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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


CENTRO DE ESTUDOS LATINO AMERICANOS SOBRE CULTURA E
COMUNICAÇÃO

Educação antirracista na educação artística

Bárbara Jadeh da Silva Neves Procópio

Julho de 2022

Educação e Relações Étnico-Raciais, Profa. Dra. Maria da Glória


INTRODUÇÃO

No início da década de 1970, a arte entrou na grade curricular no ensino


fundamental e médio brasileiro. Sendo uma matéria obrigatória como qualquer outra,
ela conta com uma curva de aprendizagens específicas sobre a história das artes
plásticas. Através disso, é desenvolvida a criatividade, espontaneidade,
autoliberação e originalidade nos alunos. O livro Parâmetros curriculares nacionais:
arte discursa sobre arte-educação:

[...] em suas dimensões de criação, apreciação,


comunicação, constituindo-se em um espaço de reflexão e diálogo, e
possibilitando aos alunos entender e posicionar-se diante dos conteúdos
artísticos, estéticos e culturais incluindo as questões sociais presentes nos
temas transversais. (BRASIL, 1998)

O Ocidente tem um histórico sócio-cultural de racismo, por sua colonização,


“desde o início, coincidente com a colonização européia do país, fabricam-se e se
consomem no Brasil porções de conceitos racistas. E isto enquanto os africanos
produziam.” (NASCIMENTO, 1978, p. 176). A arte aprendida por crianças no ensino,
é majoritariamente Ocidental, resultando em uma arte eugenista. Segundo o texto
As artes e a diversidade étnico-cultural na escola básica: “O que no Ocidente era
considerado uma inovação artística, já era produzido há centenas de anos pelos
africanos, cuja arte, no entanto, continuava a ser vista pelos europeus como
“primitiva” e inferior.” (SILVA, 2005, p. 128)
Ou seja, alunos aprendem arte sob um viés racista. No racismo existe um
constante saqueio e na arte não seria diferente, o que ocorre é um fenômeno
chamado apropriação cultural. Em materiais didáticos não é citado que artistas como
Picasso se inspiraram em artes africanas e assim foi criado o movimento Cubismo
nas Artes Plásticas.
Através disso, em 2003, tornou-se obrigatório por lei o estudo da História da
África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o
negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro
nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A lei
10.639/03 indica que estes estudos sejam realizados em especial nas áreas de
Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura
afro-brasileira e indígena. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileira (BRASIL, 2003).

PERGUNTA-PROBLEMA

É possível combater o racismo através da matéria de educação artística?

JUSTIFICATIVA

Para uma sociedade antirracista, é preciso combater o racismo também nas


escolas. Profissionais de ensino devem estar comprometidos no processo de difusão
à educação antirracista em todos os níveis de ensino. Assim, transformar em
elemento essencial na formação de alunos. É importante não só formar seres “não
racistas”, e sim, antirracistas, conhecedores da contribuição dos povos negros e
indígenas. A abordagem aos alunos de questões que não “naturalizem” ou
incorporem o racismo a vida social, isto é, o de os fazer pensar e formar saberes sob
diferentes perspectivas das diferenças pessoais, sociais, e principalmente as
culturais a partir de diferenças tomadas como naturais e universais.
A educação antirracista engloba questões gerais e proporciona reflexões
nunca antes apresentadas na Grade Curricular, o que permite estabelecer diferentes
saberes e olhares a uma cultura artística brasileira, indígena e africana.

Que apesar da lógica da razão ser importante nos processos formativos e


informativos da escola, pois esta não só modifica por si o imaginário da
criança ou adulto, mas pode viabilizar as representações e esteriótipos
negativos, que se tem do negro na nossa sociedade. (MUNANGA, 2005,
p.132)

Aprender a ensinar artes e cultura afro-brasileira, é um exercício de resgate


para toda contribuição crescente e histórica, na representação da cultura brasileira.
A Lei 10.639/2003, reafirmou o compromisso de multiplicar e abordar o
desenvolvimento e conhecimento de todas alegorias da cultura africana e
afro-brasileira, representa hoje tarefa relevante e ímpar, tanto para os alunos,
professores, pesquisadores como para toda sociedade civil. Por outro lado, a
expansão da cultura antirracista nas artes, constitui uma metodologia que resgata
adequação de séculos de lacunas, com a vivência dos alunos e rotina escolar.

