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XIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA


UNAERP CAMPUS GUARUJÁ

Prevenção e Remediação de Catástrofes Ambientais

Ética Profissional do Serviço Social na Atuação com os Usuários.

Anny Rodrigues Marques Santos

Bacharel em Serviço Social – Universidade Paulista UNIP

anny.marques@outlook.com

Everton de Melo Gonçalves

Estudante do Curso de Serviço Social – Universidade Paulista UNIP

emg81@live.com

Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee

Resumo:
Ética profissional do Serviço Social na atuação com os usuários é o tema proposto
por essa pesquisa, e tem por finalidade abordar as transformações éticas dos
assistentes sociais no que diz respeito às suas relações com os usuários, expressas
nas reformulações do Código de Ética do/a Assistente Social no Brasil. Para isto,
buscamos conhecer as transformações éticas no processo sócio histórico do Serviço
Social na atuação com os usuários, através da análise do Código de Ética do/a
assistente social desde 1947 até 1993. Essa pesquisa é fundamentada a partir da
teoria crítica marxista, através do método documental bibliográfico, e se faz
importante ao proporcionar uma reflexão sobre a atuação profissional para com os
usuários, através da trajetória histórica do Serviço Social e do seu Código de Ética,
pois as mudanças éticas nas reformulações do Código de Ética são diretamente
proporcionais às mudanças da sociedade e as mudanças da própria categoria; vindo
a refletir em uma atuação ético política, e desta forma, interferindo positivamente na
vida dos usuários e na realidade social.
Palavras-chave: Ética; Profissional; Usuários.
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Summary:
Professional Ethics of Social Work in acting with users is the theme proposed by this
research, and aims to address the ethical transformations of social workers with
regard to its relations with users, expressed in reformulations of the Code of Ethics /
a Social worker in Brazil. For this, we seek to know the ethical transformations in the
historical social process of social work in action with users through the analysis of the
Code of Ethics / a social worker from 1947 to 1993. This research is based from the
Marxist critical theory through bibliographical documentary method, and it is
important to provide a reflection on the professional performance towards users
through the historical trajectory of Social Service and its Code of Ethics, for ethical
changes in the redesigns of the Ethics Code are directly proportional to changes in
society and changes in own category; been reflected in a political ethical action, and
thereby positively interfering in the lives of users and social reality.
Keywords: Ethics; Professional; Users.
Seção 4 - Curso de Serviço Social – Ética Profissional.
Apresentação: Colóquio Cientifico
1. Introdução.
“A formação da consciência profissional é fator
essencial em qualquer profissão, e que um
Código de Ética constitui valoroso instrumento de
apoio e orientação para os assistentes sociais”
(CFAS, 1965).
Partindo desta afirmativa, consideramos o Código de Ética (CE) um
instrumento norteador do agir profissional, e que traz consigo princípios históricos
construídos através de movimentos, lutas conjuntas e mudanças nas necessidades
sociais, que se encontram no bojo das transformações da sociedade, e este
conjunto de transformações materializadas no interior de cada reformulação do CE,
trouxe influências para prática profissional, nas diferentes formas de intervenção dos
assistentes sociais frente aos usuários e à realidade social; de acordo com cada
período vivenciado.
Cabe ressaltar que utilizamos o termo no singular “O Código de Ética” e não
“Os Códigos de Ética” devido ao fato de haver apenas um único Código de Ética
profissional do/a assistente social, sendo este, reformulado quatro vezes (1965,
1975, 1986 e 1993).
Ressaltamos também no Serviço Social, a luta contra a violência de gênero,
que ganha corpo e se expressa também no Código de Ética de 1993 em sua
produção, reconhecendo a profissão como predominantemente feminina e ao utilizar
o termo (do/a) em referência às profissionais do Serviço Social. Respeitaremos o
termo adotado e usaremos essa terminologia a partir do Código de Ética de 1993,
pois entendemos que essa mudança veio em 2011, como correção e valorização
para além da mudança formal, e sim um desenvolvimento político em favor e
respeito às diferenças de gênero, quanto ao reconhecimento da mulher em meio a
uma cultura machista, paternalista e conservadora, que historicamente foi e tem sido
desprestigiada em diversos aspectos da vida social. Portanto, quando fizermos
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menções que permeiam o Código de Ética de 1993 do/a assistente social


