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Apresentação
jurídica sobre a família que seja libertadora e que assente suas bases no amor
e no afeto. O Direito deve proteger a essência muito mais que a forma.
Com essa perspectiva, o III Congresso Brasileiro de Direito de
Família trabalhou temas polêmicos, tendo como propósito contribuir,
decisiva e objetivamente, com os principais textos normativos sobre a
família. Para tanto, buscou contribuições de outros campos do conhecimento
e de profissionais de outros países, entre eles membros da Sociedade
Internacional de Direito de Família.
Um dos pontos altos do evento foi a promoção de uma histórica
mesa-redonda, na qual se discutiu o novo Código Civil brasileiro, três
meses depois de sua aprovação pelo Congresso Nacional e dois meses
antes da sanção presidencial. Tais discussões provocaram a criação de uma
Comissão de Acompanhamento ao Novo Código Civil brasileiro, pelo
IBDFAM, que tem como função apresentar propostas de mudanças na
legislação pertinente ao Direito de Família no Brasil. Aliás, várias sugestões
do IBDFAM apresentadas entre novembro e dezembro de 2001, período
de Redação Final, foram acatadas e constam do novo texto.
Através da ação politico-institucional, da promoção de eventos do
porte do III Congresso Brasileiro de Direito de Família e com a publicação
destes Anais, acreditamos estar cumprindo nosso papel social.
Nesta publicação, reunimos a produção teórica da maioria dos
palestrantes do evento. Gostaríamos de ressaltar que nem todos puderam
entregar os textos de suas palestras, o que nos obrigou a publicar os Anais
sem algumas contribuições.
De todo modo, esta edição reúne um diversificado material teórico,
que poderá subsidiar tanto os que exercem a profissão quanto aqueles que
desejam se aprofundar no estudo do Direito de Família.
Junto com a sociedade, queremos discutir e propor novos paradigmas
para que o Direito de Família seja uma designação a mais para a Justiça.
Marcelo Leonardo
Presidente da OAB/MG
Sumário
Abertura
FAMÍLIA, DIREITOS E UMA NOVA CIDADANIA
Lui~ Ea’son Fachin/PR 15
Ternário 1
DIREITO DE FAMÍLIA SEM FRONTEIRAS
E AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA FAMÍLIA
1 QUESTÕES DE FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA
DA ESTRUTURA FAMILIAR E DA INTEGRIDADE
FAMILIAR
Ljnn D. Wardle/EUA 25
2 EM BUSCA DA FAMÍLIA DO NOVO MILÊNIO
Rosana Fachin/PR 59
3 ART. 1.601
João Baptista Vilela/MG 71
4 LIBERDADE SEXUAL E DIREITOS HUMANOS
Maria Berenice Dias/RS 85
5 ENTIDADES FAMILIARES CONSTITUCIONALIZADAS:
PARA ALÉM DO NUMERUS CLAUSUS
Paulo Luís Netto Lobo/AL 89
6 A NATUREZA JURIDICA DA RELAÇÃO HOMOERÔTICA
José Carlos Teixeira Giorgis/RS 109
7 FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS E CONCUBINATO
ADULTERINO
Carlos Cavalcanti de Albuquerque Filho/AL 143
Abertura
1 INTRODUÇÃO
15
16
inalienáveis. Entre nascer e viver há, nada obstante, uma sensível distân-
cia. Basta perguntar o quanto realizam em suas prerrogativas sociais,
como direito à educação, à saúde, ao trabalho, à justiça, à liberdade,
enfim, a uma vida digna.
O indivíduo insular compõe o tempo em que cidadão era apenas
considerado membro da sociedade nacional, como se afirmava no século
XVII, ou aquele que tinha o direito de associação, como se reconheceu
no século XVIII. O século pretérito chegou à proclamação formal dos
direitos sociais, num belo ensaio que principia nos direitos politicos
individuais, passa pelo reconhecimento dos direitos coletivos até alcan-
çar os direitos sociais, aptos a garantir uma proteção mínima e um padrão
de vida decente. No entanto, a ponte entre o sujeito virtual de direitos e
o sujeito-cidadão está para ser erguida.
A mesma reflexão pode, por analogia, dirigir-se à família no terreno
da cidadania. Progressivamente, com o surgimento do desenho de afeto
no plano dos fatos, ela se inscreve numa trajetória de direitos subjetivos.
Do espaço do poder abre-se para o terreno da liberdade: o direito de ser
ou de estar, e como se quer ser ou estar.
Entre tornar-se conceitualmente família e realizar-se como tal, há
uma fenomenal distância. O desenlace do conceito de família-poder para
a família-cidadã trata também de um programa a construir.
A compreensão do texto constitucional vigente vai dando espaço
para que a família, nessa concepção contemporânea do Direito, se inclua
como ente aberto e plural.
É desse degrau de efetivação da cidadania que reclama a
pluralidade constitucional da família, não exclusivamente matrimoniali-
zada, diárquica, eudemonista e igualitária. Este é um modo de ver. Não
somente dessa percepção se abrem os horizontes da contemporaneidade.
3 CIDADANIA E SUBJETIVIDADE
Outro olhar sobre a vida e a família atual pode revelar que ela
felizmente ainda teima em ser um conto de fadas. Nele, a condição
humana e o desejo da vida eterna projetam dentro da família, em seus
múltiplos desenhos, uma perplexidade que merece exame. O ferrão dos
17
18
4 CIDADANIA E CODIFICAÇÃO
19
5 CONCLUSAO
6 Essa foi a interrogaçio pertinente que se fez. GRINBERG, Keila. Código Civil e
cidadania. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 11.
20
7 SANTOS, Milton. O eipaço do cidadão. 3. ed. SIlo Paulo: Nobel, 1996, p. 13.
21
LUIZ EDSON FACHIN
repouso. Aqui jaz”, escreveu Michel Serres para afirmar que “às vezes, a
,, 9
22
Ternário 1
QUESTÕES DE FAMÍLIA:
A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA FAMILIAR
E DA INTEGRIDADE FAMILIAR*
Lynn D. Wardle
Professor de Direito, J. Reuben Clark Law School, Brigham
Young University, Provo, UT 84602, USA.
Presidente da International Society of Family Law — ISFL.
1 INTRODUÇÃO
25
LYNN O. WARDLE
26
4 POPENOE, David; WHITEHEAD, Barbara Dafoe. Should we live together? What young
adults need tu know about cohabitation before marriage. A Cornprehensive Review
of Recent
Research, p. 3 (Thc National Marriage Project: The Next Generation Series,
1999).
27
LYNN D. WARDLE
8 TEACHMAN, Ja)’ D.; THOMIAS, Jeffrey; PAASCH, IKathleen. Legal status and the
stabi/i~y of
9 BUSBY, Dean M. Violence in the family. In: Fami/y research, a 60-year review,
1930-1990, p. 361
10 Faith Abbot. No bomb, no book. The human 4fr rev., Winter 1998, p. 31, 43
28
11 ldem, p. 6.
12 ldem, p. 7.
junho dc 2000).
15 Anuário estatístico dos Estados Unidos, 1994, p. 80; idem, 1996, p. 79; idcm,
1997, p. 79;
idem, 2000, p. 70.
29
LYNN D. WARDLE
16 Eggeheen, DAVID J.; LICHTER, Daniel T. Race, Iarni!y sttav/wz, and changiqg
poveqy arnong
american children, 56 Am. Soe. Rev. 801, 806 (1991). Além do mais, o estudo
indicou que, “de
acordo com Wihiam Ga/ston, ... o índice de pobreza infantil hoje seria um terço
mais baixo se
a estrutura familiar ni~o houvesse mudado t~o dramaticamcnte desde 1960.
Cincoenta e um
por cento do crescimento na pobreza infantil observado durante os anos 80 pode
ser atribuido
a modificações na estrutura familiar neste período.” Idem.
17 U.S. Dept. Of Hcalth and Human Services, National Center for Health
Statistics sunp’ 011
(1995).
and adolescent substancc abuse. A Uterattíre Review, 114 Adolescence 475 (1994).
30
ai, eds., Rebuilding the Nest: A New Commitment tu the American Famiiy
(Milwaukce, 1990).
junho de 2000) citing Cynthia C. Harper and Sara 5. McLanahan, 1998, “Father
Absence and
31
LYNN D. WARDLE
32
33
LYNN D. WARDLE
foram forçados a ter sexo comparados com 4 por cento de homens hetero-
sexuais.32 “Este corpo de evidências sugere coletivamente que gays e lésbicas
têm um maior índice de coerção sexual do que o experimentado pelos seus
contrapartes ~
Uniões do mesmo sexo também minam o casamento enquanto
instituição. Visto que o casamento heterosexual é claramente a institui-
ção ideal para a criação de filhos, a erosão do casamento e o crescimento
de “alternativas” para este, incluindo casamento entre pessoas do mesmo
sexo, trazem uma séria preocupação.
A evidência é inegável de que essas três “etrututas alternativas”
para as relações familiares apresentam riscos severos e de longa duração
para as famílias, indivíduos e para a sociedade. A “forma” das relações
familiares está diretamente relacionada com a “qualidade” das relações
familiares e, conseqüentemente, com a qualidade da virtude cívica, da
cidadania, dos problemas sociais e da vida pública.
34
2,5; em 1985 houve 1,19 miIh~o de divórcios e o índice passou para 5,0).
ofthe United States: 1996, Thc United States Bureau ofthe Census, p. 105, tabela
150.
39 Idem, p. 486-488.
40 ídem, p. 488-489.
35
LYNN D. WARDLE
41 LYNCH,James. The broken hearl the medical consequences ofloneliness 51, 152,
244 (1977).
2000) citing Howard S. Gordon and Gary E. Rosenthai, 155 Arch. Internai Mcd.
2465-71 (1995).
lhe Fami/y ou Heaith: Decade iii Reviuu, 52J. Marr. & Fam. 1059 (1990).
45 Stevcn Stack & J. Ross Eshleman, Marital Status and Happiness: A 1 7-Natio,z
Study, 60 J. MARR.
46 Bloom, Asher & White, Marital Disruption As A Stressor: A Retiew and Anabvis,
85 PsvcFlov.
Buii. 867, 869 (1978).
36
49 idcm, p. 493-95.
50 Idcm, p. 497-98.
51 Bloom, supra, p. 877. Ver de modo geral: WALLERSTEIN, Judith; KELLY, Joan
Surviving
lhe breakup: how childrcn and parents cope with divorce 55-95, 282 (1980).
37
LYNN D. WARDLE
54 TROYER, 146.
—des6mpw/gkc/books/divorce.txt>.
38
56 PITTMAN, Frank. Private hei, infidehi~y and the betrqyab of intima0, 268
(1989).
57 PITTMAN, p. 260.
58 BERGER, p. 134-35.
59 PITTMAN, p. 262.
60 BERGER, p. 131.
61 PITTMAN, p. 262.
39
LYNN D. WARDLE
40
das, podem estar ainda abrigando sentimentos negativos sobre [si mes-
mas] e carregando-os ... para [seus] relacionamentos mais íntimos. Criva-
das pela insegurança, [elas] podem ter problemas em perceber [a si
próprias] como valiosas, dignas de amor, seres humanos especiais. Não é
fácil de amar, ou ser amado, quando sentimentos de abandono, anula-
mento ou traição estão no centro do [próprio] sentido de si mesmo.”70 Ou
as crianças vítimas do adultério parental podem, “sem saber, ... buscar
alguém que trate [delas] de uma maneira que reproduza [suas] experiên-
cias anteriores ... Mesmo que o parceiro esteja comprometido com elas,
ainda assim [elas] provavelmente lerão no comportamento daquela
pessoa o que estão programadas para ver, e reagirão de formas que reforcem
[suas] preconcepções.”71
Portanto, a evidência vinda da ciência social indica que a infide-
lidade fere as crianças, de modo a lhes causar intensa dor e sofrimento
duradouro, e leva a problemas sociais.
71 SPRING, p. 27.
41
LYNN D. WARDLE
73 Verde forma geral DURANT, Will. The sto0, oJcitiIi~ation, Part 1, Our
Oriental Heritage 30 (1938).
42
LYNN D. WARDLE
5 CONCLUSÃO
44
QUESTÕES DE FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA FAMILIAR
45
LYNN D. WARDLE
6 APÊNDICES
APÊNDIcE A
1970
Total de casais 523.000
Abaixo de 25 55.000
25-44 103.000
45-64 186.000
65eacima 178.000
Percentual de
lares consti-
tuídos por
coabitantes
não casados
1980 1985 1990 1995 1999
1.589.000 1.983.000 2.856.000 3.668.000
4.486.000
411.000 425.000 596.000 742.000 824.000
837.000 1.203.000 1.775.000 2.188.000
2.554.000
221.000 239.000 358.000 558.000 888.000
119.000 116.000 127.000 180.000 220.000
,020 ,023 ,031 ,037 ,043
,008 0.20 ,023 ,031 ,037 ,043
Laresdecasais 44.728.000 49.112.000 50.350.000
52.317.000 53.858.000 54.770.000
casados
Percentualde 70,5 60,8 58 56 54,4
52,7
lares consti-
tuídos por
casais casados
Casaiscom 196 431 603 891 1.319
1.505
filhos abaixo
deiS
Casais sem 327 1.159 1.380 1.966
2.349 2.961
filhos abaixo
de 15
46
APÊNDICE B
1945
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1994
2000
89.500
117.400
141.600
183.300
224.300
291.200
398.700
447.900
665.747
828.174
1.165.400
1.290.000
1.346.000
37,9
42,9
39,8
45,3
52 7
77,4
106,9
142,5
184,3
220 2
280
326
331
40.300
56.400
53.500
64.200
82.500
123.700
175.100
186.400
320.063
432.969
647.400
794.000
19,5
23,6
17,5
18,6
22,9
39,5
56,6
73
110,4
144,7
200
254
271
49.200
60.900
88.100
119.200
141.800
167.500
223.600
261.600
345.684
395.205
472.700
448.000
Razão/1 .000
nascidos vivos
168,3
179,3
179,6
202,4
215,8
263,2
349,3
441,7
484,5
513,8
650
704
685
1 Sumários estatístico, dos Estados Unidos em 80, 1994, e sumários
estatístico, dos Estados
Unidos em 79, 1996, tabela 98, sumários estatistícos dos Estados Unidos em 79,
tabela 97. Id.,
1995 na 101. Antes de 1980, devido a estimativas aproximadas à próxima centena,
as figuras
podem não chegar aos totais. lndice por 1.000 de nascimentos vivos formam grupo
especifica-
do. A partir de 1970, foram excluídos os nascimentos de não residentes nos EUA.
2 Começando cm 1990, o número inclui somente afro-amer,canos.
47
LYNN D. WARDLE
APÊNDICE C
$ 22.000
$16.000
$12.000
$ 9.000
$0
Nunca casada Divorciada Nunca casado Divorciado
$ 41.000
Família com
ambos os pais
Família de mães
solteiras ou
sozinhas
Famílias dc pais
solteiros ou
sozinhos
48
$ 50.000
$ 40.000
~ $ 30.000
es
‘ci
~ $ 20.000
es
e
ci
$10.000
QUESTÕES DE FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA FAMILIAR
APÊNDICE D
MONOPABENTAUDADE E POBREZA
Status Marital
49
o.
es
N
ci
-o
o
o.
es
e
es
ci’
e
ci
E
o
ci
es
ci
-o
e
e
ci
ci
ci
o.
0-
E Uma criança com menos de 6 anos
)0 ‘01 • Mais de uma criança com menos de 6 anos
ice
3C o-
iO o’
0’
-los
10 ‘o-
lO o-
0
Pais Mães
Divorciados Não casados
LYNN D. WARDLE
APÊNDICE E
ATIVIDADE SEXUAL E ADOLESCENTES
50%
450/o
400/o
ci
ci
E 350/o
es
ci
300/o
ci
e
~ 25%
ci
ci
ci
~ 200/o
es
-~ 15%
e
~ 100/o
ci
o.
5%
0%
50
APÊNDICE F
-o
es
o
ci
E
es
e
E
O
E
o
ci
es
te
~
E
ci
IA
e
ci
ci lii
o
o.
Dois pais Recasado Divorciado! Divorciado! Mãe não
separado — separado — casada
custódia custódia
materna paterna
51
LYNN D. WARDLE
APÊt’mIcE G
O NÃO USO DE DROGAS PELOS ADOLESCENTES ESTÁ RELACIONADO Á ESTRUTURA FAMIUAR —
~ 600/o
-e
~ 500/o
~0
-~ 40%
0.)
0.)
o
~ 300/o
-e
E
0.)
0)
-e
E 20~/o
0.)
00
~- 10%
0%
Dois pais
Não mora com
parentes
Drogas incluídas são maconha, LSD e outros psicodélicos, cocaína, anfctaminas,
52
Só mãe Só pai
LYNN O. WARDLE
PÊI’JDIoa G
~ 60%
o
-e
00
o
,~ 50%
e
o
e
E
oS
00 40~/o
ij
o)
o
e-
0)
e 3QO/~
00
-e
E
0)
0)
-e
E 20%
0)
00
e
0)
0)
o
~- 10%
0%
580/o
Dois pais Só mãe Só pai Não mora com
parentes
52
I5
QUESTÕES DE FAMÍLIA: A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA FAMILIAR
APÊNDICE H
200/o
00
E
o
o)
E
0)
00 10~
e
0)
o)
o
5)
no
Famílias com Famílias chefiadas Outras estruturas
dois pais pela mãe familiares
53
LYNN O. WARDLE
APÊNDICE 1
54
De jovens ftequentando
m Ensino médio
• Faculdade
7C
6C
E
~ 5C
o
-e
e
00
-c
00
o)
O 4C
e-
e
0)
o
0)
-e 3C
E
0)
00
e
0)
LO
2C
1c
O
Dois
pais
~1
APÊNDICEJ
Ano
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
Brasil
casamento/divórcio
NA / NA*
NA / NA
NA / NA
NA / NA
1,2 / NA
NA / NA
7,89 / NA
7,0 / 0,26
5,4 / 0,53
NA / NA
Estados Unidos
casamento/divórcio
11,0 / 2,55
9,3 / 2,3
8,5 / 2,18
9,3 / 2,18
8,2 / 1,01
10 / 4,82
10,5 / 5,22
10,1 / 4,95
9,8 / 4,70
8,9 / 4,44
* NA — não disponível.
