes, porque acompanharam to-
da a discussão do Projecto; mas, nos pontos, que
examinaram, não foram menos valiosas as elucida-
ções de Solidonio Leite Sérgio Loreto, Amaro Ca-
valcanti, Drummond e outros, dentre os estranhos,
assim como as dos dezoito relatores da Gamara.
34. As discussões, que tomaram maior desenvol-
vimento e nas quaes as opiniões, defrontando-se, vi-
braram, mais fortemente, foram as referentes ao di-
reito internacional privado, ao divorcio e a organi-
zação da propriedade. O debate sobre o divorcio
destacou-se, entre todos, por sua solemnidade. A so-
ciologia, a historia do direito, a legislação compara-
da, a estatística, a razão e o sentimento forneceram
recursos aos contendores.
Afnal foi mantido o principio do desquite con-
tra o do divorcio absoluto (59).
35. Depois de discutidos os relatórios particula-
res, effectuou-se a redacção parcial do Projecto, con-
forme o vencido (60). Seguiu-se o projecto de reda-
cção final (61), que forneceu matéria para largo de-
bate e ainda soffreu muitas emendas (62), fixando-
se, emfim, depois dessa longa e esforçada elabora-

(59) Vol. V, ps. 3 a 81, dos Trabalhos da Gamara.


(60) Vol. VI, ps. 547 a 666, dos cit. Trabalhos.
(61) Vol. VII, dos cit. Trabalhos, ps. 1 a 223.
(62) Ibiãem, ps. 225 a 283.
40 CODIGO OIVIX,

ção, a fôrma definitiva (63), que foi apresentada a


Gamara, na sessão de 27 de Fevereiro de 1902, de-
pois de revista pelo iIlustrado professor Carneiro.
36. O Projecto da Commissão foi precedido de
um parecer geral, escripto com a superioridade in-
tellectual, própria desse espirito profundo e vasto,
que foi Sylvio Romero (64).
Depois de perquirir as causas que, entre nós,
têm difficultado a promulgação de um Codigo Civil,
traça, com algumas pinceladas seguras, o desdobra-
mento da consciência organica em nosso paiz, a evo-
lução do pensamento jurídico, segundo o reflectiram
os seus homens representativos, especialmente o
grande Ieixeira de Freitas e Tobias Barreto, apro-
veitando a opportunidade para firmar algumas idéas
próprias sobre a classificação dos phenomenos cul-
turaes, entre os quaes esta o direito. Esse preâmbulo
abie a intelligencia para melhor se comprehender o
Piojecto, como innovação, consoante as exigências
modernas, da legislação em vigor, e para se avaliar
do trabalho da Commissão, emendando o esboço, que
o Governo mandara preparar. Destaca, em seguida,
as idéas vencedoras, e, em 49 proposições, accentúa
as principaes differenças entre o que dispõe a legis-
lação actual e o que propõe a reforma (65).

(63) Vol. VIII, ps. 44 a 259.

âa Camara
o-rande ^ com 2.770 paginas,
«rande, em duas'íeram 8 volumes em formato
columnas.
r oram ■fmnvnoc?/--»*-» oo ji* . _
PRELIMINARES 41

37. Fôra convocado o Congresso, extraordina-


riamente, para discutir e approvar o Projecto de Có-
digo Civil, que não pudera ser votado em 1901. Cou-
be ao Sr. Seabra, como presidente da Cominissão,
apresentar o trabalho á Gamara. Fel-o num discurso
commedido e sobrio, caracterizando o Projecto como
uma evolução natural do direito anterior, sem ru-
ptura brusca e sem ousadias aventurosas.
38. Antes de se travar o debate, resolveu a Ga-
mara encurtar o prazo do regimento para inicio da
discussão, e tomou conhecimento de umas observa-
ções, que o autor do Projecto primitivo fez ao traba-
lho, no intuito de chamar a attenção, dos represen-
tantes do povo, para alguns dispositivos, incongruen-
tes ou inadequados (66).
Na sessão de 5 de Março, hAUSTO Cardoso analy-
sou, com o costumado calor e certa vehemencia, al-
gumas interpelações, que o Projecto soffreu depois
de approvado pela Commissão, fez considerações de
sociologo sobre as nossas producções jurídicas, e deu
combate ao elemento retrogrado, que se insinuara no
Projecto. Fausto Cardoso não voltou a discutir o as-
sumpto na Gamara; porém, na Aurora, ainda lhe vi-
brou alguns ligeiros golpes (67), e na sessão de 21 de
Março lavrou o seu protesto, contra o que lhe pare-
cia restricção á livre critica.
No dia 13 de Março, foi, pela primeira vez, an-
nunciada a discussão única do Projecto de Codigo
Civil, em ordem do dia.
Iniciou o debate Augusto de Freitas, num longo,
substancioso e erudito discurso, tocando em vários

(66) Veja-se essa representação no livro Em defesa, paginas


319 a 340.
(67) Vejam-se os ns. do 22, 23, 24, 25, 27 c 28 de Março
de 1912.
42 CODIGO CTVXL

pontos e, em particular, na prescripção, nullidade de


casamento, regimen dos bens na sociedade conjugai,
e reconhecimento de filhos naturaes. No dia se-
guinte, continuou as suas observações sobre legiti-
midade da filiação, prescripção acquisitiva, usofru-
cto, hypotheca, e pagamento indevido. E' uma ana-
lyse conscienciosa, reveladora de grande compe-
tência .
Mantiveram-se na mesma louvável altura os ou-
tros oradores, que, em seguida, examinaram o Pro-
jecto, ou o criticaram: Esmeraldino Rendeira, na
sessão de 15 de Março, discutindo, com proficiência
e accentuado espirito liberal, a investigação da pater-
nidade; Gastão da Cunha, na sessão de 18, disser-
tando sobre a responsabilidade do Estado, com
aquella amplitude de phrase e superioridade de vis-
tas, que são o cunho da sua encantadora oratoria;
Azevedo Marques, respondendo, na mesma sessão,
com sagacidade, competência e lealdade, ás criticas
dos preopinantes; Medeiros e Albuquerque, recla-
mando que se desòlassificasse do Codigo Civil o di-
reito autoral (também na mesma sessão); Adolpho
Gordo, batendo-se pelo divorcio e pela liberdade de
testar; Rodrigues Doria, elucidando questões relati-
vas á incapacidade civil dos alienados; Nilo Peça-
nha propugnando a perpetuidade do direito dos au-
tores; Eduardo Ramos discutindo vários assumptos,
entre os quaes a desnacionalização da mulher e dos
filhos; Rarbosa Lima, revelando um espirito de pon-
deração, tanto mais valioso quanto é penetrante a
sua lúcida visão das coisas; Vergne de Abreu, in-
sistindo, eloqüentemente, sobre o regimen dos bens
no casamento, o reconhecimento dos filhos e a liber-
dade de testar; Galdino Loreto, pleiteando, com a
PRELIMINARES 43

sua lógica irresistível, os bons princípios do direito


internacional privado, que, no Projecto, não haviam
encontrado expressão (68).

VI

DISCUSSÃO NO SENADO

39. Remettido o Projecto ao Senado, logc a 3 de


Abril de 1902, estava redigido um Parecer do Sr. Se-
nador Ruy Rarbosa sobre a sua redacção. Tendo-se
encerrado a sessão extraordinária da Gamara a 31
de Março do mesmo anno, o egregio parlamentar
não despendeu mais de tres dias, no preparo desse
minucioso trabalho, a que elle mesmo chamou a
mão de obra literária do Projecto (69).
O que é esse Parecer sabem-nos todos, pois não
só os juristas se interessaram por elle, senão também
os literatos e, ainda, os que apenas sabiam ler. boi
uma obra, que causou profunda impressão no paiz.
ÇQNSELHO REGIONAL DO TRABALHO
— 1». REGIÃO
(68) Tendo VAlentin Magalhães aliás sem assignatura, pu-
blicado uns artigos malsinando o Projecto do Codigo Civil, e par-
ticularmente, o magistral Parecer de Sylvio Roméro, respondeu-
lhe este, da tribuna da Gamara, num vigoroso, discurso, em que as
phrases têm scintillações de lume e ardores de braza. Veja-se o
livro dos Discursos, ps. 103 e segs.
(69) Parecer do Senador Ruy Barbosa sobre a redação do
Projecto da Gamara dos Deputados, líio de Janeiro, Imprensa Na-
cional, 1902. E' um farto volume de 561 paginas em oitavo grande,
217 eram as paginas do in folio.
A Commissão do Senado, nomeada a 22 de Março de 1902, era
composta dos Srs. Ruy Barbosa, Gomes de Castro, Gonçalves Cha-
ves, Coelho e Campos, Peliciano Penna, Bernardino de Campos,
Bernardo de Mendonça, Mello, Martins Torres, Martinho Gai-
cez, Joaquim de Souza, Leopoldo de Bulhões, Antonio Azeredo, Fer-
reira Chaves e Segismundo Gonçalves. Depois foram nomeados Be-
nedicto Leite e Manoel de Queiroz, para completar a ( ommissa.o,
e para substituir alguns membros, que se retiraram: Francisco
Glycerio, Yaz de Mello, Rosa e Silva, Euclides Malta, Justo Cher-
mont, Hercilio Luz e João Pinheiro.
44 CODIGO CIVIL

Ao fazer-lhe nns tímidos reparos, dizia eu: "O cho-


que violento dessa mole ingente de saber profundo
e rude critica philologica, que, das mãos cyclopicas
do Senador Ruy Barbosa, acaba de ruir, fragorosa-
mente, sobre o Projecto do Codigo Civil, deixou-me
aturdido" (70). E esse foi o estado de espirito do
grande numero; o assombro admirativo!
José Veríssimo, deante de um conhecimento de
tal modo aprofundado e extenso da língua portu-
gueza, apressava-se em declarar a nossa completa
ignorância delia, e nesse plural, modestamente, se in-
cluía, para deixar, na posição singular, de brilho e
relevo extraordinários, e escriptor máximo (71).
Muitos outros sentiram irreprimível necessidade de
vir em publico, dar expansão ao justo enthusiasmo,
de que se achavam possuídos. Entre esses, merece
especial menção, pela autoridade, que lhe conferem,
o Sr. Cândido de Figueiredo, em cujo artigo, Lição á
legisladores, se lêem as palavras seguintes: "No pa-
recer do douto senador, escalpellam-se e desnudam-
se numerosos erros de syntaxe, bastas improprieda-
des de vocábulos, gallicismos imperdoáveis, neolo-
gismos disparatados, obscuridades de construcção e
muitas outras mazellas, que, sem o cuidado e o saber
do Sr. Ruy Barbosa, collocariam, lastimosamente,
o projecto do Codigo Civil brasileiro a par de algu-
mas leis portuguezas" (72). Como era de esperar, o
Senado approvou, desde logo, esse Parecer.

(70) Em ãefexa, p. 373.


(71) Uma lição de portuguez, no Correio da Manhã, de 4 de
Agosto de 1902.
(72) Esse artigo foi publicado no Diário de Noticias de Lis-
boa, e transcripto por vários jornaes do Brasil. Vejam-se, também,
na Revista da língua portuguesa, I, ps. 26 a 35, os louvores do Vis-
conde de Carnaxidb e de Cândido de Figueredo, perante a Acade-
mia d© Lisbôa.
preliminares 45

40. Os que se achavam envolvidos na critica


vieram á fala, defendendo-se e mostrando que ha-
via, nas accusações e nas emendas do eminente Se-
nador, excessos e injustiças, a par de incontestáveis
melhoramentos na linguagem do Projecto. As injus-
tiças estão nas phrases cáusticas e no tom de menos
preço, que, aqui e ali, condimentam o Parecer e os
excessos vêm de se terem feito correcções excusadas,
e algumas, até, que prejudicam o pensamento dos
dispositivos. Tive, como era natural, a minha parte
nessa contenda. No livro Em defeza, encontra-se o
que me occorreu allegar em prol do Projecto. Medei-
ros e Albuquerque (73, Arthur Orlando (74), An-
tônio Salles (75), Oliveira Fonseca (76), e Carneiro
Ribeiro (77), vieram, com as suas observações, atte-
nuar o effeito da critica formidável.
41. Pela Commissão da Gamara, falou Anizio de
Abreu, com certa acrimonia, notou, resentido, o
egregio Senador, que, aliás não fôra dulçoroso no
ataque. A sua Réplica (78) foi escripta no mesmo
tom do Parecer. E' muito erudita e de leitura bri-
lhante, porém esses attributos mais a realçariam, se
a penna illustre, que a escreveu, corresse mais sere-
na sobre o papel.
42. Era natural que provocasse resposta, e esta
se não fez esperar. Publicou, então Oliveira Fon-

(73) Artigos diversos e, em particular, o que, apparecido no


Correio da Manhã, o Diário de Pernambuco, transcreveu a 14 de
Agosto de 1902.
(74) Diário de Pernambuco, de 15 de Agosto de 1902.
(75) Diário de Pernambuco, de 13 de Agosto de 1902.
(76) Artigos publicados em vários jornaes do Rio, e_de Per-
nambuco. Podem, ser lidos no volume intitulado Observações sobre
as emendas do Sr. Senador Ruy Barbosa, Rio de Janeno, 1904.
(77) Ligeiras Observações sobre as emendas do Dr. Ruy Bar-
bosa, Bahia, 1902.
(78) Rio de Janeiro, 1904: — 599 paginas em formato grande.
46 CODIGO CIVIL

seca nova série de artigos, que reunidos em volume,


íormam um livro (79), interessantissimo, pela gran-
de cópia das informações philologicas e jurídicas e
pela amenidade do estylo incisivo e límpido. Car-
neiro Ribeiro dotou a literatura patria com a Reda-
(cão do t rojecto do Codigo Civil e ci Réplica do
Di. Ruy Bai bosa, 891 paginas de texto, em que se re-
vela um mestre na altura do eminente Senador, a
quem respondeu, vantajosamente (80). Cândido
Jucá (81), Medeiros e Albuquerque (82) e ainda ou-
tros, escriptores e jornalistas, se fizeram ouvir nesta
phase da discussão.
43. Muito esforço e um preciosíssimo tempo
consumira a questão da fôrma e da grammatica do
Projecto, mas o peor é que tudo se fizera inoppor-
lunamente, pois antes de se assentar no pensamento
da lei, não se poderia cogitar da roupagem a dar-
lhe. Foi o que todos sentiram. Começaram, então,
a apparecer as reclamações contra a excessiva de-
mora do exame do Projecto pelo Senado.
E' certo que, além das emendas de redacção, se
publicaram alguns pareceres (83), mas não se per-
cebia um real desejo de concluir a obra encetada.

(79) E' o livro a que se refere a nota 76.


n,. Ruy
Dr. (jy Barbosa,
A" redacção do Projecto
Bahia, 1905. do Codigo Civil e a Réplica do
oo1^de AAbril,
16, 26 Ju?*ae ãos ãoisMaio
4 de mestres, no Correio da Manhã, de 4 a 8,
de 1907.
(82) Ordem do dia. Noticia, de 25-26 de Novembro de 1903
6 e 7 de Setembro de 1904, 1 e 2 de Dezembro de 1905.
(83) O Senador Antonio Gonçalves Chaves, publicou o seu
1 arecer sobre o Direito de família, Bello Horizonte, 1904, e o Sena-
dor Bernardino de Campos, sobre a Posse, S. Paulo, 1902. Vários
interesados enviaram também notas e observações á segunda Ga-
mara, que formaram um volume, o III, dos Trabalhos do Senado.
Entre esses, que, assim, se interessaram pelo melhoramento do
Projecto, se acham: o Desembargador Vieira Ferreira, Augusto de
Freitas, Galdino Loreto e Azevedo Marques.
PKELIMINAREIS 47

Por isso, a Gamara dos Deputados de S. Paulo ap-


provou, em 1906, a seguinte indicação, apresentada
pelo illustre jurisperito, Dr. Azevedo Marques:
"Tendo em vista o interesse publico, proponho que
a Gamara dos Deputados de S. Paulo represente,
ao digno Presidente da Commissão especial do Go-
digo Civil, o eminente Senador Federal, Dr. Rüy
Barbosa, pedindo-lhe que promova e auxilie, com a
sua extraordinária competência, o andamento do
Projecto de tão importante lei, votado pela Gamara
Federal, ha mais de quatro annos, cuja falta con-
corre, evidentemente, para mais anarchizar o direi-
to pátrio".
O Senador Buy Barbosa afastou de si a respon-
sabilidade pela demora do Projecto no Senado (84).
Gomo porém, o retardamento era uma verdade, cou-
besse a culpa a este ou áquelle, muitas reclama-
ções ainda appareceram na imprensa do paiz. Des-
tacarei apenas; um artigo de Levi Carneiro, mos-
trando ponderadamente, a inadiável necessidade da
reforma de nosso direito civil, e a excessiva delonga,
que ia soffrendo (85); Commentarios de Gama Rosa,
escriptos com a costumada feição de franqueza, sa-
ber e bom senso (86); algumas observações no es-
tylo amplo e vibrante, que é o de Aurelino Leal (87);
e um Registro de Olavo Bilac (88) que dispensa
qualquer adjectivação.
44. Impressionado com esse movimento da
opinião, que se ia avolumando, o Senado, em 1908,

(84) Jornal ão Gommercio, de 1 de Dezembro de 1906.


(85) Jornal do Brasil, de 1 de Janeiro de 1907.
(86) Folha do Dia, de 4 de Maio de 1911.
(87) Fetichismo perigoso e o Problema do Godigo Givil, no
Diário da Bahia, em fins de 1910.
(88) Noticia, de 16 de Junho de 1908.
48 CODJ GO OI VIL

constituiu nova commissão, para levar a termo a


tarda empreza. Essa Commissáo, solicitou do Sena-
dor Ruy Barbosa o trabalho, que o insigne juriscon-
sulto elaborara sobre a parte geral do futuro Co-
digo Civil, e, já em 1905, fora lido perante a Com-
missão anterior. Não quiz acquiescer a esse pedido
o Senador pela Bahia (89).
Para que sahisse o Senado da immobilidade, em
que se achava, o dr. João Luiz propoz, a 2 de Agosto
de 1911, que ficasse adaptado, como Codigo Civil da
Republica, emquanto o Congresso Nacional não deli-
berasse, definitivamente, sobre o assumpto, o proje-
cto de Codigo Civil, conforme fôra approvado pela
Gamara dos Deputados e pendia do voto do Senado.
Esse projecto foi combatido pelo Senador Fran-
cisco Glicerio, mas teve a virtude de estimular a ac-
tividade dos legisladores. A Commissão especial, por
intermédio de seu presidente, o Sr. Feliciano Penna,
obteve do Senador Ruy Barbosa, que se compromet-
tesse a ultimar o trabalho da codificação das leis ci-
vis, em dezoito mezes (90), e o Sr. João Luiz Alves
retirou o seu projecto.
45. Esse accordo, porém, não poude ser cum-
prido. Tendo o Dr. Rivadavia Correia, então Minis-
tro da Justiça, convidado o Dr. Inglez de Souza, para
elaborar um Projecto de unificação do direito priva-

(89) Imprensa, de 25 de Junho de 1908.


(90) Carta de 16 de Agosto de 1911, publicada no Diário de
Noticias, de 1 de Setembro de 1911. Lêem-se nela as seguintes
phrases: "Acceitaria a missão, com o prazo de um anno e meio. Com
o de um anno não creio poder aceital-a, sériamente. Ainda assim,
para dar conta da mão, nesses dezoito mezes, teria que abandonar
todos os meus interesses profissionaes, e absorver, nessa commis-
são do Congresso, toda a minha actividade. Mas daria por bem
empregado o sacrifício, não me sentindo com liberdade para o ne-
gar ao Senado e á Nação".
PRELIMINARES 49

do, ao Senador Ruy Barbosa pareceu que a sua in-


cumbência não tinha mais razão de ser (caita de 16
de Setembro de 1911 ao Senador Feliciano Penna) .
Apezar de lhe ser ponderado que o convite do Go-
verno era anterior á resolução da Commissão do Se-
nado, e que este só acceitaria o projecto confiado ao
preclaro Senador pela Bahia, não quiz elle se dai
por satisfeito. "O Governo podia ter cortado in con
tinenti a questão, ohserva em carta de 23 de Setem
bro, se, attendendo logo á denuncia da situação ab-
surda, creada, pelo seu acto, ao Senado, se apressasse
em reduzir á codificação das leis commerciaes, a in-
cumbência dada ao codificador do Ministro da Jus-
tiça. Desde que não o fez, é que lhe convém ter, de
reserva, esta arma contra o revisor do Senado , In-
sistem da parte da Commissão, e o Senador, afmal,
se conforma com os desejos dos collegas (caita de
9 de Outubro).
Nesse momento, publica o Diário Official (91)
uma declaração de que o Governo não modiíicará a
incumbência dada ao Dr. Inglez de .Souza, para or-
ganizar um projecto de unificação de direito priva-
do, que seria, opportunamente, enviado ao Con
gresso Nacional. Declarou, então, o Senador Ruy
Barbosa que estava desligado de seu compi omisso, e
o Senado não poude persistir nas suas mstancias
(carta de 12 de Outubro) (92).
46. Com a exoneração do illustre relator do Pa-
recer acerca do Projecto de Codigo Civil, resolveu a
Commissão encetar o debate, reservando-se o direito
de apresentar emendas, nas quaes incluísse as leis

(91) Em 12 de Outubro de 1911.


(92) Vejam-se essas cartas e o histórico do incidente, no Diá-
rio de Noticias, de 13 de Outubro de 1911.
. 4
Codigo Civil — 1. vol.
50 CODIGO CIVIL

sanccionadas depois de votado o projecto, na Ga-


mara. E, por esse modo, passou o Projecto em se-
gunda discussão, em 1911 (93).
A 13 de Setembro de 1912, o Senador por Minas
Geraes, Dr. Feliciano Penna, apresentou ao Senado
o Parecer da Gommissão, para terceiro turno, pe-
dindo a collaboração não somente dos Senadores,
como ainda de todos aquelles, que estivessem em
condições de auxiliar o Congresso nessa obra impor-
tantissima, que a todos interessava.
A esse appello do nobre Presidente da Commis-
sao especial do Senado, acudiram alguns jurisperi-
tos, como Carvalho de Mendonça, Aurelino, Alexan-
drino e Vieira Ferreira. Este, principalmente, analy-
sou, demorada e cuidadosamente, o Projecto, apon-
tando-lhe as incorrecções e propondo emendas. Os
seus artigos foram, depois, editados em volume, sob
o titulo de Ementas e Emendas ao projecto de Codigo
Civil (94). Pela reconhecida competência do autor,
pela estenção dada á critica e pelo cuidado, com que
foi elaborado, é esse livro o estudo mais valioso a
que, do ponto de vista jurídico, foi submettido o
Projecto.
47. A discussão, na segunda Gamara, fez surgir
algumas questões, que não tinham sido ventiladas na
primeira, tal a do homestead. Adoptou o Senado esse
instituto, como repelliu o fideicommisso, e procla-
mou a liberdade plena de testar.

(93) A commissão teve, então, por presidente o Sr. Pbliciano


Penna. Os outros membros eram os Srs. Mendes de Almeida, Fran-
cisco Gltcerio, Bubno de Paiva, Sá Freire, João Luiz Alves, Ar-
thur Lemos, Muniz Freire, Tavares de Lyra, Severino Vieira e
Castro Pinto.
(94) Rio de Janeiro, 1912.
PEECIMIN AJSE8 51

O problema da liberdade de testar, interessou,


grandemente os Senadores e os que acompanharam
a elaboração do Projecto, no segundo ramo do Con-
gresso. Afinal venceu o catholicismo alliado ao po-
sitivismo, com prejuizo de interesses sacratissimos
da familia e da sociedade (95).
Abstrahindo dessas duas perturbações no direito
hereditário, e de um ou outro desvio secundário da
melhor doutrina, as emendas do Senado foram, em
regra, felizes, revelando ponderação e grande desejo
de acertar. Todos os Senadores mostraram-se em-
penhados no andamento do Projecto, mas não creio
fazer injustiça a esse nobre sentimento dos illustre
embaixadores dos Estados, lembrando, com sympa-
thia, a intelligente actividade e o esforço bem inten-
cionado dos Senadores Feliciano Penna, Sá Freire,
Muniz Freire, Coelho e Campos e Mendes de Al-
meida. Trouxeram também contribuições valiosas os
Drs. Leopoldo Bulhões e Arthur Lemos, em rela-
ção ao titulo preliminar, a do primeiro, e restabele-
cendo o principio juridico da responsabilidade das
pessoas moraes de direito publico, a do segundo.
Ao crivo da critica do Senado escaparam, ainda,
alguns senões, e nem todas as suas emendas mere-
cem applauso; mas, apreciada em seu conjuncto, a
intervenção dessa casa do Congresso foi util ao aper-
feiçoamento da obra, que a Gamara lhe remette-
ra, em 1902.

(95) A emenda victoriosa foi a do Senador Mendes de Aíi-


mbxda. Entre os que fõra do Senado, advogaram, com firmeza maior,
a livre disposição dos bens, para depois da morte, cabe destacar o
Sr. Reis Carvalho, em artigos publicados no Jornal do Gommercio.
Foi incontestavelmente quem defendeu essa causa com melhores
armas e mais robusta convicção.
52 CODIGO CIVIL

YII

VOLTA DO PROJECTO Á GAMARA

48. No Diário do Congresso, de 29 de Dezembro


de 1912, foi publicada a Redacção final das emendas
do Senado. Eram 1.736 emendas quasi todas de re-
dacção. As modificativas da substancia do Projecto
enviado pela Gamara não chegaram a duzentas. E',
realmente, curiosa esta desproporção. Se pôde si-
gnificar descaso de um ramo do poder legislativo
pelo idioma pátrio, é possivel, também, que traduza
a preferencia do outro pela fôrma, em detrimento da
matéria juridica. Qualquer das conclusões, porém,
seria falsa, por absoluta.
49. Havia anciedade por ver-se concluido esse
trabalho. Não havendo, porém, tempo sufficiente
para a Gamara tomar conhecimento das emendas do
Senado, por estar finda a sessão, pensou-se em re-
unir, extraordinariamente, o Congresso. Alguns or-
gãos da imprensa combateram essa idéa, mas, tendo
a Commissão (96) especial da Gamara mostrado ao
Governo a conveniência de se ultimarem os traba-
lhos do Codigo Civil, foi expedido o dec. n. 10.035,
de 6 de Fevereiro de 1913, pelo qual o Marechal Her-

(96) Fizeram parte dessa Commissão; Celso Bayma, Frederico


Borges, João Chaves, Joaquim Pires, Pires de Carvalho, Juvenal
Lamartine, Meira de Vasconcellos, Eusebio de Andrade, Felisbello
Freire, Gumercindo Ribas, Raul Fernandes, Fleury Curado, Antô-
nio Nogueira, Afranio de Mello Franco, Paulo de Mello, Lamenha
Lins, Alfredo Mavignier e Maximiano de Figueiredo. Para Rela-
tor geral, foi escolhido Adolpho Gordo, para Presidente, Cunha Ma-
chado, e para Secretario, Nicanor Nascimento.
Sômente Frederico Borges, dentre todos, fizera parte da Com-
missão de 1901.
PRELIMINARES 53

mes convocava o Congresso, para 2 de Abril. Na


mensagem apresentada^ no dia da installaeão do
corpo legislativo, o Presidente da Republica justifi-
cou a reunião extraordinária pelo modo seguinte:
"O lento processo, por que o projecto do Codigo Ci-
vil tem passado, nas duas Camaras legislativas, está
mostrando quão difficil seria conseguir a sua defi-
nitiva approvação no correr de uma sessão ordiná-
ria, quando tantos assumptos de ordem politica e
administrativa mais intensamente solicitam a atten-
ção e o estudo dos legisladores. E não seria justo,
que, após o esforço feito pelo Senado, na ultima ses-
são legislativa, discutindo e, largamente, emendan-
do o projecto, que, ha mais de 10 annos, lhe enviou
a Gamara dos Srs. Deputados, ficasse, ainda, incom-
pleta uma obra, que vem occupando a attenção dos
Governos e dos mais eminentes jurisconsultos pá-
trios, ha quasi 60 annos" (97).
E, depois de lembrar palavras, que dirigira á Na-
ção, em seu Manifesto inaugural, sobre a necessida-
de de se votar o Codigo Civil, accrescentou: "A ap-
provação immediata do Codigo Civil será de incon-
testável vantagem: sahiremos, assim, do terreno das
simples especulações, para a experiência definitiva,
que mostrará os possiveis vicios, defeitos ou falhas
da nova lei, que, no futuro, deverá receber as cor-
recções que a sua própria execução, praticamente,
indicar".
50. Distribuída a matéria do Projecto pelos mem-
bros da Commissão especial, á semelhança do que se
fizera em 1901, redigiram-se pareceres parciaes, dis-
cutiram-se as suas conclusões, e, no parecer geral.

(97) Diário do Congresso, de 3 de Abril de 1913.


54 OODIGO CIVIL

deu-se expressão á opinião vencedora (98). Certas


emendas do Senado foram rejeitadas, destacando-
se, entre ellas, a que supprimia o fideicommisso, e a
que instituía a liberdade de testar.
No plenário da Gamara, os debates não se pude-
ram terminar durante a sessão extraordinária, e, pe-
netrando na ordinária, ficaram suspensos. Nelles to-
maram parte saliente, Carlos Maximiliano, Osorio,
Victor DE Britto, Mello Franco, Mangabeira, Lame-
nha. Neto Campello, Frederico Borges, Dias de Bar-
ros, Nicanor Nascimento, Luciano Pereira, Jovino de
Araújo, Meira de Yasconcellos, Adolpho Gordo, Pi-
res de Carvalho, Peixoto Filho e Maximiano de Fi-
gueiredo .
51. Foi um dos assumptos mais discutidos a des-
nacionalização da mulher casada e do filho menor,
que consagrava o art. 8.°, paragrapho único, da Intro-
dncção. Também fóra da Gamara, essa questão in-
teressou tanto á imprensa quanto aos juristas, entre
os quaes assumiu posição de relevo o Dr. Manoel
Coelho Bodrigues (99).
Nesta phase da discussão, appareceram criterio-
sos artigos do Dr. Estevam de Almeida, literato e ju-
risconsulto muito estimado (100). Outro distincto
professor de direito, Serapião de Carvalho, também
se occupou do Projecto, em artigos publicados no
Jornal do Commercio, de Juiz de Fóra.

(98) Foi publicado um volume com esses pareceres, o Proje-


cto da Gamara e as emendas do Senado, Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1913.
(99) Vejam-se a entrevista publicada no Imparcial, de 26 de
Março de 1913, e a Conferência realizada no Instituto dos Advoga-
dos, em 24 de Abril do mesmo anno, que se encontra no Jornal do
Commercio, do dia 26.
(100) Foram, depois, reunidas, em volume, sob o titulo — O
Projecto do Goãigo Civil na Gamara e no Senado, S. Paulo, 1913.
PKETjIMXN ARE S 55

52. Ia chegando ao seu termo o período gover-


namental do Marechal Hermes da Fonseca. Outras
questões empolgaram os espíritos e o impulso dado
aos trabalhos do Godigo Civil foi, aos poucos, amor-
tecendo até, de todo, esgotar-se. Foram votadas ape-
nas 709 emendas, em sua maioria, de redacção.
Em 1914, parecia ter o Codigo Civil sahido das
cogitações geraes. Extinguiram-se as esperanças, que
pareciam tão bem fundadas.

VIII

ÚLTIMOS DEBATES. PUBLICAÇÃO DO CODIGO

53. Em 1915, já sob a presidência do Dr. Wen-


ceslau Braz, proseguiu a Gamara na discussão e vo-
tação das emendas que lhe apresentara o Senado.
De 7 a 20 de Julho, foram votadas as 1.027 emendas.
Em menos de duas semanas, fez-se mais, em 1915,
do que fora possível fazer, em nove mezes de 1913
havendo uma sessão especialmente convocada para
ultimar os trabalhos do Codigo Civil.
54. Devolvido o Projecto ao Senado, para exa-
me das emendas rejeitadas, essa casa de Congresso
nomeou uma Commissão para estudal-as, a qual, ini-
ciando os seus trabalhos a 26 de Julho, os completou
a 11 de Agosto, com a leitura do parecer do relator
geral, Dr. Epitacio Pessoa (101).
55. A 18, abriu-se o debate no plenário, escla-
recido e encaminhado por Epitacio Pessôa, Adolpho

(101) Além do relator geral, compunham a Commissão do Se-


nado os Srs. Mendes de Almeida, Thoma?; Accioly, Sá Fieire, Bueno
de Paiva, Francisco Glycerio, Adolpho Gordo, João Luiz Alves e
Alencar Guimarães.
56 CODIGO CIVIL

Gordo e SÁ Preire, Fechou-se no dia seguinte, tendo


os Srs. Bueno de Paiva e Mendes de Almeida enviado
á mesa declarações de votos. Partidários da plena
liberdade de testar, quizeram deixar documentada a
persistência de suas convicções. A sorte dos espúrios
também mereceu egual interesse da parte do primei-
ro dos mencionados senadores.
O Sr. João Luiz Alves, que não ponde compare-
cer ás reuniões da Commissão especial, enviou-lhe
uma carta, em que propunha que se homologasse o
voto da Gamara, rejeitando as emendas, que ella não
approvara, inclusive a que instituía a liberdade de
testar. Suggeria, também, a idéa de se formular um
projecto de lei, declarando em vigor o direito vi-
gente relativo, ás successões, segundo modelára a lei
Feliciano Penna. E', realmente, uma conquista jurí-
dica de grande valor social, que se não devia pôr de
lado, e que, afinal, foi incluída no Codigo (art. 1.723).
56. O Senado discordou da Gamara, quanto a
2o das suas emendas, e a esta cabia o direito de, ain-
da, se pronunciar.
Mantendo o methodo anteriormente adoptado, a
Gamara elegeu a sua Commissão especial de 21 mem-
bros, entre os quaes se distribuiu a matéria a estu-
dar (102). Terminada a discussão dos pareceres
parciaes, a 27 de Setembro, a Commissão escolheu
cinco de seus membros para ir adeantando a reda-
cçao final do Godigo, nos pontos que não dependes-

(102) Foram estes os membros da nova Commissão: Nogueira,


Justiniano DE Serpa {Presidente), Mello Franco {relator geral),
Luiz Domingues, Joaquim Pires, Frederico Borges, José Augusto,
Maximiano de Figuerbdo, Gonçalves Maia, Eusebio de Andrade, Fè-
lisbello Freire, Palma, Jeronvmo Monteiro, Veríssimo de Méllo,
Nicanor Nascimento, Prudente de Moraes, João Pbrnéta, Celso
Batma, Gumbrcindo Ribas, Mavtgnier e Heumenegildo de Moraes.
PBBLIMINAIIHR 57

sem mais do voto da Gamara. Os escolhidos foram


os Srs.: Serpa, Palma, Nicanor Nascimento, Pru-
dente de Moraes e Maximiano de Figueiredo.
No correr, porém, dos trabalhos de redacçao,
que se prolongaram e foram penosos, não só tomou
parte a Commissão toda, como, ainda, deputados es-
tranhos a ella e os membros da ultima Commissão
do Senado.
57. Apezar de restricta no seu alcance, pois que
a Gamara tinha de limitar-se a concordar com o Se-
nado ou discordar delle, ainda nesta phase, teve
grande interesse a discussão. O parecer geral do Dr.
Mello Franco é trabalho substancioso, como alguns
dos pareceres parciaes. No plenário, Prudente de
Moraes, Mello Franco e Justiniano de Serpa expla-
naram diversos pontos controvertidos.
58. Na redacção final, surgiram duvidas, que
motivaram acalorados debates. Entre essas duvidas,
avultou a que suggeriu o confronto entre os artigos
do Projecto, que correspondem aos de numero 160
e 1.519 do Codigo. Pareciam antinomicos os dois dis-
positivos; mas esclarecido o pensamento do Pro-
jecto, foram mantidos os dois artigos como estavam
redigidos. A collocacão do bem da familia na Parte
geral, foi também objecto de controvérsia. Vencidas
essas difficuldades e as de linguagem, que foram nu-
merosas, foi apresentado o Projecto á Gamara, para
approvar-se a sua redacção no dia 26 de Dezembro
de 1915.
59. Annunciada a discussão, ninguém usou da
palavra, e o Sr. Astolpho Dutra, Presidente da Ga-
mara, declarou approvado o Projecto 168 A, de 1615
— Codigo Civil Brasileiro. Achavam-se presentes 120
deputados.
58 CODIGO CIVIL

Em seguida o Presidente pronunciou algumas


palavras, salientando que terminára, naquelle mo-
mento "a maior obra legislativa do parlamento da
Republica".
Justiniano de Serpa, que fôra o presidente da
ultima Commissão da Gamara, proferiu um breve,
mas eloqüente discurso, do qual destaco o trecho se-
guinte; "No momento em que as nações de mais an-
tiga, de mais vasta, de mais gloriosa cultura, se en-
tregam, desesperadamente, loucamente, a uma lucta
de exterminio, sem egual na historia, não somente
para a destruição de homens, de cousas, de povos, e
monumentos, mas, ainda, para a substituição de
princípios generosos, que os séculos sagraram, e abo-
lição de idéas, que pareciam eternas; no momento,
em que a força material, obrigando-nos a um recuo
de centenas de annos, ameaça-nos de ensombrar de
noites polares, de povoar de phantasmas e de inter-
rogações temerosas o caminho do porvir; no mo-
mento, emfim, em que se produz, nos centros mais
adeantados da civilização universal, a maior crise do
direito e da justiça; é grato a todos os brasileiros, é
grato á nossa patria, podermos affirmar a nossa con-
fiança no direito, nosso respeito á justiça, e os senti-
mentos de confraternidade, que nos ligam a todos os
homens".
60. Também no Senado falou o Sr. JoÃo Luiz
Alves, para congratular-se, com os seus pares, pela
votação, que puzera termo aos trabalhos do Poder
Legislativo, em relação ao Codigo Civil.
61. No dia 1.° de Janeiro de 1916, foi, afinal,
sanccionado, com adequada solemnidade, o Codigo
Civil dos Estados Unidos do Brasil. A sua publicação
foi feita no Diário Official de 5. E' a lei n. 3.071,
PBELXMINAEF.S 59

de 1 de Janeiro de 1916, subscripta pelo Sr. Dr. Wíen-


ceslau Braz P. Gomes, Presidente da Republica, e
referendada pelo Sr. Dr. Carlos Maximiano Pereira
los Santos, Ministro da Justiça e Negocios Interiores.

IX

CRITICAS E LOUVORES AO CODIGO. IMPRESSÃO NO


ESTRANGEIRO. — CORRECÇÕES OFFICIAES PELO
CONGRESSO. — BIBLIOGRAPHIA

61 a. Publicado o Codigo Civil, bouve, no paiz,


um duplo movimento. A maior parte dos brasilei-
ros regosijaram-se com a terminação do trabalho,
que se não suppunham perfeito, consideravam satis-
factorio, e em melhores condições do que as leis dis-
persas, desconnexas e antiquadas que antes regula-
vam as nossas relações civis. Permitto-me apresentar
como representante desse movimento sympathico,
sem duvida muito mais generalizado: Spencer
Vampré (103), Paulo de Lacerda (104), e o Instituto
da Ordem dos Advogados Brasileiros, que saudaram,
com franco enthusiasmo, a nova organização do nos-
so direito civil positivo. Na corrente opposta, foi ti-

do 3) O que é o Codigo Civil, conferências realizadas na Um-


irsidade de S. Paulo, e depois reunidas em volume, onde se leem,
P- 145, as seguintes palavras sobre o Codigo: RePreseI}ta uma
adição e, ao mesmo tempo, concretiza regras novas, ax
i princípios fundamentaes, estudal-o perante a sciencia « a P "
sophia do Direito, é obra que cabe aos nossos junstas.Comr
mdel-o na sua essencia, pratical-o no seu espnito, comp . .
alidade de suas applicações, é tarefa que compete aos nossos 3ui-
ís. Respeital-o como lei, observal-o como norma,
mquista mais formosa do espirito nacional, e devei q
todos nós" .
(104) Synthese publicada no Jornal do Gommercio ^25 de
ezembro de 1915, e depois na edição do Codigo Civil de Jacin
60 CODXGO CIVIL

gura proeminente Lacerda de Almeida (105), cpie está


cm desharmonia integral com o Codigo Civil: quan-
do este realiza ura avanço em relação ao direito an-
terior, acha que se devera, antes, ter mantido a sa-
bedoria da tradição, e quando não se atira a innova-
çôes, censura-o por ficar petrificado, creando obstá-
culos ao progresso do direito.
61 h. Dos paizes estrangeiros foi a Argentina que
acolheu a nossa codificação civil com maior interes-
se e sympathia. Martinez Paz, da Universidade de
Cordova, consagrou-lhe uma brilhante e erudita con-
ferência, chamando a attenção dos seus discípulos e
do publico, em geral, para a nova fôrma, que se
apresentava no mundo jurídico. São dessa conferên-
cia as phrases seguinte, que synthetizam o juizo do
preclaro civilista argentino: "O Codigo Civil brasi-
leiro é logico, porque está executado segundo um
methodo preciso, scientifico, admirável. As institui-
ções nascem e se encadeiam numa successão natural
sem contradições nem repetições, que fatiguem a in-
telligencia. E' technico, porque se inspira em princí-
pios scientificos e inquestionáveis, sem se deixar ar-
rastar ás disquisições doutrinárias e theoricas, em
que se prendem a lei e a doutrina, fazendo aquella
participar da vida ephemera desta. E' simples, e até
diríamos popular, porque está escripto em uma lin-
guagem natural e precisa, conseguindo assim o anhe-
lo supremo da época: o de fazer dos livros de legis-
lação um campo accessivél a todos os homens" (106)

(105) No Jornal do Commercio de 13 de Janeiro de 1916, appa-


receu o primeiro dos artigos do iilustre professor, que foi sesmido
por outros muitos.
(106) El Codigo Civil Brasileno, Cordoba, 19)6. Joaquim Pi-
menta deu, na Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Re-
cife, uma traducção desta conferência (vol. de 1917, ps. 34-67).
PBKLIMINAKES 61

Alfredo Colmo, da Universidade de Buenos


Aires, e um dos mais cultos espiritos de entre os que
brilham na jurisprudência argentina, não foi menos
benevolo: "Considero que o acontecimento juridico
do século, na parte latina de nosso continente, é a
sancção do Godigo Civil brasileiro"... "Levam-me a
essa opinião superlativa varias circumstancias. Tra-
ta-se, em primeiro logar, do Codigo Civil de um dos
mais importantes paizes da America latina, o que
acarreta o duplo valor da qualidade da lei e do paiz
considerado. Trata-se, em seguida, de um Codigo ex-
cellente, que pôde resistir á comparação com qual-
quer outro dos paizes irmãos"... E para rematar o
seu juizo, declara: "Nada theorico, bastante geral e
Oexivel, bem concebido e redigido, de reduzidas di-
mensões, reúne, em principio, as condições para po-
der popularizar-se. E qualquer dos nossos paizes,
que necessite de rever a sua lei civil deverá recorrer,
cm muitos pontos, ao Codigo brasileiro, para rece-
ber boas inspirações de methodologia, de technica, de
sciencia, de tendências liberaes e modernas" (107).
Eduardo Prayones, Jesus H. Paz, H. Lafaille,
todos professores de direito civil na Universidade
de Buenos Aires, saudaram com palavras de sympa-
thia o nosso Codigo Civil (108).
Luiz Gasperi, do Paraguay fez a apologia do
Codigo Civil brasileiro, com o brilho e o relevo pro-
Prios da culta
_____ u RcGlÃO
(107) Revista Jurídica y de Ciências Sociales, Buenos-Aires.
Abril a Junho de 1916. Em vários outros escriptos ainda o cm-
lista argentino fez elogiosas referencias ao nosso Codigo Civil.
(108) Revista Jurídica y de Ciências Sociales, Buenos-Aires,
Abril a Junho, e Julho a Setembro de 1916. A Revista de Derecho
V legislacion de Caracas publicou, em seu numero de Maio a Junho
de 1919, um interessante artigo de Constantito Guerreiro sobre
El Codigo Civil dei Brasil.
62 CODIGO OIVXL

sincero que el Codigo me inspira es tan grande que,


diz elle, prefiro dejar a un lado los detalles, para
significar que de hoy en adelante, nuestro derecho y
nuestra jurisprudência, que, desde hace nueve anos,
viven bajo a tutela inteletual de la Republica Argen-
tina, van a enriquecer-se prodigiozamente con la
inestimable contribuición de la intellectualidad bra-
silena, por todos los conceptos digna non solo de los
aplausos y admiración de sus compatriotas, sino de
todo americano" (109) .
61 c. E' certo, entretanto, que alguns defeitos de
fácil correcção haviam escapado aos nossos legisla-
dores ao darem os últimos retoques no Codigo Civil.
Justiniano DE Serpa promoveu, na Gamara, a eli-
minação desses defeitos, que não diziam respeito ao
pensamento da lei, e eram, sim, erros de cópia, que
iiaviam mutilado ou obscurecido alguns dispositivos.
O Senado, sob proposta de Epitacio Pessoa, Pre-
sidente e Relator da Commissão de Justiça e Legis-
lação, acceitou quasi todas as emendas approvadas
pela Gamara e accrescentou um crescido numero de
outras. João Luiz Alves, que, aliás, se oppunha, pre-
liminarmente, a qualquer correcção, e Rivadavia Cor-
reia apresentaram emendas, que foram examina-
das com largueza e proficiência por Epitacio Pes-
soa (110), acceitando algumas e rejeitando outras.
Desse debate resultou o dec. n. 3.620, de 15 de
Janeiro de 1919, que faz diversas correcções ao Co-
digo e manda tirar delle, depois de corrigido, uma
edição de cinco mil exemplares. Esta nova edição é

(109) Revista Americana, Rio de Janeiro, 1918, ns. 4 a 6 (vo-


lume XVIT). E' uma carta aberta dirigida ao Dr. Silviano Mosqueira
(110) Vejam-se os dois Parecer es de 4 de Setembro e 2 de
Dezembro de 1917, e os discursos pronunciados nas sessões de 15,
19, 25 e 26 de Julho de 1918.
PRELIMIFABES 63

o Codigo Civil vigente, que se apresenta expurgado


dos senões de fôrma, que o maculavam, e, assim,
mais expressivo de nossa cultura, e mais merecedor
da nossa respeitosa estima.
61 cZ. O Codigo Civil trouxe um forte estimulo
á actividade literária dos nossos juristas. Grande nu-
mero por thema o novo direito. Mencionarei os se-
guintes, não podendo ser completo na enumeração:
a) Manual do Codigo Civil sob a direcção de
Paulo de Lacerda, edição de Jacintbo Ribeiro dos
Santos, Rio de Janeiro. Appareceram, até hoje, os
seguintes volumes: I, Paulo de Lacerda, Introdu-
cção; arts. l.a 7.°; I, 2.a parte, Rodrigo Octavio, arts.
8 a 21; — II, Marques dos Reis, Parte Geral, arts.
70-73; — III, Ed. Espinqua, Parte Geral, 3 vol.,
arts. 74 a 160; — IY, Luiz Carpenter, Da prescri-
pção; — V, Cândido de Oliveira, Direito de família,
arts. 180 a 329; — VI, Estevão de Almeida, Direito de
família, arts. 330 a 484; — VII, Astolpho Rezende,
Da posse, arts. 485 a 523; — VIII, SÁ Pereira, Direito
das coisas, arts. 524 a 679; — IX, Agapito da Veiga, Di-
reito das coisas, 3 vols. arts. 674 a 862; X, Tito Ful-
gencio, Direito das obrigações, (arts. 862 a 927);
— XIV, Clovis Beviláqua, Da sociedade, da parceria
rural, da constituição de renda, arts. 1.363 a 1.431;
XVI, Pontes de Miranda, 3 vol. arts. 1.505 a 1.526;
XVIII, Hermenegildo de Barros, Direito das succes-
sões, arts. 1.572 a 1.625; —■ XIX, Ferreira Alves, Di-
reito das sucessões, arts. 1.626 a 1.769; — XX, As-
tholpho Rezende, Direito das successões, arts. 1.770
a 1805.
b) Eduardo Espinola, Breves annotações ao Co-
digo Civil brasileiro, Bahia, 1918. Está publicado o
primeiro volume refente á Introducção e á Parte
Geral.
64 CODIGO OI VIL

c) Almachio Diniz, Primeiros princípios de di-


reito civil brasileiro, Rio de Janeiro, 1916, Livraria
Francisco Alves, ed. A obra compõe-se de cinco vo-
lumes: o primeiro correspondente á Introducção e
Parte Geral, e os outros se occupam dos quatro li-
vros, em que se divide a Parte Especial do Codigo.
d) Spencer Yampré, Manual de direito civil bra-
sileiro, Rio de Janeiro, 1920, Briguiet & Cia., ed.,
em tres volumes: I, Theoria Geral do direito e di-
reito de família; II, Direito das coisas. Theoria Ge-
ral das obrigações; III, Contractos e successões.
e) Do mesmo autor: O que é o Codigo Civil,
S. Paulo, 1916.
/) Interpretação do Codigo Civil, S. Paulo, 1918.
g) Codigo Civil brasileiro, annotado á luz dos
documentos parlamentares e da doutrina. Parte Ge-
ral, S. Paulo, 1917.
li) João Luiz Alves, Codigo Civil da Republica
dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, 1917,
Briguiet & Cia., ed. Um forte volume de 1.354 pa-
ginas. Foi publicada 2.a ed., sob os cuidados do De.
André Pereira.
i) Azevedo Marques, Acções de despejo e alu-
gueres de prédios, S. Paulo, 1918.
„ /) Do mesmo: Antichrese, S. Paulo, 1919.
A-) Dyonisio Gama, Contractos por instrumento
particular, S. Paulo, 1917.
I) Do mesmo; Antichrese, S. Paulo, 1919.
m) Ferreira Coelho, Codigo Civil dos E. U. do
Brasil, 18 vols.
/?) Affonso Dionisio Gama, Tratado theorico c
pratico de direito civil brasileiro. Estão publicados
3 volumes.
o) J. M. Carvalho Santos, Codigo Civil brasileiro
interpretado.
PKÊLÍMINAllES 65

p) Está em via de publicação o Tratado de di-


reito civil brasileiro de Eduardo Èspinola e Eduardo
Espinola Filho.
X

DIREITO PUBLICO E PRIVADO. — UNIDADE DO


DIREITO PRIVADO
62. A dislincção entre o direito publico e o priva-
do, que os romanos assignalaram com argúcia (111),
é de importância capital, na theoria do direito, para
a systematização das idéas, porque as duas ordens de
preceitos obedecem a principies diversos, e ainda,
lambem o é na pratica legislativa e forense, porque
o direito publico domina o privado (112), influindo
sobre elle, delimitando-o, provendo ao seu funccio-
namento, creando os orgãos, de que elle necessita
para se manifestar e applicar. Todos o reconhecem
e proclamam; porém, quando se trata de synthetisar
as idéas numa definição, surgem as difíiculdades, e
sombras se projectam sobre o pensamento.
Sem duvida, a noção que se encontra nas íontes
romanos é, como de ordinário, verdadeira, mas im-
precisa e, talvez, incompleta. Publicuin jus est, quod
ad statum rei romanae spectat; privatum, quod ad
singulorum utilitatem (113). As relações, em que o
Estado toma parte, são disciplinadas pelo direito pu-
blico; são objecto do direito privado as que se tra-

(111) Logo no começo do Digesto (1, 1, fr. 1-. § 2.°) diz Ul-
piano; Hujus stuãii duae sunt positiones: piiblicum et privatum,
As Institutas reproduzem as palavras do grande junsconsu o
(1. 1, § 4."). ...
(112) E' do terceiro aphorismo de BaconAt jus privatum,
sul) tutela júris pullici, latet; lex enim cavet civihus; magistratus
legibus.
Papiano deixou esta fórmula, que também apoia a these do
texto; Jus puhlicum privatorum pactis mutari non protest.
(113) D. 1,1, fr. 1, § 2.° V. Savagny, Droit rornam, I, s 9,
5
Codigo Civil — 1.* vol.
CODIGO CIVIL

vam entre indivíduos. Isto é exacto, mas não com-


prehende todo o conjuncto de relações, que entram
nas duas espheras jurídicas; pois, em muitos casos,
o Estado intervem directamente no acto jurídico, e
este é de ordem privada, como se elle effectua uma
compra ou realiza qualquer contracto civil; em ou-
tros casos, a matéria é de ordem publica e de inte-
rese geral, e no emtanto, se mantém dentro da or-
bita do direito privado. Não podia ter escapado essa
observação á mente sagaz do douto Chironi, que re-
solve a dificuldade, ponderando que, se, muitas ve-
zes, normas de direito privado têm razão de ser no
interesse geral, constituem leis de ordem publica,
differentes do direito publico, per la condizione
delle persone fra cui esistono le relazione governante
da quesfultimo (114).
Gogliolo (115), deante dessas leis privadas de
interesse publico, invoca o critério da mens legis,
para manter a distincção entre os dois grandes ra-
mos do direito privado.
63. A idéa de ordem publica escurece, em vez
de esclarecer a distincção, que se deseja accentuar,
porque ella abrange o direito publico e parte do pri-
vado, além de ser pouco precisa (116). A mens legis
é também, pouco elucidativa, porquanto, muitas ve-
zes, não é fácil dizer qual foi a utilidade, que visou
directamente a lei, se a do indivíduo, se a da cone-
ctividade, e, outras tantas, o interesse geral inspira
a lei de ordem privada, deixando o interesse parti-
cular em segundo plano. Certo haverá neste ultimo

(114) Instituzioni di ãiritto civile, I, § 9.°.


(115) Filosofia dei diritto privato, 1891, ps. 114-115.
(116) Ver o meu Direito internacional privado, § 16, e os au-
tores abi citados, cujo dissídio é conhecido, contribuindo para a
obscuridade da noção.
PRELIMINARES 67

caso, lei de ordem publica, segundo observa o insi-


gne Chironi, mas essa observação não nos traz au-
xilio para estabelecermos a linha divisória entre as
duas grandes ordens de direitos, os públicos e os pri-
vados, antes concorre para apagal-a, creando uma
zona fornteiriça.
64. A questão, entretanto, se aclara e resolve,
desde que se attenta ao campo, onde opera o direito,
pois logo se verificará que o direito publico se refere
ao Estado. O primeiro considera as nações como uni-
daes jurídicas em suas relações internacionais (di-
reito publico internacional), a organização e func-
cionamento do Estado (direito constitucional e ad-
ministrativo), o apparelho defensivo da ordem ju-
ridica sob a direcção do Estado (direito penal), o
apparelho assecuratorio da efficacia dos direitos
(processo) . Para elle, o homem é cidadão, membro
do Estado. O segundo, presuppondo, sem duvida, o
Estado, vê, no homem, o indivíduo, membro da so-
ciedade civil, e dahi a natural tendência do direito
privado moderno para eliminar toda differença en-
tre nacionaes e estrangeiros. A actividade do Estado
penetra em sua esphera, somente quando elle, com
outras personificações jurídicas, despido da sua au-
toridade suprema, se immiscue na vida meramente
social, adquirindo bens ou effectuando contractos, á
semelhança dos particulares (117) .

(117) Este ponto de vista, exposto nas minhas Lições de legis-


'('Ção comparada^ 2.a ed., Bahia, 1897, n. 2, encontra confirmação
no
1!)0
que diz J. Kõhlbr, Lehrbuch des buergerlichen Rechts, Berlm,
4. I, § 2.°. Das buergerliche Recht unterscheidet sich von dem
oeffentlischen dadurch, dass es den Menschen, sei es in Verhaeltniss
zur Natur, sei es im Verhaeltnis zu anderen Menschen oder men-
schilchen Gebilden darstel, sofern diese einander im gleich bere-
chtigen Verker gegenueberstehen; im Gegensatz zu dem Fal , wo
uns Gebilden entgegentreten welche den einzelnén mit hocherer
Autoritaet beherrschen,
68 CODIGO CIVIL

No direito publico, o individuo é eleitor, func-


cionario, adminstrador, ou nacional. Em qualquer
dessas qualidades, o homem impulsiona a machina
jurídica, promove interesse seus ou da collectivi-
dade, como parte componente do Estado. No direito
privado, é proprietário, credor, pae, filho, cônjuge,
testador herdeiro, legatario. A ordem jurídica, em
que elle, asim, apparece, é mantida e assegurada
pelo Estado, mas a essência das relações, a que ella
se refere é puramente social, isto é, nella não inter-
vém a autoridade publica, em qualquer de suas fôr-
mas ou divisões, nellas não se considera a conectivi-
dade como organização politica.
65. 0 direito privado é commum ou civil, se des-
tinado a regular as relações familiares e patrimo-
niaes, que se estabelecem na vida social (direito das
pessoas, da família, das coisas, das obrigações e das
successões . Cabe-lhe o nome de commum, porque
as suas regras são de applicação geral. E' conuner-
cicil, quando attende ás relações especiaes, que se
originam das operações do commercio. E denomina-
se internacional privado, quando tem por objecto as
relações de ordem privada da sociedade internacio-
nal. Como a sociedade internacional, composta dos
indivíduos de nacionalidades differentes, não tem
orgãos reveladores do direito, e as relações recipro-
cas dos membros, que a compoem, sao, substancial-
mente, as mesmas, que disciplina a ordem jurídica
priavada, nos diversos paizes, o direito internacional
privado é o mesmo direito privado nacional, appli-
cado a relações internacionaes de ordem privada.
66. A distincção entre o direito civil e o com-
mercial tem sido contestada, por alguns escripto-
res (118), e essa corrente unionista, depois de con-
PKELIMINABES 69

quistar, no Brasil, numero considerável de ade-


ptos (119), obteve o bafejo official, com a incumbên-
cia dada a Inglez de Souza, para elaborar um pro-
jecto de unificação do direito privado, não obstante
já estar votado pela Gamara e descutido pela Com-
missão especial do Senado o projecto de Codigo
Civil (120).
67. Entre nós, costuma-se invocar, em apoio da
união dos dois ramos do direito privado, a autori-
dade incontestável de Teixeira de Freitas. O egregio
consolidador de nossas leis civis não se detinha, po-
rém, na unificação do direito privado pela qual se
batera Mantinelli, em 1847, na Italia. Seu pensa-
mento remontava mais alto, e, no officio, que, a 20
de Setembro de 1867, dirigiu ao governo imperial, se
declara "arbitraria a separação das leis, a que se

(118) Por exemplo: Endbmann, Das Hanãerecht § 4.°; Tor-


iori, Sociologia e ãiritto commerdale, ps. 123 e segs.; Cimbali, La
nuova fase ãel diritto; Puglia, II ãritto nella vita econômica, p. VI;
(iiANTURco., L'individualismo e il socialismo nel diritto contrattuale;
Vivante, Diritto commerdale, I, Introd.
(119) Lembrarei: J. X. Carvalho db Mendonça, Das fallencias,
S.
19
Paulo, 1899, I, p. 31; Direito commercial 'brasileiro, S. Paulo,
10, I, ps. 19 a 20; Carlos de Carvalho, Direito civil brasileiro,
Intr. ps. II, e segs.: Brazilio Machado, Revista da Faculdade de
Direito de S. Paulo, 1897; Coelho Rodrigues, Trabalhos da com-
missão especial do Codigo Civil, II, p. 257; SA Vianna, Teixeira de
Freitas, ps. 284 e segs.; Inglez de Souza, Projecto de Codigo com-
mercial, Rio de Janeiro, 1912, I, ps. 93 e segs.: Alfredo Valladão,
O1 direito comercial em face do Projecto de Codigo Civil, S. Paulo,
902) idem, trabalho apresentado ao Congresso juridico de 1908,
Relatório, p. 429; Silva Costa, Revista do Instituto dos Advogados
Rrmileiros, vol. XII, ps. 32-41 e 225-262; Mbira b SA, Unidade do
direito privado. Natal, 1912; César do Rego Monteiro, Relatório dos
trabalhos do Congresso juridico de 1908, ps 329-355. A este grupo
veio, ultimamente incorporar-se Lacerda de Almeida, Jornal do
íomnierdo, de 20 de Janeiro de 1916.
(120) Rivadavia Correia, Relatório do Ministro da justiça e
negocios do interior, 1911, ps. XXVIII, e segs.; Inglez de Souza,
Projecto do Codigo Commercial, Rio de Janeiro, 1912, III, Projecto
de emendas transformando o Codigo Commercial em Codigo de di-
reito privado. ,
70 CODIGO CIVIL

deu o nome de direito commercial", opina que o


meio "de alcançar a unidade da legislação e extre-
mar os verdadeiros limites de codificação civil só o
acharemos na composição de dois codigos": um Ge-
ral, abrangendo as causas jurídicas (pessoas, bens e
factos) e os effeitos jurídicos; outro Civil. No codigo
geral, unificavam-se o direito publico e o privado,
formando uma vasta synthese dos princípios com-
muns do direito. No Codigo Civil, entraria, então a
matéria commercial (121).
Mas nem as razões do grande jurisconsulto, cujos
trabalhos enchem de justa ufania a patria brasileira,
nem as dos seus emulos no estrangeiro e no paiz con-
seguiram levar a convicção a todas as intelligencias.
Como justamente observou o Senador Rüy Barbosa,
a questão não está "pacificada e resolvida"; e "as
législações rejeitam a innovação" (122).
Realmente ás autoridades invocadas em favor
da supressão do direito commercial, se podem con-
trapor outras do mesmo valor e de competência
equivalente (123).

(121) Bis o plano de Teixeira de Freitas:


Livro 1.° — Das causas jurídicas.
ÍSecção l.a — Das pessoas.
Secção 2.a — Dos bens.
Secção 3.a — Dos factos.
Livro 2.° — Dos effeitos jurídicos.
! Livro 1.° — Dos effeitos civis.
Livro 2.° — Dos direitos pessoaes.
Livro 3.° — Dos direitos reaes.
Sobre este assumpto, leia-se SÁ Vianna, Teixeira de Freitas,
Rio de Janeiro, 1905, ps. 167-195 e Matos Peixoto,, A codificação de
Teixeira de Freitas.
(122) Diário de Noticias, Rio, 11 de Outubro de 1911.
(123) Motesquieu, L'espirit dcs lois, liv. XX, cap. 18. Gole-
schmidt, Vniversalgeschichte des llandelrechts, 1891, I, § 3.°;
Kõhler, Einfuehrung in ãie Rechtswissenchaft, 1901, § 37; Yidarl
prfxtmtnares 71

68. As legislações, até o momento presente, ab-


stiveram-se de seguir esta orientação. Está claro que
não me refiro aos antigos systemas jurídicos, em que
as normas geraes do direito civil conseguiram satis-
fazer as necessidades do commercio, cujas operações
eram simples, e podiam entrar na generalidade dos
preceitos legaes, estabelecidos para os actos civis de
ordem econômica. Mas, desde que as codificações
procuraram coordenar as disposições legislativas,
methodica e systematicamente, estabeleceram, e vão

lorso di diritto commerciale, 1879, I, ps. 713 e segs.. Sacerdoti,


^ulla existenza autonomAca, dei diritto commerciale, 1885, ogliolo,
filosofia dei diritto privato, p. 223; Gabra, Quistioni, 1897, I. Ps-
í segs.; Rascoej Pound, Uniformiãaã de Ias leyes commercialescienen
oão el continente americano, nos Tralmjos dei IV Congresso
Ifico (Io, pan-americano), vol. VII, ps. 368 e segs'' ^ ° J
^ystema de direito civil brasileiro, 1906, I, P- 39, nota - , _ nrA_
ras de Magalhães, Em torno do direito, cap. VI, A commissao p -
^ia, que apresentou o plano, em 1874, para a elaboraçao 0 ^ ,
Ao, do Codigo Civil allemão, manteve a distineçao r
(Goldschmidt, op. cit., § 3.° nota 3). Paulo db Lacerda,
Forenses, 1916, ns. 18 a 21, sustenta que, actualmente, a „
lifferenciação jurídica, e que no futuro, se modi ícar a
Sos codigos, desapparecendo o direto commercia como
tonomo.
Durante a elaboração do Projecto que se tornou o ^ '^rípreito
brasileiro, surgiu, por varias vezes, a questão da um <lta e t
Privado. A ella consagrei algumas ponderações, seg 1
ao ^nn, . .«..-a
Projecto e ao defendel-o (veja-se a nota " " ' 1 ' ini'iativâ
sgualmente, a Commissão governamental, em privado,
âe Bulhões de Carvalho, partidário da unidade0 1 „m 0ppor-
Os outros membros da Commissão, porém, nao p "® 1 a 7)
tuna a absorpção do direito commercial no civi su clt ?, V or indi-
Perante a Commissão da Camara, novamente ® ^ ' <a io An_
cação do Conselheiro Silva Costa, manifestou-se-lheòó .i A vocaQão
drade Figueira (Trabalhos da Camara) IV, ps. '- „ a
das sciencias modernas, disse elle, não coduz multipli-
unidade); porque, á proporção que as relações do á clas_
cando na sociedade, que o rigor scientifico se vae sciencia na
sificação dessas relações, a tendência que se no , direito Pelo
doutrina, não é para identificar os diversos ^^hem.
contrario: é para separai-os". E mostram em.
a marcha do pensamento, em outros ramos . parecia-lhe
Physicas e nas mathematicas, por exemplo. COmmunhão
?ue essa unidade, em ves de favorável
jurídica pelo direito internacional privado, i P
as nações cultas.
72 CODIGO CIVIL

mantendo, a discriminação entre o direito civil e o


commercial. Apresentava-se o caso único do codigo
federal suisso das obrigações, que reunira a matéria
civil e a commercial em um só corpo de leis; mas a
promulgação do Codigo Civil suisso, mandando con-
siderar aquelle codigo uma de suas divisões e não
contendo disposições especiaes indispensáveis para
as relações mercantis, destruiu esse argumento.
Houve, na Suissa, unificação do direito obriga-
cional, mas não do privado. Essa unificação é accei-
tavel, até certo ponto, porque as obrigações, na sua
generalidade, dominam, effectivamenie, todo o di-
reito privado. Mais do que isso: estendem a influen-
cia dos seus princípios ao direito publico. Até na
vida internacional, as obrigações, oriundas de con-
venções e de actos illicitos, se submettem, aos precei-
tos geraes, que apenas, parcialmente, modificam.
Não se diz que haja uma theoria das obrigações
para o direito civil e outra para o direito commer-
cial; o que se affirma é que ha relações especiaes no
commercio, que reclamam regras apropriadas (124).
69. Examinemos a questão mais directamente.
As divisões do direito objectivo correspondem
ás differentes ordens de relações humanas juridica-
mente reguladas. O direito internacional é a discipli-
na das relações internacionaes; faz objecto do di-
reito publico interno o conjuncto das relações, que
surgem da organização política do povo pelo estabe-
lecimento e funccionamento do Estado; o direito
privado regula as relações do homem na sociedade,

(]24) IiiSta foi a opinião que expuz nas Observações para es-
clarecimento do Projecto do Codigo Civil Brasileiro, Rio de Janeiro,
1900, reproduzidas com additamentos, no livro — Em ãefeza do Pro-
jecto do Codigo Civil brasileiro, Rio ■— 1906, ps. 30 a 39 e 217 a 224,
Veja-se Elaboração, I, ps. 19 a 24.
PRELIMINARES 73

abstracção feita da autoridade soberana, que a or-


ganiza .
Estas relações do homem na vida social podem,
porém, especializar-se. Com o desenvolvimento eco-
nômico dos povos, a funcção mediadora do commer-
cio tomou corpo e relevo, exigindo orgãos apropria-
dos, alargando a sua acção e multiplicando os seus
recursos. Destacaram-se, assim, as relações mercan-
tis do conjuncto das relações da vida social com-
mum; tomaram fôrma particular; crearam institu-
tos novos ou modificaram institutos existentes; e re-
clamaram da legislação um desenvolvimento corres-
pondente. Foi, portanto, a evolução da vida social
que determinou a creação do direito commercial,
não como direito de excepção, proprio da classe dos
mercadores, mas como regulador das relações mer-
cantis, que se alargaram e se differenciaram, desde
que a circulação das riquezas teve de estender-se a
um campo cada vez mais vasto, de mover massas
cada vez mais consideráveis, e de exigir uma tutela
jurídica mais adequada.
Ainda que se separassem, em codigos differen-
tes, o direito privado não economico (direito das
pessoas, direito de família puro, tutela e curatela) e
o dreito privado economico, segundo propõe Beme-
len (125), não seria licito confundir os actos civis e
os commerciaes. E' certo que alguns (126) negam

(125) Nociones ficndamentales dei ãerecho, civil, trad. de José


Maria Navarro, de Pelencia, Madrid, 1901, ps. 101 e segs.
(126) Carjlos db Carvalho, Direito civil, introducção, ps. UX
a LXV; Carvalho de Mendonça, Tratado de direito covimercial, I
ns. 267-282. Este egregio commercialista faz, entretanto, notar que,
no Brasil, a questão está constitucionalmente resolvida, porquanto
o art. 34, n. 23 da Constitugão Federal, nas attribuições conferi-
das ao poder legislativo, mantém a distincgão entre_ o direito civil
e
o commercial, o que, egualmente faz a Constituição vigente, art.
16, n. XVI.
74 CODIGO,CIVIL

essa distincção, mas ella não é menos real, não so-


bresáe, menos claramente, da observação dos factos.
Os actos de commercio são actos de mediação entre
o productor e o consumidor, realizados com intuito
de lucro. O commercio faz circular as riquezas, o
movei do commerciante é a especulação. Os actos
civis economicos têm outros característicos; não são
actos de mediação especulativa. Em primeiro loqar,
ha, na ordem econômica, actos civis puramente be-
néficos: as doações, os testamentos; outros ha, cujas
vantagens não importam remuneração de serviços
ou de capital empregado: as relações econômicas
entre cônjuges. Em segundo logar, os actos de com-
mercio desenvolvem-se dentro de uma orbita mais
restricta do que os civis de ordem econômica. Ao
passo que estes se podem realizar em duas phases
da vida econômica, a da producção e a do consumo
das riquezas, aquelles permanecem na phase inter-
media da circulação, limitando-se a approximar a
utilidade produzida da necessidade sentida.
E se, na vida puramente econômica, os actos ci-
vis se distinguem, por caracteres bem accentuados,
dos actos mercantis, ainda mais frisante é a distin-
cção, quando se confrontam as relações civis de na-
tureza não econômica (relações pessoaes entre côn-
juges, entre paes e filhos, institutos de protecção aos
incapazes) com as operações mercantis.
A existência desses caracteres differentes, que
discriminam as duas ordens de relações, as da vida
social commum e as do trato mercantil, desde que
estas appareçam em numero considerável, exigem,
naturalmente uma regulamentação própria, um
corpo de leis á parte.
PRELIMINARES 75

70. Allega-se que a commércialidade do acto


desapparece, ou, pelo menos, deixa de ter interesse
jurídico, desde que este não constitua mais o privil-
gio de uma classe, podendo qualquer pratical-o. Cer-
tamente desappareceram as corporações de otficios
Oue outr'ora, agrupavam, em associações de contor-
uos rígidos, os profissionaes das diversas indutrias,
0s
mercadores, como os serralheiros, os ourives, os
a
ífaiates, etc.; mas, nem, por isso, o commercio dei-
^a de ser, em nossos dias, uma profissão, e somente
é possível essa profissão, porque certos actos se dis-
tinguem dos outros por sua commercialidade. O
ponto a examinar portanto, não deve ser, o de saber
Se
qualquer pessoa tem aptidão para a mercancia,
uias sim o de saber se os actos mercantis têm cara-
oter especifico, são em numero avultado, e suscitam
0 a
Pparecimento de normas e institutos particulares.
Que têm caracter proprio já ficou affirmado.
Que são cada vez mais freqüentes e variados, basta
0 la
^ r para a vida social, e logo se reconhecerá. Que
Promovem o surto de normas e institutos especiaes,
11
áo poderá desconhecer o jurista, quando attender:
a
) A' necessidae, em que se acha o commer-
Cla
nte de ter livros revestidos de formalidades le-
^acs, oude escripture, methodica e uniformemente,
as 0 era
P ções da sua veniaga (127).
Ao valor probante desses livros, e á garantia
c c
que são cercados, para que não seja devassado o
e
tAedo das transacções.

a t ^osse possível, seria vexatório impôr essa obrigação


0S 08 n< v auos
rant ^ ^ ^
SU f c en es
'
Sem ella, o commercio não offereceria ga-
zes efez ^ ^ ^ ^ ao
publico, assim como lhe faltaria, muitas ve-
* a segura para actos praticdos em bôa fé.
76 CODIGO CIVIL

c) Ao instituto da firma ou razão commercial,


que é o nome do negociante singular, no trafico mer-
cantil, ou da sociedade, em que ha socios indefinida
e solidariamente responsáveis.
d) A's operações bancarias, ao cheque, ao insti-
tuto das clearing-houses.
e) A's letras de cambio, e aos protestos.
/) A muitas particularidades do direito privado
marítimo, começando pela natureza jurídica do na-
vio, que, sendo um bem, se reveste de certos caracte-
res de personalidade, possue uma determinada na-
cionalidade e, até certo ponto, um domicilio (128).
71, Ha, portanto, além de razões históricas, ra-
zões de ordem lógica, em pról da divisão do direito
privado em civil e commercial. Desprendendo-se da
massa geral das normas do direito privado, o direito
mercantil constituiu um todo distincto, e foi accen-
tuando sempre a sua differenciaçâo por caracteres
geraes de que se não pôde razoavelmente despojar.
O direito commercial é de feição cosmopolita: o
direito civil, na parte concernente ás relações de fa-
milia e de successão hereditária, é, necessariamente,
particularista. A organização da propriedade terri-
torial, determinada por condições históricas e locaes,
reproduz, também, de alguma fôrma, a feição pró-
pria de cada povo, e não se presta, com facilidade, a
remodelações, que lhe alterem os fundamentos. Dalii
resulta que a universalização do direito privado te-
nha sido tentada e se mostre realizável, em vários
departamentos do direito commercail terrestre e
marítimo, como a letra de cambio, o cheque, a assis-
tência marítima. Uma tentativa semelhante seria

(128) Veja-se Danjon, Droit maritime, vol. I, 1910 2,9.


riíELIHIN ABT2S 77

mais difficil, no estado actual de nossa cultura, em


relação ao direito civil. Abi o universalismo se ha de
manifestar por uma fôrma, que harmonize, sem as
contrariar, as tendências nacionalistas com as exi-
gências do internacionalismo. E essa funcção é rea-
lizada pelo direito internacional privado.
72. 0 direito commercial tem sido o pioneiro de
reformas, que o direito civil foi acceitando, depois
de reconhecer que eram reclamadas pela necessida-
de sociaes. Continuará, certamente, a desempenhar
essa importante missão innovadora e progressista,
n
ms uã0 alterará o caracter fundamentalmente con-
servador do direito civil, porque esse caracter pro-
vém da circumstancia de se achar o direito civil li-
gado : primeiro, ao que o homem possue de mais in-
timo, a sua pessoa e a sua familia, com a tradição
dos maiores, o amor conjugai e a affeição da prole;
depois, ao dominio territorial, cuja feição naciona-
lista, e conservadora é tal que, por muito tempo, as
legislações reluetaram em admittir que os estrangei-
ro
s fossem proprietários do sólo, e que ainda hoje,
11 a
legislação norte-americana, se encontram persis-
tências dessa concepção restrictiva do direito (129).
1-1 direito commercial não envolve a personalidade
humana em sua integridade. Como o direito publico,
é somente por uma face que a encara. O direito pu-
blico vê, no homem, o cidadão; o commercial vê, no
mdividuo ou na associação, alguém, que exerce actos
destinados a fazer circular as riquezas.
bur isso mesmo, o direito commercial, que sa
destacou do civil, para attender a uma determinada
urdem de negócios juridicos, dia a dia mais impor-

(129) "Walker, American law, § 51.


78 CODIGO CIVIL

tantes e numerosos, é também um direito relativo


ao estado particular da pessoa, que exerce, habitual-
mente, o commercio, ou como agente directo e pri-
mário ou como auxiliar.
73. Presidindo ao movimento circulatório das
riquezas, o direito commercial necessita de maior
celeridade nos seus modos de transmissão dos bens;
e essa celeridade, que é condição vital do commer-
cio, exige maior clareza e precissão do que é neces-
sário, na vida commum, para as relações jurídi-
cas (130). A rapidez é dispensável e, muitas vezes, se-
ria prejudicial aos negocios jurídicos regulados pelo
direito civil, cuja funcção é presidir á formação das
riquezas e ás suas mutações pautadas segundo as ne-
cessidades normaes da vida de cada um. Se o com-
mercio tivesse de se submetter aos processos compli-
cados e morosos, como os que se referem á proprie-
dade immovel, estaria atado, desfalleceria, não esta-
ria apto a realizar a funcção social, a que se destina.
Se o direito civil adoptasse os processos rápidos do
direito coemmercial, cahiria, sem tardança, na anar-
chia e na confusão.
Andou, pois, acertadamente o Congresso, man-
tendo a divisão tradicional, porque cada um dos dois
ramos do direito privado tem um objecto proprio,
relações distinctas, que, para bem se desenvolverem,
exigem preceitos espcciaes adequadros.
Além disso, a Constituição distinguiu, muito
clara e precisamente, os dois ramos do direito pri-
vado interno: Legislar sobre direito penal, commer-

m die liechtwsissenschaftj § 37. juenrung


PRELIMINARES 79

ciai, civil, aereo e processual da Republica é funcção


privativa da União (Const., art. 16 XYI).

XI

DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. — THE0RIA DAS


ACÇÕES. — PROVAS

74. A distincção entre o direito material e o for-


mal, cjue é uma idéa lógica, uma necessidade do me-
Ihodo, entre nós, é um preceito constitucional (ar-
tigo 16, XVI, da Constituição vigente. Importa isso
cdi reconhecer que, no direito pátrio, é mais rigo-
ro
sa a linha divisória entre os dois complexos de leis.
Do Codigo Civil deviam ser banidas todas as dis-
posições meramente processuaes, até porque era aos
poderes legislativos estaduaes, que competia regular
0
processo. A tarefa não era simples, porque, muitas
ve
zes, o preceito e a fôrma se penetram, de modo que
uin não pôde ir sem a outra. Mas o Codigo esfor-
Çou-se por manter-se na sua orbita, afastando todas
os regras processuaes, salvo uma ou outra vez, como
crn matéria de casamento e de bypotheca, onde a in-
transigência sacrificaria a regra adoptada.
Duas questões, porém, neste capitulo, merecem
ottenção mais demorada: a theoria das acções, que
otguns julgavam dever entrar no corpo do Codigo
Civil; e a das provas, que outros entenderam ser-lhe
estranha.
75. Theoria das acções — O Projecto do Codigo
Civil portuguez, elaborado pelo Sr, Visconde de Sea-
Br
a. consagrava muitas disposições peculiares ao di-
re
ito das acções e ao processo. A Commissão revisora
80 CODIGO CIVIL

do mesmo Projecto não acceitou essa innovação (131)


e o Godigo Civil portuguez foi publicado, sem esse
accressimo.
A mesma controvérsia appareceu no Brasil, quan-
do se discutiu o Projecto do Dr. Coelho Rodrigues, e
quando o Projecto, que se transformou no Codigo Ci-
vil, foi examinado pela Commissão senatorial. Os ar-
gumentos não variam nos dois momentos.
O Dr. Gonçalves Chaves propoz que se additas-
sem ao Projecto Coelho Rodrigues, dispositivos so-
bre a doutrina das acções. Suas razões foram as se-
guintes :
1.a As acções, como ensina Laurent, "têm os
mesmos caracteres que os direitos, dos quaes ema-
nam, ou, para melhor dizer, com os quaes se con-
fundem".
2.a "Sendo assim, é irrecusável a competência
do Congresso Nacional para legislar sobre o direito
das acções, complementar do direito civil";
3.a "Em um regimen jurídico de unidade legis-
lativa, não ha inconveniente em deixar a theoria das
acções para a parte geral do Codigo do processo;
"mas, em nosso regimen de dualidade do direito, o
mal seria inevitável, o direito privado nacional se
desnaturaria sob a acção absorvente da jurisprudên-
cia múltipla e do direito processual dos Estados (132).
Coelho Rodrigues adheriu a essas idéas, indo,
até um pouco além do que propunha Gonçalves
Chaves; mas não têm assento na boa doutrina.
No systema do Visconde de Seabra, a theoria le-
gal das acções entrava, muito naturalmente, no

(131) Dias Pkrreira, Codigo Civil portuguez annotado, Coim-


bra, 1870-1876, vol. I, p. VII, e vol. V, p. 225.
(132) Apuã. Coelho Rodrigues, Projecto, ed. de 1897, Intro-
ãucção, p. 134.
tiíMLÍMINAilE^ èi

quarto grupo de relações jurídicas, da sua classifi-


cação, o da defeza dos direitos (133), porque as
acções são o proprio direito em attitude defensiva.
Mas, contra o systema classificatorio do famoso ju-
risconsulto, levantam-se gravíssimas objecções, a
primeira das quaes é a que se refere ao ponto de par-
tida, que é o sujeito do direito (134). E, ainda que
esse systema fosse sustentável, não foi o adoptado
pelo legislador brasileiro nem por nenhum dos Pro-
jectos dos nossos jurisconsultos. Implantar nestes
organismos, ura apparelho somente adequado ao
systema portuguez, que, aliás, o rejeitou, seria um
manifesto erro de lógica.
76. Esta objecção preliminar seria sufficiente
para arredar a pretenção de enxertar-se, no Codigo
Civil, um titulo sobre as acções. Mas é conveniente
apreciar, directamente, as razões invocadas pelo fal-
lecido Senador mineiro.
1.° As accões se confundem com os direitos —
Ha um equivoco sem duvida, neste argumento. Um
dos elementos do direito é a sua força defensiva, o
jns in judicio persequendi; mas o modo de pôr em
movimento essa força defensiva, de fazel-a desen-
volver-se, o remeãium júris, já não é mais um ele-
mento constituitivo do direito.

(133) Seg-undo o Visconde: de Sbabra, todo o direito determi-


nador, necessariamente, ha de referir-se "a quatro pontos capítaes,
que podem servir como de pontos de triangulação, no levantamento
da carta jurídica a saber:
1.° Natureza do ente jurídico (capacidade)
2.° Seus meios de vida (acquisição da propriedade)
3o Fruição desses meios (propriedade)
4.° Conservação (violação e defeza dos di-
reitos) ".
(134) V. Teixeira de Freitas, Nova apostilla á censura do
Sr. Moraes Carvalho, Rio de Janeiro, 1859, ps. 56 a 88.
Codigo CivH — 1,° vol. 6
82 CODIGO CIVIL

Todo direito é provido de acção, isto é, da fa-


culdade de invocar as garantias sociaes, de que a lei
o cerca (135). Neste sentido a acção corresponde ao
que os allemães denominam Anspmch (136).
Mas a acção tem um lado formal, — é o modo
pelo qual o direito violado ou ameçado se restaura
ou defende. Não é mais um poder; é um processo,
um meio, um remedio.
2.° A competência do Congresso Nacional para
legislar sobre o direito das acções.—Pelo que estatuia
a Constituição, art, 34, n. 23, cabia ao Congresso Fe-
deral legislar sobre o direito civil, ficando o proces-
sual reservado á competência, aliás não exclusiva,
das legislaturas estaduaes. Ora o direito civil, na ac-
cepção empregada pela Constituição (137), pôde de-
finir-se — o complexo de normas reguladoras das
relações communs de ordem privada. E', pois um
direito determinador, segundo a expressão vulgari-
zada por Oudot, um direito substantivo, material, ou
preceitual. O direito processual tem por fim forne-
cer os modos de restabelecer os direitos contestados,

(135) João Monteiro. Processo civil, I, §§ 12 e 13; Unidade do


direito ps. 82 e segs.: Direito das acções. p. 7-24; Chiovenda, no
Dizionario de ãiritto privato de Scialogia b Busati, vb. Azione;
Chironi. Instituzioni, I, ps. 145-146; Fada e Bbnsa, nota ás Panãe-
ctas de Windschbid, I p. 680; Pioard, Le droit pur., § 33; T. de
Freitas. Consolidação, nota 20 á p. XXVIII, da 3.a ed.
(136) Codigo Civil allemão, art. 194; Endemann, Lehrhuch, I,
ps. 32 e 415; Kohlbr. Lehrhuch, I, §§ 53-60; Code Civil allemand,
ed. do Comitê de lêgislation étrangère, nota ao art. 194, onde se
apura o conceito especial da Anspmch no direito allemão.
(137) O jus civile, entre os romanos, designava: 1.° o direito
positivo de qualquer povo; 2." o direito privado dos romanos; 3.° o
direito romano com exclusão do jus honorarium; 4. o direito em
geral, a que se não pôde dar uma significação mais particular (Sa-
viqny. Droit romain, § 23, nota V). Na edade média, direito civil é
o romano e mais tarde o direito privado, o secular, em opposição
ao canonico.
íá
tREUMINARES >
0u de lhes dar as fôrmas adequadas (138). E' um di-
reito adjectivo, formal.
Distinguindo a Constituição do 1891 o direito ci-
vil, o commercial e o crminal do processual, e ba-
seando, nessa dístincção a competência legislativa,
da União em frente aos Estados, é manifesto que to-
uiou as expressões direito civil, commercial e cri-
minal, no sentido de direito material, e reservou para
os Estados a determinação das regras relativas ã
maneira de defender os direitos, perante os tribu-
naes locaes, e o estabelecimento das formalidades
necessárias á constituição e á utilização das pro-
v
as. (138a).
3.° O direito privado nacional se desnaturaria
so
b a acção absorvente da jurisprudência múltipla
e
do direito processual dos Estados. A theoria das
ac
Ções não esgota o processo; portanto, ainda que a
mcluissemos no Codigo Civil, subsistiria o mal apon-
Indo, com a variedade das leis de organizações judi-
olnrias, as differenças no mecanismo processual, e os
desvio da jurisprudência, Felizmente, hoje, com á
nnidade do do processo, esse inconveniente se acha
muito attenuado.
As razões invocadas, para incluir, no Codigo Ci-
Vl
l, a theoria das acções, são, portanto, de todo, im-
procedentes. E' principio dominante nas codificações
descriminar, com precisão e clareza, o grupo de nor-

feri
' uerativo, Ver, sobre e«te
pS. 248-264; assumpto;
Pedro Amaro Cavarcanti.
Lessa Dissertações Regimen
e polemicas, pa-
S
Tii>^ r Poder judiciário, § 4.°; Peuro Lbssa e João Mendes
Ve,>0 o ' Uniformidade do direito brasileiro; Henrique Coelho, Aze-
s; S Marques e João Mendes Júnior, Reforma judiciaria, ps. 154 e
CfF '' João
vnomia do Mendes Júnior. forense;
nosso processo A uniformidade, a simplicidade
Clovis Beviláqua. Unidadee doa
weito processual.
1p . (138a) a Constituição de 1937 deu competência á União para
ar Sü :)le 0
do' Processual,
^ processo
não civil;o mas,
prejudica distinguindo o Direito Civil
argumento.
84 CODIGO CIVIL

mas, que deve constituir a matéria do codigo, traçar


os limites, que o separam dos outros grupos conti-
guos, e delle excluir todas as noções e preceitos es-
tranhos ao systema.
77. Das provas — Entra na esphera do direito
civil a determinação das provas, e a indicação tanto
do seu valor juridico quanto das condições de sua
admissibilidade. Ao direito processual cabe estabe-
lecer o modo de constituir a prova e de produzil-a
em juizo (139) .
Os dois campos estão perfeitamente delimitados.
Na primeira phase, a prova é substancial, porque
delia depende a existência ou a efficacia da relação
juridica. Como se prova o casamento? Que valor
tem, para esse effeito, a posse do estado de casada,
em que tenha vivido uma pessoa? Se o casamento se
realizar no estrangeiro, quaes os meios de proval-o?
São interrogações essas que o direito civil deve res-
ponder.
0 direito civil dirá que o instrumento publico é
da substancia de certo acto juridico. O processo re-
gulará o modo de elaborar o instrumento. Provam-
se actos e factos por testemunhas, estatue o direito
civil. Como se lhes tomam os depoimentos, estabe-
lece o direito processual.

XII

CLASSIFICAÇÃO DAS MATÉRIAS DO DIREITO CIVIL

78. Um codigo é uma organização lógica de re-


gras jurídicas. Por força da systematização, que os

(139) Meu Em ãefeza, ps. 44-46; João Monteiro, Processo


civil I, p. 73; II, p. 312 e nota 1; Unidade do direito; Mattirolo,
Elementi ãi diritto giuãiciario, I, n. 11,6; In matéria di prove, si
debbe distinguere l'ammissibilitá, e il valore delia prova, dal modo
concui la medesima viene formata e somministrata nel giudizio.
PRELIMINARES 85

simplifica, ordena e esclarece, os preceitos adquirem


maior nitidez de fôrma e maior energia de império,
do que teriam, se se conservassem dispersos ou des-
ordenadamente amontoados. Dahi o valor da classi-
ficação das leis, e, em particular, das que se enqua-
dram no direito civil (140).
79. Para distribuir em classes as relações de di-
reito civil, podemos tomar por base: ou as causas ge-
rodoras do direito, como propoz Leibniz, ou o sugeito
do direito como fez o Visconde Seabra, no Codigo
Civil portuguez, ou, finalmente, o seu objecto. Os
dois primeiros systemas, por motivos diversos, não
lêm encontrado acceitação. As preferencias se ma-
nifestaram pelo ultimo, cujo alcance pratico foi, ge-
ralmente, reconhecido..
Oo ponto de vista do objecto, e attendendo aos
s
eus caracteres preponderantes, as relações de di-
reito civil distribuem-se, naturalmente, em quatro
categorias: as da familia; as da propriedade com as
suas modificações; as das obrigações de ordem eco-
nômica; e as da successão legitima ou testamentaria.
Estes grupos de relações não esgotam, porém, o
corpo do direito civil, pois é necessário attender: 1.°,

(140) Consultem-se: Teixeira de Freitas, Consolidação das


vis civis, Introducção, Cogliolo, Saggi, cap. XI, e Filosofia dei ãi-
1}°' § 14; Ribas, Curso de direito civil, 4.a ed. ps. 199-213; Hous-
'' Science nouvelle des lois, I, ps. 114-154: Huc, Commentaire I,
30; Endbmann, Lehrhuch, I. § 1.°; Glasson, artigo na. Grande
pyclcpéãia sobre classification; Serpa Pinto, Encyclopédia do d -
'''to, i.o pS j23 e segS.; Almachio Diniz, Curso de Encyclo-
vcdui
ra
d0 direito cap. VI; E. Espinola, Systema de direito civil
sileiro, I, Introducção; Teixeira de Abreu, Curso de direito civn
' Ps- 359-375.
Chez un peuple qui a des codes, disse Lerminier, les lois sont
Meux connues, plus claires, mieux obéies, la vie sociale plus facile,
a opinions générales mieux exprimées. E. Bacon, no seu E
Pnorismo, aconselha: Quod si leges aliae super alias accumulatae,
arn
. . ' vasta excreverint volumina, aut tanta cónfusione laoora-
red-lnt ' Utexeasusuãe sitinte
gere,
ro
idt) anteretractare et in corpus sanum et habilc
omnia agito.
v
eI. eja-se, ainda Martins Jumior, Historia Geral do Direito, pa-
Pas 223 e segs.
86 CODIGO CIVIL

a que, nas relações de direito, lia um sujeito (a pes-


soa; um objecto (os bens); e um nexo, que une e
submette o segundo ao primeiro (as relações de di-
reito) ; 2.°, a que ha uma fôrma de energia particular,
que suscita o nascimento dos direitos, os põe em mo-
vimento e os extingue (o facto jurídico, ou jurigeno,
segundo o neologismo de Picard) ; 3.°, a que ha nor-
mas de applicação geral, que se não podem acom-
modar em qualquer das classes de relações acima
indicadas.
Este conjuncto, de noções sobre as pessoas, os
bens e os factos jurídicos,, assim como as normas de
applicação mais alta, formam o conteúdo da Parte
geral do Codigo Civil. As relações de direito consti-
tuem o objecto da Parte especial.
80. Divergem os mestres quanto á ordem, em
que devem ser expostas as quatro categorias de di-
reitos civis. Preferiu o Codigo brasileiro a seguinte:
direitos da família, das coisas, das obrigações e das
successões. Esta disposição apoia-se nas razões se-
guintes desenvolvidas nas Observações para escla-
recimento do Projecto de Codigo Civil brasileiro.
a) No grupo das relações jurídicas da família, a
idéa predominante é a de pessoa, como no direito
das cousas a idéa predominante é a de propriedade
em seus differentes aspectos, no direito das obriga-
ções é a de credito, e no das successões é a de trans-
missão hereditária do bens, que o homem accumula
para augmento de sua força de expansão vital.
Ora, no direito privado, a idéa de pessoa é, sem
contestação possível, mais extensa e mais impor-
tante do que as de bem, de credito ou de herança,
consequentemente, é a pessoa, o sujeito dos direitos,
que, primeiro, se deve destacar na exposição syste-
PRELIMINARES 87

matica do direito civil. Assim; com seguro critério,


entenderam os romanos: prius de persoms videa-
mus... quarum causa jus constitutum est (Ins. , ,
§ 12) . Os codigos modernos, também, na parte geral,
consagram, as suas primeiras disposições á noção cU
pessoa. E não ha razão para cpie se não mau teu ia
essa precedência na parte especial.
b) Tomando por base da classificação das maté-
rias do direito civil a generalização decrescente, de-
pois da parte geral, na qual se incluem, sob a fôrma
abstracta, os principios applicaveis a todos os mo-
mentos, situações e modalidades do direito priva o,
apparecem-nos os institutos do direito da família,
que são partes integrantes dos fundamentos de toda
a sociedade civil, interessam, como diz Menger (141),
a base da sociedade, e têm, portanto, maior genera
bdade do que as instituições jurídicas da proprieda-
de, a qual, por sua vez, é mais geral do que os direi-
tos de credito, que a presuppõem.
c) Se o bomem, socialmente consideiado, tem
primazia sobre o homem como indivíduo; se os in-
teresses altruístas preferem aos egoístas; se, como
ensina Sanvigny, os bens são uma extensão do podei
do indivíduo, um attributo da sua personalidade, cabe
a precedência, por amor da sociologia e da lógica, á
família, circulo de organização social, sobre os insti-
tutos economicos, meios de assegurar a conservação
e o desenvolvimento da vida social.
d) Sanvigny (142), cuja exposição das matérias
da parte especial do direito privado começa pelo

:l894
(141) li diritto civile e il proletariato versão de Otaeroslen
. P. 29. Savxgny, Droit romcuin, I, ps. 230 e 253, confi
iPodo de ver.
(142) Droit roviain, I, S 58.
CODIGO CIVIL

düeito das cousas, reconhece que a ordem natural


dos institutos mandaria partir do direito da familia
puro, passar, em seguida, ao direito das cousas, ao
das obrigações, volver ao da familia applicado, e ter-
minar com o das successões. Mas, para não scindir
o direito da tamilia em duas secções, resolve tratar,
do que elle denomina direito da familia puro, onde
se devera occupar do applicado.
Acho preferível considerar as relações da famí-
lia, em sua integridade, no ponto, em que ellas se nos
apresentam; porque, se a idéa capital ahi se encon-
üa, os seus naturaes desenvolvimentos devem ser
por ella attrahidos, e nunca deslocal-a.
e) E' certo que, ao discernirmos as influencias
das relações de familia, sobre os bens, encontrare-
mos as noções de propriedade e de obrigações. Po-
rém esse inconveniente, que não será, facilmente,
elidido, é maior ainda, se iniciarmos a série dos
grandes institutos civis pelas obrigações, porque es-
tas implicam, forçosamente, a noção de propriedade,
desde que transponham o circulo restrictissimo das
prestações de serviços recíprocos, e offerecem, no
seu conjuncto, um conceito mais complexo e menos
geral do que o da propriedade (143). Nem seremos
melhor aventurados, se tomarmos o direito das coi-
sas por ponto de partida. As limitações impostas ao
domínio pelas relações de vizinhança, pela indivisão

-oXaTes S

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?aSpaê£SoSFS.ts0oSlX!á Se a0haTam SyStemat
'-
PRELIMINARES 89

e pelos ônus reaes tornam patente quanto a theoria


das obrigações é necessária á comprehensão do di-
reito das cousas.
Ha, irrecusavelmente, interdependência de nor-
mas e de conceitos entre os vários grupos de rela-
ções civis. Pertencentes a um systema, que é o di-
reito civil, ou, ainda, o direito, em geral, os diversos
institutos, da família, da propriedade, das obriga-
ções do direito hereditário, acham-se em contacto,
e, mutas vezes, se penetram e entreauxiliam. tal
circumstancía ineluctavel não pôde servir de argu-
mento contra a precedência de um dos grupos, visto
como prevaleceria contra qualquer delles.
CODIGO CIVU

(Lei n. 3.071, de Janeiro de 1910 comas corrccções


ordenadas pela lei n 3.72o, de lo de Janeiro de 1919)

INTRODUCÇÃO

A Introducção do Codigo Civil não é uma parte


componente do mesmo; e; por assim dizer, uma lei
a
nnexa, que se publica, juntamente com o Codigo,
para facilitar a sua applicação. Os seus dispositivos
coinprehendem matéria de direito publico, de her-
menêutica e de direito internacional privado.
O Projecto primitivo dera-lhe, á similhança do
Codigo Civil allemão, o nome de lei de introducção;
a Conimissão revisora preferiu denominal-a titulo
preliminar, seguindo a lição do Codigo Civil fran-
cez, do Esboço de Teixeira de Freitas, e do Projecto
de Felicio dos Santos; adoptou a Gamara a designa-
ção de lei preliminar, que se encontra no Projecto de
Coelho Rodrigues. Ao Senado se deve a inscripção,
Çfue ficou.
Contém numeração distineta da do Codigo, para
iiidicar a diversidade da matéria, e accentuar que, se
a elle está ligada e se o domina, com elle não fôrma
mu todo homogêneo, podendo ser modificada, pei-
manecendo integro o articulado do Codigo, do mes-
mo modo que as alterações deste se não jreflectem
sobre ella, •
92 CODIGO CIVIL

Art. 1.° — A lei obriga em todo o território


brasileiro, nas suas agnas territoriaes, e, ainda,
no estrangeiro, até onde lhe reconhecerem ex-
territorialidade os principies e convenções in-
ternacionaes.
Direito anterior — Vigorava o mesmo principio.
Legislação comparada — Semelhante: dir. rom.: Cod. 1,
14, 1. 9; Cod. Civil francez, art. 1.°; boliviano, 1.»; montene-
grino, 5o.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 11, da lei preliminar;
Beviláqua, art. 10, da lei de introducção; Revisto, art. 10, do
titulo preliminar.
Bibliographia Minha Theoria geral do direito civil,
Introducção, ns. 3 a 9; Meu Direito publico internacional, §§52
a 63; Espinola, Breves annotações, I, ps. 3 a 6; Paulo de La-
cerda, Manual do Codigo Civil Brasileiro, Introdução, ns. 1 a 68 *
Spenceb Vampbé, Manual de direito civil brasileiro, I, §§ 1.° e
segs.; Ribas, Curso de direito civil brasileiro, 4.a ed., ps. 139-145;
Chironi, Instituzioni, I, §§ 6.° e 7.°; Geny, Méthoãe ãHnterpré-
tacion, ns. 56 a 59; Laurent, Caurs elémentaire de droit civil,
ns. 8 a 27; Aubby et Rau, Cours, 5.a ed. I, §§ 26 e 27;
Bluntschli. Allgemeines Statsrecht, Stuttgart, 1876, ps. 7 a 10;
P. Laband, Le droit Public de Vempire allemand, trad. de C.
Gaudilhon e Th. Lacuire, II, §§ 54 a 59; Woodrow Wilson, The
State, ns. 1.415 a 1.472; Espinola e Espxnola Filho, Tratado
de direito civil brasileiro; II, ns. 1 a 22.

Observações — 1. _ Lei é uma regra geral, que, emanando


de autoridade competente, é imposta, coactivamente, á obediência
de todos. Nos' Estados modernos, ha um orgão destinado á elabo-
ração das leis, que é o poder legislativo. Preparadas pelo poder
legislativo, as leis são sanccionadas pelo executivo, que as pro-
mulga e publica (Constituição, arts. 41 a 49). As leis promul-
gadas ou escriptas não comprebendem todo o direito. Ha normas
consuetudinarias, que abrigam, egualmente, ainda que não con-
stem de preceitos votados pelo poder legislativo. Ha também,
preceitos superiores, que preenchem as difficiencias das leis, por
intermedie dos juizes chamados a resolver as controvérsias ju-
rídicas.
IJVTRODUCÇÃO 93

2. — Expressão da soberania do Estado, a lei obriga a todos


os que se acham no território nacional, salvo as excepções con-
sagradas pelo direito publico externo, em favor dos representantes
diplomáticos dos outros Estados, e as applicações da lei estran-
geira, no dominio do direito internacional privado.
Território do Estado é o seu assento geographico, é a pai te
da terra onde estaciona a nação, e sobre a qual o Estado exerce
a sua soberania. Comprehende; I, o sólo occupado pela nação;
II, os rios, lagos e mares interiores; III, os golfos, bahias e
Portos; IV, a faixa do mar exterior, que corre ao longo da costa,
e que constitue as aguas territoriais; V, a parte, que o direito
attribue a cada Estado, sobre os rios, lagos e mares contíguos;
VI, o espaço aereo, correspondente ao território até á altuia de-
terminada pelas necessidades da policia e segurança do paiz.
Consideram-se, também, parte do território do Estado os
vasos de guerra, ainda que se achem em porto estrangeiro, e os
navios mercantes, em alto mar ou em aguas nacionaes.
3. — O direito publico internacional ainda não fixou, de
modo definitivo, a largura do mar territorial. No Brasil, quanto
ás relações internacionais, o limite consignado em lei, é o do
alvará de 4 de Maio de 1805, § 2o, confirmado pela circular do
Ministro da Guerra, n. 92, de 31 de Julho de 1850 (o alcance
do tiro de canhão posto na costa). Mas esse modo de traçai
Unhas á soberania está, evidentemente, antiquado. Para a fis-
calização aduaneira, o regulamento, a que se refere o dec. n. 6.272,
de 2 de Agosto de 1876, art. 40, estabelece o limite de tres milhas
da costa, em relação ás embarcações estrangeiras e de doze em
velação ás nacionaes.
No que respeita ao direito de pesca, a jurisdição das auto-
ridades brasileiras estende-se até doze milhas (Codigo de I esca,
dec. — lei n. 974, de 19 de Outubro de 1938, art. 2, § 1.°) ■
4. -— Por exterritorialiãaãe da lei estende-se a sua acção fóia
dos limites do Estado, cuja soberania ella traduz. Em direito
Penal, onde a lei é, por natureza, territorial, vemol-a, algumas
vezes, transpor as fronteiras para attingir ao criminoso, que a
foi infringir no estrangeiro (ultraterritorialidade), ou para obter,
da assistência internacional, que lhe não escapem aos rigores os
delinqüentes refugiados no estrangeiro (extradição). No direito
privado, também certas leis necessitam de exercer a sua força
além dos limites do Estado de que promanam, para attender a
relações, que se formam no seio da sociedade internacional, fêm
94 CODIGO CIVIL

efficacia exterritorial ou extraterritorial as leis, que têm por


principal escopo amparar e defender os indivíduos, como são
as que determinam a capacidade das pessoas e os direitos da
íamilia. As outras leis, referentes á organização da propriedade
e ao credito publico, prendem-se, mais immediatamente, ao in-
teresse social, e, por isso, é no território, onde a sociedade se
acha fixada, quo ellas preenchem os seus fins. As leis de suc-
cessão, por serem applicações da capacidade jurídica e da orga-
nização da família, participam do caracter exterritorial.
O artigo refere-se, particularmente, á exterritorialidade das
leis que têm por objecto a determinação da capacidade, as re-
lações da família e o direito hereditário.

Art. 2.° — A obrigatoriedade das leis,


quando não fixem outro prazo, começará, no Dis-
tricto Federal, tres dias depois de officialmente
publicadas, quinze dias no Estado do Rio de Ja-
neiro, trinta dias nos Estados maritimos e no de
Minas Geraes, cem dias nos outros, compreben-
didas as circumscripções não constituidas em
Estado.
Paragrapho único. — Nos paizes estrangei-
ros, a obrigatoriedade começará quatro mezes
depois de officialmente publicadas na Capital
Federal.
Direito anterior — Regulava a matéria da obrigatoriedade
das leis e decretos federaes o dec. n. 572, de 12 de Julho de 1890,
que, embora adoptando o systema de prazos progressivos, pelo
qual se pronunciou o Codigo Civil, consagrava disposições dif-
ferentes.
Legislação comparada — Sobre este assumpto, vejam-se:
o Cod. Civil francez, art. Io; italiano, Io das disposições pre-
liminares: hespanhol, 1.°; uruguayo, 1.°; argentino, 2.°; chi-
leno, 7o; Constituição do império allemão, 2o. é vario o modo
de dispôr das leis "citadas,
Projectos — Felicio dos Santas, art. l0; Nahuco, D do
tit, único; Coelho Rodrigues, 1.° da lei preliminar; Beviláqua,
1" da lei de introducção; Revisto, Io do tit. preliminar.
INTRODUCÇÂO 95

Bibliographia — Minha Theoria geral do direito civil,


Introducção, n. 10; João Barbalho, Constituição, Commentarios
ao preâmbulo, p. 5, e ao art. 37; Sirva Marques, Direito publico
e constitucional, 1911, ps. 14 a 146; Ed. Espinola, Syst. de
dir. civil, I, ps. 58 a 63; Theophilo Ribeiro, Commentarios á
Constituição, III, 1896, ps. 118 a 143; Pauro de Lacerda, Manual
do Coãigo Civil, I, ns. 69 a 82; P. Laband, op. cit., II, ps. 370
a 377; Bruntschri, op. cit., ps. 124 a 147; Th. Huc, Gommen-
taire théorique et pratique ãu Code Civil, I, 1892 ns. 31 a 46,
Sanchez Roman, Derecho civil, II, 1889-90, ns. 1 a 44; Teixeira
d
"Abreu, Curso de direito civil, vol., I, 1910, § 14; Arves Moreira,
Direito civil portuguez, I, 1907, ns. 9 a 15; Vieira Ferreira,
Ementas e emendas ao Projecto de Codigo Civil, ps. 31 a 33, que
íorneoeu a substancia da fórmula adoptada no artigo; Trabalhos
da Gommissão especial da Gamara dos Deputados, II, p. 81; III,
P&'. 24 a 25; IV, ps. 17 e 131; Espinora e Espinora Firho, Tra-
tado de direito civil brasileiro, ns. 11 a 22; Vieira Ferreira,
Obrigatoriedade das leis, na Revista de critica Judiciaria, 1924,
P- 119.

Observações — 1. — Com a promulgação diz-se que a lei


s
6 torna executoria; mas é, somente, depois de publicada que
e
íla adquire a obrigatoriedade, porque, sem ser conhecida, não
Poderia reclamar obediência aos seus preceitos.
Vários systemas têm adoptado os legisladores, para o inicio
obrigatoriedade das leis. O Codigo Civil italiano, art. 1", e o
^espanhol, art. 1", preferiram o systema simultâneo ou de prazo
u
nico, quinze dias o primeiro, e vinte o segundo, sendo de notar
^ue, para o Codigo Civil he&panhol, promulgação eqüivale á pu-
blicação, momentos e actos distinctos, na technica jurídica. A
Promulgação é acto governamental, que declara a existência da
lei e ordena a sua execução. A publicação é um facto, que torna
conhecida a lei promulgada. Em nossos dias, a publicação se
faz nos diários officiaes ou dos governos.
O Codigo Civil francez adoptou o systema progressivo, do
Prazos diversos, segundo a distancia dos logares. O do Codigo
Civil brasileiro é semelhante; mas, em vez de attender a uma
determinada medida de extensão, divide o paiz em quatro
secções: Ia, a do Districto Federal, onde a lei obriga tres dias
depois de officialmente publicada; 2", o Estado do Rio de Janeiro,
Pude, pela sua proximidade da Capital da Republica, as leis se
96 COÜIGO civil

consideram conhecidas, quinze dias depois de publicadas; 3n, os


Estados marítimos e o de Minas Geraes, onde a força obrigatória
da lei começa no trigesimo dia da publicação; 4:i, os outros
Estados e o Território do Acre,.onde somente depois de cem dias,
após a sua divulgação na sede do Governo Federal, começa a
obrigar.
2. — Certamente a lei não se promulga nem publica em
paiz estrangeiro; mas os effeitos da publicação podem chegar
até lá, obrigando: Io, nas legações e consulados, em tudo que
disser respeito ás attribuições dos ministros, dos cônsules e mais
funccionarios dessas repartições publicas; 2o, aos brasileiros,
quanto ao seu estatuto pessoal e aos actos submettidos, no es-
trangeiro, ás leis patrias; 3o, a todos os que tiverem interesses
regidos pela lei brasileira.
E' attendendo a esses casos que a Introãucção se refere ao
momento, em que a lei começa a obrigar, nos paizes estrangeiros.
3. — A lei pôde determinar, por disposição especial, o mo-
mento em que se tornará obrigatória. E, somente quando não
fixar outro prazo, é que se observarão as regras estabelecidas
no artigo. Assim é que o Codigo Civil, publicado a 1 de Janeiro
de 1916 (lei n. 3.071), somente doze mezes depois dessa data
entrou em vigor (art. 1.806).
4. — Se, para a execução da lei, fôr necessário regulamento,
somente depois da publicação deste, ella se tornará obrigatória,
porque os seus dispositivos dependem desse complemento. Se
apenas uma parte da lei depender do regulamento, somente a
essa parte se applica a regra.

Art. 3.° — A lei não prejudicará, em caso


algum, o direito adquirido, o acto jurídico per-
feito, ou a coisa julgada.
§ 1.° — Consideram-se adquiridos, assim os
direitos que o seu titular, ou alguém por elle,
possa exercer, como aquelles cujo começo de
exercicio tenha termo prefixo, ou condição pre-
estabelecida, inalterável a arbítrio de outrem.
§ 2.° — Reputa-se acto jurídico perfeito o já
consummado, segundo a lei vigente, ao tempo
em que se effectuou.
INTRODUCÇÃO 97

§ 3.° — Chama-se coisa julgada, ou caso jul-


gado, a decisão judicial, de que já não caiba re-
curso. kp.NSELHO REGIONAL DO TRABALHO
;K:RE_QIÀO
Direito anterior — Conforme; ainda que não houvesse as
definições legaes do direito adquirido, do acto jurídico perfeito
e da coisa julgada. Y. Constituição de 1891, art. 11, 3o, e Carlos
de, Carvalho, Direito civil, arts. 21 e 24.
Legislação comparada — Cod. 1, 14, 1. 7; 10, 31, 1. 65, in
fine; Cod. Civil francez, art. 2o; italiano, 2o; portuguez, 8o;
hespanhol, 3o; austríaco, 5o; suisso, Io e segs. do tit. final; bo-
liviano, 3.°; colombiano, 13; mexicano, 5.°; chileno, 9.° uru-
guayo, 7.°; venezuelano, 3.°; e argentino, 3.°. Estes codigos não
contêm as definições constantes deste artigo da Introducção.
Projectos — Nabuco, arts. 7o e 12 do tit. único; Felicio dos
Santos, 7.° a 9.° e 13; Coelho Rodrigues, 5.° da lei preliminar;
Beviláqua, 5.° da lei de introducção; Revisto, 5o do tit. preliminar.
Bibliographia — Minha Theoria geral do direito civil,
Introducção, ns. 12 a 15; En. Espinola, Systema. I, ps. 151 a
181; Breves annotações, I, ps. 11 a 18; Paulo de Lacerída, Manual
do Goãigo Civil, I, ns. 83 e segs.: Spencer Vampbé, Manual de
Direito Civil, I, § 8.°; Almachio Diniz, Primeiros princípios, In-
troducção e Parte geral, § 7.°; Porchart, Da retroactiviãaãe das
leis; Arthur Orlando, Philocritica, cap. V: Physiophilia proces-
sual; Ribas, Curso de direito civil brasileiro, tit. III, cap. I,
§ 2.°; Huc, Commentaire, I ns. 54 a 96; Paula Baptista, Theoria
e
pratica do processo civil, §§ 182 a 191 da 7a edição; João Mon-
teiro, Processo civil e comniercial, I, § 8°, e III, §§ 235 a 248,
Uescartes de Magalhães, Em torno do direito, cap. IV; Pla-
niol, Traité élémentaire de ãroit civil, I, ns. 220 a 234; Aubby
et Rau, Cours, I, § 30; Mailher de Chassat, Rétroactivité des
lois, 1845; Rousset, Science nouvelle des lois, I, ns. 24 e segs.;
Laurent, Cours, I, ns. 30 a 38; C. F. Gabba, Teoria delia retro-
utimtà delle leggi. 4 vols., 3a ed., 1891 a 1898, particularmente
0
vol. I, onde o assumpto se acha reduzido aos seus princí-
pios fundamentaes; Chironi, Istituzioni, I §§ 16 e 17; Ricci,
Corso teorico-pratico di diritto civile, I, ns. 21 a 96; G. Alves
Moreira, Instituições, I, ns. 35 a 40, Teixeira d-Abreu, Curso
L §§ 15 e 16; Dernburg, Pandette, trad. Cicala, I, §§ 43 e 44;
Wjndschbid, Pandette, trad. Fadda e Bensa, I, §§ 31 a 32, e as
Codigo Civil — 1.° vol.
98 CODIGO CIVIL

respectivas notas, (3, 7 e ô, dos traductores; Kohler, Lehrbuch ães


huergerlichen Rechts, I, §§ 19 a 21; Holzendorf und Kohler, En-
cyklopceãie der Rechtswissenschaff, I, § 11; Savigny, Traité de
droit rôvvain, VIII, liv. III, cap. II; E. Champeau e Antonto
J. Uribe, Derecho civil colombiano, I, ns. 60 a 75; Trabalhos
da Gamara, III, p. 26; IY, ps. 27, 122 e 131 a 132; Annaes da
Gamara, sessão extraordinária de 1902, II, p. 176; Espinola e
Bspinola Filho, Tratado de direito civil, II, n&'. 33-76.

Observações — 1. — A Constituição de 1891 art. 11, 3.°, ve-


dou á União e aos Estados, prescrever leis retroactivas, e a de
1934, art. 113, n. 3, declara que a lei não prejudicará o direito
adquirido o acto jurídico perfeito e a coisa julgada. Esse prin-
cipio de política jurídica legislativa era, portanto, entre nós, de
natureza constitucional, que lhe dava maior vigor e amplitude
do que nos paizes, onde é apenas um preceito de direito civil.
Sendo esta uma regra de direito universal, tem havido, entre-
tanto, difficuldade em determinar, com precisão, a idéa da não
retroactividade e o modo de solver os conflictos, que possam sui'-
gir entre os dispositivos da lei anterior e os da lei vigente. Em
Gabba, pode ver-se a evolução do pensamento jurídico sobre esta
matéria, desde as leis romanas até os nossos dias (vol. I, ps. 46
a 123). De todo o esforço da mente dos legisladores e tratadistas,
ficou, definitivamente, apurado que "a verdadeira razão e o
verdadeiro limite da retroactividade das leis consiste, unica-
mente, no respeito aos direitos adquiridos". Por isso a lei bra-
sileira introductoria do Codigo Civil encarou a grave questão
por este lado de alcance mais pratico. Além disso, o principio
da não retroctividade já estava, solemnemente, proclamado pela
Constituição, como regra aos legisladores e limite aos seus po-
deres. O que convinha era determinar o conteúdo do principio,
a sua estenção e a sua finalidade.
A Constituição de 1937 retirou do direito adquirido o seu
caracter constitucional; relegou-o para o direito civil.
Assim, no direito brasileiro, a não retroactividade das leis
quer dizer: respeito aos direitos adquiridos, aos actos jurídicos
perfeito e ao caso julgado. Assim o declarou, expressamente, a
Constituição de 1934, art. 113, 3.°. E tal é, também, a solução
da melhor doutrina. E' essa a maxima fundamental do direito
transitório. A lei deve receber a mais completa applicação, sem
INTRODUCÇÃO 99

offender, todavia, aquelles direitos, que já entraram, definitiva-


mente, para o patrimônio do individuo, sob a sua garantia.
2. ^ o respeito aos direitos adquiridos é uma necessidade
imposta pelo instincto de conservação da sociedade, que não
teria organização estável, nem base para o seu natural desenvol-
vimento, se a ordem jurídica e os direitos, que ella assegura,
^e dissolvessem com as successivas reformas da legislação.
E' também, uma feliz applicação da idéa de justiça, porque
a
ssegura, aos direitos, a existência que a sociedade lhes havia
reconhecido, e harmoniza os interesses, contendo-os dentro dos
limites, em que elles se podem expandir, sem prejuízo da vida
social.
3
- —-O Codigo define direito adquirido: Io, o que 0) titular
0u
alguém por elle pôde exercer; 2o, aquelle cujo começo de
exercício tem termo prefixo ou condição preestaôelecida, inalte-
rável a arbítrio de outrem.
Para que o direito possa ser exercido pelo titular ou por
seu
u
representante, é necessário; a) que se tenha originado de
m facto jurídico, de accôrdo com a lei do tempo, em que se
tormou ou produziu; b) que tenha entrado para o patrimônio
ile indivíduo. Assim a definição da lei, referida em primeiro
logar, e que é a fundamental, pôde ser convertida nesta outra:
ãireito aãqiiirido é um bem jurídico, criado por um facto capaz
de pr oduzil-o, segundo as prescripções da lei então vigente, e que,
de accôrdo com os precei1\o\s da mesma lei, entrou para o patri-
rrionio do titular.
^ • Acham-se no patrimônio os direitos que podem ser
e
xercidos, como, ainda, os dependentes de prazo ou de condição
Pi ^estabelecida, não alteravel a arbítrio de outrem. Trata-se aqui
il® termo e condições suspensivos, que retardam o exercício do
direito. Quanto ao prazo, é principio corrente que elle pre-
suppõe a acquisiçâo definitiva do direito e apenas lhe demora
0 e
xercicio. A condição suspensiva torna o direito apenas espe-
rad
o, mas ainda não realizado. Todavia, com o seu advento, o di-
re
ito se suppõe ter existido, desde o momento em que se deu o
facto que o criou. Por isso, a lei o protege, ainda nessa phase de
ex
istencia meramente possível, e é de justiça que assim seja,
Porque, embora dependente de um acontecimento futuro e in-
Ce
rto, o direito condicional já é um bem jurídico, tem valor eco-
homico e social, constitue elemento do patrimônio do titular.
100 CODIGO CIVIL

5. — A lei não prejudicará actos jurídicos perfeitos, con-


tinua o Codigo, explanando o pensamento jurídico da não re-
troactividade das leis. Acto jurídico é um acto licito, que tem
por -fim immeãiato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir os direitos (art. 81). E' um dos elementos criadores do
direito. Os outros entram na categoria geral dos factos jurídicos.
Já ficou dito que o direito adquirido presuppõe um facto
capaz de produzil-o, segundo as determinações da lei. Os ou-
tros factos jurídicos não têm fôrma especial, a que se deva
accommodar a actividade humana. Somente para o acto jurídico
estabelece o direito condições de validade, porque é elle o modo
pelo qual a vontade se manifesta, juridicamente, para criar, mo-
dificar ou extinguir direitos, e a lei deve determinar como essa
vontade pôde produzir taes effeitos.
O direito quer que o acto jurídico perfeito seja respeitado
pelo legislador e pelo interprete na applicação da lei, precisa-
mente, porque o acto jurídico é gerador, modificador ou extin-
ctivo de direitos. Se a lei pudesse dar como inexistente ou
inadequado o acto jurídico, já consummado segundo a lei vi-
gente ao tempo em que se effectúou, o direito adquirido, delle
oriundo, desappareceria por falta de titulo ou fundamento.
Assim a segurança do acto jurídico perfeito é um modo de
garantir o direito adquirido, pela protecção concedida ao seu
elemento gerador.
6. — Também o é a coisa julgada, que o Codigo define —
a decisão judicial de que já não cabe recurso.
O Projecto da Gamara, como o primitivo, segundo a lição de
Paula Baptista, falava em recurso ordinário. Mas o Senado,
attendendo a que o recurso de revista das sentenças eiveis profe-
ridas pelos tribunais locaes, em ultima instância, tomou o nome
impróprio de recurso extraordinário, eliminou esse epitheto, para
não fazer suppôr que somente essa especie excluirá o Codigo,
quando é certo que a todos os recursos legaes se refere o para-
grapho 3o do art. 3o. Também influiu, naturalmente, nesta deli-
beração do Senado, a doutrina dos nossos processualistas mais
distinetos, depois do mestre notável do Recife, João Monteiro e
João Mendes, affirmam não haver mais, entre nós, recurso ex-
traordinário, porque todos são interpostos para o mesmo poder
judiciário, e não para um poder extranho. O proprio denominado
recurso extraordinário, que é uma revisão eivei, é, sob esta re-
lação, meramente ordinário.
INTRODUCÇÃO 101

Ha sentenças que não passam em iulgado. Taes são:


a
) as proferidas em jurisdicção graciosa; &) as interlocutorias;
c
) as proferidas nos processos preventivos e preparatórios; d) as
watrimoniaes; e) e as nullas.
E' nulla a sentença: 1.°, sendo dada por juiz incompe-
tente, suspeito, peitado ou subornado; 2.° sendo proferida contra
a ex r
0
P essa disposição da lei; 3.° sendo fundada em instrumento
u depoimentos julgados falsos em juizo competente; 4.°, sendo
an
nullado o processo em que ella foi proferida (reg. 737, de 25
de Novembro de 1850, art. 680).
Pi essa disposição da lei; 3o, sendo fundada em instrumento ou
depoimentos julgados falsos em juizo competente; 4o, sendo an-
nullado o processo em que ella foi proferida (reg. 737, de 25 de
Novembro de 1850, art. 680).
A sentença pode ser annullada: 1.° por embargos á execução;
Oq
• Por meio de revista; 3o, pelo recurso extraordinário, que a
Constituição criou contra as sentenças finaes das justiças locaes;
^ > Por meio de acção rescisória (reg. cit., art. 681, Const, fed.,
art
- 101, II e III).
8
- O Projecto primitivo destacava a questão da lei inter-
Pretativa, para declarar que ella não pôde offender o direito
ndquirido, o acto perfeito, nem o caso julgado. Queria, assim,
significar que, em nosso systema juridico, a lei, qualquer que
Se
Ja a sua categoria ou o seu objecto, não pôde ter effeito retro-
activo. As ordens juridicas successivas conservam-se nos seus
imites próprios, não se penetram.
As leis politicas, entretanto, assim como as de juris-
icçao, de competência e de processo applicam-se aos actos ini-
Cla
0
dos sob o império da lei anterior, porque são de ordem publica,
s direitos, que o principio da não retroactividade resalva, são
Ueitos privados, patrimoniaes, ainda que ligados ao exercício de
nncções publicas, taes como o direito á percepção dos venci-
rne
ntos do empregado vitalício.
Porchat {Da retroactividade, ns. 59 e 61) considera falso o
Pmncipio de que as leis de ordem publica escapam, em regra, ás
atenuações da transitoriedade. Mas tudo depende do conceito de
ordem publica e de critério na applicação do principio. E, na sua
generalidade, os autores reconhecem que se applicam ás relações
Jnridicas iniciadas sob o império da lei anterior: — as leis consti-
Uc
ionaes, as de processo, e as de organização judiciaria. Não
Se eve
^ Pretender que, em relação a estas leis, prevaleça o prin-
102 CODIGO CIVIL

cipio da retroactividade, e, sim, reconhecer que ellas apanham


as situações jurídicas, intregralmente, no momento em que se
tornam obrigatórias.
10. Outra applicação do principio, que o Projecto primitivo
destacava, era o da lei relativa ao estado das pessoas. Estado
da pessoa é o seu modo particular de existir. Pode ser physico,
de família e político. O estado physico é o modo de ser da pessoa
em relação a integridade mental (são de espirito e alienado), á
edade (menores e maiores), e ao sexo (homem e mulher). O
estado da família distingue as pessoas em : casadas, solteiras,
parentes, afins. O estado político transcende a ordem privada.
E' o direito constitucional que determina quem é cidadão e quem
é estrangeiro.
Dizer que as leis relativas ao estado das pessoas se applicam,
immediatamente, a quem se achar nas condições por ellas pre-
vistas, é particularizar um caso de não retroactividade, nas
relações jurídicas de ordem privada. Determina o Codigo, por
exemplo, que a incapacidade absoluta se estende até aos dezeseis
annos (art. 5o). A lei anterior, attendendo á época da puberdade,
fazia terminar essa incapacidade absoluta aos doze e aos qua-
torze annos, conforme se tratasse os varões ou de mulheres. As
pessoas, que, na época da obrigatoriedade do Codigo, ainda não
tivessem completado os doze ou quatorze annos, ainda que
para isso lhes faltassem apenas alguns dias, estavam sujeitas á
prescripção da lei nova, e tiveram que esperar mais quatro ou
dois annos, para vêr cessar a sua incapacidade civil absoluta.
As mais extensas regalias conferidas á mulher applicaram-se-lhes,
desde que o Codigo entrou em vigor.
11- — Outras particularidades do direito transitório serão
consideradas, nos logares proprios, especialmente em relação a
matéria da prescripção.

