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1.

Coesão e Coerência

É sabido que um conjunto de palavras não é suficiente para afirmarmos estar diante de uma
frase; é preciso que se tenha em consideração uma série de aspectos morfossintácticos que
regem a combinação de palavras na formação de frases, assim:

Para NEVES & OLIVEIRA (2001:23), para que tenhamos efectivamente um texto é necessário
que se respeite uma certa ordem e compatibilidade combinatórias, de acordo com o sistema da
língua; existe uma1 norma mínima aceite e reconhecida pela competência dos falantes.

O texto, segundo o autor em referência, é uma ocorrência linguística, escrita ou falada, de


qualquer extensão, dotada de unidade sócio-comunicativa, semântica e formal.

VILELA (1999) por sua vez acrescenta que o texto escrito, neste caso, “contém
predominantemente subordinação, rigor lógico, estrutura sujeito-predicado, construídas com
base no poder associativo da palavra

2.Coesão textual

MATOS (2010), afirma claramente que “a coesão não é uma condição necessária e suficiente
para construir um texto, pois a formação de um texto implica relações de sentido que unificam
a sequência”. É de destacar uma vez mais que os dois processos (coesão e coerência)
constituem factor decisivo para uma comunicação eficaz.

Entretanto, torna-se necessário lembrar que o nosso estudo é baseado neste dois grandes
processos, na perspectiva de diferentes autores trouxemos noções desses dois elementos
como forma de compreendermos melhor os dois processos.

Para MATEUS at. al. (2003):


“Todos os processos de sequencializaçao que asseguram (ou tornam recuperável) uma
ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser
encarados como instrumentos de coesão”.

KOCH (2005:18-19) afirma que o conceito de coesão textual:

[...] diz respeito a todos os processos de sequencializaçao que asseguram (ou tornam
recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície
textual.

Ainda KOCH afirma que a coesão textual se utiliza de alguns mecanismos para realizar suas
relações de sentido, tais quais, anáfora, catáfora, oposição ou contraste, finalidade ou meta,
consequência, localização temporal, explicação ou justificativa, adição de argumentos ou ideias.

2.1.Tipos de coesão

2.1.1.Coesão frásica

MATEUS at. al. (2003) avança que “os mecanismos de coesão frásica asseguram uma ligação
significativa entre os elementos linguísticos que ocorrem a nível sintagmático e oracional, na
superfície textual”. De entre eles destacam-se:

(i) Os que asseguram os nexos sequenciais entre núcleos, especificadores e complementos,


como a ordem de palavras interna dos sintagmas, e fenómenos de concordância interna ao
sintagma nominal que exprime através da presença de marcas idênticas de número e género, a
dependência de determinantes, quantificadores e adjectivos relativamente ao núcleo nominal.
(ii) Os que asseguram a identificação (ou recuperabilidade) da estrutura de argumentos de um
dado predicador, marcando a relação gramatical que cada argumento mantém, na superfície,
com o predicador. (iii) Fenómenos de concordância que exprimem, através de marcas idênticas
de pessoa e numero, ou de género e numero, o nexo relacional, respectivamente, entre sujeito e
verbo, entre sujeito e predicado do sujeito e entre objecto directo e predicativo do objecto
directo MATEUS at. al. (2003)

Ex. […] * vou comprar alguns roupas pra pessoas que vão estar em casa[…].
Vou comprar algumas roupas para pessoas que vão estar em casa.

* […] Durante de quatro semanas vou ir na Beira em casa dos meus tios.

Durante quatro semanas, vou à Beira em casa dos meus tios.

2.1.2.Coesão interfrásica

De acordo com MATEUS at. al. (2003) “a coesão interfrásica é assegurada por processos de
sequencializaçao que exprime vários tipos de interdependência semântica das frases que
ocorrem na superfície textual”.

Consoante o tipo de unidades linguísticas conectadas e tipo de unidade resultante de tal


conexão interfrásica, pode falar-se de dois grandes processos que asseguram a coesão
interfrásica: a parataxe (etimologicamente, “colocar ao lado de”) e a hipotaxe etimologicamente,
“colocar sob”) ou subordinação.

Vejam –se os exemplos abaixo:

(i) O João comprou uma Barca Velha e a Maria trouxe os seus amigos para inaugurá-la.