utilizaremos essa forma de escrita, pois acreditamos ser de grande importância.
Conforme Barroco (2012), as reformulações do Código de Ética de 1947, 1965
e 1975, tem como influência e base o pensamento do neotomismo e do positivismo.
O Código de Ética de 1947, expressa na sua origem o vínculo do Serviço Social com
a Doutrina Social da Igreja, com regras doutrinárias extremas e totalmente inclinado
aos dogmas religiosos. O Código de Ética de 1965 apresenta pinceladas de
renovação profissional, em um momento de modernização conservadora
incorporando princípios do pluralismo, da democracia e da justiça, em uma forma de
pensar liberal.
A reformulação do Código de Ética de 1975, se deu em um contexto de
movimentos sociais e lutas entre projetos profissionais elaborados em congressos
de Serviço Social. Sofreu alteração e inclusão referente ao personalismo, com
acentuação da herança conservadora do Serviço Social. Extinguiu referências de
democracia liberal mencionados no Código anterior.
A reformulação do Código de Ética de 1986, ocorreu em um período de
reconceituação da categoria e de efervescência dos movimentos populares, portanto
foi colocada por Barroco (2012) como o fruto de uma construção coletiva. Marca
uma nova postura ético-política ao assumir o compromisso com a classe
trabalhadora, negando assim a neutralidade e abre caminhos para adoção de uma
nova base teórica, o marxismo.
Mas é a partir do Código de Ética de 1993, que se assume a teoria crítica de
Marx e garante-se o compromisso com os usuários, tendo a liberdade como
princípio ético fundamental e viabilizando a cidadania, democracia, justiça e
igualdade social; como podemos observar através do primeiro princípio fundamental
do CE de 1993: “I- Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das
demandas políticas a elas inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais”. (BARROCO, 2012, p. 121).
2. Objetivos.
Estabelecemos como objetivo geral, conhecer as transformações éticas no
processo sócio histórico do Serviço Social na atuação com os usuários; e para que o
nosso objetivo geral fosse alcançado, delimitamos como objetivo específico,
analisar o Código de Ética do/a assistente social desde 1947 até 1993 na atuação
com os usuários.
3. Justificativa.
A questão da ética profissional é indispensável, pois como afirma Carlos
Simões: “Por meio da ética, os assistentes sociais tem a oportunidade de adquirir
sua identidade espiritual-profissional e de aprender o que é a sua unidade enquanto
grupo particular” (SIMÕES, 2007, p. 38) dessa forma, a ética é importante por trazer
identidade e segurança para a ação profissional, e se materializa através do Código
de Ética, sendo este um documento que serve como bússola apontando uma
direção segura entre o profissional e os usuários.
Com relação aos usuários, Barroco (2012) explica que no processo de
implantação do Código de Ética do/a assistente social de 1993, o Conselho Federal
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de Serviço Social (CFESS) e o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) dirigiu


uma campanha informativa sobre a defesa dos direitos e interesses dos usuários.
Este fato na opinião da autora demonstra o caráter não coorporativo do CE do/a
assistente social, diferente de outras profissões que tendem em seu Código de Ética
a tratar de interesses profissionais particulares.
A totalidade do CE objetivou responder aos direitos e
necessidades do usuário, constituindo-se num instrumento
para a sua reinvindicação, no caso de ele não ser atendido
adequadamente por um assistente social (BARROCO, 2012,
p. 85).

