Você está na página 1de 182

LATE-UFRJ|2015

Prevenção e
Primeiros Socorros

9ª Edição
Atualização 2016
1
LATES-UFRJ|2016

“Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto


a evitar no futuro as causas da doença (...)”

Sócrates, Filósofo grego

“O destino do traumatizado está nas mãos daquele que faz o


primeiro curativo. ”

Nicholas Senn, Cirurgião Norte-americano

2
LATES-UFRJ|2016

AGRADECIMENTOS

A todos os colegas já formados que iniciaram esse projeto, essa família, e que ainda
lutam pela mudança da triste realidade do trauma e emergências no país, agora não mais
somente como meros espectadores.

A todos os orientadores, que nos guiam e auxiliam nesta incessante busca pelo
conhecimento.

Aos acadêmicos da UFRJ que apoiam o nosso trabalho, incentivando-nos a aprimorar


nossas atividades, sempre em busca da excelência.

3
LATES-UFRJ|2016

APRESENTAÇÃO DA LIGA DE TRAUMA, EMERGÊNCIA E SIMULAÇÂO


DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

O trauma, considerado hoje uma doença, é a principal causa de óbito em indivíduos de


20 a 40 anos e representa um enorme e crescente desafio ao País em termos sociais e
econômicos. Entende-se por trauma todo tipo de lesão ao organismo, causada por
energias externas. Os acidentes e os eventos de violência no Brasil configuram um problema
de saúde pública, de abordagem interdisciplinar, de grande magnitude e transcendência, que
tem provocado forte impacto na morbimortalidade da população.

Por todo o Brasil, há mais de 10 anos, vêm sendo criadas organizações em


Universidades com o intuito de discutir, treinar e educar estudantes e sociedade a respeito da
real situação do trauma no Brasil, bem como o desenvolvimento de estratégias de prevenção,
combate ao acontecimento de tais eventos.

No início de 2006, por iniciativa do acadêmico do curso de Medicina Rodrigo Rego


Barros, formou-se um pequeno grupo de alunos interessados em discutir e se aprofundar nos
temas de Trauma e Emergência, tendo como fatores motivadores o grande interesse pelas
áreas e a experiência prévia em resgate e suporte básico e avançado de atendimento ao
trauma, obtida ao longo da graduação por alguns dos membros do grupo.

Nascia, assim, o embrião da LATE-UFRJ, uma ideia amadurecida ao longo de


inúmeras reuniões que se seguiram. Em 13 de março de 2007, com a estruturação dos
estudos desenvolvidos pelos membros do grupo, com o apoio recebido de professores-
orientadores da UFRJ e com a ampliação do campo de relacionamento com outras Ligas
Acadêmicas de Trauma e Emergência em nível nacional (VII Congresso Brasileiro de
Atendimento Integrado ao Trauma e o CoBraLT- Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma), os
elementos necessários para a criação de uma nova entidade estavam reunidos e, assim, foi
realizada a Cerimônia de Inauguração da LIGA ACADÊMICA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA
DA UFRJ.

Durante toda a sua história, a simulação foi parte da LATE-UFRJ. Em cada aula
prática, nos eventos de extensão, e, claro, nos Simulados de Atendimento Integral ao Trauma,
utilizávamos os métodos de simulação realística para aprimorar o nosso ensino. Com essa
consciência e tendo em vista o crescimento da simulação como uma ferramenta de ensino no

4
LATES-UFRJ|2016

país, em 05 de setembro de 2015, nos reinventamos. Nascia a LIGA ACADÊMICA DE


TRAUMA, EMERGÊNCIA E SIMULAÇÂO DA UFRJ.

Seus principais objetivos são:

I - Contribuir para a formação teórico-prática dos membros, propiciando-lhes oportunidades de


amplo e correto domínio dos procedimentos a adotar, diante do trauma e correlatos, desde sua
prevenção até ao atendimento pré e intra-hospitalar;

II - Contribuir para o desenvolvimento de trabalhos científicos, com o intuito de traçar,


periodicamente, o perfil epidemiológico, no Estado do Rio de Janeiro e, também, promover
pesquisas que visem aprimorar técnicas e procedimentos de abordagem ao trauma e
correlatos;

III - Zelar por uma atuação eficiente, eficaz e efetiva, individual ou coletiva, utilizando-se de
seus membros ou em conjunto com outros órgãos competentes, por meio da aplicação de
medidas que objetivem melhorar a situação do trauma e correlatos no estado do Rio de
Janeiro, diminuindo, substancialmente, sempre que possível, os índices de morbimortalidade
relativos a essas áreas de atuação da Medicina.

IV - Realizar atividades de simulação realística a fim de aprimorar os conhecimentos técnicos e


humanísticos da prática de atendimento em saúde.

Ao longo dos seus nove anos de existência, a LATES-UFRJ realizou e realizará ainda
inúmeras atividades de extensão sempre contando com o apoio de diversas entidades
parceiras de nossa luta.

Agradecemos pelo apoio e confiança em nós depositados durante todos esses anos,
desde a nossa criação. Temos agora uma grande responsabilidade por toda expectativa e
potencial que desenvolvemos, pelas atividades que pretendemos e iremos realizar.
Gostaríamos que você viesse fazer parte dessa iniciativa e família, a fim de perpetuar nossa
eterna busca pela excelência.

Cordialmente,

Direção LATES-UFRJ

5
LATES-UFRJ|2016

CARTA AO LEITOR
Caro leitor,

Este é um ano de festa.

Em 2016 completamos 10 anos desde a nossa primeira reunião. Em todo esse tempo,
passamos por bons e maus momentos, aceitamos novos desafios, ampliamos as fronteiras das
atividades de uma liga. Inovamos e crescemos. Crescemos a ponto de sermos reconhecidos
nacionalmente por nosso trabalho frente ao trauma e a emergência. O trabalho de nossos
membros, diretores e orientadores foi fundamental para o nosso sucesso. Esse material é só
mais um exemplo disso. O que você lerá aqui é fruto da contribuição de acadêmicos da área da
saúde da UFRJ, muitos já formados há alguns anos, que escreveram e revisam anualmente
cada página dessa apostila para oferecer o que há de mais recente na literatura mundial.

O denominador comum do sucesso em todo atendimento de emergência, traumática ou


não, é o trabalho em equipe. Quando alinhamos primeiros socorros adequados, um
atendimento pré-hospitalar rápido e eficiente e equipes intra-hospitalares bem estruturadas e
com protocolos definidos o prognóstico de qualquer vítima é mais favorável. Infelizmente,
alinhar todos esses fatores é pouco comum e não passa de um paliativo em frente ao cenário
mundial da emergência. Por mais que o conhecimento em Primeiros Socorros, Atendimento
Pré e Intra-hospitalar seja o principal objetivo de muitos que se interessam pela Liga, a primeira
coisa que gostaria de deixar claro para vocês é que a cura para o caos nas emergências se
encontra bem aqui, na Prevenção. Sejam bem-vindos à nossa família, contamos com vocês na
linha de frente do combate ao trauma e à emergência, nos ajudando a espalhar o
conhecimento à população para que a incidência desses eventos diminua e, quando isso
falhar, que as vítimas tenham um primeiro atendimento imediato adequado.

No segundo semestre de 2015, inovamos novamente: Ao adicionar a Simulação em


nosso nome, oficializamos aquilo que sempre acreditamos em nossa liga: o ensino prático, por
meio da simulação é fundamental para a nossa formação como profissionais da saúde.
Esperamos contribuir para o desenvolvimento dessa modalidade de ensino na UFRJ - quem
sabe no Rio de Janeiro - e, assim, fazer parte da história da formação de cada um de vocês.

6
LATES-UFRJ|2016

10 anos e estamos apenas no início. Novos desafios virão, trabalharemos para superá-
los, um por um.

Desde que escolhi ser um profissional da saúde, tinha consciência de que teria que
assumir várias responsabilidades ao longo de minha carreira acadêmica e profissional. Mas,
sinceramente, não fazia ideia de que estaria à frente de uma das Ligas Acadêmicas mais
respeitadas da UFRJ no ano em que ela completa 10 anos de existência. Dar continuidade ao
trabalho excepcional que todos que já estiveram em meu lugar será um grande desafio. Conto
com a minha equipe de diretores e com cada um de vocês para me auxiliar nessa tarefa.

Aproveitem a Liga e obrigado por fazer parte dessa história,

Bruno Knaak de Abreu


Presidente da LATES-UFRJ

7
LATES-UFRJ|2016

PREFÁCIO

Preparamos esse novo material de forma mais objetiva, com o intuito de tornar a sua
leitura mais dinâmica e aprazível. Vale destacar que nossa apostila não pretende encerrar
todos os assuntos selecionados, mas sim introduzir o leitor aos pontos essenciais na
abordagem de aspectos do trauma e da emergência na forma de um guia prático.

Nesse sentido, pretendemos, despertar o seu interesse na busca de um conhecimento


mais profundo ao longo deste ano, principalmente junto a nós.

Essa é somente uma das diversas modificações que estabelecemos em nossas


atividades cotidianas a fim de reinventar a Liga como um todo, para estimular os nossos futuros
membros a participarem cada vez mais de nossos eventos, discussões e pesquisas, tornando-
os, portanto, mais ativos e próximos da direção LATES-UFRJ.

Esperamos que aprecie o material.

8
LATES-UFRJ|2016

ORIENTADORES
Prof. Marcos Alpoim Freire
Orientador Geral

Enfª Adriana Ouverney Braz & Enfª. Juliana Faria Campos


Orientadora da Área de Prevenção e Primeiros Socorros

Dr. Rodrigo Rego Barros & Enfª. Graciele Oroski Paes


Orientador da Área de Atendimento Pré-Hospitalar

Prof. Eduardo Kanaan & Dr. Bruno Vaz de Melo


Orientadores da Área de Atendimento Intra-Hospitalar

IDEALIZADOR
Dr. Rodrigo Rego Barros (Pará)

MEMBROS FUNDADORES
Adriana Ouverney Braz
Ana Carolina de Alvarenga Menezes Gil
Ana Caroline Arouche Gomes de Souza
Bruno Duarte Silva
Cláudio Alberto Mule Monteiro
Diego Martins Ferreira
Helder Vilela de Oliveira e Silva
João Marcos Fonseca e Fonseca
José Manoel Couto Junior
Paulo Henrique Pereira Conte
Samara Pimentel de Souza

9
LATES-UFRJ|2016

DIREÇÃO 2016

Presidência Vice-presidência Diretoria de


Infraestrutura, Logística e
Bruno Knaak de Abreu Fernanda Turque Martins Finanças

Danilo Araujo Schitkoski

Rafael Serafim Pinto

Diretoria Científica Diretoria de Extensão Diretoria de


Simulação
Ismael Ferreira dos Santos Ana Carolina Robadelo da
Silva Dener Cruz Soldati
Priscila Carvalho de Souza
Thamíres Gomes Pontes da
Silva

Diretoria de Atividades Diretoria de Atividades Diretoria de Atividades


Teóricas da Área de Teóricas da Área de Teóricas da Área de
Prevenção e Atendimento Pré- Atendimento Intra-
Primeiros Socorros Hospitalar Hospitalar

Kiane Werneck Assumpção Augusto Felipe Modesto Lucas Ming Chian Sun
Bruno Ferreira
Renata Mello Dias Rezende

Diretoria de Diretoria de Diretoria de


Treinamentos Práticos da Treinamentos Práticos da Treinamentos Práticos da
Área de Prevenção e Área de Área de Atendimento Intra-
Primeiros Socorros Atendimento Pré- hospitalar
hospitalar
Adlae Geraldo da Silva Bruno Knaak de Abreu
Júnior Anderson Felipe de
Alvarenga Augustinho Rafael Serafim Pinto

10
LATES-UFRJ|2016

MEMBROS 2015 (TURMA 9)

PREVENÇÃO E PRIMEIROS ATENDIMENTO PRÉ- ATENDIMENTO INTRA-


SOCORROS HOSPITALAR HOSPITALAR

Adlae Geraldo da Silva Junior Ana Carolina Anastacia G. Guedes Bruno Knaak Abreu

Allana Souto dos Santos Anderson Felipe de A. Augustinho Danielle Ferreira Romano Maia

Ana Carolina Robadelo da Silva Augusto Felipe Modesto Ferreira João Paulo Bortot Soares

Beatriz do Nascimento Carvalho Bárbara Gabrielle de O. Macedo Juliana Pereira Mendanha Camilo

Camila Alves Lopes Bianca Marques de Souza Gomes Larissa da Silva Conceição

Carolina B. Villas-Bôas dos Santos Camila Shiawen Song Leonardo Mendes da S. Costa

Caroline Marques Baía Camilla Miho Hattori Marcelo de Castro Lopes

Daiane de Oliveira Soares Carolina Fernandes Junger Nathalia de Paula Domingues

Débora Cavalcanti Corrêa da Costa Danilo Araujo Schitkoski Pedro Henrique Andrade Pinto

Dener Cruz Soldati Felipe Mattos Gonzalez Poliana Ferreira Stroligo Dias
Graziela Oliveira Pereira Fernanda Turque Martins Rafael Serafim Pinto

Karoline de Abreu da Silva Guilherme Kokot Arcari Renata Mello Dias Rezende

Kiane Werneck A. Bruno Henrique Patriota de Lima Sofia Januzzi Zequi

Layra Faria de Oliveira Humberto de Castro M. Araujo Thais Pinheiro de Carvalho

Luis Henrique Ferreira Abreu Ismael Ferreira dos Santos Yago Amazonas Magno

Mariana Lopes de Almeida Jessica Costa Farias

Natália Larissa M. Lisbôa Lais Marques Bottino

Priscila Carvalho de Souza Layza Costa Ribeiro

Roberto Calheiros Barros Neto Luiz Otávio Faraco Oliveto

Thamíris Gomes P. Silva Mario Manoel Botelho Brandão

Mateus Lins de Moraes

11
LATES-UFRJ|2016

REVISORES 2016

Adlae Geraldo da Silva Júnior


Ana Carolina Robadelo da Silva
Daiane de Oliveira Soares
Dener Cruz Soldati
Kiane Werneck Assumpção Bruno
Priscila Carvalho de Souza
Thamíres Gomes Pontes da Silva

12
LATES-UFRJ|2016

SUMÁRIO
(O número da página possui um link que leva ao seu respectivo capítulo)

1. Suporte Básico de Vida, 14

2. Doenças Súbitas, 24

3. Perda de Consciência, 38

4. Corpos Estranhos, 47

5. Afogamento, 52

6. Hemorragias e Feridas, 62

7. Lesões Musculoesqueléticas, 78

8. Queimaduras, 90

9. Trauma Elétrico, 100

10. Desidratação e Emergências Relacionadas ao Frio, 106

11. Prevenção de Acidentes Domésticos, 119

12. Intoxicações, 128

13. Reações Alérgicas, 139

14. Acidentes com Animais, 144

15. Trauma no Trânsito, 156

16. Avaliação de Múltiplas Vítimas, 170

13
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO • Sudorese intensa (diaforese);


• Pulso fraco e rápido;

Estima-se que, em 2010, aproximadamente • Náuseas e vertigem que duram em geral mais

785 mil americanos sofreram uma parada cardíaca, e que 15 minutos.

que mais da metade destes sofrerão outra em A precocidade do reconhecimento, diagnóstico e

recorrência a primeira. A realidade em outros países, tratamento de um infarto agudo do miocárdio é de

entre eles o Brasil, não é muito diferente, a parada suma importância para limitar os danos ao coração;

cardíaca aparece entre as principais causas de morte. sendo mais eficazes se realizados até algumas horas

A principal causa da parada abrupta da após o início dos sintomas.

função do coração é Síndrome Coronariana Aguda Apesar da grande ameaça à vida em casos

(SCA), ou mais especificamente o Infarto Agudo do de parada cardíaca, 70 % dos cidadãos americanos

Miocárdio (IAM). No entanto, também são causas se sentem incapazes de oferecer ajuda nessa

comuns: a parada respiratória, o choque elétrico, o situação. O desconhecimento da conduta correta pela

afogamento, o estrangulamento e o trauma. população se torna ainda mais preocupante pelo fato

Deve-se atentar a fatores de risco para ajudar de que 88% dos episódios ocorrem fora de hospitais,

no diagnóstico imediato da síndrome. Os fatores de se dando principalmente em casa.

risco mais importantes para SCA são: sexo Internacionalmente, as taxas de realização de BLS

masculino, idade avançada, obesidade, tabagismo, variam de 1% a 44%, mostrando o custo da

etilismo, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, deficiência de conhecimento.

dislipidemia (presença de xantelasmas) e estresse. O Desta forma, é preciso que haja

reconhecimento desses pode ajudar no diagnóstico conhecimento e treinamento das técnicas de

imediato da síndrome, o que é essencial; uma vez atendimento básico - conjuntamente chamadas de

que, a morte por parada cardíaca pode ocorrer Suporte Básico de Vida, do inglês, Basic Life Support

minutos após o início dos sintomas. (BLS) - visando à redução da morbimortalidade

Entre os sinais e sintomas clássicos de SCA, resultante de parada cardíaca.

que geralmente duram mais de 15 minutos, estão:


• Dor em aperto no peito;
• Desconforto na nuca, pescoço e braços;
• Respiração ofegante (dispneia);

14
LATES-UFRJ|2016

SUPORTE BÁSICO DE VIDA SEQUÊNCIA SBV PARA ADULTOS

O Suporte Básico de Vida (SBV) consiste na PRIMEIRO PASSO: Segurança da cena e


realização de ações sequenciais essenciais no responsividade da vítima
atendimento inicial da vítima que visam à manutenção
da vida através de procedimentos acessíveis tanto ao Primeiramente, todo socorrista deve prezar
profissional de saúde quanto ao cidadão, até que a pela própria segurança, antes de decidir tomar
vítima receba assistência especializada e suporte qualquer atitude em relação a uma vítima em
avançado. Esse atendimento deve ser de urgência, potencial parada cardiorrespiratória (PCR). Assim,
ou seja, o mais rápido possível para evitar agravos torna-se essencial a avaliação das condições de
e/ou de emergência quando se visa manter e/ou segurança do local para entrar em ação, evitando que
recuperar os sinais vitais da vítima sob risco de ele próprio se torne mais uma vítima. Em caso de
morte. condições adversas, o socorrista deve aguardar ou
tomar providências para poder acessar a vítima e, se
possível, retirá-la do ambiente de perigo.
Para verificar a responsividade da vítima, o
socorrista deve posicionar suas mãos sobre os
ombros da vítima e chamando-a alto, manobra
conhecida como shake and shout. Ao executar essa
manobra, uma vítima consciente pode levantar
subitamente e, assustada, acabar ferindo o socorrista.
Por esse motivo, o socorrista deve ajoelhar-se
mantendo uma das pernas em flexão de quadril com
pé no chão, permitindo que esse se levante
Fig. 1.1 Socorrista abordando a vítima pela frente, na rapidamente caso seja necessário.
posição correta para a sua própria segurança. Deve-se considerar em parada cardíaca uma
vítima inconsciente que não esteja respirando, ou que
Dessa forma, o atendimento básico pode, e não o faça eficientemente, ou seja, respira com muita
deve ser efetuado por qualquer pessoa, desde que dificuldade ou respira ofegantemente, com
possua orientação e treinamento adequados, de irregularidade e ruído (comum nos primeiros minutos
modo que, seja possível ajudar e, sobretudo, não da parada, perceptível em até 40% das vítimas).
piorar o estado da vítima.

SEGUNDO PASSO: Chamar o serviço médico de


emergência
INFORMAÇOES
Uma vez percebida a situação de
emergência, ou seja, quando a vítima está
Fig. 1.2 “Elos” de sobrevivência para adultos.
inconsciente e sem respiração ou apresentando
respiração anormal, o socorrista deve acionar, ou
pedir que outro acione o serviço médico de

15
LATES-UFRJ|2016

emergência, ligando para o número 193 (Corpo de Além disso, estudos mostraram que a maioria
Bombeiros), caso esteja em ambiente externo, como dos leigos, e, espantosamente, alguns profissionais
praias, ruas ou estacionamentos, ou para 192 de saúde não eram capazes de identificar
(SAMU), quando a emergência ocorre em ambientes corretamente uma parada cardíaca e por isso não
fechados como residências ou locais de trabalho. iniciavam a RCP, ou faziam-no tardiamente, perdendo
Ao acionar esses serviços, o socorrista, ainda um tempo precioso para a vítima.
que leigo, deve informar corretamente: o endereço do Desse modo, uma vez que a vítima esteja
local onde se encontra, com referências adequadas; o inconsciente, o socorrista deve iniciar as manobras de
tipo de emergência (desmaio, queda, etc.); o número reanimação cardiopulmonar. Caso a vítima não
de vítimas e suas condições; condições do ambiente respire, ou apresente respiração agônica, o socorrista
ao redor; e o nome e telefone para contato. também deve assumir que há parada cardíaca.
Não se deve desligar o telefone até a Portanto, os mais recentes Guidelines da
confirmação e permissão do atendente. American Heart Association para a RCP recomendam
a sequência CAB (Compressões, Abertura de vias
TERCEIRO PASSO: A sequência da vida aéreas, Boa ventilação).

REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR COMPRESSÕES TORÁCICAS

Segundo os parâmetros para o suporte Essa manobra consiste em imprimir força e


básico de vida, estabelecidos pela American Heart pressão de maneira rítmica sobre a metade inferior do
Association em 2014, deve-se preconizar a circulação esterno, criando um fluxo sanguíneo devido ao
adequada de sangue para os órgãos vitais. aumento da pressão intratorácica e a compressão
Estudos recentes mostraram que um melhor direta do coração, permitindo assim o aporte de
resultado para os pacientes é obtido se as oxigênio para o cérebro e para o miocárdio.
compressões torácicas forem iniciadas o mais cedo
possível e com o mínimo de interrupções. Isso
porque, durante os primeiros minutos de uma súbita
parada cardíaca por fibrilação ventricular (mecanismo
elétrico mais comum da parada cardíaca, 65-80%), a
pressão de oxigênio no sangue não circulante
permanece a mesma até que a RCP seja iniciada e
continua se mantendo adequada durante os primeiros
minutos de RCP. As compressões torácicas podem,
então, ser iniciadas imediatamente em caso de
emergência, enquanto posicionar a cabeça, preparar
e iniciar corretamente as ventilações de resgate
levam tempo e atrasam as compressões, reduzindo a
sobrevida do miocárdio.

Fig. 1.3 Posicionamento e execução corretos das


compressões torácicas.
16
LATES-UFRJ|2016

Para a realização eficaz das compressões, é


necessário que a vítima se encontre deitada em uma
superfície rígida e o socorrista deve posicionar-se ao
lado da vítima, ajoelhando-se caso a vítima esteja
deitada no chão ou de pé ao seu lado, se ela estiver
em uma maca. Os braços do socorrista devem estar
estendidos à frente do tronco, ficando
perpendiculares a ele; deve posicionar suas mãos Figs. 1.4 e 1.5 Abertura de vias aéreas pela manobra
uma sobre a outra, tendo por cima a mão dominante. head tilt – chin lift.
Nessa posição, deve-se posicionar a parte
inferior loja tenar e hipotenar (metade inferior da 3. BOA VENTILAÇÃO
palma da mão) sobre a metade inferior do osso
esterno, ou entre os mamilos da vítima. A aplicação Uma vez iniciadas as compressões, deve-se realizar
correta e eficaz da manobra implica deprimir o a manobra de ventilação. O socorrista deve inclinar-
esterno no mínimo 5 centímetros, evitando se sobre a vítima, abrindo suas vias aéreas,
ultrapassar 6cm e permitir que ele volte totalmente, segurando a testa e puxando-a para trás com uma
sem fletir os cotovelos. A força deve ser gerada na das mãos e comprimindo as narinas com a mesma,
coluna lombar e somente transmitida aos braços. O enquanto a outra segura o queixo elevado, mantendo
ritmo de compressões deve ser de, no mínimo, 100 a a boca aberta. Depois, deve inspirar normalmente e
120 por minuto, seguindo-se um ciclo de 30 colocar os lábios ao redor da boca da vítima,
compressões seguidas de duas ventilações. vedando-a totalmente.
O modo correto de efetuar as ventilações
• ABERTURA DE VIAS AÉREAS requer uma expiração lenta, com duração de 1
segundo, assegurando-se que o tórax da vítima se
Um socorrista treinado que se sentir capaz de expanda a cada respiração (observação visual). O
realizar tanto compressões quanto ventilações, deve tempo de expiração não deve ser maior que 2
promover a abertura das vias aéreas usando a segundos, para evitar que o aumento da pressão
chamada head tilt - chin lift, que consiste em apoiar a intratorácica reduza o retorno venoso para o coração
palma de uma das mãos sobre a testa da vítima, e diminua o débito cardíaco. Além disso, um grande
fazendo pressão para trás, enquanto os dedos da volume de ar pode resultar em expansão gástrica,
outra se apoiam no queixo, elevando a mandíbula. ocasionando refluxo e possível broncoaspiração do
Um profissional de saúde treinado deve aplicar essa conteúdo gástrico.
manobra em vítimas em que não há evidência de Também podem ser utilizados mecanismos
traumatismo cranioencefálico ou cervical. de barreira para a realização da ventilação, evitando
assim um contato direto com a boca da vítima. Eles
estão disponíveis em dois tipos: “face shield” e “face
mask/pocket mask”. Infelizmente, no Brasil, esses
equipamentos são caros.

17
LATES-UFRJ|2016

Quadros 1.2 PASSOS COMUNS PARA


UTILIZAÇÃO DO D.E.A.
1) Ligar o D.E.A.
2) Aplicar os eletrodos (pás) auto-adesivos nos
locais indicados
3) Afastar -se da vítima e aguardar a análise do
Fig. 1.6 e 1.7 Face shield e pocket mask ritmo pelo aparelho
4) Caso o choque seja recomendado- ritmo
O ciclo realizado é o de 30 compressões para 2 chocável-, afastar-se da vítima e garantir que
ventilações e deve ser mantido até que: todos também o façam
• O desfibrilador externo automático esteja 5) Pressionar o botão “choque”
disponível; 6) Reiniciar o RCP por 5 ciclos, deixando a
• A vítima mostre reação, sinais de vida; máquina analisando o ritmo da vítima. Caso um
• A equipe de emergência assuma o controle da novo choque seja recomendado, realizar os
situação; passos 4 e 5
• O socorrista esteja muito cansado para continuar. Todas as manobras devem ser realizadas com o
intuito de reduzir ao máximo as interrupções nas
DESFIBRILAÇÃO compressões. A meta em termos de minimizar as
interrupções é garantir que as compressões
O ritmo cardíaco que ocorre inicialmente em torácicas ocorram em ao menos 60% do tempo
parada cardíaca com maior frequência é a fibrilação da RCP. Isso significa evitar interromper as
ventricular. Neste ritmo, os ventrículos contraem-se compressões por mais de 10 segundos;
desordenadamente, não resultando em pulsação.
Sendo assim, a desfibrilação rápida é de suma SBV EM CASO DE TRAUMA
importância, pois o choque permite que os
marcapassos naturais do coração voltem a disparar Quando há trauma de múltiplos sistemas ou
ordenadamente. trauma de cabeça e pescoço, a coluna cervical deve
No entanto, o choque não é capaz de ser estabilizada. A manobra jaw thrust, deve ser
recomeçar o coração, logo, se o coração parar utilizada ao invés da head tilt-chin lift para manter as
(assistolia), a desfibrilação não será viável. Além vias aéreas pérvias. Esse procedimento consiste na
disso, após o choque, o coração pode tomar um ritmo tração anterior da mandíbula, e é executado
ordenado, porém lento (bradicardia), que não é posicionando-se os polegares sobre os processos
eficiente para bombear o sangue. Neste caso o RCP zigomáticos e os dedos sob os ângulos da mandíbula,
deve ser retomado. deslocando-a para frente. Em um paciente com
Atualmente existem desfibriladores respiração inadequada e o rosto ensanguentado, a
automáticos externos (DEA), que são de fácil ventilação deve ser feita com o uso de dispositivos
utilização, já que o próprio aparelho instrui o como a pocket mask ou face shield, enquanto a
socorrista como utilizá-lo, e percebe o ritmo da vítima, estabilização da coluna cervical é mantida. Nesse
informando se o choque é ou não recomendado. caso, procure estancar diretamente hemorragias
visíveis usando compressas apropriadas. Caso o

18
LATES-UFRJ|2016

paciente esteja completamente irresponsivo, inicie o


RCP e a desfibrilação como indicado.

Fig. 1.8 Manobra jaw thrust ( à esquerda)


Fig. 1.9 Imobilização da coluna cervical (à direita)

Protocolo de BLS de adultos

RCP de alta qualidade


1 Não responsivo •Ritmo de 100/min
Sem respiração •Compressões com aprox.
ou em respiração 5cm de profundidade
agônica •Permitir que o tórax se
expanda após cada
compressão
•Minimizar as interrupções
entre as compressões
2 Acionar o serviço de •Evitar ventilação
salvamento de emergência excessiva
Providenciar um DEA
(ou mandar um segundo
socorrista fazê-lo)

3a •Fazer uma ventilação


Checar pulso: Pulso
3 presente
a cada 5 ou 6
encontrado em até segundos
10 segundos? •Rechecar o pulso a
cada 2 minutos
Pulso
ausente

4 Iniciar ciclo de 30 COMPRESSÕES e


2 VENTILAÇÕES

Chegada do DEA/
desfibrilador

5 Checar ritmo
Ritmo chocável?

6 Aplicar 1 choque
Reiniciar RCP imediatamente
Reiniciar RCP 7
imediatamente Ritmo chocável (por 2 minutos)
Ritmo não
(por 2 minutos) Checar o ritmo a cada 2
chocável
minutos; continuando até que
a equipe de emergência
assuma
OBS:Os boxes de linha tracejada
são recomendados para
profissionais de saúde e não para
socorristas leigos.
© 2010 American Heart Association
Fig. 1.10 Algoritmo SBV para adultos

19
LATES-UFRJ|2016

SEQUÊNCIA SBV PEDIÁTRICO cardíaca uma vítima não responsiva e em respiração


agônica ou ausente, e então iniciar as compressões
Em bebês e crianças, a parada cardíaca por cardíacas efetivas, ou seja, com ritmo e profundidade
asfixia é mais comum do que a parada cardíaca por apropriados. Para isso, o socorrista deve:
fibrilação ventricular, e as ventilações são de extrema
importância no SBV pediátrico. No entanto, não é • Realizar, no mínimo, 30 compressões em um
comprovada se há diferença prática entre a ritmo de 100 a 120/min;
sequência iniciada pelas ventilações (ABC) ou pelas • Exercer força suficiente para deprimir, no mínimo,
compressões torácicas (CAB). esterno em 4 a 5 cm, dependendo do tamanho da
A sequência CAB para bebês e crianças é criança/bebê;
então recomendada no intuito de simplificar o • Permitir que o tórax se expanda após cada
treinamento, com a esperança de que mais vítimas de compressão, facilitando o reenchimento do
parada cardíaca súbita irão receber a RCP de coração;
qualquer cidadão treinado. • Para garantir o retorno do tórax após cada
O guideline discrimina uma série de ações compressão o socorrista não deve apoiar-se no
que funcionam como uma sequência de passos do tórax entre as compressões
algoritmo SBV pediátrico. No entanto, eles devem ser • Evitar ventilação excessiva. Para minimizar
executados simultaneamente (ex. iniciar a RCP e ventilações excessivas, uma vez colocada a via
acionar o serviço médico de emergência), na aérea avançada, a proporção de ventilações foi
presença de mais de 1 socorrista. A sequência do simplificada para 10 respirações por minuto (uma
SBV para adultos e crianças é semelhante, porém ventilação a cada seis segundos).
com algumas peculiaridades que serão mostradas Em bebês até 1 ano, as compressões são
aqui. Os dois passos iniciais são os mesmos, checar realizadas com dois dedos de uma das mãos, ou os
a segurança da cena e a responsividade da vítima. dois polegares (recomendada na presença de mais
Os socorristas profissionais devem checar de 1 socorrista), posicionados sobre o tórax
também o pulso periférico ou central – pulso braquial imediatamente abaixo da linha intermamilar. Em
em crianças menores de um ano e pulsos carotídeo crianças até 10 anos, utiliza-se apenas uma das
ou femoral em crianças maiores de um ano – da mãos ou mesmo as duas, evitando o uso de força
vítima, verificando (em até 10 segundos) se este não excessiva.
está presente, indicando uma parada
cardiorrespiratória. Caso o pulso esteja <60bpm
(bradicardia) e estejam presentes sinais de má
perfusão como palidez e cianose, apesar do suporte
ventilatório e de oxigênio, também é necessário iniciar
as compressões.
Se a criança estiver apenas desacordada,
coloque deitada sobre um dos lados (em posição de
recuperação), o que ajuda a manter as vias aéreas
pérvias e diminui o risco de broncoaspiração.
O socorrista deve considerar em parada
Fig. 1.11 Compressão em bebês até 1 ano

20
LATES-UFRJ|2016

deles realiza a RCP, o outro aciona 193/192 e


providencia um DEA.

DESFIBRILAÇÃO EM CRIANÇAS

Quando uma criança entra em colapso súbito,


por exemplo, durante uma atividade esportiva, é
provável que ela esteja em FV e TV sem pulso
(definidos como ritmos chocáveis), e então necessite
de RCP imediata e rápida desfibrilação.

Fig. 1.12 Compressões em crianças a partir de 1 ano. Para a desfibrilação em crianças, o aparelho

Após as 30 compressões iniciais, deve-se a ser utilizado deve conter pás pediátricas que se

abrir as vias aéreas usando a manobra head tilt – adequam tanto no tamanho quanto na carga a ser

chin lift, realizar duas ventilações efetivas, oferecida a vítima (2J/kg). Além disso, outro cuidado

certificando-se de que houve enchimento do tórax em deve ser tomado quanto a colocação dos eletrodos

cada uma delas. Quanto à técnica, a ventilação em que também é diferenciada: um é colocado

adultos e crianças é muito semelhante, exceto pelo anteriormente no tórax, sobre o coração, enquanto o

volume de ar exalado, que deve ser menor, outro, posteriormente na mesma direção. Na

respeitado o tamanho da criança. Em relação aos ausência de desfibriladores adaptados, o novo

bebês, o socorrista deve tentar selar a boca e as guideline recomenda a utilização do desfibrilador

narinas do bebê com a sua boca e então oferecendo comum (adulto).

somente o volume de ar suficiente para encher uma


de suas bochechas. Caso não tenha sucesso, ele
pode efetuar o boca-a-boca semelhante ao SBV
adulto, comprimindo lateralmente o nariz do bebê, ou
soprar pelo nariz do bebê, fechando sua boca.

Fig. 1.13 “Elos” de sobrevivência para crianças.


Para um socorrista sozinho, a relação
compressão-ventilação deve ser de 30:2; no caso de
dois socorristas, essa relação passa a ser de 15:2. No
primeiro caso, ele deve realizar cinco ciclos de RCP
completos antes de acionar o sistema médico de
emergência (193 ou 192) e/ou buscar um DEA, se
houver algum próximo; e então retornar para a vítima
assim que possível e reiniciar a RCP, continuando até
que os socorristas profissionais cheguem ou a vítima
comece a respirar espontaneamente. Essas ações
podem ser feitas simultaneamente caso estejam
presentes dois socorristas, ou seja, enquanto um

21
LATES-UFRJ|2016

Protocolo de BLS pediátrico


RCP de alta qualidade
•Ritmo de 100/min
1 Não responsivo •Compressões com metade do
Sem respiração ou em respiração agônica diâmetro do tórax (4cm/5cm
Designar alguém p/ acionar o serviço de aprox.) de profundidade
salvamento de emergência, providenciar um •Permitir que o tórax se
DEA/ desfibrilador expanda após cada compressão
•Minimizar as interrupções entre
as compressões
•Evitar ventilação excessiva

2 Socorrista sozinho:
Para COLAPSO SÚBITO, acionar
o serviço médico de emergência,
providenciar um DEA •Fazer uma ventilação a cada 3
3a
segundos
3 Checar pulso: Pulso •Incluir compressões caso o pulso
presente
encontrado em até permaneça <60/min com pefusão
10 segundos? pobre apesar de oxigenação e
ventilação adequadas
•Rechecar o pulso a cada 2
Pulso minutos
ausente

4 Um socorrista: Iniciar ciclos de 30 COMPRESSÕES e 2 VENTILAÇÕES


Dois socorristas: Iniciar ciclos de 15 COMPRESSÔES E 2 VENTILAÇÔES

5 Após aprox. 2 minutos, acionar o serviço de emergência


e providenciar o DEA (caso não tenha sido feito).
Usar o DEA assim que disponível

6 Checar ritmo
Ritmo chocável?

7 Aplicar 1 choque Ritmo não 8 Reiniciar RCP imediatamente


chocável
Reiniciar RCP Ritmo chocável (por 2 minutos)
imediatamente Checar o ritmo a cada 2
(por 2 minutos) minutos; continuando até que
a equipe de emergência
assuma
OBS:Os boxes de linha tracejada são recomendados para
profissionais de saúde e não para socorristas leigos.
Fig. 1.14 Algoritmo SBV pediátrico.

22
LATES-UFRJ|2016

HANDS ONLY (RCP SEM VENTILAÇÃO) Resuscitation and Emergency Cardiovascular


Care. Part 12.11: Drowning. Circulation [online]. 2010,
Pesquisas recentes mostram que os índices v. 122, n. 183, S829.
de sobrevivência de vítimas de parada cardíaca que
receberam primeiros socorros de leigos com a RCP BERG et al. 2010 American Heart Association
completa e com a técnica sem ventilação são muito Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation
semelhantes. Algumas pessoas e até profissionais de and Emergency Cardiovascular Care. Part 13:
saúde demonstram certa relutância em realizar Pediatric Basic Life Support. Circulation [online].
respiração “boca-a-boca” em pessoas desconhecidos; 2010, v. 122, n. 183, S862.
mas, muitas vezes, o maior obstáculo ao atendimento
básico eficaz é o pânico do socorrista. O Hands Only, GUIMARÃES H. P.; LANE J. C. Uma Breve História
por ser mais simples, pode ajudar a superar o pânico da Ressuscitação Cardiopulmonar Revista da
e a hesitação para agir em momento de emergência. Sociedade Brasileira de Clínica Médica [online]. 2009,
No entanto, para vítimas de parada cardíaca v. 7, pp. 177-187.
prolongada, tanto as ventilações quanto as
compressões são necessárias, porque o oxigênio do Suporte Básico de Vida (BLS): Novas Diretrizes 2015
sangue é consumido e o volume pulmonar desse gás http://inhealthde.com/2015/10/16/suporte-basico-de-
se torna insuficiente. Além disso, a manobra de RCP vida-bls-novas-diretrizes-2015/
sem ventilações não é recomendada para: crianças
vítimas de parada cardíaca; e vítimas de parada
cardíaca de origem não-cardíaca como trauma,
afogamento, obstrução de via aérea. Isso porque, na
maioria desses casos, as vítimas já estão com baixa
pressão de oxigênio no sangue (hipoxemia) no
momento da parada cardíaca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HANDS OF TIME: Celebrating 50 years of CPR.


American Heart Association. 1 vídeo.

BERG et al. 2010 American Heart Association


Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation
and Emergency Cardiovascular Care. Part 5: Adult
Basic Life Support. Circulation [online]. 2010, v. 122;
S685-S705.

VANDEN, H. et al. 2010 American Heart


Association Guidelines for Cardiopulmonary

23
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO DCV responderam por 37,1% de todas os óbitos,


contabilizando 1 morte a cada 26 segundos.
A transição epidemiológica ocorrida neste As DCV atualmente respondem por mais
século, em decorrência do aumento do controle de óbitos todos os anos do que câncer, doenças
doenças transmissíveis, fez com que houvesse um respiratórias crônicas e acidentes juntos. Em 2009, os
aumento da expectativa de vida em todos os países. gastos com internações pelo SUS totalizaram R$ 1,2
Isso fez com que as doenças não transmissíveis milhão e, com o envelhecimento da população e
passem a ter maior importância quando se pensa em mudança dos hábitos de vida, a prevalência das DCV
morbidade e mortalidade. tende a aumentar nos próximos anos, gerando ainda
A cada ano morrem em média 17,5 milhões mais custos para os cofres públicos.
pessoas pelo que é definido como “doenças não As doenças cardíacas de origem isquêmica
transmissivas crônicas degenerativas”. Nesse são as principais doenças de sintomatologia súbita
contexto, destacam-se as doenças cardiovasculares que aparecem na emergência hospitalar. Assim como
(DCV), principalmente, o Infarto Agudo do Miocárdio as anginas e o IAM perfazem este ambiente, há
(IAM) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE), outras ocorrências que devem ser encaminhadas
também conhecido por AVC. Essas são as doenças rapidamente para um serviço de emergência. Neste
de maior relevância, não só pela sua importância sob sentido, é importante estudarmos os seus fatores de
o ponto de vista epidemiológico, mas também pelos risco, de modo que possamos planejar
altos custos requeridos no seu tratamento e na adequadamente medidas de prevenção e controle.
reabilitação dos pacientes acometidos, pois em geral Portanto, trataremos neste capítulo das principais
elas estão associadas à comorbidades e, por isso, doenças súbitas, focando na sua identificação e
demandam assistência de alta complexidade. medidas de primeiros socorros.
As DCV prevalecem como a principal causa
mundial de mortalidade e incapacidade, respondendo
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) E
por mais de 300 mil óbitos anuais no Brasil e sendo
ANGINAS
responsável por 45% das mortes na faixa etária
acima de 45 anos. No país, 40% das aposentadorias
A Doença Arterial Coronariana (DAC)
precoces são devido à AVE ou ao IAM. Em 2013, as
compreende a angina estável (forma crônica da

24
LATES-UFRJ|2016

doença) e a Síndrome Coronariana Aguda (SCA), e trauma, embolização para coronárias (p. ex.:
esta engloba a angina instável e o infarto agudo do endocardites), anormalidades congênitas, hipotensão
miocárdio (IAM). O mecanismo da DAC, prolongada, coagulação intravascular disseminada,
frequentemente, relaciona-se com a obstrução da abuso de cocaína, etc.
artéria coronária por uma placa de ateroma, As doenças cardiovasculares afetam
reduzindo o fluxo sanguíneo, que passa a ser especialmente indivíduos adultos e idosos.
insuficiente para uma determinada região do Particularmente o IAM possui relevante impacto na
miocárdio. mortalidade, no número de internações e na
A maioria dos casos de SCA decorre de letalidade hospitalar. Todo ano, estima-se que 785 mil
redução súbita no fluxo sanguíneo coronariano americanos sofrerão um novo infarto, e 470 mil terão
causado por aterosclerose com trombose sobreposta. um ataque recorrente. Nos EUA, ocorre um infarto a
Na sua evolução natural, as placas de ateroma, cada 34 segundos.
principalmente as ricas em lipídios, podem sofrer Em 2008, a DAC causou 1 a cada 6 mortes
ruptura abrupta (placas instáveis) com consequente nos EUA, e a porcentagem de mortes por isso foi de
exposição de substâncias que promovem ativação e 70%. Das 1.133.761 mortes ocorridas no Brasil em
agregação plaquetária, e, por último, formação de 2010, 99.408 foram atribuídas às doenças isquêmicas
trombo. A oclusão pelo trombo pode ser intermitente do coração, das quais 79.297 são decorrentes do
(trombo oclui e libera o fluxo para a artéria, se infarto agudo do miocárdio, o que representa 6,9% de
mantendo assim por algum tempo), podendo evoluir todas as mortes (www.datasus.gov.br). Um número
para uma oclusão definitiva. significativo de mortes ocorre fora do ambiente
O trombo interrompe o fluxo sanguíneo hospitalar, com destaque para o domicílio do
coronário, causando um desequilíbrio entre a oferta e paciente, sendo frequente o óbito antes da prestação
a demanda de oxigênio do músculo cardíaco. A de socorro médico, geralmente por fibrilação
necrose miocárdica (morte do tecido) ocorre quando ventricular.
essa interrupção é severa e prolongada. A admissão em uma unidade de terapia
Podem ser citadas como causas de IAM sem intensiva, o tempo decorrido entre o início dos
aterosclerose coronária as arterites de coronária, sintomas e o primeiro atendimento contribuem para a
redução da letalidade por IAM. O tempo é essencial
na assistência ao paciente infartado antes de sua
chegada ao hospital, visto que mais de 50% dos
óbitos ocorrem na primeira hora de evolução.
Assim, o retardo no tratamento de pacientes com
suspeita de IAM é um fator crítico de redução na
sobrevida.
Diante disso, concluímos que o rápido
reconhecimento dos sintomas e o pronto atendimento
médico são de fundamental importância para um
melhor prognóstico da doença, bem como para evitar
complicações e mortes.
Fig. 2.1 Artéria coronária ocluída, levando à isquemia,
gerando angina instável e/ou infarto do miocárdio.

25
LATES-UFRJ|2016

ANGINA ESTÁVEL cutânea. Em casos raros, pode apresentar


desconforto epigástrico (sintomatologia atípica). É um
Síndrome clínica decorrente de isquemia quadro grave, devendo-se acionar o serviço de
miocárdica transitória, caracterizada por dor pré- emergência imediatamente.
cordial em aperto, que melhora em menos de 10
minutos com repouso ou com uso de nitrato (isordil)
sublingual. Pode ser desencadeada normalmente por
esforço físico, ou também pelo estresse. Indica má
perfusão do miocárdio, geralmente por doença
aterosclerótica, mas que em repouso é assintomática,
e só agudiza frente ao aumento da demanda de O 2
pelo miocárdio (exercício físico). Não denota urgência
no atendimento.

ANGINA INSTÁVEL

Fig. 2.2 Sinal de Levine – mão em garra sobre o peito.


Refere-se a um padrão de dor pré-cordial em
aperto, irradiada para braço esquerdo e/ou
mandíbula, de duração variável (geralmente é
prolongada, podendo exceder 10 minutos), que
ocorre com uma frequência crescente. Pode ser
precipitada por esforços progressivamente menores,
podendo ocorrer durante o repouso (diagnóstico
diferencial em relação à angina estável), e melhora
com isordil sublingual. A angina instável representa
um estado mais grave que a angina estável,
Fig. 2.3 Zonas de dor no IAM: vermelho-escuro = área mais
necessitando, assim, de maior atenção do socorrista.
típica / vermelho-claro = outras áreas possíveis.
Importante notar que nem toda dor
torácica significa infarto, mas que a angina é um
alerta que predispõe a este quadro. FATORES DE RISCO

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO São fatores de risco: sexo masculino, idade


avançada (>55 anos em homens e >60 anos em

Consiste na morte do miocárdio, resultante de mulheres), obesidade, tabagismo, etilismo, estresse,

isquemia grave prolongada. Caracteriza-se por dor diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e

pré-cordial em aperto (sinal de Levine), porém não estresse.

melhora com repouso nem isordil sublingual. Tem


duração maior, e com frequência há sintomas como PRIMEIROS SOCORROS

náusea e vômitos, podendo haver desmaio, sensação


de morte, diaforese (transpiração excessiva) e palidez Acionar imediatamente o serviço de

26
LATES-UFRJ|2016

emergência, acalmar o paciente e não lhe oferecer precocemente identificados para intervenções de
alimentos ou líquidos. Se for constatada parada estilo de vida (e, quando apropriado, para
cardiorrespiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida intervenções farmacológicas), no sentido de se obter
(SBV). um maior controle e tratamento dos fatores de risco.
No caso da ocorrência de angina instável e se As principais recomendações incluem:
a vítima já for ciente de sua condição, deve-se  Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e
estimular a administração do isordil sublingual pela verduras e com baixa quantidade de gorduras e
mesma. sal;
Tendo certeza do diagnóstico de infarto, o  Perder peso, em caso de obesidade ou
socorrista deve administrar 300mg de aspirina (3 sobrepeso;
comprimidos de AAS infantil que devem ser  Parar de fumar.
mastigados antes de engolir) e 5mg de isordil  Praticar atividades físicas regularmente, sob
sublingual (dose máxima de 3 comprimidos com orientação médica;
intervalo de 3 a 5 minutos entre eles). Geralmente o  Tratar adequadamente doenças como o
cardiopata anda com esses medicamentos no bolso. colesterol alto, hipertensão arterial e Diabetes
Mellitus.
ATENÇÃO! Alguns pontos importantes devem ser
considerados:
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
 O infarto pode ter apresentações atípicas, como
dor no estômago, dor apenas no braço, ou até
(AVE)
ausência de dor (é mais comum em diabéticos e
mulheres). O AVE, popularmente chamado de “derrame”,

 Deve-se estar atento para outras doenças que é uma perda aguda, focal ou generalizada, da função

também cursam com dor no peito como cerebral (ou da retina), de origem vascular e com

pneumonia, espasmo esofagiano, dissecção duração superior a 24h, que resulta no aparecimento

aguda de aorta, entre outras. Dessa forma, de déficit neurológico. Pode até mesmo ocorrer uma

havendo dúvida no diagnóstico, não deve ser perda súbita da consciência, resultante da falta de

administrado nenhum medicamento. oxigênio no cérebro devido à ruptura ou oclusão de


um vaso sanguíneo.
 O melhor hospital para transportar a vítima é o
O AVE caracteriza-se por ser uma das
hospital mais próximo.
principais doenças na população idosa, sendo a
maior causa de mortalidade, seguido da DAC
PREVENÇÃO
(Doença Arterial Crônica), em todo o mundo. Em
2008, a estimativa era de que fosse responsável por
Os objetivos da prevenção envolvem redução
cerca de 10% do total de mortes no mundo, com
do risco de eventos isquêmicos clinicamente
aproximadamente 6 milhões de óbitos, concentrados
relevantes, com consequente diminuição da
principalmente em países pobres (dados de
mortalidade e da incapacitação prematuras, e
mortalidade indicam que o AVC foi responsável por 1
prolongamento da sobrevida.
a cada 18 mortes nos EUA).
Os indivíduos com maior risco devem ser
Nos EUA, ocorre, em média, um AVC a cada

27
LATES-UFRJ|2016

40 segundos, e uma morte relacionada ao AVC a  Crise convulsiva;


cada 3-4 minutos. Todo ano, aproximadamente 795  Perda de força e/ou sensibilidade em um ou
mil pessoas sofrem um novo, ou recorrente, AVC, ambos os lados do corpo (85% dos casos);
sendo que 610 mil são casos novos e 185 mil são  Perda de equilíbrio, coordenação ou
casos recorrentes. Projeções mostram que até 2030, dificuldade para andar;
mais 4 milhões de pessoas terão tido um derrame, o  Anisocoria (tamanho desigual das pupilas);
que significa um aumento de 24,9% com relação à  Ptose palpebral;
prevalência de 2010.  Cefaléia intensa
No Brasil, há uma média de 68 mil mortes
anuais por AVC. Além das mortes, o distúrbio pode
levar a sequelas graves, que atingem em torno de
50% dos sobreviventes a um derrame. Outro ponto a
ser destacado é que parte considerável das mortes
por AVC no Brasil acontece em uma faixa etária
precoce – abaixo dos 65 anos de idade. Isto leva a
um prejuízo econômico muito grande por morte ou Fig. 2.4 Ptose palpebral
incapacitação de uma pessoa produtiva.
O AVE é classificado em subtipos, e o
prognóstico e tratamento dessa doença diferem de
acordo com o subtipo. A incidência e distribuição dos
subtipos de AVC têm variações geográficas
moderadas que estão provavelmente relacionadas à
prevalência de fatores de risco cardiovasculares,
estrutura social e diferenças étnicas.
Assim como para as doenças coronarianas, a
identificação correta e rápida dos sintomas, e o pronto
Fig. 2.5 Anisocoria
atendimento médico, são fundamentais para
obtermos um melhor prognóstico da doença, evitando
complicações e mortes.

