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DÉCIMA EDIÇÃO

ATLS ®
Suporte Avançado de Vida no Trauma®

Manual do Curso de Alunos


Presidente do Comitê de Trauma: Ronald M. Stewart, MD, FACS
Diretor Médico do Programa de Trauma: Michael F. Rotondo, MD, FACS
Presidente do Comitê ATLS: Sharon M. Henry, MD, FACS
Gerente do Programa ATLS: Monique Drago, MA, EdD
Editora Executiva: Claire Merrick
Gerente do Projeto: Danielle S. Haskin
Editora de Desenvolvimento: Nancy Peterson
Serviços de Mídia: Steve Kidd and Alex Menendez, Delve Productions
Desenhista: Rainer Flor
Serviços de Produção: Joy Garcia
Artista: Dragonfly Media Group

Décima Edição

Copyright© 2018 American College of Surgeons


633 N. Saint Clair Street
Chicago, IL 60611-3211

Direitos autorais das edições anteriores de 1980, 1982, 1984, 1993, 1997, 2004, 2008 e 2012 para
o Colégio Americano de Cirurgiões.

Direitos autorais reconhecidos internacionalmente conforme a Convenção de Berna e a Convenção


Uniforme de Direitos Autorais. Todos os direitos reservados. Este manual é protegido por direitos
autorais. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida sob qualquer
forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem permissão
por escrito do Colégio Americano de Cirurgiões.

O Colégio Americano de Cirurgiões, seu Comitê de Trauma e os autores colaboradores tomaram


todo o cuidado para que as dosagens de drogas e as recomendações de tratamento aqui contidas
estejam corretas e compatíveis com os padrões geralmente aceitos na data da publicação. No
entanto, à medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento,
podem tornar-se necessárias ou apropriadas alterações no tratamento e no uso de drogas.
Aconselha-se os leitores e os participantes deste curso a checarem as informações mais recentes
disponíveis, fornecidas pelo fabricante de cada medicamento a ser administrado, a fim de
verificar a dosagem recomendada, o método e o tempo de administração e as contraindicações.
É responsabilidade de cada médico manter-se informado em todos os aspectos do cuidado do
doente e determinar o melhor tratamento para cada um de forma individual. Note que o colar
cervical e a imobilização de coluna continuam sendo o padrão atual do PHTLS para o transporte
de doentes com lesão vertebromedular. Se o colar cervical e os dispositivos de imobilização
tiverem que ser retirados no hospital, em ambientes controlados, isso só deve ser feito quando a
estabilidade da lesão estiver assegurada. O colar cervical e os dispositivos de imobilização foram
retirados em algumas fotos e vídeos para melhor clareza da demonstração da técnica específica.
O Colégio Americano de Cirurgiões, seu Comitê de Trauma e os autores colaboradores isentam-se
de qualquer responsabilidade, perda ou dano que possam ocorrer como consequência, direta ou
indireta, do uso e aplicação de qualquer parte do conteúdo desta Décima Edição do Programa ATLS.

Advanced Trauma Life Support® e a sigla ATLS® são marcas registradas do Colégio Americano
de Cirurgiões.

Impresso no Brasil.

Advanced Trauma Life Support® Student Course Manual


Número de Controle da Biblioteca do Congresso: 2017907997
ISBN 78-0-9968262-3-5
DEDICATÓRIA

Dedicamos a Décima Edição do ATLS em memória ao Dr. Norman E. McSwain Jr. Sua abordagem dinâmica,
positiva, calorosa, amigável e edificante para fazer as coisas através do trabalho de sua vida é uma inspiração
constante para aqueles cujas vidas ele tocou. Seu mandato no Comitê de Trauma (COT) do Colégio Americano
de Cirurgiões abrangeu quase exatamente os mesmos 40 anos do curso de ATLS.

O tempo do Dr. McSwain no COT levou-o a um caminho onde, sem sombra de dúvida, se tornou o mais importante
cirurgião, defensor do atendimento pré-hospitalar dos doentes. Ele primeiro trabalhou para desenvolver e,
em seguida, liderou e defendeu, o curso de suporte de vida no trauma no pré-hospitalar (PHTLS) como um
complemento vital e integral para o ATLS. Combinados, esses dois cursos ensinaram mais de 2 milhões de
estudantes em todo o mundo.

Dr. McSwain recebeu todas as honras que o COT pôde conceder e, como última homenagem, temos o prazer de
dedicar esta edição do ATLS à sua memória. Os criadores desta Décima Edição trabalharam diligentemente para
responder à saudação mais comum do Dr. McSwain: "O que você fez para o bem da humanidade hoje?", Oferecendo
o Curso Suporte de Vida Avançado no Trauma, 10ª Edição, juntamente com nossa fervorosa esperança que você
continuará a usá-lo para fazer o bem para toda a humanidade. Obrigado, Dr. McSwain.

Sharon Henry, MD
Karen Brasel, MD
Ronald M. Stewart, MD, FACS
-

PRÓLOGO

O meu primeiro contato com o ATLS foi em San Diego, em O ano de 1976 foi fundamental para melhorar o atendimento
1980, quando era residente. O curso de instrutor foi dirigido ao doente traumatizado. Naquele ano, o cirurgião ortopédico
por Paul E. “Skip” Collicott, MD, FACS, e entre os alunos Dr. James Styner e sua família foram tragicamente envolvidos
meus colegas estava um jovem cirurgião de San Diego, A. em um acidente de avião em um campo de milho de Nebraska.
Brent Eastman, MD, FACS, e um de San Francisco, Donald A resposta médica inadequada daqueles que cuidaram do
D. Trunkey, MD, FACS. Durante o ano seguinte ou nos dois Dr. Styner e sua família o obrigaram-no a agir. Dr. Styner
anos seguintes, nós treinamos todo mundo em San Diego e juntou forças com seu colega, Dr. Paul "Skip" Collicott MD,
isso tornou-se a linguagem e a força de coesão do Sistema FACS, e iniciou um curso intitulado Advanced Trauma Life
de Trauma de San Diego. Foi uma experiência iluminadora, Support (ATLS). Hoje, esse curso inicialmente pequeno se
inspiradora e profundamente pessoal. Num final de semana, tornou um movimento global. O ATLS foi rapidamente adotado
eu fui treinado e ganhei confiança: tornei-me adepto e e promulgado agressivamente pelo Comitê de Trauma. O
habilitado em algo que antes era motivo de ansiedade e primeiro curso foi realizado em 1980, e desde então, o ATLS
confusão. Pela primeira vez, tinha sido apresentado a um foi aperfeiçoado e melhorado diligentemente ano após ano,
“curso organizado”, a padrões de qualidade, a formação e década após década. O curso foi ministrado para mais de um
treinamento prático validados e à verificação das habilidades milhão de estudantes em mais de 75 países. Do Nebraska ao
treinadas. Foi uma experiência de transformação de vida e Haiti, mais de 60% dos cursos da ATLS são agora ministrados
eu escolhi seguir carreira na área de trauma em parte por fora da América do Norte.
causa dessa experiência. Durante esse final de semana, fui Foi também em 1976 que Don Trunkey, MD, FACS e o Comitê
também apresentado ao Colégio Americano de Cirurgiões de Trauma (COT) publicaram o Recursos Hospitalares para o
— no que ele tem de melhor. Cuidado Ideal do Doente Traumatizado, primeiro documento a
A décima edição do ATLS continua uma tradição de definir e desenvolver centros de trauma e sistemas de trauma.
inovação. Aproveita a tecnologia digital e oferece dois tipos Este documento levou diretamente ao Programa de Consulta
de cursos (tradicional e digital) para aumentar o alcance e a e Revisão de Verificação do COT (VRC) e seus 450 centros de
eficácia deste curso histórico. Com o objetivo de comemorar traumas verificados nos Estados Unidos. Esses dois programas
seu 40º aniversário e atualmente usado em mais de 60 países, transformaram o atendimento de doentes traumatizados em
o programa ATLS e sua realização através da Décima Edição todo o mundo, o que salvou centenas de milhares de vidas. O
continuarão a promover práticas seguras de trauma para o ATLS foi concebido como um programa educacional e o VRC
mundo em geral. deveria ser um programa de um conjunto de padrões. Mas, em
Sob a liderança de Sharon Henry, MD, FACS, presidente termos reais, o ATLS padronizou o atendimento de doentes
do Comitê ATLS e Monique Drago, MA, EdD, diretora do traumatizados e o VRC instruiu a comunidade de trauma sobre
Programa de Educação em Trauma, juntamente com a como prestar um tratamento ideal aos mesmos.
excelente equipe do Colégio, conseguimos desenvolver um Assim, 1976 trouxe uma mudança radical e positiva no
programa criado com base na nona edição por Karen Brasel, atendimento ao doente traumatizado. A décima edição do
MD, FACS, e Will Chapleau, EMT-P, RN, TNS. A décima ATLS é a atualização mais inovadora e criativa desde o início do
edição do programa ATLS traz as melhores realizações do curso. Penso que esta questão é um testemunho apropriado para
Colégio Americano de Cirurgiões e seus Fellows para o nível a memória daqueles pioneiros que, em sua opinião, podia haver
superior e, finalmente, onde o doente é o mais beneficiado. um caminho para um futuro melhor para o cuidado do doente
traumatizado. Felicito os pioneiros modernos desta décima
David B. Hoyt, MD, FACS edição. O desenvolvimento desta edição foi liderado por uma
Executive Director equipe com um compromisso semelhante, zelo e uma paixão
American College of Surgeons para melhorar. Minha esperança é que todos que adotarem e
Chicago, Illinois ensinarem o ATLS continuem corajosamente essa busca para
United States melhorar o atendimento aos doentes traumatizados. Ao fazer
isso, podemos honrar adequadamente aqueles pioneiros de 1976.

Ronald M. Stewart, MD, FACS


Chair of the ACS Committee on Trauma

v
PREFÁCIO

ensinadas no curso são de fácil adaptação para tratar


O PAPEL DO COMITÊ DE destes doentes em qualquer lugar.
TR AUMA DO COLÉGIO O Programa ATLS é revisado pelo Comitê ATLS
AMERIC ANO DE cirurgiões aproximadamente a cada quatro anos, para atender às
modificações que ocorrem no conhecimento disponível
e para incorporar técnicas novas cada vez mais seguras.
O Colégio Americano de Cirurgiões (ACS, de American Os Comitês ATLS de outros países e regiões nas quais o
College of Surgeons) foi fundado para melhorar o programa foi introduzido têm participado do processo
atendimento de doentes cirúrgicos e tem sido líder de revisão e o Comitê ATLS valoriza suas notáveis
na criação e manutenção da alta qualidade da prática contribuições.
cirúrgica na América do Norte. De acordo com esse
papel, o Comitê de Trauma (COT) do Colégio Americano
de Cirurgiões trabalhou para estabelecer diretrizes para Nov ida de s ne s ta ediç ão
o atendimento do traumatizado.
Nesse sentido, o Comitê de Trauma patrocina Esta Décima Edição do Manual do Curso de Alunos do
e contribui para o desenvolvimento contínuo do Suporte Avançado de Vida no Trauma reflete diversas
Programa de Suporte Avançado de Vida no Trauma, alterações, desenhadas para melhorar o conteúdo
Advanced Trauma Life Support (ATLS). O Curso ATLS educacional e a apresentação visual.
de Alunos não apresenta conceitos novos no campo
do atendimento ao traumatizado; ele ensina, sim, atualizações do conteúdo
métodos de tratamento já estabelecidos. A essência do
Programa ATLS é a abordagem sistematizada e concisa Todos os capítulos foram reescritos e revisados para garantir
do atendimento inicial ao traumatizado. um conteúdo científico atual, além do mais apresentado
Esta Décima Edição foi desenvolvida para o Colégio com referencias atualizadas. As novidades nesta edição são:
Americano de Cirurgiões pelos membros do Comitê
do ATLS e outros membros do COT ACS, membros da •• Estações práticas completamente revisadas
comunidade internacional do ATLS e os consultores baseadas em cenários
não cirurgiões do Comitê que foram eleitos por sua •• Ênfase na equipe de trauma, incluindo una nova
competência especial no tratamento inicial dos doentes seção de Trabalho em Equipe ao final de cada
traumatizados e sua experiência na educação médica. (As capítulo e um novo apêndice focado no Manejo
seções Prefácio e Reconhecimentos deste livro contêm de Recursos da Equipe no ATLS
os nomes e as filiações destas pessoas). O COT crê que as
pessoas que são responsáveis pelo cuidado dos doentes •• Perigos latentes expandidos em cada
traumatizados encontrarão as informações extremamente capítulo para identificar medidas preventivas
valiosas. Os princípios da atenção ao doente apresentados correlacionadas para evitá-los
neste manual também podem ser benéficos na atenção a •• Práticas adicionais no controle local da
doentes com enfermidades não traumáticas. hemorragia, incluindo o “empacotamento” da
Os doentes traumatizados apresentam uma ampla ferida e a aplicação do torniquete
gama de problemas complexos. O Curso ATLS apresenta
•• Adição da nova Escala de Coma de Glasgow
um enfoque conciso para a avaliação e o manejo
(GCS)
dos doentes com trauma múltiplo. O curso oferece
aos profissionais conhecimentos e técnicas que são •• Uma atualização da terminologia relacionada
abrangentes e facilmente aplicáveis para atender às com a imobilização da coluna para enfatizar a
suas necessidades. As técnicas descritas neste manual restrição do movimento da coluna
representam uma forma segura de executar cada um dos •• Muitas novas fotografias e ilustrações médicas,
procedimentos. O ACS reconhece que existem outras bem como algoritmos de administração
formas aceitáveis, contudo, o conhecimento e as técnicas atualizados, em todo o manual

vii
­viii PREFÁCIO

APLICATIVO MYATLS PARA CELULAR Comitê de Trauma do ACS, deve ser acompanhada pelo
símbolo legal habitual de propriedade da marca.
O curso continua utilizando o aplicativo
MyATLS para celular que é compatível com
os sistemas iOS e Android. Este aplicativo COMITÊ DE TR AUM A DO
está cheio de conteúdo de referência útil
que pode ser acessado para uso à beira do
COLÉG IO A MER IC A NO DE
leito ou para revisão nas horas livres. O conteúdo inclui: C IRURG IÕES
•• Gráficos interativos, como algoritmos de
tratamento e identificações radiológicas Ronald M. Stewart, MD, FACS
Committee on Trauma, Chair
•• Segmentos de vídeo que demonstram as Chair of the American College of Surgeons Committee on
principais atividades práticas Trauma
•• Calculadoras, como a calculadora pediátrica Witten B. Russ Professor and Chair of the Department of
de superfície queimada, para determinar a Surgery
administração de fluidos UT Health San Antonio
San Antonio, Texas
•• Animações, como o manejo da via aérea e a United States
cricotireoidostomia cirúrgica
Michael F. Rotondo, MD, FACS
Alunos, instrutores, coordenadores e educadores Trauma Program, Medical Director
são encorajados a acessar e usar regularmente esta CEO, University of Rochester Medical Faculty Group
ferramenta importante. Vice Dean of Clinical Affairs–School of Medicine
Professor of Surgery–Division of Acute Care Surgery
VIDEOS COM AS TÉCNICAS Vice President of Administration–Strong Memorial Hospital
President-Elect–American Association for the Surgery of
Como parte do curso, os vídeos estão disponíveis no Trauma
site MyATLS.com e mostram as técnicas críticas com as University of Rochester Medical Center
quais os alunos devem familiarizar-se antes do curso. Rochester, New York
As Sessões de Treinamento Prático durante o curso United States
permitem que os alunos tenham a oportunidade de
aprimorar a execução das técnicas bem como preparar-
se para a avaliação prática. A revisão das técnicas
demonstradas antes de participar das sessões de
COMITÊ DO SUP ORTE
treinamento prático aprimorará a experiência do aluno. AVA NÇADO DE VIDA NO
TR AUM A DO COMITÊ DE
NOTAS EDITOR IAIS TR AUM A DO COLÉG IO
A MER IC A NO DE C IRURG IÕES
O Comitê de Trauma do ACS é referido como Comitê
de Trauma ou Comitê e o(s) presidente(s) do Estado/
Província como Presidente(s) E/P. Sharon M. Henry, MD, FACS
A natureza internacional desta edição do Manual ATLS Committee Chair
ATLS de Alunos pode exigir modificações em termos Anne Scalea Professor of Surgery
comumente utilizados, para facilitar a compreensão por University of Maryland School of Medicine
todos os alunos e instrutores do Programa. University of Maryland Medical Center RA
Advanced Trauma Life Support® e ATLS® são marcas Cowley Shock Trauma Center
registradas de propriedade e de serviços, possuídas pelo Baltimore, Maryland
Colégio Americano de Cirurgiões e não podem ser usadas United States
por indivíduos nem entidades fora da organização do
Comitê de Trauma do ACS para propriedade ou serviços, Saud A. Al Turki, MD, FACS
sem aprovação do ACS. Do mesmo modo, qualquer Ministry of National Guard Health Affairs, King Abdulaziz
reprodução de uma ou de ambas as marcas em conjunção Medical City
direta com o Programa ATLS, dentro da organização do King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
PREFÁCIO ix

Riyadh Martin S. Keller, MD, FACS, FAAP


Saudi Arabia Associate Professor of Surgery
St. Louis Children’s Hospital
Col. (Ret.) Mark W. Bowyer, MD, FACS Washington University School of Medicine
Ben Eiseman Professor of Surgery St. Louis, Missouri
Chief, Trauma and Combat Surgery United States
Surgical Director of Simulation, Department of Surgery
The Uniformed Services University Gilberto K. K. Leung, MBBS, FRCS, PhD
Walter Reed National Military Medical Center Clinical Associate Professor
Bethesda, Maryland The University of Hong Kong Queen Mary University
United States Pok Fu Lam
Hong Kong
Kimberly A. Davis MD, MBA, FACS, FCCM
Professor of Surgery, Trauma R. Todd Maxson, MD, FACS
Vice Chairman for Clinical Affairs Professor of Surgery
Yale School of Medicine University of Arkansas for Medical Sciences
Chief of General Surgery, Trauma and Surgical Critical Trauma Medical Director
Care Arkansas Children’s Hospital
Trauma Medical Director Little Rock, Arkansas
Yale New Haven Hospital United States
New Haven, Connecticut
United States Daniel B. Michael, MD, PhD, FACS, FAANS
Director of Neurosurgical Education
Julie A. Dunn, MD, MS, FACS William Beaumont Hospital Royal Oak
Medical Director, Trauma Research and Education Professor of Neurosurgery
UC Health Northern Colorado Oakland University William Beaumont School of
Loveland, Colorado Medicine
United States Royal Oak, Michigan
United States
Peter F. Ehrlich, MD, FACS Director, Michigan Head and Spine Institute
Professor Southfield, Michigan
C S Mott Children’s Hospital United States
Ann Arbor, Michigan
United States Neil G. Parry, MD, FACS, FRCSC
Medical Director, Trauma Program
James R. Ficke, MD, FACS Associate Professor of Surgery and Critical Care
Professor of Orthopaedic Surgery London Health Sciences Center
Johns Hopkins Hospital Schulich School of Medicine, Western University
Baltimore, Maryland London, Ontario
United States Canada

Glen A. Franklin, MD FACS Bruce Potenza, MD, FACS


Professor Critical Care Surgeon, Trauma
University of Louisville School of Medicine UCSD Medical Center
Louisville, Kentucky San Diego, California
United States United States

Maria Fernanda Jimenez, MD, FACS Martin A. Schreiber MD, FACS


General Surgeon Professor and Chief, Division of Trauma, Critical Care &
Hospital Universitario MEDERI Acute Surgery
Bogotá, Distrito Capital Oregon Health & Science University
Colombia Portland, Oregon
United States
­x PREFÁCIO

Gary A. Vercruysse, MD, FACS Lewis E. Jacobson, MD, FACS


Director of Burn Services Chair, Department of Surgery
Associate Professor of Surgery, Division of Trauma, Burns, Director, Trauma and Surgical Critical Care
Acute Care Surgery and Surgical Critical Care St. Vincent Indianapolis Hospital
University of Arizona School of Medicine Indianapolis, Indiana
Tucson, Arizona United States
United States
Newton Djin Mori, MD, PhD, FACS
Robert J. Winchell, MD, FACS General and Trauma Surgeon
Chief, Division of Trauma, Burn, Acute and Critical Care Hospital das Clinicas–University of São Paulo
Director of the Trauma Center São Paulo, São Paulo
Weill Cornell Medicine Brazil
New York–Presbyterian Weill Cornell Medical Center
New York, New York John P. Sutyak, EdM, MD, FACS
United States Director, Southern Illinois Trauma Center
Associate Professor of Surgery
Southern Illinois University School of Medicine
Springfield, Illinois
MEMBROS ASSO C IADOS DO United States
COMITÊ DE SUP ORTE
AVA NÇADO DE VIDA NO
TR AUM A DO COMITÊ DE R EPR ESENTA NTES DO
TR AUM A DO COLÉG IO COMITÊ DE SUP ORTE
A MER IC A NO DE C IRURG IÕES AVA NÇADO DE VIDA NO
TR AUM A DO COMITÊ DE
Mary-Margaret Brandt, MD, MHSA, FACS TR AUM A DO COLÉG IO
Trauma Director A MER IC A NO DE C IRURG IÕES
St. Joseph Mercy Health System
Ann Arbor, Michigan
United States Michael Murray, MD
General Surgery
Megan L. Brenner, MD FACS Banner Churchill Community Hospital
Assistant Professor of Surgery Sparks, Nevada
University of Maryland Medical Center United States
Baltimore, Maryland
United States Clark West, MD FACR
Co-Course Director
Frederic J. Cole, Jr., MD, FACS The University of Texas Health Science
Associate Medical Director, Trauma Clinic and Patient Houston Medical School
Outcomes Houston, Texas
Legacy Emanuel Medical Center United States
Portland, Oregon
United States

Oscar D. Guillamondegui, MD, MPH, FACS


Professor of Surgery
Trauma Medical Director
Vanderbilt University Medical Center
Nashville, Tennessee
United States
PREFÁCIO xi

REPRESENTANTE INTERNACIO- REPRESENTANTES DO COLÉGIO


NAL DO COMITÊ DE SUPORTE AMERICANO DE MÉDICOS DE
AVANÇADO DE VIDA NO EMERGÊNCIA NO COMITÊ DE
TRAUMA DO COMITÊ DE TRAUMA SUPORTE AVANÇADO DE VIDA
DO COLÉGIO AMERICANO DE NO TRAUMA DO COMITÊ DE
CIRURGIÕES TRAUMA DO COLÉGIO
AMERICANO DE CIRURGIÕES
Karen J. Brasel, MD, FACS
Professor and Program Director Christopher Cribari, MD
Oregon Health and Science University Medical Director, Acute Care Surgery, Medical Center of
Portland, Oregon the Rockies, University of Colorado Health
United States Loveland, CO
United States

Christopher S. Kang, MD, FACEP


REPRESENTANTE DA SOCIEDADE Attending Physician, Emergency Medicine, Madigan Army
AMERICANA DE ANESTESIOLO- Medicine Center
GISTAS NO COMITÊ DE SUPORTE Tacoma, Washington
AVANÇADO DE VIDA NO United States
TRAUMA DO COMITÊ DE TRAUMA
DO COLÉGIO AMERICANO DE GRUPO CONSULTIVO DE
CIRURGIÕES EDUCADORES SENIORES DO
SUPORTE AVANÇADO DE
VIDA NO TRAUMA
Richard P. Dutton, MD, MBA

Michael Murray, MD
General Surgery Debbie Paltridge, MHlthSc (ED)
Banner Churchill Community Hospital Senior Educator Advisory Board, Chair
Sparks, Nevada Principal Educator
United States Royal Australasian College of Surgeons
Melbourne, Victoria
Australia
REPRESENTANTE DO SUPORTE Joe Acker, EMT-P, MPH
AVANÇADO DE VIDA PARA Executive Director, Birmingham Regional EMS System
ENFERMEIROS NO COMITÊ DE University of Alabama at Birmingham
SUPORTE AVANÇADO DE VIDA Birmingham, Alabama
United States
NO TRAUMA DO COMITÊ DE
TRAUMA DO COLÉGIO Wesam Abuznadah, MD, MEd, FRCS(C ), FACS, RPVI
AMERICANO DE CIRURGIÕES Assistant Professor, Consultant Vascular and Endovascular
Surgery
Associate Dean, Academic and Student Affairs, College
Jan Howard, MSN, RN, Chair, ATCN Committee of Medicine
South Bend, Indiana King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
United States Jeddah
Saudi Arabia
­xii PREFÁCIO

Jacqueline Bustraan, MSc COMITÊ DE COORDENADORES


Educational Advisor, Trainer and Researcher
Leiden University Medical Center/BOAT (Bustraan
DO SUPORTE AVANÇADO DE
Organisation, Advice and Training) VIDA NO TRAUMA
Leiden
The Netherlands Lesley Dunstall, RN
ATLS Coordinator Committee, Chair
Marzellus Hofmann, MD, MME National Coordinator, EMST/ATLS Australasia
Dean of Medical Education and Student Affairs Royal Australasian College of Surgeons
Witten/Herdecke University, Faculty of Health North Adelaide, South Australia
Witten, NRW Australia
Germany
Catherine Wilson, MSN, ACNP-BC, CEN
Elizabeth Vallejo de Solezio ATLS Coordinator Committee, Vice Chair
National Education, COT Ecuador Trauma Outreach Coordinator
Quito Vanderbilt University Medical Center
Ecuador Nashville, Tennessee
United States
Claus Dieter Stobaus, ME, ED
Postgraduate Program in Education Mary Asselstine, RN
Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul Sunnybrook Health Sciences Centre
Porto Alegre, Rio Grande do Sul Toronto, Ontario
Brazil Canada

John P. Sutyak, EdM, MD, FACS Ryan Bales, RN


Director, Southern Illinois Trauma Center ATLS Coordinator
Associate Professor of Surgery CNIII Trauma Program
Southern Illinois University School of Medicine Sacramento, California
Springfield, Illinois United States
United States
Vilma Cabading
Prof. Heba Youssef Mohamed Sayed, MD Trauma Courses Office, Deanship of Postgraduate Education
Professor and Head of Forensic Medicine and Clinical King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
Toxicology Department Riyadh
Port Said University Saudi Arabia
Port Said, Egypt
Arab Republic of Egypt Sally Campbell, RN, BA
ATLS Course Coordinator
Kum Ying Tham, MBBS, FRCSE, EDD Kaiser Medical Center, Vacaville, California
Senior Consultant David Grant Medical Center, Travis Air Force Base,
Tan Tock Seng Hospital California
Singapore United States

Cristiane de Alencar Domingues, RN, MSN, PhD


Professor
Faculdade das Américas (FAM)
São Paulo, São Paulo
Brazil

Agienszka Gizzi
Regional and International Programmes Coordinator
The Royal College of Surgeons of England
London
United Kingdom
PREFÁCIO xiii

Betty Jean Hancock, MD, FRCSC, FACS


Associate Professor, Pediatric Surgery and Critical Care
University of Manitoba
Children's Hospital of Winnipeg/Health Sciences Centre
Winnipeg, Manitoba
Canada

Sherri Marley, BSN, RN, CEN, TCRN


Clinical Educator for Trauma Services
Eskenazi Health
Indianapolis, Indiana
United States

Martha Romero
ATLS Coordinator
AMDA-Bolivia
Santa Cruz de la Sierra
Bolivia
AGRADECIMENTOS

É evidente que muitas pessoas são responsáveis pelo Marlena Libman


desenvolvimento da Décima Edição, mas o excelente Trauma Education Program Coordinator
pessoal do Escritório do Programa ATLS merece uma The American College of Surgeons
menção especial. Sua dedicação e trabalho árduo não Chicago, Illinois
apenas produziram a nova edição, garantindo que cada United States
um é melhor que o anterior, mas também facilitam seu
uso em centenas de cursos ao redor do mundo a cada ano. Freddie Scruggs
Trauma Education Program Coordinator
Monique Drago, MA, EdD The American College of Surgeons
Trauma Education Programs Manager Chicago, Illinois
The American College of Surgeons United States
Chicago, Illinois
United States Germaine Suiza
Program Coordinator, Trauma Education Programs (LMS)
The American College of Surgeons
Ryan Hieronymus, MBA, PMP Chicago, Illinois
Trauma Education Projects Manager United States
The American College of Surgeons
Chicago, Illinois
United States Colaboradores
Pascale Leblanc Durante o desenvolvimento desta revisão, recebemos
Trauma Education Projects Manager uma grande quantidade de ajuda de muitas pessoas,
The American College of Surgeons quer revisando a informação durante as reuniões,
Chicago, Illinois quer enviando imagens de casos clínicos ou
United States reavaliando artigos médicos. O ATLS agradece aos
seguintes contribuintes pelo seu tempo e esforço no
Kathryn Strong desenvolvimento da Décima Edição.
Program Manager, Trauma Education Programs (LMS)
The American College of Surgeons Wesam Abuznadah, MD, MEd, FRCS(C), FACS, RPVI
Chicago, Illinois Assistant Professor, Consultant Vascular and Endovascular
United States Surgery; Associate Dean, Academic and Student Affairs,
College of Medicine
Autumn Zarlengo King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
Program Manager, Trauma Education Programs (CME/CE) Jeddah
The American College of Surgeons Saudi Arabia
Chicago, Illinois
United States Joe Acker, EMT-P, MPH
Executive Director, Birmingham Regional EMS System
Emily Ladislas University of Alabama at Birmingham
Program Coordinator, Trauma Education Programs (CME/ Birmingham, Alabama
CE) United States
The American College of Surgeons
Chicago, Illinois
United States

xv
­xvi AGRADECIMENTOS

Suresh Agarwal, MD, FACS Ryan Bales, RN


Professor of Surgery ATLS Coordinator
University of Wisconsin CNIII Trauma Program
Madison, Wisconsin Sacramento, California
United States United States

Jameel Ali, MD, MMedEd, FRCSC, FACS Raphael Bonvin, MD, MME
Professor of Surgery Head of Educational Unit
University of Toronto Faculty of Biology and Medicine
Toronto, Ontario Lausanne
Canada Switzerland

Hayley Allan, BA(hons), Dip Ed, MEd, MRes Bertil Bouillon, MD


National Educator, ATLS UK Professor and Chairman Department of Trauma and
The Royal College of Surgeons of England Orthopaedic Surgery
London University of Witten/Herdecke, Cologne Merheim
England Medical Center
Cologne
Saud Al Turki, MD, FACS Germany
Ministry of National Guard Health Affairs, King Abdulaziz
Medical City Mark W. Bowyer, MD, FACS
King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences ATLS Board Member Germany Col. (Ret.)
Riyadh Ben Eiseman Professor of Surgery; Chief, Trauma and Combat
Kingdom of Saudi Arabia Surgery; Surgical Director of Simulation Department of
Surgery
Mary Asselstine, RN The Uniformed Services University; Walter Reed
Sunnybrook Health Sciences Centre National Military Medical Center
Toronto, Ontario Bethesda, Maryland
Canada United States

Mahmood Ayyaz, MBBS, FCPS, FRCS, FACS Mary-Margaret Brandt, MD, MHSA, FACS
Professor of Surgery, Services Institute of Medical Sciences; Trauma Director
Councillor and Director, National Residency Programme; St. Joseph Mercy Health System
National Course Director, ATLS Pakistan Ann Arbor, Michigan
Services Hospital United States
College of Physicians and Surgeons Pakistan
Lehore Frank Branicki, MB, BS, DM, FRCS, FRCS(Glasg),
Pakistan FRACS, FCSHK, FHKAM, FCSECSA, FACS
Professor and Chair, Department of Surgery
Mark Bagnall, BMedSc(Hons), MBChB(Hons), MSc, United Arab Emirates University
PhD, MRCS(Eng) Al Ain
Specialist Registrar in General Surgery; General Surgery United Arab Emirates
Representative ATLS UK
Steering Group Susan Briggs, MD, MPH, FACS
United Kingdom Director, International Trauma and Disaster Institute
Massachusetts General Hospital
Andrew Baker, MBChB, FRCS(Orth), FCS(Orth), SA Boston, Massachusetts
Senior Consultant United States
Entabeni Hospital
Durban George Brighton, MBBS, BSc Honors, MSc, PGCE
South Africa Med Ed.
Clinical Entrepreneur Fellow NHS England
Royal Devon and Exeter NHS Foundation Trust
Exeter
England
AGRADECIMENTOS xvii

Bertil Bouillon, MD Juan Carlos Puyana, MD, FACS


Professor and Chairman Department of Trauma and Professor of Surgery, Critical Care Medicine and Clinical
Orthopaedic Surgery Translational Medicine
University of Witten/Herdecke, Cologne Merheim University of Pittsburgh
Medical Center Pittsburgh, Pennsylvania
Cologne United States
Germany
Narain Chotirosniramit, MD, FACS, FICS, FRCST
Guy Brisseau, MD, MEd, FACS Chief, Trauma and Critical Care Unit; Department of
Director, Pediatric Trauma; Director, Surgical Education Surgery, Faculty of Medicine
Sidra Medical and Research Center Chiangmai University
Doha Chiangmai
Qatar Thailand

Troy Browne, MBChB, FCA(SA), FANZCA, FCICM Ian Civil, MBChB, FRACS, FACS
Medical Leader—Anaesthesia, Radiology and Surgical Director of Trauma Services
Services; Director of Intensive Care/High Dependency Unit Auckland City Hospital
Bay of Plenty District Health Board Auckland
Tauranga New Zealand
New Zealand
Keith Clancy, MD, MBA, FACS
Shane Brun, MD, M.Trauma, M.Ed, FFSEM(UK), Trauma Medical Director
FACRRM, FRACGP Geisinger Wyoming Valley Medical Center
Associate Professor Wilkes-Barre, Pennsylvania
James Cook University United States
Queensland
Australia Peter Clements

