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CODIGO CIVIL
DOS

ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

XI
OBRAS DO AUTOR

Estudos Jupidicos (Historia, Philosophia e Critica).


1 vol. in-S.0 de 302 pags. br. $ , ene $
Codigo Civil commentado:
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CONSELHO REGIONAL 00 TRABALHO
1Í REGIÀO

CODIOO CIVIL

DOS

ESTADOS ÜN1D0S DO BRASIL

COMMENT A DO

POR

Clovis Beviláqua

SEXTA EDIÇÃO

VOLUME II

LIVRARIA FRANCISCO ALVES


166, Rua do Ouvidor, 166 — Rio db Janeiro
s. PAULO beixo horizonte
292, Rua Libero Badaró Rua Rio de Janeiro, 655
1941
. i
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N? 1107
PARTE ESPECIAL

ILIVIFLO X

Do direito de família

TITULO I

Do casamento •
:
CAPÍTULO I -

Das formalidades preliminares

Art. 180 — A habilitação para casamento faz-


se perante o official do registro civil, apresen-
tando-se os seguintes documentos:
I. Certidão de edade ou prova equivalente.
II. Declaração do estado, do domicilio e da
residência actual dos contrahentes e de seus
paes, se forem conhecidos.
III. Autorização das pessoas, sob cuja de-
pendência legal estiverem, ou acto judicial, que
a supra (art. 183, n. XI, 188 e 196 ).
IV. Declaração de duas testemunhas maio-
res, parentes ou estranhos, que attestem conhe-
cel-os, e affirmem não existir impedimento, que
os inhiba de casar.
Y. Certidão de obito do cônjuge fallecido ou
da annullação do casamento anterior.
6 CODIGO CIVXL

Paragrapho único. Se algum dos contrahen-


tes houver residido a maior parte do ultimo anuo
em outro Estado, apresentará prova de que o
deixou, sem impedimento para casar, ou de que
cessou o existente.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro


de 1890, arts. 1.° e 5.°).
Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, art. 63, e
70-73, e leis de 17 de Agosto de 1897 e 21 de Junho de 1907; ita-
liano, 70, 74 e 79-81; suisso, 105-107; hespanhol, 86; portuguez,
1.075; lei argentina de 2 de Novembro de 1888, arts. 17-21; Co-
digo Civil uruguayo, 92, na nova edição (1914); venezuelano, 90
e segs.; austríaco, 70; lei chilena de 10 de Janeiro de 1884, 9-12;
lei boliviana de 11 de Outubro de 1911, art. 3.°; mexicano, 97 e 98;
Einfuerungsgesetz, art. 46. Na Bélgica, as formalidades, estabele-
cidas pelos artigos aqui citados do Codigo Civil francez, foram
modificadas pela lei de 31 de Dezembro de 1891. Em direito ro-
mano, eram desconhecidas estas formalidades preliminares
Projectos — Esboço, art. 1.283, 1.287 e 1.288; Felicio dos
Santos, 643-645; Coelho Rodrigues, 1.842 e 1.846; Beviláqua, 211
e 2115; Revisto, 219 e 223.
Bibliographia — Direito da família, 3.a ed., § 17; Ludgeko
Coelhoi, Casamento civil, pags. 11-13; João AKRtn>A, Do casa-
mento, ns. 32-34; Pontes de Miranda, Direito de família, § 24;
S. Vampré, Manual de direito civil brasileiro, I, § 104; Cândido
de Oliveira. Manual do Codigo Civil, V, §§ 10-17; Almachio Diniz,
Direito da família, §§ 1.° e segs.; Martinho Garcez, Direito da
/amiZia, §§ l.0-3.0; Planiol, Traité, III, n. 155; Huo, Commenía-ire,
I, ns. 341-343, e II, n. 86; Laurent, Cours, I, n. 164; Endemann,
Lehrbuch, II, § 157; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, pagi-
nas 176-178; Ferreira Coelho, Codigo Civil, XII, p. 70 e segs;
Martinho Garcez Filho, Direito de familiai I, p. 55 e segs.

Observações — 1. — Direito da família ê o complexo das


normas, que regulam a celebração do casamento, sua validade
e os effeitos, que delle resultam, as relações pessoaes e econômi-
cas da sociedade conjugai, a dissolução desta, as relações entre
♦ DO DIREITO DE FAMÍLIA 7

paes e filhos, o vinculo do parentesco e os institutos complemen-


tares da tutela e da curatela.
Altos interesses da moral e do bem estar social imprimem
a este complexo de normas um caracter particular, e exigem, do
direito, especial cuidado no estabelecel-as.
Como a base da familia é o casamento, as primeiras disposi-
ções do Codigo, nesta parte, têm por fim estabelecer as forma
lidades, que antecedem a celebração do casamento e a preparam.
2. — Os Projectos de Codigo Civil brasileiro faziam refe-
rencia aos esponsaes, ou mantendo-os, sob a forma atrophiada
de sua ultima phase, ou declarando extincto o instituto, como
faziam os últimos apparecidos. O Codigo nenhuma referencia
lhes faz. Desapparecem, assim, os esponsaes do nosso direito, sem
deixar vestígios. Sobre a noção, a historia e a legislação compa-
rada dos esponsaes, veja-se o Direito ãa familia, §§ 4.° e 5.°. Sobre
a discussão havida na Gamara, ao elaborar-se o Codigo, consul-
tem-se os Trabalhos, II, pag. 93 (Parecer da Faculdade livre de
direito de Minas Geraes), III, pags. 50-53 (Parecer de Amsio de
Abreu) e V, pag. 181.
Ainda recentemente, o direito canonico regulou a matéria
dos esponsaes, pelo Dec. de 2 de Agosto de 1907, promulgado pela
Sagrada Congregação do Concilio, mediante ordem de Pio X
(Annuaire de Lég. étrangère, lois de 1907, pag. 1.176 e segs.).
Veja-se o art. 1.017 do Coãex júris canonici, promulgado por Be-
nedicto XV.,
3. — Certidão de edade ou prova equivalente. A prova da
edade faz-se pela certidão do registro ou, para os nascimentos
anteriores á execução regular do registro civil, dos assentos de
baptismo.. Na ausência dessa prova, o Dec. n. 773, de 20 de Se-
tembro de 1890, offerece os seguintes meios; I. Justificação, de-
pondo duas testemunhas perante qualquer júiz do eivei. II. Titu-
lo ou certidão de que a pessoa, cuja edade se quer provar, foi no-
meada, ou exerce emprego publico, para o qual a lei exija maio-
ridade; matricula, qualificação ou assento official, de que conste
a edade. III. Attestado dos paes ou tutores, não havendo contes-
tação. O art. 143 do Codigo Civil permitte que os ascendentes por
consangüinidade, ou affinidade dêem testemunho, quando se trate
de verificar o nascimento ou o obito dos descendentes. IV. Do-
cumento, que, em direito commum, substitua a certidão de edade.
V. Attestado de qualquer autoridade, que, em razão do officio
tenha perfeito conhecimento da pessoa, não estando esta sob po-
8 CODTGO CTVTL

der ou administração de outra. VI. Exame de peritos nomeados


pelo juiz competente para conhecer da capacidade dos preten-
dentes,
Não ha motivo para que não subsistam estes meios supple-
tivos de prova da edade, na falta de registro ou certidão de
baptismo anterior ao registro. São essas as provas equivalentes
á certidão de edade, que falta.
4. — Declaração ão estado. Estado é o modo de ser da pessoa,
E' o modo de ser physico da pessoa, e nas relações de familia,
que se trata de estabelecer, aqui: se o nubente é maior ou me-
nor; solteiro ou viuvo; se foi casado, mas se annullou o seu casa-
mento; se a sua filiação é legitima ou natural; se tem filljos.
As idéas contidas nos vocábulos domicilio e residência, como
termos jurídicos, já foram explanadas nos arts. 31 a 34 do Codigo
e seus commentarios.
5. — Na impossibilidade de conseguir-se a certidão de obito
do cônjuge fallecido, pôde esta ser supprida por justificação, de-
clarou o aviso do Ministro da Justiça, Campos Salles, de 14 de
Janeiro de 1891. Não ha como repellir sua natural solução, sob
fundamento de que o Codigo Civil revogou, no art. 1.807, a legis-
lação anterior, concernente á matéria de direito civil. A verda-
deira doutrina foi estabelecida por Pontes de Miranda, Direito
de familia, § 24, que encontra apoio na razão e no art. 143 do Co-
digo Civil.

Art. 181 — A' vista desses documentos apre-


sentados pelos pretendentes, ou seus procura-
dores, o official do registro lavrará os proclamas
de casamento, mediante edital, que se affixará,
durante quinze dias, em logar ostensivo do edi-
fício, onde se celebrarem os casamentos, e se
publicará pela imprensa, onde a houver (ar-
tigo 182, paragrapho único).
§ 1. Se, decorrido esse prazo, não appa-
recer quem opponha impedimento, nem lhe
constar algum dos que, de officio, lhe cumpre
declarar, o official do registro certificará, aos
DO DIREITO DE FAMÍLIA 9

pretendentes, que estão habilitados para casar,


dentro nos tres mezes immediatos (art. 192).
§ 2.° Se os nnbentes residirem em diversas
eircumscripções do registro civil, em nma e em
outra se publicarão editaes.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro
de 1890, arts. 2.° a 4.°).
Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, arts. 63,
€4, 66 e 166, e lei de 21 de Junho de 1907; italiano, 70-72 e 75;
suisso, 105-107; portuguez 1.076 e 1.077; austríaco, 70-72; Ein-
fuehrungsgesezt, a,rt. 46, mandando applicar o art. 44 da lei de
6 de Fevereiro de 1875; lei argentina, art. 22; boliviana, de 11
de Outubro de 1911, arts. 8.° e 9.°; Codigo Civil uruguayo, arts. 92
e 93; venezuelano, 92. O espaço de tempo da publicação varia, nas
legislações citadas, entre oito e quinze dias. Algumas, além da pu-
blicação por editaes, referem-se á imprensa, como faz o Codigo
Civil brasileiro.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 646, 647 e 651; Coelho
Rodrigues, 1.843 -1.845; Beviláqua, 212 e 214; Revisto, 220 a 222.

Observação — A publicação dos proclamas tem por fim tor-


nar publico o casamento projectado e verificar se os nubentes
estão em condição de se casar, ou se ha entre elles algum impedi-
mento legal. Decorridos quinze dias depois de affixados os editaes,
nas eircumscripções das residências dos esposos, presume-se que
a divulgação é sufficiente, e que, se não apparece quem opponba
impedimentos, é porque não os ha. A' vista disso, o official do
registro dará certidão de que os pretendentes estão habilitados
a se casar. Mas essa habilitação dura apenas tres mezes, porque,
nesse espaço de tempo, podem occorrer factos, que alterem a si-
tuação dos contrahentes, sob o pqnto de vista de sua capacidade
para o matrimônio, segundo a lei o organiza. O Codigo Civil bia-
sileiro é mais rigoroso do que outras legislações, neste particular.
Pelo Codigo Civil francez, a efficiencia do certificado de habili-
tação nupcial, passado pelo official do registro, dura um anno
(art. 65); o mesmo prazo estabelecem o portuguez (art. 107, § 2. )
e o hespanhol (art. 96, 2.a parte); o italiano, cento e oitenta dias
10 CODTGO CIVIL

(art. 77); o allemão, seis mezes (art. 1.316). o venezuelano, tam-


bém seis mezes (art. 96); a lei argentina, cem dias (arts. 25).
Veja-se, no art. 227, a penalidade imposta ao official que in-
fringir o disposto neste artigo.

Art. 182 — O registro dos editaes far-se-á no


cartorio do official, que os houver publicado,
dando-se delle certidão, a quem pedir.
Paragrapho único. A autoridade compe-
tente, havendo urgência, poderá dispensar-lhes
a publicação, desde que se lhe apresentem os
documentos exigidos no art. 180.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro
de 1890, arts. 6.° e 36).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 63, in
fine, e 169 modificado pela lei de 21 de Junho de 1907; italiano,
78, quanto á matéria do paragrapho único; lei allemã, de 6 de
Fevereiro de 1875, art. 50, quanto ao paragrapho único; lei ar-
gentina, arts. 52-54; Codigo Civil hespanhol, arts. 91-95; suisso,
115. As legislações citadas não são harmônicas, em suas pro-
videncias
Projectos — Felicio dos Santos, art. 650; Coelho Rodrigues,
1.847 e 1.844; Beviláqua, 216 e 217; Revisto, 224 e 225.

Observações — 1. — Ha neste artigo dois assumptos dis-


tinctos, que deviam constituir artigos diferentes; o registro dos
editaes e a dispensa de sua publicação nos casos urgentes.
O registro dos editaes tem' por fim conserval-os, perpetua-
mente, para, a todo tempo, se poder provar que foram,cumpridas
as formalidades preliminares do casamento, dando-se, a quem
pedir, certidão dos proclamas.
2. — A dispensa da publicação dos editaes, nos casos ur-
gentes, pela autoridade, a quem compete a celebração do casa-
mento, é uma providencia muito justa, porque, sem ella, muitas
vezes, se não poderiam realizar casamentos, necessários á lega-
lização de uniões já existentes, ou que se deviam formar, para
DO DIREITO DE FAMÍLIA 11

a constituição de novas familias, e satisfação de legitimas aspi-


rações dos indivíduos.
A urgência pode provir de moléstia grave, que ponha um dos
nubentes em perigo de vida, ou da necessidade, que um tenha
de ausentar-se por motivo de serviço publico, ou por outra razão
egualmente imperiosa. Attendendo ao requerimento das partes,
a autoridade ordenará ao official que, á vista dos documentos
exigidos no art. 180, dê o certificado de habilitação para o casa-
mento.
O Codigo não declarou como se deveria entender a urgência,
deixou ao critério do juiz a apreciação dos casos occorrentes; mas
6 intuitivo que somente circumstancias graves, como as apon-
tadas acima, podem justificar a dispensa de uma formalidade jul-
gada necessária para prova de que os nubentes estão limpos de
impedimentos e em condições de realizar o seu matrimônio.
Veja-se o art. 199 que se relaciona com o paragrapho único
do art: 182.

CAPITULO II

Dos impedimentos

Art. 183 — Não podem casar (arts. 207 e 209) :


I. Os ascendentes com os descendentes, seja
o parentesco legitimo ou illegitimo, natural ou
civil.
II. Os affins em linha recta, seja o vinculo
legitimo ou illegitimo.
III. O adoptante com o cônjuge do adopta-
do e o adoptado com o cônjuge do adoptante
(art. 376).
IV. Os irmãos, legitimos ou illegitimos, ger-
manos ou não, e os collateraes, legitimos ou ille-
gitimos, até o terceiro grão inclusive.
V. O adoptado com o filho superveniente ao
pae ou mãe adoptiva (art. 376).
VI. As pessoas casadas (art. 203).
12 CODIQO CIVIL

VIL O cônjuge adúltero com o seu co-réo,


por tal condemnado.
YIII. O cônjuge sobrevivente com o conde-
mnado como delinqüente no homicidio, ou ten-
tativa de bomicidio, contra o seu consorte.
IX. As pessoas por qualquer motivo coactas
e incapazes de consentir, ou manifestar, de modo
inequivoco, o consentimento.
X. O raptor com a raptada, emquanto esta
não se acbe fóra do seu poder e em logar seguro.
XI. Os sujeitos ao pátrio poder, tutela, ou
curatela, emquanto não obtiverem, ou não Ibes
for supprido o consentimento do pae, tutor, ou
curador (art. 212).
XII. As mulheres menores de dezeseis annos
e os homens menores de dezoito.
XIII. O viuvo ou a viuva, que tiver filho
do cônjuge fallecido, emquanto não fizer inven-
tario dos bens do casal (art. 225), e der partilha
aos herdeiros.
XIY. A viuva ou a mulher, cujo casamento
se desfez por ser nullo, ou ter sido annullado, até
dez mezes depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugai, salvo se, antes
de findo esse prazo, der á luz algum filho.
XY. O tutor ou curador, e os seus descen-
dentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobri-
nhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, em-
quanto não cessar a tutela ou curatela, e não es-
tiverem saldadas as respectivas contas, salvo
permissão paterna ou materna, manifestada em
escripto authentico ou em testamento.
XYI. O juiz, ou escrivão, e seus descen-
dentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobri-
DO DIREITO DE FAMÍLIA 13

nhos, com orphãos ou viuva da circumscripção


territorial, onde um ou outro tiver exerci cio,
salvo licença especial da autoridade judiciaria
superior.
Direito anterior — O mesino, com pequenas differenças.
A edade nupcial foi elevada pelo Codigo. Pelo direito anteiior
era de 14 annos para a mulher e de 16 para o homem (Dec. n. 181,
de 24 de Janeiro de 1890, art. 7.°, § 8."). Também differe, no Co-
digo, a forma dada ao impedimento crimen. Outras divergências,
que são modalidades da mesma idéa, serão apontadas nos com-
mentarios. Ainda, no n. XVI, fala o Codigo de autoridade judi-
ciaria superior, onde o Dec. n. 181 falava de Presidente da Re-
lação. O casamento de tio com sobrinha era peimittido.
Legislação comparada — Ainda que certas disposições se
reproduzam nas diversas, legislações aqui invocadas, ha differen-
ças entre os impedimentos matrimoniaes de umas e de outras
como se vae ver.
I. Inst. 1, 10, § 1.°; D. 23, 2, fr. 53; Cod. 5, 4, 1. 17; Codigo
Civil francez, arts. 161 e 348, in meãio; italiano, 58 e 60; hespa-
nhol, 84, n. 1.° (não faz referencia ao parentesco civil); suisso, 100,
ns. 1 e 3; lei portugueza, de 25 de Dezembro de 1910, art. 4-0' :1--
(o direito civil portuguez não conhece a adopção); Codigo Civil
austríaco, 65; allemão, 1.310, l.a parte, e 1.311; lei argentina,
art. 9.°, 1.° (não ha parentesco civil); lei chilena, art. 5.°, Io (não
ha parentesco civil); Codigo Civil uruguayo, art. 91, l.0; mexi-
cano, 156, III e IV e 157; boliviano, 91 e 97 (não faz refe-
rencia ao parentesco civil); japonez 769; peruano, 142, ns. 1 e
4; venezuelano, 74 e 77. Codigo de direito canonico, 1.076,
§ 1.°, e 1.080. Quanto á adopção, o direito canonico se reporta á
lei civil de cada paiz.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 4.° e 9.°; Felicio dos Santos,
659, 1.° (não contempla a adopção); Coelho Rodrigues. 1.848,
§ 1.°; Beviláqua, 218, 1.°; Revisto, 226, 1.°

II. Legislação comparada — Inst., 1, 10, § 6. , Cod., 5, 4,


1. 17; Codigo Civil francez, art. 161, in fine; italiano, 58; m finej
suisso, 100, 2.°; hespanhol, 84, 1.°; lei portugueza, cit. 4. , 1. ,
Codigo Civil allemão, 1.310, l.a parte, in fine; lei argentina, 9,
3.°; chilena, 5, 1.°; Codigo Civil uruguayo, 91, 4.°; mexicano, 156,

V
14 CODTOO (TTVTL

III; peruano, 142, 2.°; japonez, 770; venezuelano, 74; Codigo de


direito canonico, art. 1.077.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 7.°; Felicio dos Santos, 659,
1.°; Beviláqua, 218, 2.°; Revisto. 226, 2.°.
III. Legislação comparada — Inst., 1. 10, § 1.°. D., 23, 2, fr.
14, pr. e § 1.°; Codigo Civil francez, art. 348, in fine; italiano,
60, 4.a, ai.; suisso, 100, 3.°; hespanhol, 84, 5.°: peruano, 142, 4.°;
japonez, 771; venezuelano, 77.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 9.°; Beviláqua, 218, 3.°; Re-
visto, 226, 3.°.
IV. Legislação comparada — Inst., 1, 10, § 2.°; D. 23, 2,
fr. 17, § 2.° e fr. 39; Cod. 5, 4, 1. 17. e 5, 5, 1. 5; Codigo Civil
francez, arts. 162, 163 e 164 (modificados pela lei de 1.° de Julho
de 1914); italiano, 59; suisso, 100, 1.°; hespanhol, 84, 2.° a 4.°; lei
portugueza cit. 4, 2.° e art. 8.°; austríaco, 65 e 66; allemão, 1.310,
1.a parte, in médio; lei argentina, 9, 2.°; chilena, 5, 2°; Codigo
Civil uruguayo, 91, 5.°; mexicano 156, III, 2.a parte; boliviano,
92; peruano, 142, 4.°; japonez, 769; venezuelano, 75 e 76. O direito
romano, o francez, o italiano, o austríaco e o hespanhol prohibem
o casamento entre os cunhados O inglez, que o prohibia, passou,
ultimamente, a toleral-o (lei de 28 de Agosto de 1907 e 28 de
Julho de 1921, Ann. 1921, pags. 11-13). O Codigo de direito cano-
nico, art. 1.076, § 2.°; prohibe o casamento na linha collateral,
até o terceiro grau, contado por direito canonico.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 5.? e 6.°; Felicio dos Santos,
659, 2.°; Beviláqua, 218, 4.°; Revisto, 226, 4.°. Destes Projectos,
apenas o Esboço levara o impedimento matrimonial até aos tios.
Foi no Senado què se deu ao dispositivo a fôrma, que hoje tem,
vedando o casamento entre collateraes até o terceiro grau.
V. Legislação comparada — Inst., 1, 10, § 2.°; D, 23, 2,
fr. 17, pr.; Codigo Civil francez, art. 348, in médio; italiano, 60,
S." al ; suisso, art. 100, 3.°; venezuelano, 77.
Projectos — Beviláqua, art. 218, 5.°; Revisto, 226, 5-°.
VI. Legislação comparada — Inst., 1, 10, § 6.°, in fine; D., 3,
2, fr. 1, in fine; Cod., 5, 5, 1. 2; Codigo Civil francez, art. 147;
italiano, 56; hespanhol, 83, 5.°; suisso, 101; lei portugueza cit.,
art. 4.°; 6.°; austríaco, 62; allemão, 1.039; lei argentina, art. 9.°,
5.°; chilena, 4.°, 1.°; Codigo Civil do Uruguay, art. 91, 3.°; mexi-
cano. art. 159, X; boliviano, 90; peruano, 142, 5.°; japonez, 766;
venezuelano, 73; Codigo de direito canonico, art. 1.069
DO DIREITO DE FAMÍLIA 15

Projectos — Esboço, art. 1.277, 1.°: Felicio dos Santos, 663;


Coelho Rodrigues, 1.848, 2.°; Beviláqua, 218, 6.°; Revisto, 226, 6.°;
A fórmula actual é a do Senado.
YII. D., 48, 3, fr. 11, § 11 e fr. 40; Noy. 134, cap. 12; Codigo
Civil hespanhol, 84, 7.°; austriaco, 67; alemão, 1.312 (refere-se ao
divorcio); lei chilena, art. 7.°; japonez, 768; Codigo de direito
canonico, art. 1.075, § 1.°; mexicano, 156, V.
No Uruguay a lei de 26 de Outubro de 1907, art. 5.° II, de-
rogou o art. 93, n. 6, do Codigo Civil, edição de 1893, na parte
que vedava o casamento entre os adúlteros declarados por sen-
tença. Seguiu o legislador uruguayo o exemplo do francez, que,
pela lei de 15 de Dezembro de 1904, aboliu, pura e simplesmente,
o art. 298 do Codigo Civil, que prohibia o casamento entre o di-
vorciado e o seu co-réo no adultério. O art. 91 da nova edição do
Codigo Civil uruguayo não contém mais este impedimento. A lei
portugueza também o supprimiu, derogando o art. 1.0E)8, 3.°; do
Codigo Civil.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 10; Felicio dos Santos, 678.
I.0; Coelho Rodrigues, 1.848, § 3.°; Beviláqua, 218, 7.°, Revisto,
226, 7.°.
VIII. Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 62,
bespanhol, 48, 8.°; lei portugueza, art. 4.°, 5.°; austriaco, 68, lei
argentina, 9.°, 6.°; chilena, 6.°; Codigo Civil uruguayo, 91, 6.°; me-
xicano, 156, VI; peruano, 142, 8.°; venezuelano, 78; Codigo de
direito canonico, art. 1.075, §§ 2.° e 3.°.
Projectos — Esboço, art. 1.277, 10; Felicio dos Santos, 678,
2.°; Beviláqua, 218, 8.°; Revisto, 226, 8.°.
IX. D., 23, 2, fr. 2 (nuptiae consistere non possunt, nisi con-
sentiant omnes); fr. 16, § 2.° (furor contrahi matrimonium non
sinit, quia consensu opus est); 50, 17, fr. 30 (nuptias non con-
cubitus, seã consensus facit), fr. 116, § 2.°; Codigo Civil francez,
art. 146; italiano, 105; hespanhol, 83, 2.°; austriaco, 48, 55 e 56;
suisso, 97 e 123; allemão, 1.325; lei argentina, arts. 16 e 90, 3.°;
chilena, 4.°, 4.° e 5.°, 32 e 33; Codigo Civil uruguayo, 91, 2.°; me-
xicano, 156, VII; boliviano, 103, 2.a parte; peruano, 161 e 162;
japonez, 785; venezuelano, 72; Codigo de direito canonico, arts.
1.081, 1.086 e 1.087. V. ainda, a lei portugueza, artigos 4.°, n.
4, e 18.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 666-671; Coelho Rodri-
gues, 1.848, §§ 5.° e 6.°; Beviláqua, 218, 9.°; Revisto, 226, 9,°.
16 CODIGO CIVIL

X. Legislação comparada. — As legislações estrangeiras, em


regra, reúnem num só dispositivo os casos de coacção e de rapto.
O direito canonico destaca os dois casos, e assim o Codigo Civil
d'Austria, que no art. 56 especializa, o rapto entre os impedi-
mentos. Assim também o peruano, art. 144, e o venezuelano, 72.
O Codigo Civil brasileiro seguiu o systema do direito canonico,
como já fizera o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890. Codigo de
direito canonico, arts. 1.074 e 1.087.
Projectos — Coelho Rodrigues, 1.848, 6.°.
XI. Legislação comparada. — Inst., 1, 10, pr.; D., 23, 2,
frs. 2, 3 e 16, § 1.°; Codigo Civil francez, arts. 148 e 160, com as
modificações da lei de 21 de Junho de 1907; italiano, 63 a 69;
suisso, 98 e 99; lei portugueza, art. 5.°; Codigo Civil allemão,
1.035 e 1.036; lei argentina, 10; Codigo Civil uruguayo, 106 a
112; mexicano, 156. II; boliviano, 93 a 97; peruano, 146 a 152;
japonez, 772-774; venezuelano, 83. Todas essas leis exigem o con-
sentimento dos paes; variam, porém, no modo de regular esta
formalidade.
Projectos — Esboço, art. 1.264; Felicio dos Santos, 679-682;
Coelho Rodrigues, 1.848, § 7.°; Beviláqua, 218, 10; Revisto,
226, 10.
XII. Legislação comparada — A edade nupcial varia nas le-
gislações. O direito romano quer que o homem seja pubere e a
mulher nubil (Inst., 1, 10, pr.; masculi quidem puberi, feminae
autem viri potentes), fixando o Cod. 5, 60, 1. 3, essa edade aos
12 annos, para a mulher e aos 14 para o homem. Acceita esta
edade pelo direito canonico, delle passou a grande numero de le-
gislações, mas a tendência do direito moderno é no sentido de
eleval-a, e o proprio direito canonico a elevou para 15 e 16 annos
(Coãex, art. 1.067), recommendando, aliás, que os pastores de
almas aconselhem os jovens a não contrahir matrimônio antes
da edade estabelecida pelos costumes de cada logar. Ainda se
contentam com a edade de 12 e 14 annos: o Codigo Civil vene-
zuelano, art. 69. hespanhol, 83, 1.°; boliviano, 88; uruguayo, 91!
lei argentina, 9.°, 4.°; chilena, 4.°, 2.°. O Codigo Civil japonez,
art. 765, exige 15 annos para a mulher e 17 para o homem; o fran-
cez, art. 144, 15 para a mulher e 18 para o homem; o peruano,
art. 141, e a lei portugueza, art. 5.°, 16 e 18; o suisso, art. 969,
18 e 20; o allemão, 16 annos para a mulher, que pôde obter dis-
pensa, e maioridade para o homem (art. 1.303): o mexicano, 1^
DO DIREITO DE FAMÍLIA 17

® 16. A lei italiana de 27 de Maio de 1829 modificou o art. 55 do


Codigo Civil, reduzindo a edade nupcial para 14 e 17 annos.
Projectos — Esboça, art. 1.276 (impuberes); Felicio dos
Santos, 661 (impuberes); Coelho Rodrigues, 1.848, § 8.° (14 e 16
annos); Beviláqua, 218, 11.° (15 e 18 annos); Revisto, 226, 11 (14
e 16 annos).
XIII. Legislação comparada — Semelhante: Codigo Civil
allemão, arts. 1.314 e 1.669 a 1.671; chileno, 124 a 127; uru-
guayo, 113 e 114; colombiano, 169- 172; venezuelano, 208-211.
A lei argentina, art. 101, quer que a viuva, que, tendo filhos, se
casar, peça, ao juiz, um tutor para elles. Veja-se também, art. 1.142
do .^odigo Civil francez, cujo ponto de vista, aliás, é outro.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.848, § 9.°; Beviláqua,
218, 12; Revisto, 226, 12; Felicio dos Santos, art. 791, retira, ao
viuvo ou viuva, que se casar, o usufructo dos bens dos filhos do
leito anterior.
XIV. Legislação comparada — D., 3, 2, fr. 11, §§ 1.° e 2.°;
Cod., 1, 5, i. 2; Codigo Civil francez, arts. 228 e 296 modificado
pela lei de 9 de Agosto de 1919; italiano, 57; suisso, 103; hes-
panhol, 45, 2.°; austríaco, 120; allemão, 1.313; lei argentina, 99;
Codigo chileno, 128; uruguayo, 112; boliviano, 143; venezue-
lano, 80; colombiano, 173; mexicano, 158.
Projectos — Esboço, arts. 1.454 e 1.455; Coelho Rodrigues,
1.848, § 10; Beviláqua, 218, 13; Revisto, 226, 13.
XV. Legislação comparada — D., 23, 2, frs. 36, 66 e 67, § 3.°;
hespanhol, 45, 3.°; lei portugueza, art. 9.°; lei argentina, 12; Co-
digo Civil chileno, 116; uruguayo, 111; mexicano, 159 e 160; pe-
ruano, 145; venezuelano, 81.
Projectos — Esboço, art. 1.268; Coelho Rodrigues, 1.848,
§ 12; Beviláqua, 218, 14; Revisto, 226, 13 ;
^VI. Legislação comparada — D., 23, 2, frs. 38, 57 e 65.
Os Codigos modernos desconhecem este impedimento.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.848, § 13. Os outros
Projectos não consagram essa antiquada disposição.

Bibliographia — Direito da familia, 5.a ed., §§ 12-14; La-


fayette, Direitos de familia, §§ 12-16; Pontes de Miranda, Di-
reito de familia, §§ 9.° a 12.°; Cândido de Oliveira. Manual do Co-
digo Civil, V, §§ 20 e segs. ; S. Vampré, Manual, I, §§ 93 e segs.;
Ai.machio Diniz, Direito da familia, § 12; Ludgero Coelho, Casa-
mento civil, Rio de Janeiro, 1899, pags. 33 a 65; Martinho Gaií-

Bevilaqua — Codigo Civil — 2.° vol. 2


18 CODIGO CIVIL,

cez, Direito da família, § 4.°; João Akruda, Do Casamento, ns. 22


a 30, e 46 a 80; J. Tavares Bastos, Casamento de orphans, pa-
ginas 16 a 24; Monte, Direito ecclesiastico, §§ 936 e segs.; Coelho
da Rocha, Inst., §§ 214 a 218, e 222; Netto Campello, Prelecções,
2.a ed., pags. 259-270; Lacerda de Almeida, O Coãigo Civil visto
por alto, pags. 95 a 106; Bonjean, Institutos, 1, ns. 449-505;
Girard, Droit romain, pags. 154 a 160 da 5.a ed.; Cuq, Institu-
tions, II, pags. 87-90; Bonfante, Istituzioni, § 59; Planiol, Traité,
III, ns. 15 a 98; Huo, Commentaire, II, ns. 12 a 84; Latjrent,
Gours, I, ns. 129-154; Colin et Capitant, Cours, I, pags. 123-147;
Aubry et Rau, Gours, YII, § 461 (5.a ed.) e segs.; Planiol et
Ripert, Traité pratique de droit civil français, II, ns. 92 e segs.;
Goãe Civil allemand, publié par le Comitê de lég. étrang., notas
aos arts. 103-115; Endemann, Lehrbuch, III, §§ 158-159; R. Soriai.
System, na Systematisch Rechstswissenschaft pags. 62-63; Rossel
et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 165-170; Dias Ferreira,
Coãigo Civil portuguez, notas ao art. 1058; Sanchez Roman, De-
recho civil, V, caps. 14-15; Chironi, Ist., II, § 279; Ricci, Corso, 1,
ns. 197 e seguintes. Carlos Sampaio, Curso de direito civil, l<
cap. III; Ferreira Coelho, Coãigo Civil, XII, ps. 173 e segs.; Mar-
tinho Garcez Filho, Direito de família, I, ps. 89 e segs.

Observações — 1. — Dos impedimentos em geral. Denomina-se


impedimento matrimonial a ausência dos requisitos essenciaes,
que a lei exige na pessoa, para que se possa casar. E' a incapa*
cidade nupcial estabelecida pelo direito.
O Codigo Civil destacou dezeseis figuras de impedimentos,
distribuídas em tres categorias. A primeira compre-bende oito
casos, que annullam o casamento (art. 207): o parentesco em
linha recta; a affinidade em linha recta; a influencia da adopção
sobre os cônjuges do adoptante e do adoptado; o parentesco ed
linha transversal até o terceiro gráo; o quasi parentesco civil
entre o adoptado e o filho do adoptante; a persistência do vinculo
matrimonial já estabelecido: o adultério judicialmente decla-
rado; o homicidia ou tentativa de homicidio do cônjuge.
A segunda abrange quatro figuras de obstáculos, que tornai
o casamento annullavel, (.art 209): vicio ou ausência de consen-
timento; rapto; falta de consentimento dos representantes legaes
dos menores; edade menor de dezeseis annos para a mulher, 0
de dezoito para o homem.
DO DIREITO DE FAMÍLIA 19

A terceira contém, egualmente, quatro figuras de impedi-


mentos, para cujas infrações o Codigo somente estabelece penas
civis, sem tornar o casamento annullavel, ou toma providencias
para obstar o mal, que o impedimento se destinava a evitar.
Seriam estes últimos os impedimentos impedientes, na lin-
guagem do antigo direito: impeãiunt fieri; jacta tenunt. Todos
os outros seriam dirimentes: Vetant facienãa; jacta retractant.
O ponto de vista do Codigo, porém, é o da nullidade do casa-
mento. A ausência de certos requisitos annulla o casamento; a
de certos outros apenas o torna annullavel; e, finalmente, a de
alguns deixa subsistir a união.
2. — Parentesco (art. 183, I a V). Parentesco é a relação que
vincula entre si as pessoas descendentes do mesmo tronco an-
cestral. Toma o nome particular de consangüinidade, em atten-
ção á identidade do sangue, existente no mesmo grupo familiai.
Os romanos usavam do termo cognatio, cognação, para indicar
o parentesco materno. Qui per joeminas conjunguntur cognati
nominantur. Ao parentesco masculino reservaram o nome de
agnação, agnatio. Agnati sunt per patrem ex eaãem jamilia (Ca-
vino, Lexicon, vb. Cognatio: D. 38, 10, fr. 4).
O vinculo estabelecido entre cada um dos cônjuges e os pa-
rentes do outro denominam-se ajjiniãaãe (art. 334).
Diz-se que é civil o parentesco oriundo da adopção (ait. 336).
Aa linha recta (art. 330), o casamento é prohibido entre pa-
rentes, sem limitação de grão, quer o parentesco seja legitimo,
natural ou civil, seja a affinidade legitima ou não.
Na linha collateral (art. 331), o matrimônio é vedado entre
irmãos germanos ou unilateraes, seja o parentesco legitimo ou
não. Os primos acham-se no quarto grão. Permitte-lhes o Codigo
o casamento. Os tios podem, hoje, casar com as sobrinhas e as
tias com os sobrinhos (dec.-lei n. 3.200, de 19 de Abril de 1941),
art. 1.°). Os grãos se contam por gerações, segundo a norma es-
tabelecida no art. 333.
Entre cunhados, o casamento não é condemnado pelo Codigo.
A adopção impede o casamento entre o adoptante, o adoptado
e os seus descendentes; entre o adoptado e os ascendentes do
adoptante (linha recta); entre o adoptado e o filho do adoptante
(linha collateral) ; entre o cônjuge sobrevivo de um delles e o
outro (affinidade).
2 a — Dissolvido o vinculo da adopção (arts. 373 e 374) des-
apparece o parentesco civil, que era artificial, no sentido de não
20 COUIGO CIVIL

natural, e cessa o impedimento, que perde a sua razão de ser.


E' a solução do art. 1.311 do Codigo Civil allemão (so lange das
ãurch dic Annahtne begruenãeté Rechtsverhaeltniss besteJit), e
é a solução lógica e justa. O fundamento do impedimento é o
parentesco, — este, por sua vez, é creado pela adopção e man-
tido por ella; dissolvida a adopção, desfaz-se o parentesco; e, por
conseguinte, não ha motivo para o impedimento.
3. — Tem um poderoso fundamento moral a prohibição do
casamento entre os parentes, a que se refere o Codigo. Os sen-
timentos de veneração, dos descendentes para com os ascendentes,
de dedicação desinteressada dos ascendentes para com os descen-
dentes, repellem qualquer approximação sexual. Desde muito
cedo, na historia, firmou-se a familia sobre essas bases. Na linha
collateral, se não são raros os exemplos de casamentos fraternos,
nas origens da civilização, a disciplina social não se demorou em
condemnal-os, auxiliada pela própria natureza. Além do segundo
grão, pelo direito civil, a Igreja catholica tolera as uniões {Coãex.
art 1.076); porém a pureza dos costumes e razões de ordem
physiologica aconselham maior rigor. O Dec. n. 181, de 24 de
Janeiro de 1890, não levava a prohibição, na linha transversal,
além do segundo grão. Eram, assim, permittidos os casamentos
entre tios e sobrinhos. O Codigo Civil prohibiu-os. Pôde a con-
sangüinidade não ser sempre doentia, nos connubios (vejam-se:
o Parecer do deputado João Chaves, em 1913, pags. 68 a 70 do
impresso da Gamara; Forel, La question sexuelle, 1906, pags. 176
a 180; Afranio Peixoto, Medicina legal, pags. 134 a 139; Pi-
nheiro Guimarães, Consangüinidade e surdo-mudez); porém, como
ensina Lacassagne, nos meios urbanos, sempre viciados, ella
dará maus fructos, e o direito deve intervir para evitar a dege-
neração da raça. Além disso, a doutrina do Codigo apoia-se na
ethica. A atmosphera moral da familia conserva-se mais lim-
pida, se entre tios e sobrinhos não houver a possibilidade de en-
laces licitos. Essas razões, porém, não prevaleceram, na actuali-
dade, e o decreto-lei n. 3.200, de 19 de Abril de 1941, permitte
o casamento entre tios e sobrinhos.
São ainda razões de ordem moral que condemnam os casa-
mentos na familia adoptiva, dentro dos limites, que o Codigo traça.
3 o — Por iniciativa catholica, foi apresentado ao Congresso
Nacional um projecto de lei, modificativo do Codigo Civil, no in-
tuito de permittir o casamento de tio com sobrinha, ou tia com
sobrinho. Juristas e biologistas manifestaram-se contra a innõ-
DO DIREITO DE FAMÍLIA 21
vagão, que não era solicitada por nenhuma razão de ordem social,
antes contra si tinha motivos poderosos. Veja-se, na Revista Jurí-
dica, vol. XV pags. 254 a 260, o Parecer da Commissão do Insti-
tuto da Ordem dos Advogados Brasileiros. Victorioso no Senado,
o Projecto não encontrou favor na Gamara, que preferiu manter
a prohibição moralizadora do Codigo. Na Academia Nacional de
Medicina, as opiniões mostraram-se divergentes. Consulte-se o
Problema da consangüinidade de Moncouvo Filho. O Parecer do
Senado, com os votos vencidos dos senadores Raymxjndo de Mi-
randa e Rego Monteiro, foi publicado no Diário do Congresso, de
13 de Setembro de 1919. A Sociedade Eugenica e o Instituto da
Ordem dos Advogados, de S. Paulo, pronunciaram-se contra a
innovação proposta, que afinal foi consagrada no citado decreto-
lei n. 3.200, de 19 de Abril de 1941.
4. — Vinculo matrimonial (art. 183, VI) . Em todo o Occi-
dente, a família é fundada sobre a monogamia, modo de união
conjugai mais puro, mais conforme aos fins culturaes da socie-
dade, e mais apropriado á conservação individual tanto dos côn-
juges, quanto da prole. O Codigo Penal, art. 283, pune a bigamia,
ou polygamia, com a pena de prisão cellular, de um a seis annos.
O vinculo matrimonial é perpetuo, em nosso direito. O ca-
samento valido só se dissolve com a morte de um dos cônjuges
(art. 315, paragrapho único). Decorrem desse principio diversas
conclusões;
a) O cônjuge do ausente não pôde contrahir novas nupcias,
sem provar, directamente, a morte daquelle. A presumpção de
obito, que produz effeitos successorios, é inoperante- em relação
ao casamento.
b) Não se podem casar os desquitados, nem ainda os brasilei-
ros, que, em paiz estrangeiro, por applicação da lex fori, tenham
obtido sentença do divorcio, ou se tenham divorciado por mutuo
consentimento. Prevalece o rigor da prohibição, quer o casamento
tenha sido celebrado no Brasil, quer fóra. Para a lei patria, con-
tinuam casados e, pois, inhibidos de contrahir novo matrimônio.
Sobre este assumpto, como sobre o divorcio de estrangeiro,
veja-se o que ficou dito, nos commentarios 13-17 ao art. 8.° da In-
troducção.
c) Quando as pessoas fallecerem, na posse do estado de ca-
sados, pôde ser-lhes contestado o casamento, se do registro civil
constar que um, sequer, dos pretensos cônjuges estava, ainda,
ligado a outrem, por vinculo matrimonial (art. 203).
22 CODTGO CIVIL

4o — Adultério (art. 183, VII). O codigo destaca o adultério


do homicidio, e não faz depender o impedimento da promessa
do matrimônio, ainda era vida do cojuge ultrajado. O adultério,
só por si, merece a condemnação social, e o direito recusa-se a
legalizar uma bigamia de facto, que, despudoradamente, affronta
a moral publica.
Não quer, porém, que uma comminação dessa gravidade seja
tomada por vagas supposições ou mexerico dos malévolos. Exige
a condemnação judicial, em acção proposta pelo cônjuge inno-
cente, com fundamento no art. 279 do Codigo Penal.
Impedimento relativo, só attinge aos co-réos em crime de
adultério.
5. — Homicídio (art. 183, VIII). O homicidio ou tentativa de
homicidio contra a pessoa de um dos cônjuges deve crear uma
invencivel incompatibilidade entre o outro cônjuge e o criminoso,
que lhe destruiu o lar, e affeições, que deveriam ser muito caras.
Se esta repugnância não surge espontânea, é de suppôr conivên-
cia no crime. Poderá ser ausência de sentimentos de piedade para
com o morto, ou de estima para comsigo mesmo, mas em gráo
tão subido que, se a cumplicidade não existiu, houve a approvação
do crime, egualmente immoral. E, nesta hypothese, a lei não fe-
rirá um innocente, quer haja codelinquencia, quer simples appro-
vação do acto criminoso.
Note-se a differença entre a fórmula do Codigo e a do De-
creto n. 181, de 24 de Janeiro de 1890. Este suppõe o cônjuge con-
demnado como autor ou cúmplice do crime; o Codigo prohibe o
casamento, ainda quando não esteja provada a codelinquencia,
que, aliás, os criminosos poderiam, habilmente, esconder. A fór-
mula do Codigo dá expressão á exigência de moral mais apurada.
6. — Falta ou vicio de consentiviento (art. 183, IX e X). O in-
capaz de consentir, o que se acha coacto, o que, por motivo per-
manente ou transitório, não pôde manifestar a sua vontade, não
pôde, validamente, realizar acto juridico algum, e, muito menos,
o mais importante de entre elles, o casamento.
Incapazes de consentir, de um modo geral, são os declarados
no art. 5.°. Desses devemos excluir os menores, de que trata o
Codigo nos números XI e XII, e os ausentes, dos quaes não se
pôde conceber o casamento. Restam os loucos e os surdos-mudos,
que não puderem exprimir a sua vontade.
Os loucos de todo o genero não pódem contrahir justas nu-
pcias, por isso mesmo que não gozam de integridade mental para
DO DIREITO DE FAM1EIA 23

pensar e querer, normalmente. Surge, porém, a questão dos lúci-


dos intervallos. O Codigo resolveu-a, não tomando em conside-
ração esses períodos de apparente regularidade psychica. Se o
indivíduo é louco, ainda que se ache num estado de placidez de
espirito, não recobrou a saúde mental, o equilíbrio que apresenta
é transitório. Não pôde, não deve constituir família; não tem
capacidade civil para querer, juridicamente. Se, porém, a alie-
nação, de todo, se extinguiu, e a razão se restaurou, definitiva-
mente, o indivíduo já não é, physiologicamente, um doente, e,
juridicamente, um incapaz. O casamento lhe é permittido.
Vejam-se as observações 4-7 ao art. 5.°.
Os surdos-muãos, sem educação, que os habilite a enunciar,
precisamente, a sua vontade, não podem contrahir casamento, por
isso mesmo que não têm capacidade jurídica; nem, para o casa
mento, a poderia supprir o seu curador. Acto pessoal^ e intimo,
que decide dos destinos da pessoa, exige a manifestação da von
tade livre, sem interferência estranha, do agente.
Ha estados transitórios de perturbação mental, que também
impedem a livre manifestação da vontade. A esses casos se
feria o Projecto primitivo, no art. 247, consideiando nullo o casa
mento, quando o contrahente, por seu estado de inconsciencia
de perturbação mental, se achasse impossibilitado de consen
no momento da celebração. O Codigo alterou, fundamenta men
o systema do Projecto, considerando apenas annullavel o casa-
mento dos incapazes de consentir, e incluiu, no dispositivo geia
do numero IX, esses estados de perturbação, transitória, da mente.
7. — Nos casos até aqui considerados, ha falta de consenti-
mento, Na coacçâò, a vontade está, apenas, viciada. Caso par
cular de coacção é o rapto.
O direito romano prohibia, de modo absoluto, o casamento
do raptor com a raptada, e punia de morte o rapto, que cons
derava o peor dos crimes, péssima criminum (Cod. 9, ,
única; Nov. 123, cap. 43; Calvino, Lexicon, vb. laptor).
reito canonico, aliás severíssimo contra o rapto, mitigou^ esse
gor, fazendo do rapto um caso especial da coacção, e permittin
casamento, desde que a raptada se achasse fóra do poder o a
ptor e em logar seguro. 8i mulier sit rapta, loco nec reãdita w ,
diz o conhecido verso. Sob esta fôrma, passou para o nosso
o impedimento do rapto, que, por isso mesmo, já não cons
uma figura distincta de impedimento.
24 CODIGO CIVIL

O rapto por seducção, se a mulher não necessita do consen-


timento de outrem para casar, não constitue coacção, será dólo,
que não é vicio capaz de annullar o casamento.
8. — Consentimento dos paes, tutores e curadores (art. 183,
XI). A.s pessoas, que ainda não adquiriram a plenitude da razão
e da capacidade juridica, e aquellas que, apesar da edade, não
podem prescindir do auxilio de outrem, para se dirigirem na vida,
os menores e os interdictos, não se pódem casar, sem que lh'as
autorizem aquellas, sob cuja dependência legal estiverem. Aliás
esta autorização não é especial para o casamento. Os outros
actos jurídicos, em geral, a exigem para a sua validade. O direito
canonico é menos rigoroso do que as legislações civis, quanto a
este requisito, pois não annulla o casamento dos filhos famílias,
contraindo sem consentimento dos paes,. Se as exigências de al-
gumas legislações, como a franceza, por exemplo, eram excessivas,
extendendo o direito de consentir no casamento além da maior
idade dos nubentes, e dando-o também, aos ascendentes de grão
superior, na falta de paes, não é para seguir-se a facilidade, acima
referida, no direito canonico. Cumpre que um acto de tamanha
gravidade se não realize, sem a acquiescencia das pessoas incum-
bidas de velar pelo bem estar dos incapazes. Aliás a denegação
do consentimento pode ser supprida pelo poder judiciário, como
estatue o art. 188.
Vejam-se os arts. 185 e 187, que completam a matéria, de
que agora se trata.
O direito canonico, se não considera o consentimento dos
paes requisito essencial á validade do casamento dos menores,
determina, hoje, que o parocho exhorte os filhos famílias a não
contrahirem matrimônio, sem que seus paes saibam, ou contra
opposição razoavel destes, devendo consultar o bispo, no caso de
inefficacia do conselho {Codex, art. 1.034).
Além dos menores e interditos, ha outras pessoas, que neces-
sitam de autorização de outrem para se casarem. São os mili-
tares, a que não se refere o Codigo, pela especialidade da lei, a
que estão submettidos, e não ter effeitos civis a disposição. Vejam-
se o reg. n. 5.884, de 8 de Março de 1875, art. 5.°, § 22, quanto a
officiaes e praças do Exercito; o dec. n. 509, de 21 de Junho de
1890, art. I.0, § 43, relativamente a officiaes e praças da Marinha;
e a lei n. 1.860, de 4 de Janeiro de 1908, arts. 66 e 69, quanto
aos voluntários e sorteados.
DO -DIREITO DE FAMÍLIA 25

O art. 48 do regulamento, a que se refere o dec. n. 14.057,


de 11 de Fevereiro de 1920, determina que nenhum funccionario
do Corpo Diplomático possa contrahir casamento sem autorização
do Governo, sob pena de exoneração do funccionario.
8a — O dec. n. 24.239, de 15 de Maio de 1934, art. 51, veda
o casamento do funccionario diplomático, ou consular, com pes-
soa de nacionalidade estrangeira. Ainda com pessoa de naciona-
lidade brasileira, funccionario diplomático, ou consular, necessita
de prévio consentimento do governo para casar (art. 52).
A Inobservância deste preceito importa, automaticamente, na
passagem do funccionario para a disponibilidade inactiva (§ 1.°).
Se o casamento autorizado pelo Governo, fôr entre funccionario e
funccionaria, um delles passará para a disponibilidade não remu-
nerada (§ 2.°),
9. — Eclaãe nupcial (art. 183, XII). Para determinar a edade
matrimonial, o Codigo Civil não se contentou com a aptidão para
procrear, que se adquire com a puberdade. Desde que o casa-
mento acarreta a independência juridica, é justo que assim seja
porque os cônjuges devem assumir a direcção do seu lar, desde
que o casamento investe os cônjuges de grandes responsabili-
dades, de um para com o outro, e de ambos para com os filhos
e a sociedade, cumpre que tenham já desenvolvimento espiritual
e vigor pbysico correspondentes á sua situação. Além disso, a
experiência tem demonstrado que os filhos de progenitores ape-
nas puberes são, ordinariamente, debeis e enfermiços.
E', pois, no interesse dos proprios cônjuges, dos filhos e da
sociedade que o direito moderno exige uma edade maioi paia os
que se querem casar. Dá-lhes a emancipação pelo casamento, mas
quer dal-a, somente a quem possa constituir familia sã e diri-
gil-a, convenientemente.
Celebravam-se, outr'ora, os casamentos muito precocemente.
A evolução juridica tem sido no sentido de elevar a edade ma-
trimonial. Basta comparar o direito romano e o canonico antigo,
de um lado, com os Codigos Civis mais recentes, de outro, para
notarmos que essa é a marcha do direito. B essa obseivação nos
convencerá, desde logo, de que o indicado movimento bem traduz
a intenção de impedir males verificados, e de dar, á familia, ba
ses mais conformes á razão e ás necessidades do grupo social.
O decreto-lei n. 3.084, de 1 de Março de 1941, Estatuto dos
militares, regulou de modo especial a edade para o casamento
dos mesmos (artigos 110-115) .
10. — Inventario dos bens do casal (art. 183, XIII). O 1 ro
26 CODIGO CIVIL

jecto primitivo, attendendo ás duvidas, que se haviam suscitado


no fôro, a respeito da intelligencia do art. 7.°, § 9.°, do dec. nu-
mero 181, de 24 de Janeiro de 1890, e reconhecendo que a ga-,
rantia dos filhos é maior, quando a partilha completa o inven-
tario, dispuzera que não se pudesse casar o viuvo ou a viuva,
emquanto não fizesse o inventario e a partilha do casal extincto.
A Commissão revisora do Governo, intencionalmente, supprimiu
a segunda operação (Actas, pag. 86). Esse modo de ver, porém,
não prevaleceu, como se vê do art. 225, que é um desdobramento
do n. XIII, do art. 183. A obrigação imposta ao viuvo ou viuva,
é de fazer inventario e dar partilha, antes de contrahir novas
nupcias, sob pena de ser privado do usofructo dos bens dos filhos
menores do leito anterior. A nova edição do Codigo Civil tornou
clara a necessidade da partilha, accrescentando, á fórmula an-
terior, o complemento, que lhe era dado, apenas, pela referencia
ao art. 225: — e dar partilha aos herdeiros
Em justificação da doutrina contraria, que se contentava com
o inventario, allega João Arruda: que a conclusão do inventario
depende da vontade do cônjuge superstite, ao passo que a parti-
lha pode ser prolongada pelos herdeiros, que poderiam, assim, im-
por as suas condições ao cônjuge, que pretendesse casar; que ao
testador é licito impôr a condição de ficar a herança indivisa du-
rante certo tempo, e seria condemnar o cônjuge sobrevivente a
uma longa senão perpetua viuvez, se se fosse esperar pela termi-
nação da partilha, em tal caso. Estas razões, porém, não proce-
dem, porque a partilha é que define, claramente, o direito de cada
um, e o estado de communhão é sempre provisoric (art. 630).
11. — Confusão de sangue (art. 183, XIV). O prazo máximo
da gestação é, legalmente, de dez mezes (art. 338, II), embora
se apontem raros casos de gestação mais longa. Para evitar a
generationis incertitudo, a lei impõe, á viuva, a espera do tempo
necessário para que se possa attribuir ao primeiro marido o filho
que ella tiver depois de novamente casada.
O Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, punia a infractora
deste preceito com a incap'acidade testamentaria. O Codigo não
manteve essa pena. A conseqüência do casamento da viuva, antes
do tempo fixado pelo Codigo, é tornar-se obrigatório o regimen
da separação dos bens, sem que possa ser burlada essa disposição
por donativos, que a infractora faça ao marido (art. 226).
12. — Tutela e curatela (art. 183, XV). A intenção da lei.
prohibindo o casamento do tutor ou curador e dos parentes
delles, que enumera, com a pessoa tutelada ou curatelada, é:
DO DIREITO DE FAMÍLIA 27

a) impedir que, por esse meio, se occulte a delapidação dos bens


confiados á administração do tutor ou curador; b) pôr um freio
á cubiça; c) afastar a coacção moral, que possa exercer sobre o
animo da pessôa tutelada ou curatelada aquelle que, poi suas
funcções, tem sobre ella autoridade e ascendência.
Mas, nem sempre, se projectarão esses enlaces com fins in
teresseiros. Por isso, a prohibição cessa com a tutela ou curatela,
cujas contas estejam prestadas e saldadas. Também desappa
recerá o impedimento, se o pae, ou a mãe, previamente, por tes
tamento ou documento authentico, tiver autorizado o casamento
do filho com qualquer das pessoas, que a lei delle afasta.
A sancção deste impedimento é, segundo o art. 226, a obri
gatoriedade da separação dos bens dos cônjuges.
13. — Juiz, escrivão (art. 183, XVI). Reminiscencia do di-
reito romano, o impedimento do magistrado para casar se com
alguém, que se ache sob a sua jurisdicção, difficilmente se justi
fica, em nossos dias, maximé não se tendo restringido aos juizes
de orphâos. O Projecto primitivo não o continha. Felizmente, o
rigores do Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, não foram man-
tidos: perda do emprego e obrigações de dar, ao cônjuge da pess
jurisdiccionada, quanto baste para egualar os bens de um aos
outra. O Codigo, apenas, impõe o regimen da separaçao
tigo 226).
Discutia-se, em face do dec. n. 181, art. 7. , § 12, se
vedava o casamento a qualquer juiz local, ou se, somente,
juiz de orphâos. O dispositivo do decreto não se prestava a essa
interpretação restrictiva. O do Codigo, porém, referindo se a au
toridade judiciaria superior, á qual dá competência para con
sentir no casamento, deixa perceber que a prohibição attmge,
exclusivamente, aos juizes de primeira instância, sejam priva
tivos de orphâos ou não.

Art. 184 — A affinidade resultante de filia-


ção espúria poderá provar-se por confissão es
pontanea dos ascendentes da pessôa impe i a,
os quaes, se o quizerem, terão direito de aze a
em segredo de justiça. .
Paragrapho único. A resultante da i laçao
natural poderá - ser, também, provada por con
28 CODIGO CIVIL

fissão espontânea dos ascendentes, se da filia-


ção não existir a prova prescripta no art. 357.

Direito anterior — Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890,


art. 7.°, § l.o. e art. 8.'.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.849-1.850;- Revisto,
227 a 229.

Observação — O Codigo distingue entre a affinidade resul-


tante da filiação espúria e a que resulta da simplesmente natural,
porque os filhos espúrios não podem ser reconhecidos (art. 358)
e, consequentemente, não se admittem provas de sua filiação.
Esta, porem, poderá resultar da sentença, que tiver annullado o
casamento. Neste caso, a affinidade illicita terá outra prova que
não será a confissão espontânea dos ascendentes.
O Dec. n. 181, de 1890, art. 8.°, indicava o modo de fazer essa
confissão em segredo, de accordo com o art. 5.°, da lei de 6 de
Outubro de 1784, cujos preceitos articularam o Projecto Coelho
Rodrigues e o Revisto, que lhe acceitou a lição. Por ser matéria
processual, não a consignou o Codigo, assim como o Projecto
primitivo a deixára para as leis locaes.

Art. 185 — Para o casamento dos menores de


vinte e um annos, sendo filhos legitimos, é mis-
tér o consentimento de ambos os paes.

Direito anterior — O mesmo (dec. n. 181, de 24 de Janeiro


de 1890, art. 18, primeira parte).
Degislação comparada — Vejam-se as do art. 183, XI, e do
art. 186. Por direito romano, o filho sob o pátrio poder devia,
qualquer que fosse a sua edade, obter, do chefe da sua família,
consentimento para casar (Inst., 1, 10, pr.; D. 23, 2, fr. 16, § Io).
O filho sui júris não estava adstricto a essa formalidade (D. 23,
2, fr. 25; Cod. 5. 4, 1, 8); mas a filha, antes de completar 25
annos, necessitava da autorização paterna (Cod., 5, 4, i. 20)
Do consentimento materno se não cogitava
0O DIREITO DE FAMÍLIA 29

Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.862 e 1.869; Felicio


dos 8antos, 679; Beviláqua, 219, l.a parte; Revisto, 230, l.1 parte.
O Esboço, art. 1.264, contenta-se com o consentimento do pae
legitimo, ou que tenha reconhecido o filho. Se o nubente é or-
phão, cabe ao juiz dar o consentimento.

Observação — O casamento do filho menor deve ser, nor-


malmente, de accôrdo com os seus paes, a quem elle deve obe-
diência e respeito, cujos conselhos, oriundos da experiência e
inspirados pelo amor, deve seguir. O Codigo accentua que o con-
sentimento deve ser de ambos os paes, porque, na amizade e ve-
neração do filho, o pae e a mãe occupam o mesmo posto.
Havendo divergência entre os genitores, resolve-a o art. 186,
mandando prevalecer a opinião paterna, ou daquelle cônjuge,
que tiver o filho sob sua guarda.
Refere-se o art. 185 aos filhos legítimos. Dos naturaes occu.pa
se o art. 186, paragrapho único.

Art. 186 — Discordando elles entre si, pre-


valecerá a vontade paterna, ou, sendo separado
o casal por desquite, ou annullação do casa-
mento, a vontade do cônjuge com quem estive-
rem os filhos.
Paragrapho único. Sendo porém, illegiti-
mos os paes, bastará o consentimento do que
houver reconhecido o menor, ou, se este não for
reconhecido, o consentimento materno.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro,
de 1890, art. 18).
negislação comparada — Vejam-se: Codigo Civil fiancez,
arts. 148 e 158, com as modificações das leis de 21 de Junho de
1907, 17 de Junho de 1927 (o dissentimento importa consentimen-
to) e 10 de Março de lOU; italiano, 63 è 66; suisso, 98; hes-
panhol, 45, 1.°; lei portugueza, de 25 de Dezembro de 1910, ar-
tigos 5." e 6.° (dissentindo o pae e a mãe, decidirá o juiz, ouvindo
dois homens bons); Codigo Civil allemão, arts. 1.305 a 1.307;-
parai o fliho legitimo, basta o consentimento do pae, paia o ille-
30 CODIGO CIVIL

gitimo, o da mãe; na falta do pae, cabe também á mãe o direito


de dar consentimento, para que o filho legitimo se case; o filho
legitimado não necessita do consentimento da mãe, ainda quando
lhe falta o pae, para o casamento do filho adoptivo, a autorização
compete ao adoptante, e os paes naturaes não recuperam esse di-
reito com a cessação do parentesco civil; não ha consentimento
por meio de representante legal, quando os paes são incapazes; /
lei argentina, art. 10; Codigo Civil chileno, arts. 107 a 111; per-
tence ao pae legitimo o direito de autorizar o casamento do
filho menor de 25 annos; faltando o pae, cabe esse direito á mãe
legitima; faltando os dois, o ascendente mais proximo; no caso
de divergência, prevalece a vontade favorável ao casamento; o
filho natural necessita do consentimento daquelle que o reco-
nheceu, bastando o consentimento do pae, se ambos os genitores
o reconheceram; não havendo paes, nem ascendentes, intervém
o curador especial ou geral; uruguayo, arts. 106 a 109; dispo-
sições semelhantes ás do chileno; mexicano, 150 a 155: o filho
legitimo, o legitimado e o reconhecido não podem contrahir ma-
trimônio, sem o consentimento do pae, ou, na falta deste, da
mãe, ainda que tenha passado a novas nupcias; na falta de pae .
e mãe, do avô paterno, que será substituído pelo avô materno; f
faltando ambos, passa o direito ás avós, tendo a paterna prefe-
rencia; não havendo ascendentes, o consentimento será do tutor:
e, na ausência do tutor, dal-o-á o juiz; boliviano, 93 a 97; a edade
em que é necessário o consentimento varia: até 25 annos para
o varão, até 23 para a mulher; na falta do pae e mãe, substi-
tuem-nos os avós, vindo os paternos em primeiro lugar, mas,
neste caso, o consentimento só é necessário ao varão até 23 annos,
e á mulher até 21; peruano, 146 a 148 e 152; prevalece o parecer
do pae legitóihoi nã falta de-pae e mãe, deverá o nubente obter
o consentimento dos ascendentes mais proximos, e, se não os
tiver, do conselho de família; o filho natural pede o consenti-
mento de quem o reconheceu; Codigo Civil venezuelano, art. 83:
a vontade do pae prepondera; se os cônjuges são divorciados
o consentimento deve ser dado pelo innocente.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.862; Felicio dos San-
tos, 680 e 681; Beviláqua, 219; Revisto, 230.

Observações — 1. — O Codigo quer que o casamento seja


realizado com a acquiescencia dos dois progenitores, mas não
pretende Irapedll-o, porque sómente um delles o não approve.
DO DIREITO DE FAMÍLIA 31

Tres soluções se apresentaram para o caso de divergência entie


os paes, a respeito do matrimônio do filho, como se vê da legis-
lação comparada; ou prevalece o parecer do pae, ou prepondera
o mais favorável ao casamento, ou decide a autoridade judiciai ia.
Preferiu o Codigo o primeiro systema, contra o qual se tem le-
vantado a seguinte objecção: se a autoridade do pae é decisiva,
parece ocioso pedir a opinião da mãe, e, de facto, alguns Codigos
a dispensam, quando o pae é vivo e capaz. Não deve, porém,
impressionar esta objecção. Se a lei dá preferencia á vontade do
pae, é porque este é o chefe da familia. Não é, entretanto, ocioso
o parecer materno. Além da deferencia, que se deve á sacerdo-
tiza do lar, pôde ella fazer ponderações judiciosas, que ou de-
movam o filho do casamento, ou convençam o marido de que
não tem razão de se oppôr ao projecto do filho. Aliás, se o pae
denega o consentimento, ha o recurso para a autoridade judi-
ciaria (art. 188). E, no caso de desquite ou annullação do casa-
mento, se não lhe tiver cabido a guarda do filho, não lhe com-
pete, egualmente, o voto decisivo, em caso de divergência.
2 _ Não se occupa o Codigo do caso, em que o filho natural
seja reconhecido pelo pae e pela mãe conjunctamente, e divir-
jam estes, quanto ao seu casamento. A lazão de decidii
emtanto, a mesma. O filho reconhecido por ambos os progem-
tores está sob o poder pátrio do pae (art. 360), e, muito embora
não se trate de familia legitima, a situação do pae natural cor-
responde, então, á do legitimo.
3. _ Os filhos legitimados são, em tudo, equiparados aos le-
gitimes (art. 352), portanto, tem applicação a elles tudo o que
ficou dito em relação aos legitimes.
CONSÜLHO RLGIONal DÕ TRABALh„

Art. 187 — Até á celebração cfoEma?rimonio,


podem os paes, tutores e curadores retractar o
seu consentimento.
Direito anterior — Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890,
art. 14.
Legislação comparada — O principio do artigo é, geral-
mente, acceito, mas os Codigos Civis não o destacam. O do Me
xico, art. 155, nega, aos juizes, o direito de revogar o consenti
mento, que tiverem dado. salvo justa causa superveniente.
c2 CODIGO OlVII.

Projectos — Felicio dos Santos, art. 683; Coelho Rodrigues,


1.857; Beviláqua, 222; Revisto, 233.

Observações — 1. — A revogabilidade do consentimento dos


paes, tutores, e curadores é justa e razoavel, por isso que é no
instante de ser celebrado o casamento que esse consentimento
vae produzir os seus effeitos, e, entre o momento, em que elle
foi dado, e o da celebração, podem ter-se ,dado factos, ou podem
ter sobrevindo informações, que façam mudar de parecer.
2. — Na primeira edição do Codigo, este artigo não se referia
aos curadores, que também são chamados a intervir no casa-
mento dos seus curatelados (art. 183, XI) . A razão foi dada na
primeira edição destes commentarios. O Projecto primitivo não
conhecia a curadoria dos loucos, surdos-mudos e prodigos. Para
os primeiros, instituirá a tutela dos maiores, e os últimos não
eram considerados incapazes. Somente para os nascituros e para
os ausentes havia curatela, porque, no conceito do Projecto, a
curatela dizia respeito aos bens; o cuidado com as pessoas era
tutoria, dividida em tutela dos menores e tutela dos maiores.
Assim o seu art. 222 fala somente de paes e tutores. Não se atten-
deu a essa differença nos systemas, e, muito embora se remode-
lasse, por varias vezes, a redacção do artigo, a substancia foi
mantida.
Attendendo, porém, a que não havia motivo algum para que,
no systema do Codigo Civil, não se referisse o art. 183 aos cura-
dores, fez-se a correcção na edição em vigor.

Art. 188 — A denegação do consentimento,


quando injusta, pôde ser supprida pelo juiz, com
recurso para a instância superior.

Direito anterior — Dec. n.. 181, de 24 de Janeiro de 1890,


art. 7.°, § 7.°.
Legislação comparada — No mesmo sentido do artigo: D. 23,
2, fr. 19; Codigo Civil italiano, art. 67; chileno, 105; uruguayo,
110; peruano, 151.
33
1)0 DIREITO DE FAMÍLIA

Não admittem recurso da denegaçâo de consentimento. lei


portugueza, de 25 de Dezembro de 1910, art. 6.", § 5. . Co igo
Civil hespanhol, art. 49. O direito francez só admitte o recurso,
quando o filho foi confiado á assistência publica (lei de 2
Julho de 1889), e quando os paes se acham separados de coipo,
ou divorciados, não tendo nenhum delles feunido as condições
estabelecidas pela lei de 21 de Junho de 1907; sentença em seu
favor e guarda do filho. O Codigo Civil allemão admitte lecurs
contra a denegaçâo de consentimento do tutoi. A recusa do pa
somente quando o filho já fora declarado maioi antes do cas
mento, pôde ser supprida pelo juiz (arts. 1.304 a 1.308). o
digo Civil suisso não concede recurso conua a denegaça
consentimento dos paes; a dos tutores pode ser sujeita ao e
da autoridade tutelar (arts 99 e 420). A mesma dou una
posou o Codigo Civil da Venezuela, art. 87.
Projectos - Esboço, art. 1.265; Felicio dos Santos, 686;
Coelho Rodrigues, 1.848. § 7.", e 1.869; Revisto, 234. O i Wto
primitivo, art. 223, não dava recurso contra a recusa dos pa ,
e sim, apenas, contra a dos tutores.

Bibliographia — Direito ãa família, § 13, 6.", Dudgmio Coe


lho, Casamento civil, pags. 77-79; Lafayette, Ditei os e , '
§ 27; Marífinho Gabcez, Direito da família, § 9.°; °E 0 ^
ciia, Inst., § 23; Planiol, Traité, III, n. 85; Hco, omm
II, ns. 30-32; Goãe Civil allemand, publié par le omi e e
étrang., notas aos arts. 1.304 a 1.308. Para o direito romano,
v. Girard, Droit romain, pags. 155 a 156.

Observações — 1. — O Codigo Civil não declara os casos, em


que a denegaçâo do consentimento deve sei considei ac a i 3
para autorizar o supprimento do juiz. Entiegou essa 1 a
critério da autoridade. E, como a decisão do juiz da p
instância está subordinada á approvação do juiz t a ms
superior, não ha risco de se ter uma decisão ai bitiana.
Os nossos escriptores estabeleceram ceitas indicaç ' ^
servem de guia á acção do juiz. Consideram justos moti
a recusa de consentimento dos paes, tutores e cura or , ^
o ftiatrimonio dos filhos, pupülos e curatelados. a exis en
impedimento legal; costumes desregrados, a incapaci a ® ^
sustentar a familia; perigo da saúde do menor {Vi e. '
Beviláqua —• Codigo Civil — 2.° vot
34 CODIGO CIVIL

art. 1.216; Codigo Civil chileno, art. 113; peruano, 150; lei ar'
gentina. 30).
2. — Qual o juiz competente para conhecer desta especie.
não diz o Codigo Civil. E' assumpto, pelo nosso systema consti-
tucional, entregue á organização judiciaria, que pode variar no»
Estados. Da mesma'fôrma, cabe ás leis do processo estabelece^
a natureza e a fôrma, desse recurso.. O que o Codigo exige é que
a decisão do primeiro juiz não resolva, definitivamente, o caso,
sem que sobre elle se pronuncie o juiz da instância superior I

CAPITULO III

Da opposição dos impedimentos

Art. 189 — Os impedimentos do art. 183,


ns. I a XII, podem ser oppostos :
I. Pelo official do registro civil (art. 227, nu-
mero III).
II. Por quem presidir á celebração do casa-
mento.
III. Por qualquer pessoa maior, que, sob sua
assignatura, apresente declaração escripta, iu'
struida com as provas do facto, que allegar
Paragraplio único. Se não puder instruir a
opposição com as provas, precisará o oppoente o
logar, onde existam, ou nomeará, pelo menos»
duas testemunhas, residentes no Município, qutí
attestem o impedimento.

Direito anterior — O mesmo, com ligeira modificação (Ue


creto n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, arts. 9.° a 14).
Legislação comparada — O direito de opposição ao caS»
mento é diversamente regulado nas legislações. Por direito fra11'
cez, o direito de opposição cabe, exclusivamente, ao cônjuge d0
que pretende contrahir novo matrimônio, sem que se tenha dis'
solvido o primeiro (art. 172); ao pae, á mãe e aos avós, exclui^0
DO DTDEITO DE FAMÍLIA 35

os primeiros os seguintes (art. 173); aos collateraes, na falta


de ascendentes, mas somente quando não foi dado o consenti-
mento pelo conselho de familia, sendo necessário, e quando alle-
gam o estado de demencia do nubente (art. 1í4). Nestes dois
casos, o tutor e o curador pódem, também, oppôr-se ao casa-
mento, se autorizados pelo conselho de familia (art. 175). A ju
risprudencia, porém, reconhece no Ministério Publico o diieito
de oppôr impedimento. O Codigo Civil italiano, arts. 82 a 84,
segue um systema restrictivo semelhante. O Codigo Civil suisso,
art. 108, primeira parte, confere o direito de opposição a qualquer
interessado, além da autoridade, a quem compete, de officio, essa
obrigação, havendo causa de nullidade absoluta (art. 109). A lei
argentina permitte que se opponham ao casamento, o cônjuge,
no caso de tentativa de bigamia; os paes, tutores e cuiadores, os
parentes até o quarto grão por consangüinidade ou affinidade,
o Ministério Publico (arts. 27 a 29). O Codigo Civil hespanhoi
declara que estão obrigados a denunciar qualquer impedimento,
que lhes conste, todos aquelles que tiverem conhecimento do ma-
trimônio projectado (art. 98). E' o systema do direito canonico.
Veja-se, ainda, o Codigo Civil venezuelano, arts 97 e 98. O diieito
canonico impõe, a todos os fieis, o dever de denuncia, os impe
dimentos que souberem (Codex art. 1.02í).
Projectos — EsDoço, art. 1.289; Coelho Rodrigues, 1.852,
1.856 e 1.857; Beviláqua, 224; Revisto, 235.
Bibliagraphia — Direito da familia, § 15; Luogero Coelho,
Casamento civil, pags. 70-72; João Arruda, Do Casamento, nú-
meros 17-81; Pontes de Miranda. Direito de familia. §§ 13 a 15;
Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 01 e 62,
Martinho Garcez, Direito da familia, § 10; Planiol, Trarte, III,
ns. 118-130; Planiol et Ripert, II, ns. 163 e segs.; Laürent. Gours,
I, ns. 155-157: Colin et Capitant, Cours. pags. 156-162; Rossel et
Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 178-181; Huc. Gommentaire,
II. ns. 107-123; Aubry et Rau, Ccwrs. VII, § 454; Carlos Sampaio,
Curso, I, cap. IV.

Observações - 1. - O Codigo Civil distribuiu os impedi-


mentos, para o effeito da opposição, em duas classes; os do
art. 183, ns. I a XII, que pódem ser oppostos por qualquer pes-
soa maior, pelo official do registro, ou pelo presidente do acto
36 CODIGO CIVIL

(art. 189); e os dos ns. XIII a XVI do mesmo artigo, que se-
mente podem ser oppostos pelos parentes (art. 190). Os da pri"
meira classe consideram-se de interesse geral, os da segunda
ficaram confiados ao zelo da familia.
Neste ponto, o Codigo simplificou o direito anterior, que
dividia os impedimentos, sob o ponto de vista da opposição, eio
tres classes: os que podiam ser arguidos por todos; os apresen-
tados pelo juiz no acto da celebração: e os que somente por de-
terminados parentes podiam ser oppostos.
O official do registro, como outra qualquer pessoa, pôde
arguir, aos nubentes, os impedimentos do art. 183, ns. I a XH»
que lhe constarem, dentro do prazo estabelecido no art. 181, pois-
decorrido este tempo, elle terá de certificar que os pretendentes
estão habilitados a celebrar o seu casamento. Incumbe ainda ao
official do registro receber as communicações de impedimentos»
que lhe venham trazer. Como sancção desse dever funccional, o
art. 227 ameaça-o com pena de multa e a responsabilidade, que
no caso couber.
Os paes, tutores e curadores podem, até ao momento da ce-
lebração, impedir o casamento, recusando-lhe o seu accôrdo (ar-
■ tigo 187).
O presidente do acto pode, no momento mesmo da sua reali-
zação, declarar que os nubentes se acham impedidos, se lhe
constar a existência de impedimentos do art. 183, ns. I a Xll-
Esta competência, dada á autoridade, que presidir ao casamento,
de suspender-lhe a celebração, funda-se em duas razões pode-
rosas. A primeira é que pôde acontecer que, precisamente, essa
autoridade, de sciencia própria, conheça o impedimento igu0'
rado por outros, ou que outros não quizeram oppôr. A segunda
é que, depois de encerradas as formalidades preliminares do
casamento, já na occasião de se este celebrar, pôde surgir algueio»
que faça saber á autoridade a existência do impedimento. Nuroa
ou noutra hypothese, é forçoso suspender o acto.
2. — A pessoa que denunciar o impedimento deve provar-lhe
a existência. Esse dever incumbe a todos. Entretanto, como 0
interesse da moral e do direito exige que se não realizem m3*'
trimonios rigorosamente vedados, o Codigo prevê o caso de nã0
poder ser dada a prova immediata do impedimento, e admitt®
que o oppoente declare onde ella se possa encontrar, ou nomei6
pessoas, que attestem o facto. ^
DO DIREITO DE FAMÍLIA

A opposição é um ataque, pôde ser até um grave libello


accusatorio, nem sempre escoimado de má fé. A lei laculta, ao,,
nubentes, os meios de defesa (art. 191), antes de pronunciar se,
definitivamente, a condemnação.

Art. 190 — Os outros impedimentos só pode-


rão ser oppostos:
I. Pelos parentes, em linha recta, de nm dos
nubentes, sejam consanguineos ou affins. ^
II. Pelos collateraes, em segundo grão, se-
jam consanguineos ou affins.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiio
de 1890, art. 15).
Legislação comparada — Veja-se o aitigo antecedente.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.858; Beviláqua, 225;
Revisto, 236.
Bibllographia — A do artigo anterior.

Observações - Não quiz o Cotllgo conlerlr o direito de opp


os impedimentos do art. 183. ns. XIXI a XVI, senão aos parentes
proximos, porque é. mais direotamente, o Interesse da tam.lia,
que elles visam.
Dizendo que os impedimentos do art. 189 sao^ de intere®®®
geral, e os do art. 190 são de interesse familiar. na0 se
senão ao momento da opposição, que antece e ao i
Outro é o ponto de vista da nullidade, que se refere ao casa™
já celebrado. Não são nullos os casamentos, a que seJ0*ei
ter opposto quaesquer pessoas maiores, pai entes ou . . je
destes são apenas annullaveis; os em que oocorrem ^
consentimento, rapto, falta de autorização
• i ■ dos nspaes,TX a
18^
curadores, ou menoridade nupcial var . ' ,
A nullidade e a annullabilidade não abrangem o os 08
mentos. A opposição a todos attinge. Mas contra os casa^e^
que se não annullam, depois de celebrados, que o
38 CODIGO CIVTT.

trega o direito de opposição, exclusivamente, aos ascendentes >3


descendentes, sejam consanguineos ou affins, aos irmãos e
cunhados.

Art. 191 — O official do registro civil dará,


aos nubentes, ou seus representantes, nota do
impedimento opposto, indicando os fundamen-
tos, as provas, e, se o impedimento não se oppoz
eoo-officio, o nome do oppoente.
Paragraplio único. Pica salvo, aos nubentes,
fazer a prova contraria ao impedimento, e pro-
mover as acções civis e criminaes contra o oppo-
ente de má fé.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro,


de 1890, art. 19).
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.864 e 1.865; Revisto.
237 a 240.
Bibliographia — Direito da família § 15; João Arruda, Do
casamento, ns. 83-85; Ludgero Coelho. Casamento civil, pagi-
nas 93-95; Martinho Garcez, Direito da família, § 12; Planto^
Traité, III, ns. 137-154; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I.
pags. 179-181; e os autores citados sob. o art. 189.

Observações — 1. — Apresentado o impedimento, o casa-


mento se não pode celebrar. A primeira operação a executar-se
é o exame da procedência da opposição, perante a autoridade judi-
ciaria.
Preliminarmente, cumpre notar que o official do registro
civil não deverá receber impedimento senão de pessoa compe-
tente (arts. 189 e 190), e em tempo opportuno (art. 181. § l.0)-
Vindo o impedimento por pessoa competente e em tempo
opportuno, o official do registro civil, que se não pôde pronunciar
DO DIREITO DE FAMÍLIA 39

sobre o merecimento delle, communical-o-á, sem detença ao nu-


bente ou ao seu representante, para que o conteste, ou Ibe reco-
nheça a validade.
Por ser matéria processual, não prescreve o Codigo a mar-
cha desta contestação. Mas é bem de ver que, tratando de ma-
téria, que não admitte protelação, a marcha do processo deve
ser rapida, podendo ser dispensada a audiência do oppoente,
segundo o critério do juiz, que se poderá contentar com as pro-
vas por elle exhibidas.
2. — As provas dos impedimentos são communs ou espe-
ciaes. Prova especial têm o parentesco e a affinidade. O paren-
tesco legitimo resulta do casamento. A filiação legitima deter-
mina-se pelos preceitos, que o Codigo estabelece nos arts. 337 e
seguintes. A filiação natural é objecto dos arts. 355 e seguintes.
Para a prova da affinidade resultante da filiação natural e es-
púria, admitte-se a confissão espontânea (art. 184), o parentesco
civil prova-se, exclusivamente, com a carta de adopção.
Os outros impedimentos provam-se como qualquer outro facto
de alcance jurídico, pelos meios ordinários (art. 136), que possam
ter applicaçâo.
3; — Aos nubentes é facultado, além do direito de destruir,
perante a autoridade judicial, as provas apresentadas pelo oppo-
nente, o de promover a responsabilidade civil e criminal deste,
quando haja procedido de má fé.
O direito canonico concita os fieis, sob pena de excoramu-
nhão, a denunciarem os impedimentos, que souberam; mas sob
as mesmas penas incide quem o fizer por malicia. O direito se-
cular recorre a expedientes humanos para alcançar os mesmos
fins. Da opposição infundada pôde resultar damno ao nubente.
E' justo que o repare quem, malevolamente, o causou. Sem que
seja inadmissível, nesta matéria, o damno material, muito pos-
sível de verificar-se, mais se harmoniza com ella, certamente, o
damno moral (art. 1.547).
Por isso mesmo que a opposição pôde consistir numa offensa
á honra e á dignidade do nubente, pôde este usar, contra o offen-
sor, da acção penal por crime de calumnia ou injuria, conforme
no caso couber.
40 CODIGO CIVIL

CAPITULO IV

Da celebração do casamento

Art. 192 —- Celebrar -se-á o casamento, no


dia, hora e logar previamente designados pela
autoridade, que houver de presidir ao acto, me-
diante petição dos contrahentes, que se mostrem
habilitados com a certidão do art. 18L § 1.°
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro
de 1890, art. 23).
Legislação comparada ~ Vejam-se: Codigo Civil francez,
ax-ts. 75 e 165; italiano, 93; suisso, 116; hespanhol, 100, primeira
parte; uruguayo, 83; lei portugueza, de 25 de Dezembro de 19)0,
art. 3.°; Codigo Civil allemão, 1.320; venezuelano, 115; lei argen-
tina, 44; chilena, 16; boliviana, de 11 de Outubro de 1911, arts. ll
e 19; peruana, de 23 de Dezembro de 1897; equatoriana, de 28 de
Outubro de 1902; e a belga, de 31 de Dezembro de 1891, que modi-
ficou, nesta parte, o Codigo Civil; Goãex júris canonici, ar-
tigo 1.094.
Projectos — O Esboço, estabeleceu tres fôrmas de casamento:
o catholico (arts 1.261 e 1.262), o mixto (art. 1273) e o não au-
torizado pela Igreja Catholica (art, 1.271); Felicio dos Santos,
regulou a fôrma religiosa (art. 638) e a civil (643); Coelho Ro-
drigues, 1.891: Bevilagua, 226; Revisto, 241.
Bibliographia — Direito da família, §§ 6.° a 10, 17, e 18;
João Arruda, Casamento, ns. 35-39; Ludgero Coelho, Casamento
civil, pags. 103-105; Pontes de Miranda, Direito dc família, § 25:
Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 66 a 68; Spen-
cser Vampbé, Manual, I, § 106; Martinho Garcez, Direito da fa-
mília, §§ 13 e 14; Braz Flokentino, O Casamento civil e o casa-
mento religioso, Recife, 1859; Taunay, Casamento civil; Alma-
chio Diniz, Encyclopedia Jurídica, cap. VIII; Primeiros princí-
pios, I, § 93; Planiol, Traité, III, ns. 114, 158-187; Planiol et
Ripert, II, ns. 193 e segs ; Huc, Commentaire, II, ns. 1-4 e 86 94-
Laurent, Cours, I, ns. 128, 161 e 162; Colin et Capitant, Cours,
I, pags. 112-122 e 149-151; Aubry et Rau. Cours. VII. § 466; GlaP-
DO DIREITO DE FAMÍLIA 41

son, Le mariage civil et le ãivorce, pags. 138-279, René Le


maire, Le mariage civil (1901); J. Kohler, Lehtbuch, III, §§
e 16; Endemann, Lehrbuch, II, §§ 150 e 154-156, B. Sohm, na
Systematische Rechtswissenschaft, pags. 62-64; Chironi, Ist., II,
§§ 378 e 380; Rioci, Corzo, 1, ns. 188 e segs., e 243 e segs.,
D'AGtrANNo, Genesi e evoluzione dei diritto civile, ns. 8613
Lbtourneau, Êvolution ãu mariage; Spencer, Príncipes de socio
logie, II, terceira parte; Westermark, Storia dei matrimônio,
trad.; Forel, La question sexuelle, pags. 154 a 206; Teixeira Bas
tos, A família (1884); Sanchez Roman, Derecho civil, V, pagi-
nas 1 a 552; Cimbali, Nuova faze dei diritto ctvile, pags. (7-93,
Herculano, Casamento civil (todo o livro); Hermann Post, Gtun
lagen des Rechts, §§ 23-26; Dias Ferreira, Godigo Civil portuguez,
III, notas aos arts. 1.056 e 1.057; Affonso Cláudio, Direito ro-
mano (décima oitava prelecção); Netto Campello, Prelecções, p
ginas 254-266; Girard, Droit romain pags. 150-157; Bonjean, n
stitutes, I, ns. 443 e segs.; Cuq. Institutions, II, pags. 85F7; ba-
deletti-Cogliolo, Dirito romano, cap. XII, Cak")® a5 " '
Cursfo, I, caps. I e II; Ferreira Coelho, Coã. Civil, + ' P
segs.; Martinho Garcez Filho, Direito de família, , P

Observações - 1. - O Codigo Civil brasileiro náo definiu o


casamento como haviam feito outros, o austiiaco, art. , p
tuguez, 1.056; o chileno, 102. Nem lhe competia íazel-o. A lei or-
dena, a doutrina explica e define.
Casamento é um contracto Mlateral e solemne, pelo gual um
homem e uma mulher se unem, indissoluvelmente legalizando por
elle suas relações sexuaes, estabelecendo a mais estrita comu -
nhão de vida e de interesses, e compromettenão-se a crear _
car a prole que de ambos nascer. Um tanto extensa pe a
dade de attender aos diversos elementos, que entram n0
do matrimônio, assim como aos seus fins biologicos e sociaes, pa-
rece-me satisfatória esta definição.
Varias outras têm sido propostas, porque a uns ** ^ra
que o fim do casamento é a procreação dos i os, a
união dos cônjuges, a socialização do amor sexua , p ^ ,
pensam que o casamento é um contracto e ou ios r aUasi
dadas, incompletas quasi
classiticaçâo. Dentre todas as dlI'nlS e a aas lnstiMm,
todas, merecem ser lembradas a de M
42 CODIGO CIVIL

pela elevação do pensamento e pureza moral, que as distinguem.


Diz a primeira: Nuptiae sunt conjunctio maris et foeminae, con-
sortiuvi omnis vitae: ãivini et humani júris communicatio
(D., 23, 2, fr. 1). Diz a segunda; Nuptiae sive matrimonium est
viri et mulieris conjunctio, indiviãuam vitae consuetuãinem con-
tinens {Ist., 1, 9, § 1.°).
Colin et Capitant offerecem uma definição acceitavel; "é o
contracto civil e solemne. pelo qual o homem e a mulher se unem
para fundar uma família e se prestar, mutuamente, assistência
e soccorro" (Cours, I, pag. 112).
1 a. — V. Planiol et Ripert, II, n. 69.
2. — O casamento é um contracto. Não têm fundamento os
escrúpulos daquelles jurisconsujtos, que se recusam a ver, no
casamento, essa feição contractual. que, certamente, não existia
nos rudes tempos primitivos, porém, que se lhe não pode negar,
desde que tomou por base o consenso dos cônjuges, desde que
estes, livremente, assumiram os encargos decorrentes da sua
união.
A Igreja, que elevou o matrimônio á categoria de sacramento,
não lhe desconheceu o elemento contractual. S. Thomaz distin-
guiu: Matrimonium, inquantum est officium naturae, statuitur
jure naturali, in quantum est officium communitatis, statuitur
jure civili. in quantum est sacramentum, statuitur jure ãevino.
Não se confunde com os outros contractos, por seu objecto,
por seus fins. por sua natureza social, que domina o arbítrio dos
indivíduos: mas é o resultado do accôrdo de duas vontades, que,
livremente, concorrem para a creação de direitos e deveres recí-
procos, direitos e deveres em relação á prole, direitos e deveres
para com a sociedade.
3. — Sendo o casamento a base da família, a sociedade inter-
vém na sua celebração, com especial interesse, dando ao acto a
maior publicidade, e tornando-o particularmente solemne pela
presença da autoridade competente, que designa, préviamente, o
dia, a hora e o logar, em que os contrahentes têm de comparecer
para se receberem um ao outro como marido e mulher.
A solemnidade, cuja phase inicial estabelece o art. 192, e que
os arts. 193 a 195 regulam, não têm a pompa, com que os cos-
tumes (não a lei) cercavam o casamento em Roma; porém, na
sua simplicidade, não desmerece da importância do acto, e con-
DO DIREITO DE FAMÍLIA 43

tém o sufficiente para tornar a sociedade sabedora de que, em


determinado dia, uniram-se duas pessoas de sexos differeutes para
fundar uma familia.
4. — O Codigo não se preoccupa com a consagração religiosa
do casamento, que pôde anteceder ou succeder ao acto civil.
Está nos costumes a precedência do acto civil, mas a lei, por
causa da separação completa entre o temporal e espiiitual, que
a Constituição de 1891 traçara, não havia tomado providencia al-
guma a respeito, apezar dos abusos devidos á má compiehensão
das coisas, que tinham revelado alguns sacerdotes catholicos,
creando, no espirito dos crentes, uma injusta prevenção contia o
casamento legal. Felizmente, a harmonia já entrou entie os dois
poderes no Brasil, o civil e o ecclesiastico.
5. — E' util recordar que as regras canonicas, que se referem
ao direito matrimonial, foram modificadas pelo decieto Ne temei e,
promulgado pela Sagrada Congregação do Concilio, a 2 de Agosto
de 1907. Esse decreto não destróe, desenvolve e completa os pre-
ceitos, que o Concilio tridentino condensára no decieto Tametsi,
de 11 de Novembro de 1563, accommodando-os ás exigências da
sociedade, e infundindo-lhes espirito de tolerância, mais consen
taneo com o nosso tempo. Veja-se o Coãex júris canonici, aiti
gos 1.094 e seguintes.
6. - A Constituição de 1934, art. 146 admittiu, o casamento
perante ministros de qualquer profissão religiosa, que não con
trarie a ordem publica ou os bons costumes, exigindo, poiem, que,
perante a autoridade civil, sejam observadas as disposições da
lei, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos
e no processo da opposição. Foi essa matéria, em seguida, le^u
lada pela lei n. 379, de 16 de Janeiro de 1937, modificada pelos
arts. 4 e 5 do decreto-lei, n. 3.200, de 19 de Abril de 1941.

Art. 193 — A solemnidade celebra-se-á na


casa das audiências, com toda a publicidade, a
portas abertas, presentes, pelo menos, duas es-
temunhas, parentes on não dos contrahentes, ou,
em caso de força maior, querendo as partes, e
consentindo o juiz, noutro edifício, publico ou
particular.
Paragrapbo único. Quando o casamento oi
44 CODIGO CIVIL

em casa particular, ficará esta de portas abertas,


durante o acto, e, se algum dos contralientes não
souber escrever, serão quatro as testemunhas.
Direito anterior — O mesmo, ligeiramente modificado (De-
creto n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, arts. 24 e 25).
Legislação comparada — Veja-se o artigo antecedente.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.872 e 1.873; Bevilá-
qua, 226 e 227; Revisto, 242 e 243.

Observações — 1. — A casa das audiências é o logar, que o


Codigo considera adequado á celebração do casamento, porque é
o logar onde, normalmente, se administra a justiça, sob a presi-
dência das autoridades competentes, e onde a realização do acto
parece ter toda a sociedade por testemunha.
Todavia é permittido realizar-se a celebração noutro edificio
publico, ou em casa particular, conservando-se as portas abertas,
durante o acto.
Diz o Codigo: em caso de força maior, alterando, assim, o
direito anterior, que deixava ao aprazimento das partes e ao
arbitrio do juiz, a designação do logar, onde o casamento se devia
celebrar. O Codigo exige que a solemnidade se effectue, sempre,
na casa das audiências, e somente, por excepção, havendo mo-
tivo poderoso, em outra parte.
As testemunhas podem ser parentes dos noivos, porque a
família é, particularmente, interessada na firmeza e legalidade
dos casamentos. A suspeição natural nos outros actos jurídicos,
em que o parente de uma das partes não inspira inteira con-
fiança á outra, é inadmissível no casamento, porque quanto maior
fôr a affeição do parente, maior será o seu interesse na realidade
do acto, a que assiste. Por outro lado, se nos contractos de natu-
reza econômica e nos meramente pessoaes, as partes podem que-
rer negal-o, porque já passou o interesse, que as levára a cele-
bral-os, no casamento, contracto social, com intervenção directa
da autoridade publica, essa intenção criminosa encontra as maio-
res difficuldades, por causa do cortejo de formalidades, que o
cercam. As testemunhas ahi não funccionam, como nos actos
da vida ordinária; representam a sociedade, que toda ella é tes-
temunha do acto constitutivo da família.
Quando algum dos contrahentes não souber escrever, as tes-
temunhas serão quatro, se o casamento fôr celebrado em casa
45
DO DIREITO DE FAMÍLIA

particular. O Dec. de 24 de Janeiro exigia tres testemunhas,


quando um dos contrahentes não sabia escrever, e quatro, no
caso de ambos não saberem. O Codigo não íaz essa distn ç
as testemunhas serão quatro, desde que algum dos contra
não saiba assignar o termo do casamento.
2. — Do contexto deste artigo, que exige toda a pu i icic a
para o acto da celebração do casamento, na casa das audien
que somente durante o dia funcciona, a portas abertas, para que
todos possam ver, e, em particular, da excepção contida
tigo 198, que, no caso especial de moléstia grave, haven o ur
gencia, permitte o casamento ainda á noite, conclue se, de n
irrecusável, que a celebração do casamento deve sei lealm
normalmente, durante o dia.
3 _ Referem-se as observações acima expostas ao casamen o
civil. A celebração do casamento religioso é regulada pe
respectivo.

Art. 194 — Presentes os contralientes, em


pessoa ou por procurador especial, juntamen e
I()
com as testemunhas e o official do 7 0
presidente do acto, ouvida, aos nuben es, a a
firmação de que persistem no proposi o e ca^
sar, por livre e espontânea vontade, declarara
effectuado o casamento, nestes termos:
"De accordo com a vontade, que am os aca
baes de affirmar, perante mim, de vos ret c er
des por marido e mulher, eu, em nome c a ei, vos
declaro casados".

Direito anterior — O r-, r-,


Dec.„ n.
v, loi,
i ci rip 24 de Janeiro de 1890,
determinava que o presidente do acto lesse, em voz a ,
tigo 7.°, relativo aos impedimentos matrimoniaes, dava a
para a manifestação da vontade de cada um dos contra e '
declaração do presidente do acto era em outios ermos ^
gos 26-28). O art. 44 permittia o casamento por piociuamo.
Legislação comparada - Vejam-se: o Codigo Cml france^
arts. 74, 75 (lei de 9 de Agosto de 1919) e 165 (lei de 25 de Ju-
nho de 1907): o casamento é celebrado, no dia designado pelas
partes, na casa commum (mairie), em piesença de qua
46 CODIGO CIVIL

munhas, sob a presidência do official do estado civil, que, depois


de ler os artigos do Codigo referentes ás formalidades prelimi-
nares do casamento, e aos direitos e deveres dos cônjuges, indaga
das partes e das pessoas, que autorizam o casamento, se houve
contracto de casamento, e, em seguida, recebendo a declaração
de que se querem por marido e mulher, os declara, em nome da
lei, casados. Não ha casamento por procuração, salvo o casamento
dos militares em tempo de guerra (leis de 4 de Abril e 19 de
Agosto de 1915). Italiano, 94 e 95; disposições semelhantes ás
do Codigo Civil francez, mais simplificadas. Também não per-
mitte casamento por procuração, excepto o casamento do rei (ar-
tigo 99). As testemunhas são duas. Suisso: 116 a 118: o ca-
samento é celebrado na sala dos casamentos, presentes duas tes-
temunhas. Em caso de moléstia, attestado o impedimento de um
dos noivos, poderá o casamento ser celebrado em outro logar.
A benção religiosa não se poderá dar sem a exhibição do certi-
ficado, que o official do estado civil lavrar, immediatamente de-
pois da celebração do casamento civil. Hespanhol, o art. 42, re-
mette ao direito canonico a regulamentação do acto; o art. 100
regula a forma civil da celebração. O juiz municipal é a autori-
dade perante a qual devem comparecer os nubentes. As testemu-
nhas são duas. Um dos noivos pôde fazer-se representar por pro-
cuiador. Lei portugueza, de 25 de Dezembro de 1910, art. 3.° o
casamento deve ser celebrado perante o official do estado civil,
segundo as condições e as formalidades da lei civil. O casamento
pôde ser celebrado por procurador especial (art. 25). As teste-
munhas serão duas, se o casamento fôr celebrado na repartição
do registro civil, e seis se fóra delia (Codigo Civil, art. 1.081).
O Codigo Civil allemâo, art. 1.317; comparecimento pessoal e si-
multâneo dos dois nubentes perante o official do estado civil.
Art. 1.318: os nubentes declaram, perante duas testemunhas, ao
official do estado civil, a sua vontade de se unirem pelo casa-
mento, e o official declara que, em virtude da lei, estão, desde
esse momento, legitimamente casados. Lei argentina, art. 44:
celebra-se o casamento perante o official do registro civil, compa-
recendo, pessoalmente ou por procuradores especiaes, ou futuros
cônjuges. Art. 45: as testemunhas serão duas, quando o casa-
mento se celebrar na repartição do registro civil, e quatro, quando
em domicilio particular. Art. 46: o official, depois de lêr os ar-
tigos da lei referentes aos direitos e deveres dos cônjuges recebe
de cada um dos contrahentes, a declaração de que se querem por
DO DIREITO DE FAMÍLIA 47
niaiido e mulher, e declara, em nome da lei, que se hcham uni-
dos pelo casamento. — Lei chilena, de 10 de Janeiro de 1884,
aits. 16 e 17; o matrimônio celebra-se perante o official do re-
gistro civil, na sua repartição, ou na casa de algum dos con-
trahentes, achando-se presentes duas testemunhas. Admitte-se o
casamento por procuração (reg. de 24 de Outubro de 1884,
art. 36). Codigo Civil do Uruguay, arts. 97 a 100: casamento
celebrado em publico, pro tribunali, perante o official do registro
civil, presentes quatro testemunhas, podendo os nubentes ser
substituidos por procuradores especiaes. •— No Japão, o casamento
é declarado, ao official do estado civil, pelas próprias partes, ou
por duas testemunhas, de viva voz, ou em documento assignado
(Codigo Civil, art. 775). — Lei peruana, de 23 de Dezembro de
1897: o casamento civil dos que não professam a religião catho-
üca, é celebrado perante o alcaide do conselho provincial do do-
nncilio de um dos cônjuges, na presença de duas testemunhas.
Para os catholicos, a celebração é segundo o ritual da Igreja.
Lei equatoriana, de 28 de Outubro de 1902, art. 9.°: casamento
celebrado perante o representante do poder central, o seu secre-
tario, e duas testemunhas, nas capitães de cantão; perante o
supplente, um secretario aã hoc e duas testemunhas nas commu-
nas ruraes. — Codigo Civil da Venezuela, art. 106; são compe-
tentes para presidir ao casamento; a primeira autoridade civil
da parochia, ou do município, o chefe civil do município, o pre-
feito do departamento, o governador do território, ou do dis-
tricto, o presidente do Estado, o presidente da Junta Communal,
ou do Conselho Municipal, acompanhado do respectivo funccio-
nario, do seu secretario e de duas testemunhas. Art. 114; é per-
mittido o casamento por procuração. Art. 115; as testemunhas
devem* ser maiores de vinte e um annos.
Codigo soviético da família: os casamentos concluem-se pe-
rante funccionario preposto a esse officio, publicamente, em lo-
gar destinado á celebração dos casamentos. Não se exige a pre-
sença de testemunhas. Inscripto o casamento no registro o funccio-
nario declara o casamento concluído.
Na Italia, as leis de 27 de Maio e 24 de Junho, de 1929, re-
conhecem effeitos civis aos casamentos catholicos e aos celebrados
perante ministros de outros cultos, cuja nomeação tenha sido
approvada pelo Ministro da Justiça.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.874-1.876, 1.893 o
Beviláqua, 228. Revisto, 244-246.
48 CODKiO CIVIL

Observação — A celebração do casamento exige, ordinaria-


mente, o comparecimento pessoal dos noivos; porém o Codigo
permitte que estes em casos excepcionaes, em que um dos con-
trahentes se não possa transportar ao logar da residência do ou-
tro, se façam representar, nos termos do art. 201, principio. E' de
notar que o estrangeiro não poderá casar-se no Brasil por pro-
curação, se a sua lei pessoal não lli'o permittir.
No Brasil, é um juiz que preside ao casamento, para dar
ao acto maior solemnidade, e fazer sentir a sua importância-
O official do registro, que, em alguns paizes, é a autoridade com-
petente para receber as declarações dos contrahentes, entre nós
apenas assiste ao acto, para reduzil-o a termo e inscrevel-o no
livro competente.
Os nubentes devem declarar ao presidente do acto, que os
interroga, se persistem no proposito de casar, e se o fazem por
livre e espontânea vontade, porque é o consenso, o accôrdo das
vontades que fôrma o vinculo matrimonial. A intervenção da au-
toridade publica tem por fim, apenas, homologar a manifestação
da vontade dos nubentes, e o cortejo das solemnidades nada mais
é do que o modo de dar corpo, repercussão e publicidade ao que
resolvem e declaram querer os nubentes. Se, pois, um delles, se
recusar, no momento, a fazer a affirmação da sua vontade no
sentido do enlace projectado, a autoridade suspenderá, immedia-
tamente, o acto, como determina o art. 197.
Ainda no acto da celebração, podem ser apresentados impe-
dimentos. Cabe ao presidente do acto, a cujo conhecimento te-
nham sido levados, aprecial-os e oppôl-os, se os julgar sufficiente-
mente provados ou, pelo menos, em condições de justificar a grave
medida da suspensão da solemnidade.

Art. 195 — Do matrimônio, logo depois de ce-


lebrado, se lavrará o assento, no livro de registro
(art. 202).
No assento, assignado pelo presidente do
acto, os cônjuges, as testemunhas e o official do
registro, serão exarados:
49
DO DIREITO DE FAMÍLIA

I. Os nomes, prenomes, datas de nascimento,


profissão, domicilio e residência actual dos con
juges.
II. Os nomes, prenomes, datas de nascimento
ou de morte, domicilio e residência actua c os
paes.
III. Os nomes e prenomes do cônjuge prece-
dente, e a data da dissolução do casamento an-
terior
.IV. A data da publicação dos proclamas e da
celebração do casamento.
Y. A relação dos documentos apresenta os ao
official do registro (art. 180). _ . .
YI. Os nomes, prenomes, profissão, domici-
lio e residência actual das testemunhas.
YII. O regimen do casamento, com decla-
ração da data e do cartorio, em cujas notas toi
passada a escriptura ante-nupcial, quan ^ 0 J
gimen não fôr o da communhão, ou o legal, esta-
belecido no titulo III deste livro, paia cer os ca
samentos.
Direito anterior — Não ha no Dec. n. 181, de 24 de '
o excesso de minúcias deste artigo, mas, na essencia,
delle (arts. 29-31).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, ait _
de 21 de Junho de 1907); italiano, 383; suisso, 118 (es ®
limita-es a declarar que o official do registro civi . .
immediatamente, aos cônjuges uma certidão do casame ,
chilena, de 10 de Janeiro de 1894, art. 18. e ^^ulamento de 24
de Outubro do mesmo anno, arts. 35 a 37; Codigo
guay, art. 98; venezuelano, 118. g79; Bevüaquaf
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1-
228; Revisto, 247-249.

4
Beviláqua — Codigo Civil — 2.0 vol.
50 CODIGO CIVIL

Observação — Este artigo é devido á Commissão da Gamara,


em 1901, ou antes, ao relator desta parte, Anísio de Abreu. O Pro-
jecto primitivo era muito sobrio, e o Revisto, reproduzia o Dec. de
24 de Janeiro de 1890. Ha, no artigo, exigências muito dispen-
sáveis, como a que se refere á data do nascimento dos paes, que
nenhuma utilidade pode ter, salvo crear mais uma difficuldade
ao casamento, quando a preoccupação da lei devêra ser maior
facilidade compativel com as garantias, de que o acto se deve
cercar.
O termo do casamento é uma escriptura publica, e, conse-
quentemente, não deve ter emendas, ou entrelinhas sem resalva,
nem rasuras ou borrões, que o tornem suspeito.

Art. 196 — O instrumento da autorização


para casar transcrever-se-á, integralmente, na
escriptura ante-nupcial.
Direito anterior — Não havia esta exigência.
Legislação comparada — Sem correspondente.
Projectos ■— Sem correspondente.

Observação — Este artigo foi introduzido pela Commissão da


Gamara, em 1901 {Trabalhos, V, pag. 67) e, ainda que se lhe
acceite o pensamento, aliás pouco justificável, ou mesmo nada jus-
tificável, está deslocado. Não se trata nesta secçâo de escriptura
ante-nupcial e, sim, de celebração do casamento. E é desneces-
sário Intercalar, na escriptura ante-nupcial, por extenso, o instru-
mento de autorização dos paes, tutores ou curadores. Bastariam
a assistência e a assignatura dessas pessoas para obter-se o mesmo
fim, que é a certeza de que ellas concordam no casamento. Além
disso, é para a celebração do casamento que tem importância
decisiva a autorização dos paes, tutores e curadores, não para a
escriptura ante-nupcial, que está subordinada á validade do casa-
mento.
A autorização deve ser dada em instrumento especial, como
se vê deste artigo.
DO DIKEITO DE FAMÍLIA 51

Art. 197 — A celebração do casamento será


immedlatamente suspensa, se algum dos contra-
hentes:
I. Recusar a solemne affirmação da sua von-
tade.
II. Declarar que esta não é livre e espon-
tânea.
III. Manifestar-se arrependido.
Paragrapbo único. O nubente, que, por al-
gum destes factos, der causa á suspensão do acto.
não será admittido a retractar-se, no mesmo dia.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro


de 1890, art. 32).
Legislação comparada — D., 23, 2, fr. 2, 50, 17, £r. 3
mipiias. consensus facit. Ainda que não destacado em ar igo
especial de lei, este preceito é commum a todas as legislaç
Occidente.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.880 e 1.881, Bevila
Qua, 232 e 233; Revisto, 250 e 251.

Observação — Nenhum acto juridico depende mais


mente da vontade dos agentes do que o matrimônio. Os roma
assim o entenderam e proclamaram. O direito canomco o mesmo
affirmou; Matrimonium facit partium consensus mter personas
jure haUles legitime manifestatus; qui nulla humana po^es a^e
suppleri valet (Codex júris canonici, art. 1.081). Eugênio
disse: causa efficiens matrimonii est mutuus consensus.
moderno procura cercar a vontade dos nubentes de
rantias, para que seja espontânea e livre. O Codigo Cx , q
considera a coação um impedimento matrimonial, des o
pensamento, não permittindo a solemnidade da celebiação, s , P
qualquer modo, algum dos nubentes mosUa que não e 1
sar-se, ou recusa affirmar, solemnemente, a sua vou a e.
clara que ali se acha constrangido, ou affirma que se arrep
Esta necessidade da persistência da vontade livre e
imperiosa, em qualquer regimen; porém mais ainda o que
52 CODIGO CIVIL
outro qualquer deve ser naquelles, em que o casamento é indis-
solúvel. Para fazer vida em commum, é, certamente, indispen-
sável um impulso da vontade livre. Se essa vida em commum é
perpetua, ou, pelo menos, afasta a possibilidade de outro con-
sórcio, emquanto um dos cônjuges viver, somente o indivíduo
pode tomar sobre si esse encargo, e para tomal-o deve achar-se
livre de qualquer influencia extranha. Aos paes confere a lei o
direito de impedir o casamento do filho. Não lhes dá, porém, o
de por elle consentir.
O Dec. n. 181, de 1890, art. 33, no intuito de evitar a vio-
lência moral das pessoas, em cuja companhia vivesse, ou sob
cujo poder estivesse a menor, determinava que, se a mulher me-
nor de vinte e um annos se recusasse a declarar a sua vontade
no momento da celebração, ou se mostrasse arrependida, não
seria recebida a casar com o outro contrahente, sem que este
provasse que ella se achava em logar seguro e fóra da acção da
pessoa, que suppunha tivesse influído em seu animo para acceitar
o casamento. O Codigo não manteve esta disposição, que o Pro-
jecio pimitivo e o Revisto consagraram. Pediu-lhe a suppressão
o Conselheiro Andrade Figueira (Trabalhos, VI, pags. 68 e 69)-
Realmente parece dispensável esta exigência. Basta que o casa-
mento se não celebre, sem a manifestação clara e positiva da
vontade da nubente, e que não se lhe admita a retractação, no
mesmo dia.

Art. 198 — No caso de moléstia grave de um


dos nubentes, o presidente do acto irá celebrai-o
na casa do impedido, e, sendo urgente, ainda á
noite, perante quatro testemunhas, que saibam
lêr e escrever.
. § 1.° — A falta ou impedimento da autorida-
de competente para presidir ao casamento sup-
prir-se-á por qualquer dos seus substitutos le-
gaes, e a do official de registro civil por outro ad
hoc, nomeado pelo presidente do acto.
§ 2.° — O termo avulso, que o official ad hoc
lavrar, será levado ao registro no mais breve
prazo possivel.
DO DIREITO DE FAMÍLIA

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181 cit., aits. 34 e 35).


Legislação comparada — V. Codigo Civil italiano, art. 97,
suisso, 116, segunda parte; lei argentina, arts. 52 e 53; equato-
riana, de 28 de Outubro de 1902, art. 17; circular -franceza, de 15
de Outubro de 1852. Esta circular foi confirmada pela lei de 9 de
Agosto de 1919, que constitue o novo art. 75 do Codigo Civil
francez.
Projectos — Coelho Rodrigues, ats. 1.882 e 1.883; Bevila-
qu-a, 234 e 235; Revisto, 252 e 253.

Observação — O art, 193, principio, permitte que o casamen o


seja celebrado em casa particular, querendo as partes e consen-
tindo o juiz. Mas, no caso de moléstia grave de um dos nubentes,
que, por isso, esteja impedido de sahir. para celebrar o casa-
mento, a autoridade é obrigada a se transportai á casa P
dido, para presidir á solemnidade nupciaL E, sendo urgen
verá ir, ainda á noite.
Neste caso, como é o casamento celebrado em casa part.-
cnlar, as testemunhas serão as do art. 193,
isto é, duas. se os contrahentes souberem escrevei, e
um delles, não souber. Sendo porém, a celebração a noite as
testemunhas serão, sempre ouatro, e devem saber ler e escrevei
Aliás as testemunhas devem, em todos os casos, sa er
para assígnar o termo do casamento (ait. 195).
Não é clara a rcdacção do artigo, quanto ao nu"e™ ^
temunhas, mas. attendendo a que, se o
casa particular, por deliberação das paites e ac ^
não exige mais de duas testemunhas, se os
ver, devemos concluir que, também, no caso-em que ha
dade de ser reallsado, durante o dia, o casamento na ^aJ^con
Se
juge gravemente enlermo._ essas a clroumstancIa da
observando-se as prescnpçoes do art. 193.
noite que exige o maior numero de testemun i
Esta interpretação é conforme ao que estabeiece oDe ^
ro 181, de 1890. art. 34, culo deste ultimo Pro-
jecto primitivo e o Revisto. Os ai • (Tra-
jecto foram approvados sem emendas na ^mara em 1901 (T
Mlhos, VI, pag. 99, 1/ col.). A redacção, porem, foi depois modi
54 CODIGO CIVIL
ficada {Trabalhos, VI, pag. 564, art. 210), para se manter desde
então, inalterada, no essencial.
Deve lêr-se o principio do artigo, dividindo-o em duas par-
tes. l.a "No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o pre-
sidente do acto irá celebral-o na casa do impedido"; — 2.a —"B,
sendo urgente, ainda á noite, perante quatro testemunhas, que
saibam lêr e escrever".
Também é de notar-se que sómente no caso de urgência o
casamento se celebra á noite. Normalmente, a solemnidade se
realizará durante o dia.

Art. 199 — O official do registro, mediante


despacho da autoridade competente, á vista dos
documentos exigidos no art. 180, e independente-
mente do edital de proclamas (art. 181), dará a-
certidão ordenada no art. 181, § 1.° :
I. Quando occorrer motivo urgente, que jus-
tifique a immediata celebração do casamento.
II. Quando algum dos contrahentes estiver
em imminente risco de vida.
Paragrapho único. Neste caso, não obtendo
os contrahentes a presença da autoridade, a
quem incumba presidir ao acto, nem a de seu su-
bstituto, poderão celebral-o, em presença de seis
testemunhas, que com os nubentes não tenham
parentesco em linha recta, ou na collateral, em
segundo grão.
fiireito anterior — O mesmo, com ligeira modificação (De-
creto n. 181 cit., arts. 36 e 37).
Legislação comparada — V. Lei allemã de introdução, ar-
tigo 46, que manda vigorar o art. 50 de lei de 6 de Fevereiro de
1875; lei argentina, art. 52; lei equatoriana, art. 17; e o Codigo
venezuelano, 123 e 124. Para o direito canonico, vejam-se Monte.
Direito ecclesiqstico, § 893; o Dec. Ne temere, de 2 de Agosto de
1907, arts. 7.° e 8.°, e o Godex júris canonici, art. 1.098.
DO DIREITO DE FAMÍLIA 55

Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.884 e 1.885; Bevilá-


qua, 236 e 237; Revisto. 254 e 255

Observação — Duas são as liypotheses aqui consideradas: a


de urgência por algum motivo grave, e a de imminente lisco de
vida, que determina uma urgência mais imperiosa. Em qualquer
das duas liypotheses, o official do registro, se, a requerimento dos
interessados, a autoridade competente ordenai, daiá a certidão
de que os nubentes se acham habilitados para casar, dentro nos
tres mezes immediatos A certidão é dada á vista dos documentos
exigidos pelo art. 180; o que se dhpensa, é a publicação dos pro-
clamas durante quinze dias, como estatue o ait. 181.
Não define a lei o que se deve entender por motivo ui gen e.
O Dec. n. 181, de 1890. art. 36, referia-se ao serviço publico obri-
gatório. O Codigo, attendendo a que não era somente 0 S®1V1^Ü
publico obrigatório, que poderia determinai a necessi a e
uma ausência precipitada, ou que exigisse a celebração madiave
do casamento, preferiu deixar, ao critério do juiz, veii mar
tivo, e resolver se justifica a dispensa da publicação dos pro
clamas
No caso de immlneate risco de vida, não s°mente a aUt0r^to
pôde dispensar a publicação dos proclamas, <^o, ainda e licito
ás partes, não podendo obter, com a necessária a^";ia' 0 ^
parecimento da autoridade ou do seu substituto, ^rar o eu
casamento na presença de seis testemunhas Na0 P°^m °
temunhas, neste caso, os ascendentes, os
mãos dos que, assim, se casam inextre
Como não se preenchem todas as fOTmaUtodeS'^dade do casa-
para apurar a capacidade matrimonial e a pu 1 testemu-
mento, nem se acha presente a autoridade Publica, ^ testem..
nhas, ainda que parentes dos nubentes. nao eve mentira
ximos, que motivem a suspeita de interessada ou P'e«»9a ^ e
Não exige o Codigo ^
se possa réalizar o casamento, se ' 01 -.oao art 39
Não é necessário, como prescrevera o dec. n. , c , ■ ^
que os contrabentes vivam em concubinato, ou enham
mum, ou haja a necessidade de reparar uma offensa a homa
mulher.
56 CODIGO CIVIL

Art. 200 — Essas testemunhas comparece-


rão, dentro em cinco dias, ante a autoridade
judicial mais próxima, pedindo que se lhes to-
mem por termo as seguintes declarações:
I. Que foram convocadas por parte do en-
fermo.
II. Que este parecia em perigo de vida, mas
em seu juizo.
III. Que, em sua presença, declararam os
contrahentes, livre e espontaneamente, receber-se
por marido e mulher.
§ l-0 — Autoado o pedido e tomadas as decla-
rações, o juiz procederá ás diligencias necessá-
rias, para verificar se os contrahentes podiam
ter-se habilitado para o casamento na fôrma or-
dinária, ouvidos os interessados, que o requere-
rem, dentro em quinze dias.
§ 2.° — Verificada a idoneidade dos cônju-
ges para o casamento, assim o decidirá a autori-
dade competente, com recurso voluntário ás
partes.
§ 3.° — Se da decisão não se tiver recorrido,
ou se ella passar em julgado, apezar dos recur-
sos interpostos, o juiz mandará transcrevel-a no
livro de registro dos casamentos.
§ 4.° — O assento assim lavrado retrotrahirá
os effeitos do casamento, quanto ao estado dos
cônjuges, á data da celebração, e, quanto aos fi-
lhos communs, á data do nascimento.
§ 5.° — Serão dispensadas as formalidades
deste e do artigo anterior, se o enfermo convales-
cer, e puder ratificar o casamento, em presença
da autoridade competente, e do official do re-
gistro.
57
DO DIREITO DE FAMÍLIA

Direito anterior - O mesmo, com algumas


para que as testemuniias se apresentassem a au o
vinte e quatro horas. Deviam Ueelarar. alem do ^ede
algo. que o enfermo tinha filho do outro eontrahente (dec.
mero 181 cit., arts. 38-43).
Projectos - Coelho Rodripues, arts. 1,886-1.8921 BevilMua.
238-240; Revisto, 256-261.

Observação — Prescreve este artigo as ficuiíilnlodvi


quentes ao casamento i» eXtremis, celebrado ^ ^r
muni,as, sem a presença da autoridade ^ „0
ao casamento, e do otticial do registro, segundo o estabelecido
art. 199, paragraplio único.
O Juis competente, para ouvir as cele-
dillgencias necessárias, e o mais im^i l ü| u residência
hrou „ casamento, aluda ^ ^ c ^ ^ fdrma de casa-
de qualquer dos cônjuges. Sendo excepm de vida,
mento. sdmente admissivel ! se os
o juiz verificará se, realmente ^ ordinaria, com a
contrahentes podiam se te, c lmpediment0 a0
presença da autoridade, e se i - contra, dentro em
matrimônio, ouvidos os interessados prd e ™""a' 0 casa.
quinze dias. Certificada a , homologará
mento, se a autoridade 3utll,!1" registro. Não sendo com-
o casamento e mandará inscreve remetterá o pro-
petente rationae r.ateriae ou rationae ^^rZvtes recorrer
cesso a quem o fôr, para que decida, podendo as partes
0
dessa decisão, o e puder ratificar ^
fôrma ordinária, dispensam-se as — "^^que
paragrapho umeo do artigo ante que é substituida
já se realizou, mas perde a sua e i > formalidaàes referem-se
pelas dos arts. 192 a 195. Todas es a ^ evitar que o en-
ao casamento m «ríicnlo ™0ríÍS' Quand0 terminarem as '
fermo falleça sem realizai o Vniidade do acto, depois
diligencias, e a to „ casamento no registro,
dos recursos facultados de falleoido Asslm presuppôe o
ordinariamente o doente ja assento retrotráe os seus
Codigo, e, por isso, determina que o assento
I
58♦ codigo civil

effeitos, quanto ao estado dos cônjuges, ao dia da celebração.


Se não sobrevier a morte esperada, e, por se acharem os côn-
juges era logar remoto, não puderem obter a presença da auto-
ridade em sua residência, nem tão. pouco lhes fôr permittido vir
até onde encontrem a autoridade, por continuar a moléstia com
a mesma gravidade, até se ultimar o processo com o registro do
casamento, é excusada a ratificação. Esta suppõe que o perigo
de morte desappareceu, emquanto marchava o processo e que ao
enfermo se tornou possível realizar o casamento na forma ordi-
nária. Mas se esta possibilidade só se verifica depois de regis-
trado o casamento, este produz todos os seus effeitos.

Art. 201 — O casamento pôde celebrar-se me-


diante procuração, que outorgue poderes espe-
ciaes ao mandatario para receber, em nome do
outorgante, o outro contrabente.
Paragrapbo único. Pôde casar por pro-
curação o preso ou o condemnado, quando Ibe não
permitta comparecer, em pessoa, a autoridade,
sob cuja guarda estiver.

Direito anterior — Mais restricto (Dec. n. 181, de 1890, ar-


tigo 44).
Legislação comparada — Veja-se o art. 194. Para o direito
romano, D. 23, 2, fr. 5.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.893 e 1.894; Revisto*
262 e 263. O Projecto primitivo admittia o casamento por pr0'
curação, porém não tinha artigo correspondente ao 201 do Có-
digo.

Observação — O dec. n. 181, de 1890, art. 44, somente Per'


mittia o casamento por procuração em caso de força maior-
O Codigo Civil não consagra esta exigência. Não é que acto de
tal magnitude não deva, normalmente, ser celebrado pelas pr0'
prias pessoas, que se unem pelo matrimônio. A.penas o Codig0
dispensa a prova de força maior, da necessidade imperiosa, e deixa
DO DIREITO DE FAMÍLIA 59

os interessados julgarem da conveniência da celebração do casa


mento por mandatario.
O procurador deve ter poderes especiaes, e, no instrumento
da procuração, deve ser feita a designação do nome, por inteiro,
do outro nubente.
O paragrapho único aponta, entre as pessoas, que se podem
casar por procuração, o preso ou condemnado, quando a autoii
dade não llie permittir o comparecimento ao logai da celebração
do matrimônio. Era excusada esta exemplificação, que não estava
no Projecto revisto, porquanto o artigo, no seu principio, per
mitte, sem restricções, constituir procurador, para representar o
nubente na solemnidade do casamento. E obvio que qualquer
pessoa esteja detida em cárcere publico, ou se ache no gozo da
sua liberdade, pôde utilizar-se dessa faculdade. Serviiá, to avia,
o dispositivo, para tornar certo que a autoridade, sob cuja guar a
estiver o detento ou condemnado, não o pôde impedii de passa
procuração para casar-se.
O estrangeiro não poderá casar-se por procuiação,
se a sua lei pessoal não lh'o autorizar.

CAPITULO V

Das provas do casamento

Árt. 202 —O casamento celebrado no Brasil


prova-se pela certidão do registro feito ao tempo
da sua celebração (art. 195).
Paragrapho único. Justificada a falta ou
perda do registro civil, é admissivel qua quer ou
tra especie de prova.
Direito anterior - O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 49).
Legislação comparada — Cod., 5, 4, Is. 9 e 13, Codigo )
franccz, art. 194; italiano. 117; bespanhol. 53; portuguez, 1.083.
venezuelano, 155; lei argentina, arts. 102-104.
Projectos - Coeino Rodrigues, art. 1.897; Bevilagua, 241;
Revisto, 264.
60 CODIGO CIVIL

Bibliographia — Direito ãci familia, § 21; Lafayette, Di'


reitos ãe familia, § 30; João Arruda, Casamento, ns. 89-94; Pon-
tes de Miranda, Direito ãe familia § 32; Cândido de Oliveira,
Manual do Coãigo Civil, V, §§ 74 e 76; Vampré, Manual, I, 109;
Almachio Diniz, Direito ãa familia, § 16; Martinho Garcez,
Direito ãa familia, §§ 23-27; Planiol, Traité, III, ns. 188-213;
Planiol et Ripert, II, ns. 216 e segs.; Huc, Commentaire, II nú-
meros 171-186; Laurent, Cours, I, ns. 185-190; Dias Ferreira, Co-
ãigo Civil portuguez, notas aos arts. 1.083 e 1.084; Colin et Ca-
pitant, Cours, I, pags. 151-155; Chironi, Ist., § 385; Ricci, Corso,
I, ns. 264 e segs.; Alexandre Herculano, Casamento Civil, gaè-
155 e segs.

Observações 1 — O casamento, como acto do maior relevo na


vida humana, tem um systema particular de provas. Em rigor,
uma prova única é admissivel para o casamento civil, celebrado na
Republica: a certidão ão registro, feito ao tempo da sua celebra-
ção. Somente no caso de faltar o registro, por estar perdido,
inutilizado, ou desapparecido, por culpa official ou não, é que
o Codigo permitte outro genero de provas: testemunhas, do-
cumentos, ou outras julgadas sufficientes e adquadas.
Em favor dos filhos, permitte o artigo seguinte a prova pela
posse ão estado ãe casado. Em relação aos cônjuges e durante a
vida de ambos, a posse de estado poderá servir para sanar algum
defeito de forma do registro, e, em caso de duvida, para que a
decisão seja a favor do casamento (arf 206). Bem se com-
prehende que se trata aqui, somente, do consorcio contrahido
depois da instituição e funccionamento regular do casamento
civil, com a Republica. Antes de 24 de Maio de 1890, o casamento
celebrava-se normalmente, segundo o rito catholico, e, portanto,
para a prova de um matrimônio celebrado a esse tempo, tem todo
o valor o assento parochial.
2 — Para casamento religioso com effeitos civis, veja-se a lei
n. 369, de 16 de Janeiro de 1937.

Art. 203 — O casamento de pessoas, que fal-


teceram na posse do estado de casadas, não se
pôde contestar em prejuízo da prole commuro,
salvo mediante certidão do registro civil, que
DO DIREITO DE FAMÍLIA 61

prove que já era casada alguma delias, quando


contraliiu o matrimônio impugnado (art. 183, nu-
mero VI).
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 51).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 197, ita
liano, 120: hespanhol, 54; venezuelano, 158, poituguez, 1.084
(fonte do dec. n .181 citado, cujo dispositivo o Codigo Civil bra-
sileiro adoptou); lei portugueza, de 25 de Dezembro de 191 ,
art. 47. Veja-se, também, o Codigo Civil allemão, art. 1.234.
Projectos — Goellio Rodrigues, art. 1.898; Beviláqua, 242,
Revisto, 265.

Observação — Posse do estado de casadas é a situação de


duas pessoas, que vivem, publicamente, como marido e mulher,
sendo como taes, geralmente, consideradas na sociedade.
4, 46, § 2.°, reconhecia o casamento daquelles que estivessem em
casa teúãa e manteúãa. por tanto tempo que. segundo direito,
haste para presumir matrimônio entre elles, posto se não pr
as palavras de presente. O direito vigente não admitte esses ca-
samentos presumidos, senão em favor dos filhos. Todavia, se se
provar, por certidão do registro, que um dos pretendidos côn-
juges era casado com outra pessoa ao tempo, em que se uniu
com aquella, que lhe apparece na sociedade, como consorte, 3a
não aproveita aos filhos a posse de estado dos paes, Porque o
estado de facto, evidentemente, não corresponde ao es a o
direito. , ^
Mais ainda, a posse do estado de casado s™ente dep° * da
morte de ambos os cônjuges pôde ser invocat a pe o
Durante a vida de qualduer delles, a prora ha de ser o W'™'
ou não existindo este, as due puderem ser obtidas pelo mtere _
sado, não bastando o laeto de se ter apresentado na 6°ciedad
como unido pelos vínculos do matrimônio, pois ^ esse
pende, exclusivamente, dos dois pretendidos cônjuges
A posse de estado, pôde, porém, ser invocada. d;;apte a 7^
dos cônjuges, para sanar o vicio de Incompetência a
que presidiu ao acto, se tiverem decorrido dois annos, depois
celebração (art. 208).
62 CODIGO CIVIL

Art. 204 — O casamento celebrado fóra do


Brasil prova-se de accôrdo com a lei do paiz,
onde se celebrou.
Paragrapbo único. Se, porém, se contrabiu
perante agente consular, provar-se-á por certi-
dão do assento no registro do consulado.
Direito anterior — O mesmo, salvo quanto ao casamento pe-
rante o agente diplomático, estabelecido pelo direito anterior e
desconhecido do Codigo (Dec. n. 181, de 1890, art. 52).
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.085;
francez, 170, com modificações das leis de 29 de Novembro de
1901 e 21 de Junho de 1907; italiano, 100; hespanhol, 11, pr.;
Einfuehrungsgesetz, 11 (a lei allemã, art. 13, não reconhece,
porém, o casamento celebrado, na Allemanha, perante agente con-
sular ou diplomático).
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.899; Beviláqua, 243;
Revisto, 266,.
Bibliographia — Direito internacional privado, § 40; Bak,
Lehrbuch, § 12; Fiobe, Droit international privé, II, n. 541; Sa-
vigny, Droit romain, VIII, § 279; Weiss, Manuel, pag. 447; Des-
PAGuNur, Précis, n. 247; Whaeton, Private int. law, § 169; Ro-
drigo Octavio, Le droit international privé, ns. 53-56; Calan-
drelli, Cuestiones de derecho internacional privado, I, pag. 271,
onde se lê a convenção de Haya, de 12 de Setembro de 1903;
Coãe Civil allemanã, puhlié par VOffice de lég. étrang., IV, nos
arts. 11 e 13, da lei de introd.; Aubry et Rau, Gours, VII, § 468;
A. C. Machado Villela, O direito internacional privado no Co-
digo Civil Brasileiro, Coimbra, 1921, n. 19; Planiol et Ripert, II»
ns. 233 e segs. •

Observações — 1. — O Codigo Civil acceita a regra locus regit


actum e faz applicação delia á solemnidade do casamento. A prova
dessa solemnidade deve, naturalmente, ser feita de accôrdo com
a lei do logar onde se realizou. Sobre esta matéria remetto o
leitor ao que já ficou dito na Introducção, commentarios ao ar-
tigo 11.
2. — Entrou em duvida se aos nossos cônsules fôra mantida
a competência para celebrarem casamentos de brasileiros, nos
63
DO DIREITO DE FAMIEIA

respectivos districtos. Examinada a macei ia, em face do '


Civil e do direito Internacional privado, o Ministro A™1"0 M
ques declarou que os cônsules podiam celebiar casame .
accôrdo com a lei patrla. sendo ambos os nubentes ^'eiros'
e não se oppondo a lei do paiz, onde funccionassem .
n. SS, de 20 de Dezembro de 1920). Veja-se, acerca desta mater a.
Cândido de Oliveira, Manual ão Goãigo Civil, V. §§

Art. 205 — Quando a prova da celebração le-


gal do casamento resultar de processo
inscripção da sentença no livro ce I^S1S_ n™n
produzirá, assim no que toca aos c0^^? ' • •
no que respeita aos filbos, todos os e
desde a data do casamento.