SINTOMATOLOGIA

A sintomatologia é variada, pois depende da


região anatômica do cérebro afetada:
 Desvio de rima labial;
 Dificuldade para falar ou entender comandos
simples;
 Confusão mental;
 Perda visual em ambos ou dois olhos;
Fig. 2.6 AVE isquêmico.

28
LATES-UFRJ|2016

neurológicos, que desaparecem depois da


AVE ISQUÊMICO normalização da pressão arterial.
O prognóstico é muito mais favorável em
No AVE isquêmico, ocorre disfunção comparação a um AVE, porém pode ser fator de risco
neurológica causada pela obstrução de um vaso para o mesmo.
sanguíneo sem haver hemorragia, resultando em
redução da perfusão (isquemia). Esse é o subtipo
mais comum, responsável por 85% dos casos.

A oclusão aguda de um vaso intracraniano AVE HEMORRÁGICO


reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que
ele supre, causando necrose neuronal com perda É a disfunção neurológica causada pela
imediata da função celular (os neurônios não dispõem ruptura de um vaso intracraniano, resultando em um
de reserva de fonte de energia). Com isso, os sangramento intra ou extraparenquimatoso. É um
sintomas são instantâneos e dependem da região que AVE geralmente mais grave, com maior risco de
foi afetada pela isquemia. morbimortalidade. Representa 13% dos casos de
A região vascularizada pela artéria ocluída AVE. Os sintomas são similares aos citados
apresenta uma parte central, a mais afetada e onde anteriormente.
pode haver necrose, e a periférica, a menos afetada, Para diferenciar um AVE hemorrágico de um
podendo ter algum aporte de oxigênio de um vaso isquêmico, é necessário um exame complementar de
vizinho. A região periférica é a que se tenta salvar no neuroimagem.
tratamento do AVE.
As causas principais são: arritmia cardíaca,
tromboembolismo arterial, trombose, IAM, hipotensão
medicamentosa, aumento da pressão intracraniana
(PIC) e choque, principalmente hipovolêmico.

ACIDENTE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT)

O AIT é semelhante ao AVE isquêmico, mas


os sintomas têm duração mais curta (sintomas
passageiros) e denota um baixo risco ao paciente.
Assim, se caracteriza como um episódio breve de
disfunção neurológica súbita causada por isquemia
focal cerebral ou da retina, devido à perfusão cerebral
ou oftálmica inadequada, com sintomas clínicos que
duram tipicamente menos de 1h.
Resulta de uma isquemia transitória,
Fig.2.7 AVE hemorrágico
geralmente autolimitada, como uma oclusão arterial
seguida de desobstrução momentos depois, ou uma
hipotensão arterial manifestando sintomas

29
LATES-UFRJ|2016

FATORES DE RISCO PRIMEIROS SOCORROS

Os AVEs têm em comum o seguinte grupo de Muitas vezes, o paciente com AVE não
fatores de risco: hipertensão arterial sistêmica (HAS), percebe que há algo errado (anosognosia), por isso é
Diabetes Mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo, mais comum que um espectador ou familiar peça
aterosclerose de carótidas e fibrilação atrial. Todos ajuda. É crucial que o serviço de emergência seja
esses fatores são agravantes para a formação de acionado o mais rapidamente possível para que a
trombos que, se embolizados, podem ocluir uma conduta terapêutica seja iniciada.
artéria cerebral, configurando a causa mais comum Até a chegada da ambulância, deve-se fazer
de AVE. o suporte básico da vida, não oferecer comida ou
líquidos para o paciente, e não deixá-lo ficar em pé,
pois há risco de queda.

Fig. 2.8 Fatores de risco para AVE

30
LATES-UFRJ|2016

O AVE muitas vezes pode ser confundido estar tendo um AVC)


com uma crise epilética (e vice-versa), portanto, é Esses procedimentos são essenciais para a
válido perguntar aos espectadores se houve alguma identificação de um AVE. Ao perceber qualquer
crise convulsiva e prover essa informação aos alteração em um desses parâmetros, procurar
profissionais do serviço de emergência. imediatamente o serviço médico de emergência (1 só
sintoma é suficiente).
IMPORTANTE! Existem alguns sinais típicos
indicadores de AVE: paralisia facial, alteração de PREVENÇÃO
força nos braços e fala enrolada. Para detectar
anormalidades nesses parâmetros, peça para a A prevenção se baseia na mudança dos
vítima: hábitos de vida para um estilo mais saudável, visando
1. Sorrir (se a pessoa mover a face só para um dos controlar e tratar os fatores de risco que podem levar
lados, pode estar tendo um AVC) o indivíduo a sofrer um acidente vascular. Esse é
2. Levantar os braços (se houver dificuldade para ponto muito importante, pois, embora também seja
levantar um dos braços, ou após levantar os dois, uma doença cardiovascular, o tratamento do AVE é
um deles cair, a pessoa pode estar tendo um mais complexo do o que o do IAM, visto que não só
AVC) altera o funcionamento cerebral como incapacita o
3. Repetir uma frase simples (como: “Hoje o dia está indivíduo.
bonito”) ou cantar um trecho de uma música (se a As recomendações são:
pessoa não responder ou falar enrolado, pode  Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e

Fig. 2.9 Sinais de AVE

31
LATES-UFRJ|2016

verduras, e de preferência com baixos teores de entanto, existem outros tipos de embolia: gasosa,
gorduras e sal (a hipertensão arterial é o fator de gordurosa, de líquido amniótico, tumoral, entre outras.
risco para doença cerebrocardiovascular mais
importante); TROMBOSE

 Parar de fumar;
 Praticar atividades físicas regularmente, sob A trombose é o processo patológico que

orientação médica; resulta na formação de um trombo. O trombo é


caracterizado pela formação de um coágulo
 Tratar adequadamente doenças pré-existentes
sanguíneo dentro do espaço vascular, no indivíduo
como o colesterol alto, hipertensão arterial e
vivo. Esta característica é importante para
diabetes mellitus, que podem evoluir para um
diferenciarmos trombo de coágulo. O trombo resulta
AVE;
da ativação patológica do processo normal de
coagulação. Essa ativação pode ocorrer em três
TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP)
situações (Tríade de Virchow):
 Lesão endotelial;
EMBOLIA
 Alteração de fluxo sanguíneo;
 Hipercoagulabilidade do sangue.
Consiste na existência de um corpo (êmbolo)
sólido, líquido ou gasoso transportado pelo sangue e
TROMBOEMBOLIA VENOSA (TEV)
capaz de obstruir um vaso. Em mais de 90% dos
É um distúrbio caracterizado pela formação
casos os êmbolos se originam de trombos. No
de trombos no sistema venoso, que se rompem e
liberam fragmentos (êmbolos). Os êmbolos, por sua
vez, irão causar entupimento de vasos de pequeno
calibre, resultando em consequências na perfusão
tecidual.
Existem dois tipos de TEV: trombose venosa
profunda (TVP) e trombose venosa superficial. A TVP
tem maior importância no que diz respeito aos males
súbitos, pois os êmbolos que se originam dos
trombos em veias profundas do membro inferior
podem causar embolia pulmonar (EP), ao contrário
daqueles originados de veias superficiais.

FISIOPATOLOGIA E COMPLICAÇÕES

A embolia ocorre quando os trombos venosos


se desalojam dos locais de formação, para a
circulação arterial pulmonar, ou, paradoxalmente,
Fig.2.9: Sinais de TEV para a circulação arterial por uma comunicação

32
LATES-UFRJ|2016

interatrial. Nestas situações, devemos nos levantar a cada 2h e


A embolia pulmonar ocorre quando o êmbolo caminhar por alguns segundos.
obstrui um vaso pulmonar, gerando consequências na
microcirculação, na circulação sistêmica e na DIFICULDADE RESPIRATÓRIA
capacidade de trocas gasosas. Cerca de 50% dos
A dificuldade respiratória pode resultar de
pacientes com trombose de veias pélvicas apresenta
traumatismos ao tórax ou à cabeça, e de doenças
EP. É um mal súbito que acomete pacientes de
como infarto, anafilaxia ou asma.
qualquer idade, possivelmente letal, de diagnóstico
Hiperventilação é a respiração rápida, que
bastante difícil (os sinais e sintomas podem ser muito
pode ser causada por estresse emocional, ansiedade
gerais) e que exige intervenção terapêutica imediata.
e afecções clínicas.

FATORES DE RISCO
RECONHECIMENTO DA DIFICULDADE
Além dos fatores genéticos, os fatores RESPIRATÓRIA
adquiridos que predispõem TEV são viagens aéreas
de longa distância, obesidade, tabagismo, uso de  Respiração anormalmente rápida ou lenta;
anticoncepcionais orais, gravidez, reposição hormonal  Respiração anormalmente profunda (ofegante) ou
pós-menopausa, cirurgia, trauma, câncer, HAS e superficial;
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).  Respiração ruidosa, incluindo sibilos (observados
São passíveis de desenvolver EP: pacientes na asma) ou sons gorgolejantes, sons roucos ou
de grandes cirurgias, acamados a mais de 3 dias, abafados ou roncos;
com imobilização de membro inferior, com câncer  Lábios arroxeados;
ativo, tabagismo e obesidade.  Necessidade de fazer uma pausa durante a fala
para recuperar o fôlego;

PRIMEIROS SOCORROS

Deve-se ajudar a vítima a encontrar a posição


mais confortável, que é geralmente sentada com as
costas retas, e procurar atendimento médico.
Caso a vítima apresente quadro de
hiperventilação (respiração rápida) devido à
Fig. 2.10: A – fluxo sanguíneo normal / B – Trombose em ansiedade, peça que ela inspire pelo nariz, segure a
veia profunda / C – Desprendimento do êmbolo.
respiração por alguns segundos e, a seguir, solte
lentamente a respiração.
PREVENÇÃO

ATENÇÃO! Nunca peça a uma vítima com


Deve-se evitar situações em que temos de
hiperventilação para respirar dentro de um saco. Isso
permanecer sentados durante muitas horas, como em
não funciona e pode ser perigoso.
longas viagens de avião (daí a TVP também ser
conhecida como “Síndrome da Classe Econômica”).

33
LATES-UFRJ|2016

CRISE ASMÁTICA inflamação por si só, e também o estímulo à formação


de microvasos, leva à formação de edema nas vias
A asma é uma doença inflamatória crônica aéreas, contribuindo para a obstrução.
das vias aéreas inferiores, caracterizada por O processo de inflamação crônica leva a
hiperresponsividade e por limitação variável ao fluxo várias alterações estruturais. Há lesão na superfície
aéreo, reversível espontaneamente ou com de contato com o ar, facilitando a exposição aos
tratamento. microrganismos como bactérias e vírus. A inflamação
Essa doença que surge na infância, sua crônica leva à fibrose das vias aéreas, com alteração
origem é desconhecida, mas com um componente das vias, resultando em prejuízos para a função
genético bem demonstrado, sendo, portanto, comum pulmonar em longo prazo.
em pessoas de família com grande número de A inflamação brônquica constitui o mais
asmáticos (68% de chance). Demonstra-se como importante fator fisiopatogênico da asma, sendo
resultado de uma interação entre genética, exposição resultante de uma reação de hipersensibilidade do
ambiental e outros fatores específicos que levam ao tipo I (mediada por Imunoglobulina E - IgE), em que
desenvolvimento e à manutenção dos sintomas. ocorrem interações complexas entre células
Frequentemente, ela coexiste com bronquite ou inflamatórias das vias aéreas, com liberação de
enfisema, e a combinação de doenças pode causar citocinas.
dano tecidual severo. Cerca de 70% dos casos de asma se devem
A asma afeta cerca de 300 milhões de à hipersensibilidade imediata mediada por IgE. Nos
pessoas no mundo, e a frequência dessa doença tem 30% restantes, a asma pode não estar associada a
aumentado significativamente nos últimos anos. Há essa reação de hipersensibilidade, podendo ser
indícios de que a prevalência da asma esteja desencadeada por estímulos não-imunológicos como
aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil. drogas, frio e exercício.
Anualmente, ocorrem cerca de 350.000 internações O processo inflamatório apresenta a seguinte
por asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa tríade clinico-patológica:
de hospitalização pelo SUS e sendo a terceira causa  Obstrução intermitente e reversível das vias
entre crianças e adultos jovens. A mortalidade por aéreas;
asma ainda é baixa, mas apresenta magnitude  Inflamação brônquica crônica com infiltração
crescente em diversos países e regiões, como nos eosinofílica;
países em desenvolvimento.  Hipertrofia e hiperreatividade das fibras
musculares lisas brônquicas frente ao uso de
FISIOPATOLOGIA
substâncias broncoconstritoras.

Pacientes asmáticos sofrem ataques súbitos


incontroláveis de constrição brônquica, com estímulo
à produção de secreção (espessa), o que leva à
obstrução brônquica por tampão mucoso,
exacerbando a dificuldade respiratória (o
estreitamento das vias aéreas e o acúmulo de muco
na luz do brônquio dificultam as trocas gasosas). A

Fig.2.11: Constrição brônquica.


34
LATES-UFRJ|2016

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS auxílio médico. Ainda assim, é importante mantê-la


calma para que a crise não seja exacerbada, pois
 Estridor; estresse físico e emocional também podem ser
 Sibilo (chiado) à respiração; fatores desencadeadores. A hidratação deve ser
 Tosse seca ou produtiva, com dificuldade de mantida normalmente.
expectoração; Caso a vítima possua um inalador para asma
 Falta de ar; (bombinha de aerossol), prescrito por um médico,

 Taquipneia; devemos ajudá-la a usá-lo. Se necessário, a vítima

 Sensação de aperto ou dor no peito; pode usar o inalador novamente dentro de 5 a 10

 Cansaço. minutos. Entretanto, se sua condição não melhorar


com o tempo ou após o uso do medicamento, ou

A tosse apresenta intensidade variável, mesmo piorar, procure atendimento médico

ocorrendo particularmente à noite e pela manhã ao imediatamente para o tratamento hospitalar da crise.

despertar. As crianças podem ter predomínio de tosse Enquanto a ajuda médica não chega, observe

seca. a evolução do quadro, atentando para a ocorrência de

Os pacientes podem referir dificuldade de uma possível parada respiratória, no caso de a crise

encher os pulmões de ar, e apresentar se intensificar e a vítima não melhorar com nenhuma

hiperventilação e utilização dos músculos acessórios das medidas acima. Ocorrendo uma parada

da respiração. Quando a asma está controlada, o respiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV) e

paciente pode ter exame físico normal. procurar ajuda médica o mais rapidamente possível,
não esquecendo de que o quadro pode ainda evoluir

PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES também para uma parada cardiorrespiratória.

PREVENÇÃO
 Poeira;
 Mofo;
Não há como prevenir a existência da
 Pólen;
doença, mas sim as suas exacerbações e seus
 Pelos de animais;
sintomas diários. Segue algumas medidas de
 Poluição (fumaça de cigarro e carro);
prevenção:
 Alterações climáticas;
 Evitar qualquer contato com alérgenos que
 Gripes, resfriados, infecções respiratórias;
possam desencadear uma crise asmática;
 Ingestão de alguns alimentos;
 Encapar colchões e travesseiro;
 Medicamentos (ex.: aspirina, betabloqueadores);
 Lavar semanalmente as roupas de cama;
 Estresse emocional.
 Retirar cortinas, tapetes, carpetes;
 Evitar contato com animais domésticos e plantas;
PRIMEIROS SOCORROS
 Arejar os ambientes da casa;
 Não fumar perto de crianças (a fumaça do
Como em muitos casos a pessoa já teve esse
cigarro favorece em cinco vezes o
quadro antes, provavelmente ela saberá identificar, e
desenvolvimento de asma);
até mesmo saberá a necessidade de procura por

35
LATES-UFRJ|2016

 Evitar exercícios em dias muito frios.


A prática de esportes, preferencialmente os de ROSA, T. E. da C. et al. Integralidade da atenção às
resistência, devem ser estimulados. O esporte por doenças cardiovasculares e diabetes mellitus: o
excelência recomendado é a natação, sobretudo se papel da regionalização do Sistema Único de
for praticada em atmosfera quente e úmida. Saúde no estado de São Paulo. Rev. bras.
No entanto, devem-se evitar os esportes de epidemiol. [online]. 2009, vol.12, n.2, pp. 158-171.
inverno, pois podem desencadear a asma devido ao ISSN 1415-790X.
esforço e ao frio. Os esportes de esforço esporádico
também devem ser evitados. RUMEL, D.; et al. Infarto do miocárdio e acidente
vascular cerebral associados à alta temperatura e
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS monóxido de carbono em área metropolitana do
sudeste do Brasil. Rev. Saúde Pública [online].
1993, vol.27, n.1, pp. 15-22. ISSN 0034-8910.
ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).
SANTORO, D. C. Situações de Urgência &
Doenças Súbitas. In: ______. Primeiros socorros,
Emergência: Manual de Condutas Práticas. Rio de
RCP e DEA Padrão: Primeira edição em português.
Janeiro: Águia Dourada, 2011. 295 p.
1. ed. São Paulo: Editorial Médica A.W.W.E., 2008.
cap. 12. p. 102.
<http://www.olharvital.ufrj.br/2006/index.php?id_edica
o=128&codigo=9>. Acesso em 03 mai. 2011.
HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de
Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.
<http://www.amrigs.com.br/revista/46-
03/III%20Consenso%20Brasileiro%20no%20Manejo
LUZ, C. de C.; JUNGER, W. L. e CAVALINI, L.
%20da%20Asma%20(2002).pdf>. Acesso em 02 mai.
T.. Análise da atenção pré-hospitalar ao acidente
2011.
vascular cerebral e ao infarto agudo do miocárdio
na população idosa de minas gerais. Rev. Assoc.
<http://pt.scribd.com/doc/6550198/Epidemiologia-Do-
Med. Bras. [online]. 2010, vol.56, n.4, pp. 452-457.
Iam>. Acesso em 03 mai. 2011.
ISSN 0104-4230.

<http://www.bancodesaude.com.br/infarto-
MELO, E. C. P.; TRAVASSOS, C. M. R.;
miocardio/prevencao-infarto-agudo-miocardio>.
CARVALHO, M. de Sá. Infarto agudo do miocárdio
Acesso em 02 mai. 2011.
no Município do Rio de Janeiro: qualidade dos
dados, sobrevida e distribuição
<http://www.bancodesaude.com.br/infarto-
espacial. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2007,
miocardio/infarto-agudo-miocardio-consideracoes-
vol.16, n.2, pp. 121-123. ISSN 1679-4974.
finais>. Acesso em 03 mai. 2011.

ROBBINS & COTRAN. Patologia, Bases


<http://saude.hsw.uol.com.br/avc-epidemiologia.htm>.
Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro:
Acesso em 03 mai. 2011.
Elsevier, 2010.

36
LATES-UFRJ|2016

<http://saude.hsw.uol.com.br/avc- <http://www.manualmerck.net/?id=55&cn=675>.
epidemiologia3.htm>. Acesso em 03 mai. 2011. Acesso em 04 mai. 2011.

<http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?38>. <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/linha_c
Acesso em 03 mai. 2011. uidado_iam_rede_atencao_urgencia.pdf>. Acesso
em: 11 fev. 2012.
<http://www.criasaude.com.br/N1954/asma/prevenca
o-asma.html>. Acesso em 03 mai. 2011. <http://www.projetotime.com.br/apostilas/Cap.04.pdf>.
Acesso em: 11 fev. 2012.

<http://www.abc.med.br/p/30763/asma+prevencao+e
+tratamento.htm>. Acesso em 03 mai. 2011. <http://stroke.ahajournals.org/content/40/6/2276.full.p
df>. Acesso em 13 fev. 2012.

37
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO Caracteriza-se por desorientação, déficit de atenção,


sensação de medo, irritabilidade e alterações da
A Consciência é definida como a capacidade percepção de estímulos sensoriais, como as
do indivíduo de reconhecer a si mesmo e aos alucinações visuais. As alterações são mais evidentes
estímulos do ambiente. As alterações da consciência no conteúdo da consciência, embora os pacientes
podem ocorrer no nível de consciência ou no possam inverter o seu ciclo sono-vigília e alternar
conteúdo da consciência; ambas juntas englobam as períodos de alerta e agitação com períodos de
funções mentais e cognitivas do indivíduo. O sonolência. A demência é caracterizada como um
conteúdo de consciência é o somatório das funções quadro de perda permanente e progressiva, em geral,
nervosas superiores e cognitivas do indivíduo, como evoluindo em meses a anos, das funções cognitivas,
atenção, memória e linguagem. Já o nível de sem alteração do estado de alerta ou nível de
consciência é relacionado com o grau de alerta do consciência.
indivíduo. Morte encefálica ocorre quando o dano
As alterações do nível de consciência podem encefálico é tão extenso que não há potencial para
variar entre dois extremos, desde uma desorientação recuperação estrutural e funcional do encéfalo e o
têmporo-espacial até um estado de coma profundo. mesmo não pode manter a homeostase interna
Coma seria definido como o estado de inconsciência (funções cardiovasculares, respiratórias,
de si mesmo e do ambiente, mesmo após estímulos gastrointestinais e controle da temperatura corpórea).
de diversas modalidades e intensidades, em que o Embora haja métodos artificiais para preservação de
paciente permanece inerte. Estados intermediários de órgãos periféricos (medidas de suporte cardiovascular
alteração da consciência podem anteceder a e ventilação mecânica), um corpo em morte
instalação do quadro e precisam ser reconhecidos. A encefálica desenvolve falência cardiovascular em
sonolência ou letargia é considerada um estado de alguns dias, raramente em algumas semanas, apesar
diminuição do nível de consciência em que o paciente do mais meticuloso cuidado intensivo. O que separa o
consegue ser acordado com estímulos brandos. O estado de coma do diagnóstico de morte encefálica é
estupor é considerado um estado de sonolência mais a irreversibilidade do último, com repercussões
profunda em que o indivíduo precisa receber sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais,
estímulos vigorosos e repetidos para despertar. baseadas em danos permanentes estruturais focais
Entre os estados que levam a alteração do ou difusos no encéfalo.
conteúdo da consciência encontra-se o delirium.

38
LATES-UFRJ|2016

COMA I. AFECÇÕES PRIMITIVAS DO SISTEMA


NERVOSO CENTRAL E SEUS ENVOLTÓRIOS

POSSÍVEIS CAUSAS DE COMA


Para manutenção da vigília é essencial o  Acidentes vasculares cerebrais;
funcionamento adequado do Sistema Reticular  Traumatismos cranioencefálicos;
Ativador Ascendente (SRAA) que coordena as  Infecções do SNC e seus envoltórios (meningite,
funções superiores do córtex. Logo, quase todos os encefalite);
casos de redução da vigília podem ser  Processos expansivos intracranianos (neoplasias,
correlacionados com anormalidades dos hemisférios abscessos);
cerebrais ou com atividade reduzida do SRAA, seja  Encefalopatias metabólicas primárias e
por lesões que danificam o SRAA ou suas projeções, desmielinizante.
destruição de extensas áreas dos hemisférios
cerebrais e supressão da função reticulo cerebral por II. AFECÇÕES METABÓLICA:
fármacos, toxinas ou anormalidades metabólicas.
A entrada em um estado comatoso pode
ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira é lesar
apenas a área de ativação cerebral, localizada no
tronco. Essa lesão pode ser causada pela presença
de um tumor, por hemorragia, por isquemia ou por
outras causas menos comuns. A segunda maneira é
lesar todo o córtex. Essa lesão extensa só acontece
quando há uma isquemia generalizada no cérebro
(como ocorre na parada cardíaca), quando há
ausência de algum nutriente essencial para o
encéfalo ou quando alguma substância nociva ao Fig. 3.2 Diabetes mellitus é um fator de risco para o
coma.
cérebro está presente no organismo. Estas duas
últimas causas são denominadas "causas  Diabetes mellitus e estados hiperosmolares;
metabólicas de coma".
 Endocrinopatias (mixedema, hipopituitarismo);
 Hipoglicemia;
 Uremia;
 Hepatopatias;
 Hipercalcemia e hipocalcemia;
 Anormalidades hidro-eletrolíticas e do equilíbrio
ácido-base.

Fig. 3.1 Pesquisa realizada na UTI do Hospital Souza


Aguiar

39
LATES-UFRJ|2016

III. INTOXICAÇÕES EXÓGENAS

TIPOS DE TCE

CONCUSSÃO

Ocorre perda imediata (porém transitória) de


consciência associada a um curto período de
amnésia ou confusão mental. A concussão grave
pode desencadear uma crise epiléptica breve ou

Fig. 3.3 Intoxicações exógenas. sinais autônomos como palidez facial, bradicardia,
síncope com hipotensão discreta e reação pupilar
lenta a luz.
IV. INFECÇÕES SISTÊMICAS
CONTUSAO
V. ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES
Na contusão, existem graus variáveis de
VI. TRAUMATISMOS CRÂNIOENCEFÁLICOS (TCE) hemorragia, edema e destruição tecidual. Os sinais
incluem hemiparesia, coma quando a contusão é
Entre homens maiores de 35 anos de idade, bilateral e delirium quando na região temporal
em geral, as colisões de veículos motorizados são
uma grande causa de mortes. Em mais de 70% dos
FRATURA DE CRÂNIO
casos TCE.

As fraturas são indicadoras do local e da


gravidade da lesão. Configuram-se como porta de
entrada para bactérias e como possíveis áreas de
extravasamento de líquor.

IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO TCE

Deve-se desconfiar de TCE quando estão


presentes os seguintes sinais e sintomas:
deformidade do crânio, sangramento pela orelha ou

Fig. 3.4 Trauma automobilístico nariz, fluido rosáceo aguado saindo da orelha ou do
nariz (líquido cefalorraquidiano), Sinal do guaxinim
(escurecimento da região ao redor dos olhos depois
de algumas horas decorridas após o trauma), Sinal de

40
LATES-UFRJ|2016

Battle (equimose que escurece a região posterior das quase sempre uma recuperação rápida da
orelhas horas após o trauma), pupilas consciência. Lipotímia ocorre sem a presença de
desbalanceadas, sangramento profuso de escalpo se todos os sintomas anteriormente descritos (pré-
houver ferimento aberto, ferimento perfurante síncope). Suas causas podem ser psicogênicas ou
produzido por PAF ou objeto empalado, sinais de por redução aguda, mas transitória, do fluxo
confusão mental e perda de memória. sanguíneo cerebral.
Após a identificação do TCE, o socorrista Na maioria das vezes, a síncope se inicia
deve chamar o socorro especializado o mais rápido com uma sensação de fraqueza, tontura, sudorese e
possível e buscar imobilizar a cabeça e o pescoço da palidez, ou pode acontecer sem manifestações
vítima. O socorrista deve monitorar o ABC, cobrir prodrômicas. A pressão arterial cai rápida e
ferimentos com compressa limpa (de preferência intensamente, a frequência cardíaca diminui e a
estéril) e seca, além de controlar o sangramento respiração torna-se irregular. Após a recuperação,
aplicando pressão sempre ao redor do ferimento, pode haver confusão mental, cefaléia, tonturas, mal-
nunca sobre o local da fratura. estar, ou o paciente pode apresentar nenhuma
alteração.
A investigação em um paciente que teve
desmaio compreende a análise do episódio em si:
tempo de duração, ocorrência ou não de convulsão,
incontinência fecal ou urinária, mordedura da língua,
sudorese e palidez, bem como eventuais sintomas
precedendo o ocorrido e manifestações surgidas após
a recuperação, assim como a investigação das
condições gerais do indivíduo acometido, o tempo
decorrido desde a última alimentação, o grau de
Fig. 3.5 Sinal do guaxinim.
tensão emocional, a posição do corpo, a atitude do
paciente no momento da crise, se houve execução de
esforço físico ou mudança súbita de posição,
temperatura ambiente, doença recente ou prévia.

AS CAUSAS DA SINCOPE

 Cardíacas (diminuição do fluxo sanguíneo


cerebral): taquiarritmias, bradiarritmias,
Fig. 3.6 Deformidade no crânio.
insuficiência cardíaca aguda, obstrução do fluxo
sanguíneo pulmonar, embolia pulmonar, estenose
SÍNCOPE E LIPOTÍMIA pulmonar, hipertensão pulmonar primária,
estenose aórtica, hipotensão postural
Síncope é a perda súbita e transitória de (ortostática), diminuição mecânica do retorno
consciência e do tônus muscular postural, tendo venoso, hipovolemia;

41
LATES-UFRJ|2016

ocorre principalmente em mulheres jovens, tensas e


 Extra-cardíacas: metabólicas (hiperglicemia, ansiosas. Os sintomas são dormência nas
hipóxia, alcalose respiratória), neurogênica extremidades, ao redor da boca e região peitoral,
(Síndrome do seio carotídeo, Síncope vasovagal, confusão mental e, mais raramente, tetania. A
Síncope de micção, Neuralgia glossofaríngea, síncope é causada por diminuição da perfusão
epilepsia), obstrução extra-cardíaca de fluxo cerebral devido ao aumento da perfusão periférica,
sanguíneo (aterosclerose de vasos cerebrais, resultante de uma vasodilatação que resulta em
reflexo da tosse, tamponamento cardíaco, hipotensão.
compressão torácica, manobra de valsalva) e
psicogênica. COMO PROCEDER?
A síncope neurogênica é o tipo mais comum
de desmaio, podendo ser desencadeado por impacto
Deve-se colocar a vítima em decúbito dorsal
emocional, lugar fechado e ambiente quente. Uma
com elevação dos membros inferiores, posição que
das principais características é a duração de poucos
permite fluxo sanguíneo máximo. Todas as roupas
segundos (raramente prolonga-se por alguns
apertadas e outras constrições devem ser afrouxadas
minutos) e rápida recuperação. O mecanismo é o
e a cabeça deve ser virada, a fim de que a língua não
desvio do sangue para os músculos em consequência
bloqueie as vias aéreas superiores e seja evitada a
da queda da resistência periférica por vasodilatação.
broncoaspiração. Também é útil aplicar estímulos
Desse modo, há inibição generalizada do tono
periféricos, tais como derramar água fria sobre a face
simpático com o aumento relativo da atividade vagal,
e pescoço. Os indivíduos precisam ser observados
por isso costuma-se ser designada de síncope vaso-
cuidadosamente por alguns minutos após recobrarem
vagal.
a consciência e se levantarem.
A hipotensão postural caracteriza-se pela
A prevenção do desmaio depende do
queda tensional quando o paciente se levanta do leito
mecanismo envolvido. No caso da síncope vasovagal,
e adota a posição ereta, com o acúmulo de sangue
a orientação para que os pacientes evitem as
nos vasos dos membros inferiores e consequente
situações desencadeantes é o suficiente. Na
diminuição da perfusão cerebral. Costuma ser
hipotensão postural, os pacientes devem ser
observada após exercícios físicos exaustivos,
alertados para não se levantarem muito rapidamente
enfermidades prolongadas, desequilíbrios
da cama. Em vez disso, devem primeiro exercitar as
hidroelétricos com depleção de potássio e sódio e
pernas por alguns segundos e depois se sentarem na
grandes varizes nos membros inferiores. Atualmente
beira da cama a fim de assegurarem que não estão
as causas mais frequentes são o uso de
tontos antes de se levantarem. Em geral, também é
medicamentos anti-hipertensivos, principalmente
útil dormir com a cabeceira elevada e usar cinta
diuréticos e bloqueadores simpáticos.
abdominal e meias elásticas. No caso da síncope do
A síndrome do seio carotídeo é uma
seio carotídeo, deve-se orientar o paciente a usar
condição rara que se caracteriza por queda da
colarinhos frouxos e virar-se com o corpo todo, em
pressão arterial e acentuada bradicardia após
vez de girar apenas a cabeça, quando for olhar para
estimulação do seio carotídeo. O paciente apresenta
os lados.
tontura, escurecimento visual, cefaléia e desmaio.
Nos indivíduos idosos, o principal perigo de
A hiperventilação com alcalose respiratória

42
LATES-UFRJ|2016

um desmaio não é a doença subjacente, mas as tônico-clônicas. Convulsões tônicas se caracterizam


fraturas ou outros traumatismos devidos à queda. por serem sustentadas e imobilizar as articulações; as
Portanto, pacientes sujeitos às síncopes recidivantes clônicas são rítmicas alterando-se contração e
devem cobrir o chão do banheiro e boxe ou banheira relaxamento musculares em um ritmo mais ou menos
com tapetes de borracha e, se possível, colocar rápido; as tônico-clônicas possuem características
carpetes nos cômodos da casa. Os passeios fora de tônicas e clônicas.
casa devem ser feitos em chão macio, além disso, O quadro mais típico de convulsão constitui
deve evitar ficar parado de pé, já que isso aumenta a da perda abrupta da consciência com queda ao solo,
possibilidade de uma síncope. seguindo uma fase de enrijecimento global (fase
tônica) substituída por contrações musculares
CONVULSÃO sucessivas, generalizadas e intensas (fase clônica).
Em 2 a 5 minutos, a crise cessa e o paciente entra
As convulsões são movimentos musculares em relaxamento total e sono profundo do qual é
súbitos, incoordenados, involuntários e paroxísticos dificilmente despertado. Algum tempo depois acorda
que ocorrem de maneira generalizada ou em atordoado, com mal-estar e sem lembranças do
segmentos do corpo. Elas surgem de descargas acontecido. Durante o episódio geralmente observa-
bioelétricas originadas em alguma área cerebral com se cianose, sialorreia, incontinência de esfíncteres,
imediata estimulação motora. Ocorre em epilepsia, mordedura da língua e ferimentos diversos.
tétano, estados hipoglicêmicos, intoxicações Epilepsia designa a existência de uma
exógenas (álcool, inseticidas), tumores cerebrais, desordem neurológica associada a crises episódicas
meningites e em episódios febris em crianças. e recorrentes. Crises epiléticas são eventos clínicos
As convulsões podem ser tônica, clônicas ou fundamentados em alterações crônicas do equilíbrio
excitatório/inibitório em regiões mais ou menos

Fig. 3.7 Posição lateral de segurança.

43
LATES-UFRJ|2016

extensas do córtex cerebral e das propriedades de Devem-se afastar móveis e objetos que
comunicação celular e programação dos potenciais estejam próximos da vítima, colocá-la de maneira
nas redes neurais. Estresse psicológico ou físico, confortável e com algo macio atrás da cabeça
privação do sono, alterações hormonais, exposição a evitando que ela se machuque, afrouxar as roupas
substâncias tóxicas e alguns fármacos são (especialmente na região ao redor do pescoço) e
identificados como alguns dos fatores esperar o término da crise convulsiva e a retomada
desencadeadores das crises epiléticas. de consciência pela vítima. Após o término da
A ocorrência de uma crise epilética isolada convulsão, a vítima pode permanecer inconsciente,
por si só não representa evidência de doença porém respirando. Neste caso, deve-se colocá-la em
neurológica, eventos convulsivos isolados podem posição lateral de segurança. NUNCA segure a
representar somente respostas do sistema nervoso vítima, coloque algo em sua boca ou dê comidas e
central a uma grande variedade de agressores bebidas. Caso não esteja respirando após o término
esporádicos do equilíbrio excitatório/inibitório do da crise, seguir o protocolo do BLS.
córtex cerebral.
Nos países desenvolvidos, sua incidência é
HIPERGLICEMIA
estimada em 40-50/100.000 hab/ano, enquanto que
nos em desenvolvimento é de 122-190/100.000
A hiperglicemia é mais comum no indivíduo
hab/ano. Pacientes com epilepsia apresentam uma
diabético. No entanto, pode ser observada após
taxa de mortalidade maior que a população em geral
alimentação exagerada sem restrição, sedentarismo e
(maior para pacientes do sexo masculino). As causas
síndromes metabólicas. O aumento da glicose no
mais comuns são infecções pulmonares, suicídios e
sangue coincide com seu aumento na urina,
acidentes. Morte súbita representa causas menos
causando diurese osmótica e polidipsia. No caso dos
frequentes.
diabéticos, a ausência ou deficiência de insulina
causa paralelamente cansaço, sonolência, polifagia,
COMO PROCEDER?
pele seca e dor de cabeça, evoluindo para náuseas,
vômitos e hálito cetônico, podendo levar ao coma

Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hiperglicemia.

44
LATES-UFRJ|2016

diabético. confusão, fadiga, crises convulsivas e perda da


Recém-nascidos com hiperglicemia não consciência.
cetônica são normais ao nascimento e, à medida que Os sintomas neurogênicos são decorrentes
recebem alimentação, desenvolvem progressivo da resposta fisiológica à percepção da hipoglicemia e
acúmulo de amônio no plasma. Os sintomas após as incluem sintomas adrenérgicos como palpitações,
primeiras 24h, uma vez iniciada a amamentação, tremores e ansiedade; e sintomas colinérgicos como
caracterizam-se por alterações da vigília, sonolência, sudorese, fome e parestesias. Os sintomas clássicos
vômitos, crises de apneia, crises convulsivas de difícil da hipoglicemia são transpiração e palidez. Observa-
controle e coma. Se não for revertido, leva o recém- se também elevação da freqüência cardíaca e da
nascido a óbito ou produz lesões cerebrais graves. pressão arterial.

COMO PROCEDER?
COMO PROCEDER?

A principal consequência da hiperglicemia é a


desidratação. Caso o indivíduo esteja inconsciente, Ao perceber sinais de hipoglicemia pode-se

deve-se chamar o socorro e avaliar o ABC da vida. administrar 15 gramas de açúcar (2 colheres de chá

Caso a vítima esteja consciente, mas houver ou 100ml de suco de laranja), e chamar o socorro

dúvida entre hipo ou hiperglicemia, deve-se médico especializado. Em caso de perda de

administrar uma bebida com açúcar, como por consciência, deve-se seguir o protocolo do BLS.

exemplo, um refrigerante, e aguardar por 15


minutos. Caso não haja melhora chamar o socorro.
Esta medida leva em consideração que a
hipoglicemia é um estado de maior gravidade,
podendo causar seqüelas neurológicas, enquanto que
uma pequena dose de açúcar ao indivíduo
hiperglicêmico não irá causar danos maiores.

HIPOGLICEMIA

A hipoglicemia é mais comumente causada


por medicamentos usados para tratar o diabetes
mellitus ou exposição a outras drogas, como o álcool.
Fig. 3.8 Sinais e sintomas da hipoglicemia.
Entretanto, diversos outros distúrbios como sepse,
insulinoma, inanição, entre outros, podem causar
hipoglicemia.
Se for intensa e prolongada, a hipoglicemia
pode ser fatal. As manifestações clínicas são
resultado da privação de glicose ao sistema nervoso
central e incluem: alterações comportamentais,

45
LATES-UFRJ|2016

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PORTO. Semiologia Médica. 6. ed.

HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de


Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008.

DE ANDRADE, A. F. et al. Coma and other


consciousness disorders. Rev. Med. (online). 2007.

<http://gerenciadeprojetos.com/coma/CEV01001.htm
>. Acesso em: 03 mar. 2012.

<http://www.marimar.com.br>. Acesso em: 03 mar.


2012.

http://rmtonline.globo.com/banco_imagens/acidente_0
70_595b.jpg

46
Atualização 2013
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO com água corrente no sentido medial-lateral, durante


15 minutos. Muitas vezes a natureza e o local de
Corpo estranho é qualquer material que alojamento do corpo estranho não permitem o
entrando em contato com algum local do organismo lacrimejar, pois pode provocar dor intensa e até
pode causar desconforto, ferimento ou prejuízo de mesmo lesão de córnea, nestes casos não se deve
alguma função. Vários tipos de objetos estranhos ao insistir para a vítima abrir e fechar os olhos.
nosso corpo podem penetrar acidentalmente nos Caso o objeto estranho se encontre na
olhos, ouvidos, nariz e garganta, sendo um episódio pálpebra superior pode ser realizada a manobra de
muito comum, podendo ocorrer nas circunstâncias eversão palpebral para melhor acesso ao mesmo. A
mais inesperadas. vítima deve manter-se com o olho acometido fechado,
São pequenas partículas, de variada origem enquanto o socorrista, com as mãos devidamente
e constituição física que, muitas vezes, apesar de limpas, promove a eversão palpebral, expondo a
aparentemente inofensivas devido ao tamanho, mucosa ocular. Essa manobra pode ser facilitada com
podem causar danos físicos e desconforto sério. Os o uso de um cotonete de algodão umedecido com
exemplos mais clássicos são vidros, madeiras, água. Caso esteja alojado na pálpebra inferior
poeira, areia, limalha de ferro, grãos diversos, peças também pode-se remover o corpo estranho com
de brinquedos, grampos e até mesmo insetos. auxílio de um cotonete, conforme ilustrado na figura.

OLHOS

Os corpos estranhos nos olhos podem ser


classificados como móveis (tais como ciscos, cílios,
insetos) ou fixos (limalhas de ferro, vidros). A primeira
coisa a ser feita é procurar reconhecer o objeto e
localizá-lo visualmente.
Em casos de corpos estranhos móveis, pede-
se à vítima que feche e abra os olhos repetidamente
para permitir que as lágrimas lavem os olhos e,
possivelmente, removam o corpo estranho. Não Fig. 4.1 Manobra para retirada de corpo estranho móvel

obtendo sucesso, deve-se realizar a lavagem do olho nos olhos.

47
LATES-UFRJ|2016

No caso de corpos estranhos fixos, tais como de perfurar a membrana timpânica ou aprofundar o
limalha de ferro, farpas de madeira ou mesmo uma corpo estranho.
faca, nunca deve-se tentar remover o objeto. O que
pode ser feito é a fixação do mesmo (com copos, NARIZ
gazes e outros objetos), evitando destruição tecidual
pela movimentação do objeto, e a oclusão do olho Um corpo estranho, permanecendo no nariz,
contralateral, já que os movimentos oculares tendem pode causar irritação, infecção ou obstrução da
a ser conjuntos. respiração. Para esses casos, deve-se apertar
Em nenhum caso é aconselhado esfregar os suavemente a narina livre e pedir que a pessoa feche
olhos, utilizar colírio anestésico e colocar pomadas, já a boca e expire pela narina obstruída. Normalmente
que isso dificultaria a avaliação médica. este procedimento ajuda a expelir o corpo estranho.
Se o mesmo não puder sair com facilidade, devemos
ORELHA procurar auxílio médico imediatamente. Nunca deve-
se tentar remover objetos que não estejam visíveis ou
Corpos estranhos podem penetrar fáceis de serem retirados ou utilizar chumaços de
acidentalmente também nas orelhas, especialmente algodão e outros recursos semelhantes.
na área correspondente ao canal auditivo externo.
Estes acidentes são mais comuns com crianças. FARINGE
Nesses casos, pode-se tentar identificar o
objeto estranho. Se o objeto estiver se Corpos estranhos na garganta (como moedas
movimentando pensa-se em inseto. No caso de e, principalmente, espinhas de peixe) podem obstruí-
pequenos insetos, a primeira medida é tentar atraí-lo la, provocar lesões e asfixia, por impedir a entrada de
para fora usando uma luz colocada próximo ao canal ar nos pulmões.
auditivo, puxando-se a orelha acometida para trás. Morte por Obstrução de Vias Aéreas por
Recomenda-se realizar esse procedimento em um Corpo Estranho (OVACE) é muito comum, ainda que
ambiente escuro. Não havendo sucesso, a medida totalmente evitável. O caso mais comum de OVACE
seguinte deve ser a colocação de algumas gotas de em adultos é por alimentos e ocorre durante as
óleo, a fim de imobilizar os movimentos de asas ou refeições. Já as crianças, além de obstrução por
patas do inseto. Após, inclina-se a cabeça para o alimentos, podem engolir objetos pequenos que
lado na tentativa de colocar o inseto para fora do acabam obstruindo as suas vias aéreas.
ouvido, que deverá deslizar com o óleo. O socorrista, deve ser capaz de diferenciar
No caso de objeto inerte, deve-se posicionar um OVACE de um AVC, convulsão ou desmaio, já
a cabeça da vítima de forma que o lado afetado fique que esses podem ter alguns sinais em comum.
para baixo. Após, movimente o lóbulo da orelha
acometida de um lado para outro e ao mesmo tempo SINAIS MAIS COMUNS DE OVACE
realize movimentos suaves com a cabeça, tentando
fazer com que o objeto caia por ação da gravidade.  Dificuldade de respirar
Não introduza no ouvido nenhum tipo de  Cianose
instrumento, como pinças e cotonetes, pois há o risco
 Agitação

48
LATES-UFRJ|2016

 Tosse silenciosa MANOBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS


 Inabilidade de falar (obstrução total) AÉREAS
 Ausência de choro (criança)
 Segurar o pescoço (“Sinal Universal de Asfixia”) Existem algumas manobras que o socorrista
pode executar visando auxiliar à vítima a expelir o
FORMAS DE OVACE corpo estranho. Lembre-se: antes da realização de
De acordo com o posicionamento do corpo qualquer manobra, o auxílio especializado deve ser
estranho nas vias aéreas da vítima, podemos definir chamado.
duas formas de OVACE:
I. TAPOTAGEM

 Obstrução parcial: a vítima ainda é capaz de


falar e até mesmo tossir, mesmo que com Esta manobra deve ser realizada para

dificuldade, pois ocorre a passagem de ar de lactentes e crianças pequenas.

forma parcial. Neste caso, o socorrista não deve Apoie a cabeça da vítima com sua mão e

interferir diretamente, mas sim estimular a vítima deite-a com o rosto voltado para baixo sobre seu

a expelir o corpo estranho por meio da tosse. antebraço e coxa, desse modo, a criança deve ser

Somente deve-se interferir caso a vítima colocada em desnível, permitindo o auxílio da

demonstre sinais de obstrução severa (total) gravidade. Em seguida, com uma das mãos o

como o aumento na dificuldade de respirar, a socorrista aplica cinco “palmadas” com sua mão em

tosse tornar-se silenciosa, ocorrendo ou não forma de concha, no dorso da criança, em região

perda da consciência. mediana na linha infraescapular. Após isso, vire a


criança anteriormente e observe a presença do corpo

 Obstrução total: nessa situação o corpo estranho na cavidade oral da mesma. Caso não haja

estranho posiciona-se de tal forma que bloqueia nada que possa ser retirado, aplique mais cinco

completamente a passagem de ar, tornando a compressões torácicas abaixo do ponto da

vítima incapaz de falar, tossir e, principalmente compressão cardíaca. Repita esse ciclo até que o

respirar. Nesse caso, o auxílio do socorrista é de bebê expila o corpo responsável pela obstrução, ou

grande valia, pois a vítima por si só aplique o RCP pediátrico no caso de insucesso.

provavelmente não será capaz de expelir o corpo


estranho somente com seu reflexo de tosse; para
tanto serão necessárias algumas manobras
detalhadas a seguir.