Stephen Bush, MA(Oxon), FRCS, FRCEM Frederic J. Cole, Jr., MD, FACS
Consultant in Emergency Medicine Legacy Emanuel Medical Center
Leeds Teaching Hospitals Portland, Oregon
Trust Leeds, West Yorkshire United States
United Kingdom
Jaime Cortes-Ojeda, MD, FACS
Jacqueline Bustraan, MSc Chief Department of Surgery
Educational Advisor, Trainer, and Researcher Hospital Nacional de Niños "Dr. Carlos Sáenz Herrera"
Leiden University Medical Center/BOAT (Bustraan San José
Organisation, Advice and Training) Costa Rica
Leiden
The Netherlands Renn J. Crichlow, MD MBA
Orthopaedic Trauma Surgeon
Vilma Cabading St. Vincent Indianapolis Trauma Center
Trauma Courses Office, Deanship of Postgraduate Education OrthoIndy Hospital
King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences Indianapolis, Indiana
Riyadh United States
Kingdom of Saudi Arabia
Scott D’Amours, MD, FRCS(C), FRACS, FRCS(Glasg)
Sally Campbell, RN, BA Trauma Surgeon, Director of Trauma
ATLS Course Director Liverpool Hospital
Kaiser Medical Center/David Grant Medical Center Sydney, New South Wales
Vacaville/Travis Air Force Base, California Australia
United States
­xviii AGRADECIMENTOS

Marc DeMoya, MD, FACS Esteban Foianini, MD, FACS


Associate Professor of Surgery Medical Director
Massachusetts General Hospital/Harvard Medical School Clinica Foianini
Boston, Massachusetts Santa Cruz de la Sierra
United States Bolivia

Newton Djin Mori, MD, PhD, FACS Adam Fox, DPM, DO, FACS
General and Trauma Surgeon Assistant Professor of Surgery and Section Chief, Trauma
Hospital das Clinicas–University of São Paulo Division of Trauma Surgery and Critical Care, Rutgers NJMS;
São Paulo, São Paulo Associate Trauma Medical Director, NJ Trauma Center
Brazil Newark, New Jersey
United States
Cristiane de Alencar Domingues, RN, MSN, PhD
Professor Robert Michael Galler, DO, FACS, FACOS
Faculdade das Américas (FAM) Associate Professor, Neurosurgery and Orthopedics;
São Paulo, São Paulo Co-Director, Comprehensive Spine Center, Institute for
Brazil Advanced Neurosciences
Stony Brook University Medical Center
Jay Doucet, MD, FRCSC, FACS Long Island, New York
Professor of Surgery United States
University of California, San Diego
San Diego, California Raj Gandi, MD
United States Trauma Medical Director
JPS Health Network
Julia A. Dunn, MD, MS, FACS Fort Worth, Texas
Medical Director, Trauma Research and Education United States
UC Health Northern Colorado
Loveland, Colorado Naisan Garraway, CD, FRCSC, FACS
United States Medical Director, Trauma Program
Vancouver General Hospital
Lesley Dunstall, RN Vancouver, British Columbia
National Coordinator; EMST/ATLS Australasia Canada
Royal Australasian College of Surgeons
North Adelaide, South Australia Subash Gautam, MB, FRCS(Eng, Edn, and Glasg), FACS
Australia Head of Department
Fujairah Hospital
David Efron, MD, FACS Fujairah
Professor of Surgery; Chief, Division of Acute Care Surgery; United Arab Emirates
Director of Adult Trauma
The Johns Hopkins University School of Medicine Julie Gebhart, PA-C
Baltimore, Maryland Lead Orthopedic Trauma Physician; Assistant Manager,
United States Orthopedic Advanced Practice Providers
OrthoIndy Hospital
Froilan Fernandez, MD, FACS Indianapolis, Indiana
Chair, ACS-COT Chile; Associate Senior Surgical Staff United States
Hospital Del Trabajador
Santiago Agienszka Gizzi
Chile Regional and International Programmes Coordinator
The Royal College of Surgeons of England
John Fildes, MD, FACS London
Foundation Professor; Chair, Surgery; Chief, Division of Acute United Kingdom
Care Surgery; Program Director, Acute Care Surgery Fellowship
University of Nevada, Reno School of Medicine
Las Vegas, Nevada
United States
AGRADECIMENTOS xix

Oscar Guillamondegui, MD, MPH, FACS Roxolana Horbowyj, MD, MSChE, FACS
Professor of Surgery, Trauma Medical Director Assistant Professor of Surgery, Department of Surgery
Vanderbilt University Medical Center Uniformed Services University of the Health Sciences/
Nashville, Tennessee Walter Reed National Military Medical Center
United States Bethesda, Maryland
United States
Betty Jean (B. J.) Hancock, MD, FRCSC, FACS
Associate Professor, Pediatric Surgery and Critical Care David B. Hoyt, MD, FACS
University of Manitoba; Children’s Hospital of Executive Director
Winnipeg/Health Sciences Centre American College of Surgeons
Winnipeg, Manitoba Chicago, Illinois
Canada United States

Paul Harrison, MD, FACS Eliesa Ing, MD


Trauma Medical Director HCA Continental Division; Staff Ophthalmologist, Portland VA HSC
Associate Medical Director, Clinical Professor of Surgery Assistant Professor, Casey Eye Institute/OHSU
Wesley Medical Center/KU School of Medicine Portland, Oregon
Wichita, Kansas United States
United States
Lewis Jacobson, MD, FACS
Col. (Ret.) Walter Henny, MD Chair, Department of Surgery; Director, Trauma and
University Hospital and Medical School Surgical Critical Care
Rotterdam St. Vincent Indianapolis Hospital
The Netherlands Indianapolis, Indiana
United States
Sharon M. Henry, MD, FACS
Anne Scalea Professor of Surgery Randeep Jawa, MD, FACS
University of Maryland School of Medicine; University Clinical Professor of Surgery
of Maryland Medical Center RA Cowley Shock Trauma Stony Brook University School of Medicine
Center Stony Brook, New York
Baltimore, Maryland United States
United States
Maria Fernanda Jimenez, MD, FACS
Fergal Hickey, FRCS, FRCSEd, DA(UK), FRCEM, FIFEM General Surgeon
National Director, ATLS Ireland; Consultant in Emergency Hospital Universitario MEDERI
Medicine Bogotá, Distrito Capital
Sligo University Hospital Colombia
Sligo
Ireland Aaron Joffe, DO, FCCM
Associate Professor of Anesthesiology
Marzellus Hofmann, MD, MME University of Washington, Harborview Medical Center
Dean of Medical Education and Student Affairs Seattle, Washington
Witten/Herdecke University, Faculty of Health United States
Witten, NRW
Germany Kimberly Joseph, MD, FACS, FCCM
Division Chair, Trauma Critical Care and Prevention
Annette Holian Department, Department of Trauma and Burns
Clinical Director-Surgery and Perioperative Services John H. Stoger Hospital of Cook County
Royal Australian Air Force Chicago, Illinois
United States
­xx AGRADECIMENTOS

Haytham Kaafarani, MD, MPH, FACS Sarvesh Logsetty, MD, FACS, FRCS(C)
Patient Safety and Quality Director; Director of Clinical Associate Professor, Director, Manitoba Firefighters Burn Unit
Research, Trauma, Emergency Surgery and Surgical Critical University of Manitoba
Care Winnipeg, Manitoba
Massachusetts General Hospital and Harvard Medical Canada
School
Boston, Massachusetts Siew Kheong Lum, MBBS, FRCSEd, FACS, FRACS
United States (Hon), FAMM, FAMS
Professor of Surgery and ATLS Program Director
Martin Keller, MD, FACS, FAAP Sungai Buloh Hospital
Associate Professor of Surgery Kuala Lumpur
St. Louis Children’s Hospital; Washington University Malaysia
School of Medicine
St. Louis, Missouri Patrizio Mao, MD, FACS
United States Azienda Ospedaliero–Universitaria
San Luigi Gonzaga
John Kortbeek, MD, FRCSC, FACS Orbassano, Torino
Professor, Department of Surgery, Critical Care and Italy
Anaesthesia
Cumming School of Medicine, University of Calgary Sherri Marley, BSN, RN, CEN, TCRN
Calgary, Alberta Clinical Educator for Trauma Services
Canada Eskenazi Hospital
Indianapolis, Indiana
Deborah A. Kuhls, MD, FACS United States
Professor of Surgery
University of Nevada School of Medicine Katherine Martin, MBBS, FRACS
Las Vegas, Nevada Trauma Surgeon
United States Alfred Hospital
Melbourne, Victoria
Sunir Kumar, MD Australia
Cleveland Clinic
Cleveland, Ohio Sean P. McCully, MD, MS
United States Surgical Critical Care Fellow
Department of Surgery
Eric Kuncir, MD, MS, FACS Oregon Health and Science University
Chief, Division of Emergency General Surgery; Clinical Portland, Oregon
Professor of Surgery United States
University of California, Irvine
Orange, California Chad McIntyre, BS, NRP, FP-C
United States Manager, Trauma and Flight Services
UF Health Jacksonville
Claus Falck Larsen, DMSc,MPA Jacksonville, Florida
consultant, United States
Clinic at TraumaCentre
Rigshospitalet Daniel B. Michael, MD, PhD, FACS, FAANS
University of Southern Denmark Director of Neurosurgical Education
Copenhagen William Beaumont Hospital Royal Oak
Denmark Professor of Neurosurgery
Oakland University William Beaumont School of
Gilberto K. K. Leung, MBBS, FRCS, PhD Medicine
Clinical Associate Professor Royal Oak, Michigan
The University of Hong Kong Queen Mary University United States
Pok Fu Lam Director, Michigan Head and Spine Institute
Hong Kong Southfield, Michigan
United States
AGRADECIMENTOS xxi

Mahesh Misra, MD, FACS Debbie Paltridge, MHlthSc (ED)


Director Principal Educator
All India Institute of Medical Sciences Royal Australasian College of Surgeons
New Delhi Melbourne, Victoria
India Australia

Soledad Monton Neil Parry, MD, FACS, FRCSC


Médico en Servicio Navarro de Salud Medical Director, Trauma Program; Associate Professor of
Servicio Navarro de Salud Surgery and Critical Care
Pamplona London Health Sciences Center; Schulich School of
Spain Medicine, Western University
London, Ontario
Hunter Moore, MD Canada
Trauma Research Fellow
University of Colorado Albert Pierce
Denver, Colorado
United States Hermanus Jacobus Christoffel Du Plessis, MB, ChB,
MMed(Surg), FCS(SA), FACS
John Ng, MD, MS, FACS
Chief, Division of Oculofacial Plastics, Orbital and Travis Polk, MD, FACS
Reconstructive Surgery; Professor, Departments of Commander, Medical Corps, U.S. Navy; Surgical Director,
Ophthalmology and Otolaryngology/Head and Neck Surgery Healthcare Simulation and Bioskills Training Center
Casey Eye Institute–Oregon Health and Science Naval Medical Center Portsmouth
University Portsmouth, Virginia
Portland, Oregon United States
United States
Bruce Potenza, MD, FACS
Nnamdi Nwauwa, MSCEM, MPH, MBBS Critical Care Surgeon, Trauma
Director, Training and Clinical Services UCSD Medical Center
Emergency Response International San Diego, California
Port Harcourt, Nigeria United States

James V. O’Connor MD, FACS Tarek Razek, MD, FRCSC, FACS


Professor of Surgery, University of Maryland School of Chief, Division of Trauma Surgery
Medicine McGill University Health Centre
Chief, Thoracic and Vascular Trauma Montreal, Quebec
R Adams Cowley Shock Trauma Center Canada
Baltimore, Maryland
United States Martin Richardson, MBBS, MS, FRACS
Associate Clinical Dean
Roddy O’Donnell, MBBS, MA, PhD, FRCPCH, MRCP, Epworth Hospital, University of Melbourne
FFICM Melbourne, Victoria
Consultant Paediatrician and Director of PICU Australia
Addenbrookes Hospital
Cambridge Avraham Rivkind, MD, FACS
United Kingdom Head, Division of Emergency Medicine and Shock Trauma
Unit
Giorgio Olivero, MD, FACS Hadassah Medical Center
ATLS Program Director; Professor of Surgery Jerusalem
Department of Surgical Sciences, University of Torino Israel
Torino
Italy
­xxii AGRADECIMENTOS

Rosalind Roden, BA(Cambridge), FRCEM Elizabeth Vallejo de Solezio


Consultant in Emergency Medicine National Education, Committee on Trauma Ecuador
Leeds Teaching Hospitals Quito, Ecuador
Trust Leeds, West Yorkshire
United Kingdom Ronald Stewart, MD, FACS
Chair, American College of Surgeons Committee on Trauma
Jakob Roed, MD, MPA, DLS Witten B. Russ Professor and Chair of the Department
Chief Anesthetist, Department of Anesthesiology and of Surgery
Intensive Care UT Health San Antonio
Zealand University Hospital San Antonio, Texas
Roskilde United States
Denmark
Claus Stobaus, ME, ED
Dan Rutigliano, DO Postgraduate Program in Education
Assistant Professor of Surgery Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul
Stony Brook University School of Medicine Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Stony Brook, New York Brazil
United States
John Sutyak, EdM, MD, FACS
Kennith Sartorelli, MD, FACS Director, Southern Illinois Trauma Center
Department of Surgery Associate Professor of Surgery
University of Vermont College of Medicine Southern Illinois University School of Medicine
Burlington, Vermont Springfield, Illinois
United States United States

Patrick Schoettker, MD Gonzalo Tamayo


Professor of Anesthesiology
University Hospital CHUV Kum-Ying Tham, MBBS, FRCSE, EDD
Lausanne, VD Senior Consultant
Switzerland Tan Tock Seng Hospital
Singapore
David Schultz, MD, FACS
Thedacare Regional Medical Center Neenah Phil Truskett
Neenah, Wisconsin Surgeon at SESIH
United States SESIH
Sydney, Australia
Kristen C. Sihler, MD, MS, FACS
Maine Medical Center Gary Vercruysse, MD, FACS
Portland, Maine Director of Burns Services; Associate Professor of Surgery,
United States Division of Trauma, Burns, Acute Care Surgery and Surgical
Critical Care
Preecha Siritongtaworn, FRCST,FACS. University of Arizona School of Medicine
Department of Surgery Tucson, Arizona
Faculty of Medicine United States
Siriraj Hospital
Bangkok, Thailand Eric Voiglio, MD, FACS
Emergency Surgery Unit
David Skarupa, MD, FACS University Hospitals of Lyon
Assistant Professor of Surgery, Department of Surgery/ Pierre-Bénite
Division of Acute Care Surgery France
University of Florida College of Medicine–Jacksonville
Jacksonville, Florida
United States
AGRADECIMENTOS xxiii

James Vosswinkel, MD, FACS Jay A. Yelon, DO, FACS, FCCM


Chief, Division of Trauma Professor of Surgery; Medical Director of Surgical Services
Stony Brook University School of Medicine Hofstra Northwell School of Medicine; Southside
Stony Brook, New York Hospital/Northwell Health
United States Bay Shore, New York
United States
Bob Yellowe, MD, MSc Sport Medicine
Consultant Orthopedic and Trauma Surgeon Heba Youssef Mohamed Sayed, MD
University of Port Harcourt Teaching Hospital Professor and Head of Forensic Medicine and Clinical
Port Harcourt Toxicology Department
Nigeria Faculty of Medicine–Port Said University
Port Said
Dany Westerband, MD, FACS Arab Republic of Egypt
Medical Director of Trauma Services; Chief, Section of
Trauma and Emergency Surgery; Chairman, Department Laura Zibners, MD
of Surgery Honorary Consultant, Pediatric Emergency Medicine
Suburban Hospital–Johns Hopkins Medicine Imperial College, St. Mary’s Hospital
Bethesda, Maryland London
United States United Kingdom

Garry Wilkes, MBBS, FACEM


Director, Emergency Medicine ROL DE HONRA
Monash Medical Centre
Melbourne, Victoria Ao longo dos últimos 30 anos, o ATLS cresceu, partindo de
Australia um curso local de treinamento dos médicos de Nebraska
no atendimento de traumatizados para uma família
Catherine Wilson, MSN, ACNP-BC, CEN de especialistas em trauma de mais de 60 países que
Trauma Outreach Coordinator voluntariamente doam seu tempo para assegurar que os
Vanderbilt University Medical Center nossos materiais reflitam o conhecimento das pesquisas
Nashville, Tennessee mais atuais e que o nosso curso seja desenhado para
United States melhorar a sobrevida do doente. A Décima Edição do ATLS
reflete os esforços das seguintes pessoas que contribuíram
Robert Winchell, MD, FACS para as primeiras nove edições e aqui os honramos:
Chief, Division of Trauma, Burn, Acute Care and Critical
Care, Director of Trauma Center Georges Abi Saad
Weill Cornell Medicine; New York–Presbyterian Weill Sabas F. Abuabara, MD, FACS
Cornell Medical Center Joe E. Acker, II, MS, MPH, EMT
New York, New York Fatimah Albarracin, RN
United States Celia Aldana
Raymond H. Alexander, MD, FACS
Bob Winter, FRCP, FRCA, FFICM, DM Omar Al Ghanimi
Medical Director, East Midlands Ambulance Services Abdullah Al-Harthy
Horizon Place Jameel Ali, MD, MMed Ed, FRCS(C), FACS
Nottingham Saud Al-Turki, MD, FRCS, ODTS, FACA, FACS
United Kingdom Donna Allerton, RN
Heri Aminuddin, MD
Christoph Wöelfl, MD, PhD John A. Androulakis, MD, FACS
Head of Departement, Departement of Orthopedic and Charles Aprahamian, MD, FACS
Trauma Surgery Guillermo Arana, MD, FACS
Krankenhaus Hetzelstift Marjorie J. Arca, MD, FACS
Neustadt a. d. Weinstrasse Ana Luisa Argomedo Manrique
Germany John H. Armstrong, MD, FACS
John L.D. Atkinson, MD, FACS
Ivar Austlid
Gonzalo Avilés
­xxiv AGRADECIMENTOS

Mahmood Ayyaz, MD David E. Clark, MD, FACS


Richard Baillot, MD Raul Coimbra, MD, PhD, FACS
Andrew Baker, MD Francisco Collet e Silva, MD, FACS, PhD(Med)
Barbara A. Barlow, MA, MD, FACS Paul E. Collicott, MD, FACS
James Barone, MD, FACS Arthur Cooper, MD, FACS
John Barrett, MD, FACS Jaime Cortes Ojeda, MD
Pierre Beaumont, MD Clay Cothren Burlew, MD, FACS
Margareta Behrbohm Fallsberg, PhD, BSc Ronald D. Craig, MD
Richard M. Bell, MD, FACS Doug Davey, MD
Eugene E. Berg, MD, FACS Kimberly A. Davis, MD, FACS
Richard Bergeron, MD Cristiane de Alencar Domingues, RN, MSN, PhD
François Bertrand, MD Subrato J. Deb, MD
Renato Bessa de Melo, MD Alejandro De Gracia, MD, FACS, MAAC
Mike Betzner, MD Laura Lee Demmons, RN, MBA
Emidio Bianco, MD, JD Ronald Denis, MD
David P. Blake, MD, FACS Elizabeth de Solezio, PhD
Ken Boffard, MB BCh, FRCS, FRCS(Ed), FACS Jesus Díaz Portocarrero, MD, FACS
Mark W. Bowyer, MD, FACS, DMCC Mauricio Di Silvio-Lopez, MD, FACS
Don E. Boyle, MD, FACS Frank X. Doto, MS
Marianne Brandt Jay J. Doucet, MD, FACS
Mary-Margaret Brandt, MD, FACS Anne-Michéle Droux
Frank J. Branicki, MBBS, DM, FRCS, FRACS, FCS(HK), Julia A. Dunn, MD, FACS
FHKAM(Surg) Hermanus Jacobus Christoffel Du Plessis, MB, ChB,
Karen Brasel, MPH, MD, FACS MMed(Surg), FCS(SA), FACS
Fred Brenneman, MD, FRCSC, FACS Marguerite Dupré, MD
George Brighton, MD Candida Durão
Åse Brinchmann-Hansen, PhD Ruth Dyson, BA(Hons)
Peter Brink, MD, PhD Martin Eason, MD, JD
Karim Brohi, MD A. Brent Eastman, MD, FACS
James Brown, MA Frank E. Ehrlich, MD, FACS
Rea Brown, MD, FACS Martin R. Eichelberger, MD, FACS
Allen F. Browne, MD, FACS Abdelhakim Talaat Elkholy, MBBCh
Laura Bruna, RN David Eduardo Eskenazi, MD, FACS
Gerry Bunting, MD Vagn Norgaard Eskesen, MD
Andrew R. Burgess, MD, FACS Denis Evoy, MCH, FRCSI
Richard E. Burney, MD, FACS William F. Fallon, Jr., MD, FACS
David Burris, MD, FACS David V. Feliciano, MD, FACS
Reginald A. Burton, MD, FACS Froilan Fernandez, MD
Jacqueline Bustraan, MSc Carlos Fernandez-Bueno, MD
Vilma Cabading John Fildes, MD, FACS
Sylvia Campbell, MD, FACS Ronald P. Fischer, MD, FACS
C. James Carrico, MD, FACS Stevenson Flanigan, MD, FACS
Carlos Carvajal Hafemann, MD, FACS Lewis M. Flint, Jr, MD, FACS
Gustavo H. Castagneto, MD, FACS Cornelia Rita Maria Getruda Fluit, MD, MedSci
Candice L. Castro, MD, FACS Joan Foerster
C. Gene Cayten, MD, FACS Esteban Foianini, MD, FACS
June Sau-Hung Chan Jorge E. Foianini, MD, FACS
Zafar Ullah Chaudhry, MD, FRCS, FCPS, FACS Heidi Frankel, MD, FACS
Peggy Chehardy, EdD, CHES Knut Fredriksen, MD, PhD
Regina Sutton Chennault, MD, FACS Susanne Fristeen, RN
Robert A. Cherry, MD, FACS Richard Fuehling, MD
Diane Chetty Christine Gaarder, MD
Wei Chong Chua, MD Sylvain Gagnon, MD
Emmanuel Chrysos, MD, PhD, FACS Richard Gamelli, MD, FACS
Chin-Hung Chung, MB BS, FACS Subash C. Gautam, MD, MBBS, FRCS, FACS
AGRADECIMENTOS xxv

Paul Gebhard Peggy Knudson, MD, FACS


James A. Geiling, MD, FCCP Amy Koestner, RN, MSN
Thomas A. Gennarelli, MD, FACS Radko Komadina, MD, PhD
John H. George, MD Digna R. Kool, MD
Aggelos Geranios, MD John B. Kortbeek, MD, FACS
Michael Gerazounis, MD Roman Kosir, MD
Roger Gilbertson, MD Brent Krantz, MD, FACS
Robert W. Gillespie, MD, FACS Jon R. Krohmer, MD, FACEP
Marc Giroux, MD Eric J. Kuncir, MD, FACS
Gerardo A. Gomez, MD, FACS Roslyn Ladner
Hugo Alfredo Gomez Fernandez, MD, FACS Ada Lai Yin Kwok
Khalid Masood Gondal Maria Lampi, BSc, RN
Javier González-Uriarte, MD, PhD, EBSQ, FSpCS Katherine Lane, PhD
John Greenwood Francis G. Lapiana, MD, FACS
Russell L. Gruen, MBBS, PhD, FRACS Pedro Larios Aznar
Niels Gudmundsen-Vestre Claus Falck Larsen, MD, PhD(Med), MPA, FACS
Oscar D. Guillamondegui, MD, FACS Anna M. Ledgerwood, MD, FACS
Enrique A. Guzman Cottallat, MD, FACS Dennis G. Leland, MD, FACS
J. Alex Haller, Jr., MD, FACS Frank Lewis, MD, FACS
Betty Jean (B. J.) Hancock, MD, FACS Wilson Li, MD
Burton H. Harris, MD, FACS Helen Livanios, RN
Michael L. Hawkins, MD, FACS Chong-Jeh Lo, MD, FACS
Ian Haywood, FRCS(Eng), MRCS, LRCP Sarvesh Logsetty, MD, FACS
James D. Heckman, MD, FACS Nur Rachmat Lubis, MD
June E. Heilman, MD, FACS Edward B. Lucci, MD, FACEP
David M. Heimbach, MD, FACS Eduardo Luck, MD, FACS
Richard Henn, RN, BSN, M.ED Thomas G. Luerssen, MD, FACS
Walter Henny, MD Ka Ka Lui
Sharon M. Henry, MD, FACS J.S.K. Luitse, MD
David N. Herndon, MD, FACS Siew-Kheong Lum
Grace Herrera-Fernandez Douglas W. Lundy, MD, FACS
Fergal Hickey, FRCS, FRCS Ed(A&E), DA(UK), FCEM Arnold Luterman, MD, FACS
Erwin F. Hirsch, MD, FACS Fernando Machado, MD
Francisco Holguin, MD Fernando Magallanes Negrete, MD
Michael Hollands, MB BS, FRACS, FACS Jaime Manzano, MD, FACS
Scott Holmes Patrizio Mao, MD, FACS
Roxolana Horbowyj, MD, FACS Donald W. Marion, MD, FACS
David B. Hoyt, MD, FACS Michael R. Marohn, DO, FACS
Arthur Hsieh, MA, NREMT-P Barry D. Martin, MD
Irvene K. Hughes, RN Salvador Martín Mandujano, MD, FACS
Christopher M. Hults, MD, FACS, CDR, USN Kimball I. Maull, MD, FACS
Richard C. Hunt, MD, FACEP R. Todd Maxson, MD, FACS
John E. Hutton, Jr, MD, FACS Mary C. McCarthy, MD, FACS
Miles H. Irving, FRCS(Ed), FRCS(Eng) Gerald McCullough, MD, FACS
Randeep S. Jawa, MD, FACS John E. McDermott, MD, FACS
José María Jover Navalon, MD, FACS James A. McGehee, DVM, MS
Richard Judd, PhD, EMSI Chad McIntyre, NREMT-P, FP-C
Gregory J. Jurkovich, MD, FACS William F. McManus, MD, FACS
Aage W. Karlsen Norman E. McSwain, Jr., MD, FACS
Christoph R. Kaufmann, MD, FACS Philip S. Metz, MD, FACS
Howard B. Keith, MD, FACS Cynthia L. Meyer, MD
James F. Kellam, MD, FRCS, FACS Daniel B. Michael, MD, PhD, FACS
Steven J. Kilkenny, MD, FACS Salvijus Milasˇius, MD
Darren Kilroy, FRCS(Ed), FCEM, M.Ed Frank B. Miller, MD, FACS
Lena Klarin, RN Sidney F. Miller, MD, FACS
­xxvi AGRADECIMENTOS

Leo Pien Ming, MBBS, MRCS (Edin), M.Med Jesper Ravn, MD


(Orthopaedics) Tarek S. A. Razek, MD, FACS
Mahesh C. Misra, MD, FACS Marcelo Recalde Hidrobo, MD, FACS
Soledad Monton, MD John Reed, MD
Ernest E. Moore, MD, FACS Marleta Reynolds, MD, FACS
Forrest O. Moore, MD, FACS Stuart A. Reynolds, MD, FACS
Newton Djin Mori, MD Peter Rhee, MD, MPH, FACS, FCCM, DMCC
Johanne Morin, MD Bo Richter
Charles E. Morrow, Jr., MD, FACS Bernard Riley, FFARCS
David Mulder, MD, FACS Charles Rinker, MD, FACS
Stephen G. Murphy, MD Avraham Rivkind, MD
Kimberly K. Nagy, MD, FACS Rosalind Roden, FFAEM
Raj K. Narayan, MD, FACS Diego Rodriguez, MD
James B. Nichols, DVM, MS Vicente Rodriguez, MD
Nicolaos Nicolau, MD, FACS Jakob Roed, MD
Martín Odriozola, MD, FACS Olav Røise, MD, PhD
Han Boon Oh Martha Romero
Giorgio Olivero, MD, FACS Ronald E. Rosenthal, MD, FACS
Franklin C. Olson, EdD Michael F. Rotondo, MD, FACS
Steve A. Olson, MD, FACS Grace Rozycki, MD, FACS
Osama Ali Omari, MD Daniel Ruiz, MD, FACS
Hock Soo Ong, MD, FACS J. Octavio Ruiz Speare, MD, MS, FACS
Gonzalo Ostria P., MD, FACS James M. Ryan, MCh, FRCS(Eng), RAMC
Arthur Pagé, MD Majid Sabahi, MD
José Paiz Tejada James M. Salander, MD, FACS
Rattaplee Pak-Art, MD Gueider Salas, MD
Fatima Pardo, MD Jeffrey P. Salomone, MD, FACS
Steven N. Parks, MD, FACS Rocio Sanchez-Aedo Linares, RN
BiPinchandra R. Patel, MD, FACS Mårtin Sandberg, MD, PhD
Chester (Chet) Paul, MD Thomas G. Saul, MD, FACS
Jasmeet S. Paul, MD Nicole Schaapveld, RN
Andrew Pearce, BScHons, MBBS, FACEM PG Cert Domenic Scharplatz, MD, FACS
Aeromed retrieval William P. Schecter, MD, FACS
Mark D. Pearlman, MD Inger B. Schipper, MD, PhD, FACS
Andrew B. Peitzman, MD, FACS Patrick Schoettker, MD, M.E.R.
Nicolas Peloponissios, MD Martin A. Schreiber, MD, FACS
Jean Péloquin, MD Kari Schrøder Hansen, MD
Philip W. Perdue, MD, FACS Thomas E. Scott, MD, FACS
Pedro Moniz Pereira, MD Stuart R. Seiff, MD, FACS
Neil G. Perry, MD, FRCSC, FACS Estrellita C. Serafico
J.W. Rodney Peyton, FRCS(Ed), MRCP Bolivar Serrano, MD, FACS
Lawrence H. Pitts, MD, FACS Juan Carlos Serrano, MD, FACS
Renato Sergio Poggetti, MD, FACS Steven R. Shackford, MD, FACS
Alex Poole, MD, FACS Marc J. Shapiro, MD, FACS
Galen V. Poole, MD, FACS Thomas E. Shaver, MD, FACS
Danielle Poretti, RN Mark Sheridan, MBBS, MMedSc, FRACS
Ernest Prégent, MD Brian Siegel, MD, FACS
Raymond R. Price, MD, FACS Richard C. Simmonds, DVM, MS
Richard R. Price, MD, FACS Richard K. Simons, MB, BChir, FRCS, FRCSC, FACS
Sonia Primeau Preecha Siritongtaworn, MD, FACS
Herbert Proctor, MD, FACS Diana Skaff
Jacques Provost, MD Nils Oddvar Skaga, MD
Paul Pudimat, MD David V. Skinner, FRCS(Ed), FRCS(Eng)
Cristina Quintana Peter Skippen, MBBS, FRCPC, FJFICM, MHA
Max L. Ramenofsky, MD, FACS Arnold Sladen, MD, FACS
AGRADECIMENTOS xxvii

Tone Slåke Robert Winter, FRCP, FRCA, DM


R. Stephen Smith, MD, RDMS, FACS Fremont P. Wirth, MD, FACS
Birgitte Soehus Bradley D. Wong, MD, FACS
Ricardo Sonneborn, MD, FACS Nopadol Wora-Urai, MD, FACS
Anne Sorvari Peter H. Worlock, DM, FRCS(Ed), FRCS(Eng)
Michael Stavropoulos, MD, FACS Jay A. Yelon, MD, FACS
Spyridon Stergiopoulos, MD Bang Wai-Key Yuen, MB BS, FRCS, FRACS, FACS
Gerald O. Strauch, MD, FACS Ahmad M. Zarour, MD, FACS
Luther M. Strayer, III, MD
James K. Styner, MD
LAM Suk-Ching, BN, MHM LISTA DOS TRADUTORES DA EDIÇÃO EM
Paul-Martin Sutter, MD PORTUGUÊS
John Sutyak, MD, FACS
Lars Bo Svendsen, MD, DMSci A tradução da Décima Edição do Manual de Alunos do
Vasso Tagkalakis Curso ATLS cingiu definitivamente um grande marco
Wael S. Taha, MD na evolução desta família ATLS brasileira. O programa
Kathryn Tchorz, MD, FACS adquiriu um formato de abrangência internacional a partir
Joseph J. Tepas, III, MD, FACS da sua nona edição e a receptividade do programa renovado
Stéphane Tétraeault, MD demonstrou claramente a grande aceitação da filosofia ATLS
Gregory A. Timberlake, MD, FACS no cuidado do doente traumatizado no cenário nacional.
Wei Ting Lee O programa brasileiro também demonstrou em números
Gustavo Tisminetzky, MD, FACS, MAAC efetivos de cursos realizados a necessidade contínua de
Peter G. Trafton, MD, FACS difusão de conhecimentos, essenciais no salvamento de
Stanley Trooksin, MD, FACS vidas e diminuição no número de deficientes no cenário
Julio L. Trostchansky, MD, FACS das vítimas de trauma. Assim como a maioria dos países da
Philip Truskett, MB BS, FRACS Região Latinoamericana (Região XIV do COT ACS), o cenário
David Tuggle, MD, FACS nacional deixa evidente a grande necessidade da manutenção
Wolfgang Ummenhofer, MD, DEAA da difusão dos ensinamentos dos princípios da avaliação
Jeffrey Upperman, MD, FACS inicial. É uma árdua missão! Principalmente para aqueles
Jay Upright que labutam nos serviços de pronto socorros nacionais para
Yvonne van den Ende manter a máxima qualidade de prestação de serviços médicos
Armand Robert van Kanten, MD no quesito trauma. Este trabalho foi realizado, amiúde em
Endre Varga, MD, PhD conjunto com muitos instrutores de várias partes do país
Edina Värkonyi que acreditam na necessidade da melhoria da qualidade
Panteleimon Vassiliu, MD, PhD de atenção ao traumatizado. São médicos voluntários que
Eugenia Vassilopoulou, MD doam de si, na perseverante missão de “ensinar e treinar os
Antigoni Vavarouta médicos brasileiros como atender o traumatizado”.
Allan Vennike Estendemos aqui nossa gratidão aos membros desta família
Antonio Vera Bolea ATLS na tradução desta 10ª versão:
Alan Verdant, MD
Tore Vikström, MD, PhD Aline Cadena von Bahten
J. Leonel Villavicencio, MD, FACS Atila Varela Velho
Eric Voiglio, MD, PhD, FACS, FRCS Candioce Vasconcelos, RJ
Franklin C. Wagner, MD, FACS Carlos Alberto de Castro Fagundes
Raymond L. Warpeha, MD, FACS Claudio Ricardo Capela Bogdan
Clark Watts, MD, FACS Daniela Paoli de Almeida Lima, São Paulo, SP
John A. Weigelt, MD, FACS Diogo de Freitas Valeiro Garcia
Leonard J. Weireter Jr., MD, FACS Domingos André Fernandes Drumond
John West, MD, FACS Izio Kowes
Nicholas M. Wetjen, MD Luiz Carlos Von Bahten
Robert J. White, MD, FACS Newton Djin Mori
Richard L. Wigle, MD, FACS Nicolau Fernandes Kruel
Stephen Wilkinson, MBBS, MD, FRACS Luiz Guilherme de Oliveira Ximenes
Daryl Williams, MBBS, FANZCA,GDipBusAd, GdipCR Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Junior
Robert J. Winchell, MD, FACS Marcos Rogério Bittencourt
­xxviii AGRADECIMENTOS