(ii) O João trouxe a comida, porém ninguém a comeu

2.1.3.Coesão temporal

Nas palavras de MATEUS at. al. (2003), “qualquer sequencia textual só é coesa e coerente se a
sequencializaçao dos enunciados satisfazer as condições conceptuais sobre localização
temporal e ordenação relativa que sabemos serem características das situações no mundo
relativamente ao qual deve ser interpretada a referida sequência textual”.

2.1.3.1.Elementos que asseguram a coesão temporal


2.1.3.1.1.Tempos verbais

Outros processos de assegurar a coesão temporal é a utilização (correlativa) de certos tempos


verbais como ilustram os exemplos que se seguem:

(a) Conhecíamos relativamente bem a Galiza, ficamos a conhecer as Astúrias.

(b) Quando chegámos à Goa, a época das oportunidades tinha terminado.

2.1.3.1.2.Expressões adverbiais

Também expressões adverbiais ou preposicionais de valor temporal e datas, ao localizarem


temporalmente as situações descritas, são factores de coesão textual. (3):

(3) a) De manhã, fomos visitar a cidade. À tarde, demos um passeio pela baía.

(b) O João telefonou ontem para marcar uma reunião para a próxima semana.

c) Em 5 de Outubro de 1910 implantada a república.

2.1.3.1.3.Expressões do valor temporal

Expressões do valor temporal e expressões que assinalam a ordenação dos elementos de um


conjunto (como, por exemplo, os numerais ordinais) podem ter a função textual de exprimir a
ordem segundo a qual o locutor teve a percepção ou o conhecimento de uma dada situação.
MATEUS at. al. (2003).

2.1.4.Paralelismo estrutural
Na concepção de MATEUS at. al. (2003), “um dos processos de assegurar a coesão textual é a
presença de traços gramaticais comuns ( tempo, aspecto, diátese) da mesma ordem de
palavras ou da mesma estrutura frásica em fragmentos textuais contíguos”. A autora
acrescenta ainda dizendo que “tais fragmentos textuais são, portanto, paralelos
estruturalmente”.

"Segundo a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, paralelismo é a relação de


correspondência ou simetria no texto feita entre ideias, estruturas verbais ou segmentos
textuais que funcionam de maneira coordenada na composição de um enunciado."

Nos exemplos em (2) abaixo, podem observar-se diferentes casos de paralelismo estrutural:

(a) Quem tudo quer, tudo perde.

(b) Tu o quiseste, tu lá sabes.

(c) Em Lisboa está calor, no porto está frio de rachar

Em (2a) as duas frases são construções transitivas e o sujeito da frase complexa (sujeito-
objecto-verbo, uma ordem rara na língua portuguesa); a reiteração do sujeito (tudo) e a posição
entre os verbos (quer perde) reforçam o nexo entre as duas frases. Em (2b) as duas frases
apresentam uma ordem de palavras idêntica, com o verbo em posição final e reiteração do
sujeito. Em (2c) a construção sintáctica das duas frases é paralela, com um adjunto de lugar
em posição inicial, reiteração do verbo e oposição semântica entre as palavras/expressão que
ocorre à sua direita Mateus at. al. (2003).

(i). * "É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito e em
determinados momentos parece cercear as escolhas de cada um.

(ii). É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito ora ela
parece cercear as escolhas de cada um."
* Meu sonho é: estudar, trabalhar e descanso.

Meu sonho é: estudar, trabalhar e descansar.

* O curso foi direccionado tanto aos jovens e aos mais velhos. (sem paralelismo)

O curso foi direccionado tanto aos jovens quanto aos mais velhos. (com paralelismo)

* A audiência não ocorrerá na próxima semana e na outra. (sem paralelismo)

A audiência não ocorrerá na próxima semana, nem na outra. (com paralelismo)

Como estes exemplos mostram, o paralelismo estrutural é normalmente acompanhado de


processos lexicais coesivos (reiteração semântica) e usa frequentemente ordens de palavras
marcadas

2.1.5.Coesão referencial

Para MATEUS at. al. (2003) “a coesão referencial é a propriedade de qualquer texto em que se
assinale através da utilização de formas linguísticas apropriadas, que os indivíduos designado
por uma dada expressão”

Estes, são introduzidos pela primeira vez no texto já foram mencionados no discurso anterior,
se situam no espaço físico perceptível pelo locutor ou pelo alocutário/ouvinte/leitor, existem ou
não como objectos únicos na memória destes. Nos parágrafos seguintes considerar-se-ão
vários processos linguísticos de garantir a coesão referencial MATEUS at. al., (2003).