Quadro 4.1 “TAPINHA NAS COSTAS”

O conhecido tapa aplicado no dorso em situações


de OVACE não deve ser utilizado como forma de auxiliar
uma pessoa que esteja obstruída, pois a força aplicada
pode fazer com que o corpo estranho movimente-se,
transformando, assim, uma obstrução parcial em uma
total, agravando o quadro.

49
LATES-UFRJ|2016

obstrução, permita que o corpo estranho seja


expelido.

Fig. 4.3 Manobra de Heimlich.

Caso a vítima perca a consciência, ampare-a


até o chão, posicionando-a em decúbito dorsal, e

Fig. 4.2 Manobra adequada de desobstrução das vias aplique em seguida as manobras de RCP. Não é
aéreas em lactentes e crianças pequenas. mais recomendado que se aplique a compressão
abdominal, devido ao maior risco de broncoaspiração.
II. MANOBRA DE HEIMLICH Após a vítima expelir o corpo estranho o socorrista
deve iniciar a sequência ABCD.
É utilizada para adultos e crianças maiores. No caso da utilização de tal manobra em
Não é recomendada para bebês e grávidas, pois crianças, o mais adequado é que o socorrista, sendo
pode causar lesões. um adulto, ajoelhe-se de modo a ficar na altura da
Com a vítima em pé, o socorrista deve vítima, pois ao ficar em pé, a força aplicada contra o
posicionar uma de suas pernas entre as pernas da diafragma da criança, pode acabar elevando-a
vítima e a outra afastada posteriormente, de modo a alterando a eficácia da manobra.
amparar a vítima caso perca a consciência. Após
esse posicionamento inicial, deve-se envolver a
região abdominal com os braços, posicionando a
porção medial da mão acima da cicatriz umbilical, em
seguida, cerrando o punho e rotacionando-o
superiormente até que o seu polegar posicione-se
abaixo do esterno (no apêndice xifóide) da vítima. A
outra mão envolve a primeira e realiza movimentos
rápidos para dentro e para cima, em “J”. A sequência
deve ser repetida até o corpo estranho seja expelido.
O objetivo da manobra é realizar compressões
abdominais que, aumentando a pressão abaixo da

50
LATES-UFRJ|2016

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN HEART ASSOCIATION. Part 4: Adult


Basic Life Support. Circulation [online]. 2005, v. 112;
IV-19-IV-34.

ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E


DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES).
Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão, Primeira
edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial
Médica A.W.W.E., 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo


Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.
Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s
ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.

51
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO desenvolvidos. Afogamentos por enchentes e


Tsunamis, por exemplo, não são muitas vezes

Em um país com quase dez mil quilômetros contabilizados como afogamento.

de litoral e que abriga em suas bacias hidrográficas Por outro lado, considerando a incidência de

mais de 10% da água doce de todo planeta, são 1 morte para cada 13 sobreviventes num acidente

registrados números que revelam estatísticas com afogamento (estatística norte-americana),

alarmantes. O Brasil é o 3° país com maior número estima-se que aproximadamente 2 milhões de

anual de mortes por afogamento; em 2011, foram pessoas sobrevivem a acidentes com afogamento

registrados 6.494 óbitos (3.4/100.000 habitantes). anualmente no mundo.

Esta é a 2ª maior causa de morte entre crianças entre Junto a isso, quando consideramos o tempo

um e nove anos. Em média homens morrem 6 vezes de exposição ao risco de acidente, o afogamento tem

mais que as mulheres por afogamento, e a maior 200 vezes mais risco de óbito que os acidentes de

relação ocorre na faixa de 20 a 25 anos (13 vezes transporte. Informações coletadas diretamente dos

mais). Felizmente, a maioria desses acidentes serviços de salvamento mostram que apenas 2% de

aquáticos pode ser evitada, através de uma todos os resgates realizados por guarda-vidas

orientação básica de prevenção, que qualquer necessitam de cuidados médicos, e 0,5% sofreram

cidadão comum é capaz de seguir, e que reduziria ressuscitação, evidenciando que ao analisar todo

drasticamente os gastos anuais dos serviços de atendimento hospitalar ou atestado de óbitos em

saúde em consequência de afogamentos. afogamento podemos apenas ver uma pequena parte

De acordo com a OMS, 0,7% de todos os do problema, e que ainda hoje não temos ferramentas

óbitos no mundo ocorrem por afogamento não para mensurar o fardo deste problema.

intencional, perfazendo mais de 500.000 óbitos Desde 2003, adota-se o conceito de

anuais (8.5 óbitos/100.000 hab.) passíveis de afogamento publicado na revista Circulation, que

prevenção. Entretanto o número exato é define esse tipo de trauma como o “processo que

desconhecido em razão de casos não notificados, resulta em dificuldade respiratória devido à

sem confirmação de óbito e, além disso, como o submersão/imersão em meio líquido. Implícito nessa

Código Internacional de Doenças (CID 10) é ainda definição está o fato de que existe uma interface

inadequadamente preenchido e possui falhas na líquido/ar na via aérea da vítima, impedindo-a de

identificação correta do problema, estes números são respirar. A vítima pode permanecer viva ou vir a

ainda subestimados, mesmo em países falecer após esse processo, mas independentemente

52
LATES-UFRJ|2016

do resultado diz-se que ela esteve envolvida em um (principalmente álcool), convulsão, traumatismos,
acidente com afogamento. Não há diferenças na doenças cardíacas e/ou pulmonares, acidentes de
fisiopatologia do afogamento em água doce ou água mergulho, hidrocussão, lipotímia e outros.
salgada. Um incidente com imersão ou submersão
sem evidência de dificuldade respiratória é
considerado resgate aquático.

PREVENÇÃO

Sabe-se que os banhistas mais suscetíveis a


se tornarem vítimas de afogamento são aqueles mal
orientados, que em sua maioria moram fora da orla
e/ou desconhecem características das águas da
região onde estão. Outros fatores de risco são: o sexo
masculino, idade inferior a 14 anos, uso de álcool,
Fig 5.1 Tipos de acidente na água e fases do
afogamento (Modificado de Szpilman) epilepsia, baixa renda familiar, baixo nível
. educacional, residência rural, maior exposição ao
meio aquático, comportamento de risco e falta de
Um afogamento primário é aquele que não supervisão.
apresenta nenhum fator desencadeante do acidente; Um estudo recente da Associação Americana
é o tipo mais comum. O afogamento secundário de Salvamento Aquático estima que para cada
ocorre quando existe alguma causa que tenha resgate realizado, 43 outros casos são evitados pela
impedido a vítima de se manter na superfície da prevenção realizada pelos guarda-vidas em praias.
água, contribuindo para afogamento: drogas Esta consiste em advertências e avisos aos
banhistas, algumas regras de conduta em relação ao
lazer aquático: pequenas ações que podem salvar
vidas.

PRAIAS
 Nade sempre perto de um guarda-vidas;
 Pergunte ao guarda-vidas o melhor local para o
banho;
 Não superestime sua capacidade de nadar:
46.6% dos afogados acham que sabem nadar;
 Tenha sempre atenção com as crianças; elas
nunca devem entrar na água sem supervisão;
 Antes de mergulhar no mar, certifique-se da
Fig. 5.2 Fisiopatologia da insuficiência respiratória pela profundidade;
aspiração (Hasibeder WR4)

53
LATES-UFRJ|2016

 Procure mergulhar em águas fundas e nadar em “arrasta” o banhista para alto mar.
águas rasas; As valas são consideradas áreas perigosas
 Nade longe de pedras, estacas ou piers; pela alta velocidade e força das águas, capazes de
 Evite ingerir bebidas alcoólicas e alimentos cansar um nadador a ponto de causar fadiga e
pesados antes do banho de mar; facilitar o afogamento. Tal fenômeno é a maior causa

 Crianças perdidas: leve-as ao posto de guarda- de resgates executados pelos guarda-vidas, e é


vidas; responsável por aproximadamente 85% dos

 Nunca tente salvar alguém em apuros se não afogamentos que ocorrem no litoral do Estado do Rio

tiver confiança em fazê-lo. Muitas pessoas de Janeiro. Assim, torna-se crucial a identificação de

morrem desta forma; como, onde e quando essas correntes se manifestam,

 Ao pescar em pedras, observe antes se a onda listando seus principais sinais e características, e a

pode alcançá-lo; respectiva divulgação através da mídia, para a efetiva

 Afaste-se de animais marinhos como água-viva e redução do alarmante número de casos de

caravelas; afogamento anualmente.


Infelizmente, estudos mostram que 70% da
 Tome conhecimento e obedeça às sinalizações
população jamais ouviu falar nesse tipo de corrente e
de perigo na praia.
apenas 2% sabem reconhecê-las.

Fig. 5.4 e 5.5 Áreas de “valas” em praias

Fig. 5.3 Posto de guarda-vidas em praia

OS PERIGOS DO MAR: VALAS OU CORRENTES


DE RETORNO

Verificadas com maior frequência em praias


Fig. 5.6 Dinâmica das correntes de retorno
rasas, intermediárias e de tombo, essas correntes são
formadas devido à força gravitacional, por toda a
Como identificá-las:
massa de água que reflui para o mar depois de
 As ondas não quebram sobre elas, parecendo um
quebrar na forma de ondas em direção à areia. No
“corredor” sem ondas;
seu retorno, a água percorre o caminho de menor
resistência, aprofundando um canal em formação que  As correntes de retorno deixam a superfície

54
LATES-UFRJ|2016

turbulenta, “mexida”;  Isole a piscina – tenha grades com altura de


 Apresentam uma tonalidade mais escura ou 1.50m e 12 cm entre as verticais. Elas reduzem o
marrom, como se fossem sujas, por conta da afogamento em 50 a 70%;
suspensão da areia do fundo do mar que  Cuidado! Bóia de braço não é sinal de
promovem. segurança;
 Geralmente aparecem entre dois locais mais  Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as
rasos (bancos de areia). crianças;
 Desligue o filtro da piscina em caso de uso;
Se você entrar em uma vala, nade  Use sempre telefone sem fio na área da piscina;
transversalmente a ela até conseguir escapar ou peça  Não pratique hiperventilação para aumentar o
imediatamente socorro. fôlego sem supervisão confiável;
 Cuidado ao mergulhar em local raso (coloque
aviso);
 Se você tem uma piscina, certifique-se que todos
na sua casa saibam realizar os primeiros
socorros.
 Aulas de natação para crianças (idade depende
do desenvolvimento cognitivo e motor).

IDENTIFICANDO O BANHISTA
IMPRUDENTE

Saber identificar uma vítima em potencial pode


prevenir um caso de afogamento, e também evitar o
agravamento de uma situação de perigo. Portanto
observe com atenção:
 Idosos e crianças pequenas;
Fig 5.7 Como escapar das correntes de retorno
 Pessoas obesas ou aparentemente cansadas;
 Turistas e estranhos ao ambiente (vestimenta e
PISCINAS equipamentos inadequados, grupos grandes, etc);
 Cerca de 65% das mortes por afogamento  Alcoolizados;
ocorrem em água doce, mesmo em áreas  Pessoas que utilizam permanentemente objetos
quentes da costa; flutuantes (elas podem não saber nadar sem
 Crianças devem sempre estar sob a supervisão eles);
de um adulto, o que não ocorre quase 90% das  Pessoas que entram na água eufóricas ou depois
vezes; de comer muito;
 Leve sempre sua criança consigo caso necessite  Pessoas que ignoram a sinalização e entram, por
afastar-se da piscina; exemplo, diretamente em uma área de corrente

55
LATES-UFRJ|2016

de retorno.
 Na água: nada destacado dos outros; falta de
atenção; comportamento assustado.

Quando reconhecê-las, oriente-as a se banhar


próximo a um posto de salvamento e a informar-se
com o guarda-vidas sobre o melhor local para banho.

PRIMEIROS SOCORROS Fig. 5.8 Maneira correta de auxiliar vítima próxima à


margem

Uma vítima que já está se afogando


apresenta expressão facial assustada ou
desesperada; afunda e emerge diversas vezes, com o
cabelo no rosto; nada ou bate os braços sem sair do
lugar; nada contra a correnteza; se posiciona na
vertical e olhando para a areia ou a margem.
Quando o socorrista perceber um afogamento
deve, primeiramente, prezar por sua própria Fig. 5.9 Arremesso de objeto flutuante no resgate à
segurança, tomando os cuidados necessários para vítima longe da margem

não se tornar mais uma vítima. Uma pessoa se


afogando entra em pânico e, instintivamente, pode Lembre-se de que um bom socorrista não

tentar usar o socorrista como apoio, levando-o ao tenta ser herói, e que chamar ajuda contribui muito

fundo. Por isso, sempre se deve tentar realizar para o sucesso do resgate. Por isso, ao identificar

socorro sem entrar na água. alguém se afogando, chame o guarda-vidas mais

Para uma vítima que se encontra em local próximo ou ligue para os bombeiros (193), ou peça

próximo à margem, procure um objeto longo, como para alguém fazê-lo. Ao ser resgatada, esta pessoa

uma tábua, um cabo de vassoura ou um galho. poderá precisar de cuidados médicos especializados.

Mesmo a curta distância, não ofereça suas mãos, Caso seja necessário e o socorrista esteja

pois você pode ser puxado e perder o equilíbrio seguro e confiante para entrar na água é preciso

caindo na água. avisar alguém que tentará resgatar a vítima e também

Ainda fora da água, para ajudar uma vítima chamar o socorro profissional. Além disso, ele deve

distante da margem, procure arremessar algo que levar consigo um material de flutuação (pranchas,

flutue (uma garrafa pet fechada, uma tampa de isopor bóias, etc.), remover roupas e sapatos que possam

ou uma bola), para que a vítima mantenha sua dificultar seu deslocamento e também procurar nadar

cabeça fora da água. Preferencialmente, este objeto com a cabeça fora da água, sem tirar os olhos da

deve estar amarrado à uma corda, para que a vítima vítima.

seja puxada para fora da água. Ao chegar próximo à vítima, o socorrista


deve, sem se aproximar muito, entregar-lhe o material

56
LATES-UFRJ|2016

de flutuação, deixar que a vítima se acalme e rebocá- O transporte na transição entre água e área
la até uma área seca. Caso esteja sem forças, deve seca deve ser feito com a vítima em posição vertical,
manter a vítima flutuando e acenar, pedindo ajuda. mantendo as vias aéreas abertas (“transporte
australiano”). Ao chegar em local seco, o socorrista
SE VOCÊ FOR A VÍTIMA deve continuar realizando o BLS, ou iniciá-lo,
verificando desde a consciência da vítima e
executando duas ventilações de resgate. O afogado
 Mantenha a calma, evitando o desgaste muscular
deve ser colocado em posição paralela à água, de
desnecessário, flutue e acene por socorro;
forma que o socorrista fique com suas costas
 No mar, uma boa forma de se salvar é nadar ou
voltadas para o mar, e a vítima com a cabeça do seu
deixar se levar para o alto mar, fora do alcance da
lado esquerdo. A cabeça e o tronco devem ficar no
arrebentação e a favor da correnteza, acenar por
mesmo nível.
socorro e aguardar. Ou ainda, tentar alcançar um
A RCP deve ser iniciada imediatamente, para
banco de areia, quando visível.
que a oxigenação, ventilação e a perfusão sejam
 Em rios ou enchentes, procure manter os pés à
restauradas o mais rapidamente possível, e o serviço
frente da cabeça, usando as mãos e os braços
médico de emergência acionado o quanto antes.
para dar flutuação. Não se desespere tentando
Nos casos em que a causa presumida da
alcançar a margem de forma perpendicular tente
parada cardíaca é o afogamento, ou seja, de natureza
alcança-la obliquamente, utilizando a correnteza a
hipóxica, o novo protocolo da American Heart
seu favor.
Association preconiza o uso da sequência tradicional
ABC da RCP. Caso a vítima não recomece a
BLS NO AFOGAMENTO respiração após as ventilações de resgate, os devem
secar a área do peito e utilizar o DEA; ou, na
Em vítimas inconscientes, verifica-se a boa ausência deste, iniciar as compressões torácicas, que
ventilação ainda dentro da água. Caso haja parada devem obedecer a relação ventilações/compressões
respiratória, iniciar precocemente as ventilações de de 2:30 (no caso de um socorrista), com reavaliações
resgate ainda dentro da água pode aumentar a a cada 5 ciclos.
sobrevida sem sequelas desses pacientes em até três
vezes, por encurtar o tempo de hipoxemia (baixa de
oxigênio no sangue).
Esse procedimento só deve ser realizado
quando há dois socorristas ou um material de
flutuação, o que permite que a vítima esteja flutuando
enquanto o socorrista realiza as respirações, sendo
estas realizadas até a chegada à praia ou borda da
piscina, evitando a progressão para uma parada
cardiorrespiratória.

Fig. 5.10 Início do BLS ainda na água: ventilações de


resgate. 57
LATES-UFRJ|2016

ATENÇÃO! Nunca tente extrair água das vias As manobras podem ser paradas se houver
aéreas da vítima com manobras como colocar a resposta da vítima de retorno da função respiratória e
vítima de bruços, Heimlich, batidas no peito, etc. dos batimentos cardíacos (continuar acompanhando
Ainda que água tenha sido aspirada, o volume desta pelos próximos 30 minutos, pois há chance de nova
é pequeno na maioria das vítimas, e a água pode ser parada); em caso de exaustão do socorrista; ou ao
rapidamente absorvida para a circulação central. entregar o afogado à equipe médica. A RCP não deve
Esses procedimentos são desnecessários e ser realizada em vítimas que apresentem rigidez
potencialmente perigosos, ocasionando ejeção do cadavérica; livres ou sinais de decomposição.
conteúdo gástrico com possível aspiração bronco- O afogamento pode ser classificado em graus
pulmonar, piorando o estado da vítima. de 0 a 6, ou a vítima pode ser classificada como um
A RCP deve ser realizada em todas as cadáver, segundo critérios de que levam em conta
vítimas de afogamento com tempo de imersão inferior sinais e sintomas e relacionam-se com procedimentos
à 1 hora. Existem casos descritos de sucesso na realizados por profissionais para o Suporte Avançado
reanimação de afogados após 2 horas de manobras e de Vida (ACLS).
casos de recuperação sem danos ao cérebro até 1
hora de submersão.

Fig. 5.11 Os “elos” no afogamento

Fig. 5.12 Tipos de afogamento

58
LATES-UFRJ|2016

OUTROS ACIDENTES NA ÁGUA mais de uma vítima, faça com que formem um círculo
fechado com seus tórax juntos para manter o calor.
A hipotermia pode também ser secundária,
SÍNDROME DE IMERSÃO
como uma consequência da perda de calor por
evaporação durante a ressuscitação.
Também conhecida vulgarmente como
No afogamento, a hipotermia não é protetora.
“choque térmico”, a hidrocussão é provocada por uma
Vários estudos clínicos pequenos em pacientes com
exposição súbita a uma temperatura abaixo da
hipotermia acidental têm mostrado que a
corporal, produzindo então uma arritmia cardíaca, que
sobrevivência pode ser melhorada por aquecimento
pode levar à parada cardiorrespiratória ou à perda de
passivo ou ativo, fora e dentro do hospital.
consciência, uma vez que a capacidade do coração
Sabemos que todas as vítimas de
de bombear sangue fica reduzida, gerando queda da
afogamento podem sofrer hipotermia, mesmo aquelas
pressão e diminuição do fluxo sanguíneo para o
afogadas em nosso litoral tropical. Portanto, em caso
cérebro.
de hipotermia, além de seguir todos os passos do
O “choque térmico” pode ser evitado se
BLS, o socorrista deve ter cuidado especial com a
molharmos a face e o pescoço antes de mergulhar.
respiração e pulso, que podem estar reduzidos devido
Caso você testemunhe um caso de hidrocussão,
à baixa temperatura central; e também remover
retire imediatamente a vítima de dentro da água e
roupas molhadas, para evitar o agravamento da
inicie o suporte básico de vida.
situação, utilizando um cobertor para isolar a vítima.
Até o presente, não há evidência convincente
HIPOTERMIA
para se induzir hipotermia nos pacientes pós-
ressuscitados vítimas de afogamentos. Uma
As vítimas de submersão podem desenvolver
abordagem prática seria instituir o aquecimento ativo
hipotermia primária ou secundária.
até que a temperatura corporal chegue a 32-34°C e
Se a submersão ocorrer em água gelada
também ativamente se evitar a hipertermia (t >37°C),
(<5°C) pode reduzir a temperatura do corpo humano
durante o período subsequente de terapia intensiva.
abaixo de 35ºC em poucos minutos, quando os
mecanismos compensatórios corporais de produção e
TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
conservação de calor começam a falhar, levando à
hipotermia primária. Como consequência, pode
O número registrado de TRM em
ocorrer perda de consciência e afogamento
salvamentos aquáticos pelos bombeiros não justifica
secundário ou até uma arritmia cardíaca com parada
que todo resgate de afogado seja tratado com
cardíaca e consequente morte. A hipotermia pode ser
imobilização cervical; apenas cerca de 0,5% das
acelerada em águas mais frias; indivíduos pequenos
pessoas que se afogam apresentam lesão cervical.
e magros; uso de pouca roupa (menor isolamento);
No entanto, identificar situações de possível
atividade física; uso de álcool (dilatação de vasos
trauma raquimedular pode ser a diferença entre uma
superficiais).
vida saudável e a paralisia definitiva dos quatro
Caso a vítima não possa ser resgatada
membros (tetraplegia).
imediatamente, deve-se instruir que ela faça o mínimo
Situações de suspeita de TRM na água:
de esforço possível para flutuar. No caso de haver

59
LATES-UFRJ|2016

 Vítima se afogando em local raso*; *Outros fatores podem causar inconsciência em


 Vítima politraumatizada dentro da água; águas rasas: traumatismo crânio-encefálico; mal
 Mergulhos de altura ou em águas rasas; súbito (infarto agudo do miocárdio), convulsão,

 Esportes radicais na água (incluindo surf); lipotímia, hidrocussão (choque térmico); e

 Sinais e sintomas sugestivos de TRM: dor em afogamento em que a vítima foi parar em águas

região de coluna vertebral; traumatismo facial ou rasas.

de crânio; formigamento (anestesia) ou paralisia


de qualquer parte do corpo abaixo do pescoço.

Fig. 5.13 Atendimento ao afogado com suspeita de TRM

60
LATES-UFRJ|2016

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LAYON, A. J; MODEL, J.H. Drowning: Update 2009.


Anesthesiology, v. 110, n. 6, p. 1390-1401, jun.
2009.
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS
ROQUENNEDY, J. Ressuscitação no Afogamento.
COMMITTEE ON INJURY, VIOLENCE AND POISON
In: Medicina Perioperatória. 2006. Disponível em:
PREVENTION. Prevention of drowning in infants, <http://www.researchgate.net/publication/258209173_
Ressuscitao_no_Afogamento_In._Medicina_Perioper
children and adolescents. Pediatrics, v. 112. n. 2, p.
atria_Cap_150_pg_1280-88?ev=pub_srch_pub>.
437-439, ago. 2003. Acesso em: 02 mar. 2014.

SZPILMAN, D. Manual dinâmico de Afogamento.


BERG et al. Adult Basic Life Support. Part 5:
Rio de Janeiro: SOBRASA, 2013. Disponível em:
Drowning. Circulation, v. 122. p. S685-S705, nov.
<www.sobrasa.org>. Acesso em: 02 mar. 2014.
2010.

SZPILMAN, D. et al. Drowning. N Engl J Med,


CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ. Afogamento.
Massachusetts, v.366. n. 22, p.2102-2110, mai. 2012.
In: Manual de Atendimento Pré-Hospitalar. Curitiba:
2006. Disponível em:
SZPILMAN, D. Afogamento. Revista Brasileira
<http://pt.scribd.com/doc/50278005/Manual-do-
Medicina do Esporte, v. 6. p. 131-144, 2000.
Atendimento-Pre-Hospitalar-SIATE>. Acesso em: 04
mar. 2014.
SZPILMAN, D. Afogamento - Perfil epidemiológico
no Brasil - Ano 2011. Rio de Janeiro: SOBRASA,
HAFEN, B. Q.; KARREN, K. J.; FRANDSEN, K. J.
2013. Disponível em: <http://www.sobrasa.org/perfil-
Primeiros Socorros para Estudantes. Barueri:
do-afogamento-no-brasil-ano-2011-publicado-em-
Manole, 2002.
2013/>. Acesso em: 02 mar. 2014.

HOEK, T.L.V. et al. 2010 American Heart Association


SZPILMAN, D. Locais de óbitos por afogamento no
Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and
Brasil – estimativa SOBRASA 2014. Rio de Janeiro:
Emergency Cardiovascular Care. Part 12.11:
SOBRASA, 2014. Disponível em:
Drowning. Circulation, v. 122. n. 183. S829, nov.
<http://www.sobrasa.org/locais-de-obitos-por-
2010.
afogamento-no-brasil-estimativa-sobrasa-2014/>.
Acesso em: 04 mar. 2014.
IDRIS, A. H. Recommended Guidelines for Uniform
Reporting of Data From Drowning: The "Utstein
WERNICKI, P.; FENNER, P.; SZPILMAN, D.
Style". Circulation, v. 108, p. 2565-2574, nov. 2003.
Handbook on drowning: prevention, rescue,
treatment. [S.l]: Springer Verlag 2006.

61
LATES-UFRJ 2016

SANGRAMENTO  Hemorragia intracraniana, sangramento intracraniano


DEFINIÇÃO de certo volume pode ser letal por aumentar a
pressão intracraniana e comprometer a função de
Um sangramento ou hemorragia corresponde regiões vitais. Quando ocorre no parênquima, o
a qualquer perda de sangue do espaço vascular para sangramento provoca destruição do tecido nervoso e
o compartimento extravascular (cavidade, interstício compressão dos vasos adjacentes, provocando
ou para fora do organismo), decorrente de uma ou isquemia. Hemorragias pequenas nas regiões vitais
várias rupturas nos vasos sanguíneos (hemorragia podem ser fatais. Hemorragia no espaço
por rexe) ou por afrouxamento da membrana basal subaracnóideo pode provocar vasoconstrição arterial
vascular por variadas causas, havendo a passagem suficiente para causar infarto do tecido nervoso ou
de hemácias por entre as células endoteliais morte do paciente.
(hemorragia por diapedese). Caso a hemorragia persista, em face da
A severidade de uma hemorragia reside tanto ineficiência de mecanismos fisiológicos de
na velocidade quanto na quantidade da redução hemostasia como vasoconstrição e coagulação
volumétrica, as quais variam em relação ao número, sanguínea, a vítima, sem a assistência adequada e,
tipo e localização dos vasos acometidos. principalmente, com perda superior a 25% do volume
As principais consequências ou complicações sanguíneo corporal total, poderá evoluir rapidamente
decorrentes de uma hemorragia são: para o óbito em consequência da morte celular por
 Choque hipovolêmico, quando há perda rápida de depleção de nutrientes e oxigenação.
cerca de 20% do volume de sangue corporal.
 Anemia, quando o sangramento é crônico e repetido CLASSIFICAÇÕES
(por exemplo, úlceras e metrorragia).
 Asfixia, quando há hemorragia pulmonar de certa A. QUANTO À FONTE
intensidade com preenchimento do espaço alveolar
com sangue. Arterial: sangramento de fluxo pulsátil, expelido em
 Tamponamento cardíaco, principalmente em casos jatos e de coloração vermelho-vibrante. Corresponde
de infarto do miocárdio com rompimento da parede do a uma grande ameaça à vida, pois um elevado
ventrículo; a presença de sangue no espaço volume de sangue pode ser perdido em um curto
pericárdico leva a uma queda acentuada do débito período de tempo.
cardíaco e consequente choque cardiogênico.

62
LATES-UFRJ 2016

Venoso: sangramento de fluxo constante, Hemorragia interna exteriorizada: Os


apresentando escorrimento, geralmente, de coloração sangramentos internos podem ou não permanecer no
escurecida. Raramente fatal. interior do organismo, exteriorizando-se em alguns
casos. São mais representados por (quadro 6.1):
Capilar: sangramento contínuo, discreto e lento,
geralmente, coagulando de forma espontânea.  EPISTAXE: sangramento que se origina da
Pequena importância. mucosa das fossas nasais, podendo ser anterior
(plexo de Kisselbach) ou posterior.

 OTORRAGIA: sangramento pelo conduto auditivo


externo.

 ESTOMATORRAGIA: sangramento proveniente


da cavidade oral, podendo ser originada por
ferimentos na bochecha, língua e extrações
dentárias.

 HEMATÊMESE: sangramento originado do


sistema digestivo alto (esôfago, estômago e
duodeno) que é normalmente expelido pelo
vômito e que costuma apresentar coloração
escura como borra de café.

Fig. 6.1 Fontes de sangramento


 HEMOPTISE: sangramento espumante e de
coloração vermelha rutilante que é expelido pela

B. QUANTO AO LOCAL OU PROFUNDIDADE tosse. Tem origem do aparelho respiratório, em


geral dos pulmões e/ou da árvore brônquica.

Externa: O sangue perdido é visível ao exame


primário do paciente, sendo relacionado às estruturas As otorragias e epistaxes podem apresentar

superficiais e exteriorização. Geralmente, pode ser saída de líquor ou líquido cefalorraquidiano (L.C.R.),

controlada por compressão local. sendo esse um indício de T.C.E. (Traumatismo


Cranioencefálico), e, portanto, todos os cuidados com

Interna: O sangue perdido não é visível e pode ser a estabilização cervical devem ser tomados

proveniente de lesões traumáticas de vísceras prioritariamente.

internas ou grandes vasos. Alta gravidade, havendo


grande possibilidade de choque e óbito em pouco
tempo. Ocorre, principalmente, no abdome e no tórax.

63
LATES-UFRJ 2016

Sendo assim, há alguns sinais e sintomas que


Quadro 6.1 Nomenclatura das hemorragias
podem apontar a existência de tal distúrbio
Epistaxe Hemorragia nas fossas nasais
hemodinâmico (quadro 6.2). Quanto mais rápida as
Equimose Sangramentos em pequenos focos,
hemorragias, menos eficientes são os mecanismos
maiores que as petéquias
Hemartrose Sangramento das articulações compensatórios do organismo, assim, mais
Hematêmese Vômito com sangue abundante e mais grave é a sintomatologia.
Hematoma Sangramento circunscrito formando
uma coleção volumosa PRIMEIROS SOCORROS
Hematúria Sangue na urina Primeiramente deve-se sempre levar em
Hemopericárdi Sangue na cavidade pericárdica consideração a segurança do socorrista e de sua
o equipe, destacando-se a avaliação da cena e a
Hemoperitônio Sangue na cavidade peritoneal
utilização de Equipamentos de Proteção
Hemoptise Expectoração com sangue
Individual (EPI), como luvas descartáveis para
Hemotórax Sangue na cavidade pleural
prevenção de contaminações por contato direto com
Melena Sangue ”digerido” eliminado nas fezes
o sangue da vítima. Além disso, o alerta do serviço de
Menorragia Menstruação prolongada ou profusa,
emergência, nas situações realmente necessárias,
em intervalos regulares
deve ser adotado como uma das medidas iniciais,
Menstruação Sangramento uterino cíclico, fisiológico
Metrorragia Sangramento uterino irregular, entre os sendo fundamental para o prognóstico da vítima.

ciclos Antes de iniciar-se o auxílio ao indivíduo


Otorragia Sangramento pelo conduto auditivo injuriado, caso o mesmo esteja consciente, deve-se
externo orientá-lo a parar de movimentar-se, pois a atividade
Petéquia Sangramento puntiforme muscular aumenta o fluxo sanguíneo e, no caso de
Púrpura Múltiplos pequenos focos de lesão óssea, os fragmentos resultantes do trauma
sangramento
podem lacerar outros vasos e tecidos adjacentes,
Sufusão Sangramento plano, difuso e extenso
agravando o quadro.
das mucosas

RECONHECIMENTO DE UM SANGRAMENTO
A. HEMORRAGIA EXTERNA

A suspeita da existência de um sangramento 1. Exponha o ferimento removendo ou cortando a

deve basear-se tanto na avaliação primária da vítima roupa cuidadosamente para encontrar a fonte de

quanto na própria cinética da injúria como: sangramento. Remova qualquer acessório que a

 Quedas vítima esteja utilizando (por exemplo, relógios,


pulseiras, anéis, etc.) próximo do local acidentado.
 Perfurações traumáticas (principalmente em
2. Realize a compressão direta do ferimento com uma
abdome e tórax)
gaze esterilizada ou pano limpo e suas mãos,
 Acidente por desaceleração
atentando para o tempo e força aplicados de modo a
 Trauma contuso (ex.: colidir o abdome ou tórax
prevenir a isquemia do tecido acometido (Fig.6.2)
no volante)
Não aplique essa conduta em caso de ferimentos
 Explosões (ondas supersônicas)

64
LATES-UFRJ 2016

oculares ou fratura craniana. checar a perfusão e o pulso distal antes e após a


utilização da bandagem compressiva.

Fig. 6.2 Compressão direta

3. Caso o curativo aplicado inicialmente sature de


sangue, não o retire e sim o mantenha no local,
aplicando outra gaze sobre a primeira e trocando
essa sempre que encharcar (Fig. 6.3)
4. Caso o ferimento tenha ocorrido em um dos
membros, eleve-o, se possível, a uma altura logo
acima do coração, deixando que a gravidade auxilie
na redução da pressão sanguínea local. Não
obstante, evite a manobra em se tratando de fraturas
ósseas, injúria espinal ou objeto empalado.
5. Para ficar possibilitado de tratar outras eventuais
lesões, aplique uma bandagem compressiva para
manter o curativo sobre o ferimento. Atente também
Fig. 6.3 Curativo compressivo
para não realizar uma compressão muito intensa (Fig.
6.3). Verifique a perfusão distal pressionando
brevemente o leito ungueal de um dedo do pé ou da
mão do membro lesionado com a bandagem: ele
ficará branco. Libere a pressão e a coloração rosada
normal deve voltar em dois segundos. Faça o mesmo
no outro membro para comparar com o normal. Se o
leito ungueal não voltar ao normal, a aplicação da
bandagem de compressão agiu como um torniquete e
interrompeu a circulação. Solte a bandagem o
suficiente para permitir a circulação distal, sem que
haja a recorrência de sangramento.

ATENÇÃO! A circulação distal pode estar ausente


em razão da própria lesão, pois a artéria principal do
membro pode estar cortada. Por isso, é importante

65
LATES-UFRJ 2016

6. Na presença de um sangramento no qual a


compressão local mostrou-se ineficaz, diante de uma
fratura exposta, ferida contendo um corpo estranho,
uma ferida na mão do socorrista que não tenha como
ser protegida, pode-se adotar a compressão arterial
indireta (também chamada de técnica do ponto de
pressão), ou seja, comprimir com os dedos pontos
localizados próximo à superfície cutânea ou ainda a
tecidos firmes e ossos referentes às artérias
principais que suprem a área lesionada, permitindo
que haja a interrupção do fluxo sanguíneo que chega
à lesão. Os principais pontos de compressão
correspondem ao da artéria braquial no membro
superior e da artéria femoral no membro inferior (Fig.
6.4).

Quadro 6.2 SEMIOLOGIA DA HEMORRAGIA


SINAIS SINTOMAS
Descoloração no local de
Sede ¹ ²
injúria ¹ ²
Sangramento por qualquer
Fig. 6.4 Pontos para se realizar compressão indireta.
orifício do organismo (reto,
Fraqueza ¹ ²
vagina, uretra, orelha, nariz,
boca, etc) ² TORNIQUETE
Vômito e expectoração
sanguinolentos O uso dessa ferramenta no controle da
Frio ¹ ²
(hematêmese e hemoptise, hemorragia é muito discutido até os dias de hoje.
respectivamente) ² Consiste em uma bandagem constritora (“garrote
Ansiedade ou indiferença
Abdome distendido ² adaptado”) aplicada na circunferência de uma das
¹²
extremidades do corpo, membros, para conter a
Palidez cutâneo-mucosa ¹ ² Dor à palpação ¹ ²
hemorragia. Depois de aplicado, o torniquete contém
Sudorese intensa com pele
Agitação¹ ² o fluxo tanto arterial quanto venoso, sacrificando
fria e úmida ¹ ²
provavelmente a parte distal a ele por um processo
Taquicardia (FC> 100 bpm)
de morte celular desencadeado por privação do
e hipotensão arterial (PA
suprimento sanguíneo. Sendo assim, uma vez
sistólica<100 mm Hg) ¹ ²
colocado, deve assim ser mantido até que um
Cianose ¹ ²
cirurgião retire-o, portanto, tratando-se de uma
Respiração rápida
(taquipnéia) e artificial decisão irreversível.
A mera presença de uma amputação com

66
LATES-UFRJ 2016

hemorragia não necessita necessariamente do uso de 10. Leve a vítima para a emergência ou ligue para o
um torniquete, podendo-se controlá-la pelo uso das socorro o mais rápido possível.
técnicas convencionais acima citadas.
O torniquete somente deve ser aplicado em ATENÇÃO! É absolutamente contra indicado a
situações nas quais os outros recursos utilização de fios de arame, corda, barbante, material
mostraram-se ineficazes, há ameaça iminente à fino ou sintético na técnica do torniquete.
vida da vítima e o socorrista tenha ciência do O acidentado com torniquete tem prioridade no
procedimento que virá a realizar. Em outros atendimento e deve ser acompanhada durante o
contextos sua utilização é totalmente transporte.
desaconselhada. Nesse caso, sua presença deve
ser bem demarcada, deixando-o exposto e, na vítima,
deve-se escrever, por exemplo, um T/K em sua testa
juntamente com o horário de sua aplicação. Já na
vítima consciente, deve-se instruí-la a dizer a
qualquer prestador de serviço médico acerca da
presença do mesmo.

Como realizar um torniquete:


1.Elevar o membro ferido acima do nível do coração.
2. Coloque uma compressa grossa sobre a região
que será comprimida.
3. Usar uma faixa de tecido largo, com pelo menos
três centímetros, longo o suficiente para dar duas
Fig. 6.5 Aplicação e sinalização do torniquete
voltas, com pontas para amarração.
4. Aplicar o torniquete logo acima da ferida. Deixando
B. HEMORRAGIA INTERNA
no mínimo 5 cm de pele sadia entre o ferimento e o
torniquete.
A hemorragia interna é considerada uma situação de
5. Passar a tira ao redor do membro ferido, duas
emergência. O tratamento de primeiros socorros
vezes. Dar meio nó.
consiste apenas em medidas que beneficiem o
6.Colocar um pequeno pedaço de madeira (vareta,
paciente até que o transporte para um centro de
caneta ou qualquer objeto semelhante) no meio do
emergência possa ser realizado apropriadamente. O
nó. Dar um nó completo no pano sobre a vareta.
controle real da hemorragia somente poderá ser
7. Apertar o torniquete, girando a vareta. Nunca
realizado no centro cirúrgico. Portanto, devem ser
aperte além do necessário para estancar o
seguidas as seguintes etapas:
sangramento.
1. Identificar a presença da hemorragia interna. Os
8.Fixar as varetas com as pontas do pano. Evitando
sintomas mais comuns são: pulso fraco e rápido,
que o graveto gire em sentido contrário e afrouxe o
pele fria, sudorese, palidez intensa e mucosas
aperto.
descoradas, cianose, sede acentuada, entre
9. Escreva o horário em que o torniquete foi realizado.

67
LATES-UFRJ 2016

outros. contido e o acidentado precisa de atendimento


2. Acionar o serviço médico de emergência; especializado com urgência.
3. Posicionar a vítima em decúbito dorsal ou colocar Toda hemorragia nasal que ocorre com relativa
em posição de choque (Fig. 6.9), para evitar um frequência, sem causa evidente, requer investigação
possível choque hipovolêmico. imediata por profissional qualificado.
4. Verificar os sinais vitais frequentemente e não
oferecer nada para a vítima ingerir;
5. Realizar a manutenção da temperatura corporal,
cobrindo-se “levemente” o indivíduo e atentando
para não aquecê-lo demasiadamente com
cobertores.
6. Buscar aliviar ao máximo a dor do paciente,
mantendo-o em uma atmosfera quieta e tendo
atitudes plácidas de modo a transmitir-lhe
segurança.

Fig. 6.6 e 6.7 Controle de epistaxe anterior. (a) como fazer


C. SANGRAMENTOS ESPECIAIS
(b) como não fazer

EPISTAXE ESTOMATORRAGIA
 O tamponamento nasal deve ser realizado por  Orientar a vítima a ficar sentada com a cabeça
compressão da narina(s) com gaze inclinando-se para frente e inclinada para o lado lesado, para
a cabeça em 45º anteriormente durante permitir que o sangue saia. Se a vítima estiver
aproximadamente 10 minutos. inconsciente coloca-la em decúbito lateral.
 Orientar a vítima a respirar pela boca.  Fazer compressão local com gaze.
 O gelo pode ser aplicado externamente.  Em caso de sangramento dentário, colocar um
 Após cessar o sangramento, orientar a vítima rolo de gaze e apertar o local que sangra contra a
para não assoar o nariz, evitar esforços e também arcada dentária até a contenção do sangramento.
evitar exposição ao calor. Isto pode ser feito com a mão ou o paciente
 Caso o sangramento persista, repetir a ação por mordendo a compressa de tecido.
mais duas vezes.  Aplicar gelo, enrolado em um pano, externamente
 Se nenhuma das manobras resolverem a à lesão, para auxiliar a vasoconstrição.
situação, remova a vítima imediatamente para o  Se voltar a sangrar, e se o sangramento persistir
hospital mais próximo. além de 30 minutos, procure o médico ou o
dentista.
ATENÇÃO! A hemorragia nasal pode ocorrer por
traumatismo craniano. Neste caso, especialmente OTORRAGIA
quando o sangue sai em pequena quantidade  Vítima consciente: posicionar em decúbito dorsal
acompanhada de líquor, o corrimento não deve ser
 Vítima inconsciente ou com suspeita de trauma:

68
LATES-UFRJ 2016

lateralizar a vítima com a orelha que estiver  Providencie um local calmo e com privacidade
sangrando para baixo. para a mulher.
 Ambos enquanto não ocorre o atendimento  Providencie absorvente ou toalha limpa.
especializado.  Mantenha a mulher semi-sentada, com os
joelhos dobrados de tal forma que alivie a tensão
ATENÇÃO! Os traumatismos cranianos podem dos músculos abdominais (Fig.6.8)
provocar hemorragia pelo ouvido, quando então,  Impedir qualquer forma de esforço da mulher.
geralmente o sangue vem acompanhado de líquor.  Encaminha-la para o serviço especializado.
Não se deve estancar este tipo de hemorragia, e a Se a mulher estiver grávida:
procura de socorro médico nestes casos deve ser
 Manter a gestante em repouso, deitada,
urgente.
aquecida e tranquiliza-la.
 Impedir sua deambulação e qualquer forma de
HEMATÊMESE
esforço.
 Acionar imediatamente o serviço médico de
 Conservar a totalidade do sangue e dos produtos
emergência;
expulsos do útero para mostrar ao médico.
 Em casos de vômito ou inconsciência, lateralizar
 Encaminha-la para o serviço especializado com
a vítima enquanto aguarda-se o atendimento
urgência.
médico especializado.
 Não oferecer água ou alimentos para a vítima.

HEMOPTISE
 Buscar atendimento médico imediatamente.
 Mantenha a vítima calma.
 Enquanto aguarda-se o atendimento, manter a
vítima consciente em posicionamento recostado
Fig. 6.8 Posição adequada para aliviar a pressão
e, em vítima inconsciente ou com trauma
abdominal
associado adotar a lateralização.
 Recomendar a vítima que não fale e nem faça
ATENÇÃO! No caso do sangramento acompanhar-se
esforço.
de forte dor abdominal, deve-se suspeitar de gravidez
ectópica (extra uterina). Neste caso o transporte para
HEMATÚRIA
uma unidade especializada deve ser feito com
Presença de sangue na urina, apresentando aspecto
urgência e com a mulher em repouso, se possível
escuro com cor de “coca-cola”.
deitada e aquecida.
 Encaminhar o indivíduo para o atendimento
especializado.
COMPLICAÇÕES
As consequências das hemorragias são
METRORRAGIA
variadas, dependendo da quantidade de sangue
Sangramento uterino irregular, entre os ciclos.
perdido, da velocidade da perda e do local afetado.

69
LATES-UFRJ 2016

O choque é a consequência mais grave, e cinto);


ocorre quando a perfusão tecidual é reduzida, 6. Posicione a vítima em decúbito dorsal com os
resultando na falta de entrega de oxigênio e membros inferiores elevados sem realizar
nutrientes que são necessários para a função celular. movimentos muito abruptos (Fig.6.9);
O choque hipovolêmico, o tipo mais comum, resulta 7. No caso de ferimentos no tórax que dificultem a
de uma perda rápida de 1,5L ou mais de sangue respiração ou de ferimento na cabeça, os membros
(cerca de 30% do volume corporal). Nessa situação a inferiores não devem ser elevados.
perda de sangue excede a habilidade do corpo de No caso de a vítima estar inconsciente, ou se estiver
compensar e prover uma perfusão e oxigenação consciente, mas sangrando pela boca ou nariz, deitá-
adequada dos tecidos, destacando-se o nervoso, la na posição lateral de segurança (PLS), para evitar
cardíaco, renal e hepático, alterando suas asfixia.
funcionalidades.
8. Mantenha a vítima aquecida, cobrindo-a com um
Seus sinais e sintomas estão relacionados
cobertor.
com circulação ineficaz e depressão dos processos
ATENÇÃO! De modo geral, taquicardia com
orgânicos.
extremidades frias e pressão arterial sistólica menor
Quadro 6.3 IDENTIFICAÇÃO DE CHOQUE
que 70 mmHg são indicadores de choque na criança.
HIPOVOLÊMICO
Alterações de consciência, ansiedade, medo, confusão,
fadiga, fraqueza até inconsciência

Sede
Pulso periférico fraco, afilado ou ausente
Pele pálida, úmida e fria
Taquicardia e hipotensão arterial acompanhada de pulso
rápido
Respiração irregular, laboriosa e artificial
Náuseas e vômito
Midríase (pupilas dilatadas)
Pouco ou nenhuma produção de urina

Fig. 6.9 Como proceder enquanto aguarda ajuda.