Mauricio Godinho Angelo Giugliani Chaves, Porto Alegre, RS


Mauricio Medeiros Lemos Anselmo Dornas Moura, Belo Horizonte, MG
Octacilio Martins Junior Antonio Augusto Peixoto de Souza, Rio de Janeiro, RJ
Paulo César Espada Antonio Carlo Turiani Martini, São Paulo, SP
Paula Gomide Ferreira Tozelli Armando Angelo Casaroli São Paulo, SP
Valdir Zamboni Atila Varela Velho, Porto Alegre, RS
Waldemar Prandi Junior Carlos Alberto Salomão Muraro, Campinas, SP
Carlos Aurelio Schiavon, São Paulo, SP
Celso de Oliveira Bernini, São Paulo, SP
ROL DE HONRA Claudia Mara Quadrado, São Paulo, SP
Cristiane de Alencar Domingues, São Paulo, SP
A tradução das versões de 1993, 1997, 2004, 2008 e 2012 Cristina Helena Constanti Settervall, São Paulo, SP
para o português contou com a colaboração de um número Daniela Paoli de Almeida Lima, São Paulo, SP
expressivo de instrutores e amigos do programa ATLS Dario Birolini, São Paulo, SP
do Brasil e de Portugal, cujos nomes aparecem a seguir. Diogo de Freitas Valeiro Garcia, São Paulo, SP
A eles, que foram os pioneiros da meritória iniciativa de Edivaldo Massazo Utiyama, São Paulo, SP
divulgar o programa em todas as regiões do país, todos Edmundo Machado Ferraz, Recife, PE
nós somos profundamente gratos. Os frutos deste esforço Eduardo Hiroshi Akaishi, São Paulo, SP
nestas três últimas décadas são expressados pelos 40.000 Eliana Steinman, São Paulo, SP
médicos brasileiros treinados em cursos ATLS até o Evandro Costa da Silva Freire, Rio de Janeiro, RJ
momento, contemplando mais de 1.300 instrutores em Fabio Gazel Quintavalle, São Paulo, SP
todo o País. O programa ATLS não representa somente Fernando Antonio Buischi, São Paulo, SP
uma modalidade de ensino, reciclagem e atualização que Fernando Bueno Pereira Leitão, São Paulo, SP
simboliza o que pode e deve ser feito no atendimento inicial Fernando da Costa Ferreira Novo, São Paulo, SP
ao traumatizado, beneficiando anualmente centenas de Francisco de Salles Collet e Silva, São Paulo, SP
milhares de vítimas de trauma. Mais do que isso, constitui- Gerson Luiz Laux, Curitiba, PR
se em instrumento de conscientização de médicos e Hamilton Petry de Souza, Porto Alegre, RS
enfermeiros para a importância do trauma como problema Hanna Augusta Rothschild, São Paulo, SP
de saúde pública, definindo o perfil dos recursos mínimos Helga Bast Bell, São Paulo, SP
imprescindíveis ao tratamento da vítima, estabelecendo Izio Kowes, Salvador, BA
uma forma de comunicação com uma linguagem universal João Batista Cardoso, Ribeirão Preto, SP
entre os profissionais de saúde, fazendo com que milhares João Batista de Resende Neto, Belo Horizonte, MG
de brasileiros se unam nesta campanha contínua, visando João Vicente Bassols, Porto Alegre, RS
à redução de morbidade e da mortalidade por trauma. Jorge Carlos Machado Curi, Campinas, SP
Que fique aqui registrado o reconhecimento do Comitê de Jorge Luis A. Bastos, Salvador, BA
Trauma Brasileiro do Colégio Americano de Cirurgiões e a José Ivan de Andrade, Ribeirão Preto, SP
gratidão de todos os doentes que se beneficiaram por sua Lilia de Souza Nogueira, São Paulo, SP
contribuição. Livio José Surretti Pires, Belo Horizonte, MG
Luiz Carlos Von Bahten, Curitiba, PR
Newton Djin Mori Luiz Donizeti da Silva Stracieri, Ribeirão Preto, SP
Chair Luiz Fernando C. Zantut, São Paulo, SP
Brazilian Committee on Trauma Manoel Afonso Porto Neto, Caruaru, PE
American College of Surgeons Marcelo Danilo da Costa, Salvador, BA
Marcos Antonio Lopes, São Paulo, SP
Admar Concon Filho, Campinas, SP Marcos Musafir, Rio de Janeiro, RJ
Adoniram de Mauro Figueiredo, São Paulo, SP Mario Luiz Quintas, São Paulo, SP
Aiodair Martins Jr., Uberaba, MG Mario Mantovani, Campinas, SP
Alan Faria de Onofre, Niterói, RJ Marta Cândido, São Paulo, SP
Alberto Bitran, São Paulo, SP Massahiko Akamine, São Paulo, SP
Alcides José Branco Filho, Curitiba, PR Miguel Brandão, Salvador, BA
Alfredo Henrique Rodrigues Guarischi, Rio de Janeiro, RJ Milton Steinman, São Paulo, SP
Aline von Bahten, Curitiba, PR Nadia Maria Gebelein, São Paulo, SP
Almerindo Lourenço de Souza Jr., São Paulo, SP Newton Djin Mori, São Paulo, SP
Álvaro Antonio Bandeira Ferraz, Recife, PE Normand Araújo Moura, Salvador, BA
André Gusmão Cunha, Salvador, BA Octacílio Martins Jr., São Paulo, SP
AGRADECIMENTOS xxix

Omar Feres, Ribeirão Preto, SP


Paulo Roberto Corsi, São Paulo, SP
Paulo Roberto Lima Carreiro, Belo Horizonte, MG
Pedro Carlos Loureiro Arruda, Recife, PE
Rafael Denadai, Campinas, SP
Renato Bessa de Melo, Portugal
Renato Sérgio Poggetti, São Paulo, SP
René Mariano de Almeida, Salvador, BA
Ricardo Bardella, São Paulo, SP
Rina Maria Pereira Porta, São Paulo, SP
Robert Stephen Alexander, Vitória, ES
Roberto Frota-Pessoa, Rio de Janeiro, RJ
Roberto Pelegrini Coral, Porto Alegre, RS
Rodrigo Altenfelder Silva, São Paulo, SP
Rogério Saad Hossne, Botucatu, SP
Rute Miwa Tomida, São Paulo, SP
Samir Rasslan, São Paulo, SP
Sandro Scarpelini, Ribeirão Preto, SP
Savino Gasparini Neto, Rio de Janeiro, RJ
Simone de Campos Vieira Abib, São Paulo, SP
Tercio Souto Bacelar, Recife, PE
Valdir Zamboni, São Paulo, SP
Vinicius Augusto Filipak, Curitiba, PR
Vitor Moutinho da Conceição Júnior, São Paulo, SP
Waldemar Prandi Filho, Campinas, SP
Waldomiro Barbosa Teixeira, Niterói, RJ
ANÁLISE GERAL DO CURSO: OBJETIVOS,
HISTÓRIA E CONCEITOS DO PROGRAMA ATLS

ob je ti vos dO pro gr a m a Ao final do curso de alunos do ATLS, o participante


deverá ser capaz de:

O curso Suporte Avançado de Vida no Trauma (ATLS/ 1. Demonstrar os conceitos e princípios de


SAVT) oferece aos participantes um método seguro e avaliação primária e secundária.
confiável para o tratamento imediato do traumatizado 2. Estabelecer as prioridades de atendimento do
e o conhecimento básico necessário para: traumatizado.
1. Avaliar a condição do doente de forma rápida e 3. Iniciar a avaliação primária e secundária
precisa. necessárias para o tratamento de emergência das
condições agudas com risco de vida em tempo
2. Reanimar e estabilizar o doente conforme prioridades. adequado.
3. Determinar se as necessidades do doente excedem 4. Demonstrar, em situações clínicas simuladas e
os recursos da instituição e/ou a capacidade do nas sessões práticas de treinamento cirúrgico,
profissional. as técnicas a seguir, que muitas vezes são
4. Providenciar a transferência apropriada inter- necessárias na avaliação inicial e no tratamento
hospitalar ou intra-hospitalar do doente. dos doentes com trauma multissistêmico:
5. Garantir que o doente receba o melhor a. Avaliação primária e secundária de um doente
atendimento possível e que o nível de atendimento com múltiplas lesões simuladas
não piore em nenhum momento durante a
avaliação, a reanimação ou a transferência. b. Estabelecimento de via aérea pérvia e início de
ventilação assistida
c. Intubação orotraqueal em manequins adultos
ob je ti vos do curso e infantis
d. Oximetria de pulso e detecção de dióxido de
O conteúdo e as técnicas apresentadas neste curso são carbono no ar expirado
desenhados para auxiliar os médicos no atendimento
de emergência do traumatizado. O conceito da “hora de e. Cricotiroidostomia
ouro” enfatiza a urgência necessária para que o tratamento f. Avaliação e tratamento do doente em choque
do traumatizado seja bem sucedido e não representa e, em especial, reconhecimento da hemorragia
necessariamente um período “fixo” de 60 minutos. com risco de vida
Representa antes uma janela de oportunidade durante a
qual os profissionais podem causar impacto positivo na g. Acesso venoso e intraósseo
morbidade e mortalidade associadas ao trauma. O curso h. Descompressão pleural por punção e
ATLS oferece o conhecimento e as técnicas essenciais para drenagem de tórax
que os profissionais identifiquem e tratem as lesões com
risco de vida ou com potencial risco de vida na situação de i. Reconhecimento do tamponamento cardíaco e
extrema pressão associada ao atendimento destes doentes seu tratamento apropriado
no ambiente agitado e repleto de ansiedade da sala de j. Identificação clínica e radiológica das lesões
trauma. O curso ATLS é útil para os médicos em uma
torácicas
variedade de situações clínicas. Ele é tão relevante para os
profissionais de um grande hospital de ensino da América k. Uso de lavagem peritoneal, ultrassom (FAST) e
do Norte ou da Europa, como para os profissionais de um tomografia computadorizada (TC) na avaliação
país em desenvolvimento com hospitais rudimentares. abdominal

xxxi
­xxxii ANÁLISE GERAL DO CURSO

l. Avaliação e tratamento do doente com lesão Outro* Acidentes de Trânsito


cerebral, incluindo o uso do escore da Escala
de Coma de Glasgow e da TC de crânio
21% 23%
m. Proteção da medula e avaliação clínica e
radiológica das lesões de coluna
Envenenamento Guerras
n. Avaliação e tratamento do trauma
musculoesquelético 6% 3%
a nec e s sida de Quedas
Homicídio
8%
De acordo com os últimos dados da OMS e do CDC,
morrem mais de 9 pessoas por minuto por trauma ou
Incêndios 11%
violência e 5,8 milhões de pessoas de todas as idades e
6% Afogamento Suicídio
grupos econômicos morrem anualmente por lesões não 7%
intencionais ou violência (n FIGURA 1). O peso do trauma 15%
é ainda mais significativo, representando 18% do custo n FIGURA 2  Distribuição global da mortalidade por causa. A categoría
das doenças no mundo. As colisões automobilísticas “Outro” inclui sufocamento, asfixia, mordeduras de animais e acidentes
sozinhas (n FIGURA 2) causam mais de 1 milhão de mortes por animais e insetos venenosos, hipotermia e hipertermia, assim como
por ano e estima-se que causem 20 a 50 milhões de lesões desastres naturais. Dados do Global Burden of Disease, 2004. Reproduzido
significativas; são a principal causa de morte por trauma com permissão de Injuries and Violence: The Facts. Geneva: World Health
Organization Department of Injuries and Violence Prevention; 2010.
no mundo. Melhora nos esforços de prevenção têm tido
impacto na maioria dos países desenvolvidos, onde o
trauma continua sendo a principal causa de morte entre
1 e 44 anos de idade. É significativo que mais de 90%
DISTRIBUIÇÃO TRIMODAL DAS MORTES
das colisões automobilísticas ocorram nos países em
desenvolvimento. Estima-se que o número de mortes Descrita pela primeira vez em 1982, a distribuição
relacionadas ao trauma aumente dramaticamente por trimodal das mortes implica em que a morte por trauma
volta de 2020, com projeção de aumento de 80% nas ocorre em um de três períodos ou picos. O primeiro
mortes devidas a colisões automobilísticas nos países pico ocorre nos primeiros segundos ou minutos após
com renda baixa ou média. o trauma. Durante este período precoce, as mortes

Taxa de mortalidade por acidentes de trânsito, 2013*

Taxa de Mortalidade
(para cada 100.000 habitantes)

Dados não disponíveis


Não aplicável
*Estados membros com população inferior a 90.000 em 2015 e que não participaram da pesquisa para o relatório Global de segurança viária 2015 não foram incluídos na análise.

Os limites e nomes mostrados e as designações utilizadas neste mapa não implicam na expressão Fonte : Organização Mundial de Saúde
de qualquer opinião de quaisquer partes da Saúde Mundial relativo ao status legal de qualquer país, Produção do mapa: Evidência e Pesquisa de Informações
território, cidade ou área ou suas autoridades, ou a respeito da delimitação de suas fronteiras ou limites. World Health : Organização Mundial de Saúde
As linhas pontilhadas e traçadas do mapa representam fronteiras onde ainda não existe total acordo.
WHO2016. Todos os direitos são reservados.

n FIGURA 1  Taxa de mortalidade por acidentes automobilísticos, 2013. Reproduzida com a autorização do Galeria Global de Mapas do
Observatório de Saúde. Genebra: Departamento de Lesões e Prevenção de Violência da Organização Mundial de Saúde; 2016.
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxiii

resultam em geral de apneia, causada por lesões 3mostra a distribuição temporal das mortes por trauma
graves do cérebro ou da medula espinhal alta ou de em comparação com a distribuição trimodal histórica.
ruptura de coração, aorta ou outros grandes vasos.
Muito poucos destes doentes podem ser salvos, devido à
gravidade das lesões. Só a prevenção é capaz de reduzir His tÓR I A
significativamente este pico de mortalidade por trauma.
O segundo pico ocorre dentro de minutos a várias horas
depois do trauma. As mortes que ocorrem durante este Antes de 1980, o atendimento ao traumatizado nos Estados
período são geralmente devidas a hematoma subdural e Unidos era, na melhor das hipóteses, inconsistente. Em
epidural, hemopneumotórax, ruptura de baço, lacerações fevereiro de 1976 ocorreu uma tragédia que mudou a forma
do fígado, fraturas pélvicas e/ou múltiplas outras lesões, de atendimento na “primeira hora” aos traumatizados
associadas a perda significativa de sangue. A hora de ouro do nos Estados Unidos e em muitos lugares do mundo. Um
atendimento pós-trauma é caracterizada pela necessidade ortopedista, pilotando seu próprio avião, caiu numa
de avaliação e reanimação rápidas, que são os princípios plantação de milho, na zona rural de Nebraska. O cirurgião
fundamentais do Suporte Avançado de Vida no Trauma. sofreu lesões de certa gravidade, três de seus filhos sofreram
O terceiro pico, que ocorre de vários dias a semanas traumatismos graves e outro teve lesões leves. Sua esposa
após o trauma inicial, é devido mais frequentemente morreu instantaneamente. O atendimento que ele e sua
a sepse e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. família receberam foi inadequado para os padrões da
O atendimento prestado durante cada uma das fases época. O cirurgião, reconhecendo como o tratamento tinha
precedentes tem impacto na evolução nesta etapa. A sido inadequado, afirmou: “A partir do momento em que
primeira pessoa que atende o traumatizado e cada uma eu posso prestar um atendimento no local, com recursos
das pessoas subsequentes influenciam diretamente o limitados, melhor do que o atendimento que meus filhos
prognóstico do traumatizado a longo prazo. e eu recebemos no primeiro hospital - existe algo errado
A distribuição temporal das mortes reflete os avanços com o sistema e o sistema tem que ser mudado”.
locais e as capacidades dos sistemas de trauma. O Um grupo privado de cirurgiões e clínicos de Nebraska,
desenvolvimento de programas padronizados de a Lincoln Medical Education Foundation (LMEF) e o grupo
treinamento em trauma, melhor atendimento pré- Lincoln-Area Mobile Heart Team Nurses, com a ajuda do
hospitalar e o desenvolvimento de centros de trauma Centro Médico da Universidade de Nebraska, o Comitê de
com equipes exclusivas de trauma e protocolos de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões do Estado de
tratamento do traumatizado alteraram quadro. A n FIGURA Nebraska e os Serviços de Emergência Médica do Sudeste
de Nebraska identificaram a necessidade de treinamento
Distribuição Temporal das Mortes por Trauma Comparado com a em suporte avançado de vida no trauma. Uma combinação
Distribuição Trimodal Histórica
de aulas, demonstrações de procedimentos de reanimação
e treinamentos práticos em laboratório formou o primeiro
400
protótipo do curso ATLS.
300
Em 1978, o ano do primeiro curso ATLS, surgiu uma
Mortes Imediatas
nova abordagem no atendimento das vítimas de traumas
200 Mortes Precoces graves, com risco de vida. Esse protótipo do curso ATLS
Mortes Tardias
Trimodal Histórica
foi testado na prática em conjunto com os Serviços de
Número de Mortes

Emergência Médica do Sudeste de Nebraska. Um ano


150
depois, o Comitê de Trauma do ACS, reconhecendo o
trauma como uma doença cirúrgica, adotou o curso
100
entusiasticamente sob a égide do Colégio e o incorporou
50
ao seu programa educacional.
O curso baseou-se na premissa de que o atendimento
inicial, prestado de forma adequada e em tempo hábil,
0
poderia melhorar significativamente o prognóstico do
0 1 2 3 4 1 2 3 4 5
Horas
traumatizado grave. O propósito original do Programa
ATLS foi treinar médicos que não costumam atender, de
n FIGURA 3  Distribuição do tempo de mortes por trauma em comparação
forma rotineira, vítimas de traumas graves. O objetivo
com a distribuição trimodal histórica. A linha preta representa a distribuição inicial do curso não mudou. Entretanto, nos dias de hoje,
trimodal histórica e as barras representam os dados do estudo de 2010. o método ATLS é aceito como padrão de atendimento ao
Reproduzido com permissão de Gunst M, Ghaemmaghami V, Gruszecki A, traumatizado, na “primeira hora”, por muitos profissionais
et al. Mudar a epidemiologia das mortes por trauma leva a uma distribuição da área, quer o doente seja tratado numa zona rural remota,
bimodal. Proc (Baylor Univ Med Cent), 2010; 23 (4): 349-354. quer em um moderno centro de trauma.
­xxxiv ANÁLISE GERAL DO CURSO

evacuação rápida e do tratamento precoce definitivo das


ATLS e sistemas de tr auma vítimas e tornou-se cada vez mais evidente o quão crucial era
coordenar o tratamento de campo e o transporte para garantir
Como mencionado anteriormente, o Suporte Avançado de que os doentes feridos chegassem a um serviço de trauma.
Vida no Trauma (ATLS - Advanced Trauma Life Support) A noção de um sistema de trauma começou a tomar forma.
foi desenvolvido em 1976 após um acidente de avião Inicialmente, a concepção de um sistema de trauma centrava-
no qual várias crianças foram gravemente feridas. Eles se nos grandes centros urbanos de trauma. Com base na
receberam cuidados com ferimentos, mas os recursos experiência do Cook County Hospital em Chicago, o estado
e conhecimentos necessários não estavam disponíveis. de Illinois aprovou uma legislação que estabelecia uma rede
Infelizmente, era típico da forma como era realizado o estadual coordenada de centros de trauma em 1971. Quando
atendimento a traumatizados na maioria das áreas do país. o Maryland Institute for Emergency Medicine foi fundado em
Os criadores do ATLS viram como os esforços coordenados 1973, foi o primeiro sistema estadual de trauma operacional.
de profissionais bem treinados melhoravam a sobrevida dos O pequeno tamanho de Maryland permitiu um projeto de
combatentes gravemente feridos nos campos de batalha do sistema no qual todos os doentes gravemente feridos dentro do
Vietnã e nos hospitais do centro da cidade. Desde então, os estado eram transportados para uma única unidade dedicada
profissionais treinados pelo ATLS têm sido os instrumentos a trauma. Outras regiões usaram esse modelo para estabelecer
no desenvolvimento contínuo de sistemas de trauma. O redes cooperativas de centros de trauma que eram conectadas
ATLS desempenhou um papel importante ao reunir um por um sistema SME coordenado e ligadas por processos
grupo central de profissionais que eram treinados e focados compartilhados de melhoria da qualidade.
no tratamento a traumatizados. Este grupo forneceu a Esses esforços foram motivados pela constatação de que
liderança e os cuidados clínicos de primeira linha que uma grande proporção de mortes após trauma em hospitais
permitiram o crescimento e amadurecimento de sistemas não dedicados a trauma foi devida a ferimentos que poderiam
coordenados de trauma regional. ter sido melhor manejados e controlados. A implementação
Antes da segunda metade do século XX, os centros de de tais sistemas levou a dramáticos decréscimos no que foi
trauma não existiam. O trauma era considerado imprevisível denominado “morte evitável”, bem como melhorias gerais no
em vez de algo que poderia ser antecipado e incluído planos de resultado pós-lesão que foram duplicadas em configurações
tratamento para cuidar das lesões. Alguns grandes hospitais geográficas amplamente variáveis. Seguindo os modelos
públicos, especialmente aqueles localizados em áreas com estabelecidos em Illinois e Maryland, esses sistemas regionais
altos índices de pobreza e violência urbana, começaram a foram fundados com a premissa de que todos os doentes
demonstrar que a experiência e o conhecimento focados gravemente feridos deveriam ser transportados para um
- entre profissionais e instalações - levavam a melhores centro de trauma e que outras instalações de cuidados agudos
resultados após o trauma. Fora desses centros, os cuidados em uma região não teriam um papel no atendimento ao
com o trauma continuavam aleatórios; era realizado trauma. Esse padrão ajusta-se bem ao paradigma principal
pela instalação mais próxima e por profissionais que por do ATLS, que é a instalação pequena e com poucos recursos,
acaso estavam disponíveis. Como resultado, a qualidade que busca estabilizar e transferir doentes. Com base na
dos cuidados recebidos no trauma era, em grande parte, “exclusão” de hospitais não certificados no cuidado com os
uma questão de sorte. No entanto, dados claros e objetivos traumatizados, essa abordagem é freqüentemente referida
mostram agora melhores resultados em centros de trauma como o modelo exclusivo do design do sistema de trauma.
certificados. A importância dos centros de trauma tem sido O modelo exclusivo funciona bem em ambientes urbanos
um elemento central do ATLS desde o início, e a disseminação e suburbanos, onde há um número suficiente de centros de
dos princípios do ATLS contribuiu significativamente para trauma. Embora frequentemente descrito como um sistema
a aceitação geral deste conceito. regional, ele não usa os recursos de todas as unidades de
Quase ao mesmo tempo, mudanças radicais também saúde de uma região. Ele concentra o volume de doente e a
estavam ocorrendo no sistema de serviços médicos de experiência nos centros de alto nível, mas leva à atenuação
emergência (SME). Antes da década de 1960, havia poucos de habilidades em centros não cetificados e resulta em
padrões em relação a equipamentos de ambulância ou perda de flexibilidade e aumento de capacidade. A única
treinamento de socorristas. A ambulância era vista como maneira de aumentar a profundidade da cobertura em um
um meio de transportar doentes, não uma oportunidade sistema exclusivo é recrutar ou construir centros de trauma
para os profissionais iniciarem o atendimento. Ajudada adicionais em áreas de necessidade. Esta teoria provou ser
pela aprovação da Lei de Serviços Médicos de Emergência praticamente impossível na prática, devido aos altos custos
de 1973, que estabeleceu diretrizes e forneceu fundos para iniciais de novos centros de trauma, bem como uma motivação
o desenvolvimento regional de SME, e estes sistemas e comprometimento amplamente variáveis para o tratamento
desenvolveram-se e amadureceram rapidamente nos de traumatizados em todo o espectro da saúde. As limitações
próximos 25 anos. As experiências de guerra da Coréia do modelo exclusivo e as dificuldades de implantar o modelo
e do Vietnã demonstraram claramente as vantagens da em grande escala foram experimentadas ao longo dos anos 90.
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxv

Apesar da clara evidência do benefício dos sistemas de trauma, eficácia desses sistemas na melhoria dos resultados após a
pouquíssimos estados e regiões foram capazes de estabelecer lesão, mas os sistemas inclusivos são inegavelmente difíceis
um sistema como uma questão de política governamental, de desenvolver, financiar, manter e operar. O sistema tem
e poucos ainda conseguiram cumprir um conjunto de oito uma escala e uma função que o colocam no domínio dos
critérios que haviam sido propostos como pedras angulares serviços públicos essenciais, mas opera dentro do mundo
do design exclusivo do sistema. Consequentemente, modelos da prestação de serviços de saúde, amplamente orientado
inclusivos começaram a ser implementados. pelo mercado. Na maioria das áreas, as dimensões da saúde
O modelo inclusivo, como o nome sugere, propõe que pública do sistema de trauma não são bem reconhecidas
todas as unidades de saúde de uma região estejam envolvidas e não são bem financiadas pelos estados ou regiões. Na
com o atendimento de doentes traumatizados, em um nível falta de um mandato federal ou financiamento federal, a
proporcional ao seu comprometimento, capacidades e responsabilidade de desenvolver sistemas de trauma caiu
recursos. O ideal é que, por meio de suas regulamentações, para os governos estaduais e locais, e o progresso depende
regras e interações com o SME, o sistema funcione para atender muito do interesse e engajamento da liderança pública
de forma eficiente as necessidades individuais de um doente nesse nível. Como resultado, alguns estados têm sistemas
com a instalação mais adequada, com base em recursos e bem organizados e bem financiados, enquanto outros
proximidade. Com base nesse paradigma, os mais gravemente obtiveram pouco sucesso além do nível de coordenação
feridos seriam transportados direta ou rapidamente para que se desenvolveu por meio de interações individuais entre
as instalações de atendimento ao traumatologista de alto os provedores da linha de frente. Embora haja um consenso
nível. Ao mesmo tempo, haveria recursos locais e expertise geral sobre os elementos necessários e a estrutura de um
suficientes para gerenciar os traumatizados menos graves, sistema de trauma, bem como evidências significativas para
evitando assim os riscos e a utilização de recursos incorridos demonstrar que a coordenação desses elementos individuais
para o transporte para uma instalação de alto nível. A noção em um sistema abrangente de atendimento ao trauma leva
de que pessoal altamente qualificado em atendimento ao a melhores resultados após a lesão, esses dados não levaram
traumatizado jamais existiria fora do centro de trauma não a uma ampla implementação de sistemas de trauma em
estava prevista na época em que o ATLS foi criado. Em grande todo o país.
parte devido ao sucesso do ATLS, a capacidade de trauma De uma perspectiva internacional, a implementação do
relativamente sofisticada é agora comumente encontrada sistema de trauma varia até um grau ainda maior, devido
fora de um grande centro urbano tradicional. Essa mudança à ampla gama de estruturas sociais e desenvolvimento
de cenário levou a modificações no conteúdo e foco do curso econômico em países em todo o mundo. Além disso, muitas
ATLS e seu público-alvo. O modelo de sistema inclusivo tem das forças culturais e econômicas que têm impulsionado o
sido a principal estrutura de orientação para o desenvolvimento desenvolvimento de sistemas de trauma nos Estados Unidos
de sistemas nos últimos 10 anos. são únicas, especialmente aquelas relacionadas a altos índices
Apesar de sua aceitação relativamente universal no de violência interpessoal e às várias formas de financiar a
nível teórico, o modelo inclusivo é frequentemente mal assistência à saúde. Como resultado, as abordagens para o
interpretado e mal aplicado: na prática ele é visto como um desenvolvimento do sistema de trauma são muito diferentes.
sistema voluntário no qual todos os hospitais que desejam Em muitos países de renda mais elevada, especialmente
participar estão incluídos em qualquer nível de participação naqueles onde a assistência à saúde já é parte integrante
que escolherem. Essa abordagem falha em cumprir a missão da rede de apoio social, os benefícios de se concentrar a
principal de um sistema de trauma inclusivo: garantir que especialização em assistência ao trauma nos centros de
as necessidades do doente sejam o principal motivador da trauma foram mais facilmente reconhecidos. Além disso,
utilização de recursos. Um sistema inclusivo garante que todos há menos barreiras econômicas na direção do fluxo do doente
os hospitais participem do sistema e estejam preparados para com base na gravidade da lesão. Combinado com o tamanho
cuidar de doentes feridos em um nível compatível com seus relativamente menor de muitos países europeus e com os
recursos, capacidades técnicas e físicas; mas isso não significa menores tempos de transporte para um centro especializado,
que os hospitais sejam livres para determinar seu nível de esses benefícios facilitaram o desenvolvimento funcional
participação com base em seu próprio interesse percebido. As dos sistemas de trauma, seguindo um modelo exclusivo.
necessidades da população de doentes atendidas - avaliadas Em contraste, a maioria dos países de renda baixa e média
objetivamente - são os parâmetros que devem determinar tem infra-estrutura severamente limitada para transporte
o rateio e a utilização dos recursos do sistema, incluindo o de doentes e cuidados definitivos. Essas nações enfrentam
nível e a distribuição geográfica dos centros de trauma no sérios desafios ao fornecer assistência adequada aos
sistema. Quando essa regra é esquecida, a função ideal dos traumatizados e ao fornecer assistência médica em todos os
sistemas sofre e problemas de acesso inadequado ou de super setores. Esses desafios são claramente demonstrados pelas
utilização podem se desenvolver. taxas desproporcionalmente altas de morte relacionadas a
O modelo do sistema de trauma inclusivo foi bem trauma vistas nesses países. Nesses ambientes, o ATLS teve
desenvolvido. Há evidências substanciais para mostrar a talvez seu maior impacto no desenvolvimento de sistemas,
­xxxvi ANÁLISE GERAL DO CURSO

levando conhecimento e caminhos básicos do atendimento ao Mudanças no programa refletem padrões de prática
trauma diretamente para os médicos, independentemente da aceitos e verificados, tecnologia não comprovada ou
infraestrutura de saúde. Além disso, o ATLS, em sua essência, métodos experimentais. A natureza internacional
apresenta muitos dos elementos primários de uma abordagem do programa exige que o curso seja adaptável a uma
sistematizada do cuidado, incluindo o conceito de transferência variedade de situações geográficas, econômicas, sociais e
de doentes para instalações mais capazes, conforme a gravidade práticas médicas. Para manter o status atual no Programa
da lesão e a importância da comunicação entre profissionais da ATLS, um indivíduo deve reverificar o treinamento com
área da saúde em vários níveis de atenção. Em muitos países a edição mais recente dos materiais.
de renda baixa e média, o ATLS fornece tanto o ímpeto para Paralelamente ao curso da ATLS, o curso de Suporte de
melhorar o atendimento ao trauma quanto as ferramentas Vida no Trauma Pré-hospitalar (PHTLS), patrocinado pela
básicas para começar a construir um sistema. Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica
O amplo sucesso da ATLS e a construção de uma grande (NAEMT). O curso PHTLS, desenvolvido em cooperação
população de profissionais que entendem os princípios e a com o ACS COT, baseia-se nos conceitos do Programa ACS
abordagem para o tratamento de traumatizados, tanto nos ATLS e é realizado para técnicos de emergência médica,
Estados Unidos quanto internacionalmente, continuam a paramédicos e enfermeiros que prestam cuidados de
ser instrumentais no avanço da implementação de sistemas trauma pré-hospitalar.
de trauma. A ampla disseminação do conhecimento sobre Outros cursos foram desenvolvidos com conceitos e
os cuidados com traumatizados e a importância de tomar filosofias semelhantes. Por exemplo, a Society of Trauma
as decisões corretas estabeleceu um conjunto comum de Nurses oferece o Advanced Trauma Care for Nurses (ATCN),
princípios e uma línguagem comum que serve para iniciar que também é desenvolvido em cooperação com o ACS COT.
mudanças no atendimento ao trauma e agir como uma Os cursos ATCN e ATLS são conduzidos paralelamente uns
força coesiva reunindo os vários componentes de um aos outros; os enfermeiros auditam as palestras do ATLS e
sistema. Esse grupo de profissionais comprometidos com depois participam de estações de habilidades separadas das
o atendimento do traumatizado, a extensa família ATLS, estações de ATLS conduzidas por médicos. Os benefícios
é, em última análise, a fonte da visão geral e da coesão de ter pessoal de trauma pré-hospitalar e intra-hospitalar
necessárias para promover melhorias nos sistemas de falando a mesma “linguagem” são aparentes.
atendimento ao trauma. Eles ligam os muitos elementos
separados de um sistema inclusivo em um todo funcional.
DISSEMINAÇÃO INTERNACIONAL
DESENVOLVIMENTO E Como um projeto piloto, o Programa ATLS foi exportado
DISSEMINAÇÃO DO CURSO para fora da América do Norte em 1986 para a República
de Trinidad e Tobago. O Conselho de Regentes do
O curso da ATLS foi realizado nacionalmente pela ACS deu permissão em 1987 para a promulgação do
primeira vez sob os auspícios do Colégio Americano Programa ATLS em outros países. O Programa ATLS
de Cirurgiões em janeiro de 1980. A promulgação pode ser solicitado por uma organização cirúrgica
internacional do curso começou em 1980. reconhecida ou pelo Capítulo do COT-ACS em outro
O programa cresceu a cada ano em número de cursos e país, correspondendo ao Presidente do Subcomitê do
participantes. Até o momento, o curso treinou mais de 1,5 ATLS, responsável pelo Gabinete do Programa ATLS do
milhão de participantes em mais de 75.000 cursos em todo ACS, Chicago, Illinois. No momento da publicação, os
o mundo. Atualmente, uma média de 50.000 médicos são seguintes 78 países estavam fornecendo ativamente o
treinados a cada ano em mais de 3.000 cursos. O maior curso ATLS para seus profissionais de trauma:
crescimento nos últimos anos tem sido na comunidade
internacional e esse grupo representa atualmente mais 1. Alemanha (German Society for Trauma Surgery
da metade de todas as atividades do ATLS. and Task Force for Early Trauma Care)
O texto do curso é revisado aproximadamente a cada 2. Argentina (Asociação Argentina de Cirugía)
4 anos para incorporar novos métodos de avaliação e
3. Australia (Royal Australasian College of Surgeons)
tratamento que se tornaram partes aceitas da comunidade
de médicos que tratam doentes traumatizados. As 4. Bahréin (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter
revisões do curso incorporam sugestões de membros do and Committee on Trauma)
Subcomitê do ATLS, membros do ACS COT, membros da 5. Belice (College of Physicians and Surgeons of
família internacional ATLS, representantes ao Subcomitê Costa Rica)
do ATLS do Colégio Americano de Emergência Médica e 6. Bolivia (AMDA Bolivia)
do Colégio Americano de Anestesiologistas e instrutores,
coordenadores, educadores e participantes do curso. 7. Brasil (The Brazilian Committee on Trauma)
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxvii

8. Canadá (ACS Chapters and Provincial Committees 39. Itália (ACS Chapter and Committee on Trauma)
on Trauma)Chile (ACS Chapter and Committee on 40. Jamaica (ACS Chapter and Committee on Trauma)
Trauma)
41. Jordania (Royal Medical Services/NEMSGC)
9. Chile (ACS Chapter and Committee on Trauma)
42. Kenia (Surgical Society of Kenya)
10. Ciprés (Cyprus Surgical Society)
43. Kuwait (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter
11. Colombia (ACS Chapter and Committee on and Committee on Trauma)
Trauma) 44. Líbano (Lebanese Chapter of the American College
12. Costa Rica (College of Physicians and Surgeons of of Surgeons)
Costa Rica) 45. Lituania (Lithuanian Society of Traumatology and
13. Cuba (Brazilian Committee on Trauma) Orthopaedics)

14. Curazao (ACS Chapter and Committee on Trauma) 46. Malasia (College of Surgeons, Malaysia)
47. México (ACS Chapter and Committee on Trauma)
15. Dinamarca (ATLS Denmark Fond)
48. Moldavia (Association of Traumatologists and
16. Ecuador (ACS Chapter and Committee on Trauma)
Orthopedics of Republic of Moldova - ATORM)
17. Egito (Egyptian Society of Plastic and 49. Mongolia (Mongolian Orthopedic Association and
Reconstructive Surgeons) National Trauma and Orthopedic Referral Center
18. Emiratos Árabes Unidos (Surgical Advisory of Mongolia)
Committee) 50. Myanmar (Australasian College of Emergency
19. Eslovenia (Slovenian Society of Trauma Surgeons) Medicine, International Federation for Emergency
Medicine and Royal Australasian College Of
20. España (Spanish Society of Surgeons) Surgeons. The local stakeholders included the
21. Estados Unidos e seus territórios (ACS Chapters Myanmar Department of Health and Department
and State Committees on Trauma) of Medical Science).