55
LYNN O. WARDLE
APÊNDICE L
250/o
00
o 21~/o
4 ~ 200/o
4 4-,
00
Lo
• e
o
4.)
E
o)
~ 15%
o
• o-,
• o)
O
e-
E
4)
100/o
o)
o
e-
o
-e
E
00
e
4)
4)
o
0%
LYNN O. WAROLE
APÊNDICE L
250/o
00
o
o)
$4-
00
~
00
LO
e
o
4.)
E
o)
-e 15%
o
o-
o)
o
e-
E
41)
e
~ 100/o
o)
o
e-
o
-e
E
o) 5%
00
e
4)
4.)
o
0%
210/o
Dois pais Só mãe
Outras estruturas
familiares
56
41)
-e
o
o.
•0
00
-o
00
LO
00
o
4)
o
e-
o
-5
-e
00
o
-4;
o)
00
o ¾
e
4)
4.)
ti-
1
Dois
pais
Rosana Fachin
Juíza do TAPR e doutoranda em Direito pela UFPR.
1 INTRODUÇÃO
59
ROSANA FACHIN
60
guisa de exemplo no âmbito do Direito Civil temos a prisão por dívida, nos
casos de ação de busca e apreensão convertida em depósito, na qual há a
primazia do princípio da dignidade humana em face do patrimônio. No
âmbito da família há o recente julgado no Rio Grande do Sul, reconhecendo
a união homossexual como entidade familiar. Esses são fatos que estão a
demonstrar um Poder Judiciário sensível e atilado com o seu tempo.
Na evolução dos direitos garantidos aos filhos, pode oscilar2 a
jurisprudência, mas este rumo aponta para a igualdade que, estando na
Constituição, não pode ser afrontada.
A partir daí se almeja ir além da questão que diz respeito meramente
à formalidade processual, para encontrar nos destinatários desses
comandos elementos para reavaliar essa complexidade.
Cabe então verificar o sentido e o alcance que os litígios de família
têm ou podem ter nessa perspectiva. Não se trata apenas da compreensão
meramente técnica, mas sim da dimensão plural, aberta a outros campos
do saber.
2 Não apenas no Brasil tais variações são sentidas, conforme infere: “Casación,
5 de octubre de
1908. Rev., t. 6, Sec. 1.’, o. 67. Doctrina. El estado civil de hijo natural
adquirido baju cl
impeiío de una ley y co conformidad a dIa, continúa subsistiendo baju cl imperio
de Outra que
exige condiciones diferentes para su adquisicion.
“Doctrina. El art. 32 de la Lcy 4.808, dcl aõo 1930, concedió a los hijos
ilegítimos 00 nucvo
derecho, como fue ei de invocar como prueba de la paternidad para demandar
alimentos cl
rcconocimiento hecho por cl padre co la inscripción de nacimiento.”
61
ROSANA FACHIN
62
6 Ibidem, p. 85.
63
ROSANA FACHIN
por exemplo, a guarda, instituto que se abre para acolher novas percep-
ções, dentre elas a guarda compartilhada.7
A guarda dos filhos, via de regra, é estabelecida na dissolução da
sociedade conjugal, seja por acordo ou por sentença.
Segundo afirmaram os professores José Lamartine Corrêa de Oliveira e
Francisco José Ferreira Muniz~,8 “quanto à atribuição da guarda dos filhos, a
lei estabeleceu uma série de diretivas ao magistrado. Esses critérios não
são, porém, absolutos (...)“.
Regulada pela Lei 6.515, de 26 de dezembro de 1977, em seus
artigos 9~O e seguintes, a guarda, expressão que não significa apenas guar-
dar, importa precisamente em assumir responsabilidade, no interesse da
criança.
Consoante adverte Edgar de Moura Bittencourt,9 “a guarda de
menores é direito condicionado ao interesse de menores. Interesses de
ordem sentimental, moral e material (...)“.
Atender aos interesses do filho menor é, portanto, o núcleo da
questão, de onde Lamaftbte Corré’a de Oliveira e Francisco Muni~0 afirmaram:
“tal interesse e não a autoridade paterna é o eixo do problema. Por isso
mesmo, é o interesse do filho que informa a noção de ‘motivos graves’ que,
segundo o artigo 13, autorizam o juiz a ‘regular de maneira diferente da
estabelecida nos artigos anteriores à situação deles com os pais’.”
Em fase anterior, o Código Civil11 definiu a guarda, dispondo que
compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, tê-los em sua
10 OLIVEIRA, José Lamartine Cortês de; MUNIZ, Francisco José Fcrreira. Op. cit.,
p. 478.
11 A cxegese dogmática da matéria tem síntese conhecida no que concerne à
guarda: “O art. 326 do
64
últimos até que atingissem sete anos. A Lei 4.121 /62 alterou a segunda regra,
dispondo que os
filhos menores senam entregues à mãe, se ambos fossem culpados, facultando outra
decisão ao
juiz, se concluísse que haveria prejuízos morais pata os menores. E, ampliando o
que estava no
Decreto-lei 9.701/46, autorizou o juiz, caso os pais não reunissem condições de
ter a guarda
dos filhos menores, deferi-la à pessoa notoriamente idônea da famflia de
qualquer um dos
cônjuges, mesmo que não mantivessem relações sociais com o outro, assegurando-se
o direito
dc visita. A Lei 6.515/77 traçou o caminho que deverá ser atendido, tendo em
vista sempre o
bem do menor. Se a separação é consensual, o juiz homologará o que os cõnjuges
houverem
decidido, se conveniente aos interesses do menor e dos maiores inválidos. Se não
estiverem
preservados, poderá negar a separação (art. 34, § 2.’Q.
“Se o litígio se instala, observa-se o seguinte: a) se a causa é a conduta
desonrosa ou violação
dos deveres do casamento, a guarda é entregue ao inocente (att. 50, caput). Se
ambos forem
culpados, os filhos ficam com a mãe, salvo se o juiz verificar que a solução
trará prejuízos de
ordem moral à prole. Se resta provado que os pais não reúnem condições para o
encargo, ele
será deferido à pessoa notoriamcnte idónea da família de qualquer dos consortes;
li) se o
motivo é a ruptura da vida em comum, há mais de cinco anos (art. 5.~, § 1.0), a
prole fica com
aquele que a tinha em sua companhia. A solução se coaduna com a regra que
assegura o pátrio
poder aos pais, e que, com a igualdade jurídica, é exercido em pé dc igualdade;
e) se a separação
vem apt)iada em doença mental (art. 5.~, § 2.0), os filhos são entregues ao
cônjuge que reunir
melhores condições para assumir o encargo.” (VIANA, Marco Aurélio 5. Curso de
direito civil,
1993, v. 2, p. 130.)
12 Os fenômenos recentes da “constitucionalização” e da “publicização” do
Direito Civil provo-
cam relevantes transformações, nem todas assimiláveis a um mesmo sentido de
aferição
teórica: “(...) a publicizaçiio deve ser entendida como o processo de
intervenção legislativa
infraconstitucional, ao passo que a constitucionalização tem por fito submeter o
direito
positivo 50)5 fundamentos de validade constitucionalmente estabelecidos.
Enquanto o primei-
ro fenômeno é de discutível pettinência, o segundo é imprescindível para a
compreensão do
moderno direito civil.” (LOBO, Paulo Luiz Netto. c’onstitucionali~ação do
direito civi~Ç jan./mar.
1999, p. 101.)
13 “Esta condição especial deve garantir-lhes direitos e deveres
individuais e coletivos, bem como
todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o bom
desenvolvimento fisico,
mental, moral, espiritual e social cm condições de liberdade e de dignidade.”
(PEREIRA,
Tània da Silva, O princípio do melhor interesse da criança, 2000, p. 222.)
65
HOSANA FACHIN
66
67
ROSANA FACHIN
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69
ART. 1.601
NOTA INTRODUTÓRIA
71
PRÓLOGO
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ART. 1.601
ART. 1.601
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ART. 1.601
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76
ART. 1.601
mas não queria ser ou parecer indiscreto, permitindo-se um gesto que não
era habitual entre eles.
A conversa foi longa e, de novo, provocou em Mafalda uma euforia
suave e apaziguadora. Outros telefonemas se sucederam. Falavam sobre
tudo: cinema, teatro, trabalho, politica, inflação, comissões de inquérito.
De vez em quando, alguns mergulhos no interior dos sentimentos, da
visão de mundo, nas expectativas, esperanças, dúvidas e sonhos.
Dos telefonemas chegaram aos encontros. A princípio, nop/qyground
do edifício em que morava Miguel. Sempre que podia, levava até lá sua
pequena Sara para brincar, de modo que ver Mafalda e Miguel juntos não
suscitava, aparentemente, suspeitas ou fofocas. Até que um dia, Miguel a
convidou a ir até o apartamento para lá tomarem um café. Ao café seguiu-se
uma troca quase superposta de confidências. Simplesmente se tinham reco-
nhecidos apaixonados. Depois outros encontros. E mais outros. Diogo
mergulhara-se cada vez mais no trabalho e não suspeitava do que quer que
fosse. Fazia-lhe bem, contudo, sentir que a mulher estava mais solta e até
mais amigável no pouco que compartiam do dia-a-dia.
Mafalda, contudo, era suficientemente íntegra e lúcida para saber
que aquela situação ambígua, no limite, acabaria mal para todos. Resol-
veu pedir um encontro com Dom Vasco, do Mosteiro de São Bento. Ma-
falda ficara conhecendo Dom Vasco durante um tríduo preparatório da
Páscoa e lhe tinha imensa simpatia. Já havia recorrido aos seus conselhos
em outras situações difíceis. E sempre saíra de alma leve desses encontros.
A conversa com Dom Vasco foi longa, franca e, porque sem
concessões, às vezes penosa para ambos.
Dom Vasco cultivava um respeito extremo pela individualidade da
consciência e pela sua absoluta autonomia. Pensava e dizia que ninguém
pode decidir pelos outros, nem induzir a um comportamento qualquer, pois
este há de ser sempre a expressão da liberdade de cada um. Um ato
objetivamente mau e livre, dizia, valia mais que um ato induzido, ainda que
objetivamente bom. Entre outras coisas, observou a Mafalda, algo que lhe
causou estranheza, por mais que já conhecesse e admirasse a posição
libertária e autonomista de Dom Vasco. “Cada um tem o direito de procurar
a felicidade onde pensa que ela esteja”. Portanto, compreendia e não
censurava o comportamento de Mafalda. Mas suscitou-lhe o olhar para
outros valores. E fé-la compreender que a resposta eufórica do amor não
77
passa de uma concessão à nossa debilidade. É um dar que nada nos pede
ou nos cobra. Portanto, é algo que se situa na periferia de nossa humanida-
de e, por si só, não nos faz crescer. O verdadeiro amor só se acha enquanto
cada um se perde em favor do outro. “Veja isso, no próprio sexo. O
orgasmo, ao contrário do que se pode pensar, não gratifica sobretudo o
corpo de quem o sente, mas o coração de quem o proporciona”. Santa
Catarina de Siena dizia ‘não encontrarás repouso verdadeiro a não ser no
sangue’. Eu penso que isso se aplica plenamente ao repouso que os
parceiros buscam no amor. Sem sangue — isto é, renúncia, sacrifício, dom
de si mesmo — marido e mulher nunca encontrarão repouso. Poderão
encontrar o mesmo conforto efêmero da droga, da comida, do luxo, ou, em
outro nível, do elogio, do sucesso e do reconhecimento. Mas isso não é
repouso. É esquecimento momentâneo”.
Mafalda saiu meio aturdida do encontro com Dom Vasco. Não se
sentia uma mulher infiel, só por ter praticado sexo com outro homem que
não o marido. Não tinha a lembrança precisa das circunstâncias, nem sob
que forças estivera entregue, quando tudo aconteceu. Mas se sentia
imensamente infeliz por ter sonegado a Diogo o dom de si mesma, o
empenho em fazê-lo feliz. Em perceber que nunca esquecera de si
própria para lembrar-se do marido. Enfim, nunca se perdera para encontrar
Diogo. Reconheceu que, nisso, fora egoísta e leviana. Havia em Diogo,
percebeu Mafalda, um potencial exuberante de bondade, de dedicação,
que ela antes contribuíra para sufocar do que para eclodir-se e encontrar
a expansão a que estava preordenado.
A viagem para dentro de si mesma foi impactante e devastadora.
Mafalda sentia que se transubstanciava em outra pessoa. Não, não era
bem assim. Ao contrário: parecia que voltava a ser ela mesma. Percebera-se
integrada e harmônica. Não mais dividida entre sentimentos e projetos
contraditórios. Ganhava, de pouco em pouco, a posse de si mesma.
O encontro com Dom Vasco fora pela manhã. A noite. Mafalda se
achava plenamente reconciliada consigo própria. A hipótese de separar-se
de Diogo não ficava excluída. Mas já não lhe tocava o coração como
alivio. Ou como dor insuportável. Fosse o que fosse, propunha-se a ser
nobre e digna. Tinha-lhe subitamente voltado à memória aqueles versos
de Fernando Pessoa, tão de seu agrado:
78
ART. 1.601
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82
ART. 1.601
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5
ENTIDADES FAMILIARES
CONSTITUCIONALIZADAS:
PARA ALÉM DO NUMERUS CLAUSUS
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90
91
2 DA DEMARCAÇÃO JURÍDICO-CONSTITUCIONAL
DO TEMA
92
93
PAULO LUIZ NETTO LOBO
94
95
96
97
98
citas
enquadram-se no conceito amplo de família, do caput do art. 226,
por paridade de motivos; b) a referência à família tem sentido de prin-
cípio ou origem, devendo aplicar-se a todos os tipos que dela derivam
lógica e necessariamente; c) o conceito de família, sem restrições, do art.
226, aboliu as discriminações e injustiças que as normas de exclusão
continham nas anteriores Constituições brasileiras.
Gomes Canotilhot refere o “princípio da máxima efetividade” ou
“princípio da interpretação efetiva”, que pode ser formulado da seguinte
maneira: a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que
maior eficácia lhe dê. Ou seja, na dúvida, deve preferir-se a interpretação
que reconheça maior eficácia à norma constitucional. Aplicando ao tema:
se dois forem os sentidos que possam ser extraídos dos preceitos do art.
226 da Constituição brasileira, deve ser preferido o que lhes atribui o
alcance de inclusão de todas as entidades familiares, pois confere maior
eficácia aos princípio de “especial proteção do Estado” (captíl) e de
realização da dignidade pessoal “de cada um dos que a integram” (~ 8.0).
Konrad Hesse9 diz que a interpretação constitucional é concreti-
zação. Precisamente “o que não aparece de forma clara como conteúdo
da Constituição é o que deve ser determinado mediante a incorporação
da ‘realidade’ de cuja ordenação se trata”. Conseqüentemente, o intérpre-
te encontra-se obrigado à inclusão em seu âmbito normativo dos elemen-
tos de concretização que permitam a solução do problema.
A discriminação é apenas admitida quando expressamente prevista
na Constituição. Se ela não discrimina, o intérprete ou o legislador
infraconstitucional não o podem fazer.
99
100
101
102
ENTIDADES FAMILIARES CONSTITUCIONALIZADAS
103
104
105
11 CONCLUSÃO
2000, p. 89-112.
106
107
6
1 NOTAS INICIAIS
109
110
3 TJRJ, APC 7355/99, 14.’ Câmara Cível, j. 29.09.1998; APC 1813/93, 1.’ Câmara
Cível,
111
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117
JOSE CARLOS TEIXEIRA GIORGIS
118
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2001, p. 12-15.
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130
37 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Conteúdo jurídico da zgualdade. 3. ed. S~o
Paulo: Malheiros,
1999, p. 9-10.
131
132
A NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO HOMOERÕTIOA
206, passim.
133
134
44 TJRS, 8.’ Câmara Cível, AGI 599.075.496, Rei. Des. Breno Moreira Mussi, j.
17.06.1999,
quando se decidiu pela competência da Vara de Família para apreciar demandas que
envolves-
sem relações de afeto (homossexuais).
47 R.S’TJ 83/168.
135
136
137
Para os tribunais,
54 TJRS, 8.~ Câmara Cível, APC 598.362.655, Rei. Des. José Siqueira Trindade, j.
01.03.2000.
55 TJRS, 7.~ Câmara Cível, APC 70001388982, ReI. Des. José Carlos Teixeira
Giorgis,
j. 14.04.2001.
138
9 CONCLUSÃO
10 BIBLIOGRAFIA
56 TJBA, 3.’ Câmara Cível, APC 16313-9/99, ReI. Des. Mário Albiani, j.
04.04.2001.
139
140
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS
E CONCUBINATO ADULTERINO
144
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS E CONCUBINATO ADULTERINO
ii
reito de Família — quais sejam: o pluralismo das entidades familiares e a
afetividade — que serão abordados e pontuados a partir de uma inter- 1h
relação com os princípios genéricos, da liberdade e da igualdade, sempre
dentro de uma perspectiva de atendimento ao princípio maior, o da digni-
dade da pessoa humana.
O princípio do pluralismo das entidades familiares, encarado como
o reconhecimento pelo Estado da existência de várias possibilidades de
arranjos familiares, rompe com a orientação legal centenária, que vem
desde as Ordenações do Reino e que influenciou as Constituições brasi-
leiras do império e as republicanas, com exceção da CF em vigor, as quais
reconheciam, tão-somente, o casamento como exclusiva entidade fami-
liar e, como tal, a única idônea a receber a proteção do Estado.
145
Rio de Janeiro: LumenJuris, 1996, p. 188, para quem “(...) onde houver
estabilidade na união
146
ção por mais de dois anos comprovada enseja o divórcio direto, sem que
haja a necessidade de se manifestar o motivo, pois que, em casos como
este, entendemos que o legislador presume não mais haver o afeto.
A possibilidade de manifestação de afeto se dá através da convi-
vência, que está no sentido de familiaridade, com ou sem coabitação,
com ou sem relações íntimas, bastando a convivencia.