PRIMEIROS SOCORROS
1. Mantenha a calma, sendo gentil com o acidentado
e buscando mantê-lo também calmo; FERIMENTOS
2. Acione o sistema de emergência; DEFINIÇÃO
3. Avaliação primária do paciente - ABC da vida;
4. Adote os primeiros socorros à injúria ou doença
Ferida é sinônimo de lesão tecidual,
geradora do choque, no caso a hemorragia;
deformidade ou solução de continuidade.
5. Afrouxe qualquer vestimenta apertada no pescoço,
Corresponde a um comprometimento da integridade
tórax, cintura ou outras áreas (colarinho, manga,
de um tecido corpóreo, como cutâneo, muscular e

70
LATES-UFRJ 2016

ósseo, em variadas extensões. Desenvolve-se em b) GRAU DE CONTAMINAÇÃO


consequência de uma agressão ao tecido vivo por
agentes físicos, químicos, térmicos, mecânico, mas Limpas: realizadas em ambientes cirúrgicos, em que
também podem ocorrer devido a distúrbios clínicos ou não há contato com órgãos contaminados (dos
fisiológicos. Portanto, as feridas podem ser causadas sistemas geniturinário e gastrointestinal),
por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica e apresentando baixo risco de contaminação (de 1 a 5
lesões acidentais por corte ou trauma, e por fatores %).
intrínsecos, como úlceras crônicas e vasculares, Limpas contaminadas: com contaminação grosseira
defeitos metabólicos e neoplasias. Em geral, são por objetos ou contato com órgãos ou sistemas
acompanhadas por sinais e sintomas como dor, contaminados. Risco de contaminação em torno de 3
edema e sangramento, além de serem uma a 11%.
importante via para o desenvolvimento de processos Contaminadas: são feridas acidentais recentes e
infecciosos. abertas colonizadas por flora bacteriana considerável,
ou ainda feridas cujo tempo de atendimento foi
CLASSIFICAÇÕES superior a seis horas entre o trauma e o atendimento
inicial. Observa-se a presença de reação inflamatória

É imprescindível avaliar e documentar a local. O risco de contaminação sobe para 10 a 17%.

evolução da ferida para determinar o tratamento Infectadas: apresentam evidências do processo

apropriado para cada caso, o que deve ser feito de infeccioso, como tecido desvitalizado, exsudação

forma sistemática, desde a ocorrência da lesão até purulenta e odor característico, sendo representadas

sua completa resolução. Existem alguns tipos de por lesões ulceradas infectadas e as escaras.

abordagens para se avaliar/classificar uma lesão,


tornando a sistematização mais eficaz. Segue abaixo c) EVOLUÇÃO

alguns dos mais utilizados e conhecidos:


Agudas: geralmente são feridas traumáticas, há

a) EXPOSIÇÃO ruptura da vascularização e desencadeamento


imediato do processo de hemostasia. Ex: cortes,

Abertas: ocorre o rompimento da superfície cutânea queimaduras, escoriações;

e, eventualmente, de vasos sanguíneos, causando Crônicas: Descritas como de longa duração ou

sangramentos. recorrência frequente. Ocorre um desvio na

Fechadas: a lesão do tecido mole ocorre abaixo da sequência do processo cicatricial fisiológico.

pele, não havendo a perda da continuidade na


superfície. São causadas por impacto ou d) NATUREZA

compressão, podendo haver lesão de órgãos


internos. Abrasão / Escoriação / Arranhão / Queimadura por
atrito: Remoção por fricção ou força de camadas
cutâneas superficiais, sendo geralmente observada
em quedas. Apresentam sangramento discreto, mas
costumam ser extremamente dolorosos. Não

71
LATES-UFRJ 2016

representam risco ao paciente quando isolados. penetrante; o objeto é capaz de penetrar e atravessar
os tecidos ou determinado órgão em toda a sua
Incisão: corte com bordas limpas, bem delimitadas, espessura saindo na outra superfície. Pode-se utilizar
não havendo a presença de tecido fibroso. É como exemplo as feridas causadas por projétil de
provocada por objetos cortantes amolados, como arma de fogo, que são feridas perfurocontusas,
facas, bisturis ou lâminas. Pode possuir expressiva podendo ser penetrantes e/ou transfixante. As feridas
perda sanguínea. transfixantes possuem sempre um orifício de entrada
e um de saída.
Laceração: corte com bordas irregulares e
desvitalizadas na pele por um mecanismo de
superestiramento com ruptura do tecido. Possuem
grande risco de infecção. Pode ser ocasionada por
mordedura de animais.

Contusão: ocasionada pelo impacto fechado de uma


força ou esmagamento. Danifica pequenos vasos e
causa sangramento intersticial, usualmente sem
ruptura da continuidade do tecido mole.

Perfuração: causada pela introdução de objetos


pontiagudos, como prego, agulhas ou punhal na pele
e em tecidos subjacentes. Podem possuir apenas o
orifício de entrada ou um orifício de entrada e um de
saída por atravessamento dos tecidos justapostos –
transfixação. Há elevado risco de infecção, pois a
penetração do objeto transporta microorganismos e
debris para o interior dos tecidos.

Avulsão: lesões nas quais uma secção de tecido é


rasgada, havendo descolamento da pele em relação
ao tecido subjacente, seja parcial, na qual o tecido
permanece ligado ao corpo, ou total, em amputações.
Apresentam graus variados de sangramento,
geralmente de difícil controle e são muito observadas Fig. 6.10 Tipos de feridas.

em acidentes automobilísticos.
EQUIMOSES x HEMATOMAS

Transfixante: este tipo de lesão constitui uma


Equimoses: correspondem a sangramentos com
variedade de ferida que pode ser perfurante ou
difusão sanguínea pelo espaço subcutâneo, formando

72
LATES-UFRJ 2016

um “lençol”. Variam de coloração com a degradação


da hemoglobina ali depositada após a fagocitose das
hemácias.

Hematomas: há o confinamento do sangue


extravasado dentro de um tecido de modo a formar
uma cavidade, podendo ser relativamente
insignificantes ou suficientemente grandes para
serem fatais por seu efeito de massa.

Fig. 6.13 Limpeza da ferida

3. Na presença de sangramentos, corrija-os


rapidamente pelas técnicas explicadas
anteriormente;

4. Não se deve remover possíveis corpos estranhos


Fig. 6. 11 e 6.12 Equimose (esq.) e hematoma (dir.) (facas, lascas de madeira, pedaços de vidro ou
ferragens) que estejam fixados em ferimentos,
mas estabilizá-los por meio de outros objetos que
PRIMEIROS SOCORROS
estejam disponíveis, de forma a evitar
deslocamentos acidentais. Tal manobra pode ser
Como em qualquer outra situação, a medida
auxiliada pelo emprego de cintos ou ataduras
inicial do atendimento de uma vítima com um
como forma de fixação. E após, levar o
ferimento é avaliar a segurança da cena, garantindo
acidentado para o serviço médico especializado;
que não haja novas vítimas, além da utilização do
5. Cobrir os ferimentos com uma compressa
E.P.I.
preparada com um pedaço de pano bem limpo
1. Exponha o ferimento de modo a visualizá-lo e
ou gaze esterilizada. Não utilizar algodão, pois
determinar suas características;
pode desfazer-se e impedir a cicatrização. Essa
2. Realize a antissepsia da ferida por meio da
compressa dever ser posicionada sobre a ferida
aplicação de água corrente e sabão ou de soro
e fixada firmemente com uma atadura ou
fisiológico. Limpando a ferida no sentido de
bandagem;
dentro para fora, para não levar microrganismos
6. Dependendo da extensão, local e grau de
para dentro.
contaminação da lesão, a vítima deve ser
conduzida ao serviço médico especializado
(SME) para a realização de suturas e anti-sepsia
mais elaborada.

73
LATES-UFRJ 2016

GELO

Somente deve ser utilizado em lesões


fechadas (ex. feridas contusas), envolvido por algum
tecido ou saco plástico, de modo a evitar o seu
contato direto com o tecido lesado, aplicando-se por
20 minutos com intervalos de mesmo tempo, três
vezes. Não deve ser utilizado em regiões como
mucosas e genitálias.
ATENÇÃO! Qualquer manipulação de ferimento deve
ser sempre precedida de antissepsia do socorrista.
Fig. 6.14 Cuidados com o membro amputado.
Não se aplicam medicamentos sobre os ferimentos. O
uso de medicamentos tópicos, de antibióticos ou de
b) FERIMENTOS OCULARES
qualquer outra substância por via oral, é restrito ao
pessoal médico ou sob sua prescrição autorizada. 1. Realize a irrigação ocular com soro fisiológico,
durante vários minutos em caso de lesão por agentes
químicos, ou na presença de corpos estranhos;
CONDUTAS ESPECIAIS
2. Não tente remover objetos da córnea ou utilize

a) AMPUTAÇÕES medicamentos tópicos (colírios ou anestésicos),


apenas estabilize-os com curativos adequados

1. Abrir vias aéreas e prestar assistência realizando a oclusão ocular bilateral com gaze

ventilatória, caso necessário; umedecida e curativo frouxo mesmo em lesões

2. Controlar a hemorragia, não utilizando torniquetes unilaterais.

como medida inicial;


3. Tratar o estado de choque, caso este esteja
presente;
4. Cuidados com o segmento amputado:
 Limpeza com solução salina, sem imersão
em líquido.
 Envolvê-lo em gaze estéril, seca ou
compressa limpa.
 Proteger o membro amputado com dois
sacos plásticos.
 Colocar o saco plástico em recipiente de
isopor com gelo ou água gelada. Jamais
colocar as extremidades em contato direto
com o gelo. Fig. 6.15 Curativo Ocular.

74
LATES-UFRJ 2016

3. Em caso de extrusão de globo ocular não tente 1. Proceda a imobilização e estabilização da coluna
recolocá-lo. Encaminhe a vítima para o serviço vertebral.
médico o mais prontamente possível. 2. Monitore a respiração e preste atendimento, se
necessário.
c) EVISCERAÇÃO 3. Controle o sangramento com curativo limpo
(Fig.6.18), não aplicando a pressão diretamente sobre
1. Não se deve, de forma alguma, tocar nas vísceras, o ferimento, mas sim ao redor das bordas da lesão.
nem tentar colocá-las de volta para dentro da 4. Procure imediatamente o atendimento médico
cavidade abdominal. Cubra-as com curativo oclusivo, especializado.
de materiais não aderentes, embebido em soro Ferimentos no couro cabeludo na ausência de
fisiológico ou água limpa. Envolva o curativo fratura, podem ser protegidos por meio da técnica da
cuidadosamente com bandagens fixadas firmemente, bandagem triangular. Antes de fazer a bandagem
mas nunca apertadas. contenha possíveis sangramentos e coloque gaze
limpa no local atingido. A técnica consiste em (Fig.
2. Posicione o acidentado em local confortável, em
6.17):
decúbito dorsal, colocando uma manta ou cobertor
1. Dobra um pedaço de pano largo e longo,
enrolado sob seus joelhos, para diminuir a pressão
colocando a ponta superior direita em contato com
sobre o ventre e impedir o afastamento muscular
a ponta inferior esquerda, formando um triangulo.
(Fig.6.16).
2. Colocar o vértice do triangulo em contato com a
base.
3. Não ofereça nada para o acidentado ingerir, ainda
3. Continue dobrando até atingir o tamanho desejado
que se queixe de muita fome ou sede.
de acordo com o ferimento.

Quadro 6.4 SINAIS DE ALERTA INDICATIVOS DE


LESÃO GRAVE NO TRAUMATISMO CRANIANO
Rinorréia e otorréia (saída de líquido cefalorraquidiano -
Fig. 6.16 Posição do acidentado
claro- pelas narinas e conduto auditivo externo,
respectivamente)
d) FERIMENTOS NA CABEÇA
Sinal de Battle (equimose na região mastoidea)

Sinal do Guaxinim (equimose periorbital)


Qualquer traumatismo craniano é potencialmente
Anisocoria (desigualdade entre as pupilas);
grave, pois remete à possibilidade imediata de
Expressão facial aturdida;
possíveis danos maiores às estruturas nobres
abrigadas na caixa craniana como o encéfalo. Além Desorientação mental;

disso, o couro cabeludo é altamente vascularizado, o Vômito após o incidente;


que promove importantes sangramentos quando Ausência de responsividade.
lesado. Portanto, o atendimento adequado e rápido a
uma vítima em tal situação é essencial.

75
LATES-UFRJ 2016

Fig. 6.19 Sinais de lesão craniana grave.

Fig. 6.17 Bandagem para lesões cranianas

Fig. 6.18 Compressão em lesões cranianas.


.

76
LATES-UFRJ 2016

<http://www.trauma.org/archive/nurse/wound.html>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acesso em: 04 mar. 2012.

ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E <http://www.chiro.org/rc_schafer/Monograph_3.shtml>

DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES). . Acesso em: 04 mar. 2012.

Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão: Primeira


edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial <http://emedicine.medscape.com/article/827930-

Médica A.W.W.E., 2008. overview#a0101>. Acesso em: 04 mar. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo <http://www.nda.ox.ac.uk/wfsa/html/u01/u01_006.htm

Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de >. Acesso: 04 mar. 2012.

janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.


Disponível em: Manual de primeiros socorros: Emergências Médicas,

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s do Instituto Nacional de Emergências Médicas (INEM)

ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012. de Portugal. 1° edição, 2012

BOGLIOLO. Patologia Geral. 8. ed. [S. l.]: Manual de primeiros socorros, por Paulo Frange,

Guanabara Koogan. cardiologista paulista.

HARRISON. Medicina Interna. 18. ed. Rio de <http://www.bombeirosemergencia.com.br/torniquete.

Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2012. html >. Acesso: 9 Jan. 2016

PORTO. Semiologia Médica. 6. ed. <http://www.lifesavers.com.br/r/Controle-de-


Sangramento-11.html>. Acesso em 9 Jan. 2016

PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO.


Manual: assistência integral às pessoas com <http://www.bombeiros.pr.gov.br/arquivos/File/1gb/so

ferida crônica. Secretaria de Saúde, 2004. corros/HemorragiaeChoque.pdf> Acesso em 9 Jan.


2016

Manual de primeiros socorros, Cruz Vermelha, 2007

ROBBINS & COTRAN. Patologia, Bases


Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.

WEIL, I. H. Current Concepts on the Management


of Shock. Circulation [online]. 1957, v. 16, pp. 1097-
1105.

77
Atualização 2013
LATES-UFRJ|2016

FRATURA facilidade com que o mesmo venha a sofrer tal tipo de


lesão. Entre eles temos:
 Idade do indivíduo;
DEFINIÇÃO
 Características ósseas (tamanho, forma,
consistência);
Podemos definir uma fratura como sendo
 Doenças metabólicas com influência no
uma interrupção da integridade do tecido ósseo de
metabolismo ósseo.
origem traumática, decorrente da aplicação de uma
determinada pressão direta ou indiretamente em uma
área óssea. Quadro 7.1 PERDA SANGUÍNEA
ESTIMADA POR FRATURA
Tal pressão deve ser superior ao que o tecido
é capaz de suportar, uma vez que os ossos têm OSSO PERDA SANGUÍNEA

naturalmente uma capacidade de deformação para


Úmero 0,5 – 1,5 L
que possam absorver impactos, voltando à sua forma
original, quando o agente causador se dissipa. Tíbia 0,5 – 1,5 L
O conjunto de fragmentos ósseos produzidos
Fêmur 1,0 – 2,5 L
pela fratura e tecidos lesados em torno da lesão é
denominado foco de fratura. Pelve 1,0 – 4 L
Ao contrário do que muitos acreditam, um
osso trata-se de um tecido vivo, com elevado CLASSIFICAÇÕES
metabolismo, além de contar com um grande
suprimento vascular e conter reservas adiposas a) QUANTO À EXPOSIÇÃO
(principalmente quando nos referimos aos ossos
longos). FECHADA
Dessa forma, uma fratura pode levar a
severas perdas sanguíneas, suficientes até mesmo São aquelas em que não há exposição do foco
para causar um choque hipovolêmico, especialmente fraturário, todavia, envolve potenciais danos
quando se está diante de múltiplas fraturas ou subcutâneos e de outros tecidos moles, incluindo
fraturas expostas. artérias, veias, nervos, músculos e órgãos.
Vários fatores podem influir na rigidez e
resistência de um osso, portanto, determinando a

78
LATES-UFRJ|2016

b) QUANTO À SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE

FRATURA EM FISSURA: são aquelas em que as


bordas ósseas ainda estão muito próximas,
assemelhando-se a uma rachadura ou fenda.

FRATURA EM “GALHO VERDE”: é a fratura


incompleta que atravessa apenas uma parte do osso
e corresponde a um envergamento do mesmo. Sua
ocorrência é mais comum em crianças, devido à
maior flexibilidade óssea, e nos antebraços (punho).
Fig. 7.1 Exemplos de Fraturas Fechadas
FRATURA COMPLETA: é a fratura na qual o osso
ABERTA (OU EXPOSTA) sofre descontinuidade total.

São fraturas na qual há lesão de continuidade


da pele, podendo o osso estar exteriorizado ou não.
O dano cutâneo pode ocorrer pelo trauma, pelos
fragmentos ósseos e/ou pelo manuseio intempestivo
da vítima, tornando aberta, uma fratura, até então,
fechada.

(a) (b)
Fig. 7.3 (a) em “galho verde” e (b) completa

c) QUANTO À NATUREZA DO DANO


Fig. 7.2 Fratura Exposta

A exposição da fratura para o ambiente FRATURA COMINUTIVA: corresponde àquela na

externo produz contaminação local, o que aumenta o qual o osso lesionado fragmenta-se em um ou

risco de infecção, podendo ter consequências como: diversos pequenos pedaços, além das outras
metades do osso fraturado.
 Osteomielite, que retarda ou impede a
consolidação óssea;
FRATURA ESPIRAL: é quando o traço de fratura
 Perda do membro lesado, em casos extremos;
encontra-se ao redor e através do osso. Nessa
 Septicemia, em casos mais graves;
fratura, o osso é separado e a fratura forma espirais
 Pode levar a óbito.
ao redor do eixo longitudinal. Tais fraturas são,
geralmente, decorrentes de lesões que ocorrem com

79
LATES-UFRJ|2016

movimentos de rotação sob descarga de peso. FORÇA INDIRETA: a força ou a energia cinética,
aplicada sobre um segmento é transmitida ao longo
FRATURA IMPACTADA: é quando as partes do membro, causando fratura em ossos mais
quebradas do osso permanecem comprimidas entre distantes do impacto. Portanto, pode-se dizer que a
si, interpenetrando-se. energia do trauma dissipa-se lesando a estrutura
menos resistente.
FRATURA OBLÍQUA: é quando o traço de fratura
(borda da fratura) se apresenta diagonalmente. ESPONTÂNEA OU INDUZIDA POR ESPASMO: as
fraturas estão associadas com doenças e/ou violentos
FRATURA TRANSVERSA: ocorre quando o traço de espasmos musculares. Um exemplo disso seria no t
fratura atravessa o osso numa linha
aproximadamente reta. RECONHECIMENTO

DOR

As características da dor variam muito de


acordo com o paciente, mas é normalmente descrita
como intensa, profunda e localizada, que aumenta
Fig. 7.4 Quanto à natureza da fratura com os movimentos ou pressão.
Ela é normalmente aliviada por manobras de tração,
alinhamento e imobilização.
d) QUANTO À PRESENÇA DE LESÃO
ASSOCIADA Quadro 7.2 DOR NA FRATURA
A dor existente em uma fratura decorre da “irritação” do

SIMPLES: quando não há evidências de lesões periósteo, rico em terminações nervosas, o qual
compreende o tecido conjuntivo associado ao tecido
associadas.
ósseo.
COMPLICADA: acompanhada de lesões associadas,
que são geradas pelo mesmo trauma com velocidade
EDEMA
e energia altas. Exemplo de lesões associadas locais:
 Musculares;
Devido ao trauma, ocorre uma lesão dos
 Tendinosas;
tecidos vizinhos à fratura, produzindo sangramento
 Nervosas;
local e inflamação, o que pode gerar edema e
 Vasculares;
hematoma.
 Sistêmicas (trauma abdominal, torácico e
craniano).
DEFORMIDADE

ETIOLOGIA DAS FRATURAS O segmento fraturado apresenta angulações,


rotações e encurtamentos evidentes à simples
FORÇA DIRETA: o local onde ocorre a fratura observação da vítima, comparando-se o membro
corresponde ao local onde a força foi aplicada.

80
LATES-UFRJ|2016

lesado com o não afetado. uma parada cardiorrespiratória. Para tanto, é


Ocorre devido ao deslocamento das seções dos importante a avaliação do ABC da vida (vias aéreas,
ossos fraturados ou acúmulo de sangue ou plasma no respiração, circulação).
local. Aplicando-se essas primeiras medidas, há
uma série de outras que podem ser realizadas para a
CREPITAÇÃO ÓSSEA avaliação e tratamento de fraturas em geral:
Sensação transmitida durante a palpação 1. Acalmar o acidentado, de preferência evitando
devido ao contato dos fragmentos da fratura uns com que ele olhe para o local fraturado.
os outros, produzindo um “som parecido com o 2. Para determinar as possíveis fraturas, realize um
amassar de papel”. breve exame físico da vítima, palpando-a no
No entanto, após a identificação da fratura, sentido crânio-caudal, procurando pelos sinais
não é aconselhado demais reproduções intencionais apontados previamente (lembre-se sempre de
de crepitação, pois provoca dor e aumenta a lesão utilizar luvas). Pesquisas mostram que cerca de
entre os tecidos vizinhos à fratura e pode gerar danos 30% dos pacientes com fratura exposta
aos órgãos internos e hemorragia interna. apresentam ainda outras lesões associadas.
No caso de dúvida, sempre considerar a 3. Exponha as áreas de possível lesão de modo a
existência da fratura. observar as características da fratura, como
presença de feridas, sangramentos, entre outros;
OUTROS SINAIS E SINTOMAS 4. Remover joias, sapatos e qualquer objeto que
possa ficar preso com o edema e constringir a
 Impotência funcional e/ou perda de força; circulação.
 Feridas abertas; 5. Trate a hemorragia, caso esteja presente, com a
 Sinais e sintomas associados com perda aplicação de gaze esterilizada ou pano limpo
sanguínea (palidez cutânea, hipotensão, aplicando pressão adequada à redução da perda
taquicardia, suor frio, etc) ou com lesão de algum de sangue, evitando sobrecarregar a área
órgão. fraturada;
6. Realize um curativo cobrindo toda a área
lesionada, protegendo-a contra possíveis
PRIMEIROS SOCORROS
contaminações maiores;
7. Trabalhe com muita delicadeza e cuidado. Toda
O QUE FAZER
atenção é pouca, pois os menores erros podem
A avaliação de uma fratura não pode ser
gerar sequelas irreversíveis;
iniciada sem que antes tenham sido providenciados
8. Imobilize a área fraturada, procurando colocar o
todos os cuidados referentes à segurança do próprio
membro na posição que for menos dolorosa para
socorrista e sua equipe, além da necessidade de se
o acidentado, o mais naturalmente possível;
atentar para que sejam estabilizados os demais
9. Aplique uma bolsa de gelo e eleve o membro se
fatores que possam por em risco a vida da vítima
possível, para prevenir o edema;
mais imediatamente. Isso é muito importante pois,
10. Providencie o atendimento médico especializado
mesmo que uma fratura nos impressione pela sua
o mais rápido possível, realizando o transporte
aparência fazendo-nos não perceber, por exemplo,
adequado. Nunca transporte alguém sem estar

81
LATES-UFRJ|2016

devidamente imobilizado. extremidade lesada em uma posição mais próxima da


anatômica, de modo a auxiliar na redução do
O QUE NÃO FAZER sangramento, dor e edema, além de atuar na
Tão importante quanto as atitudes a serem prevenção do agravamento da injúria, na medida em
tomadas para socorrer o fraturado são as que não que, a contenção do movimento do membro impede
podem ser feitas. São elas: que espículas ou fragmentos causem maiores danos
 Não movimente vítima com fraturas antes de aos tecidos adjacentes. Para tal finalidade, em geral,
imobilizá-Ia adequadamente. utiliza-se de uma tala.
 Se há risco real de incêndio, desabamento ou Não gaste muito tempo tentando imobilizar
explosão, e você ainda assim optar pelo risco do a lesão antes de contatar o serviço médico com
resgate, arraste-a por meio do maior eixo do urgência!
corpo. Se há necessidade de posicionar a vítima Diversos princípios são aplicáveis para a
para instituir RCP, proceda de modo a manter em realização de uma imobilização adequada:
alinhamento os segmentos fraturados.  As talas devem ser bem “acolchoadas” de modo a
 Não dê qualquer alimento ao ferido, nem mesmo evitar a promoção de danos à pele e tecidos
água. superficiais, o que pode ser viabilizado a partir da
 Jamais tente recolocar o osso no lugar ou retificá- utilização de materiais macios como panos
lo em caso de resistência limitante a essa limpos, camadas de algodão ou gaze, envolvendo
correção. o membro injuriado;
 A tala deve ser maior que o osso fraturado e
Quadro 7.3 REDUÇÃO DA FRATURA VS estender-se além das margens da lesão; sendo o
REALINHAMENTO DE DEFORMIDADES ideal que englobe tanto a articulação distal quanto
DECORRENTES DA FRATURA proximal à lesão, estabilizando-as com o auxílio
Sob nenhuma justificativa deve-se tentar reduzir uma de tiras de pano, ataduras ou cintos para fixar a
fratura (reencaixar o osso fraturado de volta no seu lugar). tala;
As manobras de redução de qualquer tipo de fratura só  Qualquer material rígido como madeira, metal,
podem ser feitas por pessoal médico especializado,
plástico, revista enrolada, papelão ou jornal
portanto, não force o retorno de um osso à sua posição
grosso dobrado, pode ser utilizado na confecção
anatômica, pois além de muito doloroso à vítima, os danos
de uma tala rígida;
promovidos serão maiores. Entretanto, quando uma fratura
determina uma grande deformidade em um membro,  Para a estabilização do membro imobilizado o
podem ocorrer discretas “dobras” nas artérias que passam mesmo pode ser fixado a uma região adjacente:
pela região, obstruindo o aporte sanguíneo a jusante deste braço ao tórax, uma perna a outra, um dedo ao
local. Dessa forma, realinhar suavemente o membro é um adjacente;
procedimento adequado desde que não haja restrição  Antes do início e depois de concluída a
tecidual.
imobilização, sempre verifique a circulação distal
a área tratada por meio da avaliação da coloração
IMOBILIZAÇÃO da pele e da palpação do pulso, procurando notar
e registrar oficialmente se já havia sinais de
A imobilização objetiva estabilizar a ausência de circulação sanguínea antes do

82
LATES-UFRJ|2016

procedimento e, após a imobilização realizada, No caso de uma luxação ou fratura de


observar se a compressão está elevada a ponto articulação, imobilizar a extremidade na posição
de interromper o fluxo sanguíneo. em que foi encontrada.


Quadro 7.4 TIPÓIA
Para fixar o antebraço pode-se desenvolver uma tipóia. Ela também pode ser usada para melhor conforto do membro
já imobilizado. Para a sua execução utilize um pedaço grande de tecido com as pontas presas ao redor do pescoço.
Isto serve para sustentar um braço em casos de fratura de punho, antebraço, cotovelo, costelas ou clavícula. Só use
a tipóia se o braço ferido puder ser flexionado sem dor ou se já estiver dobrado.

Fig. 7.5 Como montar uma tipóia

Fig. 7.6 e 7.7 Exemplos de imobilizações: tala rígida para perna (esq.) e tala rígida com quatro bandagens para antebraço.

83
LATES-UFRJ|2016

Fig. 7.8 e 7.9 Imobilização com materiais improvisados.

FRATURAS DE DIFÍCIL MANEJO TÓRAX

Diante de tais situações, acionar o Serviço Para identificá-la é importante avaliar a

Médico de Emergência (SME) corresponde à medida integridade das clavículas e costelas por meio da

mais imediata, todavia, o socorrista pode auxiliar de palpação, sempre atento a qualquer abaulamento,

algumas maneiras: contusões e instabilidade. Esta pode ser observada


quando a vítima inspira: por conta da pressão

CRÂNIO negativa, a porção instável é “sugada” internamente,


e torna-se protuberante durante a expiração. É

Fratura do crânio é, normalmente, importante notar que muitos desses pacientes

consequente de um Traumatismo Crânioencefálico possuirão também lesões torácicas internas.

(TCE), portanto uma séria emergência, já que pode


comprometer as vias aéreas e centros neurológicos PELVE

de controle da respiração. Diante de tal situação, a


medida mais adequada a ser tomada é a Sua identificação se dá pela palpação

estabilização da coluna cervical até que o socorro simultânea das cristas ilíacas, que normalmente se

adequado chegue ao local. Além disso, deve-se estar apresentariam fixas, mas, em tal situação, encontram-

atento aos sinais vitais dessa vítima que pode a se instáveis e com crepitação. É importante

qualquer momento sofrer recaídas. mencionar que esta manobra deve ser feita uma
única vez, na dúvida não repita! Fraturas de pelve
podem levar à hemorragia fatal!
A medida a ser adotada é a estabilização da

84
LATES-UFRJ|2016

pelve por meio de um cinto ou algo que possa vezes uma contração muscular é suficiente para
envolvê-la ao mesmo tempo em que realiza causar uma luxação, por exemplo. Dependendo da
compressão, como, por exemplo, uma toalha de violência do acidente, poderá ocorrer o rompimento
banho envolvendo a cintura pélvica e amarrada do tecido que cobre a articulação.
anteriormente. Tal fratura também pode ser danosa As articulações usualmente mais atingidas
aos órgãos internos, assim como, devido à intensa são a tibio-tarsal (tornozelo), fêmoro-tibio-patelar
vascularização da pelve e à presença de artérias de (joelho), escápulo-umeral (ombro), úmero-radial
grande calibre, gerar grandes hemorragias as quais (cotovelo), articulações dos dedos e a têmporo-
podem evoluir para um choque hipovolêmico madibular.
rapidamente.
ENTORSE

Entorse pode ser definida como uma


separação momentânea das superfícies ósseas, ao
nível da articulação,
Geralmente, quando a articulação é forçada além de
sua amplitude normal (perda efêmera da congruência
articular). A lesão provocada pela deformação brusca
geralmente produz o estiramento ou até o
rompimento dos ligamentos na articulação ou perto
dela.
Fig. 7.10 Faixa compressiva da pelve

LESÕES DE TECIDOS MOLES

INTRODUÇÃO

As “lesões de tecidos moles” são traumas


relacionados aos músculos, tendões ou ligamentos.
As lesões podem ser internas e/ou externas;
Fig. 7.11 Entorse de tornozelo
causadas por trauma direto ou indireto. Neste capítulo
abordaremos Entorses, Luxações e Distensões.
A severidade da entorse pode variar desde
As causas mais comuns das lesões de
um microtrauma aos tecidos envolvidos (leve) até um
tecidos moles são a prática de esportes, por golpes
rompimento total dos mesmos, incluindo estruturas
indiretos ou movimentos articulares violentos, mas, às
vasculares e nervosas (grave).

85
LATES-UFRJ|2016

Quadro 7.5 SINAIS E SINTOMAS DE ENTORSES Quadro 7.6 SINAIS E SINTOMAS DE


Dor ao movimento LUXAÇÕES
Dor intensa
Edema
Edema
Sensibilidade à palpação
Deformidade articular
Derrame articular precoce ou tardio (aumento da secreção
do líquido sinovial) Alterações de sensibilidade

Equimose Impotência funcional absoluta

Impotência funcional

LESÕES MUSCULARES
LUXAÇÕES

A luxação é uma lesão onde as extremidades As lesões musculares podem ser divididas
ósseas que formam uma articulação ficam em três tipos, contusão; laceração; e distensão ou
deslocadas, permanecendo desalinhadas e sem estiramento. Trataremos, neste capítulo,
contato entre si (perda permanente da congruência principalmente sobre este último tipo, que é muito
articular). O desencaixe de um osso da articulação comum também em atletas profissionais, mas pode
(luxação) pode ser causado por uma pressão intensa, ser evitável, uma vez que o músculo dá sinais
que deixará o osso numa posição anormal, ou precoces de fadiga (antes que a lesão aconteça).
também por uma violenta contração muscular. Com A contusão é uma lesão por compressão,
isto, poderá haver ruptura dos ligamentos. causada por trauma direto que resulta em ruptura
Esse tipo de injúria é muito grave e deve ser capilar, com hematoma e resposta inflamatória.
considerado um caso de urgência, devendo receber A laceração é a injúria caracterizada por
rápido diagnóstico e tratamento. Um tratamento perda de tecido muscular.
inadequado pode provocar danos aos tecidos como A distensão ocorre quando as fibras
rigidez articular, artrose, necrose por perda vascular, musculares ou tendíneas são excessivamente
infecções, etc. estiradas ou forçadas a se contrair contra uma
resistência além dos seus limites de capacidade tênsil
ou extensibilidade, levando ao seu rompimento. Essa
injúria pode ocorrer próximo à junção miotendinosa e
acarretar danos também a estruturas nervosas e
vasculares.

Fig. 7.13 Exemplo de distensão muscular

Fig. 7.12 Exemplo de luxações

86
LATES-UFRJ|2016

As lesões musculares são classificadas: quanto ajuda médica, acalmar a vítima, remover objetos que
à ação, que pode ser direta (mais comum em venham a constringir possíveis edemas, tratar
esportes de contato), ou indireta (comuns em hemorragias, procurar por outras lesões, imobilizar
esportes individuais); quanto à funcionalidade, que adequadamente os segmentos injuriados, tudo isso,
podem ser parciais, onde o músculo perde força, mas visando acelerar a recuperação e prevenir o edema,
ainda consegue se contrair, ou podem ser totais, além de reduzir o risco de injúrias recorrentes.
quando a mobilidade articular e a força muscular Além disso, é necessário reduzir a
podem ser nulas, ou seja, o músculo não se contrai temperatura local e as demandas metabólicas,
mais. amenizar a dor, proteger o tecido lesado para evitar o
Dentre os importantes tipos de complicações agravamento da lesão, minimizar a inflamação e
que podem decorrer de uma Distensão, há a evitar fibrose, que poderia gerar seqüelas funcionais.
síndrome compartimental: o edema e o Na prática, essa conduta pode ser facilmente
sangramento exercem pressão dentro da fáscia resumida a partir do método mnemônico PRICE:
muscular, que é pouco distensível, aumentando a
compressão de vasos sanguíneos e terminações  Protection / Proteção
nervosas, acarretando em intensa dor e morte do Proteger (imobilizar) o membro afetado,
tecido por falta de nutrição, podendo levar à perda do utilizando bandagens, talas ou ataduras elásticas,
membro. com o objetivo de amenizar a dor e permitir a
O complexo de músculos da região posterior continuidade da cicatrização, além de evitar novas
da coxa (jarrete) e panturrilha são os mais lesões. Muletas podem ser utilizadas para permitir
frequentemente afetados por essas lesões, pois são sustentação do peso e tipóias, para imobilizar um
expostos a atividades que exigem muito da braço ou ombro.
musculatura.
 Rest / Repouso
Quadro 7.7 SINAIS E SINTOMAS DE LESÕES Descansar e evitar atividades que possam
MUSCULARES
Dor em queimação em repouso ou a movimentação ou causar dor, como andar, prevenindo o agravamento
palpação da injúria e reduzindo o fluxo sanguíneo, o que
Impotência funcional muscular diminui a formação de edemas e hematomas.

Edema
 Ice / Gelo
Equimose distal a lesão
Aplicar gelo sobre a lesão, de preferência
Deformidade muscular a palpação
picado e sempre envolvido em uma toalha úmida,
durante 20 minutos a cada uma ou duas horas.
PRIMEIROS SOCORROS Nunca coloque o gelo diretamente em contato com a
pele para evitar queimaduras por “geladura”. A baixa

O cuidado no manejo de lesões envolvendo temperatura causa vasoconstricção, que tem efeito

tecidos moles deve, à primeira vista, ser semelhante anti-inflamatório, reduzindo a dor e o edema.

ao das fraturas, visto que os sinais e sintomas se


confundem entre elas. Portanto, incluem-se: chamar  Compression / Compressão
Aplicar uma bandagem firme que não

87
LATES-UFRJ|2016

prejudique a circulação no local ou cause maior dor, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


realizando uma pressão sutil e uniforme. Ocorre
então a redução do edema ao inibir a infiltração em
BEHNKE, R. S. Anatomia do movimento. Porto
espaços tecido subjacente e ao auxiliar na dispersão
Alegre: Artmed, 2004.
do excesso de fluido. Substitua a compressão após
24 horas e prossiga realizando-a, ao menos, durante
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo
72 horas.
Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.
 Elevation / Elevação
Disponível em:
Elevar o membro acima do nível do coração,
<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s
se possível, sustentando com almofadas ou como
ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
preferir, principalmente nas primeiras 72 horas. A
força gravitacional ajuda a reduzir o acúmulo de fluido
GANN, N. Ortopedia: guia de consulta rápida para
intersticial, relacionado ao edema.
fisioterapeutas: distúrbios, testes e estratégias de
Oriente o doente a evitar se expor ao calor
reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
(que aumenta o fluxo sanguíneo e o edema) durante
2005.
as primeiras 48-72 horas; e também evitar ingerir
álcool, que, além de aumentar o fluxo sanguíneo,
JARVINEN, T. A. Muscle injuries: optimising
pode tornar o paciente menos consciente de sua
recovery. Best Practice and Research Clinical
lesão, agravando-a.
Rheumatology [online]. 2007, v. 21, n. 2, pp. 317-31.
É importante ressaltar que, principalmente
nos casos de luxações, o socorrista deverá proceder
JÚNIOR, A. A. Flexibilidade: teoria e
como em um caso de fratura, imobilizando a região
prática. Londrina: Atividade Física e Saúde, 1998.
lesada, sem o uso de tração. Para os primeiros
cuidados, deve colocar cuidadosamente os dois
KONIN, J. G. Cinesiologia prática para
ossos numa posição de conforto que permita a
fisioterapeutas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
imobilização e o transporte com o mínimo de dor. A
2006.
articulação só deve ser reduzida por profissionais
médicos; não faça massagem ou aplicação de
MCARDLE, W. D. et al. Fisiologia do Exercício -
calor; e procure imediatamente um serviço de saúde
Energia, Nutrição e Desempenho Humano.
para avaliação e tratamento adequado.
5.ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2001.

SAFRAN, M. R. et al. Manual de Medicina


Esportiva. São Paulo: Manole, 2002.

PAJACZKOWSKI, J. A. Rehabilitation of distal


tibiofibular syndesmosis sprains: a case report.
Journal of the Canadian Chiropratic Association
[online]. 2007, v. 51, n. 1, pp. 42-9.

88
LATES-UFRJ|2016

PRENTICE, W. E. Técnicas de Reabilitação em


Medicina Esportiva. 3.ed. São Paulo: Manole, 2002.

<http://www.manualmerck.net/>. Acesso em 04 mar.


2012.

<http://www.copacabanarunners.net/lesoes-
musculares.html>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.saudenarede.com.br/?p=av&id=ENTEND
ENDO_AS_LESOES>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.articulacoes.com.br/tm_lesoesmusculare
s.php>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.patient.co.uk/doctor/First-Aid-for-Soft-
Tissue-Injuries.htm>. Acesso 04 mar. 2012.

89
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO É importante ressaltar o papel do álcool etílico


líquido no Brasil. É o único país que o tem como
Queimaduras são lesões dos tecidos causa comum de queimadura, por um costume
orgânicos em decorrência de trauma resultante da popular de se limpar tudo com álcool. Além de ser
exposição a chamas, líquidos e superfícies quentes, facilmente adquirido em qualquer supermercado,
frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricções costuma ser guardado em locais de fácil acesso às
queimaduras ocorrem com maior frequência no crianças e adolescentes. Estudos demonstram que o
ambiente doméstico, sendo as crianças e os idosos grande responsável pelas queimaduras ocasionadas
os grupos de maior mortalidade. O derramamento de por inflamáveis é o álcool, que contribui para uma
líquidos superaquecidos (água fervente na cozinha, grande parcela das mortes por fogo nas residências.
água quente de banho, bebidas, óleo de cozinha, etc) A prevenção é a arma mais importante para
afeta mais as crianças (neste caso, as queimaduras diminuir o número de acidentes e mortes relacionados
costumam ser mais superficiais e mais extensas) e às queimaduras, já que possuem causas previsíveis,
líquidos combustíveis acidentam mais adolescentes. uma vez que apresentam epidemiologia própria, além
Ao contrário, os adultos queimam-se com mais de serem facilmente identificáveis, se repetindo em
frequência com a chama de fogo e principalmente no todas as classes sociais. Portanto, a divulgação de
ambiente profissional. As queimaduras resultantes, medidas preventivas e orientação da população por
portanto, costumam ser mais profundas e, meio de campanhas educacionais são fundamentais
usualmente, acompanham-se dos danos causados e de responsabilidade das equipes de saúde e do
pela inalação de fumaça. poder público.
Conforme dados da literatura mundial, a
maioria dos acidentes acontece na presença de
FISIOPATOLOGIA
adultos. A epidemiologia desse trauma varia em
diferentes partes do mundo. No Brasil, estima-se que
A queimadura compromete a integridade
ocorram por volta de 1 milhão de acidentes com
funcional da pele, responsável pela homeostase
queimaduras por ano, sendo que a maioria (79%)
hidroeletrolítica, controle da temperatura interna,
acontece dentro do ambiente domiciliar. Segundo a
flexibilidade e lubrificação da superfície corporal.
OMS, as queimaduras são responsáveis por
Portando, a magnitude do comprometimento dessas
aproximadamente 300.000 mortes por ano em todo o
funções depende da extensão e profundidade da
mundo.
queimadura. Além disso, a ferida da queimadura,

90
LATES-UFRJ|2016

mesmo sendo estéril no começo, é colonizada Causadas pelo calor, representadas tanto por
rapidamente por bactérias endógenas e exógenas, fogo direto, vapor ou líquidos quentes, ou ainda
deixando assim a possibilidade de uma infecção. contato com objetos quentes.
As principais alterações fisiológicas que QUEIMADURAS QUÍMICAS
ocorrem em um processo de queimadura são: Causadas pelo contato com agentes
aumento de permeabilidade capilar e edema. A químicos, principalmente ácidos, álcalis e compostos
lesão térmica causa desnaturação proteica, orgânicos. Ao contrário da lesão térmica, causa dano
determinando a exposição do colágeno no tecido progressivo e contínuo à pele e tecidos subcutâneos,
afetado, levando à liberação de mediadores até que a substância seja inativada por reação
inflamatórios. Tais mediadores são responsáveis pelo tecidual ou diluída por lavagem mecânica do local.
aumento da permeabilidade nos capilares, Os acidentes industriais são os mais
propiciando a formação do edema. preocupantes e os acidentes domiciliares com
desinfetantes caseiros, os mais comuns. A gravidade
de uma queimadura química é determinada pelo tipo
CLASSIFICAÇÕES
de substância, concentração e tempo de contato.
Assim, diferentemente dos outros tipos de
a) QUANTO AO TIPO DE AGENTE CAUSADOR
queimadura, nas quais o atendimento inicial ao
paciente é “esquecer” a queimadura e iniciar o
QUEIMADURAS TÉRMICAS
suporte básico de vida, o cuidado com a ferida é

Tabela 8.1 Apresenta análise de 10 anos de atendimento à queimaduras do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP. Período de 2001 até 2011.

91
LATES-UFRJ|2016

prioritário, antecedendo essa avaliação. O principal exemplo são as queimaduras solares.


As queimaduras com álcalis costumam ser
mais graves do que as ocasionadas por ácidos. Este
fenômeno ocorre pela maior penetração dos álcalis
nos tecidos e por sua inativação mais tardia. As
lesões causadas por agentes químicos são
consideradas como queimaduras de segundo ou
terceiro graus.
QUEIMADURAS ELÉTRICAS

Fig. 8.1 Queimadura de primeiro grau.


Causadas pelo contato da pele com correntes
elétricas (choque elétrico), geralmente aparecendo QUEIMADURAS DE 2º GRAU

nos locais de entrada e saída da corrente (esse tema


será abordado melhor no capítulo de Trauma  Afeta epiderme e derme, com formação de

Elétrico). bolhas.
 Queimadura superficial: base da bolha rósea,
Quadro 8.1 CAUSAS MAIS FREQUENTES úmida e dolorosa.
As causas mais frequentes das queimaduras  Queimadura profunda: base da bolha branca,
são a chama de fogo, o contato com água fervente ou seca e indolor.
outros líquidos quentes e o contato com objetos
 Restauração das lesões entre 7 e 21 dias.
aquecidos. Menos comuns são as queimaduras
 Pode deixar sequelas: discromia (superficial) e
provocadas pela corrente elétrica, transformada em
calor ao contato com o corpo. Queimadura química é cicatriz (profunda).

denominação imprópria dada às lesões cáusticas


provocadas por agentes químicos, em que o dano Exemplos: queimaduras por líquidos ferventes
tecidual nem sempre resulta da produção de calor.

b) QUANTO A PROFUNDIDADE OU GRAU

Considera a profundidade das camadas de


tecido afetadas.

QUEIMADURAS DE 1º GRAU1
Fig. 8.2 Queimadura de segundo grau.
 Afeta somente a epiderme, sem formar bolhas.
 Eritema (ou “vermelhidão”, que clareia quando QUEIMADURAS DE 3º GRAU

pressionado), edema leve, calor e dor.


 Evolui com descamação em 4-6 dias e regride  Atinge todas as camadas da pele e parte do

sem deixar cicatrizes. subcutâneo.


 Indolor (há destruição das terminações nervosas

92
LATES-UFRJ|2016

da pele). Pode haver apenas uma dor aguda corporal queimada (SCQ) é de importância
inicial e, além disso, pode ocorrer dor oriunda das fundamental, sendo este valor diretamente
queimaduras circundantes de menor grau. proporcional à gravidade da lesão, funcionando como
 Lesão esbranquiçada ou enegrecida, dura índice prognóstico. Vários são os diagramas e
(textura coreácea), seca e inelástica. fórmulas para sua determinação, mas uma regra
simples, a Regra dos Nove de Wallace, permite
avaliação rápida e segura nos pacientes, sendo que
este método deve ser ajustado para crianças
menores de 10 anos. Cada parte do corpo possui um
valor específico de SCQ, de acordo com o quadro
abaixo:
A partir dos valores da tabela, pode-se calcular de
maneira prática a extensão das queimaduras. Se, por
exemplo, determinada vítima queimou o membro
inferior e o membro superior direitos, sua SQC é de
27% (18% + 9%).

Quadro 8.2 EXTENSÃO DAS QUEIMADURAS


Fig. 8.3 Queimadura de terceiro grau. REGIÃO DO CORPO SCQ *

Cabeça e pescoço 9%
OBS: a queimadura que envolve tecidos mais
profundos, como os músculos, ossos e órgãos Cada membro superior 9% (x 2)

internos, é considerada por alguns autores como Cada quadrante do tronco 9% (x 4)


queimadura de 4º grau.
Cada coxa 9% (x 2)

Cada perna e pé 9% (x 2)

Genitais e períneo 1%

Fig. 8.4 Queimadura de quarto grau.

c) QUANTO À EXTENSÃO * valores válidos para o corpo de adultos

A determinação do percentual da superfície

93
LATES-UFRJ|2016

Quadro 8.3 QUEIMADURAS EM


CRIANÇAS
Para crianças entre 1 e 10 anos, alguns
valores são alterados, devido à proporção
diferenciada de seu corpo. A cabeça e o
pescoço correspondem a 18% da SCQ e os
membros inferiores equivalem 14% cada. Os
demais segmentos têm porcentagens iguais as
do adulto.

Fig. 8.6 Retração das mãos depois de


cicatrização.

OLHOS: pode causar cegueira;

ORIFÍCIOS NATURAIS: apresentam alta incidência


de infecção, sendo de difícil tratamento.

Quadro 8.4 SUPEITA DE QUEIMADURA DE

d) LOCALIZAÇÃO VIAS AÉREAS SUPERIORES


Queimadura de face

Sobrancelhas queimadas
Dependendo do local onde a queimadura Vibrissas (pêlos nasais) queimadas
ocorre, considera-se o risco estético e funcional da
Lábios edemaciados
vítima, podendo haver maior ou menor risco potencial
Rouquidão - sinal precoce
de aprofundamento das lesões, de formação de
Queimaduras orais ou periorais
lesões subsequentes e formação de cicatrizes.
Estridor (ruído agudo semelhante ao da foca)- sinal
Queimaduras nas seguintes áreas são
tardio e indica cerca de 85% de obstrução
consideradas de maior relevância e podem se tornar
Escarro carbonáceo (negro)
graves:
Queimaduras em espaço confinado

FACE: associada à queimadura de vias aéreas,


inalação de fumaça, intoxicação por monóxido de e) COMPLEXIDADE
carbono, desfiguração da vítima e edema de faringe;
Refere-se à gravidade das queimaduras,
MÃOS E PÉS: pode induzir incapacidade permanente considerando diversos aspectos já citados, tais como:
após o processo de cicatrização devido às retrações causa, profundidade, extensão (%SCQ), localização,
da área afetada; associação com outras lesões, comprometimento de
vias aéreas e estado prévio do acidentado.

94
LATES-UFRJ|2016

PEQUENO QUEIMADO  Queimadura de qualquer extensão que tenha


associada a esta lesão uma condição clínica que
No pequeno queimado, as repercussões das possa deteriorar seu estado geral.
lesões são locais. Considera-se como queimado de
pequena gravidade o paciente com: ATENÇÃO! Todo paciente deve ser reavaliado
quanto à extensão e profundidade 48 a 72h após o
 Queimaduras de 1º grau em qualquer extensão, acidente.
e/ou;
 Queimaduras de 2º grau com área corporal Quadro 8.5 IDADE DO PACIENTE QUEIMADO

atingida até 5% em crianças (menores de 12 A idade deve ser considerada na avaliação da


gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam
anos) e até 10% em adultos (maiores de 12
ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela
anos).
maior dificuldade de adaptação do organismo, e os
últimos pela desproporção da superfície corporal em
MÉDIO QUEIMADO relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações
 Queimaduras de 2º grau com área corporal são, portanto, mais comuns e mais graves.
atingida entre 5% a 15% em crianças e entre 10%
a 20% em adultos; QUEIMADURAS CIRCUNFERENCIAIS
 Queimaduras de 3º grau com até 10% da área
corporal atingida em adultos, quando não Todas as queimaduras circunferenciais
envolver face ou mão ou períneo ou pé, e menor merecem atenção redobrada do socorrista e devem
que 5% nas crianças; ser tratadas como emergência, pois podem causar
 Qualquer queimadura de 2º grau envolvendo mão complicações graves.
ou pé ou face ou pescoço ou axila.
NO PESCOÇO: risco de obstrução de vias aéreas;
GRANDE QUEIMADO
NO TÓRAX: pode restringir a ventilação pulmonar
As repercussões da lesão manifestam-se de (impede a expansão torácica);
maneira sistêmica. Considera-se como queimado de
grande gravidade o paciente com: NAS EXTREMIDADES: risco de obstrução à
 Queimaduras de 2º grau com área corporal circulação (efeito torniquete).
atingida maior do que 15% em crianças ou maior
de 20% em adultos; PRIMEIROS SOCORROS
 Queimaduras de 3º grau com mais de 10% da
área corporal atingida no adulto e maior que 5% A primeira atitude de quem presta socorro,
nas crianças; em toda queimadura, é retirar a vítima do contato com
 Queimaduras de períneo; o agente causador da lesão. Em seguida, cada tipo
 Queimaduras por corrente elétrica; de queimadura exige uma abordagem de conduta
 Queimaduras de mão ou pé ou face ou pescoço diferenciada. A seguir, serão listadas as principais
ou axila que tenha terceiro grau; medidas de ajuda nesse tipo de lesão.