Vemos então o Código de Ética não somente como um norte para os


profissionais, mas como um instrumento que pode ser utilizado a fim de se fazer
cumprir o compromisso ético-político dos assistentes sociais com os usuários. Mas
frisamos que para alcançar esse patamar na atuação com os usuários, mudanças
foram necessárias, e a profissão se fez e se refez, aderindo atualmente uma
identidade crítica.
Assim, pretendemos que a presente pesquisa proporcione esclarecimento e
reflexão sobre as transformações sócio históricas da trajetória do Serviço Social
através do seu Código de Ética profissional; podendo refletir em uma atuação
profissional diferenciada com os usuários, sabendo que uma ação profissional ético
política interfere significativamente na realidade social.
Portanto, este trabalho tem como problemática identificar de que forma as
transformações da sociedade interferiram na relação entre os assistentes sociais e
os usuários.
4. Revisão Bibliográfica.
Destacamos como principal leitura e fonte de análise, bem como inspiração
para esta pesquisa, o livro: Código de Ética do/a Assistente Social Comentado, de
Maria Lúcia Silva Barroco e Sylvia Helena Terra, o qual a autora Barroco, referência
em ética profissional para o Serviço Social no Brasil, é a pioneira em trazer análises
aprofundadas sobre o Código de Ética de 1993. Mesmo direcionando suas análises
para o atual Código, de forma introdutória a este, a autora perpassa as
reformulações anteriores, apresentando os principais conceitos, pincelando sobre o
contexto histórico e abordando as bases teóricas presentes em cada reformulação
através de uma análise crítica.
Desta forma, mesmo discorrendo sobre o atual Código, Barroco apresentou
análises que são apresentadas no decorrer de toda a nossa pesquisa, utilizadas ora
como fundamentação ora como base de raciocínio. Mas de maneira a aprofundar a
respeito das reformulações do CE anteriores a 1993, foi essencial realizarmos a
leitura e análise, de todas as reformulações do Código de Ética do assistente social
(ABAS, 1947; CFAS, 1965; CFAS, 1975; CFAS, 1986 e CFESS, 1993), atentos às
particularidades de cada Código com relação aos usuários, destacando as bases
teóricas e às mudanças e permanências; de forma que a luz dessas leituras
pudéssemos conversar com o que Barroco pontuava.
Também para auxiliar em nossas análises, realizamos a leitura do texto: Os
fundamentos históricos e teóricos metodológicos do Serviço Social brasileiro na
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contemporaneidade, de autoria de Maria Carmelita Yazbek. Este texto enriquece o