A coesão referencial acontece de duas formas diferentes:


a) Anáfora

b) Catáfora

a) Anáfora - Ocorre quando as referências textuais retomam elementos expressos


anteriormente no texto. Vejamos os exemplos que se seguem:

(i). A Maria gritava muito. Ela sempre ficava apavorada quando via uma barata.

O pronome “Ela” retoma o substantivo próprio “Maria”.

b) Catáfora – Ocorre quando o referente aparece depois do item coesivo. Obseve os exemplos
que se seguem:

(i). O irmão olhou-o e disse: Pedro, pareces doente.

(ii) Isto foi o que se falou: Ninguém brinca na sala de aulas.

2.1.6.Coesão lexical

MATEUS at. al. (2003) afirma que “este processo de coesão opera por contiguidade semântico,
as expressões linguísticos que entram numa relação de coesão lexical caracterizam-se pela co-
presença de traços semânticos (total ou parcialmente) idênticos ou opostos”.

MATEUS at. al. (2003) avança que substituição pode efectuar-se por sinonímia selecção de
expressões linguísticas que partilham a generalidade dos traços semânticos (5 a); por
anonímia selecção de expressões linguísticas com traços semânticos opostos (5b); por
hiperonímia a primeira expressão mantém com a segunda uma relação classe-elemento (5c);
por hiponímia a primeira expressão mantém com a segunda, uma relação elemento classe (5d);
por holonímia a primeira expressão mantém com a segunda uma relação todo-parte (5e); por
meronímia a primeira expressão mantém com a segunda uma relação parte-todo(5f).

(5) (a) A criança caiu e desertou a chorar. “ O miúdo nunca mais aprende a cair!” Disse a
empregada.

(b) Disseste a verdade?! Essa história é uma mentira pegada.

(c) Gosto imenso de peixe. Então salmonetes, adoro.

(d) O gato arranhou-te? Ora, o que é que esperavas de um felino?

(e) A casa é linda. Os quartos estão são um assombro.

(f) Um nariz que fez tremer um império… Cleópatra é uma personagem fascinante.

2.2.Coerência textual

Coerência, segundo KOCH e TRAVAGLIA (1995:11), “se estabelece na interação, na interlocução


comunicativa entre dois usuários”. É ela, a responsável pelo sentido que os usuários captam do
texto. E se dá ”pela actuação conjunta de uma série de factores de ordem cognitiva, situacional,
sociocultural e internacional”.

Ainda para KOCH e TRAVAGLIA (1995), a coerência não compreende os meios sintácticos, mas
apenas os aspectos semântico-cognitivos dos textos, tais como as relações de causalidade, de
referência, de tempo, de localização: isto é, incluem-se em coerência apenas as relações
semânticas.

Assim, o universo textual é algo cognitivo, pois é determinado por uma “continuidade de
sentido”, isto é, uma expressão linguística pode ter vários significados, mas um texto apenas
um sentido e é a continuidade de sentido que activa o significado da expressão linguística que
produz o sentido (único) do texto ou discurso.

Para MATEUS at. al., (2003) a coerência textual é um factor de textualidade que resulta da
interacção entre os elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e o nosso
conhecimento do mundo.

Em contra partida, KOCH (1998:21) apud SANTOS, (2010), afirma que:

a coerência está directamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou


seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser
entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto na situação
de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto. Esse
sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.

2.2.1.Factores que interferem na coerência textual

No livro “Texto e Coerência” (1995), KOCH e TRAVAGLIA citam alguns factores que interferem
na coerência textual, tais quais conhecimento linguístico, conhecimento de mundo,
conhecimento partilhado, inferências, factores pragmáticos, situacionalidade, intencionalidade,
aceitabilidade, informatividade, focalização, intertextualidade e relevância.

(1) A Olga tinha lavado a louça quando chegamos, mas ainda estava lavando a louça.