95
LATES-UFRJ|2016

Fig. 8.7 Efeito torniquete.

Fig. 8.8 Resfriamento em água corrente.


3. Deve-se ter bastante cuidado para não estourar
QUEIMADURAS DE 1º GRAU
as bolhas da lesão, pois a exposição da pele abaixo
das bolhas pode se tornar importante fonte de
1. Resfriar a área afetada em água corrente, à
infecções;
temperatura ambiente, por pelo menos 10 minutos ou
até que a dor seja aliviada;
4. Como o edema costuma ser pronunciado, deve-
se remover joias e vestes da vítima para evitar o
2. Não se deve aplicar gelo, pois ele também pode
garroteamento da região lesada;
causar queimaduras, além de ser um agente
vasoconstritor, o que levaria à redução da irrigação
5. Não se deve retirar partes de roupas grudadas no
sanguínea para a área afetada;
corpo do queimado nem corpos estranhos que não
foram eliminados com a lavagem, pois isso poderia
3. Não aplicar pastas, pomadas, cremes, géis, pó de
agravar ainda mais as lesões.
café, etc, pois podem agravar a lesão por serem
fontes de contaminação. Remédios só devem ser
QUEIMADURAS DE 2º GRAU EXTENSAS (> 20%
aplicados sob orientação de um profissional.
SCQ) E QUEIMADURAS DE 3º GRAU

QUEIMADURAS DE 2º GRAU NÃO EXTENSAS


1. Nesse caso, como há repercussões sistêmicas da
(< 20% SCQ)
queimadura, deve-se seguir o suporte básico de vida;

1. São válidas as mesmas medidas aplicadas para a


2. Observar sinais e sintomas e prevenir o choque;
queimadura de 1º grau;

3. Remover roupas e jóias da vítima, exceto aquelas


2. A queimadura deve ser protegida com compressa
que estiverem grudadas no seu corpo;
de gaze ou pano limpo umedecido ou ainda papel
alumínio;
4. Cobrir as queimaduras com curativo não

96
LATES-UFRJ|2016

aderente, gaze ou pano limpo e umedecido; 6. Procurar atendimento médico especializado.

5. Emergência médica! Encaminhar para Centro Quadro 8.7 É RECOMENDÁVEL OFERECER ÁGUA
Especializado de Tratamento de Queimados. À VÍTIMA DE QUEIMADURA?
Se o acidentado estiver consciente e sentir sede,

Quadro 8.6 CUIDADOS AO RESFRIAR AS deve ser-lhe dada toda a água que desejar beber, porém

QUEIMADURAS lentamente. Sendo possível, deve-se adicionar à água sal


(uma colher das de café para meio litro de água). Para
Nunca se deve resfriar mais que 20% da SCQ de
acidentados inconscientes, nunca devemos dar água.
um adulto ou mais que 10% da SCQ de uma criança. O
resfriamento generalizado pode levar à hipotermia.
FOGO NO VESTUÁRIO

QUEIMADURAS QUÍMICAS
1. Quando a vítima está sob chamas, deve-se, antes

1. A lavagem da queimadura química deve ser feita de tudo, pedir para que ela pare de correr, pois o

com grande quantidade de água por vento pode aumentar a extensão desse fogo;

aproximadamente 20 minutos. Se o agente causal for


um pó seco, antes de lavar a pele, deve-se retirar o 2. Com a vítima parada, deve-se tentar abafar as

excesso com uma escova; chamas com cobertores ou lençóis ou até mesmo
jogar bastante água na vítima para cessar o fogo;

2. Deve-se ter cuidado com a pressão da água para


a lavagem. O jato deve ser abundante, porém não 3. Pode-se pedir também para que a vítima deite no

pode ser forte, pois a água sob alta pressão, além de chão e role até eliminar as chamas.

danificar mais a área afetada, pode facilitar a


penetração da substância no tecido. O jato ideal para
o procedimento é o do chuveiro;

3. Roupas e outros acessórios da vítima só devem


ser retirados durante a lavagem;

4. A irrigação com água é o melhor método, não se


devendo utilizar substâncias neutralizantes. Isto pode
ser danoso para vítima, já que a maioria das reações
de neutralização libera calor, aumentando os riscos Fig. 8.9 Manobra para apagar fogo no vestuário.
de lesão ou agravamento dela, além de favorecer a
contaminação; CENTRO DE TRATAMENTO DE QUEIMADOS
(CTQ)
5. A área lesionada deve ser coberta com curativo
não aderente, gaze ou pano limpo úmido, como São critérios para encaminhar uma vítima de
recomendado para as demais queimaduras; queimadura para o CTQ:

97
LATES-UFRJ|2016

 Queimaduras de 2º grau em áreas maiores que como o uso de bloqueadores solares, óculos escuros,
20% da SCQ em adultos e em áreas maiores que bonés/chapéus e guarda-sol, não se esquecendo de
10% em crianças ou maiores de 50 anos; manter-se hidratado através do consumo de líquidos.
 Queimaduras de 3º grau em qualquer extensão; Além disso, deve ser evitada a exposição nos
 Queimaduras na face, olhos, mãos, pés, genitália, horários de maior incidência de raios solares,
períneo e/ou articulações importantes; correspondentes ao período de 10 às 16h. Aliás, essa
 Queimaduras elétricas; medida também ajuda a prevenir a insolação,

 Queimaduras químicas; comumente associada às queimaduras solares.

 Suspeita de lesão por inalação ou lesão


QUEIMADURAS EM AMBIENTE DOMÉSTICO
circunferencial de tórax ou de membros;
 Doenças associadas (queimadura em pacientes
Como dito anteriormente, o ambiente
com problemas médicos preexistentes);
doméstico é onde ocorre a maioria das queimaduras
 Qualquer paciente com queimaduras e trauma
em adolescentes e crianças, sendo estas as de maior
concomitante (tais como fraturas, etc.) no qual a
risco devido à sua pele fina, demora de reação, pouca
queimadura apresenta o maior risco de
agilidade e grande curiosidade. Com isso, algumas
morbidade ou mortalidade;
medidas devem ser adotadas:
 Crianças queimadas sendo tratadas em hospital
sem pessoal qualificado ou equipamentos para o  Restringir o acesso da criança à cozinha;
cuidado do caso;  Colocar cabos de panelas sempre voltados para
dentro do fogão e use preferencialmente as bocas
Nesses casos, sempre dar relevância à de trás do fogão;
história do paciente para a passagem de caso ao  Armazenar produtos químicos, inflamáveis e
serviço especializado, pois lesões secundárias podem fósforos em locais inacessíveis para os
estar associadas, como politraumatismo, lesões pequenos;
internas, TCE, contusões miocárdicas e pulmonares.  Evite ligar vários aparelhos eletrônicos em uma
É essencial estabelecer a hora em que ocorreu a mesma tomada;
queimadura para as avaliações posteriores.  Prefira o álcool em gel, que tem menor poder de
combustão (explosão) que o álcool líquido;
PREVENÇÃO  Evitar velas próximas às camas;
 Observar a temperatura do banho quente.
A prevenção é a melhor forma de minimizar
todos os prejuízos e incapacidades gerados por
QUEIMADURAS POR BALÕES, FOGOS DE
queimaduras acidentais. A seguir, serão listadas
ARTIFÍCIO, FOGUEIRAS
dicas importantes para evitar a ocorrência desse tipo
de emergência traumática.
Soltar balões é um ato proibido por lei devido
ao risco potencial de causar incêndios. Essa prática
QUEIMADURAS SOLARES
deve ser, sempre que possível, denunciada, sendo
comunicada às autoridades competentes. Manusear
Podem ser prevenidas por atitudes simples

98
LATES-UFRJ|2016

fogos de artifícios e fogueiras, muito presentes na Universidade Federal de São Paulo. Rev. Bras.
época de festas juninas, também requer bastante Queimaduras [online]. 2010, v. 9, n. 3, pp. 82-88.
cuidado para não seja causado um acidente grave.
PORTUGAL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional
QUEIMADURAS EM AMBIENTE DE TRABALHO de Emergência Médica. Manual V.M.E.R. [S. l.],
1999. 343 p.
Em grandes fábricas e indústrias, não é raro
ocorrerem casos de queimaduras por substâncias TAKEJIMA, M. L. et al. Prevenção de queimaduras:
químicas ou por líquidos incandescentes, ou até pelo avaliação do conhecimento sobre prevenção de
próprio ambiente fechado contendo vapor queimaduras em usuários das unidades de saúde
excessivamente quente. Para evitar essas situações, de Curitiba. Rev. Bras. Queimaduras [online]. 2011,
é necessário adotar medidas de segurança ao v. 10, n. 3, pp. 85-88.
trabalhador, bem como fornecer não só roupas e
equipamentos de proteção, mas também informá-lo <http://portal.cfm.org.br/images/stories/pdf/queimados
sobre os riscos da tarefa executada. .pdf>. Acesso em: 28 fev. 2012.

Revista Brasileira de queimaduras


http://rbqueimaduras.com.br/detalhe_artigo.asp?id=12
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES. ATLS:


Suporte Avançado de Vida no Trauma para Médicos.
7. ed. [S. l.]: Ver Curiosidades, 2004. 459 p.

DO VALE, E. C. S. Primeiro atendimento em


queimaduras: a abordagem do dermatologista. An.
Bras. Dermatol. [online]. 2005, v. 80, n. 1, pp. 9-19.
ISSN 0365-0596.

GOMES, D. R.; SERRA, M. C.; MACIEIRA, L.


Condutas Atuais em Queimaduras. 1. ed. Rio de
Janeiro: Revinter, 2001. 158 p.

GRAGNANI, A.; FERREIRA, L. M. Pesquisa em


Queimaduras. Rev. Bras. Queimaduras [online].
2009, v. 8, n. 3, pp. 91-96.

LACERDA, L. A. et al. Estudo epidemiológico da


Unidade de Tratamento de Queimaduras da

99
LATES-UFRJ|2016

Introdução A voltagem e a duração do contato são os principais


fatores que determinam a extensão e profundidade

Com advento da eletricidade na era moderna surgiu das lesões.

um novo agente etiológico de queimadura, com


inúmeras particularidades epidemiológicas, FATORES QUE INFLUENCIAM NO TRAUMA

fisiopatológicas e de tratamento: a queimadura ELÉTRICO

elétrica que, como normalmente vem associada a


outros traumas, deve ser devidamente denominada RESISTÊNCIA

de trauma elétrico. Os vários tecidos do corpo possuem resistências

Queimaduras causadas por eletricidade representam específicas ao fluxo da corrente sendo em ordem

uma pequena porção das admissões em unidades de decrescente, osso, gordura, tendão, pele, músculo,

queimados, porém revelam um dos mais agressivos vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior

tipos de injúria térmica. Apresenta distribuição resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura

bimodal, com um pico em crianças menores de seis torna-o mais resistente à lesão térmica, ao passo que

anos em ambiente doméstico e outro em adultos vasos e nervos possuem menos resistência, mas são

jovens em ambiente de trabalho. mais susceptíveis à lesão térmica.

Acidentes elétricos em crianças se


devem principalmente ao contato manual ou oral com VOLTAGEM

componentes da instalação elétrica residencial. Em As correntes elétricas são arbitrariamente divididas

geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos em baixa voltagem, de 500-1.000 volts, e alta

ou faces comprometidas. São queimaduras raras, voltagem, superior a 1.000 volts. Os acidentes

porém sua gravidade reside na ocorrência de lesões domésticos comumente se enquadram no primeiro

desfigurantes. tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.

O trauma elétrico acontece quando o corpo se torna A corrente de alta tensão tende a percorrer um

condutor de corrente elétrica. As lesões produzidas caminho mais curto entre o ponto de entrada e a terra

resultam da conversão de energia elétrica em energia e frequentemente a vítima é atirada longe e as

térmica. Com isso, a extensão da lesão tecidual e o alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia) são

calor gerado pelas correntes elétricas se dão em mais raras, sendo mais comum a depressão do

função da resistência de cada tecido e sua centro respiratório com parada respiratória. As lesões

sensibilidade à destruição térmica. por baixas tensões produzem queimaduras menos

100
LATES-UFRJ|2016

extensas, mas podem causar a morte por fibrilação  Parada Cardíaca


ventricular.  Danos ao sistema nervoso central
 Danos renais
TIPO DE CIRCUITO
Se compararmos entre corrente alternada e contínua,
a primeira é muito mais perigosa, pois produz
contraturas musculares que mantém a vítima presa
ao condutor, aumentando seu tempo de contato, e
pode levar a fraturas e parada cardiorrespiratória. A
corrente contínua, por sua vez, causa uma contratura
muscular que afasta a vítima do condutor
interrompendo rapidamente o circuito, mas pode
causar traumatismos.

TRAJETO
Por ser imprevisível, é um dos fatores que
diferenciam esse trauma dos outros tipos de traumas
térmicos. Qualquer órgão pode ser acometido, porém
o dano causado é maior quando atinge órgãos vitais
como cérebro e coração. Fig. 9.1 Diferentes percursos da corrente elétrica.

TEMPO
IDENTIFICAÇÃO
Evidentemente, quanto maior for o tempo de contato,
maior a extensão dos danos causados.
SINAIS E SINTOMAS

EFEITOS DA PASSAGEM DA CORRENTE


As feridas de entrada e saída são
ELÉTRICA
características e geralmente significam destruição
local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica
Lesões por eletricidade são descritas como feridas
é irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos
tipo “iceberg” porque, muitas vezes, a aparência da
secos, deprimidos e dá a aparência que a corrente
queimadura na pele não indica a quantidade de
elétrica explodiu quando fez sua saída. Geralmente a
danos em tecidos subjacentes. Geralmente, a lesão
lesão aparece como uma área isquêmica, de um
cutânea é menor do que a destruição profunda das
amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se
estruturas adjacentes.
chamuscado. Ela é seca e indolor, com bordos
A passagem da corrente elétrica pode causar:
geralmente bem definidos, sendo a necrose o aspecto
dominante da lesão.
 Contração muscular
Além disso, os seguintes efeitos gerais
 Tetanização muscular
podem aparecer:
 Queimaduras elétricas
 Parada Respiratória

101
LATES-UFRJ|2016

 Mal estar geral; PRIMEIROS SOCORROS


 Sensação de angústia;
 Náuseas; SEGURANÇA DO ACIDENTADO E DO

 Cãibras musculares de extremidades; SOCORRISTA

 Parestesias (dormências, formigamentos);


 Ardência ou insensibilidade da pele; Antes de socorrer a vítima, é necessário ter em mente

 Escotomas cintilantes (visão de pontos que:

luminosos);
 Cefaléia;  Cada segundo de exposição da vítima à
corrente elétrica diminui a sua chance de
 Vertigem;
sobrevivência;
 Arritmias cardíacas;
 O choque elétrico pode também oferecer
 Dispneia.
perigo à pessoa que está prestando socorro.

ARCO VOLTAICO
Assim, a primeira atitude a ser tomada é isolar o
acidentado da fonte da corrente elétrica. Isso pode
Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre
ser feito de duas maneiras principais:
os corpos, nele o circuito se completa mesmo sem
que a vítima tenha tocado no condutor. A vítima
 Cortar a corrente elétrica, desligando a chave
torna-se parte do circuito. A corrente elétrica, nesse
geral de força, retirando os fusíveis da instalação
caso, move-se externamente ao corpo, a partir do
ou puxando o fio da tomada (desde que esteja
ponto de contato para o solo.
encapado) ou;
Essas queimaduras estão associadas à corrente de
alta tensão e a profundidade depende de quão  Tentar afastar a vítima da fonte de energia

próxima está da pele. As mesmas são graves já que o utilizando luvas de borracha grossa ou materiais

arco elétrico tem uma temperatura de 2.500ºC. isolantes, e que estejam secos (cabo de
vassoura, tapete de borracha, jornal dobrado,

LESÃO POR RAIO pano grosso dobrado, corda, etc.), afastando a


vítima do fio ou aparelho elétrico.

A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por Quadro 9.2 MATERIAIS CONDUTORES x
raio são extremamente variáveis. Geralmente a vítima MATERIAIS ISOLANTES
está desacordada. Ela pode conservar a respiração Materiais Condutores: material que deixa a
espontânea ou tornar-se inconsciente, sem pulso e corrente elétrica passar facilmente - cobre,
com parada respiratória. Não deve necessariamente alumínio, água, etc.
ser tida como morta, devendo iniciar manobras de
reanimação oferecendo assistência respiratória e Materiais Isolantes: material que não permite que
cardíaca. Pacientes submetidos a grave lesão por a eletricidade passe através dele - vidro, plástico,
raio parecem suportar períodos prolongados de borracha, madeira, etc.
apneia, talvez por cessação do metabolismo, de
modo que o processo degenerativo é retardado.

102
LATES-UFRJ|2016

Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode


Quadro 9.3 ALTA VOLTAGEM
lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais
Nunca se deve manipular alta voltagem com
como os do sistema nervoso.
pedaços de pau ou mesmo luvas de borracha. Nesse
caso, não se está protegido mesmo se o material for
PREVENÇÃO
isolante, pois qualquer substância pode se
transformar em condutor!
CUIDADOS GERAIS NO MANEJO DE
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

 Utilização de fusíveis e disjuntores, aterramentos,


O socorrista não pode tocar na vítima antes que
materiais isolantes e Equipamento de Proteção
tenha executado as ações citadas acima. Em
Individual (EPI).
seguida, deve-se verificar o estado geral da vítima.
 Plugar e usar os dispositivos elétricos de
segurança disponíveis como, por exemplo, a
SOCORRENDO A VÍTIMA
tomada de 3 pinos;
 Checar, com frequência o estado de todos os fios
O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem
e dispositivos elétricos; conserte-os ou substitua-
pode produzir mortes imediatas por parada cardíaca
os, se necessário;
ou cardiorrespiratória, por isto as manobras de
 Instalar a antena de TV longe da rede elétrica. Ela
reanimação mediante massagem cardíaca e
pode tocar nos fios e provocar choque;
ventilação são necessárias para evitar a morte
 Certificar-se de que a corrente está desligada,
imediata da vítima. Priorizando-se, portanto, o suporte
antes de operar uma ferramenta elétrica;
básico de vida; após ter chamado ajuda ligando para
 Se um circuito elétrico em carga tiver de ser
193 ou 192.
reparado, chamar um eletricista qualificado para
Após estabilização cardiorrespiratória do acidentado,
fazê-lo;
as queimaduras elétricas podem ser cobertas com
gaze ou com um pano bem limpo, ambos úmidos,  Usar ferramentas "isoladas", que fornecem uma

seguindo o mesmo tratamento para as queimaduras barreira adicional entre você e a corrente elétrica;

de 3º grau.  Não sobrecarregar uma única tomada com vários

Se a pessoa estiver consciente, pode ser aparelhos elétricos, usando, por exemplo, um

deitada em decúbito dorsal, com as pernas elevadas, Benjamin;

mas se estiver inconsciente, é melhor deixá-la em  Os quadros de distribuição devem ter disjuntores.

posição lateral de segurança (de recuperação). Se os dispositivos de proteção ainda forem do tipo

Se for necessário, deve-se cobrir a vítima chave-faca, com fusíveis cartucho ou rolha,

com um cobertor e também ajudá-la a manter a substitua-os por disjuntores;

calma. É essencial procurar assistência médica  Colocar protetores nas tomadas ao alcance de

imediata. crianças para evitar acidentes.

A recuperação das vítimas de energia elétrica


será tanto mais problemática quanto mais
tardiamente for instituída a terapêutica apropriada.

103
LATES-UFRJ|2016

TROCANDO A LÂMPADA profissional especializado e portando


equipamento de segurança pode fazê-lo;
 Antes de trocar uma lâmpada, desligar o  Cuidado com fios caídos ao andar na rua.
interruptor; Deve-se desviar deles e comunicar a
 Não tocar na parte metálica do bocal, nem na companhia de eletricidade da região;
rosca;  Soltar balões pode provocar muitos acidentes,
 Segurar a lâmpada pelo vidro (bulbo). Não principalmente se eles caírem dentro de
exagerar na força ao rosqueá-la, pois há risco subestações, sobre redes elétricas ou
de provocar acidentes; residências;
 Lembrar-se de executar a troca de forma  Não soltar fogos de artifício perto das redes
segura (usando escadas). elétricas, pois pode haver rompimento de
cabos com acidentes fatais;
CHUVEIRO ELÉTRICO  Não soltar pipas ou papagaios próximo à rede
elétrica.
 Não mudar a chave liga/desliga e
verão/inverno com o chuveiro ligado. Dá PERIGO DAS PIPAS PRÓXIMO A FIOS DE ALTA
choque e pode ser fatal; TENSÃO
 Instalar o fio terra corretamente, de acordo
com a orientação do fabricante; Uma brincadeira típica das crianças brasileiras tem se
 A fiação deve ser adequada, bem instalada e tornado um grande perigo, principalmente no que se
com boas conexões. Fios derretidos, refere aos choques elétricos. O hábito de soltar pipas
pequenos choques e cheiro de queimado próximo a fios de alta tensão pode ocasionar
indicam problemas que precisam ser acidentes gravíssimos. É comum as crianças
corrigidos imediatamente; tentarem pegar as pipas que ficam enroscadas na

 Nunca diminuir o tamanho de resistências rede elétrica. Basta um curto-circuito para que ela

nem reaproveite resistências queimadas. seja atingida pela corrente elétrica.

CUIDADO COM A UMIDADE COMO SOLTAR PIPA DE MANEIRA SEGURA?

Não mexer com eletrodomésticos em locais com água  Soltar pipa somente em espaços abertos e longe
ou umidade, nem com as mãos ou os pés molhados. da rede elétrica (campos de futebol, praias);
A água torna o choque muito mais perigoso;  Evitar a brincadeira perto de aeroportos, estradas
Atenção ao executar consertos em instalações ou nas lajes de casas. Qualquer distração pode
elétricas quando o chão estiver úmido ou molhado. resultar em choques, caso a pipa prenda na rede
Com água, o risco de choque é muito maior. elétrica, e quedas, de quem está fazendo parte da
brincadeira;
CUIDADOS EM AMBIENTE EXTERNO  Se a pipa ficar presa, a pessoa não deve subir em
telhados, postes ou torres, nem usar canos ou
 Nunca se deve subir em postes. Apenas o bambus para tentar recuperá-la;

104
LATES-UFRJ|2016

 Em caso de tempestade, o ideal é deixar a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


brincadeira para outro dia, por causa dos raios (a
pipa funciona como pára-raios); COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES. ATLS:
 É importante soltar pipa sem rabiola, como as do Suporte Avançado de Vida no Trauma para Médicos.
tipo arraia, para que ela não fique presa em algum 7. ed. [S. l.]: Ver Curiosidades, 2004. 459 p.
lugar; DE MIRANDA. R. E. et al. Trauma elétrico: análise
 Não usar papel laminado na pipa. Se ela tocar nos de 5 anos. Rev. Bras. Queimaduras [online]. 2009, v.
fios vai provocar um curto-circuito que poderá 8, n. 2, pp. 65-9.
atingi-lo e deixar um bairro inteiro sem luz; GOMES, D. R.; SERRA, M. C.; MACIEIRA, L.

 Não usar linhas metálicas no lugar da linha Condutas Atuais em Queimaduras. 1. ed. Rio de

comum, pois elas podem causar choques Janeiro: Revinter, 2001. 158 p.

elétricos, além de também ameaçar ciclistas e


motociclistas; PORTUGAL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional

 Ficar atento para que a linha da pipa não de Emergência Médica. Manual V.M.E.R. 2. ed. [S.

atravesse no caminho de ciclistas e motociclistas. l.], 1999. 343 p.

Muitos acidentes acontecem porque as linhas não <http://www.rogerioultra.com.br/rogerioultra.com.br/ler

podem ser vistas; .php?map=15>. Acesso em: 04 mar. 2012.

 Nunca usar cerol, pois ele proibido e perigoso e


pode causar sérios acidentes. <http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/2
806/lesoes-eletricas>. Acesso em: 04 mar. 2012.

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/choques-
eletricos/choques-eletricos-1.php>. Acesso em: 04
mar. 2012.

105
LATES-UFRJ|2016

REGULAÇÃO DA TEMPERATURA eferências que alteram a taxa metabólica basal, a


atividade da glândula sudorípara, a atividade
CORPORAL
muscular, a frequência respiratória, o grau catabólico,
o comportamento, o calibre vascular, entre outros.
Os seres humanos são endotérmicos e são
A pele é um fator indispensável de interface
capazes, portanto, de produzir calor, por meio da
do meio interno com o meio externo. Sua espessura e
contração muscular e taxa de metabolismo basal, e
todas as suas camadas são fundamentais para que
de regular sua temperatura entre certos limites (por
essa transferência de energia ocorra e também como
volta de 37°C), propiciando uma ótima temperatura à
mecanismo de resistência a esse processo (por
atividade enzimática.
exemplo, a camada de tecido adiposo).
Além disso, o ser humano é homeotérmico,
isto é, possui a capacidade de manter a temperatura
corporal dentro de certo intervalo pré-determinado
apesar das variações térmicas do meio ambiente
(homeostasia térmica). A temperatura de equilíbrio é
de 37ºC (98.6ºF1), com uma variação circadiana
entre 35,8ºC e 37.3ºC. A temperatura corporal é
menor pela manhã, aumenta ao longo do dia e é
máxima pelo início da noite. A tolerância ao calor
depende em grande parte do nível de umidade do
ambiente; Na presença de umidade intermediária, a
temperatura corporal central máxima tolerada é de
aproximadamente 40ºC, enquanto a temperatura
mínima ronda os 35,3ºC; a tolerância é menor em Fig.10.1 Vascularização da pele.
ambientes mais úmidos.
O equilíbrio da temperatura corporal é obtido A perda de calor pelo corpo ocorre por meio

mediante o balanço entre a perda e a produção ou de quatro mecanismos: condução, convecção,


aquisição de calor, no qual o hipotálamo funciona radiação e evaporação (sendo este o principal

como o termostato responsável por ajustando o corpo mecanismo para temperaturas ambientais >36°C).

para que perca calor em ambientes quentes, e Por outro lado, o corpo conserva calor por
produza calor em ambientes frios. Ele possui meio dos seguintes mecanismos: o sangue flui

106
LATES-UFRJ|2016

rapidamente para superfície da pele, acompanhado desidratação do que os adultos devido ao peso
por vasoconstricção; os pêlos ficam eriçados, inferior do corpo e maior circulação de água e
mantendo o ar quente perto da pele; diminuição da eletrólitos. Os idosos e os que se encontram doentes
sudorese. também possuem maior propensão, por alteração dos
mecanismos reguladores.
DESIDRATAÇÃO A desidratação é classificada como leve,
moderada ou grave dependendo da quantidade de

Como a água é o maior componente do corpo fluido que o corpo perdeu ou que não foi reposto.

humano, representando cerca de 45 a 70% do peso Quando grave, a desidratação é uma condição que

corporal, as variações no equilíbrio hídrico corporal pode colocar a vida em risco; também leva a um pior

normal, como perda excessiva de água, alteram a prognóstico em casos de intermação (ver adiante).

homeostasia, produzindo, assim, sinais e sintomas A desidratação é um achado comum em

característicos. O nosso corpo perde água doenças relacionadas ao calor. Durante a exposição

diariamente através do suor, das lágrimas, da urina e ao calor, a água é perdida primeiramente como suor.

das fezes, a qual é reposta por meio do consumo de Portanto, as bases para evitar o início da doença

líquidos e de alimentos que contenham água. relacionada ao calor são manter um equilíbrio hídrico

A desidratação, portanto, significa que o seu corporal e minimizar a desidratação durante as

corpo não possui a quantidade de água e fluidos que atividades diárias, sobretudo em atividades físicas

deveria, podendo ser causada por perdas como a cuja exposição ao calor seja de moderada a alta.

ingestão insuficiente de água, vômito e diarreia, Quando em níveis de desidratação aguda de

atividade física com exposição ao calor e sudorese leves a moderados (2% a 6% do peso corporal) os

profusa, exaustão por calor, febre, dentre outros. indivíduos apresentam fadiga, diminuição da

As crianças são mais suscetíveis à tolerância ao calor, deterioração cognitiva e redução

Fig.10.2 Mecanismos de perda de calor.

107
LATES-UFRJ|2016

na força e na capacidade física aeróbica. Nesse caso,  Fadiga;


deve ser administrada uma solução hipertônica rica  Fraqueza;
em eletrólitos e glicose para restaurar e manter o  Sensação de leveza na cabeça;
volume intravascular. Pode ser utilizado um soro de  Tontura;
reidratação oral ou soro caseiro (meia colher de chá  Confusão;
de sal e seis colheres de chá de açúcar misturadas  Boca e membranas mucosas secas;
em um litro de água).  Aumento das frequências cardíaca e respiratória.
Como os indivíduos normalmente não sentem Em lactentes e crianças também podemos
sede até terem perdido cerca de 2% do peso corporal observar os seguintes sintomas adicionais:
devido à sudorese, este é um pobre indicador da
 Boca e língua secas;
necessidade hídrica corporal durante o repouso ou
 Falta de lágrimas ao chorar;
atividade física. Portanto, sem um guia para ajuda-los
 Fraldas secas por mais de 3 horas;
quanto à quantidade de líquido pra consumir por hora
 Abdome, olhos e bochechas encovados;
quando expostos a calor de moderado a alto, as
 Febre alta;
pessoas continuarão a consumir menos que o
 Falta de atenção;
necessário permanecendo desidratadas em 1% a 2%
 Irritabilidade;
do peso corporal. Esse quadro é conhecido como
 Pele que não volta ao normal quando pinçada e
desidratação “voluntária” e consiste no consumo de
liberada.
líquidos insuficiente para restaurar o equilíbrio hídrico.
A reposição de líquidos por via oral é tão
eificiente quanto a intravenosa, desde que seja
suplementada com eletrólitos (principalmente sódio) e
carboidratos. O volume de líquido ingerido deve
exceder o volume de sudorese e outras perdas.
A velocidade com que os líquidos podem ser
repostos por via oral está limitada pela velocidade de
esvaziamento gástrico (1 a 1,2 L/h) e pela sua
velocidade de absorção no intestino delgado.
Portanto, a melhor alternativa para evitar a
desidratação durante a exposição ao calor é iniciar o
consumo de líquidos antes e mantê-la frequente
durante e após a exposição ao calor, uma vez que
após ocorrer à desidratação torna-se um grande
desafio reidratar o indivíduo por via oral.
Os sinais e sintomas mais comuns de
desidratação são:
 Diurese menos frequente;
 Sede;
 Pele seca e pálida; Fig. 10.3 e 10.4 Sinais de desidratação.

108
LATES-UFRJ|2016

A desidratação também ocorre muito ao calor com maior emergência e com risco de vida, a
facilmente no frio, especialmente com o aumento da intermação é definida como uma forma anormal de
atividade física, basicamente devido à evaporação do hipertermia que resulta em insuficiência total do
suor, perda de calor e líquidos por causa da baixa sistema termorregulador.
umidade do ar frio, e à diurese induzida pelo frio. A Causada pelo sobrecarga excessiva de calor
diurese é normalmente aumentada na exposição ao (altas temperaturas, alta umidade, pouca circulação
frio como resultado da vasoconstrição cutânea que de ar) e pela má resfriação do corpo - por
leva ao aumento do volume circulatório efetivo, com incapacidade de suar adequadamente (ex:
consequente aumento da pressão arterial, e aumento escledodermia), aumento da taxa metabólica (por
da filtração glomerular nos rins. Nessas situações a doenças ou uso de drogas), lesões no SNC
diurese pode reduzir o volume plasmático em 7-15%, (hipotálamo), dentre outros - essa se instala
de modo que socorristas que trabalham nessas rapidamente sem dar sinais de alerta como cefaleia
condições devem estar preocupados em manter-se ou tontura, a pessoa fica com a temperatura central
hidratados. muito elevada (>40,3°C), com a respiração fraca,
pulso rápido e disfunção do sistema nervoso central,
LESÕES RELACIONADAS AO CALOR que resulta em alterações no estado mental (delírio,
confusão, coma).

Podemos enquadrar essas lesões em três Após um episódio de intermação a

categorias principais: intermação, exaustão por calor temperatura corporal da pessoa pode sofrer

e cãibras por calor. Elas são mais comuns em alterações durante semanas. O paciente deve ser

ambientes com temperatura e umidade altas e pouco levado ao hospital com urgência e o tratamento para

ou nenhum vento. a intermação deve ser realizado imediatamente,


através do resfriamento do corpo da pessoa e uma

Os indivíduos mais susceptíveis são: boa hidratação.

 Atletas; Na intermação o grau das complicações não

 Pessoas que trabalham perto de fornos e fogões; está inteiramente relacionado à magnitude da
elevação da temperatura, mas principalmente à
 Pessoas fisicamente debilitadas;
duração dessa temperatura elevada. Mesmo com
 Alcoólatras;
uma intervenção pré-hospitalar agressiva e com o
 Obesos;
tratamento no hospital, a intermação pode ser fatal e
 Pessoas com doenças crônicas;
muitos pacientes que sobrevivem apresentam
 Doentes cardíacos;
incapacidade neurológica permanente.
 Usuários de certas drogas (ex: diuréticos);
A intermação tem duas apresentações
 Vítimas de queimaduras;
clínicas diferentes: a intermação clássica, na qual as
 Extremos da idade.
pessoas perdem a habilidade de suar (infecções,
desidratação em crianças e idosos ou pessoas com
1. INTERMAÇÃO
doenças crônicas durante uma onda de calor) e a do
esforço, na qual as vítimas envolvidas em esforço
Considerada a forma de doença relacionada
físico e tensão muscular excedem a perda de

109
LATES-UFRJ|2016

temperatura pelo suor.


PRIMEIROS SOCORROS

SINAIS E SINTOMAS 1. Fazer a vítima interromper suas atividades e


repousar em um local fresco.
 Pele avermelhada e extremamente quente; 2. Ligar para o SME (192 ou 193).
 Pele seca (pode ser úmida a princípio); 3. Caso a vítima não esteja respondendo, abrir vias
 Confusão mental, alucinações e irritabilidade; aéreas, verificar a respiração e fornecer o

 Convulsões ou colapso repentino (principalmente atendimento apropriado.


durante resfriamento); 4. Remover as roupas da vítima e resfriá-la

 Tontura e fraqueza; rapidamente: aplicar toalhas molhadas frias sobre

 Pressão sanguínea pode estar elevada ou a pele da vítima, usando um ventilador para

diminuída; diminuir a temperatura e colocar compressas de

 Pulso geralmente taquicárdico e filiforme; água gelada nas regiões do pescoço, da virilha,
da axila e atrás dos joelhos. Estudos indicam que
 Pupilas inicialmente contraídas (posteriomente
imergir a vítima em uma banheira com água fria
dilatadas);
também é eficaz (evitar resfriamento excessivo).
 Respiração superficial e fraca;
5. Monitorar a temperatura da vítima até a chegada
 Náusea e vômitos.
da equipe de resgate. Caso a temperatura volte a
subir, reiniciar os procedimentos para
As principais complicações da intermação
resfriamento. A temperatura deve ser mantida
são: edema cerebral, insuficiência cardíaca,
inferior a 37,7° C até que o perigo acabe.
insuficiência renal e morte.

Fig. 10.5 Sinais e sintomas da intermação.

110
LATES-UFRJ|2016

A insolação e a intermação apresentam sinais Os sintomas mais frequentes nas vítimas


e sintomas semelhantes, porém a insolação, causados pela exaustão pelas elevadas temperaturas
caracterizada pela falência dos mecanismos são dolorosas contrações do tecido muscular (cãibra
reguladores da temperatura do organismo, é causada ou breca) em decorrência da perda de eletrólitos,
pela exposição direta e prolongada a raios solares, e cefaleias (dores nas cabeça), tonturas e ânsia de
parte dos sintomas, como a cefaléia e confusão vômito; aceleração na respiração. Ocorre taquicardia
mental, tem instalação mais lenta. A intermação é e hipotensão, associado a débito cardíaco insuficiente
causada pela exposição a diversas fontes de calor e para sustentar o aumento da carga circulatória,
tem instalação mais aguda, é mais grave e pode levar causado pelas demandas da competição da
à morte. dissipação termorreguladora do calor e aumento do
fluxo sanguíneo cutâneo; a vítima fica pálida, fria,
cansada e enfraquecida. Pode levar ao colapso
(perder todas as forças) se não for imediatamente
assistida.
Tais sinais e sintomas são decorrentes da
tentativa do restabelecimento da homeostasia, onde
há também redução do volume plasmático, redução
do retorno venoso pela vasodilatação e depleção de
sal e água induzida pelo suor.

Fig. 10.6 Primeiros socorros para intermação.

2. EXAUSTÃO POR CALOR

Distúrbio relacionado ao calor mais comum


visto pelos socorristas, a exaustão pelo calor pode se
desenvolver ao longo de dias de exposição, como em
pessoas idosas que vivem em locais pouco
ventilados, ou agudamente, como nos atletas.
Permanecer muito tempo em situações de calor
excessivo como ao sol de verão ou noutras situações
como trabalhar em locais com elevadas temperaturas
(como os forneiros, etc.) pode levar a uma vítima de
exaustão pelo calor e precisar de cuidados de
Fig. 10.7 Exaustão por calor.
imediato. A permanência ao calor intenso leva à
perda profusa de água provocada pela transpiração e
Geralmente é difícil distinguir a exaustão
perda de sais minerais.

111
LATES-UFRJ|2016

grave pelo calor da intermação, porém, uma forma de


diferenciá-las é avaliar o nível de comprometimento
neurológico e pela temperatura da pele, que na
exaustão pelo calor se apresenta normal. Caso a
exaustão por calor não seja tratada, pode evoluir para
intermação, que apresenta incapacidade neurológica
e risco de vida. Portanto, a exaustão por calor é um
diagnóstico de exclusão quando não existe evidência
de intermação.

SINAIS E SINTOMAS

Fig. 10.8 A vítima com exaustão por calor deve se deitar


 Sudorese intensa;
de costas com os pés elevados.
 Pele úmida, pegajosa e pálida;
 Sede excessiva;
 Taquicardia, hipotensão e respiração superficial;
 Fraqueza, falta de coordenação muscular e
tontura;
 Cãimbras e calafrios;
 Dor de cabeça;
 Náusea e vômito.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar


em um local fresco e ventilado.

2. Remover o excesso de roupas ou roupas


apertadas.

3. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar Fig. 10.9 Se a vítima com exaustão por calor estiver
náuseas, oferecer água ou bebida isotônica
totalmente consciente, dê-lhe água fria.
comercializada, em pequenas quantidades e
repetidas vezes.

4. Fazer a vítima se deitar e erguer as pernas a uma


altura de 15 a 30 cm.

5. Resfriar a vítima aplicando toalhas frias e úmidas


sobre a cabeça e o corpo da vítima.

6. Caso a condição não melhore em 30 minutos,


procurar atendimento médico.

112
LATES-UFRJ|2016

3. CÃIBRA POR CALOR uma grande sudação.


Este tipo de cãibras costuma começar
inesperadamente, são dolorosas e impedem os
movimentos. Os músculos endurecem, ficam tensos e
torna-se difícil descontraí-los. Em casos excepcionais
a pessoa afetada deve receber líquidos e sais por via
endovenosa.

PRIMEIROS SOCORROS

1. Fazer a vítima interromper a atividade e repousar


em um local fresco.
2. Massagear suavemente e esticar o músculo
afetado; aplicação de bolsas de gelo também
podem aliviar os sintomas.
3. Remover o excesso de roupas ou roupas
apertadas.
4. Se a vítima estiver respondendo e não apresentar
náuseas, oferecer água ou uma bebida isotônica
Fig. 10.10 Cãibra por calor. comercializada.

Cãibras são espasmos musculares fortes


PREVENÇÃO
provocados por uma perda excessiva de líquidos e de
sais (eletrólitos) como o sódio, o potássio e o  Sempre se manter hidratado, o que não significa
magnésio, devida a uma sudação intensa, tal como ingerir grandes quantidades de água de uma vez
acontece durante a prática de uma atividade física só. Tente fazer uma pré-hidratação, uma durante
extenuante, em condições de calor extremo. Essas o exercício, ingerindo de 10 a 15 minutos de 100
contrações musculares dolorosas e de curta duração a 200mL, e após a atividade. Isto evita a
são vistas frequentemente nos músculos da desidratação e a elevação extrema da
panturrilha, mas também ocorrem nos músculos temperatura corporal.
voluntários do abdome e das extremidades. A pele
 Aliada à hidratação também deve ser realizada
fica úmida e fria. Nestes casos, a temperatura do
uma reposição eletrolítica antes, durante e ao
corpo estará normal ou ligeiramente baixa. Há
final da atividade.
hemoconcentração e baixo nível de sódio no
 Fazendo alongamentos antes da atividade física,
organismo.
estamos "avisando" aos músculos que serão
As cãibras provocadas pelo calor são muito
utilizados futuramente, assim como também se o
comuns entre os trabalhadores manuais e pessoas
fizermos depois estamos nos prevenido contra
com excesso de proteção, como o vestuário que
dores musculares que possam vir a aparecer no
alpinistas ou os esquiadores usam, podendo ocultar
período pós-exercício.

113
LATES-UFRJ|2016

 Comprimidos de sal podem ajudar a evitar Como fatores pré-disponentes para


cãibras, mas normalmente provocam queixas hipotermia, temos: uso de roupas inadequadas e/ou
estomacais e a ingesta excessiva pode provocar molhadas; desnutrição; extremos de idade; uso de
uma retenção de líquidos (edema). álcool e drogas (narcóticos, anestésicos,
hipoglicemiantes, etc); imobilidade; alteração do
estado de consciência; lesões no SNC;
LESÕES RELACIONADAS AO FRIO
hipotireoidismo; dentre outros.

Os indivíduos mais afetados por esse tipo de


lesão são moradores de rua, andarilhos, recém- SINAIS E SINTOMAS

nascidos, idosos, crianças, pessoas imersas em


águas frias, alpinistas, pessoas alcoolizadas expostas  Tremores;

a temperaturas baixas e indígenas. Geralmente, a  Movimentos lentos e descoordenados;


morte pré-hospitalar por esse tipo de lesão ocorre  Confusão e fala arrastada;
devido à demora ou falta de atendimento apropriado,  Perda de memória;
uma vez que esses casos são pouco frequentes no  Exaustão aparente e sonolência;
país, o que culmina em um menor preparo para esse  Pele fria, rubor/palidez e cianose em lábios,
tipo de situação. Os problemas mais comuns orelhas e dedos (eventualmente pode haver
causados pelo frio são a hipotermia e o gangrena dessas regiões);
congelamento.  Taquicardia e taquipnéia (inicialmente).

1. HIPOTERMIA ACIDENTAL PRIMEIROS SOCORROS

A hipotermia ocorre devido à exposição


prolongada a baixas temperaturas, o que ocasiona
uma perda de calor pelo corpo mais rápida do que
este pode ser produzido. Desse modo, o organismo
desencadeia termogênese muscular e liberação de
catecolaminas na tentativa de produzir mais calor.
Também ocorre em temperaturas mais amenas
quando o indivíduo está exposto a chuva e sudorese,
casos de imersão em água gelada por poucos
minutos e imersão em água mais morna por um
período prolongado de tempo.
Consiste no resfriamento generalizado do 1. Levar a vítima para um ambiente quente e
organismo levando a temperatura central do corpo a protegido do frio;
um valor inferior a 35° C, que é o limite para o 2. Caso a vítima esteja usando roupas molhadas,
funcionamento do metabolismo. Pode ser classificada removê-las;
como hipotermia branda (32-35°C), hipotermia 3. Não se deve massagear a vítima, de modo a não
moderada (28-32°C) ou hipotermia grave (<28°C). prejudicar a perfusão dos tecidos, que já está

114
LATES-UFRJ|2016

diminuída;  Continue a se movimentar para manter a


4. Aquecer, primeiramente, o centro do corpo (tórax, produção de calor pelo corpo; se estiver
pescoço, cabeça e virilha); se a vítima estiver acampado, faça exercícios isométricos.
responsiva e tremendo (hipotermia leve), é
recomendado o uso de cobertores ou folhas
metálicas; se a vítima não estiver tremendo
(hipotermia moderada), deve ser usado 2. CONGELAMENTO (GELADURA)
aquecimento ativo (ex: cobertor elétrico, garrafas
de água quente cobertas com meias); no caso de Consiste no congelamento dos líquidos teciduais
hipotermia grave, o aquecimento central nos espaços intra e extracelulares, culminando em
(invasivo) deve ser realizado em ambiente um comprometimento vascular e tecidual. As áreas
hospitalar, mas até que o paciente seja do corpo mais acometidas são as orelhas, o nariz, o
transportado, diminuir a perda de calor e evitar queixo, as bochechas e os dedos, áreas mais
movimentação (risco de arritmias); expostas ao frio e ao vento.
5. Se a vítima estiver consciente, dê a ela bebidas A insuficiente assimilação de oxigênio e a
quentes, mas não alcoólicas. Caso esteja consequente interrupção das reações químicas
inconsciente, não tente dar bebidas à vítima; celulares, o que, adicionado à formação de
6. Após o aumento da temperatura corporal, microcristais de água nas próprias células e tecidos
mantenha a vítima enrolada em um cobertor, intersticiais, pode conduzir à necrose ou morte dos
incluindo a cabeça e o pescoço; tecidos afetados, sobretudo da pele, tecido
7. Dê atendimento médico o mais rápido possível; subcutâneo e músculos subjacentes.
8. Na ausência de pulso/batimentos cardíacos, É mais provável que o congelamento afete quem
iniciar RCP imediatamente (sequência CAB). tem circulação deficiente devido à arteriosclerose
(espessamento e endurecimento das paredes
arteriais), espasmo (que pode ser provocado pelo
ATENÇÃO! a vítima não pode ser considerada
morta antes que seja realizado o reaquecimento. tabagismo, por alguns problemas neurológicos e por
Estudos indicam altas taxas de sobrevivência mesmo determinados medicamentos) ou dificuldade do fluxo
após períodos prolongados de hipotermia e RCP.
sanguíneo por compressão provocada por botas ou
luvas muito apertadas.
Consoante à profundidade das lesões e a sua
PREVENÇÃO
gravidade, é possível distinguir vários graus de
congelamento com uma evolução típica, são eles:
 Repouse e se alimente antes de esforço físico;
 Ingestão de alimentos ricos em energia quando
Primeiro Grau: No congelamento de primeiro grau,
estiver ao ar livre;
que corresponde à lesão mais superficial, a pele fica,
 Use roupas à prova de vento por cima de roupas
após uma fase inicial de vermelhidão, mais pálida,
de lã;
com formigamento ou prurido e, possivelmente, dor
 Monte acampamento em caso de tempestade, se
espontânea, perante o mínimo contato, embora a
estiver lesionado ou perdido;
parte afetada fique posteriormente insensível, caso

115
LATES-UFRJ|2016

permaneça a exposição ao frio. Apesar de o uma grande úlcera. Caso essa lesão seja tratada
aquecimento proporcionar a cicatrização da zona corretamente, cicatriza em algumas semanas,
numa ou duas semanas, podem ficar sequelas como embora por vezes seja necessário um transplante
a diminuição do crescimento das unhas. cutâneo.
Terceiro Grau: O congelamento de terceiro grau, que
afeta as camadas mais profundas, leva à necrose da
pele e do tecido celular subcutâneo, o que
desencadeia a formação de uma escara negra no
centro da lesão rodeada por uma zona edematosa e
vesículas. A cicatrização nessa fase é pouco eficaz e
a lesão pode se aprofundar e afetar todos os tecidos
da zona, delimitados por um sulco dos tecidos
saudáveis. Neste caso, a evolução é variável, já que
a parte afetada pode mumificar-se através de um
processo de dessecação e até desunir-se ou, o que é
mais perigoso, o tecido enfraquecido pode ser
infectado por microorganismos que produzam uma
gangrena úmida. Para se evitar a extensão deste
processo costuma ser necessário amputar-se a parte
afetada; a avaliação da necessidade de cirurgia é
Fig. 10.11 Geladura de 1° grau nos pés. feita após reaquecimento da região.