diálogo entre as nossas análises sobre as reformulações do CE e as colocações
realizadas por Barroco, trazendo uma leitura crítica à nossa pesquisa, e importante
por fazer a conexão com a contemporaneidade.
O texto de Yazbek complementa nosso raciocínio segundo a nossa
contemporaneidade, mas para que pudéssemos abranger todas as reformulações
do CE e assim contemplar a problemática proposta por esta pesquisa, utilizamos os
livros: Serviço Social e Relações Sociais no Brasil: esboço de uma interpretação
histórico-metodológica, de Marilda Vilela Iamamoto e Raul de Carvalho; o livro:
Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil, de Safira Bezerra
Ammann; e também o livro: Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social
no Brasil pós-64, de José Paulo Netto, entre outras obras não citadas, mas que nos
ajudaram a fomentar acúmulo sobre essa temática, e que se encontram nas
referências. Nestas obras, os autores trazem a trajetória histórica do Serviço Social
brasileiro nos seus diversos estágios, entrelaçados com o contexto histórico do país,
nos auxiliando a entender os fatores políticos, econômicos e sociais de cada
período, para que correlacionados com as reformulações do Código de Ética,
pudéssemos então, identificar de que forma as transformações da sociedade
interferiram na relação entre os assistentes sociais e os usuários.
4.1. Ética Profissional
A ética possui diversas definições ao longo da história e tem sua importância
dentro das relações sociais, visto que sua essência é a ponderação do agir humano
em sociedade. A ética aplicada a um determinado grupo profissional é denominada
como deontologia, centra os princípios e valores a serem adotados pelas categorias,
compilados em seus Códigos de Ética.
4.1.2. Código de Ética – 1947
Barroco (2012) coloca que a Igreja Católica, através do Neotomismo,
influenciou o Serviço Social desde a sua origem, na formação, fundamentação e
atuação dos assistentes sociais. Assim, a priori, a atuação profissional, baseava-se
na Doutrina Social da Igreja, realizada pelas damas de caridade, que faziam parte
da Legião Brasileira de Assistência (LBA). As ações das damas de caridade eram
respaldadas através do Código de Ética de 1947, que tem como conceito moral a
ética do “fazer o bem e evitar o mal”. Suas ações eram essencialmente ligadas as
Leis Divinas e formadas apenas por deveres como: cumprir com os compromissos
assumidos, guardar rigoroso sigilo e manter atitudes honestas.
O Código de Ética de 1947 foi o primeiro documento a trazer o reconhecimento
da profissão, e sua identidade através da exigência na formação moral. Coloca que
o Serviço Social não trata apenas fatores materiais, não se limita à remoção de um
mal físico, nem trata de transações comerciais e monetárias, mas sim de pessoas
humanas desajustadas (ABAS,1947).
Este Código apresenta a estreita vinculação do Serviço Social com a Igreja
Católica; com práticas moralizadoras de ajustamento dos “beneficiários”, como
assim eram chamados nesse período. Destacamos nesse Código que a atuação dos
assistentes sociais com os beneficiários apresentava-se através do respeito à
dignidade humana, onde as agentes sociais à luz das leis divinas e sobre juramento,
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deveriam direcionar seus atos a fim de garantir o bem comum, dedicando-se às suas
atividades e não as interrompendo sem justo motivo.
4.1.3. Reformulação do Código de Ética – 1965
O segundo Código de Ética (1965), foi baseado no positivismo, reformulado
devido à ampliação das atribuições do assistente social após a aprovação da Lei de
Regulamentação da Profissão (nº 3.252) em 1950, colocando o Serviço Social como
uma profissão liberal, ocorrendo também a laicização do Serviço Social, bem como
as mudanças sociais que traziam em seu bojo novas formas de atuação profissional,
como o Estado ditatorial, os ideais liberais aplicados através da política de
Desenvolvimento de Comunidade no período de industrialização e da consolidação
do Capitalismo no Brasil.
Nesse contexto, o Serviço Social foi utilizado como ferramenta do Estado,
atrelado a um movimento de âmbito internacional, de interesses na expansão do
modo de produção capitalista e suas ideologias; e segundo Ammann (2003), o
Serviço Social realizava uma espécie de educação social, motivando a participação
de todos nas atividades propostas pelo Estado, com o discurso da conquista de
melhores condições de vida e que colaborassem com o avanço do país.
Barroco (2012) atribui ainda ao CE de 1965, que o agir do assistente social era
trabalhar para o alcance do bem comum e da justiça social, através de “correção das
disfunções”, capacitando indivíduos, grupos e comunidades para uma integração
social, além de apresentar a defesa dos direitos da pessoa humana.
Portanto, este Código mantém o respeito à dignidade da pessoa humana,
acrescentando que por natureza os indivíduos são seres livres e inteligentes, sendo
assim capazes de autodeterminação. Reconhece pela primeira vez a família como
grupo natural, sendo a família importante para o desenvolvimento do indivíduo e
colocando-a como base da sociedade. Segundo Yazbek (2009), o posicionamento
era orientado através de cunho humanista e conservador. “O contributo do Serviço
Social, nesse momento, incidira sobre valores e comportamentos de seus “clientes”
na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações sociais
vigentes” (YAZBEK, 2009, p.3).
4.1.4. Reformulação do Código de Ética – 1975
Este Código também foi baseado nos pressupostos do positivismo, com uma
reatualização do conservadorismo como complemento aos ideais liberalistas do CE
anterior, colocando o assistente social como instrumento de suporte para
implantação das políticas desenvolvimentistas. Segundo Barroco (2012) neste CE é
acrescentado o conceito do personalismo, que consiste que a pessoa humana é o
objeto central e, portanto, responsável por suas condições; o que acentuava ainda
mais o conservadorismo no Serviço Social. A atuação profissional possuía
“aparentemente” uma postura ética de neutralidade, que é facilmente refutada pelos
reflexos de um Estado ditatorial contidos nas entrelinhas do CE de 1975.
O Código de Ética de 1975 clama pelo “bem comum” dos “clientes”, mas exige
uma ação disciplinadora do Estado (BARROCO, 2012). O suposto bem comum a
qual o Estado preza está posto no Código de Ética como: “o conjunto das condições
materiais e morais concretas nas quais cada cidadão poderá viver humana e
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livremente”, no entanto os valores de liberdade e justiça também são refutados pela