A publicidade e a estabilidade completam os requisitos para a possi-
bilidade de manifestação de afeto em uma entidade familiar, de sorte que
não se requer notoriedade, mas, sim, o conhecimento, ao menos por pessoas
mais íntimas, da existência da entidade familiar,t o que e facilitado através
da durabilidade da relação ou situação, o que não deverá ser determinado
com prazo aprioristicamente fixado por legislação, como aconteceu com a
Lei 8.971/94, especialmente em seu art. 1 •o~9
2 COMPREENSÃO DO CONCUBINATO ADULTERINO
E DO ADULTÉRIO
147
em seu artigo 1.727,10 refere ao concubinato como “as relações não even-
tuais ente o homem e a mulher, impedidos de casar
É importante esclarecer que, havendo separação de fato, pública, con-
tinua e duradoura, estaremos diante de união estável, e não de concubinato.1’
A questão do adultério diz respeito à ocorrência, simultânea, para ao
menos um dos participes do concubinato, o homem ou a mulher, de um
casamento, em que não há o rompimento jurídico ou fático da relação,
caracterizando, tecnicamente, o descumprimento do dever de fidelidade,
mencionado pelo Código Civil em vigor,12 ensejando a existência de
ilicitos na esfera penal e civil.
O adultério é tipificado como crime no âmbito criminal,13 embora
atualmente verifique-se nítida tendência à descriminalização, inclusive é
o que consta do recente Anteprojeto de Código Penal, parte especial.
Ademais, enquanto não ocorre a mudança legislativa, os penalistas pro-
põem a aplicação do direito penal mínimo ou do princípio da adequação
social14 de sorte que não se permita, em pleno século XXI, no mundo
148
149
150
FAMÍLIAS SIMULTÁNEAS E CONCUBINATO ADULTERINO
151
152
153
36 STF: Rec. Ext. 81.707/RJ, Relator Mio. Cordeiro Guerra, à unanimidade, datado
de
12.09.1975. lo: RTJ o. 75, p. 965-8.
38 STF: Rec. Ext. 103.775/RS, Relator Mio. Aldir Passarinho, relator para o
Acórdão Ministro
“(...) A mim parece, data venha, que não tem suporte em qualquer
princípio de moralidade é que venha a concubina a perder tudo
aquilo que reconhecidamente foi fruto do seu labor, empregado
na aquisição do imóvel juntamente com aquele que era seu
concubino, vindo este e sua esposa a ficar com tudo, mediante uma
manobra sobremodo ardilosa e condenável”.39
39 STF: Rec. Ext. 103.775/RS, Relator Mio. Aldir Passarinho, relator para o
Acórdão Ministro
Francisco Rezek, por maioria, datado de 17.09.1985. RTJ o. 117, p. 1.269.
40 ibidem, p. 1.270.
41 Idem.
155
42 STJ: Rec. Esp. 5.202/CE, Relator Mio. Barros Monteiro, por unanimidade,
datado de
11.12.1990. lo: internet www.stj.gov.br., pesquisado cm 15.10.2001.
156
157
seu marido
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a nossa concepção inicialmente proposta de entidade
familiar, como unidade integrada pela possibilidade de man~/èstação de afeto,
1996, p. 49-50.
45 GAMA, Guilherme Pereira Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de
família. S~o Paulo:
RT, 1998, p. 488.
46 SILVA, Américo Luís Martins. A evolução do direito e a realidade das uniôes
sexuais. Rio de Janeiro:
47 Idem.
158
49 Idem.
159
8 BIBLIOGRAFIA
160
161
MULTICULTURALISMO E DIREITO
DE FAMÍLIA NAS NORMAS DE DIREITO
INTERNACIONAL PRIVADO
Carlos Boucault
Professor de Direito Internacional Privado da Universidade
Estadual Júlio de Mesquita Filho — UNESP
(Campus de Franca-SP).
Membro da Comissão de Direito do Instituto Nacional
de Pesquisa e Estatística — INEP — Ministério
da Educação e Desporto.
Mestre pela Universidade de Brasília.
Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo.
Os segmentos acadêmicos e científicos vêm incorporando os con-
ceitos similares de globalização, mundialização, internacionalização, em
face da nova sistemática de escoamento da produção pelas empresas
internacionais, favorecendo o fluxo de capitais e de circulação de pessoas,
as quais, estimuladas por novas possibilidades de sobrevivência, que vão
desde a fuga de conflitos militares até o interesse em investimentos finan-
ceiros no exterior, intensificam os níveis migratórios pelos continentes.
Nessa ambientação, pessoas deslocam-se, unem-se umas às outras,
têm filhos, divorciam-se, adotam, requerem alimentos, desaparecem, mor-
rem, ensejando por parte dos países o redimensionamento das normas de
Direito Internacional Privado, visando à tutela dos direitos de família
relativos à condição dos estrangeiros que migram por variadas causas.
Um importante componente que deflui dessa realidade se traduz
pelo fenômeno do multiculturalismo representado pelos fatores de trans-
ferência cultural, os quais, a despeito do processo de “homogeneização da
sociedade industrial”, tipificado como “aldeia global” por Rqymond Aron e
163
1
CARLOS BOUCAULT
164
3 AUDIT, Bernatd. Droit int. privé. 3. cd. Paris: Econômica, 2000, p. 97.
165
CARLOS BOUCAULT
Haia, de 1993, contempla o movimento universalista, embora comporte
concepções divergentes dos Estados signatários. Uma nova tendência se
desenvolve na Alemanha, segundo a qual é preciso aproximar o DIP do
enquadramento conceitual do Direito Comparado, visando aos meios de
reduzir os conflitos de lei. Ainda quanto à unificação do direito material de
norma DIP, que é o objetivo maior das correntes universalistas, suas
convenções são tão numerosas que já resultam no fenômeno do conflito de
convenções internacionais.
Todavia, o que se verifica ainda é o fato de que os Estados têm a
última palavra em matéria de normas de DIP, segundo fatos doutrinários.
Tal constatação é questionada, em contrapartida, em face da existência
de sociedades internacionais não—estatais , comunidades não—religiosas,
sociedades internacionais comerciais etc. Deve ser considerado igual-
mente o fator da laicização do Direito Religioso em alguns segmentos
comunitário s.
Na verdade o Direito Internacional Privado se consolida na oposi-
ção entre os princípios do pluralismo e do territorialismo das leis, cujos
eflúvios emergem e recuam ao longo da evolução normativa dos institu-
tos do DIP. A função da lei e do juiz na determinação da lei aplicável ao
fato com conexão internacional tem papel preponderante na formação
histórica do Direito Internacional Privado como ciência: a ciência do
conflito de leis se desenvolve nos países de formação romanística, portanto,
de pensamento civilista, daí sua designação como conflito de leis; já o papel
do juiz sobreleva-se expressivamente em razão da universalização dos
conflitos, relembrando-se que o universalismo se consolida no ambiente
acadêmico do século XIX.
As considerações teóricas sobre as normas de DIP justificam-se
nesse trabalho, porquanto o Direito de Família é um dos tópicos vetores
de aplicação do Direito Estrangeiro e muitos de seus institutos se fundam
em princípios clássicos do DIP, como: doutrinas unilateralista e bilate-
ralista das regras de conflito, as quais não erradicam as contradições
quanto à vinculação com o Direito Estrangeiro originário da relação jurídi-
ca de Direito Privado. Quanto a esse último aspecto, tanto o personalis-
mo das leis, em voga no século XIX, tem caráter publicista, pois não se
desprende do conceito de soberania estatal, como o territorialismo apli-
cam Direito Estrangeiro mediante a adoção do critério da “localização”
da lei. A elasticidade do método de conflitos permitiu a classificação das
166
relações de família ora como estatuto pessoal ora como estatuto real, ou seja,
a título de exemplo, se o regime matrimonial fosse considerado estatuto real,
deveria ser aplicado caso os cônjuges não tivessem manifestado sua opção de
regime para indicá-lo, como na hipótese do regime legal de bens. Ou, mais
modernamente, aplica-se a lei do domicílio onde os cônjuges encontram-se
estabelecidos, admitindo-se a escolha tácita dos cônjuges.
Certamente, questões como casamento e outros institutos de Di-
reito de Família têm a natureza de estatuto pessoal com aplicação
extraterritorialista, em matéria de Direito Internacional Privado. Outros
exemplos corroboram esse pendant entre personalismo e territorialismo
das normas de DIP: a nacionalidade do pai, da criança, o estatuto da
mulher casada, a diferença da nacionalidade entre cônjuges, as normas
para reger os bens, o patrimônio da família, a lei nacional aplicada para as
convenções matrimoniais, além das formas de dissolução da sociedade
conjugal. II
A partir dessas evidências, cumpre-se relevar que é evidente que os
problemas migratórios não são uma novidade em Direito Internacional 1k
Privado, mas as novas características (ou talvez antigas) manifestadas por
outros fluxos migratórios estão a desafiar as politicas legislativas dos
II
III
países, em seu conjunto, destinadas a regulamentação de situações familia-
II
res mistas, assim como novas estruturas familiares que alteraram profunda-
mente o conceito de família nuclear. Paloma Abarca Junco4 comenta a perple-
xidade que assoma a Europa, em nível de múltiplos debates e várias
discussões pronunciadas pela Comissão para a Proteção dos Direitos
Humanos de Estrasburgo, no plano da identidade cultural do cidadão
imigrante, em nome do princípio da proteção cultural da pessoa, isto é, as
diferenças culturais e a aspiração à aquisição de nacionalidade no país
receptor conduzem a um conflito quanto à manutenção da identidade
cultural de origem, problema vinculado pelos descendentes de imigrantes,
como: colônia turca na Alemanha, colônia portuguesa na Alemanha, ira-
nianos em França, mexicanos nos Estados Unidos da América. A autora
perpassa as dificuldades de se conseguirem os objetivos de uma integração
flexível, criticando as insuficiências dos elementos de conexão clássicos do
Direito Internacional Privado, os quais provêm da disciplina constitucional
167
1
CARLOS BOUCAULT
168
169
CARLOS BOUCAULT
170
171
CARLOS BOUCAULT
BIBLIOGRAFIA
172
IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
NA UNIÃO ESTÁVEL
173
174
175
3 PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS
DA UNIÃO ESTÁVEL
176
177
~1
EUCLIDES BENEDITO DE OLIVEIRA
178
3 Como a Lei 8.971/94 não sofreu revogação expressa, entende-se que continua em
vigor
naquilo cm que não foi contrariada pela Lei 9.278/96. Enquadra-se nessa situação
o art. 2.
daquela Lei, que dispõe sobre direitos sucessórios do companheiro, pois, nesse
aspecto, a nova
Lei apenas acrescentou o direito de habitação. Já o conceito de união estável
sofreu substancial
mudança. Os requisitos pessoais e temporais (cinco anos) previstos na lei de
1994 não mais
subsistem na lei de 1996, dada a nova conceituação daquela espécie de entidade
familiar.
179
180
IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS NA UNIÃO ESTÁVEL
182
184
IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS NA UNIÃO ESTÁVEL
185
4 NOGUEIRA DA GAMA, Guilherme Calmon. Op. cit, p. 163, 180, 188 et seq.
5 CAHALI, Francisco José. União estável e alimentos entre companheiros.
São Paulo: Saraiva, 1996,
p. 60. Observa Caha/i, porém, que o impedimento da adulterinidade cede passo no
caso de
união estável de pessoas casadas mas separadas de Jato: “Efetivamente, a
separação de fato põe
termo ao regime de bens e aos deveres do casamento, dentre eles coabitaçáo e
fidelidade. Em
186
187
188
189
9 CONCLUSÃO
190
191
10 BIBLIOGRAFIA
192
Ternário II
I~q
1. Introdução. 2. A igualdade. 3. Os alimentos. 4. O dever de
alimentos e o dever de socorro. 5. Rendimentos da mulher. 6. A
necessidade. 7. A transpessoalidade na pretensão alimentária.
8. A dignidade da pessoa humana. 9. A interpretação sistemáti-
ca do direito. 10. A hermenêutica do art. 400 do Código Civil: a
necessidade, a aptidão para o trabalho e a disponibilidade para
o trabalho. 11. Conclusão. 12. Bibliografia.
1 INTRODUÇÃO
195
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, a mulher tem sido tratada como
ser inferior ao homem, menos dotada e, por isso, olhada com compaixão.
Com relação a direitos, os que lhe foram concedidos vieram quase como
esmola. Também historicamente, observa-se que a mulher manifestou ten-
dência a se submeter a tal situação, acomodando-se na posição de inferioridade.
Age dessa forma provavelmente por comodismo, possivelmente
por receio. O que não se aceita como justificativa de sua subserviência é
195
3 Conforme determina o art. 240 do Código Civil, no capítulo que trata dos
direitos e deveres da
197
MARIA ARACY MENEZES DA COSTA
2 A IGUALDADE
198
3 OS ALIMENTOS
199
200
19 Ibidem, p. 19.
20 Também Alvaro Vi/laça A~ez’edo afirma: “(...) podemos dizer,
conceituando-o, que o casamen-
to é um contrato solene, regulado por normas de ordem pública, no âmbito do
Direito de
Família (...)“ (Estatuto da família de]àto, p. 282).
201
21 Art. 3•o da Lei 6.515/77: “ A separação judicial põe termo aos deveres
de coabitação,
fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens, como se o casamento fosse
dissolvido.”
202
5 RENDIMENTOS DA MULHER
25 “No mérito, entretanto, tenho que está com razão o agravante. Ocorre
que, percebendo a
agravada uma aposentadoria em valor correspondente a dez salários mínimos, e
residindo em
imóvel próprio e quitado, evidencia-se, a priori, a sua desnecessidade em
receber alimentos do
ex-marido, sabido que, em principio, o dever de mútua assistência entre
cônjuges, com a
máxima vênia de respeitáveis entendimentos diversos, não vai ao ponto de
assegurar o padrão
de vida do que postula alimentos. (AI 599 204 443 TJRS, 7.’ CC, voto do Des.
Luiz Felipe
Brasil Santos, j. 02.06.1999.)
203
6 A NECESSIDADE
204
7 A TRANSPESSOALIDADE NA PRETENSÃO
ALIMENTÁRIA
205
31 MO~ITA, Maria Antonieta Pisano. Além dos fatos e relatos: uma visão
psieanalitica do direito
206
34 MOrrA, Maria Antonieta Pisano. Além dos fatos e relatos: uma visão
psicanalitiea do direito
de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família: a
família na travessia
do milênio. Anais do II Congresso Brasileiro de Direito de Família, p. 39-52.
207
208
PENSÃO ALIMENTÍCIA ENTRE CÕNJUGES E O CONCEITO DE NECESSIDADE
209
MARIA ARACY MENEZES DA COSTA
43 ldem.
44 Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada de Estatuto da Criança e
do Adolescente —
ECA.
210
211
212
213
O juiz não é neutro: o juiz que não tem valores e diz que o seu
julgamento é neutro, na verdade, está assumindo valores de conservação.
O juiz sempre tem valores. Toda sentença é marcada por valores. A
tradição do pensamento jurídico ocidental está edificada sobre princípios
da lógica formal, em que as normas são abstrações da vida social, e a
aplicação da norma consiste em estabelecer a relação lógico-substantiva
entre os conceitos contidos na norma e os fatos.55 O Direito é também e
principalmente decisão axiológica ou escolha.56
A lógica formal, silogística e aparentemente sistêmica parte de uma
verdade sem questionar sua veracidade, sua origem e suas conseqüências, e
não dá conta do fenômeno jurídico em toda sua complexidade e exten-
são. Quando uma mulher requer alimentos alegando “necessidade”, pode
ocorrer que realmente ela não tenha dinheiro para pagar o aluguel, nem
para abastecer seu carro, nem para ir ao supermercado. No entanto, ela
poderia estar trabalhando. Mas não quer trabalhar. Prefere pedir ao ex-
marido. A constatação, aqui, é de que a mulher realmente tem a “falta”
de alimentos e, portanto, objetivamente, extrinsecamente (sem questio-
nar o aspecto intrínseco) se constata a sua “necessidade”. No momento
54 Jbidem, p. lii.
214
1k
‘ml
10 A HERMENEUTICA DO ART. 400 DO CÓDIGO CIVIL:
A NECESSIDADE, A APTIDÃO PARA O TRABALHO
E A DISPONIBILIDADE PARA O TRABALHO
215
60 Nesse sentido, decisão relativa a uma jovem cujo casamento durou um ano e
dois meses:
216
217
tese, sempre “necessitando” que outra pessoa lhe alcance o sustento. Essa
necessidade, no entanto, quando decorre da inércia da mulher, de sua própria
opção por não trabalhar, ou seja, quando é conseqüência de um comportamento
omissivo, por acomodação à situação de dependente, não pode mais ser
considerado uma necessidade. Os tribunais não mais cedem facilmente às
argumentações sentimentais das mulheres ociosas.66
Muitas vezes os alimentos pleiteados são convenientes para a mulher,
mas não necessários. E o que ocorre quando ela trabalha, seus ganhos são
mais do que necessários para o seu sustento, e ainda assim ela pretende
que o ex-marido lhe alcance uma prestação periódica de alimentos.67’ 68
11 CONCLUSÃO
218
220
221
não é justo negar alimentos a uma mulher que, mesmo tendo profissão
própria e sendo independente, encontra-se impossibilitada momentanea-
mente de exercer suas atividades por motivos psíquicos ou físicos.
Ocorre, no entanto, que, justamente pela consciência da situação de
parasitismo de algumas mulheres, e se dando conta de que são utilizados
meios inadequados para buscar pretensos direitos, decisões há que exce-
dem esse cuidado e tendem ao extremo oposto e indistintamente negam
direitos alimentares a mulheres que efetivamente deles necessita. Assim,
não é reconhecido o direito a alimentos para uma profissional liberal que
circunstancialmente não pode exercer suas atividades por problemas pes-
soais ocorridos — situação eventual. A justificativa para negar o direito a
alimentos é a igualdade entre os gêneros: a mulher tem profissão, exerce
atividade remunerada (principalmente atividade liberal autônoma), é
emancipada e deve prover o seu sustento. No entanto, nessa negativa, é
desconsiderado o fato de que a emancipação e a capacidade para o trabalho
existem, sim, para aquela mulher, mas em situação de normalidade, e que a
situação posta no caso sub judice é eventual, está fora da normalidade do
quotidiano, constituindo-se em uma exceção na vida daquela mulher.
Dessa forma, em no me do princípio da igualdade, a mulher está sendo
tratada, não raro, de forma equivocada.
Cada situação requer um tratamento diferenciado. Cabe ao intér-
prete jurídico priorizar os valores determinantes do contexto de cada uma
dessas mulheres, observar os fatos que devem ser levados em considera-
ção e efetuar um diagnóstico seguro, de modo a concretizar a máxima
justiça possível.
A efetiva necessidade de cada uma dessas mulheres deve ser posta
com clareza, à luz de um conceito atualizado. Há que se distinguir necessi da-
de decorrente da impossibilidade para o trabalho da comodidade que vai objetiva-
mente gerar a necessidade de ser sustentada.