Direito anterior — Dec. n. 181, de 1890, art.


Legislação comparada - V. Codigo Civil francez, art. 198:
italiano, 122; venezuelano, 160.
Projectos - Veja-se a Otservacào abaixo.

Observação - O^ dec.
j tvn. 1«1
181, de 1890 art.
^ 55, assim dispunha.
casamento resultar
"Quando a prova da celebração g* g
iul ad o, no respectivo
de um processo judicial, a conjuges> qUer dos filhos,
registro, produzirá, quer a iesp celebração do casamento",
todos os effeitos civis, desde a data _ da ou
A hypothese ahi prevista ^ ^ celebrado o casamento,
se
falsidade do registro, de rec01lheCer a existência.
Declara a lei que, se a sentenç produzirá os effeitos
legal da celebração, a mscnpça paSamento foi celebrado,
do registro civil, desde a data. em que o casamento
• 1+A w ort
O Projecto primitivo alt 244
- 2 ' e o Revisto, art. 267, conser
g ligeiros ^toques na
varam esse dispositivo, fazend - ^ 2o9^ em nada se
forma. A proposição da^a^a1^ ad0) porém( modificando a re-
desviou desse pensamento. O b d p
dacção, e accrescentando a reterenc.a aos arts. 203
64 CODIGO CIVIL

jecto, que são os arts. 199 e 200 do Codigo, alterou, profunda-


mente. o pensamento do dispositivo.
A sentença, de que falavam o dec. n. 181 e os Projectos, era
a que puzesse termo a um processo tendente a provar que o casa-
mento não fôra legalmente celebrado. Imagine-se que alguém
supprime, dolosamente, o assento do seu matrimônio ainda exis-
tente, e se apresenta para casar, novamente, como solteiro. A mu-
lher abandonada oppõe-se ao casamento baseada na existência
do primeiro, que o marido nega ter existido, porque fez desappa-
recer as provas. Trava-se o debate judicial e o juiz profere a sua
sentença. Este julgado inscripto no registro substitue o assento
subtrahido, ou acaso inexistente. Outra hypothese: Numa succes-
são, nega-se a alguém a qualidade de filho, para afastal-o. Se a
pessoa, cuja filiação se contesta, provar que procede de casa-
mento legitimo, celebrado segundo o rito legal, a sentença, que
tal decidir, valerá como assento do matrimônio, desde que fôr
inscripta no registro.
Como ficára redigido o artigo do Codigo, porém, essas hypo-
theses estavam afastadas. Tratava-se nelle, simplesmente, da sen-
tença, que homologasse o casamento celebrado, in articulo mortis,
perante testemunhas, sem a presença da autoridade e do official
do registro. Aliás os dizeres do artigo, destinados, originaria-
mente, a traduzir outra idéa, não se ajustavam muito bem, ao
caso, que se lhes fazia regular, ainda que, para o casamento in
extremis, possa haver processo judicial ou litigio.
Justiniano de Serpa reclamou a correcção deste artigo no
sentido de lhe restabelecer o pensamento primitivo, e a nova
edição do Codigo supprimiu a referencia aos arts 199 e 200, res-
tabelecendo o pensamento da provisão.

Art. 206 — Na duvida entre as provas pró e


contra, julgar-se-á pelo casamento, se os cônju-
ges, cujo matrimônio se impugna, viverem ou
tiverem vivido na posse do estado de casados.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 53)-


Legislação comparada — Sem correspondência exacta. Ve-
jam-se, todavia, o Codigo Civil francez, art 198; o italiano. 113:
o hollandez, 156, e o venezuelano. 157.
65
DO DIKE1TO DA FAMÍLIA
oao ■ Beviláqua, 245;
Projectos — Coelho Rodrigues, art. x.
Revisto, 298.

^ j Ac cnsado, sóniento, vale


, Observação — A posse do esta o ^ em dois
como prova do casamento, no systema o em beneficio
08 c0
casos; l.». Depois de fallecidos ambos 2 o) Havendo pleito
da legitimidade dos filhos communs (art. . ^ ^ provas se
sobre a existência ou legalidade do ^asa°1^c.g0 0 juigador. Este
contrabalançarem, deixando perplexo e ^ ^ primeira é uma
dispositivo da lei funda-se em dUa® ^dades cultas, os casa-
razão social ou de política social. rque elles são o funda-
nientos devem ser tratados com íavoi, por A segunda
mento das famílias, e estas o da ^r0pl^gue_ge 0 que fôr mais
é uma razão de equidade; na áuYlã^' ^ etationem sequi non
benigno. In re ãuhia, benigniorem ^ ^ ^ ^ seria,
minus justius est quam tutius (D- 50, decahir da conside-
realmente, duro, sem* razões decisivas, az^ legitima, vive
ração publica uma família, que se apr_esea «nciedade. Nem tão
honestamente, e merece a consideração da
longe deve ir o rigor do direito.

CAPITULO VI

Do casamento millo e annullavel

a + 207
Art. OÍÍ7 F' millo e ade nenhum
filVins effeito,
o casamerito
quanto aos contrahentes e ao , ' er dos ns. I
contrahido com infracçao d q
a YIII, do art. 183.
..n mec. U. 181, de 1890, art. 61).
Direito anterior — O mesm „
t 1 10, § l^'• 81 a^vers
Legislação comparada —- V. us ., ^ uxorf nec nuptiae, nec
quae ãiximus, aliqui coierint, nec ^ o francez, art. 184;
matrimonium, nec dos intelligítur, o portugueza, de
italiano, 104; hespanhol, 101' ^^^^civil allemão, 1.323-1.328;
25 de Dezembro de 1910, art. 1 , ^-i na 29; Codigo Civil uru-
austriaco, 94; lei argentina, 89, c i e ,
guayo, 200; peruano, 160: venezuelano,
2 v0
(evilaqua — Codigo Civil -
66 CODXGO CIVIL

Projectos — Esboço, arts. 1.431-1.434, que seguiu systema


inteiramente diverso; Coelho Rodrigues, 1.903; Beviláqua, 246,
Revisto. 269.
Bibliographia — Direito da família, § 22; Lafayette, Di'
reitos de família, § 31; João Arruda, Casamento, ns. 149-151;
Cândido de Oliveira, Manual do Coãigo Civil, V, §§ 85 e segs.,
Pontes de Miranda, Direito de família, §§ 20, 23 e 35; S. VaM'
pré, Manual, I, § 110; Ludgbro Coelho, Casamento civil, pagi-
nas 205-211; Maetinho Garoez, Direito da família, §§ 28 e 29:
Rullidades, II, ns. 109-111; Tavares Bastos, Casamento de or-
phãos, pags. 129 a 142; Coelho da Rocha, Inst., § 227; Planiol,
Traité, III, ns. 327-®82; Planiol et Ripert, II, ns. 243 e segs.; Huc,
Commentaire, II, ns. 124, 125 e 135-158; Laurent, Cours, I, nú-
meros 167-170; Colin et Capitant, Cours, I, pags. 162-184; Aubbí
et Rau, Cours, VII, § 458; Gode Civil allemanã, publié par le Co-
mitê de lég. étr., notas aos arts. 1.323-1.328; Endbmann, LehT-
huch, §§ 160 e 161; Kohler, Lehrbuch, III, §§ 17 e segs.; ChiboNL
II, § 384; Dias Ferreira, Codigo Civil pvrtuguez, notas aos arti-
gos 1.083-1.088; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pag1'
nas 185-187; E. Hubeir, Exposé ães motifs, pags. 117-118.

Observações — 1. — O Codigo Civil distingue os casamentos


nullos dos méramente annullaveis, como havia feito em relaça0
aos outros actos jurídicos. Na primeira categoria, o vicio é in6
mediavel, salvo o de incompetência da autoridade, que assiste
ao acto, que é sanado pelo decurso do tempo (art. 208). Na se-
gunda categoria, os vicios são remediaveis (art. 209).
Sendo a nullidade de ordem publica, porque diz respeito a
essencia e ao caracter moral do casamento, pôde ser pedida Por
qualquer interessado ou pelo Ministério Publico. Por um defeit0
de redacção do Codigo, isto se não diz claramente, censura 0ue
HO
se não pôde fazer aos Projectos. Mas o paragrapho único u
art. 208, excepto quanto ao prazo, applica-se ás nullidades ^
art. 207. Seria uma grave lacuna da lei, se deixasse na duvida
a quem competia promover a nullidade do casamento. A lacuna-
em rigor, não existe, apenas o pensamento do legislador foi eX
presso, confusamente.
2. — Ainda que de ordem publica, as nullidades de casamenf0
não actuam .de pleno direito. Devem ser pronunciadas pelo jm2'
DO DUBEITO DA FAMÍLIA 67

provocado por quem o Codigo autoriza a requerer a nullidade.


Não se refere o Codigo aos casamentos inexistentes, que não ne-
cessitariam de um debate judiciário para ser declarados taes.
Os autores costumam apontar, como casamentos inexistentes, os
que não foram celebrados segundo as prescripções da lei, e
aquelles a que faltam os dois elementos essenciaes á formação
do casamento, isto é, a differença de sexos e a manifestação da
vontade.
Consideremos esses tres casos: O casamento não foi celebrado
com as solemnidades prescriptas no Codigo, nem perante a auto-
ridade civil. Se a autoridade civil é incompetente, e, por eno de
officio da sua parte, por ignorância dos nubentes, ou por outra
razão, funccionou no acto da celebração, como se a lei a tivesse
investido desse poder, o art. 208 considera o casamento nullo,
mas declara sanada a nullidade, se não se allegar, dentro em dois
annos. Se o casamento é celebrado não perante autoi idade civil,
ou ministro de algum culto, mas perante um individuo qualquer
não revestido de autoridade publica ou religiosa, não haverá ca-
samento em face da lei. A união será illegitima.
A differença de sexos é essencial ao casamento. A não ser
que se possa dar engano em casos raros de hermaphroditismo
ou deformações (Afranio Peixoto, Medicina legal, pags. 148-150;
Dictinnaire ães sciences méãicales, vb. Hermaphroãitisme;
Littrê et Roihx, Dictionnaire de méãicine, vb. Hermaphrodi-
tisme; A. Fllippi, Medicina legale, § 12), essa hypothese não me-
rece consideração.
Quanto á manifestação da vontade, também indispensável
á formação do casamento, o Codigo Civil não erige a sua ausência
em causa de nullidade, e, sim, de annullabilidade, pondo na
mesma linha a falta de consentimento e o vicio delle por coacçao
ou erro. Outro era o systema do Projecto primitivo. No art. 247,
declarava nullo o casamento; "quando o contrahente, por seu es-
tado de inconsciencia ou de perturbação da razão, se acha im
possibilitado de consentir, no momento da celebração". A coacçao
e o erro eram causas de annullabilidade (aits. 250 e 256).
Mas predominou a orientação tradicional do nosso direito, em
que se não faz a distincção em matéria de casamento, entre au-
sência e vicio de consentimento. Assim, o casamento do louco
annulla-se, porque elle é incapaz de consentir (ait. 183, IX), mas
não é nullo. A sua annullação não pode ser pedida pelo Minis-
tério Publico, e sim pelo proprio alienado, se recobrar a lucidez
68 CODIGO CIVIL

da razão, ou por seu representante. Esta é, também, a doutrina


da Corte de Cessação na França (Dalloz, 1888, primeira parte,
pag. 161).
Cumpre, entretanto, notar que a falta do consentimento, na
occasião de celebrar-se o matrimônio, impede a realização do
acto, do qual é formalidade substancial e parte principal (ai-
tigo 197).
3. — Qualquer interessado pôde pedir a declaração da nulli-
dade do casamento. Convém, todavia, saber quem se ha de consi-
derar interessado neste caso. Suppôr que, por serem as nulli
dades de ordem publica, a qualquer poderia competir o direito
de promover-lhe a declaração; seria extremamente perigoso para
a tranquillidade das familias e a moral" da sociedade. Attendendo
'a essa consideração, o Codigo Civil, que permitte a qualquei
Ipessôa maior oppôr os impedimentos, cuja existência determina
a nullidade do casamento (art. 189, III), depois de celebrado
este, restringe o direito de lhe pedir a declaração da nullidade
ao orgão incumbido da defesa da ordem juridica, o Ministério
Publico, e aos interessados, que são: a) os proprios cônjuges, os
seus ascendentes, descendentes, irmãos, cunhados, o primeiio
cônjuge do bigamo, representando a familia, e tendo, para fundai
a sua acção, um interesse puramente moral (art. 76); &) os col-
lateraes successiveis, os credores dos cônjuges, e os adquirentes
dos seus bens, o interesse dos quaes é de ordem econômica.
iComo o interesse dos collateraes além do segundo grão, sendo
hereditário, somente com a abertura da successão podia appa-
recer, era com a morte de um dos cônjuges, que elles podiam pro-
mover a nullidade do casamento. Essa interferência dos colla-
teraes alem do segundo grau desappareceu com o decreto-lei n-
1.907, de 25 de Dezembro de 1939.
O Codigo Civil brasileiro não faz, como o francez (arts. 184
a 187), a indicação das pessoas providas de acção contra a va-
lidade do casamento viciado de nullidade. Mas as pessôoas, a
que o Codigo Civil francèz e os seus commentadores se referem,
são as que, egualmente, aqui vão indicadas, com algumas difíe*
renças, que devem ser notadas. Os collateraes no segundo gráo
devem ter, como os ascendentes, interesse moral e não mera-
mente economico ou patrimonial na declaração da nullidade do
casamento. Por isso, foram destacados ao lado dos ascendentes
e.dos descendentes. Aliás a jurisprudência franceza reconhece,
em certos casos, o interesse moral dos collateraes, ainda além
69
DO DIREITO DA FAMÍLIA

do segundo gráo, (Dalloz, 1886, 1-" parte, pag. 1887, ^ par e,


pag. 313). Os descendentes não são contemplados, na ou nna
franceza, ao menos de modo positivo, entre as pessoas moral-
mente interessadas. Mas bem se comprehende que, abstralundo
de qualquer interesse patrimonial, ao filho do primeiro leito deve
a lei reconhecer o direito de invocar a nullidade do casamen o
de seu pae ou de sua mãe, nos casos de incesto, bigamia ou crime.
4. _ Casamentos celebrados em fraude á lei. Nao ha que
pronunciar a nullidade desses casamentos, porque não sao casa-
mentos, nem apparencia de casamento legal. Ha mero concubi-
nato revestido de solemnidades. Nesse caso não ha bigamia, q
presuppõe casamento valido.

Art. 208 — E' também millo o casamento


contrabido perante autoridade incompetente
(artigos 192, 194, 195 e 198). Mas esta nullida-
de se considerará sanada, se não se allegar en
tro em dois annos da celebração. _
Paragrapbo nnico. Antes de yencido esse
prazo, a declaração da nullidade poderá ser re-
querida :
I. Por qualquer interessado.
II. Pelo Ministério Publico, salvo se 3a hou-
ver fallecido algum dos cônjuges.
Direito anterior - O Dec. n. 181, de 1890, art. 108, declarava
que se considerariam validos, somente, os casamentos celebrados
de accôrdo com as suas disposições. Mas não dizia quem lhes po-
deria requerer a declaração da nullidade. Alias o in m 0
dispositivo era, apenas, declarar que o casamento rellsl0S0
produzia effeitos legaes, quando celebrado na Republica. Esses
effeitos eram attribui.dos, exclusivamente, ao casamento c .
O art. 74 do citado decreto não permittia o pedido de annullaç
ex-officio, depois da morte de um dos cônjuges.
Legislação comparada - V. Codigo Civil Irancez arta 190
c 191- Italiano, 104, 2.- parte, e 3 114; lei portugueza, de 25 de
Dezembro de 1910, art. 3.-; eanatorlana, de 28 de Outubro dd
1902, art. 9.-; chilena, art. 31; boliviana, arte. I.- e 2,.; argen-
tina, 14; Codigo Civil allemão. arts, 1.317 e 1.324.
70 CODIGO CIVIL

O direito canonico (Dec. de 2 de Agosto de 1907, sobre espon-


saes e casamentos, Codex júris canonici, art. 1.094), declara que
sómente são validos os casamentos perante o parocho, o ordinário,
ou outro sacerdote delegado por um delles: Ea tantum matri-
monia valida sunt quae contrahentum coram Parocho vel loci Or-
dinário vel Sacerdote ab alterutro ãelegato, et ãuobus saltem tes-
tibus, juxta tamen regulas in sequentibus articulis expressas, et
salvis exceptionibus quae infra ponuntur. As expressões contidas
nos arts. 7.° e 8.° (do decreto, ou art. 1.098, do Üodex) referem-se
ao casamento imminente mortis periculo, para attender á con-
sciência dos cônjuges ou legitimar a próle, o qual pôde ser, vali-
damente contrahido, perante qualquer sacerdote e duas testemu-
nhas {coram quolibet Sacerdote et ãuobus testibus), ou se nenhum
sacerdote fôr encontrado na região, o consentimento formal dos
cônjuges poderá ser, validamente, dado perante duas testemunhas
{matrimonium valliãe ac licite iniri potest em isso a sponsis for-
mali consensu coram ãuobus testibus). Veja-se, ainda, Monte, Di-
reito ecclesiastico, §§ 909-914.
Projectos — Beviláqua, arts. 247 e 248; Revisto, 270, 271
e 283.

Observações — 1. — A autoridade competente para presidir


á celebração do casamento é a que fôr designada na lei de cada
Estado da Republica. Se a autoridade fôr incompetente, de modo
absoluto, ratione materiae, ou relativamente, por não se estender
a sua jurisdicçã,o ao logar, onde o casamento foi celebrado, o acto
é nullo, por defeito de fôrma.
Refere-se o Codigo ás autoridades civis. Os parochos e outros
sacerdotes não são autoridades civis; mas o casamento por elles
celebrado não tem somente effeitos religiosos. Perante a lei tem,
hoje, valor (lei n. 379, de 16 de Janeiro, de 1937 e decreto-lei
n. 3.200, de 19 de Abril de 1941).
2. — A acção de nullidade extingue-se, neste caso, depois de
decorridos dois annos. E' um caso de decadência de direito, ima-
ginado para proteger os casamentos, em bôa fé, contrahidos pe-
rante autoridade incompetente. A tranqüilidade e a honra das
famílias justificam, plenamente, esta validação pelo decurso do
tempo, de um casamento irregularmente contrahido, se não havia
impedimentos, que o tornassem legalmente impossível, e se as
outras formalidades da lei foram observadas.
DO DIREITO DA FAMÍLIA 71

U' ocioso repetir que a lei nSo se refere ao casamento reli-


Bioso, e, sim, ao civil presidido por quem não tinha delesaçao
social para exercer essa funcção.
3. _ A declaração desta nullidade, antes de vencido o pi azo,
pôde ser pedida, pelas mesmas pessoas autorizadas a lequerer a
nullidade no caso do art. 207, isto é; qualquer interessado
Ministério Publico, que, aliás, não poderá pedil-a depois da moi e
de algum dos cônjuges.
Referir se-á esta restricção imposta ao Ministério Publico
somente á nullidade do art. 208, ou deverá comprehender, tam-
bém, as do art. 207? A razão da duvida procede de que o para-
grapho único do art. 208 allude, somente á nullidade por incom-
petência de quem presidiu ao casamento. Penso que, tanto no
do art. 208 quanto nos do art. 207, o Ministério Publico deve estar
impedido de promover a nullidade do matrimônio, se um dos côn-
juges já tiver fallecido. Fundo-me para assim opinar, na consi-
deração de que o casamento já está dissolvido, e, por isso, nao
mais affronta a moralidade publica. Restam delle, apenas, conse-
quencias, que, em sl, não ottemiem o decoro publico, a moral e
os bons costumes. A sociedade uâo tem interesse em ^tasebo.
Os particulares Interessados que tomem sobre si esse enca g .
O histórico da lei, a que, aliás, se não deve dar ™lorj ex^'
sivo, não elucida a matéria. O Pronto primitivo, art. 248, d,s
claramente, que o Ministério Publico, sômente durante a vxda do
cônjuges, poderá promover as nullidades dos arts. 246 e 247 que
correspondem aos arts. 207 e 208 do Oodlgo Civil. O Proieco
visto não contém essa elausula, que reappareceu em virtude d
uma emenda do Senado, sem debate sobre o ponto agora exa
nafio. • _
Porém, se a formação da lei nada instrue a respejto, a razao
jurídica está a dizer-nos que a sociedade interess;da ^^ii!i0ens
demnar as uniões illicitas, em pugnar pela pureza os
levaria muito longe a sua severidade, ferindo innocenteiS;.
vendo a vasa, que estava quieta, se promovesse a nullidade
casamentos já dissolvidos pela moite.
Esta é, aliás, a solução do Codigo Civil italiano, art. 114. e.
também, do francez, art. 190.
72 CODXGO CIVIL

Art. 209 — E' annnllavel o casamento con-


traliido com infracção de qualquer dos ns. IX a
XII do art. 183.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 63)-


Legislação comparada — Vejam-se as citações feitas, sob esta
rubrica, no art. 207, e mais: Codigo Civil allemão, art. 1.330;
suisso, 123; lei argentina, art. 90, e portugueza, art. 13, onde,
attendendo-se á differença entre casamentos nullos e annullaveis,
somente a estes últimos se faz referencia.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.905. Beviláqua, 249:
Revisto, 272.
O Esboço, art. 1.435, denomina annullaveis os casamentos que
o Codigo declara nullos por impedimentos absolutos, como a exis-
tência de casamento anterior, o incesto, o adultério e o crime-
Bibliographia — Direito da família, § 23; João Arruda, Ca-
samento, n. 161; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V,
§§ 94 e segs.; Ludgero Coelho, Casamento civil, pags. 211-233;
Martinho Garcez, §§ 30-38; Planiol, Traité, III, ns. 393-397 e
404-429; Huo, Commentaire, II, ns. 126-134; Laurent, Gours, 1-
ns. 167 e 168; Colin et Capitant, Gours, I, pags. 162-170; Gode
Civil allemand, publié par le Comitê de lég. étr., nota III ao ar-
tigo 1.323, e nota aos arts. 1.330 e segs.; Endemann, Lehrhuch,
II, §§ 162 e 163; Kohler, Lehrhuch, III, § 17; Chironi, Ist., H»
§ 384; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 187 e 193;
(E. Hubek, Exposé des motifs, pags. 118-119.

Observações — 1. — A annullabilidade do casamento resulta


:da falta de consentimento dos cônjuges ou das pessoas sob cuja
autoridade elles se acham. São annullaveis os casamentos: ein
que o cônjuge é incapaz de consentir por alienação mental ou
menoridade; em que o consentimento é viciado por coacção ou
erro essencial sobre a pessoa (art. 218); em que a manifestação
da vontade não pode ser dada de modo inequívoco; em que a vio-
lência toma a forma do rapto; a que não deram a sua approvação
os paes, o tutor ou o curador, ou essa approvação não foi supprida
pela autoridade; e os contrahidos por pessoas, que ainda u^o
attingiram á idade nupcial.
DO DIREITO DA FAMÍLIA

2. — As causas de nullidade de pleno direito dizem respeito


á própria essencia do matrimônio e ao seu caracter moral, por
isso a declaração da nullidade interessa, directamente, á socie
dade e pôde ser pedida pelo Ministério Publico; assim como
interessa á familia por motivos de ordem ethica. Ainda, a estra-
nhos concede a lei o direito de promover a nullidade do casa-
mento.
As causas da annullabilidade não são vicios, tão graves. Por-
isso, muito embora o casamento seja sempre de ordem publica,
o Codigo não provê de acção para o annullar, por esse motivo,
senão as pessoas nelle mais directamente interessadas: os pró-
prios cônjuges, os seus representantes legaes, os ascendentes,
irmãos e cunhados.
3. — O direito pátrio não considera o dólo, como vicio do con-
sentimento capaz de annullar o matrimônio. P também essa a
doutrina geralmente seguida pelas outras legislações, salvo o
Codigo Civil allemão (art. 1.334) -e o suisso (art. 125), que, alias,
admittem, com muita cautela, essa causa de annullação do casa
mento.
A exclusão do dólo de entre as causas de nullidade relativa
do casamento justifica-se pela necessidade de não tornar sobre-
modo precaria a segurança das familias, Não seria difficil allegar
um dos cônjuges que fôra induzido ao casamento pelas manobras
fraudulentás, as machinações, os artifícios do outro, porque o
proprio respeito reciproco, a cerimonia, o recato, o desejo de ser
agradavel escondem defeitos, que depois se revellam. B dar a essas
attitudes moraes o valor do dólo nos contractos communs seria
enfraquecer, excessivamente, a estabilidade do matrimônio e das
familias.

Art. 210 — A annullação do casamento con-


traindo pelo coacto ou pelo incapaz de consentir
só pôde ser promovida:
I. Pelo proprio coacto.
II. Pelo incapaz.
III. Por seus representantes legaes.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, dé 1890, artigos


64 e 65).
74 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, arts. 180 e


181; italiano, 105 e 106; suisso, 123, 126 e 127; allemão, 1.335
(quanto á coacção; a incapacidade de consentir torna o casa-
mento nullo, segundo o art. 1.325); lei chilena, arts. 32 e 34,
cujos dispositivos obedecem a outra orientação; argentina, 90,
ns. 1 a 3; portugueza, arts. 19-23.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.906, 1.907 e 1.909;
Bevilgqua, 250 a 252; Revisto, 273, 274 e 276.

Observações — 1. — De duas categorias de impedimentos, de


dois casos de annullabilidade fala o Codigo neste artigo: da
coacção e da incapacidade de consentir. Na coacção fica incluido
o rapto, que o art. 183, X, destacara, pois em nenhum outro ar-
tigo se faz referencia a esta modalidade da violência. Dentre os
incapazes de consentir se excluem os menores, de que se occupam
especialmente os arts. 212 e 213. Restam os loucos de todo o gê-
nero, os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade,
e os que, no momento da celebração do matrimônio, padeciam de
uma perturbação transitória do espirito, que lhes tirava o discer-
nimento. Veja-se o que ficou exposto no commentario 6.° ao ar-
tigo 183.
2. — O coacto e o que celebrou o casamento em estado de per-
turbação transitória da mente, uma vez restabelecidos em sua
liberdade e consciência, podem requerer a annullação do enlace
matrimonial, viciosamente contrahido.
No caso de incapacidade geral, permanente ou duradoura, são
os representantes legaes que promovem a annullação, porque
esses incapazes não podem comparecer em juizo, hão de ser nelle
representados ou assistidos por aquelles, a quem a lei confiou a
direcção de suas pessoas e a administração de seus bens.
3. — A acção do coacto extingue-se, decorridos seis mezes
depois que cessou a coacção (art. 178, § 5.°, I). A do incapaz
também dura seis mezes, que se contam: da data do casamento,
quando são os representantes legaes do incapaz que a propõem;
da cessação da incapacidade, quando a propõe o proprio cônjuge
incapaz, por ter adquirido a capacidade, que lhe faltava. Taxn'
bem podem os herdeiros do incapaz promover a annullação do seu
casamento, se o incapaz fallecer nesse estado (art. 178, § 5.°, XI) •
DO DIREITO DA FAMÍLIA •"

Ao cônjuge capaz, ao raptor e ao culpado da coacção, a lei


não confere o direito de pedir a annullação do casamento.

Art. 211 — O que contraMu casamento em-


quanto incapaz, pôde ratifical-o quando adquirir
a necessária capacidade, e esta ratificação retro-
traMrá os seus effeitos á data da celebração.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art 66).


Legislação comparada — V. Codigo Civil allemão, arts. 1.325
e 1.337: suisso, 128, 2.s parte; e lei argentina, 90, 1.°.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.908; Revisto, 275.
A falta de consentimento tornava o casamento nullo, no Pro-
jecto primitivo.

Observação — A ratificação, de que trata o artigo, é a ex-


pressa, feita perante a autoridade competente. A ratificação ta-
cita resulta, aliás, do decurso do tempo. Se passados seis me-
zes, depois que o incapaz se tornou capaz, e elle não intenta acçao
para annullar o casamento, tacitamente o ratificou.
A ratificação expressa tem por fim evitar que o casamento
possa ser annullado por terceiros, contra a vontade-dos cônjuges,
que, incapazes no momento da celebração, em seguida adquima
plena aptidão juridica. ,
Ainda annullado o casamento por defeito de capacidade, pro-
movida a acção por terceiro, não se acham os cônjuges impe
de casar, novamente, se, adquirida a capacidade, perdura ne
o desejo de se unirem pelo matrimônio.

Art. 212 — A annullação do casamento con-


traindo com a infracção do n. XI, do art. 183, so
pôde ser requerida pelas pessoas que m am o
direito de consentir e não assistiram ao acto.
76 CODIGO CIVIL

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 67)-


Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, arts. 182
e 186; italiano, 108 e 109; suisso, 128; lei argentina, 90, 2.°; por-
tugueza, arts. 14 e 15; Codigo Civil mexicano, arts. 238 e 239.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.909; Beviláqua, 251;
Revisto, 276.

Observação — As pessoas, emquanto sujeitas ao pátrio poder,


á tutela ou á curatela, não podem contrahir matrimônio, sem o
consentimento do pae e da mãe, segundo os preceitos dos arts. 183,
XI, 185 e 186, ou do tutor ou do curador, se se trata de tutelados
ou curatelados, salvo se esse consentimento foi supprido pelo juiz
(art. 187). A sancção desse impedimento acha-se no art. 212, que
autoriza aquelles que tinham o direito de consentir no casamento,
a requerer-lhe a nullidade, quando a formalidade da permissão não
foi cumprida, ou judicialmente supprida.
Somente os paes, tutores e curadores podem requerer a annul-
lação do casamento, por esse motivo. E' delles o direito de con-
sentir ou negar consentimento ao enlace; delles, egualmente, 0
direito de allegar essa macula do acto.
Não podem, porém, usar desse direito, se assistiram á cele-
bração do casamento. Entende-se que, tacitamente, consentiram'
E, decorridos tres mezes do dia, em que tiveram sciencia do casa-
mento, extingue-se-lhes o direito de annullal-o (art. 187, § 4.°,

Art. 213 — A animllação do casamento da


menor de dezeseis annos, ou do menor de dezoit0
será requerida:
I. Pelo proprio cônjuge menor.
II. Pelos seus representantes legaes.
III. Pelas pessoas designadas no art. 190?
naquella mesma ordem.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 88)'


Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, art. 184,
italiano, 110; lei argentina, art. 90, 1.°; lei portugueza, art. I4'
DO DIREITO DA FAMÍLIA

Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.910; Beviláqua, 252,


Revisto, 277.

Observação — O direito de requerer a annullação do casamen-


to por não terem os cônjuges edade nupcial, soífre varias les
tricções. Assim é que, se o representante legal do menoi tiver dado
o seu consentimento para o matrimônio, já não pôde allegai que
o seu filho, pupillo ou curatelado casou antes da edade lega . ao
podia fazel-o, sem a cumplicidade do pae, tutor ou curador. O me
nor, por seu lado, poderá afastar essa causa de nullidade, para
evitar imposição de pena (art. 214). Por fim, se do casamento
sulta gravidez, já se não pôde mais annullar (art. 215). Lm
pensação, o numero de pessôas, a quem compete promover a an
nullação do casamento, é mais extenso do que nos casos ate aq
examinados. AJém do menor e do representante legal, podem re-
querel-a: os ascendentes, consanguineos ou affins do menoi, assim
como os seus irmãos e cunhados, tendo os ascendentes pie
cia sobre os collateraes, e os consanguineos sobre os
A acção conferida por este artigo extingue-se decorridos seis
mezes depois de celebrado o matrimônio, quando a annu aç
fôr pedida por terceiros (os representantes legaes ou os parentes
a quem a lei dá esse direito). Se fôr o menor que promover a
annullação, os seis mezes contam-se do dia em que elle per ez a
edade nupcial (art. 178, § 5.°, n. III).

214 — Podem, entretanto, casar-se os


referidos menores, para evitar a imposição ou
o cumprimento de pena criminal.
Paragrapho único. Em tal caso, o juiz po-
derá ordenar a separação de corpos, até que os
cônjuges alcancem a edade legal.

Direito anterior - O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 17).


Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.860 e 1.861.
No Projecto primitivo e no Revisto, não ha disposição cor-
respondente .
78 CODIGO CIVIL

BibliograpMa — Cândido de Oliveika, Manual do Coãigo Ci-


vil, V, §§ 50 e 99; Ludgeko Coelho, Casamento civil, pags. 58-88;
Monte, Direito ecclesiastico, § 945; Macedo Soaees, Godigo Penah
nota 433 ao art. 276, paragrapho único; João Vieiea, Coãigo Penal
interpretado, I, ns. 118 e 119.

Observações — 1. — Refere-se o Codigo Civil aos casos, em


que tenha havido união sexual de menores, antes da edade, Que
a lei fixa para o casamento (dezeseis annos para a mulher e
dezoito para o homem), ou de pessoa maior com pessoa menor.
Não havia necessidade de considerar o facto em relação á pena,
não deve ser formiãine poenae que os cônjuges queiram legitimar
a sua união, mas em satisfação á moral, á honestidade das fa-
mílias, e no interesse da prole possivel. O casamento só se realiza,
a aprazimento das partes e dos seus representantes legaes. Ainda
que a redação do artigo permitta outra intelligencia, não a to-
lera a razão juridica.
A prova da necessidade de evitar a imposição da pena cri
minai, dizia o dec. n. 181, .de 1890, art. 17, paragrapho único,
deve ser a confissão do crime, feita por um dos contrahentes em
segredo de justiça, ouvida a outra parte, ou, não sendo possivel,
os seus representantes.
Permittindo, em taes casos, o matrimônio antes da edade
legal, determina o Codigo que o juiz, se achar conveniente, ordene
a separação dos cônjuges, até que attinjam á edade, em que se
permittem as justas nupcias.
2. — a disposição deste artigo, tirada do dec. n. 181, de 189°'
art. 17 e que o Projecto primitivo e o Revisto, intencionalmente,
afastaram, por ociosa, não está bem situada no capitulo das nulh'
dades do casamento. Melhor collocação lhe dava o dec. de 24 de
Janeiro de 1890, no capitulo da opposição de impedimento.
E' para notar-se, egualmente, que o citado decreto, art. l7,
principio, in fine, dizia "separação dos corpos", expressão eaul
valente a separação dos cônjuges, e não de corpos, como se lê 00
Codigo, art. 214. paragrapho único, dicção, que melhor assenta
no instituto do divorcio temporário quoad Uioram et habi<-a
tionem.
79
DO DIKEITO DA FAMÍLIA

Art. 215 — Por defeito de edade, não se an-


nullará o casamento, de qne resultou gravidez.
Direito anterior - Sem correspondente exacto, mas relacio-
nando-se com a matéria do dec. n. 180, de 1890, ar .
Legislação comparada — Codigo Civil francez, ai . ,
italiano, 110, 2.°; suisso 128, in fine; uruguayo. 201, 2. , mexi-
cano, 237, I.
Projectos - Bertlaoua, 254- D,.f,QNAL DO TRABALH^
XÜÜL^HO ^e.0NAL

Observação - Se a mulher menor de desesels hnnos_ ?endo'


nubii de tacto, ainda que não de direito, se torna & ■ ,
attenção ao tllho concebido, que estabelece um aç
na união dos cônjuges, e merece que o direito lhe
proprio, em que se deve desenvolver, que é a família const.t
por seus genitores; e, ainda, em attenção l
sociedade cerca a mulher na (jualidade d^mae, n ás
Codigo que se annulle o «en ^ ^ ^
menores de deseseis e aos meno aI;ha,11 em c„ndlções de
ainda que capazes de procreax, obstante
constituir e dirigir uma família; mas a 'am.l.a nao obstante
se constituiu, definitivamente, com a
1 r>
a gravidez revela. O cnrvHiP-o
odl80 acceita
acc os factos, e defende a exxs
irreKuiaridade da sua consti-
tencia dessa familia, apezar d

distingue o Codigo entre a


da mulher. Preoccupase é com a matern'daaa- ^tnuhll e
resulta um filho, ainda que a mulher, seja, ^ 'J
o marido meuor de dezoito annos, o da5ament0 ®as ae
assim, o codigo Civil —^
cisões italianas, que Permltte® a mullier, embora gravida,
annos impugnar o casamento, quan matrimônio,
já havia attingido á edade ^ 61 a ntispendencia,
Ainda que a gravtdez se ma^feS^ciada As palavras do Co-
a annullação não pode mais f 11 o ^ edaae| na0 se annul-
digo não permittem duvida. P0 ^
lará o casamento, de que resultou gravidez

rnftKFi HO REGIONAL DO TRABALHO


iTregião
80 CODIGO CIVIL

Art. 216 — Quando requerida por terceiros,


a annullação do casamento (art. 213, ns. II 6
III), poderão os cônjuges ratifical-o, em perfa-
zendo a edade fixada no art. 183, n. XII, ante
o juiz e o official do registro civil. A ratifica-
ção terá effeito retroactivo, subsistindo, entre-
tanto, o regimen da separação de bens.
Direito anterior — O mesmo, salvo quanto ao regimen de
bens, que era o dotal (Dec. n. 181, de 1890, art. 69).
liegislação comparada — V. Codigo Civil allemão, art. 1.337,
suisso, 128, 2.a parte; mexicano, 258, 2 °.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.911; Beviláqua, 25!3,
Revisto, -21%.

Observações — 1. — No art. 211, referiu-se o Codigo á rati-


ficação do casamento por aquelle que, sendo incapaz no momento
de celebrar-se o matrimônio, adquiriu, posteriormente, a capa-
cidade. Em rigor, esta só disposição poderia abranger aquelles
que ainda não attingiram á edade legal para as justas nupcias
os quaes entram, também, na classe dos incapazes. Mas o
lador quiz destacar o caso especial das menores de dezeseis ann08
e dos menores de dezoito.
2. _ ps terceiros autorizados a requerer a annullação do casa-
mento desses menores são os seus representantes legaes, os ascen-
dentes, o sogro e a sogra, os irmãos e os cunhados) Se taes pessoas
tiverem requerido a annullação do casamento, podem os cônjuge3
ratifical-o, expressamente, perante o juiz e o official do registr^
civil, quando perfizerem a edade legal. Quando os requeiente
forem pessoas, sob cuja autoridade não se achem os menores,
como os collateraes consanguineos ou affins, nenhuma duvida, oc
corre; mas, se forem os paes, no exercicio do pátrio poder, se «
rem tutores, que tenham proposto a acçâo, podem os cônjuges f1111
beis, porém menores de vinte e um annos) ratificar o seu ^
mento independentemente da vontade de seus representan
iegaes? r
A duvida é procedente, porque estas pessoas podem prom
a nullidade do casamento, .em que não consentiram, ainda quah
81
DO DIREITO DA FAMÍLIA

os cônjuges sejam nubeis, porém menores (axt. 212) • ® nttiD-


juges attingiram á edade legal do matrimônio, ain a_
giram á edade, que lhes confere a plenitude da capaa
Mas o dispositivo do art. 216, como o do art. 66 o ®
de 1890, ^permittindo aos cônjuges ^ a ratificagao
j-iQQnXII c^o nao a iaz< _
quando alcançarem a edade fixada no ar . ' • ' , , j „
depender de outra condição, que não seja a própria v0 de
cônjuges; portanto estão elles dispensados d^conseiij,
seus representantes. Evitam-se, por esse nr.T.p<j ^he-
ções successivas e successivas ratificações (pois os m
gando á maioridade, podem confirmar o seu consorcio '
turbação da paz domestica e dos interesses moraes a
E o casamento, embora annullado, colloca os
em uma situação, que se não confunde com a c 08 irite.
vam solteiros. Ainda neste caso, a regra mais con 01 dendo
resses da sociedade é decidir em favor do matrimônio,
á persistência da vontade dos cônjuges, á firmeza o ' ilia
revelam, e sobre cujas bases promettem constituir uma família
solidamente unida.

Art. 217 — A annullação do casamento nao


obsta á legitimidade do filbo concebido ou . avi
do antes on na constância delle.

Direito anterior - O Dec. n. 181, de 1890. art. 70, não se re-


fere ao filho concebido, ou havido, antes do casamento,
mente ao concebido na constância delle.
Legislação comparada — Codigo Civil suisso, art.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.912; Beviláqua, 255.
este Projecto estende a influencia beneíica do casamento annul-
lado, ao filho havido anteriormente; Revisto, 279.
Bibliographia — Direito da familia, § 24; Lafayette, Dir^01'
de familia, § 31, III: Ludgero Coelho, Casamento ^Vlet
231-233; Mabtinho Gaucez, Direito da família, § ' vrvosó
Mentha, Droit civil suisse, l, pags. 193-194; B. Hubeb,
des motifs, pags. 119-120.

Beviláqua — Codigo Civil — 2-0 vol.


82 COD1GO CIVIL

Observações — 1. — Annullado o acto jurídico, tem-se como


inexistente, desde o começo, e, consequentemente, nenhum effeito
produz. O direito romano e o direito pátrio, anterior ao dec. n. 181.
de 1890, applicavam ao casamento o rigor deste preceito; mas
a sorte dos filhos pedia um tratamento mais henevolo. E, como o
casamento emquanto não é annullado, se reputa valido, o favor
concedido aos filhos não importa sequer em quebra da symetria
jurídica. Elles foram concebidos ou nasceram, num período em
que o casamento, era tido por valido: são legítimos.
O Codigo Civil brasileiro extende o beneficio da legitimitade
aos filhos havido antes do casamento de seus paes. E' uma app^'
cação natural do principio da legitimação por subsequente matri-
mônio. Antes de declarada a nullidade, o casamento méramente
annullavel subsiste juridicamente como se valido fôra. Um dos
effeitos do casamento valido é legitimar os filhos dos cônjuge3-
havidos anteriormente. Esse mesmo effeito deve ter o casamento
annullado.
2. — Se, porém, o casamento'é nullo, já se não produzem esses
effeitos em favor dos filhos, que são illegitimos. Neste ponto di-
verge o Codigo Civil brasileiro do suisso, que concede a legiti-
midade, tanto no caso de nullidade relativa quanto no de nulli-
dade absoluta. E' uma decisão mais favorável aos filhos, qne 0
direito pátrio só admitte, quando se trata de casamento putativo-
O systema do nosso Codigo parece mais conforme á razão
jurídica. Uniões incestuosas, adulterinas e criminosas, contrabn
das de má fé, pela violência de impulsos libidinosos, que romP3111
os liames mais fortes da moral e affrontam a reprovação da so-
ciedade, não pode o direito considerar legitimas, apesar do simu-
lacro irritante do casamento. B' verdade que somente em relaça0
aos filhos haveria essa legitimidade, mas seria injusto que filhos
dessas pessôas, simplesmente porque ellas tiveram a audacia de
macular a santidade do matrimônio, merecessem melhor tra-
tamento do direito do que os nascidos de concubinatos recatado3
ou de passageiras uniões entre pessôas desimpedidas.
Se, porém, estavam de bôa fé os cônjuges, outra é a attitude
do direito, como se verá no art. 221.

Art. 218 — E' também annullavel o casa-


mento se houve, por parte de um dos nubenteSi
UO DIKEITO DA FAMÍLIA 83

ao consentir, erro essencial, quanto á pessoa do


outro.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 71).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 180,
2.a parte; italiano, 105, 2.a parte; suisso, 124; hespanhol, 101, 2 ,
lei portugueza, de 25 de Dezembro de 1910, art. 18; Codigo Civil
allemão, 1.332 e 1.333; austríaco, 57; lei argentina, arts. 16 e
90, 3.°; cbilena. 33, 1.°; equatoriana, de 28 de Outubro de 19)2,
art. 5.°; Codigo Civil uruguayo, 199, 2.a parte; venezuelano, 110,
2.a parte; boliviano, 115, 2.a parte; peruano, 163; mexicano, 236;
Japonez, 778, 1.°. Este ultimo Codigo considera nullo e não
simplesmente annullavel o casamento contraindo por erro sobie
a pessoa. Nos outros Codigos não ha uniformidade no modo de
regular a especie. Vejam-se, tembem, os arts. 1.083 e 1.084 do
Coãex júris canonici.
Projectos — Esboço, art. 1.438, 5.° que se refere a ignorância
ou erro, dólo e violência; Felicio dos Santos, 671, Coelho Roãri
gues, 1.913; Beviláqua, 256; Revisto, 280.
Bibliographia — Direito da família, § 23, 3.°; Lafayette, Di-
reitos de família, § 14; Ludgeuo Coelho, Casamento civil, pagi-
nas 233 e 235; João Arruda, Casamento, n. 162; Maktinho Gar-
cez, Direito da família, §§ 39 e 40; Cândido de Oliveira, Manual
do Codigo Civil, V, §§ 103 e segs.; Pontes de Miranda, Direito de
familia, § 11; Brasilio Machado, A instabilidade da família,
mercê do Projecto do Codigo Civil brasileiro; Trabalhos da Ga-
mara, II, pags. 137-138. {Parecer do des. Lima Drummond). III,
pags. 66-67 {Parecer de Anísio de Abreu); V, pag. 161 (Andrade
Figueira); Augusto de FIieitas, Annaes da Gamara, 1902, II,
pag. 51 (sessão extraordinária); Gonçalves Chaves, Parecer, em!
1902; João Chaves, Parecer, em 1913, pags. 72-73; Adolpho
Gordo e Lameira Lins, Discursos {Diário do Congresso, de 3 de
Maio de 1913); Justiniano de Serpa, Parecer, em 1915; Rodri-
gues Doria, Erro essencial de pessôa na lei brasileira do casa
mento civil, Bahia, 1916; Pothier, Mariage, ns. 308 a 310; Planiol,
Traitc, III, ns. 398-408; Huo, Gommentaire, II, ns. 69 a 84; Lau-
rent, Cours, I, n. 135; Príncipes, II, ns. 290-297; Colin et Capi-
tant, Cours, I, pags. 165-166; Aubry et Rau, Cours, Vil, § 462;
Planiol et Ripert, II, ns. 101-104; Coãe Civil allemand, pubhé
par le Comitê de lég. étr., notas aos arts. 1.332-1.334; Endemann,-
Lehrbuch, § 162; Koiiler, Lehrbuch, III, § 23, III; Fuhini, DelV,
84 CODIGO CIVIL

errore, ns. 149-159; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I. Pa'


ginas 188 a 190; E. Huber, Exposé ães motifs, pag. 118; DoMi^00
S. Cavia, La impotência y el error en la persona en el matrimon10-
Buenos Aires, 1315; Martinho Garcez Filho, Direito de fam^10"
I, p. 193 e segs.; Ferreira Coelho, Coãigo Civil, XV, p. 27 e segs

Observação — O Codigo Civil declara que o casamento, cor»0


os outros actos jurídicos, ê annullavel, se contrahido por erro
essencial, quanto á pessoa a quem se refira a declaração da v0
tade. Não vicia o casamento, porém, o erro, que interessa á
reza do acto e ao seu objecto, porque, nesta matéria, não seria01
possíveis taes confusões. E o erro em relação á pessoa, dado
caracter especialissimo do contracto de casamento, apresenta 1110
dalidade tal, que o Codigo sentiu a necessidade de definil-o e Pal
ticuralizal-o, no art. 219. No commentario desse artigo têm meb101
cabida as questões, que a doutrina tem suggerido a respeito
erro sobre a pessoa do cônjuge.

Art. 219 — Considera-se erro essencial so-


bre a pessoa do outro cônjuge:
I. O que diz respeito á identidade do outr0
cônjuge, sua honra e boa fama, sendo esse err0
tal, que o seu conhecimento ulterior torne insup
portavel a vida em commum ao cônjuge
nado.
II. A ignorância de crime inafiançável ^
terior ao casamento, e definitivamente julg^
por sentença condemnatoria. |
III. A ignorância, anterior ao casamerit '
de defeito physico irremediável, ou de molest1
grave e transmissível, por contagio ou herau^'
capaz de pôr em risco a saúde do outro conjuí '
ou de sua descendência. ,0
IV. O defloramento da mulher, ignora
pelo marido.
DO DIREITO DA FAMÍLIA 85

Direito anterior — Differente, quanto aos ns. I e II, silen-


cioso quanto ao IV (Dec. n. 181, de 1890. art. 72).
Liegislação comparada — Veja-se o artigo anteiior, e mais.
Codigo Civil italiano, art. 110; lei portugueza, art. 20. O Codigo
Civil do Perú, art. 192, ns. 11 e 13, considera a loucura perigosa,
as moléstias contagiosas e a condemnação por crime infamante
causas de divorcio. Semelhantemente a lei chilena, art. 21, ns.
e 11. O Codigo Civil hespanhol, art. 83, 3.°, destaca a incapacidade
genital, entre os impedimentos para o matrimônio, como fazia
direito canonico.
Projectos — Estíaço, art. 1.439; Felicio dos Santos, 665 ^e 671,
Coelho Rodrigues, 1.914 e 1.915; Beviláqua, 257 a 260, Revisto,
281 e 282.
Não ha uniformidade nos dispositivos desses Projectos.
Bibliographia — A do artigo anterior. Adde: Gabba, Quisti)om
ãi ãiritto civile, 1897, I, pags. 21 a 26; Afranio Peixoto, Medicina
legal, 1910, 147 a 155; Souza Lima, Observações sobre o o igo.
Civil, na Revista de Direito, vol. 50, pags. 439 457, A. Fi
Medicina legale, § 13; Brouardel, Le rnariage, pags. 115 e s g ,
Lacassagne, Médicine, judiciare, 1886, pags. 100 a 104, Legra d
du Saule, Traité de médicine légale; Grande encyclopedie Vb.
Impuissance; Forbl, La question sexuelle, 1906, pags. 225 e
Henrique Vieira de Araújo, Do erro essencial da pessoa, (these),
Rio de Janeiro, 1916; Trabalhos do Senado, III, pags. 14, 28,
85 e 93.

Observações — 1. — A matéria deste artigo tem suggerido as


mais vivas controvérsias, mostrando-se a doutrina um tanto pei
plexa para assentar, definitivamente, o que seja erro essencia ,
quanto á pessoa, na celebração do casamento.
Foi intuito louvável do Codigo tentar esclarecer as obscun-
dades, que se haviam accumulado, e offerecer,^ ao applicador a
lei, seguros pontos de apoio, para se não desviai da senda, i ^
cada pela razão juridica. Infelizmente, porém, a sua determmaç
deixa a desejar, quanto ao n. I do art. 219.
O Projecto primitivo, art. 257, 1.°, considerava modalidade de
erro sobre a pessoa do cônjuge a ignorância de seu estado cm
e religioso; e o Projecto revisto, art. 281, 1.», acceitou essa for-
mula, que, ainda hoje, me parece mais precisa e mais conforme
ás necessidades sociaeís do que a do Codigo. Queiia ella dizer que
CODIGO CIVIL

o casamento seria annullavel, se contrahido por engano: I. Con1


pessoa cujo estado de família não fosse o que o outro conjug6
tinha razão de suppôr. Ser, por exemplo, a pessoa viuva, quando
se a julgava solteira, ter filho, sem que disso tivesse conhecimento
o outro cônjuge; ser oriunda de relações espúrias, quando a sua|
filiação era tida por legitima, constituiriam erros capazes de
annullar o casamento. II. Se o cônjuge fosse padre ou frade, igno*
rando o outro esta circumstancia.
Contra esta ultima determinação, objectou-se que, sendo 0
nosso direito absolutamente leigo, prescrevendo a Constituição
inteira independência entre o espiritual e o temporal, não podia
considerar o Codigo Civil causa de annullação do casamento o
estado religioso de um dos cônjuges. A objecção é, visivelmento»
improcedente. O direito civil brasileiro não impede o casamento
daquelle que fez voto solemne de castidade perpetua, do que re'
cebeu investidura sacerdotal, ou entrou em ordem religiosa; não
se preoccupa com a crença, a religião, a seita de quem quer q>ie
seja. Mas, se o cônjuge allega que foi induzido, por erro, a Pra'
ticar um acto que repugna á sua consciência, o Estado não tem
motivos para o não attender. Não é a crença religiosa que int®'
ressa á lei civil, é o constrangimento moral, em que se achará
o cônjuge, neste caso, como no de ter, por exemplo, um homem
desposado uma rameira, que se lhe apresentara como recatada
donzella (n. IV), ou de ter a mulher recebido, por marido, 11111
abjecto crimiposo. que tomára por cavalheiro de moral illibada
(n. II).
2- A fórmula do Projecto foi substituída por uma outra»
que, depois da critica, soffrida, na Gamara e no Senado, se trans-
formou na que se encontra no Codigo, art. 219, I. Como observou
Justiniano DE Sebpa, melhor seria que o Codigo não tivesse id0
além da primeira phrase: o que diz respeito á identidade do outr<}
cônjuge, ou, melhor, como se lia na redacção da Gamara: ás Qua'
lidades pessoaes do outro cônjuge. Mas não quiz o Poder Legi8'
lativo inclinar-se pela simplicidade dessa fórmula, nem pela d0
Projecto primitivo. Estimulado pela critica, retocou, apenas, a
redacção, deixando intacta a substancia do dispositivo.
Identidade da pessoa pôde ser da pessoa physica e da civi1-
A primeira não offerece duvida, quanto á sua comprehensão, e
difficilmente será objecto de controvérsia em causa matrimonia1'
Uma substituição de pessoa, no acto da celebração do mat1"1'
monio, ainda quando um dos cônjuges é nepresentado por Pr0'
DO DIREITO DA FAMÍLIA 87

curador especial, se não deve ser consideiada impossível, é, p


menos, muito difficil na vida real, dos nossos dias, com a publi-
cidade, que a lei prescreve para o casamento.
Identidade civil é o conjuncto de attributos ou qua i a e
essenciaes, com que a pessoa apparece na sociedade. ^
Afastemos as distincções dos canoni.stas: erro de pessoa, e
fortuna, de condição e de qualidades, substanciaes e accidentaes.
Nenhum esclarecimento nos podem trazer, porque não coi
com o delles o ponto de vista, em que o Codigo se collocou. ua_
dades essenciaes, que constituem a identidade da pessoa civi
os modos pelos quaes a pessoa existe na sociedade, sem os qm
deixa de ser o que apparenta. Não as determinou, de modo pre-
ciso, o Codigo Civil, deixando ao juiz esclarecido pela doutrina
uma certa largueza para solver os conflictos, que se lhe aprese
tarem. Mas, examinada, attentamente. a matéria, reconhecer-se-á
que as qualidades essenciaes da pessôa civil não podem hoje ser
outras, senão as que se referem ao estado de familia e ao
religioso. . ., ,
De facto, a circumstancia de pertencer o indivi uo a um
terminado paiz ou a certa religião não tem, actualmente, influen-
cia em matéria de casamento. O direito civil abre as suas poi a
a todos, sem distincção de nacionalidade, e o direito publico pro-
clama a mais ampla liberdade de crenças. A condição civil e tam-
bém a mesma para todos, depois que desapparecei am os esc
Outras considerações que poderiam actuar sobre a escolha dos
cônjuges são destacadas em seguida: a bôa fama, a honra, a con
d em nação por crime de certa gravidade, a existência de defei os
irremediáveis ou de moléstia contagiosa. Temos, pois, que
restringir ao modo de ser da pessôa na familia, á investiduia
cerdotal, e ao voto solemne de castidade, proferido pelos que
tram em ordem religiosa, quando este facto pôde detei minar
irreductivel escrúpulo de consciência, um giande abalo n
parté do outro cônjuge. Senão o erro tal que o seu conhecinven o
ulterior torne insupportavel a vida em commum, para o co ] j
enganado.
Assim, á fórmula do Codigo, — identidade do outro cônjuge
— eqüivale á do Projecto primitivo: estado civil e religioso.
3. — Além do erro referente á identidade da pessôa physica
e civil, admitte o Codigo que possa motivar a annullaçao dc casa-
mento o erro a respeito da honra e bôa fama do outro cônjuge.
Accentua-se aqui, no indefinido do texto, a responsabilidade do
88 COD1GO CIVIL

juiz, cujo arbítrio adquire grande extensão. O limite do seu ar-


bítrio está, por um lado, no final do dispositivo tQue o seu conhe-
cimento ulterior torne insupportavel a vida em commum), e por
outro no conceito, que se tenha de honra e bôa fama.
Honra é a dignidade da pessoa, que vive honestamente, que
pauta o seu proceder pelos dictames da moral. Est prerogativa
guaeclavi ex vitae morumque probitate causata, segundo se lê em
Oalvino. Eqüivale a valor moral do indivíduo, que se traduz em
consideração social.
Bôa fama, é a estima social, de que a pessoa goza, por se con-
duzir segundo os bons costumes. Esi ãignitatis illaesae flatus,
legibus ac máribus comprobatus.
A mulher, que, illudida na sua bôa fé, se vê casada com um
caften, encontrado na vida social com apparencias de cavalheiro,
e o homem, que desposa uma decahida, que, sob sua capa de fin-
gida honestidade, lhe conquistou a estima, podem invocar o ar-
tigo 219, I, do Codigo Civil, para dissolver uma sociedade con-
jugai, que lhes revolta a dignidade.
4. — A ignorância, de que o cônjuge fôra anteriormente, con-
demnado por crime inafiançável, constituo, também, como a que
se refere á bôa fama erro essencial sobre qualidades essenciaes
de pessoa moral. O crime deve ser inafiançável, isto é, em regra,
a que o Codigo Penal imponha pena de prisão cellular ou reclusão
superior a quatro annos (art. 406); porque um acto desta cate-
goria desclassifica a pessoa na ordem social, revela uma alma
ethicamente inadaptada, e é de presumir que, se o outro conjugo
conhecesse essas qualidades, não se teria casado. Anterior ao ca-
samento, porque depois de atado o vinculo, por livre consenti-
mento de ambos os cônjuges, não mais se dissolve; não pode
allegar-se erro sobre a pessoa, no momento de formação do con-
tracto, quando o crime foi perpetrado na constância do matri-
mônio. Ha, na hypothese, uma infelicidade, não um erro, que
tenha viciado a vontade, ou, se na realidade houve erro, não ha
um facto concreto e positivo, que o demonstre, juridicamente. A^
qualidades sobre as quaes erra o cônjuge devem ter se revelado
antes do casamento, ignorando-as elle, para que possa, razoa-
velmente, allegar que não se teria consorciado, se as tivesse co-
nhecido.
O Dec. n. 181, de 1890, dizia que o crime deveria não estar
prescripto, para poder o cônjuge invocal-o, como fundamento de
erro. O Codigo Civil poz de parte a prescipção, porque, real-
DO DIKEITO DA FAMÍLIA 89

mente, extinguindo a reacção social, não faz desappaiecer o crime


em si, a perversidade do indivíduo, as suas qualidades más. Exige,
porém, que o acto delictuoso já tenha sido, definitivamente, jul
gado, porque somente a sentença condemnatoria, podei á declarar
que se trata, effectivamente, de um crime e não de uma impu-
tação falsa.
5. — Depois das qualidades moraes, consideradas nos dois pri-
meiros. números, aponta o Codigo Civil, nos ns. III e IV, as qua
lidades physicas reputadas essenciaes, cuja ausência pode, quando
ignorada, motivar a annullação do casamento.
Em primeiro logar, destaca o n. III o defeito pliysico, ante
rior ao casamento e não conhecido do outro cônjuge. Nao é, ceita
mente, qualquer defeito physico que autoriza a annullação do ca-
samento, Deve ser irremediável, diz o Codigo, e cumpre accres
centar, pois que se trata do casamento: um defeito que impeça
os fins do casamento, como a inaptidâo para conceber ou paia
procrear
O Dec. n. 181. de 1890, punha em relevo a impotência como
defeito physico em condições de annullar o matiimonio. O Cod g
Civil preferiu não mencionar essa enfermidade, contentou se com
a indicação de defeito physico, irremediável, anterior ao casa-
mento.
Entre os defeitos desse genero mencionam os autores o
dúbio, as deformações genitaes e a impotência. Esta pôde sei
coeunãi, generanãi vel concepienãi. Somente a primeira, qua
irremediável e antecedente, deve ser considerada como de ei^o
physico annullatorio do matrimônio. A esterilidade, que alias
realiza a condição de anterioridade exigida pelo Codigo, nao con
stitue deformidade, que justifique a annullação do casa
A esterilidade impede a realização de um dos fins dmcasamen o,
a procreação: mas nenhum obstáculo offerece á união e ec iva
dos cônjuges, e nessa é que está a essencia do matrimônio.
6. — A ignorância de moléstia grare c transmissível
egualmente, erro essencial, quando preexiste ao casamento,
creto n. 181. de 1890, referia-se a moléstias incuráveis, o que
restringia mais as possibilidades de annullação de casamento
que a gravidade, a que se refere o Codigo. Aliás no circu
relações, de que aqui se trata, o direito attende, principa men e,
é ao contagio, á transmissibilidade Quer defender a saúde do
outro cônjuge, ou da sua descendência, e evitai que o ma se pro
pague. O conceito da gravidade pôde ser vacillante, mas
90 CODIGO CIVIL

será de tal modo que inutilize os intuitos da lei, principalmente


porque o legislador t^ve o cuidado de a caracterizar pelas pala-
vras: capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência.
A transmissibilidade pôde se effectuar por contagio ou por
herança.
7. — Defloramento da. mulher, ignorado pelo marido é a ul-
tima fôrma do erro essencial sobre a pessoa do cônjuge, que o
Codigo destaca Não nos devem impressionar certas objecções que
se têm levantado contra este dispositivo, dizendo-o fonte possível
de escândalos, e allegando as difficuldades que a perícia medica
encontra, muitas vezes, em determinar a realidade, e, sobre tudo,
o.tempo do desvirginamento, palavra que o Dr. Souza Lima acha
preferível, neste caso, a defloramento Taes objecções não pi"0'
cedem, porque os escândalos não desappareceriam com o silencio
da lei, e porque as causas de erro. na apreciação do defloramento,
ficam assás diminuídas, no caso agora examinado, pois a lei extin-
gue a acção depois de dez dias, contados da celebração do casa-
mento (art. 178, § 1.°).
A virgindade na mulher, que contráe primeiras nupcias, Por
isso que é indicio de honestidade e recato, é qualidade essenciah
de tal modo que, para falar com o canonista Van Bspen, impliotí6
nolit personam, si ipsi desit qualitas, in qua errat. O marido, na-
turalmente. não quereria o casamento, se soubesse que á mulher
faltava esse predicado,. Entre os hebreus, a virgindade era P1'6'
sada por tal fôrma, que a sua falta, na joven, que se casava,
não somente motivava o repudio, como a applicação de pena de
lapidação. A falsa accusaçãc por parte do marido era, egualmente
punida com pena corporal e pecuniária, para indemnizar o pae
da ultrajada.
8. — Ai acção conferida por este artigo, ns. I, II e III, extin-
gue-se em dois annos, contados da data, em que o cônjuge en-
ganado teve conhecimento do facto (dec. de 29 de Jan. de 1935),
ou da data da execução do Codigo, para os casamentos anterior-
mente celebrados (art. 178, § 7.°, I). Não estava no Projecto
primitivo esta referencia aos casamentos anteriores ao Codigo Ci-
vil. Nem ha conveniência nella. No caso do n. IV, como já se
notou, a acção extingue-se em dez dias (art. 178, § 1.°), praz0
além do qual seria difficil á pericia medica verificar a verdade
do que allega o cônjuge, que se diz enganado, porquanto as lesões
encontradas poderiam ser posteriores ao casamento.
91
DO DlBEllO DA FAMÍLIA

Art. 220 — A annullação do casamento nos


casos do artigo antecedente só a poderá, eman
dar o cônjuge enganado.

Direito anterior — Semelhante (Dec. n. 181, de 1890, art. 73).


Projectos - GoelUo Rodrigues, art. 1.915; Beviláqua ^ e
260; Revistig, 282. Veja-se também o Esboço, art. 1.445,

Observação - O erro sobre a pessoa do cônjuge interessa


exclusivamente, ao outro. Não devem nesta matéria,
extranhos, nem, ainda, os parentes mais chega os, .. r
mente o cônjuge poderá decidir se a vida conjugai deve ;
apezar do erro. a que foi levado, ou se não e possível confor
mar-se com a realidade, segundo se lhe manifes
No caso do n. IV do art. 219, pois due defeito na
mulher, esta não será admittida a allegal-o. bom daduella
a ouem surprehendeu a falta de integridade somat.oa dadnela
que auppunha intacta, pdde prevalecer-se da acçao para annu
o casamento.

Art. 221 — Embora ammllavel, ou mesmo


nullo se contrabido de boa fe por atiiboc os^eon
juges o casamento, em relaçao a es es,
filhos, produz todos os effeitos civis, a
da sentença annullatoria.
Paragrapho único. Se um dos cof^u£fS ^
tava de boa fé, ao celebrar 0„c1^samen^;p-ff3rão
effeitos civis só a esse e aos filhos aproveitara .
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 75).
0
Legislação comparadar. -n
D. 91 > 2 > fr * 57, .§ D '; -mc.
Cod. nortu-
5, 5,
1, 4; Codigo Civil francez, ^ ^^93,^
guez. 1.091 e 1.092; hespaphol. 69, ^ g a 1M uruguay0,
97; Codigo Civil chileno, art. 122, suiss ,
92 CODIGO CIVIL

|208 e 212; boliviano, 119 e 120; peruano, 170 e 171; mexicano,


255 a 257 e 268; colombiano, 148; venezuelano, 151.
Ó Codigo Givil allemâo, arts. 1.345 a 1.347, attende á bôa fé
.dos cônjuges, nas suas relações reciprocas: porém não consagra
a theoria do casamento putativo, como a construiram a doutrina
canonica e, sobretudo, a franceza, e como a regulam os codigos
acima citados; a situação dos filhos é prevista no art. 1.699.
O Codigo Civil japonez, art. 787, recusa á declaração de nullidade
effeito retroactivo, e admitte, quanto aos bens, as conseqüências
do casamento putativo, segundo as regras acceitas entre nós.
O austríaco é mais radical; não reconhece effeitos da bôa fé, nem
acceita, consequentemente, o casamento putativo (arts. 102
e 1.265).
Projectos — Esboço, 1.447 a 1.449; Feliclo dos Santos, ar-
tigos 676 a 678 (exceptua do beneficio os casamentos do adúltero
condemnado como tal, com o seu co-réo^, e do cônjuge, que matou
ou tentou matar o outro cônjuge, com o seu cúmplice); Coelho
Rodrigues, 1.916 a 1.917; Beviláqua, 261 a 263. O Revisto era
incompleto, no que dispunha a respeito do casamento putativo
(Actas, pag. 89). Veja-se o art. 297. Foi Anísio de Aibreu que re-
poz no Projecto esta disposição que, injustificadamente, fôra elimi-
nada (Trabalhos da Camara, V, pag. 100, 2.a col.).
Bibliographia — Direito da família, § 24; Laeayette, Direitos
de família, § 33; Pontes de Miranda, Direito de família, § 36;
Vampré, Manual, I, § 112; Ludgero Coet.ho, Casamento civil,
pags. 245 a 248; João Arruda, Casamento, ns. 167 a 171; Marti-
nho Garcez, Direito da família, § 42; Mourlon, Répétions écri-
tes, I, n. 703; Planiol, Traité, III, ns. 430-461; Planiol et Ripebt,
II, ns. 315 e segs.; Huc, Commentaire, II, ns. 159-170; LaureNT,
Gours, ns. 182 a 184; Colin et Capitant, Cours, I, pags. 184-187;
Aubry et Rau, Cours, VII, § 460; Code Civil allemanã, publié par
le Comitê de lég. étr, III, notas aos arts. 1.345 a 1.347; Sanchez
Roman, Derecho civil, V, paginas 908 912; Uride y ChampeaV
Derecho civil colombiano, I, ns. 320-325.

Observações — 1. — Annullado o casamento, volvem as cou-


sas ao estado anterior, como se o acto se não tivesse realizado.
Consequentemente delle não procede nenhum dos effeitos, que a
lei attribue ao enlace matrimonial. Uma excepção ao rigor dessa
93
IXJ tVTKBITO DA FAMÍLIA

refira aere o art. 217, em favor dos filhos: a amiullasao mo °bsta


a legitimidade do filho concebido, ou havido antes, ou "a constan
cia do matrimônio. Somente a prole oriunda de lamento ann"l
n U0
lado goza desse beneficio; a que procedo de " *
illegitima. Outra excepção, e esta mais lata, pois a ran
samentos nullos e annullaveis, consagia o ar . v^nriuz
ção á boa fé dos cônjuges, o casamento nullo ou annulla:el pr0^
todos os effeitos do valido, até o momento em que, p
judiciaria, se dissolve a sociedade conjugai por elle estabelecid .
Declarada a nullidade do casamento contiahido a
dissolve-se a sociedade conjugai, como se tivesse so m
morte de qualquer dos cônjuges, os bens se pai ti ^ani °
segundo o regimen dos bens adoptado, os filhos avi os
nas concebidos são legítimos, os anteriores ao casament0 Sa0 ^
timados, cessam os deveres recíprocos dos cônjuges, inclusive.
como é de razão, o de prestar alimentos
2. - Houve duvida entre os autores quanto a
dos filhos incestuosos e adulterinos. Esses i os n anto n~o
legitimados por um casament0 Va^; ^if^samento putativo,
o poderiam ser, e com razao mais ^ ^ COI1Ceàe effeitos de
que é um casamento annullado, a q ^ n0 casamento
valido. O raciocínio, porem, e fals , P inqubsis-
putativo, se apaga o. vicio, que tornava o
tente; por uma consideração de equidade, imagina l d
não existiu até o momento em que foi
Aquelles que se acham ligados por vinculo matrimonial
validamente, casar-se como, egualmente, nao o po e ^ ^
na linha recta, e, na collateral, até o segundo gra0' '
bôa té, contrahirem casamento. Ignorando a m f tem ca-
a a
existente, o Codigo lhes vem em soccorro, e os '
sados, até o momento, em que o Poder ,uai"arI° t0 Taliao
ca
declarou a existência desta impossibilidade. impedi-
não podia effectuar-se nesta bypothese, porque ^
mento absoluto; portanto não é licito dizei "1" (|ecorrcm
casamento putativo, effeitos mais latos do 7a ^^sa-
d„ casamento valido. E, quanto matrimo-
mento se vier a realizar, depois de
nial, a legitimação se dará (art. 353).
3. - Se um sé dos cônjuges estava de béa ^
mente em relação a elle e aos filhos o casamento produ
94 CODIGO CIVIL

quando annullado, effeitos de valido. Os filhos são legitimes, e,


nessa qualidade, gozam de todos os direitos, que a lei confere aos
filhos desta categoria; mas o pátrio poder compete, exclusiva-
mente, ao cônjuge innocente, depois da annullação ou declaração
r
da nullidade. As vantagens, que o cônjuge culpado fez ao inno-
icente, por occasião e motivo do casamento, subsistem; cessam,
•porém, e se extinguem as que o innocente fez ao culpado (ar-
tigo 232). As doações propter nuptias, feitas por terceiros cadu-
cam em relação ao culpado, porque se não realizou a condição
a que estavam subordinadas: a realização do casamento.
Se a mulher é o cônjuge de bôa fé, prevalece, em seu favor,
,a hypotheca legal.
O cônjuge culpado não se exime, com a dissolução da socie-
idade conjugai, do dever de prestar alimentos ao innocente, se este
se achar em condição de os pedir.
4. — A redacção deste artigo não era das mais felizes. Dizia
que o casamento nullo ou annullavel produz, quando contrahido de
bôa fé, todos os effeitos de valido, desde a data da sua celebração.
Se a doutrina não estivesse solidaraente firmada, poder-se-iam
amontoar duvidas quanto á legitimação dos filhos anteriores ao
casamento. Depois não era o momento, em que começam os effei-
tos do casamento putativo, que cumpria assignalar. Esse momento
estava, naturalmente, indicado. Nem ha effeitos do casamento qoe
antecedem á sua celebração. O que era preciso dizer era o mo-
mento, em que cessavam os effeitos, para accentuar que a sen-
tença annullatoria não retroagia ao momento da celebração, ou
iao momento, em que, entre os cônjuges cessasse a ignorância do
impedimento, que lhes vedava o consorcio. Até o dia da sentença,
que pronunciar a nullidade ou annullação do casamento, produ-
zirá este effeito de valido. A nova redacção (lei n. 3.725, de
de Janeiro de 1919) corrigiu o defeito apontado.

Art. 222 — A nullidade do casamento pro-


cessar-se-á por acçao ordinária, na qual será no-
meado curador, que o defenda.

Direito anterior — Differente, quanto á natureza da acção,


que era summaria (Dec. n. 181, de 1890, art. 76). O mesmo»
quanto á intervenção do curador para defender o casamento
(cit. decreto, art. 115).
DO DIREITO DA FAMÍLIA 95

Pnojectos —- Esboço, art. 1.446; Coelho Rodrigues, 1.918, Que


estabelecia a acção summaria para pedir a nullidade e a ordi-
nária para pedir a annullação; Revisto, 284, que concedia a acção
summaria em todos os casos. O Pr o jecto primitivo não continha
disposição sobre esta matéria.
Bibliographia — Lttdgero Coelho, Casamento civil, paginas
248-250, e 374-375; Lafayettb, Direitos de familia, § 31; João
Arruda, Casamento, ns. 158 e 159; Cândido de Oliveira, Manual
do Godigo Civil, V, § 112; Martinho Garcbz, Direito da familia,
§ 43; Trabalhos da Gamara, II, pag. 97, 1." col., e V, pag. 100,
2.a col.
Observações — 1. — Duas determinações contêm este artigo.
A primeira, alterando o direito anterior, estabelece que a acção
para pedir nullidade do casamento é ordinária.
Entrou em duvida se esta matéria se incluia na esphcra do
direito substantivo, da competência do Legislativo fedeial, ou se
melhor caberia no processo, onde a competência dos Estados ^
de ordem constitucional. Ficou assente, porém, que a natme
da acção não é o direito procèssual que determina, e sim o
material. Nem loi por ter duvidas a respeito que o liojecto v
mitivo se absteve de consignar um dispositivo correspondente ao
do art. 222. O seu silencio significa, somente, que este assumpto
exorbita, algum tanto, do que, normalmente, constitue a matéria
dos Codigos Civis. E tanto é assim que não se encontram deter-
minações semelhantes em outros capitulos.
Diz o Codigo que a nullidade do casamento processa
por acção ordinária. Deve entender-se que se lefere tanto á dec
ração de nullidade absoluta, insanável, quanto á annullaçao poi
vicio menos grave, que pôde ser eliminado pela vontade dos
juges, ou pelo decurso do tempo.
As opiniões variavam, consideravelmente, quanto a ^
ponto. Coelho Rodrigues queria a acção ordinária, paia a rescisão
do casamento, e a summaria, para a nullidade, a Com missão
visora do Governo preferia, em qualquer hypothese, a ac^ão sum
maria; a Bhiculdade de direito de Minas Geraes apoiava a primeira
opinião; por fim, o Conselheiro Andrade Figueira viu pieva.ecer
o seu pensamento, que se acha exarado no Codigo.
Com a nossa organização processual, complicada e m >
teria sido preferível acceitar a proposta da Commissão
la. — Mantem-se a observação n. 1, pelo interesse histonco
e por conter algum esclarecimento sobre a matéria do artigo,
mas actualmente, o Codigo de Processo Civil é um só para to o
96 CODIGO CIVIL

o paiz, e estabelece o rito ordinário, em geral, para todas as ac-


ções (art. 291). Pelo art. 142, o foro competente para a acça^
de nullidade do casamento assim como para o desquite é o da
residência da mulher.
2. — A outra determinação do artigo refere-se á assistência
de um curador, encarregado de defender, o casamento, em todas
as causas tendentes a atacal-o, ou declaral-o sem valor.
E' o interesse social que esse defensor dos casamentos re"
presenta. A sociedade repousa sobre a organização das familiaS'
sobre a tranqüilidade dos lares. Tomou a si, por isso mesm0'
regular, previdente e carinhosamente, a união dos cônjuges, dan*
do ao instituto do casamento um logar distincto nas suas
E' portanto, o proprio interesse da sociedade, a organização Ju'
ridica da familia, a persistência do vinculo nupcial, a ordem
moral preponderante no casamento, que o curador defende, e
Ao
nao o interesse do cônjuge, contra quem é proposta a acçao u
nullidade, ou annullação do matrimônio.
3. — No direito canonico, o defensor vinculi é funccionai'10
permanente nas dioceses, sendo que o vinculo confiado á sua de-
feza não é somente o matrimonial, e, sim, também, o de ordeu3
sacras (coãex júris canoni, arts. 1.586 a 1.590).

Art. 223 — Antes de mover a acção de null1'


dade do casamento, a de annullação, ou a de
quite, requererá o autor, com documentos, que a
autorizem, a separação de corpos, que será coU'
cedida pelo juiz, com a possivel brevidade.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 77)'
Legislação comparada — Veja-se o Codigo Civil suisso, ai*'
tigo 170.
Projectos — Esboço, art. 1.446; Coelho Rodrigues, 1-^ '
Revisto, 285. O Projecto primitivo absteve-se de regular esta ma
teria, por lhe parecer extranha ao Codigo Civil.
Bibliographia — João Arruda, Casamento, n. 165; IjüJ>Gíf0
Coelho, Casamento civil, pags. 250-252; Cândido de Oliveira»
nual do Codigo Civil, V, § 113; Monte, Direito ecclesio
§ 1.326.
Observações — 1. — A separação dos cônjuges, como PA
minar da acção, que tem por fim a separação definitiva, Pe^a ^
97
DO DIREITO DA FAMÍLIA

solução da sociedade conjugai, é uma providencia, que a iarr


aconselha, pela inconveniência e até perigo de continuai em
o mesmo tecto os dois contendores no pleito judiciário. Paia que
os cônjuges tenham liberdade de acção, para tiral-os da situaça^
de constrangimento, em que se achariam, e, ainda, paia que a nr
tação não tenha, nos encontros inevitáveis de quem habita a
ma casa, motivo para recrudescer e desmandar-se, é de i azão q
se separem, provisoriamente. B, para que se não veja, nesse n
vimento, um acto de rebeldia contra a prescripção legal e as exi-
gências da sociedade, que impõem a vida em commum, aos qi
uniram para a vida, o autor da acção de desquite, nullida
annullação do casamento deve pedir que se lhe permitta dei a ^
habitação commum. Claro é que, se os cônjuges não mais lesi
diam no mesmo lar, esta providencia perde a sua razão
Ella vem, naturalmente, em soccorro do cônjuge innocente, a 2^
consciência se apresenta uma razão imperiosa paia des ^z®r
união, em que se acha, e cuja persistência se lhe torna m o
"vel. Não tem por fim homologar uma separação de ac o
la. — Apesar da clareza deste raciocinio, o Codigo o
so Civil e Commercial, do Districto Federal dispõe, no s
459, que a separação judicial de corpos é sempie necessa '
acto preliminar da acção de desquite, de nullidade, ou ^ ,
lação do casamento, quer os cônjuges estejam no domici
gal, quer não. Vejam-se os Codigcs do Ceaiá, ait. 771 e
art. 499. Este ultimo torna facultativo o pedido de seDa™ '
2. — Pelo Codigo Civil suisso, a cessação da vida em com ,
durante o processo de divorcio ou de separação de corpos,
to do cônjuge; a intervenção do juiz só é necessária par ,
os subsidios, que um dos pleiteantes tem de fornecer ao •
3.— Nas acções de desquite e nullidade de casamen o,
competente é o da residência da mulher (Codigo o
art. 142).

Art. 224 — Concedida a separação, a mullier


poderá pedir os alimentos provisionaes, que
serão arbitrados, na fôrma do art. 4 .

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890,


e Dec. n. 389, de 26 de Abril de 1890, que aboliu a cone
a que o primeiro se referiu, neste caso).
Beviláqua — Codigo Civil — 2.0 vol.
98 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, art. 1.388, 3.°; Coelho Rodrigues, 1.920,


Revisto, 286.

Observações — 1. — Obtida a separação preliminar, a m11'


lher, não tendo recursos proprios, poderá requerer ao juiz l116
lhe sejam prestados pelo marido os alimentos provisionaes, tanto
ipara sua substancia quanto para a sustentação da causa (de-
menta in litem). Estes alimentos podem ser pedidos em qualqu0r
estado da causa. Não distingue o Codigo o regimen de bens do ca-
eamento, como propunha o projecto Coelho Rodrigues, porqn6
ao marido compete sustentar a familia, qualquer que seja o re-
gimen, e, se aqui se trata de uma acção movida contra e^ei
suppõe-se que é delle a culpa. Naturalmente estará isento dessa
obrigação aquelle que não tiver recursos.
2. — Se os cônjuges não concordarem na determinação d03 ,
alimentos, cabe ao juiz íixal-os, segundo a regra do art. 400, atten
dendo ás necessidades da mulher e aos haveres do marido.
3. — Sobre as acções de alimentos, vejam-se: Cirnb, ÁcçõeS
summarias, pags. 157 e segs. da edição de Pedro Cirne;
Consolidação das leis do processo civil, arts. 786 e 787; CoBih-1^
Telles e Teixeira de Freitas, Doutrina das acções, § 99, e
que vem dito no commentario ao art. 396.

CAPITULO Vil

Disposições penaes

Art. 225 — O viuvo, ou ^ viuva, com filh08


do cônjuge fallecido, que se casar antes de fazei
inventario do casal e dar partillia aos herdeiros
perderá o direito ao usofructo dos bens dos
mesmos filhos.

Direito anterior — O Dec. n. 181, de 1890, art. 99, aléra da


perda da administração e do usofructo dos bens dos filhos, ^
punha ao pae ou mãe, no caso deste artigo, a perda de
terças partes dos bens, que lhe deveriam caber no inventario
casal.
1)0 DIREITO DA FAMÍLIA 99

Legislação comparada — Yejam-se o Codigo Civil portnguez,


arts. 1.235 e 1.236, e a lei argentina, art. 123, cujas providencias
são differentes das adoptadas no Codigo Civil brasileiro.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.921; Beviláqua, 264,
Revisto, 287. Estes projectos reproduziam o prescnpto no De-
creto n. 181, de 1890, art. 99.

Observação — O art. 225 contém a sancção do pi eceito esta


belecido no art. 183, XIII. A penalidade era mais forte no De-
creto n. 181, de 1890. A Gamara reduziu-a, por suggestão do Con-
selheiro Andrade Figueira {Trabalhos, VI, pag. 73), á perda do
usofructo, que, realmente, parece muito sufficiente paia os fins da
lei, principalmente porque a perda do usofructo acaneta a peida
da administração dos bens (art. 385), o que importa uma grave
diminuição na autoridade paterna.
Impondo aos viúvos, que tenham filhos do cônjuge fallecido,
a obrigação de fazer o inventario e dar partilha, foi pensamento
do Codigo solver a duvida, que suscitava o Dec. n. 181. varia-
mente interpretado, pensando uns que bastava o inventai io, opi
nando outros que este devia completar-se com a divisão dos bens.
Sobre esta matéria, veja-se o que ficou expendido no commenta
rio 10, ao art. 183.

Art. 226 — No casamento com infracção do


art. 183, ns. XI a XYI, é obrigatório o regimen
da separação de bens, não podendo o cônjuge
infractor fazer doações ao outro.
Paragrapbo único. Considera-se culpado o
tutor, que não puder apresentar, em seu favor,
a excusa da clausula final do art. 183, n. XY.

Direito anterior — O Dec. n. 181, de 1890, arts. 58 e 59, esta-


belecia o regimen dotal para os casos, a que se refere o art. 226
do Codigo Civil. Além disso, a mulher casada com infracção do
disposto no § 10 do art. 7.° perdia a facção activa do testamento
(art. 100).
100 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Veja-se o Codigo Civil portuguez,


art. 1.237, quanto ã mulher quinquagenaria. Sua faculdade de
dispor dos proprios bens fica restricta a uma terça parte. O Co-
digo Civil italiano, art. 128, impõe a multa de 300 a 1.000 liras,
á mulher que se casa antes de dez mezes depois de annullado o
seu casamento. Além disso, a mulher perdia as doações, lucros
dotaes, e successão provenientes do primeiro marido. Esta ulti-
ma disposição está revogada pela lei de 27 de Maio de 1929.
O venezuelano, artigo 165, pune a mulher, neste caso, com a
pena de tres mezes de prisão.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 1.922 a 1.926; Bevilá-
qua, 265 a 266; Revisto, 288 a 289.
Bibliographia, — Direito da família, §§ 13, 19 e 32; Ltjdgbko
Coelho, Casamento Civil, pags. 338-344; João Arruda, Casamento,
ns. 172 a 174; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V,
§§ 117 e 118; Westbrmark, Matrimônio umano, pags. 107 a 111!
Padelletti-Cogliolo, Storia dei diritto romano, pags. 162 a 171-

Observação — O Codigo Civil impõe o regimen da separação


de bens aos que se casam apezar dos impedimentos prescriptos
no art. 183, ns. XI a XVI. Esta matéria, em parte, já foi consi-
derada nos commentarios ao mesmo art. 183, e, em parte, sera
examinada nos commentarios aos arts. 258 e 259.

Art. 227 — Incorre na multa de cem a qui'


nhentos mil réis, além da responsabilidade penal
applicavel ao caso, o official do registro:
I. Que publicar o edital do art. 181, não sen-
do solicitado por ambos os contrabentes.
II. Que der a certidão do art. 181, § 1.°, antes
de apresentados os documentos do art. 180, ou
pendente a opposição de algum impedimento.
III. Que não declarar os impedimentos, cuja
opposição se Ibe fizer, ou cuja existência, sendo
applicaveis de officio, lhe constar com certeza
(art. 189, n. I).
101
DO DIREITO DA FAMÍLIA

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 104).


Leg-islação comparada — Vejam-se o Codigo Civil france
arts. 192 e 193; italiano, 125 a 126; venezuelano, 169 a
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.927; Revisto, 2^' 0
Projecto primitivo não impunha multas, por lhe paxecer faci
exorbitante da sua esphera.
Bibliographia — Lxjdgero Coelho. Casamento civil, ragmas
344-346; Cândido de Oliveira, Manual do Godujo Civil, V, „
Htrc, Gommentaire, II, ns. 151-158; Planiol, haité, III, ns.
358 e 361.

Observação - Neste artigo, o Codigo Civil estabelece penas


contra a leviandade ou negligencia do official do registro ci ,
a quem estão confiadas funcções de importância consi '
na phase preliminar das solemnidades matrimoniaes. O 01 s
Penal, nos arts. 207 e seguintes do capitulo, em que^ ra a as
malversações, abusos e omissões dos empregados públicos, p
varias modalidades de violações da lei, em que pode incorr ^
official do registro civil. As penas ahi comminadas ^ime
não fazem desapparecer a multa imposta pela responsa i if a
civil, se, por ventura, o funccionario incorrer em qua quer os
casos previstos pelo Codigo Penal. Egualmente poderá o
não revestir os caracteres de crime, e, não obstante, incidii na
penalidade civil aqui estabelecida.
O Dec. n. 9.886, de 7 de Março de 1888, também commmava
penas contra o official que, sem justa causa, i ecusasse ou^ demo
rasse qualquer registro, averbamento, annotação ou cextidão.

Ãrt. 228 — Nas mesmas penas incorrerá o


juiz:
I. Qne celebrar o casamento, antes de levan-
tados os impedimentos oppostos contra algum -
dos contrabentes.
II. Que deixar de recebel-os, quando oppor-
tnnamente oppostos, nos termos dos arts. 18J
a 191.
102 COD1GO CIVIL

III. Que se abstiver de oppôl-os, quando lhe


constarem e forem dos que se oppõem ex-officio
(art. 189, n. II).
IV. Que se recusar a presidir ao casamento,
sem justa causa.
Paragrapho único. Cabe aos interessados
promover a applicação das penas comminadas
nos arts. 225 e 226. A das deste e do art. 227 será
promovida pelo Ministério Publico, e poderá
sel-o pelos interessados.

Direito anterior — O mesmo Dec. n. 181, de 1890, (artigos


105 e 107).
Legislação comparada — Vejam-se o Codigo Civil francez,
arts. 156, 157, 192 e 193, e o italiano, arts. 123 e 124.

Observações — 1. -— O art. 228 declara applicaveis ao juiz as


penas comminadas no artigo anterior, além da responsabilidade
criminal, em que, por ventura, tenha incorrido. Veja se o que
ficou dito, no commentario ao art. 227.
2- No paragrapho único diz a quem cabe promover a appli-
cação das penas comminadas neste capitulo. Aos interessados
compete promover a applicação das penas prescriptas pelo ar-
tigo 225, isto é. as que têm por objecto reprimir infracções com-
mettidas por particulares, que se casam não obstante legalmente
impedidos de £azel-o. Cabe-lhes também o direito de exigir a
observância do art. 226. Ao Ministério Publico é imposta a obri-
gação de promover a applicação das penas dos arts. 227 e 228,
porque os infractores, nelles considerados, são funccionarios pú-
blicos. o official do registro civil e o juiz ou autoridade, a quem
a lei attribua a funcção de presidir aos casamentos. Apezar da
obrigação imposta ao Ministério Publico, faculta o Codigo aos
interessados o direito de accionar os funccionarios públicos, a
que se referem os arts. 227 e 228, pela falta de exacção no cumpri-
mento dos seus deveres, da qual lhes tenham resultado prejuizo.
TITULO II

Dos effeitos jurídicos do casamento

CAPITULO I

Disposições geraes

Art. 229 — Oreando a família legitima, o ca-


samento legitima os fillios communs, antes e es
nascidos ou concebidos (arts. 352 a oô ).

Direito anterior - O mesmo, ainda que a disposição do Có-


digo seja mais ampla do que a do Dec. n. 181, de 189J,
„ „r.i i 114 do Coãex júris
Degislação comparada — Veja-se o ai .
canonici.
, . i qqi 8 1.°, Beviláqua,
Projectos — Coelho Rodrigues, art. ■ > s
267; Revisto, 292.
Bibliographia — Direito ãa familia, § 25, João Arku ,
samento. n. 97; Ludoeso Coelho, pags. 153-168. Makiinho.Gas-
cez, Direito ãa familia, § 50.

Observações - 1. - O primeiro elfeito, o Codigo attribue


ao casamento, é a legitimidade da familia. Sob o pon o
social, da organização da vida humana sob a diiecçao
ê, realmente, este o objectivo que tem a lei, ieguland0_^
dos sexos, depurando os sentimentos, repiimindo as pal ' f
videuciando sobre o futuro da prole, cercand0(de.r®SPe^ - d
milia, sobre a qual repousa a sociedade civil. E a m trV
direito, na sua funcção orgânica e santificadora, que i
a familia legitima, da familia natural, e de ^.ae^uer
mentos inconsistentes ou ephemeros, que as mesmas nec
physiologicas reúnem e dissolvem.
104 CODIGO CIVIL

2. — A legitimidade da família estende-se aos filhos communs


dos cônjuges, havidos ou concebidos antes do casamento. E' a le-
gitimação por casamento subsequente, que será examinada nos
ccmmentarios aos arts. 352 e 354.

Art. 230 — O regimen dos bens entre côn-


juges começa a vigorar, desde a data do casa-
mento, e é irrevogável.

Direito anterior — Era principio assente, depois de alguma3


hesitações, salvo quanto ao momento em que deveria começar
a communhão legal. A Ord., 4, 46, § 1.°, fazia depender o inicio
da communhão dos bens de se ter consummado o casamento.
O dec. n, 181, de 1890, art. 57. faz datar o regimen da,commu-
nhão legal do dia seguinte ao do casamento, salvo se se provai'
que o casamento não foi consummado.
Legislação comparada— Que o regimen de bens entre côn-
juges começa a vigorar desde a data do casamento, é norma geral
conforme á natureza das coisas. {Dos ante nuptias data, earuw
expeetat adventum, doutrinava Paulo, Sentent, 2, 21, B). Mas
os Codigos não fazem desta norma objecto de um dispositivo
especial.
A irrevogabilidade dos regimens de bens é consagrada pelos
Codigos Civis seguintes; franc/ez, art. 1.395; italiano, 1.385; P01"'
tuguez, 1.105; hespanhol, 1.319 e 1.320; argentino, 1.219; chileno,
1.722; uruguayo, 1.944.
Admittem a alteração dos regimens: o direito romano (D. 23,
4, fr. 1: pacisci post nuptias, etiavi nihil ante convenerit licet;
Paulo, Sentent., 2, 21, B); o Codigo Civil allemão, art. 1.432;
o mexicano, 180; o suisso, 179 e 180.
O Codigo Civil japonez, art, 796, não autoriza, em regra, a
alteração do regimen matrimonial dos bens; mas, se o conjugo
administrador dos bens do outro os compromette, por sua ma
direcção, pôde o prejudicado, não somente, pedir á autoridade
para lhe entregar a administração, como, ainda, para ordenai'
a divisão dos bens communs.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.944; Coelho Rodri-
gues, 1.932 e 1.977 (differente quanto á data em que os regi'
105
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

meus começam a vigorar); Beviláqua, 268 e 3


mulher pedir a renuncia da .communhão, arts. 313 a
visto, 293.
Bibliographia — Direito ãa familia, §§ 31, 32 e '
fayette, Direitos ãe familia, § 53; Teixeira de Freitas, on
Uãação, nota (17) ao art. 88; Martinho Garcez, Direito da / -
milia, § 51; Coeuho da Rocha, Inst., §§ 242 e 256, Baudry
tinerie, Le Courtois et Surville. Du Contrai de mar ias ,
ns. 85-113; Planiol, Traité. III, ns. 813-828; Huc, Commenaire,
IX, n. 35; Laurent, Cours., III, n. 384; Rossel et Mentha, roí
civil suisse, I, pags. 257-262; Dias Ferreira, Coãigo Givi por u-
guez, nota ao art. 1.096.

Observações - 1. - Regimen dos bens entre cônjuges é o


'complexo de princípios jurídicos reguladoies das
P
nomicas entre marido e mulher. Pôde resultar .da lei ou
ante-nupcial. Em qualquer dos casos, somente com o casam
começa a vigorar, porque o seu objecto é a regulamen aça
vida econômica dos cônjuges. As convenções matiimo
celebradas sob a condição suspensiva, subentendida, se
mento se celebrar. A lei estabelece normas sobre o regm
bens, na supposição do casamento realizado,
E' desde o momento, em que o casamento se ce e ira, q
entra em vigor o regimen dos bens, poique, desde en a '
firma o estado de casado de cada um dos cônjuges, e se
lece a situação jurídica, para a qual foi creado.
2. — O Dec. n. 181, de 1890, banira as controvérsias susci-
tadas pela Ord. 4, 46, § Io que, influenciada pelo direito cano
nico e por apagadas reminiscencias germânicas, exigia consum
mação do matrimônio para se dar a communhão dos bens e
os cônjuges. Mas não se libertou, inteiramente, dos precon
incrustados na tradição, e declarou que os bens dos cônjuges serão
communs, na falta de contracto ante-nupcial, desde o
guinte ao do casamento, salvo se se provar que o ma rim
não foi consumado entre elles".
O Codigo desprendeu-se desse grosseiro materialismo, e, c
siderando 9 casamento uma união espiritual de aftec os, q
resulta do accôrdo das vontades e não do méio contacto empo ,
declara que o regimen dos bens entre os cônjuges, resu
10G CODIGO CIVIL

pacto ante-nupcial ou de prescripção da lei, começa a vigorar,


desde a data do casamento.
3. — A irrevogabilidade do regimen, que o Codigo estatue
no final do art. 230, funda-se em duas razões: o interesse dos
cônjuges e o de terceiros.
O interesse dos cônjuges, porque, depois de casados, um po-
deria abusar da fraqueza do outro, e obter modificações em seu
proveito exclusivo.
O interesse de terceiros, porque os cônjuges poderiam com-
binar-se, e, por um determinado regimen, subtrahir bens á acção
dos credores, que com elles tivessem contado, no momento de
contractar. A estabilidade do regimen é uma expressão da bôa
fé e uma garantia para os que tratam com os cônjuges.
Além dessas razões de ordem pratica, ha uma outra de ló-
gica jurídica. O casamento é um contracto pessoal e perpetuo.
O regimen dos bens durante elle deve ser estável, inalterável,
para corresponder á perpetuidade e immutabilidade das relações
pessoaes, emquanto perdura a sociedade conjugai.
4. — Apezar dessas razões, o direito romano, o allemão. o
suisso e o austríaco toleram a mudança, durante o casamento, do
regimen pactuado entre os cônjuges, respeitados os direitos de
terceiros. Na Bb-ança, o uso das contre-lettres é um desvio da
regra salutar da immutabilidade.
No systema do Codigo Civil brasileiro, a irrevogabilidade
do regimen de bens entre os cônjuges é de rigor. Qualquer modi-
ficação nelíe operada ê absolutamente nulla. E, para garantia
de todos, as convenções matrimoniaes se inscrevem no registro
de immoveis (art. 261).
A separação do dote e a sua administração pela mulher
(arts. 308 e 309) não constituem excepção a essa regra; antes
formam uma das suas mais enérgicas applicações. E' para evitar
que a desordem dos negocios do marido subverta o regimen, que a
lei toma essa providencia, cercando-o naturalmente, das cautelas
necessárias para evitar a fraude.
5. — Entrou em duvida, se eram admissíveis as condições
suspeusivas ou resolutorias, nos pactos ante-nupciaes. Taes con-
dições tornariam instável o regimen dos bens e a doutrina mais
pura as condemnára, no direito anterior. Deante da prescripção
absoluta do art. 230, a controvérsia não tem mais razão de ser.
Desde a data do casamento, começa a vigorar o regimen esta-
belecido. Consequentemente: nenhum regimen terá começo exn
107
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

data posterior, nenhum durará, apenas, até o advento de certa


condição.
Os interesses de terceiros estão perfeitamente resguardados
com essa providencia.

Art. 231 — São devores de ambos os côn-


juges :
I. Fidelidade reciproca.
II. Vida em commnm, no domicilio conju-
gai (art. 233, n. IY, e 234).
III. Mutua assistência.
IY. Sustento, guarda e educação dos tilüos.
Ujreito anterior — Nenhuma disposição expressa declarav
estes deveres; muitas, porém, os suppunham, e reI)1^n^a^
suas infracções. Vejam-se: o Dec. n. 181, de 1890, arts. 5
e 6.°, e 88; o Codigo Penal, art. 279.
Legislação comparada —- Vejam-se: D. 23, 2, fr. 1 (
tium omnis vitae)i4, 3, fr. 22, § 7.°, in rneãio. quid emm
humanum est quam ut fortuitis casibus mulieris maritum, ve
uxorem viri, participem, esse?; Inst., 1, 9, § 1- {inãividua
consuetudo: Codigo Civil francez, arts. 203 e 212 a 21^; ita lano,
130; hespanhol, 56 e 57; suisso, 159; allemão, 1.353; portuguez
1-184 e 1.185; austriaco, 90; lei argentina, 55 e 56; Codigo m
chileno, 131; uruguayo, 127 e 129; boliviano, 121, 129 e 13 .pe-
ruano, 173-175; mexicano, 162, 163 e 167; venezuelano, 17 e
colombiano, 176; japonez, 789 e 790.
Projectos — Esboço, arts. 1.304, 1.305, 1.°, e 1.306, V ,
licio dos Santos, 691 e 692; Coelho Rodrigues, 1.381, §§ ■ e • >
1.394; Beviláqua, 269 e 270; Revisto, 294 e 295. Não ha, nos ro
jectos citados a mesma orientação, ao tratarem da matéria g
considerada.
Bibliographia — Direito da família, § 27; Lafayette,
tos de família, 8 37; João Arruda, Casamento, ns. 124 a 1 , u
gero Coelho, pags. 168-178; Cândido de Oliveira, Manua o
digo Civil, V, §§ 121 a 128; Pontes de Miranda, Direito e /cm-
Ua, § 46; S. Vampré. Manual, I, § 115; Almachio DíNíz, mmío d
família, § 22; Coelho da Rocha, Inst., § 224; Planiol, ?at ,
108 CODIGO CTV1L

ns. 217-246; Planiol et Ripekt, II, ns. 342 e segs.; Huc, Com
mentaire, II, ns. 230-239; Laukemt, Cours, I, ns. 2 30-202; Auuk^
et Rau, Cours, Vil, § 469; Gode Civil allemand, publié par le
Comitê de lég. étr., notas á inscripção do tit. V, do livro IV, e ao
art. 1.353; Eademann, Lehrbuch, 11, 169; Wiadscj-ieid, Pand-,
II, parte segunda, § 490; Kohlek, Lehrbuch, 111, § 9.u; ChikoNI,
Ist., II, § 387; Rossel et Me.ntha, Droit civil suisse, I, pags. 229-
233; Dias Ferreira, Codigo Civil 2)ortU(juez, notas aos arts. 1-184
e 1.185; Sanchez Rohan, Derecho civil espanol, V, primeii-3
parte, pags. 15 e segs., e 595 e segs.; Bice MazzuíNx, vb. RO'10
maritala, no Dizzionario de V. Scialoja e Bussatti; ChampeaU *
Ukibe, Derecho civil, I, 361-365.

Observações — 1. — Fidelidade reciproca. E' o primeiro e 0


mais importante dos deveres recíprocos dos cônjuges. E' a êxpreS
são natural da monogamia. Não constitue, simplesmente, vW
dever moral; o direito o exige, egualmente, em nome dos
resses superiores da sociedade, e reprime as suas infracçoes-
No direito civil, a violação da fidelidade conjugai autoriza 0
consox-te ultrajado a desquitar-se (art. 317). O Codigo Peo3^
também a classifica entre os actos puniveis (art. 273), porqu6 a
offensa é, ao mesmo tempo, de ordem privada e de ordem social-
O Codigo Penal de 1940, pune o adultério com a pena de detefl
ção de 15 dias a seis mezes (art. 240). E' certo, entretanto, 0üe
essa figura de crime tende a desapparecer dos Codigos PenaeS-
2. — Vida em commum, no domicilio conjugai. E' da proPlia
essencia do casamento este dever. Gonsortium omnis vitae, unia0
perpetua, o casamento exige que os cônjuges vivam sob o mes1110
tecto, onde hão de abrigar a prole. O lar é o templo da familia'
oS
o marido e a mulher são os ministros do culto doméstico, e
eCl
officios desse culto são contínuos, como devem ser a affeição r
proca o o cuidado com os filhos.
Não ha, porém, saneção legal contra as violações deste devet'
salvo quando ella se prolonga além de certos limites lar
tigo 317, IV).
Forçar o cônjuge a regressar ao lar, que deserta, fazeo^0
Intervir, para esse effeito, a autoridade publica, repugna á de11
cadeza dos sentimentos de uma sociedade culta, e á natureza
das relações conjugaes, que somente se devem apoiar no afíeC^0
e na consciência do dever.
109
DOS EFFEITOS JÜKIDICOS DO CASAMENTO

Por outro lado, o dever de coliabitação, ainda que


mental, não é tão rigoroso que não tolere as separações ^
rarias dos cônjuges, segundo as necessidades da vida. O P ^
Codigo prevê o caso, em que a mulber tenha de residir
tecto conjugai (art. 233, IV). E a profissão do marido, mm a
vezes, o afastará da habitação de sua familia. Estão sep
descontinuadas, transitórias, não importam violação do piecei ,
que exige dos cônjuges a vida em commum, porque su
affeição, o interesse reciproco, trabalhando cada um dos co j g
para a manutenção, a prosperidade, a ventura do outio e
progenie.
3. — Miitua assistência. A palavra assistência não de
tomada no sentido restricto de cuidados pessoaes nas en erm
dades. Comprehende, também, o soccorro na desventura, o apoi
ua adversidade, e o auxilio constante em todas as viciss
da existência. Durante o casamento, a obrigação de sus
familia recáe, principalmente, sobre o marido, mas a m
se exime desse dever, quando tem recursos pata coadjuva
rido e com imperativo mais forte, se lhe impõe, quando e ^ .
haveres e o marido é necessitado por infelicidade ou mo
4. — Sustento, guarda e educação dos filhos. Os dev
siderados nos números anteriores eram reciprocos, e u
cônjuges para o outro. O de que trata o n. IV do art. co
a ambos os cônjuges, e tem por objecto a sorte dos filhos. P
c á mãe incumbe, por natural affeição, por dever mota
obrigação juridica, sustentar aquelles a quem deram o sei, »
cuidadosamente, por elles, dirigil-os, defendel-os, e prepaia
para a vida. O amor materno e o paterno são energias moraes,
de ordinário, sufficientes para activar e manter^esses cuu a os
com a prole. Mas nem todos possuem organização norma e
direito necessita de prever os casos, infelizmente menos
•ío que se poderia suppôr, em que esse dever natural e p
eV
gado. O pae, ou a mãe, faltoso no cumprimento 'pa
ternos é destituído do pátrio poder (arts. 394 e 39 ). s
Podem ser judicialmente coagidos a prestar alimentos aos
(art. 397). Nos castos de desquite e de annullaçao do casa ,
se todos os filhos couberem a um dos cônjuges, o duiz i
contribuição, com que, para o sustento delles, ha de conco
outro (art. 327, paragrapho único).
110 CODXGO CIVIL

Art. 232 — Quando o casamento for annul-


lado por culpa de um dos cônjuges, este incor-
rerá :
I. Na perda de todas as vantagens havidas
do cônjuge innocente.
11= Na obrigação de cumprir as promessas
que lhe fez, no contracto ante-nupcial (arts. 256
e 312).

Direito anterior — Na doutrina prevalecia esta orientação'


mas a lei era silenciosa.
Legislação comparada — Veja-se o art 221.

Observação — Este artigo está, evidentemente, deslocado'


E' um complemento do art. 221, em seguida ao qual devia apPa'
recer. Trata-se de casamento putativo, na hypotliese, em d110
somente um dos cônjuges estava de bôa fé. Veja-se, portanto-
a observação n. 3, ao art. 221.
No Projecto primitivo, a matéria deste artigo era exposta
logo em seguida áo dispositivo, que definia a figura juridica ^o
casamento putativo (art. 262). Na revisão, porém, entendeu-se
de melhor aviso transportar a providencia para o capitulo, due
trata dos effeitos geraes do casamento. Scindiu-se, assim, a theo-
rla do casamento putativo e attribuiu-se generalidade a um»
regra especial. Vejam-se as Actas, pag. 90; o Projecto revisto,
art. 298, e as observações de Cândido de Oliveira, Manual do C0'
digo Civil, V, § 129.

CAPITULO II

Dos direitos e deveres do marido

Art. 233 — O marido é o cbefe da sociedade


conjugai. Compete-lbe:
I. A representação legal da familia.
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

II. A administração dos bens coimnuns e


dos particulares da mulher, que ao marido com-
petir administrar, em virtude do regimen ma
trimonial adoptado, ou do pacto ante-nupcia
(arts. 178, § 9.°, n. I, c, 274, 289; n. I; e 311)
III. O direito de fixar e mudar o domicilio
da familia (art. 36). o- ~ a
IV. O direito de autorizar a profissão a
mulher, e a sua residência fora do tecto conju
gal (arts. 231, n. II; 242, n. YII; 243 a 245 n. II,
e 247, n. III).
V. Prover á mantença da família, guai
dada a disposição do art. 277.

Direito anterior — Semelhante, quanto aos ns. a , t


creto n. 181, de 1890, art. 56, §§ 2." e 5.U. ^vendo,_entretanto,
attender-se a que o-Codigo obedece a outra orientação. ^
de educação dos filhos é commum ao mando e a mu
Codigo Civil (art. 231, IV); o Dec. n. 181. de 1890, art. 56^ § 3^.
in fine, considerava essa matéria como direito do mar
do art. 233, do Codigo Civil, não tem correspondência n
anterior, e constitue direito escripto novo.
. tv K 1 ít 65 (• • •
Legislação comparada — Vejam-se u. , > ■
cujus ãomiciliuvi et ipsa mulier per eonditionem matnmon
reãitura); 24, 3, fr. 22, § 8.» (... Quatenus necessitas mponatw
niarito, omnem talem mulieris sustentationem sufferre, e
tum praestare et medecinae ejus succurrere, et nitiil pia
Quae mantum uxori aãferre ãecet), .\ , oq
38, 1l, fr
rr. 48 , pr.
v in fme {nam
ç.r\\.
tiaec... in officio mariti esse ãehet)', Codigo Civil fia '
gos 213 e 214; italiano, 131 e 132; ^ 160 ^á162 =^0
nhol, 57-60; portuguez, 1.185-1.187; allemao, 1.35 , a
91; argentino, 185-187, e lei, 56-58; chileno, 132-135. u g -
128 a 130; boliviano, 130-131; peruano, 175 e 177^ meX1C^ '
(orientação differente); japonez, 789, 790 e 798 8 , ven
174 e 176; colombiano, 176 e 179.
t» .
Projectos ^
— Esboço, +11.300
arts. quo pe 1l.o305" Felicio dos c».
Santos,rp
-i on-i as 1 0 4 0 e 6. , z>e-
692, 693 e 695 697; Coelho Rodrigues, 1.391, §§ •»
vilaqua. 272 e 273; Revisto, 299 e 300.
312 CODIGO CIVIL

Bibliographia — Direito ãa familia, § 27, II; Lafavette, Di-


reitos de familiü, § 38; João Arruda, Casamento, ns. 98-101, CaN
dido de Oliveira, Manual do Codiçjo Civil, § 130; Pontes de Mi
randa, Direitos de famila, § 47; S. Vampré, Manual, § 116; Al-
machio Diniz, Direito da familia, § 23; Ludgero Coelho, Casa-
mento civil, pags. 158-168; Martinho Garcez, Direito da faviilia,
§ 54; Coelho da Rocha, Inst., §§ 230 e 231; Planiol, Traité, lH-
ns. 247-252; Planiol et Ripert, II, ns. 343 e segs.; Huc, Com-
mentaire, II, ns. 233-238; Laurbnt, Cours, I, n. 202; Code Civil
allemanã, publié par le Comitê de lég. étr., notas ao art. 1.354,
Endbmann, Lehrluch, II, §§ 169; Kohler, LeTirbuch, III, § 1°'
Chironi, Ist., II, § 387; Rossel et Mbntha, Droit civil suisse, I>
pags. 333-234; Dias Ferreira, Coãigo Civil 'português, notas aos
arts. 1.185 a 1.187, 143 e 570; Sanchez Roman, Derecho civil, V,
1." parte, pag. 606 e segs.; Raoul de la Grasserie, L'indispor
hilité du patrimoine, pag. 9.

Observações —■ 1. — O Codigo Civil confGi6, ao marido»


chefia da sociedade conjugai, por uma necessidade de haver QUe®
lhe assuma a direcção. Mas desse direito do marido não se iu ^
qualquer superioridade, porquanto não somente ao declarai (lua ^
os deverès communs dos cônjuges (art. 231), como ao especiaü2
os direitos e deveres da mulher (arts. 240 e segs.), teve o leg1^
lador pátrio o cuidado de manter a mulher casada em situaÇa
juridica egual á do marido, lihertando-a de uma iIlferJorlCÍf;gteg
que não se compadecia mais com a concepção actual da vida.
assumpto, porém, terá melhor explanação no commentario a
art. 240. e,
Como chefe da sociedade conjugai, compete ao marido rep^e
sentar a familia, nos actos da vida civil, sem que isso
absorpção da personalidade da mulher, nem tão pouco dos W 1 ^
E' ainda como-chefe da sociedade conjugai que lhe cabe^
administração dos bens communs e daquelles cuja administiaÇ
lhe conferir o regimen acceito ou pactuado.
2. — Também o direito de fixar e mudar o domicilio da ^
milia é uma conseqüência da posição de chefe da familia,
lei attribue ao homem. Mas convém notar que o marido não
coagir a mulher, pela força ou com o auxilio da justiça, a seg^er
para onde ella não queira ir. E', certamente, dever da niu
113
DOS EFFEITOS JUKIDICOS DO CASAMENTO
a
companhar o seu marido, pois que é da essência do âesse
a
vida em commum, no mesmo lar; porém o cumpnxne
dever é confiado aos impulsos da consciência, e so emegtal:)elece
2
6ao, além da que precede da reprovação social, a assumir
0
art. 234, e o desquite, quando a obstinação da mu ^
a feição de abandono do lar nos termos do ait. 3 ,
Na França, a jurisprudência havia admittido que o ^
Pudesse solicitar a força publica, a fim de obiigai a mu ^
Svessar ao tecto conjugai, que desertara. Mas essa vio
1e
Pugna ao conceito, que hoje se fôrma da vida conjug '
Pratica mais, actualmente. Todavia algumas legislações
consagram.
Por outro lado, se o domicilio da mulher casada^ seu
marido, quando a ella compete a direcção do casa , o Des(iui.
íixar o domicilio conjugai, onde lhe convenha (art. ^g.
ta(
ia, a mulher adquire domicilio proprio, como se e e a
solvido o vinculo do matrimônio, porque já não mais
sociedade conjugai (art. 315).
3. - Na sociedade moderna, ao marido ^
sustentar a mulher. E' uma obrigação, que e e aSS ta de
sa
r-se. E' uma promessa, que se suppoe conti a n ^
casamento pelo homem: elle se comprometi. f hnT1T.a des-
atar da família, que vae constituir. E' d^er e
tornar suave
envolver todos os esforços de que é capaz, a tim
a vida da mulher e dos filhos.
Se a mulher traz bens para o casal, e natural que e
sejam úteis á sociedade domestica, qualquer que 86 e a
cdoptado, porque o casamento é communhão e m
íamilia é uma unidade bio-social. No regimen ^m^aOSpobr50
se associam como as pessoas; no regimen dota, a susten.
de bens da mulher cuja funcção é coadjuvar o mau ^
ta
Qão dos encargos da família; no regimen da sepa 5_ bens
ld
er é obrigada a contribuir com o rendimento dos seus
Para as despezas do casal (art. 277). „m0Titn cabe
De modo que o dever de sustentar 0 tendo bens,
áirecta e principalmente, ao homem; mas
auxilia-o nessa tarefa

8
Beviláqua — Codigo Civil — 2.» vol.
114 CODIGO CIVIL

Art. 234 — A obrigação de sustentar a tu11'


lher cessa, para o marido, quando ella abandona,
sem justo motivo, a habitação conjugai, e a esta
recusa voltar. Neste caso, o juiz pôde, segundo
as circumstancias, ordenar, em proveito do ma^
rido e dos filhos, o seqüestro temporário da pa^o
dos rendimentos particulares da mulher.
Direito anterior — Sem correspondência.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 133, d ^
foi a fonte do brasileiro, nesse dispositivo. Vejam se, também
Codigo Civil allemão, 1.361, e venezuelano, 177. ^
Na França a lei civil nada dispõe a respeito; mas a J1*
prudência, a principio, concedida o seqüestro dos bens da mu ^
no caso previsto em nosso artigo, e, actualmente, piefeie
demnar o cônjuge faltoso a uma pena pecuniária de tanto ^
dia de demora na execução de sua obrigação (Planiol et R»"
II, ns. 370 e 371).
074:
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.395; Beviláqua,
Revisto, 301.
Bibliographia — Bice Mazzoni, vb. Dona maritata, no v ^
nario de Scialoja e Busatti, § 3.°; Aubby et Rau, Cours, VH. §
e 470 Ms; Helvegio de Gusmão, Cod. do Processo Civil e
do D. Federal, ao art. 400.

Observações — 1. — A primeira parte deste artigo con


sancção do dever que tem a mulher -de viver sob o mesmo ^
que o seu marido. Se, infringindo essa obrigação, ella aban ^
o lar, sem justo motivo, e se obstina em permanecer fóra, ^
faz-se a vida commum, e cessa, para o marido, a obrigaÇa
sustentar a consorte. , cj.j-
A apreciação do justo motivo ficará, naturalmente, a
terio do juiz, se provocado a conhecer do caso. ^
Quando é o marido que deserta do lar, cabe á mulher ^
reito de accional-o, para que lhe forneça alimentos, de acc
com os seus haveres e sua posição social.
2. _ A segunda parte do artigo, accentuando o pensam ^
da primeira, autoriza o marido a exigir da mulher, ten
115
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

cursos, que não fuja ao dever de contribuir com a sua par e


encargos da mantença do lar. Para isso dá-lhe direito e _
rsr o seqüestro temporário de parte dos rendimentos par
áa mulher, em proveito delle e dos filhos.
O seqüestro não pôde recahir sobre o capital, que a m
possua, e, sim, somente sobre os rendimentos. B nao p
permanente, em conseqüência da própria anormalidade e
toriedade da situação. Aliás um seqüestro permanente seria
Aatorio e injusto.

Art. 235 — O marido não pôde, sem consen-


imento da mulher, qualquer que seja o regime
de bens:
I. Alienar, hypothecar ou gravar e ori
r
eal os bens immoveis, ou direitos leaes s
immoveis alheios (arts. 178, § 9., m ? a> '
276 e 293). ,
II. Pleitear, como autor ou roo, acerca
ses bens e direitos. o r n« t Ti p
I1
III. Prestar fiança (arts. 178, § • ? * » >
263, n. X). , •
IV. Fazer doação, não sendo rem™era^™
ou de pequeno valor, com os bens ou i en im
communs (art. 178, § 9.°, n. I, &)•
Direito anterior — A Ord. 4, 48, pr., e § 8.°, consagraVa ^3
Posição equivalente á do n. I. A Ord. 3, 47, pr.. dispunha de mod
semelhante ao n. II. nue
Os ns. III e IV estendem a todos os regimens isp^ ^ ^
se referiam, somente, ao da communhão (Ord.
apertam mais os laços da sociedade conjugai.
.Legislação comparada — As legislações, que maV Civil
ximam do Codigo Civil brasileiro, neste artigo, sao o
Portuguez, arts. 1.119, 1.191. pr.. e 1.471. e o ^
e 1.446 As disposições do Codigo portuguez re ere
bicão ,mp„sta a„ marido de alienar bens
em juizo por questões de propriedade ou posse
116 CÜDIGO CIVIL

biliarios, sem outorga da mulher, e á responsabilidade do ma-


rido pelas doações, que faça sem consentimento da mulher. Os dis-
positivos citados, do Codigo allemão, exigem o consentimento da
mulher, para as disposições totaes dos bens, para disposições de
immmoveis, e para doações no regimen da communhão universal-
No regimen legal, que, na Allemanha, submette os bens do casal
á administração e gozo do marido (arts. 1.363 e segs.), o direito
de disposição, que a lei lhe confere, não vae ao ponto de obrigar
a mulher, por actos juridicos, nem tão pouco importa o direito
de dispor, sem o consentimento delia, dos bens que ella traz para
o casal.
Veja-se, ainda, o Codigo Civil francez, arts. 1.422 e 1.428.
Projectos — Esboço, art. 1.305, 3.° (quanto á necessidade de
procuração da mulher para o marido estar em juizo como autor
ou réo), e 1.337 (quanto ás alienações de immoveis no regimen
da communhão); Felicio dos Santos, arts. 698 e 701, quanto ás
doações, fianças e alienações de immoveis, as disposições corres-
pondem ás do Codigo, e quanto á capacidade para estar em juiz0-
a respeito de immoveis, não ha differença senão relativamente
ao modo de expressar-se o Projecto; Beviláqua, 275; Revisto, 302
Bibliographla — Direito da família, § 27, II; Lafayettk, D1'
reitos de família, § 39; Teixeira de Freitas, Consolidação, ar-
tigos 119, 120, 128-135, 144 e as notas respectivas; João ArrUda-
Casamento, ns. 102-106; Cândido de Oliveira, Manual do Coãi90
Civil, Y, §§ 132 a 135; S. Vampré, Manual, § 117; Pontes de Mn
kanda, Direito de familia, § 48; Martinho Garoez, Direito da fa'
milia, § 56; Coelho da Rocha, Inst., 232 e 233; Gode Civil alle'
mand, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos arts. 1-444'
1.446; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, notas aos arti-
gos 1.119 e 1.471; Martinho Garoez Filho, Direito de famiü'1-
p. 251 e segs.; Ferreira Coelho, Codigo Civil, XYII. p. 176 e sega

Observações — 1. — Estabelece este artigo limitações ao P0


der de representação e administração conferidos ao marido Pe^ü
art. 233, ns. I e II. Quanto aos bens immoveis e aos direitos reaes.
que sobre elles recáem, não quer o Codigo que somente um do15
cônjuges tenha o direito de disposição. Qualquer que seja o
gimen de bens, hão de os dois agir de accôrdo, salvo o dired 1
de um delles recorrer ao juiz, quando fôr injustificada a roeu?
117
EFFEITOS JURÍDICOS DO OASAMENIO

cooperação (arts. 237 e 245). A razão da lei, aci ao


revela. Os immoveis podem offereçer uma base ma ^
prop01C10
^etn estar da família ou, pelo menos, lhe . j eg
abrigo na desventura, e não acarretam obstáculos pf _
á circulação e desenvolvimento das riquezas as
tas ao direito de livre disposição delles. E ^ da
Que o Codigo defende das possíveis delapidações, n0 ^ .
familia; ipas sem retirar os bens do commercio, ins i ^
nas, a fiscalização, por um dos cônjuges, dos actos 0 ^ _o ^ ou
dois estiverem de accôrdo, deve suppôr-se que a op ^
Pareceu, vantajosa; e, sendo a responS^blllda^eEn^ todo o caso,
nhum pôde imputar ao outro a culpa do desas •
a lei obriga-os a reflectir sobre o passo, que vão c
2. — Também não pode o marido, sem 0Ut0r.^Seja
ütigar acerca de bens immoveis e direitos so re i acção,
como autor ou como réo. Quer isto dizer que pal deve obter
que o marido haja de propôr sobre taes bens e ^ do mesmo
o prévio assentimento da sua consorte, e que as conjun-
genero, propostas contra pessoa casada, ha de se
ctamente, aos dois cônjuges. Ambos devem sei ci^a ^ díspôr ^
Se nenhum delles, isoladamente, ^ ? '"^oiadamente, ser
taes bens e direitos, é natural que na P ' u.r pela expro-
accionado, porque a condemnação podei a
priação, e irá attingir ao direito de ambos.
3. - A fiança compromette os benS
Acceitando-a, arrisca-se o marido a ^ condições
cumprir a sua obrigação de sustentar a niip' assumisse sem
em que poderia fazer, sem o ônus pesado, q ^ ^
correspectivo. A situação econômica, em cujo gozo S dencia
niilia, pôde ser irremediavelmente perdida por uma accôrdo
pass
do marido. E' justo que não dê semelhante °^a ole com.
daquella, cuja sorte prendeu á sua, e cujo amo
mum ha de fazer previdente e cautelosa. outorga
O direito das Ordenações isentava da
uxoriana a fiança, em favor de quem tlveSSe C0 * os moveis com-
das publicas (Ord, 4, 60), a qual obrigava t ^ ^
muns e a meação do marido nos immoveis. ^ ger auto-
nou essa excepçâo. Qualquer fiança do mai i o
rizada pela mulher. também differente.
A sancção do direito philippmo e -n n Codigo
Mandava imputar a fiança do marido na sua meaça .
118 CODIGO CIVIL

considera-a annullavel pela mulher ou seus herdeiros (arts. 239


e 255).
4. — Ainda que a administração do marido seja a mais am
pia, e que lhe caiba o direito de livre disposição dos moveis pró-
prios, dos communs ou daquelles que pelo regimen adoptado lhe
são entregues, não consente o Código que faça, em detrimento da
família, liberalidades com os moveis e rendimentos communs.
Refere-se a disposição do n. IY, particularmente, aos moveis e
rendimentos communs; a alienação dos immoveis já fôra consi
dersda no n. I.
Duas excepções admitte a regra agora examinada: se as
doações forem módicas ou remuneratorias, recahindo sobre mo
veis, pode o marido fazel-as, independentemente de outorga uxo-
ria. As módicas, sejam esmolas, gratificações, ou presentes a pes-
soas das relações sociaes do marido, não desfalcam o patrimônio
da família. As remuneratorias não são puras liberalidades: com-
pensam uma vantagem recebida.
5. — A autorização da mulher ha de ser expressa e deve cons-
tar de instrumento publico, sempre que se referir á alienação ds
immoveis de valor superior a um conto de réis, ou a constui
ção de ônus reaes sobre immoveis do indicado valor. Tratando-
se de moveis, ou de immoveis, que valham menos de um con
de réis, a outorga poderá ser dada em escripto particular authen
ticado. Tal é a regra estabelecida no art. 132 combinado com 03
arts. 134, II; 243 e 252, paragrapho único.
Em regra, a autorização deve preceder ao acto; porém, como
a sua falta apenas torna o acto annullavel, e á mulher, ou n0
seus herdeiros, cabe o direito de lhe pedir a annullação, n
torga posterior confirma o acto, expungindo-lhe o vicio, que o to
nava annullavel. Deve, porém, ser sempre expressa a ratificaça0
(art. 252, paragrapho único).
6. _ O systema do Codigo Civil brasileiro differe do de todos
os outros, na regulamentação dos interesses economicos da s^
ciedade conjugai, que estabelecem os arts. 233 e seguintes, a^
do portuguez e do que estabeleciam, entre nós, as leis
por dar maior extensão aos direitos da mulher, e, consequc ^
mente, restringir os do marido, em attenção aos interesses
riores da família. Este pensamento é transparente no art. ^
como no capitulo seguinte, e imprime ao systema do Codigo u
feição inconfundível.
119
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO OASAMENIO

Ari 236 — Valerão, porém, os dotes ou doa-


Ções nupciaes feitas ás filhas, e as doaçoes ei
ao
s filhos, por occasião de se casarem, ou es a
^cereni economia separada (art. 313).
Direito anterior — Yejam-se as Ords. 4, 48, e Carlos
yATHo, Direito civil, arts. 1.517 e 1.519. O dote constitui
immoveis não dispensava a outorga da mulher, qua que ^
fosse o regimen dos bens. O constituído pela mulher, na
de immoveis, independeria da outorga do marido, se P
tisse o pacto antenupcial.
Legislação comparada — Veja-se Codigo Civi
figo 1.422.

r
Projectos — Revisto, art. 303. Não ha, nos pa.
iores, disposição correspondente. Veja-se o livro
sina qi

Observação — A' regra de que o marido na0 ®0dsem outorga


Çào dos bens communs, sejam moveis ou imm ^otes ou doa-
u
xoriana, abre o art. 236 uma excepção, parados {illl0Sj por
Ções nupciaes feitas ás filhas, e para as doaçoes a mda,
0c
casião de se casarem ou de estabelecerem ecc ^ ^ direito
® intuitiva a razão desta norma excepcional, i" ^ te
^
r
por eXceSS1Va
doações, ao marido, para evitar que, £amllia CU:,a i
" nça é
al, não vá collocar eu difficuldade a ' philan-
0
dever seu, que sobreleva a qualquer outro - vão
fhropica. Se, porém, as dadivas aproveitam as '
constituir família, ou aos filhos, que ^ ^ojsU e e modog
Piopria, não importam violação desse dev • filhos
de continuar a cumpril-o. B, pois que é em ben outorga
hue o marido faz as liberalidades, a lei as disPea . teresseg da
uxoriana instituída para garantia e de defesa
família.
, - os aAtPs
Se o regimen fôr de communhao, d e doações aos filhos
arido, que te-
de ambos os sexos se imputarão na metade o mujper e sem
hha estipulado em seu proprio nome, dissociado ca V).
assentimento delia, ainda que o filho seja commu ^ libera-
Tendo dispensado a outorga da mulher, ou ten
120 COD1GO CIVXL

lidade contra o parecer delia, 6 justo que supporte o marido os


ônus do seu acto, sem repartil os com a mulher, que os não quiz
assumir.

Art. 237 — Cabe ao juiz supprir a outorga da


mulher, quando esta a denegue sem motivo justo,
ou lhe seja impossível dal-a (arts. 235, 238 e 239).
Direito anterior — As Ords. 3, 47, § 5.°, e 3, 63, § 4.°, falam
em supprimento da autorização para litigios sobre immoveis-
Quanto ás alienações de immoveis, pois que a razão é a mesma,
admittia-se o supprimonto judicial; aliás Caklos de Cabvaeho,
Direito civil, art. 1.473, § 2.°, limitava-o, somente, ao caso de
serem os bens do cônjuge a quem era recusada a outorga.
Legislação comparada — No mesmo sentido do Codigo Civil
brasileiro, o portuguez, art. 1.191, § 1.°. O allemão, art. 1.447,
admitte o supprimento pelo tribunal das tutelas, porém tanto
esse supprimento quanto a outorga uxoria somente se verificam
no regimen da communhão.
Projectos — Esboço, art. 1.338 (refere-se, exclusivamente, ao
regimen da communhão). Felicio dos Santos, 702; Coelho Ro-
drigues, 1.490 e 1.491; Beviláqua, 276; Revisto, 304.
Bibliographia — Direito da família, § 27, II; T. de Fkeitas,
Consolidação, arts. 126 e 146; Lafayette, § 39; João Arruda, Ca-
samento, n. 104; Martxnho Gakcez, Direito da família, § 58;
Coelho da Rocha, Inst., § 233.

Observação — E' este um dos pontos, em que o Codigo Civil,


desenvolvendo idéas contidas no direito anterior, deu uniformi-
dade e systema ás prescripções legaes. Exigindo autorização
da mulher para as alienações e outros actos declarados no ar-
tigo 235, prevê os casos, em que a recusa da autorização seja
injustificável, ou não possa a mulher autorizar, por incapacidade,
e confere, ao juiz do domicilio conjugai, autoridade para supprir
o consentimento.
O juiz ouvirá ambas as partes e, reconhecendo que não as-
siste á mulher razão sufficiente para denegar outorga ao acto do
DOS BFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 121

marido, por haver conveniência em realizal-o, dará permissão


por alvará.
Se a mulher fôr incapaz, isto é, se soffrer das faculdades
mentaes ou se achar interdicta, o caso não é de recusa, mas de
impossibilidade jurídica de consentir. Será, então, escusada a
audiência da mulher, mas não faltarão ao juiz fontes de infor-
mação para julgar da necessidade ou vantagem do acto.
Não se considera a menoridade fundamento de incapacidade
da mulher, como fazia o direito anterior, porque, pelo casa-
mento, cessa a incapacidade por essa causa (art. 9.°, II).
Achando-se a mulher ausente, observar-se-á o disposto nos ar-
tigos 251, paragrapho único, por identidade de razão, e 463 e
seguintes
CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO
la, REGIÃO
Art. 238 — O supprimento judicial da ou-
torga autoriza o acto do marido, mas não obriga
os bens proprios da mulber (arts 247, paragra-
pho único; 269, 274 e 275).