Art. 4.° — A lei só se revoga, ou deroga, por


outra lei; mas a disposição especial não revoga
a geral, nem a geral revoga a especial, senão
quando a ella, ou ao seu assumpto, se referir, al-
terando-a, explicita ou implicitamente.
INTRODUCÇÃO 103

Direito anterior — Princípios idênticos, porém menos pre-


cisos, Orã., 3, 64; lei de 8 de Agosto de 1769, § 14; resol. de 4 de
Dezembro de 1827.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 5o das
disp. prelim.; hespanhol, 5.°; austríaco, 8.°; mexicano, 9.°; ur-
guayo, 9.°; argentino, 17; chileno, 52 e 53.
Projectos — Nabuco, arts. 5.°, 6.° e 81 do tit. único; Felicio
dos Santos, 4o a 6o; Coelho Rodrigues, 9o e 10 da lei preliminar;
Beviláqua, 8o da lei de introd.; Revisto, 8o do tit, preliminar.
Dibliographia — Minha Theoria geral do direito civil,
Introd., ns. 18 a 26 e 42 a 46; Espxnola, Systevna, I, ps. 64, 65 e
88 a 114; Breves annotações, I, ps. 18 a 24; Paulo de Lacerda.
Manual, I, ns. 188 e segs.; Spencer Vampré, Manual, I, § 10;
Almachio Diniz, Introãucção e Parte geral, § 10; Ribas, Direito
civil, 4a ed., ps. 156-158; Paula Baptxsta, Hermenêutica, §§ 43,
■19 a 55; Amaro Cavalcanti, Regimen federativo, ps. 228 a 244;
Ruy Barbosa, Actos inconstitucionaes do Congresso e (Üo Exe-
cutivo; Descartes de Magalhães, Em torno do Direito, capitulo
III; Corrêa Teilles, Gommentario critico á lei da bôa razão,
n
s. 197 a 205; Huc, Comm., I, ns. 47 a 53; Planiol, Traité, I,
n
s. 206 a 212; Geny, Méthode Fintrepretation et sources, ns. 109
a
121; Colin et Capitant, Cours élémentaire, 1914-1915, I, pa-
ginas 57-59; Lambert, Fonction du droit civil comp., ps. 103 e segs,,
Savigny, Droit romain, I, §§ 7o a 30; Winx^scheid, Pandette, I,
§
§ 15 a 18; Kohler, Lehrhuch, §§ 32 a 35; E. Champeau e
A- J. Uribe, Derecho civil coloml)., I, ps. 101 a 103; Chxroni,
Istituzioni, I, § 20; Teixeira d'Abreu, op. cit., § 14, ns. 45 a 48;
Alves Moreira, op. cit., n. 15; Espinola e Bspinola Filho, Tra-
tado cit., II, ns. 23-32.
Observações — 1. — O primeiro preceito contido neste artigo
e
uma conseqüência necessária da organização politica dos Es-
tados modernos, e da divisão harmônica dos poderes constitu-
cionaes, que são as modalidadfes geraes, por que se externa a
soberania do Estado. Quer elle dizer: Io, Ha um poder, o legisla-
th
o, cuja funcção é prover a sociedade, com as leis, de que ella
necessita, para manter-se e desenvolver-se. A esse poder, exclu-
sivamente, cabe elaborar a lei, e prival-a de efficacia, quando
Reconhecer que não corresponde mais ás necessidades do paiz.
^ •> Nem os outros poderes políticos, nem outros orgãos quaesquei
'uX sociedade se podem, juridicamente, oppôr á força imperativa
lei.
104 CODIGO CIVIL

2. Estará, então, banido da ordem jurídica o direito con-


suotudinario? Não. Ainda que reduzido a um minano de activi-
dade na formação do direito, continúa o costume a ser uma das
suas fontes, não fazendo excepção a esta regra o direito pri-
vado. O Codigo Civil, é certo, não manda mais, como as Orde-
nações philipinas, recorrer aos costumes para supprir as defi-
ciências da lei; mas não podia impedir que elle se formasse, por
que ê um modo natural de revelação do direito. O art. 1.210,
por exemplo, allude aos usos locaes, quanto ao tempo da locação
de prédios urbanos, e o art. 1.218 refere-se ao costume do logar
para a retribuição de serviço.
O que o art. 4o da Introãucção repelle é a autoridade re-
vogatoria do costume (consuetuão abrogatoria, desuetuão); mas
o costume, que preenche as lacunas da lei, ou a corrige, dando
uma interpretação conforme ás necessidades sociaes, que se mo-
dificam no correr dos tempos, e, ainda, o costume secundum le-
gem, isto é, aquelle a que a lei, expressamente, se refere, esses,
forçosamente, subsistem.
3. — Pelo direito anterior, o costume, fonte subsidiaria do
direito escripto, devia ser conforme á bôa razão, não contrario
ás leis e ter mais de cem annos (Lei de 18 de Agosto de 1769).
Este requisito do tempo fôra alterado, em relação ás leis com-
merciais, que deram efficacia aos costumes observados, por mais
de cincoenta annos. E, attendendo a que se não conforma com a
natureza imprecisa do costume, essa determinação precisa do
tempo de sua existência, bem se comprehende que tal requisito,
por impróprio, teria de, ordinariamente, ser posto á margem.
A concepção mbderna do costume requer para a sua exis-
tência, apenas, que seja constantemente observado, durante um
espaço longo de tempo, como norma jurídica, porque elle se des-
tina a completar ou interpretar o direito escripto, e pela repe-
tição exprimir que corresponde, realmente, a uma necessidade.
Apresentaiído esses caracteres, o costume é direito, tem força de
coagir á obediência os particulares e deve ser applicado pelo
juiz.
nosso systema constitucional, o Poder judiciário
é o guarda supremo e o interprete por execellencia da Consti-
tuição. Como conseqüência natural dessa altíssima funcção, está
elle provido da faculdade de, em casos concretos, e por soli-
citação dos interessados, declarar a inefficacia das leis, quando
contrarias ás prescripcões da nossa carta constitucional (Const.,
INTRODÜCÇÃO 105

art. 96). Não ha, porém, nesta faculdade conferida ao judiciário,


poder de revogar as leis. O juiz declara a lei inconstitucional e,
como tal, nulla, por ter o legislativo excedido aos limites de
sua competência, mas somente in specie, no caso particular,
sobre que teve de sentenciar. Não decreta, de modo geral, a
aullidade da lei; apenas decide que a lei está em conflicto com
& Constituição e que, portanto, no caso em litígio, esta é que
deve ser applicada.
Quando o Poder Judiciário declara inconstitucional qualquer
ici, acto, deliberação ou regulamento, o Senado determina a sua
suspensão (Const., art. -91, IV).
5- — O segundo preceito do artigo é um elemento de conci-
liação entre os dispositivos das leis diversas, que compõem um
systema legislativo, fazendo desapparecer as antimonias, appa-
r
cntes entre as mesmas. A lei posterior revoga a anterior, ex-
pressamente, quando assim o declara, ou tacitamente, quando
ha incompatibilidade entre as respectivas disposições. Mas, se a
segunda lei é especial, isto é, se dispõe para um caso particular,
0u
para, um determinado instituto, entende-se que apenas abriu
uma excepção á regra geral. Também, se leis especiais regulam
um instituto ou uma relação particular, é principio de direito
Uue a lei geral posterior lhe permitte a contitnuação, quando não
a revoga, explicita ou implicitamente, porque a regra divergente
Já existia e, se devesse desapparecer, dil-o-ia, claramente, a lei
nov
a, ou disporia de modo a contrarial-a, regulando o mesmo
ussumpto.
Ih — Quando a incompatibilidade se estabelece entre a lei,
acto do poder legislativo, e um regulamento ou decreto do poder
ex
ecutivo, prevalece o dispositivo da lei, ainda que anterior,
Parque somente ella é directa emanação do orgão, a que a Con-
s
fituição conferiu a faculdade de declarar o direito objectivo, de
fixar as normas obrigatórias da actividade humana (Const., ar-
tig0
^8). Ao poder èxecutivo cabe, apenas, a faculdade de expedir
decretos, instrucções e regulamentos para a fiel execução das leis
(Const., art. 74 a).
"• '— O Codigo refere-se á revogação e á derogação. O pri-
meiro destes vocábulos tem uma significação geral, compre-
hendendo os casos, em que a lei nova faz cessar, por completo,
a
offieacia da lei anterior, ou apenas lhe supprime algum dis-
Positiyo. Quando a renovação abrange toda a lei, toma o nome
he ahrogação, e, quando é parcial, se diz derogação. D. 50, 16,
106 CODIGO CIVIL

fr. 102: Derogatur legi aut abrogatur. Derogatur legi, cun pars
detrahitur; abrogatur legi cum prosxis detrahitur (Modestino).
Estabelecendo o Codigo antithese entre revogação e dero-
gação, tornou aquella synonyma de abrogação, isto é, tomou a
palavra na sua significação mais ampla.

Art. 5.° — Ninguém se excusa, allegando


ignorar a lei; nem com o silencio, a obscuridade
ou a indecisão delia se exime o juiz de sentenciar
ou despachar.

Direito anterior — Disposição semelhante (Caklos de Car-


valho, Direito civil, art. 18, quanto á primeira parte, e art. 58,
com apoio, na Ord. 3, 64, na lei de 18 de Agosto de 1769, e no
aviso de 7 de Fevereiro de 1856, quanto á segunda).
Legislação comparada — Ia parte: D. 22, 6, fr. 9; Cod. 1,
18, 1. 12; Codigo Civil d'Austria, art. 2o; portuguez, 9°; mexi-
cano, 22; uruguayo, 2o; argentino, 20; chileno, 8o; do Monte-
negro, 772.
2a parte: D. 22, 6, fr. 13, in médio; Nov. 125; Codigo Civil
francez, art. 4.°; hespanhol, 6.°; uruguayo, 15; argentino, 15.
Projectos — Esboço, art. 457; Nabuco, 2° e 76 do tit. único;
Felicio, 2." e 53; Coelho Rodrigues, 3° e 34 da lei preliminar;
Beviláqua, 3o e 11 da lei de introd.; Revisto, 3o e 11 do tit. pre-
liminar.
Bibliographia — Theoria geral do direito civil, Introd.,
n. 11; Ribas, Curso, ps. 165-180; Espinola, Breves annotações,
I, ps. 24 a 31; Paxjlo de Lacerda, Manual, I, ns. 215 e segs.; Liz
Teixeira, Curso de direito civil, 1848, I, ps. 16 a 24; Planiol,
Traité, I, ns. 196, 203 e 214 a 219; Laurent, Cours, I, ns. 12 a
21 e 39 a 41; Huc, Gomm., I, ns. 177 a 201; Aubry et Rau, Cours,
I, §§ 28 a 38, bis; Teixeira d!Abreu, Curso, § 17; Champeau e
Uribe, Derecho civil, I, ns. 48 e 56 a 59; Costa y Martinez, El
problema de la ignorância dei derecho, Madrid, 1901; Pubini, La
ãottrina dei erVore, 1902 ns. 25-31; Espinola e Espinola Filho,
Tratado cit., II, n. 22.

Observações — 1. — A primeira parte do artigo é uma


traducção do adagio latino nemo jus ignorare consetur. A fór-
INTRODUCÇÃO 107

mula do Codigo Civil brasileiro não importa a affirmação do


conhecimento do direito por todos, o que não corresponderia á
realidade. Quer, apenas, dizer que a lei rite promulgata impõe-se
ú obediência de quantos habitam o território, sem as excepções
do direito romano. Se o direito é uma das condições da existência
da sociedade, e tem na lei a sua expressão commum, é uma ne-
cessidade social tornal-a obrigatória, desde que fôr publicada.
Admittir a excepção da ignorância, seria tornar o edicto legal
vaciliante e frustraneo.
2. — Cumpre, entretanto, observar que; Io, A obrigatorie-
dade da lei presuppõe a sua publicação regular, de modo que,
como se lia no PToyecto Coelho Rodrigues e no Primitivo, "os
uctos praticados e as decisões tomadas contra ella, antes de co-
nhecida, por falta de publicação official, serão validas", porque é
c
om a publicação nos termos do art. 3o, que a lei adquire a sua
for
Ça imperativa. 2°, Se a ignorância do direito não pôde ser
ullegada, porque a lei obriga independentemente da vontade do
indivíduo, a ignorância dos factos, pôde sel-o nas declarações de
v
ontade, por constituir um vicio, que a falseia.
3. — Se a lei é a expressão por excellencia do direito, o
iniz é o orgâo superior de sua applicaçâo, dirimindo as con-
tendas entre os particulares, declarando o direito, homologando
netos jurídicos, interpondo a sua autoridade nas occasiões, em
'ine tal se faz necessário. Órgão vivo do direito, não pôde o juiz
eximir-se de cumprir a sua missão, sob pretexto ou fundamento
que a lei é obscura ou indecisa, porque a vida social se move
So
b a protecção do direito, e não se pôde sustar, á espera de que
0
Poder legislativo, que funcciona periodicamente, e elabora o
direito por via de discussão, esclareça o ponto duvidoso. E' in-
dispensável que o orgão da applicaçâo do direito tenha autori-
dade para affirmar, em relação á especie, em que é chamado a
m ter vir, qual o sentido da lei, e decida segundo a sua intelli-
Sencia. E' uma necessidade social.
4
- — O Codigo fala de indecisão da lei, como se dissera
ambigüidade. Preferiu-se usar de uma expressão menos precisa a
ter-se repetida a desinencia em aãe: obscuridade e ambigüidade.
Se
a lei é clara, o juiz obedece-lhe aos termos, cumpre-a, tal
eomo ella sôa. Se obscura ou duvidosa, recorre aos preceitos da
hermenêutica, afim de encontrar o pensamento racional, que as
Palavras da lei traduziram mal, porém que deve estar contido
nellas.
108 CODIGO CIVIL

Não competia ao Codigo dar as regras de interpretação, a


Que deve obedecer o juiz. A' doutrina é que elle as deve pedir,
e consultará com proveito: a obra classica de P. Baptista, Com-
pêndio de hermenêutica jurídica, modelo de synthese e clareza;
Ribas, Curso, ps. 180-189; Espinola, Systema, I, ps. 125 a 149;
Espinola e Espinola Filho, Tratado cit. III; Paulo de Lacebda,
Manual do Codigo Civil, I, ns. 253 e segs.; Cx\rlos Maximiliano,
Hermenêutica e applicação do direito,' Degni, Ltinterpretazione
delia legge; Savigny, Droit romain, I, §§ 32 a 51; Gény, Mé-
thode dHnterprétatiorn et sources; Donat, Theoria da interpre-
tação das leis, trad., e notas de Correia Telles, no Auxiliar ju-
rídico de Cândido Mendes; Aubry et Rau, Cours, §§ 38 a 41;
Black, Hanãbook, on the constrution and interpretation of the
Latos; Story, Commentarios á Constituição dos Estados Unidos;
trad., e adapt. de Theophilo Ribeiro, II, ps. 149 a 210; Kohler,
Leho buch des b. Rechts, I, §§ 38 a 41; Fritz Berrolzheimer.
Perigos da jurisprudência sentimental, na Sciencias e letras,
Março, 1912; Berriat de Saint Prix, Logique juãiciaire; Alva-
rez, Nouvelle conception des étuães juridiques; e Spencer Vam-
pré, Interpretação do Codigo Civil. Na minha Theoria geral do
direito civil, Introducção, ns. 35 a 41, expuz, sobre esta matéria,
algumas considerações tendentes a esclarecer a funcçâo do in-
terprete.
5- No silencio da lei, o juiz funcciona como revelador do
direito latente, porque todas as relações entre os indivíduos se
enquadiam na ordem jurídica e devem ser disciplinadas por uma
norma de direito. Como, porém, o juiz não ê legislador, a sua
acção obedece a prescripções rigorosas, que a limitam e lhe
marcam o momento preciso, em que se pode manifestar. As con-
dições de sua admissibilidade são: Ia, silencio da lei; 2a, obe-
diência aos preceitos dos arts. 6.° e 7.° da Introducção.
Certamente as leis devem ser previdentes, como requer o
VII aphorismo de Bacon: optima lex quoe minimum relinquit
arbítrio judieis. Mas a infinita variedade dos factos apresentará,
sempre, modalidades imprevistas. E esse elemento novo, quando
apparece em uma relação de direito, deve ser pelo direito regu-
lado, ainda que a lei sobre elle se tenha calado. Quod legibus
omissum est, non omittetur religione juãicantium, sentenciou
Papiniano (D. 22, 5, fr. 13).
Se a decisão do juiz não fôr acertada, como somente se
applica á especie julgada, será uma tentativa falha de revelação
INTRODTJCÇÃO 109

do direito latente; se, porém, corresponder ás exigências da razão


e
sclarecida e das necessidades sociaes, actuará sobre a inteili-
gencia dos outros julgadores, será repetida, firmará jurispru-
dência, e será ponto de partida para a formação do direito
consuetudinario.
A Constituição, de 1891, art. 59, § 2o, mandava que os juizes
federaes consultassem a jurisprudência dos tribunaes locaes,
Quando tivessem de applicar leis dos Estados, e que as justiças
dos Estados consultassem a jurisprudência dos tribunaes federaes,
quando houvessem de interpretar a lei da União. E' o reconheci-
uiento do valor da jurisprudência no desdobramento das regras
legaes. A justiça federal foi extincta, pela Constituição de 1935,
da qual, entretanto subsiste o Supremo Tribunal Federal.

Art. 6.° — A lei, que abre excepção a regras


geraes, ou restringe direitos, só abrange os casos,
cfue especifica.

Direito anterior — Era principio reconhecido, com funda-


mento na doutrina, no direito romano, e, por argumento, nas
0r
ds. 3, 20, § 46; 4, 75, § 2o, 78, paragrapho ultimo, como também,
uo Alv. de 11 de Dezembro de 1756, in fine.
Legislação comparada — D. 1, 3, fr. 14 (quod vero contra
ra
tione7n júris receptum est, non est proãucenãun aã óopsequen-
íia
s); eoãem, fr. 15; Cod. Civil italiano, art. 4o das disp. prelim.;
Portuguez, 11; mexicano, 10.
Projectos — Nabuco, art. 80; Felicio dos Santos, 55; Revisto
12 do tit, preliminar.
Uibiiographia — Paula Baptista, Hermenêutica, § 45; Es-
íunola, Breves annotações, I, ps. 31 a 33; Paulo de Lacerda,
Manual do Coãigo Civil, I, ns. 294 e segs.: Barbosa Luzitano e
Vaxasco, Axiomas, ed. T. de Freitas, 1882, p. 151; Teixeira
d
'Abreu, op. cit., § 18, n. 64; Dias Ferreira, Codigo Civil por-
tuguez, annotado, I, p. 31 (ed. 1870); Domat e Correia Telles,
Theoria da interpretação das leis, XV, ns. 68 a 72.

Observações — 1. — E' uma regra de interpretação esta


que
aqui o Codigo estabelece. Annotando o Codigo Civil por-
110 CODIGO CIVIL

tuguez, de onde foi extrahido o presente artigo, pondera Dias


Ferreira que este principio é "verdadeiro, mas proprio de um
livio elementar, destinado ao ensino do direito, inteiramente
excusado no livro das leis". A critica é procedente; mas, em
justificação do Codigo, pode allegar-se que, nesta parte intro-
ductoria, se estão estabelecendo preceitos geraes sobre a efficacia
da lei e a sua applicaçâo, não sendo, portanto, estranhavel que abi
appareçam certos preceitos de interpretação, dirigidos, parti-
cularmente, aos juizes.
2. Como o conjuncto das leis de um paiz deve formar
um todo harmônico, completando-se umas pelas outras, e sup-
primindo-se as suas omissões por meio da lógica jurídica, era
conveniente premunir o juiz contra a tendência a ampliar a
compi ehensão da lei, nos casos em que essa ampliação é inadmis-
sível, por se tratar de dispositivos fundados em motivos especiaes.
O artigo 6.° da Introducção traduz o adagio latino — exceptio
strictissimi júris.
3
- — O Projecto primitivo, acompanhando o do Dr. Coeiiio
Rodrigues, não consignava esta regra. Collocando-se em outro
ponto de vista, estatuía: "Nos casos duvidosos, devem ser inter-
pretadas, extensivamente, as leis, que conferem ou reconhecem
direitos civis do indivíduo, e, restrictamente, as que conferem
ou definem attribuições de qualquer agente ou representante dos
poderes públicos constituídos". A segunda parte desse artigo,
é uma expressão do direito moderno, dos povos organizados con-
stitucionalmente, segundo o qual toda autoridade procede da lei.
A sociedade necessita de se premunir contra o arbítrio do poder
e lhe traça os limites, que não podem ser transpostos por inter-
pretações tendenciosas da lei. A primeira parte do artigo tem
por fundamento o principio já proclamado pelas Institutas de
Justiniano (1, 3, § Io): libertas est naturalis facultas ejus quoã
cuique facere libet, nisi si quid vi aut jure proliihetur.
Ainda que rejeitado o dispositivo por julgal-o a Commissão
revisora "inútil e arriscado" {Actas, pag. 9), não deixa de ser
verdadeiro. Na duvida, entende-se que a lei permitte ao indi-
víduo dar á sua actividade a direcção, que escolher; as auto-
ridades, porém, não se devem arrogar poderes, que a lei não
lhes conferiu, explicita ou implicitamente.

Art. 7.° — Applicam-se, nos casos omissos,


as disposições concernentes aos casos analogos,
INTRODUCÇÃO 111

e, não as havendo, os princípios geraes de di-


reito .

Direito anterior — Conforme (Carlos de Carvalho, Direito


civil, art. 62, §§ 8o a 12; Orã., 3, 25, § 5o; 3, 60, pr.; 3, 81, 2, in
fine; Ass. de 10 de Março de 1640 e de 23 de Março de 1786; lei
de 15 de Dezembro de ITTl).
Legislação comparada — Com algumas variantes; D. 1, 3,
frs. 12 e 13; 19, 5, fr. 11; Supplet prcetor in eo quoã legi ãeest;
22, 5, fr. 13; Codigo Civil austríaco, art. 7o; chileno, 22 e 24;
argentino, 16; mexicano, 20; uruguayo, 16; portuguez, 16; mon-
tenegrino, 781 e 782; suisso, 1.°; italiano, 3.°, 2.a parte das disp.
prelim.; venezuelano, 4.°; lei colombiana numero 153, de 1887,
art. 8.°.
Projectos — Nabuóg, art. 82; Felicio dos Santos, 53, 2a parte;
Coelho Rodrigues, 38 da lei prelim.; Beviláqua, 13 da lei de
iatrod.; Revisto, 13 do tit. preliminar.
Bibliographia — Minha Theoria geral do direito civil,
lutrod., ns. 30-34; Estudos juridicos, cap. V; Ribas, Curso,
Ps. 180-189; P. Baptista, Hermenêutica, §§ 41 a 43; Ed. Espi-
n
ola, Systema, I, ps. 114 a 117 e 142 a 150; Breves annotações,
Ps. 33 e segs.; Paulo de Lacerda, Manual do Codigo Civil, I,
hs. 298 e segs.; Vieira Ferreira, Ementas e emendas ao Projecto
de Codigo Civil, p. 152; Descartes de Magalhães, Em torno
do direito; Liz Teixeira, Direito civil, I, ps. 32 a 38; Dias Fer-
aaiRA^ Cod, Civil pO'rtuguez, I, ps. 36 a 38; T. d'Abreu, Curso, I,
§ 19, ns. 66 a 68; Alves Moreira, Instituições, I, ns. 20-22;
Planiol, Traité, I, ns. 202-203; Lambert, Droit civil comparé,
p
- 187; Gény, Méthode frinterp. et sources, ns. 155 a 176; e nos
Méthodes juridiques: Les procédés d^lahoration du droit civil;
Phtroei, Istituzioni, I, §§ 9o e 11; Windscheid, Pand., I, §§ 21
e
23, e nota t de Fadda e Bensa; Dernburg, Pand., trad., F. B.
Cicala, I, § 38; Kohler, Lehrõuch ães 1). R., I, §§ 25 e 42, Co-
gliolo, Filosofia dei diritto, § 14; Rossel et Mentha, Dfáit civil
s
uisse, I, ps. 62 a 66; Campbell Black, Construction and inter-
Wétation, §§ 24 a 32; Fritz Bbrolzheimer, Perigos da jurispru-
dência sentimental, na Sciencias e letras, Março, 1912; Dehogue;
Notions fondamentales du droit, Paris 1911; Alej. Alvarez,
Nmvelle conception des étuães juridiques, ps. 101 a 103; Gior-
010 d
el Vecchio, Sui principi generali dei diritto, Bologna 1921,
Iraducção brasileira, separata da Revista de Critica judiciaria,
112 CODIGO CIVIL

Rio de Janeiro, 1937; José Maria Bello, A woçóo philosophica


e social ão direito.

Observações — 1. — O systema do Codigo é o seguinte:


a lei é a forma por excellencia do direito; num segundo plano
e subsidiariamente, acha-se o costume; o dominio da lei illu-
mina-se e dilata-se pela interpretação; se o trabalho mental do
interprete não consegue arrancar da letra nem do espirito da lei
a norma jurídica applicavel ao caso, que tem deante de si, recorre
ao processo da analogia; e quando este se mostra inadequado
abre-se-lhe um espaço mais vasto, onde exercerá a sua livre
investigação, á procura dos princípios geraes ão direito. E' uma
marcha ascensional, na qual a intelligencia vae, gradualmente,
alargando o campo de suas operações. Para tornar claro esse
processo de revelação do direito, por quem haja de applical-o,
convém conhecer o que se entende por analogia e por princípios
geraes do direito.
2. — Analogia é a operação lógica, em virtude da qual o
interprete estende o dispositivo da lei a casos por ella não pre-
vistos. Distingue-se a analogia legal da jurídica. A primeira
funda-se na identidade da razão ou na semelhança dos motivos
da lei: UM eaãem est legis ratio eadem ãebet esse legis dis-
positio. A segunda intenta preencher as lacunas, não mais da
lei, porém sim, do direito positivo em sua integridade, do con-
juncto das leis. Não ha lei reguladora do caso, mas ha dispo-
sições reguladoras de casos semelhantes. O senso jurídico percebe
a analogia entre elles existentes e revela o direito latente.
Se, na interpretação propriamente dita, o juiz applica e
desenvolve qualidades de argúcia, perspicácia e reflexão, com a
analogia, remota mais alto, aprecia a lei ou o systema jurídico,
em seus fundamentos racionaes, na sua energia funccional, na
sua teleologia, e dessa vista de conjuncto extráe o principio ju-
rídico applicavel.
3. — Mais alto remonta ainda, quando a investigação tem
por objecto os princípios geraes ão direito. Não se trata como
pretendem alguns, dos princípios geraes do direito nacional, mas,
sim, dos elementos fundamentaes da cultura jurídica humana em
nossos dias; das idéas e princípios, sobre os quaes assenta a
concepção jurídica dominante; das inducções e generalizações da
sciencia do direito e dos preceitos da technica.
INTRODUCÇÃO 113
Esses piincipios, objectam, são vagos, indeterminados. Mas
ao é tanto assim. Certamente temos de penetrar fundo na phi-
osophia do direito, na historia da civilização, e ter o espirito
apparelhado por uma educação jurídica bem cuidada, para empre-
Pdermos a investigação dos princípios geraes do direito. Mas
esse mesmo preparo mental indica a rota a seguir, e habilita o
dsta a reconhecer a natureza positiva das coisas, elemento
Jectivo, impreciso, mas fecundo da investigação jurídica, se-
gundo Gény, fonte subsidiaria do direito, que tem por funda-
mento o postulado seguinte: "os elementos de facto de toda orga-
^ zaçdo juiidica trazem em si as condições de seu equilíbrio
"•» Poi assim dizer, descobrem, espontaneamente a norma que
es deve reger".
As noções de liberdade, de justiça, de equidade, a moral, a
sociologia e a legislação comparada concorrem para desprender
do conjuncto das idéas, que formam a base da civilização ho-
dierna, os princípios geraes e as permanências do direito.
4. O Codigo Civil suisso, art. Io, determina que, não ha-
vendo disposição applicavel nem costume, decida o juiz como se
fosse legislador, inspirando-se, todavia, nas soluções consagradas
Pola doutrina e pela jurisprudência.
O dispositivo do Codigo Civil brasileiro não se refere á tra-
dição nem á doutrina, como o helvetico; porém uma e outra
Se
entendem nos princípios geraes do direito, expressão mais
ar
upla e mais feliz do que a fórmula usada pelo codificador
s
uisso, que não allude á analogia, e põe em relevo uma facul-
dade suppletiva de legislai", que abre entrada franca ao arbítrio,
luando é para a sciencia do direito e para as idéas fundamentaes
da civilização que deve o juiz volver o espirito, no momento em
Uue a sociedade lhe confia a funcção, sobre todas augusta, de
Preencher as lacunas da lei, de supprir as deficiências do le-
gislador, depois de esgotados os processos logicos, tendentes a
dar mais elasticidade aos dispositivos do direito escripto.
Aliás o Codigo Civil suisso reproduz um pensamento, que
Já era de Aristóteles, em sua Moral, liv. V. cap. X, § 5o, e o
ibustre Gény adoptou. Também o Codigo Civil brasileiro teve
Por fonte directa o italiano, e, na Italia, as palavras — prin-
c
ipios geraes do direito, foram interpretadas, differentemente,
Pulos autores. Hoje, porém, com a comprehensâo mais scientifica
e
' ao mesmo tempo, mais liberal da ordem jurídica, a noção dos
Princípios geraes do direito (hoje abandonados pelo Codigo Civil
Codigo Civil — Io. vol. 8
114 CODIGO CIVIX.
italiano) se tornou mais certa e mais segura, como, também, se
comprehendeu que a divisão organica dos poderes constitucionaes
se nao oppunha a que, em casos taes, funccionasse o juiz como
revelador do direito latente.

_ Art. 8.° — A lei nacional da pessoa deter-


mina a capacidade civil, os direitos de família,
as relações pessoaes dos cônjuges, e o regimen
dos bens no casamento, sendo licito, quanto a
este, a opção pela lei brasileira.

Direito anterior — O mesmo principio (reg. 737, de 25 de


ov. de 1850, art. 3», § 1°; reg. de 15 de Junho de 1859, art. 33-
dec^ de 24 de Jau. de 1890, art. 45; dec. de 5 de Novembro dê
1898, parte IV, art. 9o, I).
Legislação comparada - Codlgo ClTll portuguez, arte. 24 e
rancez, a , al. 3. italiano, 6o, das disposições preliminares;
neeriandez, 6"; direito russo, ant. (optid Lehe. Droit civil russe.
I. ps. 6 e segs.); Codigo Civil suisso, tit. final, art. 61, de modo
parcial; hespanhol, 9- e 15; lei ailemã de introd. ao Codigo
Civil, arts. 7.», 14 a 22; Codigo Civil mexicano, 12- vene-
zuelano, 9»; lei sueca de 28 de Junho de 1904 léa
êtrangére, 1904, p. 331).
Adoptam a lei do domicilio as seguintes legislações- norte-
amenoana, canadense, argentina, paraguaya e dinamargueza.
O Codigo Civil chileno, arts. 14 e 15, o colombiano, arts. 18 e
19 e o uruguayo, 3- c 4-, adaptaram nm systema de territoriali-
dade combinada com a personalidade.
Projectos - Maço, art. 26 (domicilio); Nabuco, tit. único
art. 35; Felicio dos Santos, 18 e 19; Coelho Rodrigues, 13 da lei
prelim.; Beviláqua, 22 da lei de introd.; Revisto, 20 (nacionali-
dade) .
Bibhographia — Meu Direito internacional privado §§ 25
a 27 e 40-45 Lafayette, Proj. de Co4. de direito int. privado
arts 8° e 17; Rodrigo Octavio, Direito d\o estrangeiro no Brasil,
ps. 89 a 209; O direito positivo e a sociedade internacional, todo o
vol., e. em particular, ns. 63 e segs.; Le droit international privé,
dans la législation brésilienne, lições, I, 11, V e VI- João Cabral'
o direito internacional e a nossa contribuição para o seu desen-
INTRODUCÇÃO 115
^olvimento, na Sciencias e letras, anno IV, ns. 11 e 12; Fiobx,
Üroit int. privé, I, ns. 64-99; Grasso, Droit int., § 85; Latjrent,
Droit civil int., I; Weiss, Traité théorique et pratique, III, ps. 149
e
segs.; Manuel, ps. 357 e segs. da ed. de 1899; Despagnhtt, Précis
de droit int. privé, n. 230; Surville et Arthüys, Droit. int. privé,
ns. 142 a 144; Asser et Rivieb, E'lém, do droit int. privé, § 22;
Pillet, Príncipes, §§ 142 a 181; Vareilles-Sommières, Synthese
du droit int. privé, II, ns. 771 a 920; Ricci, Gors!o, I, ns. 106 a
116, Aubry et Rau, Cours, I, § 31, 2o; Code Civil allemand, pu-
büé par le Comitê de lég. étrangére, IV, aos arts. 7o, 14 a 22 da
lei (le
introducção; Bar, Lehrduch ães int, Priv. unã Straf-
rechts §§ 10 a 14; Keidel, in Clunet, 1898, ps. 883 e segs.;
Pimenta Bueno, Direito internacional privado, ns. 19 a 37; Uribe
6
Champeal. Derecho civil colombiano, I, n. 87; Kohler, Lehr-
ÍUch ães b
- Rechts, §§ 14 e 15; Machado Villhla. O direito in-
tcrnactiónal privado no Coãigo Civil brasileiro, ns. 16 e segs.;
Todos esses autores seguem o principio da nacionalidade.
Preferem o principio domiciliar: Savigny, Droit romain, VIII,
§§ 350 a 362; Wxndscheid, Pand., I, 34; Endemann, Lehrbuch
in d. 8. des B. G. B.), I, § 17; Derneurg, Pand., I, § 45;
Wharton, Private int. law, § 8o; Teixeira de Freitas, Esboço,
ar
ts. 26 a 29, e notas; Carlos de Carvalho, Direito civil, Intro-
^ncção, ps. XLV a LXXXVII; João Monte.tr i Onid-ade do direito,
P®- 159 a 174; E. S. Zeballos, Justiça internacional positiva,
adrid, s. d.; Bulletin Argentin, de droit int. privé fase. I, VI e
II. Calandrelli, Cuestiones de derecho internacional privado,
' Ps- 7 a 52; Romero del Prado, El derecho Internacional pri-
vado en el Caã. Civ. argentino, Cordoba, 1935, cap. V.

Gbsei vações 1. — o direito internacional privado deve


^nside? ai -se o conjuncto dos preceitos reguladores das relações
o? dem privada da sociedade inten~nacional. Zeballos deno-
frnna-o direito jyrivado humano {Justiça internacional posi-
tlv
<i, p. 10).
Não se deve confundir a sociedade internacional, a que se
^ nde nesta definição, com a sociedade dos Estados, cuja regu-
mentação é objecto do direito publico internacional. O aggre-
£ado social, de que aqui se trata, compõe-se de indivíduos e não
nações. E as duas disciplinas têm por objecto relações juri-
lc
as essencialmente differentes. No direito internacional privado.
116 CODIGO CIVIL

o sujeito das relações jurídicas é o indivíduo, e o interesse, sobre


que elias se formam, é partilhar. No direito publico interna-
cional, são os Estados, que, promovendo interesses collectivos, se
constituem sujeitos das relações jurídicas internacionaes.
Não se deve, também, tratar o direito internacional privado,
como um departamento de direito interno, porque a sua funcção
sociológica é harmonizar a concentração nacional e a expansão
individual, criando uma fôrma elevada de direito humano, que
proteja o interesse do particular, qualquer que seja a sua na-
cionalidade, e onde quer que elle se ache, sem tentar desarraigal-o
de sua patria.
Assim no direito internacional privado, se alliam duas po-
derosas tendências, o individualismo e o humanismo, que se
devem ter sempre em vista, na solução dos problemas, que elle
é chamado a resolver.
2. — Como a sociedade internacional não possue um poder
legislativo e um poder judiciário seu, são as leis internas, que
lhe servem de regulador das acções individuaes desenvolvidas
em seu regaço, e os juizes nacionaes, que lhe resolvem os con-
flictos jurídicos.
O direito internacional privado não tem, propriamente, leis
suas, como qualquer outro ramo da jurisprudência, o direito civil,
o commercial ou o publico internacional, que, nos tratados nor-
mativos, tem verdadeiras prescripções legaes, a que os Estados
se submettem. O direito internacional privado não diz, por
exemplo, que taes actos jurídicos se hão de celebrar segundo
esta ou aquella fôrma; contenta-se com declarar que a fôrma do
acto se regula segundo a lei do logar da celebração ou segundo
a lei das partes contractantes. Não estabelece regras para celebra-
ção do casamento e o divorcio; mas reconhece a validade do casa-
mento celebrado segundo os preceitos do direito nacional, e a
efficacia do divorcio pronunciado segundo a lei dos cônjuges, e
sem offensa da ordem publica do paiz, onde os mesmos se achem.
Não obstante, applicando-se ás relações privadas da socie-
dade internacional, as leis internas se apresentam sob uma outra
feição, que não é a originaria. Internacionalizando-se, humani-
zam-se. Desprendem-se do âmbito nacional e adquirem efficacia
em todo o mundo civilizado. Dilatam-se e espiritualizam-se, para
se poderem harmonizar com outras leis divergentes. Um Es-
tado, que secularizou o seu direito matrimonial, reconhece a
efficacia do casamento religioso, celebrando onde não ha outra
INTRODtT CÇÃO 117

fôrma de legalizar a união conjugai. Um acto concluido na


França cria obrigações, que se podem exigir no Brasil ou nos
Estados Unidos da America.
Esta applicação internacional do direito interno, esta huma-
nização do direito nacional transfigura-o, fazendo-o funccionar
como um complexo de leis da sociedade internacional.
Da mesma fôrma, o juiz nacional, applicando a lei do seu
Paiz ou a lei de um paiz estrangeiro a uma relação de direito
privado de ordem internacional, funcciona como orgão de um
poder judiciário, que não é o de uma determinada nação, porém
ôa sociedade internacional.
3. — Comprehendido, assim, o direito internacional, resol-
vem-se, muito facilmente, as controvérsia? a respeito das leis
lue devem ser applicadas aos casos occorrentes. As relações de
direito, que são emanações directas da personalidade, assim
como essa mesma personalidade e todo o direito das pessoas,
devem ser regidas pelo direito nacional do indivíduo, porque
foi esse direito, que presidiu ao seu apparecimento na vida
iuridica, e lhes imprimiu o caracter, com que se apresentam.
Devem ainda ser regidas por esse direito, porque as leis refe-
r
cntes á capacidade e ás relações jurídicas do homem na quali-
dade de membro de uma família, são leis pessoaes ou indi-
viduaes, isto é, tendo por objecto o indivíduo, a pessoa; e, como
0
direito internacional privado foi instituido para assegurar
a
os indivíduos as suas expansões jurídicas fóra do paiz, é na-
tural que as leis pessoaes recebam delle um accrescimo de effi-
cacia, se dilatem ao exterior, e acampanhem o indivíduo, por
onde elle se dirija: sejam extra-territoriaes.
Ao contrario, as leis, que se referem á coexistência social,
a
organização da vida em commum, ao território nacional, á
ordem publica, sendo leis sociaes, restringem-se ao paiz, onde
foram promulgadas, não se dilatam, são territoriaes.
Andou, pois, acertadamente o Codigo Civil declarando que
a
lei nacional da pessoa é a reguladora de sua capacidade.
4. — E' excusado entrar, aqui, em analyse mais detida sobre
es
te assumpto, que já foi sufficientemente estudado em meu
Direito internacional privado, §§ 25 a 27. O que é conveniente
ó mostrar, concretamente, as relações jurídicas regidas pela lei
na
cional. Refere-se o Codigo á capacidade civil. Mas esta pôde
Se
r a capacidade especial, modo particular de existir das pessoas,
no
ostado de família.
118 CODIGO CIVIL

Considerando a primeira fôrma de capacidade, temos as


distincções seguintes, referentes ás pessoas:
a) Os viaiores, que são, em regra, plenamente capazes;
&) Os menores, que podem ser, relativa ou absolutamente,
incapazes;
c) Os loucos de todo o genero, os surãos-muãos de nas-
cença, que se não podem fazer entender;
ã) Os ausentes;
e) Os proãigos;
í) Os selvicolas.
Considerando a capacidade nas relações de familia, encon-
tram-se os capazes ou incapazes de contrahir matrimônio valido,
e as limitações do direito de livre disposição dos bens, que
soffrem os cônjuges, e, em particular, a mulher casada. No di-
reito hereditário, ha, também, a incapacidade para succeder e
para dispor dos bens por acto de ultima vontade.
E' a lei nacional do indivíduo que, em todas essas situações,
determina a sua capacidade.
5. — Devendo a lei nacional reger a capacidade das pessoas,
occorre, desde logo, a necessidade de saber quem se deve con-
siderar nacional.
A nacionalidade pôde ser originaria ou adquirida. A pri-
meira resulta do nascimento e a segunda da naturalização. Ainda
que algumas legislações incluíam esta matéria entre as do direito
civil, ella é, por sua natureza, essencialmente constitucional.
A Constituição brasileira, de 1937, considera cidadãos bra-
sileiros:
a) Os nascidos no Brasil, ainda que de pae estrangeiro, não
residindo este a serviço do governo do seu paiz;
?>) Os filhos de brasileiro ou brasileira, nascidos em paiz
estrangeiro, estando os pães ao serviço do Brasil e, fora deste
caso, se attingida a maioridade, optarem pela nacionalidade
brasileira;
c) Os que adquireram a nacionalidade brasileira, nos ter-
mos do art. 69, ns. 4 e 5, da Constituição de 24 de Fevereiro
de 1891;
d) Os estrangeiros por outro modo naturalizados.
O decreto n. 389, de 25 de Abril de 1938, accrescentou: Os
nascidos em aeronaves brasileiras e em navios de guerra ou mer-
cantes em alto mar, ou de passagem em mar territorial estran-
INTRODTJOQÃO 119

geiro. A naturalização está, hoje, regulada pelo decreto n. 389,


acima citado.
6. — Competindo á lei de cada paiz declarar que pessoas se
devem considerar nacionaes, e, seguindo essas leis systemas di-
versos, preponderando na Europa o systema do jus sanguinis,
e, na America latina, o do jus soli, com as attenuações aconse-
lhadas por considerações de ordem social, não raro surgem
conflictos de nacionalidade. O filho de francez, por exemplo, nas-
cido no Brasil, é considerado brasileiro pela nossa Constituição;
nias a lei franceza considera-o francez (Cod. Civil, art. 8o). Não
ha meio de solver esse conflicto. Assim em todos os actos da
vida civil, realizados no Brasil, esse individuo será dominado pela
lei brasileira, mas estará sujeito á lei franceza, quando se achar
na França, porque a soberania de cada um dos Estados não se
pode impôr ao outro.
7. — Grande numero de leis, como: o Codigo Civil francez,
ar
t. 12, modificado pela lei de 26 de Junho de 1889; italiano,
art. 14; o portuguez, art. 22; o hespanhol, art. 22; lei ingleza de
2 de Maio de 1870; o direito americano do Norte (Whabton,
Private International law, 2a ed.; § 11; Cltjnet, 1910, ps. 498-503);
e
a doutrina corrente na Europa, fixada pelo Instituto de Direito
Internacional, na sessão de Oxford, em 1880, declaram que a
mulher adquire, pelo casamento, a nacionalidade do marido, como
Persistência do velho direito corporizado na manus romana e
no mundium germânico.
As legislações latino-americanas, em geral, não consideram
0
casamento modo de adquirir ou perder a nacionalidade. Apenas
0 México, Haiti, Guatemala, Costa Rica e Peru adoptaram o sys-
tema europeu (Alvarez, Le ãroit internatimal américain, 313;
Rodrigo Octavio, Le Droit internacional privé, n. 12). O Codigo
Civil da Venezuela, arts. 21 e 22, também adopta o principio
europeu, como já o adoptara o Codigo anterior (arts. 18 e 19).
Sobre a matéria da nacionalidade, consulte-se a obra fun-
damental de E. S. Zeballos, La nationalité, em cinco volumes, e,
e
m particular, sobre a desnacionalização da mulher, o vol. III,
PS- 433 e segs.
No Brasil, esta questão recebera, com a lei n. 1.096, de 10 de
Setembro de 1860, uma solução contraria ao principio constitu-
cional, ainda que usasse o legislador de uma linguagem dis-
farçada. Não affirmava que a brasileira casada com estrangeiro
e
a estrangeira casada com brasileiro perdessem a sua naciona-
120 CODIGO CIVIL

lidade; determinava que seguiriam a condição do marido. Não


obstante essa attenuante ou esse subterfúgio, a lei de 1860 foi
muito combatida no império, por inconstitucional. Com o novo
regimen, as duvidas desappareceram, inteiramente, deante dos
termos inequívocos da Constituição de 1891, art. 69. Não so-
mente a brasileira casada com estrangeiro conservava a sua na-
cionalidade, como exercia influencia para facilitar, ao seu marido,
a acquisição da qualidade de brasileiro (art. 69, 5o). Reciproca-
mente a estrangeira casada com brasileiro mantinha a sua con-
dição de estrangeira. A Constituição actual, de 1937, não con-
sidera o casamento modo de adquirir ou perder a nacionalidade.
Este assumpto foi muito debatido no Congresso junta-
mente com a situação jurídica dos filhos.
No Projecto da Gamara, por suggestão do Conselheiro An-
dkadb Figueira (Ttrahalhos da Gamara, IV, ps. 27 e 32), havia
um dispositivo, o paragrapho único do art. 8o do titulo preli-
minar assim concebido: "Os filhos durante a menoridade e a
mulher casada, emquanto durar a sociedade conjugai, seguirão
a lei nacional do pae e do marido".
Era a restauração da lei de 1860 sob uma forma, incon-
testavslmente, menos acceitavel. Por isso mesmo, encontrou sérias
objecções. Cumpre, entretanto, observar que Andrade Figueira
resalvava a nacionalidade. A sua fórmula era a seguinte: "A lei
nacional da pessoa rege o seu estado e capacidade civil; e bem
assim o estado civil da mulher casada e dos filhos, sem pre-
juízo de sua nacionalidade, emquanto perdurar o poder marital e
o pátrio." Não merecia acceitação essa forma, porque, reunindo,
num mesmo dispositivo, idéas que deviam destacar-se, seria fonte
de duvidas... (Vêr nos Trabalhos da Gamara, IV, ps. 45-46, e VII,
ps. 257-258, os argumentos que contra ella invoquei). Mas, incon-
testavelmente, lhe é inferior a fórmula adoptada no Projecto da
Gamara.
No Senado, o Sr. Cunha Pedrosa apresentou uma emenda
modificativa, exceptuando da regra do paragrapho a mulher
brasileira e os menores, filhos de estrangeiros, nascidos no Brasil
{Diário do Congresso, de 20 de Setembro de 1912). Embora a
Commissâo especial aconselhasse a rejeição dessa emenda tPa-
recer de 1 de Dezembro de 1912, p. 38), teve ella o effeito de, no
plenário, determinar a suppressão do dispositivo criticado.
Volvendo o Projecto ã Gamara, sem o paragrapho único
do art. 8.° da Introducção, reabriu-se o debate. Apezar do voto
INTRODUCÇÃO 121

favorável do deputado Celso Bayma, a Commissão especial re-


solveu rejeitar a emenda do Senado {Parecer, ps. 5-6). Esse
modo de ver encontrou forte opposição na Gamara, porém a
maioria, afinal, o adoptou.
O Senado, por sua vez, manteve a sua emenda, com a qual,
no ultimo turno, se conformou a Gamara.
9. — A emenda suppressiva do Senado merecia ser adoptada,
realmente, porque a proposta da Gamara era, abertamente, in-
constitucional.
Os filhos de estrangeiros, nascidos no Brasil, não se achando
os paes a serviço de sua nação, por força do preceito constitu-
cional, expresso no art. 69, § 1.°, eram, como são brasileiros. Não
podia o Codigo Civil dizer que essas pessôas seguiriam, durante
a menoridade, a lei nacional do pae.
Seguir a lei nacional importa achar-se a ella submettido,
sob todos os respeitos, na qualidade de cidadão e na de individuo.
Prevalecesse o dispositivo do art. 8o, paragrapho único, e os
filhos de estrangeiros no Brasil, seguindo a lei nacional de seus
paes, seriam estrangeiros. Mas a essa determinação oppunha-se a
Constituição, de modo formal. Prevalecesse tal dispositivo, a
curatela, e a interdicção dessas pessôas seriam reguladas pela
lei estrangeira. A mesma lei estrangeira regeria a sua successão
causa mortis. E um brasileiro deve estar, no Brasil, submettido
a outra lei que não seja á do seu paiz?
10. — Ponderações semelhantes caberia fazer, em relação
á brasileira casada com estrangeiro, que, em face da nossa Con-
stituição, não perde a sua nacionalidade, e, portanto, não pode
seguir outra lei, que não seja a brasileira. Mantinha-se com ta-
manho vigor a nacionalidade da brasileira, que exercia influencia
notável sobre a nacionalidade de seu marido estrangeiro. O ar-
tigo 69, n. 5, da Constituição de 1891, dizia que os estrangeiros
casados com brasileiras, ou que tivessem filhos brasileiros, se-
riam considerados brasileiros, se possuindo immoveis no Brasil,
aqui residissem, salvo manifestação da vontade de não mudar
de nacionalidade.
11. — Tal como ficou, o art. 8o submette á lei nacional da
Pessoa, além da determinação da capacidade; Io, os direitos de
familia; 2o, as relações pessoaes dos cônjuges; 3.°, o regimen dos
bens, no casamento.
Em verdade, o primeiro numero abrangeria os dois últimos.
Porém, como, em relação ao terceiro, havia controvérsias, enten-
122 COMGO CIVIL

dendo alguns que as relações econômicas da sociedade conjugai


deviam ser reguladas, na falta de pactos antenupciaes, pela von-
tade presumida dos cônjuges, o Codigo solveu a duvida, prefe-
rindo a lei nacional.
12. Direitos ãa faviilia: a) celebração do casamento. A
família funda-se no casamento. No casamento, ha que distinguir
a sua celebração e a capacidade nupcial. Esta é determinada pela
lei nacional dos nubentes. A celebração do casamento é um caso
particular da forma dos actos, e, consequentemente, regulada pela
lei do logar, onde se realiza (Arts. 11 e 12 da Intrioúncção, e
204 do Codigo).
Os brasileiros podem casar-se, no estrangeiro, quer segundo
a forma do paiz da celebração, quer perante o agente consular do
Brasil. O dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1889, art. 47, dava
também essa attribuição de casar os brasileiros fora do Brasil
aos respectivos agentes diplomáticos. Mas o Codigo não repro-
duziu essa determinação, e fel-o, intencionalmente, para attender
a emenda do Conselheiro Correia. Rejeitada numa primeira vo-
tação {Trabalhos ãa Gamara, VI, ps. 68, 100 e 212, e Vil, p. 36),
essa emenda foi acceita na redacção final {Trabalhos cit. VII,
p. 280, e VIII, p4 77). Deve concluir-se do exposto que desappa-
leceu a competência dada aos agentes diplomáticos brasileiros
para presidirem ao casamento dos brasileiros nos respectivos dis-
trictos.
Nenhuma vantagem nos trouxe esta modificação do direito
anterior.
O dec. n. 14.057, de 11 de Fevereiro de 1920, dando novo
regulamento ao corpo diplomático brasileiro, não se referiu a
essa attribuição. Também o dec. n. 14.058, da mesma data, refor-
mando o regulamento do corpo consular, dá as attribuições de
officiaes do registro civil e de notarios, aos cônsules, mas não
se refere á celebração dos casamentos (art. 18, n. 25). Subsiste,
entretanto, o disposto no Codigo Civil, art. 204, paragrapho
único.
O Brasil reconhece a validade dos casamentos dos estran-
geiios, celebrados no paiz, perante agente consular ou diplo-
mático de sua nação (meu Direito internacional privado, § 4o,
II). E preciso, porém, que nenhum dos nubentes seja brasileiro.
Na convenção de Haya, de 12 de Junho de 1902, para regular
os conflictos de leis em matéria de casamento, art. 6o, ficou,
também, estabelecido: — "Será reconhecido, como valido, quanto
IlfTBODXJCÇÃO 123
á fôrma, o casamento celebrado perante um agente consular
ou diplomático, de accôrdo com a sua legislação, se alguma das
Partes contractantes não pertencer ao Estado, em que o casa-
uiento fôr celebrado e, se este não se oppuzer" (Clunet, 1904, pa-
gina 735).
13. — b) Divorcio. O Codigo deixou de resolver algumas
Questões relativas ao divorcio. Ha somente o principio geral de
Que a capacidade para dissolver o vinculo matrimonial é esta-
belecida pelo estatuto pessoal.
Acceito este principio, o Codigo devera tirar uma conse-
Quencia, que a doutrina (meus Estudos de direito e economia
Politica, ps. 245 e segs.; Direito internacional privado, § 45, III;
Rodrigo Octavio, Droit internacional privé, n. 65) e a juris-
prudência já haviam tirado, e fôra articulada pelo Projecto
Primitivo; a lei brasileira reconhece a dissolução do vinculo
rnatrimonial resultante do divorcio, legalmente, pronunciado no
estrangeiro, entre cônjuges estrangeiros.
Dir-se-á que a questão já está resolvida; mas a solução da
le
i é sempre mais decisiva do que a da doutrina.
14. —. Outras duvidas se levantam neste domínio.
Os juizes estrangeiros não podem, regularmente, pronunciar
0
divox-eio entre cônjuges brasileiros, pois que a lei nacional
tRlles a isso se oppõe. Mas se somente um dos cônjuges fôr
brasileiro? Rodrigo Octavio responde que, se o cônjuge bra-
Bl
leivo fôr o marido, o casamento não poderá ser dissolvido,
Porque é a lei pessoal do marido, que rege as relações communs
e
htre os cônjuges, e a lei brasileira não permitte o divorcio. Se
0
oonjuge brasileiro fôr a mulher, submettida a matéria á lei
Possoal do marido, e facultando ella o divorcio, poderá este ser
^ocretado {Op. cit., n. 61).
R' a verdadeira solução, que, aliás, não tem sido suffragada
Polos tribunaes francezes, com a constância desejável.
Cl
E bem de vêr, entretanto, que a brasileira assim divor-
ada, não poderá mais convolar a outras nupcias, emquanto
Vl
ver o seu marido, porque a sua lei nacional lh'o veda. Neste
Se
ntido, pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal, em accórdão
4 de Novembro de 1916. {Revista de Direito, vol. XLYII, pa-
gill
as 528 a 552.)
15. -— Decretado o divorcio de um brasileiro domiciliado
Paiz, CUja consagra o divorcio, e regula a capacidade
domicilio, esse decreto judicial não poderá ter effeitos no
124 CODIGO CIVIL
Brasil, porque: a) o brasileiro permanece, ainda, no estran-
geiro, sob a acção da sua lei nacional, no que diz respeito á sua
capacidade e ao direito da família; b) e este julgado, em relação
ao brasileiro, posta de lado a competência do juiz, que o pro-
nunciou, foi obtido em fraude á lei brasileira.
Egualmente inefficaz, no Brasil, é a sentença de tribunal
estrangeiro, que converta em divorcio o desquite de brasileiros,
pronunciado por juiz brasileiro. Tal sentença, modificativa de
outra sentença proferida, pelo juiz nacional competente, seria
offensiva de nossa soberania.
16. — Nada, porém, impede que o brasileiro casado, natu-
ralizando-se em outro paiz, obtenha, segundo a lei da sua nova
patna, a dissolução do liame conjugai, contrahido sob o império
da lei brasileira. Neste caso, a lei nacional do indivíduo já não
é mais a nossa.
17. — Ainda que a lei nacional da pessoa regule os seus
direitos de família, os estrangeiros não podem invocal-a, para
obter do juiz brasileiro a dissolução do seu matrimônio. Ha
em contrario, opiniões muito respeitáveis; porém, no meu en-
tender, os juizes não podem applicar uma lei estrangeira, que
contraria, abertamente, princípios fundamentaes da organização
social do paiz (Meu Direito internacional privado, § 40, IV).
18. c) Filiação. A legitimidade da filiação deve deter-
minar-se pela lei nacional do filho, quando ella não coincide
com a do pae {Direito internacional privado, § 46). Tal é a
opinião de Pillet {Príncipes, § 153); Despagnet {Précis, n. 270);
Weiss {Manuel, ps. 489-490), que foi consagrado no Codigo
Bustamante, art. 57. Em contrario manifestam-se Fiore {Droit
international privé, II, § 705), Bar {Lehrbucli, § 25), J.
Champcommunhal, Revue de droit intern. privé, 1910, pagi-
nas 67-74; e a lei allemã de introducçâo ao Codigo Civil, art. 18.
Mas este modo de ver obedece, apenas, a intuitos práticos; quer
evitar a variedade das leis nas relações de família. A razão de
decidir ha de ser o fim da lei. Não é em attenção aos paes, e
sim aos filhos, que a lei estabelece as condições de legitimidade
da filiação.
O reconhecimento dos filhos naturaes e a legitimação obe-
decem, conjunctamente, á lei nacional do pae e á do filho;
á primeira, porque o pae deve ser capaz de realizar o acto ju-
rídico do qual resulta o reconhecimento ou a legitimação; á
INTRODUCÇÃO 125

segunda, porque o fim da lei é regular a situação jurídica do


filho (Cod. Bustamante, art. 60).
O mesmo raciocínio conduz-nos a solução semelhante, rela-
tivamente á adopção.
19. — ã) Pátrio poder. O pátrio poder, nas legislações mo-
dernas, é um instituto de protecção aos filhos. Decidirá, portanto,
a
lei destes, quando tiverem nacionalidade differente da de seus
Paes, quanto á extensão dos poderes paternos em relação á
Pessoa e aos bens dos filhos menores. A lei local intervirá para
cercear abusos, que compromettam a ordem publica e os bons
costumes (Cod. Bustamante, art. 69 a 72).
'20. — e) Tutela. E', ainda, a lei nacional do incapaz que
r
egula a tutela {Direito internacional privado, § 50; Cod. Bus-
tamante, art. 84). Dahi resulta que os tutores, nomeados segundo
e
ssa lei, devem ser reconhecidos, em toda a parte, e exercer sua
autoridade sobre os bens do tutelado, ainda que situados no es-
trangeiro.
Se, porém, as autoridades competentes, segundo a lei pessoal
incapaz, deixarem de organizar-lhe a tutela, as autoridades
tocaes tomarão as medidas de protecção, que o caso exija, e
tfarão conhecimento do facto ás autoridades do paiz, a que per-
tencer o incapaz. E' a norma adoptada pela convenção cele-
brada em Haya, a 12 de Junho de 1902, artigos 7o e 8o. Neste
tPcsmo sentido, foram redigidos os artigos 30 e 31 da Lei de in-
troducçâo do Projecto primitivo; "Art. 30 — Embora a tutela
incapaz seja regulada por lei nacional, as autoridades bra-
Slle
iras têm competência para tomar, provisoriamente, as me-
thdas necessárias para a protecção, e para a conservação dos bens
<io
incapaz estrangeiro, até que o Estado, a que elle pertence,
Proveja como fôr de direito". "Art. 31 —'A tutela do incapaz
es
trangeiro será regulada pela lei brasileira: Io, Se, por qualquer
Motivo, o Estado, a que pertence o incapaz, não providenciar
Para que ihg seja um tutor, não obstante se achar infor-
mado dessa necessidade: 2o, Se o tutor, nomeado por quem tiver
meito de fazel-o, residir no Brasil".
— Relações pessoaes dos cônjuges. As relações pessoaes
<ÍOs co
0
njuges regulam-se pelo estatuto pessoal do marido. E' a
Pinião dominante, que o Codigo perfilhou (Meu Direito inter-
na
cionai privado, § 42; Champcommunhal, Revue de droit int.
Privé, 1910; pgs. 57-61). Os deveres communs de fidelidade, con-
Vl
vencia e assistência, assim como os direitos e deveres parti-
126 CODIGO CIVIL
culares de cada um dos cônjuges regem-se pelo direito nacional
do chefe da sociedade conjulgal.
Soffre, entretanto, esse direito as attenuações impostas pela
atmosphera moral do paiz, onde se acharem os cônjuges.
O Codigo Bustamante, acceitando em principio a regra de
que a lei reguladora das relações pessoaes dos cônjuges é a do ma-
ndo (art. 43), estatue que a lei pessoal da mulher regerá os
seus direitos, quanto aos bens próprios e ao comparecimento em
juízo (art. 44). Os deveres de convivência, fidelidade e assistên-
cia reciproca regulam-se pela lei local (art. 45).
22. — Regimen dos bens no casamento. A difficuldade, nesta
categoria de relações, nasceria do caso, em que, tendo os côn-
juges necionalidade differente, deixassem de pactuar o regimen
dos seus bens ao constituir a sociedade conjugai. O Codigo afastou
essa difficuldade, adoptando a lei nacional para regular a especie,
devendo entender-se que essa lei nacional é a do marido, por
ser o chefe da família (Leia-se a respeito Audinet, Le régime
matrimonial, na Revue de droit int. privé, 1910 ps. 289-312). O
Codigo Bustamante, art. 187, manda applicar a lei do primeiro
domicilio conjugai, quando os cônjuges de nacionalidade diffe-
rente deixaram de celebrar pacto ante-nupcial.
23. o art. 8o termina com esta faculdade: senão licito,
quanto a este, a opção pela lei brasileira. Na camara, Netto
Campello {Diário dlo Congresso, de 19 de Abril de 1913, p. 116)
e Justiniano de Serpa {Diário do Congresso, de 17 de Novembro
de 1915, p. 4.994) mostrara a sem razão dessa clausula. Mas o
vicio resistiu, afeiando o Codigo.
Em piimeiro logar é manifesta a falta de systematização,
o desvio da doutrina. Adoptando o Codigo a lei nacional para
regular todas as relações de família, põe-na de lado, facultando
a preferencia pela lei brasileira, isto é, pela lei territorial.
O legislador esqueceu-se de que se achava no campo do
diieito internacional privado, e, receioso de que a lei estranha
tomasse o passo á lei patria, correu em apoio desta. Apoio des-
necessário, porque se tratava de firmar um principio de appli-
cação geral, em que se procura determinar qual a lei, que deve
dominar a relação jurídica, sem indagar se ella pertence a este
ou áquelle paiz.
Depois não diz o artigo em que momento deve ser feita a
opção, nem tão pouco, se a faculdade é concedida a ambos os
cônjuges ou somente ao marido.
INTRODUCÇÃO 127
A melhor intelligencia, que podemos dar a este dispositivo é
a seguinte: os estrangeiros, que se casarem no Brasil, poderão,
ao seu pacto antenupcial, declarar que acceitam a communhão
universal de bens, segundo o Codigo Civil brasileiro.
Entendida de outro modo, constituiria um enigma juridico,
segundo bem o qualificou o professor Netto Campbllo. Mas,
ainda assim, não se descobre a utilidade do preceito, porquanto,
a applicação da lei brasileira resultaria da autonomia da vontade
dos cônjuges e não do seu proprio império.
E não é somente isso. Ha legislações que não permittem a
liberdade dos cônjuges, de pactuar o seu regimen de bens. Esta-
belecendo a nossa lei a liberdade de opção para os que cele-
brarem casamento no Brasil, cria um novo caso de conflicto,
er
n vez de tentar solvel-o, segundo é missão do direito interna-
c
ional privado.
Foi um accrescimo infeliz este que o Senado suggeriu ao
ar
t. 8o, e a Gamara julgou acertado approvar.
24. — Quando a lei nacional do indivíduo declarar que a
Su
a capacidade e os seus direitos de família se determinam pelo
direito vigente em seu domicilio, os juizes brasileiros applicarão
0
direito pátrio. E' o caso dos argentinos, uruguayos e quasi
to
dos os latinos-americanos. Veja-se o meu Direito internacional
Vivado, § 20, sobre a controvérsia, que o assumpto suscita.
25. — o disposto neste artigo não derroga o estabelecido na
61
^ 2.044, de 31 de Dezembro de 1908, art. 42, paragrapho único.
s
capacidade de alguém para obrigar-se por letra de cambio
ta que seja a da lei brasileira. E' uma disposição especial que
tlao é
attingida pelo preceito da lei geral.
Sobre este assumpto, consultem-se Paulo de Lacerda. A
Vdmhial, 2a ed., n. 395; J. A. Saraiva, A GamMal, Rio de
aneiro, 1912, ns. 217-222, e F. Meyer, Das Weltwechselrecht,
' § 129, e II, § 109.
26. — Fizeram-se acima algumas referencias ao Codigo Bus-

vad ' qUe comperi(iia as regras de direito internacional pri-


a entre o Brasil e alguns Estados da America latina. Para
ne ^Ua ''ras nações, esse Codigo não revoga as regras estabelecidas
Introducção, mas poderá ser subsidiário nas lacunas delia,
80 COm r»os seus princípios se harmonizar.
128 CODXGO CIVIL

Art. 9.° — Applicar-se-á, subsidiariamente,


a lei do domicilio, e, em falta desta a da resi-
dência .
I. Quando a pessoa não tiver nacionalidade.
II. Quando se lhe attribuirem duas naciona-
lidades, por conflicto, não resolvido, entre as leis
do paiz do nascimento e as do paiz de origem,
caso em que prevalecerá, se um delles for o
Brasil, a lei brasileira.

Direito anterior — Silencioso.


Degislação comparada — Lei allemã de introducção ao
Cod. Civil, art. 29; Codigo Civil suisso, art. 61 do titulo final,
completando a lei federal de 25 de Junho de 1891 (7.a).
Projectos — Nabuoo, art. 36 do titulo preliminar; Coelho
Rodrigues, Lei preliminar, art. 14; Beviláqua, art. 15, da Lei de
introd.; Revisto, titulo preliminar, art. 20.
Bibliographia — Meu Direito internacional privado, §§ 28
e 29; Lafayette, Proj, de Cod. dir. int. privado, arts. 13 e 14;
Weiss, Manuel, ps. 73-207, da 2.a ed.; Fioke, Droit int. privé,
I, ns. 58 a 59; Pillet, Príncipes, ns. 146-148; Rodrigo Octavio,
Le droit int. privé, ns. 18-27; Espinola, Breves annotações, I,
ps. 39 a 44; Zeballos, La nationalité, III, ps. 54 e segs., Le-
monom, in Clunet, 1910, ps. 403-407; Fromagbot, De la douhle
nationalité; Alvarez, Droit international américain, ps. 308 e
segs., e Estevam de Almeida, O Pmjecto do Cod. Civil, ps. 24-25;
Moreira de Azevedo, Ensaio sohre nacionalidade, p. 113 e segs.

Observações — 1, •—• Pôde acontecer que o individuo perca


a sua nacionalidade originaria, sem adquirir outra. O brasi-
leiro que, sem licença do poder executivo federal, acceita com-
missão ou emprego remunerado de governo estrangeiro, perde
os direitos de cidadão brasileiro, Const., art. 116, ô); mas por
esse facto não adquiriu outra nacionalidade. E' um heimatlos.
Aquelle que não pertence a um Estado organizado também não
se pôde affirmar que tenha nacionalidade.
A lei pessoal, em casos desses, não poderia ser a nacional,
pois que não ha vinculo de nacionalidade. Como, porém, a pessoa
1ATK0DUCÇA0

nâo pode ficar sem uma lei reguladora da sua capacidade e das
s>'uas relações de familia, é forçoso recorrer ao domicilio, e, na
falta deste, á residência.
2. — Mais freqüentes são os casos de dupla nacionalidade.
O filho de estrangeiro, nascido no Brasil, não se achando o pae
a serviço de sua nação, é brasileiro, por nossa Constituição,
art. 115, a. Mas se esse estrangeiro pertencer a um Estado, que
adopte a norma do jics sanguinis, seu filho será considerado
nacional desse Estado. Foram os conflictos dessa ordem que
motivaram, outr'ora, a falsa solução da lei de 1860, a que já
nie tenho referido.
Outro caso de dupla nacionalidade é da brasileira casada
com estrangeiro. Para a nossa Constituição, ella conserva a sua
qualidade de brasileira; para muitas legislações ella adquire a
nacionalidade de seu marido.
A solução destes conflictos de nacionalidade surgiu da neces-
sidade imperiosa de harmonizar os interesses dos povos. E,
assim, vingou o principio de que o individuo, a quem se at-
tribuem duas nacionalidades, se submette á lei do paiz onde se
achar. Aquelle que a lei brasileira, e a franceza, por exemplo,
simultaneamente, consideram nacional, será tratado como brasi-
leiro, quando residir no Brasil, e como francez, quando residir
na França. Muito embora, para cada um desses paizes seja certa
a nacionalidade do individuo, a acção soberana das leis de direito
Publico, vigente em qualquer delles, tem por limites os dos re-
spectivos territórios.
E' o que diz o Codigo Civil. Prevalecerá a lei brasileira,
110
conflicto das leis sobre nacionalidade, sempre que uma das
leis em conflicto fôr a brasileira, e o individuo residir no Brasil.
3. — Em relação á nacionalidade adquirida pelo casamento,
devemos attender ás legislações, que, prevendo a hypothese de
divergências, providenciam para que a mulher casada não perca
a
sua nacionalidade originaria, sem adquirir nova.
O art. 19 do Codigo Civil francez, modificado pela lei de
de Junho de 1889, determinava que a franceza que se casasse
Co
m um estrangeiro seguisse a condição do seu marido, excepto
Se
o seu casamento não lhe conferisse a nacionalidade do marido,
caso em que ella permaneceria franceza. Egual providencia con-
s
agra o Codigo Civil portuguez, art. 22, § 4.°. Hoje, na França, a
lei
Que regula a nacionalidade franceza, é a de 10 de Agosto de
192
'7, que alterou, consideravelmente, o direito anterior.
Codigo Civil — 1.° vol. 3
láo CÓDIGO CIVIL

Art. 10. — Os bens, moveis ou i mm oveis,


estão sob a lei do logar onde situados; ficando,
porém, sob a lei pessoal do proprietário os
moveis do seu uso pessoal, ou os que elle com-
sigo tiver sempre, bem como os destinados a
transporte para outros logares.
Paragraplio único. — Os moveis cuja si-
tuação se mudar na pendência de acção real a
seu respeito, continuam sujeitos á lei da si-
tuação, que tinham no começo da lide.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — No mesmo sentido; Codigo Civil
argentino, arts. 10 e 11; da Colombia, 20; chileno, 16; uru-
guayo, 5.°; venezuelano, 8.°; mexicano, 14.
Consagrando a distincção estatuaria entre moveis, sub-
mettidos á lei pessoal do proprietário, e immoveis, regulados
pela lei da situação: Codigo Civil francez, art. 3.°, 2.a al.; ita-
liano, 7.° das disiposições preliminares; hespanhol, 10; boli-
viano, 3.°; neerlandez, 7.°; peruano, 5.°, do titulo preliminar;
mexicano, 13 (ant.).
Projectos — Esboço, art. 411; Nalmco, 47, do titulo pre-
liminar; Felicio dos Santos, 23; Coelho Rodrigues, 19 da lei
preliminar; Beviláqua, 33, da lei da introducção; Revisto, 32,
do titulo preliminar.
Bibliographia — Direito internacional privado, § 33; Tei-
xeira de Freitas, Esboço, arts. 411-413; Lafayette, Proj. de
Cod. de dir. int. privado, arts. 46-56; Saviony, D^Ofit romain,
VIII, § 366; Bar, Lehrhuch, § 29; Fiore, Droit int. privé, I.
ns. 90-92; As ser et Rivier, filements, ps. 92 e segs.; Pielet, Prín-
cipes, ns. 207-210 Brocher, Droit int. privé, I, ns. 48 e segs.;
Wharton, Privaie int. la/io, §§ 297-311; Surville et Arthuyb,
Droit int. privé, n. 163; Vareiixes-Sommières, Synthèse, 1,
n. 368, e II, ns. 922-930; Exdemann, Lehrbuch, I, § 19, II; Winp-
cheid, Pand., § 35; A. Calandrblei, Questiones de ãerecho inter-
nacional privado, I, ps. 53-107; Rtcci, Corso. I, ns. 117 e segs.:
Aübry et Rau, Cours, I, § 31, 3.°; Machado Villeea, op. cit., nú-
meros 46 e segs.
iNTRODtrCÇAO 131

Observações 1. — A submissão dos bens immoveis á


rei sitoe é ponto assente na doutrina. São leis de ordem social
que organizam a propriedade, em cada paiz, e, por isso mesmo,
uevem ter caracter territorial. A razão dada outr'ora, em apoio
'íssta legra, dizia que os immoveis eram porções do território
nacional, e, portanto, deviam estar sujeitos á lei do paiz. Esta
azão não pode prevalecer, os immoveis de uma successão, for-
mando uma universidade com os outros bens da herança, re-
gulam-se pelo direito pessoal do de cujus, não obstante a sua
dualidade de estrangeiro.
Quanto aos moveis, o principio antigo era que deviam
Se
guir a lei do proprietário: moMlia sequntur personavi. Mas
elles entram, como os immoveis, na organização da propriedade
ine tem feição accentuadamente social. Forçoso é que sigam
a
mesma regra; abrindo-se excepção, apenas, para os que o pro-
ímietario leva sempre comsigo, e os destinados a deslocações
instantes, como o carregamento de um navio. Estes obedecem
a e
^ i Pessoal do proprietário.
2
- Destas regras se deduzem as seguintes applicações;
u
) E a lei da situação das coisas a competente para clas-
mal-as em moveis e immoveis.
A mesma lei decidirá se a coisa pode ou não ser objecto
ae
direito real.
Qualquer possuidor, sem attenção á sua nacionalidade,
era usar
das acções possessorias admittidas no direito local.
c res r c e
au ^ Se ^ ^ Sdsem
. geralmente, s legaes ao direito
que haja de propriedade
necessidade de indagar appli-
quem
eja 0
titular do direito.
e> A
r transferencia da propriedade, por acto entre vivos,
a-se pelo direito do logar, onde a coisa está situada.
< S direi
TYi- ni0
^ ^ tos reaes sobre as coisas alheias entram no do-
da lei da situação.
(jUii moveis, que são objectos de uma acção real, se,
a lide rnil
do
^ ar, onde ' se achavam,
darem dequando
situação, continuam
se iniciou sujeitos dispõe
a demanda, á lei
ar
agrapho único deste artigo.
Sta re
ge ^ gra procede da necessidade jurídica de impedir que
SSa
p0g^ ^tidir a acção pela mudança da situação do movei. Pro-
r^i , a ac ao
-I 5 , > os effeitos jurídicos decorrentes se determinam
as de. i togar da situação do movei, no momento, sem que
caçoes ulteriores possam acarretar qualquer modificação,
132 CODIGO CIVIL

O que se diz da acção applica-se a qualquer procedimento


judicial.

Art. 11. — A fôrma extrinseca dos actos,


públicos ou particulares, reger-se-á segundo a
lei do logar, em que se praticarem.

Direito anterior — Disposição semelhante (Orã., 3, 59, § 1.°;


reg. 737, de 1850, art. 3.°, § 2.°; T. de Freitas, Consolidação, ar-
tigo 406; Carlos de Carvalho, Direito Civil, art. 33).
Legislação comparada — D. 21, 2, fr. 6; Cod. 6, 32, 1. 2;
Codigo Civil italiano, art. 16.°, das disposições preliminares;
francez, 47, 170 e 999; hollandez, 10; hespanhol, 11; mexicano,
15; argentino, 12 uruguayo, 6.°; chileno, 17; venezuelano, 11;
Einficehrungsgesetz, 11. Esta ultima lei dá um caracter méra-
mente subsidiário á regra locus regit actum.
Projectos — Esòoço, art. 851; Nabuco, 48, do tit. preli-
minar; Felicio dos Santos, 24; Coelho Rodrigues, 27, da lei
preliminar; Beviláqua, 19, da lei de introducção; Revisto, 17,
do tit. preliminar.
Bibliographia — Direito internacional privado, §§ 34-36:
Pimenta Bueno, Direito int. privado ps, 104-107; Vieira Fer-
reira, Ementas e emendas, ps. 33, 139-141; Espinola, Breves
Annoítações, ps. 47 a 49; Pillet, Príncipes, 251-262; Bar, Lehr-
huch, § 12; Fiorb, Droit int. prive, I, ns. 210-243; Dbspagnet,
Précis, ns. 210-222; Vabehxes-Sommières, Synthèse, ns. 1.032 a
1.093; Wharton, Private int. lato, §§ 676-684; E. Naquet, i11
Clunbt, 1904, ps. 39-58; Keidel, in Clunet, 1899, ps. 27-28;
Grasso, Diritto int. privato, § 97; Weiss, Manuel, ps. 365-371;
Savigny, Droit romain, VIII, § 381; Ricoi, Corso, I, ns. 133 a
138; Code Civil allemand, publié par le Comitê de lég, étr., IV,
ao art. 11 da lei de introducção; Machado Villela, op. cit., ns.
41 e segs.; Romero del Prado, op., cit., caps. V e VI.

Observações — 1. -— Esta regra, que remonta a Bartolo,


é geralmente acceita, no commercio internacional. O seu funda-
mento racional está em que a efficacia do acto juridico resulta
da harmonia entre a vontade do agente e a lei, e esta, normal-
INTKODUCÇÃO 133

mente, ha de ser a do logar, onde o acto se realiza. A utilidade


da regra fez a sua fortuna.
Não se deve, porém, suppôr que a regra locus regit actum
é Obrigatória. Desde que os indivíduos possam recorrer á fôrma
da sua lei nacional, nada os impede de fazel-o. Já se viu que
assim é na celebração do casamento dos brasileiros no estran-
geiro. Sel-o-á, egualmente, em relação aos outros actos.
2. — A regra tanto se refere á fôrma particular quanto á
authentica. As pessoas, que se acham no estrangeiro, podem,
e
ni vez de se dirigirem ás autoridades locaes ou aos officiaes
Públicos do paiz, quando quizerem legalizar os seus actos ou
dar-lhes fôrma authentica, procurar os cônsules de seu Estado,
n
as matérias da competência do mesmo.
Os cônsules recebem declarações, protestos e outros do-
cumentos de capitães de navios, funccionam como officiaes do
'-"cgistro civil, passam escripturas, recebem protestos de letras
de cambio, presidem á celebração de casamentos, approvam
testamentos (Meu Direito imblico internacional, § 132; dec.
n
- 19.597, de 19 de Janeiro, de (1931).
Veja-se o art. 204.
3. — Cumpre não confundir a fôrma extrinseca e a sub-
stancia do acto. O Codigo (art. 1.630) prohibe o testamento
conjunctivo. Não o pôde fazer o brasileiro, que se achar, no
estrangeiro, porque não se trata aqui de fôrma, e, sim, de uma
tei prohibitiva, que determina certa incapacidade. Esta restricção
a
liberdade individual do brasileiro faz parte do seu estatuto
Pessoal.
— Não vale a fôrma do acto praticado em paiz estran-
geiro, se esse paiz foi, intencionalmente, procurado pelo agente,
Para fugir ás exigências da lei patria. Praticado em fraude á
lei
' P^o pôde subsistir o acto.

Art. 12. — Os meios de prova regular-se-ão


conforme a lei do logar, onde se passou o acto,
011
facto, que se tem de provar.

lUreito anterior — Idêntico (V. Carlos de Carvalho, Di-


Teito
civil, art. 41).
legislação comparada — V. o artigo antecedente.
/

104
CODIGO CIVIL

Pi-ojectos Nabuco, art. 58, do tit. preliminar; Felicio ãos


Santos, 38; Coelho Rodrigues, 32, da lei preliminar; Beviláqua,
20, da lei de introducção; Revisto, 18, do tit. preliminar.
Bibliographia — Meu Direito int. privado, § 37; João Mon-
tkiko, Processo, I, § 10; Assee et Rivier, Éléments, p. 167;
Wfuss, Manuel, ps. 628-629; Fiore, Droit int. privé, ns. 184-187;
Pillet, Príncipes, § 268; Huc, Commentaires, I, ns. 174; Rioci,
Corso, I, ns. 139 a 141.

Observações — 1. — Pois que a prova se liga á forma, a lei


que rege a segunda ha de dominar a primeira. A lei do logar
da celebração do acto é que deve decidir se as formas por ella
estabelecidas foram fielmente observadas, e, ainda, indicar as
provas subsidiárias da celebração do acto, se falham as provas
directas. Admitte-se, porém, que as partes recorram aos meios
de prova de sua lei pessoal, se estes forem mais amplos, e a lei
fôr commum aos agentes.
2. — E' claro que, se, em vez da lei local, as partes recor-
reram á sua lei pessoal, para a realização do acto, esta é que
deve fornecer os meios de prova. O art. 12 não se oppõe a esta
regra racional, que a doutrina proclama, e que o Codigo applica
no art. 208.
3. — O modo de produzir em juizo a prova indicada pela
lei, que presidiu á formação do acto, é determinado pela le®
fori. E' a lei do juiz que regula o modo de inquirir testemunhas,
de verificar documentos apresentados pela parte, de prestar jura-
mento.
A lex loci prevalece para dizer quaes as provas admissíveis:
a lex fori, para regular a maneira de produzil-as em juizo. Acom-
tecerá, porém, algumas vezes, que esta ultima lei deconheça
uma certa prova indicada pela primeira. O embaraço não se
desfaz de prompto, na ausência de convenção internacional, que
providencie a respeito. Afastada a questão de ordem publica,
seria licito applicar, subsidiariamente, a lei estrangeira, se uão
surgissem difficuldades de origem pratica.
4. — Y. o Codigo Bustamante, arts. 398 a 407, cujos dispo-
sitivos, sendo mais minuciosos, não discrepam da regra do nosso
artigo.

Art. 13. — Regulará, salvo estipulaçao em


contrario, quanto á substancia e aos effeitos das
ITí TEODTJ CÇÃO 135

obrigações, a lei do logar, onde forem contra--


bidas.
Paragrapbo único. — Mas sempre se re-
gerão pela lei brasileira:
I. Os contractos ajustados em paizes estran-
geiros quando exequiveis no Brasil.
II. As obrigações coutrahidas entre brasi-
leiros, em paiz estrangeiro.
III. Os actos relativos a immoveis situados
no Brasil.
IV. Os actos relativos ao regimen hypotbe-
cario brasileiro.

Direito anterior — Semelhante, ainda que mais liberal e


menos preciso (Caklos db Carvalho, Direito civil, art. 37; Cod.
commercial, art. 424; reg. 737, de 1850, arts. 3.°, 4.° e 5.°; decr.
19 de Janeiro de 1890, art. 4.°, § 4.°; lei n. 2.044, de 31 de
Dezembro de 1908, art. 46.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 9.°,
Parte, das disposições preliminares; Codigo Commercial por-
tuguez, 4.°; Codigo Civil argentino, 8.°; chileno, 16, alíneas 2.•■, e
•t"; colombiano, 20, ais. 2.° e 3 a; mexicano, 13.
Quanto ás fontes romanas, apezar de estranhas ao direito
internacional privado, vejam-se: D. 17, 1, fr. 8, pr.; 42, 5, fr. 3;
e
7, fr. 21.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 31-36; Coelho Rodri-
Oues, 24 e 29, da lei preliminar; Beviláqua, 35 e 36, da lei de
introducção; Revisto 34 e 35, do tit. preliminar. Estes pro-
jetos consagravam doutrina mais liberal do que o Codigo.
Bibliographia — Direito int, privado, §§ 54-56; Savigny,
D^oií roraain, VIII, § 372; Jitta, La suhstance des ohligations
aa
ns le ãroit int. privé, la Haye, 1906 e 1907, 2 vols.; Dernburg,
Pvnd., § 48; EndemAnn, Lehrhuch, 1, § 19; Bar, Lehrhuch, § 31;
^indsgheid, Pand., § 35; Despagnet, Précis, n. 294; Pillet,
Príncipes, ns. 223-244; Vareilles-Sommiêrbs, Synthèse, II, nu-
meros 979-982; Weiss, Manuel, ps. 527-530; Fiore, Droit int. privé,
D ns. 112-117, 146 e 193; Keidel, in Clunbt, 1899, ps. 275-278;
z
iteilhann, in Clunet, 1899, ps. 462-470 e 654-663; Trabalhos da
Vamara, vol. IV, ps. 34-36; Bsteyam de Almeida, O Pr*o>jecto do
136 CODIGO CIVIL
Goãigo Civil, ps. 28-30; Gomes de Castro, Direito internacional
privado, caps. XV e XVI; Machado Viixela, op. cit., ns. 56 e
segs.; Romero del Prado, op. cit., cap. VII.

Observações — i. _ a doutrina consagrada no principio


do ai tigo é suffragada pelos melhores autores, e se funda em
sólidas razões. As obrigações, tanto as convencionaes, como as
que se originam da declaração unilateral da vontade, entram no
domínio da autonomia do querer individual, e como este, para
se tomar juridicamente fecundo, necessita de se combinar com
a ordem social expressa na lei, deve ser, justamente, a lei esco-
lhida pelas partes, a que domine as suas obrigações livremente
contrahidas. Essa lei se os interessados* não o declararem, pre-
sume o Codigo que seja a do logar do contracto, porque foi pro-
curada, acceita, ou, pelo menos, não repellida.
Todavia, se as partes tiverem a mesma nacionalidade,
é de suppôr que prefiram a sua lei. Devera, portanto, o legislador
brasileiro manter-se fiel ao principio da autonomia da vontade e
presumir, apenas, que as obrigações contrahidas, entre brasilei-
ros, no estrangeiro, se regulariam pelo direito nacional das par-
tes. Mas o n. II do artigo 13 manda, imperativamente, que se re-
jam sempre pela lei brasileira. E' uma lei rigorosamente obriga-
tória, a que não podem fugir os nacionaes.
Se, pôr ventura, no firmarem relações obrigacionaes, os bra-
sileiros, que se acharem no estrangeiro, declararem que esco-
lheram, para presidir a essas relações, a lex loci contractus, essa
escolha não poderá prevalecer. O brasileiro, no estrangeiro, ha
de obrigar-se, exclusivamente, segundo os principies jurídicos da
sua lei pessoal.
Não dispunha assim o Projecto primitivo, art. 35 da lei de
introducção. Nem se harmoniza com a pureza da doutrina do
direito internacional privado esta restricçâo á liberdade dos bra-
sileiros, em matéria de contractos. Em direito internacional pri-
vado, o espirito dominante deve ser humano, internacional, e o
legislador pátrio não conseguiu penetrar-se desse universalismo
essencial no direito, que regula não os interesses da sociedade
brasileira, e, sim, os da sociedade internacional.
O Senador Bulhões propoz a remodelação deste artigo num
sentido mais liberal; porém a sua emenda não logrou captar a
benevolência dos seus pares (Diário do Congresso, de 1 de Ou-
tubro de 1912).
INTRODUCÇÃO 137
3. — Na mesma censura, incorrem os números III e IV do
artigo. O primeiro submette, obrigatoriamente, á lei brasileira,
os actos relativos aos immoveis situados no Brasil. O segundo,
suppondo que ainda não era sufficiente essa expressão do terri-
torialismo, accrescenta que também se regem, sempre, pela lei
brasileira, os actos relativos ao regimen hypothecario brasileiro,
como se já não estivesse a hypotheca incluida no preceito an-
terior, relativo aos immoveis situados no Brasil.
Forçoso, porém, é distinguir entre a obrigação de constituir
ou transferir um direito real e o acto constitutivo ou trans-
lativo desse direito. A obrigação resulta de um contracto ou de
uma declaração unilateral da vontade, e obedece a um certo
uumero de normas particqlares, que formam uma das grandes
divisões do direito civil, o direito das obrigações. O acto consti-
tutivo ou translativo do direito real, a transcripção no registro
de immoveis, e a tradição dos moveis, obedece a outras regras,
due são as do direito das coisas.
São dois momentos, perfeitamente distinctos, — o da criação
do vinculo obrigacional e o da transferencia do direito real. E
a
s normas jurídicas são, por egual, diversas, nos dois momentos.
Essa differença melhor se accentua nas legislações que, man-
tendo a tradição romana, exigem, para a transferencia do direito
rea
i. um elemento novo, além do consenso. Tal é o systema do
uosso Codigo. Não é, porém, menos certo que nos systemas, em
que
a translação do direito real resulta da convenção, a sciencia
^conhece e distincção entre os dois momentos, e entre as duas
categorias de relações.

Va
Resulta desta observação que, em direito internacional pri-
do, a obrigação de alienar entra na regra — locus reglt actum.
tradição e a transcripção, porém, necessárias á transferencia
do direito real, operam-se no logar da situação do bem, e se-
cundo a lei que abi domina (V. o meu Direito internacional
Privado, § 34, ps. 180, 182 e § 36).
4- —■ Outras legislações, como o Codigo Civil francez, ar-
tigo 2.128, a lei belga, de 16 de Dezembro de 1851, art. 77, 2a al.,
0
Codigo Civil chileno, art. 18, e a Einfuehrungsgesetz incidem
na
uiesma censura. Mas a opinião dos doutos anda de tal modo
Generalizada que é lamentável não a ter seguido o Codigo Civil
tuasileiro. Vejam-se; Vabeuxes-Sommièees, Synthèse, II, nu-
1.039-1.041; Pillet, Príncipes, § 257, nota 2; Despagnet,
138 CODIGO CTVXL

Précis, n. 216, I; Piore, Droit int, privé, I, n. 224; Whartojt,


Private int. law, § 683.
5. Não dispõe o artigo sobre a execusão das obrigações.
E' uma lacuna que se ha de supprir com a doutrina. Esta ensina
que o modo de cumprir as obrigações se rege pela lei do logar
onde o cumprimento se effectua. O modo de entregar a coisa
devida, a commercialidade do objecto da prestação, ou a possi-
bilidade de cumprir-se a obrigação em conseqüência da natureza
do objecto, são questões que á lei do logar, onde a obrigação se
cumpre, compete resolver.
Diz o art. 13, paragrapho único, I, que se regem pela
lei brasileira os contractos ajustados em paiz estrangeiro, mas
exeqüíveis no Brasil. Este dispositivo não se refere ao cumpri-
mento da obrigação; regula a formação do contracto, e, por via
de conseqüência, a substancia e os effeitos da obrigação, que o
mesmo origina.
Da regra estabelecida no art. 13, I, não se deve concluir
que se não possam accionar, no Brasil, contractos ajustados no
estrangeiro, que, por não se destinarem a ser executados no
Brasil, não se regularam pela nossa lei. Taes contractos, sendo
validos quanto á fôrma e quanto á substancia, podem ser funda-
mento de uma acção, no Brasil, muito embora não tenham sido
celebrados na intenção de serem cumpridos aqui. Como é de
razão, o preceito do n. I impõe a obediência á lei brasileira,
quando o contracto, por seu fim ou por seu objecto, somente
no Brasil se deva cumprir. Neste caso, a lei do logar da execução
rege tanto o modo por que esta se effectua, quanto a fôrma, a
substancia e os effeitos das obrigações decorrentes do acto.
7. — Também não se occupa a Introãiicção, ao mesmo clara-
mente, com as obrigações oriundas de actos illicitos. Regem-se
ellas pela lei do logar, onde se dão os factos, que as determinam
(Direito internacional privado, § 56).
São leis reguladoras da defesa social, cuja territorialidade
é geralmente reconhecida, as que estabelecem a responsabilidade
criminal. Porém, quer a obrigação de indemnizar provenha de
um crime, ou de uma contravenção, quer de acto illicito sem re-
percussão no direito penal, é a lex loci actus que regula e não
a lex fori, como ensinavam Waechter e Savigxy, por que o do-
minio civil interessa, directamente, ao indivíduo, e, uma vez
gerada a obrigação de indemnizar, seja qual fôr a lei que a
imponlia, o vinculo jurídico está crjado, a relação de direito se
INTRODtrOÇÃO 139

acha constituída, ha um credor e um devedor. E, sendo assim,


apezar de ser a lei a fonte da obrigação, esta se enquadra na
classe commum das obrigações civis, e se rege pela lei do logar,
onde se gerou.

Art. 14. — A successão legitima ou testa-


mentaria, a ordem da vocação hereditária, os di-
reitos dos herdeiros e a validade intrinseca das
disposições do testamento, qualquer que seja a
natureza dos bens e o paiz, onde se achem, guar-
dado o disposto neste Codigo acerca das heranças
vagas, abertas no Brasil, obedecerão á lei na-
cional do fallecido; se este, porém, era casado
com brasileira, ou tiver deixado filhos brasi-
leiros, ficarão sujeitos á lei brasileira.
Paragrapho único. — Os agentes consulares
brasileiros poderão servir de officiaes públicos
na celebração e approvação dos testamentos de
brasileiros, em paiz estrangeiro, guardado o
que este Codigo prescreve.

Direito anterior — E' esta a doutrina tradicional, e também


este o direito anterior ao Codigo, menos quanto á ultima parte
do
Principio do artigo (dec. n. 855, de 8 de Novembro de 1851;
leg
- de 15 de Junho de 1859; e a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal). Carlos de Carvalho, Direito Civil, art. 31,
Paragrapho único, parece não ter consolidado, adequadamente, o
direito em vigor, no tempo a que se refere.
Legislação comparada — Seguem o mesmo systema, posta
de lado a ultima parte do principio do artigo: o Codigo Civil
Valiano, art. 13.°, das disposições preliminares, onde se inspirou,
Principalmente, o legislador pátrio; o hespanhol, art. 10, 2.a al.;
a
Bínfuehrungsgesetz, art. 24; o direito portuguez, o servio e o
0
ttomano.
Preferem a lei do domicilio: o Codigo Civil argentino, artigo
3-283; o chileno, arts. 955 e 997; o colombiano, arts. 1.012-1.018,
e 0
do Paraguay, que é o mesmo argentino.
140 CODIGO CIVIL

Submettem a successão dos moveis á lei pessoal do ãe cujus,


e a dos immoveis á da situação da coisa; o Codigo Civil fraucez,
art. 3.°, a jurisprudência ingleza e a americana.
Projectos Naduco, art. 39, do tit. preliminar; Felicio dos
Santos, 20; Coelho Rodrigues, 21 e 22, da lei preliminar: Bevi-
láqua, 38 e 39, da lei introducção; Revisto, 37 c 38, do tit. pre-
liminar.
Bibliographia — Direito internacional privado, §§ 57-62;
Lafayette, Proj. ãe Cod. ãe dir. int. privado, arts. 66-73; Pi-
menta Bueno, Direito int. privado, ns. 142'-157; Rodrigo Octavio,
Droit int. prive, ns. 69-71; Espinola, Breves ann\o<!tações, I, pa-
ginas 53 a 55; Codigo do Processo do Estado da Bahia, I, ps. 107
a 116; Ricci, Corso, I, ns. 122 a 128; Cod. Civil allemanã, publié
par le comitê de lég. êtr., IY, aos arts. 24 a 26; Gomes de Cas-
tro, Direito internacional privado, caps. X e XI; Ftore, Droit
int. privé, I, ns. 94-110; e in Clunet, 1903, ps. 42 e segs.; Con-
tuzzi, Diritto ereãitario internazionale, passim, mas, especial-
mente, de ps. 401-609; Conventions ãe la Haye, I, ps. 349-353;
Grasso, Diritto int. privato, § 94; Asser et Rivier. Êlcments,
§ 62; Weiss, Manuel, ps. 556-571; Despagnet, Précis, ns. 351-383;
PnxET, Príncipes, §§ 174-179; Bar, Lehrhuch, §§ 42-45; Alberto
dos Reis, Das successões em direito int. privado, todo o livro:
Resoluções das Conferências de Haya, in Clunet, 1895, ps. 206-207;
Lainé, in Clunet, 1894, ps. 236-238; Wharton, Private int. lavo,
§§ 548-645; Vareilles-Sommiêres, Synthèse, II, ns. 931-978; Sa-
vigny, Droit romain, VIII, §§ 375 e 376; Calandrelli, Guestiones
de ãerecho int. privado, I, ps. 195 e 223; Estevam de Almeida,
O Projecto do Cod. Civil, ps. 30 e 32; Machado Villela, op. cit.,
ns. 26 e segs.; Romero del Prado, El ãerecho int. privado;
cap. IX.

Observações — 1. — Colierente com o que estatuirá no ar-


tigo 8.°, e seguindo a melhor doutrina, a Introducção considerou
a successão como um complexo de relações, unificadas sob a pre-
sidência da lei nacional do de cujus. Realmente, como reconhe-
cera 'o direito romano, o patrimônio, transmittido por successão
hereditária, constitue uma universitas, um todo, e, emquanto se
não effectua a partilha, é a projecção econômica da personali-
dade do autor da herança.
1NTE0DTJCÇA0 141

Na successão legitima, apparece a lex pátrios ãefuncti como


expressão do direito, a que estava submettido o individuo no mo-
mento, em que se opera, por sua morte, a transmissão de seus
bens. Além disso, o direito successorio é, directa e immediata-
mente, influenciado pelo da familia, do qual, por assim falar,
não é mais que uma face. A lei, que rege o direito da familia,
deve, egualmente, regular o hereditário. Na successão testamen-
taria, ainda a lei nacional se impõe, como determinadora da ca-
pacidade individual e protectora dos interesses da familia.
A unidade da successão, além de ser um conceito juridico
ditado pela razão e correspondente aos factos, é de conseqüências
praticas muito vantajosas, porque simplifica as questões, mantém
á successão o seu caracter, no direito interno, como no externo,
confere direitos, eguaes aos herdeiros e harmoniza as suas re-
lações reciprocas, assim como ás dos credores da herança.
2. — O principio, que submete a successão á lei nacional
do de cujus soffre limitações' decorrentes da ordem publica do
logar, onde se tiver de pôr em pratica. Assim, se o testamento
Institue morgado, fideicommisso ou outra relação juridica se-
ihelhante, sobre bens situados em paiz, onde essas entidades
hão existam ou sejam repellidas pela legislação, a disposição
será inexequivel e, portanto, sem validade.
3. — A ordem da vocação hereditária é determinada pelo
direito nacional do succedendo. Mas, esgotadas as classes de her-
deiros, na familia do fallecido, a herança vacante passa ao Es-
tado. Disputam os autores sobre a preferencia entre o Estado,
0
hde se abre a successão e aquelle a que pertence o autor da
herança. Se o direito do Estado fosse um direito hereditário.
Idêntico ao dos individuos, teriam razão os que preferem o fisco
do paiz, de que o ãe cujus era nacional. Mas a devolução da
herança vaga ao fisco se opera, não em virtude de um direito
hereditário, nem tão pouco em conseqüência de um direito de
0c
cupação fundada na soberania, mas sim, por ser o Estado a
Apresentação juridica da sociedade, em cujo grêmio se acham
0
individuo e o respectivo patrimônio. Quando sobre um patri-
mônio a acção individual se não exerce mais, por ter fallecido
0
Proprietário sem deixar testamento; nem o domina o direito
s
nccessorio da familia, por se terem esgotado as classe de pa-
re
ntes, que a lei chama á successão; entre elle para o acervo
hn riqueza do grupo social, onde o fallecido vivia, e se encontram
142 CODIGO OI VIL
os bens. Veja-se Cãklos de Carvalho, RGlatovio do Ministério das
Relações Exteriores, 1895, p. 48.
^ successão abre-se e liquida-se no ultimo domicilio
do de cujus, porque abi era a sede jurídica da pessoa do morto,
e abi se extinguiu a personalidade, a que se referiam os direitos,
que a morte veio transferir. (Veja-se o art. 1.578).
A doutrina ainda se não mostra inteiramente pacifica sobre
este assumpto. A unidade e a universidade da successão exigem
a concentração dos direitos hereditários em um ponto. E' também
esse o interesse dos herdeiros, pois a dispersão da herança por
muitos logares seria incommoda e prejudicial. Mas a unidade
não a devemos pedir á lei, que regula a successão, como quer
a escola italiana, porque esta, variando, fazendo distincção entre
moveis e immoveis, não alcançaria o fim desejado. O que a razão
aconselha é que, nesta matéria, appliquemos á sociedade inter-
nacional o mesmo principio que domina no direito interno. No
direito interno, é no domicilio do de cujus que a successão se
abre; ahi também deve o direito internacional privado consi-
derar aberta a successão.
5. A Introducção deixou de parte o espolio de estrangeiro,
a que se referia a Constituição de 1891, art. 61. Cessou o direito
excepcional, que autorizava a intervenção directa dos cônsules,
em matéria de successão de estrangeiros. Além de terem sido de-
nunciadas as convenções, que davam essa competência aos côn-
sules, o Codigo nenhuma distincção faz entre herança jacente
de nacionaes e estrangeiros. Mas subsistia a questão da compe-
tência que, hoje é da justiça federal (Const., de 1934, art. 81, h).
Pensavam alguns, como Pedro Lessa {Poder judiciário, § 66),
que, nao estando a especie prevista em tratado ou convenção
nacional, fazia-se o inventario perante a justiça local, havendo
tratado ou convenção Internacional a justiça competente seria
a federal. Em sentido differente pronunciou-se JoÃo Barualiio
{üommentarios, ps. 262-263), affirmando que houvesse ou não
tratado internacional, a competência seria da justiça local.
A duvida procedia, em primeiro logar, de se ter a Consti-
tuição desviado, no art. 61, do systema, que adoptara, no art. 60,
letra h, onde se declara que as questões de direito civil interna-
cional são da competência da justiça federal. As questões refe-
rentes a espolio de estrangeiros são de direito internacional; no
emtanto, o art. 61 as considerava da competência da justiça local-
"As decisões dos juizes ou tribunaes dos Estados, nas matérias
l&ÍKODtrCÇAO 143
de s^ca competência, dizia elle, porão termo aos processos e
Questões, salvo quanto a: 2.°, espolio de estrangeiro.
Quando a especie não estiver prevista em convenção ou tratado".
Em segundo logar, a linguagem da Constituição resentia-se,
ueste ponto, de ambigüidade, que autorizava essa divergência de
opiniões.
Parece-me, entretanto, que a exegese de JoÃo Barbalho
traduzia, como exactidão, o pensamento expresso no art. 61, da
Constituição. E, assim, entendi que a arrecadação do espolio de
ostrangeiro era matéria da competência da justiça local, pois que
a
Constituição o declarava, de modo inequívoco. Se houvesse
tratado internacional, regulando a especie, a justiça local poria
termo ao processo, salvo o recurso extraordinário, do art. 59,
Quando a decisão fôsse contrarua á validade ou applicação do tra-
tado. Não havendo tratado, a justiça local não poria termo ao
Processo, porque haveria recurso voluntário para o Supremo Tri-
bunal Federal, segundo estatuía o art. 61, in fine:
Este modo de vêr, que expuz no meu Direito internacional
Vivado, § 62, tinha por si também a autoridade de Ruy Barbosa,
tPu se manifestou em parecer jurídico publicado na imprensa.
A jurisprudência ainda não se firmara, de modo definitivo,
Cai.djno Loreto (Espolio de estrangeiro) lia, por modo origi-
naI
' o dispositivo da Constituição. Hoje cessaram as duvidas.
Constituição de 1934, art. 81, h, submetteu toda a matéria de
^reito internacional privado á Competência da Justiça Federal.
6 a
de 1937 extinguiu a Justiça Federal.
6. — A clausula final do artigo 14, principio, refere-se ao
es
trangeiro casado com brasileira, ou que tenha filhos brasi-
1 eiros
*
- Incorre este dispositivo na censura feita ao art. 8.", ultima
Parte. Mais uma vez, o legislador esqueceu-se de que es-
tabelecia regras de direito internacional, e, sem attender á
Pacionalidade nem ao domicilio, submette á lei brasileira os
es
tiangeiros, que entre nós constituírem família. Não o faz,
Paróm, de um modo systematico, e sim, apenas sob certas re-
la
Ções, o regimen dos bens e a successão.
Craves questões pôde suscitar a applicação desta regra,
P0ado-se já de lado o aspecto doutrinário da matéria.
O estrangeiro, nas condições previstas pelo artigo, fallece
astrangeiro, onde era domiciliado. O juiz estrangeiro não
attenderá a lei brasileira, que é méro dispositivo de lei interna,
a
Pplicará, á successão, a lei nacional do succedendo ou a do
144 CODIGO CIVIL

seu domicilio. Possuía, porém, esse indivíduo bens situados no


Brasil. Não podem as nossas justiças attender a essa lei pessoal
do autor da herança, porque o Codigo, expressamente, lhe ordena
o contrario, Eis quebrado o principio da unidade da successão,
que se consagrava, como expressão da melhor doutrina, e, o que
é peor, criada mais uma fonte de conflictos de legislações,
quando o artigo tivera por fito resolvel-os.
O estrangeiro casado com brasileira aqui reside, aqui se acha
domiciliado, mas possue bens no paiz de origem. Fallecendo,
abre-se a successão no Brasil, mas os tribunaes do logar onde
se acham esses bens, certamente, não récohhecerão o império
da lei brasileira. A situação é a mesma. Desapparece a unidade
da successão e surge mais um conflito de leis.
O estrangeiro faz o seu testamento de accôrdo com a lei •
de sua patria, e depois se casa com brasileira. Rompe-se o testa-
mento, na hypothese de se não ajustar com as prescripções da
lei brasileira, pois que a successão desse estrangeiro fica sujeita
á nossa lei. A violência é manifesta.
Não será menor a violência, quando o estrangeiro tiver
filhos de dois leitos, os primeiros estrangeiros e os segundos
brasileiros. Por amor destes, o territorialismo da Introducção
fecha os olhos aos direitos do pae e dos irmãos consanguineos.
6 a. — A Constituição de 1934, art. 134, manteve o syste-
ma do art. 14 da Introducção, accentuando mais o territorialis-
mo: A vocação para succeãer em bens de estrangeiros existentes
no Brasil será regulada pela lei nacional em beneficio do côn-
juge Jyrasileiro e dos seus filhos, sempre que não lhes seja mais
favorável o estatuto do de cujos. A Constituição de 1937, repro-
duziu este dispositivo em seu art. 152.
7. —• Um ponto, que ainda é necessário considerar, é o da
applicação do art. 9.°, á successão.
Em virtude do art. 14, em sua primeira parte, a lei regu-
ladora da successão é a nacional do fallecido. Acontecendo,
porém, que o autor da herança não tenha nacionalidade ou se
lhe attribuam duas por conflicto não resolvido entre a lei d0
paiz do nascimento e a do paiz da origem paterna, a lei appÜ"
cavei será a do domicilio, ou, se o de cujus não tiver domicilio»
a da residência.
Quando, porém, o conflicto de nacionalidade se der entre
a lei brasileira e outra qualquer, prevalecerá no Brasil, o pre-
ceito da nossa Constituição, e, consequentemente, será regulada
INTBODUCÇÃO 145

pelo direito brasileiro a successão aberta no Brasil, daquelle a


que a nossa Constituição attribue a qualidade de nacional.
8. — A competência dos cônsules brasileiros na celebração
dos testamentos públicos, na approvação dos cerrados e nos
outros actos, em que elles funccionam como officiaes públicos,
em matéria de testamento, constam do dec. n. 14.058, de 11 de
Fevereiro de 1920, art. 18, n. 20: "exercer, para com os seus
uacionaes, as funcções de officiaes do registro civil e de notario,
de accôrdo com as leis brasileiras".

CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO


1*. REGIÃO
Art. 15. — Rege a competência, a forma do
processo e os meios de defesa, a lei do logar,
onde se mover a acção; sendo competentes
sempre, os tribunaes brasileiros, nas demandas
contra as pessoas domiciliadas ou residentes no
Brasil, por obrigações contrabidas ou responsa-
bilidades assumidas neste ou noutro paiz.

Direito anterior — A matéria não estava regulada por lei,


^as a doutrina consagrava o principio geral do artigo.
Legislação comparada — Codigo do Processo Civil italiano,
ar
ts. 105-107; lei belga, de 20 de Março de 1896, art. 52.
Projectos — Nahuco, art. 54-57, do tit. preliminar; Coelho
Rodrigues, 30, da lei preliminar; Beviláqua, 40, da lei de intro-
^Ucçâo; Revisto, 39.
Dibliographia — Direito int. privado, § 66; Pimenta Büeno,
Rireito int. privado, ns. 237-260; Rodrigo Octavio, D^oit int.
Privé, ns. 66 e 67; Estevam de Almeida, O Projecto do Codigo
Vívii, pg, 32.37; Bar, Lehrbnch, §§ 48-50; Lafayette, Projecto de
Vodigo de direita internacional privado, arts. 74-78; Grasso, Di-
r
Rto internazionale, §§ 104-106; Meili, Das int., Privai und
/j
iviiprocessrecM auf Grund der Haager Konventionen, §§ 63-66;
^■Exss, Manuel, ps. 578-596 e 613-645; Wharton, Priv. int. laia,
§§ 704-730 e 752-770; Asser et Rivier, Êléments, § 70; Bartin,
Ros effets internationaux des jugements (in Cluneit, 1904, pa-
ei
nas 5-39 e 802-820; 1905, ps. 59-95 e 815-850; 1906, 27-47 e
995-1.016); Machado Yxllbla, op. cit. ns. 68 e segs.

Codigo Civil — 1.° vol. 10


146 CODIGO CIVIL

Observações — 1. — As leis, que regulam a competência


dos tribunaes, são de ordem publica, formam uma secção do di-
reito constitucional. Dahi a sua territorialidade.
E', portanto, a lex fori, a lei do logar, onde se mover a
acção, a que ha de attribuir a jurisdicção ao juiz e regular-lhe
a competência.
2. — O art. 15, depois de estabelecer o principio geral da
competência segundo a lei local, accrescenta que os tribunaes
brasileiros são sempre competentes nas demandas contra as
pessoas domiciliadas ou residentes no Brasil por obrigações
contrahidas ou responsabilidades assumidas neste ou noutro
paiz. Este acréscimo é ocioso e deficiente.
E' deficiente, porque, referindo-se á competência em razão
do domicilio ou da residência, devera ter alludido a outras cir-
cumstancias, que também a fundamentam.
Os tribunaes brasileiros são competentes para conhecer de
causas, em que sejam partes estrangeiros, ainda que não domici-
liados nem residentes na Republica: a) se o fôro do contracto
fôr no Brasil; b) se, aqui, tiverem de executar algum con-
tracto; c) se a questão versar sobre immovel situado no Brasil;
d) se forem herdeiros du legatarios em successão, que se liquide
no Brasil; e) se tomarem parte em concurso de credores, aberto
perante a justiça brasileira. Em todos esses casos, é certa a com-
petência da justiça brasileira.
3. — Em geral, porém, os tribunaes não têm competência
para chamar á sua presença estrangeiros residentes fóra do paiz.
Por isso é fortemente criticado o artigo 14, do Codigo Civil
francez, que, derogando o principio actor sequitur fórum rei,
e attribuindo ás leis de organização judiciaria uma extra-terri-
torialidade, que lhes repugna á essencia, submette o estrangeiro
á jurisdicção dos tribunaes francez^s, desde que o accione um
francez, seja a obrigação contrahida na França ou no estran-
geiro.
E' um principio odioso, filho da presumpção de si e da des-
confiança dos outros, que provoca a retorsão.
4. — As formas do processo regem-se também pelo direito
local, determina o art. 15. Cumpre, entretanto, distinguir as
formas ordenatorias das decisorias. As primeiras, quoe ordina-
tionem litis respiciunt, que dizem respeito á marcha do processo,
são estabelecidas pelas leis de organização judiciaria de cada
paiz. A ellas se refere o artigo. As segundas, que se referem
i.VTROoticgÃo 147
solução da causa, quos faciunt ad litis ãecisionem, não são
fôrmas processuaes, no sentido proprio da expressão. Rege-as a
lei
. que preside ao direito em questão.
A fôrma das citações, os prazos, os recursos pertencem á
Primeira categoria. Entram no domínio da lex fori. As provas
re
gulam-se pela lei do logar onde se passou o acto, que se quer
Pi ovar. Pensam alguns que á lex fori compete dizer que provas
sao llece
08
ssarias ou admissíveis; porém, como bem pondera Wmss,
meios de prova devem ser determinados no mesmo dia em
que o direito surge, pela lei, que presidiu ao seu nascimento. Este
assumpto já foi considerado nas observações do art. 12 desta
íntroducção.
Codigo Bustamante, arts. 318 e segs.

, ^ . 16. — As sentenças dos tribnnaes es-


1
^ligeiros serão exeqüíveis, no Brasil, mediante
as COn
dições que a lei brasileira fixar.

Direito anterior — Não houve alteração. A especie continúa


ser regulada pela lei n. 221, de 20 de Novembro de 1894, ar-
i§0 14, § 4.oj pr > in jinG^ e ietras a, b, c, d, e.

qu vigora entrecomparada — Adoptam


nós: o Codigo systema
do Processo Civilsemelhante ao
italiano, ar-
,lg0 ao
qual se refere o Codigo Civil, art. 10, 3.» parte, das
can^ e o portuguez, 1.087-1.090. O direito norte-ameri-
6 0 Ínglez na essencia
Oos8 tribnnaes '
estrangeiros; f®111 egual respeito
' consideram-nas, pelasprovas
porém, sentenças
con-
utes, e não conhecem o processo de exequatur ou homolo-
gação.
Seguem o systema de reciprocidade: o direito allemão, o
aco, o hespanhol, o argentino. Para a maioria dos paizes
lno a e
- m ricanos, regula o Codigo Bustamante, arts. 423 e segs.
Vend^0 atratado,
^ran^a somente
e na
Detsi
se
ca as
' sentenças
tornam estrangeiras,
executorias mediante não ha-
revisão
Ue
rneritis.
direito romano, vigorava o principio: extra territorium
vale^06na "^Iío an( a non paretur (D. 2, 1, fr. 20) que ainda pre-
. ail ^ i ' ua Suécia e na Noruega, onde as sentenças
geiras não produzem effeito.
148 CODIG0 CIVIL

Projectos — Felicia dos Santos, arts. 42-44; Fabuco, 59 e


60; Coelho Rodrigues, 18, da lei preliminar; Beviláqua, 41, da lei
de introducção; Revisto, 40.
Bibliographia — Direito int. privado, § 69; Lafayktte, Pro-
jecto cit. arts. 81-85; Rodbigo Octavxo, Direito do estrangeiro no
Brasil, ns. 117-123; Samuel Mabtins, Execução das sentenças
estrangeiras no Brasil; Pimenta Bueno, Direito int. privado, nú-
meros 270-287; Estbvam de Almeida, O Proj. do Cod. Civil, pa-
ginas 37-38; Gomes de Castro, Direito internacional privado, ca-
pitulo VI; Ch. Constant, De Véxécution des jugements étangers;
Maknoco e Souza, Execução extra-territorial das sentenças;
Piore, Droit int. codifié, arts. 124-134; Wharton, Private int.
law, §§ 646-675; Bar, Lehrhuch, §§ 49-54; Asser et RivieiR, Élé-
ments, § 89; Grasso, Diritto int. privai o, § 111; Despagnet,
Précis, ns. 190-209; Pillet, Príncipes, ns. 300-302; Varkilles-Som-
mières, Synthèse, II, ns. 669-707; Wbiss, Manuel, ps. 633-649;
Paepb, in Revue, de droit int. et lég, comparée, 1906, ps. 24 e
segs.; Alberic Rolin, na mesma revista, 1912, ps., 284-269, e na
Revue de droit int. privé, 1912, ps. 517-530; Pillet, nesta ultima
revista, 1913, ps. 913-922, e 1915, ps. 755-777; Hans Sperl, Die
Zivangsvollstreckung in huergerlichen Rechtssachen; V. Corian,
in Clunet, 1912, ps. 1.059-1.071; 1913, ps. 89-101; Machado Vil-
lela, op. cit., ns. 98 e segs.

Observações — 1. — O systema estabelecido pela lei n. 221,


de 20 de Novembro de 1894, art. 12, § 4.°, e conservado pelo
Codigo do Processe Civil, arts. 785 a 796 submette a sentença
estrangeira á "homologação do Supremo Tribunal Federal, com
audiência das partes e do Procurador Geral da Republica, salvo
se outra coisa estiver estipulado em tratado.
No processo de homologação, observar-se-á o seguinte:
a) "Distribuida a sentença estrangeira, o relator mandará
citar o executado, para, em dez dias, contados da citação, de-
duzir, por embargos, a sua opposição, podendo o exequente, em
egual prazo, contestal-os.
&) "Pôde servir de fundamento para a opposição:
1.° Qualquer duvida sobre a authenticidade do documento
ou sobre a intelligencia da sentença.
2.° Não ter a sentença passado em julgado.
INTRODUCÇÃO 149

3.° Ser a sentença proferida por juiz ou tribunal incom-


petente.
4.° Não terem sido, devidamente, citadas as partes, ou não
Se
ter, legalmente, verificado a sua revelia, quando deixarem de
comparecer.
5.° Conter a sentença disposição contraria á soberania nacional,
a
ordem publica ou aos bons costumes.
"Em caso algum, é admissível producção de provas sobre
0
fundo da questão julgada.
c) "Em seguida á contestação, ou findo o prazo para ella
destinado, terá vista o procurador geral da Republica por dez
dias, e, com o parecer deste, irá o processo ao relator e, succes-
sivamente, ao revisor, na fôrma estabelecida para as appe-
iações, no regimento interno do Tribunal.
d) "Confirmada a sentença, extrahir-se-á a competente
carta, a que se addicionará a sentença homologada, para ser
executada no juizo seccional a que pertencer.
e
) "Se a execução da sentença estrangeira fôr requisitada
01
P " via diplomática, sem que compareça o exequente, o Tribunal
Perneará, ex-officio, um curador, que represente a este e pro-
'Pcva, em seu nome, todos os termos do processo.
"Egual procedimento guarda-se-á em relação ao executado,
Se
não comparecer, ausente, menor ou interdicto".
Outras regras sobre o processo de homologação de sentenças
estrangeiras encontram-se nos dispositivos citados do Codigo do
Pr
ocesso Civil.
2- -— As sentenças que se executam, no Brasil, mediante bo-
uiolagação da Corte Suprema, são as proferidas pelo poder ju-
diciário, quer em jurisdicção contenciosa, quer em jurisdicção
Sraciosa. As decisões administrativas, ainda que revistam forma
de setenças, não se executam estraterritorialmente. Quanto ás
sentenças proferidas em juizo arbitrai, se, para a sua efficacia,
nao Se interpõe a autoridade do poder judiciário, são actos de
direito privado, e, como taes, devem ser considerados no direito
internacional privado.
2- —- As sentenças sobre o estado das pessoas, opinam alguns,
dispensam homologação, por serem méramente declaratorias, não
dando logar a execução forçada; outros não vêem necessidade
Pern reconhecem a razão jurídica dessa excepção. Em principio,
6
certo que uma sentença sobre o estado e á capacidade da
Pessoa é, apenas, uma declaração dessas qualidades, eqüivale a
150 CODIGO CIVIL

uma prova indiscutível do modo de existir da pessoa, na ordem


jurídica do paiz, onde se proferiu a sentença. Nada ha que
executar, e, consequentemente, não ha que pedir homologação
dessa sentença. Ela valerá, em toda a parte, como documento
que affirma um facto.
Se, entretanto, a sentença sobre o estado envolve relações
patrimoniaes, a homologação é necessária, porque será o titulo
executivo, que o indivíduo apresentará, invocando a coacção do
poder publico, afim de lhe serem assegurados os direitos, que
a sentença declara lhe pertencerem.
No direito pátrio, essa questão está resolvida pelo decreto
n. 6.982, de 27 de Julho de 1870, arts. 10 e 11. Estatue esse
decreto que necessitam de confirmação: as sentenças estran-
geiras sobre partilhas e as que julgam questões de estado. Num
e outro caso, comprehende-se, a sentença estrangeira necessitará
de homologação, se tiver de ser executada no Brasil. Não de-
penderá dessa formalidade para valer como documento.
Esta solução ajusta-se com o estatuído na lei n. 221, de
20 de Novembro de 1894, art. 12, § 4.°, pr., segunda parte, e Co-
digo de Processo Civil, art. 785, onde se determina que não serão
exeqüíveis as sentenças de tribunaes estrangeiros, sem prévia ho-
mologação do Supremo Tribunal Federal.
A jurisprudência do Supremo Tribunal não contraria o que
acaba de ser affirmado.
4. — As sentenças estrangeiras exeqüíveis no Brasil, por
homologação da Corte suprema, são as eiveis e as commerciaes.
As criminaes servem de fundamento aos pedidos de extradicção,
matéria, hoje, regulada, no Bx-asil, pelo decreto-lei n. 394, de
18 de Abril de 1938, e pelo Codigo Bustamante.
Apezar, porém, da sua territorialidade, a sentença penal,
pois que é um facto, pode repercutir, no estrangeiro, por modo
differente da extx-adicçâo. A responsabilidade civil pelo delicto
pôde se fazer effectiva no paiz, onde se achar o condemnado.
Fiore sustenta, com razão, que o condemnado por crime de furto
ou falsidade deve ser excluído da funeção de tutor, no estran-
geiro, e que o assassino de um dos cônjuges não deve estar des-
impedido de casar com o cônjuge sobrevivo, onde o crime de
morte do cônjuge constituir impedimento matrimonial.
5. — As rogatórias emanadas de autoridades judiciarias es-
trangeiras serão cumpridas, somente, depois de obterem o exe-
quatur do Presidente do Supremo Tribunal Federal. O juiz com-
XKTTRODXJCÇÃO 151

Petente para ordenar as deligencias necessárias é o da comarca


0
nde tiverem de ser executadas (Codigo de Processo Civil, art.
Quanto ás formalidades ordenatorias do processo e ao modo
de produzir as provas, seguirá a lei local; quanto á substancia
do direito, attenderá á lei que o regular, limitando-se ao que
lhes fôr solicitado, sem intervir na solução do caso jurídico.
Havendo convenção, observar-se-á o estipulado.

Art. 17. — As leis, actos, sentenças de outro


paxz, bem como as disposições e convenções par-
ticulares, não terão efficacia, quando offen-
fierem. a soberania, nacional, a ordem publica e
0
s bons costumes.