Segundo Grau: No congelamento de segundo grau,


SINAIS E SINTOMAS
um pouco mais profundo, a superfície da pele
apresenta edema, fica fria e com cor azulada ou roxa.  Pele com aspecto branco ou amarelado;
Também aparecem inúmeras manchas, que se  Pele anormalmente rígida;
convertem em vesículas ou bolhas, cujo rompimento  Pele inchada e dolorida;
proporciona a libertação de um líquido seroso ou  Perda da sensibilidade da área.
sanguinolento, originando a formação de pequenas
úlceras que costumam unir-se até desenvolverem

Fig. 10.12 Estágios da Geladura

116
LATES-UFRJ|2016

PRIMEIROS SOCORROS PREVENÇÃO

1. Acionar o serviço médico de emergência;  Utilize roupas apropriadas para ambientes de


2. Levar a vítima imediatamente para um ambiente baixa temperatura;
quente e protegido do frio; não iniciar
 Mantenha as extremidades aquecidas em dias
aquecimento se houver qualquer chance de
frios (mãos, pés, orelhas e ponta do nariz);
recongelamento ou estiver próximo de uma
 Evite ambientes de frio extremo, assim como
unidade médica;
roupas molhadas e ventos frios;
3. Evitar caminhar com os pés acometidos; havendo
 Não utilize botas ou meias molhadas e frias por
a necessidade de andar, é melhor fazê-lo com os
períodos prolongados (pode levar a pé-de-
pés congelados, pois após reaquecimento ficam
imersão);
mais vulneráveis a lesões;
 Esteja sempre bem alimentado e descansado
4. Retirar roupas e adornos que não estejam
quando for enfrentar o frio;
colados na pele da área lesionada;
 Evite ingerir bebidas alcoólicas antes de se expor
5. Imergir a região afetada em água morna (37-
ao frio.
42°C), mantendo a temperatura constante. A
temperatura da água deve ser confortável ao
toque para as regiões não afetadas do corpo; o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
processo de descongelamento dura em torno de
20-30 minutos; AKISKAL, H.S. et al. Manual Merck: Edição de
6. Pode-se usar o calor do corpo para aquecer um Saúde para a Família. New Jersey: 2000. Disponível
congelamento superficial, envolvendo a área em: <http://www.manualmerck.net/?id=162>. Acesso
afetada, mas sem massageá-la ou esfregá-la em 05 mar. 2014.
(inclusive utilizando outras substâncias, como
álcool), pois estes procedimentos podem gerar BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE; FUNDAÇÃO
mais danos; OSWALDO CRUZ. Manual de Primeiros Socorros.
7. Não estourar bolhas; Rio de janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. p.96-
8. Não utilizar fontes de calor externo, pois as 101. Disponível em:
regiões acometidas encontram-se insensíveis e <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fi0
podem ser facilmente queimadas. 00007.pdf >. Acesso em 05 mar. 2014.
9. Após descongelamento, cobrir a superfície com
curativos estéreis, frouxos e secos, inclusive entre BROUHARD, J. How to treat Frostbite. Disponível em:
os dedos; levantar as extremidades; evitar novo <http://firstaid.about.com/od/heatcoldexposur1/ht/06_
congelamento; Frostbite.htm>. Acesso em: 04 mar. 2012.
10. Ofereça bebidas quentes à vítima, mas não
bebidas alcoólicas e com cafeína, pois levam à GOLIN, V. et al. Hipotemia Acidental em um País
vasoconstricção, agravando ainda mais o quadro Tropical. Rev. Assoc. Med. Bras. São Paulo, v. 49.
clínico; não a deixe fumar; n.3, p.261-265, abr. 2003.
11. Monitorar a vítima até a chegada do socorro.

117
LATES-UFRJ|2016

HAFEN, B. Q.; KARREN, K. J.; FRANDSEN, K. J. U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
Primeiros Socorros para Estudantes. Barueri: SERVICES. CENTERS FOR DISEASE CONTROL
Manole, 2002. Disponível em: AND PREVENTION. Extreme cold: A prevention
<http://books.google.com.br/books?id=LUUfgTAfwNs guide to promote your personal health and safety.
C&pg=PA411&dq=Procedimentos+Primeiros+Socorro Disponível em:
s&hl=pt- <http://www.bt.cdc.gov/disasters/winter/pdf/extreme-
BR&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q=Proced cold-guide.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2014.
imentos%20Primeiros%20Socorros&f=false>. Acesso
em: 06 mar. 2014. U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
HOEK, T.L.V. et al. Part 12: Cardiac Arrest in Special SERVICES. CENTERS FOR DISEASE CONTROL
Situations. 2010 American Heart Association AND PREVENTION. Extreme Heat. A Prevention
Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Guide to Promote Your Personal Health and Safety.
Emergency Cardiovascular Care. Circulation. Dallas, Disponível em:
v.122. p.829-861, nov. 2010. <http://emergency.cdc.gov/disasters/extremeheat/hea
t_guide.asp>. Acesso em: 06 mar. 2014.
INTERNATIONAL FEDERATION OF RED CROSS
AND RED CRESCENT SOCIETIES. International U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
first aid and resuscitation guidelines 2011: For SERVICES. CENTERS FOR DISEASE CONTROL
National Society First Aid Programme Managers, AND PREVENTION. Hypothermia. Disponível em:
Scientific Advisory Groups, First Aid Instructors and <http://www.bt.cdc.gov/disasters/winter/staysafe/hypot
First Responders. Geneva: IFRC, 2011. 146 p. hermia.asp>. Acesso em: 06 mar. 2014.

JR, J.F. Pronto Socorro. 2. ed. Rio de Janeiro: U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
Guanabara Koogan, 2001. SERVICES. CENTERS FOR DISEASE CONTROL
AND PREVENTION. Frostbite. Disponível em:
MAGALHÃES, S.; ALBUQUERQUE, R.R.; PINTO, <http://www.bt.cdc.gov/disasters/winter/staysafe/frostb
J.C.; MOREIRA, A.L. Termorregulação: Texto de ite.asp>. Acesso em: 06 mar. 2014.
Apoio. Porto: Faculdade de Medicina do Porto, 2001.
Disponível em:
<http://fisiologia.med.up.pt/Textos_Apoio/outros/Term
orreg.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2014.

MARKENSON, D. et a. Part 17: First Aid. 2010


American Heart Association and American Red Cross
Guidelines. Circulation. Dallas, v.122. p.934-946,
nov. 2010.

NETTINA, S.M. Brunner: Prática de Enfermagem.


7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

118
LATES-UFRJ|2016

DEFINIÇÃO seguidos sufocação na cama, asfixia com alimentos e


exposição à fumaça, ao fogo e às chamas.

O acidente doméstico é aquele que ocorre


dentro do perímetro do domicílio ou nas suas Em seguida dos acidentes de trânsito veem

proximidades e caracteriza-se por uma transferência as principais causas de mortes por acidentes

de energia de um ou mais objetos para a vítima, de domésticos.

modo a causar danos. Ao contrário da violência, nos


acidentes não há intencionalidade, mas os mesmos
são ocasionados por fatores reversíveis e passíveis
de prevenção.
Segundo dados da Organização Mundial de
Saúde, o ambiente doméstico é o local onde é maior
a ocorrência de acidentes.

Quadro 11.1 FREQUÊNCIA E LOCAIS DE


ACIDENTES
Lar: 45%
Vias públicas: 30% Fig. 11.1 Causas de morte por acidente em crianças de
Trabalho: 14% 0 a 9 anos, 2012

Autoestradas: 10%
Os acidentes domésticos são mais comuns
nos extremos da idade, ou seja, nas crianças
O Sistema de Vigilância de Violências e
menores de 5 anos e nos idosos.
Acidentes (VIVA) aponta, em 2012, 15.098
Nas crianças isso é justificado por diversas
atendimentos por acidentes domésticos realizados
características como:
em serviços de urgência e emergência do SUS. Deste
 Imaturidade Física e Mental;
total, 32% eram menores de 9 anos de idade, ou seja,
 Inexperiência;
4.740 crianças.
 Incapacidade para prever e evitar situações de
As principais causas de mortes foram os
perigo;
riscos acidentais à respiração (como afogamentos),
 Tendência a imitar o comportamento dos adultos;

119
LATES-UFRJ|2016

 Falta de noção corporal e de espaço; cair, atitudes protetoras de familiares e de cuidadores


 Falta de coordenação motora; ou até mesmo por aconselhamento de profissionais
 Características particulares como a hiperatividade, a de saúde.
agressividade e a distração.
Os idosos estão mais suscetíveis a acidentes
devido ao processo de envelhecimento, o qual impõe
algumas limitações de caráter físico, como a perda de
elasticidade dos músculos, tornando os ossos mais
frágeis e sua calcificação prejudicada.
As quedas são o principal tipo de acidente
domiciliar que afeta os idosos e são favorecidas,
sobretudo, por uma casa não adaptada ao idoso, a
qual pode conter várias armadilhas como observa-se
no gráfico abaixo. Fig. 11.3 Distribuição populacional de idosos segundo
consequência de quedas (RJ- 2005)

PREVENÇÃO

a) AMBIENTE DOMÉSTICO EM GERAL

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

 Os ambientes devem ter uma boa área de


circulação entre os móveis para evitar que as
pessoas batam pés, pernas e braços no mobiliário.
Fig. 11.2 Distribuição populacional de idosos segundo
Entre sofá e mesa de centro, por exemplo, deixar
fatores de risco ambientais presentes em sua residência
pelo menos cerca de 40 cm de área de passagem.
(RJ- 2005)
 Se houver uma estante na parede, objetos
Aproximadamente, de 28 a 35% de pessoas
colocados no canto do móvel funcionam como
acima de 65 anos sofrem quedas a cada ano, subindo
sinalizadores, impedindo que as pessoas batam o
essa proporção para 32 a 50% em idosos acima de
ombro na prateleira.
70 anos.
 Um ambiente bem iluminado evita muitos
As quedas apresentam diversos impactos na
acidentes. Dessa forma, os interruptores para luz
vida de um idoso, que podem incluir morbidade
devem estar bem próximos das portas, e o
importante, mortalidade, deterioração funcional,
ambiente deve ter abajur (com lâmpadas de luz
hospitalização, institucionalização e consumo de
tênue, só para deixar um foco claro), ou luz de
serviços sociais e de saúde. Além das consequências
passagem ou noturna (colocada na tomada do
diretas da queda, os idosos restringem suas
corredor).
atividades devido a dores, incapacidades, medo de

120
LATES-UFRJ|2016

 Em casas e apartamentos nos quais há  Utilizar protetores nas tomadas para


portas de vidro do piso ao teto, adesivos evitar choques;
funcionam como sinalizadores para evitar que  Equipar escadas com corrimão, faixa
desavisados batam com a face no vidro. Para antiderrapante e instalar portões no topo e na base
maior segurança, o vidro deve ser de composição da escada;
temperado/laminado, que, se quebrar, não
 Utilizar protetores de quinas de móveis
estilhaça.
e travas para portas e gavetas de armários, as quais
 Optar por pisos antiderrapantes e evitar o uso impedem sua abertura pelas crianças;
excessivo de tapetes nos cômodos;
 Orientar as crianças a guardar os
 Substituir fios descascados; brinquedos quando não estiverem em uso, pois
 Não utilizar móveis para alcançar algo no podem ocasionar quedas;
alto. Use escada apropriada.  Chaves com fusíveis expostos devem
ser substituídas por disjuntores;
PARA CRIANÇAS
 Grãos de cereais, chicletes, balas
duras, botões, colchetes, tachinhas, pregos
 Usar redes de proteção e/ou travas parafusos, agulhas, alfinetes, moedas e
de segurança em janelas e varandas de medalhinhas devem ser mantidos em armários
apartamentos; fechados e longe do alcance de crianças.

Fig. 11.5 Tomadas ou fiação elétrica devem estar


adequadamente protegidas

Fig. 11.4 Grade de proteção nas janelas


PARA IDOSOS

 Não deixar fios de equipamentos


 Colocar corrimão, cuja extensão seja
eletrônicos soltos. Usar organizadores ou presilhas
maior que o início e o fim dos degraus, e faixa
para cabos e fios, mantendo-os o mais recolhido
antiderrapante nas escadas e rampas;
possível evita tropeços e, principalmente, que sejam
 Usar maçanetas do tipo alavanca nas
alvo de brincadeiras;
portas

121
LATES-UFRJ|2016

 Evitar tapetes soltos, fios de extensão e é novo e houver a necessidade de fazer


objetos espalhados no chão. Caso não seja possível adaptações, pode-se trocar o piso ou aplicar fita ou
a retirada do tapete, aplique material antiderrapante spray antiderrapante no revestimento existente.
no forro;
 Evitar excesso de móveis no mesmo PARA CRIANÇAS
cômodo;
 Nunca deixe uma criança sozinha no banho,
principalmente na banheira. Um simples descuido
pode ter sérias consequências;
 Remédios, cosméticos e produtos de higiene
pessoal (inclusive o xampu e o condicionador)
devem ficar longe do alcance das crianças;
 Mantenha a tampa do vaso sanitário fechada e,
se possível, utilize trava para a tampa de forma a
impedir que a criança tome água, mexa ou caia
dentro do vaso sanitário, correndo o risco de
afogamento.

Fig. 11.6 Medidas simples como utilização de móveis PARA IDOSOS


com quinas arredondadas podem prevenir as quedas e
suas consequências aos idosos.  Colocar barras de apoio nas paredes, no box,
próximo ao vaso sanitário e à pia;
 Usar sofás e cadeiras com braços para  Posicionar duchas em nível mais baixo que o
auxiliar o movimento de sentar e levantar; normal, facilitando o seu acesso;
 Evitar pisos escorregadios (molhados,
encerados, entre outros).

b) NO BANHEIRO

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

 Jamais utilizar pias ou vasos sanitários


para alcançar objetos no alto;
 Evitar o uso de aparelhos elétricos,
como secador de cabelo, no banheiro. As paredes
molhadas pelo vapor da água podem conduzir uma
descarga elétrica provocando choque e, até, morte;
 Utilizar pisos antiderrapantes,
Fig. 11.7 Tapete antiderrapante
principalmente onde vivem idosos. Se o imóvel não

122
LATES-UFRJ|2016

 Utilizar puxadores de armários em forma de alça não perecíveis, o que evita que a criança coloque os
para facilitar o seu manuseio; grãos no nariz, por exemplo;
 No boxe, além de usar tapetes com ventosas  Cozinhar, preferencialmente, nas bocas de trás
para evitar escorregões e quedas, mantenha uma do fogão e virar os cabos das panelas para dentro
cadeira ou um banco na área do banho para se o do fogão;
idoso preferir tomar banho sentado.

Fig. 11.8 Banheiro planejado para o idoso

c) NA COZINHA Fig. 11.9 Cuidado com o direcionamento do cabo das


panelas.

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS  Mesmo com as válvulas de segurança para o


acendimento de forno presentes nos fogões desde

 A mangueira e o registro do gás (de botijão ou julho de 2006, mantenha o registro sempre fechado

rua) devem ser trocados a cada cinco anos, mesmo quando o equipamento não estiver em uso. Além de

que o uso do fogão não seja frequente, pois após travas para a porta do forno, geladeira e armários

esse período as peças perdem a eficiência, de cozinha, há placas de acrílico para serem

podendo causar vazamentos. Certifique-se de que a colocadas na frente dos botões dos queimadores do

mangueira meça 1,25 m no máximo, pois esta é a fogão;

medida-padrão de segurança;  Não guarde nada que possa ser tóxico ou

 Ao realizar múltiplas tarefas, como lavar roupas prejudicial a criança, como detergentes, bebidas

enquanto cozinha, use um timer culinário, que avisa alcoólicas, produtos de limpeza, itens cortantes,

quando o alimento está pronto e ensine os pesados ou de louça/porcelana, em armários baixos

adolescentes a usarem o acessório. e locais de acesso fácil;


 Se possível, instale um portão anticriança na
PARA CRIANÇAS porta da cozinha para que ela não entre quando
estiver longe de adultos.

 Dê preferência ao uso de potes com fechamento


anticriança para guardar grãos e outros alimentos

123
LATES-UFRJ|2016

PARA IDOSOS PARA CRIANÇAS

 Para cozinhar, usar panelas pequenas e com  Instalar grades no berço ou na cama da criança,
alças nas laterais; pois um dos principais tipos de acidente com
 Evitar cozinhar em panelas de pressão; crianças é a queda do berço. Em geral, a cabeça é
 Usar luva para segurar objetos quentes; mais pesada que o corpo e, quando o bebê se
 Na geladeira, usar garrafas plásticas debruça no berço, cai. Por isso, é importante ir
pequenas para água e potes plásticos pequenos aumentando a altura da grade do berço conforme a
para comida; criança for crescendo;
 Os itens de uso frequente devem ser  Lençóis, mantas e cobertores devem estar
guardados à mão nos armários, a uma altura que sempre presos ao colchão;
não ultrapasse a linha da cintura (para baixo) e nem  É sempre bom deixar um foco de luz no quarto
a altura dos ombros (para cima). das crianças – pode ser um abajur ou uma tomada
iluminada;
 Na hora de dormir, retire os brinquedos de dentro
do berço e coloque-o de barriga para cima, posição
que reduz em mais de 70% o risco de morte súbita.
Certifique-se de que as grades do berço e da cama
estejam bem travadas.

PARA IDOSOS

 Coloque ventosas ou forro antiderrapante nos


tapetes ao lado da cama. Em alguns casos, o ideal
é banir esses tapetes para evitar acidentes;
 Dê preferência aos móveis, como cama e
cadeiras, mais altos para facilitar os movimentos
dos idosos.
Fig. 11.10 Métodos de prevenção na cozinha

d) QUARTO

PARA TODOS OS INDIVÍDUOS

 Quando for escolher a cama, confira se seus pés


se encostam ao chão quando estiver sentado no
móvel.

Fig. 11.11 Medidas que auxiliam no quarto de um idoso


124
LATES-UFRJ|2016

e) ÁREA DE SERVIÇO devem ser esvaziados após o uso e mantidos fora


do alcance de crianças;
PARA TODOS OS INDIVÍDUOS  Poços artesianos devem ser mantidos
completamente fechados e fora do alcance de
 Armazene com cuidado produtos inflamáveis, crianças;
como álcool e removedor, mantendo- os longe de
fontes de calor;
 Após o uso, o ferro elétrico deve ficar em local de
difícil acesso enquanto esfria;
 Em geral, a lavanderia e a garagem acabam
servindo de local para guardar coisas velhas e de
Fig. 11.12 Proteção das piscinas
pouco uso. Não amontoe os objetos formando
pilhas, pois podem despencar, causando acidentes;
ATITUDES SAUDÁVEIS COTIDIANAS
 Use um varal colorido no quintal, em vez de
branco ou transparente, para evitar bater com a PARA CRIANÇAS
cabeça ou o pescoço nele;
 No quintal, o botijão de gás deve,  Ao utilizar elevadores e escadas rolantes, as
preferencialmente, ficar em um tipo de gaiola com crianças menores devem sempre estar
trinco ou cadeado para evitar que crianças mexam acompanhadas;
no registro do gás;
 Os pais devem estar atentos quando a criança
 Nas áreas externas, o ideal são pisos sobe em determinados brinquedos de parquinho;
antiderrapantes com uma superfície mais rugosa
 Em churrasqueiras, é fundamental ter espaço
para garantir o bom atrito de pés descalços ou
para armazenar espetos e grelhas de forma a evitar
sapatos de solado mais liso;
que as crianças brinquem com eles;
 Tampas de ralo e grelhas de escoamento de
água mal fixadas podem ocasionar acidentes; PARA EVITAR QUEIMADURAS
 Bordas e degraus da piscina devem ser sempre
arredondados e as escadas precisam ter corrimão  Nunca colocar a criança na água do banho
para garantir a segurança contra deslizes. sem antes testá-la;
 Líquidos e alimentos quentes não devem
PARA CRIANÇAS
ser manuseados com a criança no colo;
 Velas, isqueiros e fósforos nunca devem
 Produtos de limpeza, sacos plásticos, caixa de
ser manuseados por crianças;
ferramentas, ferro de passar roupa e outros
 Os banhos de sol das crianças devem ser
aparelhos eletrônicos devem ser mantidos fora do
restritos ao horário anterior às 10h ou posterior às
alcance de crianças para evitar intoxicação, asfixia,
16h e a criança só deve expor-se ao sol com o uso
ferimentos e queimaduras, respectivamente;
de bloqueador solar.
 Baldes, bacias e piscinas de plástico com água

125
LATES-UFRJ|2016

PARA EVITAR AFOGAMENTO um alimento;


 Medicamentos só devem ser administrados
 Na hora de dar banho em crianças pequenas, sob orientação médica, devem ser dados à criança
nunca se deve deixá-las sozinhas; por um adulto responsável e devem estar fora do
 Em piscinas, lagos, rios e praias, a criança alcance dos pequenos;
deve nadar acompanhada e sob máxima vigilância;  Não se refira a medicamentos como “docinho”
 O uso de bóias de braço é desaconselhável, ou “balinha”. Do contrário, ela poderá ingerir o
pois não impede que a cabeça da criança afunde e medicamento quando estiver sozinha.
ela se afogue.  Evitar a presença de plantas ornamentais
 Se a piscina não é cercada, deve ser coberta com tóxicas dentro de casa ou no quintal;
uma manta plástica para evitar que a criança caia  Verificar com frequência a validade e
na água. integridade dos produtos alimentares.
 É importante estimular a criança a fazer
natação desde pequena.
PARA EVITAR ASFIXIA, SUFOCAÇÕES OU
ENGASGO

 Cordão e presilha de chupeta são


Fig. 11.13 Não permitir o acesso de crianças a produtos
desaconselháveis, pois a criança pode se enforcar
de limpeza e não utilizar embalagens para estoque de
com eles;
produtos de limpeza
 O uso de travesseiros é desaconselhável
para crianças muito pequenas, em especial os PARA EVITAR CHOQUES ELÉTRICOS
lactentes.
 Não dormir na mesma cama;  A fiação elétrica deve ser verificada com
 Não deixar o bebê mamar sozinha a frequência.
mamadeira, pois há risco de engasgo e/ou  Nunca permitir que a criança solte pipas
aspiração do leite. perto de redes de fiação elétrica.

PARA EVITAR INTOXICAÇÕES PARA EVITAR ACIDENTES COM ANIMAIS:

 Dar preferência a produtos químicos cujas  Não manter dentro de casa animais de
embalagens disponham de travas de segurança e comportamento sabidamente agressivo;
armazená-los sempre em locais de difícil acesso à  Manter cães presos ou com focinheiras;
criança;
 Manter em dia a vacinação dos animais
 Nunca armazenar produtos químicos fora de domésticos;
sua embalagem original, como reaproveitar garrafas
 Orientar a criança sobre o perigo de animais
de refrigerante ou de outros produtos. Isso pode
estranhos.
confundir a criança e fazê-la pensar que se trata de

126
LATES-UFRJ|2016

DE LUCA, R. Casa Segura. Revista Vida Simples.


76. ed. 2009.

DO AMARAL, J. J. F.; DA PAIXÃO, A. C. Estratégias


de prevenção de acidentes na criança e
adolescente. Rev. Pediatr. [online]. 2007, v. 8, n. 2,
pp. 66-72.

MARIN, M. J. S.; et al. Identificando os fatores


relacionados ao diagnóstico de enfermagem
"risco de quedas" entre idosos. Rev. Bras.
Fig. 11.14 Cães podem ser mansos, porém Enferm. [online]. 2004, v. 57, n. 5, pp. 560-564.
imprevisíveis. ISSN 0034-7167.

PARA IDOSOS RIBEIRO, A. P. et al. A influência das quedas na


qualidade de vida de idosos. Ciênc. saúde
 Deixar objetos de uso frequente em locais de fácil coletiva [online]. 2008, vol.13, n.4, pp. 1265-1273.
acesso; ISSN 1413-8123.
 Vestir as roupas sentado ou apoiado em algum
mobiliário; <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cf
 À noite, ao deitar, colocar um copo plástico com m?portal=pagina.visualizarNoticia&codConteudo=84
água para beber próximo à cama e manter o 90&codModuloArea=162&chamada=hospital-
caminho iluminado do quarto ao banheiro; metropolitano-%3Cbr%3Eoferta-novos-leitos>.
 Ao acordar, levantar sempre por etapas, parra Acesso em: 13 março. 2013
evitar hipotensão postural; <http://www.cbmerj.rj.gov.br>. Acesso em: 04 fev.
 Praticar atividade física com orientação médica, 2011.
evitando exercícios inadequados para a idade;
 Manter as portas dos cômodos sem trancas; <http://inseguranca.no.sapo.pt/>. Acesso em 04 fev.
 Não usar remédios sem orientação médica. 2011.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS <www.casasegura.arq.br>. Acesso em: 04 fev. 2011.

<http://salvemasnossascriancas.blogspot.com/2011/0
ACKER, J. I. B. V.; CARTANA, M. do H. F.
1/previna-acidentes-domesticos-onde-mora.html>.
Construção da participação comunitária para a
Acesso em: 04 fev. 2011.
prevenção de acidentes domésticos infantis.
Rev. Bras. Enferm. [online]. 2009, v. 62, n. 1, pp. 64-
<http://www.fazbem.com/velhice/>. Acesso em: 04
70.
fev. 2011.

127
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO excesso de medicamentos ou substâncias químicas,


sendo as crianças as maiores vítimas, principalmente
meninos. Estas, quando expostas ao veneno, sofrem
Intoxicação corresponde às alterações
consequências mais sérias quando comparadas aos
biológicas, de gravidade variável, decorrentes da
adultos, pois possuem metabolismo rápido e seus
interação entre um organismo vivo e qualquer
organismos são menos capazes de lidar com toxinas
substância (química, natural ou sintética),
químicas.
denominada tóxico, introduzida no organismo de
As substâncias capazes de causar
forma acidental, intencional, em ambiente profissional
intoxicações são mais comuns do que imaginamos,
ou nele formada. Os efeitos produzidos podem levar à
de modo que estão constantemente presentes em
ocorrência de sequelas ou mesmo causar danos
nosso cotidiano, como os medicamentos,
letais, e dependem de alguns fatores.
domissanitários (produtos de limpeza), plantas e até
Quadro 12.1 INTOXICAÇÃO vs
mesmo os alimentos.
ANAFILAXIA E ALERGIA
Intoxicação: alterações resultam da
Tabela 12.2 PRINCIPAIS AGENTES
ação direta do tóxico ou veneno sobre o
TÓXICOS
organismo ou um de seus órgãos, o que pode
Medicamentos Plantas
verificar-se em uma única dose.
Produtos
Anafilaxia e Alergia: alterações
químicos
resultam do choque antígeno-anticorpo,
Domissanitários industriais
necessitando, invariavelmente de uma
Cosméticos Produtos veterinários
primeira dose ou contato, chamado
Drogas de abuso Metais
sensibilizante, e, de uma segunda dose,
Alimentos Animais não peçonhentos
chamada desencadeante.
Animais
Raticidas peçonhentos/venenosos
A intoxicação pode ser, principalmente, do
Agrotóxicos
tipo acidental ou intencional. Desta forma, é resultado
de negligência, uso abusivo ou ignorância no
As intoxicações compreendem um importante
manuseio de substâncias tóxicas, ou resulta de
problema de saúde pública mundial, porém respeitando as
tentativa de suicídio ou mesmo homicídio. Os
características geográficas, socioeconômicas e culturais
acidentes, em geral, ocorrem com a ingestão de
de cada país ou região. A estimativa, segundo a OMS, é

128
LATES-UFRJ|2016

de mais de cinco milhões de casos novos a cada ano emabordagem das intoxicações.
nosso país.
Os dados nacionais referentes ao tema ainda
são escassos e pouco confiáveis, especialmente Tabela 12.3 PRINCIPAIS VIAS DE INTOXICAÇÃO
porque a notificação de novos casos não é obrigatória. Ingestão
No Brasil, os registros são feitos pela Rede Nacional de Dérmica (pele)
Centros de Informação e Assistência Toxicológica Inalação/nasal
(RENACIAT), e a coordenação da coleta, compilação, Ocular
análise e divulgação dos casos de intoxicação e Parenteral (intravascular)
envenenamento é feita pelo Sistema Nacional de Otológica (ouvido)
Informações Toxico-Farmacológicas da Fiocruz Retal
(SINITOX).
Segundo estes dados e os obtidos pela
FATORES IMPORTANTES DO PROCESSO
Associação Americana dos Centros de Controle de
DE INTOXICAÇÃO
Envenenamento (AAPCC), em 2009, o grupo mais
acometido foi o formado pelas crianças (especialmente
as do sexo masculino e com idade inferior a 5 anos),  Tempo de exposição – quanto maior o tempo
tendo como principal via de intoxicação a ingestão oral, de exposição, maiores serão as chances de o
sendo os medicamentos e os domissanitários os produto causar danos à saúde;
principais tóxicos.  Concentração do agente - quanto maior a
De acordo com dados de 2012 do Instituto concentração do agente químico, maior será a
Nacional de Emergências Médicas (INEM) de chance de um efeito danoso à saúde;
Portugal, os adultos são a faixa etária mais acometida  Toxicidade – medida do potencial tóxico de
em casos de intoxicações intencionais. Estes casos uma substância;
podem envolver um ou mais produtos, como por  Características químicas da substância –
exemplo medicamentos e bebidas alcóolicas. possui relação com a forma de entrada deste tóxico
Verificou-se também um aumento no número de no organismo;
intoxicações medicamentosas acidentais em idosos,  Susceptibilidade individual.
devido a confusão mental, dificuldade visual ou em
consequência da utilização de múltipla medicação
SINTOMATOLOGIA
diária prescrita.
No entanto, nossa preocupação não deve
estar voltada somente para este grupo, visto que há As manifestações relacionadas às intoxicações

ainda outros, como, polimedicados, trabalhadores são bastante variadas, devido à diversidade de

(intoxicação ocupacional), pessoas com problemas substâncias tóxicas a que estamos expostos e das

psiquiátricos, etc. vias de intoxicação diferentes. Os sinais e sintomas

Com esses dados, fica clara a importância da mais comuns e mais evidenciados, em linhas gerais,

prevenção, tendo as medidas educacionais e de são:

conscientização como o elo fundamental na

129
LATES-UFRJ|2016

 Transpiração, salivação e lacrimejamento Pode-se suspeitar de um caso de intoxicação


excessivos ou reduzidos; sempre que a vítima apresentar algum dos sinais ou
 Sensação de queimação nos olhos e sintomas descritos acima, sem outras causas
mucosas; aparentes. Além disso, devem ser procuradas pistas
 Queimaduras ou manchas ao redor e/ou no local, tais como: frascos de medicamentos caídos
dentro da boca; ou vazios, produtos abertos, comprimidos
 Tremores, agitação, apatia; espalhados, substâncias químicas ou produtos de

 Dificuldade para engolir; limpeza, plantas, restos de comida ou bebida e

 Odores característicos (na respiração, vômitos.

roupas, ambiente);
 Respiração anormal (rápida, lenta ou com CONSIDERAÇÕES PARA O ATENDIMENTO

dificuldade); BÁSICO

 Alterações do pulso (lento, rápido ou


A primeira ação é sempre manter a calma. E antes
irregular)
de prestar socorro à vítima, algumas informações
 Sinais de choque circulatório (baixa
essenciais devem ser verificadas. Por isso, pergunte
perfusão tecidual);
diretamente a ela (quando possível) ou às
 Dor de cabeça, zumbido;
testemunhas em volta.
 Alterações do nível da consciência
(sonolência, agitação, confusão mental, coma);
 QUEM- Qual a idade, sexo e o peso da vítima?
 Convulsões e alucinações
 O QUÊ- O que causou a intoxicação?
 Alterações comportamentais (desinibição,
 QUANTO- Qual foi a quantidade de agente tóxico?
depressão);
 QUANDO- quando ocorreu a intoxicação?
 Alterações no tamanho das pupilas
 ONDE- local da exposição ao produto?
(midríase ou miose);
 COMO- Como ocorreu a intoxicação?
 Alterações na coloração da pele (pálida,
 Alguém tentou provocar vômito ou ofereceu algo
avermelhada ou azulada);
para a vítima beber?
 Alterações na temperatura corporal (hiper
 A vítima tem alguma doença ou histórico de
ou hipotermia);
alergias?
 Diminuição ou ausência do volume urinário
 Ela usa permanentemente algum medicamento ou
(oligúria e anúria respectivamente);
droga ilícita?
 Distúrbios hemorrágicos manifestados por
hematêmese (vomito com sangue), melena (fezes
É muito importante saber esses dados, e os
escuras e fétidas contendo sangue digerido) e
mesmos devem ser repassados ao Centro de
hematúria (sangue na urina);
Controle de Intoxicações.
 Dor abdominal;
 Náuseas e vômitos;
 Diarreia.

130
LATES-UFRJ|2016

CONDUTAS DE PRIMEIROS SOCORROS 4. Ligar para o Centro de Controle de Intoxicações e


fornecer todas as informações citadas
MEDIDAS GERAIS anteriormente.

1. Avaliar a segurança da cena. Certifique-se de que Cada estado tem seu próprio centro de controle de
não há perigo iminente no local do acidente. intoxicações. No Rio de Janeiro, o centro de controle
de intoxicações localiza-se no Hospital Universitário
PROTEJA-SE! Equipamento de Proteção Individual Clementino Fraga Filho.
deve ser utilizado durante todo o atendimento das Fone: (21) 2573-3244/ 0800-7226001
vítimas, em especial durante a remoção do tóxico.
5. Se necessário, chame o serviço de emergência
2. Identifique o veneno e a via de intoxicação. (192 ou 193).
3. Abordagem primária e Suporte Básico de Vida.

ATENÇÃO! Certifique-se de que a vítima que está


Os princípios gerais de abordagem de uma vítima de
sendo atendida é a única intoxicada. Quando a vítima
intoxicação obedecem ao ABCDE, comum a qualquer
for uma criança, verifique se ela estava sozinha ou se
tipo de situação de urgência / emergência:
brincava com outras, pois estas também devem ser
A: permeabilizar as vias aéreas;
avaliadas.
B: assegurar uma oxigenação adequada;
C: avaliar pulso e pressão arterial;
a) INTOXICAÇÃO POR INALAÇÃO
D: avaliar repetidamente o estado de consciência;
E: remover roupas contaminadas; despistar outras
Este tipo se dá com a absorção de
lesões (trauma, queimaduras); despistar sinais
substâncias químicas nocivas pela respiração. Ocorre
compatíveis com consumo de drogas.
mais frequentemente em locais fechados e mal
ventilados em geral (p. ex.: garagens).
CUIDADO! Não é recomendável realizar a
Entrando em contato com o organismo, essas
“respiração boca-a-boca” na presença de toxinas
substâncias podem causar irritação do nariz, garganta
como cianeto, sulfito de hidrogênio, corrosivos e
e pulmões, além de poder formar compostos ligados
organofosforados. Para estes casos, utilizar máscara
à hemoglobina (no caso dos gases, como monóxido
ou outro sistema de respiração adequada.
de carbono), impedindo a oxigenação do sangue, e
levando a vítima à asfixia. O gás de cozinha também
se configura como uma importante fonte de
intoxicação. As condutas básicas nestes acidentes
são:

1. Verificar a segurança da cena;


2. Retirar a vítima do local do acidente, levando-a
para o ar livre (ambiente arejado) (Fig.12.1). Deve-
Fig. 12.1 Primeira conduta em caso de intoxicação –
retirada da vítima do local.

131
LATES-UFRJ|2016

se tomar cuidado para que o socorrista também organismo pela pele mesmo que o contato seja breve
não acabe intoxicado, portanto alguma proteção e mesmo não havendo escoriações ou ferimentos.
deve ser utilizada; Esse efeito irritante é geralmente causado por
3. Afrouxar as roupas da vítima e deixá-la em produtos que se apresentam sob a forma de gases ou
repouso absoluto; vapores. Sendo assim, além de poeiras e fumaça,
4. Fazer a avaliação primária e, se necessário, vapores de ácidos, álcalis e solventes (removedores)
adotar medidas de manutenção das funções
também constituem agentes causadores de
vitais;
intoxicação. O contato com esses agentes pode
5. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações;
provocar inflamação e queimaduras na área afetada.
6. Isolar a área para evitar que outras pessoas, As recomendações para estes casos são:
além de profissionais, entrem no local do
acidente. Pois podem tornar-se vítimas também;
1. Primeiramente, evite se contaminar com o
7. Em caso de contato com gases liquefeitos,
produto. Avalie a segurança do local para não se
aqueça a parte afetada com água morna.
tornar outra vítima;
Quadro 12.4 INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO
DE CARBONO 2 . Proteja as mãos, utilizando luvas ou mesmo saco
O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, plástico. Se houve manipulação do produto, deve-
incolor e de alta toxicidade comumente produzido por
se lavar as mãos para prevenir contato com outras
motores à combustão, aquecedores, lareiras e
regiões do corpo (p. ex.: olhos);
chuveiros aquecidos à gás, principalmente em locais
mal ventilados. Os sintomas típicos de intoxicação por
3. Fazer a avaliação primária;
CO são dor de cabeça, náusea, vômito, fraqueza
muscular (especialmente em membros inferiores),
perda de consciência e convulsões. 4. A substância em questão deve ser removida o
Em suspeita de intoxicações por CO, todas as portas e mais rapidamente possível. Para isso, deve-se
janelas do local devem ser abertas e a vítima deve ser lavar abundantemente o local afetado com água
retirada do local o mais rápido possível. Se disponível, corrente por 20 minutos ou até a retirada do
o socorrista apto pode administrar oxigênio para as
produto. Não se deve esfregar o couro cabeludo e
vítimas. Nos casos mais graves (vítima inconsciente) é
a pele, para evitar escarificá-la, pois isso facilita a
necessário manter uma via aérea pérvia e, se
absorção do tóxico. Atentar-se para a lavagem das
necessário, realizar manobras de ventilação.
regiões axilar, retroauricular, genital, subungueal
Atenção, chame o socorro especializado o mais rápido
possível e só entre na cena se isso não envolver risco (debaixo das unhas) e da cicatriz umbilical
para a sua saúde. (umbigo).

b) INTOXICAÇÃO POR CONTATO COM A Se as roupas e calçados da vítima também


PELE / MUCOSAS estiverem contaminados, a remoção destes itens
deverá ser feita sob o mesmo fluxo de água da
Algumas substâncias podem causar irritação lavagem para auxiliar a rápida remoção do agente,
ou destruição tecidual através do contato com a pele, devendo ser isolados.
mucosa ou os olhos, sendo capazes de penetrar o

132
LATES-UFRJ|2016

lavar os olhos abundantemente com água corrente,


Quadro 12.5 NEUTRALIZAÇÃO DE durante pelo menos 15 minutos, e depois
SUBSTÂNCIAS encaminhar a vítima ao hospital com curativo
Não se deve fazer a neutralização química de oclusivo para atendimento especializado, em que
substâncias tóxicas, pois a maioria das reações de
deverá ser avaliado por um oftalmologista.
neutralização libera calor, aumentando os riscos de lesão
ou de agravamento de lesões mucosas. A lavagem da
INTOXICAÇÃO POR INGESTÃO
pele ou mucosa afetada com água corrente abundante é
É o tipo principal e mais comum de
a melhor forma de prevenir contra lesões maiores ou de
minimizar os efeitos tóxicos resultantes. intoxicação, podendo ocorrer pela ingestão de
agentes tóxicos líquidos ou sólidos. A maioria das

ATENÇÃO! No caso de um tóxico liofilizado (em intoxicações por ingestão ocorre no lar (92%), sendo

pó), a retirada pode ser feita com a mão protegida mais comum na faixa etária de 1 a 5 anos. Esses

com uma luva ou peça de roupa. De qualquer dados revelam a curiosidade natural das crianças

modo, cuidado para não se contaminar com o pequenas e a falta de cuidado dos adultos ao

agente. deixarem ao seu alcance substâncias tóxicas. Por


isso mesmo, a atenção deve ser redobrada quando

5. Consulte o Centro de Controle de Intoxicações; se trata de crianças, pois elas tendem a colocar na
boca tudo o que está ao seu alcance, intoxicando-se

6. Encaminhe um pedaço de roupa contaminada ao facilmente.

hospital com a vítima, caso não reconheça o tipo De modo geral, as seguintes substâncias

de produto que causou a intoxicação; encontram-se entre as que mais frequentemente


provocam acidentes tóxicos:

7. Se houve contato de substâncias químicas com  Alimentos estragados ou que sofreram

os olhos, oferecer atenção redobrada ao caso. contaminação química


 Domissanitários
Esses agentes, além de serem absorvidos  Medicamentos – sedativos e hipnóticos
rapidamente pela mucosa, podem produzir irritação  Plantas venenosas
intensa e causar perda visual. Portanto, é preciso  Alucinógenos e narcóticos
 Bebidas alcoólicas
 Inseticidas, raticidas, formicidas
 Soda cáustica
 Derivados de petróleo
 Ácidos, álcalis, fenóis

As condutas recomendadas são:


1. Fazer a avaliação inicial. Se a vítima estiver
responsiva, deve ser colocada em decúbito lateral
esquerdo (Fig.12.3). Isso facilita a drenagem das
Fig. 12.2 Como proceder em casos de contato de
substâncias químicas com os olhos.
133
LATES-UFRJ|2016

secreções, evitando, assim, sua aspiração. 6. Levar para o hospital, juntamente com a vítima,
Não estando responsiva, deve ser colocada em qualquer material suspeito de ter causado a
decúbito dorsal, atentando-se para a manutenção intoxicação (produtos tóxicos, partes de plantas),
das vias aéreas pérvias e monitoramento da incluindo vômito, em um recipiente limpo e
respiração. Havendo parada respiratória, faça o fechado.
suporte ventilatório (1 ventilação a cada 6 a 8
segundos). E no caso de parada
cardiorrespiratória, comece as manobras de
suporte básico de vida.
2. Consultar o Centro de Controle de Intoxicações e
seguir atentamente as instruções.
3. Utilizando equipamentos de proteção individual
(p. ex.: luvas), remova da boca da vítima
comprimidos ou outros fragmentos que possam
ser facilmente removíveis por pinçamento. NÃO
SE DEVE FAZER VARREDURA DIGITAL por
conta do risco de deslocamento de corpos
estranhos, o que causaria obstrução das vias
Fig. 12.3 Posição em decúbito lateral esquerdo
aéreas.
4. NUNCA INDUZA O VÔMITO EM VÍTIMAS
INCONSCIENTE. Caso a vítima esteja consciente, Quadro 12.6 PLANTAS VENENOSAS
a indução de vômito, seja por estimulação Cerca de meia hora após a ingestão de uma planta
mecânica da orofaringe (dedo na garganta), ou por venenosa, em geral, a vítima pode apresentar sinais
xarope de ipeca, é contraditório e não indicado em clássicos de colapso circulatório, frequência cardíaca
muitos casos. Além de a sua eficácia ser alta, queda de pressão arterial, sudorese, cianose e

duvidosa, essa conduta pode causar fraqueza.


A diefembácia ("comigo-ninguém-pode") é uma planta
traumatismos, leões das mucosas digestória e
encontrada com muita frequência em casa, nos
respiratória e aspiração, especialmente em vítimas
escritórios e outros ambientes de trabalho. A ingestão
inconscientes e na presença de convulsões.
dessa planta pode causar edema das membranas
5. NÃO ADMINISTRE qualquer substância (nem
mucosas, provocando dificuldade de deglutição. Se o
mesmo água ou leite) por via oral para nenhuma edema for intenso, a vítima corre risco de vida devido à
intoxicação por ingestão a não ser que total obstrução das vias aéreas. O atendimento
recomendado pelo Centro de Controle de especializado é urgente após a aplicação do suporte
Intoxicações ou equipe médica de emergência, básico da vida.

pois isso pode gerar danos. Não há evidências


suficientes que demonstrem que a diluição do
tóxico com água ou leite traga algum benefício
como medida de primeiros socorros.

134
LATES-UFRJ|2016

PREVENÇÃO  Usar vestuário de proteção (luvas, mangas


compridas, calças compridas, meias, sapatos) se

As intoxicações acidentais são sempre utilizar pesticidas ou outros produtos químicos.

passíveis de prevenção através de cuidados simples  Ligue o ventilador e janelas abertas quando o uso
no dia-a-dia, no lar ou no trabalho. São apresentadas de produtos químicos, tais como produtos de
a seguir algumas medidas básicas de prevenção: limpeza domésticos.

CUIDADOS COM ALIMENTOS CUIDADOS COM MEDICAMENTOS

 Verificar sempre o prazo de validade dos


alimentos.  Não deixar medicamentos ao alcance das mãos e

 Não comprar enlatados se as embalagens dos olhos das crianças. Elas podem fazer “escadas”

estiverem velhas, estufadas ou enferrujadas. com cadeiras e alcançar produtos em locais mais

 Sempre verificar a integridade dos alimentos altos.

antes de comê-los, especialmente a de enlatados.  Guardar os medicamentos em armários trancados à

 Jogar fora alimentos estragados ou com o prazo chave, porém evitando armazená-los nos armários

de validade vencido. debaixo das pias.

 Armazenar os alimentos conforme indicação do  Evitar a automedicação. Procurar um médico

fabricante, e em local separado dos produtos de sempre que necessário.

limpeza e outros materiais tóxicos.  Não administrar medicamentos no escuro para


evitar trocas perigosas.

CUIDADOS COM DOMISSANITÁRIOS  Evitar tomar medicamentos na frente de crianças,

 Não misturar os produtos de limpeza com pois elas podem imitar o gesto.

alimentos ou medicamentos, de modo que eles  Nunca utilizar termos como “docinho” ou “balinha”
devem ser guardados separadamente. para se referir a um medicamento, pois assim a

 Armazenar materiais de limpeza em locais de criança pode pensar que não é perigoso ou que é

difícil acesso, de preferência em armários agradável de comer. Considerar o medicamento

trancados, mantendo-os fora do alcance e da vista como remédio na presença de crianças; do

das crianças. contrário, ela poderá ingerir o medicamento quando

 Manter os produtos sempre em seus estiver sozinha.

recipientes originais, evitando colocá-los em  Ler sempre o rótulo e as instruções antes de usar

embalagens plásticas de refrigerantes e sucos qualquer produto ou medicamento. Alguns

reaproveitadas. medicamentos não podem ser tomados com

 Dar preferência pela compra de produtos de segurança quando associados com outros

limpeza contendo travas de segurança. medicamentos ou beber álcool.

 Evitar a mistura de diferentes produtos com o  Manter os medicamentos nas suas embalagens

fim de criar novas soluções de limpeza. originais.

 Havendo dúvida, entrar em contato com o  Tomar cuidado com os medicamentos de uso

Centro de Controle de Intoxicações de sua região. infantil e os de uso adulto cujas embalagens são

135
LATES-UFRJ|2016

parecidas. OUTRAS MEDIDAS


 Nunca tomar medicamentos vencidos. Descartar
todos que estiverem fora do prazo de validade,  Agentes tóxicos podem se parecer com comida
retornando-os para farmácias e drogarias ou ou bebida. Ensinar as crianças a consultar um
despejando-os em locais específicos de descarte. adulto antes de provar qualquer coisa.
 Havendo dúvida, entrar em contato com o Centro  Se possível, ter detectores de fumaça
de Controle de Intoxicações de sua região. instalados dentro de casa. Eles são projetados para
soar um alarme antes que o monóxido de carbono
CUIDADOS COM PLANTAS VENENOSAS acumulado atinja um nível perigoso. Estima-se que
os detectores previnam cerca de metade das mortes
 Conhecer as plantas que estão dentro ou causadas por envenenamento por monóxido de
próximas de sua casa, procurando saber as carbono. Se o alarme disparar, ao ouvi-lo, saia de
peculiaridades e características de cada uma. casa imediatamente e ligue para o Corpo de
 Orientar as crianças sobre a presença de Bombeiros (193) ou acione um serviço médico de
plantas venenosas e ensiná-las a identificar essas emergência (192).
plantas.  Sempre manter os telefones de emergência por
 Ensine as crianças a admirá-las sem pegá-las perto. De preferência, mantê-los próximos aos
ou levá-las à boca e a não as utilizar como aparelhos de telefone de casa.
brinquedos.
 Manter as plantas tóxicas fora do alcance das ALGUNS PERIGOS EM CASA
crianças e também dos animais domésticos.  Sala:
 Nunca preparar chás ou remédios caseiros o Bebidas alcoólicas
com plantas sem a devida orientação de um o Plantas ornamentais
profissional (médico ou farmacêutico),  Quarto:
especialmente se não for uma planta conhecida. A o Inseticidas
o Naftalina
toxicidade de uma planta nem sempre é eliminada o Remédios
com o cozimento. o Perfumes
 Tomar muito cuidado ao podar plantas que  Cozinha:
o Desentupidores
liberam látex, pois este provoca irritação na pele e o Desengorduradores de fogões
nos olhos, principalmente. Sempre usar luvas ao o Desinfetantes
o Sabões
lidar com plantas tóxicas e lavar bem as mãos o Detergentes
depois de manuseá-las.  Banheiro:
 Em caso de intoxicação, guardar a planta para o Remédios
o Perfumes
esta seja identificada e procurar orientação médica o Cosméticos
imediatamente. o Talcos
o Desodorizantes de ambiente
 Havendo dúvida, entrar em contato com o
 Área de serviço:
Centro de Controle de Intoxicações de sua região. o Saponáceos
o Solventes
o Tintas

136
LATES-UFRJ|2016

o Alvejantes MARKENSON, D. et al. Part 17: first aid: 2010


o Inseticidas
American Heart Association and American Red
o Raticidas
o Álcool Cross Guidelines for First Aid. Circulation [online].
o Gás de cozinha
2010, v. 122, n. 18, supl. 3, pp. S934-S946. ISSN
o Ceras
o Fertilizantes 1524-4539.
 Jardim:
o Plantas ornamentais
o Aranhas MARTINS, H. S. et al. Abordagem inicial das
o Escorpiões intoxicações agudas. In: ______. Emergências
o Cobras
o Insetos Clínicas: Abordagem Prática. 5. ed. Barueri: Manole,
2010. cap. 29, p. 386-403.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NAJARIAN, S. L. Tratamento geral dos pacientes com

AMERICAN ACADEMY OF CLINICAL TOXICOLOGY; envenenamento. In: CLINE, D. M. et al. Emergências

EUROPEAN ASSOCIATION OF POISONS CENTERS Médicas. 1. ed. [S. l.]: Guanabara Koogan, 2008. cap.