(2) O João não foi à festa, entretanto estava doente.

(3) Toda girafa fala demais.

Em (1), a incoerência é gerada pelo fato de apresentar o mesmo processo verbal em duas fases
distintas de sua realização: como acabado e não-acabado ao mesmo tempo, o que não é
aceitável. Em (2), há problemas com o uso do conectivo “entretanto”, visto que ele estabelece
uma relação de oposição que contraria a relação de causa que parece ser mais plausível ou
esperada entre as ideias expressas pelos dois segmentos da sequência. Em (3), o enunciado
contraria o conhecimento geral, pois girafas não falam. Contudo, esse enunciado seria coerente
num mundo mágico ou fantástico. Isto evidencia que a coerência – ou a falta dela – não
depende apenas do uso adequado ou inadequado de conectivos, mas também de
conhecimentos de mundo e do contexto em que o texto se insere.

3.Texto

Na via etimológica, texto vem do Latim textu, “tecido”; texere “ligar; entrelaçar”, KOCH (2003)

O conceito de texto está relacionado com uma peça construída pelo trançado de várias partes.
As várias partes a que se faz referência são as ideias, as frases, as orações, as proposições, os
enunciados que, naturalmente, devem ser coesos e coerentes entre si e não um conjunto de
fragmentos soltos.

Reconhece-se que o texto é uma unidade e até uma unidade semântica; o texto tem a sua
essência, a sua individualidade, aquilo que ele é e não pode não ser. Contudo deve-se admitir a
presença de sub unidades que fazem essa unidade. As sub unidades, como desta vez se ousou
denominar, apresentam-se sob forma de frases que estabelecem uma relação de coordenação
ou subordinação. Nestas sub unidades pode-se encontrar uma variedade de sentidos que
concorrem para a construção do sentido único (macro-sentido).

Segundo NERY (1993:1) etimologicamente, o conceito de texto está relacionado ao termo latino
(textu), que significa tecido, ou seja, uma peça construída pelo trançado de várias partes.
Portanto, o texto é um tecido verbal estruturado de tal forma que as ideias formam um todo
coeso, uno, coerente. A imagem de tecido contribui para esclarecer que não se trata de feixe de
fios (frases soltas), mas de fios entrelaçados (frases interrelacionadas). Por sua vez, SANTOS e
SILVESTRE (2007) olham para o texto como “unidade básica da linguagem verbal que devemos
utilizar como instrumento em nossas aulas e torná-lo mais presente no quotidiano escolar dos
nossos alunos, trazendo para o contexto educacional os diversos géneros disponíveis na
sociedade”.

3.1.Textualidade

A textualidade pode ser definida, com base em BEAUGRANDE & DRESSLER (1981), como um
conjunto de características que fazem com que um texto seja considerado como tal, e não
como um amontoado de palavras e frases, para as quais seja impossível construir algum
sentido, dentro de um determinado contexto de produção e recepção.
Segundo BEAUGRANDE e DRESSLER (1981), são os responsáveis pela construção da
textualidade de qualquer texto, a saber: factores relacionados com o material conceitual e
linguístico do texto (coerência e coesão) e factores pragmáticos envolvidos no processo socio
comunicativo (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade,
intertextualidade)

3.2.Factores de textualidade

Na realidade, cada factor da textualidade é peça fundamental para a atividade escrita numa
perspectiva sociodiscursiva e interativa da linguagem. De acordo com BEAUGRANDE;
DRESSLER (1981) apud MARCUSCHI (2008) são sete fatores/critérios da textualidade e suas
respectivas linhas de orientação:

11. Coerência e coesão (fatores orientados pelo próprio texto e de natureza linguística e
conceitual);

2. Intencionalidade e a aceitabilidade (orientados pelo aspecto psicológico);

3. Informatividade (critério orientado pelo aspecto comunicacional);

3. Situacionalidade e a intertextualidade, que são orientados pelo aspecto sociodiscursivo.

Importa salientar que estes cinco últimos são de natureza social e pragmática.

Para considerar uma actividade de produção textual numa ótica interacionista, deve-se levar em
conta, primordialmente, os factores sociodiscursivos, antes mesmo dos aspectos linguísticos
inerentes a própria materialização escrita do texto.