Direito anterior — O principio não fòra expresso em lei,


de um modo geral, mas algumas leis particulares o proclamaram
f
dec. n. 6.982, de 27 de Julho de 1878, art. 2.°, §§ 1.° a 4.°; lei
u
- 221, de 20 de Novembro de 1894, art. 12 § 4.°, h, 5.°; Carlos
I)E
^arvaiuio, Direito civil, art. 20).
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 12, das
dlsp. preliminares; Einfuehrungsgesetz, 30; Codigo Civil argen-
Lno, 14, ns. 1 e 2; do Montenegro, 8.°; francez, 6.°; boliviano, 5.°;
inponez, 91; uruguayo, 11 (quanto ás convenções).
Para o direito romano, vejam-se: D. 2, 14, fr. 38: jus pu-
blicuvi privatorum pactis mutari nornif protest; 12, 6, fr. 15; 50, 17,
'"r" ^ § 1.°; Cod. 2, 3, 1. 6: poeta quoo contra leges constitutiones-
QUe vel contra honos mores fiunt nullam vim liuhere induhitati
hiris est; 6, 5, lei única.
Drojectos — Esboço, art. 5.°; Felicio dos Santos, 45; Nabuco,
Coelho Rodrigues, 17 da lei preliminar; Beviláqua, 18, da lei
de Zntroducçãú; Revisto, 15, do titulo preliminar.
Dibliograplüa — Direito int. privado, 16, Bar, Lehrbucli,
P- 17; Martinho Garcez, Nullidades, 2.a ed., I, § 11, pa-
gll
ias 130-137; Estbvam de Almeida. O Projecto, ps. 40-46; Des-
Avgnet, Précis, ns. 107 e 108; Laueent, Príncipes, I, ns. 48-57;
hhoRE, Droit int. privé, I, ns. 245-258, in Cltjnet, 1908, ps. 351-366;
Príncipes, ns. 202-222; "WIeiss, Manuel, ps. 361-365; Va-
PPh.les-Sommières, Synthèse, ns. 168-181; Aubry, in Clunet,
152 CODIGO CTVTTi
1900, ps. 689-704; 1901, ps. 253-273, 643-671; 1902, 2i09-243; Fb-
pozzr, in Ci/UKKT, 1897, ps. 69-78 e 495-507; Roxjssbt, Science
nouvelle des lois, II, ps. 177-179; Huò, Comnventaire, I, nú-
meros 186-201; Rlaniol, Traité, I, ns. 271-276; Coãe Civil al-
lemand, publié par le Comitê de lég, étr., vol. IY, ao art. 30; Ma-
chado Vxllkla, op. cit, ns. 78 e segs.; Romero dei. Prado, El
derecho internacional privado, en el Codi<Jio, Civil argentino, Cor-
doba, 1935, cap. II.

Observações — 1. — Os Estados acceitam, sem reluctancia,


em nossos dias, a applicação da lei estrangeira, em seus terri-
tórios. Mas não consentem que a applicação dessa lei contrarie
ou destrua certos princípios considerados essenciaes á sua orga-
nização politico-juridica. Dahi o preceito que a Introdncção es-
tabelece no art. 17, depois de ter regulado o modo pelo qual o
direito estrangeiro pôde estender a sua efficacia para dentro
das nossas fronteiras. Não se executam, no Brasil, as leis, os
actos, as sentenças, nem as disposições ou convenções parti-
culares, offensivas da soberania nacional, da ordem publica e
dos bons costumes.
Soberania é o conjuncto dos poderes, que constituem a nação
politicamente organizada. Decompõe-se na autoridade de legislar,
governar, julgar, policiar e exercer a tutela jurídica (imperlum,
juridictio). Dentro do território de outra nação, nenhum Estado
pôde legislar nem praticar actos da competência exclusiva do
poder publico local.
A sentença do poder judiciário é um dos modos, pelos quaes
se manifesta a soberania. A sua prolação e execução, fóra dos li-
mites territoriaes da autoridade do Estado, seriam attentatorias
da soberania do Estado estrangeiro, onde se dessem. Cabe, por
isso, a cada Estado, o direito de regular os effeitos da sentença
dos tribunaes estrangeiros no teritorio nacional.
2. — A noção de ordem publica é uma das mais inconsis-
tentes do direito. Mas o senso jurídico percebe-a, sem difficul-
dade, no momento, em que ella deve reagir contra o elemento,
que a perturba. E' que ella se estende, tutelar, sobre toda a vida
organica do Estado, e, por isso mesmo, variam, consideravel-
mente, as possibilidades de offendel-a. Intervindo os exageros de
sensibilidade de um lado e as tendências invasoras de outrOf
XNTBormcçÃo 153
faz-se a perturbação nos espíritos. Por isso o Instituto de direito
internacional, ha annos, fazia votos para que, em cada Estado,
definisse o que se devia entender por ordem publica (Revue
de ãroit int. et lég. òomp., 1810, p. 334).
Leis de ordem publica são aquellas que, em ura Estado, es-
tabelecem os princípios, cuja manutenção se considera indis-
pensável á organização da vida social, segundo os preceitos do
direito. Por duas faces se manifesta a ordem publica, a interna
e
a externa. A ambas se refere o art. 17, porque, além das leis,
ac
tos e sentenças de outro paiz, considera as disposições parti-
culares e os contractos, abrangendo não somente, os actos juri-
dicos, que os individuos pratiquem no estrangeiro, como os que
Se
Passarem no paiz. A ordem publica externa é considerada,
huando o artigo afasta a efficacia de leis, actos-e sentenças de
outro paiz. As duas, interna e externa, quando se occupa do
testamento e outras declarações da vontade.
A Einfuehrungsgesetz propõe uma fórmula, que, traduzindo,
n
a essência, o mesmo pensamento consagrado em nosso art. 17,
Üie dá uma outra expressão um tanto mais forte, do que a de
0r
dem publica; pecca, porém, por mais susceptível de applicação
abusiva: —• "A applicação da lei estrangeira não é permittida,
duando acarreta offensa aos bons costumes ou ao fim de uma
lei
allemã". Segundo a jurisprudência do Reichsgericht, se dará
atfensa ao fim de uma lei allemã, quando entre o direito es-
trangeiro e o allemão houver "divergências de idéas políticas
6
sociaes tão grandes que a applicação da lei estrangeira offen-
aria, directamente, as bases da vida publica ou econômica al-
lamã". Este conceito pouco differe do de ordem publica; todavia,
fundado nelle, os tribunaes allemães se consideram autorizados
a
afastar a applicação de outras leis, que não interessando, pro-
P1 lamente a ordem publica, se acham em contradicção com os
P1 mcipios que, nos paizes civilizados, governam as relações
So
ciaes.
3- — Bons costumes são os que estabelecem as regras de
PPoceder, nas relações domesticas e sociaes, em harmonia com
08
levados fins da vida humana. São preceitos da moral. Nem
fados elles terão força para impedir a applicação da lei estran-
Seira, a execução das sentenças, ou a efficacia das convenções.
Tèin-n'a, porém, os que se referem, mais directamente, á hones-
tidade das famílias, ao recato do indivíduo e á dignidade social,
154 COMGO CIVTTj

f/ííte l<j'(lunt pictatcni, existivicitionem, verecundiam uostram, como


dizia Ulpiano.
São duas noções um tanto fluctuantes, a da ordem publica
e a dos bons costumes, porém, necessárias á regular applicação
da lei estrangeira.

Art. 18. — Nas acções propostas perante os


tribunaes brasileiros, os autores riaeionaes ou
estrangeiros, residentes fóra do paiz, ou que
delle se ausentarem durante a lide, prestarão,
quando o réo requerer, caução sufficiente ás
custas, se não tiverem, no Brasil, bens immoveis,
que lhes assegurem o pagamento.

Direito anterior — Decs. n. 564, de 10 de Julho de 1850,


arts. l.0-3.0, e n. 737, de 25 de Novembro do mesmo anno, art. 736.
Legislação comparada — Novella 112, cap. II; Codigo Civil
francez, art. 16, modificado pela lei de 5' de Março de 1895; vene-
zuelano, 30; Cod. do Processo Civil francez, 166 e 167; alle-
mão, 110.
A Italia, Portugal, a Dinamarca, a Noruega, e a Filandia
não exigem fiança ás custas.
Projectos — Nabuco, arts. 56 e 118, do tit. preliminar; Be-
viláqua, 42, da lei de Introducção; Revistiq, 41, do tit. preliminar.
Bibliographia — Direito internacional privado, § 67; Em
defeza, ps. 345-349; Espinola, Systema, I, p. 376; Almeida No-
gueira, Fiança às custas; EstbvAm de Almeida, O Projecto, pa-
ginas 39-40; Trabalhos da Gamara, VII, p. 259; Despagnbt,
Précis. n. 176; Wpiss, Manuel, ps. 599-613; Meili, Das int. Privat
und Zivilprozessrecht, §§ 67-69; Duoker, in Clunet, 1893, pa-
ginas 310-318; Raoul de la Grasserie, in Clunet, 1898, paginas
842-867; Macedo Soares, no Direito, vol. XLVII,

Observações — 1. — O Projecto primitivo, no art. 42, da


lei de introducção, declarava abolida a fiança ás custas, porque
assim exigem as tendências liberaes do direito moderno, e as
necessidades da justiça na communhão jurídica internacional.
INTEODXTCÇÃO 155
O Projecto revisto manteve essa norma salutar, mas a Ca-
gara não somente restaurou a fiança judicial,, como lhe deu
ffia fói ma aggressiva e injusta, que não se encontrava no di-
gito pátrio. Foi o Senado, por suggestão do Senador Glycerio,
Que desbastou essas arestas, para volver ao disposto do decreto
e
10 de Julho de 1850, do qual, todavia, ainda ficou distanciado
nosso aitigo, pois não abre, como esse decreto, uma excepção
as
Pessoas qualificadas em direito por miseráveis.
Ainda com essa feição mais benigna, o instituto não deixa
sei um estorvo á consecução da justiça, e destoa do espirito
a
nossa legislação. Melhor se ajustaria, a esse espirito li--
61
ul, o que resolveu a Conferência de Haya e se acha exarado
Uo art. 11 da convenção referente ao processo civil; "Nenhuma
Ca
ução ou deposito, sob qualquer denominação que seja, poderá
Ser im
Porta, quer em razão da sua qualidade de estrangeiro,
quer em razão de não terem domicilio ou residência, no paiz,
aos nac
ionaes de um dos Estados contractantes, que, tendo do-
micilio em um delles, comparecem perante os tribunaes de outro,
Qller como autores, quer como interventores" (Clunet, 1895, pa-
gina 203).
Assim entendeu o Projecto primitivo, propondo a extirpação
0
antiquado instituto, no que, aliás, se conformara com a Dis-
Posição provisória, de 29 de Novembro de 1832, art. 10, que
a
bolira a fiança ás custas, entre nós.
2. - acções propostas perante os tribunaes brasileiros,
z 0
art. 18. Deve entender-se: nas acções eiveis e commerciaes.
ex
igencia da fiança é estranha ás causas criminaes.
^ A caução pelas custas é estabelecida em beneficio do
^t0' Para que não seja incommodado por simples malevolencia
Quem se acha fora do paiz, quando vencedor se veja desem-
&a(
. _ io do que foi obrigado a despender no processo, a que foi
mpistamente provocado. São essas as razões, com que se justi-
Ca a
fiança pró expensis. E a Introducção diz; quando o réo
Te
querer.
Na mesma situação do rêo ficará o autor reconvindo, porque
reconvenção é uma acção proposta pelo réo, sustenta Almeida
ootjeira. Não me parece acceitavel essa solução, porque con-
aii
a dois principies de hermenêutica: o que manda restringir
08
Preceitos que contrariam a expansão da liberdade civil (odiosa
re
*tringenda); e o que se contêm no art. 6.° desta Introducção-,
156 comgo cmr,

a lei, que abre excepção a regras geraes, ou restringe direitos,


só abrange os casos que especifica.
Nem se objecte que onde ha a mesma razão deve haver a
mesma disposição, porque não ha paridade nas duas situações.
O autor propõe a acção; o réo não lhe pôde exigir a caução pró
expensis, porque elle reside no paiz. Mas, defendendo-se o réo
apresenta artigos de reconvenção; o autor reconvindo nã,o tem
mais que se assegurar das despesas do processo, porque: 1.°, foi
elle quem chamou o réo a juizo, quem provocou a acção, não po-
dendo, por isso, invocar, em seu favor, os motivos determinantes
da fiança ás custas; 2.°, ainda que, no incidente da reconvenção,
o réo reconvinte se colloque em posição de autor, nem por isso,
pei de, na acção propriamente, a sua posição de réo, como também
o autor não deixa de sel-o, apezar de reconvindo, e a lei, so-
mente ao réo, na acção, concede o direito de exigir, e somente-
ao autor impõe a obrigação de prestar caução sufficiente ás
custas.
4. A fiança ás custas pode ser requerida in limine litis,
se o autor residir fora do paiz, e em qualquer phase do processo,
se se ausentar durante a lide.
O modo de requerer a caução é regulado pelo direito pro-
cessual do Estado, onde a acção fôr proposta.
A- caução pode ser real ou fidejussoria, pois que, de
um e de outro modo, satisfaz os fins da lei. E esta, isentando da
obi igação de prestar caução o autor, que possua immoveis' no
Brasil, deixa perceber que a garantia real não deve ser recusada.
Além disso, fala o artigo em caução sufficiente. Na fiança,
a sufficiencia da caução determina-se pela idoneidade do fiador;
o epitheto, porém, melhor cabe á caução real, onde a sufficiencia
resulta do confronto entre a divida e a garantia.
Finalmente, ê para notar-se que a Introducção não usa da
denominação do direito anterior — fiança ás custas, porém sim
de caução sufficiente ás custas. Dessa differença na designação,
deduz-se a differença na substancia. Pelo direito anterior, a ga-
rantia era naturalmente pessoal (fiança'), podendo ser substi-
tuída pela real. O Codigo preferiu a garantia real (ca«ção),,mas
não excluiu a pessoal.
6. — O Codigo Bustamante, arts. 383, admitte a fiança ás
custas, com egualdade entre nacionaes e estrangeiros,
INTRODUCÇAO 157

Art. 19. — São reconhecidas as pessoas jurí-


dicas estrangeiras.

Direito anterior —■ Conforme (Carlos de Carvalho, Direito


ci
vil, arts. 147 e 160 e 163).
Legislação comparada — Silenciosa.
Projectos — Beviláqua, art. 23; Revisto, 21.
Bibliographia — Direito int. privado, § 30; Theoria geral
do direito civil, § 24; Rodrigo Octavio, Droit int. privé, ns. 34-40;
Espinola, Systema, I, ps. 345 e 372-373; Lacerda de Almeida,
Pessoas jurídicas, § 11; Homero Pires, Do reconhecimento das
pessoas jurídicas; J. X. Carvalho de Mendonça, Direito Com-
viercial, iv, ns. 1.510-1.526; Martinho Garcbz, Theoria geral
do direito, § 34; Lapayette, Projecto, arts. 15 e 16, e Direito
%n e
i r nacional, § 88; Vareilles-Sommiêrbs, Personnes mor ales,
ns
- 94-103 e 1.482-1.506; Synthèse, II, ns. 714-770; Weiss, Manuel,
Ps- 301-332; Despagnet, Précis, ns. 46-59; Piore, Droit int. privé,
i' ns. 302r322; Pillet, Príncipes, n. 330; Schirmeister, Das hu.er-
Verliche Recht Englands, §§ 20 e 21; Lainé, in Clunet, 1893,
Ps- 273-309; Renault, ibiãem, ps. 1.118-1.123; Dejardin, ibiãem,
Ps- 1.009-1.033; Woeste et Le Jeunb, ibiãem, ps. 1.123-1.128;
E. Plaschlen, in Clunet, 1894, ps. 282-289; Keidbl, in Clunet,
l89
9, ps> 25-27; P. Pouillet, in Clunet, 1904, 820-832; E. Gom-
^ux, in Clunet, 1907, ps. 993 e 1.004; Rioct, Corso, I, n. 146.
Achado Villela, op. cit., ns. 17 e 18; Romero del Prado, op.
cit
-> cap. IV.

as
Observações — 1. — Ha duas classes de pessoas jurídicas:
universitates personarum e as universitates bonorum, socie-
^ndes e fundações (Cod. arts. 20 e 24).
A nacionalidade destas pessoas não é uma qualidade que
es se
^01 ja essencial; é um attributo, que o direito lhes confere,
P analogia, para que ellas possam desenvolver a sua actividade
íól
a do paiz, onde se constituem. Alguns autores, porém, como
^n.LET e Vareillbs-Sommières, negam-lhes essa qualidade; outros
divergem quanto ao modo de a determinar.
A-s fundações attrihue-se a nacionalidade do paiz, onde se
eo
nstituem e estabelecem. As sociedades de pessoas terão a nacio-
Pnlidade do logar, onde se achar a séde da sua administração,
158 CODIGO CIVIL
porque ahz estão os seus orgãos. O direito inglez considera in-
geza uma sociedade por acções registrada na Inglaterra, con-
orme a lei, ainda que as suas acções sejam possuídas, no todo
ou em parte, por estrangeiros. (Clunet, 1914, ps. 216-219).
Como, porém, ha certa vacillação na doutrina, convém fi-
xarmos o que o direito pátrio considera pessoa jurídica brasi-
on a, para íicarem, por exclusão, determinadas quaes sejam as
estrangeiras,
Sobre as fundações não ha duvidas possíveis.
Quanto ás sociedades consideram-se brasileiras;
«) As de pessoas, constituídas no território da Republica,
sejam corporações religiosas, sociedades civis communs, ou so-
ciedades commerciaes em nome collectivo, de capital e industria
ou em commandita.
õ) As de pessoas, constituídas por brasileiros, fora da Re-
publica, se tiverem os seus contractos archivados, e as firmas
inscnptas no Brasil, assim como a gerencia confiada a brasi-
leiro.
c) As de pessoas contractadas no estrangeiro, mas estabele-
cidas no Brasil, assim como o estabelecimento situado no Brasil
pertencente a sociedade celebrada no estrangeiro, desde que
tenha vida própria esse estabelecimento.
d) As de capitães, constituídas na Republica.
e) A.s de capitães, organizadas no estrangeiro, se, obtida a
autoiização paia funccionarem na Republica, transferirem para
o território delia a sua séde e tiverem por directores, ou socios
gerentes, cidadãos brasileiros.
2. —- Como se vê, a nacionalidade das pessoas jurídicas
independe da nacionalidade dos indivíduos, que as compõem.
Todavia, em certas relações de direito, a lei attende á naciona-
lidade dos membros de uma sociedade. Assim é que uma socie-
dade, considerada brasileira por se ter constituído no Brasil»
ou no Biasil ter a sua séde, não pode possuir embarcação brasi-
leiia, se não fôr brasileiro o seu gerente, socio ou não (dec. nu-
mero 10.524, de 23 de Outubro de 1913, art. 16, — regulamento
da marinha mercante e da navegação de cabotagem).
3- As pessoas jurídicas estrangeiras, ainda que não tenham
estabelecimento no Brasil, podem aqui exercer direitos e con-
tiahir obi igações. Reconhecendo-as, a lei lhes dá, na ordem ju-
lidica, uma situação semelhante á das pessoas naturaes estran-
INTKOUÜCÇÂO 159
Seiras, que uão necessitam de estar no Brasil para adquirir, mo-
dificar ou alienar direitos, sob o patrocinio da lei brasileira.
A ellas também se applica o disposto no art. 18 desta In-
troãucção, quanto á caução pró expensis.
4- — Sendo commerciaes, as sociedades estrangeiras devem
1
egistrar os seus contractos antes de iniciar as suas operações,
Qo Brasil. Cumpre-lhes, também, ter, no paiz, representantes
munidos de plenos poderes. E' o que determina o art. 301 do
tmdigo Commercial. As civis regulam-se pelo que estabelece o
Paragrapho único do art. 20 desta Introducção.
Sendo anonymas, dependem de autorização para funccionar
Pa Republica (dec. n. 434, de 4 de Julho de 1891, art. 47).
5. — As sociedades estrangeiras de seguro estão sujeitas
as
Pimscripções do regulamento approvado pelo dec. n. 21.228,
^6 14 de Setembro de 1932.

Art. 20. — As pessoas jurídicas de direito


Publico externo não podem adquirir ou possuir,
por qualquer titulo, propriedade imniovel, no
brasil, nem direitos susceptíveis de desapro-
priação, salvo os prédios necessários para esta-
"ulecimentos das legações ou consulados.
Paragrapbo único. — Dependem de appro-
Va
Ção do Governo Federal os estatutos ou com-
promissos das sociedades estrangeiras por acções
Q
de intuitos não economicos, para poderem
funccionar, uo Brasil, por si mesmas, ou por
Pliaes, agencias, estabelecimentos, que as repre-
fentem, ficando sujeitas ás leis e aos tribunaes
brasileiros.

'l"eito anterior — Quanto ao principio do artigo, a matéria


lla es
o tava regulada por lei, mas os princípios acceitos eram
mais
fiheraes. Veja-se, todavia, Cablos de Cabvat.ho, Direito
^vil, arts. 149-151. Quanto ao paragrapho, ha os decs. n. 434,
tle
4 de Julho de 1891, art. 47, e n. 5.072, de 12 de Dezembro
âe
1903, art. 22.
ieo COD1GO CITIL

Projectos — Beviláqua, 23; Revisto, 21.


Bibliographia —• Veja-se a do artigo antecedente.

Obscr\ações 1. o Projecto primitivo estabelecera,


quanto á matei ia do principio do artigo, a capacidade acquisi-
tiva das pessoas juridicas estrangeiras, de direito publico, Es-
tados, piovincias ou communas, impondo apenas, a necessidade
de autorização do Governo Federal, para acquisição de immoveis
no Bi asil. Era a doutrina dos melhores mestres, e a Commissão
do Governo acceitou-a, sem a mais ligeira observação (Actas, pa-
gina 45 ).,
Duarte de Azevedo, porém, achou " de summa inconveniência
a concessão, feita no art. 23, de possuírem, immoveis no Brasil
as pessoas de direito publico estrangeiras" (Trabalhos ãa Ga-
mara, II, p. 15) Não deu os fundamentos da sua opinião, rnas
ella impressionou, profundamente, a Commissão dos vinte e um.
Azevedo Marques dil-o francamente: "Estou de p^eno ac-
côrdo com as cautelosas palavras supra, de incontestável pru-
dência, em que se vislumbra, quiçá, uma... prophecia". B
acrescentou: "Adopto-as e subscrevo-as de coração". Para cll0.
o dispositivo se afigurava pejado de conseqüências fataes á inte-
gridade da patria (Trabalhos cit, III, p. 37). A sua conclusão
foi eliminar a parte do artigo referente ás pessoas estrangeiras
de direito publico e modifical-o na parte concernente ás de di-
reito privado.
O mesmo espirito de prevenção mostrou Alfredo Pinto (Tra-
balhos cit., IV, ps. 66-69), que fez vingar a lição de Carlos dk
Carvalho (Direito civil, Introclucção, ps. LXXXVII-XCVIII, e
art. 151), cujo liberalismo, apesar do voto do Instituto de direito
internacional, soffreu um deliquio, talvez mais com receio da
Igreja do que em attenção aos Estados estrangeiros.
Já tendo justificado a doutrina do Projecto nas Observações
para o seu esclarecimento (Trabalh\os cit., I, ps. 21-22), limitei-
me, na discussão, a palavras muito sóbrias (Trabalhos cit., IV,
p. 71). Encarregou-se de combater a doutrina respectiva o
Sr. Andrade Figueira, que, aliás, representava, muito honrosa-
mente, o antigo regimen e as' idéas conservadoras. Disse elle:
"Uma outra divergência, e esta profunda, não com o autor do
Projecto, mas com todos os oradores, que se têm manifestado:
IKTKODTJCÇÃO 161

ô esta proposição innocentissima de que as pessoas estrangeiras


de direito publico poderão possuir immoveis no Brasil, com
Prévia autorização do Governo Federal.
"Quando ouviu, ha dias, as reclamações, que se levantaram,
a proposito deste artigo, ficou ainda mais convencido de que, no
Brasil, não ha republicanos, e que, se ha algum, é o orador.

"Não conhece nada mais innocente do que esta disposição.


O que tem que qualquer nação estrangeira queira ficar subdita
do Brasil, comprando terrenos, casa e palacios para suas le-
gações, pois está escripto que os moveis e os immoveis serão re-
gidos pela lei brasileira?"
E, depois de outras considerações, concluiu; "Neste as-
sumpto, não ha meio termo: ou devemos adoptar a política chi-
heza, isolarmo-nos do mundo, ou devemos abrir nossas portas a
todos os estrangeiros. Com esta política mesquinha, nunca este
Paiz progredirá, nunca será rico.
Ainda mesmo que esta nação quizesse imitar a China, já
hão o poderia, porque a sua política, desde os tempos coloniaes,
antes mesmo de ser proclamada a independência, foi a política
das relações exteriores, das facilidades de commercio, etc. Dom
João YI abriu os portos do Brasil ao colono europeu, estabe-
leceu a liberdade commercial, firmando, desde então, a política,
lue não pode ser revogada. Depois, durante o regimen decahido,
Procurou-se completar essa política vantajosa sob todos os pontos
de vista, por que se encare". (Trabalhos cit. IV, ps. 88 e 90).
Era, effeetivamente, um recúo, e não pequeno, o que se
Pretendia. Não obstante, foi esse pensamento restrictivo que
Prevaleceu.
O Senado, não querendo acompanhar a corrente reaccio-
haria, abriu uma excepção á incapacidade acquisitiva das pessoas
de direito publico estrangeiro, para que pudessem possuir os
Prédios necessários aos estabelecimentos de suas legações e con-
sulados.
E' um meio termo entre a prevenção absoluta da Gamara e
a
doutrina liberal, sem deixar de ser cautelosa, do Projecto pri-
mitivo, mantida pelo Revisto, defendida por Andrade Figuêika,
er
h nome das nossas tradições, e apoiada em autoridade como
a
de Vareiixes-Sommières, Fiore, Pedozzi, Lafayette e Lacerda
1)81
Almeida.
Codigo Civil — 1.° vol. 11
162 COBIGO CIVIL

2. — Para que as pessôas jurídicas de direito privado


possam funccionar no Brasil, por si mesmas, ou por filiaes,
agencias ou estabelecimentos, que as representem, têm de sub-
metter, á approvação do Governo Federal, os seus estatutos ou
compromissos, se forem de intuitos não economicos, ou tiverem
o seu capital dividido em acções. E' o que determina o para-
grapho único deste artigo.
A exigência não se applica ás sociedades de pessôas, que
prosigam fins economicos, ás em nome collectivo, de capital e
industria, sejam commerciaes ou civis, e a todas as que tiverem
por base constitutiva um contracto. São as associações de fins
idéaes, as corporações, as sociedades anonymas e as em comman-
dita por ação, que, tendo por fundamento legal estatutos ou
compromissos, dependem de autorização do governo para func-
cionar, no Brasil, por si, filiaes, agencias ou estabelecimentos.
Era esse o direito anterior, quanto as sociedades anonymas
e em commandita por acção. Das associações de fins idéaes a
lei não cogitara.
A primeira edição do Codigo apresentava uma redacção
obscura, neste artigo, que, depois de discutida, no Senado, por
João Luiz Alves e Epitacio Pessoa, foi, afinal, corrigida pela
lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919.
As sociedades estrangeiras, que tiverem por objecto ope-
rações de seguro, também dependem de approvação do Governo,
qualquer que seja a forma que revistam. (Veja-se o dec. n.
21.828, de 14 de Setembro de 1932).
As sociedades commerciaes, para terem estabelecimento no
Brasil, devem ter o seu contracto archivado no Registro Com-
mercial da circumscripção respectiva, ficando, assim, sujeitas ás
leis e á jurisdicção brasileira (Cod. do commercio, art. 301,
2.a parte). A falta desse registro torna solidariamente respon-
sáveis, para com terceiros, os socios, administradores e gerentes.
(J. P. Carvalho de Mendonça, Direito commercial, IV, nu-
mero 1.513).
Veja-se o que ficou dito nas Observações ns. 3 a 5 do ar-
tigo antecendente. E mais o decreto-lei n.0 341, de 17 de Maio de
1938, que trata do registro do contracto social, em que ê parte
algum estrangeiro.
INTRODUCÇÃO 163

. . 21. — A lei nacional das pessoas jurí-


dicas determina-lhes a capacidade.

Uireito anterior — Tal era a doutrina assente.


Uibliographia _ a do art. 19.

na ^)bservaç_ões — 1. — A matéria deste artigo já foi exposta


que 0 Serva^0 n- 1' art. 19. E ali teve ella cabimento, por
-tigo fala de pessoas jurídicas extrangeiras e era ne-
ieeggaano examinar o que essa expressão significa. Remetto, por
0 0
' Initor ao que ali ficou dito.
2
te " ~~ Este artigo tem uma historia curiosa. Com os dois an-
ienooClenteS formava 08 arts 17 18 e 19 da Parte Geral do Pro
remettido pela Gamara- ao
' Senado, em 1902. O Senado-
ndeu
e qne a matéria dos artigos era de direito internacional
s lemetteu para a Introclucção. A emenda era justa, quanto
e
0 " mas, so por inadvertencia, poderia abranger
19
no Dizia elle: é applicavel ás pessôas jurídicas o disposto
inteh^ ^ ^ artigo 8.° da Parte Geral abolia a restituição por
que"0 ^ faVOr d0S menores lesados- Assim, o art. 19 declarava
licio ^anibem ds Pessôas jurídicas não era concedido esse bene-
liansportado para a Introãucção, com a mesma referencia
art s o
positiv" ' que nã0 P0dia ser mais da Parte Gera1 0 dis
' '
Pessôa.0 .ledundou numa incongruência, pois1 fazia applicar ás
dos bg8 3Uridlcas 08 direitos de familia e o regimen matrimonial
a
fór6118 Aperceí)endo"se di88o, a Commissão de redacção deu-lhe
ó cornia C1Ue tem 0 aid'' 21 da IntroduCQã0, o qual declara, como
^onal^6 na doutrina d6 digito internacional, que a lei na-
assim 6 a de^erm^nadora da capacidade das pessôas jurídicas,
turno COm0 0 ^ 8,0 0 mesmo estatuíra quanto ás pessôas na-
PARTE GERAL

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. I.0 — Este Codigo regula os direitos


e 0
tegações de ordem privada, concernentes ás
Pessoas, aos bens e ás suas relações.

Legislação comparada — Conforme: Codigo Civil da Áustria,


art
- l-0; Colombiano, 1.°; portuguez, 3.°.
Lrojectos — Nabuco, art. 23; Coelho J&oúrigues, 1.°; Bevi-
laqua
' 1°.; Revisto, 1.
liibliogTaphia —- Theoria geral ão direito civil, §§ 1.° e 2.°;
^ahaihos da Gamara, IV, ps. 76 e 111; Exuemann, Einfuehrung,
§ 6.°; Espinola, Breves annotações, I, ps. 63 a 64.

CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO


\k REGIÃO
Observações — O intuito deste artigo é indicar o objecto
POjprio do Codigo Civil, caracterizando-o como lei reguladora
s
direitos e obrigações de ordem privada, concernentes ás
|? sôas, aos bens e ás suas relações. A fórmula proposta pelo
es

0 n 0 era das mais fe zes


pr ^
^ 0Pria, usava ^ '
do adjectivo particulares em qualificar
para vez da palavra
os di-
^ 1^0s e as obrigações, de que se occupa o direito civil. Direitos
c^igações de ordem privada, como está no Codigo, é que se
ÍZer
dica ^611 ' ^■1®m disso, parecia indicar que ha relações juri-
^6 08 ^ens» Quando ellas somente se podem conceber
um vinculo entre pessoas (direitos das pessôas, da fa-
^uXlla fi
r» i credito) ou entre uma pessôa e uma coisa (direito
166 CODIQO CIVIL

A modificação da Gamara, no ultimo turno, foi vantajosa,


nesta parte.
O pensamento do artigo é assignalar que no Codigo Civil
se não encontram disposições relativas ao direito publico, ao
direito commercial e ao processo. Collocado em seguida á In-
trotiucção, não se applica o dispositivo ao que ali se prescreve,
porquanto, essa parte preliminar no Codigo Civil, como já se
viu, contém disposições de direito publico e de direito inter-
nacional privado, que interessam ao direito civil, mas estão
fora de sua esphera.
LIVRO 1

ID^S FESSÔ^S

TITULO I

DIVISÃO DAS PESSOAS

CAPITULO I

Das pessoas naturaes

Art. 2.° — Todo o homem é capaz de direitos


e
obrigações, na ordem civil.

Oireito anterior — Idêntico (Constituição, art. 72, § 2.°;


Oarlos de Carvalho, Direito civil, art. 71).
Legislação comparada — Dispõem semelhantemente; o Co-
^igo Civil suisso, arts. 11 e 12; o portuguez, 1.° e 7.°; o aus-
Oiaco, 18; o uruguayo, 21, pr.; o argentino, 51; o chileno, 55.
Lrojectos — Esho^o, 35; Nalmco, 2.° e 11; Felicio dos 8an-
ío,s
' 75; Beviláqua, 2.°; Revisto, 2.°.
Bibliographia — Minha Theoria yeral do direito civil,
^ 3.° a 5.°; Teixeira de Freitas, Esboço, notas aos arts. 16 e 17;
Bicas, Curso, II, tit, IV, cap. II; Espinola, Systema, I, ps. 239
a 25
8; SpENCEai Vampbé, Manual, I, § 16; Almachto Dinxz, Pri-
"ie'ros princípios, I, §§ 14 e 15; Dias Ferreira, Codigo Civil
lJ0)tuguez, I, comm. ao art. I.0; Alves Moreira, Instituições, I,
118
• 58 e 59; Planiol, Traité, I, ns. 243 a 345; Huc, Oommen-
tuire, I, gg a 202; Aubry et Bau, Cours, I, §§ 52 a 53; Pla-
Nas
Soares, Los extrangeros en Venezuela; Demogue, Les no-
tions fondamentales du droit privé, Paris, 1911, ps. 320-382;
168 CODIGO CIVIL

Endemann, Einfuehrung, I, §§ 21 e 22; Windscheid, Panã., I,


§§ 49 e 51, e as notas de Padda e Bensa; Deenbukg, Panã., I,
§ 49; Koiiler, Lehrhuch, 1, § 100; Bruns-Mitteis, na Encyclopoeãie
ã. Rehtswissenchaft, I, § 15; Schirmeister und Prochowniok,
Das buerg. Recht Englands, I, § 1.° e comm.; Valveede, Insti-
tuciones, I, ps. 69 a 89; Sanchbz Roman, Derecho civil, 2.a ed., II,
pags. 112 a 120; Rivakola, Instituciones dei derecho civil ar-
gentino, I, ns. 34 a 37; Zubizarreta, Derecho' civil, Asuncion,
1899, I, ps. 49 a 56; Champeau e Uribe, Derecho civil colom-
biano, I, ns. 146 a 150; Chironi, Instituzioni, §§ 23 bis a 25;
Rossel et Mentha, Code Civil suisse, I, ps. 75 a 77; E. Huber,
Exposé ães motifs de Vavant projet (Code Civil suisse), 37 e
segs.; Champeau e Uribe, Derecho civil colombiano, I, números
146 a 150; Ferreira Coelho, Co digo Civil, III.

Observações — 1. — Occupa-se este primeiro livro da parte


geral com as pessoas. Pessôa é o ser, a que se attribuem direitos
e obrigações. Eqüivale, assim, a sujeito de direitos.
Personalidade é a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica
a alguém, para exercer direitos e contrahir obrigações. Todo
ser humano é pessôa, porque não ha homem excluido da vida
jurídica, não ha creatura humana que não seja portadora de
direitos. Mas não somente o homem é pessôa, no sentido jurí-
dico. Também o são certas creações sociaes, personalizadas para
mais fácil realização dos fins jurídicos. Dahi as duas categorias
de pessoas: — as naturaes, ou physicas, e as jurídicas.
2- — O Codigo chama o homem pessôa natural, porque, se
a personalidade não é, apenas, um aspecto da individualidade
humana, ê, certo que o indivíduo da especie hominal é o agente
primário e coramum do direito. Até nas corporações e nas fun-
dações, Jhering não vê outros sujeitos de relações jurídicas além
dos indivíduos.
Alguns autores preferem a designação — pessôa physica.
Porém, como observou Teixeira de Freitas, Esboço (nota ao
art. 17), "o homem, physicamente considerado, é um animal,
e só como tal não seria ente jurídico". Não é do ser biologico,
certamente, que se occupa o direito, e sim da individualidade
moral, que se move dentro da sociedade civil.
Vai. verde propõe a denominação, — pessôa individual;
porém, como a antithese, — pessôa collectiva, é mais restricta
DAS PESSÔAS 169

Ao que a idêa, que procura representar, não abrangendo todas


as formas da personalidade não individual, devemos dar prefe-
r
encia á designação adoptada pelo Codigo.
3. — Todo ritmem, diz o Codigo. Essa expressão compre-
hende todos os sêres da especie humana. Já o direito romano
axplicava, pela voz de Gato, que Tiominis appellatione tam fce-
minam quam masculum contineri (D. 50, 16, fr. 152). E, assim,
sempre se entendeu, como se pode verificar, entre nós, dos
Axiomas de Barbosa Ltjzitano e das Regras de Direito de Correia
Tebles. Todavia, a expressão do Projecto primitivo, acceita pela
Gamara, todo ser humano, era mais comprehensiva, e, sobretudo,
attendia, mais claramente, aos direitos do nascituro, de que o
Codigo se occupa, no art. 4.°, e a certos casos de desvios da forma
corporea.
4. — O Codigo Civil allemão não contém um artigo equiva-
le
nte ao art. 2.° do Codigo Civil brasileiro, e Bndemann parece
Ementar a lacuna. Realmente este dispositivo, que, em ver-
üa<
le, é a primeira enunciação do Codigo, pois a introducção é
Ul
n annexo, e o art. I.0 ê uma delimitação de terreno, tem um
Srande alcance.
E' uma affirmação do valor jurídico dos sêres humanos,
sem distincção de sexo nem de nacionalidade. A todos, de onde
T10!" que venham, o Codigo faculta o ingresso na cidadella do
áireito, e offerece as seguranças da ordem jurídica. A escra-
vidão e todas as instituições, que annullam a liberdade civil,
sao repellidas. Dentro do circulo, que a lei traça, para dirigir e
harmonizar a actividade humana, o homem é livre e pôde des-
ei
ivolver as suas energias, adquirindo e conservando valores ju-
r
idicos.
—- Capaz de direitos e obrigações. Capacidade é a extensão
hada aos poderes de acção, contidos na personalidade. Neste ar-
tig
o não se trata da capacidade de jacto, _ que é o limite da
Parsonalidade. Aqui o Codigo define, antes, a personalidade, que
e
quivale á capacidade de direito. Affirma que todo homem é
Pessôa, no sentido jurídico da expressão.
^ capacidade de facto é o exexmicio, a manifestação da per-
SOl
sln
ialidade, e o Codigo não tinha necessidade de consideral-a
ão para, declarar que pessoas são dellas privadas e em que
fedida. E' o que faz nos arts. 4.° a 8.°.
— Na ordem civil. O Codigo Civil não se occupa senão
as
relações de ordem privada. Os direitos e as obrigações de
170 CODIGO emL

ordem política não entram na sua esphera, como delia se acham


excluídas as relações publicas de direito internacional, que só-
mente competem aos Estados nos seus contactos recíprocos.
As relações de ordem internacional privada, como já se observou,
têm um campo especial, onde se estabelecem. Serão umas civis,
commerciaes outras e ainda outras processuaes. Não é no corpo
do Codigo Civil, em todo o caso, que se as consideram. A Intro-
ãucção traçou as regras geraes, a que estão submettidas.
A ordem civil eomprehende todo o direito privado, o civil e
o commercial. Embora este ultimo deva formar um corpo de
leis á parte, é dominado pelo direito civil, de que é apenas uma
especialização.
O art. 2.° do Codigo Civil diz, portanto, que o ingresso na
vida civil, propriamente dita, como o exercício do commercio e
das industrias, era geral, está franqueado a todos, observadas,
naturalmente, as prescripções especiaes, julgadas necessárias á
regulamentação da actividade humana, desenvolvendo-se na socie-
dade.

Art. 3." — A lei não distingue entre na-


cionaes e estrangeiros, quanto á acquisição e ao
gozo dos direitos civis.

Direito anterior — Conforme, embora necessitasse de uma


accentuação mais precisa, na lei civil (Constituição, art. 72, pf-'-
Teixeira de Freitas, Gonsoliãaçõ\oi, ps. CXXXVIII e CXXXIX;
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 70).
Legislação comparada — Conforme: Cod. Civil chileno, 55;
argentino, 52; uruguayo, 22. Divergente: Codigo Civil francez,
art. 11 austríaco, 33; lei allemã de intr., ao Cod. Civil, 88; hol-
landez, 9.°; portuguez, 17 e 26; hespanhol, 27; boliviano, 7.°;
japonez, 2.°; direito americano (Walker, American law, § 54);
inglez (Schihmeistek e Pkochowjntck, Das h. li. Englands, § 3-,
comm. 3.°, 47, comm. 3, e 72-74); mexicano (Clijnex, 1.002, Ps-
1.117 e segs). O Codigo Civil italiano de 1938, substituiu o pre-
ceito liberal do art. 3 do anterior, pelo seguinte: "O estrangeiro
é admittido a gozar os direitos attribuidos aos cidadãos, sob n
condição da reciprocidade e salvo disposições contidas em leis
especies" (art. 6).
DAS PESSÔAS 171

Projectos — Esboço, arts, 37 e 38; Naòuco, 34 do tit. pre-


lim.; Felicio dos Santos, 11; Beviláqua, 2.°, paragrapho único;
Revisto, 3.°.
Bibliographia — Meu Direito int. privado, §§ 21 a 23; Ro-
oeigo Octavio, Direito do estrangeiro no Brasil; o mesmo, Le
droit int. privé dans la lég. hrésilienne; Gomes de Cabtko, Di-
reito internacional privado, cap. IV; Glasbon, Hist. du droit et
des inst. de VAngleterre, VI, ps. 128 a 133; Wharton, Private
int. law, § 17; Fioee, Droit int. Privé, I, ns. 7 a 18 e 277 a 301;
Ricci, Corso, I, ns. 142, 143, 147 e 148; Weiss, Manuel, liv. II,
cap. li; Pillet, Principes, §§ 11 e 57 a 106; H. Pascaud, Le Goãe
Civil et les reformes quAl comporte, ps. 10 a 19; Lacerda de
Aímeida, O dec. n. 1.641, de 7 de Janeiro de 1907, sobre expulsão
de estrangeiros; Martini, Dexpulsion des étrangers; Kohler,
Lehrbuch, § 103; J. W. Heddemann, Die Fortschritte des Zivil-
rechts, I, ps. 65 a 69; Trabalhos da Gamara, IV, ps. 97 e 101;
E. Geasson, Conãition civile des étrangers en France, em Clu-
Net, 1905, ps. 513 e segs., e 1907, ps. 593 e segs.; A. Douge, Con-
dition des étrangers en Chine, em Clunet, 190-5, ps. 850 e segs.;
Nagaoka, situation juridique des étrangers au Japon, em Clu-
1905, ps. 1.217 e segs., 1906, ps. 107 e segs., 1907, ps. 314
6
segs.; Reutersiciold, Conãition juridique des étrangers en
Suède, em Ceunet, 1906, ps. 577 e segs.; Daniee Saurin, Gon-
dition juridique des étrangers au Maroc, em Clunet, 1907, ps. 5
6
segs. e 284 e segs.; J. Greenfield, Conãition juridique des
étrangers en Perse, em CLUNEfr, 1907, ps. 257 e segs., e 973 e
se
Ss.; g. Padotjx, Condition juridique des étrangers au Siam,
ei
a Clunet, 1908, ps. 693 e segs. e 1.038 e segs., 1910, ps. 78 e
Se
Ss.; Lamba, Condition juridique des étrangers en Egypte, em
Ceunet, 1910, ps. 421 e segs., e 1.077 e segs.; Pbnbee et d'Ar-
Den
ne de Tizac, Condition juridique des étrangers en Turquie,
ei
a Clxjnet, 1913, ps. 492 e segs,. e 843 e segs.

Observações — 1. — A egualdade juridica dos nacionaes e es-


^augeiros foi estabelecida pela Constituição federal, art. 72, pr.:
^ Constituição assegura, a brasileiros e a estrangeiros resi-
^antes no paiz, a inviolabilidade dos direitos concernentes á li-
^ardade, á segurança individual e á propriedade". O Codigo Civil,
Portanto, nada mais fez do que reproduzir a these constitu-
Clo
nal. Semelhantemente a Constituição de 1937, art. 122, pr.
172 CODIGO CIVIL

Todavia a própria Constituição e outras leis consagram al-


gumas restricções ao principio liberal da egualdade jurídica.
Assim é que:
!■" A navegação de cabotagem será feita, exclusivamente,
por navios nacionaes (Const., art. 16, XII). Sobre este assum-
pto foram promulgadas as leis de 11 de Outubro de 1892 e 5 de
Dezembro de 1894 e o reg. n. 2.304, de 2 de Julho de 1896,
e n. 10.524, de 23 de Outubro de 1913, que o substituiu.
2.° — Em relação ás pessoas jurídicas estrangeiras de di-
reito publico, a Introdiicção ao Codigo Civil, art. 20, estabelece
restricções quanto á aquisição de immoveis; as sociedades ano-
nymas estrangeiras necessitam de autorização, para que func-
cionem na Republica (dec. n. 434, de 4 de Julho de 1891, art. 47);
as companhias de seguros necessitam egualmente dessa autori-
zação e ficam submettidas ao regimen do dec. n. 21.828, de 14
de Setembro de 1932.
3.° — Os estrangeiros não podem ser corretores (Dec. nu-
mero 2.475, de 12 de Março de 1897, art. 4.°, letra a: regs. appro-
vados pelos decs. n. 8.248, de 22 de Setembro de 1910, e n. 2.264,
de 28 de Dezembro de 1911, art. 4.°).
4.° — Nem leiloeiros matriculados (Cod. comm., art. 68 e
decreto n. 21.981, de 19 de Outubro de 1932.)
^•0 Não podem, egualmente, ser providos em serventias
vitalícias ou empregos de justiça (Dec. n. 9.420, de 28 de Abril
de 1885, art. 169).
®-0 Podem ser expulsos do paiz, quando perigosos á ordem
publica (Decs. n. 1.641, de 7 de Janeiro de 1907, e 2.741, de
8 de Janeiro de 1913; Const, art. 16, III).
2. — No Ac cordão n. 4.386, de 6 de Outubro de 1917, o Su-
premo Tribunal Federal consagrou a. estranha doutrina de que
a Constituição, art. 72, assegura as suas garantias sómente aos
estrangeiros residentes, que no paiz "se radicam conformados
com a sua organização, collaborando com os nacionaes dentro
da ordem e para o progresso".
Explica-se esta attitude, como reacção ao anarchismo, que,
avassalando o mundo em crise, tentava, também, insinuar-se
entre nós. A verdadeira doutrina, constitucional, porém, estava
no voto vencido de Pedro Lessa, acceito por Guimarães Natal,
e no de Edmundo Lins. O estrangeiro residente no Brasil não
devia ser expulso; commetteudo crime, fosse punido. O não re-
sidente estaria sujeito ás normas de direito internacional.
DAS PESSOAS 173

3. — A Constituição reformada, continuando a assegurar,


a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz, a inviolabilidade
dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e
á propriedade, estava, comtudo, no art. 72, que consagra as ga-
rantias dos direitos individuaes, redigida num espirito menos
liberal. Em relação á matéria do art. 3.° do Codigo Civil, ha
Que notar o seguinte:
O § 17, alinea b prescreve: As minas e jazidas mineraes
necessárias á segurança e defesa nacionaes e as terras onde exis-
tirem não podem ser transferidas a estrangeiros. Minas e jazidas
necessárias á segurança e defesa do paiz devem ser, forçosa-
mente, as que assim foram declaradas pelo Poder Executivo
Federal. Emquanto não houver essa declaração, todas são livres,
Podem alienar-se a estrangeiros. Também poderão pertencer a
e
strangeiros as que se descobrirem em terras do patrimônio
delles. E aquellas de que necessitar a União para a sua se-
gurança e defesa poderiam ser desapropriadas (Codigo Civil,
ar
t. 590, § 1.°, I e II), por necessidade publica, quem quer que
íosse o seu proprietário. Não havia, pois, necessidade deste dis-
positivo, contrario ao espirito da Constituição de 1891, á indole
•Jo nosso povo e á finalidade geral da cultura humana.
O § 33 do mesmo art. 72, declara: E' permittiãg ao Poder
Executivo expulsar do território nacional os sul>ãitos est7-angeiros
Perigosos á lOjrdem publica e nocivos aos interesses da Republica.
Deu-se força constitucional aos decretos referentes á expulsão
estrangeiros, que não encontravam apoio na Constituição an-
terior, elaborada ao influxo de sentimentos de fraternidade hu-
mana. E agora, a expulsão pode ferir ainda o estrangeiro já
ra
dicado no paiz. A letra do paragrapho 33 não abre espaço a
r
estricções ou attenuações.
A sociedade dispõe de leis tuitivas da ordem e da segu-
ra
PSa. Se não inefficientes, reformem-se. Não se estabeleça,
Porém, essa distincção entre nacionaes e estrangeiros, quanto á
r
eacção defensiva da sociedade juridica organizada, porque todos
Sâo eguaes perante a lei, como a própria Constituição proclama
^ai"t. 72, § 2.°), e porque esta faculdade de expulsar é sobrevi-
Ve
ucia do odio ao estrangeiro das velhas civilizações guerreiras,
Achadas e aggressivas.
■— A Constituição actual, de 1934, criou outras restricções
(art
s- 131, 133, 136).
■— Na de 1937, destacam-se as seguintes disposições:
174 CODIGO CIVIL

Art. 122, 15, letra g: Os estrangeiros não podem ser pro-


prietários de empresas jornalísticas, nem participar de taes em-
piesas como accionistas, nem exercer a direcção de jornaes, nem
dar-lhes orientação intellectual, política e administrativa.
Art. 143: A autorização pai'a explorar minas somente é
concedida a brasileiro ou empresas constituídas por accionistas
brasileiros'.
— Art. 148: Somente ao brasileiro é permittida a aquisição
de domínio, por occupaçâo de um trecho de terra, até dez hectares,
tornando-o productivo e tendo nelle a sua morada.
Ait. 149; Os proprietários, armadores e commandantes de
navios nacionaes devem ser brasileiros natos-, assim como os prá-
ticos das barras, portos, rios e lagos. Também devem ser bra-
sileiros natos, na proporção de dois terços, os tripolantes.
As pi ofissões liberaes somente podem ser exercidas por
brasileiros natos e pelos naturalizados, que tenham prestado ser-
viço militar no Brasil, exceptuados os casos de ejxercicio legi-
timo na data da Constituição e os de reciprocidade internacional
admittidos em lei.
Somente aos brasileiros natos é permittida a rivalidação de
diplomas profissionaes expedidos por institutos estrangeiros de
ensino.
A entiada, distribuição e fixação de immigrantes no ter-
ritório nacional estão sujeitas á condições, que a lei determina,
não podendo, porem, a corrente immigratoria de cada paiz ex-
ceder, annualmente, o limite de dois por centos, sobre o numero
total dos respectivos nacionaes fixados no Brasil, durante os
últimos cincoente annos (art. 151).
A vocação para succeder em bens de estrangeiros situados
no Brasil será regulada pela lei nacional em beneficio do côn-
juge brasileiro e dos filhos do casal, sempre que lhes não seja
mais favorável o estatuto de cujus (art. 152).
A lei determinará a porcentagem de empregados brasi-
leiros, que devem ser mantidos, obrigatoriamente, nos serviços
públicos dados em concessão e nas empresas e estabelecimentos
de industria e de commercio (art. 153).

Art. 4.° — A personalidade civil do liomein


começa do nascimento com vida; mas a lei põe
O AS PBSSÔAS 175

a salvo, desde a concepção, os direitos do nasci-


turo.

Direito anterior — Conforme, ainda que o inicio da per-


sonalidade remontasse á concepção, como, aliás, é mais logico.
(Ord., 3, 18, § 7.°; 4, 82, § 5.°; Teixeira de Freitas, Consolidação,
ai
't. 1.°; Carlos de Carvalho, Dir. Civil. art. 74). O dec. n. 181,
24 de Janeiro de 1890, art. 4.°, desviando-se da tradição do
^osso direito, fazia retrotrahir os effeitos do casamento, em re-
lação aos filhos communs, á data do nascimento, se nascessem
^veis. Nesse caso, a personalidade teria como presuppostos o
hascirnento e a viabilidade.
Legislação comparada — l.a parte — O direito romano
e v
acilliante quanto ao inicio da personalidade. Confrontem-se
08
textos seguintes: D. 1, õ, fr. 7 (Paulo); 1, 5, fr. 26 (Ju-
^iajsjo) ; 25, 4, fr. 1, § 1.° (Ulpiano) ; 35, 2, fr. 9, § 1.° (Papi-
^Iano) . o Codigo Civil d'Austria, art. 22, e o argentino, 63 e 70,
az
eni coincidir o inicio da vida juridica da pessoa com o inicio
'la vida physiologica do indivíduo. A maioria dos codigos mo-
^etnos, porém, declara que a personalidade civil começa com
0
hascimento. Neste sentido dispõem: o Codigo Civil allemão,
ait
ar
- 1-°; o suisso, art. 31; o portuguez, art. 6.°; o hespanhol,
t. 29; o mexicano, 22; japonez, 1.°; chileno, 74, l.a al.; vene-
2ll
elano, 16; o peruano, art. 1.°; o italiano art. 1.
2-a parte — D. 1, 5, fr. 7 {quotiens de commodis ipsius
Qwtus quoeritur); 50, 16, fr. 231 (eum qui nasci speratur, pro-
Su
Perstite esse, .. .cum de ipsius jure quoeritur); os codigos
acima citados.
^"ojectos — Eshoço, arts. 21 e 221; Najbuco, 15 e 19 da
arte Geral; Felicio dos SantOiS, 77 e 142; Coelho Rodrigues, 3.°;
evi
laqua, 3.°; RÕvisto, 4.°.
Libliographia —• Theoria geral do direito civil, § 6.°; Bspi-
^0La' Systema, I, ps. 259 a 264; Ribas, Curso, ps. 267 a 275;
ündo Lins, Theoria da viabilidade, na Revista do Direito,
Vol y-r
• ps. 213 a 245; Dias Ferreira, Cod. Civil port., I, ao ar-
tlgQ fio.»
0
- ; Alves Moreira, Instituições, I, ns. 61 e 62; C. da Rocha,
íílSÍ •• 88 RR 56
r-í? e 57; Huc, Comm., V, n. 38; Brouardel, Le mariage,
^ 17» ^
íò e segs.; Planiül, Traité, I, ns, 346 a 350; Savigny, Droit
^hiain, ixj §§ 0^ e 02 Windscheid, Pand., I, § 52; Endemann,
^•õuch, § 23; Kohler, Lehrhuch, I, §§ 111, 115 e 151; Bruns
^ Mitteis, Encyciapoedie, I, § 16; Dernburg, Pand., I, § 50;
176 CODIGO CIVIL

Schirmeistesr, Das 6. Recht Eng., I, § 1.°, e comm.; Code Civil


allemanã, publié par le Comitê de lég. étrangère, I, art. 1.° e
notas; Chiront, Instituzioni, § 25; Valveroe, Instituciones, §§38
a 40 e 49; Bonfanti, Istituzioni, §§ 12 e 13; Cüq, Institutions,
II, ps. 69 a 70; Rossel et Mentha, I, p. 93; Andrés Bktjlo, nota
ao art. 76 do Projecto de Cod. Civil chileno; Affonso Cláudio,
Estudos de direito romano, I, ps. 165 e 169; Netto Campello,
Direito romano, 1, ps. 147 a 150; Champeau e Uribe, Derecho
civil colombiano, I, ns. 174 a 176; Planiol et Rippert Droit civil
français, I, ns. 6 a 12.

Observações — 1. — Em relação ao inicio da existência


da personalidade humana, ha duas doutrinas. Uma faz começar
a personalidade civil com o nascimento, reservando para o nas-
cituro, entretanto, uma espectativa de direito. Ficaram acima
indicados os codigos, que adoptam essa doutrina, e são o maio1"
numero. Outra remonta á concepção, e por ella se inclinara 0
Projecto primitivo, com Teixeira de Freitas, Nabuco e Felicio
dos Santos. Apesar dos excellentes argumentos, em que esta
opinião se firma, foi preferida a primeira, por parecer mais Pra'
tica. Não obstante, o Codigo Civil brasileiro como todos 08
outros, destaca situações, em que o nascituro se apresenta como
pessoa: a) art. 359, legitimação do filho apenas concebido,
h) art. 363, paragrapho único, reconhecimento do filho, anterior
ao nascimento; c) art. 468, curatela do nascituro; d) art.
a pessôa já concebida, embora ainda não nascida, tem capacidade
para adquirir por testamento.
Kohler recorre a uma construcção forçada das pessôas ü11'
ridicas, implícitas {stileschweigende juristische, Personen) Paia
explicar o exercido dos direitos do nascituro (§ 151), Wi^
soheid fala, em tal caso, de direito sem sujeito (§ 52). Parece
mais logico affirmar francamente, a personalidade do nascitm0*
2. — A personalidade civil do homem começa com o naS
cimento, diz concisamente o Codigo. Basta que a criança dê
signaes inequivocos de vida, para ter adquirido a capacidade
civil. Entre os signaes apreciáveis estão os vagidos e os m0
vimentos caracteristicos do sêr vivo; mas, particularmente,
perante a physiologia, é a inhalação do ar cuja penetração, p08
pulmões, vae determinar a circulação do sangue no novo 01
ganismo, o que denota ter o recemnascido iniciado a sua
independente.
DAS PESSOAS 177

Realizado o nascimento, pouco importa que, momentos


depois, venha a morrer o recemnascido. A capacidade juridica já
estava firmada, direitos já podiam ter sido adquiridos, que se
transmittiram aos herdeiros do fallecido. Não ha também que
distinguir, se o parto foi realizado, naturalmente, ou se exigiu
intervenção da obstetrícia.
3. — O Codigo afastou as questões antiquadas da viabili-
dade e da forma humana, que, aliás, ainda se encontram em
alguns codigos modernos.
Sem duvida, ha partos prematuros, e outros ha em que,
apesar da maturidade, o producto da concepção é incompatível
com a vida (V. Afranto Peixoto, Medicina legal, ps. 219 e 226).
direito civil, porém, estas questões não devem preoccupar.
^n primeiro logar, o ponto de vista do direito é social e não
biologico; portanto, pode o indivíduo ser considerado incapaz
de viver, e no emtanto, por isso mesmo que vive, merece a
Protecção do direito. Imagine-se um indivíduo malformado, que
08
peritos declaram inapto para a vida. Não obstante, elle dura
a
lguns dias. Se alguém o matar, commette ou não um crime?
Ginguem responderá pela negativa. Porque? Porque esse indi-
v
iduo é um sêr humano. Da mesma forma que o direito penal
0
Protege, deve protegel-o o direito civil. Consequentemente deve
^Qsideral-o capaz de adquirir direitos, deve dar-lhe um tutor,
Se
©lie tiver perdido os paes, ou estes forem incapazes.
Eepois, se o direito assegura vantagens ao nascituro, por-
ha de ser mais duro e menos benevolo com o que nasce?
^ sciencia condemna-o, certamente, á morte, dentro em breve.
^a8. além de que a sciencia pode enganar-se, o direito não
Pode reconhecer esse caso de morte civil, em uma época em
^ Já não subsistem as outras formas.
finalmente a doutrina da viabilidade não offerece a neces-
Saria
segurança ás relações juridicas. O direito precisa de saber
guando começa a existência das pessoas, para que o movimento
a
vi(ia social não se interrompa ou não fique indeciso. Mas a
11U ia
bilidade não ha de ser declarada arbitrariamente, deve ser
^ resuitado de um exame pericial, aliás impossível nas regiões
0
interior. E, emquanto se não profere o laudo, as relações ju-
ridic
- aH8' er „ n que o recemnascido é sujeito, ficam suspensas, o que
a
ltamente inconveniente.
^ 4. Apesar da lição do Senador Ruy Barbosa (Trabalhos
Vontinissão do Senado, I (Parecer), ps. 32 a 34, seguida por
Cod
igo Civil — 1.0 vol. 12
178 CODIQO CIVIL

Espinola, Afranxo e outros, mantenho a expressão consagrada


— viável, cuja etymologia, segundo Littré e a generalidade
dos romanistas, é vüob habilis, apto para a vida. Viável e viabi-
lidade são, portanto, vocábulos mais adequados a exprimir a
idéa de aptidão para a vida do que vital e vitalidade, que signi-
Cicam outra coisa. E tão grande não deve ser o nosso horror
ao gallicismo, a ponto de rejeitarmos uma palavra de uso cor-
rente, somente, porque, no francez, se encontra palavra seme-
lhante. Nem se vê motivo para darmos preferencia ao italiano,
lingua irmã das que se falam, ãs margens do Sena e do Tejo.
A Carlos de Laet, autoridade incontestável em assumptos de
linguagem, não repugna a palavra viável (Vide O Paiz, ediçã0
de 11 de Junho de 1913, pag. l.a, col. 2.a); nem tão pouco a Fran-
cisco de Castro, escriptor dos mais escrupulosos (O invento Abel
Parente, Rio de Janeiro, 1893, p. 7). E Carneiro Ribeiro não
deixa subsistir duvida quanto á vernaculidade do termo viável,
"que não pode ser substituido pelo adjectivo vital" (A redacção
do Projecto do Codigo Civil, Bahia, ps. 541 e 559).
5. — Egualmente ocioso é exigir a forma humana como re-
quisito da personalidade civil.- Ha monstros e aleijões viáveis,
como ha fôrmas teratologicas inadequadas á vida. O direito i"0"
mano recusava a capacidade jurídica aos que contra formam bd-
mani generis, converso more, procreantur (D. 1, 5, fr. 14). Has
essa doutrina deve ser afastada. E' humano todo sêr, que è
dado á luz por mulher, e, como tal, para os effeitos do direito,
é homem.
Ha monstros duplos e triplos. Muito raros estes ultimes-
Entre os primeiros destacam-se os xyphopagos, como Rosalina
e Maria antes de separadas pela habilidade cirúrgica do Db. Cha-
pot-Prévost. Eram estas, duas pessoas, porque tinham duas ca'
beças, dois cerebros distinctos, funccionando normalmente, duas
vontades, duas consciências, duas individualidades psychicas.

Art. 5.° — São absolutamente incapazes de


exercer, pessoalmente, os actos da vida civil*
I. Os menores de dezesseis annos.
11. Os loucos de todo o genero.
III. Os surdos-mudos, que não puderem ex-
primir a sua vontade.
DAS PESSÔAS 179

IV. Os ausentes declarados taes por actos do


Juiz.

Direito anterior — I, — A incapacidade absoluta, para os


aCt0s
vida civil, terminava aos 12 anuos com referencia á
filhei e aos 14 para o rapaz, considerados, até então, inpuberes
nl 3 29
r
-' ' . § 1.°; 3, 41, § 8.°; 3, 63, § 5.°; 4, 80, pr.; 4, 81,
-- Teixeira de Freitas, Gonsoliã., art. 25; Carlos de Carvalho,
Civil, artigo 91, I, h. — II. — Conforme: Ord., 4, 81, §§ 1.°
^ > 4, 103; Teixehía de Freitas, Ofrjnsolid., arts. 29 e 30; Carlos
J3 Garvalho, oi), cit. art. 91, I, c. — III. — Ord., 4, 81, § 5.°;
arlos de Carvalho, op. cit., art. 91. I, d. — IY — Ord., I, 62,
38
1 1, 90, pr.; dec. n. 2.433, de 15 de Junho de 1859, art. 20
segs.; Teixeira de Freitas, Consolid., art. 31; Carlos de
Carvalho, op., cit., art. 81, I, e).

rav ^JeSÍSla ^ao coni


impuberes os parada — I. —deO 14direito
varões menores annosromano conside-
e as mulheres
168 (Íe 12 0 clireito írancez 0
beleecein ' » italiano e o suisso não esta-
e divisões para a menoridade; o portuguez (Cod., art. 212)
hespanhol (Cod., art. 308) querem que o tutelado maior de
uuvldU0S<luando
ass sta as
^ deliberações do conselho de família e seja
o n .' se tratarem negócios de maior importância;
Civil allemão, art. 104, e o montenegrino, art. 642,
^ ram absolutamente incapazes de contractar o menor de

dOQiin08' e0mesan<:l0' eiltâ0' a capacidade restricta; o chileno de-


aien a m^an^es 08 menores de 7 annos e impuberes os varões
ar
geutiS ^ 14 annos 6 as mulheres menores de 12 (art. 26); o
Co
mo tU0 esta^elece a edade de 14 annos, sem distincção de sexo,
hão q 611110 <^a iIlcaPacidade absoluta (art. 127); o direito inglez
Uêue
casar entre os menores, salvo, quanto á capacidade para

vejam se- ^0^re a incaPacidade dos loucos de todo o genero,


6
lei de I)aia 0 direlto fraacez, Codigo Civil, art. 489 e segs.,
I)0r
tugu6 30 de Junho de 1838 í Cod. Civil italiano, 422 a 423;
313
e 220* 314 6 SeSS'' allema0> 104; suisso, 17 e 369; hespanhol,
montenesr no
Urugiiayo ' 432 i > 54 e 468 e segs.; chileno, 456 e segs.;
' e segs.
COtlÍSO CÍVÍ1 tia Austr a
Pauhol 213 i ' art- 275 í allemão, 828; hes-
469 a 220 argentino 54 40 e 4 8
a '472. ' ' ' - 6 e segs.; chileno, 342 e
hvuguayo, 432 e segs.; portuguez, 337 a 339; mexi-
180 CODIQO CIVIL

cano, 404 e 449 a 454; italiano 340. O direito francez não con-
sidera a surdo-mudez causa de imcapacidade civil geral.
IV. — Codigo Civil francez, arts. 112 e segs.; italiano, 46 e
segs.; suisso, 393, 1.°; portuguez, 55 e segs.; hespanhol, 181 e
segs.; argentino, 110 e segs.; uruguayo, 50 e segs.; chileno,
473 e segs.
Projectos — Esboço, art. 41; Nabuco, 15; Felicio dos Santos,
77; Coelho Rodrigues, 11; Beviláqua, 4.°; Revisto, 5.°.
Bibliographia — Theoria geral do direito civil, § 9.°; Ribas
Curso, ps. 292 a 310; Tobias Barreto, Menores e loucos; Nina *
Rodrigues, O alienado no direito civil; Aubry et Rau, Cours,
I, §§ 53 e 86; Cullère, Les fronlières de la folie; Afkanio
Peixoto, Medicina legal, 1910, ps. 12 e 131; Júlio de Mattos,
Os alienados nos tribunaes; Elementos de psychiatria; Fébé
La famille nevropathique; Trabalhos da Gamara dos Deputados,
IV, ps. 60 e segs.; Planiol, Traité, I, ns. 419 a 429 e 634 a 658;
Laurent, Cours, I, ns. 106 a 127 (ausência); Huc, Comm., !•
ns. 394 a 740 (ausência); Kohleb, Lehrbuch, I, §§ 112 e segs.;
Dernbueg, Pand., I, §§ 51 a 54 e 56; Schirmeisteb, §§ 2° e 3o, e
comm.; Coãe Civil ali., publié par le Comitê de lég, étrangère,
notas aos arts. 5o, 6o, 13 a 19 e 104 a 106; Endemann, Lehrbuch,
§§ 24, 25, 28 a 31; Chironi, Istituzioni, §§ 26 a 41; Valverde,
Instituciones, §§ 35 e 36; Zubizarreta, Derecho civil, I, ps. 127 a
175; Rivabola, Instituciones, I, ns. 55 a 69; R. Salvat, Derecho
civil, argentino (Parte general) ns. 692 e segs.

Observações — 1. — As incapacidades, de que tratam este


artigo e o seguinte, são de facto e não de direito. As pessôas
aqui consideradas, por isso que o são, no sentido juridico, têm
direitos, mas não os podem exercer, ou de modo absoluto (al
tigo 5.°), ou relativamente a um certo numero delles (art. 6. )■
2. — Menores — O n. I, deste artigo, inclue, entre os abso
lutamente incapazes, de facto, os menores de 16 annos, equiPa'
rando-se os dois sexos. Diversamente dispunha o direito aI1'
terior por influencia do romano e do canonico, que tomavam
por base a puberdade, attribuida, á mulher, aos 12 annos, e, ao
homem, aos 14. Mas, em primeiro logar, não é a aptidão para
procrear, que nos deve servir de base, quando tratamos de exa
minar se o indivíduo está, ou não, em condições de tomar parte
desenvolvimento
activa nas relações da vida jurídica. E' ao
DAS PESSÔAS 181

dental, ao poder de adaptação ás condicções da vida social, á


força de resistência contra os perigos, que a pervesidade, pro-
fusamente, espalha na sociedade, que se deve attender, para
a
frouxarem-se os liames da tutela da lei, e permittirem-se as ex-
Per
ieiicias da actividade livre. O ponto de vista da capacidade
Senesica ê limitado; o campo do direito civil ê mais amplo,
como reconheceu a intelligencia perspicaz de Teixeira de Freitas
(Esboço, art. 63 nota).
Em segundo logar, não ha razão para distinguir os indi-
^'áuos, sexualmente, quando se trata de apreciar a sua aptidão
Para 110
Co
circulo da vida civil, quando se examina se sua
Psciencia das coisas já adquiriu certo desenvolvimento, se a
Vontade se affirma dirigida por uma intelligencia normal,
a
sua adaptação ao meio se effectua, satisfactoriamente.
^ ~~ O*8 menores de 16 annos não podem exercer por si os
Ca
P azS ^art.
V a
^ 82)-. As ^ ac 0
t jurídico
pessôas absolutamente requer
incapazes são agente
repre-
a
as por seu paes, tutores ou curadores (art. 84, primeira
. . ' Praticados por pessôas absolutamente incapazes, os actos
pri1 *C0S Sa0 nuPos farf- f) • Todavia, se alguém, no cum-
a
umnln0capaz.Uma 0 r açao
^ ^ annullada, tiver pago
poderá reclamar a restituição, alguma
provando que coisa
esse
aimj111611 ^0 revertei1 em Proveito do incapaz (art. 157). Vejam-se
a 03 arts
rio Çao
~ testamentaria,
" 1.260 (esprestimos a menores) e 1.627, I
activa).
c
e apacidadenupcial começa aos 16 annos para a mulher
08 ls
Para o homem (art. 183, XII).

C}0riai Eoucos ãe todo o genero — Esta é a expressão tradi-


niinv ^ nosso direito; mas não é a melhor. O Projecto pri-
Por
qu6 ?)/ e^eria a exPressão — alienados de qualquer especie,
acerto ^ ?aS0s facapacidade civil, que se não poderiam, com
Dor 0r Ca^ltular como de loucura. Alienados são "aquelles que,
e,l
cephaioÍZa5a0 cere^ral incompleta, por moléstia localizada no
e(lu
ilibrio' leSa0 ROmatica ou vicio de organização, não gozam de
Z; men
irem 0 lalmen tal e clareza de razão sufficientes para se condu-
"milia ^ ^ te, nas varias relações da vida" (Direito da fa-
iuteressa é a ^V diagnostico importa ao medico; ao jurista o que
dos au„ ^a social, que pode ser perturbada pela acção
ser
cujo SOff . ' a alienado, diz Afbanio Peixoto, aquelle
miento o torne incompatível com o meio social".
182 CODIQO omi,

5. São os casos de insanidade mental permanente ou du-


radoura, que determinam a incapacidade, desde que se caracte-
rizem por uma grave alteração nas facilidades mentaes, seja a
intelligencia, a emotividade ou o querer. Os estados transitórios
apenas viciam os actos praticados durante elles. Para os pri-
meiros, estabelece o Codigo Civil a curatela (arts. 446 e segs.)
e, além da incapacidade geral, a especial para fazer testamento
(art. 1.627, II). Se a alteração das faculdades mentaes não é
grave, embora duradoura, e permitte ao paciente reger a sua
pessoa e os seus bens, não ha necessidade nem conveniência de
feril-o com a incapacidade absoluta.
6' P01" occasião de se discutir o Projecto do Codigo Civil,
dois distinctos professores, o Dk. Nina Rodkigues (O alienado
no direito civil, ps. 27-37) e o Dr. Rodrigues Doria {Trahalhios
da Gamara, III, ps. 63 a 64 e 179 a 180), propuzeram que se con-
templassem os aphasicos entre os incapazes desta classe, mas a
Gamara não os quiz acompanhar. E que andou bem se pode ver
das seguintes palavras de Afranio Petxotos "A fórmula das legis-
lações, que, no futuro, tiverem de abrigar, como modificadoras
da responsabilidade e da capacidade, aos aphasicos, deve ser
muito geral e discreta para não commetter desazos em assumpto,
em que já uma pericia criteriosa é muito difflcil". {Medicina
legal, p. 33).
Quando, no aphasico, a intelligencia subsiste integra, está
elle, naturalmente, fora da classe dos alienados, e não é justo
consideral-o incapaz; quando ha insanidade mental grave, da
qual resulte ou com a qual se ache ligada a aphasia, então, o ia-
dividuo deve ser considerado incapaz; porém será um alienado.
6 a. A fórmula tradicional do Codigo — loucos de todo
o genero foi com grande competência criticada pelo Dr. Raug
Camargo, curador de orphãos do Districto Federal.
A questão foi debatida por competentes e por especialistas,
e a Sociedade de pliychiatria e neurologia, apoiando a critica do
Dr. Raul Camargo, pronunciou-se pela necessidade de substituir
a expressão ''infeliz" por outra mais adequada, como alienados
de todo o genero, ou loucos e deficientes mentaes, porque "louco
é o doente de um processo material activo — e ha enfermos ou
anomalos de mente, pecos ou retardados na evolução cerebral
(idiotas, imbecis, cretinos, debeis mentaes), ha outros regredidos
ou degradados por involução cerebral (todos os estados de-
menciaes, desde os mais ou menos precoces por doenças, até os
DAS PESSÔAS 183
raais ou
menos demorados) que, nem sempre, são casos propria-
mente de loucura, mas, por egual, senão as mais das vezes, tanto
6
mais incapazes que os outros, e todos, uns e outros, justa-
mente alienados".
7- —- O Codigo não considerou os lúcidos intervallos, que,
Pel0
direito anterior (Ord., 4, 103, § 3.°), determinavam o resta-
belecimento da capacidade. O direito romano dispunha do
mesmo modo que as Ords. A doutrina no Codigo tem melhor
apoio na sciencia, que, sob as cinzas das remissões, descobre
Se
mpre o brazeiro da enfermidade. (Yeja-se Nina Rodrigues, O
a
l'enado no direito civil "brasileiro, ps. 129 a 148).
re
Surdos-mudos — A surdo-mudez congênita resulta, em
gia, de uma lesão dos centros nervosos, que approxima o pa-
mnte do alienado; algumas vezes, porém, assim não será. O
e to civil colloca-se no ponto de vista da manifestação da
mitade. Se o surdo-mudo pôde exprimir a sua vontade, de modo
^QtÍSf.aCt0rl0' é Porque possue uma intelligencia normal, capaz
discernimento e de adaptação ao meio social; se não con-
segue exprimir-se, de modo satisfactorio, é porque soffre de uma
central, que o isola do mundo e o torna um alienado.
4
Sobre a curatela dos surdos-mudos, vejam-se os arts. 446 a
^58- onW
home a sua capacidade nupcial, o art. 183, IX, e sobre a
a
Pacidade testamentaria, o art. 1.627, IV.
art Ausentes —• O Codigo não definiu o ausente, mas, no
dess 6 ^ ciferece ausente
dispositivo, os elementos paraqueuma
é aquelle definição.doEm
ãesapparece seu face
do-
@1/1% seni
S6 ' Que delle se tenha noticia. Decorridos dois annos,
ausente não deixou procurador, ou quatro annos, se ha
c ra 0r
egg. ' Presume-se ter morrido o ausente e abre-se-lhe a suc-
Pl0visoriamente
Pará^â (art. 469). Trinta annos depois, se tor-
efinitiva a successão (art. 481).
n0 sys ema
^ Codigo- ha um primeiro período de
SeSU
estabel^' ^0 outro de presumpção de morte. O direito
Prime"606
0
provic encias
* Para a conservação dos bens, desde o
Um Poriodo, nomeando um curador. E, como o ausente é
8 p are
Ua " P cido, um que se não sabe se é vivo ou morto, a
n apac cla
elle ^ ^ de é absoluta; isto é, pela força das circunstancias,
^ Pode intervir na administração dos seus bens.
Para ^0clig0 nao se occupa do ausente, na parte geral, senão
Su
uipçãSSÍgnalar
0
a Slla nca ac a
de sua morte.^ AsP regras
^ do relativas
absoluta, áe determinação
referir-se á pre-
da
184 OODIGO CIVIL

ausência, á morte presumida, á curadoria dos bens do desappa-


recido, á successão provisória e definitiva do presumido morto,
encontram-se no Direito da família, porque é, principalmente, em
attenção aos interesses da família, que se tomam providencias
sobre os bens do ausente. Vejam-se os arts. 463 a 484.

Art. 6.° — São incapazes, relativamente a


certos actos (art. 147, n. 1), ou á maneira de os
exercer:
I. Os maiores de dezeseis e menores de vin-
te e um annos (arts. 154 e 156) ;
II. As mullieres casadas, emquanto subsistir
a sociedade conjugai; )
III. Osprodigos;
IV. Os selvicolas.
Paragrapbo único. — Os selvicolas ficarão
sujeitos ao regimen tutelar, estabelecido em leis
e regulamentos especiaes, e que cessará, á me-
dida que se forem adaptando á civilização do
paiz.

Direito anterior — Conforme, salvo quanto á época do inicio


da puberdade, que era aos 12 annos para as mulheres e aos
14 paia os varões, e quanto aos expostos, cuja maioridade era
fixada aos 20 annos (reg. n. 5.604, de 25 de Abril de 1874, ar-
tigo 53).
Vejam-se: — I — quanto aos menores: Ord., 3, 41, § 8.°, 4, 81;
resolução de 31 de Outubro de 1831; Teixeira de Freitas, Con-
solidação, art. 8.°; Carlos de Carvalho Dir. civil, art. 91, II. a''
— II — quanto ás mulheres casadas, o dec. n. 181, de 24 de Ja-
neiro de 1890, art. 56, §§ 2o e 3.°, e art. 94; Carlos de Carvalho,
Dh. Civil, art. 91, II, h; — III — quanto aos pródigos, Ord-.
4. 103, §§ 6", 7" e 8o; Carlos de Carvalho, Dir. civil, art. 91, II. /•"
— e IV — quanto aos selvicolas, lei de 27 de Outubro de 1831'
art. 4.°; o dec. de 3 de Junho de 1833, e o reg. de 15 de Março
de 1842, art. 5.°; avisos de 21 de Outubro de 1850 e 29 de Maio
de 1862; dec. n. 8.072, de 20 de Junho de 1910.
DAS PESSÔAS 185

Legislação comparada — 1. — Vêr a ley. óomp. do art. 5.°.


A menoridade termina, aos 18 annos na Rússia (Cod. Civil,
art. 7); aos 20 annos na Suissa (Cod. Civil. art. 14), e no Japão
(Cod. Civil, art. 3o). Aos 21, na Inglaterra (common law); em
França (Cod. Civil. art. 498); na Italia (Cod. Civil, artigo
^23); na Allemanha (Cod. Civil, art. 2.°); em Portugal (Cod.
Civil, art. 97); no Uruguay Cod. Civil, art. 280; na Colômbia
(Cod. Civil, art. 314); na Venezuela (Cod. Civil, 'art. 327); no
p
erú (Cod. Civil art. 8); na Bolivia (Cod. Civil. art. 12).
Aos 22, na Argentina (Cod. Civil, art. 126). Aos 23, na Hol-
anda (Cod. Civil, art. 385), e na Hespanha (Cod. Civil, ar-
Cgo 920). Aos 24, na Áustria (Cod. Civil, art. 21). Aos 25,
Dinamarca (Lei de 13 de Maio de 1903), e no Chile (Cod.
Civil, art. 266). Nos Estados Unidos da America, a maioridade
e
' geralmente, fixada aos 21 annos, mas, em alguns Estados, co-
meça aos 18 (Walkek, American lato, § 111).
H. — A maioria das legislações contemporâneas ainda
Mantém a incapacidade da mulher casada. Assim, o direito
^ancez, o hespanhol, o portuguez, o argentino, etc. Nos Estados
Inidos da America, na Allemanha, na Suissa na Rússia sovie-
^Ca no Peru, como na Italia actualmente e, ainda na Argentina
(iei n. 11.357, de 14 de Setembro de 1926, é outra a orientação
do
direito civil.
III. — a prodigalidade é considerada como causa de in-
Ca
Pacidade relativa pelos Codigos Civis: de Portugal, arts. 340 a
^2, (Jq Chile, arts. 442 a 455; da Hespanha, arts. 221 a 227; da
lan
Ça arts, 513 a 515; da Italia, arts. 339 a 342; da Allemanha,
arts
- 114; e da Suissa, art. 370.
IV. — ivfos Estados Unidos da America, os indios estão sub-
^ttidos
lCa a uma legislação especial. Vejam-se: Walkek, Ame-
n lato, § 53^ e og volumes do Annuaire ãe législation étran-
• C onde vêm consignadas as alterações sofridas por essa
^gislação especial, e, particularmente, no vol. XXVIII, a lei de
d® Junho de 1898, com o seu commentario, ps. 741 a 742.
^ íojectos — Dispõem diversamente: Eslwço, art. 42; Na-
co
' 16; Felicio dos Santos, 77; Coelho Rodrigues, 14; Bevi-
aqm
' 5." e 6.o; Revist0f 6 o
da "ailia, § 29; Estudos
— Theoria geral docap.
Jurídicos, direito
XI; civil, § 10; Direito
Trabalhos da Ca-
mara PS 98 a 107 a 08
191 *> ' ' l : ll3 a ll6: Sciencias e letras,
Ps. 98 a 101 (A egualdade jurídica dos sexos)'. Nina Ro-
186 CODIOO CIVIL

brigues, O alienado no direito civil; Afranio Peixoto, Medicina


legal, ps. 16 a 22, 31 a 32; Teixeira Mendes, O despotismo medico-
jurista c a regeneração social; Laoassagne, Médecine Judiciaire,
1886, ps. 83 a 91; Forel, La question sexuelle, Paris, 1906, ps. 63
a 71, 393 a 407; Bridel, Los derechos de la mujer; Pinot, Préju-
gé et problème ães sexes. Paris, s. d.; Cosentini, La riforma
delia legislazione civile, Modena, 1911, ps. 483 a 520; D'Aguano,
La genese e VevoUizione dei dirrito civile, Torino, 1890, ns. 99 e
131; La mission social de la mujer, trad., Madrid, 1888; La ri-
forma de la legislacion civil, trad., Madrid, s. d., ps. 184 a 185;
Glasson, Le mariage civil et le divorce, Paris, 1880; R. de la
Grasserie, Les príncipes sociologiques da droit, Paris, 1906; S.
Mill, L'affrancMssement de la femme, trad., 1869; idem, Uassu-
jetissement de la femm, Paris, 1876; Chabmont, Les transfor-
mations du droit civil, 1912 ps. 74-115; Livio de Castro, A mu-
lher e a sociogenia, Rio, 1887; Novicow, Uaffranchissement de
la femme; Rol, Uévolution du divorce; Ribas, Curso, ps. 290-
310; Alves Moreira, Int., I, ns. 76 a 80; Planiol, Traité, I, ns.
422 a 435; Huc, Commentaire, III, ns. 538 a 562; Windscheid,
Pand., §§ 54 a 56; Dernburg, §§ 52 a 58; Sohirmeister, op. cit.,
§ 3.°; Endemann, Lebrbuch, I, §§ 26 a 38; Koiiler, §§ 123 a
130; Spencer, La justice, caps. XX e XXI; Jules Simon, La
situation juriãique des prodigues, na Revue de VInstitut de droit
comparé, 1912, paginas 132 a 151; R. Salvat a, op. cit., ns.
703, e segs..

Observações i. Menores. — Vejam-se as Observações


1 a 3 ao art. 5o. Os menores entre dezesseis e dezoito ou vinte e
um annos, como os puberes do direito anterior, e melhor do cpie
elles, possuem certo discernimento, já adquiriram, no seio da fa-
mília e no contacto com a sociedade, certas noções de moral, de
diieito, e de pratica da vida, que os habilitam a tomar parte directa
nas lelações jurídicas, ainda que não possam dispensar o auxilio
e a autoiidade dos paes ou dos tutores. São representados P01"
seus paes ou tutores nos actos que o Codigo determina (art. 84);
as suas obrigações são annullaveis quando não autorizadas P01"
seus legítimos representantes (art. 154). Vejam-se, ainda, os ar-
tigos 155 a 158, 387, 388, 390, 391, 424 a 428.
O maior de dezesseis annos pôde ser mandatario extrajudicial
(art. 1.298); fazer testamento (art. 1.627, I); contrahir casa-
DAS PESSÔAS 187

Riento, obtendo autorização da pessoa, sob cuja autoridade es-


tiver (art. 183, XI), com a distincção estabelecida para a edade
ttupcial dos dois sexos, dezesseis annos para a mulher e dezoito
Para o homem (art. 183, XII); ser testemunha nos actos ju-
rídicos (art. 142, III, e 1.650).
Io. — A Constituição de 1934, art. 108 e art. 117 da Carta de
t^7, conferindo a capacidade politica aos 18 annos, a essa,
Piesma idade concedeu a capacidade civil, para ambos os sexos,
so
t) a condição de saberem ler e escrever essas pessoas.
Esta matéria debatida por competentes, uns a favor da these
ac
ima enunciada outros contra, apesar dos fundamentos racionaes
6
technicós, em que assenta, não obteve, ainda a convergência
dos espíritos. Sustentei-a em conferências proferidas, em For-
taleza (1935) e na cidade do Rio de Janeiro (1939).
2. — Mulheres casadas. — O Projecto primitivo não consa-
§la
va a incapacidade da mulher casada; mas a Commissão revi-
Sor
a, nomeada pelo governo, recusou a innovação, aliás, sem a
discutir {Actas, p. 37). O Codigo manteve a declaração da in-
Ca
Pacidade da mulher casada; porém, na realidade, essa inca-
pacidade está muito reduzida, é quasi que meramente formal,
como se poderá ver dos arts. 233 a 255. Effectivamente, se ao
falido compete a representação legal da família, a adminis-
açao dos bens communs, e dos proprios da mulher, segundo
cgimen adoptado; se ao homem, como chefe da sociedade
Co
ajugal, cabe o direito de fixar o domicilio da familia e de
autorizar a profissão da mulher; esta, por sua vez, goza de di-
^to8 cstensos, no circulo das relações domesticas, e tem meios
conter e fiscalizar a acção do marido, como se verá bem do
Xarne dos artigos acima citados, e, em particular, dos arts. 235,
248
e 251.
Q
• As mulheres não casadas, sejam solteiras ou viuvas,
m plenitu(4e âos
lu ain direitos civis. As ultimas restricções,
ti da continha o direito anterior, como presistencia de an-
ada concepção jurídica, a exclusão da tutoria, não sendo
r Poente da pessoa tutelada, a incapacidade para assumir
onsabilidade por terceiro, ou de ser testemunha em testa-
Qientos fr, am
cirt ' eliminadas. Realmente a mulher possue capa-
6 mental
do i-lrei equivalente á do homem, e merece egual protecção
cj0 to- Já é um sacrifício á justiça submettel-a á autoridade
c !nar
ll ^ 0
' Pela necessidade de harmonizar as relações da vida
Sal. Revoltante seria, em nossa época, cercear-lhe direitos
188 COBIGO CIVIL

civis, com fundamento de uma falsa doutrina sobre o valor


psychico do sexo feminino. Não é a inferioridade mental a base
da i estricção imposta á capacidade da mulher, na vida conjugai,
é a diversidade das funcções, que os consortes são chamados a
exercer. Todavia, o dec. n. 2.475, de 13 de Março de 1897, ar-
tigo 5o, h, ainda consagra uma incapacidade de mulheres: — não
podem ser corretoras.
A este proposito, disse eu, na Commissão da Gamara dos
Deputados: Ninguém ignora que na organização physiologica
do homem e da mulher ha differenças notáveis; mas essas dif-
ferenças não nos autorizam a declarar que o homem é superior
^ mulher, autoiizam-nos, simplesmente, a dizer que um e cha-
mado a exercer, na sociedade e na família, funcções differentes
das do outro. Em tudo aquillo que exigir mais larga e mais in-
tensa manifestação de energia intellectual, moral e physica, o
homem será mais apto do que a mulher; mas, em tudo aquillo
em que se exigir dedicação, persistência, desenvolvimento emo-
cional dedicado, o homem não se pôde equiparar á sua compa-
nheira .

"A concepção da sociedade, no momento presente, não exige


mais, como outr'ora, que a família se apoie sobre a base egoistica
da autoridade: parece mais solida, mais resistente e efficaz a
base altruistica do amor e do respeito mutuo. A família ê uma
sociedade de que o marido é o chefe, mas, na qual, a mulher é
chamada a funcções tão nobres e elevadas, que o direito não
pode mais ferreteal-a com o estigma da incapacidade". (Tra-
balhos ãa Gamara, IV, p. 113).
4. — Proãigos. — O Projecto primitiva e o revisto desco-
nheciam a incapacidade do prodigo. Introduziu-a, porém, a Com-
missão da Gamara, por suggestão do Conselheiro Anurabe
Figueira. A curadoria dos prodigos está regulada nos artigos
465 a 467.
5. — Discutindo esta matéria perante a Commissão da Ga-
mara, justifiquei o Projeto primitivo com as razões seguintes:
" A historia do direito nos diz que a interdicção por prodi-
galidade appareceu em uma época, em que havia uma especie de
compropriedade da família, na qual os herdeiros de uma pessôa,
ainda durante a vida desta, eram considerados seus consocios.
Et vivo parente clomini existimantur.
DAS PBSSÔAS 189

Nesse tempo, a interdicção só se referia, aliás, aos bens que


o iudividuo, por força da lei, herdava dos seus parentes. Diz, de
modo preciso, a fórmula que foi conservada por Paulo; quando
tihi hona paterna avitaque nequitia tua ãisperãis, Wberosque tuos
ad egestatem perducis oh eam rem tün ea re òommercioque in-
terãico {Receptee sententioe, III, 4, § 7.°)° Todos os outros bens
adquiridos pelo trabalho proprio ou por testamento, podia o in-
divíduo gastar á vontade, como entendesse, sem que, por isso,
estivesse ameaçado de interdicção.
O direito pretoriano ampliou essa primeira noção da prodi-
Salidade a todos os casos de desperdícios, e essa tendência foi
confirmada por alguns rescriptos imperiaes. Todavia, Leão, o
thilosopho, na Const. XXXIX do Codigo, confessa não com-
Prehender a necessidade da interdicção por prodigalidade, e pro-
cura imprimir uma outra orientação ao direito, considerando
uullos os actos desarrazoados, e validos os que se mostrassem
emanados de uma vontade dirigida pela razão.
As Ordenações do reino, liv. IV, tit. 103, consideram pró-
digo o que desordenadamente gasta e destroe a sua fazenda, e
Para elles decreta a interdicção. Mello Freire, porém, explicou,
Plausivelmente, que se deveria restringir o qualificativo áquelle
lue desperdiçasse os seus bens sem fim, e como um louco, pon-
^ação que se conforma com a mente da lei, pois que a Orde-
u
ação do livro 103, une as idéas de alienação e prodigalidade em
s
ua inscripçâo: — Dos curadores, que se dão aos prodigos e aos
Mentecaptos.
Conseguintemente, a interdicção por prodigalidade, come-
Sando por ser uma garantia da propriedade commum, transfor-
Pmu-se, com os teriipos, numa interdicção por debilidade mental.
Os economistas dividem-se. Acham alguns que os prodigos
sao innocuos, porque aquillo que despendem entra na circulação
^a riqueza Social, outros opinam que são nocivos, porque per-
'-Urbam o desenvolvimento da riqueza social. Representam essas
^uas correntes Cauwés e Bastiat.
A psychiatria revela-nos que ha certos syndromas degenera-
tÍVos
' hue se revelam pelos gastos immoderados, os quaes andam,
0l
dinariamente, associados a outros; a mania do jogo e a dypso-
^ania ou vontade impulsiva de beber.
^ Attendendo a essas ponderações, reconhecendo a necessidade
garantir o direito individual contra as machinações da ga-
Pphcia, da preguiça e da immoralidade, o jurista deve declarar:
190 codigo cmr-

ou a px-odigalidade é um caso manifesto de alinação mental,


e não ha necessidade de destacal-a, para constituir uma classe
distincta de incapacidade, pois entra na regra commum; ou tal
não é positivamente, e não ha justo motivo para feril-a com
a interdicçâo. Os alienados prodigos sejam interdictos, porque
são alienados: os prodigos de espirito lúcido e razão integra
sejam respeitados na sua liberdade moral, pois sob calor de pro-
teger-lhes os bens, faz-se-lhes gravíssima offensa ao direito de
propriedade e á dignidade humana {Trabalhos da Gamara, IV,
ps. 115 a 116; Theoria geral do direita civil, § 10, VII).
Com esta conclusão, mostra-se de accôrdo Afranio Peixoto,
no seu apreciado compêndio de Medicina legal, ps. 31 a 32 da
primeira edição.
5. — Selvicolas. — Os aborígenes brasileiros foram tratados
differentemente no curso da historia nacional. Ao tempo da co-
lônia, soffreram rigores dos que lhes invadiam as terras; e a
legislação vacillando á mercê dos interesses do momento, ora
os condemnava á escravidão, ora lhes reconhecia o direito de li-
berdade. O marquez de Pombal reagiu contra esse estado de
coisas; mas, ainda em 1808, a carta régia de 13 de Maio declara
a guerra aos botocudos de Minas Geraes, e manda reduzir á
escravidão, por dez annos, os prisioneiros, que podiam ser cas-
tigados e pdstos a ferro. Foi já no tempo da regencia, que ficou,
definitivamente, reconhecida a liberdade dos indios (lei de 27 de
Outubro de 1831, arts. l.0-3.0), apezar dos esforços de José Boni-
fácio. Sobre este assumpto merecem leitura: o extenso e mi-
nucioso estudo de João Lisbôa, Obras, vol. II, ps. 189 a 336, e
vol. III, ps. 135 a 147; Martins Júnior, Historia do direito na-
cional, ps. 216 a 227; Warnhagen. Historia geral do Brasil,
2a ed., ps. 213 a 217; Rocha Pombo, Historia do Brasil, vol. II>
Cap. II; João Ribeiro, Historia do Brasil, I §§ 7.° e 8.° Souza
Pitanga, O selvagem perante o direito, na Revista do Instituto
Histórico, tomo 63, l.a parte, ps. 19 a 38; o mesmo, Tutela dos
indios, sua catechese; Pires de Carvauho, Parecer sobre as
emendas do Senado ps. 90 a 92, do volume da Gamara, n. 2, de
1913; Manoel Miranda e Alipio Bandeira, Memória, publicada
no Direito, vol. 119, ps. 216 a 256; Roquete Pinto, Mote sur la
situation sociale des inãiens ãu Brésil; Cândido Rondon, Pelos
indios, no Jornal do Commercio de 11 de Agosto de 1915.
Na discussão do Codigo Civil, na Gamara, em 1913, oc-
cuparam-se da situação jurídica dos indios: Pires de Carvalho,
DAS PES8ÔAS 191
Maximaxiano de Figueiredo e Joaquim Osobto (Diário ão Con-
grego, de 10 de Julho de 1913).
A Republica, retomando a orientação de José Bonifácio,
enfrentou o problema da incorporação definitiva dos aborígenes
na sociedade brasileira, publicando o regulamento n. 8.072, de
20 de Junho de 1910, e organizando o serviço, a que o mesmo
regulamento attendeu, de protecção aos indios e localização dos
trabalhadores nacionaes.
Ouvido sobre o assumpto, externei-me em parecer, ao
Sr, Dr. Nilo Peçanha, então, Presidente da Republica, em termos
Oe applauso, fazendo algumas ponderações de technica jurídica.
Disse nesse parecer: "Sou dos que, mais cordialmente, applaudem
a preoccupaçâo philantropica do Governo actual, por iniciativa,
preclaro Sr. Rodolpho de Miranda, de velar pela sorte dos
nossos aborígenes, encaminhando a sua effectiva incorporação
na sociedade brasileira, da qual são parte integrante, mas de
c
njo convívio, não obstante, se acham afastados, por circum-
s
tancias, que é ocioso agora recordar.
"Essa empreza, sob o ponto de vista da moral e dos altos
destinos humanos, é grandiosa, porque traduz o cumprimento de
um dever, e porque, chamando, para a vida social commum, essa
ra
Qa, que nos deve merecer todas as sympathias, ao mesmo tempo
av
igoramos as nossas inclinações affectivas e dilatamos a es-
Phera de acção da cultura geral humana.
"As providencias, até agora tomadas, talvez, por falta de
Co
ntinuidade no pensamento do Governo, talvez por falta de con-
Vl
cção na sua efficacia, têm sido improficuas. Subsiste, apenas,
a
idéa do dec. de 3 de Junho de 1833, mantida pelo regula-
u^nnto de 15 de Março de 1842, art. 5.°, § 12, que, equiparando
°s indios selvicolas aos menores, os submette á protecção do
Juiz de orphãos. Mas é de esperar que a Republica, voltando,
a 0
§ ra, as vistas para esse problema, o resolva, satisfactoria e
^efinitivamente".
Seguiam-se alguns reparos de ordem jurídica.
Actualmente existe um Projecto na Gamara, regulando esta
|Uateria, sobre o qual já se pronunciou a Commissão de Consti-
Ul
São e Justiça {Diário do Congresso, de 31 de Julho de 1915).
7. . o Projecto primitivo não destacava os indios entre os
Rapazes. Foi o Senado que, por proposta, aliás modificada, do
Muntz Freire, accrescentou esta classe á dos indivíduos de
upacidade restricta. {Parecer da Commissão do Senado sobre as
192 CODIGO CIVIL

emendas offerecidas em terceira discussão. Diário cio Congresso,


de 5 de Dezembro de 1912). O pensamento do autor do Projecto,
não dedicando qualquer disposição aos indios, era reservar-lhes
preceitos especiaes, que melhor attendessem á sua situação de
indivíduos estranhos ao grêmio da civilização, que o Codigo
Civil representa, muito embora a sociedade organizada se esforce
por chamal-os ao seu regaço. Esse pensamento começou a ser
realizado pelo dec, n. 8.072, de 20 de Junho de 1910, que sub-
siste.
7 a. — A situação dos indios brasileiros foi regulada pelo
decreto legislativo, n. 5.484, de 27 de Junho de 1928, que os
distribuo em quatro classes: nômades; arranchados ou aldeiados;
pertencentes a povoações indígenas; e pertencentes a centros
agrícolas, ou que vivem, promiscuamente, com civilizados. Vie-
ram, depois, o decreto ns. 736, de 6 de Abril de 1936, que appro-
vou o regulamento do serviço de protecção dos indios, e n.
1.886, de 15 de Dezembro de 1939.
A Constituição de 1937, art. 154, preceitua; Será respei-
tada, aos selvicolas, a posse das terras, em que se acham locali-
zadas em caracter permanente, sendo-lhes, porém, vedada a alie-
nação das mesmas.
8. — O Codigo usa da palavra selvicolas, para tornar claro
que se refere aos habitantes da floresta e não aos que se acha/m
confundidos na massa geral da população, aos guaes se applicarn
as preceitos do direito communu
9. — Os cegos. — O Codigo não inclue, no numero dos inca-
pazes, os cegos, os presos em cumprimento de sentença e os fal-
lidos. A cegueira não cria obstáculos á manifestação da vontade,
não faz presuppôr debilidade na energia mental, salvo, casos em
que a ceguira congênita é determinada por lesão do cerebro.
Por isso, não ha motivo para restringir a capacidade do cego,
em geral. Todavia, como a ausência do sentido da visão se torna
grave, em certos casos, a lei toma providencias especiaes, para
que essa enfermidade não seja causa de perturbações na vida
civil. Assim é que o cego não pode ser testemunha, quando a
sciencia do facto, que se quer provar, dependa do sentido, que Ih6
falta (art. 142, II, e 1.650, III). Pôde excusar-se da tutela (ar-
tigo 414, IV), e somente lhe é permittido fazer testamento, pela
forma publica (art. 1.637).
10. — O preso. — O encarcerado por sentença judicial, e
por mais forte razão, o detido por ordem de autoridade compe-
■uv.. ,..,^<0 5 fy- J.'4;> x**r.ãA>t -A ■*
'■ ■ \ ■

DAS PESSÔAS 193

tente, continúa no gozo de sua actividade civil. O art. 201,


paragrapho único, declara que, não lhe sendo permittido compa-
racer ao acto de celebração de casamento, poderá casar-se por
procuração. O art. 251, II, providencia, entregando a direcçâo do
lar á mulher, quando o marido estiver em cárcere, por mais ãe
dois annos. São os casos únicos, em que o Codigo se occupa
do preso.
II- — O fallido. — A fallencia determina providencias, que
restringem a capacidade, mas essa restricção refere-se aos actos,
Que interessam, directa ou inãirectamente, os Itens, direitos e
obrigações da massa.
A administração dos bens proprios e particulares da mulher
e dos filhos não será affectada pela fallencia (lei n. 5.746, de
9 de Dezembro de 1929, art. 46). O pátrio poder e a direcção
da família subsistem inalterados. As providencias tomadas pela
lei commercial, em relação ao fallido, são, pois, estranhas ao
direito civil.

Art. 7.° — Suppre-se a incapacidade, abso-


luta ou relativa, pelo modo instituido neste Co-
ligo, Parte Especial.

Observação •— A declaração da incapacidade das pessôas é


Uma providencia tutelar, não somente do incapaz, como ainda,
ei
ubora em segundo plano, das pessôas, que com elle travarem
re
lações jurídicas. O incapaz não é um precito, collocado fóra
communhão jurídica. E' um protegido da sociedade. Como
nao
se lhe pôde confiar a direcção da sua pessôa e dos seus
eus
, Põe o direito, ao seu lado, alguém, que o esclareça, dirija
6
õefenda.
Os modos de supprir a incapacidade são; o pátrio poder, a
l-utela e a curatela, que formam outros tantos capítulos do Di-
re
ito da família (arts. 379 a 395: pratico poder; 406 a 445: tutela;
a 467: curatela).' A mulher, casada, que o Codigo também
lri
clue na classe dos relativamente incapazes, tem, na autori-
Z;a
Ção do marido, o meio de supprir a deficiência de sua capaci-
C atle
^ iuridica (arts. 242 a 247). O marido, por seu lado, também
c
oõigo Civil — 1.° vol. 13
194 CODIGO CIVIL

necessita da outorga uxoriana, para praticar certos actos, que


podem comprometter a segurança econômica da família (ar-
tigo 235).
Occorre notar que o Codigo não manteve o beneficio vel-
leiano referente ás Intercessões da mulher.

Art. 8.° —Na protecção, que o Codigo Civil


confere aos incapazes, não se compreliende o be-
neficio de restituição.

Direito anterior — Differente; havia o beneficio de resti-


tuição, concedido em favor dos menores e dos interdictos (Ord.,
3, 41).
Legislação comparada — O Codigo Civil portuguez, artigos
38 e 297, extinguiu, expessamente, este beneficio; o allemão,
o argentino e o mexicano deixaram de contemplal-o; o francez
(art. 1.305 e segs.) manteve-o sob uma forma attenuada. Para
o direito romano veja-se o D. 4, 4, fr. 1, § 1.°; e fr. 3, §§ 1.° e 2.°;
fr. 7, §§ Io, 3o, 4o, e 5o; fr. 11, §§ 3o, 4o e 5o; fr. 24, 25, 29 e 44.
Projectos — Esboço, art. 43; Nabuco, 17, in fine; Felicio,
82; Coelho Rodrigues, 17; Beviláqua, 8.°; Revisto, 8o.
Bibliographia — Theoria geral do direito civil, § 12; Mab-
tinho Garcez, Theoria geral do direito civil, § 25; Nulliãades,
I, ps. 165 a 170; Almeida Oliveira, Restituição in integrum;
Coelho da Rocha, Inst., §§ 385 a 392; Fadda e Bbnsa, notas a
WiNDSCHEiD Pandectas, I, §§ 114 a 120; Teixeira de Freitas,
nota ao art. 43, do Esboço; Affonso Cláudio, Estudos de di-
reito romano, ps. 417 a 426.

Observação — Perante a Commissão especial da Gamara, em


1901, foi debatido a questão de se conservar ou extinguir o be-
neficio da restituição. O Conselheiro Andrade Figueira defendeu
o instituto; mas entendia que não era no Codigo Civil o seu logar
proprio, e, sim, na lei processual. Respondi-lhe; "E' estranhavel
que se considere um instituto desta ordem, fundamental no di-
reito, como simples matéria de fôrma. Evidentemente, trata-se
da concessão de um direito, que é attribuição exclusiva da lel
DAS PESSÔAS 195
substantiva. E, se não fosse, como poderia constituir o funda-
m
ento, de uma acção, com todas as conseqüências resultantes do
instituto? ' Depois de alludir ao direito francez e ao italiano,
ãue tratam da matéria, no capitulo das nullidades, e a Coelho
Da
Rocha, que a expõe, como incidente da representação dos
menores, accrescentei; "Outros, a meu vêr, com mais acerto, col-
Rcana a matéria da restituição in integrum, no momento em que
ex
Põem a doutrina geral da capacidade, porque a concessão desse
beneficio é uma expansão reaccionaria da capacidade, é um meio
Providenciar, para que sejam garantidos os interesses do
menor e de outros incapazes, concedendo-lhes um poder exces-
8
vo, injusto e irracional, qual é o de annullarem actos validos.
Por isso, penso que o Projecto andou bem, collocando a
luestão, na parte, em que trata da capacidade. B justifica-se
a
exclusão do instituto, porque melhor seria organizarmos a
udmiustração dos bens dos incapazes, de modo mais conve-
niente aos seus interessès, do que intervirmos, por esse modo
v
iolento, com o beneficio da restituição in integrum, que não
Respeita os direitos adquiridos, que prejudica a circulação dos
n
s e produz uma grande perturbação no organismo economico
a
sociedade". {Tralalhos, IV, p. 117).

Art. 9.° — Aos vinte e um annos completos,


a
Çaba a menoridade, ficando habilitado o indi-
iduo para todos os actos da vida civil.
Paragrapho único. — Cessará, para os me-
Il0res
, a incapacidade:
I- Por concessão do pae, ou, se for morto, da
^ aej e por sentença do juiz, ouvido o tutor, se
Rienor tiver dezoito annos compridos.
H- Pelo casamento.
III- Pelo exercicio de emprego publico effe-

IP - Pela collação de grau scientifico, em


rso
ensino superior.
c- , Pelo estabelecimento civil ou commer-
' C01*i economia própria.
' - Panxx o íÁ1' 0 dx- t ol O
(>/VvlvtoJv Ot/íVcmA a * otoÍr tid-vcb. etc YvV? '
Coyv^Jj-^IaAc JiL a .
196 CODIGO CIVIL

Direito anterior — Conforme, quanto ao principio do artigo


(Resolução de 31 de Outubro de 1831). Quanto ao paragrapbo
único, o direito anterior differia. — I. — O filho, que se achava,
sob a autoridade paterna, podia ser emancipado, fazendo o pro-
genitor uma declaração, perante o juiz de orphâos, a quem cabia,
homologar o acto e expedir a carta de emancipação {Ora., I, 88,
§ 6o, e lei de 22 de Setembro de 1828, art. 2.°, § 4o). Os juristas
dissentiam, quanto ao tempo, em que essa forma de emancipação
se podia dar, parecendo mais autorizada a opinião daquelles
que se pronunciavam pela edade de 18 annos. O orphão podia
obter supplemento de edade, aos dezoito annos, sendo mulher, e-
aos vinte, sendo varão, competindo ao juiz conceder a provisão
necessária {Ord., 3, 42, pr.; lei de 22 de Março de 1842, art. 5.°,
§ 2.°). Ao filho-familias assim emancipado e ao orphão sup-
plementado não era permittida a alienação dos bens de raiz.
Entretanto o direito commercial lhes facultava o exercicio do
commercio, podendo obrigar a alienar os immoveis (Cod. Comnw
art. I.0, ns. II e III).
Essa antinomia entre o direito commercial e o civil des-
appareceu com o Codigo.
II. — O casamento emancipava, também, o menor {Ord., R
88, § 6.°); mas faziam-se algumas restricções quanto ao orphão
(Ord., 1, 88, §§ 19, 27 e 28).
III e IV — Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 292,
considera estes dois casos, no que era acompanhado por
fayette {Direito de família, § 199).
V. — Referem-se os nossos civilistas a esta modalidade àe
emancipação, aliás erroneamente, quando o indivíduo é maior
de 21 annos. (T. de Freitas, Consolidação, art. 202, § 4.°, e La-
eayette, op. cit., § 119).
Legislação comparada — Quanto ao pr., veja-se a leg. in"
dicado no art. 6.°, I.
Quanto ao n. I, vejam-se: o Codigo Civil allemão, artigos
3 a 5; suisso 15; francez, 477 e 478; italiano, 311 a 313; Por'"
tuguez, 304, II, e 305; hespanhol, 314, 3.°, 316 e 317; chileno-
264 e segs.; uruguayo, 302 e segs., a lei dinamarqueza de 13 de
Março de 1903, no Annuaire de 1904, p. 476.
Por direito romano, o pae podia emancipar o filho, em
qualquer edade, tanto por declaração judicial quanto por meio
de rescripto do príncipe (Cod., 8, 49, Is. 5 e 6). o tutelado podia
DAS PESSÔAS 197
se
i' emancipado aos 18 annos, sendo mulher, e aos 20, sendo
varão (Cod., 2, 45, 1. 2, pr., e § 1.°).
—" Dispõem do mesmo modo: o Codigo Civil suisso, ar-
tigo 14, 2.K al.; francez, art. 476; italiano, 310; chileno, 266, 2.°.
Estabelecem restricções á capacidade do menor emancipado pelo
casamento; o Codigo Civil portuguez, art. 304, I; hespanhol, 304,
E0. argentino, 131 e segs.; e uruguayo, arts. 280, 283 e 305.
Drojectos —• Esboço, arts. 64 a 75 (emancipação pelo casa-
mento, com restricções durante a menoridade); Nabuco, art. 27
Felicio dos ÍSant\os, 895, com as restricções do antigo direito
Coelho Rodrigues, 2.278, com alguma differença; Beviláqua, 9o.
Revisto, 9». Nenhum destes Projectos fazia referencias aos casos
^0s ns- Dl, iy e V, que appareceram na discussão da Gamara,
so
b proposta de Fausto Cardoso.
Bdbliographia — Theoria geral, §§ 13 e 14; Direito da fa-
vülia, §§ 76 e 86; T. de Freitas, Consolidação, arts. 8o, 9o, 16,
Ef, 21 e 202; C. de Carvalho, Direito civil, arts. 93 e 97 a 99;
labalhos da Gamara, IV, p. 80; Ribas, Curso, ps. 297-301;
sp
iN0LA, Systema, I, ps. 283 a 285; Dias Ferreira, Cod. Civil
0r
P tuguez, I, aos arts. 304 a 310; Lafayette, Direito de família,
119 a 158; Martinho Garcez, Theoria geral do direito civil,
26
; Coelho da Rocha, Inst., §§ 313 a 316; Alves Moreira,
^ • •> i, n. 77; Planiol, Traité, I, 2.784-2.891; Laurent, Cours,
^ris- 418 a 421; Huc, III, ns. 465 a 479; Endbmann, I, § 27;
^^índscheid, Pandette, § 54, e nota de Fadda e Bensa, ps. 753 a
bu (Í0 V01" ^ Dernburg' Pandette, I, §§ 53 e 54; Kohler, Lehr-
d©0 eg
- ^ 6 126
' Vode Civil allemand, publié par le Comitê
r ' ®tr. notas aos arts. 3.° a 5.°; Padelleti-Gogiolo, Diritto
^>nano, caps. XIV, XV, XXXIX e XL; E. Cüq. Institutions,
a e a
588 Eonjean' Institutes, I, ns. 583 a
Droit romain, 5mC. ed., ps. 188 a 192; Netto Cam-
0
' ^>'eOlaueio,
Af fon.so ^ec^Ges Estudos,
direito romano, I, ps,e 249
ps. 227-228 a 254 Salvat,
307-320; da 2.a ed.;
op.
n
" ns. 739 e segs..

inandQ801 Va^es — 1- — Maioridade. — A maioridade começava,


a
nnos 0 ^n^^v^uo' varão ou mulher, completava vinte e um
e< a< e
duviri ^ ^ • ^ linguagem do Codigo não deixa logar a
198 CODIGO CIVIL

O direito anterior encurtava o período da menoridade dos


expostos, que se tornavam maiores aos vinte annos. O Codigo
desconhece esse caso excepcional.
A capacidade política também começava aos vinte e um annos
(Const. de 1891, art. 71). Uma edade mais adeantada, trinta e
cinco annos, era exigida para o cidadão poder ser eleito senador,
presidente e vive-precidente da Republica (Const., arts. 30 e 41,
§ 3.°, 3).
Hoje a capacidade política e a civil começam, em geral aos
18 annos, pois que aos 18 annos, alistam-se eleitores os brasileiros,
que saibam lêr.
Também no direito civil ha certas modificações na capa-
cidade dos maiores, determinadas pela edade, que se devem
recordar. Os varões maiores de sessenta annos e as mulheres
maiores de cincoenta não podem communicar os seus bens pel0
casamento, sendo para elles obrigatório o regimen da separação
(art. 258, paragrapho único, II). Os maiores de sessenta annos
podem excusar-se da tutela (art. 414, II).
2. — Emancipação. — A acquisição da capacidade civil
antes da edade legal é o que se denomina emancipação. No
systema do Codigo ella resulta: a) da concessão do progenitor
(art. 9.°, paragrapho único, I); 6) de sentença do juiz, se o
menor estiver sob tutela; c) do casamento (II); d) do exercício
de fucção publica (III); e) da collação de grau scientifico e111
curso de ensino superior (IV); /) do estabelecimento civil
ou commercial, com economia própria (V).
Desappareceram distincções imiteis do direito anterior,
quanto ao sexo e quanto á capacidade de alienar. O indivíduo
emancipado, por qualquer dos modos indicados no art. 9-0'
adquire a plenitude da capacidade civil, como se fosse maior-
Cessa a incapacidade, diz a lei. Não é uma simples ampliação
da capacidade restricta do menor.
São, também, casos de emancipação, aos dezoito annos, Para
o effeito do alistamento e do sorteio militar (Dec. n. 20.330
de 27 de Agosto de 1931); e, como acima ficou dito, em vir-
tude da acquisição do titulo de eleitor.
3. — A emancipação é irrevogável. Desde que a pessôa é
considerada apta para exercer, por si, os seus direitos, não i»'
cide em degradação civil, se não occorre nenhum dos factos,
que a lei considera determinantes de restricção ou extincção da
capacidade. Assim, se o pae emancipa o filho, já está imPe'
DAS PESSÔAS 199

dido de chamal-o, novamente, á submissão do poder paterno;


se o emancipado pelo casamento enviuva, não volve ao regimen
de restricção de que sahiu, quando constituiu familia; o empre-
gado exonerado continúa civilmente capaz.
4. — a) Concessão ão progenitor. — A redacção do pa-
ra
grapho único, n. I, que se tornava obscura com a emenda
sofffrida no Senado, melhorou, consideravelmente, na Gamara,
^icou bem claro o intuito do Codigo; a emancipação por acto
do pae ou da mãe somente se daria, quando o filho attingisse
aos
dezoito anos, cesando, assim, o arbitrio e as inúteis va-
r
iaçÕes, que o direito anterior consagrava. Extinto o pátrio
Poder, pela emancipação (art. 392, II), não cáem sob tutela os
Ülhos assim libertados da autoridade paterna (art. 406), o que,
Necessariamente, deveria acontecer, se esse modo de emanci-
pação pudesse referir-se aos menores de qualquer edade. Este
Niodo de emancipar consiste numa concessão, isto é, num favor
fei
to pelo progenitor ao filho, e beneficio não haveria na desis-
tencia do pátrio poder, achando-se o filho em tenra edade. (Vêi
defesa, ps. 349-355).
Hoje, em face do Constituição, o filho poderá ser emanci-
pado aos 16 ou 17 annos? Penso que não.
^ concessão somente poderá ser feita por quem se achai
No exercicio do pátrio poder, isto é, normalmente, pelo pae na
c
onstancia do casamento, e pela mãe, se o pae fôr morto.
c
nnipie, no emtanto, observar que o pae, não pôde usar desse di-
"■Cíto; i.o, achando-se privado do pátrio poder (art. 395); 2.°, es-
ando em cárcere por mais de dois annos, ou sendo judicialmente
aclarado interdicto (arts. 251, 446, 447 e 454), porque, nesses
"asos, a administração do lar cabe á mulher, ou os filhos estão
cb tutela; 3.°, se tiver dado o filho em adopção (arts. 372 e
A mãe, igualmente, ainda que viuva, não pôde emancipai
0
J^ . nno se achando no exercicio do pátrio poder (arts. ^80,
382
' 393 e 395).
^ desqulte, não dissolvendo o vinculo matrimonial, nem al-
an( 0
as re a
ta ^381), não^ Ções
produzentre paes e filhos,
modificação, quanto senão limitadamente
ao direito de eman-
cipar .

cediJratan(^0"Se natural a
. emancipação poderá ser con-
1 )e 0 ae Ue 0
bonv^ ^conhecimento
ei * ^ ^ ' ^ ^ver reconhecido,
paterno (arts. 379 e ou pela mãe, se não
383).
200 CODIGO CIVIL

5. h) Sentença ão juiz. — Se o menor estiver sob tutela,


a emancipação deve ser requerida por elle ao juiz, que a con-
cederá por sentença, depois de ouvir o tutor, se entender que
o menor está em condições de ser declarado plenamente capaz.
Casamento. — A emancipação pelo casamento e
uma conseqüência natural da constituição da familia. Não é ra-
zoável que o chefe de uma família se ache sob a autoridade de
outrem, que as graves responsabilidades da sociedade domes-
tica sejam assumidas pela intervenção, ou sob a fiscalização,
de um estranho. Para que a emancipação se effectue, é apenas
necessário que o casamento seja valido. O Projecto primitivo
accrescentava a clausula — realização na eãaãe legal (art. 271).
^ Eliminada essa clausula, segue-se que o casamento, não annul-
lado, de uma pessoa menor de dezesseis annos, sendo mulher, ou
menor de dezoito, sendo varão, produz a emancipação; e, como
esta é irrevogável, a viuvez sobrevinda em seguida deixa o menor
no gozo da capacidade adquirida.
O casamento putativo, produzindo, em relação aos cônjuges,
os mesmos effeitos do casamento valido (art. 221) determinará
também a emancipação delles.
7. d. e e /). — Os outros casos de emancipação, o exer-
cício de funcção publica, a collação de grau scientifico, e o
estabelecimento civil ou commercial, representam uma ociosa
persistência do direito anterior, que se não concilia bem com o
art. 391, II. Não os contemplou o Projecto primitivo; intro-
duziu-os, no Codigo, uma emenda de Fausto Cardoso, contra a
qual se oppuzeram objecções no Em defesa, ps. 349 a 355.
Por occasiâo de se discutir o Codigo Civil portuguez, a
mesma questão foi examinada, decidindo-se, com melhor cri-
tério, que não tinha razão de ser, na lei nova, a emancipação
pela habilitação literária ou pelo exercício de emprego publico.
Veja-se Dias Ferreiba, Codigo Civil portuguez, I, ao art. 304.

Direito ao Nome

Bibliographia — Theoria geral, Introducção, ns. 54 e 55,


J. X. Carvalho de Mendonça, Direito commercial, II, ns. 173-183,
V. Ouro Preto, Marcas industriaes e nome commercial, ns.
e segs.; Fábio Leal, Apontamentos sobre o nome commercioh
Direito, vol. 110, ps. 567 a 614; Solidonio Leite, Do nome com'
mercial, nova edição, Rio de Janeiro, 1919; Almeida Nogueira e
DAS PESSÔAS 201

Fischer, Marcas inãustriues, I, ns. 514 e segs.; Bento de Faria,


Marca de fabrica, e nome commercial, ps. 303 e segs.; Planiol.
Traité, I, ns. 379-400; Endemann, Lehrbuch, I, § 41; Coãe Civil
vilemanã, publié par le Comitê de lég. étr., nota ao art. 12;
Jhering, Actio injuriamm, trad. Meulenaere, ps. 161-170; Dern-
sxjrg, Pand., I, § 22; Fadda e Bbnsa, nota (f), ps. 627 a 648,
vol. I das Pand. de Windscheid; artigo — Nome civile e com-
merciale no Dizionario dei diritto privato de Scialoja e Bu-
satti; Pipia, Diritto indastriale, ns. 197 e segs.; A. Sraffa, Nome
Patronimico e nome commercial, na Revista de Direito, volume
^Vli, pS. 3-12; J. W. Heddmann, Die Fortschritte ães Zivilrechts,
I» Ps. 58-62; Plâniol et Ripert, Droit civil français, I, ns. 96 e
se
gs. R. Salvat, op. cit., ns. 595 a 672.
O Codigo Civil brasileiro não destaca o direito ao nome,
a
Pesar do exemplo allemão (art. 12), depois adoptado pelo Co-
ligo Civil suisso (arts. 29 e 30). As razões desse proceder foram
^adas em artigo publicado na Revista de Jurisprudência, de Fe-
vereiro de 1900, sob o tituto: — Do valor jurídico do nome civil.
re
Resumindo as razões, por que não foi esse direito posto em
levo no Projecto do Codigo Civil, creio contribuir para es-
clar
ecer o systema adoptado, pois, o assumpto não tendo sido
bateria de debate, deve presumir-se que as idéas do autor do
^rojecto eram as dominantes no meio juridico brasileiro.
1.* —_ o nome civil não constitue um bem juridico, porque não
a
coisa susceptível de apropriação em nossa sociedade. O nome
Pdividual, o que se inscreve no registro civil, e os cbristâos
re
cebem no baptismo, é, sem duvida, um modo de designar a
Pessôa; mas, pelo facto de ter essa pessoa um nome, que a indi-
Vl(
iualiza, não se segue que possa impedir outra de o escolher
t>aia
si. Nem tão copiosa é a onomástica para tomar possivel
6886 ex
clusivismo.
O nome de família, o cognome, o gentilitium dos romanos, o
n0vi 0s
^ francezes, o Nahme dos allemâes, é uma indicação mais
Precisa da pessoa. Porém, se é commum aos membros de uma
não é um direito pessoal, exclusivo. Depois, no Brasil,
menos, se as famílias se honram em conservar e zelar
seu
s e
nome, que sseria
antepassados,
vexatório ehainútil
muita escolha arbitraria de
impedir.
^■O noine deve ser comprehendido como a designação da
so
a nalidade. Mas a pex'sonalidade, fôrma pela qual o indivíduo
Parece na ordem jurídica, é um complexo de direitos, não é
202 CODIGO CIVIL

um direito. Da mesma fôrma, o nome pôde ser um direito,


por isso mesmo que designa o núcleo de onde irradiam os di-
reitos .
3.° Interesses valiossimos prendem-se ao nome e o direito
os protege; mas, para protegel-os, não necessita dessa creação,
que se afigurava absurda ao preclaro Jhering. O direito penal
reprime a intenção malévola, o animo de prejudicar naquelle que
usurpa o nome alheio, não porque só um indivíduo possa usar de
determinado nome, porém, porque ha uma injustiça ou uma per-
versidade a rebater. No direito civil, o principio da reparação
do damno é sufficlente para proteger todos os interesses, que se
prendam ao nome, não porque o uso delle seja um direito ex-
clusivo, porém porque todas as offensas causadas ás pessoas
devem ser reparadas, ou se reflictam na esphera econômica ou
se refiram á dignidade, á honra e aos interesses moraes da
pessoa.
4.° O nome commercial já não é uma simples designação
da pessoa, e envolve interesses de ordem econômica, de ordem
mercantil, que o desprendem da pessoa para se poder tornar
exclusivo e alienavel. E' um valor. Todavia, como depende de
circumstancias particulares para exercer a sua funcção eco-
nômica, é uma quantidade indeterminada e vacilante, que, como
observa J. X. Carvalho de Mendonça, não figura no balanço
das casas commerciaes, não é susceptível de penhor, não entra
na fallencia, não constitue quota social, não é objecto de rei-
vindicação.
Em todo o caso, differem, essencialmente, entre si o nome
civil e o commercial. Este é um valor economico, um bem;
aquelle uma simples designação do indivíduo, que não poderá
ter outro valor além do moral.
O Codigo Civil do Perú, arts. 13 a 18, organiza a protecçâo
do nome. E o Projecto argentino, arts. 26 a 29, também se occupa
desse direito.