22. Estonia (Estonia Surgical Association) 51. Nova Zelandia (Royal Australasian College of
Surgeons)
23. Filipinas (Philippine College of Surgeons)
52. Nigeria (Nigerian Orthopaedic Association)
24. Fiji e os países do Pacífico Sudoeste (Royal
Australasian College of Surgeons) 53. Noruega (Norwegian Surgical Society)
54. Omán (Oman Surgical Society)
25. França (Société Française de Chirurgie d’Urgence)
55. Países Baixos (Dutch Trauma Society)
26. Georgia (Georgian Association of Surgeons)
56. Panamá (ACS Chapter and Committee on Trauma)
27. Ghana (Ghana College of Physicians and
Surgeons) 57. Papúa Nueva Guinea (Royal Australasian College
of Surgeons)
28. Grecia (ACS Chapter and Committee on Trauma)
58. Paquistão (College of Physicians and Surgeons
29. Granada (Society of Surgeons of Trinidad and
Pakistan)
Tobago)
59. Paraguai (Sociedad Paraguaya de Cirugía)
30. Haití (Partnership with Region 14)
60. Perú (ACS Chapter and Committee on Trauma)
31. Honduras (Asociacion Quirurgica de Honduras)
61. Portugal (Portuguese Society of Surgeons)
32. Hong Kong (ACS Chapter and Committee on
Trauma) 62. Qatar (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter and
Committee on Trauma)
33. Hungría (Hungarian Trauma Society)
63. Reino de Arabia Saudita (ACS Chapter and
34. India (Association for Trauma Care of India) Committee on Trauma)
35. Indonesia (Indonesian Surgeons Association) 64. Reino Unido (Royal College of Surgeons of
36. Irán (Persian Orthopedic and Trauma Association) England)
37. Irlanda (Royal College of Surgeons in Ireland) 65. República Checa (Czech Trauma Society)
38. Israel (Israel Surgical Society)
­xxxviii ANÁLISE GERAL DO CURSO

66. República de China, Taiwan (Surgical Association


of the Republic of China, Taiwan) esforço de equipe que permite que o pessoal médico com
habilidades e conhecimentos especiais ofereça cuidados
67. República de Singapura (Chapter of Surgeons, simultaneamente com a liderança cirúrgica do processo.
Academy of Medicine) O curso ATLS enfatiza que a lesão mata em determinados
68. República da África do Sul (South African Trauma intervalos de tempo reproduzíveis. Por exemplo, a perda de
Society) uma via aérea mata mais rapidamente do que a perda da
capacidade de respirar. Este último mata mais rapidamente
69. Samoa (Royal Australasian College of Surgeons)
do que a perda de volume de sangue circulante. A presença
70. Sri Lanka (College of Surgeons, Sri Lanka) de uma lesão intracraniana em massa em expansão é o
71. Suécia (Swedish Society of Surgeons) próximo problema mais letal. Assim, o ABCDE mnemônico
define as avaliações e intervenções específicas e ordenadas
72. Suiça (Swiss Society of Surgeons) que devem ser seguidas em todos os doentes traumatizados:
73. Síria (Center for Continuing Medical and Health
Education) A Via Aérea com restrição do movimento da
74. Tailândia (Royal College of Surgeons of Thailand) coluna cervical
75. Taiwán (Taiwan Surgical Association) B Ventilação/Respiração

76. Trinidad y Tobago (Society of Surgeons of C Circulação, parar o sangramento


Trinidad and Tobago) D Déficit ou estado neurológico
77. Uruguai (Uruguay Society of Surgery) E Exposição (despir) e E Ambiente (controle de
temperatura)
78. Venezuela (ACS Chapter and Committee on
Trauma)
o curso
o conc eito
O curso ATLS enfatiza a avaliação inicial rápida e o
O conceito por trás do curso ATLS permaneceu simples. tratamento primário do traumatizado, começando no
Historicamente, a abordagem para o tratamento de doentes momento do trauma e continuando através da avaliação
traumatizados, conforme ensinado em escolas de medicina, inicial, das intervenções de reanimação, da reavaliação,
era a mesma para doentes com uma condição médica não da estabilização e, quando necessário, da transferência
diagnosticada anteriormente: uma extensa história clínica para um centro de trauma. O curso consiste em testes pré e
que incluía história pregressa, um exame físico iniciando pós-curso, aulas com o conteúdo principal, apresentação
no topo da cabeça e progredindo para baixo. o corpo, o interativa de casos, discussões, desenvolvimento de
desenvolvimento de um diagnóstico diferencial e uma técnicas de reanimação, experiências práticas de
lista de adjuntos para confirmar o diagnóstico. Embora laboratório e avaliação final prática de proficiência.
essa abordagem fosse adequada para um doente com Ao final do curso, os participantes devem sentir-se
diabetes mellitus e muitas doenças cirúrgicas agudas, ela confiantes na implementação das técnicas ensinadas
não satisfazia as necessidades dos doentes que sofriam no curso ATLS.
ferimentos com risco de vida. A abordagem exigia mudança.
Três conceitos subjacentes do Programa ATLS foram
inicialmente difíceis de aceitar:
o impac to

1. Tratar primeiro a maior ameaça à vida. O treinamento com o programa ATLS em um país em
2. Nunca permitir que a falta de diagnóstico definitivo desenvolvimento levou à diminuição da mortalidade
impeça a aplicação de um tratamento indicado. por trauma. Em regiões onde os profissionais foram
treinados no programa ATLS, observam-se menores
3. Uma história detalhada não é essencial para iniciar índices per capita de morte por trauma. Em um estudo,
a avaliação de um doente com lesões agudas. uma pequena equipe de trauma, liderada por um médico
com experiência em ATLS, apresentou taxa de sobrevida
O resultado foi o desenvolvimento da abordagem ABCDE equivalente à taxa observada em uma equipe maior
para avaliar e tratar doentes traumatizados. Esses conceitos com mais profissionais, numa região urbana. Além
também se alinham à observação de que o atendimento disso, ocorreram mais sobreviventes inesperados do que
de doentes traumatizados em muitas circunstâncias é um fatalidades inesperadas. Existem muitas evidências de
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxix

que o treinamento com o ATLS melhora o conhecimento ainda existe a necessidade de erradicar o trauma.
básico, as habilidades psicomotoras e a sua utilização O Programa ATLS mudou e continuará a mudar, à
na reanimação, bem como a confiança e o desempenho medida que ocorrem avanços na medicina e mudam
dos profissionais que participaram do programa. as necessidades e expectativas das nossas sociedades.

Ag r a dec imentos Biblio g r a fi a

O Comitê de Trauma do ACS e o Comitê ATLS 1. American College of Emergency Physicians.


reconhecidamente agradecem às organizações a seguir Clinical and Practice Management Resources.
pelo tempo e esforços gastos para desenvolver e testar Trauma in the Obstetric Patient: A Bedside Tool.
o conceito do Suporte Avançado de Vida no Trauma: http://www.acepnow.com/article/trauma-
The Lincoln Medical Education Foundation, Southeast obstetric-patient-bedside-tool/. Accessed April
Nebraska Emergency Medical Services, University 18, 2017.
of Nebraska College of Medicine e o Nebraska State 2. American College of Radiology. ACR–SPR Practice
Committee on Trauma do ACS. O Comitê agradece, parameter for imaging pregnant or potentially
ainda, aos médicos de Nebraska que ajudaram pregnant adolescents and women with ionizing
no desenvolvimento deste curso e às enfermeiras radiation. http://www.acr.org/~/media/9e2e
do Lincoln Area Mobile Heart Team Nurses que d55531fc4b4fa53ef3b6d3b25df8.pdf. Accessed
compartilharam seu tempo e ideias para ajudar a montá- April 18, 2017.
lo. Os agradecimentos são extensivos às organizações 3. American College of Surgeons Committee
previamente citadas neste capítulo, por sua ajuda na on Trauma, American College of Emergency
promulgação mundial do curso. Reconhecimento Physicians, American Academy of Pediatrics,
especial é dedicado às esposas, outros entes queridos, et al. Policy statement—equipment for
filhos e aos colegas de trabalho dos instrutores e dos ambulances. Pediatrics 2009; 124(1):
alunos do ATLS. O tempo gasto fora de casa e longe do e166–e171.
exercício profissional e os esforços dedicados a este 4. American College of Surgeons, Committee on
programa voluntário são componentes essenciais da Trauma, National Trauma Data Bank (NTDB).
existência e do sucesso do Programa ATLS. http://www.facs.org/trauma/ntdb. Accessed
May 12, 2016.
5. American College of Surgeons Committee
r e sumo on Trauma, American College of Emergency
Physicians, Pediatric Emergency Medicine
Committee, et al. Withholding termination
O curso ATLS oferece um método de memorização of resuscitation in pediatric out-of-hospital
fácil para avaliação e tratamento do traumatizado por traumatic cardiopulmonary arrest. Pediatrics
qualquer profissional, independentemente de sua 2014;133:e1104–e1116.
especialidade, mesmo sob o estresse, a ansiedade e a 6. Badjatia N, Carney N, Crocco TJ. Guidelines for
tensão que acompanham o processo de reanimação. prehospital management of traumatic brain injury
Além disso, o programa fornece uma linguagem comum 2nd edition. Prehospital Emergency Care January/
para todos os profissionais que cuidam do traumatizado. March 2004;12(Suppl 1).
O curso ATLS oferece as bases para avaliação, 7. Ball CG, Jafri SM, Kirkpatrick AW, et al.
tratamento, educação e garantia de qualidade - em Traumatic urethral injuries: does the digital
resumo, um sistema de atendimento ao traumatizado rectal examination really help us? Injury 2009
que é mensurável, reprodutível e abrangente. Sep;40(9):984–986.
O Programa ATLS teve impacto positivo no 8. Barquist E, Pizzutiello M, Tian L, et al. Effect of
atendimento ao traumatizado em todo o mundo. Isso trauma system maturation on mortality rates in
ocorreu em razão da melhoria das habilidades e do patients with blunt injuries in the Finger Lakes
conhecimento dos médicos e de outros profissionais Region of New York State. J Trauma 2000;49:63–
de saúde que participaram do curso. O curso ATLS 69; discussion 9-70.
estabelece uma abordagem organizada e sistematizada 9. Baumann Kreuziger LM, Keenan JC, Morton
para avaliação e tratamento dos doentes, promove CT, et al. Management of the bleeding patient
padrões mínimos de tratamento e reconhece o trauma receiving new oral anticoagulants: a role for
como um problema de saúde em todo o mundo. A prothrombin complex concentrates. Biomed Res
morbidade e a mortalidade foram reduzidas, porém Int 2014;2014:583–794.
­xl ANÁLISE GERAL DO CURSO

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ANÁLISE GERAL DO CURSO xli

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SUMÁRIO ABREVIADO

Prólogo v
Prefácio vii
Agradecimentos xv
Análise Geral do Curso xxxi

CAPÍTULO 1 Avaliação e Atendimento Iniciais 2


CAPÍTULO 2 Tratamento da Via Aérea e da Ventilação 22
CAPÍTULO 3 Choque 42
CAPÍTULO 4 Trauma Torácico 62
CAPÍTULO 5 Trauma Abdominal e Pélvico 82
CAPÍTULO 6 Trauma Craniencefálico 102
CAPÍTULO 7 Trauma Vertebromedular 128
CAPÍTULO 8 Trauma Musculoesquelético 148
CAPÍTULO 9 Lesões Térmicas 168
CAPÍTULO 10 Trauma Pediátrico 186
CAPÍTULO 11 Trauma no Idoso 214

CAPÍTULO 12 Trauma na Gestante e Violência de


Parceiro Íntimo 226
CAPÍTULO 13 Transferência para o Tratamento Definitivo 240
APÊNDICES 255
APÊNDICE A: Trauma Ocular 257
APÊNDICE B: Hipotermia e Lesões pelo Calor 265
APÊNDICE C: Incidentes com Vítimas em Massa,
em Ambientes Hostis e
Conflitos Armados 275

APÊNDICE D: Conduta em Desastres e Prontidão


para Emergências 289

APÊNDICE E: ATLS e Equipe de Trauma


Manejo de Recursos 303
APÊNDICE F: Cenários de Triagem 317

APÊNDICE G: Estações Práticas 335

xlvii
SUMÁRIO DETALHADO

Prólogo v CAPÍTULO 2
VIA AÉREA E VENTILAÇÃO 22
Prefácio vii
Objetivos 23
Agradecimentos xv
Introdução 24
Análise Geral do Curso xxxi
Via Aérea 24
CAPÍTULO 1 Ventilação 26
AVALIAÇÃO E
ATENDIMENTO INICIAIS 2 Tratamento da Via Aérea 27

Objetivos 3 Controle de Oxigenação 36

Introdução 4 Tratamento da Ventilação 38

Preparação 4 Trabalho em Equipe 38


Triagem 6 Resumo do Capítulo 39
Avaliação Primária e Bibliografia 39
Reanimação Simultânea 7
Medidas Auxiliares à Avaliação CAPÍTULO 3
Primária e Reanimação 10 CHOQUE 42
Considere a Necessidade de Objetivos 43
Transferência do Doente 12
Introdução 44
População Especial 13
Fisiopatologia do Choque 44
Avaliação Secundária 13
Medidas Auxiliares à Avaliação Inicial do Doente 45
Avaliação Secundária 18
Choque Hemorrágico 48
Reavaliação 19
Abordagem Inicial do
Tratamento Definitivo 19 Choque Hemorrágico 51

Registros e Considerações Legais 19 Reposição de Sangue 54

Trabalho em Equipe 19 Considerações Especiais 56

Resumo do Capítulo 20 Reavaliação da Resposta do Doente


e Prevenção de Complicações 58
Bibliografia 21

xlix
­l SUMÁRIO DETALHADO

Trabalho em Esquipe 58 Revisão Anatômica 104

Resumo do Capítulo 58 Revisão da Fisiologia 107

Recursos Adicionais 59 Classificação das Lesões


Craniencefálicas 109
Bibliografia 59
Protocolos de Tratamento
Baseados em Evidências 111
CAPÍTULO 4
TRAUMA TORÁCICO 62 Avaliação Primária e Reanimação 117

Objetivos 63 Avaliação Secundária 120

Introdução 64 Procedimentos Diagnósticos 120

Avaliação Primária: Lesões com Tratamento Clínico do


Risco de Vida 64 Trauma Craniencefálico 120

Avaliação Secundária 72 Tratamento Cirúrgico 122

Trabalho em Equipe 78 Prognóstico 124


Morte Encefálica 124
Resumo do Capítulo 78
Trabalho em Equipe 124
Bibliografia 79
Resumo do Capítulo 124
CAPÍTULO 5 Bibliografia 125
TRAUMA ABDOMINAL E PÉLVICO 82

Objetivos 83 CAPÍTULO 7
TRAUMA VERTEBROMEDULAR 128
Introdução 84
Objetivos 129
Anatomia do Abdome 84
Introdução 130
Mecanismo de Trauma 85
Anatomia e Fisiologia 130
Avaliação 86
Documentação das Lesões
Trabalho em Equipe 98 Medulares Traumáticas 135

Resumo do Capítulo 98 Tipos Especificos de


Lesão da Coluna 136
Bibliografia 99
Avaliação Radiográfica 139

CAPÍTULO 6 Conduta Geral 141


TRAUMA CRANIENCEFÁLICO 102 Trabalho em Equipe 144
Objetivos 103 Resumo do Capítulo 144
Introdução 104 Bibliografia 145
SUMÁRIO DETALHADO li

CAPÍTULO 8 Lesões por Frio:


TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 148 Efeitos Teciduais Locais 181

Objetivos 149 Lesões por Frio:


Hipotermia Sistêmica 183
Introdução 150 Trabalho em Equipe 183
Avaliação Primária e Reanimação Resumo do Capítulo 183
de Doentes com Lesões de
Extremidade Potencialmente Bibliografia 184
Fatais 150
CAPÍTULO 10
Medidas Auxiliares à
Avaliação Primária 152 TRAUMA PEDIÁTRICO 186

Avaliação Secundária 153 Objetivos 187

Lesões que Colocam o Membro Introdução 188


em Risco 156
Tipos e Padrões de Lesões 188
Outras Lesões dos Membros 161
Características Próprias dos
Princípios da Imobilização 163 Doentes Pediátricos 188
Controle da Dor 163 Via Aérea 190
Lesões Associadas 164 Respiração 195
Lesões Ósseas Ocultas 165 Circulação e Choque 195
Trabalho em Equipe 165 Reanimação Cardiopulmonar 199
Resumo do Capítulo 165 Trauma Torácico 199
Bibliografia 166 Trauma Abdominal 200

CAPÍTULO 9 Trauma Craniencefálico 202


LESÕES TÉRMICAS 168 Trauma Raquimedular 205
Objetivos 169 Trauma Musculoesquelético 206

Introdução 170 Maus Tratos 207


Prevenção 208
Avaliação Primária e Reanimação
de Doentes com Queimaduras 170 Trabalho em Equipe 208
Avaliação do Doente 174 Resumo do Capítulo 209

Avaliação Secundária e Bibliografia 209


Medidas Auxiliares 176
CAPÍTULO 11
Lesões Específicas TRAUMA NO IDOSO 214
por Queimaduras 178
Objetivos 215
Transferência de Doentes 180
­lii SUMÁRIO DETALHADO

Introdução 216 CAPÍTULO 13


TRANSFERÊNCIA PARA O
Efeitos do Envelhecimento e TRATAMENTO DEFINITIVO 240
Impacto das Condições
Preexistentes 216 Objetivos 241
Mecanismo de Trauma 217 Introdução 242
Avaliação Primária com Determinação da Necessidade de
Reanimação 217 Transferência do Doente 242
Lesões Específicas 220 Tratamento antes da Transferência 245
Circunstâncias Especiais 222 Responsabilidades da Transferência 246
Trabalho em Equipe 223 Modos de Transporte 248

Resumo do Capítulo 223 Protocolos de Transferência 249

Bibliografia 223 Transferência de Dados 251


Trabalho em Equipe 251
CAPÍTULO 12 Resumo do Capítulo 251
TRAUMA NA GESTANTE E
VIOLÊNCIA CONJUGAL 226 Bibliografia 251
Objetivos 227
APÊNDICES 255
Introdução 228
APÊNDICE A: Trauma Ocular 257
Alterações Anatômicas e
Fisiológicas da Gravidez 228 APÊNDICE B: Hipotermia e
Lesões pelo Calor 265
Diferenças Anatômicas 228
APÊNDICE C: Incidentes com Vítimas
Mecanismo de Trauma 231 em Massa, Traumas em Ambientes
Hostis e Conflitos Armados 275
Gravidade da Lesão 232
APÊNDICE D: Conduta em Desastres
Avaliação e Tratamento 233 e Prontidão para Emergências 289
Cesariana "Perimortem" 235 APÊNDICE E: ATLS e Equipe de
Trauma - Manejo de Recursos 303
Violência Doméstica 235
APÊNDICE F: Cenários de Triagem 317
Trabalho em Equipe 237
APÊNDICE G: Estações Práticas 335
Resumo do Capítulo 238

Fontes Adicionais Referentes


à Violência Doméstica 238

Bibliografia 238
ATLS ®
Suporte Avançado de Vida no Trauma®

Manual do Curso de Alunos


1 AVALIAÇÃO E
ATENDIMENTO INICIAIS

Repita a avaliação primária frequentemente para identificar qualquer sinal de


deterioração clínica do doente que indique a necessidade de intervenções adicionais.ves
Capítulo 1 sumário
Objetivos Neurológica) medidas auxiliares À avaliação
• Exposição/Controle do Ambiente secundária
Introdução
medidas auxiliares à avaliação Reavaliação
Preparação primária e reanimação
• Fase Pré-Hospitalar • Monitoração Eletrocardiográfica cuidados definitivos
• Fase Hospitalar • Oximetria de Pulso
• Frequência Respiratória, Registros e considerações legais
Triagem Capnografia e Gasometria • Registros
• Múltiplas Vítimas • Sondas Urinária e Gástrica • Consentimento para Tratamento
• Vítimas em Massa • Radiografias e Outros Estudos • Evidência Forense
Diagnósticos
avaliação primária com Trabalho em equipe
reanimação simultânea Considerar a transferência do
• Manutenção de Via Aérea com doente resumo do capítulo
Restrição aos Movimentos da
Coluna Cervical populações especiais Bibliografia
• Ventilação e Respiração
• Circulação com Controle de avaliação secundária
Hemorragia • História
• Disfunção Neurológica (Avaliação • Exame Físico

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de descrever as medidas para evitá-las.
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a:
8. Explicar as técnicas de tratamento aplicadas
1. E
xplicar a importância do preparo pré e intra- durante a avaliação primária e a estabilização de
hospitalar para facilitar a rápida reanimação do múltiplas vítimas traumatizadas.
doente traumatizado.
9. Identificar as medidas auxiliares para avaliação
2. Identificar a sequência correta de prioridades para a e tratamento dos traumatizados como parte
avaliação do traumatizado. da avaliação primária e reconhecer as contra-
indicações para utilizá-las.
3. Explicar os princípios da avaliação primária e como eles
se aplicam no atendimento do doente traumatizado. 10. Reconhecer os doentes que necessitam de
transferência para outro Serviço para o tratamento
4. Explicar como o passado médico do paciente definitivo.
e os mecanismos de trauma contribuem para a
identificação das lesões. 11. I dentificar os componentes da avaliação secundária
incluindo as medidas auxiliares pertinentes durante
5. Explicar a necessidade da reanimação imediata a avaliação.
durante a avaliação primária.
12. Discutir a importância da reavaliação do doente
6. Descrever o atendimento inicial de múltiplas que não está respondendo adequadamente ao
vítimas de trauma, utilizando a sequência correta de tratamento e reanimação.
prioridades.
13. Explicar a importância do trabalho em equipe na
7. Identificar as armadilhas associadas com a avaliação avaliação inicial de doentes traumatizados.
inicial e o tratamento de pacientes traumatizados e

3
­4 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

A
o tratar os doentes traumatizados, os médicos
avaliam rapidamente as lesões e instituem uma
terapia de preservação da vida. Como o tempo é
crucial, é essencial uma abordagem sistemática que possa
ser aplicada com rapidez e precisão. Essa abordagem,
denominada "avaliação inicial", inclui os seguintes elementos:

•• Preparação
•• Triagem
•• Avaliação primária (ABCDEs) com reanimação
imediata dos doentes com lesões que ameacem
a vida
•• Medidas auxiliares à avaliação primária e à
reanimação
•• Considerar a necessidade de transferência do doente n FIGURA 1-1  Fase Pré-Hospitalar. Durante a fase pré-hospitalar, deve ser
dada ênfase à manutenção da via aérea, controle de sangramento externo
•• Exame secundário (da cabeça aos pés) e história e choque, imobilização do doente e transporte imediato para o hospital
do doente apropriado mais próximo, de preferência um centro de trauma credenciado.

•• Medidas auxiliares à avaliação secundária o hospital de referência antes que a equipe transporte o
doente da cena. Isto permite a mobilização dos membros
•• Reavaliação e monitoração contínuas após a da equipe de trauma do hospital para que todo o pessoal
reanimação
e recursos necessários estejam prontos no serviço de
•• Cuidados definitivos emergência (SE) no momento da chegada deste doente.
Durante a fase pré-hospitalar, os socorristas enfatizam
Os exames primário e secundário devem ser repetidos com a permeabilidade das via aérea, controle do sangramento
frequência para identificar qualquer alteração no estado externo e choque, imobilização do doente e o transporte
do doente que indique a necessidade de intervenções imediato para a hospital apropriado mais próximo,
adicionais. A sequência de avaliação apresentada neste de preferência um centro de trauma credenciado. Os
capítulo reflete uma progressão linear ou longitudinal socorristas devem fazer todos os esforços para abreviar o
de eventos. Contudo, numa situação clínica real, muitas tempo na cena, um conceito que é sugerido pelo Esquema
destas atividades ocorrem simultaneamente. A progressão de Decisão de Triagem de Campo, mostrado na (n FIGURA
longitudinal do processo de avaliação permite ao médico 1-2) e no aplicativo móvel MyATLS.
a oportunidade de rever mentalmente o progresso real de Deve-se dar ênfase também na obtenção e na
uma reanimação de um doente traumatizado. documentação das informações necessárias para a
Os princípios do ATLS® orientam a avaliação e a triagem na chegada ao hospital, incluindo o tempo do
reanimação do doente traumatizado. É necessário trauma, os eventos relacionados ao trauma e a história
o julgamento adequado para determinar quais os do doente. Os mecanismos de trauma podem sugerir
procedimentos necessários, pois nem todos os doentes o grau de lesão, bem como as lesões específicas que
necessitam de todos esses procedimentos. precisam ser avaliadas e tratadas.
O Comitê de Suporte de Vida Pré-Hospitalar em
pr epa r aç ão Trauma da Associação Nacional de Técnicos de
Emergências Médicas, em cooperação com o Comitê
A preparação ocorre em dois cenários clínicos de Trauma (COT) do Colégio Americano de Cirurgiões
diferentes: na cena e no hospital. Durante a fase pré- (ACS), desenvolveu o curso de suporte de vida pré-
hospitalar, todos os eventos devem ser coordenados em hospitalar no trauma (PHTLS). O PHTLS é semelhante
conjunto com os médicos do hospital que irá receber ao curso ATLS no seu formato, embora abranja o
o doente. Durante a fase hospitalar, devem ser feitos atendimento pré-hospitalar dos doentes traumatizados.
preparativos para facilitar a rápida reanimação do A utilização de protocolos de atendimento pré-
doente traumatizado. hospitalar e a possibilidade de obter orientação médica
em tempo real (ou seja, regulação médica direta) podem
fase pré-hospitalar facilitar e melhorar os cuidados iniciados na cena. A
revisão multidisciplinar periódica do atendimento
O entrosamento da equipe do pré-hospitalar pode agilizar ao doente através de um processo de melhoria da
muito o tratamento na cena (n FIGURA 1-1). Idealmente, o qualidade é um componente essencial do programa
sistema pré-hospitalar deve ser estruturado para informar de trauma de cada hospital.
PREPARAÇÃO 5

Esquema de Decisão de Triagem na Cena

Medida dos Sinais Vitais e Nível de Consciência


• Escala de Coma de Glasgow ≤13
• Pressão sistólica <90 mm Hg
• Frequência respiratória <10 ou >29 ventilação/min (<20 nas crianças <1 ano)
ou necessidade de suporte ventilatório
Passo 1
NÃO SIM

Avalie a anatomia da lesão Transporte para um centro de trauma. Passo 1 e 2 para identificar a lesão mais
grave do traumatizado. Estes doentes devem ser transportados de preferência
NÃO para o hospital de maior complexidade definido no sistema de trauma.

• Todas as lesões penetrantes da cabeça, pescoço, • Amputação proximal ao punho ou SIM


tronco e extremidades proximais ao cotovelo e joelho quadril
• Instabilidade da parede torácica ou deformidade (tórax instável) • Fraturas pélvicas
• 2 ou mais fraturas proximais de osso longo • Fratura expossta ou afundamento
• Esmagamento, desluvamento, ou extremidades amputadas de crânio
ou sem pulso • Déficit motor

Passo 2 NÃO

Avalie o mecanismo de Transporte para um centro de trauma dependendo das definições do sistema de
trauma e as evidências trauma, não é necessário que seja o centro de trauma de maior complexidade.
de alta energia

• Queda
˚Adultos > 20 pés ou 6 metros (2 andares)
SIM
˚Crianças > 10 pés ou 3 metros (2-3 vezes a altura da criança)
• Acidente de veículo automotor de alto riso
˚Intrusão, incluindo teto: > 12 polegadas (30 cm) do lado do ocupante;
˚> 18 polegadas (45 cm) qualquer lado
˚Ejeção (parcial ou completa) da vítima do veículo
˚Morte no mesmo compartimento do passageiro
˚Informações da telemetria do veículo consiste com alto riso de lesão
Passo 3 • Auto versus pedestre/bicicleta ou atropelamento com impacto
significativo (>20 mph; 32 km/h) ou com ejeção da vítima
• Acidente de moto >20 mph/32km/h

NÃO

Avalie as considerações Transporte para um centro de trauma ou para um hospital onde se possa
especiais do paciente ou fazer a avaliação e inicial e tratamento das lesões potencialmente graves.
do sistema Considerar a orientação de um médico regulador.