Se a necessidade é decorrência de desinteresse, da inércia, da
comodidade
ela se descaracteriza completamente e não mais pode ser recepcionada
como tal.
A hermenêutica jurídica, pela interpretação sistemática do Direito,
possibilita os meios adequados para uma interpretação justa do conceito
de necessidade que ultrapassa os limites do objetivo e penetra na sub jetivi-
dade de cada situação, individualmente.
222
12 BIBLIOGRAFIA
223
MARIA ARACY MENEZES DA COSTA
224
225
227
228
230
tos. Essa prisão não existe, portanto, para punir esse devedor, tanto que,
pagando-se o débito, a prisão será levantada.t3
Entendo que essa prisão tem seu pressuposto no débito alimentar
entre parentes, na relação familiar ex jure sanguinis.
Portanto, a prisão civil é meio coativo para um parente forçar o
recebimento do crédito alimentar do outro parente, nos limites estabele-
cidos na lei.
Se o art. 396 do Código Civil de 1916 autorizava que os parentes se
cobrem de alimentos, reciprocamente, os arts. 397 e 398, seguintes,
mencionavam os graus dessa responsabilidade alimentar, quando não
houvesse cumprimento espontâneo.
Ao seu turno, o novo Código Civil, por seu art. 1.694, alargou,
bastante, a abrangência desse antigo art. 396, reconhecendo o direito
recíproco a alimentos entre os parentes ou os cônjuges ou os conviventes.
Assim, o direito a alimentos é recíproco entre pais e filhos e extensivo a
todos os ascendentes, recaindo o dever nos mais próximos em grau, uns em
falta de outros; nao havendo ascendentes, o dever alimentar cabera aos
descendentes, guardada a ordem sucessória; na falta destes, aos irmãos,
bilaterais ou unilaterais (arts. 1.696 e 1.697 do novo Código).
Resta evidente que só as aludidas pessoas, e do mesmo tronco
ancestral, podiam, pelo Código de 1916, pedir alimentos, umas das
outras. Pelo novo Código, incluem-se, também, os cônjuges e os convi-
ventes que não são parentes.’4
O parente necessitado de alimentos poderá reclamá-los, portanto,
em primeiro lugar, de seus pais; na falta destes, de seus avós paternos ou
maternos; na falta destes, dos bisavós até esgotar a linha; na falta de
ascendentes, dos filhos, netos, bisnetos, sucessivamente; faltando os
descendentes, dos colaterais de segundo grau, irmãos germanos (bilate-
rais) e unilaterais. Assim, tios não devem alimentos a sobrinhos, nem
primos se devem, reciprocamente, alimentos.
Por outro lado, os afins, não sendo parentes, também, não podem
pedir, reciprocamente, alimentos.’5
14 Assim, não há que decretar-se, por exemplo, prisão civil por descumprimento
de dever
231
232
1976, t. X, p. 483.
21 RT 564/235-236. No mesmo sentido e do mesmo Tribunal, julgado RT 574/282-283;
RTJ
234
22 AZEVEDO, Alvaro Villaça. Curso de direito dvii, teoria geral das obr~gaç&es.
9. cd. São Paulo: RT,
2001, p. 194.
23 RT 562/66.
235
24 FRANÇA, Rubens Limongi. Manual de direito dvii. São Paulo: RT, 1972, v. 2, t.
1, p. 298.
236
Gusmão Carneiro.
237
decisão da 2.’ T. do mesmo Excelso Prcrório, sendo relator o Mm. Moreira Alves.
RT567/226.
RJTJSP 37/139.
34 BFITENCOURT, Edgard Moura. Alimentos. 4. ed. São Paulo: Leud, 1979, p. 117,
nota de
rodapé 238.
238
239
5 PRISAO REITERADA
240
bre-se, todavia, de que desse § 2.~ retirou-se a última frase, com a redação
determinada pela Lei 6.515, de 1977 (Lei do Divórcio).
Entretanto, reconheceu o STF, por sua 2.~ T. em 28.09.1976, por una-
nimidade, sendo relator o Mm. Cordeim Guerra,43 que o impedimento do
mencionado art. 733 “foi revogado” pelo art. 4•0 da Lei 6.014, de 27.12.1973,
que “restabeleceu” o § 1.” do art. 19 da Lei 5.478, de 25.07.1968.
Na redação do § 2.~’ do citado art. 733, determinada pelo art. 52 da
Lei do Divórcio, 6.515 de 1977, foi excluída a parte final daquele dispositi-
vo citado, modificando-o. Desapareceu, portanto, a proibição de que se
reitere o decreto de prisão. Agora, indene de dúvidas.
Assim, não mais existe na legislação o caráter proibitivo de nova
prisão do alimentante faltoso, o que foi reconhecido pela jurisprudência.’”
6 PRAZODAPRISÃO
1 fi~t~
45 JSTFT.Lex 51/363, 61/379 (o mesmo julgado RTJ 104/137), 18/310, 41/344; RTJ
115/1151
241
242
7 LUGAR DA PRISÃO
52 RJTSP-L.ex 108/333.
53 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos..., cit., p. 660; CRUZ, João Claudino de
Oliveira e. Dos
243
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
56 RJTJSP-L.ex 102/251.
57 RT 495/225.
244
245
1 INTRODUÇÃO
247
248
249
11 Idem.
250
16 Ibidem, p. 10.
17 Ibidem, p. 11.
18 CARDOZO, Benjamin N. A natureza do processo e a evolução do direito.
Trad. de Leda Boechat
Rodrigues. 3. cd. Ajuris, 1978, na notícia bibliográfica sobre o autor, p. 18.
251
252
22 Idem.
23 V., por todos, o Prof. Caio Mário da Silva Pereira: “Na sua primeira
parte, este inciso me pareceu
uma self executing provision. Fiel às minhas antigas convicções, entendia eu que
não havia
mister descesse o legislador a minúcias. A elaboração pretoriana seria
suficiente para que o juiz,
em cada caso, avalie as condições da união e declare, pelas circunstàncias
materiais, suficiente
para considerar a existéncia de uma ‘entidade familiar’. Não dispondo a
propósito da
‘conversão em casamento’, aí sim, entendia eu a conveniência de discipliná-la
pela via
administrativa ou judicial” (Direito civil: alguns aspectos..., cit., p. 180).
Observa o mesmo
doutrinador, ainda c cm outro passo: “Tenho sempre sustentado, cabe à doutrina
elaborar
definições. Toda vez que o Legislador se propõe definir, ou é excessivo, ou
incompleto. A
entidade familiar’, nos termos do art. 226, ~ 3., é uma decorrência da ‘união
estável’, e esta
e uma situação de fato, a ser apreciada em cada caso” (Op. cit., p. 185-186).
24 Cf., do autor, A união estável: um conceito?, no Repertório de Jurisprwdéncia
e Doutrina sobre
Direito de Família. ALVIM, Teresa Arruda; LAZZARINI, Alexandre Alves (Coords.).
São
253
254
255
28 Ibidem, p. 85.
256
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Editada a Lei 8.971 e inclusive por conta das críticas contra ela
lançadas — tanto em função de implicar retrocesso quanto a determinados
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aspectos, como, p. ex., o de determinar a avaliação da união estável mais
pela quantidade de tempo em que os conviventes permanecessem juntos ii —.
do que pela qualidade que a permanência pudesse ter,31 “pois a situação é
sempre a mesma, a soma do tempo não edifica direito algum à compa-
nheira, nem lhe cai proveito em detrimento da moral social”, segundo
escrito por Ac1a/~yl Lourenço Dias,32 bem como a circunstância de haver
desconsiderado a situação daqueles que, embora casados, estivessem
separados de fato e passassem a ter vida em comum com outra pessoa —,
veio a lume a Lei 9.278, de 1996, suprindo omissões e corrigindo aspectos
do anterior diploma, desde logo surgindo o debate sobre se teria ela ou
não ab-rogado, derrogado ou em nada interferido na Lei 8.971, principal-
mente porque, e como referido, seu art. 11 cingiu-se a revogar as disposi-
ções em contrário, o que, a rigor, seria desnecessário.
Conforme bem apontado por Guilherme Calmon, “a cláusula gené-
tica aposta na maioria dos textos legislativos dispondo quanto à revoga-
30 FACHIN, Luiz Edson. Curso..., cit., p. 87.
257
28 Ibidem, p. 85.
256
Editada a Lei 8.971 e inclusive por conta das críticas contra ela
II
lançadas — tanto em função de implicar retrocesso quanto a determinados
aspectos, como, p. ex., o de determinar a avaliação da união estável mais
pela quantidade de tempo em que os conviventes permanecessem juntos
do que pela qualidade que a permanência pudesse ter,31 “pois a situação é
sempre a mesma, a soma do tempo não edifica direito algum à compa-
nheira, nem lhe cai proveito em detrimento da moral social”, segundo
escrito por Ada/~yl Lourenço Dias,32 bem como a circunstância de haver
desconsiderado a situação daqueles que, embora casados, estivessem
separados de fato e passassem a ter vida em comum com outra pessoa —,
veio a lume a Lei 9.278, de 1996, suprindo omissões e corrigindo aspectos
do anterior diploma, desde logo surgindo o debate sobre se teria ela ou
não ab-rogado, derrogado ou em nada interferido na Lei 8.971, principal-
mente porque, e como referido, seu art. 11 cingiu-se a revogar as disposi-
ções em contrário, o que, a rigor, seria desnecessário.
Conforme bem apontado por Guilherme Calmon, “a cláusula gené-
rica aposta na maioria dos textos legislativos dispondo quanto à revoga-
30 FACHIN, Luiz Edson. Curso..., cit., p. 87.
257
- “É bom notar que Lei 9.278 não substituiu a Lei 8.971, mas
apenas a revogou em parte, naquilo que instituiu alguma norma
diferente e incompatível com que antes fora disciplinado pela
última lei. O certo, porém, é que a Lei 9.278 não regulou
inteiramente a matéria tratada pela Lei 8.971 e somente em um
ou outro ponto tratou de objeto que já havia sido cogitado por
258
259
260
O eminente Prof. Zeno Veloso, com quem ousei dividir esta mesa de
trabalhos, em função de um desejo íntimo de aprender mais e atento à
advertência de Kier/egaard Soren, que, “ousar é perder o equilíbrio por uns
instantes, mas não ousar é perder-se a si mesmo”, observa, após mencio-
nar a antiga súmula 380 do Colendo Supremo Tribunal Federal:
261
A
colaboração, como, por exemplo, a vida irresponsável, de má
• conduta ou de prodigalidade; a de mero companheirismo, na
1 relação aberta; a pautada por vícios de embriaguez, de jogo etc”.42
262
45 Ibidem, p. 118.
263
ambos, pois “bem adquirido por ambos já é condomínio, não precisa a lei
presumir”, devendo-se aplicar a presunção de condomínio no tocante ao
bem adquirido por qualquer um deles, desde que estável a união de vidas,
pois: “Presumir condomínio implica descartar prova da colaboração para a
aquisição patrimonial. Importa é haver ou ter havido família”.46
Respeitada a posição dos que pensam diversamente, entendemos
que a posição em que melhor se enquadra o art. 5.” da Lei 9.278/96 é a de
ser relativa a presunção dele decorrente.
Tal conclusão decorre tanto da circunstância de que os seus próprios
§ § 1.0 e 2.” apresentam hipóteses em que a presunção não ocorrerá como
porque o importante é a existência presente ou passada da união de fato e
segundo o desenho emergente do que consta nos arts. 1.0 e 2.0 da Lei
9.278, sem o que não será possível afirmar-se a presunção.
De outra parte, poderá um dos conviventes ter adquirido algum
bem com o produto advindo da venda de outro, de sua única propriedade
e anterior ao inicio da união de fato, caso em que, como já
visto, não é
e possível comunicação com o parceiro. Se a presunção for tida
como
e absoluta, não se admitindo ao primeiro a prova a respeito da circunstân-
eia referida, já que o bem foi adquirido na constância da vida em comum,
e
logicamente estar-se-á abrindo porta ao enriquecimento ilícito do outro
convivente.
É o que pensa também a Profa. Débora Goz~o:
46 Idem.
264
DIREITO SUCESSÓRIO
DOS COMPANHEIROS
Zeno Veloso
Professor de Díreito Cívil na Universidade Federal do Pará
e de Direito Civil e Direito Constitucional na Universidade
da Amazônia. Tabelião. Integrante da Comissão
que elaborou o Anteprojeto de Consolidação de Leis
de Família e Sucessôes. Membro fundador e Diretor
Regional Norte do IBDFAM.
1W
___________________ Sumário ___________________
1 APRESENTAÇÃO DO TEMA
267
ZENO VELOSO
268
2 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil. 3. cd. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1933,
v. VI, p. 59.
3 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituifões de dierito civil. 11. cd. Rio de
Janeiro: Forense, 1997,
v. VI, n. 447.
269
ZENO VELOSO
270
e’
3 SUCESSÃO ENTRE COMPANHEIROS —
LEIS 8.971/94 E 9.278/96
271
ZENO VELOSO
272
273
ZENO VELOSO
1
do Código Civil francês; o art. 1.933 do BGB; o art. 585 do Código Civil
italiano; o art. 945 do Código Civil espanhol; os arts. 3.574 e 3.575 do
Código Civil argentino; o art. 2.133, 3, do Código Civil português.
A exclusão da herança do cônjuge sobrevivente que estava separa-
do de fato do falecido constava nas Ordenações Filipinas,5 e Teixeira de
Freitas, no art. 973 da Consolidação das Leis Civis, consignou que, na
ordem dos cônjuges, a herança será deferida ao sobrevivente, desde que,
ao tempo da morte, vivessem juntos habitando a mesma casa , como
vimos antes.
É interessante registrar que, diante do estatuído no Livro 4, Título
94, das Ordenações, havia escritores e praxistas entendendo que, mesmo
estando divorciados os cônjuges (e as questões de divórcio pertenciam ao
Juízo Eclesiástico), o sobrevivo devia herdar do falecido, se este é que
tinha dado causa e era responsável pela separação (Barbosa, Portugal, Mello
Freire, Coelho da Rocha, Gouvea Pinto). Contra esta doutrina insurgiram-se Li~
Teixeira e o nosso Teixeira de Freitas (v. nota 25 ao art. 973 da Consolidação
das Leis Civis). Clóvis Beviláqua opina que aqueles autores que pretenderam
dar uma interpretação extensiva, beneficiando o cônjuge inocente, não
tinham razão, “em face da letra claríssima da Ordenação citada”.6 No
p. 118.
274
DIREITO SUCESSÓRIO DOS COMPANHEIROS
8 CAHALI, Yussef Said. O casamento putativo. 2. cd. Sao Paulo: RT, 1979, ~. 63,
~. 136.
e 158.
275
ZENOVELOSO
Admitida a concorrência do cônjuge sobrevivente com os descen-
dentes do de cujus~ observando o que acima foi exposto, caberá a ele quinhão
igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser
inferior à quarta parte de herança, se for ascendente dos herdeiros com
que concorrer (CC, art. 1.832). Esta solução se inspirou no art. 2.139, n. 1,
do Código Civil português.
Pelo exposto, se o falecido deixou até três filhos, a partilha se faz
por cabeça, dividindo-se a herança, em partes iguais, entre os filhos e o
cônjuge. No caso de o de cujus possuir quatro filhos, ou mais, e tendo de
ser reservada a quarta parte da herança à viúva ou ao viúvo, os filhos
repartirão o restante. Por exemplo: o autor da herança tem quatro filhos.
Ii Neste caso, o cônjuge sobrevivente fica com um quarto da herança, e os
três quartos restantes são destinados aos quatro filhos.
Mas esta reserva hereditária mínima (1/4), conferida ao cônjuge
1
sobrevivente, pressupõe que este cônjuge seja também ascendente dos
herdeiros com que concorrer, requisito que não é previsto no art. 2.139,
n. 1, do Código Civil lusitano. Se o de cujus deixou descendentes, dos
quais o cônjuge sobrevivente não é ascendente, será obedecida a regra
geral: ao cônjuge sobrevivente caberá um quinhão igual ao dos descen-
dentes que sucederem por cabeça.
E se o falecido possuía filhos com o cônjuge sobrevivente, mas
tinha-os, também, com outra pessoa? ~uidjuris? É hipótese que o Código
Civil não resolveu, expressamente, e que a doutrina e jurisprudência
deverão esclarecer. Neste caso, o cônjuge sobrevivente não é ascendente
de todos os herdeiros com que está concorrendo. Parece que, assim
sendo, a quota hereditária mínima (1/4) não é cabível.
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascenden-
tes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente (CC, art. 1.836). Na
concorrência com os ascendentes, já não se apresentam aquelas restri-
ções decorrentes do regime de bens do casamento (CC, art. 1.829, 1). Mas
a quota hereditária é variável: concorrendo com ascendente em primeiro
grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau (CC, art. 1.837).
Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão
por inteiro ao cônjuge sobrevivente (CC, art. 1.838). Pelo sistema do
novo Código Civil, como vimos, o cônjuge já concorre com os descen-
dentes (art. 1.832) e com os ascendentes (art. 1.837) do de cujus. E não
276
ZENO VELOSO
Admitida a concorrência do cônjuge sobrevivente com os
descen-
dentes do de czØus, observando o que acima foi exposto, caberá a
ele quinhão
igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota
ser
inferior à quarta parte de herança, se for ascendente dos
herdeiros com
que concorrer (CC, art. 1.832). Esta solução se inspirou no art.
2.139, n. 1,
do Código Civil português.
Pelo exposto, se o falecido deixou até três filhos, a
partilha se faz
por cabeça, dividindo-se a herança, em partes iguais, entre os
filhos e o
cônjuge. No caso de o de cujus possuir quatro filhos, ou mais, e
tendo de
ser reservada a quarta parte da herança à viúva ou ao viúvo,os
filhos
repartirão o restante. Por exemplo: o autor da herança tem
quatro filhos.
Neste caso, o cônjuge sobrevivente fica com um quarto da
herança, e os
três quartos restantes são destinados aos quatro filhos.
Mas esta reserva hereditária mínima (1/4), conferida ao
cônjuge
Ii’
sobrevivente, pressupõe que este cônjuge seja também ascendente
dos
herdeiros com que concorrer, requisito que não é previsto no
art. 2.139,
ir n. 1, do Código Civil lusitano. Se o de cujus deixou
descendentes, dos
quais o cônjuge sobrevivente não é ascendente, será obedecida a
regra
geral: ao cônjuge sobrevivente caberá um quinhão igual ao dos
descen-
dentes que sucederem por cabeça.