3.2.1.Intertextualidade
Segundo COSTA (2006) olha a intertextualidade como sendo “o diálogo entre textos”

No campo da Linguística Textual, BEAUGRANDE e DRESSLER (1976:45) afirmam que “a


intertextualidade se refere aos factores que vão depender da utilização adequada de um texto e
do conhecimento que se tenha de outros textos anteriores”

Doutro lado, KOCH (2003:59) sustenta que:

Todo texto é um objecto heterogéneo, que revela uma relação radical de seu interior com seu
exterior, e, desse exterior, evidentemente, fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o
predeterminam, com os quais dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se opõe.

3.2.2.A situacionalidade

É o fio condutor do processo. Ela deve manter relação com a situação sociocomunicativa, a
qual deve adequar-se, e estabelecer uma relação com o contexto em que o próprio texto é
produzido ou recebido.

Para BEAUGRANDE (1997) apud MARCUSCHI (2008), além de servir para determinar o contexto
interpretativo, a situacionalidade é um meio de orientação para a própria produção, funcionando
como critério estratégico. É através dela que a situação de comunicação fica evidente: quem
fala/escreve? Para que ouvinte/leitor? Com que objetivo se fala/escreve? A existência dessa
situação comunicativa definirá vários outros critérios que contribuirão para os rumos da
construção textual, inclusive desvincular o papel da escrita da escola de uma visão reducionista
do professor enquanto único receptor do texto

3.2.3.A informatividade

Firmada a situação de produção, implica pensar na mensagem/ informação a ser viabilizada


por meio do texto, ou seja, voltamos ao Ter o que dizer. No entanto, não é tão simples assim.
Não se trata apenas das unidades informacionais.
MARCUSCHI (2008) explica que ninguém profere um texto para não dizer alguma coisa, no
entanto, informação não é o mesmo que sentido e conteúdo no texto. A informação é um tipo
de conteúdo que, quando apresentado ao leitor/ouvinte, assume um efeito de sentido. Assim,
deve-se entender a informatividade enquanto grau de expectativa e de conhecimentos que são
ofertados no texto. Isso indica que o interlocutor, ao produzir um texto, não somente se atém
ao conteúdo a ser transmitido, mas reflecte sobre a escolha do grau de novidade, de saberes a
serem partilhados, do que é óbvio e do que não o é, do que já faz parte dos conhecimentos dos
leitores/ouvintes ou não.

3.2.4.A intencionalidade e a aceitabilidade

Associados a esses dois factores está o escritor/falante, que se utilizará dos vários recursos
linguísticos e discursivos, além de deixar presente em menor ou maior grau a sua
subjectividade a partir do género e da finalidade comunicativa. Aqui se faz presente o factor da
intencionalidade. Nesse critério, reside basicamente a intenção do produtor do texto.
MARCUSCHI diz que em um texto reside um objetivo ou finalidade que deve ser captada pelo
leitor. Claro, esse é conscientemente criado pelo autor na produção escrita. Por isso se torna
recorrente o fato de sempre questionarmos, em várias situações de interpretação de textos, o
que o autor quer transmitir? O que ele pretende? O que ele quis dizer com isso? Citando
FÁVELO (1986), MARCUSCHI faz uma relação desse critério com os aspectos de natureza
conceitual e linguística:

A intencionalidade, no sentido estrito, é a intenção do locutor de produzir uma manifestação


linguística coesiva e coerente, ainda que essa intenção nem sempre se realize na sua totalidade,
especialmente na conversação usual. FÁVERO (1986) apud MARCUSCHI (2008:127).

Se a intencionalidade diz respeito à disposição do locutor/produtor do texto, o que ele pretende


com sua construção linguística e discursiva, a aceitabilidade está centrada no receptor, o que o
recebe enquanto texto coerente e coeso, compreensível, dotado de significado, por isso,
interpretável.

Para ANTUNES (2010) tanto a intencionalidade quanto a aceitabilidade dizem respeito ao


escritor/falante e receptor/ouvinte, respectivamente, e não ao texto. Mesmo não estando
presentes na materialidade do texto. Esses critérios são determinantes na interação
autor/leitor. Quem escreve, já o faz pensando no leitor ou leitores, dependendo do propósito
comunicativo ou da especificidade do género textual.

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