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Veja-se o Codigo Civil portuguez,
art. 1.114.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.942; Beviláqua, 277;
Revisto, 305.

Observação — Quando se discutiu esta matéria na Gamara,


e
m 1901, as opiniões se chocaram. O Projecto primitivo, art. 277,
dispuzera: "O supprimento judicial da outorga da mulher va-
gida o acto do marido, mas não obriga os bens proprios delia,
tem a sua meação dos communs. O Revisto, art. 305, não al-
terou o artigo. O Conselheiro Andrade Figueira pediu-lhe a
suppressão, por entender que o supprimento judicial devia pro-
duzir os mesmos effeitos que o assentamento; e tal era o direito
anterior, na sua opinião. Oliveira Figueiredo, no momento da
votação, propoz uma emenda, que foi acceita, eliminando a ul
tima parte do dispositivo: — nem a sua meação dos communs.
E' uma opinião intermedia (Trabalhos da Gamara, VI, pags. 7
e 120).
\
122 CODIGO CIVIL

Assim, a mulher não será despojada de seus bens proprios,


por acto do marido, que ella não quiz autorizar por lhe parecer
damnoso. Já não é pouco arrastarem-se os bens coramuns á
ruina, contra o parecer da comproprietaria. Veja-se o art. 255.

Art. 239 — A anmülação dos actos do ma-


rido praticados sem outorga da mulher, ou sem
supprimento do juiz, só poderá ser demandada
por ella, ou seus herdeiros (art. 178, 9.°, n. I,
a, e n. II) .
Direito anterior — Era nulla a alienação de immoveis sem
outorga uxoria, qualquer que fosse o regimen matrimonial; a nul-
lidade era relativa (Ord. 4, pr., 2 e 3).
Legislação-comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.191,
§§ 2.° e 3.°, as alienações dos bens communs podem ser annulla-
das pela mulher, por seus herdeiros, ou pelos herdeiros legiti-
marios do marido; as alienações dos bens proprios do marido
somente .se annullam, a requerimento da mulher, ou de seus her-
deiros, achando-se o marido constituído em responsabilidade para
com ella, ou para com elles, e não tendo outros bens, pelos quaes
responda. O Codigo Civil allemão, art. 1.449, dá acção á mulher,
para fazer valer, contra terceiros, o seu direito na alienação dos
bens communs. nos termos dos arts. 1.444-1.446
Projectos — Coelho Roãrigiies, art. 1.449, § 5.°; Felicio dos
Santos, 703; Beviláqua, 278.; Revisto. 306.

Observações — 1. — A annullabilidade dos actos do marido,


realizados sem outorga uxoriana, quando esta é necessária (ar-
tigo 235), ou sem o supprimento do juiz, é estabelecida em bene-
ficio da familia, de que o marido é o chefe, e a mulher sua con-
sorte e auxiliar. A ella, por isso, a lei provê de acção para annul-
lar o acto irregular do marido, e, por morte delia, transfere esse
direito aos seus herdeiros. Esta é a sancção do preceito estabe-
lecido no art. 235, quanto á necessidade da autorização expressa
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 123

da mulher para as alienações de immoveis e outros actos no


mesmo artigo especificados.
2. — A acção da mulher para desobrigar os immoveis do
casal, que o marido, sem a sua autorização, gravou de qualquer
ônus real, ou para reivindicar os que elle alienou, ou ainda para
annullar as fianças que prestou, e as liberalidades excessivas ou
não remuneratorias, extingue-se no prazo de quatro annos de-
pois de dissolvida a sociedade conjugai (art. 178, § 9.°, I, le-
tras a e &).
A mulher pôde promover a annullação dos actos do marido,
aa constância do casamento (art. 248, II e III) e até quatro
annos depois de dissolvida a sociedade conjugai, por morte do
marido, annullação do casamento ou desquite.
Esta acção passa aos herdeiros da mulher, se ella fallecer
sem a ter proposto, dentro do prazo legal. Contar-se-á, então, o
prazo de quatro annos, da data do fallecimento da mulher (ar-
tigos 178, § 9.°, II). Se o fallecimento da mulher occorrer depois
de iniciada a acção, por ella, os seus herdeiros poderão prose-
guir no pleito.

CAPITULO III

Dos direitos e deveres da mulher

Art. 240 — A mulher assume, pelo casamento,


com os appellidos do marido, a condição de sua
companheira, consorte e auxiliar nos encargos
da familia (art. 324) .

Direito anterior — Veja-se o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de


1890, art 54, § 4.°.
Legislação comparada — Veja-se o art. 231. Aããe: Codigo
Civil suisso, art. 161; allemão, 1.355-1.357; austríaco, 92, pr.
Projectos — Felicio, art. 694; Coelho Rodrigues, 1.931, § 5.°;
Beviláqua, 279 e 280; Revisto, 307 e 308.
Bibliographia — Direito da familia, §§ 27, III, 28 e 29; Es-
tiidos jurídicos, pags. 178-197; Lafayette, Direitos de familia,
§§ 40 e 41; JoÁo Arruda, Casamento, n. 107; Ludgero Coelho,
124 CODIGO CIVIL

Casamento civil, pags. 163 e segs.; Arthub Orlando, Ensaios ãe


critica: o adultério; Philocritica: a alma da mulher russa; Livxo
de Castro, A mulher e a sociogenia, Rio, 1894; já se publicou
segunda ed. desta obra; Estellita Tapajós, Ensaios de philoso-
phia e sciencia, S. Paulo, 1894; M. P. Pinto Pereira, A mulher
no Brasil, 1914, pags. 33-107; Teixeira Mendes, A mulher, sua
preeminencia social e moral; V. Russomano, A escravidão social
da mulher; Spbncer, Justice, ns. 87-91; Luiz Bridel, Los ãere-
chos ãe la mujer, 1894, pags. 1-78; Planiol, Traité, III, ns. 254
e segs.; Planiol et Ripert, II, ns. 404 e segs.; Glasson, Le ma-
riage civil et le ãivorce, Paris, 1890; Charmont, Les transforma-
tions ãu droit civil, 1912, capitulos VI-VIU; S. Mill, Uassuje-
tissement ães femmes; Novicow, Uaffranchissement ãe la femme;
J. Cruet, A vida do direito, Lisboa, 1908, pags. 127-137; A Forel,
La question sexuelle, 1906, pags. 396-411; Huc, Commentaire; II,
ns. 240-254; Pascaud, Le coãe civil et les reformes, pags. 23-37;
Tarde, Les transformations ãu droit, Paris, 1893, cap. III; Coãe
Civil allemanã, publié par le Comitê de lég. étrang., notas aos ar-
tigos 1.355-1.357; Endemann, Lehrbuch, II, § 70; Ghironi, Ist.,
II, § 387; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags 234 e
segs.; D'Aguanno, La reforma de la legislación civil, trad. Do-
rado Monteiro, cap. VI, § 7.°; La genese e Vevoluzione dei ãiritto
civile, ns. 99 e 130; La missione sociale delia donna, 1890; F. Co-
senttni, La riforma delia legislazione civile, 1911, pags. 482-511;
Gimbali, Nuovn fase dei diritto civile; Bice Mazzoni, vb. Donna
maritata, no Dizzionario de Scialoja e Busattx; Sanchez Ro-
man, Derecho civil, V, pags. 606 e segs.; Lehr, Saverot, e A. M. B.
vb. Femme, na Grande encyclopéãie; Poubelle, La femme, Tou-
louse, 1868; Ferreira Coelho, Goãigo Civil, XVIII, p. 33 e segs.;
Martinho Garcez Filho, Direito ãe familia, I, p. 259 e segs.

Observações — 1. — Amalysando o art. 6.°, II, já me occupei


da situação jurídica da mulher. No exame dos arts. 240 e segs
accentuar-se-ão, melhor, as idéas preponderantes no Codigo Civil
Note-se, desde logo, que se o Codigo assignalou, no art. 6.°, II,
a incapacidade da mulher casada, absteve-se de usar da expressão
poder material, que é o complexo dos direitos do marido, como
chefe da sociedade conjugai. Esta abstenção é significativa.
Está mostrando que, em face do Codigo, apezar da preeminencia
DOS EFFEITOS JPEIDICOS DO CASAMENTO 125

concedida ao marido, os dois cônjuges se acham no mesmo plano


juridico, e não exerce o homem autoridade sobre a mulher.
O facto de esta adquirir o nome do marido, não importa em
ficar a sua personalidade absorvida. Antes de tudo, esta adopção
de nome é um costume, a que a lei deu guarida, e deve ser com-
prehendido como exprimindo a communhão de vida, a transfusão
das almas dos dois cônjuges.
A mulher não incide, pelo casamento, sob a autoridade do
seu marido. E', como diz o Codigo, sua companheira, consorte e
auxiliar nos encargos da família, isto é; os dois cônjuges são so-
cios, que assumem, cada um, segundo a sua capacidade natural,
a sua organização psychica, e as funcções, que a sociedade lhe
commette, as responsabilidades- moraes e econômicas da familia,
Que ambos constituíram. Um ao outro deve affeição constante,
assistência desvelada, respeito carinhoso. Ambos aos filhos de-
vem cuidados, que o amor suggere e as preoccupações do futuro
dirigem.
A concepção da familia não tem mais, hoje, por base a auto-
iddade do homem, na supposição de ser o mais forte. Funda-se
a familia no amor, e vive na atmosphera da moral, sob a tutela
do direito, que, para os fins sociaes, quer o desenvolvimento disci-
plinado da actividade de que cada um é capaz.
2. — Os preconceitos vão desapparecendo. Não é mais um
dogma da sciencia a superioridade mental do homem, e, ainda
Que fosse, como observa Forel, não seria isso razão para que lhe
fosse mais amplo o quinhão de bens jurídicos, porque "os dois
sexos devem trabalhar harmonicamente, em commum, para o
bem social". Aos homens de mentalidade superior não se attri-
buem mais direitos civis, capacidade maior, no direito privado,
do que aos de intelligencia mediana.
A chefia da sociedade conjugai não é dada ao homem em
attenção ás suas qualidades naturaes de força e intelligencia.
Se mulheres têm dirigido povos e exércitos, de modo feliz, e, ás
Vezes, excepcionalmente brilhante, bem poderiam dirigir a fa-
milia, para o que receberam da natureza dons particulares.
E muitas a têm dirigido com elevado critério, delicado tacto e
dedicação indefessa. A chefia da sociedade conjugai, que o cos-
tume conserva no homem, não tem como conseqüência obrigada
a diminuição do valor juridico da mulher. Se ha sociedade, em
que deva predominar o espirito de egualdade, é, certamente, a
que estabelecem, entre si, o homem e a mulher, que se unem para
126 CODIGO CIVIL

completar a própria existência, gozando em commum os bens


que a vida offerece, e, em commum supportando as difficuldades
e as agruras mais abundantes ainda do que as alegrias.
Veio-nos dos velhos tempos do' patriarchado essa intuição,
que a sociologia reputa falsa, para os nossos dias. A egualdade
legal das pessoas é o meio de tornar a vida quotidiana uma ver-
dadeira escola de educação moral, porque a egualdade é o es-
tado normal da sociedade, affirmou S. Mill, com applauso dos que
podem ter voto nesta matéria.
E a mulher chamada, hoje, a tomar parte directa no desen-
volvimento industrial, moral e mental da civilização, não pôde
mais se achar jungida ás estreitezas do antigo direito, que tra-
duzia uma organização social differente. Dessa desharmonia en-
tre a realidade moral e a expressão jurídica da maioria dos Co
digos, entre o desenvolvimento intellectual humano e a persistên-
cia, nas leis, de concepções antiquadas, têm resultado luctas,
que é forçoso extinguir, e desvios, que devem ser contidos, para
tranqüilidade das consciências e melhor aproveitamento social
das energias individuaes.
O casamento realiza a unidade biológica e a unidade social,
porque os dois sexos se completam e formam a base da coexis-
tência humana. Não se comprehende porque não ha de formar,
também, a unidade juridica pela egualdade dos cônjuges, pois
que a communhão de vida e de interesses de toda ordem não pôde
ter expressão mais adequada do que essa unidade.

Art. 241 — Se o regimen de bens não for o da


coinmunbão universal, o marido recobrará da
mulher as despezas, que com a defesa dos bens e
direitos particulares desta houver feito.
Direito anterior — Silenciosa a lei; mas a doutrina acceita.
Projectos — Beviláqua, art. 281; Revisto, 303.

Observações — 1. — Se a mulher tiver bens particulares, é


justo que não saiam do bolso do marido os gastos, que se veja
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 127

obrigado a fazer na defesa dos direitos delia. E' seu, dever, sem
duvida, tomar a defesa da pessoa e dos bens da sua mulher; mas,
se esta frue as vantagens da defesa, conservando intacto o seu pa»
trimonio, graças ao esforço do marido, manda a justiça que
supporte as despesas feitas em seu beneficio.
Direitos particulares são egualmente bens. Destaca-os o Co-
digo para deixar claro que não trata somente de bens corpo-
reos, e, sim, egualmente, de quaesquer direitos patrimoniaes.
2. — O artigo não se refere, porém, á defesa da vida, da
honra, da integridade corporea da mulher. Estes direitos são par-
tes componentes da própria personalidade da mulher, cuja de-
fesa está confiada á dignidade do marido. A esses direitos não
cabe o epitheto de particulares. Seria aviltante para elle cobrar,
judicialmente, da mulher o que despendeu no cumprimento dess
imperioso dever moral. Se tal pudesse ser o pensamento do Có-
digo, não excluiria elle o regimem da communhão. Excluindo-o,
quiz significar que se referia á defesa do patrimônio da mulher.
Uma applicação do principio contido neste artigo se encontra
no art. 307.

Art. 242 — A mulher não pôde, sem autori-


zação do marido (art. 251):
I. Praticar os actos, que este não poderia,
sem o consentimento da mulher (art. 235).
II. Alienar, ou gravar de ônus real, os im-
moveis do seu dominio particular, qualquer que
seja o regimen dos bens (arts. 263, ns. II, III,
VIII; 269, 275 e 310).
III. Alienar os seus direitos reaes sobre im-
moveis de outrem.
IV. Acceitar ou repudiar herança ou legado.
V. Acoeitar tutela, curateia ou outro mu-
nus publico.
VI. Litigar em juizo civil ou commercial, a
não ser nos casos indicados nos arts. 248 e 251.
Vii Exercer profissão (art. 233, n. IV) .
128 CODIGO CIVIL

VIU. ContraMr obrigações, que possam im-


portar em alheação de bens do casal.
IX. Acceitar mandato (art. 1.299).

Direito anterior Semelhante, porém mais restrictivo da


capacidade da mulher.
Legislação comparada — As legislações não obedecem á
mesma orientação. Umas são mais liberaes, outras mais receiosas
de limitar o poder marital.
Pelo direito romano, a mulher podia alienar e adquirir bens,
estar em juizo, como autora ou ré, sem outorga marital (Cod. 8,
56, 1. 6; Van Wetteu, Droit civil, pag. 19; Girard, Droit romain,
1911, pags. 167-168; Eu. Cuq, Inst. romaines, 1902, II, paginas
101-102; Padeletti Cogliolo, Diritto romano, 1886, paginas
172-173).
Vejam-se: Codigo Civil francez, arts. 215-226; hespanhol, 60 e
61; portuguez, 1.192 e 1.193; allemâo, 1.335 e 1.399; Codigo
Civil chileno, artigos 136-138; uruguayo, 131-135; boliviano,
132-134; venezuelano, 181 e 182; peruano, 179 e 182. A legis-
lação, que acaba de ser citada, referese á necessidade da auto-
rização do marido para que a mulher possa comparecer em juizo
civil ou comraercial, e praticar certos actos juridicos. Mas não
ha nella uniformidade. O Codigo Civil francez restringe, em exces-
so, a capacidade da mulher casada. A lei de 6 de Fevereiro de 1892,
que substituiu o primitivo art. 311 do Codigo, modificou-lhe o
rigor, quanto á mulher separada de corpo, restituindo-lhe a ple-
nitude da capacidade civil. Era, realmente, injustificável que,
separados os cônjuges, permanecesse a autoridade do marido,
que tem por fundamento a sociedade conjugai. A lei de 13 de Ju-
lho em 1907 trouxe outras attenuações, quanto aos productos do
trabalho pessoal da mulher. O Codigo Civil allemão respeita a
capacidade da mulher; apenas, no regimen legal de bens, res-
tringe o seu direito de dispôr da sua parte na communhão admi-
nistrativa do casal; dos bens reservados pôde ella dispôr livre-
mente. A sua capacidade de estar em juizo também só se res-
tringe em relação aos bens, com que entrou para a communhão.
O Codigo Civil suisso confere, expressamente, á mulher casada
o direito de estar em juizo, qualquer que seja a origem dos
bens; exige, porém, que o seu procurador seja sempre o ma
rido nas suas contendas com terceiros, relativamente aos bens,
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 129

Que constituem a sua entrada para o acervo matrimonial (ar-


tigo 168). Quanto ao exercicio de qualquer profissão, presuppõe
o assentimento do marido (art. 167), assim como para o exer-
cicio de poderes mais extensos do que os necessários para a di-
recção da casa.
Na Italia, a lei de 17 de Julho de 1919 conferiu plena capaci-
dade civil á mulher casada.
Na Inglaterra, depois das leis de 18 de Agosto de 1882 e 5 de
Dezembro de 1893, a mulher casada adquiriu a plenitude da ca-
pacidade, podendo praticar, livremente, todos os actos da vida
civil.
O Codigo Civil do México actual, art. 172, declara que o ma-
rido e a mulher, sendo maiores, têm capacidade para administrar,
contractar ou dispor de seus bens proprios, e exercer as acções
como oppor as excepções, que aos mesmos corresponda, sem que
um dos cônjuges tenha necessidade de autorização do outro, salvo
o que dispuzerem nos pactos antenupciaes.
A lei argentina, de 22 de Setembro de 1926, também consagra
a plena capacidade da mulher casada, quando maior (arts. 1 a 3).
Sendo menores, necessitam de autorização judicial para alie-
nar ou gravar os bens, e de um tutor para os negocios judiciaes
(art. 173).
Nos Estados Unidos da America, a legislação é vária, mas, em
regra, prevalece a independência civil da mulher casada. A lei
de 1.° de Junho de 1892, para o Districto da Colombia, declara,
em seu art. 2.°: "A mulher casada pode, na constância do casa-
mento, comprar, vender, permutar e celebrar qualquer contracto
relativo aos seus bens. Tem para isso a mesma capacidade que o
homem casado". A respeito dos seus bens, pôde comparecer em
juizo, como autort. uu ré, sem qualquer interferência do marido,
salvo quando o interesse é, também, delle, porque, neste caso,
ambos agem conjunctamente (art. 3.°). Segundo Benest Lehk,
a mulher casada goza, quanto aos seus bens proprios {separate
state), de absoluta liberdade, podendo concluir, sem assistência
de seu marido, ou do poder judiciário, os contractos que enten-
der, relativamente aos mencionados bens e aos seus interesses
pessoaes em 28 Estados, com a população de 44 milhões de habi-
tantes. Entre esses Estados, não menciona, ainda, o de New-
Jersey, que reformou a sua legislação depois da época, em que
escreveu Lehr. Em 1912, lei de 21 de Março, a mulher casada,
que, anteriormente, não podia alienar immoveis, sem a assis-
Bevilaqua — Codigo Civil — 2.0 vol.
130 CODIGO CIVIL

tencia do marido, ou de um magistrado, adquiriu o direito de


fazel-o, sendo maior de 21 annos. A formalidade, que a lei exige,
é antes no sentido de pôl-a fóra da influencia do marido. Perante
o funccionario competente, ella deve declarar que assigna, livre-
mente, sem receio, sem ameaças ou sem ordem do marido, e ao
acto judiciário se annexa um certificado dessa declaração. Para
demandar ou ser demandada, tem ella capacidade plena (lei de
28 de Março de 1912; cap. 232). Em alguns Estados, porém, ainda
subsistem certas restricções á capacidade da mulher casada.'
Projectos — Esboço, art. 1.306, 2.°; Felicio dos Santos, 707
e 708; Coelho Rodrigues, 1.943; Beviláqua, 282 e 283; Revisto,
310 e 311. Os primeiros Projectos eram mais restrictivos, nos dois
últimos, transparecem as tendências liberaes.
Bibllographia ■— Direiíjo- da familia, §§ 27, III, e 28; Tei-
xeira i>b Freitas, Consolidação, arts. 124-126 e 147, com as notas
respectivas; Lapateute, Direitos de família, §§ 41-43; João
Arruda, Casamento, n. 107; Cândido de Oliveira, Manual do Co-
ãigo Civil, V, § 140; Pontes de Miranda, Direito da família, § 54;
S. Vampré, Manual, I, § 119; Martinho Garcez, Direito da fa-
mília, § 63; João Monteiro, Processo, I, § 55, notas 7 e 8; Coelho
da Rocha, Inst., §§ 235 e 236; Bridel, Derechgs de la mujer,
pags. 49-78; Planiol, Traité, III, ns. 159-265; Planiol et Ripert,
II, ns. 408 e segs.; Huo, Gommentaire, II, ns. 241, 242, 245, 246,
249; Lauient, Cours, I, ns. 204 e 206; Aubry et Rau, Cours, Vil,
249; Laurent, Cours, I, ns, 204 e 206; Aubry et Rau, Cours, VII,
§ 170; Chironi, Ist., II, § 387; Rossel et Mbntha, Droit civil
suisse, I, pags. 234-242; Dias Perreora, Codigo Civil portuguez,
notas aos arts. 116, 119 e 1.192; Bice Mazzoni, vb. Donna mari-
tata, no Dizionario de Scialoja e Busatti, §§ 4.° e 6.°; Ernest
Lehr, Droit civil des Etats-ünis de VAmérique du Ford, ns. 24-
43; Sanohez Roman, Derecho civil, V, pags. 657-676; Ferreira
Coelho, Codigo* Civil, XVIII, ao art. 242, p. 75 e segs.; Martinho
Garcez Filho, Direitos de família, I, p. 259 e segs.

Observações — 1. — O art. 242 começa, declarando que a


mulher casada não pode praticar, sem autorização do marido, os
mesmos actos, que este o não pôde, sem o consentimento delia.
Não contivesse outros preceitos o artigo e estariam os dois côn-
juges em perfeita egualdade jurídica. Esses outros preceitos exis-
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 131"

tem, em razão de ser o marido o cliefe da sociedade conjugai,


o Que augmenta a somma de poderes delle, sem, aliás, reduzir a
sua companheira á condição de verdadeira incapacidade, pois são
consideráveis os seus direitos, segundo se verá dos arts. 246 a 251.
Os actos que o marido não pode praticar, sem outorga uxo-
riana, nem a mulher sem autorização marital, nos termos do
art. 242, I, são os declarados no art. 235: a) alienar, hypothecar
ou gravar de ônus real os bens immoveis e os direitos reaes
sobre immoveis; 6) pleitear, como autor ou réo, acerca desses
l>ens e direitos; c) prestar fiança; d) fazer doação com os bens
o rendimentos communs, salvo se fôr de pequeno valor ou
fcmuneratoria.
Os ns. II e III do art. 242 insistem na mesma idéa já con-
tida na letra a). No Projecto primitivo, como outras haviam sido
as normas adoptadas, eram indispensáveis estes números. Alte-
radas, em parte, as idéas desse Projecto, tornavam-se dispensá-
veis. Foram, porém, mantidas, para significar que o marido, não
obstante ser o chefe da familia e o administrador dos bens do
casal, necessita da assistência da mulher para praticar os actos
indicados no art. 235, e que, portanto, a mulher não pôde pre-
tender o direito de os praticar, ainda que o estipule em pacto
nntenupcial. Esta faculdade lhe permittia o Projecto primitivo,
porque não impedia o marido de alienar os seus immoveis pro-
Prios, e, sim, sómente os communs.
2. — Além dos actos que os dois cônjuges não têm o direito
tic realizar, sem o consentimento um do outro, a mulher, em
Particular, necessita de autorização do marido para realizar actos,
que a este se consentem, independentemente de interferência da
niulher. Taes são os declarados nos ns. IV a VIII do art. 242.
Dahi resulta que, pela necessidade de entregar a direcção da fa-
mília ao marido, soffre a mulher casada maiores restricções do
ôue o homem na sua liberdade de acção.
3. — Haverá motivos graves, de ordem intima ou não, que
Jcvem o marido a considerar inconveniente, ou até indigna, a
entrada, para o casal, dos bens de uma determinada herança,
igualmente, como chefe da familia, deverá ser ouvido sobre o
r
epudio, que poderá afastar a possibilidade de um considerável
nngraento do bem estar doméstico.
Taes considerações justificam o n. IV do art. 242.
O Codigo Civil não vê no sexo feminino uma incapacidade
Para o exerciciq da tutela ou curatela. Como, porém, esses en-
132 CODXGO CIVIL

cargos acarretam responsabilidades, que podem comprometter os


bens do casal, e exigem cuidados, que podem prejudicar a dire-
cção interna do lar, quer a lei que o chefe da familia decida da
opportunidade de acceital-os (n. Y).
As mesmas razões procedem quanto á profissão da mulher
(n. VII).
4. — O marido não pôde litigar a respeito de immoveis e de
ônus reaes sobre immoveis, sem outorga da mulher. Esta não
pode, em geral, estar em juizo, qualquer que seja a natureza da
causa, civil ou commercial, sem a interferência do marido (nu-
mero VI). A esta regra, abrem largas excepções os arts. 248 e
251, que desafogam, inteiramente, a mulher, e tiram ao preceito
o que elle parecia ter de compressivo e irritante.
Dos termos do n. VI deste artigo, infere-se que, independen-
temente de intervenção do marido, pode a mulher defender-se
quando accusada, criminalmente, assim como propor as acções
penaes, que lhe competirem. A defesa, no juizo criminal, devendo
ter a maior amplitude, o marido não tem que examinar se con-
vém ou não autorizal-a, e, por outro lado, não sendo possivel
elidir a acção penal, allegando a incapacidade meramente civil,
é incabivel pensar em suppril-a pela interferência do marido.
E' principio geralmente reconhecido (Codigo Civil francez, ar-
tigo 216; Planiol, Traité, III n. 272; Coelho da Rocha, Inst.,
§ 236, c).
E, sendo offendida criminalmente, pôde a mulher intentar a
acção penal por queixa, sem intervenção do marido? O art. 407,
§ 1.°, do Codigo Penal, não permitte duvida. Haverá logar a acção
penal, diz o citado artigo: § 1.° "Por queixa da parte offendida
ou de quem tiver qualidade para represental-a". A' mulher ca-
sada, offendida, somente por determinação expressa de lei po-
deria retirar-se a qualidade, inherente á qualquer pessoa, de dar
queixa criminal contra quem a offende. A restricção á. sua capa-
cidade, introduzida pelo direito civil, não transpõe as fronteiras
desta divisão do direito. Se ella tem capacidade para ser
accusada, absurdeza e iniqüidade seria recusar-lh'a para accusar.
O marido, por seu lado, será, também, parte legitima para pro-
mover a acção penal, que competir á mulher, porque tem quali-
dade para represental-a.
5. — Sem autorização do marido, não pôde a mulher con-
trahir obrigações, que possam importar em alienação de bens
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 133

do casal, diz o n. VIII, do art. 242. Deste principio tira-se uma


conseqüência, e é que, a mulher pôde contrahir obrigações de
que resulte alienação de bens proprios, não sendo estes dotaes
(art. 299). Todavia, ainda nesses limites, não pôde acceitar man-
dato (art. 1.289). Por outro lado, o principio soffre as limitações
constantes dos arts. 245, 247 e 251. As obrigações que nascem
dos actos illicitos também a mulher as contráe sem intervenção
do marido, por isso que não são voluntárias, são-lhe impostas
Por lei. Pela mesma razão, obriga-se a mulher pelos actos de
terceiro, que tenha gerido negocio seu, proveitosamente (ar-
tigo 1.339).
6. — A mulher pôde contractar advogado para recorrer do
despacho do juiz, que suppre o seu consentimento para aliena-
ção de immovel do casal, e os honorários do advogado constituem
divida da communhão.
Contra esta decisão não vale invocar o disposto no art. 242,
VIU, que diz; d tyiuITigt não póãe, sem autorizcição do marido,
contrahir obrigações, que possam importar em alienação de bens
do casal. Em primeiro logar, é direito da mulher oppôi-se á
venda dos immoveis do casal; e, se, para tornar effectivo esse
direito ella necessita dos serviços de um advogado, é valido o
contracto, que ella faça, para esse fim com profissional de sua
escolha, porque, dando-lhe a lei esse direito de opposição, não lhe
pôde recusar os meios de exercel-o adequadamente, e a divida
assim contrahida obriga os bens communs, porque, negando con-
sentimento para a alienação de immoveis, não defende a mulher
direitos privativos seus, e sim o patrimônio da familia, o que
bem se vê de lhe dar a lei esse direito, qualquer que seja o re-
gimen dos bens (art. 235).
7. — Mantive as observações acima, quanto aos ns. IV a X
do art. 242, para não tentar uma reforma, que se deduz do
a
rt. 113, l.o da Constituição de 1934, sem deixar os vestigios do
direito anterior, cuja apreciação não é destituida de interesse.
O art. 113, 1.° dessa Constituição declara que todos são eguaes
Perante a lei, e que não haverá ãistineções por motivo de sexo.
E' preciso accommodar a este dispositivo constitucional a lei
civil, alterando, se não suprimindo os ns. IV a IX do art. 242
do Codigo.
n
8. — A Constituição de 1937 não reproduziu a clausula;
ão haverá ãistineções por motivo de sexo; de onde resulta a
restauração do direito anterior.
134 CODIGO CIVIL

Art. 243—A autorização do marido pode ser


geral ou especial, mas deve constar de instru-
mento publico ou particular previamente au-
thenticado.

Direito anterior — O prescripto no artigo não constava de


texto de lei, e a doutrina não era assente. Propendiam alguns
autores a pensar que a outorga marital devia ser, sempre, espe-
cial, para determinado acto, salvo para commerciar (Codigo
Commercial, art. 1.°, IV).
Legislação comparada — Vejam-se; Codigo Civil francez,
arts. 217 e 223; italiano, 134, 2.a parte; portuguez, 1.194-1.196;
argentino, 188-190; chileno, 140; uruguayo, 138; boliviano, 139
(prohibe a autorização geral); mexicano, 199; venezuelano, 183.
Projectos — Esboço, art. 1.306, e 1.309 (autorização sem-
pre especial, excepto para a mulher commerciante); Felicio dos
Santos, 709; Coelho Rodrigues, 1.944; Beviláqua, 284; Re-
visto, 312.
Blbliographia — Direito da família, § 28; Lafayettb, Direi-
tos de família, § 47; JoÃo Areuua, Casamento, ns. 114 e 115;
Planiol et Ripert, II, ns. 433-454.

Observação — A autorização marital deverá ser dada por


instrumento publico, quando geral, ou quando a natureza do ne-
gocio assim o exigir, e por instrumento particular, nos outros
casos. A autorização para alienar immovel deve constar de instru-
mento publico. A autorização para exercer o commercio regula se
pelo disposto nas leis commerciaes.
A autorização dada por instrumento particular deve ser
préviamente authenticada, isto é, deve a assignatura do marido
ser reconhecida e o documento registrado.
A autorização antecede ao acto, por isso que é formalidade
necessária para tornar a mulher capaz de pratical-a. Vindo, po-
rém, depois, sana o defeito do acto, ratificando-u.
Vejam-se os commentarios aos arts. 132, 235 e 252.

Art. 244 — Esta autorização é revogavel a


todo o tempo, respeitados os direitos de terceiros
e os effeitos necessários dos actos iniciados.
DOS EFB-EITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 135

Direito anterior — O mesmo principio. Veja se o Codigo Com-


mercial, art. 28.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, ait. 134,
2.a parte; portuguez, 1.197; suisso, 164; argentino, 195; chileno,
141; uruguayo, 139; venezuelano, 183, in fine.
Projectos — Esboço, art. 1.312; Felicio dos Santos, 709,
2.a parte; Coelho Rodrigues, 1.944, pr. 2." parte; Beviláqua, 285;
Revisto, 313.

Observação — A revogabilidade da autorização do marido e


conseqüência lógica do poder, que a lei lhe confere, de suppiii,
com a sua intervenção, a insufficiencia legal de sua mulher para
numerosos actos da vida civil. Retirada a autorização, o acto
não é mais possivel, se ainda não se iniciou, e não pode conti-
nuar se começado, tendia a perdurar, ou é complexo e consta
de uma série, que se desdobra. Subsistem, apenas, os effeitos
necessários dos actos iniciados.
Esse arbitrio dado ao marido não pode, porém, prejudicai
terceiros, que, em bôa fé, tratam com a mulher casada, sabendo-a
legalmente autorizada. Se, não attendendo aos legítimos inte-
resses dos que contractam com a mulher autorizada, o mando faz
cessar, de cbofre, a autorização, causa prejuízos, pelos quaes deve
responder. Consequentemente, ou ha de retirar a sua autoiização
de modo a não offender direitos alheios, ou, se os lesar, ha de in
demnizal-os.
Os effeitos jurídicos do acto praticado pela mulher autori-
z
ada não desapparecem com a cessação da outoiga. Os diieito^
due constituiu e as obrigações assumidas subsistem, porque s
niulher era plenamente capaz no momento, em que realizou os
actos geradores dessas relações jurídicas.

Art. 245 — A autorização marital pôde sup-


prir-se judicialmente:
I. Nos casos do art. 242, ns. I a Y.
II. Nos casos do art. 242, YII e YIII, se o
marido não ministrar os meios de subsistência á
mulher e aos filhos.
136 CODIGO CTVH.

Paragraplio único. O supprimento judicial


da autorização valida os actos da mullier, mas
não obriga os bens proprios do marido.

Direito anterior — O direito civil não havia systematizado


esta matéria, mas a doutrina completara as lacunas da lei.
Veja-se, todavia, a Ord. 3, 47, § 5.°; e 4, 48, § 2.°.
Legislação comparada — Vejam-se sobre o artigo: Codigo
Civil francez, art. 218; italiano, 136; hespanhol, 60, in -fine;
suisso, 167; portuguez, 1.193, paragrapho único; allemão, 1.402;
argentino, 194; chileno, 143; uruguayo, 137; boliviano, 135 e
136; peruano, 184 e 185; mexicano, 200. Todos estes Codigos refe-
rem-se, nos artigos citados, ao supprimento judicial da autori-
zação do marido, quando este a recusa, sem justa causa. Fa-
zem-no, porém, de modo differente do estabelecido no Codigo
Civil brasileiro, e nem todos guardam harmonia entre si.
Sobre o paragrapho único, veja-se o Codigo Civil chileno,
art. 146, 3.a parte.
Projectos — Esboço, art. 1.311; Coelho Rodrigues, 1.945;
Bevilaqu/u, 286; Revisto, 314.
Bibliographia — Direito da família, § 28; Lafaybtte, Direi-
tos de familiu, § 44; João Aiiíruoa, Casamento, n. 110; Martinho
Garcez, Direitos da família, § 66; Cândido de Oliveira, Manual
do Codigo Civil, V, § 142; Coelho da Rocha, Inst., §§ 235 e 236;
Planiol, Traité, III, ns. 291, 292 e 298-304; Planiol et Ripert,
II, ns. 470-485; Laurent, Cours, n. 210; Coãe Civil allemand,
publié par le Comitê de leg. étrangère, notas ao art. 1.402; Dias
Ferreira, Codigo Civil portuguez, commentario ao art. 1.119, com
applicação ao art. 1.193.

Observações — 1. — Prevendo a possibilidade de que o ma-


rido, por capricho, odio, ou má fé, não queira dar o seu consen-
timento, para que a mulher execute algum acto jurídico, per-
mitte o Codigo que essa falta seja corrigida pelo juiz, que, ou-
vindo os dois cônjuges, e reconhecendo que a recusa do marido
não tem fundamento plausível, dará a sua autorização.
No systema do Codigo Civil brasileiro, ha, como em outros
systemas, duas classes de autorizações judiciaes, a suppletiva,
para os casos em que o marido não possa dar o seu consenti-
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 137

mento, e a correctiva, quando, sem justa razão, o marido não


quer autorizar a mulher. A intervenção do juiz é sempre corre-
ctiva, nos casos do art. 254. Se o marido, por ausente ou inter-
dicto, não pôde consentir, a mulher recupera a plenitude da sua
capacidade, assume a direcção do casal, e somente para alienar
os immoveis proprios, ou do marido, necessita do placet do juiz
(art. 251).
2. — Distingue, porém, o Codigo os casos de autorização ju-
dicial em dois grupos. Para que a mulher possa alienar, hypo-
thecar e gravar de ônus real os seus immoveis, pleitear, acceitar
herança, exercer tutela, emfim, praticar os actos, a que se refere,
o art. 242, ns. I a VI, o juiz apreciará, segundo o seu critério, a
marido para a elle se oppôr, e decidirá como fôr de justiça,
conveniência ou necessidade do acto e os motivos, que tem o
Tratando-se, porém, de exercer profissão ou de contrahir obri-
gações, que possam importar alheação de bens do casal, o Codigo
não entrega a resolução do caso ao simples arbítrio do juiz.
Ha interesse de maior ponderação, a que attendei. Se lepugna ao
marido que a mulher abrace uma determinada profissão, o Es-
tado não tem o direito de o violentar. As suas razões são de or-
dem intima, emocional e ethica. Escapam á apreciação de extra-
nhos, cuja organização moral é outra, e cuja situação também
não é a mesma. No caso de obrigações, que importem na alhea-
São dos bens do casal, têm outro caracter as razões do marido;
mas, se a elle confia a lei a direcção da familia e o encargo prin-
cipal de a sustentar, é forçoso que lhe dê o direito de impedii a
execução de actos, que lhe possam impossibilitar o cumprimento
desse dever sagrado de prover á subsistência dos seus.
E' somente quando o marido não cumpre essa obrigação de
íornecer á mulher e aos filhos os meios indispensáveis á sua de-
cente subsistência, que o juiz poderá interferir, habilitando a
mulher a sabir da situação de constrangimento ou penúria, em
Que se acha.
Assim, nos casos do art. 242, ns. I a VI, verificará o juiz, se
ha conveniência ou necessidade do acto, que a mulher deseja
realizar, e decidirá, segundo o seu critério. Nos casos do mesmo
artigo, ns. VII e VIII, o juiz sómente poderá supprir a autori-
zação do marido, se este não ministrar, á familia, meios de subsis-
tência.
3. — Sobre a inadvertencia, que persiste neste artigo, quanto
âs referencias aos ns. I a V e VII a VIII do art. 242, omittido o
138 CODIGO CIVIL

n. VI, leia-se Pontes de Mieanda, Direito ãe família, nola final,


pags. 509 a 510.
4. — A interferência da autoridade judicial não é descabida
nem inútil nos casos aqui considerados. Corrige abusos, põe freio
a desmandos, sem perturbar a organização da família, attende
aos reclamos da justiça, e presta apoio aos que delle necessitam.
E o maior beneficio dessa providencia está antes, na sua influen-
cia moral, na possibilidade de se effectuar, do que na própria
effectuação reservada para as occasiões excepcionaes.
5. — Consagra bôa doutrina o paragrapho único do artigo,
pois, se ê justo que a actividade da mulher não fique inutilizada
por capricho do marido, injusto seria fazel-o responder por actos,
a que elle se oppoz. Aliás a autorização judicial, correctiva da
vontade do marido, applica-se, naturalmente, a actos da mulher,
referentes a seus bens, ou á defesa do patrimônio do casal,
que não podem acarretar prejuízo ao marido. Somente em casos
excepcionaes, a situação da família exigirá que o juiz autorize
a mulher a contrahir obrigações, que, tendo por fim ministrar
meios de subsistência, a ella mesma e aos filhos, possam compro-
metter bens communs.
6. — Leia-se, para elucidação do exposto nestes commen-
tarios, a obs. 7 ao art. 242.

Art. 246 — A mulher, que exercer profissão


lucrativa, terá direito a praticar todos os actos
inherentes ao seu exercicio e á sua defesa, bem
como a dispor, livremente, do producto de seu
trabalho.

Direito anterior — Differente. O Cod. Comm., art. 27, dis-


punha a respeito da mulher commerciante e differentemente.
Legislação comparada — Codigo Civil suisso, art. 191: de-
clara reservados os bens da mulher, que lhe servem para o exer-
cicio da sua profissão, e o producto do seu trabalho fora da acti-
vidade domestica, ou, como diz o texto allemão; as acquisições da
mulher provenientes de trabalho independente (der Erwerb der
Ehefrau aus selbstaenãiger Arbeit). A.ntes do Codigo Civil, a lei
de 7 de Novembro de 1894, para o Cantão de Genebra, collocara
a mulher casada, em relação ao producto do seu trabalho, em
DOS EFFBITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 139

condições eguaes á da que estivesse separada de bens, dando-lhe


direito de administrar, sem outorga marital, o que tivesse ganho
Por seu trabalho pessoal.
A lei sueca, de 11 de Dezembro de 1874, e a dinamarqueza,
de 7 de Maio de 1880, permittem que a mulher casada disponha,
como entender, daquillo que adquirir por seu trabalho pessoal.
Regimen semelhante existe na Noruega (lei de 29 de Junho
de 1888).
Em Nova York, o acto legislativo de 2 de Abril de 1902 (Ca-
pitulo 289) estatue; "a mulher casada possue, em seu nome indi-
vidual e a titulo separado, acção relativa aos seus salários, orde-
n
ados, lucros, retribuições, indemnizações, que lhe possam ser
devidos por seus serviços ou trabalho, ou em razão de com-1
oiercio, empreza ou profissão, que ella dirija ou exerça".
Na França, a lei de 13 de Julho de 1907 estatuiu: art. I.0.
"Sob todos os regimens, e considerando-se nulla toda clausula
ei
n contrario estabelecida em pacto antenupcial, a mulher tem,
s
obre os productos do seu trabalho pessoal e sobre as economias
delles provenientes, os mesmos direitos de administração, que o
ar
t. 1.449 do Codigo Civil confere á mulher separada de bens.
Rode applical-os na acquisição de valores moveis e immoveis.
Róde alienar, a titulo oneroso, os bens assim adquiridos sem au-
torização do marido". Para a validade desses actos basta a jus-
tificação por acto de notoriedade ou por outro meio de que a
hiulher exerce profissão distincta da de seu marido. Os ganhos
r
osultantes do trabalho commum dos cônjuges não estão sujeitos
a
este regimen (continuação do art. I.0). Se a mulher abusa dos
Poderes, que lhe são conferidos no interesse da familia, poderá o
Parido recorrer á justiça para os cercear ou retirar (art. 2.°).
0s
bens reservados á administração da mulher podem ser penho-
r
ados por seus credores individuaes, como, também, pelos que
tiverem contractado com o marido no interesse do casal (art. 3.°).
mulher pode litigar, como autora ou ré, sobre esses bens, inde-
pendentemente de autorização do marido (art. 6.°).
Esta lei foi esclarecida e completada pela de 8 de Junho
de
1923.
A lei de 12 de Março de 1820, modificativa da de 21 de Março
(e
^ 1884, autoriza a mulher casada, que exerça profissão ou officio,
a
adherir, sem autorização do marido, a syndicato profissional, e
a
tomar parte na administração, ou direcção do mesmo.
140 CODIGO CIVIL

No Equador, a lei de 13 de Novembro de 1912, modificando


o art. 8.° da lei de 6 de Outubro de 1911, attribue á mulher ca-
sada o direito de dispor, livremente, dos bens adquiridos com os
seus capitães proprios, em trabalho ou industria. O Codigo Civil
venezuelano, art. 186, confere á mulher, que exerce profissão lu-
crativa, o direito de dispor de todos os bens adquiridos por ella,
no exercício dessa profissão, excepto por titulo méramente gra-
tuito.
Veja-se, ainda, a lei belga de 10 de Março de 1900.
Codigo Civil allemão, art. 1.367.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.942; Beviláqua, 287;
Revisto, 315. Estes Projectos referem-se á mulher, que exerce
profissão lucrativa, por supprimento de autorização dado pelo
juiz.
Bibliographia — Bbidel, Derechos de la mujer, 1.894, pagi-
nas 111-143; Chabmont, Les transformations du ãroit civil, 1912,
pags. 92-115; Batjdry-Lacantinekie, Le Courtois et Sükville,
Du contrai de mariage, III, annexo no fim do volume; Aubry et
Rau, Cours, VII, 470, Ms; Planiol et Rippert, II, ns. 430 e segs

Observações — 1. — A mulher commerciante, nos termos do


Codigo Commercial, art. I.0, n. IV, pode exercer todos os actos
necessários ao seu commercio, sem necessidade de intervenção
do marido, porque a autorização para commerciar é geral. Em re-
lação a esses actos pôde estar em juizo, e, numa palavra, goza
dos direitos, e se acha sujeita ás obrigações geraes dos commer-
ciantes. Sobre este assumpto, discorre com proficiência J. X. Car-
valho de Mendonça, Tratado de direito commercial, II, núme-
ros 60-97.
O Codigo Civil estendeu ás outras profissões lucrativas o re-
gimen estabelecido para o commercio.
2. — Não distingue o Codigo as profissões. As operárias, como
as mulheres, que exercem profissões liberaes, acham-se na mesma
situação. Todas têm capacidade para praticar os actos proprios
ao genero de trabalho, de que fazem profissão; para, em razão
delles, estar em juizo, defendendo os seus direitos; e para, livre-
mente, dispor dos bens adquiridos no exercício da sua profissão.
Refere-se o Codigo aos productos do seu trabalho. Mas, se a
mulher tem a administração e a livre disposição dessas acquisi-
ções immediatas, pôde collocal-as como entender, em títulos,
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 141

acções ou bancos, mantendo sobre ellas o mesmo direito. Neste


ponto, a lei belga, de 10 de Março de 1900, tem sido, geralmente,
censurada, porque, se resguarda o salario da mulher dos esban-
jamentos do marido, entrega-lhe os valores, que por ventura ella
tenha economizado, o que, além de não satisfazer ao fim, que se
tem em vista (desfazer uma injustiça e prover a familia de re-
cursos), é inconseqüente, e concita a mulher a gastar quanto
ganha, sem reservar qualquer coisa para necessidades futuras,
seja a educação de um filho, a satisfação de um compromisso, ou,
ainda, o aluguel da casa.
3. — O direito, que este artigo attribue á mulher casada, não
altera o regimen dos bens. Se for o da communhão universal ou
limitada, abre-se uma excepção apenas á administração do ma-
rido. Os valores adquiridos pela mulher são communs, porém
administrados por ella, como se estivesse separada. Se o regimen
fôr o dotal ou de separação, os bens adquiridos pela industiia
da mulher são paraphernaes ou proprios.
4. — Se, com as economias realizadas, a mulher comprar um
immovel, não o poderá alienar, sem o consentimento do marido,
Porque, no systema do Codigo Civil, a nenhum dos cônjuges é
Permittido alienar nem onerar immoveis, que se consideram a
garantia da familia, sem a acquiescencia do outro ou suppxi-
mento do juiz. Além disso, se o fim principal da» lei é evitar que
os desperdícios do marido absorvam os ganhos da sua consorte,
e
reduzam a familia á miséria, a necessidade da outorga marital
Para a alienação de immoveis em nada contraria esse intuito.
5. — No exercício de sua profissão lucrativa, pôde a mulher
contrahir dividas. E' justo que os credores pessoaes delia possam
Penhorar os bens, cuja administração a lei lhe confiou, pois esses
bens não são inalienáveis. E, como esse patrimônio, adquirido
Pela mulher e por ella administrado, não deve ser attingido pelas
dividas do marido, as dividas que a mulher contrahir, em razão
dos direitos, que lhe attribue o art. 246, não devem também attin-
gir os bens communs administrados pelo marido. Nesta situação,
eada patrimônio supporta as suas próprias dividas; cada admi-
histrador responde pelos seus proprios actos.

Art. 247 Presume-se a mulher autorizada


Pelo marido:
142 CODIÔO CIVIL

I. Para a compra, ainda a credito, das coi-


sas necessárias á economia domestica.
II. Para obter, por empréstimo, as quantias,
que a acquisição dessas coisas possa exigir.
III. Para contrabir as obrigações concer-
nentes á industria ou profissão, que exercer com
autorização do marido ou supprimento do juiz,
Paragrapbo único. Considerar-se-á sempre
autorizada pelo marido a mulher que occupar
cargo publico, ou, por mais de seis mezes, se en-
tregar a profissão exercida fóra do lar conjugai.

Direito anterior — Era doutrina acceita a do artigo; nada


havia, porém, sobre a matéria do paragrapho único.
Legislação comparada — Codigo Civil uruguayo, 141 e 142;
chileno, 147 e 150. O n. III do artigo teve por fontes imme-
diatas o Codigo do Chile, art 150, uruguayo, 142, allemão,
1.405, e mexicano, 168 e 169.
Projectos — Esboço, arts. 1.307 e 1.314 (este ultimo artigo
consagra a regra estabelecida no paragrapho único); Felicio dos
Santos, 709, paragrapho único; Coelho Rodrigues, 1.948; Bevi-
láqua, 288, 295 e 296; Revisto, 316, 323 e 324.
Bibliographia — Direito da família, § 28; Lafayette, Direi-
tos de família, §§ 42 e 48; João Arruda, Casamento, n. 108, II;
Mabtinho Garcez, Direito da família, § 68; Planiol, Traité, III,
ns. 284-288; Planiol et Ripert, II, ns. 391 e segs.; Huo, Com-
mentaire, II, ns. 249-252; Laurent, Gours, I, n. 209; Mourlon,
Répétitions, ns. 813 e 814; Gode Civil allemand, publié par le Co-
mitê de lég., étr., notas aos arts, 1.356 e 1.405.

Observações — 1. — Os actos, a que se referem os ns. I e II


do artigo, nada mais são do que applicações do direito, reconhe-
cido á mulher, de dirigir a economia domestica do casal. O Codigo
diz que ella se presume autorizada a praticar esses actos, para
significar que por elles se obrigam os bens communs e os pró-
prios de cada um dos cônjuges, como estatue o art. 254. Não quer
dizer a lei, com a expressão — presume-se autorizada, que o
DOS EFPEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 143

marido possa retirar, arbitrariamente, como nos casos do art. 242,


a sua autorização, respeitados, apenas, os direitos de terceiros e
os effeitos necessários do acto. A doutrina do Codigo é que, nestes
dois casos, cessa, por via de regra, a incapacidade da mulher ca-
sada. Da própria organização da sociedade .conjugai, das fun- »
cções próprias de cada um dos cônjuges, resulta para a mulher,
o dever e o direito de assumir a direcção interna da casa, e, con-
sequentemente, a competência para os actos proprios dessa di-
recção.
2. — O n. III dá expressão a uma conseqüência natural da
outorga do marido ou supprimento do juiz para que a mulher
exerça certa industria ou profissão. Autorizada, geralmente, para
o exercício da industria ou profissão, forçosamente está habili-
tada a praticar os actos, em que as mesmas se objectivam. Mas,
revogada a autorização geral, já não pôde mais a mulher, vali-
damente, realizar esses actos.
Ha, como se vê, differença considerável entre a competência
da mulher para realizar os actos declarados nos dois primeiros
números, e para realizar os de que trata o n. III. Nos dois pri-
meiros casos, a mulher tem capacidade por determinação da lei;
consequentemente, só por uma razão grave poderá perdel-a.
No terceiro, a capacidade lhe vem da outorga do marido, que
pôde ser retirada.
3. — Leis especiaes, que o Codigo Civil confirmou, conferem
ainda outros poderes á mulher casada. Assim é que ella pôde:
a) Receber, sem intervenção do marido, a pensão, meio soldo ou
montepio, a que tiver direito (dec. 498, de 19 de Junho de
1890, Codigo Civil, arts. 248, Y e VI, 263, I e 269). &) Abrir ca-
dernetas nas Caixas Econômicas federaes e retirar os depósitos
correspondentes, salvo opposição do marido (dec. n. 9.7'38, de
8 de Abril de 1887, art. 5.°).
4. — A mulher, que-occupa um cargo publico, é professora,
agente do correio, telegraphista, ou exerce outra funcção publica
em qualquer ramo da administração do paiz, naturalmente ob-
teve o assentimento do seu marido. A lei, porém, dispensa a
áe exhibir a prova por escripto dessa annuencia. Contenta-se com
o facto. Da mesma fófma, a mulher, que exerce uma profissão
fóra do lar conjugai, por mais de seis mezes, presume-se auto-
rizada por seu marido, sem que se admitta prova em contrario.
Não se refere o Codigo á commerciante, porque isso é matéria re-
144 CODIGO CIVII.

servada á lei especial (Codigo do Commercio). Consulte-se, a


respeito deste assumpto, J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado
de direito commercial, II, ns. 60-67.

Art. 248 — Independentemente de autoriza-


ção pôde a mulher casada:
I. Exercer o direito, que lhe competir, sobre
as pessoas dos filhos de leito anterior (art. 329).
II. Desobrigar ou reivindicar os immoveis do
casal, que o marido tenha gravado ou alienado,
sem sua outorga ou supprimento do juiz (ar-
tigo 235, n. I).
III. Annullar as fianças ou doações feitas
pelo marido, com infracção do disposto nos nú-
meros III e IY, do art. 235.
IY. Reivindicar os bens communs, moveis ou
immoveis, doados ou transferidos pelo marido á
concubina (art. 1.177).
Paragrapho único. Este direito prevalece, es-
teja ou não a mulher em companhia do marido, e
ainda que a doação se dissimule em venda ou ou-
tro contracto.
Y. Dispor dos bens adquiridos na conformi-
dade do numero anterior, e de quaesquer outros
que possua livres da administração do marido,
não sendo immoveis.
YI. Promover os meios assecuratorios e as
acções, que, em razão do dote ou de outros 1vvis
seus, sujeitos á administração do marido, contra
este lhe competirem (arts. 263, 269 e 289).
YII. Propor a acção annullatoria do casa-
mento (arts. 207 e seguintes).
YIII. Propor a acção de desquite (art. 316).
DOS EFFEITOS JUEIDICOS DC CASAMENTO 145

IX. Pedir alimentos, quando llie couberem


(art. 224).
X. Fazer testamento ou disposições de ul-
tima vontade.
Direito anterior — Differente, quanto ao n. I; semelhante,
quanto aos outros números, alguns dos quaes constituíam direito
consuetidinario, a que o Codigo deu força, e ampliou, sendo de
notar que para os actos, a que se referem os ns. II e III, o consen-
timento do marido ou supprimento do juiz era necessário. Ve-
jam-se; o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, arts. 78 e 80;
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.483; e a Ord. 4, 46 e 66.
Legislação comparada — O Codigo Civil brasileiro differe,
neste ponto, de todos os Codigos Civis modernos, por isso que
é mais liberal em relação á actividade juridica da mulher.
Vejam-se: o Codigo Civil francez, art. 226, que apenas dispensa
a outorga marital para as disposições de ultima vontade da mu-
lher; hespanhol, art. 63, que, além da faculdade de testar, reco-
nhece mais na mulher, independentemente de licença do marido,
os direitos sobre a pessoa e bens dos filhos do leito anterior;
portuguez, 1.192 e 1.480, que se referem: aos pleitos com o ma-
rido, á conservação dos direitos proprios da mulher, aos direitos
referentes aos filhos de outra união, e á annullação da liberali-
dade do marido á concubina; allemão, 1.406 e 1.407; chileno, 139;
peruano, 183; venezuelano, 185; uruguayo, 132 e 133.
Projectos — Elsboço, art. 1.308; Felicio dos Santos, 706 e 707;
Coelho Rodrigues, 1.949; Beviláqua, 289; Revisto, 317.
Bibliographia — Direito da família, § 28; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, art. 147 e nota 42; Lafaybtte, Direito de fa-
mília, § 46; João Arruda, Casamento, n. 108, IV-VII; Martinho
Garcez, Direito da família, 69; Dias Ferreira, Codigo Civil por-
tuguez, nota 1 aos arts. 1.192 e 1.480; Coelho da Rocha, Inst.,
§ 690; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 145
e 146; Pontes de Miranda, Direito de família, § 57.

Observações — 1. — Neste artigo, o Codigo Civil declara os


actos, que a mulher casada pôde praticar, sem autorização do
marido, achando-se elle presente e no exercicio pleno de seus
Beviláqua — Codigo Civil — 2.° vol. IO
146 C0D1G0 CIV1L

direitos. São excepções abertas á regra geral da limitação da


capacidade da mulher casada.
N. I. Os filhos de leito anterior constituem familia de que
o marido não faz parte; os seus interesses são extranhos ao novo
companheiro da mulher. Não ha, portanto, motivo para qúe, em
relação a elles, subsista a incapacidade da mulher casada, que
se funda, exclusivamente, na necessidade de unificar a direcçâo
da sociedade conjugai. Os direitos, a que se refere o Codigo neste
numero, são os de ter o filho em sua companhia, cercal-o de cui-
dados, velar pela sua moral, pois as novas nupcias lhe tiram o
pátrio poder (art. 393). Se, porém, o tratamento dado ao filho
do leito anterior não é o que devêra ser, em conseqüência das
novas nupcias, não perde a mãe o direito de o ter junto a si
(art. 329).
2. — Ns. II a IV. A prohibição imposta ao marido de alienar
e onerar immoveis, prestar fianças e fazer doações, sem outorga
de sua mulher, não teria sancção, se á mulher não competisse o
direito de propor a nullidade desses actos, ou se, para propôl-a,
tivesse de solicitar autorização do proprio marido, o que seria
extravagante, além de immoral.
E' em defesa dos interesses da familia que se estabelecem
essas prohibições. O marido, não obstante o preceito legal, offende
esses interesses, mostrando-se inferior á missão, que lhe com-
pete no lar. A lei, nestes casos, levanta a incapacidade da mulher
e dá-lhe o direito de agir, no seu proprio interesse e no da fa-
milia, pelos quaes lhe cumpre velar.
3. — As doações módicas ou remuneratorias são permittidas
ao marido. Não, porém, se a pessoa gratificada fôr sua concubina.
Taes doações, sejam de moveis ou de immoveis, saindo dos bens
communs, podem ser annulladas pela mulher, qualquer que seja
o seu valor. B qualquer acto translativo, do marido á concubina,
considera-se uma doação disfarçada, sem que se admitta prova
em contrario.
Annullada a transferencia, o bem reivindicado entra para o
patrimônio da mulher, que poderá delle dispor, a seu bel prazer,
como dos que possua livres da administração do marido, em vir-
tude de pacto antenupcial (n. V).
Se, porém, o bem reivindicado fôr immovel, não poderá a mu-
lher alienal-o, livremente, por força da regra de que o cônjuge
não pôde alienar immovel, qualquer que seja o regimen do casa-
mento, sem outorga do outro, ou supprimento judicial. Outro era
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 147
0
Preceito da Ord. 4, 66, que o Codigo alterou, pois a clausula
final — não sendo immoveis, abrange os bens reivindicados.
Pontes de Miranda sustenta opinião contraria.
— Ha uma desconformidade entre o n. IV, principio, do
art. 248 e o art. 1.177, a que elle faz remissão. O primeiro destes
art
igos refere-se á concubina, mulher que vive em união illicita,
i^ais ou menos duradoura, e o segundo fala em cúmplice de tídul-
torio, que pôde existir, sem mancebia ou concubinato.
Esta dualidade de expressão, traduzindo conceitos diffe-
reu
tes, veio da vacillação da doutrina dos escriptores pátrios,
Peste particular. A Ord. 4, 66, envolve, na mesma condemnação,
ia Eberalidade do homem casado á sua berregã, ou a qualquer ou-
tra
mulher, com que tenha carnal affeição. Coeuho da Rocha,
íust; § 690( n^0 faja senã,o de concubina e concubinario csl-
s
j ado. Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 147, usa de expres-
;Soes, PPe mostram ter sido elle a fonte do Codigo Civil neste
dispositivo; "reivindicar bens moveis ou immoveis, doados ou
|transferidos pelo marido á sua concubina". Carlos de Carvalho
jdiz (art. 1.483, § 2.°, b, do Direito Civil): "dispor, livremente, e
COm s
o e não fôra casada, dos bens que houver, reivindicado, por
i-erem sido dados ou alienados pelo marido á concubina ou o al-
yuvna mulher com que elle tenha tido affeição carnal. Destas mes-
1Ilas
expressões se utilizara Lafayette, Direitos de família,
§ 40. 5.
Como se vê, a Ord. annullava a doação, quer fosse feita á con-
cu
bina, quer á mulher, com que o marido tivesse tido ligação
Passageira; alguns autores, restringindo o preceito da lei, refe-
*Pam-se, apenas, á amasia. As duas fôrmas apparecem, no Codigo
lv
fb em conseqüência da emenda feita ao art. 289, 4.°, do Pro-
Jecío primitivo, pela Commissão revisora do Governo (Acías,
^a§" Projecto revisto, art 317, 4.°).
Como, porém, não podem subsistir duas soluções differentes
Para o mesmo caso, em um corpo systematico de leis, cumpre en-
e
Pãer o pensamento do Codigo de modo que o art. 1.177 fique
phbordinado ao art. 248, n. IV, onde se acha o pensamento capital
1 0 ^agislador sobre o assumpto. O art. 178, § 7.°, VI, reproduzindo
°s dizeres do art. 1.177, também fala em cúmplice, quando estabe-
Prazo de dois annos para a prescripção da acção da mulher,
ou
de seus herdeiros necessários. Mas cúmplice é também a con-
Cu
biua. Veja-se o commentario ao art. 1.777, vol. IV, deste livro.
148 C0D1G0 CIVIL

Não se justifica esse prazo de dois annos para annullar doa-


ções á concubina, quando para a annullação de outras doações
não permittidas é de quatro annos (art. 178, § 9.°, &). No Projecto
primitivo, arts. 290 e 1.317, não havia essa incongruência.
5 Os ns. VI a X são conseqüências necessárias de direitos
reconhecidos á mulher casada. Se o marido administra bens da
mulher sejam dotaes ou não, assegura a lei, á proprietária, o
emprego de meios assecuratorios e de acção contra o adminis-
trador, que perante ella e seus herdeiros responde como pro-
curador (art. 260, II). Seria incongruente que, para agir na de-
fesa desses bens necessitasse a mulher da outorga marital.
Inconseqüente seria também essa exigência, quando a mu-
lher tivesse de propor acção para annullar o casamento, pedir
desquite e os alimentos, quer provisionaes (art. 224), quer na
constância do casamento. O marido tem de fornecel-os á familia,
que constituiu (art. 233, V), seria irrisório subordinar ao assen-
timento do marido a acção para coagil-o a cumprir esse dever.
A facção de testamento, por isso mesmo que produzirá effeito,
somente, depois da morte, quando já não ha mais sociedade con-
jugai, é direito, que, evidentemente, não pode estar sujeito ao
placet marital.

Art. 249 — As acções fundadas nos ns. II,


III, IV e YI do artigo antecedente competem á
mulher e aos seus herdeiros.

Direito anterior — Semelhante. O proprio marido podia usar


da acção para annullar as suas alienações illegaes.
liegislação comparada — V. o Codigo Civil portuguez, ar-
tigo 1.191, §§ 2.° e 3.°; allemão, 1.449.
Projectos — Esboço, art. 1.305, 3.°, in fine, que se refere, uni-
camente, á nullidade do processo a respeito de immoveis; Fehcio
dos Santos, 703; Coelho Rodrigues, 1.950; Beviláqua, 290; Re-
visto, 318.

Observação — As acções, que o art. 248 confere á mulher,


para desobrigar, ou reivindicar immoveis do casal, que o marido
tenha gravado, ou alienado, sem a sua outorga, ou supprimento
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 149

juiz; para annullar as fianças prestadas e as doações feitas,


mesmas condições; e para defesa, ou restituição dos bens
seus entregues á administração do marido, passam aos seus her-
^iros, que as podem usar, no prazo de quatro annos, contados
fallecimento da mulher (art. 178, § 9.°, II). Passa, egualmente,
aos
Mesmos herdeiros a acção para reivindicar os bens communs
doados, ou transferidos á concubina, assim como para annullar
as
doações de que trata o art. 1.177, até dois annos depois de
dissolvida a sociedade conjugai (art. 178, § 7.°, VI).

Art. 250— Salvo o caso do n. IV, do art. 248,


fica ao terceiro, prejudicado com a sentença fa-
vorável á mulher, o direito regressivo contra o
Parido ou seus herdeiros.,

direito anterior — Differem as providencias da Ord. 4, 48,


§§ 4.° a 6.°.
Frojectos — Coelho Rodrigues, art. 1.951; Beviláqua, 291;
Revisto, 139.
CONSELHO REGIONAL DO TRABALHO
V». REGIÃO
Observações — 1. — Desfeitos os actos nullamente praticados
Se
marido, volvem as coisas ao estado, em que anteriormente
achavam (art. 158), restituindo-se o objecto ou o seu valor; isto
0
bem alienado volve ao casal, o immovel gravado se desobriga,
a
fiança prestada fica sem effeito. Mas o terceiro, que contractou
^0lh o marido, terá soffrido prejuízo com a annullação do acto.
Codigo lhe dá direito regressivo para resarcir esse prejuízo,
Co
ntra o marido ou seus herdeiros. Não attende o Codigo á bôa
má fé do terceiro, e sim ao prejuízo soffrido. Prejudicado, o
Cei
ro tem acção, para se indemnizar, contra o marido ou seus
e
ii'os. Se, porém, o marido não tiver bens para satisfazer o
e o casal'tiver lucrado com o acto, responderão por elle
8
bens communs, se o terceiro estava de bôa fé, segundo a re-
gra
do art. 255. Somente neste caso, interessa a bôa fé do ter-
ceiro.
Responde o marido, directamente, nos casos aqui conside-
ados
' Porque commetteu um acto illicito, e o agente do acto
150 CODIGO CIVIL

illicito obriga-sé pelo damno que causa. Respondem os seus her-


ideiros, porque as obrigações se transmittem, hereditariamente.
Respondem, subsidiariamente, os bens communs, porque augmen-
laram com um lucro illicito, que deve ser restituido.
2. — Se, porém, o terceiro prejudicado é a concubina do ma-
rido, nega-lhe o Codigo acção regressiva, para indemnizar-se, por-
que é immoral a causa da sua acquisição, o direito a repelle e
condemna, e, consequentemente, não lhe pode reconhecer remedio
nem compensação.
No caso da alienação á concubina, a perda resultante da rei-
vindicação effectuado pela mulher, além de ser uma resultante
da incapacidade do alienante, é uma pena civil imposta á immo-
ralidade. O marido soffre a perda daquillo que alienou, sem poder
e sem dever, e á concubina recusa o direito os meios para reha-
ver o que, illicitamente, lucrara.

Art. 251 — A' mulher compete a direcção e


a administração do casal, quando o marido:
I. Estiver em logar remoto, ou não sabido.
II. Estiver em cárcere, por mais de dois
annos.
III. For, judicialmente, declarado inter-
dicto.
Paragrapho único. Nestes casos, cabe á mu-
lher :
I. Administrar os bens communs.
II. Dispor dos particulares e alienar os mo-
veis communs e os do marido.
III. Administrar os do marido.
IY. Alienar os immoveis communs e os do
marido, mediante autorização especial do juiz.

Direito anterior — Os ns. I e II contêm disposições existen-


tes no direito anterior (Ord. 1.090. 4, 103, §§ l.0-3.0; Carlos de
Carvalho, Direito civil, art. 1.483, § 3.°, a e b: Veja se, também,
o art. 1.499). Os poderes constantes do paragrapho único são
nOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 151

^ais extensos no Codigo Civil, e se não achavam bem definidos


.no direito anterior.
Legislação comparada — O Codigo Civil francez, arts. 221 e
222, substitue a autorização do marido condemnado á pena infa-
mante ou afflictiva, interdicto ou ausente, pela do juiz, tanto
Para estar em juizo quanto para contractar. A lei de 7 de Feve-
reiro de 1924, accrescentou o caso de abandono da familia declara-
do por acção penal.
O portuguez, art. 1.189, confia a administração dos bens do
casal, á mulher, quando o marido está impedido ou ausente; mas
a
alienação dos immobiliarios deve sèr autorizada pelo conselho
de familia, com assistência do ministério publico, e se exceder
de cem mil réis o valor desses bens, a alienação se ha de fazer por
hasta publica (art. 1.190). O allemâo dispensa a mulher da au-
torização do marido, quando este está doente ou ausente, mas
apenas quanto á alienação de bens, com que ella tenha entrado
Para a sociedade conjugai (art. 1.401). ou, no regimen da com-
oiunhão, para realizar algum acto judicial ou extrajudicial, ha-
vendo perigo na demora (art. 1.450). O argentino, art. 193, e o
boliviano, 137 e 138, dispõem semelhantemente ao francez. O cM
teno entrega a administração dos bens do casal á mulher, quando
curadora do marido, mas não lhe permitte onerar nem alienar
03
immoveis do marido sem autorização especial da justiça (ar-
tigos 145 e 1.758-1.763). Disposições semelhantes no uruguayo,
arts. 1.979-1.984. O peruano, art. 186, exige autorização judicial
Para que a mulher possa dar, alienar, hypothecar ou adquirir
be
ns, estando o marido ausente ou interdicto. O venezuelano, 185,
dispensa a autorização marital: quando o marido está ausente, é
nienor ou interdicto; quando a mulher se defende em juizo cri-
minal; quando acciona o marido ou contra elle se defende; para
ãue a mulher acceite legados sem encargos; para fazer testa-
niento; e quando está legalmente separada.
70
Projectos —- Esboço, 1.310; Felicio dos Santos, 705, 706 e
7, 6.u; Coelho Rodrigues, 1.949; Beviláqua, 292; Revisto, 320.
Bibliographia — Direito da familia, § 28; Lafayette, Direi-
tos de familia. § 46; João Arruda, Casamento, ns. 108 e 109;
Martinho Garcez, Direito da familia, § 72; Coelho da Rocha,
Inst., § 235; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V,
§ 148; S. Vampré, Manual. I, § 121; Pontes de Miranda, Direito
tto familia, § 58; Planiol, Traiié, III, ns 293 297; Planiol et
Ripert, II. ns. 472-476; Huc. Gomonentaire. II. ns. 268-273; Lau-
132 CODIGO CIVU-

kent, Cours. I, n. 210; Coãe Civil allemanã, publié par le Co-


mitê de lég. étrangère, notas aos arts 1.401 e 1.450; Chiboni,
Ist., § 387; João Chaves, Parecer.

Observações — 1. — Estando o marido em logar remoto, ou


não sabido, isto é, longe do lar, sem se communicar com os seus
e sem tomar as necessárias providencias, para que a direcção da
familia não soffra, muito embora ainda não tenha sido declarado
ausente, é necessário que alguém assuma o logar, que elle de-
sertou, e esse alguém outro não pode ser senão a mulher, cuja
incapacidade civil, então, cessa, e que pôde praticar todos os
actos da vida jurídica, inclusive os judiciaes, sem necessidade
de autorização de quem quer que seja, salvo quando se tratar de
alienação de immoveis. Para alienar os bens de raiz, sejam com-
muns ou do marido, faz-se necessária a intervenção .do juiz.
Tal intervenção é desnecessária para a alienação dos immoveis
proprios da mulher Estes ella os aliena, livremente, como se fôra
viuva ou solteira (paragrapho único, II).
2. — A mulher também assume a direcção da familia e a
administração dos bens do casal, quando o marido estiver em
cárcere por mais de dois annos, ou fôr, judicialmente, declarado
interdicto. Como no caso de estar o marido em logar remoto, ou
não sabido, nos dois casos agora considerados, recupera a mu-
lher a plenitude da sua capacidade civil, como cabeça do casal.
A prisão do marido por mais de dois annos determina a
suspensão do pátrio poder (art. 394, paragrapho único), cujo
exercicio passa á mulher. Por outro lado, retido no cárcere, por
mais de dois annos, alheia-se o marido, naturalmente, da marcha
dos negocios e das necessidades do lar. Nomear alguém que o
represente para administrar os seus bens e os da communhão,
quando a mulher é pessoa idônea, seria chocante injustiça, que
só se encontra em algumas legislações, como persistência de uma
tyrannia domestica incompativel com a concepção hodierna da
familia.
Se o marido é interdicto, a mulher é sua curadora (art. 454),
seja a interdição por loucura ou prodigalidade. e, nesta posição,
competem-lhe todos os direitos daquelle a quem está confiada
a guarda das pessoas, que se não podem dirigir por si. E, como
aquelle cuja direcção lhe é confiada, é o seu marido, o chefe da
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 153

jsua família, é natural que a mulher o substitua, tomando a frente


l^a sociedade domestica, dos interesses do lar, dos quaes não pôde
icurar o enfermo.
3. — Nos tres casos deste artigo, a mulher é plenamente
lcapaz. O Codigo, que, somente, lhe restringira a capacidade em
conseqüência de ter entregue a direcção da família ao marido,
logicamente, lh'a restitue plena, quando lhe confia a presidência
^a sociedade domestica. Outras legislações, ainda exigem que
a
mulher seja autorizada pelo juiz, quando o marido, ausente ou
interdicto não o pode fazer. Presuppõem uma incapacidade se-
Xual, que os factos se encarregaram de demonstrar ser pura
Phantasia. Outro é o ponto de vista do Codigo Civil brasileiro.
mulher goza da mesma capacidade civil attribuida ao homem.
Casando-se, essa capacidade se restringe, para não estorvar a di-
reção da família entregue ao marido. Quando este, temporária
oa
definitivamente, deixa a direcção do lar, cessa o motivo da
incapacidade da mulher.
4. — Ha um caso particular, em que o marido é destituído da
SUa
posição de chefe e director da família, perdendo os direitos,
ãue dessa qualidade lhe advêm. E' quando elle explora a mulher,
excitando, favorecendo ou facilitando a prostituição delia,
^ondemnado por lenocinio, além da pena criminal e da inter-
üicção, soffre a perda de sua autoridade marital (Codigo Penal,
art. 277).
No caso de prisão por mais de dois annos, em razão de qual-
Quer outro crime, a mulher fica investida na direcção e admi-
nistração do casal, por uma necessidade de ordem na vida do-
hiestica, em attenção aos interesses da família. Restituido á
^herdade, o marido recupera a sua posição no .lar. Se o crime, que
determina
ri<
a prisão é o lenocinio, a privação dos direitos do ma-
io, como cabeça do casal, é uma pena, em que o delinqüente
incorre, desde a condemnação e perdura indefinidamente, depois
cumprida a pena de prisão.

Art. 252 — A falta, não supprida pelo juiz,


de autorização do marido, quando necessária
(art. 242), invalidará o acto da mulher; podendo
e
sta nullidade ser allegada pelo outro cônjuge,
154 CODXGO CIVII.

até dois annos depois de terminada a sociedade


conjugai.
Paragraplio único. A ratificação do marido,
provada |)or instrumento publico ou particular
authenticado, revalida o acto.

Direito anterior — Differente, quanto ao prazo extinctivo do


direito, quanto ao modo da ratificação, e quanto ao direito, con-
ferido á mulher, de annullar o acto.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 225 (a
annullação pode ser pedida pela mulher, pelo marido ou pelos
herdeiros de ambos); hespanhol, 65 (somente o marido e seus
herdeiros podem propor a annullação do acto); portuguez, 1.200
(semelhante ao hespanhol); argentino, 192; uruguayo, 144; vene-
zuelano, 187; boliviano, 141; mexicano, 203 e 204; e peruano, 187.
Estes Codigos citados em ultimo logar seguem todos a doutrina
do francez
Projectos — Felício dos Santos, art. 714; Coelho Roãvigues,
1.952 e 1.953; Beviláqua, 293 e 294; Revisto, 321 e 322

Observações -— 1.- — A falta de autorização, quando precisa,


invalida o acto, porque a mulher não tem capacidade para o effe-
ctuar. A autorização é indispensável nos casos do artigo 242.
(V. art. cit,, obs. 7). Cabe, exclusivamente, ao marido ou aos her-
deiros, o direito de promover a annullação do acto, porque era
direito do marido autorizar, e a acção, que o Codigo lhe confere,
é a reacção natural desse direito, que, por seu fallecimento, passa
aos herdeiros, mantendo-se vivaz até dois annos depois de ter-
minada a sociedade conjugai.
Alguns codigos attribuem a mesma faculdade á mulher e
aos seus herdeiros, porque também, no caso de falta de outorga
uxoriana, dão ao marido acção para desfazer o acto, que elle
mesmo praticou. Não, é, porém, conforme aos bons princípios,
esse systema. E' certo que o menor, attingindo á maioridade,
pôde reclamar a annullação dos actos, que effectuou, quando não
tinha capacidade para, legitimamente, os realizar; porém a situa-
ção não é a mesma. A incapacidade do menor é natural e o di-
reito a consagra em beneficio delle, como defesa dos seus direitos.
DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 155

A incapacidade da mulher, como a do marido, é meramente civil,


e foi creada em beneficio e protecção dos interesses da família.
O cônjuge, quando infringe a norma legal, que exige a outorga
do outro para a realização de um acto jurídico, fal-o consciente-
mente; não é justo que seja admittido a allegar a sua insub-
missâo á lei, para desfazer a relação jurídica estabelecida, porque
não lhe convém mais.
A pessoa, que contracta com a mulher, não pôde pedir a
annullação do acto, ainda quando estivesse de bôa fé, porque,
em relação a ella, o acto não tem defeito.
2. — A ratificação do marido valida o acto, porque faz des-
apparecer o vicio, de que elle padecia. A fôrma da ratificação
corresponde á da outorga. Exige instrumento publico, se este é
da substancia do acto, que a mulher praticou; e pôde ser pres-
tada por escripto particular com firma reconhecida e registro,
nos outros casos. O Codigo não induz ratificação do silencio do
marido; mas a extincção da acção no prazo estabelecido produz
o mesmo effeito.

Art. 253 — Os actos da mulher, autorizados


pelo marido, obrigam todos os bens do casal, se o
i^egimen matrimonial for o da communhão, e so-
mente os particulares delia, se outro for o re-
gbnen, e o marido não assumir, conjunctamente,
a responsabilidade do acto.

Direito anterior — Era doutrina assente que não somente os


bens communs, como, ainda, os proprios do marido respondiam
Pelos actos da mulher autorizada.
Projectos — Esboço, art. 1.314; Coelho Rodrigues, 1.954;
Bevilaqiia, 295; Revisto, 323.
Bibliographia — Lapayette, Direitos de família, § 48; João
Arruda, Casamento, n. 116; Pontes de Miranda, Direito de fa-
niilia, § 60; Mourlon, Répétitions écrites, ns. 810-814; Planiol,
Traité, III, ns. 315-318; Huc, Gommentaire, II, ns. 274-279; Lau-
sbnt, Cours, I, n. 212; Aubry et Rau, Cours, VII, § 472, 6.°.
156 CODIGO CIVIL

Observação — 0 effeito da autorização marital é tornar a


jmulher capaz. Desta capacidade resulta, naturalmente, a eon-
gequencia de que os bens da mulher respondem pelos actos delia,
e, como, na communhão matrimonial, os bens dos dois cônjuges
se confundem, também os haveres communs respondem pelos
^ctos, que a mulher pratica autorizada pelo marido. Os bens par-
jticulares deste, porém, somente se obrigam, se elle assumir,
também, a responsabilidade do acto.
Tal é o systema do Codigo, sem duvida mais justo do que o
,do direito anterior e do que a doutrina de alguns escriptores,
|que fazem responder pelos actos da mulher os bens proprios do
imarido, até quando a autorização é dada, correctivamente, pelo
juiz. O acto é da mulher. Autorizando-a, completa-lhe o marido
a idoneidade jurídica, torna-a capaz de agir; não assume a res-
ponsabilidade do que ella fizer, salvo se o quizer.
Outra é a razão de decidir nos casos do art. 247, porque nelles
a mulher age no interesse da família, e, consequentemente, obriga
os bens de ambos os cônjuges, porque a ambos corre o dever de
manter a família, especialmente o marido.
Quando a autorização é dada pelo juiz, já estatuiu o art. 245,
paragrapho único, os bens proprios do marido não se obrigam.
Seria, realmente, injusto que o marido respondesse por um acto
a que se oppoz.

Art. 254 — Qualquer que seja o regimen do


casamento, os bens de ambos os cônjuges ficam
obrigados, egualmente, pelos actos, que a mulher
praticar na conformidade do art. 247.

Direito anterior — Era doutrina acceita.


Projectos — Beviláqua, art. 29Q-,- Revisto, 324,
Bibliographia — A do artigo antecedente.

Observação — A mulher, nos casos do art. 247, na acquisição|


de cousas necessárias á economia domestica, ou no exercício de;
uma profisão ou industria autorizada, não age no seu interesse
DOS EFFETTOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 157

individual e, sim, no interesse commum da família. No primeiro


caso, quer se trate de compras, ainda a credito, quer de emprés-
timos para attender ás necessidades domesticas, é a dona da
casa, a directora da economia interna do lar, que contracta, re-
presentando a família, e no interesse delia. No segundo, é ainda
esse interesse commum, que a lei considera preponderante, por-
Que se a mulher exerce uma industria ou profissão lucrativa, é,
sempre, em beneficio e proveito da família. Quando é o marido
que lhe dá consentimento para exercer uma profissão, entende-se
que assim procede, de accôrdo com ella, para ajudal-o a supor-
tar os ônus do casamento, ou a promover a prosperidade do lar.
O juiz só autoriza a mulher casada a exercer uma profissão lucra-
tiva, quando o marido não cumpre a sua obrigação de prover os
uieios de subsistência da família. Se a lei não o pôde coagir ao
cumprimento desse dever sagrado, compelle o, indirectamente,
obrigando-lhe os bens pelos actos da mulher, que lhe occupa, de-
Qodadamente, o posto, trabalhando para sustentar os seus.

Art. 255 — A annullação dos actos de um


cônjuge por falta da outorga indispensável do
outro, importa ficar o primeiro mbrigado pela
importância da vantagem, que do acto annulla-
do lhe haja advindo, a elle, ao consorte, ou ao
casal.
Paragrapho único. Quando o cônjuge res-
ponsável pelo acto annullado não tiver bens par-
ticulares, que bastem, o damno aos terceiros de
boa fé se comporá pelos bens communs, na razão
do proveito, que lucrar o casal.

Uireito anterior — Generalizava-se o estabelecido na Ord. 4,


48, §§ 4 0 a g o y Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.066.
Legislação comparada — V. Codigo Civil argentino, art. 197;
chileno, 146; peruano, 189 e 190.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 715; Coelho Rodrigues,
1 955; Beviláqua. 297; Revisto, 325.
158 CODIGO CÍVEL

Bibliographia — Teixeira de Freitas, Consolidação, arti-


gos 578-581 e notas; Lafayette, Direitos de familia, § 49; Pon-
tes de Miranda, Direito de -familia, § 60.

Observação — A redacçâo deste artigo sahiu viciosa da Com-


missão da Gamara, em 1901 {Tralalhos, VII, pag. 42, art. 267, e
VIII pag 84, art. 263), Modificações ulteriores melhoraram-na,
particularmente a lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919 •
O pensamento do Codigo é o seguinte; Os actos praticados
pela mulher ou pelo marido, sem a outorga exigida, para a pri-
meira, no art. 242, e, para o segundo, no art. 235, são annullaveis.
Obtida a annullação, volvem as cousas ao estado anterior ao
acto que se annullou, e o cônjuge, que deu causa á annullaçao,
por se ter excedido em seus poderes, responde, individualmente,
pelos prejuizos occasionados áquelle com quem contractou, na
medida da vantagem, que tenha colhido, ou que tenha propor-
cionado, seja ao casal, seja ao outro cônjuge. Se o cônjuge respon
savel pelo acto-annullado não tivqr bens particulares, que ha
tem para a indemnização do prejuizo causado ao terceiro, este
somente poderá ser resarcido pelos bens do casal, se estivei e
bôa fé, quer dizer, se ignorava que contratava com pessoa casada
e se o casal tiver lucrado com a operação. A responsabilidade d
casal, neste caso, irá somente até onde tiver ido o seu proveito.
Em relação ao marido, convém, ainda, attender ao que dis
ooz o art. 250; e, muito embora não o tivesse dito o Codigo, a
responsabilidade do cônjuge (marido ou mulher) passa aos seus
herdeiros, porque a obrigação do seu acto illicito e transmissível.
O Projecto primitivo, no art. 297, correspondente ao que no
Codigo traz o n. 255, estava assim redigido; "Annullado o acto
da mulher, por falta da autorização do mando, repoem-se as coi-
sas no estado anterior, satisfazendo ella, pelos seus bens parti-
culares e pelos communs, na proporção do proveito colhido pelo
casal, os damnos resultantes do acto annullado, se os prejudi-
cados estiverem de bôa fé.
"A mesma disposição é applicavel ao caso de ser annullado
o acto do marido por falta de consentimento da
A indemnização somente se daria ao terceiro de boa fé, acar-
retando cada qual com as conseqüências da sua malícia.
TITULO III

Do regímen dos bens entre os cônjuges

CAPITULO I

Disposições geraes

Art. 256 — E' licito aos nubentes, antes de


celebrado o casamento, estipular, quanto aos
seus bens, o que lhes aprouver (arts. 261, 273,
277, 283, 287 e 312 .
Paragrapho único. Serão nullas taes conven-
ções:
I. Não se fazendo por escriptura publica.
II. Não se lhes seguindo o casamento.
Uireito anterior — O mesmo (Ord. 4, 46, pr., e Dec. 169 A,
19 de Janeiro de 1890, art. 3.°, § 9.°.
Uegislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.387
e
1-394; hespanhol, 1.315 e 1.321; portuguez, 1.096 e 1.077;
all
emão, 1.432 e 1.434; chileno, 1.715 e 1.716; uruguayo, 1.938
e
1.993; venezuelano, 1.458 e 1.462; japonez, 793.
Todos estes Codigos consagram a liberdade dos pactos ante-
^upciaes, de maneira ampla, dentro das normas legaes.
eil
Restringem a liberdade de convencionar o regimen dos bens
trQ os cônjuges os Codigos seguintes: italiano, arts. 1.378,
1-382 e 1.433 (que não permitte a communhão universal de
^eils); suisso, arts. 178 e 179 (que obriga os nubentes a adoptar
11111
dos regimens previstos na lei, isto é: a união dos bens, a
Co
inmunhão e a separação); austríaco, 1.219 a 1.224 (que, per-
^Utindo a liberdade de pacto, quando o noivo possue bens, exige
a
dotação da noiva, quando o esposo não tem sufficientes haveres
160 CODIGO CIVIL

e regula as varias hypotheses, que se podem apresentar); argen-


tino, 1.217 e 1.223 (as convenções matrimoniaes têm por objecto,
unicamente: a designação dos bens, com que os cônjuges entram
para a sociedade conjugai; a reserva de alguns bens para a
administração da mulher; as doações, do marido á mulher; e as
doações reciprocas dos cônjuges, para depois da morte); mexi-
cano, 178 a 182 (só permitte dois regimens; a communhão de
acquestos, denominada sociedade conjugai, e a separação de bens),
boliviano, 971 e 976 (sociedade conjugai e dote); peruano, 955 e
seguintes (sociedade legal, que se pode combinar com o dote).
Projectos — Esboço, art. 1.315; Felicio dos Santos, 1.940,
1.941 e 1.943; Coelho Rodrizues, 1.974, 1.978 e 1.984; Bevilá-
qua, 298, 299 e 305; Revisto, 326.
Bibliographia — Direito da familia, § 32; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, art. 88 e nota 17; Lafayette, Direitos de fa-
milia, 50-52; Martinho Garcez, Direito da familia, § 77; Can-
oido de Oliveira, Manual do Coâigo Civil, Y, §§ 151 e segs.,
Pontes de Miranda, Direito de familia, §§ 63 e segs.; S, Vampré,
Manual, I, §§ 123 e 124; Almachio Diniz, Direito da familia,
§ 27; Coelho da Rocha, Inst., §§ 241, 255 e 256; Baudry-Lacan-
TiNERiB, Le Courtois et Surville, Du contrat de mariage, I,
ns. 94, 77-83 e 85; Planiol, Traité, III, ns. 776-813; Huc, Com-
mentaire, IX, ns. 1, 2, e 31-33; Laurent, Gours, III, ns. 389-392;
Zachariab, Droit civil français, traducçâo de Massé e Vergé,
IV, §§ 640-637; Aubry et Rau, Gours, VII, §§ 497 a 501; Gode
Civil allemand publié par le Comitê de lég. étr., notas aos ar-
tigos 1.432 e 1.434; Endemann, Lehrbuch, §§ 172, 173 e 782-183;
Roth, System, II, §§ 92-94; Kohler, Lehrbuch, III, §§ 33 e 37;
Chiroki, Ist., II, §§ 394 e 396; Gianturgo, Ist., § 72; Windscheid,
Pand. II, 2.a parte, § 491; Rossel et Mbntha, Droit civil suisse,
I. pags. 254-262; Dias Ferreira, Coãigo Civil portuguez, notas
aos arts. 1.096 e 1.097; Ferreira Coelho, Godigo Civil, XIX,
p. 29 e segs.; Mabtinho Garcez Filho, Direito de familia, I, p. 295
e segs.; Oliveira Castro, Regimens matrimoniaes, p. 3 e segs.

Observações — 1. — O Codigo Civil faculta aos nubentes o


direito de regularem, como entenderem, as suas relações eco-
nômicas, escolhendo o regimen de bens,^ que melhor lhes con-
venha. Domina a autonomia da vontade, nesta matéria, salvo
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 161

Quanto ás pessoas indicadas no art. 258, paragrapho único, e


íeitas as restricções do art. 257.
E', sem duvida, o systema que melhor consulta o interesse
dos cônjuges, e o que melhor se ajusta ás nossas tendências mo-
raes, além de ser o da nossa tradição juridica. Melhor do que a
lei, regulará cada um os seus proprios interesses.
2. — As convenções antenupciaes são celebradas para esta-
belecer o regimen matrimonial dos bens, na constância do casa-
aiento. Estão, por isso mesmo, subordinadas a uma condição sus-
Pensiva: se o casamento se realizar. Não se seguindo o casa-
Qiento, desfazem-se, ficam sem objecto, nenhum direito crearam.
3. — Devem ser reduzidas a escriptura publica (arts. 134, I,
6
256, paragrapho único, I). São relações da mais alta impor-
tância, que se regulam; é a base econômica da familia, que se
e
stabelece; ha interesses reciprocos dos cônjuges, interesses dos
tilhos, que se esperam, e, ainda, interesses de terceiros, que exi-
gem a firmeza e a solemnidade da escriptura lavrada por notario.
Além disso, hão de ser inscriptas no registro de immoveis;
Para que possam ser invocadas contra terceiros (art. 251).

Art. 257 — Ter-se-á por não escripta a con-


venção, ou a clausula:
I. Que prejudique os direitos conjugaes, ou
es paternos.
II. Que contravenha disposição absoluta da
lei.

Uireito anterior — Era doutrina corrente.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.387-
italiano, 1.379 e 1.380; hespanhol, 1.316; portuguez, 1.103
e
1-104; chileno, 1.717; uruguayo, 1.939 e 1.940; venezuelano,
tMeg. o Codigo Civil francez, o italiano, o portuguez e o uru-
gUa
yo, referindo-se á matéria do n. I, prohibem, de accôrdo com
0
direito romano, os pactos successorios.
O francez, além da ihateria considerada nos dois números,
dispõe mais que os esposos não podem estipular, de modo geral,
a sociedade conjugai se regulará, quanto aos bens, por deter-
^nado costume, lei ou estatuto local outr'ora em vigor (ar-
hevilaqua — Codigo Civil — 2.° vol. ii
162 CODIGO CIVIL

tigo 1.390). Imitaram-no, modificando o dispositivo: o italiano,


art. 1.381; o hespanhol, 1.317, e o allemão, 1.433.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.942; Coelho Rodri-
gues, 1.795 e 1.796; Beviláqua, 300; Revisto, 327.
Bibliographia — Direito da família, § 32; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, nota (17) ao art. 88; Lafayette, Direitos de
família, § 54; Martinho Garciez, Direito da família, § 79; Coe-
lho da Rocha, Inst., § 255, escholio; Mourlon, Répétitions écri-
tes, § 79; Planiol, Traité, III, ns. 797-802 Ms; Baudry-Lacan-
tinerie, Le Coxjrtois et Survllle, Du contrai de mariage, I, ns.
15-48; Huc, Gommentaire, IX, ns. 3-7; Laurent, Gours, III, ns.
389-392; Ahbry et Rau, Gours, YII, § 504; Zachariae, Droit civil
français, IV, § 637; Chironi, Ist., II, § 396; Dias-Ferreira, Co-
digo Civil portuguez, nota ao art. 1.096; Oliveira Castro, Regi-
mens matrimoniaes, p. 155' e segs.; Ferreira Coelho, Godigo
Divil, XIX, p. 95 e seguintes.

Observações — 1. — Direitos conjugaes. A> liberdade dos con-


tractos matrimoniaes, por extensa que seja, não poderia ser abso-
luta. O Codigo não permitte que se deroguem os direitos con-
jugaes e os paternos, porque, tendo estabelecido a organização
da familia sobre certas bases, seria imprevidencia deixal-os á
mercê das pretenções individuaes.
Note-se, desde logo, que o Codigo, não diz poder marital,
como outros, muito preocupados com o primaciado do homem
na familia. Seu ponto de vista é o da organização da familia.
Mas é claro que os direitos do marido, como chefe da sociedade
conjugai, não podem ser annullados pelas convenções matrimo-
niaes, Esses direitos estão compendiados no art. 233, ns. I, III
e IV, e os pactos antenupciaes devem respeital-os. Também não
podem ser annullados por contractos os direitos, que o Codigo,
expressamente, assegura á mulher. Taes são os consignados nos
arts. 246, 247, 248 e 251.
Cláusulas derogatorias desses direitos, em regra, não annul-
lam os pactos antenupciaes. Têm-se por não escriptas.
2. — Direitos paternos. Os direitos, que a lei attribue aos
paes, não somente aquelles, cujo conjunto constitue o pátrio po-
der, como, ainda, aquelles que, independentemente do exercício
do pátrio poder, competem ao pae ou á mãe, não podem ser sacri-
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 163

ficados por uma clausula antenupcial. Não se pode considerar


offensiva dos direitos paternos a convenção de educar os filhos
e
m determinada religião. Sem duvida, ao pae compete dirigir a
educação do filho, mas esse direito não deve ser exercido com
sacrifício do direito, egualmente sagrado, que tem a mãe de velar
Pelos interesses moraes do filho. O mesmo Codigo, art. 231, IV,
estabelece como dever commum a ambos os cônjuges a guarda e
à educação dos filhos. A solução do direito civil brasileiro é, pois,
differente da que adoptam muitos autores estrangeiros, influen-
ciados, naturalmente, pelo espirito da lei do seu paiz e pelas
idéas dominantes em seu meio.
3. — Disposição absoluta ãa lei. Consideram-se, também,
como não escriptas as cláusulas que contravém disposição absoluta
lei. E' a applicação, aos contractos matrimoniaes, da regra
Scral de que os preceitos de ordem publica não podem ser dero-
gados, nem alterados pelas convenções particulares. São rigoro-
samente obrigatórios.
Alguns Codigos destacam, ainda, as cláusulas offensivas dos
i^ons costumes. Parece ociosa essa cautela, não somente porque
n
âo ha exemplo de se encontrarem disposições dessa natureza
6111
Pactos antenupciaes, como porque a defesa da ordem publica
a
brange, perfeitamente a dos bons costumes, neste caso parti-
cular das relações conjugaes.
— Pactos successorios. Era questão debatida em direito pa-
tr
io se os cônjuges podiam regular a sua successão em pactos
antenupciaes. A maior parte dos escriptores inclinava-se para a
affirmativa. Laeayette, porém, sustentava a melhor doutrina,
fundado no direito romano e em varias disposições do direito
Portuguez {Direitos ãe familia, § 54, e nota IV, no fim do vo-
iume). Effectivamente, a successão é matéria de direito publico,
convenções particulares: eam scripturam jus successionis non
lutasse constitit: privatorum enim cautionem legum autoritate
no
^ censeri.
E, se é principio fundamental das disposições para depois
ciu morte a sua mutabilidade até o fallecimento do disponente,
u
natureza dessas disposições se não concilia com a dos pactos
untenupciaes, que são inalteráveis na constância da sociedade
Co
njugal.
Nesse sentido dispuzera o Projecto primitivo: Também não
serão validas as convenções antenupciaes:... "2.° que alteram
a
ordem legal das successões". E, através das successivas revi-
164 CODIQO civn.

sões soffridas pelo Projecto, o principio se manteve inalterado,


até que o Senado o fez supprimir, aliás sem discutil-o, como sem
debate a Gamara acceito-u a suppressão.
Assim, apezar de não permittir o Codigo Civil os pactos
successorios, nem os testamentos conjunctivos, nas convenções
antenupciaes, é licito aos cônjuges estabelecer cláusulas relati-
vamente á sua successão. Taes cláusulas, porém, não poderão
prejudicar os herdeiros necessários, nem a mutabilidade essen-
cial das disposições mortis causa. Serão revogaveis, ainda quando
(os cônjuges lhes pretendam retirar o caracter da revogabilidade.

Art. 258 — Não havendo convenção, ou sen-


do nulla, vigorará, quanto aos bens, entre os
cônjuges, o regimen da communbão universal.
Paragrapbo único. E', porém, obrigatório o
da separação de bens, no casamento:
I. Das pessoas, que o celebrarem com in-
fracção do estatuido no art. 183, ns. XI a XYI
(art. 216).
II. Do maior de sessenta annos, e da maior
de cincoenta annos.
III. Do orpbão de pae e mãe, ou do menor,
nos termos dos arts. 394 e 395, embora case, nos
termos do art. 183, n. XI, com o consentimento
do tutor.
IV. De todos os que dependerem, para casar,
de autorização judicial (arts. 183, n. XI; 384,
n. III; 426, n. I, e 453).
Direito anterior — Conforme, quanto ao principio do artigo
(Ord. 4, 46. Dec. n. 181, de 1890, art. 57), com uma differença,
todavia: a communhão de bens começava não com a celebração
do casamento, e sim no dia seguinte, segundo prescrevia o De-
creto n. 181, dc 1890.
Quanto ao paragrapho único, ha tres differenças principaes
entre o que estabelecia o direito anterior e o que, agora, prescreva
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 165

o Codigo: a) 0 regimen obrígatorio para as pessoas mencionadas


neste artigo ê o da separação; o direito anterior dera preferencia
ao dotal (Dec. cit, art. 59). b) Os orphãos de pae e mãe não eram
contemplados entre as pessôas para as quaes a lei impunha um
negimen, nem tão pouco os menores, que obtivessem supprlmento
•io juiz, ou cujos paes se achassem privados do pátrio podei, c)
Em compensação, o Codigo não contempla os cônjuges parentes em
terceiro grão, cujo casamento impedia, nem os de quarto grão
duplicado. '
. Legislação comparada — Veja-se o Codigo Civil hespanhol,
ar
t. 50, que prescreve a separação de bens, em casos semelhantes
aos do paragrapho único do nosso artigo. A lei portugueza, de
^5 de Dezembro de 1910, alterando o Codigo Civil, art. 1.098,
estabeleceu a separação obrigatória para: os menores de 21 annos,
ãue se casarem sem licença dos seus paes; os que se acharem
sob tutela ou curatela, que se casarem sem licença do seu repre-
sentante ou supprimento judicial; os parentes em terceiro grão,
na linha collateral; o tutor, ou o curador e seu descendente, ascen-
dente, irmão, cunhado ou sobrinho, que casar com a pessoa tute-
lada ou curatelada, antes de um anno depois de ter cessado a
tutoria ou a curadoria, e de estarem approvadas as respectivas con-
tas; e para os ex-conjuges, que contrahirem novo casamento,
antes de decorridos os prazos legaes, sobre a dissolução do an-
terior (arts. 53-56). O Codigo Civil ainda prohibe que a quinqua-
Senaria possa alhear, por qualquer titulo, duas terças partes dos
bens, que tiver ao tempo do casamento, ou que venha a adquirir
Por doação ou herança de seus parentes (art. 1.237).
O regimen commum ou legal varia, consideravelmente, nas
diversas legislações, E' a communhão universal, segundo o Co-
digo Civil portuguez, art. 1.098, inicio; a communhão limitada,
n
a França (Codigo Civil, art. 1.400); a communhão de adqui-
r
iãos (sociedade legal de gananciales), na Hespanha (Codigo
Eivil, art. 1.315, 2.a parte) e, semelhantemente, na Argentina
(Codigo Civil, arts. 1.224 e 1.262), no Chile (Codigo Civil,
ar
t. 1.718),. no Uruguay (art. 1.950, 2.a parte), no México
(arg. do art. 183), na Bolivia (art. 971), no Peru (art. 955),
e
na Venezuela (art. 1.375). O Codigo Civil allemão (arts. 1.363
® segs.) deu preferencia á communhão administrativa (Ver-
^Mtungsgemeinschaft), no que foi acompanhado pelo japonez,
art
- 799, dadas as modificações próprias dos costumes do paiz.
Ea Suissa, o regimen legal commum é a união dos hens (art. 178),
166 CODIGO CXVXL

que se approxima da communhão administrativa do Codigo Civil


allemão. Além do regimen legal ordinário, conhece a legislação
suissa o legal extraordinário, de separação: 1>, quando os cre-
dores de um dós cônjuges soffrem prejuízo na fallencia do mesmo;
2 °, a pedido da mulher, quando o marido negligencia o sustento
da família, se torna insolvente, ou não offerece garantias aos
bens trazidos pela mulher; 3.°, a pedido do marido, no caso de
insolvencia da mulher, quando esta se recusa, indevidamente, a
dar ao marido, a necessária outorga para dispor dos bens matri-
moniaes, e quando a mulher exige garantia para os bens, com
que entrou para a sociedade conjugai (arts. 182 a 187). Na Italia,
o regimen legal é o da separação. Na Áustria, as preferencias
são pelo dotal (Codigo Civil, arts. 1.218 e segs.).
Projectos — Esboço, art. 1.330 (não contém as excepções ao
regimen da communhão); Felicio ãos Santos, 1.952 -e 1.953; Coe-
Iho Rodrigues, 1.979 e 1.982; Beviláqua, 302 e 303; Revisto, 328.
Não ha uniformidade de vistas entre estes Projectos.
líibliographia — Direito da familia, §§ 35 e 44; Teixeira de
Freitas, ■ Consolidação, art. 111 e nota (1); Lafayette, Direitos
de familia, §§ 55-57; Ludgeko Coelho, Casamento civil, pagi-
nas 178-193; Martinho Garcez, Direito da familia, § 80; Cân-
dido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, § 158; Bridel, De
rechos de la mujer, pags. 79-110; Baudry-Lacantinerie, Le Colr-
tois et Surville, Du contrat de mariage, I, ns. 52-76, e 253-254;
Planiol, Traité, III, ns. 766-775 e 888-911; Huc, Commentaire,
IX, ns, 13-19 e 59-64; Baurent, Gours, III, ns, 393-395; Code Civil
allemand, publié par le Comitê de lêg. étr., notas ao art. 1.437;
Endemann, Lehrhuch, II, §§ 172-174; Roth, System, II, §§ 94,
101 e 102; Chironi, Ist., II, §§ 394 e 395; Rossel et Mentha,
Droit civil suisse, I, pags. 254-257 e 262-269; Dias Ferreira, Co-
digo Civil português;, notas aos arts. 1.098 e 1.099; Lagarmilla,
De la sociedad conjugai, Montevidéo, 1905; Ferreira Coelho,
Codigo Civil, XIX, p. 169 e segs.; Oliveira Castro, Regimens
matrimoniaes, ns. 193 e segs.

Observações — 1. — No systema do Codigo Civil brasileiro,


ha dois regimens legaes: um que a lei presuppõe ou manda appli-
car, quer po silencio das partes, quer em caso de nullidade do
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 167

contracto antenupcial celebrado; e outro que ella impõe a certas


Pessoas: o da communhão universal e o da separação.
O regimen da communhão universal de bens está definido no
art. 262 e regulado nos que se lhe seguem. O da separação obe-
'íace aos preceitos estabelecidos nos arts. 276 e 277.
2. — Por duas ordens differentes de razão, deu o Codigo Civil
Preferencia á communhão universal, escolhendo-a para regimen
coxnmum de bens entre cônjuges: razões de-ordem histórica e
r
azões de ordem moral.
A communhão de bens, originaria do direito germânico, es-
Palhou-se pela Europa e firmou-se em Portugal, onde tomou con-
siderável desenvolvimento, constituindo, sob a sua fôrma pura,
0
modo commum de regular as relações econômicas entre marido
e
mulher. A communhão universal constituiu-se o regimen do
casamento segundo o costume do reino. De Portugal passaram
Para o Brasil o costume e a prescripção legal.
São essas as razões históricas, mais amplamente desenvolvi-
das no Direito da familia, §§ 35 e 36.
3. — As razões de ordem moral resumem-se na consideração
que, se o casamento é uma communhão de vidas, nenhum le-
Simen corresponde melhor a essa attitude moral dos cônjuges do
ãhe o da communhão universal, que traduz, no plano material,
a
Projecçâo da mais estreita união de vida e de interesses, que
casamento resulta.
"E* a expressão mais perfeita da communhão de "vida esta-
belecida pelo matrimônio sobre as bases da confiança plena , diz
Endemann.
4
- ~ Têm-se levantado criticas a este regimen; porém todas
Se
fundam na modalidade, por assim dizer, espúria, que elle ad-
quirip em alguns paizes, annullando, por inteiro, a individuali-
dade da mulher e estabelecendo distincções entre varias classes
de bens.
"E' o regimen economico de maior perigo para os intei esses
du mulher, os quaes ficam, inteiramente, á mercê do marido,
como chefe da sociedade conjugai", diz Brxdel. "O marido pro-
Ce
de, não como associado, accrescenta Huc, porém como senhor
a
bsoluto, como se fosse proprietário exclusivo". "A mulher é as-
sociada, mas é como se não fosse, pois nada pôde fazer. Sua in-
dividualidade jurídica está como que anniquilada, sua incapaci-
dade, derivada ainda do mundium do marido, é completa .
168 CODIGO CIVIL

Podei ia ser assim, até certo ponto, no direito francez, mas


não, certamente, no direito pátrio. Se o marido é administrador
dos bens communs, o seu - poder de disposição tem restricções
notáveis (art. 235). Se, por persistência de idéas tradicionais,
a mulher casada é considerada civilmente incapaz, sem duvida
nao o é, somente, no regimen da communhão. Pelo systema do
Codigo Civil brasileiro, a sua acção se faz sentir na administração
do marido (art. 235). Ella dispõe dos bens que adquire com a
sua própria industria (art. 246); dispensa, em muitos casos, a
outorga marital (arts. 247 e 248); e, ainda, em outros, assume
a direcção do lar (art. 251). Nestas condições, não se poderá
affirmar que aquelles argumentos de Bbidel e Th. Huc sejam pro-
cedentes.
Mas insistem: a liquidação dos haveres communs está sub-
mettida a inacreditáveis complicações. E' outra affirmação que
se diiige, antes, á communhão limitada do direito francez, do
que á universal do direito brasileiro, como, aliás, reconhece Bri-
del. Realmente, se tudo é commum, a partilha é facilima.
5. O Codigo exclue da communhão diversas classes de pes-
soas, umas em pena de terem contravindo a lei, outras em ga-
rantia de seus proprios interesses.
A piimeira classe dos que não podem communicar os seus
bens, no casamento, não se lhes permittindo nenhum pacto de
ordem econômica, é composta dos que se casam com a infracção
do estatuído no art. 183, ns. XI a XVI. São elles:
a) Os que se acham sob o pátrio poder, tutela ou curatela,
se não obtiveram prévio consentimento das pessoas, sob cuja
autoridade se acham. E' certo que a lei lhes faculta supprir esse
consentimento pela interferência da autoridade judicial. Mas,
para o effeito da communhão, esse recurso não lhes aproveita,
porque o seu regimen de bens, não obstante, será o da separação
(art. 258, IV).
õ) As mulheres menores de dezeseis annos e os varões me-
noies de dezoito. Esta sub-classe, aliás, está incluída na prece-
dente, porque taes pessoas por sua edade, hão de estar sob pátrio
poder ou sob tutela. Como, porém, os paes e tutores não podem
autorizar o casamento de pessoas menores de dezeseis ou dezoito
annos, o Codigo as destacou em grupo especial.
c) O viuvo ou viuva, emquanto não fizer inventario dos bens
do casal, se tiver filhos do cônjuge fallecido.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTBE OS CÔNJUGES

ã) A mulher viuva ou cujo casamento se tiver annullado, se


ainda não tiverem decorrido dez mezes depois da moite do ma-
rido ou da separação judicial dos corpos, a menos que, no correr
desse prazo, tenha dado á luz algum filho.
e) O tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes,
irmãos, cunhados ou sobrinhos, que se casarem com a pessoa
tutelada ou curatelada, emquanto não cessar, a tutela ou cura-
tela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.
/) O juiz ou escrivão e seus descendentes, ascendentes, ir-
mãos ou sobrinhos, que se casarem com orphão ou viuvo da
circumscripção territorial, onde um e outro tiver exercicio.
6. — A segunda classe é a do maior de sessenta e da maiox
de cincoenta annos. Essas pessôas já passaram da edade, em que
o casamento se realiza por impulso affectivo. Receiando que inte-
resses subalternos, ou especulações pouco escrupulosas, arrastem
sexagenários e quinquagenarias a enlaces inadequados ou incon-
venientes, a lei põe um entrave ás ambições, não permittindo que
os seus haveres passem ao outro cônjuge por communhão.
Também não podem, como, em geral, todos aquelles a quem a
lei impõe o regimen da separação, fazer doações inter vivos, um
ao outro. De outro modo, a lei seria, facilmente, burlada. B' esta
uma proposição, que dispensa qualquer esclarecimento. B uma
inferencia que se impõe.
7. — o orphão de pae e mãe não communica os seus bens,
ainda que o tutor consinta no casamento. Parece-me que o Codigo
Civil, no empenho de acautelar os interesses dos orphãos, atirou a
barra além da meta, porque, muitas vezes, prejudicará precisa-
mente, aquelles a quem pretendera favorecer; e fornece contia o
vegimen da communhão, que preferiu, um argumento de grande
Peso; não devêra ter escolhido como regimen commum aquelle de
que se defendem os orphãos, pois é de crer que assim a lei pio-
cede por julgal-o deficiente em garantias, capaz de comprometter
os seus interesses. Depois parece contradictorio que, ao mesmo
tempo, se prohiba a communhão em pena como nos casos no n. I,
ou para contrariar os planos da ambição especuladora, como nos
easos do n. II, e, ainda, se a prohiba aos orphãos, em relação aos
quaes nenhum dos dois motivos pôde prevalecer.
8. — Mais razoavel ê a prohibiçâo da communhão, áquelles
que se casam contra a vontade de seus paes, embora tenham
obtido o supprimento do juiz. Os paes, pelo zelo e caiinho,
mm lhes são próprios, quando se trata da ventura dos filhos.
170 CODIGO CIVIL

naturalmente verão, melhor do que outro qualquer, o que aos


mesmos convém. Só excepcionalmente se deixarão conduzir por
caprichos ou preconceitos injustificáveis. Para attender a essas
excepções possiveis, o direito faculta o recurso ao juiz, da dene-
gação do consentimento paterno ou materno para o matrimônio
dos filhos. Mas, para difficultar esse recurso excepcional, em
attenção ao prestigio da autoridade dos progenitores, e porque,
afinal, bem pode ser que os paes estejam com a razão, e não o
juiz, o Codigo permitte o casamento, mas sem communhão. Se
é uma affeição verdadeira, que arrasta os jovens ao matrimônio,
essa restricção econômica, de modo algum, os embaraçará. Ella
será, porém, sufficiente para conter os impulsos méramente in-
teresseiros.

Art. 259 — Embora o regimen não seja o da


commnnbão de bens, prevalecerão, no silencio do
contracto, os principies delia, quanto á commn-
nicação dos adquiridos, na constância do casa-
mento.

Direito anterior — Não havia disposição a respeito, e a me-


lhor doutrina sustentava que, se o regimen era de separação,
como o dotal, os adquiridos deviam, na falta de estipulação em
contrario, seguir a natureza do regimen. Havia, não obstante,
bôas autoridades que ensinavam a regra que o Codigo adoptou
(Mello Freire, Institutiones, II, tit. 8, § 10).
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.125.
Projectos — Este artigo resultou de uma emenda de Anísio
de Abreu, relator, na commissão dos 21, em 1901, desta parte do
Projecto {Trabalhos da Gamara, vol. VI, pag. 78). No Projecto
primitivo e no revisto, não se encontra prescripção semelhante,
nem também no de Coelho Rodrigues.

Observação — Parece desharmonico este dispositivo, num


systema, em que se afasta a communhão de bens, em numerosos
casos, como os do art. 258. Depois, se os cônjuges estipulam re-
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 171

gimen exclusivo da communhão, o que se deve suppôr é que não


a
querem, para os bens que, de futuro, lhe vierem. Como, porém,
outra é a solução dada pelo Codigo Civil, cumpre que experimam,
claramente, a sua vontade, quanto aos adquiridos, os nubentes
Que estipularem qualquer regimen exclusivo da communhão, pois,
no silencio do contracto, entendem-se communs, provenham de
titulo oneroso ou gratuito. Applica-se aos adquiridos o mesmo
Principio, a que estão subordinados os bens trazidos para o casal.
Pa falta de declaração em contrario, entendem-se communs. Veja-
se, entretanto, o estatuído no art. 269, II.

Art. 260 — O marido, que estiver na posse de


^ens particulares da mulher, será para com ella
e
seus herdeiros responsável:
I. Como usofructuario, se o rendimento for
coramum (arts. 262, 265, 271, n, Y, e 289, n. II).
II. Como procurador, se tiver mandato, ex-
presso ou tácito, para os administrar (art. 311).
III. Como depositário, se não for usofru-
ctuario, nem administrador (arts. 269, n. 11^
276 e 310.

Uireito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — Vejam-se; Codigo Civil italiano.
art
. 1.408, francez, 1.562; allemão, 1.383 e 1.384; boliviano, 986.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.983; Beviláqua, 306;
Avisto, 330.

Observação — Os bens particulares da mulher, categoria que


Pôde apparecer, em qualquer regimen, inclusive o da communhão,
0r
dinariamente, são administrados não directamente por ella,
Pias pelo marido. Os poderes deste variam segundo os regimens.
da communhão universal ou limitada, o marido, adminis-
tr
ador dos bens da sua consorte, se outra cousa não se estipula,
^Qi a posse, o uso, a gestão e percepção dos fructos, que en-
172 CODIGO crvxL

tram para a communhão. São delle as despezas ordinárias de


conservação, e, dissolvida a sociedade conjugai, entregará os
bens, segundo os recebeu.
Se o regimen fôr de separação, pode o marido administrar
os bens particulares da mulher por mandato desta, expresso ou
tácito. Neste caso, os seus direitos são os de simples adminis-
trador, que poderá ser ou não obrigado a prestar contas, nos ter-
mos do art. 311.
Quando, por acto antenupcial ou por disposição da lei, não
couber ao marido nem o direito de usofruir, nem o de administrar
os bens particulares da mulher, que, entretanto, se achem em
seu poder, a sua responsabilidade é a de depositário. Terá de
restituil-os, quando reclamados, com todos os fructos e accres-
cidos, responde por sua negligencia na conservação, mas não
correm por sua conta as despezas, que ella determine.

Art. 261 — As convenções antennpciaes não


terão effeito para com terceiros senão depois de
transcriptas, em livro especial, pelo official do
registro de immoveis do domicilio dos cônjuges
(art. 256).

Direito anterior — O Dec. n. 169 A», de 19 de Janeiro de 1890,


art. 3.°, § 9.°, não exigia o registro para que os dotes e os con-
tractos antennpciaes valessem contra terceiros, como não o exi-
gia o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, art. 31.
Legislação comparada — Codigo Civil suisso, arts. 248-251;
allemão, 1.558-1.563. Veja-se, ainda, a lei franceza, de 10 de Julho
de 1850.
Projectos — Este artigo foi introduzido pela Commissão do
Governo, sob proposta de Lacerda de Almeida, que se inspirou
em Felicio dos Santos, art. 1.954. Vejam-se as Actas respectivas,
pag, 94, e o Projecto revisto, art. 331.
Bibliographia — Endemann, Lehrbuch, II, § 183; Co de Civil
allemand, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos. artigos
1.558-1.563; Philadelpho Azevedo, Registros públicos, ps. 63-70.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTBE OS CÔNJUGES 173

Observações — 1. — 0 registro das convenções matrimoniaes


é um elemento de segurança para as relações entre os cônjuges e
terceiros, que não se poderão cliamar á ignorância, quando tive-
rem tratado com os cônjuges. O escripto publico, lavrado pelo
efficial competente, já imprime ás convenções matrimoniaes a
Necessária firmeza e authenticidade; mas o Codigo ainda exige
a
formalidade complementar da publicidade pelo registro, sem
0
Que serão, apenas, contractos entre as partes, que nellas inter-
vierem, e seus herdeiros.
2. — O disposto neste artigo não se refere aos regimens le-
gaes, que não dependem de convenções, resultam de determina-
Qão positiva da lei, ex potestate legis. A communhão universal de
^ns, que não foi contractualmente estabelecida, cuja existência
Procede, precisamente, em virtude da lei, na falta de convenção,
assim como o regimen de separação obrigatória, imposto pelo
art. 258, paragrapho único, não podem offerecer duvidas aos ter-
ceiros, por isso mesmo que não houve declaração da vontade dos a
cônjuges, creando um determinado regimen. Nem haveria do-
cumento algum a registrar, pois que nenhum foi lavrado. Regi-
niens declarados por lei, recebem delia a sua authenticidade.
Sobré a publicidade dos contractos matrimoniaes, leia-se
Saudry-Lacantinebie, Le Coubtois et Subville, Du contrai de
^ariage, I, ns. 164-190.
3. — A lei n, 4.827, de 7 de Fevereiro de 1924, art. 5.°, II,
inscripção em vez de transcripção, como se acha no Codigo
e
o decreto n. 4.857, de 9 de Novembro de 1939, art. 178, c, I,
íala em averbação.
CAPITULO II

Do regimen da communhão universal

Art. 262 — O regimen da coimmmMo univer-


sal importa a communicação de todos os bens
Presentes e futuros dos cônjuges e suas dividas
Passivas, com as excepções dos artigos seguintes.
Direito anterior — Idêntico (Ord. 4, 46, pr.; 4, 95, 4, 96,
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.493).
Legislação comparada — A communhão universal de bens é,
também, o regimen commum, previsto na lei; em Portugal, Co-
174 CODIGO CIVIL

digo Civil, arts. 1.098 e 1.108; na Holianda, na Dinamarca, em


algumas cidades livonias. Na Allemanha (Codigo Civil, arts. 1.437
e segs.) e na Suissa (Codigo Civil, art. 215 e segs.), a com-
munhão universal não existe como regimen da lei, deve ser
firmado por contracto.
Projectos — Esboço, arts. 1.331-1.333. Felicio dos Santos,
1.955; Coelho Rodrigues, 1.985; Beviláqua, 307; Revisto, 332.
Dibliographia — Direito da familia, § 37; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, art. 111 e a sua nota (1); Lafayette, Direitos
de familia, §§ 55-58; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil,
V, § 158; Coelho da Rocha, Inst., §§ 241-243 e nota M, no fim
do vol.; Bridel, Derechos de la mujer, pags. 79-110; Baudry-La-
cantlnerie, Le Courtois et SuRviLLE, Du contrai de mariage, I,
ns. 245-323 e 488-631; Planiol, Traité, III, ns. 901-991; Huc, Com-
mentaire, IX, ns. 72-115; Aubry et Bau, Gours, VIII, § 505; Lau-
rbnt, Gours, III, ns. 402-420; Goãe Civil allemanã, publié par
le Comitê de lég. étr., notas aos arts. 1.437-1.438; Endemann,
Lehrbuch, II, §§ 184 e 185; Kohler, Lehrbuch, III, § 235; Roth.
System, §§ 102-104; Gerber, System, § 233; Zachariae, Droit
civil français, IV, § 638; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, 1,
pags. 303-304; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, nota ao ar-
tigo 1.099; Lagarmilla, De la socieãaã conjugai, Montevidéo,
1905.

Observações — 1. — No systema do Codigo Civil, como no


systema do direito anterior, a communhão universal de bens pode
resultar: 1.°, da lei, na ausência de pacto antenupcial, ou sendo
nullo o celebrado (art. 258, pr. ); 2.°, de um contracto entre os
cônjuges. No primeiro caso, diz-se que ha communhão legal, regi-
men commum; no segundo a communhão é convencional, ou
como se lê nas Ordenações philippinas, o casamento é contrahido
por carta de ametade.
2. — Qualquer que seja o modo de estabelecer a communhão
universal, ella abrange a totalidade do patrimônio trazido pelos
cônjuges como todos os bens que de futuro adquiram, e as divi-
das, que contraiam, por qualquer titulo, com as restricções con-
stantes do artigo seguinte.
Os bens constituem, neste regimen, um conjuncto ou massa
indivisa, da qual os dois cônjuges são os condominos. Marido e
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 175

mulher constituem, assim, uma sociedade universal; porém uma


sociedade regida por principies especiaes, em virtude da situação
juridica especial dos cônjuges entre si.
Os escriptores francezes discutem se a communhão, isto é, o
complexo dos bens communs, os bens do casal, como entre nós
se costuma dizer, constitue uma pessoa juridica, e concluem pela
•negativa. No systema do Codigo Civil brasileiro, essa discussão
é, de todo, ociosa, porque o conceito da pessoa juridica está, cla-
ramente, estabelecido, e, quer se encarem os cônjuges formando
a caro una, a unidade biológica secundaria, quer se considerem
os bens communs, não encontraremos nem os caracteres da so-
ciedade personificada, nem os da fundação.
3. — Pelo direito anterior, a communhão legal somente co-
meçava no dia seguinte ao do casamento. Persistência de velhas
usanças do direito germânico e de um falso conceito estabelecido
pelo direito canonico, essa prescripção foi, como era natural,
banida do Codigo Civil. A communhão universal, proceda da lei
ou da vontade expressa dos cônjuges, começa, desde que termina
a solemnidade da celebração do casamento.

Art. 263 — São excluídos da communlião:


I. As pensões, meio-soldos, montepios, ten-
ças e outras rendas semelhantes.
II. Os bens doados ou legados, com a clausula
de incommunicabilidade, e os subrogados em seu
logar.
III. Os bens gravados de fideicommisso e o
direito do herdeiro fideicommissario, antes de
realizada a condição suspensiva.
IY. O dote promettido ou constituído a filho
de outro leito.
Y. O dote promettido ou constituído, expres-
samente, por um só dos cônjuges a filho com-
nium.
YI. As obrigações provenientes de actos ilii-
citos (arts. 1.518 a 1.532).
176 CODIGO CIVIL

^ II. As dívidas anteriores ao casamento,


salvo se provierem de despezas com os seus
aprestos, ou reverterem em proveito commum.
VIII. As doações antenupciaes, feitas por um
dos cônjuges ao outro, com a clausula de incom-
municabilidade (art. 312).
IX. As roupas de uso pessoal, as jóias es-
ponsalicias, dadas, antes do casamento, pelo es-
poso, os livros e instrumentos de profissão, e os
retratos de família.
X. A fiança prestada pelo marido, sem ou-
torga da mulher (arts. 178, § 9.°, n. I, ã, e 235,
n. III).
XI. Os bens da herança necessária, a que se
impuzer a clausula de incommunicabilidade (ar-
tigo 1.723).

Direito anterior Conforme, nas linhas geraes, se bem que


as exclusões nem sempre constassem de lei expressa, e fossem
illações tiradas pela doutrina. Alguns casos de incommunicabi-
lidade não foram conservados: os bens herdados pelo pae ou
mãe binubos, do filho do leito anterior, existindo irmão germano
do filho fallecido (Ord. 4, 91, §§ 2.° 4.°). Por proposta do Sr. An-
drade Figueira, foi eliminado esse dispositivo. Como accrescimo,
pode ser .apontado o n. VIII, que, embora se ache dentro dos prin-
cípios e das idéas dominantes na matéria, contudo não era des-
tacado pelos tratadistas. O n. XI é repercussão da lei n. 1.839,
de 31 de Dezembro de 1907.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts. 1.109,
1.110 e 2.376. E' o Codigo Civil, cujos dispositivos, nesta parte,
mais se approximam dos do Codigo Civil brasileiro, sem comtudo
haver entre elles identidade, E', particularmente,' de notar que
o Codigo Civil portuguez exclue da communhão; a) os bens her-
dados pelo pae ou mãe viúvos, por morte do filho de outro matri-
mônio, existindo irmão germano do filho fallecido; b) duas
terças partes dos bens, que possuir o cônjuge, que passar a se-
gundas nupcias, ou dos que herdar de seus parentes, tendo, de
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 177

anterior matrimônio, filhos ou outros descendentes. No Codigo


Civil brasileiro não ha disposições correspondentes a essas.
O Codigo Civil allemão exclue da communhão universal;
a) os bens que não podem ser transmittidos por actos jurídicos,
isto é: os feudos, fideicommissos e privilégios pessoaes (ar-
tigo 1.439); 6) os bens reservados, isto é: os que são assim de-
clarados no contracto matrimonial, as liberalidades feitas com a
clausula da reserva e os subrogados (art. 1.440); c) as dividas
da mulher não autorizadas pelo marido; as obrigações resul-
tantes de uma herança ou legado deferidos á mulher depois da
communhão, a titulo de reserva; as obrigações resultantes de
um direito que faça parte do patrimônio reservado da mulher
(arts. 1.460-1.462).
O Codigo Civil suisso não exclue da communhão as dividas
da mulher, salvo; as que contrahir sem consentimento do ma-
rido; ou ultrapassando o direito de representação da união con-
jugai; ou resultarem de enriquecimento illegitimo; ou se estipu-
larem dentro das forças da sua reserva (art. 221). Communicam-
se as dividas dos dois cônjuges, anteriores ao casamento (art. 219).
Projectos — Esboço, arts. 1.332-1.335; Felicio dos Santos,
1,956, 1.959, 1.962 e 1964; Beviláqua, 308; Revisto, 333.
Bibliographia — Direito da familia, § 38; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, arts. 112-115, e notas; Lafayette, Direitos de
familia, §§ 60-62; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil,
V, §§ 158 e segs.; Pontes de Miranda, Direito de familia, §§ 72
a 75; Spencer Vampré, Manual. § 130; Martinho Garcez, Direito
da familia, § 85; Coelho da Rocha, Inst., I, §§ 224-246; Liz Tei-
xeira, Gíirso I, tit. VIII, §§ 13-17; Code Civil allemand, publiê
par le Comitê de lég étr., notas aos arts. 1.439, 1.440, 1.460 e
1.461; Dias Ferreira, notas aos arts. 1.109-1.112; Endemann,
iLehrbuch, II, § 185; Roth, System, II, § 107; Zachariae, Droit-
,civil français, IV, § 640.

Observações — 1. — Declara o Codigo, neste artigo, quaes as


excepções, que actos jurídicos e disposições de lei abrem ao prin-
cipio geral de que, no regimen da communhão, os dois cônjuges
são condominos dos haveres e respondem pelas dividas do casal.
Em primeiro logar, destacam-se as pensões, meio-soldos, mon-
tepios, tenças e outras rendas semelhantes, que por seu caracter
Beviláqua — Codigo Civil — 2° vol. 12
178 COUIGO CIVIL

pessoal, são incommunicaveis, no sentido de que não se trans-


mittem de um cônjuge ao outro, nem se podem partilhar. Os fru-
ctos, porém, entram para a communhão, á medida que são perce-
bidos, segundo a regra do art. 265, extensiva a todos os bens
enumerados neste.
2- Não se communicam os bens gravados de fideicommisso,
porque têm de ser transmittidos ao fideicommissario, e o direito
deste, egualmente, não se communica, porque, emquanto não
ee realiza a condição de que depende, é, simplesmente, eventual,
ainda não foi deferido, e se o fideicommissario fallecer antes do
íiduciario, consolidar-se-á neste a propriedade (art. 1.738). E',
ainda, a intransmissibilidade, que, nestes dois casos, determina
a incommunicabilidade.
2- — O dote promettido ou constituido a filho de outro leito
deve pesar, exclusivamente, sobre a meação do doador, salvo
declaração em contrario do outro cônjuge porque, sendo lhe pes-
soa estranha o dotado, somente por acto expresso poderá consi-
derar-se co-autor da liberalidade. Ninguém se presume liberal,
a não ser em relação ao dote constituido ao filho. Mas, nesse
mesmo caso, se o cônjuge, expressamente, assume em seu nome
individual, a responsabilidade do dote, entende-se que o tira da
sua própria, meação, ou dos bens particulares, que, por ventura,
possua. A liberalidade é, exclusivamente, sua.
Disposição semelhante no Codigo Civil allemão, art. 1.465,
segunda parte.
4. — As obrigações provenientes de actos illicitos não se
communicam, porque a responsabilidade criminal é pessoal, como,
egualmente, pessoal deve ser a dos chamados delictos e quasi
delictos civis. A communicação das dividas e obrigações pre-
suppõem um interesse commum, que as tenha causado ou lhes
tenha sido occasião e esse não pode existir nos crimes e actos
illicitos de cada um. Por essa mesma razão, as dividas anteriores
ao casamento, contrahidas quando não havia communhão, conti-
nuam a ser exclusivamente, de quem as contrahiu, salvo se pro-
vierem de despezas com aprestos para o casamento, ou se rever-
terem em proveito commum.
5. — O Codigo Civil suisso torna o marido responsável pelas
dividas de ambos os cônjuges, anteriores ao casamento (art. 219).
A responsabilidade do marido, neste caso, é a da communhão.
que elle administra (Rossel et Mentha, I, Droit civil suisse.
pag. 306).
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 179

6. — Nada impede que, no regimen da communhão, existam


bens reservados a algum dos cônjuges. Entram nesta classe os
doados ou legados com a clasula da incommunicabilidade (ar-
tigo 263, II). E, assim como pode ser pessoa estranha o doador,
também pode ser um dos desposados. Ao tempo em que fez a
doação, podia fazel-a, porque era senhor exclusivo dos seus bens;
e
. estabelecida a clausula da incommunicabilidade, não pode en-
trar o bem doado na massa commum.
Parecerá escusado destacar este ultimo caso da doação
antenupcial de um cônjuge ao outro, por entrar no principio geral
contemplado no n. II. Mas, como no direito anterior levanta-
ram-se duvidas a respeito, foi conveniente que as solvesse o
Codigo. No emtanto, era doutrina corrente que as jóias espon-
salicias eram bens particulares do cônjuge gratificado (n. IX).
Essas jóias são doações antenupciaes; se se communicassem, não
Passaria a dadiva de uma comedia, pois o noivo daria a joia
Para, em seguida, recebei a, a meias, na qualidade de marido.
Ea mesma fôrma as doações de que trata o n. VIII do artigo.
Apenas estas doações trazem a clasula expressa de incommuni-
cabilidade, e nas jóias a clausula se subentende,
6 a — Na expressão bens doados ou legados, comprehendem-se
cs dos herdeiros dos quaes o Codigo somente destacou a legitima,
no caso do art. 1.723 (n. XI deste artigo). Não ha, propriamente,
lacuna, tão evidente se torna a comprehensão dos bens herdados
com a clausula da incommunicabilidade, entre os destacados no
n
' II deste artigo, corroborado com o n. XI.
Pontes de Miranda, Direito de familia, § 72, nota 10, lembra
ainda, entre os bens incommunicaveis, os doados com a clausula
da reversão. No mesmo sentido, Coelho da Rocha, Instituições,
§ 245. A reversão importa inalienabilidade, e, pois, o caso entra,
naturalmente, na rubrica do artigo analisado, n. II.
7. — São também considerados bens proprios as roupas de
nso pessoal, os instrumentos de trabalho, os livros e os retratos
de familia. São bens destinados ao uso proprio de cada cônjuge,
due, por considerações de ordem moral, em respeito ao que delles
nsou e nelles imprimiu o cunho da sua personalidade, o Codigo
não quer dispersar na partilha. Os livros, quando se trata de
niguem que os tenha em grande numero, não deverão entrar
nesta classe, porque a sua retirada desfalca de modo conside-
rav
el a communhão. E' claro que os livros, que se não commu-
180 CODIGO CIVIL

nicam, são os do uso pessoal do cônjuge e não os que elle tenha


para negocio.
O Codigo Civil allemão autoriza a retirada das coisas des-
tinadas ao uso pessoal do cônjuge, os instrumentos de trabalho,
a roupa e outros objectos, porém mediante reembolso do valor
(art. 1.477). O suisso permitte que na parte do cônjuge sobre-
vivo se incluam os bens, com que elle entrou para a communhão
(art. 228).
8. — Por ultimo, enumera o Codigo Civil, como incommuni-
cavel, a fiança prestada pelo marido sem outorga da mulher.
Não se encontra, no Projecto primitivo, esta disposição. Deve-
mol-a ao Projecto revisto, art. 333, 9.°. O marido, certamente, não
pode fazer doações, nem alienar immoveis. Todos esses actos são
annullaveis. A fiança, porém, além de annullavel, é incommuni-
cavei, quer dizer; é imputavel na meação do marido, por ella
não responde a mulher.
E se fôr esta a fiadora? Não pode a mulher afiançar sem
outorga do marido. Mas se o fizer? A hypothese não é tão difficil
de se realizar, pois que a mulher, em certos casos, assume a di-
recçâo do lar. Parece de justiça que, nesses casos, se applique,
ás fianças por ella prestadas, a comminação do art. 263, n. X.
Todavia, assim não dispõe o Codigo.