E se o falecido possuía filhos com o cônjuge sobrevivente, mas
tinha-os, também, com outra pessoa? Quidjuris? É hipótese que o Código
Civil não resolveu, expressamente, e que a doutrina e jurisprudência
deverão esclarecer. Neste caso, o cônjuge sobrevivente não é ascendente
de todos os herdeiros com que está concorrendo. Parece que, assim
sendo, a quota hereditária mínima (1/4) não é cabível.
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascenden-
tes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente (CC, art. 1.836). Na
concorrência com os ascendentes, já não se apresentam aquelas restri-
ções decorrentes do regime de bens do casamento (CC, art. 1.829, 1). Mas
a quota hereditária é variável: concorrendo com ascendente em primeiro
grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau (CC, art. 1.837).
Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão
por inteiro ao cônjuge sobrevivente (CC, art. 1.838). Pelo sistema do
novo Código Civil, como vimos, o cônjuge já concorre com os descen-
dentes (art. 1.832) e com os ascendentes (art. 1.837) do de cujus. E não
276
277
ZENO VELOSO
278
279
ZENO VELOSO
280
281
ZENO VELOSO
O Código Civil tem de ser abrangente, mas não pode ser exclusivo.
Como se sabe, o Código não contém toda a legislação civil; não é — e nem
que o quisesse seria — o estatuto completo da vida privada. Ao contrário,
vivemos a “Idade da descodificação”, para usar o título sugestivo do livro
de Natalino Irti. Sem contar a legislação extravagante, proliferam, ao lado
dos Códigos, microssistemas legais, conforme Orlando Gomes,12 que cita
os rnicrossistemas das sociedades por ações, o estatuto da terra, o do mercado
de capitais, o da legislação bancária, o do inquilinato, o da responsabili-
dade civil, o dos direitos autorais, o dos seguros, o da propriedade industrial,
o da proteção ao consumidor.
No art. 2.046, o novo Código revoga expressamente o anterior,
toda a legislação civil que abrange, ou que com ele seja incompatível.
12 GOMES, Orlando. Novos temas de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 1983,
cap. 3, p. 40;
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
1998, p. 148.
282
DIREITO SUCESSÓRIO DOS COMPANHEIROS
Porém, a matéria que não foi nele inteiramente regulada, ou que com ele
não é inconciliável, continua vigorando, e o princípio já estava previsto
no Digesto (Livro 1, Título III, frags. 26 e 28): posteriores Iegis ad priores
pertznent, nisi contrarzae sint.
A própria Constituição, que é a norma superior, o comando supre-
mo, que confere o fundamento de validade a todo o ordenamento jurídi-
co, não desconhece ou revoga, automaticamente, a legislação ordinária
anterior. Ao contrário, esta continua vigorando, se não for incompatível
com a nova Constituição, que lhe confere novo fundamento de validade.
Hans Keísen explica o fenômeno, em passagem magistral: “o que existe
não é uma criação de Direito inteiramente nova, mas recepção de normas
de uma ordem jurídica por uma outra.”’3 ¶
Quanto ao direito real de habitação, beneficiando o companheiro
‘41
sobrevivente, embora o novo Código Civil não tenha se referido ao assun-
to, deixando de repetir o que estatui a Lei 9.278/96, não havendo, todavia, aa
revogação expressa, nem ocorrendo contradição, é possível, teoricamente,
a subsistência da lei especial e da lei geral posterior, regendo o mesmo
assunto. [1
II—
13 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. deJoão Baptista Machado. 4. cd.
Coimbra, 1976, n. 34,
p. 290.
283
ZENO VELOSO
284
sucessão dos colaterais não deve ir além do 3~o grau.15 Não obstante, o
Código Civil português (art. 2.147), o espanhol (art. 954), o argentino
(art. 3.585) admitem a vocação dos colaterais até o 4•o grau. No Código
Civil italiano (art. 572), o chamamento da parentela vai até o 6.0 grau. O
Código Civil francês, de 1804, na versão original de seu art. 755, afirma-
va que não sucedem os parentes além do 12. grau. A Lei de 31 de dezembro
de 1917 modificou este dispositivo, cuja primeira alinea, agora, prevê:
15 RODRIGUES, Sflvio. Direito civil. 24. ed. Slo Paulo: Saraiva, 2001, v. 7, n.
41, p. 83.
285
ZENO VELOSO
286
287
ZENOVELOSO
288
289
ZENO VELOSO
Art. (...).
A companheira ou o companheiro participará da sucessão do
outro, com quem convivia ao tempo do falecimento, nas condi-
ções seguintes:
1 — se concorrer com descendentes, terá direito a um quinhão
igual ao dos que sucederem por cabeça, salvo se tiver havido
q ~ comunhão de bens durante a união estável e o autor da herança
não houver deixado bens particulares, ou se o casamento dos
01,1
companheiros, se tivesse ocorrido, fosse pelo regime da separa-
Esta emenda não cria fatos, não inventa soluções, não dá pulos,
não introduz grandes novidades. Simplesmente procura resgatar o que a
Constituição e as leis, atendendo às esperanças e aos sentimentos sociais,
já tinham estabelecido, sem que se vislumbre motivo algum para que o
quadro fosse mudado. Reside aí, talvez, o mérito que a proposta possa
290
ter. Esta emenda, singelamente, quer fazer justiça aos brasileiros e brasi-
leiras que constituem famílias respeitáveis e dignas, com base nos laços
da afetividade, da compreensão, da solidariedade, da lealdade, da mútua
assistência moral e material, formando uniões estáveis que merecem o
mesmo tratamento dispensado às famílias fundadas no casamento.
291
1 INTRODUÇAO
293
1 INTRODUÇÃO
293
2 NOTÍCIA HISTÓRICA
294
4 DIREITOS DA PERSONALIDADE:
COORDENADAS FUNDAMENTAIS
295
BRASILEIRO
296
297
7 MORAES, Maria Celina Bodin de. Sobre o nome da pessoa humana. Revista
Brasileira de Direito
de Família. Instituto Brasileiro de Direito de Família. Porto Alegre, Síntese,
n. 7, p. 38-59,
out./nov./dez. 2000. TEPEDINO, Gustavo. O papel da culpa na separação e no
divórcio. In:
Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 367-388. LEITE,
Eduardo Oliveira.
Mulher separada. Continuidade do uso do nome do marido. Parecer. Reãsta dos
Tábnnais o. 780,
p. 103-21, out. 2000.
298
8 O problema é que quase nunca se pensa na propriedade com que dele tratou
Vinícius de
Moraes no Soneto da fidelidade, do qual transcrevemos os versos finais:
299
7 BIBLIOGRAFIA
300
1 UM BEM-QUERER
301
buscar alimentos.
302
303
3 UM QUERER LIMITADO
304
305
306
de todas as inutilidades
A legislação infraconstitucional que veio a regular essa nova espécie
de famíliat6 acabou praticamente copiando o modelo oficial do casamento.
Além de estabelecer os requisitos para o seu reconhecimento, impõe
deveres e cria direitos. Assegura alimentos, estabelece o regime de bens,
tnsere o convivente na ordem de vocação hereditária, institui usufruto e
concede direito real de habitação. Aqui também pouco resta da vontade do
par, cabendo concluir-se que a união estável se transforma em um “casa-
mento por decurso de prazo”.
A exaustiva regulamentação da união estável a faz objeto de um
dirigismo estatal não querido pelos conviventes. Tratando-se de relações
de caráter privado, cabe questionar a legitimidade de sua publicização.
Assim, passou o Estado a regular não só os vínculos que buscam o
respaldo legal para se constituírem, mas também os relacionamentos que
escolhem seus próprios caminhos e que não desejam qualquer interferência.
307
7 BIBLIOGRAFIA
308
A PRATICA DA MEDIAÇÃO
EIiana Riberti Nazareth
Psicóloga. Psicanalista do Instituto de Psicanálise
da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Terapeuta de Família e de Casal — Mediadora.
Coordenadora do Núcleo de Mediação do IBDFAM-SP.
Membro da International Society of Family Law.
Membro do Fórum Mundial de Mediação.
1 INTRODUÇÃO
Como este artigo versa sobre A Prática da Mediação, penso ser útil
apresentá-lo de forma a mostrar como se dá o procedimento passo-a-passo.
Desse modo, o profissional que se interessa pela Mediação poderá ter
uma noção de suas etapas de desenvolvimento.
Desejo esclarecer também que muitos dos aspectos que abordo a
seguir são mais aplicáveis à Mediação Familiar.
A Mediação Comercial, por exemplo, se assemelha mais à Concilia-
ção, algo com o qual os advogados, administradores de empresas e econo-
mistas estão mais familiarizados.
A Mediação Familiar tem sua especificidade, pois é voltada à con-
dução de conflitos que envolvem níveis diversos de complexidade, em
que o intrapsíquico e o intersubjetivo exercem papéis preponderantes.
No entanto, cabe ressaltar, a Mediação se aplica a qualquer contex-
to de relação humana: às relações comerciais, como já dito, mas também
às de vizinhança, de comunidade, entre países, etnias etc.
309
2 O PROCEDIMENTO DA MEDIAÇÃO
310
A PP~T~CA DA MED~AÇAO
Vantagens
• voluntária;
• rápida;
• consensual;
• evita a manutenção do conflito;
• facilita a comunicação do casal antes, durante e após uma
separação;
• gera alternativas criativas;
• o mediador é escolhido pelas partes, o que lhe confere maior
confiança e credibilidade;
• acordos são construídos pelas pessoas; portanto, são mais dura-
douros, pois atendem suas necessidades, evitando o apareci-
mento das chamadas “ações-filhotes”.
Objetivos
• Fomentar relações mais harmoniosas dentro das condições possíveis.
Poder ser escutado e conseguir acertos referente a questões apa-
rentemente inconciliáveis resulta em alivio importante de an-
gústia e sofrimento. De acordo com Ho/mes e Rahe (1967), o
divórcio ocupa o segundo lugar no ranking dos acontecimentos
estressantes. Antes dele, vem somente a morte do companheiro.
Depois dele, vem a morte de amigos queridos e a própria prisão.
• Estimular a autodeterminação da família.
311
META DA MEDIAÇÃO
Funcionamento + Primitivo —> Funcionamento + Maduro
Inflexibilidade —~ Maleabilidade
Desconfiança —> Cautela
Dominar —~ Ceder agora Benefício Posterior
Submissão —* Concessões
Culpa —* Responsabilidade
Ganhar —* Negociar
312
A PRÁTICA DA MEDIAÇÃO
3 ETAPAS DA MEDIAÇÃO
A seguir, apresento os passos que compõem as seis etapas da
Mediação.
313
Etapa 4: Negociação
O uso de determinadas técnicas promove e agiliza a negociação de
opções:
• micro-enfoque;
• perguntas esclarecedoras;
• redimensionamento do problema;
• desdramatização;
• questionamento circular;
• refrasear;
• refletir;
• assinalar;
• inverter os lugares;
• convite a sugestões;
• transformar os pactos implicitos em acordos explícitos;
• promover condições para a consecução de ‘combinados’ pontuais
em cada entrevista.
Etapa 5: Agenda
Levantamento das prioridades e possibilidades de consecução no
tempo.
Etapa 6: Fechamento
Conclusão do processo, confecção do acordo, se existir, e retomada
do caso pelos advogados para o adequado encaminhamento jurídico.
314
A PRÁTICA DA MEDIAÇÃO
4 CONCLUSÃO
5 BIBLIOGRAFIA
315
317
318
3 TENDÊNCIA EUROPÉIA
319
320
321
322
323
324
i
do Ministério da Educação — Secretaria de Educação Superior — junho de
2001 — como item a ser desenvolvido pelo núcleo de prática jurídica dos
cursos de Direito.
Destarte, para que um curso de Direito alcance o conceito “A”,
terá que ter promovido o ensino de técnicas da mediação, conforme item
5, letra C, II — Organização Didático-Pedagógica, dos Padrões de Quali-
dade do Curso de Direito.
Ressalte-se, outrossim, a importância da distinção técnica estabelecida
no mesmo dispositivo supra mencionado, no número 4, a arbitragem; e no
número 5, “prática de atividade de negociação, conciliação e mediação.”
8 íbidem, p. 47. “L’écoute ‘L’oreillo d’oro’ c’est comme si par tout son
Être, et dans une notion
d’avenir, 11 ecoutait vibrer les fibres des violons qui n’existaient pas
encore... Ii écoutait... Ii
appeiait cela avoir ‘l’oreillo d’oro’ Seul le bois ainsi choisi pouvait enfanter
la ‘nota perfecta’
digne de ‘i’anima dei vioiono’.”
325
7 CONCLUSÃO
326
8 BIBLIOGRAFIA
327
1!!
III
II,,, ri
Ir’
1 411
l~.
iii
1 INTRODUÇÃO
329
330
331
332
333
334
335
336
337
336
Como diz Hans Jonas (Le principe responsabilité, 1995, 3. ed., Paris,
p. 127), é inegável a presença de “elementos subjetivos” no agir e sofrer
dos animais; negar essa presença é uma “violência dogmática”. E, sobre
essa negação ideológica cartesiana da subjetividade animal, escreve:
337
realista; em 1990, seu texto foi alterado: o titulo Coisas (Sachen) da Parte
Hpi
1
‘II 4 No original: “Tous les objeto des inclinations n’nor qu’une valeur
conditionellc; car si les
incinations cries bcsoins qui co dérivent n’existaient pas, ccs objcts seraient
sans valeur. Mais les
inclinations mêmes, ou les sources de nos besoins, ont si peu une valeur absolue
et méritent si peu
d’êtrc désirées pour elles-mêmes, que tons les êtrcs raisonnablcs doivent
souhaitcr d’eu étre
entiérement délivrés. Ainsi la valeur de tons les objets, que nuns pouvons nuns
procurcr par nos
actions, cor toujours conditionnelle. Les êtres dont l’existcnce ne dépcnd pas
dc nutre volonté,
mais de la nature, n’uns aussi, si cc sons des étres privés de raison, qu’une
valeur rclativc, cclle dc
moycns, es c’est pourquoi no les appdllc dcs choscs, tandis qu’au contrairc ou
donne le num de
personnes aux êtres raisonnables, parce que leur nature même eu fait des fins en
soi, c’est-à-dirc
quelque chose qui ne doit pas être employé comme moycn, et qui, par c005équent,
restrcint
d’autant la liberté de chacun (et lui cor no objet dc respect)”
15 O trecho de Kant nos Fundamentos da meta]isica dos costumes é muito
citado porque, a todos os
personalistas, agrada a idéia do homem como fim, e nunca, como meio. Isto está
bem; mas Kant,
além dos erros filosóficos de negar valor em si à natureza e à vida em geral e
dc incluir os animais
entre as “coisas” — esse erro é, hoje, erro também jurídico em seu próprio país
—, expressa a idéia
de pessoa como fim, sem 4gação logica com a moral formal que ele sustenta com
base no imperativo
categórrio. Sua concepção de pessoa — certa, no resultado — não se deduz de seus
raciocinios
formais. ‘En vérité, doit-on ajoutcr, l’intuition morale de Kant était pius
grande que cc que
dictait la logique do systême. Le vide particulier auquel conduit “l’impératif
catégorique
purement formei avec sou critêre dela possibilité d’universaliser sano
contradiction la maxime du
vouioir, a été remarqué maintes fois. Mais Kant lui-même rachetait le simple
formalisme de sou
impératif catégurique par um principe de comportement ‘matériel’, qui
prétendument eu
découle, abro qu’en vérité il mi est surajouté: lc respect dc la dignité des
personnes en tant
qu’elles sons lento propres fins. Le reproche de vide ne vaus certainement pas
pour cela!”
338
339
Même si la murt est considérée comme imminente, les soins urdinairement dus à
une personne
malade ne pcuvent être légitimement interrunipus. L’usage des analgésiques pour
ailéger les
suuffrances do nioribund, meme au risque d’abréger ses jours, peut être
moralement conforme
à la dignité humaine si ia mort n’est pas volue, ni comme fio ni comme moyen,
mais seulement
prévue et tolérée comme inévitable. Les soma palliatifs constituent une forme
priviiégiée de la
charité désintéressée. A cc titre ils doivent être encuuragés”.
341
“licito/ilícito”, é ato ilícito, ainda que sem sanção). Toda vida individual
se insere no fluxo vital coletivo, de tal forma que o titular não é o
soberano absoluto de sua vida; a vida de cada um é valor que, mediata-
mente, a todos interessa.
Uma segunda concretização da intangibilidade da vida humana é a
proibição do abortamento do embrião, isto é, a interrupção voluntária da
gravidez. A célula una (zigoto), resultante da fusão dos gametas e, em
seguida, multiplicada por desenvolvimento interno no ventre materno, é,
sem dúvida, um novo ser humano que já recebeu sua própria parcela de
vida, já se inseriu com individualidade no fluxo vital contínuo da nature-
za humana. Tem vida própria e, no mínimo, capacidade para ser amado.
Filosoficamente, ou eticamente, é, pois, pessoa humana. Do ponto de
vista jurídico, pode não ter “personalidade civil” (art. 4.” do Código Civil e
art. 2.” do novo Código), mas já é sujeito de direito (art. 4.”, última parte,
do Código Civil, e art. 2.”, última parte, do novo Código). Constitucional-
mente, não há, por fim, como negar que o feto assim constituído está
~ protegido tanto pelo princípio da dignidade da pessoa humana que
pressupõe o direito à vida quanto pelo caput do art. 5.” da CR.20
Por outro lado, do embrião pré-implantatório, resultante de proces-
sos de fecundação assistida, ou até mesmo de clonagem, constituído
artificialmente e que ainda está fora do ventre materno, por não estar
integrado no fluxo vital contínuo da natureza humana, é difícil dizer que se
trata de “pessoa humana”. E verdade que, por se tratar da vida em geral e
especialmente de vida humana potencial, nenhuma atividade gratuitamen-
te destruidora é moralmente admissível, mas, no nosso entendimento, aí já
não se trata do princípio da intangibilidade da vida humana; trata-se da
342
343
da nos arts. 8.”, 9.0e 10 do CDC (Seção: Da proteção à saúde e segurança), tem
sede constitucional, seja como decorrência do princípio da dignidade, seja por
1~
344
RÉQUIEM PARA UMA CERTA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
345
25 A necessidade cria direito (Cf. Alain Sayag, Essai sur le besoin createur de
droit. Paris: LGDJ, passim).
