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Resumo:
Ética profissional do Serviço Social na atuação com os usuários é o tema proposto
por essa pesquisa, e tem por finalidade abordar as transformações éticas dos
assistentes sociais no que diz respeito às suas relações com os usuários, expressas
nas reformulações do Código de Ética do/a Assistente Social no Brasil. Para isto,
buscamos conhecer as transformações éticas no processo sócio histórico do Serviço
Social na atuação com os usuários, através da análise do Código de Ética do/a
assistente social desde 1947 até 1993. Essa pesquisa é fundamentada a partir da
teoria crítica marxista, através do método documental bibliográfico, e se faz
importante ao proporcionar uma reflexão sobre a atuação profissional para com os
usuários, através da trajetória histórica do Serviço Social e do seu Código de Ética,
pois as mudanças éticas nas reformulações do Código de Ética são diretamente
proporcionais às mudanças da sociedade e as mudanças da própria categoria; vindo
a refletir em uma atuação ético política, e desta forma, interferindo positivamente na
vida dos usuários e na realidade social.
Palavras-chave: Ética; Profissional; Usuários.
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Summary:
Professional Ethics of Social Work in acting with users is the theme proposed by this
research, and aims to address the ethical transformations of social workers with
regard to its relations with users, expressed in reformulations of the Code of Ethics /
a Social worker in Brazil. For this, we seek to know the ethical transformations in the
historical social process of social work in action with users through the analysis of the
Code of Ethics / a social worker from 1947 to 1993. This research is based from the
Marxist critical theory through bibliographical documentary method, and it is
important to provide a reflection on the professional performance towards users
through the historical trajectory of Social Service and its Code of Ethics, for ethical
changes in the redesigns of the Ethics Code are directly proportional to changes in
society and changes in own category; been reflected in a political ethical action, and
thereby positively interfering in the lives of users and social reality.
Keywords: Ethics; Professional; Users.
Seção 4 - Curso de Serviço Social – Ética Profissional.
Apresentação: Colóquio Cientifico
1. Introdução.
“A formação da consciência profissional é fator
essencial em qualquer profissão, e que um
Código de Ética constitui valoroso instrumento de
apoio e orientação para os assistentes sociais”
(CFAS, 1965).
Partindo desta afirmativa, consideramos o Código de Ética (CE) um
instrumento norteador do agir profissional, e que traz consigo princípios históricos
construídos através de movimentos, lutas conjuntas e mudanças nas necessidades
sociais, que se encontram no bojo das transformações da sociedade, e este
conjunto de transformações materializadas no interior de cada reformulação do CE,
trouxe influências para prática profissional, nas diferentes formas de intervenção dos
assistentes sociais frente aos usuários e à realidade social; de acordo com cada
período vivenciado.
Cabe ressaltar que utilizamos o termo no singular “O Código de Ética” e não
“Os Códigos de Ética” devido ao fato de haver apenas um único Código de Ética
profissional do/a assistente social, sendo este, reformulado quatro vezes (1965,
1975, 1986 e 1993).
Ressaltamos também no Serviço Social, a luta contra a violência de gênero,
que ganha corpo e se expressa também no Código de Ética de 1993 em sua
produção, reconhecendo a profissão como predominantemente feminina e ao utilizar
o termo (do/a) em referência às profissionais do Serviço Social. Respeitaremos o
termo adotado e usaremos essa terminologia a partir do Código de Ética de 1993,
pois entendemos que essa mudança veio em 2011, como correção e valorização
para além da mudança formal, e sim um desenvolvimento político em favor e
respeito às diferenças de gênero, quanto ao reconhecimento da mulher em meio a
uma cultura machista, paternalista e conservadora, que historicamente foi e tem sido
desprestigiada em diversos aspectos da vida social. Portanto, quando fizermos
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deveriam direcionar seus atos a fim de garantir o bem comum, dedicando-se às suas
atividades e não as interrompendo sem justo motivo.
4.1.3. Reformulação do Código de Ética – 1965
O segundo Código de Ética (1965), foi baseado no positivismo, reformulado
devido à ampliação das atribuições do assistente social após a aprovação da Lei de
Regulamentação da Profissão (nº 3.252) em 1950, colocando o Serviço Social como
uma profissão liberal, ocorrendo também a laicização do Serviço Social, bem como
as mudanças sociais que traziam em seu bojo novas formas de atuação profissional,
como o Estado ditatorial, os ideais liberais aplicados através da política de
Desenvolvimento de Comunidade no período de industrialização e da consolidação
do Capitalismo no Brasil.
Nesse contexto, o Serviço Social foi utilizado como ferramenta do Estado,
atrelado a um movimento de âmbito internacional, de interesses na expansão do
modo de produção capitalista e suas ideologias; e segundo Ammann (2003), o
Serviço Social realizava uma espécie de educação social, motivando a participação
de todos nas atividades propostas pelo Estado, com o discurso da conquista de
melhores condições de vida e que colaborassem com o avanço do país.