Art. 264 — As dividas não compreliendidas


nas duas excepções do n. Vil, do artigo ante-
cedente, só se poderão pagar, durante o casa-
mento, pelos bens que o cônjuge devedor trouxer
para o casal.
Direito anterior — Semelhante (Ord. 4, 95, § 4.°).
Projectos — Este artigo teve origem na Commissâo da Ga-
mara em 1901 (Trabalhos, VI, pag. 80); mas foi modificado na
discussão {Trabalhos, VII, pag. 278). Em sentido semelhante:
Felicio dos Santos, 1.967-1.969. Differentemente doutrinava o
Esboço, arts. 1.334 e 1.335. Os outros Projectos não dispunham
sobre o assumpto.
Bibliographia — Em defesa, pags. 331-332; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, art. 116 e nota (7); Lafayette, Direitos de
,

DO KEGfMEN DOS HENS ENTKE OS CÔNJUGE^ 181

família § 62 e nota VII, no fim' do volume; Cândido Mendes,


notas ao Codigo philippino, 4, 95, § 4.°; Pontes de Miranda, Di-
reito de família, § 73; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo
Civil, § 164; Coelho da Rocha, Inst., § 246, escTiolio; Borges
Carneiro, Direito civil, liv. I, tit, 13, § 128, n. 11.

Observações — 1. — As dividas de cada cônjuge, anteriores


ao casamento, não se communicam, exceptuadas, apenas, as re-
salvadas no art. 263, n. VIL Se os credores as exigirem durante
0
casamento só se poderão pagar pelos bens, que o cônjuge de-
vedor tiver trazido, porque taes bens já estavam sujeitos ao pa-
gamento dessas dividas. Ha um intuito moral nesta disposição:
evitar que, tendo em vista a riqueza do futuro cônjuge, contraia
alguém dividas superiores aos seus haveres.
A principio, a tinham redigido de modo a ficar inapplicavel,
como a Ord. 4, 95, § 4.°. Pela redacção do Codigo, tornou-se o dis-
positivo exeqüível e justo, ainda que não seja fácil, em muitos
casos, provar que bens possuía o cônjuge, no momento de celebiai
0
casamento, pois que não é elle obrigado a fazer inventario.
2. — E os bens que advierem ao cônjuge devedor por doação,
herança ou legado? Opina Tetxeira de Freitas, que esses bens
respondem pelas dividas anteriores; mas a sua solução, bôa em
íace da Ord. 4, 95, § 4.°, que mandava pagar as dividas anteriores
Pela metade dos adquiridos, não se ajusta ao Codigo Civil, que
imputa essas dividas somente nos bens que o cônjuge devedor
trouxer para o casal. A, locução — trouxer para o casal, refere-se
aos bens trazidos ao tempo de celebrar se o matrimônio, e não
aos adquiridos, por titulo oneroso ou gratuito, na constância do
casamento, porque estes, desde o momento em que são deferidos
ao cônjuge, entram na massa commum. Os trazidos no momento
áa celebração do casamento não entraram para a communhão,
Porque já se achavam, como haveres do devedor, obrigados pelas
dividas existentes. Só eram bens no que restasse ãeãucto aere
alieno.
3. — Se, na constância do casamento, forem, espontanea-
mente, pagas essas dividas por outros bens, dever-se-ão deduzii,
soluto matrimônio, da meaçâo do devedor, porque não são divida,s
do casal, e, sim do indivíduo; não se communicam, e, por isso,
1S2 CODIGO OIVIL
não entram para o monte partlyel. Outra será a solução se o
consorte nao devedor assumir, eonjunctamente, a responsabt-
iiuade.

Art. 265 — A incommimicabilidade dos bens


enumerados no art. 263 não se lhes estende aos
mictos, quando se percebam ou vençam durante
o casamento.

Direito anterior — Doutrina corrente.


Legislação comparada - Codigo Civil portuguez, art. 1.109
paragrapho único; allemão, art. 1.439, segunda parte.
Projectos - Eshoço, art. 1.332, 3.', in fine, e 1.333; FeKcio
os Santos, 1 958; Coelho Rodrigues, 1.987; Beviláqua, 309- Re-
visto, 334. " ~
Bibhographia — Lafayette, Direitos de família, § 60, in-
fine Pontes de Miranda, Direito de família, § 75; Atjbry et Rau,
Com s, VIII, § 507; Zachariae, Droit civil français, IV, § 640, 3 0

Observação — Os fruetos e rendimentos dos bens incommu-


meavexs sao adquiridos, e estes, na ausência de disposição em
contrario, communicam-se (art. 259). A communicabilidade é a
regra; para excluir delia algum bem, é necessário declaração
expressa da lei ou da vontade das partes, opportunamente mani-
festada, de modo legal.
Alguns dos bens incommunicaveis, mencionados no art. 263,
tem essa qualidade por serem pessoaes, no sentido de intrans-
missiveis, como as pensões, meio-soldos e montepios. Na constân-
cia do matrimônio, os rendimentos desta origem entram para o
acervo commum. Dissolvida a sociedade conjugai, o pensionista
leva o seu direito pessoal de receber a sua pensão, ou, por ter
elle fallecido, extingue-se o direito.
Outros são incommunicaveis por clausula expressa no acto,
que os^ transferiu ao cônjuge. Sendo a incommunicabilldade
excepção, no regimen da sociedade universal entre cônjuges, essa
DO KEGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 183

Qualidade não pode ir além dos limites expressamente fixados


uo acto, segundo o principio de que as excepções á regra geral
só abrangem os casos, que especificam.

Art. 266 — Na constância da sociedade con-


jugai, a propriedade e posse dos bens é commum.
Paragrapho único. A mulher, porém, só os
administrará por autorização do marido, ou nos
casos do art. 248, n. Y, e art. 251.

Direito anterior — Semelbante (Dec. ns. 181, de 24 de Ja-


neiro de 1890, art 56, § 2.°; Ord. 4, 103, §§ 1.° a 3.°; Carxos de
Carvalho. Direito civil, art. 1.499).
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.117.
U o Codigo, cujo dispositivo, nesta parte, mais se approxima do
Uosso. Vejam-se, também: o francez, arts. 1.421, 1.426 e 1.427,
Que dilata os poderes do marido em detrimento dos da mulber;
6
o allemão, arts. 1.443, 1.450 e 1.456. Por este Codigo em ul-
timo logar citado, o marido administra os bens communs, mas
as dividas da communhão são suas exclusivamente, e os seus
actos, como administrador, não obrigam a mulher. Na ausência
0
u impedimento do marido, a mulher pode praticar os actos juri-
óicos necessários á gestão dos bens communs. Suisso, 216.
Projectos — Esboço, art. 1.336-1.341; Felicio dos Santos,
1-955; Coelho Rodrigues, 1.986; Beviláqua, 310; Revisto, 335.
Bibliographia — Direito da familia, § 39; Lafayette, Dit ei-
*0$ de familia, § 65; Pontes db Miranda, Direito de familia, § 77;
Coelho da Rocha, Inst., § 248; Baudry-Lacantinerie, Le Cotjr-
Tois et Survillb, Du contrai de mariage, ns. 632 e segs.; Planiol,
Traité, III, ns. 1.015-1.065; Huc, Commentaire, IX, ns. 156-198;
Zacharxae, Droit civil français, IV, § 642; Laurent, Cours, III,
hs. 464.439. Aubry et Rau, Cours, VIII, § 509; Code Civil alie
Wand, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos arts. 1.443-1.458;
Endemann, Lehrbuch, II, §184, 2; Roth, System, II, §§ 105-106;
Uossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 304-308; Dias
Ferreira, Codigo Civil portuguez, nota ao art. 1.104.
184 C0D1G0 CIVIL

Observações — 1. — E' da própria natureza do regimen da


communhão que todos os bens moveis e immoveis constituam
um todo, uma universidade, cujo dominio e posse pertençam,
conjuntamente, a ambos os cônjuges. A communhão fôrma uma
societas universorum bonorum, que subsiste emquanto dura a
sociedade conjugai. Nenhum dos cônjuges pode alienar a sua
metade, nem sahir da communhão.
2. — A administração dos bens communs. pertence ao ma-
rido, por ser o chefe da sociedade conjugai. Acceitando o regimen
da communhão, implicitamente, a mulher lhe confere todos os
poderes de gerir os bens communs, com a mais ampla liberdade
A administração marital abrange poderes de alienação. Esta, po-
rém, soffre as restricções geraes a todos os regimens (art. 235);
o marido não pôde alienar, hypothecar ou gravar de ônus reaes
os immoveis communs, nem os proprios, sem outorga da mulher;
egualmente não pôde pleitear sobre esses bens, prestar fiança,
nem fazer doações de valor apreciável, salvo sendo remunera-
torias, sem que a sua mulher consinta nesses actos. As apólices
federaes inscriptas no nome da mulher, sem que o marido as
tenha transferido para o seu, entendem-se paraphernaes, não as
podendo o marido alienar sem outorga uxoriana.
Note-se, ainda aqui, esta particularidade do Codigo Civil bra-
sileiro. As limitações ao poder de administração do marido não
são peculiares ao regimen da communhão universal. Referem-se
a todos os regimens. Foi em attenção á familia e não a uma
determinada fôrma de sociedade matrimonial que se estabele-
ceram.
3. — A administração do marido estende-se aos bens proprios
que, por ventura, tenha a mulher ao lado dos communs, salvo
se, por disposição de lei, como nos casos dos arts 246 e 248, n. V,
ou por acto da vontade, como se alguém lhe tiver doado ou legado
com a clausula de ficar isento da administração do marido, si-
tuação que pôde occorrer até em relação á legitima (art. 1.723),
desde que o autor da herança entenda que é de seu dever, assim,
resguardar os bens deixados.
4. — A mulher casada, em qualquer regimen, pôde receber a
pensão, montepio, ou meio-soldo, a que tiver direito, sem neces-
sidade de autorização do marido. Pôde, egualmente, depositar
dinheiro, nas Caixas Econômicas, e retirai o, salvo opposiçâo do
marido. Veja se o art. 247, 3.° commentario.
DO KEGIMEN DOS BENS ENTBE OS CÔNJUGES 185

5.° — Excepcionalmente, a mulher administra, ainda no re-


gimen da communhâo, ora certos bens, como já ficou dito na
observação sob o n. 3, ora todos os bens do casal. A mulher
administra os bens do casal, quando o marido está ausente ou
Impedido por prisão ou interdicção. Os poderes, que o art. 251,
aestes três casos, confere á mulher, são muito extensos, mais
extensos, ainda, do que os que attribue ao marido, porquanto não
exige da mulher autorização marital ou supprimento para a alie-
nação dos immoveis de sua propriedade.

Art. 267 — Dissolve-se a commuiilião:


I. Pela morte de um dos cônjuges (art. 315,
u. I).
II. Pela sentença, que annulla o casamento
(art. 222).
III. Pelo desquite (art. 322),

Direito anterior — Semelhante (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro


^e 1890, arts. 75, 79, 88 e 93); Caelos de Carvalho, Direito civil,
a
rt. 1.502.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.441;
Portuguez, 1.121; italiano, 1.441; allemão, 1.478-1.482.
Projectos — Esboço, art. 1.432; Felicio dos Santos, 1. $10;
Voelho Rodrigues, 1.989; Beviláqua, 311; Revisto, 336. Os tres úl-
timos admittiam a renuncia da communhâo, em beneficio da mu-
lher, com o que se mostrou de accôrdo Duarte de Azevedo (Traba-
Mos da Gamara, II, pag. 17, l.a col.). No mesmo sentido, o Codigo
Civil francez, art. 1.143 e segs.; allemão, 1.468. O Codigo Civil
Portuguez, art. 1.124, consagra uma providencia acauteladora dos
interesses da mulher, determinando que o marido responda pelos
Se
us bens proprios, quando os communs não chegarem para a
inteira satisfação dos créditos da mulher.
Bibliographia — Direito da família, § 40. Lafayette, Direi-
tos de família, §§ 66 e 67; Coelho da Rocha, Inst., §§ 149 251:
Baudry-Lacantinerie, Le Courtois et Surville, Contrai de ma-

ape, II, ns. 873-1.064, B; Planiol Traitó, III, ns. 1.144-1.236;
ftuc, Commentaire, IX, ns. 255 306; Laurent, Gours, III, nú-
meros 490-532; Aubry et Rau. Cours, VIII, §§ 515 e 516; Kouler.
186 CODIGO CIVIL

Lehrbuch, III, § 47; Zachariae, Droit civil français, IV, § 648;


Ooãe Civil allemanã, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos
arts. 1.478-1.482; Endemann, Lehrhuch, II, § 186; Roth, System,
II, § 109; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, pags, 310-312).

Observações 1. — Por tres modos se dissolve a commu-


nhão: pela morte de um dos cônjuges; pela sentença, que annulla
o casamento; pelo desquite.
Pela morte, o cônjuge sobrevivo continúa na posse dos bens
communs,cómo cabeça de casal, até que se effectue a partilha
entre elle e os herdeiros do fallecido (art. 1.579). Se o conjugo
sobrevivente fôr a mulher, não lhe caberá o cargo de cabeça do
casal, se não estiver vivendo em companhia do marido, ao tempo
da morte.
Os fructos dos bens communs, emquanto não se effectua a
partilha, continuam a communicar-se, porque ainda subsiste a
indivisão. Pertencem ao cônjuge sobrevivente as acquisições a
titulo gratuito ou, ainda, a titulo oneroso, não provenientes de
bens communs, que elle fizer durante a indivisão, mas depois de
ter cessado a communhão.
Os bens incommunicaveis são entregues, desde logo, aos her-
deiros, porque sobre elles nenhum direito tem o cônjuge su-
perstite.
A partilha suppõe o inventario, no qual se baseiam os di-
reitos dos filhos, como dos outros herdeiros.
2. — Nulliãaãe ou annüllação do casamento Annullado o
casamento ou declarado nullo, cessam as relações pessoaes e eco-
nômicas por elle estabelecidas. Se o casamento é nullo, não houve
communhão, porque não houve casamento, nem sociedade con-
jugai. o mesmo se deve dizer do casamento annullado. A con-
fusão, em que estiveram os bens dos cônjuges até á sentença,
que declara a nullidade, é um méro estado de facto; cada côn-
juge retira o que lhe pertence com os fructos não consumidos e
os accessorios correspondentes.
Quando, porém, o casamento é declarado putativo (art. 221)
produz effeitos de valido, e, consequentemente, delle pôde resultar
a communhão, que se dissolve como no caso de desquite.
3. — O desquite pôde ser amigavel ou judicial. Se fôr ami-
gável, os cônjuges concordarão, entre si, sobre a partilha doa
DO REGIMJBN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 187

bens communs, e esta vale como um contracto entre duas pessoas


capazes. Se fôr judicial, a sentença, que o pronuncia, põe termo
ao regimen de bens, devendo seguir-se a partilha.
No período entre o pedido do desquite e a sentença, que o
decreta, não se altera o estado da communliã.o, que continúa
administrada pelo marido.

Art. 268 — Extincta a communhão, e effe-


ctuada a divisão do activo e passivo, cessará a res-
ponsabilidade de cada um dos cônjuges, para
com os credores do outro, por dividas, que este
houver contraindo.

Direito anterior — Não havia disposição expressa de lei,


n
ias o principio era applicado.
Projectos — Originou-se este artigo de uma emenda offere-
c
ida pelo Sr. Andrade Figueiras. Não ha correspondente nos Pror
kctos anteriores.
Bibliographia — Pontes de Miranda, Direito de familia, § 79;
Lafayette, Direitos de famlia, § 67; Coelho ua Rocha, Inst.,
§§ 250 e 251; Aubry et Rau, Cours, VIII, §§ 515, 519 e 520.

Observações — 1. — Na permanência da communhão, os dois


cônjuges respondem pelas dividas contrahidas pelo marido como
administrador, que é, dos bens do casal, e pela mulher legal-
mente autorizada, ou administradora em substituição do ma-
r
ido. Effectuada a partilha dos bens, cada um levantando a sua
Parte do activo, e assumindo, pessoalmente, a responsabilidade
Pelas dividas, que lhe forem imputadas, cessa o estado de com-
munhão, como já se dissolveu a sociedade conjugai. Não ha mais
1
"azão jurídica, que determine a communicação das dividas, que,
Per sua parte, um dos cônjuges contrahir. Nem era necessário
Hue o codigo o dissesse. Cessando a causa pela qual as dividas
s
e communicavam, que era o estado de communhão, cessa o
et
'feito.
188 CODIGO CIVIL

2- — Tratando se, porém, de divida commum, que não tenha


sido contemplada na partilha, quer o Codigo que por ella res-
ponda, exclusivamente, aquelle que a contrahiu? Seria uma
derogação dos princípios, que se não justificaria. As responsabi-
lidades da communhão recáem sobre os dois cônjuges e se trans-
mittem aos seus herdeiros, dentro da força da herança; e a di-
visão não poderia ter um eífeito retroactivo, quanto ás dividas
não contempladas na partilha. Ha, certamente, dividas incom
municaveis, como as que procedem de actos illicitos, as con-
trahidas antes do casamento, o dote promettido nos termos do
art. 263, IV e V, as obrigações, por actos não autorizados, quando
o deveriam ser. Por essas dividas responde o cônjuge devedor.

CAPITULO III

Do reginien da communhão parcial

Art. 269 — Quando os contrahentes declara-


rem que adoptam o regimen da communhão li-
mitada ou parcial, ou usarem de expressões equi-
valentes, entender-se-á que excluem da commu-
nhão ;
I. Os bens que cada cônjuge possuir ao casar,
e os que lhes sobrevierem, na constância do ma-
trimônio, por doação ou successão.
II. Os adquiridos com valores exclusiva-
mente pertencentes a um dos cônjuges, em sub-
rogação dos bens particulares.
Direito anterior No silencio da lei, eram as normas deste
regimen dictadas pela doutrina.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.498;
portuguez, 1.130; allemão, 1.519-1.524. Vejam-se ainda: ita-
liano, 1.433 e 1.435; hespanhol, 1.392 e 1.396; austríaco, 1.177
combinado com o art. 1.233; chileno, 1.725-1.739; uruguayo,
1.951-1.964, mexicano, 1.997-2.022; boliviano, 971-972; venezue-
lano, 1.466-1 486. O Codigo Civil hespanhol e os da America La-
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 189

,tina, sob a denominação de socieãaã de gananciales, socieãaã


tegal ou socieãaã conjugai, descrevem um regimen, que corres-
ponde, em seus traços geraes, á nossa communhão parcial.
A união ãos bens do Codigo Civil suisso reúne, apenas, os bens
de ambos os cônjuges (bens matrimoniaes), sob a administração
do marido, excepto os reservados da mulher. Os fructos perten-
cem ao marido e, por morte delle, dois terços dos lucros existentes
(arts. 194-214). Não ha communhão neste regimen, a não ser ao
dissolver-se a sociedade conjugai. E é, somente, em attenção a
isso que aqui vem lembrado.
Projectos *— Esboço, art. 1.344; Felicio ãos Santos, 1.979 e
1.982; Coelho Rodrigues, 2.005 e 2.006; Beviláqua, 316 e 317;
Revisto, 339.
Bibliographia — Direito da família, § 41; Lafayette, Direi-
tos de família, § 68, que denomina este regimen de simples sepa-
r
oção, no qual destaca algumas variedades; Cândido de Oliveira,
Manual do Codigo Civil, §§ 170 e segs.; Pontes de Miranda, Di-
reito de família, §§ 80 e segs.; S. Vampré, Manual, § 133; Alma-
ohio Diniz, Direito da família, § 30; Martinho Garcez, Direito
do- família, § 91; Coelho da Rocha, Inst., §§ 257, 258 e 264; Bau-
ory-Laoantinerie, Le Courtois et Surville, Du contrai de ma-
r
iage, II, ns. 1.263 e 1.264; Planiol, Traité III, ns. 999-1.000;
Huc, Gommentaire, IX, ns. 350 a 352 e 357; Laubent, Cours, IIÍ,
as. 585, 586 e 588; Aubry et Rau, Cours, VIU, § 522; Kohler,
Rehrbuch, lll, § 52; Zachariae, Droit civil français, IV, § 665;
Pode Civil allemanã, publié par le Comitê de lég. étrangêre, no
tas aos arts. 1.519 a 1.524; Endemann, Lehrbuch, II, § 188; Roth,
System, II, §§ 114 e 115; Gerber, System, § 234; Dias Ferreira,
Codigo Civil portuguez, nota aos arts. 1.098-1.102; Oliveira
Castro, Regimens matrimoniaes, ns. 218 e segs.

Observações — 1. — Pelo regimen matrimonial da commu-


Phão parcial, mantêm-se na propriedade de cada cônjuge os bens
Que elle possuía ao casar-se, e, ainda, os que lhe advierem, na
constância do matrimônio, por herança ou doação. Por isso, al-
Suns o denominam regimen de separação, aliás impropriamente,
Porque são communs as acquisições a titulo oneroso, e as dividas
contrahidas na administração dos bens do casal, ou para a susten-
tação da família. Assim, o que, realmente, caracteriza este regi-
/90 coniGO civil

men, não é a separação dos bens dos cônjuges, que se unem sob
a administração do marido, é, sim, a communhão dos aquestos.
A communhão parcial, ou dos adquiridos é, portanto, o regi-
men matrimonial, em que a communhão se limita aos bens adqui-
ridos a titulo oneroso ou eventual, na constância do casamento,
permanecendo no patrimônio de cada cônjuge os trazidos para a
sociedade conjugai e os adquiridos a titulo lucrativo. .
2- — Estando excluidos da communhão os bens possuídos
pelos cônjuges, no momento de se casarem, e os que lhes sobre-
vierem, durante o casamento, por doação ou herança, os que fo-
rem adquiridos em troca ou subrogação delles conservam o mesmo
caracter de particulares. Para que a subrogação tenha esse effeito,
deve o bem ser adquirido com valores exclusivamente perten-
centes ao dono do bem substituído. Se com valores delle concor-
rerem valores da communhão ou do outro cônjuge, estabelecer-se ã
um condomínio.

Art. 270 — Egnalmente não se comnnimcam:


I. As obrigações anteriores ao casamento.
II. As provenientes de actos illicitos.

Direito anterior Doutrina seguida.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.498;
portuguez, 1.129. O Codigo Civil francez exclue da communhão
as dividas actuaes e futuras; o portuguez somente exclue as an-
teriores; as contrahidas durante o matrimônio serão pagas poí
ambos os cônjuges, se, conjuntamente, a isso se obrigarem. Mas,
no direito francez, as dividas contrahidas, durante a communhão,
quer pelo marido, quer pela mulher autorizada, são dividas da
communhão.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.990. 1.°; Beviláqua,
318; Revisto, 340.
Bibliographia — Lafayette, Direitos de familia, § 69; Bau-
dry-Lacantineuie, Le Coubtois et Sukville, Du contrai de ma-
riage, II, ns. 1.317-1.319; Huc, Commentaire, IX, ns. 358 e 359;
Laurent, Cours, III, ns. 583-591; Zachariae, Droit civil français,
IV, § 655: Roth, System, II, § 119; Auisry et Rau, Cours, VIIIj
§ 522, 3.°.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 191
Observações — 1. — Pelas dividas anteriox'es ao casamento,
responde, exclusivamente, o devedor, salvo se o outro quizer com-
partir a responsabilidade, ou tiver lucrado com ellas. Neste ul-
timo caso, a sua responsabilidade é proporcional á vantagem
obtida.
Neste regimen, não se attende ás dividas feitas com apres-
tos para o casamento, se não reverterem em proveito de ambos os
cônjuges, porque, sendo parcial a communhão, se limita aos bens
adquiridos e ás dividas contrahidas após o casamento. A commu-
nhão dos aquestos não constitue, como a universal, um acervo,
abrangendo a totalidade do patrimônio dos dois cônjuges; dis-
tribue, ao contrario, os bens, em tres grupos ou massas: os do
marido, os da mulher, e os adquiridos. As dividas, porém, não
sendo illicitas ou são da, mulher, ou communs. Pertencem a esta
ultima classe as contrahidas pelo marido, que todas se consi-
deram provenientes dos encargos matrimoniaes e da gestão dos
bens communs.
2. — As dividas provenientes de actos illicitos são pessoaes,
porque pessoal é a responsabilidade de que ella procede. E' tão
essencial essa qualidade, que, ainda na communhão universal,
ella não desapparece.

Art. 271 — Entram na communhão:


I. Os bens adquiridos na constância do casa-
mento, por titulo oneroso, ainda que só em nome
de um dos cônjuges.
II. Os adquiridos por facto eventual, com
ou sem o concurso de trabalho ou despeza an-
terior.
III. Os adquiridos por doação, herança ou
legado, em favor de ambos os cônjuges (art. 269,
n. I).
IY. As bemfeitorias em bens particulares de
cada cônjuge.
V. Os fructos dos bens communs ou dos par-
ticulares de cada cônjuge, percebidos na cons-
19Z CODIGO CIVIL

tancia do casamento, ou pendentes, ao tempo de


cessar a communMo dos adquiridos.
YI. Os fructos civis do trabalho ou industria
de cada cônjuge ou de ambos.

Direito anterior — Não havia regra geral.


Legislação comparada — A especificação do artigo não tem
correspondente exacto nos outros Codigos, que tratam do assum-
pto syntheticamente.
Projectos — Esboço, art. 1.346; Coelho Rodrigues, 206; Be-
viláqua, 319; Revisto, 341.

Observações — 1. — O Codigo é minucioso na indicação dos


bens que se communicam.
O n. I deve ser entendido em harmonia com o art. 269, II.
Os bens adquiridos, a titulo oneroso por um dos cônjuges, não
serão da communhão, se vierem substituir outros bens par-
ticulares.
2. — Communicam se os adquiridos por facto eventual ou
fortuito, como se procederem de alluvião, invenção, jogo, aposta,
loteria, porque são communs todas as acquisições dos cônjuges
que não sejam a titulo lucrativo. Nessa classe, ainda quando não
haja esforço, actividade, despesas anteriores, a acquisição não é
a titulo lucrativo.
Assim, a parte do thesouro que couber ao cônjuge como in-
ventor (arts. 607 a 609) entra para a communhão.
Diversa é a solução do direito francez. A porção do thesouro
attribuida ao inventor, os ganhos dos jogos de azar e de loterias
são excluídos da communhão, por não se originarem do trabalho
de cônjuge (Planiol, Traité, III, n. 1.006). Ha, todavia, algumas
divergências entre os civilistas. AtrmiY et Rau (VIII, § 522,
nota 8), Colmet de Sanxerre (VI, n. 161, bis. V.) Baüdet, Lb
Courtois et Sukvillb (Du contrai de mariage, II, ns. 1.284 e
1.285) attribuem os ganhos do jogo e da loteria á communhão
desde que o dinheiro arriscado seja commum. Quanto ao the-
souro, Baudby, Le Courtois et Survilue distinguem. A parte que
compete ao cônjuge jure soli, ou se a considere uma dadiva da
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 193

íortuna, ou um producto do prédio, pertence, exclusivamente, ao


proprietário, não se communica. A metade adquirida jure inven-
tionis, se não é o producto do trabalho, é um caso de occupação,
como a caga e a pesca, cujos productos se communicam. Todavia,
acceitam a doutrina corrente de que o cônjuge inventor adquire
para si, exclusivamente, o thesouro. Tboplong sustenta opinião
contraria.
Essas difficuldades do direito francez provêm de que o prin-
cipio nelle dominante é que só se communicam as acquisições
onerosas e o producto do trabalho. Para o Codigo Civil brasileiro,
outro é o critério seguido: communicam-se todas as acquisigões,
que não têm por fundamento um titulo benefico ou lucrativo.
3. — Os outros números do artigo não pedem explicações,
por serem bastante claros. Resta, porém, considerar o prêmio de
seguro pago a um dos cônjuges e a indemnização por accidente
soffrido. Não são acquisições a titulo lucrativo, mas acquisições
individualizadas, porquanto o prêmio do seguro, como a indem-
üização, tem por fim reparar o damno, que o cônjuge experi-
mentou. Deve entrar para o seu patrimônio particular. A commu-
Qhão cobrar-se-á, no caso de seguro, das prestações, com que tenha
contribuído, e lucrará os rendimentos da indemnização (Planiol,
Traité, IÍI, n. 1.007). Eaudry-Lacantinerie, Le Courtois et Sur-
viij.E não acceitam esta solução, quanto á indemnização por acci-
dente, e fazem diversas distincções. Mas o caracter dessas inde-
mnizações é serem pessoaes, incessiveis e, portanto, incommuni-
eaveis. Mais conforme á razão jurídica é, pois, a opinião abraçada
por Planiol, que, ê, também, a de Aubry et Rau, YIII, § 522. da
S." ed. revista por étienne Bartin que, em nota (10 sexies), dis-
cute extensamente o assumpto.

Art. 272 — São incommunicaveis os bens,


cuja acquisiçao tiver por titulo uma causa ante-
rior ao casamento.

Direito anterior — Silencioso, embora a doutrina fosse


a
cceita.
Projectos — Os diversos Projectos não continham disposição
correspondentes á deste artigo, que se originou de uma emenda
Beviláqua — Codigo Civil — 2.0 vol. '3
194 CODIGO CIVXL

do Senado, inspirada em Lafayette, Direitos de família, § 82,


que, aliás, se referia ao regimen dotal.

Observação — Exclue o Codigo da communhão os bens cuja


acquisição se realize na constância do casamento, porem por
titulo anterior. O cônjuge, por exemplo, vendeu, antes de casar,
a sua propriedade a credito. Antes do vencimento da divida con-
tráe casamento. Quando vier a embolçar o que, por^ essa causa
lhe é devido, embora casado no regimen da communhão de adqui- ,
ridos, embora se trate de uma acquisição a titulo oneroso, esses
bens não se communicam, porque se consideram paites inte
grantes do patrimônio particular do cônjuge antes de casar, ainda
que a sua entrada effectiva no activo estivesse adiada. As acqui-
sições submettidas á condição suspensiva, que se vêm a verificar
na constância do casamento; os bens que entram para o patri-
mônio do cônjuge em conseqüência de acção anteriormen e
proposta; a consolidação do domiriio em mãos do cônjuge, que
tinha a parte util, entram nesta mesma classe.
Haverá casos mais complexos, porém as duvidas se desfa-
zem, desde que se attenda ao principio estabelecido pelo Codigo,
cuja redacção, aliás, não é isenta de obscuridade.
Se o titulo acquisitivo preceder ao casamento, achando-se,
apenas, a acquisição adiada por termo ou condição, o bem não
se communica.
Cumpre, no emtanto, não dar a este artigo uma largueza
maior do que permitte a razão juridica. Ainda que o Codigo se
refira a uma causa anterior ao casamento, não pretende elle que
sejam incommunicaveis todos os bens adquiridos pelo cônjuge,
em razão de uma causa anterior ao seu matrimônio. Assim enten-
dido, o artigo nos conduziria a conseqüências absurdas. O titulo
acquisitivo é que deve ser anterior.
Yejam-se as observações de Cândido de Oliveira, Manual do
Codigo Civil, § 176.

Art. 273 — No regimen da communhão par-


cial, 055 contrahentes farão, especificadamente,
no contracto antçnupcial, ou noutra escriptura
DO REGXMEN DOS BENS ENTEE OS CÔNJUGES 195

publica anterior ao casamento, a descripçao dos


bens moveis, que cada um leva para o casal, sob
pena de se considerarem como adquiridos.

Direito anterior — Silencioso.


1 legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.499;
italiano, 1.437 (refere-se aos moveis presentes e futuros); por-
tuguez, 1.131 (refere-se aos bens que os cônjuges levam para o
casal, sem distinguir entre moveis e immoveis, e dá seis mezes
Para o inventario dos bens, que sobrevierem por qualquer titulo
êratuito); allemão, 1.523, que declara bens particulares dos con-
luges somente os que constarem do contracto do casamento.
Drojectos — Esboço, art. 1.347; Felicio dos Santos, 1.985;
Coelho Rodrigues, 2.008; Beviláqua, 320; Revisto, 342. Os dois
Primeiros Projectos, assim como o quarto, generalizam a pre-
su
mpção aos moveis e immoveis; o de Coelho Rodrigues e o Re-
wsto limitavam-se aos moveis, sob o fundamento de que a origem
dos
immoveis é conhecida (Actas, pag. 104).

v
Bibliographia — Baudby Lacantinebie, Le Coubtois et Sub-
xlle, Du contrai de mariage, II, ns. 1.296-1.314; Huc, Commen-
taire, ix, ns. 362-366; Aubby et Rau, Gours, VIII, § 522; Bndb-
^ann, Lehrbuch, II, § 188; Roth, System, II, § 120.

Observações — 1. — E' razoavel que se dispense o inventario


Prévio dos immoveis, cuja translação, por actos entre vivos,
Cons
ta do registro, e por actos mortis causa, constam do respectivo
Processo.
Os moveis não se acham nas mesmas condições. Devem, por-
tanto, ser, minuciosamente, inventariados, no pacto antenupcial
0u
Por outra escriptura publica, sob pena de se considerarem
a(
tquiridos. Justifica-se o rigor do Codigo, exigindo escriptura
Publica para provar a existência dos moveis, antes do casamento,
113,0 a(
imittindo outro genero de prova, pela necessidade de tornar
essa
Providencia constante, e, por esse modo, evitar duvidas,
^Ue Possam surgir, por occasião da partilha, quando cessar a
Co
mmunhão.
oscriptura deve ser anterior ao casamento. A posterior
Poderia alterar o estado das coisas, ao tempo da celebração do
196 CODIGO CIVIL

matrimônio, e importaria, assim, em modificação do pacto


antenupcial.
l.a _ Na expressão — 6ens moveis, comprehende-se o di-
nheiro, os créditos e os valores, que todos devem ser especificados
sob pena de se considerarem adquiridos, ainda quando se declare
que o cônjuge levou dinheiro, créditos ou mercadorias, sem deter-
minação da quantia em dinheiro ou da especie e quantidade de
mercadorias. Na falta dessa especificação, presume-se que não se
verificou a entrada de taes bens para o fundo social.
1.b _ o Codigo Civil brasileiro é mais rigoroso do que o
francez, no caso deste artigo. Ao passo que o francez declara que
o movei não inventariádo ou arrolado por occasião do casamento
est réputé acquét, o brasileiro diz — soft pena ãe se considerarem
como adquiridos, isto é, no direito francez, ha umã. presumpção,
que cede deante de prova em contrario; no direito pátrio, não se
admitte outra prova além do pacto antenupcial, ou de outra escri-
ptura, quer entre os cônjuges, quer com relação a terceiros.
2. — Quanto aos bens moveis advindos, após o casamento, por
doação, herança ou legado, assim como os subrogados, nos termos
do art. 269, II, a sua incommunicabilidade resulta dos proprios
actos, que operarem a sua entrada ou a sua permanência no pa
trimonio particular do cônjuge. Esta prova poderá fàzer-se com
toda a amplitude; não ha meios exclusivos.

^rt. 274 — A administração dos bens do ca-


sal compete ao marido, e as dividas por este
contrabidas obrigam não só os bens communs,
senão ainda, em falta destes, os particulares de
um e outro cônjuge, na razão do proveito, que
cada qual bouver lucrado.
Direito anterior — Era regra acceita, mas sem constar de
dispositivo legal.
Legislação comparada — Comparem-se o Codigo Civil ita-
liano, 1.438; e o allemão, 1.525. Ver também o francez, 1.421 e
1.422, e o portuguez, 1.104.
Projectos — Felido dos Santos, arts. 1.986 e 1.989 (diffe-
rente); Coelho Rodrigues, 2.009; Beviláqua, 321; Revisto, 343.
DO EEGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 197

Blbliographia — Direito ãa família, § 41; Lafayette, Direi-


tos ãe família, § 71; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil,
V. § 179; Coelho da Rocha, Inst., § 258; Baxjdry-Lacantinekih,
Le Courtois et Surville, Du contrai de mariage, II, n. 1.265;
Huc, Commentaire, IX, n. 361; Zachariae, Droit civil français,
§ 655; Laurent, Cours, III, n. 592; Goãe Civil allemand, pu-
par le Comitê de lég. étr., notas ao art. 1.525; Endemann,
Lehrhuch, § 188; Roth, System, II, § 118.

Observações — 1. — O marido administra as tres massas de


bens, que coexistem neste regimen: os particulares da mulfter,
0
s communs e os seus proprios. E' licito, porém, estipular que a
Mulher tenha algum bem reservado que administre, livremente,
0l1
. ainda, que se lhe deixe a administração dos seus bens parti-
c
ulares.
Como na communhão universal, a administração compre-
hende a faculdade de dispor dos fructos e rendimentos e de alie-
nar
as coisas destinadas á alienação, como os moveis communs.
2- — O domínio e a posse dos bens particulares pertencem ao
r
aspectivo dono; os dos communs, conjuntamente a ambos.
^ administração do marido, porém, confere-lhe, egualmente, a
Passe dos bens da mulher, que lhe são entregues, pois á sua posi-
ção é a de usufructuario (art. 261, I,), que tem a posse directa
^as bens, sem excluir a indirecta, que cabe á proprietária.
3. —-As dividas contrahidas pelo marido, na qualidade de
administrador dos bens do casal, expressão que comprehende as
^res classes já apontadas, e, como chefe de família, obrigam, em
Primeiro logar, os bens communs, e, esgotados estes, os bens par-
ticulares, de cada cônjuge, na razão do proveito, que cada um
houver lucrado.
A razão desta distincção está no facto de ser o marido o
administrador dos bens do casal e o responsável pela mantença
da família (art. 233, V). Entende-se que as dividas, contrahidas
Po exercício desse direito e no cumprimento dessa obrigação, são
dividas da sociedade conjugai.
Veja-se o que já ficou dito, em relação ao art. 270 e o que
se
lê acerca do art. 27S.
— A communhão parcial se dissolve pelas mesmas causas,
lue a universal (art. 267), e a divisão dos bens communs obe-

/
198 CODIGO CIVIL

dece aos mesmos princípios em ambos os regimens. Entretanto,


como ha bens particulares, estes supportam, subsidiariamente, os
encargos, que não puderem ser satisfeitos pelos communs.

Art. 275 — E' applicayel a disposição do ar -


tigo antecedente ás dividas contrahidas pela mu-
lher, nos casos em que os seus actos são autori-
zados pelo marido, se presumem sel-o, ou es-
cusam autorização (arts. 242 a 244, 247, 248 e
233, V),.

Direito anterior — Silencioso.


Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.990, ns. 2 e 4; Bevi-
láqua, 322; Revisto, 344.

Observações — 1. — Os actos, que a mulher pratica autori-


zada pelo marido, são actos da sociedade conjugai, pelo mesmo
titulo que os do marido; por isso obrigam, egualmente, os bens
communs, e, na falta destes, os particulares, na razão do lucro
obtido, ou por partes eguaes, quando não houver motivo para dis-
tinguir os proveitos de cada um.
2. — O mesmo acontece, quando a mulher assume a direcção
e administração do casal (art. 251), porque nesse caso a mulher
se torna o chefe da família, toma sobre si os encargos desta,
que, ordinariamente, incumbem ao marido, e exerce os direitos
a este attribuidos pelo Codigo, na qualidade de cabeça do casal.
3. — Os actos praticados pela mulher, sem autorização do ma-
rido, são annullaveis. Para supprir essa autorisação, ella pode re-
correr ao juiz, nos termos do art. 245. Mas o supprimento da ou-
torga marital, concedido pelo juiz, não obriga os bens do marido
(art. 247, paragrapho único). A.ssim, no regimen da communhão
parcial, as dividas contrahidas pela mulher com autorização do
juiz, em contrario á vontade expressa do marido, se hão de pagar
pelos communs, e, na falta destes, pelos proprios da mulher. Os1
do marido não serão attingidos.
DO REGLMEN DOS BENS ENTEE OS CÔNJUGES 199

CAPITULO IY

Do regimen da separação

Art. 276 — Quando os contrahentes casarem,


estipulando separação de bens, permanecerão os
de cada cônjuge sob a administração exclusiva
delle, que os poderá, livremente, alienar, se fo-
^em moveis (arts. 235, n. I, 242, n. II, e 310) .

Direito anterior — A Ord., 4, 95, § 3.°, refere-se a este regi-


Ine
ii, sob a denominação de casamento feito por carta ãe arrhas,
e
o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890,\ tornou-o obrigatório
Para os cônjuges, reconciliados depois de se terem divorciados, po-
dendo, nesse caso, qualquer delles alienar os seus immoveis, inde-
Paadentemente da autorização do outro (art. 89).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.536;
allemão, 1.426; mexicano, 207 a 218. O Codigo Civil portuguez,
arts. 1.125 e seguintes, regula a separação matrimonial dos
bens; mas não caracteriza, nitidamente, o regimen, nem o dis-
tingue da communbão dos adquiridos, defeito que se generalizara
e
ntre os escriptores reinóes e pátrios.
Por direito romano, salvo convenção em contrario, a mulher
conservava livres a administração e a disposição ^e seus bens.
Cada cônjuge contribuía para as despezas da família, segundo o
estipulado. Na falta de estipulação, entendia-se que o marido
a
ssumia, sósinho, a responsabilidade da sustentação da família
(Van Wetter, Droü civil, pags. 212-213; Cuo, Institutions, II,
Paginas 99-101).
Projectos — Esboço, art. 1.353; Felicio dos Santos, 1.986;
Coelão Rodrigues, 2.068; Beviláqua, 324; Revisto, 346.
Dibliographia — Direito da família, § 42; Teixeira de Frei-
os, Consolidação, nota (16) ao art. 88; Cândido de Oliveira, Ma-
n
ual ao Codigo Civil, V, §§ 180 a 182; Pontes de Miranda, §§ 85
a 8
7: S. Vampré, Manual, I, § 35; Almachio Diniz, Direito da fa-
inilia, § 3i; coelho da Rocha, Inst., § 259; Baudry-Lacantinerie,
Ce Courtois et Surville, III, ns. 1.477-1.483; Planiol, Traité.
ns. 1.426-1.430; Huo, Commentaire, IX, n. 401; Laurent,
200 CODIGO CIVIL

Cours, III, n. 646; Zachariae, Droit civil français, IV, § 665;


Aubky et Rau, Cours, VIII, §§ 532 e 516, 5.°; KOHI.ER, Lehrhuch,
III, § 40; Coãe Civil allemand, publié par le Comitê de lég. étr.,
notas ao art. 1.426; Endbmann, Lehrbuch, 11, § 181; Bridel, De-
rechos de la mujer, pags. 93-110; Oliveira Castro, Regimens ma-
trimoniaes, ns. 243 e segs.

Observações — 1. — O que caracteriza este regimen é a dis-


tinção completa dos patrimônios dos dois cônjuges, da qual re-
sultam: 1.°, a incommunicabilidade dos fructos e acquisições;
l2.0, a independência da mulher, na gestão dos seus haveres. Esta
independência econômica da mulher tem movido alguns escri-
ptores, como Bridel e Thbophilo Huc a proclamar o regimen da
reparação como "único em harmonia com a verdadeira natureza
do casamento, que não pode consistir na annullação de uma indi-
vidualidade em proveito da outra, e, sim, deve consistir no res-
peito reciproco de duas individualidades juridicamente eguaes".
São palavras do ultimo escriptor citado, que denunciam uma jus-
ta revolta contra o regimen da communhão, segundo o organizou
p Godigo Civil francez, porém, que se não applicam ao direito pa-
itrio, e, muito menos, ao instituido agora pelo Codigo.
Laurent tem razão, quando affirma que a separação de bens
"está em opposição á natureza do casamento", porque, observa
elle: "quando os interesses estão divididos, é muito para receiar
que essa diiíisão se reflicfa no elo das almas". Não tem razão,
porém, quando, justificando a sua idéa verdadeira, se soccorre de
um argumento falso: "Este regimen deroga um principio de or-
dem publica, libertando a mulher do poder marital, no que con-
cerne ao gozo e administração dos bens" (Principios, XXIII,
numero 442). Não é porque contrarie o egoísmo do marido que
o regimen da separação merece reparos; é por não exprimir a
communhão, de interesses, a inãividua vitae consuetudo, de que
falam as fontes romanas.
2. — Apezar da independência econômica da mulher, neste
regimen, o seu poder de livre disposição limita-se aos moveis
Para alienar ou gravar os immbveis, ou para dispor dos seus
direitos reaes sobre os immoveis alheios, assim como, para a
respeito delles pleitear em juizo, ella não pôde dispensar a
autorização do marido (art. 242). Mais ainda, todos os actos que
o Codigo lhe veda praticar sem outorga marital (art. 242), não
DO BEGIMEN DOS BENS ENTKE OS CÔNJUGES 201

se toraam permittidos pela separação de beDis, excepto aquelles


Que sÓDiente se prohibem tendo em vista a communhão universal
ou limitada, como as obrigações, que possam importar alheação
dos bens do casal.
3. — O regimen da separação pôde resultar de pacto ante-
uupcial ou de imposição da lei nos casos do art. 258, paragrapho
Único.

Art. 277 — A mulher é obrigada a contribuir


para as despezas do casal, com os rendimentos
de seus bens, na proporção do seu valor, relati-
vamente aos do marido, salvo estipulação em
contrario, no contracto antenupcial (arts. 256
e 312).

Direito anterior — Nenhuma. disposição correspondente.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.537
^ixa a contribuição da mulher, na falta de convenção ante-
Uupcial, em um terço; haverá contribuição proporcional se a
separação fôr judiciaria, art. 1.448); suisso, 246 (não fixa o
Quantum da contribuição, mas permitte que seja fixada judicial-
me
nfe); allemão, 1.427. „
Projectos — Esboço, art. 1.357; Felicio dos Santos, 1.988;
Coelho Rodrigues, 2.069; Beviláqua, 325; Revisto, 347.
Bibliographia — Direito da familia, § 42; Coelho da Rocha,
*ust., § 259. Pontes de Mikanda, Direito de famiia, § 88; Pla-
^iol, Traité, III, ns. 1.431-1.439; Huc, Commentaire, IX, n. 402;
Laurent, Cours, III, n. 646; Gode Civil allemanã, publié par le
Comitê de lég. étr., notas ao art. 1.427; Baudby-Lacantinerie,
C® Courtois et SuKVirxE, Du contrai de mariage, III, números
V 485-1.495; Kohlek, Lehrbuch, III, § 40.

Observações — 1. — Neste regimen, cada patrimônio se


conserva separado, sob a posse e a administração do seu dono.
or
em como, apezar da separação dos bens, a vida é commum, e
202 CODIGO CIVIL

as despesas domesticas se fazem com a família, que ê de ambos


os cônjuges, nada mais justo do que exigir da mulher uma con-
tribuição, embora ao marido incumba, principalmente, o dever
de sustentar a família que constituiu.
Determina o Codigo Civil que essa contribuição para as des-
pesas do casal seja retirada dos rendimentos da mulher, na pro-
porção do seu valor, relativamente ao dos do marido. Pode, assim,
acontecer que o peso maior da sustentação da família recaia sobre
a mulher, se maiores forem os seus rendimentos em relação aos
do marido; e, se este não tiver recursos, as despesas do casal se-
jam supportadas, exclusivamente, pela mulher.
2. — O modo de effectuar a contribuição da mulher, se não
estiver previsto no pacto 'antenupcial, deve consistir na entrega,
ao marido, da parte devida pela mulher, pois que elle é o chefe
da família. Se ella não lh'a entregar, volutariamente, cabe ao
marido recorrer aos tribunaes, para coagil-a a cumprir a sua
obrigação.
3. — Não tem o marido que dar contas á mulher do emprego
dado á sua contribuição, porque a responsabilidade da direcção.
do lar e da família ê delle. Mas, se se provar que, em vez de
applicar esses bens na mantença da família, o marido os esbanja
em gastos fora do lar, cabe, á mulher, o direito de pedir ao juiz
que a autorize a empregar, ella mesma, os seus rendimentos em
proveito da família? Na França, têm-se resolvido' pela affirmativa,
no caso de separação judiciaria. Essa solução, porém, não se ajusta
ao systema do nosso direito, que não autoriza o juiz a tomar essa
providencia. Muito menos será licito á mulher reter a sua contri-
buição para applical-a, por si, ás despesas da familia, como auto-
riza o Codigo Civil allemão, art. 1.428. Se as coisas assumirem
caracter grave, o recurso da mulher será requerer a interdicção
do marido por prodigalidade.
4. — Os credores não têm acção contra a mulher para exigir
que lhes pague fornecimentos feitos á casa. A contribuição da
mulher ê entregue ao marido, e este é que responde, perante os
credores, pelas dividas, que contrahir. Salvo quando a mulher as-
sumir, directa e pessoalmente, qualquer obrigação, as dividas con-
trahidas para custeio, do lar são do marido, porque é delle a
obrigação de sustentar a familia; á mulher cabe, apenas, a obri-
gação de o auxiliar; e, prestado esse auxilio, nos termos da lei,
nenhuma responsabilidade mais se lhe pôde imputar.
1
DO EEGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 203

CAPITULO Y

Do regimen dotal

SECÇÃO I

Da constituição do dote

Art. 278 — E' da essencia do regimen dotal


descreverem-se e estimarem-se, cada um de per
S1
> na escriptura antemípcial (art. 256), os bens,
dne constituem o dote, com expressa declaração
de que a este regimen ficam sujeitos.

Direito anterior — Idêntico, salvo a formalidade da insinua-


eao a
' Que o Codigo não allude, e que era, expressamente, exigida,
pe 0
re
^ Dec. n. 169 A, de 19 de Janeiro de 1890, art. 3.°, § 9.°. O
S. de 2 de Maio de 1890, art. 173, paragrapho único, não se
refere á insinuação.
Legislação comparada — Vejam-se os Codigos seguintes: Ci-
Vil fr
ancez, art. 1.392; italiano, 1.388; peruano, 993; hespanhol,
l-SlG; portuguez, 1.134 e 1.137. Destes Codigos, aquelle cujo dis-
positivo mais se approxima do art. 278 ê o peruano. O Codigo
es
Panliol admitte o dote estimado e o inestimado. O francez e o
(taliano, apenas, exigem declaração expressa de que determina-
08
bens se acham submettidos ao regimen dotal.
Para o regimen dotal, em direito romano, vejam-se: D. 23,
á:
o Goã. 5, 12.
Drojectos — Esboço, art, 1.362; ■Felicio dos Santos, 1.997;
oelho Rodrigues, 2.016; Beviláqua, 326; Revisto, 349. As dispo-
^Soes destes Projectos, não correspondem, exactamente, ao artigo
0
Codigo, que é devido á Commissão da Gamara, em 1901 {Tra-
ulfios, VIII, pag. 88, art. 285," do Projecto adoptado por ella).
Projecío primitivo, que adoptava outra orientação, no primeiro
spositivo do capitulo relativo ao regimen dotal, limitava-se a
rul-o, o que sómente fazia, quando era necessário assentar
Pfincipios essenciaes, ou desfazer duvidas já manifestadas.
204 CODIGO CIVIL

Bibliographia — Direito da família, §§ 43 e 46; Teixeira de


Freitas, Consolidação, arts. 122 e 123; com as notas respectivas;
Lafayette, Direitos de família, §§ 73 e 75; Cândido de Oliveira,
Manual, V, §§ 183 e segs.; Pontes de Miranda, Direito de família,
§§ 90 e segs.; S. Vampré, Manual, I, § 138; Almachio Diniz, Di-
reito da família, § 32; Martinho Garcez, Direito da família, § 99;
Coelho da Rocha, Inst., §§ 267-269; Planiol, Traité, III, números
I.463-1.483; Huc, Commentaire, IX, ns. 9-13, 21 e 418-421; Bau-
dry-Lacantinerie, Le Courtois et Surville, Du contrai de ma
riagc, II, ns. 1.542-1.547; Zachariae, Droit civil francais, IV.
§§ 666 e 667; Lahrent, Cours. III, ns. 647-648; Aubry et Rau, Cours,
VII, § 500, e VIII, § 533; Dernburg, Diritto de famiglia §§ 13 e
segs.; Windscheiu, Panã., III, parte II, § 492; Gallxjpi, La dote
secondo il diritto civile italiano, 1.876, pags. 1-26; Chironi, Ist.,
II, § 397; Gianttjbgo, Ist., § 73; Luigi Abello, vb. Dote, § 1.°, no
Dizzionario de Scialoja e Busatti; Sanchez Roman, Derecho
civil V, primeira parte,' pags. 683 e segs.; Liz Teixeira, Curso,
1.848, tit. IX, §§ 1.°, 3.°, 19 e 20; Roth, System, 11,95-97; E. CuQ,
Institutions, II, pags. 99-105; Bonjean, Institutes, I, números
1.188-1.192: Padelletti-Cogliolo. Diritto romano, pags. 173 e
176, nota -g; Affonso Cláudio, Estudos de direito romano, XXI,
prelecção; Netto Campello, Direito romano, II, pags. 152-161;
Bonfante, Istituzioni, §§ 65 e 66; Calvinus, Lexicon, vb. Dos;
Andrade Bezerra, A estimação dos Itens dotaes, na Revista de
Direito, vol. 15, pags. 42-57; João Arruda, Regimen dotal, na Re-
vista da Faculdade de Direito de S. Paulo, vol. XV, pags. 49-59;
Oliveira Castro, Regimens matrimoniaes, ns. 361 e segs; Mar-
tinho Garcez Filho, Direito de família, I, p. 397 e segs.

Observações — 1. — Dote é a porção de bens que a mulher,


ou alguém por ella, transfere ao marido para, do rendimento
delles, tirar subsidio á sustentação dos encargos matrimoniaes,
sob a condição de os restituir, depois de dissolvida a sociedade
conjugai.
O fim do dote é, precisamente, auxiliar o marido a supportar
os ônus do matrimônio. Nesta idéa insistem as fontes romanas
(D. 23, 3, fr. 76: quia, nisi matrim,onii oneribus serviat, dos nulla
est: D. 49, 17, fr. 16, pr.: dos... matrimônio cohoerens oneribus
ejus ac liberis communibus confertur), como os escriptores mo-
'

DO KEGIMEN DOS BENS ENTKE OS CÔNJUGES 205

ternos. Foi essa finalidade a energia creadora dos privilégios,


Que o cercam, e, em particular, da inalienabilidade, quando con-
sistente em immoveis.
2. :— Os bens constituídos em dote devem ser descriptos no
Proprio contracto antenupcial, pois que elles têm de se submetter
a
um regimen particular e ser restituidos em especie, ou pelo
valor declarado. Por esta ultima razão, devem esses bens ser esti-
cados, o que importa dizer que o seu valor deve ser declarado
Qa modo, certo, deve ser fixado.
A descripção dos bens dotaes e a sua estimação, em escri-
Ptura publica, são formalidades substanciaes do contracto dotal,
^am ellas, não ha dote no sentido technico e legal da expressão.
Haverá dote, na accepção vulgar de bens que a mulher traz para
0
casamento, aos quaes não attribue o direito nenhum dos cara-
cteres próprios, nem das garantias especiaes do dote.
A estimação pode ser feita, taxationis causa, simplesmente
Para fixar o valor do dote, ou venãitionis causa, para o fim de
determinar o preço, que o marido tem de pagar, no momento de
Se
dissolver a sociedade conjugai, segundo as regras estabeleci-
das nos arts. 300-307.
3. — Pelo direito anterior, a falta de estimação tornava o
dote nullo, apenas em relação a terceiros. Subsistia entre as
Partes. O Codigo não manteve essa distineção; tornou a estima-
Sao formalidade substancial, sem a qual não existirá dote. Poderá
haver estimação dos bens da mulher, sem dote; mas dote sem
e
stimação não permitte a lei.
4
- —- Além da descripção e estimação dos bens, exige o Co-
digo a declaração expressa de que os bens ficam sujeitos ao regi-
Cen dotal. Como se trata de um regimen excepcional, que deroga
0
direito commum, e cria uma situação muito particularizada,
Quer o Codigo Civil que a manifestação da vontade dos esposos
Se
realize de modo a não deixar duvidas, quanto ao regimen es-
colhido.
Assim, para haver regimen dotal, três requisitos essenciaes
ex
ige o Codigo; a descripção dos bens; sua estimação; e a decla-
r
ação expressa de que ficam sujeitos a esse regimen.
Certamente não ha fôrmas sacramentaes, nem neste nem em
caso nenhum outro. O que é necessário é que fique bem claro que
ío
i adoptado o regimen dotal. Não basta, por exemplo, avaliar os
be
Ps da mulher e declarar que serão inalienáveis. Essa inaliena-
206 CODIGO CIVIL

Dilidade não caracteriza o regimen dotal. Será preciso firmar, de


modo positivo, que o regimen pactuado é o dotal. In ãuMo dos
constituta non consetur, advertia Mello Freire, em contrario do
que preceituava o direito romano (D. 23, fr. 70): in amMguo,
pro ãoWbus, responãere melius est.

Art. 279 — O dote pôde ser constituido pela


própria mibente, por qualquer dos seus ascen-
dentes, ou por outrem.
Paragrapho único. Na celebração do contra-
cto, intervirão, sempre, em pessoa, ou por pro-
curador, todos os interessados.

Direito anterior — As Ords. eram deficientes, mas a doutrina


as completava. Veja-se Carlos de Carvalho, Direito civil, ar
tigo 1.515.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.135;
uruguayo, 2.025.
Projectos — Esboço, art. 1.316; Felicio dos Santos, 1.992 e
1.994; Coelho Rodrigues, 2.016; Beviláqua, 326; Revisto, 350.
Bibliographia — Direito da família, § 45; Lapayette, Direi-
tos de família, § 76; Martinho Garcez, § 100; Gallupi, La dote,
pags. 31 e segs.; Windsoheid, Pand., II, § 493. Veja-se também o
artigo anterior.

Observações — 1. — O dote pôde ser constituido pela pró-


pria nubente, por seus ascendentes, ou por estranhos.
No primeiro caso e no terceiro, ter-se-á o que os romanos
chamavam dos adventitia, que definiam quae a quovis alio vel
ex ipsis mulieris bonis data est. Mas, se o dote dado por extra-
nho lhe devia ser restituido, denominava-se recepticio. Dos rece-
ptitia specialiter ãicitur quam extraneus dans, ut ea sibi redde-
retur, stipulatus fuit. Quando constituido pelos parentes mas-
culinos, denominava^se profecticio: quae a patre vel parente vi'
rilis sexus profecia est de bonis vel facto ejus. Vide D. 23, 3, fr. 5.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTBE OS CÔNJUGES 207
Essas denominações cahiram em desuso, no direito moderno,
Dias não deixa de haver interesse em saber por quem foi consti-
tuído o dote.
2. — Se o dote é con,stituido pela mulher) é um verdadeiro
contracto sygnallagmatico. A mulher entrega certa porção de
bens ao marido, e este obriga-se a administral-os, para applicar
os rendimentos obtidos aos encargos da família, que, precipua-
Diente, lhe incumbem. Como se verá do artigo seguinte; esta
fôrma de dóte pode abranger a totalidade dos bens presentes e
futuros, o que se não verificará, quando outro fôr o dotador.
Quando o dote é constituído pelo pae, mãe ou avós da nu-
bente, considera-se adeantamento da legitima, e será collaclo-
Dado, segundo o disposto nos arts. 1.785 e seguintes. Se os paes
dotam a filha, conjuntamente, sem declaração da parte de cada
ani, entende-se que contribuem por partes eguaes (art. 284).
O dóte promettido ou constituído á filha do outro leito, não pesa
sobre os bens communs; é tirado, exclusivamente, dos bens parti-
culares ou da meação do dotador (art. 263, IV), e assim o pro-
mettido ou constituído, expressamente, por um só dos cônjuges
a filho commum (art. cit, n. V).
O dote constituído por homem casado á sua filha, dispensa
outorga da mulher (art. 236), salvo se recahir sobre immoveis,
Porque é regra absoluta, no systema do Codigo, que as alienações
ôe immoveis não pódem ser feitas por determinação exclusiva
ôe um dos cônjuges, qualquer que seja o regimen dos bens.
O dote constituído por extranho é uma doação relativamente
á
çaulher, porém uma doação modal, pelo que não é revogavel
Por ingratidão. Em relação ao marido, é uma convenção a titulo
oneroso, porque este assume a obrigação de prover ás necessi-
dades da família, applicando a esse fim os rendimentos do dote.
3. ■— O noivo não pôde constituir dote á noiva, porque o dote
tem por fim prestar auxilio ao marido. Se não entra sempre no
Patrimônio do marido, como acontecia no direito romano primi-
tivo, constitue, em todo o caso, um enriquecimento, uma vanta-
gem, um augmento de seus baveres, desde que ellè adquire os
fructos dotaes, embora para applical-os na sustentação da família.
O noivo pôde é fazer doação á futura consorte, estabelecendo
elausulas que parecerem mais convenientes ao doador e á dona-
faria (art. 312).
4- — Exige o Codigo que, na celebração do contracto dotal,
intervenham tqdos os interessados, em pessoa, ou por procurador.
208 CODIGO CIVIL

Interessados são: o dotador, o esposo e a futura consorte. Se os


nubentes forem menores, devem ser autorizados por seus paes
ou tutores, que, nesse caso, serão, também, pessoas interessadas.

Art. 280 — O dote pôde comprehender, no


todo, ou em parte, os bens presentes e futuros
da mulher. —
Paragrapho único. Os bens futuros, porém,
só se consideram comprehendidos no dote, quan-
do, adquiridos por titulo gratuito, assim for de-
clarado em clausula expressa do pacto ante-
nupcial.

Direito anterior — Doutrina acceita.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.542;
italiano, 1.389; portuguez, 1.136; boliviano, 977,
No direito romano, o dote comprehendia todos os bens pre-
sentes da mulher, ou uma parte delles; mas não os futuros (D.23,
3, fr. 61, pr.; Cod. 5, 12, 1. 4). Nulla lege proMMtum est, universo,
bona in dotem marito foeminam dare, diz este ultimo; o primeiro,
no emtanto, restringe o pensamento ahi expresso: amplius doti
promissum est quam facultates mulieris valent, ipso jure pro-
missio non valet.
Projectos — Esboço, art. 1.365; Felicio dos Santos, 1.993;
Coelho Rodrigues, 2.017; Beviláqua, 328; Revisto, 351.

Observações — 1. — A mulher, dotalizando os seus bens, não


faz doação. Submette-os, apenas, a um determinado regimen orga-
nizado por lei, com as garantias, que esta offerece. Por isso pôde
dotar-se com todos os seus , bens, ainda os futuros. O mesmo não
podem fazer quaesquer outros, porque, em relação a elles, o dote
é uma liberalidade, que não pôde comprehender a totalidade dos
bens do que a faz (art. 1.175).
Não se entendem, porém, comprehendidos no dote os bens
futuros, quando se dizem dotaes todos os bens da mulher; é indis-
DO REQIMEN DOS BENS ENTKE OS CÔNJUGES 209
pensavel declaração expressa referente aos bens, que ella venha
a possuir por herança ou doação. Os adquiridos a titulo oneroso
nao entrarão no dote, porque, ou obtidos com bens proprios da
mulher ou com o producto do seu trabalho, alterariam o regimen
estabelecido, se se deslocassem da classe, que lhes deu o pacto
antenupcial, para se transformarem em dotaes. Nem é licito aos
casados augmentar o dote (art. 281).
2. — A especificação e estimação dos bens futuros serão fei-
tas, á medida que elles entrarem para o patrimônio da dotada
Sem essas formalidades serão os bens communs, por isso que não
ha,verá no contracto matrimonial indicação de outro destino.
E' dever do marido cumpril-as, pois que é o chefe da família e o
administrador do dote; mas, se deixar de o fazer, está no inte-
lesse da mulher promover a especificação e a estimação desses
bens, para, opportunamente, exigir a restituição delles, ou a
exigirem os seus herdeiros. Para esse fim, lhe dá o Codigo os
necessários poderes (art. 248, VI).
3. Apezar do que em contrario ensina Pontes de Miranda
{Direito ãe família, § 92, nota 12), entre os bens futuros não é.
licito incluir a herança de pessoa determinada, porque seria o
contracto dotal, nesse caso, um pacto successorio, especie prohi-
bida pelo Codigo (art. 1.089), como era pelo direito anterior.

Art. 281 — Não é licito aos casados augmen-


tar o dote.

Direito anterior — Doutrina corrente.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.543;
italiano, 1.391; portuguez, 1.141.
Em sentido differente, permittindo o augmento do dote na
constância do matrimônio: o direito romano (Inst., 2, 7, § 3.°, in
médio: cum augeri dotes et post nuptias fuerat permissum;
Pauxx), Sententiae, 2, 21.; Dos aut anteceãit aut sequitur matri-
monium, et ideo vel ante nuptias vel post nuptias dari potest.
Projectos — Esboço, art. 1.372 (differente): Felicio dos
Santos, 1.998; Coelho Rodrigtces, 2.019; Beviláqua, 329; Re-
visto, 352.
Beviláqua — Codigo Civil — 2.° vol. 14
210 CODIGO CIVIL

Bibliographia — Direito da família, § 46; Cândido de Oli-


veira, Manual do Coãigo Civil, Y, § 19; Planiol, Traité, III,
ns. 1.498 1.502; Huc, Commentaire, IX, ns. 427-429; Laurent,
Cours, III, n. 650; Príncipes, XXIII, ns. 467-468; Baudry-Lacan-
tinebie, Le Courtois et Subville, Du contrai de mariage, III,
ns. 1.574-1.600; Zachariae, Droit civil français, IV, § 667; Aübry
et Rau, Cours, VIII, § 534.

Observações —- 1. — O dote não pôde ser augmentado, nem


diminuído, na constância do casamento, por acto voluntário .dos
cônjuges. Esse é o principio que o Codigo proclama neste artigo,
em phrase pouco expressiva.
A razão desta regra é que o dote é um regimen de excepção,
snbmette os bens a uma norma particular, cercando-os de garan-
tias especiaes, e a lei não quer que, arbitrariamente, os cônjuges
ponham haveres nesse regimen especial, ou delle os retirem, tor-
nando, assim, instável a sua situação em frente aos credores.
2. — A' regra geral da inalterabilidade do dote, abrem-se, no
emtanto, algumas excepções. Os augmentos resultantes de acces-
são natural, como a alluvião, e a formação de ilhas, não entram
na regra.
A jurisprudência franceza tem decidido que são dotaes as
construcções feitas, pelo marido ou pela mulher, em terreno dotal.
Se taes construcções se fazem com valores dotaes, a solução é
intuitiva; porém não haverá augmento do dote, ainda que haja
melhoramento delle. Se as construcções se fazem a custa do ma-
rido, ou com os paraphernaes, a solução, ainda, é jurídica, porque
o accessorio segue a natureza do principal.
Se a mulher é condômina de um prédio indiviso e no curso
do casamento vem a adquirir, por partilha ou licitação, a totali-
dade do prédio, este será dotal, se a parte indivisa da mulher era
dotal. E' também decisão da jurisprudência franceza, porém, que
se não conforma com os princípios. A» bôa doutrina é a sustentada
por Aubby et Rau (VIII, da 5.a ed., § 534, notas 42 e 43): so-
mente a parte primitiva da mulher está comprehendida no dote,
o resto do prédio, se a mulher o adquiriu, como bem proprio,
será paraphernal.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 211

2.a — Da regra estabelecida no artigo não se deve, por ar-


gumento a contrario, inferir que terceiros possam augmentar o
^ote; não somente por ser o dote regimen de excepção, que não
admitte interpretação extensiva, como porque a regra é a inalte-
rabilidade do dote.
3.a — A diminuição do dote não pôde ser deliberada, arbitra-
riamente, pelos cônjuges, mas pôde resultar: a) de factos natu-
r
aes; 6) de dividas da mulher anteriores ao casamento (art. 299,
§ 2.°) c) da necessidade de alienar coisas dotaes para a subsis-
tência da familia; ã) e, ainda, nos outros casos previstos no
art. 293.

Art. 282 — O dote constituído por estranhos,


durante o matrimônio, não altera, quanto aos
outros bens, o regimen preestabelecido.

Direito anterior — Doutrina seguida.


Drojectos — Esboço, art. 1.372 (differente); Felicio dos San-
tos
, art. 2.001 (differente); Coelho Rodrigues, 2.029; Beviláqua,
230. o Projecto Revisto não continha disposição semelhante.

Observação — Este artigo completa a regra estabelecida no


anterior. Os cônjuges não podem augmentar o dote; mas nada
nnpede que terceiros façam doações á mulher dotada, estabele-
c
endo a clausula de que os bens doados sejam inalienáveis, du-
rante o casamento, e administrados pelo marido, afim de appli-
car-ihes os rendimentos á sustentação dos ônus matrimoniaes.
®ão doações modaes, perfeitamente licitas, que trazem auxilio
ao
dote, quando o regimen é dotal.
Se outro fôr o regimen estipulado, nenhuma alteração esses
^ans assim clausulados trarão ao regimen, que não se altera na
Co
nstancia do casamento. Dar-se-lhes-á, naturalmente, a applica-
Çao, a que os destina o doador, attender-se-á, certamente, ao en-
c
argo estabelecido; mas isso não modificará o regimen dos outros
^ens, que continuarão communs ou separados, segundo a norma1
acceita
212 CODIQO CIVIL

A dotalização, neste caso, se particulariza e contráe aos bens


doados com o encargo de subvencionar os ônus do matrimônio,
sem a menor influencia sobre os outros bens, já possuídos ou que,
de futuro, venham a sel-o. E' um caso de dote sem regimen dotal.

Art. 283 — E' licito estipular, na escriptura


antenupcial, a reversão do dote ao dotador, dis-
solvida a sociedade conjugai.

Direito anterior — Doutrina acceita.


Legislação comparada — Era este o dote chamado recepticio
em direito romano (Cod. 5, 13, 1. 1, § 13).
Os Codigos modernos não destacam esta clausula, mas não a
repellem.
Projectos — Este artigo foi introduzido pela Commissão re-
visora do governo (Actas, pag. 113). Continha uma segunda parte,
que foi eliminada pelo Senado: a transferencia do dote ao ma-
rido, morrendo a mulher sem herdeiros necessários.
Bibliographia — Direito ãa familia, § 47; Lafayette, Direi-
tos ãe familia, § 79; Lobão, Notas a Mello, L. tit. 9.°, § 22, n. 4;
Liz Teixeiea, Curso, í, tit. IX, § 4.°; Windscheid, Panct., II, § 506;
Debnbubg, Diritto cti famiglia, § 17.

Observações — 1. —• Se o dote é constituído por estranho,


como, relativamente a elle, o dote é uma doação feita para deter-
minado fim, nada impede que a estipule réversiva, como se fôra
uma doação commum (art. 1.174). A doação serviu ao fim a que
era destinada: auxiliar o marido na sustentação dos ônus matri-
moniaes. Dissolvida a sociedade conjugai, quando se extingue a
modalidade, que lhe fôra impressa, volve ao patrimônio do doa-
dor, em vez de permanecer no da mulher, ou entrar para o de
seus herdeiros, se a sociedade conjugai se dissolver por morte
delia.
2. — Se o dotador fôr pae ou' mãe da mulher dotada, a reversão
não poderá se referir senão ao que exceder da legitima, porque
o dote se entende um adoantamento desta, e somente em relação
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 213

ao excesso é uma verdadeira liberalidade clausulavel pela re-


versão. Se a mulher deixar filhos, herdarão estes o dote, devendo
conferil-os, quando chamados á successão do ascendente dotador.
Se não deixar filhos, o regresso do dote se realiza não por força
do estipulado, mas por direito hereditário. Se a dissolução da
sociedade conjugai resultar de desquite, retém a mulher o dote,
Porque somente por occasião da morte do ascendente dotador,
Poderá saber-se qual a legitima que lhe caberá.
Esta era a doutrina seguida antes do Codigo, e que elle não
Pretendeu alterar. A clausula da reversão, portanto, só é util nos
dotes .constituídos por estranhos.
Se a dotadora fôr a mulher, não pode haver reversão, como
havia em direito romano (Cod. 5, 14, 1. 9), porque ella não perde
a
Propriedade do dote. Apenas o entrega ao marido para admi-
n
istral-o e applicar-lhe os rendimentos aos gastos da família.
3. — No art. 257, supprimira o Senado a parte do dispositivo
due prohibia alterar, nos pactos antenupciaes, a ordem legal da
s
uccessão. No artigo agora analysado, supprimiu a faculdade de
Pactuar em favor do marido. Parece que essas emendas obede-
ceram a solicitações doutrinárias adversas, pois, que do primeiro
a
rtigo retira uma prohibição de que a clausula suppressa no se-
Sundo seria uma excepçâo.
Que concluir? Que se não pôde estipular a clausula de o ma-
rido lucrar o dote, premorrendo a mulher, por ser isso ura pacto
suecessorio? Penso que não, porque, se, do art. 257, desappareceu
a
Prohibição de dispor quanto á successão dos cônjuges, parece
ter havido intenção de attender á opinião mais extensamente se-
guida pelos civilistas pátrios, que, fundados na lei de 17 de
Agosto de 1761, § 8.°, admittiam que, nos pactos antenupciaes,
convencionassem os cônjuges a respeito da sua successão futura
(Teixeira de Freitas, Ponsoiidação, art. 354 e nota (13); Coelho
Rocha, Inst., § 731, e nota H H no fim do volume; Mello
Ereire, Inst., 2, 9, § 25; Lafayette, que, aliás, não admittia os
Pactos successorios nas convenções matrimoniaes, reconhecia a
Va
lidade da clausula em virtude da qual o marido lucrasse o
por não ser reprovada em direito romano. O Codigo Civil
italiano, que não acceita os pactos successorios, não obstante, no
art. 1.398, permitte estipular que lucre o dote o cônjuge sobre-
vivente.
Bem se comprehende. Se o dote foi instituído pela mulher
0U
Por ascendente delia, o marido poderá lucral-o, somente quan-
~21i CODir.O CIVTX.

do a mulher não deixar herdeiros necessários. Sendo constituído


por estranho, não é necessária essa condição, porque a doação
admitte, perfeitamente, a mencionada clausula.

Art. 284 — Se o dote for promettido pelos


paes, conjuntamente, sem declaração da parte,
com que um e outro contribuem, entende-se que
cada um se obrigou por metade.
Direito anterior — O mesmo (Ord. 4, 97, pr.).
Legislação comparadia — Codigo Civil francez, art. 1.544;
portuguez, 1.146; italiano, 1.392; boliviano, 980. V. o alle-
mâo, 1.465.
Veja-se, também, o Codigo Civil uruguayo, art. 2.028. Para o
direito romano, consultem-se as regras estabelecidas no D. 45, 2,
fr. 11, § 2.°, e no Cod. 5, 11, 1. 7. A primeira manda considerar
devida por partes viris a obrigação de vários estipulantes; a
segunda estatue que, ainda quando a filha tenha bens proprios,
sob a administração do pae, o dote, por este promettido, se en-
tende tirado do patrimônio delle.
Projectos — Eshoço, art. 1.319; Coelho Rodrigues, 2.020;
Beviláqua, 331; Revisto, 354.
Bibliographia — Direito da família, § 45; Lafayette, Direi-
tos de família, § 76; Huc, Commentaire, IX, n. 430; Atjbey et Raxj,
Cours, VII, § 500; Dias Fereeira, Codigo Civil portuguez, nota
ao art. 1.146.

Observações — Faz este artigo applicaçâo de uma regra geral


de direito obrigacional, que diz; a solidariedade não se presume;
resulta da lei ou da vontade das partes (art. 896). Obrigando-sa
os paes, conjunctamente, pelo dote, cada um contribue com a me-
tade, qualquer que seja o regimen dos bens, desde que não de-
clarou a porção que lhe cabia.
Pois que a liberalidade foi feita por ambos os progenitores,
na successão de cada um delles se fará a conferência da metade.
DO REGIMEN EOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 215

Art. 285 — Quando o dote for constituído por


qualquer outra pessoa, esta só responderá pela
evicção, se houver procedido de má fé, ou se a
responsabilidade tiver sido estipulada.

Direito anterior — O mesmo (Ord. 4, 97, § 3.°; Carlos de


Carvalho, Direito civil, art. 1.528), ainda que se suscitassem
duvidas sobre a intelligencia da Ord. citada.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 1.143.
O Codigo Civil francez, art. 1.547, e o italiano, 1.396, obrigam
luaesquer dotadores a garantir o dote. No mesmo sentido: boli-
viano, 981; e peruano, 989. Assim também era a melhor inter-
pretação do direito romano (Cod. 5, 12, 1. 1, e 5, 13, 1. única).
Drojectos — Esboço, art. 1.325; Felicio dos Santos, 2.003;
G
oelho Rodrigues, 2.024; Beviláqua, 333; Revisto, 357, 2." parte.
Bibliographia — Direito da família, § 48; Teixeira de Frei-
os, Consolidação, nota (21) ao art. 424; Lafayette, Direitos de.
familia, § 81; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V,
§ 195; Coelho da Rocha, Inst., § 271; Plàniol, Traité, III, nu-
m
eros 867-870; Baüdry-Lacantinerie, Le Courtois et Surville,
contrai de mariage, I, ns. 225-232 e 240-244; Aubry et Rau,
Cours, VII, § 500; Troplonq, Contrai de mariage, n 1.247; Glas-
SOÍ
h vb. Dot. na Grande encyclopéãie; Gallupi, La dote, n. 52;
Cogliolo, Saggi sopra Véevoluzione dei diritto privato, paginas
1^-51; L. Abello, vb. Dote, no Dizzionario de Scialoja e Eu-
s
attx; Windscheid, Panã., II, § 495: Deenburg, Diritto di fami-
ma, § i6.

n
Observações — 1. — Realizado o casamento, se o dotador
ão transfere o dote ao marido, tem este acção para o exigir,
^ccrescido dos fructos produzidos, desde a móra.
Pôde, porém, acontecer que o dote tenha tido por objecto
^hi alheio, cujo dono o venha reivindicar na constância do casa-
mento. Dada essa hypothese, cumpre saber qual é a responsabi-
üdade do dotador. As opiniões divergem como as legislações.
O Codigo Civil declara, neste artigo, que, se o dote fôr con-
mituido por qualquer outra pessoa, que não sejam os paes, o do-
Ipãor só responderá pela evicção, se houver procedido de má fé
216 CODIGO CIVIL

ícomo se tiver conscientemente, dado coisa alheia, para faci-


litar o casamento), ou se, expressamente, tiver assumido a res-
ponsabilidade de assegurar o dote, porque haja qualquer duvida
sobre os seus direitos relativamente ao bem doado, ou indepen-
dentemente de qualquer duvida. A primeira illação a tirar desse
preceito é que o estranho, em regra, não é obrigado pela evicção
pois que somente o é nos dois casos apontados. A segunda é que
os paes dotadores garantem o dote promettido ou constituído.
Sente-se, nesta solução, ainda uma influencia da doutrina, se-
gundo a qual os paes eram obrigados a dotar as filhas. Se o
dote entregue ao marido fosse reivindicado, restabelecia-se a
obrigação.
Outro devêra ser o ponto de vista do legislador, pois que
o dote, ainda quando constituído por estranho, não é uma libe-
ralidade pura. Como fez sentir Teoplong, "sob os auspícios desse
donativo, funda-se uma família: os dois cônjuges ligam, a essa
liberalidade, a esperança do seu bem estar; filhos educam-se
com a perspectiva de colher os fructos delia. E tudo isso pode
esvair-se, sem que o dotador responda".
2- — O Codigo Civil, entretanto, firmou o principio de que
somente os paes dotadores respondem pela evicção. Se a perda
do bem dotado se verificar na permanência da sociedade, con-
jugai, cabe ao marido, como administrador do dote, usar da acção
de garantia; se o facto occorrer depois de dissolvida a sociedade
conjugai, esse direito é da mulher, porque o dote estará no seu
patrimônio, desembaraçado do ônus, que sobre elle recaia, de
subvencionar as despesas da família por acção exclusiva do ma-
rido.

Art. 286 — Os fructos do dote são devidos,


desde a celebração do casamento, senão se esti-
pulou prazo.

Direito anterior — O mesmo (Ord. 4, 67, § 1.°; Caklos na


■Carvalho, Direito civil, art. 1.526).
Legislação comparada — V. D. 23, 3, fr. 7, § 3.°; Cod. 5,
12, 1. 31, § 2.°; Codigo Civil francez, art. 1.548; italiano, 1.397;
portuguez, 1.144; uruguayo, 2.031; boliviano, 982; peruano, 990;
mexicano, 2.132.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTKE 08 CÔNJUGES 217

Projectos — Eshoço, art. 1.320; Felicio dos Santos, 2 002;


Coelho Rodrigues, 2.025; Beviláqua, 334; Revisto, 358.

Observação — Sendo o fim do dote auxiliar o marido na


sustentação da familia, e tornando-se o pacto dotal, definitiva-
mente, firmado com a celebração do casamento, os fructos do
dote devem, desde este momento, ser applicados áquelle fim.
Consequentemente, o dotador retardatario deve entregar o dote
com os seus rendimentos. Afas-tará, porém, de si essa responsa-
bilidade, se estipular um prazo para a entrega do dote.
O Codigo Civil brasileiro, seguiu, neste dispositivo, a lição
do portuguez, por ser mais justa e mais razoavel do que a do
francez é do italiano, que, ainda havendo prazo estipulado para
a
entrega do dote, mandam attribuir-lhe os rendimentos ao ma-
r
ido, desde a celebração do matrimônio, salvo declaração em con-
trario, no pacto.

Art. 287 — E' permittido estipular no con-


tracto dotal:
I. Que a mulher receba, directamente, para
suas despezas particulares, uma determinada
parte dos rendimentos dos bens dotaes.
II. Que, a par dos bens dotaes, haja outros
submettidos a regimens diversos.

Uireito anterior — Os escriptores faziam referencias ás clau-


s
hlas indicadas. A maioria delles considerava communs os adqui-
ridos, por ser a communhão o regimen preferido; porém não era
e
ssa a melhor doutrina, porque as Ords. eram muito deficientes,
Quanto ao regimen dotal, e era do seu systema que as suas la-
cunas se completassem com o direito romano, de onde veio a
construcção juridica do dote. Notava-se, entre os civilistas, uma
certa confusão, em conseqüência das lacunas da lei e das idéaá
0
Ppostas, que vinham do direito portuguez, e do romano desti-
uudo a subsidial-o.
Legislação comparada — Vejam-se, quanto ao n. I: D. 23,
tr. 4, in fine, Codigo Civil francez, art. 1.549, ultima parte; ita-
liano, 1,399, ultima parte.
5218 CODIGO CIVIL

Projectos — Felicio dos Santos, art. 1.999, em relação ao


paragrapho único; Coelho Rodrigues, 2.028, semelhante, quanto
ao n. I; Beviláqua, 335, quanto ao n. I, e 327, in fine, quanto ao
n. II; no systema desse Projecto, os extra-dotaes eram incomaiu-
nicaveis, se outra coisa não dispuzesse a convenção, doutrina
mantida pelo Revisto, art. 360, segundo periodo. O n. I corres-
ponde ao art. 359 do Projecto revisto.
A fórmula deste artigo foi adoptada pela Commissão da
Gamara, em 1901 {Trabalhos, VI, pag. 571, art. 287, VII, pag. 47,
art. 299; VIII, pag. 89, art 295).
Bibliographia — Direito da família, §§ 47 e 49; Lafayetle,
Direitos da família, §§ 79 e 82; Cândido de Oliveira, Manual do
Codigo Civil, V, § 197; Pontes de Miranda, Direito de família,
§ 94; S. Vampré, Manual, I, § 143; Martinho Garcez, Direito da
família, § 109; Planiol, Traité, III, ns. 1.520 e 1.521; Huc, Gom-
mentaire, IX, n. 435; Mello Freire, Institutiones, 2, 8, § 4.°; Liz
Teixeira, Curso, I, tit. IX, §§ 2.°, 15-17 e 25; Coelho da Rocha,
Inst., §§ 280 e 281; Baudry-Lacantinerie, Le Courtois et Sur-
ville. Du contrai de mariage, III, ns. 1.548, 1.637-1.63'9; Zacha-
riab, Droit civil français, IV, § 668.

Observações — 1. — Por dizer o Codigo que é licito estipular


que a mulher receba directamente, para as suas despesas parti-
culares, parte dos rendimentos dos bens dotaes, não se segue que
outras estipulações não sejam permittidas. Prevalece a regra do
art. 256: os cônjuges podem estipular o que lhes aprouver, quanto
aos seus bens, comtanto que não contravenham disposição abso-
luta da lei. O Codigo pretendeu, apenas, destacar, neste artigo,
uma fôrma de clausula adjecta ao dote, como já havia destacado
a da reversão, no art. 283, e a da responsabilidade pela evicção,
no art. 285.
No systema da liberdade contractual, infinitas serão as mo-
dalidades possíveis, mas uma dellas, além das que acabam de ser
mencionadas, é a da administração do dote pela mulher, assu-
mindo ella a obrigação de applicar-lhe os rendimentos na susten-
tação da família. E tanto é licita esta clausula que o art. 309 fa-
culta a entrega do dote á mulher, na constância do casamento, se
a desordem dos negocios do marido ameaçar subverter e arruinar
esses bens especialmente destinados a assegurar a manutenção
da família.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 219

2. — Estabelecido o regiDien dotal, os bens dos cônjuges dis-


tribuem-se, nas seguintes classes:
a) Os dotaes, submettidos ao nexo particular do dote, que
Pertencem á mulher, e se acham, normalmente, submettidos á
administração do marido.
ã) Os paraphernaes, que são os proprios da mulher. Vem
0
vocábulo do grego, e significa, litteralmente, além do dote
aupã, além, cpeevfi, dote). Estes bens, que o D. 23, 3, £r. 9,
§ 3.°, equipara ao peculium dos gaulezes, eram em Roma, admi-
nistrados pela mulher, salvo se ella os confiava ao marido. Delles
se fazia um arrolamento (rerum lihellus) assignado pelo marido,
Para que a mulher os retirasse, depois de dissolvido o casamento
(Cuq* Institutions, II, pag. 100).
Não se alterou o sentido da expressão nem a condição juri-
^ica desse pecúlio, no direito moderno. Delle dá exacta noção o
Codigo Civil, no art. 310. Vejam-se, também, as definições do
Codigo Civil francez, art. 1.574, e italiano, 1.425.
No direito romano, a mulher podia ter, além dos parapher
n
aes, os recepticios, de que nos fala Aulo Geleio, nas suas Noites
a
tticas, 17, 6; quae ex suis bonis retinebat neque aã virum trans-
mttebat, et recipere ãicebatur. Esta categoria de bens reservados
mulher, differentes dos paraphernaes, é estranha ao direito
moderno.
c) Os adquiridos, que são todos os que sobrevêm a ambos os
Co
njuges por titulos gratuito ou oneroso. São os bens que restam,
depois de deduzidos o dote e os bens proprios de cada cônjuge,
^nvia, no direito pátrio, dissidio entre os escriptores. Os que
nttendiam á separação, que é da essencia do regimen dotal, consi-
deravam incommunicaveis os acquestos. Tal era o parecer de
Mello Freire. Os que se impressionavam pela preferencia dada
Pelo direito á communhão, consideravam-nos communs. Lafayet-
e Coelho da Rocha, entre outros, assim pensavam. O Codigo
Civil resolveu a controvérsia no sentido de se coxnmunicarem os
a
dquiridos, não havendo estipulação em contrario (arts. 259 e
288).
d) Os proprios do marido, quer os trazidos para o casal, quer
0s
que lhe advierem com o caracter de incommunicaveis.
3. — Havia na edição anterior do Codigo um paragrapho
Ulli
co, annexado a este artigo, cujo dispositivo perturbava, em
a
bsoluto, o conceito do dote e os direitos dos cônjuges, quanto
220 CODIGO CIVIL

aos bens, uma vez preferido o regimen dotal. Felizmente, a lei


n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919, corrigiu esse defeito, suppri-
mindo esse enigmático dispositivo. Por essa razão, desappa-
recem, neste livro, as observações ns. 3 e 4, que se esforçavam por
dar um sentido ao paragrapho único do art. 287.

Art. 288 — Applica-se, no regimen dotal, aos


adquiridos, o disposto neste titulo, cap. III (ar-
tigos 269 a 275).

Direito anterior — Os autores dissentiam.


Legislação comparada — Divergente. Vejam-se os artigos
1.153 e 1.155 do Codigo Civil portuguez; 1.574 e seguintes do
francez; e 1.425 e seguintes do italiano.
Projectos — Este artigo é da Commissão revisora nomeada
pelo Governo {Actas, pag. 144) e tem, no Projecto revisto, o nu-
mero 361. Corresponde-lhe o art. 2.009 de Felicio dos Santos.
Os outros Projectos seguiram orientação differente.

Observação — Por adquiridos devem entender-se não so-


mente os rendimentos dos bens dos cônjuges, como, ainda, se-
gundo a especificação do art. 271: os que lhes advêm, na cons-
tância do casamento, por titulo oneroso ou gratuito; por facto
eventual; por seu trabalho ou industria.
E' de notar, porém: 1.°, que a communicação dos adquiridos
somente se verifica, se nada a respeito dispuzeram os cônjuges;
2.°, que a communicação dos fructos civis do trabalho da mulher
não prejudica o disposto no art. 246.
No Projecto revisto, este artigo tinha o valor de restringir a
separação, no regimen dotal, aos bens submettidos ao vinculo do
dote e aos trazidos para o casamento por cada cônjuge. No Codigo,
elle se tornou desnecessário, em face do art. 259.
Houve a preoccupação de não afastar a communhão dos
acquestos, senão quando os cônjuges expressamente o declarassem
no contracto antenupcial.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 221

SECÇÃO II

Dos direitos e obrigações do marido em relação


aos bens dotaes

Art. 289 — Na vigência da sociedade con-


jugai, é direito do marido:
I. Administrar os bens dotaes.
II. Perceber os seus fructos,
III. Usar das acções judiciaes, a que derem
logar.

Direito anterior — Era a pratica seguida.


Legislação comparada — D. 23, 3, frs. 1, 7, § 3.°, e 75; Cod.
4
> 10, 1. 2; 5, 12, 1. 11; Codigo Civil francez, art. 1.549; ita-
ttano, 1.399; hespanhol, 1.357; uruguayo, 2.033.
Projectos — Esboço, art. 1.352, 1.°; Felicio dos Santos, 2.005;
Coelho Rodrigues, 2.030; Beviláqua, 336; Revisto, 362.
Bibliographia — Direito da família, § 50; Lafayette, Direi-
tos de família, § 83; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Gi-
vil
' V, §§ 198 e segs.; Pontes de Miranda, Direito de família.
§ 98; Coelho da Rocha, Ist., § 27.2; Baudry-Lagantinerie, Le
Courtois et Sürville, Du contrat de mariage, I, ns. 240-244;
Planiol, Traité, III, ns. 1.503-1.521; Huc, Commentaire, IX, nu-
Qleros 432-434, 436-440 e 442; Laurent, Cours, III, ns. eiõ-eSI; Au-
Bry
et Rau, Cours, VIII, § 535; Zachariae, Droit civil français,
IV
Se
' § 668; Chironi, Ist., II, § 400; Gallupi, La dote, pags. 88 e
gs. da ed. de 1876; Windscheid, Pand., II, §§ 496 e 497.

Observações — 1. — O dote é propriedade da mulher, mas é


0
marido que o administra, para lhe applicar os rendimentos á
Ostentação dos encargos matrimoniaes, em subsidio á obrigação,
OOe lhe compete, de manter a familia. O direito romano faziao
Proprietário
es
do dote Constante matrimônio, dos in bonis mariti
C O direito moderno considera-o, de preferencia, usofructuario,
222 OODIGO CIVIL

ainda que os seus direitos variem de extensão, segundo as cláu-


sulas do pacto dotal e os preceitos expostos nos arts. 290 e se-
guintes do Codigo Civil.
2- A administração do marido comprehende a percepção
dos fructos, que elle faz seus, não tendo que prestar contas da
sua applicação. Por isso, elle não é obrigado a restituir senão o
que recebeu, como dote. Por outro lado, por isso mesmo que os
seus poderes de usofructuario são extensos, e que elle tem de
restituir o dote, os seus bens proprios ficam, legalmente, hypo-
thecados em garantia dessa restituição (art. 297).
Mas, se, por ventura, o marido não tiver bens proprios, por
serem todos communs, não é possível hypotheca. Haverá, apenas,
uma obrigação pessoal pela qual responde a sua meação. Sendo
esta garantia muito mais fallivel do que a primeira, é de bom
aviso que os nubentes se acautelem, em seus pactos antenupciaes,
não permittindo a cominunhão nos extra dotaes, para que,
ainda na falta de immoveis hypothecaveis, possa haver outra
garantia (art. 297).
3. -— Ao marido cabe usar das acções, que conduzam á segu-
rança dos seus direitos, como á conservação do dote, e dos meios
de defendel-o contra acções de terceiro. Ainda que a mulher seja
a proprietária, competem ao marido esses direitos e deveres, pela
sua posição de usofructuario do dote, a qual também lhe impõe
responsabilidade por sua negligencia.
A mulher fica' substituída, como proprietária onerada, pelo
usofructuario; mas, «e^o. date periga nas mãos do marido, ella tem
os meios de defesa do seu direito (art. 248, VI, 295 e 308).
4. — Casos ha em que a mulher concorre com o marido, para
a acção ou defesa do dote. Apontam os escriptores os de divisão,
quando o dote é constituído em prédio indiviso, os de desapro-
priação por utilidade publica e os de penhora recaindo sobre o
dote. Esses e outros casos foram considerados pelo Codigo, nos
arts. 293 e 299, onde serão examinados.

Art. 290 — Salvo cláusula expressa em con-


trario, presumir-se-á transferido ao marido o
dominio dos bens, sobre que recabir o dote, se
forem moveis, n não transferido, se forem im-
moveis.
DO KEGIMEN DOS BENS ENTKE 08 CÔNJUGES 223

Direito anterior — No silencio da lei, era essa a melhor lição


da doutrina.
Legislação comparada — Semelhante: Codigo Civil francez,
arts. 1.551 e 1,552; italiano, 1.401 e 1.402; portuguez, 1.148;
uruguayo, 2.036.
Differente; Codigo Civil peruano, arts. 1.000 e 1.001 (o ma-
rido somente faz suas as coisas fungíveis).
No direito romano, não era a estimação, que tinha, em regra,
o effeito de transferir a propriedade, fossem os bens moveis ou
immoveis, pois o marido era considerado proprietário dos bens
dotaes, ainda que sujeito a. íestituil-os. A estimação fixava o valor
dos bens, para a restituição; não havendo estimação, a mulher
soffria as deteriorações e lucrava os melhoramentos do dote
(D. 23, 3, fr. 10). As coisas fungíveis, quae pondere, numero
mensurave constant, eram entregues ao marido, a seus riscos e
perigos, para restituir outras ejusãem generis et qualitatis. V.
Girard, Droit romdin, 5.a ed , pag. 955.
Projectos — Esboço, art. 1.352, 3.ü e 7.° (differente quanto á
conseqüência da estimação dos moveis): Felicio dos Santos, 2.007
(permitte a alienação dos moveis ainda quando haja convenção
contrario); Coelho Rodrigues, 2.032 e 2.033; Beviláqua, 337
c 338; Revisto, 363.
Bibliographia — A do artigo anterior.
oTrihNAt. DO TRABALHO
CONSELHCUBJC.ONALJ
A, REGIÃO
Observações — 1. — Os bens moveis, ainda os não fungíveis,
destinam-se ao uso e á circulação, que os transforma, substitue
eu consome. Por isso, a lei considera que se lhes transfere o do-
mínio ao marido, salvo declaração em contrario no pacto ante-
mípcial. Dissolvido o matrimônio, não terá que restituir senão o
Preço da estimação.
Os immoveis, porém, por isso que têm estabilidade na vida
econômica, destinando-se a ser gozados nas utilidades, que pro-
duzem e não na sua substancia, estão sujeitos á regra inversa:
comente por clausuia expressa se transferem.
Os que se não transferem é que são, propriamente, os immo-
v
eis dotaes, collocados fóra do commercio pela inalienabilidade.
2- — No systema do Codigo Civil, não ha duas especies de
estimação taxationis causa e venditionis cansa, para fixar o va-
^or dos bens e para transferir o domínio Todo dote é, necessária-
224 CODIGO CIVIL

mente, estimado. A translação do domínio, quanto aos moveis, é


conseqüência da natureza dos bens; conseqüência-que a vontade
das partes pôde evitar. Em relação aos immoveis, é, ao contrario,
effeito do acto jurídico, da declaração da vontade. A estimação,
sempre obrigatória, nenhuma influencia exerce sobre o destino
dos bens.

Art. 291 — O immovel adquirido com a im-


portância do dote, quando este consistir em di-
nheiro, será considerado dotal.

Direito anterior — A lei silenciosa: differente a doutrina.


Legislação comparada — D. 23, 3, fr. 54; Res quae ex ãotali
pecunia comparatae sunt, ãotales esse viãetur. V. também frs. 25,
26 e 27 do mesmo titulo, que a lei 12 do Codigo, 5, 12 {ãe jure ão-
tium) parece contrariar. No mesmo sentido, o Codigo Civil boli-
viano, 894, pr., ainda que a fórmula offereça certa obscuridade.
Differente: Codigo Civil francez, art 1.553; italiano, 1.403.
Projectos — Esboço, art 1.352, 10; Felicio dos Santos,
2.008; Coelho Rodrigues, 2.034; Beviláqua, 339; Revisto, 364.
Todos esses Projectos estabeleciam regra contraria; salvo dispo-
sição expressa no contracto antenupcial, não se considera dotal
o immovel comprado com o dote constituído em dinheiro, nem o
recebido em pagamento delle. Foi o Senado que substituiu esse
preceito pelo que se encontra no Codigo.
Bibliographia — Cândido de Oliveiea, Manual, cit. V. § 203;
Huc, Gommentaire, IX, ns. 443-445; Baxjdby-Lacantinebie, LE
Coxjbtois et Subville, Du contrai de mariage, ns. 1.580-1.592,
Aubby et Rau, Cours, VIII, § 534, c.

Observações — 1. —O dinheiro é coisa movei e fungível.


Pela regra do art. 290, os bens dessa classe consideram-se trans-
feridos ao marido, quando outra coisa se não dispõe. Ora, com-
prando o marido um immovel com valores, de que lhe é trans-
ferido o domínio, dever-se-ia suppôr que esse immovel entrasse
na categoria dos bens, com que fôra adquirido, salvo clausula
DO BEGXMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 225

em contrario. Assim, porém, não quer o art. 291, quando o valor


consiste em dinheiro.
Não é que o dote em dinheiro se deva considerar inalienável,
como o immovel, que não é expressamente alienado ao marido.
Presume o art. 291 que o marido, que recebeu o dote em dinheiro,
o empregou na acquisição de um immovel, quiz melhor assegurar
a estabilidade do dote, f.ixando-o em um prédio, para delle retirar,
apenas, os fructos. Procedeu como se tivesse recebido o dinheiro,
com a condição de o empregar na acquisição de imraoveis.
2. — Dever-se-á concluir, desta regra, que o immovel recebido
em pagamento do dote, por ãatio in soluto, seja dotal, isto é,
inalienável? Não, porque, neste caso, não se pode presumir a
intenção de converter o capital dote em immovel. Aiinda que a
dação em pagamento se regule pelo contracto de compra e venda
(art. 996), todavia não partiu do credor do dote a deliberação de
adquirir o immovel, que o devedor lhe dá em solução da divida.
Prevalecerão, neste caso, as regras estabelecidas no art. 290.
Não se applicará o preceito do art. 291, porque, sendo excepcional,
não abrange senão o caso que especifica (art. 6 da Introducção).

Art. 292 — Quando o dote importar allieação,


o marido considerar-se-á proprietário, e poderá
dispor dos bens dotaes, correndo por conta sua
os riscos e vantagens, que lhes sobrevierem.
Direito anterior — Doutrina acceita, no silencio da lei.
Legislação comparada — O D. 23, 3, fr. 10, § 4.°, estatuía:
s
ecutis nuptiis, aestimatio rerum perficitur et fit vera venãitio.
Vejam-se os Codigos citados em referencia ao art. 290.
Projectos — Esboço, art. 1.352, 9.°; Coelho Rodrigues, 2.035;,
Beviláqua, 340; Revisto, 365.
Bibliographia — Direito da familia, § 50; e os autores cita-
dos na bibliographia do art. 290.

Observação — Quando, pelo contracto antenupcial, os bens


dote, são entregues ao marido, para que possa delles dis-
Pôr, livremente, ha uma perfeita alienação do dote, que entra,
bevilaqua — Codigo Civil — 2.° vol.
226 CODIGO CIVIL

desde o momento da celebração do consorcio, no patrimônio do


marido, a quem somente é imposta a obrigação de pagar-lhe o
preço, quando se dissolver a sociedade conjugai, ou fôr occasião
de o restituir. Achando-se o dote no patrimônio do marido, por
sua conta correm os riscos e as vantagens, isto é, as perdas e
deteriorações, como os accrescimos e melhoramentos são, exclu-
sivamente, delle. Não poderá allegar as primeiras, para pedir
abatimento no preço, nem a mulher (ou os seus herdeiros) terá
qualquer direito sobre os segundos.
A livre disposição do marido, porém, não vae ao ponto de
lhe ser permittido alienar, ou gravar os immoveis ou aceica
delles pleitear sem outorga da mulher. Qualquer que seja o re-
gimen dos bens, o marido está sujeito ás restricções estabelecidas
no art. 235,

293 — Os immoveis dotaes não podem,


sob pena de nullidade, ser onerados nem alie-
nados, salvo em hasta publica, e por autorização
do juiz competente, nos casos seguintes;
I. Se, de accôrdo, o marido e a mulher qui-
zerem dotar suas filhas communs.
II. Em caso de extrema necessidade, por
faltarem outros recursos para a subsistência da
familia.
III. No caso da primeira parte do § 2.°, do
art. 299.
IV. Para reparos indispensáveis á conserva-
ção de outro immovel ou immoveis dotaes.
Y. Quando se acharem indivisos com tercei-
ros, e a divisão fôr impossivel ou prejudicial.
YI. No caso de desapropriação por utilidade
publica.
YIL Quando estiverem situados em logar
distante do domicilio conjugai, e por isso, fôr
manifesta a conveniência de vendel-os.
DO EEG1MEN DOS BENS ENTRE 08 CÔNJUGES 227

Paragrapho único. Nos tres últimos casos, o


preço, será applicado em outros bens, nos quaes
ficará subrogado.

Direito anterior — A matéria deste artigo era insufficiente-


^ente regulada. A doutrina procurava preencher as deficiências
^as disposições incompletas e dispersas, que havia. Veja-se Car-
los de Carvalho, Direito civil, art. 1.529.
Legislação comparada — Vejam-se Inst., 2, 8, pr., in fine,
hue diz prohibidas a alienação e o gravame do dote (interãicta
sit
alienatio vel oUigatio) •, D. 23, 3, fr. 73; § 1.°: Manente matri-
mônio, non perditurae uxori, oh Tias causas dos reddi potest, ut
s
ese suosgue alat, ut fundum iãoneum curat ut in exilium, ut
insulam relegato parenti praestet alimonia, aut ut egentem
v
i'rum, fratrem sororemve sustineat; o fr. 85 do mesmo titulo:
0 fr
- 20 do livro 24, tit. 3; e Cod. 5, 23, 1. 2 (quanto á divisão
prédio commum).
Codigo Civil francez, arts. 1.554 -1.559, e lei de 19 de Março
1919, que abriu mais uma excepção á inalienabilidade, em fa-
Vor
de obras de assistência, beneficência, e desenvolvimento da
natalidade,
a
quando a mulher tiver mais de quarenta e cinco
nos, e os cônjuges não tiverem descendentes; italiano, 1.404
6
1-407 (este Codigo não indica os casos de necessidade e utili-
dade evidente, em que é possivel a alienação do dote, por accordo
dos cônjuges seguido de autorização judicial); portuguez, 1.149;
Espanhol, 1.359; uruguayo, 2.037; boliviano, 985; peruano,
1-008 (contenta-se este Codigo com o simples consentimento da
Mulher para alheação do dote pelo marido). Ainda que o pensa-
n^Oüto da inalienabilidade se encontre em todas essas disposições,
Uell
as recebeu formas diversas.

ÍOn
Projectos — Eshoço, art. 1.367-1.371 (foi este Projecto a
te do artigo); a Commissão revisora tirou-o do art. 1.368 do
®st>oço, supprimindo o n. 2.°, que se refere á alienação permittida
110
Pacto dotal e, modificando, ligeiramente, a redacção (Actas
2 03
115); Felicio dos Santos, 2.010-2.012; Coelho Rodrigues,
- 6, 2.037 e 2.039; Beviláqua, 341-343; Revisto, 366. O Pro-
■,ecío Primitivo não particularizava os casos de necessidade ur-
êente e evidente utilidade do casal.
Dibliographia — Direito da família, § 50; Lafatette, Direi-
tos
üo família, § 83; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Ci-
225 CODIGO CIVIL

vil, V, §§ 205 a 207; S. Vampré, Manual, I, § 148; Almachio


Diniz, Direito ãa familia, § 33; Coelho da Rocha, Inst., §§ 273,
274 e nota 0; Planiol, Traité, III, ns. 1.522-1.548; Baudky-La-
cantinebie, Le Courtois et SuRViLLE, Du contrat ãe mariage, III,
ns. 1.698-1.736; Huc, Commentaire, IX, ns. 443-484; Laurent.
Gours, III, ns. 655-660; Zachabiae, Droit civil français, IV,
§§ 670 e 671; Raoul de la Grasserie, IndisponiMlité, paginas
104-108; Aiibry et Rau, Gours, VIII, §§ 537 e 538; Chironi, Ist.,
§ 399; Dias Ferreira, Goãigo Civil portuguez, notas ao art. 1.149;
Luigi Abello, vb. Dote, § 3.°, no Dizzionario de Scialoja e Bü-
satti; Windscheid, Panei., II, § 497; Cuq, Institutions, II, pa-
ginas 105-108; Liz Teixeira, Curso, I, tit. IX, § 14; Ferreira
Coelho, Goãigo Civil, XXII, p. 116 e segs.; Martinho Garcez
Filho, Direito ãe familia, I, p. 433 e segs.; Oliveira Castro,
Regimens matrimoniaes, ns. 34 e segs.

Observações — 1. — A inalienabiliãaãe ê o principal privi-


legio do dote. Mas esse caracter cabe somente aos immoveis,
quando não se estipula alienação ao marido. Esses ê que são,
propriamente, os immoveis dotaes, que a lei torna inalienáveis-
A inalienabilidade das apólices comprehendidas no dote dá-
lhes o caracter de immoveis (art. 44, II).
Estabelecida pelo direito romano, ao tempo de Augusto, a
inalienabilidade aperfeiçoou-se com as reformas de Justiniano,
que disso se gaba nas Institutas. Os Codigos modernos acceita-
ram esse caracter dos bens dotaes, como assecuratorio dos fins,
a que elles se destinam. Pela mesma razão não podem ser one-
rados.
Da inalienabilidade dos immoveis dotaes, decorrem as con-
seqüências seguintes: l.a Durante o casamento, estão fora do
commercio; 2.a Não estão sujeitos á usucapião; 3.a Nem á pe-
nhora, salvo por dividas da mulher anteriores ao casamento, na
falta dos outros bens (art. 299 § 2.°); 4.a Nem á hypotheca ou
qualquer outro ônus real.
Como a inalienabilidade se extingue com a sociedade con-
jugai, não impede que a mulher disponha dos immoveis dotaes
por testamento.
Se o immovel dotal é parte de um prédio indiviso, a mulher
pôde propor a acção de divisão ou ser chamada pelos condomi-
DO REGIMEK DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 229
no
s a effectual-a. Neste caso, não lia quebra da regra da inalie-
nabilidade, porque a divisão é simplesmente declaratoria, isto é,
declara qual a porção real, que cabe a cada consorte, que, antes
delia, tinha, apenas uma parte ideal.
2. —• Admitte a lei algumas excepções ao principio da inalie-
nabilidade. Limita-as, porém, aos casos de urgente necessidade
011
de manifesta conveniência, que especifica, e cerca-as de for-
hialidades garantidoras dos interesses da familia: a autorização
do juiz competente, que será o do domicilio conjugai; e hasta
Publica.
A autorização do juiz comprehende-se que é indispensável,
sempre que a alienação fôr solicitada pela mulher autorizada
Pelo marido, de commum accordo. Quando ella fôr imposta aos
eoujuges, por força da lei, como no caso de desapropriação ou
de execução por divida da mulher, anterior ao casamento, o
Juiz nada terá que autorizar.
Da mesma fôrma, não ha que exigir hasta publica nestes
c
asos. Os processos seguem o seu curso normal.
3. — Um dos casos, em que é possível a alienação do immovel
dotal (art. 293, III), é o da execução por dividas da mulher,
unteriores ao casamento. O direito anterior, fundado no romano,
a
dmittia a alienação do dote por divida do dotador, anterior á
oonstituição do dote, quando não tivesse elle outros bens com
satisfazer o credor. Referindo-se o Codigo, neste artigo, só-
P^eute a dividas da mulher, não pretendeu, estabelecer regra
differente.
Se o dotador, seja a mulher ou terceiro, se tornar insolvente
Pela constituição do dote, ha fraude contra os credores, e estes
Podem usar da acçâo pauliana (arts. 106 e 109). Se as dividas
unteriores são da mulher, responde o dote por ellas, ainda quando
Co
nstituido por terceiro. Este ultimo preceito é que não era con-
slgnado pelos civilistas pátrios. Realmente, o dote constituído
Por terceiro entra para o patrimônio da mulher, com o encargo
prover ás necessidades da familia, o que lhe imprime o ca-
racter de inalienabilidade, e os credores delia, segundo os prin-
c
lpios geraes do direito, não poderiam destruir esse caracter do
^ate para se fazerem pagar. Mas o Codigo derogou esta regra, e
Parmittiu que, na falta de outros bens, respondesse o dote pelas
dividas da mulher, anteriores ao casamento.
4. — Quando o immovel dotal é alienado para pôr termo á
^divisão, em que se ache com outros, por effeito de desapro-
230 COD1GO CIVIL
priação por utilidade ou necessidade publica, ou por se achar
em logar distante do domicilio conjugai, prescreve o paragrapho
único do art. 293 que o preço seja applicado em outros bens.
Deve entender-se em outros bens immoveis ou títulos da divida
publica. Emquanto, porém, não se opera essa applicação, o nexo
dotal, com o seu caracter de inalienabilidade, recáe sobre o preço,
do qual não pôde o marido distrahir senão a quantia necessária
para effectuar a acquisição do novo immovel.
Da mesma fôrma, o excesso do preço na permuta, o resto da
quantia produzida pela venda, para attender á necessidade ex-
trema, depois de attendida a necessidade, são bens inalienáveis,
que, sendo possível, se devem converter em bens de raiz.
O juiz velará para que não seja, nesses casos, fraudada a
inalienabilidade dotal.
5. — A mulher commerciante pôde obrigar, hypothecar, e
alhear, validamente, os bens dotaes, diz o Codigo Commercial,
art. 27, se antes do casamento já exercia o commercio accrescen-
tava o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, art. 60. Continuará
em vigor esta derogação da inalienabilidade dos immoveis do-
taes? Penso que não. O dote, como os diversos regimens matrl-
moniaes de bens, é instituto do direito civil. O Codigo Com-
mercial contrariou-lhe a natureza, em attenção ao commercio;
mas o Codigo Civil, não fazendo allusão alguma a essa excepção,
nem á modificação do Dec. de 24 de Janeiro de 1890, implicita-
mente a revogou.- O que se pôde affirmar é que os bens dotaes da
mulher commerciante respondem pelas dividas anteriores ao ca-
samento. Mas que isso não é privilegio da commerciante, vê-se
do art. 299, § 2.°, que estabelece essa responsabilidade como regra
geral.
No dominio da lei anterior, J. X. Carvalho de Mendonça
achava que assim se deveria tér constituído o direito {Tratado
de direito commercial, II, n. 92).
6. — Conseqüência interessante da inalienabilidade dos im-
moveis dotaes é que elles não podem ser penhorados, ainda de-
pois de ter cessado a dotalidade, com a dissolução da sociedade
conjugai, por dividas da mulher contrahidas durante o casa-
mento, quando esses bens eram inalienáveis. A razão dessa regra
é que a inalienabilidade do dote foi instituída em beneficio da
mulher e da família; se as dividas contrahidas durante a per-
manência do regimen dotal pudessem ser executadas contra os
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE 08 CÔNJUGES 231

immoveis dotaes, depois do desquite ou da morte de um dos côn-


juges, a inalienabilidade seria, apenas, um adiamento da alie-
nação e a finalidade protectora seria falha e illusoria, e desappa-
feceria a prohibição de alienar.
Sem duvida, com a dissolução da sociedade conjugai, os bens
dotaes voltam ao commercio e se tornam livres; mas a razão
jurídica exige que somente respondam por obrigações contrahi-
das depois de extincto o vinculo da dotalidade; salvo se a mu-
lher, espontaneamente, renunciar esse beneficio, o que ella pôde
fazer, quando viuva ou desquitada, porque, a esse tempo, ella
tem a livre disposição dos bens, e pôde applical-os á solução de
huaesquer dividas, sem que a esse acto de disposição se opponha
razão de ordem publica.
Não é somente á mulher que favorece a impenhorabilidade
dos bens livres do vinculo dotal, por dividas contrahidas ao tempo
da dotalização. O favor estende-se aos seus herdeiros.
Vejam-se a respeito deste assumpto: nota 32 de Massé e Vebgé
a Zachariae, Droit civil français, vol. IV; Planiol, Traité. TIT,
1.590 a 1.595; Aubry et Rau, Cours, VIII, § 538, 2.°.
Esta solução se confirma com o disposto no art. 299, § 2.°, in
t^ne, do nosso Codigo Civil: "As (dividas) contrahidas depois
do casamento só poderão ser pagas pelos bens extra-dotaes".
Se somente os bens extra-dotaes respondem pela divida da mu-
Iher, contrahida na constância do casamento, os dotaes devem
estar livres desse encargo no momento da dissolução da socie-
dade conjugai; e, como, a esse tempo, volvem livres para o pa-
trimônio da mulher, a isenção os ha de acompanhar nesse novo
estado, sob pena de, se assim não fosse, remontar a responsabi
Üdade á época do casamento, o que não permitte a lei.

Art. 294 — Ficará, subsidiariamente, res-


ponsável o juiz, que conceder a alienação fóra
dos casos e sem as formalidades do artigo ante-
cedente, ou não providenciar na subrogação do
Preço, em conformidade com o paragrapbo único
do mesmo artigo.
232 CODIGO CIVIL

Direito anterior — A lei era lacunosa, neste ponto.


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.038; Beviláqua, 344;
Revisto, 367.

Observação — A alienação não autorizada será annullada


segundo prescreve o art. 295. Mas, se o juiz der autorização fora
dos casos do art. 294, e permittir que a alienação se opere sem
a formalidade da hasta publica, ficará, subsidiariamente, respon-
sável. A responsabilidade directa é do marido, pois a elle foi
entregue o dote, com o vinculo da inalienabilidade e, muito em-
bora o requerimento para a alienação seja da mulher, como pro-
prietária do dote, esse acto não pôde proseguir, sem a interfe-
rência delle, que é o chefe da sociedade conjugai, além de que
se deve prever o caso, em que o marido aliene o dote, como se
fora coisa sua, ou simulando accordo da mulher.
Sendo subsidiaria a responsabilidade do juiz, e não solidaria
como propuzera o Projecto primitivo, somente no Caso de não ter
o marido com que indemnizar os prejuízos causados á mulher
ou a terceiros, terá o juiz de responder por elles.

Art. 295 — A imllidade da alienação pôde


ser promovida:
I. Pela miülier.
II. Pelos seus herdeiros.
Paragrapho único. A reivindicação dos mo-
veis, porém, só será permittida, se o marido não
tiver bens, com que responda pelo seu valor, on
se a alienação pelo marido e as subsequentes en-
tre terceiros tiverem sido feitas por titulo gra-
tuito ou de má fé.
Direito anterior — O principio do artigo corresponde á dou-
trina assente. A regra estabelecida no paragrapho único foi to-
mada ao Codigo Civil portuguez.
Legislação comparada — Cod. 5, 12, 1. 30, combinada cora
o fr. 13, § 3.°, D. 23, 5; Codigo Civil portuguez, art 1.150; fran-
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 233
c a
ez, 1.560; italiano, 1.407, 2.a e 3. partes; uruguayo, 2.038; pe-
r
uano, 1.009-1.013.
Projectos — Esboço, art. 1.352, 4.0-6.0; Felicio dos Santos,
2
-0l6; Coelho Rodrigues, 2.040; Beviláqua, 345 e 345 ■, Revisto,
368. E' deste Projecto o paragrapho único, pedido ao Codigo Civil
Portuguez.
Bibliographia — Direito da familia, § 51; Lafayette, Direi-
ío
s de familia, § 84; Correia Telles, Doutrina das acções, ed.
Teixeira de Freitas, §§ 40-43; Coelho da Rocha, Inst., § 273;
Planiol, Traité, III, ns. 1.529-1.537; Huc, Gommentaire, IX,
n
- 449; Laurent, Gours, III, n. 656; Zachariae, Droit civil fran-
Çais, IV^ § 670; Chironi, Ist., II, § 399; Baudrt-Lacantinerie, Le
Courtois et Surville, Du contrai de mariage, III, 1.793-1.801;
Aübry et Rau, Cours, VIII, § 537, 2.°.

Observações — 1. — A sancção da inalienabilidade dotal está


Pa acção conferida á mulher para annullar a alienação ou o gra-
v
anie do seu dote, realizada fora dos casos, que a lei permitte.
brante o casamento, somente á mulher (e não ao marido como
Po direito anterior, e em outros systemas jurídicos) compete esta
ac
Ção, e, para propôl-a independe de autorização marital. Dissol-
Vl
^a a sociedade conjugai, não sendo por morte da mulher, ainda
a e
Pa, exclusivamente, é attribuido o direito de annullar a alie-
Pagão dos immoveis dotaes. Com o fallecimento da mulher, passa
pps herdeiros o direito de promover a annullação dos actos pre
JPáiciaes á inalienabilidade do dote.
Esta acção prescreve em quatro annos, contados da dissolu-
ção da sociedade conjugai (art. 178, § 9.°, III).
2
- — A mulher não pode ratificar a alienação do immovel
ãotal ou o gravame que lhe tenha sido imposto, depois de dissol-
Vl
ãa a sociedade conjugai, porque ella não pôde consentir nesses
ac
tos, nem por si os poderá praticar. A inalienabilidade dotal é
ordem publica. Somente admitte as excepções que a própria
ostabelece.
Os credores da mulher não podem annullar as alienações e
Sra
vames do dote, salvo os que o eram por dividas anteriores ao
Ca
samento, porque por essas dividas responde o dote. Embora
ae
trate de nullidade, o Codigo restringiu o direito de promovel-a
tnulher e aos seus herdeiros. Esta restricçâo não prejudica o
234 CODIGO CIVIL

direito do juiz de pronunciar a nullidade nos termos do art. 146,


paragrapho único, emquanto não se esgotar o prazo do art. 178,
§ 9.° III.
3. — O paragrapho único diz que a reivindicação dos moveis
só será permittida. se o marido não tiver bens com que responda,
por seu valor, ou a alienação tiver sido feita a titulo gratuito ou
de má fé. Os moveis presumem-se transferidos ao marido; mas
o pacto dotal poderá dispor diversamente. E' neste caso, de se
tornarem os moveis inalienáveis por declaração expressa da
escriptura dotal, que é possivel a sua reivindicação. Nos outros
casos, a mulher e os seus herdeiros têm, simplesmente, o direito
de exigir, no momento opportuno, a restituição do preço.
Mas, ainda quando entregues ao marido, para que os não
aliene, os moveis somente poderão ser reivindicados do poder
dos adquirentes, se se verificarem as condições da lei; l.a Se o
marido se achar insolvente; se não tiver bens com que responda
pelo valor delles, declara o Codigo; 2.» Se o adquirente recebeu
os moveis a titulo gratuito, ou sabendo que eram dotaes. A má fé
do marido é sempre certa, porque elle aliena aquillo que, por
contracto, se comprometteu a conservar. A do adquirente deve
ser provada. B, se os adquirentes successivos estiverem todos de
má fé, contra todos elles precede a reivindicação.
Se a mulher não usar desta acção, passará aos seus herdei- |
ros, como já ficou dito em relação aos immoveis dotaes.

Art. 296 — O marido fica obrigado, por per-


das e damnos, aos terceiros prejudicados com a
nullidade, se no contracto de alienação (arts. 293
e 294), não se declarar a natureza dotal dos im-
moveis .
Direito anterior — Nenhuma disposição a respeito.
Legislação comparada — Codjgo Civil portuguez, art. 1.151»
que foi a fonte do Codigo, neste dispositivo. O Codigo Civil fran-
cez, art. 1,560, 2.a parte, obriga o marido pelos prejuízos do
adquirente, quando elle não declara a natureza dotal do immo-
vel, e, depois, promove a annullação da venda. O italiano, 1.407,
1)0 REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 235
2-a parte, responsabiliza também o marido, que consentiu na alie-
nação, seja a annullação proposta por elle ou pela mulher.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.040; Beviláqua, 347;
Revisto, 369.
Bibliographia — Direito da família, § 51; Lafayettid. Direi-
tos de família, § 84; Planiol, Traité, III, n. 1.53'6; Huc, Com-
mentaire, IX, ns. 487 e 488; Zachariae, Droit civil français,
§ 670; Baudry-Lacantinerie, Le Courtois et Surville, Du Gon-
tfat de mariage, III, ns. 1.813-1.818; Aubry et Rau, YIII,
§ 537, 2.°.

Observação — O terceiro, que adquiriu o immovel dotal,


0u
qualquer ônus real sobre elle, não pode oppôr excepção alguma
contra acção de nullidade e reivindicação da mulher, nem tão
Pouco o direito de retenção por bemfeitorias. Tal é a conse-
Quencia da inalienabilidade legal, que colloca fora do commercio
0
immovel vinculado pelo dote. Mas, annullada a alienação ou o
ônus real, volvem as coisas ao estado anterior e o marido resti-
tue o preço, que recebeu. Não responderá por perdas e damnos,
Porém, se do contracto de alienação constar a natureza dotal do
immovel; porque, neste caso, o terceiro estará de má fé, terá
feito negocio com um bem, que elle sabia fóra do commercio, e,
Se
desse acto illicito lhe resultar damno, a si mesmo deve imputar
es
sa má conseqüência do seu procedimento irregular.
A jurisprudência franceza admitte que a mulher, possuindo
kcüs paraphernaes, responda por perdas e damnos ao terceiro
evi
cto, se se obrigou por clausula especial a garantir a firmeza
alienação. No systema do Codigo Civil brasileiro, a responsa-
bilidade por perdas e damnos é somente do marido, porque a elle
foi confiado o immovel dotal, com a clausula da inalienabilidade;
6
a garantia que a mulher dê de respeitar a alienação é absolu-
tamente nulla, por illicita (art. 145, II).

Art. 297 — Se o marido não tiver immoveis,


9fie se possam hypothecar em garantia do dote,
poder-se-á, no contracto antenupcial, estipular
ífança, ou outra caução
236 CODIGO CIVIL

Direito anterior — Havia hypotheca legal da mulher sobie


os immoveis do marido, para garantia do dote (Dec. 169 A, de
1890, art. 3.°, § 1.°). Não fazia a lei referencia a outra cauçao.
Legislação comparada - Por direito romano, o marido não
era obrigado a dar caução pelo dote, sendo abolidos os costumes
ou exigências legaes anteriores, que prescrevessem o contrano
(Cod. 5, 20, ls. 1 e 2). O Codigo Civil francez, art. 1.550, deixa
aos cônjuges a liberdade de pactuar ou não a garantia do dote,
além da hypotheca legal (art. 2.121). No mesmo sentido dispõem
o uruguayo, 2.034; o italiano, 1.400, primeira parte, e 1.969,
portuguez, 1.139 e 906; hespanhol, 1.358.
Veja-se, ainda, o peruano, art. 1.002. O mexicano antigo,
2 145 c 2 146 que accresccntava: se o marido nao possuir im-
moveis ao casar-se, recahirá a hypotheca sobre os que vier a
adquirir.
Projectos - Esboço, art. 1.352, ns. 11-16 (doutrina dltte-
rente);'Fclicio dos Santos, 2.006; Coelho Roãrignes, 2.043; Be-
vilaqua, ZiS] Revisto, 370.

Observação — No art. 287, 1.°, declara o Codigo Civil que


estão submettidos a hypotheca, em garantia do dote, todos os
immoveis do marido. Prevê o art. 297 a hypothese, em que nao
tenha o marido bens de raiz, e permitte que, em substituição
daquella garantia, se possam estabelecer outras no contracto
antenupcial.
Nada mais justo do que a exigência de garantias da pai te
de quem vae ficar dono temporário dos bens, se estes lhe forem
entregues venãitionis causa, ou pelo menos, vae usofruil-os du-
rante o casamento. A mais segura garantia é, certamente a hypo-
theca; porém, na falta de immoveis sobre que recaia, faculta ou,
antes,' suggere o Codigo, aos interessados, que estipulem a fiança
ou outra caução possivel. Se, por exemplo, o marido possuir títu-
los da divida publica, poderão estes-ser caucionados. Se nada
tiver, poderá encontrar quem o afiance. Essas cautelas subsidiá-
rias, porém, foram deixadas ao critério dos cônjuges e de seus
representantes legaes, e não deixam de ser difficeis de pactuar,
por não melindrar o noivo, parecendo que desconfiam de .
A hypotheca legal, porque a lei a estabelece, não suscita esse
desagradável movimento d alma.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 237

Art. 298 — O direito aos immoveis dotaes


não prescreve, durante o matrimônio. Mas pre-
screve, . sob a responsabilidade do marido, o di-
reito aos moveis dotaes .

Direito anterior — A lei era lacunosa, neste ponto.


Legislação comparada — Vejam-se: D. 23, 5, fr. 16; Cod. 5,
12, 1. 30; Codigo Civil francez, arts. 1.561 e 1.562; portuguez,
1.152, que foi a fonte do artigo: peruano, 1.027 e 1.028.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 2.017 (admitte a pre-
scripção dos bens dotaes, ainda quando inalienáveis, salvo á mu-
'her o direito de responsabilizar o marido); Revisto, 371, que se
inspirou no Codigo Civil portuguez (Actas, pag. 168). O Projecto
Primitivo não continha disposição semelhante, porque os immo-
Ve
is inalienáveis, por isso mesmo que se acham fora do commer-
cl
o, não estão sujeitos á prescripção. Expondo os princípios ge-
r
aes da prescripção já haviam sido resalvados os bens dotaes.
Bibliographia — Cândido de Oliveira, Manual do Goãiçfo Ci-
§ 212; Pontes de Miranda, Direito da família, § 101; Bau-
d
ri
Ry-Lacantinebie, Le Courtois et Sürville, Du Contrai de ma-
^9e, m, ns. 1.787-1.791; Aubry et Rav, Cours, VIII, § 537, 3.°.

Observações — 1. — A situação, a que attende este artigo, é


a
áo dote entregue ao marido taxationis causa, sem alienação.
os bens são dados em propriedade rèsoluvel ao marido, para
Qlue os restitua soluto matrimônio, nenhum privilegio têm, e se'
acham, como quaesquer outros, sujeitos á acção dissolvente do
tempo e da negligencia.
Constituído o dote em bens de raiz, com a clausula da inalie-
^lõlidade, expressa ou tacita, collocando-os fora do commercio,
ne
nhum direito sobre elles podem adquirir terceiros. E' esta umã
conseqüência forçosa da inalienabilidade. Somente por excesso
( e ca
^ ntela, declara o Codigo, neste artigo, que o direito dos immo-
Veis
dotaes não está sujeito á prescripção, isto é, terceiros não os
Podem usucapir. O marido não podia pretender adquiril-os, pois
•luo os possue a titulo de usofructuario, além de que entre con-
iuges não corre a prescripção (art. 168).
238 CODIGO CIVIL

2 _ o direito romano (D. 23, 5, fr. 16), seguido por algumas


legislações modernas, permittia o usucapião dos bens dotaes se
o inicio da posse antecedesse o casamento. Não seguiu o Codigo
Civil brasileiro essa corrente, porque a constituição do dote, com
as formalidades exigidas da descripção e estimação, interrom-
peria a formação do direito do possuidor, se razoes superiores,
fundadas no interesse da familia, não desabonassem a doutrina
romana
3 __ Os moveis inalienáveis também estão fóra do commei-
cio. Mas a situação delles não é tão nitida quanto a dos bens de
raiz. Não é difficil a confusão entre elles e os do marido. Tercei-
ros de bôa fé podem adquirir direitos sobre elles. Por isso mesmo
a inalienabilidade não é absoluta no systema do Codigo. O ar-
tigo 295, paragrapho único, respeita as alienações a titulo one-
roso, quando o marido tem com que indemnizar a mulher. E o
art, 298 tolera que os adquira, por usucapião, quem, de bôa fe, os
possua, como seus, por três annos (art. 618).