Art. 10. — A existência da pessoa na-


tural termina com a morte. Presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos dos arts. 4B1
e 482.
DAS PESSÔAS JUKIDICAS 203

Direito anterior — Conforme, Ord., 1, 62, § 38; lei de 15 de


Nov. de 1827; dec. n. 2.433, de 15 de Junho de 1859, art. 47;
T. de Freitas, Consolidação, arts. 32, 334 e segs.; Carlos de
Carvalho, Direito civil, art. 110.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts. 64 e
78; hespanhol, 32 e 34; allemão, 13 a 19; suisso, 31, 32 e 34.
Projectos — Esboço, art. 240; Felicio dos Santos, 964; Na-
buco, 45; Coelho Rodrigues, 5.°, 2.327 e 2.340; Primitivo, 10,
549 e 561; Revisto, 10.
Bibliographia —• Theoria geral, § 15; Ribas, Curso, ps. 275-
278; Coelho da Rocha, Inst. I, §§ 70 e 71; Espinola, Systema, I
ps. 264-265; Martinho Garcez, Theoria geral, § 27; Dias Fee-
Reiha, Codigo Civil, art. 64; Alves Moreira, Inst., ns. 97; Ros-
sel e Mentha, I, ps. 94 a 95; Kohler, Lehrbuch, I, §§ 111 e 114;
Exdemann, Lehrbuch, I, § 42; Schirmeister, § 12; Windscheid,
Pan., I, § 53, e nota z de Fadda e Bensa; Dernburg, Panã,
§§ 50 e 51; Champeau e Uribe, Derecho civil colombiano, nu-
mero 178.

Observações —• 1. — O direito moderno exclue a morte


civ
ü. O termo da existência da pessoa physica é a morte na-
rrai do individuo. O direito romano conhecia a captis minutio
Máxima, que destruía, completamente, a capacidade. A perda da
Personalidade era também conseqüência da condemnação á pena
ultima, porém a legislação imperial não consagra mais esse
Dgor (Nov. 22, cop. 8). As Ord, mantinham a servidão da pena,
ln
stituto estranho á lei penal brasileira. As regras e estatutos
reli
giosos, que importem renuncia da liberdade individual, ainda
< Ue
^& determinem conseqüências políticas' (Const., art. 119, letra
). nenhuma influencia têm sobre os direitos civis.
2. — i^as legislações actuaes, não se encontra mais, em
^erah a morte civil. Em França ella foi abolida pela lei de 31 de
aio de 1854. Os condemnados a penas perpétuas não podem,
Perém, dispor nem receber por doação ou testamento. Na Bel-
^lca' ella desappareceu com a Constituição de 1831, art. 13.
^talia, a condemnação ao ergastulo acarretava restricção
Ca
Pacidade, que se approxima da morte civil (Cod. Penal,
arts 20
- e 31 a 35). Na Inglaterra, ensina Schirmeister (§ 3.°,
ç. do vol. I) que o banimento importa civil ãeath. A morte
dos religiosos professos é que desappareceu. Esta ultima
204 CODIGO CIVIL

especie é consagrada pelo Codigo Civil do Chile (art. 14). Os


outros Codigos, o portuguez, o hespanhol, o colombiano, o ar-
gentino, o suisso, o allemão, desconhecem a morte civil.
3. Sobre a matéria da segunda parte deste artigo, vejam-se
os arts. 5.°, n. IV, 12, I e IY, e 463 a 484.
A morte prova-se pela certidão de obito, e por sentença de-
claratoria do fallecimento. O primeiro modo ê o normal e
commum de prova da morte. O segundo intervem, nos casos em
que não ha uma certidão a extrahir, por falta do respectivo
asento, sendo certo, no emtanto, o facto da morte.
Os assentos de obitos regulam-se pelo estabelecido no de-
creto n. 4.857 de 9 de Novembro de 1939, arts. 88 a 99.
A presumpção da morte, no caso de ausência, produz effeitos
de obito, mas não dissolve o vinculo matrimonial.

Art. 11. — Se dois ou mais individuos fal-


lecerem na mesma occasião, não se podendo ave-
riguar se algum dos commorientes precedeu aos
outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Direito anterior — Differente pelo subsidio do direito ro-


mano (D. 24, 1, fr. 32, § 14; e 34, 5, frs. 22 e 23).
Legislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 20;
austríaco, 25; suisso, 11; hespanhol, 33; italiano, 4; portuguez,
1.738; chileno, 79; argentino, 109. O Codigo Civil francez (arts-
720 a 722), á semelhança do direito romano, adoptou certas dis-
tincções subtis, que não mereceram a approvação da doutrina,
como não encontraram applicação pratica.
Projectos — Esboço, art. 243; Felicio dos Santos, I51
Coelho Rodrigues, 6.°; Primititio^ 11; Revisto, 11.
Bibliographia r^. Theoria geral, § 15, III e IV; Martins0
Garcez, Theoria geral, § 28; Afranio Pkixoto, Medicina leg^>
ps. 363-401; Coelho ed Rocha, Inst., § 72; Alves Moreira, Inst-'
n. 98; Huc, Comm., V, ns. 24 e 25; Aubry et Rau, Cours, 1, §
Coãe Civil allemand, publié par le Comitê de lég. étr., nota ao
art. 20; Schirmeister, § 13; Keidel, em Cltjnet, 1899, ps. 261 e
segs.; Endemann, Lehrhuch, I, § 42; Lacassagne, Médecine M-
gale, ed. 1886, ps. 167 a 264; Kohler, Lehrhuch, § 120; Trabalhos
da Gamara, I, ps. 47 e 67; Em defesa, ps. 273 a 275; CHaMPEA0
DAS PESSÔA8 JURÍDICAS 205

e Ubibe, Derecho civil cnlovibiano, I, n. 179; I. Laxague em


Clunet, 1902, ps. 423-430.

Observação — O Codigo admitte a presumpção de que fal-


eceram, simultaneamente, as pessoas mortas na mesma occasião,
Quando os meios communs de prova admittidos' em direito, assim
como os meios especiaes, de que pode lançar mão a medicina
legal, são inconcludentes.
Dispõem os peritos de meios diversos, para reconhecer, entre
v
arias pessoas fallecidas num desastre, qual dellas sobreviveu ás
eutras. As alterações do cadaver, em seguida á morte, até á pu-
trefacção, desenvolvem-se numa série, que offerece dados pre-
ciosos para essa determinação. Os tratados de medicina legal in-
s
truem-nos, sufficientemente, a esse respeito. Yejam-se: Afranio
Peixoto e Lacassagne, nos logares citados na bibliographia.
Mas, algumas vezes, faltarão dados para uma affirmação po-
S1
tiva, e, neste caso, a lei presume que a morte foi simultânea;
consequentemente, não é possível a transmissão de direitos, entre
ess
as pessoas, que fallecerem na mesma occasião. Não ha neces-
Sl
dade, como pensa Meulenaeee, de volver ás indicações do Codigo
Civil francez e outros. As presumpções estabelecidas por esses
Cod
igos são arbitrarias. Na falta de qualquer elemento de prova,
0
Que a razão diz é que não se pôde affirmar qual das pessoas
^alleceu primeiro, e, consequentemente, nenhum direito fundado
a
Procedencia da morte pôde ser transferido de uma para a
cbtra. Será chamada á successão a pessoa, que tem de herdar,
aa
falta dos que se finaram no desastre commum. Theophilo
c
declara: "Todos os autores concordam em reconhecer que
^ 0 havia nenhuma necessidade de se estabelecerem presumpções
s
A obrevivencia. O direito commum era bastante para a solução
^ todas as difficuldades".
ítlGIONAL DO TRABALHO
K REGIÃO
12. — São inscriptos em registro pu-

I • Os nascimentos, casamentos e obitos.


A emancipação por outorga do pae ou
0U
^ ^)0r sei
Aençn do juiz (art. 9.°, paragrapho
206 CODIGO CIVIL

III. A interdicção dos loucos, dos surdos-


mudos e dos prodigos.
IV. A sentença declaratoria da ausência.

Uireito anterior — O registro civil dos nascimentos, casa-


mentos e obitos foi estabelecido pela lei n. 1.829, de 9 de Se-
tembro de 1870, art. 2.°, e regulado pelos decs. n. 5.604, de 25 de
Abril de 1874, n. 3.316, de 11 de Junho de 1887, art. 2o, n. 9.886,
de 7 de Março de 1888, e, finalmente, pelo dec. n. 181, de 24 de
Janeiro de 1890, que instituiu o casamento civil. Não havia re-
gistro de emancipação, interdicção e ausência.
Sobre o registro dos actos do estado civil pelos cônsules
brasileiros, veja-se o regulamento a que se refere o dec. n. 14.056,
de 11 de Fevereiro de 1920, art. 18, n. 25.
Legislação comparada — Em Roma, o registro dos nas-
cimentos foi introduzido, ao tempo do império. Marco Aurélio
confiou esse serviço ao prefeito do cerarium, na urhs, e, nas
províncias a magistrados municipaes chamados tahularii (van
Wetter, Droit civil, p. 5).
Vejam-se as disposições seguintes, onde não ha inteira con-
formidade, mas approximaçâo: Codigo Civil suisso, arts. 33, 50,
e 431; francez, 34 a 101; italiano, 350 a 405; portuguez, 2.441 a
2.487; hespanhol 325 a 332; chileno, 304 a 314; leis chilenas
de 17 de Julho e 24 de Outubro de 1884; Codigo do Uruguay.
39 a 49.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 150-207; BevilaQua'
12-17; Revisto, 12 a 17.
Bibliographia — Theoria geral, § 13; Trabalhos da Gamara,
IV, ps. 172-7, 3a col., e VIII, p. 46; Manoel Coelho RODBIGtjES'
Registro civil brasileiro. Rio de Janeiro, 1912; Tavares Bvsxos-
Registro civil na Republica; Planiol, Traité, I, ns. 468-572; Uuc»
Commentaire, I, ns. 309-365; Aubry et Ratj, Cours, I, §
Serpa Lopes, Tratado dos registros píiblicos.

Observações — 1. — Os Codigos civis, que adoptaram o nio


(\ô
delo francez, tratam da matéria do registro civil em fôrma
regulamento, com particularidades e minúcias impróprias de uma
lei geral, O Projecto primitivo reduziu o assumpto a 6 disP0
sitivos (arts. 12-17), que fixavam os princípios dominante9
DAS PESSÔAS JURÍDICAS 207

do instituto. Na Commissão da Camara dos Deputados desappa-


receram esses dispositivos, e, por proposta do Conselheiro An-
drade Figueira, creou-se o registro de emancipação por outorga
do pae ou da mãe, e por sentença do juiz. Na redacção final da
niesma Commissão, em 1902, appareceram os dois últimos re-
gistros. o das interdicções dos loucos e prodigos, e da ausência,

na edição correcta do Codigo Civil, incluiram-se como era de
r
azão, os surdos-mudos.
Acceito o systema do Codigo, de consignar no registro esses
ttiodos de ser das pessoas, seria razoavel estendel-o também á
adopçâo.
2. — A lei n. 3.232, de 5 de Janeiro de 1917, art. 10, § 3.°,
^anda distribuir pelos escrivães de orphãos o registro de que
tratam os ns. II e IV. As instrucções de 3 de Janeiro do mesmo
a
nno mandavam registrar estas alterações do estado civil no
le
gistro civil de nascimentos (art. 2.°, § 1.°). Os dois diplomas
toram publicados no mesmo numero do Diário Official (6 de Ja-
leiro de 1917), mas o primeiro, por ser acto legislativo e pos-
terior, é o que prevalece. A lei n. 4.827, de 7 de Fevereiro de
manda inscrever no registro civil das pessoas naturaes,
todas as situações a que se refere o art. 12 do Codigo Civil (ar-
tigo 2.°); e 0 decreto n. 4.857, de 9 de Novembro de 1939, dis-
0e so
®tro bre a execução dos serviços concernentes a esses regis-
s públicos.

CAPITULO II

Das pessoas jurídicas

SECÇÃO I

Disposições geraes

re^ • 13. — As pessoas jurídicas são de di-


0
tvdí J^blico, interno ou externo, e de direito
P^vado.

civi Conform
h — e (Carlos de Carvalho, Direito
208 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, art. 263; Nabuco, 149; Coelho Ro-


drigues, 7.°; Beviláqua, 18; Revisto, 18,
Bibliographia — Sobre a theoria geral das pessoas jurí-
dicas: Theoria geral, §§ 17 a 24; Lacerda de Almeida, Das
pessôas jurídicas, Rio de Janeiro, 1905; Amaro Cavalcanti,
Responsabilidade civil de Estado, Rio de Janeiro, 1905, secção
preliminar, ps. 1 a 90; Espinola, Systema, I, ps. 3IS e segs.;
Homero Pires, Do reconhecimento das pessôas jurídicas; Spencer
Vampré, Manual, I, §§ 29 e 30; Teixeira de Freitas, Esboço, ar-
tigos 17, 184 e 316, com as respectivas notas; Planiol, I, Traité,
ns. 670 a 745; Laurent, Príncipes, I, ns. 288 e segs.; Droit inter-
national, ns. 100 e segs.; Huc, Commentaire, I, ns. 20!2 e segs.;
Vareilles-Sommiêres, Les personnes morales; Salleilles, De la
personalité juriãique; Les personnes juriãiques dans le Coãe
Civil allemand; Aubry et Rau, Cours, I, § 54; Savigny, Droit
romain, §§ 85 e segs.; Jhering, Espiritu dei dereeho romano, IV,
§ 71; Windscheid, Pand., I, §§ 57 e segs., e a nota y, ps. 115
e segs., de Fadda e Bensa; Kohler, Lehrbuch, §§ 131 e segs.;
Dernburg, Pand., §§ 59 e segs.; Schirmbister, §§ 14 e segs.;
Endemann, Lehrbuch, I, §§ 43 e segs.; J. W. Hedemann, Die
Fortschritte des Zivilrechts, I, ps. 39 a 50 e 52 a 64; Sohm, »a
Systematische Rechtsioissenschaft, ps. 22 a 24; Alves Moreira
Inst., I, §§ 24 a 28; Yalverdb, Instituciones, cap. VIII; Tra'
balhos da Gamara, IV, ps. 84 a 89 e 111 a 112; E. Huber, Expose
des motifs, ps. 50 e segs.; Rivarola, Dereeho civil, I, ns 44-50,
Ricci, Corso, I, ns. 129 a 132; Planiol et Ripert. Droit civil fran-
çais, I, ns. 66 e segs.; Salvat, op. cit., ns. 1.170 e segs.

Observações — 1. -— A pessoa jurídica, como sujeito de d1


reito, do mesmo modo que no ponto de vista sociologico, é uIIia
realidade, é uma realidade social, uma formação organica irrves
tida de direitos pela ordem jurídica, afim de realizar certos f*11
humanos.
O Codigo preferiu a denominação pessoa jurídica P01
mais expressiva do que outra qualquer das imaginadas até '
e por traduzir bem a natureza particular deste segundo êen ^
de pessôas. O direito não recebe da natureza esta categoria ^
pessôas. Encontra-a na sociedade, e dá-lhe o caracter de
cessita para subsistir e desenvolver-se. Por isso vive ella sóm
DAS PESSÔAS JURÍDICAS 209
n
a ordem jurídica; falta-lhe a existência biológica das pessoas
naturaes.
O Codigo estabelece, neste artigo, uma primeira di-
visão das pessoas jurídicas: as de direito publico e as de di-
reito privado. A primeira classe comprehende duas sub-classes:
as de direito publico interno, enumeradas no art. 14, segundo o
ãireito constitucional brasileiro, e as de direito externo, que
s
ao os Estados soberanos, e a Santa Sé, considerados como partes
componentes da communhão internacional. O direito interna-
cional privado é também externo; porém, abi, não apparecem
categorias particulares de pessoas.
As pessoas jurídicas de direito privado são as declaradas
no
art. 16.
Iodas as pessoas jurídicas, de qualquer genero que sejam,
es e
que exerçam actos de natureza civil ou commercial, sub-
mettem-se ás normas do direito privado. Attendendo a isso, é
9ue o Codigo a ellas se refere neste primeiro enunciado, que não
ai um alcance méramente doutrinário. Consagra um preceito,
> por estar, hoje, geralmente, reconhecido, não deixa de ter
Auportancia.

14. — São pessoas jurídicas de direito


Publico interno:
I- A União.

Fed^ i ^aí^a 11111 í os seus


^ laudos e o Districto

n "p-- Cada um dos municípios legalmente


co
ustituidos.

ea0 antei 0
ciiiii
Vl1 '* r — Conforme (Carlos de Carvalho, Direito
' art. 147).
8
chileno^
^0' 547^410 comparada
(diversamente);—uruguayo,
Codigo Civil argentino, 14.
21; mexicano, art. 33;
jGCÍOS
kiqun 19 Esboço, art. 274; CoelHo- Rodrigues, 7.°; Bevi-
' ; Revisto, 19.
^0siaphia V. a bibliographia do artigo anterior.

00<ilêo
Civil - x,. Tol, 14
2lÔ CODIGO CIVIL

Obsei'vações — 1. — União é o termo usado pela Consti-


tuição republicana, para designar a Nação brasileira, nas suas
relações com os Estados federados, que a compõem, e com os
individuos, que se encontram no seu território. Indica a orga-
nização política dos poderes nacionaes, considerada em seu con-
juncto.
A personalidade jurídica da federaçãç brasileira offerece
uma face tríplice, segundo se reflecte na ordem internacional
(a nação, os Estados-Unidos do Brasil); na ordem constitucional
interna (a União); e na ordem privada (a União, a Fazenda
Nacional, a Fazenda Federal).
2. — Os Estados federados têm uma personalidade seme-
lhante á da União, pois que são organismos politico-adminis-
trativos, entidades collectivas constituídas para a realização de
fins communs, tendo o direito de se dirigir por leis próprias,
na esphera política e administrativa embora dentro dos limites
traçados' pela Constituição federal. Não têm, porém, persona-
lidade internacional.
O Districto Federal, que era collocado, pelas Constituições
anteriores, em plano, que pouco -distava do em que se acham os
Estados federados, aos quaes, a muitos respeitos, o equiparavam,
é, hoje um municipio, séde do governo da Republica, e adminis-
trado por um Prefeito de nomeação do Presidente da Federação
(Constituição, arts. 7 e 30, e decreto-lei n. 96 de 22 de Dezembro
de 1937.
3. — Os Municípios, gozando da autonomia, que lhes asse-
gura o art. 68 da Constituição, podem exercer os diversos actos
da vida civil, proprios de taes entidades, adquirir direitos, crear
obrigações e estar em juizo, como autores ou como réos.
Houve idêa de accrescentar-se, a essas categorias de pessoas
jurídicas de direito publico, as dos districtos, que, ao menos em
alguns Estados se acham no gozo de certos direitos. Essa idéa»
porém, não obteve o suffragio do Congresso.
Quanto ao Território do Acre, não foi destacado entre oS
sujeitos de direito deste artigo, porque a sua administração é
um simples departamento da administração federal, sem i11^1
vidualidade própria, que a invista do conjucto dos poderes flO
acção, que constituem a personalidade jurídica. Os Municipi09
ahi creados, porém, como quaesquer outros da Republica, entram
na classe das pessoas, a que se refere o n. III deste artigo.
d. 6"
Sobre a organização do Território do Acre, vejam-se os
DAS PESSÔAg JURÍDICAS 211
cretos: n. 1.181, de 25 de Fevereiro de 1904; n. 5.188, de 7 de
23 in de 1904; n. 6.901. de 26 de Março de 1908; n. 9.831, de
ae Outubro de 1912; e n. 14.383, de 1 de Outubro de 1920.

15 — As
Dnhl
ruoueo 'são, Pessôas
' civilmente, Jurídicas de
responsáveis pordireito
actos
seus representantes, que, nessa qualidade,

coutem .damnos a terceiros, procedendo de modo


ser w'10 30 direito' ou faltando a dever pre-
0
nc í101 'ei' salvo o direito regressivo contra
causadores do damno.

l89
l art^s anteiior ~ Conforme, segundo a Constituição de
221 a* 9 88' a jurisprudencia assente, e o disposto nas leis ns.
6
Agostn i 0 19^ Novembro de 1894' art. 13, e n. 1.939, de 28 de
S St0 de
08, arts. 1°, 2° e 6° a 9».
de
IS?^^^0 compai'ada — V. a lei austríaca de 12 de Julho
Codigo ò-a. leÍ allemã de introducção ao Codigo Civil, art. 77;
de
1889 UÍ1 liespanho1' 1-903' 5.a al.; lei franceza de 20 de Julho
Civil n ' ^ additamento ao art. 1.384 do Codigo Civil; Codigo
Portuguez, 2.403.
eCtOS
B.^ Beviláqua, art. 42; Revisto, 42.
lagraphia
Oleiro, — defesa do Projecto de Codigo Civil bra-
Aataro p8 74 a 79' Theoria 9eral do direito civil, § 22, III;
015
Alme AVALCANti' Besponsabiliãade civil do Estado; Lacerda
ps
* 79 a 84' 7eçsda"l> Jurídicas, § 8°; Espinoua, Breves annotações,
^etas ps q VlVEIBOS DB Castro. Direito administrativo cap. XIII;
§ 32; 71... / a 101' M^TtNHO Garcez, Theoria geral do direito,
P
Cünju ^ ' r^^'' (15); Gastão da
de CíeS
1902 ij . ^ Comam dos Deputados, sessão extraordinária
134
í Artu ' PS 111 a 123' Azevbdo Marques, ibiãem, ps. 131 a
cle
1 de o0' LEM08' Discursos pronunciados no Senado, na sessão
Auoppjjo (!ltUbl 0 de 1942; Pedro Lessa, Poder Judiciário, § 35;
3 ÍI)0
Ah^-i de
-cxurii ^>a?ecer n da rs-Gpmniissão especial da Gamara, em
'IQIQ
P
1913, p * ; Diano d0 Congresso, de 29 de Abril
Cll <blIlR0NI
^ ÍDa co . ' Ba culpa en el derecho civil moderno
CtUa1
Cidade c{Di^ l ^' Caps' IX a XI* PlNT0 Coelho, A responsa-
> livro II; Goodnow, The principies of the admi-
212 CODIGO CIVIL

nistrativ lato, ps. 382 e segs.; Duguit, Les transformations du


ãroit public, 1913, ps. 222 a 278.

Observações — 1. — O Projecto primitivo, art. 42, adoptando


a doutrina de Chiboíní, e seguindo a orienfação para a qual mos-
trava tender a jurisprudência patria, havia consagrado a re-
sponsabilidade das pessôas jurídicas de direito publico, a União,
os Estados e os Municípios, pelos damnos causados por seus re-
presentantes, quer agissem no exercício de uma porção de au'
toridade publica, quer praticassem actos de ordem méramente
privada. Havia interesse de firmar um principio, e escolheu-se
o que por si tinha a justiça e as melhores razões. A responsa-
bilidade das pessôas jurídicas de direito privado, geralmente
acceita não tinha necessidade de ser posta em relevo. As normas
communs, reguladoras das obrigações resultantes de actos i^1'
citos, seriam sufficientes.
Na discussão do Projecto, perante a Commissão governa-
mental, soffreu esse artigo uma primeira critica, da parte do
Dr. Olegario, que não foi apoiado pelos outros jurisconsultoS,
seus collegas. A primeira Commissão da Gamara, porém, Por
suggestão do Dr. Andrade Figueira, reduziu a responsabilidade
das pessôas jurídicas de direito publico aos actos de direito
privado, e, apezar da brilhante oração de Gastão da CüniíA
em contrario, prevaleceu essa doutrina restrictiva e injusta, sob
fundamento de que era indispensável acautelar o Estado contra
os abusos das indemnizações, que poderiam oneral-o de modo
incomportavel. A razão era inconsistente. O receio de abusos
não pode afastar o legislador do caminho da justiça. Providen
cie-se para impedir a reproducção dos abusos, mas consagre-8
a regra justa.
Felizmente, o Senado, acceitando uma emenda de
Lemos, restabeleceu a bôa doutrina, a que a Gamara novam
ouvida, adheriu.
2. — A responsabilidade das pessôas jurídicas de direito
blico por actos de ordem privada não dá motivo a controv ^
Acceitam-na, em geral, os autores. Negam-na, porém,
quanto aos actos de direito publico, pelo menos, quanto aos ^
são praticados, jure imperii. Estas limitações, porém, são *nã^ei
taveis. Todo damno deve ser reparado, por quem, injusta
DAS PESSÔAS jurídicas 213

^C0U' ^os damnos causados por actos da administração


íca, a responsabilidade não pode ser desviada, porque ella
Por intermédio dos seus orgâos. Entre o funccionario e o
ren ° 0U -0 Mun^cip^0 uma
relação mais intima do que na
e5 entaÇ £) COmmum d0 mandan
com ' ^ te pelo mandatario; e, se o
eil e
fort ^Ve ^resresponde
on pelos actos do procurador, com razão mais
P der a Administração pelos actos de seus orgãos.
a.ctos •Distin&air entre actos de gestão (jure gestionis) e
aUt0ridade
Por s ^ (Íure imperii), para excluir estes últimos,
qye o , aracter político, da responsabilidade civil, é desconhecer
em °iríllndanient0 dessa responsabilidade ê o principio jurídico,
todo lrtUde do qua1' toda lesao de direito deve ser reparada,
resarc
oipal ido, e que o Estado, tendo por funcção prin-
ealÍZar 0 clireit0 nao
aria
contrar r, no seu interesse,
' Pdcle principio
esse chamar ade sijustiça.
o privilegio de

da ac|n • As condiÇ°es' Para que se dê a responsabilidade civil


re
PresentniStraSa0 publica' em conse(luencia de actos de seus
0
âcto*1 aUteS' 830 08 seguintes: diie o representante pratique
Publica eSS~ qM■a^dade• d, no exercício de uma funcção
^ que 6 na0 em 8611 carac^er individual, de pessoa privada;
0u
Prod a(do cause damwo a alguém, lesando-lhe o patrimônio
justo ou lndod^e ofíensa aos direitos; c) que o acto seja in-
vioiaçâo ^(^0r. omissao de um dever prescripto em lei, ou por
(iade
Par 0 dÍreÍt0" Definindo este acto gerador de responsabili-
zo mi Ci^ pessôa íuridica de direito publico, dir-se-á que é um
o d)} representante do poder publico.
*—" O ar t'1 0 ana ysado
Pessôa j .• ^ ^ consagra o direito regressivo da
damno j]^1(^^Ca.de d^re^o publico, contra os causadores do
art aPPllCa5a0 de Um principio
a - l'542) que, tor a seral de direito (vide o
buS0Si a ' n do effectivo, seria um freio afficaz aos
dar
Uiaior ^Ue 86 deixam arrastar autoridades arbitrarias. Para
pro
jecto de^1]6^ a0 a 6886 d^re^0 regressivo, foi apresentado um
de eSpec ad
po
Ptemente Ce outros ^ ' mas 0 dispositivo do Codigo, indepen-
der pUbiic Preceitos compleraentares, já habilitava o
pe
Pder, para a, lec^amar do funccionario o que teve de des-
sa
5 a tisfazer o damno por elle causado.
b
^idade soliq ^0ns^tu^ao de 1937, art. 158, estatuiu a responsa-
dllad
exe
e niunici5113^ no< 0 íuncc 01:lar 0 e
^ caso de^ t da Fazenda federal, esta-
rcici0 çjg ' damnos pelos mesmos causados no
^eja-se o Up cr UclS tlm^ões, por negligencia, omissão ou abuso.
eto n. 24.216, de 9 de Maio de 1934.
214 CODIGO CIVIL

6. — O funccionario publico, além dessa responsabilidade


civil, em relação ao Estado geral, ao Estado particular ou ao
Município, tem, ainda, a responsabilidade criminal, a que, par-
ticularmente, se refere a Constituição de 1891, art. 82. Os abusos,
as omissões, a indulgência e a negligencia constituem modali-
dades dos crimes funcionaes, cujas figuras descreve o Codigo
Penal sob a designação generica de crimes contra a hôa ordem e
administração puhlica (arts. 207 a 238). Sobre este assumpto,
leia-se João Baehalho, commentario ao artigo citado na Consti-
tuição, de 1891.
7. — Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, posterior
ao Codigo Civil. — A União é responsável pelos damnos causados
por funccionarios, ou empregados seus, civis, ou militares, qu®-
abusando das funcções, que lhes foram confiadas, commettem
quaesqucr delictos (Acc. n. 2.403, de 29 de Dezembro de 1918>
Diário Official, de 16 de Julho de 1919).

Art. 16. — São pessoas jurídicas de direito


privado:
I. As sociedades civis, religiosas, pias, mo-
raes, scientificas ou literárias, as associações de
utilidade publica e as fundações.
II. As sociedades mercantis.
§ 1.. As sociedades mencionadas no n. 1? 80
se poderão constituir por escripto, lançado wo
registro civil (art. 20, § 2.°), e reger-se-ão pm0
disposto a seu respeito, neste Codigo, Parte Es-
pecial .
§ 2.° As sociedades mercantis continuarão a
reger-se pelo estatuído nas leis commerciaes.

Direito anterior — A lei de 10 de Setembro de 1893 regu^0


a personalização das associações de fins não economicos.
sociedades de fins economicos adquiriam personalidades jurídica
se se ajustavam ás fôrmas de direito mercantil, que a possnia1^
como as anonymas, as em commandita por acções, ou simP
e as em nome collectivo. Os syndicatos agrícolas e profiss
DAS PESSOAS JURÍDICAS 215

Personificavam-se de accôrdo com o disposto nos decrs. legis-


lativos n. 979, de 6 de Janeiro de 1903, e n. 1.637, de 5 de Ja-
neiro de 1907. As associações da Cruz Vermelha adquirem perso-
nalidade jurídica, quando organizadas segundo o dec. n. 2.380,
de 31 de Dezembro de 1910.
Legislação comparada — O Codigo Civil allemão, art. 21,
concede a personalidade civil, ás sociedades de fins ideaes, pelo
Si
niples facto da inscripção no registro competente. E' o sys-
tema do registro ou matricula, chamado, de preferencia, pelos
allemães, systema de regulamentação legal. As sociedades de
fins economicos somente por concessão do poder publico, obtêm
Personalidade jurídica, salvo disposição especial da lei (art. 22).
Codigo Civil hespanhol, arts. 35 a 37, enumera as pessoas ju-
DJicas e estabelece que as de interesse publico existem, desde
ine são validamente constituídas, segundo a lei; as de interesse
ar
ticular são remettidas ás leis, que as regularem: as fun-
(
iações devem ser approvadas, em certos casos, pela autoridade
n^niinistrativa. Na França, a theoria da personalidade jurídica,
sobre a qual o Codigo Civil fez silencio, foi eonstituida pela
1 r
iDa e pela jurisprudência, sendo certo que diversas leis
s
Peciaes, expressamente, attribuiram capacidade civil a certas
0r
Porações, O Codigo Civil italiano, arts. 11 e 12, considera
lessôas, além das communas, províncias e estabelecimentos pu-
> «v associações, fundações e outras instituições de caracter
o. desde que sejam reconhecidas por decreto. As sociedades
^ nierciaes regulam-se pelas leis commerciaes (art. 13). Mais
eto
® 0 Codigo Civil suisso, art. 52, que assim dispõe: —
SOciec a(
f ies organizadas corporativamente, e os estabeleci-
So 1 01116 es )ec a e e enc
nard' f ^ ^ no^t
ade, com a inscripção ia própria,
registro adquirem
commercial. — per-
São
sadas dessas formalidades as corporações e os estabele-
08 116 ( re 0
nomic as fu^ ^ Pnblico, as associações, que não têm fim eco-
.' ndações ecclesiasticas e as fundações de família. —
bons C^e^a^es e estabelecimentos de fim illicito ou contrario aos
Civil C0Stumes nart ã0 podem adquirir personalidades". O Codigo
do '' reconhece, como pessoas jurídicas, além
de ifi- 0' ^as Crovincias e dos Municípios, os estabelecimentos
aC e pil )lic
cor^ f a, religiosas, pios, scientificos ou literários, as
'Porações ' a& eommunidades religiosas, os collegios, as uni ver-
Si(} 1
ades ci ^ *
seguro ' S Socle(^a(^es anonymas, os bancos, as companhias de
luaesquer outras associações, que tenham por prin-
216 CODIGO cmii

cipal ohjecto o hem commum, comtanto que possuam patri-


mônio proprio e sejam capazes, por seus estatutos, de adquirir
liens, e não subsistam por dotações do Estada. O Codigo Civil
chileno, art. 547, exclue do Codigo Civil as sociedades commer-
ciaes, a nação, o fisco, as municipalidades, as communidades
religiosas, que se regulam por leis especiaes. As corporações e
fundações, que entram na esphera do Codigo Civil, necessitam
de approvação do Presidente da Republica, sempre que não se
tenham estabelecido em virtude de uma lei. O Codigo Civil do
Uruguay, art. 21, também exige o reconhecimento da autoridade
publica, para que adquiram personalidade jurídica, as corpora-
ções, os estabelecimentos e as associações.
Projectos — Esboço, arts. 276 e 278; Felicio dos Santos,
152 e 153; Coelho Rodrigues, 18 a 20; Beviláqua, 20 e 21; Re-
visDo* 20.
Bibliographia — Theoria geral do direito civil, §§ 20 e 21;
Em defesa, ps. 69 e 71; Direito das obrigações § 163; Amaro
Cavalcanti, Responsabilidade civil do Estado, ns. 20 e 21; Bspi-
nola. Systema, I, ps. 343-378; Lacerda de Almeida, Pessôas
jurídicas, §§ 9.° e 15-30; Ribas, Curso, ps. 343-354; J. X. Car-
valho de Mendonça, Tratado de direito commercial brasileiro,
III, ns. 600-618; Ferreira Alves, Leis da Provedoria, 5.a ed.,
§§ 528-598; Planiol, Traité, I ns. 692-716; Huc, Gommentaire,
I, ns. 210-217; Axjkry et Rau, Cours, I, § 54; Rossel et Mentha,
I, ps. 119-126; E. Huber, Explõsé des motifs, ps. 67 e segs-,
Kohler, Lehrbuch, I, §§ 162-154; Fadda e Bensa, notas X, M" v'
ps. 778-823, ás Pand. de Windscheid, vol. I; Dernbtjrg, Panã., E
§§ 60-62; Schirmeister, §§ 14-18; Endemann, Lehrbuch, I»
§§ 43-47 e 49; Yalverde, Instituciones, I, cap. IX; SaleilleS,
Personalité Juriãique, ps. 54-304; Les pers. jur. dans le Oode
ali., ps. 3-20; Vareilles-Sommièrbs, Personnes morales, ps. 512--
593; Roth, System, I, § 71; R. Rohm, na Systematische Recht-
wissenschaft, 1906, ps. 24-27; Code civil allemand, publié Par
le Comitê de lég étr., notas aos arts. 21 e segs. Reynaldo
Porchat, As sociedades commerciaes, tirante as anonymas, na0
são pessôas jurídicas, Revista da Faculdade de Direito de Sa0
Paulo, vol. XI, ps. 187-203; R. Salvat, op., cit,, ns. 1.187 e segs--
José Joaquim de Almeida, Da realidade no conceito da pessôa
jurídica.
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 217

Observações — 1. — Depois de ter enumerado as pessoas


^«•idicas de direito publico, passa o Codigo, neste artigo, a
scriminar as de direito privado. Essas pessoas são: a) as so-
ledades civis, em sentido amplo; &) as fundações; c) as so-
c
edades commerciaes. Na accepção generica de sociedade civil,

têmPrehendem "Se Variase modalida(ies


ins economicos,
de
entescivis
são as sociedades collectivos. Uns
em sentido
^ eto. Outros proseguem fins ideaes ou não economicos: são
Publ611810
^ ica. As^8sociedades
' PÍaS' m0raeS, scie
de fins nãontificas, literárias
economicos e de utilidade
se costumam deno-
^ nai associações; mas o Codigo não distingue entre sociedade
^ ciaçâo, como se vê deste artigo. E' verdade que reservou
^ vocábulo associação para as agremiações de utilidade publica,

n.s'so6 ^-S^n0U a secÇao deste capitulo — das sociedades e


inentÍOÇÔeS C™s; mas' desde uno se não forneceu, na lei, ele-
em11 08 Para Uma distlncsao dessa natureza, e desde que se tome
que COnsÍ(ieraçâo
0 Codi l116 08 estabelecimentos pios e as sociedades,
go denominou moraes, são de utilidade publica, reco-
«uecer-se-á
Pessoa • ^ intuito de crear duas classes de
ciaçõe8 ;'UrÍ(Íicas: as sociedades civis, lato sensu, e as asso-
dcito S 0 qae se deve induzir na linguagem do Codigo é que é
de fj'nsmaS, nao nbrisatorio, denominar associações as sociedades
não economicos'. Vêr os arts. 20 a 23 e 1.363-1.409).
as 0r(|e '^as designações do art. 16, I, devem comprehender-se
i iand rt m0naSt
rr, n
iCaS' aS cousregaSèes religiosas, as confrarias e
Igre a
são ne. j Catholica, as dioceses e as parochias não
Cada 8 lll d cas de
na^ ^ ^ ^ direito privado. A primeira, corporifi-
Pessòas " ^anta entra, como já ficou dito, na classe das
ParochiasUrÍd~CaS ^ direito Publico externo. As dioceses e as
ecclesiagf Serao Personalidades jurídicas na esphera dp direito
essencial C0' Inase ' 0110 CamPo do direito civil brasileiro, que é
Podem ^ ^ ' desde que não formam sociedades, não
dquirir personalidade.
6 as
irin deUS m0nastlcas' Perém, as congregações, as confrarias
digo Civil11 adeS Sa0 sociedades nas condições previstas pelo Co-
e020
da c AS (1Ue
^ existiam antes do Codigo continuam no
depois estã^ ^*16' qUe haviam adquirido; as que se formarem
01

Pela iej n 1 suJeitas ao registro, como, aliás, já era prescripto


^ • 73, de 10 de Setembro de 1893.
c e
eiclo (i0 c ^ dudes mercantis são as organizadas para o exer-
ercio e reguladas pelas leis commerciaes, como o
218 CODIGO CIVIL

Codigo Commercial, arts. 287 a 353, os actos legislativos conso-


lidados pelo dec. 434, de 4 de Julho de 1891 e outros. São ellas;
as anonymas, em commandita simples ou por acções, em nome
collectivo, de capital e industria, cooperativas e por quotas,
quando tiverem fim commercial. As cooperativas, ainda que não
tenham por objecto directo a especulação, e, sim, proporcionar
vantagens aos socios, facilitando-lhes acquisições de utilidade
por preços inferiores ou sob condições mais favoráveis do que
as poderia fornecer o commercio geral, eram de commerciabili-
dade incontestável, como ensinava Carvalho de Mendonça, Tra-
tado de direito commercial brasileiro, vol. IV, ns. 1.453 e 1.454.
Em face, porem, do decreto, n. 581, de 1 de Agosto de 1938, que
revigorou e ampliou o decreto n. 22.647, de 19 de Dezembro de
1932, as cooperativas podem ser civis ou commerciaes, sendo mais
naturalmente civis.
4. — Determina o § 1.°, deste artigo, que as sociedades se
constituam todas por escripto. Em relação ás sociedades, d116
se personalizam, essa exigência legal, é de rigor, e a sua falta
impossibilita a personificação. As sociedades não personalizadas
também se constituem por escripto; mas o Codigo prevê a exis-
tência de sociedades irregularmente formadas, que, tendo entrado
em relação com terceiros, possam ser provadas independente-
mente de escripto (art. 1.366).
Dispensável era este paragrapho primeiro, porque a exi-
gência da fôrma escripta para a organização da sociedade, e do
registro para o inicio da personalidade, consta do art. 18.
Em geral este capitulo das pessoas jurídicas resente-se d®
uma certa falta de methodo, conseqüência de imperfeita agglu'
tinação de opiniões divergentes dos que collaboram no seu
preparo.
5. — Toda pessôa jurídica, por isso mesmo que o é, teIíl
capacidade para adquirir patrimônio. A posse deste, porém, ua0
é condição para a sua existência. Esta questão, debatida na ela
boração do Projecto {Trabalhos da Gamara, IV, ps. 11-12), teve'
afinal, a solução aconselhada pela melhor doutrina.

Art. 17. — As pessoas jurídicas serão rep^6


sentadas, activa e passivamente, nos actos ju .
ciaes e* extra-judiciaes, por quem os respectivos
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 219

estatutos designarem, ou, não o designando, pelos


seus directores.

Uireito anterior — Era principio corrente.


Legislação comparada — D. 3, 4, fr. 1, § 1.°; Codigo Civil
argentino, arts. 36 e 37; allemão, 26 e 27; suisso, 54 e 55;
federal das obrigações, 635 e segs.; chileno, 551-552.
Projectos — Esboço, arts. 285-290; Nabuco, 158 e 159; Fe-
llci ão
o s Santos, 157 e 158; Coelho Rodrigues, 10; Beviláqua, 26;
Revisto., 25.
Bibiiographia — Theoria geral, § 22; Lacerda de Almeida,
Pessoas jurídicas, § 8.°; J. X. Carvalho de Mendonça, Direito
conimercial, III, ns. 606-608 e 639-640; Martinho Garcez, Theoria
9e7 al, § 70- Amaro Cavalcanti, Responsabilidade civil do Estado,
n
- 23; Plantou, Traité, I, ns. 722-726; Kohler, Lehrbuch, I,
§§ 135-144; WjCNdschfid, Pand., § 59; Endemann, Lehrbucr, I,
43, Alves Moreira, Inst., n. 113; Rossel e Mentha, Droit civil
ut-sse, I, pS- ^13 e Saleiij.es, Personalité juridique, ps. 582
e
seguintes.

Observações — 1. — As pessoas jurídicas são realidades do


1 0
*' ' P01 ém não realidades physiopsychicas. Não podem agir
Sl como
gp v
' as pessoas naturaes. Necessitam de orgãos, para a
Hla de relação, que são os seus representantes, directores
e
gerentes.
S or
ae^o^ £âos da pessoa jurídica, em geral, são designados no
desi ^ - 3 consf^lle• O artigo fala de estatutos, como uma
lle

civi^ria^30 ^ene"ca' abrangendo os contractos, nas sociedades


Prop .COlI1Inuns' 08 compromissos das corporações e os estatutos,
Soci /—te ditos, das associações de fins não economicos, das
/es anonymas e das em commandita por acções.

Sanic re£,resenfanfes podem ser nomeados na própria lei or-


0l SOc e a( e 011 e 0
his'^, ^ ^ ^ ' P f modo que ella indicar. Se houver
0 a respelto
Pessô • ' entonde-se que os representantes são as
é
Que Va.lncum i< as
( ar ^ 4 de dirigir a pessoa jurídica, pois que ellas
N o 4 dhe movimento para a realização de seus fins.
ess
eiem P ôa jurídica, ha orgãos e representantes. Aquelles são
Seral .08 ComPonenfes da pessôa, como os socios, a assembléa
carrega^ 08 ec^or^as nas sociedades. Estes são os indivíduos en-
de cumprir as ordens dos orgãos de decisão e as
220 CODIGO CIVIL

resoluções dos orgãos deliberativos. Por isso mesmo, podem ser


indivíduos estranhos ao conjuncto orgânico da pessoa jurídica.
Este artigo fala de representantes, isto é, de indivíduos, que
realizam a vontade de pessoa jurídica, tratando em nome delia,
adquirindo direitos para ella e contrahindo obrigações, pelas'
quaes ella responderá. Comprehende os orgãos dirigentes e os
representantes que não são orgãos.
2. — O dec. n. 2.681, de 7 de Dezembro de 1912, preenchendo
sensível lacuna de nossa legislação, regulou a responsabilidade
civil das estradas de ferro. Legislação especial vae aqui apenas
apontada, para que a consultem os interessados.

SECÇÃO II

Do registro civil das pessoas jurídicas

Art. 18. — Começa a existência legal das


pessoas jurídicas de direito privado com a in-
scripção dos seus contractos, actos constitutivos,
estatutos ou compromissos, no seu registro pe-
culiar, regulado por lei especial ou com a auto-
rização, ou approvação do Governo, quando pre-
cisa.
Paragrapho único. —: Serão averbadas, no re-
gistro, as alterações, que esses actos soffrerem.

Direito anterior — Conforme, quanto ás associações para


fins não economicos (lei n. 173, de 10 de Setembro de 1893'
art. 1.° e aos syndicatos agrícolas ou profissiones (dec. n. 9^3,
de 6 de Janeiro de 1903, art. 2.° e n. 1.637, de 6 de Janeiro
de 1907, arts. 2.° e 3.°). O registro do contracto das sociedades
commerciaes ê formalidade exigida para a sua validade pelo ar-
tigo 301 do Codigo Commercial, porém a personificação dessas
sociedades, reconhecida pela doutrina, não fôra declarada em le1.
Veja-se o art. 16.
Legislação comparada — O Codigo Civil suisso, art. 52,
estabelece o registro como formalidade necessária para que
as sociedades organizadas corporativamente e as fundações
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 221
adquiram personalidade. São dispensadas dessa formalidade: as
corporações e os estabelecimentos de direito publico, as asso-
ciações de fins não economicos, as fundações ecclesiasticas e as
de familia. Não podem adquirir personalidade as sociedades c
estabelecimentos de fins illicitos.
O Codigo Civil allemão, art. 21, faz depender do registro a
pei sonificação da associação de fins não economicos (ein Yerein,
dessen Zweck nicht auf einen wirthsc/iaftlichen Geschaeftsbetrieo
Oerichtet ist). A de fins economicos, na falta de disposição es-
pecial de leis do império, adquire a personalidade por concessão
administrativa dos Estados federados. As conectividades reli-
giosas são consideradas de direito publico, e como taes alheias
as regras do direito civil. As fundações devem ser autorizadas
(art. 80).
A personalidade das corporações, associações e fundações de
interesse publico começa, segundo o Codigo Civil da Hespanha,
ar
t. 35, desde o momento em que se constituem validamente. As
de interesse particular, sejam civis, commerciaes ou industriaes,
dependem do que a respeito estatuir a lei que lhes conceder esse
Predicado.
O Codigo Civil argentino, art. 45, adoptou o systema da au-
torização da lei ou do governo.
Na França, a lei de 1 de Julho de 1901 faz depender a ca-
pacidade juridica das associações, da sua publicidade, segundo os
Preceitos do art. 5.°. As outras pessoas juridicas dependem de
autorização governamental, excepto: as sociedades commerciaes,
0
sendo de seguros sobre a vida e de tontinas; as associações
^yndicaes, os syndicatos profissionaes; e as sociedades civis,
Quaes a jurisprudência, depois de muito hesitar, reconheceu
a
Personalidade.
10 ectos
Savd 0s, ^ 152 e 154;E^oço,
Coelhoart. 305; Nahuco,
Rodrigues, 153; Felicio
20; Beviláqua, 21; dos
Re-
visto, 20.

tía ^üographia — Theoria geral, § 21; Ferreira Alves, Juízo


Trat0Ve 0rÍa 3 a e
«do, ^iiI( ' ns 659-664,
^"' ^ 548-551;
894-906 eJ. 987-991;
X. Carvalho de MENDONÇA,
IV, 1.393 e 1.463;
VAMPR
Gar^ The É' Sociedades anonymas, ns. 479-487; Martinho
c oria geral, § 38; Planiol, Traité, ns. 695-705; Huc,
I
' 210-212; Kohler, Lehrbuch, §§ 145-147; Wind-
e no a
Pond ' § 63; Code ^ Civil l s ^ e v de
allemanã, Fadda
publié pare le
Bbnsa/ Dernburg,
Comitê de lég.
222 CODIGO CIVIL

étrangère, I, notas aos arts., 21, 22, 23 e 80; Roth, System, § 71;
Endemann, Lehrbuch, §§ 44-49; Alves Moreira, Instituições, 1,
n. 112; Valverde, Instituciones, § 67; Rossel et Mentha, Droit
civil suisse, l, ps. 109-111; R. Salvat, oy. cit., ns. 1.267 e segs..

Observações — 1. — Adoptou o Codigo o systema do registro


ou autorização legal para a personalização das sociedades e fun-
dações de direito privado. As corporações de direito publico dis-
pensam esta formalidade. As pessoas juridicas, já existentes
antes do Codigo, continuam no gozo dos seus direitos.
A esse regimen de liberdade faz-se uma restricção para as
sociedades de seguro, montepio, caixas econômicas, que neces-
sitam de prévia autorização para se constituir e funccionar (ar-
tigo 20, § 1.°).
Independem de autorização, porém, as cooperativas e os syn-
dicatos agrícolas e profissionaes (art. 20, § 1.°, primeira parte,
in fine). O decreto-lei n. 581, de 1 de Agosto de 1938 submette
as cooperativas a um registro administrativo obrigatório, e a
fiscalização.
As sociedades anonymas continuam a reger-se por lei es-
pecial, e, portanto, necessitam de autorização do governo, para
se constituir e funccionar, nos casos determinados nessa lei. Os
bancos de credito real, as sociedades anonymas, que tiverem
por objecto montepio, monte de soccorro ou de piedade, caix»
econômica, operações de seguro ou o commercio de generos ab-
mentares não se podem organizar sem autorização do governo
(dec. n. 434, de 4 de Julho de 1891, art. 46).
Os bancos de emissão somente por lei federal podem ser
creados.
2. — O registro para as associações de fins não economicos
era o instituído pela lei n. 173, de 10 de Setembro de 1893, <lue'
na Capital da Republica, e em alguns Estados, se acha a carg0
do official do registro facultativo de títulos (lei n. 973, de 2 de
Janeiro de 1903 art. 1.°, § 1.°; dec. n. 4.775, de 16 de Fevereiro
do mesmo anno, art. 4o, letra c). A lei n. 4.827, de 7 de Fevereiro
de 1824, criou o registro civil das pessoas juridicas (arts. Io o ^0-)'
O das sociedades commerciaes é o creado pelas leis nier
cantis (Cod. Comm., art. 10, n. 2, e 301; dec. n. 434, de 4 de
Julho de 1981, art. 79; dec. n. 596, de 19 de Julho de 189°'
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 223

dec. n. 9.210, de 15 de Dezembro de 1911). Está a cargo das


Juntas commerciaes, e, onde não existam, se fará no cartorio de
dypothecas da comarca.
No Districto federal, regula o dec. n. 93, de 20 de Março de
19
35, que estabelece normas para o registro do commercio, no
Departamento Nacional da Industria e Commercio.
Também é no cartorio do registro de immoveis do districto
r
espectivo que os syndicatos agrícolas e profissionaes depositam
08
seus estatutos, a acta de installação e a lista dos socios dos
Primeiros, ou a dos diretores dos segundos (dec. n. 979, de
áe Janeiro de 1903, art. 2.°; e dec. n. 1.637, de 5 de Janeiro
"6 1907, arts. 2.° e 3.°).
O das sociedades civis de fins economicos, assim como o
as
Vere
fundações, está hoje instituído pela lei n. 4.827, de 7 de Fe-
iro de 1824, arts, 1.° e 4.°.
O decreto n. 4.857, de 9 de Novembro de 1939, dispõe sobre
^ execução concernente aos registros públicos estabelecidos pelo
Lo
digo Civil.
3. o registro das pessoas jurídicas é de indiscutível con-
^niencia. A pessoa jurídica é distincta dos indivíduos que a
niam, ou que, simplesmente, a dirigem. Para segurança dos
nteresses dos que com ella tratam, o registro declara, de modo
ico e authentico, a sua constituição, a sua capacidade acqui-
1Va
e obrigacional, quem a representa.
^ Também é de interesse da pessoa jurídica que seja orga-
0 0 re
ab 08 Sistro. Conferindo-lhe personalidade defende-a de
i. ferceiros, como dos seus proprios orgãos e represen-

Art. 19. — O registro declarará:


oi o ~ ^ denominação, os fins e a séde da asso-
ou fundação.

sent ^ ^ Tnodo por que se administra e repre-


ac
Uiente ^va e
Pass^va? judicial e extra judicial-

prorn'^ ^ 08 esta^u^os> 0 contracto ou o com-


1SR0 sao
tr.ra
ao ~ Teformaveis, no tocante á adminis-
Çao, e de que modo.
224 CODIGO CIVIL

IV. Se os membros respondem, ou não, sub-


sidiariamente, pelas obrigações sociaes. •
V. As condições de extincção da pessoa ju-
rídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

Direito anterior — Veja-se o art. 18.


Legislação comparada — Cod. Civil allemão, arts. 55-79.

Observação — Tomando por modelo o registro das asso-


ciações, creado pela lei n. 173, de 10 de Setembro de 1893, e
regulado pelo dec. n. 1.649, de 12 de Janeiro d e 1894, o Codigo
uniformiza o registro das pessoas jurídicas de direito civil.
As de direito commercial, sejam de pessoas ou de capitães,
serão submettidas ao registro do commercio, pois continuam a
reger-se pelo estatuido nas leis commerciaes como declara 0
art. 16, § 2.°, e já ficou observado no commentario 2 ao artigo
antecedente.

SECÇÃO ITI

Das sociedades ou associações civis

Art. 20. — As pessoas jurídicas têm exis-


tência distincta da dos seus membros.
§ 1.° Não se poderão constituir, sem prévrí
autorização, as sociedades, as agencias ou os esta-
belecimentos de seguros, montepio e caixas eco-
nômicas, salvo as cooperativas e os syndicatos
profissionaes e agrícolas, legalmente organi-
zados .
Se tiverem de funccionar no Districto F6'
deral, ou em mais de um Estado, ou em territó-
rios não constituídos em Estados, a autorizaça0
será do Governo Federal; se em um só Estado,
do Governo deste.
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSÔA8 JURÍDICAS 225

§ 2.° As sociedades enumeradas no art. 16,


que, por falta de autorização ou de registro, se
uão reputarem pessoas juridicas, não poderão
aecionar os seus membros, nem a terceiros; mas
estes poderão responsabilizal-as por todos os
s
eus actos.

Direito anterior — Conforme, quanto ao principio do artigo


ei de 10 de Setembro de 1893, arts. 5.° e 7.°; Cod. Comm., ar-
tigos 289, 334 e 349). Quanto ao § 1.°, somente certas sociedades
anonymas e em commandita por acção dependiam de autorização
C- n. 434, de 4 de Julho de 1891, arts. 46 e 229). Quanto
*0 § 2.°, vejam-se a lei de 10 de Setembro de 1893, art. 15, e o
Co
d. Commercial, arts. 303 e 304.

re Legislação comparada — Veja-se a legislação citada em


erencia ao art. 21, e mais: Cadigo Civil allemão, art. 54;
s
uisso, 62; hespanhol, 38, l.a parte.
No direito romano, vigoravam os seguintes preceitos: Si
guid universitate debetur, singulis non debetur: nec guoã debet
ninersitas singuli debent (D. 3, 4, fr. 7, § 1.°). Neque societas,
Ue colle
b ^ Qium, neque hujus modi corpus passim omnibus ha-
esf6 Cur
GOnce tur
^ t fr
' - 1» pr-)- Quibus autem promissum
ar Pus habere... proprium est... habere res communes,
communem (ibidem, § 1.°).
l73.Pr0"jeCtOS EsUoço, arts. 295-308; Nabuco, 153, § 4.°, 155 e
Felici0 dos
dHWues, baratos,24 152,
21; Beviláqua, e 25;§ 3.°, 154, 23
Revisto, 160 e e24.161; Coelho

^apbia — Theoria geral, §§ 19 e 21; Espinola, Sys-


GAr ' ^ ^s' ^^^"272; Ribas, Curso, ps. 332 e segs.; Martinho
co C1ÍZerct
' Theoria yeral, § 40; J. X. Carvalho de Mendonça, Direito
p <U, In, lls- 601, 605, 610-612 e 666-669, e IV; n. 894;
l01
'' Traité, I, ns. 698-705; Huc, Commentaire, I, ns. 210-215;
82^. ^tlIElD' Pand., J, § 60 e nota v de Padda e Bensa, ps. 811-
CoinitéKBNBlIRG' d)and'' L § 63; Code Civil allemand, publié par le
Lehri^ C^e étr
'' ^ notas aos 21 a 23 e 54; Endemann,
WC 1
Dron ' ' ^ 6
^ ■^0TH' 8ystem, § 72; Rossel et Mbntha,
suisse
tuio*
l
ÇOes, I s > I. ps. 109-111 e 120-125; Alves Moreira, Insti-
aog art ' 8 Dias Ferreira, Godigo Civil portuguez, I, notas
• 32-34; E. Huber, Exposé des motifs, ps. 72 e segs.;
COd
ÍgO Civil - RO vol. 15
226 C0D1G0 CIVIL

Trabalhos da Gamara, IV, ps. 84-85 e 172, 10 (emenda do Sr. An-


drade Figueira), VII, p. 6. (art. 23) e 247-249.

Observações — 1. — A conseqüência iramediata da perso-


nificação da sociedade é distinguil-a, para os effeitos juridicos,
dos membros, que a compõem. Pois que cada um dos socios é
uma individualidade e a sociedade uma outra, não ha como lhes
confundir a existência.
A sociedade, constituída por seu contracto, e personificada
pelo registro, tem um fim proprio, economico ou ideal; move-se,
no mundo jurídico, a fim de realizar esse fim; tem direitos seus,
e um patrimônio, que administra, e com o qual assegura, aos
credores, a solução das dividas, que contráe.
2. — O § 1.° acautela e restringe o principio da liberdade
de associação e personificação. Não se poderão constituir, diz
o artigo. Não é somente a personalidade que recusa o Codigo
ás sociedades, a que se refere neste paragrapho. Veda-lhes a
formação.
Sem autorização do Governo, não se podem constituir so-
ciedades, agencias ou estabelecimentos de seguros, montepio e
caixas econômicas. A necessidade de autorização, nestes casos,
resulta de que, destinando-se esses institutos a gerir dinheiros
de terceiros, captando os seus contribuintes no grande publico,
entre o povo, deve o governo conhecer a sua idoneidade, para
evitar abusos. E', na maioria dos casos, o interesse dos des-
protegidos da fortuna que exige este accrescimo de cautela. B
uma razão mais de ordem social do que simplesmente econômica-
2 a — Também necessitam de autorização para se constituí-
rem as sociedades de mineração e de aproveitamento de aguas
para energia hydraulica (dec. lei n. 938, de 8 de Dezembro
de 1938).
3. — A autorização deve ser concedida pelo Governo Federal
se a sociedade ou o estabelecimento de seguro, o Montepio ou a
Caixa Econômica tiver de funccionar no Districto Federal, em
mais de um Estado, ou no Território do Acre. Se tiver de fuilC
cionar em um só Estado, a competência para autorização seiá
do respectivo Governo. Pela palavra Governo, deve aqui se 611
tender administração publica.
A autorização deve anteceder á constituição da sociedade,
agencia ou estabelecimento. Examinará o governo a opPoltu
DO REOTSTRO CIVIL DAS PES8ÔAS JURÍDICAS 227

nidade, a legalidade, a solidez da empresa, e as garantias, aue

tutos a a0 P'ser
ws devem
lbhC0
' Dep0ii! 11,5 ao
apresentados ^dstituida
governo, apara
sociedade, os veri-
que este esta-
Se
, ' «almente, nelles se attendeu aos fins da lei. Antes
momUÍ.ma re,.lsa0' <iestacara 0 do Codigo Civil os dois
ciona611 "S' dlzendo: _ "Não Poderão constituir-se nem func-
a di r A Slippressão deste ul
timo termo não pôde significar
zacân ^ da apresentação dos estatutos, sem a qual a autori-
5611

de n, Sena Uma forraalidade ^util. Prevaleceu o pensamento


ciedal6' Para íunccionar tern de' Primeiro, ser constituída a so-
Uorni ^ e'ri e 6 palavras
;,llIg0U se bastante f
" tornou a disposição
alar na menos
constituição.
precisa. Mas a eco-

cionar"1 ng0I\bastaria ser impetrada a autorização para func-


sitam ' 0mo e llclto fazer as sociedades anonymas, que neces-
"o Seg„rrtêf°rT 1 iade <tlCC
"
íle cumpnr essa
' "■ 434, 53)
- AS
dec exigência, segundo prescreve o
Mas o o h28' de 14 de Setembro de 1932' depois de constituídas.
de
que 0 0 CÍVÍ1 nã0 permitte a eousfifuição das sociedades,
se artig0 sem prévia
eut ' autorização. Este rigor não
16 áS S0ciedades se
(art ig ' regem pelo direito commercial
^ > § 2. ), mas delle não podem fugir as sociedades civis.
autoriz -0S SyndÍCat0S a^icolas e Profissionaes independem de
me
mbro ^ Paia 86 orSanizar. funccionar e crear para os seus
^nsfituições
Poram entre de mutualidade, previdência e cooperação.
nÓS regulados 6108
6 de j' ' P decretos legislativos, n. 979, de
^ituem1116^0 de 1903' 6 n' 1'(537' de 5 de Janeiro de 1907. Con-
Pro
fissâo ^e^a aSkjOCiafião de pessoas, que exercem a mesma
de
fesa e 00Udesenvolv
Profissões co
nnexas. Têm por objecto o estudo, a
e os imento dos interesses geraes da profissão,
aaturez0ramente profissionaes de seus membros. São, por sua
As e fnf seu objecto, sociedades civis,
goveruoj^ ' ^lle 03 instituíram, dispensaram-nos de autorização
d®®, les ^ntal: mas' somente os reconhecidos pelo Estado po-
®stado ín ente, representar, defender os associados perante o
Por ^ de 1937' art- 138)-
ecau< 0
art 903 ^ íã . é que foi lembrada essa circumstancia no
"J do Codigo.
eentraes qaeica f0s Profissionaes podem federar-se em syndicatos
terao
5 _ Personalidade civil distincta.
Podem re 8í Pensam, também, autorização as cooperativas, que
ir a fôrma anonyma, em nome collectivo ou em
228 CODIOO CIVIL

commandita, e se regulam pelos decs. 22.647, de 18 de Dezembro


de 1932 e n. 581, de 1 de Agosto de 1938, como já ficou dito, n.
1.637, de 5 de Janeiro de 1907, arts. 10 e 25. Nestas sociedades,
o capital é variavel, o numero dos socios illimitado e as acções
ou quotas partes incessiveis a pessoas estranhas á sociedade.
6- — As sociedades civis não registradas não têm pex-so-
nalidade (art. 18), isto é, não têm existência distincta da dos
membros, que a compõem não podem apresentar-se em juizo
propondo acção contra os socios ou contra terceiros. Mas, diz o
art. 20. § 2.°, os terceiros poderão responsabilizal-as por todos
os seus actos. Desta determinação resulta que, se essas socie-
dades não têm personalidade, existem, todavia, como sociedade,
como contracto. Isso mesmo declaravam o Projecto primitiitOi
art. 25, segunda parte, e o Revisto art. 24, segunda parte, ac-
crescentando que os actos praticados em nome delia obrigariam,
pessoalmente, o seu autor em relação a terceiro. Eliminada esta
providencia, resulta que a communhão responde pelas dividas
sociaes, cabendo a cada socio uma parte nas dividas, propor-
cional á sua entrada (art. 1.381 e 1.396). Todavia, se a divida
fôr contrahida por quem não tiver a administração da sociedade,
não respondem por ella nem os bens sociaes nem, muito menos,
os particulares dos socios (arts. 1.387 e 1.395).
7. — As sociedades civis não autorizadas também não são
pessoas juridicas, pois que se não podem registrar. Nem são
propriamente sociedades, porque se não podem constituir. Serão
sociedades de facto ou, antes, sociedades prohibidas, pois que o
Codigo lhes conserva o nome de sociedade; serão méras com-
munhões. Mas, não tendo existência legal, sendo nullo o con-
tracto, em que se fundarem (arts. 145, II e IV), não podem
subsistir. E nisto differem das sociedades civis não registradas,
que têm existência legal ainda que sem as vantagens da perso-
nificação.
Entretanto, no interesse de terceiros, o Codigo responsabü1'
za a sociedade não autorizada, como se lhe faltasse, apenas, 0
registro.

Art .21. — Termina a existência da pessoa


juridica:
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSÔAS JURÍDICAS 229

^ ^ e^1 Slla
dissolução, deliberada entre os

terce/116111^3"08' sa vo
^ 0 (
^^re^0 da minoria e de

Slm dissolll ão
mine^^ ^ ' doando a lei deter-

do " í>e^a Slia (^^sso^llÇão, em virtude de acto


tiuir^0Vert10' eassaiK^0dlio a autorização para
em "0nar' doando a pessoa jurídica incorra
bem pubp0^08^08 a0S 86118 ^ns' 011 110C^V0S ao

anterlor _ 0 assum
(lei Pto era tratado diversamente
de Setembro de 1893 arts 10 e
nercial t ^ - - 13; Cod. Com.
tigo I67^ S' 335 6 336' CARLOS de C^valho, Direito civil, ar-

0 COmpai ada
Danh^rf^39: '
allemâo a
" Ve;iam-se 0 Codi^ Civil hes-
Ono 4S e 49; chileno, 559 arts.
560:41-43 e 73;68-71.
japonez, suisso. 76-79; argen-

^orJ^OS r ESb0Ç0' art- 312; *ahuco' m' Felicio dos


Coel}i0
Bibli Rodrigues, 27; Beviláqua, 27; Revisto, 26.
ridicaç .0sgraphia ~ Theoria geral, § 23; Lacerda, Pessoas ju-
Curso n 331 6 32; Espinola' Systema, I, ps. 374-376; Ribas,
Niol ' . 35"336; Mabtinho Garcez, Theoria geral, § 41; Pla-
Oroií l nS 730 6 731
' ' ' Ro,rH' Syste™' l> § 72; Savigny,
8c ain I § 89 KoHLE
HErD p ' ' ' -b Lehrhuch, I, §§ 173-176; Wind-
íes perJmd- §§ 61 e 62; Debnburg. Pand., I, § 64; Saleilles,
Co
^ eive*168 juridiques' aos art*- do Cod. Civil allemão;
cits, art.. allemand, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos
Al : Schibme
ves m I8ter, § 33; Chieoni, Istituzioni, I, § 28;
ORElRA Inst
üireito ' -' í- § 28; J, X. Carvalho de Mendonça,
l5
- ^-1.5^mnierCÍal' H1' ns- 781"806; IV, ns. 1.344-1.361 e
Uvber ' OSSEL 64 Mentha, Droit civil suisse, I, ps. 142-145;
IV
' Ps. \12EXP0Sé ães mofits' Ps- 77 e 78; Trabalhos da Gamara,
SalvAt p 6 10: VI1' P- 6 (art. 24, VI); e VIII, p. 48, art. 24
' - CR-, ns. 1.282-1.298.

a ões
^Pseg Se ^ 1- O Codigo estabelece tres modos, pelos
eUingue a personalidade da associação civil: a dis-

o
230 CODIGO CIVIL

solução desta, deliberada pelos próprios associados; a determi-


nada por lei; e a decretada por acto do Governo.
A dissolução da sociedade civil por deliberação de seus
membros dá-se por cansenso unanime destes (art. 1.399, VI), ou
por decisão da maioria, fundada em razão plausível. Neste caso,
resalva o Codigo os direitos da minoria; e, em ambos, os de
terceiros.
Para desapparecer a antinomia apparente que se poderia as-
signalar entre o art. 21, I, que fala em direito da minoria, e o
art. 1.399, VI, que, de accôrdo com o direito anterior, exige o
consenso unanime dos associados, devemos entender o Codigo do
modo seguinte: Accordando todos os membros da sociedade em
dissolvel-a, não precisam, para tornar effectiva sua vontade,
senão affirmal-a e executal-a. Assim como contractaram podem
distractar. Eodem jure quo res contrahitur dissolvitur. E' a
ãissoluçâ\d convencional. No caso, porém, de occorrer uma cir-
cumstahcia capaz de determinar a dissolução administrativa ou
legal da sociedade pôde a maioria resolver a dissolução, desde
que não consiga remover o elemento desorganizador.
A resalva dos direitos da minoria foi inspirada pelo Codigo
Civil de Zurich, art. 34. Quer significar, simplesmente, que, no
proprio interesse da duração da sociedade ou do cumprimento
de suas deliberações, pôde a minoria vencida impugnar a reso-
lução da maioria (Schneider, Privatrechtliches Gesetzbuch fuer
ãen Kanton Zuerich, art. 34, nota 1), pelos meios legaes.
O Projecto primitivo, art. 1.526, 6.° falava apenas, em con-
senso dos socios. Foi o Revisto que accrescentou o epitheto unâ-
nime, art. 1.399, VI, naturalmente porque tal era o direito em
vigor.
2. — As associações de natureza perpetua e de utilidade pu-
blica, da mesma fôrma que as outras sociedades civis, podem
dissolver-se por deliberações de seus membros. As razões de
ordem espiritual ou religiosa, que se invoquem, em sentido con-
trario, não podem prevalecer contra disposições expressas do Co-
digo, cujo intuito de submetter todas as sociedades e corporações
a certos preceitos geraes uniformes, é, simplemente, uma appi1'
cação do espirito de absoluta laicidade do nosso direito consa-
grado na Constituição republicana de 1891.
Aliás, a lei de 10 de Setembro de 1893, art. 10, n. 2, já ("i8*
punha desse modo.
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 231
3. ■ a dissolução resulta de determinação da lei, nos casos
eclaiados no art. 1.399, ns. I a V, que vêm a ser; implemento
a
condição, a que foi subordinada a duração da sociedade; o
Ve
ncimento do prazo estabelecido no contracto social; a con-
s
ecução do fim, para o qual se constituiu a sociedade, ou a ve-
^icaçâo da sua inexequibilidade; a fallencia, a incapacidade ou
^orte de um dos socios; a renuncia de um dos socios, quando
a
sociedade fôr de prazo indeterminado.
Dissolvida a sociedade, entra em liquidação para os fins
^minados nos arts. 22 e 23.
4- ■ As sociedades de fins não economicos não se extinguem
Por falta ou deficiência de capital; por fallencia, incapacidade,
0101
te ou renuncia de um dos socios (art. 1.399, paragrapho
^bico).
^ E certo que o patrimônio é necessário ao desenvolvimento
Sei
actividade social, mas não tendo a sociedade fins interes-
ros> basta-lhe a aptidão para adquirir patrimônio, restaurar
esgotado, e trabalhar para a consecução de seu objectivo de
ordem ideal.
incapacidade, renuncia ou morte de algum de seus
oiembros também não lhes determina a dissolução, porque não
becessidade de fazer inventario e partilha dos bens sociaes,
^ara entregar, ao renunciante ou aos herdeiros do fallecidq, a
Porção, que competir, e podem dispensar o esforço do in-
oapaz. Dotadas da faculdade de renovar, continuamente, os des-
ques pessoaes soffridos. podendo augmentar ou diminuir o
bnmero de um delles não tem para ellas a influencia, que tem
i)aia as sociedades de fins economicos.
Não diz o Codigo até que numero de membros se pôde re-
^ a sociedade de fins ideaes. No direito anterior, a matéria
^oífria controvérsia. Havia o principio do direito romano (D. 3,
' *-r- 7, § 2.°); si universitas aã unum reãit, magis aãmittitur
Posse eum et convenire et conveniri, eum jus omnium in unum-
^diderit, et stet nomen universitatis, consagrado na lei n. 173,
1893, art. 10, § 4.°. Mas, se ha menos de duas pessoas, não
sociedade, objectava-se. O Codigo Civil allemão, art. 73, impõe
Perda da personalidade á associação cujo numero de socios se
bon inferior a tres. O Projecto[ primitivo, art. 27, § 6.° e o
e
visto, art_ 26, § 6.°, adoptaram essa norma.
ause
tr- a bcia de qualquer dispositivo, deve prevalecer a dou-
romana, ainda que, em rigor, não possa haver sociedade
232 CODXGO CIVIL

de um. Como, porém, tal era o direito anterior, o desappareci-


mento de alteração proposta pelo Projecto primitivo, importa na
conservação desse direito. Aliás, devera ter ficado expresso o pre-
ceito. Além disso, é doutrina do Codigo, art. 55, que, nas coisas
collectivas, só se considera extincta a conectividade, quando des-
apparecem todos os indivíduos menos um.
Em accordão n. 2.294, de 7 de Agosto de 1918, o Supremo
Tribunal Federal decidiu que, existindo um frade único, a ordem
religiosa não se considera extincta {Diário Official, de 9 de Ou-
tubro de 1918).
5- Por duas causas pode o Governo decretar a disso-
lução da sociedade civil personificada: a) qüando incorra em
actos oppostos aos seus fins; h) quando os praticar nocivos ao
bem publico.
Não é clara a redacção deste artigo. Mais adequadamente
se expressara o Projecto. antes de emendado pelo Senado. O
pensamento do dispositivo é o seguinte: a) A sociedade, que ne-
cessita de autorização administrativa para se constituir (art. 20,
§ 1.°), se se desviar do fim, para o qual se organizou, entre-
gando-se a operações differentes, perde a razão de ser, na ordem
jurídica. Como não pode existir sem a autorização do Governo,
e esta fôra dada para a realização de um fim, que foi afastado
ou contrariado, o Governo, tomando conhecimento do facto,
cassa-lhe a autorização; h) Retira-a, também, quando a socie-
dade compromette o interesse publico.
Ainda que restricta, a acção do Governo pôde resultar
abusiva. Podem, então, os socios promover, judicialmente, a an-
nullação do acto, que os feriu, se fôr illegal (lei n. 221, de 20 dé
Novembro de 1894, art. 13).
7. Se a sociedade, qualquer que seja, promover fim ü-
licito ou se servir de meios illicitos, será dissolvida por sentença
do poder judiciário, mediante denuncia do Ministério Publico.
Este caso não foi, especialmente, destacado pelo Codigo, como o
fôra pela lei de 10 de Setembro de 1893 e pelo Projecto primi-
tivo, art. 27. Porém, como todo acto jurídico, deve o contracto
social ter um objecto licito (art. 82). Não sendo licito o objecto
da sociedade, será esta nulla, de pleno direito (art. 145, II). E,
assim, entra este caso, na comprehensão natural do art. 21, IX:
qioanão a lei determine. Não tendo existência jurídica, a socie->
dade será um ajuntamento illicito, cuja dissolução deve decretar
o poder judicial, como medida de defesa da ordem raorgl.
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 233

Co ' ^ art- 103, paragrapho único, do Codigo Penal, pune a


^orporação, que reconhecer algum superior fora do paiz, pre-
^ ndo lhe obediência effectiva. Trata-se de um crime político,
pgf ca^0 contra a independência, integridade e dignidade da
^ a, que entra na categoria dos actos illicitos, considerados
numero antecedente. A pena é a dissolução.
101 al
Sum tempo, tentou-se usar dessa artigo do Codigo
^nal como arma contra as commuuidades religiosas. Mas, sendo
tr relações' entre ellas e os seus superiores, residentes no es-
1 6"0' maramen^e espnntuaes, e não se as podendo quali-
^íicai^ de criminosas ou perversoras da ordem civil, reconheceu-se
lijncQngruencia, entre essa interpretação anti-religiosa e a plena
Gr
dade espiritual proclamada pela Constituição da Republica.
(je • As sociedades anonymas dissolvem-se pela reducção
seus accionistas a menos de sete (dec. n. 434, de 4 de Julho
de
1891. art. 148. 6.").
Quando a sociedade civil revestir a forma anonyma, a re-
6^0S soc^os a nienos de sete acarreta-lhe a dissolução.
^ caso, a dissolução não se segue, immediatamente. A lei
cec e um prazo de seis mezes para ser preenchido o numero
,clec
- cit.. art. 151).
10 As
po " sociedades civis não estão sujeitas á fallencia,
es e
l instituto é, exclusivamente, commercial. Abre-se
ob"Jectoexcei)sao Paraincorrem
seja civil,
a
s sociedades anonymas. Ainda que o seu
em fallencia:
1
no " Quando' sem relevante razão de direito, deixam de pagar,
Vencimento, obrigação liquida e certa;
20 N0S casos
nu 0161,0 indicados nos ns. 1 a 6, do art. 2.°, da lei
de 9 de Dezembro de 1929.
. 3-0 Nos casos de perda de tres quartos, ou mais, do capital
So Clal
(citada lei, de 1929, art. 3.°).

(>e . • 22. — Extinguindo-se uma associação


^ituitos não economicos, cujos estatutos não
sponharu quanto ao destino ulterior dos seus
ns e
s ' não tendo os socios adoptado, a tal re-
tri^0' • (^e^^eraÇÜo efficaz, devolver-se-á o pa-
nionio social a um estabelecimento municipal,
234 CODIGO CIVIL

estadual ou federal, de fins idênticos ou seme-


Ihantes.
Paragrapho unieo. — Não havendo, no Muni-
cipio, no Estado, no Districto Federal, ou no ter-
ritório ainda não constituido em Estado, em que
a associação teve a sua séde, estabelecimento nas
condições indicadas, o patrimônio se devolverá á
Fazenda do Estado, á do Districto Federal, ou á
da União.

Direito anterior — Differente, em parte (lei n. 173, de 10


de Setembro de 1893, arts. 11 e 12).
Legislação comparada — Vejam-se: o Codigo Civil hes-
panhol, art. 39, 2.11 parte; chileno, 561; allemão, 45 a 47, lei de
introducção, 85; argentino, 50; portuguez, 36; suisso, 57.
Projectos — Esboço, 314 e 316; Nabuco, 179, e 181; Felicio
dos Santos, 166; Coelho Rodrigues, 28 e 29; Beviláqua, 29; Re-
visto, 28.
Bibliographia —- Theoria geral, § 23, III; Lacerda, Pessôas
jurídicas, § 32; Martin no Garcez, Theoria geral, § 42; Planiol,
Traité, I, ns. 732-737; Saleilles, Personnes juridiques, notas aos
arts. 45-47 do Cod. Civil allemão; Coãe Civil allemand, publié par
le Comitê de lég étr., notas aos referidos artigos; Kohxer, Lehr-
buch, I, §§ 176 e 177; Windscheid, Pand., I, § 62, e nota o de
Fadda e Bens a, ps. 823-839; Roth, System., I, §§ 71, V, e 72,
IV; Dernbürg, Pand., § 64, B; Bndemann, Lehrbuch, I, § 45, in
fine; Schirmeister, § 35; Chironi, Istituzioni, I, § 28, g; Alves
Moreira, Inst., I, n. 118; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez,
nota ao art. 36; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, paginas
116-118; Jhering, Espiritu dei ãir, romano, vol. IV, nota 524.

Observações — 1. — Dissolvida a sociedade de intuitos não


economicos, por qualquer das causas constantes do art. 21, pro-
cede-se á sua liquidação, isto é, apuram-se os haveres sociaes,
solvem-se as responsabilidades da pessoa extincta, ultimam-se as
operações em andamento. Depois attende-se ao que os estatutos
determinam, quanto ao destino dos bens, para cumprirem-se as
suas determinações. E' ocioso indagar se o preceito dos esta-
DO REGISTRO CIVIL DAS PESSÔAS JURÍDICAS 235
U 08
âa ^eve ser inicial, isto é, estabelecido com a organização
sociedade, ou se foi adoptado, ulteriormente. Deve é estar vi-
Sorando no momento, em que a sociedade se dissolve.
Tem, aqui, o mesmo valor de um preceito dos estatutos, a
e 1
eração tomada pelos socios, quer antes da dissolução da so-
e
dade, quer no período da liquidação. B' somente na falta de
Uma resolução tomada pelos associados, que a lei, suppletiva-
Uiente, providencia sobre o destino do patrimônio social.
Não exige o Codigo unanimidade para a deliberação dos
s
sociados a respeito; consequentemente, basta que a maioria
e
solva. Deve, porém, a deliberação ser efficaz, isto é, sem vicio
lue perturbe a manifestação jurídica da vontade.
2. No silencio dos estatutos e na ausência de deliberação
8 Soc 0
i s, o patrimônio da sociedade extincta devolve-se a um
stabelecimento de fins idênticos ou semelhantes. O estabeleci-
men
to existente no Município, onde a associação tinha a sua
e( e
Cr
^ ' Prefere aos que se acharem situados em outras circum-
ipções do mesmo Estado. Procura, assim, a lei seguir a di-
^ecÇão da vontade que, na associação extincta, procurara o meio
alcançar um objectivo ou realizar um pensamento.
0 patrimônio era destinado á concepção de um fim moral,
igioso, literário ou scientifico. A lei não o quer desviar do
• h destino, antes procura dar-lhe applicação analoga a que lhe
a
a corporação dissolvida, entregando-o a um estabelecimento
Publico.
^ Somente, no caso de não ter o Município, o Estado, o Dis-
Um^0estbelecimento
^r'e(^era^ 011 0 nas
tmritorio aindaprevistas
condições não constituído
na lei, emé que
Estado,
os
u
^ a associação extincta se consideram vagos, para o effeito
se devolverem ao fisco do Estado onde se achava a sua séde.
a
a devolução em favor da Fazenda Federal, se a sociedade
■"•l-iPcta funccionava, no momento de desapparecer, em mais de
./h 0®stado (art. 20, § 1.°, 2.a parte) ou no Território do Acre.
ve-se á Fazenda do Districto Federal o patrimônio da as-
Oc
lação, que ahi se extinguiu, se não ha estabelecimento a que
Iriesrn
o se deva transferir.
paragrápho único do art. 12, não havia o Codigo se-
^Ído a ordem que adoptara no art. 1.619, para os bens vagos
r
es
de herdeiros; ordenava, apenas, a devolução á Fazenda
tadual ou nacional. A lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919,
236 CODIGO CIVIL

coriigiu, porém, esse desvio do systema, pelo modo que, agora,


se lê.
As
' regras deste artigo e d@ seu paragrapho estão sub-
mettidas todas as associações perpétuas ou temporárias, inclu-
sive as ordens monasticas e as congregações religiosas. Nem
o Codigo abriu excepções, nem podia abril-as, sem quebra dos
princípios liberaes vigentes, sem desvio da orientação democrá-
tica estabelecida na Constituição.

Art. 23. — Extinguindo-se uma sociedade de


fins economicos, o remanescente do patrimônio
social compartir-se-á os socios ou seus her-
deiros .

Uireito anterior Conforme (Codigo Commercial, artigos


344, 345; dec. n. 434, de 4 de Julho de 1891, arts. 148-199).
Legislação comparada — V. o Codigo Civil suisso, art. 58,
e o allemão, art. 45, ultima parte.
Projectos — Beviláqua, art. 30; Revistio, 29.
Bibliographia Theoria geral, § 23, in fine; Lacerda de
Almeida, Pessoas jurídicas, § 32; Martinho Gakcez, Theoria
geral, § 43; Planiol, Traité, I, n. 733; Windscheid, Pand., 1,
§ 62, é nota (o) de Fadda, e Bensa, ps. 823-839; Cod. Civil al-
lemand, publié par le Comitê de lég. étr., nota 11 ao art. 45; Sa-
leilles, Personnes juridiques, nota II ao art. 45 do Cod. Civil
allemão; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, p. 117; Chi-
roni, Ist., I, § 28; R. Salvat, op. cit., n. 1.282.

Observação Differentemente das associações de intuitos


não economicos, organizadas para a realização de um interesse
moral, as sociedades de fins economicos se formem no interesse
dos proprios socios. Dissolvidas que sejam, e liquidado o seu
passivo, o remanescente pertencerá aos socios ou aos seus her-
deiros.
Não diz o Codigo como se fará a liquidação, porque nenhuma
particularidade havia que accentuar, neste caso. Quanto á dis-.
DO BEOISTKO CIVIL DAS PESSÔAS JURÍDICAS 237

tribuição das dividas e á partilha dos bens, os arts. 1.407 e


•409 estabelecem regras geraes.

SECÇÃO IY

Das fundações

n Art- 24. — Para crear uma fundação, far-


e-a o seu instituidor, por escriptura publica ou
S
D .^meilto, dotação especial de bens livres, es-
b diicando o fim a que a destina, e declarando,
quizer, a maneira de administral-a.

110 10 anterior
aolia^886 ! ~ Conforme, ainda que o preceito se não
formulado em lei.
80 Leg'ÍSlação comparada — V. o Codigo Civil suisso, artigos
755-7fii.>1; hespanhol,
allemâo 80 86;
' 35 " e 37;«hüeno, 562 33.
argentino, e 563; do Montenegro,
Se <Ílleit0 lnslez não
cção conhece as fundações no sentido desta

aos I^"0jectos Esàoço, art. 276, 1.°; Nabuco, 53, § 2.°; Felicio
gj e 3®ntos, 152, 157 e 161; Coelho Rodrigues, 30-34; Beviláqua,
2; Revisto, 30 e 31.
S(3asBlbhOSraphÍa ~ Tlieor™ Qeral, § 19, in fine; Lacerda, Pes-
f JUrmcas § 7 0: Ribas
30 364,' Martinho
- 'Gabcez,
Curso, ps. 349-354;
Theoria Espinola,
geral, Systema,
§ 44; Ferreira
bs 68 ^ ^ pr0ved0ria' 5-a ed-' §§ 571-575; Planiol, Traité, I,
Rot ' 689' 690 6 694' Huc' Commentaire, I, ns. 211-214 e 216;
£)e j*' System, I, § 72; Saleilles, Personnes juridiques, ps. 94-125;
sonn Vers0nalité iuridique, ps. 243-286; V.areilles-Sommieres, Per-
183 ^ m0rales' ns- 1-403-1.481; Koieler, Lehrhuch, I, §§ 180-182,
§§ 62 184: Wmi>SCHEID' Panã' I. § 57, 3; Dernhubg, Pand., I,
Tdain 6 ■®NDEMANN' Lehrhuch, I, § 49; Savigny, Droit ro-
86
Scn ' ^ ' Jhering, Espiritu dei derecho romano, IV, § 71;
^orni AíElSrEK' nofa 4 ao 44; Code Civil allemand, publié par le
06
b § ^ étr " n0tas aos arts' 80-86: Chironi, Istituzioni,
btu ER8. ' Eccpasé
^OS8E:L des
et
Mentha, Droit
motifs, ps. 79 civil suisse,
e segs.; I, ps.
Alves 145-151;Inst.,
Moreira, E.
238 CODIGO CIVIL

I, §§ 24 e 25; J. W. Hbdemann, Fortschritte des Zivilrechts, I.


ps. 50-52; R. Salvat, op. cit., ns. 1.197 e segs..

Observações — 1. — Fundação é uma universidade de hens


personalizada, em attenção ao fim, que lhe dá unidade, ou, como
se lê na Theoria geral, é "um patrimônio transfigurado pela
idéa, que o põe ao serviço de um fim determinado".
Para a existência da fundação, fazem-se necessários os se-
guintes requisitos: a) um patrimônio composto de bens livres
no momento da constituição; h) o acto constitutivo ou a do-
tação, que deverá constar de escriptura publica ou testamento;
c) a declaração, nesse acto, do fim especial, a que se destina a
fundação: d) estatutos, que attenderão ás bases deixadas pelo
instituidor; e) uma administração.
Distinguem-se as fundações das sociedades, associações ou
corporações, em que as primeiras são bens dotados de vida ju-
rídica, e as outras são aggregados de pessoas naturaes.
Entre fundações e estabelecimentos viam alguns escriptores
differenças assignalaveis; mas, no estado actual do direito civil,
não ha que destacar mais uma classe de pessoas jurídicas. Estas
ou são aggregados de pessoas naturaes (sociedades, associações,
corporações) ou são conjunctos de bens personificados (fun-
dações) . ■ • í■ . ■
As doações e legados com encargos não são fundações, por
que não têm personalidade, não têm vida jurídica independente
das pessoas, a que pertencem. Egualmente, e pela mesma razão,
não o é o bem da família, de que tratam os artigos 70-73.
2. — O acto constitutivo, sendo entre vivos, por isso Que
é unilateral, só se torna irrevogável, depois que, approvados
os estatutos pela autoridade competente (art. 27), e registrada
a fundação (art. 18), ficar, definitivamente, constituída a pessôa
jurídica. Até esse momento, o bem ainda faz parte do patrimônio
do instituidor.
Se a creação resultar de uma disposição testamentaria, deixa
de ser revogavel depois da morte do instituidor; mas, antes do
registro, ainda não existe bem personificado.
3. — Sendo uma liberalidade, a fundação pode ser annullada
pelos credores ou pelos herdeiros necessários do instituidor,
quando lhes fôr lesiva dos direitos.
DAS FUNDAÇÕES 239

benS da (iotaeão devem ser


dize ^-•
^ nao gravados de ônus reaes, e üvres, diz o disponíveis
legalmente art. 24. Quer
por
oação ou acto de ultima vontade.
As
r fundações destinam-se a fins de interesse geral, de
1 iao
^ ' beneficência, instrucção, ou interesses méramente par-
U ares. Podem creal-as o Estado, uma pessôa natural ou uma
essoa jurídica de ordem privada.
EUtre as
noSSo fundações creadas ultimamente pelo Estado, em
0 a Z merecem
PubJ ^ ^ ' menção os estabelecimentos de instrucção
&Uperior e
Ed secundaria subordinados ao Ministério da
0 6 Saude
da-õ^^ Pública. Esses institutos de ensino são fun-
creou8 eSUbmettiúas ás regras especiaes do regulamento, que as
COi^ ' uúministrados pelos respectivos directores, de accordo
eus" noaS 6^'0ngl e^a5úes e sob a inspecção do Conselho Superior do
do Ministério dos Negocios Interiores.
^ . a ^ Pala-se, hoje, em autarchias como pessoas jurídicas,
^ ^ ireito administrativo, que recebem delegação do Estado para
de serviços de ordem publica (V. Oliveira Franco
áiNHo, Noção jurídica de autarchia).
AS fundaeões
Pend • Qualquer que seja o seu fim, não de-
pr em de
uutorização administrativa, para se constituírem. As
etivM eUCÍaS ieê:aes' Para Que não sejam prejudiciaes á colle-
tuido a(> ^esão
' 0Uas86constantes
n 0 desv em dos
^ ^ dos artigos
fins, seguintes.
que lhes assignou o insti-

r.nMfsELHO REGIONAL DO TRABALHO


1.. REGIÃO

stit ^" — Quando insufficientes para con-


tid11111 a ^UIlí^aÇ^0? 08 bens doados serão conver-
uã 0 h 6111 ( a
^ divida publica, se outra coisa
ls 3Uzer
corn l o instituidor, até que, augiuentados
08 ren
diuientos ou novas dotações, perfa-
5aia
capital bastante.
direito anterior — Silente.
Civil e8fêlação comparada — Diversamente dispõe o Codigo
plisso art. 83, S." al.
Uísfo rg2eCtOS ~ Coelho Rodrigues, art. 36; Beviláqua, 33; Re-
C0D1G0 CIVIL

Observação — A providencia contida neste artigo tem por


fim solver a difficuldade, que se apresentaria, na hypothese, a
que elle se refere. Diversas soluções se apresentam ao espirito;
a) Pois que os bens não podem ser applicados ao fim, a que se
destinavam, é nulla a creação, e procede-se como se nada hou-
vesse disposto o instituidor a respeito. Além de excessivamente
rigorosa, esta decisão contraria os impulsos generosos dos indi-
víduos, quando está no interesse da sociedade estimulal-os e
dirigil-os. b) O Codigo Civil suisso manda, em tal caso, entregar
os bens a uma outra fundação de fim semelhante, se outra coisa
não determina o instituidor (art. 83, 3." al.). Mais benigno, este
modo de ver não satisfaz, plenamente, porque, tolhido por um
resquício de formalismo, se confessa impotente para attender, na
medida do possível, á vontade do instituidor, e a substitue. c) A
solução do Codigo Civil brasileiro, que attende, perfeitamente, a
essa vontade, e facilita as manifestações da generosidade indi-
vidual, recorre a uma especie de fideicommisso. O Estado é como
que o fiduciario, e, conservando os bens deixados pelo institui-
dor, assume a obrigação de dar-lhes a applicação, a que se des-
tina, desde que tal seja possível.
Somente no caso de se verificar a impossibilidade de rea-
lizar o fim do instituto projectado é que se dará a incorporação
dos bens ao patrimônio de outras fundações, nos termos do
art. 30.
Nesse meio tempo, os bens ainda não pertencem á íun-
daçâo futura, mas para ella se conservam, por applicação do
pensamento, que se contém na regra — naciturus pro jcm na^0
habetur, si de ejus commodo agitur.
Por outro lado, a doutrina do direito sem sujeito, com
quanto possa invocar, em seu favor, a autoridade de WindscHE®»
KoEPEasr e Bbckeb, é repellida pela lógica jurídica. A relação de
direito só se pôde comprehender como o vinculo, que prende o
objecto ao sujeito.
Forçoso é, pois, reconhecer que, emquanto se não organiza a
fundação, permanecem os bens, fiduciariamente, no patrimon10
do Estado, salvo se outra cousa dispuzer o acto constitutivo.

Art. 26. — Yelará pelas fundações o Min13'


terio Publico do Estado, onde situadas.
DO DOMICILIO CIVIL 241

§ 1.° Se estenderem a actividade a mais de


m -Estado, caberá, em cada um delles, ao Minis-
eri
o Publico, esse encargo.
§ 2.° Applica-se, ao Districto Federal e aos
erritorios não constituídos em Estados, o aqui
Aposto quanto a estes.

Qiente^"6^0 an*'er^or — ® assumpto não se achava, conveniente-


ri,lVtl•, e' resula(io- Veja-se, entretanto, Cablos de Carvalho, Direito
> art. 156.
art • 1l80eSlSlaçâo com
> e o suisso, Parada
art. 84. — Vejam-se o Codigo Civil allemão,
Pr0jeCt0s
7»-
wsto,
n+ 33, ~ Coelho Rodrigues, art. 37; Beviláqua, 34; Re-

Ceis ^)^0^iaP^l'a Thdotria geral, § 21, II, 6.°; Ferreira Alvesj


70ve
Qota ^ P doria, §§ 584-589; Saleilles, Personnes juridiques,
lêg ea0 ar'" Civil allemand, publié par le Comitê de
' nota ao art. 80; Rossel et Mentha, Droit civil suisse,
L
' Ps. i5l e 152

Va es Não
Impost- ^ — U — tendo o Codigo Civil brasileiro
s 0 a necess ac e
isão . ^ * approvação pelo Estado, para a acqui-
ca )ac a< e
^hd t ^ t juridica da fundação, havia mistér, at-
Our .r 0 ^ importância, ás vezes, extraordinária do facto, e á
subxn*10' 0rdülariaiaente> iadefinida desta classe de pessoas, de
a e as a
hás ^e ^ fiscalização do poder publico. Essa fiscalização,
(j0 ' 110 systema do Codigo, restricta. e orientada no sentido
refor 01 I)u'">lic0, Consiste na approvação dos estatutos e das suas
por írias.' em veiar para que os bens não sejam malbaratados
0s a ministrações ruinosas, ou desviados dos destinos, a que
h^ant^ ^C0U 0 Ínstituidor' e em verificar se a fundação se pode
outra ' 011 se 0 seu Patrimônio deve ser incorporado no de
' Que se proponha a fins semelhantes (art. 30).
spec ~ ^ Projecto primitivo, art. 34, determinava que a in-
do . Coui3esse ao Ministério Publico Federal, quando a acção
r
evisÜStÍtUt0 Se estendesse a mais de um Estado. A Commissão
harip0^ 110 êoverno
(Actas, p. 53), assim, não quiz manter a
t0r. Za aia' due dahi resultava com o estabelecimento quanto á au-
Ção das sociedades (art. 20).
0
digo Civil — 1,° vol. 16
242 CODIQO CIVIL

Prevaleceu o systema de confiar-se a inspecção das fun-


dações ao Ministério Publico dos Estados, equiparando-se a um
destes o Districto Federal e o Território do Acre.
Se, porém, a fundação fôr instituída pelo Governo Federal,
é bem de ver que não pode a sua inspecção ser entregue ás
autoridades estaduaes. O mesmo se deve dizer dos institutos,
que, pela natureza dos seus fins, se mantêm na esphera dos
interesses federaes.

Art. 27. — Aquelles a quem o instituidor


commetter a applicação do patrimônio, em tendo
sciencia do encargo, formularão, logo, de ac-
côrdo com as suas bases (art. 24), os estatutos
da fundação projectada, submettendo-os em se-
guida, á approvação da autoridade competente.
Paragrapbo único. Se esta lh'a denegar sup-
pril-a-á o juiz competente, no Estado, no Dis-
tricto Federal ou nos territórios, com os recursos
da lei.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Sem correspondência.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 38; Beviláqua, 35; Re-
visto, 34.

Observação — Pôde o instituidor formular os estatutos áa


fundação, ou somente, dar-lhes as bases, como é mais natural-
Neste caso, as pessoas, a quem elle confiar esse encargo, orga-
nizarão as regras, segundo as quaes terá de ser administrado e
applicado o patrimônio. Para que o Estado, fiscal supremo áo
interesse publico, em sua qualidade de expressão jurídica da
conectividade, verifique se os estatutos se conformam aos fi»8
da instituição, e não contrariam a ordem juridica, exige o Codig0
que seja a lei basica da fundação submettida ao exame e appr0'
vação do Ministério Publico do Estado, onde se vae fixar o P^'
trimonio personificado. Não procede, porém, arbitrariamenté»
DO DOMICILIO CIVIL 243

autori<ia(ie e
recf rsos ' ' de sua decisão contraria aos estatutos, ha
Para o poder judiciário.
9 Urganizaeao dos
naçõ^
068 ^ do art 19 estatutos deve-se attender ás determi-
- . Para os effeitos do registro.

fi 1 f 08 • 28. — Para se poderem alterar os esta-


da fundação é mistér:

^Ue a re
ma"loria^ absoluta ^orma
dos
se a
j deliberada
competentes pela
para gerir e
apresentar a fundação.
II • Que não contrarie o fim desta.
onw.
03
* Que se a
J approvada pela autoridade
npetente.

^u-eito anterior — Silencioso.


suiDe. 0eSlSlasâo coin ara
P da — Vejam-se o art. 85 do Codigo Civil
> e 87 do allemão.

^síq1 ^eCtOS ~ Coelho Rodri


9ues, art. 39; Beviláqua, 36; Re-

Pessòa ^VaÇão A fun


dação deve ter uma direcção, seja uma
u natura1 se a
ttia • ' í um conjuncto de pessoas physicas, seja
r
econh S0C^a^^0 exerca(do das suas
funcções, a direcção pôde
Co^o Cer as ^a^las dos estatutos e providenciará para sanal-as.
Pessò 0r^^nai ^ainente' as fundações são dirigidas por diversas
aasoc" ',tanto (lue Giehke; vê nellas uma determinada forma de
Pela aea0' diz 0 n- 1 deste artigo que a reforma seja deliberada
gp,..' tria^01la absoluta dos incumbidos da gerencia e da repre-
Ça d
o o instituto.
fund ,re*'orina uão poderá ir além do modo de administrar a
ra
Ção ^a0' n^0 ^)0derd alterar os fins. Importaria esta alte-
0 111 Crear se
inst' - ' outra fundação, differente da que pretendera
a
PenaaS1'U(le^0r' ■^sse Poder uão é dado ás pessoas incumbidas,
' Sorir e representar a fundação.
244 CODIGO CIVIL

Art. 29. — A minoria, vencida na modifi-


cação dos estatutos, poderá, dentro em um anno,
promover-lhe a nuilidade, recorrendo ao juiz
competente, salvo o direito de terceiros.

Direito anterior — Silencioso.


JLegislação comparada — Este artigo teve por fonte o artig0
45 do Codigo Civil de Zuxucii.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 41; Beviláqua, 38; -K6'
visto, 37. j
liibliographia — Schneider, Kommentar zum privatr. Ge'
setzbuch fuer ãen Kanton Zuerich, ps. 63-64 da ed. de 1888.

Observação — Quando todos estão de accôrdo, presume-se


que a reforma dos estatutos é util. Se ha desaccôrdo entre os
directores e representantes da fundação de um lado, e o Minis*
terio Publico de outro, a reforma não se faz. Se o desaccôrdo
é entre as pessoas incumbidas da direcção e representação do
instituto, decidindo-se o Ministério Publico a favor da modi-
ficação dos estatutos, a minoria pôde recorrer ao poder judi-
ciário, que decidirá se a alteração se deve ou não effectuar. E
uma disposição garantidora dos interesses da fundação. Os di-
reitos de terceiros não podem, porém, ser prejudicados por essa
questão interna. Annullada a reforma, os direitos de terceiros
fundados nella ou nascidos em conseqüência devem ser resp61'
tados.

Art. 30. — Verificado ser nociva ou impos-


sivel a mantença de uma fundação, ou vencido o
prazo de sua existência, o patrimônio, salvo ch8'
posição em contrario no acto constitutivo, ou nos
estatutos, será incorporado em outras fundações?
que se proponham a fins eguaes ou semelhantes.
Paragrapho único. Esta verificação poderá
ser promovida, judicialmente, pela minoria, de
que trata o art. 29, ou pelo Ministério Publice-
DO DOMICILIO CIVIL 245
re 0 anter
„- .^
Glv ^ ior — Differente (Carlos de Carvalho, Direito
rt, art. 168).
^ Legislação comparada — Codigo Civil allemão, arts. 87 e
. suisso, 88 e 89; do Montenegro, 752, 762 e 766; chileno,
061
e 563.
3D *ro''ectos — Coelho Rodrigues, arts. 42 a 44; Beviláqua,
d() 6
40; iíenisío, 37 a 38.

Pôde )SeiVaç°es 4. — No exercício de sua fiscalização legal,


Possil0 •^U^er^0 ^>u'3^co verificar a inconveniência ou a im-
a e da fundação. E' direito e dever seu promover-lhe
oCca .1_nc^a0, Esse mesmo direito cabe á minoria vencida por
^ ao se
fentar a reforma dos estatutos.
e Extingue se tarnbem
stabel~~- " '
CÍd0 para a sua
. a fundação, se se vence o prazo
iIls tiJ0 íoi
duração. Este modo de extincção de um
p 5 introduzido pela Commissão do governo (Actas,
indèf J^S ^un^a^aes iâm, naturalmente, uma razão perpetua ou
de eXÍStir ÍRoth
LehrT^
UCh I System. I, § 73; VI; Endemann,
% ' ' § 49, in fine; Kohler. Lehrhuch, I, § 186; Schneider,
não ^ /eeníar ao ar
Pugna' ao direito,
t- 47 doqueCod. Civil um
tenham do cantão de Zurich).
prazo para viver. Mas
0 Rxtincta a
Que fundação, o destino do seu patrimônio será
es de ei m
tat t 0S '' Eo Liar
s e o acto constitutivo ou o que declararem os
a 0ut " ii ncio de um e de outro, devolvem-se os bens
ihantes3^8 ^Un^a^°es' <4ue se
ProPonham a fins eguaes ou seme-

'Üspost^86 a < Rferenea en re a


n0 art
^ 4 regra aqui estabelecida e o
não e ' 22' a respeito (ios bens da associação de fins
a 0norn cos
i'es^Peito ^ estatutos
os ' quandoouextincta, sem que tenham providenciado
os socios.
a
iund 0 :tendo as Pessôas naturaes, que dirigem ou representam
Ce
rta a^a0' ^L'eitos de socios, e, sim, os de administradores com
fer
idoamPlÍtUde <Íe acsao' é natural que se lhes não tivesse con-
6x
tincta0der de reso^ver soi3re 0 destino dos bens da fundação
^urin a ^aS a ^evoRlÇão que faz a lei podia bem obedecer á
Co
nven}eStad)e^e<dda n0 ar<'' ■^ao ^av^a razão jurídica ou in-
6110 exig ndo solu
haveriaa motiv^ ^ Ção differente nos dois casos. Antes,
g o para uniformizar os dispositivos.
v
istas?Se' n0 ®'s4a(^0' não houver fundação nas condições pre-
Necessariamente se tornarão vagos os bens, e, assim,
246 CODIGO CIVIL

serão devolvidos ao fisco estadual. Se a fundação estendia a sua


actividade a mais de um Estado, a todos elles, repartidamente,
será devolvido o patrimônio. Applica-se ao Districto Federal 0
que se diz dos Estados. Serão incorporados ao domínio da União
os bens das fundações extinctas no Território do Acre (ar-
tigo 1.594).

TITULO II

DO DOMICILIO CIVIL

Art. 31. — O domicilio civil da pessoa na-


tural é o logar, onde ella estabelece a sua resi-
dência com animo definitivo.

Direito anterior — Conforme (Ord., 2, 56, § 1.°; Carlos de


Carvalho, Direito civil, art. 132).
Liegislação comparada — Vejam-se: D. 50, 1, fr. 17, § 13. e
fr. 27, § 1.°; 50, 16, fr. 203; Cod., 10, 39, I. 7: ubi quis larem re-
rumque ac fortunarum suarum sumiram constituit; Codigo Civil
francez, art. 102; italiano, 16; portuguez, 41; allemâo, 7.°; suisso,
23; do Montenegro, 958; argentino, 89; peruano, 19; chileno, 59:
uruguayo, 24; mexicano, 29; hespanhol, 40; boliviano, 47; vene-
zuelano, 23; japonez, 21.
Projectos — Esboço, art. 30; Nabuco, 115 e 116; Felicio dos
Santos, 119; Coelho. Rodrigues, 66; Beviláqua. 43; Revisto, 43.
Bibliographia — Theoria geral, § 25; Ribas, Curso, p. 328:
Processo civil, art. 164 e comm. CHI; Espinola, Systema, U
ps. 289-296; Breves annotações, I, ps. 104 a 107; Codigo do Vr0'
cesso civil, I, nota 85 ao art. 58; S. Vampré, Manual, I, § 25:
Martinho Garcez, Theoria geral, § 54; Coelho da Rocha, Inst-,
§§ 66 e 67; João Monteiro, Processo, I, § 38; Paula BaptistA,
Pratica, § 54 da 7." ed.; Srve Navarro, Príoicesso civil, nota 279.
Planiol, Traité, I, ns. 573-589; Laurent, Cours, I, ns. 95-97.
Huc, Commentaire, I, ns. 366-373; Aubry et Rau, Cours, I, §
Ricct, Corso, I, n. 164; Kohler. Lehrbuch, § 104; WiNnscHEiD,
Pand., I, § 36, e nota x de Fadda e Bensa, ás ps. 166-157.
Dbrnburg, Pand,, § 46; Savxgny, Droit. romain, § 354; EndeMaNN,
Lehrbuch, § 40; Schxrmeister, § 4.°; Code Civil allemand, publí®
DO DOMICILIO CIVIL 247
ar
le Comitê de lég. étr., nota ao art. 7°; Chiboni, Ins.. I, § 40;
lves Moreira, Inst., I, n. 81; Dias Ferreira, Codigo Civil port..
a
ao art. 40; Valverde, Institnciones, cap. XI; Rossel et
entha, Droit civil suisse, I, ps. 85 e 86; V. Scialoja e L. Bu-
VTT
ü i' Dizionario dei dir. privato, vb. Domicilio; Champeau e
^Ribb, Derecho civil colombiano, 1, ns. 151 a 159; Planiol et
eert, op. cit., I, ng. 137 e segs.; R. Salvat, op. ctt., ns. 887
6
segs..

^ Observações — 1. — Domicilio civil é o logar onde a pessoa

Poi"811^^6 ^oca^za<^a' Para exercer certos direitos e responder


residSUaS 0brisasões de ordem privada. O art. 43 funda-o na
^ans611-0^ Clefinitiva- Desviou-se da noção commum, que nos
denCimittÍU 0 direito romano. segundo o qual, ao elemento resi-
0
u d a acI)ermanen''e se d-ia associar o centro das relações civis
c tividade da pessoa. Somente quando a pessôa tem vários
0S de ac
2 tividade é que estes são tomados em linha de conta.
tigo g 0~~ ^ domicilio é de grande importância no direito. O ar-

domi • ^ ]'n^ro^uc^0 manda applicar, subsidiariamente, a lei do


1 0 Para
oão T-Ver ^ ' nac ona
determinar a capacidade da pessôa, quando esta
e jje fi ^ lidade ou se lhe attribuirem duas. Além disso
nor
maltermÍna: 1"0' a competencia ^eral do juiz; 2.°, o logar onde
(art a rrieil^e' 0 0 0 mdividuo tem de cumprir as suas obrigações
lio-so ,1.578). ^■ ' logar onde se abre a successão hereditária (ar-
Li

teria ^e(navani, a principio, algumas obscuridades nesta ma-


qtie ' ,<^ev^das' Principalmente, á literatura jurídica franceza,
parq11^ Clller a v r no
0s e e ^ ^' domicilio, o logar, onde a pessôa existe
esga « itos jurídicos, e, sim, um vinculo abstracto. Mas
Sllb eza nao
rpQi-j ^ Pode ser mantida; preponderou o senso da
Cidade.
do • 0r 0u^ro lado, determinando o domicilio a competencia geral
o Seu1Z' 0 processo disputava-lhe a noção ao direito civil. Mas
Co
mpetCOUCeÍt0 pertence ao direito material. Se é attributivo da
direit eriC ^a ^dro, é, precisamente, por ser o logar, onde o
^ substantivo declara que se acha a pessôa.
José ^ av^so n- 26^' de 3 de Junho de 1869, subscripto por
01
^nsil 0s^ "d-EENOAR,
es ran declarou que se reputavam domiciliados no
esía^e^ l- geiros aqui residentes por dois annos, tendo algum
ecim
ento, e hôa conducta, ou sendo casados oom brasileira.
248 CODIGO cmii

Não ê este, porém, o pensamento do Codigo. Para a acqui-


sição e gozo dos direitos civis, não ha distincção entre nacionaes
e estrangeiros (art. 3.°). Para uns e outros o domicilio resulta da
residência com animo definitivo, isto é, de mantel-a permanente-
mente, o indivíduo no logar, onde a estabeleceu. A circumstancia
de ter um estabelecimento pôde traduzir a intenção de perma-
necer no paiz, mas nem ê decisiva nem, muito menos, essencial.
O procedimento conforme á moral e ao direito é excellente re-
commendação, mas é estranha á idéa de domicilio. O casamento,
egualmente, não prova a intenção de estabelecer domicilio.
5. — O domicilio político refere-se ao exercício dos direitos
do cidadão, que são os direitos políticos, em particular o direito
de votar nas eleições federaes, estaduaes e municipaes.

Art. 32. — Se, porém, a pessoa natural tiver


diversas residências, onde, alternadamente, viva,
ou vários centros de occupações habituaes, con-
siderar-se-á domicilio seu qualquer destes ou
daquellas.

Direito anterior — Conforme: reg. de 15 de Junho de 1850,


art. 29, com apoio no direito romano e na autoridade dos es-
criptores.
Legislação comparada — No mesmo sentido: D. 50, 1, frs. 5,
6, §§ 2.° e 27, § 2.°; Codigo Civil allemão, art. 7.°; chileno, 67:
uruguayo, 30; colombiano, 83; e portuguez, 43, fonte do nosso
artigo. O Codigo Civil suisso, art. 23, se, na alínea 2.a, proclama
a unidade do domicilio: nul ne peut avoir, en même temps, P^'
sieurs ãomiciles; na alinea 3.a declara que essa disposição se
não applica ao estabelecimento industrial ou commercial.
O peruano, de 1936, também admitte as pluralidades de do-
micílios (art. 20).
Em sentido differente: a doutrina franceza, a italiana, a
ingleza e a norte-americana, que não admittem, em principio, a
pluralidade de domicilio, embora tenham de attenuar os rigores,
da unidade. Vejam-se os escriptores citados na bibliographia-
Projectos — Esboço, art. 194; Nabuco, 118-120;- Felicio dos
Santos, 124 e 125; Ú\(Xelho Rodrigues, 67; Beviláqua, 45 e 46,
Revisto, 44 e 45.
DO DOMICILIO CIVIL 249

r
Bibliographia — Theoria geral, § 26; Ribas, Curso, p. 331;
ocesso civil, Comm. CHI; Mabtinho Gakcez, TTieoria geral,
_ ^5 e 56; Espinola, Systema, I, ps. 299-300; Coexho da Rocha,
s
'' § ^8; João Monteiro, Processo, I, § 38; Paulo Baptista,
j an lca> § ^4; Seve Navarro, Processo, nota 279; Laurent, Cours,
' - 96; Huc, Comment., I, 369-373; Kohler, Lehrhucn, I, § 104,
> Windscheid, Panei., I, § 36; Goãe Civil allemand, nota ao
7.°; Schirmeister, Comm., 2, ao § 4.°; Chironi, Ist., § 40;
v
es Moreira, Inst., § 20; Dias Ferreira, Coã, Civil port., nota
ao
art. 43.

pel a 0bservaÇõe« — 4- — 0 Codigo Civil Brasileiro pronunciou-se


Pluralidade de domicílios, no que nada mais fez do que
J^nhar o direito romano, segundo a lição de Paulo, e a
■^ição do nosso direito. Se, realmente, á pessôa tem mais de
residência, onde, habitualmente, permaneça, ou alternaãa-
viVa^ ge^ em varjos centros, tem occupações constantes,

umaltUaes
a ,s '
seria
contrariar a realidade das cousas, por amor de
lii^ 4 tracção infundada, persistir em considerar que somente
a essa
e ^ s residências ou centros de atividade é o seu domicilio
arbitrariamente, escolher um delles para esse fim.

^>0S e emen 0S em 116 0


^ 4 ' l direito romano assenta o
.lciliO' 0 l&r, centro da vida individual, e o centro dos ne-
fra, S (rerum o,g fortunarum suarum summam), deu o direito
est'062 r)referenc^a ao segundo: Le domicile de tout Français
^a&e^U-^eU ^ a 8011 Pr^nc^Pa^ êtablissement. O principal es-
e Clmento í:la
the 0na. de ser, necessariamente, um. Dahi o rigor da
a
^a unidade domiciliar. Dahi também a differencia es-
entre residência, estado de facto, e o dkhnicilio, relação
ae
direito.
CO(ÍÍSo
Sencl^
^ 0 iíansitoria, masbrasileiro prendeu-se
permanente, mais
embora á residência,
alternada. não
O centro
occupações é idéa que somente apparece, na lei, quando a sua
6 0U mu
dad 6 (a ^Pli(adade, mostrando a dispersão da activi-
a ^ Pessôa, torna necessário submettel-a a fôros differentes,
0 08 ac< os
lar ' jurídicos se prendem á sua vida individual no
de' re0U a0s seus uegocios. Como, porém, apezar dessa variedade
sidencias e de centros de occupações, subsiste a unidade da
250 CODIGO CIVIL

pessoa, pôde esta ser accionada em qualquer dos seus domicílios,


apelos actos que ahi praticar.

Art. 33. — Ter-se-á por domicilio da pessoa


natural, que não tenha residência habitual (ar-
tigo 32), ou empregue a vida em viagens, sem
ponto central de negocios, o logar onde for en-
contrada .

Direito anterior — Conforme (Lei n. 2.024, de 17 de De-


zembro de 1908, art. 7o, 2.R parte), quanto aos negociantes ambu-
lantes e emprezarios de espectaculos públicos, e o direito romano
para os outros casos. Veja-se também a lei de 3 de Dezembro
de 1841, art. 37.
Legislação comparada — No mesmo sentido; Codigo Civil
portuguez, art. 45; chileno, 68; uruguayo, 31; colombiano, 84;
peruano, 21; D. 50, 1, fr. 27 § 2.°.
Projectos — Nabuco, art. 119; Felicio dos Saritos, 124;
Coelho Rodrigues, 79 e 80; Beviláqua, 45 e 46; Revisto, 45 e 46.
Bibliographia — Theoria geral, § 26; Ribas, Curso, p. 331:
Processo civil, Comm. CHI; Martinho Garcez, Theoria geral,
§§ 55-56; Espinola, Systema, I, p. 299-300; Breves annot., ps. 108
e 109; Coelho da Rocha, Inst., § 68, escholio; Pereira e Souza,
Processo civil, nota 40; Paula Baptista, Pratica, § 54; Seve
Navarro, Processo, art. 185; Savigny, Droit romain, § 354; Wind-
scheid, Pand., I, § 36; Alves Moreira, Inst., I, n. 82; Dias Fes-
reira, Codigo Civil port., nota ao art. 43.

Observação — Ordinariamente, a pessoa tem o seu domi-


cilio; mas, além dos que não têm morada certa, e que, em direito,
se denominam vagabundos, ha pessôas, que, por sua profissã0
mesma, estão, constantemente, a mudar de pouso. Sem o funda-
mento do domicilio é a residência com animo definitivo (artig0
31), seja embora alternada (art. 32), ou o centro do occupações
habituaes (art. 32), incontestavelmente os que empregam a vida
em viagens, os que não têm ponto central de negocios, e os <lue
não têm morada certa, carecem de domicilio. Pai'a supprir essa
DO DOMICILIO CIVIL 251
falta, entende-se que, com a pessoa, em taes casos, se desloca o
domicilio.
O domicilio cuommum ãa côrte, de que falam as Orã., 1, 29,
3 e 4*'Já, de muito, havia desapparecido com a organização cons-
titucional do paiz.

Art. 34. — Muda-se o domicilio, transferindo


a
residência, com intenção manifesta de o mudar.
Paragraplio único. A prova da intenção re-
sultará do que declarar a pessoa mudada ás mu-
niei
Palidades dos logares, que deixa, e para onde
vae, ou, se taes declarações não fizer, da própria
Mudança, com as circumstancias, que a acom-
panharem .

Direito anterior — Semelhante na essencia {Ord., 2, 56, 1;


eC
v
" n- ^8. de 11 de Outubro de 1890, art. 17; Carlos de Car-
alho, Direito civil, art. 141).
a
Legislação comparada — V. o Codigo Civil suisso, art. 24;
ncez, 103 a 105; italiano, 17; allemão, 7.°; argentino, 97 e 99;
Por
tuguez, 44; peruano, 22; D. 50, 1, frs. 2, § 2.°; 20 e 27 § 1.°
Drojectos —■ Esboço, art. 189; Coelho Rodrigues, 68 e 69;
evila
Qua, 47 e 48; Revisto, 47.
Th eoria
^kLographia. — Theoria geral, § 27; Mabtinho Garcez,
L Qeral, § 57; Planiol, Traité, I, ns. 612-613 e 615-617;
^ Vours, I, n. 99; Huc, Commentaire, I, n. 374; Alves
Rbira
ao ' Inst., I, n. 82; Dias Ferreira, Codigo Civil port., nota
V. Scialoja e L. Busatti, Dizionario dei dir. privato,
^ofinicilio, 4; Champeau e Uiube, Derecho civil colombiano,
■ ns- 163-169.

^ Dbservações — 1. — Para conservar-se o domicilio, basta


n
tenção; p0r iSSOj ausências temporárias não influem sobre
sua n
Preci anenc a
f ''Para i^udar o domicilio já fixado, é
el
em en0 aI^ar 0 elemento pbysico da deslocação da morada, ao
«j a a to moral da vontade de deixar a residência anterior, e
" noutra parte.
252 CODIGO CIVIL

2. — A mudança de domicilio, depois de proposta uma acção


contra a pessoa, nenhuma influencia tem sobre a competência
do fôro.

Art. 35. — Quanto ás pessoas jurídicas, o


domocilio é:
I. Da União, o Districto Federal.
II. Dos Estados, as respectivas capitães.
III. Do Municipio, o logar, onde funccione
a administração municipal.
IY. Das demais pessoas jurídicas, o logar
onde funccionarem as respectivas directorias e
administrações, ou onde elegerem domicilio es-
pecial nos seus estatutos ou actos constitutivos.
§ 1.° Quando o direito pleiteado se originar
de um facto occorrido, ou de um acto praticado,
ou que deva produzir os seus effeitos, fora do
Districto Federal, a União será demandada na
secção judicial, em que o facto occorreu, ou onde
tiver sua sede a autoridade, de quem o acto ema-
nou, ou este tenha de ser executado.
§ 2.° Nos Estados, observar-se-á, quanto as
causas de natureza local, oriundas de factos oc-
corridos, ou actos praticados por suas autori-
dades, ou dados á execução, fóra das capitães, o
que dispuzer a respectiva legislação.
§ 3.° Tendo a pessoa jurídica diversos esta-
belecimentos, em logares differentes, cada um
será considerado domicilio, para os actos nelle
praticados.
§ 4.° Se a administração, ou directoria, tiver
a sede no estrangeiro, baver-se-á por domicili0
da pessoa jurídica, no tocante ás obrigações con-
trabidas por cada uma das suas agencias, o logar
DO DOMICILIO CIVIL 253

e
stabeleciinento, sito no Brasil, a que ella cor-
responder.

1)116110 anterior
lharile Uan 0 ao — Conforme, quanto aos ns. I-III, e seme-
ar j. o^ *' Mais (Lei n. 173, de 10 de Setembro de 1893,
gr h ' ÍÍeC' n' 5-072' de 12 cie Dezembro de 1903, art. 23, para-
2q ^ o Ull^co» dec. n. 3.084, de 5 de Novembro de 1898, artigos
Dgos Se S <a
165^ "e 166,
a ar
^ ^*sobre
P ta) Cajülos juridicas
as pessoas de Carvalho, Direito
de direito civil, ar-
privado).
^ Legislação comparada — Codigo Civil allemão, arts. 24 e
n
5g'. ^ne> argentino, 90; hespanhol, 41 uruguayo, 37; suisso,
Japonez, 50; do processo civil portuguez, 18; mexicano, 33.
ro ect
ãT.l j os — Esboço, arts. 301-304; Nabuco, 170; Coelho Ro-
ffues, 73; Beviláqua, 50; Revisto, 48.
^^a»raPhia — Theoria geral, § 28; -Martinho Gaecez,
Nai-0 ^ 9eral' ^ Jo 0
^ Monteiro, Processo, § 38, nota 7; Seve
ARR0
Ta ' Processo, nota 279; Huc, Commentaire, I, n. 372; Epi-
a 42° PESSÔA' Parecer, n. 193, de 1917 (Senado Federal), ps. 3'9
0 Le1lrhuch
Pubr^Pai ^™' le
' § 104' VI1 e VIII; Code Civil allemand,
Dro^ Comitê de lég. étr., notas aó art. 24; Savigny,
pri 1 iomaín, § 354; V. Scialoja e L. Busatxi, Dizionario dei dir.
,a 0' v':,• Domicilio, 5; Champeau e Uribe, Derecho civil co-
^biano, I, n. 473.

Lstad )Seiva^es —' 1- — -A-s disposições referentes á União, aos


Peru 08 6 a0S ■'^■un^c^os' nao constavam do Projecto primitivo
^gula*0 'lx'GVisto' por se entender que cabia ao direito publico
Poi r a materia, sobre a qual, aliás, nenhuma duvida havia,
a ré entletailto' acceita uma emenda do Sr. Andrade Figueira,
se cof6^0 trabalhos, IV, ps. 172-177), para que no Codigo Civil
Obtivesse toda a theoria do domicilio civil.
teria ^ Ilavia lacuria alguma nos Prpjectos, quanto a esta ma- ■
PriuJi COmo' erroneamente, se affirmou. Havia obediência aos
acceit^108' <)Ue ^mpuil^am reservas ao direito civil. E a emenda
< e Ser mo ifica< a a
Pelas ' ^ ^ l ' j depois de publicado o Codigo,
de r eClamasões 116
19i 9 . corrigindol o defeito
suscitou. A lei n. da3.725,
resultante de 15accrescentou
emenda, de Janeiro
art. 0 08 ac4uaes
dec §§ l-" e ^•0' de accôrdo com os preceitos do
3.084, de 5 de Novembro de 1898, arts. 20 e seguintes da
254 CODIGO CIVIL

5.a parte, e com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,


que, em accórdão de 12 de Agosto de 1916, declarava cada juiz
federal competente para processar e julgar as causas, que ver-
sassem sobre actos, que ali tivessem de produzir effeitos, e
reaffirmou a mesma regra em accórdão de Novembro de 1918
(Diário Official, de 20 de Novembro de 1918).
1. a — A Constituição de 1937, supprimiu a justiça federal
e, no art. 108, estatuiu que as causas propostas pela União ou
contra ella serão aforadas em um dos juízos da Capital do Estado
em que for domiciliado o réo ou o autor. O Codigo do Processo
Civil, art. 143, contem o mesmo preceito.
2. — As pessoas jurídicas, não tendo, como as naturaes, re-
sidência, elemento determinante do domicilio, têm séde, que ê o
centro da sua actividade dirigente, e que deve constar do registro
(art. 19, I). O logar onde funccionar a respectiva directoria, ou
administração, é o ponto central, o domicilio da pessoa juridica,
a capital do Estado ou do Municipio, a séde da sociedade ou da
fundação. A' pessoa juridica de direito privado, porém, permitte
a lei escolher para seu domicilio especial um logar, differente
do em que se acha a sua direcção. Neste caso, porém, deve o
domicilio constar dos estatutos ou do acto constitutivo, como
bem decidiu o Supremo Tribunal Federal em accórdão n. 2.367,
de 17 de Abril de 1918, publicado no Diário Official de 9 de
Maio de 1918.
3. — No caso de ter a pessoa juridica diversos estabeleci-
mentos sitos em differentes circumscripções jurisdiccionaes, cada
um delles será attributivo de domicilio, para os actos nelle reali-
zados. E' uma providencia tomada em beneficio dos que con-
tractam com a pessoa juridica.
4. — Pela mesma razão, se a séde da administração da
pessoa juridica se achar no estrangeiro, os estabelecimentos sitos
no Brasil, serão attributivos do domicilio, no tocante ás obri-
gações contrahidas pelos respectivos agentes.