• Adultos mais velhos


˚Risco de lesões/morte aumenta após 55 anos
˚PA Sistólica <110 pode representar choque após 65 anos
˚Mecanismo de baixo impacto (ex. queda no nível do SIM
solo) pode resultar em lesão grave
• Crianças
˚Triagem preferencialmente para centro de trauma
com capacitação pediátrica
• Uso de anticoagulantes e discrase sanguínea
˚Pacientes com trauma craniano tem alto risco para
Passo 4 rápida deterioração
• Queimados
˚Sem mecanismo de trauma, triagem para centro de queimados
˚Com mecanismo de trauma, triagem para um centro de trauma
• Gravidez >20 semanas
• Julgamento do EMS

Transporte de acordo
com protocolos

Quando em dúvida, transportar para um centro de trauma

n FIGURA 1-2  Esquema de Decisão de Triagem na Cena


­6 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

fase hospitalar
O planejamento antes da chegada do doente
traumatizado é essencial (ver lista de verificação pré-
alerta no aplicativo móvel MyATLS.) A passagem do
caso entre os socorristas do pré-hospitalar e aqueles do
hospital receptor deve ser um processo suave, liderado
pelo chefe da equipe de trauma, garantindo que todas as
informações importantes estejam disponíveis para toda
a equipe. Os aspectos críticos da preparação hospitalar
incluem o seguinte:

•• Uma área de reanimação disponível para


receber os doentes traumatizados.
•• Equipamentos próprios para a abordagem de n FIGURA 1-3  Os membros da equipe de trauma são treinados para
utilizarem precauções padrão incluindo , máscara, óculos de proteção,avental
via aérea (laringoscópios e tubos) devem estar impermeável, perneiras, luvas) quando em contato com fluidos orgânicos.
organizados, testados e colocados de forma a
estarem imediatamente disponíveis. a prioridade do tratamento incluem a gravidade da lesão,
•• Soluções cristaloides aquecidas devem estar a possibilidade de sobrevida e os recursos disponíveis.
A triagem também se aplica à classificação dos doentes
prontamente disponíveis para infusão, assim
na cena para ajudar a determinar o hospital apropriado
como dispositivos para monitorização
para recebê-los. Deve-se considerar o acionamento da
•• Deve existir um protocolo para a solicitação equipe de trauma para os doentes gravemente feridos. Os
de avaliação médica adicional, bem como um socorristas e os médicos controladores são responsáveis
meio para garantir respostas rápidas por parte por assegurar que doentes adequados cheguem aos
do pessoal de laboratório e radiologia. hospitais apropriados. Por exemplo, transportar um
doente que sofreu trauma grave para um hospital que
•• Devem ser estabelecidos e estar em vigor não seja um centro de trauma é inapropriado se tal centro
acordos de transferência com centros de estiver disponível (ver n FIGURA 1-2). Escalas de trauma no
trauma cerificados. (Ver Resources for Optimal pré-hospitalar geralmente são úteis na identificação de
Care of the Injured Patient do ACS COT, 2014). doentes gravemente feridos que justificam o transporte
para um centro de trauma. (Ver Escala de Trauma:
Devido às preocupações com as doenças Revisado e Pediátrico.)
transmissíveis, particularmente a hepatite e a síndrome As situações de triagem são classificadas como
da imunodeficiência adquirida (AIDS), os Centros para múltiplas vítimas e vítimas em massa.
o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e outras
agências de saúde recomendam fortemente o uso de Múltiplas vítimas
precauções padrão (por exemplo, máscara, óculos de
proteção, avental impermeável, perneiras, luvas) quando Em incidentes com múltiplas vítimas, o número
em contato com fluidos orgânicos (n FIGURA 1-3). O ACS de doentes e a gravidade das lesões não excedem a
COT considera que estas medidas são as precauções capacidade de atendimento do hospital. Nesta situação,
mínimas de proteção a todos os profissionais de saúde. os doentes com risco de morte iminente e os doentes
Nos EUA estas medidas são também uma exigência da com traumatismos multissistêmicos serão atendidos
Occupational Safety and Health Administration (OSHA). primeiro.

Tr i ag em vítimas em massa
Em eventos com vítimas em massa, o número de doentes e a
A triagem envolve a classificação dos doentes de acordo gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento
com o tipo de tratamento necessário e os recursos que da instituição e da equipe. Nesta situação, os doentes com
realmente estão disponíveis. A sequência de tratamento maior possibilidade de sobrevida, cujo atendimento implica
baseia-se nas prioridades ABC. (Via aérea com proteção da em menor gasto de tempo, equipamentos, recursos e
coluna cervical, respiração e circulação com controle da pessoal, serão atendidos primeiro. (Ver Apêndice D:
hemorragia). Outros fatores que podem afetar a triagem e Gerenciamento para Desastres e Preparo para Emergências.)
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMULTANEA 7

Lembre-se de que os procedimentos de avaliação e


avaliação primária e tratamento prioritários descritos neste capítulo são
reanimação simultÂnea apresentados como etapas sequenciais em ordem de
importância e para garantir clareza; na prática, essas
Os doentes são avaliados e as prioridades de tratamento são etapas são frequentemente realizadas simultaneamente
estabelecidas de acordo com suas lesões, seus sinais vitais e por uma equipe de profissionais da saúde (ver Trabalho
mecanismo da lesão. Nos doentes com lesões graves, deve ser em Equipe, na página 19 e Apêndice E).
estabelecida uma sequência lógica de tratamento de acordo
com as prioridades e baseada na avaliação geral do doente. MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA COM RESTRIÇÃO
As funções vitais do doente devem ser avaliadas rápida e DO MOVIMENTO DA COLUNA CERVICAL
eficientemente. O tratamento do doente deve consistir de
uma avaliação primária rápida, reanimação das funções Na avaliação inicial de um doente traumatizado, primeiro
vitais, uma avaliação secundária mais pormenorizada e, avalie a via aérea para verificar a sua permeabilidade.
finalmente, o início do tratamento definitivo (ver vídeo de Esta rápida avaliação busca os sinais de obstrução da via
Avaliação Inicial no aplicativo móvel MyATLS). aérea como a detecção de corpos estranhos, identificação
Este processo constitui o ABCDE dos cuidados do doente de fraturas de face, mandíbula e/ou fraturas traqueal/
traumatizado e identifica as condições que implicam em laríngea e outras lesões que podem resultar em obstrução
risco de morte através da seguinte sequência: da via aérea; aspiração para limpar o sangue acumulado
ou secreções que podem causar ou estar causando
•• A Via aérea com proteção da coluna cervical obstrução da via aérea. Inicie as medidas para estabelecer
•• B Ventilação e respiração uma via aérea pérvia enquanto restringe o movimento
da coluna cervical.
•• C Circulação com controle da hemorragia Se o doente é capaz de se comunicar verbalmente,
•• D Disfunção, avaliação do estado neurológico é pouco provável que uma obstrução de vias aéreas
•• E Exposição/controle do ambiente: despir represente um risco imediato; no entanto, é prudente
completamente o doente, mas prevenindo a fazer reavaliações da permeabilidade da via aérea. Além
hipotermia disso, os doentes com trauma craniencefálico grave e
rebaixamento do nível de consciência ou um escore de
Os médicos podem avaliar rapidamente o A, B, C e D em Coma de Glasgow (GCS) menor ou igual a 8, geralmente
um doente traumatizado (avaliação em 10 segundos) ao exigem o estabelecimento de uma via aérea definitiva
se apresentar ao doente ou perguntando o seu nome e o (isto é, tubo na traqueia, com balonete insuflado e fixado
que aconteceu. Uma resposta apropriada sugere que não de forma segura). (O GCS é explicado e demonstrado
existe um grande comprometimento da via aérea (ou seja, no Capítulo 6: Trauma Craniencefálico e no aplicativo
a habilidade de falar claramente), a respiração não está MyATLS.) Inicialmente, a manobra de tração da mandíbula
comprometida (ou seja, a capacidade de gerar movimento ou de elevação do mento geralmente são suficientes como
do ar para permitir a fala) e o nível de consciência não uma intervenção inicial. Se o doente está inconsciente
está certamente diminuído (ou seja, alerta o suficiente e não tem reflexo da deglutição, a colocação de cânula
para descrever o que aconteceu). Um resposta negativa orofaríngea pode ser útil temporariamente. Estabeleça
a estas perguntas sugere anormalidades em A, B, C ou D uma via aérea definitiva se houver alguma dúvida sobre a
e exige uma avaliação e condutas urgentes. capacidade do doente de manter integridade da via aérea.
Durante a avaliação primária, as condições que A descoberta de respostas motoras descoordenadas
implicam em risco de morte devem ser identificadas sugere fortemente a necessidade do estabelecimento
em uma sequência de prioridades com base nos efeitos de uma via aérea definitiva. A abordagem das vias
fisiológicos das lesões, pois inicialmente, pode não ser aéreas em doentes pediátricos requer conhecimento das
possível identificar as lesões anatômicas específicas. Por características peculiaridades anatômicas da posição e
exemplo, o comprometimento das vias aéreas pode ser tamanho da laringe, bem como equipamentos específicos
decorrente a um trauma direto da via aérea ou secundário para crianças (ver Capítulo 10: Trauma Pediátrico).
a um traumatismo craniano ou ao choque causado por Durante a avaliação, abordagem e tratamento das
lesões. Independentemente da lesão que esteja causando o vias aéreas do doente, tome muito cuidado para evitar o
comprometimento das vias aéreas, a primeira prioridade é movimentação excessiva da coluna cervical. Baseando-
o tratamento das mesmas: limpeza da via aérea, aspiração, se no mecanismo do trauma, assuma que existe uma
abertura das vias aéreas e administração de oxigênio. lesão na coluna. O exame neurológico isolado não exclui
Como a sequência de prioridades é baseada no grau de o diagnóstico de lesão da coluna cervical. A coluna
ameaça da vida, a anormalidade que representa a maior vertebral deve ser protegida quanto à movimentação
ameaça à vida é abordada primeiro. excessiva para evitar o desenvolvimento ou a progressão
­8 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

armadilha prevenção
Falha de • Teste regularmente o equipamento.
equipamento. • Assegure-se de que um equipamento
e baterias sobressalente estejam
prontamente disponíveis.

Falha na • Identificar doentes com anatomia


intubação. difícil da via aérea.
• Identifique na sua equipe, o
profissional mais experiente/
qualificado em via aérea.
• Assegure-se de que o equipamento
apropriado de resgate da vias
aéreas esteja disponível caso haja
falha falha na tentativa.
n FIGURA 1-4  Técnica de restrição do movimento da coluna
• Esteja preparado para obter uma via
cervical. Quando o colar cervical é removido, um membro da equipe
aérea cirúrgica.
de trauma estabiliza manualmente a cabeça e o pescoço do doente.

de um déficit. A coluna cervical é protegida com colar Perda • Reconhecer o estado dinâmico das
cervical. Durante a abordagem e tratamento das vias progressiva da vias aéreas.
via aérea. • Reconhecer as lesões que podem
aéreas, se for necessário, o colar cervical pode ser aberto, resultar em perda progressiva das
enquanto um membro da equipe restringe manualmente vias aéreas.
o movimento da coluna cervical (n FIGURA 1-4). • Reavaliar com frequência o doente
Todo esforço deve ser feito para identificar rapidamente em busca de sinais de deterioração
o comprometimento das vias aéreas e para assegurar uma das vias aéreas.
via aérea definitiva; igualmente importante é reconhecer o
potencial de perda progressiva de via aérea. A reavaliação
frequente da permeabilidade da via aérea é essencial durante a avaliação primária e muitas vezes requerem
para identificar e tratar os doentes que estão perdendo a atenção imediata para garantir uma ventilação efetiva.
capacidade de manter uma via aérea adequada. Uma vez que um pneumotórax hipertensivo compromete
Estabeleça cirurgicamente uma via aérea se a intubação a ventilação e a circulação de forma dramática e aguda,
for contra-indicada ou não puder ser realizada. a descompressão no tórax deve ocorrer imediatamente
quando existir suspeita na avaliação clínica.
respiração e ventilação Todo doente ferido deve receber oxigênio suplementar.
Se o doente não for intubado, o oxigênio deve ser
A permeabilidade das vias aéreas por si só não assegura administrado por um dispositivo de máscara com
ventilação adequada. É necessária uma troca gasosa reservatório para obter oxigenação ideal. Use um oxímetro
adequada para maximizar a oxigenação e a eliminação de pulso para monitorar a saturação adequada de oxigênio
de dióxido de carbono. A ventilação requer uma na hemoglobina. Pneumotórax simples, hemotórax,
função adequada dos pulmões, da parede torácica e fratura de costelas, afundamento de tórax e a contusão
do diafragma; portanto, os médicos devem examinar e pulmonar podem comprometer a ventilação em menor
avaliar rapidamente cada componente. grau e geralmente são identificados durante a avaliação
O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos para secundária. Um pneumotórax simples pode evoluir para
que se possa avaliar adequadamente a distensão das veias pneumotórax hipertensivo quando um doente é intubado
jugulares, a posição da traqueia e a expansibilidade da e ventilado com pressão positiva antes de ter o hemitórax
parede torácica. Ausculte o tórax para assegurar o fluxo descomprimido com um dreno de tórax.
de gás nos pulmões. A inspeção visual e a palpação podem O tratamento da via aérea e ventilação são descritos
detectar lesões na parede torácica que podem comprometer posteriormente em detalhe no Capítulo 2.
a ventilação. A percussão do tórax também pode identificar
anormalidades, mas, durante uma reanimação em um Circulação com controle da hemorragia
ambiente ruidoso, esta avaliação pode ser imprecisa.
Lesões que prejudicam significativamente a ventilação O comprometimento circulatório em doentes trauma-
em curto prazo incluem pneumotórax hipertensivo, tizados pode ser resultado de uma variedade de lesões.
hemotórax massivo, pneumotórax aberto e lesões traqueal Devem ser considerados principalmente: volume
ou brônquica. Essas lesões devem ser identificadas sanguíneo, débito cardíaco e sangramento são importantes.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMULTANEA 9

Volume Sanguíneo e Débito Cardíaco estabilizador pélvico e/ou de talas de extremidade. O


tratamento definitivo pode exigir cirurgia ou tratamento
A hemorragia é a principal causa de mortes evitáveis após o por radiologia intervencionista, estabilização pélvica
trauma. Identificar e controlar rapidamente a hemorragia e de ossos longos. Solicite precocemente a avaliação
e iniciar a reanimação são, portanto, etapas cruciais da cirúrgica ou a transferência desses doentes.
avaliação e tratamento destes doentes. Uma vez que o O controle definitivo do sangramento é essencial,
pneumotórax hipertensivo tenha sido excluído como causa juntamente com a reposição volêmica apropriada. Deve-
do choque, considere que a hipotensão após o trauma seja se estabelecer o acesso vascular; tipicamente, dois acessos
devida a perda sanguínea até prova em contrário. A avaliação venosos periféricos de grande calibre devem ser obtidos para
rápida e precisa do estado hemodinâmico de um doente administrar fluido, sangue e plasma. São colhidas amostras
traumatizado é essencial. Os elementos de observação clínica de sangue para estudos hematológicos basais, incluindo
que produzem informações importantes em segundos são teste de gravidez para todas as mulheres em idade fértil,
o nível de consciência, perfusão da pele e o pulso. tipagem sanguínea e provas cruzadas. Para avaliar a presença
e grau de choque, obtém-se gasometria e/ou dosagem do
•• Nível de Consciência — quando o volume lactato. Quando o acesso venoso periférico não puder ser
de sangue circulante é reduzido, a perfusão obtido, poderão ser utilizados a infusão intraóssea, acesso
cerebral pode ser prejudicada criticamente, venoso central ou dissecção venosa dependendo das lesões
resultando na alteração do nível de consciência. do doente e do nível de habilidade do médico.
•• Perfusão da Pele — este sinal pode ser útil A reanimação volêmica agressiva e contínua não
na avaliação de doentes hipovolêmicos substitui o controle definitivo da hemorragia. O choque
traumatizados. Um doente com pele rosa, hipovolêmico é o mais frequentemente associado às
especialmente na face e nas extremidades, lesões. Nesses casos, inicia-se a terapia com fluídos IV
raramente está com uma hipovolemia crítica com soluções cristaloides. Todas as soluções IV devem
após trauma. Por outro lado, um doente com ser aquecidas por armazenamento em ambiente quente
pele acinzentada e extremidades pálidas (isto é, 37 ° C a 40 ° C ou 98.6 ° F a 104 ° F) ou administradas
provavelmente está hipovolêmico. por meio de dispositivos de aquecimento de fluidos. Um
bolus de 1 L de solução isotônica pode ser necessário para
•• Pulsos — pulso rápido e fino geralmente é obter resposta apropriada em um doente adulto. Se um
sinal de hipovolemia. Avalie o pulso central doente não responde à terapia inicial com cristaloides, ele
bilateralmente (por exemplo, artéria femoral ou ela deve receber uma transfusão de sangue. Os fluidos
ou carótida) quanto à qualidade, frequência e são administrados de forma criteriosa, pois, a reanimação
regularidade. Pulsos centrais ausentes que não volêmica agressiva antes do controle do sangramento
podem ser atribuídos a fatores locais significam a demonstrou aumentar a mortalidade e a morbidade.
necessidade de ação para reanimação imediata. Doentes traumatizados gravemente feridos correm o risco
de coagulopatia, que pode ser ainda mais estimulada por
Hemorragia medidas de reanimação volêmica. Esta condição estabelece
potencialmente um ciclo de hemorragia contínua e
Identifique a fonte de hemorragia se externa ou interna. reanimação, que pode ser atenuada pelo uso de protocolos
A hemorragia externa é identificada e controlada durante de transfusão maciça com componentes sanguíneos
a avaliação primária. A hemorragia externa significativa administrados em pequenas proporções pré-definidas
deve ser tratada por pressão manual direta sobre o (ver Capítulo 3: Choque). Um estudo que avaliou doentes
ferimento. Torniquetes são efetivos na exsanguinação traumatizados que receberam fluido no PS encontrou que
maciça de uma lesão de extremidade, mas existe o risco a reanimação volêmica com mais de 1,5 L com soluções
de causarem lesão isquêmica. Use o torniquete somente cristaloides aumentou de maneira independente a taxa de
quando a pressão direta não for eficaz e a vida do doente mortalidade. Alguns doentes gravemente feridos chegam
esteja ameaçada. O clampeamento às cegas pode causar com coagulopatia já estabelecida, o que levou alguns
danos aos nervos e veias. serviços a administrar ácido tranexâmico preventivamente
As principais áreas de hemorragia interna são o tórax, em doentes gravemente feridos. Estudos militares europeus
abdome, retroperitônio, pelve e os ossos longos. A e americanos demonstram melhor sobrevida quando o
fonte de sangramento geralmente é identificada por ácido tranexâmico é administrado nas primeiras 3 horas
exame físico e por imagem (por exemplo, radiografia da ocorrência do ferimento. Quando administrado na cena,
de tórax, da pelve, avaliação direcionada por ultra- a infusão subsequente deve ser administrada durante 8
sonografia no trauma [FAST] ou lavagem peritoneal horas no hospital (ver Documento de Guia de Orientação
diagnóstica [DPL]). O tratamento imediato pode incluir a para o Uso Pré-hospitalar de Ácido Tranexâmico em Doentes
descompressão do tórax e a aplicação de um dispositivo Traumatizados).
­10 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

Disfunção (avaliação neurológica) corporal do doente é mais importante do que o conforto


dos profissionais de saúde e a temperatura da sala de
A avaliação neurológica rápida estabelece o nível de emergência deve ser aumentada para minimizar a perda
consciência, o tamanho e a reação pupilar do doente, de calor corporal. Recomenda-se o uso de um aquecedor
identifica a presença de sinais lateralização e determina de fluido de alto fluxo para aquecer fluidos cristaloides
o nível de lesão medular, se presente. a 39 °C (102.2 °F). Quando aquecedores de fluidos não
O Glasgow é um método rápido, simples e objetivo para estão disponíveis, um microondas pode ser usado para
a determinação do nível de consciência. A pontuação aquecer fluidos cristaloides, mas nunca deve ser usado
do nível motor do glasgow se correlaciona com o para aquecer produtos sangüíneos.
prognóstico. A diminuição no nível de consciência do
doente pode indicar diminuição da oxigenação e/ou
perfusão cerebral ou pode ser causada por uma lesão
armadilha prevenção
cerebral direta. O alteração do nível de consciência
A hipotermia • Assegure um ambiente aquecido.
indica a necessidade de reavaliação imediata do pode estar • Use cobertores térmicos.
estado de oxigenação, ventilação e perfusão do doente. presente na • Aqueça os fluidos antes de
Hipoglicemia, álcool, narcóticos e outras drogas também admissão. administrá-los.
podem alterar o nível de consciência do doente. Até que
se prove o contrário, sempre presuma que as mudanças A hipotermia • Controle a hemorragia
no nível de consciência resultam de lesões no sistema pode se rapidamente.
nervoso central. Lembre-se que intoxicação por drogas desenvolver após • Aqueça os fluidos antes de
a admissão. administrá-los.
ou álcool podem acompanhar lesão cerebral traumática. • Assegure um ambiente aquecido.
A lesão cerebral primária resulta do efeito estrutural • Use cobertores térmicos.
da lesão no cérebro. O principal objetivo no tratamento
inicial é a prevenção da lesão cerebral secundária,
mantendo a oxigenação e perfusão adequadas. Como MEDIDAS AUXILIARES À AVALIAÇÃO
a evidência de lesão cerebral pode estar ausente ou ser
mínima no momento da avaliação inicial, é crucial a PRIMÁRIA E À REANIMAÇÃO
repetição do exame. Doentes com evidência de lesão
cerebral devem ser tratados em uma instituição que As medidas auxiliares utilizadas durante as fases
tenha pessoal e recursos para diagnosticar e tratar as da avaliação primária e da reanimação incluem a
necessidades desses doentes. Quando os recursos para monitoramento eletrocardiográfico contínuo, oximetria
cuidar desses doentes não estiverem disponíveis, as de pulso, monitoramento de dióxido de carbono,
providências para transferência devem ser iniciados avaliação da frequência respiratória e gasometria arterial.
assim que essa condição for reconhecida. Da mesma Adicionalmente, pode-se passar uma sonda vesical para
forma, solicitar a avaliação de um neurocirurgião, assim verificar o débito urinário e a presença de hematúria. A
que uma lesão cerebral for suspeitada. sondagem gástrica pode descomprimir a distensão do
estômago e avaliar a presença de sangue. Outros exames
Exposição e controle ambiental úteis incluem lactato sanguíneo, radiografias (por exemplo,
tórax e quadril), FAST, a avaliação focada estendida com
Durante a avaliação primária, o doente deve ser ultrassonografia para trauma (eFAST) e LPD.
completamente despido; geralmente cortando suas roupas Parâmetros fisiológicos como frequência de pulso,
para facilitar o exame e avaliação completos. Ao término pressão arterial, pressão de pulso, frequência ventilatória,
da avaliação, cubra o doente com cobertores térmicos ou gasometria arterial, temperatura corporal e débito urinário
com um dispositivo de aquecimento externo para evitar são medidas que refletem a adequação da reanimação. Os
que ele desenvolva hipotermia na área de atendimento. valores para esses parâmetros devem ser obtidos assim
Aqueça os fluidos intravenosos antes de os infundir e que for possível durante ou após a conclusão do exame
mantenha um ambiente aquecido. O doente pode já estar primário e reavaliados periodicamente.
hipotérmico na chegada ao hospital ou pode desenvolver a
hipotermia rapidamente no departamento de emergência monitoração eletrocardiográfica
se estiver descoberto e for submetido à administração
rápida de fluidos à temperatura ambiente ou sangue A monitoração eletrocardiográfica de todos os
refrigerado. Como a hipotermia é uma complicação traumatizados é importante. A presença de arritmias,
potencialmente letal em doentes traumatizados, tome incluindo taquicardias inexplicáveis, fibrilação atrial,
medidas agressivas para evitar a perda de calor corporal e extra-sístoles ventriculares e alterações no segmento
restaurar a temperatura do corpo ao normal. A temperatura ST, podem indicar trauma cardíaco contuso. A atividade
MEDIDAS AUXILIARES À AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E À REANIMAÇÃO 11

elétrica sem pulso (AESP) pode indicar tamponamento e excesso de base indicam choque; portanto, a tendência
cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia desses valores pode refletir os resultados da reanimação.
profunda. Quando há bradicardia, condução aberrante
ou extra-sístoles e batimentos prematuros, deve-se sondas urinárias e gástricas
suspeitar imediatamente de hipóxia ou hipoperfusão.
A hipotermia extrema também pode provocar estas A introdução de sondas urinárias e gástricas deve ser
arritmias. (Ver Capítulo 3: Choque.) considerada como parte da fase de reanimação. Uma
amostra de urina deve ser enviada ao laboratório para
oximetria de pulso a realização dos exames de rotina.

A oximetria de pulso é um método auxiliar valioso Sondas Urinárias


na monitoração do doente traumatizado. Um pequeno
sensor é colocado nos dedos, no hálux, lóbulo da O débito urinário é um indicador sensível da volemia
orelha ou em outro local conveniente. A maioria dos do doente e reflete a perfusão renal. A monitoração do
dispositivos exibe frequência de pulso e saturação de débito urinário é realizada de forma mais adequada
oxigênio continuamente. A absorção relativa de luz pela inserção de uma sonda vesical. Além disso,
pela oxihemoglobina (HbO) e desoxihemoglobina é uma amostra de urina deve ser submetida a análise
avaliada medindo-se a quantidade de luz vermelha e laboratorial de rotina. O cateterismo transuretral
infravermelha que emerge dos tecidos atravessados pelos da bexiga está contra-indicado nos casos em que se
raios de luz e processados pelo dispositivo, produzindo suspeita de uma lesão de uretra. A lesão uretral deve
um nível de saturação de oxigênio. A oximetria de pulso ser suspeitada quando há sangue no meato uretral ou
não mede a pressão parcial de oxigênio ou dióxido de equimose perineal.
carbono. A medição quantitativa desses parâmetros Consequentemente, não se deve inserir uma sonda
ocorre rapidamente o que o torna prático e repetitivo vesical antes de examinar o períneo e a genitália.
periodicamente para estabelecer tendências. Quando há suspeita de lesão uretral, a integridade da
Além disso, a saturação da hemoglobina do oxímetro uretra deve ser confirmada através de uma uretrografia
de pulso deve ser comparada com o valor obtido pela retrógrada antes que a sonda seja inserida.
análise da gasometria arterial. Inconsistência indica Algumas vezes, alterações anatômicas (como por
que uma das duas determinações está errada. exemplo: estenose uretral ou hipertrofia prostática)
impede o posicionamento adequado dos cateteres
frequência respiratória, capnografia na bexiga, mesmo utilizando-se a técnica adequada.
e gasometria arterial Médicos não especialistas devem evitar a manipulação
excessiva da uretra ou usar instrumentos especiais.
A frequência respiratória, capnografia e gasometria Consultem antes um urologista.
arterial devem ser utilizadas para monitorar as alterações
do processo respiratório. A ventilação pode ser Sondas Gástricas
monitorada utilizando-se os níveis de dióxido de carbono
no final da expiração. O CO2 ao final da expiração pode A sonda gástrica está indicada para reduzir a distensão
ser detectado por meio de colorimetria, capnometria ou do estômago, para diminuir os riscos da aspiração e
capnografia, uma técnica de monitoramento não invasiva verificar se há hemorragia gastrointestinal alta devido
que fornece informações sobre a ventilação, a circulação a trauma. A descompressão do estômago reduz o risco
e o metabolismo do doente. Como o tubo endotraqueal de aspiração, mas não a impede totalmente. O conteúdo
pode deslocar-se acidentalmente sempre que o doente gástrico espesso e semi-sólido não retornará através da
for transportado, a capnografia pode ser utilizada para sonda e a sua colocação poderá induzir o vômito. Para que
confirmar a intubação da via aérea (vs o esôfago). No a sonda gástrica seja eficiente, é necessário que esteja bem
entanto, a capnografia não confirma a posição correta do posicionada e conectada a um sistema eficiente de sucção.
tubo na traqueia (ver Capítulo 2: Via Aérea e Ventilação). A presença de sangue no aspirado gástrico pode
O fluxo de CO2 pode usado para controle rigoroso da representar sangue orofaríngeo (deglutido), trauma na
ventilação para evitar hipoventilação e hiperventilação. hora da colocação da sonda ou lesões no trato digestivo
Ele reflete o débito cardíaco e é usado para predizer o alto. Caso haja fraturas ou mesmo suspeita de fratura da
retorno da circulação espontânea (RCE) durante a RCP. placa crivosa, a sonda gástrica deve ser passada por via oral
Adicionalmente, a capnografia fornece informações para evitar que seja introduzida acidentalmente dentro
sobre a adequação da oxigenação e ventilação, a do crânio. Nesta situação, qualquer instrumentação
gasometria fornece informações sobre a condição nasofaríngea será potencialmente perigosa e recomenda-
acidobásica. No cenário do trauma, baixos níveis de pH se o uso da via oral.
­12 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

laparotomia prévia ou são obesos. Na maioria das vezes


armadilha prevenção a avaliação cirúrgica deve ser feita antes de realização
deste procedimento. Além disso, a obesidade e o gás
A inserção da sonda • Esteja preparado para rolar o doente intestinal intraluminal podem comprometer as imagens
gástrica pode • Certifique-se de que o aspirador obtidas no FAST. O achado de sangue intra-abdominal
induzir o vômito. esteja imediatamente disponível. indica a necessidade de intervenção cirúrgica em doentes
com alterações hemodinâmicas. A presença de sangue
Os achados do • Certifique-se de que a no FAST ou LPD no doente hemodinamicamente estável
oxímetro de colocação do oxímetro de pulso requer a avaliação de um cirurgião, pois uma mudança
pulso podem não esteja acima do manguito do na estabilidade do doente pode indicar a necessidade
ser corretos. esfigmomanômetro. de intervenção.
• Confirme os achados com os
valores da gasometria arterial. CONSIDERE A NECESSIDADE DE
TRANSFERÊNCIA DO PACIENTE
EXAMES RADIOLÓGICOS E ESTUDOS
DIAGNÓSTICOS Durante a avaliação primária e a fase de reanimação
o médico que está atendendo o doente costuma ter
A utilização de radiografias deve ser feita de maneira informações suficientes para verificar a necessidade
racional e de modo a não retardar a reanimação do de transferência para outra instituição. O processo de
doente. As radiografias ântero-posteriores (AP) do transferência pode ser iniciado imediatamente por um
tórax e da pelve podem oferecer informações úteis para profissional administrativo sob a orientação do médico
guiar os esforços de reanimação nas vítimas de trauma que está atendendo, enquanto estão sendo tomados
fechado. As radiografias de tórax podem mostrar lesões cuidados adicionais de avaliação e reanimação. É
potencialmente letais que requerem tratamento ou importante não atrasar a transferência para realizar uma
investigação adicional, e as radiografias pélvicas avaliação diagnóstica aprofundada. Realiza-se somente
podem mostrar fraturas que indiquem a necessidade de exames que auxiliem na reanimação, estabilizem e
transfusão sanguínea precoce. Estas radiografias podem garantam a transferência segura do doente. Uma vez
ser realizadas na sala de emergência com um aparelho tomada a decisão de transferir um doente, a comunicação
portátil, mas não devem interromper o processo entre o médico atendente e o médico que irá receber
de reanimação (n FIGURA 1-5). Obtenha radiografias o doente é essencial. n FIGURA 1-6 mostra um paciente
diagnósticas essenciais, mesmo em pacientes grávidas. monitorizado durante um transporte crítico.
FAST, eFAST e LPD são ferramentas úteis para detecção
rápida de sangue intra-abdominal, pneumotórax e
hemotórax. O seu uso depende da qualificação e da
experiência do médico. A LPD pode ser desafiadora
para realizar em doentes grávidas, doentes que tiveram

n FIGURA 1-5 Os estudos radiográficos são medidas auxiliares n FIGURA 1-6  A monitorização deve ser mantida mesmo durante
importantes no exame primário. o transporte intra-hospitalar.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 13

disso, muitos doentes obesos apresentam doença


popul aç ão e spec i a l cardiopulmonar, o que limita sua capacidade de
compensar lesões e estresse. A reposição volêmica mais
Crianças, gestantes, idosos, obesos e atletas são doentes rápida pode exacerbar suas comorbidades subjacentes.
que merecem consideração especial durante a avaliação Devido ao excelente condicionamento, os atletas
inicial. As prioridades para o atendimento desses podem não manifestar sinais precoces de choque, como
doentes são as mesmas de todos os traumatizados, taquicardia e taquipneia. Eles também podem ter pressão
mas esses indivíduos podem apresentar respostas arterial sistólica e diastólica normalmente mais baixa.
fisiológicas que não seguem os padrões esperados e as
diferenças anatômicas podem requerer equipamentos
ou consideração especiais. ava li aç ão secundá r i a
Doentes pediátricos têm fisiologia e anatomia únicas.
As quantidades de sangue, fluidos e medicamentos Inicia-se a avaliação secundária somente após a avaliação
variam de acordo com o tamanho da criança. Além primária (ABCDEs) ter sido completada e quando as
disso, os padrões do trauma, grau e rapidez da perda medidas indicadas para a reanimação tiverem sido
de calor são diferentes. As crianças geralmente têm adotadas e o doente demonstrar melhora de suas funções
uma reserva fisiológica grande e frequentemente vitais. Quando mais pessoas estiverem disponíveis, parte da
apresentam poucos sinais de hipovolemia, mesmo avaliação secundária pode ser conduzida enquanto a outra
após grande perda de volume. Quando a deterioração parte da equipe realiza a avaliação primária. Esse método
ocorre, é rápida e catastrófica. Questões específicas não deve interferir de maneira alguma no desempenho da
relacionadas a doentes traumatizados pediátricos são avaliação primária, que é a maior prioridade.
abordadas no capítulo 10: Trauma Pediátrico. A avaliação secundária é um exame do doente
As alterações anatômicas e fisiológicas da gravidez traumatizado da cabeça aos pés, isto é, uma história
podem modificar a resposta da doente à lesão. O clínica e um exame físico completos, incluindo
reconhecimento precoce da gravidez por palpação de a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada região
um útero gravídico e exames laboratoriais (por exemplo, do corpo deve ser examinada por completo. A
gonadotrofina coriónica humana [beta-HCG]), bem possibilidade de uma lesão passar despercebida ou de
como a avaliação fetal precoce, são importantes para não ser valorizada é grande, principalmente em doentes
a sobrevivência materna e fetal. Questões específicas que não respondem a estímulos ou que se encontram
relacionadas a traumatizadas grávidas são abordadas no instáveis. (Ver Tabela I-1: Avaliação Secundária e o vídeo
capítulo 12: Trauma na Gestante e Violência Doméstica. da Avaliação Secundária no aplicativo do MyATLS.)
Embora as doenças cardiovasculares e o câncer sejam as
principais causas de morte em idosos, o trauma também História
é uma causa crescente de morte nessa população. A
reanimação de idosos merece atenção especial. O Toda avaliação médica completa deve incluir uma
processo de envelhecimento diminui a reserva fisiológica história dos mecanismos do trauma. Frequentemente,
desses indivíduos e doenças cardíacas, respiratórias e não se consegue obter uma história do próprio doente.
metabólicas crônicas podem prejudicar sua capacidade Nestes casos, os familiares e os socorristas devem ser
de resposta ao trauma. Comorbidades como diabetes, consultados com o intuito de se obter informações
insuficiência cardíaca congestiva, doença coronariana, que possam esclarecer melhor o estado fisiológico do
doença pulmonar restritiva e obstrutiva, coagulopatia, doente. A utilização do código “AMPLA” é uma fórmula
doença hepática e doença vascular periférica são mais mnemônica útil para alcançar esta finalidade.
comuns em pacientes idosos e podem prejudicar os
resultados após o trauma. Além disso, o uso prolongado •• Alergia
de medicamentos pode alterar a resposta fisiológica ao •• Medicamentos de uso habitual
trauma e frequentemente leva a distorções durante a
•• Passado médico / Prenhez
reanimação nessa população de doentes. Apesar desses
fatos, a maioria dos idosos traumatizados se recupera •• Líquidos e alimentos ingeridos recentemente
quando tratados adequadamente. Questões específicas •• Ambiente e eventos relacionados ao trauma
para idosos traumatizados são descritas no Capítulo 11: As condições do doente são fortemente influenciadas
Trauma Geriátrico. pelo mecanismo do trauma. O conhecimento do
Doentes obesos apresentam um desafio particular no mecanismo do trauma pode melhorar a compreensão
cenário do trauma, pois sua anatomia pode dificultar do estado fisiológico do doente e fornecer pistas para
procedimentos como a intubação. Testes diagnósticos reconhecer antecipadamente as lesões. Alguns tipos de
como FAST, LPD e TC também são mais difíceis. Além lesões podem ser suspeitados de acordo com a direção da
­14 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

tabela 1-1 mecanismos de trauma e padrões de lesões suspeitas

MECANISMO DE PADRÕES DE LESÃO MECANISMO DE PADRÕES DE LESÃO


TRAUMA SUSPEITAS TRAUMA SUSPEITA

trauma fechado

Impacto frontal • Fratura de coluna cervical Impacto traseiro • Trauma da coluna cervical
Colisão automobilística • Tórax instável anterior Colisão automobilística • Trauma craniencefálico
• Contusão miocárdica • Lesões de partes moles do
• Deformação do volante • Pneumotórax pescoço
• Impressão do joelho no • Rotura traumática da aorta
painel • Fraturas do baço ou fígado Ejeção do veículo • A ejeção do veículo impede
• Sinal do "olho de boi" no • Fratura posterior/ a previsão de padrões
parabrisas deslocamento da pelve e/ de lesão, mas o doente
ou joelho tem maior risco para
• Trauma craniencefálico praticamente todos os
• Fraturas de face mecanismos de trauma