Art. 299 — Quanto ás dividas passivas, ob-


servar-se-á o seguinte:
§ 1.° As do marido, contrahidas antes ou de-
pois do casamento, não serão pagas senão por
seus bens particulares.
§ 2.° As da mulher,- anteriores ao casamento,
serão pagas pelos-«eeus bens extradotaes, ou, em
falta destes, pelos fructos dos bens dotaes, pelos
moveis dotaes, e, em ultimo caso, pelos immoveis
dotaes. As contrahidas depois do casamento so
poderão ser pagas pelos bens extra-dotaes.
§ 3.10 As contrahidas pelo marido e pela mu-
lher, conjunctamente, poderão ser^ pagas ou
pelos bens communs, ou pelos particulares do
marido ou pelos extradotaes.
Direito anterior — Nenhuma disposição.
•f
Tjegislação comparada — Veja-se o art. 293.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 239

Projectos — Esboço, arts. 1.361 e 1.374; Felicio dos Santos,


2 019. O artigo do Codigo foi extrahido do Esboço, art. 1.361,
Pela Commissão revisora do governo (Actas, pag. 118).
Bibliographia — Lafayhtte, Direitos de família, § 86; Mar-
tinho Garcez, Direito da família, § 123; Planiou, Traité, III,
ns
- 1.585-1.613; Huc, Commentaire, IX, ns. 473-480; Laurent,
Vours, m, ns 6g2 e 663; Zachariae, Dfoit civil français, IV,
§ 071; Baudry-Laoantinerie, Le Courtois et Surville, Du contrai
ãe
mariage, III, ns. 1.671-1.697. Veja-se a bibliographia do ar-
tigo 293.

Observações — 1. — Este artigo suppõe que o regimen dotal


toi estabelecido com separação de bens, de modo a haver: bens
Particulares do marido, extra-dotaes ou particulares da mulher,
^otaes, e communs, que serão os adquiridos. Tal é, realmente, o
re
gimen dotal, segundo a construcção que lhe deu o Codigo Civil,
conservando as linhas fundamentaes do direito romano, mas
a
ffeiçoando-o, quanto aos adquiridos, á sua preferencia pela com-
m
unhão de bens.
2. ■— Dada a separação, as dividas do marido serão pagas
Por seus bens particulares. Por dividas do marido entendem-se,
Paturalmente, as que elle contráe em seu nome, para os seus ne-
g0c
ios particulares. Para as contrahidas com a sustentação da
tamiiia, juntamente com os particulares, contribuem os rendi-
me
ntos dotaes, pois que essa é a sua applicação.
A situação que o Codigo prevê, neste artigo, é a de uma
execução por dividas: e aponta os bens que os credores do ma-
ri( 0
t podem penhorar.
3. — Na execução por dividas da mulher, os credores desta
cPedecerão á ordem estabelecida no § 2.°, que suppõe, além da
separação, o dote não alienado ao marido. Os bens dotaes respon-
vi somente pelas dividas anteriores. Como já ficou dito (ar-
g0
293, comm. 3), comprehendese bem que os credores, usando
a
s
cção pauliana, annullem o dote constituido em fraude aos
eus direitos, seja dotante a própria mulher ou terceiro. Mas au-
tor z
^ ar os credores da mulher, por dividas anteriores ao casa-
^Pcnto, a penhorar os immoveis inalienáveis do dote, importa na
ro
gaçâo de principies, sem vantagens reaes, antes em detri-
jPento dos interesses da família, que repousam na inalienabi-
a(
ie dos bens de raiz dotalizados.
240 CODIGO CIVIL

Teixeira de Freitas, no Esboço, de onde foi tirado este ar-


tigo, depois de ter, no art. 1.361, dado aos credores a faculdade
de se fazerem pagar pelos immoveis dotaes, limita-a, no art, 1.374,
aos que já se achavam1 hypothecados. Sendo a hypotheca um ônus
real, constituído antes do dote, não pôde ser extincta por este.
Essa doutrina é verdadeira, esse dispositivo é justo. O mesmo
se não poderá dizer do art. 299, § 2.°, do Codigo.
Idéas muito seguras sobre esta matéria foram condensadas
na nota 2 do § 671, de Zachakiae, Droit civil français, traduzido
e annotado por Massé e Yergé.
4. — As dividas contrahidas, conjuntamente, pelos dois côn-
juges são de ambos, por isso os credores têm o direito de se fa-
zerem pagar pelos bens de ambos os cônjuges, ou de cada um
delles, os communs, os particulares do marido e os extra-dotaes
da mulher, escolhendo-os segundo melhor lhes parecer. Essas di-
vidas não attingem aos immoveis dotaes.

SECÇÃO III

Da restituição do dote

Art. 300 — O dote deve ser restituido pelo


marido á mulher, ou aos seus herdeiros, dentro
no mez, que se seguir á dissolução da sociedade
conjugai, se não o puder ser immediataiueute
(art. 178, § 9.°, n. I, c, e n. II).

Direito anterior — Matéria não regulada por lei. Veja sâ


Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.536. A lição dos civi-
listas suppna as deficiências do direito escripto.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.564;
italiano, 1.409; hespanhol, 1.365-1.370; portuguez, 1.156-1.158:
uruguayo, 2.043 e 2.050; boliviano, 988; peruano, 1.108 e 1.02.1-
Não guardam uniformidade essas disposições, quanto ao temP0
da restituição.
Projectos — Esboço, art. 1.352, ns. 19 e 20; Felicio dos Sai1'
tos, 2.020 e 2.022; Coelho Rodrigues, 2.044; Beviláqua, 349; Re-
visto, 373.
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 241

Bibliographla — Direito da familia, §§ 53 e 54; Lafayette,


Direitos de familia, §§ 87-90; Cândido de Oliveira, Manual do- Go-
digo Civil, Y, § 214; Pontes de Miranda, Direito de familia,
104 e 105; S. Vampré, Manual, §§ 151 e segs.; Almaohio Diniz,
Direito da familia, § 202; Coelho da Rooha, Inst., §§ 276-278;
Planiol, Traité, III, 1.652-1.655; Huc, Commentaire, IX, núme-
ros 493-501; Baudry-Lacantinerie, Le Courtois et Subville, Du
contrai de mariage, III, ns. 1.876-1.884; Laurent, .Cours, III,
n- 670; Aubry et TLau, Cours, VIII, § 540; Zachariae, §§ 672 e
273; Sanchez R/.. vian, Derecho civil V, primeira parte, paginas
766-770; Gallop-, La dote, pags. 271 e segs.; Chironi, Ist. II,
§ 401; Luigi Abello, vb. Dote, § 2.°, no Dizzionario fie Soxaloja
o Bugatti; Liz Teixeira, Curso, I, tit. IX, § 22; Dias Ferreira,
Codigo Civil portuguez, notas aos arts. 1.156 e 1.158; Roth,
System, II, § 99; Wxndscheid, Pand., II, §§ 499, 500 e 502; Dern-
burg, Diritto ãi famiglia, §§ 20 e segs; Ferreira Coelho, Codigo
Civil, XXIII, p. 29 e segs.; Oliveira Castro, Regimens matri-
woniaes, p. 460 e segs; Martinho Garcez Filho, Direito de fa-
milia, p. 449 e segs.

Observações — 1. — Dissolvida a sociedade conjugai, por


Biorte ou desquite, annullado o casamento, declarada a successão
Provisória de algum dos cônjuges por ausência, tem o marido a
obrigação de restituir o dote.
No systema do Codigo, não persiste a regra do Dec. n. 181,
1890, art. 91, que mandava conservar o dote, não obstante o
divorcio, quando havia filhos communs.
A obrigação de restituir é do marido, a quem foi o dote en-
tregue, e transmitte-se aos seus herdeiros. Não se exime o marido
desta obrigação, allegando já ter entregue o dote, antecipada-
Brente, salvo no caso de separação judicial, nos termos dos ar-
tigos 308 e 309.
2. -— Compete á mulher e aos seus herdeiros exigir a resti-
tuição do dote, extinguindo-se a sua acção quatro annos depois
de dissolvida a sociedade conjugai, ou do fallecimento da mulher
(art. I78j g ^ j) ietra c II). Todavia, se outra coisa se estipulou,
duanto a entrega dos bens dotaes, observar-se-á o que constar da
convenção. Assim, se se estabeleceu que o dote reverteria ao do-
tador (art. 283), ou que o marido lucraria o dote, se lhe mor-
Bevilaqua — Codigo Civil — 2.0 vol. 16
242 CODIGO CIVIL

resse a mulher sem deixar filhos, não haverá, no primeiro caso,


restituição á mulher ou aos seus herdeiros, e, no segundo, nada
haverá que restituir.
3. — Para garantir a restituição do dote, foi instituida a
hypotheca legal da mulher sobre os immoveis do marido í ar-
tigo 827, I), que deve ser especializada e inscripta, para valer
contra terceiros (art. 828). Incumbe ao marido e ao pae da nu-
bente requerer a especialização e a inscripção dessa hypotheca.
Não cumprindo qualquer delles essa obrigação, podem requerel-as
o dotador, a mulher, e qualquer dos seus parentes em grau suc-
cessivel.
4. — O modo e o tempo da restituição acham-se determinados
nos arts. 300 e seguintes do Codigo Civil. Manda o primeiro
delles, que o dote se restitua dentro no mez, que se seguir á dis-
solução da sociedade conjugai, se não puder ser immediatamente.
Esta regra applica-se aos bens inalienáveis, de raiz ou moveis,
pois os transferidos ao marido acham-se submettidos á regra do
artigo seguinte (301). E' claro, porém, que se estende, também,
a norma aos que, embora alienaveis, se acham em poder do ma-
rido, no momento da restituição.
Os bens inalienáveis restituem-se em especie, no estado em
que se encontram, com os accrescimos e melhoramentos sobre-
vindos, attendendo-se, quanto a estes, e quanto ás deteriorações
áo que prescreve o art. 307.

Art. 301 — O preço dos bens fungíveis ou


não fungíveis, quando legalmente alienados, só
pôde ser pedido seis mezes depois da dissolução
da sociedade conjugai.

Direito anterior — O prazo da restituição não estava fixado


em lei.
Legislação comparada — O direito romano ordenava que a
restituição dos moveis se fizesse, immediatamente, e a dos immo-
veis, um anno depois da dissolução do casamento (Cod. 5, 13,
1. única, § 7.°, in media: Exactio autem ãotis celebretur non
annv/i, bima, trima die, sed omnimodo intra annum in rebus mo-
bilibus, vel semoventibus, vel incorporalibus: coeteris videlicet
DO BEGIMEN Duo BENS ENTEE OS CÔNJUGES 243
busque e solo continentur; illioo restituenãiS: quoã commune
vtriusque fuerat actionis).
Vejam-se: Codigo Civil francez, art. 1.565; italiano. 1.410;
espanhol, 1.370; portuguez, 1.158; boliviano, 989. Estes Codigos
eoncedem o prazo de um anno para a restituição dos bens alie-
nados ao marido. O Codigo Civil do Uruguay, art. 2.050, fixa o
Prazo de seis mezes para a restituição, que se deva fazer em di-
nheiro. Vencido esse termo, começam a correr os juros legaes.
naesmo prazo estabelece o peruano, art. 1.022.
I^ojectos — Esboço, art. 1.352, n. 20, 2." parte; Felicio dos
vntos, 2.021 e 2.022; Coelho Rodrigues, 2.045; Beviláqua, 350;
Revisto, 374. •
Bibliographla — A do artigo antecedente.

Observações — 1, — Concede-se prazo maior para a restitui-


pno dos bens que, por terem sido transferidos, ao marido, na
e
nção de que os aliene, presume-se não se acharem mais na
SUa
Pnsse, e não é justo que se lhe exija pagamento imtaediato,
0ü eni
08
Prazo muito curto. Deve dar-se-lhe tempo de pôr em ordem
seus negocios, de preparar a sua situação econômica, pois é de
nsperar que os seus capitães estejam collocados e os seus outros
e
ns se não possam converter em dinheiro, de um dia para outro.
2
- Antes de seis mezes, não tem direito a mulher, nem os
Seus
herdeiros, de exigir a entrega do preço ajustado pelo dote;
Pode entretanto, o marido encurtar esse prazo, se fôr de sua con-
Ve
niencia fazel-o.
E licito, no pacto antenupcial, estabelecer um prazo maior
Pnra a restituição do dote? A solução do direito romano era con-
aria (D. 23, 4, frs. 14 e 16). Sem duvida, é mais acauteladora
0s int
á eresses da mulher. O direito moderno, porém, attendendo
^liberdade das partes na constituição do regimen matrimonial
3
bens, permitte que o prazo, legal da restituição possa ser
^Pliado ou diminuído (Gaxxupx, La dote, pag. 273; Baudry-
acantinerie, Le Courtoxs et Sxjrvixíb, Dú contrai de mariage,
■ a. 1.905; Planiol, Traité, III, n. 1.653; Aubey et Rau, Cours,
> § 540, 5.°). No Direito da família, § 54, seguiu-se o direito
aiano, por ser subsidiário do pátrio, antes da codificação civil.
e
> não subsistindo a mesma razão, devemos acceitar a solução
a
doutrina moderna.
CODIGO CIVIL

3. — No caso de separação do dote, arts. 308 e 309, a entrega


do dote pôde ser exigida desde logo, sem que a mulher esteja
sujeita aos prazos que os arts. 300 e 301 estabelecem paia os
casos de dissolução da sociedade conjugai (Aubky et Rau, Cours,
VIII, 5.° e nota 50).

Art. 302 — Se os moveis dotaes se tiverem


consumido por uso ordinário, o marido será
obrigado a restituir, somente, os que restarem,
e no estado, em que se acbarem, ao tempo da
dissolução da sociedade conjugai.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — D. 23, 3, fr. 10, pr., e § 11", Codigo
Civil francez, art. 1.566, primeira parte; italiano, 1.411, pri-
meira parte.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.046; Beviláqua, 351;
Revisto, 375.
Bibliographia — Direito da familia, § 53; Planiol, Traité,
III, n. 1.648; Htrc, üommentaire, IX, n. 494; Zachabiae, Droit
civil français, IV, n. 673; Laurent, Cours, III, n. 666; Baudby-
Lacantinebie, Le Courtois et Sübville, Du contrai de mariage,
III, n. 1.917; Aubby et Rau, Cours, VIII, §§ 536, 2.° e 540, 3.°-

Observação — A regra deste artigo refere-se, naturalmente,


aos moveis, cuja estimação não importa venda, e não é mais do
que uma applicação do direito commum. O dono soffre as dete-
riorações e as perdas dos objectos da sua propriedade. Se, porém,
o marido vende os moveis, que não se destinam á venda, ou os de-
teriora por culpa sua, deve responder pelo preço no primeiro
caso, e pelo prejuizo, no segundo.
O preceito do artigo, pois que é uma applicação do direito
commum, comprehende também os immoveis estimados taxa-
tionis causa, que o marido deve restituir no estado em que se
acharem, salvo a sua responsabilidade pelas deteriorações acon-
tecidas por sua culpa.
DO EBGIMEN DOS BENS ENTKE OS CÔNJUGES 245

Art. 303 — A mulher pode, em todo o caso,


reter os objectos de seu uso, em conformidade
com a disposição do art. 263, n. IX, deduzindo-
s
p o seu valor do que o marido houver de res-
tituir.

Direito anterior — Lacunoso.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 1.566,
Be
gunda parte; italiano, 1.411, segunda parte.
O Codigo Civil hespanhol, art. 1.374, manda entregar á
Vl
uva, sem imputar-lhe no dote "el lecho cotidiano con todo lo
lue lo constituya, y Ias ropas y vestidos dei uso ordinário de la
toisma". Coisa semelhante dispunha o Codigo Civil mexicano, ar-
tigo 2.207, hoje revogado.
Drojectos — Coelho Rodrigues, art. 2.047; Beviláqua, 352;
Revisto, 376.
Dibliographia — Puaniol, Traité, III, n. 1.649; Huc, Gom-
Vle
ntaire, IX, n. 494; Laurent, Gours, III, n. 666; Zachariae,
Rroit civil français, § 673; Baudry-Lacantinerie, Le Courtois
et
Susville, Du contrai de mariage, III, ns. 1.924 e 1.925; Au-
BRY
et Rau, Gours, VIII, § 540, 3.°.

Observação —• O Codigo Civil concede, á mulher, neste ar-


^So' 0 direito de reter os objectos do seu uso. Na conformidade
^ art. 263, n. IX, a que se faz remissão, os objectos considerados
uso da mulher são as roupas, as jóias esponsalicias dadas an-
s do casamento pelo esposo, os livros, os instrumentos de tra-
_ 0' e os retratos de família. E' bem de ver que esses objectos
^ao fazem parte do dote, e, pois, não devem ser descontados do
Jalor, que o marido houver que restituir, desde que nelle não
aoi incluídos, como se dizia no Projecto primitivo.
A redacção sahiu defeituosa das successivas modificações a
C0l
ueQar em 1901. Deve ser entendida pela forma seguinte: Se as
*"0upas e os objectos de uso da mulher forem incluídos no valor
0
ao dote, transferido ao marido, com intuito de lh'o alienar,
Mulher poderá retel-os, mas o valor, que tiverem no momento,
descontado do que o marido (ou os seus herdeiros) tiver
re
stituir. Se o dote fôr inalienável, ou ainda que alienavel, se
246 CODIGO CIVIL

as roupas e objectos de uso da mulher não tiverem sido inclui-


dos no dote, a mulher os retem como paraphrenaes, e o marido
não lhes descontará o valor daquillo que tenha de restituir.

Art. 304—Se o dote comprehender capitães


ou rendas, que tenham soffrido diminuição ou
depreciação eventual, sem culpa do marido, este
desonerar-se-á da obrigação de restituil-os, en-
tregando os respectivos titulos.
Paragrapho único. Quando, porém, consti-
tuido em usofructo, o marido ou seus herdeiros
serão obrigados, somente, a restituir o titulo
respectivo e os fructos percebidos após a disso-
lução da sociedade conjugai.
Legislação comparada — D. 23, 3, fr. 71; e 24, 3, fr. 49
(para o principio do artigo); 23, 3, frs. 7, § 2.°, 66 e 98 (para o
paragrapho único); Codigo Civil francez, arts. 1.567 e 1.568;
italiano, 1.412 e 1.413; portuguez, 1.160 e 1.163.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.048 e 2.049; Bevilá-
qua, 353 e 354; Revisto, 377 e 378.
Bibliographia — Direito da família, § 53; Lavayette, § 88,
Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 217 e 218,
Baudby-Lacantinekie, Le Courtois et Suevillb, Du contrai de
mariage, III, ns. 1.918 e 1.919; Huc, Commentaire, IX, ns. 495 e
496; Laubent, Cours, III, ns. 667 e 668; Zaohamae, Droit civil
français, IV, § 673; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, nota
aos arts. 1.160 e 1.161.

Observações — 1. — As prescripções deste artigo referem-se


ao dote, cuja estimação não importa venda. Dissolvida a socie-
dade conjugai, o marido deve restituir, desde logo, os titulos dast
rendas e créditos, que lhe forem entregues para a simples per-
cepção dos fructos civis, durante o casamento. Alguns Codigos
dizem, expressamente, que para a restituição destes bens não ha
prazo de espera. O brasileiro não o diz, claramente, porém, tendo
DO BEOIMEN DOS BENS ENTEE 08 CÔNJUGES 247

prescripto, no art. 300, que o prazo é concedido, para a entrega


dos bens de que ali se trata, quando a entrega não puder ser
feita, immediatamente, parece innegavel que acceitou a mesma
regra. Realmente, a moratória concedida ao marido, ou a seus
herdeiros, tem por fim dar-lhes tempo de pôr em ordem os seus
Pegocios e organizar as suas contas, em relação ao dote; mas
n
o caso de rendas e títulos de créditos, em que não ha immoveis
Postos em exploração industrial, nem prédios alugados, nem ou-
tras situações semelhantes, a restituição pode ser feita, imme-
diatamente, sem vexame. Além disso, os rendimentos desses titu-
ios, produzidos depois da dissolução da sociedade conjugai, per-
tencendo á mulher ou aos seus herdeiros, e não ao marido, este
Pão tem motivos para os deter.
2. — O marido desonera-se, entregando os títulos, ainda
Quando haja depreciação sem culpa. Incumbe ao marido provar
Que a diminuição ou perda completa do valor dos títulos não
resultou de negligencia sua. Se a perda resulta de prescripção
ho credito, responde por ella q marido negligente, como já deter-
Punara o art. 298, segunda parte.
3. — O dote constituído em usofructo está nas mesmas con-
dições do constituído em capital ou renda. O marido desobriga-se,
restituindo os títulos e os fructos percebidos depois da disso-
iução da sociedade conjugai. Esta allusão aos fructos suppõe, en-
tretanto, demora na restituição. Effectivamente, conforme o bem
sobre o qual recair o usofructo, pôde o marido ter necessidade
do mez de espera, que lhe concede o art. 300, muito embora o
seu
direito á percepção dos fructos cesse, desde o momento da
dissolução da sociedade conjugai.

Art. 305 — Presnme-se recebido o dote:


I. Se o casamento se tiver prolongado por
cl
iico annos, depois do prazo estabelecido para
s
na entrega.
II. Se o devedor for a mulher.
Paragrapho único. Pica, porém, salvo ao ma-
rido o direito de provar que o não recebeu, ape-
z
ar de o ter exigido.
248 CODIGO CIVIL

Direito anterior — Silencioso.


Iiegislação comparada — Nov. 100, cap. 2; Codigo Civil
francez, art. 1.569; italiano, 1.414; portuguez, 1.145.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 2.004; Coelho Rodri-
gues, 2.050; Beviláqua, 355; Revisto, 379.
Bibliographia — Direito da familia, § 53; Cândido de Oli-
veira, Manual do Codigo Civil, V, § 219; Planiol, Traité, III,
ns. 1.643-1.646; Huc, Gommentaire, IX, ns. 496 e 497; Laurent,
Gours, III, n. 665; Zachariae, Droit civil français, IY, § 673; Chi-
eoni, Ist., § 401, 3; Windsgheid, Pand., II, § 504; Baudry-Lacan-
tinebie, Le Courtois et Survtlle, Du contrai de mariage, III,
ns. 1.888-1.889; Aubby et Rau, Gours, VIII, § 540, 2.°.

Observação — O dote promettido pôde não ser, effectiva-


mente, entregue, e o marido tem acção para havel-o do promit-
tente, assim como, no momento da restituição, lhe é facultado
usar da excepção non numeratae pecuniae, ou non numeratae
dotis, quando não se lhe apresenta outro documento, além da
escriptura antenupcial, para prova de que o dote lhe foi entregue.
Mas, se o casamento se tiver prolongado por cinco annos,
além do prazo estabelecido para a entrega do dote, presume-se
que o marido o recebeu. Esta presumpção, porém, não é júris est
de jure. Ao marido fica sempre salvo o direito de provar que,
apezar das diligencias empregadas, não conseguiu haver o dote
promettido. E, verificado que, realmente, assim foi, nada tem
que restituir.
Se a dotadora é a mulher, presume-se que entregou ao ma-
rido o dote, desde que se casou, porque a sua posição de consorte
e os seus sentimentos de affeição, naturalmente, a impellem ao
cumprimento dessa obrigação, e porque o marido tem meios de
haver, sem estrepito judicial, o dote extrahido do patrimônio
de sua mulher. Todavia essa presumpção, como a do n. I, cede
deante. da prova em contrario.

Art. 306 — Dada a dissolução da sociedade


conjugai, os fructos dotaes, que correspondem
DO BEGIMEN DOS BENS ENTEE OS CÔNJUGES 249

ao armo corrente, serão divididos entre os dois


cônjuges, ou entre um e os herdeiros do outro,
proporcionalmente á duração do casamento, no
decurso do mesmo anno.
Os annos do casamento contam-se da data
da sua celebração.
Paragrapho único. Tratando-se de colheitas
obtidas em períodos superiores ou inferiores a
am anno, a divisão se effectuará, proporcional-
rnente ao tempo de duração da sociedade con-
jugai, dentro no período da colheita.

Direito anterior — Silencioso.


Legislação comparada — D. 24, 3, fr. 7; Cod. 5, 13, 1. única,
§§ 7.° in fine e 9.°; Codigo Civil francez, arts. 1.570 e 1.571; ita-
Uano, 1.415 e 1.416; hespanhol, 1.379 e 1.380; portuguez, 1.162;
Mexicano, 2.191. Não ha uniformidade perfeita entre esses Có-
digos, nem sequer entre o francez e o italiano, que muito se ap-
Proximam, nem entre elles e o brasileiro, que de todos é o mais
completo.
Projectos — Beviláqua, art. 356; Revisto, 380.
Bibliographia — Direito ãa família, § 53; Lafayette, Direi-
to
s de família, § 88, 4.°; Coelho da Rocha, Inst., § 278; Planiol,
Traité, in, ns. 1.650 e 1.651; Huc, Gommentaire, IX, ns. 499 e
^00; Laurênt, Cours. III, n. 669; Zachabiae, Droit civil français,
§ 673; Roth, Systevi, II, § 99; Windscheid, Panã, II, § 501;
Chironi, Ist., II, § 401; Luigi Abello, vb. Dote, Dizzionario de
Scialoja e Busatti; Dias Fbrreiea, Codigo Civil portuguez, nota
ao
art. 1.162; Liz Teixeira, Curso, I, tit. X, § 22; Baudby-La-
cantinerie, Le Coubtois et Surville, Du contrai de mariage, III,
ns
- 1.462, 1.922, 1.923 e 1.949; Aubry et Rau, Cours, VIII,
§ 540, 4.0.

ta
Observação — Os rendimentos do dote destinam-se á susten-
Ção da família, e, por isso, pertencem ao marido, a quem esse
Ohcargo, directamente, incumbe. Dissolvida a sociedade conjugai,
^ outro é o destino dos fructos dotaes, sejam naturaes ou civis;
250 CODIGO CIVIL

pertencem ao dono dos bens constituídos em dote: á mulher ou


a seus herdeiros.
No ultimo anno da sociedade, faz-se a divisão proporcional-
mente ao tempo da sua duração. Se a sociedade conjugai durou,
por exemplo, seis mezes, no ultimo anno, contados os annos da
data da celebração, cabe ao marido ou aos seus herdeiros a me-
tade dos fructos. Sendo os fructos civis, como elles se percebem,
sempre, dia por dia, nenhuma particularidade offerece o preceito
do artigo; sendo porém, naturaes, que se adquirirem, ordinaria-
mente, com a percepção, a finalidade do dote impoz, uma justa
modificação na regra commum: adquirem-se, também, dia por dia,
embora haja necessidade de esperar pela colheita.
Podem os períodos de colheita ser maiores ou menores do
que um anno. Ainda a regra é dividir os fructos, proporcional-
mente ao tempo da duração da sociedade conjugai nesse período.
Supponha-se que o dote foi constituído em mattas destinadas ao
córte de madeira, de dez em dez annos. Quando se dissolveu a
sociedade conjugai, faltavam cinco annos para o córte; o marido
tem direito á metade do córte futuro.
Obtém-se a colheita de seis em seis mezes, e a sociedade con-
jugai dura dois mezes depois da ultima colheita. O marido tem
direito a 1/3 da que se realizar em seguida. Quoã in anno ãi'
citur potest dici in sex mensibus, si bis in anno fructus capien-
tur: ut est in locis irriguis. Et in pluribus annis idem dici potest:
ut in sylva coeãua (D. 24, 3, fr. 7, §§ 6.° e 7.°).

Art. 307 — O marido tem direito á indemni-


zação das bemfeitorias necessárias e nteis, se-
gundo o seu valor ao tempo da restituição, e
responde pelos damnos, de que tiver culpa.
Paragrapho único. Este direito e esta obri-
gação transmittem-se aos seus herdeiros.

Direito anterior — O mesmo, ainda que a deficiência da le^


necessitasse dos supplementos da doutrina (Or. 4, 95, 1; Car-
los de Carvalho, direito civil, art. 1.539).
Degislação comparada — D. 23, 3, fr. 56, § 3.°; Cod. 5, l3'
1. 1, § 5.°, in médio; Codigo Civil portuguez, art. 1.163 e 1.164-
DO KEGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 251

Projectos — Beviláqua, art. 375; Revisto, 381.


Bibliographia — Direito da família, § 53; Lafayette, Direi-
tos de família, § 88, 3; Coelho da Rocha, Inst., § 279; Zachariae,
Droit civil français, IV, § 673, nota 3; Liz Teixeira, Curso, I, ti-
tulo X, § 22.

Observações — 1. — As bemfeitorias necessárias conservam


0
dote; as úteis augmentam-lhes o- valor, tornam o bem mais
productivo. Ainda que esteja no interesse do marido desenvolver
a capacidade productiva dos bens dotaes, é justo que, extincta a
sociedade conjugai, se lhe recompense o incremento que adheriu,
definitivamente, ao dote.
2. — O direito romano concedia o direito de retenção, ape-
bas, pelas bemfeitorias necessárias. No direito francez a dou-
trina vacilla, achando alguns que o direito de retenção se estende
^■s bemfeitorias úteis, e outros que, por estas ultimas, o marido
tem apenas acção para cobrar as despesas feitas. Entre nós, ha-
v
ia a mesma divergência, porém a opinião mais seguida e mais
conforme aos preceitos legaes era a que conferia o direito de
r
etençâo pelas bemfeitorias necessárias e úteis.
O mesmo principio deve prevalecer no systema do Codigo
Civil.
As bemfeitorias voluntárias levantam-se, quando essa ope-
ração não damnifica o objecto a que adherem. Não sendo isso
Possível, perde-as o marido, pois não tem acção para lhes haver
0
custo.

SECÇÃO IY

Da separação do dote e sua administração


peia mulher

Art. 308 — A mulher pôde requerer, judi-


cialmente, a separação do dote, quando a des-
ordem nos negocios do marido leve' a recear que
os bens deste não bastem a assegurar os delia;
252 CODIGO CIVIL

salvo o direito, que aos credores assiste, de se


opporem á separação, quando fraudulenta.

Direito anterior — Matéria não regulada, salvo a referencia


que a ella fazia a lei das fallencias n. 2.024, de 17 de Dezembro
de 1908, art. 55, 6.°, como, anteriormente fizera o Dec. n. 917, de
24 de Outubro de 1890, art. 129, letra c. Mas a doutrina suppria
a lacuna com o subsidio do direito romano.
Legislação comparada — D. 24, 3, fr. 24, pr.; Cod. 5, 12,
1. 29; Codigo Civil francez, art. 1.563; italiano, 1.418; portuguez,
1.221; peruano, 1.003.
Veja-se também o hespanhol, art. 225, que entrega a admi-
nistração do dote á mulher, no caso de interdicção do marido,
por prodigalidade.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.053-2.058; Beviláqua,
358 e 359; Revisto, 382,
Bibliographia — Direito da família, § 52; Latayette, Direi-
tos de família, § 87; Cândido de Oliveira, Manual do Codigo Ci-
vil, V, § 222; Pontes de Miranda, Direito de família, § 109:
S. Vampré, Manual, § 156; Correia Telles, Doutrina das acções,
ed. Teixeira de Freitas, § 42; Planiol, Traité, 1.614-1.616; Huc,
Commentaire, IX, 492; Laurent, Cours, III, n. 664; Baudrt-La-
oantinerie, Le Cotjrtois et Surville, Du contrai de mariage,
ns. 1.862 e segs.; Zachariab, Droit civil français, IV, § 672, 5.°;
Liz Teixeira, Curso, I, tit. IX, § 21; J. X. Carvalho de Men-
donça, Tratado de direito commercial, VII, n. 558.

Observações — 1. — E' ainda a finalidade do dote que deter-


mina a providencia, um tanto violenta, deste artigo. Se os bens
do marido entram em ruina, ameaçando arrastar os dotaes, não
sómente a mulher está em risco de perder a sua propriedade pela
malversação do marido, como periclitam os alimentos da família-
Para evitar esse duplo damno, a lei retira o dote do poder do
marido.
Para autorizar o pedido de separação, basta a ruina immi-
nente, porquanto, se o desabamento economico já se tiver dado,
o dote ficará desfeito entre os escombros. Mas não justificará
medida tão grave uma simples suspeita de decadência; deve ha-
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 253
Ve
r sério fundamento para receial-a, como preceituava a lei ro-
mana; ex quo eviãentissime apparuerit mariti facultates ad dote»
exa
ctionem non sufficiere.
Quando o marido possue immoveis hypothecados em segu-
rança do dote, esta providencia só é admissivel, quando elle, cri-
minosamente, aliena esses bens. Neste caso, cabe á mulher o
direito de annullar as alienações.
Se o marido, desde o começo de vida conjugai, era pobre e
Pobre continua, não ha razão para se lhe retirar a administração
do dote; salvo se, entrando em especulações econômicas, ou por
0
ntras causas, se onera de dividas e compromette o pecúlio dotal.
2. Nos casos do art. 251 quando a mulher assume a di-
reção e administração do casal, por ausência, interdicção ou
Pnsâo prolongada do marido, também compete á mulher gerir o
dote, como os outros bens do casal, Esta hypothese estava pre-
Vl
sta no Projecto primitivo, art. 362. Mas a suppressão desse ar-
^i&o não fez desapparecer o caso, pois o louco, o prodigo e o
misente não podem continuar na administração do dote, quando
Se
lhes nomeia por curador a mulher, á qual se confia a direcção
moral e econômica da casa e da familia.
3- — Os credores do marido podem se oppôr á restituição
a
e
Ptecipada e fraudulenta do dote. No direito commercial, a ma-
* iia está regulada pela lei n. 5.746, de 9 de Dezembro de 1929,
ar
t. 55, n. 6, que declara a inefficacia, em relação á massa, da
^estituição antecipada do dote, por parecer uma doação. Aliás a
a
lencia pôde justificar a separação do dote, porque revela a
e
sordem dos negocios do marido e a insufficlencia econômica da
Garantia do dote.
No direito civil, os credores poderão oppôr-se á separação,
Se
mpre que esta os prejudicar, mas esse direito dos credores não
Pode impedir a separação, quando necessária para garantia dos
Pimentos da familia.

. Art. 309 — Separado o dote, terá por admi-


nistradora a mulher, mas continuará inaliena-
provendo o juiz, quando conceder a sepa-
^Ção, a que sejam convertidos em immoveis os
254 CODIGO CIVIL

valores entregues pelo marido, em reposição dos


bens dotaes.
Paragraplio único. A sentença da separação
será avçrbada no registro de que trata o art. 261,
para produzir effeitos em relação a terceiros.
Direito anterior — Não havia disposição de lei regulando
esta matéria.
Degislação comparada — Cod. 5, 12, 1. 29; francez, art. 1.449;
italiano, 1.423 e 1.424.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.059 e 2.060; Bevilá-
qua, 360 e 361; Revisto, 383 e 384.
Bibliographia — Direito da família, § 52; Latayette, Direi-
tos de família, § 87; Planiol, Traité, III, ns. 1.617-1.641; Huc,
Commentaire, IX, ns. 277-284; Baudey-Laoantinerie, Le Cour-
tois et SuBViLLE, Du contrai de mariage, III, ns. 1.864-1.873,
Diz Teixeira, Curso, I, tit. IX.

Observações — 1. — Investida a mulher na administração do


dote, tem direito de praticar todos os actos referentes á admi-
nistração e applicação dos rendimentos ás despesas da familia'
sem necessitar de outorga marital.
Como o dote administrado pela mulher é sempre inalienável,
conste de moveis ou de immoveis, não ha que falar em outorga
para alienar, salvo nos casos do arh 293.
Comprehende-se bem que a inalienabilidade só se refere aos
bens dotaes e não aos rendimentos, pois que o destino destes e
prover ás necessidades da familia, para o que terão de ser con-
sumidos e alienados.
2. — O Codigo manda converter os valores dotaes retirados
da administração do marido em bens de raiz, porque sobre estes
melhor se adapta o caracter da inalienabilidade. Como, porém,
as apólices da divida federal se immobilizam pela inalienabili-
dade, pode, egualmente, a converção se fazer em titulos nomi
nativos da divida publica federal, clausulados com a dotalidade.
Esta providencia é garantidora. Quando o dote é admims
trado pelo marido pôde consistir em valores de qualquer natu
reza, porque a hypotheca legal o assegura na maioria dos casos.
DO BEGIMEN DOS BENS ENTBE OS CÔNJUGES 255

Mas, se é a própria mulher que vae gerir o dote, não ha mais ga-
r
antia, senão a inalienabilidade.
3. — Se a mulher realizar economias sobre os rendimentos
^otaes, de modo que, feitas as despesas da familia, ainda haja
sobras, a quem pertecerão estas? O direito anterior, adstricto
a
Preencher as suas deficiências pelo direito romano, ou to-
hiando-lhe a orientação nos casos lacunosos, mandava entregar
as
sobras ao marido. Outra ê a solução da jurisprudência fran-
Cez
a, que considera paraphernaes os bens comprados pela mu-
^er com o excesso dos fructos dotaes sobre os gastos domésticos
(Planiol, Traité, III, n. 1 621).
O dote não ç confiado ao marido para o seu gozo individual,
6 s
im para que eile applique os rendimentos dotaes ao bem-estar
^a familia. Por isso, a solução romana parece fundada, simples-
mente, no preconceito da superioridade do sexo masculino. Se o
marido não soube dirigir os seus negocios, a ponto de se achar
0
âote na imminencia de naufrágio, por que, feitas as despesas
Co
m o sustento delle, da mulher e dos filhos, ha de elle, ainda,
iucrar as sobras? Já não as applica nem pode applicar á susten-
ta
Ção dos ônus da familia, destino proprio dos fructos do dote.
Mão ha fundamento para que as receba para o seu enriqueci-
mento individual.
A solução da jurisprudência franceza é mai^ justa, porque,
Se
o dote é propriedade da mulher, o que sobrar de seus rendi-
mentos, depois de satisfeitas as despesas da familia, deve per-
tencer-lhe. Mas não pôde ser acceita, no systema do Codigo. Essas
So
bras têm o caracter de bens adquiridos e, como taes, serão com-
üns (art. 259), cuja administração compete ao marido.
— Realizada a separação, os bens dotaes continuam con-
Sa
grados aos mesmos fins, e conservam o mesmo caracter. Con-
Se
ex
quentemente, os credores da mulher nenhuma acção podem
ercer sobre esses bens, nos termos do art, 299, senão forem
ail
teriores ao casamento.

SECÇÂO Y

Dos bens paraphernaes

Art. 310 — A mullier conserva a propriedade,


a a
dministração, o gozo e a livre disposição dos
256 CODIGO CXVIX.

bens paraphernaes; não podendo, porém, alienar


os inunoveis (art. 276) .

Direito anterior — Silencioso; mas o direito romano suppn3,


a lacuna, modificado, aliás, pela doutrina.
Legislação comparada — Cod. 5, 14, 1. 8; — Hac lege ãecer
nimus, ut vir in his rebus Quas extra dotem mulier Tiabet,
Graeci paraplxerna ãicunt, nullam uxore vrolúlente habeat com-
munionem, nec aliam ei necessitatem imponat: nullo modo,
muliere prohibente virum in paraphemis se volumus immiscere.
Codigo Civil francez, arts. 1.574-1.576; italiano, 1 425-1-427
e 2.166. O Codigo peruano exige o consentimento do marido paia
a alienação de quaesquer bens paraphernaes pela mulher, assim
como para qualquer pleito que ella queira a respeito delles in
tentar.
Projectos — Coelho Rodrigues, 2.063; Beviláqua, 363; Re
visto, 385.
Bibliographia — Direito da família, § 49; Lafayettte, Direi
tos de família, §§ 82; Cândido de Olxvexka, Manual do Codigo Ci
vil, V, §§ 224-226; Pontes de Miranda, nota 56 ao § 97, e § l10'
S. Vampré, Manual, I, § 57; Coelho da Rocha, Inst., § 280; P^a-
niol, Traité, II, ns. 1.657-1.680; Huo, Commentaire, IX, núme-
ros 502-504; Zachariae, Droit civil français, § 674; Sanchez R0
man, V, l.a parte, pags. 777-779; Aubry et Raxj, Cours, VI
§§ 533, bis, e 541; Dernburg, Diritto ãi famiglia, § 12.

Observações — 1. — No commento ao art. 287, já se deu


definição de bens paraphernaes; são os incommunicaveis da mu-
lher, que não fazem parte do dote. A mulher conserva a propn
dade, o gozo, a administração e a livre disposição desses^
com a única restricção da outorga marital para a alienação 0
immoveis, diz o art. 310.
2. — Tendo a administração e o gozo dos paraphernaes, a
mulher percebe-lhes os fructos. Os fructos dos paraphernaes ^
veriam ser da mesma natureza delles, se não se lhes applica®
a regra dos acquestos (art. 259). Assim, o que estatue o ait.
quando o marido é administrador dos paraphernaes, m
DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 257
dando-lhe restituir os fructos á mulher, e prestar-lhe contas, se
dellas o não dispensou a sua consorte, deve-se entender na hypo-
ttese de não serem communs esses rendimentos, por clausula
contractual. O art. 310 attribue á mulher o gozo dos parapher-
^aes, o qual em outra coisa não pode consistir senão na apro-
Piiação de todas as utilidades, a que elles se prestem, ou possam'
Produzir. Também esta regra deve ser entendida com subordi-
Pagâo ao pacto antenupcial, que não permitta communhão nos
íructos dos paraphernaes.
Os rendimentos dos paraphernaes não se destinam, especial-
mente, como os dos bens dotaes, á satisfação das despezas do-
mesticas. Sendo de propriedade livre esses bens, os seus fructos
tenderiam a augmentar o patrimônio da proprietária; mas a
fegra do art. 259 a isso se oppõe, quando o contracto matrimonial
Mte não attenúa o rigor.

Art. 311 — Se o marido, como procurador


c
'onstituido para administrar os bens parapher-
naes ou particulares da mulher, for dispensado,
por^ clausula expressa, de prestar-lhe contas,
Se >
í á somente obrigado a restituir-lhe os fructos
e
xistentes :
I. Quando ella lhe pedir contas.
II. Quando ella lhe revogar o mandato.
III. Quando dissolvida a sociedade conjugai.
Direito anterior — O direito escripto ignorava os casos pre-
^Cistos neste artigo.

Cez
Legislação comparada — Cod. 5, 14, 1. 11; Codigo Civil fran-
. arts. 1.577 e 1.578; italiano, 1.428 e 1.429; peruano, 1.035
6
1-040; boliviano, 999 e 1.000.
I>r0 eCt0S
64
e 365; — CoelJl0
'' Revisto, 386 eRodrigues,
387. art. 2.063 e 2.064; Beviláqua,

Dibliographia — Veja-se o artigo antecedente.

bevilaqua — Codigo Civil — 3.° vol.

f
258 CODIGO CIVIL

Observação — A mulher, como senhora exclusiva e livre dos


paraphernaes, pode administral-os por si, ou confiar-lhes a admi-
nistração a quem entender E' natural que a confie ao seu ma-
rido. Neste caso, é direito seu estabelecer que lhe preste contas,
como qualquer mandatario, ou, attendendo á sua qualidade de
marido, á consideração e amizade, que lhe deve ter, dispensal-o
dessa obrigação. Como isso é que ha de mais vezes acontecer,
por mais conforme á situação dos cônjuges, é desta hypothese,
que trata o Codigo Civil, sem, comtudo, deixar de alludir ás
outras.
Para que o marido se deva considerar isento de prestar con-
tas, é preciso que, por clausula expressa, a mulher assim o de-
clare, na procuração, que lhe passar. Dispensado dessa obrigação,
;'o seu poder como administrador é bastante extenso. Elle pôde
applicar os rendimentos dos paraphernaes, segundo melhor lhe
parecer. E' como que um proprietário; porém a titulo precário,
porque a mulher não perde o direito de pedir-lhe contas ou de
revogar o mandato; e porque, dissolvida a sociedade conjugai,
cessa, ipso jacto, a sua gestão.

CAPITULO VI

Das doações antenupciaes

Art. 312 -— Salvo o caso de separação obri-


gatória de bens (art. 258, paragrapbo único), e
livre aos contrabentes estipular, na escriptura
antenupcial, doações reciprocas, ou de um ao
outro, comtanto que não excedam á metade doSç
bens do doador (arts. 263, n. YIII, e 232, n. II).
Direito anterior — Eram licitas as doações entre desposados,
mas, se o regimen do casamento era o da communhão as doa-
ções, se resolviam (Ord. 4, 65, 1; Dec. n. 181, de 1890, art. 79,
Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 137, Carlos de Carva-
lho, Direito civil, arts. 1.205, 1.213 e 1.489).
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts. 1 166
e 1.167 (se o esposado tiver ascendente ou descendente vivo, na0
DO KKOniEX DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 259
Poderá a doação exceder a um terço dos bens do doador); hespa-
n
hoI, 1.331 (a doação limitar-se-á á décima parte dos bens pre-
sentes; os futuros só para o caso de morte podem ser doados, na
fedida das disposições de ultima vontade); chileno, 1.786-1.790;
Pruguayo, 1.644-1.650; boliviano, 673 (não deve exceder a oitava
Parte do dote); mexicano, 221 (não poderá exceder a sexta parte
dos bens do doador).
Vejam-se ainda: Codigo Civil francez, arts. 1.091 e segs.; e
argentino, 1.217, ns. 3.° e 4.".
Para o direito romano: Cod. 5, 12, 1, 31, pr. in médio e
N
ov., no, cap. 1.°
Iiojectos Esboço, art. 1.322; Coelho Rodrigues, 2.091;
Beviláqua, 367; Revisto, 389.
Bibliographia — Direito das obrigações, §§ 92, II, e 98; Can-
011)0 DE
Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 227 e segs.; Pon-
des de Miranda, Direito de família, §§ 111 e segs.; S. Vampré, Ma-
nual
, I, § 158; Almachio Diniz, Direito da família, § 37; Coelho
r>A
^ocha, Inst., §§ 764 e 765; Liz Teixeira, I, tit. IX, § 26; Pla-
Mol, Traité, III, ns. 3.198-2.203; Huc, Commentaire, Y, nume-
^0s 453-465; Sanchez Roman, Derecho civil, V, l.a parte, paginas
02-813; Windscheid, Panã., II, 2.a parte, §§ 58 e 59; Dernburg,
i-ritto ãi famiglia, § 25.

Observações — i. _ Qualquer que seja o regimen dos bens,


®.Xceptuada a separação obrigatória, podem os desposados esti-
ar as doações, que desejem fazer um ao outro. Se o regimen
^ lcseguir-se fôr o da communhão, ficarão os bens doados incommu-
aveis, porque sem essa modalidade seria inútil a doação.
< Uan(Í0 a im õe aos
^ben s.^ as doações de um
P ou outro,
cônjuges a separação
feitas por absoluta dos
pacto antenupctal, são
burj9^ ass m nao se es
^ tatuisse o fim da lei seria fa^c^nente
O
^ " ~~ Estas doações independem de acceitação expressa.
accei
re tação resulta do proprio casamento, sem o qual ellas se
0 Vern
' Pois Se subentendem feitas sob a condição de se effe-
0 casament0
Por^ ' nuptiae
^ ingratidão do donatário fuerint
(art. 1.187, secutae.
n. IV), Não se revogam
por serem feitas
attençâo ao casamento, propter nuptias, para que o donatário
260 CODIGO CIVIL

tenha pecúlio seu. Annullado o casamento, attender-se-á ao que


dispõem os arts. 221 e 232, II.
Quanto á fôrma de liberalidade, quer o Codigo que seja feita
na própria escriptura antenupcial. Isto quer dizer que, se houver
pacto antenupcial deite mesmo deve constar a doação, que os fu-
turos cônjuges se fazem. Se o regimen adoptado fôr a commu-
nhão universal que não exige pacto, lavrar-se-á uma escriptura
ipublica especial para a doação, e esta valerá por pacto ante-
nupcial.
3, — Não fala o Codigo das doações entre cônjuges que o di-
reito romano prohibia, ainda que admittindo attenuações á sua
norma prohibitiva, e que o direito pátrio anterior permittia, sob1
a condição de se annullarem pela superveniencia de filhos, de'
serem revogaveis, e de se rescindirem por inofficiosidade (Ord. 4,
65). No systema do Codigo Civil, as doações entre cônjuges são
permittidas, desde que a indole do regimen do casamento não
se opponha. Assim, se o regimen é o da communhão universal,
não podem ter objecto as doações entre cônjuges, porque todos
os bens a ambos pertencem. No da separação obrigatória, também
não são possiveis essas doações, que contrariam o fim da lei.
A Commissão revisora do Governo pretendeu dar uma fôrma
especial ás doações entre cônjuges, porém a proposta do Dr. Bae-
eadas, neste sentido, não vingou (Acías, pag .404).

Art. 313 — As doações para casamento po-


dem também ser feitas por terceiros, no con-
tracto antenupcial ou em escriptura publica an-
terior ao casamento.
Direito anterior — Havia apenas a doutrina.
Legislação comparada — Cod. Civil francez, arts. 1.081 ®
1.082; portuguez, 1.175.
Projectos — Esboço, art. 1.322; Coelho Rodrigues, 2.094;
Revilaqua, 3SS-, Revisto, 390.
Bibliographia — A do artigo antecedente.
v... •

DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES 261

Observação — Nenhuma particularidade offerece esta forma


de doação. Como doação antenupcial, .está sujeita 'â escriptura
Publica, dispensa a acceitação expressa, suppõe-se feita sob a
condição de se seguir o casamento, e não se revoga por ingra-
tidão, para se não punirem innocentes (o outro cônjuge e os
tühos) por culpa do donatário.

Art. 314 — As doações estipuladas nos con-


traetos antenupciaes, para depois da morte do
doador, aproveitarão aos filhos do donatário,
ainda que este falleça antes daquelle.
Paragrapho único. No caso, porém, de sobre-
viver o doador a todos os filhos do donatário,
caducará a doação.
Direito anterior — Silencioso.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 1.082 e
1-083; uruguayo, 1.653 e 1.654; hespanhol, 1.331.
Contra: Codigo Civil portuguez, art. 1.172.
Projectos — Este artigo é da Commissão revisorã do Governo
P01- proposta do Dr. Barkadas (Actas, pag. 122). Veja-se também
0
Esboço, art. 1.326.

Observações —• 1. — Ainda que o doador tanto possa ser um


es
tranho quanto um dos cônjuges, é propriamente destes que aqui
^ trata. Estatue o artigo que, se o cônjuge donatário fallecer,
an
tes do doador, nem por isso caducará á doação feita para se
tornar effectiva depois da morte desse ultimo. Em attenção á fa-
tia, cria a lei, neste caso, um beneficio especial de representa-
SUo, e revoga o principio da caducidade.
Ksta transmissão aos filhos subentende-se. Ma» o doador pode
a
tastal-a por uma clausula expressa.
2- ■— Ha, neste caso, de doação para depois da morte do doa-
ttor. uma verdadeira instituição contractual de herdeiros, que não
262 CODIGO CIVIt

se coaduna bem com o systema jurídico de ritualidades rigorosas


para os testamentos. Não obstante, por influencias diversas, intro-
duziu-se nos costumes, pois é, afinal, um pacto successorio, que
muitos autores admittiam nas escripturas antenupciaes, comtanto
que se referissem somente aos cônjuges. Com esse caracter pas-
sou para o Codigo, que accrescentou, inspirado no direito francez,
a transmissão aos filhos do donatário.
3. — o Projecto primitivo, que não admittia a successão pa-
cticia, ainda que estabelecida somente nas escripturas ante-
nupciaes, não continha disposição semelhante á que se encontra
no presente artigo do Codigo Civil.
TITULO IY

Da dissolução da sociedade conjugai e da protecçâo


da pessoa dos filhos

CAPITULO I

Da dissolução da sociedade conjugai

Art. 315 — A sociedade conjugai termina:


I. Pela morte de um dos cônjuges.
II. Pela nullidade ou annullação do casa-
mento .
III. Pelo desquite, amigável ou judicial.
Paragrapho único. O casamento valido só se
dissolve pela morte de um dos cônjuges, não se
me applicando a presumpção estabelecida neste
Codigo, art. 10, 2.a parte.

Oireito anterior — O mesmo, ainda que houvesse necessidade


o completar pela doutrina, quanto ao effeito da ausência sobre
0
casamento, e que nada dispuzera a lei quanto á dissolução da
So
ciedade conjugai pela nullidade ou annullação do casamento
(Oec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, arts. 88 e 93).
nil
Legislação comparada — A — Legislações que, apenas, aã-
tt€m o desquite, á semelhança do Codigo Civil brasileiro, e para
as
quaes somente a morte dissolve o vinculo matrimonial; Co-
âig
o Civil italiano, art. 148; hespanhol, 104; lei argentina, de 2
264 CODIGO CIVIL

de Novembro de 1888, arts, 69 e 86; chilena, de 10 de Janeiro de


1884, arts. 19, 20 e 37; colombiano, 152.
O Coãex júris canonici, art. 1.118, assim dispõe: Matrimo-
nium valiãum, ratum et consummatum nulla humana potestate,
nullague causa, praeterquam morte, dissolvi potest. O art. 1.128
admitte a separatio tori, mensae et hahitationis, por justa causa,
das quaes é principal o adultério, art. 1.129. As outras causas de
separação se acham indicadas no art. 1.131.
B — O Codigo Civil da Áustria permitte o divorcio aos não
catholicos, e somente a separação aos catholicos (arts. 103-123).
C — Legislações que aãmittem o divorcio absoluto: Codigo
Civil francez, arts. 227, 229 e segs. (abolido o divorcio na França,
pela lei de 8 de Maio de 1816, foi restaurado pela de 27 de Julho
de 1884); allemão, 1.564 e segs.; dec. portuguez de 3 de Novem-
bro de 1910, art. I.0; Codigo Civil uruguayo, 186 (segundo a Isi
de 26 de Outubro de 1907); lei equatoriana, de 20 de Outubro de
1912, art. 1.°; Codigo Civil venezuelano, art. 18'S; japonez, 808)
e seguintes; lei cubana, de 6 de Fevereiro de 1930; Cod. peruano,
de 1936, art. 247; Cod. Civil mexicano, art. 266; lei boliviana de
13 de Abril de 1932.
Para o direito romano: D. 24, 2; Cod. 5, 17; Nov. 117, capí-
tulos 7-10; e 134; caps. 11 e 12. O vinculo matrimonial dissolvia-se
pela morte de um dos cônjuges, pelo divorcio e pela perda da
liberdade: Dirimitur matrimonium divortio, morte, captivitate,
vel alia contingente servitute utrius eorun (D. 24, 2, fr. 1, de
Paulo) .
No Codigo das leis da Rússia soviética, sobre o estado civil,
o direito do casamento, da familia e da tutela, ha um capitulo,
que tem por objecto a extincçâo do casamento, sendo o divorcio
um dos casos de extincçâo (art. 86), que pode fundar-se no mutuo
consentimento, ou na vontade de um só dos cônjuges (art. 87).
D — Dissolução do casamento pela morte presumida: Codigo
Civil allemão, arts 1.348-1.352, que estabelece uma theoria da
matéria; austríaco, 112-114; lei chilena, art. 38.
Em sentido contrario, de accordo com o art. 215, paragrapho,
único do Codigo Civil brasileiro: Codigo Civil uruguayo, art. 78;
francez, 139; italiano, 113, 2.a parte: lei argentina, art. 88.
O direito romano desconhecia a theoria* da ausência, niaS
não consentia no casamento da mulher do soldado, e daquelles
que se achavam em expedições militares, se não pudesse provar
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 265
a morte do marido (Nov. 117, cap. 11). Veja-se, entretanto, o
tit. 2, fr. 6, do D. 24, onde alguns romanistas descobrem uma in-
terpolação de Trlboniano, inserta em trecho de Juliaku.
Projectos — Esboço, art. 1.379; Coelho Rodrigues, 2.111;
Beviláqua, 385 e 386; Revisto, 394.
Ribliograpliia — Direito da familia, §§ 58, 59, 61 e 63; La-
fayette, Direitos de familia, §§ 32 e 34; João Arruda, Casamento,
11
■ 128; Cândido de Oliveira, Manual do Código Civil, V, §§ 233 e
s
6gs.; Pontes de Miranda, Direito de familia, §§ 33 e segs.;
S. Vahprê, Manual, §§ 163 e segs.; Ludgero Coelho, Casamento,
civil, pags. 257-263; Lemos Brito, O divorcio e opinião brasi-
leira (discurso), Bahia, 1912; Martinho Garcez, Direito da fa-
mília, § 137, e nota A, no fim do volume, pags. 421-430; Almachio
Piniz, Encyclopedia jurídica, cap. IX; Direito da familia, §§ 39
e
segs.; Laurindo Leão, O divorcio, na Revista, da Faculdade de
direito do Recife; Teixeira Mendes, Exame da questão do divor-
cio; Gama Rosa, Biologia e sociologia do casamento; Trabalhos
Gamara dos deputados, I, pags. 28-29; V, pags. 5-81, e VI, pagi-
nas 35-36; Luiz M. Correia, O Divorcio; Sanelva da Rohan, O
divorcio; Netto Campello, Divorcio; Recife, 1921; Ferreira dos
Santos, O desquite, Rio de Janeiro 1936; Planiol, Traité, III.
hs. 477-494; Planiol oPRipert, II, n. 486 e segs.; Huc, Commen-
taire, n, ns. 283-285; Laurent, Cours, I, ns. 215-217; Aubry et
'I^au, Cours, VII, §§ 473 e segs.; Montesquieu, Uesprit des lois,
Hv. XVI, c. 15 e 16; Code Civil allemand, publié par le Comitéi
lég., étr., notas ao titulo respectivo e ao art. 1.564; Glasbon,
■Bc mariage civil et le ãivorce, 2"» éd., pags. 133 e segs.; e ar-
tigo na Grande Encyclopédie; Crubt, A vida do dire*io, liv. II,
capitulo III, Roí, L'évolution du divor.ce; Colin et Capitant,
Cours, I, pags. 188 e segs.; R. Lbmairb, Le mariage civil, nume-
To
s 59-67; G. Barry, Moralitó du ãivorce, Paris, 1880; Endemann,
Cehrbuch, II, § 165; R. Sohm, na Systematische Rechtswissen-
chaft, pag. 70; P. Fesck, Cegenseitige Einwillung ais Sheidungs-
Orund; Chieoni, Ist., § 406; D'Aguanno, La genesi e Vevoluisione
dei ãiritto civile, ns. 100 e 115-131; Cimbali, Nuova fase dei di-
vitto civile, ns. 61-80; Francesco Cosentini, La riforma delia
Icgiiazione civile, pags. 411-420, B. Donati, Dissolubilitá dei vin-
colo nuziale delVassenti; Rossel ét Mentha, Droit civil suisse, I,
hags. 196-199; Kohler, Rechtsphilosophie, pags. 69-70; Lehrbuch,
ll1
' §§ 25 e segs.; Paul et Victor Marguerite, Mariage et di-
266 CODIGO CIVIL

vorce, Paris, 1900; Uélargissement du ãivorce. Paris 1902; San-


ohez Roman, Derecho civil, V, cap. I, n. 24; Vaz Ferreira, Com-
mentario á lei do divorcio; Rivarola, Derecho civil argentino, I,
n. 297; Champeaxj e Uribe, Derecho civil colombiano, I, ns. 328
e 329; Informe de la Comision de Legislacion sobre la ley de
divorcio, Montevidéo, 1907; Alej. Pietri, hijo\, El Goãigo Civil de
1916, nota aos arts. 188 e 191; Martinho Garcez Filho, Direito
de família, II, p. 3 e segs.; Oliveira Castro, O divorcio sob o sen
aspecto jurídico (Pandectas brasileiras, YII, p. 153 e segs.);
P. Leonel Franca, O divorcio.

Observações — 1. — Dissolução da sociedade conjugai pele


morte de um dos opnjuges. O fallecimento de um dos cônjuges
dissolve, não somente a sociedade conjugai, como, ainda, o vin-
culo do matrimônio, de modo que o sobrevivente pode convolar
a novas nupcias, observado quanto á mulher o prazo do art. 183,
n. XIV, que a lei estabeleceu para evitar a confusão na descen-
dência.
O Codigo não desfavorece as segundas nupcias, ainda que o
ideal fosse a viuvez perpetua, .aconselhada pelo positivismo
Algumas providencias, que toma em relação aos subsequentes ma-
trimônios, têm por fito resguardar os interesses da prole (art. 183,
ns. XIII e XIV, 225, 226, 329 e 393).
2. — Dissolução da sociedade conjugai pela declaração da
nullidade, ou annullação do casamento. Se o casamento é nullo,
nenhum effeito produz, quanto aos contrahentes e aos filhos (ar-
tigo 207), e, quando annullado, desfaz-se, como se não tivesse
existido. Nem um nem outro forma sociedade conjugai legitima,
e sim méra união de facto, a que o direito attribue, em dados
casos, certos effeitos moraes e economicos. Somente quando se
realillun as condições do casamento putativo (arts. 22 e 232)
é que ha, propriamente, uma sociedade conjugai, que se dissolve
pela nullidade ou annullação do casamento.
3. — Desquite. O desquite põe termo á vida em commum, se-
para os cônjuges, restitue-lhes a liberdade, permitte-lhes diri-
gir-se, como entenderem, na vida, sem que dependa um do outro,
no que quer que seja; mas conserva integro o vinculo do matri-
mônio. Podendo governar, livremente, a sua pessoa, e, livre-
mente, gerir os seus bens, não pôde qualquer dos cônjuges ca-
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 26?
áar-se, emquanto viver o outro, porque o casamento é um laça
Perpetuo e indissolúvel, que só com a morte se rompe.
Dissolve-se a sociedade conjugai, cada cônjuge retira os seus
bens, porém subsiste o vinculo matrimonial.
4- — Desquite e divorcio. Na discussão do Codigo Civil, na
Gamara dos deputados, em 1901, foi debatida, com solemnidade
excepcional, a preferencia entre o desquite e o divorcio. Anísio
Abreu, Fausto Cardoso, Adolpho Gordo Carlos Perdigão,
Vergne de Abreu, Sã Peixoto, defenderam o divorcio. Comba-
teram-no: M. F. Correia, Alencar Araripe, Andrade Figueira,
Coelho Rodrigues, Gabriel Ferreira, Guedelha Mourão e Lima
Dkummond.
E' assumpto em que as opiniões se mostram irreduveis,
Porque dependem da concepção, que cada um tem do mundo e,
en
i particular da sociedade, Discutir o divorcio não é discutir
Uri:
ia questão exclusivamente jurídica. A matéria, é, antes, do do-
Piinio da sociologia, pois transcende os limites do direito, e inte-
ressa á moral, aos costumes e á educação.
Parece ocioso ainda renovar um debate, que não mostra ten-
dência a resolver-se. Mas sendo a questão da mais alta rele-
v
ancia, por entender com a organização da família, e tendo o
legislador brasileiro mantido a sua posição contraria ao divorcio,
e
conveniente apontar, condensadamente, as razões que o justi-
ficam.
5- — A alguns espíritos afigura-se que a indissolubilidade do
Piatrimonio é, apenas, uma instituição religiosa, conseqüência do
c
aracter sacramentai, que o catholicismo attribuiu á união; que
a
lei civil, imprimindo uma feição contractual ao casamento, lhe
retirou a perpetuidade.
Ainda não existia o catholicismo, e já os romanos conside-
ravam o casamento um consortium omnis vitae, embora, illogi-
carnente, lhe permittissem a dissolução. Mas a verdade é que o
easaxnento, sendo um contracto de natureza particular, a um
tem
Po, social e pessoal, não interessando, simplesmente, á pessoa
contrahentes, mas, ainda, á sociedade, no seio da qual vivem,
e
á família, que vão constituir, é natural que a sociedade o sub-
metia aos preceitos, que julgar necessários á sua própria segu-
ran
6a, tranquillidade e bem-estar. Como os interesses, que se
re
gulam pelo casamento, não são transitórios; como não são, ape-
nas
' dos indivíduos, que se unem, e sim, também, da sociedade
2&8 CODIGO CIVIL

e dos filhos; cómo esses interesses são permanentes, poraue a


familia ê de natureza permanente, a perpetuidade do vinculo ma-
trimonial traduz, com felicidade, a relação creada por esse con-
curso de solicitações diversas, egoistas e altruistas, harmoniza e
equilibra os impulsos da liberdade individual, que não quer limi-
tações, e as necessidades sociaes, que as impõem, em beneficio da
conectividade, da prole, e, também, dos proprios cônjuges, para
os quaes a dissolubilidade é, muitas vezes, um incentivo para a
dissolução.
6. — Allega-se contra o desquite, por ser uma simples sepa-
ração de pessoas e de bens, que é medida injusta, que fere, ao
mesmo tempo, o innocente e o culpado. B', realmente, assim-
Mas, no divorcio, vejo a mesma injustiça. Olhando as coisas de
um ponto de vista geral, elle prejudica muito mais a mulher d0
que o homem; e tanto ella assim o sente que tem por esse inst
tuto uma aversão quasi instinctiya. Honesta, recatada, teme o
escândalo, sente-se diminuida pelo divorcio; e, quando este sobre
vém, encontra-a desarmada para a vida, impotente para lucta
e manter-se.
7. — Outro argumento, que se levanta contra o desquite^
que o celibato forçado produz uniões illicitas. Mas essas uniõ^
illicitas não são conseqüências do desquite, e, sim, da educação
falsa dos homens. Não ê com o divorcio que as combateremos
e, sim, com a moral; não é o divorcio que as evita, e, sim,
dignidade de cada um. E ê curioso que se lembrem de evitar as
uniões illicitas com o divorcio, quando este é, principalmente, o
resultado das uniões illicitas dos adúlteros.
Não é o celibato forçado um estado contrario á natureza,
porque, nas fainilias honestas, nelle se conservam, indefinida-
mente, as mulheres. E' contrario, apenas, á incontinencia.
8. — Home, fundado na psycologia, em que era mestre, e
Portalis, no conhecimento da vida commum, observavam qne
indissolubilidade do casamento actua sobre os cônjuges como
elemento moderador das paixões e consolidador da amizade re-
ciproca. Pequenas querellas se esquecem, quando os cônjuge^
têm deante de si a indissolubildade da união; avultam, são le-
vadas ás suas ultimas conseqüências, se o desligamento é possive •
Deante da exaltação das paixões, que tende a dominar a
intelligencia e a vontade, é preciso pôr um freio poderoso, qne a
possa conter.
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE OONJUGAL 269

9. — A sorte dos filhos, como sentiram Rousseau, Montes-


QXJibu e Glasson, é um dos argumentos mais impressionantes
contra o divorcio. São orphãos que têm paes vivos. Os paes, com
a procreação dos filhos, assumem a obrigação imperiosa de edu-
cal-os, consagrar-lhes as suas energias affectivas, para guial-os
c preparal-os para a vida social. Não têm direito de sacrifical-os
ao seu egoismo. Mas, se os cônjuges se divorciam e contraem
povos casamentos, os filhos perdem os cuidados continuos de um
hos seus genitores, e são levados a lares estranhos, numa atmos-
phera deprimente de odio da madrasta, ou indifferença do pa-
drasto, que lhes difficulta, se não impede, a expansão dos bons
sentimentos, e, moralmente, os deforma.
E, sob esse aspecto, o divorcio é um mal de conseqüências
funestissimas para a sociedade: perturba o desenvolvimento mo-
r
al de muitos seres, prejudica o surto natural dos affectos, que
fêm na familia o seu meio proprio, e prepara gerações inaptas
Para a vida normal, na familia e na sociedade.
10. — A tendência, que o divorcio revela para ampliar-se, é,
Por toda a parte, assustadora. Na França, em 1885, em seguida
^ lei que restabeleceu o divorcio, 4.277 casaes aproveitaram-se
Oa faculdade, que lhes era offerecida; em 1911, o numero de divór-
cios ascendeu a 6.374, e, em 1924, foi além de 21.000. E', afinal, o
casamento temporário que instituem. E, se a progressão continha,
chegar-se-á, dentro de alguns annos, a um estado não distante das
bbiões passageiras, e da promiscuidade.
11. — Uma ilíusão commum é a de que o divorcio diminue
10
numero de crimes, de paixões e das uniões illegitimas. Colin
recorda que as queixas por adultério, que, antes do divorcio, du-
rante quatro annos, não passaram, na França, de 804, nos quatro
nnnos, que vão de 1889 a 1893, elevaram-se a 2.214. A natalidade
hecresceu de 230 nascimentos para 10.000 habitantes. O numero'
âe crimes por paixão amorosa augmentou; e os suicídios, cujaj
curva se desenvolveu parallelamente á do divorcio, segundo al
observação de Dukkeim, também ascenderam a cifras apavo^
rantes. ^
Por todas essas considerações, merece o Congresso os applau-
So
s das melhores consciências, por não ter atirado o palz nesse
âospenhadeiro.
11-a — Hoje, a indissolubilidade do casamento é principio
constitucional no Brasil (Constituição, art. 124).
270 CODIGO CIVIL

12. — Morte presumida pela ausência. O Codigo Civil, no pa-


ragrapho único do art. 315, não reconhece a dissolução do casa-
mento pela morte presumida em virtude de ausência muito
prolongada. Esta é, sem duvida, a melhor doutrina, em face da
indissoluhilidade do vinculo matrimonial. O ausente, passado
certo numero de annos, presume-se morto; porém essa pre-
sumpção não é certeza, o regresso do ausente é possivel, e, para
evitar a possibilidade de dois casamentos egualmente validos,
pois que o primeiro só pela morte se devia dissolver, e o segundo
fôra legalmente contrahido, a razão exige que o cônjuge do au-
sente não possa convolar'para novas nupcias, apezar de se pre-
sumir a morte do seu consorte.
Mas se, não obstante,, a prohibição, o cônjuge do ausente se
casar, quem pode pedir a declaração da nullidade do seu matri-
mônio? O Codigo Civil italiano, art. 113, segunda parte, não per-
mitte a impugnação do casamento do cônjuge do ausente, em-
quanto dura a ausência. Esta regra, porém, é estranha ao systema
do Codigo Civil brasileiro. Portanto, dado o caso de se casar o
cônjuge do ausente, nada impede que qualquer interessado, ou 0
Ministério Publico, promova a nullidade do matrimônio, nos ter-
mos do art. 208, paragrapho único. A restricção do n. II, salvo se
já Ito-uver fallecião o outro cinjuge, não se applica á morte méra-
mente presumida do ausente.

Art. c)16 — A acção de desquite será ordiná-


ria e somente competirá aos cônjuges.
Paragraplio único. Se, porém, o cônjuge fôr
incapaz de exercel-a, poderá ser representado
por qualquer ascendente ou irmão.
Direito anterior — Differente. A acção era summaria, e podia
ser também pedida por descendente (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro
de 1890, arts. 76, 80 e 81).
liegislação comparada — A acção de desquite é privativa dos
cônjuges nos diversos systemas legislativos. Vejam-se: o Codigo
Civil italiano, art. 149; hespanhol, 106; lei chilena, art. 24; Co-
digo Civil colombiano, art. 156.
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 271

Projectos — Esboço, art. 1.387; Felicio dos Santos, 718 e 719


(ainda que o cônjuge séja incapaz, ninguém poderá por elle re-
Querer o divorcio); Coelho Rodrigues, 2.096 e 2.097; Beviláqua,
S6
9 e 370; Revisto, 395.
Bibliographia — Lafayette, Direitos de família, § 34; Cân-
dido de Oliveira, Manual do Coãigo Civil, V, § 259; Pontes de Mi-
randa, Direito de família, § 43; Lüdgero Coelho, Casamento civil,
observação aos arts. 80 e 81, do Dec. n. 181, de 1890; Martinho
Garcez, Direito da familia, § 138; Aubry et Rau, Cours, VII,
§ 477; Ferreira dos Santos, Desquite, ns. 16 e segs.

XOl->-• L TRA8ALHÜ
la^KEGÍAO
Observações — 1. — A acção de desquite compete, exclusiva-
mente, aos cônjuges. A sociedade conjugai é por elles formada,
0
interesse em dissolvel-a somente a elles deve competir. Elles e
ninguém mais é que podem avaliar os motivos do desquite e pesar
as
conseqüências, que possam delle provir.
Todavia, quando o cônjuge é incapaz de exercer q acção de
desquite, permitte o Codigo que, em nome delle, a proponha qual-
quer ascendente ou irmão. A incapacidade, neste caso, resulta da
alienação mental superveniente. Se, sobrevindo essa infelicidade
ao
cônjuge, o outro pratica algum dos actos que motivam o
divorcio, a victima, naturalmente, não pôde usar dos meios de
defesa jurídica, fornecidos pelo Codigo. Representa-o, em tal
contingência, o ascendente, e, na falta deste, o irmão.
2. — A acção de desquite é ordinária e, como é privativa dos
cônjuges, extingue-se com a morte de um delles. Aliás era inútil
dizel-o, porque a morte produz effeito mais lato do que o des-
duite: extingue o vinculo matrimonial, ao passo que o desquite
a
Penas dissolve a sociedade conjugai. Por isso mesmo, o Codigo
dispensou-se de se referir á extineção, pelo fallecimento, do di-
Reito de pedir o desquite, como faz o Dec. n. 181, de 1890, art. 80.
■Alguns Codigos, no emtanto, advertem que a acção de desquite
Dao se transmitte aos herdeiros, é personalíssima. Se é priva-
tiva dos cônjuges, se somente a elles compete, é claro que não a
Podem propor os herdeiros.
O Dec. n. 181, de 1890, facultava-lhe o exercício ao descen-
dente do cônjuge incapaz; porém na supposição de haver filhos
272 CODIGO CIVIL

de leito anterior, pois a acção somente durante a vida»do cônjuge


podia ser intentada.
3_ _Da sentença, que pronuncia o desquite, haverá, sem-
pre, recurso ex-officio, com effeito suspensivo dizia a Const., de
1934, art., 144, paragrapho único.

Art. 317 — A acção de desquite só se pôde


fundar em algum dos seguintes motivos:
I. Adultério.
II. Tentativa de morte.
III. Sevicia ou injuria grave.
IY. Abandono voluntário do lar conjugai,
durante dois annos continuos.
Direito anterior — Conforme, ainda que o Dec. n. 181, de
1890, art. 82, não destacasse a tentativa de morte entre os mo-
tivos de divorcio.
Degislação comparada — Destacarei somente as legislações
semelhantes ao Codigo Civil:
Codigo Civil italiano, arts. 150 a 152. Distingue o adultério
do marido e o da mulher; o desta, ainda que simples, justifica
o pedido de separação; o do marido, somente quando reveste a
fôrma de concubinato, ou quando concorrem circumstancias, que
lhe dêem o caracter de injuria grave á mulher. A condemnação
a uma pena criminal e a falta de domicilio fixo, ou em con-
gruência com a sua condição social, autoriza também o pedido
de separação. Não se refere o Codigo italiano á tentativa de
morte.
Codigo Civil hespanhol, art. 105. O adultério do marido sô
legitima o pedido de divorcio, quando produz escândalo ou menos-
prezo da mulher. A violência exercida pelo marido para obrigar
a mulher a mudar de religião; a proposta para prostituil-a; a1
tentativa do marido ou da mulher. para corremper os filhos ou
prostituir as filhas; e a condemnação do cônjuge a prisão per-
petua são outras tantas causas de divorcio.
Lei argentina, art. 72. As causas do divorcio litigioso são
as mesmas do nosso direito, e mais a provocação de um dos côn-
juges, para que o outro commetta adultério ou outros crimes.
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE COXJUGAL 273

Lei chilena, art. 21. A lei chilena considera causas de divorcio,


alem 1138
mencionadas no Codigo Civil brasileiro: tentativa do
marido para prostituir a mulher; avareza do marido, quando
Cl
ega a privar a mulher do necessário; recusa da mulher a se-
-L o marido, resistência a cumprir as obrigações conjugaes,
e
m causa justificada; vicio arraigado de jogo, embriaguez ou
msipação, enfermidade grave, incurável e contagiosa; condem-
üa
Sdo por crime ou delicto; tentativa de corromper os filhos
011
cumplicidade na corrupção.
^ Codigo boliviano, arts. 144-146. Não se refere ao abandono
^ 0 ^r, nem á tentativa de morte, mas considera a condemnação
a
Pena infamante As outras causas correspondem ás do nosso
Codigo.
Peruano, art. 287. São causas de divorcio: o adultério, a se-
meia, o attentadõ contra a vida do outro cônjuge, a injuria grave,
0
abandono malicioso da casa conjugai, por mais de dois annos
contínuos,
e
a conducta deshonrosa, que faça insuportável a vida
m commum, o uso habitual e injustificado de substancias estu-
pefacientes, enfermidade venerea grave contrahida depois da ce-
lebração do casamento, a condemnação penal privativa da liber-
dade por mais de dois annos, imposta depois do casamento, o mu-
tl10
dissenso.
Mexicano, art. 267. São numerosas as causas de divorcio. O
miulterio devidamente provado de um dos cônjuges, é a causa
Numerada em primeiro logar.
^blém dos mencionados em nosso Codigo, destaca o mexicano
°s seguintes motivos de divorcio; o facto de a mulher dar á
P2» durante o matrimônio, a um filho concebido anteriormente,
dPe seja declarado illegitimo; a tentativa do marido para pros-
lUr
a mulher; a incitação ou coacção de um dos cônjuges para
^Ue a o outro commetta algum crime, ainda que não seja de
Pcontinencia carnal; a tentativa de qualquer dos cônjuges para
0rr
omper os filhos ou a tolerância da corrupção delles; a falsa
P^cusaçâo de um cônjuge ao outro; a recusa de um dos cônjuges
Prestar alimentos na conformidade da lei; os vicios incorri-
gneis
^ jogo ou embriaguez; uma enfermidade chronica e in-
^ • avel, que seja transmissível por contagio ou herança, anterior
PMebração do casamento e ignorada do outro cônjuge; a infra-
C Sao do
.
ClSOs
contracto matrimonial; e ainda outros. São dezesete in-
' ao todo.
b^.laaua — Codiiío Civil — 2.0 vol. 18
274 CODIGO CIVIL

Colombiano, art. 154. São causa de divorcio; o adultério da


mulher, o concubinato do marido; a embriaguez habitual de
Qualquer dos cônjuges; o absoluto abandono, por parte da m
lher, dos deveres de esposa e de mãe, e o absoluto abandono,
por parte do marido, dos deveres de esposo e de pae; os ultrajes,
o tratamento cruel, as offensas physicas, se com ellas periga a
vida do cônjuge, ou se tornam impossível a paz e o socego do-

O Codigo de familia da Rússia soviética faculta o divorcio


por dois fundamentos: o mutuo consentimento-de ambos os con-
jixges, ou o dezejo de um delles somente declarado por escnpto
ou verbalmente apresentado ao tribunal competente (arts. 86 e
seguintes).
Projectos — Esboço, art. 1.386; Felicio ãos Santos, 716, Coe
lho Rodrigues, 2.098; Beviláqua, 371; Revisto, 396. Foi o Pro-
jecto da Gamara, em 1902, art. n. 324, n. II, que poz em relevo a
tentativa de morte, que os outros incluiam nas sevicias e injurias
graves.
Bibliographia — Direito da familia, § 60; Lafayete, Direi-
tos de familia, § 34; Ludgero Coelho, Casamento civil, paginas
267-276- João Arruda, Casamento, ns. 129-137; Cândido de Oli-
veira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 260 e segs.; S. Vampre, Ma-
tinal, I, § 171; Ferreira dos Santos, Desquite, ns. 26 e segs^.
Viveiros de Castro, Delictos contra a honra da mulher, cap. .
PLANIOL, Traité, ns. 495-498 e 505-529; Huc, Commentaire, II, nú-
meros 286-302; Laurent, Cours, I, ns. 218-222; Aubry et Ra ,
Cours, VII, § 476; Brouardel, Le mariage, pags. 33-34, Gode rin
allemand, publié par le Comitê de lég. étr., notas aos arts. 1.5 -
1.569; Endemann, Lehrbuch, II, § 166; Chironi, Ist., 1 > § ^
Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 199-209, Dias D*-
reira, Codigo Civil v\ortuguez, notas ao art. 1.204; Rivarola, '
recho civil argentino, I, n. 298; Champeau e Uribe, Derecho cml
colombiano, I, ns. 330-332; Vaz Ferreira, Lei do divorcio, ns.

Observações — 1. — Antes de mover a acção de desquite, re-


guereri o autor, de aecordo com o art, 223, a separação dos cor-
pos, gue o juiz coucederá com a possível brevidade. Se o aut
fôr a mulher poderá pedir alimentos provlsionaes <art. ZW.
gue lhe serão arbitrados na tórma do art. 400, Vejam-se os c
mentarios aos arts. 223 e 224.
i>A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 275
2. Adultério. Adultério é a quebra da fidelidade matrimo-
n
ial. O nosso Codigo Penal classifica-o entre os crimes contra a
honra e a honestidade da familia (arts. 279-281), e pune-o com
a
pena de prisão cellular por um a tres annos. O marido, porém,
só incorre em pena, se tiver concubina teuda e manteuda. Mas
o Codigo Penal que começará a vigorar em 1942, não distingue en-
adultério do marido e da mulher e a pena imposta é ele
Quinze dias a seis meses (art. 240). Alguns escriptores, ainda im-
Qidos do preconceito da superioridade do homem, a quem se per-
hiittem abusos e desregramentos, como senhor das posições so-
ci
aes, insistem em mostrar que o adultério da mulher é indicio
óe depravação maior, e que produz conseqüências mais graves,
Porque pode introduzir, na familia, filhos estranhos. A primeira
observação é falsa, porque se a sociedade exige da mulher o maior
le
cato, deve, egualmente, exigir do homem que não a desvirtue
com o espectaculo da sua immoralidadej porque o dever da fide-
lidade é reciproco. Se, ao casar-se, o homem fizesse a declaração
ho que nao acceitava para si a obrigação de se manter fiel, não en-
contraria pae honesto que lhe confiasse a filha. A segunda obser-
Va
ção não é mais convincente do que a primeira. O adultério da
Pmiher pôde introduzir na familia um estranho; mas, em regra,
Sa as
6 a
o facilidades do marido que incitam a mulher aos desvios,
questão não deve ser posta nesses termos. Não se trata de
medir as conseqüências da infidelidade. O adultério é justo mo-
1V
Ce o h® divorcio, porque é uma grave offensa ao cônjuge inno-
nte, um rompimento ultrajante da fidelidade promettida. Qual-
hher dos cônjuges injuria, cruelmente, o outro, quando adultera.
. ' encarados os factos do ponto de vista ethico, não são menos
^moraes as ribaldarias amorosas do marido do que as desho-
Pcstidades da mulher.
v
eja-se o art. 319.
- Tentativa de morte. Não é possível continuar a vida
■m Commum, quando o odio ou a perversidade de um dos conju-
êes
e
chegou ao extremo de o levar á eliminação do outro. Ainda
não se trate de um perverso, no sentido rigoroso da expres-
^ > mas de um violento impulsivo, correrá sempre risco a vida
0
outro cônjuge, e a lei deve facultar-lhe o direito de afastar-se
nesse perigo.
O Codigo não exige que a tentativa seja pronunciada por sen-
ten
ea criminal.
^ 4- Sevicia oti injuria grave. Sevicia é o mau tratamento,
^osseria matéria) continuada, a offensa physica.
276 CODIGO CIVIL

Injuria grave ê toda offensa á honra, á respeitabilidade, á


dignidade do cônjuge, quer consista em actos, quer em palavras.
Nas relações entre cônjuges, a injuria não necessita de ser pu-
blica. Ainda na intimidade, ella significa, de parte de quem a
pratica, uma violação dos deveres de affeição e respeito devido
ao consorte, e, da parte de quem a soffre, será uma dôr moial
incomportavel.
Cabe ao juiz apreciar a gravidade da injuria, mantendo-se
na attitude, que a justiça aconselha, não facilitando as desuniões
por excessivas susceptibilidades, que avultam e envenenam coi-
sas futeis, nem desattendendo ao melindre das almas nobres, e
ao mutuo respeito, que se devem os cônjuges. Deve attender á
condição e á educação do injuriado.
O Codigo não usou das palavras sevicia e injuria, no plural.
Quiz assim mostrar que não é necessário que se repitam, para
que possam fundamentar o desquite.
Muitos dos factos, que outros Codigos destacam como figuras
especiaes de causas do divorcio, resumem-se na expressão injuria
grave. Assim é, por exemplo, quanto á tentativa de prostituição
da mulher por parte do marido, e das filhas por qualquer dos
cônjuges.
5. — Abandono voluntário do lar conjugai, durante dois annos
contínuos. O abandono deve ser, ao mesmo tempo, voluntário e
■prolongado. Se o cônjuge deixa o lar, forçado por necessidade
imperiosa e justa, não o abandona. Delle se afasta sem se des-
ligar da familia, pela qual continha a velar. Também não aban-
dona, voluntariamente, o lar a mulher que é delle expulsa poi
um marido violento, ou o cônjuge que foge ao perigo certo, que o
ameaça no tecto conjugai.
O abandono deve prolongar-se. Pôde ser o resultado de um
movimento irreflectido, ou de uma apprehensão infundada. Se,
passado esse período de perturbação emocional, o cônjuge regres-
sar ao seio da familia, deve encontrar abertas as portas do lar.

Art. 318 — Dar-se-á, também, o desquite por


mutuo consentimento dos cônjuges, se forem
casados por mais de dois annos, manifestado pe-
rante o juiz e devidamente homologado.
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 277

Direito anterior — 0 mesmo (Dec. n. 181, de 1890, ar-


tigo 82, § 4.°) .
Legislação comparada — A lei argentina, art. 71, expressa-
mente, repelle o desquite por mutuo consentimento. O Codigo
Civil da.Hespanha e a lei chilena excluem-nos, tacitamente.
O Codigo Civil italiano, art. 158, admitte a separação pelo
consenso dos cônjuges homologado pelo juiz.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 721 (contra); Coelho
Rodrigues, 2.098, § 4.°; Beviláqua, 371, 4.°; Revisto, 396, 4.°,
Bibliographia — Direito da familia, §§ 60 e 61; Feereika dos
Santos, Desquite, ns. 16 e segs.; João Arruda, Casamento, nu-
mero 138; Ludgero Coelho, Casamento civil, pags. 274-276; Cân-
dido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, Y, §§ 265 e segs.; Pon-
tes de Miranda, Direito da familia, § 42; S. Vampré, Manual, I,
§170; Almachio Diniz, Direito da familia, § 40; Planiol, Traité,
11I> ns. 499-504; P. Peick, Gegenseitige Einwillung ais Sheiãungs-
drund; Endemann, Lerhuch, II, § 166.

Observações — 1. — O desquite por mutuo consentimento


Pode ser utilizado pelos cônjuges, por se terem convencido de que
toram infelizes no passo, que deram, ajuntando-se numa commu-
hhão de vida, que não podem manter, ou porque não desejem
fazer escândalo em torno de alguma das causas determinadas,
tlue autorizaria o pedido unilateral do desquite.
Por isso mesmo que o casamento é, ao mesmo tempo, um
instituto jurídico e social, em que predomina o elemento ethico,
e
' ainda, porque é forçoso nelle obter a diffieil conciliação da
liberdade individual, com a tutela dos direitos,- e o respeito á
dignidade do casamento, não permittiu o Codigo, aos cônjuges,
0
desquite por mutuo consentimento, senão depois de dois annos
vida conjugai. Se se fosse attender, somente, á liberdade indi-
v
idual, teriam razão aquelles que entendem que esse motivo de
divorcio poderia ser invocado, desde o dia seguinte ao casamento,
■^cssôas irreflectidas casariam sem attender á gravidade e á san-
idade do acto, e, no outro dia, entrariam em combinação para
desatar, sorrindo, o laço que deram por simples desfastio. Mas o
matrimônio, se não é um sacramento para o direito, como para
a re
ligião catholica, é o acto mais importante da vida individual.
278 CODIGO CIVIL

A sociedade cerca-o de cuidados especiaes, pelo interesse que elle


tem para a vida collectiva, tanto do ponto de vista da solidez da
sua organização, quanto do ponto de vista da moral pura.
2. — Nos paizes, em que ha o divorcio absoluto, nem sempre
a legislação admitte o divorcio amigavel. Reconhecem o divorcio
por mutuo consentimento: a Bélgica, a Dinamarca, o Luxem-
jburgo, o Montenegro (aversão invencivel), a Áustria (aversão
linvencivel e accôrdo; para os não catholicos e judeus), Portugal,
(a Rumania, a Rússia, a Suécia (aversão e odio), Suissa, Turquia
jG Uruguay. Neste ultimo paiz, o divorcio pode, igualmente, ser
jpedido pela vontade da mulher somente (Codigo Civil, art. 187
ida nova edição). A Allemanha, a França (abrogado o art. 233
do Codigo Civil pela lei de 27 de Julho de 1884), a Grécia, a Hol-
landa, e a Hungria não admittem essa causa de divorcio.
3. — Não manteve o Codigo Civil o processo estabelecido pelo
direito anterior para o pedido de desquite amigavel, por ser essa
matéria da competência dos Estados. Houve, no meu sentir,
excesso de escrúpulo. Todavia, é de crer que a legislação não se
afaste do que prescrevia o Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de
1890, arts. 85-87, que assim dispunham:
Art. 85 — Para obterem o divorcio por mutuo consentimento,
deverão os cônjuges apresentar-se, pessoalmente, ao juiz, levando
a sua petição escripta por um e assignada por ambos, ou ao seu
rogo, se não souberem escrever, e instruída com os seguintes
documentos.
§ 1.° Certidão do casamento.
§ 2.° A declaração de todos os seus bens e a partilha, que
houverem concordado fazer delles.
§ 3.° A declaração do accordo, que houverem tomado sobre
a posse dos filhos menores, se os tiverem.
§ 4.° A declaração da contribuição, com que cada um delles
concorrerá para a criação e educação dos mesmos filhos, ou da
pensão alimentícia do marido á mulher, se esta não ficar com
bens sufficientes para manter-se.
§ 5.° Traslado da nota do contracto antenupcial, se tiver ha-
vido.
Art. 86 — Recebidos os documentos referidos, e ouvidos, sepa-
radamente, os dois cônjuges sobre o motivo do divorcio pelo juiz,
este fixar-lhes-á um prazo, nunca menor de quinze dias nem maior
de trinta, para voltarem a ratificar, ou retractar o seu pedido-
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 279

Art. 87 — Se, findo esse prazo, voltarem ambos a ratificar o


pedido, o juiz, depois de fazer autoar a petição, com todos os
documentos do art. 85, julgará por sentença o accordo, no prazo
de duas audiências, e appellará ex-officio. Se ambos os cônjuges
retractarem o pedido, o juiz restituir-lhes-á todas as peças rece-
bidas, e se somente um delles se retractar, a este entregará as
ttiesmas peças, na presença do outro.
4. — O Codigo do Processo Civil e Commercial do Districto
Fedéral, arts. 932 e seguintes, não se afastou, em substancia, do
disposto no direito anterior.
5. — Hoje esta matéria está regulada pelo Codigo de Pro-
cesso Civil, arts. 642 a 646.

Art. 319 — O adultério deixará de ser mo-


tivo para o desquite:
I. Se o autor houver concorrido para que o
réo o commetta.
II. Se o cônjuge innocente lh'o houver per-
doado.
Paragrapho único. Presume-se perdoado o
adultério, quando o cônjuge innocente, conhe-
cendo-o, cohabitar com o culpado.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, arts. 83,
§§ 2.° e 3.°, e 84). Deixava, também, o adultério de ser causa do
divorcio, se o cônjuge, sendo a mulher, fosse violentado pelo
a
dultero.
Legislação comparada — Lei argentina, art. 76; Codigo Civil
Peruano, 250; boliviano, 152 e 153; mexicano, 240-242, que am-
plia a reconciliação a todos os motivos de divorcio.
Algumas das legislações, que consagram o divorcio a vinculo,
também desclassificam o adultério de entre os motivos de divor-
Cl0
. quando perdoado, ou imputavel ao outro cônjuge.
2
Drojectos — Esboço, art. 1.393; Coelho Rodrigues, 2.099 e
-l00; Beviláqua, 372 e 373; Revisto, 397 e 398.
Bibliographia — Direito da família, § 60; Lafayette, Direi-
tos
de família, § 36; João Arruda, Casamento, ns. 130 e 140;
Lpdgero Coelho, Casamento civil, pags. 276-284, Vaz Ferreira,
do divorcio, n. 19; Drumhond, Da cuIjm reciproca dos con-
280 COD1CO CIVIL

juges, no divorcio, nas Conferências do Instituto da Ordem dos


Advogados Brasileiros, 1910, pags. 149-171; Cândido de Oliveira.
Manual do Codigo Civil, V, § 268; Tito Fulgencio, Desquite, nú -
meros 19-22.

Observações — Se o cônjuge induz, ou coage, o outro á pra-


tica do adultério, não poderá fazer da sua torpeza fundamento
para pedir o desquite. Também não deve invocar em juizo o
adultério, que uma vez perdoou. Não é, porém, admissível a de-
fesa fundada em compensação de adultério; nem o perdão con-
cedido a factos anteriores impedirá o cônjuge de propor acção
por factos posteriores. Fala o Codigo em perdão pelo cônjuge
innocente, isto é, aquelle que não infringiu o dever da fidelidade.
O adúltero não tem que perdoar o que commette a mesma falta,
nem pode allegar o desvio do outro cônjuge para excusar o seu.
O lar está conspurcado; melhor será que se dissolva.

Art. 320 — No desquite judicial, sendo a mu-


lher innocente e pobre, prestar-lhe-á o marido a
pensão alimentícia, que o juiz fixar.

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1830, art. 90).


Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 216, e
lei de 1888, arts. 84 e 85; Codigo Civil chileno, 174-176; boli-
viano, 156-158; peruano, 260 e 263. Todos estes Codigos provi-
denciam, nos dispositivos citados, sobre a pensão alimentícia,
em caso de divorcio; mas não obedecem á mesma orientação, e
mostram-se ora mais benevolentes, ora mais rigorosos.
Projectos — Esboço, art. 1.398, 2.°; Coelho Rodrigues, 2.017;
Beviláqua, 375, 2.°; Revisto, 402.
Bibliographia — Lafayette, Direitos de família, § 35; Lu-
dgeuo Coelho. Casamento civil, pags. 300-303; Cândido de Oli-
veira, Manual do Codigo Civil, V, § 269; Ferreira dos Santos,
Desquite, n. 141 e segs ; Tito Fulgencio, Desquite, n. 97-98.
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE COA J UGAL 281
Observações — 1 — No desquite amigável, os cônjuges com-
binam o que deva um prestar ao outro, depois de attenderem ao
regimen de bens estipulado. No litigioso (o Codigo chama judi-
cial), a mulher, sendo innocente e pobre, tem direito de continuar
a
ser alimentada pelo marido, que deu causa ao divorcio. O juiz
attenderá ás faculdades do marido e á condição da mulher, para
fixar a pensão.
2 — 0 decreto-lei n. 3200, de 19 de Abril de 1941, art. 7.°,
Providencia a respeito da segurança da pensão alimentícia.

Art. 321 — O juiz fixará, também, a quota,


com que, para criação e educação dos fillios,
eleve concorrer o cônjuge culpado, ou ambos se
Um e outro o forem.
Bireito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 90).
a
Legislação comparada — Vejam-se o Codigo Civil italiano,
rt. 154; peruano, 258; francez, 303, e o colombiano, 157.
Projectos — Felicio ãos Santos, art. 725; Coelho Rodrigues,
2
-017; Beviláqua, 376; Revisto, 403.

Observação — Trata-se do desquite litigioso, pois no amiga-


Ve
l os cônjuges regulam de commum accordo e o juiz homo-
lo
ga a resolução que tomarem. O cônjuge innocente não fica
desobrigado do dever de sustentar os filhos, mas, estando estes
So
b a sua guarda, despenderá segundo o seu critério e as necessi-
dades. E' ao culpado que será preciso marcar a quota, com que
deverá contribuir, porque, dada a separação, poderia conside-
rar-se livre de todo ônus, que recairia, somente, sobre o cônjuge
innocente.
Se ambos forem culpados, os filhos ficarão na companhia do
Pae e da mãe, segundo a regra do art. 326, e será preciso marcar
^ Quota daquelle, a quem não incumbir a guarda do filho. Será
ambem necessário marcar essa contribuição, no caso em que
0
dos os filhos forem entregues a um só dos cônjuges, embora
c
nlpado, segundo prevê o art. 327, paragrapho único.

Art. 322 — A sentença do desquite autoriza a


Se
P_aração dos cônjuges, e põe termo ao regimen
282 comuo civil

matrimonial dos bens, como se o casamento fosse


dissolvido (art. 267).
Direito anterior — O mesmo, excepto quanto ao regimen
que era dotal (Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, arts. 88 e 91),
Legislação comparada — Vejam-se os Codigos citados nesta
mesma rubrica, ao art. 315, e mais: chileno, 170; argentino, 209
e 210; peruano, 208.
Projectos — Eshoço, arts. 1.398 e 1.401; Felicio dos San-
tos, 723; Coelho Rodrigues, 2.015; Beviláqua, 377; Revisto, 404.
Bibliographia — A do art. 315.

Observações — 1. — O desquite consiste na separação doa


cônjuges, e na cessação do regimen matrimonial dos bens.
Dissolve-se a sociedade conjugai; mas subsiste o vinculo do
casamento, que impede outra união legal.
Separados os cônjuges, tornara-se' elles, um em relação ao
outro, pessoas estranhas, desapparecendo as obrigações reciprocas,
creadas pelo casamento, e -subsistindo, apenas, as que nasceram
do desquite. Assim é que a mulher adquire domicilio proprio,
dirige a sua pessoa, administra e aliena os seus bens, como pessôá
plenamente capaz, sem necessidade da intervenção de outrem.
Ainda que não tenha attingido aos vinte e um annos, não volve
á condição de incapaz, sob o pátrio poder ou sob a tutela, poderes
dos quaes o casamento a libertou.
O mesmo acontece com o homem.
2. — Os bens dividem-se, como se o casamento fosse dissol-
vido por morte. Se o desquite fôr amigavel, os proprios cônjuges
regularão os seus interesses, e o juiz homologará o accordo, que
tiverem feito. Sendo litigioso o processo, quanto aos bens, con-
sistirá na partilha dos communs, no levantamente dos proprios,
e na fixação da contribuição necessária tanto ao sustento dos
filhos quanto aos alimentos da mulher innocente e pobre, segundo
prescreve o art. 320.
O direito anterior mandava manter o dote, apezar do divor-
cio, entregando-o, porém, á administração da mulher, quando
innocente, e deixando aos cônjuges a liberdade de regular o caso,
no divorcio amigavel. Fez bem o Codigo em alterar o direito an-
DA DISSODUÇxVO DA SOCIEDADE COXJUGAJ. 283
terior, nesta parte. Dissolvida a sociedade conjugai, porque os
casados não podem mais tolerar a vida em commum, não é ra-
zoável que, ainda, conservem esse laço economico do dote com
os seus privilégios e. garantias; nem se justifica a permaíiencia,
depois de dissolyida a sociedade conjugai, de um instituto creado
para mantel-a.
Sendo o desquite amigavel, a homolagação pelo juiz é
apenas a declaração de que foram observadas as formalidades
legaes. Resulta dahi que, se entre a confirmação feita pelos côn-
juges de que persistem na vontade de se desquitarem, e a ho-
uiologação judicial sobrevier algum bem a qualquer dos cônjuges,
aâo será isso motivo para se alterar a partilha que houver sido
accordada e constar do respectivo processo.

Art. 323 — Seja qual for a causa do desquite,


e o modo como este se faqa, é licito aos cônjuges
^estabelecer, a todo o tempo, a sociedade con-
jugai, nos termos em que fora constituída, com-
tunto que o façam, por acto regular, no juizo
competente.
Paragraplio único. A reconciliação em nada
prejudicará os direitos de terceiros, adquiridos
a
ntes e durante o desquite, seja qual for o regi-
uien dos bens.

Direito anterior — Differente quanto á restauração do regi-


Dlen
dos bens (art. 89, do Dec. n. 181, de 1890).
Legislação comparada — Vejam-se; o Codigo Civil italiano,
ar
t 157, que dispensa a intervenção da autoridade para o resta-
belecimento da sociedade conjugai; hespanhol, 1.439; chileno, 178;
ar
gentino, 218; colombiano, 159 e 167.
Drojectos — Esboço-, arts. 1.402 e 1.415; Felicio dos Santos,
^5 e 736; Coelho Foãrigues, 2.016; Beviláqua, 378; Revisto, 405.
C Projecto primitivo e o revisto mantinham o direito anterior,
não permittiam aos cônjuges reconciliados restabelecerem o regi-
Inei
i de bens anterior. Foi por emenda do Sn. Andrade Figueira1
se adoptou a doutrina do Codigo {Trabalhos do Gamara, VT,
284 CODIGO CIVIL

pags. 86, 189 e 574, art. 321). A fórmula acceita é a do Codigo


Civil portuguez, art. 1.218.
Bibliographia — Direito ãa família, § 60; Lafayette, Direi-
tos ãe família, § 35; João Arruda, Casamento, n. 146; Ludgero
Coelho, Casamento civil, pags. 297-300; Cândido óe Oliveira, Ma-
nual do Codigo Civil, V, § 272; Pontes de Miranda, Direito de
família, § 14; Ferreira dos Santos, Desquite, ns. 13 e segs.; Tito
Fulgencio, Desquite, ns. 107 e segs.; Champeau e Uribe, Derecho
civil colombiano, 1 ,n. 318; Planiol, Traité, III, n. 675; San-
cites Roman, V, l.a parte.

Observações — 1. — Diz-se que as sentenças do desquite não


passam em julgado, porque, a todo o tempo, os cônjuges se podem
reconciliar. Mas, para que restabeleçam a sociedade conjugai nos
termos, em que fôra constituída com a celebração do casamento,
com o regimen de bens estipulado ou determinado pelo Codigo,
é necessário que a reconciliação se effectue em juizo.
Não diz o Codigo qual o juiz competente, mas é natural que
seja o do domicilio dos cônjuges ou, sequer, o de um delles. Não
é necessário que seja o juiz do logar, onde foi pronunciado ou
homologado o desquite.
2- — A intervenção do juiz é exigida não só no interesse dos
cônjuges, para fixar-se o momento, em que cessou a interrupção
ou suspensão da sociedade conjugai, como, ainda, no interesse dos
terceiros, que podiam ser illaqueados pelos cônjuges. Os que tra-
tam com elles, devem conhecer que as restricções legaes oriundas
do casamento estão restabelecidas e que a mulher não pôde pra-
ticar certos actos, nem o marido certos outros, sem a outorga do
seu consorte.
Os effeitos da reconciliação datam do dia, em que ella fôr
homologada pelo juiz.
3. —' Na França, onde o divorcio dissolve o vinculo matri-
monial, o Codigo não permittla que. os cônjuges divorciados se
pudessem, novamente, unir; mas a lei de 27 de Julho de 1884
tornou possível o novo enlace, desde que haja uma repetição da
solemnidade da celebração do casamento (art. 295). O regimen do
casamento dos reconciliados é o que existia ao tempo do primeiro
consorcio.
Não é licito que os divorciados restaurem o vinculo, que ha-
viam rompido, se algum delles, tendo casado com outrem, depois
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 28b
do primeiro divorcio, dissolveu esse outro casamento por divor-
cio. A lei de 1884 não permittia o divorcio dos reconciliados, mas
a lei de 5 de Abril de 1919 revogou essa restricção á faculdade de
romper o vinculo matrimonial. E a de 26 de Março de 1924, per-
aiittiu que os cônjuges divorciados, ainda que, posteriormente
ao divorcio, tivessem contraliido novo casamento seguido de
novo divorcio, se pudessem reunir, no caso de existirem filhos
vivos, ou descendentes legítimos, oriundos do primeiro casa-
mento, ou no de ter o cônjuge do segundo casamento morrido, de-
pois do divorcio.

Art. 324 — A mullier condemnada na acção


de desquite perde o direito a usar o nome do ma-
rido (art. 240).

Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 92).


O Codigo Penal, art. 379, paragrapho único, pune com a pena de
Pi'isão cellular por quinze a sessenta dias, a mulher, que, conde-
mnada em acção de divorcio, continuar a üsar do nome do ma-
rido.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 299, in
fine, e 311, pr.; allemão, 1.577; suisso, 149; dec. portuguez, de 3
Novembro de 1910, art. 19.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.110; Beviláqua, 379;
Revisto, 406.
Bibliographia — Ludgero Coelho, Casamento civil, paginas
205-308; Macedo Soares, Codigo Penal, art. 379; Cândido de Olt-
veira, Manual do Codigo Civil, Y, § 273; Tito Fulgencio, Desquite,
m 97; Ferreira dos Santos, Desquite, n. 140.

Observações — 1. — O uso do nome do marido pela mulher


^aduz a mais completa communhão moral dos dois seres, que se
Uneni e
P io casamento. Na constância da sociedade conjugai, é di-
reit0
mulher tomar para si o nome do marido. Mas, cessando
so
ciedade conjugai por desquite litigioso, se a mulher não fôr
286 CODIGO CIVIL

o cônjuge innocente, perde esse direito, podendo o marido accio-


nal-a, civil ou criminalmente, pelo uso indevido de seu nome.
O Codigo Civil, como o Penal, refere-se á mulher condemnada
na acção de desquite, porque é, precisamente, esta que pode abu-
sar, enxovalhando, o nome do marido, de quem se separou. E, se a
mulher fôr o cônjuge innocente, ou se o divorcio fôr amigavel?
Subsiste, da parte da mulher, o direito de usar o nome do ma-
rido, porque o casamento se mantém, e não ha uma razão moral
para lh'o retirar.
O Codigo Civil suisso manda que a mulher retome o nome da
família, que usava antes do casamento dissolvido, e o dec. por-
tuguez, de 3 de Novembro de 1890, art. 19, § 2.°, declara que a
mulher divorciada não poderá usar, sob pena de desobediência,
o nome ou nomes que lhe tenham provindo do marido.
2. — Se a mulher divorciada, innocente, fôr commerciante,
não ha razão para ser tratada differentemente da que o não é.
Nem pôde advir para o marido qualquer prejuízo do facto de
continuar inalterada a firma ou razão social, preexistente ao di-
vorcio. Nos paizes, onde o divorcio rompe o vinculo matrimo-
nial, pôde o caso offerecer duvidas; entre nós não.

CAPITULO II

Da Protecção da pessoa dos filhos

Art. 325 — No caso de dissolução da socieda-


de conjugai por desquite amigavel, observar-se-á
o que os cônjuges accordarem sobre a guarda dos
f ilbos.
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, art. 85,
§ 3.°).
lieglslação comparada — V. Codigo Civil hespanhol, arts.
70 e 71; portuguez, 1.093-1.094; uruguayo, 171.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.101, § 3.°; Beviláqua,
380; Revisto, 407.
Bibliographia — Direito da familia, § 24. Em defesa, pagi-
nas 437-441; João Aeruda, Casamento, n. 143; Ludgero Coelho,
Casamento, pags. 287-289; Schirmeistek, I, pag. 142; Ruy Bar-
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 287
bosa, Parecer, pag. 178; Cândido de Oliveira, Manual do Godigo
Civil, Y, § 274; Tito Fulgencio, Desquite, n. 101.

Observações — 1. — E' uma conseqüência natural do direito


de se desquitarem os cônjuges por mutuo accordo, resolverem so-
bre a guarda dos filhos communs. Ninguém maior interesse po-
derá ter sobre a sua prole, salvo aberrações excepcionaes, que não
são de presumir nos desquites amigáveis. E, desde que os pro-
genitores, que se separam, combinam o modo de ter os filhos em
sua companhia, a lei deve respéitar-lhes a vontade. A lei lhes
confere o pátrio poder, em attenção aos filhos, em attenção ainda
aos filhos, permitte-lhes, quando já não os podem conservar ao
lado e sob as vistas zelosas de ambos, que pactuem sobre o modo
de os guardar.
2. — O direito anterior denominava posse dos filhos, o que o
Codigo preferiu chamar guarda, por correcção do Senador Ruy
Barbosa. Pareceu grosseiro e inadequado o vocábulo posse appli-
cado á pessoa do filho. Era um caso de resíduo verbal, porque o
pater famílias entre os romanos tinha um poder quasi absoluto
sobre os filhos, que a analogia contribuía para manter, como pro-
curei mostrar no meu livro Em defesa, lembrando que, em nosso
direito, se dava, muitas vezes, á acção do pae para retirar o, filho,
âo poder de quem o detinha, o nome de reivindicação, como se se
fratassse de cousa injustamente possuída.
Mas, em ultima analyse, foi bem que se désse voz mais ade-
quada, para designar a relação existente entre os progenitores e
a
prole.

Art. 326— Sendo o desquite judicial, ficarão


0
s filhos menores com o cônjuge innocente.
§ 1.° Se ambos forem culpados, a mãe terá
direito de conservar em sua companhia as filhas,
e
ttiquanto menores, e os filhos até a idade de seis
annos.
§ 2.° Os filhos maiores de seis annos serão en-
tregues á guarda do pae.
288 COLIGO <' 1 VTii

Direito anterior — O mesmo, quanto ao principie do artigo;


differente quanto aos paragraphos, porque não se previa a liypo-
these de serem culpados os dois cônjuges, e porque a mae cul-
pada apenas podia conservar em seu ^eder os filhos até tres annos
(Dec. n. 181, de 1890, arts. 90, 96 e 97).
Legislação comparada — Vejam se; Codigo Civil francez, ar-
tigo 302; italiano, 154; dec. portuguez, de 3 de Novembro de
1910, art. 21; Codigo Civil allemão, arts. 1.635 e. 1.636; chileno,
223; uruguayo, 174; boliviano, 159; peruano, 202, 210 e 211;
venezuelano, 193.
O direito romano confiava os filhos ao cônjuge innocente;
mas a mulher perdia esse direito, se passava a segunda nupeias,
si mater aã secunãas non venerit nuptias (Cod. 5, 24, e Nov. 117,
can 1).

Observações — No desquite litigioso, um dos cônjuges, ou


ambos, será declarado culpado pela sentença do juiz, porque,
ainda quando um só seja o queixoso, o processo pode revelar
terem ambos incorridos em culpa.
Sendo um dos cônjuges innocente, é de justiça que se lhe
confie a guarda dos filhos communs, pois elle soube observar,
com dignidade, os deveres que lhe impunha a lei do matrimônio,
que o outro infringiu.
Quando ambos forem culpados, não ha razão para preferencia
em razão da integridade moral ou das virtudes domesticas. At-
tende, então, a lei ao sexo, e manda entregar os filhos ao pae
e as filhas á mãe. Como, porém, na edade mais tenra, a criança
exige desveles, que somente o amor materno sabe ter, até seis
annos os filhos de ambos os sexos ficarão sob a guarda affectuosa
das mães, contribuindo os paes para o sustento delles.
Esta é a norma commum, da qual se apartará o juiz, se as
circumstancias o exigirem, como lhe faculta o artigo seguinte.
Também não impede esse preceito que os paes concordem, parti-
cularmente, sobre a guarda dos filhos, como lhes parecer melhor.

Art. 327 — Havendo motivos graves, poderá o


juiz, em qualquer caso, a bem dos filhos, regular,;
por maneira differente da estabelecida nos ar-
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 289

tigos anteriores, a situação delles para com os


paes.
Paragrapho único. Se todos os filhos coube-
rem a um só cônjuge, fixará o juiz a contribuição,
com que, para o sustento delles, haja de concor-
rer o outro.

Direito anterior — Silente, quanto ao principio, e semelhante,


quanto ao paragrapho (Dec. n. 181, de 1890, art. 90).

ar
Legislação comparada — Vejam-se o Codigo Civil italiano,
t. 154, 2.» parte; o Dec. portuguez, de 3 de Novembro de 1910,
ar
t. 21, paragrapho único; o Codigo Civil suisso, 156; francez,
30
2 e 303.
Drojectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.107 e 2.108 (diffe-
re
ute); Beviláqua, 382; Revisto, 409.
Bibliographia — Cândido de Olivera, Manual do Codigo Ci-
v
rt, V, § 276; João Luiz Alves, Codigo Civil annotaão, a este ar-
Cgo; Pontes de Miranda, Direito de familia, § 40; S. Vampré,
Manual, I, § 167; Tito Fulgencio, Desquite, n. 101, 4.°; Ferreira
D0S
Santos, Desquite, n. 153.

Observação — Confere o Codigo, neste artigo, uma funcção


e
grande responsabilidade ao juiz, qual é a de se afastar das
r
®gras estabelecidas nos arts. 325 e 326. Somente razões muito
861
ias, motivos graves poderão autorizar o juiz a retirar da com-
Punhia dos paes, a fim de confial-os á guarda de outrem ou a esta-
6
ecimentos de educação, crianças, que, por sua edade, reclamam
c
uidados especiaes, que, difficilmente, estranhos podem dar. Nesta
me nt
uuiergencia
ri li irosa,
o. Tanto mais o juiz deve
discrecionaria proceder
é a sua com oquanto
autoridade, maior mais
cri-
ex:
tensa ha de ser a sua responsabilidade.

tiv os do<^seu
V0rc 0
ütigi080- terá,
^procedimento; mas,no no
processo, elementos
amigavel, justifica-
esses elementos
0
® uiente em casos raros lhe serão ministrados. E, sem base se-
^ a não deverá usar de um poder, que se tornaria odioso, quan-
a
lei lh'o conferiu a bem dos filhos.
^ caso de tomar o juiz sobre si regular a situação dos filhos,
eni acontrario;
0 íiireit0 âos paes de a re
não cessa, porém,speito
o seu combinarem qualquer
direito de velar pela coisa
edu-
ev
ilaqua — Codigo Civil — 2.° vol. iO
290 CODIGO CIVIL

cação dos mesmos, porque somente nos casos dos arts. 394 e 395
ser-lhes-á suspenso ou retirado o pátrio poder.

Art. 328 — No caso de annullação do casa-


mento, havendo filhos commnns, ohserva-se-á o
disposto nos arts. 326 e 327.
Direito anterior — A' mãe cabia a guarda das filhas em-
quanto menores e a dos filhos até seis annos; ao pae cabia a
guarda dos filhos depois dessa edade. Havendo culpa de um dos
cônjuges, somente ao innocente competia o direito de ter os filhos
em sua companhia, salvo á mulher o direito de os conservar até
os tres annos (Dec. n. 181, de 1890, arts. 95 e 96).
Legislação comparada — Vejam-se o Codigo Civil hespanhoh
arts. 70 e 71; o portuguez, 1.093 e 1.0-94; e o mexicano, 282 a 284.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.119 e 2.120; (reproduz
o Dec. n. 181, de 1890, arts. 95 e 96); Beviláqua, 383; Revisto, 410.

Observação — A situação dos cônjuges, no caso de nullidad^


ou annullação do casamento, é semelhante á em que os colloca o
desquite, por isso as providencias, quanto aos filhos, são as mes
mas. O cônjuge innocente tem melhores direitos do que o cul-
pado; se ambos são culpados, á mulher se entregam as filhas
menores e ao pae os filhos, respeitado, sempre, o direito das mães
de conservarem comsigo os menores de seis annos.
Se ambos os cônjuges forem innocentes, concordarão no
modo de regular a situação dos filhos.
O juiz, em todo o caso, poderá determinar, a bem dos filhos,
o que lhe parecer mais conveniente.

Art. 329 — A mãe, que eontrahe novas nu-


pcias, não perde o direito a ter comsigo os filhos,
que só lhe poderão ser retirados, mandando o
juiz, provado que ella, ou o padrasto, não os trata
convenientemente (arts. 248, n. I, e 393).
DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE COXJUGAL
291
Direito anterior — A binuba não exercia o pátrio poder, e
Por isso mesmo não tinha a administração dos bens dos filhos
ÍDec. n. 181, de 1890, ort. 94); mas a lei não lhe retirava o di-
r
oito de ter os filhos em sua companhia. Entretanto, não havia
u
oia disposição expressa como a do Codigo no art. 329.
Legislação comparada Vejam-se: Lei argentina, art. 101;
o igo Civil do Chile, 511; colombiano, 599. O Codigo Civil suisso,
• 286, manda collocar o filho sob tutela, quando o pae, ou a
nae, investido do pátrio poder, contráe novo casamento, se as cir-
umstancias exigirem essa medida.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.124; Beviláqua. 384-
ttevistoi, 411.

^ Observação — Este dispositivo, ao mesmo tempo, assegura.


s
mães um direito, que não lhes poderia, razoavelmente, ser ne-
SadO; cillai 0 ter og fj^os em sua companhia, e attende á si-
^ha-ção especial, que um segundo matrimônio cria para os filhos,
0
Primeiro leito, que podem encontrar um padrasto grosseiro ou
e
^ rvesso. A própria mãe poderá se descuidar dos primeiros filhos
volver toda a sua attenção para os do novo casamento. A lei,
a
Ptelosamente, incumbe o juiz de velar por esses infelizes.
^ Leia-se a respeito da matéria deste artigo o que escreveu
a
ni)ido de Oliveira, Manual do Codigo Civil, V, §§ 278 e segs.,
Ue
^ a estuda social, histórica e juridicamente, ainda que haja re-
l0
s a fazer quanto á sua doutrina, no que respeita á interpre-
a
Sâo do Codigo.
TITULO V

Das relações de parentesco

CAPITULO I

Disposições geraes

Art. 330 — São parentes, em linha recta, as


pessoas que estão umas para com as outras na
relação de ascendentes e descendentes.

Direito anterior — Noção commum, porém não consignada


em lei.
Legislação comparada — Inst. 3, 6, pr.; D. 38, 10, frs. 1 e
10, § 9.°; Codigo Civil francez, art. 736; italiano, 48 e 50; heepa
nliol, 916; suisso, 20; portuguez, 1.974 e 1.975; austríaco, 40 e
41; allemão, 1.859; argentino, 345, 350 e 351; uruguayo, 1-01 >
peruano, 886; mexicano, 293 e 297; venezuelano, 60 e 61.
Projectos — Esboço, arts. 141 e 147-149; Nabuco, 80 e 87-8 .
Felicio dos Santos, 89-91 e 94; Coelho Rodrigues, 1.825-1-828.
Beviláqua, 387; Revisto, 412.
Bibliographia — Direito da família, § 12; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, nota 1 ao art. 959; Pontes de Miranda, Direi™
de familia, §§ 118 e segs.; S. Vampré, Manual, I, § 24; AlmacSI
Diniz, Direito da familia, § 47; Estevam de Almeida, Manual ^
Codigo Civil, VI, ns. 1 e segs.; Coelho da Rocha, Inst., §§ 61 e
62; Planiol, Traité, I, ns. 2.030-2.041; Planiol et Ripert, 1 '
ns. 10 e segs.; Endemann, Lehrbuch, II, §§ 191-193; ChiroN »
Ist., I, § 38; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pag- 8 '
Rivarola, Derecho civil argentino, I, n. 337; Dernburg, Direi o
ãi famiglia, § 3.°.
DAS DELAÇÕES DE PARENTESCO 293

Observação — Parentesco é a relação, que vincula entre si as


pessoas, que descendem do mesmo tronco ancestral. Desappareceu
âo direito moderno a relação de parentesco, estabelecida apenas
Pelo lado masculino, que os romanos denominavam agnação.
O Parentesco criado pela natureza é sempre a cognação ou con-
Sa
nguiniãaãe, porque é a união produzida pelo mesmo sangue.
O vinculo do parentesco estabelece-se por linhas. Linha é a
série de pessôas provindas por filiação de um antepassado. E' a
^radiação das relações consanguineas. Diz-se linha recta, quando
a
série desce directamente do progenitor aos procreados ou sobe
dos
últimos para os primeiros. No primeiro caso, a linha é des-
cendente, no segundo ascendente. São parentes ascendentes aquel-
as dos quaes a pessoa procede: pae, avô, bisavô, tetravô; e des-
cendentes aquelles que procedem da pessoa; filho, neto, bisneto,
tetraneto, e assim indefinidamente, sem limite.
Veja-se a Observação n. 2, ao art. 183.

Art. 331 — São parentes em linlia collateral


0
u transversal, até ao sexto grão, as pessôas, que
provêm de um só tronco, sem descenderem uma
outra.
Direito anterior — Noção commum, não consagrada em lei,
hienos quanto ao limite do vinculo.
Legislação comparada — Inst., 3, 6, pr.; D. 38, 10, fr. 1; Co-
igo Civil francez, art. 736; italiano, 50; hespanhol, 916; suisso,
Portuguez, 1.974; austríaco, 41; allemão, 1.589; uruguayo,
•^15; peruano, 887; mexicano, 297; venezuelano, 61.
Lrojectoe — Esl)O0o, art. 147; Nabuco, 87; Felicio dos
antos 95, e 99-101; Coelho Rodrigues, 1.827; Beviláqua, 388;
Revisto, 413.
Libliographia — A do artigo anterior.

^ Observação — Define o Codigo, neste artigo, o que são pa-


es na linha collateral, transversal ou oblíqua, e declara que 6'
SO do ar
po P entesco transversal não se estende além do sexto grão,'
lue, presume-se, depois desse grau já o afastamento é tama-
294 CODIGO CIVIL

nho que a solidariedade e a affeição reciproca não offerecem mais


base apreciável para as relações de direito.
Acham-se na linha collateral os irmãos, os tios, os primos.
Os irmãos denominam-se germanos ou Hlateraes, quando são
filhos do mesmo casal; e unilateraes, quando apenas se ligam por
um dos progenitores. Se esse.progenitor é a mãe, os irmãos são
uterinos; se o pae, os irmãos se dizem consanguineos.
A linha transversal é egual, quando, entre o tronco ancestral
commum e os parentes considerados, a distancia é a mesma-
No caso contrario, é ãesegual. E' duplicada, quando os ascen-
dentes das pessoas consideradas são parentes entre si. A e B,
irmãos, casam com C e D, irmãs; os filhos dos dois casaes são
parentes collateraes em linha duplicada.

Art. 332 — O parentesco é legitimo ou illegi-


timo, segundo procede, ou não, de casamento; na-
tural ou civil, conforme resultar de consangüini-
dade, ou adopçao.

Direito anterior — A lei conhecia essas relações, mas não


as definia.
liegislação comparada — O Codigo Civil allemão, art. 1.589,
in fine, declara que o filho illegitimo não é considerado parente
do pae.
Projectos — Esboço, arts. 166-175; JSÍahuco, 106-114; Felicio,
dos Santos, 107-117; Beviláqua, 389; Revisto, 414.

Observações — 1. — A união sexual legaliza-se pelo casa-


mento. Mas o direito não pôde ignorar o laço, que prende as pes-
soas oriundas de um ajuntamento sem a consagração da lei.
Os filhos illegitimos distinguem-se em naturaes e espúrios,
sub dividindo-se estes em incestuosos è adulterinos. Incestuosos
são aquelles cujos paes são entre si parentes, em grão em que o
casamento é prohibido. Adulterinos os que procedem de união
adultera. Naturaes os que procedem de pessoas, que se podiam
casar (erc soluto et soluta).
DAS EELAÇÕES DE PARENTESCO 295
2. — Parentesco civil é o que resulta da adopção. E' uma
creação da lei, que procura imitar a natureza, estabelecendo entre
as pessoas uma approximação affectiva, á semelhança da consan-
güinidade. O instituto da adopção é considerado o regulado nos
arts. 368-378,

Art. 333 — Contam-se, na linha recta, os gráos


de parentesco pelo numero de gerações, e, na col-
lateral, também pelo numero dellas, subindo, po-
rém, de um dos parentes até ao ascendente com-
pium, e descendo, depois, até encontrar o outro
parente.
Direito anterior — Em matéria de successão, mandavam as
^rds. 4, 94 e 96, contar os gráos pelo direito civil, mas não esta-
beleciam o modo de fazel-o, remettiam o applicador da lei ao
direito romano.
Legislação comparada — Inst., 3, 6; D. 38, 10; Codigo Civil
francez, arts. 737 e 738; italiano, 51; hespanhol, 918 e 919 (ecte
ultimo artigo manda computar os gráos de parentesco pelo di-
re
ito canonico, quanto aos impedimentos do matrimônio catlio-
Hco); portuguez, 1.976 e 1.977; austríaco, 41; allemâo, 1.589;
s
uisso, 20; argentino, 353-356; uruguayo, 1.016; peruano, 888 e
^9; mexicano, 299 e 300; venezuelano, 62.
Projectos — Esboço, arts. 146-154; Nabuco, 86 e 90-94; Feli-
cio
dos Santos, 96, 98 e 99; Coelho Rodrigues, 1.829; Beviláqua,
390
e 391; Revisto, 415.

Observação — Na linha recta, o modo de contar os gráos de


Parentesco ê o mesmo, quer pelo direito romano, quer pelo cano-
uico. Differe, porém, na linha transversal. Outr'ora o direito pa-
tri0
seguia o systema canonico em matéria de impedimentos
u^atrimoniaes, e, para todas as outras relações de direito, ado-
Ptuva os preceitos do direito romano. Dessa duplicidade, resul-
tuva uma certa confusão, que desappareceu com a secularização
Co
uipleta do nosso direito matrimonial (Dec. n. 181, de 1890).
Na linha recta, ascendente ou descendente, contam-se os
gíaos, remontando ou descendo, e cada geração determinará um
296 CODIOO CIVIL

gráo: semper generata quaeque persona graãum aãjiciat (Ins., 3,


16, § 7.°). Assim, a pessoa, que se considera, estará, para seu pae,
lio primeiro gráo da linha ascendente, è para seu filho no pri-
meiro gráe da linha descendente; para seu avô, no segundo as-
cendente, e para seu neto, no segundo descendente, e, assim, por
deante.
Na linha collateral, o processo da contagem é o mesmo; po-
rém não ha nella primeiro gráo; Superior quidem et inferior
cognatio a primo graãu incipit; at ea qúae ex transverso nume-
ratur, a secundo. A razão dessa differença procede do facto de
se remontar da pessoa, cujo parentesco se quer determinar com
outra, ao tronco ancestral commum, e. em seguida, descer até
encontrar a outra pessôa. As gerações apparecem, assim, duas ve-
zes, na operação, ao subir e ao descer.
Os irmãos são collateraes, no segundo gráo, porque os gráos
se contam subindo de um delles, até o pae, que é o primeiro
ascendente commum, e descendo, em seguida, até o outro.
Os sobrinhos (filhos de irmãos) e os tios são parentes col-
lateraes em terceiro gráo.
Os primos e os tios avôs (o avunculus magnus e a materterd
magna) acham-se no quarto gráo.
Não altera a contagem a duplicação do parentesco.

Art. 334 — Cada cônjuge é alliado aos pa-


rentes do outro pelo vinculo da affinidade.
Direito anterior — Sem difinição legal.
Legislação comparada — D. 38, 10, fr. 4, § 3.°; adfines sunt
viri et uxoris cognati; Codigo Civil italiano, art. 52, austriac »
41; allemão, 1.590; suisso, 21; argentino, 363; mexicano, 29 ,
venezuelano, 63.
Projectos — EsDoço, art. 159; Eahuco, 99; Felicio dos San-
tos, 102; Coelho Rodrigues, 1.830; Beviláqua, 392; Revisto, 41
Bibliographia — Direito da família, § 12; Coelho da Bocha»
Inst., § 65; Planiol, Traité, I, ns. 2.042-2.047; Planiol et RxpebT,
II, ns. 16 e segs.; Bndemaxn, Lehrhuch, II, § 196, 4; ChxROA .
Ist., I, § 39; Pontes de Miranda, Direito de familia, § 121, ®
tevam de Almeida, Manual do Codigo Civil, V, ns. 20-22.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 297
Observações — 1. — Affiniãaãe é o vinculo que se estabelece
entre cada cônjuge e os parentes do outro. Entre esses parentes,
porém, não ha relação alguma de ordem jurídica, ainda que, na
sociedade, haja approximação entre as famílias, e, na linguagem
commum, se encontrem expressões traduzindo esse facto.
■Na affiniãade, as linhas e os grãos determinam-se por
.analogia com o parentesco de consangüinidade. Na linha recta
ascendente estão o sogro, a sogra, o padrasto e a madrasta no
iniesmo grão em que o pae e a mãe. Na linha recta descendente, o
genro, a nora e o enteado acham-se no mesmo grão do filho e
da filha. Na collateral, os cunhados estão, como os irmãos, em
segundo grão. Veja-se o art. 183, Observação n. 2.
3
- — A affinidade é legitima, quando procede do casamento;
illegitima, quando o seu fundamento é a união sexual não lega-
lizada; e adoptiva, se se origina da adopção. A todas essas moda-
lidades refere-se o Codigo, no art. 183, ns. II, III e V.
4. — No direito francez, somente o matrimônio produz affi-
nidade. O direito canonico, segundo o Coãex de 1918, art. 97, é
semelhante.

Art. 335 — A affinidade, na linha recta, não


se extingue com a dissolução do casamento, que
a originou.

Direito anterior — Regra seguida, ainda que não expressa-


mente formulada em artigo de lei.
Legislação comparada — O Codigo Civil italiano, art. 52, ter-
c
eira parte; o allemão, 1.590, segunda parte; suisso, 21, e o ve-
nezuelano, 62, terceira parte, declaram que a affinidade perdura
depois de dissolvido o casamento sem distincção de linhas.
Projectos — Esboço, arts. 162, 164 e 165; Nabuco, 102, 104 e
105
J Felicto dos Santos, 104-105; Coelho Rodrigues, 1.831; Bevi-
fogua, 393; Revisto, 417.

Observação — O Codigo não se refere ao desquite nem á


nnnullação ou nullidade do casamento, e sim, á dissolução por
íallecimento de um dos cônjuges. O desquite não extingue a affi-
nidade, porque o vinculo matrimonial subsiste/ Com a annullação
298 CODIGO CIVIL

ou declaração de nullidade do casamento, cumpre distinguir. Se


o casamento fôr declarado putativo, produz effeitos de valido e,
consequentemente, haverá affinidade legitima, que permanece,
apezar de annullado o casamento. Não sendo o casamento puta-
tivo, a annullação produz affinidade illegitima. Em ambos os
casos, a morte de um dos cônjuges faz cessar, por analogia, a
affinidade collateral, legitima ou illegitima.

Art. 336 — A adopçao estabelece parentesco


méramente civil entre o adoptante e o adoptado
(art. 376) .

Direito anterior — Principio acceito.


Para a legislação comparada, Veja-se o art. 376.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 1.832; Beviláqua, 394;
Revisto, 418.

Observação — O parentesco civil, creado pela adopção, ainda


que se restrinja ao adoptante e ao adoptado, por consideração de
ordem moral, reflecte-se, em matéria de impedimento matrimo-
nial, sobre os ascendentes, os descendentes, os cônjuges do ado-
ptante e do adoptado, e sobre o irmão adoptivo (art. 183, ns. I,
III e V).
Veja-se o art. 376.