Art. 36. — Os incapazes têm por domicilio o


dos seus representantes.
Paragraplio único. A mulher casada tem poi'
domicilio o do marido, salvo se estiver desqui-
DO DOMICILIO CIVIL 255
tada (art. 315), ou lhe competir a administração
«o casal (art. 251).

reiac-'leÍt0 anteiior Conforme, ainda que não expresso em


n. iV,0> ^ principi0 do arti 0
de 24 de Janeiro deS18JO,
e á arts.
sua disposição
56, § 3.°, efinal (Decreto
95-98).
^ Cegisiaçao comparada — D. 27, 2 fr. 1, pr.; 27, 10, fr. 7,
art inR1'• 38
' ^ ^ 0' Co<i'' 12' 15 ^ 13' Cbdigo Civil francez
25.' ' ltaliano, 18; portuguez, 47-49; allemão, 8.» e 11; suisso,
89 e 90 ns
87' ' - 6 e 9; chileno, 71 e 72; colombiano,
Uruguayo 34
can 0' arts.
' 31 e 32;' peruano,
: boliviano,
23. 53; venezuelano, 27; mexi-

ment^0 dlreito lnSlez' a separação dos cônjuges, sendo méra-


0 inte íaCt0 113,0 origiria
' domicilio especial para a mulher.
er(ÍÍCt0 n30 POde mudar 0
intPT.^
merdicção. domicilio, que possuía antes da

Il 0, ectos
Hei " ' E^oço, arts. 176 e 182; Xahuco, 123-125; Fe-
i^08' 129
' 0061110 Rodri9ues> 72 e 73; Beviláqua, 51;
r
. psBlbll08'raphia — Theoria geral § 27; Espinola. Systema,
Oerai 296 6 297' R'IBAS' Curs\a> P- 39; Mabtinho Gaecez, Theoria
Traiu. ^EVE ^AVABK'0> Processo, art. 186, §§ 4.° e 5.°; Planiol,
taire r ' ' 595"604: Laubbnt. Cours, I, 100; Huc, Commerv
I nS
G nS
orso ' 382'389; AuBRY et Rau' Gours' l' § 143; Ricci,
nS 166 6 167; K0HLER Lehr ch I
Cana s ' ' ^ ' > § 104. IV; Deenbxjkg,
a
«emlL46; EndEMANn
' Eehrbuch, I, § 40, II, 2 e 3; Code Civil
4j. ' publié Par le Comitê le lég. étr., notas aos arts. 8o e
p HlRMEISTEB §§ 5 0 70 e 80; DlAS
onJMe ' -' Ferrei, Codigo Civil
V. g0I ^' notas aos arts- 47-49; Alves Moreira, Inst,. n. 84;
* -0^ 6 L' BusATTr' Dizionario dei dir. privai o, vb. Do-
^ eC^AMPEAtT e Uribe' Eerecho civil colombiano, I, nu-

eoi va des
s
ho n 08 ^ !•
Domicilio
CaS0S deSte art
legal é o que a lei estabelece,
36 6 seguintes
ari0 ' - Diz-se, também, neces-
Co
ih o POrqUe a pessôa 0 nao escolhe ou procura, como se dá
p
ela v VOluntari0- Estabelecido ope legis, não pode ser alterado
íegai tntade da PeSSÔa 0 d0 filh0 menor ainda
: particular do domicilio
oiha a designação ' W*' egualmente,
de origem.
256 CODIGO CIVIL

2. — O domicilio do menor é o mesmo de seus paes, quando


estes forem casados. Não o sendo, o domicilio do menor será o
do progenitor, que exercer o pátrio poder (arts. 379-383), ou o do
seu tutor (art. 406). Ainda quando casados os paes, se competir
á mulher o exercicio do pátrio poder (art. 80), o domicilio
desta será o do filho. Desquitados os paes, o domicilio do filho
será o do cônjuge, em cujo poder elle ficar (arts. 326 e 327). A
mesma regra se observará no caso de annulação do casamento
(art. 328).
3. —'A mulher commerciante tem domicilio proprio, em re-
lação aos actos de commercio.
4. — Para as relações de ordem civil, emquanto durar o casa-
mento, como o marido é o chefe da sociedade conjugai (art. 233)>
a elle cabe fixar o domicilio da familia. Todavia, quando a mulher
assume a direcção e administração do casal, por incapacidade ou
ausência do marido (art. 251), desapparece a razão pela qual se
lhe attribue o domicilio do marido. A ella cabe, então, escolhel-o.
O desquite dissolve a sociedade conjugai (art. 315, III)*
Embora subsista a vinculo matrimonial e com elle a qualidade
de cônjuge, marido e mulher desquitados têm vida á parte, eco-
nomia distincta. E' conseqüência natural desse estado de coisas
que cada um dos cônjuges tenha o seu domicilio, onde residir
com animo definitivo. Desapparece, então, o motivo pelo qual
o domicilio do marido é o domicilio conjulgal, e o da familia.

Art. 37. — Os funceionarios públicos repu-


tam-se domiciliados, onde exercem as suas func-
ções, não sendo temporárias, periódicas, ou de
simples commissão, porque, nestes casos, ellas
não operam mudança no domicilio anterior.

Direito anterior — Era doútrina seguida.


liegislação comparada — Vejam-se Codigo Civil france2,
arts. 106 e 107; portuguez, 51; argentino, 90, n. 1; mexicano, 32,
IV; do Montenegro, 958; peruano, 37. O Codigo Civil italiano e
o allemão não consideram este caso.
Pelo direito romano, o funccionario vitalício tinha o sed
domicilio legal, onde exercicia a sua funcção (Cod., 10, 39, 1. 8^'
DO DOMICILIO CIVIL 257

Per(íer o anterior (D. 1, 9, fr. 11). Ao empregado temporário


íaz
ia referencia a lei (Yan Wetteb, Droit civil, p. 9).
r0 eCt0S
«anf
71
~ Esd0
^ 31 CoelTl0 Ç0' art-
Rod
3.°; Nabuco, 127; Felicio dos
^ ' rigues, 70; Beviláqua, 52; Revisto, 50.
Theo ÍblÍOgraphÍa Theoria geral, § 27; Martinho Gakcez,
§ 60 Coelho I)A Rocha Inst
tenia^ ' ' ; § 68; Espinola, Sys-
P 39 9I' PPlan
' 297' Breves anotações, ps. 112 e 114; Ribas, Curso,
^ ' De n iol, Traité, I, ns. 610 e 611; Laürent, Gours, I,
« bue6, Pand., I, § 46; Huc, Cotnmentaire, I, n. 381;
VES Morei
ao ar Ra, Inst., n. 83; Dias Ferreira, Cod. Civil port., notas
t. 51, v. Scialoja e L. Busatti, Dizionario, vb. Domicilio, 5.

fixa0bSerVaSã0 — A P0SSe 6 exercicio do em


Prego indefinida.
o domicilio, sendo este vitalício, ou de duração ou funcção
em re 0
Se P S s de commissão, que perduram, indeterminadamente,
Prolon
ci gam, indefinidamente. Neste caso, a residência do func-
^ aiio se transfere, definitivamente, para o logar, onde exerce
Ua
commissão e, com ella, o centro da sua actividade juri-
Ca
' o seu domicilio.

a f ^ domicilio do militar em serviço


ivo P o logar, onde servir.
Paragrapho único. As pessoas com praça na
Guiada têm o seu domicilio na respectiva es-
^ Çao naval, ou na séde do emprego, que esti-
ei e
in exercendo, em terra.

■direito anterior —• Era doutrina seguida.


0^^° comparada — Vejam-se: D. 50, 1, fr. 23; Codigo
cap10 allemâo' art- 9-0: argentino, 90, n. 2; portuguez, 52; mexi-
' ^2, III; do Montenegro, 958.
Por
w**clTTl j inglez, os militares do exercito e da armada con-
e 0 icilio
ntr ' Pa® tinham, em território britannico, quando
atp aram para 0 serviço. A mesma regra prevalece no direito
ícano. Por direito francez, o domicilio do militar segue os
Pria
cipios geraes.
Co(
iigo Civil — 1.° vol. 17
258 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, art. 167, n. 4; Isíahuco, 128 e 129; Fe-


ZicijQ dos Santos, 132 e 133; Coelho Rodrigues, 74; Beviláqua, 53;
Revisto, 51.
Bibliographia — Theoria geral, § 27; Mabtinho Gakcez,
Theoria geral, § 61; Coelho da Rocha, Inst., § 68; Paula Ba-
ptista, Processo, § 54; Seve Navarro, Processo, art. 186, § l-0'
Ribas, Curso, p. 329; Espinola, Systema, I, p. 298; Planiol,
Traité, I, n. 611; Kohler, Lehrbuch, § 104, IV; Code Civil
lemand, publié par le Comitê de lég. étr., nota ao art. 9.°; DerN-
bubg, Pand., I, § 46; Endemann, I, § 40, II, 1, Schxbmbisteb,
§ 6.°; Dias Ferbeiba, Ood. Civil port., nota ao art. 52; Alves
Moreira, Inst., n. 83.

Observação — O domicilio do militar em serviço activo, diz


o Código. O reformado, seja official do exercito ou da armada,
pôde residir onde entender e estabelecer um domicilio, real a0
logar da sua escolha (lei n. 2.290, de 13 de Dezembro de 191°'
art. 15).

Art. 39. — O domicilio dos officiaes e tri-


pulantes da marinha mercante .é o logar, onde
estiver matriculado o navio.

Direito anterior — Não continha disposição a respeito desta


matéria.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 52,
paragrapho único.
Projectos —• Nabuco, art. 129, 2.a parte; Felicio dos Santos,
134; Coelho Rodrigues, 74, § 2.°; Beviláqua, 54; Revisto, 52.
Bibliographia — Theoria geral, § 27; Alves Mobeiba, Inst;
n. 83.

Observações — 1. — Os que empregam a vida em viageó3'


não tendo ponto central de negocios, consideram-se domiciliado3'
onde forem encontrados (art. 33). Os officiaes e tripulantes da
DO DOMICILIO CIVIL 259

u ni mercante, embora empreguem a vida em viagens, têm


ponto fixo, a que se prende a sua actividade, que é o porto
a matr
icula do navio, onde trabalham.
0 naVÍ0 naCÍonal re istra
^fôr domiciliado o proprietário,
S -seou na Capitania
onde residir odo seu
Porto, onde
represen-
e
. se elle residir no estrangeiro (regulamento approvado pelo
b^ret° n- 16-196 de 31 de Outubro de 1923, art. 392) . Para as em-
oções, que fazem a pesca na costa, as empregadas, exclusiva-

no n'e' n0 Serv^0 (^e nos


portos e rios, as destinadas,
11 eia01 < 0s
ao serviço
^ ^ carga
de Portos,e ao transporte
descarga, de como
assim passageiros e bagagens,
as canoas, botes,
^"•traias, igarités, chalanas, o registro é substituído pelo arrola-
ento (reg. Cit., arts. 397 e 464 a 478).
^ Onde não houver Capitania, o registro se fará nas delegacias
as
Capitanias, nas Alfândegas, Mesas de renda, ou outro pos-
to fiscal.
• ■ A tripulação do navio nacional será matriculada nas
a
Pitanias de Portos (reg. cit., art. 399).
Se
algum brasileiro adquirir embarcação em porto estran-
Semo, cabe ao congU2 conhecer da escriptura de compra, para
Ve
rificar a sua validade, e matricula do pessoal.

CONSELHn RCGIONAL DO IRA -.•-H


la. RÊ.GIÃO
Art. 40. — O preso, ou o desterrado, tem o
omidli0 no logar, onde cumpre a sentença, ou

federal)1,0 (art
' 80
' ^ 2 0, n
' ' ^ ^ Coilstitui ão
5
Oireito anterior — Era doutrina acceita.
Ije8Ísla
e 27 Ção comparada — Vejam-se: D. 50, 1, frs. 22, § 3.°;
' § 3.°; Codigo Civil portuguez, art. 53; mexicano, 32, V.
do H00micilio
C0dÍg0 Civil ar8entino ar
. do
' t- 95, faz depender a mudança
p} preso, ou desterrado, da deslocação do assento
^r lncipai dos seus negocios, pela família. Semelhantemente dispõe
Portuguez, art. 53, § 2.°.
8a nío1>r0, ect0s
*, '135; Coelho
~ Esboço, art. 176,
Rodrigues, 76; n.Beviláqua,
5; Nabuco,55:130; Felicio53.dos
Revisto,
Íb,Í hi
^§ 6*> Coelho^da aRocha,
Theoria
Inst., §geral, § 27; Baptista,
68; Paula MabtiniioProcesso,
Garcez,
4
: Seve Navarro, Processo, art. 186, §§ 2.° e 3.°; Dias Ferreira,
260 COD1GO CIVIL

Coã. Civ. port., nota ao art. 53; Huc, Commentaire, I, ns. 375
a 379.

Observações — 1. — Antes da sentença, o accusado conserva


o seu domicilio real. Depois da condemnação é que o individuo
fica, definitivamente, no logar destinado ao cumprimento da
sentença. Ahi terá o seu domicilio legal. Se o sentenciado for
chefe de familia e a prisão durar mais de dois annos, o domicilio
da familia será o da mulher (art. 36, paragrapho único). Nao
havendo mulher, a quem passe a direcção da familia (art. 251)>
excedendo de dois annos e pena de prisão, suspende-se o pátrio
poder, e nomear-se-á tutor para os filhos menores (arts. 394,
paragrapho único, e 406, II).
2. — O direito penal pátrio não conhece o desterro (Codigo
Penal, art. 43). Somente como medida extraordinária de defesa
e repressão, é licito ao poder executivo desterrar alguém para
outros sitios do território nacional, em caso de aggressão estran-
geira ou commoção intestina, que autorizem o estado de emer-
gências de 1937, art. 168, a) (Const., art. 175).
O banimento judicial foi abolido (Const. art. 113, n. 29).

Art. 41. — O ministro ou agente diplomático


do Brasil, que, citado no estrangeiro, allegar ex-
territorialidade, sem designar onde tem, no paiz?
o seu domilicio, poderá ser demandado no DiS-
tricto Federal, ou no ultimo ponto do território
brasileiro, onde o teve.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 40,
2.a parte; peruano, 26.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 78; Beviláqua, 57; Re'
visto, 55.
Bibliographia — Meu Direito- publico internacional, I, §
Epitacio Pessoa, Codigo de direito internacional, art. 136; Liszr'
Das Voelkerrecht, § 14, V; Bluntschli, Droit internacional c0'
DO DOMICILIO CIVIL 261
§ 218; Kltibee, Droit ães gens, 204; Heffteb, Droit interna-
cional, § 215; Bonfils, Droit internacional, xis. 700 a 721; Halx,
^ tcrnacional law, IV, § 661; Lafayette, Direito internacional,
24
5; Dbspagnet, Droit internacional public, ns. 239 a 250; MÉ-
Rig
nao, Droit public internatioinal, II, ps. 278 a 290; Nys, Droit
t rnational, II, ps. 435 a 437; Planas Süarbz, Derecho inter-
nacional publico, I, n. 268.

Observações — 1. — O ministro diplomático mantém o seu


^icilio no paiz, que representa. E' perante os tribunaes do seu
Paiz qUe 0 devem accionar os seus credores, exepto: 1.°, se,
ex
Pressamente, renuncia esse privilegio, mediante autorização do
governo; 2.°, se, autorizado, comparece perante tribunal es-
geiro; 3.°, se se trata de questão sobre immovel situado em
err
itorio estrangeiro.
Attendendo a essa situação excepcional, o Codigo Civil deter-
P^ina qUai 0 fôro, onde tem de responder o agente diplomático
0
brasil, que não acceita a jurisdicção estrangeira, do logar,
0n(
ie reside, a serviço da Republica.
u
O Codigo Bustamante, art. 23, refere-se tão somente ao
timo domicilio que o agente diplomático e os funccionarios
es
identes no estrangeiro tinham no território nacional.

Art. 42. — Nos contractos escriptos, poderão


0s
contralientes especificar domicilio, onde se
^Xercitem e cumpram os direitos e obrigações
e
^es resultantes.

Uireito anterior — Conforme (Orã., 3, 6, §§ 2.° e 3.°; 3, 11,


30
' : reg. n. 737, art. 62).
j legislação comparada — D. 5, 1, fr. 19, § 4.°; Cod., 2, 3,
29
10 ' Codigo Civil francez, art. 111; portuguez, 46; argentino,
> mexicano, 34; chileno, 69; uruguayo, 32; italiano, 19; peru-
ano, 27

a
^rojectos — Esboço, art. 32; Nabuco, 134; Felicio dos
ntos, 14o e 141; Coelho Rodrigues, 41; Beviláqua, 58; Re-
Vl
*to, 56.
262 CODIGO CIVII.

Bibliographia — Espinola, Breves annotações, I, ps. 118 a


123; Martinho Gakcez, Theoria geral, § 65; Pauxa Baftista,
Pratica, 56; João Monteiro, Process\o>, § 39; Seve Navarro, Pr0'
cesso, art. 188; Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 393; Pi-a-
niol, Tfraité, I, ns. 622 a 630; Laurent, Cours, ns. 103 e 104:
Huc, Commentaire, I, n. 393; Alves Moreira, Inst., n. 84; Dias
Ferreira, Codigo Giv. port., nota ao art. 46; Ricci, Corso, n. 174,
V. Sei aloja e L. Busatti, Dizionario dei dir. Privato, vb. Do-
micilio, 6; Champeau e Uribe, DerecUd civil, I, ns. 170 a 172.

Observações — 1. — O domicilio de eleição, sendo especial


para certo acto, ou para determinada categoria de actos, nao
attinge o domicilio geral, que subsiste, apezar delle, para as
outras relações jurídicas.
2. — Deve constar de acto escripto. Pode constar do proprio
contracto, do qual resulta a obrigação de cumprir, ou de outro
escripto posterior, que ficará fazendo parte integrante do con
tracto.
Nãa pôde resultar de uma supposição, por melhores funda'
mentos, que se possam invocar, nem de inferencias tiradas de
cláusulas contractuaes.
3. — Sómente para o cumprimento de obrigações con-
tractuaes, é licito ás partes escolher um domicilio especial, o fôt"0
do contracto. Para as obrigações, que não resultam de declaração
da vontade, e sempre que a lei estabelece a competência do juiz»
de modo a não admittir-lhe a prorogação da jurisdlciio, não e
permittido eleger um fôro por contracto.
Não se pôde alterar, por contracto, a competência rationc
materioB.
4. — Na opinião dos nossos doutos, não importava escolha
de domicilio especial de contracto a determinação do logar, onde
se havia de cumprir a obrigação civil, ainda- que assim fosse,
em relação á commercial. O nosso artigo, porém, dizendo que
os contrahentes poderão especificar domicilio, onde exercitem
direitos e cumpram obrigações, firmou o principio geral de qne
o logar escolhido para o cumprimento da obrigação é, também
o logar onde se ha de accionar o réo.
DO DOMICILIO CIVIL 263
Sobre o assumpto deste artigo, encontram-se, em Octavio
, Y' Jurisprudência federal, decisões do Supremo Tribunal Fe-
CiGríii > cujas
• emendas devem ser aqui mencionadas:
Em litígio, cujas partes são cidadãos de Estados diversos
6
oi escolhido o fôro de determinada cidade, o juizo federal da
ocção, em que estiver situada essa cidade, é o competente para
inmil-o (pag. 67). Veja-se também no Direito, vol. 111, ps. 296
ou ;ra
r i decisão no mesmo sentido. A Reforma constitucional
letrra1^111 a competencia da ust
d, aos litígios entre um i Estado
isa federal, no caso
e habitantes de do art. 60.
outro.
No m
csmo sentido a Constituição de 1934, art. 81, d.
da •IVraS a <Íe 1937' extinsuindo a Justiça federal, tirou o valor
"'Ur^Spi udencia
co Uipetencia e da legislação
pelo motivo anterior quanto á determinação
apontado.
egt ^ clausula de um bilhete de passagem, de Companhia
an e I
re Ç i 'a de navegação, declarando competente o fôro do
spectivo paiz, não obriga ao passageiro, que a não assignou
145).
íjam


LIVRO 11

H) o s b E nxr s

TITULO ÚNICO

DAS DIFERENTES CLASSES DE BENS

CAPITULO I

Dos bens considerados em si mesmo

SUCÇÃO I

Dos bens immoveis

Art. 43. — São bens immoveis:


I. O sólo com a sua superficie, os seus acces-
Sori
os e adjacências naturaes, comprebendendo
as arv
ores e fructos pendentes, o espaço ae eo
e
o subsolo.
II. Tudo quanto o homem incorporar, per-
anentemente, ao sólo, como a semente lançada
erra, os edifícios e construcções, de modo (pie
6
não possa retirar, sem destruição, modifi-
a a
Ç o, fractura ou damno.

a
. III- Tudo quanto, no immovel, o proprie-
rio mantiver, intencionalmente, empregado em
la
exploração industrial aformoseamento, ou
COí
mnodidade.

Qjç 11. e^r^0' anterior Conforme, ainda que não sufficiente-


systematizado (TEixeiba de Freitas, Consolidação, artigos
266 CODIGO CIVIL

44 a 46 e 48, com as respectivas notas; Carlos de Carvalho,


Direito civil, art. 177, §§ 1.° e 2.°).
Liegislação comparada — Vejam-se: D. 6, 1, fr. 44; 8, 2,
fr. 1, pr; 8, 4, fr. 13, § 1.°; 19, 1, fr. 17, § 3.°; 33, 7, fr. 12,
§ 23, e fr. 21; 39, 2, fr. 24, § 12, e fr. 26; 39, 3, fr. 1, § 12; Codigo
Civil francez, arts. 518 a 525; italiano, 408 a 414; hespanhol,
333 e 334, ns. 1 a 9; argentino, 2.313 a 2.316; uruguayo, 463 a
chileno, 656 e 568 a 570; portuguez, 373 a 75; austríaco, 293 a
298; venezuelano, 498 a 506; peruano, 812 e 813.
O Codigo Civil allemão não destaca esta distincção tão im-
portante para o direito; faz-lhe, todavia, referencias, e a consi-
dera em vários dispositivos.
Para o direito anglo-americano, a divisão capital das coisas
é entre tfiings real, ou realty e things personal ou personalty-
Immoveable things e moveable things são expressões que nao
correspondem ás nossas.
O Codigo Civil suisso não contém noções geraes sobre coisas,
a não ser como conteúdo da propriedade (art. 655).
Projectos -— Esboço, arts, 393, 394, 402 e 403; Felicio dos
Santos, 173 a 175; Coelho Rodrigues, 86, 90, 103 e 104; Bevi-
laqua, 60; Revisto, 57.
Bibliographia — Theoria geral, §§ 29 a 33; Teixeira pe
Freitas, Consolidação, Introã., ps. LXXI, LXXIII e CXXI e nota
1 ao art. 42; Bspinola, Systema, I, ps. 380 a 399; Breves anno-
tações, ps. 125 a 131; Spencbr Vampré, Manual, I, §§ 38 e 3'9;
Almachio Diniz, Primeiros princípios, I, §§ 23 e 24; MartinHO
Garcez, §§ 66, Coelho da Rocha, Inst., §§ 76 e 79; Ribas, Curso,
ps. 373 a 385; Planiol, Traité, I, ns. 771 a 783 e 190 a 839; Laü-
rent, Gours, I, ns. 470 a 480; Huc, Commentaire, IV, ns. 4 a 36;
Baudry-Lacantinerie et Chauveau, D es hiens, 3.mc éd., ns. 1°
a 96; Colin et Capitant, Gours, I, ps. 663 a 678; Aubry et Raü,
Gours, I, §§ 162 a 165; Glasson, na Grande Encyclopédie, vb.
Biens; Roth, System, !, §§ 74 e 75; Kohler, Lehrbuch, §§ 200 a
202; Dernburg, Pand., I, §§ 67 e 74; Endemann, Lehrbuch, I,
§§ 50 e 51; Windscheid, Pand., I, § 42 e II, §§ 137 a 142; Tei-
xeira d'Abbeu, Curso, I, ns. 77 a 81 e 94 a 96; Dias Ferreira,
Cod. Civil port., notas a©s arts. 369 a 375; Alves Moreira,
Inst., ns. 120 a 125, 127 e 129; Chironi, Ist., I, §§ 45 a 49;
Bonfante, Istituzioni, § 78; Ricci, Corso, II, ns. 1 a 24;
Schirmeister, §§ 36 a 42; V. SoxoalOJa e Busatti, Diziònario
DOS BENS 267
Privato, vb. Beni; Sokolowki e Cornil, na Revue de Droit
ln
t. et lég, comp., 1907, ps. 283 e segs. (Notions et divission des
choses); R. Salvat op. cit., ns. 1.299 e segs..

Observações — 1. — Trata este livro dos bens, no sentido


Jurídico, menos lato do que o philosophico e differente do eco-
Uomico. Para o direito, bens são os valores materkies ou imnva-
fiaes, que servem de objecto a uma relação jurídica. E' um
conceito mais amplo do que o de coisa. Esta, no dizer magistral
e
Teixeira de Freitas (Esboço, art. 317), é "todo objecto ma-
susceptível de medida de valor". São os objectos corporaes,
Sundo preceitúa o Codigo Civil allemão, art. 90. Ao lado das
ls
as e dos bens economicos, outros ha de ordem moral, inapre-
aveis como a vida, a liberdade, a honra, e os que constituem
octos dos direitos de família puros.
0s bens
economicos formam o nosso patrimônio (art. 57).
<lue > Por^ens n 0
^ ^nomieos
não serem sãodeirradiações
susceptíveis medida de da personalidade,
valor, não fazem
arte
nosso patrimônio.
2e 3 ' segunda secção da Parte Geral do Codigo Civil al-
Uiao intitula-se — Sachen, coisas. O Codigo Civil brasileiro
e
eriu denominar Dos bens o livro segundo da Parte Geral
acc ríio com a estens
lav^
r °
a bens, dar-lhe maior latitudeão aomaior do dos
alcance significado da pa-
dispositivos. A
avr
e a bens comprehende; coisas, direitos reaes, obrigacionaes
das re
c
ar os
' ■^a éParte
oisas, ^porque especial, conservou
da propriedade a designação
e dos seus DireiPOjs
desmembramentos
que
se trata.
O A
s primeiras categorias de bens destacados pelo Codigo
1
brasileiro são as dos immoveis e as dos moveis. A impor-
^a considerável, que tem essa distincção na vida jurídica,
P ica e justifica esta prioridade.

dest^VV7tl0Ve^S S^0 aS c0^sas Que se ndo Podem transportar, sem


UiÇã0, Um
h(ixx^cm-se: ^ ®a'ra
1.°, o sólo,
ou ro
com as l09ar
^ suas . Nesta
partes definição 2.°,
componentes; compre-
tudo
nt0 0
homem incorpora, permanentemente, ao sólo. sem que
Possa delle desaggregar, sem destruição ou fractura; 3.°, os
^^JGOtncjs empregados na exploração industrial do immovel, no
Ufot moseaxnento, ou destinados a tornal-o mais commodo.
268 CODIGO CIVIL

A estas classes de immoveis, que o art. 43 põe em relevo,


accrescenta o art. 44 os direitos, que a lei immobiliza para de-
terminados effeitos.
Como se vê, é uma classificação, que, differindo da fran-
ceza, como de outras imaginadas pela doutrina, se impõe por
sua razão e clareza. Pelo systema do Codigo Civil brasileiro,
ha quatro classes de immoveis; 1.° Por natureza (o sólo, com
a superficie, os seus accessorios e adjacentes naturaes, compre-
hendendo as arvores, os fructos pendentes, o espaço aereo e o
subsolo); 2.° Por accessão physica artificial (tudo quanto o
homem incorporar, permanentemente, ao sólo, como a semente
lançada á terra, os edificios e construcções, de modo que se não
possa retirar sem destruição, modificação, fractura ou damno);
3.° Por accessão intellectual (tudo quanto no immovel o proprie-
tário mantiver, intencionalmente, empregado em sua exploração
industrial, aformoseamento, ou commodidade); 4.° Por deter-
minação de lei, tendo em vista a maior segurança das relações
jurídicas (os direitos contemplados no art. 44).
4. -T- Entre as partes componentes do sólo, algumas são só-
lidas e outras líquidas; umas formam a superficie,
• outras con-
'a
stituem o subsólo. As partes sólidas, emquanto adherente as
terras e fazendo um todo com ellas, seguem a sua natureza, são
immoveis. Separadas para fins humanos, vão constituir entidades
distinctas, como as pedras, os metaes, as arvores cortadas, os
fructos colhidos, que são moveis.
5. -— As aguas, porção liquida do sólo, sejam correntes ou
não, consideradas como parte de um prédio, são immoveis (C0'
digo Civil italiano, de 1865, art. 42). Uma certa quantidade
d'agua, porém, depois de colhida da fonte, do rio ou do reser-
vatório, é movei, por não ser mais parte componente do sólo.
A agua corrente, cujas moléculas, incessantemente, se re-
novam, a aqua profluens, era considerada, em direito romano
(Inst., 2, 1, 1.°), res communis omnium, por ser uma utilidade
inexgottavel ou illimitada. O Codigo Civil, porém, abstrahindo
da continua renovação molecular da agua dos rios e regatos,
considera-a tal como existe em cada momento, cobrindo, dentro
do leito, uma parte do sólo, formando a parte liquida do terreno
ou do prédio.
6. — B' também immovel a columna atmospherica, o espaÇ0
aereo, que se ergue acima do solo, porque, para o direito, ella
é parte integrante do prédio. Certamente o ar é de uso inexhaU:-
DOS BENS 269

á ur'-6' rm0
110
tal inapro riave1
'
preclio P
a elle ' mas, até á altura necessária
(art ' adhere, é delle elemento essencial
JÍ S coisas
^ consideradas no numero II deste artigo são
1S COm0 aS sementes e 08
Qua^quer
' pessoa incorpora ao sólo,materiaes de construcção,
e que, pela que
adherencia phy-
d
' adquirem a qualidade de immoveis.

o ■Cle 11116 trata 0 numero 111 são egualmente moveis, que


0 0U qUem 0 representa
as cT^ oc
' imobiliza no prédio, nelle
C0ln ando pei manentemente, para sua exploração industrial,
afor0 ^ maquinas 6 0 gado de uma fazenda; ou para o seu
PadaT86*11116^0 6 commodidade' como Quadros, estatuas, lam-
Perte' C^aVes' e^c' -®sfes bous são, na intenção do proprietário,
Pessoa^8' ^Ue ^n''e®ram 0 Predf0' e uão objectos do seu uso

Propr POSSUÍdor' nos casos dos arts, 550 e 551, equipara-se ao


de . rietari0, 0 locatario e o usofructuario não têm a faculdade
t nm0blllZar moveis por aceess
ario
10 age e ' ão intellectual; mas, se o ioca-
616
m uome e por conta do proprietário, a immobilizaçáo
opera.
8
vaioj."
01 ^ distincção
considerável. Paraentre os bens moveis
reconhecel-o bastará erecordar
immoveisas tem
se-
smntes appiicações:
og ^ ^ ^n^ro(^ucção, art. 10 Ainda que a lei da situação reja
(-arj Veis e 08 inamoveis, os moveis de uso pessoal do proprie-
' 08 11116 para
a tr ansporte 6116 coms go
outros f^ver sempre,
^ logares, assim como
se submettem á leios pessoal.
destinados

®ras-H/ reger-se-ão,' sempre,


118 ac os re a vos a
^pela lei
f ffbrasileira.
immoveis situados no

Dão C) Art~ 20' ~ AS pessôas Iuridicas de direito publico externo


Pred POderâ0 P0SSUÍr proPriedade immovel no Brasil, salvo os
ladog08 necessarios para estabelecimentos de iegações ou consu-
ar
^Pirno^ dwh t' 70. O bem da familia deve ser um

acj.0 O instrumento publico é da substancia do


(jg ^ a ;oustitutivo ou translativo de direitos reaes sobre immoveis
er superior a um conto de réis.
Art
' ^ marido não pôde, sem consentimento da
I, alienar, hypotbecar ou gravar de ônus real os bens
270 CODIGO CIVIL

ixnmoveis, ou os direitos reaes sobre immoveis alheios; II, pi®*'


tear, como autor ou réo, acerca desses bens e direitos.
g) Art. 242. — A mulher necessita de autorização do marido
para alienar ou gravar de ônus real os immoveis de seu domínio
particular, assim como para alienar os seus direitos reaes sobre
immoveis de outrem.
U) Art. 251 — Quando á mulher compete a direcção e a
administração do casal, por ausência ou interdicção do marido,
necessita de autorização do juiz para alienar os immoveis com-
muns ou do marido.
i) Art. 290. — Na falta de declaração expressa, o domínio
dos bens sobre que recair o dote, presumir-se-á transferido ao
marido, se forem moveis, e não transferidos, se forem immoveis-
j) Art. 291. — O immovel adquirido com a importância do
dóte consistente em dinheiro será considerado dotal.
k) Art. 293 — Os immoveis dotaes não podem ser alienados
nem onerados, salvo em casos especiaes, mediante autorização
do juiz.

I) Art. 310. — A mulher não pôde alienar os immoveis para-


phernaes, sem outorga do marido.
m) Art. 386. — Os paes não podem alienar nem gravar de
ônus reaes os immoveis dos filhos, que se acham sob o seU
pátrio poder, sem prévia autorização do juiz.
n) Art. 429. — Os immoveis pertencentes a menores Pa0
podem ser vendidos, senão quando houver manifesta vantage»1'
em hasta publica, autorizada pelo juiz.
o) Art. 433. — Os valores pertencentes a menores não se
retiram das Caixas Econômicas federaes, senão para os fiIlS
declarados no art. 433, entre os quaes se acha compra de bens
de raiz.
p) Art. 472. — Aberta a successão provisória, antes de parti
Ihados os bens do ausente, o juiz determinará a conversão dos
moveis sujeitos á deterioração ou extravio, em immoveis ou t1
tulos da vida publica.
g) Art. 474. — Na partilha dos bens do ausente, os ^
moveis serão confiados, em sua integridade, aos successores Pr0
visorios mais indoneos.
r) Art. 475. No período da successão provisória, os i01'
moveis só se alienam por autorização do juiz ou desapropriaça®
em caso de necessidade, ou utilidades publica.
nos BENS 271

Art 498
em1 contr — A Posse do immovel faz presumir, até prova
ario, a dos moveis, que nelle estiverem.
Art 530 e se
dada e^immovel
' .se por —preceitos
regemsuintes differentes
A acquisição e perdadosda estabele-
proprie-
1
os para a acquisigão e perda da propriedade movei (arts. 592
e
seguintes).
U
675 e 676. — Os direitos reaes sobre coisas moveis,
n 0 cons u os ou
ad <luirem
^ ^^ ^ transmittidos por actos entre vivos,
c m -se por tradição,e, sendo sobre immoveis, adquirem-se
a inscripção ou transcripção no registro de immoveis.
v
) Art. 768. — O movei dado era garantia de uma obrigação
Co
nstitue penhor.
Art 776
ther^
c '
a, excepção ~ SÓ
'feita 08 iminoveis
para os navios. podem ser objecto de hypo-
V) ArtS 1-2C0 6
g "
as particulares. seguintes. — As locações de prédios exigem
g A
p j " lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919, corrigiu o
6 A edi6ã0 de 1916 dizia: 0
acce " solo com os seus
SSOlÍOs e
as í adjacências naturaes, comprehende a superfície^
E]1>iarV01eS 6 fructos pendentes, o espaço aereo e o subsolo",
a s:ACI().PE88ÔA (parecer n- 193, de 1917, p. 43), observando que
solo ' PertlCÍe nâ0 é
' Propriamente,
Propoz a redacção actual, que accessorio
foi acceita.nem adjacência do

44
n*
08 ' — Consideram-se immoveis, para
effeitos legaes:
g. Cs direitos reaes sobre immoveis, inclu-

SUram Pen^10r a
^ricola, e as acções, que os asse-
11
en ín • As apólices da divida publica, oneradas
a clausula de inalienabilidade.
bll. O direito á successão aberta.

(
lUant>IreÍt0 anterlor — Semelhante, quanto ao n. I; indeciso,
3
de 'o 30 II' e silencioso quanto ao III (V. a lei n. 3.229, de
c
mi aretembr0 <Íe 1884' art* 9-0 * Carlos 013 Carvalho, Direito
a
rt • do eb nota
b77
' ^ 3 e 40
2). ' ' e ,EIXEIRA DB
1 Freitas, Consolidação,
0
car SÍSlaçâo com ar
P uda
lor de immoveis — As direitos;
a alguns diversas mas,
legislações attribuem
nem sempre, os
272 COÍJIGO CIVIL

mesmos. Vejam-se; D. 18, 1, fr. 47; e 43, 16, fr. 3, §§ 13 e 15,


Codigo Civil francez, art. 526; italiano, 415; portuguez, 374,
2." e 3.°; hespanhol, 334, 10; mexicano, 684, IX; venezuelano,
507; boliviano, 275; argentino, 2.317; suisso, 655. O Codigo Civil
allemão não considera esta especie.
Projectos — Esboço, art. 393; Felicio dos Santos, 176; (Joelho
Rodrigues, 105 e 106; Beviláqua, 61; Revisto, 58.
Bibliographia — Theoria geral, § 32, IV; Ribas, Curso,
ps. 386 a 388; Mabtinho Gajbcez, Theoria geral, § 67; Espinola,
Systema, I, ps. 400 e 401; Breves annotações, ps. 131 e IS^;
Lapayette, Direitos de família, nota II ao fim do vol.; Planiol,
Traité, I, ns. 840 e 854; Laubent, Cours, I, ns. 481 e 484; Colin
et Capitant, Cours, I, ps. 678 a 680; Huc, Commentaire,
ns. 37 e 38; Chironi, Ist., I, § 49; Dernbukg, Pand., I, § 74, II>
RiOth, System, I, § 75; Windscheid, Pand., I, 74, nota 5; Rossbl
et Meintha, Droit civil suisse, II, ps. 30 a 32; Alves Moreira
I, n. 127, c, 3.° e 4.°; BAUDRy-LACANTiNERiE et Chauveaü, Des
Mens, ns. 97 e 118; Teixeira d'Abreu, Curso, ns. 112 a •
Dias Ferreira, Cod Civ. portuguez, nota ao art. 375; V. ScialojA
e Busatti, Dizionario dei dir. priv., vb. Beni, 17; R. Salvat,
op. cit., ns. 1.424 e segs.

Observações — 1. — Os direitos, sendo coisas immateriaes,


não entram, naturalmente, na classe das coisas moveis ou
moveis. Porém, para segurança maior das relações juridicas, a
lei trata os direitos, sobx-e immoveis como se immoveis fosseUL
e com elles as respectivas acções, çpie são os proprios direitos
em attitude defensiva, ou considerados por uma de suas faces.
2. — O n. II declara immoveis as apólices inalienáveis.
Foi controvérsia longamente mantida, no direito anterior»
o caracter juridico das apólices da divida publica. Mas, Por
fim a opinião tendia a pacificar-se. O Codigo Civil poz term0 a
controvérsia, adoptando o parecer, que ia preponderando no dou
trina.
A immobilização das apólices da divida publica resulta
sua, inalienabilidade. Esta pode resultar de disposição testam61
taria; de clausula de doação; da constituição do dote sem tram
ferencia ao patrimônio do marido. As apólices pertencentes
menores (art. 386), orphãos e interdictos (art. 429), não podem
ser alienadas senão mediante as formalidades particulares 6Sta
belecidas para os immoveis.
DOS BENS 273

1° ■ • 0 Cllreito
Os tllei,0s leaes
á succes
são aberta é de feição tal que abrange
n
^oixial como os pe&soaes, numa universidade patri-
ciar ao '■lm,uove a necessidade de destacal-o. O Codigo Civil de-
l para os casos de alinação e pleitos judiciaes.

n TT r ^— <^S ^eils' c ue
l trata o art. 43,
0í eni ser em
zados P ^ > qualquer tempo, mobili-

Uiieito anterior — Era doutrina reconhecida.


art _e8ÍsIat'ão comparada — Vejam-se o Codigo Civil do México,
1 0 allemão in
renoi
nci
a ao' art. 43. ' f^e, e a legislação citada em refe-
Pi» *
OJeetos
ítortvlfJue s, 108;—Beviláqua,
Esboço, art.
62;408; Felicio
Revisto, 59.dos Santos, 178; Coelho
Uibliographia — Veja-se o art. 43.

hatur^jSerVa^^0 — A disposição deste artigo é um complemento


ar
hiove^ ^' ^ ProP1'ietario pôde immobilizar coisas
hiovei^' t0rnando"as accessorias ou partes componentes do im-
r
ecobr ari1 a a0Suad^ssoc^ar do icamovel, a que as annexara, ellas
dualidade própria de moveis. Uma separação
n ane
ao i ' a, porém, não poderá ter esse effeito, como não tem
Caso do
artigo seguinte.
u
ma^ .lmni0biliza6ã'0 dos bens' de QUe trata 0 art- 43' II1' 6
do p^1^^0 da leÍ' I)ara maior vautagem e garantia dos direitos
e
sta 0pl letario e' Particularmente, da utilização do immovel. Por
os ac mo^^^zaSão juridica, evita-se que se separem do immovel
^eâo068801'108 116116 P0St0s pel0 ProPrietario Para a sua explo-
de De lndllStria1' aformoseamento ou commodidade, por effeito
a
du n 10ra' em occasia•0 de Partilha ou por acção do legatario, ,
zentja 11 0 'estador deixasse, por exemplo, os moveis da sua fa-

Veis Perdem 0 caracter de immo-


c os materiaes, provisoriamente, separados
0C1§Ü
Civil 1.° vol. 18
274 CODIGO CIVIL

de um prédio, para nelle mesmo se reempre-


garem.

Direito anterior — Era principio acceito, com apoio no dx-


reito romano.
Legislação comparada — D. 19, 1, fr. 17, § 10; et quce 63'
edifício detracta sunt ut reponantur eãificn sunt; Codigo Civü
argentino, art. 2.319; chileno, 573; uruguayo, 468; allemão, 97,
in fine; peruano, 814.
Projectos — Esboço, art. 399, ultima parte; Goelfúo. R0
drigues, 110, n. 4; Beviláqua, 63; Revisto, 60.
Bibliographia — Veja-se o art. 43.

(Í6
Observação — Os materiaes destinados á construcçao
um edifício, como telhas, tijolos, argamassa, madeiras, grades,
não adquirem o caracter de immoveis senão depois de collocados
nos logares, a que se destinam, porque, desde então, fazem parte
do edifício (art. 49). Separados delle, para concerto ou outro
fim semelhante, desde que a separação seja provisória, continuam
a ser parte do mesmo todo, continuam a ter a mesma applicaçâ0'
e, por isso, não perdem o caracter de immoveis.
O principio é geral: refere-se a todos os materiaes, qno»
zendo parte integrante de um prédio rústico ou urbano, delle s^o
retirados, provisoriamente, para nelle mesmo se empregarem.

SECÇÃO II

Dos bens moveis

Art. 17. — São inoveis os bens susceptíveis


de movimento proprio, ou de remoção por forç^
alheia.

Direito anterior — Idêntico ( Teixeira de Freitas, Consol1


dação, art. 42, nota 1; Carlos de Carvalho, Dir. civil, art. 179)'
DOS BENS 275

fran^8ÍSl?â0 COmparada - D- 50. 16, fr. 93; Codigo Civil


argeuti ai ' 528' italian0' 417; Portuguez, 376; hespanhol, 335;
austrin110 2 o:1 8; uru
co.' 293;
" ' venezuelano,
Suayo,509.
462; peruano, 819; chileno, 567;
Veja-se, ainda; o Codigo Civil japonez, art. 86.
180- r,-*,^CtOS Esboço, arts. 388 e 389; Felicio dos Santíos,
0 Roclriyue$
'Bihr10gra ' 109; Beviláqua, 64; Revisto, 61.
ESp * Phia — Theoria geral, § 34; Ribas, Curso, p. 390;
PS
Peraz T " 393 6 394; Mabtinho Gaeoez, Theoria
Princi ■ ' ^AMX>B:É' Manual, I, § 36; Almachio Dxniz, Primeiros
CoELI10 DA
1. ns ^rk' ^ Hooha, Inst., § 78; Planiol, Traité,
86 LAUEBNT Gours
^ewíaire^v ns ^ ' ' ^ ns- 485 e 486; Huc, Com-
Des h- ' ' - 39 e 46; Baudry-Lacantinerie et Chauveaü,
nS 449 a
VTjBry * ol Capitant, Gours, I, p. 681;
R AU Gours U
segs . ^ ' ' > ' § 164, bis; Ricci, Corso, II, ns. 32 e
De" V0HLER' Lehr^h, I, § 202; Roth, System, I, § 75, II;
R0lí
h Ist' Fanã 50
'' V1' 74 ' I' 2; Windscheid, Pand., I, § 139; Chi-
SciAL0JA e
pnv'uto ' ' ' " G- Busatti, Dizmnario dei dir.
Téixeik VbDAkretü
' 'Beni, ns ' l 8 a 20
5 Axves Moreira, Inst., I, n. 128;
Portu^ le ' Curso, n. 97; Dias Rejreeira, Codigo Civil
z, nota ao art. 376; R. Salvat, op. cit., ns. 1.430 e segs..

0u VaÇOeS 1
move" ' Define o art. 47 os moveis corporeos,
Se
Se
movent1S 1)01 natureza
68 an maes
' l116 comprehendem duas especies: os
htirm ^ ^ domésticos ou selvagens) e os moveis em
8 010 (C0ÍSaS inanimadas
Devr ^exclBÍr se >-
dicioQ - da classe dos moveis, embora comprehen-
efinis
como f ^Zla . uo ão, os immobilizados, de que trata o art. 43, III,
2 lar o Projecftó, primitivo.
Co 08 uavios sen
mo im ' do moveis por natureza, a lei os trata
po consi
theca derando-os capazes de ser objecto de hy-
re
êras D .ait'. 825) 6 submettendo-os, nas vendas judiciaes, ás
Ggo 478.reSCfPtas Para 08 immoveis (Codigo Commercial, ar-
ali
enaçõe rieg' 737' de 25 de Novembro de l850' art- 512) • As
Piar, exiS 6 navios brasileiros, destinados á navegação de alto
listro1Sem escriptura Publlca, onde se deve inserir o teôr do
dec 0111 38 8uas an
- ^ n " i-605, notagões
de 4 de Março (Codigo
de 1915, art.Commercial,
359). art. 468;

ailtec
ipac'~0 U0SS0 direit0 nao conhece
de que se a especie de moveis por
, occupam escriptores francezes. As safras
276 codigo cmt.

ainda não colhidas, os fructos ainda pendentes dos ramos, as


madeiras ainda não cortadas são immoveis por natureza, com
partes integrantes do sólo, a que adherem. Podem essas coisas,
como também as machinas, os instrumentos aratorios, e os
animaes do serviço ordinário do estabelecimento agricola, sei
objecto de penhor; mas, nem por isso, se mobilizam esses bens de
raiz. E, para cessar qualquer duvida, que pudesse haver, o Co
digo declarou que o penhor agricola é immovel (considerando-o
direito real sobre immovel, art. 44, I).
Em face desse dispositivo, não ha, como entendia Carlos p
Carvalho {Direito civil, art. 180), immoveis considerados moveis
para o fim de serem dados em penhor. Ha, sim, penhor Qlie
recáe sobre coisas immoveis ou immobilizadas, as piimeiia
que tendem a se mobilizar pela colheita, as segundas, que podem
volver ao estado de moveis.

Art. 48. — Consideram-se moveis, para os


effeitos legaes:
I. Os direitos reaes sobre objectos moveis e
as acções correspondentes.
II. Os direitos de obrigações e as acções Je
spectivas.
III. Os direitos de autor.

Direito anterior — Não havia disposição de lei reguland


a matéria. As acções eram consideradas direitos incorporeos, íor
mando uma classe á parte, de bens, ao lado dos moveis e ^
immoveis (lei de 20 de Junho de 1774, §§ 17 e 37; Teixeira 0^
Freitas, Consolidação, art. 42 e nota 1; Carlos de Cakval
Direito civil, arts. 179 e 180).
Legislação comparada — Vejam-se Codigo Civil ^iaUC^0,
art. 529; italiano, 418; portuguez, 376; mexicano, 754 e 755; ^
liviano, 278 e 279; hespanhol, 336; austriaco, 298 e 299; chil60 '
580 e 581; uruguayo, 474 e 475; venezuelano, 510; peruano,
Não ha uniformidade de vista nos codigos citados; 111
também, não se desviam, essencialmente, uns dos outros, 116 1
relR "
do nosso. Pelo direito romano, eram moveis as acções reaes
DOS BENS 277
Vas a 0
s^ bjectos moveis, mas não se dava esse caracter ás pes-
oaes (van Wbtter, Droit civil, p. 66).
Pro
^ctoS — Esboço, arts. 393 e 394; Felicio dos Santos,
' Coelho Rodrigues, 110 e 111; Beviláqua, 65; Revisto, 62.
Blbli<
E >graphia — Theoria geral, § 34; Ribas, Curso, p. 392;
spinola, Systema, I, ps. 394 a 396; Mabtinho Gaecbz, Theoria
§ 71; CoHn:,Ho da Rocha, Inst., § 80; Planiol, Traité, I,
HS- oos a 890; Laurent, Cours, I,
'7 O a 7490; Huc, 7 IV, ns. 77
ns. 487 41
6
T ' ^0LTN et Capitant, Cours, I, ps. 681 a 692; Baudky-Lacan-
Erte et
g^ Chauvbau, Des biens. ns. 123 a 169; Roth, System, I,
5 Dernbur(:i
ot
n a ' " i Panã., I, § 74, II; Windscheid, Pand., II, § 139,
5; Alves Mobeika, Inst., ns. 128 e 129.

,^Setva'bes — 1- — O Codigo Civil destaca tres classes de


aiov 18
ac ~ lncorPoreos: I, Os direitos reaes sobre coisas moveis e as
dog 3 COrrespon(^ent§^' taes como: a propriedade dos moveis ou
fund em0VenteS' 0 Penbor' e as acções, a que esses direitos dão
O arnen^0' Os direitos de obrigações e as acções respectivas.
tecjj C1^0 Pre^er^u denominar direitos de obrigações os que a
se no^0^a costuma designar pelo epitbeto — iiessoaes, de que
, a o Projecto primitivo. Realmente, a palavra pessoaes
r
ovi C0 Prec^sa" (-)ra se aPP^ca aos direitos de credito, jura ad
ioim' 0^a 308 cBre^os intransferíveis, ora aos que são emanações
(le 0[ C\*at:ds c'a Personalidade (vida, liberdade, honra). Direitos
que0 riga eÕeS Sã0 08 direitos de
ons .s credito. III, O direito de autor,
]g.
a u i te na faculdade exclusiva de reproduzir ou autorizar
n a le r uz
ttma
uct0 P o^ ir a obra literária ou artística, por qualquer
(at. 649).
2
Ve
rsia ®obre a natureza do direito autoral ha renhida contro-
reQ-l)n na doutrina, que foi apreciada nas Observações para escla-
ps ^nt0 Codigo Civil brasileiro {Trabalhos da Gamara, I,
a 35, Em defeza, ps. 114 a 126). Resumo o que alli se disse.

iUi{Üma Primeira 0Pinião (Bluntschli, Lange, Dahn, Tobias


Perso ^0^ V^' n0 direito autoral, uma emanação immediata da
vi
dinilalUla(^e' (iUe della se nao desPrende. E' um direito indi-
^ (Gerber, Coelho Rodrigues, Medeiros e Albuquer-
le
duzem-no a um simples privilegio.
278 CODISO CIVIL

Uma terceira opinião considera o direito autoral um aspecto


particular da propriedade (Codigo Civil no Chile, de Portugal,
da Venezuela e da Hespanha).
Quarta opinião: é um direito de nova especie a accrescentar
aos reaes e aos pessoaes, ao qual vae bem a denominação de
intellectual (E. Picaed).
Jhbring dá o seu apoio aos que classificam o direito de
autor como de propriedade, a propriedade intellectual, hue
abrange: o direito de autor, a patente de invenção, a proprie-
dade intellectual das cartas, a das photographias privada, a das
amostras e modelos, a da firma commercial e a dos brazões.
O Codigo Civil brasileiro, denominando esse direito proprie-
dade literária, scientifica e artística, seguiu a mesma doutrina-
Para elle, o direito de autor é um direito real, que se inclue
entre os moveis incorporeos.
O Projecto primitivo preferia deixar, ainda, a questão aberta
para que a doutrina se resolvesse, definitivamente, e, por isso,
absteve-se de dar ao direito autoral a denominação de propri6'
dade. Não é destituida de fundamento a opinião defendida Por
Picaed, e não é de estranhar que a doutrina constitua, no futuro,
essa categoria de direitos intellectuaes, a que elle se refere.

Art. 49. — Os materiaes destinados a al-


guma construcção, emquanto não forem empy6'
gados, conservam a sna qualidade de moveis-
Readquirem essa qualidade os provenientes (Ia
demolição de algum prédio.
Direito anterior — Era principio corrente, com fundamento
no direito romano.
Legislação comparada — D. 19, 1, fr. 17, § 10: ea
parata sunt ut imponantur non sunt eãificii; fr. 18, - 1.°; CodiS0
Civil francez, art. 532; italiano 420; mexicano, 757; argentino,
2.319; venezuelano, 512.
Projectos — Esboço, art. 399; Coelho Rodrigues; 110, § 4- '
Beviláqua, 66; Revisto, 63.
Bibliographia — Theoria geral, § 34; Maetinho GabcEZ,
Theoria geral, § 72; Planiol, Traité, I, n. 859; Baudry-IjAOA^
DOS BENS 279
tineru, et Chativeau, D es Mens n. 122; Huc, Gommentaire, IY
V. Scialoja e Busatti, Dizionario cit., vb. Beni n. 20.

Observações — Veja-se o art. 46.


. materiaes destinados a alguma construcção são, na-
^ lalnieute, coisas moveis. Somente depois de incorporados ao
icio é que se immobilizam, como partes componentes', que
Sao
. delles.
Demolido o prédio, readquirem a qualidade, que lhes é
Própria.
r laves
re '" ain(
aro ' PDares,
portas, que se retiram dos seus logares, para
p ' ia se acham, intencionalmente, ligadas ao prédio.
a cham
a iiiê, que a ventania arranca do telhado, não perde
liz 0 ^mmo ^Dização jurídica. A demolição, que produz a mobi-
U^ ^os materiaes do prédio, deve ser do edifício todo ou de
Uc ao
ou d ^ accessoria. Pouco importa que seja intencional
eV a caso
ai , a ^
que com osfortuito.
^ mesmosNeste caso, anão
materiaes intenção de reconstruir,
lhes empresta o ca-
er de immoveis.
red 2 - ^ n
' ^ Janeiro de 1919, corrigiu a
C 0 es e
aquj ^ ^ ^ artigo, que não destacava bem as duas situações
str Ucsã,^0lls^eradas: a dos materiaes destinados a alguma con-
e °' Porém ainda não empregados, e a dos que já o foram,
^idad16" ÍSS0 mesmo se
'
Cle lmmoveis
immobilizaram, porém perderam a qua-
Dr^i- com a demolição voluntária ou casual do

SECÇÂO III
lias coisas fungíveis e consumiveis

Po T ^^os moveis que


6 não flm iveis 08
stif lTlrí se ^ não podem sub-
r]Q i ~ Pod outros da mesma especie, quali-
ua(1
e e quantidade.

r
'r^a<;onaa,1terior
efer riC Não havia definição legal, mas uma
upc.
eeso ^ Drdt., 4, 53, § 1.°; coisas que consistem em numero,
e medida.
280 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 91; aT'


gentino, 2.324; chileno, 575. O Codigo Civil uruguayo, art. 41^'
e o hespanhol, 337, confundem as coisas fungíveis com as con-
sumiveis. O direito romano conhecia a especie, mas não possuis
a expressão, com que hoje, a designamos. (D. 12, 1, fr. 12, § l-0;
23, 3, fr. 42; 44, 7, fr. 1, § 2.°; e 35, 2, fr. 1, § 7.°).
Projectos — Esboço, arts. 357 a 359; FelicHa dos Santos,
184 e 185; Goelho Rodrigues, 112; Beviláqua, 67; Revisto, 64.
Bibliographia — Theoria geral, § 35; Teixeira de Freitas.
Consolidação, Indrod., ps. LXXII e L.XXITI e nota 1 ao ar-
tigo 477; Espinola, Systema, I, ps. 402 e 403; Breves annotações,
I, ps. 135 e 136; Martinho Garcek, Theoria geral, § 73; PlanioI-,
Traité, I, ns. 786 a 789; Batjdry-Lacanttkerie et Chavbau, Des
biens, n. 18; Aubbt et Rau, Cours, II, § 166; Savignt, Droit
romain, § 268; Mayns, Drtoit romain, § 115; Roth, System, 1»
§ 78; Windscheid, Pand., § 141; Endemann, Lehrbuch, § 56:
Dernbueg, Pand., I, § 75; Kohueb, Lehrbuch, I, § 209; Cst
roni, Ist., § 46; Gianttiroo, Ist., § 42; Sanchez Romaw, Derecho
civil, II, ps. 495 e 496 e 513; V. Scialoja e Busati, Dizionario
dei ãir. privato, Beni, 4, b; Bonfante, Istituzioni, § 78. R-
Salvat, op. cit. ns. 1.444 a 1.447.
Coelho da Rocha, Inst., § 81; Ribas, Curso, ps. 410 a 412, e
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 188, como outros, não
estabelecem a differença entre a fungibilidade e a consumibilidade.

Observação — A fungibilidade, segundo o Codigo Civil, o


uma qualidade particular dos moveis, porque nelles é que pode,
justamente, apreciar-se a equivalência dos substitutos. São as
res quce in gênero suo funccionem recipiunt per solutionem
(D. 12, 1, fr. 2, § 1.°), ou quce pondere, numero mensurave cons-
tant (D. 44, 7, 1, § 2.°).
Ensinaram alguns escriptores, que a fungibilidade dependia
da vontade das partes. Mas assim não é. As coisas, que não se
determinam por numero, peso, medida, não podem, por uma
clausula contractual, adquirir essa qualidade. A fungibilidade
é uma idéa de relação, é o resultado da comparação entre duas
coisas, que se consideram equivalentes, como o dinheiro (cem,
mil réis = cem mil réis), os cereaes, (um kilo de arroz = dm
kilo de arroz, da mesma qualidade), os liquides (um litro de
vinho — um litro de vinho de marca egual). O que pode a con-
DOS BENS 281

que^0 ^ tornar infungiveis, coisas naturalmente fungíveis, desde


em ln( ^v^ua
specie. ^ze coisas,
Assim, alguém que ordinariamente,
empresta uma garrafasede determinam,
vinlio, para
e
sei restituida a mesma.
^n^uns^ve^s'
sao as
l116 não se substituem na so-
^ ' ' individualizadas, consistentes em corpo certo. Os
taJ1110 ^6^8 sempre
cidade,
ass m
i osesitio,
a fezenda, consideram:
o terreno,o prédio numero precisa-
cuja situação tal em
mente se designa.
^ ^ 'i0 fungibilidade repousam muitas relações juri-
fu ^ ^ inu^Uo 1-256 a 1.264) é o empréstimo de coisas
de ^1Ve^S' 0 conamodato (arts. 1.248 a 1.255) é o empréstimo
gados1SaS lnfungiveis- Na compra e venda, na doação, nos le-
inf ^ aS C0^sas se aPresentam, orá' como fungíveis, ora como
tid a re8.^ou
618 se§undo se
'individualizadas.
consideram em especie, qualidade e quan-

. • 51- — São consumiveis os bens moveis,


.]o uso importa destruição immediata da pro-
la
substancia, sendo, também, considerados
es 08
destinados á alienação.

mano 'le^0 anteidor


— Tínhamos a noção dada pelo direito ro-

sum egÍSlaç50 comparada —- Inst., 2, 4, § 2.°; quoe usu con-


ij.,
mo, 2.325. Codigo Civil allemão, 92; austriaco, 301; argen-

184- Be0^ec^os " Eshoço, arts. 354 e 355; Felicio dos Santos,
' vilaqua, 68; Revisto, 65.
gjriag Wiographia - Theoria geral, § 35, II; Em ãefeza, pa-
G-AK(Fya Espxkola, S.ystema, I, ps. 404 e 405; Maetiniio
The0ria eral 74
^APaiív LACANTINERIE& et ' §Cha 1üveaü
Planiol, Traité, I, ns. 788 e 789;
, D es Uens, n. 17; Coãe Civil
Vvstenr'1' a0 art 92 Aubry et Rau
' ' ' Cours, II, § 166 Roth,
§56. '^ ^ § 76: Windscheid, II, § 140; Endemann, Lehrbuch, I,
Ist., \ 42HLEB' 8ciAr
Lehrl)UG}l
> § 203; Chxroni, Ist., I, § 46; Giantueco,
vj, Ren' ' ^' '0'IA e Pcjsatti, Dizionario dei diritto privato,
Cií „08ni' 11 ■ 4- 07 Bonfante, Istituzioni, § 78; R. Salvat, op.
■' • 148 a 152.
282 CODTGO CIVIL

Observação — O uso, de que fala o artigo, ê o normal, a


que se destina a coisa, e não o uso arbitrário, como se algu6111
põe ao fogo os seus moveis.
A distincção funda-se numa consideração economico-juridica.
Ha coisas que se destinam ao simples uso, outras ao consumo do
homem. Das primeiras tiramos as utilidades, sem lhes destruir
a substancia; as segundas destróem-se, immediatamente, á me-
dida que se utilizam, ou applicam.
As coisas consumiveis ou o são de facto, naturalmente, como
os generos alimentares, ou, juridicamente, como o dinheiro e as
coisas destinadas á alienação. O livro, como pelo uso normal
se não destróe, immediatamente, é coisa naturalmente incom
sumivel, mas nas lojas dos livreiros é consumivel, porque o 8eU
uso normal, ahi, importa em fazel-o desapparecer do acervo
mercantil, a que pertence.

SECÇÃO IV

Das coisas divlsiveis e indivisíveis

Art. 52. — Coisas divisiveis são as que se


podem partir em porções reaes e distinctas, for-
mando cada qual um todo perfeito.

Direito anterior — Noção corrente {Ord., 4, 96, § 5.°; CabíoS


de Carvalho, Direito civil, art. 187).
Ijegislação comparada — D. 30, fr. 26, § 2.°: res Quoe s^rie
damno dividi possunt; 6, 1, fr. 35, § 3.°: sine iteritu dividi PoS'
sunt; Codigo Civil argentino, art. 2.326.
Projectos — Esboço, art. 363 a 375; Beviláqua, 69; R6'
visto, 66.
Bibliographia — Theoria geral, § 36; Espinola, Systemd, D
ps. 405 a 408; Breves annotações, I, ps. 138 a 149; Ribas, Cur#0'
ps. 398 a 400; Martinho Gahcez, Theoria geral, § 75; RotH, SV8'
tem, I, § 77; Aubey et Raxj, Cours, II, § 167; Endemann, L^ir'
buch, § 53; Deknburg, Pand., § 76; Windscheid, Pand., II, §
Mayns, Droit romain, § 116; Chironi, Ist., I, § 46; V. SciAroJ-4-
DOS BENS 283

/V^USATTI' Dizion^rio dei dir. privato, vb. Beni, 4, h; Giantürco,


' •' § 42, 6; Boneante, Istituzioni, § 78; R. Salvat, op. cit.,
I!s
- a 1.455.

^sei vações 1. — a definição do Codigo ajusta-se bem


a r01-93.8 COrporeas- E' a divisão real ou material. Ha, também,
cor Poreas como ás011 incorporeas
intellectual,(direitos
que pode applicai'-se ás coisas
e obrigações).
Uni ^ divisão jurídica suppõe que cada parte da divisão constitue
^ odo, reproduzindo o inteiro dividido, como: um terreno, que
em 0 e
fa C1 ment ^ t s; as coisas, que se pesam, ou medem, as quaes,
e, se dividem, a peso ou medida.
e ^ áivisibilidade ou indivisibilidade das coisas entra
•consideração em muitas relações de direito,
a de^0 COn<iominio (arts. 623 e seguintes), a indivisão tende
divis~a^aieCer' 86 a C0^sa commum fòr indivisível, ou, pela
um1?080 86 t0rnar im ro ria ao
' C011 P P seu destino, será adjudicada a
sortes ou vendida, e partilhado o preço (art. 632).
divi^8 Serv^ões Puediaes são indivisíveis (art. 707), como in-
div.S!Vel bambem é a hypotheca (art. 707). As obrigações são
siveis ou indivisíveis, segundo a natureza da prestação (ar-
tlg0s
889 a 895).
Es
0ll . " inimoveis, que constituem uma unidade econômica
1C Ustr a 6 116
de .) ^ ^ ^ 'l perdem a sua entidade e o seu valor, quando
ge 1 egra(4os, como uma fabrica, são coisas indivisíveis. Não
certo (*em Part^r sem ^ustruição ou sem damno. São-no, também,
c
iosa 1Tlove^s' como: um quadro, um cavallo, uma pedra pre-
4
Ser '."~ As coisas indivisíveis ou ainda não divididas podem
não Jec'0s um
direito commum a diversas pessoas. As casas
íIev lam cons
que ^e .a . a iderar divisiveis por planos horizontaes1, ainda
5 ^ '' divisão dó uso dellas por andares. O dec. n.
Parcial^6 ^ <4e ^un^10 4928, entretanto, permitte a alienação
( 0S edÍfÍCÍ0S ma s < e
apai?uuiento
^ ^ 4 autonoma.
uma propriedade ciuco andares, constituindo cada

Art. 53. — 8ão indivisíveis:

ten.a ~ ^ens? d116 s® não podem partir, sem al-


Çao na sua substancia.
284 CODIGO CIVIL

II. Os que, embora naturalmente clivisiveis,


se consideram indivisíveis por lei ou vontade das
partes.

Direito anterior •— Noção corrente (Orei., 4, 96, § 5.°; Cablos


de Carvalho, Direito civil, art. 187).
Legislação comparada — Veja-se o artigo antecedente.
Projectos — Esboço, arts. 363 e 364; Beviláqua, 70; Re'
visto, 67.
Bibliographia — A do artigo antecendente.

Observação — A definição do art. 53, I, do Codigo, deve


ser entendida com certa amplitude, considerando a substancia
no sentido proprio, como, ainda, no sentido economico, segundo
as observações feitas em referencia ao art. 52.
O Projecto primitivo, depois de ter dado a noção da ind1
visibilidade, pela antithese com a divisibilidade, dizia no ar-
tigo 70; "São indivisíveis: 1.°, os bens cujo funccionamento de-
termine uma considerável diminuição de seu valor". Esse mesmo
pensamento foi traduzido pelo Projecto revisto, art. 27, nas
palavras seguintes: "Os bens que não se podem partir sexn
damno". Substituindo essas fórmulas pela que se lê no art. 53,
o Codigo deve ser entendido com certa largueza, para não abran-
ger somente indivisibilidade material (I), e a que fôr estabe
lecida por lei, ou pela vontade das partes (II).
Veja-se o commentario do art. 52.

SECÇÃO V

Das coisas singulares e collectivas

Art. 54. — As coisas simples ou compostas,


materiaes ou immateriaes, são singulares ou col-
lectivas :
I. Singulares, quando, embora, reunidas, se
consideram de per si, independentemente das
demais.
DOS BENS 285

II. Collectiyas, ou universaes, quando se en-


caram aggregadas em todo.

Uireito anterior — Não havia disposição legal, mas a noção


eia C01
ihecida (Ord., 4, 83; 4; Cod. Commercial, arts. 292 e 350;
Cablos db Carvalho, Dir. Civil, arts. 191 e 192).
^ Legislação comparada — Inst., 2, 20, § 18; D. 6, I, fr. 1,
00
- , fr. 2; fr. 3, pr., e fr. 25; 41, 3, fr. 30, pr.; 44, 2, fr. 21,
L0» Codigo Civil austriaco, art. 302. O Codigo Civil allemão
üao con
sidera as universidades de direito (Yermoegensganze)
ileiíl a
coisas (Sachgcsammetheit).
Lrojectos — Esboço, arts. 360 a 362; Revisto, 68.
Uibliographla — Theoria geral, § 37; Ribas, Curso, pa-
S:illas
a 398; Mabtinho Gaecez, Theoria geral, 132; Es-
lp-0LA' ®ystema' I» PS. 409 a 412; Breves annotações, I, ps. 141 a
' Coelho da Rocha, Inst., § 81, escholio; Baudry-Lacanti-
et Chahveau, Des biens, n. 20; Roth, System, I, § 80;
Cüq) inst% juridiques des romains, II, 183; Giraud, Manuel
c droit romain, 5.a ed., ps. 247 e 248; Windschhid, Panã., II,
137 e 138f e a extensa nota (&) de Fadda e Bensa, ps. 433
512, Endemann, Lehrbuch, §§ 50, 2, e 52; Dernbubg, Pand., I,
^ Kohler, Lehrbuch, I, §§ 221 e 214; Chironi, Ist., I, § 15;
KEUt^ClALOJA 6
■^Ü8ATTI' Jüizwnario, vb. Beni, 4, e; Alves Mo-
I, n. 136; Cazbllbs, De la continuation de la yer-
nne p
, aris, 1905, ps. 378 a 390.

iatei^861^^"68 — — Esta distincção de coisas havia sido,


Cl011a lrien e
intei ^ l ' afastada do Projecto primitivo, por falta de
rerig68^ Pratico' e por seu caracter artificial; mas a Commissão
(4cíasra ^overno' Peasando diversamente, resolveu destacal-a
Veü^ 0 ' 52). Além disso, a doutrina é indecisa a respeito, ha-
obscuridades ainda não inteiramente desfeitas.
U0 ~~ Coisas simples são, em direito, as que formam um todo
Ql0g6nor.0 cu
•U. U-lHr) T» ' Jas partes, ligadas pela natureza, ou pela arte
neu uma
thu ' ^ determinação especial reclamam da lei, como;
eadeiCaVa110' Uma planta Ilum vaso' uma esmeralda solta, uma
iüd alla " ^omP0stas sao as hue se formam de partes ligadas pela
humana, eos diontingentibus, hoc est pluribus inter se
286 CODIQO CIVIL

coliaerentiliiis constant, como: um edifício, onde ha paredes,


traves, portas, quadros, jardins; um navio, onde ha o casco, os
apparelhos e mais accessorios. Nestas, o direito distingue, para
certos effeitos, o essencial do accessorio, a parte do todo.
Goisas singulares são as que se consideram de per si, ^
sua individualidade. Podem ser simples ou compostas. Podem
achar-se reunidas, ou separadas.
Coisas collectivas {universitates rerum) são as que, sendo
compostas de varias coisas singulares, se consideram em con-
juncto, formando um todo economico (ea: ãista/ntihus constant)>
e designando-se por um nome generico (uni nomini subjecta) •
Distinguem-se em universidades de facto, que são aggregados de
coisas corporeas, como um rebanho, uma loja, uma bibliotheca,
e universidades de direito, unidades abstractas de coisas e di-
reitos, como o patrimônio, a herança, o dóte, os pecúlios.
Fadda e Bensa acham arbitraria está"'distincção (nota ci-
tada, ns. 4 a 6).
As coisas são, ordinariamente, singulares. Somente por de-
terminação da lei ou pela vontade das partes é que se consideram
collectivas.

Art. 55. — Nas coisas collectivas, em des-


apparecendo todos os individuos menos um, se
tem por extincta a collectividade.

Direito anterior — Não havia disposição de lei consagrando


esta regra, que, todavia, era acceita pelo subsidio do direito r0'
mano.
liegislação comparada — Também não a consagram QS Có-
digos consultados nestes commentarios. Para o direito romano
vejam-se: Inst., 2, 20, §§ 18 e 19; D. 30, 1.°, pr., 21, 22 e 65, § 2-0-
Projectos — Revisto, art. 69.
Bibliographia —• Theoria geral, § 37; Ribas, Curso, ps. 396
e 397; Fadda e Bensa, nota (6) a Windscheid, Pand., II, ns. 8 e
seguintes; Deenbubg, Pand., I, § 68.

Observações — 1.° — Os dois cânones fundamentaes da


theoria da collectividade são os expressos nos arts. 55 e 56 do
DOS BENS 287

subsft CÍXÍ1" 11610 primeiro (art- 55), se diz que a collectividade


Co
nstite' ■emciUailto Per(iura, ao menos, um dos seus elementos
a
PPa U^1V0S" ^ ^eSado de um edifício, por exemplo, não des-
0
sólo^ P01 &e ter ^nceu^iaí^0 a construcção, pois que subsistem
incendi S0'51e 0 <^Ual se erêu^a 0 edifício e as coisas salvas do
con f10' A7ea autem extet, sicut conterá ex qnihus oeãificium
pn-Mp NI ^ (D. 46, 3, fr. 98, § 8.°). Veja-se, também,
O o. (D. 30, 1, fr. 22).
1VeiSamente
com Prebende, como' tudo quantodaaccresce
os fructos herançaá ouuniversidade,
do dóte. nella se

adverb"~~ ^ 161 n 3'725' de 15 de Janeiro de tSIS. eliminou o


^ePoia10 S0' <^Ue, na Pr^me^ra echÇão do Codigo, se encontrava
divid8 es^menos
^alavra
um,eeüectivas:
se tem porsó extincta
em desapparecendo todos os in-
a collectividade.

CONSELHO RlG1>NAL DO TRABALHO


liTREGIÃO

56 co ec vi( a(
ao * ' — ^ ^ i ie, fica snbrogado
Hidividuo o respectivo valor e vice-versa.

re:Íto an
caeno
ifUe "
s Parciaes. terior Havia o subsidio da doutrina, com appli-
^yojectos — Revisto, art. 70.
ao ra
« Phia — Theoria geral, § 37; Ribas, Curso, p. 397;
Ka!RETRA
Theori Seral, §' Ementas
79; Faddae eeviendas,
Bensa, p.
nota46;(b),
Martinho
ns. 51 Gaecez,
e 52, a
CHET Pand
D ' -y H, ps. 499 a 504; Kohlek, Lehrbuch, I, § 214.

Crea
São (jVa6oes A
regra consignada neste artigo é
a 9l0ssa: Et nota hÍG
iwoa esí > Quod pretium succeãit loco rei,
>es
succ S^ec''a^e petitione hereditatis. E, reciprocamente:
s
hbroga ^ocum Pretw- Bartolo, porém, ensinava que essa
in un^ 0 s^Inente nos juízos universaes se verificava (solum
^0r al saEbus judiciis pretium succeãit rei), lição seguida
"^■a8se ^ mS ■'ur^sconsultos rnodernos e combatida por outros.
bate£a ^^eembritch, Meklin, Bianchi e MACKEr.DEY com-
do-a h a ^UHRY et Rau defendem-na. Padda e Bensa, afastan-
V6rsaijcja(j lnarn <^Ue a subrogação real não apparece nas uni-
Stru
cção 68oisJur ^dicas, como
piincipios simples ora
importantes, conseqüência
unidos, ora dessa con-
separados,
288 CODIGO CIVIL

influem para esse resultado: o do enriquecimento illicito e o da


fungibilidade.
Applicações do principio do art. 56 encontram-se: em iiia
teria de dote (art. 293, paragrapho único); e nos direitos reaeS
de garantia (art. 762, IV).
2. _ Vieira Ferreira, com razão, propoz a suppressão deste
artigo, porque, sendo uma generalização imprudente, poderá con-
duzir a conseqüências juridicamente falsas.

Art. 57. — O patrimônio e a herança con-


stituem coisas universaes, ou universalidades,
e como taes subsistem, embora não constem de
objectos materiaes.
Direito anterior — Era principio ensinado pela doutrina.
Legislação comparada — D. 5, 3, frs. 13, § 8.° e 20, §
6, 1, fr. 1, pr.; 50, 16, fr. 208; Bonorum appellatio, sicnt here'
ditatis, universitarem quamãam ac jus successionis
* et mon sii^
guias res demonstrai.
Projectos — Revisto, art. 71.
Bibliographia — Vejam-se os arts. 54 a 56, e ainda; Theoi i'1
geral, § 29; E. Dbamard, G, May, Grande encyclopédie, vb. Pa'
trimoine; Planiol, Traité, I, n. 747; Fadda e Beusa, nota (^
ás Pand., de WuííDSCHEin, II, ps. 666 a 679; Raoul de la GbaS
serie, Glassification scientifique du droit, ps. 26 a 30, 54 e 6í
69; R. Dbmogue, Notions fondamentales du droit prwé, ps. ^
404; Geny, Méthode dHnterprétation, ns. 66 e 67; Cazbixes, De
eontinuaVMm de la personne, ps. 366 a 405; Conm et Capita^1'
Cours, I, ps. 693 a 696.

Observações — 1. — Patrimônio é o complexo das


jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor economioo. - e
se compreliendem os direitos privados economicamente 'lP
ciaveis (elementos activos) e as dividas (elementos passivos)-
Para o Codigo Civil, o patrimônio é uma universida-
de direito. ^
Em regra, cada pessoa tem um patrimônio e não mais-
tretanto, em certos casos, o direito permitte a divisão delle, Paia
DOS BENS 289

de iazei a necessidades de ordem pratica. Assim é nos casos


^saccessão do ausente (arts. 473 e 483), de acceitação da he-
que^tPel0S herdeiros do renunciante (art. 1.586), e quando ha
No01611'161" ^ encargos da herança acceita (art. 1.587).
0 c diieito commercial, separam-se os patrimônios, quando
® do^11161 C^an^e' deciarado em fallencia por tribunal ^estrangeiro,
0 de est a elecimento
Paraq
J (lei. n. ' 5.746,
a 0 ^ de 9 'deQue exista no
Dezembro de Brasil, distincto
1920, arts. e se-
161 e 162).
08 escril)t0res
Moouk "modernos, Bkuns, Kohxeb, Genz, De-
v ( AZKIjLES nao
ersal' 1)01
" em ' consideram o patrimônio como coisa uni-
0 ' ' simplesmente, como uma expressão que designa
0
bstant>aiUeU^0 <^OS d^oltos e obrigações do indivíduo. Mas, não
Pi'oca^ 6itieCOmo 0 Jserva
esses 'diversosKohleu, produz-se
elementos, uma attracção
e constitue-se reci-
uma unidade.
In
^'o cluem-se no patrimônio:
4.0 ^ P0886; 2.° Os direitos reaes; 3.° Os obrigacionaes;
coiM.0 Ieía(<'des econômicas do direito da família; 5.® As acções
""«Pondentes a easea direitoa.
^ xcluem-se do patrimônio:
dade- 2^ difeitos individuaes á existência, á honra e á liber-
d® aut "• 08 (iireitos
^(nidcide entre paePessoae s entre
e filho; os políticos.
4.® Os cônjuges; 3.® Os direitos
0 < 0
heran t ~' d^0 Civil, no art. 57, que o patrimônio e a
Sa0 < 0isas imiversa
Qbjectos lna ei ( a es, ainda quando não constem de
Podeill ^ i es. Quer isto dizer que o patrimônio e a herança
porea&, COns^ai somente de direitos e obrigações, coisas incor-
dhiversaes 11810 0bstante' consei,vam a sua qualidade de coisas
^ Uma
^hiploT"e coisa nOSao uramente
universal Pdado no começo
doutrinaria, accrescida ao
do artigo.

CAPITULO II
Dos
bens reciprocamente considerados

Sobre ^ — Principal é a coisa, que existe


aqUepS1' a'JSiracta ou concretamente. Accessoria,
Codilga eU a
Civ ^ ^oncia suppõe a da principal.
O il —- 1.0 y0l. 19
2f)0 COMGO CIVII.

Direito anterior — Não liavia definição legal. V. Cabí-OS


de Carvalho, D ir. civil, ax't. 182.
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, arts. 2.327
e 2.328; austriaco, 294; allemão, 97. Este ultimo Codigo dis-
tingue entre accessorio e parte integrante, cuja definição, se
encontra no art. 93.
Frojectos — Eshoço, arts. 368 a 371; Felicio dos Santos,
186; Coellúo- Rodrigues, 88; Beviláqua, 71; Revisto, 72.
Bibliographia — Theoria geral, § 38; Espinola, Systevia,
ps. 412 e 413; Breves annotações, I, ps. 147 a 154; Rjbas, Curso,
ps. 400 a 410; Martinho Garcez, Theoria geral, § 81; Coelho
Rocha, Inst., § 82; Baudry-Lacantenerie et Chauveau, Des biens,
n. 19; Roth, System, I, § 81; Windscheid, Pand., II, §§ 142 a 1^'
Dernburg, Pand., I, § 77; Endkmann, Lehrhuch, § 54; MavnS,
Droit romain, § 118; Chxroni, Ist., I, § 53; Coãe Civil alleniand,
publié par le Comitê de lég. étr., notas ao art. 97; Alves M0'
keira, Inst., I, n. 134; R, Salvat, op. cit., ns. 1.456 e segs..

Observação — As definições são sufficientemente clai'aS'


dispensam elucidações. Os arts. 60, 61 e 62 indicam diversas eS
pecies de accessorios: os fructos, os productos orgânicos do soãL
os mineraes, as obras adherentes ao sólo, as bemfeitorias. Sao»
também, accessorios certos direitos, cuja existência presuppõ® a
de outro, como a servidão, a hypotheca e, em geral, os ônus reaes-
Entre as obrigações accessorias, destacam-se a clausula penal, a®
estipulações de juros e de arrhas.

Art. 59, — Salvo disposição especial em com


trario, a coisa accessoria segue a principal.

Direito anterior — Era principio corrente.


Legislação comparada — D. 34, 2, fr. 19, § 13: accessio coda
principali.
Frojectos — Esboço, art. 368; Felicio dos Santos, 188; Coetb"
Rodrigues, 89; Beviláqua, 72; Revisto, 73.
Bibliographia — A do artigo antecedente.
nos bens ' 291

bSeiVação Este é 0 cail


apr. ac,
^cessão. Sienifina- i o ^ o]a fundamental da theoria da
emA otíu
o0„ ClGStinn
, ca.
9 o n 6 0 acces&orio assu acompanha o principal
i. Que o accessono
cipai p( . nie a natureza do prin-
Col J1 eXemplo: 0 move1
locado ' due adliere ao immovel ou uelle é
Ua-se inn 1)Clla COluple^ar"^le a entidade economico-juridica, tor-
ta
mbem ^0Ve^ 0'<' <^ue 0 ProPrietario do principal, em regra, o ô
dos fruet 0 aC(essorÍ0, Exemplo; o proprietário do solo é dono
Psofruç8 Penclentes ' se a entrem não foi conferido o direito
donnu udorUCto " As
terreno. niinas encontradas num terreno pertencem ao

cação do XÍa' a leÍ 011 a vontacle clas Partes pôde afastar a appli-
0
Ude ella P1^nC^^0' m nas er
^ P tencem ao proprietário da terra,
A 8 Se aC am mas 0(
consti' - ^ ' P tem ser objecto de direito de outrem.
ya0 6 3 lAaiAa a
terreno a outrem, como no Scaso
o Podem pertencer a um dono e o
de emphyteuse.

1
cessor'la ' 08 ^lltram na classe das coisas ac-
s fructos, productos e rendimentos.
ilnterior
Dir
~ Era principio reconhecido (Carlos de
- civil, arts. 183 e 184).
jectott EI 7
Feiic^ 'r, Esboço arts. 371 a 375; CoelJio Rodrigues, 89;
189 a 192; Bevila< ua 73
^iblio!. i ' Revisto, 74.
^ heoria a ** ~ Theoiia geral, § 39; Mabtikho Gakcez,
direito rin'. ■§ 83' C0KLH0 DA rociia, Inst., § 83; Lafayette,
aut
f0lSas
ores ou ados § 99
na' bibliographia
' Dernbuko, Rand.,
do art. 58. I, § 68; e, ainda, os

Observações 1 r?
^eriodicavi ' 0 uz Fvuctos são as utilidades, que a coisa,
ruc
nasci solei ^ ^ ' R tus est quidquid ex re nasci et re-
Pital. ^ao as r^(iuezas, normalmente, produzidas pelo ca-

Proprio d 6 ncauraes, quando resultam do desenvolvimento


ditervençdo ^01^í as .01or0^anRa da coisa; industriaes, se devidos á
Sao
rendi " ^ ^ humano sobre a natureza; e civis, quando
0 eil
Utrem tos tirados da utilização da coisa frugifera, por
toros asqc,^ 6 11110 0 ProPrtetario, como: os juros, os alugueis, os
' rendas.
292 CODIGO CIVIL

Quanto ao seu estado são: pendentes, emquanto unidos a


coisa que os produziu; percebidos (os civis e industriaes), oU
colhidos (os naturaes), depois de separados; estantes, se, depois
de separados, ainda existem; percipiendos, os que deviam ser
mas não foram colhidos; e consumidos, os que já foram uti
zados pelo possuidor. Por não mais existirem, os consumidos,
claramente se vê, não entram na classe das coisas accessorias-
Desappareceram ou transformaram-se.
Estas distincções têm interesse em matéria de posse al
tigos 510 e 513) e usofructo (arts. 721 e 723).
2. — Prlojdwcíos são as utilidades, que se retiram da coisa,
diminuinão-lhe a quantidade, porque se não reproduzem, penod^
camente. As pedras e os metaes, que se extraem das pedieiias
das minas, são productos. a
Os productos, quando são utilidades provenientes de um c
pitai posto em actividade econômica, são fructos, pois são rl
quezas por elle produzidas.
Todavia a differença entre fructo e producto não desapP*
rece, porque nem sempre os productos serão o resultado da expl
ração da coisa.
3, — o Codigo destaca, ainda, os rendimentos depois
fructos e productos. Não ha, porém, uma idéa nova traduzida P ^
essa palavra. Rendimentos são os fructos civis, segundo já flC^
definido. A intenção da lei foi tornar certo que accessorios ua
são somente os fructos naturaes e os industriaes, são-no, égua
mente, os civis, ou rendimentos dos capitães.
O Projecto primitivo não mencionava os rendimentos, P
estarem incluidos nos fructos. Foi a Commissão do governo, QM
entendeu ser necessário esse accrescimo {Actae, p. 63), para ^
maior fixidez aos principies, senão para accommodar a tec
logia juridica á linguagem commum.

Art. 61. — São accessorios do sólo: .


I. Os productos orgânicos da superfici6-
II. Os mineraes contidos no subsolo.
III. As obras de adberencia permaneüt >
feitas acima ou abaixo da superficie.
Direito anterior — Conforme (Carlos de Carvalho, ^
reit\o civil, art. 183).
DOS BENS 293

a
lio.fectos — Esboço, avt. 376; Coelho Rodrigues, 90; Bevi-
gua, 74; Revisto, 75.
Bibl
e _ iograpbia — A do art. 58. Aããe: Theoria geral, § 46,
axoqebas, As minas do Brasil, 3 vols., 1904-1905.

_ ^servações — l. — a enumeração dos accessorios do solo


0rnp eta nest
a g^ ^ ' e artigo, segundo se pode vêr dos arts. 536
' Parte Especial, onde se expõe a theoria geral da
Cessão em referencia aos immoveis.
Tani
0
^em não se destacou o espaço aereo, como fizera o
jecto primitivo, e já o declarara o art. 43.
" Productos orgânicos da superfície do solo são os ve-
__ e animaes, que ahi se encontram. A palavra producto
e aqui en
art. 6o > e, sim, no ipregada no seu sentido technico e restricto do
sentido commum de coisa gerada ou produzida.
^ A lei n. 4.265, de 15 de Janeiro de 1921, definira o que
milla as
0u u - cassas mineraes ou fosseis existentes no interior
a superfície da terra, as jazidas de metaes, combustíveis,
i3
. etc., existentes na superfície e interior da terra, ex-
v
eis com vantagem econômica (art. 2.°). Yeja-se o vol. III,
s 3
- ao art. 526.
1 895^OJ"e' porem' esta Matéria está regulada pelo decreto-lei n.
< e Jane ro
de iq ^ ^ 1940, que revogou o Codigo de, Minas
fei. ' e todos os decretos e mais disposições anteriores, re-
«les ao mesmo objecto.

íazida 6886 0 novo Go^9o de Minas. Define os direitos sobre


regm 8 6 mluas, estabelece o regimen do seu aproveitamento e
(art i oa ^n^ervenÇã0 do Estado na industria de mineração,

lonte ^ l0da massa de substancia mineral, ou fóssil, exis-


v 110 n er or ou na
alor ^ ^ ^ superfície da terra e que apresente
a n
lavra l dastria; mina é a jazida em lavra, entendido por
trjai de COn"'llnc^0 (le 0Perações necessárias á extracção0 indus-
^ substancias mineraes ou fosseis da jazida (art. I. , § 1.°).
A pj. Jaz^a d bem immovel, distincto e não integrante do solo.
do dir^^^^6 Cla sul)erflcie abrange a do subsolo, na forma
1 0 Comrnum n
ttdiier
^ais ou fosseis' úteis
ão incluída, porem,(art.
á industria nesta4).a das substancias
0
regi81611
a dÍSposÍ6a re
o Civil,
do Codigo sulta que a jazidadonão
accessorio é mais,
solo. como sob
E' objecto de
294. CODIGO CIVIL

direito, destacada do solo onde se encontra. E assim também a


mina que é a jazida em aproveitamento.

Art. 62. — Também se consideram acces-


sorios da coisa todas as bemfeitorias, qualquer
que seja o seu valor, excepto:
I. A pintura em relação á tela.
II. A escultura em relação á matéria
prima.
III. A escriptura e outro qualquer trabalho
grapbico, em relação á matéria prima que os re-
cebe (art. 611) .

Direito anterior — Eram acceitos os princípios consignados


no artigo, mas a lei era lacunosa. (Vejam-se os Orãs., 3, 86' 5'
4, 97, § 22, ultima parte; o reg. n. 737, de 25 de Novembro de l850,
arts. 584 e 621; Teixeira de Freitas, ConsdUãação, art. 663)-
Legislação comparada — Inst., 2, 1, §§ 33 e 34; D. 41. ^
§ 9.°. Referem-se estes trechos á pintura e á escripta; mas esta
ultima era considerada accessorio: literce quoque, Ucet
sint, perinãe chartis memhr anis que ceãunt. Codigo Civil france2-
arts. 567 a 571, argentino, 2.335; allemão, 950, que considera
a escripta, a gravura, o desenho, a pintura, a impressão, casos de
especificação, como também os considera o Codigo Civil patn0-
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 91; Beviláqua, 75;
visto, 76.
Bibliographia — Theoria geral, § 40; Coelho da Rocii-^-
lyist., § 84; Lafaybttb, Dir. das coisas, § 40; Planiod, Traito, I'
• ^20»
ns. 1.171 e 1.172; Lacerda de Almeida, Direito das coisas, 8

Observações — 1. — Bemfeitorias são as obras, ou ãespesas'


que se fazem num movei, ou num immovel, de outrem para oou
serval-o, melhoral-o ou, simplesmente, emtellezal-o...
As bemfeitorias são accessões industriaes da coisa ou
pezas feitas com ella. Mas nem todas as obras feitas em UIlia
coisa entram na classe das bemfeitorias. São-no as obras Para
DOB BENS 295
o^nservação, melhoramento ou recreio individual. Obras num
^ ec o movei, que produzem especie nova (art. 611) não são

class6' 01ÍaS' ■^s construcÇões e as plantações não entram na


dust;86laeC^aS ar
^eni^e^or^as ProPrianiente ditas. São accessões in-
^ ( t. 61, I e III) que obedecem a regras particulares
c
^ 6já existentes
onst Uicções ^ao e^Mtorias, porém,dastrabalhos
o beneficiamento sobre
plantações.
f) As
par " bemfeitorias podem consistir em méras despezas
e COnserva ao ou
xtei mi mente.^ As fontes
melhoramento da coisa, oque
latinas davam-lhe não de
nome appareçam
impensoe
(4 ' ' ^ ^•0)'exi)ressao
0
Codigo due também art.
Commercial, empregaram as Ordenações
97, e muitos dos nossos
distas.
. •a O valor das bemfeitorias, antes do Codigo Civil, detei--
^ va-se pelo accrescimo de utilidade ou de valor, que davam
oisa, e não pelo custo dellas, a quem as fizesse (reg. n. 737,
art. sri-v q i
re 11
alu ' melhoramentos introduzidos na coisa, devem,
611 Ser aí)recia( os
zidos^ ^' ^ Pelas vantagens ou incrementos tra-
■bais' 6 C1Ue ^0^em aumentar o capital po proprietário, ou tornar
lhor COnimo<^a a sua utilização. Por motivos diversos, um me-
um amento secundario pode ter cu«tado quantia maior, do que
fceceiUlelll01ament0 l e maaor rov
^ P eito, como, também, pode acon-
gjn ^Ue ãrandes gastos sejam feitos em pura perda, ou para
^aculf68 S0ZO I)essoal (ío
P^suidor. Todavia, o Codigo (art. 519)
teria a6 30 re
^n(^cante
0 Seu cus
optar entre o valor actual da bemfei-
p-rw m to. Não se indemnizam bemfeitorias, que não
mais (art. 518).
4. — A
'■>all ' Pmtura, a esculptura, a escripta e, em geral os tra-
de i]le ^^^tricos transformam a coisa, a que se applicam, além
Para 6 âarem valor incomparavelmente superior. A tela é feita
O papei'6^61 a p^ntura- Nã0 pôde ser considerada coisa principal.
a
imp 6 tâbrieado para receber a escripta, o desenho, a gravura,
traduz eSSa0' ^ desenvolvimento das necessidades' sociaes, que se
mina em 1)6151 escril)ta e pelas artes graphicas, em geral, deter-
Prinia, auSmento da producção do papel e das outras matérias
da ' 51116 as artes graphicas utilizam. A estatua é uma creação
Ull)tUra (llle tem uma s
duarT ' lsnificação superior, uma indivi-
biem 30do6 bloco
I)lopi a na
tde mármore.
vida civilizada. Não é um simples melhora-
296 CODIGO CIVIL

Art. 63. — As bemfeitorias podem ser vo-


luptuarias, úteis ou necessárias.
§ 1.° São voluptuarias as de méro deleite ou
recreio, que não augmentam o uso habitual tia
coisa, ainda que a tornem mais agradavel, ou
sejam de elevado valor.
§ 2.° São úteis as que augmentam, ou faci-
litam, o uso da coisa.
§ 3.° São necessárias as que têm por fim con-
servar a coisa ou evitar que se deteriore.
Direito anterior — Havia a distincção das tres classes de
bemfeitorias, mas não a definição legal dellas (Orã., 4, 54, § 1- '
reg. n. 737, de 25 de Novembro de 1850, art. 584; Tbxxeiba d15
Fbeitas, Consolidação, art. 663; Caelos de Cakvalho, Direito
civil, art. 186).
Legislação comparada — D. 50, 16, fr. 79; Codigo Civil
portuguez, arts. 498 a 500; argentino, 591 a 2.427.
Projectos — Esboço, art. 905; Pelicio dos Santos, 193 a 19S>
Coelho Rodrigues, 92; Beviláqua, 76; Revisto, 77.
Bibliographia — A do art. 62, e mais; Tlixeira de FbehAS,
Consolidação, nota (17) ao art. 663; Ribas, Consolidação das
do processo civil, Comm. ao art. 1.360.

Observações — 1. — As definições do artigo correspondeni


ás de Paulo: Itnpensw necessários sunt inoe si factos non
res aut peritura aut ãeterior futura sit. — Dtiles impensas esse
Fulcinius ait, quoe meliorem dotem faciunt, non deteriorem esse
non sinant. — Voluptuarioe sunt quoe spcaiem duntaxat ornant
non etiam fructum augent.
2. — A distincção das bemfeitorias tem interesse na theoiia
da posse (arts. 516 a 519), onde se estabelecem os casos e modos
de indemnização, e onde se determina o direito de retenção, se
gundo a bôa ou má fé do possuidor. No caso de locação, ainda
que o locatário seja possuidor indirecto, obedece a principies dÜ
ferentes a theoria legal das bemfeitorias, quando de bôa
O locatário retem a coisa alugada, em garantia da bemfeitoi1
necessária o da util autorizada pelo locador (art. 1.199).
DOS BENS 297

Art. 64. — Não se consideram bemfeitorias


08 llle
ihoramentos sobrevindos á coisa, sem a
intervenção do proprietário, possuidor, ou de-
tentor .

ireito anterior -— Era principio corrente,


neglslação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 503.
nrojectos — Eshoço, ai't. 904, 5.°; Felicio dos Santos, 196;
Oelho
Rodrigues, 93; Beviláqua, 77; Revisto, 78.
Bibliagraphia — Vejam-se os artigos anteriores deste ca-
pitulo .

da ^sei'va^0 — As accessões naturaes augmentam o valor


e 0lSa InaS U 0 en ram na classe ( as
^stas suppõem
' a^ intenção
^ de melhorar l o bem,
bemfeitorias, porque
são o resultado
0 < e
Valo^ l Quem o tinha em seu poder, representam certo
creac 0
ou * Pela industria humana. As bemfeitorias levantam-se
hib emnizam-se, em virtude do principio de direito que pro-
tura es0 isso
euicom a
jactura do
não se dá. O incremento alheia. Nas foi
bem não accessões na-
produzido
Por actn t
aa( ue
Que l lle, em cujo poder o mesmo se achava. Nada ha
leVantar 0U iu( emn zar
niha Vatl a eI,1 l l - ^ accrescimo de valor da coisa é
0
l ^ natural e fortuita; não representa esforço, tra-
6x
ou despeza do possuidor. O caso da avulsão (art. 541) ê
cepci0nal

CAPITULO III

t>os bens públicos e particulares

Art. 65. — São públicos os bens do domínio


_ beUciu^entes á União, aos Estados, ou
ici
Pes ' Se
3a Pios
• qual - Todos
for os aoutros
a pessoa, são particula-
que pertencerem.

unterior — Era principio deduzido de vários dis-


V0S
^eSaes (Carlos de Carvalho, Dir. civil, art. 195).
298 CODIGO CIVTL

Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 537; ita-


liano, 425; argentino, 2.339; portuguez, 379; mexicano, 765;
boliviano, 283; uruguayo, 476; hespanhol, 338; venezuelano, 516;
peruano, 821 e 822.
Projectos — Esboço, arts, 326 e 345; Felicio éos Santos
197 e 198; Coelho Rodrigues, 113; Beviláqua, 78; Revisto, 79.
Blbliographia — Theoria geral, §§ 41 a 46; Ribas, Curso,
ps. 428 a 454; Espinola, Systema, I, ps. 418 a 422; Breves anno-
tações, I, ps. 159 a 165; S. Vampré, Manual, I, §§ 43 a 50; An-
machio Djniz, Primeiros princípios, I, § 30; Rodrigo Octavio,
Do domínio da União e dos Estados; Mabtinho Garcez, Theoria
geral, § 87; Coelho da Rocha, Inst., §§ 86 a 89; Planioe, Traité,
I, ns. 892-931; Battduy-Lacantinerie et Chatjveau, Des biens,
ns. 171 a 187; Colin et Capitant, Cotirs, I, ps. 696 a 704; Htrc>
Commentaire, IV, ns. 48-72; Latjbent, Cours, I, ns. 496-519; Atjbb"?
et Rau, Cours, II, § 169; Riccx, Corso, I, ns. 44 e segs.; WiNP'
scheid, Pand., II, §§ 146 e 147; Teixeira d'Abreit, Curslo, §§ 37 a
40; Alves Moreira, Inst., I, ns. 139-143; V. Scialoia e Btjratti,
Dizionario, vb. Beni, n. 24; Sax.vat, op. cit. ns. 1.471 e segs.

Observação — Esta classificação de bens públicos e parti-


culares repousa no modo diverso, pelo qual se exerce sobre elles
o direito dos respectivos proprietários. Por isso, no Projecto
primitivo e no Revisto, a inscripção deste capitulo era: Dos
bens em relação ás pessoas. Foi o Senado que supprimiu essa
inscripção. Alguns escriptores censuram a classificação dos
bens, que toma por base as pessoas, a que os mesmos pertencem
(Planiol, Teixeira d'Abreu) ; mas a censura não procede, porque,
como acima ficou dito, a classificação é feita, não do ponto de
vista dos proprietários, mas do ponto de vista do modo Pel0
qual se exerce o domínio sobre os bens.
Ha, nesta classificação, de incontestável importância, no di-
reito civil, uma accentuada influencia do direito publico sobre
o privado. Como este, porém, é subordinado ao publico, limita-S0
a receber-lhe os conceitos, sem procurar disciplinal-os.

Art. 66. — Os bens públicos são:


I. Os de uso commum do povo, taes como os
mares, rios, estradas, ruas e praças.
DOS BENS 299

II. Os de uso especial, taes como os edifícios


ou
terrenos applicados a serviço ou estabeleci-
íiiento federal, estadual ou municipal.
III. Os dominicaes, isto é, os que constituem
0
patrimônio da União, dos Estados, ou dos Mu-
nicípios, como objecto de direito pessoal ou real
de cada uma dessas entidades.

a,,tei or
'l — Idêntico (Caklos de Carvalho, Direito
ar
, a ' l" embora não fosse sempre destacada a segunda
sse. a dos bens públicos de uso especial.
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, arts. 2.239
e
L240
20l->1>lOjeCtOS Es
^0114;
Coeüio Rodrigues, ' artsBeviláqua,
- 327-347; Felicio dos Santos,
79; Revisto, 80. 199 a
Bibliographia — A do art. 65.

teu SerVaÇÕeS — 1" — Estabelece o artigo uma subdivisão de


2ado s-PUtjlÍC0S SOl) 0 pouto <íe vista ( 0 mo
de tiso' commum, de uso especial 1 e dominicaes.
do por que são utili-

bmn' ^ PrÍmeÍr0S Sa0 08 ^Ue Perlencem a todos (res communes


£. w?n). O proprietário desses bens é a conectividade, o povo.
Cbdena^"^I)u,jlica estâ0 confiadas a sua guarda e gestão.
feem Utlllzar-se clelles todas as pessoas, respeitadas as leis e os
suiamentos.
0a
do\SeSUndOS
Uni
Sã0 propriedade
da União, do Estado particular,
Vi0n ciPio, Porém applicados a determinada ordem de ser-
Publico.
tadQ08 tefceiros sao Patrimoniaes. Sobre elles, a União, o Es-
1 0 Mlluicipio exerce
Drecei?os ' Poderes
do direito constitucional de proprietário segundo os
e administrativo.
0 Projecto Revisto havia
deraes discriminado os bens fe-
r C0S eStaduaeS e munici a
estabel CtU a 3 P es (arts. 83-93); mas o Senado
trariha l'® ' doutrina. Essa discriminação é matéria es-
tivo f azei10 c^udto civil. Cabe ao constitucional e ao administra-
tal distribuição.
Simen ' são Slmples in
os bens dadicação,
União e aponto
quaes osaqui
dos quaes,
Estados.em nosso re-
300 CO DIGO C IVITj

3. — a) — são &ens communs administrados pela União;


1.° Os mares territoriaes, incluídos os golphos, balüas, en-
seadas e portos.
2.° As praias, que são as terras adjacentes ao mar, e que,
alternadamente, o fluxo cobre e o refluxo descobre.
3.° As aguas dos lagos e cursos d'agua naturaes, que em
algum trecho, sejam fluctuaveis ou navegáveis por um typo qual-
quer de embarcação, (decreto-lei n. 852 de 11 de Novembro de
1938, art. 3.°; Const., art. 16, XVI).
B) — São bens de uso especial da U^ião-.
I.0 Os edifícios públicos federaes, os terrenos applicados ao
serviço publico de repartições ou estabelecimentos federaes.
2.° As fortalezas, fortificações, construcções militares, navios
de guerra e material da marinha e do exercito.
(7) — são bens patrimoniaes da União:
1.° As aguas dos lagos e cursos dagua, em toda a sua esten-
são, que, no todo ou em parte, sirvam de limites do Brasil com
paizes estrangeiros.
2.° As aguas dos cursos daqua, que se dirijam a paizes estran-
geiros ou delles provenham.
3.° As aguas dos lagos e cursos dagua, em toda a sua es^
tensão, que, no todo ou em parte, sirvam de limites a Estados
brasileiros.
4.° Os cursos dagua, em toda a sua estensão, que percorram
territórios de mais de um Estado brasileiro.
5.° Os lagos e cursos dagua existentes dentro da faixa de
cento e cincoenta kilometros ao longo .das fronteiras, (decreto-lei
n. 852, de 11 de Novembro de 1938; Constituição de 1937, art. 36)-
6.° As ilhas formadas nos mares territoriaes ou nos rios e
lagos das zonas fronteiriças.
7.° As estradas de ferro, telegraphos, telephonos', fabricas,
oficinas e fazendas federaes.
8.° Os terrenos devolutos, sitos no Districto Federal, que nao
sejam, por qualquer titulo jurídico, do patrimônio do mesmo
Districto.
9.° Os terrenos de marinha e os accrescidos.
10.° As margens dos rios navegáveis, no Território do Acre-
11.° Os bens que foram do domínio da Corôa.
12.° Os bens perdidos pelo criminoso, condemnado pela juS'
tiça do Acre ou do Districto Federal.
13.° Os bens do evento e os bens vagos, que apparecerem em
território não incorporado aos Estados. Quanto aos bens das so-
nos bens 301

ciedades de fins não economicos extinctas, observar-se-á o dis-


posto no art. 22.
As heranças vagas pertencerão á Fazenda Nacional (decreto-
n. 1.907, de 26 de Dezembro de 1939, art. 3.°).
14.° Também são recolhidos ao -Thezouro Nacional o dinheiro
e 0
&' objectos de valor depositados em bancos, estabelecimentos
oommerciaes não reclamados durante 30 annos (lei n. 370, de
4
de Janeiro de 1937).
4. — Bens vagos são aquelle^, a que não é achado senhor
certo (entre os quaes não se inclue o thesouro, as heranças va-
c
«ntes e os bens das sociedades de fins não economicos perso-
nificadas, quando se extinguem, sem que os estatutos ou os socios
tenham resolvido sobre o destino ulterior delles).
5. — Terrenos de marinha são os banhados pelas aguas do
inar ou dos rios navegáveis, em sua foz, até 33 metros, para
a
Parte das terras, contados do ponto, a que chega o preamar
médio.
Accresciãos aos de marinha são os que, natural ou artificial-
mente, se formam, da linha do preamar médio para a parte
mar ou das aguas dos rios. São terrenos de alluvião, onde
xistirem os de marinha {Instrucções, de 14 de Dezembro de
^32, art. 4.°; dec. n. 4.105, de 22 de Fevereiro de 1S68, art. 1.°,
§§ 1.° e 3.°).
O preamar médio se fixa, tomando-se por base uma lunação
(Aviso, n. 373, de 12 de Julho de 1833).
^ Sobre este assumpto vejam-se, além da minha Theqria geral,
4
3, João Babbalho, Constituição, Comm. ao art. 64; Gaxdino
^ nos Trabalhos da Commissão Especial do Senado, III,
Ps' 4r ' 4"Eiuracio
''3-486; • Carvalho
Pessôa,deTerrenos
Mendonça, no Direito,e Rodrigo
de marinha; vol. 85,
AVI0
8s
«o 3.° 0' Domínio da União e dos Estados, cap. III, secç. 1
g ♦
0
A) '— São bens communs administrados pelos Estados:
1 nus rios• navegáveis e os que se fazem os navegáveis,
0
caudaes e perennes, desde que tenham todo o seu curso
Ontrno ao t respectivo território, resalvado o disposto na Consti-
Ul
Sâo, art. 16, XIV.
Os lagos e lagoas situadas em terras publicas estaduaes,
ou
forem navegáveis, ou entregues ao uso publico.
D) —• São bens de uso especial dos Estados, os edificios pu-
bli 0s es a
^ f duaes e os terrenos applicados ao serviço de repar-
Oções e estabelecimentos estaduaes.
302 CODTGO CIVIL

C) — São lens patrimoniaes dos Estados:


1.° Os que pei^tenciam ás antigas províncias.
2." As terras devolutas situadas nos respectivos territórios
São terras devolutas: 1.°, as que não se acharem applicadas a
uso algum publico federal, estadual ou municipal, nem forem
do domínio particular por qualquer titulo legitimo; 2.°, os ter-
renos do» antigos aldeiamentos de indios (lei n. 601, de 18 de
Setembro de 1850, art. 3.°; reg. n. 1.318, de 30 de Janeiro
de 1854).
3.° Os bens vagos e do evento.
4.° As margens dos rios navegáveis destinadas ao uso Pu"
blico, se, por algum titulo, não forem do domínio federal, mu-
nicipal ou particular (Constituição de 1937, art. 37, h) A zona
marginal applicada ao uso publico é de 15 metros e 4 decimetros,
contados da linha média das enchentes1 ordinárias, e deve começar
no ponto, onde termina a influencia do mar. Os accrescidos con-
quistados ao leito do rio publico pertencem ao Estado (lei m
3.644, de 31 de Dezembro de 1918, art. 110).
5.° As ilhas que se formarem nos rios públicos estaduaes.
6.° As estradas de ferro, telegrapbos, «* telephonos, fabricas,
officinas e fazendas estaduaes.
7.° — Os objectos perdidos pelo criminoso, condemnado pela
Justiça estadual.
7. — Além dos bens enumerados, ainda pertencem, á União
e aos Estados, os que constituem o respectivo domínio financeiro.

Art. 67. — Os bens, de que trata o artig0


antecedente, só perderão a inalienabllidade, que
lhes é peculiar, nos casos e fôrma, que a lei pre"
screver. -

Direito anterior — Os bens patrimoniaes da União, dos Es-


tados e dos Municípios eram declarados alienaveis.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 537; 1^'
liano, 30; boliviano, 283.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 204; Coelho Rodri(jues'
115; Beviláqua, 81; Revisto, 81.
Bibliographia — Veja-se o art. 65.
DOS BEWS 303
a Obsei vações 1. A fórmula do Codigo é defeituosa, neste
r
JSo. Os bens dominicaes da União, dos Estados e dos Muni-
Pios não são inalienáveis, como poderia ser alguém levado a
suppor, tomando á letra o disposto no artigo 67. Somente se
lenam seêlm(io as
Se fôrmas e regras estabelecidas na lei, porém
ena
^ Di. Os bens públicos de uso commum, esses sim, são
a xenaveis. São-no, também, os de uso especial, emquanto con-
Var
em esse cai-acter.

coniA ÍOrmUla do Pro ecto


Í Primitivo era a seguinte: Os bens
aj.e emquanto conservarem esse caracter, não são
ave s nem
pa^. ^ sujeitos a usocapião: os de uso especial e os
11 0111 168 p0dem ser ali
que * * enados, de conformidade com as leis,
aos J08 regUlam* 0 ProÍecto Revisto estendeu a inalienabilidade
rrete3eUS de US0 especia1' 0 que é de bôa doutrina. A Gamara
os 1 Ildeu dai uni PasS0 além, considerando inalienáveis todos
PódeT*. PUblÍC0S (arí" 70 d0 SeU Projecto^- A lei- porém, não
Pient 6 0lpó<Ie
?ai asernatureza das coisas. A intelligencia do art. 67 só-
a que acima vae indicada.
2
0s bens
^ Públicos, em face do que prescreve o art. 67,
de usoca iao
da P ' Porque não podem sabir do patrimônio
P escx e> ■ e
r SSÔa ,UrÍdÍCa de
direito publico, senão pela forma, que a lei
jy.,eut. o usocapião presuppõe um bem capaz de ser, livre-
e, alienado.
pai|1'J>' S
- Va
mpbé (Revista dos tribunaes, vol. XXXIV, São
cedente^8' 385 6 SeSs''' co:ai;esfa a affirmação do numero ante-
a
Uso - 6 affirma (llle 08 bens Públicos dominicaes estão sujeitos
discrr^^0' 08 SeUS argumentos' valiosos em doutrina e não
Parece^11'68 d0 ^Ue ac^ma se uestes commentarios, não me
Ügeir a C1Ue destruam 0
Preceito formal da lei, cujo histórico,
bens ?ente' recorda a observação n. 1. O art. 67 declara: "Os
C0l
hmu1 6 ^ 0 artÍg0 antecedente
08 ãe US0 especia1 e 08
(que são os de uso
inalieJ ?'. ' dominicaes) só perdem a
^hgixef Íll<Ía<Íe' gUe 11168 é peculiar (refere-se a todos, não dis-
irrecus ^ CaS0S e fórma l116 a lei prescrever", Tenho por
ei
h face fl61es' ena0 0bstante 0 que allesa o egregio professor, que,
eiu ' dispositivo, não sendo o usocapião fórma prescripta
caso e Pa'a a a,ienaçã0 dos bens públicos, não sendo esse um
beils
pSPKCÍaImente previst0 para a Perda da inalienabilidade dos
a
bfelho llC0S' estao elles isentos de usocapião. Poderá não ser
U. xg 024 dou^1^na' mas é a da lei. E está confirmada pela dec.
. de 27 de Abril de 1931, art. 1, e pelo decreto n. 22.785,
304 CODIGO CIVIL

de 31 de Maio de 1983, art. 2.°, que declara: Os' bens publicados,


seja qual fôr a sua natureza, não são sujeitos a usocapião.

Art. 68. — O uso commum dos bens públicos


pode ser gratuito ou retribuído, conforme as leis
da União, dos Estados, ou dos Municípios, a cuja
administração pertencerem.

Direito anterior — Era principio reconhecido (Carlos d*


Carvalho, Direito civil, art. 197, 1.°).
Bibliograpbia — Yeja-se o art. 65.

Observações — 1. — As coisas publicas de uso commui11


estão, por sua natureza, destinadas a ser utilizadas por todos-
Em regra, esse uso é gratuito, como o das ruas, praças, estradas,
o das aguas dos rios públicos para as primeiras necessidades da
vida; o dos mares territoriaes, para a navegação e a pesca; o das
praias do mar. Muitas vezes, porém, para compensação do capi
empregado em obras, que as melhoram, o uso dessas coisas
retribuído. Pedágios, taxas de ancoragem são exemplos de re
muneração pelo uso dos bens communs.
2. — o uso desses bens, algumas vezes, comprehende a api0
priação. A pesca em aguas publicas, observados os regulament0^'
é modo de adquirir (arts. 599-602). As conchas e outras
staucias, que o mar arroja ás praias, podem ser objecto
occupação de qualquer pessôa, desde que não pertençam am
a outrem (arts. 592 e 593).

CAPITULO IV

Das coisas que estão fora do commercío

Art. 69. — São coisas fóra do commercio a»


insusceptiveis de apropriação, e as legalmcii
inalienáveis.
nos bens 305

va. ^ lreit0 anterior — Era principio corrente (Carlos be Car-


^0' ^reito ciiH, art. 193, pr.).
A LegÍslaÇâo comparada — Codigo Civil argentino, art. 2.337.
^04'írVlS^0 ^aS Institutas (2, 1, pr.) é entre coisas qucs vel in-
cluindc mtrimonio vel Gxtra Patrimonium nosirum habentur, in-
Ügio 0 86 en*'le esí:as nltimas as communs, as sagradas, as re-
coi<?sas Sinalienáveis
6 aS san as
'' (D.
' ex
18, Pressão extra commercium designa as
1. fr. 6).
2l0-Iroelho
OjeCtOS
~ Esboço, arts. 384-386; Felicio dos Santos, 207-
'^ Rodrigues, 142; Beviláqua, 82; Revisto, 96.
lbho
teina 8faphia — Minha Theoria geral, § 47; Espinola, Sys-
1)8 Eibas
Theor' ' gera1, § 94: CoE
' Curso, ps. 412-428; Martinho Garcez,
I, 8 nHo da Rocha, Inst., § 76, Roth, System.
^and ' T'^' Vn,í'MANN' Cohrbuch, I, § 50; III e II, § 4.°; Windscheh),
II
' § 171^' ^ 147' Chikoni' l8t'' I' ^ 52; Aubry et Rau, Cours,

nestri)Se-'VaSÔeS ~ ^ A Palavra commercio é empregada,


011
p ar^g0' em sua accepção technica, de circulação econômica,
^Ofid S^b^^a^e comprar e vender. Commercium est emendi
se v^nc^ue invicem jus, disse Ulpiano. No D. 18, 1, fr. 34, § 1.°,
dere 0 meSma noSão: omnium rerum quas quis habere vel possi-
Qontiu Pe7f>eQui potest, venditio recte fit; quas vero natura vel
US Vel mores
vevrrT
^ditio ^est. oivitatis commercio exuerunt, earum nulla
2 0 arti
fóra ' So distingue duas classes de coisas, que estão
0 COmm
viOi^l orcio: a) as insusceptiveis de apropriação indi-
ò) e as
N' <ine o direito subtrae á circulação.
rivei ^^oira classe, incluem-se: 1,°, as coisas de uso inexhau-
m0 0 ai a uz e 0
hso nr,
to ' ^ ' Hiar alto; 2.°, as coisas publicas de
mmum (art. 66).
se
Qüe ênnda, entram as coisas individualmente apropriadas,
cons era
Pcssôas Hi Sões diversas de defesa social e protecção ás
fa a 161 prollibe alienar
hiiUa' entl - Os immoveis dotaes e o bem de
ouu n( am nesta classe. São propriamente bens inalienáveis
iisponiveis.
3
e
^ rai q ^ inalienabilidade é, ordinariamente, uma prohibição
hhlitad6 VeUbei ou onerar- Algumas vezes, porém, é uma restricção
a0
^hccio naiios, Penhorar.
as soldadas Assim é as
de operários, queferramentas
os vencimentos
dos dos
of-
t0
<iigo Civil - 1.0 vol. 20
306 CODIGO CXVIX,

ficiaes, as apólices da divida publica federal e ainda outros bens


ordinariamente alienaveis, não podem ser objecto de penhora Por
execução de sentença. São Itens impenUoqraveis.
4. — Na classe das coisas excluidas do commercio está o
corpo do individuo. O homem, por motivos de ordem moral, nao
pôde ser autorizado a dispor do seu cadaver, nem de uma parte
do seu corpo. Sobre este assumpto, merece leitura a erudita e
bem ponderada nota (e) de Fadda e Bensa ao § 40 das Pan'
dectas de Windscheid, vol. I, ps. 601-627.
Prende-se esta questão á theoria do direito sobre a própria
pessoa de que fala Windscheid, no citado paragrapho, que Sa*
vxüny contestava, e a que recentemente Kindel consagrou iU'
teressantes observações (Das Recht an der eigenen... person,
nos Scritti giuriãici dedicados a Chironi, vol. I, ps. 171 a 175)'
Por mim, vejo antes na personalidade um conjuncto de direitos,
isto é de poder es de acção assegurados pela ordem jurídica.
Desses direitos, uns são fundamentaes, como o direito á vida,
á liberdade, á honra, á integridade physica, e outros são des-
dobramentos, applicações, modalidades dos primeiros. Mas um
direito sobre a própria pessoa parece-me uma idéa que se nao
ajusta bem á lógica jurídica.
Veja-se ainda o Giorgio Dee Vecchxo, Sui principi generah
dei diritto, VII.

CAPITULO v

Do Bem de famiiia

Art. 70. — E' permittido aos chefes de fa'


milia destinar um prédio para domicilio desta,
com a clausula de ficar isento de execução por
dividas, salvo as que provierem de impostos ?G'
lativos ao mesmo prédio.
Paragrapho único. Essa isenção durará, e#1'
quanto viverem os cônjuges, e até que os filãoS
completem sua maioridade.

Direito anterior — Não havia, em nosso direito, o instituto


cujos fundamentos lançou o Coidgo, nos arts. 70-73.
DOS BEXS 30Y

NortLegÍSlaÇâ0 COmi,arada
^orto-AmBrieana, ~ Leis de
e, em particular,
de varios
Taxas ( Estados da União
26 de Janeiro de

Cbdil' n-1 federal de 20 de Maio de 1862 {hamestead act). O


instit)0 ^1Vl1 SU1SS0' sob 0 titl110 hens ãe família, trata de tres
le0eS: Funãações <le
tigo 336 e 348 e As
família íart. 335), Inãivisão (ar-
^ > ylo de família (349-359). Na França, o Bem
foi cread
ml o Pela lei de 12 de Julho de 1909, e regula-
a0 Pe 0 decie40 de 2 de
J l egisiation française de® 1931.
de - ^ Março
O de 1910. Civil
Codigo V. mais Annuaire
da Venezuela

Port^ 0 h0meStead sob 0 titul0 Del hogar, nos artigos 614 a 624.
rtfc ]USaI
6 ' Casal
1935.
ãe
família,
Italia, novo no Civil,
Codigo Annuaire ãe législation
art. 164. étrangè-
Peru, Codigo Civil
"rt- 461 e segs..

^ Ibliographia — Bureau, Le homestead ou Vinsaisissabilité


^ a petite propriété foncière, Paris, 1895; Agathe Dyvrande,
en de
. famille, Paris, 1911; R-aoul de la Grassekie, De
^disponibilité et ãe Vindivisibilité du patrimoine, Paris, 1899;
^ssel et Mentha, Dmit civil suisse, I, ps. 395-410; Brnest
CÍVÍl deS ÉtatS ünis 1906 ps 74 77: Charmont
tran' 0r ' ' - " . Des
0^ mations du droit civil, 1902, ps. 20-23; Cunha Machado,
apro^81'6'1^ satisfaz melhor do que a emphyteuse o intuito de
naicVeitament0
^eo
aas terras
incultas?,
americano, Rio ãe Janeir\o, 1905,novol.
livroIII,dops.Congresso Ju
19-80; Fon-
pg vã o, dissertação sob o mesmo titulo, no mesmo livro,
bes r bjLI0D0R0
D Eobos, dissertação sob o mesmo titulo, em
"tesí 1 110
^vro cilado, ps. 119-221; Andrade Figueira. Ho-
Ds la<13l6; exe
mption,
M
na Revista dos Tribunaes, vol. III, 1905,
' - !• Carvalho de Mendonça, Revista de Direito,
do (. ^ PS" 213'236.' Parecer da Commissão do Senado, no Diário
Com 0ngrfsso' de 5 de Dezembro de 1912, p. 4.175; Parecer da
(2 (]e11SSã0 esi)ecial da' Caraara, sendo relator Adolpho Gordo
de 4943
Ps E P8- 3'llí Parecer do deputado Celso Bayma,
e 59 Ju8TINIAN0 DE
spec- ' Sekpa, Discurso perante a Commissão
(a
Spey ^ Gamara, na reunião de 7 de Dezembro de 1915;
Ps 2fiEU Vampeé' Revista Jurídica, vol. II, ps. 192-199, e IV,
a 37 :
Cotíi ^ ^ homestead e o Codigo Civil; Interpretação do
Brç90 Clvil> Ps. 167 e seguintes; Manual, I, § 162; Espinola,
S anno
tações, I, ps. 167 a 201; Marques dos Reis, Homestead
508 COD1G0 CIVIL

— Bem da família, Bahia, 1917; Odilon dos Santos, nos Estudos


em honra ao Dr. Filinto Bastos, Bahia, 1016, ps. 139 e segs.
Projectos — Veja-se Coelho Rodrigues, arts. 2.079-2.090.