Impacto lateral • Lesão ligamentar Impacto do veículo com o • Trama craniencefálico


Colisão automobilística contralateral do pescoço pedestre • Rotura traumática da aorta
• Trauma craniencefálico • Lesões de víscera abdominais
• Fratura da coluna cervical • Fraturas de membros
• Tórax instável lateral inferiores/pelve
• Pneumotórax
• Rotura traumática da aorta Queda de altura • Trauma craniencefálico
• Rotura diafragmática • Lesão axial da coluna
• Fratura de baço/fígado e/ou • Lesões de vísceras abdominais
rim, dependendo do lado • Fratura pélvica ou acetábulo
do impacto • Fratura bilateral de membros
• Fratura de pelve ou acetábulo inferiores (incluindo calcâneo)

trauma penetrante lesão térmica

Arma branca Queimaduras • Escara circunferencial no


• Anterior do tórax • Tamponamento cardíaco membro ou tórax
• Hemorórax • Trauma oculto (mecanismo
• Pneumotórax de trauma/meio de fuga)
• Hemopneumotórax

• Tóraco abdoninal • Lesão diafragmática


esquerda esquerda/lesão do baço/ Queimadura elétrica • Arritmia cardíaca
hemopneumotórax • Necrose miocárdica/
síndrome compartimental
• Abdome • Possibilidade de lesão
de viscera abdominal se
penetração peritoneal

Arma de fogo Lesão por inalação • Envenenamento por


• Tronco • Alto risco de lesão monoxide de carbono
• Trajetória do projétil/ • Edema de glote
projétil retido auxilia • Edema pulmonar
predizer lesão

• Membros • Lesão neurovascular


• Fraturas
• Síndrome compartimental
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 15

força e a quantidade de energia desprendida. (n TABELA mesmo temperaturas moderadas (15 a 20 OC ou 59 a 68


1-1) Os padrões de lesão também são influenciados por o
F) podem resultar em perdas significativas de calor.
faixas etárias e atividades. Estas informações devem ser obtidas com os socorristas
As lesões são divididas em duas grandes categorias: do pré-hospitalar. As lesões térmicas são abordadas em
trauma fechado e penetrante (ver Biomecânica mais detalhes no Capítulo 9: Lesões Térmicas e Apêndice
do Trauma). Outros tipos de lesões para os quais a B: Hipotermia e Lesões por Calor.
informação sobre a história é importante incluem lesões
térmicas e aquelas causadas em ambientes hostis. Ambiente de Risco

Trauma Fechado A história de exposição a elementos químicos, tóxicos e


radiação é importante por duas razões. Primeiro, estes
O trauma fechado frequentemente é resultante de agentes podem produzir uma grande variedade de
colisões automobilísticas, quedas e outros mecanismos disfunções pulmonares, cardíacas ou de outros órgãos
relacionados ao transporte, recreação ou ao trabalho. internos. Segundo, estes mesmos agentes também
Também pode ser resultante de agressões. Informações representam um perigo ao pessoal médico-hospitalar.
importantes sobre colisões de automóveis incluem uso Frequentemente os únicos meios que o médico possui
de cinto de segurança, deformação do volante, presença para realizar o atendimento e garantir sua proteção são
e ativação de air-bags, direção do impacto, danos no a compreensão dos princípios gerais de abordagem de
veículo em termos de grande deformação ou intrusão tais situações e o estabelecimento de contato imediato
no compartimento de passageiros e posição da vítima com o Centro (Regional de Controle) de Intoxicações.
no veículo. A ejecção do veículo aumenta sobremaneira O Apêndice D: Gerenciamento de Desastres e Preparação
a possibilidade de lesões graves. para Emergências fornece informações adicionais sobre
ambientes perigosos.
Trauma Penetrante
Exame físico
No trauma penetrante, os fatores que determinam o
tipo e a extensão da lesão e o tratamento subsequente Durante a avaliação secundária, o exame físico segue a
dependerão da região do corpo que foi afetada, dos sequência da cabeça, estruturas maxilo faciais, pescoço
órgãos próximos ao trajeto do objeto penetrante e da e coluna cervical, tórax, abdome, pelve, períneo/
velocidade do projétil. Portanto, a velocidade, o calibre, reto/vagina, sistema musculoesquelético e sistema
a trajetória presumida do projétil e a distância entre a neurológico.
arma e o doente podem fornecer pistas importantes na
compreensão da extensão das lesões. (ver Biomecânica Cabeça
do Trauma.)
A avaliação secundária começa com a avaliação
Lesões Térmicas da cabeça e com a identificação de todas as lesões
neurológicas relacionadas e significativas. Toda a
As queimaduras representam outro tipo significativo de cabeça e o couro cabeludo devem ser examinados à
trauma que pode apresentar-se isolado ou acompanhado procura de lacerações, contusões ou evidências de
de trauma fechado e/ou penetrante, resultante de um fraturas. (Ver Capítulo 6: Trauma Craniencefálico.)
incêndio em automóvel, explosões, queda de fragmentos Visto que o edema periocular pode dificultar um
incandescentes, tentativa de fuga do fogo. As lesões por exame ulterior mais pormenorizado, os olhos devem
inalação ou a intoxicação por monóxido de carbono ser reavaliados para determinar:
frequentemente complicam as queimaduras. As
informações sobre as circunstâncias da queimadura •• Acuidade visual
podem aumentar o índice de suspeita de lesão por •• Tamanho da pupila
inalação ou exposição tóxica por combustão de plásticos
e produtos químicos. •• Hemorragias do fundo de olho e da conjuntiva
A hipotermia aguda ou crônica sem proteção •• Lesões penetrantes
adequada contra a perda de calor produz lesões
•• Lentes de contato (remover antes que ocorra
localizadas ou generalizadas provocadas pelo
edema)
frio. Quando a capacidade do doente em manter a
temperatura está comprometida pelo uso de roupas •• Deslocamentos do cristalino
molhadas, por redução da atividade física e/ou por •• Encarceramento ocular
vasodilatação causada por uso de álcool ou drogas,
­16 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

Médicos podem fazer uma rápida avaliação da acuidade e essa lesão deve ser presumida até que a avaliação da
visual de ambos os olhos através da leitura do Quadro de coluna cervical seja concluída. A avaliação pode incluir
Snellen ou de palavras escritas em rótulos de frasco de séries de radiografias e/ou TC, que devem ser revisadas por
soro ou em um pacote de gaze. A mobilidade ocular deve um médico experiente na detecção radiológica de fraturas
ser avaliada para excluir o bloqueio de músculos extra- da coluna cervical. A avaliação radiográfica pode não ser
oculares devido a fraturas da órbita. Estes procedimentos realizada em pacientes que atendem aos critérios do Estudo
geralmente identificam lesões ópticas não aparentes Nacional de Utilização de Radiografia X de Emergência
de outra forma. Apêndice A: Trauma Ocular apresenta (NEXUS), Critérios de Baixo Risco (NLC) ou C-Spine Rule
informações detalhadas sobre lesões oculares. Canadense (CCR). (Ver Capítulo 7: Traumatismo da Coluna
Vertebral e Medula Espinhal.)
Estruturas Maxilo-Faciais O exame do pescoço inclui inspeção, palpação e
ausculta. Dor ao longo da coluna cervical, enfisema
O exame da face deve incluir a palpação de todas as subcutâneo, desvio da traqueia e fratura de laringe
estruturas ósseas, avaliação da oclusão, exame intraoral podem ser evidenciados em um exame mais detalhado.
e avaliação das partes moles. O trauma maxilofacial As artérias carótidas devem ser palpadas e auscultadas
que não está associado à obstrução da via aérea ou para verificar a presença de frêmitos e sopros. Um
sangramento importante deve ser tratado somente sinal comum de lesão potencial é a marca de cinto de
após a estabilização do doente e as lesões com risco de segurança. A maioria das lesões vasculares cervicais
morte terem sido tratadas. A critério de um especialista, importantes é por trauma penetrante; no entanto, a
o tratamento definitivo pode ser adiado com segurança força do trauma fechado no pescoço ou a lesão por tração
sem comprometer o atendimento. Doentes com fraturas cervical com uma retenção dos ombros pode resultar
do terço médio da face também podem ter uma fratura em ruptura da íntima, dissecção e trombose. O trauma
da placa crivosa. Para esses doentes, a inserção de sonda contuso da carótida pode estar presente em doentes em
gástrica deve ser realizada por via oral. (Ver Capítulo 6: coma ou sem sinais neurológicos. A angiotomografia,
Traumatismo Craniencefálico.) arteriografia ou a ultra-sonografia dúplex podem ser
necessárias a fim de excluir a possibilidade de lesão
vascular cervical importante, quando o mecanismo de
armadilha prevenção trauma sugerir esta possibilidade.
Para os doentes que usam qualquer tipo de capacete,
O edema facial em • Realize o exame ocular
são obrigatórias as medidas de proteção relacionadas a
doentes com trauma antes que o edema se
de face complexo pode desenvolva. uma possível lesão instável de coluna cervical. Deve-se
impossibilitar um exame • Minimizar o tomar extremo cuidado durante a retirada do capacete.
oftalmológico completo. desenvolvimento do A remoção do capacete é descrita no Capítulo 2: Via
edema pela elevação Aérea e Ventilação.
da cabeceira da
Ferimentos cervicais penetrantes podem lesar diferentes
cama (posição de
Trendelenburg invertida órgãos e sistemas. As lesões que se estendem além do
quando há suspeita de platisma não devem ser exploradas manualmente ou
lesões na coluna). com instrumentos no serviço de emergência. Tampouco
devem ser exploradas por profissionais que não sejam
Algumas fraturas • Mantenha um alto índice treinados nos cuidados de tais lesões. É necessária a
maxilofaciais, como fraturas de suspeita e obtenha avaliação de um cirurgião para sua avaliação e tratamento.
nasais, fraturas zigomáticas imagens quando
O achado de hemorragia arterial ativa, hematoma em
não cominutiva e fraturas necessário.
de órbita podem ser • Reavaliar os doentes expansão, frêmito arterial ou comprometimento da
difíceis de se identificar com frequência. via aérea frequentemente exigem avaliação cirúrgica.
precocemente no processo Paralisia isolada ou inexplicada dos membros superiores,
de avaliação. deve levantar a suspeita de lesão de raiz de nervo cervical
e deve ser documentada cuidadosamente.

Coluna Cervical e Pescoço Tórax

Doentes com trauma craniencefálico e maxilo-facial devem A inspeção visual do tórax, em sua face anterior e
ser considerados como portadores de lesão instável de posterior, permite identificar lesões como pneumotórax
coluna cervical (fraturas e/ou lesões de ligamentos) e os aberto e grandes segmentos instáveis (tórax flácido).
movimentos cervicais devem ser restringidos. A ausência Uma avaliação completa do tórax requer a palpação
de déficit neurológico não exclui a lesão da coluna cervical, de toda a caixa torácica incluindo clavículas, costelas
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 17

e esterno. A pressão esternal é dolorosa se o esterno Períneo, Reto e Vagina


estiver fraturado ou quando há disjunção costocondral.
Contusões e hematomas da parede torácica devem O períneo deve ser examinado à procura de contusões,
alertar o médico para a possibilidade de lesões ocultas. hematomas, lacerações e sangramento uretral. (Ver
Lesões torácicas significativas podem manifestar-se por Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
dor, dispneia, ou hipóxia. A avaliação inclui a ausculta O toque retal deve ser realizado antes da introdução
e RX do tórax. O murmúrio vesicular é auscultado na da sonda urinária. O médico deve avaliar a presença de
parte ântero-superior do tórax para a identificação de sangue na luz intestinal, a integridade da parede do reto
pneumotórax e na face posterior das bases para a detecção e o tônus do esfíncter.
de hemotórax. A ausculta pode ser difícil em um ambiente O exame vaginal deve ser realizado em doentes com
barulhento, mas pode ser de extrema utilidade. Bulhas risco de lesão vaginal. O médico deve avaliar a presença
abafadas e pressão de pulso diminuída podem indicar de sangue na vagina e a existência de lacerações
um tamponamento cardíaco. O tamponamento cardíaco vaginais. Além disso, um teste de gravidez deve ser
e o pneumotórax hipertensivo podem ser sugeridos pela realizado em todas as mulheres em idade fértil.
presença de distensão das veias do pescoço, embora a
hipovolemia associada possa diminuir ou mesmo abolir Sistema Musculoesquelético
este sinal. A percussão do tórax revela timpanismo. Uma
radiografia do tórax ou um e-FAST pode confirmar a As extremidades devem ser inspecionadas para verificar
presença de hemotórax ou pneumotórax simples. Fraturas a presença de contusões e deformidades. A palpação dos
de costelas podem estar presentes e não serem visualizadas ossos deve ser feita pesquisando dor ou movimentos
nas radiografias. O alargamento do mediastino ou outros anormais para ajudar na identificação de fraturas ocultas.
sinais radiológicos podem sugerir ruptura de aorta. (Ver
Capítulo 4: Trauma Torácico.) armadilha prevenção
Abdome e Pelve As fraturas • A colocação de uma cinta pélvica
pélvicas podem ou lençol podem limitar a perda
As lesões abdominais devem ser identificadas e tratadas produzir de sangue das fraturas pélvicas.
de maneira agressiva. O diagnóstico específico não é tão grandes perdas • Não manipule repetidamente
importante quanto a identificação da presença de uma sanguíneas. ou vigorosamente a pelve em
lesão abdominal que necessita tratamento imediato. doentes com fraturas, pois os
Um exame inicial normal do abdome não exclui lesões coágulos podem se soltar e
intra-abdominais significativas. O doente com contusão aumentar a perda de sangue.
abdominal deve ser observado de perto e com reavaliações
frequentes do abdome, preferencialmente pelo mesmo Fraturas e • Imagem de todas as áreas de
observador, porque com o passar do tempo, os achados lesões na suspeita.
abdominais podem mudar. O acompanhamento precoce extremidade são • Realize reavaliações frequentes
particularmente para identificar qualquer
por um cirurgião é essencial.
difíceis de edema ou hematoma em
Deve-se suspeitar de fratura pélvica pela identificação
diagnosticar desenvolvimento.
de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, grandes em pacientes • Reconhecer que achados
lábios ou escroto. A dor à palpação do anel pélvico é com trauma sutis em doentes com trauma
um achado importante em pacientes conscientes. Além craniencefálicos craniencefálico, tais como
disso, a avaliação dos pulsos periféricos pode identificar ou lesões na limitação de movimento de uma
lesões vasculares. medula espinhal. extremidade ou resposta ao
Doentes com hipotensão inexplicada, lesões estímulo de uma área, podem ser
neurológicas, alteração do sensório decorrente do as únicas pistas para a presença
uso de álcool e/ou drogas e com achados abdominais de uma lesão.
duvidosos devem ser considerados como candidatos
a uma lavagem peritoneal, a uma ultra-sonografia Desenvolvimento • Mantenha um alto nível de
abdominal ou, caso estejam hemodinamicamente de Síndrome suspeita e reconheça lesões com
Compartimental. alto risco de desenvolvimento
normais, a uma tomografia computadorizada do
de síndrome compartimental
abdome. As fraturas de pelve e das últimas costelas
(por exemplo, fraturas de ossos
também podem dificultar o diagnóstico preciso e a longos, lesões por esmagamento,
interpretação dos achados do exame de abdome, pois isquemia prolongada e lesões
a palpação abdominal pode despertar dor neste local. térmicas circunferenciais).
(Ver Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
­18 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

Lesões significativas de extremidades podem existir um neurocirurgião ou cirurgião ortopédico. (Ver


sem que seja possível identificar fraturas quer no exame Capítulo 7: Trauma Vertebromedular.)
físico quer na radiografia. A ruptura dos ligamentos
provoca instabilidade da articulação. A lesão de tendões
interfere com a movimentação ativa da estrutura medidas auxiliares À
afetada. Perdas da sensibilidade ou da contratilidade avaliação secundária
muscular voluntária podem ser decorrentes de
uma lesão nervosa ou de isquemia, incluindo o Durante a avaliação secundária, podem ser realizados
desenvolvimento de síndrome compartimental. testes diagnósticos específicos para identificar
A avaliação musculoesquelética não está completa determinadas lesões. Eles incluem radiografias
sem o exame do dorso do doente. Se o dorso do doente adicionais da coluna e das extremidades; tomografia
não for examinado, lesões significativas podem passar computadorizada da cabeça, tórax, abdome e coluna;
despercebidas. (Ver Capítulo 7: Trauma Vertebromedular, urografia excretora e arteriografia; ultra-sonografia
e Capítulo 8: Trauma Musculoesquelético.) transesofágica; broncoscopia; esofagoscopia e outros
procedimentos diagnósticos. (n FIGURA 1-7).
Sistema Nervoso Durante a avaliação secundária, pode-se obter
imagens completas da coluna cervical e toracolombar
O exame neurológico abrangente não inclui apenas a se o o atendimento do doente não for comprometido
avaliação sensorial e motora das extremidades, mas e o mecanismo de trauma sugerir a possibilidade de
também a reavaliação do nível de consciência e do lesão medular. Muitos centros de trauma abandonaram
tamanho e da resposta das pupilas do doente. A Escala as radiografias simples e usam a TC para detectar
de Coma de Glasgow facilita a identificação precoce de lesões na coluna. A restrição do movimento da coluna
alterações no estado neurológico. vertebral deve ser mantida até que a lesão da coluna
Nos doentes com trauma craniencefálico, é necessário tenha sido excluída. Deve ser obtido um RX de tórax
um parecer precoce do neurocirurgião. O doente deve AP e filmes adicionais pertinentes ao(s) local(is) de
ser monitorado com frequência para detecção de suspeita de lesão. Geralmente, esses procedimentos
deterioração no nível de consciência ou modificações exigem o transporte do doente para outras áreas do
no exame neurológico, que podem indicar progressão hospital, onde equipamentos e pessoal para tratar
de uma lesão intracraniana. Se um doente com trauma situações que ameaçam a vida podem não estar
craniencefálico piora do ponto de vista neurológico, imediatamente disponíveis. Portanto, esses testes
a oxigenação e a perfusão do cérebro e a adequação especializados não devem ser realizados até que o
da ventilação (ABCDEs) devem ser reavaliadas. Pode paciente tenha sido cuidadosamente examinado e seu
ser necessária uma intervenção neurocirúrgica ou a estado hemodinâmico tenha sido normalizado. Lesões
adoção de medidas que visem a redução da pressão despercebidas podem ser minimizadas, mantendo um
intracraniana. Cabe ao neurocirurgião tomar esta alto índice de suspeita e fornecendo monitoramento
decisão quanto à necessidade de drenar hematomas contínuo do status do doente durante a realização de
epidurais ou subdurais ou de corrigir fraturas testes adicionais.
cranianas com afundamento. (Ver Capítulo 6: Trauma
Craniencefálico.)
Fraturas da coluna torácica e lombar e/ou lesões
neurológicas devem ser sempre consideradas com
base nos achados físicos e no mecanismo de trauma.
Outras lesões podem mascarar os achados físicos de
uma lesão de coluna, a qual pode passar despercebida
se o médico não solicitar as radiografias apropriadas.
Qualquer evidência de perda de sensibilidade,
paralisia ou fraqueza sugere lesão importante na
coluna vertebral ou no sistema nervoso periférico. Os
déficits neurológicos devem ser documentados quando
identificados, mesmo quando a transferência para outra
instituição ou a avaliação de um especialista forem
necessárias. A proteção da coluna vertebral é necessária
em todos os momentos até que uma lesão raquimedular
seja excluída. Se uma lesão vertebromedular for n FIGURA 1-7  Testes diagnósticos especializados podem ser
detectada, será necessária uma consulta precoce com realizados durante a avaliação secundária para identificar lesões
TRABALHO DE EQUIPE 19

R e ava li aç ão registro e consider ações


legais
O doente traumatizado deve ser reavaliado
constantemente para assegurar que fatos novos não Considerações legais específicas, incluindo o prontuário,
passem despercebidos e para identificar o agravamento o consentimento para o tratamento e evidências forenses,
de anormalidades já conhecidas. À medida que as são relevantes para os alunos do ATLS.
lesões com risco de morte são tratadas, outras lesões
igualmente graves, ainda que menos críticas, podem prontuário
tornar-se aparentes. Doenças clínicas pré-existentes
podem também tornar-se evidentes e afetar seriamente Realizar anotações detalhadas é crucial durante
o prognóstico do doente. Um alto índice de suspeita a avaliação e tratamento do doente, incluindo a
facilita o diagnóstico precoce e seu tratamento. documentação cronológica de todos os eventos. Muitas
A monitoração contínua dos sinais vitais, saturação de vezes, vários médicos cuidam de um único doente e
oxigênio e do débito urinário é essencial. Para um doente registros precisos são essenciais para que os mesmos
adulto é desejável a manutenção de um débito urinário possam avaliar as necessidades e estado clínico do
de 0,5 mL/kg/h. Nos doentes pediátricos, acima de 1 ano, traumatizado. A manutenção precisa de registros durante
débito de 1 mL/kg/h. Gasometrias arteriais periódicas, a fase de reanimação pode ser facilitada, atribuindo a um
e a capinometria são úteis em alguns destes doentes. membro da equipe de trauma a responsabilidade de
O alívio da dor é uma parte importante no tratamento registrar e agrupar com exatidão todas as informações
do traumatizado. Muitas lesões, especialmente as pertinentes ao doente.
musculoesqueléticas provocam dor e ansiedade no Problemas médico-legais ocorrem frequentemente e,
doente consciente. A analgesia, para ser efetiva, requer o registro preciso dos fatos ajuda em todos os aspectos.
geralmente a utilização de opioides intravenosos ou Anotações cronológicas por meio de fluxogramas
ansiolíticos. Injeções intramusculares devem ser evitadas. facilitam tanto o médico atendente como o médico
Esses agentes devem ser administrados cautelosamente receptor na rápida identificação de alterações nas
e em pequenas doses para alcançar o nível desejado de condições do doente. Ver Exemplo de Ficha de Trauma,
conforto para o doente e alívio da ansiedade evitando ao e Capítulo 13: Transferência para o Tratamento Definitivo.
mesmo tempo, a depressão respiratória e o mascaramento
de lesões sutis ou de mudanças no estado do doente. Consentimento para o tratamento

tr ata mento definiti vo O consentimento deve ser conseguido, se possível, antes


de se iniciar o tratamento. Nos casos com risco de morte,
geralmente não é possível a obtenção deste consentimento
Sempre que as necessidades de tratamento do doente previamente. Nestes casos o tratamento deve ser iniciado
excederem a capacidade da instituição que o está primeiro e o consentimento obtido depois.
atendendo, a transferência deve ser considerada. Esta
decisão requer avaliação detalhada das lesões do doente evidência forense
e conhecimento das capacidades da instituição, incluindo
equipamentos, recursos e pessoal. Caso se suspeite que uma lesão tenha sido decorrente
Os critérios de triagem inter-hospitalar ajudam a de atividade criminosa, a equipe de atendimento
determinar o grau, o ritmo e a intensidade do tratamento deve preservar as evidências. Todos os itens, como
inicial que devem ser ministrados ao doente traumatizado roupas e projéteis devem ser guardados para a
(ver ACS COT, Resources for Optimal Care of the Injured polícia. As determinações laboratoriais dos níveis
Patients, 2014). Estes critérios levam em consideração o sanguíneos de álcool e de outras drogas podem ser
estado fisiológico do doente, a presença de lesões evidentes, particularmente pertinentes e possuem implicações
os mecanismos de trauma, as doenças associadas, e fatores legais substanciais.
outros que podem alterar o prognóstico do doente. O pessoal
do serviço de emergência e as equipes cirúrgicas devem
usar estes critérios para determinar se o doente necessita Trabalho em equipe
ser transferido para um centro de trauma ou para um outro
hospital capaz de oferecer um tratamento mais especializado. Em muitos centros, os doentes traumatizados são
O hospital apropriado mais próximo deve ser escolhido com avaliados por uma equipe cujo tamanho e composição
base na sua capacidade de tratar o doente traumatizado. Ver variam de instituição para instituição (n FIGURA 1-8). A
Capítulo 13: Transferência para o Tratamento Definitivo. equipe de trauma geralmente inclui um líder de equipe,
­20 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais

um responsável pelas vias aéreas, enfermeira e técnico doente, a menos que condições imediatas de risco de
de trauma, bem como vários residentes e estudantes de morte sejam óbvias (ou seja,”hands-off hands-over”).
medicina. A especialidade do líder da equipe de trauma Um acrônimo útil para gerenciar esta etapa é MIST:
e do responsável pelas vias aéreas depende da prática
local, mas devem ter um profundo conhecimento •• M - Mecanismo (e tempo) do trauma
prático dos princípios do programa ATLS. •• I - Lesões encontradas e suspeitas
Para atuar de forma eficaz, cada equipe de trauma
deve ter um membro atuando como líder da equipe. •• S - Sinais e sintomas
O líder da equipe supervisiona, verifica e direciona a •• T - Tratamento iniciado
avaliação; idealmente, ele ou ela não está diretamente
envolvido na avaliação em si. O líder de equipe não é À medida que a avaliação (ABC) prossegue, é vital
necessariamente a pessoa mais antiga presente, embora que cada membro saiba o que os outros membros
ele ou ela deva ser treinado pelo curso ATLS e noções descobriram e/ou estão fazendo. Este processo é
básicas de gerenciamento de equipe médica. O líder da facilitado verbalizando-se cada ação e cada achado
equipe supervisiona a preparação para a chegada do em voz alta sem que mais de uma pessoa da equipe
paciente para garantir uma transição suave do ambiente fale ao mesmo tempo. Ordens e pedidos não devem
pré-hospitalar para o hospital. Ele atribui funções e tarefas ser feitos em termos gerais, mas sim direcionados a
aos membros da equipe, garantindo que cada participante um indivíduo, pelo nome. Esse indivíduo então repete
tenha o treinamento necessário para atuar na função a solicitação/pedido e depois confirma sua conclusão
designada. A seguir estão algumas das funções possíveis, e, se aplicável, seu resultado.
dependendo do tamanho e da composição da equipe: O líder da equipe verifica o progresso da avaliação,
resume periodicamente os achados e a condição do
•• Avaliação do doente, incluindo avaliação e doente e solicita especialistas conforme necessário. Ele
abordagem das vias aéreas ou ela também solicitam exames adicionais e, quando
apropriado, sugerem/procedem a transferência do
•• Despir e expor o doente doente.
•• Colocação de equipamentos de monitorização Durante todo o processo, espera-se que todos
os membros da equipe façam comentários, façam
•• Obtenção de acesso venoso e coleta de amostras
perguntas e ofereçam sugestões, quando apropriado.
de sangue Nesse caso, todos os outros membros da equipe devem
•• Servir como escrevente ou realizar o resgistro prestar atenção e seguir as instruções do líder da equipe.
das atividades de ressuscitação Quando o paciente deixa o departamento de
emergência, o líder da equipe conduz uma revisão
Na chegada do doente, o líder da equipe supervisiona “após a ação”. Nesta ocasião, a equipe aborda aspectos
a passagem do caso pelos socorristasr, garantindo que técnicos e emocionais da reanimação e identifica
nenhum membro da equipe comece a trabalhar no oportunidades de melhoria do desempenho da equipe.
Todos os capítulos subsequentes contêm um recurso
especial no fim do capítulo intitulado “Trabalho em
Equipe”. Esse recurso destaca aspectos específicos
da equipe de trauma que se relacionam ao capítulo.
O tópico do trabalho em equipe também é explorado
em detalhes no apêndice E: ATLS e Gerenciamento de
Recursos da Equipe de Trauma.

r e sumo do c a pítulo

1. A sequência correta de prioridades para o tratamento


de um doente traumatizado multisistêmico é:
preparação, triagem, avaliação primária, reanimação,
medidas auxiliares à avaliação primária e reanimação,
considerar necessidade de transferência, avaliação
n FIGURA 1-8  Em muitos centros, os doentes traumatizados são secundária, medidas auxiliares à avaliação secundária,
avaliados por uma equipe. Para atuar de forma eficaz, cada equipe reavaliação e cuidados definitivos, considerando
tem um membro que atua como líder da equipe. novamente a necessidade de transferência.
BIBLIOGRAFIA 21

2. Os princípios da avaliação primária e secundária shorten the interval from trauma patient
e os protocolos e técnicas nas fases de reanimação arrival to decision to transfer? J Trauma 2011;70:
e tratamento definitivo se aplicam para todos os 315–319.
doentes traumatizados. 9. Lee C, Bernard A, Fryman L, et al. Imaging
may delay transfer of rural trauma victims:
3. A história clínica do doente e o mecanismo de trauma a survey of referring physicians. J Trauma
são importantes para a identificação das lesões. 2009;65:1359–1363.
10. Leeper WR, Leepr TJ, Yogt K, et al. The role
4. As armadilhas associadas com a avaliação inicial of trauma team leaders in missed injuries:
e tratamento de doentes traumatizados devem does specialty matter? J Trauma 2013;75(3):
ser antecipadas e geridas de modo a minimizar o 387–390.
seu impacto. 11. Ley E, Clond M, Srour M, et al. Emergency
department crystalloid resuscitation of 1.5 L or
5. A avaliação inicial deve ser repetida frequentemente more is associated with increased mortality in
e qualquer anormalidade deverá ser reavaliada. elderly and nonelderly trauma patients. J Trauma
2011;70(2):398–400.
6. A identificação precoce de doentes que requeiram 12. Lubbert PH, Kaasschieter EG, Hoorntje LE, et al.
transferência para um Hospital de maior Video registration of trauma team performance
complexidade, melhora o prognóstico. in the emergency department: the results of a
2-year analysis in a level 1 trauma center. J Trauma
2009;67:1412–1420.
Bibliografia 13. Manser T. Teamwork and patient safety in
dynamic domains of healthcare: a review
of the literature. Acta Anaesthesiol Scand
1. American College of Surgeons Committee 2009;53:143–151.
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Injured Patient. Chicago, IL: American College PHTLS: Prehospital Trauma Life Support. 7th ed.
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2. CRASH-2 collaborators. The importance of early 15. Nahum AM, Melvin J, eds. The Biomechanics
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trauma patients: an exploratory analysis of the Crofts; 1985.
CRASH-2 randomised controlled trial. Lancet 16. Neugebauer EAM, Waydhas C, Lendemans S,
2011;377(9771):1096–1101. et al. Clinical practice guideline: the treatment
3. Davidson G, Rivara F, Mack C, et al. Validation of patients with severe and multiple traumatic
of prehospital trauma triage criteria for motor injuries. Dtsch Arztebl Int 2012;109(6):102–108.
vehicle collisions. J Trauma 2014; 76:755–766.6. 17. Teixeira PG, Inaba K, Hadjizacharia P, et
4. Esposito TJ, Kuby A, Unfred C, et al. General al. Preventable or potentially preventable
Surgeons and the Advanced Trauma Life Support mortality at a mature trauma center. J Trauma
Course. Chicago, IL: American College of 2007;63(6):1338.
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5. Fischer, PE, Bulger EM, Perina DG et. al. Guidance al. Pressure ulcers from spinal immobilization in
document for the prehospital use of Tranexamic trauma patients: a systematic review. J Trauma
Acid in injured patients. Prehospital Emergency 2014;76:1131–1141.9.
Care, 2016, 20: 557-59.
6. Guidelines for field triage of injured patients:
recommendations of the National Expert Panel
on Field Triage, 2011. Morbidity and Mortality
Weekly Report 2012;61:1–21.
7. Holcomb JB, Dumire RD, Crommett JW, et
al. Evaluation of trauma team performance
using an advanced human patient simulator
for resuscitation training. J Trauma 2002;
52:1078–1086.
8. Kappel DA, Rossi DC, Polack EP, et al. Does
the rural Trauma Team development course
2 TRATAMENTO DA VIA AÉREA
E DA VENTILAÇÃO

As prioridades iniciais no tratamento do doente traumatizado são garantir uma via aérea
intacta e reconhecer uma via aérea comprometida.ectives
Capítulo 2 sumário
Objetivos controle de oxigenação

Introdução tratamento da ventilação

via aérea trabalho em equipe


• Reconhecimento do Problema
• Sinais Objetivos de Obstrução da Via Aérea resumo do capítulo

Ventilação Bibliografia
• Reconhecimento do Problema
• Sinais Objetivos de Ventilação Inadequada

tratamento da via aérea


• Antecipando a Via Aérea Difícil
• Esquema de Decisão da Via Aérea
• Técnicas de Manutenção da Via Aérea
• Via Aérea Definitiva

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 5. Descrever as técnicas para confirmar a adequação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: da ventilação e da oxigenação, incluindo oximetria
de pulso e monitoramento de CO2 expirado.
1. Identificar as situações clínicas em que há o
comprometimento da via aérea 6. Definir o termo “via aérea definitiva”.