CAPITULO II

Da filiação legitima

Art. 337 — São legitimos os filhos concebidos


na constância do casamento, ainda que annulla-
do (art. 217, ou nnllo, se se contraliiu de boa fe
(art. 221).
Direito anterior — O mesmo (Dec. n. 181, de 1890, arts. 8.°.
paragrapho único, 56, § 1.°, 70 e 75; Carlos de Carvalho, Direito
civil, arts. 1.554 e 1.556).
DAS REI,AÇÕES DE PARENTESCO 299
Legislação comparada - V. D. 1, 4, fr. 5: pater is est quem
nuptiae ãemonstrant; Codigo Civil francez. art. 312; italiano, 159;
suisso, 252, liespanhol, 108; lei portugueza, de protecção aos filhos
(25 de Dezembro de 1910), arts. l.» e 2.0; Codigo Civil allemão,
•591; austríaco, 138; uruguayo, 213-215; argentino, 245; chi-
' 179; P^uano, 218-220; boliviano, 160; venezuelano, 212;
colombiano, 213; japonez, 820.
Projectos — Esloço, art. 1.460; Felicio dos Santos, 737; Coe-
mo Rodrigues, 2.115; Beviláqua, 395; Revisto, 419.
Bibliographia Direito da família, § 64; Laeayette, Direi-
tos de família, §§ 103 e 104; Pontes de Miranda, Direito de fami-
§ 123; S. Vampeé, Manual, I, § 174; Estevam de Almeida, ilfa-
mial do Codigo Civil, VI, ns. 31 e segs.; Almachio Diniz, Direito
da família, § 48; Coelho da Bocha, Insí., § 289; Planiol, Traité,
. ns. 2.084-2.089; Planiol et Ripert, II, 709 e segs.; Huc, Com-
mentaire, III, ns. 4 e -seg.; Laurent, Cours, I, ns. 257 e 258;
Acbry et Rau, Cours, IX, §§ 542 e 543; Kohler, Lehrhucli, IU,
§ 58; Endemann, Lehrhuch, II § 194; Roth, System, § 152; Liz
Teixeira, Curso, I, tit. VI, § 2.°; Rossel et Men-tha, Droit civil
suisse, I, pags. 333-334; Uribe e Champeau, Derecho civil colom-
iano, I, n. 418; Rivarola, Derecho civil argentino, I, n. 314.

Observação — Filiação e a relação que existe entre uma pes-


Soa
(o filho) e as que a geraram (o pae e a mãe). B' o vinculo
«lue a geração cria entre o filho e os progenitores.
E legitima, quando os paes se acham casados no momento
da
concepção; illegitima, se a união dos genitores não tem con-
sagração da lei.
E a concepção na constância do casamento, que determina
a
legitimidade da filiação. Ainda que o casamento seja annullado,
considera-se legitimo o filho, que, durante elle, foi gerado (ar-
tigo 217). Sendo nullo o casamento, nenhum effeito produz em
'elação aos filhos (art. 207), salvo se fôr" declarado putativo em
attenção á bôa fé de ambos ou de um só dos paes (art. 221),
t^este caso, os filhos são egualmente legítimos, porque o casa-
'^ento produz effeitos de valido.
300 CODIGO CIVIL

Art. 338 — Presumem-se concebidos na con-


stância do casamento:
I. Os filhos nascidos cento e oitenta dias,
pelo menos, depois de estabelecidas a'convivência
conjugai (art. 339).
II. Os nascidos dentro nos trezentos dias
subsequentes á dissolução da sociedade conju-
gai por morte, desquite ou annullação.

Direito anterior — A legislação suppunha os prazos decla-


rados no artigo, porém não dava forma aos cânones da legiti-
midade (Vejam-se o Dec. n. 181, de 1890, art. 7.°, § 1.°, e Carlos
de Carvalho, Direito civil, art. 1. 555).
Legislação comparada — D, 1, 5, fr. 12; credenãum est, euvi
qui ex justis nuptiis septimo mense natus est justum filium esse;
D. 38, 16, fr. 3, § 11: post decem menses mortis natus non aã-
mittetur aã legitimam Jiereãitatem; § 12: ãe eo autem, qui cen-
tésimo octogesimo secundo ãie natus est, Hippocrates scripsit, et
divus Pius pontificihus rescripsit, justo tempore videri natum;
Codigo Civil francez, arts. 312 e 315; italiano, 160; hespanhol,
108; suisso, 252 e 254; portuguez, 101 (os mesmos prazos na lei
de protecção aos filhos, arts. 6.° e 7.°);' austríaco, 138 (determina
os prazos por mezes: o sétimo e o décimo); o allemão, 1.592
(considera época da concepção o período de 181 dias, até 302
antes do nascimento); argentino, 77; chileno, 76; uruguayo, 215:
boliviano, 160; mexicano, 324; peruano, 299 e 301 (180 e 300
dias); venezuelano, 212; colombiano, 214 e 220; japonez, 820.
Projectos — Esdoço, arts. 229, 230 e 1.430; Felicio dos San-
tos, 738,; Coelho Rodrigues, 2.525; Beviláqua, 396; Revisto, 420.
Bibliographia — Direito da família, § 64; Em defesa, pagi-
nas 360-370; Lafayettk, Direitos de família, § 104; EstevaM d®
Almeida, Manual do Codigo Civil, VI, ns. 36 e segs ; Coeli» da
Rocha, Inst., § 290; Planiol, Traité, 1,-ns. 2.102-2.105; Planiol
et Ripert, ns. 732-734; Huc, Commentaire, III, ns. 5-17; LaureNT,
Cours, I, ns. 257-265; Aubry et Rau, Cours, IX, § 545; EndemaxN,
Lehrhuch, II, n. 194; Roth, System, II, 152; Brouardel, Mariage,
pags. 172 e segs.; Lacassagne, Méãicine judiciaire, 1886, pagi-
nas 509-516; Angiolo Filippi, Medicina legale, 1.892, § 16; Nina
Rodrigues, Da filiação legitima, no Direito, vol. 88, pags. 5-26;
DAS DELAÇÕES DE PAKENTESCO 301
Joulin, Traité ães accouchements, 1866, pag. 415; Litteé et Hobxn,
Dictionnaire ãe méãicine, vb. Grossesse; Donon e Dramard, na
Grande encyclopéãie, vb. Grossesse; Sanchez Romak, Derecho
civil, V, cap. XXV, ns. 9-12; Rivabola, Derecho civil argentino, I,
ns. 315-318; Champeau e Uribe, Derecho civil colombiano, I, nú-
meros 418-422; Giantxirco, Ist., § 21. Veja-se, ainda, Cruz e Costa.
na Revista ãe Direito, XXXV, pags. 253-261.

Observações 1. — Casamento valido ou annullaão, con-


cepção durante o matrimônio, ter sido concebido pela mulher e
gerado pelo marido, são os presuppostos da legitimidade da filia-
ção. A origem materna é de fácil determinação: mater sempre
certa est; mas o momento da concepção não se pôde estabelecer
de modo preciso. B como é, justamente, a concepção que decide
da legitimidade, o direito, esclarecido pela biologia, adoptou pra-
zos, máximo e minimo, dentro dos quaes presume que se effe-
etuou a gestação da criança.
E' o que prescreve o art. 338. Presumem-se legítimos: I os
filhos nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de es-
tabelecida a convivência conjugai; II Os nascidos dentro dos
trezentos dias subsequentes á dissolução da sociedade conjugai
Por morte, desquite, ou annullação. E' uma presumpção júris
tantum, que o Codigo permitte destruir (art. 340).
2. — O prazo de cento e oitenta dias é considerado, por
alguns, muito curto, porque, nesse lapso de tempo o feto não ter-
m
ina a sua evolução, não está apto para a vida extra-uterina.
•^as, como bem observa Dramard, a sciencia não tem solução
rnelhor para dar em substituição, e devemos nos contentar com a
verdade jurídica, que se impõe e contra a qual não poderia pre-
valecer, em tal conjunctura dada, uma demonstração scientifica,
Por mais solidamente estabelecida que se pudesse imaginar. O
interesse, a segurança e a paz da família exigiam que assim fosse".
O prazo de trezentos dias é também accusado de estreito,
as as observações referidas por Brouardel oscillam entre
duzentos e setenta e dois a duzentos e noventa e quatro dias;
Líttré e Robin acham que a evolução do feto, ordinariamente, se
oompleta ontre duzentos e sessenta a duzentos e oitenta dias.
Se alguns casos apparecem que vão além dos trezentos dias, são
Acepções fl116 não autorizam a modificar a regra tradicional, pois
ihra constitui opportet in Ms quae plurimum acciãunt, non quae'
e
« inopinato (D. 1, 3, Ir. 2).
302 conico CIVIL

3. — O prazo de cento e oitenta dias é contado, não da cele-


bração do casamento, porém do momento em que se estabelece a
convivência conjugai. Resalvam-se, por esse modo, os casos em
que os cônjuges se tenham de separar immediatamente depois da
celebração do matrimônio ou se casem á distancia, por procuração.

Art. 339 — A legitimidade do filho nascido


antes de decorridos os cento e oitenta dias, de
que trata o n. I do artigo antecedente, não pôde,
entretanto, ser contestada:
I. Se o marido, antes de casar, tinha sciencia
da gravidez da mulher,
II. Se assistiu, pessoalmente, ou por pro-
curador, a lavrar-se o termo de nascimento do
filho, sem contestar a paternidade.

Direito anterior — Silencioso.


negislação comparada — Codigo Civil francez, art. 314; ita-
liano, 230; portuguez, 102; lei de protecção aos filhos, art. 6.°;
hespanhol, 110; argentino, 253; uruguayo, 216; peruano, 307;
mexicano, 328; venezuelano, 213; suisso, 255.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.216; Beviláqua, 397;
sevism, 42i.CONSELHo RIXIONAL DO TRABaUW
~— K REGIÃO
Observações — 1. — O filho nascido cento e oitenta dias de-
pois da convivência matrimonial de seus paes presume-se gerado
depois do casamento, e, portanto, legitimo. O que vem ao mundo
antes desse tempo parece concebido antes da união dos cônjuges,
e não pode invocar, em seu favor, a presumpção legal.
Todavia, se o marido conhecia a gravidez da mulher antes
de casar, e, não obstante, contrahiu o casamento, o seu acto deve
ser interpretado como uma tacita confissão de que o filho é seu.
Poderá não ser assim, mas o direito não permitte que o marido
venha contestar a legitimidade de um filho, que, pelo casamento,
reconheceu. Com a recusa da acção ao pae, nas condições pi'6"
vistas, resguarda-se a honra da mulher, que, realmente, tenha con-
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 303
cebido do seu proprio marido antes de casada, e evita-se a
ostentação da indignidade daquelle que, acceitando o facto, pre-
tendesse depois ultrajar a própria mulher, escandalizar a socie-
dade e desclassificar uma criança. Se, apezar da gravidez conhe-
cida, o marido casa, o filho é seu, ou porque o gerou ou porque o
adoptou.
2- — O mesmo se dirá do que assistiu a lavrar-se o termo do
nascimento da criança, sem contestar a paternidade.
No pi imeiro caso, o marido tinha conhecimento de que a sua
mulher estava gravida. O direito não o quer ouvir, quando, de-
Pois, vier denegar a sua paternidade. No segundo, elle talvez
ignorasse o facto, mas com o. nascimento da criança devia ter
ficado suficientemente esclarecido. Se, pessoalmente ou por pro-
curador, consente em que, no termo lavrado pelo oficial publico,
is6 o .declare pae do recemnascido, não tem mais o direito de
^egar a sua paternidade. No momento, em que o facto devia
chocal-o ou indignal-o, acceitou-o de animo calmo; mais tarde,
guando pode encarar as coisas friamente, se se mostra indignado,
descobre a sua má fé.

Art. 340 — A legitimidade do filho conce-


oído na constância do casamento, ou presumido
^1 (arts. 337 e 338), só se pôde contestar, pro-
^ando-se:
I. Que o maridó sè aôhaya, physicamente,
. ^possibilitado de cohábitar com a mulher, nos
Primeiros cento e vinte e um dias, ou mais, dos
trezentos, que houverem precedido ao nasci-
taento do filho.
II. Que a esse tempo, estavam os cônjuges
tegalmente separados

. anterior —- Silencioso; mas a doutrina procurava sup-


®rir-lhe a lacuna.
Legislação comparada — V. D. 1, 6, fr. 6 e 22, 3, fr. 29, § 1.°;
^°digo civil francez, art. 312, 2.» parte; italiano, 102 c 163; lei
^ fugueza de protecção aos filhos, art. 7.°, que accrescenta algu-
a
coisa ao art. 103 do Codigo Civil; hespauhol, 108, 2.» parte;
304 CODIGO CIVIL

argentino, 246 e 250; chileno, 180; nruguayo, 217; mexicano, 325


e 327; boliviano, 160; venezuelano, 214 e 215; snisso, 254; alle-
mão, 1.591.
Projectos — Esboço, art. 1.472; Felicio dos Santos, 739; Coe-
lho Rodrigues, 2.128; Beviláqua, 398, Revisto, 422.
Bibliographia — Direito da familia, §§ 64 e 65; Lapayette,
Direitos de familia, § 104; Pontes de Miranda, Direito de familia,
§ 124; Estevam de Almeida, Manual cit., ns. 49 e segs.; Coelho
da Rocha, Inst., § 291; Planiol, Traité, I, ns. 2.166-2.188; Planiol
et Ripert, II, ns. 737-739; Huc, Gommentaire, III, ns. 8-13; Lau-
rent, Cours, I, ns. 259 e 260; Aubby et Ratj, Cours, IX, §§ 545,
545 Ms; Kohler, LehrMich, III, § 61; Chironi, Ist., II, § 391;
Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 334-336; Giantxjrco,
Ist, § 21.

Observações — 1. — São legítimos os filhos nascidos na con-


stância do casamento, ou até trezentos dias depois da dissolução
da sociedade conjugai. Esta presumpção da lei cede deante da
realidade contraria. Mas o Codigo não permitte destruil-a se não
por factos taxativamente determinados. A moralidade das famílias
e a conformidade entre a presumpção legal e o que ordinaria-
mente acontece justificam essa restricção.
Os factos, que autorizam a contestação da paternidade do
filho nascido na constância do casamento, ou dentro dos prazos
legaes da gestação, ou nas condições previstas pelo art. 339, nú-
meros I e II, são:
a) A impossiMUdaãe physica da cohabitação dos cônjuges no
momento da concepção, que se determina pela differença entre o
máximo de trezentos dias da gestação e o minimo de cento e
oitenta dias. Se o filho nasceu nesse período, é que a sua con-
cepção se deu durante a impossibilidade physica da cohabitação.
Essa impossibilidade physica pode resultar; 1.°, de apartamento,
se os cônjuges se acham em logares distantes, e o espaço inter-
mediário não foi transposto, interrompendo a separação, ou se
um dos cônjuges estava detido em logar, de onde não pudesse
sahir, ou onde não pudesse receber o outro, como uma cellula de
prisão publica; 2.°, de moléstia grave, impotência ou algum nc"
cidente (mutilação, operação cirúrgica, etc.), que afaste a possi-
bilidade da geração por parte do marido.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 3Q5

coaiuif
J
f • Por ^VOSsitiUilaae
sepaiaçao moralresmtante
legal comprehende-se o desquite e a se- da separaçã
ac(íoSade
d0pPr0V1 n
annu)? ~'
0 art 223 aUt0rÍZa Como rel
' P ^inar da
üaQao do casamento ou de desquite.
Pano-, i i 0 umco,
Paragrapho
COdlg0 ClVl1 francez ar
accrescentam ' a esses
t. 313,factos,
e o portuguez, art. 107,a
que autorizam
staçao da paternidade, a occultação do nascimento do filho
parte da mulher, porque, assim procedendo, ella faz suspeitar

rrrulterlna do fimo-como' porén,■a ^ -


MoTo8! • 80 EOr S'' nâ0 é Pr0ía ^ dne o marido
natnl? ; 0 ^ Pr0VaS com'"e»entareS, além do escândalo, gne,
Pr0
dente éT f !em' nao ^ ^eultado seguro, mais pru-
eiXai eSSe fact0 COm0 fez 0 le isIado
nestee npasso acompanhado '
pelo brasileiro. S r italiano,

.A.aCSâ0
Drazn ace cois de COnteStaSã0 (ia
P^rnidade
mezes, contados do nascimento extingue-se
do filho, no
se o ma-
0°^ oPresente;
taCnltaram
e em trez
nxezes,
nascimento. O prazo, se segundo
neste estava ausente
caso, seou con-
lhe

cconh C0 da VOlta d0 marid0 á casa con u a


Í S l, ou da data do
onhecimento do facto (art. 178, §§ 3.° e 4.°).

Ar 341 mo valerá 0
anf i' ~ motivo do ar ti g-o
e 11 Se 08 COnjU eS
Sn r ' "d
hido a.lgum dia 'sob. o teoto conjugai.
S col-

Wreito anterior — Silencioso.

«ii^SaTl01CBrrada ~ C0ÍlS0 CM1 ,rancez' "t- 513, ín


tinia parf ' ' • paiteí chüeno, 190; venezuelano, 215, ul-

0 0061710 R0ãrigues art 2


Cr? ' - -129; Beviláqua, 399.
fissão da ri00111"11" dlsposisao correspondente. Foi a Com-
lC;rr*r»«• parte, o
^aculdade , 'l <0 Ielato1' J- Monjaiídim, suggestionado pela
C DÍreit0
amara vt ^ MÍI,aS Geraes CJTaãalãos da
a 0 A1,aS a re c
Ho l'roi,.,;
' )ecto primitivo. "a Sâo do Codlgo não é mais

20
306 ronioo civil

Observação — O Codigo considera desapparecida a impossi-


bilidade moral da conjuncção entre marido e mulher legalmente
,separa'dos, quando se tenham encontrado sob o tecto conjugai.
íNão se contentou com a reunione anche soltanto temparanea fra
\i coniugi, do Codigo Civil italiano,, nem com a réunion de fait,
do Codigo Civil francez. Tal reunião pôde não ter significação
nem conseqüência, desde que não importe reconciliação, ainda que
ephemera, dos cônjuges. E' necessário que se tenham encontrado
sob o tecto conjugai. Mas, se o desquite dissolveu o lar, onde se
encontra o tecto conjugai? Durante a separação piovisoiia, que
antecede a annullação e o desquite, continha a ser o tecto con-
jugai a casa, onde se acha a familia, da qual se afasta o conjuga
que propõe acção; porém, dissolvida a sociedade conjugai, não
ha mais habitação commum.
O Projecto pTimitivo, art. 399, e o do Dr. Coelho Rodrigues,
art. 2.129, falavam" em cohabitação, ainda que de um dia so-
mente, sol) o mesmo tecto, e assim também dizia a proposição da
Gamara, art. 347. O Senado redigiu o artigo como se lê no Codigo-
A interpretação literal deixa-nos perplexos. Será forçoso procurai
o pensamento da lei através dessas palavras inadequadas. Ess
pensamento outro não pode ser senão o seguinte: se os cônjuges
legalmente separados se reconciliarem, ainda que momentanea-
mente, e conviverem algum dia na residência de um delles, 01
porque a mulher vá ter com o marido ou porque este volva á s
mulher, o filho concebido nessa época é legitimo, e contra essa
qualidade não será licito invocar a separação legal dos pães.

Art. 342 — Só em sendo absoluta a impotên-


cia, vale a sua allegaçao contra a legitimidade do
filho.
Direito anterior — Silencioso.
Legislação comparada —- D. 1, 6, fr. 6. in fine; Codigo
italiano, art. 164; venezuelano,216.
Em sentido differente: Codigo Civil francez, art. 313; P0
guez, 105; argentino, 252; uruguayo, 218; boliviano, 161.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.127, 1.°; Bevilagua,
Revisto, 423.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO gQj

líibliographia — Direito da familin s rí. r»


ns. 2.171 e 2t.iíZ,
172- Huc,
TTttp ^ ramtlia,III§ 65;
Commentaire, n q-Planiol,
t attijttattTraité,
« I,
I. n. 259; Chironi, ist., s 391- rAR' ' mstl0niLAUREr<T' c™rs,
vile, I, pags. 21-26 ' ' Q di ãiritto ei-

CÍVÍ1 franCez arts 312 e


^nsuTentveTimx,ot ' - 313, dis-
ral. A primeira uor seT'' reSUltante de um accidente e a natu-
de denegação d'a paternidade- rsegundá 6 admÍttÍda C0m0 Causa
e provocar escândalo. . segunda, por ser sujeita a erros
P10Va na0 PÓde Ser alIe
esse effeito O Codiao r- ' sada, para
105 COllOCa Se em 0
tro pon a de v^sta A f ' - -
lm 0
mentn
mento, Tã J ser allegada,
nao pode P t^cia
mas doa posterior
marido, anterior ao casa
pôde sel-o com
que nao te
^a por fundamento a velhice
Mlid^dr^afe.,!0 " aPOlam ^ Ma razao- Se a
dento • existe, seja congênita ou produzida por acci
ser attrttuidôT" ^ POSterÍOr a0 cas™Mío. o filho não pódõ
«ai é o do direito m " E0<iÍa gel ar 0 B0nt0 de >ísta racio
' ' '
omano
senerar, , « : « paterjamilm Juit.
Porén, ' "UnC QUÍ in ÍOmo est
- «• esse.
aeve ser ou mamíesta c mo
cz:~r ' " o codigo
o Codiao r- -i 6 venezueIano' art- 316, ou absoluta, como exige
«^0^1 Pr:'1:»0 ePÍthet0

tunraia™—rr

PerS1StlDd0 em t0d0 0 a
Pessôa ^ ^ito de

baSta 0 aduIteri
o da mulher,
lnai1 0
Para ?1H r ^ vivia sob o mesmo tecto,
4 preSUmp ão le al
da prole S g da legitimidade

r Sll
«lp. romano""'""" eiicloso.A doutrina pedia luzes ao dl.
308 CODIGO CIVIL,

Legislação comparada — D. 48, 5, fr. 11, § 9.°:.... nam non


utique crimen adultern guoã mulieri objicitur infanti praeju-
ãicat, cum possit et illa adultera, esse, et impunes ãefuctum pa-
irem hahuisse; Codigo Civil chileno, art. 181.
Vejam-se, também: francez, art. 313; argentino, 252; italiano,
165; uruguayo, 218, 2.a parte; venezuelano, 217; boliviano, 161.
Projectos — Eshoço, art. 1.473; Coelho Rodrigues, 2.127, 2.°;
Beviláqua, 401; Revisto, 424. Estes Projectos resalvaram o caso
de occultação do nascimento do filho. A Gamara eliminou esta
restricção.

Observação — O adultério da mulher, ainda que confessado


ou ostentado por ella, não desvanece a presumpção da legitimi-
dade do filho, porque, apezar delle, o genitor pôde ser o marido.
Servirá o adultério da mulher, apenas, para corroborar a impossi-
bilidade physica ou moral da cohabitação. Se o marido, por exem-
plo, está distante e, durante a sua ausência, nos cento e vinte e
um dias anteriores ao nascimento do filho, a mulher commetteu
adultério, a sua infidelidade é um poderoso elemento de convicção,
para o que allegar o marido, contestando a legitimidade do filho.
No systema do Codigo, não pode a allegação de adultério da
mulher ter outro prestimo senão funccionar como prova comple-
mentar da iliegitimidade do filho.

Art. 3M — Cabe, privativamente, ao marido,


o direito de contestar a legitimidade dos filhos
nascidos de sua mulher (art. 178, § 3.°)-

Direito anterior — Era doutrina seguida, confirmada pelo


Codigo Penal, art. 279, § 2.°.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 106,
argentino, 256; chileno, 182.
Vejam-se também; francez, arts. 312-317; italiano, 162-169; ve-
nezuelano, 212 a 221; hespanhol, 111 e 112; suisso, 252 a 256.
Projectos — Eshoço, art. 1.474, 1." parte; Felicio dos Santos,
740; Beviláqua, 402; Revisto, 425. .
Bibliographia — Direito da familia, § 65, Lafavktte. DifO
tos de familia, § 106; Estevam de Almeida, Manual cit.. ns. 62 a
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 309

segs.; Viveiros de Castro, Delidos contra a honra ãa mulher,


cap. I; Macedo Soares, nota 420 ao art. 281 do Codigo Penal;
Planiol et Ripert, II, ns. 785 e segs.

Observação — A acção para contestar a legitimidade do filho


envolve, necessariamente, a accusação de adultério por parte da
mulher, e não permitte a ethica jurídica, de modo algum, que
alguém atire essa nodoa á honra da mulher casada, senão o seu
Propno consorte. A honra dos cônjuges, neste caso, se confunde,
e a lei deixa o marido arbitro de escolher o caminho, que me-
lhor convenha seguir: o do estrepito escandaloso, ou o da sepa-
ração silenciosa.
Ainda que o marido seja incapaz, a acção não pode ser pro-
posta por outrem.
Somente quando o marido, em vida, inicia a acção é que
seus herdeiros poderão continual-a.
Veja-se o art. 317, 2.° commentario.
Para a prescripção, além do § 3.° do art. 178, veja-se tam-
bém o § 4, I.

Art. 345 — A acção, de que trata o artigo an-


tecedente, uma, vez iniciada, passa aos herdeiros
do marido.
Direito anterior — Era doutrina assente.
Uegislação comparada — Por direito romano, se o marido
Corresse, sem ter iniciado a acção de contestação de legitimidade
<i0
^bo, os seus herdeiros não a podiam propor. Esta foi a dou-
trina que adoptou o Codigo Civil brasileiro. Outro caminho se-
guiram os Codigos modernos. Pelo francez, art. 317, se o marido
0rr
e antes de expirar o prazo para propor a contestação da legi-
i^idade do filho, os seus herdeiros podem propôl-a. O italiano,
67, reproduz essa doutrina, e, no art. 169, accrescenta o caso do
Posthumo, nascido trezentos dias depois da dissolução ou annulla-
Sao do casamento, Como o italiano, dispõe o venezuelano, arts. 219
^21. o hespanhol, art. 112, dá, aos herdeiros do marido, acção
ara impugnar a legitimidade do filho em tres casos: a) se o ma-
^1(l0 fallecer antes de esgotado o prazo concedido para deduzir a
oUa ac
São; l)) se morre depois de iniciada a acção; c) se o filho
310 CODIGO CIVIL

é posthumo. Idêntica é a doutrina do portuguez, art. 180. Ve-


jam-se, ainda, o chileno, arts. 184 e 185; argentino, 258; uru-
guayo, 221; boliviano, 164; e mexicano, 298 e 299.
Projectos — Esboço, arts. 1.467 e 1.474; Felicio dos Santlds;
740; Coelho Rodrigues, 2.131; Beviláqua, 404; Revisto, 427. Os1
Proiecíos anteriores seguiram doutrina differente; o Revisto é
que imprimiu ao dispositivo a feigão transmittida ao Codigo.
Bibliographia — Direito de familia, § 65; Lafayette, Direi-
tos de familia, § 106; Planiol, Traité, ns. 2.197-2.199; Planiol
et Ripekt, II, ns. 785-788; Huc, Commentaire, III, ns. 23-26; Lau-
rent, Cours, I, ns. 272-276; Ciiironi, Ist., § 391; Aubry et Rau,
Cours IX, § 545 bis.

Observações — 1. — Os herdeiros do marido podem continuar]


a acgão proposta por elle; mas, por direito proprio, não a podem
intentar, ainda quando o marido tenha fallecido em estado de
alienação e que o filho seja posthumo. Neste ponto, é grande o!
rigor no nosso direito, mas esse rigor se justifica pelo melindre
da honra das famílias. Abrir as portas do pretorio aos herdeiros
do marido para excluir da familia legitima um filho, é extrema^
mente perigoso, porque a ambição é desprovida de escrúpulos,
e a perversidade humana é, muitas vezes, fecunda em recursos.
Morto o marido, sem intentar a acçâo negativa da paterni-
dade, que lhe competia, entende-se que acceitou o filho como seu.
Se este nasceu depois de sua morte, mais prudente é deixar tran-
quilla a memória do morto, e a dignidade da sua familia, do que
expôl-as aos assaltos da ganancia, que poderá esmagar a inno-
cencia, fingindo que desaffronta uma injuria.
2. — Se, porém, o filho nascer depois de passados os trezentos
dias da morte do marido, já se não trata mais de um filho pos-
thumo do fallecido, e sim de um estranho introduzido na familia
pelo desregramento da mulher. Neste caso, cabe aos herdeiros
contestar a legitimidade do filho, porque elle não pode se soccorrer
da presumpção legal de ter sido gerado na constância do matri-
mônio de seus paes.
Poderá acontecer que a gestação dure mais de trezentos dias.j
Mas, ainda assim, não ha perigo de se despojar da legitimidade|
quem a ella tenha direito, porque essa evolução demorada é exce-j
pcional, e a morte é quasi sempre precedida de um período de
enfermidade que exclue o contacto sexual.
DAS EELAÇÕES DE PARENTESCO 311

Também se a mulher dá á luz um filho, cujo nascimento sei


realiza trezentos dias depois de verificado o desapparecimento do;
marido, aos herdeiros deste cabe acção para afastar do grêmio:
da família legitima o intruso.

Art. 346 — Não basta a confissão materna


para excluir a paternidade.

Direito anterior — Doutrina acceita.


Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 109;:
argentino, 255; chileno, 188, ultima parte. Vejam-se também o'
francez, 318, in fine; italiano, 165, ultima parte; venezuelano,
217, ultima parte; e mexicano, 345.
Projectos — Esboço, art. 1.479, 2.:l parte; Coelho Rodrigues,
2.133; Beviláqua, 405; Revisto, 428.

Observação — Nas acções negativas da paternidade, a mãe


ha de ser, necessariamente, ouvida, como directamente interes-
sada. Mas se ella, despejadamente, se apresentar como adultera,
hão fará prova essa sua declaração contra os direitos do filho..
Não se collocou o Codigo, para assim estatuir, no ponto de vista'
ha regra de direito — nemo auãitur propriam turpituãinem alie-
gans. A confissão da mulher é acceita, mas somente como prova)
complementar, nos casos do art. 340, ou se,o filho nasceu trezentos)
hias depois do fallecimento do marido. A razão principal, por quej
a confissão materna é inoperante para a exclusão da paternidade,)
e
a suspeita de que somente por um impulso de odio, que lhe'
tenha nublado a razão e obliterado o pudor, a mãe virá, de pu-
blico, declarar que o seu filho não é legitimo. Um tal depoimento1
deve ser recebido com prevenção. Mas poderá ser verdadeiro, e a!
^ei o acceita para confirmação de outras provas.

Art. 347 — A filiação legitima prova-se pela


certidão do termo do nascimento, inscripto no re-
gistro civil.
312 CODIGO CIVIL

Direito anterior — O Dec. n 181, de 1890, art. 8.°, para-


grapho único, tem maior amplitude.
liegislação comparada — Nov. 117, c. 2; Codigo Civil fran-
cez, art. 319; hespanhol, 115; portuguez, 114; peruano, 311; ve-
nezuelano, 222; mexicano, 340.
Projectos — Esboço, art. 1.489 e 1.491; Coelho Rodrigues,
2.135; Beviláqua, 406; Revisto, 429.
Bibliographia — Direito da família, § 66; Lafayette, Direi-
tos de familia, § 108; Pontes de Miranda, Direito de família,
§ 127; S. Vampré, Manual, I, § 179; Axmachio Diniz, Direito da
familia, § 48; Coelho da Rocha, Inst., § 293; Planiol, Traité, I,
ns. 2.115-2.118; Huc, Commentaire, III, ns. 33 a 36; Aubsy et
Rau, Gours, IX, § 544.

Observações — 1. — O registro civil do nascimento (Dec.


numero 4.857, de 9 de Novembro de 1939, arts. 63 a 80) desti-
na-se naturalmente, a provar o nascimento da pessoa; mas a lei
lhe attribue o poder de provar a legitimidade dâ filiação; porque
nelle se declara essa qualidade, quem são os paes do inscripto,
e o seu estado de casados. A certidão poderá referir-se a outra
pessoa; mas, emquanto o facto não é contestado, a lei dispensa
a prova da identidade de quem a apresenta.
2. — O direito anterior e os Projectos accrescentavam a esta
prova pela certidão extrahida do registro civil, a que resulta da
posse de estado. A Gamara, porém, para mais prestigiar o re-
gistro, eliminou, do artigo, este modo de prova da filiação legi-
tima, que, entretanto, resurge no art. 349, onde se attende á
necessidade de provar a filiação na falta do registro.

Art. 348 — Ninguém pode vindicar estado


contrario ao que resulta do registro do nasci-
mento .

Direito anterior — Doutrina acceita.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 322; ita-
liano, 173; portuguez, 117; venezuelano, 223.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 313

Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.137; Beviláqua, 409;


Revisto, 432. Estes Projectos faziam resultar da harmonia entre
o registro e a posse de estado uma prova indestructivel.
Bibliographia A do artigo antecedente, e mais Gabba,
Quistioni ãi ãiritto civili, I, pags. 27-47,

Observações 1. A força probante do registro civil pre-


valece a favor e contra o inscripto. Se a declaração do registro
Prova a filiação legitima, é claro que ninguém poderá pretender
estado differente do que consta da inscripçâo, a que a lei dá fé
Publica, salvo se provar a falsidade ou erro do registro. Assim, se
alguém se achar inscripto no registro civil como filho natural,
sem provar a falsidade ou erro da inscripçâo, não poderá pre-
tender a condição de filho legitimo.
2. — Cumpre notar que o artigo como se encontra no Codigo,
resulta de mutilação imposta, pela Gamara, ao art. 431 do Pro-
jecto revisto e 409 do primitivo. O que affirmavam esses Projectos
e
que se o estado da pessoa declarado no registro correspondesse
a
Posse em que se achava, não poderia ella reclamar outro. O que
se diz agora é que uma vez declarado o estado no termo do nasci-
hiento não é mais possível pretender outro. Este rigor extremo
se attenua, e não redunda em clamorosa injustiça, se accrescen-
tarmos: salvo provando-se erro ou falsidade do registro.

Art. 349 — Na falta, ou defeito do termo de


Nascimento, poderá provar-se a filiação legitima,
P0i' qualquer modo admissível em direito:
I. Quando houver começo de prova por es-
cri
Pto, proveniente dos paes, conjuncta ou sepa-
radamente .
J II. Quando existirem vehementes presum-
Pções resultantes de factos já certos.

la
Uireito anterior — A matéria deste artigo não estava regu-
âa em lei.
314 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Em direito romano, a prova da


filiação legitima resultava do reconhecimento do pae em escripto
por elle, assignado e subscripto por tres testemunhas, de testa-
mento do pae, do depoimento de testemunhas, que deviam ser
cinco, se não havia um começo de prova por escripto, e tres,
quando houvesse esse começo de prova (D. 22, 3, fr. 29, pr.; Cod.
4, 20, § 1.°: Nov. 117, cap. II; Van Wbtter, Droit civil, pag. 27).
Codigo Civil francez, art. 323; italiano, 174; portuguez, 116; hes-
panhol, 117; argentino, 263; venezuelano, 224; mexicano, 341.
Projectos — Esboço, art. 1.490; Felicio dos Santos, 744; Coe-
lho Rodrigues, 2.138; Beviláqua, 410; Revisto, 433.

Observações — 1. — A prova adequada da filiação legitima,


no systema do Codigo Civil, é a certidão do registro de nasci-
mento da pessoa. Mas o registro pode faltar, ou porque os paes
não fizeram a declaração, ou porque se tenha perdido o livro.
Também pode acontecer que o registro exista, mas seja defeituoso,
como quando o filho é dado com diverso nome, ou se lhe attribue
paternidade incógnita. Em todos esses casos, é permittido recoi-
rer a qualquer genero de prova. Em verdade as provas, que, mais
naturalmente, se podem applicar a este caso, são a testemunhai
e a posse de estado.
2. — Mas só é permittido recorrer a essas provas em dois
casos: 1.°, havendo um começo de prova por escripto proveniente
dos paes; 2.°, existindo vehementes presumpções resultantes âe
factos já certos.
O Codigo Civil brasileiro não diz, como fazem o francez,
art. 324, o italiano, 175, e o venezuelano, 225, o que se deve en-
tender por começo de prova por escripto. Realmente a matéria
é mais da alçada da doutrina juridica do que da norma legisla-
tiva. Ha começo de prova por escripto da filiação legitima, sem-
pre que, em um documento publico ou particular, os paes con-
juncta ou separadamente isso affirmam.
Supponha-se que, num livro de familia, se encontre a de-
claração dos paes de que lhes nasceu, em determinada data, seu
filho com o nome, que é o da pessoa, cuja filiação se qa®
provar. Sendo os paes casados, ha um começo de prova da 1-
liaçãq legitima, que pode ser completado por meio de testemunhas,
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 315
que attestem por conhecimento directo, a relação existente entre
a pessoa e seus paes.

■ . 3' As presum
PSões, que podem servir de prova da filiação
Jurídica devem ser vehementes, e devem resultar de fados já
certos,
Presumpções vehementes são as illações, que brotam, natu-
ra mente, dos factos, creando uma opinião, que a todos se impõe.
factos, dos quaes resultam essas presumpções, devem ser já
ceitos antes dellas. Fórma-se um concurso de circumstancias, das
quaes se origina a certeza da filiação.
Supponha-se que A e B são casados. Sobre esse facto não ha
duvida, porque ha inscripção no registro dos casamentos. E' no-
tono que esse casal teve um filho. Eis ahi factos certos. C vive
com A e B na situação de filho, usando o nome de família, sendo
considerado pela sociedade como filho e como tal sendo tratado.
13 al11
Presumpções vehementes fundadas em factos já certos.
Uma ess
t.lr P ôa nessas condições pode provar a sua filiação legi-
ua, ainda que não haja inscripção no registro, ou ainda que a
Piscripção erroneamente lhe attribua outra filiação. No primeiro
caso, a prova por presumpções suppre a lacuna do registro; no
Segundo, como ha uma inscripção errada ou falsa, será preciso
0,
ai, pieviamente o erro ou falsidade para eliminar do re-
§1
stro a declaração contraria.
A posse de estado só por si não constitue prova sufficiente
a
filiação legitima; ella constitue uma persumpção. Ligada, po-
reQ
i> a factos anteriores já estabelecidos, ella pode ser invocada
como prova sufficiente.
Sem duvida, não ê a posse de estado somente que constitue
re
sumpçâo. Outros factos e outras circumstancias podem ter
cgual valor.
0 que é
necessário é que o pretendente a provar a sua filia-
0
j^ ^csffima se apresente, no inicio da acção, fundado em factos
^eeidos, que não estejam mais sujeitos a duvidas ou con-
oversias, para, no curso do processo, desenvolver a sua prova
Presumpção .

Art. 350 — A acção de prova da filiação legi-


compete ao filho, emquanto viver, passan-
316 CODXGO CIVIL

do aos herdeiros, se elle morrer menor ou in-


capaz.

Direito anterior — Tal era a opinião dos doutos.


Degislação comparada — Codigo Civil francez, art. 329; ita-
liano, 178, l.a parte; hespanhol, 118 (fonte directa do artigo);
venezuelano, 228; mexicano, 347 e 351. Não ha uniformidade nos
dispositivos.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 3.114; Beviláqua, 411;
Revisto, 434.
Bibliographia — Direito da familia, § 66; Lafayette, Direi'
tos de familia, § 107; Planiol, Traité, I, ns. 2.143-2.146; Pla-
niol et Ripbrt, II, 764-766; Huo, Commentaire, III, ns. 58-60.

Observações — 1, — A acção de filiação legitima é privativa


do filho ou da filha, isto é, do descendente em primeiro gráo.
Somente no caso de fallecer o filho ainda menor ou interdicto é
que os seus herdeiros podem intentar, por elle, a prova judicial
da sua filiação legitima.
Justifica-se o rigor do principio ^elas considerações de qac-
1.°, ao indivíduo, exclusivamente interessa a situação moral qu®
lhe provém da sua legitimidade; ninguém poderá constrangei-0
a collocar-se numa posição social, que não deseja; 2.°, o estado
um modo de ser proprio da pessoa, que se não transmitte a
outrem
Todavia, se o filho morreu menor, ou em estado de alienaça0
mental, suppõe-se que foi essa incapacidade que o impediu
reclamar a situação, que lhe competia, de filho legitimo.
2. — A acção de filiação é imprescriptivel, quando proposta
pelo filho. Emquanto viver, poderá propôl-a. Intentada, Polé^o'
por seus herdeiros, prescreve em um anno, contado da data
fallecimento do menor ou incapaz (art. 178, § 6.°, n. XII)•

Art. 351 — Se a acção tiver sido iniciada pe ^


filho, poderão contimial-a os herdeiros, salvo se
autor desistiu, ou a instância foi perempta.
DAS DELAÇÕES DE PARENTESCO 317
Direito anterior — Assim opinavam os doutos.
Legislação comparada — No direito romano, prevalecia a
regra de que as acções, que se extinguiam pela morte ou pelo
decurso do tempo, se perpetuavam pela proposição (D. 50, 17,
ír
- 139); Codigo Civil francez. art. 330; italiano, 178; 2.a parte;
hespanhol, 118, 2.a parte; venezuelano, 228, 2.a parte; mexi-
cano, 348.
Projectos — GoelTio Rodrigues, art. 2.141; Beviláqua, 413;
Revisto, 434,' 2.a parte.

^ Observação — A acção, embora privativa do filho, uma vezj


iniciada, passa aos seus herdeiros, porque o autor, intentando-a '
demonstrou proposito de vindicar o estado de filho legitimo.'
qU
e_ lhe nã0 conferia o registro. Mas, embora tendo iniciado a
dcção, se delia desistiu, isto é, se renunciou o seu direito de pro-
seguir na demanda, ou se deixou, por sua reiterada negligencia,
nar-se perempta a instância, entende-se que, tacitamente, desis-
id- A instância perempta importa extincção do curso da causa
^ as nem sempre estará ipso facto, extincta a acção. Todavia, não
^Permittido aos herdeiros renovar a instância perempta em vida
0
Llho, por que isto importaria proporem elles a acção de filia-
ao
2 . direito que lhe não confere o Codigo.

CAPITULO III

Da legitimação

tu i legitimados são, em
^ equiparados aos legítimos.

Direito anterior — O mesmo (Ord. 2, 35, § 12).


I < MÍS,ação coni arada
dos P — Sobre a equiparação dos legitima-
tim/r Subsequeiite
í e que ra a 0 matrimônio dos paes, única especie de legi-
in ^ f f Codigo Civil, vejam-se: Inst. 3, 1, § 2.°,
itali edi0j' Cotb"5' 27' ls- 10 e 111 Codigo Civil francez, art. 333;
brote11cÇao
-- 194 hespanho1 122
aos' filhos, art.' 2.°);
suisso, 263;1.179;
allemâo, portuguez,
suisso,121
263;(leiaus-
de
318 ("ODTGO CTVTI.

triaco, 161; argentino, 319; chileno, 214; uruguayo, 231; perua-


no, 265; venezuelano, 248; boliviano, 177; mexicano, 354; co-
lombiano, 245; japonez, 836.
Para o direito canonico, veja-se Dec. Grigor., 4, 17, e, 6: qui
filü sint legitimi, e o Coãex júris ccmonici, art. 1.117.
Projectos — Esboço, art. 1.572; Felicio ãos Santos, 749;
Coelho Rodrigues, 2.157; Beviláqua, 414; Revisto, 437.
Bibliographia — Direito da família, § 68; Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, notas 10 e 11 aos arts. 215 e 216; Lafayette,
Direitos de família, §§ 109-111; Oliveira Fonseca, Legitimação de
filhos adulterinos; Trabalhos da Gamara, V, pags. 196-197 e 216
a 218; Estevam de Almeida, Manual cit, ns. 102.118; Pontes de
Miranda, Direito de família, §§ 129 e segs.; S. Vampré, Manual, í,
§§ 180 e segs.; Coelho da Rocha, Inst., §§ 295 e 296, e nota P-;
Planiol, Traité, I, ns. 2.298-2.325; Planiol et Rtpert, II, ns. 94S
e segs.; Huc, Commentaire, II, ns. 63-73; Laurent, Gours. I. nú-
meros 300-302; Goãe Civil allemand, publié par le Comitê de lég-
étr., notas aos arts. 1.719 e segs.; Aubry et Rau, Cours, IX,
§ 546; Kohler, Lehrbuch, III, §§ 55 e segs.; Bndemann, Lehrbuch,
II, .§ 208 ; Roth, System, II, § 153;Chironi, Zsí., II, § 392; GiaN-
turco, Ist., § 25; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pagi*
nas 338-341; Liz Teixeira, Curso, I, tit. YI, § 10; Dias Ferreira,
Coãigo Civil portuguez, nota ao art. 119; Windscheid, Pand.,
§ 522; Lehr, De la légitimation et de Vadoption fraprès les nou-
velles lois russes, em Clunet, 1891, pags. 518 e segs-: Sanche7'
Roman, Derecho civil, V, cap. XXVI; Rivarola, Derecho civil ar-
gentino, I, ns. 326-329; Champeau e Uribe, Derecho civil colom-
biano, I, ns. 451-468; Trabalhos da Gamara, V, pags. 196-197 e
216-218; Girard, Droit romain, pags. 183-188; Bonjean, Instan-
tes, I, ns. 530-546; Martinho Garcez Filho, Direito de famiaa<
II, pag. 101 e segs.

Observações — 1, — Legitimação é o meio juridico de, Por


casamento ulterior, tornar legítimos os filhos, que o não eram
por não terem sido gerados em justas nupcias. E' úm effmt0
que a lei attribue ao casamento; não é o resultado de um acto
juridico. Por isso Calvino a definiu: legis actio qua liberi na.n
rales efficiuntur legitimi.
DAS DELAÇÕES DE PARENTESCO 319
O direito romano, conhecia quatro modos de legitimação: a
oblação á cúria, o testamento, o rescripto ão príncipe, e o casa-
mento subsequente. No Codigo Civil brasileiro somente este ul-
timo çxiste.
2. — O .effeito da legitimação é dar aos filhos concebidos
extramatrimonialmente a mesma situação jurídica dos legítimos,
como se tivessem sido concebidos na constância do casamento.
Entre legítimos e legitimados nenhuma differença existe, sob o
ponto de vista dos direitos e deveres dos filhos, quer durante a
vida, quer depois da morte dos paes.

Art. 353 — A legitimação resulta do casa-


aiento dos paes, estando concebido ou depois de
bavido o filbo (art, 229).

Direito anterior — Ord. 2, 35, § 12; Dec. 181, de 1890, art. 56,
§ 1.°. A Ord. permittia duvidas, e o decreto afastava da legitima-
ção dos filhos adulterinos.
Legislação comparada — As legislações não se harmonizam
n
a regulamentação desta matéria. Um primeiro grupo faz a legi-
timação resultar, de pleno direito, do matrimônio, sem condição
alguma, e sem qualquer restricção, como no Codigo Civil brasi-
leiro. Nelle se incluem o Codigo Civil austríaco, art. 161. o alle-
^ão, 1.719; o suisso, 258, e o venezuelano, 248.
Outro grupo exige o reconhecimento prévio seja que os paes,
e
spontaneamente, o offereçam, ou que os filhos o alcancem por
sentença: lei portugueza, de protecção aos filhos, art. 3.°; Codigo
Civil francez, 331; hespanhol, 121 mexicano, 355; boliviano, 175.
•fer direito romano, eram os filhos de concubinato que podiam
Sozar do beneficio da legitimação, por casamento subsequente e
es
ta não dispensava o reconhecimento prévio (Cod. 5, 27, 1. 10).
Alguns Codigos não concedem o beneficio da legitimação por
subsequente matrimônio aos espúrios, ou, em particular, aos adul-
terinos: italiano, art. 194; hespanhol, 119; chileno, 205; argen-
in
o, 311; uruguayo, 228; peruano, 266; mexicano, 325. Assim
também era na França, antes da lei de 7 de Novembro de 1907.
■ã-hrogada
08
esta lei pela de. 30 de Dezembro de 1915, a legitimação
adulterinos somente é possível em determinados casos.
320 CODIGO CIVIL

Em direito canonico, ha controvérsias, mas a sã doutrina


foi exposta, com grande erudição e elevado critério, por Oliveira
Fonseca, na monographia, Legitimação dos filhos adulterinos.
Prevalece a decretai de Alexandre III: tanta est vis matrimonn
(ou sacramenti), ut qui antea sunt geniti, post contractum matri-
monium legitimi halentur. O Coãex júris canonici, art. 1.116, diz:
Per suhsequens parentum matrimonium... legitima efficitur pro-
les, ãummoão parentes haUles extiterint aã matrimonium inter
se contrahenãum tempore conceptionis, vel praegnationis vel nati-
vitatis.
Projectos — Esboço, art. 1.558 (exclue os adulterinos e os
sacrilegos); Felicio dos Santos, 745-747 (não favorece os espúrios,
e exige o reconhecimento); Coelho Rodrigues, 1.931, § 1.°, e 2.157
(priva do beneficio os adulterinos): Beviláqua, 415; Revisto, 438.
Bibliographia — A do artigo antecedente.

Observações — 1. — O art. 353 solveu uma interminável con-


trovérsia, que se levantava em torno da Ord. 2, 35, § 12, quanto
á amplitude da legitimação, e que mais de uma vez echoou no.
parlamento brasileiro. Por occasião de se discutir o Projecto do
Codigo Civil, na Gamara, Andrade Figueira accusou-o por não
excluir da legitimação os filhos espúrios. A doutrina do Projecto
foi, brilhantemente, defendida por Oliveira Fonseca. Este notável
jurisperito mostrou, de modo claro, que o Projecto se collocava
na corrente natural das idéas, e consagrava os principies, que se
desprendiam da melhor doutrina.
Realmente, o direito pátrio, interpretado por Mello Freire,
Lobão e Coelho da Rocha, concedia a legitimação a todos aquel-
les, cujos paes contrahissem legitimas nupeias. Não era licito
que o Codigo Civil recuasse dessa conquista liberal, e privasse
desse beneficio os espúrios.
2. — Pelo Codigo Civil, com effeito, podem legitimar-se todos
os illegitimos, sejam naturaes ou espúrios, comtanto que os seus
paes se unam, legitimamente, pelo casamento. Seria injusto, além
de illogico, permittir o casamento aos que se uniram contra o
direito e a moral, e fazer recahir, sobre os fruetos dessa união
reprovada, o estigma indelevel da espuriedade.
Produz o mesmo effeito do casamento valido, o que é decla-
rado putativo em attenção á bôa fé dos cônjuges ou, sequer, de
um delles. •
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 321
Pouco importa que, entre o nascimento do filho e o casamento
dos seus paes, tenha intervindo outro matrimônio. Casados os
Paes, a acção legitimadora do casamento reflue sobre o filho e
^ae alcançal-o no momento da sua concepção, expungindo a nota
da illegitimidade.
Este effeito retroactivo porém, tem apenas uma funcção
moral. Nem o filho legitimado adquire direitos hereditários ante-
Jdoies á legitimação, nem aos paes aproveita o usofructo dos
ens do filho antes do casamento.
3. E opinião insustentável a de alguns civilistas, como o
autor do EsDoço, que consideram os filhos oriundos de um casa-
mento intermediário do pae ou da mãe legitimante, mais velhos
o que o legitimado, embora houvessem nascido depois. Nem se
escobre a utilidade dessa ficção enxertada noutra, esta, sim,
muito razoavel, qual é a da legitimação per suhsequens matri-
^onium.
4. — O Diário do Fôro, vol. IV, pags. 67 a 74, traz a dis-
cussão e o julgado do Supremo Tribunal Federal, confirmativo
e llm
ra v accflrdão do Tribunal de Justiça de S. Paulo, que decla-
' a possível, em face do Codigo Civil, a legitimação, por subse-
Quente matrimônio, dos filhos adulterinos.

sã Neilhuma
^ao cIuvida é
claras, precisas Peita a respeito.
e insophismaveis. As que
Desde palavras do Codigo
o casamento se
^caliza, seja verdadeiro ou putativo, os filhos communs dos con-
êes estão
t. legitimados. O direito canonico actual, Coãex, ar-
0 1 116 exise a
cq o' outro,
^m ' condição
ao tempo de que os da
da concepção, paesgravidez
pudessem
ou casar, um
db nasci-
^ento. E uma restricção illogica, um recuo da decretai de Ale-

legitre II1" Porque 0 filho concebido de relações adulterinas pode


qu 1 lmar-se, pelo casamento subsequente dos paes, sé nascer
^^ando estes últimos se tornaram capazes de contrahir matri-

hasc10' 6 ^ 0 PÓde 0 que


' concebido nas mesmas condições,
tnejj611 antes de ser Possível o casamento dos paes? Se ao casa-
ad
uite 86 attribue 0 effeit0 de legitimar filhos concebidos de
Coq- erÍ0' na0 lla raza0 I)ara limitar essa virtude como faz o
r
eito§0 016 cIireito*canonico- Percebe-se uma reminiscencia do di-
Para r0mano com aplicação inadequada. Por direito romano,
em q qUe 0 filh0 nasces.se livre, bastava que a mãe fosse livre
da grUal .9Uer momento, no da concepção, no do nascimento ou no
^ Vl aviclez (Inst. 1, 4, pr.). Segundo o direito canonico actual,
Iaqua Codigo Civil — 2.0 vol.
322 CüplGO CIV1JL

para a legitimação per suhseguens matrimonium, basta que os


paes tivessem estado aptos para o casamento em qualquer dos
mencionados momentos.
A doutrina do Codigo Civil brasileiro é mais radical, mais
simples, mais lógica e mais conforme á tradição do nosso direito,
que, aliás, se fundava no canonico.
Os filhos incestuosos é que se não legitimam pelo casamento
dos paes, salvo o putativo, pela impossibilidade mesma do ma-
trimônio.

Art. 354 — A legitimação dos filhos falleci-


dos aproveita aos seus descendentes,

Direito anterior — Era a intelligencia dada aos preceitos da


Ord. 2, 35, § 12, e Dec. n. 181, de 1890, art. 56, § 1.°.
Legislação comparada — Inst., 3, 1, § 2.°, in meãio; Cod. 5,
27, Is. 10 e 11; Codigo Civil francez, art. 332; italiano, 196; por-
tuguez, 120 (lei de protecção aos filhos, art. 4.°); suisso, 263;
hespanbol. 124 allemão 1.722; argentino, 316; uruguavo, 230; pe-
ruano, 318; boliviano, 176; venezuelano, 249; mexicano, 358.

Projectos — Esboço, art. 1.570, 2.°; Felicio cios Santos, 748,


Coelho Rodrigues, 2.159; Bevílaqiia, 416; Revisto, 439.

Observação — O beneficio da legitimação aproveita aos des-


cendentes dos filhos premortos. Apesar do casamento dos seus
progenitores ter occorrido depois de seu fallecimento, suppõe-se
que foram procreados depois do matrimônio, e que a sua pro'8
já os encontrou legitimados. Jxjstiniano condemnou a intelligen-
cia contraria dada á sua constituição, considerando-a subtilezn
ôca, swpervactia suhtilitas.
Realmente, se a legitimação abrange os filhos nascidos oU
concebidos antes do casamento dos paes, não ha razão sufficient0
para excluir desse beneficio os já fallecidos, que deixaram prole-
O favor concebido ao casamento, para que estenda a sua influencia
sobre os filhos anteriores, não deveria parar deante desses casos
sem que parecesse incompleto o instituto.
DAS RELAÇÕES DE PAEENTDSCO
323

CAPITULO IV
Do reconhecimento dos filhos iliegitimos

355
O filio illegitimo pode ser reco-
POr S8US PaeS con |uncta 011
mente ' " separada-
eito anteiioi Dec. n. 463, de 3 de Setembro de 1847.

Hao„LeféS„IaíSO COm,*"r,"i" - OMU» ClTil francez, art. 336; Ita.


o-u ' 12,3' (lei(fonte directa aos
de protecção do filhos,
artigo);art.hespanhol,
23, pr.); 129; portu-
chileno, 270-
exicano, 365; lei colombiana n. 153, de 1887, art. 54.

~ 0061110
tos • ío2; Beviláqua, Roãrigues art
417; Revisto, '440. - 2.142; Felicio ãos Kan-

lhosI::i5lOSraPhla ~ S0bre 0 reconhecimento em geral, dos fi.


reitn* 7egltlm0s: Direito ãa família, §§ 67 e 69; Lafayette, Di-
arts ' ?ft7e l^tha' §§ 120-123; Teixeira de Freitas, Consolidação,
6 aS n0taS respectivas; Este
nuai " i " vam de Almeida, Ma-
nS 119 6 SegS
lei rie^l '[ ' ' PERDIGl0 Malheiros, Commentarios á
^
go 2 de Setembro de 1847; Cândido Mendes,
ivxibiMUbis, euaiçro)Godi^ pnilippino,
phüippino,
família
laniiia ^ (oo Pag' 945'
oo ^oo ' PoNTE
XES DE MIIÍANDA
s de Miranda,, Direito de
6 SegS ; S Vampré
■r^Maott
^■IdMACH:10 __ r.
INIZ
- ' Manual, I, §§ 183 e segs.;
eito ' Direito da família, § 50; Martinho Garcez, Di~
Tr
ait Cx í ' ns 2 ' § 177: Coelho da Rocha, Inst., § 297; Planiol,
ãa amilia
il0c ' " ■ 206-2.210; Planiol et Ripert, II, ns. 817 e segs •
282,2** "T16^6' IU> nS- 73 6 segs-; Laurent, Cours. I, ns.
b
Uch jtt UBRY et RAU' Cours' IX' §§ 565 e segs.; Kohler, Lehr.
s 74 e se s
Vstèm ' S -.' Endemann, Lehrbuch, II, § 206; Roth,
II §§ 171 e segs
' C Gianthrco, Ist., § 24; Liz Teixeira,'
9uez, ' 01 ait ' ^ 211 e segs'' C11'18 Ferreira, Codigo Civil portu.
hg 23 ' 123; Sanchez Roman, Derecho civil, Y, cap. XXVI,
Ils segs e
. 338 " 45 e segs.; Rivarola, Derecho civil argentino, I,
Os. 567 6 Segs-: Champeau e Urihe, Derecho civil colombiano, I,
üit
imos 6 SeêS"' PAUL0 Mereia' Condição jurídica ãos filhos ille-
Coi
tíe
Dibra n0 B0letim da Faculdade d
e Direito da Universidade de
far^i- II,PagS " 401 6 segs : Mabtinh
pag. 107 e - o Garcez Filho, Direito
324 CODIGO CIVII

Observações — 1. — São filhos illegitimos os que não proce-


dem de justas nupcias; os que não têm a sua filiação assegurada
pela lei. Dizem-se simplesmente naturaes, ou naturaes em especie,
os que nascem de homem e mulher-, entre os quaes não havia
impedimento matrimonial. Nasceram segundo a natureza
soluto et soluta. Se entre os progenitores havia impedimento
matrimonial absoluto, seja parentesco, affinidade. ou casamento
subsistente (art. 183, ns. I a VI), na época da concepção, deno-
minam-se filhos espúrios. Esta designação referia-se, origiuaria-
mente, aos filhos de paes incógnitos; qui matre quidem certa,
patre autem incerto nati, spurii appellantur. Eram os vulgo con-
cepti, os que não tinham paes, qui sine patre erant (Calvino, vb.
Spurius). Modernamente, porém, os simplesmente naturaes não
se distinguem dos nascidos de concubinato, como em direito ro-
mano; e ficou a expressão espúrios reservada aos illegitimos,
cujos paes se achavam impedidos, pelas causas acima indicadas,
de contrahir casamento, quando os chamaram ao mundo. Essa
clistincçáo, que se encontra nas Ordenações Philippinas (.2, '&0-
§ 12; . 4, 36, § 4.°, e 99, § 1.°), foi accentuada por Coelho m*
Rocha, Inst., § 60; Teixeira de Freitas, Consolidação, nota (1^
ao art. 207. e Lafayette, Direito de família. § l?r
Espúrios, portanto, são os incestuosos e os adulterinos, isto o,
os filhos de parentes, que se não podem casar, e os que foram
gerados por violação do dever de fidelidade conjugai, os filhos de
homem casado ou de mulher casada, havidos fora do thalamo
conjugai.
2. — Os filhos naturaes, não sendo incestuosos nem adulte
rinos, podem ser reconhecidos pelos paes. O reconhecimento P01
parte da mãe resulta do tempo do nascimento e da notoriedade-
mater semper certa est, etiam si vulgo conceperit (D. 2, 4, fr. 5)
Nada impede, porém, que, em acto especial, a mãe reconheça
filho, assim como é licito que, no mesmo documento, o pae e
mãe, conjuntamente, declarem a sua qualidade em relação a ai
filho commum. ^
Só em casos raros, em que o parto se tiver occultado, ou e
que o filho fôr separado da mãe ao nascer, haverá necessidg
de reconhecimento materno. Ordinariamente, o laço entre o í1
e a sua mãe é manifesto. (J0
3 — Legalmente, apagaram-se as distincções, que acabam
ser indicadas. Nas certidões do registro civil todos são ^
sem distincção de classes. O art. 14 do decreto-lei n.0 3.200, de ^
de Abril de 1941, diz; "Nas certidões de registro civil, na0
mencionará circunstancia de ser legitima, ou não, a filiação, s
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 325
a lequeiimento do proprio interessado, ou em virtude de determi-
nação judicial".

Art. 356 — Quando a maternidade constar do


ermo de nascimento do filho, a mãe só a poderá
con estar, provando a falsidade do termo, ou das
declarações nelle contidas.
ante, or
cei 'o, mas ellen resultava
Não das
havia artigo
idéas de leisobre
acceitas declarando este
a materni-
a
e, como relação de direito.
Legislação comparada — Sem correspondência.

Kevisto^éii8 ~ C0elh0 Roãrigues


' art
- 2.143; Beviláqua, 418:

p Observação — A maternidade é, ordinariamente, notoria.


isso mesmo, é escusado o reconhecimento materno por acto
^ Pecial. O termo do nascimento faz prova sufficiente; porque,
^enipre, indicará o nome da mãe, se não se tratar de uma
^Dança exposta ou encontrada em abandono. Qui nascitur sine
matrimônio matrem sequatur, prescreve o fragmento
1 5 Vul 0
' " ' - ff quaesitus matrem sequitur disse, antes, o fra-
gmento 19, ejusãem tituli.
A mscripção do registro faz certa a maternidade, e importa
Donhecimento do' filho, porque deve ser feita por pessoa idônea,
ccedora do que affirma. e porque a mãe e as pessoas interes-
po.aS terão conliecimento do que está exarado no registro. Não é,
eC lmposslvel clue 0 registro attribua á certa senhora um
tui,0 '1Ue 6113 nã0 teVe' 0U porque alSuem, perversamente, substi-
f0} 8!e pel0 seu 0 nome <Ja mãe verdadeira, ou porque o assento
^ • intencionalmente, arranjado para prejudical-a. Em casos taes,
attriv1"111^1" contestar que seía mae do filho, que o registro fbe
Por U^ 6 necessario destruir o termo de nascimento, provada,
na a^-f10 COmpetente' a falsidade das declarações nelle contidas,
êáçâ 0 aISldade do
Pnopmo assento. Os seus protestos, e a sua ne-
a r,,.-ova,nenhum valor
têmassento.
que resulta do perante o direito, emquanto subsistir

fill oArt " 357


illegitimo
0 reco
pôde ^eci
m
ento
fazer-se ouvoluntário
no propriodo
326 CODIGO CIVIL

termo de nascimento, ou mediante escriptura


publica, ou por testamento (art. 184, paragrapbo
único).
Paragrapbo único. O reconhecimento pôde
preceder o nascimento do filho, ou succeder-lhe
ao fallecimento, se deixar descendentes.

Direito anterior Os dois modos normaes de reconheci-


mento da prole illegitima eram a escriptura publica e o testa-
mento (Dec. n. 463, de 3 de Setembro de 1847). O termo do nasci-
mento no registro civil era considerado instrumento publico.
Legislação comparada — Por direito romano, o reconheci-
mento espontâneo podia resultar do acto de nascimento ou de
um escripto particular assignado por tres testemunhas (Wettek,
Droit civil, pag. 29). Vejam-se: Coãigo Civil francez, art. 334
(teimo de nascimento, testamento ou outro documento publico);
portuguez, 123, e lei de protecção aos filhos, art. 23 (registro
de nascimento, escriptura, testamento ou auto publico, e aver-
bação no registro); chileno, 272 (instrumento publico entre vivos,
acto testamentario); uruguayo, 233 (escriptura publica, testa-
mento, ou acto perante o official de estado civil); venezue-
lano, 232 (no acto de nascimento, em averbação posterior no
mesmo registro, por testamento, ou por qualquer documento
authentico); peruano, 350 (reconhecimento e sentença declara-
toria da paternidade); boliviano, 166 (no livro parochial, instru-
mento publico, testamento); mexicano, 369 (registro civil, acto
especial perante o juiz do registro civil, testamento, confissão ju-
dicial directa e expressa).
Drojcctos Eshoço, art. 1.580; Felicio dos Santox, 754; Coe-
lho Rodrigues, 2.144; Beviláqua, 419; Revisto, 442.

Observações 1. o Codigo estabelece tres modos de reco-


nhecimento voluntário: por declaração no termo do nascimento:
mediante escriptura publica; por testamento;
Estes modos referem-se ao pae e á mãe, ainda que tenham
mais applicação ao primeiro. A maternidade constará, normal-
mente, do registro.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO

2. ~ A inscripção do registro faz prova bastante; mas se o


Pae contestar que tenha feito, por si ou por procurador, a decla-
r
açao da paternidade, que lhe attribue o termo de nascimento
este não poderá prevalecer; porque, em primeiro logar, a per-
Hhaçao, por parte do pae, deve ser uma declaração espontânea,
ae elle mesmo faça; depois a paternidade natural nem é um
acto que se possa provar, nem por si tem a presumpção legal,
ae o direito estabelece em relação á paternidade legitima.
Differe da maternidade, que é um facto susceptível de prova
airecta.
3
" ~ A Peafilhação pelo pae pôde p-receder ao nascimento;
as o filho deve já estar concebido, sem o que ficaria sem objecto.
" ao se comprehende uma perfilhação indeterminada, ou generica.
O reconhecimento feito depois da morte do filho só é admis-
sivel, quando elle tiver deixado descendência. Sem esta circum-
8
ancia, não teria utilidade, a ninguém aproveitaria, salvo ao pro-
Pjio pae para succeder ao filho, o que seria immoral. Pelo reco-
nhecimento, o pae deve assumir as obrigações decorrentes da
Paternidade, e o filho adquirir os direitos, que lhe são proprios.
e
o filho já não existe, e não deixou descendentes, nem o pae
tem obrigação a cumprir, nem ha direitos, que se possam originar
a
filiação. Dado o reconhecimento nessas condições, será uma
si
mples affirmaçâo da intimidade havida entre o pae e a mãe do
Perfilhado.

Art. 358 — Os fillios incestuosos e os adúlte-


ros, não podem ser reconhecidos.

cidofailterÍOr - 0s filhos espúrios podiam ser reconhe-


sorin' rnas 0 reconhecimento não lhes dava direitos succes-
2 35 12) Todavia
Po^-k-,
mmiidade' jurídica
' ' "
desse ' levantavam-se duvidas sobre a
reconhecimento.

?0mparada - Em direito romano, o reconheci-


0 Paterno só se refer
WethER, Droü civil pag. ia
29, ao filho
com oriundo denoconcubinato
fundamento Cod. 5, 27, 1 (Van
10),
Consagram
Ci disposições semelhantes á do art. 358 do Codigo
1 brasileiro
d. os seguintes: francez, art. 335 (aliás a lei de 30
ezembro de 1915) não permitte o reconhecimento dos in-
328 CODIGO CIVIL

cestuosos e adulterinos); italiano, 180; hespanhol, 129 combina-


do com 139; chileno, 270; venezuelano, 223; suisso, 304, que
se refere, particularmente, ao pae; em relação á mãe, o filho,
é apenas, illegitimo.
O argentino, 343, permitte o reconhecimento dos espúrios,
dando-lhes somente o effeito de habilital-os a reclamar alimentos
de seus paes. O uruguayo, 227, não faz distincções entre natu-
raes; adverte, porém, que os que tiverem nascido durante o
matrimônio dos paes, não poderão s*er reconhecidos, por qualquer
delles, antes de dissolvido o casamento, salvo se o reconhecimen-
to fôr feito em testamento cerrado, ou resultar de sentença depois
do desconhecimento da paternidade do marido. Também declara
inadmissível o reconhecimento de um filho, que se ache na posse
de estado de filho legitimo de outrem. A lei portugueza de
2)Totecção aos filhos (de 25 de Dezembro de 1910), art. 22, per-
mitte que sejam perfilhados todos os filhos, excepto os inces-
tuosos. O Codigo Civil, art. 122, estendia a prohibição aos adul-
terinos. O Codigo Civil allemão não faz distincção alguma, de
onde se infere que faculta o reconhecimento de quaesquer ille-
gitimos (art. 1.718).
Projectos — Esboço, arts. 1.576 e 1.601; Felicio dos San-
tos, 753; Coelho Rodrigues, 2.145; Beviláqua, 421; Revisto, 444.
Estes dois últimos Projectos consentiam no reconhecimento dos
espúrios; vedavam, porém, que no acto se fizesse qualquer men-
ção, da qual se pudesse induzir o concubito reprovado.
liibliographia Direito da família, § 69; Estudos jurídicos,
pags. 193-197; Teixeira de Freitas, Consolidação, nota (7) ao
art. 212; Lafayette, Direitos de família, §§ 126 e 127; EstevaM
de Almeida, Manual cit., ns. 147 e segs.; Marxixho Garcez, Di'
reitos de família, § 180; Coelho da Rocha, /nsí., § 297; Esme-•
raldino Bandeira, Em prol dos espúrios, discurso na Gamara dos
Deputados, 1902; Planiol, Traité, I, ns. 2.225-2 228; Planjol et
Ripert, II, ns. 964 e segs.; Huc, Gommentaire, III, n. 79; Lau-
rent, Coiors, I, ns. 296-2.9; Aubry et Rau, Cours, IX, § 572:
E. CiMBALi, Nuova fase dei diritto civile, 1889 ns. 114-131; Co-
sentini, La riforma delia legislazione civile, 1.11, parte segunda,
cap. IV, § 8.°; Sanchez Roman, V, cap. XXVI, ns. 57-59: Mab-
tinho Garcez Filho. Direito da família, II pag. 120 e segs.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 320

aÇÕeS
consagravJm ■ • 1
a lnjust
0 Pro;,ecto
primitivo e o revisto não
^ ' iça, que se introduziu no Codigo Civil,
PMlinninr D11' men0S d0 qUe a le sla
^ São
6886 regress0 da Ie
reaccinn i «vil á influencia
eaccionaria de Andrade Figueira e outros.
VlaS a prohlbl a
npv;
Pi ante a razao e Sa omoral.
ae reconhecer
A faltai oscommettida
espúrios não se paes
pelos justifica
e a
onia lecáe sobre os filhos, que em nada concorreram para
_ a. . indignidade está no facto do incesto e do adultério, e a
i procede como se ella estivesse nos fructos infelizes dessas
umoes condem nadas. Mais uma tos, cabe repetir as palavras ladl-
8 de
. , "Estranha, em verdade, a lógica desta socie-
e e a justiça destes legisladores, que, com impudente cynismo
subvertem, fundamentalmente, os mais sagrados princípios da
responsabilidade humana, fazendo do réo a victima e da víctlma
reo, condemnado a expiar, inexoravelmente, a pena de um cri-
e, que não commetteu: paires nostri peccaverunt, et nos pecca
ta eorum portamus. E este mixto de cynismo e de iniqüidade, de
esnpri ! Ín;ÍUStÍSa attÍnge a0 CUmul0 (luand0 se
' ussiste ao
0 rí )ulslT0 como na
daa «h T. " '
absoluta irresponsabilidade do Incesto,« quer
na Italla meridional,
em relação á lei
a , quer em face da lei civil, a par da inteira responsabilidade
renr a cabeça innocente dos filhos, negando-se-lhes todo o di-
diat0' r01:81^ 0 de alimentos> conseqüência e expressão imme-
franqueza de■ attlrmar
0 4 Tl,la a e 61168 têm 36 15 ue
Quer te,"
ei a r" " que sómente 'lhes corre
Q aa»obri.
não
^uçao de morrer".
- Os princípios fundamentaes que devem dominar esta ma-
«na são os seguintes: 1.» O direito á vida compete a todo indi-
- s O- O filho espúrio, como indivíduo, deve ter o mesmo direito
Possibilidades da existência que qualquer outro; fechar-lhe as
Portas da sociedade, restringir-lhe os direitos é uma injustiça,
auto mais grave quanto elle nada fez para merecel-a. 2.° O prin-
lpl
t o da responsabilidade dos paes. Aquelle que chamou á exis-
encia um filho contrahiu, por esse mesmo facto, a obrigação de
a imentar e dirigir na vida. Se a lei prohibe ao pae de reco-
^necer o filho espúrio, liberta-o dessa responsabilidade em detri-
^umto do filho. E', ao mesmo tempo, uma lei injusta, porque tira
im acto de outrem (os paes) motivo para prejudicar o filho; e
^ o «orai, porque se faz protectora de uniões condemnaveis.
soo"16 -interesse
ade
sociaL 4 0 0
- interesse das famílias. O interesse da
iavorece as uniões legaes e, ao mesmo tempo, condemna
330 COüiGO CIVIL

as desclassificações dos espúrios O interesse das famílias exige


que os reconhecimeiítos se façam com as cautelas necessárias,
afim de que não se offenda o recato d s lares honestos, nem se
introduzam nas famílias orgãos estranhos.
Da combinação desses princípios resulta a necessidade de
acceitar a lei o reconhecimento dos espúrios, mas impondo-lhes
certas cautelas, como se vê- no Projecto primitivo, art 420;
"No acto do reconhecimento do filho adulterino ou incestuoso,
é vedado, sob pena de nullidade, fazer qualquer menção da qual
se induza que elle procede de um concubito reprovado".
3, — Embora não possam os espúrios ser reconhecidos, espon-
taneamente, o seu reconhecimento pode resultar de confissão feita
pelos paes, afim de determinar um impedimento matrimonial.
O art. 184 fala da affinidade resultante da filiação espúria; mas
é claro que, para confessar a affinidade, ter-se-á de confessar a
filiação.
Pôde ainda a filiação espúria se determinar pela sentença
annullatoria do casamento de pessoas impedidas de se casar; ou
denegatoria da paternidade legitima.
Estabelecida a filiação espúria, o filho tem direito de pedir
alimentos (art. 405).

Art. 359 —- O filho illegitimo, reconhecido


por um dos cônjuges, não poderá residir no lar
conjugai, sem o consentimento do outro.
Direito anterior — Silencioso.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 183; ve-
nezuelano, 236; chileno, 278, 2." parte; uruguayano, 278.
, Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.147; Beviláqua, 4422;
Revisto, 445.

Observações — 1 — O reconhecimento, a que se refere este


artigo, é do filho natural, havido antes do casamento. Se fosse
posterior ao casamento, seria espúrio, cujo reconhecimento o Co-
digo não permitte. C filho natural, embora reconhecido por um
dos cônjuges, é pessoa estranha á família; não poderia ter in-
gresso no lar sem o consentimento do outro consorte.
Esse accôrdo é necessário, quer o reconhecimento seja ante-
rior ao casamento, quer não. O Codigo Civil italiano e o vene-
zuelano só exigem o consentimento para a perfilhação posterior
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO

ser ph H0r0; POrem 0 brasileir0 nã0 faz essa distincção, e deve


vend ' C0m0 86 a tÍVeSSe' intellcionalmente, afastado, pois,
0 a COnsagrada em um dos
rnn nao
Jopa, ~ a quiz adoptar. Codigos mais estimados da Eu-
Jambem não se pôde inferir o consentimento, para que o
ho reconhecido habite no lar da família, do facto de ter o
10 cônjuge concordado no reconhecimento, pois uma coisa não
conseqüência forçosa da outra
! ~ Decreto-lei n. 3.200, de 19 de Abril de 1941, art. 15- "Se
0S negar consentin ento
juLi
tai o filho natural reconhecido> do P^a
outro,que residaaonopae
caberá lar ou
con-á
a ae que o reconheceu, prestar-lhe, fora do lar, inteira assistência,

C0m0 alimentos
vivaa, eguaes correspondentes
aos que prestar á condição
ao filho legitimo, se osocial,
tiver".em que

Art 360 — O filho reconhecido, emquanto


enor, ficará sob o poder do progenitor, que o
reconheceu, e, se ambos o reconheceram, sob o
do pau.
Direito anterior — Differente. Á mãe natural alguns reco-
edam o pátrio poder, outros negavam. Quanto ao pae natural,
lêTiem lhe attribuia esse poder.
Legislação comparada - O Codigo Civil portuguez, art. 166,
imem os filhos menores perfilhados ao poder paternal da
H ®ma forma (llle 08 legítimos. O Codigo Civil peruano, art. 394
dês/6™ SUbmette 0 filh0 reconhecido ao poder do pae e, na falta
v. , ?' ao da mãe- O venezuelano, 284, confere á mãe natural o
ror,1/0 POder COm t0d0S 08 direitos e deveres, que lhe são inhe-
0 hespanho1 154 2 a
ao borasileiro. '
O italiano, ' arts.
- Parte, dispõe
184-186, de modo
confere apenassemelhante
a tutela,
^ s em termos taes que a differença parece apenas nominal,
argentino, 328, reconhece ao pae e á mãe naturaes os mesmos
ci os e autoridade que os paes legítimos exercem sobre os
ios. Semelhantemente dispõe o chileno, 276. Yeja-se, também
u
Piexicano, 381.
turai0 reconhecido
franCeZ 338 e 0
'. não
' pode
aruguayo 237,direitos
reclamar advertem que o filho na-
de legitimo.
0 allemã0 1 707, decl
Pod er: ' 'm
por isso ara que a mãe natural não tem o pátrio
ram e esmo não representa o filho, que estará du-
a menoridáde, submettido á tutela de outrem. Reconhece-
332 CODIGO CIVIL
lhe, porém, o direito e o dever de tomar cuidado com a pessoa du
filho. O pae natural (art. 1 708) é obrigado a fornecer alimentos
ao filho, segundo a condição da mãe, até 16 annos, se o menino
é sadio, e além dessa edade, se, por defeito physico ou psychico,
o filho não pode prover á sua própria sdbsistencia.
Projectos — Esboço, arts. 1.588 e 1.589; Felicio cios San-
tos, 772 (differente); Coelho Rodrigues, 2.148; Beviláqua. 423,
Revisto, 446.
mbliagraphia — Pontes de Miranda, Direito de família,
§ 141; S. Vampué, Manual, I, § 187; Lacerda de Almeida, Codigo
Civil visto por alto, X e XI; Aubry et Rau, Cours, IX, § 567:
Affonso Cláudio, Direito romano, lição, 25.a: Estevam de Al-
meida, Manual cit., ns. 153 e segs

Observações — 1. — Foi questão longamente debatida entre


nós se a mãe natural podia exercer o pátrio poder, em face do
Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de 1890, que, alterando o direito
civil pátrio, concedera essa autoridade ás mães legitimas, o que
não fazia a legislação anterior, e chamava a mãe natural a dar
ou negar consentimento ao matrimônio do filho, direito reservado
aos que exerciam poder jurídico sobre os nubentes. As opiniões
dividiram-se, adoptando uns a doutrina liberal favorável á mãe
desde que fosse digna dessa nrepogativa. nue outros achavam mie
apenas podia competir á mãe legitima. Vejam-se o Direito da fd-
milia nota (4) ao § 80, e Goes Telles, A mãe naUiral tem o pátrio
poder?, no Direito, vol. 94, pags. 64-69.
O Codigo solveu a contenda, fazendo originar-se do reconhe-
cimento o poder paterno, para dar ao filho uma atmosphera
apropriada ao seu desenvolvimento moral, e ao seu melhor pre-
paro para a vida. Se elle, emquanto menor, ha de estar sob o
poder de alguém, que esteja sob o poder do seu proprio pae ou
da sua mãe, que terão por elle maior interesse do que outro
qualquer. E se o pae, ou a mãe natural, não fôr pessoa idônea,
tome o juiz a providencia, que a lei lhe faculta (arts. 283, 394
e 395).
Do pátrio poder decorrem os direitos e as obrigações decla-
radas nos arts. 384-395.
2. — Os direitos, que o Codigo attribue ao filho natural re-
conhecido, são os seguintes; 1.° Direito de succeder a seu pae,
como se fosse legitimo, e podendo, até, concorrer com os filhos
DAS KELAÇÕES DE PARENTESCO 333

legítimos. 2.° Direito de succeder aos irmãos (arts. 1.612 e 1.613);


• Direito de pedir alimentos aos paes, aos ascendentes mais
istanciados, e aos irmãos (arts. 397 a 398); 4.° Direito de rece-
ei dos paes o tratamento correspondente a sua situação de filho,
attendida, porém, a restricção do art. 359. Veja-se a observação
a
o art. 366.

^ Art. 361 Não se pôde subordinar a condi-


ção, ou a termo, o reconhecimento do filho.

r
Direito anterior — Regra deduzfda dos princípios geraes, po-
éni não expressa em lei.
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, art. 332;
Mexicano, 367 (o reconhecimento é irrevogável); peruano, 359.
ío
Dpojectos Esboço, arts. 1.586 e 1.587; Felicio dos San.
s 770; Bevilaovn 425: Revisto, 448.
,/

Observação —O reconhecimento determina o estado do filho,


- o estado da pessoa não pode ser condicional nem temporário.
Adquirido, permanece até que se realizem factos jurídicos, que o
modifiquem, se elle é susceptível de se modificar. Essa modifiea-
Sao, porém, não se pode preestabelecer. E o estado de filho não
se
Pôde perder, uma vez adquirido. O reconhecimento é, portanto,
irrevogável e perpetuo, ainda que possa ser annullado, por se não
balizar nas condições prescriptas pelo direito.
Quando o reconheciçiento é feito em testamento, este re-
^oga-se; porém não o reconhecimento, que só de um acto testa-
mentario efficaz pôde resultar. Emquanto não fallece o testador,
^ disposição de ultima vontade é revogavel; porém até á morte do
mponente, nenhum effeito jurídico ella produz. O Codigo Ci-
m mexicano manda subsistir o reconhecimento feito em testa-
mento revogado.

Art. 362 — O filho maior não pôde ser reco-


nhecido, sem o seu consentimento, e o menor
B34 CODIGO CIVIL

pode impugnar o reconhecimento, dentro nos


quatro annos, que se seguirem á maioridade ou
emancipação.
Direito anterior — Principio acceito.
Legislação comparada — Lei portugueza de protecção aos
filhos, arts. 28 e 29, que reproduzem1 os arts. 126 e 127 do Codigo
Civil; Codigo Civil espanhol, 133; mexicano, 375 e 376.
Vejam-se também: francez, art. 339; italiano, 267; venezue-
lano, 238; chileno, 273; uruguayo, 288; peruano, 363 e 365; boli-
viano, 172.
Projectos — Esboço, art. 1.582; Felicio dos Santos, 761 e V6z
(differente); Coelho Rodrigues, 2.151; Beviláqua, 426; Re-
visto. 449.

Observações -— 1. — O reconhecimento interessa, directa-


mente, ao perfilhado, porque lhe attribue um estado civil, que
pode não lhe convir, pois, se lhe attribue direitos e vantagens,
também lhe impõe deveres, e cria direitos para o perfilhante.
Se o filho é maior, deve, portanto, dar o seu consentimento, sem
o que o acto não terá validade. Durante a menoridade do filho, o
consentimento será dado pelo tutor ou pessoa sob cuja guarda
estiver; mas, não obstante, pela gravidade da matéria para o indi-
viduo, a quem o reconhecimento dá a condição de filho natural,
o Codigo, permitte que elle o impugne, depois de attingir á maior-
idade. Para essa impugnação não é necessária senão a sua própria
vontade contraria ao reconhecimento. A pessoa perfilhada não
quer a posição de filho natural do perfilhante, e assim o declara.
2. — O art. 178 § 9.°, destacou o prazo extinctivo de direito,
consignado no art. 362, in. fine.

Art. 363 — Os filhos illegitimos cie pessoas,


que não caibam no art. 183, ns. I a VI, têm acção
contra os páes, ou seus herdeiros, para deman-
dar o reconhecimento da filiação:
1. Se, ao tempo da concepção, a mãe estava
concubinada com o -pretendido pae.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 335
II. Se a concepção do filho reclamante coin-
cidiu com o rapto da mãe pelo supposto pae, ou
suas relações sexuaes com ella.
III. Se existir escripto daquelle, a quem se
attnbue a paternidade, reconhecèndo-a, expres-
samente.

Direito anterior — Contrario.


Legislação comparada —Semelhante; Codigo Civil hespa-
ol, art. 135, que, aliás, accrescenta a posse, continua do.estado
06
filho natural.
O Codigo Civil allemão, art. 1.717, o suisso, 307, o argen-
ino, o2o, e o venezuelano, 242, concedem a investigação da pater-
nidade em termos mais amplos. E, assim, também a lei portu-
Sueza de protecção aos filhos, art. 34, e o direito russo antigo
® r hucJl d61- int. Vereinigung f. vergl. Rechtswissenschaft, VI e
, pag. 1.287). O Codigo da família, da Rússia soviética, dâ
nto a mulher solteira quanto á casada adultera, o direito de
60 arar ao offi
cial do registro quem é o pae do filho, que tem
as entranhas Se o pae contesta essa declaração, o juiz exami-
a o caso e decidirá (arts. 140-144). Veja-se, ainda, o Codigo
j!.! d'Áustria, art. 163. O Codigo Civil francez, art. 340, pro-
la a nves
v i tigação da paternidade; mas a lei de 16 de No-
^ ^ ro de 1912 alterou, radicalmente, o systema, admittindo que
Paternidade extramatrimonial seja declarada nos casos de ra-
crirít esC0
^upro ' seducção, concubinato, e mais quando houver es-
preten
njf] ? dido pae, do qual resulte a confissão da pater-
sust- t' 6 quaudo eIle tiver domado á sua conta a educação e o
? d0 fÍIh0da
comnn rtament0 ' ACSã0
mae
nã0 é admissivel:
d-0' no caso de máo
2- ^ ' durante o período legal da concepção;
sibilid a Pa? Pretendid0' nesse mesmo período, estava na impos-
^clusiva6 P f1Ca de Ser 0 I)ae d0 reclamante. A acção pertence,
a
menoridiere'pa0 fllh0' POdendo ser pela mãe durante
a
nnos dena i Pa^t0, a a mãe extingue se a ac
' -
OU da cessa6ao d0
São dentro de dois
ticinap-
laçao Tdo pretendido pae no sustento concubinato,
e educação oudodafilho.
par-
a este exti
q ngue-se a acção um anno depois da maioridade. O
od,go Civil mexicano actual, arts. 382 e segs,, accrescenta, aos
0
s do nosso, a posse de estado, que define.
336 CODIGO CIVIL

Só admittc a investigação da paternidade o Codigo Civil ita-


liano, art. 267, no caso de rapto, estupro, concubinato; de sen-
tença civil ou criminal; de declaração inequivoca daquelle a quem
se atribue a paternidade; da posse de estado. Uruguayo, 241
(semelhante ao italiano); peruano, 366.
Por direito romano, a investigação da paternidade era in-
admissível, em qualquer hypothese.
Projectos,—Esboço, art. 1.594; Felicio dos Santos, 763
(prohibe a investigação de modo absoluto); Coelho Rodrigues,
2.152; Beviláqua, 427; Revisto, 450. Ainda que mais liberaes, do
que o Codigo, estes dois últimos Projectos não eram idênticos en-
tre si. O Esboço não oppunha limitações á investigação da pater-
nidade para a prestação de alimentos ao filho.
Bibliographia — Direito da família, § 70; Lafayette, Diroi-
tos de família, §§ 122 e 126; Teixeira de Freitas, Consolidação,
art. 112 e nota (7); Perdigão Malhetkos, Commentario d lei de
2 de Setembro de 1847; João Monteiro, Direito das acções § 33,
Estevam de Almeida, Manual cit., ns. 156 e segs ; Coelho da
Rocha, Inst., § 300; Planiol, Traité, I, ns. 2.264-2.282; Planioj.
et Ripebt, II, ns. 870 e segs.: Huc, Commentaire, III, ns. 87, 88
e 93; Laurent, Cours, I, n. 289; Raoul de la Grasserie, De le
recherche et ães effets de la paternité naturelle. Paris, 1893; R1-
vet, La recherche de la paternité, Paris 1891; Dupré La Toub,
De la recherche de la paternité, Paris, 1900; Endeman, Lehr-
buch, II, § 207; Rhssel et MentHx\., Droit civil suisse, I, pags. 374-
384; Cxmbali, Nouva fase dei ãíritto civile, ns. 81-113; Coskã-
tini, La riforma delia legislazione civile, parte segunda, cap.
§ 7.°; Sanchez Roman, Derecho civil. V. cap. XXVI; Trabalhos
da Gamara, V, pags. 199 e segs.; 218 e segs.; nota de V. Sab-
sfield, ao art. 325 do Codigo Civil argentino; Pontes de mibanda,
Direito de família, § 139; S. Vampeé, Manual, I, § 189; Almaciiio
Diniz, Direito da família, §§ 51 e 52; Eloy Teixeira Cobtes,
Indicação ao Instituto da Ordem dos Advogados, na Gazeta dos
Tribunaes, de 3 de Outubro de 1921.

Observações — 1. — O Codigo Civil deu um passo, ainda que


timido, no sentido da justiça, nas relações entre os filhos illeê1'
timos e seus paes. O Projecto primitivo, confirmada pela revisão
dos juriconsultos, procurava resolver este caso, harmonizando
os interesses dos filhos com a dignidade das famílias. Travado
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 337
o debate na Gamara, insurgiu-se contra a reforma o Sr Andrade
igueira, e, da sua critica, resultou que desapparecesse um dos
modos de provar a filiação illegitima, a posse de estado, que, no
^ystema do Codigo, só obteve consagração legal para prova do
casamento, em proveito dos filhos.
2. — Não obstante, prevaleceu o instituto da investigação-
a paternidade, dentro de certos limites impostos por conside-
açoes de ordem moral.
Diz a razão que aquelle que vem ao mundo, pelo simples
00
o de nascer, tem direito á existência; e a justiça proclama
6 tem
m obrigação de prover á subsistência do filho quem o cha-
ou á vida. Se o filho nasce de união illegitima, nem por isso-
eixa de ex
r istir o vinculo de sangue entre elle e os que o gera-
am. Fechar os olhos á acção do pae, e somente reconhecer o
^arentesco materno, aos filhos naturaes, como fazia o direito
omano anterior ás Novellas (D. 1, 5, frs. 19 e 24), é absurdo e
Justo. Absurdo porque, se o amor sexual é uma corrente que
end dois
a e seres, a lei que, nas relações naturaes, não vê senão
nia ima
Co .e'
^ontribum Siua umasem
sósinha, concepção unilateral,
o concurso para aInjusto
do homem. qual a porque,
mulher
udo a culpa de dois, excusa um dos coautores, e faz recahir a
iiaaiSPOnSabÍ1Ídade I)recisamente
io, dispõe de ' menos recursos ' sobre a mulher,
do que que,coagindo-a,
o homem, de ordi-
as vezes, a enjeitar o filho.
0 rec
E)6v eio das chantages não pôde justificar essa injustiça.
. _ era apenas premunir o legislador, para estabelecer o direito
a 681^3'5^0 COm 08 resguardos' ia® impeçam uma providencia
just^ de se corromper e degenerar em indigna extorção.
Se Attendendo á natural collisão de interesses, que aqui
0 C0dig0 Civil só er
dad?^^ P mittiu
em tres casos, que, aliás, a investigação
se desdobram da paterni-
em quatro.
0
fíref86'00 tempo ãa concePÇõo, a mãe estava concuUnada com.
enCUã0 0 concubin
^raçã0 mais ou ^ menos ato é umaSemimatrimoniun
prolongada. união sexual de certa du-
vocatur.
cepcõ60 Presumir
conviv
5116 0 filh0 se
ia daquelle que, ao tempo da con-
hão 0 'for ia> maritalmente, com a mãe, e não de outro. E, so
o debate judicial o provará.
que 0P Codigo nao salienta a excepção plurium concubentium,
tro í T algumas iegislações, exclue a paternidade. Mas, por ou-
bfesum0' -ao paternidade lia
legal, como cemturala não tem por
legitima. E' si
uma simples
força de facto,
uma
ev,
ilaqua — Codigo Civil — 2.0 vol.
338 CODIGO CIVIL

cuja prova tem de fazer o interessado. A lei não estabelece pre-


sumpção alguma, apenas dá acção ao filho. A presumpção nasce
dos factos, mas destróe-se com outros factos. Aliás o art. 383,
do Codigo Civil mexicano, estabelece, em relação ao concubi-
nato, presumpção semelhante á estabelecida em relação ás justas
nupcias. '
Dando acção de investigação ao filho, a sociedade interroga,
ao pretendido pae, porque o não reconheceu, O pae dirá porque,
e alguma vez terá razão.
II. 8e a concepção do filho reclamante coincidiu com o rapto
da mãe pelo supposto pae. Rapto é a tirada da mulher honesta
por meio de violência ou seducção, do logar onde se acha, contra
a vontade delia, para fim libidinoso ou para casamento. É um
facto que produz escândalo, e chama a attenção da sociedade, em
cujo meio elle se deu. Pôde ser invocado, porque é conhecido; e,
se o momento da concepção coincide com o do rapto, a prova da
filiação é cabal. Se o rapto é violento, isto é, se a mulher foi
coagida, seria revoltante que o direito isentasse o raptor de toda
a responsabilidade, quanto aos cuidados com o filho. Sendo, po-
rém, a mulher connivente na fuga, porque o homem a seduziu,
não enfraquece, por isso, a prova da paternidade, nem diminue
a responsabilidade do pae, em relação ao sustento e educação
do filho.
O rapto é punido pelo Codigo Penal, arts. 270-276.
III. 8e a concepção do filho coincide com as relações sexuae8
entre o pae e a mãe.
A redacção do n. II do art. 363, na parte final, é pouco feU2-
Os Projectos, neste passo, falavam de estupro-, que é o abuso
violento da mulher com quem o individuo não é casado, e con-
stitue um crime (Codigo Penal, art. 269). O Senado, por P1"0'
posta do Sr Rüy Barbosa {Parecer, pag. 190), substituiu essa
palavra aspera, por . outras, que, aliás, não têm significado iuno
cente, alterando o systema adoptado pelo Projecto. Haviam olvi-
dado na Gamara a posse de estado, o Senado também não se P16'
occupou com ella, porque permitte a devassa. Desde que tenha
havido relações sexuaes entre o pretendido pae e a mãe, o fiU10
pode accionar o primeiro para fazer-se reconhecer. O escândalo
do estupro tornaria o facto notorio. As relações havidas em se
gredo passam despercebidas. Vê-se bem a differença entre as
duas situações, e como a porta se abre aos abusos, com a emen-
da do Senado, contra a qual, aliás foi inútil protestar.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 339

inv P-C0U estabeIecido 0


direito é o mesmo para o filho de
a paternidade
violo?^ natural, tenha havido communicação
nitor-ír 0U VOlUntaria' manifesta ou occulta entre os seus ge-

nirin^ 86 existir escriPto daguelle, a quem se attribue a páter.


tari ( e' recon}ieGGnão-a expressamente. O reconhecimento volun-
Ptii)0 6X186 instriimento Publico; inscripção no registro, escri-
mai a PUbllCa 0U testamento. O reconhecimento forçado pode to-
doonr^6 Um eSCrÍPt0 particular- Exige-se, apenas, que nesse
em ■ f11-0 haJa Uma declaraÇão expressa da parte do indivíduo,
do ?? aea0 a SUa paternidade- Esse escripto pôde ser um acto
rec vni0Pri0 Plinh0' intencional, ainda que, erradamente, feito para
16061 0 flIh0 Neilhuma effi
hdori1 COm a sent" n cacia tem por si; mas, ajuizado,
tg.,
^ a. i ode ser uma eescriptura
ea, a força que, originariamente,
publica sem os requisitoslhelegaes
fal-
P dUZÍr effeit0 15(3(16 ser
Pano-
Peis ?
do pretendido - pae. nma carta ou um assento em

teris<3mente os filhos naturaes podem investigar a sua pa-


Ulti!1?^' A0S espiirios recusa o Codigo esse direito. São estes
ben n )S"0S flIhos ülegitimos de pessoas que, no dizer da lei, ca-
Psart U0 art-.183, ^ 1 a VI' segundo o torneio de linguagem
0 n0 pi:ineií)io do
ram Se ' lm edldo artigo. No citado artigo, ns. I a V, decla-
ern j P s de casar os parentes consanguineos e affins
dess.lnha leCta 6 08 collacteraes até o terceiro gráo. Os filhos
ihce?S Pessôas imPedidas de contrahir matrimônio legal são
casad U0S0S ' 0 n' VI Véda 0 enlaCe da(luelles Q116 ^ se acham
?" 08 fÍlh0S serados contra essa prohibição formam a classe
do?15 adulterinos.

íilliQ0 A acs 0
á de investigação da paternidade é privativa do
na0 86 transmitte a(:)s seus
ciadaa e 0 filho tiver herdeiros, salvo se estiver ini-
Ê- t a' morrido durante a marcha do processo.
mbem inadmissível o seu inicio depois da morte do pae.
A afl: i
de " rmação, que acaba de ser feita, de que a acção
COnheCÍment0 deVe Ser pro osta em vi
Senclo apenas ad P da do supposto pae,
ter o . missivel, contra os herdeiros delle, no caso de
jUrií? 01681110 fallecido pendente a lide, não alcançou apoio na
ga
Çào\ :aCÍa' maS tem POr Si razões Poderosas, l.a a investi-
ar.tor ^a paternidade tem Por tim a declaração judicial de que o
bora \flIh0 110 ré0- Parece estranho que outra pessoa, seja em-
0
sun■'postordeÍr0 tenha de reconhecer
pae ' dispõe de meios de defesa
^sa filiação, pois somente
relativamente a esse
340 CODIGO CIVIL

facto, que lhe é pessoal. 2.a Repugna á moral que o autor se pre-
valeça do fallecimento do supposto pae, afim de obtei um re
tado que, provavelmente, não alcançaria, se o mesmo fosse vivo,
e, por esse modo, se perturbem situações jurídicas legitimamente
fundadas. 3.a E' certo que o principio do artigo diz; "os ülhos
illegitimos... têm acção contra os paes ou seus hetãeitos . ^
interpretatio illa sumvienãa qua aisurãum evitetur, Interpretar
é escolher, entre muitas significações da palavra, a mais justa
e conveniente, ensina Kohlek {Lehrhuch, I, § 38).. A mteipre-
tação ha de, necessariamente, attender, em primeiro logar, ao
que é razoavel, depois ao systema da lei, e por fim ás exigências
da civilisação. Ora, das razões acima expostas resulta que a mter
pretação literal do art. 363, principio, maximé attendendo-se ao
prazo da acção que é de trinta annos, por não lhe ter sido fixad
outro mais curto, é contraria á bõa razão. E' também contraria
ao systema do Codigo Civil, porque aquellas palavras — ou seu
herdeiros resultaram de uma emenda de ultima hoia {Annae ,
da Gamara dos Deputados, 1902, II, pag. 229, sessão extraordi-
nária), de onde resultou que não se estabelecesse limitação
tempo'para essa acção, quando a própria acção de filiação legi-
tima o tem (art. 178, § 6.°, XII). Essas palavras são como 0"
uma excrescencia no systema do Codigo, e como tal devem rece ei
interpretação restrictiva. As exigências da civilização são no sen-
tido dos argumentos acima apresentados sob os ns. I.0 e 2.°, ao
quaes accresce o modo pelo qual o mesmo facto é tratado na
diversas legislações. A lei portugueza de protecção aos filh0
(25 de Dezembro de 1910), art. 37, estabelece como regra que
acção de investigação de paternidade, ou maternidade, só pocl^
ser intentada em vida do pretenso pae ou mãe, ou dentro ^
anno posterior á sua morte. Abre duas excepções a essa regra-
a) se os paes fallecerem durante a menoridade ou demencia os
filhos, a acção poderá ser proposta até quatro annos depois^
emancipação, ou maioridade, ou restabelecimento da razao-
b) se o filho, depois de passado um anno da morte do pae,
cobre documento escripto e assignado por este, em que reve ® ^
sua paternidade, tem seis mézes, contados da data, em que obte
o documento, para propor a sua acção, que, aliás, não prejudica
as regras geraes acerca da prescripção dos bens. A lei franC® _
citada acima, sob a rubrica da Legislação comparada, extmg ^
a acção do filho um anno depois da sua maioridade. O Cod e
Civil suisso não permitte a acção de investigação da paternida
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 341
depois de um armo, contado do nascimento do filho (art. 308).
todas essas legislações ha uma organização, um systema
restrictivo da acção de investigação da paternidade após a morte
pretendido pae. Entre nós, pois que a extensão do direito
de acção contra os herdeiros do supposto pae é um enxerto de
ultima hora, se torna indispensável extrahir da razão os limites
dentro dos quaes ella se ha de exercer.

Art. 364 — A investigação da maternidade só


se não permitte, quando tenha por fim attribnir
prole illegitima á mulher casada, ou incestuosa
á solteira (art. 358).

Direito anterior — Desconheciam-se as restricções expressas


110
final do artigo.
Legislação comparada — Codigo Civil argentino, arts. 325 e
^26; uruguayo. 242. Vejam-se também: venezuelano, 274; fran-
<:ez
0
' 241 e 342; lei portugueza de protecção aos filhos, arts. 35 e
6: Codigo Civil hespanhol, 136 a 140; mexicano, 385.
O Codigo Civil do Chile, art. 271, só admitte o reconheci-
mento paterno, ou materno, como acto espontâneo de qualquer dos
genitores.
A doutrina romana admittia a investigação da maternidade
hatural, sem restricção alguma.
Projectos — Esboço, art. 1.597; Felicio dos Santos, 764; Coe.
tho Rodrigues, 2.153; Beviláqua, 428; Revisto, 451.
Bibliographia — Pontes de Miranda, Direito de família,
§ S. Vampré, Manual, I, § 188.

a
Observação — A certeza normal da maternidade torna raras
s investigações judiciaes com o objectivo de a declarar. Nestes
mesmos rarissimos casos, não quer o Codigo que se perturbe a
®az de uma família, no intuito de attribuir um filho illegitimo
' mulher casada, ou incestuoso á solteira.
O ponto de vista do Codigo Civil brasileiro não é o mesmo
da maioria dos Codigos Civis estrangeiros, que, com excepção
342 CODIGO CIVIL

do argentino e do uruguayo, só attendem ao escândalo prove-


niente do adultério e do incesto. Quanto á mulher casada, o
art. 364 põe-na a salvo de qualquer investigação de maternidade,
tendente a lhe attribuir um filho illegitimo, seja adulterino ou
não. Imagine-se que uma senhora, quando moça, teve um filho
natural, fructo do abuso de um seductor. Esse filho occulto das
vistas de todos foi creado por alguém de confiança dos avós.
Mais tarde, a senhora casa-se, tem um procedimento digno, é
respeitada pela sociedade, estimada pelo marido e adorada pelos
filhos legítimos. Esse primeiro filho é illegitimo, mas não adul-
terino. O Codigo não lhe dá, entretanto, acção para investigar
a "sua maternidade. Também não lh'a dá o Codigo Civil me-
xicano, acima citado.
O Projecto jmmitivo haurira esse pensamento do Esboço
A Commissão revisora da Gamara, em 1901, accrescentou a se-
gunda restriçção, que entra na ordem das idéas da maioria dos
Codlgos. O filho incestuoso não tem acção para investigar a pa-
ternidade nem a maternidade.

Art. 365 -— Qualquer pessoa, que justo inte-


resse tenlia, pôde contestar a acção de inyesti-
gação da paternidade ou maternidade.

Direito anterior — Assim ensinavam os civilistas.


Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 191;
francez, 339, venezuelano, 238; peruano, 387; boliviano, 1721
uruguayo, 238.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.154; Beviláqua, 429;
Revisto, 452.
Bibliographia — Direito da familia, § 69; Lafayette, Dire-
tos de familia, § 124; Pontes de Miranda, Direito de familia>
§ 142; Coelho da Rocha, Inst., § 299; Planiol, Traitc, í, uu"
meros 2.233-2 236; Huc, Commentaire, III, ns. 100-104.

Observação — O reconhecimento voluntário do pae pôde ser


impugnado pelo filho (art. 362); também a acção deste pôde
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 343
Se
i contestada não somente pelo pae, como por qualquer pessoa,
lue tenha justo interesse na causa. O interesse pôde ser moral
0
u economico. Podem tel-o: os filhos legitimes do pae, contra
huem é proposta a aegão; outros filhos naturaes já Leconhecidos;
a
mulher; os parentes successiveis, que seriam afastados da he-
r
unça, se o pretendente se fizesse declarar filho; os credores.

Art. 366 —' A sentença, que julgar procedente


a
acção de investigação, produzirá os mesmos
Afeitos do reconliecimento, podendo, porém, or-
denar que o filho se crie e eduque fóra da com-
panhia daquelle dos paes, que negou esta qua-
lidade .

Direito anterior — Não dispunha a respeito.


Legislação comparada — O Codigo Civil portuguez, art. 166,
to
mára uma providencia, em parte, semelhante, mas a lei ãe
l)rotecção aos filhos não faz dístineção entre o reconhecimento
Vo
luntario e o forçado, quanto aos effeitos jurídicos, e se recolhe
ao
silencio quanto á guarda do filho, no caso previsto pelo ar-
ttgo 366 do Codigo Civil brasileiro.
Vej a-se também o Codigo Civil venezuelano, 246; e o
s
Uisso, 325.
Lrojectos — Coelho Rodrigues, art. 2.155; Beviláqua, 430;
Revisto, 453.

Observação — Proferida a sentença a favor do filho, a sua


bosição fica definida; é filho natural reconhecido; tem o direito
usar o appellido do pae; de ser por elle alimentado e educado
^art- 379); e de lhe succeder (art. 1.605); emfim, de ser tratado
cp
mo se fosse legitimo. Todavia, attendendo a que o processo de
lllv
estigação tenha podido crear sentimentos de animadversão
pae para com o filho, o juiz poderá, se as circumstancias o
exi
girem, decretar, na sentença condemnatoria do pae, que o
filho menor seja criado e educado fóra da companhia delle.
344 COD1GO CIVIL

Se a mãe fôr viva, é direito delia ter o filho comsigo. Se não fôr,
será designado quem lhe deva substituir, ou será escolhido um
estabelecimento de educação, onde seja collocado o menor.

Art. 367 — A filiação paterna e a materna


podem resultar do casamento declarado nullo,
ainda mesmo sem as condições de putativo.

Direito anterior -— Não havia disposição correspondente.


Legislação comparada — V. Codigo Civil venezuelano, 247,
2."; suisso, 133.
Projectos — Beviláqua, art. 431; Revisto, 454.

Observação — Se o casamento é apenas annullado, o filho


delle nascido considera-se legitimo (art. 337). Também será legi-
timo, se o matrimônio, embora nullo, foi contrahido de bôa fé,
ainda que por um só dos cônjuges (o mesmo artigo). Se não
houve bôa fé, o casamento nullo nenhum effeito produz em re-
lação aos contrahentes e aos filhos (art. 207). Mas o facto da con-
vivência, da cohabitação, da intimidade entre os cônjuges não
desapparece com a declaração da nullidade do enlace, e conse-
qüente separação das pessoas, que por elle se haviam unido.
Se dessa união resulta um filho, não se lhe pode attribuir a pa-
ternidade, senão aquelle que conviveu maritalmente com a sua
mãe, salvo o seu direito de contestação. Não é um filho segundo
a lei, mas é um filho segundo a natureza, e a lei não pôde des-
truir os factos que cáem sob os sentidos de todos.

CAPITULO Y
Da adopção

Art. 368 — Só os maiores de cincoenta an-


nos, sem prole legitima ou legitimada, podem
adoptar.
Direito anterior — O direito anterior não regulava o insti-
tuto da adopção. Fazia-lhe, apenas, referencias, em alguns passos,
de onde resultaram divergências e confusões. Vejam-se; Orde-
DAS KELAÇÕES DE PARENTESCO 345
nações, 2, 35, § 12; 56, pr.; 3, 9, § 2.°; 59, § 11; 85; § 2.°; lei de
22 de Setembro de 1828, art. 2.°; Dec. n. 181, de 24 de Janeiro de
1890, art. 7.° § 1.° Teixeira de Freitas, Consolidação art. 217;
Carlos de Carvalho, Direito civil, arts. 1.635-1.640.
Legislação comparada — Por direito romano, a adopção era
Permittida ás pessoas maiores de sessenta annos, que não tives-
sem filhos legítimos ou naturaes (D. 1, 7, frs. 15, § 2.°, e 17, § 2.°).
Vejam-se as Inst. 1, 11.
Codigo Civil francez, art. 344 (quarenta annos); italiano, 202
(50 ou, excepcionalmente 40); peruano, 326 (50 anos); hespa-
nhol, 173 (quarenta e cinco annos); austríaco, 179 e 180; suisso,
254 (quarenta annos); allemão, 1.741 e 1.744; uruguayo, 243
(quarenta e cinco annos); venezuelano, 267 (quarenta annos);
boliviano, 179 e 180; colombiano, 271 e 272; mexicano, 390 (qua-
renta annos). Pelo Codigo Civil japonez, art. 837, qualquer pes-
soa maior pode adoptar.
Alguns Codigos Civis, como o portuguez, o argentino o chi-
len
o, desconhecem a adopção.
O francez ao lado da adopção, conhecia a tutela officiosa
(arts. 361-370), que, aliás, se tornou inútil depois das leis de
19
de Julho de 1923 e 23 de Julho de 1925.
O Codigo Civil italiano, livro primeiro (ed. de 1938), art.
290, prohibe a adopção entre pessoas de raça aryana e de outra
raça.
Projectos — Esboço, arts. 1.625 e 1.626; Coelho Rodrigues,
2-167: Beviláqua, 432; Revisto, 455.
Bibliographia — Direito da família, § 71; Estudos jurídicos.
Pags. 197-202; Direito, vol. 94, pags. 53-63; Gonçalves Chaves,
Parecer, sobre o direito da família, Bello Horizonte, 1904; pa-
êmas 53-54; Souza Pinto, Genesis e desenvolvimento histórico
do instituto da adopção. Recife, 1910; Dtno Bueno. A adopção,
que effeitos produz actualmente, Direito,, vol. 30; Estevam de
Almeida, Manual cit., ns. 191 e segs; Liz Teixeira, Curso, I,
Ct- "VI, § 9.°; Loureiro, Direito civil brasileiro, I, § 82; Dionysio
Cama, Da adopção, S. Paulo, 1923; Martinho Garcez, Direito da
família, § 189; Pontes de Miranda, Direito de família, §§ 158 e
Segs
-; S. Yampré, Manual, I, §§ 197 e segs.; Almachio Diniz,- Di-
reit
o de família, § 53; Planiol, Traité, I, ns. 2.326 e segs.; Pla-
Niol et
Ripert, II, ns. 1.003 e segs.; Huc, Commentaire, III, nu-
lner
os 108 e segs.; Laurent, Gours, I, ns. 303 e segs.; Aubry et
^Au' Coars, IX, §§ 554 e segs.; Sanchez Roman, Derecho civil,
• cap. XXVII; Schneider, Privatrechtliches Gesetzbuch f, d. K.
346 CODIGO ClVUi

Zuerich, nota ao art. 714; Endemann, II, § 210; Roth, System,


II, §§ 154 e segs.; Chironx, Ist., II, § 409; Windscheid, Panã., I,
§ 523; Cuq, Institutions, II, pags. 115-117; Rossel et Mentha,
Droit civil suisse, I, pags. 341 e segs.; Huber, Exyosé ãe motifs,
pags. 216-217; Tito Preda, vt), Aãozione, no Diccionario ãe Scia-
loja e Busati; Champeau e Uribe, Derecho civil colombiano, I.
ns. 492 e segs.; Martxnho Garcbz Filho, Direito ãe faviilia, li,
pag. 149 e segs.

Observações — 1. — Aãopção é o acto civil, pelo qual alguém


acceita um estranho na qualidade de filho.
Não tendo as leis patrias regulado a adopção, e contra ella
se tendo pronunciado alguns civilistas, não estava o instituto em
florescência, nem se achavam bem definidos os seus contornos-
Mas o Codigo fez bem em reerguel-o, e dar-lhe feição accentuada,
porque, na sociedade moderna, elle é chamado a desempenhar
uma funcção valiosissima. Não se trata, simplesmente, de encon-
trar um continuador da família; nem, por outro lado, nos deve-
mos arreceiar de que pela adopção se possam perfilhar adulterinos
e incestuosos. Se somente para esse fim servisse a adopção, já
seria de alta valia o seu prestimo, O que é preciso, porém, sa-
lientar é a acção benefica, social e individualmente falando, que
a adopção pôde exercer, na sua phase actual. Dando filhos a
quem os não tem pela natureza, desenvolve sentimentos affe-
ctivos do mais puro quilate, e augmenta, na sociedade, o capital
de affecto e de bondade, necessário ao seu aperfeiçoamento mo-
ral; chamando para o aconchego da familia e para as doçuras
do bem estar filhos privados de arrimo ou de meios idoneos, apro-
veita e dirige capacidades, que, de outro modo, corriam o risco
de se perder, em prejuízo dos indivíduos e do grupo social, a
que pertencem.
2. — O adoptante, homem ou mulher, deve ter attingido á.
edade madura, para adoptar, porque a adopção é um meio suppR-
tivo de obter filhos e não um modo normal de constituir familia-
Antes dos cincoenta annos, a pessoa, que ambicionar ter prole,
deve casar-se. Depois dessa idade, os casamentos não são para
desejar.
3. — A adopção destina-se a supprimir a falta de filhos. A.
lei só a faculta a quem não teve a ventura de os possuir, pelo
casamento.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 347
Não fala o Codigo em filhos naturaes. O Progecto primitivo
e o revisto vedavam a adopção a quem tivesse descendentes, com-
prehendendo, na amplitude do termo, os legitimes e os illegiti-
mos. O Codigo, porém, somente não a permitte a quem tiver
prole legitima ou legitimada. Aquelle que reconhece um filho
■iüegitimo não está inhibido de adoptar. Inversamente, aquelle
Que não tiver mais filhos, porém tiver netos legitimes, não po-
derá utilizar-se da adopção.
4- Debateram-se no fôro de S. Paulo, as seguintes ques-
tões: l.a Pôde o filho adulterino ser adoptado por seu pae?
2.'' No conflicto das leis chamadas a regular a especie, qual a que
deve prevalecer; a nacional do adoptante, ou a do adoptado?
Quanto a primeira questão, provinha a controvérsia de ser prohi-
bido o reconhecimento dos espúrios (Codigo Civil, art. 358) e de
suppôr-se que entre o reconhecimento e a adopção houvesse ana-
Io
gia, que autorizasse a transposição dos cânones de um instituto
Para supprir as lacunas do outro. Esta analogia, porém, não
e
xiste; por sua natureza, por seus fins, por sua organização juri-
dica, os institutos da adopção e do reconhecimento são diffe-
r
entes. A lei não prohibe adoptar espúrios, e prohibe reconhe-
cel-os. E' porque, no systema do Codigo, os princípios que
dominam o reconhecimento são differentes dos que dominam a
adopção. E como, por um lado, não ha identidade de razão, que
autorize a interpretação extensiva, e, por outro, a restricção do
art. 358 é uma excepção do direito dos paes illegitimos, que se
ba de applicar, exclusivamente, aos casos que especifica, forçoso
6
afastar a interpretação extensiva, e declarar que os filhos espu--
Dos podem ser adoptados, pela simples razão de que a lei não
0
Prohibe.
A questão, aliás, somente seria possível, quando a filiação
ospuria rhsse declarada. Não o sendo, não pode ser sequer venti-
lada. Vejam-se na Revista de Direito, vols. 56 e 58, os pareceres
de Estevam de Almeida, Lacerda de Almeida e Espinola.
Quanto á segunda questão. Prevalece a lei do adoptado,.
Porque é elle o beneficiado na adopção.

Art. 369 — O adoptante ha de ser, pelo me-


^os, dezoito annos mais velho que o adoptado.
348 CODIGO CIVIL

Direito anterior — Veja-se o artigo antecedente.


Legislação comparada — A do artigo anterior. Pelo direito
francez novo (lei de 1923) a differença de edade entre o ado-
ptante o adoptado ha de ser de quinze annos pelo menos.
Projectos — Esboço, art. 1.626; Coelho Rodrigues. 2.167;
JBevilaqua, 433; Revisto, 456.

Observação — Já o direito romano exigia que o adoptante


fosse dezoito annos mais velho do que o adoptado. E' uma diffe-
rença de edade sufficiente para dar ao pae ou á mãe adoptiva
a distancia que infunde respeito: presuppõe maior experiência,
e põe cada um em seu logar proprio: os paes para velar e digirir,
o filho para venerar e confiar.

Art. 370 — Ninguém pôde ser adoptado por


duas pessoas, salvo se forem marido e mulher.

Direito anterior — Omisso.


Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 346; ita-
liano, 292, hespanhol, 174, 4.°; allemão, 1.749; uruguayo, 245;
peruano, 273; boliviano, 181; venezuelano, 272; mexicano, 392. O
colombiano, 273, só permitte a àdopção entre pessoas do mesmo
sexo, excepto se os adoptantes são marido e mulher (art. 275)-
Projectos — Esboço, art. 1.626, n. 6; Coelho Rodrigues, 1.168;
Beviláqua, 434; Revisto, 457.

Observação — Alguns Codigos prohibem adoptar mais de


uma pessoa, salvo no mesmo acto, e de uma só vez (Codigo Civü
italiano, 292; venezuelano, 269). O brasileiro, porém não con-
signa essa restricção, que, aliás, propuzeram o Projecto primi-
tivo, art. 435, e o revisto, 458. Supprimido esse dispositivo, ficon
livre ao indivíduo adoptador quantos filhos o seu affecto quizer
abranger e a sua capacidade econômica puder amparar.
O que não permitte o Codigo é que mais de uma pessôa, nao
•sendo cônjuges, possam adoptar o mesmo filho. Seria realmente
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 34Í)'
contrario á natureza e aos fins da adopção dividir o vinculo do
parentesco civil. Assim como ninguém pôde ter mais de um pae
pela natureza, também não o poderá ter pela lei, que pretende,
com o instituto da adopção, imitar a natureza e supprir-lhe uma
deficiência.
Os cônjuges, porém, podem adoptar, conjuncta ou separada-
mente, o filho da sua escolha (Wahlkinã é a expressão do Codigo
Civil da Áustria e do direito germânico), porque lhes falhou a
esperança naturalmente depositada no casamento. Incapazes de,
procrear, .a lei lhes permitte adoptar.

Art. 371 — Emquanto não der contas da sua


administração, e saldar o seu alcance, não pôde
o tutor, ou curador, adoptar o pupillo, ou cura-
telado.

Direito anterior -— Omisso.


Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 293;.
hespanhol, 174, 3.°; allemâo, 1 752; venezuelano, 270; uruguayo,
244; peruano, 272; boliviano, 187; mexicano 393.
Projectos — Esboço, art. 1.62G, 5 "; Coelho Rodrigues, 2.171;
Beviláqua, 434; Revisto, 457.

Observação — Não deve a adopção ser um meio de fugirem'


o tutor e o curador das suas responsabilidades, como adminis-
tradores de bens alheios. Permittir a adopção antes de saldadas
as contas da tutela, ou da curatela, seria pôr em risco os direitos
dos menores e interdictos, sob color de por elles mais interessa-
damente velar o tutor, ou curador. Depois, o tutor e o curador
devem funccionar na adopção como representantes do menor.
Passar essa funcção a outrem para odoptar, sem se desobrigar
da responsabilidade da tutela ou curátela, seria manifestar in-
tenção deshonesta..
■350 CUU1GO CIVIL

Art. 372 — Não se pôde adoptar, sem o con-


sentimento da pessoa, debaixo de cuja guarda
estiver o adoptado menor, ou interdicto.

Direito anterior — Omisso.


legislação comparada — D, 1, 7, frs. 5 e 8; Codigo Civil
liespanhol, art. 178; austríaco, 181; allemão, 1.747; uruguayo,
247; italiano, 294 e 295; venezuelano, 273; peruano, 326, ns. 6
a 8; boliviano, 183 e 184; colombiano, 277. Pelo Codigo Civil
trance.":, art. 346, somente, os maiores podiam ser adoptados, e,
se ainda não passassem dos vinte e cinco annos, deviam apresen-
tar o consentimento dos paes. Actualmente, o art, 348, alterado
pela lei de 19 de Junho de 1923, a adopgão de menores é per-
mitida
Projectos — Esboço, art. 1.627; ns. 2 e 3; Coelho Rodrigues,
2.172 e 2.173; Beviláqua, 438; Revisto, 460.

Observações — 1. — O Codigo suppoz que o consentimento


do adoptado, quando maior e sui júris era tão intuitivo que se
dispensou de mencional-o. Realmente não se comprehende que
alguém entre para o logar de filho de outrem contra a sua von-
tade, ou sem que esta se manifeste favoravelmente. Todavia, não
seria demais dizel-o, como fez o Projecto primitivo, art 438.
2. — Os filhos famílias são dados em adopção por seus pró-
prios paes ou pelo que sobrevive, se um já falleceu. Mas, se já
excederam dos dezesseis annos, devem intervir no acto. Se o me-
nor está sob tutela, o tutor que tem a guarda da sua pessoa e dos
seus bens, terá voto decisivo sobre a conveniência ou inconve-
niência da adopção O mesmo se diz do curador do interdicto.
Pessoas que se não dirigem por si, que estão sob a autoridade de
outrem, o menor e o interdicto, não poderiam, validamente, con-
sentir; além disso, é um acto de excepcional gravidade entrar
para uma família estranha. Foi attendendo a esta circumstancia
que o Codigo se não contentou com os princípios geraes que não
permittiriam a açlopção do menor ou interdicto sem o consenti-
mento dos paes, do tutor ou do curador. Providenciou directa e
especialmente.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 351

Art. 373 — O adoptado, quando menor, ou


interdicto, poderá desligar-se da adopção no
anno immediato ao em que cessar a interdicção,
ou a menoridade.

Direito anterior — Omisso.


Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 180,
que, aliás, dá quatro annos pax-a a impugnação; mexicano, 304.
Projeçtos — Coelho Rodrigues, art. 2.178, 2; Beviláqua, 439;
Revisto, 462.

Observação — O menor e o interdicto não têm vontade pró-


pria nem desenvolvimento mental sufficiente para comprehender
a vantagem ou desvantagem da adopção. Ainda quando maior
de dezeseis annos, o menor não possue o discernimento necessá-
rio para vêr, claramente, a situação, que lhe criam com a escolha
de um pae adoptivo. Em' todo o caso, são outros que deliberam
por elle, ainda quando intervenha no acto. E' justo que, adqui-
rindo a plenitude da razão e da vontade, possa romper um vin-
culo pessoal, que lhe desagxmda. Para o são, esse momento é o
da maioridade; para o alienado, será o em que se lhe restabeleça
a saúde do espirito; para o surdo-mudo, será o tempo, em que
Puder enunciar, precisamente, a sua vontade.

Art. 374 — Também se dissolve o vinculo da


adopção:
I. Quando as duas partes convierem.
II. Quando o adoptado commetter ingrati-
dão contra o adoptante.

Direito anterior — Omisso.


Legislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 1.768;
suisso, 269. A fonte do artigo foi Codigo Civil do Cantão de
Zurich,
a
art. 250. V. o colombiano, 284. Codigo Civil mexicano,
rt. 405; italiano, 303 e 304.
352 CODIGO CIVIL

Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.178, §§ 1.° e 3.°; Bevi-


láqua, 440; Revisto, 462.

Observação — A adopção não é um vinculo, que se possa


estabelecer por certo tempo e sob determinadas condições. E'
para a vida inteira e incondicional. Mas a sua perpetuidade não
é absoluta. Pode, sem perigo, ser permittido aos interessados
desfazer, por mutuo accordo, o parentesco civil, que artificial-
mente, crearam, e pela mesma fôrma pela qual o estabeleceram,
isto é, por escriptura publica.
E' a ruptura bilateral da adopção.
O Codigo admitte, ainda, uma ruptura unilateral, quando o
adoptado commetter ingratidão contra o adoptante. O adoptado
acha-se na situação de filho; deve obediência, respeito, affeição
filial ao pae adoptivo. Se o injuria gravemente; se o offendt; se,
numa palavra, se mostra despido de todo sentimento de piedade
filial, em situação em que devêra proval-o, é licito ao pae rom-
per um laço moral que, de facto, não existe.
O que se diz do pae, com egual razão se affirma da mãe
adoptiva.
Ao filho não se dá o mesmo direito de romper o vinculo da
adopção por ingratidão do pae; porque elle é o beneficiado,
elle é que deve gratidão. Se, porém, o pae adoptivo abusar dos
seus direitos, em relação ao menor, cabe á autoridade judiciaria
suspender-lhe o pátrio poder ou retiral-o, inteiramente (arti-
gos 394 e 395).

Art. 375 —A adopção far-se-á por escriptura


publica, cm que se não admitte condição nem
termo.
Direito anterior -— As cartas de adopção deviam ser confir-
madas pelo juix (Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 217;
loi de 22 de Setembro de 1828, art. 2.°).
Legislação comparada — Codigo Civil uruguayo, art. 248.
Por direito romano, a adopção exigia a interferência do juiz-
perante o qual compareciam o adoptante, o adoptado e a pessoa
em cujo poder se achasse. Se o adoptado fôsse pessoa sui júris,
DÁS RELAÇÕES DE PARENTESCO
353

(CoT
vc.oci. 48, ls. 4, 6a ead0ptante
11). ' 0 act0 Pedia rescripto do príncipe
As solemnidades do diroito francez constam dos arts. 362-

de mst"1 , 01 IJ,ira Ias


' " ' : a M <ia 19 de Junho
0 aS maiS SÍmi:>leii Veiam se sobre
íto ia ^ ' - o m^o assum-
lan0 artS Sm 312 (é act0
oauh , , 178; austríaco 181;
Panho ' aUemão,
' - 1.741, i„ fine,
WMal): hes-
1.742, 1.750

meJcanolÔT0' YeneZUela,10
■ ■
2,4 277
; colombiano, 278-280;
arts 1 629 e
21-^- T - ' C^lho Boãrignes,
e tomou por mode
„ ' . ' ""
^evilaqua, 441; Revisto, 463. . lo o Codigo Civil italiano de 1865-

tadp ^oser JíiÇ*i0 deO tomar


adoptante acto daoutrem
adopção
na ôqualidade
uma declaração
de filho,dae deve
von-

sai,61 se
legal J for
f
aCCeitaÇa0 deste se fôr
menor ou interdicto.
' maior
. do seu representante
C 6 da substaMla
*,nLT!T"' *
o ait. 134, I, e agora repete o art."o375.
acto, como já deter-

lemQUae!QUer ClaUsulas que suspendam, modifiquem ou annul-


co0^deve
blirn eífeit0S legaes da ad
recusar-se a redigil-as,
oP6âo, são
porque
prohibidas.
a sua existência
O official an-
pu-
Uia
o acto (art. 145, V).

PcSn^i3 336 oo^",0 Pfrentesco resultante da ado-


-Ji? ■■ ) Dmita-se ao adoptante e ao ado-
ÜO, salvo quanto aos Impedimentos matrimo-
cu 0 es eito
arf ioo
138, ns.J III
T^ Pe Y. se observará o disposto no
Direito anterior — Tal a doutrina corrente.
Le i
ll8 g slação comparada — D. 1, 7, fr. 26; 23, 2, fr. 55; Rov.
Cap IV;
'
Pan h - Codigo Civil francez, art. 352; italiano, 298; hes-
249. 0' 177; allemâo' i-75? a 1.763; austríaco, 182-184; uruguayo,
can ' PerUano
402, '
333;
boliviano, 185 e 186; venezuelano, 278; mexi-
Be Vl'1 aqua — Codigo Civil — 2.° vol.
354 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, arts. 1.631 e 1.632; Coelho Rodrigues,


2 174-2.176; Beviláqua, 442; Revisto, 464.

Observação — A adopção colloca o adoptado na situação ju-


rídica de filho legitimo do adoptante. Dessa situação nascem di-
reitos e deveres recíprocos, os direitos e deveres dos paes para
com os filhos, e destes para com aquelles. O filho adoptivo tem
o direito de usar o nome do pae, que o adopta; de ser por ello
alimentado e educado, se fôr menor; de succeder-lhe, ainda em
concorrência com os legítimos, nos termos do art. 1.605.
Mas o parentesco resultante da adopção não se propaga aot>
parentes do adoptante e do adoptado. As duas famílias continuam
estranhas entre si. Somente os dois se unem, e os descendentes
do adoptado, que se tornam descendentes do adoptante. Todavia-
para o effeito dos impedimentos matrimoniaes, ha uma affim-
dade em linha recta entre o adoptante e o cônjuge do adoptado.
e entre este e o cônjuge do adoptante, como, entre, o adoptado
e o filho sohrevindo ao adoptante, ha um laço fraterno, que o®
impede de contrahir casamento.

^rt. 377 — A adopção produzirá os seus ei-


feitos, ainda que sobrevenham filhos ao ado-
ptante, salvo se, pelo facto do nascimento, ficai'
provado que o filho estava concebido no mo-
mento da adopção.

Direito anterior — Nada dispunha.

Degislação compaxmda — Codigo Civil uruguayo, ait. 25


No mesmo sentido; peruano, 340. O Codigo allemão, art. 1- ^
não é claro; por isso alguns entendem que o filho apenas co1^
bido não prejudica a adopção. V. ainda o mexicano, art.
pe
Projectos — Esboço, art. 1.633, pr.; Beviláqua, 443;
visto, 465.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 355
Observação — Somente a quem não tenha descendência legi-
"na ou legitimada, é permittida a adopção. O nasciturno consi-
era-se nascido, quando se trata de seus interesses, e estes fica-
ram prejudicados, pela concorrência do filho adoptivo. Por outro
ado, ou o adoptante sabia da existência do filho por nascer, e
a
adopção será em fraude á lei; ou a ignorava, e deve presu-
hnr-se que não procuraria, pelo artificio da lei, o que tinha pela
natureza.
Mas o adoptante solteiro não está impedido de casar-se, e
ao casado pode sobrevir filho. Não serão hypotheses de fácil
r
eahzação, porque, somente, depois dos cincoenta annos, pôde
alguém adoptar; e, depois dessa edade, os solteiros não costumam
contrahir matrimônio, assim como-os casamentos estereis não se
r
ansmudam em fecundos. Mas é possível que subrevenham filhos
ao adoptante, e esse facto não rompe o vinculo civil.