346
5
são eles: vida (é o pressuposto), segurança (12 conseqüência), propriedade
(2.0 conseqüência) e liberdade e igualdade (3.a conseqüência), sendo o no
pressuposto, absoluto e as conseqüências, “quase absolutas”. MII
Finalmente, a terceira conseqüência do princípio da dignidade é a
~1I
consistente no respeito aos pressupostos mínimos de liberdade e convivência
~guali-
tária entre os homens (condições culturais). Excluindo o direito à vida e o
direito à integridade física e psíquica, já tratados, relacionam-se com esta
conseqüência os demais “direitos de personalidade” — mas não em todos os
seus aspectos, e sim, nos aspectos fundamentais; são, aqui, direitos que se
prendem ao livre desenvolvimento da pessoa humana no seu meio social.
A título de exemplo, lembramos as seguintes concretizações:
a) direito à identidade, especialmente direito ao nome. Trata-se de ter
iden-
tidade e nome. No século XIX, segundo Heymann-Doat (Libertés
publiques..., cit., p. 145), a prisão era um “espaço extralegal”, daí
347
27 No original: “ne pas iaisser pénétrer dans i’enceinte de la prison les foros
des condamnés... et
donner à chaque détenu un número très apparent qu’ii porte attaché au bras
droit. C’était
priver les prisonniers du droit ie plus élémentaire de ia persone, ie droit à un
nom
28 Cf. art. 1.120 do Código Civil e art. 598 do novo Código Civil.
29 Sobre essas cláusulas abusivas, mas vistas sob ângulos diferentes (abuso de
direito, fatores
economicos etc), Le Gac-Pech, La proportionna/ité eu droitprivé des contrate.
Paris: LGDJ, 2000,
p. 161 et seq.
348
ção feita pelo prefeito; o anão estava sendo tratado como coisa.
Também em alguns programas de auditório, no Brasil, a condi-
ção “desfrutável” com que o apresentador trata a pessoa que ali
está fere a dignidade, nesse capítulo da igualdade básica dos
seres humanos.
d) direito à intimidade, ao sigilo de correspondência etc. A Corte
Européia
dos Direitos do Homem desenvolveu o direito à intimidade,
compreendendo nele a vida sexual. Quanto à correspondência,
o artigo 50, XLIX, da CR determina: “é assegurado aos presos
respeito à integridade física e moral” e, de fato, pelo princípio da
dignidade da pessoa humana, todo preso deve ser tratado com
humanidade; ora, segundo decisão da Corte Européia dos Direi-
tos do Homem, no “affaire Fell et Burger” de 25 de março de
1983, os presos também têm direito ao respeito de sua corres- 41
pondência (Heymann-Doat, op. cit., p. 146).
Sintetizando tudo que procuramos transmitir com este artigo, con
cluímos: a) diante da “confusão geral” criada por “gregos e troianos” na
utilização do princípio jurídico da dignidade da pessoa humana, impõe-se
ao jurista brasileiro, evitando uma axiologia meramente formal, dar indi-
5
cações do conteúdo material da expressão; b) há graves falhas científicas
na concepção filosófica da pessoa humana como ser dotado de razão e
vontade, ou autoconsciente (concepção insular). Segue-se daí que é
insuficiente a idéia de dignidade como autonomia, a que essa concepção
dá sustentação. A pessoa humana, na verdade, se caracteriza por partici-
par do magnífico fluxo vital da natureza (é seu gênero mais amplo),
distinguindo-se de todos os demais seres vivos pela sua capacidade de
reconhecimento do próximo, de dialogar, e, principalmente, pela sua
capacidade de amar e sua abertura potencial para o absoluto (é sua dife-
rença específica) (concepção da pessoa humana fundada na vida e no
amor); c) com esse fundamento antropológico, a dignidade da pessoa
humana como princípio jurídico pressupõe o imperativo categórico da
intangibilidade da vida humana e dá origem, em seqüência hierárquica,
aos seguintes preceitos: a) respeito à integridade física e psíquica das
pessoas; b) consideração pelos pressupostos materiais mínimos para o
exercício da vida; e c) respeito às condições mínimas de liberdade e
convivência social igualitária.
349
4 BIBLIOGRAFIA
350
~I~l ~11~ ~
rr;kI 1 Ir
III
Bi’~I 1 ‘1 i iii
‘iii
lo
1 O CASAMENTO
5
O casamento é um ato jurídico solene ad solemnitaten, ou seja, de
todos os atos é o que necessita de maior formalidade para sua validade no
contexto social, tais como a publicação de editais, as portas abertas para
o simbolismo de maior divulgação no meio social, não somente dando
notícia pública de que naquele recinto se está convolando um ato jurídico
matrimonial, como também para os tradicionais efeitos da participação
de qualquer cidadão da mesma comunidade, quando podem intervir, gri-
tando ou denunciando todos os aspectos que impeçam a realização nota-
damente os que deram origem aos nominados, impedientes públicos.
Desde a primitividade o ato era realizado pelo chefe da tribo, o pagé,
a autoridade religiosa, em suma, a importância do ato jurídico era tanta que
somente as pessoas embuídas de notório poder, força ou com munus
especiais concedidos pelos dirigentes politicos e religiosos, é que se reves-
tiam das qualidades para presidir o ato jurídico solene do casamento.
Sempre houve a convergência triangular de três oralidades. A das
duas partes diante da autoridade, expressando de forma livre a volição de
353
355
356
1;
num contrato de adesão.
É interessante comentarmos Mário de Camargo Sobrinho, em sua mm
obra Contrato de adesão, quando fala sobre Orlando Comes que A
357
358
359
360
Ternário III
O ESTADO E OS ESTADOS
DE FILIAÇÃO
A
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ê.iiq ii
tF~ ~ h. s
IHI Ii»
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A PRESUNÇÃO DA PATERNIDADE NO
CASAMENTO E NA UNIÃO ESTÁVEL
363
tanto. Inserida no sistema com sucesso, a novel regra veio gerar seus
1 ;í~’ Art. 1.0 O filho havido pelo cônjuge fora do matrimônio pode,
~ [rrrI~n depois do desquite, ser reconhecido ou demandar que se declare
1 ‘
sua filiação.
364
em
a
2 A DISCIPLINA DA PATERNIDADE PRESUMIDA
NA CODIFICAÇÃO CIVIL
365
366
A PRESUNÇAO DA PATERNIDADE NO CASAMENTO E NA UNIÃO ESTÁVEL
367
368
Tal prática — registrar como seu filho alheio — era tratado penal-
mente como crime de falsidade ideológica. A Lei 6.898/81 alterou o
dispositivo em curso, dando nova redação ao artigo 242 do Código Penal,
que passou a prescrever, verbis
ii’
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o
filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, supri- »
mindo ou alterando direito inerente ao estado civil: em
Pena — reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único. Se o crime é praticado por motivo de reco-
nhecida nobreza:
Pena — detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena.
Desta feita, prevista a remissão judicial por lei, tal prática consti-
tui-se num fato caracterizador de extinção da punibilidade, elencado no
art. 107, IX, de nossa Legislação penal substantiva (perdão judicial).
Importante destacar que a “adoção à brasileira” vem a gerar um
estado de filiação, em princípio, irreversível, estabelecendo, assim, uma
relação de paternidade não-biológica, sem a presença, inclusive, da pre-
sunção de paternidade, lastreada no art. 338 do Código Civil. Ao aproxi-
mar-se da adoção civil — porém, sem o devido processo legal — o termo de
nascimento passa a sofrer os efeitos legais do art. 348 do atual Código,
que veda a alteração do documento público, salvo se baseado em erro ou
falsidade, assunto que é abordado na seqüência.
369
370
13 Idem.
371
372
373
374
7 A PATERNIDADE PRESUMIDA
NO PROJETO DE LEI 4.719/01
21 MORAES, Maria Ceina Bodin de. Recusa á realização do exame do DNA. A nova
família:
problemas e perspectivas, p. 194.
375
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
376
1
1 O DNA E A DUPLA “PATERNIDADE”
2 Nesse sentido, a teor do art. 346 do Código Civil, não bastava a confissão
materna para excluir
a paternidade atribuida legalmente por presunção a seu marido, com relação aos
filhos que
379
HELOISA HELENA BARBOZA
4 Resolução 1.358/92.
5 Sobre as graves implicações jurídicas desse procedimento, permita-se
remeter a BARBOZA,
Heloisa Helena. A filiação em face da inseminação art~/icial e da fertili ração
in vitro. Rio de Janeiro:
Renovar, 1993.
380
DIREITO À IDENTIDADE GENÉTICA
2 PATERNIDADE E PARENTESCO
NO DIREITO BRASILEIRO
381
382
11 Lei 8.069/90, art. 41. No mesmo sentido, o Código de Menores, Lei 6.697/79,
art. 29.
p. 75-76, 86-87.
383
p. 215.
14 PAGE, Henri de. Traité E/émentaire de Droit Civil Belge. Bruxelle: Bruylant,
1990, p. 114.
16 Ibidem, p. 99.
384
385
21 Ibidem, p. 64-65.
22 Lei 8.974, de 05.01.1995, art. 8.0.
23 Nesse sentido o pronunciamento da Dra. Mayana Katz, Professora Titular
do Departamento
de Biologia do Instituto de Bioeiência da USP, no Seminário Internacional
Clonagem humantr
questões jurídicas, realizado no STJ em 12.11.2001.
386
387
HELOISA HELENA BARBOZA
5 BIBLIOGRAFIA
388
1
e
)
1
1
389
.9
___________________ Sumário ___________________
391
3 A MONOPARENTALIDADE PROGRAMADA:
“UM FILHO SOMENTE MEU”
7 Art. 226.
394
395
396
397
398
399
400
fundamentos:
— a soberania;
ii — a cidadania;
V — o pluralismo político.
(. .
20 Art. 5.’ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade,
401
5 REFEREIVC(AS B(BL(OGRAF(C~4S
1997.
402
4
RESPONSABILIDADE CIVIL
NA RELAÇÃO PATERNO-FILIAL
1 PRIMEIRAS PALAVRAS
403
1 Registro, com grande honra, que para a elaboração desta palestra contei
com a generosidade da
inteligência de certos colegas de assunto, aos quais sou extremamente grata, e
que, com sua
colaboração inestimável, deixaram estas notas mais sofisticadas, com um certo ar
interdisciplinar, pelo qual tanto ansiei. São eles: Fernando Dias Andrade
(filósofo e professor),
Sandra Olivan Bajer (advogada), Giselle Groeninga (psicóloga e mediadora),
Aguida Amida
Barbosa (advogada e mediadora), Maria Berenice Dias (desembargadora), Rodrigo da
Cunha
Pereira (advogado e professor) e Euclidesule Oliveira (advogado e professor),
todos, à exceção do
primeiro, membros e/ou dirigentes do IBDFAM.
2 Dentre a riquíssima bibliografia que pode ser consultada a respeito do
assunto, registro em
especial a formidável obra de Albertino Daniel de Meia, professor titular da
Faculdade de Direito
da Universidade Federal de Minas Gerais, denominada A responsabilidade ci
vi/pelo fato de outrem,
nos direitos francés e brasileiro. Rio dc Janeiro: Forense, 1972. E, ainda, como
ponto de partida
para a visualizaçào desta divergência qualificatória da responsabilidade
indireta dos pais pelos
danos causados por seus filhos menores, recomendo a leitura das singulares 18
linhas de
comentários ao artigo 1.523 do Código Civil em vigor que a Professora Maria
Helena Dini~
registra em seu Código Civil anotado. São Paulo: Saraiva (minha edição é a de
1995, gentilmente
dedicada pela autora).
404
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408
409
410
palavra, porque isso é coisa perigosa, ou que ser governado por uma mulher é,
para
o homem, a suprema violência.3
Esse argumento pretensamente naturalista de que a mulher é infe-
rior ao homem hoje nos assusta com sua brutalidade? Pois foi o principal
argumento utilizado em quase toda a história da humanidade para tentar
justificar o poder patriarcal ou masculista4 sobre as mulheres. É esse o
principal argumento utilizado hoje em dia para justificar a violência
doméstica contra as mulheres e meninas no Brasil, assim como a violên-
cia generalizada contra as mulheres e meninas em regimes fundamentalis-
tas como o do Taleban, que por uma certa e infeliz contingência tem sido
constantemente focado e criticado em nossos dias.
Numa palavra, o argumento da debilidade ou incapacidade natural
da mulher é o argumento mais utilizado para tentar justificar a autoridade
do homem em relação à mulher dentro da estrutura familiar, ao mesmo
tempo que a dependência da mulher em relação ao homem, nessa mesma
estrutura.
O nosso tema aqui não é, diretamente, essa relação patriarcalista
entre homens e mulheres, entre maridos e esposas, entre pais e filhas, e
por isso não é o caso de levar adiante a análise e a crítica dessa concepção
irracional que sempre insiste em se manifestar até hoje na concepção dos
papéis do homem e da mulher na família.
Mas é fundamental que tenhamos começado por apontá-la, pois ela
é a base para aquela outra relação que constitui, aqui, o nosso tema
principal: a relação entre pais e filhos.
O que a história mostra, e as histórias do pensamento e das
institui-
ções mostram também, é que, se a relação entre homens e mulheres, em
família, foi sempre baseada numa concepção naturalista de dependência
e subordinação da mulher, com muito mais raZão será apontada uma depen-
dência e subordinação dos filhos em relação aos pais.
Se a própria subordin’ação da mulher era vista como necessária,
mesmo sendo a mulher um indivíduo adulto e experiente, o que dizer
então, e sempre, de pessoas que tinham pouca experiência ou não tinham
experiência nenhuma? Pessoas que não tinham condições de se mante-
3 Respectivamente, fragmentos 110 e 111 dos ditos de Democrito.
4 A expressao maj-cu/ista, em lugar de machista, se deve a Marilena Chauí, em
Repressão sexual, essa
nossa (des,)conhedda.
411
rem sozinhas? Dir-se-á não apenas que dependiam muito mais dos adul-
tos na relação familiar, mas, conseqüentemente, que deviam, na mesma
proporção, muito mais obediência.
Se a família, nessa concepção clássica e reiteradamente patriarcal,
foi tida como uma relação de poder praticamente despótico, cujo pater era
o detentor exclusivo ou principal de todo o poder de decisão quanto a
liberdade e o destino dos integrantes da família, então os filhos estive-
ram, certamente, numa posição muito próxima à escravidão: sua depen-
dência física, material e moral foi eternamente a causa do seu dever
incessante de obediencia.
Se assim é, o que dizer, então, de uma concepção de família que a
vê como uma associação daqueles que não podem deixar de estar unidos
(Aristóteles), ao mesmo tempo em que o homem é, naturalmente, o cabeça de
sua família (cultura grega, teologia judaico-cristã, direito romano...)?
Nessa associação, o elo e o índice dos deveres não se indicam pelo
amor, não se matizam pela recíproca generosidade, não se caracterizam
pela mútua proteção, mas sim se realizam por meio da dominação. E se
trata de dominação porque, na concepção patriarcal clássica, jamais
haverá um espaço para que a mulher e os filhos assumam, contra a
vontade do pai, o posto que lhes deveria corresponder.
O correr histórico desnudará a certeza de que, para vislumbrar a
igualdade de direitos entre homem e mulher — e também entre pais e
filhos — na condução da família, serão necessários milênios.
Mas esse longo tempo, necessário certamente para a concepção
dessa igualdade de direitos, de certa forma seria necessário, também, para
a concretude da proyria responsabilidade paterna como um dever dos pais, em
lugar de um poder dos pais.
A idéia de responsabilidade paterna que existe hoje não encontra
grandes referências nas concepções antigas de natureza humana e de
família. É verdade que o mundo antigo concebeu deveres dos pais, dos
chefes de família; mas a concepção de responsabilidades tiris é muito mais
recente. Por quê? Porque, se a simples responsabilidade envolvida no
dever de assistência é classicamente determinada pelo poder do pai sobre
sua família, a responsabilidade envolvida nos danos decorrentes da má gestão
dessa
chefia de família não decorre mais do arbítrio desse mesmo pai de família.
Vale dizer: na concepção antiga e tradicional de família, o pater tinha
obrigações, mas tinha também poder suficiente para arbitrar quais seriam
essas obrigações, já que era senhor de suas mulheres e de seus filhos.
412
413
daquelas que eram alegadas por Aristóteles ou por toda a tradição medie-
val cristã: a mulher, como o homem, é causa da existência dos filhos, e
isso torna a sua autoridade natural. Esta ljgica é menos restritiva do que a
concepção anterior, mas é ainda, sem dúvida, um reconhecimento tímido
do potencial racional da mulher, já que ela não é desenhada, ainda, como
uma possível autoridade equivalente à de seu próprio marido.
No que respeita à relação paterno-filial, por outra parte, nota-se
que as mudanças serão também visíveis, embora se mostrem menores
do que a relativa equalização de direitos ou de autoridade entre homem e
mulher. Todavia, apesar do seu menor peso, dar-se-á igualmente, nesta
circunstância relacional, uma mudança suficiente para caracterizar, en-
fim, a concepção da relação entre pais e filhos como uma relação na qual
sempre haverá uma responsabilidade dos pais em relação ás necessidades dos
filhos, a ponto de se poder dizer que é aí que nasce, propriamente, uma
concepção articulada de responsabilidade dvii na relação paterno-filia!
Esta interferência do jusnaturalismo moderno na reformulação da
concepção em tela, ocorrida nos séculos XVII e XVIII, fez com que se
realizasse, aos poucos, a noção propriamente jurídica de responsabilidade —
que se desenvolve até se tornar responsabilidade dti4 no início do século XIX —
e também porque é aí, na modernidade, que a condição jurídica dos filhos
dentro da família passa a ser apresentada segundo critérios que se preten-
dem racionais ou científicos, para além dos antigos critérios do costume.
É certo que esta concepção jusnaturalista, assim como traçada,
guarda uma grande distância com respeito à concepção contemporânea
ou pós-moderna. Contudo, penso que dedicar uma certa atenção à ma-
neira como os autores modernos trabalharam o assunto pode dizer muito
à contemporaneidade, quando somos convidados a considerar a família
uma entidade real, concreta, cuja significação e cujas necessidades talvez
não estejam mais definidas unicamente pela lei ou pelo arbítrio do juiz.