AND CLINICAL TOXICOLOGISTS. Position Paper: 98, p. 353-355.

Ipecac Syrup. J. Toxicol. Clin. Toxicol. [online]. 2004,


v. 42, n. 2, pp. 133-143. ISSN 1097-9875. SCHVARTSMAN, C; SCHVARTSMAN, S.
Intoxicações exógenas agudas. J. Pediatr. [online].

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. 1999, v. 75, supl. 2, pp. S244-S250.

Manual de Primeiros Socorros. Rio de janeiro:


Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p. Disponível em: THYGERSON, A.; GULLI, B.; KROHMER, J. R.

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_soco Intoxicação. In: ______. Primeiros Socorros, RCP e

rros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012. DEA: Primeira edição em português. 1. ed. : [s. n.],
2006. cap 13, p. 111-115.

BRONSTEIN, A. C. et al. 2009 Annual Report of the


American Association of Poison Control Centers’ ZAMBOLIM, C. M. et al. Perfil das intoxicações

National Poison Data System (NPDS): 27th Annual exógenas em um hospital universitário. Revista

Report. Clinical Toxicology [online]. 2010, v. 48, n. 10, Médica de Minas Gerais [online]. 2008, v. 18, n. 1, pp.

pp. 979–1178. ISSN 1556-9519 5-10.

BUCARETCHI, F.; BARACAT, E. C. E. Exposições


tóxicas agudas em crianças: um panorama. J. Pediatr. INTERNATIONAL FEDERATION OF RED CROSS
[online]. 2005, v. 81, n. 5, pp. s212-s222. ISSN 0021- AND RED CRESCENT SOCIETIES. International
7557. first aid and resuscitation guidelines 2011.
Geneva: International Federation of Red Cross And

LOURENÇO, J.; FURTADO, B. M. A.; BONFIM, Red Crescent Societies, 2011. Disponível em:

C. Intoxicações exógenas em crianças atendidas em <http://www.ifrc.org>. Acesso em 08 mar. 2014

uma unidade de emergência pediátrica. Acta Paul.


Enferm. [online]. 2008, v. 21, n. 2, pp. 282-286. ISSN <http://www.cpsol.com.br/upload/arquivo_download/1

0103-2100. 872/Descontamina%C3%A7%C3%A3o%20EPI.pdf>.

137
LATES-UFRJ|2016

Acesso em: 09 dez. 2011 Ministério da Saúde, Fiocruz: Produtos


potencialmente tóxicos. Acesso em 8 Jan.2016
<http://www.webmd.com/vitamins-
supplements/ingredientmono-157- <http://www.cdc.gov/HealthyHomes/ByTopic/Poisonin
PECAC.aspx?activeIngredientId=157&activeIngredien g.html> Acesso em 8 Jan. 2016
tName=IPECAC>. Acesso em: 10 dez. 2011
<http://www.cdc.gov/nceh/lead/tools/know_the_facts.p
<http://www.who.int/substance_abuse/terminology/ac f > Acesso em 8 Jan. 2016
ute_intox/en/index.html>. Acesso em: 03 dez. 2011

<http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/
start.htm?tpl=home>. Acesso em: 03 dez. 2011

<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20to
ur/hipertextos/up2/intoxicacoes_envenenamentos.htm
>. Acesso em: 08 dez. 2011
<http://www.aapcc.org/dnn/Portals/0/2010%20Nationa
l%20Brochure.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2011

<http://www.hospvirt.org.br/enfermagem/port/enfintox.
htm>. Acesso em: 08 dez. 2011

<http://www.virtual.unifesp.br/cursos/ps/restrito/intoxic
acao.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2011.

<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/to
xidade.html >. Acesso em: 8 Jan. 2016

<http://www.sbtox.org.br/detalhecentros.php?id_centr
os=554> Acesso em 8 Jan. 2016

Manual de primeiros socorros: Emergências Médicas,


do Instituto Nacional de Emergências Médicas (INEM)
de Portugal. 1° edição, 2012.

Manual de primeiros socorros, por Paulo Frange,


cardiologista paulista.

138
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO todo o organismo. Podem surgir após segundos,


minutos ou demorar dias. Quase sempre são
moderadas e permitem o tratamento em casa. No
Reação alérgica é uma manifestação do
entanto, exposições repetidas podem resultar em
organismo em resposta à exposição a uma
reações mais graves. Importante lembrar que
determinada substância, que desencadeia uma série
ausência de histórico de alergia na família não
de reações químicas envolvendo o sistema imune,
significa que o indivíduo não seja suscetível a
implicando alterações diversas por todo o organismo.
desenvolver hipersensibilidade a um determinado
Esta substância, denominada alérgeno, geralmente é
alérgeno.
inofensiva a outros indivíduos.
Qualquer substância pode causar uma reação
Quadro 13.2 PRINCIPAIS ALÉRGENOS
alérgica, mas também dependendo da suscetibilidade
Contato com a pele: plantas venenosas, arranhaduras
de cada pessoa ao contato com os diferentes tipos de de animais, pólen, látex de luvas, inoculação de abelhas.
sólidos, líquidos, gases e até mesmo radiação. As Ingestão: camarão e outros frutos do mar, amendoim,
reações são comumente causadas por contato com medicamentos, contrastes para exames.
animais e plantas (pólen, picada de abelha) e por Inalação: pólen, poeira, mofo, pelos de animais.
ingestão de medicamentos e certos alimentos.

SINAIS E SINTOMAS
Quadro 13.1 SENSIBILIZAÇÃO
Em um primeiro contato com o alérgeno, o
Os sinais e sintomas dependem do tipo de
sistema imune é ativado e o indivíduo é dito
contato do alérgeno com o organismo no qual a
sensibilizado. Não necessariamente haverá
reação imune foi provocada. Isto é, dependem de
manifestações neste momento, ou elas serão de leves a
moderadas. A partir disso, as exposições seguintes vão como se deu a alergia.
desencadear uma resposta no organismo afetado,
iniciando um processo inflamatório, podendo levar a CONTATO PELO AR
quadros mais graves por intensificação dessa resposta.

Se um alérgeno encontra-se no ar, como


Ocorrida a reação alérgica, os sintomas uma partícula de pólen ou poeira, ele irá causar
podem ser locais, ficando restritos à área de contato, sintomas nos locais em contato com ar, como olhos,
ou adquirir um caráter sistêmico, se estendendo por nariz e pulmão. Frequentemente, os sinais e sintomas

139
LATES-UFRJ|2016

são: vermelhidão dos olhos, coceira do nariz e CLASSIFICAÇÃO


espirros. Didaticamente, as reações alérgicas podem
Quando atingem o pulmão, podem causar ser divididas em três grupos, de acordo com a sua
sintomas asmáticos devido à broncoconstrição e gravidade, descritas a seguir:
produção excessiva de muco, como dispneia
(sensação de dificuldade respiratória), tosse, roncos e REAÇÕES LEVES
sibilos. O contato da substância com a pele provoca
alterações cutâneas locais. Dentre elas: eritema,
CONTATO POR INGESTÃO edema, prurido, aumento da temperatura na região e
dor local.
Os sintomas de alergia a comidas incluem dor
abdominal, vômitos, diarréia, coceira na pele e REAÇÕES MODERADAS
inchaço. Raramente causam reações asmáticas ou
rinite. O contato com a substância se dá por
ingestão, inoculação (no caso de animais) ou contato
CONTATO COM A PELE com a pele. Uma resposta orgânica se desencadeia,
podendo afetar diversos órgãos, e os sintomas
Alérgenos que entram em contato com a pele podem ser definidos a partir dos sistemas afetados:
(ex: látex) causam reação alérgica do tipo dermatite
de contato ou eczema, caracterizados por  Pele: eritema, edema, prurido difuso pelo corpo,
vermelhidão (eritema) e inchaço (edema), podendo principalmente em região anterior do tórax e
ocorrer o aparecimento de lesões vesiculosas e pescoço.
prurido.  Sistema digestivo: náuseas, vômitos, cólica e
diarreia.
 Sistema nervoso: tonteira e vertigem.
 Sistema cardiovascular: taquicardia e
aumento da pressão arterial.

As reações moderadas geralmente


afetam apenas um dos sistemas e têm uma boa
evolução. O quadro se reverte depois de
terminado o contato com o agente alergênico.

REAÇÕES GRAVES

Ocorre uma evolução rápida e


progressiva de uma reação moderada, atingindo
Fig. 13.1 (1) Angioedema de lábio; (2) Dermografismo;
mais de um sistema em poucos minutos, sendo
(3) Eczema no antebraço.

140
LATES-UFRJ|2016

a situação agravada por edema das vias aéreas identificação médica).


evoluindo para obstrução. Além disso, ocorre queda
abrupta da pressão arterial, que pode levar ao choque PRIMEIROS SOCORROS
e, em alguns casos, a uma redução do nível de
consciência e parada cardiorrespiratória. Este evento
A correta identificação do quadro alérgico é
grave e letal é chamado de anafilaxia, podendo esta
fundamental para evitar piores consequências. A
evoluir para o choque anafilático, sua forma mais
partir disso, é essencial identificar o agente causador
grave.
da reação alérgica e retirá-lo de contato com a vítima.
Dado todo este conhecimento, percebemos a
Muito importante também no atendimento inicial é
importância que é para um indivíduo reconhecer os
acalmar e confortar a vítima, pois a ansiedade pode
agentes que possivelmente venham a lhe causar
agravar a reação.
alguma reação alérgica; essa conduta é fundamental
para a manutenção da própria saúde. Inchaço nos
REAÇÃO ALÉRGICA LEVE
lábios, na língua e em outras regiões da boca, assim
como rouquidão, falta de ar ou dificuldade para
A maioria dos casos cessa sem maiores
engolir, são sinais que representam gravidade,
complicações apenas com as condutas citadas
devendo-se acionar um serviço médico de
anteriormente. No entanto, não havendo melhora, ou
emergência.
até mesmo piora dos sintomas após a retirada do
alérgeno, deve-se procurar atendimento médico.
ORIENTAÇÕES GERAIS
Alguns pontos importantes:
NÃO SE DEVE 1. Se a reação alérgica resultar de uma picada de
Assumir que quaisquer injeções que a vítima abelha de mel, retire o ferrão da pele com algo
já tenha tomado contra alergia darão a ela proteção firme (como a unha). Não use pinça, pois a
completa. pressão no ferrão poderá liberar mais veneno.
 Colocar uma almofada sob a cabeça da vítima se 2. Caso a vítima apresente um exantema com
ela estiver com dificuldade em respirar. Isso poderá prurido, aplique uma loção à base de calamina e
bloquear as vias respiratórias. compressas frias. Evite loções com difenidramina
 Administrar nenhuma substância à vítima por via (Caladril).
oral caso ela esteja com dificuldade em respirar. 3. É importante observar se o desconforto da vítima
aumenta.
CHAME O SERVIÇO MÉDICO DE EMERGÊNCIA
IMEDIATAMENTE SE: REAÇÃO ALÉRGICA MODERADA

 A reação alérgica da vítima for grave ou piorar É necessário atendimento médico para alívio
rapidamente (em alguns minutos). dos sintomas e, apesar de normalmente haver uma

 A vítima já possuir um histórico de reações melhora rápida após a exposição, há ainda risco de
alérgicas de natureza grave (procure pela evoluir para formas mais graves.

141
LATES-UFRJ|2016

REAÇÃO ALÉRGICA GRAVE OU ANAFILAXIA PREVENÇÃO

Procure imediatamente por uma unidade de 1. Evitar o agente alergênico logo após
saúde. O quadro pode evoluir rapidamente, podendo identificá-lo. Esta é a medida mais importante!
levar a vítima ao choque, coma e até mesmo morte. 2. As pessoas que sabem ser passíveis de
Mas atenção: a vítima não deve procurar o reações alérgicas de natureza grave devem ter
atendimento médico sozinha, devendo chamar a alguma identificação médica (cartão ou bracelete)
ambulância ou, no mínimo, estar acompanhada. As que descreva as substâncias às quais elas são
condutas são: alérgicas e as condutas que devem ser tomadas
caso elas venham a apresentar uma reação
1. Enquanto a vítima não recebe atendimento alérgica.
especializado, verifique seu estado e sinais vitais: 3. Observar cuidadosamente seus filhos após
examine circulação, vias aéreas e respiração. Se ter administrado um alimento novo ou
necessário, inicie a RCP. medicamento. De preferência, ler o rótulo do
2. Alguns pacientes, já cientes de sua alergia, alimento ou a bula do medicamento antes.
possuem um dispositivo autoinjetor de adrenalina, 4. Em restaurantes ou casas de amigos,
que deve ser usado imediatamente, podendo ser perguntar os ingredientes usados na preparação
por qualquer indivíduo apto a fazê-lo. Portanto, se dos alimentos.
a vítima tiver à mão esse medicamento de 5. Instruir pessoas em casa e no trabalho sobre
emergência contra alergia, ajude a injetá-lo. A sua alergia, o lugar onde guarda o medicamento e
aplicação é feita principalmente na parte como usá-lo.
anterolateral da coxa, no seu terço médio
(músculo vasto lateral).
3. Procure tomar medidas para evitar o choque.
Mantenha a vítima deitada, erguendo seus pés
cerca de 30 cm, e cubra-a com um agasalho ou
cobertor. NÃO deixe a vítima nessa posição se
houver suspeita de lesão cerebral, pescoço,
costas ou pernas, ou se isso causar desconforto a
ela.
4. Se a vítima perder a consciência, aplique os
procedimentos de primeiros socorros para casos
de inconsciência.

142
LATES-UFRJ|2016

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AEHLERT, B. Emergências em Cardiologia:


Suporte Avançado de Vida em Cardiologia. 3. ed. São
Paulo: Elsevier, 2007.

ALVAREZ, F. S. et al. Protocolo de atendimento


das Unidades de Pronto Atendimento 24 horas. 1.
de. Rio de Janeiro: [s. n.], 2009.

COSTA, B. K. Prevenção de doenças infecto-


contagiosas, prevenção de acidentes e primeiros
socorros para profissionais da educação infantil:
manual de orientações. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/250
57/000751031.pdf?sequence=1>. Acesso em: 01
mar. 2012.

IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Terapia Intensiva. 6. ed.


EUA: Guanabara Koogan, 2010.
IRWIN, R. S. RIPPE, J. M. Manual de Terapia
Intensiva. 4. ed. EUA: Guanabara Koogan, 2006.

MARTINS, H. S. Emergências Clínicas: Abordagem


Prática. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007.

<http://health.learninginfo.org/first-aid-allergies.htm>.
Acesso em: 01 mar. 2012.

143
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO Quadro 14.1 ANIMAIS VENENOSOS vs


PEÇONHENTOS

Muitas espécies de animais são dotadas de Animais venenosos produzem veneno, mas não
possuem um aparelho inoculador, provocando apenas
mecanismos de defesa ou ataque que possuem
envenenamento passivo, ocasionado por ingestão,
peçonhas ou venenos. São os chamados animais
contato ou compressão.
peçonhentos. Esses animais possuem glândulas de
veneno que se comunicam com aparelho inoculador,
a) ACIDENTES OFÍDICOS
por onde o veneno é injetado com facilidade, tais
como insetos, escorpiões, aranhas e cobras. Estima- O ofidismo constitui, dentre os acidentes por
se que ocorrem anualmente no Brasil cerca de 26000 animais peçonhentos, o de maior interesse médico
casos com cobras, 21000 com aranhas e 39000 com devido a sua frequência e gravidade. A ocorrência
escorpiões, podendo estar relacionados a ocorrência desse tipo de acidente é relacionada a fatores
de óbitos ou produção de sequelas. É importante climáticos e a atividade humana no campo, havendo
ressaltar que todo acidente por animal peçonhento predomínio de incidência nos meses quentes e
atendido na unidade de saúde deve ser notificado, chuvosos e em indivíduos do sexo masculino (15 a 49
independentemente do paciente ter sido ou não anos).
submetido à soroterapia. Existem no Brasil 60 espécies de cobras
Além dos acidentes por animais peçonhentos, venenosas, sendo as jararacas as responsáveis pelo
as mordidas por animais também merecem atenção maior número de ataques. Os acidentes ocorrem em
especial, visto que além de ser um acidente muito todo o país (principalmente nas regiões Norte e
comum, é potencialmente perigoso pois pode haver a Centro-Oeste), havendo predomínio do acidente
transmissão de muitas doenças, sendo a raiva uma botrópico (73,5%), seguido do crotálico (7,5%),
delas (uma doença de alta letalidade). Assim, é laquético (3%), elapídico (0,7%) e por cobras não-
fundamental saber como proceder em cada situação, peçonhentas (3%). A letalidade geralmente é baixa
para um melhor prognóstico da vítima. (0,4%), sendo que o tempo decorrido entre o acidente
e o atendimento e o tipo de envenenamento podem
elevar a letalidade em até 8 vezes.

144
LATES-UFRJ|2016

Quadro 14.2 INCIDÊNCIA DE Acidente Laquético: Causado por serpentes do


ACIDENTES OFÍDICOS POR REGIÕES gênero Lachesis. Ex: surucucu.
BRASIL 2008
Incidência
Região N° casos (por 100.000
habitantes)
Norte 8.065 52,6

Nordeste 6.865 13,2

Sudeste 6.689 8,3

Sul 3.071 11,1


Centro-
2.215 16,4
Oeste
Brasil 26.905 13,8

(Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009.)


Fig. 14.2 Surucucu

CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES


Acidente Crotálico - Causado por serpentes do
gênero Caudisona. Ex: Cascavel.
O diagnóstico do tipo de cobra causadora do
acidente é feito, na maioria dos casos, com base nas
manifestações clínicas que o paciente apresenta no
momento do atendimento, uma vez que nem sempre
é possível a identificação do animal. Os acidentes são
classificados em:
Acidente Botrópico: Causado por serpentes do
gênero Bothrops, Bothriopsis, Bothropoides,
Bothrocopias e Rhinocerophis. Ex: Jararaca.

Fig. 14.3 Cascavel

Fig. 14.1 Jararaca

145
LATES-UFRJ|2016

Acidente Elapídico - Causado por serpentes do  Pulso fraco


gênero Micrurus. Ex: Coral verdadeira.
 Respiração rápida
 Extremidades frias
 Perda da consciência
 Rigidez da nuca
 Coma e morte

Quadro 14.3 COBRAS VENENOSAS versus NÃO


VENENOSAS
Venenosas - fosseta lacrimal, cabeça triangular, olhos
pequenos, cauda afinando abruptamente, escamas com
desenhos irregulares, 02 presas no maxilar superior.
Fig. 14.4 Coral verdadeira

Acidente Por Serpentes Não-Peçonhentas - Sem


gravidade, porém frequente. Pode causar edema, dor
e equimose na região da picada. Ex: Cobra-cipó,
falsa-coral, cobra d’água.
Fosseta lacrimal ou loreal – órgão termorregulador
localizado entre o olho e a narina

Não Venenosas - não têm fosseta lacrimal, possuem


cabeça arredondada, olhos grandes, cauda longa e
afinando gradativamente, dentes pequenos e mais ou
menos iguais. Exceção: Coral verdadeira (gênero
Micrurus), que apesar de ser venenosa, não possui
fosseta lacrimal.

AÇÃO DO VENENO

Fig. 14.5 Cobra- cipó


A reação à picada vai depender de variáveis
como a parte do corpo que foi atingida, quantidade de
SINTOMAS GERAIS DOS ACIDENTES OFÍDICOS veneno injetada, peso da vítima, estado atual do
VENENOSOS sistema imunológico e o tipo da cobra (espécie). As
 Dor local partes do corpo mais frequentemente atingidas são

 Rápido enfraquecimento as pernas (principalmente abaixo do joelho), seguidas


dos braços.
 Perturbações visuais
Os venenos ofídicos podem ser classificados
 Náuseas e vômitos
de acordo com suas atividades fisiopatológicas, cujos

146
LATES-UFRJ|2016

efeitos são observados em nível local (região da ou água e sabão.


picada) e sistêmico. 4. Eleve o membro acometido e aplique compressa
fria no local.
Quadro 14.4 CLASSIFICAÇÃO DOS VENENOS 5. Transporte (em maca, se possível) a vítima ao
ATIVIDADE VENENO EFEITOS atendimento médico mais próximo para tratamento
Lesão endotelial e necrose (aplicação do soro).
Inflamatória Botrópico no local da picada. 6. Se possível, leve junto a cobra (viva ou morta)
aguda e laquético Liberação de mediadores para identificação (para que a vítima receba o soro
inflamatórios específico).
Botrópico,
Incoagulabilidade
Coagulante laquético e
sanguínea IMPORTANTE
crotálico
Sangramentos na região da
Botrópico, picada (equimose) e à
 Não colocar folhas, pó de café ou qualquer
Hemorrágica
laquético distância (gengivorragia, substância que possa contaminar a ferida.
hematúria, etc.)  Não oferecer bebidas alcoólicas, querosene ou
Bloqueio da junção qualquer outro líquido tóxico.
Crotálico e
Neurotóxica
elapídico
neuromuscular (paralisia de  Não fazer uso de qualquer prática caseira que
grupos musculares)
possa retardar o atendimento médico.
Rabdomiólise (mialgia
 Não tentar retirar o veneno do local, chupando,
Miotóxica Crotálico generalizada,
cortando ou espremendo o membro.
mioglobulinúria)
Estimulação colinérgica
“Neurotóxica” (vômitos, dor abdominal, De acordo com AHA (American Heart
Laquético
vagal diarréia, hipotensão, Association) 2010, a aplicação de uma atadura de
choque) imobilização por pressão, com pressão entre 40 e 70
mmHg na extremidade superior e 55 e 70 mmHg na
Adaptado de guia de vigilância epidemiológica, 2009 extremidade inferior, em torno de toda a extensão da
extremidade picada, é uma maneira eficaz e segura
PRIMEIROS SOCORROS de retardar o fluxo linfático e, por conseguinte, a
disseminação do veneno. Na prática, uma estimativa
1. Segurança da cena: observar se a cobra ainda se para esta faixa de pressão é a aplicação de uma
encontra no local, ou se existem outras ao redor. bandagem confortavelmente apertada, que permita a
inserção de um dedo sob ela.
OBSERVAÇÃO: Não perca tempo! Procure ajuda, o A soroterapia deve ser realizada o mais
tratamento deve ser feito em até 30 minutos após a rapidamente possível e o número de ampolas
picada. depende do tipo e da gravidade do acidente.
Especialistas do Butantã recomendam às vítimas que
2. Deite e acalme a vítima: o acidentado não deve recebam o soro de preferência nas primeiras 3h horas
locomover-se com os próprios meios. após o ataque.
3. Localize o local da picada e lave com água fresca

147
LATES-UFRJ|2016

PREVENÇÃO relevância clínica são o Tityus bahiensis, encontrado


em todo país, exceto a região Norte e o Tityus

 Usar botas de cano alto. stigmurus, espécie mais comum no Nordeste.

 Proteger as mãos: não enfiar as mãos em


tocas, cupinzeiros, ocos de troncos etc. Usar um
pedaço de madeira para verificar se não há
animais.
 Manter sempre limpos os terrenos, quintais
e plantações: facilidade para a proliferação de
roedores atraem as cobras, que os utilizam como
alimentos.
 Conservar o meio ambiente: desmatamento
e queimadas, além de destruir a natureza
Fig. 14.6 Tityus serrulatus
provocam mudanças de hábitos dos animais, que
se refugiam em celeiros ou mesmo dentro de
casas.
 Preservar os predadores (emas, gaviões,
gambás etc).

b) ACIDENTES ESCORPIÔNICOS
(ESCORPIONISMO)

Atualmente são conhecidas cerca de 1.600


Fig. 14.7 Tityus bahiensis
espécies de escorpião em todo o mundo, e
aproximadamente 100 espécies ocorrem no Brasil.
Os escorpiões com importância para a saúde pública
pertencem ao gênero Tityus, sendo T. serrulatus
(Escorpião Amarelo) a espécie de maior interesse.
Essa espécie vem expandindo sua área de
distribuição devido à sua facilidade de proliferação (se
reproduz por partenogênese) e sua boa capacidade
de adaptação ao ambiente urbano, além de possuir o
maior potencial de gravidade de envenenamento.
Atualmente, o T. serrulatus é amplamente distribuído,
Fig. 14.8 Tityus stigmurus
sendo encontrado desde o Paraná até o norte da
Bahia, com alguns relatos para Sergipe e Alagoas,
além da região central do país.
Outras espécies do gênero Tityus com

148
LATES-UFRJ|2016

Podemos classificar os acidentes


Quadro 14.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES escorpiônicos em 3 tipos: leves, moderados e
POR ESCORPIÕES graves. A gravidade destes acidentes depende da
espécie e tamanho do escorpião (os acidentes com
LEVES MODERADOS GRAVES
escorpiões amarelos têm maior gravidade), da
Além das
quantidade de veneno inoculado e da sensibilidade
manifestações
da vítima ao veneno. Os sintomas sistêmicos nos
prévias
casos moderados e graves podem surgir após
Dor imediata, agravadas, pode
intervalo de minutos até 2 a 3 horas.
intensa, irradiada. haver:
Náuseas, vômitos, bradicardia,
Dor
dormência, quadro PRIMEIROS SOCORROS
imediata,
lacrimejamento, tetaniforme com
intensa,
sialorréia, palidez, dislalia, disfagia e 1. Segurança da cena: Observar se o
irradiada.
sudorese, hipo ou diplopia, escorpião ainda se encontra no local, ou se
Parestesia
hipertermia, convulsões, existem outros ao redor. Não pegar o animal com
local.
agitação. insuficiência
as mãos desprotegidas.
Hipertensão cardíaca, edema
2. Lavar a região atingida com água fresca.
arterial. agudo do pulmão,
3. Elevar a extremidade acometida (para
choque, coma,
insuficiência reduzir a distribuição do veneno) e colocar
renal. compressa fria sobre o local da ferroada para
auxiliar no alívio da dor.
Adaptado Manual de Primeiros Socorros, 2003. 4. Encaminhar, imediatamente, a vítima para
Os escorpiões abrigam-se em terrenos atendimento médico.
baldios com mato e lixo doméstico, embaixo de 5. Se possível, trazer junto o escorpião.
pedras, sob cascas de árvores, em cupinzeiros,
buracos e frestas em paredes, sob rodapés soltos, Toda atenção deverá ser dada para o caso de
dentre outros, possuindo hábitos noturnos. São mais desenvolvimento de reações sistêmicas. Ficar atento
ativos em meses quentes e chuvosos, mas não há à presença de sinais e sintomas de choque anafilático
aumento significativo na incidência de picadas em (urticária, dispneia, fraqueza, confusão, ansiedade,
nenhuma época do ano. palidez, taquicardia, etc). Pode ser necessário a
O envenenamento ocorre pela inoculação de instituição de suporte básico à vida.
veneno pelo ferrão contido na cauda de escorpiões
do gênero Tityus. Os venenos de escorpião são IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,
menos complexos do que os de cobras. A maioria de chupando, cortando, espremendo ou garroteando o
seus componentes são peptídeos tóxicos que agem membro.
estimulando canais de sódio em terminações
nervosas, levando à estimulação de nervos CONTROLE E PREVENÇÃO
periféricos sensitivos, motores e do sistema nervoso
autônomo.  Manter quintais, jardins e terrenos baldios

149
LATES-UFRJ|2016

limpos, sem acúmulo de entulhos. Sua personalidade não é agressiva, só causa


 Aparar a grama dos jardins e recolher folhas acidentes quando é comprimida contra o corpo. A
caídas. maioria dos acidentes notificados acontece na região
 Vedar soleiras de portas. Sul, durante o verão.
 Examinar roupas, calçados, toalhas e roupas
de cama antes de usá-las. Aranha Armadeira: pode atingir até 15cm.

 Andar sempre calçado e usar luvas quando Tem hábito noturno e comportamento agressivo,

trabalhando com lenhas ou entulhos. podendo saltar a uma distância de 40cm. Acidentes

 Preservar os predadores naturais, como aves com essa aranha geralmente ocorrem no ambiente

de hábitos noturnos, sapos, gansos, galinhas, domiciliar ou peridomiciliar, durante o manuseio de

pássaros e lagartos. materiais de construção, telhas, tijolos ou ao calçar


sapatos. Os acidentes são mais frequentes nas
regiões Sul e Sudeste, principalmente entre os meses
c) ACIDENTES ARACNÍDICOS
de março e maio. O quadro clínico é muito
(ARANEÍSMO)
semelhante ao do escorpionismo, com predomínio de

O envenenamento por aranhas é causado manifestações locais.

pela inoculação de toxinas através de ferrões


localizados no aparelho inoculador. Apesar do grande
número de aranhas encontradas na natureza e de
praticamente todas produzirem veneno (99,4%),
poucas são consideradas de importância médica no
Brasil. São elas: Aranha Marrom (gênero Loxosceles),
a Aranha Armadeira (gênero Phoneutria) e a Viúva
Negra (gênero Latrodectus).

Aranha Marrom: De pequeno porte (3-4 cm).


Fig. 14.10 Aranha Armadeira
Geralmente encontrada em fendas, tijolos, atrás de
quadros e móveis, sempre ao abrigo da luz. Tem Viúva negra: de pequeno porte, com hábitos
hábitos noturnos. domiciliares e peridomiciliares, sedentários e não
possuem comportamento agressivo. Vive em
vegetações arbustivas e gramíneas. No Brasil, os
acidentes com esta aranha (só com a fêmea) ocorrem
principalmente na região Nordeste, em especial na
Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe, com
maior incidência entre os meses de março e maio.

Fig. 14.9 Aranha Marrom

150
LATES-UFRJ|2016

A gravidade dos acidentes provocados por


espécies perigosas depende da quantidade de
veneno injetada, do local da picada e da sensibilidade
da pessoa ao veneno, que geralmente é maior quanto
mais jovem for. De acordo com as atividades
fisiopatológicas, os efeitos dos venenos são distintos,
tanto em nível local, como sistêmico.

Fig. 14.11 Aranha Viúva negra Quadro 14.7 EFEITOS DOS VENENOS DAS
ARANHAS DE ACORDO COM A ATIVIDADE
Quadro 14.6 ARANHAS DE JARDIM E
FISIOPATOLÓGICA
TARÂNTULAS

ATIVIDADE VENENO EFEITOS


A família das aranhas de Jardim e Tarântulas
(Lycosidae) e a subordem das caranguejeiras
Necrose cutânea no local
(Mygalomorphae) apresentam grande variedade de Dermonecrótica Loxosceles
da picada
espécies, encontradas em todo o país, mas são
consideradas de menor importância para a saúde
pública. Eventualmente, podem ocasionar picada Hemolítica Loxosceles Hemólise intravascular

dolorosa, porém sem repercussão sistêmica.


Local: dor, edema,
Sobre sudorese
Phoneutria,
terminações Sistêmico: contraturas
Latrodectus
Caranguejeira nervosas musculares, intoxicação
)) adrenérgica/colinérgica

PRIMEIROS SOCORROS

Tarântula
1. Segurança da cena.
2. Lavar o local da picada com água fresca.
3. Elevar a extremidade acometida (para reduzir
a distribuição do veneno) e aplicar compressa fria
sobre o local.
4. Procurar atenção médica imediata (A procura
por tratamento depois de muito tempo dificulta a
identificação do agente e o tratamento).
5. Se possível, aprisionar o animal e levá-lo ao
serviço de saúde (melhor identificação do agente

151
LATES-UFRJ|2016

e, assim, tratamento facilitado). letal. No Brasil essa doença é endêmica, sendo a


6. Ficar atento à presença de sinais de choque. região Nordeste responsável por 54% dos casos
Pode ser necessária a instituição de suporte humanos registrados de 1980 a 2008, seguida da
básico à vida. região Norte com 19%. Não há registros de casos de
Raiva humana no estados do Sul desde 1987. Em
2008 foi registrado o primeiro caso de cura de Raiva
IMPORTANTE! Não tentar retirar o veneno do local,
humana no Brasil.
chupando, cortando, espremendo ou garroteando o
Todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus
membro.
da raiva e, portanto, podem transmiti-la. A doença
apresenta dois principais ciclos de transmissão:
CONTROLE E PREVENÇÃO
urbano e silvestre, sendo o urbano passível de
eliminação, por se dispor de medidas eficientes de
 Limpeza periódica do peridomicílio, evitando
prevenção, tanto em relação ao ser humano, quanto à
o acúmulo de lenha, tijolos, telhas, etc.
fonte de infecção.
 Manusear materiais como entulho, lixo,
materiais de construção com cuidado e, de
preferência, com as mãos protegidas.
 Tapar buracos e frestas de paredes, portas,
janelas e rodapés.
 Inspecionar e sacudir roupas, sapatos,
toalhas e roupas de cama antes do uso.
 Evitar a proliferação de insetos, para evitar o
aparecimento das aranhas que deles se
alimentam.
 Preservar os predadores naturais (sapo,
galinha, pássaros e lagartos). Fig. 14.12 Ciclos epidemiológicos de transmissão da
raiva

D) MORDIDAS
MODO DE TRANSMISSÃO
São na grande parte causadas por cães,
ocasionando principalmente lesões em extremidades A transmissão ocorre pela inoculação do vírus
nos adultos (principalmente as mãos), e na face, em contido na saliva do animal infectado, principalmente
crianças. Além do trauma físico causado, deve-se ter pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura
a preocupação com as doenças infecciosas que e/ou lambedura de mucosas. Nos cães e gatos, a
podem ser transmitidas, sendo a raiva uma delas. eliminação de vírus pela saliva ocorre entre 2 a 5 dias
antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo
RAIVA durante toda a evolução da doença. A morte do
A raiva é uma zoonose viral, que se animal ocorre, em média, entre 5 a 7 dias após a
caracteriza como uma encefalite progressiva aguda e apresentação dos sintomas.

152
LATES-UFRJ|2016

Há relatos de casos de transmissão inter-


Quadro 14.8 FATORES ASSOCIADOS COM O
humana na literatura, que ocorreram por transplante
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
de córnea e outros órgãos. A transmissão por via
Localização, extensão e profundidade da mordedura,
respiratória também é possível, porém remota.
arranhadura, lambedura ou contato com a saliva de
animais infectados
MECANISMO DE AÇÃO Distância entre o local do ferimento, o cérebro e troncos
nervosos
O vírus rábico penetra no organismo, Concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.
multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema
nervoso periférico e, posteriormente, o sistema PRIMEIROS SOCORROS
nervoso central. Após um período variável de
incubação, aparecem os pródromos iniciais, que 1. Segurança da cena: observar se o animal
duram de 2 a 4 dias e são inespecíficos, com o ainda está no local ou se há outros por perto.
paciente apresentando mal-estar geral, pequeno 2. Acalmar a vítima.
aumento de temperatura corpórea, anorexia, cefaléia, 3. Lavar a ferida com água e sabão, deixando
náuseas, dor de garganta, entorpecimento, a água escorrer por alguns minutos sobre o
irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. ferimento. O sabão deve ser totalmente removido
Podem ocorrer hiperestesia e parestesia nos trajetos após a lavagem, para que não atrapalhe a ação
de nervos periféricos, próximos ao local da mordida, e dos medicamentos que, por acaso, haja
alterações de comportamento. necessidade de serem usados posteriormente
A infecção progride, surgindo manifestações pelo atendimento especializado.
de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, 4. Levar a vítima ao atendimento médico mais
delírios, espasmos musculares involuntários próximo para tratamento.
generalizados e/ou convulsões. Ocorrem espasmos 5. Se possível, manter a posse do animal para
dos músculos da laringe, faringe e língua, quando o observação durante 10 dias após infecção.
paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando
sialorreia intensa. Os espasmos musculares evoluem IMPORTANTE!
para quadro de paralisia, levando a alterações  Não feche a ferida com curativos!
cardiorrespiratórias, retenção urinária e constipação  Há fatores que aumentam o risco e elevam a
intestinal. O paciente se mantém consciente, com gravidade da ferida, independentemente do animal
período de alucinações, até a instalação do quadro envolvido no acidente, tais como idade e estado
comatoso e evolução para óbito. imunológico da vítima, presença de doenças
São observadas, ainda, disfagia, aerofobia, vasculares, localização da lesão, tipos de lesões,
hiperacusia, fotofobia. O período de evolução do tratamento tardio e contaminação.
quadro clínico, após instalados os sinais e sintomas
até o óbito, varia, em média, de 5 a 7 dias. A TRATAMENTO
característica mais determinante da evolução clínica
da doença é a forma furiosa e/ou paralítica. Há um protocolo de tratamento da raiva
humana, elaborado pela Secretaria de Vigilância em

153
LATES-UFRJ|2016

Saúde e colaboradores, que deve ser adotado frente contrair a infecção rábica. Por exemplo: animais que
a casos suspeitos da doença, devendo ser aplicado o vivem dentro do domicílio (exclusivamente), que não
mais precocemente possível. têm contato com outros animais desconhecidos, que
somente saem na rua acompanhados dos seus donos
1. É necessário orientar o paciente para que ele e que não circulam em área com a presença de
notifique imediatamente a Unidade de Saúde se o morcegos. Em caso de dúvida, iniciar o esquema de
animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, profilaxia indicado. Se o animal for procedente de
uma vez que podem ser necessárias novas área de raiva controlada não é necessário iniciar o
intervenções de forma rápida, como a aplicação do esquema profilático. Manter o animal sob observação
soro ou o prosseguimento do esquema de e só iniciar o esquema profilático indicado (soro +
vacinação. vacina) se o animal morrer, desaparecer ou se tornar
raivoso.
É preciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e
gato e os cuidados recebidos. Podem ser dispensados
2. O soro deve ser infiltrado na(s) porta(s) de
do esquema profilático as pessoas agredidas pelo
entrada. Quando não for possível infiltrar toda
cão ou gato que, com certeza, não tem risco de

Fig. 14.13 Esquema para profilaxia pós-exposição da raiva humana

154
LATES-UFRJ|2016

dose, aplicar o máximo possível e a quantidade Disponível em:


restante, a menor possível, aplicar pela via <http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_s
intramuscular, podendo ser utilizada a região ocorros.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
glútea. Sempre aplicar em local anatômico BRASIL.
diferente do que aplicou a vacina. Quando as
lesões forem muito extensas ou múltiplas a dose Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
do soro a ser infiltrada pode ser diluída, o menos Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica.
possível, em soro fisiológico para que todas as Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. ed. Brasília:
lesões sejam infiltradas. Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: <
3. Nos casos em que se conhece só tardiamente a http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed
necessidade do uso do soro antirrábico ou _web_atual.pdf>. Acesso em 05 mar. 2012.
quando o mesmo não se encontra disponível no
momento, aplicar a dose de soro recomendada BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas
antes da aplicação da 3a dose da vacina de cultivo e Parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília:
celular. Após esse prazo o soro não é mais Ministério da Saúde, 2010.
necessário. <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20to
4. Nas agressões por morcegos deve-se indicar a ur/hipertextos/up2/mordidas_animais.html>. Acesso
soro-vacinação independentemente da gravidade em: 05 mar. 2012.
da lesão, ou indicar conduta de reexposição.
MARKENSON, D. et al. Part 13: First Aid: 2010
PREVENÇÃO
American Heart Association and American Red
 Vacinar todos os animais domésticos Cross International Consensus on First Aid
anualmente. Science With Treatment Recommendations.
 Respeitar o espaço dos animais: não mexer na Circulation [online]. 2010, v. 122, pp. S582-S605.
comida que o cachorro está comendo, não puxar a Disponível em: <
cauda dos animais etc. http://circ.ahajournals.org/content/122/16_suppl_2/S5
 Ensinar as crianças a não provocar cães e 82.full.pdf+html>. Acesso em 05 mar. 2012.
gatos e a não brincarem com cães e gatos
desconhecidos. GUIMARÃES, H. P. et al. Destaques das Diretrizes
 Colocar telas nos vãos, janelas e buracos e da American Heart Association 2010 para RCP e
fechar ou vedar porões, pisos falsos e cômodos ACE. 2010.
pouco utilizados que permitam o alojamento de
morcegos.
 Iluminar áreas externas nas residências.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo


Cruz. Manual de Primeiros Socorros. Rio de
janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003. 170 p.

155
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO

A Assembleia Geral da Organização das


Nações Unidas, no dia 2 de março de 2010,
proclamou oficialmente o período de 2011 a 2020
como a Década Mundial de Ação pela Segurança no
Trânsito a fim de estimular esforços em todo o mundo
para conter e reverter à tendência crescente de
fatalidades e ferimentos graves em acidentes no
trânsito no planeta.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas
– ABNT, em sua NBR 10697, define acidente de
trânsito como: “Todo evento não premeditado de que
resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões
em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma
das partes está em movimento nas vias terrestres ou
áreas abertas ao público. Pode originar-se, terminar
ou envolver veículo parcialmente na via pública.”. Fig. 15.1 Causas de óbito no Brasil (dados preliminares
Mais de 35 mil mortes, anualmente, ocorrem de 2010). Fonte: DATASUS

em acidentes de trânsito nas estradas e vias urbanas


brasileiras, representando uma média de 183 óbitos As principais estatísticas nacionais
por dia (7,6 por hora). disponíveis atualmente são as estatísticas de óbitos e
Perdas de vidas dessa forma estão de internações de vítimas de acidentes do trânsito,
compreendidas em segundo lugar nas chamadas publicadas pelo Ministério da Saúde. Os dados mais
mortes por causas externas no Brasil, as quais recentes são: 43.075 o número de vítimas fatais de
ocupam, por sua vez, a terceira posição nas taxas de acidentes de transporte terrestre em 2014.
principais causas mortalidade do país, sendo
superados somente pelas doenças cardiovasculares
e neoplasias, em todas as faixas etárias.

156
LATES-UFRJ|2016

O gráfico abaixo mostra óbitos que resultam Revisão da Classificação Internacional de Doenças:
de acidente de 2004 a 2014.Observa-se um aumento acidentes com pedestres, ciclistas, motociclistas,
de 1,9% no último ano. ocupantes de triciclos, de automóveis, de
caminhonetes, de veículos de carga pesada, de
ônibus e, demais formas de acidente de transporte.
Podemos classificar tais acidentes, quanto às
suas consequências, em:
 Simples: sem vítimas ou com danos de pequena
importância;
 Graves: com vítimas ou com danos de grande
monta.

PRINCIPAIS CAUSAS

Fig. 15.2 Mortos em acidentes de transito por ano.


Relacionando-se os principais fatores que
determinam a ocorrência de acidentes no trânsito, o
O Brasil tem prejuízo anual de R$ 105
destaque maior é dado ao erro humano, o qual é, em
milhões com acidentes de trânsito. Esse prejuízo se
todo o mundo, responsável por mais de 60% dos
dá por meio de custos com: perdas em produção,
acidentes registrados sendo que o comportamento do
médicos, previdência social, custos legais (perdas
motorista (velocidade do veículo, observação de
materiais, despesas com seguro) e custos com
sinais, velocidade de reação), apresenta-se como
emergências, entre outros. Isso acontece,
grande fator determinante. No Rio de Janeiro, 41%
principalmente, porque as maiores vítimas do trânsito
dos acidentes são causados por excesso de
são jovens de 20 a 29 anos de idade (significativa
velocidade, sendo também o Estado onde os
parcela produtiva da sociedade), mais
registros de infrações desse tipo são mais frequentes,
preferencialmente os homens brancos com
seguido de São Paulo (28%) e Brasília (21%).
escolaridade entre 4 e 7 anos de estudo.
Diante desses dados estatísticos, fica Quadro 15.1 CAUSAS DE ACIDENTES NO
evidente a importância do estudo do trauma no TRÂNSITO
trânsito, visto que corresponde a uma temática muito Falhas humanas (64%)
presente em nosso cotidiano, além de representar
Problemas mecânicos (30%)
uma forma evitável e prevenível de morte.
Má conservação da via (6%)
Um acidente de trânsito corresponde a todo
Fonte: DENATRAN
acontecimento desastrado, casual ou não, o qual
possui como consequências desagradáveis, danos
Os fatores humanos de risco são:
físicos e ou materiais, envolvendo veículos, pessoas
subavaliação da probabilidade de acidente
e ou animais nas vias públicas.
desatenção, cansaço, deficiências (auditiva, visual,
Os acidentes de transporte podem ser de
motora), consumo de álcool, consumo de droga,
vários tipos, tais como classificados pela Décima
excesso de velocidade, desrespeito à distância

157
LATES-UFRJ|2016

mínima entre veículos, ultrapassagem indevida e cerração, vento, fumaça proveniente de queimadas e
outras infrações dos motoristas (não utilização do condições de luz).
cinto de segurança, de capacete, de cadeira especial
para as crianças de acordo com as faixas etárias). Quadro 15.2 PRINCIPAIS IMPRUDÊNCIAS

Além da imprudência de pedestres, de ciclistas e de DETERMINANTES DE ACIDENTES FATAIS NO

motociclistas. BRASIL, POR ORDEM DE INCIDÊNCIA

Os problemas relacionados aos veículos Velocidade excessiva

como: defeitos de manutenção (pneus lisos ou com Dirigir sob efeito de álcool (anexo 16.1)

falta de calibragem, faróis com defeito ou mal Distância insuficiente em relação ao veículo

ajustados, retrovisores deficientes, falhas na dianteiro

mecânica), utilização incorreta (visibilidade Desrespeito à sinalização

prejudicada: carga obstruindo ângulos de visão, Dirigir sob efeito de drogas

sobrecarga, carga mal condicionada, carga fora do Inexperiência e falta de conhecimento

gabarito). Falta de atenção e falha de observação

Fatores ligados à infraestrutura e ao meio


ambiente: condições de conservação da via;
mudanças do contexto da rodovia (urbanização de TEMPO DE REAÇÃO

uma zona atravessada pela rodovia, construção de


acessos intermediários sem a necessária visibilidade, O tempo de reação trata-se do intervalo de

criação de linhas de ônibus sem paradas tempo entre o reconhecimento de uma situação

devidamente instaladas e protegidas); da evolução do perigosa e a ação de resposta à mesma, e

tráfego (certas disposições que eram corretas na depende da condição física e do estado emocional

época da construção, mas não são mais aceitáveis); do indivíduo, já que envolve sua capacidade de

acostamentos estreitos; canteiro central não atenção. O tempo médio de reação de uma pessoa

protegido; objetos fixos não protegidos; velocidade jovem, em bom estado de saúde, é de

autorizada excessiva; e condições meteorológicas aproximadamente 0,75 segundos, ou seja, nesse

(chuva, aquaplanagem ou hidroplanagem, neblina ou intervalo seu cérebro processa as informações que
está recebendo e define uma ação.
Quadro 15.3 FATORES DE IMPRUDÊNCIAS NO
TRÂNSITO

Impunidade / legislação deficiente

Fiscalização corrupta e sem caráter educativo

Baixo nível cultural e social

Baixa valorização da vida

Ausência de espírito comunitário e exacerbação do


caráter individualista

Uso do veículo como demonstração de poder e Fig.15.3 Distância de parada.

virilidade

158
LATES-UFRJ|2016

Este parâmetro é de grande importância no  Condições do motorista: caso o motorista


que se refere à ocorrência de acidentes, pois esteja, por exemplo, sonolento ou abalado
corresponde a uma das variáveis quando avaliamos, emocionalmente, sua atenção estará
por exemplo, a parada de um veículo, juntamente do comprometida e, consequentemente, sua reação
tempo de percepção da necessidade de frear e a ficará mais lenta.
distância de frenagem (que por sua vez, depende das
condições do piso, freio, pneus). CINEMÁTICA DO TRAUMA NO TRÂNSITO
Muitos fatores podem alterá-lo, de forma
definitiva (idade, deficiência física), ou temporária A cinemática do trauma estuda a
(enfermidades passageiras: resfriado, cefaleia, álcool, transferência de energia de uma fonte externa para
drogas, medicamentos, estado emocional). Segundo um corpo, no caso, o da vítima, como ocorre em um
alguns especialistas, dependendo da pessoa, apenas acidente de trânsito. Durante um acidente de trânsito,
dois copos de cerveja podem fazer seu tempo de a absorção de energia cinética do movimento é o
reação aumentar para dois segundos. componente básico da produção de lesão. Pode
ocorrer em três eventos: colisão do veículo contra o
corpo, colisão do ocupante contra o interior do veículo
e colisão de órgãos contra as paredes corporais.
Os acidentes envolvendo veículos ocorrem
em várias formas e cada uma delas é associada com
certos padrões de lesão, sejam diretos ou por
desaceleração de órgãos.
Fig.15.4 Campanha da Lei Seca

Portanto, fica evidente que para se evitar um PRINCIPAIS TIPOS DE ACIDENTES


acidente, o motorista deve sempre ter em mente os
seus limites referentes a esse intervalo, assim I. COLISÕES
mantendo um distanciamento correto dos automóveis
e outros possíveis obstáculos a sua frente, por meio São acidentes em que ocorre impacto entre
da avaliação de parâmetros como: dois veículos em movimento, podendo ser:
 Velocidade: quanto mais veloz estiver, maior
será a distância que deverá manter do carro à  Frontal: sendo causada principalmente, por
frente, já que o veículo demora mais para parar ultrapassagens ou curvas mal realizadas, quando
quando sua a velocidade é maior; os veículos transitam em sentidos opostos. As
principais lesões geradas relacionam-se a coluna
 Condições da via / Tempo atmosférico/ Pneus: cervical, tórax, contusão cardíaca, pneumotórax,
as condições do clima e da via influenciam no transecção de aorta (pela desaceleração), lesões
atrito entre o pneu e o solo e, consequentemente, de fígado, baço, joelho, quadril, punhos.
na redução da velocidade do veículo;

159
LATES-UFRJ|2016

 Lateral: quando os veículos transitam no mesmo


sentido e no momento da ultrapassagem sofrem o
impacto nas laterais, ou quando transitam em
sentidos opostos e ao se cruzarem tocam um no
outro lateralmente. É ocasionada por
ultrapassagens e curvas mal realizadas,
desrespeito à distância lateral de segurança,
excesso de velocidade, não manutenção do
veículo na faixa própria e desrespeito à

Fig.15.5 Exemplo de choque frontal sinalização. Pode levar às fraturas de coluna


cervical, lesão contralateral do tórax,
pneumotórax, ruptura traumática da aorta, ruptura
 Traseira: quando os dois veículos transitam no
diafragmática, lesão de fígado ou baço, fratura de
mesmo sentido, e o de trás vai de encontro ao
pelve ou acetábulo.
veículo que segue à frente. Sua causa principal
decorre do desrespeito à distância de segurança
do veículo. Está fortemente relacionada às
fraturas da coluna cervical por chicoteamento.