Observações — 1. — Sob a denominação de bem de famil''0-'


adoptou o Codigo Civil, por indicação do Senador FeliciaN0
Fenna (Diário do Congresso, de 5 de Dezembro de 1912), 0
homestead, a que deu, entretanto, uma fôrma differente, como
exigia o complexo da nossa ordem juridica.
Nos Estados Unidos da America, onde se originou o iasti-
tudo do homestead, elle significa a isenção da penhora, creada
em favor da pequena propriedade. Mas, umas vezes, o homestead
tem por fim favorecer os colonos, para a cultura das terras d0
dominio publico, outras vezes é garantia da pequena propriedade
particular. Essa differença de intuitos não acarreta, porém, dif'
ferença essencial no instituto, que obedece a certas normas as
sentes, e pouco varia de um para outro Estado da União.
2. — Entre as creações jurídicas destinadas a beneficiar e
proteger a familia é costume apontar, ao lado do homestead
norte-americano, o Hoefrecht germânico. Consiste este instituto
na indivisibilidade de um immovel rural, para que se transmitta
integro ao successor, seja o filho mais velho, seja o mais moS0'
seja o cônjuge sobrevivo. O Hof é alienavel e penhoravel; o que
o caracteriza é a indivisibilidade. Differe dos antigos morgad09'
por ser de natureza democrática e por não constituir vinculo-
te
3. — Quando se discutiu o Projecto de Codigo Civil, peranaUg-
a Commissão do Governo, em 1900, o conselheiro Barradas
geriu a idéa de se consagrarem alguns artigos ao horrvest ^
sob a denominação proposta pelo Projecto Coelho Rodrigues, ^
Constituição do lar da familia; o seu pensamento, porém,
encontrou o necessário apoio entre os companheiros (Actas, V*
ginas 123-124).
dos
Mais tarde, 1903, foi apresentado um projecto á Camar
Deputados sobre o mesmo assumpto. E' o Projecto Toledo A ^
Não teve, também, andamento, depois de discutido na (^ainarajjag
Andrade Figueira, levantando contra elle sérias objecções, n
envolveu o proprio instituto, que, como lei de previdência, ^
parecia inferior aos preceitos da legislação patria. Opiuava'
mesmo sentido, o desembargador Fonseca Galvão.
DOS BENS 309
^ Em 1910, houve outra tentativa de introduzir o homestead
entre nós. Foi a que tomou corpo no art. 867 do Pmjecto de Co-
Jffo do processo civil approvado pelo dec. n. 8.332, de 3 de
Novembro de 1910.
^ Quando appareceu a emenda do Senado, introduzindo no
0(
iigo Civil o homestead, nenhuma voz se alçou, embargando-lhe
0
Passo. E, bem ponderados os motivos de acceitação, e os de
^Pulsa, podemos dizer que, se o instituto não tem as virtudes
' raculosas, que enxergaram nelle os enthusiastas, se, no proprio
_ aiz de origem, os seus resultados foram insignificantes, ou até
^ nteis. como diz Lehr, não deixa de ser um certo amparo, que
^ 1 offerece á familia; e essa consideração nos deve mover em
. err instituto, ainda que lhe não possamos attribuir o grande
esse social, que, em certa época, a doutrina lhe apontou.
4
âl " Sobre a forma, que lhe deu o Codigo Civil brasileiro,
^sse o Senador Adolpho Gordo, como relator da Commissão da
disposições são deficientes e não denotam a pre-
frap0 6 0 CUÍdacl0 m-ucioso, que presidiram á confecção da lei
0rCeZa A do
esf Sai "'para preencher
ntrina e asa lacunas
jurisprudência terão, portanto, de se
que a synthese legal offerece.

tazõe ^ collocação do instituto na parte geral foi, com bôas


crif68' Censurada Por Justtniano de Seepa . Attendendo á sua
do r a' ^01am 08 artisos referentes ao hem de familia deslocados,
re
almr0 £)limeir0 (Das pessóas) para o segundo (Dos bens). Era,
Sradc06as
^6' absur(30 tratar dessa especie jurídica no livro consa-
ap0 Pnnsôas, e fez bem a Commissão em corrigir o defeito
0
fica ^as' Para obedecer, em tudo, aos reclamos da classi-
0 1U^ < ca, se
Purez " * ^ Snndo o plano adoptado pelo Codigo, por cuja
86 ba a 0 e re
^ S Sio deputado pelo Pará, deveria ter a Com-
bata 5 ^lans^os'0 08 arts. 70 a 73 para a Parte Especial, pois se
e
leni 6 Uma re^a^ao ínnidica de caracter particular, e não de um
Parte^^re^0' nem de uni Preceito de caracter geral. Na
famiii Sa^ec^a^ 0 seu Posto mais conveniente, seria no Direito da
PpUcado. Todavia, não estaria mal no Direito das coisas.
A c n
do r o stituição do bem de familia é direito privativo
Pectiv
ou Se t o c^ofe, seja o marido, ou a mulher, se fôr viuva
1Ver aSsumid a
8oltej as n o dirocção do casal (art. 251). As pessoas
^ ào podem constituir bens de familia.
0
ou rural ^em ^eVe Ser Um pre io
^ ' isto é
' um immovel
urbano
ex Na0 exige 0 odi ue 0
Dlora(i' C SO' 0[ prédio seja habitado ou
Pola familia, antes de se lhe dar o destino de servir
310 CODIGO CIVIL

para domicilio delia. A familia deve fixar residência no prédio-


Esta condição se infere das palavras dos arts. 70 e 72. O pri-
meiro permitte ao chefe de familia destinar um prédio paru
domicilio desta. O fim da lei é, consequentemente, assegurar á fa-
milia um abrigo, de onde não a possa expulsar o credor exe-
quente. E, sendo assim, ê claro que abi deve estar asylada a
familia, abi deve residir.
O art. 72 accrescenta que o prédio não poderá ter outro
destino, sem o consentimento dos interessados. E' uma confir-
mação do que prescreve o art. 70. O destino do prédio é for-
necer habitação á familia, e, sem accôrdo dos interessados, não
se o desviará desse destino.
8. — O effeito da constituição do bem de familia é isentar
de penhora o prédio, destinado a ser o lar doméstico. Os credores
não te^ão, no domicilio da familia, garantia de seus direitos.
Abrem-se, porém, duas excepções a esta regra: a primeira
em favor dos impostos relativos ao mesmo prédio (art. 70); a
segunda, em relação ás dividas anteriores á instituição (art. 71)-
9. — A isenção não tem duração indefinida. Cessa com a
morte de ambos os cônjuges, mas, apesar do fallecimento des
cônjuges, continuará emquanto os filhos do casal não attingirem
á maioridade. Tendo por fim garantir um lar á familia. perdura
emquanto esta se não dissolve. A emancipação (art. 9.°. para-
grapho único) tem o mesmo effeito que a maioridade. Por outro
lado, embora tenham mais de 18 ou 21 annos. os interdictos sao
equiparados aos menores.
10. — Sobre o valor e a extensão do prédio destinado a0
domicilio da familia não se manifesta o Codigo. Do seu contexto
porém, se infere que a lei cogita, sómente, de morada, com aS
suas naturaes dependências, qualquer que seja o seu valor. Na0
ha, pois, que indagar, se a isenção se estende aos fructos. ^
se trata de um prédio frugifero, e, sim, de uma habitação.
11. — Pôde o prédio ser propriedade exclusiva do instituid01"
ou pertencer-lhe em communhão com o seu cônjuge, segundo
regimen de bens adoptado para regular as relações eoonomi03'3
do casal. Se o regimen fôr de separação, a mulher poderá offe
recer ao marido um prédio para ser erigido em bem da famiha-
12. — O prédio possuido em commum com estranhos na^
pôde ser constituido em bem de familia, porque o condomim0jj-á
transitório e não se sabe qual a parte da propriedade que
caber ao chefe da familia depois da divisão.
DOS BENS 311
Também não o pode o prédio hypothecado, porque já se acha
gravado por um ônus, que é uma alienação condicional. Aliás, o
caso está previsto no art. 71, quando diz que não podem instituir
^cns da família pessoas cujas dividas possam ser prejudicadas,
cm seu pagamento, pela instituição.
Vejam-se os commentarios ao artigo seguinte.

Art. 71. — Para o exercício desse direito, e


^Gcessario que os institnidores, no acto da insti-
^ição, não tenham dividas, cnjo pagamento
Possa por elle ser prejudicado.
Paragrapho único. A isenção se refere a di-
v
idas posteriores ao acto, e não ás anteriores,
se verificar que a solução destas se tornou
^exeqüível, em virtude do acto da instituição.

Observações — 1. _ o pensamento deste artigo é tornar


claro :
^ a) Que o devedor insolvente não pôde, com prejuízo dos
eus credores, retirar da garantia destes um prédio em bene-
^ 0 da familia. O prédio deve estar livre de hypotheca, e, mais
8err
^a' 0 Patrimônio do devedor, no momento da instituição, deve
tal que, deduzido o prédio destinado ao domicilio da familia,
SSa fazer
tace ás responsabilidade, que sobre elle pesam.
^
exec
Que as dividas anteriores á instituição podem ser pagas,
n
ução judicial, pelo bem de familia, se não houver outros
s sobre os quaes, utilmente, recaia a penhora, isto é, se se
Var
que a instituição tornou o devedor insolvente.
^ 2. — Estes dispositivos exigem deselvolvimentos regulamen-
tuld80r' qUe estabeleçam 0 30 30 d
p * dos ecredores.
e resalvar o direito tornar clara a situação
O Codigo Civildosuisso,
insti-
d.rts qe^í
e or<3ena a
Pr^via intimação dos credores para
^rcsentarem a sua opposição ou serem reembolsados. Depois
ssa operação preliminar, é que se constitue o asylo da familia.
61
^ranceza' arts. 6o e 8o, também estabelece um processo para
ar se o prédio se acha em condições de ser declarado bem
312 CODIGO CIVIL

da família. Esse processo foi, entre nós, estabelecido pelo Có-


digo do Processo Civil, arts. 647-651.

Art. 72. — O prédio, nas condições acima


ditas, não poderá ter outro destino, ou ser alie-
nado, sem o consentimento do^ interessados e
dos seus representantes legaes.

Observações — 1. — Nos Estados Unidos da America, 0


prédio submettido á lei do homestead não pode ser, voluntaria-
mente, alienado pelo proprietário casado, sem o consentimento
do outro cônjuge. Disposição semelhante consagra a lei fran-
ceza de 12 de Julho de 1909, art. 11. O asylo da família re-
gulado pelo Codigo Civil suisso é inalienável (art. 354), porém
o proprietário poderá supprimil-o, mediante requerimento á au-
toridade competente, que, não havendo opposição justificada,
autorizará o cancellamento (art. 358).
O Codigo acceitou o mesmo pensamento da cessação do be-
neficio por acto voluntário, fazendo depender essa resolução do
consentimento dos interessados, que são a mulher e os filbos
menores. Como, porém, estes não têm capacidade legal, ser-lhes-á
dado curador, ad hoc, por applicação natural do art. 387. Por
isso, o artigo se refere aos representantes legaes dos interes-
sados. A nomeação de curador especial será, também, necessária,
quando algum interessado fôr interdicto.
Quanto á mulher, a sua outorga ê sempre necessária, quando
se trata da alienação de immovel do casal (art. 235, I), qualquer
que seja o regimen dos bens adoptado.
2. — Odilon nos Santos indaga qual a solução, nos casos
de desvio do destino e de alienação sem o consentimento dos i11'
teressados. No caso de alienação, e no de imposição de ônus real,
observa que a nullidade se apresenta como a sancção logica
deante do systema do Codigo Civil; mas, no de desvio do destino-
Espinola responde que, perante o nosso direito, persistirá o pr*
vilegio, quando o destino do prédio fôr desviado sem assentl
mento dos interessados, porque em beneficio destes é que ^ol
instituído. Assim, também, me parece. A mudança de destiu0
DOS BENS 313

Pieclio, sem o consentimento dos interessados, não tem effi-


acia jurídica, por lhe faltar uma solemnidade, que a lei con-
sidera essencial para a sua validade (art. 145, IV).

Art. 73. — A instituição deverá constar de


escriptura publica transcripta no registro de im-
ttioveis, e publicada na imprensa local, e, na falta
^esta, na da Capital do Estado.

Legislação comparada — Lei franceza de 12 de Julho de


09
^ . arts. 6.0-9.0; Codigo suisso, art. 353. Nos Estados Unidos
a
America, a publicidade para prevenir terceiros ê uma das
Co
Pdições da existência legal do Tiomesteaã, mas essa publicidade
re
sulta, em alguns Estados, do registro, e em outros é conse-
lüencia da occupação effectiva do prédio.

^ Observações — 1. — Para que a instituição do bem de


ai
Pilia não seja um facto clandestino, e as pessoas, que tratam
08 beneficiados or elle n
te^
er P ' ão venham a ser illudidas, suppondo
a no prédio, que serve de lar á família, garantia sufficiente para
Publ*11^0 ^ÜS seus -editos, exige a lei que o acto tenha a maior
devVe1ClíÍade " Deve constar de escriptura publica, este instrumento
j. r Ser transcripto no registro de immoveis, e a imprensa deve
nal-o conhecido de todos.
0 art 856 não enumera
' a transcripção do bem da família
1 6 08 0b;,ectos do re
tra " ' ^tro: mas isso não
^anscripção seja essencial á constituição do impede
bem de que essa
família:
l^eve promovel-a, como principal interessado, o instituidor. V. a
1
n. 4.827, de 7 de Fevereiro de 1924, art. 5.° a, I, e o Codigo de
0ces
so Civil, arts. 648 e 649.
2
a
ctuai A
^ 11 ■3"725' de 15 de Janeiro de 1919, deu a fórmula
0 010 artig0, Este dizia
aru ~ instrumento pumáo inscripto, e
ihenV50 actual diz ~ escriptura puUica transcripta. "Instru-
escri0 PUblÍC0 é 0 venero, pondera Epitacio Pessôa, de que a
PtUra é uma das es
íüe se trata {Parecer, n. Pecies",
193, de e1917,
ê precisamente
ps. 45 a 46).de escriptura
I

,
LIVRO III

IXDS IFV^GXOS JXTRIXDIC-OS

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 74. — Na acquisição dos direitos se ob-


servarão estas regras:
I. Adquirem-se os direitos mediante acto do
adquirente ou, por intermédio de outrem.
II. Pôde uma pessoa adquiril-os para si, ou
P^a terceiros.
III. Dizem-se actuaes os direitos completa-
íüente adquiridos, e futuros os cuja acquisição
nao
se acabou de operar.
• _ Paragrapbo único. Chama-se deferido o di-
^exto futuro, quando sua acquisição pendej so-
mente, do arbitrio do sujeito; não deferido,
Quando se subordina a factos ou condições fal-
uveis.

Direito anterior — Era doutrina seguida.


Urojectos — Revista, art. 183.
Uibliographia — Ferreira Coelho, Co digo Civil, VII, pa-
118,8
25 e segs.

^ Observações i. _ a inscripção deste livro III indica


eU 0 ec 0
est
^ Resino ' l86tinha
^^ ^livro s 0 08
^ porfactos
titulo;jurídicos. No projecto
Do nascimento primitivo,
e extincção dos
^ eífos. o Projecto Revisto alterou a designação, dizendo: Da
QuisiçfòQ^ conservação e extincção dos direitos. Azevedo Marques,
atando esta matéria, perante a Commissão da Gamara, em
316 CODIGO CIVIL

1901, propunha que o livro se inscrevesse, pura e simplesmente,


Actas (Trabalhos da Gamara, vol. III, ps. 7 a 8). Depois de algum
debate, em que tomaram parte, além do illustre deputado por São
Paulo, o autor do Pfojecto primitivo, e o Sr. Coelho Rodrigues,
assentou-se em que o livro III se intitulasse Dos jactos jurídicos
(Trabalhos da Gamara, cit., III, ps. 10-12).
2. — Factos juriãicos, segundo a definição classica de SavigtíV
(Droit romain, § 104), são os acontecimentos, em virUiãe dos quaes
as relações de direito nascem e se extinguem. Uns desses factos
são acontecimentos de ordem natural, que independem da vontade
humana, ou para os quaes ella concorre, apenas indirectamente,
como: o nascimento e a morte das pessoas, o decurso do tempo, o
deslocamento dos cursos d'agua; outros são acções humanas,
entre as quaes, umas produzem effeitos juridicos, segundo a von-
tade do agente (acíos juriãióOs), outras os produzem, sem attenção
á vontade (actos illicitos, acquisição de domicilio, especificação) •
3. — Nos Codigos Civis, a que se tem feito referencia neste
livro, assim como nos Projectos brasileiros, anteriores ao Revisto,
não se encontram disposições, que, exatamente, correspondam as
deste art. 74. No Codigo Civil portuguez, art. 4o, ha referencia ás
origens ou causas geradores do direito; mas diverso é o seu
conteúdo. O Projecto Revisto additou este artigo ao primitivo,
sob proposta do Dr. Lacerda de Almeida (Actas, p. 75).
Como se vê, logo á primeira inspecção, não ha no artigo Pre-
ceitos legislativos; ha simples proposições doutrinárias.
Leia-se a respeito Espinola, Breves annotações, I, ps- 203
a 214.

Art. 75. — A todo o direito corresponde uma


acçao, que o assegura.
Direito anterior — Era principio reconhecido, mas não ex
presso em lei.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts-
e 2.535-2.537.
Projectos — Beviláqua, art. 174; Revisto, 184.
Bibliographia — Theoria geral, § 72; Teixeira de FbEITaS,
Gmsolidação, nota 20 á p. XXVIII da 3.a ed.; Nova apost^10"
ps. 68 e 69; Paula Bapttsta, Processo, §§ 2.° a 4.°; João Monte®0'
Processo civil, §§ 12-18; Direito das acções, Instroducção; BsjA
DOg FACT08 JURÍDICOS 317
nola, Breves annotações, 1, ps. 215 a 221; S. Vampré, Manual,
§§ 83 e segs.; Windscheid, Pand.,, I, §§ 43 e 44 e mais as
notas (l) e (m) de Padda e Bensa, ps. 678-681; Dernburg, Pand.,
> §§ 126 e 127; Endemann. Lehrbuch, 1. § 7.°; Koiiler, Lehrbucn,
' §§ 55 a 68; Goudsmit, Pand., § 77; R. Demogue, Notions fon-
umentales, ps. 519-541; Chiovenda, vb. Azione no Dizionario dei
lr prw cle v
' - - Scialoja e Busatti; Mortara, Proceãura civile,
^8- 9 e segs.; Chironi, Ist., §§ 87 e 88; Gianturco, Ist., § 124;
ayns, Droit romain, §§ 40, 41 e 49; Dias Ferreira, fadigo
vil portuguez, notas ao art. 12; Teixeira d'Abreu, Curso, I,
11
■ 10; Alves Moreira, Inst., I, n. 237.

^ Observações 1. Como já se expoz nos Preliminares,


_aP- X, a acção é parte constitutiva do direito subjectivo, pois que
0
proprio direito em attitude defensiva. Neste sentido, acção
COrres
Ponde ao Anspruch do direito allemão.
A acção, elemento constitutivo do direito, tecido tegumentar,
Protege a parte nuclear do interesse, desdobra-se em acção no
0
entido processual de jus persequendi in judicio quoã nohis de-
etur.,
2 A declar
tor ' ação do Codigo Civil tema utilidade pratica de
nar certo < ue todo
pei 0 l aqnelle, a quem a lei
reconhece um direito,
v* mesmo facto, lhe reconhece a faculdade de reclamar a inter-
nsao do poder judiciário para defender o direito ameaçado ou
aurar o violado. Não ha direito sem acção.
^ Absteve-se, naturalmente, o Codigo de entrar em desenvolvi-
nto^ (Jq principi0; que declarou, para não penetrar no do-
1110
do processo.
3 Este artl
tulo ' go e os seguintes foram deslocados de dois ti-
110 Pro ecto
do/'- Í primitivo se inscreviam — Do exercido
deu (llreitos e Da extincçtfq dos direitos. No Projedo Revisto se
e 0 avam, o primeiro Conservação e defesa dos direitos,
em ioAUnd0 ~ Edincção dos direitos. A Commissão da Gamara,
1 SUI)primiu essas
Wgos
^ ' a constituíam, para
que divisões lógicas,
a secção e transportou
inicial os sob
do livro III, ar-
de
ara Disposições geraes. Dessa operação resultou
r e 0 < e
ecii ^ ^ classificação. Acção é direito em exercício. O pe-
Phase U^0 0 ec 0 ar s
^'' ^ ^ l - a
80) já conduz o espirito a outra
eVolueão do direit0
Dositi 0^
s referentes a matériaá sua
' extincção.
diversa occuparDeviam
secçõesos dis-
dis-
318 CODIGO CIVIL

tinctas, num desdobramento natural de idéas. Destaca-se mais


esta falta de concatenação das idéas do Codigo, quando se
observa que ha, em seguida, um titulo consagrado aos Actos
illicitos (arts. 159 e 160), cujos dispositivos se prendem aos
desta secção preliminar,. antecedendo, . em "boa lógica, ás idéas
de acção e parecimento do objecto do direito, assim como jus-
tificam o preceito de indemnização, que aqui apparece anteci-
padamente.

Art. 76. — Para propor, ou contestar uma


acção, é necessário ter legitimo interesse, eco-
nômico ou moral.
Paragraplio único. O interesse moral só au-
toriza a acção, quando toque, directamente, ao
autor ou á sua familia ,

Direito anterior — A lei não dera ainda expressão a este


pensamento, que a doutrina consagrava, sem, aliás, lhe dar a
necessária firmeza.
Degislação comparada — Codigo do processo civil italiano,
art. 36, que foi a fonte do nosso Codigo, neste dispositivo.
Projectos — Beviláqua, art. 175; Revisto, 185.
Bibliographia — Theoria geral, 72, II; Espinola, Breves
annotações, ps. 215 a 221; S. Vampké, Manual, I, §§ 83 e segs-
Martinho Gakcez, Theoria geral, § 97; João Moatbibo, processo,
I, §§ 18-20; Direito das acções, Introducção, n. 7; Unidade do
direito, §§ 91 e segs.; Giantubco, Inst., § 24; Mattibolo, DifH 0
giudiziario, I, § 32; R. Demogue, Aoíüoins fondamentales, pagi^3
183-192; Lagarmalla, Las acciones en matéria civile, ns. 10-21,
Chieoni, Ist., §§ 87-88; Goüusmit, Pand., I, § 90; Debnbüb0'
Pand., I, §§ 127-130; Dias Fekp.eira, Codigo Civil portuguez, 11'
Fadda e Bensa, nota (o) ao § 46 de Windscheid, Pand., l'
ps. 681-687; Jheking, Questões de direito civil, trad., Adheeb^
de Carvalho, Do lucro nos contractos; Hedemann, Die D0
schritte ães Zivilrechts, ps. 54 e segs.; Trabalhos da Cam3,13"
IV, ps. 160, 221-222 e 278; M. I. CxVrvalho de Mendonça, Obr^
gações, II, ns. 477-486; Almachio Diniz, O valor do dorP0 U
mano, nos Awnaes Forenses, anno 2.°, n. 23; Martins JünioB'
Fragmentos juridico-philosophicos: Crime de injuria aos xnorU'
DOs FACT08 JDBIDICOS 319
Godofeed0 Vianna, No paiz do direito: Indemnização do damno

tad* ' CaRVAI'ho dos SaNtos


' Co digo de Processo Civil interpre-
CiSl a0 art 2-0
ao art.' 2.°.'
DE Placii>0 e
Silva, Commentarios ao Coãigo
CONSELHO RCCr^-M. DO TRABALHO
R£G(ÃO
da n _erva5®es ■ O interesse legitimo é a razão de ser
ao doTVv™"0 age.ndÍ' 0 in0tÍV0 qile justifica a reclamação
é m-P ^ ^ ari0- Nao basta ter 0 direito, para propor a acção;
o iniC1S0 qUe haja interesse mo
eresse
' tivo, razão de propol-a. Apparece
por isso se' doando o direito está
diz que o interesse deve ameaçado ou jáe foi
ser actual, não lesado,
méra-
ttn
te possível ou remoto.

siv 1° lnteresse sera' ordinariamente, economico, isto é, conver-


econ ^ dÍnheÍro; mas poderá ser também moral. No interesse
SenoíTr S? COmprehende a defesa do direito real. e a exi-
(D 40 *queIas ob^ações, qvce pecunia lui prcestarique possunt
Persovnr* 7 9' § 2'ü)" 0 interesse moral diz respeito, á própria
ÍndÍVÍdu0 á h0nra á
V-ofissTo ' ' liberdade, e, ainda, á
elie ! ÍntereSSe ooonomico deve ser do autor ou da pessôa, que
J1:—
da üía família.
0 m0rai ha de ser
' Mrectamente, do autor, ou
0
a resf 86 0 interesse moral justifica a acção para defendel-o
dne o aUra1"0' ó claro que tal interesse é indemnizavel, ainda
eessid riem m0ral 86 nã0 exPrima em dinheiro. E' por uma ne-
não ra.e dOS nossos meios humanos, sempre insufficientes, e,
Se ar0 srosseiros que
' ' o direito se vê forçado a acceitar que
m dÍnheiro 0
intere. ^
cesses moraes. interesse de affeição e os outros

dontrqm! artlg0' portanto, solveu a controvérsia existente na


Esptxt6 que' mai! Uma Vez' repercutiu em nossos julgados.
0
inter ' 01A' de. accordo com Coviello, procura estabelecer que
direito eSSK-de agÍ1 differe do interesse, que fôrma o conteúdo do
ip
cluidrTtÍV0' Para COncluir d"6 no interesse moral não está
teúdo ri 0 fam0 m0raL MaS 0 interesse de agir é o mesmo con-
re
age c 0 lreÍt0 _Sllb;iectivo considerado no momento, em que
iesão q011 ^ a leSa0 0U a ameaça. E, se o damno moral é uma
a
^nti o .reÍt0' £orsosamente Provoca a reacção, cria a ratio
• C0dl90'suscitado
reaccão Jurídica porém nao deu
' pelo damno
grande latitude
moral; ao podersub-
restringiu-o, de
320 CODIGO CIVIL

jectivamente, neste artigo, e fixou-o, objectivamente, ao tratar da


liquidação das obrigações resultantes de actos illicitos.
3. — Outra controvérsia, a que pôz termo, foi a referente a
persistência das acções populares, que, no direito romano, tinham
por objecto a defesa dos bens públicos. Na organização juridica.
moderna, os actos, que davam causa ás acções populares, pas
saram a constituir crimes reprimidos pelo Codigo Penal, sendo
a matéria, ora de leis de policia, ora de posturas municipais, e,
algumas vezes, offensas a direitos individuaes. (Veja-se a minha
resposta ao Sr. Andkade Figueira, nos Trabalhos da Gamara,
IV, ps. 221 a 222 e 278).
4. — A Constituição de 1937, art. 122, n. 7, consigna o
direito de representação ou petição perante as autoridades, em
defeza de direitos ou do interesse geral.

Arf,. 77. — Perece o direito, perecendo o seu


objecto.

Direito anterior — Principio reconhecido.


Projectos — Coelho Rodrigues, art, 210; Beviláqua,
Revisto, 186.
Bibliographia—Theoria geral, §§ 74 e 75; Espinola, Breves
annotações, 1, ps. 222 a 224; S. Vampbé, Manual, I, §§ 87 e segs-
Maetinho Gaecez, Theoria geral, § 98; Dernburg, Panã., I, § '
Endemann, Lehrbuch, I, § 1.°, § 58, III; Uribe e Champeau,
rocho civil colombiano, 1, ns. 76-83.

Observações — 1. — Os direitos adquiridos perduram, 6111


quanto não sobrevexn uma causa, que lhes elimine algum ^
todos os seus elementos constitutivos; sujeito, objecto e P1
tecção legal.
O Codigo não fala neste artigo senão da extincção do ^
reito pelo parecimento do objecto. Mas ha outros modos gel ^
de extincção, como a renuncia, os prazos extinctivos, a V ^
scripção. Extinguem-se, também, os direitos, quando a institui ^
é abolida; a acção fica perempta; o sujeito desapparece, sen 0^
direito intransmissivel; as qualidades de credor e devedor
fios FÁCTOS JURIfilCOS 321
re
Unem na mesma pessôa. Casos especiaes apparecem na parte
es
Pecial do Codigo: perda da propriedade (arts. 589 e 590);
do domínio (art. 647); extincção das servidões (ar-
^ S s 708-710, do usofructo (arts. 739 a 741); do penhor (ar-
lg s 80
o 2-804); da hypotheca (arts. 849-851).
2. A regra crystallizada no art. 77, em sua generalidade,
' 6ce excusada, pois que o Codigo não põe em relevo o pere-
fixento do direito, pela ausência de seus outros elementos es-
Se
ficiaes. O que se tinha em vista era, antes, o perecimento da
s
a coiporea, que faz objecto do direito, como claramente diziam
Projecto primitivo (art. 176) e o Revisto (art. 186). No art. 79,
Pensamento do Codigo se aclara. E' do perecimento da coisa
fie ali Se trata. Quando perece a coisa, objecto do direito real,
x
ifigue-se a relação jurídica, por falta de um dos seus ele-
fiientos essenciaes. Algumas vezes, porém, ha subrogação e, pelo
Perecimento da coisa, apenas se opera mudança no objecto do
^ireito. Assim é que, perecendo o objecto dado em garantia
. eUm debit0' 0 Privilegio do credor estende-se ao preço da
mnização paga pelo segurador ou pelo desapropriante (ar-
1.558).
No direit0 das
obrigações, o perecimento da coisa devida só
nãlngUe
0
0 vincul0
obrigacional,
tendo perecido por quando (art.
culpa do devedor é certa
865).e individuada,

Art. 78. — Entende-se que pereceu o obiecto


ao
direito.
I- Quando perde as qualidades essenciaes,
11 0
valor economico.
II. Quando se confunde com outro, de modo
I e se não possa distinguir.
III. Quando fica em logar, de onde não pos-
Sa
ser retirado.
ireito anterior — Eram princípios aceitos.
rojectog — Coelho Rodrigues, art. 211; Beviláqua, 177;
ie
fiU-ío, 1S7.
^^ibliographla
0
— Theoria geral, § 75; Spencer Vampbé, Go-
Oivii, ao art. 17; Ferreira Coeolho, Codigo Civil, VII, ao

Cod
igo Civil — l.o vol. 21
322 CO0IGO CIVIL

Observação -— Refere-se o Codigo ao perecimento da coisa


corporea, e declara que elle resulta, não somente, do seu total
desapparecimento, como o que provém da morte do animal, ou
do desabamento da casa; mas, ainda, das circumstancias, que
enumera:
I. A perda das qualidades essenciaes ou do valor economico-
Exemplos: O campo é invadido pelo mar (D. 7, 4, £r. 23); a
coisa é transformada pela especificação (art. 611); a coisa e
posta fora do commercio, de modo permanente.
B' de notar que a inundação temporária de um terreno não
faz desappareoer o direito do proprietário.
II. O facto, que torna impossivel distinguir uma coisa da
outra, como nos casos de confusão, commixtão, adjuncção (ar'
tlgos 615-617) e avulsão (arts. 541-543).
III. A inaccessibilidade, como quando a pedra preciosa cae
no fundo do mar, em ponto indeterminado; o animal bravio, que
depois de apprehendido, volve á sua liberdade natural. (D.
1, £r. 5, § 4.°; 41, 2, fr. 3, § 16; Inst., 2, 1, § 14).

Art. 79. — Se a coisa perecer por facto


alheio á vontade do dono, terá este acção pelos
prejuízos, contra o culpado.

Direito anterior — Reconhecia-se o principio em doutriua-


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 212; Beviláqua,
Revisto, 188.

Observações — 1. — Depois de tratar do perecimento da


coisa, que determina a extincção do direito, prevê o Cc-diêve0
de
Civil o caso de ser o perecimento imputavel a alguém, que u ^
indemnizar o prejuizo. O causador do damno terá praticado ■i _-r0j*í £1
acto illicito, definido pelo art. 159, depois do qual é que uev ^
vir o artigo agora analysado, por ser uma simples appiicaea
do principio geral ali estabelecido.
2. — Não constituirá acto illicito o perecimento da c0^ii
por acto de outrem, quando praticado em legitima defesa,
nos FACTOS JURÍDICOS 323
em caso de necessidade (art. 160). Todavia o que destróe, o
alheio, em caso de necessidade, será obrigado a indemnizar,
sempre que ao dono se não possa imputar culpa da situação,
que tornou necessária a destruição do objecto, segundo se verá,
umis extensamente, no commentario ao art. 160.

Art. 80. — A mesma acção de perdas e da-


jnrxos terá o dono, contra aqnelle que, incumbido
conservar a coisa, por negligencia a deixe pe-
recer ; cabendo a este, por sua vez, direito regres-
sivo contra o terceiro culpado.

iMreito anterior — Principio acceito pela doutrina, como


Generalização de casos particulares.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 213; Beviláqua, 179;
Revisto, 189.

Observações — 1. — Aquelle, a quem está confiada a guarda


^ coisa alheia, deve empregar todo o zelo, para que esta não
se damnifique ou pereça. A sua negligencia é um deslise culposo
0
dever juridico. Se causar damno, constitue um acto illicito
ai
l. 159), que obriga á reparação.
Podem achar-se nessa situação os tutores, curadores, uso-
r
Uctuarios, commodatarios, depositários e mandatários, aos
q^aes incumbe a conservação de bens alheios, e as obrigações de
08
restituir.
2
- — Se a culpa do prejuízo couber a outrem, que não
quelie que tem o dever de velar pela conservação da coisa, é
hsto que, não obstante, responda pelo damno, pois foi negli-
^ente na vigilância; porém egualmente justo é que tenha acção
^ Gressiva contra o culpado, para delle haver o que, por causa
6 e
' foi obrigado a pagar.
324 CODIÔO CIVIL

TITULO I

DOS ACTOS JURÍDICOS

CAPITULO

Disposições Geraes

Art. 81. — Todo o acto licito, que tenha por


fim immediato adquirir, resguardar, transferir,
modificar ou extinguir direitos, se denomina acto
juridico.
Direito anterior — Doutrina assente.
Degislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 944.
O Codigo Civil allemão não definiu o acto juridico. O francez
não destaca essa energia propulsiva da vida jurídica.
Projectos — Esboço, art. 435; Felicio ct^os Santos, 211'
Coelho Rodrigues, 145; Beviláqua, 83; Revisto, 97.
Bibliographia — Theoria geral, § 48, II; Ribas, Curso, Pa'
ginas 455-458; Espinola, Systema, ps. 423-446; Breves annotações,
I, ps. 225 e segs.; S. Vampké, Manual, § 52; Martinho Gabcez>
Theoria geral, § 100; Coelho da Rocha, Inst., § 94; Colxn et
Capitakt, Cours, I, ps. 60-64; Kohleb, Lehrbuch, I, §§ 216 e
217; Endemann, Lehrbuch, §§ 60 e 61; Gebbee, System, §§ 64 e
65; Dernbübg, Pand., I, §§ 79, 91 a 96; Windschexd, Pand., 4»
§ 69 e nota n de Fadda e Bensa, ps. 839-846; Savigny, Droit 1°'
main, § 104; Jheking, Espiritu dei derecho romano, IV, § 66»
Sohm, na Systematische Rechtwissenschaft ps. 27-29; BbüNs
Ecic-Mitteiss, Das Pandektenrecht, § 20 (na Encyklopaeãie des
Reehtswissenschaft, de Fbanz Holzendorf, e J. Kohleb);
lius Bindeb, Wille und Willenserklaerung im Tatbestanã des
Rechtsgeschaefts (no Archiv fuer Rechts-und WirtsohaftsphH0
sophie, vol. V. ps. 266-282 e 566-576; vol. VI, ps. 282-303 e 45l-4'45:
Picard, Le d/roit pur, §§ XCIX-CIII; Chibonx, Istituzioni, I» §
Van Bemmelen, Nociones fondamentales dei derecho civil, l90^'
ps. 137-146; Alves Mobexba, Inst., ns. 150-152; G. Rotondi, 'v'3-
Regozio giuriãico, in Dizionario de diritto privato de V. SciAloJA
e Bxjsatti; Ferreira Coelho, Codigo Civil, VII, ps. 153 e seê8-'
Salvat, op. cit., ns. 1.551 e segs..
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 325
Observações — i. o acto jurídico deve ser conforme á
ontade do agente e ás normas do direito. E' toda manifestação
e
vontade individual, a que a lei attribue o effeito de movi-
mentar as relações jurídicas.
O conceito do acto jurídico, sendo ponto fundamental da
outrina, suscitou na Allemanha uma extensa literatura, onde,
^ Par de analyses profundas e idéas sans, não têm faltado
esvios philosophicos e exageros psychologicos. Foi attendendo
a
esses excessos que Juuius Binder escreveu, fechando o seu
Percuciente estudo sobre — Vontade e declaraçõ\o de vontade
negocio jurídico: "Para a solução do problema da declaração
a
vontade, a jurisprudência não pôde esperar auxilio da phi-
0s
ophia nem da psychologia, porque é esse, axclusivamente, um
Problema da sciencia do direito positivo, cuja solução somente
Pode ser encontrada em uma analyse, exacta e feita com abso-
u
ta isenção de espirito, das normas do direito".
2. são actos jurídicos os contractos, o reconhecimento dos
"hos, a adopção, a autorização do pae, do marido ou da mulher,
0
Estamento, a acceitação e o repudio da herança, e ainda muitos
outros, que é considerável a variedade desta figura systematica.
xs r
t ibuem-se, porém, logicamente, em diversas categorias: Uni-
eraes, dizem-se os actos, quando a manifestação da vontade
feita por uma só pessoa, como nos títulos ao portador, na
Promessa de recompensa, na renuncia, no testamento; Ulateraes,
tPando ha concurso de vontades, como nos contractos; onerosos,
Phando ha vantagens e sacrifícios para ambas as partes; gra-
uitos, quando somente uma das partes lucra; entre vivos, se
6111
por escopo produzir effeito durante a vida dos agentes,
t 0rtls ca
* usa, se esse effeito é adiado para depois da morte;
P^incipaes, desde que subsistam por si; accessorios, se depen-
orern de outro.
Analysando a noção de acto jurídico dada no art. 81,
em
primeiro logar, que elle deve ser licito, isto ê, con-
^ rrne os preceitos da lei. O acto illicito (art. 159) não se destina
crear direitos em favor do agente; gera-lhe, ao contrario, obri-
g
aQÕes, pois que o coage a indemnizar o damno causado.
4
(lef> ; ~~ Fere- também, a attenção, ter-se o Codigo afastado da
^içâo corrente, que remonta a ülpiano, Totum jus consistit
a( u ren< 0 au
^Ju risconsulto
^^ ^ romano
^ ' ^ (D. ,1,
conservando,
3, fr. 41).autA.minuendo, escreveu
conservação dos di-o
0s
^ posta de lado na .definição legal. Tal suppressão-pode
326 CODIGO CIVIL

justificar-se com a autoridade de Savigny (§ 104, nota &):


porém é bem de vêr que, entre o nascimento e a extincçúo do
direito, está, forçosamente, a sua existência, e que esta, para
ser mantida, exige muitas vezes, actos conservatórios, como o
protesto, a resalva. a retenção, o seqüestro, e a interrupção da
prescripção.
Substituiu-se, é certo, a idéa de conservar pela de resguardar.
que não tem a mesma extensão, e accrescentou-se a de transferir,
que está, naturalmente, comprehendida na de adquirir. Augxnen-
tou-se, por esse modo, a expressão verbal da definição sem tornar
mais preciso o conceito. O Codigo Civil argentino, seguindo
Ortolan. faz também sobresabir o momento da transferencia
dos direitos. "Son actos jurídicos los actos voluntários lícitos,
que tengan por fín immediato, estabelecer entre Ias personas ie'
laciones jurídicas, crear, modificar, transferir, conservar e ani-
quilar derechos".

Art. 82. — A validade do acto jurídico re-


quer agente capaz (art. 145, n. I), objecto licito,
e fôrma prescripta ou não defesa em lei (artigo8
129, 130 e 145) .

Direito anterior — A doutrina, apoiando-se em disposiçoeS


particulares, chegara a esta generalização (Carlos de Carvat.HO,
Direito civil, art. 223, que consolida o disposto no Codigo Com-
mercial, arts. 129 e 191, e no reg. n. 737, de 1850, arts. 682 e 684)-
Legislação comparada — O Codigo Civil allemão e o ai
gentino, cujo systema é o mesmo, a que se filiou o brasileu0,
não apresentam disposições correspondente á do art. 82. NelleS'
de
entretanto, o preceito se suppõe, e resulta da combinação
aI10
vários dispositivos. O Codigo Civil francez, art. 1.108, o itali '
1.104, o venezuelano, 1.179, e o uruguayo, art. 1.261, exig6^1
condições semelhantes para os contractos. O nosso Codigo Civ^
do Perú, art.. 1.075, contem disposição semelhante á do nosso
art. 82.
Projectos — Esboço, art. 501; FeÜcio dos Santos'. 217; Coelh0
Rodrigues, 287; Beviláqua, 84; Revisto, 98.
Bibliographia — Theoria geral, § 49; Ribas, Cuis0'
ps. 460-464; Espinola, Systema, I, ps. 446-458; Mahtxnho GabÇ ' '
Theoria géral, § 102; OoEtao da Rocha, Inst., §§ 95-9?; DbbVbobí"
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 327

Panã., I, § 91, 4; WusrDscHEii), Pand., I, § 70; Auves Moreira,


Inst
; n. 151; Colin et Capitant, Cours, I, ps. 72-73; R. Salvat,
0
P- cit., ns. 1.579 e segs..

Observações — 1. — O acto jurídico tem por conteúdo uma


declaração de vontade. O agente, portanto, deve ser capaz de
luerer validamente. A ordem jurídica declara inefficaz a vontade
dos incapazes. De um modo incondicionado, a dos absolutamente
^capazes indicados no art. 5.°. São nullos os actos praticados
Delos menores de 16 annos, pelos loucos, pelos surdos-mudos
^hibidos de exprimir a sua vontade. Também a vontade dos re-
ativam ente incapazes (menores de 18 ou 21 annos, mulher
cas
ada, pródigos, selvicolas) é juridicamente inefficaz em relação
a
certos actos ou ao modo de exercel-os (art. 147, I).
2. -— A declaração da vontade deve ser conforme aos fins
e
thicos do direito, que não pode dar apoio a intuitos immoraes,
C6
rcar de garantias combinações contrarias aos seus preceitos
■^arhhdamentaes. O acto jurídico ha de ser licito, por definição
^ t. 81). Consequentemente, se o objecto do acto fôr offensivo
moral ou das leis de ordem publica, o direito não lhe reco-
mece validade.
— E' a forma que dá existência ao acto jurídico. Sem ella,
hao passará de uma acção humana estranha á vida jurídica. A
or
úem jurídica, em nossos dias, não é formalista; por isso con-
tenta-se, em geral, com a fôrma escolhida pelo agente, desde
lhe seja apta a lhe exprimir a intenção (art. 123). Algumas
v
ezes, porém, estabelece formas rigorosas, sem as quaes não re-
c
Ohhece valor no acto. O casamento e o testamento, por exemplo.
®ao actos, solemnes, que não valem, sem a forma, que a lei lhes
escreve. Os pactos antenupciaes, as doações, os actos constitu-
Vo
s ou translativos de direito real, exigem escriptura publica.
lg
e-a, também, a adopção, que, além disso, está subordinada
0
htras exigências da lei.

Art. 83. — A incapacidade de uma das partes


ao
pôde ser invocada pela outra, em proveito
Pr.oprio, salvo se fôr indivisivel o objecto do di-
eito
oli da obrigação cbmmum.
328 CODIGO cmi,

Direito anterior — Doutrina assente.


Legislação comparada — Codigo Civil do Perú, art. 1.078.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 314; Beviláqua, 86; Be'
visto, 99.

Observação — A incapacidade, em regra, é declarada no


intuito de proteger-se o individuo. Os menores e os loucos. por
não terem discernimento, são declarados incapazes; e essa si-
tuação jurídica é creada, não com o fito de lhes assignar uma
posição inferior na vida, mas para defender-lhes as pessoas e o
patrimônio, contra os abusos e a perversidade dos outros. E' 0
proprio incapaz, portanto, que deve invocar, pelo orgão de seu
representante, a protecção, que a lei lhe offerece. Nos actos hi-
lateraes, se uma das partes é capaz e a outra incapaz, aquella
não pode allegar, utilmente, a incapacidade desta, em seu
proprio beneficio, porque devia saber com quem tratava, e porque
um remedio tutelar instituído em favor do incapaz não poderia
ser applicado em seu detrimento.
Se, porém, o objecto do direito ou da obrigação fôr indi-
víduo, como não é possível separar o interesse de uma parte do ♦
da outra, o vicio da incapacidade se estende a todo o acto, e in^
vocado pelo agente capaz, determinará a annulação do acto.
Veja-se, ainda, o que dispõe o art. 157.

Art. 84. — As pessoas absolutamente inca-


pazes serão representadas pelos paes, tutores ou
curadores, em todos os actos jurídicos; as rela-
tivamente incapazes, pelas pessoas e nos actos,
que este Codigo determina.

Direito anterior — Semelhante ainda que não systemati-


zado. Orã., 3, 29, § 1.°; 41, 8o; 63, § 5o. Teixeira de Freitas. Con-
solidação, arts. 25 e 26; Carlos de Carvalho, Direito civil, ar-
tigos. 94.a 96. .quanto aos metiores. — Orã., 4, 81, pr., e §§ Io e ^0,
4, 103; Teixeira de Freitas, Consolidação, arts. 29 e 30; Carlos de
Carvalho, Bir. civil, art. 103, quanto aos loucos. — Ord., 4, 46, pr-'
dec. n. 181, -de 24 de Janeiro de 1890, art. 56; Carlos^de Cak-
valho, Direito civil, art. 106, quanto â mulher casada. — Ord-, 4»
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 329

pr., e §§ 6 e 7 , Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 325


Quanto ao proãigo.
Legislação comparada - Yejam-se o Oodigo Civil austria-
. ar . 65; o federal suisso das obrigagões, art. 32, da primeira
^oigao; e o allemão, 107.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1F. Beviláqua, 87- Re-
«isfo, 100. * , , *
Bibliographia - Theoria geral, §§ 9" e 10; Martinho Garcez,
ona geral, § 104; Espinola, Breves annotações, ps. 229 e 230.

Observações - 1. _ Q menor de 16 annos, o louco de todo


tnri e.ener0 0 surd0 m
e o' ausente declarado
- ^0, quetalnão*
em puder exprimir
juizo, os a sua
primeiros por von-
mo-
os desordem psichica, adoptados pelo direito, e o ultimo por
razao de ordem material, somente por intermediô dos seus
Piesentantes podem praticar actos validos na vida civil. O acto,
i tervierem
tigo ^ ' Pessoal e exclusivamente, será nullo (ar-
Essas pessôas não tomam parte directa nos actos jurídicos.
dor0esSUbSÍÍtUÍdaS ^ SeUS representaíltes: Paes. tutores ou cura-
2. Qg maiores de dezesseis annos e menores de 18 ou vinte

JueT' aS mulheres casa(Jas, emquanto subsistir a sociedade con-


08 Pr0dÍg0S e 08 selvi
send o' autorizados colas,porintervém
ou assistidos nos actos jurídicos,
seus representantes legaes.
incapaeidade destas pessoas é restricta. Os actos por ellas
lcados
tori são apenas annullaveis (art. 147, I). A falta de au-
ZaÇan pode ser sanada
Kar
faT>t
e. 148). Pelo representante, ratificando o acto

a extensão da
art . incapacidade das pessoas declaradas no
POr ÍSS0 ha preceitos es ec
ridart P ines, que attendem ás particula-
arts i daS differentes cIasses relativamente incapazes. Os
54 a 156 attendem a
acto"
^ s
Praticados por menores entre dezesseis eespeclaes
circumstancias de annos.
vinte e um certos

goci1" her.casada' se nao Pdde, validamente, praticar certos ne-


e
248S) :,Ur^dícos <-art' 242^ é capaz de muitos outros (arts. 247
a SUa inca ac a
do i^j- P id de cessar, quando assume a direcção
1 rait
ã-igUR " 251-)' tem 0 direito de impedir a realização de
conf Sme aCt0S judiciaes e
o regimen dos extra-judiciaes do marido
bens? o seu direitõ (ãrt. 235) e,e
dè administração
330 CODXGO CIVIL

disposição será tão extenso quanto o do seu consorte (arts. 276


e 310). Foi por força da tradição que o Codigo Civil a incluiu
ao numero dos incapazes. Essa classificação não corresponde á
situação juridica da mulher casada estabelecida no Codigo.
O prodigo tem a sua capacidade restricta somente em re-
lação aos actos que lhe possam prejudicar os bens (art. 459).
Os selvicolas são incapazes apenas por estarem submettidos
a um regimen especial de protecção juridica.

Art. 85. — Nas declarações de vontade, se


attenderá mais á sua intenção que ao sentido li-
teral da linguagem.

Direito anterior — Vigorava o principio (Orã., 1, 62, § 53;


Cod. Commercial, art. 131, I; Caklos db Carvalho, Dir. civil,
art. 284).
Legislação comparada — D. 50, 16, fr. 19; in conven-
tionibus contrahentium voluntatem potius quam vèrba spectan
placuit; 33, 10, fr. 7, § 2o; 34, 5, fr. 12; Codigo Civil allemâo, ar-
tigo 133; federal suisso das obrigações, 18; civil francez, 1.156;
italiano, 1.131; austríaco, 914; hespanhol, 1.281; chileno, 1.560,
uruguayo, 1.298.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 256, 2.a parte; Bevi-
láqua, 89; Revisto, 101.
Bibllographia — Theoria geral, § 49; Martinho Garcez,
Theoria geral, § 105; Endemann, Lehrbuch, I, § 100; HüC,
Commentaire, VII, ns. 175-177; Saleilles, De la déclaration de
volonté, ao art. 133 do Codigo Civil allemão; Ferreira Coelho,
op. cit., VII, ps. 218 e segs.

Observação — Neste artigo, ó Codigo emprega a expressão


— declaração de vontade, que é o conteúdo do acto juridico»
pelo proprio acto. Num sentido geral, podem, realmente, as duas
locuções se eqüivalem.
A vontade manifesta-se por signaes ou symbolos, entre os
quaes occupam logar proeminente as palavras. Esses signaes oU
palavras podem não traduzir, fielmente, ò que o agebtè 0uel
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 331

exprimir. A lei, por isso, manda attender, de preferencia, á in-


tenção, desde que haja elementos para determinal-a, fora da ex-
Pressão verbal imperfeita, indecisa, obscura ou insufficiente.
Este preceito é mais do que uma regra de interpretação. E'
um elemento complementar do conceito do acto juridico. Affirma
Que a parte essencial ou nuclear do acto juridico é a vontade. E'
a
ella, quando manifestada de accôrdo com a lei, que o direito
âá efficacia.

CAPITULO II

Dos defeitos dos actos jurídicos

SECÇÃO I

Do erro e da ignorância

Art. 86. — São animllaveis os actos jurídicos,


liando as declarações de vontade emanarem de
er
ro substancial.

Uireito anterior — São annullaveis os actos viciados por


err
o (Reg. n. 737, de 15 de Novembro de 1850, art. 685; Teixeira
d
e PreiTAS; Consolidação, nota 14 ao art. 355).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.109 e
^•tlO; italiano, 1.108-1.110; portuguez, 656-662; hespanhol, 1.265 e
t-266; allemão, 119; austriaco, 871; argentino, 924-929; uruguayo,
t-269.1.271; venezuelano, 1.184; mexicano, 1.813; boliviano, 700 a
^2, chileno, 1.453 e 1.455; federal suisso das obrigações, revisto,
> do Montenegro, 521; japonez, 95; peruano, 1.079.
Para o direito romano, vejam-se: D. 50, 17, fr. 116, § 2o; Non
Vl
ãentur qui errant conseniire; Cod, 1, 18, 1. 8 e 9.
Puojectós — Esboço, art. 461; Felicio dos Santos, 226; Coelho
^0dHgues, 316; Beviláqua, 90; Revisto, 102.
Libliographia — Theoria geral, § 51; Ribas, Curso, ps. 464 a
469
; Espinola, Systema, I, ps. 466-473; e II, ps. 606-613; Breves
ann
otaç6es, I, ps, 232 e scgs.,; S.. Vampré, Manual, I, § 57; Al-
ACBi
o Einiz, Primeiros principiós, I, § 34; Lacerda de Almeida,
832 CODIQO CIVIL

Obrigações, § 52; Martinho Garcez, Theoria geral, § 106, e NulU-


ãaães, 2." ed., I, ns. 117-129; Coelho da Rocha, Tnst., § 100:
Colin et Capitant, Cours, I, ps. 67-68; Bufnoir, Propriété et
contrai, 1900, ps. 589-605; Savigny, Droit romain, III, §§ 135-139;
Windsoheid, Pand., I, §§ 76 a 78; Dernrurg, Pand., I, §§ 101 «
102; Endemann, LeTirbuch, I, § 72; Kohler, Lehrbuch, I, § 230;
Schirmeister and Prochownik, §§ 87-91; Fubini, La dottrina dei
errore, 1902, ns. 4-178; Chironi, Ist., I, § 59; D. Caporall vi).
Errore no Dizionario de Scialoja e Busatti; Rossel, Droit
civil suisse, III, ps. 50-58; Alves Moreira, Inst., 1, n. 160; Dia6
Ferreira, O^digo Civil portuguez, nota aos arts. 656-662; Bruns
— Eok — Mitteis, na Encyklopaedie de Holtzendorf e Kohler»
§ 20, 3; Planiol, Traité, I, ns. 261 e 262; II, 1.091-1.101; Lacjrent,
Cours, II, ns. 483-488; Huo, Commentaire, VII, ns. 20-27; Sa-
lbilles, De la déclaration de volonté, ao art 119 do Cod. Civil
allemão, Aubry et Rau, Cours, IV, § 343, bis, 1.°; Code Civil
allemand, publié par le Comitê de lég, étr., I, ao art. 119; S0'
kolowski e Cornil, na Revue de Droit internati.cmal et léQ-
comp., 1907, ps. 510 e segs. (Théorie de Verreur); Ferreiba
Coelho, op. cit, VII, ps. 228 e segs.; R. Salvat, op. cit., ns.
2.293 e segs..

Observações —■ 1. — Erro é a noção falsa, que vicia a


manifestação da vontade. Ignorância é a completa ausência d®
conhecimento sobre aquillo de que se trata. A conseqüência desses
dois estados de espirito é a mesma para os actos jurídicos; nUTI1
e noutro, a vontade não é real ou, antes, se desvia. Ha descon-
veniencia entre a vontade e a sua manifestação, tanto no caso
de erro quanto no de ignorância. O Codigo Civil considera syn0"
nymas as duas palavras — erro e ignorância, para os effeit08
de direito, na theoria dos actos jurídicos. Por isso, tendo em-
pregado as duas na epigraphe, no texto dos artigos 86-91 soinent®
se refere a erro.
2. — O erro, para viciar a vontade, deve ser tal, que, sem
elle, o acto não se celebraria. E' o que se denomina erro sub-
stancial, cujas modalidades o Codigo accéntua nos arts. 87 e S8'
Erro acciãental é o que recáe sobre qualidades secundarias do
objecto ou sobre o motivo do acto, quando o motivo não é a
cáüsd determinante. Tal erro não prejudicá a validade do actq-
DOS DEFEITOS DOS ACÍOS JtTEIDICOS 333
Trata-se aqui do erro de facto, porque este é que pode
influir sobre a efficacia da vontade. O erro de direito poderá
referir-se á capacidade do agente, á prohibição do acto, ou á
s
Da fóima, não á essencia mesma delle, ao seu conteúdo.
Do erro de direito o Codigo tratou na Introducção, art. 5.°,
Agora considera o erro acerca da natureza do acto, do objecto da
declaração, ou de alguma das qualidades esseuciaes da coisa,
sobre que versa o acto, ou em relação á pessoa a quem diga
respeito.
A referencia do Codigo Civil italiano ao erro de direito,
duando é causa do contracto, é uma fonte de confusão. Apezar do
que em contrario expõe o douto Espinola, continúo a pensar que
n
esta secção, trata o Codigo, simplesmente, de erro de facto,
borque ninguém se excusa allegantUa ignorar a lei. (Introducção,
a
rt. 5.u), Esta necessidade social de dar á lei o poder de obrigar a
todos, ainda que de facto a ignorem, não se compadece com a
utlegação da ignorância delia para annular um acto, a pedido
daquelle que se diz ignorante da lei.

Art. 87. — Considera-se erro substancial o


lue interessa á natureza do acto, o objêcto prin-
c
ipal da declaração, ou alguma das qualidades a
e
De essenciaes.

Direito anterior — Não havia na lei esta definição,


legislação comparada — Codigo Civil chileno, arts. 1.453 e
•454; uruguayo, 1.271; portuguez, 657-662; hespanhol, 1.266;
6
■ suisso das obrigações revisto, 24, ns. 1-3; venezuelano, 1.185;
I)er
uano, 1.080.
Drojectos — Coelho Rodrigues, art. 321; Beviláqua, 91; Re-
Visto, 103.
Dibliographia — Yeja-se o artigo anterior.

Slik Observações 1. A determinação legal do que seja erro


jj. facial, capaz de annullar o acto juridico solve duvidas e
lme
c. controvérsias conhecidas na doutrina. Por isso, o Codigo
Vl1
brasileiro seguiu o caminho traçado pelo chileno e pelo
334 CODIGO CIVIL

uruguayo, que, melhor do que os outros acima citados, esclaie*


ceram as obscuridades do assumpto.
Ha erro substancial sobre a natureza do acto (erro in ipso
negotio), quando se tenciona praticar um acto, e se realiza outro.
Por exemplo; uma pessoa empresta uma coisa, e a outra
suppõe que houve doação. O Cod., 4, 22, 1. 5, suppõe o caso de
alguém que assigna, sem ler, um contracto de venda, na sup-
posição de subscrever contracto de locação, que mandara lavrai.
8i falsum instrumentum emptionis conscriptum UM, velut loca-
timis guam fieri mandaveras, subscribere, te non relegentem, sed
fidem habentem, suasit: neutrum contractum (in utroque alter-
utrius consensu deficiente) constitisse procul dúbio est.
Ha erro sobre o objecto principal da declaração (in ipso cor-
pore rei), quando a coisa directamente visada pelo acto não é a
que estava na intenção* 4». agente. Exemplo; declaro vender a
casa A, quando penso vender a casa B.
Ha erro sobre qualidades essenciaes do objecto, quando estas
são de ordem a influir na determinação da vontade e se sup-
punham existentes. Exemplo; compro um relogio de prata dou-
rada acreditando comprar um de ouro.
A theoria dos vicios redhibitorios é uma applicação pai"
ticular do principio da inconsistência do acto, quando ha erro
sobre qualidades do objecto. O vicio redhibitorio, porém, constitue
uma figura juridica especial, que exige normas próprias (artigo®
1.101 a 1.106).
2. _ Não basta, porém, que o erro seja substancial nos
termos dos arts. 87 a 88. Deve ser também excusavel, isto e,
deve ter por fundamento uma razão plausivel ou ser tal que uma
pessoa de intelligencia commum e attençâo ordinária o possa com-
metter. Como escreveu Paulo, ignorantia emptori prodest, qW
non in supinum hominem caãit (D. 18, 1, fr. 15, § l.0).
Além disso, deve ser real, isto é, não recair sobre meras
qualificações, ou como diz o art. 91, sobre indicação^ da pessoa
ou da coisa, quando uma ou outra se pôde identificar (D. l8- '
fr. 9, § Io: nihil enim Jacit error nominis, cum de corpore constdU
45, 1, fr. 32). Comprar uma cópia de Raphael suppondo comPraI
um quadro authentico. é erro, que versa sobre qualidade essência
do objecto, e não um simples erro sobre nome ou qualificação.
O erro quanto ao motivo do acto é objecto do art. 90.
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 335

Art. 88. — Tem -se, egnalmente, por erro


substancial o que disser respeito a qualidades
essenciaes da pessoa, a quem se refira a decla-
ração de vontade.

Direito anterior — Não havia disposição de lei a respeito.


Deglslação comparada ■— Codigo Civil francez, art. 1.110,
u
ltima parte; italiano, 1.110, ultima parte; venezuelano, 1.185,
2a
- parte; chileno, 1.455; hespanhol, 1.267, 2.a parte; portuguez,
allemão, 19, 2.a parte; austríaco, 873; argentino, 925; fe-
ueral suisso das obrigações, revisto, 24, 2.°; peruano, 1.081.'
Projectos — Beviláqua, art. 91, 2.a parte; Revisto, 104.
Bibliographia — Veja-se o art. 86.
CONSELHO JR£^10NAL DO TRABALHO
REGIÃO
Observações — i. — o erro sobre a pessoa, com que se
Çontracta, só influe sobre a realidade da volição, quando o acto
ê
celebrado em attenção a qualidades essenciaes delia. Isto poderá
c
lai-se, principalmente, nas locações de serviços immateriaes, e
uas encommendas de obras de arte. Na maior parte dos con-
tr
actos, porém, a consideração da pessôa não entra em linha de
conta. Pouco importa, por exemplo, que a grade do meu jardim
se
ia collocada pelo operário A ou pelo operário, B, que o vendendor
a minha camisa seja o negociante C ou o seu empregado.
Em matéria de casamento, o erro sobre a pessôa assume
^ ande relevo. Vejam-se os arts. 218 e 219, onde o assumpto é
Particularmente considerado.
Quanto ás disposições de ultima vontade, veja-se o artigo
1-670.
2
- O direito de annullar o acto, por erro, a respeito das
dualidades essenciaes da pessôa não impede que esta exija, do
due annulfa o acto, indemnização pelos prejuízos soffridos.

Art. 89. — A trausmisão errônea da von-


ade por instrumento, ou por interposta pessôa,
í)0de arguir-se de nullidade, nos mesmos casos,
que a declaração directa.
â36 CODIGO CIVIt

Direito anterior — A lei era silenciosa a respeito.


Legislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 120;
federal suisso das obrigações (revisto), 27.
Projectos — Beviláqua, art. 92; Revisto, 105.
Bibliographia — Jhebing, CEuvres choisies, II, ps. 74 e se-
guintes; Kohxer, Lehrbuch, § 226, II, 2.

Observação — Prevê o artigo os casos, em que a pessoa,


que declara a sua vontade, não se acha na presença da que tem
de receber-lhe a declaração, e recorre ao telegrapho, por exemplo»
ou a um mensageiro. Se o instrumento utilizado para a com-
municação da vontade não a transmitte, exactamente, ha di-
vergência entre a vontade, e a declaração, como se o mensa-
geiro não traduzir, com fidelidade, o recado que recebeu, quer
proceda de bôa fé, quer dolosamente.

Art. 90. — Só vicia o acto a falsa causa,


quando expressa como razão determinante, ou
sob forma de condição.

Direito anterior — Havia o subsidio do direito romano.


Legislação comparada — Inst., 2, 20, § 31; falsa causa n071
nocet... seã si conditvonaliter enuntiata fuerit aliuã júris est,
D. 12, 6', frs'. 52 e 65, § 2.°; Codigo Civil peruano, art. 1.084.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 342; Beviláqua, 94; R6'
visto, 107.

Observações — 1. — Os motivos do acto são do dominio da


psychologia e da moral. O direito os não investiga, nem Ides
soffre a influencia; excepto quando fazem parte integrante do
acto, quer appareçam como razão delle, quer como condição de
que elle dependa.
Emquanto se mantém na esphera da elaboração inteina'
ou, ainda que manifestada, se não faz corpo com o acto, seria-
realmente, perigoso, considerar a falsa causa como viciadora da
declaração. Por outro lado, é, muitas vezes, do interesse do ageute
não denunciar a causa do acto.
DOS DEFEITOS DOS ACTOS JURÍDICOS 337
2. — Trata-se aqui da catcsa efficiens e da Jinalis genera-
lizando o Codigo o principio do direito romano, como fizera o
federal suisso das obrigações.
causa
dos contractos, não declarada como razão ou
«ondição delles, deixou de ser considerada pelo Codigo Civil. A
doutrina já fez justiça a esse requisito, que parece ter entrado
no Codigo Civil francez por um equivoco.
Vejam-se o meu Direito das obrigações, § 56, da 2." ed.;
Uusbnt, Goars, II, ns. 538-543; Huc, üomvientaire, VII, nu-
^eros, 76 e 77; Planiol, Traité, II, ns. 1.070-1.073; Windscheid,
«wd., § 318; Endemann, Lehrbuch, I, § 108, nota 8; M. I. Car-
valho de Mendonça, Obrigações, ns. 602 e segs.; Justiniano de
^a, Reforma da legislação cambial, ps. 29-34; Demogue, D es
vbligations, I, ns. 743-747, 773-848 e 864 a 883.
O Codigo Civil argentino, o allemão, o portuguez e o federal
nisso das obrigações não mencionam a causa entre os requisitos
08 ac os
f jurídicos. A mesma orientação seguiu o peruano.
Perante a Commissão da Gamara, em 1901, foi defensor da
leoria da causa o Sr. Amaro Cavalcanti (Trabalhos, III, pa-
lmas 166-167, e V, ps. 329-330). A minha resposta encontra-se
0
V vol dos Trabalhos da Gamara, ps. 354, in fine, a 356.
Aliudi ao que se refere Huc, em seu Commentaire, sobre a
ex
Pressão sans cose de Beaumanoib, que suppuzeram eqüivaler
^Sunii cause, quando o velho jurista pretendia apenas dizer sans
^l0Se' sem objecto. E apreciei o apoio que Domat, o creador da
noria da causa, pretendeu encontrar no direito romano. Certa-
^te nas fontes romanas se fala em causa: D. 17, 2, fr. 9:
n sine causa obveniunt (donationes) sed ob meritum aliquod;
^ üamus aut ob causam aut ob rem (D. 12, 6, fr. 52); — Quod
£r ca%s «w datur (D. 12, 6, fr. 65, § 2o); Causa donandi (D. 39, 5,
• 3); Qui Sine causa obligantur (D. 12, 7, fr. 3); — Rihil referi
vive ab initio sine causa guid datum est, an causa propter
datum est
secuta non sit; — Cum nulla subest causa...
Ma ' 14' fr" 7' ^ 40'>' ~ 8i'" twrPis causa sit (D. 12, 5, fr. 8).
nie^ 0 POnt0 de VÍSta 1103 romanos era mnito differente. Desses
caií11108 ^ex^pi
• gui
os 86
^ue causa...
o misit sine
08
romanos
quiconcebiam
sine causaobrigações
obligantur.sem
O
^nsamento, que nesses fragmentos sobresáe é o do enriqueci-
I1 0
f illegitimo. Nelles não se cogita da formação do contracto.
Co
digo Civil — 1.° vol. 90
338 CODIGO CIVIL

Como bem diz Planiol, a noção da causa é perfeitamente


inútil para a theoria dos actos jurídicos.

Art. 91. — O erro na indicação da pessoa, ou


coisa, a que se referir a declaração de vontade,
não viciará o acto, quando, por seu contexto e
pelas circumstancias, se puder identificar a coisa
ou pessoa cogitada.

Direito anterior — Havia o subsidio do direito romano.


Legislação comparada — D. 18, 1, fr. 9, § Io; 45, 1, fr. 42.
Codigo Civil peruano, art. 1.082.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 230; Coelho Rodrigues,
325; Beviláqua, 95; Revisto, 108.
Bibliographia — Veja-se o art. 87.

Observações — 1. — E' o erro accidental ou sanavel, O116


não vicia a declaração da vontade. Veja-se o que ficou exposto
no commentario ao art. 87.
2. — O Projecto primitivo e o revisto, assim como o de íe'
licio ãiqs Santos e o de Coelho Rodrigues, referiam-se a outra eS'
pecie de erro accidental, o de conta ou de calculo, afim de dar,
ao prejudicado o direito de rectifical-o dentro de um certo prazo-
B' pensamento, que, egualmente, se encontra em alguns Codiê08
estrangeiros, como o federal suisso das obrigações, art. 22 (antes
da revisão), o Civil portuguez, 566, e o hespanhol, 1.266, segunda
parte. A Commissão da Gamara, em 1901, supprimiu este disp0
sitivo, por proposta do Sr. Andrade Figueira (Trabalhos, A»
p. 149, e V, ps. 124 a 125).

SECÇÂO II

Do dolo

Art. 92. — Os actos jurídicos são annullaveif


por dólo, quando este for a sua causa.

Direito anterior — Dispunha semelhantemente (Codigo Co#1


mercial, art. 129, 4o; reg. n. 737, de 25 de Novembro de
DO DOLO 339
art. 685; Teixeira de Freitas, nota 14 ao art. 335 da Conso-
"dação, e Carlos de Carvalho, art. 226).
Legislação comparada — D. 4, 3, fr. 1, § 2°; fr. 7, pr., e § 10;
odigo Civil íTaneez, arts. 1.116 e 1.117; italiano, 1.115; por-
uguez, 663, paragrapho único; hespanhol, 1.269 e 1.270; federal
smsso das obrigações (revisto). 28; chileno, 1.468; argentino,
. 32 e 934; boliviano, 707; uruguayo, 1.275; allemão, 123;
japonez, 96; venezuelano, 1.190; mexicano, 1.815.
Projectos Esboço, art. 473; Felicio dos Santos, 235; Coelho
obrigues, 326; Beviláqua, 96; Revisto, 109.
I blÍ raphÍa Theori
469 -473,
4 !n íf
Espinola, ~~Systema, « I,oeral, § 52; Ribas,
ps. 473-475; Curso,
Breves paginas
annotações,
■ e segs.; S. Vampré, Manual, I, § 58; Almachio Diniz
^mevros princípios, I, § 35; Lacerda de Almeida, Obrigações,
* & e 53; Martin no Garoez, Theoria geral, § 112; Nulliãaães
nS
gaÇoes - 139
I
-159; Coelho da Rocha, Inst., § 101; Pothier, Obri-
li , > n- 31; Planiol, Traité, 1, ns. 263-264; Laurent, Cours,
< ns. 497 e segs.; Huc, Commentaires, VII, ns. 35 e segs.; Buf-
j01®' Pro
^té et Contrai, ps. 609-620; Colin et Capitant, Cours,
70
Cod • ^AIallemão;
^ • Civil 'EIIJ'ES' De la
Aubrydéclaration de volonté,
et Bau, Cours, IV, § ao343;
art. bis,
1233.°;
do

99(5 Í1J'Dernburg,
920 -926; ID Pand I
' ' § 78' I,e no§ ta104;
-' Pand., 3 deEndemann,
Fadda e Bensa, paginas
Lehrbuch, I.
^ ' ohler, Lehrbuch, I, 234; Savigny, Droit romain, § 115
S id55'Cap VIII:
Chironi, Ist., § 60; La culpa contratual, trad. Po-
e - I: Lüigi Abello, vb. dólo, no Dizionario de Scialoja
üsatti; Alves Moreira, Inst., I, n. 161; Ferreira Coelho,
• Cl ■, VII, ps. 332 e segs.; R. Salvat, op. cit ns. 2.349 e segs.

o1oJ>bSerVa5SeS ~1-- D'"0 é 0 """«'o e^ediente astn-


0
Pre'" er,UPreSad0 para induzir alguém á pratica de um acto, que
o dói ^ 6 aproveita ao autor do dólo ou a terceiro. Somente
niava0 principal' 0 (lue fôr causa d0 acto, o que os romanos cha-
d0lUs causa
cara ^ ^ciistica ™ é a intenção
do dólo é que de
torna o acto annullavel. A
prejudicar. -
d
Dão s6 ^ nianifestação da má fé, por isso, em regra,
1 eSUme diIeíto,
conter^ - ^ Poróni, não exige rigor para proval-o;
ta-se com as presumpções.
dÓI(>
^ Uma aCreacção
sidei-a Çao ^provocaria ^0 do Intencional,
direito. Estae só por esta
reacção, con-
porém.
340 COniGO CIVIL

teria por conseqüência a indemnização do prejudicado, e não a


annullação do acto. O que dá causa á annullação é a falta de li-
berdade na declaração da vontade. O agente doloso induz o outro
em erro; mas o erro é apenas, como diz Saleilles, o meio pel0
qual o autor do dólo actua sobre a vontade. No erro, a idéa falsa
é do agente; no dólo é uma elaboração da malicla alheia.

Art. 93. — O dólo accidental só obriga á sa-


tisfação das perdas e damnos. E' accidental o
dólo, quando, a seu despeito o acto se teria pra-
ticado, embora por outro modo.

Direito anterior —• Era doutrina corrente (Coelho i'A


Rocha, Inst., § 101).
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. ^
uruguayo, 1.276; hespanhol, 1.270, 2.° parte; peruano, 1.086.
Projectos — Esboço, arts. 473 e 474; Felicio dos Santos, 236,
Coelho Rodrigues, 328; Beviláqua, 87; Revisto, 110.
IJibliographla — Veja-se o art. 92.

Observações — O preceito do artigo tem a consagração


doutrina e dos Codigos acima invocados. Todavia, apezar do 0^
affirmam alguns em contrario (Deiínburg, Pand., I, §
nota 11) tal não era a regra em direito romano. ^
No direito pátrio, sempre se fez distincção entre o ^
principal e o incidente, para os effeitos que constam dos
tigos 92 e 93 do Codigo Civil. ^
As affirmações inexactas do agente, para dissimular os
feitos da coisa ou para exagerar-lhe as qualidades, não co»
tuem dólo, quando podem ser, facilmente, verificadas.

Art. 94. Nos actos bilateraes, o silencio


tencional de uma das partes a respeito de fac
ou qualidade, que a outra parte baja ignora '
no DOLO 341

fionstitue^omissão dolosa, provando-se que, som


e
da, se não teria celebrado o contracto.

Direito anterior — A lei guardava silencio a respeito do


Principio consagrado neste artigo.
Legislação comparada - Codigo Civil argentino, art. 933-
Peruano, 1.088.
Piojectos Esboço, arts. 471 e 472; OoelJio Rodrigues, 331-
vemlaqua, 98; Revisto. 111.
Bibliographla — A do art. 92.

^)st,devauma
^si] encio tno das
- Para quesobre
partes se dêalguma
a omissão dolosa, nãoanterior,
cix-cumstancia basta o
11
a respeito de alguma qualidade do objecto do contracto. E'
Pecessario que a omissão seja tal que. sem ella, não se teria
e
c ebrado o acto. Embora por omissão, o dólo deve ser principal,
a
usam dans, para tornar o acto annullavel.

Art. 95. — Pôde também ser arniullado o acto


Por dólo de terceiro, se uma das partes o soube.

Direito anterior — Não havia disposição de lei a respeito.


Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 935;
2a ' arsuisso clas obrigações (revisto), 28, 2.a al.; allemão, 332',
P te; japonez, 96, 2a parte, mexicano, 1.816; peruano, 1087
OS _ ESl)0Ç0 artS
he»,-/
KVl '
laqua, 99; Revisto, 112. - 475-479; Goemo
Rodrigues, 332;
Bibllograpbia — A do art. 92.

Princ- ServaçSo ~ 0 dó10 (l0 estranho vicia o acto, se, sendo


a
out^1POrclue
' ^ COnhecido de uma das ar
P tes, e esta não advertiu
• neste caso' acceitou a machinação, delia se tornou
eonh .e' e rest)0nde P01' sua má fé. Se nenhum dos contractantes
tiver0 dÓ10 d0 terceir0 0 act0 sub
0m elle SOÍflido re uizo
' siste; mas aquelle que
do aut
rl! P í Poderá reclamar perdas e damnos
or do dólo. A mesma solução se applica ao caso em que
342 CODIGO CIVIL

duas ou mais pessôas figuram de uma parte, no contracto, e


somente numa dellas commette dólo sem sciencia das outras; a
parte contraria não pôde annullar o acto, em attenção á bôa fé
das outras contractautes; mas terá contra o autor do dólo acção
para se indemnizar do prejuizo, que tiver soffrido.

Art. 96. — O dólo do representante de unia


das partes só obriga o representado a responder,
civilmente, até á importância do proveito, que
teve.

Direito anterior — Nenhuma disposição especial de lei a


respeito.
Projectos — Esboço, art. 481; Coelho Rodrigues, 333; T>c
vilaqua, 100; Revisto, 113.
Bibliographia — A do art. 92, e mais Trabalhos da Cam<Ra>
IV, ps. 149-150.

Observações — 1. — Cada um responde por sua má fé.


se alguém obtém proveito de má fé de outrem, alcançou uni
lucro illicito, que deve restituir. E' o que dispõe o artigo eia
relação ao representado, quanto ao proveito, que lhe traga o dólo
do representante.
O representante voluntário ou necessário somente obriga. í|6
representado, quando age dentro dos limites da sua qualidade
substituto da pessoa, que representa. Dentro desses limites
seu acto reputa-se praticado pelo representado, e, consequeut6
mente, as regras do dólo, quanto á annullabilidade, não diffeie111
por
nesses casos das estabelecidas nos artigos antecedentes,
isso, o Projecto primitivo, considerava o representado obri8a
pelo dólo do representante, mas dava-lhe acção regressiva contra
esse (art. 113), para indemnizar-se do damno soffrido. O
estatue que ou se annulle o contracto (arts. 92, 94 e 95),
se mantenha, por ser o dólo apenas accidental (art. 93), de
que haja indemnização a pagar, por esta responderão o
sentante, autor do dólo, e o representado, até á importância
lucro que teve (Veja-se João Luiz Alves sobre este artigo)-
DO DOLO 343
2. A responsabilidade, a que se refere o artigo, é a civil,
como está, claramente, accentuado. Se o dólo assume o caracter
do crime, quando consiste no emprego de falso nome, falsa qua-
bdade, falsos títulos ou qualquer ardil, para persuadir a exis-
tência de emprezas, bens, credito, influencia ou poder supposto
(Codigo Penal, art. 33P, 8) incorre em pena o delinqüente, além
-te responder pelo delicto civil.

Art. 97. — Se ambas as partes procederam


com dólo, nenhuma pode allegal-o, para annnllar
0
acto, ou reclamar indemnização.

Bu-eito anterior — Nenhuma disposição especial de lei a


Respeito, mas havia o subsidio do direito romano e o argumento
Ord., 4, 61, § 3.°.
Legislação comparada — D. 4, 3 ,fr. 36; Codigo Civil ar-
gentino, art. 932, 4a circumstancia. Argumento a contrario, do
digo Civil fiancez, art. 1.116; italiano, 1.115; hespanhol, 1.270,
c
Pleno, 1.468; venezuelano, 1.190; mexicano, 1.817- boli-
nano, 707.
Projectos — Esboço, art. 482; Beviláqua, 101; Revisto, 114.

Observação — A lei procura amparar a bôa fé, contra os


^ 1 is maliciosos. Quando não ha bôa fé a defender, porque ambas
^ ^ Paites são culpadas, por se quererem prejudicar uma a outra,
e
i se retráe, ou somente intervem, quando o acto fôr criminoso.
^ Alem disso, ninguém pôde tirar vantagem do proprio dólo,
Pi o direito pôde dar apoio á malícia de uma para ferir a da
outra parte.
di Cr0mo observa s- Vampré, em seu Manual, I, § 58, e no Co-
tant Givil annotaão' ao art- 97' a regra deste artigo " refere-se
pri 0.a0 dó10 por omissão. como por commissão, e tanto ao dólo
^ Picipal, como ao accidental. Estes casos se compensam dois
Dor0l&'- a Sal3er: 0 c1010 por omissão se compensa com o dólo
Part0mÍSSã0 0U commissao' e vice-versa; o dólo principal de uma
vice0 ^ Compensa com c1010 accidental ou principal da outra, e
{■gj,.1 eifa ' ãistincções, que alguns autores fazem, nesta ma-
a, não se ajustam com o dispositivo do nosso Codigo.
'344 CODJGO CIVIL

SECÇÃO ITI
T)a coacção

Art. 98. — A coação, para viciar a manifes-


tação da vontade, ha de ser tal, que incuta, ao pa-
ciente, fundado temor de damno á sua pessoa, á
sua familia ou a seus bens, imminente e ej^ual,
pelo menos, ao receiavel do acto extorquido
Direito anterior — Ord., 4, 84, Reg. n. 737, art. 684, 2o-
T. i>e Freitas, Consolidação, art. 358 e nota 17; Carlos de Car-
valho, Direito civil, art. 226 e 228.
Degislação comparada — D. 4, 2, frs. 5, 6, 8, §§ 3o e 9o. Pr-'
Codigo Civil francez, arts. 1.112 e 1.113; italiano, 1.112 e 1.113:
hespanhol, 1.267 (este Codigo distingue a violência ou coacçã0
physica da intimidação ou coacção moral); portuguez, 666 (tam-
bém contempla a coacção physica); mexicano, 1.818 e 1.815
(a mesma distincção); argentino, 936-938; boliviano, 703 e 704:
fed. suisso das obrigações (revisto), 29 e 30; chileno, 1.456
e 1.457; peruano, 1.090; allemâo, 123; venezuelano, 1.187 e 1.183-
Projectos — Esboço, arts. 487-492; Felicio dos Santos, 232:
Coelho Rodrigues, 349-350; Beviláqua, 115; Remsto, 115.
Blbllographia — Theoria geral, § 53; Ribas, Curso, paginaS
473-476; Espinola, Systema, I, ps. 475-478; Breves annotações, I'
ps. 270 e segs.; S. Vampré, Manual, I, § 59; Almachio Diniz, Fn
meiros princípios, I, 36; Martinho Garcez, Theoria geral, §§ 1^
e segs.; Nullidades, ns. 124 e segs.; Lacerda de Almeida, Obrv
gações, § 54; Coelho da Rocha, Inst., § 102; Saleilles. De W
dãclaration de volonté, ps. 50 e segs.; Plaiviol, Traité, I, ns. 259
e 260; Laurent, Gours, II, ns. 489-496; Huc, Commentaires, VÜ'
ns. 28-33; Pothier, Obrigações; Savigny, Droit romain, III. §
Bufnoik, Propriété et contrai, ps. 605-609; Colin et Capit-^'
Cours, I, ps. 70-71; Ahbry et Rah, Cours, IV, § 343, bis, 2-°'
WiNDSCHEiD, Pand., I, §§ 78-80 e a nota (w) de Padda e BeNSA'
ps. 920-926; Dernburg, Pand., T, § 103; Kohler, Lehrbuch, I, §§ 232
e 233; Endemann, Lehrbuch, I, § 73, e II; Chironi, tst., § ^'
Alves Moreira, Inst., I, n. 162; Dias Ferreira, Codigo ClxA
portuguez, nota ao art. 663; Rossel, Diioit civil suisse, III» 1J'1
ginas 58-61; Ferreira Coelho, op. cit., Vil, ps. 409 e segs.
DA COAÇÃO 345
Observações — 1. E' da coacção moral, da intimidação,
** vis compulsiva, que trata o Codigo, e não da coacção physica
Violência, vis absoluta.
A coacção moral é um estado de espirito, em que o agente.
Perdendo a energia moral e a espontaneidade do querer, realiza
0
acto, que lhe é exigido.
A coacção physica consiste no desenvolvimento de força ma-
goai, a que não pode resistir o paciente.
A primeira vicia a vontade; a segunda tolhe, inteiramente.
e rda de faz desappar
dn
a
o acto 4 '
+ jurídico ecer a art.
(Cod. Penal, vontade,
27, § não
6°).permitte a formação
Qualquer dellas pôde constituir o crime de extorsão, definido
art 362 do Codigo Penal, ou os delictos contra a liberdade
^ «soai, de que trata o mesmo Codigo, nos arts. 180 e 181.

sou 2 ~ declarados
«enam-se
08 reqilIsltos para (: ue 0
no artigo.l temor possa viciar a vontade
Qeve ser:
o) Grave, resultante da ameaça de um damno sério ao corpo
^erberunv terror), á vida (mortis terror), á liberdade, á honra
vwr wfamioe), quer do indivíduo, quer de pessôa da sua fa-
ambem 0 sério temor de
hev^
ns
) constitue coacção. âamno patrimonial (aos seus
») Fundado, isto ê, capaz de impressionar realmente a pessôa
F o damno receiado ha de ser;
a) Immmente, isto é, actual e inevitável. A ameaça de um
'impossível, remoto ou evitavel não constitue coacção capaz
ue
viciar o acto.
ô
) Fgual, pelo menos, ao do acto extorquido.
appr86 da coaceão nã0 resulta
Prejuízo patrimonial, ou este é,
ÍndlreCt0 Se tein Cll,e
dade^' ' atender ao requisito da egual-
TN0LA notando que a
heste " Palavra família, empregada
r lg:0, tem Uma significa ao or
J-estriof S a mais extensa, ora mais
ooniuJr PrOPOe 01116 86 eStenda' n0 Caso de coacÇã0' do
308 ascendentes
ceirn ' descendentes e collateraes até o ter-
Ultijrau' fundad0 no modo pelo qual o Codigo se refere a estes
tomar -0S artS-' 142' IV' e 183' IV- Ach0 que devemo«
eollatp ladicaçao, de preferencia, os arts. 396 a 398, que dos
f 8 apenas inclu
acto d^evem ser tomadas e os
emirmãos; porém quer
consideração, as circumstancias de
para restringir,
346 CODIGO CIVIL

quer para ampliar o circulo familiar, a que neste dispositivo se


refere o Codigo.

Art. 99. — No apreciar a coacção, se terá em


conta o sexo, a edade, a condição, a saúde, o tem-
peramento do paciente, e todas as demais circum-
stancias, que lhe possam influir na gravidade.

Direito anterior — Nenhuma disposição especial de lei. "


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.112.
in fine; italiano, 1.112, in fine; hespanhol, 1.267, 3.a parte; ar-
gentino, 93S: boliviano, 704; chileno, 1.456, pr.; uruguayo, 1.273:
venezuelano, 1.187, in fine; peruano, 1.091.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 233; Coelho Rodrigues,
351; Beviláqua, 116; Revisto, 116.
Bibliographia — A do art. 98, e mais Trabalhos da Gamara,
IV, ps. 133-134, e V, p. 127; Nina Rodrigues, O alienado no direito
civil brasileiro, ps. 99-125.

Observações — 1. — A coacção deve resultar de um temo1


fundado e grave. Mas essa gravidade, naturalmente, depende da
organização moral do indivíduo, das circumstancias de loga1
e de momento. A ameaça, que seria vã, para um animo varonil»
pôde ser grave para uma alma timida, para uma criança, Paia
um doente. Onde o soccorro é impossível, ou difficil, a depressão
moral do medo se faz sentir mais fortemente. A surpreza é des
concertante, e pôde levar á pratica de actos, que se evitariam»
se fosse possível enfrentar a situação do animo prevenido.
2. — A suggestão hypnotica fôra comprehendida entre 05
meios de coacção moral, pelo Projecto primitivo, art. 115, Paia
grapho único, e pelo Revisto, em artigo da mesma numeração-
Commissão da Gamara eliminou esse dispositivo, pelas obscm1
dades do assumpto. Mas é indubitavel que a suggestão hyPll0tlC^
actuando como força psychica modificadora da vontade, pode co»
stituir coacção, em muitos casos. Não é somente nos laboraton
que ella se pôde observar.
DA COAÇÃO 347

Art. 100. — Não se considera coacção a


ameaça do exercício normal de um direito, nem
o simples temor reverenciai.

Direito anterior — Nenhuma disposição especial de lei a


despeito.
Legislação comparada — a) Quando ao exercicio normal
o direito: D. 4, 2, fr. 3, § Io, e 7, § Io; Codigo Civil argentino,
a
rt. 839; federal suisso das obrigações, 30, 2a parte; Civil suisso,
allemão, 226. ô) Quando ao temor reverenciai: D. 23, 2, fr. 22;
Codigo Civil francez, art. 1.114; italiano, 1.114; hespanhol,
•267, 4.a parte; argentino, 940; boliviano, 705; chileno, 1.456,
2a
parte; uruguayo, 1.273, 2." parte; peruano, I.092'; vene-
z
aelano, 1.189; mexicano, 1.820.
Projectos — Esloço, arts. 493-495; Felicio dos Santos, 234;
Coelho Rodrigues; 352; Beviláqua, 116; Revisto, 117.
Bibliographia — A do art. 98 e mais: Bakdesco, L'abus du
^oit; Bütnoik, Propriété et contrai, 1900, ps. 807-809; Baudey-
acantinbrik et Chauveau, Bes Mens, ns. 215-225; Chabmont,
es
transformations du droit civil, 1912, ps. 236-238; Jhering, De
a
faute en droit civil, 1888; Windscheid, Fand., I, 121, e as
botas cptp e de Fadda e Bensa, ps. 1.118 e segs.; Rosset, et
Bntha, Droit civil suisse, I, ps. 67-69; Teisseike, Le fonãement
e
la responsahilité, 1901, ps. 272-294; Saeeujubs, Obrigations,
s
P - 369 a 370, notas 2 e 1; Gode Civil allemand, ed. do Comitê
* législation étrangère, nota ao art. 226; J. W. Hedemann, Die
0r
tschritte ães Zivilrechts, I, ps. 125 e segs.

0
l,Serva
Unb clu-mt não
ÇÕes se considera
1. — A coacção,
ameaça porque esta se normal
do exercicio entende dea
1ZaCÍa GOntra 1)0n0s mores lSe
Pes
essôa, armada do seu direito,- procurar
. Porém,incutir
houverpavor
excesso, se a
ou grave
^Piehensão no animo de outrem, esse cortejo de ameaças torna
nr
mai o exercicio do direito e constitue coacção.
^ ^ Codigo reconhece a existência de um exercicio normal
^ direito. E' porque ha, forçosamente, um anormal. A ameaça
j.g .eXeicicio anormal constitue coacção. O exercicio anormal
ent.1Za(l0
a( Será 0 abuS0 ti0 direit0
- Assimqueo éCodigo
ía, indirectamente, a essa theoria, Civilmani-
uma das deu
348 CODIGO CITIL

festações dos intiiitos ethieos do direito moderno, preponderando


sobre os elementos egoisticos. Este pensamento do Codigo se con-
firma com a noção de acto illioito dada no art. 160.
3. — O direito subjectivo ê um poder que a sociedade asse-
gura ao individuo, para a realização de fins sociaes. Quando o
titular do direito o exerce, não no intuito de possuir um bem,
que a ordem jurídica lhe assegura, porém, com o fim de causar
damno a outrem, a sua actividade se torna perturbadora, im-
moral, e desnatura a funcção etbica do direito.
Os romanos tiveram o sentimento do abuso do direito, será
lhe formular a theoria. Cicebo exprime esse estado de consciên-
cia, quando nos diz — summum jus summa injuria (De Off1'
ciis, I, 10). Papiniano ensina que a utilidade publica prevalece
sobre a pura lógica: propter puMicam utilitatem... strictam ra-
tionem insuper hademus (D. 11, 7, 43). Negue malitiis indulO611'
dum est, observa Celso (D. 6, 1, fr. 38). E Paulo accrescenta non
omne quod licet honestum est (D. 50, 17, 114). Muitas regras do
direito romano deixam perceber essa orientação. Em contrario,
porém, outras se atêm ao rigor do direito, como a que se en-
contra no D. 50, 17, fr. 55: Nullus videtur ãolo facere, qui suo
jure utitur. Os dois princípios ainda se não haviam harmonizado
pela doutrina dirigida pela equidade. Aliás, o abuso do direito
devia ser, na mente dos romanos, socialmente condicionado.
4. — A theoria do abuso do direito encontra o seu principa1
fundamento na regra de justiça universalmente acceita, segundo
a qual ninguém se deve locupletar com a jaetura alheia (D- 50,
17, fr. 206; lei de 9 de Setembro de 1769, § 26).
Foi desse principio, consignado no art. 1.382 do Codigo Civ^
francez que a jurisprudência dos tribunaes tirou, na França, 08
elementos instructivos da theoria.
Actualmente, com a maior socialização do direito e a 111
fluencia das idéas democráticas, o novo principio desprendeu-s®
da nebulosa primitiva, e, consagrado pela jurisprudência, ^
cançou entrada nos Codigos Civis mais recentes, como o allenia0
e o suisso.
Para o Codigo Civil brasileiro, que não definiu o abuso
direito, este consiste no exercício anormal, irregular, ou nialicl0k
do direito. Veja-se o commentario ao art. 160.
5. — Por temor reverenciai entende-se o receio de desgo8 ^
o pae, a mãe ou outras pessôas, a quem se deve obediência^
respeito. Não sendo acompanhado de ameaças e violências, 11
DA COAÇÃO 349
assumindo a forma de força moral irresistível, é influencia in-
capaz de viciar o acto. Não tolhe a liberdade ao agente; apenas
actuará para que proceda, reflectidamente, depois de ponderar
n
as vantagens e desvantagens do acto.

Art. 101. — A coacção vicia o acto, ainda


quando exercida j^or terceiro.
§ I.0 Se a coacção exercida por terceiro for
previamente conhecida á parte, a quem apro-
veite, responderá esta, solidariamente, com aqnel-
i^j por todas as perdas e damnos.
_ § 2.° Se a parte prejudicada com a annul-
âção do acto não soube da coacção exercida
Por terceiro, só este responderá pelas perdas e
uamnos.

n las rUreito anterior — Nenhuma disposição especial a respeito;


o direito romano suppria a lacuna.
Legislação comparada — D. 4. 2, frs. 9. § Io, e 14, § 3°; Co-
0 CÍVÍ1 franCeZ art 1 111;
bol" '
^ lviano, 703; federal - suisso
- Ualiano.
das 1.111; 29,
obrigações, hespanhol,
2a parte;1.268;
chi-
e
no, 1.457; uruguayo, 1.274; alleraão; 123; venezuelano, 1.186;
gentino, 941 e 943, peruano, 1.093.
Projectos — Esboço, arts. 497-499; Felido dos Santos, 232-
wrtaqua, 118-120; Revisto, 118.
Libliagraphia — A do art. 98.

fim 0bsei,vaçâo ~ A coacção, para viciar o acto, ha de ter por


e c a 1"eallzaSao delle. Mas pode provir de terceiro. Se com este
o^connivente a parte, a quem aproveitou a coacção, respondem
ÍS S0
cede ' ^ai *ainen^e' P01' Per<ias e damnos, porque ambos pro-
(011 ra
nm 0 so '' •Uneito. Se a parte é innocente no constrangi-
Uido pela outra, o acto está viciado, porque não foi
auto6r"161116 querido; mas 08
Prcjnizos causados
da coacção, devem ser satisfeitos, sómente
porque delle é o pelo
pro-
ecli
ment0 injusto.
350 CODIGO CIVIL

SECÇÃO IY

Da simulação

Art. 102. — Haverá simulação nos actos ju-


rídicos, em geral:
I. Quando apparentarem conferir ou trans-
mittir direitos a pessoas diversas das a quem,
realmente, se conferem, ou transmittem.
II. Quando contiverem declaração, confis-
são, condição ou clausula não verdadeira.
III. Quando os instrumentos particulares
forem antedatados os posdatados.
Direito anterior — Ord., 3, 34, § Io; e 59; § 25; 4, 71.
R.eg. n. 737, de 25 de Novembro de 1850, art. 685, 2o; Teixeira
de Freitas, Consolidação, art. 358; Carlos de Carvalho, Dif^
civil, art. 231,
Legislação comparada — Cod., 4, 22; D. 23, 2, fr. 30; 39, 3,
fr. 12; Codigo Civil argentino, arts. 955 e 956; allemão, H
portuguez, 1.031; japonez, 94. Veja-se, também, o veneziielao0'
1.301 e 1.386.
Projectos — EsbOQO], arts. 521 e 522; Felicio nos Santos, 24 -
Coelho Ronrigues, 335; Beviláqua, 102; Revisto, 119 e 120.
Bibliographia — Theorio geral, § 54; Ribas, Curso, pagina3
476-477; Espinola, Systema, I, ps. 459-466; Breves annotaçõ^, '
ps. 297 e segs.; S. Vamprê, Manual, I, § 60; Almachio V^1 ^
Primeiros princípios, I, § 37; Martinho Gaiiceiz, Theoria .
§§ 122-128; Nullidades, I, ns. 173-185; Lacerda de Almeida, O ^
gações, § 65; Saleilles, De la déclaration de volonté, art. 117. ^
vigny, Droit romain, § 134; Windschkid, Pand., I, § 75, DerXB
Panã., I, § 100; Endbmann, Lehrhuch, § 71; Kohler, Leh^ ^
§§ 218-220; Huc, Commentaires, VII, ns. 230-233; Planiol, ' 7
li, ns. 1.239-1.264; Schirmeister und Proschownick, § 79,
ROLA, Derecho civil argentino, I, ns. 106 e 107; Aubry et^ ^
Cqwrs, I, § 35; Alejandro Pietri, hijo, ao art. 1.299 do Co
Civil venezuelano, ps. 328 e segs.
da simulação 351
Observações — 1. — Simulação é uma declaração enganosa
a vontade, visando produzir effeito diverso do ostensivamente
indicado. 0 Codigo considera tres especies de simulação: por in-
erposiçâo de pessoa; por occultação do caracter do acto juri-
íco, por falsidade na data. As duas primeiras podem dar-se em
^ alquer acto jurídico, a ultima somente nos actos inter vivos
e
Possível.
O Projecto primitivo havia posto de lado a interposição de
Pessoas, mas a Commissâo revisora do Governo a contemplou,
lando poi guia o Esboço, e fazendo com elle varias distincções
que o Senado eliminou, por amor da simplicidade e da clareza.
2. — Domina esta matéria a regra formulada pelo direito
romano; acta simulata veritatis substancia mutare non potest
(Chd. 4, 22, 1. 2). O acto é o que mostra ser e não o que a
«lente occultamente pretendeu que fosse. Si quis gestum a se
c
ciit alium egisse scribit, plus actum quam scriptum vaiet.
3. — Uma forma da simulação, a que se não referiu o Co-
porém que o Projecto primitivo destacara, acompanhando
Codigo allemão, é a reserva mental. Se a pessoa, que faz a de-
^aração, guarda na mente, reservadamente, a intenção de não
^mprir o que declara, subsiste, não obstante, a declaração, salvo
aquelle, a quem esta se dirige, tiver conhecimento da reserva,
^Ue' então, se verificará a fôrma da simulação prevista no
iOS, n. II; ha uma declaração, que não é verdadeira.

att Se~ a reserva mental nao é conhecida, o acto subsiste, em


ha6112510
0
4 bÔa fé da 0Utra Parte 6 01 116 0 ailtor da
Podia ser ouvido ao allegar o ' seu Pdólo.
^ reserva

çj « ^ simulação não se considerará


cito, em qualquer dos casos do artigo antece-
^ ^ 6, quando não liouver intenção de prejudicar
terceiros, ou de violar disposição de lei.

rEix^16 0 anterior
A ^I)E — 0 mesmo principio (Orã., 3, 34, § Io;
v - 0
Feitas, Consolidação, art. 358; Carlos de Car-
' Direito civil, art. 231).
§ 5 o:LegislaÇâo comparada — D. 2, 4, fr. 7, § 9.°; 29, 1, frs. 5,
ruanl'o, 7'1.094.
§ 6 n; e 32
- ' §§ 24 e 25; Codigo Civil argentino, 957; pe-
352 CODIGO CIVIL

Projectos —i Esboço, art. 523; Revisto, 121.


Bibliographia — A do art. 102.

Observações — 1. — Esta disposição não se encontrava no


Projecto primitivo, porque, se as partes recorrem aos expedientes
da simulação, o acto não tem a seriedade exigida pelo direito, e
Eaz presumir intenção maliciosa. Prevaleceu a opinião contraria,
que se apoia no direito romano, por se entender que, não ha-
vendo prejuizo de terceiro, nem offensa á lei, nem erro de uma
das partes, o acto embora simulado, é innocente, e deve pro-
duzir effeito. Teixeira de Freitas dava acção ás partes para 0
acto ser annullado ou valer com o seu caracter verdadeiro {Con
soliãação, nota 17 ao art. 358). O Codigo não considera defeito a
simulação innocente; portanto deve subsistir o acto, apesar delia-
Quer isto dizer: nem terceiros, pois que não são prejudicados,
nem o representante do poder publico poderão pedir a annulla
ção do acto, que produzirá entre as partes o effeito que estas
lhe derem.
2. —• Espinoola, Breves annotações, I, n. 62, ensina que,
facto de não ser prohibida a simulação innocente, não se deV
concluir "que o acto simulado seja valido e produza effeitos 3U
ridicos entre as partes, porque innocente. Não. Se a simula
ção é absoluta o acto apparente, poderá, eventualmente, Prod^
zir algum effeito indirecto; mas, regularmente, quanto aos
feitos, que de sua natureza defluem, é, conceitualmente uu
inexistente, nenhum, entre as partes, que o produziram • ^ero
simulação é relativa, "o acto simulado, feito innocentemente, 0a
constitue defeito, que prejudique a validade do negocio
mulado. Este é que é o negocio real, verdadeiro, effectivameu
querido, fica de pé entre as partes, sem que, de qualquer mo^
lhes faça nossa a simulação". Assim pôde ser, quando o aC
do das partes se mantiver. Se, porém, uma das partes se ^ ^
prevalecer do acto apparente? Se dermos acção á parte ^de
judicada, e devemos dar, quando a outra pretender a val1 it0
do acto simulado, teremos necessariamente, considerado de ^
a simulação, sem que nos seja embaraço o que determina
tigo 103; se não dessemos, consagraríamos uma iniqüidade,
se fora direito. rte(
Devemos dar a acção ao prejudicado, porque a outra P ^
dolosamente, se prevaleceu da simulação para dar como
DA SIMUXAÇÃO 35°.
0
que era apenas uma declaração fictícia. O dólo, ainda que se
manifeste ulteriormente. entende-se coetaneo da formação do

mo podemos, porém, dar acção á parte prejudicada com


amento na simulação, porque a nullidade dos actos simula-
s somente pode ser pedida por terceiros lesados, ou pelo re-
resentante do poder publico em bem da lei, ou da fazenda, fi-
ras, que, na hypothese imaginada, não apparecem. Não ha ter-
mro lesado, nem dispositivo particular de lei violado; e se hou-
esse, nenhum dos simuladores seria recebido em juizo (art. 104).
Su
íé PPOuha-se, porem, que ambas as partes continuem de bôa
' e que a simulação consistiu em antedatar ou postdatar um
strumento. Qual a data que prevalece? Forçosamente a que
hstar do instrumento, emquanto pelos meios legaes não se
p ova o contrario. Por isso ficou dito acima que o acto si-
udo subsiste, apesar da simulação.
Esses motivos levam-me a considerar perigosa, apesar de
icional, a doutrina de que a simulação, que não prejudica
IVhnn110S
0
nem frau<ia a lei é
' innocente,
r sei ia condemnar a simulação e como
em todos tal permittida.
os casos.

Art. 104. —- Tendo havido intuito de preju-


car a terceiros, ou infringir preceito de lei, nada
alle ar ou
in ^ requerer os contrahentes em
20 < llan 0
Ury1 contra
' i ^ ^ simulação do terceiros.
o outro, ou contra acto, em litigio de

res
Peitò< Xt0 anteri0r
Nenhuma disposição especial de lei a
~ Esboço, art, 526; Coelho Rodrigues, 336; Be-
"Ua, 103; Revisto, 124.

^^ruanQ18^^ C01nparada ~ Codigo Civil argentino, art. 959;


Hibliogfaphia — A do art. 102.

Cei , eiVaçoes 1
i os i de violai a- lei, Havendo intenção
a simulação de prejudicar
é maliciosa, a ter-
eqüivale ao
0cii
^0 Civil - 1.0 vol.
354 CODIGO CIVIL

dólo, e ninguém pôde ser ouvido allegando o proprio dólo, nem


delle tirar proveito. Ninguém tira acção da sua improbidade.
Nemo de improbitate sua consequitur actiioinem.
Esta é a doutrina tradicional, e que me parece ainda a
melhor, não obstante a critica, que lhe têm feito, ultimamente.
2. — Confirma este artigo o que ficou dito no commentario
1 ao antecedente. Se a simulação é fraudulenta, as partes nada
poderão allegar ou requerer em juizo; logo, sendo innocente,
por argumento a contrario, é licito ás partes recorrer á justiça,
quando se tornar necessário.
3. — Os simuladores nada podem allegar ou recorrer em
juizo, quando fraudulentos; mas podem depôr, em litígio movido
por terceiro, ou pelo representante do poder publico. Por ter-
ceiros entendem-se não somente os credores, como todos aquelles
a quem a simulação prejudique, ainda que sejam os successores
universaes e o cônjuge (Espinola, Breves annotações, I, n. 164) •

Art. 105. — Poderão demandar a imllidade


dos actos simulados os terceiros lesados pela si-
mulação, ou os representantes do poder publico-
a bem da lei ou da fazenda.
Direito anterior — Nenhuma disposição especial de lei a
respeito.
Legislação comparada — Veja-se o art. 1.301 do Codig0
Civil venezuelano, que concede aos credores acção declaratoria da
simulação, resalvando os direitos de terceiros de bôa fé.
Projectos — Esboço, art. 527; Coelho Rodrigues,
2.11 parte, e 337, pr.; Beviláqua, 103, 2.a parte, e 104; Revisto, l^-
Bibliographia — A do art. 102.

Observação — A lei confere, aos terceiros prejudicados coih


a simulação, o direito de demandar a nullidade do acto simula<j0'
O mesmo direito é reconhecido aos representantes do poder P11
blico, federal, estadual ou municipal, ou por damno causado a
fisco ou por infracção da lei, que devera ser observada e
fraudada.
DA FRAUDE CONTRA CEEDOEES 355

secção v
l>a fraude contra credores

Ari. 106. Os actos de transmissão gratuita


g bens? ou remissão de divida, quando os pra-
ique o devedor já insolvente, ou por elles redu-
to á insolvencia, poderão ser annulladbs pelos
fedores chirograpliicos, como lesivos dos seus
direitos (art. 109).
Paragrapho único. Só os credores, que já o
am, ao tempo desses actos, podem pleitear-lhes
a
annullação.

lei r • "-i0^0 antei^01 ^ materia não se achava regulada na


ainda (1Ue eSía reconhecesse 0 vi
funrf ' cio da fraude, e, com
reitto amento nella
' autorizasse
romano (Teixeira a acção
de Freitas Pauliana,
e Correia segundo
Telles, o di-
Doutrina
7a 4: BAPTTSTA Theoria e
ed^HV ' vratica cio processo,
Le sla âo
6 f Ç comparada - D. 42, 8; 50, 17, fr. 134; Inst, 4,
COdÍg0 CÍVÍ1 francez
tuR, ' art- italiano, 1.235; por-
1 030 e 1 033: hes anho
' . ' P l. 1-291, 3.°. 1.297 e 1.298. chileno,
argentin0 961 962 e 967
Orue'
saayo, 1.296;' venezuelano,
' 11.299;
boliviano 758; 1.098
peruano, mexicano, 2.163;

~ ESmÇ0'339
246-•joelho Rodrigues, artS 528 534 e 540: Felici0
e - 340;' Beviláqua, 106; Revisto,
tantos,
126.
Co
wso7íV7lagrai>,níl — Theoria 9eral, § 55; Teixeira de Freitas,
I, ps Af®0' nota 17 ao art- 358: Espinola, Breves annotações,
e segs
-: S- Vampré' Manual, I, § 61; Aemaohio Diniz,
pnnciinos
§§ 429 i qr ' E § 39: Martinho Garcez, Theoria geral,
Nuimades
ta aorT' ' ns- 16()'172; Correia da Sirva, Conceito
Pauhana; Plant
Cours i, ol, Traité, II, ns. 317-357; Laurent,
Aubr) / US' 607"6231 HüC. Oommentaires, VII, ns. 215-233;
vb RAU C0UrS IV § 313; GA
- Prn^, '
L e na Granãe
' ' sTon May ET Drammard,
Im-tua, encvclopédie; Dias Ferreira, Codigo Civil
DanteT; n0tas a0S artS- 1-033-1-045: Puoeia, Azione pauliana;
6
BuJa AP.0BAL1' AZWne revocatoria' no Dizionario de Sciauoja
Gi
vil por*1' PArT'ST<) DE Quadros, Da acção pauliana no direito
uguez; A. Pibtri, hifa, ao art. 1.299 do Codigo Civil ve-
356 CODIGO CIVIL

nezuelano, ps. 135 e segs.; Ferreira Coelho, op. cit., VIU, pa-
ginas 82 e segs.; Plácido e Silva, Commentarios ao Codigo dd
Processo Civil, ns. 972 e 973.

Observações — 1. — Fraude, no sentido em que o termo é


empregado pelo Codigo Civil nesta secção, é todo acto prejudicial
ao credor {eventus damni), por tornar o devedor insolvente ou
ter sido praticado em estado de insolvencia.
Não exige o Codigo o requisito da má fé (consilium fraudis)>
que, aliás, ordinariamente, se presume, porém que náo é essencial
para determinar a fraude e tornar annulavel o acto.
Houve, assim, uma simplificação na theoria da fraude contra
os credores, pois os civilistas pátrios, sem divergência, consi-
deravam a má fé elemento constitutivo da fraude contra os cre-
dores, ainda que essa doutrina nem sempre se accommodasse aos
casos da vida real.
2. — Para o Codigo Civil as diminuições gratuitas do pai11'
monio do devedor são annulaveis, sempre que, por causa dellas-
se ache na impossibilidade de satisfazer as suas dividas. Poac0
importa que elle conhecesse, realmente, ou não, o estado dos seas
bens. Indifferente é, também, que o soubesse aquelle que lucrou
com a liberalidade. A limitação estabelecida no Codigo é
mente a que procede da prescripção, que se consumma em quatr0
annos (art. 178, § 9.°, V, b).
3. — Os credores chirographicos, isto é, os que não ^
garantia real, em seu favor, é que têm interesse e direito ^
annullar as transmissões gratuitas de bens e as remissões
dividas, que praticarem os devedores insolventes. Os privilcS^
/«Ti 0
pessoaes não tiram ao credito pessoal o seu caracter, e soi
revelam a sua efficacia por occasião do concurso creditorio
_ #3
tigos 1.554-1.571). As garantias reaes ãdherem ao bem, ^
panham-no por toda a parte, e asseguram, a todo o tempo,
quanto existirem, o pagamento da divida. 0
4. — Os actos gratuitos prejudiciaes aos credores, ^l116
art. 106, syntheticamente, reduz a transmissões de bens
missões de divida, apresentam varias modalidades, que a an
põe a descoberto.
São transmissões gratuitas de bens; — as doações: o rep ^
de herança deferida: a renuncia de usofructo, e, em gera
qualquer direito já adquirido. A remissão de divida péã0
DA FRATJDK CO.VTKA ckedorks 357

rar-se por entrega voluntária do titulo creditorio, ao devedor-


ja mutihzação do mesmo titulo; ou por quitação da divida
"ao paga.
A recusa de doação não entra na classe dos actos lesivos
os credores, porque não importa em diminuição do patrimônio
o devedor. Emquanto não é acceita, a doação não é um titulo
anslativo da propriedade, e, antes da tradição ou da tran-
Pçao, o bem doado não se considera adquirido, não entrou
eJarazoes
o patrimODÍ0 d0
_ muito respeitáveis,
donatário. Aliás,
de que a recusa
a lei pode
não pode fundar-se
fazer tabula
a. Sena violência injustificável forçar alguém a receber uma
eralidade, que lhe repugna acceitar.
5
' ~7 0s credores, a quem a lei confere acção revogatoria
pauliana, para annullar as fraudulentas alienações ou re-
*Boes nos termos do art. 106, e de toda a secçâo agora exami-
^ . bao os que ja o eram, ao tempo desses actos, porque esses
e soffreram diminuição na garantia de seus direitos. Aquelles,
(jey08, Creditos sã0 posteriores, já encontraram o patrimônio do
Podc^m01 allegar
n0 eSta<Í0 em Que 0 deixar
que,' em conseqüênciaam essasosliberalidades;
dellas, não
bens do devedor
^ ornaram insufficlentes para o seu pagamento. A anteriorídade
redlt0 a0 aCt0 fraudulent0 é uma
dafi!
dfte ,
da acção pauliana. das condições da legitimi-
Em mat6ria comme
tieaâ' rciaI, a revogação dos actos pra-
08 Pel0 devedor num cert0
regni ! ' Período, antes da fallencia, está
de 192„a Pel0S ^ 55*62 da Iei n- '5-746, de 9 de Dezembro
Pela. a- <ÍUe' POr constituirem lei especial, não são attingidos
PratÍpna1SP0SÍSÕeS d0 C0dÍg0 CÍVn- A revo&aSão alcança actos
esse vie" na Íntençâ0 de PreJudicar os credores e actos sem
0Utr0 aspect0 da frau
Pppar de nas alienações é o que
real « * ^ proceSso: L0' Q^do sobre elles é movida acção
de reipersecutoria; 2 0
3 o
Pr o^ estado - ' dnandonosa casos
o titulo exequendo. alienação fôr feita
de acção depois
executiva;
h0UVer ÍnSCrÍPSâ0 da penho a
^qUand0 0 adquirente tinha ^ . arresto ou se-
Peipjia razão de saber que
Plí
desSp 'maTlda' e olltros ^ens não tinha o devedor por onde
não siITl Pagar- As alienações em fraude á execução são nullas e
Po P eSmente an
deni Sei ob eoto
"nllaveis: por isso os bens assim alienados
8 j de penhora na execução contra o alienante.
PHTI
contra —Ho Azby"ET)0, estudo, que fez, Da fraude
^ntença (these de concurso), contesta que haja casos par-
358 C0D1G0 CIVIL

ticulares de fraude no processo, e que sejam nullas as alienações


em fraude á execução, a que se refere o numero anterior. No seu
entender, são, simplesmente, annullaveis como as de que tratam
os arts. 106 a 113 do Codigo Civil. Mas, se a fraude é contra a
execução, se tem, como presupposto, uma demanda pendente, ou
uma acção iniciada, não ha como contestar a differença dos
momentos. Por outro lado, se as alienações em fraude á exe-
cução não fossem nullas, impossível seria sobre os bens assim
fraudulentamente alienados fazer a penhora; forçoso seria
scindir por acção competente a alienação, ou promovei o co
curso creditorio para alcançar os bens.
E', pois, irrecusável que os casos de fraude contra a exe
cução mencionados acima continuam com o mesmo caracter,
que lhes deu o reg. n. 737, art. 494. Ainda que somente no
processo possam apparecer, esses vicios não cáem sob o impei
da lei adjectiva, são reprimidos pela lei substantiva, e acarretam
nullidade absoluta, porque a lei nelles vê, além da manifesta m
fé, um movimento de criminosa rebeldia contra a ordem jurídica•
Feita a penhora do bem, fica elle fóra do poder jurídico do
proprietário, e destinado, por decreto judicial, ao pagamento
exequente. Para segurança da execução, a lei estendia o mesmo
effeito á alienação celebrada proximamente á penhora, mto j
depois de iniciada a execução com a citação do executado. Sei^
melhor que a lei determinasse, de modo preciso, o momento ^
que se verifica essa proximidade da penhora; mas é irrecusa ^
que ella suppõe a execução começada, e citado o vencido
pagar, ou dar bens á penhora. Foi o que fez o Codigo do
cesso Civil art. 895. a
Ha, nestes casos, uma demanda, que já alcançou sen
final, e entrou no período da execução, achando-se penhor
o bem ou em via de o ser. ^e.
Ainda antes do ingresso da execução, pendente uma^aeg
manda, haverá fraude á execução, se os bens sobre os
ella podia recair, por não ter outros o réo, sac alienados a
era sabedor dos dois factos: de que havia uma acção em a ^
mento, e de que somente com os bens alienados podei ia
pagar, quando se abrisse a execução.
Neste caso, não ha uma execução ainda, a sentença tina
foi pronunciada; porém o adquirente sabe da demanda P10 ^ ^
sabe que não ha outros bens no patrimônio do demandado^^
faz codelinquente na fraude. A lei considera essa alienação ^
E, quando, pelo desenvolvimento da acção, chegar o momen
DA FRAUDE CONTRA CREDORES 359
Peuhora, a ella estarão sujeitos os bens, que, embora na posse de
utrem, continuavam na propriedade do executado. Sem o
concurso dos três elementos indicados (demanda pendente,
inexistência de outros bens e sclencia da fraude por parte do
nc quirente) nao ha fraude á execução, nem, consequentemente,
uilidade absoluta da alienação.
O Codigo do Processo Civil, 895, I, refere-se aos bens. sobre
e se move acção real, ou reipersecutoria. Quem os adquire,
con!1^"86 áS
contestado.
conseqiieuciíls da
acção, pois adquiriu um direito

Art. 107. — Serão, egualmente, annullaveis


s conti aetos onerosos do devedor insolvente,
düando a insolvencia for notoria, 011 houver mo-
lv
o Para ser conhecida do outro contrahente.

Direito anterior - Havia a doutrina. Veja-se o art. 106.


Degisiação comparada - Codigo Civil portuguez, art. 1.034-
Mexicano, 2.164.
I>r0jectos
gues
FeUcio dos Santos, art. 246;, 1,°; Coelho Ro-
' Beviláqua, 107; Revisto, 127.
Dibliographia — A do art. 106.

e as servaÇao — O art. .106 considerou as alienações gratuitas


ved( 1 erms80es de dividas, que, diminuindo o patrimônio do de-
subsw ^ leSÍVa& tl0S direitos dos credores, desde que não
fere b ^ OUtros bens' com que se Possam pagar. O art. 107 re-
lesiCs a0S C0ntraCt0S onerosos, Que também são annullaveis, por

lesiv^^3111' Porém' as condiSões da annullabilidade dos actos


indei)8' n0S d0ÍS CaS0S' As liberalidades (art- 106) annullam-se,
devea entemente de má fé' Pela Simples razã0 cle tornarem o
^ncia'1 lnS0lvente' ou &erem Praticadas em estado de insol-
a a annulIabilidade dos
insol contractos onerosos, não basta
conhe.-? ^ d0 deved0r; é necessario mais que esse estado seja
110
0 da ou ra a
tenha esta ^ de
motivo P rto contractante, por ser notorio, ou porque
o conhecer.
360 CODIGO CÍVEL

Ainda aqui a má fé não apparece como requisito do vicio


da fraude. Presume-se que haja, induz-se, naturalmente, do facto
de conhecer o contractante o estado de insolvencia do devedor,
porém não tem que ser apreciada.

Art. 308. —Se o dquirente dos bens do de-


vedor insolvente ainda não tiver pago o preço,
e este for, approximadamente, o corrente, des-
obrigar-se-á, depositando-o em juizo, com ci-
tação edital de todos os interessados.
Direito anterior — Nenhuma disposição de lei a respeito,
legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.041-
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 342; Beviláqua, Io8;
Revisto, 128.
Bibliographla — A do art. 106.

Observações — 1. — O adquirente é réo na acção pauliana-


Pôde, porém, afastal-a, se comprou a coisa ao insolvente Por
preço corrente, e ainda o não pagou. Como não ha interesse na
restituição do objecto comprado, se o comprador achar mais con
veniente, effectuará o pagamento por consignação (art. 973, VI)-
A sua hôa fé, nesse caso, é manifesta.
Se o preço da acquisição não for o corrente, e, sim, outr0
inferior, ha motivo para suppôr-se que o adquirente seja culpa^0
de malícia, além de que os credores têm razão de reclamai
restituição da coisa vendida, ou o preço real delia, ao tempo
alienação. o
2. — Ainda quando a acção revogatoria é movida contra
devedor (art. 109), ao adquirente é util, para evitar incommo(loS
maiores e manter a sua acquisição, depositar o preço em h11i50'
se o mesmo fôr, approximadamente, o corrente. A
Se a acção fôr proposta contra o devedor, aconselha EsPlPr<'
{Breves annotações, I, p. 243) que se envolvam na lide a ou
parte contractante e o terceiro adquirente. è
3. — No direito francez e no italiano, a acção pauliana
sempre dada contra a pessôa, que lucrou com o acto fraudu e
e não contra o devedor.
HA PKAÜDE CONTRA CREDORES

Art. 109. — A acção, nos casos dos artigos


106, e 107, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa cpie com elle celebrou a es-
tipulação considerada fraudulenta, ou terceiros
adquirentes, que hajam procedido de má fé.
Direito anterior — E' a lição de Correia Tecles, na Doutrina
o« noções; mas Teixe.ra de Freitas, annotando-o [adõ,. A
n
ota 168), observa que, "na pratica do fôro hodierno, não se
u
sa da acção revocatoria, a ponto de inquietar terceiros adqui-
r
entes, embora por titulo lucrativo.
0 Projecto primitivo, art. 109, seguira a tradição, a que allude
eixeira de Freitas, mas o Senado, sob proposta do Sr. Miiniz,
RExre, volveu ao rigor, que a pratica, sabiamente, attenuara.
Legislação comparada Codigo Civil portuguez, art. 1.037;
ar
írentino, 970; mexicano, 2.167; peruano, 1.100.
1 rojectos Esboço, art. 531; Felicio ãos Bantos, 250; Coelho
odrigues, 343; Beviláqua, 109; Revisto, 129 í Todos esses pro-
os
^st
' excepto o de Felicio ãos Santos, consagravam a norma
abelecida pela praxe entre nós.
Bibliographia — A do art. 106.

serv
g ações i. a acção competente, a que se refere
© artigo é a pauliana, também chamada revocatoria e re-
^soria.
( <)m0
foro" ^ f^cou 0bservado, a doutrina seguida em nosso
j.e ' 11^<) estendia a acção pauliana além do primeiro adqui-
on o DeSte 6 qUe 08 credores tinham de haver a coisa alienada
adq"-PreÇ0" 0 Codigo alarSou a efficacia da acção aos terceiros
611168 de má fé NeSte CaS0 a má fê consti
XubT"anciai da fraude," para autorizar
' tue-se elemento
a acção pauliana.
Como observa Espinola {Breves annotações, I, p. 329),
o de 0 necessari0 qile se mova, preliminarmente, acção contra
insoj ' 6 Ua respectiva execuSão se verifique o estado de
0 eUCda para que se a
fii ' dmitta o emprego da pauliana, com
. annuIlar
Koder3 Provar 08 actos
fraudulentos. O damno do credor
acos'
Sâ "se' P®108 meios regulares, no curso do processo da
o rescisória".
362 CODIGO CIVIL

4. _ Esta acção prescreve em quatro annos (art. 178,


V, h).

Art. 110. — O credor chirographario, que


receber do devedor insolvente o pagamento da
divida ainda não vencida, ficará obrigado a re-
por, em proveito do acervo, sobre que se tenba
de effectnar o concurso de credores, aqnillo que
recebeu.

Direito anterior — A lei n. 2.024, de 17 de Dezembio de


1908, art. 55, declarava revogavels os pagamentos de dividas nao
vencidas, realizadas pelo devedor, dentro do termo legal da
lencia. A lei civil nada dispunha a respeito, mas o disposto u0
artigo é simples applicação dos princípios.
Legislação comparada — Coãigo Civil portuguez, art. 1.039>
mexicano, 2.169.
Projectos — Esboço, art. 540, 3.°; Coelho Rodrigues, 344,
Beviláqua, 110; Revisto, 180.
Bibliographia — A do art. 106.

Observações — 1. — Aberto o concurso creditorio (al'tig^


1.554-1.571), pela insolvencia do devedor, entram em rateio
credores pessoaes. Se algum delles foi pago antecipadamen^
adquiriu situação melhor do que os outros, e em prejuízo des ^
E' justo que reponha, em proveito de todos, o que recebeu, Pa
entrar com os outros, em egualdade de condições, na parti
dos bens existentes. ^
2. — Na sua primeira edição, o Codigo mandava iei:i0ggA
massa o que o credor recebera antecipadamente, Epxtacxo Pe8^ ^
ponderou que essa expressão era cabível no ProjecM VrimÍtlV^0
no Revisto, que consagravam o instituto da insolvencia; mas^^
no Codigo, onde se não manteve esse instituto, e propoz a su ^
tuição das palavras finaes do artigo, pelas que hoje ne ^
lêem, de accôrdo com a lei de 15 de Janeiro de 1919 il'ar
n. 193, de 1917, ps. 47 e 48).
DA FRAUDE CONTRA ORBDORÈS 363

Art. 111. — Presumem-se fraudatorias dos


direitos dos outros credores as garantias de di-
vidas, que o devedor insolvente tiver dado a
algum credor.

Direito anterior — O direito civil era silencioso. O com-


niercial contém disposição semelhante á do nosso artigo, aliás
«enos rigorosa (lei n. 2.024), de 17 de Dezembro de 1908, ar-
tigo 55, 2.°). Veja-se J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de
direito commercial, VII, ns. 535-537.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.042;
mexicano, 2.177.
Projectos — Esboço, art. 540, 4.°; Felicio dos Santios, 253;
Coelho Rodrigues, 345; Beviláqua, 111; Revisto, 131.

Observações 1. A garantia colloca o credor em posição


raais v
antajosa do que a dos outros. A garantia fidejussoria não
Prejudica os credores em concurso, porque os titulos legaes de
Pieferencia, entre elles, são os privilégios e os direitos reaes
tart. 1.557). A garantia, que os prejudica, é a real, por hypo-
theca, penhor ou antichrese. A esta é que se refere o Codigo,
eondemnando-as, quando as der o insolvente, afim de restabe-
ec
er a egualdade entre os credores, segundo se verifica do ar-
tigo 213, paragrapho único.
2
- Os Projectos referiram-se a dividas não vencidas. Dei-
xando suppôr que eram permittidas as garantias das que já es-
pessem vencidas. E essa é, innegavelmente, a doutrina, justa.
emenda, de que resultou a disposição do art. 111, foi apre-
sentada pelo Senador Muniz Freire {Diário do Congresso, de 5 de
D
ezembro de 1912).
Não ha fraude, porém, se a garantia é dada antes de se
a
char o devedor insolvente.