Art. 378 — Os direitos e. deveres, que resul-


tam do parentesco natural, não se extinguem
Pela adopção, excepto o pátrio poder, que será
fansferido do pae natural para o adoptivo.
Direito anterior — Doutrina seguida, mas não inteiramente
Pacifica.
j legislação comparada — O direito romano mantinha as re-
^Çoes jurídicas entre o adoptado e a família natural; mas dis-
niguia entre aãaptio minus plena e aãrogatio; esta conferia o
r
io poder como a adopção pelo avô; aquella, não (Inst, 1, 11)
PanhSemeIhantemente a0 C0dÍg0 CÍVÍ1 brasileiro
me; 0 allemâ0
. dispõem o' hes-
PenAÍ' ' 1.757
ano, 335, que todos conferem e 1.764;poder
o pátrio o suisso, 268. e o
ao adoptante,
ando o filho adoptivo é menor. V. o mexicano, 403.
Ve ai
fr j n-se, também: Codigo Civil italiano, arts. 211 e 212;
ancez, 348 e 349; uruguayo, 250; venezuelano, 278.
:Projectos
ces sar o pátrio—poder);
Esboço, Coelho
art. 1.633, 2.* parte 2.176
Rodrigues, (a adopção
e 2.177;nãoBevi-
faz
Qua, 444. Revisto 466.
356 OOMGO CIVIL

Observação — A adopção colloca o filho adoptivo em uma


posição especial. Fal-o adquirir todos os direitos de filho legi-
timo do adoptante, sem perder os que, anteriormente, possuia
pm relação á sua familia natural, que subsistem íntegros, como
ge não sobreviesse a adopção. Ha para elle, apenas, um accres-,
si mo de direitos. Quanto aos deveres, subsistem os que não en-
tram em conflicto com a sua nova posição.
Se o adoptado é menor, fica sob o pátrio poder do adoptante,
porque não podia estar, conjunctamente, sob a autoridade de duas
pessoas, que não sejam marido e mulher, e porque a adopção
consiste, principalmente, em attribuir ao adoptante o direito e
o dever de criar e educar o menor, a quem deu a posição de
filho.

CAPITULO YI

Do pátrio poder

SECÇÃO I

Disposições geraes

Art. 379 — Os filhos legítimos, os legitima-


dos, os legalmente reconhecidos e os adoptivos
estão sujeitos ao pátrio poder, emquauto me
nores.
Direito anterior — O mesmo, quanto ao filho legitimo oü 16
gitimado; o reconhecido não estava sob o pátrio poder do Pa^
sobre o adoptivoj pensavam' alguns que substituía a autorida
do pae pela natureza, se fosse vivo.
Legislação comparada — O modo de apresentar o assutuP^
não é o mesmo nas diversas legislações. Vejam-se: Codigo Cm
francez, arts. 372 e 384, 2.a parte (lei de 2 de Julho de 19° '
italiano, 374; portuguez, 137; allemão, 1.626 e 1.627 (elterU0
Gewalt); chileno, 219; argentino, 264 e 265; uruguayo, 2
venezuelano, 283; boliviano, 189; mexicano, 412; suisso,
austríaco, 147, 148 e 390 e peruano, 390.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 357
Approxima-se mais do brasileiro o hespanhol, 154.
Por direito romano, o pátrio poder também comprehendia os
filhos maiores, não emancipados.
Projectos — Esboço, arts. 1.509 e 1.510; Felicio dos San-
tos 773-775; Coelho Rodrigues, 2.184; Beviláqua, 445; Re-
visto, 467.
Bibliographia — Direito da família, § 73; Lafayette, Direi.
0
s de família, § 112 e 113; Maetinho Gaboez, Direito da fami-
'«. § 200; Pontes de Miranda, Direito de família, §§ 144 e segs.;
ampré, Manual, I, § 190; Estevam de Almeida, Manual cit'
217 e segs :
; - Almachio' Diniz, Direito da família, § 54; Coe-
ho da Rocha, Inst., §§ 302 e 303; Planiol, Traité, I, ns. 2.379
9; PlaN101
j" ' et Ripert, Traité, pratique de droit civil français,
ns
c0 ' 299 e seSs-l Huc, Gommentaire, III ns. 159-167; Laurent,
v.rs, I, ns. 315-317: Aubry et Rau, Cours, IX, §§ 548 e segs.;'
ode Czvtl allemand, publié par le Comitê le lég. étr., notas aos
• 1.C26 © 1.627, Endemann, Lehrbuch, II, § 198; Kohler,
ehrbuch. III, §§ 101 e segs.; Roth, System, II, § 163; Gerber'
2/steTO, § 240; Windscheid, II, § 513; Chironi, Ist., I, § 417
^ossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 348-350; Dias Per-
Oía, Co digo Civil português, nota aos arts. 137 e 138; Liz Tei-
tÍt IV § 6 0; Rivaeola
'- ' ' Vorecho civil argentino, I,
6 SeSS ; Champeau e
ns' 47 " Usibe, Derecho civil colombiano, I
can v 6 SegS'; 519 6 SeSS-; SANCHEZ roman, Derecho civil y'
l2" 169 e segs.Mabtinho Gaiícez
*"*5. Direito de família, II

que f!)SerVaÇÕeS
ei confere ao
1
~ pae, Patri0
- ~sobre Poder ée ooscomplexo
a pessoa bens dos dos direitos
filhos.
lar * 0 direito inoderno' esse conjuncto de direitos é apenas tute-
filhn110 Ue
SentÍd0 de que a sua or
ganização visa mais o interesse do
que ' ? ' POr SUa necessita de um guia e protector, do
íaes0-lntereSSe <l0 Pae' C0m0 n0 antig0 direit0- A autoridade dos
têm 0S Um POder fainiliar
laS0S da fam31i
' dizer um
' a autoridade, que man.
se cir a» e dentro do circulo das relações desta
cumscreve; todavia, está sobre ella vigilante o poder social
econolmPedir 08 abUS0S
' qUer de
•ordem mora1
' doer de ordem
358 CODXGO CIVIL

2. — O pátrio poder não é, no systema do Codigo, um insti-


tuto privativo da familia legitima, E' a organização da autori-
dade protectora dos paes, durante a menoridade dos filhos. Já no
ultimo periodo do direito pátrio anterior, se estava accentuando
esta tendência, a que o Codigo deu forma definitiva. Todos os
filhos necessitam da vigilância carinhosa de seus paes, e a socie-
dade, no interesse da sua própria consolidação, não deve interpor
entre paes e filhos a autoridade de um estranho, senão quando
razões poderosas aconselharem essa medida, que, sendo excepcio-
nal, actuará beneficamente, como seria dissolvente, se fosse
commum.
Adoptando èssa concepção do pátrio poder, o Codigo Civil
collocou debaixo da sua protecção os filhos . legitimes, os legiti-
mados, os adoptivos e os reconhecidos, segundo os preceitos, que
estabelece.

Art. 380 — Durante o casamento, exerce o


pátrio poder o marido, como chefe da familia
(art. 233), e, na falta ou impedimento seu, a
mulher.

Direito anterior — A binuba não podia exercer o pátrio po-


der (Dec. n. 181, de 1890, art. 94).
a0
liegislação comparada — Em direito romano, somente neC
pae competia o pátrio poder (Inst. 1, 11, § 10; foeminae.. ■
naturales Wberos in sua potestate habent).
Semelhante: Codigo Civil francez, arts. 372 e 373; italia110'
314; hespanhol, 154; suisso, 274; allemão, 1.684 e 1.685 portu.
guez, 138 e 139; argentino 265 e 305; uruguayo, 252 e 253; ^
leno, 219 e 222; venezuelano, 283; peruano, 391 e 392; ^oh
viano, 196 e 197. Ha nestes Codigos certos matizes. Uns atteu-
dem mais ao direito das mães, como o suisso e o allemão, outi03
collocam-n'as em plano inferior, mas sem retirar-lhes, de todo
certa autoridade sobre os filhos. O Codigo Civil do México, a1"^1
gos 414 e 416, chama ao exercicio do pátrio poder, na seguiu46
ordem de preferencia: o pae, a mãe, o avô paterno, o materno,
a avó paterna e a materna. O japonez, art. 877, submette o filh0
ao poder do pae durante a menoridade, se o pae pertence á mesma
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 359
íamilia; se o pae morre, é desconhecido, incapaz ou se ausenta,
cabe o exercício do pátrio poder á mâe da mesma família.
Projectos — Esboço, arts. 1.510 e 1. 512 (differente) ; Felicio
dos Santióp, 775; Coelho Rodrigues, 2.184; Beviláqua, 446; Re.
visto, 468.

Observação Ambos os cônjuges têm sobre o filho autori-


dade, a ambos deve o filho respeito. Mas, sendo o pae o chefe da
família, compete-lhe, durante o casamento, o exercício dos direi-
tos, que constituem o pátrio poder, sem, contudo, deixar de ouvir
a mulher, em tudo que disser respeito ao interesse do filho. O
Parido não absorve a personalidade da mulher, "a autoridade do
Pae não faz desapparecer o direito da mãe, de velar pelo bem
estar do filho. Apenas o pae, como chefe de família, tem preemi-
aencia e preferencia.
Se o pae está impedido por enfermidade mental, ausência
declarada, ou condemnação criminal, a mulher o substituem Se
niorre o pae, transfere-se á mãe o poder paterno.
Com a feição, que lhe dá o Codigo, o poder paternal corres-
ponde antes ao elterliche Gewalt, autoridade dos progenitores, do
hue á patria protestas dos romanos, que era um poder essencial-
hiente viril, que competia, exclusivamente, ao pae.

Art. 381 — O desquite não altera as relações


entre paes e filhos, senão quanto ao direito, que
aos primeiros cabe, de terem em sua companhia
os segundos (arts. 326 e 327).

Direito anterior — O mesmo, segundo os princípios geral-


mente acceitos.
Degislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 1.635,
^eja-se também o art. 326 do Codigo Civil brasileiro, O suisso,
3.a parte, attribue o pátrio poder, no caso de divorcio, ao
P^ogenitor, a quem são entregues os filhos.
Projectos — Beviláqua, art. 447; Revisto, 469.
360 CODIGO CIVIL

Observaçção — O desquite dissolve a sociedade conjugai, po-


rém, não a parental, entre paes e filhos, cujos laços, feitos de
affecto, direitos e deveres recíprocos, subsistem, apenas modi-
ficados, tanto quanto é necessário para attender-se á separação
dos cônjuges, e á necessidade de conservar os filhos, na compa-
nhia do innocente, ou daquelle a quem couber esse direito, se-
gundo as determinações dos arts. 326, §§ l.0e 2.°, e 327.
O pátrio poder continua exercido pelo marido, attendidos os
direitos da mulher, e, na falta ou impedimento do marido, com-
petirá á mulher.

Art. 382 — Dissolvido o casamento pela


morte de um dos cônjuges, o pátrio poder com-
pete ao cônjuge sobrevivente.

Direito anterior — A binuba e a mulher separada do marido,


por culpa sua, não podiam administrar os bens dos filhos, nem
como tutoras ou curadoras (Dec. n. 181, de 1890, art. 94).

Legislação comparada — Semelhante: Codigo Civil portu-


guez, 155; hespanhol, 154; suisso, 274, 2. parte; allemão, 1.684;
argentino, 305; venezuelano, 283, ultima parte.
Vejam-se, ainda: francez, arts. 384, 389, 390 e 391; boliviano,
197 e 198; mexicano, 414.
O Codigo Civil do Chile não chama a mulher a exercer o
poder paterno. O do Uruguay 253 e 289, faz depender o exercício
desse direito da intervenção de certos parentes, ou do Ministério
Publico.
Por direito romano, a mãe não tinha o pátrio poder, mas,
se, por morte do pae, o filho ainda era impubere, á mãe sobreviva
cabia a tutela (Nov. 118, in tneãio: Mulierihus nos interãicinius
tutelae suMre officium, nisi mater aut avia fuerit<
Projectos — Felicio dos Santos, art. 781; Coelho Rodrigues,
2.184, § 2.°; Beviláqua. 448; Revisto, 470.

Observações — 1. — Pallecido um dos cônjuges, concentra-se


no sobrevivente todo o complexo de direitos e deveres sobre os
DAS DELAÇÕES DE PARENTESCO 30J
| ilhos menores. Não importa, se o cônjuge superstite fôr a mu-
Se aCll<i ,es ; ulta 3a
' ' > Se' a . mtle
as re ações entre paes e filhos. ""'sfôr» binnba, com
"âoa viuvez
altera
ei ;i 0 p0<Ier I a,:0ri10
, . ' sobre os filhos do segundo leito,
1,1:1 0 9116 aS novas
nrni
pioie do primeiro matrimônio (art. hupcias
393). lhe tiraram, quanto á
2
f " ^ Pela morte de um dos cônjuges, corpe ao sobrevivo
er o inventario dos bens do casal, devendo inicial-o dentro
ae
um mez (art. 1.770).

383
Cidn toí' V- 0 sob
1 e ojoae^fica
f ho iIle itimo n
n o poder
S materno.
ão reconhe-
Se po-
rem, a mãe não fôr conhecida, ou capaz de exer-
cer o patno poder, dar-se-á tntor ao menor.

divpDÍreÍt0 anterÍOr - Quant0 ao pátrio poder da mãe illegitima


mentn1, ^ 08 lnterpretes Ao ae
- esseP conjuncto
nao era attribuido iliegitimo,
de apesar
direitos.do reconheci'
Legislação comparada — Codigo Civil peruano, art. 395.
m ainda: o francez, 383 (lei de 2 Julho de 1907); hespa-
Phol, 154; argentino, 328; portuguez, 166 e 286. O allemão, 1.707,
Pega á mãe o direito de representar o filho natural, mas reco-
P ece-lhe o direito e o dever de cuidar do filho, que terá um
tutor.

^uTuTL7J„X0 aos Sant0s 79

der d!Ser-aÇa! - 0 C0dig0 rec0Ilhece. francamente, o pátrio po-


rccer ' ' Sltlma' 'J11"' por seu Procedimento, não desme-
«o» fazem ^ ^ ^expre":,
«io neZme g0S aCIma Citad0S COm exccpeâo
V corresponde
pensamento '
ao do brasileiro. ^ pe™a"0,

mapta rrré s.empre ™facto iiotorio e resuita' no™ai-


manto no, te T '^ ^ ' 0 aCt0 eSPe,Clal
art 257 4
direito de6 vir ,
veIar ela ' "^'"ma o'
P Pessoa e pelos interesses do filho' e evitará'
nomeação de tntor ao menor, que. tendo cuidados maternll
362 CODIGO CIVIL,

dispensa a intervenção, nem sempre humanitária, de um estra-


nho. A lei contenta-se com o facto da maternidade, que a mãe
acceita como verdadeiro, e nenhum interessado contesta.
Veja-se o que ficou dito na observação do art. 360.

SECÇÃO II

Do pátrio poder quanto á pessoa dos filhos

Art. 384 — Compete aos paes, quanto á pes-


soa dos filhos menores:
I. Dirigir-lhes a criação e educação.
II. Tel-os em sua companhia e guarda.
III. Conceder-lhes ou negar-lhes consenti-
mento, para casarpm.
IV. Nomear-lhes tutor por testamento ou
' documento authentico, se o outro dos paes lhe
não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exer-
citar o pátrio poder.
Y. Represental-os, até aos dezeseis annos,
nos actos da vida civil, e assistil-os, após essa
idade, nos actos em que forem partes, supprin-
do-lhes o consentimento.
VI. Reclamal-os de quem, illegalmente, os
detenha.
VIL Exigir que lhes prestem obediência,
respeito, e os serviços proprios da sua idade o
condição.

Direito anterior — O mesmo, salvo quanto ao testamento,


que o pae podia fazer, pelo filho, no caso de este morrei ein
edade pupillar (Carlos de Carvalho, Direito Civil, art. 1-56
Legislação comparada — Semelhante; Codigo Civil hesp
nhol, art. 155; suisso, 275-279; portuguez, 137, 140 e 142; arg60
tino, 265-268 e 277; uruguayo, 256-259; peruano, 425.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 303

Vejam-se, também: D. 25, 3, fr. 4 e fr. 5, §§ 1.» e 12; Cod. 8,


47, 1. 3; Codigo Civil francez, arts. 203, 374 e segs.; italiano, 318
6 Segs ;
- allemão, 1.627, 1.630-1.633; mexicano, 411 e 421 e segs •
venezuelano, 283, 285 e segs.

Projectos — Esboço, art. 1,518; Felicio dos Santos, 774 e


776-778; Coelho Rodrigues, 2.185-2.188; Beviláqua 450- Re-
visto, 472.

Bibliographia — Direito da família, § 74; Lafayette, Direi,


tos de família, § 114; Pontes de Miranda, Direito de família,
§ 149; Martinho Garcez, Direitos de família, § 205; Coelho da
Rooha, Inst., § 304; Planiol, Rraité, I, ns. 2.405-2.407; Planiol
e
t Ripert, I, ns. 330 e segs.; Huc, Gommentaire, III, ns. 168-185;
Laurbnt, Cours, I, ns. 315-322; Aubry et Rau, Cours, IX, § 550;
Endemann Lehrbuch, II §§ 198 e 199; Windsoheid, Pand., 11,
§ 514; Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 350-354;
Rivarola, Derecho civil argentino, I, ns. 331-335; Champeau e
Uribe, Derecho civil colombiano, I, ns. 470 e segs, e 543; San-
chez Roman, Derecho civil, Y, capitulo XXVIII, ns. 22-24; Liz
Teixeira, Curso, I, tit. IV, §§ 8.°-12; Cuq, Inst., II pags. 119-125;
onjean, Inst., I, ns. 437-441; Neto Campello, Direito Vomano,
' pa&s- 235 e segs.; Affonso Cláudio, Estudos, XXV prelecção;'
Martinho Garcez Filho, Direito de família, II, pag. 183 e segs.

Observações — 1. — No pátrio poder distinguem-se duas ca-


tegorias de relações: a) direitos dos paes quanto á pessoa dos
ilhos {relações pessoaes) ■, b) direitos quanto aos bens dos filhos
Relações patrimoniais). O art. 384 enumera os elementos juri-
os dn piimeira categoria. Releva notar que não enumera o
direito de castigar moderadamente os filhos. Não é que recuse,
aos
Paes, a autoridade de usar de meios coercitivos brandos para
itiiigir os filhos, e do art. 395, I, se vê que lh'a não desconhece:
Pias é que essa matéria não tem cabida num artigo de lei, e a
e(1
ucação prefere suggerir o sentimento do dever nos espíritos,
lue se formam, a incutir-lh'o pela ameaça ou pelo castigo. O filho
e
ve ter pelo pae respeito e veneração; porém, se a autoridade
Paterna se impõe pelo medo, pôde afugentar a affeição, que é a
ase da sociedade parental entre paes e filhos.
364 CODIGO CIVIL

2. — O direito de dirigir a educação do filho é também um


dever do pae. Compete-lhe dar educação ao filho, para que
este seja pessoa digna da sociedade e util ao seu paiz. Se o
pae não se desempenha dessa missão sagrada, não sómente in-
fringe preceito da moral, como, ainda, offende direitos do filho.
Por isso, embora não deva intervir, senão em casos graves e
manifestos, porque é da maior conveniência cultivar-se o affecto
da família, o direito se mantém vigilante pela sorte dos filhos.
3. — E' também ao lado dos paes, na atmosphera da família,
que devem estar os menores, porque é nesse meio que melhor
se pôde desenvolver o espirito, no sentido do bem, do justo
e, ainda do util social e individual. Reconhece a lei esse direito
dos paes, como uma conseqüência natural da paternidade e da
maternidade, e, também, como condição do dever de educação,
que lhes incumbe.
Desse direito derivam duas conseqüências: a) o domicilio
legal do menor é o do seu pae; h) se alguém' se apoderar do
menor por seducção ou violência, compete ao pae o direito de o
reclamar judicialmente.
4. — Attendendo ao natural interesse dos paes pelos filhos,
a lei lhes confere o direito de escolher quem', depois de sua
morte, deva tomar conta dos menores, para dirigir-lhes a edu-
cação e cuidar dos seus bens. Esse direito, porém, só pode ser
exercitado, se não sobrevive o outro progenitor ou se o sobre-
vivente não é capaz.
5. — O direito de representação é uma conseqüência da inca-
pacidade jurídica do menor. Existindo qualquer dos paes, nin-
guém melhor poderá exercer essa funcção complementar da
personalidade juridica do menor. Ainda por esse motivo da re-
presentação legal, o domicilio do filho mtenor é o do pae no
exercício do poder paternal. A lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de
1919, corrigiu o n. V deste artigo, completando-o, segundo o sys-
tema do proprio Codigo.
6. — Uma das fôrmas da educação é habituar a creauça ao
trabalho compatível com a sua edade. Além disso, trabalhando
para os páes, os filhos sentem que a sua parte na vida não é
feita sómente de direitos. Competem-lhes também, deveres. B é
com essa troca de serviços recíprocos que mais se apertam 03
laços affectivos da familia.
DAS RELAÇÕES DE. PARENTESCO
36

SECÇÃO III
Do pátrio poder quanto aos bens dos filhos

Art. 385 — O pae e, na sua falta, a mãe, são


OS administradores legaes dos bens dos filhos

a
Mart 225em ^ 0
^ POder
' SaIv0 0 dis
Posto'

Direito anterior _ o mesmo, salvo quanto 4 hinuba e a se.


Parada do marido por culpa sua (Deo. n. 181, de 1890, art, 94-
RLOS DE Carvalho, Direito civil, arts. 1.566 e segs.).
negjslação comparada - Semelhante; Codigo Civil hesna
nhol, art. 159; boliviano, 196 e 197; suisso, 290; peruano, 398-
italiano, 313; argentino, 264; chileno, 247; uruguayo, 267; vene-
89 5
cez^SSO
oez 389. t —^62francez,
Em^direito ' 8891 austriaco ' 149de' um
pela morte allemão, 1.627;abre
dos paes fran-
se
do filho'' m^1 a dÍfferenSa entre a a
dministração legal, dos bens'
a
tutela paterna536 eXerCe' emqiianto vivem
os dois cônjuges, e
0 0m,an0
eoaefl^f ' " Pae era
- o emancipado
do fllho na
0
los bens pes-
(Cod, 6, 61, 1. 6, § 2.°).
EsI)OÇO art 1 536
lho odngues, ~2.188, pr.;
' Beviláqua,
- - '' FeUcio
451; dos Santos,
Revisto, 473.783; Coe-

to. fÍhUo-VaphÍa ~ mreit0 cla família, § 74; Lafayette Direi


§ 160 S Tm' I T' P0NIES ^ MÍEAr'Di' Direi!0
familia s 1
'' § 193; MiItTI! 'Ho Gop.cez. Direito Oa
§ 306 Pl ANI01 Tmté
ns. 2 4a6
456 22 477
477 eTsT/' ' ^ - ' - '■ '
See. • - - ' e 2.514 e segs.; Planiol et Ripert, I, ns 370 e
ffleroe 323' ^ m'253: Com l
' '
6 1 SAN0EE2 Roma
«D XXVtÍt L ''. Oerecho civil, V
271 ENI>BMA
%«em n Vis p 0SSEr '"'' IJ, § 200; Rot„;
Sinas - et Mehtha, Droit civil misse, I pa.
Par 189 ê segs Mabtinho Gaj,cez Fieh°. de II,

_ Até a0S d6Z0Ít0 0,1 vi te


ou ató f "7 o o um annos
se mal0r <art 9 ) 0 n 0
us hen ^
oens, que estão entregues ' á '"administração
' ã do
pdde gerir
pae. os
Para
366 CODIGO CIVIL

garantia dessa administração, têm os filhos hyphothecá legal sobie


os bens do progenitor (art. 827, II).
2. — As distincções do direito anterior entre pecnlios, cas-
trense (bens adquiridos na carreira militar), quasi castrense
(bens adquiridos no exercício de funcções publicas, ou de pro-
fissões liberaes ou indnstriaes), aãventicio, (herança, doações),
e profecticio (bens do pae entregues á gestão do filho), não inte-
ressam mais ao direito novo, ainda que no art. 391, II, se encon-
tre referencia aos bens adquiridos pelos filhos em serviço militar,
de magistério ou outra funcção publica. São os pecúlios cas-
trense e quase castrense.
3 . o progenitor, que enviuva, tem obriga
tario dos bens de casal. Se, antes dessa operação e da partilha
que a ultima, o viuvo contrahir novas nupcias perde o direito
de administrar e usofruir os bens do filho do cônjuge fallecido.
O art. 225 fala somente na perda do usofructo; mas, no art. 385,
se diz que os paes administram os bens dos filhos, salvo o dis-
posto naquelle, deixando perceber que o usofructo está em con
nexão com o direito de administrar, o que se confirma com o
prescripto no art. 389.

Art. 386 — Não podem, porém, alienar, hy-


pothecar, ou gravar de ônus reaes os immoveis
dos filhos, nem contrahir, em nome delles, obri-
gações, que ultrapassem os limites da simples
, administração, excepto por necessidade ou evi-
dente utilidade da prole, mediante prévia auto-
rização do juiz (art. 178, § 6.'°, n. III).

Direito anterior — Semelhante (Carlos de Carvalho, Direto


civil, art. 1.575).
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 31
2.a parte (fonte directa do artigo, na edição de 1865); português
150; argentino, 297; chileno, 255; uruguayo, 271; venezuelano,
289; mexicano, 425, 436 e 437.
O direito francez era divergente. No silencio da lei, a ;,U1 a
prudência, depois de vacillações, informa Planiol, estabelecer
DAS RELAÇÕES DE PAREKTÊSOO 367

que, em certos casos mais importantes, o pae se fizesse autorizar


pelo poder judiciário. Mas a lei de 6 de Abril de 1910, modi-
ficando o art. 389 do Codigo Civil, conservou a differença entre
a administração legal dos paes e a tutela paterna; todavia, dan-
do-lhe grande amplitude aos poderes, não lhe permitte alienar
nem hypothecar os immoveis do filho senão em casos restrictos e
sob as condições que prescreve.
Projectos — Eshoço, arts. 1.537 e 1.538; Coelho Rodrigues,
2.188, § 1.°; Beviláqua, 452; Revisto, 474.
Bibliographia — A do artigo anterior.

Observações — 1. —O pae, ou, na sua falta, a mãe, admi-


nistra os bens do filho menor, que se acha sob o seu pátrio poder,
feitas as excepções do art. 391. Essa administração legal, porém,
não tem grande amplitude. Os poderes do pae, quanto aos bens
dos filhos não excedem, de ordinário, aos da simples administra-
ção. Por poderes de simples administração, entendem-se os actos
concernentes á bôa conservação e exploração dos bens, como as
bemfeitorias, o pagamento dos impostos, a defesa judicial, e a
alienação dos moveis destinados a esse fim. Os actos alienativos
ou as obrigações, que não sejam conseqüências directas da gestão
dos bens, a renuncia de herança ou de qualquer direito, excedem
os limites da simples administração.
2. — Não pode alienar, hypothecar ou gravar de ônus reaes
os immoveis do filho, porque esses actos ultrapassam os limites
da simples administração. Mas, se houver necessidade, para sus-
tento ou educação do filho, para evitar a deterioração do bem,
ou por ser a utilidade evidente, poderá o pae requerer, ao juiz
do seu domicilio, que o autorize a vender, permutar ou gravar
immoveis do filho. Sem a prévia autorização do juiz, -jerão an-
hullaveis quaesquer desses actos, como as obrigações, que exce-
derem os limites da simples administração.
3 — Se o filho fôr menor de dezeseis annos, estes actos extra-
ordinários serão praticados em nome delle, porém será dispen-
sada a sua intervenção. Sendo maior de dezeseis annos, deve ter
Parte no acto, para o qual o pae necessita de autorização do juiz.
Vejam-se os arts. 154, 155, e 384, V.
4. — O Codigo ê muito claro, neste artigo, dispensando a
v
enda dos bens dos mtenores sob o pátrio poder da formalidade
368 CODIGO CIVIL

da hasta publica. Exige apenas para a alienação, a hypotheca,


ou outro ônus real, a prévia autorização do juiz, que a dará sem-
pre que houver necessidade ou evidente utilidade para os me-
nores. Essa clareza, porém, não evitou que se travasse longo
debate entre os estudiosos do Instituto da Ordem dos Advogados,
pensando alguns que a regra do art. 429, estabelecida para os
menores sob tutela, devia ser ampliada ás alienações, a que se
refere o art.. 386, relativamente a menores, que vivem na compa-
nhia e sob a autoridade de seus paes.
A essa comprehensão se oppunham a letra da lei e os prin-
cipies da hermenêutica. A letra da lei, porque, no art. 386, não
se fala em hasta publica, e no art. 429 essa formalidade é exigida..
As regras da hermenêutica, porque: a) A razão da differença dos
dois dispositivos procede da differença que ha entre o pae e o
tutor. O pae tem para guial-o o amor, a dedicação pela prole, a
cujos interesses sacrifica a sua própria existência no trabalho
quotidiano, nas preoccupações constantes. O seu dever, em rela-
ção ao bem material e moral do filho, lhe é imposto pela foiça
poderosa das condições históricas, e pela pressão do meio social-
O tutor é um extranho; deve ser honesto e dedicado ao pupih0?.
mas a lei deve acautelar, mais cuidadosamente, os bens do incapaz,
entregues á gestão de um estranho, do que os entregues á admi-
nistração do pae. ô) A regra do art. 386 se acha no capitulo
referente ao pátrio poder (o cap. VI do tit. V, do Direito de í®
milia), o art. 429 encontra-se em outro titulo, o da tutela e cura-
tela. Ora, se as relações juridicas se acham classificadas no Co
digo, segundo o seu objecto e os seus caracteres, não é licito, sem
expressa declaração da lei, ou evidente analogia das situações,
transportar dispositivos de um para outro titulo, porque taes
dispositivos, se se encontram em titulos differentes, é porque dis-
ciplinam relações juridicas differentes.
Veja-se essa discussão na Gazeta dos Tribunaes, anno, I, uu-
meros 139 e segs.
5. — No Districto Federal, ha que attender á lei n. 3.967, de
27 de Dezembro de 1919, que mãndou effectuar as vendas de bens,
autorizadas judicialmente, pelos porteiros dos auditórios, ua^
varas contenciosas e administrativas. Entenderam alguns
estava assim revogado o dispositivo do art. 386 do Codigo lV
que isenta da hasta publica as alienações dos immoveis dos ioe^
nores sob o pátrio poder, visto como essas alienações devem s
autorizadas por juiz. Mas a lei n. 4.242. de 5 de Janeiio de 1^
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 369
art 8
- -"' § 2-"' explicou o pensamento da anterior, dizendo que não
se comprehendem nos casos especificados por ella, as vendas de
bens já deferidos, por effeito da partilha, á propriedade de me-
noies, sujeitos ao pátrio poder, nos termos do art. 386 do Codigo
Civil, sem prejuízo do art. 387 do mesmo Codigo.
Assim desapparecera a perturbação, que a lei citada em pri-
meiro logar poderia ter introduzido na unidade do direito civil,
ão havia muita precisão dos dispositivos dessas leis de occasião,
mas o pensamento, que se destacava de suas palavras, era que a
hasta publica indispensável em todas as vendas autorizadas ju-
mialmente, não seria exigida, quando se tratasse de alienação de
immoveis pertencentes a menores sob o pátrio poder. Mas a lei
m 5.060,-de 10 de Novembro de 1926, art. 1.", restabeleceu, para
0
Districto Federal o privilegio dos porteiros de auditórios,
Quanto ás vendas dos bens immoveis autorizados pelos juizes.
5 a. — Posteriormente, o decreto n. 21.981, de 1.° de Fevereiro
he 1933, art 19, § único, restabeleceu a bôa regra.
6. — E' muito recommendavel, nesta matéria, a leitura da
substanciosa monographia de Pedro Lessa, inserta no livro Dis-
Se
rtações e polemicas, pags. 63 e seg.; sob o titulo — E' neces-
saria a hasta publica para a venda dos immoveis pertencentes a
Menores sol) o pátrio poder?

Art. 387 — Sempre que, no exercício do pa-


mdo poder, collidirem os interesses dos paes com
do filho, a requerimento deste ou do Minis-
tério Publico, o juiz lhe dará curador especial,
lUreito anterior —- Não havia disposição semelhante. Yeja-
Se
> entretanto, Ribas, Consolidação, art. 825.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 224,
3a
parte (fonte do artigo na edição de 1865); portuguez, 153; hes-
hunhol, 165; argentino, 397, 1.°; mexicano, 440; venezuelano, 292;
^uponez, 888; francez, 389 reformado pela lei de 6 de Abril de 1910.
Lrojectos — Esboço art. 1.636, 1.°; Coelho Rodrigues, 2.188,
2.° e 3.°; Beviláqua, 453; Revisto, 475.

hsvilaqua — Codigo Civil -— 2.° vol. 24


370 CODIIO CÍVEL

Observações — 1. — O Projecto primitivo, como o revisto e


o do Dr. Coelho Rodrigues autorizavam o pae, e não o filho, a
pedir o curador especial. A, Gamara, em 1891, alterou o disposi-
tivo, como se acha no Codigo.
Ha, portanto, duas pessoas autorizadas a pedir a nomeação
<Je um curador especial: o proprio filho e o Ministério Publico.
Ao filho menor de dezesseis annos não pode ser facultado esse
direito; somente depois dessa idade é que elle terá discernimento
para comprehender que ha collisão de interesses. O Ministério
Publico poderá requerer a nomeação do curador para quaesquer
filhos menores.
2. — O Projecto primitivo e o revisto permittiam também a
nomeação do curador especial ex-officio, o que era uma pi"ovl
dencia util, quando nem o filho nem o Ministério Publico a re
queressem, e o juiz reconhecesse a necessidade de constituir um
defensor dos interesses do menor. No systema do Codigo, a no-
meação ha de ser feita mediante petição.
Na França denominava-se, ordinariamente, este agente — tu'
tor ad hoc; porém Huc (III, n. 236) achava imprópria esta deno-
minação e propoz a de administrador legal ad hoc. Foi esta a
designação preferida pela lei de 6 de Abril de 1910.
3. — Haverá collisão de interesses, entre o pae e o filho, sem-
pre que as vantagens procuradas ou os direitos defendidos Pel0
pae possàm acarretar detrimento ao filho. Este conflicto de inte
resses deve manifestar-se, porque ao pae e ao filho, durante^
exercido do pátrio poder, sobrevenham direitos oppostos, e nao
porque o pae exorbite de seus poderes de administrador caso
previsto no artigo antecedente, e para o qual a providencia ó
do art. 388.

Art. 388 — Só têm direito de oppôr a null^


dade aos actos praticados com infracção dos ai
tigos antecedentes:
I. O filho (art. 178, § 6;°, n. III).
II. Os herdeiros (art. 178, § 6.°, n. IV) •
• III. O representante legal do filho, se, du^
rante a menoridade, cessar o pátrio poder (a
tigos 178, § 6.'°, n. IY, e 392).
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 371
Direito anterior A lei era lacunosa, mas os civilistas re-
conheciam, no filho, o direito de annullar as alienações e hypo-
ecas illegaes (Lafayette, Direitos cie -família § 116, III, B.).
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 320:
enezuelano, 291; argentino, 299.
Projectos Coelho Rodrigues, art. 2.191; Beviláqua, 454-
Revisto, 476.

Observação — Chegando o filho á maioridade ou emanci-


Pando-se, o pae. tem de entregar-lhe os bens, que estavam sob a
sua administração, Se, nesse momento, verificar o filho que se
lz
eram alienações de seus bens ou se constituíram ônus reaes
sobre elles, fora dos casos, em que se admittem, e sem as forma-
Uiades, que a lei exige, poderá promover-lhe a nullidade, dentro
6
um anno depois de ter attingido á maioridade, ou de ter sido
uuiancipado (art. 178, § 6.°, n. III).
O mesmo direito é reconhecido; aos herdeiros do filho, ss
Correr ainda menor, contado o prazo do dia do fallecimento, e
ao
representante legal do menor, se o pae decair do pátrio poder,
uoriendo o prazo da data da destituição (art. 178, 6.°, IV).
O Codigo Civil italiano assim conto o venezuelano, attribuem
egual direito aos successores do filho, ainda a titulo particular,
uomo os credores. Não quiz o Codigo Civil brasileiro dar essa
UiPütude ao direito de annullar os actos illegaes do pae, ainda
ç116 0 act0' Por ser nullo, possa admittir essa conseqüência.
^ onsiderações de ordem moral aconselham, porém, o systema
^strictivo adoptado. E como, o que se tem, particularmente, em
ista, © a defesa dos interesses do menor, a sancção do art. 388
^acionai e sufficiente.

, _ Art. 389 — O usofructo dos bens dos filhos


^ inherente ao exercício do pátrio poder, salvo
a
disposição do art. 225.

^ Direito anterior — O pae, ou a mãe, colhia o usofructo dos


e
Us adventicios do filho (Ord. 4, 97, § 19; e 98, § 7.°). Perdia-o
372 CODIGO CIVIL

porém, por demorar o inventario do cônjuge fallecido (Ord ^


98, § 6.°), e por passar a outras nupcias, antes de concluir
inventario dos bens do casal (Dec. n. 181, de 1890, art 99). ^
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, aits.
326, in fine (.o usofructo legal cessa com a passagem do pae
da mãe a outras nupcias): francez, 384 e 386 (lei de 25 de
reiro de 1906); aquelle contra quem fôr pronunciado o 111
perde o usofructo dos bens do filho; hespanhol. 160 e 161, a ^
mão, 1.649; suisso, 292; venezuelano, 294 (o pae adoptivo na
tem o usofructo dos bens do adoptado); argentino, 287, P^^
uruguayo, 266, 269 e 270 (o pae, ou a mãe, que não fizer o inven-
tario dos bens do casal, perde o usofructo sobre os bens do i
menor); chileno, 243, pr.; peruano, 287, 6.°; boliviano, 191, ia
nez, 890.
O Codigo Civil mexicano, arts. 428 a 435, distribuo os ^ ^
do filho em classes, e concede ao pae a metade do usofr^e 0
que pôde ser renunciado, e do qual se acham isentos os O
filho adquire por seu trabalho.
-- . 0192;
Projectos — Esboço, art. 1.536, 1.°; Coelho Rodrigues,
Beviláqua, 455; Revisto, 477.
Bibliographia — Direito da família, § 74, Lafavhit , ^
reitos de família, § 116; Cândido Mendes, Codigo philipp^no, ^
notas; Teixeira de Freitas, Consolidação, nota ao art. ' ^
lho de Rocha, Inst., § 305; Planiol, Traité, I, ns. 2.43 -
Huc, Commentaire, III, ns. 185-194; Laürent, Cours, h ^
ros 325-329; Aubry et Rau, Cours, IX, §§ 550 e 500 bis,.
mann, Lehrbuch, II, § 201; Roth, System, II, § 168, ^:RossEC,
scheid, Pond.,-11, §§ 516 e 517; Chironi Ist., II, § 417 V
et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 361-363; Dias
Codigo Civil portuguez, I, nota ao art. 145.

_ iej asse*
Observações — 1. —O direito de usofructo, que a ^
gura ao progenitor, que exerce o pátrio poder, não é urn^^ c0nl0
real, como o de que trata o Codigo nos arts. 713 e segs.
reconhece, hoje, a doutrina, um direito de familia. e
especial. Por isso não está sujeito ás formalidades â
tuição do usofructo. O Codigo Civil francez piefere
jouissance.
DAS relações de parentesco 373
O usofructo paterno abrange a totalidade dos bens do filho,
exceptuando os que declaram os arts. 390 e 391.
2. •() usofructo paterno é inherente ao pátrio poder; com-
pete áquelle dos paes que o exerce; e cessa com a maioridade,
a
emancipação ou morte do filho; assim como pela destituição,
0
u perda do pátrio poder (arts. 393 e 395).
A suspensão do pátrio poder, no direito anterior, apenas
privava o pae da administração dos bens do filho, porém não
lhe retirava o usofructo. O Codigo, porém, estatuindo que o uso-
fi ucto é inherente ao pátrio poder, retira-o, temporariamente,
haquelle que se não acha no seu exercício.
3. — O usofructo paterno é uma compensação dos encargos,
lue se originam do exercício do pátrio poder com a pessoa e
08
hens do filho. O pae deve alimentos e educação aos filhos.
Certamente os deve em qualquer hypothese, possua bens o filho
0U
uada tenha de seu. Mas, nem por isso, deixa de ser o usofructo
unia compensação desses encargos. A administração dos bens
ho filho, se é um direito, exige cuidados e esforços, que também
devem ser compensados, quando as circumstancias o permittirem.
4. — Em punição ao pae, ou mãe, que passa a novas nupcias,
s
em fazer o inventario e dar partilha dos bens do casal, o Codigo
lhe recusa a administração e o usofructo dos bens do filho, ainda
que o conserve no exercício dos direitos pessoaes, que se com-
Prehendem no pátrio poder.

Art. 390 — Exceptuam-se:


I. Os bens deixados ou doados ao filho, com
a exclusão do usofructo paterno.
II. Os bens deixados ao filho, para fim certo
e
determinado.

Uireito anterior — Quanto ao n. I: Ord. 4, 98, § 1.° Quanto


ao
n. li; o subsidio da doutrina.
Legislação comparada — Quanto ao n. I: Nov. 117, c. 1,
pr
-: Codigo Civil francez, art. 387, in fine; italiano, 322, 3.°; por-
tuguez, 146, 1.°; suisso, 294; allemão, 1.651, 2.°; uruguayo, 266, 4.°;
c
hileno, 243, 2.°; boliviano, 193; in fine; venezuelano, 295, 1.°.
374 CODIGO CIVIL

Quanto ao n. II: italiano, 322, 2.°; venezuelano, 295, H-


V. também o suisso, 294.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 790, 1.° e 2.°; Coelho
Rodrigues, 2.193, 1.° e 2.°; Beviláqua, 456; Revisto, 478.
Bibliographia — Direito da família, § 74; Lafayette, Dii ei
tos de família, § 116, C; Coelho da Rocha, Inst., § 305; Planiol,
Traité, I, n. 2,446; Huc, Gommentaire, III, ns. 195-196; AubkY
et Rau, Cofurs IX, § 550 Us; Windscheid, Panã., II, § 517; CHi-
roni, Ist., § 417; Rossél et Mentha, Droit civil suisse, I, pag. 363,
Dias Ferreira, Coãigo Civil portuguez, nota ao art. 146.

Observação — Nos dois casos deste artigo, mantém-se a


administração do pae. A, excepção refere-se ao usofructo iab
rente au pátrio poder, estabelecido nó artigo antecedente.
Todas as legislações, a começar do direito romano, tem
admittido que os testadores ou doadores estabeleçam cláusulas
em suas liberalidades, excluindo o usofructo paterno, porque nao
são contrarias á ordem publica, nem offendem' á essência
pátrio poder, que consiste na autoridade sobre a pessoa do filh0,
O poder sobre os bens é uma conseqüência, e o gozo delles uma
compensação, que pôde ser retirada, pois que a funcção do pa ^
poder não é lucrativa para o pae, visa, de preferencia, o inteiess
do filho. a-cÕos
Os bens de que trata o n. II, acham-se nas mesmas c0 nã0
dos contemplados no n, I, ainda que o testador ou doador ^
tenha expressamente, afastado o usofructo do pae. Infeie-s ^
exclusão do usofructo pelo fim. Deixa-se determinada (iua^a
para que o menino aprenda determinado officio ou siga uma ce ^
carreira. E' pbvio que os rendimentos do capital legado ou doa
não
x podem ser distrahidos do fim a que ; foram destinados.

Art. 391 — Excluem-se, assim do usofructo


como da administração dos paes:
I. Os bens adquiridos pelo filbo illegn '
antes do reconhecimento.
das relações dk parentesco 375

adquiridos pelo filho em serviço mi-


itar, de magistério ou em qualquer outra fun-
cção publica.
III. Os deixados ou doados ao filho sob a
condição de não serem admirhstrados pelos paes.
IV. Os bens que ao filho couberem na he-
lança (art. 1.599), quando os paes forem ex-
cluídos da successão (art. 1.602).

Diteito anterior Quanto ao n I, não conhecendo o pátrio


poder no pae natural, a quem mais directamente se refere o dis-
positivo, nada havia a respeito. Os bens contemplados no n. II
constituíam os pecúlios castrense e quasi castrense, que os paes
administravam, porém de que não tinham usofructo, segundo a
doutrina geralmente seguida. A clausula do n, III era approvada
Pela doutrina.
Legislação comparada — I. O Codigo Civil portuguez, ar-
tigo 166, e o uruguayo, 276, não concedem ao pae natural o uso-
fructo dos bens do filhos reconhecido, ainda que lhes attribuam
o pátrio poder. Semelhante ao brasileiro o peruano, art. 401, 1.°
II. Conforme: Codigo Civil portuguez, art. 147, 1.° e 2.°.
Tal era também o direito romano. O Codigo Civil italiano, 322,
T", só se refere á privação do usufructo. Vejam-se mais: o fran-
Cez
, ^87; o argentino, 287, 1.°, 2.° e 3.°; venezuelano, 295, 4.°; pe-
niano, 287, 6.° in fine. O uruguayo 266 e 267, determina que o
filho família terá a administração e usofructo do pecúlio profis-
sional e industrial. Mexicano, 429 e 430; peruano, 401,6.°.
III. Nov. 117, c. 1; Codigo Civil portuguez, art. 147, 3.°; ar-
gentino, 294. Veja-se também a legislação citada em referencia
ao art. 390, I.
Projectos — •Felicio dos Santos arts, 785 e 786; Coelho Ro-
àrigues, 2.193, §§ 4.° e 5.°; Beviláqua, 457; Revisto, 479.

Observações — 1. — Conferindo o pátrio poder ao pae e á


aiãe natural, não quer o Codigo Civil que essa medida, de bene-
ficio ao filho e de interesse para a sociedade, possa ser desna-
tárada pela sordidez do egoísmo em proveito dos paes-
376 CODIGí) CIVIL

Seria immbral que o reconhecimento do filho natural tivesse


por movei a cupidez do pae. Para evital-o, o Codigo suhtráe á
administração e ao usofructo do pae, os bens, que o filho possuía
antes do reconhecimento.
Cumpre nomear, para esses bens, um curador especial, que
os administre.
2. — O art. 9.°, n. III, considera o exercício de emprego pu-
blico effectivo um dos factos, de que resulta a emancipação do
menor. Difficil será portanto, encontrar applicaçâo para os bens
indicados no n. II deste artigo, que, apesar das reclamações feh
tas perante o Congresso, foi conservado. Veja-se o art. 9.°, com-
mentario, 7.°.
3. — Os bens adquiridos por trabalho particular do filho uo
exercício de profissão ou industria não foram destacados pelo
Ccdigo, neste artigo. Cosequentemente incidem sob a adminis-
tração e o usofructo dos paes. Não se prolongará, porém, esta
situação em detrimento do filho, porque, se, aos dezoito annos,
se estabelecer com economia própria, na industria ou no com-
mercio, ou se alistar eleitor, se terá emancipado (art. 9.° n. V).
4. — Aos bens deixados ou doados ao filho, com a condiçã-0
de ficarem isentos da administração e do usofructo dos paes,
applica-se o que se disse a respeito dos contemplados no art. 390,
n. I, aos quaes apenás accrescentam uma segunda restricçâo.
5. — O n. IV do artigo é accrescimo da lei n. 3.725, de 15
de janeiro de 1919. Veja-se o Parecer n. 193, de 1917, apresen-
tado no Senado, e do qual foi relator Epitacio Pessôa.

SECÇÃO IV

Da suspensão e extincção do pátrio poder

Art. 392 — Extingue-se o pátrio poder:


I Pela morte dos paes ou do filho.
II. Pela emancipação, nos termos do para-
grapho único do art. 9.°, Parte Geral.
III. Pela maioridade.
IV. Pela adopção.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 377

Direito anterior — Semelhante; mas havia outros casos de


extincção do pátrio poder, além dos que o codigo Civil considera
Y. Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.583.
liegislação comparada — V. Codigo Civil francez, art. 372;
portuguez, 170; hespanhol, 167; austríaco, 172 argentino, 306;
uruguayo, 280; peruano, 228; boliviano, 194, ns. 1.°, 4.° e 7.°:
mexicano, 443; venezuelano, 299.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 775 e 792; Coelho Ro-
drigues 2.184; Beviláqua, 459 e 460; Revisto, 481.
Bibliographia — Direito de familia, § 76; Lafavette, Direi-
tos de familia, § 19; Teixeira de Freitas, Consolidação, arti-
gos 202-203 e notas; Pontes de Mirajvda, Direito de familia,
§ 157; Coelho da Rôoha, Inst., § 312; Planiol, Traité, núme-
ros 2.484-2.487, e 2.784-2.802; Planiol et Ripert, I, ns. 305-308;
Liz Teixeira, Curso', I, tit. V, §§ 21-29; Aubry et Rau, Gours, IX
§551

Observações — 1. —Durante o matrimônio, cabe o exercício


do pátrio poder ao pae, e, na sua falta ou impedimento, passa
á mãe (art 380). Pallecendo ambos os progenitores, se o filho
ainda é menor, ser-lhe-á nomeado tutor.
Pela morte do filho, o pátrio poder fica sem objecto. Em re-
lação aos bens, os direitos dos paes assumem o caracter de succes-
sorios.
2. —Emancipação é o instituto jurídico, em virtude do qual
se attribue a um menor a plenitude da capacidade jurídica.
E' a acquisição da capacidade civil, antes da edade legal. Resulta:
1°, de outorga do pae ou da mãe, ou de sentença do juiz, se o
menor tiver dezoito annos cumpridos; 2.°, do casamento; 3 o, do
exercício de emprego publico effectivo; 4.°, de collação de grão
scientifico em curso de ensino superior; 5.°, de estabelecimento
civil ou commercial, com economia separada (art. 9.°, paragra-
bho único). Veja-se o commentario 2.° ao artigo citado.
Hoje a pessoa, attingindo aos dezoito annos, adquire a capa-
cidade civil plena com o titulo de eleitor (Const., art. 117) .
Em alguns systemas jurídicos, como no direito pátrio ante-
rior, a emancipação conferia uma capacidade restricta. No sys-
tema do Codigo Civil, o menor emancipado é, em tudo, equipa-
rado ao maior.
3.° — A maioridade começa aos vinte e um annos completos.
Tornando-se o indivíduo, nessa edade, habilitado para todos os
378 CODIGO CIVIL

actos da vida (art. 9.°, pr.), já não pode mais o pae exercer
sobre , elle autoridade alguma, além da que se traduz pelo affe-
ctuoso respeito, que deve sempre existir da parte do filho. Se a
pessôa, attingindo á maioridade, não tem desenvolvimento men-
tal, que lhe permitia dirigir-se na vida, e tratar dos seus proprios
negocios, os paes promoverão a sua curatela nos termos do ar-
tigo 446, Converte-se o pátrio poder em curatela paterna ou ma-
terna, segundo a tenha de exercer o pae ou a mãe.
4. — A adopção extingue o pátrio poder do pae natural
(art. 378); mas o filho adoptivo não fica por ella emancipado:
submette-se á autoridade do adoptante, a qual, por sua vez, se ex-
tinguira, por algum dos modos declarados no art. 292, ns. I-III-

Art. 393 — A mãe, que contráe novas nu-


pcias, perde, quanto aos filhos do leito anterior,
os direitos do pátrio poder (art. 329) ; mas, en-
viuvando, os recupera.

Dirèdto anterior — Differente. A binuba, enviuvando, não-


readquiria o pátrio poder (Dec. n. 181 de 1890, art. 94).
Legislação comparada — Semelhante; Codigo Civil allemão,
art. 1.697; argentino, 308; uruguayo, 294, peruano, 293. Não de-
claram estes Codigos que a dissolução do novo casamento resti-
tue o pátrio poder. O peruano, porem, dispõe como o brasileiro
(arts. 420 e 423).
O Codigo Civil venezuelano, art. 305, retira da viuva, que
contráe novas nupcias, a administração dos bens do filho de leito
anterior, mas deixa-lhe os outros direitos inherentes ao pátrio
poder. Essa mesma administração pode ser-lhe concedida pelo
Poder Judiciário, depois de examinar o caso.
O suisso, art. 396 mandar nomear um tutor ao filho, cujo pae
ou mãe contráe novo casamento se as cirwimstancias o exigirem;
mas permitte que um dos novos cônjuges exerça a tutela.
O francez, 395 e 396, ordena que, a mãe, quando tutora
do filho, se quizer remaridar, convoque o conselho de família, o
qual decidirá se ella deve ser conservada na tutoria; e neste
caso lhe dará um contutor solidariamente responsável na gestão-
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 379'
dos negocios do menor. O italiano, 426, faz cessar o usufructo,
com a passagem do pae a novas nupcias.
O portuguez, 162, tira a administração, além do usofructo,
^os bens do filho menor, á mãe, que passa a segundas nupcias,
salvo se o conselho de familia lhe mantiver aquelle direito.
Tornando a enviuvar, a mãe recobra o usofructo e a adminis-
tração dos bens do filho, se desta se achava privada.
O mexicano, art. 445 não retira á binuba o pátrio poder,,
que se lhe mantém integral.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 791, 2.°, e 793 (diffe-
rente); Coelho Rodrigues, 2.201 e 2.202 (differente); Bevilá-
qua, 461; Revisto, 482.

Observação — Não é em odio ás novas nupcias, que o Có-


digo retira o pátrio poder á viuva, que, tendo filho de anterior
matrimônio, contráe outro casamento. Ha duas razões princi-
paes para assim prescrever a lei: a incapacidade da mulher
casada, era que recáe a viuva pelo novo connubio, e os possíveis
conflictos de interesses entre duas famílias. Incapaz, falta-lhe
a liberdade de acçâo precisa para gerir a fazenda dos filhos;
tendo de attender á nova prole e aos cuidados domésticos, po-
deria .prejudicar os filhos do leito anterior, e, consagrando-se á
estes, talvez não cumprisse ou parecesse não cumprir, exacta-
mente, os deveres de esposa e dona de casa.
Despojada do pátrio poder, não tem a mulher a adminis-
tração nem o usofructo dos bens do filho do leito anterior (ar-
tigo 389), mas é direito seu conserval-o em sua companhia, da
Qual somente será privada, se não o tratar convenientemente, ou
não puder evitar que o maltrate o marido (art. 329).

Art. 394 — Se o pae, ou mãe, abusar do seu


poder, faltando aos deveres paternos, ou arrui-
nando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requeren-
do algum parente, ou o Ministério Publico, ado-
ptar a medida, que lhe pareça reclamada pela se-
•380 CODIGO CIVIL

gurança do menor e seus haveres, suspendendo


até, quando convenha, o pátrio poder.
Paragraplio único. Suspende-se, egualinente,
o exercicio do pátrio poder, ao pae ou mãe con-
demnados por sentença irrecorrivel, em crime,
cuja pena exceda de dois annos de prisão.
Direito anterior — O pátrio poder podia ser suspenso pela
•ausência do pae, ou quando este era declarado incapaz. Tal era a
doutrina. A lei era lacunosa. A Ord. 3, 9, § 4.° falava, apenas, da
perda da administração dos bens do filho, sem1 prejuízo do uso-
fructo quando o pae os damnificasse. Quando a enfermidade do
pae o impossibilitava de administrar os bens do filho, dava-se-lhe
tutor ou curador, sem prejuízo dos direitos paternos não colli-
dentes (Ord, 1, 88, § 6.°).
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, edição de
1865, art. 233 (fonte do artigo); venezuelano 302, allemão 1.666 e
1.667; leis frãncezas de 24 de Julho de 1889, sobre a protecção das
crianças maltratadas ou moralmente abandonadas, e de 19 de Abril
de 1898 sobre a repressão das violências, vias de facto, actos de
■ crueldade e attentados commettidos contra crianças; Codigo Civil
suisso, art. 285; lei belga de 15 de Maio de 1912, sobre a pro-
tecção da infancia; lei ingleza de 21 de Dezembro de 1908 {chil-
ãren act).
Projectos — Felicio dos Santos, art. 779 (mantinha o pre-
ceito da Ord. 1, 88, § 6.°); Coelho Wodrigues, 2.197; Beviláqua,
462; Revisto, 483. O paragrapho único resultou de uma emenda
que a Sr. Tavares de Lyra apresentou ao Senado, em terceira
discussão.
Bibliographia — Direito da familia, § 76; Lafayette, Direi-
tos de familia § 119; Coelho da Rocha, Inst., § 312; Lorr.s
Trovão, Discursos justificativos do projecto n. 27, de 1902.. apre-
sentado ao Senado Federal; Franco Vaz, A infancia abandonada,
Rio de Janeiro, 1905; Evaristo de Moraes, Criminalidade da in'
fancia e da adolescência, Rio de Janeiro, 1916; Ataulpho f'1'-
Paiva, Justiça e assistência, Rio de Janeiro, 1916; Pontes de
Miranda, Direito de familia, § 155; S. Vampré, Manual, I, § 19^'
Planiol, Traité, I, ns. 2.489-2,506; Planiol et Ripert, I, ns. 384
e segs.; Huc, Commentaire, Cosentini, La ri-III, ns. 204-233,
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 381
forma delia legislazione civile, parte segunda, cap. IV, § 5.0;,
Sanohez Roman, Derecho civil, V, cap, XXIX; Aubry et Rau,.
Cours, IX, § 551.

Obseryações 1. — o pátrio poder acha-se instituído em


beneficio do filho, para apoio á sua fraqueza, direcção dos seus^
actos, adaptação do seu espirito á vida social, conservação e
desenvolvimento dos seus haveres. Se o pae, ou a mãe, no exer-
cício do pátrio poder, não cumpre os seus deveres em relação ã,
pessoa do menor, ou lhe arruina os bens, um representante da
famlilia, ou o Ministério Publico, em nome da sociedade, recla-
mará do juiz as providencias, que o caso exigir, podendo este
suspender o exercício do pátrio poder, pelo tempo que parecer
conveniente.
Suspenso o pátrio poder do pae, cabe á mãe exercel-o, se os
cônjuges não viverem no mesmo lar. Se a esta se suspende, ou se
um só dos progenitores subsiste, e se o priva do pátrio poder
dar-se-á tutor ao menor (art. 406, n. II).
O paragrapbo único, impondo a suspensão do pátrio poder
como effeito da condemnação a pena, que exceda a dois annos
de prisão, resultou de emenda do Senado, em harmonia com o
art. 251, II.
2. — No principio deste artigo e no seguinte, o Codigo toma
medidas contra o pae ou a mãe, quando abusam do poder, que
o direito lhes attribue. São medidas excepcionaes, que devem ser
postas em execução com as cautelas necessárias, porque o direito
a influencia benéfica do lar familiar, e declarou: "A lei deve
desenvolver a criança é o da família. Somente uma necessidade
real autoriza o poder publico a se interpor entre os paes per-
versos e os filhos infelizes. Quando se discutiu a lei belga de 15
de Maio de 1912, o relator da secção central da Gamara fez sentir
a influencia benefica do lar familiar, e declarou: "A lei deve
encorajar e secundar essa acção fecunda; nada pode fazer para
enerval-a ou entraval-a". Desastrosa, por abusiva, seria a lei
que, pretendendo proteger, os filhos, perturbasse ou destruísse o
tecido de relações entre os genitores e a prole; mas, egualmente
desastrosa, por inprevidente, seria a que desamparasse a criança
indefesa, a cujos paes faltassem, de todo, o sentimento do dever*
e a dignidade necessária para dirigir a família.
382 . codigo cxvn

3. — Vejam-se a lei n. 4.242, art. 3 o e a legislação posterior,


a que se refere o commentario do artigo seguinte, observação 2-

Art. 395 — Perderá, por acto judicial, o pá-


trio poder o pae ou mãe:
I. Que castigar, immoderadamente, o filho.
II. Que o deixar em abandono.
III. Que praticar actos contrários á moral e
aos bons costumes.
Direito anterior — A Ord. 3, 9, § 4.°, referia-se ao caso em
que o pae devesse, por direito, ser obrigado a emlancipar o filho,
e a doutrina procurava, no direito romano, preceitos que suppris-
sem a lacuna da Ord., porém o subsidio, que podia vir dessa fonte
era sufficiente. O alvará de 31 de Janeiro de 1775 privava do
pátrio poder o pae, que engeitasse ou abandonasse o filho. V.
Carlos de Carvalho, Direito Civil, art. 1.586.
O Codigo Penal priva do pátrio poder o ascendente que com-
mette os crimes de rapto, ou lenocinio contra menor, e os que
o abandonam (arts. 273, paragrapho único; 277, paragrapho
único, e 292).
Legislação comparada — Veja-se o artigo antecedente, o
mais: D. 37, 12, fr. 6; Divus Trajanus filium quem pater male
oopitra pietaten aãficielxit' coegit emancipare; Cod. 1, 4, 1. 12,
8, 52, 1. 2; Codigo Civil uruguayo, arts. 284 e 285; venezuelano,
301; mexicano, 444; boliviano, 194, 5.° e 6.°; chileno, 267; argen-
tino, 307 e 309,
Projectos — Beviláqua, art 463; Revisto, 484.
Bibliographia — Veja-se o artigo anterior, e mais Loureiro,
Direito civil, I, § 71.

Observações — 1. — Completam-se, neste artigo, as provi-


dencias que o Codigo toma em defesa dos menores, contra os paes
desnaturados. No artigo antecedente as cautelas não chegam ao
extremo da destituição do pátrio poder, porque o procedimento
dos paes, sendo abusivo, não é tal que exija essa punição violenta,
e porque está no interesse da sociedade tentar reconduzir os
,paes ao cumprimento dos seus deveres.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 383
A destituição do pátrio poder deve resultar ou de uma con-
demnação por crime de rapto, lenocinio ou abandono, ou de um
acto de justiça civil, em que o juiz, provocado por um parente
ou pelo Ministério Publico, condemne o pae, ou a mãe, á perda
do poder paternal.
2. A lei n. 4.242, de 5 de Janeiro de 1921, art., 3.", que auto-
rizou o governo a organizar o serviço de assistência e protecção
á infancia abandonada e deliquente, considera menores aban-
donados, para o effeito de serem asylados, não somente aquelles
que não têm paes, ou tutores, que possam velar por elles, como,
ainda, aquelles, cujos paes, ou encarregados de sua guarda, sejam
reconhecidos como incapazes, ou impossibilitados de cumprir os
seus devei es para com o filho, ou pupillo, ou protegido; os que
vivam em companhia de pae, mãe, tutor ou pessoa, que se en-
tregue á pratica de actos contrários á moral e aos bons costu-
mes; os que se encontrem em estado habitual de vadiagem,
mendicidade ou libertinagem; os que, devido á perversidade, ou
especulação, dos paes, tutor, ou encarregado, sejam: a) victimas
de maus tratos habituaes ou castigos immoderados; b) privados,
habitualmente, de alimentos ou cuidados indispensáveis á saúde;'
c) empregados em occupações prohibidas, manifestamente con-
trarias á moral e aos bons costumes, ou que lhes ponham em risco
a vida ou a saúde; ã) excitados, habitualmente, á gatunice, men-
dicidade ou libertinagem. Ainda se consideram abandonados e
asylaveis os menores, cujo pae, mãe, tutor ou pessoa encarregada
de sua guarda, tenha sido condemnado por sentença irrecorrivel;
a) a mais de dois annos de prisão por qualquer crime; b) a qual-
quer pena, como autor, cúmplice, encobridor ou receptador de
crime commettido pelo filho, pupillo ou menor sob sua guarda,
ou contra o mesmo (§ 1.°).
Provado que a negligencia ou abuso de poder, os maus exem-
plos, a crueldade, a especulação, o crime do pae, mãe, ou tutor
podem comprometter a saúde, a segurança ou a moralidade do
menor, a autoridade competente decretará a suspenção ou perda
do pátrio poder, ou a destituição da tutela (§ 2.°).
Se os cônjuges vivem juntos, ainda quando um só tenha sido
julgado indigno do exercicio do pátrio poder, a suspensão ou
Perda se estende a ambos. A todo tempo, entretanto, em que o
mnocente deixe de viver em companhia do indigno, por desquite
ou morte deste, pôde reclamar a restituição do pátrio poder
(§ 4.«).
384 CODIGO CIVIL

Se os cônjuges não viverem juntos, os poderes do pae po-


derão passar a ser exercidos pela mãe, se estiver em condições
econômicas ou moraes de prover á manutenção e á educação do
filho (§ 5.°).
3. — Esta matéria foi desenvolvida e systematizada pelo
Dec. n. 16 272, de 20 de Dezembro de 1923, que, nos arts. 4.° e 5.°
regula os casos de perda do pátrio poder, e nos arts. 6.° e 7.° os de
suspensão.
Art. 4.°. Perde o pátrio poder o pae ou a mãe:
I. Condemnado por crime contra segurança da honra e da
honestidade das familias, nos termos dos arts. 273, paragrapho
único e 277, paragrapho único do Codigo Penal (rapto e leno-
cinio),
II. CondemJnado a qualquer pena, como co-autor, cúmplice,
encobridor, ou receptador de crime perpetrado pelo filho, ou por
crime contra este (lei n. 4.242, de 5 de Janeiro de 1921, art. 3 °,
§ 1.°, n. VII, letra &).
III. Que castigar immoderadamente o filho (Codigo Civil,
art. 395, n. I).
IV. Que o deixar em completo abandono (Codigo Civil, ar-
tigo 395, II).
V. Que praticar actos contrários á moral e aos bons cos-
tumes (C. Civil, art. cit. III).
Suspcnde-se o pátrio poder ao pae ou á mãe:
I. Condemnado por sentença "irrecorrivel, em crime, cuja
pena exceda de dois annos de prisão (Ç. Civil, art. 394, para-
grapho único, salvo o disposto no art. 4.°, ns. I e II).
II. Que deixar o filho em estado habitual de vadiagem, men-
dicidade, libertinagem, criminalidade, ou tiver excitado, favo-
recido, produzido o estado, em que se achar o filho; ou de qual-
quer modo tiver concorrido para a perversão deste, ou para o
tornar alcoolico (lei n. 4.242, de 1921, art. 3.°, § 1.°, ns. V e VI,
letra d, e § 15).
III. Que, por maus tratos ou privação de alimentos, ou de
cuidados indispensáveis puzer em perigo a saúde do filho O61
cit,. art. 3.°, § 1.°, n. VI, letras a e &).
IV. Que o empregar em occupações prohibidas, ou mani-
festamente contrarias á moral e aos bons costumes, ou que lhe
ponham em risco a saúde, a vida, a moralidade (lei cit., art. 3.°,
§ I o. VI, c).
das relações de parentesco 385
V. Que, por abuso de autoridade, negligencia, incapacidade,
impossibilidade de exercer o seu poder, faltar, habitualmente ao
cumprimento dos deveres paternos (C. Civil, art. 394, lei n 4 242
de 1921, art. 3.° § !.<•, n. m). " '
Os dispositivos deste decreto e da lei citada fazem parte
ao taãigo dos menores, instituído pelo decreto legislativo n. 5 083
de 1 de Dezembro de 1926, e a que deu corpo, consolidando as'
eis de assistência e protecção á infância, o Dec. n. 17 943 A
de 12 de Outubro de 1927. O Conselho de assistência dos meno-
regUlamentad0 16 388 de 27 de Fevereir
^924 ^ ^ - ' <>

CAPITULO VII
Dos alimentos

Art. 396 — De accordo com o prescripto


este capitulo, podem os parentes exigir uns dos
eutros os alimentos, de que necessitem para sub-
sistir.
Direito anterior - As Ords. 1. 88, 15; e 4, 99 completadas
Pelo assento de 9 de Abril de 1772, regulavam o instituto dos
Pimentos entre parentes, de modo satisfactorio.

Esl)0Ç0 art 1 605


~ ' - - ' 1-0'' Beviláqua, 464; Re-
Bxbliographia — Para o capitulo: Direito da família, §8 78
Ho! ha,Lfnst.,™'
AY Direitos ãe
íamilia,Acções
§§ 318 e segs.; Cirne, §§ 131summarias,
e segs.; Coelho
pags. da
99
seg. Pontes de Miranda, Direito de família, §§ 153 e segs •
• Vampré Manual, I, §§ 201 e segs.; Estevam de Almeida, Ma-
lin o™" nS' 284 6 Seg"" Almachi0 Diniz, Direito da fami.
88 7q 6 58 '' ATJBEY et RATJ' IX' § 553 Kohler, Lehr-bucli, m
SegS ; DERNBími6
jl uité, I, ns. 2.048 e segs.;
' Diritto
Huc,di Commentaire
famiglia, §§ 37II,e 197
38; ePlaniol,
segs.;
aurent, Cours, I, ns. 193-99; Endemann, Lehrluch, II, s 197-
^indsoheh), Pand., II, § 475; Roth, System, II, § 161; Chironi;
§§ 433 435:
rpòl -
eoho civil, V. cap.. Gianturgo,
XXX; Ist. § 23;
Lrz Teixeira, Sanohez
Curso, Roman,
I, tit. VI, De-
§§ 23-25:
Bevi
laqua — Cod go Civil — 2.» vol.
'386 CODIGO CIVIL

Correia Telles, Doutrina das acções, § 99; Dias Ferreira, Có-


digo Civil portuguez, nota aos arts. 171-184; Champeau e Uiube,
Derecho civil colomUano, 1, ns. 666 e segs.; Roberto de Rugoiero.
vb. Alimeni, no Dizionario de Scialoja e Busati; Martinho Gab-
cez Filho, Direito de família, II, pag. 203 e segs. Das Acções
summarias de Cirne, na nova edição por Pedro Cirne: V. P-
157 e segs.

Observações — 1. Alimentos, na terminologia juridica, si-


gnificam — sustento, habitação, vestuário, tratamento por occa
sião de moléstia, e, quando o alimentario fôr menor, educaça»
e instrucção. Denominam-se alimentos naturaes, os que se imi
tam ás necessidades da vida de qualquer pessoa; e civis os ta-
xados em relação aos haveres e á qualidade das pessoas.
O direito romano prescreveu a obrigação alimentar, recipr
camente, entre ascendentes e descendentes, inclusive enti ^
mãe e o filho illegitimo (D. 25, 3, fr. 5; Nov. 89, c. 12, § 6 ) ■ ^
direito canonico ampliou essa obrigação ao pae, em relaçao
filho incestuoso. de
2. — E' uma relação familial, que se funda no vinculo
parentesco {jure sanguinis); porém que interessa, directamen '
á sociedade. Os romanos denominavam-na officium e pietas
pressões que traduzem o fundamento moral do instituto, o ^
ver de mutuamente, se soccorrerem os parentes, na necessi
Decorre, destas ponderações, o caracter de ordem pub ^
de que se revestem as disposições legaes referentes a div
alimentar. Obrigam a todos; se a lei nacional do estrangeiro ^
lhe impuzer essa obrigação fica elle sujeito ás prescripçoes
Codigo Civil {Direito internacional privado, § 49).
3 Dizem-se provisionaes, ou in litem, os alimentos ^
o autor, seja na acção do desquite, nullidade e annullaçao ^
casamento (art. 224), seja na de alimentos, reclama para
guimento do pleito, e a sua própria manutenção durante a ^
Na acção de nullidade, annullação do casamento, ou desq ^
o pedido de alimentos provisionaes é feito pela mulher, em ;
guida á separação de corpos (art. 232). Na acção de alÍ!T.<la(ios
o pedido poderá ser feito desde o inicio da causa, jus x
summariamente o parentesco e a pobreza.
Não se referiu, expressamente, o Codigo a esta catego
alimentos, senão em beneficio da mulher nas acções aCÍmíJ La-
çadas. Mas dahi se não deve concluir que as eliminou re
DAS EELAÇÕES DE PARENTESCO

aIIme t0S
M^taVT ^ " - E' Cert0 ^ "e
xZA ™ ' rareaVam em nosso
^ t^Po em Me Tm-
EUbll<:ou a sua
a ^ ^ das acções, segundo
maT, , ^ em 110ta (489, ao 5 6 aa
» eâo. agora!
len es e cert0 anda
mais ' Ide, dos Projectos dé Codigo Cl-
sóm 'eqU<!11
-mente cs:
0 ^0ofo. '' cert0
art. aín(la
1.616,lue,
e Felicio dos Santos.
dos Projectos L Civil
de Codigo 71^

dendo' ^ 16 eiem a esPecle na acção de alimentos; mas, atten-


serte ,m„a ""l r
ena impossível
UitaS
^ ^
tornar eftectiva
eSSa
a acção de alimentos,provisória,
cumpre
por analogia de situações e de princípios, reconhecer tam-'
Be 11 a lment0S p<xiem
Vision!,'";;!" ' ' reclamar-se alimentos pro-

necif' aIse
tecidos "tIanao ™aP'e decãia na acção, os alimentos for-
,<1Uerestituem.
0 recI

4-0 decreto-lei n. 3.200 de 19 de Abril de 1941, art. 7


anda descontar dos vencimentos do funccionario ou das van-
gens recebidas de empresas econômicas, a divida alimentar
0
paga. Veja-se esse dispositivo.

Art. 397 — O direito á prestação de alimer-


los e reciproco entre paes e filhos, e extensivo
a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos
mais proximos em grão, uns em falta de outros.
Direito anterior — Assento de 9 de Abril de 1772, §§ l.» e 4.°;
Lixeira de Freitas, Consolidação, art. 230
Legislação comparada — D. 25, 3, fr. e fr. 5, §§ l.», 8° e
17? , Cboliviano,
k0C1ÍS0 CÍVÍ1121franCeZ artS 203 6 207: italian
e 123;' uruguayo,
- «. 427; portúguez,
116-118; venezuelano, 308-310;
vsso, 328; chileno, 321; peruano, 441; da edição de 193.6, que
ra
a citada nesta edição; austríaco, 141 e 143; allemão 1.601
Projectos - Este, artigo foi extrahido, pela Commissão da
mara, de Carlos de Carvalho, Direito civil, art 1 626 Ve
jarnse. Esboço,1.606, ns. 1-3; Felicio dos Santos, 801 e'802-
e
to Rodrigues, 1.959 e 1.960; Beviláqua, 465; Revisto-, 486.

Observações — 1. — Não se refere o Codigo, neste capitulo,


alimentos devidos entre cônjuges, nem pelos paes aos filhos,
388 CODIGO CIVIL

durante a menoridade, que foram considerados em outra pai te


(arts. 224, 233, V, 234, 277, 325-327). Tratam os arts. 396-405 da
divida alimentar jure sanguinis, fora da sociedade domestica.
Quando affirma o art. 397 que os devem prestar, reciprocamente,
paes e filhos, refere-se á progenie tora do pátrio poder. Durante
o casamento, os filhos são alimentados e educados á custa dos
paes. Separados os cônjuges, prevalecem as regras estabelecidas
nos arts. 325-328. Morrendo um dos cônjuges, a obrigação de ali-
mentar passa ao sobrevivo. O filho illegitimo tem o mesmo di-
reito aos alimentos que o legitimo. Nem ao espúrio se recusa
esse direito á vida (art. 405).
Os alimentos devidos por contracto, ou testamento, salvo
quanto ao conceito, regem-se por outros princípios.
2. — o systema do Projecto primitivo e do revisto era dife-
rente. Os parentes, que deviam prestar alimentos, eram classi-
ficados em ordem, e os precêitòs reguladores da matéria expostos
com clareza, què, infelizmente, falta ao Codigo. Censuraram oS
citados Projectos por estenderem a obrigação alimentar aos afim8
na linha recta, aliás de accordo com o Codigo Civil francez,
art. 206. italiano, 140, com o Esboço, 1.607, e Coelho Rodri-
gues, 1.961. Não é justa a censura, porém, ainda que fosse, a
conseqüência seria eliminar o que era considerado excessivo-
Preferiram modificar o systema, com prejuizo da segurança e
da simplicidade das idéas.

Art. 398 — Na falta dos ascendentes, cabe


a obrigação aos descendentes, guardada a ordem
da successão e, faltando estes, aos irmãos, assim
germanos como nnilateraes.
Direito anterior ■— Assento de 9 de Abril de 1772, § 6.°,
xeiba de Freitas, Consolidação, arts. 230-226.
Degislação comparada — Semelhante: Codigo Civil por ^
guez, art. 174; hespanhol, 143; ultima parte; chileno, 321, n.
argentino, 367; suisso, 328; colombiano, 411; peruano, 442.
Vejam-se também; italiano, arts. 427 e 429; venezuelno, 31^
Pelo Codigo allemão, art. 1.601, a divida alimentar não reca
sobre os collateraes. Tal é, também, o direito francez. ^
Projectos — Outro artigo tomado, pela Commissão da
mara, a Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.630. Yejam-se
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 3^9
Esboço, art. 1.606, n. 4.°; Felicio dos Santos, 801 e 802; Coelho
Rodrigues, 1.960 e 1.962; Beviláqua, 465; Revisto, 486.

Observação O Codigo estabelece quatro classes de pessoas


obrigadas á prestação de alimentos: 1.°, os paes e os filhos;
2°, na falta destes, os ascendentes, na ordem da proximidade;
3 °, os descendentes, na ordem da successão; 4.°, os irmãos assim
germanos como unilateraes.
O art. 389 considera as duas ultimas classes: os descendentes
e os irmãos. Não vae além a divida alimentar. Nem attinge aos
collacteraes além do segundo grão, nem aos affins.

CONSELHO Rl G i"N*L DO TRABALHO


K REGIÃO

Art. 399 — São devidos os alimentos, quando


o parente, que os pretende, não tem bens, nem
pode prover, pelo seu trabalho, á própria man-
tença, e o de quem se reclamam, pôde forne-
cel-os, sem desfalque do necessário ao seu sus-
tento.

Diieito anterior — O mesmo (Assento de 9 de Abril de 1772


§§ 1.° e 2.°).

Legislação comparada — V. Codigo Civil allemão, arts 1.602


ei. 603; argentino, 370 e 371; suisso, 329; venezuelano, 315; ita-
Hano, 143; francez, 208; chileno, 330; colombiano, 420.
D. 25, 3, fr.'5, § 7.°; Cod. 5, 25, 1. 2; Competens judex a filio
te ali jubebit, si in ea facultate est, ut tibi alimenta praestare
possit.

Projectos — Também este artigo foi tirado de Carlos de


Carvalho, Direito civil, art. 1.623; mas soffreu, no Senado, uma
alteração de forma, que muito prejudicou. Vejam-se: Esboço,
aits. 1.611 e 1.612; Felicio dos Santos, 800; Beviláqua, 467 e 468;
Revisto, 488 e 489.
390 CODIGQ CIVIL

Observação — Os dois cânones fundamentaes da theoria dos


alimentos são os que o Codigo exprime neste artigo e no seguinte.
Aquelle que possue bens ou que está em condições de prover
lá sua subsistência por seu trabalho, não tem direito de viver á
custa dos outros. O instituto dos alimentos foi creado para soc-
correr os necessitados, e não para fomentar a ociosidade ou esti-
mular o parasitismo. Elles se dão, pietatis causa, aã necessitatem,
não aã utilitatem, e, muito menos, aã voluptatem. Mas não se
recusam alimentos ao que está delles necessitado, sob fundamen-
to de que, por culpa sua, se acha na miséria.
Aquelle que apenas tem com que se manter, não pode ser
obrigado a sustentar outrem'. Ha obrigações alimentares mais
imperiosas umas do que as outras. Assim, se, do sustento das
pessoas, que o parente já tem a seu cargo, não restam sobras,
não se lhe pôde exigir que abra mais um espaço á sua parca
mesa, em detrimento dos que já se sentam em torno delia.

Art. 400 — Os alimentos devem ser fixados


na proporção das necessidades do reclamante e
dos recursos da pessoa obrigada.
Direito anterior — O mesmo (Carlos de Carvalho, Direito
civil, art. 1.624).
Degislação comparada — Codigo Civil francez, art. 208; ita"
liano, 432; portuguez, 178; hespanhol, 146; venezuelano, 31o;
2.a parte, mexicano, 311; peruano, 449.
Vejam-se também: chileno, art. 329; allemão, 1.603 e 1.604,
austríaco, 141, 143 e 154; colombiano, 419.
Projectos — Felicio ãos Santos, art. 806; Coelho Roãrigttes,
1.964; Beviláqua, 469; Revisto, 490.

Observação — Se os alimentos forem devidos por mais de


uma pessoa, a prestação deverá ser cumprida por todas, na P1'0'
porção dos haveres de cada uma. A obrigação de prestar ah
mentos não é solidaria. Algumas legislações prescrevem que, nos
casos urgentes, possa o juiz impôr a obrigação a um só dos
coobnigados, ao qual fica salvo o direito regressivo contra 03
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 391
outros, pelas quotas respectivas. O Codigo Civil brasileiro não
perfilhou essa regra, que, aliás, propuzera o Projecto primitivo,
art. 473. A Commissão da Camada aboliu-a (Trabalhos, V, pa-
ginas 207 e 217), supprimindo o art. 494 do Projecto revisto.

. J^-r^ 401 — Se, fixados os alimentos, sobre-


vier mudança na fortuna de quem os suppre, ou
na de quem os recebe, poderá o interessado re-
clamar do juiz, conforme as circumstancias, exo-
neração, reducção ou aggravação do encargo.
Direito anterior — Assento citado, § 2.°; Carlos de Carva-
lho, Direito civil, art. 1.6'33.
Legislação comparada — Semelhante: D. 25, 3, fr. 5, §§ 7.o
e 13; Codigo Civil francez, art. 209; italiano, 434 (fonte directa
do artigo na edição de 1865); hespanhol, 147; uruguayo, 123;
Peruano, 45a.
Projectos —Esboço, art. 1.621, ns. 2 e 3; Felicio dos San-
tos, 808; Coelho Rodrigues, 1.965. Beviláqua, 470, Revisto, 491.

Observação — Consagra este artigo uma applicação da regra


fundamental estabelecida no art. 400; os alimentos são propor-
cionaes ás faculdades do fornecedor e ás necessidades do ali-
niontario. Como se prestam periodicamente, e não de uma só vez,
desde que haja mudança na fortuna de um ou de outro, deve ser
alterada a divida alimentar. Se, por exemplo, o alimentante
soffrer considerável depressão econômica, que o impossibilite
de manter a pensão fixada, deve ser delia dispensado; se os
seus bens apenas diminuíram, a pensão deve ser reduzida.
Cabe-lhe o direito de requerer ao juiz a dispensa ou a reducção.
Se, muito embora a sua situação econômica se conserve iualte-
r
nda, se torna prospero o alimentario, desapparece a obrigação
de supprir-lhe os alimentos. Ao contrario é direito do credor dos
nümentos pedir que lh'os augmente o devedor, se a sua penúria
augmenta e crescem os cabedaes do devedor.
392 CODIGO CIVIL

Art. 402 — A obrigação de prestar alimentos


não se transmite aos herdeiros do devedor.
Direito anterior — Principio acceito.
Degislação comparada — Codigo Civil allemão, 1.615; ve-
nezuelano, 325; chileno, 334; colombiano, 424; peruano, 453.
Projectos — Esboço, art. 1.621, 4.°; Felicio dos Santos, 805;
Beviláqua, 471; Revisto, 492.

Observações — 1. — A obrigação alimentar é personalíssima.


Pallecendo o devedor, não ficam os seus herdeiros obrigados a
continuar a cumpril-a. Mas, se ha atrazados, respondem por elles
os successores; porque não constituem mais pensão; assumem
o caracter de uma divida commum, que deixou de ser paga, e
que somente pode ser cobrada por acção ordinária, ao passo que
a pensão alimentar, sendo privilegiada, exige um remedio mais
prompto.
Com a morte do alimentario também se extingue a pensão-
Se os seus descendentes se acharem na mesma situação de neces-
sidade, terão de requerer alimentos por direito proprio.
2. — O assento de 9 de Abril de 1772, § 2.°, estabelecia vários
modos de extincção da divida alimentar, em pena ao alimentando.
Não os restaurou o Codigo Civil. A obrigação de prestar alimentos
cessa com a morte do alimentante e do alimentario; quando este
deixa de ser um necessitado; se aquelle, por ter empobrecido ou
enfermado, já não pode mais cumpril-a.
Outro caso, ainda, será considerado, no artigo seguinte.

Art. 403 — A pessoa obrigada a supprir ali-


mentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-
lhe, em casa, hospedagem e sustento.
Paragrapho único. Compete, porém, ao juiz?
se as circumstancias exigirem, fixar a maneira
da prestação devida.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 393

Direito anterior — Não havia disposição correspondente


na lei.
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 183;
italiano, 437; venezuelano, 319; boliviano, 128; francez, 210; alle-
mâo, 1.612; peruano, 451.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 809; Coelho Rodrigues,
1.966; Beviláqua, 472; Revisto, 493.

Observação Permitte o Codigo que a pessôa obrigada a


yiestai alimentos escolha entre chamar o alimentando para a
eua casa, onde, mais facilmente, lhe dará habitação, sustento
e vestuário, ou dar-lhe pensão fixada. Este direito de escolha não
é, poiém, absoluto. O juiz examinará se pôde ser exercido. Se o
alimentante é homem solteiro, não deve o juiz consentir que vá
com elle habitar uma inexperiente mocinha; se não offerece
condições de moralidade, não lhe devem entregar menores.
Exercida, porém, a escolha com assentimento do juiz, se o
alimentando tiver de habitar a casa do alimentante e, sem justa
causa, delia se retirar, não poderá o juiz constranger este ultimo
a prestar pensão. O devedor ficará desobrigado, pois fez quanto
lhe cumpria.

Art. 404 — Pode-se deixar de exercer, mas


não se pode renunciar o direito a alimentos.

Direito anterior — Era principio acceito.


Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 182;
allemão, 1.614; argentino, 374; uruguayo, 124; venezuelano,; 322;
chileno, 334; colombiano, 424; mexicano, 321; peruano, 454.
Projectos — Esboço, art. 1.624, 3."; Felicio dos Santos, 812;
Beviláqua, 474; Revisto, 495.

Observação — O direito de pedir alimentos, sendo uma das


manifestações immediatas, ou uma das modalidades do direito
394 CODIGO CIVIL

á vida, não pode ser, validamente, renunciado. Não é, como al-


guns dizem, um íavor, que a lei concede a esse direito. E' uma
conseqüência natural' do seu conceito.
E' também de sua natureza que se não possa compensar com
outra a divida de alimentos. Persistência da communhão parental
primitiva, solidariedade da familia actual, a divida alimentar a
todas prefere, como a todos sobreleva o direito á vida, em que
ella se funda da parte do alimcntario.

Art. 405 — O casamento, embora mülo, e a


filiação espúria, provada quer por sentença irre-
corrivel, não provocada pelo filho, quer por con-
fissão, ou declaração escripta do pae, fazem certa
a paternidade somente para o effeito da pres-
tação de alimentos.
Direito anterior — Era principio acceito.
Legislação comparada — Codigo Civil venezuelano, 247;
lei portugueza de protecção aos filhos (25 de Dezembro de 1910),
arts. 51 e 52 (permitte ao filho não perfilhavel (o incestuoso)
demandar os paes, para que lhe forneçam alimentos, se o facto
da paternidade ou da maternidade se achar provado em processo
civil ou criminal, controvertido entre seus paes ou outras partes:
ou se o facto tiver sido judicialmente provado, nos casos de es-
tupro, rapto e seducção).
Vejam-se ainda o Codigo Civil argentino, art. 343; francez,
762 e 763.
Projectos — Este artigo é de iniciativa do Senado. Não teria
cabimento disposição analoga no systema do Projecto primitivo
ou do revisto, que permittiam o reconhecimento dos filhos ille'
gitimos de qualquer especie. Tendo a Gamara alterado esta
feição liberal do Projecto, foi conveniente a emenda additiva
do Senado.
Bibliographia — Direito da familia, §§ 69 e 78; Teixeira ue
Freitas, Consolidação, nota (18) ao art, 222; Lafayette, Direitos
de familia, §§ 127 e 135; Pontes de Miranda, Direito de famiPd,
§ 167; Martinho Garcez, Direito da familia, § 226; Coelho da
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 395
Hocita, Inst., 325; Roberto de Roggiero, vb. Alimenti, no Dizio-
nario de Scialoja e Rusati, ns. 7 e 8.

Observação A paternidade, seja natural ou legitima, im-


põe ao pae a obrigação de prestar alimentos. Como observou
Cambacérjès, não ha duas especies de paternidade. A lei poderá,
por considerações de falso decoro publico, vedar o reconheci-
mento dos espúrios, mas, uma vez estabelecido o vinculo da pa-
ternidade, ao pae corre o dever de prover a subsistência e a edu-
cação do filho.
Limitou-se o Codigo a assignalar o dever do pae em rela-
ção aos filhos espúrios. O mesmo incumbe á mãe. Se a ella se
não refere o Codigo neste artigo, é porque, por um lado, a ma-
ternidade é de prova mais simples; por outro, poucas opportu-
nidades haverá de um filho ter necessidade de reclamar alimen-
tos de sua mãe; e, finalmente, porque o vinculo entre a mãe e os
filhos é de tal ordem que, naturalmente, se não fazem, distinções
entie elles, para o effeito dos deveres maternos.
Í .o :3Epr?-, fWR «w.^-riM-r^í
TITULO VI

Da tutela, da curatela e da ausência

CAPITULO I

Da tutela

SECÇÂO I

Dos tutores

Art. 406 — Os filhos menores são postos em


tutela :
I. Pallecendo os paes, ou sendo julgados au-
sentes.
II. Decaindo os paes do pátrio poder.

Direito anterior — As Ords., 4, 102 e 104, § 6.°, submettiam


os impuberes á tutela e os puberes á curatela, até á maioridade,
se, antes, não obtinham supplemento de edade. Mas a influencia
do direito modexuio havia apagado esta distincção ociosa.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 341; por-
tuguez, 185; alleraão, 1.773; suisso, .368; argentino, 377; uru-
guayo, 313; venezuelano, 328; peruano, 474; mexicano, 449; aus-
tríaco, 187 e 188.
Vejam-se ainda: francez, arts. 389 e segs.; hespanhol, 199;
chileno, 338; japonez, 900; boliviano, 196 e segs.; colombiano,
431 e segs.
Para o direito romano, vejam-se as Inst. 1, 13, § 1.° e 1, 23.
O modo de comprehender e organizar a tutela varia nas le-
gislações citadas.
•o 98 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, art. 1.634; Felicio dos Santos, 820;


Coelho Rodrigues, 2.205; Beviláqua, 475; Revisto, 496.
Bibliographia - Direito da familia, § 80; Lafayette, Direi-
tos de familia, §§ 144 e 145; Cândido Mendes, Coãigo philippino,
notas ao liv. 4, tit 102; Loureiuo, Direito civil, § 161; Pontes
de Miranda, Direito de familia, §§ 174-176; S. Vampbé, Manual, 1,
'§ 210; Almachio Diniz, Direito da familia, § 59; Pinto de To-
ledo, Processo orphanologico, §§ 646 e segs.; Estevam de Almei-
da, Manual cit, ns. 313 e segs.; Pereira de Carvalho, Processo
orphanologico, §§ 133 e segs.. Martinho Garcez, Direito da fa-
milia, § 227; Coelho da Rocha, Inst., § 358; Planiol^ Traité, I,
ns. 2.507 e segs.; Planiol et Ripert, II, ns. 414 e segs.; Huc, Com-
mentaire, III, ns- 233 e segs.; Laurent, Cours, I, ns. 335 e segs.;
Raoul de la Grasserie, La tutelle des mineurs en droit comparé,
Paris, 1912; Pascaxjd, Le code civil et les réformes qu'il com-
porte, paginas 71 e segs.; Code Civil allemanã, publié par le Co-
mitê de lég. étr., notas ao art. 1.773; Aubry et Rau, Cours, l,
§§ 86 e segs.; Kohler, Lehrbuch, III, §§ 109 e segs.; Dernburo.
Diritto di famiglia, §§ 39 e segs.; Bndbmann, Lehrbuch, II, §§
211-212; Roth, System. §§ 180 e segs.; Gerber, System, §§ 243
e 244; Windschetd, Pand., II, §§ 432 e 526; Chironi, Ist., II, §
420; Gianturco, Inst., §§ 28 e 219; Rossel et Mentha, Droit civil
suisse, I, pags. 412 e segs.; Dias Ferreira, Godigo Civil portu-
guez, nota ao art. 100; Peniohet y Lugo, Commentarios a la
tutela, cap. I; Champeau e Uribe, Derecho civili colombiano, I, ns.
728 e segs,; Rivarola, Derecho civili argentino, I, §§ 345 e segs ;
Sanchez Roman, Derecho civil, Y. çap. XXXI; Liz Teixeira,
Curso, I, tit. XI, §§ l.0-4.0; Martinho Garcez Filho, Direito de
familia, II, p. 217 e segs.

Observações — 1. — Tutela é o encargo civil, conferido a al-


guém pela lei, ou em virtude de suas disposições, para que admi-
nistre os bens, proteja e dirija a pessoa do menor, que se não
acha sob a autonidade de seu pae ou de sua mãe.
A protecção legal do menor se exerce, primeiramente, pelo
pátrio poder. Se não ha quem deva exercer o pátrio poder, por-
que já fallecemm os paes do menor, foram declarados ausentes
ou são incapazes, o instituto do pátrio poder é substituído pelo
da tutela. A incapacidade dos paes resulta ou de eondemnaçâo
ÜA TUTELA, DA CUKATELA E DA AUSÊNCIA 399

judicial (art. 395), ou de moléstia mental, que os colloque sob


curatela (art. 446).
2.—A tutela pode ser; a) por acto ãe ultima vontade, quando
instituída pelo pae ou pela mãe, que se achar no exercício do
pátrio poder, ou pelos avós (ants. 407 e 408); &) legitima, quan-
do defenda, por lei, aos parentes consanguineos do menor, na
falta de tutor testamentario (art. 409); c) ãativa, quando ins-
tituída pelo juiz, na falta das duas primeiras (art. 410). Raoue
de LA Gbassebie denomina essas especies de tutela: psychologica,
biológica e sociológica.
3. A tutela do Codigo Civil é a mesma do direito anterior,
com as modificações exigidas pela evolução do direito, algumas'
dellas já introduzidas pela doutrina, ou pela jurisprudência.
Conservaram-se os traços geraes do direito romano, mas deu-se
ao instituto uma feição accommodada ao nosso tempo.
No direito francez, ha a tutela do pae ou da mãe, quando
morre um dos cônjuges; ao lado do tutor, encontra-se o pro-
tutor {sulrogé tuteur) e o conselho da família, entidades que
apparecem noutras legislações, porém que o nosso direito desco-
nhece.
No direito allemâo, no suisso e no austríaco, a tutela é, em
principio, confiada ao Estado, que a exerce pelas autoridades
tutelares. A interferência da família é excepcional e restricta.
A Italia adoptou esse systema (Cod. Civil, art. 343).
O estudo dessas differenças e da classificação das legisla-
ções de accordo com ellas, foi feito no livro acima citado de
Raoul de la Gbassebie, La tutelle ães mineurs en droit compare

Art. 407 — O direito de nomear tutor com-


pete ao pae, á mãe, ao ave paterno e ao materno.
Cada uma destas pessoas o exercerá no caso de
falta, ou incapacidade das que lhe antecederem,
na ordem aqui estabelecida.
Paragrapho único. A nomeação deve constar
de testamento, ou de qualquer outro documento
authentico.
Direito anterior — Conforme em parte. A nomeação de tutor
devia constar de testamento.
400 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Quanto ao principio do artigo; Co-


digo Civil do Perú, arts. 307 e 308; mexicano, 470.
Não reconhecem, aos avós, o direito de nomear tutor para os
netos: o Codigo Civil francez, art. 397; portuguez, 193; hespa-
nhol, 206; chileno, 354, 358 e 359; argentino, 383; uruguayo, 321;
boliviano, 204; venezuelano, 332; japonez, 901.
Quanto ao paragrapho único. — Codigo Civil francez, arts.
392 e 398; italiano, 242, 2.a parte; argentino, 383; portuguez, 193.
Por direito romano, os ascendentes podiam nomear tutores
para os descendentes, em testamento ou codicillo (Inst. 1, 13,
§ 3.°; D. 26, 2, fr. 11).
Projectos — Esboço, art. 1.640; Felicio dos Santos,*822; Coe-
lha Rodrigues, 2.206; Beviláqua, 476; Revisto, 497. Os Projectos
anteriores reservavam o direito de nomear tutores aos paes; o
revisto estendeu essa prerogativa ao avô paterno; a camara
accrescentou o avô materno.

Observações — 1. — Dizia a primeira edição deste livro:


Duas censuras merece o Codigo Civil neste dispositivo. A pri-
meira, quanto á sua fôrma. A nomeação deve constar de testa-
mento valido e solemne, declarava o paragrapho único. Bastava
dizer testamento, como estava nos Projectos, porque não ha testa-
mento não solemne, e se o annullam, deixa de existir .• São ex-
crescentes os epithetos — valido e solemne, particularmente este
ultimo. A lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919 corrigiu este de-
feito, e deu fôrma, certamente mais elegante a todo o disposi-
tivo.
2. — A segunda refere-se ao romanismo excusado de dar aos
avôs o direito de nomear tutores para os netos. Esse direito de\e
ser considerado a ultima expressão do pátrio poder, que, em nosso
direito, não compete aos avós, como competia no direito romano,
onde a nomeação do tutor por testamento era funcção do pátrio
poder, como se vê das Inst. 1, 13, § 3.°: Permissum est itaque po-
rentibus liberis, quos in potestate habent. testamento tutores
ãare... Nepotibus tamen neptibusque ita demum parentes pos-
sunt testamento tutores ãare, si post mortem eorrum in patris
suis potestatem non sunt recasuri.
3. — Se o pae nomear tutor com preterição da mãe do menor,
que se acha em condições de exercer o pátrio poder, a nomeaça0
ficará sem effeito, por contraria a direito expresso. Se, porém.
da tutela, da cueatela e da ausência
401
G cônjuge sobrevivente tôr interdicto, o que primeiro fallece pode
nomear tutor aos filhos communs, porque, se um dos progenltores
sobrevive, não estã em condições de exercer „ pátrio podê;
• A nomeação do tutor por testamento ou escriptura pu-
56 <Ie
dirfdt "e o"f" Homologação
dever de examinar do Juiz,
se quem este,podia
nomeou porém, tem seo
tazel-o,
nomeação foi feita legalmente, e de remover ou destituir o
tutor, sç elle der motivo para essa providencia.

Art. 408 — Nulla é a nomeação de tutor pelo


pae, ou pela mãe, que, ao tempo de sua morte
uao tenha o pátrio poder.

Direito anterior — Não havia disposição de lei; mas o sub-


sidio do direito romano era no sentido do disposto no artigo.

Legislação comparada — Semelhante: Codigo Civil vene-


zuelano, 334; allemão, 1.777; argentino, 383; uruguayo, 321; pe-
niano, 307 e 308. Veja-se também o francez, art. 399.

Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.207; Beviláqua 477-


Revisto, 498.

Observações — 1. — Se a nomeação de tutor é expressão do


Patno poder, não a pode realizar quem delle está privado.
A privação do pátrio poder é conseqüência de destituição (ar-
tigo 395) ou de interdicção. No primeiro caso, ha uma incapa-
cidade moral, e, no segundo, uma incapacidade mental, que, ti-
rando, ao progenitor, a autoridade sobre a pessoa e bens' do
ilho, durante a vida, não a pódem conferir para produzir effeito
epois da morte. O mesmo deve dizer-se da suspensão do pátrio
Poder. Aquelle que fallece fora do exercício do pátrio poder, está
mhibido de nomear tutor para os filhos.
2. — Ainda subsiste o mesmo impedimento em relação â mãe,
due passa a segundas nupcias, e fallece antes de recobrar, pela
v
iuvez, a autoridade materna, muito embora, em relação á ella
Pao existam as mesmas razões, que prevalecem contra o que ê

Beviláqua — Oodigo Civil -- 2.° vol.


402 CODIGO CIVIL

destituído ou suspenso do pátrio poder. Mas, não tendo o pátrio


poder, por occasião da morte, é apanhada pela prescripção do
art. 408.
Somente em relagão aos avós não ha exigência. Nem elles
têm pátrio poder sobre os netos. Mas, por analogia de situação,
podia prescrever-se que somente os avós, no exercício da tutela
dos netos, pudessem escolher-lhes tutor para depois de sua morte.
Bem se está vendo que essa tutela instituída pelos avós en-
trou, forçadamente, no systema do Codigo.

Art. 409 — Em falta de tutor nomeado pelos


paes? incumbe a tutela aos parentes consangui-
neos do menor, por esta ordem:
I. Ao avô paterno, depois ao materno, e, na
falta deste, á avó paterna ou materna.
II. Aos irmãos, preferindo os bilateraes aos
unilateraes, o do sexo masculino ao do feminino,
o mais velho ao mais moço.
III. Aos tios, sendo preferido o do sexo mas-
culino ao do feminino, o mais velho ao mais
moço.

Direito anterior — Semelhante; mas algumas differenças de-


vem ser notadas: a irmã e a tia não eram chamadas ao exercício
da tutela; as avós somente podiam ser tutoras, se não tivessem
convolado a novas nupcias; além dos parentes declarados no Co-
digo, outros mais afastados eram chamados á tutela (Ord. 4'
102, §§ 3.°, 4.° 5.°: e 104).
Legislação comparada — O Codigo Civil uruguayo, art. 329,
chama á tutela os avós, as avós emquanto viuvas, e os irmãos.
O portuguez, 200, exclue os parentes do sexo feminino. O hespa-
nhol, 211, e o argentino, 390, admittem as avós.
O Codigo Civil francez arts. 402-404, modificado pela lei de 20
de Março de 1917, regula a tutela dos ascendentes, não indo além
dos avós de ambos os sexos. O italiano, art. 44, da reforma em
livro I, confere ao juiz tutelar o direito de abrir a tutela e
nomear o tutor e o protutor.
Da tutela, da CURAteLA e da ausência
403

,^t. 103 e a seguinte: o legÍtÍma


art 198, d0 C0dÍS0 Civil da Aus
avô, a mãe, a avó materna, os outros
tria,
Parentes do sexo masculino na ordem da proximidade e prefe-

ti-o0! Velh0S
^ maÍS m0e0S- C0dig0 Civil allemão, ar-
Patern0 d0 PUI)Íll0; 0 aVÔ materno 0 venez
iano Z ' - ue-
08 aVÓS POrém de ambos 08
Conlit! 86 ain , '
0 chileno art 36
m IT"e 483; boliviano,
cano, 482 '
207-209. 7; peruano, 480; mexi-

,reItOroman0 08 arell
0rJV
ordem ' P astes
da successào, exotaidas eram chamados
mulheres, á tutela,
a não serem na
a màe
nw
musT, !N0VsuHre
tutelas - 118 CaP - V:
officium, nisi mater aut avia MUHer etiam


cio
ao aos Santos. " """;0, artS- 1-Ooeim
831 (dltferente);
663 e 1664
(ãifferente);
2.208 (dlfte-
rente); Beviláqua, 478; Revisto, 499.

5068
anerf .
P rfeiçoamento - direito
do 1- - A disposição
anterior, deste artigo,
em sentido liberal,que
não é tem
um
ernta.nto, similai- exacto nos outros Codigos, que, como se viu'
rubrica da Legislação comparada offerecem grande variedade
_ ^ A nomeação do tutor pelos paes independe de confir-
çao do juiz. O tutor legitimo será nomeado pelo juiz. A lei
devi™6 a TdlCar 08 parentes
obrigados e em que ordem
amad0S 0 jUÍZ attenderá
idonp* i T t - ' Porém' ás condições de
0 COdÍg0 1ÍmÍt0U a tres as cIasse
Parem h ^ « áe
seg ates,obr^ados a ^sumir a guarda dos menores. Nessas clas-
c ParenteS 0,16 nâ0 P0SSa 0U 86 nã0 deva
on«L o^upillo" ' ' "

logaf ^d' referÍa-Se a0 Parente mais cbegado, que houvesse no


üeu h "ienciona 0 ^ciigo esta circumstancia, porque atten-
á proximidade
levár T «o parentesco, e não quiz
Todavia obrigação, na linha collateral, além do terceiro grão.
direm ^ qUe' 86 ParenteS da meSma classe ^i-
ircumscrip ã
delia ^ ? S o jurisdiccional do juiz, e outros fora
dentá m Pnimeir0S ê que devem ser chamados. Se o irmão resi-
áeferióa0^ f™' ^ 9116 funCCÍOna 0 juiz' reclamar a tutela
de Ser attendid0, 86 0ffereCer C0ndisões
idouetLT
404 CODIGO CIVIL

Apezar das indicações da lei, a que o juiz deve obedecer,


resta-lhe, ainda, uma grande somma de poder, para resguardar
o interesse do menor, e esse interesse, moral e economico, e luz,
para esclarecel-o nos casos duvidosos. Não lhe dá o Codigo arbí-
trio para preferir parentes, ou desattender ás classes, em que s
acham apresentados no art. 409; porém impõe-lhe o dever de não
esquecer que também a elle incumbe velar pelo menor.

Art. 410 — O juiz nomeará tutor idoneo e


residente no domicilio do menor:
I. Na falta de tutor testamentario ou legi-
timo.
II. Quando estes forem excluidos ou excusa-
dos da tutela.
III. Quando removidos, por não idoneos, u
tutor legitimo e o testamentario.
Direito anterior — Semelhante (Ord. 4, 102, §§ B.0-?.0; e 104)-
Legislação comparada — Conforme; Inst., 1, 20, D. 26,^
(tutor dativo ou atiliano); Codigo Civil austriaco, art. 199; aue-
mão, 1 779; chileno, 370 e 372; argentino, 392; uruguayo, Sáá-
boliviano, 212 e 213; venezuelano, 337; mexicano, 459. ^
Pelo Codigo Civil francez, art. 405; portuguez, 203; hespa» ^
231, e peruano, 482; os tutores dativos são nomeados pelo c
selho de familia. tpnha
O Codigo mexicano, art. 496, permitte ao menor, que
completado dezeseis annos, a escolha de um tutor, que o
confirmará, se não tiver justos motivos para recusar.
Projectos — Esboço, art. 1.661, ultima parte; Felicio d0^
Santos, 834, e 835; Coelho ' Rodrigues, 2.209; Beviláqua,
480; Revisto, 500.

Observações — 1. — O juiz competente para dar tutor ao


nor é o de orphãos do domicilio deste. Quando o menor
orphandade, sua mãe passa a novas nupeias, ou por outra ^
perde a protecção dos paes, deve o juiz designar-lhe u
DA TUTELA, DA CUBATELA E DA AUSENCTA 405
fiavendo algum nomeado por ascendente ou indicado por lei, ou
não podendo estes funccionar.
O tutor dativo ha de ser pessoa idônea, residente no domi-
cilio do menor, porque, devendo entregar-se-lhe a guarda da pes-
sôa e administração dos bens do menor, cumpre que o juiz a
reconheça, como capaz de bem desempenhar a melindrosa missão,
due lhe é confiada.
2. — A mãe binuba, privada do pátrio poder em razão do
casamento posterior, pôde ser nomeada tutora dativa dos filhos
do primeiro leito, se não está privada da administração dos bens
delles, por força do que dispõe o art. 225.

Art. 411 — Aos irmãos orpliãos, se dará um


só tutor. JSÍo caso, porém, de .ser nomeado mais
de um, por disposição testamentaria, entende-se
que a tutela foi commettida ao primeiro, e que
os outros llie Mo de succeder, pela ordem da
nomeação, dado o caso de morte, incapacidade,
excusa ou qualquer outro impedimento legal.
Paragraplio único. Quem institue um menor
herdeiro, ou legatario seu, poderá nomear-lhe
curador especial para os bens deixados, ainda
que o menor se ache sob o pátrio poder ou sob
tutela.
Direito anterior — Não havia disposição a respeito das hypo-
theses que o artigo prevê, no seu principio e no paragrapho.

liegislação comparada — Quanto ao pr.: D. 26, 7, fr. 3, § 6.°;


Codigo Civil italiano, árt. 345; portuguez, 198; argentino, 386;
u
ruguayo, 324; peruano, 479; mexicano, 437 e 474. O venezue-
lano, art. 342; só se refere á tutela dativa.
O Codigo Civil chileno, art. 361; o hespanhol, 208, o alle-
raão, 1.803, e o mexicano permittem a pluralidade de tutores.
Quanto ao paragrapho único. — Codigo Civil portuguez, 197;
Peruano, 600,7.°; venezuelano, 343; hespanhol, 207; argentino
3
97,6.°; mexicano, 473.
406 CODIGO CIVIL

Projectos — Esboço, arL 1.647; Felicio dos Santos, 826-828


e 840; Coelho Rodrigues, 2.210 e 2.211; Beviláqua, 418 e 483;
Revisto, 502 (não se occupa da matéria regulada no paragrapho
único).
Bibliographia — Estevam de Almeida, Manual, cit, ns. 343
e segs.; Dias Perrêiba, Codigo Civil portuguez, notas aos ar-
tigos 194 e 197; Pêniohet y Lugo, La tutela, commentarios aos
arts. 207 e 208 do Codigo Civil hespanhol; Sanchez Roman, V,
cap. XXXI, n. 60; Liz Teixeira, Curso, I, tit. XI; § 6.°.

Observações — 1 —■ Á. tutela dativa e a legitima serão sem-


pre unas, isto é, haverá um tutor somente para todos os irmãos.
Deverá tambeni ser una a testamentaria, entendendo-se que osi
tutores nomeados são substituidos uns dos outros, na ordem da
sua nomeação. Mas, se o testador, expressamente, indicar para
certo filho um tutor e para outro tutor differente, será forçoso
respeitar as disposições da ultima vontade, porque, incontesta-
velmente, é direito dos paes resolverem essa questão, provendo
ao interesse dos filhos, como lhes parecer melhor.
A unidade da tutela para os irmãos é vantajosa, porque os
interesses são communs, e a administração dos bens se executa
em melhor ordem. Se, porventura, ha bens distantes, o tutor
nomeará quem os administre em seu nome.
2. — O estranho pôde nomear não um tutor, mas um curadoi
especial para os bens, que deixar ao menor. Nesta prescripçõo
approxima-se o Codigo Civil brasileiro do italiano art. 354, actuah
e afasta-se do portuguez, que admitte a nomeação do tutor por es-
tranho, quando os bens por elle deixados forem mais valiosos
do que o patrimônio do menor. O Codigo Civil brasileiro per-
mitte, apenas, a nomeação de um administrador especial, que 0
portuguez também faculta. Essa nomeação pôde ser feita em
testamento ou doação.
A curadoria especial creada pelo estranho pode coexistir
com o pátrio poder e com a tutela.

Art. 412 — Os menores abandonados terão


tutores nomeados pelo juiz, ou serão recolhidos
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 407

a estabelecimentos pnblicos para esse fim des-


tinados.
Na falta desses estabelecimentos ficam sob a
tutela das pessoas, que, voluntária e gratuita-
mente, se encarregarem da sua creação.

Direito anterior — Disposições algo differentes nas Ords. 1.


88, §§ 11, 12 e 18, e no alvará de 24 de Outubro de 1814.
Degislação comparada — Vejam-se: o Codigo Civil portu-
guez, arts. 284-296, que organiza, em duas secções especiaes, a
tutela dos menores abandonados e a dos filhos de pessoas mise-
ráveis; argentino, 396; uruguayo, 339-344 e 351. Este Codigo
também organiza, cuidadosamente, a tutela dos menores desam-
parados, ou sem paes conhecidos. Peruano, 485.
Projectos — Esboço, art. 1.637; Beviláqua, 482; Revisto, 503.
Bibliographia — Direito ãa família, § 84, I, pag. 551 da
8.a ed e nota 7; Teixeira de Freitas, Consolidação, arts. 257 e
276; Estevam de Almeida, Manual cit, ns. 346 e segs.; Pereira
de Carvalho, Pracesso orphanologico, nota 218, ed. de Macedo
Soares; Pontes de Miranda, Direito de família, § 180; Diz Tu-
xeira, Curso, I, tit. IV, § 11; Franco Vaz, linfancia abandonada,,
segunda parte; Evaristo de Moraes, Criminalidade da infância;
Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, notas aos arts, 284-296;
Lem:os Britto, As leis de menor no Brasil; Alvarenga Netto,
Codigo de menores; Sofia Mineiro, Codigo de menores.

Observações — 1. — Por menores abandonados entendem-se


os expostos, aquelles cujos paes, incógnitos ou conhecidos, delles
não curam, ou os deixam a vagar, á mercê da caridade pu-
blica, e ainda aquelles cujos paes os levam á pratica de actos im-
bioraes (art. 395).
Esses menores, desamparados pelos paes devem ser acolhi-
dos e dirigidos pela sociedade. O juiz dar-lhes-á tutor, ou fal-os-á
recolher a estabelecimentos especiaes destinados a esse fim. Os
Projectos e a proposição da Gamara não exigiam que o estabele-
cimento fosse publico e providenciavam diversamente; o Senado,
Porém, modificou o dispositivo, dando-lhe a fôrma que se acha
ho Codigo. O juiz, portanto, escolherá entre nomeai- um tutor
408 CODIGO CIVIL

ao menor abandonado, ou ordenar o seu recolhimento a um insti-


tuto publico, destinado a esse fim, se houver na sua circum-
scripção, ou solicitar da autoridade competente que seja o menor
àsylado em estabelecimento fóra da sua jurisdicção. Na falta
desses estabelecimentos,, ficam os menores entregues a particula-
res, que serão os seus tutores, diz o artigo. Deve-se entender que
os menores abandonados só serão confiados a particulares, que se
incumbam, voluntária e gratuitamente, de sua creação e edu-
cação, se, no logar não houver estabelecimento publico, onde se
recolham. Veja-se o que se expoz, no commentanio ao art. 395,
2.a obs., com referencia á lei n. 4.243, de 5 de Janeiro de 1921,
art. 3.°, ao Dec. n. 16.272, de 20 de Dezembro de 1923 e ao Có-
digo de menores.
2. — E' de notar que a emenda do Senado, abrangendo todo
o artigo, estabelecia a alternativa pana o juiz: nomear tutor ou
ordenar o recolhimento em casas publicas destinadas a esse fim-
Na redacção final, foi mantida a segunda parte do artigo,
segundo a proposta da Gamara, cujo pensamento já fôra atten-
dido, a seu modo, na emenda do Senado. Dessa impenfeita aggh1'
tinação, resultou falta de flexibilidade e uma certa obscuridade
no dispositivo.
3. — O Dec. n. 16.272, de 20 de Dezembro de 1933, art. 2",
dá a enumeração dos casos em que o menor de 18 annos deve
■ser considerado abandonado, vcidio, mendigo e libertino e nos
arts. 18-23 estabelece as medidas que a nespeito delles deve toma1"
a autoridade incumbida da assistência e protecção dos menores.
E esse mesmo decreto, cujas providencias foram completadas pela
lei n. 5.083, de 1 de Dezembro de 1926, criou o juizo priva-
tivo de menores e o Goãigo cHos menores, a que deu corpo o Dec.
n. 17.943 A, de 12 de Out. de 1927. ,

SECÇÃO II

Dos incapazes de exercei' a tutela

Art. 413 — Não podem ser tutores e serão


exonerados da tutela, caso a exerçam:
I. Os que não tiverem a livre administração
dos seus bens.
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 409

II. Os que, no momento de lhes ser deferida


a tutela, se acharem constituídos em obrigação
para com o menor, ou tiverem de fazer valer di-
reitos contra este; e aquelles cujos paes, filhos
ou cônjuges tiverem demanda com o menor.
III. Os inimigos do menor ou de seus paes,
ou que tiverem sido por estes, expressamente,
excluídos da tutela.
IV. Os condemnados por crime de furto,
roubo, estellionato ou falsidade, tenham ou não
cumprido a pena.
Y. As pessoas de mau procedimento, ou fa-
lhas em probidade, e as culpadas de abuso em
tutorias anteriores.
VI. Os que exercerem funcção publica in-
compatível com a boa administração da tutela.

Direito anterior — Algo differente; as mulheres, não sendo


as mães e avós, eram incapazes de exercer a tutela. Os indi-
gentes, ao tempo em que lhes era deferida a tutela, também a
não podiam exercer. Os que tivessem impedimento perpetuo
(surdo-mudez, cegueira, moléstia incurável) eram, geralmente,
mencionados nesta classe (Teixeira de Freitas, Consolidação,
art. 262; Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.652).
Ijcgislação comparada — Direito romano, Inst., 1, 13, § i0-
22, § 4.°; 26, §§ e 12. D. 26, 1, fr, 17; fr. 27; § 1.°; fr. 6;
16, e fr. 21, Cod. 5, 35; Nov. 118, c. 5, in médio.
Codigo Civil francez, arts. 442-445 (lei de 20 de Março de
1917, que modificou a anterior, de 1907, e permitiu á mulher o
exercício da tutela); italiano, 348; a mulher pôde ser tutora
do pupillo; hespanhol, 237; suisso, 384; portuguez, 234; allemão,
1-780 e 1.782; argentino, 398; uruguayo, 352; entre as incapaci-
dades deste Codigo, devem' mencionar-se a dos analphabetos e a
do padrasto; chileno, 497 e 498 (o analphabeto e as mulheres con-
demnadas ou divorciadas por adultério são incapazes de exercer
tutela ou curatela); boliviana, 230-232; peruano, 490; venezuelano.
410 CODIGO CIVIL

356 (a irmã solteira ou viuva pode ser tutora); colombiano, 495


(semelhante ao chileno); mexicano, 503 a 505; japonez, 908.
Algumas incapacidades reproduzem-se, constantemente, nos Có-
digos citados, outras não.
Projectos — Esboço, ants. 1.682 e 1.683; Felicio dos Santos,
846; Coelho Rodrigues, 2.234-2.236; Beviláqua, 490; Revisto, 504.
Bibliograpliia — Direito de família, § 81; Lâfayette, Ditei-
tos de família, § 148; Loukeiro, Direito civil, § 163; Pontes oe
Miranda, Direito de família, § 181; Estevam de Almeida, Manual
cit, ns. 347 e segs.; Martinho Garcez, Direito de família, § 233;
Coelho da Rocha, Inst., § 369; Planiol, Traite, I, ns. 2.615-2.621;
Planiol et Ripert, I, ns. 492 e segs.; Huc, Oommentaire, III, nú-
meros, 349-356; Laurent, Cours I, ns. 371-378; Raoul de la Gras-
serie, La tutelle des mineurs, pags. 143 e segs.: Aubry et RaU,
Cours, I, § 104; Endemann, Lehrbuch, II § 219; Roth, System,
II, § 186; Windsoheid, Pand, § 434; Chironi, Ist., II, § 422,
Rossel et Mentha, Droit civil suisse, I, pags. 430-432; Dias Fer-
reira,'Codipo Civil portuguez, I, notas aos arts. 234 e 237; San-
chez Roman, Derecho civil V, cap. XXXI, n. 62; Liz Teixeira,
Curso, I, tit. XI, § 8.°; Champeau e Uribe, Derecho civil colom-
biano, I, ns. 943-966; Rivarola, Derecho civil argentino, n. 350

Observações — 1. — Fazem alguns autores distincçâo entre


incapacidade para exercer a tutela e exclusão da tutela, consi-
derando excluídos os que não offerecem condições moraes para
o exercicio da funcção tutelar, os indignos; e, simplesmente iu
capazes, os que, por sua pouca edade ou por moléstia, não podem
velar pela pessoa nem pelos bens do pupillo. A distinção é des-
provida de interesse pratico. O Codigo apenas conhece incapa
zes de exercer a tutela.
Na primeira classe dos incapazes, estão os que não têm a
livre administração dos seus bens, que são: os menores, os loucos
de todo o genero, e os surdos-mudos, que não puderem exprimia
a sua vontade, e os prodigos.
As mulheres são aptas para exercer a tutela. OutFora o mu-
nus publico era previlegio do sexo viril. Tutelam aãministrare
virile munus est. Em relação á tutela foi a evolução juridi
introduzindo, pouco a pouco, modificações, em favor das ascen-
da tutela, dá curatela e da ausência
411
dentes, das irmãs, em seguida, das tias do pupillo, até que se
comprehendeu que essa incapacidade não tinha fundamento real.
Mas, se a mulher fôr casada, necessita de outorga do marido
para acceitar a tutela, curatela ou outro munus publico (art. 242
numero V).
Os estrangeiros tamhem eram outr'ora afastados da tutela;
porem, já no ultimo estado do direito pátrio, a doutrina negava
apoio a essa incapacidade. Realmente, ao estrangeiro que reside
no paiz, a nossa Constituição assegura os mesmos direitos indi-
viduaes que aos brasileiros, e o Codigo Civil, art. 3.°, não dis-
tingue entre nacionaes e estrangeiros, quanto á acquisição e ao
gozo dos direitos civis. Desappareceu, portanto, essa incapa-
cidade. Aliás esse art. 3 tem soffrido, ultimamente, extensas
restricções.
Compete ao juiz de orphãos pronunciar as incapacida-
des, sejam preexistentes á nomeação, ou supervenientes. Na tu-
tela dativa e na legitima, porque o tutor é nomeado pelo juiz,
é claio que não poderá chamar ou acceitar para o exercício da
tutela pessoas legalmente incapazes. A nomeação seria nulla, e
o juiz poderia incorrer em responsabilidade. Mas, ainda quando
a vocação tutelar resulta de declaiação da vontade daquelles, a
quem o Codigo reconhece o direito de nomear tutores para o
descendente menor, cabe ao juiz annullar a escolha em collisão
com os preceitos do art. 413.
3
- — As incapacidades declaradas no art. 413, por serem
restricções de direito, não se devem ampliar, sob fundamento de
analogia ou paridade de razão (Introducção, art. 6.°).
E o Codigo não merece que o accusem por nimiamente bene-
volo, nesta secção. Nem excessivamente benevolo, nem rigoroso
em demasia.
4. — Pôde o padrasto ser nomeado tutor dos enteados? O juiz
Eurico Cruz, em longo e erudito despacho (de 7 de Maio de
1921), pronunciou-se pela negativa. Não ha negar que algumas
de suas razões têm assento na justiça e na moral; nã.o havendo,
porém, o Codigo declarado essa incapacidade, servirá a sua dou-
ta argumentação, apenas, para premunir o juiz e pôl-o de sobre-
aviso, afim de que as suas nomeações não recáiam em padrastos
indignos da sua confiança. No mesmo sentido, decidiu Pontes
de Miranda — Revista de direito, vol. LXXII, pags. 204-205.
412 CODIGO CIVIL

SECÇÃO III

Da excusa dos tutores

Art. 414 — Podem excusar-se da tutela:


I. As mulheres.
II. Os maiores de sessenta annos.
III. Os que tiverem em seu poder mais de
eineo filhos.
IV. Os impossibilitados por enfermidade.
V. Os que habitarem longe do logar, onde
se haja de exercer a tutela.
VI. Os que já exercerem tutela ou curatela.
VII. Os militares em serviço.
Direito anterior — Alguma differença. Entre os funcciona-
rios públicos, era maior o numero dos que se podiam excusai ,
os magistrados, os escrivães, tabelliães empregados de fazenda,
conselheiros municipaes, etc.
O impedimento proveniente de enfermidade, que era excusa
necessária, passou a ser voluntária (Ord. 4, 104; Teixeira oe
Freitas, Consolidação, ai,t. 263; Carlos de Carvalho, Direito
civil, art. 1.653). Por outro lado, os funccionarios públicos, qu«
exercem cargos incompatíveis com a bôa administração da tutela,
passavam para a classe dos incapazes.
legislação comparada — As legislações são divergentes,
admittindo, algumas, éxcusas em maior numero do que outras-
Vejam-se os Codigos; francez, arts. 427 e 428 (lei de 20 de Março
de 1917); italiano, 349 e 350; portuguez, 227; hespanhol, 244,
•suisso, 383; allemão 1.786; uruguayo, 353; peruano, 497; boli-
viano, 220, 221, 224, 225-229; venezuelano, S61; tmexicano, 511,
japonez, 907.
Para o direito romano: Inst. 1, 25 {De excusationibus Uito-
rum vel curatorum) ] D. 27, 1 {De excusationibus), Cod. 5, 34;
5, 35, 1. 1; 5. 62 {De excusationibus)', Nov. 123.
Projectos — Esboço, art. 1.684. Felicio dos Santos, 841 e
#43; Coelho Rodrigues, 2.239 e 2.241; Beviláqua, 491; Re
visto, 505.
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 413

Bibliographia — Direito da família, § 82; Laeaiette, Direitos


de família, § 146; Loureiro, Direito civil, § 177; Pontes de Miranda
Direito da família, § 182; S. Vamprê, Manual, I, § 215; Estevam
de Almeida, Manual cit, n. 350; Martinho Garcez, Direito da
família, § 234; Coelho da Rocha, inst., § 270; Planiol, Traité, I,
ns. 2.605-2 614; Planiol et Ripebt, I, ns 484 e segs.; Huc, Com-
mentaire, III, ns. 341-348; Laurent, Cours, I, ns. 368-370; Aubry
et Rau, Cours,!, § 107; Roth, System, II, § 186; Windscheid, II,
§ 435; Dias Ferreira, Godigo Civil portuguez, ao art. 227; Liz
Teixeira, Curso, I, tit. XI, § 18; Champeau e Uribe, Derecho civil
colombiano, I, ns. 967-979. Sanchez Roman, Derecho civil, V,
capitulo XXXI, n. 62, 2.°.

Observações —• 1. — A tutela é um encargo publico. A lei


impõe, ao que é chamado a exercel-a, a obrigação de acceital-a
salvo se pode allegar, em seu favor motivo legal de dispensa.
São esses motivos, que se denominam excusas. As excusas men-
cionadas pelo Codigo Civil brasileiro são mais limitadas do que
as da maioria das legislações acima referidas, e do que as do
direito anterior. Dentre os funccionarios públicos, somente os
militares, em serviço, estão dispensados do ônus da tutela. Ainda
na proposição da Camapa se mencionavam, n. VIII: os que exer-
cerem funcção publica incompatível com a bôa administração da
tutela. O Senado supprimiu esse numero, que, aliás, está incluído
no art. 413, VI, por constituir incapacidade.
2. — Á mulher não coage a lei a que acceite a tutela.
Julgando-a capaz desse officio, permitte-lhe, que pon sua condição
social, pela educação recebida, pelo genero de vida que adopte,
por se conservar no recesso do lar, estranha á vida exterior,
resolva, livremente, se se acha ou não em condições de consagrar
as opulencias e as delicadezas do seu sentimento em beneficio
do menor, cuja guarda se lhe offerece. Não é o ponto de vista do
Codigo romano, 5, 35, lei 1: ultra sexum foemineae infermitatis
tale officium est. Para os cuidados com as crianças orphanadas,
a mulher é mais apta do que o homem. Para a formação moral
do menor, mais util será o sentimento feminino do que a expe-
riência masculina. O ponto de vista do Codigo é o da posição
da mulher na sociedade. Convida-a, não a constrange a prestar
o serviço tutelar.
414 COD1GO CIVIL

Art. 415 — Quem não for parente do menor


não poderá ser obrigado a acceitar a tutela, se
houver, no logar, parente idoneo, consanguineo
ou affim, em condições de exercel-a.
Direito anterior — Disposição semelhante na Ord. 4, 102,
§ 5.°, in fine.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 432;
portuguez, 228.
O direito romano desconhecia esta excusa.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.242; Beviláqua, 432;
Revisto, 506.

Observações — 1. — A tutela é, no systema do Codigo, um


encargo de familia, um dos modos pelos quaes se deve manifestar
a solidariedade familiar. Por isso, emquanto ha parentes, em
qualquer grão, na linha recta, e até o sexto grão na linha trans-
versal, não quer a lei que sirvam estranhos. Os parentes têm
direitos a alimentos e podem ser chamados á successão; é justo
que supportem os incommodos, que a sua situação juridica
origina.
Apenas ha uma certa injustiça quanto aos affins, aos quaes
não dá o Codigo direito de reclamar alimentos nem chama á
successão. No Projecto primitivo e no Revisto, os dispositivos
eramr harmônicos, porqu'e aos'affinâ-se impunha o dever de pres-
tar, e se reconhecia; xr direito de reclaman alimentos.
2." — O beneficio de ordem em favor do estranho não pode
ser, validamente, invocado, se o parente existente residir em
logar differente daquelle, em que se abre a tutela, se fôr incapaz
ou se prevalecer de excusa legal.
CQNSELHO DO TRABALHO
^ U, REGIÃO
Art. 416 — A excusa apresentar-se-á nos
dez dias subsequentes á intimação do nomeado,
sob pena de entender-se renunciado o direito de
allegal-a.
Se o motivo excusatorio occorrer depois de
UA TUTELA, DA CURATELA K DA AUSÊNCIA 415

acceita a tutela, os dez dias contar-se-ão do em


que elle sobrevier.

Direito anterior — Era praxe seguida (Direiío ãa família


§ 82).
Degislação comparada — Vejam-se: o Codigo Civil francez,
arts. 438 e 439; italiano, 3^1; hespanhol, 247 e 248; allemão, 1.786,
in fine; chileno, 519-522; uruguayo, 355 e 356; peruano, 498;
mexicano, 513-515; venezuelano, 362-i364; colombiano, 607-610;
suisso, 388.
Direito romano: Inst., 1, 25, § 16; D. 27, 1, fr. 38.
Projectos — Beviláqua, art. 493; Revisto, 507.

Observação — O prazo de dez dias, pana a apresentação da


excusa, sob pena de se presumir a renuncia do direito de alle-
gal-a, é estabelecido, no momento da vocação do tutor, pela ne-
cessidade de estabelecer-se a tutela sem delongas prejudiciaes aos
interesses do menor. Não seria admissível que a tutela ficasse
indefinidamente adiada. Se o motivo excusatorjo occorre depois,
a presumpção da renuncia exprime a verdade dos factos, por-
quanto, se o tutor, apesar delia, permaneceu em suas funcções,
é porque o facto superveniente não lhe modificou a situação.

gONSEU40-^Cr^5L DO TRABALHO
K REGIÃO
Art. 417 — Se o juiz não admittir a excusa,
exercerá o nomeado a tutela, emquanto o re-
curso interposto não tiver provimento, e res-
ponderá, desde logo, pelas ..perdas e damnos, que
o menor venha a soffrer^''
Direito anterior — Do despacho proferido sobre a excusa
havia appellação voluntária (Pereira de Carvalho, Processo ov
phanologico, § 138).
Legislação comparada — Vejam-se; o Codigo Civil francez,
art. 440; italiano, 275; portuguez, 231; hespanhol, 249 e 250; uru-
guayo, 358; chileno, 525; venezuelano, 365 e 366; mexicano, 515,
416 COUIGO CIVIL

Direito romano: O nomeado podia recorrer da decisão que


lhe não admittia a excusa, e, emquanto pendia o recurso, no-
meava-se um curador provisorio; mas; se, afinal, não fosse accei-
ta, a isenção allegada, respondia o tutor pelos damnos sobrevin-
dos ao pupillo (D. 27, 1, fr. 13, pr. in fine; fr. 17, § 1.° 49, 10.
fr. 2).
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.243; Beviláqua, 494 e
495; Revisto, 508.

Observação — Aquelle que apresenta a excusa tem direito


de appellar da decisão que a não acceitar, mas a appellação, não
terá effeito suspensivo; o nomeado terá de exercer a tutela, sob
a comminação de responder por perdas e damnos, que o menor
venha a soffrer. O rigor da lei funda-se na necessidade, que tem
o grupo social, de prestar assistência ao menor. Se o Estado,
pela voz do direito, não tomar prpvidencias enérgicas, correm
os menores o risco de ficar ao desamparo, moral e economica-
mente.