Barroco (2012) atribui ainda ao CE de 1965, que o agir do assistente social era
trabalhar para o alcance do bem comum e da justiça social, através de “correção das
disfunções”, capacitando indivíduos, grupos e comunidades para uma integração
social, além de apresentar a defesa dos direitos da pessoa humana.
Portanto, este Código mantém o respeito à dignidade da pessoa humana,
acrescentando que por natureza os indivíduos são seres livres e inteligentes, sendo
assim capazes de autodeterminação. Reconhece pela primeira vez a família como
grupo natural, sendo a família importante para o desenvolvimento do indivíduo e
colocando-a como base da sociedade. Segundo Yazbek (2009), o posicionamento
era orientado através de cunho humanista e conservador. “O contributo do Serviço
Social, nesse momento, incidira sobre valores e comportamentos de seus “clientes”
na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações sociais
vigentes” (YAZBEK, 2009, p.3).
4.1.4. Reformulação do Código de Ética – 1975
Este Código também foi baseado nos pressupostos do positivismo, com uma
reatualização do conservadorismo como complemento aos ideais liberalistas do CE
anterior, colocando o assistente social como instrumento de suporte para
implantação das políticas desenvolvimentistas. Segundo Barroco (2012) neste CE é
acrescentado o conceito do personalismo, que consiste que a pessoa humana é o
objeto central e, portanto, responsável por suas condições; o que acentuava ainda
mais o conservadorismo no Serviço Social. A atuação profissional possuía
“aparentemente” uma postura ética de neutralidade, que é facilmente refutada pelos
reflexos de um Estado ditatorial contidos nas entrelinhas do CE de 1975.
O Código de Ética de 1975 clama pelo “bem comum” dos “clientes”, mas exige
uma ação disciplinadora do Estado (BARROCO, 2012). O suposto bem comum a
qual o Estado preza está posto no Código de Ética como: “o conjunto das condições
materiais e morais concretas nas quais cada cidadão poderá viver humana e
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Após acompanharmos através dos livros, das reformulações do CE, dos artigos
e do nosso acumulo sobre esse tema, nos foi possível afirmar que o CE de fato é um
importante documento histórico, haja vista que sua elaboração e (re) elaborações
estão intrinsecamente engendradas nas relações sócio históricas, onde o CE
expressa os conceitos éticos e princípios de uma determinada época, e isso nos
levou a crer que alguns valores expressos no CE não foram próprios do Serviço
Social, e sim incorporados pela profissão de acordo com o momento vivido junto a
sociedade.
Em suma, observamos que o primeiro Código de Ética em 1947 foi
essencialmente ligado às leis divinas de base neotomista. A atuação profissional
baseada no neotomismo, possuía um viés de caridade através de auxílios materiais
e aconselhamentos segundo às leis divinas. O profissional tinha um caráter
conservador e atuava na perspectiva de controle e ajustamento “moral e social” dos
indivíduos e de suas famílias. Realizavam a reforma de caráter acreditando que
tratar as disfuncionalidades do sujeito, seria um dos remédios para diminuir os males
sociais.
O segundo em 1965 foi baseado nos direitos humanos e no bem comum,
através de conceitos positivistas. O terceiro em 1975, também foi de base positivista,
porém teve diretamente a intervenção do Estado em sua regulamentação. A atuação
dos assistentes sociais no período positivista, era de reprodução da ideologia
dominante, pois ainda não possuíam a visão crítica e, portanto, permaneceram
atuando dentro de uma perspectiva “neutra”, como executores das políticas sociais
ofertadas pelo Estado, com a intencionalidade de suavizar os impactos da
exploração capitalista por conta da implantação de grandes empresas. Os
assistentes sociais realizavam uma espécie de educação social, motivando a
participação popular no desenvolvimento do país.
O quarto Código de Ética em 1986, rompe com o conservadorismo e a
neutralidade, se aliando à classe trabalhadora e revelando-se mais como uma carta
política do que como um CE propriamente dito. Já o CE de 1993, representa um
amadurecimento ético-político da profissão, assume a teoria marxista e tem a
garantia de direitos e a liberdade como valor ético central.
A atuação baseada no marxismo tem sua prática articulada às lutas da classe
trabalhadora e dos usuários. Suas ações são pautadas na liberdade, democracia e
justiça social; contribuem para a ampliação da cidadania das classes
subalternizadas, das minorias, na defesa da classe trabalhadora, na luta contra a
injustiça social e das desigualdades, buscando a emancipação humana, para
projeção de uma sociedade livre da exploração capitalista. Portanto, podemos
observar que os “beneficiários, clientes, usuários ou sujeitos” sempre foram o objeto
principal da intervenção dos assistentes sociais e isso é expresso em todas as
reformulações do Código de Ética.
7. Conclusões.
Ao iniciarmos essa pesquisa, fomos motivados pela curiosidade de conhecer
como se deu a atuação dos assistentes sociais com os usuários no decorrer da
história da profissão no Brasil, e dessa forma estabelecemos como problema a ser
investigado, de que forma as transformações da sociedade interferiram na atuação
dos assistentes sociais com os usuários.
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