Art. 112. — Presumem-se, porém, de boa fé,


valem, os negocios ordinários, indispensáveis á
^íintenção de estabelecimento mercantil, agri-
a, ou industrial do devedor.
364 CODTfrO CITCX.

Direito anterior — O direito civil era silencioso. A doutrina


do direito comxnercial é menos rigorosa, Veja-se Bento de Faria,
nota (72) ao art. 55 da lei n. 2.024, de 17 de Dezembro de 1908.
Projectos — Esboço, art. 541; Coelho Rodrigues, 346; Bevi-
láqua, 112; Revisto, 132.
Bibliograpliia — A do art. 106.

Observação — Todos os Projectos presumiam, também, de


bôa fé; I — Os pagamentos de dividas vencidas; II — Oa actos
pelos quaes o devedor contráe novas dividas, ainda que estas
sejam garantidas. Tal era a doutrina corrente. Mas o Senado
supprimiu esses dois incisos do artigo. A Caraara não se con
formou com a suppressâo, apezar do voto do relator parcial
(v. o Parecer do deputado Frederico Boroes, p. 64 do impresso
da Gamara), discutindo o assumpto, no plenário, os deputados
Josino de Araújo, Mello Franco e Adolpho Gordo (Diário ão
Congresso, de 30 de Abril e 1 de Maio de 1913). Volvendo a
emenda ao Senado, este confirmou a sua decisão, pelas razões
invocadas pelo Senador Epitacio Pessôa. A maioria da Com
missão reputa obra de prudência supprimir estes dispositivos,
que podem dar logar, na pratica, aos maiores abusos, ora 611
prejuizo de alguns, ora em detrimento de todos os credores-
Cumpre não esquecer que a bypotbese é do devedor já m80
vente, e tanto basta para que a presumpção legal expressa no
tigo possa acarretar, muitas vezes, a legalização injustificav^
do conluio contra os credores". (Diário do Congresso, de 1°
Agosto de 1915).

Art. 113. —- Anmillados os actos fraudu-


lentos, a vantagem resultante reverterá em pr0
veito do acervo, sobre que se tenha de effectuai
o concurso de credores.
Paragrapho único. Se os actos revogada
tinham por único objecto attribuir direitos P1'^
ferenciaes, mediante hypotheca, antichrese
penhor, sua nullidade importará, sómente, n
annullação da prefencia ajustada.
DAS MODALIDADES B DOS ACTOS JURÍDICOS 365

Direito anterior — Norma seguida.


Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts. 1.042
e
1.044; mexicano, 2.177.
Projectos Eshoço, arts. 543-545; Felicio dos Santos, 251 e
253; Coelfio Rodrigues, 347; Beviláqua, 113; Revisto, 133.

Observação — O inicio do artigo consagra um principio


Seral da theoria das nullidades, com applicação especial á insol-
^encia. Mas é claro que com a annullação do acto fraudulento
lia
da lucrará o devedor, pois a vantagem da anullação, diz
0
art. 113, reverterá em proveito dos credores em concurso. O
Paragrapho único, annullando as garantias reaes, restabelece,
entre os credores, a egualdade, que a fraude procurara desfazer.

CAPITULO III

Das modalidades dos actos Jurídicos

Art. 114. — Consider a-se condição a clau-


su
d116 subordina o effeito do acto juridico a
ev
ento futuro e incerto.

Direito anterior — Não havia definição legal de condição.


-Legisiação comparada — Inst., 3, 15, §§ 4" e 6"; Codigo Civil
lan0 1 157; ar ent
fel ' - g ino, 528; mexicano, 1.938; boliviano, 759;
era suisso das
gu l obrigações (revisto), 153; chileno, 1.473; uru-
layo
, ^'407; do Moutenegro, 939; venezuelano, 1.223.
Projectos — Esboço, art. 567; Felicio dos Santos, 382; Coelho
rigues, 275; Beviláqua, 122; Revistg, 134.
)1Í081ai,hÍa Theoria
478-4Q-'
õ wral, § 58; Ribas, Curso, paginas
1 ' m^riNOLA, Systema, I, ps. 494-500; Breves annotações,
.3 >J 6 segs-' s- Vampré; Manual, I, § 62; Almachio Diniz,
not'^6" 0'S' principi0s' I' § 401 Teixeira de Freitas, Consolidação,
^heo a0 ai
^" 6 a0 ai
^" ■^AR,rrrNH0 Garcez,
§ ■ÍGral> §§ l37 o segs.; Lacerda de Almeida, Obrigações,
' >CoELHo
diti ns DA
^-oohAj Traitó,
1.887; Planiol, Inst., 105;
I, n. Bartin, ThéorieCours,
306; Laurent, des con-
II,
366 CODIGO CIVIL

ns1. 645 e segs.; Huc, Commentalre, VII, ns. 240 e segs.; P0'
thieb, Obrigações, ns. 198 e segs.; Colin et Capitant, Couts,
I, ps. 81-89; Aubry et Rau, Gours, IV, § 302; Savigny, Droit
romain, §§ 116-124; Windscheid, Panã., I, §§ 89-95, e notas (hh),
(ii), (kk), (11), (vivi), (nn), (oo), (pp), (rr), (ss), (tt); d®
Fadda e Bensa ps. 940-1.018; Dernbubg, Panã., I, §§ 105-112;
Schirmeistek und Prochowniok, §§ 109 e segs.; Chironi, Ist.,
§§ 65-66; Giantitco, Ist., § 62; G. Grazioij, vb. Gonãizioni, n0
Dizionario de Scialoja e Busatti; Alves Moreira, Inst., I, lU1'
meros 179 e segs.; Dias Ferreira, Godi^oj Civil portuguez, notas
aois arts. 672 e segs.; Rossel, Droit civil suisse, III, ps. 193-197,
Ferreira Coelho, op. cit., VIII, ps. 208 e segs.; R. Salvai, op-
cit., ns. 614 e segs..

Observações — 1. Discutem os autores sobre se a& con-


dições se devem considerar autolimitações da vontade ou de-
terminações accessorias. E' uma subtileza da doutrina, sem
interesse pratico.
O que importa dizer é que as condições adaptam-se á gene
ralidade dos negocios juridicos, mas a alguns, por sua propria
natureza, repugna essa modificação. Taes são: o casamento, a
o repudio de herança ou legado, a acceitação da testainentai m •
2. — As condições podem apresentar varias figuras ou fôrmas-
Dahi as differentes designações, com que os escriptores as dís
tinguem: Potestativas, quando dependem da vontade do titula1"
do direito; casuaes, quando independem da vontade das partes-
As primeiras não são, em verdade, condições, e sim encarg0®'
recommendações ou cláusulas ociosas. A ellas se refere o art.
in fine.
São possíveis as que se podem realizar, segundo as lelS
natureza, ou de accôrdo com as prescripções do direito.
physicaviente possíveis, no primeiro caso, e juridicamente P0
siveis, no segundo (art. 116).
Licitas as que o direito permitte, illicitas as por elle
demnadas (art. 115).
Necessárias, as que são inherentes á natureza do acto,
tarias, as que são accrescimos postos pela vontade dos age ^
Só estas ultimas são verdadeiras condições, no sentido,
que a palavra é aqui tomada (art. 117).
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 367
Stispensivas, são as condições, quando têm por fim suspender,
emporariamente, a efficacia do acto jurídico; resolutivas, quando
ei
n poi fim extinguir, depois de certo tempo, a relação jurídica
creada pelo acto (arts. 118 e 119).
Outras especies, ainda, se encontram nos compêndios, porém
bastante assignalar aquellas que o Codigo destaca.

0n ' 115 • ~ São licitas, em geral, todas as


naiçoes, que a lei não vedar, expressamente,
re as condições defesas, se incluem as que
privarem de todo effeito o acto, ou o sujeitarem
0
arbítrio de uma das partes.

0 a,lterÍOr 4 4 Pr faculta 0 a ust


qualm'^ ~ ^ ^
aiquer condição, comtanto ' ' e-' conforme
que honesta ao j direito
® ^
SlaÇã0 com
dtón Parada - d. 44, 7, fr. 8: sub hac con-
^ 0ne, si volam, nulla fit obligatio; 45, 1, frs. 17, e 46, § 2 o
odigo civil francez, arts'. 900, 1.172 e 1.174; italiano,' 1.162

cMleno 1 478; pel uano


uciunol, 1.115; venezuelano, 1.228. ' ' ' ' 1-10S
,eI:OÍeCtOS
"wilaqua,
Esbm> arts 593 e
123;~Revisto, 135. -
632
; Co
Mo Rodrigues,
J 276
Bibliogiaphia — A do art. 114.

soria ei^aÇoes 1
- A conãitio é uma declaração acces-
ronta a
^asnnx J ^®' PPOBta a outra, que é principal. Regem-na os
e
' em n 11 trmClpi0S estabel
ecidos para as declarações da vontade,
1CUlar 0 tIa liberdade
diçges > Que
j a lei; não . prohibe. - São permittidas todas as con-
Sa
o def~ AS COndÍ6Ões' que Pldvarem o acto de todo o effeito,
Estado eSaS' POrqUe ha Uma contradicção entre o querer mani-
qiie n5 110 act0 PrinciPal e o que a condição revela, de modo
hiente n P0 ' C0existir' elimiaam-se, ou apparentam, simulada-
agenteS quererem 0 (lue na
Nã ' realidade, não querem.
do e tam )em uma condi
arbit ' Ção a que depender, exclusivamente.
Uma ClaS partes Se
Parte d epende
^ ^ do - ' Paorén
arbítrio do agente, b o facto,
condição apenas em
ê admissível.
368 CODIÜO CXV1X

As condições defesas invalidara o acto, pois não ha, com


ellas, manifestação real e séria da vontade. Nesta regra, entram,
não sómente, as que acabam de ser consideradas, como as itn-
moraes ou contrarias aos bons costumes.

Art. 116. — As condições pliysicamente im-


possiveis, bem como as de não fazer coisa impôs-
sivel, têm-se por inexistentes. As juridicamente
impossiveis invalidam os actos a ella subordi-
nados .
Direito anterior — O direito pátrio era lacunoso, neste par-
ticular, e o subsidio do direito romano mandava distinguir os
actos inter vivos dos mortís causa, para annullar os primeiros
e consentir na validade dos segundos {Inst., 2, 14, § 10; 3, l9'
§ 11; D. 44, 7, fr. 1, § 11, e fr. 31; 45, 1, fr. 137, §§ 5o e 6o,
46, 1, fr. 29).
Legislação comparada — O Codigo Civil francez, arts.
e 1.172, como o italiano, 849 e 1.160, e o venezuelano, 903 e
1.226, considera não escrlptas as condições impossiveis e as
immoraes, nos testamentos e nas doações; essas mesmas con
dições annullam os contractos, em geral. O Codigo Civil P01
tuguez, arts. 683 e 1.743; o hespanhol, 792 e 1.116, 1. P*3,1" ^
seguem a doutrina romana. O Codigo Civil argentino, 530, decla^
yrobibida a condição impossível e a immoral; sendo, porém,
não fazer coisa irapossivel não prejudica a obrigação. AcomP^
nharam-no, nestas prescripções, o uruguayo, arts. 1.408 e 1-
e o mexicano, artigo 1.948. O peruano de 1936, dispõe semelbal
temente ao nosso.
As condições de não fazer coisa impossivel são também
nocuas para o Codigo Civil francez, art. 1.173, para o itali»11 '
1.161, e para o venezuelano, 1.227. s
Projectos — Esboço, arts. 584, 586 e 632-634; FeU0^0 ^
Santos, 392; Coelho Rodrigues, 227; Beviláqua, 124; Revisto,
Bibliographia — A do art. 114 e mais: Vieira Feb
Ementas e Emendas, ps. 51, 124 e 161-162; o meu Ein ^
ps. 355-357; Trabalhos da Gamara, IV, ps. 152-153 (AndrauE
gueira) .
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JUBIDICOS 369

im possíveis,
SGrvações
não sãoi. condições,
As chamadas condições
no sentido physicamente
jurídico do termo
Porque não ha incerteza nos acontecimentos, nos eventos, a que
hordmam os actos jurídicos. E' a lição de Savigny {Droit
maíw, § 122), que todos acceitam. A's condições de não fazer
a coisa impossível, pela mesma razão, falta o caracter de in-
eiteza essencial á condição. Como. porém, não resulta deilas
a contaminação de iramoralidade, nem uma contradicção no
0 Codlgo as toma por oci
inZT'
as, e deixa substistir o acto, osas,
a quefrivolas,
accedem.extravagantes ou
Com a aolasão dada pelo Codlgo, não ha Interesse em die-
a lmi,osslMlid
^ sí "ths)
. da absoluta.ade physica
Quanto relativaa (dmditio
á parcial, quasi éim-a
melhor solução
^ e manda attender á vontade do estipulante ou testador. e pro-
a dÍffÍCuldade (Bartin
pinas 12 14^ . Théorie des conãitions, pa-

acto2 AS C0ndlS0es uridi


j camente impossíveis invalidam o
■Jur/ri ^
501 116 0 dÍreÍt0 nã0 PÓde amparar 0
Qlie üie é adverso,
mente Ímp0SSÍVeis sã0 as
krid condições contrarias á ordem
iegal^a POr exemplo: a de contrahir casamento antes da edade
6 convolar a novas
eu ir/anterioí; nupcias antes de dissolvido o vin-
de instituir herdeiro.

coud? ~C0dÍS0 fulmina com a mesma pena de nullidade tanto as


:,uridicamente
/acíar impossíveis, quanto as immoraes. quce
iut deneraliterPietate
Unt
™. existimationem, verecunãiam
dixerim) contra honos mores fiunt. nostram et

^aeiRE . VlEIRA Fekbexiía' com Belimb, Bonfanm e Mello


0Plna 9Ue tant0 aS COndições
lhanto' juridicamente impossíveis
juricii • ^ Physicamente impossíveis, deveriam invalidar o acto
' /orem
iQiposc.veiS nao ex
' manifesto que as condições physicamente
Um i istem, tal é a sua absurdez. O seu exemplo;
Seu
sat n.dU0 Çromette mil contos a outro, se a terra trocar o
dar
Dq6/16 PelaS 0it0 luas (ie Saturno. Não ha real vontade de
&e
' utam /" 0 jurisc°nsult0- Na vida real, os factos não se apre-
a
hm SOb .eSSa feisao' e quem appuzesse uma condição dessas
hlente feg0C10 juridico daria provas de insensatez. Porém, geral-
tadg ^ ^ando, a impossibilidade da condição manifesta a von-
ÍUe om."6 eSta Ua0 Se''a cumprida, porque ninguém pode esperar
em a a
leígi ^ ^ impossíveis ou que a natureza subverta as suas
Co
digo Civil — l.« vol.
24
370 CODIGO CIVIL

"Não se podem pôr, na mesma linha, essas condições, as


immoraes e as juridicamente impossíveis. Se matares, se com-
metteres tal torpeza, são condições em que o direito deve reco-
nhecer uma vontade perversa, que tenta destruir bases da vida
jurídica. Se os rios correrem da foz para as cabeceiras, será
um gracejo, ou uma extravagancia, que não passa da condição
para o acto.

Art. 117. — Não se considera condição a


clausula, que não derive, exclusivamente, da
vontade das partes, mas decorra, necessaria-
mente, da natureza do direito, a que accede.

Direito anterior — Silencioso.


Projectos —• Esboço, art. 568, 1.05 Coelho Roãvigues, 278,
Beviláqua, 125; Revisto, 137.
Bibliographia — A do art. 114.

Observações — 1. — A condição deve ser proposta, por 1101


dos agentes e acceita pelo outro. E' neste sentido que o artigo d12
não ser condição a que não derive, exclusivamente, da vonta<Je
das partes, mas decorra, necessariamente, da natureza do dirert0-
Por exemplo: Compro o prédio por dois contos, se o dono ^
comprometter a passar escriptura publica. Ora, o instrumento
publico é da substancia desse acto (art. 134, II), não depende
sua escolha da vontade da parte. Não é condição. Outro exemP*
Alugo a casa, se o locador me garantir o seu uso pacifico, dura ^
o tempo do contracto. Essa clausula é essencial á locaçao ^
coisas, é uma das obrigações do locador (art. 1.189, II)- 1>ía0
condição. , i0
2. — Não o é, também, a clausula que subordina o neg^ali,
jurídico a um facto passado ou presente, ou sobre cuja ve^^
zação não haja incerteza. São elementos conceituaes da ^
diçâo: a acceitação voluntária, a futuridade e a incerteza
acontecimento.
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 371

Art. 118. — Subordinando-se a efficada do


acto a condição suspensiva, emquanto esta se
nao verificar, não se terá adquirido o direito, a
Que elle visa.

Direito anterior — Principio corrente, mas não expresso em


ei de modo geral. V. Carlos de Carvalho, Direito civil, ar-
lg
0 Ord., 4, 8, § 1.°; e Cod. Commercial, art. 191.
Legislação comparada — Inst., 3, 15, § 4."; Codigo Civil
r.f.11062' ar^' italiano, 1.156; portuguez, 678; argentino,
' ^oliviaü0' 772i chileno, 1.479, l.a parte; uruguayo, 1.424;
emão, 158; federal suisso das obrigações (revisto), 157- ia-
Ponez, 127. '

3844 ePl387;
'0jeCt0S — Es'b0126;
Beviláqua, ^0' Revisto,
arts. 573 138,
e 597; Felicio dos Santos,
1.» parte.
Bibliographia — A do art. 114. Adde: Code Civil allemand,
u
üé par le Comitê de lég. étrangère, notas ao art. 158.

^ Observações — 1. — Emquanto pende a condição suspensiva.


ao
ha direito adquirido, mas. simples, sj)es ãebitum iri.
^ 2- Realizada a condição, o direito, em regra, se considera
^istente, desde o momento da celebração do acto, que o con-
^ lllu, se o negocio jurídico é inter vivos, e desde a abertura
^llCCeSS^0' 86 ^ mor^s causa. E' a isso que se denomina effeito
i"et roactiVo
qu das condições, que o Codigo allemão, somente admitte,
0 estipulad0
Hos^ S0 dire ' Porém q116 está na tradição da systematica de
tal ito, não como principio de direito, porém como orien-
Dalf0e' Paia 0 interprete Aliás 0
-
attender ao principio da' retroactividade
tegislador allemão
(art. teve
161). de, em
^ A retroactividade não prejudica os terceiros, segundo se verá
commentario ao art. 122. Nem abrange os fructos colhidos.
e&
te artigo; emquanto a condição se não verificar,
se terá adquirido o direito. Estatue o art. 3.°, § 1.°, da Intro-
CÇCÍO ' r> ' -1
eXer . " consideram-se adquiridos os direitos, cujo começo de
(je Cp) tenha condição, preestabelecida, inalterável a arbítrio
Posir4V0S^"1"Cujos
E apenas
'' on ' apparente a contradição entre os dois dis-
§ 1 o > o direito
' P to&' de vista
condicionado se differem. Na Introducção,
declara adquirido, para o art. 3.°,
effeito
r
respeitado pela lei nova, porque é um elemento positivo
372 CODIGO CIVIL

do patrimônio do individuo. No art. 118, o Codigo tem em vista


o effeito da condição suspensiva, e declara que, emquanto não se
verificar essa condição, o direito a ella subordinado, é apenas
possibilidade em via de actualizar-se. Essa possibilidade o legis-
lador respeita, quando legisla, não impede que se realize, porque
é um valor jurídico apreciável, embora ainda em formação. S®
a lei nova não respeitasse o direito condicionado, verificada
a condição, em seguida, o individuo soffreria um prejuízo, 6
a lei nova teria destruido uma formação juridica creada Pela
anterior. Veja-se o commentario n. 4, ao art. 3.°, da Introducção.

Art. 119. — Se for resolutiva a condição,


emquanto esta se não realizar, vigorará o acto
jurídico, podendo exercer-se, desde o momento
deste, o direito por elie estabelecido; mas, veri-
ficada a condição, para todos os effeitos, se ex-
tingue o direito, a que ella se oppõe.
Paragraplio umco. A condição resolutiva da
obrigação pode ser expressa ou tacita; ope-
rando, no primeiro caso, de pleno direito, e por
interpellaçao judicial, no segundo.

Direito anterior — Quanto ao principio do artigo, a doü'


trina generalizou a regra da Ord., 4, 5, § 3.° V. Caklos de Oas
valho, Direito civil, art. 242. — Quanto á matéria do paragrapb0
único, segunda parte, não dispunha a lei, nem era assente a
doutrina.
.Legislação comparada — D. 18, 1, fr. 3; 18, 2, fr. 4, § '
Codigo Civil francez, art. 1.183; italiano, 1.158, 2.a parte; Por
tuguez, 680; mexicano, 1.940; argentino, 553 e 555; urugnay®'
1.427; boliviano, 774; chileno 1.479, 2." parte; allemão, ^
2.a parte; federal suisso das obrigações (revisto), 154; jaPoDeZ'
127, 2." parte; venezuelano, 1.224, 2.a parte; peruano, 1.109-
A legislação citada não dispõe sobre o conteúdo do Para
grapho único, sendo-lhe a"mesma generalizada.
Projectos — Esboço, arts, 574, 610 e 612; Felicio dos B^0 '
384, 2.a parte; Beviláqua, 127; Revisto, 138, 2.a parte.
Bibliographia — A do art. 114.
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS
373
seivaçoes 1. A relação jurídica está formada e per-
a a que se re
' aliza a condição resolutoria. Realizada que
faZ Se 0 direit0
insm U1(.^08 'pel0 í: lllar '
como se jámais existira. Os direitos
f ^ ' antes da condição, desapparecem, por
ça do principio de que ninguém pode transmittir a outrem
*S7 'ireit0 d0 que tem- Dalli a r
egra; resoluto jure ãantis
esoivitur jus accepientis.

tabelecidSe' ^ art
' Uma ai)pIica6ão do
Preceito aqui es-

Gov2 0 paragrapho ullico foi


accrescentado, ao Projecto do
0 Commissão da Cama
do Tr Ama\ ra, em 1901, por indicação
. - R0 Cavalcanti (Trabalhos, II, p. 172 2 a col • V na
Smas 330-331 e 353-354). ' " ■ ' v
Contém este dispositivo um manifesto elemento de segu-
aS reIaSÕe&
' jurídicas. A resolutoria tacita, que se
ntende nos contractos synallagmaticos. deve ser posta em
Posssa0 allegar
r13, interveneao d0
Poder judiciário,
surpreza. A resolutoria expressa para
está que se não
no conheci-

direif0 010 lnteres'sad0' consta do titulo, em que se funda o seu


nenIllima duvida
do nu Pôdepor
Poder judiciário, e opera suscitar. Dispensa
si, de pleno a intervenção
direito.

àoQ ^ -x : "7 ?ePuta-se verificada, quanto


s
inr f'' ® Jurídicos, a condição, cujo imple-
a m, „mallciosamente, obstado pela parte,
Q^em desfavorecer.

eoDri^~nS^era~se' ao contrarioJ riao verificada a


a0 mallciosam
aoupu ente levada
iueiie, a quem aproveita a effeito, por
o seu implemento.

^ireito anterior — Silencioso.


§ 7.o;e^SlaÇã0 comParada - D. 35, 1, frs. 24 e 81; 45, 1, fr. 85,
j-lTs'. a',17' fr" 161: Codigo Civil allemão, art. 162; francez,
^PÇasDnhes 0anho1
' 1'169; p0rtuguez' 679 e 681 (com algumas diffe-
538; „ ' P . 1-119: mexicano, 1.915; argentino, 537 e
ga 420
Sões l- : boliviano, 769; federal suisso das obri-
reV1St0) art
^bezumInno, '
1.235; ' 156: d01,111.
peruano,
Monten
egro, 941; japonez, 130;
374 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, art. 629, n. 3; Felicio dos Santos, 388;


Coelho Rodrigues, 280; Beviláqua, 128; Revisto, 139.
Bibliographia — A do art. 114. Adde: Oode Civil alleinand,
publié par le Comitê de lég. étr., nota ao art. 162.

Observação —■ Segundo a doutrina do direito commum gel


manico, adoptada pelo Codigo Civil allemão, art. 162, o dispo-
sitivo agora considerado condemna, por egual, o dólo do Qu
impede a realização da condição e o daquelle que lhe força
realização.
E' claro que a condição não deve depender do facto de um
das partes, pois se depender não se lhe pode imputar má fé, P0
fazer o que lhe era facultado. Aliás, se a condição fôr ^e^xa -e
inteiramente, ao arhitrio de uma das partes (se quizer) iu
na comminação do art. 115, que a declara prohibida. ^
Em geral, os Codigos Civis apenas consideram a malícia ^
que impede o implemento da condição. No mesmo sen''^0,e
direito romano. Mas, irrecusavelmente, a malicia do que impena
e a do que força a realização do facto condicional, estão ^
mesma linha, e não ha razão para serem tratadas de modo
ferente.

Art. 121. — Ao titular do direito eventu^


no caso de condição snspensiva, é permitti
exercer os actos destinados a conserval-o.
tira
Direito anterior — Silencioso. E' forçada a illação qu ^
Caklos de Carvalho do que dispõem o art. 136 do Codigo
mercial e o art. 23, § 2.°, do dec. n. 917, de 24 de Outubro de
V. Bir. Civil, art. 241, pr. ■ § ^0'
Legislação comparada — D.' 5, 1, fr. 41; 36, 4, fi".
e fr. 13; 42, 4, fr. 6, pr.; Codigo Civil francez, 1.180; ifa ^
1.171; portuguez, 682; hespanhol, 1.121; mexicano, 1-04 > ^
liviano, 771; federal suisso das obrigações, 176, que na0
mantido pela revisão; uruguayo, 1.423; venezuelano, 1-23 _ ^
Projectos — Esboço, art. 600; Felicio dos Santos, 3
vilaqua, 129; Revisto, 140.
Bibliographia — A do art. 114.
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 375

Observação — Ainda que meramente eventual, o direito


merece a protecção da lei. A extensão da faculdade concedida
Por este artigo determina-se pelo conceito dos actos conserva-
tórios e pela possibilidade jurídica de adaptar o acto conser-
vatório á modalidade do direito em questão. São medidas de
conservação todas as que se limitam a impedir que o direito
pereça ou seja prejudicado, sem cercear a liberdade do seu exer-
cício por parte daquelle, a cujo patrimônio, actualmente, per-
tence.
O registro e a transcripção do titulo, o reconhecimento da
firma, a interrupção da prescripção, as sanções, são medidas de
Que podem usar os titulares do direito eventual. O fideicommis-
sario tem direito de exigir que o fiduciario lhe preste caução
dos bens que, eventualmente, lhe tem de restituir (art. 1.734,
Paragrapho único).

Art. 122. — Se alguém dispuzer de uma


coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta,
fizer, quanto áquella, novas disposições, estas
oão terão valor, realizada a condição, se com ella
forem incompativeis.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — D. 30, fr. 69, § Io; 35, fr. 105; Cod.,
43, I. 3) § 30. Codigo Civil allemâo, art. 161. Vejam-se também:
Codigo federal suisso das obrigações (revisto), 152, 3.a ai.;
francez, 1.179; italiano, 1.170; argentino, 543; uruguayo, 1.426.
Projectos — Esboço, arts. 602-608; Beviláqua, 130; Re-
visto, 141,
Dibllograpbla — A do art. 114. Aãde: Code Civil allemand,
Publié par le Comitê de lég. étr., notas ao art. 61. Windscheid,
Pand., § 9i( nota (i) expõe a controvérsia que os juristas têm
s
Ustentado sobre a retroactividade das condições cumpridas.
^6jam-se, também: Huc, Commentaires, VII, ns. 254-259; Ex-
uemann, Lehrbuch, § 79, III; e Lacerda de Almeida, Obri-
Gações, § 34.
376 CODIGO CIVIL

Observação — Consagra este artigo o principio da retro-


actividade das condições, traçando-lhe, porém, certos limites.
Como ficou dito na observação n. 2, ao art. 118, a retroactividade
não abrange os fructos percebidos, nem prejudica terceiros. Em
relação a terceiros, o implemento da condição suspensiva não
terá effeito retroactivo: a) sobre bens fungíveis; b) sobre outros
moveis adquiridos de bôa fé; c) nem sobre immoveis, se não
consta do respectivo registro a transcripção do titulo, onde se
acha consignada a condição.
Diz o Codigo que não terão valor as disposições, se forem
incompatíveis' com o advento da condição. As que se conciliam
com o novo estado das coisas, subsistem. A palavra disposição
comprehende alienação, cessões, constituição de direitos reaes.
Depende das circumstancias da especie saber se são compatíveis-
as duas disposições, a condicionada e a que occorrêu depois âe
estabelecida a condição suspensiva.

Art. 123. — O termo inicial suspende o exer-


cicio, mas não a acquisição do direito.

Direito anterior — Nenhuma disposição especial dé lei; mas


o principio era corrente na doutrina, supprindo o direito roman0
a lacuna.
Liegislação comparada — Inst., 3, 15, § 2.°; D. 45; 1, frS-
§ 16, 41, § 1,° e 46, pr.; prcesens otligatio est, in ãiem aut6#1'
dilata sòlutio; Codigo Civil francez, art. 1.185; italiano, 1-1^'
argentino, 1.194; venezuelano, 1.132,
Projectos — Esboço, art. 643; Coelho Rodrigues, 281;
laqua, 131, Revisto, 142.
Bibliographia — Theoria geral, § 59; Ribas, Curso, pagi113,8
495-498; Espinola, Systema, I, ps. 500 a 503; Breves annotdÇÕ63'
I, ps. 400 e segs.; S. Yampeé, Manual, I, § 63; Almachio
Primeiros principios, I, § 42; Martinho Gakckz, Theoria O61
§§ 146 a 150; Lacerda de Almeida, Obrigações, § 33; Coelho
Rocha, Inst., § 106; Pothier, Obrigações, ns. 227-237; PlaNIOL
Traité, I, 289-306; Huc, Commentaire, VII, ns. 282-289; ^
rbnt, Cours, II, ns. 692-701; Atjbry et Raxj, Gours, IV, §
Savigny, Droit romain, §§ 113-114; Chiboni, Ist., § 67; WiNirncH®13'
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 377
Pdnã., I, §§ 96, 96 (a), e as notas (vv) e (xx) de Fadda e Bensa,
Ps. 1.030-1.054; Alves Moreira, Inst., n. 184,

Observações — 1. — Termo ê o dia, no qual tem de começar


0U ( e ex
^ tinguir-se a efficacia de um negocio jurídico. Prazo é o
lapso de tempo decorrido entre a declaração da vontade e a
superveniencia do termo.
O termo inicial, primordial ou snspensivo (dies a quo; ex
àie) retarda o exercício do direito, que se considera já adqui-
rido, desde o momento, em que a vontade se manifesta juridi-
camente.
2. — Nas condições, ha subordinação do acto a um aconte-
cimento incerto. No termo, o acontecimento ê certo. Todavia
Pode não haver certeza do momento, em que o termo advém.
^ssim se diz que o termo pode ser certo ou incerto. Certo quando
fixado para determinado dia, mez e anno. ou por um deter-
minado lapso de tempo: no dia tres de Novembro de 1917; de
boje a vinte dias.
tu
Incerto quando fixado em relação a um acontecimento fu-
im, necessário. A incerteza referente ao momento, em que se
realiza o acontecimento {dies incertus quando) não altera a
natureza do termo: No dia em que fallecer X...
O termo incerto, por se não saber se o advento se realizará
üies incertus an), eqüivale a uma condição, por que a incerteza
e
absoluta, ao passo que, no primeiro caso, é relativa.

Art. 124. — Ao termo inicial se applica o


aposto, quanto á condição suspensiva, nos ar-
^os 121 e 122, e ao termo final, o disposto,
c
erca da condição resolutiva, no art. 119.

direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 163.
Lrojectos — Beviláqua, art. 132; Revisto, 143.
^ Libliographia — A do art. 123. Aãde: Codigo Civil allemand,
u
ffé par le Comitê de lég. étr., notas ao art. 163,
378 CODIGO CIVIL

Observações —• 1. — O art. 123 referiu-se ao termo inicial,


que o Codigo approxima da condição suspensiva, para autorizar
a applicação do disposto nos arts. 121 e 122. O termo final e
assimilado á condição resolutiva, quanto á applicação do dis
posto no art. 119.
Termo final (ãies ad quem, aã ãiem) é o que extingue o 1
reito creado pelo acto juridico, de que elle é modalidade.
2. — o titular de um direito adquirido por termo suspe^
sivo ou inicial pode exercer actos conservatórios, com YãZ^
melhor ainda do que o titular do direito eventual, cláusula ^
por condição suspensiva. Assim elle pôde registrar e ti anseie
o seu titulo; exigir caução daquelle que está no gozo actua ^
direito: e usar, emfim, dos meios juridicos adequados á c^
servação do direito, que já é seu, e do qual apenas lhe
deferido o exelcicio. h "reito
3. — Com o advento do termo final extingue-se o cur ^
a que elle se refere, assim como os creados ou transferidos Pe^
titular, pois existiam, apenas, temporariamente. Uma applic£^
deste principio se encontra no dominio resoluvel, art. 647.
solvido o dominio pelo implemento da condição ou pelo adv®o^
do termo, entendem-se também. resolvidos os direitos reaes c
cedidos na sua pendência".

Art. 125. — Salvo disposição em contraria


computam-se os prazos, excluindo o dia do c0
meço, e incluindo o do vencimento.
§ 1.° Se este cair em dia feriado, considera
se-á prorogado o prazo até o seguinte dia u 1
§ 2.° Meiado considera-se, em qualquer m '
o seu décimo quinto dia. ^ . 0
§ 3.° Considera-se mez o periodo success
de trinta dias completos. -0
§ 4.° Os prazos fixados por hora contar-^'
de minuto a minuto.
rmaxito
Direito anterior — As mesmas disposições. — ^^
princ., Orã., 3, 13, § 1.°; Codigo Commercial, art. 135. — § ^ 0
Lei n. 2.044, de 31 de Dezembro de 1908, art. 20, que a e
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 379

Codigo Commercial, art. 358, l.a parte. — § 3.°: — Orã., 3, 13, pr.
■ § 4.°: — Lei n. 261, de 3 de Dezembro de 1841, arts. 73 e 74.
V. Carlos de Carvalho, Direito civil, arts. 47-57.
Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 1.130;
allemão, 186-193; federal suisso das obrigações (revisto), 76-78.
V. também o mexicano, arts, 1.126 e 1.127.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 282; Beviláqua, 133; Re-
visto, 144.
Bibliographia — A do art. 123. Aããe: Vieira Ferreira,
Ementas e Emendas, ps. 135 a 137.

Observações — 1. — O principio do artigo consigna a regra


conhecida: dies a quo non computatur in termino; dies termini
conivwtatur in termino. O § 1.° mantém o principio já consagrado
e
Di nosso direito, tendo, com o art. 20 da lei n. 2.044, de 31 de
Dezembro de 1908, que definiu a letra de cambio e a nota pro-
missória, desapparecido a divergência entre o modo de contar o
Prazo das letras e o das obrigações communs. Os outros dois
Paragraphos reproduzem idéas vulgares. O § 3o foi criticado por
alterar o calendário. Foi, porém, injusta a critica. Quer elle dizer*
^ae, quando o prazo estipulado é de mez, entende-se que é de
trinta dias successivos. Isto já estava no Ord., 3, 13, e era,
Vulgarmente, sabido.
2
- — O Codigo do Processo Civil, art. 27, alterou a norma
do Codigo Civil, art. 125, principio; mas a innovação não pre-
valeceu. Vejam-se as considerações, que faz Carvalho dos Santos,
Codigo de Processo Civil interpretado, ao art. 27.

Art. 126. — Nos testamentos, o prazo se pre-


s
tinie a favor do herdeiro, e, nos contractos, em
Proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do
eor
do instrumento ou das circumstancias, re-
sultar que se estabeleceu a beneficio do credor,
0l
t de ambos os contrahentes.

Direito anterior — Presumia-se o prazo estabelecido para


umbas as partes. {Ord., 3, 35; Cod. Commercial, art. 431; Carlos
1)11
Carvalho, Direito Civil, art. 243).
380 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — No mesmo sentido do art. 126:


D. 45, 1, fr. 41, § Io, in fine: ãiei aãjectionem pro reo esse, non
pro stipulatore; 50, 17, fr. 17; cum tempus in testamento aãji-
citur: credendum est pro herede aãjectum nisi alia mens fuerit
testatoris; sicuti in stipulotioniius promissoris gratia tempus
aãjcifur; Codigo Civil francez, art. 1.187; italiano, 1.175; mexi-
cano, 1.360; boliviano, 778; federal suisso das obrigações (re-
visto), 81; uruguayo, 1.436; portuguez, 740; venezuelano, 1.241.
Divergentes: Codigo Civil argentino, 570; hespanhol, 1.127.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 407; Coelho Rodrigues,
283; Beviláqua, 134; Remsto, .
Bibliographia — A do- art. 123.

Observação — O acorescimo da circumstancia — quanto d


esses, posto no Senado para clareza do pensamento da lei, íoi
de effeito contraproducente. Obscureceu a redacção, que melbor
ficaria sem a clausula explicativa. Depois de estabelecer, com o
direito romano e o da maioria dos Codigos Civis, que o prazo se
presume estabelecido a favor do herdeiro e do devedor, o artigo
faz sentir que esta presumpção, quanto ás obrigações conven-
cionaes, cessa, quando, das circumstancias ou do teor do titulo,
resultar coisa diferente; que foi estabelecido o termo em favor
de ambos os contrahentes, ou do credor. E' isto o que diz o Codigo-
Em relação ao herdeiro, não havia que fazer essa ponderação.

Art. 127. — Os actos entre vivos, sem prazo,


são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução
tiver de ser feita em logar diverso, ou depender
de tempo.

Direito anterior — Pela Ord., 4, 50, § 1.°, cabe ao julZ'


apreciando as circumstancias, conceder, ao devedor um pra^o
razoavel, para o pagamento da obrigação, que o não tem, 0011
vencionalmente, estabelecido. O Codigo Commercial, art. 137, de
clara exeqüível, dez dias depois' da sua data, a obrigação b361"
cantil, que não tiver prazo estipulado pelas partes ou marcado
em lei.
DAS MODALIDADES E DOS ACTOS JURÍDICOS 381
JLegislação comparada — Inst.,'Z, 15, § 2.°; D. 45, 1, fr. 41,
1. , mitio; 50, 17, fr. 14: In lomniòus obligationibus, in guibus
aies non pomitur, prcesenti die debetur; Codlgo Civil portuguez
n 743; federal suisso das obrigações (revisto), 75; allemão,
•1, austríaco, 904; venezuelano, 1.239.
, Pí146.
visto, "0jectos ^ Coelh° Rodrigues, art. 284; Beviláqua, 135; Re-
Bibliographia ~ A do art. 123. Adde: meu Direito das obri-
^oes, § 36; M. I. Carvalho da Mendonça, Obrigações, n. 252-
coelho da Rocha, Inst., § 147.

CONSELHO nm-N^L DO TRABALHO


1«. RtGIÃO
Observações — 1. __ A regra estabelecida no começo do
So seria de rigor excessivo, se não fosse attenuada pela
o cepçao posta em seguida, onde apparecem os prazos tácitos,
08 íIa natur
v 11 eza do negocio ou das circumstancias. Se A
e a safra do seu engenho de assucar, entende-se, natural-
E 6, que a entregará quando colhida. Depende de tempo o
cumprimento da obrigação.
Em combinação com este artigo ha de entender-se o 952.
ei
ente ao tempo do pagamento das obrigações.
2
^ " ~~ 0s act0&' mortís causa dependem do fallecimento do
Pfmente. Nas substituições, devemos attender ás prescripções
r
Drep e /- 1'/29 e seSuintes. O pagamento dos legados obedece aos
itos estabelecidos nos arts. 1.690 e seguintes.

gi ~ rt- ^ encargo não suspende a acqui-


Çao? nem o exercício cLo direito, salvo quando
Pressamente imposto, no acto, pelo disponente,
condição suspensiva.
direito anterior — Silencioso.
C01nparada
eucf - 0s CodiS^ Civis, em geral, tratam
das di lg0 ^ Parte especia1 ao ex ôr a
' P theoria das doações e a
de ultima
vontade; Codigo Civil portuguez, artigo
52
S-527 10 06 e1'455; he&panho1 622
1 972 Assim
' ' argentino, 126-129; allemão,
45 „ü 0' - - também no direito romano; Cod. 6
' o» 44. '
382 CODIGO CIV1I.

Projectos — Esboço, art. 655, que foi a fonte do artigo:


Beviláqua, 136; Revisto, 147.
Bibliographia — Theoria geral, § 60; Espinola, Sistema,
I, ps. 502 e 503; Breves annotações, I, ps. 407 a 408; S. Vampbé,
Manual, I, § 64; Ribas, Curso, ps. 498-500; Maktinho Garcesí,
Theoria geral, § 151; Coelho da Bocha, Inst., § 107; Savigny, Droit
romain, § 128; Dernbukg, Pand., I, § 115; Windschid, Pand., I»
§§ 97-100, e nota tyy) de Fadoa e Bensa, ps. 1.035-1.054; Chibonx,
ísí., I, §68.

Observações — 1. — Encargo (moãus) é a determinação


accessoria, em virtude da qual se restringe a vantagem creada
pelo acto juridico, estabelecendo o fim, a que deve ser applicada
a coisa adquirida, ou impondo uma certa prestação.
Differe o encargo da condição, em ser coercitivo. Mas pode
apparecer, muitas vezes, sob fôrma de condição; e, na duvida, se
se trata de condição ou de encargo, suppôr-se-á que é encargo.
Muitas vezes, o encargo toma feição de um conselho, de uma
observação. Nestes casos, perdendo o caracter oneroso ou coei-
citivo, deixa de ser encargo. Também não o é, quando tem P01
tirn, exclusivamente, o interesse da pessoa, que o tem de cumprxr-
2. — Os encargos impossiveis regem-se pelos principi03'
que regulam as condições impossiveis. Também para a garantia
do cumprimento do encargo, podem os interessados no seu cum
primento exigir que o gravado preste caução. A inexecução do
encargo torna annullavel a liberdade (art. 1.181, paragrapf10
único).
3. — O encargo apparece, mais commummente, nas doaçõ®3
e nas disposições de ultima vontade; é, porém, egualmente, ca
bivel nas declarações unilateraes da vontade, como as promessas
de recompensa. Nos actos bilateraes, o encargo se confunde com
o correspectivo.
Entretanto, se não tem a generalidade das condições, desde
que abrange relações jurídicas assim varias, deve ser conside*
rado na parte geral do direito civil, como fizeram os melhoi63
pandectistas, não obstante seguir outra orientação o Codigo
allemão.
4. — A theoria das presupposições' imaginada por Wi;NP"
scheid, combatida por uns e defendida por outros, não foi ace^a
pelo Codigo Civil brasileiro. Fadda e Bensa, pensam «jue e
DA FORMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA 383

theoria «é, talvez, a creação mais genial daquelle que, sem exa-
gero se pode chamar o príncipe da dogmática juridica, na se-
gunda metade do século XIX".
A presupposição (Voraussetzung) é uma condição cuja evo-
uçao se não completou, uma limitação da vontade que se não
esenvolveu até se tornar condição. O moclus, o encargo é uma
aas tórmas da presupposição. Por isso a ella alludi neste logar;
as, seguindo a lição de Dernburg, penso que, se a presupposi-
Se
manifesta, expressamente, será a razão determinante do
agooio jurídico, ou a modalidade, que se lhe addita. Se não se
mostra como parte constitutiva do acto, não deve ser tomada em
consideração, para effeitos jurídicos, sob pena de pôr em perigo
a firmeza e a boa fé dos contractos.

CAPITULO IV
Da forma dos actos jurídicos e da sua prova

Art. 129. A validade das declarações de


0
iitade não dependerá de fôrma especial, senão
9Uando a lei, expressamente, a exigir (art. 82).

Bireito anterior — Codigo Commercial, art. 124; Carlos de


r
valho, Direito civil, art. 249.
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 974;
^ mal suisso das obrigações (revisto), 11; austríaco, 383. Pará
^ meito romano, vejam-se: D. 22, 4, fr. 4; Cod. 1, 14, 1. 5; e 2
* 22.
I>10jectos
VjUa<
7 Esboço, art. 669; Coelho Rodrigues, 372- Be-
Ua, 137; Revisto, 128.

''"«so;!!!'"81"1""" — Theoria geral, § 62; Teixeiha de Freitas,


460- Z15"0- n0ta (26 80 art- 336. Ela'«. Carso, ps. 458 a
1)8
■' 412 0LA' íivstema- ^ 1,3' 450 a «8: Breves annotações. I,
Theorín 6 Se§S'' S' Vampké' Manual, I, § 66; Martxnho Garcez,
bs. 2rr geral' §§ 152 e 153: Xullidaães, n. 78; Planiol, Traité, I,
íehm ^ 268 í C0Lm et CAP1TANT' Uowrs, I. 63 a 67; Endemann,
a
55- qC l' ^ 6í)' Jherinü' EsViritu dei dcrecho romano, II, §§50
GNY Droit
lota' ffe) de '
Fadda eronain,
Bensa, §ps.
30; 895
Windscheid, Pand., I,Ist.,
a 907; Chiroki, § 72,61;e
384 CODIGO CIVIL

Giuseppe Osti, vb. Fôrma, no Dizionario de Scialoja e Busatti;


R. Rivarola, Derecho civil argentino, I, ns. 113 e 114; Schib-
meister und Pkochownigk, §§ 75 e 76; Ferreira Coelho, op, cit.,
IX, p, 25 e segs.

Observações — 1. Fôrma é o conjuncto das solemnidades,


que se devem observar, para que a declaração da vontade tenba
efíicacia jurídica. JB' o revestimento jurídico, a exteriorizar a
declaração da vontade. Esta é a substancia do acto, que a fôrma
revela.
O Codigo proclama o principio liberal de que a validade do
acto não depende da fôrma, se não nos casos, em que a lei, eX'
pressamente, o declara. Todavia, a segurança das relações exige
que as partes se acauteiem, dando aos seus actos a consistência
necessária, para que a má fé alheia ou as vicissitudes da exis-
tência as não façam periclitar ou desapparecer.
2. — Sobrevivência de inúteis subtilezas de antigos juristas,
ainda apparecem nos livros de doutrina, distincções entre as
formas aa solemnitatem e ad probationem tantum. No Codigo
Civil, não se encontram reflexos dessas distincções. E' certo que
por amor dellas, eliminou-se um artigo do Projecto Primitiv0»
que proclamava identidade entre a prova exigida por lei e a
fôrma especial do acto (art. 142). Mas, não obstante, a doutrina,
que resalta de todo este capitulo, é a que aquelle Projecto cx'
primia na these eliminada. Não ha, na systematica do Codig0
Civil, fôrmas somente para a prova dos actos. Estes ou têm a013'
fôrma especial exigida por lei ou se provam pelos meios admit"
tidos em direito. A fôrma ou é preestabelecida ou é livre.
3. — Cumpre distinguir, porém, entre a fôrma do acto,
modo por que elle se exterioriza, e as formalidades posteriores,
como a notificação da cessão (art. 1.068) e as exigências fiscaes.
Também não são fôrmas próprias do acto as habilitações, que 0
devem preceder, como a outorga uxoriana ou marital, as forma-
lidades preliminaes do casamento e outras semelhantes.
4. — Sob o ponto de vista da fôrma, os actos são forma68
ou solemnes e não formaes, também chamados consensuaes, quão
do resultam de accôrdo dos agentes.
Os actos formaes estão adstrictos a uma determinada fóra13"
como o casamento, os indicados nos arts. 133 e 134, o testamento,
o contracto de seguro (art. 1.433), etc.
da FÓBMA DOS ACTOS JTJRimcoS K DA SUA PROVA
385
Art. 130. Não vale o acto, que deixar de
evestir a fôrma especial, determinada em lei
Saív0 quaad0 esta
rif+n-' Z- conuniue sanccão
difíerente contra a preterição da fôrma exigida.

anterl0r 10
e a-se o reg. n. 737, - Q™
de 26 ^ primeira
de Novembro parte
de 1851), art. tio684 artigo,
5 l-
a SeêUn<la Earte llenhuma
0.0^ adoutiina
t '
era no mesmo sentido.diepoelgào especial de lei;
liegislação comparada — Cod 114 1 tr. n
5j Codl 0
allemãoo, art
ait. 126,
19*- federai
twi , smsso
• das obrigações,
' 9., 2a parte
S Civil

268- rT8 ~138;


^03, Beviláqua, ***'' artS
<n*U
Revisto, -149.
e
«»! "os Santos

t, ooL^TT"1"-Ad<> m
***<■■ Déclaration
a0 ; COãe CÍVÍl
Comitê de
vomite , leg.,
t art. 125. PdMé Par le

^ Observações - l, - Quan(l0 a lel estal)elece uma £ ^

a sua " aCt0' a 6 SUa sl ,8tl


" "'Pta. é necessária
litellcia
mesn - APPlrca-se-lhe a regra: /orna dat esse rei. O
a a3 í , U1 leCe (luaild0 08
certo '!'■oima
" ao "acto,
' ' que
' vão celebrarPartes
(art. oontractam
133). dar uma
A fôrma legal pôde ser a celebração solemne. como no casa-
PUbIÍCa (art 13
(arte - «' a transcripsão do titulo
a tl alIÍSâ0 <art m>
theca tn , *.!??' ' - « inscrlpção da hypo-
1 4oo. 1 ■ 31 ^ 0 mstrumento particular (arts. 1.168, 1.433 e
eSPeCÍal Para 08 testam
1 •D63S t
^. 1.645, 1.606-1.659 e 1.660-1.663). entos, arts. 1.632,
1VIaS 86 a IeÍ re(lueren(io u
decif," ' ' ma dada fôrma para o acto,
q 6 a PreterÍSã0 d0 seu re
Passivel i P ^ito, apenas torna o agente
íliantP - 6 Ceita Pena' 0U estabelece outra Providencia seme-
caso Lef0rqUe t0lera 0 aCt0' apezar desse defeito. A lei, neste
que 'J . 12 men0S perfeita' sendo Perfeita a que não permitte
aosista o acto realizado contra o seu edicto.

declarações constantes de
0S assi na
em J]~ S dos presumem-se verdadeiras
delação aos signatários.
Cod
igo Civil - l.o vol.
386 CODIGO CIVII.

Paragrapho único. Não tendo relação di-


recta, porém, com as disposições principaes, ou
com a legitimidade das partes, as declarações
enunciativas não eximem os interessados em sua
veracidade, do ônus de provai-as.

Direito anterior — Semelhante. Reg. n. 737, de 1850, art. 144.


V. a bibliographia, em seguida.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.320;
italiano, 1.318. V. também o Codigo Civil portuguez, arts. 2.426
e 2.427.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 327; Coelho Rodrigues,
383 e 384; Beviláqua, 140 e 141; Revisto, 150 e 151.
Bibliographia — Theoria geral, §§ 63 e 64; Espinola, Breves
annotações, I, ps. 414 e segs.; S. Vampbé, Manual, I, §§ 66 a 69,
Almachio Diniz, Primeiros princípios, I, § 46; João Montei»0'
Processo, § 139; Seve Navakko, § 520; Martinho Garcez, Theorid
geral. § 154; Paula Bapttsta, Theoria e pratica do processo,
§ 144; Coelho da Rocha, Inst., § 186.

Observações — 1. — Deste artigo em deante, occupa-se 0


Codigo Civil com a prova dos actos juridicos. Prova, em direit0»
é o conjuncto dos meios empregados para demonstrar, legalniente'
a existência de um acto? juridico.
Sobre este interessante capitulo da lógica juridica, vejam-s6-
além dos autores acima citados: João Mendes Júnior,
judiciário, ps. 131-166; Bentham, Des preuves; Neves e Cast»0^
Theoria das provas; Mello Freire, Jus civile, IV, 16; Colin
Capitant, Cours, I, ps. 94-102; Pothier, Obrigações, II, num01"09
690-811; Mortara, Procedura civile, III, ns. 465-619; Toro Me1,1'0
y Reys, Codigo de procedimento civil anotado (chileno), pagina9
320-398. Nos Preliminares deste livro, p. 78, n. 77, expoZ'se
razão por que e como o Codigo Civil deve tratar da prova.
2. — A prova deve ser: 1.°, Admissível, não prohibida P0
lei e applicavel ao caso em questão; 2.°, Pertinente, isto e, ad
quada á demonstração dos factos e á applicabilidade dos P11^
cipios de direito invocados, 3.°, Concludente, quer dizer: ^ ^
trazer esclarecimento ao ponto questionado, ou conformar
gações feitas.
da fôrma dos actos jurídicos e da sua PROVA 387

Ipi e2 apphcavel
A Pr0Va Cieve ser: 1 0 Admissi
ao caso em questão; '' vel. não prohibida
2.", Pertinente, por
isto é, ade-
«uada a demonstratão dos factos e á appllcabllidade dos prin-
ws e direito invocados, 3.", Concludente, auer dizer: ha de
azer esclarecimento ao ponto questionado, ou confirmar alie-
«ações feitas.
3. — Os preceitos fundamentaes da theoria das provas são
"o seguintes;
«) O ônus da prova incumbe a cuem allega o facto do qual
nz a existência de um direito. Ei dicit
22 3 tra 2 e i2,; co<,igo cwi ar
tZ rzrr ' ' venezuelano,
.315, italiano, 1.312; - 1.380; João Monteiho,"
cesso, II, § 124; Neves e Castro, Provas, ns. 27 e 32.
h) Pr ovar se o jacto allegado, não o direito a allegar. O juiz,
gao vivo da lei, tem por funcção applical-a e por dever co-
e^T1-: Na0 tem a parte necessidade de provar, perante elle, a
tenHenCla da lei
Quailprovado,
eu que devia- ser to ao direito estrangeiro,
por não se poder sempre
exigir dose juiz
en-

fq. ,0 conhefia- -Prevaleceu, porém, a opinião contraria, sob o


ímDõament0 de qUe a COminunhão de direito entre os povos cultos
tranp6eir0
'- a0S Clluand0
;ÍUÍZeS l0CaeS, a 0brÍga â0 de
tlv
S conhecer o direito es-
arti ' er de applical-o. Desappareceu, assim, o
hiam0mha,
, Pr0ject0 (155 d0
Primitivo
neste ponto, o direito e 165 do Revisto), que
anterior.
tiver!!1* ,meSma raZã0' 0 dÍreÍt0 eBtad"al e o municipal, quando
Para / ^ ^ appllcadüS fóra das circumscripções territoriaes,
juiz aS ílUaeS f0ram promulsados' Presumem-se conhecidos do
. ^ Também o costume, ainda que repouse sobre um facto, que

Tfir0. C0I1Stante de um ce
rto modo de regular certa re-
Cümprehender ce ta
dispensari da ^ ^ r regra jurídica, será
Prcva exigida pelo direito anterior.
ten:i
o dir^fant0 30 ;'UÍZ' eSte ■'ulga pel0 allegado e provado. Mas
tadas nn a ext6 0 .deVer de examinar e Pesar as provas apresen-
5' rahir dellas a relativa verdade legal.
as
declara P_reSumem'se verdadeiras, em relação aos signatários,
brado Z ^ tenham feito sobre 0 obJecto do acto cele-
do PreCÍSamente nessas
acto o ^ essa pre&um
' declarações está a substancia
bôa fé PÇão, os negocios jurídicos, feitos em
teriam firmeza e a
^voivér^• ^ uma necessidade' da coexistência
vida social humana
se não poderia des-
a segurança
388 COMGO CIVIL

das relações jurídicas. E uma de suas fôrmas é a consagrada a0


art. 131, principio.
As enunciações, porém, que não têm relação directa com as
disposições principaes, que são incidentes, explicações, desenvol-
vimentos, ás vezes ociosos ou excessivos, já não podem ser con-
sideradas, com o mesmo rigor, pelo direito. São affirmações, que
devem ser provadas pelo interessado, porque não formam parte
essencial e própria do negocio juridico.

Art. 132. — A anmiencia ou a autorização


de outrem, necessária á validade de um acto,
provar-se-á do mesmo modo que este, e constara,
sempre que se possa, do proprio instrumento.

Direito anterior — O principio não era expresso, sob a fôrma


geral do artigo, nem tinha generalidade, que agora se lhe
V. Caklos de Carvalho, Direito civil, art. 268, letra /.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 280; Beviláqua, 1
Revisto, 153.
Bibliographia — Direito da família, § 27, nota (10).

oieu®1®
Observação — Refere-se este artigo aos casos, em qn eIlCia
não pôde realizar, legalmente, um acto juridico, sem a annu^^
ou autorização de outrem. Acham-se nessa situação: a m
casada (arts. 242 e 243); o homem casado para alienar di^içaS
reaes sobre immoveis, pleitear sobre esses bens, prestar 1 ^
e fazer doações (art. 235); e os menores entre dezesseis e cie^trU.
ou vinte e um annos (art. 154). Se o acto juridico exigi1 1
mento publico, a autorização a essas pessoas deve sei
egualmente, por instrumento publico, por ser parte in e
do acto.

Art. 133. -—No contracto celebrado co ^


clausula de não valer sem instrumento pu
este é da substancia do acto.
DA FORMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA 389
0
Direito anterior — Idêntico (Ord., 4, 19, pr., e §. ; Tei-
xeira de Freitas, Consolidação, art. 367, § 6.°; Carlos de Car-
v
alho, Direito civil, art. 268, letra e.
Projectos Coelho Rodrigues, art. 387, 3.°; Beviláqua, 144-
Revisto, 155.
Bibhographia — Paula Baptista, Theoria e pratica,
§ 142-144; Sevb Navarro, Pratica do processo, §§ 512-530; João
Monteiro, Processo, II, §§ 134-136; Pothier, Obrigações, íl. nú-
meros 692-702; Coelho da Rocha, Inst., 187-188; João Mendes
Júnior, Direito judiciário, ps. 143-146; Bento de Faria, Coãigo
Vommercial, nota aos arts. 138-154 do reg. n. 737.

Observações — 1. — Instrumento publico é o escripto la-


v
rado por official publico, em seu districto, segundo suas attri-
^UiçÕes, com as formalidades legaes. São instrumentos públicos:
1-0 As escripturas layradas pelos tabelliães, em seus livros de
^otas, e os traslados, que desse livro se extrahirem. Os cônsules
^Qibem exercem funcções de notarios e de officiaes de registro.
20
- Os actos judiciaes.
20
- As certidões tiradas dos autos, pelos escrivães.
4-° As certidões extraídas dos livros das repartições fiscaes,
Registro civil de nascimentos, casamentos e obitos, e dos outros
^■etos da vida civil, que o Codigo manda registrar (art. 12).
Os instrumentos guardados nos archivos públicos.
6-0 Os instrumentos de approvação dos testamentos cerrados.
^•0 As notas dos corretores, estando os seus livros regular-
'bente escripturados.
80
- Os protestos de letras.
90
- Os actos authenticos passados em paiz estrangeiro, se-
gu
udo as leis1 respectivas, e legalizados pelos cônsules brasileiros.
Equiparam-se aos instrumentos públicos os conhecimentos de
Mercadorias nos termos do Codigo Commercial, arts. 575 a 578,
08
instrumentos de contracto de dinheiro a risco ou de cambio
Marítimo, nos termos do mesmo Codigo, art. 633.
2
- — O instrumento publico faz prova plena, não sómente
entrp as partes como, ainda, em relação a terceiros, quanto á
x 8
i tencia do acto jurídico e aos factos certificados pelo official
^hblico. Os direitos e obrigações constantes do instrumento só-
e se referem aos agentes e aos seus successores; mas esses
1 08
e obrigações, assim como as declarações principaea' do
390 CODIGO CIVIL

instrumento existem e fazem fé para todos. A parte enunciativa,


que contém declarações accessorias, não obriga, nem prova di-
reitos, se não tem relação directa com a dispositiva.

Art. 134. — E', outrosim, da substancia do


acto, a escriptura publica:
I. Nos pactos antenupciaes e nas adopções.
II. Nos contractos constitutivos ou transia-
tivos de direitos reaes sobre inimoveis de valor
superior a um conto de réis, exceptuado o penhor
agrícola.

Direito anterior — O Codigo Civil, mantendo os traços geraes


do direito anterior, nesta matéria, introduziu-lhe todavia,
gumas alterações secundarias. Quanto ao valor dos bens ih1'
moveis, cuja alienação pede escriptura publica, era de duzentos
mil réis, passou a ser de um conto de réis. Quanto á exclusão de
alguns actos, também ha differenças a notar. Para o Codigo Civi1-
por exemplo, não ha esponsaes, no sentido juridico da expressão,
e estes, pela lei de 6 de Outubro de 1784, exigiam escriptura Pu'
blica. Veja-se Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 268.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 387; Beviláqua, l45.
Revisto, 155.
Bibliographia — Direito das obrigações, § 71; Teixeira d®
Freitas, Consolidaçãà, arts. 367-372; Seve-Navarro, Pratica do
processo, art. 527; Espinola, Breves annotações, I, ps. 419-421'
S. Vampré, Codigo Civil annotaéo, a este artigo.

A dâ
Observações — 1. — Quando o instrumento publico e
substancia do acto, este não existe, juridicamente, sem essa fórioa
E' da substancia eqüivale dizer: sem isso, não pôde existir.
Consequentemente, emquanto a escriptura não fôr lavrada-
não está formado o acto, e as partes podem arrepender-36
Todavia, se desse arrependimento, segundo as circunistancia ^
resultar damno para a outra parte, que persiste na vontade
realizar o acto, pôde o arrependido ser condemnado a indem
zal-a.
da fôrma dos actos jurídicos e da sua PROVA 391
2. o penhor agrícola, embora seja um direito real sobre
immovel, é dispensado da escriptura publica. O intuito de fo-
mentar e desenvolver a agricultura justifica esta facilidade, que
nao compromette a segurança das relações jurídicas.
3. Na sua primeira edição, o Codigo empregava, neste
ar
tigo, as palavras instrumento publico, que se substituíram por
escriptura publica. Veja-se o art. 73.
O Prcjecto primitivo, art. 145, 3.", destacava, especialmente,
0
Penhor agrícola e o pecuário, como necessitando da escriptura
Publica, em sua formação. O Revisto manteve a mesma exigência.
Gamara, porém, acompanhou o Conselheiro Andrade Figueira,
^ue combateu o dispositivo do ProjecM. E, assim, ao principio
Seral, de que na constituição dos direitos reaes sobre immoveis
a
escriptura publica é substancial, abriu-se uma excepção. quanto
ao penhor agrícola (V. Trabalho da Gamara, V, p. 132), que se
c
onstitue por escripto particular.
^ 4. — o art. 134 não se referiu á fundação, que exige es-
cr
iptura publica ou testamento (art. 24), porque teve em vista,
Particularmente, as relações de direito e não a constituição de
Pessoas jurídicas. Também não contemplou o caso do art. 73.
alienação de navios brasileiros, destinados á navegação de
alto mar pede instrumento publico (Codigo Commercial, ar-
go 468; reg. que baixou com o dec. n. 220 de 3 de Julho de
art. 257).

Art. 135. — O instrumento particular, feito


assignado ou somente assignado por quem es-
na disposição e administração livre de seus
ens, sendo subscripto por duas testemunhas,
^ ova as obrigações convencionaes de qualquer

cp 0~ " ^
^ossao,
as 08 seus
não operam aÓbitos,
respeito bem como os(ar-
de terceiros da
go 1.067), antes de transcripto no registro pu-
■^-Co,

DaT.fPairagraph0 unico- A Pr0Ya do instrumento


rJr0 , Póde snpprir-se pelas outras de ca-
racter legal.
392 CODIGO CIVIL

Direito anterior — 0 mesmo na parte essencial. Ha, porém,


mais largueza no Codigo. (Lei n. 79, de 23 de Agosto de 1892,
art. 2.°; lei n. 973, de 2 de Janeiro de 1903; regulamento de
16 de Fevereiro de 1903).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.322 e
1.328; portuguez, 2.432 e 2.436; italiano, 1.320 e 1.327; hes'-
panhol, 1.225 e 1.227; uruguayo, 1.581 e segs.; venezuelano,
1.389 e seguintes.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 336 e 342; Coelho RQ'
ãrigues, 390; Beviláqua, 146; Revisto, 156.
Bibliographia — Theoria geral, § 64, IV; Espinola, Breves
annotações, I, ps. 421 e segs.; S. Vampeé, Codigo Civil annotador
a este artigo; J. Tavares Bastos, Repertório do registro es-
pecial; Costa Cruz, Vautheticidade e perpetuidade; Archivo ãe
Jurisprudência, vol. I (1903), ps. 160-191; Puaniol, Traité, I>
n. 337; II, ns. 61-83; Huc, Commentaire, VIII, ns. 236-256:
Pothibr, Cbrigações, II, ns. 703 e segs.; Neves e Castro, Provas,
ns. 137-164; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, notas aos
arts. 2.432 e segs.; Mortara, Procedura civile, III, ns. 589-592;
Trabalhos da Camara, IV, ps. 155, 217-220 e 241-250; V, pagina8
99-100, 3." col.; Ferreira Coelho, (ojp. cit., p. 97 e segs.

Observações — 1. — Instrumento particular é o escripto feito


e assignado, ou somente assignado, por quem se ache na li^0
disposição e administração de seus bens. Se um tal documento,
além de assignado pela pessoa, que se obriga, é subscripto Por
duas testemunhas, prova obrigações de qualquer valor, entre as
partes, independentemente de ser reconhecido em juizo. Por
obrigações convencionaes de qualquer valor, entendem-se os con
tractos e as declarações unilateraes da vontade entre vivos,
quando o objecto de uns ou das outras fôr de ordem economioa-
Assim o escripto particular é ineficaz para provar obrigaÇ068
do direito da família puro e disposições de ultima vontad6.
Também nenhum valor possue para prova dos actos, ainda
natureza econômica, se o instrumento publico é da sua substancia-
é parte integrante do proprio acto (arts. 133 e 134).
Em relação ao reconhecimento contencioso do filho i^e
gitimo, o escripto particular (art. 263, III) não constituo prova
por si. E' somente base para uma acção, na qual se ha de aPura^
a verdade nelle expressa. Depois da sentença condemnatoiia
DA FORMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA
393
que se firma o direito do filho. O titulo desse direito ê a sen- ^
tença, não o escripto particular.
2. — o escripto particular assignado faz prova entre as
ar es. Para valer contra terceiros, quer dizer contra os que não
mam parte no acto, não basta que esteja assignado, deve ser
ranscripto no registro publico. Este registro é o creado pela lei
• 973, de 2 de Janeiro de 1903, para authenticar, conservar ou
arpetuar documentos, e para os effeitos do art. 3.° da lei n. 79.
e 3 de Agosto de 1892, isto ê, para imprimir, ao instrumento
articular, validade a respeito de terceiros. A lei de 2 de Janeiro
6
03 instituiu o registro dos títulos particulares para a Ca-
a da Re
v ! Publica. Alguns Estados, tomando por modelo o ser-
ifio estabelecido no Rio de Janeiro, já organizaram o officio do
egistro especial, nos respectivos territórios. Actualmente, esta ■
está disci lin
ino 4 e dec. n. 4.830,
P ada
de 9 pela lei n. 4.827,
de Novembro de de 7 de
1939, Fevereiro
arts. de
237 e 238.
^ ^ ^ n- 79, de 23 de Agosto de 1892, art. 3.°, declarava
que o instrumento particular valeria, contra terceiros, "desde a
ata do reconhecimento da firma, do registro em notas de ta-
® ião, da apresentação em juizo ou repartições publicas, ou do
* lecimento de algum dos signatários". O Codigo não faz refe-
e
ncia á formalidade do reconhecimento, nem aos factos, de que
al
ei fazia depender a validade do acto em relação a terceiros,
onvém examinar o alcance do artigo em relação ao direito es-
a
elecido na lei de 23 de Agosto citada.
^ Sobre o reconhecimento da firma do agente, como elemento
J authenticidade, nenhuma innovação introduziu o Codigo. E'
^ uialidade util, a cargo dos tabelliâes, que se averba no registro,
e
accôrdo com o decreto n. 4.831, de 9 de Novembro de 1939.
Mas nem 0
jui reconhecimento da firma, nem a apresentação em
0u re
gj Partiçâo publica, nem o fallecimento de algum dos
^ Suatarios são circumstancias destacadas no Codigo, para tornar

(artt0 ValÍCÍ0 em 1'elaSão a terceiros. Somente nas procurações


~ 289
cond-^Ção ' § 4"0) á0 sua
essencial
reconhecimento da letr
validade em relaçãoa ea firma é declarado
terceiros.
a
^ O Projecto primitivo, art. 146, 2. parte, e o Revisto, 156,
ar e conso daram nes
Por^emenda
^ ^ ' do^ Conselheiro
' taAndrade
matéria, Figueira,
o direito acceita
vigente.pela
Porém,
Ca-
ara, o citado artigo do Projecto revisto foi substituído pelo que
86
^ no Codigo, tendo desapparecido as referencias ao reco-
euuento da firma, á apresentação do instrumento em juizo
394 CODIGO CIVIL

ou repartição publica e á morte de um dos signatários. A con-


seqüência é que, somente o registro attribue ao instrumento
particular effeito a respeito do terceiro, resalva feita das pro-
curações. Foi intenção dar maior latitude, e decisiva impor-
tância ao .registro, para tornar mais freqüente o uso desse meio
de publicidade e garantia dos actos jurídicos.
Não cogitou o Codigo, porém, de obrigações constantes de
livros commerciaes' devidamente legalizados (lei n. 4.827, de 7
de Fevereiro de 1924); nem da receita e despesa dos navios,
na fôrma dos arts. 503 e 544 do Codigo Commercial; nem das
letras de cambio e notas promissórias (lei n. 2.044, de 31 de
Dezembro de 1908); nem das apólices de seguro (art. 1.433).
Sobre as notas promissórias, veja-se Magarinos Tokrb:s, Notas
íiromissorias, nota 69. Têm registro proprio as patentes de in-
venção, que independem do registro especial de títulos.
As procurações do proprio punho, conferindo mandato ju-
dicial ou extra-judicial, com poderes de simples representação,
administração ou gestão, independem do registro e da averbação
para valerem em relação a terceiros. Basta-lhes se submetterem
ao prescripto no art. 1.289, pois a procuração gera relações so-
mente entre o mandante e o mandatario e não entre qualquer
delles e terceiros.
Nos casos em que a lei permitte a alienação de immoveis
e a constituição, em geral, de direitos reaes sobre immoveis,
por escripto particular (art. 134, II), é no registro de immoveis
que se fará a transcripção do titulo.
4. — O Codigo permitte que o instrumento particular seja
apenas assignado. Solve-se, assim, uma duvida, que se havia
levantado na pratica, e generaliza-se uma disposição especiai-
que se apresentava com o caracter de privilegio ou prerogativa
de certas pessoas, quanto ás procurações.
A duvida consiste em saber se dois ou mais mandantes
podem, validamente, subscrever uma procuração escripta somente
por um dos outorgantes. A lei dizia " por instrumento particular
do proprio punho". Em relação a outros instrumentos part1'
culares, também a lei usava da expressão: "feito ê assignado de
seu punho". Se é necessário que o escripto seja lavrado ^
subscripto por quem constitue mandatario ou se obriga, ua0
extranhavel que se levantem objecções sobre a validade do 111
strumento escripto por um e assignado por dois ou mais.
DA FORMA DOS ACTOS JXTRIDICOS E DA SUA PROVA 395
O Codigo eliminou a duvida no sentido de facilitar as ope-
rações da vida civil. A simples assignatura do documento é
prova sufficiente da obrigação, que delle consta.
Ceitas pessoas podiam fazer contractos e passar procuração
por instrumento particular tão sómente assignado por ellas.
Essas pessoas, que eram em numero crescido, ao tempo da mo-
narchia {Orã., 3, 59, § 15; Teixeira de Freitas, Consolidação,
arts. 369, 457 e 459), reduziram-se a uma classe única, a dos
commerciantes matriculados, quanto ás procurações (Codigo
Commercial, art. 21). O Codigo Civil fez desapparecer esta ex-
cepção privilegiada, concedendo o direito de obrigar-se por in-
strumento particular escripto por outrem e assignado por ella,
a toda a pessoa, que tiver a livre disposição e administração de
seus bens. A procuração, porém, ha de ser toda escripta pelo
Mandante, salvo quando são dois ou mais, porque, neste caso,
basta que um delles escreva e todos assignem (art. 1.289, § 2.°).
O dec. n. 3.510, de 31 de Julho de 1918, permittiu o registro,
nas repartições competentes, dos contractos escriptos á machina
ou impressos, sendo assignados por quem esteja na disposição
e livre administração de seus bens, com duas testemunhas e
_ irmãs reconhecidas, sendo rubricadas as repectivas folhas pelos
l
nteressados.
5. Os effeitos da cessão dependem, também, do registro,
art. 1.067 declara que a cessão não tem valor, em relação a
erceiros se se não celebrar por instrumento publico ou por in-
a r
uniento particular com as solemnidades do art. 135. Essas
So
lenidades são o escripto, a assignatura e o registro.
6- — A prova do instrumento particular pode supprir-se
or outras, de caracter legal, declara o art. 135, paragrapho
^ co. Por esta regra de direito entende-se que não ha acto para
^ Qual o escripto paiticular seja substancial, como é o instru-
1 ento publico em relação aos actos declarados nos art. 133 e
■ Este não era o systema do Projecto primitivo, para o qual
la actos nos quaes a
Qã fôrma escripta era essencial, e que se
o Podiam realizar senão sob a fôrma escripta, e actos que,
e se0ra
1
0rdinariamente
escriptos,
Provados por todos os podiam revestir
meios admittidos outra fôrma
em direito.
068 0 de Creãit0 porém é um act0
escr^
a
^
^ iPto publico '
ou particular '
(art. ôue valer
1.067), para deve em
constar de
relação
insterCeir0S' ESta fÓrma lia0 PÓde ser sub&tituida. nem a prova
sóm1Umental &upprida por outra
- Também
ente por escripto pôde provar-se (art. o 1.281).
deposito Ha
voluntário
outros
396 CODIGO CIVIL

actos, como os mencionados no numero 3 deste commentario, Que


têm fôrma especial, da qual depende a sua existência jurídica.
7. — A data do instrumento particular é a que nelle se
achar exarada; mas para a validade a respeito de terceiros, o
que importa é a data do registro. Foi com este effeito do registro
que se preoccupou o art. 135. A determinação da data foi deixada
á apreciação dos interessados, segundo o que constar do acto.

Art. 136. — Os actos jurídicos, a que se não


impõe fôrma especial, poderão provar-se me-
diante :
I. Confissão.
II. Actos processados em juizo.
III. Documentos públicos ou particulares.
IV. Testemunhas.
V. Presumpção.
YI. Exames e vistorias.
YII. Arbitramento.

Direito anterior — O reg. n. 737, art. 138, indicava os


mesmos meios de prova, accrescentando o juramento, que por seU
caracter religioso não se coaduna com a laicidade absoluta do
direito pátrio actual.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.334 e
segs.; italiano, 1.340 e segs.; portuguez, 2.506 e segs.; hespanbob
1.231 e segs.; uruguayo, 1.594 e segs.; venezuelano, 1.441 e segs-'
chileno, 1.698, chileno de procedimento civil, 330 e segs.; Pe'
mano de procedimentos civies, 347, 363 e segs..
Projectos — Felicio dos Santos, art. 281; Coelho RoãrigueS<
391; Beviláqua, 147; Revisto, 157.
Bibliographia — Theoria geral, § 64; Espinola. Systema, I'
ps., 540-541; Codigo do proceso do Estado da Bahia, I, artigoS
135 e segs.., com as respectivas notas; S. Vampré, Manual, 1»
§§ 70-78; Maktinho Garcez, Theoria geral, § 159; Coelho
Rocha, Inst., §§ 175-185; João Monteiro, Processo, II, §§ ^ 6
segs.; Paula Baptista, Theoria e pratica, §§ 138 e segs.;
Navarro, Pratica do processo, §§ 511 e segs.; João Mendes ^
nior, Direito judiciário ps., 140 e segs.; Pothier, Obrigações,
t>A FÔBMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA
397
ns. 746 e segs.; Neves e Castro, Provas, ns. 57 e segs.; Mortara
ocedura civile, III, ns. 509 e segs.; Bento de Faria, Codigo
Gomrrvercial, notas aos arts. 138-139 e 155-204; Toro Mello y Reys,
odigo de procedimento civil anotado, ps. 321, 334 e segs. Pla-
oido e Silva, Çommentarios ao Codigo de Processo Civil „ 180
e segs.; Oalvalho Sahtos, Codigo de Processo Civil
■L-L-Lf ao art. -úOo .

Obseiva^ocs l. Confissão, define Paula Baptista, "é


9Ual ,lma ílaS ParteS a I1 ma 0
JoITM " ' escreve:a "confissão
"nilieo e mais completo, quando
outra a
"e«a6 "-o
reconhecimento Judicial, que um dos litigantes, capaz e com
fact n Se 0ta,lsar
ctos allegados
IaZ 118 yerdaIie lntegral
pela' parte contraria,- como fundameutaes,
o» íoe
da
"são ou da defesa». O ponto de vista dessa detinisão é o do
rocesso, ao passo que o artigo é mais generico, abrange tanto
d confissão judicial, quanto a extra-judicial.
Veja-se o reg. n. 737, de 1850, arts. 155 e 165, onde se expõem
s
requisitos da confissão e o seu valor probante.
2. — Actos pnoicessaãos em juizo são aquelles que já foram
o jecto de um processo, e cuja existência ou validade foi reco-
Qhecida por sentença,
3. Documentos públicos ou particulares são os escriptos
^ue, nã0 Send0 proVa preconstituida do acto, offerecem. com-
udo, elementos para proval-o. Um bilhete, uma carta, um des-
pacho telegraphico, um livro, são documentos particulares. Um
ratado internacional, uma proclamação ou mensagem do go-
erno, um aviso, são documentos públicos.
4
' ~ Testemunha é a pessoa que assegura a verdade do
to ou facto que se quer provar. São testemunhas instrumen-
rias as que subscrevem o acto; judiciarias as que declaram
juizo o que sabem sobre os factos controvertidos.
«) O art. 142 declara quem não pôde ser testemunha.
k) Uma testemunha só não faz prova sufficiente, mas pôde
al
er como complementar de outra prova.
Sobre este genero de prova, vejam-se, ainda, os arts. 141-143,
ante, e 0 res- n- 737' de 1850, arts. 175-183.
5
- Presumpção é a illação que se tira de um facto co-
lido para provar a existência de outro desconhecido. O re-
umento n. 737, de 1850, arts. 184-188, divide as presumpções
398 CODIGO CIVIL

em legaes e communs, subdividindo as primeiras em absolutas e


conãicionaes.
Presumpção legal absoluta (júris et ãe jure) é a conse-
qüência que a lei, expressamente, deduz de certos actos ou factos,
estabelecendo-a como verdade, ainda que haja prova em contrario,
como Oí Caso julgado.» • Observa,, com razão, João Monteiro, que
tal presumpção é, antes, "a, forma escolhida pelo legislador para
exprimir um conceito juridico".
Sobre o caso julgado, veja-se o art. 3o, da Introãucção
do Codigo Civil.
Presumpção legal condicional (júris tantum) é a que se tem
por verdade, emquanto não se prova o contrario. Esta pre-
sumpção dispensa do ônus da prova aquelle que a tem a seu
favor. Pôde, porém, destruil-a a parte contraria.
Presumpção commum (hominis) é a que se funda naquillo
que, ordinariamente, acontece. E' admissível nos casos, em aue
o é a prova testemunhai.
6. — Exame é a apreciação de alguma coisa, por meio de
peritos, para esclarecimentos do juiz. Vistoria é a mesma ope-
ração restricta á inspecção ocular.
Veja-se o regulamento n. 737, de 1850, arts. 209-215.
7. — Arbitramento é o exame de alguma coisa, por peritos,
para determinar-lhe o valor ou estimar em dinheiro a obn
gação. E' um meio extraordinário de prova, como o exame e a
vistoria, admissível sempre que o juiz precisa desse esclareci-
mento para decidir-se.
Reg. n. 737, de 1850, arts. 189-208.

Art. 137. — Farão a mesma prova que os ori-


ginaes as certidões textuaes de qualquer peÇa
judicial, do protocollo das audiências, ou de outro
qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extra-
Ilidas por elle, ou sob a sua vigilância, e por elle
subscriptas, assim, como os traslados de autos»
quando por outro escrivão concertados.

Direito anterior — O mesmo (Consolidação das l^8 1 e


266
rentes d justiça federal, terceira parte, arts. 263, letra c,
279; reg. n. 737, de 1850, arts. 153 e 154).
DA FORMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA
399
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 392; Beviláqua, 148- Re-
visto, 258.
Bibhographia — Paula Baptista, Theoria e pratica § 147 •
João Monteiro, Processo, II, § 138; Pothier, Obrigações, II nú-
meros 727 a 737.

CONSELHO Rrcrr^L DO TRABALHO


K REGIÃO
Observação — As certidões textuaes, verbo aã verbum, ex-
trahidas por escrivão de livro a seu cargo, revestido das forma-
idades legaes, e destinado ao registro de actos judiciaes, têm
Por si a fé publica do funccionario, e a do livro, onde se acham
os onginaes, de que as certidões são as cópias.
Traslados também são cópias. Os traslados de autos, para
m inspirem absoluta confiança, e possam ter o mesmo valor
o original, devem ser concertados ou conferidos por outro es-
orivão.
Concerto é o acto de conferir a cópia com o original.
A primeira edição do Codigo denominava notaria, o official
u
lico, de que trata este artigo; mas, sendo a designação, inade-
^ ada, foi a palavra substituída pela que diz, com exactidão e
opnedade, o que a lei quer. aliás, restabelecendo, neste parti-
? mr, o Projecto primitivo., o Revisto e o da Gamara. Vejam-se: o
jrecer de Epitacio Pessoa, n. 193, de 1917, p. 50; Oliveira Pon-
ca, Observações sobre o Projecto do Codigo Civil, p. 42; S.
amprjé, cod. Civil annotado, I, p. no.

138
' • ~ Terão também a mesma força
0S ti aslados
e as
bor iS • I : certidões extrabidas
to« i f PubllC0 de instrumentos ou documen-
lançados em suas notas.
Dl, eito
§ 6 o r' anterior — Semelhante. (V. Ord., 1, 78, § 19; e 79
eg. n. 737, de 1850, art. 154).
333 ^Je7CtOS ~ Felici0 d0s 8ant0s' art
- 348; Coelho Rodrigues,
' Beviláqua. 149; Revism. 159.
J
OÃ0BMllOSlaPhÍa PAULA Baptista
' Theoria e pratica, § 147-
118 Pr0cess0 U 138
• 727.7^™°' ' ' § í Pothier,
, Oliveira Machado, Novissimo guia Obrigações, II,
dos tabelliães,
I
400 comgo civil

1904 §§ 186 e o ultimo; Costa Cnvz,' D'authenticiãade e perpe-


tuiãaãe, n. 13.

Observações — 1. — Traslado é a cópia do que está escripto


no livro de notas. Ao primeiro traslado, porém, se dá, antes, o
nome de escriptura authentica, e tem o mesmo valor que o origi-
nal lançado no livro do tabellião. Os segundos e mais translades-
aos quaes cabe, precisamente, este nome, pelo que dispõe o Co-
digo, dispensam o concerto exigido pela Ord. Não ha, realmente,
razão plausivel para considerar-se authentico o primeiro traslado,
sem o concerto, e exigir-se esta formalidade para os seguintes
extrahidos pelo mesmo official, que tem fé publica.
Além disso, como observa Oliveira Machado, algumas vezes
é necessário tirarem-se dois e mais exemplares successivos de
escripturae, como nos casos de permuta, transacção e outros, em
que as partes são reciprocamente outorgantes e outorgadas-
Certidão ê outro modo de cópia. E' integral, em teôr, quando
reproduz, fielmente, o texto do acto ou documento; parcial
quando reproduz apenas uma parte, e em relatório, quando
transcreve pontos indicados.
O art. 138 dá a mesma força probante, que têm os origiuaes,
aos traslados e ás certidões extrahidas por official publico
instrumentos, ou documentos lançados em suas notas.
O Projecto primitivo, o Revisto e o da Gamara, não dispo
savam o concerto, Foi o Senado que introduziu esta modifica^
no direito probatorio, aliás, de accôrdo com o reg. n. 737, de
art. 154. ^
2. — Dos termos geraes deste artigo, resulta que tam
as certidões extrahidas do registro de titulos, pelo re&PÇ ^
official, têm fé publica. Era uma lacuna apontada na Iel' ^
egua
instituiu esse officio, O Codigo, dando força probante ondiencim"
das certidões textuaes extraídas do protocollo das au
ás certidões extrahidas por official publico, sem se refexiD ^
cularmente, aos tabelliâes, comprehendeu, no seu dispositA
extrahidas pelo official do registro de titulos.

Art. 139. — Os traslados ainda


concertados, e as certidões considerar-se-ao
BA FÔRMA BOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA 401

strumentos públicos, se os originaes se houverem


produzido em juizo, como prova de algum acto.

Direito anterior — Omisso.


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 394; Beviláqua, 150;
Revisto, 160.
BibliograpMa — João Luiz Alves, Coãigo Civil annotaão,
a este artigo; Espinola, Breves annotações, I, ps. 428 a 431;
Bpitacio Pessoa, Parecer, n. 193, de 1917, ps. 51 e 52.

Observação — Este artigo declara que os traslados e cer-


tidões, extrahidas por officiaes públicos dos autos ou livros,
onde se acharem os originaes, consideram-se instrumentos pu-
bl
icos, se os originaes tiverem sido produzidos em juizo, como
Prova de algum acto. E' ociosa, ao menos em parte, esta dis-
posição em face do art. 138. Tinha razão de ser nos Projectos,
em
Qno se exigia o concerto para dar autheticidade aos tras-
iados.
Vale o artigo como confirmação dos dois precedentes.
Note-se que o concerto somente ê exigido para os traslados
autos (art. 137, in fine).

Art. 140. — Os escriptos de obrigação re-


digidos em lingua estrangeira serão, para ter
e
ífeitos legaes no paiz, vertidos em portuguez.

Direito anterior — O mesmo (Cod. Comm., arts. 16, 62,


63
e 125; Reg. n. 737, de 1850, arts. 147 a 150; dec. n. 79, de
33
de Agosto de 1892, art. 1.°, § 1.°).
Projectos — Este dispositivo é do Projecto da Gamara, ar-
tigo 145.
Os Projectos anteriores nada continham sobre o assumpto,
Gm
fôrma geral.
Bibliographia — Theoria geral, § 64; Martiniio Garcez,
^heoria geral, § 163; João Monteiro, Processa, § 136; Bento de
■^niA, Coãigo Commercial, notas aos arts. 16 e 63.

Codigo Civil — 1.» vol. 26


402 CODIOO CIVIL

Observação — Os instrumentos dos contractos celebrados


no Brasil devem ser, por via de regra, escriptos em portuguez.
Se os contractantes forem estrangeiros, poderão usar da sua
lingua nos escriptos que lavrarem; porém estes deverão sei
vertidos em portuguez para serem apresentados em juizo e pro-
duzirem effeito. Também deverão ser traduzidos os actos au-
thenticos e escriptos particulares, passados em paiz estrangeiio,
que tiverem de fazer prova em juizo.
O testamento cerrado e o particular podem ser escriptos em
lingua estrangeira (arts. 1.640 e 1.649).

Art. 141. — Salvo os casos expressos, a prova


exclusivamente testemunhai só se admitte nos
contractos, cujo valor não passe de um conto do
réis.
Paragrapho único. Qualquer que seja^ o
valor do contracto, a prova testemunhai é admis-
sível como subsidiaria ou complementar da prova
por escripto.

Direito anterior — O reg. n. 737, de 1850, art. 182, admittia


a prova testemunhai somente até ao valor de quatrocentos J®1
réis. O paragrapho único do art. 141 do Codigo Civil é iepi0
ducção do art. 183 do citado reg. n. 737. ^
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1-
e 1.347; italiano, 1.341 e 1.347; chileno, 1.710 e 1.711; uruguay0'
1.596 e 1.597; venezuelano, 1.414 e 1.419.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 356.
Bibliographia — JoÃo Monteiro, Processo, § 172; Planio ,
Traité II, ns. 41 e 1.161-1.178; Huc, Oommentaire, VIII,
meros 279-300; Bento de Faria, Codigo Commercial, notas aC)
arts. 182, § 1.°, e 183.

Observação — Este artigo resultou de uma emenda su


tutiva do Conselheiro Andrade Figueira {Trabalhos da Ga7n _
V, ps. 100, 3.a col., 132 e 133). No Projecto votado pela Cam
em 1902, traz o n. 146.
DA FORMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA
403
O Codigo fala de contractos; portanto nas obrigações resul-
tantes de actos illicitos, qualquer que seja o seu valor, a prova
estemunhal ê admissível.
0 escri
Pto cuja prova se completa com testemunha deve
emanar da pessoa, que se obrigou.
B' ocioso accreseentar que as regras, deste artigo não se
C0,ltri !t0S em 9U8 a
stanòiar " ' ^crlptura publica é sab-

Art . 142. Não podem ser admittidos como


testemunhas ;
I. Os loucos de todo o genero.
11
• Os cegos e surdos, quando a sciencia do
qU qUer pr0var de
nZlhes
due n faltam. t ' Pende dos sentidos,
III. Os menores de dezeseis annos
0
com "de^essado no objecto do litígio, bem
0
ascendente e o descendente, ou o colla-
0 erC r
Por f ? gráo
Po, consangüinidade, de al llma
S
ou affinidade. das partes,
v. Os cônjuges.

Seraelllante (R
Mso ' ' ^- '37, de 1860, ar-

- 0011180 CIVÍ1 •»««„«. artigos


■Wento h
®panhol, 1.246 e 1.247: peruano de Procedl-
346 e Sí/p ' "p 3 454: Chileno ^ Biocedimientos civiles,
20
de 'testam)0 r0n,an0 Te:,am í!e: D
' ' - 22
. 5: e o Cod. 4,
152 art8
- 396 6 3971 BeVÍla

T e0ria
': ^ § 64' VII; J-o
PAULA BaptI8ta
§§ 150 e 151 1 \r ' Theoria e pratica,
,'nr TVE NAVARR0' Prati™, art8. 614 e 616; Bento de
G0mmercial nota 126
^E8\ n ' ^0 art. 177 do reg. n. 737-
Ci 0
^ Pr0VaS
vil via uguez, ' notas ' ^ 264 270; Dias
"
aos artigos acima citados. Codigo
404 CODIGO CIVIL

Observações ■— 1. — Os loucos ãe todo o genero são abso-


lutamente incapazes em direito. Não possuem discernimento para
que se lhes acceitem, como verdadeiros, os depoimentos. O Có-
digo não abriu excepção para os lúcidos intervallos; a lição de
Kraft Ebing lhe autoriza a reserva: "Dada a raridade dos lú-
cidos intervallos, será util presumir, em medicina legal, que não
existem. O melhor seria não reconhecer valor pratico, ao lúcido
intervallo, tanto nas questões penaes, quanto nas lides de direito
civil".
2. — Os cégos não podem depôr em relação aos factos a
visão. Não podem ser testemunhas oculares. Os surdos nâo
podem ser testemunhas auriculares. O que entra na consciência
pela porta da audição lhes é vedado. Então inhihidos de affiiuiar
o que sómente pelo ouvido lhes chegaria ao conhecimento. Se a
surdez é relativa, se ha simplesmente dureza de ouvido, a pessôa
não é inapta para depôr sobre factos, que possa ter ouvido.
3. .— Os menores de 16 annos são absolutamente incapaz68'
por não terem a intelligencia ainda desenvolvida, e o julgamento
seguro. O seu depoimento não inspira confiança, e, no syst
do Codigo Civil, são pessoas, que não podem, validamente,
exercer quaesquer actos da vida civil.
4 — Os interessados no objecto do litígio reputam-se passo
suspeitas. Considerações de ordem moral aconselham a não lh6^
acceitar o depoimento. Nullus idoneus testis in re sua i^e
gitur (D 22, 5, fr. 10).
Consideram-se interessados no objecto do litígio; os pi0? ^
litigantes, o fiador na causa do afiançado, o socio na do 80^^
o cessionário na do cedente; o credor nas causas que
respeito á massa fallida. teste*
Também se consideram pessoas suspeitas para dar ^
munho: o ascendente, o descendente ou o collateral, até o teV^iQ
grau, de alguma das partes (seja o vinculo de consanguim ^
ou de affinidade (avô, pae, filhos, netos, irmãos, tios, sobn»
cunhados, sogro, genro, nora). in.
Entende-se que pela affeição devida ao parente, sa
capazes essas pessoas de ter absoluta isenção de espirito.
Em matéria de casamento, não ha incapacidade pio^6 ^ ^
do parentesco, para servir de testemunha (art. 193), &a vo
6
caso do art. 199, paragrapho único. rmeut
5. __ O cônjuge, na causa do outro cônjuge, é partícula
suspeito, pela communhão de interesses, que entre anll)0S all(j0 o
pelo afecto, que se devem. Deporia na própria causa, QU
DA FÔRMA DOS ACTOS JURÍDICOS E DA SUA PROVA 405

regimen do casamento fosse o da communhão universal ou li-


mitada, e o ponto a esclarecer fosse de ordem econômica; em
Qualquer regimen, não sendo os bens communs, ha, todavia, va-
liosos interesses economicos entre marido e mulher. E o vinculo
moral, em todos os casos, supera quaesquer considerações de
ordem pecuniária.
6. Não falou o Codigo no inimigo capital, nem no tutor,
e
m lelação ao pupilo, mas um e outro se podem considerar in-
teressados no objecto do litígio.
Os condemnados por falsidade, estellionato, furto ou roubo,
^ão têm idoneidade para testemunhar.

Art. 143. — Os ascendentes por consangüi-


nidade, ou affinidade, podem ser admittidos
como testemunhas, em questões, em que se trate
de verificar o nascimento, ou o obito dos filhos.

Direito anterior — O mesmo (Ord,, 3, 56, 1), que, aliás, con-


siderava essa testemunhas suspeitas, depois de autorizal-as a
depôr,
legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.511,
Paragrapho único; hespanhol, 1.247, ultima parte.
Drojectos — Procede este artigo de emenda do Senado.

Observação — Apesar de ser uma antiga regra de nosso


meito, não se comprehende bem como as declarações dos ascen-
entes não possam ser admittidas como prova em favor do
escendente, segundo prescreve o art. 142, IV, e tenham valor
m htigios em que se tenha de verificar o nascimento ou o obito
filhos. Certamente os ascendentes devem ter conhecimento
^jsses factos, e podem ser ouvidos para attestal-os, na ausência
certidões e outros documentos, mas nos casos pacíficos. Não
Pedem deixar de ser suspeitos, como dizia a Ord., desde que haja
P1*1 demanda, em que o filho seja parte, o genro ou a nora.
406 conieo CIVIL

Art. 144. — Ninguém pode ser obrigado a


depor de factos, a cujo respeito, por estado ou
profissão, deva guardar segredo.

Direito anterior — Principio reconhecido (Codigo Penal, ar-


tigo, 192).
Legislação comparada — D. 22, 5, fr. 25; Codigo Civil por-
tnguez, art. 2.511, 5.°.
Bibliographia — Theoria geral, § 64; Peeeika e Souza, Pri'
meiras linhas, nota 477; João Monteiro, Processo, I, § 61, nota 20,
e II, § 166, nota 9; Sbve Navarro, Pratica, art. 614, §§ 11 a 13;
Afranio Peixoto, Medicina legal, ps. 489-493; Neves e Castro,
Provas, n. 269; Aureliano Coutinho, Segredo profissional, na
Revista da Faculdade de Direito, de S. Paulo, III, ps. 36 e segs.:
Macedo Soares, Codigo Penal, observações ao art. 192; Bento de
Faria, Codigo Penal, ao mesmo artigo; Villegas-Pulido, Juris-
prudência medica venezoelana, 1916, ps. XXV-XXXVII, 109-146 o
263-267; Dr. Álvaro Pereira, Segredo profissional, na Revista de
Direito, vol. XXVIII, ps. 53-74; Bento de Faria, na mesma Re-
vista, vol. XXIX, ps. 488-491; Nascimento Silva, Concepção do
segredo medico, na Revista jurídica, X, ps. 12-21.

Observação — Acham-se nas condições previstas neste a1"


tigo: o advogado, o medico, a parteira e o sacerdote.
A lei permitte que essas pessôas se excusem de depôr, mas
deixa ao seu critério resolver se devem £azel-o.
E' uma questão do fôro intimo.
Sem a garantia, que a lei consagra, a profissão do advogado
não poderia ser exercida, os clientes não podiam ter nelles ah^o
luta confiança. Nas mesmas condições estão o medico, a Par
teira e o sacerdote, especialmente o confessor. Este ultimo te»
na palavra de S. Agostinho a regra de seu proceder: "o da0
sei pela confissão, sei-o menos do que aquillo que nunca s0ul3e
Mas se ha uma razão superior, que as leve a falar, será rece ^
o seu depoimento. Nem estão inhibidas de prestal-o, q»an
não se têm de referir-se a segredo.
DAS NUIXIDÁDES 407

CAPITULO Y

Das nullídades

Art. 145. — E' iiullo o acto jurídico:


I. Quando praticado por pessoa absoluta-
mente incapaz (art. 5.°).
II. Quando for illicito, ou impossível, o seu
objecto.
III. Quando não revestir a forma prescripta
em lei (arts. 82 e 130) .
IY. Quando for preferida alguma solemni-
dade, que a lei considere essencial para a sua va-
lidade.
Y. Quando a lei, taxativamente, o declarar
nullo, ou lhe negar effeito.

Direito anterior —, Ha differença entre os preceitos estabe-


ec dos neste artigo e as regras do reg. n. 737, de 1850, art. 684,
so
bre as nullidades de pleno direito.
Legislação comparada - Confiram-se Codigo Civil allemão,
^ s. 105, 118, 125, 134, 138 e 306; argentino, arts. 1.038 e 1.044
^este Codigo declara nullos os actos simulados ou fraudulentos
® os praticados por pessôas relativamente incapazes); chileno
uruguayo, 1.500; port, 10, 2.494 e 2.495. Para o direito'
ro
mano, vejam-se: D. 1, 3, frs. 29 e 30; Cod. 1, 14, 1. 5.
Drojectos Esboço, art. 789; Felicio dos Santos, 257-259-
Rodrigues, 357 e 358; Beviláqua, 156; RevisÜg, 166.
Dibliographia — Theoria geral, § 65; Martinho Garcez,
" hdades, I, ns. 21-30; Theoria geral, § 166; Ribas, Curso, pa-
^ nas 159-163 e 508-509; Espinopa, Systema, ps. 503-507; Breves
Rotações, I, ps. 437 e segs.; S. Vampeé, Manual, §§ 80 e 82;
§ A^Ri>a db
Almeida,
9, Eugênio de Obrigações, nota g; Coelho
Toledo, Ruindades da Rocha,
do processo; Jnst.,
Pimenta
vi h*0' Nulliãaães ão Processo; Bento de Fabia, Codigo Com-
cri')0^1, n0taS 453'458 ao reg- n- 737' e Nullidades em .inateria
j > Souza Lima, Ruindades; João Monteiro, Processo,
^■§ 60-78; Paula Baptista, Theoria e pratica, §§ 76-81; Pla-
0Ij Trait
' ó, I, ns. 307-320; Laurbnt, Cours, III, ns. 143-145;
408 CODIGO CIVIL

Huc, Commentaire, I, 186-201; Bxjfnoie, Propriété et contrai,


leçons, 47-53; Colin et Capxtant, Cours, I, ps. 73-81; Moublon,
Répétions écrites, II, ns. 1.482-489; Savigny, Droit romain,
§§ 202 e 203; Windsoheid, Pand., I, §§ 70 e 82, com as notas (aa),
(&&) e (cc), de Fadda e Bensa, ps. 926-933; Dernbueg, Pand., I,
§§ 120-122; Endemann, Lehrbuch, I, § 74; Kohxeb, Lehrbuch, I.
§ 247; Chironi, Ist., I, § 71; Solon, Nullidades, trad. publicada
na Revista forense de Bello-Horizonte, a começar do 1.° fac.;
Dias Ferreira; J. J. Amêzaga, De Ias nullidades, Montevidéo,
1909; Rivarola, Dereclio civil, ns. 123-126; Ferreira Coelho, op.
cit., pag. 247 e segs.

Observações •— 1. — Nullidaãe é a declaração legal de (R16


a determinados actos se não prendem os effeitos jurídicos, nor-
malmente produzidos por actos semelhantes. E' uma reacçâo da
ordem jurídica para restabelecer o equilíbrio perturbado pela
violação da lei. Por isso, diz Solon: "B' uma verdadeira pena,
que consiste na privação dos direitos ou vantagens, que o acto
teria conferido, se fosse conforme á lei, e que tira todos o3
benefícios delle resultantes, para collocar as partes no estado
em que se achavam, quando foi praticado o acto illegal".
Essa reacçâo é mais energica, a nullidade é de pleno d1'
reito, e o acto é nullo, quando offende princípios básicos da
ordem jurídica, garantidores dos mais valiosos interesses da col-
lectividade, B' mais attenuada a reação, a nullidade é sanavel
e o acto é apenas annullavel, quando os preceitos violados se
destinam, mais particularmente, a proteger Interesses individuaes-
Os casos do art. 145 são de nullidade de pleno direito; o®
do art. 147 são de nullidade sanavel ou annullabilidade.
2. — O Codigo destaca cinco categorias de actos nullos.
I. O praticado por pessôa absolutamente incapaz. O ar'
tigo 5.° nos diz quaes são as pessoas absolutamente incapaz63
de exercer, por si, os actos da vida civil. Se a incapacidade
absoluta, os actos px*aticados são, juridicamente, inexistentes-
A enumeração do art. 5.° é feita em attenção á necessidade
de se dar tutor ou curador ás pessoas abi indicadas, ao menor
de dezeseis annos, ou louco, ao surdo-mudo, que não pôde
primir a sua vontade, e ao ausente. E' bem de vêr, porém, Sue
não pôde haver acto do ausente, depois que elle é assim
clarado juridicamente. O desapparecido não pôde realizar aCt0
DAS NUIXIDADEs 409
algum, onde não se acha, onde se ignora a sua existência. E',
pois, aos outros incapazes, que se refere o art.'145 porque esses,
desde que vivem, são pessoas, e podem praticar actos. A esses
actos, porém, o. direito recusa validade, porque o agente não
possue o desenvolvimento mental nem a adaptação social pre-
cisos para querer juridicamente.
II. Aquelle cujo objecto é ülicito ou impossível. O direito,
organização da vida social, não pôde dar apoio e firmeza á pra-
tica de actos immoraes, que são elementos desorganizadores da
ordem social; contrários aos fins de aperfeiçoamento cultural,
que o direito prosegue como a ethica.
O objecto immoral vicia, fundamentalmente, o acto. O di-
reito declara-o absolutamente nullo.
O objecto impossível revela falta de seriedade ou pertur-
bação mental. Em qualquer dos casos, não ha vontade real de
Praticar o acto.
III. Actos que não revestem a fôrma especial prescripta na
tei. Quando a lei estabelece uma determinada fôrma para o
acto e a considera substancial, sem ella o acto não tem valor
Jurídico.
Os pactos antenupciaes, as adopções, os contractos consti-
i-itutivos ou translativos de direito reaes sobre immoveis de
v
alor acima de um conto de réis, são nullos se não forem cele-
brados por escriptura publica (art. 134). Nenhum valor tem,
egualmente, o contracto de seguro antes de reduzido a escripto
(artigo 1.433).
Vejam-se os arts. 82 e 132 com os respectivos commentarios.
IV. Em que se prefere solemnidaãe essencial á validade do
ac
to, O acto pôde revestir a fôrma prescripta, de modo geral r
m
as se á fôrma faltar uma solemnidade essencial, o vicio conta-
m
iua todo o acto, e a lei o declara nullo. Se o instrumento é
feito por official incompetente, sem data e designação de logar,
sem subscrição das partes e das testemunhas; não sendo lido
^ Partes e testemunhas, antes de assignado. São os exemplos
0 re
g- n. 737, de 1850. O escripto, a que faltar algum dos re-
visites mencionados no art. I.0 da lei n. 2.044, de 31 de De-
zembro de 1908, não será letra de cambio.
V. O que a lei, taxativamente, declarar nullo, ôu lhe negar
tf feito, o direito romano declarava; — ea quos lege fieri pro-
Jbuntur, si fuerint facta non solun inutilia seã pro infectis
iawi habentur (Cod. 1, 14, 1. 5). Mas, muitas" vezes, a lei deixa
410 CODIQO CIVIL

subsistir actos cuja celebração probibe. Os actos praticados pelos


prohibidos de commerciar são validos, apesar da prohibição do
Codigo Commercial, art. 2.°. O Codigo Civil, depois de mencionar
as nullidades de pleno direito por incapacidade absoluta do
agente, por immoralidade ou impossibilidade do objecto, por
preterição de fôrma ou solemnidade substancial, accrescenta que
também são nullos os actos, que a lei assim declara expressa-
mente. Os motivos dessa comminação serão sempre de ordem
publica, é claro, mas não é necessário que a lei os aponte. Basta
o seu imperativo. Exemplo de nullidade taxativamente declarada
offerece o Codigo Civil nos arts. 207, 208 e 1.125. Algumas vezes
o Codigo, em vez de dizer o acto é nullo, diz tal pessoa não o
pode praticar. Taes são, por exemplo, os casos dos qrts. 1.132,
1.133 e 1.134.

Art. 146. — As nullidades do artigo antece-


dente podem ser allegadas por qualquer interes-
sado, ou pelo Ministério Publico, quando Ibe
couber intervir.
Paragrapho único. Devem ser pronunciadas
pelo juiz, quando conhecer do acto ou dos seus
effeitos, e as encontrar provadas, não Ibe sendo
permittido suppril-as, ainda a requerimento das
partes.

Direito anterior — O mesmo (Reg. n. 737, de 1850, ar-


tigo 686) .
legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 1.047,
chileno, 1.683; uruguayo, 1.561; japonez, 119.
Projectos — Esboço, arts. 791, 806 e seguintes (que adoptam
systema diverso): Felido dos Santos, 261-264; Coelho Rodrigues,
360; Beviláqua, 158; Revisto, 167.
Bibliographia — A do artigo anterior.

Observação — As nullidades de pleno direito, sendo e


ordem publica, são vicios insanáveis. Qualquer interessado as
DAS NULL IDADES 411
pode allegar, independentemente de prova de prejuízo; o Minis-
tério Publico, representante da conectividade juridicamente or-
ganizada, quando lhe couber intervir, deve allegal-as; ao juiz
cabe também a obrigação de as pronunciar, quando conhecer do
acto ou dos seus effeitos. São conseqüências da inexistência
jurídica do acto.
As partes não podem ratificar o acto nullo, expungindo-o da
macula, que o inutiliza, porque é um interesse superior da so-
ciedade civil, que a lei defende, quando decreta as nuliidades
de pleno direito. E contra o interesse geral expresso na lei é, de
todo, impotente a vontade individual.
As nuliidades de pleno direito prescrevem no prazo de
nnía annos, porque nenhuma acção pessoal tem duração maior
arts. 177 e 179).

Art. 147. — E' annullavel o acto jurídico:


I. Por incapacidade relativa do agente Car-
tigo 6.°), . o v
II. Por vicio resultante de erro, dólo, co-
acção, simulação ou fraude (art. 86-113).

Direito anterior — Não coincide o systema do Codigo Civil


co
m o reg. ri. 737, de 1850, art. 685, mas approxima-se delle.
Legislação comparada - Codigo Civil argentino, art. 406;
(
mileno, 1.682, in fine; uruguayo, 1.560, in fine.
Projectos — Esboço, arts. 788 e 790; Felicio dos Santos, 260*
coelho mdrigues, 361; Beviláqua, 159; Revisto, 168.
V«77^ÍbIÍOgraPhÍa ~ Theoria fjeral' § 67, II; Martinho Gakcez,
Rim *aãeS' ns.
^Ihdades,
nS 31 33; ThGoria 9Gral
' 113-118;
' ' § 168I,J n.
Huo, Commentaire, J- 201;
J- Ahézaga,
Peaniol,
'('tte, I, ns. 321-322; Bufnoib, Propriété et contrai, ps. 663-666;
aijiíkis-Ti cours, III, ns. 155 e 156. Vejam-se as indicações bl-
'mographicas do art. 145.

) >f>ei Va 0eS
Penri^
^ ente ' de ^rescisão resulta
— Adaannullabilidade ou nullidade
incapacidade relativa de-
do agente
08 VOntade (artS 86 105) 6 da frauâe
dorV^
res
(arts.^106-113). - - ^ntra os cre-
412 CODIGO CTVTL

Os relativamente incapazes são os indicados no art. tS.0: os


menores entre dezeseis e vinte e um annos', salvo o caso de
emancipação (art. 9.° e Const., art. 117); as mulheres casadas,
emquanto subsistir a sociedade conjugai; os prodigos e os sel-
vicolas. Vejam-se os commentarios ao art. 6.°.
São também annullaveis os actos do marido praticados sem
outorga da mulher ou supprimento do juiz (art. 239).
As condições em que os vícios' da vontade e a fraude tornam
o acto annullavel já foram expostas no logar proprio.
2. — A annullabilidade ou nullidade dependente de rescisão
distingue-se da nullidade de pleno direito por caracteres hem
acceníuados: a) A annullabilidade é decretada em attenção a
algum interesse individual; a nullidade de pleno direito funda-se
em interesse geral, é de ordem publica. B) A annullabilidade
pode ser elidida pela ratificação (arts. 148 e 150); a nullidade
de pleno direito, não. c) A annullabilidade deve ser declarada
por sentença (art. 152); a nullidade de pleno direito pôde ser
pronunciada de officio. ã) Só os interessados podem allegar a
annullabilidade (art. 152) (por interessado se entende, aqui, a
pessoa em favor de quem a lei decreta a rescindibilidade do
acto, ou seus successores); a nullidade de pleno direito pode ser
allegada pelo Ministério Publico, e por quem tenha qualquer in-
teresse na annullaçâo do acto.

Art. 148. — O acto annullavel pode ser ra-


tificado pelas partes salvo direito de terceiro.
A ratificação retroage á data do acto.

Direito anterior — O mesmo (Reg. n. 737, de 1850, ar*


tigo 688).
Degislação comparada — Codigo Civil argentino, artigo3
1.058-1.065; chileno, 1.684-1.693, 1.696 e 1.697; uruguayo,
1.570 e 1.571; allemão, 141 (confirmação dos actos nullos) e
144 (dos annullaveis); francez, 1.338; italiano, 1.309; hespanbob
1.310; venezuelano, 1.377; japonez, 122; portuguez, 10. Para 0
direito romano, vejam-se: D. 4, 4, frs. 3, § 1.°, fr. 30; e Cod. 2,
46, Is. 1 e 2.
Projectos •— Eshoço, arts. 814-821; Felicio dos Santos, 208»
Coelho Rodrigues, 362 e 363, pr.; Beviláqua, 160; Revisto, 109-
DAS NÜLUDADEs .413
Bibliographia — Theoria geral, § 67, III; Mabtinho Garcez,
Nulhãaães, I, ns. 263-265■; Teixeira de Freitas, Consolidação,
nota (31) ao art. 26; Espinola, Breves annotações, I, ps. 443 e
445; Windscheid, Pand., I, § 83 e notas {dd) e (ee) de Fadda e
Bensa, ps. 933-939; Dernburg, Pand., I, §§ 121 e 122; Savaqny,
§ 213; Chironi, Ist., § 71; Coãe Civil allemand, publié par le Co-
mitê de leg, étrangère, notas aos arts. 141 e 144; Saleieles, Dé-
claration de volonté, notas aos arts. 141 e 144; Planiol, Traité,
II, ns. 1.349, 1.356 e 1.357; J. J. Amézaga, Nullidades, nú-
meros 153-213; Bufnoir, Propriété et contrai, ps. 704-707.

Observação Ratificação ou confirmação e o acto pelo qual


se expunge do acto o vicio da annullabilidade, que o infirmava.
Pode ser expressa (art. 149) ou tacita (art. 150).
Sómente os actos annullaveis podem ser ratificados, os
nullos não.
Detergido o acto do vicio da annullabilidade, a vontade
creadora do negocio juridico volve ao tempo, em que o mesmo se
tomou sem os requisitos legaes, respeitados, todavia, os direitos
ter
ceiros, porventura, constituídos nesse meio tempo. Estes
mesmos direitos de terceiro podem, até, impedir a ratificação
tle se operar, se o acto, que se pretende confirmar, lhes for con-
tiano. Diz o Codigo que a ratificação retroage á data do acto.
risor como
ca ' observa Peaniol, não ha retroactividade, neste
so; mas o que a lei quer tornar claro é que a ratificação
apanha o acto e todas as suas applicações e resultados, desde o
momento da sua celebração.
Outras conseqüências da confirmação acham-se indicadas no
art. 151.

Art. 149. O acto de ratificação deve conter


a substancia da obrigação ratificada e a vontade
e
xpressa de ratifical-a.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 1.061;
rancez, 1.338; italiano, 1.309; chileno, 1.694-1.696 e 1.697;
mmguayo, 1.570 e 1.571; venezuelano, 1.377, l.a parte; japonez,
3
e 124. Em sentido differente: Codigo Civil allemão, art. 144.
414 CODIGO CIV11,

Piojectos Esboço, arts. 814-816 e 819; Eelicio cDos Santos,


2.5; Coelho Rodrigues, 263; Bevüaqua, 161; Revisto, 170.
Bibliographia — Martinho Gaecez, Nullidades, 1, números
267-270; Espxnola, Breves annotações, I, ps. 445 e 446; Planiol,
Traité, II, ns. 1.349-1.357; Huc, Comvientaire, VIII, ns. 272-278;
Laueent, Cours, III, ns. 158-166; Saleilles, Déclaration de vo-
lonté, nota ao art. 144; J. J. Amézaga, Nullidades, ns. 188-200;
Bufnoie, Propriétó et contrat, ps. 708-714.

Observação Trata este artigo da ratificação expressa,


que é um acto jurídico submettido aos preceitos' geraes regula-
dores dos actos desse genero, seja quanto á capacidade da parte,
que ratifica, seja quanto á forma. Sob esta ultima relação, é
para notar que a confirmação expressa deve fazer-se com as so
lemnidades prescriptas para o acto, que se confirma.
O instrumento da ratificação deve conter; l.a, a substancia
do acto, que se confirma, isto é, não necessita reproduzir o teôr
do acto, basta que enuncie as cláusulas principaes e caracterís-
ticas; 2.°, a vontade expressa de ratificar, isto é, a intenção de
purificar o acto, restaural-o nas condições, que a lei prescreve, e
renunciar a acção procedente da annullabilidade.
Não exige o Codigo Civil brasileiro, como o francez, que
se mencione o motivo da acção de nullidade, ou a natureza d0
vicio. E', realmente, excusada essa clausula, porque, se o acto
se confirma é porque está inquinado de annullabilidade, e, se
se reproduz a substancia do acto ratificado, é manifesta a con-
sciência do vicio, que se quer corrigir.
A confirmação não é acto novo, torna valido o que existe
viciado. Por isso não produz novaçâo.

Art. 150. — E' excusada a ratificação ex-


pressa, quando a obrigação já foi cumprida, em
parte, pelo devedor sciente do vicio, que a im
quinava.

Direito anterior — Silencioso.


Degislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.338:
italiano, 1.309; argentino, 1.063; japonez, 125; hespanhol, 1.311'
venezuelano, 1.377, 2.!l parte.
DAS NUIilDADEg 4lg

ES 09
« í . , Beviláqua,~ 162; ''■ artS-171.
'' Revisto, 817 820;
- 0oelh
° 363,

" M"™"™I, G4KCE2,


Espinola, Breves annotagões, ps 446 NullidaOes,
a 447- r ,m. /267-270-
.
Ruindades,' nsb- 201-211 ■ Huc,
Tlrir Z , Amezaoa,
Commentaire, VIII, ns 274-2711 •
p
Pí-ANXOL, T7'aité TT
, J/atíé. 1 QK/l. Laueent,
II, 1.354; r àHAiO,
Cours, III, n. 167- Bufndtr
v
roprieté et contrai, ps. 714-719. ' '

que rrr "atltlcação tacita é a que resulta de actos,


lnten5â0
Le D^i! s? " ^ ^ remmCÍar a acsao ae
0 08 re<ll SItM para a
tacta- " «WMcla da confirmação
^do vicio do
rT acto COmPleta
executado.0U Seguiu
ParCÍaI da 0brigasao
' «""•■acimento
o Codigo Civil, nesta parte

com™conhecimento
LAD,>raT 11,16 6 66
execu
execução 1deve ser '
consciente, oW applausos de
de causa.
Amízaoa: a

0 0 ClVl1 110 Jí riSo


'
MIrmaçao tacita; execução enumera
total ouosparcial;
actos, depedido
que resulta
de exe-a

de toerT r'8830 <'6 garantia: ce3sao total 6,1 Parcial


toreada P adqlUn<i0S em Tirt,,tl6 ^ ucto annullavel; execução
s
er conêid n <im,merasao 1>arec6 e6™6. eu, pelo menos, deve
seja cnuh , aE'ÍnaS' COm0 exemPli«eativa. O essencial é que
esse It ^ m',1Wade■ 988 ^ ^ e' 1160 0totaat6
86 0 eX e0llte t0taI 0U
diz o n s .' . . • U^eiulmente, ou como
eunxnra 01 brasllelr0
' 'Jue 0 devedor, sciente do vicio,
Parte 3 0brÍga5ao: Í,iga S6: execu
^to, tm
acto no Z
todo ^
ou em ^ parte. ' - ta e

A
evtv,,^ 1- ~. ratificação expressa, ou a
Sa0 V0 J, aiJa :la ob
terniA | ' i'igação annullavel, nos
todas" n 08 ^ 148 a 150 im or
' P ta renuncia a
a0 60eS e cepsões de
contraa a
111:1
o acto+ r f
o devedor. ' l116 dispuzesse

direito anterior — Silencioso.


- C0dig0
*o. 1.309; hespanhol, 1.309; Civil francez,
venezuelano. 1.377,art. 1.338;
2." parte
163
• Re^T8 ~ GOelh0 ROdrÍgUes
' art
- 363
' § 20
- ; Beviláqua,
416 CODIGO CIVIL

Bibliographia — Theoria geral, § 67, III; Martinho Garcez,


Nulliãaães, n. 265; J. J. Amézaqa, NulUãaães, n. 157; Planiol,
Traité, II, n. 1.355; Huc, Commentaire, VITI, n. 272; Bufnoir,
Propriété et contrai, ps. 720-725.

Observações — 1. — Na sua essexicia, a coníii inação é, pi 6


cisamente, a renuncia expressa ou tacita, que faz o agente, dos
meios, que lhe faculta a lei, de annullar o acto. E, uma vez con-
firmado o acto, não pôde mais invocar-se a nullidade, que des-
appareceu com a ratificação. O que uma vez, se approva, não se
deve, depois, reprovar; regresso não se dá a quem tem renunciado
o seu direito, dizem dois conhecidos hrocardos.
2 — a renuncia é um acto unilateral: dispensa a interven
ção daquelle a quem favorece.
3 — o decurso do tempo importa em renuncia da acção e,
portanto, em ratificação tacita, se attinge ao prazo da P16
scripçâo. Yeja-se o art. 178.

Art. 152. — As nullidades do art. 147 nâo


têm effeito, antes de julgadas por sentença, nem
se pronunciam de officio.
Só os interessados as podem allegar, e apro-
veitam, exclusivamente, aos que as allegarem?
salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade •
Paragrapho único. A nullidade do instru-
mento não induz a do acto, sempre que este
puder provar-se por outro meio.

Direito anterior — O mesmo (Reg. n. 737, de 1850,


tigos 686 e 690-692). s
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, a1
1.046-1.047, quanto ao principio do artigo.
Projectos — Esboço, arts. 684, 811 e 812; Felicio dos a
265-267, 269 e 272; üoellio Rodrigues, 364; Beviláqua, 164 e
Revisto, 173. tvtartin»0
Bibliographia — A do art. 147, e, em particular, í0
Garcez. Nullidades, I, ns. 284-294. Adde: Correia Telles. f
DOS ACTOS IIXXGIXOS 417
portuguez, art. 319; Theoria geral, § 68; Espinola, Breves an-
notações, I, ps. 447 e 448.

Observações — 1. — O acto annullavel produz effeitos de


valido, emquanto o seu vicio não é declarado por sentença. Só
os interessados o podem allegar. Por interessados entendem-se a
parte, em favor da qual existe a nullidade, os seus successores
ou subrogados, credores e, ainda, terceiros prejudicados.
A parte pôde pedir a declaração da nullidade por acçâo
própria, ou allegal-a, em defesa. O credor, em caso de fraude,
Pôde recorrer á acção pauliana (arts. 106-113); na execução e
om concurso de preferencia, tem o direito de oppôr a nullidade
do acto para impedir-lhe o effeito, por casos de simulação e
fraude. Ao terceiro prejudicado cabe também o direito de oppôr,
em defesa, a nullidade do acto, na parte que o prejudica e só
em relação a elle.
2. — A nullidade do instrumento não induz a do acto, senão
Quando este fôr solemnidade substancial (arts. 133 e 134). Nos
outros casos, como o acto pôde provar-se por outro meio, inutili-
zado o instrumento, recorre o interessado aos meios, que a lei
fhe offerece (art. 136).

Art. 153. — A nullidade parcial de um acto


üão o prejudicará na parte valida, se esta fôr se-
paravel. A nullidade da obrigação principal im-
plica a das obrigações accessorias, mas a destas
^ão induz a da obrigação principal.

Direito anterior — O mesmo (Reg. n. 737, de 1850, ar-


tigo 686, § 4.°, 2.a parte, quanto á primeira disposição; principio
as
yente, quanto á segunda).
Legislação comparada — V. Codigo Civil argentino, artigo
1.039; allemão, 139.
Projectos — Esboço, art. 803; Beviláqua, 166; Revisto, 174.
Bibliographia — Savigny, Droit romain, § 202.

Codigo Civil — 1.° vol. 27


418 CODIGO CIVIL

Observação — E' principio cie direito que o util não se vicia


com o inútil. TJtile per inutüe non vitiatur. Se a parte do acto
não é elemento substancial delle, se pode ser afastada, sem pie-
juizo nem alteração do todo, não o contaminará e poderá ser
afastada.
Com razão maior, a nullidade da obrigação accessoria não
implica a da principal. Por exemplo: se a fiança fôr annullada,
nem por isso desapparece a obrigação, que ella garantia.
Mas, se a obrigação principal não subsiste, acarreta em seu
desapparecimento a accessoria, porque a existência desta depende
da existência da principal.

Art. 154. — As obrigações contrabidas por


menores, entre dezeseis e vinte e um annos, são
ammllaveis (arts. 6.° e 84), quando resultem de
actos por elles praticados:
I. Sem autorização dos seus legitimos re-
presentantes (art. 84).
II. Sem assistência do curador, que nelles
houvesse de intervir.

Direito anterior — O mesmo (Ord., 3, 41, §§ 2o, 3o, 8o e 9 >


m fine).
Liegislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 1.303-
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 365; Beviláqua,
Revisto, 175.
Bibliographia — Martin ho Garcéz, Nullidades, I, ns. 104-1 •
Espinola, Breves anhotações, ps. 451 a 452; J. J. Amézaga, ív^
dades, ns. 121-123; Büfnoir, Propriété et contrai, ps. 669-695.