OBJETIVO GERAL

O combate ao racismo é possível por meio da educação artística nas escolas,


segundo o livro Enfrentando o racismo nas escolas:

Ao incluir, tanto nos Objetivos Gerais como nos Conteúdos de cada CicIo, a
sistematização dos diferentes saberes e cosmovisões, os educadores estarão
recusando as armadilhas ideológicas do preconceito e do recalcamento. (SILVA,
2005, p. 127)

Alunos negros, que são maioria em escolas públicas, tem a possibilidade de


terem representações próprias. Representatividade é a forma em que pessoas
podem ser representadas de diversas formas. A atriz Viola Davis, em uma entrevista
para o The View, “Você precisa ver uma manifestação física do seu sonho”. Desta
forma, alunos podem se sentir representados pela artista plástica Maria Auxiliadora.
A artista foi uma mulher negra, empregada doméstica, que decidiu seguir a sua
carreira artística após os seus 30 anos.

Objetivos específicos

● Combate ao racismo nas escolas;


● Trazer representatividade para alunos negros;
● Educar artisticamente os alunos através de suas realidades e culturas;
● Apresentar Maria Auxiliadora como precursora da cultura
afro-brasileira.

Metodologia

A Educação Antirracista na Educação Artística levada ao Ensino Fundamental


II, deve incorporar uma análise metodológica e contribuir para a aproximação da
temática antirracista de aprendizagem aos alunos como um processo que deve ser
propagado ao longo de toda vida do aluno, tanto na escola como no caráter. Ampliar
a compreensão dos alunos dos saberes da origem e história do racismo, sobre as
dificuldades, dúvidas e desafios da inserção da Educação antirracista na História
Cultural e da compreensão das Artes. É necessário entender e saber o que os
alunos pensam e reproduzem com as temáticas antirracista nas artes, dentro deles
próprios, como foi o foco das aulas e estudos realizados sob essa perspectiva em
sua aprendizagem e como isso desenvolveu-se no seu caminhar.

Cabe aos professores de Artes, então, uma cuidadosa reflexão sobre a forma
de estabelecer a ponte entre a cultura do educando e a cultura
auto-denominada “universal” (a cultura ocidental imposta). O aluno já vem
para a escola com um potencial criativo; a escola não precisa induzi-lo, sua
função é trabalhá-lo. (SILVA, 2005, p. 127)

A Lei 10.639/2003 propiciou alterações significativas nas práticas individuais e


sociais de âmbito socioculturais. Podemos destacar a preparação dos educadores
em se aprofundar na amplitude da cultura africana e desenvolver o interesse dos
alunos na aprendizagem das mesmas e na reconstrução da contribuição das artes
na nossa cultura atual.
A proposta se dá através de uma atividade na matéria de educação artística.
O ensino se dá por meio da Proposta Triangular do Ensino da Arte, criada pela Ana
Mae Barbosa. A proposta é divida em três partes e consiste em três lemas
principais: leitura de imagem, reflexão ou contextualização e produção ou fazer
artístico. Esse triângulo é considerado referência dos eixos de aprendizagem que
dominam o ensino atualmente. O triângulo ajuda na prática pedagógica de Arte nas
escolas brasileiras.
Figura 1 - Proposta Triangular do Ensino da Arte

Fonte: Barbosa (1991, p. 38)