SECÇÃO IY
Da garantia da tutela

Art. 418 — O tutor, antes de assumir a tu-


tela, é obrigado a especializar, em bypotbeca le-
gal, que será inscripta, os immoveis necessários,
para acautelar, sob sua administração, os bens
do menor.
Direito anterior — Semelhante (Dec. n 169-A, de 19 de Ja-
neiro de 1890. art, 3.°, § 2.°).
Degislação comparada — Yejara-se; o Codigo Civil francez,
arts. 2.121 e 2.135; portuguez, 906, 2.°; hespanhol, 252 e 254,
chileno, 375 e 376; uruguayo, 368 e 369; peruano, 499; venezue-
lano, 380 e 1.956, 4.°; mexicano, 519; boliviano, 1.466.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 2.559; Coelho Rodri-
gues, 1.723, § 4.°, e 2.259; Beviláqua, 496; Revisto, 509.
Bibliographia — Direito da família, § 83; Lafayette, Direi-
tos de família, § 150; Estevam de Almeida, Manual cit., ns. 356
DA TUTELA,' DA CURA TELA E DA AUSÊNCIA 417

e segs.; Pontes de Miranda, Direito de família, § 183- Auma-


chio Diniz, Direito da família, § 330; Planiol, Traité I n 2 647'
Laotent, Cour», I, n.383 e IV, ns. 457-466; Hüc
, ns. 182-185; Raoul de la Grasserie, La tutelle ães mineurs
pags. 145-147; Aubry et Rau, III, § 264, Ms; Windscheid, Pand'.,
, § 436; Chironi, Ist., II, § 423; Penichet y Lugo, La tutela,
aos arts. 252, 253 e 254 do Codigo hespanhol.

Observações — 1. _ o tutor assume a gestão dos bens do


menor. Ainda que tenham tomado precauções, para que a esco-
lha recáia sobre pessoa, idônea, as probabilidades de fraude não
podem ser excluídas; e, suppondo que o tutor seja pessoa de in-
teira probidade, nem por isso estão isentos de risco os bens do
pupillo. Toma, por sso, a lei diversas cautelas para lhes asse-
gurar a conservação. Neste artigo; indica-se uma dellas: a hypo-
theca sobre os immoveis do tutor. A lei submette os immoveis
do tutor ao vinculo hypothecario, desde o momento da acceitação
da tutela; como, porém, as hypothecas, ainda legaes, não va-
lem contra terceiros, sem estar especializadas e inscriptas (ar-
tigo 828), o Codigo impõe ao tutor, antes de assumir as suas
tuncções, a obrigação de especializar os immoveis sujeitos á
hypotheca da lei, cuja inscripção deverá requerer. Não o fa-
zendo, requererá o Ministério Publico. Além disso, a lei consi-
dera qualquer parente successivel do menor interessado na in-
scripção (arts. 840, 841 e 843).
2. — Se o tutor não tiver immoveis, dará outra caução ou
será delia dispensado nos termos do artigo seguinte.
Se o menor não tiver Vens, estará o tutor isento da hypo-
theca, pois que não he bens a garantir. O Reg. de 2 de Maio de
1890, art. 195, paragrapho único, também dispensava o registro
hypothecario, quando os bens eram de tão diminuta importância
e exíguo rendimento, que, a arbitrio do juiz, se verificasse a
inutilidade dessa garantia. Subsiste esse preceito regulamentar
que é uma regra de bom senso. E a competência do juiz para
tomar essa resolução é irrecusável, em face do disposto nos
arts. 419 e 420.
3. — O tutor omisso na inscripção da hypotheca, a que a lei
o obriga, está sujeito á responsabilidade civil (art. 845), além
da criminal, em que possa incorrer (Codigo Penal, art. 338).
Beviláqua — Codigo Civil —- 2." vol.
4 Ig CODXGO CIVIL
l
4. os tutores instituídos em virtude do regulamento de as-
sistência de menones estão dispensados de gravar os seus bens
com hypotheca legal, salvo se o pupillo possuir, ou vier a possuir
bens (Dee. n. 16. 272, de 20 de Dezembro de 1923, art. 16; Coãigo
cie Menores, art. 44).

Art. 419 — Se todos os immoveis de sua pro-


priedade não valerem o patrimônio do menor,
reforçará o tutor a hypotheca mediante caução
real ou fidejussoria; salvo se para tal não tiver
meios ou for de reconhecida idoneidade.
Direito anterior — No direito anterior, formado por estrati-
ficações, liavia a exigência cumulativa da fiança (da qual, entre
tanto, era dispensado o tutor testamentario) e da hypotheca
(Ord. 4, 102, § 5.°, e alv. de 7 de Dezembro de 1689). Outro é o
systema do Codigo.
Liegislação comparada — O Codigo Civil chileno, art. 376,
prefere a fiança á hypotheca. No mesmo sentido dispõe, o uru
guayo, 368, e o colombiano, 466. O mexicano, 520 e 521, appro-
xima-se mais do brasileiro: a fiança é garantia complementar
ou succedanea da hypotheca. O direito francez é deficiente neste
ponto.
Projectos — Beviláqua, art. 497; Revisto, 510.

Observação —• Pôde acontecer que o patrimônio do menor


exceda em valor aos immoveis do tutor. A garantia hypothecaria
será insufficiente, talvez inútil, se fôr grande a desproporção
entre a propriedade immovel do tuton e os bens do pupillo. A ga
rantia será, nesse caso, reforçada, mediante outra caução rea
ou fiança. .
Se o tutor não tiver rheios para esse reforço, ou se fôr
idoneidade reconhecida, será dispensado, por despacho do juiz-
O Codigo só se refere ao caso de serem insufficientes os ia1'
moveis do tutor para garantir a administração dos bens do pu-
pillo, que lhe são entregues. Mas a mesma regra deve prevalecer
no caso de não haver immoveis no patiimonio do tutor. O a*-
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 419
820 faculta substituir a hypotheca legal por caução de títulos da
divida publica federal ou estadual.
E se o tutor não possuir immoveis nem apólices federaes ou
estaduaes? Se fôr pessoa de idoneidade reconhecida, assim como
o juiz poderia dispensar o complemento da garantia, poderá dis-
pensal-a inteira de quem a não pode offerecer em bens,, mas a
pode dar plena, com a sua honestidade.

Art. 420 O juiz responde, subsidiaria-


mente, pelos prejuízos, que soffra o menor em
razão da insolvencia do tutor, de lhe não ter
exigido a garantia legal, ou de o não haver re-
movido, tanto que se tornou suspeito.
Direito anterior — Semelhante (Ord. 1, 88, §§ 3.°, infine, 7,
16, 18 e 24; 3, 41, § 3.°; 4, 102, §§ 5.° e 8.°; Carlos de Carvalho,
Dtreito civil, art.. 1.677; Teixeira de Freitas, Oohsoliãação, ar-
tigos 239 e 306.
Degislação comparada — Codigo Civil mexicano, art. 530"
peruano, 501.
Projectos — Beviláqua, ar,t. 498; Revisto, 511.
Bibliographia — Direito da familia, § 84, IV; Pereira de
Carvalho, Processo orphanologico, § 121, nota 225.

Observação — A lei impõe ao juiz a obrigação de nomear


tutores ao menor, de examinar se o nomeado pelos ascendentes
e capaz, de fiscalizar o exercício da tutela, de exigir garantias
que acautelem o patrimônio do menor, de remover o tutor negli-
gente, prevaricador ou incapaz. E' a autoridade tutelar super-
posta ao tutor, e incumbida de superintender a tutela em bene-
ficio do pupillo. Se o juiz é omisso no cumprimento desses deve-
res funccionaes, e, em conseqüência disso, o menor soffre prejuí-
zos, por elles deve responder. A responsabilidade do juiz é subsi-
diaria, isto é, far-se-á effectiva na falta ou insufficiencia da do
tutor; 1.°, nos casos de insolvencia deste, porque devia ter pro-
videnciado, quando os negócios do tutor se mostravam inseguros;
2.", em conseqüência de não ter exigido a garantia legal da hy-
potheca ou da caução, porque, se assim procedeu por negligente.
420 COD1GO CIVIL

é justo que soffra, e. se por nimia confiança no tutor, fez-se delle


fiador; 3.°, por não ter removido o tutor suspeito; é uma pena
que punirá os desidiosos, e servirá de prevenção aos outros.
Eximir-se-á de toda a responsabilidade o juiz, que provar ter
tomado as precauções exigidas pelo direito, e que não üescurou,
de modo algum, os interesses do menor.

Art. 421 — A responsabilidade será pessoal


e directa, quando o juiz não tiver nomeado tu-
tor, ou quando a nomeação não houver sido op-
portuna.
Direito anterior — Semelhante (Reg. de 2 de Outubro de
1851, art. 32, § 8.°; Ord. 1, 88, §, 3.°.
Degislação comparada — Codigo Civil allemão, art. 1.848;
suisso, 428.
Projectos — Este artigo é da Commissão revisora do go-
verno. Tem o n. 512 no Projecto revisto. Aliás, de accordo com o
direito anterior, o preceito se acha consignado no Direito cia /o-
milia § 84, in fine.

Observação — Nos casos do artigo anterior, a responsabili-


dade do juiz é subsidiaria, porque ha um tutor obrigado pela bôa
gestão do patrimônio do menor, e poderá haver um fiador, que
o substitua na responsabilidade. Mas, se o juiz deixa de nomear
tutor ou nomeia tardiamente, ao menor, que o não tem designado
por seus ascendentes, a sua responsabilidade já não poderá ser
subsidiaria, é directa, immediata e plena. Todos os prejuízos sof-
fridos pelo menor devem ser por elle indemnizados.

SECÇÃO Y

Do exercício da tutela

Art. 422 — Incumbe ao tutor, sob a inspe-


cção do juiz, reger a pessoa do menor, velar por
elle, e administrar-lhe os bens.
DA TUTELA, DA CUBATELA E DA AUSÊNCIA 421

Direito anterior — Não havia disposição de lei, que, por este


modo synthetizasse as funcções do tutor, mas o resumo, que o
artigo faz, ajusta-se aos princípios reguladores da tutela, no di-
reito agora substituído pelo Codigo.
Legislação comparadla — Codigo Civil allemão, arts. 1.793
,e 1.837; francez, 450; italiano, 355; argentino, 404, 411 e 413;
venezuelano, 367. Certos Codigos, como chileno (art. 428, 441
525) e o uruguayo (arts. 366, 372, 373, 375, 382), claramente, es-
tabelecem a inspecção do juiz. Outros, como o francez, o italiano,
o hespanhol, conferem a inspecção da tutela ao pro-tutor e ao'
conselho de família. V. mexicano, 454, e peruano, 516.
Projectos delicio cios 8antosi art. 852; Beviláqua, 499; Re-
visto, 513.
Bibliographia — Direito da família, § 84; Coelho da Rocha,
Inst., § 373; Pebeiea de Cabvalho, Processo orphanologico, § 113;
Estevam de Aimeida, Manual cit., ns. 365 e 366.

Observação — Offerece este artigo uma succinta noção do


que seja a tutela indicando, em synthese, os deveres do autor,
que se hão de cumprir sob a inspecção do juiz. O tutor substitue
o pae, ou a mãe, do menor; compete-lhe cuidar da pessoa do
menor, da sua creação e educação; incumbe-lhe, egualmente, ad-
ministrar os bens do menor, como bom pae de família. Estas
duas categorias de deveres, que se acham discriminadas na
presente secção, resumem as funcções do tutor, que se desempe-
nham sob a autoridade e vigilância do juiz.

Art. 423 - Os bens do menor serão entre-


gues ao tutor, mediante termo especificado dos
bens e seus valores, ainda que os paes o tenham
dispensado.
Direito anterior — O mesmo (Ord. 1, 88 §§ 4.°, in fine e 5 o-
4, 102, pr.).
Legislação comparada — V. Cod. 5, 37, 1. 24, initio; Codigo
Civil francez, art. 451; italiano, 560 e segs.; allemão, 1.802; por-
tuguez, 2.43, 4.°; hespanhol, 264, 3.°; suisso, 398; chileno, 374;
422 CODIGO CIVIL

uruguayo, 373-377; argentino, 408; peruano, 503; boliviano,


237; venezuelano, 371-374; colombiano, 464; mexicano, 548-553;
japonez, 917.
Projectos — E&boço, art. 1.758, 1.° e 2.°; Felicio ãos Santos,
855; Coelho Rodrigues, 2.249; Beviláqua, 500; Revisto, 514.
Bibliographia — Direito de família, § 83; Lafayette, Direi-
tos de família, § 150; Coelho da Rocha, Inst., § 374; Planiol,
Traité, I, n. 2.639; Huc, Commentaire, III, ns. 389-393; Laurent,
Cours, I, n. 384; Estevam de Almeida, Manual cit, n. 367-368;
Windscheid, Pand., II, § 346, in fine; Chironi, Ist., II; § 423;
Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, addição 75, de
S. Ramos; Penichet y Lugo, La tutela, ao art. 264.

Observação — O inventario e a avaliação dos bens são ne-


cessários para que se saiba, ao certo, qual é o patrimônio do me-
nor, e que coisas ha de o tutor entregar, quando deixar a tutela.
Se a tutela é deferida em conseqüência do fallecimento do
pae, ou mãe, do pupillo, o inventario será o da successão. Nos ou-
tros casos levantar-se-á um arrolamento especial com a avalia-
ção dos bens. Em todos os casos, porém, quer o Codigo que se la-
vre um termo especificado dos bens e seus valores, que o tutor
assignará.
Os bens que o pupillo adquirir, durante a tutela, serão
egualmente, arrolados e avaliados.

Art. 424 — Cabe ao tutor, quanto á pessoa


do menor.
I. Dirigir-lbe a educação, defendel-o e pres-
tar-lbe alimentos, conforme os seus baveres e
condição.
II. Reclamar do juiz que providencie, como
bouver por bem, quando o menor haja mister
correcção.
Direito anterior — Semelhante (Ord. 1, 88, §§ 10, 16 e 18:
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.654, pr., e §§ 1.° a 3o) •
DA TXTTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 423

liegislação comparada — Vejam-se, quanto ao n. 1; Có-


digo Civil portuguez, art. 243, ,2.° e 3.°; hespanhol, 264, 1.°; alle-
mão, 1.800 e 1.801; suisso, 405; argentino, 412 e 416; uruguayo,
384-386; peruano, 509; venezuelano, 368-370; mexicano, 369-370.
Quanto ao n. II; Cod. 9, 15, 1. única; Codigo Civil francez,
art. 468; italiano, 3^6; hespanhol, 263; argentino, 415; venezue-
lano, 369-370.
Por direito romano, o tutor não era encarregado de dirigir
a educação do pupillo. O magistrado designava a pessoa, em cuja
companhia devesse elle ficar (D. 27, 2, fr. 1, pr.).
Projectos — Esboço, art. 1.714, 1.» e 2.°; Felicio dos Santos,
888; Coelho Rodrigues, 2.245, 2.247 e 2.248; Beviláqua, 501;
Revisto, 515.
Bibliographia — Direito da família, § 48; Lafayette, Direi-
tos de familia. § 151; Estevam de Almeida, Manual cit. ns. 469-
471; Martinho Garcez, Direito da familia, § 242; Pinto de To-
ledo, Processo orphanologico, § 672; Coelho da Rocha, Inst.
§ 373; Planiol, Traité, I, ns. 2.664-2.668; Champeau e Uribe,
Derecho civil colombiano, I, ns. 850 e segs; Liz Teixeira, GursV\,
I, tit. XI, § 15; Pereira de Carvalho, Processo orphanologico,
§ 120.

Observações — 1. — O tutor dirige a educação do menor se-


gundo a sua condição, não devendo, em qualquer hypothese, pri-
val-o da instrucção elementar.» Defende-o em juizo e fóra delle,
sempre que se offerecer occasião, e fornece-lhe o sustento con-
forme os seus rendimentos, ou segundo a sua posição social.
Não é obrigado o tutor a conservar o pupillo em sua com-
panhia. Algumas vezes, seria até inconveniente que o fizesse.
O juiz, attendendo aos interesses moraes e á commodidade do
menor, designará uma pessoa, parente ou estranho, no grêmio
de cuja familia se possa o menor crear.
2. — O pupillo deve obediência e respeito ao tutor, e a este
se devem peconhecer os meios de tornar effectiva a sua auto-
ridade. Mas, em parte alguma, o Codigo Civil confere ao tutor o
direito de corrigir physicamente o pupillo. Se o menor fôr de
natureza rebelde, reclamará do juiz as providencias necessárias.
424 CODIGO CIVIL

e este as dará segundo o seu critério, e os meios a que possa


recorrer no logar, depois de ter ouvido o tutor e o menor.

Art. 425 — Se o menor possuir bens, será


sustentado e educado a expensas suas, arbi-
trando o juiz, para tal fim, as quantias, que lhe
pareçam necessárias, attento o rendimento da
fortuna do pupillo, quando o pae ou a mãe não
as houver taxado.

Direito anterior — O mesmo (Ord. 1, 88, §§ 10 e 15).


Legislação comparada — D. 26, 7, fr. 12, § 3.°; Cod. 5, 50,
1. 2; Codigo Civil francez, art. 454; chileno, 431; argentino, 416;
venezuelano, 382; mexicano, 539; portuguez, 224, 8.°.
Projectos — Eshoço, art. 1.714, 1.°, e 1.717, 2.°; Felicio dos
Santos 884, 2.°; Beviláqua, 503; Revisto, 517.
Bibliographia — Direito da familia, § 84; Pereira de Car-
valho Processo orphanologico, § 121, nota 222; Estevam de Al-
meida, Manual cit., ns. 272 e 273.

Observação — Se os menores não tiverem bens para o seu


sustento, poderá o tutor reclamar dos parentes o alimento de-
vido, segundo os preceitos dos arts. 396 e seguintes. Se não puder
usar deste recurso por não ter o menor parentes no gráo, em
que a obrigação de alimentar é imposta por lei, ou por não esta-
rem esses parentes em condições de fornecer alimentos, o tutor
solicitará do juiz que faça recolher o menor a um estabeleci-
mento de beneficência ou de educação gratuita, se não parecer
melhor dal-o á soldada, ou lhe determinar a aprendizagem de
um officio, que o prepare para a vida. Para essas deliberações,
attenderá o juiz á edade do menor, suas tendências e sua consti-
tuição.
O Dec. de 9 de Janeiro de 1875 deu regulamento aos asylos
de menores.
DA TUTELA, DA CTJRATELA E DA AUSÊNCIA
425

Art. 426 — Compete mais ao tutor:


I. Representar o menor, até os clezeseis an-
nos, nos actos da vida civil, e assistil-o após essa
edade, nos actos em que for parte, supprindo-
llie o consentimento.
II. Receber as rendas e pensões do menor.
III. Pazer-llie as despezas de subsistência e
educação, bem como as da administração de seus
bens (art. 433, n. I).
IY. Alienar os bens do menor destinados á
venda.

Direito anterior — Semelhante (Ord. 1, 88, §§ 4.° e 5.°; 3, 41,


§ 8.°; 4, 102, pr.) .
Degislação comparada — V. D. 26, 7, fr. 1, §§ 2.°, initio, e
4.°; Codigo Civil francez, art. 450; italiano, 369 e segs.; allemão
1.793; portuguez, 243, 1.°, 6.° e 8.°; liespanhol, 262; argentino,
411; peruano, 510; boliviano, 235; mexicano, 497.
Projectos — Esboço, art. 1.714, 3.°; Felicio dos Santos, 857,
858 e 860; Beviláqua, 504 e 505; Revisto, 518 e 519.
Bibliographia — Direito de família, § 84; Lafayette, Direi-
tos de família, § 152; Coelho da Rocha, Inst., § 373; Estevam
de Almeida, Manual cit, ns. 374 e 375; Planiol, Traité, I, ns.
2.673 e segs.; Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, §
121; Pinto de Toledo, §§ 569, 570, 647, 672 e 673.

Observações — 1. — O n. I consigna e systematiza o desen-


volvimento, que a doutrina dera ao principio legal da interven-
ção do tutor na actividade juridica do pupillo. Se o menor é abso-
lutamente incapaz, o tutor o representa nos actos jurídicos, isto
e, substitue sua personalidade, age em nome delle. Se, porém,
o pupillo já transpoz os dezeseis annos, o tutor apenas o assiste,
quer dizer o menor intervem no acto, é o seu factor directo, e
o tutor completa-lhe a capacidade, sanccionando o acto com a
sua presença. Antes dos dezeseis annos, a intelligencia e a von-
tade estão insuficientemente desenvolvidas; o menor é inapto
426 CODIGO CIVIL

para agir; depois a personalidade adquire maior consistência;


o menor . necessita, apenas, de um guia e dos suppiementos de
pessoa mais experiente.
A falta de autorização annulla o acto (art. 145, I); a de
assistência o torna annullavel (147, I).
2. — Declara este artigo os actos que o tutor pode praticai
por si, independentemente de autorização do juiz. São actos de
simples administrador, com applicação especial á subsistência e
educação do pupillo. O Projecto revisto, enumerando os actos,
que o tutor pratica sem' intervenção do juiz, restringiu-lhe a au-
tonomia, a que o primitivo, numa fórmula geral, déra a largueza
:necessaria ao bom desempenho das suas funcções, largueza de
que não destoava o Codigo Civil portuguez, art. 243 {Actas, pa-
gina, 138). Na Gamara foi mantido o systema restrictivo.
3. — Os menores podem fazer deposito nas Caixas Econô-
micas Federaes, sem intervenção de seus tutores. Se tiverem
mais de dezeseis annos, poderão, egualmente, retiral-os, salvo
opposição dos tutores (Dec. n. 9.738, de 2 de Abril de 1887, art-
5.°, paragrapho único).

Art. 427 — Compete-lhe também, com auto-


rização do juiz:
I. Fazer as despezas necessárias com a con-
servação e o melhoramento dos bens.
II. Eeceber as quantias devidas ao orphão,
e pagar-lhe as dividas.
III. Acceitar por elle heranças, legados ou
doações, com ou sem encargos.
IY. Transigir.
Y. Promover-lhes mediante praça publica,
o arrendamento dos bens de raiz.
YI. Yender-lhe, em praça, os moveis, cuja
conservação não convier, e os immoveis no»
casos em que for permittido (art. 429) .
YII. Propor, em juizo, as acções e promover
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 427

todas as diligencias a bem do menor, assim como


defendel-o, nos pleitos contra elle movidos, se-
gundo o disposto no art. 84.
Direito anterior — Semelhante, embora não systematizado, e
tendo a doutrina de completar as lacunas da lei (Ord. 1, 88,
§§ 23, 25, 26, 31 e 34; Teixeira de Freitas, Consolidação, ar-
tigos 286-290).
Legislação comparada — A administração do tutor não é
modelada por idéas uniformes, nas diversas legislações. Umas
são mais restrictas, outras mais amplas; umas fazem intervir
certos orgãos tutelares, que em outras não apparecem; umas
desdobram o pensamento, abrangendo casos, de que as outras
não cogitam.
Vejam-se Codigo Civil portuguez, art. 224; francez, 457-467;
italiano, 369-373; hespanhol, 269; suisso, 400-404; allemão, 1.806
e segs.; argentino, 434-449; uruguayo, 395-411; chileno; 393-404;
peruano, 522; boliviano, 238 e 239; venezuelano, 384-389; colom-
biano, 483-490; mexicano, 561 e segs.; japonez 929 e seguintes.
Para o direito romano, consultem-se: D. 27, frs. 1, 2, 3, 5,
e Cod. 5, 37.
Projectos — Esboço arts. 1.722 e segs.; Felicio dos Santos,
867, 871-875; Coelho Rodrigues, 2.262-2.265; Beviláqua, 506; Re.
visto, 519.
Bibllographia — Direito da familia, § 84, II; Lafayette, Di-
reitos de familia, § 153; Estevam de Almeida, Manual cit., ns.
376-377; Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, § 121 e
notas 223 e 226; Pinto de Toledo, Processo orphanologico, §§ 673,
676-678; Loureiro, Direito civil, § 174; Martinho Garcez, Direi-
tos de familia, § 246; Planiol, Traité, I, ns. 2.673-2.763; Wind-
scheid, Panã., §§ 440 e 441.

Observações — 1. — Entre os actos, que o tutor não pôde


praticar sem autorização do juiz, enumera o Codigo Civil, em
primeiro logar: fazer as despezas necessárias com a conservação
e o melhoramento dos bens do pupillo. Tal era a lição de La-
fayette, fundado em Borges Carneiro (Direitos de familia, § 84).
428 CODIGO CIVIL

O pagamento do imposto predial ou outro, a que esteja sujeito


o bem é despesa de conservação. O seu pagamento deve ser feito
mediante despacho do juiz, o que o direito anterior dispensava
(Pinto de Toledo, § 677) . Houve intuito de tornar mais rigo-
rosa a fiscalização da tutoria pelo juiz.
2. — O arrendamento dos bens de raiz do pupillo deve ser
feito em hasta publica, assim como a alienação de quaesquer
bens, moveis ou immoveis, excepto a dos que se destinam á alie-
nação (art. 426 IV), como os productos de qualquer exploração
e os que facilmente se deterioram.
Não é o tutor forçado a arrendar todos os immoveis do pu-
pillo. Poderá administral-os, directamente, como faria um bom
pae de familia, e terá de o fazer, quando não apparecerem pre-
tendentes idoneos.

Art. 428 — Ainda com autorização judicial,


não pôde o tutor, sob pena de nullidade:
I. Adquirir, por si ou por interposta pessoa,
por contracto particular, ou em hasta publica,
bens moveis ou de raiz, pertencentes ao menor.
II. Dispor dos bens do menor a titulo gra-
tuito .
III. Constituir-se cessionário de credito, ou
direito, contra o menor.
Direito anterior — Semelhante (Ord. 1, 88, § 29; Codigo Pe-
nal, art. 232; Teixeira de Freitas, Consolidação, arts. 291 e 292:
Carlos de Carvalho, Direito civil art. 1.669).
Legislação comparada — I. Codigo Civil argentino, art. 450,
1.°; peruano, 528, 1.°; hespanhol, 275, 4.°; francez, 450; uruguayo,
412, 1.; venezuelano, 390; colombiano, 492, 2.a parte; boliviano,
241. Para o direito romano: D. 18, 1, fr. 46; non licet ex officio
quoã administrai quis emere quid vel per se vel per aliom per-
sonam. Mexicano, £>69.
II — Codigo Civil portuguez, art. 244, 1.°; hespanhol, 275,
1.°; argentino, 450, 5.° e 6.°; mexicano, 576; uruguayo, 412,
5.° e 6.°; peruano art. 328, 5.°.
O Codigo Civil chileno, 402, prohibe as doações de bens de
raiz do pupillo; mas permitte que o juiz autorize as de moveis.
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 429

havendo causa grave, que as justifique. Os gastos de pouco valor,


com intuitos caritativos ou de recreio, são lícitos. No mesmo
sentido, dispõe o colombiano, 491.
m Codigo Civil italiano, art. 300; portuguez, 244, 3.°;
argentino, 450, 2.°; uruguayo, 412, 2.<'; peruano, 528, 2."; mexi-
cano, 572; francez, 450, in fine; Nov. 72, c. 5.
Projectos — Esboço, art. 1.794, 1.», 3.°, 5.° e 6.°; Felicio dos
Santos, 863 e 868; Coelho Rodrigues, 2.266; Beviláqua, 509; Re-
visto, 520.
Bibliographia Direito da família, § 84; Lafayette, Direi-
tos de família, § 154; Estevam de Almeida, Manual cit., 378;
Pontes de Miranda, Direito de família, § 185; Martinho Garcez,
Direito de família, § 247; Coelho da Rocha, Inst., § 375; Pinto
de Toledo, Processo orphanologico, §§ 680-681; Planiol, Traité,
I, n. 2.697; Dias Ferreira, Codigo Civil portuguez, notas aos
arts. 244 e 245.

Observações — 1. — A prohibição do n. I, funda-se na neces-


sidade de não collocar o interesse do tutor em opposição ao do
pupillo, e na de evitar que abuse da sua posição para se locuple-
tar com a fazenda, que lhe foi confiada, simulando acquisições
onerosas, ou afastando concorrentes da praça. Em uma palavra,
taes acquisições são sempre suspeitas de immoralidade; por isso
constituem crimes.
Cessa a prohibição com a tutela.
Por egual fundamento, não pode o tutor adquirir credito ou
direito contra o menor.
Quanto ás doações, é claro que o tutor não as pôde fazer,
porque não é dono. Suas faculdades não excedem as de uma sim-
ples administração.
2. — Os actos praticados contra as prohibições deste artigo
são nullos, por ser illicito o seu objecto (art. 145, n. II).

Art. 429 — Os immoveis pertencentes aos


menores só podem ser vendidos, quando houver
manifesta vantagem, e sempre em hasta publica.
43U CODiIGO CIVIL

Direito anterior — Não havia disposição expressa de lei


exigindo a hasta publica; era, porém, a praxe seguida.
Projectos — Esboço, arts. 1.730, 1.733, 1.738, e 1.739; Feli-
cio dos Santos, 861; Beviláqua, 507; Revisto, 521.
Bibiiographia — Direito da família, § 84; Lafayette, Direi-
tos de família, § 153; Pinto de Toledo, Processo orphanologico,
§ 595; Planiol, Traité, I, ns. 2.710-2.713; Estevam de Almeida,
Manual cit, n. 379.

Observações — 1. — A venda dos immoveis do menor exige


as seguintes condições;
a) Manifesta vantagem. O Projecto primitivo dizia, como o
Esboço, necessidade indeclinável ou evidente utilidade, modo de
dizer que parece mais adequado e mais comprehensivo do que
o do Codigo. Foi uma emenda do Senado que alterou assim a
redacção, que a Gamara adoptára. Teixeira de Freitas apontou,
como casos de necessidade e utilidade (Esboço, art. 1.730).
1.° As rendas do pupillo são insufficientes para fazer face ás
despesas com os seus alimentos e educação, e não ha outros bens.
2.° O pagamento de dividas, cuja solução não admitta de-
mora.
3.° A deterioração do immovel reclama essa medida.
4.° E' de pouco proveito o immovel.
5.° Para terminar o estado de communhão.
6.° a alienação foi ordenada pelo doador ou testador do im-
movel.
7.° Se fizer parte integnante de algum estabelecimento de
commercio ou industria, que deva ser alienado.
Não menciono o caso de contracto do antecessor do pupillo»
por não parecer que irapoiTte necessidade ou utilidade manifesta.
b) Autorização do juiz, segundo prescreve o art. 427, pr-»
e n. VI.
c) Representação ou assistência do tutor, segundo fôr o pu-
pillo menom ou maior de dezeseis annos (art. 426).
d) Hasta publica.
2. — As alienações, de que trata este artigo, são as volun-
tárias. As que resultam de execução judicial, ou de desapro-
priação por necessidade ou utilidade publica, independem das
condições acima expostas.
!>A TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 431
3- — As apólices da divida publica alienam-se pelo modo
particular,'que a lei estabelece (Dec. n. 6711, de 7 de Novembro
de 1907).
4. — No systema do Codigo Civil, não podem ser dados em
hypotheca os immoveis de pessôas sujeitas á tutela, não somente
porque a formalidade da hasta publica, indispensável á alienação
dos bens dos pupillos, se não coaduna com a constituição de hypo-
theca, como, ainda, porque, os tutores têm poderes limitados so-
bre os bens dos tutelados. Veja-se o vol. III, obs. 1 ao art. 756.
Contra essa opinião, que tenho por conforme á letra e ao espi-
rito do Codigo Civil, pronunciaram-se Azevedo Marques, A hypo.
theca, S. Paulo, 1919, pags. 11 e segs.; e Raul Camargo, Revista
de Direito, vol. LXI, pags. 486 e 488. Mantenho o meu modo de
vêr, e se outra coisa se tem feito, é contra o direito escripto.
Ao tratar da hypotheca (art. 756), examinarei, novamente, o
assumpto.

Art. 430 Antes de assumir a tutela, o tu-


tor declarará tudo o que lhe deva o menor, sob
pena de lii'o não poder cobrar, emquanto exerça
a tutoria, salvo provando que não conhecia o
debito, quando a assumiu.
Direito anterior — Não havia disposição correspondente.
Legislação comparada — Codigo Civil franeez, art. 451,
2." parte; italiano, 36^ e 366; hespanhol, 267; portuguez, 246;
argentino, 419; uruguayo, 378; venezuelano, 378; mexicano, 550.
Por direito romano, era obrigação do tutor declarar o que
lhe devia o pupillo; sendo exacta a declaração, estaria absolvido
do ônus tutelar; se calasse, perderia os seus direitos creditorios
(Nov. 72, c. 3 e 4).
Projectos — Esboço, art. 1.758, 4.°; Felicio dos Santos, 870;
Coalho Rodrigues. 2.253 e 2.254; Beviláqua, 510; Revisto. 523.

Observação — O credor do menor está inhibido de acceitar


a sua tutela da mesma fôrma que o devedor (art. 413, n. II).
Se o credor, chamado a exercer a tutela do menor devedor, calar
432 CODIGO CIVIL

o seu credito, até o momento de se lavrar o termo, de que trata


o art. 423, entende-se que renunciou o seu direito de exigir o
pagamento, emquanto exercer a tutoria, salvo provando-se que
não conhecia o debito, quando a assumiu.
Em face do art. 413, n. II que declara incapazes de ser tu-
tores, devendo ser exonerados, caso já exerçam a tutela, os que,
no momento de lhes ser esta deferida, tiverem que fazer valer di-
reitos contra o menor, o tutor, que não declarasse o seu credito
e tentasse fazel-o valer, deveria ser exonerado. Ha uma certa
incongruência entre os dois artigos. Pelo Projecto primitivo,
art. 490, 2.°, eram declarados incapazes de exercer a tutela, so-
mente, os que sustentassem demanda sobre o estado civil do
menor ou sobre grande parte de seus haveres. A Commissão revi-
sora do Governo, alterando este dispositivo, não o harmonizou
bem com o que transformou no art. 430 do Codigo.

Art. 431 — O tutor responde pelos prejuí-


zos, que, por negligencia, culpa ou dólo, causar
ao pupillo; mas tem direito a ser pago do que,
legalmente, despender no exercício da tutela, e,
salvo no caso do art. 412, a perceber uma gra-
.tificação por seu trabalho.
Paragrapho único. Não tendo os paes do me-
nor fixado essa gratificação, arbitral-a-á o juiz,
até dez por cento, no máximo, da renda liquida
annual dos bens administrados pelo tutor.
Direito anterior — Quanto á responsabilidade do tutor:
Ord. 1, 62, § 29; 88, §§ 49 e 50; 3, 41, § 3.°; lei n. 2.024, de 17
de Dezembro de 1908 art. 35.
Quanto á gratificação: Ord. 1, 88, § 53.
Degislação comparada — Quanto á responsabilidade: Co-
digo Civil francez, art. 450, 2.a parte; austríaco, 228; portuguez,
248; chileno, 391; argentino, 413; colombiano, 419; peruano, 529;
venezuelano, 373; boliviano, 242.
Quanto á gratificação: hespanhol, 276; portuguez, 247; chi-
leno, 414; austríaco, 266 e 267; argentino, 451; colombiano, 503;
DA TUTELA, DA OURATELA E DA AUSÊNCIA
433
umguayo, 413; mexicano, 585 e 589; peruano, 529; venezue-
lano, 395.
Por direito francez, a tutela é gratuita. Também o é pelo
direito allemão, mas o tribunal de tutelas pôde conceder uma
indemmzaçao ao tutor e ao protutor (Codigo Civil, art. 1.836).
Projectos — Esboço, arts. 1.722, 1.751, 1.758, n. 17; Felicio
dos Santos, 876 e 879; Beviláqua, 511 e 512; Revisto, 524.
Biblxographia — Direito da família, §§ 84 e 87; Lafayette
Direitos de. família, §§ 155 e 160; Estevam de Almeida, Manual
cit", ns. 382-383; Pereira de Carvalho, Processo orphanologioo,
§ 121, com a nota, 225 e 158 com a Dota 309; Pinto de Toledo'
Processo orphanologico, §§ 679, 699 e 700; Loureiro, Direito civil
§ 204; Planiol, Traité, I, ns. 2.641-2.646.

bservaçoes — 1. — Como todo aquelle que administra bens


alheios, o tutor, que deve gerir a tutela como um bom pae de
família, responde pelos prejuízos, que causar ao pupillo por
culpa ou dólo. O Codigo menciona, também, a negligenbia, que
e modalidade da culpa. Foi accrescimo inútil introduzido pela
Commissão do Governo.
2. — Ainda que seja munus publico, a tutela não é gratuita
entre nós, como é entre outros povos. O direito anterior remune-
rava o tutor com cinco por cento da renda liquida annual dos
bens por elle administrados. Denominava-se vintena essa grati-
fiaçao, por ser a vegesima parte dos rendimentos do menor
Mas não devia exceder de 150$000 por anno.
O Codigo no intuito de mais interessar o tutor na adminis-
tração dos bens do pupillo, augmentou a porcentagem, sem aquel-
la limitação. Se, porém, o menor é indigente, a tutoria se torna
gratuita.

SECÇÃO VI
Dos bens de orphãos

Art. 432 Os tutores não podem conservar


em seu poder dinheiros de seus tutelados, além
do necessário, para as despezas ordinárias com
Beviláqua — Codigo Civil — 2,° vol.
23
434 CODXGO CIVIL

o seu sustento, a sua educação, e a administra-


ção de seus bens.
§ 1.° Os objectos de ouro, prata, pedras pre-
ciosas e moveis desnecessários, serão vendidos
em basta publica, e seti producto convertido em
titulos de responsabilidade da União, ou dos
Estados, recolhidos ás Caixas Econômicas Fe-
deraes, ou applicado na acquisição de immoveis,
conforme for determinado pelo juiz. O mesmo
destino terá o dinheiro proveniente de qualquer
outra procedência.
§ 2.° Os tutores respondem pela demora na
applicação dos valores acima ditos, pagando os
juros legaes, desde o dia, em que lhes deveriam
dar esse destino, o que não os exime da obri-
gação, que o juiz fará effectiva, da referida ap-
plicação.

Direito anterior — Os objectos preciosos e o dinheiro eram


recolhidos ao Cofre dos orphãos. O dinheiro considerava-se em-
prestado á administração publica (Ord. 1, 62, § 31; 88, §§ 31, 34
e 35; Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.661; Teixeira
de Freitas, Consolidação, arts. 294 e 295).
Legislação comparada — O direito romano ordenava que o
tutor empregasse o dinheiro do pupillo, quer o encontrado ao
assumir a tutela, quer o advindo no curso da/ sua gestão. Dava
para cumprimento dessa obrigação, no primeiro caso, seis me
zes, e, no segundo, um; depois desse prazo começava a pagai
juros da quantia não empregada (D. 26 7, fls. 7, § 11, initio-
e 15). O Codigo Civil francez, arts..455 e 456, quer que o conselho
de familia determine, positivamente, a somma além da qual o
tutor é obrigado a collocar os rendimentos do pupillo, sob pena
de pagar juros. Para isso tem o tutor o prazo de seis mezes. Os
juros correrão, depois desse prazo, sobre qualquer quantia, se
tutor não tiver provocado o conselho de familia para resolvei so
bre este objecto. O Codigo Civil italiano actual, art. 367, man-
da depositar os titulos e valores do pupillo em estabelecimento
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 435
de credito designado pelo juiz tutelar. Consultem-se, ainda- o
Codigo Civil suisso, arts. 399-402 (os objectos preciosos são de-
positados, os moveis vendidos e o dinheiro collocado); hespanhol,
266; chileno, 406; uruguayo, 394; venezuelano, 382 e 388- me-
xicano, 557.
Projectos — EsDoço art. 1.758, 8.°, e 1.763; Felicio dos San-
tos, 866; Coelho Rodrigues, 2.255; Beviláqua, 513 e 514, Revisto,
525. Este artigo proveiu de uma emenda do Senado, que alterou
o systema do Projecto enviado pela Gamara, no qual era man-
tido o direito anterior.
Bibliographia — Direito da família, § 85; Lafayette, Direi-
6
r!amÍlÍa
§TU, Pinto
§ 156: MAETmH0
Gabuez, Direito
de Toledo, Processo orphanologico, da Planiol
§ 596; família,
Tiaité, I, ns. 2.688-2.696; Huc, Commentaire, III, ns. 413- 42i3'

Observação — O Codigo extinguiu o Cofre dos Orphãos, e


ordena a venda em hasta publica, dos objectos preciosos, para
due seja o producto, segundo o juiz determinar: a) convertido
em títulos de responsabilidade da União ou dos Estados- ô) ou
recolhido ás Caixas Econômicas Federaes; c) ou applicado na
Requisição de immoveis
Todo o dinheiro do orphão, deduzido o necessário para as
despesas ordinárias com a sua pessoa e a administração dos seus
bens terá esse mesmo destino que, aliás já era, anteriormente,
dado aos valores retirados do Cofre dos orphãos.
A obrigação, imposta ao tutor, de pagar os juros legaes dos
valores pertencentes aos orphãos, desde o dia em que os devia
aphcar, é innovação do Codigo, que se inspirou na legislação es-
rangeira, para assim prescrever. Acertada providencia, porém
foi não se contentar o Codigo Civil com essa responsabilidadJ

valores111"08' 0rdenand0 a0 juÍZ faea


^tiva e applicação dos

. Art. 433 ^ Os valores, que existirem nas


Caixas Econômicas Federaes, na fôrma do ar-
igo anterior, não se poderão retirar, senão me-
diante ordem do juiz, e somente:
I. Para as despezas com o sustento e a edu-
436 CODiXGO CIVIL

cação do pupillo, ou a administração dos seus


bens (art. 427, n. I).
II. Para se comprarem bens de raiz e titulos
da divida publica da União ou dos Estados.
III. Para se empregarem em conformidade
com o disposto por quem os bouver doado ou
deixado.
IV. Para se entregarem aos orpbãos, quan-
do emancipados ou maiores, ou, mortos elles,
aos seus herdeiros.,
Direito anterior — Semelhante (Ord. 1, 88, §§ 35 e 37; De-
creto de 27 de Fevereiro de 1904; Teixeira de Freitas, Consoli-
dação., arts. 2196 e 297; Carlos de Carvalho, Direito civil, ar-
tigo 1.662).
Projectos — Esboço, arts. 1.764 e 1.765; Beviláqua, 515; Re-
visto, 526.
Bibliographia — Direito da família, § 85; Laeayette, Direi-
tos de família, § 156; Carlos Olympio Barreto, Legislação de
Fazenda, vb. Caixas Econômicas e Cofres dos orphãos; Este-
vam de Almeida, Manual cit., n. 388.

Observação — Pelo systema do Codigo, extincto o Gófre dos


orphãos, os valores dos orphãos têm o destino declarado no ar-
tigo antecedente. Os que estiverem recolhidos ás Caixas Eco-
nômicas, somente poderão ser retirados, mediante ordem do juiz,
para os fins declarados neste artigo. O regulamento das Caixas
Econômicas (Dec. n. 9-738, de 2 de Abril de 1887), art. 7.°, de-
clara que o levantamento dos depósitos pertencentes a menor
se conceda por simples despacho em requerimento da parte inte-
ressada ou por officio, dispensando o alvará, que apenas servia
para onerar o menor. Como, porém, apezar desse dispositivo,
continuasse a pratica de se expedirem alvarás, o Ministro da
Justiça, em aviso de 25 de Outubro de 1901, chamou a attenção
dos Juizes do Districto Federal para esse preceito, cuja conve-
niência é incontestável.
DA TUTEXA, DA CXJKATELA E DA AUSÊNCIA
437

. SECÇAO Vil
Da prestação de contas da tutela

Art. 434 — Os tutores, embora o contrario


dispuzessem os paes dos tutelados, são obriga-
dos a prestar contas da sua administração.

Direito anterior — O mesmo (Ord. 1, 62, § 37).


Degislação comparada — D. 27, 3, fr. 1, § 3."; Codigo Civil
francez, art. 469; italiano, 378; portuguez, 249; hespanhol.
279-281; allpmão, 1.840; argentino, 458; uruguayo, 415; chileno,
415; venezuelano, 400; colombiano, 504; mexicano, 590 e 600;
suisso, 413; peruano, 530.
Projectos — Esboço, arts. 1.796-1.799; Felicio dos Santos,
885; Coelho Rodrigues, 2.268 e 2.270: Beviláqua. 516: Re-
visto, 527.
Bibliographia — Direito da familia, § 87; Lafayette, Direi.
ios de familia, § 160; S. Vampeé, Manual, I, § 223, Bstevam de
Almeida, Manual cit, ns. 389 e 390; Mariinho Garcez, § 252;
Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, §§ 152 e segs.;
Pinto de Toledo, Processo orphanologico, §§ 760 e segs,; Coelho
da Rocha, Inst., § 377; Planiol, Traité, I, ns. 2.768-2.773; . Huc,
Commentaire, II, ns. 450-464; Laueent, Gours, I, ns. 406-413;
Aubry et Rau, Cours, I, § 121; Endemann, Lehrhuch, I, § 215;
Roth, System, 11, § 193; Chironi, Ist-, II, § 424; Liz Teixeira,
Curso, I, tit. XI, § 16; Penichet y Lugo, La tutela, cap. X.

Observação — Para melhor fiscalização da administração do


tutor, impõe-lhe o Codigo a obrigação de prestar contas: de dois
em dois annos; quando, por qualquer motivo termina a tutela;
e desde que se apresente um motivo de suspeição.
As contas são prestadas perante o juiz, que as examina e
julga.
Se o tutor não comparecer, serão tomadas á sua revelia.
Deve fazer-se carga ao tutor, como receita: 1.°, de todos os
bens, que lhe forem entregues com accruscimos dos seus fructos e
43F COWGO CIVIL

rendimentos; 2.°, dos valores, em numerário ou jóias, que tiverem


ficado em seu poder; 3.°, dos alcances de suas contas anteriores,
accrescidos dos juros legaes; das soldadas do menor, cujos ser-
viços estejam locados; 4.° das perdas e damnos de que tenha
culpa e que haja confessado. Se elle impugna as pefdas e dam-
nos, devem ser pedidos por acção ordinária.
Devem ser abonadas ao tutor, como ãespezas; l.o, os gas-
tos com a conservação, melhoramento e utilização dos bens do
pupillo; 2.°, os motivados pelo sustento e educação do orphão;
3.°, o prêmio em remuneração de seu trabalho (art. 431). O
art. 439 resume estas duas classes numa só: todas as despesas
justificadas e reconhecidamente proveitosas ao menor.

Art. 435 — No fim de cada armo de adminis-


tração, os tutores submetterão ao juiz o balanço
respectivo, que, depois de approvado, se anne-
xará aos autos do inventario.
Direito anterior — Não havia esta exigência.

Degislação comparada — Codigo Civil italiano, art. 379.


O Codigo Civil hespanhol, 279, exige contas annuaes da gestão
do tutor, parente collateral ou extranho, a que não tiverem sido
consignados os fructos por alimentos. O venezuelano, art. • 401,
consagra disposição semelhante á do italiano.
Vejam-se ainda, francez, art. 470; uruguayo, 416.
Projectos — Esboço, art. 1.758, n. 16, e 1.167; Coelho Rodri-
gues, 2.269; Beviláqua, 517; Revisto, 528.

Observação — Este balanço annual não é a prestação de con-


tas com as formalidades exigidas pelo art. 436. E' um simples
resumo da receita e da despesa da tutela, para que o juiz possa
ir acompanhando, com regularidade, a gestão dos bens do pu-
pillo.
da tutela, da oüeatela e da ausência 439

Art. 436 — Os tutores prestarão contas, de


dois em dois annos, e bem assim quando, por
qualquer motivo, deixarem o exercicio da tu-
tela, ou toda vez que o juiz o houver por con-
veniente.
Paragrapho único. As contas serão prestadas
em juizo, e julgadas depois de audiência dos in-
teressados; recolhendo o tutor, immediatamente,
em Caixas Econômicas, os saldos, ou adquirin-
do bens immoveis, ou titulos da divida publica.
Direito anterior — Os tutores dativos e as avós prestavam'
contas de dois em dois annos; os testamentarios e os outros tu-
tores legítimos, de quatro em quatro. Terminada a tutela, por
qualquer razão, .todos prestavam as suas contas (Ord. 1, 62, § 37;
1, 88, §§ 49 e 50; Teixeira de Ykkitas, Consolidação, arts. 301
e 302).
Legislação comparada — Vejam-se Codigo Civil francez, ar-
tigos 470 e 471; italiano, 378; portuguez, 249; suisso 453; ar-
gentino, 459 e 460; chileno, 415 e 416; uruguayo, 418 e 423-425;
boliviano, 244 e 245; colombiano, 504 e 505; mexicano, 590; peru-
ano, 530 e 532.
Projectos — Esboço, arts. 1.758, n. 16, 1.767 e 1.796-1.809;
Felicio dos Santos, 885; Beviláqua, 518; Revisto, 529 (é deste
ultimo Projecto o artigo, que passou para o Codigo; os outros
dispunham differentemente).

Observação — O juiz competente para conhecer das contas


da tutela é o de orphãos, onde esta se exercer, o que não preju-
dica a competência de qualquer outro juizo privativo.
As leis do processo regularão a fôrma da prestação judicial
das contas da tutela, que deverão ser documentadas.
Se houver saldo a favor do tutor, finda a tutela, a sentença
se executará da forma normal. Se contra elle, deverá ser inti-
mado para effectuan o pagamento do alcance. Não recolhendo a
quantia devida, nem tendo bens para o pagamento delia, quando
executado, poderá incorrer nas penas do art. 232 do Codigo Penal.
440 CODIGO CIVIL

Porém é para a segurança da sua gestlio que os seus bens estão


hypothecados, ou que elle presta fiança (arts. 418 e 419).

Art. 437 — Finda a tutela pela emancipação


ou maioridade, a quitação do menor não produ-
zirá effeito, antes de approvadas as contas pelo
juiz, subsistindo inteira, até então, a responsabi-
lidade do tutor.
Direito anterior — Não havia direito expresso.
Legislação comparada — A fonte do artigo foi o Codigo Ci-
vil italiano de 1.865, art. 307, que aliás, não dispunha de modo
idêntico. Consultem-se: Codigo Civil francez, 472; portuguez, 257;
argentino, 462 e 465; uruguayo, 422 e 426; hespanhol, 281 e 285;
boliviano, 246; venezuelano, 404; peruano, 536.
Para o direito romano, contrario ao disposto no artigo:
Cod. 2, 4, I. 5.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 887; Coelho Rodrigues,
2.273; Beviláqua, 519; Revisto, 530.

Observação — Tendo o pupillo áttingido á maioridade ou


obtido emancipação, adquire capacidade plena. Consequente-
mente, poderia dar quitação valida ao ex-tutor; porém, como
essa quitação se refere a actos praticados durante a sua inca-
pacidade, e, para evitar o inconveniente do ascendente do tutor
sobre o pupillo, prolongando-se depois de cessar a tutela, não se
o dispensa de prestar as suas contas, perante a autoridade com-
petente.
O Codigo Civil do Perú, art. 536, in fine, declara sem effeito
as disposições testamentarias do pupillo em favor do tutor, se
este não tiver prestado contas da tutela.
DA TUTELA, DA OURATELA E DA AUSÊNCIA 441

Art. 438 — Nos casos de morte, ausência ou


interdicção do tutor, as contas serão prestadas
por seus lierdeiros ou representantes.
Direito anterior — Assim se entendia, com fundamento nos
princípios geraes, e na Ord. 3, 41, § 9.° (Loureiro, Direito Civil,
§ 224; Coelho da Rocha, Inst., § 376; Pinto de Toledo, Processo
orphanologico, § 771).
Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 256
(fonte do artigo); mexicano, 603.
Projectos — Esboço, art. 1.727; Felicio dos Santos, 888; Be-
viláqua, 520; Revisto, 531.

Observação — A funcção tutelar é pessoal, não se trans-


rnitte; mas transmitte-se a obrigação de restituir os bens con-
fiados ao tutor, com o demonstrativo da gestão, para entrega dos
saldos verificados. Por isso, no caso de morte do tutor, ou seus
herdeiros são obrigados á prestação das contas da tutela por
elle exencida.
Se o tutor é declarado ausente ou interdicto, não ha trans-
missão de obrigação, como no caso de herança; mas o repre-
sentante do tutor, estando investido na administração do seu
patrimônio, sujeita-se, por esse mesmo facto, a dar contas dos
bens alheios, que o interdicto ou ausente administrava.

Art. 439 — Serão levadas a credito do tutor


todas as despesas justificadas e reconfiecida-
mente proveitosas ao menor.
Direito anterior — Era norma assente.
Legislação comparada — Cod. 5, 37, 1. 3; Codigo Civil fran-
cez, art. 471, ultima parte; portuguez, 252; uruguayo, 425; pe-
ruano, 353; mexicano, 597; boliviano, 245.
Projectos — Esboço, art. 1.802 (expõe com pormenores a
forma da prestação de contas); Coelho Rodrigues, 2.271, § 2.°;
Beviláqua, 521; Revisto, 532.
442 CODIGO CIVIL

Observação — Yeja-se o que ficou dito no commentario ao


art. 434.
Despesas proveitosas são as feitas com o sustento e edu-
cação do menor, bem como com a administração de seus bens.
Dentre essas, algumas poderão constituir desperdícios, quando
excessivas ou inúteis.
A justificação consiste na demonstração documentada das
despesas feitas.

Art. 440 — As despesas com a prestação das


contas serão pagas pelo tutelado.
Direito anterior — Era norma seguida.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 471;
hespanhol, 284; argentino, 462; venezuelano, 403.
Projectos — Esboço, art. 1.802; Coelho Rodrigues, 2.271,
§ 1.°; Beviláqua, 522; Revisto, 533,

Observação — A prestação de. contas é instituída em bene-


ficio do menor, somente a elle aproveita. Elle é quem deve sup-
portar as despesas, que ella determina.
Trata-se aqui das despesas com a prestação normal de con-
tas, e não de litígio judiciário, que ellas provoquem; porque a3
custas do processo se pagam, segundo ordena a sentença.

Art. 441 — O alcance do tutor, bem como o


saldo contra o tutelado, vencerão juros, desde
o julgamento definitivo das contas.
Direito anterior — Differente (Ord. 4, 102, § 9.°).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 474; ita-
liano, 384; hespanhol, 286; chileno, 424; colombiano, 513; poi'-
tuguez, 253 e 254; argentino, 466; peruano, 587.
DA TUTELA, DA CÚRATELA E' DA " AUSÊNCIA 443
Direito romano — D. 26, 7, fr. 7, § 15; 27, 4, fr. 3, § 4.° Usu-
ras utrum tamdlu consequetur tutor, quamãiu tutor est. an etiam
post finitam tutelam viãemus... Et magis est ut, quoaã ei reããa-
tur pecunia, consequatur; nec enim ãebet ei sterilis esse pecunia.
Projectos — Esboço, arts. 1.803 e 1.804; Coelho Rodriguez,
i2-274; Beviláqua, 52i3; Revisto, 534.

Observação — Desappareceu a medida violenta da Ord. 4,


102, § 9.°, a prisão do tutor, se dentro de nove dias não entrasse
com o alcance julgado por sentença. Se o tutor não entrar com
o alcance, a sua divida corre juros, e poderá ser processado pelo
crime previsto no art. 232 do Codigo Penal.
O saldo contra o menor significa despesa feita pelo tutor,
e é justo que se lhe paguem juros compensatórios do capital des-
pendido.

SECQÂO YIII

Da cessação da tutela

Art. 442 — Cessa a condição de pnpillo:


I. Com a maioridade ou a emancipação do
menor.
II. Caindo o menor sob o pátrio poder, no
caso de legitimação, reconhecimento ou adopção.

Direito anterior — Semelhante, salvo quanto ao reconheci-


mento, que não gerava pátrio poder (Carlos de Carvalho, Direito
civil, art 1.670), e a certas restrições postas á capacidade do
pupillo.
Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 278;
argentino, 455; uruguayo, 419; peruano, 539; mexicano, 606.
Projectos — Esboço, art. 1.773; Felicio dos Santos, 891, Be.
vilaqua, 524; Revisto, 535.
444 CÜDiIGO CIVIL

Bibliographia — Direita da familia, •§ 86; Lafayette, Direi-


tos de familia § 158; Bstevajm de Almeida, Manual cit, ns. 399
e 400; Coelho da Rocha, Inst., § 376; Peeeika de Carvalho, Pro-
cesso orphanologico, §§ 164 e segs.; Pinto de Toledo, Processo
orphanologico, §§ 800 e segs.; Planiol, Traité, I, ns. 2.764-2.767;
Aubry et Rau, Gours, I, §§ 118-120; Penichet y Lugo, La tutela,
ao art. 278; Endemann, Lehrbuch, § 220, 4.

Observação — A maioridade torna o indivíduo apto para


exercer por si todos os actos da vida civil (art. 9:°, pr.). A eman-
cipação, pelos modos estabelecidos no art. 9.°, paragrapho único,
também faz cessar a incapacidade, que era a causa da tutela.
Uma e outra extinguem a tutoria por causas provenientes do
tutelado. Pela Constituição, art. 117, os maiores de 18 annos,
alistados como eleitores, adquirem a capacidade civil.
Se o menor é legitimado, reconhecido ou adoptado, já não
necessita da defesa ou protecção tutelar, porque tem a paterna.
Cessa a autoridade do tutor, que é subsidiaria; institue-se a dos
paes, que é a primaria.

Art. 443 — Cessam as funcções do tutor:


I. Expirando o termo, em que era obrigado
a servir (art. 444).
II. Sobrevindo excusa legitima (arts. 414
a 416).
III. Sendo removido (arts. 413 e 445 .
Direito anterior — O mesmo, salvo quanto á avó, que dei-
xava a tutoria, se contrahisse matrimônio (Carlos de Carvalho,
Direito civil, art. 1.670, 11)..
Degislaçâo comparada — Codigo Civil argentino, art. 455;
uruguayo, 419; peruano, 355, ns. 3-8.
Projectos — Esboço, art. 1.77^; Beviláqua, 525; Revisto, 536.
DA TUTELA, DA CXIRATELA E DA AUSÊNCIA 445

Art. 444 — Os tutores são obrigados a servir,


por espaço de dois annos.
Paragrapbo único. Podem, porém, continuar
além desse prazo, no exercicio da tutela, se o
quizerem, e o juiz tiver por conveniente ao
menor.

Direito anterior — Os tutores atilianos ou dativos serviam


por dois annos (Ord. 4, 102, § 9.°). Em relação aos testamentarios
e aos legítimos, não havia prazo determinado.
Degislação comparada — Codigo Civil suisso, art. 415. No
fim de dois annos continúa a tutela, por confirmação do juiz;
depois de quatro annos, o tutor pode excusar-se
Projectos — Felicio dos Santos, art. 839, quanto ao dativo;
Beviláqua, 256; Revisto, 537.

Observação — A tutela é um ônus; não deve recair, força-


damente, sobre a mesma pessôa, por tempo indefinido. O direito
anterior, entretanto, apenas estabelecia prazo para a duração da
tutela dativa. Os tutores testamentarios, e legítimos permaneciam
na administração, emquanto bem servissem, admittindo-se, po-
rém, que os segundos, depois de um certo tempo, requeressem
dispensa do incommodo da tutela, afim de que outros parentes
nella também servissem.
O Codigo adoptou systema diverso. A tutoria é imposta, uni-
formemente, a todos os tutores, durante dois annos, sejam no-
meados pelos paes, ou pelo juiz, ou chamados pela lei. No fim'
desse tempo, poderão continuar, se quizerem, e se o juiz tiver
por conveniente ao menor.

Art. 445 — Será destituído o tutor, quando


negligente, prevaricador ou incurso em incapa-
cidade.
446 CODIGO CIVIL

Direito anterior.— 0 mesmo (Ord. 1, 88, § 50; 4, 102, §§ 1.°:


3.° e 9.°; Teixeira de Freitas, Consolidação, arts. 303 e 304;
Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.673).
Degislação comparada — Inst. 1, 26, §§ 5.° e 12; D. 26, 10,
fr. 3, § 18; Codigo Civil francez, art. 444; italiano, 381 e 382;
portuguez, 235 e 236; hespaniiol, 238; argentino, 457; chileno,
539; venezuelano, 358. V. também suisso, 441-450.
Projectos — Esboço, arts. 1.778 e 1.788; Felicio dos Santos,
848-851; Coelho Rodrigues, 2.235; Beviláqua, 527; Revisto, 538-

Observações — 1. — O juiz deve exigir que o tutor cumpra,


zelosamente, os seus deveres, quer em relação á pessoa do me-
nor, quer em relação aos seus bens. O incapaz, o perdulário, o
infiel, o que maltrata o pupillo, não o educa ou o perverte, deve
ser destituído.
A destituição pôde ser decretada ex-officio ou pedida, quer
pelo Curador geral, quer pon algum parente ou interessado-
Por direito romano, a todos, inclusive ás mulheres, cabia o di-
reito de pedir a remoção do tutor. No direito pátrio anterior,
qualquer pessoa do povo podia requerer a remoção do tutor, opi-
nava Pinto de Toledo, Processo orphanologico, § 693. Mas, extin-
ctas as acções populares, deve limitar-se o direito ás pessoas que
acabam de ser indicadas.
2. — A incapacidade, a que se refere este artigo, é qualquer
das mencionadas no art. 413.
2.a — Art. 9.° do Dec. n. 16.272, de 20 de Dezembro de 1923
(Codigo dos menores, art. 37): Dá-se a destituição da tutela:
I. Nos casos do art. 413, ns. IV e V e art. 445 do Codigo Civil-
II. Nos casos do art. 273 e 277 do Codigo Penal. III. Em qual-
quer dos casos de abandono figurados no art. 3.°, § 1.° da lei
n. 4.242, de 5 de Janeiro de 1921
3. — Destituído o tutor, será nomeado outro. O destituído
prestará as suas contas, e poderá ser processado criminalmente,
segundo no caso couber. Más, sendo legitimo, não perderá o di-
reito á herança, como acontecia no direito anterior, segundo a
interpretação dada á Ord. 4, 102, § 6.°. Vejam-se as notas de Cân-
dido Mendes, Codigo Philippino, ao paragrapho citado.
DA tutela, da cukatela e da ausência 447

CAPITULO II
Da curatela

SECÇÃO I
Disposições geraes.
Art. 446 — Estão sujeitos á curatela:
I. Os loucos de todo o genero (arts. 448,
n. I, 450 e 457).
II. Os surdos-mudos, sem educação, que os
liabilite a enunciar, precisamente, a sua vontade
(arts. 451 e 456) .
III. Os prodigos (arts. 459 e 461).
Direito anterior — A Ord. 4, 103, refere-se aos prodigos e
aos mantecaptos; porém entendia-se que os surdos-mudos de nas-
cença, não educados, deviam também ter curadores.
Legislação comparada — I. Inst., 1, 23, §§ 3.° e 4.°; Ccdigo
Civil francez, art. 489; portuguez, 314; hespanhol, 200, 2.°; suisso,
369; allemão, 6, 1.°, e 1.896; argentino, 468 e 469; uruguayo, 432;
chileno, 342; boliviano, 258; austriaco, 270; venezuelano, 420;
colombiano, 432; peruano, 555, ns. I.0 e 2.°.
II. Codigo Civil portuguez, 337; hespanhol, 200, 2.°; allemão,
6, 1.°, e 1.8'96; chileno, 342; argentino, 468 e 469; uruguayo,
432; austriaco, 270; colombiano, 432; peruano, 555, n. 3.°.
III. D. 27, 10, fr. 1; Codigo Civil portuguez, 340; hespt^
nhol, 200, 3.°; allemão, 6, 2.°; chileno, 342; austriaco, 270; colom-
biano, 432. Vejam-se ainda: francez, 513; italiano, 339; venezue-
lano, 438; peruano, 555, 4.°.
Projectos — Esboço, art. 1.811; Felicio dos Santos, 904-906.
931-936; Coelho Rodrigues, 2,289 e 2.300; Beviláqua, 528; Re-
visto, 539.
Bibliographia — Direito da familia, § 89; Lafayette, Direi,
tos de familia, §§ 161-166; Estevam de Almeida, Manual cit, nú-
meros 406-470; Martinho Garcez, Direitos de familia, § 264;
Coelho da Rocha, § 379; Pereira de Carvalho, Processo oryha-
448 CODIGO CIV1X

nologico §§ 149 e segs.; Pinto de Toledo, Processo orphanologico,


§§ 613 e segs.; Loureiro, Direito civil, §§ 212 e segs.; Teixeira
de Freitas, Consolidação, arís. 311 e segs.; S. Vampré, Manual,
I, §§ 224- 229; Almachio Diniz, Direiío (Za/amiWa, § 67; Pontes de
Miranda, Direito de família, §§ 193 e seg.; Liz Teixeira, Curso,
I, tit. XII; Nina Rodrigues, O alienacto no direito civil hrasi-
leiro; Planiol, Traité, I, ns. 2.846 e segs.; Planiol et Ripert,
I. ns. 659 e segs.; Huc, Gommentaire, III, ns. 502 e segs ; Aubry
et Rau, Cours, I, §§ 124 e segs.; Laurent, Cours, I, ns. 431 e se-
guintes; Champeau e Uribe, Derecho civil colombiano, I, nú-
meros 865 e segs.; Rivarola, Derecho civil argentino. I. nú-
meros 355 e segs.; Antonio Drummond, Dos loucos de todo o gê-
nero, na Revista Jurídica, XI, pags. 36-40, e 239-242; Raul Ca-
margo, Rev. cit., XXVII, pags. 321 e segs.; Martinho Garcez
Filho, Direito de família, II, p. 269 e segs,

Observações — 1. — Curatela é o encargo publico, conferido,


por lei, a alguém, para dirigir a pessoa e administrar os bens
dos maiores, que por si não possam fazel-o.
Veja-se o que sobre loucos de todo o genero e surdos-mudos
ficou dito nas observações 4 a 8, sobre o art. 5.°, assim como o
que a respeito dos prodigos expõem os commentarios 4 e 5, ao
art. 6.°
2- A curadoria differe da tutela, em que recáe sobre pes-
soas maiores, ou ainda não nascidas, ou somente se refere aos
bens. Modifica-se de accôrdo com as suas diversas modalidades
e segundo a necessidade da protecção devida ao curatelado.
3. — Curador geral de orphãos é o membro do Ministério Pu-
blico, a quem incumbe intervir, por parte dos orphãos e inter-
dictos, nos termos do processo orphanologico. A essas funcções
se accrescenta, ainda, a de velar pelos bens dos ausentes, onde
não ha curadoria privativa de ausente
Curador á lide é o nomeado, especialmente para determinado
processo.

i
Art. 447 — A interdicção deve ser promo-
vida :
DA TUTELA, DA CURA TELA E DA AUSÊNCIA 443

I. Pelo pae, mãe ou tutor.


II. Pelo cônjuge, ou algum parente pró-
ximo.
III. Pelo Ministério Publico.

Direito anterior — Era doutrina seguida.


Degislação comparada — D. 26, 5, fr. 12, § 2.°; 24, 3, fr. 22,
guez, 315 e 316; chileno, 459; argentino, 470; uruguayo, 433; bo-
liviano, 259; venezuelano, 422; colombiano, 459. V. também hes--
panhol, 214.
Projectos — Esboço, arts. 1.814 e 1.815; Felicio dos Santos,
908; Coelho Rodrigues, 2.291; Beviláqua, 529; Revisto, 540.

Observações — 1. — Interãicção é o acto pelo qual o juiz


retira, ao alienado, ao surdo-mudo ou ao prodigo, a administra-
ção e a livre disposição de seus bens. Deve ser decretada por
sentença, depois de verificada a necessidade da medida (art.
450). Na mesma sentença, em que decretar a interdição, deverá
o juiz nomear o curador, que represente o interdicto e lhe admi-
nistre os bens.
2
- — O pae, ou a mãe, no exercicio do pátrio poder, requererá
ao juiz interdicção, para que a sua autoridade se amolde á nova
Situação do filho; mas a curatela do progenitor será, simples-,
mente, a continuação do pátrio poder, exercendo elle, sobre o1
filho maior, os mesmos direitos e tendo os mesmos deveres, que
a lei lhe attribue em relação ao menor.
Veja-se o art. 453.

Art. 448 — O Ministério Publico só promo-


verá a interdicção:
I. No caso de loucura furiosa.
II. Se não existir, ou não promover a inter-
hevilaqua — Codigo Civil — 2.° vol. 29
,450 COUIGO CIVIL

dicção alguma das pessoas designadas no artigo


antecedentes, ns. I e II.
III. Se, existindo, forem menores ou inca-
pazes.
Direito anterior — Não havia disposição correspondente.
Degislação comparada — Codigo Civil francez, art. 491; por-
tuguez, 316; hespanhol, 215.
Projectos — Beviláqua, art. 350; Revisto, 541.

Observações — 1. — Quer o Codigo Civil que o cuidado com


os incapazes seja uma funcção da família, embora sob a vigi-
lância e a autoridade do juiz. Por isso, só permitte que o Mi-
nistério Publico requeira a interdicção do alienado: a) quando
a loucura fôr furiosa; porque, então, a tranquillidade publica
estará perturbada ou em perigo de o ser; &) quando a família
fôr omissa no cumprimento do dever, que lhe impõe o artigo an-
tecedente; c) quando não existirem as pessoas, a quem a lei
attribue o dever de promover a interdicção; ã) ou quando exis-
tindo, forem incapazes. Em todos esses casos a interdicção é
uma necessidade de ordem social, e a sociedade a promove pelo
orgão do Ministério Publico.
2. — O Dec. n. 5.148 A, de 10 de Janeiro de 1927, reorganizou
a assistência a psychopathas, no Districto Federal.

Art. 449 — Nos casos, em que a interdicção


fôr promovida pelo Ministério Publico, o juiz
nomeará defensor ao supposto incapaz. Nos de-
mais casos, o Ministério Publico será o defensor.
Direito anterior — Silencioso.
Degislação comparada — Codigo Civil portuguez, ants. 315 e
316, paragrapho unleo; hespanhol, 215, ultima parte.
Projectos — Beviláqua, art. 531; Revisto, 512.
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 451

Art. 450 — Antes de se pronunciar ácerca da


interdicção, examinará, pessoalmente, o juiz o
arguido de incapacidade, ouvindo profissionaes.
Direito anterior — O mesmo, por desenvolvimento da Ord.
4, 103, pr.; Carlos de Carvalho, Direito civil, art. 1.684.
Liegislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 317;
hespanhol, 216; chileno, 460; uruguayo, 435; francez, 496; co-
lombiano, £>49; venezuelano, 423.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.292; Beviláqua, 532;
Revisto, 543.

Observação — O processo da interdicção poderá variar em


cautelas assecuratorias; duas, porém, estabelece o Codigo Civil:
o exame pessoal, pelo juiz, daquelle que lhe apresentam como
louco, surdo-mudo ou prodigo; e o parecer de profissionaes.
A audiência de profissionaes será fácil nas cidades; mas poderá
trazer embaraços no interior. Attendendo a essa circumstancia,
•accrescentára o Projecto primitivo: "sempre que fôr possível".

Art. 451 — Pronunciada a interdicção do


surdo-mudo, o juiz assignará, segundo o des-
envolvimento mental do interdicto, os limites da
curatela.
Direito anterior — Não havia disposição correspondente,
liegislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 338
(fonte do artigo). O austríaco submette á tutela somente os
surdos-mudos mentecaptos (Bloedsinnige),
Projectos — Felicio dos Santos, art. 932; Beviláqua, 533; Re-
visto, 544.

Observação — Os surdos-mudos não têm todos o mesmo gráo


■ãe inferioridade psychica e a sua enfermidade pôde resultar de
causas differentes. Além disso, são susceptíveis de educação, que
452 CODIGO CIVIL

os põe em communicação com a sociedade. Attendendo a estas


circumstancias, e, principalmente, ao facto da educação especial,
que, tornando o surdo-mudo apto a se fazer comprehender, lhe
dá capacidade civil, quer o Codigo que se ajuste a autoridade
do curador ás necessidades do curatelado, e, sendo possível, pro-
mova o curador a acquisição da capacidade plena do surdo-mudo.

Art. 452 — A sentença, qne declara a inter-


dicção, produz effeitos, desde logo, embora su-
jeita a recurso.
Direito anterior — Não havia disposição de lei sobre este
ponto.
Degislação comparada — V. Codigo Civil francez, arts. 502
e 503; portuguez, 334 e 335; argentino, 472 e 473; uruguayo,
438; boliviano, 263; venezuelano, 425; chileno, 465; colom-
biano, 533.
Para o direito romano, vejam-se: Inst. 3, 19, § 8.°, e Cod. 5,
70, 1, 3.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 915 e 916; Coelho Ro-
drigues, 2.297; Beviláqua, 535; Revisto, 546.

Observações — 1. — Em relação aos loucos e aos surdos-mu-


dos, a sentença de interdicção produz o seguinte effeito: os actos
praticados pelo interdicto, depois da sentença, são nullos, por-
que os agentes são pessôas absolutamente incapazes (art. 145,
n. I); os actos praticados antes, somente estarão inquinados de
vicio da vontade (art. 147, II), e poderão ser annullados, porque
a incapacidade do agente ainda não fôra declarada ao tempo, em
que o acto se realizou. Cumpre, aliás, notar, em relação ao surdo-
mudo, que o juiz poderá limitar a extensão dos poderes do
curador.
O Codigo Civil não attende aos lúcidos intervallos.
2. — Em relação ao prodigo, a sentença de interdicção tem
o effeito de tornar annullaveis os actos, que elle não póie prati-
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 453
car sem o concurso do curador, segundo prescreve o art 459,
porque a sua capacidade é relativa (arts, 6.ü, n. III, e 147, n. I).
3. A sentença, que declara a interdicção, produz effeitos,
desde a data da sua prolação, e não desde o momento em que se
inicia o processo, porque ella é modificativa do estaclo da pessoa
e não declarativa de um direito.
4. — Se a sentença fôr reformada, como ella produziu effei-
to, desde a data, em que foi proferida, os actos praticados nesse
rneio tempo são actos praticados no dominio da interdicção. Con-
sequentemente são validos os actos dos terceiros, que trataram
com o curador do alienado ou do interdicto, entre a sentença,
Que decretou a interdicção e a que a reformou.

Art. 453 — Decretada a interdicção, fica o


interdicto sujeito á curatela, á qual se applica o
disposto no capitulo antecedente, com a restri-
cção do art. 451 e as modificações dos artigos
seguintes.
Direito ahterior — O mesmo, por applicação de varias dis-
posições (Veja-se Pinto de Toledo, Processo orphanoloyico, pa-
ragraphos 712-720 e 723-727).
Legislação comparada — Inst., 3, 19, § 8.°; D» 27, 9, fr. 11;
Codigo Civil francez, art. 509; portuguez, 321; allemão. 1.897,
venezuelano, 426; peruano, 558.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 939; Beviláqua, 535;
Revisto, 546.

Observação — Applicam-se á curatela os preceitos relativos


á incapacidade para exercer a tutela (art. 413), á excusa (ar-
tigos 414-417), á garantia (arts. 419-421), á especificação dos
bens (art. 424), á representação e á administração (arts. 426
c 427), ás prohibições do art. 429, á venda dos bens immoveis
(art. 428), aos bens dos orphãos (arts. 432 e 433), á prestação de
contas (arts. 434-441), á duração do encargo (art. 444), e á desti-
tuição (art. 445). Quando, porém, o curador fôr o cônjuge, o pae
CODIGO CIVIL

©u a mãe, a curatela assume feição especial, como se vê do


art. 455.

Art. 454 — O cônjuge, não separado judi-


cialmente, é, de direito, curador do outro, quan-
do interdicto (art. 455).
§ 1.° Na falta do cônjuge, é curador legitimo
o pae; na falta deste, a mãe; e, na desta, o des-
cendente maior.
§ 2.° Entre os descendentes, os mais próxi-
mos precedem aos mais remotos, e, dentre os
do mesmo grão, os varões ás mulheres.
§ 3.° Na falta das pessoas mencionadas, com-
pete ao juiz a escolha do curador.
Direito anterior — Os ascendentes do segundo grão, e os pa-
rentes da linha transversal eram, também, chamados á curadoria
(Teixeira de Freitas, Consolidação, art. 312; Carlos de Carva-
lho, Direito civil, art. 1.685). E, ainda, quanto á mulher, esta-
belecia a lei duas condicionaes: se fosse honesta e discreta, e
quizesse acceitar o cargo.
Degislação comparada — V. Codigo Civil hespanhol, art.
220; argentino, 476 e 477; portuguez, 320; allemão, 1.899; e
1.900; chileno, 462; suisso, 380-282; uruguayo, 441-445; boliviano,
260 e 261; venezuelano, 427 e 428; colombiano, 550; francez,
506 e 507; peruano, 559.
Por direito romano, o marido não devia ser nomeado curador
da mulher nem esta daquelle (D. 27, 10, fr. 14; Cod. 5, 34, I. 2;
Nov. 118, c. 5, in médio). Cumpre notar que, se o Digesto, no lo-
gar citado, diz, apenas, que: virum uxori mente captae euratorem
éari non oportet, o Codigo, mais rigoroso, declara; maritus, et
si rebus uxoris suae ãebet affectionem, tamen curator ei cr«ari
non potest.
Projectos — Esboço, art, 1.821; Felicio dos Santos, 917-921;
Coelho Rodrigues, 2.298; Beviláqua, 536; Revisto, 547.
DA TUTELA, üA CUKATELA E DA AUSÊNCIA 455

Observação — Entre os tutores e os curadores legítimos, ha


notáveis differenças, em razão de serem os pupillos pessoas de
menor edade e os curatelados pessoas maiores, que podem já ter
constituído íamilia, ter filhos, quando lhes sohrevenha a enfer-
midade, que as prive da administração de seus bens.
Não se refere o Codigo á nomeação do curador por testa-
mento do ascendente; mas este poderá indicar alguém que, de-
pois da sua morte, cuide da pessoa e dos bens do curatelado, e
o juiz tomará em consideração o pedido, sem prejuízo dos que a
lei designa, como curadores legítimos.
O cônjuge é o natural curador do outro cônjuge, pela ami-
zade e communhão de interesses, que, entre ambos deve existir.
Somente, quando separados judicialmente, a lei o afasta, porque,
então, desapparecem aquelles motivos da preferencia.

Art. 455 — Quando o eurador for o cônjuge,


não será obrigado a apresentar os balanços an-
nuaes, nem a fazer inventario, se o regimen do
casamento for o da communhão, ou se os bens
do incapaz se acharem descriptos em instru-
mento publico, qualquer que seja o regimen do
casamento.
§ 1.° Se o curador for o marido, observar-
se-á o disposto nos arts. 233-239.
§ 2.° Se fôr a mulher a curadora, observar-
se-á o disposto no art. 251, paragrapho único.
§ 3.'° Se fôr o pae, ou mãe, não terá appli-
cação o disposto no art. 435.

Direito anterior — Disposições deficientes completadas pela


doutrina tendiam a estabelecer o que se acha systematizado no
Codigo. Vejam-se Ord. 4, 103, §§ 1.° e 2°; Teixeira de Freitas,
Consolidação, art. 316; Pinto de Toledo, Processo orphanologico,
§ 721. E' de notar, porém, que a lei não se refere á curadoria
exercida pelo marido, porque a este se mantinha o poder marital.
456 CODIGO CIVIL

Legislação comparada — Codigo Civil portuguez, arts. 322-


328; V. também: chileno, 457 e 463 e colombiano, 546; italiano,
331; peruano, 564.
Projectos — Esboço, art, 1.822 (somente quanto á dispensa
fio inventario, quando a curadora é a mulher); Felicio dos San-
tos, 925; Coelho Rodrigues, 2.298; Bevãaqua, 537-539; Revisto,
548 e 549.

Observações —1. — O pensamento do Codigo é muito claro


e racional. Dispensa qualquer explicação. O marido mantém-se na
sua posição, se tem de ser curador da sua mulher, exercendo os
direitos, que a lei lhe confere, e cumprindo os deveres, que lhe
impõe, como chefe da família. A condicional — se o regimen fór
o da commimhão — refere-se ao inventario, do qual é dispensado
o cônjuge neste regimen. Dos balanços annuaes o cônjuge é dis-
pensado em qualquer hypothese.
. A mulher assume a direcção da família, e os seus direitos
se acham estabelecidos no art. 251, paragrapho único.
Não estão, porém, os cônjuges dispensados de prestar, bien-
nalmente, contas da curadoria.
2. — O pae e a mãe, também, não serão obrigados a apresen-
tar o balanço annual, e exercem a curadoria do maior como o
pátrio poder do menor.
3. — A curadoria do cônjuge, e a do progenitor não têm li-
mitação de tempo. Os outros curadores servem durante dois
annos (art. 444).

Art. 456 — Havendo meio de educar o surdo-


mudo, o curador promover-lhe-á o ingresso em
estabelecimento apropriado.
Direito anterior — Não destacava a lei esta obrigação do
curador.
Legislação comparada — D. 27, 10, fr. 7, pr.; Codigo Civil
francez, art. 510; portuguez, 332; chileno, 471; argentino, 481;
venezuelano, 430; colombiano, 559.
Projectos — Esboço art. 1.828; Coelho Rodrigues, 2.293
Beviláqua, 540; Revisto, 550.
1)A TUTELÍ, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 457
Observação — A curadoria do surdo-mudo, como a tutoria do
menor, envolve cuidados com a educação, que encaminhem a
pessoa, e a tornem capaz de se dirigir, na vida. O surdo-mudo
educado se adaptará, melhor ao meio social, recehendo-lhe o in-
fluxo, sobre elle reagindo, como qualquer indivíduo normal, e,
desenvolvidas as suas faculdades, dispensará cuidados estranhos.
A recommendação contida neste artigo é uma expressão da phi-
lanthropia, um fim caritativo, que o direito perfilha, para dar-
jlhe effectividade.

Art. 457 — Os loucos, sempre que parecer in-


conveniente oonserval-o em casa, ou o exigir
o seu tratamento, serão também recolhidos em
estabelecimento adequado.
Direito anterior — Preceito semelhante (Ord. 4, 103, pr.).
ainda, os Decs. n. 5.125, de 1 de Fevereiro de 1904, e n. 1.132,
•de 22 de Dezembro de 1903, que reorganizaram a assistência aos
alienados
Degislação comparada — V. D. 27, 10, fr. 7; Codigo Civil
francez, art. 510; portuguez, 333; chileno, 466 e 467; argentino,
481 e 482; uruguayo, 447 e 448; colombiano, 554 e 555.
Projectos — Esboço, art. 1.835; Felicio dos Santos, 924; Coe-
lho Rodrigues, 2.294; Beviláqua, 541; Revisto, 551.
Bibliographia — Afeanxo Peixoto, Medicina legal, paginas
■64-117; Psyco-patologia forense, pags. 197 e segs.; Nina Rodbi-
oues. O alienado, pags. 205 e segs.; Ataulpho de Paiva, Justiça
■e assistência.

Observação — Não é sómente em attenção á segurança pu-


blica e em defesa dos outros, que os alienados se devera recolher
a estabelecimentos adequados; é, também, e principalmente, para
dar-lhes tratamento, e, sendo possivel, chamal-os, á vida social,
restituindo-lhes a integridade mental. Veja-se o Dec. n. 5.148 A,
de 10 de Janeiro de 1927, que reorganizou a assistência dos ne-
"vropathas.
458 CODIGO CIVIL

Art. 458 — A autoridade do curador esten-


de-se á pessoa e bens dos filhos do curatelado,
nascidos ou nascituros (art. 462, paragrapho
único).
Direito anterior — Nenhuma disposição expressa de lei.
Degislação comparadía—V. Codigo Civil portuguez, art. 329;
argentino, 480; tiruguayo, 446; peruano, 570.
Projectos — Beviláqua, art. 542; Revisto, 552.

Observação — Quer o Codigo estabelecer unidade na pro-


tecção legal, de modo que não se entregue a uma pessôa a tutela
dos menores e a outra a curatela do seu progenitor. E' justo e
razoavel o preceito. A sua expressão, na primeira edição do Co-
digo, era, porém, passível de critica.
A lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919, deu-lhe forma con-
sentanea com a idéa, que se tinha em vista.
O Projecto primitivo, art. 542, estava assim redigido: "Se o
tutelado tiver filho menor ou por nascer, o poder do seu tutor
estender-se-á sobre a pessôa e os bens delle". O Projecto revisto,
art. 552, apenas mudou a palavra tutelado por curatelado, porque,
no systema do primitivo, havia a tutela dos maiores, que o re-
visto não acceitou. A fórmula da Gamara é que desnaturára a
idéa, no art. 464 do Projecto enviado ao Senado: "A autoridade do
curador estender-se-á aos filhos e bens do seu curatelado, nascido
ou nascituro". A correcção do senado limitou-se a substituir o
possessivo seu pelo artigo o. Actualmeute as palavras volveram
a dizer que a curatela do maior abrange a pessôa e os bens da
sua progenie, isto ê, o curador será o tutor dos filhos do cura-
telado.

SECÇÃO II

Dos prodígos

Art. 459 — A interdicção do prodigo só o


privará de, sem curador, emprestar, transigir,
DA TUTEVS DA CURATEX.A E DA AUSÊNCIA 45&

dar quitação, alienar, liypothecar, demandar ou


ser demandado, e praticar, em geral, actos que
não sejam de mera administração.

Direito anterior — A curadoria do prodigo não tinha a fei-


ção attenuada, que apresenta agora no Codigo (Ord. 4, 103, §§ 6.°
e 7.°).
Legislação comparada — Vejam-se; Codigo Civil francez,
art. 513; italiano, 410; portuguez, 340, 345 e 348; hespanhol, 221;
suisso, 370; chileno, 442 e 453; colombiano, 221; venezuelano,
438; austríaco, 270 e 273; allemão, 114 e 115. No direito francez,
e no venezuelano, o prodigo não é interdicto; elle mesmo admi-
nistra os seus bens, assistido por um conselho, na França, e por
um curador, na Venezuela. V. peruano, 578.
Para o direito romano, vejam-se; D. 27, 10, frs. 1 e 15; 29,
2, fr. 5, § 1.°; e 45, 1, fr. 6; Cod. 5, 70, 1.1; Paulo; Sent; 2:
4, § 7.° .
Projeotos — Felicio dos Santos, arts. 935 e 936. Os outroa
Projectos não tratavam da curatela dos prodigos. Organizou-a a
Camara.
Bibliog^aphia — Direito da família, § 92; Theoria geral da
direito civtil, § 10, VII; Estevam de Almeida, Manual cit, ns. 431
e segs.; Lafayette, Direitos de família, §§ 167-170; Pekeira de;
Carvalho, Processo orphanologico, § 150 e nota 287; Pontes db
Miranda, Direito de família, §§ 196 e 197; Vampré, Manual,
§§ 230-2133; Almachio Diniz, Direito da família, § 68; Martinho
Garcez, §§ 277-279; Planiol, Traité, I, ns. 2.949-2.984; Planiol
et Ripert, I ns. 729 e segs.; Huc, Commentaire, III, ns. 538-562;
Laurent, Cours, I, ns. 454-463; Aubby et Rau, Gours, I; §§ 138-
140; Chironx, Ist., II, § 431; Juies Simon, La situation juridiqne
des prodigues, na Revue de Vlnstitut de droit compare, 1912;
Nina Rodrigues, O alienado no direito civil, cap. I, n. VI; Afra-
nio Peixoto, Medicina legal, pag. 31; Psycho-patologia forense,
pags. 159-160; Liz Teixeira, Curso, I, tit. VII, § 9 o; Cândido-
Mendes, Codigo pMlippino, notas ao § 6.° do liv. IV, tit. 103;
Chahpeau e Uribe, Derecho civil colombiano, I, ns. 865-883;
Martinho Garcez Filho, Direito de família, II, p. 285 e segs.

Observações — 1. — Prodigo, segundo a definição das Orde-


nações, é aquelle que, desordenadamente, gasta e destróe a sua.
•460 CODIOO CTViX

fazenda, reduzindo-se á miséria, por sua culpa. Yejam-se os com-


mentarios 4 e 5, ao art. 06..
2. — O Codigo Civil instituiu, para o prodigo, uma curatela
differente da que organizou para o alienado. E' alguma coisa
como a inhabilitação do direito italiano ou o conselho judiciário
do direito francez.
O art. 459 indica os actos que o prodigo não pôde praticar
sem assistência do curador, e reduz a sua actividade livre á
simples administração. Conclue-se dahi que a interdicção do prp-
digo somente se refere aos bens. A sua pessoa permanece livre,
podendo elle exercer a sua profissão e dirigir-se como entender,
sem necessidade de assistência.
3. — O casamento é um acto de ordem pessoal e não de ordem
econômica, todavia o prodigo interdicto não se poderá casar
sem autorização do seu curador (art. 183, XI), porque o casa-
mento envolve disposição de bens, com o regimen pactuado ou
acceito. Além disso, o casamento é constituição de Eamilia: ne-
nhum acto é mais grave na vida da pessoa. Se o prodigo não
pode passar recibo, sem assistência do curador, como poderia
contrahir casamento? Casando o prodigo, ha uma deslocação da
curadoria, que passará a ser exercida pelo cônjuge, e este po-
derá promover o levantamento da interdicção.

Art. 460 — O prodigo só incorrerá em inter-


dicção, havendo cônjuge, ou tendo ascendentes
ou descendentes legitimos, que a promovam.
Direito anterior — A interdicção do prodigo podia ser decre-
tada ex-officio, oi; a requerimento de interessado (Ord. 4, 103, §
6°; Teixeika de Freitas, Consolidação, art. 324).
liegislação comparada — Codigo Civil portuguez, art. 340
<fonte do artigo). Vejam-se também; Codigo Civil francez, 514;
hespanhol, 222; chileno, 443; venezuelano, 438, ultima parte,
com referencia ao art. 422; colombiano, 532; peruano, 582.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 937 e 939; Coelho Ro-
drigues, 2.301.
DA TUTELA, 0A CUKATET A E DA AUSÊNCIA 461
Observações — 1 — A interdicção por prodigalidade foi insti-
tuída para defesa dos interesses patrimoniaes da familiar; por
isso somente o cônjuge, o ascendente, ou o descendente a pode'
promover. O juiz não a decreta ex-officio, nem o Ministério Pu-
blico tem competência para pedir, por não serem os interesses
da sociedade, que estão em causa.
O juiz, para decretar a interdicção, deve ouvir o accusado
de prodigalidade, e decidirá, segundo o seu critério, doante das
allegações e provas exhibidas. As pessôas simplesmente gene-
rosas, ou liberaes, e as que despendem para a realização de uma
empreza, ou consecução de um fim, dentro das suas possibili-
dades, não devem ser declaradas pródigas.
2. — A curadoria do prodigo deve ser deferida na ordem do
art. 454.

Art. 461 — Levantar-se-á a interdicção, ces-


sando a incapacidade, que a determinou, ou não
existindo mais os parentes designados no artigo
anterior.
Paragraplio único. Só o mesmo prodigo e as
pessôas designadas no art. 460 poderão arguir a
nullidade dos actos do interdicto durante a in-
terdicção.
Direito anterior — Durava a curadoria emquanto persistia a
causa, que a determinava (Ord. 4, 1(>3, § 7.°; Teixeira de Freitas,
Consolidação, art. 327). A annullação dos actos do prodigo podia
ser pedida por elle ou por seus herdeiros (Ord. 4, 103, § 6.°,
completada pela doutrina).
Legislação comparada — V. Codigo Civil italiano, arts. 421;
venezuelano, 441 e 442; chileno, 454 e 455; colombiano, 543 e
544; peruano, 581.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 941.

Observações — 1. — O interdicto e o seu curador poderãa


pedir o levantamento da interdicção, quando houver cessado a ma-
^62 CODlGO CIVIL

j.ia dissipadora. No caso de não existirem mais as pessoas, em


íittenção ás quaes fôra declarada a interdicção, é o proprio inter-
díc,to, que lhe pede o levantamento, porque desappareceu o funda-
mento legal da curatela.
2. — Os actos praticados pelo prodigo, contra o disposto no
firt. 459, são méramente annullaveis. Poderão ser ratificados pelo
agente, se recobrar a capacidade.
Os actos praticados antes da interdicgão são validos, se rão
•os viciar um defeito determinante de annullação.

SEOÇÃO III

Da curatela do nascituro

Art. 462 — Dar-se-á curador , ao nascituro,


se o pae fallecer, estando a mulher gravida, e
não tendo o pátrio poder.
Paragrapho único. Se a mulher estiver inter-
dicta, seu curador será o do nascituro (art. 458).
Direito anterior — A deficiência da lei era supprida pelo di-
reito subsidiário. A Ord. 3, 18, § 7.°, fala na posse, que a mulher
pede em nome do nascituro, o que é differente da curadoria pro-
priamente dita.
Degislação comparada — D. 27, 10, fr. 8; Bonorum ventris
nomine curatorem dari opportet; 37, 9, todo o titulo, e, em par-
ticular, fr. 1, §§ 17 e 18; Codigo Civil francez, art. 393; aus-
tríaco, 274; allemão, 1.912; argentino, 63-69; peruano, 591.
Projectos — Esboço, arts. 53-61 e 1.811; Felicio dos Santos,
468; Beviláqua, 543; ifeuisío, 553.
Bibliographia — Direito da familia, § 89, nota (1); Estevam
de Almeida, Manual cit., ns. 442-446; Ribas, Curso, pags. 274-275;
Moraes Carvalho, Processo orphanologico, § 150, e nota 291:
S. Vampré, Manual, I, § 234; Pontes de Miranda, Direito de for
müia, § 210; Aubry et Rau, Cours, I, § 136; Planiol, Traité, I»
ns. 2.661-2.663; Huc, Commentaire, III, ns. 268-273; Roth, Sys-
tem, II, § 205; Endemann, Lehrbuch, II, § 228, 3.
DA TUTELA, DA CUBATELA B DA AUSÊNCIA 463

Observações — 1. — Para resguardar os direitos do nasci-


turo, o Codigo Civil, ainda que lhe negue personalidade (art. 4.°),
nomeia-lhe um curador, se a mulher enviuvar, estando gravida,
e não tendo o pátrio poder.
Na systematica do Codigo, esta curadoria é um erro de
technica porque não se comprehende que o nascituro, não exis-
tindo ainda juridicamente, possa ter um curador. Não o era,
porém, no Projecto primitivo, para o qual a personalidade hu-
mana começava com a concepção.
2. — A necessidade de uma representação protectora do
nascituro, somente se faz sentir, quando lhe é deferida uma he-
rança ou feita uma doação. Porém, se a mãe estiver em condições
-de exercer o pátrio poder, cabe-lhe velar pelos interesses do filho
ninda em estado embryonario, e depois de nascido.
Podem requerer a curadoria a própria mãe, qualquer parente
do nascituro, e os interessados na herança, inclusive credores
delia.
E', principalmente, em attenção aos interesses do nascituro
que se estabelece a curadoria; mas ella poderá evitar substi-
tuição, supposição e suppressão de partos.
Essa curadoria cessa com o nascimento da criança, á qual
£6 dará tutor, na qualidade de menor.

CAPITULO III

Da ausência

SECÇÃO I

Da curadoria de ausentes

Art. 463 — Desapparecendo uma pessoa do


seu domicilio, sem que d.ella haja noticia, se não
liouver deixado representante ou procurador, a
quem toque administrar-llie os bens, o juiz, a
requerimento de qualquer interessado, ou do
Ministério Publico, nomear-lhe-á curador.
464 CODIGO ClVXti

Dü-eito anterior—Semelhante (Ord. 1, 90, pr.; Dec. n. 2.433,


de 15' de Junho de 1859, arts. I.0, 2.° e 20-22; Teixeira de Freitas,
Consolidação, art. 31 e 329; Carlos de Carvalho, Direito Civil,
arts. 1.700 e 1.701).
Legislação comparada — V. Codlgo Civil hespanhol, art. 181;
portuguez, 55; francez, 112 e 114; italiano, 45; allemão, 1.911;
austríaco, 276; argentino, 110 e segs.; uruguayo, 50-54; chileno,
473; peruano, 56-58; boliviano, 55-57; venezuelano, 32 e 33;
colombiano, 561; V. mexicano, 654; e peruano, 590.
Para o direito romano: D. 42, 4, fr. 6, § 2.°, e Cod. 8, 51, 1,
3, que se referem ao curador dos bens do prisioneiro de guerra.
Projectos — Esboço, arts. 107-111; Felicio dos Santos, 951-
953; Coelho Rodrigues, 2.319; Beviláqua, 544; Revisto, 554.
Bibliographia—Direito da família, § 93; Theoria geral, § 9,°,
II; Ribas, Curso, pags. 329-330; Lafayette, Direitos de família,
§§ 171-174; Es^evam de Almeida, Manual cit, ns. 447 e segs.;
Pinto de Toledo, Processo orphanologico, § 728; S. Vampré, Ma-
nual, 1, §§ 235-237; Almachio Diniz, Direito de família, § 70;
Pontes de Miranda, Direito de família, §§ 212 e 213; Coelho da
Rocha, Inst., §§ 392 e 393; Planiol, Traité, I, ns. 634 e segs.;
Planiol et Ripert, I, ns. 47 e segs.; Huc, Gommentaire, I, ns.
,394 e segs.; Laurent, Gours, I, ns. 106-108; Aubry et Raü, Cours,
I, §§ 149 e segs.; Endemann, Lehrbuch, II § 228; Windscheid,
Pand., 53; DERNBijRGj § 51; Chikoni, Ist., I, 26; Giuseppe Felice,
vb. Assenza, no Dizionario de Scialoja e Busatti; Schirmeister,
I, pags. 37-40; Cimbali, Nuova fase dei ãiritto cevile, ns. 55-60;
Martinho Garcez Filho, Direito de família, II, pgs. 295 e segs.

Observações — 1. — Ausente é o que desapparece do seu do-


micilio, sem que delle se saiba noticia. E' a pessoa cuja habi-
tação se ignora, ou de cuja existência se duvida e cujos bens
ficam ao desamparo. No systema do Codigo Civil, como já ficou
observado (commentario 9 ao art. 5.°), ha um periodo de au-
sência seguido de outro de presumpção de morte. Desde que
alguém desapparece do seu domicilio, sem dar noticias de si,
considera-se ausente. Mas, se deixou procurador geral para cuidar
de seus bens, não ó reputado ausente, senão depois do lapso do
DA TUTELA, DA CUBATELA E DA AUSÊNCIA 465
tempo prescripto no art. 469. Nas mesmas condigões está o que
deixa representante legal, como o menor e o curatelado. Ve-
ja-se o art. 466.
Onde houver curador geral de ausentes, o juiz não tem
mais necessidade de nomear um especial.
Interessados são os parentes successiveis, os socios, os cre-
dores, os que têm acção a propor contra o ausente.

Art. 464 — Também se nomeará curador,


quando o ausente deixar mandatário, que não
queira, ou não possa exercer ou continuar o man-
dato.
legislação comparada — Codigo Civil hespanhol,. art. 181,
2.a parte; mexicano, 655, allemão, 1.911.
Projectos — Esboço, art. 110; Felicio dos Santos, 955, para-
grapho único; Coelho Roãrigrnes, 2 320; Beviláqua, 545; Re-
visto, 555.

Observação — Nos casos previstos pelo artigo, caduca o


mandato, situação que eqüivale á de não existir procurador.

Art, 465 — O juiz, que nomear o curador,


'fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as
circumstancias, observando, no que for applica-
vel, o disposto a respeito de tutores e curadores.
Direito anterior — Norma seguida.
Liegislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 182.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.321; Beviláqua, 546;
Revisto 556.

Observação — Onde houver lei regulando a especie, por


estar creado o cargo de curador geral de ausentes, estão pres-
Bevilaqua — Codigo Civil — 2.° vol. jq
466 CODIGO CIVIL

criptos os poderes e obrigações desse funccionario. No Districto


Federal, havia, o Dec. n. 3.271, de 2 de Maio de 1899, e hoje
o Dec. n. 16.273, de 20 de Dezembro de 1923, art. 137. O Dec. de
15 de Junho de 1859, art. 79, estabelece preceitos que poderão
servir de guia ao juiz.

Art. 466 — O cônjuge do ausente, sempre que


não esteja separado judicialmente, será o seu
legitimo curador.
Direito anterior — O pensamento da Ord. 4, 90, pr., ibi.:
se... não tiver mulher, era que, neste primeiro periodo, ficasse
o marido ou a mulher gerindo os bens do ausente.
Degislação comparada — Codigo Civil hespanhol, art. 183;
uruguayo, 53; peruano, 57; mexicano, 657.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 961; Coelho Rodrigues,
2.322; Beviláqua, 547; Revisto, 557.

Observação — O marido já é, ordinariamente, o administra-


dor dos bens da mulher; a sua curadoria é como que a perma-
nência dessa funcção, na ausência delia. A mulher, com o des-
apparecimento do marido, toma, na direcção do lar, o posto que
elle desertou. A qualquer delles, se não ferido de incapacidade,
incumbe zelar os bens do ausente, de preferencia a quem quer
que seja.

Art. 467 — Em falta de cônjuge, a curadoria


dos bens do ausente incumbe ao pae, á mãe, aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impe-
dimento, que os inhiba de exercer o cargo.
Paragrapho único. Entre os descendentes, os
mais vizinhos precedem aos mais remotos, e, en-
tre os do mesmo gráo, os varões preferem ás
mulheres..
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 467
Direito anterior — Se o ausente era menor, è deixava pae,
não havia curador a nomear; não sendo assim, a lei mandava
que o juiz proferisse para a curadoria o parente mais proximo,
onde não houvesse curador geal (Ord. 1, 90; Dec. n. 2.433, de
1859, art. 80).
Legislação comparada — V. Codigo Civil hespanhol, art. 183,
ultima parte; portuguez, 57.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.323; Beviláqua, 548;
Revista, 558.

Observação — A curadoria do ausente é para os bens, que


ficam ao desamparo, sem haver quem ãelles tenha carrego, se-
gundo as palavras da Ordenação. Se o ausente não deixa bens,
não ha curador a nomear.

Art. 468 — Nos casos de arrecadação de he-


rança, ou quinhão de herdeiros ausentes, obser-
var-se-á, quanto á nomeação do curador, o dis-
posto no Codigo, arts. 1.591 a 1.594.

Direito anterior — Em nossas leis, sempre se ligaram as


disposições sobre ausência com as de direito successorios, como
se vê da Ord. 1, 90, e dos Decs. n. 855, de 8 ,de Novembro de
1851; n. 2.433, de 15 de Julho de 1859; e n. 3.271, de 2 de Maio
de 1889.
Projectos — Este artigo foi proposto pela Commissão do Go-
verno; por isso apparece no Projecto revisto, art. 559.

Observação — Sobre a matéria de que trata o art. 468, fez


o Dezembargador Vieira Ferreira algumas observações {Emen-
tas e emendas, pags. 63-65), que não foram acceitas pelo Con-
gresso. O que parece fóra de duvida é a inutilidade deste artigo,
meramente remissivo, que não dispõe, propriamente, sobre au-
sência.
468 CODIGO CIVIL

SECÇÃO II

Da successão provisória

Art. 469 — Passando-se dois annos, sem que


se saiba do ausente, se não deixou representante,
nem procurador, ou, se os deixou, em passando
quatro annos, poderão os interessados requerer
que se lhe abra, provisoriamente, a successão.
Direito anterior — A successão provisória abria-se, passados
quatro annos depois das ultimas noticias não havendo procura-
dor, ou depois de dez annos de ausência (Ord. 1, 62, § 38, e
Dec. n. 2.433, de 15 de Junho de 1859, art. 47, § 7.°).
Legislação comparada — Vejam-se; Codigo Civil francez,
arts. 115^, e 120-122 (os prazos são de quatro e dez annos); ita-
liano, 46 (dois annos); hespanhol, 184 (dois e cinco annos);
portuguez, 64 e 82 (este Codigo distingue a ausência do solteiro,
cuja curadoria definitiva se installa nos prazos de quatro ou
dez annos, segundo ha procurador ou não, e a do casado, cujos
bens são administrados durante vinte annos pelo cônjuge pre-
sente, não havendo filhos); argentino, 110, 111 e 112 (o prazo é
de seis annos em qualquer hypothese, a não ser em caso de
guerra, naufrágio ou desastre, em que será de tres annos); vene-
zuelano, 35; uruguayo, 55-57.
Consultem-se ainda: suisso, arts. 34-36; chileno, 81-83; aus-
tríaco, 24, 25 e 277; allemão, 13-19.
Projectos — Felicio dos Santos, arts. 964 e 965; Coelho Ro-
drigues, 2.324; Beviláqua, 549; Revisto, 560.
Bibliographia — Direito da família, § 93; Lafayette, Direi-
tos de família, §§ 176-178; Pereira de Carvalho, Processo or-
phanologico, §§ 173 e segs.; Pinto de Toledo, Processo orphano-
logico, §§ 732 e segs., Coelho da Rocha, Inst., §§ 395-397; Es-
TtETVAM de Almeida, Manual cit., ns. 457-463.

Observações — 1. — O primeiro período de dois anpos, ou de


quatro, segundo ha ou não procurador do desapparecido, é o de
curadoria dos bens do ausente. Abre-se, em seguida, um segundo
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 469
período, o da successão provisória, porque a falta de noticia faz
presumir a morte. No primeiro período, o que se tem em vista
é administrar, em nome do ausente, os bens, que elle deixou,
sem pessoa incumbida de velar por elles, afim de impedir dete-
riorações, extravios ou perda. No segundo, os bens se entregam
aos herdeiros do ausente, que se suppõe fallecido.
2
- — O Codigo de processo civil, art. 583, diminuiu para
tres annos o prazo da abertura da successão, no caso de ter o
ausente deixado procurador.

Art. 470 —Consideram-se, para este effeito,


interessados:
I. O cônjuge não separado judicialmente.
II. Os herdeiros presumidos legitimos, ou
os testamentarios.
III. Os que tiverem, sobre os bens do ausen-
te, direito subordinado á condição de morte.
IV. Os credores de obrigações vencidas e
não pagas.
Direito anterior -— Não havia, na lei, esta enumeração de
interessados.
Legislação comparada — Codigo Civil hespanhol, 185 (fonte
do artigo); italiano, 47; portuguez, 64; argentino, 113; uru-
guayo, 55, 2.a parte; venezuelano, 39 e 40.
Projectos — Esboço, arts. 113 e 114; Felicio dos Santos, 969;
Coelho Rodrigues, 2.325; Beviláqua, 550; Revisto, 561.

Observação — A decretação da curadoria dos bens do au-


sente pode ser requerida por qualquer interessado na conser-
vação dos bens, e pelo Ministério Publico. A abertura da succes-
são provisória ha de ser pedida por quem tenha interesse na he-
rança ou no inventario. O Ministério Publico só intervirá, não ha-
vendo interessado. O cônjuge é interessado por suas convenções
ante-nupciaes, e por seu direito successorio; mas, se está des-
quitado, já cessou o regimen de bens, e não ha direitos here-
ditários.
470 CODIGO CIVIL

Art. 471 —A sentença, que determinar a aber-


tura da successão provisória, só produzirá effei-
to seis mezes depois de publicada pela imprensa;
mas, logo que passe em julgado, se procederá á
abertura do testamento, se existir, e ao inven-
tario e partilha dos bens, como se o ausente fosse
f allecido.
§ 1.° Findo o prazo do art 469, e não ha-
vendo, absolutamente, interessados na succes-
são provisória, cumpre ao Ministério Publico
requerel-a ao juizo competente.
§ 2:° Não comparecendo herdeiro, ou inte-
ressado, tanto que passe em julgado a sentença,
que mandar abrir a successão provisória, pro-
ceder-se-á, judicialmente, á arrecadação dos
bens do ausente pela fôrma estabelecida nos ar-
tigos 1.591-1.594.
Direito anterior — Quanto á primeira parte do principio do
artigo, nenhuma disposição. A segunda era norma seguida (Pe-
reira de Carvalho, Processo orphanologico, § 177; Pinto de To-
ledo, § 739; Coelho da Rocha, Inst., § 396). Nos casos dos §§ 1.°
e 2.°, os bens eram arrecadados.

Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.236 (somente a pri-


meira parte do principio do artigo); Beviláqua, 551 (as duas
partes do principio do artigo); Revisto, 562 (o principio do ar-
tigo). Os dois paragraphos são devidos á Gamara, sob proposta
do Deputado José Monjardim {Trabalhos da Gamara, vol. III,
pag. 84 e vol. VI, pags. 213 e 220).

Observações — 1. — Ha neste artigo alguns preceitos que


merecem reparo. O primeiro consiste no seguinte: O art. 470 (550
do Projecto primitivo e 561 do revisto) declara que os herdeiros
testamentarios são competentes para pedir a abertura da suc-
cessão. O art. 471, principio, manda proceder á abertura do testa-
DA TUTELA, DA CUBATELA E DA AUSÊNCIA 471
mento, depois de passar em julgado a sentença, que decretar a
abertura da successão provisória. Ora, se somente depois da sen-
tença é que, aberto o testamento, se conhecem os herdeiros insti-
tuídos, não podem elles pedir que se abra a successão do ausente.
O Projecto primitivo falava, neste passo, de herdeiros presu-
midos, e o revisto accrescentou: legítimos ou testamentarios.
O Senado emendou; ou os testamentarios. Haveria, portanto,
duas classes de herdeiros, os presumidos legítimos e os testa-
mentarios.
Mas é preciso ler o Codigo, art. 470, II, como se estivesse
redigido assim: Os herdeiros presumidos, sejam legítimos ou in-
scriptos.
2- O § 1.° manda o Ministério Publico pedir a abertura da
successão provisória, quando não haja, absolutamente, interes-
sado. E' providencia ociosa, porque, não apparecendo interes-
sado, já os bens estão entregues ao curador dativo ou geral.
O § 2.° declara que, não apparecendo herdeiro ou interessado,
logo que passe em julgado a sentença, que mandar abrir a suc-
cessão provisória, se proceda á arrecadação dos bens pela forma
estabelecida nos arts. 1.591 a 1.594. Mas essa arrecadação já
deve estar feita; e, não apparecendo herdeiros dp ausente, os
bens são declarados vacantes (art. 1.593).

Art. 472 — Antes da partilha, o juiz orde-


nará a conversão dos bens moveis, sujeitos a de-
terioração ou a extravio, em immoveis ou em ti-
tules da divida publica da União ou dos Estados
(art. 477).
Direito anterior — Disposição semelhante no Dec. n. 2 433,
de 15 de Junho de 1859, art. 38.
Legislação comparada — V. Codigo Civil francez, art. 126;
chileno, 88, ' ■
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.329; Beviláqua, 552;
Revisto, 563.

Observação — A morte do ausente é apenas presumida.


E' possível que elle regresse, e os bens devem ser guardados na
472 CODIGO CIVIL

previsão dessa emergencia. E' conveniente convertêl-os em es-


pecies mais duradouras. Mas nem todos os moveis se convertem.
Os que fazem parte de estabelecimentos agrícolas ou industriaes
não estão ameaçados de deterioração ou extravio, consideram-se
immoveis, nos termos do art. 43, III. Os retratos de família, os
moveis de valor e affeição, os manuscriptos também devem ser
conservados-

Art. 473—Os herdeiros immittidos na posse


dos bens do ausente darão garantias da resti-
tuição delles, mediante penhores, ou hypothe-
cas, equivalentes aos quinhões respectivos.
Paragrapho único. O que tiver direito á posse
provisória, mas não puder prestar a garantia
exigida neste artigo, será excluido, mantendo-se
os bens, que lhe deviam caber sob a adminis-
tração do curador, ou de outro herdeiro desi-
gnado pelo juiz, e que preste a dita garantia
(art. 478).
Direito anterior — A caução era, ordinariamente, fidejusso-
ria, e abrangia a totalidade dos bens (Ord. 1, 62, § 38; Teixeira
de Freitas. Consolidação, arts. 336 e 337; Pinto de Toledo, Pro-
cesso orphanologico, §§ 735 e 736; Coelho da Rocha, Inst., § 395;
Lafayette, Direito de familia, § 177; Direito da familia, § 93).
Mas Dodia ser real.
Legislação comparada — V. Codigo Civil italiano, 47, S."
parte; venezuelano, 39, 4.a e 5.a partes; argentino, 118. E ainda:
francez, 125; uruguayo, 63; portuguez, 69.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 978; Coelho Rodrigues,
2.331 e 2 332; Beviláqua, 553; Revisto, 564.

Art. 474 — Na partilha, os immoveis serão


confiados, em sua integridade, aos successores
provisórios mais idoneos.
DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 473

Direito anterior — Não havia disposição neste sentido.


Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.333; Beviláqua, 554;
Revisto, 565.

• '
Art. 475 — Não sendo por desapropriação,
os immoveis do ausente só se poderão alienar,
quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruina,
ou quando convenha convertei-os em titulos da
divida publica.

Direito anterior — O Dec. n. 2.433, de 15 de Junho de 1859,


art. 43, mandava conservar os bens de raiz durante o primeiro
anno, depois de encerrado o inventario, em seguida deviam ser
vendidos, segundo estatuia o art. 54, se os bens fossem conside-
rados vagos. Nada se dispunha quando havia successão provi-
sória.
Legislação comparada — Vejam-se o Codigo Civil francez,
art. 128; italiano, 51; portuguez, 76; venezuelano, 42; argentino,
121; uruguayo, G7; chileno, 88.

Projectos — Felicio dos Santos, art. 985; Coelho Rodrigues,


2.334; Beviláqua, 555; Revisto, 566.
Observação — A successão provisória não é simples de-
posito, mas é uma administração conservadora. Os immoveis
devem em geral, ser conservados, para que se não altere, mais
do que o necessário, a fazenda do que se presume extineto, mas
pode estar vivo. Approxima-se o Codigo Civil, nesta providencia,
do francez, do italiano, e dos outros acima citados. Neste mesmo
sentido do Codigo doutrinavam os orphanologistas, Pereira de
Carvalho, § 179 e nota 342, e Pinto de Toledo, § 741, assim como
Coelho da Rocha, Inst., § 397, e Loureiro, Direito civil, § 224.

Art. 476 — Empossados nos bens, os succes-


sores provisórios ficarão representando, activa
474 CODIGO CIVIL

e passivamente, o ausente; de modo que, contra


elles correrão as acções pendentes e as que^ de
futuro, áquelle se moverem.

Direito anterior Assim era entendida a Ord. 1, 62, § 38;


Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, § 179 e nota 343.
Legislação comparada — Codigo Civil chileno, art. 87; ita-
liano, 28 e 35; venezuelano, 41 e 47; peruano, 82. Vejam-se, tam-
bém: francez, 125, 134 e 136; uruguayo, 73, e argentino, 119.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.336; Beviláqua, 556;
Revisto, 567.

Observação — Pereira de Carvalho, influenciado pelo Co-


digo Civil francez, art. 136, ensina que os successores provisórios
não poderão propor acções, que tenham por objecto direitos veri-
ficados depois de decretada a abertura provisória da successão,
"pois seria incoherencia reputar o ausente morto para uns fins
e vivo para outros". No mesmo sentido está redigido o art. 981
do Projecto Felicio dos Santos. Mas a verdade é que se presume
fallecido o ausente, mas se espera que reappareça. Por isso é
que a successão é méramente provisória, os immoveis se con-
servam, assim como as coisas de estima pessoal.
A solução do Codigo, que é a mais justa, manda nomear-se
curador, que tome conta do quinhão hereditário do ausente.
Ora, se já se abriu a successão provisória, quando houve a devo-
lução em favor do ausente ao herdeiro provisorio se entregará
o quinhão, resalvando-se, naturalmente, o direito de petição de
herança, a quem couber, quando se verificar a morte do ausente
antes da abertura da successão, que o beneficiou.

Art. 477 — O descendente, ascendente, on


cônjuge, que for successor provisorio do ausente,
fará seus todos os fructos e rendimentos dos
bens, que a este couberem. Os outros succes-
sores, porém, deverão capitalizar metade desses
fructos e rendimentos, segundo o disposto no ar-
DA TUTELA, DA CUEATELA E DA AUSÊNCIA 475

tigo 472, de accordo com o representante do


Ministério Publico, e prestar, annualmente, con-
tas ao juiz competente.

Direito anterior — Não havia disposição semelhante. O her-


deiro provisorio não tinha que prestar contas, senão ao ausente,
se apparecesse. Quanto á percepção dos rendimentos, havia du-
vida entre os civilistas pátrios. Consultem-áe: Direito da familia,
§ 93 e nota (9); Pekeiea de Carvalho, Processo orphanologico,
§ 180 e nota (345); Pinto de Toledo, Processo orphanologico,,
§ 748; Lafayette, Direitos de familia, § 178; Loureiro, Direito
civil, § 226; Coelho da Rocha, Inst., § 399.
Legislação comparada — Codigo Civil italiano, arts. 30
(fonte da primeira parte do artigo) e 31; venezuelano, 43. V. tam-
bém o francez, 127 e o portuguez, 73.
Projectos — Felicio d\os Santos, art. 985; Coelho Rodrigues,
2.337; Beviláqua, 557; Revisto, 568.

Art. 478 — O excluido, segundo o art. 473,


paragrapbo único, da posse provisória poderá,
justificando falta de meios, requerer lhe seja
entregue metade dos rendimentos do quinbão,
que llie tocaria.

Direito anterior — Não havia disposição neste sentido.


Legislação comparada — Veja-se o art. 473, e mais Codigo
Civil portuguez, art. 70.
Projectos — Beviláqua, art. 558; Revisto, 569.

Art 479 — Se, durante a posse provisória,


se provar a época exacta do fallecimento do au-
sente, considerar-se-á, nessa data, aberta a suc-
cessão em favor dos herdeiros, que o eram
áquelle tempo.
47fi CODIGO CÍVEL

Direito anterior :— O preceito é intuitivo, e, consequente-


mente, se applicaria, mas não estava expresso em lei. Veja-se,
entretanto, o reg. n. 2.433, de 15 de Junho de 1859, art. 57.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 131.
Projectos — Coelho Rodrigues, art. 2.338; Beviláqua, 559;
Revisto, 570.

Art. 480 — Se o ausente apparecer, ou se lhe


provar a existência, depois de estabelecida a
posse provisória, cessarão para logo, as vanta-
gens dos successores nella immittidos, ficando,
todavia, obrigados a tomar as medidas assecura-
torias precisas, até á entrega dos bens a seu
dono.

Direito anterior — Se apparecesse o ausente, ou se se lhe


provasse a existência, cessariam, naturalmente, as vantagens
dos successores provisórios, que o eram na supposição da morte,
e tinham de entregar os bens, em cuja posse se achavam (de-
creto n. 2.433, de 15 de Junho de 1859, art. ,2.°: Teixeira de Frei-
tas, Consolidação, art. 333; Pereira de Carvalho, Processo orpha-
nologico, § 180; Pinto de Toledo, Processo orphanologico, § 748;
Lafayette, Direitos de familia, § 175; Coelho da Rocha, Inst.,
§ 398; Direito da familia, § 93).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 130; ita-
liano, 53; venezuelano, 45; uruguayo, 70; V. também; portuguez,
78; chileno, 93 e 491, colombiano, 579; suisso, 37.
Projectos — Felicio dos Santos, art. 986; Coelho Rodrigues,
2.339; Beviláqua, 560; Revisto, 571.
Observação — Apparecendo o ausente, ou provada a sua
existência, desapparece a presumpção de morte, que servira de
fundamento á abertura da successão provisória. Os successores
não terão mais as vantagens, que lhes confere o art. 477; porém
ser-lhes-á arbitrada uma justa remuneração pela guarda dos bens,
desde que deixaram o posto de successores provisórios.
CA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA 477

SECÇ10 III

Da successão definitiva

Art. 481 — Trinta annos depois de passada


em julgado a sentença, que concede a abertura
da successão provisória, poderão os interessados
requerer a definitiva e o levantamento das cau-
ções prestadas.

Direito anterior — Os trinta annos contavam-se da ausência,


não por determinação expressa de lei, e, sim, pela opinião geral-
mente acceita entre os doutos (Perdigão Malheiro, Manual ão
procurador dos feitos, § 381, e nota 695, Teixeira de Freitas,
Consolidação, nota (12) ao art. 338; Lafayette, Direitos de fa-
milia, § 179, nota 1, á pag. 370, da ed. de 1869; pereira de Car-
valho, Processo orphanologico, § 181; Pinto de Toledo, Processo
orphanologico, § 743).
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 129; ita-
liano, 55; hespanhol, 101; portuguez, 78, 4.°; austríaco, 24, 2.°.
V. também; allemão, art. 14; argentino, 122; chileno, 82;
venezuelano, 48.
Projectos — Felicio dos Safiios, art. 986, 1.° (quinze annos);
Coelho Rodrigues, 2.340 (vinte annos); Beviláqua, 561 (vinte
annos); Revisto, 572 (trinta annos).

Observações — 1. — Trinta annos depois de ter passado em


julgado a sentença, que concede a abertura da successão provi-
sória, são mais de trinta e dois, ou mais de trinta e quatro annos,
de ausência. E' um espaço de tempo assás longo. Os bens arre-
cadados pelo Estado passam para o seu patrimônio, no fim de
trinta annos, no caso de herança vaga. Os que ficam em poder
dos herdeiros não podem permanecer, indifinidamente, numa
situação provisória. Trinta annos é o tempo máximo da duração
das acções pessoaes, e, em trinta annos, se adquirem por uso-
capiãn os immoveis, independentemente de titulo e bôa fé, que
478 CODIGO CIVIL

se presumem. A acção dissolvente do tempo sobre as relações


de direito ultima, nesse prazo, a sua obra.
2. — O decreto n. 370, de 4 de Janeiro de 1837, considera
abandonados o dinheiro e os objéctos de ouro, prata, platina e
pedras preciosas, depositados em qualquer estabelecimento de
credito e nas Caixas Econômicas, quando a conta do deposito
tiver ficado sem movimento durante 30 annos, e manda reco-
Ihel-os ao Thezouro Nacional. Esse decreto foi regulamentado
pelo de n. 1.508 de 17 de Março do mesmo anno.

Art. 482 — Também se pode requerer a suc-


cessão definitiva, provando-se que o ausente
conta oitenta annos de nascido, e que de cinco
datam as ultimas noticias suas.
Direito anterior — Não havia disposição de lei a respeito.
Os autores variam entre setenta e cem annos {Direito ãa fa-
milia, § 93; Pereira de Carvalho, Processo orphanologico, § 181
e nota (347); Lafayette, Direitos cie família, § 179; Loureiro,
Direito civil, § 225; Ribas, Curso, pags. 275-278; Coelho da Ro-
cha, Inst., § 398).
A lei de 15 de Novembro de 1827 falava do indivíduo, que,
tendo embarcado em qualquer navio com destino a determinado
porto, não se sabia, passados dois annos, se abi chegara, pois
se presumia o naufrágio do navio. O Codigo não considera este
caso de presumpção de morte, porque as viagens não têm mais
as incertezas de outr'ora.
Legislação comparada — Codigo Civil francez, art. 129 (cem
annos); italiano, 5d e 56 (differente); hespanhol, 191 (noventa);
austríaco, 24, 1.° (oitenta) ; portuguez, 78, 5.° (noventa e cinco
annos); allemão, 14 (setenta); uruguayo, 68 (oitenta); peruano,
611 (oitenta); suisso, 546 (cem).

Art. 483 — Regressando o ausente nos dez


annos seguintes á abertura da successão defi-
nitiva, ou algum de seus descendentes ou ascen-
dentes, aquelle ou estes haverão só os bens exis-
tentes, no estado em que se acharem, os subro-
gados em seu logar, ou o preço, que os herdei-
DA TUTELA, DA CUKATELA E DA AUSÊNCIA 479

ros e demais interessados houverem recebido


pelos alienados depois daquelle tempo.
Paragrapho único. Se, nos dez annos deste
artigo, o ausente não regressar, e nenhum in-
teressado promover a successão definitiva, a
plena propriedade dos bens arrecadados pas-
sará ao Estado, ou ao Districto Federal, se o au-
sente era domiciliado nas respectivas circum-
scripções, ou á União, se o era em território
ainda não constituido em Estado.

Direito anterior — Quanto ao principio do artigo, não havia


disposição de lei, e a doutrina dos escriptores variava. Vejam-se:
Direito da família, § 93, in fine; Pereira de Carvalho, Processo
orphanologico, § 183; Pinto de Toledo, Processo orphanologico,
§ 748.
Quanto ao paragrapho único, differente era o principio ado-
ptado. Os dinheiros dos ausentes eram adquiridos pelo Estado,
passados trinta annos depois de recolhidos (lei de 17 de Setem-
bro de 1851, artr. 32). Não apparecendo herdeiros, os bens de
raiz, um anno depois de concluído o inventario das heranças
vacantes, deviam ser vendidos em hasta publica e o seu producto
recolhido aos cofres públicos (Dec. n. 2.433, de 15 de Junho de
1859, artigo 53).
Liegislação comparada — Codigo Civil francez, art. 132;
portuguez, 80; venezuelano, 51; argentino, 124; uruguayo, 71;
hespanhol, 194. Referem-se estes Codigos á matéria regulada no
principio do artigo.

Projectos — Felicio dos Santos, art. 993; Coelho Rodrigues,


2.342; Beviláqua, 563; Revisto, 574.

Observação — A fórmula deste artigo é defeituosa. Veio do


Projecto revisto, inspirado no Codigo Civil portuguez, e resistiu
ás justas criticas levantadas contra ella (Vejam-se Vieira Fer-
reira, Ementas e emanãas, pags. 65 e 66; e Trabalhos do Senado,
III, pag. 72, 2.8 columna).
480 OODIGO CIVIL

Estabelece o Codigo um prazo de dez annos, depois de decla-


rada a successão definitiva, em que ainda se espera o regresso
do ausente. Ainda que o herdeiro tenha a livre disposição dos
bens, responde, nesse periodo, pelo preço das alienações feitas.
O paragrapho único originou-se de uma emenda do Sr. Mon-
jardim. Pretendia resalvar direitos da União e dos Estados {Tra-
balhos ãa Gamara, III, -pag. 48, e V. pags. 213 e 220); na reali-
dade prejudicou-os, e creou uma desharmonia entre esses para-
graphos e o art. 1.594. Por este ultimo artigo as heranças va-
cantes passarão ao domínio da União, do Estado ou do Districto
Federal, trinta annos depois da abertura da successão. Pelo pa-
ragrapho único do art. 483, os bens do ausente arrecadados pelo
Estado ou pela União entrarão para o respectivo patrimônio so-
mente quarenta e dois ou quarenta e quatro annos depois da
ausência. A lei n. 3.725, de 15 de Janeiro de 1919, corrigiu este
artigo, na parte que se refere á devolução da herança aos Esta-
dos, ao Districto Federal e á União, de modo que a redacção
actual escapa á critica anteriormente feita ao paragrapho único.

SECÇÂO IY

Dos effeitos da ausência quanto aos


direitos de familía

Art. 484 — Se o ausente deixar filhos me-


nores e o outro cônjuge houver fallecido, ou não
tiver direito ao exercicio do pátrio poder, pro-
ceder-se-á com esses filhos, como se fossem or-
phãos de pae e mãe.
Direito anterior — Não havia direito escripto a respeito da
matéria deste artigo.
l<egislação comparada — Codigo Civil francez, arts. 142 e
143; italiano, 47; venezuelano, 59; uruguayo. 79 e 80; peruano, 76.
Projectos — Coelho Rodrigues, arts. 2.350 e 2.351; Bevilá-
qua, 564; Revisto, 575.
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 481

Observações — 1. — O titulo da secção é mais extenso do


que o seu conteúdo. Além dos effeitos em relação aos filhos me-
nores, ha que lembrar os prejuízos em relação ao casamento,
de que tratou o Codigo no paragrapho único do art. 315, para
cujo commentario remetto o leitor.
2. — Se ambos os cônjuges se ausentarem, ou se a incapa-
cidade do presente occorrer depois da ausência, a providencia a
tomar é a mesma declarada neste artigo, porque, em qualquer
destes casos, o menor estará privado dos seus naturaes defen-
sores e guias.

FIM DO 2." VOLUME

Beviláqua — Codigo Civil — 2.° vol. 31


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IIV13 1 O E

PARTK ESPECIAL
LIVRO I

DO DIREITO DE FAMÍLIA

TÍTULO I

DO CASAMENTO

PAGS.
Cap. I — Das formalidades preliminares o
Cap. II — Dos impedimentos 11
Cap. III — Da opposição dos impedimentos 34
Cap. IV -— Da celebração do casamento 40
Cap. V — Das provas do casamento 59
Cap. VI — Do casamento nullo e annullavel 65
Cap. VII — Disposições penaes 98

TITULO II

DOS EFFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO

Cap. I — Disposições geraes 103


Cap. II — Dos direitos e deveres do marido 110
Cap. III — Dos direitos e deveres da mulher 123

TITULO III

DO REGIMEN DOS BENS ENTRE OS CÔNJUGES

Cap. I — Disposições geraes 159


Cap. II — Do regimen da communhão universal 173
'

484 CODIGO CIVIL


PAGS.
Çap nx — Do regimen da communhão parcial
Can. IV — Do regimen da separação
903
Cap. V — Do regimen dotal
Secção I — Da constituição do dote 203
Secção II — Dos direitos e obrigações do
marido em relação aos
22:l
bens dotaes -
Secção III — Da restituição do dote 240
Secção IV — Da separação do dote e sua
administração pela mulher 251
Seccão V — Dos bens paraphernaes 255
5>58
Cap. VI — Das doações antenupciaes

TITULO IV

DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E DA PROTECÇÃO DA


PESSOA DOS FILHOS
263
Cap. I — Da dissolução da sociedade conjugai
286
Cap ix __ Da protecção da pessoa dos filhos ..

TITULO V

DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO

Disposições geraes 292


•Cap. I
Da filiação legitima 298
Cap. II 317
Cap. III Da legitimação
323
Cap. IV Do reconhecimento dos filhos illegitimos
344
Cap. V Da adopção •••
355
Cap. VI Do pátrio poder
I Disposições geraes 356
Secção
Secção II Do pátrio poder quanto á
pessoa dos filhos 362
Secção III — Do pátrio poder quanto ^aos
bens dos filhos 365
Secção IV — Da suspensão e extincção do
pátrio poder 376
385
Cap. VII — Dos alimentos
ÍNDICE 485

TITULO VI

DA TUTELA, DA CURATELA E DA AUSÊNCIA

PAGS.
Cap. I — Da tutela 397
Secção I — Dos tutores 397
Secgão II — Dos incapazes de exercer a
tutela 408
Secgão III — Da excusa dos tutores 412
Secção IV — Da garantia da tutela 416
Secção V — Do exercicio da tutela 420
Secção VI — Dos bens dos orphãos 433
Secção VII — Da prestação de contas da
tutela 437
Secção VIII — Da cessação da tutela 443
Cap. II — Da curatela 447
Secção I — Disposições geraes 447
Secção II — Dos pródigos 458
Secção III — Da curatela do nascituro .. 462
Cap. III — Da ausência 463
Secção I — Da curadoria dos ausentes .. 463
Secção II — Da successão provisória ... 468
Secção III — Da successão definitiva 477
Secção IV — Dos effeitos da ausência
quanto aos direitos de fa-
mília 480

3 260 Officinas Graphicas da Livraria Francisco Alves


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mm.

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