Observação — Os menores entre dezesseis e dezoito ou v^e


e um annos intervém, directamente, nos actos jurídicos, em ^
são partes. Mas, porque são relativamente incapazes, deve^nteS
autorizados por seus paes ou tutores. Se estes represen a ^
legaes dos menores não lhes supprirem a incapacidade com
autorização, o acto é annullavel. E' o que diz o art. 145, I.
DAS NUU.IDADKs 419
pletando o pensamento expresso no art. 147, I. O acto jurídico
praticado por pessoa -relativamente incapaz é annullavel; em
relaçao aos menores que já transpuzeram os dezesseis annos, essa
annullabilidade resulta: I, da falta de autorização, como, em
relação aos outros incapazes; II, da falta de assistência do
curador. Este curador, que tem de ser ouvido nas relações juri-
dicas dos menores, é o geral de orphâos ou o curador á lide,
incumbidos ambos de patrocinar e defender os interesses- dos
menores, quando demandam ou são demandados. Cabe ás leis
do processo determinar os casos e o modo de intervenção desses
curadores. Yeja-se'Pinto Toledo, Processo orphanologico 2- ed
§§ 571, 572 e 627.
Também é necessária a intervenção de um curador especial
sempre que se acharem em collisão os interesses do filho e do
Pae (arts. 387 e 388), e quando alguém nomear curador aos bens
due deixar aó menor (art. 411, paragrapho único).

Art. 155. — O menor, entre dezeseis e vinte


e um annos, não pôde, para se eximir de uma
obrigação, invocar a sua edade, se, dolosamente,
a
occultou, inquirido pela outra parte ou se, no
a
cto de se obrigar espontaneamente, se declarou
maior.

r0 Uireito anterior — O mesmo, com fundamento no direito


mano (Teixeira de Freitas, Consolidação, nota (17) ao art. 13).
Legislação comparada — Cod. 2. 43, Is. 2 e 3. V. Codigo
a ^1 chileno, art. 1.685; uruguayo, 1.563; italiano, 1.305, contra
ç ^tima parte•" venezuelano, 1.373 (no sentido do italiano). O
0 g
o Civil francez, art. 1.307, dispõe de modo differente, sobre
«eclaração de menor.
Projectos — Coelho Rodrigues, art, 368; Beviláqua, 168-
Revisto, 176.

Ai XÍlbliographia ~ Martinho Gabcez, Nulliãades, § 112; J. J.


--a, Nulliãades, n. 131; Coelho da Rocha, Inst., § 391,
'Noir, Propriété et contrat, ps. 694-695.
420 COUICIO OIVXL

Observação — A malícia suppre a edade, malitia supplet


o:tatem. O menor, que, dolosamente, esconde a sua edade e con-
segue convencer a outrem, de que é capaz, não pôde invocai,
depois, a protecção da lei em favor da sua debilidade mental. A
malícia não deve aproveitar a ninguém, diz outro brocardo, nem,
ainda, aos menores.

Art. 156. — O menor, entre dezeseis e vinte


e um annos, equipara-se ao maior, quanto as
obrigações resultantes de actos illicitos, em q"116
for culpado.

Direito anterior — O mesmo (Codigo Penal, art. 31).


Legislação comparada — D. 4, 4, fr. 9, § 2.°, e fr. 37; 44, 7,
fr. 46; Codigo Civil italiano, art. 1.306; francez, 1.310; vene-
zuelano, 1.374.
Projectos — Ofielho Rodrigues, art. 169; Beviláqua,
Revisto, 177.
Bibliographia —■ Theoria geral, § 71; Martin ho Gahce
Ruindades, § 112; Huc, Commentaire, VIII, n. 209; João Vibib^
Codigo Penal annotado, I, n. 81; Macedo Soares e Bento d®
Faria, annotações1 ao art. 31 do Codigo Penal.

Observação — A theoria dos actos illicitos será expos^3,


seguida, no commentario ao art. 159. O menor, que commette
crime ou causa um damno civil, deve responder pelos
causados a outrem, não em attenção á sua culpa ou a seu ^
mas porque todo damno deve ser reparado por aquelle qu® ^
deu causa, agindo sem direito, contra o direito, ou abusan o
seu direito. direito
A doutrina do Codigo, nesta parte, é tradicional no
pátrio, e remonta até á legislação romana. (D. 4, 4, fr. 9,
Nos últimos tempos, é que a intervenção da idéa de culpa
algumas obscuridades a esta noção segura e límpida. fazer
O Codigo usa da locução em que fôr culpado, não paia ^ ^
depender a responsabilidade da culpa, mas para estabel60^^
nexo da causalidade, porquanto, se o menor não tem capa
DAS NU1XIDADES 421
para agir licitamente, não a deve ter, em regra, para agir illicita-
mente. No caso do art. 155, ha uma disposição repressiva, com
vista a casos excepcionaes, que não pôde fornecer elementos para
a theoria da responsabilidade civil, segundo o Codigo.

Art. 157. — Mngnem pode reclamar o que,


por uma obrigação armullada, pagou a um in-
cauaz, se não provar que reverteu em proveito
delle a importância paga.

Direito anterior — Outro é o ponto de vista do reg. n. 737,


de 25 de Novembro de 1850, art. 687; mas a idéa do artigo
JS? do Codigo Civil tem apoio na doutrina. V. Ribas, Curso,
Ps. 298-300.
■Legislação comparada — Codigo Civil chileno, art. 1.688;
hespanhol. 1.304; uruguayo, 1.566, 2.» parte; francez, 1.312; e
italiano, 1.307, fonte do nosso. Por direito romano, o menor podia
acceitar vantagens, independentemente da intervenção do tutor,
aias não prometter, validamente; podia fazer melhor a sua con-
dição, porém, não peoral-a: D. 12, 6, fr. 41; 44, 7, fr. 49; Inst.,
P 21, pr. V. mais: D.4, 4, fr. 24, § 1.°, e 27, § Io.
Bibliographla — Espinola, Breves annotações, I, ps. 452 a
4o
l: Planiol, Traité, II, n. 133; Huc, Commentaire, VIII, n. 214;
Püfnoir, Propriété et oontrat, p. 696.

Observação — As obrigações contrahidas por Incapazes são


oullas, se a incapacidade é absoluta (art. 45, I), ou annullaveis,
a
incapacidade é relativa (art. 147, I). Cabe ao incapaz, e
"ao a quem com elle contractou, o direito de pedir a annullação
0
acto, no caso de incapacidade relativa, porque foi em bene-
!C10 06116 dn® 0 direito creou esse recurso tutelar. Se a incapa-
dade 6 absoluta, poderá ser pedida por qualquer interessado,
como pelo Ministério Publico, e deve ser pronunciada pelo juiz
iart. 146).
Pm qualquer desses casos, annullada a obrigação, que alguém
Co
ntrahiu, para com o incapaz, este não terá que restituir o
Q"6 tiver recebido, desde que a outra parte não prove que o
422 CODIGO CIVIL

pagamento, üue fez' reverteu em proveito cio incapaz (menor,


louco, surdo-mudo, prodigo, selvicola).
Em relação aos cônjuges, veja-se o art. 255.

Art. 158. — Ammllaclo o acto, restituir-


se-ão as partes ao estado, em que, antes delle, se
achavam, e, não sendo possível restitnil-as, serão
indemnizadas com o equivalente.

Direito anterior — O mesmo. (V. Caklos i>b Carvalho, Di-


reito civil, art. 283).
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 1.052,
chileno, 1.687-1.688; uruguayo, 1.565 e 1.566; allemão, 142; ja'
ponez, 121. V. ainda o Codigo Civil francez, art. 1.234, 7.a al., e
o italiano, 1.236, 7." al.
Projectos — Esboço, arts. 795-799; Ooelho Rodrigues, 371,
Beviláqua, 171; Revisto, 179.
Blbliographia — Theoria geral, § 68, in fine; Amézaga,
lidades, ns. 134-152; Botnoir, Propriété et contrai, ps. 695-701,
Baudry-Lacantinebie et Barde, Des obligations, III, § 1.969.

Observação — O acto annullado considera-se como se nuiica


tivesse existido, e, portanto, as partes devem, reciprocamente,
restituir-se do que tiVerem recebido em conseqüência delle. Bste
principio encontra uma restricção em favor dos incapazes, bO3
termos do art. 157.
Uma outra attenuação resulta da boa fé, em relação a0S
fructos percebidos (art. 510). Tal é a opinião de DemoloMBR®-
consagrada no Codigo Civil do Chile, art. 1.687, 2.a parte, h
uruguayo, 1.566, l.a parte, e sustentada por Beaudry-Lacantinei!IE
et Barde, contra Bufnoir e Laurent. Não se diga que o Codig0
Civil brasileiro só se referiu á primeira restricção, e, consequ®11
temente, não autoriza a outra. Mas a especie deve ser regulada
"hCljâ.
pelo principio geral da posse de bôa ou má fé, sem que
necessidade de se crearem preceitos novos e complicados, eS
tranhos ao edicto expresso da lei.
Em relação a terceiros, declarada a nullidade do acto, des
faz-se o direito, que acaso, tenham adquirido com fundamento no
IX)S ACT08 ILLICJTOS 423
acto nullo ou annullado, porque ninguém tranfer© a outrem di-
reito que não tem. A bôa fé, com i'azão mais forte, aqui se atten-
derá, quanto aos fruotos e quanto á posse para o usocapião.

TITULO II

DOS ACTOS ILLICiTOS

Art. 159. — Aquelle que, por acção ou omis-


são voluntária, negligencia, ou imprudência,
violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica
obrigado a reparar o damno.
A verificação da culpa e a avaliação da res-
ponsabilidade regulam-se pelo disposto neste
Codigo, arts. 1.518 a 1.532 e 1.537 a 1553.

Direito anterior — O conceito do acto illicito não se en-


contra, claramente, definido em lei, mas construído pela doutrina
baseada em prescripções legaes. V. Carlos de Carvalho, Direito
civil, art. 1.014.
Legislação comparada — D. 9, 2, fr. 5, § 1.°; Injuriam Mc
damnum accipiemus culpa ãatum etiam ad eo nocere nolit;
fr- 27, § 5.°; 19, 5. fr. 17, § 2.°, e fr. 23; Cod. 10, 15, in fine;
Codigo Civil francez, arts. 1.382 e 1.383; italiano, 1.151 e 1.152;
bespanhoi, 1.902; argentino, 1.066-1.067 e 1.073-1.079; allemãc,
S23; suisso das obrigações (revisto em 1911), 41; chileno, 2.314;
uruguayo, 1.319-1.322; portuguez, 2.361 e 2.362; mexicano. 3.910;
Japonez, 709; boliviano, 966 e 967; peruano, 2.191; venezuelano,
1-217.
Não se mostram uniformes no conceituar o acto illicito os
Codigos citados. Mais se approximam da definição do nosso Co-
ligo © federal suisso das obrigações e o japonez.
Projectos — Esboço, arts. 822-827; Felicio dos Santos, 605 e
^O; Coelho Rodrigues, 268; Beviláqua, 1.369; Revisto, 180.
Bibliographia — Theoria geral, § 71; Ribas, Curso, ps. 511
a
519; Espinola, Systema, I, ps. 507-515; Breves annotações, I,
Ps. 454 a 473; S. Vampré, Manual, I, § 53; Almachio Diniz,
Primeiros princípios, I, § 48; Martinho Garcez, Theoria geral,
424 CODIGO CIVIL

§ 179; Laceeda de Almeida, Obrigações, § 69; Windscheid,


Panâ., I, § 101, e a nota («») de Fadda e Bensa, ps. 1.054-1.055;
Deiínblrg, Panã., II, §§ 129 e segs.; Endemann, Lehrbuch, I.
§ 200; Kohleh, Lehrbuch, I, § 50; R. Sohm, na Systematische
Rechtswissenschaft, ps. 39-49; Huc, Commentaire, VIII, ns. 402
e segs.; Pxaniol, Traité, ns. 851 e segs.; Bufnoir, Propriété et
eontrat, ps. 802-820; Pothieb, Obrigações, ns. 116-122; Chironi.
Tst., § 72; e La colpa en el ãerecho civil; Saleilles, Théorie gé-
nerale de Vobrigation, ns. 302 e segs.; Tbiseire, Le Jondement de
la responsabilité, 1901; Pinto Coelho, A responsabilidade civil,
1906; Alfonso Tessana, La limitazione di responsabilià, 1909;
Rossel, Droit civil suisse, III, ps. 68 e segs'.; Ferreira Coelho,
op. cit., X, p. 27 e segs.

Observações — 1. — No Projecto primitivo, o acto illicit0


apparecia somente como causa geradora de obrigações no livi"0
respectivo. A Commissão revisora destacou-o, porém, na parte
geral, sem attender a que lhe faltava para isso a necessária
amplitude conceituai, e alterando, assim, o systema do Projecto.
Alteração mais profunda proveio da emenda do Senado, que in-
troduziu no conceito do acto illicito a menção da culpa, estranha
ao Projecto primitivo e que a Gamara não julgara necessário
accrescentar ao dispositivo.
Tal como resulta dos termos do art. 159, acto illicito é a
violação do direito ou o damno causado a outrem por dólo ou
culpa. O dólo consiste na intenção de offender o direito ou
prejudicar o patrimônio por acçâo ou omissão. A culpa é a ne-
gligencia ou imprudência do agente, que determina violação do
direito alheio ou causa prejuízo a outrem. Na culpo ha, semPre'
a violação de um dever preexistente. Se esse dever se funda em
um contracto, a culpa é contractual; se no principio geral do
direito que manda respeitar a pessoa e os bens alheios, a culpa
é extra-contractual, ou aquiliana.
2. — O paragrapho único diz que a verificação da culpa e
avaliação da responsabilidade se regulam pelo disposto nos
arts. 1.518 e 1.532 e 1.537 a 1.553. Os primeiros destes artigos
pertencem ao titulo VII do livro terceiro, que se inscreve:
obrigações por actos illicitos, e os do segundo grupo ao titulo
VIII, cap. II, que trata da liquidação das obrigações resultantes
nos ACTOS UXIOTTOS 425

dos actos ülicitos. Esta remissão, errada na primeira edição do


Codigo, foi corrigida pela lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919.

Art. 160. — Não constituem actos illicitos:


I. Os praticados em legitima defesa, ou no
exercicio regular de um direito reconhecido.
II. A deterioração ou destruição da coisa
alheia, a fim de remover perigo imminente (ar-
tigos 1.519 a 1.520).
Paragrapho único. Neste ultimo caso, o acto
será legitimo somente quando as circumstan-
cias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a re-
moção do perigo.

Direito anterior — Princípios acceitos, mas não expressos


lei civil.
Degislação comparada — D. 1, 1, fr. 3; 43, 29, fr. 3, § 2.°;
o
0, 17, frs. 55 e 151; Codigo Civil portuguez, arts. 2.367, 2.368,
2
-396 e 2.397; allemão, 226 a 231; argentino, 1.071; suisso, 2.°;
iaponez, 720.
Projectos — Esloço, art. 832; Coelho Rodrigues, 268, §§ Io e
20
• - : Beviláqua, 172 e 173; Revisto, 181 e 182.
Bibliographia — Theoria geral, § 70; Espinola, Breves anno-
tações, I, ps. 460 e segs.; JoÃo Monteieo, Processo, I, nota 2 ao
^ 3,°; Jhering, Espiritu dei ãerecho romano, §§ 11-14; Kohler,
Lehrhuch, I, §§ 68 e 70, e no Archiv fuer Rechts, und Wirtschafts-
'ú tilosophie, VIII, 1915, r&. 411-449; Endemann, Lehrbuch, I,
S§ 87-89; Windsoheid, Pand., I, § 123 Dernbubg, Pand., I, § 125;
c
oãe Civil allemand, publié par le Comitê de lég. étrangère, notas
aos
arts. 226-231; A Bardesco, L'al)us du droit, Paris, 1913;
Tkissexre, Le fondement de la responsaUlifé, ps. 152 e segs.;
PtANioL, Traité, II, ns. 909 e 910; Bufnoir, Prop. et contrai,
807-808; Charmont, Les transformations du droit, ps. 233-288;
Jo
88Erand, De Vahus du droit, Paris, 1903; Salleiles, Obriga-
tions, nota 1, ao n. 310; Rossel et Mentha, Droit civil suisse,
^ Ps. 67-68; João Vieira, Codigo Penal annotado, II, ns. 82-87;
426 CODIGO CIVIL

Fioketti, Su la legitima ãifesa; Yon Listz, Tratado de direito


penal, trad. José Hygino, I, §§ 32-34; Bento de Faria, Coãigo
Penal, notas aos arts. 32-35; Carvalho dos Santos, Codigo de
Processo Civil interpretado, I, ao art. 3.

Observações — 1. — Destacam-se, neste artigo, tres figuras


jurídicas: a legitima defesa e o direito de necessidade, que, em-
bora possam parecer violações de direitos, não são actos illicitos;
e o abuso do direito, que, tendo apparencia legitima, importa num
desvio da ordem juridica.
2. — Legitima defesa. No estado actual da nossa cultura, a
defesa do direito está confiada aos poderes constituídos, cuja
acção se desenvolve segundo os preceitos da lei. Lex enim cavet
civihus; magistratus legibus, affirma o aphorismo de BacoK-
Todavia, por mais aperfeiçoado que seja o apparelho social pro-
tector do direito, não poderá attender a todas as ameaças de
violação, e é forçoso confiar ao individuo a faculdade de de-
fender a sua pessoa e os seus bens jurídicos, em casos inadiáveis,
como outr'ora elle os defendia, a todo o momento, antes que a
organização juridica se consolidasse.
A legitima defesa, observa Kohler, não é, em rigor, um di-
reito distincto, e, sim, uma faculdade, que emana, directamente,
da personalidade, e ê da mesma categoria das faculdades de
exercer o direito e delle gozar.
A legitima defesa presuppõe uma injustiça, uma violação do
direito subjectivo, e deve ser uma reacção dirigida, somente,
contra o autor da injustiça, contra os seus auxiliares e contia
os instrumentos da aggressão, porém dentro de certos limites
segundo certas normas. E' uma reacção disciplinada, como
própria reacção social contra o delicto.
Os requisitos que legitimam a defesa individual dos direitos-
são:
a) Que a agressão seja injusta, isto é, que constitua
acto contrario ao direito, porquanto qui suo jure utitur nemC16711
Iwãit, comtanto, é bem de vêr, que esse uso do direito seja
guiar, como diz o nosso Codigo, neste mesmo artigo. • ^
h) Que seja actual e não uma apprehensão do que possa ^
vá acontecer, e, muito menos, o desforço de um mal já pa-
(Codigo Penal, art. 34).
c) Que seja inevitável a agressão e impossível o so
opportuno da autoridade.
DOS ACTOS ILLICITOS 427
d) Que a repulsa não exceda o necessário para effectuar a
defesa.
3. Em matéria de posse, o Codigo autoriza, especialmente,
a defesa, no caso de ameaça de turbação (502). Se ha esbulho, o
possuidor pôde, egualmente, desforçar-se, in continenti. Neste
ultimo caso, não ha mais defesa, porque a violência está con-
summada, e o esbulhado vae restaurar a situação jurídica de que
o desalojou o espoliador. Auto-satisfação denominam os juristas
o acto de justiça privada, pelo qual a força individual restabe-
lece a situação jurídica violentamente destruída.
A auto-defesa destina-se a evitar o mal da violação do di-
ieito. A auto-satisfação ou justiça particular propõe-se a restau-
rar o direito, que a aggressão injusta fez succumbir.
4. Estado de necessidade. Ha situações, em que o direito
de um indivíduo se acha em conflicto com o direito de outro, e
o conflicto se ha de resolver pelo desapparecimento ou cessação
transitória do direito menos valioso do ponto de vista ethico e
humano. Em dado momento, a sua coexistência é impossível; e
o mais fraco, o secundário, cede o passo ao primário. Tal é o es-
tado de necessidade, que autoriza a violação do direito alheio
Para evitar-se mal maior. Para salvar a minha vida ou a de
outrem, eu me aproprio, momentânea ou definitivamente, de um
bem alheio.
O Codigo define o estado de necessidade o determinado por
Perigo imminente, cuja remoção pôde ir ao ponto de deteriorar
ou destruir a coisa alheia, art. 160, II). E estabelece as con-
dições de sua legitimidade; a) ser o acto absolutamente exigido
Pelas circumstancias; b) não exceder os limites do indispensável
Para a remoção do perigo.
O perigo pôde ameaçar a vida, a honra, a liberdade da pessôa
ou dê outrem. Para evitar o sdcrificio de um desses bens, o di-
reito autoriza a destruição ou deterioração da coisa alheia. Pôde,
egualmente, achar-se em perigo imminente um bem economico.
- nida, neste caso, o direito permitte que se viole o direito de
Propriedade de outrem, para salvar o bem economico se fôr
absolutamente necessário, e se o mal, que se pretende evitar, fôr
maior do que o praticado para removel-o. Exemplo: destroe-se
um prédio para evitar que o incêndio se propague á rua inteira.
5. Já na ultima phase da elaboração do Codigo Civil, ao
' cutii se a sua ledacção final, o senador João Luiz, suppondo
descobrir evidente antinomia entre os arts. 160, II, e 1.519 (164
428 CODIGO CIVIL

e 1.521 do Projecto), porque haviam sido copiados, o primeiro


do Codigo Civil allemão e o segundo do portuguez, cuja orien-
tação é diversa, neste assumpto, propoz que se alterasse o ar-
tigo 1.519 e supprimisse o art. 1.520. Gonçalves Maia e Maxi-
miano de Figueiredo combateram essa proposta, que foi apoiada
pelo Sr. Mello Franco. O Sr. Nicanor Nascimento declarou
que não havia contradicção entre os artigos citados (Y. Diário
do Congresso, de 18 de Novembro de 1915).
Não se tendo dissipado as duvidas levantadas, o deputado .
Mello Franco apresentou voto escripto, em que estudou, mais
demoradamente, a questão. Depois de mostrar que o art. 160 se
refere a tres categorias de actos, os praticados em legitima de-
fesa, os que podem constituir ahusos de direito e os que resultam
do estado de necessidade, acha que estes últimos não estão bem
caracterizados no Projecto, porque, tendo-se elle inspirado no Co-
digo Civil allemão, art. 228, que não se occupa do estado de ne-
cessidade, não é licito suppôr que a especie fosse considerada no
Projecto brasileiro. Consequentemente, os dois artigos se deviam
alterar para que o systema do Projecto se mantivesse harmônico
(Diário do Congresso, de 21 de Novembro de 1915) .
Gonçalves Maia deu também as razões do seu voto con-
trario, mostrando qual o pensamento do Projecto e a impi-0'
cedencia da critica. Maximiano de Figueiredo confirmou o seu
voto anterior. Os Senadores Mendes de Aimeida e Adolpho Gordo
opinaram pela suppressão da referencia do art. 1.519 no art. 160
(Diário âo Congresso, de 21 de Novembro de 1915).
Como se vê, o assumpto preoccupou a Commissão, de modo
excepcional, e os espíritos, abalados com as opiniões collidentes,
não se mostravam tranquillos. Por fim Justiniano de Serpa
Presidente da Commissão, na sessão de 7 de Dezembro de 1916
(Diário do Congresso, de 8), accentuando que, se o Projecto
brasileiro se inspirava nos Codigos Civis da Allemanha e de
Portugal, não os copiava, como se verificava do confronto dos
artigos, ao contrario, mantivera, incontestavelvente, a sua inde-
pendência mental; e, mostrando qual o pensamento que domi-
nava os artigos, que haviam motivado a controvérsia, conseguiu
restabelecel-os, como se achavam redigidos antes do debate.
As suas ponderações elucidam, perfeitamente, o dispositivo
do art. 160, II, principio, especialmente na parte que vae, em se'
guida, transcripta;
DOS ACTOS ELLIOITOS 429
Aconstrucção jurídica do Projécto (do Codigo Civil brasi-
leuo), afastando-se, quer da que se encontra no Codigo allemão,
quer da que adoptou o Codigo portuguez, ê a seguinte:
a) Causar damno a outrem, por culpa ou dólo, constitue
acto illicito (art. 159);
b) A legitima defesa e o estado de necessidade autorizam
o damno, dentro de certos limites (art. 160);
c) O damno injusto, resultante do acto' illicito, deve ser re-
sarcido. por quem o causou (obrigações resultantes dos actos
illicitos, arts. 1.518, 1.519 e seguintes);
ã) Também deve ser reparado o damno causado por ne-
cessidade. se o dono da coisa não fôr culpado do perigo (ar-
tigo 1.519), muito embora esse damno seja autorisado por lei
(art. 160, II).
Qual é a idéa dominante nessa construcção jurídica? E' que
todo damno deve ser reparado, independentemente de culpa ou
dólo.
Intervindo culpa ou dólo, tem-se o acto illicito, e o agente
culpado ou doloso responde pelo prejuízo causado.
Não havendo culpa ou dólo, o agente é, ainda assim, obri-
gado a indemnizar, salvo quando a outrem se deve attribuir a
culpa do acto damnoso.
Se o culpado é o proprio dono da coisa deteriorada ou des-
tiuida, afasca-se, então, a idéa da indemnização; elle soffre as
conseqüências da sua culpa (art. 1.519). Se o culpado é terceiro
o agente indemniza a quem fôr prejudicado, mas vae haver de
quem, por negligencia ou má fé, creou a situação, a quantia,
que foi constrangido a pagar (art. 1.520).
O encandeiamento das idéas é logico e tem um fundamento
ethico bem claro.
Se o eminente senador João Luiz Auves nelle descobriu con-
tradicção, é porque se collocou no ponto de vista da culpa.
Quando o ponto de partida do Frojecto (do Codigo) é o do
damno, e emprestou, assim, aos dispositivos, intenção diversa
ua que elles, naturalmente, tinham".
6. — Abuso de direito. Estatue o art. 160, I, que não con-
stitue acto illicito o praticado no exercido regular de um di-
reito reconhecido. A contrario sensu, o praticado em exercício
"a0 Aguiar de um direito, é illicito. Eis ahi a condemnação
do abuso do direito, como bem notou o deputado Mello Franco
{Diário do Congresso, de 21 de Novembro de 1915).
430 roí) í go civi o

Desde muito cedo, as melhores consciências sentiam que o


direito deve ser exercido dentro de certos limites ethicos'. No
direito romano esse sentimento é vacillante ainda, e os preceitos
se contradizem. Paulo ensina; Nemo ãamnuni facit, nisi qui id
fecit, quod facere jus non habet (D. 50, 17, fr. 151). Mas os cos-
tumes temperaram o absoluto dessa concepção, e a philosophia
dá expressão a tendências mais benignas. No De offieis, I, 10.
Cícero affirma, positivamente, que o direito deve ter um limite:
summum jus summa injuria. O fundamento do seu pensar está
na idéa moral da solidariedade humana, digamos, se é licito
exprimir por uma palavra moderna um sentimento antigo, bo-
mines hominum causa esse generatos, ut ipsi se, aliis alii
proãesse possint.
Mas não somente os philosophos, os jurisconsultos reco-
nheciam o proclamavam a necessidade de sobrepor ao interesse
particular o interesse publico. ISÍam propter puhlicani utilitatem,
strictam rationem insuper hahemus:... nam summam esse i'®'
tionem quoe pro religione facit, diz Papiano (D. 11, 7, 43).
E o imperador Leão declarou que os nossos direitos devem ser
exercidos sem proposito de prejudicar os dos outros: ususquisque
suis fruatur et non inhiet alienis (Cod. 10, 15, lei única, in finej ■
7. — A evolução do direito se tem operado no sentido do
maior desenvolvimento e accentuaçâo de seus intuitos ethicos,
e correspondente reducçâo dos seus elementos egoisticos. A so-
ciologia, comprehendendo-o como força moral destinada a
manter o equilíbrio das energias sociaes em acçâo, contribuiu
fortemente, para a solução do problema do abuso do direito. Se a
funeção do direito é manter em equilíbrio os elementos sociaes
collidentes, desvirtuar-se-á, mentirá ao seu destino, quando se
exüfggerar, no seu exercício, a ponto de se tornar um principi0
de desharmonia.
Essa tendência depuradora do direito e a sua finalidade
social exigem a socialização do exercício. O direito é a resul-
tante das solicitações dos interesses do indivíduo e da sociedade.
O seu exercício deve seguir a linha média traçada por essas
duas solicitações.
Este pensamento, que, hoje, se acha embebido na consciência
geral, esclarecido e divulgado pela sociologia, foi bem expresso
por Baedesco, quando escreveu: "O direito destina-se a alcançai
o bem geral, ao mesmo tempo que a satisfação dos interesses i11'
dividuaes; o abuso do direito, que é o exercício anti-social de um
DOS ACTOS XT.LICITOS 431
direito, gera a responsabilidade. Os direitos não são fins em si,
porém meios de realizar um fim, que lhes é exterior. Por outros
^ termos, os direitos não são absolutos, quanto ao seu exercício,
porém limitados pelo seu proprio fim. Abusar do direito é tomar
o meio pelo fim, é exercel-o de modo contrario ao interesse geral,
e a noção de equidade tal como se apresenta, num dado momento
da evolução juridica. Abusar do direito é servir-se delle, egoistica-
mente, e nao socialmente. Em um estado jurídico, em que a
justiça e a equidade tendem, como actualmente, á socialização do
direito, o seu abuso compromette a responsabilidade de quem o
pratica ' (Z/aZms du droit, p. 226).
_8' doutr
iiia ainda não cristalizou, de modo definitivo, a
noção do abuso do direito. Pensam uns que o abuso do direito
está no seu exercício, com intenção de prejudicar alguém (Buf-
noxr, Souedat, Ghabmont) ; entendem outros que elle se cara-
cteriza pela ausência de motivos legítimos (Josseeand, Gény) ;
Camtant associa a negligencia ou imprudência á intenção dê
prejudicar; Saleuxes acha que o abuso do direito está no seu
uso anormal; Baedesco pensa que as diversas fórmulas propostas
são insufficientes, mas se completam e devem ser acceitas até
que, mais firme o .estado jurídico por ellas representado, se
Possa ti aduzir por um critério único; Kohlee considera o abuso
do direito offensa á personalidade: "ha offensa ao direito de
Personalidade, quando alguém abusa de seu direito de modo que
ofenda a outrem".
O Codigo Civil allemão, art. 226, acceitou a idéa de que se dá
abuso do direito, quando o seu exercício tem por fim exclusivo
causar damno a outrem (Die Ausuebung eines Rechts ist unzu-
aessig, wenn sie nur den Zweck haben kann, einen Andern
Shaden zuzufuegen).
E a doutrina indicada acima em primeiro logar, e teve por
fim principal condemnar a chicana.
O suisso, art. 2.°, não exige a intenção de prejudicar exclu-
siva ou não. Caracteriza o abuso do direito pela má fé no seu
exercício, Chacun est tenu d'exercer ses droits et d'exécuter ses
obligations selon les règles de la bonne foi. L'abus manifeste
u un droit n'est pas protégé par la loi.
O biasileiro, art. 160, I, refere-se ao exercício irregular do
ireito. E a doutrina de Saleilles. O exercício anormal do di-
ie
ito é abusivo. A consciência publica reprova o exercício do
432 CODIGO OlVTL

direito do indivíduo, quando contrario ao destino economico e


social do direito, em geral.

TITULO III

DA PRESCRIPÇÃO

CAPITULO I

Disposições geraes

Art. 161. — A renuncia da prescripção pôde


ser expressa ou tacita, e só valerá, sendo feita,
sem prejuizo de terceiro, depois que a prescri-
pção se consummar..
Tacita é a renuncia, quando se presume de
factos do interessado, incompativeis, com a pres-
cripção .

Direito anterior — Principio acceito pela doutrina (Coelho


da Rocha, Inst., § 452; Carlos de Carvalho, Direito civil, ar-
tigo 441).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 2.200 e
2.221; italiano, 2.107 e 1.111; portuguez, 508; liespanhol, 1.925;
argentino, 3.965; chileno, 2.494 e 2.495; uruguayo, 1.189 e 1.190;
japonez, 146; suisso das obrigações (revisto), 141; boliviano,
1.513; peruano, 1.150 e 1.151; venezuelano, 2.026 e 2.029; me-
xicano, 1.141-1.143. Este ultimo Codigo permittia a renuncia
antecipada, limitando o effeito da renuncia á duplicação do prazo
estabelecido em lei, comtanto que não excedesse a vinte annos;
actualmente, porém, a renuncia ha de referir-se á prescrição
consumada.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 1.322-1.325; Coelho
Rodrigues, 218-221; Beviláqua, 180 e 181; Revisto, 190 e 191.
Bibliographia — Theoria geral, §§ 74, 77, 80, e 84 a 86;
Almeida Oliveira, Prescripção, ps. 1-233, e, em particular, 184-214:
Martinho Garcez, Theoria geral, § 181; Espinola, Systema I»
ps. 515 e sega.; Breves annotações, I, ps. 474 e segs.; Luiz Ca»-
DA PEESCRIPÇÃO 433
pkivtee, Manual do Qõdigo Civil brasileiro, IV {Da prescripção ),
ns. 3 e segs.; S. Vampeé, Manual, I, §§ 89 a 90; Almaohio Diniz'
Primeiros princípios, I, § 50; Numa do Valle, Da prescripção ex-
tinctiva, §§ l0-40; Coelho da Rocha, Inst., §§ 454 e segs.; Lacerda
de Almeida, Obrigações, § 92; M. I. Carvalho de Mendonça,
Obrigações, I, §§ 417-426; Baudy-Lacantinerie et Tissxer, De la
prescription, 3mc éd., ns. 34-40 e 53-92; Planiol, II, ns. 657-659 e
727-734; Huc, Commentaires, XIV, 308-328; Laurent, Cours.
IV, ns. 615-623 e 644-651; Pothieb, Obrigações/U ns. 640 e segs
Windscheid, Panã., I, §§ 105-109; as notas de Fadda e Bensa,'
ps. 1.082-1.107; Endemann, Lehrbuch,'§§ 90 e 91; KoiiLEg, Lehr-
bucli, I, §§ 81-85; Dernbubg, Panã., I, §§ 144-146; Saviqny, Droit
ronvain, IV, §§ 237-252; Chironi, Ist., § 105; Trabalhos da Ga-
7)107
a, III, ps. 13-20; Leon Gomes, Prescripciones y términos le-
gales, 2* ed., ps. 93-94; Ferreira Coelho, op. cit. X, p. 226 e
segs.; Cunha Gonçalves, Direito civil, ns. 411 e segs.

CôNSEH+ô—C 1 : DO TRABALHO
1«. RtGlÃO
Observações — l. — Prescripção é a perda da acção attri-
mãa a um direito, de toda a sua capacidade defensiva, em
conseqüência ã\a não uso ãellas, durante um determinado espaço
de tempo. Não é a falta de exercício do direito, que lhe tira o
vigor; o direito pode conservar-se inactivo, por longo tempo, sem
Perder a sua efficacia. E' o não uso da acção que lhe atrophia a
capacidade de reagir.
A inércia do titular do direito permitte que se realizem e
consolidem factos contrários ao direito do negligente. Destruir
esses factos seria perturbar a vida social, que sobre elles repousa
ranquilla, ou nelles tem elementos, que não podem ser des-
vuidos sem dilaceração do organismo politico-juridico.
Borto publico usucapio introdueta est, ne silicet quarundam
J
erum diu et fere semper incerto domino essent (D. 41, 3, fr. I).
0
usucapião e a prescripção têm o mesmo fundamento: o respeito
as
situações desenvolvidas e consolidadas pelo tempo.
A prescripção ê uma regra de ordem, de harmonia e de paz,
"oposta pela necessidade da certeza das relações jurídicas. Finis
s
°hcitudinis et periculi litium, diz Cícero {Pro Gwcina, cap. 26).
0
interesse do titular do direito, que elle foi o primeiro a des-
Pvezar, não pôde prevalecer contra o interesse mais forte da paz
social.
Codigo Civil — 1.° vol. 28
434 CODTGO CIVIL
2
- — 0 Codigo Civil brasileiro, seguindo a doutrina allemã,
distinguiu a prescripção propriamente dita, do usocapião. A pri-
meira é uma força extinctiva da acção, e de todos os recursos de
defesa, de que o direito se achava, originariamente, provido; o
segundo é uma energia creadora de direitos reaes, em particular,
da propriedade, que opera, transformando uma situação de facto
numa realidade jurídica.
A prescripção tem um effeito geral, actua sobre as acções,
sejam reaes ou pessoaes; por isso não pode ser collocada no Di-
reito das obrigações, como fazem muitos Codigos e tratadistas. O
seu posto logico é na Parte Geral, como uma das fôrmas, porque
se extinguem os direitos. O usocapião, sim, tem o seu logar
proprio no Direito das coisas, como um dos modos, pelos quaes
se adquire a propriedade.
3. — A prescripção applica-se a toda especie de acções; mas
ha direitos imprescriptiveis, ainda no campo do direito privado,
pois o objecto da prescripção são os direitos patrimoniaes e
alienaveis.
Não estão sujeitos á prescripção:
a) Os direitos, que são emanações immediatas da perso-
nalidade, como a vida, a honra, a liberdade, a parte pessoal do
direito de autor, e o nome ou firma commercial.
&) O direito da União, dos Estados e dos Municípios sobre
os bens públicos (arts. 66 e 67).
c) As acções de estado de família e da cidade; mas não os
direitos patrimoniaes, que decorrem do estado das pessoas.
d) As acções referentes ao direito de exigir algum acto ou
omissão correspondente ao estado de família, como o direito de
alimento, e o direito, que tem o marido, de revogar a autorização
dada á mulher para exercer qualquer profissão (art. 244).
e) A acção para rehaver, na constância do casamento, os
immoveis dotaes estimados taxationis causa (arts. 293 e 298).
/) A acção para haver os bens confiados- á guarda ãe
alguém por deposito, penhor ou mandato (art. 168, IV).
3. a. — Censura Luiz Carpenter a expressão direitos iw
prescriptiveis, porque a prescrição se refere á acção e não a0
direito; mas a expressão é corrente e correcta, ainda que a t0'
memos por tropologica. Depois, a acção é a propriedade defen-
siva do direito, é o mesmo direito invocando a tutela social, une
o assegura; extincta a acção fica o direito inerte, perde uma ãe
suas principaes características, que ê a realizabilidade; portanto»
DA PRESCRIPÇÃO 435
prescripta a acção, podemos dizer -que está prescripto o direito,
querendo significar que elle está desprovido de defesa, que está
sujeito ás violações e ao anniquilamento. E' o proprio Luiz Cah-
penter que affirma (n. 62). "extinguindo directamente a acção,
a pi esci ipção extingue também, por via de conseqüência, o di-
reito protegido pela acção".
Assim, quando dizemos que os bens públicos são imprescri-
ptiveis, queremos affirmar, por uma sinedoche muito legitima e
consagrada pelo uso, que as acções, que asseguram o direito da
União, dos Estados e dos Municípios sobre esses bens, não se
extinguem pelo decurso de tempo.
E eis abi acções imprescriptiveis, muito embora referentes
a direitos patrimoniaes, como imprescriptiveis são todas as indi-
cadas no numero anterior. Será admissível que, decorrido certo
lapso de tempo, mas ou menos longo, de inacção, possa alguém
oei privado de defender a sua liberdade? Que os direitos de
cidadania fiquem indefesos e inertes, porque em tempo se des-
curou de reagir o titular delles?
Quanto aos bens dotaes durante o matrimônio, é o Codigo
Civil que os declara imprescriptiveis (art. 298), como é ainda
o Codigo que nos diz não correr a prescripção contra o deposi-
tante, o devedor pignoraticio, o mandante, isto é, que não pre-
screvem as respectivas acções'.
E', pois, irrecusável que ha acções imprescriptiveis e que não
ha incorecção em denominar imprescriptiveis os direitos cuja
vivacidade não se amortece com o decurso do tempo.
S. Vampbé, Manual, I, § 90, reconhece a existência de acções
imprescriptiveis.
^ ^ prescripção, para produzir o seu efeito extinctivo ou
überatorio, não necessita de outro requisito, senão o decurso do
tempo. A bôa fé, que se exige para o usucapião, é dispensável
Para a prescripção.
5- C Codigo Civil não distinguiu a prescripção dos prazos
e
&tinctivos, que operam a decadência ou caducidade dos direitos.
No emtanto, a doutrina estabelece differenças entre as duas fi-
guras jurídicas. O prazo extinctivo opera a decadência do di-
reito, objectivamente, porque o direito é conferido para ser usado
hum determinado prazo; se não fôr exercido, extingue-se. Não
se suspende nem se interrompe o prazo; corre contra todos, e é
Catai. Termina na hora pre-estabelecida.
436 CODIGO CIVIL

Exemplos de prazos extinctivos: o prazo de tres mezes para


a celebração do casamento, a contar do momento em que o of-
ficial do registro certifica a habilitação dos nubentes (art. 181,
§ lc); os prazos para annullação do casamento (arts. 178, § 1.°;
§ 4.°, II, § 5.)°, I, li e III; e 208); o prazo estabelecido para a
contestação da legitimidade do filho (art. 178, §§ 3.° e 4.°, I) :
os prazos para proposta da remissão do immovel hypothecario, e
para a opposição do credor delia notificado (art. 581).
6. Renuncia. Entre os modos geraes, por que se extinguem
os direitos, destaca-se a renuncia, acto jurídico, pelo qual o ti-
tular de um direito delle se despoja. Ha direitos que o titular
não pode renunciar, como o de annullar o acto em razão do
dólo; pois o objecto da renuncia seria illicito (art. 145, II); o
de pedir alimentos (art. 404); os de que a lei investe o marido,
como chefe da sociedade conjugai, porque são de ordem publica;
e todos aquelles em que prepondera o interesse publico.
A prescripção pode ser renunciada, mas somente depois de
consummada, diz o art. 161. A renuncia pôde ser expressa ou
tacita. A renuncia tacita resulta das circumstancias, desde que o
interessado pratica actos incompatíveis com a prescripção, como
se o devedor paga a divida prescripta ou entra com o credor em
accôrdo a respeito da solução delia, ou realiza outro acto, que
importe o reconhecimento do direito do credor.
A razão pela qual a prescripção não pode ser, préviamente,
renunciada, é que ella é um instituto de ordem publica, inde-
pente da vontade das partes. Depois de consumada, porém, é
um direito, uma vantagem, um valor patrimonial, de que o in-
divíduo dispõe.
A renuncia da prescripção consummada, para ser valida,
deve ser feita por pessoa capaz, e não ha de prejudicar direito
de terceiro. Realizada a prescripção, o patrimônio do prescribente
obteve um accrescimo, pois está exonerado de uma obrigação.
Se houver renuncia desse accrescimo, depois de effectuado, os
credores do prescribente verão diminuídas as suas garantias, e
terão direito de se oppôr a esse acto de liberalidade.
A fiança extingue-se com a prescripção da divida, e se não
renova pelo facto da renuncia. Por isso o fiador não necessita
de oppôr-se, a ella, nem tem o direito de fazel-o.
7. — A renuncia feita por devedor solidário ou condevedor
de obrigação indivisível não pôde ser opposta aos outros deve-
dores, porque a condição destes não pode peorar por acto alheio;
DA PEESCRIPÇÃO 437
porque a prescripção, extinguindo o vinculo obrigacional, já dis-
solveu a conjuncção da solidariedade ou da indivisibilidade; e
porque, tornando-se independentes uns dos outros os condeve-
dores, seria absurdo que um delles pudesse fazer liberalidade
com o que lhe não pertence.

Art. 162. — A prescripção pode ser alle-


gada, em qualquer instância, pela parte a quem
aproveita.

Direito anterior — Doutrina acceita, que o reg. n. 737, de


25 de Novembro de 1850, confirma no art. 577, § 7°.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 2.224;
italiano, 2.110; uruguayo, 1.191; boliviano, 1.513.
Projectos — Felicüd dos Santos, art. 1.329; Coelho Ro-
drigues, 221; Beviláqua, 183; Revisto, 193.
Bibliographia — Theoria geral, § 84, III; Almeida Oliveira,
Prescripção, ns. 177-184; Luiz Cakpentbe, Manual do Codigo Civil,
IV, ns. 31 e segs.; Leon Gomes, Prescripciones, p. 94; Planiol,
Traité, n. 715; Huc, Commentaire, XIV, n. 332; Laurent, Cours,
IV, n. 643; Baudky-Lacantinerie et Tissier, De Ia prescription,
ns. 41-52.

Observações — 1. — A prescripção entra na classe das ex-


cepções peremptórias, que excluem a intenção do autor, e podem
ser apresentadas em qualquer phase do processo, antes de subir
a causa ao
ínl2 para sentenciar, isto é, emquanto perdura a
Phage^da instrucção do processo, quer na primeira instância,
Quer na segunda, e, ainda, no periodo da execução.
A regra do artigo, admittindo a allegação da prescripção em
Qualquer estado da causa, funda-se na consideração de que se
essa defesa não foi, desde o primeiro momento, invocada, foi, na-
turalmente, porque o prescribente confiava nos outros meios;
nias esse modo de proceder não pôde tirar á prescripção o seu
effeito.
2. — Entende-se que a prescripção, que pode allegar o deve-
dor, é a que se consummou antes de proposta a acção, porque,
como determina o art. 172, I, a citação interrompe a prescripção.
438 CODIGO OIVIL

Proferida a sentença, tem a parte vencedora o direito de


executal-a, e esse direito extingue-se no fim de trinta annos
(Theoria geral, § 87, II, com apoio de Correia Teixks e Teixeira\
de Freitas, Doutrina das acções, nota 12; Pereira e Sousa e
Teixeira de Freitas, Primeiras linhas, nota 710; Almeida Oli-
veira, Prescripções, p. 407.

Art. 163. — As pessoas jurídicas estão su-


jeitas aos effeitos da prescripçao, e podem in-
vocal-os, sempre que lhes aproveitar.

Direito anterior — Principio acceito, na sua generalidade.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 2.227;
italiano, 2.214; portuguez, 516; argentino, 3.951; chileno, 2.497;
uruguayo, 1.194; venezuelano, 2.032.
Projectos —< Felicio dos Santos, art. 1.327; Coelho Ro-
drigues, 222; Beviláqua, 184; Revisto, 194.
Bibliographia — Theoria geral, § 83; Almeida Oliveira,
Prescripção, ps. 93-97; Luiz Carpenteb, Manual ão Codigo Civil,
IV, ns. 42 e segs.; Huo, Commentaire, XIV, 339 e 340; Pothieb,
Obrigações, II, ns. 645 a 652; Baudry-Lacantinerie et Tissibr,
De la prescription, ns. 175-181.

Observação — O Codigo estabelece o principio geral de


que todas as pessoas naturaes ou jurídicas, estão sujeitas á pve-
scripção. Nenhum privilegio ou excepção conhece o direito neste
particular. Apenas, como se verá no art. 178, § 10, as dividas pas-
sivas das pessôas jurídicas de direito publico interno, prescrevem
num prazo ordinariamente menor do que as das outras pessôas-
Cumpre também notar que áqui se trata de prescripção, pi'0-
priamente dita, cujo effeito é extinguir as acções, liberar os obri-
gados, e não do usocapião, modo de adquirir. Os bens públicos de
qualquer especie, sendo inalienáveis, não podem ser adquiridos
por usocapião. Mas as dividas activas da União, dos Estados ou
dos Municípios também escapam á prescripção.
DA X3KESCR1XJÇÃ0 439

Art. 164. — As p'essôas; que a lei priva de


administrar os proprios bens, têm acção regres-
siva, contra os seus representantes legaes, quando
estes, por dólo ou negligencia, derem causa á
prescripção.

Direito anterior — Os incapazes podiam defender-se dos pre-


juízos da prescripção, recorrendo ao beneficio da restituição in
integrum (Almeida Oliveira, Prescripção, ps. 227-232).
Legislação comparada — O direito romano dava aos me-
nores interdictos recurso contra os seus tutores e curadores,
em certos casos de prescripção (Van Wstter, Droit civil, p. 302).
Providencia semelhante encontra-se no Codigo Civil francez, ar-
tigo 2.278, in fine, no italiano, 2.145; e no venezuelano, 2.060.

Observação — E' 'uma garantia, que o Codigo estabelece em


favor dos incapazes, cujos bens são entregues aos cuidados de tu-
tores, curadores, ou, ainda, do marido, pois que a mulher casada
entra na classe dos incapazes (art. 6.°, II). No principio consa-
grado no art. 159, já se acha ella incluida; mas o Codigo a des-
tacou, neste dispositivo, para tornar mais clara a responsabilidade
daquelles a quem se confiam bens alheios, e obter que se mos-
trem menos negligentes.
A garantia do art. 164 substitue, nesta parte, o beneficio da
restituição in integrum, e é mais justa do que elle, porque exige
a indemnização de quem responde pela conservação dos bens, ao
passo que a restituição ia destruir uma situação jurídica, que se
creara á sombra do direito.
O art. 169, I, afasta os incapazes do art. 5.°, dos effeitos da
prescripção, o art. 164, attenua-os quanto aos outros incapazes.

Art. 165. — A prescripção iniciada contra


uma pessoa continua a correr contra o seu her-
deiro .

Direito anterior — O mesmo, ainda que não claramente ex-


presso (Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 433; Codigo Com-
Qiercial, art. 450).
440 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Vejam-se: Codigo* Civil austriaco,


ai t. 1.493, allemão, 221; peruano, 1.156. O direito romano con-
sagra o mesmo principio para o usucapião (Cod. 7, 33, 1. 2).
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 225; Beviláqua, 186; Re- '
visto, 196.
Bibliographia — Theoria geral, § 80, in fine; Almeida Oli-
veira, Prescripção, ps. 361-363; Espinola, Sistema, I, ps. 607 a
608 da 2.a ed.; Luiz Carpenter, Manual do Codigo Civil, IV, n. 55;
Windscheid, Pand., I, S HO; Baudry-Lacantinerie et Tissier
De la prescription, ns. 341-363; Code Civil allemand, publié par
le Comitê de lég étr., I, ao art. 221.

Observação — O preceito consagrado neste artigo é uma


extensão á prescripção extinctiva do principio da accessio tem-
poris admittido para o usocapião, (art. 552). Mas aqui fala o Co-
digo somente em herdeiro, contra o qual continua a prescripção
iniciada contra o de cujus, e no usocapião a posse é continuada
pelo successor universal e pôde ser pelo singular.
Não obstante os termos do artigo traduzirem uma differença
no modo de applicar a accessio temporis, segundo se trata de
prescripção liberatoria ou de usocapião, vae prevalecendo, entre
os escriptores e na pratica, o pensamento de que a palavra her-
deiros empregada no art. 165 eqüivale a successores, sem distin-
ção de singulares e universaes. Vejam-se Luiz Carpentier (Ma-
nual do Codigo Civil, IV, n. 55) e Numa do Valle, Prescripções,
p. 66. Ary Franco, A prescripção extinctiva no Codigo Civil
brasileiro, opina pela interpretação dada no inicio desta obser-
vação (p. 39-40).

Art. 166. — O juiz não pôde conhecer da


prescripção de direitos patrimoniaes, se não foi
invocada pelas partes.

Direito anterior — Principio assente, com apoio no direito


romano (Van Wettbr, Droit ■ civil, p. 291*). Veja-se Carlos de
Carvalho, Direito civil, art. 966.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 2.223;
italiano, 2.109; portuguez, 515; argentino, 3.864; chileno, 2.493;
DA PRESCBIPÇÃO 441
uruguayo, 1.191, 2.a parte; boliviano, 1.515; peruano, 1.154; ja-
ponez, 145; sui&so das obrigações (revisto), 142; austriaco, 1.501;
venezuelano, 2.028.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.321, pr.; Coelho Ro-
drigues, 233; Beviláqua, 187; Revisto, 197.
Bibliographia — Theoria geral, § 83, II; Em defeza,
ps. 357-360; Almeida Oliveira, PrescripQão, ps. 221-226; Luiz
Carplkrlr, Manual do Cdfdigo Civil, IV, ns. 56 e segs.; Teixeira
de Freitas, Consolidação, nota (1) ao art. 853; Lacerda, Ohri-
gações, § 92; M. I. Carvalho de Mendonça, Obrigações, n. 423;
Coelho da Rocha, Ins., § 455; Planiol, Traitc, II, 713 e 714;
Huc, Commentaire, XIV, ns. 329-332; Laubent, Cours, IV, n. 642;
Rossel, Droit civil suisse, III, ps. 181-182; Chironi, Ist., § 105;
Baudby-Lacantinerie et Tissier, De la prescription, ns. 41 a 43

Observações — 1. — A fórmula deste artigo é pouco feliz,


porque faz suppôr que o juiz possa conhecer da prescripção de
dir eitos( não patrimoniaes, quando é certo que, precisamente, os
direitos patrimoniaes é que são prescriptiveis. Não ha prescripção
senão de direitos patrimoniaes. Os direitos que são emanações di-
1
ectas da personalidade e os de família, puros, não prescrevem.
1 a. Os casos que Luiz Carpentbr aponta como de pre-
scripção de acções assecuratorias de direitos da familia, são,
antes de prazos extinctivos, e, por isso, não se interrompem nem
se suspendem. Veja-se o que ficou dito na observação n. 5, ao
art. 161.
E' por serem prazos extinctivos de direito, e não casos de
pi escripção da acção, que o juiz os applica, independentemente
de allegação da parte.
2- Alguns autores, como Russel, combatem o principio de
que ao juiz seja vedado pronunciar a prescripção, que a parte
não allega, ainda que dos autos conste a sua prova. Mas, se a
prescripção é de ordem publica, porque a segurança dos direitos
interessa á paz da sociedade, cabe ao indivíduo o direito de re-
nunciai a pi escripção consummada, porque, além da regra invito
wgn datur beneficium, deve o direito respeitar o escrúpulo de
consciência daquelle que se não quer libertar da divida, por não
ter podido pagar em determinado tempo.
3. O Projecto primitivo seguindo o de Coelho Rodrigues,
mandava que o juiz, encontrando a prova de uma prescripção em
442 CODIGO CIVIL

favor de pessoa privada da administração de seus bens, nomeasse


um curador para falar no feito, antes da sentença definitiva. Na
França, alguns ci vi listas sustentam que o Ministério Publico deve
tomar conhecimento do negocio em todas as causas, em que fi-
guram incapazes, e oppôr a prescripção, se fôr caso disso.
O art. 166 do Codigo Civil brasileiro estabeleceu uma regra
absoluta. Se a parte não invocar a prescripção, o juiz não a pro-
nunciará. Mas, se os representantes legaes dos incapazes não al-
legarem a prescripção consummada em favor deles, incorrem
em responsabilidade nos termos do art. 159. Quanto aos tutores,
o caso cabe no que dispõe o art. 431, initio. A responsabilidade
dos maridos regula-se pelo estatuido no art. 260.
4. — E' bem fundada a opinião de Luiz Cakpentek, segundo
a qual ao Ministério Publico ê licito invocar a prescripção em
proveito de menores.

Art. 167. — Com o principal prescrevem os


direitos accessorios.

Direito anterior — Regra adoptada como applicação do prin-


cipio de que o accessorio segue o principal.
Legislação comparada — Cod., 4, 32, 1. 26; Codigo Civil al-
lemão, art. 224; suisso das obrigações (revisto), 133.
Projectos — Beviláqua, art. 188; Revisto, 198.

Observação — Não se attende á prescripção dos direitos'


accessorios, quando o principal está prescripto. Se a divida pre-
screveu, deixa de produzir juros. Consequentemente não se tem
que indagar se decorreu o tempo necessário para extinguir o di-
reito de reclamar os juros. Assim, em todos os casos. Os direitos
reaes de garantia, como o penhor e a hypotheca, extinguem-se
com a prescripção da divida a que adherem (arts. 802, I, e 849)-
DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIPÇÃO 443

CAPITULO II

Das causas que impedem ou suspendem


a prescripção

Art. 168. — Não corre a prescripção:


I. Entre cônjuges, na constância do matri-
mônio .
II. Entre ascendentes e descendentes, du-
rante o pátrio poder.
III. Entre tutelados ou curatelados e seus
tutores ou curadores, durante a tutela ou cura-
tela.
IV. Em favor do credor pignoraticio, do
mandatario, e, em geral, das pessoas, que lhes
são equiparadas, contra o depositante, o devedor,
o mandante e as pessoas representadas, ou seus
herdeiros, quanto ao direito e obrigações rela-
tivas aos bens confiados á sua guarda.

Direito anterior — Doutrina acceita, quanto aos tres pri-


meiros números. O quarto correspondente ao art. 450 do Codigo
Commercial.
Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, artigos
2.252 a 2.255; italiano, 2.119; portuguez, 551, ns. 1 e 2; allemão,
204, austríaco, 1.495; argentino, 3.966 e 3.969; chileno, 2.509;
mexicano, 1.167, ns. I-III; suisso das obrigações (revisto), 134,
us. 1-3; venezuelano, 2.036. O Codigo Civil japonez, art. 159, não
suspende o curso da prescripção, nos casos a que se refere o
nosso artigo, mas prolonga a prescripção até seis mezes, depois
da cessação da incapacidade, da substituição do tutor, e da dis-
solução do casamento. V. peruano, 1.157.
Em direito romano, a prescripção não corria entre o filho
sob o pátrio poder e o pae, em relação ao pecúlio adventicio
(Cod. 7, 40, 1. 1, § 2.°); mas corria entre cônjuges, salvo quanto
ao dote, e era respeitado o direito de revogação da liberalidade,
se a prescripção assumia esse caracter.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.390; Coelho Rodri-
gues, 237;- Beviláqua,, 191; Revisto, 199.
444 CODIGO CIVIX,

Bibüographia — Theoria geral, § 81; Almeida Oliveira,


Prescripção, ps. 136-154; Espinola, Sistema, I, ps. 423-424;
Lacerda de Almeida, Obrigações, § 92; M. I. Carvalho de Men-
donça, Obrigações, I, n. 431; S. Vampre, Manual, I, § 92; Al-
m a chi o Diniz, Primeiros princípios, I, § 51; Luiz Carpenter,
Manual do Codigo Civil. ns. 72 e segs.; Numa do Vallb, Da
prescripção extinctiva, § 5.°; Coelho da Rocha, Inst., § 457;
Planiol, Traité, ns. 705-711; Huc, Qõmmentaire, XIV, ns. 415-422;
Laurent, Cours, ns. 624-629; Endbmann, Lehrbuch, § 91; Code
Civil allemand, publié par le Comitê de lég, étrangère, notas
aos arts. 204 e 206; Rossel, Droit civil suisse, ps. 173-174; Cm-
roni, Ist., § 107; Baudry-Lacantinvrib et Tissibe, De la pre-
scription, ns. 302-326, 364-375, 415-417 e 444-453 bis; Ferreira
Coelho, op. cit., XI, p. 27 e segs.

Observação — A prescripção pode ser impedida de começar


ou, iniciada, pode ser interrompida ou suspensa. Este capitulo
refere-se ás causas que impedem a. prescripção de começar, e ás
que lhe fazem parar o curso iniciado, o que se denomina, pro-
priamente, suspensão da prescripção.
São razões de ordem moral que impedem a prescripção nos
quatro casos deste artigo. Nos tres primeiros, a affeição e a
confiança, que devem existir entre as pessoas, a que o Codigo
se refere, não permittiriam que se creasse a situação juridica
da prescripção. No ultimo caso, ainda é uma razão moral, que
afasta a prescripção. O Projecto primitivo e o revisto não con-
tinham dispositivo correspondente ao n. IV, do art. 168, do Co-
digo, por parecer ocioso, pois o caso ê, antes, de usocapião do
que de prescripção, e contra aquella erguia-se o vicio da pre-
cariedade, que lhe tiraria todo o fundamento. Procede esse n. IV
de uma emenda do Conselheiro Andrade Figueira, approvada
pela Gamara {Trabalhos da Camara, IV, p. 138).
Outros casos de suspensão da prescripção apontam ainda os
Codigos e os tratadistas, como o dos compossuidores e o do her-
deiro, na herança acceita a beneficio de inventario. Mas o corn-
possuidor apenas possue uma parte ideal do bem, sendo a posse
real, de todos, não se concebe como ura possa allegar prescripçã0'
contra os outros. Aliás, se fosse possível, seria o caso de uso-
capião, e, portanto, estranho á matéria de que aqui se trata. O
herdeiro beneficiário tem o seu patrimônio separado, para o
DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PIÍESCRIPOÃO 445

effeito de não responder pelos encargos da herança, seria odioso


que se prevalecesse dessa vantagem para prejudical-a. No sys-
tema do Codigo Civil, cumpre notar, o herdeiro não responde por
encargos superiores á força da herança (art. 1.587).

Art. 169. — Também não corre a pre-


scripção.
I. Contra os incapazes de que trata o ar-
tigo 5.°.
II. ( ontra os ausentes do Brasil, em serviço
publico da União, dos Estados, ou dos Muni-
cípios .
III. Contra os que se acharem servindo na
armada ou no exercito nacionaes, em tempo de
guerra.

Direito anterior O mesmo. Quanto aos números I e III;


Ord., 4, 79, § 2.", e Codigo Commercial, art. 452. Para o numero II:
Coelho da Rocha, Inst., § 452.
Legislação comparada - V. Cod. 7, 35, 1. 3; Codigo Civil
rancez, art. 2.252 (menores e interdictos); italiano, 2.120 (me-
nores e interdictos); Codigo Civil portuguez, arts. 549, 550 e 551,
ns. 4 e 5 (o systema deste Codigo differe do adoptado pelo
nosso, mas contempla o beneficio concedido aos militares na
guerra, e aos ausentes por motivo de serviço publico); allemão
(sistema que se approxima do seguido pelo Codigo Civil'
Portuguez: permitte a prescripção contra os incapazes, mas pro-
longa o prazo até seis mezes depois de cessar a incapacidade, ou
depois da nomeação do representante; se a prescripção é de menos
de seis mezes, corre somente depois dos factos, que acabam de ser
apontados); argentino, 3.966; chileno, 2.509; uruguayo, 1.243.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.390, n. 4; Coelho
Rodrigues, 238; Bevilaqria, 192; Revisto, 200.
llibliographla — A do artigo anterior. Aããe\ Baudry-Lacan-
tinerib et Tissibr, De la prescription, ns. 418-425.
446 GODIGO CIVIL

Observações — 1. — 0 numero I deste artigo é uma dis-


posição complementar da protecção devida aos absolutamente
incapazes. 0 systema do Codigo Civil portuguez e do allemão,
que se limita a dilatar o prazo da prescripção, além de incon-
gruente, não attende, sufficientemente, ao interesse, que tem a
sociedade de abroquelar o patrimônio dos incapazes. Também
não é para seguir-se o systema suisso, que não suspende a pre-
scripção, nem a dilata, por causa da incapacidade.
A tradição e a justiça apoiam a doutrina do Codigo Civil
brasileiro.
2. — Também os ausentes do paiz, por motivo de serviço, e
os militares empenhados em guerra merecem o tratamento bene-
volo e tutelar da lei. Afastados dos seus interesses particulares
pos necessidade de ordem superior, estariam arriscados a vel-os
sacrificados, emquanto se desvelavam pelo interesse g*eral, e seria
injusto que se tomasse por inércia de sua parte o que é, simples-
mente, impossibilidade de agir. Contra non valentem agere füon
currit prescripto, diz o adagio.

Art. 170. — aão corre, egnalmente:


I. Pendendo condição suspensiva.
II. Não estando vencido o prazo.
III. Pendendo acção de evicção,

Direito anterior — Doutrina corrente.


liegislação comparada — Cod. 7, 39, 1. 7, § 4.° 8, 45, 1- 21)
initio; Codigo Civil francez, art. 2.257; italiano, 2.220; boli-
viano, 1.152; venezuelano, 2.037. V. também o Codigo Civil
allemão, arts. 202 e 203.
Projectos —■ Felicio dos Santos, art. 1.391; Coelho Rodri-
gues, 238, ns. 4-6; Beviláqua, 192, ns. 4-6; Revisto, 201.
Bibliographia — A do art. 168. Adde: Vieira FbbrEIBA
Ementas, e emendas, ps. 53 e 125.

Observações — 1. — Nos tres casos deste artigo, ainda 11 a0


existe a acção para exigir o cumprimento da obrigação ou o reco
nhecimento do direito. Por isso, em rigor, poderia o Codigo Civil
DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCTilPÇÃO 447

brasileiro, como outros, deixal-os em silencio. O direito commum


resolvel-os-ia. Para afastar duvidas possíveis, porém, preferiu
seguir a lição do Codigo francez.
Os dois primeiros casos, o da condição suspensiva e o do
prazo sao muitos claros. Somente depois de realizada a condição
ou vencido o prazo, é que o titular do direito pode agir, e, so-
mente então, o seu direito está sujeito a prescrever.
A ultima excepção considerada no artigo quer dizer que o
comprador de uma coisa não pode invocar a prescripção em seu
favor, se terceiro propuzer acção de evicção, e emquanto esta
não fôr julgada.
2. — A prescripção quinquennal, a favor da União, dos Es-
tados e dos Municípios, não corre durante a demora que tiverem
os funccionarios, que delia se occuparem (lei n. 5.761, de 25 de
Junho de 1930, art. 1).

Art. 171. — Sespensa a prescripção em fa-


vor de um dos credores solidários, só aproveitam
os outros, se o objecto da obrigação for indivi-
sivel.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 2.122;
venezuelano, 2.039; argentino, 3.981 e 3.982, cujas fórmulas são
mais genéricas.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 241; Beviláqua, 193; Re-
visto, 202. O Esboço, art. 1.014, 4.°, seguiu doutrina contraria.
Bibliagraphia — A do art. 168. Adãe: Baudky-Lacantinerie
et Tissier, De la presctiption, ns. 463-464.

Observação — A suspensão do curso da prescripção ou a


impossibilidade do seu inicio, importa num beneficio, e este
somente pode ser invocado pela pessoa, em favor de quem foi
estabelecido. Por isso, apesar da solidariedade da obrigação, os
credores não favorecidos pelo beneficio da suspensão sujeitam-se
aos efleitos da prescripção, que não corre contra o seu consorte
beneficiado, por qualquer dos motivos de incapacidade, de au-
448 CODIGO CIVIL

sencia ou outro dos que a lei contempla. Se, porém, a obrigação


é indivisível, o beneficio se estende a todos pela própria na-
tureza das coisas.

CAPITULO III

Das causas que interrompem a prescripção

Art. 172. — A prescripção interrompe-se:


I. Pela citação pessoal feita ao devedor;,
ainda que ordenada por juiz incompetente.
II. Pelo protesto, nas condições do numero
anterior.
III. Pela apresentação do titulo de credito
em juizo de inventario, ou em concurso de cre-
dores .
IV. Por qualquer acto judicial, que consti-
tua em móra o devedor.
Y. Por qualquer acto inequívoco, ainda que
extrajudicial, que importe reconhecimento do di-
reito pelo devedor.

Direito anterior — O Codigo Commercial, art. 453, considera


os modos de interrupção dos ns. I e II, e a novação que entra no
n. V. Vejam-se ainda: Orã., 4, 79, § 1.°; reg. n. 737, art. 59;
Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 855; Carlos de Carvalho,
Direito civil, art. 98; lei n. 2.024, de 17 de Dezembro de 1908,
art. 50.
Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, artigos
2.243-2.248; italiano, 2.125 e 2.129; allemão, 208-216; suisso das
obrigações (revisto), 135; hespanhol, 1.945, 1.947, 1.948 e 1.973;
portuguez, 552; austríaco, 1.497; argentino, 3.986-3.989; uruguayo,
1.232-1.237; mexicano, 1.168; boliviano, 1.541-1.544; japonez, 147;
venezuelano, 2.042 e 2.046.
Para o direito romano, vejajm-se: Cod. 2, 56, 1. 5, § 1.°; 7,
39, 1. 3; 1. 7, pr., e § 5.°; 7, 1. 1, § 1.°, Is. 2 e 3.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 1.370 e 1.371; Coellúo
Rodrigues, 242; Beviláqua, 194; Revisto, 203.
DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PKESCRIPgÃO
449
Bibhographia — Theoria geral, § 82; Almeida Oliveira
liesctipção, ps. 155-170; Espinola, Systema, I, ps. 525-526;
ampre, Manual, I, §§ 93 e 94; Luiz Carpenter, Manual ão Co-
ígo Civtl, IV, nS. 172 e segs.; Numa do Valle, Da prescripção
exhnctiva, § 5.°, II; Martinho Garcez, Theoria geral, § 192; La-
cerda de Almeida, Obrigações, § 92; M. I. Carvalho de Mendonça,
Obrigações, §§ 433-435; Coelho da Rocha, Inst., § 458; Baudry-
Lacantinerie et Tissier, De la prescription, ns. 465-538- Pla-
niol Traité, I, ns. 1.508 e segs., e II, ns. "685-704; Huc,' Com-
men aire, XIV, ns. 382-414; Laurent, Gours, IV, ns. 633-641-
orm Obrigações, II, ns. 658-664; Gocle Civil allemanã, publié
pai e Comitê de lég. étrangère, notas aos arts. 208 e 209-
Endemann, Lehrbuch, I, § 91, III; Dernburo, Panã., I, § 148'
.iNDSCHEiD, Panã., I, § 108; Kohler, Lehrbuch, I, §§ 86-88-
Hosshl, Droit^ivil suisse, III, ps. 175-179; Chironi, Ist., § 107-
Leon Gomes, Prescripciones, ps. 96-97; Ferreira Coelho, op cit
XI, p. 105 e segs.

bseiv ações 1. A interrupção da prescripção inutiliza


a prescripção já começada. Differe da suspensão, em que, nesta,
a prescripção continú-a o seu curso, logo que desapparece o im-
pedimento, e, na interrupção, o tempo decorrido, anteriormente,
íca perdido para o prescribente, que, aliás, pode, depois do acto
niterruptivo, iniciar nova prescripção.
2. o Codigo Civil destaca cinco ordens- de factos, que in-
errompem a prescripção. O primeiro é a citação pess\o'al feita
«o devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente.
O chamamento a juizo é manifestação positiva de que o ti-
tular do direito não está inactivo, de que reage contra a for-
mação jurídica destruidora do seu direito. Mas deve ser re-
gular e efficaz; por isso o art. 175 nega á citação nulla effeito
mterruptivo. Como, porém, as regras concernentes á competência
«os juizes offerecem difficuldades e duvidas, sendo freqüentes
os enganog e as controvérsias, nesta matéria, seria injusto não
a
nr uma excepção para a citação pessoal ordenada por juiz in-
r.tf ^e''en^e- Ainda mais: a citação perante juiz incompetente
mge ao devedor, fal-o vir a juizo para arguir a incompetência,
eSíaz a
s QHiotude em que se achava o devedor em via de pre-
crever, e a inércia do credor, á sombra da qual se iam formando
s
elementos da prescripção.
Codigo Civil — l.o vol. 9Q
450 CODIGO CTVITj

O Codigo quer que a citação seja pessoal e não feita a


outrem, que não o proprio devedor.
3 _ o segundo modo de interromper a prescripção indi-
cado, neste artigo é o protesto judicial, quando, por qualquer
motivo, não puder ser proposta a acção. Deve o protesto expôx
os fundamentos do direito, que se procura resalvar, e ser inti-
mado ao devedor, ou publicado por editos ao ausente, de que
se não tiver noticia.
4_ — apresentação do título de credito em juizo de inven-
tario, ou em concurso de credores, seja civil ou commercial (fal-
lencia), revelando vigilância da parte do credor, produz effeito
interruptivo, pelo mesmo titulo que a proposição da demanda.
E, assim, também qualquer acto judicial, que constitua o de-
vedor em môra. A lei não declarou quaes são esses actos judiciaes
que, além da citação pessoal e do protesto, podem constituii o
devedor em móra (o art. 960 refere-se ainda á interpellação e a
notificação; o art. 762 menciona outros casos); mas caracteri-
zados por esse effeito não podem offerecer duvida, sempre que
se apresentarem.
5. __ O acto iúequivoco, ainda que extrajudicial, que importe
redonhecimento do direito pelo devedor, interrompe a prescripção,
porque revela a integridade, em que se acha o direito do titular,
e o dispensa de qualquer procedimento perante os tribunaes. Uma
carta, na qual alguém reconheça a obrigação, em que se acha de
pagar certa quantia, a novação, a reforma da divida, um pedido
de espera, o pagamento de juros, a prestação de fiança, são actos
que importam reconhecimento do direito do credor, por parte do
devedor. Todos elles interrompem o curso da prescripção.
6 A annotação nos livros ou protocollos das repartições
publicas, bem como o certificado do correio da remessa em tem-
po dos documentos provam a data da interrupção da prescripção
qüinqüenal, do art. 178, § 10, VI.

Art. 173. — A prescripção interrompida


recomeça a correr da data do acto, cpie a inte
rompeu, ou do ultimo do processo para a intei
romper.

Direito anterior — Codigo Commercial, art. 453, ultima


parte. Não tem a mesma generalidade.
DAS CAUSAS QUK INTERROMPEM A PRESCBIPÇÃO 451

Legislação comparada — Codigo suisso das obrigações (re-


visto), art. 137; allemão, 217; portuguez, 55'9; mexicano, 1.168;
argentino, 3.998; uruguayo, 1.238; japonez, 157.
Projectos —■ Felicio cios Santos, art. 1.386.

Observação — Este artigo não tem correspondente nos Pro-


jectlp\s, porque, em verdade, nenhuma idéa accrescenta ao an-
terior . Deve a sua existência a uma emenda do Conselheiro
Andrade Figueira {Trabalhos da Gamara, IV, p. 204, 2.* col.,
e V, p. 138, 2.a col.). A sua vantagem é accentuar o momento,
em que começa correr a prescripção interrompida.
Delle infere-se, também, que deixou de haver, em nosso di-
reito civil, a perpetuação dà acção, principio que, aliás, resulta
do silencio da lei a respeito.

Art. 174. — Em cada um dos casos do ar-


tigo 172, a interrupção pode ser promovida:
1. Pelo proprio titular do direito em via
de prescripção.
II. Por quem, legalmente, o represente.
III. Por terceiro, que tenha legitimo inte-
resse .

Direito anterior ■— Doutrina corrente.


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 243; Beviláqua, 195; Re-
visto, 204.

Observação — O representante legal (o pae, o tutor, o


curador, o marido) tem o dever de interromper a prescripção
(art. 164). O procurador ou o administrador podem também
interromper a prescripção, pois que representam o titular do
direito, nem haveria razão para que a interrupção exigisse po-
deres especiaes. Basta que o direito em via de prescrever entre
^a esphera dos interesses confiados ao procurador ou adminis-
trador.
452 CODIGO CIVIL

Confere o Codigo Civil egual competência a terceiro, que


tenha legitimo interesse, em que se não consumme a prescripção.
Terceiro é a pessoa que, por si ou por seu representante, não foi
parte no acto. O credor daquelle contra quem corre a prescripção
é terceiro, mas pôde interromper a prescripção, quando pignora-
ticio, no caso dos arts. 790 e seguintes, pois lhe cabe não somente
o direito de posse do titulo caucionado, como, ainda, o de usar
dos remedios assecuratorios do seu e do direito do credor caucio-
nante. O usofructuario pode interromper a prescripção, que
tende a attingir ao direito do proprietário.

Art. 175. — A prescripção não se interrompe


com a citação nulla por vicio de fôrma, por cir-
cumducta, ou por se adiar perempta a instância
ou a acção.

Direito anterior — Idêntico (Carlos de Carvalho, Direito


civil, art. 982, paragrapho único).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 2.247;
italiano, 2.128; mexicano, 1.168, II; boliviano, 1.543.
Projectos — Felicio âfis Santos, art. 1.373; Coelho Rodrigues,
244; Beviláqua, 196; Revisto, 205.
Bibliographia — A do art. 172, Adde: Trabalhos do Senado,
III, p. 85, obs. de Augusto de Freitas.

Observações — 1. — A citação nulla não produz effeito, e


como se não existisse, conseguintemente não pôde interromper a
prescripção. Exceptua-se o caso da citação ordenada por juiz in-
competente, pelas razões expostas no commentario ao art. 172.
Ha defeito de fôrma, quando a citação não obedece aos pre'
ceitos, que a lei estabelece para a constituição do acto. Não se
refere o Codigo á nullidade proveniente de causa extrinseca a
própria citação, como acto jurídico.
2. — A citação diz-se oircumducta, quando o autor não com
parece para accusal-a, na audiência para a qual fez citar o réo
(reg. n. 737, art. 58; JoÂo Monteiro, Processo, I, § 83). Oitatio
DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIPÇÃO 453

remanet circumãucta auctore non comparente in terminio ad quem


reum citare facit.
A instância fica perempta, quando o feito se interrompe, por
se não falar nelle durante certo lapso de tempo determinado em
lei (Sbve Navarro, Pratica, art. 213). Eqüivale a uma desistência
tacita. A instância perempta pôde renovar-se por citação geral.
A acção também se torna perempta, quando o autor cita o
réo para a mesma causa e não comparece.
3. — Do que precede resulta que a citação para interromper
a prescripção deve ser valida, accusada em audiência, e seguida
dos outros termos do processo. Se não houver seguimento, é
porque o autor desiste do seu direito.
Por outro lado, se a citação é defeituosa, mas o réo com-
parece, em juizo, para defender-se, interrompe-se a prescripção.

Art. 176. — A interrupção da prescripção


por um credor não aproveita aos outros. Seme-
lliantemente, a interrupção operada contra o
co-devedor, ou seu lierdeiro, não prejudica aos
demais co-obrigados.
§ 1.° A interrupção, porém, aberta por um
dos credores solidários, aproveita aos outros;
assim como a interrupção effectuada contra o
devedor solidário envolve os demais e seus her-
deiros .
§ 2.° A interrupção operada contra um dos
herdeiros do devedor solidário não prejudica aos
outros herdeiros ou devedores, se não quando se
trate de obrigações e direitos indivisiveis.
§ 3.° A interrupção produzida contra o prin-
cipal devedor prejudica o fiador.

Direito anterior — Em parte, dispõe semelhantemente o Co-


õigo Commercial, art. 454.
Legislação comparada — Cod. 8, 40, 1. 5; Código Civil
francez, arts. 2.249 e 2.250; italiano, 2.130-2.132; suisso das
obrigações (revisto), 136; portuguez, 554-558 (differe no que
454 CODIGO CIVIL,

dispõe sobre o Herdeiro do devedor solidário, art. 553); mexi-


cano, 1.169-1.174 (disposições idênticas as do portuguez); boli-
viano, 1.545-1.548; argentino, 3.991-3.997; uruguayo, 1.240-1.241;
venezuelano, 2.047-2.049.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 1.383-1.385; Coelho Ro-
drigues, 245-248; Beviláqua, 197-200; Revisto, 206-209.
Jiibliographia — A do art. 172.

Observação — O principio do artigo é devido a uma emenda


do Conselheiro Andradk Figueira (Trabalhos da Gamara, V, pa-
ginas 109 e 195). Consagra elle a regra de que a interrupção da
prescripção só produz effeito entre as pessoas, que tomara parte
uella: de persona ad personam non fit interruptio. Os Projectos
anteriores, consagrando as excepções a esta regra, deixavam-na
presupposta.
O preceito do § 1.° é uma conseqüência da solidariedade (ar-
tigos 896-915). Mas a solidariedade activa ou passiva não passa
aos herdeiros (arts. 901 e 905); por isso a interrupção operada
contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica aos
outros herdeiros, nem aos co-devedores, salvo se a divida fôi
indivisível, porque, neste caso, cada um é obrigado por toda a
divida (art. 891), não sendo possível o pagamento parcial.
A regra estabelecida no § 3." funda-se no principio de que o
accessorio segue o principal. A interrupção operada contia 0
fiador não prejudica o devedor principal, porque não é o acces-
sorio que arrasta comsigo o principal.

CAPITULO IV

Dos prazos da prescripção

Art. 177. — As acções pessoaes prescrevem?


ordinariamente, em trinta annos, as reaes em dez,
entre presentes, e, entre ausentes, em vinte, con-
tados da data em que poderiam ter sido Pr0'
postas.
DOS PKAZOs DA PRESCRIPÇlO 455

Direito anterior — 0 mesmo {Ord., 4, 3, § 1.°, segundo a intel-


ligencia dada pelos interpretes, e 4, 79). As acções commerciaes
duram, em geral, vinte annos (Codigo Commercial, art. 442).
Legislação comparada — Para o direito romano, vejam-se;
Cod. 7, 31, lei única, e 7, 39, lei 3. Codigo Civil francez art. 2.262;
em trinta annos prescrevem todas as acções, tanto reaes quanto
pessoaes; art. 2.265; o prazo ordinário do usocapião dos immo-
veis ê de dez annos, se o proprietário habita na mesma circum-
scripção jurisdiccional do tribunal, e em vinte, no caso contrario.
Codigo Civil italiano, art. 3.135; todas as acções prescrevem em
trinta annos; prazo ordinário do usocapião de immoveis; dez
annos (art. 2.137). Allemão, art. 195; o prazo ordinário da pre-
scripção è de trinta annos. Portuguez, art. 535; o prazo ordi-
nário da prescripção negativa é de vinte annos, se o devedor se
achar em bôa fé, e de trinta annos, na ausência deste requisito.
Os prazos do usocapião de irqmoveis são: de cinco annos, no caso
de posse registrada; de dez annos, se o registro ê de propriedade;
de quinze annos, não havendo registro; de trinta annos, sem que
se attenda a titulo ou bôa fê (arts. 526-529). Argentino, arts. 4.020
e seguintes: não ha uma determinação geral do curso da pre-
scripção; ha, porém, diversas que se consummam em trinta
annos. Para o usocapião de immoveis, ha os prazos de dez annos,
se o proprietário habita na província, e de vinte, se o seu do-
micilio é noutra parte (art. 3.999). TJruguayo, art. 1.215: a acção
real prescreve em trinta annos, art. 1.216, a pessoal, em vinte.
O usocapião dos immoveis consummam-se em dez annos, entre
presentes, e em vinte, entre ausentes (art. 1.204). Mexicano, ar-
tigo 1.152; os bens immoveis prescrevem, havendo bôa fê, em
cinco annos, e, em dez, não havendo. Verifica-se a prescripção
negativa, haja ou não bôa fé decorridos dez annos (art. 1.159).
Suisso das obrigações (revisto), art. 127: lapso geral; dez annos.
Austríaco: trinta annos (arts. 1.479 e 1.480). Taponez; dez e
vinte annos para a prescripção acquisitiva (art. 162); o mesmo
lapso para a extinctiva, em geral (art. 167). Venezuelano; as
acções reaes prescrevem em trinta annos e as pessoas em vinte
(art. 2.052). Peruano, art. 1.168: em vinte annos, a acção real
em 15, a pessoal; mas em dois a fundada em vicio do contracto.
Projectos — PeZicüo) dos Santos, arts. 1.346 e 1.355; Coelho
Rodrigues, 249-253; Beviláqua, 201; Revisto, 210. Estes Projectos
divergem entre si, como divergem do Codigo.
456 CODIGO CIVIL

Bibliogfapliia — Theoria geral, §§ 87 e 88; Teixeira de


Freitas, Consolidação, arts. 853 e 1.322 a 1.326, com as respe-
ctivas notas; Almeida Oliveira, Preseripção, ps. 281-283, 300-303
e 389-433; Martinho Garcez, Theoria geral, § 197; Lacerda de
Almeida, Obrigâções, § 92; M. I. Carvalho de Mendonça,
Obrigações, ns. 436-438; Luiz Carpenteb, Manual do Codujo. Ci-
vil, IV, ns. 180 e segs.; Morato, Preseripção das acções di-
visórias; Numa do Valle, Da preseripção extinctiva, ps. 122 e
segs. ; Coelho da Rocha, Inst., §§ 462 a 465; Planiol, Traité, II,
ns. 659-676; Huc, Commentaire, XIV, ns. 431-502; Laurent,
Cours, IV, ns. 683-707; Endemann, Lehrbuch, I, § 92; Dernburg,
Panã., I, § 147; Kohler, Lehrbuch, I, §§ 92-95; Windscheid,
Pand, I, § 110; Chironi, Ist., I, § 106; Baudry-Lacantinerie et
Tissiee, Prescription, ns. 585 e seguintes; Cunha Gonçalves,
Direito civil, III, ns. 427 e seguintes.

Observações — 1. — Acções pessoaes são as que tendem a


exigir o cumprimento de uma \oil)rigação. As que se fundam em
contracto ou em declaração unilateral da vontade entre vivos,
sejam directas ou contrarias; as que se originam de actos illi-
citos, e as de nullidade, constituem a classe das pessoaes propria-
mente ditas. São pessoaes in rem scriptce, as pessoaes, que po-
dem ser intentadas contra terceiros possuidores, como a pau-
liana, a remissoria, a exhibitoria, a remissoria de clausula retro.
Consideram-se, ainda, pessoaes as denominadas mixtas como as
de divisão, demarcação e partilha.
Para algumas dessas acções, o Codigo estabeleceu prazos
mais curtos, segundo se vê do artigo seguinte e seus paragraphos.
2. — Acções reaes são as que se fundam em direito real.
Extinguem-se nos prazos estabelecidos para o usocapião, porque
o direito do adquirente elimina o do antigo titular.
Quando o Codigo diz que as acções reaes duram dez e vinte
annos, refere-se aos direitos reaes sobre immoveis, porquanto
o usocapião da coisa movei consumma-se em tres annos (ut-
tigo 618).
Ha também acções reaes que duram trinta annos. Taes são:
1.°, a hypothecaria, como qualquer outra de garantia real, se fôr
de trinta annos a preseripção da obrigação principal, porque os
direitos reaes de garantia são accessorios; 2,°, a do proprietário
do immovel cujo possuidor não tiver titulo e bôa (art. 550)-
DOS PRAZOS DA PRESCRIPÇÃO 457

2 a. — A Constituição de 1934, art. 125, reduziu o prazo do


usocapião para dez annos, quando o occupante de um terreno de
10 hectares, no máximo, fôr brasileiro, nelle morar e o tornar
productivo, desde que não haja opposição, nem reconhecimento
de direito alheio. A vigente, art. 148, manteve o mesmo dis-
positivo.
3. — Em nenhuma parte do Codigo se diz que a contestação
da lide perpetuará as acções. E, como é effeito da condificação e
conseqüência directa do art. 1.807, a revogação do direito civil
anterior, relativamente ás matérias reguladas pelo Codigo, deve
entender-se que o effeito da contestação da lide, revogadas as
Ord., liv. 3, tit. 9, pr., tit. 18, § 12, é, apenas, interruptivo..
3 a. — No direito anterior nenhuma duvida podia haver
sobre a perpetuação da acção como effeito da lide contestada,
segundo se vê da Theoria geral do direito, § 86, II, com apoio
na legislação e nas autoridades, e abundantemente demonstrou
Pkdro Lbssa, em brilhante voto vencido, contestando a opinião
por demais absoluta de Azevedo Marques. Os accórdãos do Su-
premo Tribunal, em que se vê affirmado o principio da per-
petuação da acção em conseqüência da contestação da lide, refe-
rem-se a casos anteriores á promulgação do Codigo Civil.
Leiam-se a respeito: o citado voto de Pedro Lessa, na Re-
vista Jurídica, vol. XVIII; J. Mendes, Direito Judiciário, p. 151;
Azevedo Marques, na Revista Jurídica, vol. XIV; Whitaker,
Terras, § 48, n. 2.
#
4. — O prazo legal estabelecido para a extincção das acções
reaes é de dez annos entre presentes, isto é, entre aquelles que
habitam o mesmo municipio, e de vinte annos, se o prescribente
mora em municipio differente do em que reside o titular do
direito. O Codigo, art. 551, paragrapho único, assim dispondo,
manteve o direito anterior, com uma ligeira modificação. A
Ord., 4, 3, referia-se a comarcas, divisão judiciaria, e o Codigo
preferiu a divisão administrativa dos municípios.
5. — Em relação ás prescripções iniciadas antes de entrar
em vigor o Codigo Civil, observem-se as regras seguintes;
1.a Se a lei nova estabelece prazo mais longo, do que a
antiga, prevalece o praso mais longo, contado do momento em
que a prescripção começou a correr.
2.a Se o prazo da lei nova é mais curto, cumpre distinguir:
a) Se o tempo, quê falta para consummar-se a prescripção, é
menor do que o prazo estabelecido pela lei nova, a prescripção
458 CODIGO CIVIL

se consumma de accôrdo com o prazo da lei anterior. &) Se o


tempo, que falta para se consummar a prescripção pela lei an-
terior, excede ao fixado pela nova, prevalece o desta ultima,
contado do dia em que ella entrou em vigor.
Estas regras racionaes, que se fundam no principio de que
a prescripção iniciada não constitue direito adquirido, e que, por
outro lado, attendem á equidade, estão de accôrdo com os ensina-
mentos de Gabba, Theoria ãella retroatività delle leggi, S." ed.,
ns. 374 e 375. Porchat, Da retroactiviãaãe das leis, n. 43, apoia
a primeira regra, mas não faz a distincção estabelecida na se-
gunda, salvo quando é brevíssimo o tempo, que faltar para que
se complete a prescripção segundo a lei antiga, caso em que apre-
valecerá o prazo desta. S. Vampré, Coãigo Civil hrasileiro anno-
tado, no art. 167, n. 3, adopta a doutrina de Porchat. Espinola,
porém, faz a distincção da segunda regra, de accôrdo com o ar-
tigo 169 da lei allemã de introducção, que estatue; "Se o prazo da
prescripção segundo o Codigo Civil fôr mais curto do que o da
legislação anterior, conta-se o prazo mais curto, a partir do dia
em que o Codigo entrou em vigor. Se, porém, o prazo mais longo
determinado pela legislação anterior expirar antes de esgotado
o mais curto, determinado pelo Codigo Civil, a prescripção se
consummará com o prazo mais longq {Breves annotações, I, pa-
ginas 482 a 484). Semelhantemente, o Codigo Civil venezuelano,
art. 2,063.
3.a Se a lei nova abolir a prescripção de determinada acção,
será applicada a lei nova (Porchat, op. cit„ n. 43, a; Vamp^ê.
op. eit., a). ' I
4.a Se a lei nova estabelece requisitos para a prescripção,
que a lei antiga não exigia, applica-se a lei nova, mas somente
em relação ao tempo decorrido depois de sua entrada em vigor
(Porchat, Vampré, Espinola, Garra) .
5.a se a lei nova introduz novos modos de interrupção ou
suspensão, será applicada a lei nova (Porchat, Vampré, Es-
pinola) . . v
6. — Levantou-se a questão de saber se os prazos da pre-
scripção podiam ser diminuidos. Respondi affirmativamente pelas
seguintes razões:
a) O encurtamento do prazo da prescripção não contraria
os fins sociaes desta. Por isso mesmo não offende a ordem pu-
blica, em que se baseia. O fim da prescripção, fundamento ra-
cional da sua instituição, é a necessidade de se assegurar a
DOS PKAZOg DA PRESCRIPÇÃO 459

estabilidade do patrimônio, contra infindáveis reclamações. A


reducção do prazo, longe, de contrariar, favorece a finalidade da
prescripção, concorre para estabilizarem-se, mais promptamente,
as relações jurídicas.
Quando se diz que a prescripção é de ordem publica, tem-se
em mente significar que foi estabelecida por considerações de
ordem social, e não no interesse exclusivo dos indivíduos. Ella,
assim, existe, independentemente da vontade daquelles a quem
possa prejudicar ou favorecer. A lei, que a cria, é rigorosamente
obrigatória. Por essa razão não pode ser renunciada, senão depois
de consummada, porque, então, já entrou, para o patrimônio do
indivíduo, o direito que nella se funda. E todo direito patri-
monial é renunciavel. Mas a lei que impede a renuncia da pre-
scripção o que não quer é que o prazo da prescripção se alongue
indefinidamente. Ha de ser o que a lei estabeleça. Encurtar,
porõm, o prazo é diminuir a resistência do direito, a que a
prescripção se oppõe; é, portanto, robustecel-a, dar-lhe maior
energia. E', precisamente, o opposto da renuncia, que a inutiliza.
E a lei apenas diz que a prescripção não se renuncia antes de
consumada (art. 161). Não diz que os seus prazos se não en-
curtam .
Esse encurtamento de prazo da prescripção tem limites ra-
cionaes. Não pode ser tal que torne ephemera ou inefficiente a
acção.
O Codigo Civil allemão, art. 225, depois de declarar que a
prescripção não pode ser excluída, nem aggravada, permitte que
seja facilitada, e, em particular, encurtados os seus prazos. Os
traductores francezes, do Comitê de legislação entrangeira, jus-
tificam esse dispositivo como fundado no interesse publico. Em
apoio desa solução vejam-se: Kohueb, Lehrhuch, I, § 83; Bau-
dkv-Lacantineeie et Txssier, Be la prescription, n. 96; M. I.
Carvalho de Mendonça, Obrigações, I, n. 424; Carpenter, Manual
do Codigo Civil, IV, n. 389; Mello Rocha, no Jornal do Com-
mercio, ed. de 3 de Setembro de 1926.
Planiol, que lhes é contrario, reconhece, que as cláusulas
restrictivas dos prazos da prescripção se acham consagradas por
antiga jurisprudência, com applauso dos autores modernos
(Traité, II, n. 675).
Demos, pois, como conforme á melhor doutrina, que os
prazos da prescripção podem ser encurtados, mas não augmen-
tados.
460 COMGO CIVIL

7. — O prazo da prescripção da sentença, que poz termo


definitivo á controverzia, ou, melhor, o prazo para o vencedor
requerer a execução da sentença ê de 30 annos. Não se trata
de prescripção de acção e sim de dar execução ao julgado. A
sentença não gera acção, não ha em nosso direito actio judicati.
(Theoria geral cio direito civil, § 87, II, in fine; Carpenter, Ma-
nual do Codigo Civil, IV, n. 31; o mesmo, no Archivo judiciário,
VII, p. 183 e segs.; Dionysio Gama, Manual do advogado, VI,
nota 14 á p. 15; Achilles Beviláqua, Codigo Civil, ao art. 177,
com a jurisprudência ahi citada; Abílio de Carvalho, commen-
tario também ahi citado.

Art. 178. — Prescreve:


§ 1.° Em dez dias contados do casamento,
a acção do marido, para annullar o matrimônio
contraindo com mulher já deflorada (arts. 218,
219, n. IV, e 220).
§ 2.° Em quinze dias, contados da tradição
da coisa, a acção para haver abatimento do preço
da coisa movei, recebida com vicio redhibitorio,
ou para rescindir o contracto e rehaver o preço
pago, mais perdas e damnos.
§ 3.° Em dois mezes, contados do nascimento,
se era presente o marido, a acção para este con-
testar a legitimidade do filho de sua mulher (ar-
tigos 338 e 344).
§ 4.° Em tres mezes;
I. A mesma acção do paragrapho anterior, se
o marido se achava ausente, ou lhe occultaram
o nascimento; contado o prazo do dia da sua
volta á casa conjugai, no primeiro caso, e da data
do conhecimento do facto, no segundo.
II. A acção do pae, tutor ou curador para
annullar o casamento do filho, pupillo ou cura-
telado, contraindo sem o consentimento daquel-
I>OS PRAZOS I>A PRESCRTPÇÃO 461

les, nem o seu supprimento pelo juiz; contado o


prazo do dia, em que tiverem sciencia do casa-
mento (arts. 180, n. III, 183, n. XI, 209 e 213) .
§ 5.° Em seis mezes:
I. A acção do cônjuge coacto para annnllar
o casamento; contado o prazo do dia, em que
cessou a coacção (arts. 183, n. IX, e 209) .
II. A acção para annullar o casamento do in-
capaz de consentir, promovida por este, quando
se torne capaz, por seus representantes legaes,
ou pelos herdeiros; contado o prazo do dia, em
que cessou a incapacidade, no primeiro caso, do
casamento, no segundo, e, no terceiro, da morte
do incapaz, quando esta occorra durante a inca-
pacidade (art. 212).
III. A acção para annullar o casamento da
menor de dezeseis e do menor de dezoito annos;
contado o prazo do dia em que o menor perfez
essa idade, se a acção for por elle movida, e da
data do matrimônio, quando o for por seus re-
presentantes legaes (arts. 213 e 216), ou pelos
parentes designados no art. 190.
IV. A acção para haver o abatimento do
preço da coisa immovel, recebida com vicio redhi-
bitório, ou para rescindir o contracto e haver
o preço pago, mais perdas e damnos; contado o
prazo da tradição da coisa.
V. A acção dos hospedeiros, estalajadeiros ou
fornecedores de viveres destinados ao consumo,
no proprio estabelecimento, pelo preço da hos-
pedagem, ou dos alimentos fornecidos; contado
o prazo do ultimo pagamento.
§ 6.° Em um anno:
462 CODTGO CIVIL

I. A acção do doador para revogar a doação;


contado o prazo do dia, em que souber do facto,
que o autoriza a revogal-a (arts. 1.181 a 1.187) .
II. A acção do segurado contra o segurador
e vice-versa, se o facto, que a autoriza, se veri-
ficar no paiz; contado o prazo do dia, em que o
interessado tiver conhecimento do mesmo facto
(art. 178, § 7.°, n. Y).
III. A acção do filho, para desobrigar e rei-
vindicar os immoveis de sua propriedade, alie-
nados ou gravados pelo pae, fóra dos casos ex-
pressamente legaes; contado o prazo do dia, em
que chegar á maioridade (arts 386 e 388, n. I).
IV. A acção dos herdeiros do filho, no caso
do numero anterior, contando-se o prazo do dia
do fallecimento, se o filho morreu menor, e, bem
assim, a de seu representante legal, se o pae de-
caiu do pátrio poder, correndo a prazo da data,
em que houver decaido (arts. 386 e 388, ns. II
e III).
Y. A acção de nullidade da partilha; contado
o prazo da data, em que a sentença da partilha
passou em julgado (art. 1.805).
YI. A acção dos professores, mestres ou re-
petidores de sciencia, literatura ou arte, pelas
lições, que derem, pagaveis por períodos não ex-
cedentes a um mez; contado o prazo do termo
de cada período vencido.
YII. A acção dos donos de casa de pensão,
educação ou ensino, pelas prestações de seus pen-
sionistas, alumnos ou aprendizes; contado o pra-
zo do vencimento de cada uma.
YIII. A acção dos tabelliães e outros offi-
ciaes do juizo, porteiros do auditório e escrivães,
pelas custas dos actos, que praticarem; contado
nos PRAZOS PA PRKSORTPOÃO 463

o prazo da data daquelles por que ellas sè de-


verem .
IX. A acção dos médicos, cirurgiões, ou
pharmaceuticos, por suas visitas, operações ou
medicamentos; contado o prazo da data do ul-
timo serviço prestado.
X. A acção dos advogados, solicitadores,
curadores, peritos, e procuradores judiciaes,
para o pagamento dos seus honorários; contado
o prazo do vencimento do contracto, da decisão
final do processo ou da revogação do mandato,
XI. A acção do proprietário do prédio des-
falcado, contra o do prédio augmentado pela
avulsão, nos termos do art. 541; contado o prazo
do dia, em que ella incorreu.
XII. A acção dos herdeiros do filho, para
prova da legitimidade da filiação; contado o prazo
da data do seu fallecimento, se houver morrido
ainda menor ou incapaz.
XIII. A acção do adoptado para se desligar
da adopção realizada quando ele era menor ou
se achava interdicto; contado o prazo do dia, em
que cessar a menoridade ou a interdicção.
§ 7.° Em dois annos:
I. A acção do cônjuge, para annullar o. casa-
mento, nos casos do art. 219, ns. I, II e III; con-
tado o prazo da data da celebração do casamento;
e da data da execução deste Codigo, para os ca-
samentos anteriormente celebrados.
II. A acção dos credores, por divida inferior
a cem mil réis, salvo as comtempladas nos ns. VI
a YIII do paragrapho anterior; contado o prazo
do vencimento respectivo, se estiver prefixado,
e, no caso contrario, do dia, em que foi contra-
hida.
464 COTíIGO CIVIL

III. A acção dos professores, mestres e re-


petidores de sciencia, literatura ou arte, cujos
honorários sejam estipulados em prestações
correspondentes a periodos maiores de um mez;
contado o prazo do vencimento da ultima pres-
tação .
IV. A acção dos engenheiros, architectos,
agrimensores e estereometras, por seus honorá-
rios; contado o prazo do termo dos seus tra-
balhos .
Y. A acção do segurado contra o segurador,
e vice-versa, se o facto, que a autoriza, se veri-
ficar fóra do Brasil; contado o prazo do dia, em
que desse facto soube o interessado (art. 178,
§ 6.°, n. II) .
VI. A acção do cônjuge, ou seus herdeiros
necessários, para annullar a doação, feita pelo
cônjuge adúltero ao seu cúmplice; contado o
prazo da dissolução da sociedade conjugai (ar-
tigo 1.177).
YII. A acção do marido ou seus herdeiros,
para annullar actos da mulher, praticados sem o
seu consentimento ou sem o suj^primento do juiz;
contado o prazo do dia em que se dissolver a so-
ciedade conjugai (arts. 252 e 315).
§ 8.° Em tres annos:
A acção do vendedor, para resgatar o im-
movel vendido; contado o prazo da data da es-
criptura, quando se não fixou, no contracto, pra-
zo menor (art. 1.141).
§ 9.° Em quatro annos:
I. Contados da dissolução da sociedade con-
jugai, a acção da mulher para:
a) desobrigar ou reivindicar os immoveis do
casal, quando o marido os gravou, ou alienou sem
DOS PRAZOS DA PRESCRIPÇÃO 465

outorga uxoria ou supprimento delia pelo juiz


(arts. 235 e 237);
h) annullar as fianças prestadas e as doações
feitas pelo marido fóra dos casos legaes (artigos
235, ns. III e IV, e 236) ;
c) rehaver do marido o dóte (art. 300, ou os
outros bens seus confiados á administração ma-
rital (arts. 233, n. II, 263, ns. YII e IX, 269,
289, n. I, 300 e 311 n. III) .
II. A acção dos herdeiros da mulher, nos
casos das letras a, 1) q c, do numero anterior,
quando ella falleceu, sem propor a que ali se
lhe assegura; contado o prazo da data do falle-
cimento (arts. 239, 295, n. I, 300 e 311, n. III) .
III. A acção da mulher, ou seus herdeiros,
para oesobrigar ou reivindicar os bens dotaes
alienados ou gravados pelo marido; contado o
prazo da dissolução da sociedade conjugai (ar-
tigos 293 a 296).
JV. A acção do interessado em pleitear a ex-
clusão do herdeiro (arts. 1.595 e 1.596, ou para
provar a causa da sua desherdação (arts. 1.741
a 1.745), e, bem assim, a acção do desherdado
ha1 a a impugnar; contado o prazo da abertura
da successão.
y. A acção de annullar ou rescindir os con-
tractos, para a qual se não tenha estabelecido
menor prazo; contado este;
a) no caso de coacção, do dia, em que ella
cessar;
b) no de erro, dólo, simulação ou fraude, do
dia, em que se realizar o acto ou o contracto ;
c) quanto aos actos dos incapazes, do dia,
em que cessar a incapacidade.
Codigo Civil — l.o vol.
466 CODIGO C1VII.

VI. A acção do filho natural para impugnar


o reconhecimento; contado o prazo do dia, em
que attingir a maioridade ou se emancipar.
§ 10. Em cinco annos:
I. As prestações de pensões alimenticias.
II. As prestações de rendas temporárias
ou yitalicias.
III. Os juros, ou quaesquer outras presta-
ções accessorias, pagaveis annualmente, ou em
períodos mais curtos.
IV. Os alugueres de prédios rústicos ou ur-
banos . . .
V. A acção dos serviçaes, operários e ^orna-
leiros, pelo pagamento dos seus salarios.
VI. As dividas passivas da União, dos Es-
tados e dos Municipios, e, bem assim, toda e qual-
quer acção contra a Fazenda Federal, Estadual
ou Municipal; devendo o prazo da prescripção
correr da data do acto ou facto, do qual se ori-
ginar a mesma acção.
Os prazos dos números anteriores serão con-
tados do dia, em que cada prestação, juro, alu-
guer ou salario for exigivel,
VII. A acção civil por offensa a direitos de
autor; contado o prazo da data da contraí acção.
VIII. O direito de propor acção rescisória.
IX. A acção por offensa ou damno causado
ao direito de propriedade; contado o prazo da
data, em que se deu a mesma offensa ou damno.

Direito anterior — O Codigo alterou vários prazos de pre-


scripção, predominando a tendência para encuital-os, como se
verá, em seguida. Confrontem-se as disposições deste artigo com
os arts. 970-981 do Direito civil de Caroos de Carvalho, com o
§ 88 da Theoria geral e com o que se lê em Almeida Oliveira,
Prescripção, ps. 401-420.
DOS PRAZOS T)A PRESOETPÇÃO 467

Legislação comparada — Sobre as varias prescripções' de


curto prazo, vejam-se: Codigo Çivil francez, arts. 2.271 a 2.279;
italiano, 2.138-2.146; allemão, 196 e 197; portuguez, 538-543;
suisso das obrigações (revisto), art. 128; argentino, 4.023-4.043;
chileno, 2.521-2.523; uruguayo, 1.221-1.225; boliviano, 1.567 e 1.568;
mexicano, 1.161-1.163; peruano, 1.168; austríaco, 1.487-1.490; hes-
panhol, 1.965-1.972; japonez, 169-174; e venezuelano, 2.055-2.061.
Projectos — Felicioi dos Santos, arts. 1.358-1.368; Coelho
Rodrigues, 254-266; Beviláqua, 202-207; Revisto, 211-216..
Bibllographia — Theoria geral, §§ 88-90; Almeida Oliveira,
Prescripção ps. 415-456; Martxnho Garcez, Theoria geral, § 198;
M. I. Carvalho de Mendonça, I, n. 437; Luiz Cakpentek, Manual
do Godigo Civil, IV, ns. 193 e segs.; Numa do Vaile, Da pres-
cripção extinctiva, § 6.°; Planiol, Traité, II, ns. 663-674; Huc,
Gommentaires, XIV, ns. 463-502; Laurbnt, Cours, IV, ns. 698-708;
0\0.de Civil allemanã, publié par le Comitê de lég, étrangère, notas
aos arts. 196 e 107; Dernburg, Pand., I, § 147; Kohler, Lehrhuch,
I, §§ 92-95; Leon Gomes, Prescriptiones, ps. 105-107; Baudry-La-
cantinerie et Tissier, Prescription, ns. 626 e segs.; Ferreira
Coelho, op. cit., p. 274 e segs.; Cunha Gonçalves, Direito civil,
III, ns. 430 e segs.

Observações — 1. — Note-se em primeiro logar, que as cláu-


sulas dos §§ 1.°, 3.", 4.°, 5.°, ns. I, II e III, e 7.°, n. I, regulam,
antes, prazos extinctivos do que prescripções de curto lapso,
razão por que não se acham impedidas de correr entre cônjuges
e contra incapazes. Esta desclassificação desfaz embaraços, que
se poderiam apresentar na vida civil.
1 — O dec. n. 13 de 29 de Janeiro de 1935, manda contai-
os prazos das prescripões do art. 178, §§ Io e 7o, n. I, da data
em que o cônjuge enganado tenha tido conhecimento do facto,
que constiíue erro essencial.
2. — §§ 6o, II, e 7.°, V. — Acções do segurado contra o segu-
rador e vice-versa. Nestes dois dispositivos, ha remissão re-
ciproca; o primeiro indica o segundo, e este o primeiro. Resalta
a intenção de pôr o applicador da lei de sobre-aviso, quanto á
differença do prazo da prescripção, segundo se verifica, no paiz
ou no estrangeiro, o facto, de que resulta a acção. Convém, en-
tretanto, esclarecer o pensamento destes preceitos, com a leitura
468 OODIGO CIVIL

dos arts. 1.432 e seguintes, que regulam a matéria de se-


guro. Da leitura desses artigos se verá que toda acção fundada
no contrato de seguro prescreve em um anno, se as partes
estiverem no Brasil, e em território brasileiro se verificar o
fato, que a autoriza, e em dois annos, se o facto se verificar
fora do Brasil.
3. — § 6o, n. IX. — Acção dos médicos, cirurgiões ou ptiarma^
ceuticos. Prescreve em um anno, não admittindo o Codigo Civil
distincção entre acção ordinária e acção de rito mais breve (ac-
córdão n. 2.381, do Supremo Tribunal Federal, de 13 de Abril
de 1918, publicado no Diário Official de 2 de Julho do mesmo
anno).
4. — Não pode haver duvida sobre a extensão, que se deve
dar ás palavras empregadas pelo Codigo neste dispositivo, de
modo a que nellas se comprehendem os veterinários, os den-
tistas e as parteiras, sejam ou não diplomadas as pessoas que
exercerem os serviços profissionaes, de que aqui se trata.
5. — § 6.°, n. XI — Acção do proprietário do prédio desfal-
cado contra o prédio augmentaão pela avulsão. O pedido da
acção referida nesta clausula é alternativo, segundo determina o
art. 541, qüe dá opção ao réo para acquiescer na remoção da
terra, que se veio juntar ao seu prédio, ou para indemnizar o
reclamante. Decorrido um anno, declara o art. 542, a juncção
de terra ficará, definitivamente, incorporada ao prédio onde se
acha, perdendo o antigo dono o direito de reivindical-a ou de ser
indemnizado. O caso é de prescripção e não de prazo extinctivo
(Carpextbh, Manual do Codigo Civil, IV n. 272).
6. — Não se mencionou, neste paragrapho, a acção da mi-
nbria vencida na modificação dos estatutos das fundações, para
promover-lhe a nullidade. Segundo o art. 29, essa acção prescreve
em um anno.
7. — § 7o, n. I — Acção do cônjuge para annullar o casa-
mento nos casos do art. 219, I, II, e III (erro sobre a pessoa do
outro cônjuge). Reproduzindo o art. 73 do dec. n. 181, de 24 de
Janeiro de 1890, e mandando contar o prazo da acção, da data
da sua execução, para os casamentos anteriormente celebrados,
permittiu o Codigo interpretações, que, embora abertamente cho-
cantes da moral e da ordem jurídica, encontraram apparente
apoio na letra da lei. Extingue-se a acção do cônjuge, nos casos
de erro, em dois annos, contado o prazo da data da celebração
do casamento; e da data da execução do Codigo, para os casa-
DOS PRAZOS DA PBBSCRIPÇÂO 469
mentos anteriormente celedraãos. Houve quem admittisse que os
casamentos celebrados dez ou vinte annos antes pudessem ser
annullados com fundamento neste dispositivo, como se o respeito
ao direito adquirido não fosse uma das bases angulares da nossa
organização jurídica.
A interpretação do accrescimo assignalado é a seguinte:
Entrando o Codigo em vigor, submetteu ao seu irqperio os
casamentos ainda susceptíveis de annullação por erro na pessoa,
e estatuiu que a acção para os annullar, ainda não extincta,
vigorasse por mais dois annos contados da data, em que entrasse
em vigor o Codigo.
E a intelligencia racional da lei, não podendo o interprete
eliminar o corpo estranho que nella se incrustou.
8- § 10, n. 'YI. Manteve o Codigo Civil o privilegio
da União, _ quanto á prescripção quinquennaria de suas dividas
passivas, e concedeu-a, também, aos Estados e aos Municípios,
que não gozavam desse beneficio.!
A i azão não justifica semelhante privilegio, e, muito menos,
a imprescriptibilidade das dividas activas, que vemos resultar
dos termos do art. 66, III, combinados com os do art. 67. B' certo
que o art. 163 declara as pessoas jurídicas sujeitas ao effeito
da prescripção, mas essa regra não se estende ás pessoas jurí-
dicas de direito publico interno. O systema que prevaleceu no
Codigo Civil não brilha pela clareza.
8 a. O dec. n. 5.761, de 25 de Junho de 1930, regulou a
pi escripção qüinqüenal, declarando que não corre durante a de-
mora, que, no estudo, no reconhecimento, na liquidação e no
pagamento da divida tiverem as repartições, ou funccionarios,
que delia se occuparem. O dec. n. 20.910, reafirmou esse preceito
e declarou mais: que a suspensão da prescripção, neste caso se
verificará pela entrada do requerimento do titular do direito,
ou do credor nos livros ou protocollos das repartições publicas;
que o direito á reclamação administrativa, que não tiver prazo
fixado em lei, prescreve em um anno, da data ao acto ou facto do
qual a mesma se originar; que a citação inicial não interrompa
a prescripção, quando, por qualquer motivo, o processo tenha
sido annullado; que a prescripção somente uma vez pode ser
itnerrompida; e que a prescripção interrompida recomeça a cor-
r
er pela metade do prazo.
9. — Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Prescreve
em cinco annos o direito de accionar a Fazenda para pedir a
470 OOWGO CIVIL

annullação do acto, que demittir um funccionario. (Accórdão nu-


mero 1.943, de 1 de Junho de 1918).
— A prescripção qüinqüenal, de que goza a Fazenda Fe-
deral, applica-se a todo e qualquer direito e acção, que alguém
tenha contra a dita Fazenda, desde que a pedido seja meramente
pecunuario. (Accórdão n. 2.563, de 2 de Abril de 1919. Diário
Official de 27 de Junho de 1919).
— A prescripgão qüinqüenal, de que goza a Fazenda Fe-
deral, applica-se a todo e qualquer direito e acção, que alguém
tenha contra a dita Fazenda, e o prazo da prescripção corre da
data do acto ou facto do qual se originar o mesmo direito ou
acção, salvo a interrupção pelos meios legaes. (Acórdão n. 19,
de 15 de Setembro de 1917. Diário Official de 6 de Fevereiro
de 1918).
— Todo e qualquer direito, que alguém allegue, como credor
da Fazenda Nacional, prescreve em cinco annos, a contar do
acto ou facto, de que se originar o direito pretendido, salvo in-
terrupção pelos motivos regulares. (Accórdão n. 2.262, de 22 de
Janeiro de 1919. Diário Official de 27 de Junho de 1919).
— A prescripção de cinco annos não se applica á acção
judicial, como meio de obter o reconhecimento de direitos do
funccionario lesado por acto da administracção federal. (Accórdão
n. 2.784, de 24 de Setembro de 1919. Diário Official de 10 de
Setembro de 1920).
— Prescrevem no prazo de cinco annos as dividas passivas
da Fazenda Nacional, e esta prescripção comprehende o direito,
que alguém pretenda ter a ser declarado credor do Estado por
qualquer titulo que seja. (Accórdão n. 2.112, de 10 de Dezembro
de 1919. Diário Official de 20 de Junho de 1920).

Art. 179. — Os casos de prescripção não pre-


vistos neste Codigo serão regulados, quanto ao
prazo, pelo art. 177,

Direito anterior — Regra seguida.


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 267; Beviláqua, 208; Re-
visto, 217. Estes Projectos, não tendo reunido, em um só artigo,
as prescripções de curto prazo, advertiam que, além dos casos
mencionados na Parte Geral, outros continha a Parte Especial.
DOS PEAZOS DA PBESCSIPÇÃO 471
Diverso é o pensamento deste artigo, que estabelece uma regra
suppletiva geral.

Observações — 1. — O Senado havia mandado eliminar este


artigo por dispensável. A Gamara não julgou justificável a supres-
são {Relatório de 1913, ps. 15-17). O Senado insistiu, mas a Gamara
manteve o seu voto, pelas razões, que apresentou Justiniajío de
Serpa. Ponderou, em resumo, o representante do Pará que o ar-
tigo previa o caso, em que a lei não estabelesse um lapso para
a pi escripçâo do direito, a que désse forma. No silencio da lei,
forçoso seria prover, e dois systemas surgiam: ou a acção pre-
sci everia no prazo ordinário, ou no prazo de outra acção analoga.
Esta decisão por analogia afigurava-se inconveniente, por ar-
biti ai ia, podendo dar logar a surpresas. Preferível seria remetter
todos os casos não previstos á regra geral, como era tradição
do direito pátrio. Mas essa tradição poderia não prevalecer no
momento, em que se remodelava todo o direito civil; por isso o
pieceito do artigo tinha incontestável utilidade. Vejam-se o seu
Pa) ece? em
dvulso, e a transcripção delle no relatório final
esciipto, em nome da Commissâo da Gamara, pelo Sr. Mello
Franco, ps. 16-17).
2. O art. 178 não exhauriu todos os prazos de prescripção
estabelecidos no Codigo Civil. Na TTieoria geral do direito civil,
2.a ed., § 88, procurei completar a enumeração desse artigo. Não
foiam contemplados no art. 178 os prazos fixados pelos artigos
1.153, 1.416, 815, 416, 181, 1.584, 1.796, 606, 1.139, 373, 1.229,
576, 208, 1.245.

FIM 1)0 1.° VOLUME


A
I IN D I o e:

PRELIMINARES

I. Necessiãaãe da codificação cio direito civil pátrio.


1. As codificações apresentam-se, na historia, como phase
normal da evolução do direito. 2. No Brasil, já a Consti-
tituição de 1824 promettia um Codigo Civil. 3. Defici-
ências das Ordenações do reino 9 11
II. Tentativas de Codificação do direito civil pátrio:
a) Primeiros projectos. 4. Carvalho Moreira demonstra,
perante o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros,
que é necessário remodelar a nossa legislação. 5. Eusef
mo de Queiroz propõe que se adopte, como Codigo Civil,
o Digesto portuguez. 6. A consolidação das leis civis por
Teixeira de Freitas. 7. O primeiro Projecto de Codigo Ci-
vil. Commissão revisora. Vhlbz Sarsfield. 8. Juizo sobre
o Esboço de Teixeira de Freitas. Distribuição de matérias
poi elle adoptada. 9. Recisão do contracto de Teixeira de
Freitas. O projecto de Nabuco de Araújo. 10. Os Aponta-
mentos de Fblicio dos Santos. 11. Commissão revisora
desse trabalho. 12. Commissão organizadora nomeada
em 1889. 13. O Projecto de Coelho Rodrigues. Sua clas-
sificação. 14. O Projecto do Visconde de Seabra 11—19
IIÍ. Tentativas de codificação do direito civil pátrio:
k) O projecto, que se converteu no Codigo Civil. 15. Acção
de Campos Salles. 16. Iniciativa de Epitacio Pessoa. 17.
Elaboração do Projecto. 18. Criticas de Ruy Barbosa e
Ilglbz de Souza. 19. Manifestações favoráveis. 20. Pare-
ceres de Duarte de Azevedo e Aquino e Castro. 21. Com-
missão revisora. 22. Modificações introduzidas pela Com-
missão. Debate. 23. Distribuição das matérias. Idéas ge-
ues do Projecto. 24. Algumas idéas que foram mantidas 20—29
IV. Criticas ao Projecto. 25. Criticas de Torres Netto
e Amancio de Carvalho. 26. Opiniões de escriptores es-
474 CODIGO CIVIL
PACS.
tvangeiros. 27. Exposição de Epitacio Pessoa, Ministro
da Justiça. 28. Mensagem do Presidente Campos Salles.
Critica de Coelho Rodrigues. 29. Exame pelo Instituto
da Ordem dos Advogados. 30. Estudos de Nina Rodri-
gues. 31. As Faculdades de direito e os tribunaes do paiz.
32. A imprensa. Medeiros e Albuquerque 29—36
V. A discussão do Projecto na Gamara, em 1901 e
1902. 33. Commissão especial da Camara. 34. Discussão
sobre matérias do direito internacional privado e sobre
o divorcio. 35. Continuação do debate. 36. Parecer geral
de Svlvio Romero. 37. Apresentação do Projecto á Ca
mara. 38. Debate no plenário 36—43
VI. Discussão no Senado. 39. Parecer do Senador
Ruv Barbosa. 40. Respostas. 41. Anísio de Abreu. 42
Contestações do parecer. 43. Delongas. Proposta da Ca
mara dos Deputados de S. Paulo. Outras reclamações
44. Nova Commissão do Senado. Proposta do Senador
João Luiz Alves. 45. Tentativa de unificação do direito
privado. Parecer da Commissão do Senado. 46. Discussão
na imprensa. 47. O homestead. A liberdade de testar.
Esforço bem intencionado dos Senadores 43—51
VII. Volta do Projecto á Gamara. 48. Redacção final
das emendas do Senado. 49. Sessão extraordinária do
Congresso. 50. Commissão especial da Camara. 51. A ques-
tão da lei nacional em direito internacional privado. Dis-
cussão na imprensa. 52. Suspensão dos trabalhos 52--55
VIII. Últimos debates. Publicações do Godigo. 53, A
discussão é reeucetada na Camara. 54. Volta ao Senado.
Parecer de Epitacio Pessôa. 55. Debate no plenário do
Senado. 56. O Projecto novamente na Camara. 57. Pare-
ceres de Mello Franco, Justiniano de SeRpa e Prudente
de Moraes. 58. Apresentação do Projecto á Camara. 59.
Approvaçâo do Projecto. Discursos dos Srs. Astolpho
Dutra e Serpa. 60. Congratulações do Senado. 61. Sanc-
ção e publicação 55—59
IX. Griticas e louvores ao Godigo. — Impressão no
estrangeiro. — Gorrecções officiaes pelo Congresso. — Bi-
bliograplna. 61-a. Opiniões favoráveis de S. Vampré e
Paulo de Lacerda. Censuras de Lacerda de Almeida.
61-b. Sympathia dos juristas argentinos, Martinez Paz,
Alfredo Colmo, Prayones, Jesus Paz, Lafaille. Apologia
do escriptor paraguayo Luiz Gasperi, 61-c. Justiniano
ÍNDICE 475
PAGS.
Sehpa inicia, na Gamara, a correcção dos defeitos de fôr-
ma que o Codigo apresentava. Epitacio Pesbôa dá maior
intensidade a esse movimento no Senado, 61-d. Biblio-
graphia do Codigo Civil, até 1919 59—65
X. Direito publico e privado. Unidade do direito pri-
vado. 62. Importância da distincção do Direito em pu-
blico e privado. 63,. Opiniões diversas. 64. Doutrina pre-
ferida. 65. Divisões do direito privado. 66. Direito civil
e commercial. Os unionistas. 67. A autoridade de Tei-
xeira de Freitas. Os dualistas. 68. As legislações. 69.
Fixame directo da questão. 70. Caracter proprio das re-
lações jurídicas creadas pelo commercio. 71. Caracter
particular do direito civil. 73. Qualidades próprias do
direito commercial 65—79
XI. Direito civil e processo civil. Theoria das acções.
Provas. 74. Direito material e direito normal. 75. Theo-
ria das acções. 76. Não deve essa theoria fazer parte do
Codigo Civil. 77. Das provas 79—84
XII. Classificação das matérias do direito civil. 78.
Valor da classificação das leis. 79. Classificações diver-
sas das matérias do direito civil. 80. Ordem em que de-
vem ser collocadas as grandes categorias de direito civil 84—89
CODIGO CIVIL
Introducção 91—163
PARTE GERAL
Disposição preliminar 165
LIVRO I
Das Pessoas
TITULO I
Divisão das Pessoa»
Capitulo I. Das pessoas naturaes 167
Capitulo II. Das pessoas jurídicas 207
Secção 1. Disposições geraes 207
Secção II. Do registro civil das pessoas jurídica* 220
Secção III. Das sociedades ou associações civis.. 224
Secção IV. Das fundações 237
TITULO II
DÓ Domicilio Civil
Do domicilio civil 246—263
CODIGO CIVIL
PAGS.
LIVRO II
Dos Bens
TITULO ÚNICO
Das Differbntes Classes de Bens
Capitulo I. Dos bens considerados em si mesmo 265
Secção I. Dos bens immoveis 265
Secção 11. Dos bens moveis 274
Secção III. Das coisas fungíveis e consumiveis.. 279
Secção IV. Das coisas divisiveis e indivisíveis.. 282
Secção V. Das coisas singulares e collectivas . 284
Capitulo II Dos bens reciprocamente considerados .... 289
Capitulo III. Dos bens públicos e particulares 297
Capitulo IV. Das coisas que estão fóra do commercio.. 304
Capitulo V. Do Bem de família 306
LIVRO III
Dos Faotos Jurídicos
Disposições preliminares 315
TITULO I
Dos Acros Jurídicos
Capitulo I. Disposições geraes 324
Capitulo II. Dos defeitos dos actos jurídicos 331
Secção I. Do erro e da ignorância 331
Secção II. Do dólo 338
Secção III. Da coacção 344
Secção IV. Da simulação 350
Secção V. Da fraude contra credores 355
Capitulo III. Das modalidades dos actos juridicos 365
Capitulo IV. Da fôrma dos actos juridicos e da sua prova 383
Capitulo V. Das nullidades 407
TITULO II
Dos actos illicitos 423
TITULO III
Da Prescripção
Capitulo I. Disposições geraes 432
Capitulo II. Das causas que impedem ou suspendem a
prescripção 443
Capitulo III. Das causas que interrompem a prescripção 448
Capitulo IV. Dos prazos da prescripção 454
N. 3.177 — Oíficinas Graphicas da Livraria Francisco Alves
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