2. Reconhecer os sinais e sintomas de obstrução 7. L


istar as indicações para intubação assistida por
aguda da via aérea drogas.

3. Reconhecer o comprometimento ventilatório e 8. D


escrever os passos necessários para manter a
sinais de ventilação inadequada. oxigenação antes, durante e depois de estabelecer
uma via aérea definitiva.
4. D
escrever as técnicas para manter e estabelecer
uma via aérea patente.

23
­24 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

A
oferta inadequada de sangue oxigenado para o frequentes da permeabilidade da via aérea e da adequação
cérebro e outras estruturas vitais é a causa mais da ventilação.
rápida de morte em doentes traumatizados. Durante a avaliação inicial da via aérea, um “doente
Uma via aérea protegida e desobstruída e uma que fala” fornece garantia momentânea de que a via
ventilação adequada são fundamentais para prevenir aérea é patente e não está comprometida. Portanto, a
a hipoxemia. De fato, a garantia de uma via aérea não medida inicial mais importante é conversar com o doente
comprometida, fornecimento adequado de oxigênio e estimular uma resposta verbal. Uma resposta verbal
e suporte à ventilação têm prioridade na assistência e positiva e apropriada, com voz clara, indica que a via
sobre todas as outras condições. Oxigênio suplementar aérea do doente está patente, a ventilação está intacta
deve ser administrado a todos os doentes gravemente e a perfusão cerebral é suficiente. A falta de resposta
traumatizados. ou uma resposta inadequada sugere nível alterado de
As mortes precoces evitáveis devido a problemas na consciência que pode ser resultado de comprometimento
via aérea, geralmente resultam de: da via aérea ou da ventilação, ou de ambos.
Doentes com um nível alterado de consciência estão
•• Falha em avaliar adequadamente a via aérea em risco de comprometimento da via aérea e geralmente
•• Falha em reconhecer a necessidade de uma requerem uma via aérea definitiva. Via aérea definitiva é
intervenção na via aérea definida como um tubo locado na traqueia, com o balonete
•• Incapacidade de estabelecer uma via aérea insuflado abaixo das cordas vocais e conectado a uma
•• Incapacidade de reconhecer a necessidade de fonte de ventilação assistida enriquecida com oxigênio.
um plano alternativo no contexto de repetidas Doentes inconscientes com traumatismo craniencefálico,
tentativas de intubação malsucedidas doentes menos responsivos devido ao uso de álcool e/
•• Falha em reconhecer uma via aérea mal locada ou outras drogas e doentes com lesões torácicas podem
ou em utilizar técnicas apropriadas para
garantir o posicionamento correto do tubo ter comprometimento da mecânica ventilatória. Nesses
doentes, a intubação endotraqueal serve para assegurar
•• Deslocamento de uma via anteriormente
estabelecida uma via aérea, fornecer oxigênio suplementar, auxiliar
•• Não reconhecer a necessidade de ventilação a ventilação e prevenir a aspiração. A manutenção da
oxigenação e a prevenção da hipercarbia são fundamentais
Existem muitas estratégias e equipamentos para o no tratamento de doentes traumatizados, especialmente
manejo da via aérea em doentes traumatizados. É de naqueles que sofreram traumatismos cranianos.
fundamental importância levar em conta o contexto em Além disso, doentes com queimaduras faciais e
que o atendimento deste doente está acontecendo. Os com potencial lesão por inalação correm risco de
equipamentos e as estratégias que têm sido associados comprometimento respiratório insidioso (n FIGURA
a maior taxa de sucesso são aqueles que são bem 2-1). Por essa razão, deve-se considerar a intubação
conhecidos e usados regularmente no cenário específico. precoce nesta situação.
Equipamentos de via aérea recentemente desenvolvidos Em qualquer doente traumatizado, é importante
podem ter um desempenho ruim em mãos destreinadas. antecipar a possibilidade de vômitos e saber como agir

v i a a ér e a

Os primeiros passos para identificar e detectar o


comprometimento da via aérea potencialmente fatal
são reconhecer sinais objetivos de obstrução da via
aérea e identificar qualquer trauma ou queimadura
envolvendo a face, o pescoço e a laringe.

reconhecimento do problema
O comprometimento da via aérea pode ser súbito
e completo, insidioso e parcial, e/ou progressivo e
recorrente. Embora a taquipneia esteja frequentemente
relacionada à dor ou ansiedade, ou ambos, ela pode ser
um sinal sutil, porém precoce, de comprometimento da n FIGURA 2-1  Doentes com queimaduras de face e/ou possível lesão
via aérea e/ou comprometimento ventilatório. Portanto, por inalação correm risco de comprometimento respiratório insidioso,
é fundamental a avaliação inicial e as reavaliações logo, considerar a intubação precoce.
VIA AÉREA 25

caso isso ocorra. A presença de conteúdo gástrico na geral, sedação e relaxamento muscular podem levar à
orofaringe representa risco significativo de aspiração, obstrução da via aérea por diminuição ou ausência de tônus
que pode ocorrer na próxima inspiração do doente. Dessa muscular. A compreensão do tipo de trauma é mandatória
forma, estão indicadas a aspiração imediata da orofaringe para proporcionar um manejo adequado da via aérea,
e a rotação em bloco do doente para o decúbito lateral. antecipando-se os riscos. A intubação endotraqueal pode
ser necessária para manter a permeabilidade da via aérea.
armadilha prevenção Trauma Cervical
Aspiração após vômito. • Garanta que o equipamento
Os ferimentos penetrantes do pescoço podem causar
de aspiração esteja
lesões vasculares com hematomas significativos,
funcionante e disponível.
• Esteja preparado para
resultando em deslocamento e obstrução da via aérea.
lateralizar o doente Pode ser necessário estabelecer uma via aérea cirúrgica
enquanto restringe o com emergência se o deslocamento e a obstrução
movimento da coluna impedirem a intubação endotraqueal. A hemorragia
cervical se indicado. decorrente de lesões vasculares adjacentes pode ser
maciça, exigindo tratamento cirúrgico.
O trauma cervical contuso ou penetrante podem
Trauma Maxilofacial causar rotura da laringe ou da traqueia, seguido de
obstrução da via aérea e/ou sangramento maciço na
O trauma de face exige uma abordagem agressiva, porém árvore traqueobrônquica. Nessas condições, torna-se
cuidadosa da via aérea (n FIGURA 2-2). Esse tipo de trauma imperativo assegurar uma via aérea definitiva.
frequentemente acontece quando um passageiro sem Lesões cervicais envolvendo ruptura da laringe e da
cinto de segurança é arremessado contra o para-brisa traqueia, ou compressão da via aérea por hemorragia
ou o painel em uma colisão automobilística. Traumas em partes moles do pescoço, podem causar obstrução
do terço médio facial podem ocasionar fraturas e parcial da via aérea. Inicialmente, doentes com essa
luxações que comprometem a nasofaringe e a orofaringe. grave lesão de via aérea podem conseguir manter a
Fraturas faciais podem ser associadas a hemorragia, permeabilidade da via aérea e a ventilação. Entretanto,
edema, aumento de secreções e avulsões dentárias se houver suspeita de comprometimento da via aérea,
que aumentam a dificuldade para a manutenção da deve-se garantir uma via áerea definitiva. Para evitar
permeabilidade da via aérea. Fraturas da mandíbula, a exacerbação de uma lesão de via aérea existente, o
principalmente fraturas bilaterais do corpo, podem tubo endotraqueal deve ser inserido cuidadosamente
levar à perda do suporte estrutural da via aérea, e pode e, preferencialmente, sob visualização direta. A perda
ocorrer obstrução quando em posição supina. Doentes da permeabilidade da via aérea pode ser precipitada,
que se recusam a permanecer em decúbito dorsal podem e uma via aérea cirúrgica está usualmente indicada.
apresentar dificuldade para a manutenção da via aérea
ou para a eliminação de secreções. Além disso, anestesia Trauma de Laringe

Embora as fraturas laríngeas raramente ocorram, elas


podem se manifestar com obstrução aguda da via aérea.
Esta lesão é indicada por uma tríade de sinais clínicos:

1. Rouquidão
2. Enfisema subcutâneo
3. Fratura palpável

A obstrução total da via aérea ou a insuficiência


respiratória grave devido a uma obstrução parcial
justificam uma tentativa de intubação. A intubação
guiada por fibroscópio flexível pode auxiliar nessa
situação, mas somente se puder ser realizada
prontamente. Se houver insucesso na tentativa de
intubação, a traqueostomia de emergência está indicada,
n FIGURA 2-2 O trauma de face exige manejo agressivo, porém seguida de reparo cirúrgico da lesão. Entretanto, a
cuidadoso da via aérea. traqueostomia é um procedimento de difícil execução
­26 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

em situações de emergência, demanda um tempo 3. Avalie o comportamento do doente. Doentes


maior e pode resultar em sangramento profuso. A abusivos e agressivos podem estar, de fato,
cricotireoidostomia cirúrgica, embora não seja hipóxicos; não assuma que estão intoxicados.
o procedimento de escolha nessa situação, pode
constituir-se em uma manobra salvadora de vida. V entil aç ão
O trauma penetrante da laringe ou da traqueia pode
ser evidente e exige tratamento imediato. Transecção
completa da traqueia ou oclusão da via aérea por sangue ou Garantir a permeabilidade da via aérea é um passo
partes moles pode causar comprometimento que necessite importante para a oxigenação do doente, mas é apenas o
de correção imediata. Essas lesões são frequentemente primeiro passo. Uma via aérea permeável não será benéfica
associadas a trauma do esôfago, da artéria carótida, da ao doente a menos que a ventilação esteja, também,
veia jugular, bem como extensa lesão tecidual ou edema. adequada. O médico deve procurar no exame físico do
A respiração ruidosa indica obstrução parcial da via doente por sinais objetivos de ventilação inadequada.
aérea que pode subitamente converter-se em obstrução
total. A ausência de sons respiratórios sugere que o doente reconhecimento do problema
já apresenta obstrução total de via aérea. Quando o nível
de consciência do doente está rebaixado, a detecção de A ventilação do doente pode estar comprometida por
obstrução importante da via aérea torna-se mais sutil obstrução da via aérea, por alteração na mecânica
e o esforço respiratório pode ser a única evidência de ventilatória e/ou por depressão do sistema nervoso central
obstrução de via aérea ou lesão traqueobrônquica. (SNC). Se a ventilação do doente não melhorar após a
Se houver suspeita de fratura de laringe, seja pelo desobstrução da via aérea, outras causas do problema
mecanismo de trauma ou por achados sutis no exame devem ser identificadas e tratadas. O trauma torácico
físico do doente, a tomografia computadorizada pode direto, principalmente na presença de fratura de arcos
auxiliar na confirmação diagnóstica. costais, provoca dor durante a mecânica ventilatória com
consequente ventilação rápida e superficial e hipoxemia.
sinais objetivos de obstrução da via aérea Doentes idosos e com disfunção pulmonar pré-existentes
apresentam risco significativo de falha na ventilação
Doentes com sinais objetivos de via aérea difícil ou nessas condições. Doentes pediátricos podem sofrer
reserva fisiológica limitada devem ser tratados com trauma torácico significativo sem fratura de arcos costais.
extremo cuidado. Isso se aplica, entre outros, a doentes A lesão cerebral traumática pode causar padrões
obesos, pediátricos, idosos e aqueles que sofreram respiratórios anormais e comprometer a ventilação
traumatismos faciais. adequada. Lesão medular cervical pode resultar em
Os seguintes passos podem ajudar os médicos a paresia ou paralisia dos músculos da respiração. Quanto
identificar sinais objetivos de obstrução da via aérea: mais proximal a lesão, mais provável a ocorrência de
comprometimento respiratório. Lesões abaixo do nível
1. Observe o doente para determinar se ele está C3 resultam na manutenção da função diafragmática,
agitado (sugerindo hipóxia) ou obnubilado mas na perda da contribuição dos músculos intercostais
(sugerindo hipercarbia). A cianose indica e abdominais para a respiração. Normalmente, esses
hipoxemia por oxigenação muito inadequada e doentes exibem um padrão de respiração no qual o
é identificada pela inspeção dos leitos ungueais abdome é empurrado com inspiração, enquanto a
e pele arroxeada. No entanto, a cianose é um caixa torácica inferior é puxada. Essa apresentação é
sintoma tardio de hipóxia, e pode ser difícil chamada de “respiração abdominal” ou “respiração
detectar na pele pigmentada. Procure por retrações diafragmática”. Esse padrão de respiração é ineficiente
e uso dos músculos acessórios da ventilação que, e resulta em respirações rápidas e superficiais que podem
quando presentes, fornecem evidências adicionais levar a atelectasia, ventilação inadequada e, finalmente,
de comprometimento da via aérea. A oximetria de insuficiência respiratória.
pulso usada no início da avaliação primária pode
detectar uma oxigenação inadequada antes do sinais objetivos de ventilação inadequada
desenvolvimento da cianose.
2. Ouça a via aérea atentamente à procura de As etapas a seguir podem ajudar os médicos a identificar
ruídos anormais. Respiração ruidosa indica sinais objetivos de ventilação inadequada:
obstrução. Roncos, gorgolejos e estridores 1. Observe no tórax do doente se os movimentos
podem estar associados a obstrução parcial respiratórios são simétricos e adequados. A
da faringe ou da laringe. Rouquidão (disfonia) assimetria sugere fraturas de arcos costais,
implica em obstrução funcional da laringe. pneumotórax ou tórax instável (retalho costal
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 27

móvel). Esforço respiratório indica uma ameaça também pode ser usada em doentes intubados
iminente à ventilação do doente. para confirmar o correto posicionamento do
2. Ausculte o tórax bilateralmente. Diminuição tubo na via aérea do doente.
ou ausência de murmúrio vesicular em um
ou em ambos os lados do tórax deve alertar o
médico quanto à presença de lesão torácica.
tr ata mento da v i a a ér e a
(Ver Capítulo 4: Trauma Torácico). Atente
para o aumento da frequência respiratória do A avaliação da permeabilidade da via aérea e da
doente – a taquipneia pode indicar insuficiência qualidade da ventilação deve ser feita de forma rápida e
respiratória. precisa. A oximetria de pulso e a medida do CO2 expirado
3. Use o oxímetro de pulso para medir a saturação são fundamentais. Se alguma alteração for identificada
de oxigênio no sangue e a perfusão periférica, ou se houver supeita de comprometimento da via
mas observe que este dispositivo não garante aérea, medidas devem ser tomadas imediatamente
que a ventilação esteja adequada. Além disso, para melhorar a oxigenação e reduzir o risco de piora
uma saturação baixa de oxigênio pode ser do comprometimento ventilatório. Essas medidas
indicação de hipoperfusão ou choque.
incluem técnicas básicas para a manutenção da via
4. Use capnografia em doentes respirando áerea, medidas para instalação de via aérea definitiva
espontaneamente e intubados para avaliar (inclusive a via aérea cirúrgica) e métodos para fornecer
se a ventilação está adequada. A capnografia suporte ventilatório. Como todas essas medidas podem
ocasionar alguma movimentação no pescoço do doente,
armadilha prevenção é importante a restrição do movimento da coluna em
todos os doentes traumatizados com risco de lesão
Falha em • Monitore a frequência respiratória medular até que lesão vertebromedular tenha sido
reconhecer do doente e o esforço respiratório. excluída por medidas auxiliares radiológicas e avaliação
• Obtenha gasometria arterial ou clínica.
ventilação
venosa. A oferta de alto fluxo de oxigênio deve ser realizada
inadequada.
• Obtenha capnografia contínua. tanto antes como após a instituição de medidas para o
controle da via aérea. A sonda de aspiração com ponta

A B

C D
n FIGURA 2-3  Remoção do Capacete. A remoção correta do capacete deve ser realizada por duas pessoas. Enquanto uma pessoa realiza o
alinhamento manual da cabeça e do pescoço (A), a outra pessoa “abre” o capacete lateralmente. Em seguida, a segunda pessoa remove o
capacete (B) com cuidado para não ferir o nariz e a região occipital. Uma vez removido o capacete, a primeira pessoa segura a cabeça do doente
(C), enquanto a segunda pessoa realiza a restrição do movimento da coluna (D).
­28 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

rígida é fundamental e deve estar sempre disponível. •• Trauma maxilofacial ou mandibular graves
Doentes com fraturas faciais podem apresentar fraturas •• Abertura limitada da boca
da placa crivosa associadas e a introdução de sondas
•• Obesidade
através do nariz pode resultar na passagem da sonda
para o interior da caixa craniana. •• Variações anatômicas (p.ex., micrognatismo,
prognatismo e pescoço curto)
Doentes usando capacete e que necessitem de
abordagem da via aérea, precisam que sua cabeça e •• Doentes pediátricos
pescoço sejam mantidos em posição neutra durante a Quando tais dificuldades são encontradas, médicos
remoção do capacete. (n FIGURA 2-3; ver também vídeo de mais experientes devem auxiliar.
Retirada do Capacete no aplicativo MyATLS). Este é um O mnemônico LEMOM é uma ferramenta útil para
procedimento para duas pessoas: uma pessoa restringe avaliar o potencial de dificuldade da intubação. (n QUADRO
o movimento da coluna cervical por baixo, enquanto 2-1; ver também Avaliação LEMOM no aplicativo MyATLS).
a segunda pessoa expande os lados do capacete e o LEMOM se mostrou útil na avaliação pré-anestésica e vários
remove por cima. Em seguida, os médicos restabelecem a de seus componentes são particularmente relevantes no
restrição do movimento da coluna cervical e asseguram a trauma (p. ex., lesão da coluna cervical e abertura limitada
imobilização da cabeça e pescoço do doente com um colar da boca). Procure por evidências de via aérea difícil (p.
cervical semirrígido, durante a abordagem da via aérea. ex., boca ou mandíbula pequenas, micrognatismo,
Pode ser necessário usar um cortador de capacete para prognatismo ou trauma facial). Qualquer obstrução
removê-lo enquanto se estabiliza a cabeça e o pescoço óbvia da via aérea apresenta um desafio imediato e a
em doentes com lesão da coluna cervical diagnosticada. restrição do movimento da coluna vertebral cervical é
necessária na maioria dos doentes após traumatismo
antecipando a via aérea difícil contuso, aumentando a dificuldade de se estabelecer uma
via aérea. Confie no julgamento clínico e na experiência
Antes de tentar a intubação, deve-se avaliar a via aérea para determinar se a intubação assistida por drogas deve
do doente para prever a dificuldade do procedimento. ser utilizada imediatamente.
Fatores que indicam possíveis dificuldades nas
manobras da via aérea incluem: esquema de decisão da via aérea
•• Lesão da coluna cervical n  FIGURA 2-4
fornece um esquema para determinar
•• Artrite grave da coluna cervical o fluxo apropriado para o manejo da via aérea. Este

quadro 2-1 avaliação lemon para intubação difícil

L = (Look Externally) Olhe Externamente: Procure por Em doentes em decúbito dorsal, o médico pode estimar
características que são conhecidas por causar intubação a pontuação de Mallampati pedindo ao doente para abrir
ou ventilação difícil (p. ex., boca ou mandíbula pequenas, a boca completamente e sobressair a língua; a luz da
prognatismo ou trauma facial). laringoscopia é direcionada de cima para a hipofaringe para
avaliar a extensão visível.
E = (Evaluate) Avalie a Regra 3-3-2: Para permitir o
alinhamento dos eixos faríngeo, laríngeo e oral e, portanto, O = Obstrução: Qualquer condição que leve à obstrução da via
uma fácil intubação, observe as seguintes relações: aérea tornará a laringoscopia e a ventilação difíceis.

• A distância entre os dentes incisivos deve ser de pelo N = (Neck Mobility) Mobilidade Cervical: Este é um
menos 3 dedos. (3) requisito vital para a intubação bem-sucedida. Em um
• A distância entre o osso hioide e o mento deve ser de pelo doente com lesões não traumáticas, os médicos podem
menos 3 dedos. (3) avaliar facilmente a mobilidade pedindo ao doente para
• A distância entre a proeminência tireoidea e o assoalho da colocar o mento no peito e estender o pescoço olhando
boca deve ser de pelo menos 2 dedos. (2) para o teto. Os doentes que necessitam de restrição do
movimento da coluna vertebral cervical obviamente não
M = Mallampati: Certifique-se de que a hipofaringe apresentam movimento do pescoço e, portanto, são mais
seja adequadamente visualizada. Esse processo é feito difíceis de serem intubados.
tradicionalmente pela classificação de Mallampati.

Continua
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 29

quadro 2-1 avaliação lemon para intubação difícil (continuação)

Class I: soft palate, uvula, Class II: soft palate, Class III: soft palate, Class IV: hard palate
fauces,de
Classificação pillars visible Essa classificação
Mallampati. é usada
uvula, fauces para visualização
visible baseda
ofhipofaringe.
uvula visibleClasse I: palato only
mole,visible
úvula, fauces e
pilares inteiramente visíveis; Classe II: palato mole, úvula e fauces parcialmente visíveis; Classe III: palato mole e base da úvula
visíveis; Classe IV: apenas palato duro visível.

Esteja Preparado

Equipamentos:
Aspirador, O2, cânulas orofaríngeas (Guedel) e nasofaríngeas,
dispositivo bolsa-válvula-máscara, laringoscópio, guia introdutor
de intubação (bougie), dispositivos extraglóticos, kit para
cricotireoidostomia por punção e cirúrgica, tubos endotraqueis
(vários tamanhos), oxímetro de pulso, detector de CO2 e medicamentos.

Restrinja o movimento da coluna cervical!

Pré-oxigene
n FIGURA 2-4  Esquema de Decisão
O2 +/- dispositivo bolsa-válvula-máscara +/-
cânula orofaríngea +/- cânula nasofaríngea de Via Aérea. Os médicos usam
esse algoritmo para determinar o
Consegue oxigenar? NÃO Via Aérea Definitiva/Cirúrgica fluxo apropriado para o manejo da
via aérea do doente traumatizado.
SIM Muitos centros desenvolveram outros
algoritmos detalhados. Certifique-se
de revisar e aprender o padrão usado
Avalie a anatomia da via aérea
Antecipe a dificuldade da intubação
DIFÍCIL pelas equipes em seu sistema de
trauma.
FÁCIL

Intubação +/- Intubação assistida por drogas


Peça ajuda, se possível
Pressão cricoide

INSUCESSO

Considere outras medidas Considere a


(p. ex., GEB, ML, TL) intubação acordado

Via Aérea Definitiva/Cirúrgica


­30 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

algoritmo aplica-se apenas a doentes com insuficiência


respiratória aguda ou com apneia, necessitando de
uma via aérea imediata e com potencial para lesão de
coluna cervical baseado no mecanismo de trauma ou
nos achados do exame físico. (Ver também Esquema
de Decisão de Via Aérea no aplicativo MyATLS.)
A primeira prioridade do manejo da via aérea é
garantir a oxigenação contínua, enquanto restringe-se o
movimento da coluna cervical. Os médicos realizam esta
tarefa inicialmente por posicionamento (isto é, manobra
de elevação do mento ou mandíbula) e por técnicas
preliminares da via aérea (isto é, cânula naso ou oro
faríngea). Um membro da equipe, então, passa um tubo
endotraqueal, enquanto uma segunda pessoa restringe
manualmente o movimento da coluna cervical. Se um
tubo endotraqueal não puder ser inserido e o estado n FIGURA 2-5  Manobra de Elevação do Mento para Estabelecer uma
respiratório do doente estiver em risco, os médicos Via Aérea. Os profissionais devem evitar hiperextender o pescoço ao
podem tentar a ventilação via bolsa-válvula-máscara ou usar esta manobra.
outro dispositivo extraglótico como uma ponte para a via
aérea definitiva. Se esta medida falhar, deve-se realizar dispositivo bolsa-vávula-máscara, essa manobra pode
a cricotireoideostomia. Esses métodos são descritos em resultar em uma boa vedação e ventilação adequada.
detalhes nas seções a seguir. (Ver também Esquema de Como na manobra de elevação do mento, tenha cuidado
Decisão de Via Aérea no aplicativo MyATLS.) para não estender o pescoço do doente.

técnicas de manutenção da via aérea Cânula Nasofaríngea

Em doentes com rebaixamento do nível de consciência, A cânula nasofaríngea é inserida em uma narina e
a base da língua pode cair e obstruir a hipofaringe. Essa passada suavemente para a orofaringe posterior. Deve
forma de obstrução pode ser prontamente corrigida pelas estar bem lubrificada e ser inserida na narina que parece
manobras de elevação do mento e tração da mandíbula. estar desobstruída. Se houver resistência durante a
A manutenção da permeabilidade da via aérea pode inserção da cânula por possível obstrução, pare e
ser alcançada com uma cânula oro ou nasofaríngea. tente na outra narina. Este procedimento não deve
Manobras empregadas para permeabilizar a via aérea ser realizado em doentes com suspeita ou potencial
podem causar ou agravar lesões cervicais, portanto, fratura da placa cribiforme. (Ver Apêndice G: Estação
a imobilização da coluna é fundamental durante a Prática A: Via Aérea e vídeo de Inserção de Via Aérea
execução desses procedimentos. Nasofaríngea no aplicativo My ATLS.)

Elevação do Mento

Na manobra de elevação do mento (chin-lift), os dedos de


uma mão são colocados sob a mandíbula, que é elevada
cuidadosamente para deslocar o mento em direção
anterior. O polegar da mesma mão afasta levemente
o lábio inferior, para abrir a boca. (n FIGURA 2-5). O
polegar pode também ser colocado posteriormente
aos incisivos inferiores e, simultaneamente, o mento
é delicadamente elevado. Essa manobra não deve
provocar a hiperextensão do pescoço.

Tração da Mandíbula

Para realizar a manobra de tração da mandíbula (jaw


thrust), segure os ângulos das mandíbulas com uma
das mãos em cada lado e desloque-a para frente (n n FIGURA 2-6  Manobra de Tração da Mandíbula para Estabelecer
FIGURA 2-6). Quando usada com a máscara facial de um Advanced
uma Via rauma
T
Aérea.Life
EviteSupport for
estender Doctors do doente.
o pescoço Approved Changes needed Date
Student Course Manual, 9e
American College of geons
Sur
Figur
e# 02.05 KB
Dragonfly Mediaoup
Gr
09/19/2011
WC

NP
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 31

Cânula Orofaríngea intubação. (Ver Apêndice G: Estação Prática A: Via


Aérea.)
A cânula orofaríngea é inserida na boca, por trás da
língua. A técnica preferida é inserir a cânula orofaríngea Dispositivo Extraglóticos e Supraglóticos
com a parte curva voltada para cima até tocar o palato
mole. Nesse ponto, deve-se girar o dispositivo 180 graus Os seguintes dispositivos extraglóticos, ou supraglóticos,
para que a curvatura fique voltada para baixo e deslizá- são úteis no manejo de doentes que requerem uma
la até que se encaixe sobre a língua. (n  FIGURA 2-7; ver via aérea avançada, mas a tentativa de intubação foi
também vídeo de Inserção da Cânula Orofaríngea no malsucedida ou naqueles em que se sabe que dificilmente
aplicativo MyATLS). a intubação será bem-sucedida. Esses dispositivos
Não use este método em crianças porque a rotação da incluem a máscara laríngea (ML), a máscara laríngea para
cânula pode provocar lesão na boca e na faringe. Ao invés intubação (MLI), o tubo laríngeo (TL), o tubo laríngeo
disso, use um abaixador de língua para pressionar a língua para intubação (TLI), e o tubo esofágico multilúmen.
e, em seguida, inserir a cânula com a concavidade para
baixo, tomando-se o cuidado para não empurrar a língua Máscara Laríngea e ML para Intubação
para trás e causar a obstrução da via aérea.
Ambas as técnicas podem induzir engasgos, vômitos A máscara laríngea e a máscara laríngea para intubação
e aspirações; portanto, use-os com cuidado em têm se mostrado eficazes no tratamento de doentes
doentes conscientes. Doentes que toleram uma cânula com via aérea difícil, particularmente se as tentativas
orofaríngea são altamente propensos a necessitar de de intubação endotraqueal ou ventilação com bolsa-
válvula-máscara falharem. Um exemplo de ML aparece
em (n FIGURA 2-8). Observe que a ML não fornece uma via
aérea definitiva e a colocação correta deste dispositivo
é difícil sem treinamento apropriado.
A IML é um aprimoramento do dispositivo que permite
a intubação através da ML (ver vídeo da Máscara Laríngea
no Aplicativo MyATLS). Quando um doente chega no
Departamento de Emergência com ML ou IML, os
médicos devem planejar uma via aérea definitiva.
Outros dispositivos que não necessitam insuflação do
balonete, como o dispositivo de via aérea supraglótica
i-gel®, podem ser usados no lugar de uma ML, se
disponível (n FIGURA 2-9).

Tubo Laríngeo e TL para Intubação


A
O tubo laríngeo é um dispositivo de via aérea
extraglótico com capacidade similar à máscara laríngea

B
n FIGURA 2-7  Técnica Alternativa para Inserção da Cânula
Orofaríngea.
Advanced rauma
T A. Nesta
Life técnica,
Support a cânulaAppr
for Doctors orofaríngea
oved é inserida
Changes needed com Date
aStudent
curvatura
Coursevoltada
Manual,para
9e cima até que se atinja o palato mole. B. O
American College of geons
Sur KB
dispositivo
Figur
e# 02.06ABé então girado 180 graus, deslizando-o sobre a língua.
Não use esta
Dragonfly técnica
Media
oupGr em crianças. Nota:
WC O movimento da coluna cervical
09/19/2011
deve ser restrito, no entanto, o procedimento de restrição do movimento
da coluna não está sendo demonstrado NP na figura para enfatizar a técnica

de inserção da cânula orofaríngea. n FIGURA 2-8  Exemplo de uma máscara laríngea.