414
415
Talvez.
Mas o que causa esta dependência, de fato? A natureza, como se
fosse uma condição sem conserto ou mudança? Ou as circunstâncias, como
se fosse uma condição determinada unicamente pela maior força do
dominador?
Se a reflexão nos fizer passear os olhos pela história da condição
feminina, facilmente se observará que a causa da dependência reside
exatamente na segunda opção: o que historicamente determinou, às
mulheres, a ausência de direitos e a submissão ao patriarcado foi uma
circunstância de imposição pela força, reiterada pelos costumes e pelas
instituições, ao mesmo tempo que endossada pelo próprio direito.
Desde a Antigüidade, o homem é caput de sua mulher e das mulhe-
res de sua família. Não porque tenha sido um desejo das mulheres. Mas
elas sempre viveram em um mundo dominado por instituições patriar-
cais, cuja estrutura não permitia a própria modificação.
O mesmo pode ser descrito para a situação dos filhos.
Desde sempre, e com mais forte razão, os pais — mas principalmente
o pai — são caput dos infantes. Em parte, por causa de uma concreta
dependência dos filhos, que não têm nem forças, nem meios, nem princi-
palmente experiência para emancipar-se na vida. Mas, em parte porque a
família foi sempre constituída como um domínio particular de quem o
instaurou. O círculo familiar, no qual o chefe de família é senhor dos
demais membros, funciona como uma monarquia particular, como bem
lembraria Cesare Beccaria, no capítulo 26 de seu tratado Dos delitos e das
penas.
A definição tradicional e jurídica de família, então, e por todos os
motivos, está muito longe da definição de uma relação afetiva. Ela define
diretamente uma espécie muito particular de domínio e dominação.
Na família marcada pelo pátrio poder, como compreender, assim,
algum fundamento natural ou racional para a responsabilidade dos pais diante dos
filhos?
Se esta responsabilidade, desde o início, diz respeito a uma depen-
dência dos filhos em relação aos pais, então ela é determinada mais pelos
filhos do que pelos pais?
Ou determinada mais pelo Estado do que pelos filhos?
Num ou noutro caso, n5o é, certamente, uma responsabilidade
determinada pelos próprios pais, porque não cabe a eles decidir a sua
validade ou não. Se lhes coubesse, não seria, então, responsabilidade.
Seria assunção volitiva de obrigação.
416
RESPONSABILIDADE CIVIL NA RELAÇÃO PATERNO-FILIAL
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GISELDA MARIA FERNANDES NOVAES HIRONAKA
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GISELDA MARIA FERNANDES NOVAES HIRONAKA
426
ção; mas essa obrigação é definida cada vez mais pelas necessidades dos
filhos e cada vez menos pelos arbítrios dos pais ou do pai.
A grande prova de que os filhos deixam de ser coisas nas mãos
despóticas dos próprios pais é sua crescente liberdade para interferir na
determinação dos rumos de toda a família. Quando o mundo moderno se
conclui na passagem do século XVIII para o XIX, os filhos já tinham,
dentro do pensamento político e pedagógico, uma importância nunca
antes vista.
Ainda que a prática pedagógica e a prática social, assim como a
própria dogmática civilista, se demorem a absorver essas concepções,
elas são uma conquista estabelecida no interior da modernidade. Como
diz Alfred Dufour
427
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429
GISELDA MARIA FERNANDES NOVAES HIRONAKA
430
6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
431
MELO, Albertino Daniel de. A responsabilidade civil pelo fato de outrem, nos
direitos francês e brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1972.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Maria Berenice. Direito de família e o
novo Códzgo Civil Belo Horizonte: Del Rey, 2001.
432
1 INTRODUÇÃO
433
2 CONJUGALIDADE E PARENTALIDADE -
DISTINÇÕES NECESSÁRIAS
434
435
In: BRITO, Leiia. (Org.). Temas de psicologia júrídica. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1999.
436
437
3 FLASHES DO COTIDIANO
438
439
ou
440
441
442
443
4 MUDANÇAS DE RUMO
5 CONCLUSOES
445
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
446
447
449
450
13 Cumpre salientar que o novo velho Código Civil brasileiro manteve tais
óbices, a exemplo do
451
452
1997, p. 49.
19 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Direito
de família:
453
um dos genitores com seus filhos, tendo por origem não apenas o casamen-
to e inteiramente voltada à qualidade da entidade familiar como núcleo
direcionado, precipuamente, à realização espiritual e ao desenvolvimen-
to da personalidade de seus membros.21
A Constituição Federal de 1988 foi, efetivamente, um divisor de
águas no que concerne aos valores da família contemporânea brasileira.
A iniciar pelo art. 1.”, III, que traduz o princípio da dignidade da pessoa
humana como fundamento do Estado Democrático de Direito, somado
ao art. 3•o, 1, do mesmo diploma legal, que consagra o princípio da
solidariedade, parte-se rumo ao fenômeno da repersonalização das rela-
ções entre pais e filhos, deixando para trás o ranço da patrimonialização
que sempre os ligou para dar espaço a uma nova ordem axiológica, a um
novo sujeito de direito nas relações familiares e, até mesmo, a uma nova
face da paternidade: o vínculo socioafetivo que une pais e filhos, inde-
pendentemente de vínculos biológicos.
Paulo Lui~ Netto L6bo22 assenta que se encontram na Constituição
Federal brasileira três fundamentos essenciais do princípio da afetividade
que delineam o perfil dos personagens da nova família, a saber:
454
23 Idem.
456
457
458
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
459
460
461
462
463
DENISE DUARTE BRUNO
2 PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA
464
465
Tal mecanismo nos leva a pensar que a estrutura familiar das cama-
das pobres é a mesma que a das camadas médias e altas, mas tal não ocorre.
Especialmente no que diz respeito ao desempenho da função
parental, que é o que nos interessa neste momento, as funções de pai e mãe
são concebidas de forma muito diferente.
Enquanto para as camadas médias e altas, pai e mãe são os adultos
que mantêm, “amam” e determinam a forma de inserção da criança na
sociedade, inclusive pelo uso do nome de família, nas camadas mais pobres,
“as crianças passam a não ser uma responsabilidade exclusiva da mãe ou do
pai, mas de toda a rede de sociabilidade em que a família está envolvida”.10
Nessas organizações sociais e familiares, embora se diga corrente-
mente que “quem conta é quem está junto”,11 o “verdadeiro” pai, o
biológico, sempre é identificado e valorizado: mesmo não estando junto
com a criança, o pai “de sangue” é o vínculo que prevalece no processo
de identificação e de lealdade.
9 SARTI, Cynthia Andersen. A família como espelho, p. 103.
10 Ibidem, p. 55.
11 Ibidem, p. 58.
466
“Ele faz comigo tudo que faz com minha irmã, que é filha dele:
ele me cuida quando estou doente, olha meus cadernos, fica
bravo quando eu apronto. Ele é como se fosse meu pai, só falta
me dar seu nome.”
467
Por outro lado, considerando que nem sempre quem cuida é quem
dá a identidade social nas camadas mais pobres, parece-me que para
esses grupos a avaliação de parentalidade socioafetiva deve levar em
conta outros elementos, dentre os quais a diferença entre “cuidado”,
“guarda” e “parentalidade”.
15 Ibidem, p. 23. A autora, porém, ressalta que não se deve pressupor que tais
hipóteses “se
469
tal, assumira publicamente (na escola, por exemplo) o lugar de sua mãe e,
além disso, insenina o menino em sua comunidade religiosa.
A inserção na comunidade religiosa pode, em muitos casos, segun-
do minha avaliação, definir a panentalidade socioafetiva.
3.3 A religião como definidora de parentalidade/filiação
socioafetiva
A quase totalidade das religiões por nós conhecida tem bem claros,
e valorizados, os papéis de pai e de mãe. Além disso, na maio ria delas, a
inserção da criança na comunidade religiosa se dá através de rituais realiza-
dos pelos pais ou definidos por eles.
O batizado da Igreja Católica é um exemplo emblemático dessa
inserção: são os pais que escolhem os padninhos, aos quais é atribuida
função de substitui-los, caso faltem, e durante o rito, são os pais que apresen-
tam o filho à comunidade religiosa.
Em suma, em termos sociais, poderíamos dizer que pana um adulto
assumir a panentalidade de uma criança é também inseni-la na sua comu-
nidade religiosa, mesmo que no cotidiano a prática religiosa não seja
muito freqüente.
Em um caso sendo questionada a validade de um registro civil no
qual estava declarada como mãe uma mulher que não gerou nem adotou
uma menina, a religião pôde ser usada como indicativo de que a menina
detinha a posse do estado de filha em relação àquela que a criara, educara
e, provavelmente, amara. A mulher que o fizera era uma ex-freira, ou
seja, uma pessoa com marcada postura religiosa, e como destaca o Des.
Lui~< Felipe Brasil Santos ao se manifestar no julgamento em favor da
manutenção do registro civil, considerando a existência do vínculo afetivo
e a proteção do interesse da menina:
470
4 CONCLUSÕES
Gostaria de encerrar destacando que, como já observei no início,
os aspectos sociais que relacionei aqui são apenas alguns elementos para
avaliação da relação parental-filial, ou seja, para se identificar se uma
criança detém, sob a ótica social, a posse do estado de filho em relação a
um (ou mais) adultos.
A avaliação social de cada caso concreto, preferencialmente articu-
lada à avaliação psicológica, pode subsidiar a definição jurídica de paren-
talidade (paternidade) socioafetiva.
Especificamente no que me diz respeito, sob a ótica das ciências
sociais, muitos outros elementos ainda podem ser considerados, mas,
como já disse, a intenção foi a de iniciar uma discussão.
Para encerrar, deixo minha lembrança de um filme em que um
homem não cuidou, não amou, nem reconheceu como filho um menino
órfro, mas este o identificou como pai a partir do momento que foi por ele
motivado a usar a força contra outros meninos que o agrediam.
Antes desta cena, o menino “conversava” com o pai biológico que
não conhecera e, a partir daí, deixa de fazê-lo. Ele passa a ter um “pai real”.
471
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ternário IV
INTERFACES E CONEXÕES
DO DIREITO DE FAMÍLIA
O ESTRESSE NO EXERCICIO
DO DIREITO DE FAMÍLIA
A ANGÚSTIA NO JUDICIÁRIO
Giselle Groeninga
Psicanalista do Instituto da Sociedade Brasileira
de Psicanálise — SP. Terapeuta de Sistemas. Mediadora.
Coordenadora de Relações Interdisciplinares do IBDFAM.
475
GISELLE GROENINGA
1 INTRODUÇÃO
2 DIREITO À SUBJETIVIDADE
476
477
GISELLE GROENINGA
478
6 DIAS, Maria Berenice. Nasce um novo (?) Código Civil.Jorna/ Zero Hora de
23.08.2001,Jornal
O Estado de Minas de 29.08.2001.
479
GISELLE GROENINGA
4 OS SISTEMAS
480
5 O CONFLITO
481
GISELLE GROENINGA
482
483
GISELLE GROENINGA
7 O DIREITO DE FAMÍLIA
484
GISELLE GROENINGA
gadas de emoção, elaborações de lutos, perdas e capacidade de realizar
mudanças. O tempo da subjetividade raramente sintoniza com o tempo
cronológico. Como são situações de crise e, muitas vezes, de sofrimento,
há também a vivência da urgência. Assim os sujeitos do Direito, de
acordo com suas vivências, tentam imprimir um tempo diverso do crono-
lógico, pressionando os profissionais. Estes, por sua vez, sofrem desme-
suradamente em seu cotidiano a pressão dos prazos. Prazos dos proces-
sos ou também urgência ditada pela angústia que busca encontrar um
significado, um remédio, uma sentença. É do cotidiano desses profissio-
nais sentirem-se como que trabalhando em um Pronto Socorro.
Em termos do inconsciente, o tempo inexiste. A pressão dos impulsos
e da angústia busca uma satisfação e solução imediatas; e, em paralelo, a
sociedade de consumo, na era da velocidade das comunicações—feitas
em tempo dito real — demanda e exige rapidez, celeridade. Como se assim
pudéssemos resolver os conflitos, dar cabo da ansiedade e do sofrimento
que a acompanha. Como se pudéssemos acabar com os conflitos e com
os litígios, satisfazer o desejo e viver na paz da eternidade que desconhe-
ce o tempo. Por vezes, é esta uma das bases da queixa da demora do
Judiciário.
9 PARA FINALIZAR
486
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
setembro de 2001.
487
GISELLE GROENINGA
488
AS FAMÍLIAS DO BIOCAPITAL
Betch Cleinman
Jornalista jurídica. Mestra em Cinema
e História pela Ecole des Hautes
Etudes em Sciences Sociales (Paris).
PASOLINI, Pier Paolo. Os jovens infelizes. lo: LAHUD, Michel. (Org.). lo:
Antologia de
ensaios corsários. Sao Paulo: Brasiliense, 1990, p. 57-58.
489
BETCH CLEINMAN
490
AS FAMILIAS DO BIOCAPITAL
491
BETCH CLEINMAN
492
AS FAMÍLIAS DO BIOCAPITAL
do diário paulistano?
atrair consumidores e anunciantes. Na guerra pela audiência, quando
todos os recursos persuasivos são utilizados para aumentar o faturamen-
to, como se encaixam os princípios da ética cidadã crítica?
Otávio Frias Filho, diretor editorial da Folha de 5. Paulo, declarou
em entrevista recente que seu “jornal procura manter compromissos
públicos com as idéias de democracia, participação, mobilização, plurali-
“6
493
BETCH CLEINMAN
1
na veia.
0800 15 8000
O segundo anúncio é ainda mais dire-
to: uma pistola de vacina, com os dizeres
“informação na veia”. Neste caso, a analogia
com as drogas é ainda mais nítida, pressu-
pondo o leitor como um ser passivo, depen-
dente do jornal para escapar à banalização.
Mais uma vez, emerge uma concepção unila-
teral e autoritária da informação bem como
do destinatário da mensagem, percebido
como um objeto de gozo, uso e troca mer-
cantil, e não como um sujeito de direito, da
história e de desejo.
______________________ A Associação Nacional de Jornais
(ANJ), entidade que congrega as principais
publicações do país, define sua missão como
sendo a de “defender a liberdade de expres-
são, do pensamento e da propaganda, (...) lutar pela defesa dos direitos
humanos, os valores da democracia representativa e a livre iniciativa.”7 E
como estes compromissos incidem em sua campanha publicitária? Veja-
mos os anúncios criados em 2001 para in-
centivar as empresas a comprar espaço em
jornal e não em outros veículos concorrentes.
“O Dia das Mães está chegando. (...)
Não há mídia melhor que jornal para anunciar
o seu produto no Dia das Mães. Sabe por quê?
Em primeiro lugar, porque todo mundo lê jor-
nal: a mãe, que quer ganhar, e o filho, que quer
dar o presente. Em segundo lugar, porque
você pode programar exatamente quando
quer o seu anúncio: muito tempo antes (para
aqueles filhos precavidos) ou só no dia ante-
rior (para os filhos que deixam tudo para a
última hora). Portanto, neste Dia das Mães,
aumente as suas vendas: anuncie em jornal.
Até porque tem uma coisa ainda mais impor-
tante: uma mãe não pode ficar sem presente”.
AS FAMILIAS DO B~OCAPITAL
495
BETCH CLEINMAN
496
[tsbatabíe
p.u~
doucurs du 4 heurs
ê.1dt ~ e
de áI.edt.fdã
AS FAMrLIAs DO BIOCAPITAL
3 BAB Y BUSINESS
497
BETCH CLEINMAN
498
AS FAMÍLIAS DO BIOCAPITAL
499
BETCH CLEINMAN
—~ 1 —~
o seu direito supremo: a liberdade de
escolher entre as várias ofertas o pro-
duto mais adequado ao seu bolso e às
suas necessidades.
Na revista australiana ILesbians on
the loose,11 no espaço reservado para anún-
cios relativos à saúde, entre uma ida ao
dentista e outra ao massagista, despon-
ta o Centro de Fertilidade Saint George.
Ele informa “como você também pode
ter um filho”. O “também” é o discreto
indicio de que esta mensagem não se diii-
ge às mulheres em geral, ou às estéreis
em particular. Ela abre a perspectiva
para as lésbicas, leitoras daquela publi-
cação, de tornarem-se mães, desde que
tenham as condições econômicas para levar o projeto até o fim.
No Columbia Dai!y
Spectatos jornal dirigido a alu-
nos e professores da Univer-
sidade de Columbia em
Nova York, encontram-se
anúncios que propõem com-
prar óvulos e espermas. “Aju-
de uma mulher a tornar-se — 4
mãe”; “Dê um presente de
esperança, ajudando muitas ~--~ ~
mulheres a dar início a uma
família usando óvulos doa-
10 http://www.pbs.org/wgbh/nova/baby/l 8ways.html
500
1
HOW YOU TOO CAt~
HAVE A BABY
AS FAMÍLIAS DO BIOCAPITAL
DONATE AN EGG
Young donors
wiIl be paid $5000
Please call
(212) 734-5555
— ~ — — n
— « ~•., — — —
Por gume k*nn.Uofl ok
BM~ LAa0A8m~
Na comparação entre eles,
se não se levar em conta a
publicação em que apare-
cem, fica impossível reco-
nhecer a que clientela se
destinam. Mais difícil ain-
da é prever o tipo de famí-
lia que o público alvo vai
constituir: produção inde-
pendente, monoparenta-
lidade programada, casal
homossexual, pais idosos?
A partir da análise dessas
peças publicitárias, fica vi-
sível que a questão da reprodução e da conseqüente constituição de uma
família tornou-se artigo de compra e venda, submetido às leis da oferta e
da procura, como qualquer mercadoria. Pela lógica do mercado, o ser
humano tornou-se mais uma commodi~y.
Apesar dos silicones, das próteses, dos hormônios, das neovaginas,
do babj business, essas novas famílias continuam subordinadas aos precei-
tos ditados e impostos pelo biocapital totalitário, autoritário, disciplinar.