ditadura. Apesar desse período, foi um momento de retomada das mobilizações
populares antes enfraquecidas pela pressão política. Ammann (2003) explica que foi
através das mobilizações da sociedade civil em busca da redemocratização do país,
que colocou novamente o Serviço Social no debate acerca do seu compromisso com
a classe trabalhadora.
Assim, a profissão adentra no período denominado como reconceituação,
definido por Iamamoto (2013) como “a expressão de uma luta para alcançar a
legitimidade e identidade profissional”; e desta forma, o Serviço Social começou a
caminhar para a construção de uma nova postura ético política, propondo romper
com o conservadorismo e a neutralidade.
4.1.5. Reformulação do Código de Ética – 1986
Esta reformulação é fruto do trabalho coletivo das entidades representativas do
Serviço Social, e trouxe amadurecimento à profissão, vinculando seu projeto ético
político com um projeto de transformação societária, e aderindo a uma nova base
teórica, o marxismo. Tais mudanças significativas são colocadas por Barroco (2012)
como um conjunto de conquistas inestimáveis para o Serviço Social.
A prática profissional norteada neste Código, está dividida em duas formas:
Princípios e Diretrizes, trazendo direcionamento quanto aos direitos, deveres e
proibições, que segundo o próprio Código (CFAS, 1986, p.8), da ênfase para “a
prática profissional articulada às lutas da classe trabalhadora”. Portanto, este Código
representa mudanças significativas para os profissionais, reflexo de uma categoria
que se refez, perante às mudanças sócio históricas.
As conquistas da categoria frente aos usuários foram potencializadas,
expandidas e consolidadas através da Constituição Cidadã (1988). É nesse
contexto, e na “contra mão” das transformações que ocorrem na ordem econômica
internacional mundializada, que o Brasil vai instituir constitucionalmente em 1988 o
seu sistema de Seguridade Social (YAZBEK, 2009).
Contudo os avanços sociais e as conquistas do Serviço Social foram
ameaçados pelo neoliberalismo que chegara ao Brasil no início dos anos 1990,
trazendo consigo a proposta de retrocesso do Estado frente às políticas públicas e a
perda de direitos sociais. Segundo Barroco (2012), esse foi o contexto em que se
deu a reformulação do atual Código de Ética do Assistente Social.
4.1.6. Reformulação do Código de Ética – 1993
O Código de Ética de 1993 emerge sob um cenário de enfrentamento do
Neoliberalismo, preservando as conquistas políticas do Código anterior, onde o
projeto ético político subsidiou como uma força de resistência para a profissão.
O Serviço Social diante disso, realizou encontros e após discussões avaliaram
que o Código homologado em 1986 apresentava insuficiências; necessitando da
criação de novos valores éticos, fundamentados em uma definição mais abrangente
de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania,
justiça e igualdade social (BARROCO, 2012; CFESS, 1993).
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Na relação com os usuários, o CE de 1993 mantém a mesma base de