EXERCÍCIO PROPOSTO

Com o objetivo de aprimorar o senso de criação dos alunos, pois essa fase
que contempla o fundamental II, é o momento de criatividade ímpar onde ocorre a
transição da criança para a puberdade (pré-adolescência). A proposta seria a
implementação de jogos plásticos, baseados na artista plástica Maria Auxiliadora. O
estímulo se dará aos alunos pelas etapas definidas por Ana Mae Barbosa.
Leitura de imagem: amostra das obras por meio de fotos e vídeos.
Reflexão ou contextualização: apresentação da trajetória da artista e sua
importância na cultura popular brasileira.
Fazer artístico: solicitar como atividade a realização de desenho ou pintura,
mostrando uma situação em que se enquadre uma festa de sua região, comida
preferida ou um diálogo entre pessoas
Os materiais utilizados, seriam aqueles próximos a eles como cadernos,
livros, lápis, jornais, revistas e todos materiais recicláveis como latas, caixas de leite
e garrafas pets e afins.
O estudos da história e das obras de Maria Auxiliadora refletirão aos alunos o
desenvolvimento artístico e estético, especificamente demonstrados em suas obras
de imensa delicadeza da cultura popular brasileira, sugerindo o uso de materiais
orgânicos, criação livre com vários materiais como madeiras, folhas secas, capim,
pedras, areia, água, barro, etc

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os recursos artísticos, podem desencadear uma produção criativa e positiva


nas crianças (alunos), o que permite uma combinação de estímulos sensoriais e
cinestésicos. A utilização de obras artísticas de Maria Auxiliadora, favorecem a
aprendizagem a reflexão e a criatividade no cotidiano da cultura brasileira, no
cenário de fazê-los pensar e do fazer criativo. Para complementar a atividade,
sempre buscando a integração dos alunos envolvidos, para uma criação coletiva
baseada na história de cada obra.
Na utilização destes elementos com objetivos pedagógicos às vivências e
experiências da globalização etnocultural dos estudantes, com intuito de formar
cidadãos participativos e criativos, capazes de entenderem os elementos do
cotidiano .

É importante desenvolver aprendizagem com elementos intuitivos, cognitivos


e afetivos, aguçando a emoção, a intuição e principalmente a criatividade dos
alunos.

Por isso, é importante que, ao se trabalhar os elementos estruturais –


a linha, a forma e a cor – se integrem todos esses elementos ao processo de
vida do educando, dando-lhe condições de reviver a sua cultura. É papel da
escola fazer com que esta experiência de vida, isto é, o currículo do aluno,
seja revivido pela escola intensamente.

É de fundamental importância que, em qualquer série em que o aluno


esteja, se valorize a sua auto-estima, ou seja, que o aluno construa. (SILVA,
2005, p. 133)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, A. M.; COUTINHO, R. G. (Org.). Arte/educação como mediação


cultural e social. São Paulo: UNESP, 2009

BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação pós colonialista no Brasil: aprendizagem


triangular. Comunicação e Educação, São Paulo, p. 59-64, 1 jan. 1995. Disponível
em: https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36136/38856. Acesso em: 30
jun. 2022.

BARBOSA, A. M. Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2009

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais : arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC / SEF,
1998. 116 p.

COSTA, Marizeth Ribeiro da; SILVA, Cátia Candido da. 196Cadernos RCC#27 •
volume 8 • número 4 • novembro 2021 A arte-educação como ferramenta na luta
por uma educação antirracista. 2021. 4 f. Cadernos Rcc#27, Brasília, 2021.
Disponível em:
http://periodicos.se.df.gov.br/index.php/comcenso/article/view/1076/771. Acesso em:
30 jun. 2022.
GUARNIERI, Maria Regina (org.). Aprendendo a ensinar: o caminho nada suave
da docência. 2. ed. Araraquara, SP: Editora Autores Associados, 2005. 89 p.

MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. 2. ed. Brasília:


Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2005. 204 p.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do povo brasileiro: processo de um racismo


mascarado. 1978. ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terras/A, 1978. 183 p.

SANTOS, Jorge Luís Felizardo dos. Uma avaliação dos 15 anos da lei
10.639/2003. 1. ed. Curitiba: Appris, 2021. 143 p.

SILVA, Maria José Lopes da. As Artes e a Diversidade Étnico-Cultural na Escola


Básica. In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. 2. ed.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade, 2005. cap. 11, p. 125-143.

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