Explorando a ilimitada fantasia humana que, assim como o sonho,
pertence a cada sujeito, o biopoder financeiro busca impor-se como a
501
BETCH CLEINMAN
única possibilidade de futuro coletivo, mesmo que na forma de uma
sociedade pós-humana, como prevê Fu/e~t~yama.t3
E o Direito nisso tudo? A meu ver, enquanto o Direito limitar-se a
ser apenas uma “máquina de registro das práticas sociais”,14 e não um
instrumento efetivo de contenção do Poder em todas as suas formas e
manifestações (público, privado, biológico, capitalista, do saber, da in-
formação etc), não haverá lugar para o “ínfimo, o inútil, o falho, a falta, a
fala, o verdadeiro capital do sujeito, a expressão de sua singularidade e
dos seus desejos”.t5 Sem limitação da violência arbitrária do Poder, o
cidadão, entendido como sujeito de direito, de desejo e da história, ficará
relegado a mero dejeto anacrônico.
4 BIBLIOGRAFIA
502
AS FAMÍLIAS DO BIOCAPITAL
McCHESNEY, Robert W. Corporate media and the threat to democraíy, the open
media pamphlet senis. New York: Seven Stories Press, 1997.
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo eretico, lingua, le/teratura, cinema: le
riflessioni
e le intuizioni dei critico e dell’ artista. 2. ed. Garzanti, 1995.
503
r
PENSÕES SECURITÁRIAS
NO DIREITO DE FAMÍLIA
1 INTRODUÇAO
506
agosto de 2001, que em seu art. 27, alterou a sistemática de pensão militar,
estabelecendo três
ordens de vocação para fins de percepção do benefício, in verhis:
Art. 27. A Lei 3.765, de 4 de maio de 1960, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
“Art. 1.0 São contribuintes obrigatórios da pensão militar, mediante desconto
mensal em folha
de pagamento, todos os militares das Forças Armadas.
Parágrafo único. Excluem-se do disposto no caput deste artigo:
— o aspirante da Marinha, o cadete do Exército e da Aeronáutica e o aluno das
escolas, centros
ou núcleos de formação de oficiais e de praças e das escolas preparatórias e
eongêneres; e
II — cabos, soldados, marinheiros e taifeiros, com menos de dois anos de efetivo
serviço.” ~NR)
“Art. 3.0-A. A contribuição para a pensão militar incidirá sobre as parcelas que
compõem os
proventos na inatividade.
507
508
menor sob guarda ou tutela até vinte e um anos de idade; b) irmão órfão
até vinte e um anos de idade dependente econômico do servidor, irmão
inválido dependente econômico enquanto durar a invalidez, pessoa de-
signada dependente econômico do servidor até vinte e um anos e pessoa
designada dependente econômico e inválida enquanto durar a invalidez.
Nos termos do artigo 218, da Lei 8.112/90, a pensão civil será
concedida integralmente ao beneficiário da pensão vitalícia, sendo o
único (caput do artigo), ou será distribuída em partes iguais entre os
beneficiários da pensão vitalicia (Ç 1.0, do artigo 218). Caso somente haja
beneficiário de pensão temporária, a pensão será concedida integralmen-
te ao único beneficiário ou, havendo mais de um, será rateada igualmente
509
511
Nessa matéria, há que ser feita uma ressalva. Nos casos de separa-
ção judicial e de divórcio, como ocorria no antigo desquite, um dos efeitos
possíveis da dissolução da sociedade conjugal entre os ex-cônjuges é a
fixação de alimentos em favor de um deles ou em virtude de acordo em
separação consensual ou por imposição judicial em separação litigiosa.
Sabe-se que o dever de assistência material deixa de existir com a dissolu-
ção da sociedade conjugal, mas no seu lugar a prestação alimentícia
poderá ser instituída com fundamento na solidariedade que ora é reco-
nhecida como um imperativo legal — nos casos de separação litigiosa na
idéia de responsabilidade de um dos cônjuges e inocência do outro —,
além e, fundamentalmente, da necessidade do cônjuge credor. Mais uma
vez, prepondera o binômio: solidariedade e necessidade. Desse modo, uma
vez estabelecida a obrigação alimentar, em razão da dissolução da socie-
dade conjugal em vida dos ex-cônjuges, obrigatoriamente deverá ser atribui-
da pensão securitária em favor do dependente ex-cônjuge diante da ocor-
rência da morte do segurado/funcionário. Esta é a razão da previsão da
pessoa desquitada, separada judicialmente ou divorciada, com percepção de pensão
alimentícia, no artigo 217, inciso 1, b, da Lei 8.112/90, ou do cônjuge
divorciado ou separado judicialmente que recebia pensão de alimentos, no artigo
76,
§ 2.0, da Lei 8.213/91, ou da pessoa desquitada, separada judicialmente, divor-
ciada do instituidor, desde que percebam pensão alimentícia, no art. 70, 1, c,
da Lei
3.765/60 (na redação dada pela Medida Provisória 2.215-10/2001), como
titulares de pensão em virtude da morte do segurado/funcionário.
512
2 A despeito de tal observação, a maior parte das leis existentes não restringe
o qaantum da
pensão securitária, como se observa no art. 7.”, ~ 2.” e 3,0, da Lei 3.765/60,
na redação que
lhe foi dada pela Medida Provisória 2.215-10/2001:
“Art. 7•o A pensão militar é deferida em processo de habilitação, tomando-se por
base a
declaraçao de beneficiários preenchida em vida pelo contribuinte, na ordem de
prioridade e
condições a seguir:
— primeira ordem de prioridade:
a) cônjuge;
b) companheiro ou companheira designada ou que comprove união estável como
entidade
familiar;
c~ pessoa desquitada, separada judicialmente, divorciada do instituidor ou a ex-
convivente,
desde que percebam pensão alimentícia;
d) filhos ou enteados até vinte e um anos de idade ou até vinte e quatro anos de
idade, se
estudantes universitários ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez; e
e) menor st)b guarda ou tutela até vinte e um anos de idade ou, se estudante
universitário, até
vinte e quatro anos de idade ou, se inválido, enquanto durar a invalidez.
II — segunda ordem de prioridade, a mãe e o pai que comprovem dependência
econômica do
militar;
111 — terceira ordem dc prioridade:
a) o irmão órfiao, até vinte e um anos de idade ou, se estudante universitário,
até vinte e quatro
anos de idade, e o inválido, enquanto durar a invalidez, comprovada a
dependência economica
do militar;
é.) a pessoa designada, até vinte e um anos de idade, se inválida, enquanto
durar a invalidez, ou
maior de sessenta anos de idade, que vivam na dependência econômica do militar.
§ 1.” A concessão da pensão aos benefieiários deque tratam o inciso 1, alíneas
a, é, ce d, exclui
desse direito os beneficiários referidos nos ineisos II e III.
§ 2.” A pensão será concedida integralmente aos beneficiários do inciso 1,
alíneas a e b, ou
distribuída em partes iguais entre os beneficiários daquele inciso, alineas a e
e ou é e e,
legalmente habilitados, exceto se existirem beneficiários previstos nas suas
alineas de e.
§ 3.” Ocorrendo a exceção do § 2.”, metade do valor caberá aos beneficiários do
inciso 1, alineas a
e e ou é e c sendo a outra metade do valor da pensão rateada, em partes iguais,
entre os benefi-
ciários do inciso 1, alíneas de e.” (NR)
513
514
517
518
519
do. Assim, tal norma deve ser reinterpretada à luz da Constituição de 1988,
para também incluir o militar casado, desde que configurada a nova família
informal por ele constituída. O § 1.0, do artigo 78, da Lei 5.774/71, esclarece
que, em havendo filhos do militar, a pensão da companheira será apenas
de metade, ao passo que a viúva tem direito à integralidade da pensão:
outra incompatibilidade com a Constituição de 1988, pois em matéria de
proteção do Estado à família não pode haver mais qualquer tratamento
diferenciado no que se refere a direitos e benefícios sociais em favor do
casamento em relação ao companheirismo. Assim, o § 1.0, do artigo 78,
de tal lei, não foi recepcionado pela Constituição de 1988. A necessidade
da aferição do prazo de cinco anos de convivência ainda se mantém,
sendo perfeitamente compatível com a Constituição de 1988, que limita
o prazo ao mínimo de dois anos, podendo ser estabelecido prazo superior
a dois anos para configuração do companheirismo.
A regra que prevê a necessidade de subsistência de impedimento
legal para o casamento entre o militar e o beneficiário da pensão, cons-
tante do caput do artigo 78, também não foi recepcionada pela Constitui-
ção de 1988, pois como visto excluiria a situação de pessoas que vivem
em “uniao estável”.
E, finalmente, a regra contida no § 2.0, do artigo 78, que excluiu o
companheiro da pensão militar, em razão do funcionário militar, separa-
do judicialmente, ser obrigado a prestar alimentos à ex-esposa, contraria
a própria regra constitucional contida no artigo 226, caput, da Constitui-
ção de 1988, pois não enseja proteção à família atual do militar, presti-
giando, tão-somente, a família que deixou de existir. Nesta hipótese, a
regra será a de atribuir pensão militar a ambas: ex-esposa e companheira,
sendo que da mesma forma que foi observado em relação ao casamento o
quantum da pensão militar da ex-esposa se restringirá ao valor da pensão
alimentícia que recebia em vida, e o restante será destinado à companhei-
ra, com a ressalva de que, se a pensão da ex-esposa fosse superior à metade
dos rendimentos do militar, a pensão militar devida a ela não poderá ser
superior à parcela devida à companheira, quando então haveria divisão
igual e eqüitativa da pensão entre elas.4
520
PENSOES SECURITÁRIAS NO DIREITO DE FAMÍLIA
521
522
523
524
ti) filhos ou enteados até vinte e um anos de idade ou até vinte e quatro anos
de idade, se
estudantes universitários ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez;
525
GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA
526
527
e) menor sob guarda ou tutela até vinte e um anos de idade ou, se estudante
universitário, até
vinte e quatro anos de idade ou, se inválido, enquanto durar a invalidez.”
528
529
530
5 CONCLUSAO
532
A TUTELA COMINATÓRIA
NO DIREITO DE FAMÍLIA
RoIf Madaleno
Advogado especializado em Direito de Família.
Diretor Nacional do IBDFAM. Professor de Direito de Família.
1 INTRODUÇÃO
1 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo eprocesso. S~io Paulo: RT, 1997, p. 23.
2 Ibidem, p. 27.
3 Idem.
534
5 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Eficácia das decisões e execução provisória.
São Paulo: RT,
2000, p. 181-182.
6 ALVIM, J. E. Carreira. Tutela espec~/ica das obrsgaçães de fazer e não fazer
na reforma processual. Belo
Horizonte: Dcl Rey, 1997, p. 25.
535
ROLF MADALENO
1995, p. 30.
10 Citado por Paulo Henrique dos Santos Lucon, Eficácia das decisdes e execução
provisória, p. 277.
536
12 Ibidem, p. 29.
1995, p. 36.
537
ROLF MADALENO
4 O PRECEITO COMINATÕRIO
538
p. 126.
539
ROLF MADALENO
540
A TUTELA COMINATÓRIA NO DIREITO DE FAMÍLIA
23 ASSIS, Araken de. Antecipação de tutela. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(Coord.).
Aspectos polémicos da antec~ação de tutela. São Paulo: RT, 1997, p. 13.
541
ROLF MADALENO
são de mérito, explica António Salvador,25 porque julga o pedido e não uma
questão interlocutória, mas também não é sentença, por não extinguir o
processo e não autorizar recurso de apelação.
Já a tutela inibitória é uma tutela específica, pois objetiva conservar
a
integridade do direito, assumindo importância não apenas porque alguns
direitos não podem ser reparados e outros não podem ser adequadamente
tutelados através da técnica ressarcitória, mas também porque é melhor
prevenir do que ressarcir, o que eqüivale a dizer que, no confronto entre a
tutela preventiva e a tutela ressarcitória, deve-se preferência à primeira.t6
O traço em comum, entretanto, entre a antecipação de tutela do
artigo 273 e a tutela específica do artigo 461, ambos do CPC, é que são
duas modalidades da chamada tutela d~ferenciada, que tem por escopo
satisfazer uma pretensão de direito material, que de regra só seria conce-
dida no moroso desfecho do processo. Não são preceitos que se fundem,
porquanto integram o âmbito de alcance da tutela antecipada do artigo
273 do Código de Processo Civil as pretensões embasadas na obrigação
de dar coisa certa ou incerta, enquanto as obrigações de fazer ou de não
fazer compõem o elemento processual de trabalho e incidência da tutela
de inibição do artigo 461 do mesmo Diploma Adjetivo Civil.
Em recente monografia relativa aos deveres de fazer e de não fazer,
pontua Eduardo Talamini que: “o sistema de tutelas estabelecido a partir
do art. 461 não se limita às obrigações propriamente ditas. Estende-se a
todos os deveres jurídicos cujo objeto seja um fazer ou um não fazer.”27
Entende que a tutela específica dá suporte a provimentos destinados a cessar
ou impedir o início de condutas de afronta a qualquer direito da persona-
lidade ou, mais amplamente, a qualquer direito fundamental de primeira
geração, subentendidos direitos como o da integridade física e psicológica,
a liberdade em suas variegadas facetas (como de locomoção, de associa-
ção, de crença, empresa, profissão e assim por diante), além de proteger a
p. 28.
27 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer. São
Paulo: RT, 2001,
p. 127.
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543
ROLF MADALENO
31 Idcm.
32 Ibidem, p. 55.
544
545
ROLF MADALENO
“não quer dizer que eles tenham por escopo apenas a tutela das
obrigações contratuais na forma específica. Tais artigos podem am-
parar qualquer direito que possa ser tutelado através de uma sentença
que imponha um fazer ou um não fazer, independentemente de o
direito a ser tutelado ser um direito obrigacional ou não.”
35 GUERRA, Marcelo Lima. Execução indireta. S~o Paulo: RT, 1998, p. 117.
546
37 ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela inibitória da vida privada. São Paulo: RT,
2000, p. 192.
38 A contempt of Courtdo direito anglo-americano é instituto de duplo
aspecto, subdividindo-se em
civil contempt ou criminal contempt. A civil contempt, diz MARINONI, Luiz
Guilherme. Tutela
inibitória..., cit., p. 170): “caracteriza-se como uma medida coercitiva que
atua nas hipóteses de
obrigações (sobretudo de fazer e de não fazer) impostas por decisóes judiciais —
finais ou
lntcrlnats — e que tem por fim assegurar ao credor o adimplemento especifico das
prestações
devidas pelo demandado. O criminal contempt, por sua vez, entra em ação nos
casos de comporta-
mentos que se constituem em obstáculo à administração da justiça, que interferem
inde-
vidamente nessa ou que de qualquer forma representem uma ofensa à autoridade do
juiz; o
criminal conhempt ao contrário do civil contempt, atua apenas no plano do
interesse público no
correto funcionamento da administração da justiça, o que não quer dizer que o
dvii contempt
também não objetive preservar a autoridade do Estado.”
547
ROLE MADALENO
dor conferiu ao juiz poderes para impor multa diária ao réu indiferente ao
expresso pedido do autor, consistente, verdadeiramente, de uma sanção
processual destinada a desestimular — pela coação psicológica do custo
financeiro adicional e até progressivo — a obstinada resistência da pessoa
obrigada e fazer com que se sinta compelida a cumprir o preceito a que
estava obrigada. Como acrescenta Carreira A/vim,39 a multa — a astreinte do
direito francês —. objetiva produzir efeito sobre a vontade do obrigado,
procurando influir no seu ânimo para que ele cumpra a obrigação de que se
está esquivando. E castigo imposto ao devedor, e não meio de reparar o
prejuízo. Tem ela função terapêutica e resta acumulada com as perdas e
danos, conforme claramente exposto no ~ 2.~ do artigo 461do CPC.40
Augusto César Be//uscio define as astreintes como:
§ 1.0 (...);
§ 2.0 A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art.
287).
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ROLF MADALENO
v. 3, p. 167.
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ROLF MADALENO
§ 1.0 (...)
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ROLF MADALENO
LXVII — “não haverá prisão eivil por divida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento
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A TUTELA COMINATÕRIA NO DIREITO DE FAMÍLIA
60 Iludem, p. 141.
555
ROLF MADALENO
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ROLF MADALENO
(2
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ROLF MADALENO
560
A multa poderia ter uso corrente na chamada pensão velha, que vai
adiante dos três últimos meses e que a jurisprudência reluta em mandar
prender pela inadimplência, podendo então multar progressivamente.
Possível, contudo, bem dimensionar o valor moral dos constrange-
dores meios ditos indiretos de execução antecipada, mas que de um
modo direto, bastante eficaz, permite passar a acreditar na realidade
efetiva da prestação jurisdicional.
Convém, por fim, manter em linha de consideração a procedente
argumentação de Lui~ Guilherme Marinoni,65 para quem o pequeno credor
é aquele que mais sofre com a demora do processo.” E é para esse pequeno
credor, ora de alimentos ora de outros valores que mais guardam riquezas
de ordem subjetiva do que da subsistência material, que a ciência jurídica
vem desenvolvendo esse eficiente, moderno e célere instituto processual
que busca, no campo do Direito de Família, o espaço pontual que gravita
no sideral universo da sonhada pacificação social.
13 BIBLIOGRAFIA
RT, 2000.
ASSIS, Araken de. Antecipação de tutela. In: WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da anteczbação de tutela. São Paulo:
RT, 1997.
CAIMMI, Luis Alberto; DESIMONE, Guillermo Pablo. Los delitos de
incumplimiento de los deberes de asistencia familiar e insolvencia alimentada
561
ROLF MADALENO
562
1 INTRODUÇÃO
565
567
568
p. 100.
569
4 PAULA, Alexandre de. Código de Processo Civil anotado. 7. ed. S~o Paulo: RT,
v. 2, p. 1.362.
570
TUTELAS ANTECIPADAS E PROVAS PRÉ-CONSTITU1DAS NA UNIÃO ESTÁVEL
571
5 RT 554/214.
6 Jurisprudência mineira, v. 115/194, Ap. Cível 84.884/5, Comarca de Belo
Horizonte, Relator
572
Neste sentido:
573
574
8 CONCLUSAO
p. 241.
575
9 BIBLIOGRAFIA
576
REAtE, Miguel. O prcy~to do novo Código Cim/. situação após aprovação pelo
Senado Federal. São Paulo: Saraiva, 1999.
REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO DE FAMÍLIA, v. 3, n. 10. Porto
Alegre: Síntese/IBDFAM, 2001.
REVISTA JURISPRUDÊNCIA MINEIRA. Belo Horizonte: Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, v. 115, 1991.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual ciii!. 6. cd. São
Paulo: Saraiva, 1983, v. 3.
577