conquistas do CE de 1986, melhorando e ampliando o seu nível de abrangência,
como exemplo a atuação profissional frente à abolição do preconceito e da
discriminação, respeitando a questão de gênero, religião, orientação sexual e a
condição física, dentre outras condições presentes no CE de 1993, elementos não
reconhecidos anteriormente, e também o uso de algumas terminologias, como
“emancipação dos sujeitos”.
Assim, o Código de Ética de 1993 é considerado uma das normativas mais
importantes do Serviço Social brasileiro, colocado por Barroco (2012) como “solo e
horizonte” para os profissionais. Além disso, também pode ser visto como um
instrumento em favor dos usuários, no tocante a garantia e efetivação dos seus
direitos sociais como: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância e assistência aos desamparados. (BRASIL. Art. 6º Constituição, 1988). Isto
mostra que neste CE há um maior respeito aos usuários na garantia e luta por
diretos para a consolidação da cidadania.
5. Materiais e Métodos.
Para esta pesquisa utilizamos a abordagem qualitativa, e o método documental
bibliográfico, pois entendemos que é o método que melhor abrange o campo da
nossa pesquisa, tendo em vista que se trata do estudo de um período histórico. Os
documentos utilizados foram algumas obras famosas do Serviço Social, por relatar
períodos históricos da profissão e principalmente, o Código de Ética do/a assistente
social e suas reformulações, tendo em vista que este documento é de extrema
importância por balizar as ações profissionais.
Como procedimento de pesquisa, realizamos a leitura do Código de Ética e
todas as suas reformulações, atentos aos pontos que se tratavam do agir
profissional com relação aos usuários. Após isso efetuamos a leitura de livros e
textos de alguns autores renomados do Serviço Social, fichando os acontecimentos
importantes para a categoria, e relacionando com o contexto histórico; e então,
finalizando o processo de investigação, confrontamos nossas análises sobre o CE,
com os argumentos dos autores e chegamos a uma síntese sobre a ética
profissional do Serviço Social na atuação com os usuários, e como as
transformações da sociedade interferiram nessa atuação, como propunha nossa
problemática.
6. Resultados e Discussão.
Consideramos que ao longo desses 46 anos de história entre a formulação do
primeiro Código de Ética até a reformulação de 1993, a sociedade passou por
diversas mudanças materiais, pessoais e subjetivas. Vimos também que a moral, o
costume, as Leis, as formas de governo, as sociedades, tudo se modifica de acordo
com o processo histórico, e tivemos a oportunidade de observar através do CE que
o Serviço Social acompanhou essas mudanças, e que essas transformações
ajudaram a fomentar a construção da identidade profissional do assistente social
junto aos usuários, sendo o assistente social fruto e produto dessa construção
histórica na qual a categoria é protagonista.
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Após acompanharmos através dos livros, das reformulações do CE, dos artigos
e do nosso acumulo sobre esse tema, nos foi possível afirmar que o CE de fato é um
importante documento histórico, haja vista que sua elaboração e (re) elaborações
estão intrinsecamente engendradas nas relações sócio históricas, onde o CE
expressa os conceitos éticos e princípios de uma determinada época, e isso nos
levou a crer que alguns valores expressos no CE não foram próprios do Serviço
Social, e sim incorporados pela profissão de acordo com o momento vivido junto a
sociedade.
Em suma, observamos que o primeiro Código de Ética em 1947 foi
essencialmente ligado às leis divinas de base neotomista. A atuação profissional
baseada no neotomismo, possuía um viés de caridade através de auxílios materiais
e aconselhamentos segundo às leis divinas. O profissional tinha um caráter
conservador e atuava na perspectiva de controle e ajustamento “moral e social” dos
indivíduos e de suas famílias. Realizavam a reforma de caráter acreditando que
tratar as disfuncionalidades do sujeito, seria um dos remédios para diminuir os males
sociais.
O segundo em 1965 foi baseado nos direitos humanos e no bem comum,
através de conceitos positivistas. O terceiro em 1975, também foi de base positivista,
porém teve diretamente a intervenção do Estado em sua regulamentação. A atuação
dos assistentes sociais no período positivista, era de reprodução da ideologia
dominante, pois ainda não possuíam a visão crítica e, portanto, permaneceram
atuando dentro de uma perspectiva “neutra”, como executores das políticas sociais
ofertadas pelo Estado, com a intencionalidade de suavizar os impactos da
exploração capitalista por conta da implantação de grandes empresas. Os
assistentes sociais realizavam uma espécie de educação social, motivando a
participação popular no desenvolvimento do país.
O quarto Código de Ética em 1986, rompe com o conservadorismo e a
neutralidade, se aliando à classe trabalhadora e revelando-se mais como uma carta
política do que como um CE propriamente dito. Já o CE de 1993, representa um
amadurecimento ético-político da profissão, assume a teoria marxista e tem a
garantia de direitos e a liberdade como valor ético central.
A atuação baseada no marxismo tem sua prática articulada às lutas da classe
trabalhadora e dos usuários. Suas ações são pautadas na liberdade, democracia e
justiça social; contribuem para a ampliação da cidadania das classes
subalternizadas, das minorias, na defesa da classe trabalhadora, na luta contra a
injustiça social e das desigualdades, buscando a emancipação humana, para
projeção de uma sociedade livre da exploração capitalista. Portanto, podemos
observar que os “beneficiários, clientes, usuários ou sujeitos” sempre foram o objeto
principal da intervenção dos assistentes sociais e isso é expresso em todas as
reformulações do Código de Ética.
7. Conclusões.
Ao iniciarmos essa pesquisa, fomos motivados pela curiosidade de conhecer
como se deu a atuação dos assistentes sociais com os usuários no decorrer da
história da profissão no Brasil, e dessa forma estabelecemos como problema a ser
investigado, de que forma as transformações da sociedade interferiram na atuação
dos assistentes sociais com os usuários.
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Após a pesquisa, podemos colocar que as mudanças éticas no agir profissional