Fig.15.8 Exemplo de colisão lateral

Fig.15.6 Exemplo de colisão traseira.  Transversal: quando os veículos transitam em


sentidos que se cruzam, sendo causada ao se
efetuar o cruzamento sem a devida atenção.

Fig.15.7 Campanha de segurança no trânsito.

160
LATES-UFRJ|2016

Pode ocorrer por má distribuição da carga no interior


do veículo; carga com excesso de altura, velocidade
acima da permitida, não obediência à sinalização e
pneus com más condições de uso.

Fig.15.9 Exemplo de colisão transversal

 Colisão com objeto fixo (choque): caracteriza-


se pelo impacto de um veículo em movimento
contra qualquer obstáculo físico ou em veículo
Fig.15.11 Exemplo de tombamento
estacionado. Suas causas principais são a falta
de atenção, desrespeito à sinalização, excesso
III. CAPOTAMENTO
de velocidade, imprudência (falta de cuidado) e
imperícia (falta de habilidade).
Acidente em que o veículo em movimento
gira em torno do seu eixo longitudinal, chegando a
tocar com o teto no solo, imobilizando-se em qualquer
posição. Suas causas principais são o desrespeito à
sinalização, tráfego nas curvas em velocidade
superior à estabelecida, desatenção e imperícia.

Fig.15.10 Exemplo de colisão com objeto fixo.


Fig.15.12 Exemplo de capotamento.

II. TOMBAMENTO
IV. ATROPELAMENTO

Acidente no qual um veículo em movimento


Acidente em que um veículo em movimento
declina sobre um dos seus lados, imobilizando-se.
vai de encontro a uma ou mais pessoas ou a um ou

161
LATES-UFRJ|2016

mais animais, causando lesões leves ou graves. sobre este e impacto final contra o solo. Após o
Esse tipo de acidente é um dos mais impacto inicial, em que são produzidas lesões
preocupantes no trânsito e o seu risco de morte é importantes principalmente em membros inferiores e
maior entre os idosos acima de 60 anos e entre as cintura pélvica, a vítima pode ser lançada sobre o
crianças. veículo (impacto secundário), sofrendo danos na
cabeça, no tórax, no abdome, dependendo da
posição em que se encontrava no momento do
impacto. O estágio final é a queda da vítima sobre o
solo, quando os traumatismos da cabeça, coluna
cervical e membros superiores são frequentes.

Anexo 15.1: Epidemiologia do atropelamento

“No estudo, que analisou 1.248 vítimas de acidentes de


trânsito nas seis capitais selecionadas, contemplando as
cinco Regiões do País, o atropelamento apresentou a
segunda maior frequência entre os acidentes registrados
Fig. 15.13 Distribuição dos óbitos por categoria de em Manaus, Brasília e São Paulo; enquanto no Recife e
acidentes de transportes terrestres no Estado do Rio em Curitiba, a queda foi à segunda forma de acidente
de Janeiro (números preliminares para o ano de mais frequente. Nas faixas etárias mais extremas, o
2010). Fonte: DATASUS atropelamento foi o acidente mais frequente, atingindo
Os atropelamentos são responsáveis por 36% cerca de 52% das vítimas com 60 e mais anos e 47%

das mortes nas estradas brasileiras. O pedestre só das vítimas com idade até 9 anos.” (Portal da Saúde,
2011).
tem chance de sobreviver se o veículo estiver no
máximo a 30 km/h. Caso o motorista esteja a 40
km/h, a chance de óbito vai para 15%, a 60 km/h,
70% e a 80 km/h, provavelmente o pedestre não terá
qualquer chance de sobrevivência.
As lesões produzidas por atropelamentos
tendem a ser mais graves, pois o pedestre não possui
proteção (no caso do ocupante do veículo, a
carroceria do automóvel se deforma e absorve parte
da energia cinética da colisão). Normalmente as
vítimas sofrem lesões internas importantes, porque a
massa do veículo é tão grande que ocorre
transferência de grande quantidade de energia,
ATENDIMENTO PRIMÁRIO
mesmo com baixas velocidades.
Os danos tendem a ocorrer em três estágios:
Lembre-se que a omissão de socorro, além
impacto inicial do automóvel contra o corpo da vítima,
de ser uma irresponsabilidade, é crime previsto no
impacto secundário do corpo contra o veículo ao rolar
Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 304.

162
LATES-UFRJ|2016

Diante de um acidente de trânsito, de acordo relação à coluna vertebral, já que pode haver
com a gravidade, número de socorristas e vítimas, fratura com lesão da medula espinhal. O
você pode estar diante de um “Acidente com Múltiplas socorrista deve garantir a imobilização da coluna
Vítimas”, dessa forma, os cuidados a serem adotados cervical e, sempre que possível, não mobilizar a
serão outros (como será explicitado no capítulo 15), vítima, sob risco de agravar suas lesões.
no entanto, algumas condutas simples podem ser
adotadas em eventos de menor gravidade: 6. A seguir à sequência da vida (C.A.B.), faça
perguntas corriqueiras (ex. que dia é hoje?) ou dê
1. Garanta a segurança da cena, para isso realize o uma ordem simples, para avaliar superficialmente
balizamento (sinalização, visando isolar a área na as condições neurológicas da vítima, como o
qual se encontram as vítimas), certifique-se que nível de consciência e a orientação no tempo e
não há perigos adicionais e afaste os curiosos, e espaço. Enfim, faça a exposição da vítima,
lembre-se de parar seu carro em local seguro; afrouxando ou mesmo cortando suas roupas, à
procura de ferimentos ou hemorragias;
2. Cheque a responsividade da vítima, deve-se
considerar em parada cardíaca uma vítima 7. Não permita a ingestão de líquidos ou água pela
inconsciente que não esteja respirando, ou que vítima, nem que ela fume. Caso ela esteja
não o faça normalmente, ou seja, respira com consciente, pergunte-a sobre dores e outras
muita dificuldade ou respira ofegantemente, com queixas.
irregularidade e ruído. 8. Caso estejam presentes sinais de
envenenamento (ex. inalação de gases tóxicos),
3. Acione o Serviço Médico de Emergência queimaduras, feridas, hemorragias, convulsões,
(seguintes números 192 ou 193), consciente da desmaios ou fraturas, siga a conduta indicada nos
cinemática do evento para possíveis informações capítulos anteriores dessa apostila.
adicionais (por exemplo, número de vítimas);

4. Caso possua os conhecimentos básicos de ATENÇÃO! O tratamento não é a finalidade dos


atendimento e confiança em si mesmo, auxilie as primeiros socorros. Isto deve ser indicado e
vítimas, não se esquecendo de garantir a sua executado por profissionais habilitados, em locais
bioproteção por meio da utilização de seu adequados. Desta forma, após realizar o primeiro
equipamento de proteção individual; atendimento, solicite ou encaminhe a vítima para
avaliação médica.
5. Acalme as vítimas, realize uma avaliação inicial
identificando lesões que possam comprometer a
vida das mesmas e, concomitantemente,
estabeleça condutas para a estabilização dos
sinais vitais. Este processo constitui o BLS,
seguindo os novos guidelines da American Heart
Association, com considerações especiais em

163
LATES-UFRJ|2016

PREVENÇÃO
Quadro 15.4 RESGATE E TRANSPORTE
O conhecimento de várias técnicas de
resgate incluindo suas indicações e contraindicações Como indicado inicialmente neste capítulo,
é muito importante para a prática do atendimento. O acidentes automobilísticos são, em grande parte,
uso da técnica incorreta pela equipe de resgate é preveníveis e evitáveis. Portanto, uma série de
arriscado para a vítima, que pode desenvolver o medidas pode ser adotada tanto pelo poder público
segundo trauma, e para o próprio socorrista que quanto pelos indivíduos, sejam eles condutores de
pode desenvolver lesões musculares ou de coluna
veículos ou pedestres, no sentido de garantir o
vertebral. A escolha da estratégia de transporte
respeito à vida.
depende da situação, riscos no local, número de
socorristas e estabilidade do paciente.
A extricação é um conjunto de manobras  Nunca dirija alcoolizado, porém se realizá-lo,
que tem por objetivo retirar o indivíduo de um local reconheça que seu "tempo de reação" ficará
onde ele não pode ou não deve sair por seus alterado, portanto procure dirigir em velocidades
próprios meios. Este é um conceito mais abrangente muito mais baixas do usual na via que estiver
do que o desencarceramento, que é retirar uma trafegando;
pessoa presa por obstáculos físicos.
Todavia, todas essas técnicas dependem de
 Não utilize drogas antes e nem durante a
um determinado treinamento e experiência, sendo
condução de veículos;
assim, não devem ser realizadas por qualquer
pessoa. O melhor a se fazer é aguardar o socorro
especializado.  Reduza a velocidade quando seu estado
No caso de incêndio, risco de explosão ou emocional estiver comprometido ou evite dirigir;
de outro acidente, afogamento ou queda, utilize o seu
bom senso, pensando sempre na sua própria  Respeite a distância de segurança em relação
segurança ANTES DE TUDO!
aos outros veículos, principalmente em situações
adversas, como tempo chuvoso;

 Respeite e procure entender a razão da


sinalização de trânsito, tanto como pedestre
quanto como condutor do veículo;

 Evite colocar - se em uma condição causadora de


acidente, dirija para si mesmo e pelos demais
condutores, praticando a direção defensiva
(conjunto de medidas e procedimentos utilizados
para prevenir ou minimizar as consequências dos
acidentes de trânsito);
Fig. 15.14 e Fig. 15.15 Realização de Manobra de
extricação e Tesoura de extricação.  Utilize as vias adequadas de tráfego (calçadas,

164
LATES-UFRJ|2016

pista preferencial); graus com as pernas, daí o cinto diagonal passa pelo
meio do ombro e se estende pela coluna vertebral até
 Utilize sempre e adequadamente os dispositivos o engate nos quadris e o cinto sub-abdominal ou
de segurança como o cinto de segurança (tanto pélvico deve ser colocado na articulação dos quadris
nos assentos anteriores quanto nos posteriores e não na barriga.
do veículo) e capacetes;

 Mantenha o seu veículo sempre em condições


adequadas de trânsito realizando periodicamente
revisões;

 As vias devem ser corretamente conservadas


pelo poder público ou iniciativa privada, Fig. 15.16 Posições corretas para utilização dos
garantindo a qualidade do asfalto, iluminação e dispositivos de segurança: em adultos, gestantes e
sinalização corretas; bebês.
Seja qual for o modelo, não pode ser usado
torcido, embaixo do ombro, desgastado pelo sol, as
 Incentivo a políticas educacionais de tráfego, que
fibras das cintas se desprendendo, amarrado,
sejam capazes de atingir as diversas faixas
costurado, sistema de engate-desengate e
etárias.
estiramento defeituoso, modificado ou não instalado
por profissionais com conhecimento específico, banco
DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA
reclinado, postura torácica inadequada, isto anula o
sistema de segurança. Nestes casos se acontecer
Cinto de Segurança

Com o cinto de segurança, o ocupante tem


maior chance de sobreviver, pois são protegidos de
grande parte do impacto no interior do carro e são
impedidos de ser ejetados do mesmo; porém, ainda
estão suscetíveis a certas lesões.
Existem dois tipos de cinto: o abdominal e
aquele com fixação em três pontos ou cruzado. O
cinto abdominal não é seguro para crianças e
gestantes.
O cinto de três pontos oferece maior proteção
porque a força do impacto é distribuída e absorvida
por ele em toda área de contato com o corpo,
trabalhando com a estrutura esquelética humana Fig.15.17 O cinto de segurança fixa o indivíduo ao carro
adulta. Para usá-lo corretamente devemos sentar diminuindo as lesões.
com a coluna ereta fazendo um ângulo de noventa

165
LATES-UFRJ|2016

acidentes, não foi o cinto o causador das lesões e  Bebê-conforto: Desde o nascimento até 13 quilos
mortes, já que assim ele não era mais dispositivo de ou 1 ano de idade, constituem a forma adequada
segurança. à anatomia dos pequenos, mantendo-os na
Não obstante, a cabeça continua não sendo posição semiereta, impedindo fraturas de coluna
contida, sendo assim, o pescoço é ainda submetido a e crânio por possuírem anteparos de proteção
estresses que podem causar fraturas, luxações ou para a cabeça e pescoço, para que os bebês
lesões de medula espinhal. O cinto deve ser usado permaneçam confortavelmente seguros e fixos
inclusive nos bancos traseiros do veículo. nas freadas, turbulências provocadas por buracos
ou outras irregularidades na pista e é claro, nos
AIRBAGS acidentes. Deve ser fixado no centro do banco
traseiro, ou no lado direito do passageiro
Os air bags, caso funcionem corretamente, preferencialmente no cinto de três pontos, de
amortecem o impacto da cabeça e do tórax no costas para o movimento.
momento do acidente, sendo muito eficientes em  Cadeira de segurança: Entre 1 e 4 anos de idade,
reduzir as lesões de face, pescoço e tronco. (mais ou menos entre treze e dezoito quilos)
devem estar fixos pelo cinto de segurança do
banco traseiro e de frente para o painel, protegem
a cabeça e o tronco, podem possuir fitas de
contenção de cinco pontos ou anteparos em
forma de T ou de concha. Não é seguro para
crianças com menos de um ano de idade.
 Assento de elevação ou booster: Para crianças
entre 4 e 7 anos e meio, são utilizados quando a
criança ultrapassa os limites de tamanho para a
utilização dos assentos de segurança, mas ainda
não possuem altura para utilizarem a cinta do
Fig.15.17 Motorista sem a utilização do airbags e com a
ombro do cinto de três pontos do veículo. Quando
utilização do airbags.
o veículo possuir cinto de três pontos no banco de
trás, dar preferência para este modelo.
CADEIRA DE SEGURANÇA PARA CRIANÇAS
É importante ressaltar que bebês e crianças
O cinto de segurança é desenvolvido para o jamais devem ser transportados no colo. Além de ser
adulto, com no mínimo 1,45m de altura, portanto não projetada para frente numa colisão, sofrerá
são dispositivos de segurança para as crianças, daí a esmagamento pelo peso do corpo do adulto, pois, no
existência das cadeiras de segurança cujo objetivo é momento do acidente, a força com que a criança e o
mantê-las seguramente fixas no banco do veículo, e adulto são projetados é muito grande, impossível para
reduzir a incidência e gravidade que a força do uma pessoa segurá-la.
impacto gera no corpo humano em colisões, freadas
bruscas e violentas, capotamentos, etc.

166
LATES-UFRJ|2016

Fig. 15.19 Lesão extensa em pescoço causada por linha


de pipa com cerol.

Fig.15.18 Formas de transporte de acordo com a idade.

É muito perigoso também levar crianças no


bagageiro interno, esse compartimento é projetado
visando absorver choques decorrentes da força do Fig.15.20 Moto com antena contra linhas de pipa.
impacto, que deforma facilmente a parte de trás da
DIREÇÃO DEFENSIVA
carroceria, não oferecendo proteção alguma para
quem estiver lá, além do que, podem ser projetadas A direção defensiva é a técnica indispensável para o
para fora do veículo durante o acidente. aperfeiçoamento do motorista que trata de forma
Quadro 16.5 LAZER vs. PERIGO correta o uso do veículo na maneira de dirigir,
Outra importante causa de acidentes no trânsito reduzindo a possibilidade de envolvimento nos
trata-se uma simples brincadeira de criança, mas capaz acidentes de trânsito; ou seja: é uma atitude de
de trazer trágicos resultados: a pipa. Muitos garotos segurança e prevenção dos acidentes.
utilizam-se da mistura de cola e vidro moído, o conhecido
O desenvolvimento de alguns requisitos na
“Cerol”, para tornar essa forma de lazer mais
condução do veículo possibilitará ao motorista a
interessante, todavia, por descaso ou desconhecimento,
prevenção de acidentes.
muitos condutores de veículos, essencialmente,
motociclistas, são feridos nessa situação.
Atualmente, a chamada “linha chilena” agravou Conhecimento: É preciso conhecer as leis e normas
os acidentes, pois o óxido de alumínio contido nessa que regem o trânsito. Este conhecimento é repassado
mistura aumentando o poder de corte da linha em quatro através do Código de Trânsito Brasileiro e do
vezes. Desse modo, é importante como forma de aprendizado na prática.
prevenção, também conscientizar esses jovens quanto
ao perigo que eles podem estar impondo aos outros,
Atenção: Deve ser direcionada a todos os elementos
assim como incentivar a utilização de “antenas contra
da via e também às condições físicas e mentais do
linhas de pipa” pelos motociclistas.
condutor, aos cuidados e à manutenção do veículo,

167
LATES-UFRJ|2016

tempo de deslocamento e conhecimento prévio do <http://pt.io.gov.mo/Legis/International/record/646.asp


percurso, entre outros. x>

Previsão: É a antecipação de uma situação de risco <http://www.cetsp.com.br/media/56546/btcetsp42.pdf


e podem ser desenvolvidas e treinadas no uso do seu >
veículo. <http://vias-seguras.com/os_acidentes/causas_de_
acidentes/fator_humano>
Decisão: Dependerá da situação que se apresenta e
do seu conhecimento das possibilidades do veículo, <http://www.operacaoleisecarj.rj.gov.br/a-lei-seca/>
das leis e normas relacionadas ao trânsito, do tempo
e do espaço que você dispõe para tomar uma atitude <http://bahiatododia.com.br/index.php?artigo=14041>
correta. É ser ágil nas suas ações, mas não <http://vias-seguras.com/comportamentos/direcao_
esquecendo o bom senso e sua experiência. defensiva_manual_denatran>

<http://www.detran.pe.gov.br/download/cartilha/Cartilh
a_DETRAN_Direcao_Defensiva.pdf>

<http://diariodograjau.com.br/?p=3709>

<http://korrerya.spaceblog.com.br/602398/Arte-digital-
Colisao-Frontal/>

<http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=177004>

<http://www.rodosol.com.br/blog/2012/11/transito-
parado-na-terceira-ponte-entenda-como-funciona-a-
operacao-da-rodosol-em-caso-de-panes-e-
acidentes.html>

<http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vCod
=106752>

Fig 15.21 Campanha de segurança no transito <http://www.inglesnosupermercado.com.br/filezinho-


explica-que-t-bone-nao-significa-osso-duro-em-forma-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS de-t/>

<http://www.flickr.com/photos/69260467@N05/62989 <http://mpbnoticia.blogspot.com.br/2011/01/seis-

75932/in/set-72157628019781998/> mortos-em-acidentes-em-santa.html>

168
LATES-UFRJ|2016

<http://brejo.com/2011/10/21/caminhao-carregado-
com-tijolos-tomba-na-br-230-em-joao-pessoa/>

<http://sindireceita.org.br/blog/2008/04/08/assessoria-
de-imprensa-drf-foz-do-iguacupr-2/>

<http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/d
efault.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_
NOTICIA=12604>

<http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/deolhonotransito
/2012/06/25/motorista-atropela-e-mata-duas-criancas-
que-brincavam-na-calcada-ate-
quando/atropelamento-3/>

<http://www.wolfforthfireems.com/airbag_safety.htm>

<http://comunidade.motonline.com.br/forum/harley-
davidson/492249-dyna-super-glide-1600-
paix%C3%A3o.html?start=255>

<http://www.educacaotransito.pr.gov.br>

<http://www.denatran.gov.br>

<http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php>.

169
LATES-UFRJ|2016

INTRODUÇÃO primária e secundária. Todavia, vale ressaltar que,


indubitavelmente, a prevenção deve ser o objetivo
principal tanto dos serviços públicos quanto dos

À medida que a sociedade humana cidadãos como um todo, na abordagem desse e

moderniza-se, um número cada vez maior de outros temas.

pessoas passa a aglomerar-se nos grandes centros


urbanos, além de haver um aumento progressivo na
formulação e utilização de novas tecnologias CONCEITOS
possibilitando maior comodidade e praticidade ao
cotidiano. ACIDENTE COM MÚLTIPLAS VÍTIMAS
Por outro lado, tal modernização é
proporcionalmente acompanhada pelo agravamento De acordo com a Defesa Civil, “os acidentes
das condições sócio ambientais, o que expõem cada com múltiplas vítimas são aqueles que apresentam
vez mais populações a situações de risco, nas quais desequilíbrio entre os recursos disponíveis e as
determinados cenários podem produzir um grande necessidades, e que, apesar disso, podem ser
número de vítimas. Isto é evidenciado diante do que atendidos com eficiência desde que se adote a
se presencia diariamente nos noticiários os quais doutrina operacional protocolada. ”
divulgam um aumento avassalador das tragédias Pode ser também definido como evento
capazes de gerar um sofrimento imenso das famílias complexo que requer comando e controle agressivo e
e da sociedade em geral, o que é exemplificado com coerente, de maneira a fornecer os melhores
os eventos ocorridos no Haiti (2010), Região Serrana cuidados às vítimas sob condições caóticas. Como
do Rio de Janeiro (2011) e o incêndio da boate em parâmetro de magnitude, consideramos acidente com
Santa Maria- RS (2013). múltiplas vítimas aqueles eventos súbitos com mais
Portanto, o conhecimento da abordagem de de 5 (cinco) vítimas graves.
situações que envolvam não somente o cuidado
individual assim como o coletivo, assume um DESASTRE
importante papel, na medida em que o atendimento
adequado depende tanto da atuação de profissionais O conceito de desastre compreende um
da saúde, quanto do auxílio de pessoas devidamente acontecimento calamitoso, resultado de eventos
treinadas capazes de desempenhar a assistência adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre

170
LATES-UFRJ|2016

um ecossistema (vulnerável aos efeitos do evento), atendimentos pré-hospitalares e os hospitais se


ocasionando grandes danos (humanos, materiais deparam com freqüência. Diante dessas situações
e/ou ambientais) e, consequentemente, prejuízos ocorre uma incapacidade dos serviços de lidarem
econômicos e sociais. Segundo a Organização com esse problema, havendo, desta forma,
Mundial de Saúde (OMS), relaciona-se a um necessidade de se estar preparado e treinado para
fenômeno de causa tecnológica de magnitude atender esses acidentes.
suficiente para necessitar de ajuda externa. Em um desastre, o conceito do melhor
esforço, ou seja, o melhor atendimento para a vítima
Características do desastre: mais grave deve dar lugar ao conceito de o melhor
 Insuficiência de recursos humanos e atendimento para o maior número possível de
materiais; vítimas, no momento que elas mais precisam e no
 Escassez de meios de transporte de vítimas; menor tempo possível.
 Meios de comunicação inadequados;
 Inexistência ou não respeito a cadeia de
comando;
 Interferências externas;
 Descoordenação entre os Órgãos de
atuação;
 Inexistência de Doutrina de Desastres.

Os desastres podem ser de evolução aguda


(súbito), como em uma enxurrada, explosões ou
acidente aeronáutico; evolução crônica (gradual),
como em uma seca, enchente cíclica ou erosão; ou
por somação de efeitos parciais, como desastres
rodoviários ou pandemia de AIDS.
Outra classificação dos desastres é quanto à
tipologia:
Fig. 16.1 Desastre na região serrana do RJ
 Natural: Inundações, deslizamentos, ciclones
ATENDIMENTO BÁSICO
 Humana: Acidentes de tráfego, colapsos
estruturais, explosões, incêndios, produtos
Diante de um cenário contendo múltiplas
perigosos.
vítimas, como apontado anteriormente, o auxílio de
 Mista: ações ou omissões humanas, que
diversas pessoas é requerido e importante. Porém,
contribuem para intensificar, complicar ou
para tal é necessário o prévio desenvolvimento de
agravar os desastres naturais.
uma série de habilidades, dentre as quais se
destacam o conhecimento técnico e o preparo
O atendimento a acidentes com múltiplas
emocional e físico, todos podendo ser desenvolvidos
vítimas é um desafio, no qual os serviços de
no processo de treinamento intensivo e reciclagem

171
LATES-UFRJ|2016

periódica. Essa é a base da formação dos socorristas São vários os fatores responsáveis por tornar
e de toda a equipe pré-hospitalar. o local inseguro, como:
Contudo, mesmo não sendo um profissional  Características do próprio evento:
especializado da equipe de atendimento de desabamentos, incêndios, conflitos armados,
emergência ou mesmo da área de saúde, qualquer existência de produtos perigosos, etc;
cidadão pode contribuir para o atendimento e socorro  Características ambientais e locais: chuva,
das vítimas de outras formas. vento, neblina, excesso de frio ou calor,
luminosidade local, desenho de ruas e estradas,
ACIONAMENTO DO SISTEMA DE EMERGÊNCIA existência de fluxo de pessoas ao redor, tráfego
de veículos, e outros.
A forma mais imediata de contribuição e que
pode ser realizada por qualquer testemunha da cena Tal destaque na avaliação da cena dá-se por
é o acionamento do sistema de emergência local: óbvios motivos: em um local inseguro, um socorrista
ligar para o número 192 (SAMU – Sistema de ou a equipe de saúde tornam-se potenciais vítimas,
Atendimento Móvel de Urgência) ou 193 (Corpo de independentemente de suas nobres intenções, dessa
Bombeiros Militar). Para que tal comunicação seja forma, há grandes chances do cenário vitimizar um
eficaz e contribua para o atendimento, informações número maior de pessoas além de reduzir as
precisas devem ser fornecidas à respectiva possibilidades de socorro.
autoridade, com tranquilidade e segurança, tais como: Lembre-se sempre que a cena é dinâmica.
Assim, a segurança da cena deve ser periodicamente
 Quem está ligando? verificada.
 O que ocorreu?
 Quantas vítimas?
 Endereço? BIOPROTEÇÃO
 Pontos de referência?

Toda e qualquer pessoa que deseje prestar


A ligação só deve ser finalizada quando for auxílio, deve inicialmente garantir a sua bioproteção a
orientado pelo atendente. partir de determinadas ações e utilização de
equipamentos de proteção individual (EPI´s).
AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DA CENA

Compreende umas das etapas essenciais a


qualquer tipo de atendimento, objetivando a garantia
de segurança tanto para o socorrista quanto para sua
equipe, pessoas que rodeiam a vítima e para esta
mesma. Sendo assim, toda equipe ou pessoa que
escolhe ajudar o outro, somente deverá fazê-lo
quando o cenário/local de atuação estiver seguro.

Fig. 16.2 Atendimento inicial

172
LATES-UFRJ|2016

Podemos destacar alguns dos itens básicos possível.


de proteção, os quais são de fácil acesso e transporte A função de comando tem por objetivo evitar
pelo cidadão comum: luvas, óculos de proteção e três grandes transtornos:
máscaras.
● Ocorrência de novos acidentes;

Quadro 16.1 CUIDADO ADICIONAL ● Tratamento e transporte inadequado das


Não se esqueça da higiene das mãos. Lavá-las é o vítimas aos hospitais;
princípio fundamental no controle de infecções. Portanto, ● Que o caos local seja transferido ao hospital
após a retirada das luvas, deve-se higienizá-las com sabão mais próximo.
e água corrente, ou por meio de antissépticos a base de
álcool.

Há três princípios básicos no atendimento


dessas situações são fundamentais: triagem,
tratamento e transporte.

Para que estes três princípios básicos sejam


plenamente atendidos é necessário que haja
comando, comunicação e controle, que são pontos
capitais, indispensáveis para o sucesso do
atendimento.
É preciso que haja um comandante da área
no local, junto a um Posto de Comando, identificável
por todos e que todos obedeçam a suas ordens e
orientações; um coordenador médico para chefiar as
atividades médicas locais e um coordenador
operacional para as atividades de salvamento, todos
trabalhando conjuntamente.
É necessário que haja comunicação entre as Fig. 16.3 Esquema área de atendimento a AMUV

equipes de atendimento, bem como comunicação


com a central de operações. Tal comunicação não TRIAGEM

deve interferir na rede de comunicações da unidade,


para evitar congestionamento. Palavra de origem francesa significa “pegar,

Congelar a área mediante o controle total do selecionar ou escolher”

local do acidente é o primeiro objetivo do comandante A doutrina do atendimento a acidentes com

da área. Este objetivo visa limitar a extensão do múltiplas vítimas (AMUV), diante do desequilíbrio

acidente, organizar ações e medidas efetivas de momentâneo dos recursos disponíveis em relação ao

segurança proteção e atendimento pré-hospitalar a grande número de vítimas, preconiza: empregar todos

todas as vítimas envolvidas, no menor tempo os esforços para o maior número de vítimas.

173
LATES-UFRJ|2016

Assim sendo, no atendimento a múltiplas Socorristas (área de tratamento)


vítimas, triagem significa atendê-las, classificando-as  VERMELHO: Tratamento Médico (área de
em graus de prioridades para que resulte no tratamento)
salvamento do maior número de vítimas, empregando  VERDE: Transporte (pessoal responsável em
o critério do melhor atendimento para o maior número conduzir até as ambulâncias)
de vítimas.  CINZA: Morgue (pessoal responsável em
A triagem consiste numa avaliação rápida das movimentar e identificar os mortos)
condições clinicas das vítimas para estabelecer
prioridades de tratamento médico. É uma tática que
determina prioridades de ação que, quando bem
utilizada, determina sucesso na diminuição da
mortalidade e morbidade das vítimas de acidentes
coletivos.
Cabe à primeira guarnição que chega no
local do acidente, procurar congelar a área e iniciar a
triagem preliminar, enquanto solicita apoio, visando
salvar o maior número de vítimas de óbito iminente. A
triagem é dinâmica e repetida, pois as vítimas podem Fig 16.4 Coletes de identificação
evoluir para melhor ou pior estado de saúde. A triagem Já em relação a área do desastre, ela deve
consiste de ações simples e rápidas, gastando no ser dividida em zonas de segurança para permitir o
máximo de 60 a 90 segundos por vítima. trabalho das equipes de salvamento.
Durante todos estes procedimentos dentro do A zona quente é aquela que ainda oferece
teatro de operação (TO) pode haver confusão devido à riscos, imediatos ou potenciais, contendo a zona
rapidez com que tudo tem que ser feito juntamente com central do TO.
a quantidade de pessoal envolvido, vitimas e voluntários. A zona morna é aquela intermediária entre a
Se não houver uma estrutura de identificação haverá um quente e a fria. A delimitação destas áreas varia com
caos geral e muitas pessoas vão ficar no local sem saber o tipo de evento, riscos envolvidos e deve ser
o que fazer, pra onde levar as vítimas, com quem falar estabelecida por profissionais do Corpo de Bombeiros
ou até mesmo quem obedecer. ou da Defesa Civil.
As equipes e os locais são imediatamente A zona fria é segura, não oferecendo riscos; a
identificados por cores, sendo por bandeiras e coletes área de tratamento e a de transporte normalmente
específicos. são montadas nesse local.
A sequência de cores são as seguintes: Todo o processo de triagem é dinâmico e
deve ser feito em todas as etapas do atendimento,
 AZUL: Coordenação Médica (posto de devendo-se ter em mente que as vítimas podem
comando) passar de um nível de gravidade para outro
 LARANJA: Triagem (pessoal na zona rapidamente, mudando a sua prioridade no
quente) tratamento.
 AMARELO: Tratamento Enfermagem e

174
LATES-UFRJ|2016

formado por quatro cores, cada uma determinando


um grau de prioridade à vítima. Normalmente
utilizam-se cartões, que podem ser fixados nas
pessoas injuriadas, para permitir a identificação pelos
serviços de emergência, todavia na ausência desse
material, qualquer medida de improviso, como fitas
coloridas, que permita classificação por cores é
válida.

Fig. 16.5 Zonas da área de desastre.

Para agilizar tanto o próprio atendimento


quanto facilitar a memorização e implementação,
diversos algoritmos foram criados para a realização
da triagem. Sendo que um dos mais utilizados pelos
sistemas de emergência como um todo corresponde
ao método S.T.A.R.T. (Simple Triage And Rapid
Treatment - Triagem Simples e Tratamento Rápido), o
qual permite que os primeiros a chegarem na cena
(“first responders”), independentemente de serem
socorristas ou cidadãos, identifiquem os pacientes
mais graves indicando a sua prioridade de Fig. 16.6 Socorrista determinando a prioridade de atendimento

atendimento e tratamento. da vítima utilizando o cartão de triagem como identificação.

Além desse, há o método CRAMP


(Circulação, Respiração, Abdome, Motilidade e
Palavra), realizado apenas por profissionais da
saúde, devido à sua complexidade.

SIMPLE TRIAGE AND RAPID TREATMENT


( S.T.A.R.T.)

O sistema S.T.A.R.T. foi desenvolvido para


permitir que os socorristas triem múltiplas vítimas em
30 segundos ou menos, reconhecendo as prioridades
de atendimento, baseando-se em três observações Fig. 16.7 Na ausência do cartão, outras formas de
primárias: Respiração, Circulação e Nível de improviso podem ser adotadas, como a fixação de
consciência das vítimas. uma fita com a cor correspondente à prioridade da

Tal avaliação pode ser, portanto, indicada ou vítima.

transmitida a partir da utilização de um código


175
LATES-UFRJ|2016

CARTÃO AMARELO - PRIORIDADE 2 /


SECUNDÁRIA

Vítimas classificadas como amarelas não


apresentam risco de vida imediato, mas necessitam
de algum tipo de tratamento no local enquanto
aguardam transporte ao hospital.
São vítimas sem indicativo de que podem
morrer nos próximos minutos caso não sejam
socorridas. Além da exclusão dos critérios usados
para a prioridade 1, as vítimas devem ser capazes de
executar ações simples, que foram orientadas pelo
socorrista, como por exemplo levantar o braço direito.
Fig 16.8 Cartão de triagem Se a vítima só conseguir deambular com o auxilio de
um ou mais socorristas, ela também se adequará a
esta classificação.
CARTÃO VERMELHO - PRIORIDADE 1 / IMEDIATA São situações observadas nos pacientes
desse nível: fraturas; TCE leve, moderado;
São classificadas como vítimas vermelhas queimaduras menores; traumatismos abdominais e
aquelas que apresentam risco imediato de vida, torácicos; ferimentos com sangramento que
apresentando respiração somente após manobras de necessitam suturas.
abertura de vias aéreas ou frequência respiratória
igual ou maior que 30 movimentos respiratórios por CARTÃO VERDE - PRIORIDADE 3 / TARDIA
minuto, ou frequência respiratória normal, mas com
tempo de enchimento capilar maior que 2 segundos. Vítimas com capacidade para andar sozinhas
Elas necessitam de algum tratamento médico são classificadas como verdes. Elas não necessitam
no local do acidente e/ou precisam ser transportadas de tratamento médico ou transporte imediato,
rapidamente ao hospital para cirurgia. possuem lesões sem risco de vida. Apesar disso, não
Observa-se em pacientes desse nível, podem ser consideradas isentas de lesão, apenas
situações como: choque; amputações; hemorragia não prioritárias naquele momento.
severa; lesões arteriais; lesões por inalação; lesão de Situações observadas nos pacientes desse
face e olhos; lesões intra-abdominais; lesões nível: contusões; hematomas; escoriações; pequenos
extensas de partes moles; insuficiência respiratória; ferimentos.
pneumotórax hipertensivo; queimaduras em face;
queimaduras de 2º grau maior que 20% a 40% ou de CARTÃO CINZA OU PRETO - PRIORIDADE ZERO /
3º grau maior que 10% a 30%. ÚLTIMA

Vítimas em óbito ou que não tenham chance


de sobreviver. Elas não respiram, mesmo após

176
LATES-UFRJ|2016

manobras simples de abertura da via aérea. Se representa um sinal de gravidade, portanto de


houver socorristas suficientes para o atendimento de priorização. Outra forma de avaliação é a própria
todas as vítimas, todo o esforço deve ser tentado, observação da capacidade de falar e gritar de uma
exceto para as vítimas com morte óbvia. vítima, pois denota que as suas vias aéreas estão
Situações observadas nos pacientes desse pérvias.
nível: em óbito; múltiplos traumas graves;
queimaduras de 2º e 3º graus extensas. II. CIRCULAÇÃO

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS O enchimento capilar é o melhor método para


avaliar a perfusão: pressiona-se o leito ungueal ou os
Para a classificação das vítimas segundo sua lábios, soltando-os em seguida e observa-se o
prioridade de atendimento, alguns parâmetros devem retorno da coloração normal.
ser observados na sequência apresentada a seguir. Se o resultado de tal manobra demorar
menos que dois segundos, a vítima não é classificada
I. RESPIRAÇÃO até a avaliação do nível de consciência, mas acima
desse valor, pode-se considerá-la com prioridade
Deve ser avaliada a partir de sua frequência e VERMELHA.
qualidade. Outra manobra que pode ser utilizada é a
Caso a vítima não respire, de início deve-se detecção do pulso radial: se ausente, a vítima é
excluir a possibilidade de obstrução das vias aéreas classificada como VERMELHA; se presente, também
por meio da presença de corpos estranhos. Fazem- se deve avaliar o nível de consciência. Nesse
se, então, as manobras de abertura das mesmas por momento, qualquer hemorragia grave deve ser detida
meio da elevação do mento ou tração da mandíbula, e o choque evitado.
em caso de suspeita de lesão cervical.
Se após a manobra a vítima voltar a respirar, III. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
ela recebe a classificação de vítima VERMELHA,
devendo, se possível, manter as vias aéreas pérvias. O socorrista solicita comandos simples como:
Porém, se posteriormente a realização da manobra a “Feche os olhos”, “Aperte minha mão”, “Ponha a
pessoa não respirar, a mesma será classificada como língua para fora”. Se a vítima não obedece aos
vítima CINZA ou PRETA, não se devendo iniciar a comandos sua prioridade é VERMELHA, caso
respiração artificial. contrário, é classificada como AMARELA.
Há outra situação, em que a vítima é
encontrada respirando, nessa circunstância deve-se  O cartão VERDE é usado para os pacientes que
avaliar a freqüência: dentro de 30 irpm (eupneica), estejam andando ou que não se enquadrem em
não se classifica a vítima nesse momento, mas acima nenhuma das situações acima;
desse valor (taquipneica), temos uma vítima  Toda vítima inconsciente que respire (com ou
VERMELHA. sem manobra de abertura de vias aéreas) é
Além disso, mesmo constatando-se que a classificada como VERMELHA;
vítima respira a respiração muito dificultosa também Além da gravidade, deve-se pensar também

177
LATES-UFRJ|2016

em alguns outros aspectos durante o atendimento.


Inicialmente faz-se uma avaliação para dimensionar As vítimas após estarem na lona, não devem
os recursos necessários, devendo também ser feita a ser abandonadas no local, sempre deve haver um
triagem das áreas a serem priorizadas (lembre-se que membro da equipe reavaliando as vítimas, pois seu
a segurança do socorrista vem em primeiro lugar). quadro pode modificar, mudando o estado de
As vítimas classificadas com as cores prioridade, ou seja, a vítima pode ser classificada
VERMELHA e AMARELA necessitam de auxílio para como AMARELA e evoluir para prioridade
se movimentar. Nesse caso, se a região do acidente VERMELHA.
for instável, a remoção direta deve ser feita pela À medida que a ajuda especializada chega à
atividade operacional. cena do acidente, é possível reavaliar as vítimas para
Após realização de triagem das vítimas, há o continuar com a avaliação, o transporte e o
transporte para os locais das lonas das respectivas tratamento.
cores que as vítimas foram classificadas, sendo que O transporte deve ser feito de maneira
as vítimas com prioridade VERDE deambulam até o organizada, a fim de que as vítimas saiam da cena no
local, sem auxílio para o transporte, contudo são as veículo mais adequado às suas necessidades, rumo
que precisam do auxílio da equipe para o apoio ao serviço de saúde definido pela central de
psicológico e para contensão naquele local, para não regulação. As vítimas de cor VERMELHA e
atrapalharem o trabalho da equipe no atendimento AMARELA devem ter prioridade no transporte para
das outras vítimas. unidades hospitalares.

Fig. 16.9 Fluxograma S.T.A.R.T.

178
LATES-UFRJ|2016

CIRCULAÇÃO, RESPIRAÇÃO, ABDOME, os demais sejam atendidos; cor verde para a


MOTILIDADE e PALAVRA (C.R.A.M.P.) borda inferior da ficha de evacuação.

Quadro 16.2 UTILIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE


Felizmente, existem acidentes em que apesar TRIAGEM
O método S.T.A.R.T. é utilizado geralmente na triagem
de o número de vítimas ser elevado, ele não
inicial, na zona quente, enquanto que os métodos
ultrapassa a capacidade de recursos do serviço de
C.R.A.M.P. e A.B.C.D.E. são mais utilizados no posto
emergência. Nesse caso, a triagem não é necessária
médico e no meio intra-hospitalar.
e o atendimento inicial dos pacientes baseia-se no
ABCDE. Nesse caso, o atendimento prioriza o
paciente mais grave. PREVENÇÃO
O exame clínco é realizado em cinco
estágios, e ao final de cada um é atribuída uma Torna-se evidente que a meta prioritária a ser
pontuação de acordo com o seguinte critério: garantida trata-se da prevenção de acidentes que
gerem múltiplas vítimas, pois tais eventos são
 Exame normal: 2 pontos;
prejudiciais às diversas esferas de nossa sociedade.
 Exame anormal: 1 ponto;
Interessantemente, o que se busca é a minimização e
 Exame grave: zero ponto.
não a eliminação completa do risco de desastres, pois
devemos admitir que em muitos casos temos pouco
A partir da pontuação, é definida a prioridade ou nenhum controle sobre os eventos que causam os
das vítimas: desastres.

 Prioridade 1 (escore entre 2 e 6): De início, destacamos a magnitude dos

caracteriza pacientes críticos recuperáveis; acidentes automobilísticos, responsáveis por uma

exigência de atendimento imediato; cor considerável parcela dos acidentes com múltiplas

vermelha. vítimas. A mudança desse cenário deve implicar na


educação dos pedestres e motoristas, acompanhada
 Prioridade 2 (escore entre 7 e 8):
de ações públicas de fiscalização e punição com
caracteriza pacientes graves; o atendimento
rigor. Alguns tópicos essenciais no âmbito
de pacientes graves pode aguardar até que
educacional são:
os pacientes críticos sejam atendidos; cor
amarela.
 Prioridade 3 (escore entre 0 e 1):  Uso de equipamentos de proteção adequados
para motoristas e passageiros (cinto de
caracteriza pacientes críticos irrecuperáveis;
segurança de três pontas e capacete);
o atendimento de pacientes terminais pode
aguardar até que os pacientes graves sejam  Respeito aos limites de velocidade e à sinalização

atendidos; cor preta. das placas e semáforos;

 Prioridade 4 (escore entre 9 e 10):  Não dirigir um veículo após o consumo de álcool;

caracteriza pacientes leves; o atendimento de  Manutenção periódica das vias públicas e

pacientes leves pode aguardar até que todos privadas garantindo boas condições de trânsito,
sinalização e iluminação.

179
LATES-UFRJ|2016

Desastres naturais como enchentes e vítima que estará sendo carregada;


desabamentos de encostas podem ter seus efeitos  Não se esquecer de usar equipamentos de
danosos minimizados através de: proteção individual (E.P.I.).

 Uso racional do espaço geográfico;


 Implementação de legislação de segurança e de Quadro 16.3 A MAIOR AJUDA
normas técnicas, relacionadas com a redução Caso não haja a segurança necessária, não tente
dos riscos de desastres; realizar o socorro sem ajuda de especialistas! A maior ajuda

 Promoção da obrigatoriedade de Relatórios de que um cidadão pode oferecer a qualquer pessoa é acionar
o atendimento de emergência o mais rápido possível.
Segurança Contra Desastres;
 Promoção da mudança cultural e
comportamental, e de educação pública,
objetivando a redução das vulnerabilidades das
comunidades em risco (Defesa Civil);
 Medidas estruturais como construção de galerias
de captação de águas pluviais e obras de
engenharia; e não-estruturais, como
mapeamento e monitorização de áreas de risco,
análises de vulnerabilidade, sistemas de
previsão, dentre outras.

Em qualquer tipo de atendimento é de


extrema importância não permitir que os socorristas
tornem-se novas vítimas, o que pode ser garantido se
a segurança da cena for inicialmente avaliada de
forma correta e garantida antes da realização do
socorro:

 É imprescindível parar o trânsito antes de iniciar


um resgate na rua, mantendo alguma espécie de
sinalização (uso de triângulo, cones ou galhos de
árvores) alertando os motoristas e forçando a
redução de velocidade. Essa sinalização, visando
isolar a área na qual se encontram as vítimas e
desviar o trânsito chama-se balizamento;
 Após desabamentos, não se pode adentrar o
local sem garantir que não haverá novos
episódios e que a estrutura está suficientemente
firme para suportar o peso do socorrista e da

180
LATES-UFRJ|2016

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ. Catástrofes e
Atendimento a Múltiplas Vítimas. In: Manual do
Atendimento Pré-Hospitalar. Curitiba: Corpo de Bombeiros
do Paraná, 2006. p. 354-362.

IPEA; DENATRAN; ANTP. Impactos sociais e


econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias
brasileiras. Relatório Executivo. Brasília:
IPEA/DENATRAN/ANTP, 2008. 80 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO A


SAÚDE. DEPARTAMETO DE ATENÇÃO
ESPECIALIZADA. Manual Instrutivo da Rede de Atenção
às Urgências e Emergências no Sistema Único de
Saúde. 1 ed, 2013.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA


NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Conferência geral sobre
desastres: para prefeitos, dirigentes de instituições
públicas e privadas e líderes comunitários. Brasília:
Ministério da Integração Nacional, 2007.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. SECRETARIA


NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Manual de Medicina de
Desastres. Volume I. Brasília: Ministério da Integração
Nacional, 2007. 92 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À


SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO
ESPECIALIZADA. Regulação Médica das Urgências.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. 126 p.

NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL


TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life Support.
8. ed.

181
LATES-UFRJ|2016

Design Gráfico
Lucas Pena de Araujo Goés

Edição Gráfica 2016


Ana Carolina Robadelo da Silva

182

Você também pode gostar