estão relacionadas ao contexto sócio histórico vivenciado pelos assistentes sociais e
com as mudanças de base teórica, pois para que a categoria chegasse hoje a essa
consciência crítica, o Serviço Social no seu processo sócio histórico precisou antes
romper com duas outras formas de pensamento: o “moralizador cristão” e o
pensamento “conservador”.
Portanto, as mudanças éticas na atuação dos assistentes sociais com os
usuários são diretamente proporcionais às mudanças da sociedade e às mudanças
da própria categoria, pois o Serviço Social trabalha em favor da sociedade. Desse
modo, acreditamos que a categoria profissional visa o melhor para os usuários, de
acordo com seus conhecimentos e a base teórica, dada a sua época vivida.
Assim pontuamos que o assistente social se caracteriza como um profissional
que historicamente traz em seu pulso o comprometimento com o exercício do seu
labor, independentemente de ser pela Doutrina Social da Igreja, pelo
Desenvolvimento de Comunidade ou pela Emancipação dos Sujeitos. Constatamos
também, que o assistente social possui um fator diferencial em sua atuação: a
compaixão, que significa amor com ação, e consiste não somente em interpretar a
subjetividade do outro ou ter uma escuta qualificada, mas também em realizar uma
intervenção a fim de redirecionar o percurso dos usuários, da história e da própria
categoria.
Entretanto são inúmeros os desafios que se apresentam na atuação
profissional, como trabalhar para a emancipação plena dos sujeitos, ampliação no
combate a todas as formas de preconceito, a participação e efetivação da população
usuária nas decisões institucionais e voltar ao engajamento dos movimentos sociais.
Além disso, o Serviço Social no Brasil completa 80 anos neste ano de 2016, e
junto a essa data comemorativa os profissionais enfrentam ainda outro grande
desafio, que é a efetivação do Código de Ética de 1993 nas práticas e serviços,
tendo em vista o contexto social e político vivido pelo país neste momento.
A retirada da presidenta Dilma Vana Rousseff pelo Congresso Nacional, em 31
de agosto, durante o processo oficialmente considerado de Impeachment, no
contexto de um suposto combate à corrupção e sob alegações de crime de
responsabilidade, deixaram claro os objetivos de retirar a todo custo a presidenta
eleita e dar força a processos neoliberais de corte de direitos e redução de
programas sociais adquiridos e construídos historicamente.
O atual governo e boa parte do Congresso, com seu perfil neoconservador,
veem na retirada e redução dos direitos sociais a solução para resolver a crise do
Brasil, atingindo profundamente a classe trabalhadora, que, em sua grande parte, já
sobrevive sob condições econômicas e sociais precarizadas.
Neste contexto, e considerando o projeto ético político do Serviço Social, os
assistentes sociais precisam se (re) posicionar pelo enfrentamento do retrocesso
sobre os direitos sociais que foram construídos através de lutas emancipatórias da
classe trabalhadora, junto aos movimentos revolucionários e das forças
progressistas, e é nesse ideal que, enquanto categoria, os assistentes sociais devem
nortear suas ações seguindo o compromisso ético político, sem perder de vista o
seu real papel na atual conjuntura.
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Portanto, consideramos que essa pesquisa nos possibilitou apenas a abertura


de fecho de luz frente ao tema: ética profissional do Serviço Social na atuação com
os usuários. Sabemos que são inúmeros os desafios que se apresentam, e os que
ainda estão por vir, e esperamos que outras pesquisas se derivem desta, dando
continuidade a esse assunto tão importante que é o agir profissional.
8. Referências.
AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no
Brasil. 10. Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

BARROCO, Maria Lucia Silva. Código de Ética do/a Assistente Social


comentado / Maria Lucia Silva Barroco, Sylvia Helena Terra; Conselho Federal de
Serviço Social – CFESS, (org.) – São Paulo: Cortez, 2012.

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: fundamentos sócio-históricos. 3. Ed. São


Paulo: Cortez, 2010. (Biblioteca básica do serviço social; v.4).
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>
Acesso em: 31/08/2016.
CHAUI, Marilena de Souza. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos
a Aristóteles. 1. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Código de Ética do/a Assistente Social. Conselho Federal de Serviço Social –


CFESS. Brasília: 1993.

Código de Ética Profissional do Assistente Social Conselho Federal de Assistentes


Sociais – CFAS. Rio de Janeiro: 1975.

Código de Ética Profissional do Assistente Social Conselho Federal de Assistentes


Sociais – CFAS. Rio de Janeiro: 1986.

Código de Ética Profissional do Assistente Social. Conselho Federal de Assistentes


Sociais – CFAS. Rio de Janeiro: 1965.

Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Associação Brasileira de


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