­32 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

n FIGURA 2-9  Dispositivo supraglótico i-gel®. A ponta do n FIGURA 2-11  Exemplo de um tubo esofágico multilúmen.
dispositivo deve estar localizada na abertura superior do esôfago. O
manguito deve estar localizado na “armação” laríngea e os incisivos com um balão e a outra via é usada para ventilar. Um
devem estar apoiados integralmente no bloco de mordida.
detector de CO2 fornecerá evidências de ventilação
da via aérea. O tubo esofágico multilúmen deve ser
removido e/ou uma via aérea definitiva providenciada
após avaliação apropriada. O CO2 ao final da expiração
deve ser monitorado pois fornece dados úteis sobre
ventilação e perfusão.

via aérea definitiva


Lembre-se que uma via aérea definitiva requer um tubo
colocado na traqueia com o balonete posicionado abaixo
das cordas vocais, e conectado a um dispositivo de
ventilação assistida enriquecido com oxigênio. Existem
três tipos de via aérea definitiva: tubo orotraqueal, tubo
nasotraqueal e via aérea cirúrgica (cricotireoidostomia
e traqueostomia). Os critérios para o estabelecimento
n FIGURA 2-10  Exemplo de um tubo laríngeo. de uma via aérea definitiva são baseados em achados
clínicos e incluem:
no que tange à ventilação do doente (n FIGURA 2-10). O TLI
é uma evolução do TL que permite a intubação através •• A —Impossibilidade de manter a via
do dispositivo. O TL não é uma via aérea definitiva e, aérea permeável de outra forma, com
portanto, é necessário planejar sua substituição por uma comprometimento iminente ou potencial da
via aérea definitiva. Assim como a máscara laríngea, mesma (p. ex., lesões por inalação, fraturas faciais
o tubo laríngeo é colocado sem visualização direta da ou hematomas retrofaríngeos)
glote e não demanda manipulação significativa da •• B —Incapacidade de manter a oxigenação
cabeça e do pescoço do doente para sua inserção. adequada pela suplementação de oxigênio por
máscara facial ou presença de apneia
Tubo Esofágico Multilúmen
•• C —Obnubilação ou combatividade resultantes
Alguns profissionais do pré-hospitalar usam o tubo de hipoperfusão cerebral
esofágico multillumen para fornecer oxigenação e •• D —Obnubilação indicando a presença de
ventilação quando uma via aérea definitiva não é trauma craniencefálico com necessidade
possível (n  FIGURA 2-11). Um dos lumens se comunica de ventilação assistida (Escala de Coma de
com o esôfago e o outro, com a via aérea. Profissionais Glasgow [GCS] de 8 ou menos), atividade
que usam este dispositivo são treinados para observar convulsiva sustentada e a necessidade de
qual lúmen está posicionado no esôfago e qual fornece proteger a via aérea inferior de aspiração de
ar para a traqueia. A via esofágica é, então, ocluída sangue ou vômito.
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 33

n TABELA 2-1 descreve as indicações para uma via aérea pode ser obtida. Entretanto, uma radiografia de perfil
definitiva. de coluna cervical normal não exclui a possibilidade de
A urgência da condição do doente e as indicações para lesão da coluna cervical.
intervenção na via aérea determinam o caminho e o A intubação orotraqueal é a via preferida para
método apropriados a serem utilizados. A ventilação proteger a via aérea. Em algumas situações específicas
assistida contínua é facilitada pelo uso de sedação e dependendo da experiência do médico, a intubação
suplementar, analgésicos ou relaxantes musculares, nasotraqueal pode ser uma alternativa para doentes com
conforme indicação. A avaliação do quadro clínico respiração espontânea. Ambas as técnicas são seguras e
do doente e o uso do oxímetro de pulso podem ser eficazes quando realizadas adequadamente, embora a
úteis para determinar a necessidade de uma via aérea via orotraqueal seja mais comumente utilizada e resulte
definitiva, a urgência desse procedimento e inferir em menos complicações na unidade de terapia intensiva
a eficácia da via aérea instalada. A possibilidade de (UTI) (p. ex., sinusite e necrose por pressão). Se o doente
haver lesão concomitante da coluna cervical é uma apresenta apneia, está indicada a intubação orotraqueal.
das grandes preocupações na avaliação do doente que Fraturas de face, seio frontal, base de crânio e placa
necessita de intervenção sobre a via aérea. cribiforme são contraindicações relativas à intubação
nasotraqueal. Evidência de fratura nasal, olhos de
Intubação Endotraqueal guaxinim (equimose periorbitária bilateral), sinal de
Battle (equimose retroauricular) e possíveis fístulas
Embora seja importante estabelecer a presença ou liquóricas (rinorreia ou otorreia) são sinais dessas lesões.
ausência de uma fratura da coluna vertebral, não obtenha Assim como na intubação orotraqueal, tome precauções
estudos radiológicos, como tomografia computadorizada para restringir o movimento da coluna cervical.
ou radiografias da coluna vertebral, até estabelecer uma Se os médicos decidirem realizar a intubação
via aérea definitiva quando necessário. Doentes com orotraqueal, recomenda-se a técnica de três pessoas
escore na GCS de 8 ou menos, requerem intubação com restrição do movimento da coluna cervical (ver
imediata. Se não houver necessidade imediata de vídeo de Via Aérea Avançada no aplicativo MyATLS).
intubação, a avaliação radiológica da coluna cervical A pressão na cricoide durante a intubação endotraqueal
pode reduzir o risco de aspiração, embora também possa
tabela 2-1 indicações para reduzir a visão da laringe. A manipulação laríngea pela
via aérea definitiva pressão para trás, para cima e para a direita (BURP) na
cartilagem tireoide pode ajudar a visualizar as cordas
NECESSIDADE DE NECESSIDADE DE VENTILA- vocais. Quando a adição de pressão cricoide comprometer
PROTEÇÃO DA VIA AÉREA ÇÃO OU OXIGENAÇÃO a visão da laringe, essa manobra deve ser descontinuada
ou reajustada. Mãos adicionais são necessárias para
Fraturas maxilofaciais Esforço respiratório administrar drogas e realizar a manobra de BURP.
graves inadequado Ao longo dos anos, dispositivos alternativos de
• Risco de aspiração de • Taquipneia
sangue e/ou vômitos • Hipóxia
intubação foram desenvolvidos para integrar técnicas
• Hipercarbia de vídeo e imagem óptica. Doentes traumatizados
• Cianose podem se beneficiar de seu uso por profissionais
• Combatividade experientes em circunstâncias específicas. É obrigatória
a avaliação cuidadosa da situação, a disponibilidade de
Trauma cervical equipamento e pessoal, e a existência de planos de resgate.
• Hematoma cervical • Mudança progressiva n  FIGURA 2-12 ilustra a intubação através da máscara
• Lesões de laringe ou • Uso da musculatura
traqueia acessória
laríngea de intubação. Uma vez que a máscara é
• Lesão por inalação e • Paralisia dos músculos da introduzida, um tubo endotraqueal é inserido,
queimaduras de face respiração permitindo uma técnica de intubação às cegas.
• Estridor • Respiração abdominal O introdutor de tubo traqueal Eschmann (ITTE),
• Alteração da voz também conhecido como bougie elástico (GEB), pode
ser usado quando a pessoa encontra uma via aérea
problemática (n FIGURA 2-13). Os médicos usam o GEB
Trauma craniencefálico • Deterioração neurológica quando as cordas vocais de um doente não podem ser
• Inconciência ou herniação visualizadas por laringoscopia direta. De fato, o uso
• Combatividade • Apneia por perda de
consciência ou paralisia
do GEB permitiu a intubação rápida de quase 80% dos
neuromuscular doentes pré-hospitalares nos quais a laringoscopia
direta era difícil.
­34 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

B
n FIGURA 2-12  Intubação através de uma máscara laríngea para
intubação. A. Uma vez que a máscara laríngea é introduzida, B. um
tubo endotraqueal é inserido, permitindo assim uma técnica de
intubação às “cegas”.
C
n FIGURA 2-14  Inserção de um GEB para ajudar em intubações. A. O
GEB é lubrificado e colocado na parte de trás da epiglote com a ponta
inclinada em direção à frente do pescoço. B. Deslize-o sob a epiglote
e manobre-o às cegas para dentro da traqueia. C. A colocação do GEB
na traqueia pode ser detectada pelos “cliques” à medida que a sua
ponta passa pelos anéis cartilaginosos da traqueia.

cordas vocais. Se o tubo endotraqueal ficar retido nas


aritenoides ou nas pregas epiglóticas, retraia o tubo
ligeiramente e gire-o 90 graus no sentido anti-horário
para facilitar o avanço além da obstrução. Em seguida,
retire o GEB e confirme a posição do tubo auscultando
o murmúrio vesicular e a capnografia.
n FIGURA 2-13  Introdutor de Tubo Traqueal Eschmann (ITTE). Este
Após a laringoscopia direta e inserção de um tubo
dispositivo também é conhecido como bougie elástico (GEB) orotraqueal, insufle o balonete e institua a ventilação
assistida. A colocação correta do tubo é sugerida,
Com o laringoscópio posicionado, passe o GEB às cegas mas não confirmada auscultando-se os murmúrios
para além da epiglote, com a ponta inclinada posicionada vesiculares bilateralmente simétricos e sem detectar
anteriormente (ver vídeo do Bougie Elástico no aplicativo qualquer borborígmo (ou seja, ruídos surdos ou
MyATLS.) Confirme a posição traqueal ao sentir cliques gorgolejantes) no epigástrio. A presença de borborigmo
quando a ponta distal desliza ao longo dos anéis traqueais no epigástrio com inspiração sugere intubação esofágica
cartilaginosos (presente em 65% a 90% das utilizações e indica a remoção do tubo.
de GEB); um GEB inserido no esôfago passará por todo Um detector de dióxido de carbono (idealmente
o seu comprimento sem resistência (n FIGURA 2-14). um capnógrafo ou um dispositivo colorimétrico
Depois de confirmar a posição do GEB, passe um de monitoramento de CO2) é indicado para ajudar
tubo endotraqueal lubrificado sobre o bougie, além das a confirmar a adequada intubação da via aérea. A
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 35

presença de CO2 no ar exalado indica que a via aérea 1. Tenha um plano que inclua a possibilidade de
foi obtida com sucesso, mas não garante a posição realizar uma via aérea cirúrgica em caso de falha
correta do tubo endotraqueal dentro da traqueia (p. ex., do procedimento. Saiba onde seu equipamento
de via aérea de resgate está localizado.
a intubação do tronco principal ainda é possível). Se
o CO2 não for detectado, ocorreu intubação esofágica. 2. Certifique-se de que o aspirador e a pressão
O correto posicionamento do tubo dentro da traqueia positiva sejam funcionantes.
é melhor confirmado pela radiografia de tórax, uma 3. Preoxigene o doente com oxigênio a 100%.
vez excluída a possibilidade de intubação esofágica. Os 4. Aplique pressão sobre a cartilagem cricoide.
indicadores colorimétricos de CO2 não são úteis para
monitoramento fisiológico ou avaliação da adequação 5. Administre uma droga indutora (p. ex.,
etomidato, 0,3 mg/kg) ou sedativo, de acordo com
da ventilação, o que requer análise de gasometria arterial
o protocolo local.
ou análise contínua de dióxido de carbono expirado.
Depois de determinar a posição correta do tubo, 6. Administre 1 a 2 mg/kg de succinilcolina
fixe-o. Se o doente for movimentado, reavalie o intravenosa (a dose habitual é de 100 mg).
posicionamento do tubo por meio de ausculta pulmonar Depois que o doente relaxar:
bilateral para a presença de murmúrios vesiculares
simétricos e reavalie o CO2 exalado. 7. Intube o doente por via orotraqueal.
Se a intubação orotraqueal não for bem-sucedida na 8. Insufle o balonete e confirme o correto
primeira tentativa, ou se a fenda glótica for difícil de posicionamento do tubo auscultando o tórax do
ser visualizada, use um GEB e inicie os preparativos doente e determinando a presença de CO2 no ar
para a abordagem da via aérea difícil. exalado.
9. Libere a pressão cricoide.
armadilha prevenção 10. Ventile o doente
O etomidato não afeta negativamente a pressão
Inabilidade para • Utilize dispositivos de resgate
intubar. para a via aérea. sanguínea ou a pressão intracraniana, mas pode
• Realize uma cricotireoideostomia diminuir a função adrenal e não está universalmente
por punção seguida de via aérea disponível. Esta droga fornece sedação adequada, o
cirúrgica. que é vantajoso para esses doentes. Use etomidato e
• Estabeleça uma via aérea cirúrgica.
outros sedativos com bastante cuidado para evitar a
perda da via aérea à medida que o doente for sedado.
Falha no • Cheque frequentemente o
Em seguida, administre succinilcolina, que é uma droga
equipamento. equipamento.
• Assegure-se de que o de curta duração. Tem um início rápido (< 1 minuto) e
equipamento esteja disponível. duração de 5 minutos ou menos.
A complicação mais perigosa do uso de sedativos
e agentes bloqueadores neuromusculares é a
Intubação Assistida por Drogas (IAD) incapacidade de estabelecer uma via aérea. Se a
intubação endotraqueal não for bem-sucedida, o
Em alguns casos, a intubação é possível e é segura sem doente deve ser ventilado com um dispositivo de
o uso de drogas. O uso de medicamentos anestésicos, bolsa-válvula-máscara até que a paralisia se resolva;
sedativos e bloqueadores neuromusculares para intubação por esse motivo, drogas de ação prolongada não são
endotraqueal em doentes traumatizados é potencialmente rotineiramente usadas na IAD. Devido ao potencial
perigoso. Todavia, ocasionalmente, a necessidade de de hipercalemia grave, a succinilcolina deve ser usada
uma via aérea justifica o risco de se administrar esses com cautela em doentes com lesões por esmagamento
medicamentos; por isso, é importante conhecer sua graves, grandes queimaduras e lesões elétricas. Extrema
farmacologia, ter habilidade nas técnicas de intubação cautela é justificada em doentes com insuficiência
endotraqueal e ser capaz de garantir uma via aérea renal crônica preexistente, paralisia crônica e doença
cirúrgica, se necessário. A intubação assistida por drogas neuromuscular crônica.
é indicada em doentes que precisam de controle da via Agentes indutores, como tiopental e sedativos, são
aérea, mas têm reflexo do vômito intacto, especialmente potencialmente perigosos em doentes traumatizados
aqueles que sofreram trauma craniencefálico. com hipovolemia. Padrões de prática, preferências
por determinados medicamentos e procedimentos
A técnica para intubação assistida por drogas é a seguinte: específicos para o manejo da via aérea variam entre as
instituições. O princípio crítico é que o indivíduo que
usa essas técnicas deve conhecer os protocolos usados
­36 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

em sua instituição, precisa ser criterioso e habilidoso e a 15 L/min (40 a 50 psi) por meio de uma conexão em
ser capaz de detectar e tratar as possíveis complicações. Y ou por meio de um tubo que apresente um orifício
cortado na lateral. A insuflação intermitente, um
Via Aérea Cirúrgica segundo sim e quatro segundos não, é realizada com o
posicionamento do polegar sobre a extremidade aberta
A impossibilidade de intubação da traqueia é uma do conector em Y ou sobre o orifício lateral. (Ver vídeo
indicação clara para o uso do plano alternativo de da Cricotireoidostomia no aplicativo MyATLS.)
abordagem da via aérea que inclui a máscara laríngea, o O doente traumatizado pode ser oxigenado
tubo laríngeo e a via aérea cirúrgica. A via aérea cirúrgica adequadamente por 30 a 45 minutos usando-se essa
(p. ex., cricotireoidostomia ou traqueostomia) está técnica. Durante os quatro segundos em que o oxigênio
indicada quando há presença de edema de glote, fratura não é ofertado sob pressão, ocorre alguma expiração.
de laringe, hemorragia orofaríngea grave que obstrua a Como essa expiração não é adequada, existe um
via aérea, ou quando o tubo endotraqueal não puder ser acúmulo lento e gradativo de dióxido de carbono, o que
posicionado entre as cordas vocais. A cricotireoidostomia limita o uso desta técnica, especialmente em doentes
cirúrgica é preferível à traqueostomia para a maioria dos com traumatismo craniencefálico.
doentes que necessitam de uma via aérea cirúrgica, Use a oxigenação percutânea transtraqueal com cautela
porque ela é mais fácil de ser realizada, apresenta menor quando há suspeita de obstrução completa da área da glote
sangramento associado e requer um tempo menor para por corpo estranho. A insuflação a jato pode provocar
sua execução do que uma traqueostomia de emergência. barotrauma importante, incluindo ruptura pulmonar
com pneumotórax hipertensivo. Portanto, deve-se prestar
Cricotireoidostomia por Punção muita atenção ao fluxo de entrada e saída de ar.

Cricotireoidostomia por punção envolve a inserção de Cricotireoidostomia Cirúrgica


um cateter sobre agulha pela membrana cricotireoidea
em situações emergenciais para fornecer oxigênio ao A cricotireoidostomia cirúrgica é realizada por meio de uma
doente em um curto espaço de tempo, até que a via aérea incisão na pele que se estende pela membrana cricotireoidea
definitiva possa ser realizada. Com a cricotireoidostomia (n FIGURA 2-16). Uma pinça hemostática curva pode ser
por punção oferta-se oxigênio suplementar de forma utilizada para dilatar a abertura, e um tubo endotraqueal
temporária e a intubação endotraqueal passa a ser ou um tubo de traqueostomia de pequeno calibre (de
necessária de forma urgente e não mais emergente. preferência de 5 a 7 mm de diâmetro) pode ser inserido.
A técnica de oxigenação percutânea transtraqueal é Deve-se tomar cuidado, especialmente em crianças, para
realizada por meio da inserção de um cateter plástico de evitar a lesão da cartilagem cricoide, que é o único suporte
grosso calibre – 12 a 14 gauge para adultos, e 16 a 18 gauge para circunferencial para a parte superior da traqueia. Portanto,
crianças – através da membrana cricotireoidea e em direção a cricotireoidostomia cirúrgica não é recomendada para
à traqueia, abaixo do nível da obstrução (n  FIGURA 2-15). crianças com idade inferior a 12 anos. (Ver Capítulo 10:
O cateter é, então, conectado a uma fonte de oxigênio Trauma Pediátrico.) Quando um tubo endotraqueal é
usado, ele deve ser fixado adequadamente para evitar
o mau posicionamento, como o deslizamento para os
brônquios ou o completo deslocamento do tubo.
Nos últimos anos, a traqueostomia percutânea tem sido
proposta como uma alternativa à traqueostomia aberta. Esse
procedimento não é recomendado durante o atendimento
inicial do traumatizado pois o pescoço do doente deve ser
hiperextendido para o adequado posicionamento da cabeça
durante a execução desse procedimento com segurança.

controle de oxigenação
A melhor maneira de se ofertar ar oxigenado é através de
n FIGURA 2-15  Cricotireoidostomia por Punção. Este procedimento é
uma máscara facial com reservatório de oxigênio bem
realizado colocando-se um cateter sobre uma agulha ou sobre um fio ajustada, com uma taxa de fluxo de pelo menos 10 L/min.
usando a técnica de Seldinger. Nota: O movimento da coluna cervical deve ser Outros métodos (p. ex., cateter nasal, cânula nasal, e máscara
restrito, no entanto, o procedimento de restrição do movimento da coluna não está não reinalante) podem melhorar a concentração de oxigênio
sendo demonstrado na figura para enfatizar a técnica de inserção da via aérea. inspirado.
CONTROLE DE OXIGENAÇÃO 37

Proeminência da
cartilagem tireoide
Cartilagem tireoide
Entalhe Membrana cricotireoidea

Cartilagem cricoide

Traqueia

B C D
n FIGURA 2-16  Cricotireoidostomia Cirúrgica. A. Palpe a proeminência da cartilagem tireoidea, o espaço entre a cartilagem tireoide e a
cricoide e a fúrcula esternal para orientação. B. Faça uma incisão na pele sobre a membrana cricotireoidea e cuidadosamente incise a membrana
transversalmente. C. Insira uma pinça hemostática ou de bisturi na incisão e gire-a 90 graus para abrir a via aérea. D. Insira um tubo endotraqueal
ou um tubo de traqueostomia de tamanho adequado na incisão da membrana cricotireoidea, direcionando o tubo distalmente para dentro da
traqueia.
­38 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

Como as alterações da oxigenação ocorrem pessoas, sempre que possível. (Ver vídeo de Ventilação
rapidamente e não podem ser detectadas clinicamente, Bolsa-Válvula-Máscara no aplicativo MyATLS.)
deve-se utilizar sempre a oximetria de pulso. É A intubação do doente com hipoventilação e/ou
inestimável quando são previstas dificuldades na em apneia pode não ser bem-sucedida inicialmente,
intubação ou na ventilação, inclusive durante o e demandar múltiplas tentativas. O doente deve
transporte de doentes gravemente traumatizados. ser ventilado periodicamente durante tentativas
A oximetria de pulso é um método não invasivo de prolongadas de intubação. Todos os esforços devem ser
medida contínua da saturação de oxigênio do sangue feitos para otimizar as condições de intubação e assegurar
arterial. Não se trata de medida da pressão parcial de o sucesso do procedimento na primeira tentativa.
oxigênio (PaO2) e, dependendo da posição da curva de Realizada a intubação traqueal, inicia-se ventilação
dissociação da oxihemoglobina, a PaO2 pode variar assistida com pressão positiva. Dependendo da
amplamente (n TABELA 2-2). Entretanto, uma saturação disponibilidade de equipamento, pode ser empregado
maior ou igual a 95%, medida pela oximetria de pulso, um respirador a volume ou a pressão. O médico
é forte evidência que corrobora para uma oxigenação deve permanecer alerta para possíveis complicações
arterial periférica adequada (PaO2 > 70 mm Hg ou 9,3 KPa). secundárias a alterações da pressão intratorácica, que
A oximetria de pulso requer perfusão periférica intacta podem transformar um pneumotórax simples em
e não permite fazer a distinção entre oxihemoglobina, um pneumotórax hipertensivo ou, ainda, causar um
carboxihemoglobina ou metahemoglobina, o que limita pneumotórax secundário ao barotrauma.
sua aplicabilidade no doente com vasoconstrição intensa Mantenha a oxigenação e a ventilação antes, durante e
e no doente com intoxicação por monóxido de carbono. A imediatamente após a obtenção da via aérea definitiva.
anemia profunda (hemoglobina < 5 g/dL), e a hipotermia Evite períodos prolongados ou ausentes de oxigenação
(< 30 oC ou 86 oF) reduzem a confiabilidade do método. e ventilação.
Entretanto, na maioria dos doentes traumatizados, a
oximetria de pulso é útil como uma monitoração contínua
da saturação de oxigênio e oferece uma avaliação imediata armadilhas prevenção
das intervenções terapêuticas.
Má vedação da máscara • Cubra o espaço entre as
em um doente bochechas e a gengiva
tabela 2-2 pao2 aproximada versus níveis desdentado. com gaze para melhorar o
de saturação da hemoglobina pelo o2 ajuste da máscara.

níveis de saturação da Perda da via aérea em • Considere a necessidade


níveis de pao2 hemoglobina pelo o2 um centro de menor de transferência
recurso (rural). precoce de doentes que
necessitem de tratamento
90 mm Hg 100% definitivo da via aérea.
• Reavalie com frequência
60 mm Hg 90% doentes em risco de
deterioração.
30 mm Hg 60%
Perda da via aérea • Reavalie com frequência a
durante o transporte. via aérea antes e durante a
27 mm Hg 50%
transferência.
• Discuta a necessidade de
controle da via aérea com
tratamento da ventilação o médico que irá receber o
doente.
• Considere a necessidade de
Assistência ventilatória pode ser necessária antes intubação precoce antes da
da intubação em doentes traumatizados. Ventilação transferência.
efetiva pode ser alcançada por meio da ventilação
com dispositivo bolsa-válvula-máscara. Entretanto,
a ventilação executada por uma única pessoa com
esse dispositivo é menos eficiente do que técnicas de
trabalho em equipe
ventilação executadas por duas pessoas, quando as
duas mãos podem ser empregadas para assegurar bom
•• A maioria dos doentes traumatizados requerem
ajuste da máscara à face. Por isso, a ventilação com
bolsa-válvula-máscara deve ser executada por duas atenção individual no manejo da via aérea.
BIBLIOGRAFIA 39

Durante a instrução da equipe, antes da chegada 4. As técnicas para o estabelecimento e a manutenção


do doente, o líder da equipe deve estabelecer o de uma via aérea patente incluem as manobras de
grau de conhecimento prático do médico que elevação do mento e tração da mandíbula, uso de
irá assumir a via aérea no atendimento. Por cânulas oro ou nasofaríngeas, dispositivos extra
exemplo, alguns médicos em treinamento, e supraglóticos e intubação endotraqueal. Uma
via aérea cirúrgica é indicada sempre que uma via
como residentes juniores, podem não se sentir
aérea é necessária e a intubação é malsucedida.
confortáveis em manejar uma via aérea difícil,
como de um doente que sofreu queimaduras por 5. Em todas as manobras de via aérea, a movimentação
inalação. O líder da equipe deve identificar quem da coluna cervical deve ser restrita quando houver
pode ser necessário para ajudar a equipe e como lesão ou suspeita de lesão.
eles podem ser rapidamente contactados.
•• Se a informação pré-hospitalar sugerir que o 6. A avaliação da permeabilidade da via aérea e da
adequação da ventilação devem ser realizadas de
doente necessitará de uma via aérea definitiva,
forma rápida e precisa. A oximetria de pulso e a
pode ser aconselhável separar os medicamentos
medição de CO2 ao final da expiração são essenciais.
apropriados para sedação e intubação assistida
por drogas antes da chegada do doente. O 7. Uma via aérea definitiva requer um tubo colocado
equipamento para manejo da via aérea difícil na traqueia com o balonete insuflado abaixo
deve estar localizado com fácil acesso à sala de das cordas vocais, conectado a alguma forma de
reanimação. ventilação assistida enriquecida com oxigênio, e
•• O momento para abordagem da via aérea fixado de maneira apropriada. Exemplos de via aérea
definitivas incluem intubação endotraqueal e via
definitiva pode exigir discussão com
aérea cirúrgica (p. ex., cricotiroideostomia cirúrgica).
consultores da equipe de trauma. Por exemplo,
Uma via aérea definitiva deve ser estabelecida se
em doentes com trauma de crânio, que não houver qualquer dúvida sobre a integridade da via
estão em situação crítica, uma discussão entre o aérea do doente. Uma via aérea definitiva deve ser
neurocirurgião e o líder da equipe pode ser útil. estabelecida precocemente após o doente ter sido
•• Os doentes podem necessitar de transferência para ventilado com ar enriquecido com oxigênio, para
a tomografia computadorizada, sala de cirurgia evitar períodos prolongados de apneia.
ou UTI. Portanto, o líder da equipe deve esclarecer
8. A intubação assistida por drogas pode ser necessária
quem será responsável por controlar a via aérea e a
em doentes com reflexo de vômito presente.
ventilação do doente após a intubação.
9. Para manter a oxigenação do doente, a melhor
r e sumo do c a pítulo maneira de se ofertar ar oxigenado é através de uma
máscara facial com reservatório de oxigênio bem
ajustada, com uma taxa de fluxo de pelo menos 10
1. Situações clínicas em que pode haver L/min. Outros métodos (p. ex., cateter nasal, cânula
comprometimento da via aérea incluem nasal, e máscara não reinalante) podem melhorar
traumatismos craniencefálico, maxilofacial, a concentração de oxigênio inspirado.
cervical, laríngeo e obstrução da via aérea por outras
razões. Bibliografia
2. A obstrução real ou iminente da via aérea deve ser
suspeitada em todos os doentes traumatizados. Os 1. Alexander R, Hodgson P, Lomax D, et al. A
sinais objetivos da obstrução da via aérea incluem comparison of the laryngeal mask airway and
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­40 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação

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3 CHOQUE

O passo inicial na abordagem do choque é o reconhecimento da sua presença.Objectives


Capítulo 3 sumário
Objetivos • Coagulopatia
• Reposição de Cálcio
Introdução
considerações especiais
fisiopatologia do choque • Equiparação da Pressão Arterial ao Débito Cardíaco
• Fisiologia Cardíaca Básica • Idade Avançada
• Fisiopatologia da Perda Sanguínea • Atletas
• Gestação
avaliação inicial do doente • Medicamentos
• Reconhecimento do Choque • Hipotermia
• Diferenciação Clinica das Causas do Choque • Presença de Marcapasso ou de Cardioversor
Desfibrilador Implantável
choque hemorrágico
• Definição de Hemorragia Reavaliação da resposta do doente e
• Classificação Fisiológica prevenção de complicações
• Fatores de Confusão • Hemorragia Contínua
• Alterações Hidroeletrolíticas Secundárias • Monitoração
à Lesão de Partes Moles • Reconhecimento de Outros Problemas

abordagem inicial do choque hemorrágico Trabalho em equipe


• Exame Físico
• Acesso Vascular resumo do capítulo
• Reposição Volêmica Inicial
recursos adicionais
reposição de sangue
• Sangue com Provas Cruzadas, Tipo Específico e Bibliografia
Tipo O
• Prevenção da Hipotermia
• Autotransfusão
• Transfusão Maciça

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 5. Descrever a abordagem inicial adequada do choque
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: hemorrágico nos doentes traumatizados.

1. Definir choque. 6. Descrever os fundamentos para a contínua avaliação


da reanimação volêmica, da perfusão orgânica e da
2. D
escrever as causas prováveis de choque nos doentes oxigenação tecidual nos doentes traumatizados.
traumatizados.
7. E
xplicar o papel da transfusão sanguínea no
3. D
escrever os sinais clínicos de choque e relacioná- tratamento do choque.
los ao grau de perda sanguínea.
8. Descrever as considerações especiais no diagnóstico
4. E
xplicar a importância da identificação rápida e e no tratamento do choque, relacionadas a idade
do controle precoce da fonte de hemorragia nos avançada, atletismo, gestação, medicamentos,
doentes traumatizados. hipotermia e presença de marcapasso ou de
cardioverssores desfibriladores implantáveis.

43
­44 CAPÍTULO 3 n Choque

O
passo inicial na abordagem do choque em associadas. O choque séptico é infrequente, entretanto
um doente traumatizado é reconhecer a sua deve ser considerado nos doentes cuja chegada à sala de
presença. Uma vez identificado o choque, inicie emergência tenha sido postergada por muitas horas. Nos
o tratamento baseado na provável causa. A definição doentes idosos, a razão subjacente ou a causa precipitante
de choque – uma anormalidade do sistema circulatório da lesão traumática pode ser uma infecção não reconhecida,
que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual mais comumente uma infecção do trato urinário.
inadequadas – também guia a equipe de trauma para A responsabilidade do médico no atendimento do
seu diagnóstico e tratamento. O diagnóstico do choque doente se inicia com o reconhecimento da presença do
no doente traumatizado é baseado em uma síntese de choque. Inicie o tratamento imediatamente e identifique
achados clínicos e exames laboratoriais. Nenhum sinal a sua causa provável. A resposta do doente ao tratamento
vital ou teste laboratorial isolado é capaz de diagnosticar inicial, associada aos achados das avaliações primária
o choque de forma definitiva. e secundária, habitualmente fornece informações
O segundo passo na abordagem do choque é identificar a suficientes para determinar a causa do choque. A
sua provável causa e ajustar o tratamento adequadamente. hemorragia é a causa mais comum de choque nos
Nos doentes traumatizados, esse processo está relacionado doentes traumatizados.
ao mecanismo de trauma. Em sua maioria, os traumatizados
em choque apresentam hipovolemia. Podem, entretanto,
apresentar também choque cardiogênico, obstrutivo,
FISIOPATOLOGIA DO CHOQUE
neurogênico e/ou, raramente, séptico. Como exemplo, o
pneumotórax hipertensivo pode reduzir o retorno venoso Uma visão geral da fisiologia cardíaca e da fisiopatologia
e produzir choque obstrutivo. O tamponamento cardíaco da perda sanguínea é essencial para a compreensão do
também produz choque obstrutivo, pois a presença de estado de choque.
sangue no interior do saco pericárdico inibe a contratilidade
miocárdica e o débito cardíaco. Esses diagnósticos devem fisiologia cardíaca básica
ser considerados pelos membros da equipe de trauma
principalmente nos doentes com potenciais lesões acima do O débito cardíaco é definido como o volume de sangue
diafragma. O choque neurogênico resulta de lesão extensa bombeado pelo coração a cada minuto. Esse valor é
da medula cervical ou torácica alta, causado pela perda determinado através da multiplicação da frequência
do tônus simpático e pela vasodilatação subsequente. O cardíaca pelo volume sistólico (a quantidade de sangue
choque não resulta de trauma de crânio isolado, a menos ejetado a cada contração cardíaca). O volume sistólico
que o tronco cerebral esteja envolvido, apresentando, neste é classicamente determinado pela pré-carga, pela
caso, prognóstico reservado. As vítimas de lesão medular contratilidade miocárdica e pela pós-carga (n FIGURA 3-1).
podem apresentar, inicialmente, choque por vasodilatação A pré-carga expressa o volume de retorno venoso para
e hipovolemia, especialmente se houver múltiplas lesões o coração e é determinada pela capacitância venosa,

Frequência
cardíaca Volume sistólico Débito cardíaco
(batimentos (mL/batimento) (L/minuto)
por minuto)

n FIGURA 3-1  O débito cardíaco é


o volume de sangue bombeado pelo
Pré-carga Contratilidade Pós-carga
coração por minuto, determinado
miocárdica
através da multiplicação da frequência
cardíaca pelo volume sistólico
(quantidade de sangue ejetado do
Aorta coração a cada contração miocárdica).
O volume sistólico é classicamente
determinado pela pré-carga, pela
contratilidade miocárdica e pela pós-
carga.

Artérias Sistêmicas

Advanced Traum a Life SupportforDoctors


StudentCourse M anual,9e Approved Changes needed Date
AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE 45

pelo estado da volemia e pela diferença entre a pressão de compensação é limitado. A maneira mais efetiva
venosa sistêmica média e a pressão do átrio direito. A de restaurar o débito cardíaco, a perfusão aos órgãos-
diferença entre estas pressões determina o fluxo venoso. alvo e a oxigenação tecidual, é o restabelecimento do
O sistema venoso pode ser considerado um reservatório retorno venoso ao normal, por meio da identificação e
ou um sistema de capacitância, dentro do qual o volume da interrupção da fonte de sangramento. A reposição
sanguíneo é dividido em dois componentes: volêmica permitirá a recuperação do estado de choque
somente se o sangramento estiver controlado.
1. O primeiro componente representa o volume A nível celular, as células inadequadamente
de sangue que permaneceria no circuito de perfundidas e oxigenadas ficam privadas de substratos
capacitância caso a pressão do sistema fosse igual essenciais para o metabolismo aeróbico normal e para
a zero. Esse componente não contribui para a a produção de energia. Inicialmente, a compensação
pressão venosa sistêmica média. ocorre através da mudança para o metabolismo
2. O segundo componente representa o volume anaeróbico, o que resulta na formação de ácido lático e no
venoso que contribui para a pressão venosa desenvolvimento de acidose metabólica. Caso o choque
sistêmica média. Estima-se que cerca de 70% do seja prolongado, pode resultar em dano subsequente
volume sanguíneo total esteja contido no circuito aos órgãos-alvo e em disfunção de múltiplos órgãos.
venoso. A complacência do sistema venoso
A administração de quantidades apropriadas de soluções
envolve uma relação entre o volume venoso
e a pressão venosa. Esse gradiente de pressão eletrolíticas isotônicas, de sangue e de hemoderivados
movimenta o fluxo venoso e, portanto, o volume ajuda a combater esse processo. O tratamento deve
de retorno venoso ao coração. A perda sanguínea ser focado na reversão do estado de choque através da
espolia esse componente de volume venoso e interrupção do sangramento e da promoção de oxigenação
reduz o gradiente de pressão; consequentemente, adequada, ventilação e apropriada reanimação volêmica.
o retorno venoso é reduzido. Acessos intravenosos devem ser obtidos rapidamente.
O controle definitivo da hemorragia e a restauração
O volume de sangue venoso que retorna para o coração do adequado volume circulante são os objetivos do
determina o comprimento das fibras musculares tratamento do choque hemorrágico. Vasopressores são
miocárdicas após o enchimento ventricular ao final da contraindicados como primeira linha de tratamento do
diástole. De acordo com a lei de Starling, o comprimento choque hemorrágico, pois pioram a perfusão tecidual.
das fibras musculares está relacionado com as propriedades Monitore frequentemente os índices de perfusão do
contráteis do músculo cardíaco. A contratilidade doente, para que qualquer deterioração na sua condição
miocárdica é a bomba que movimenta o sistema. possa ser detectada de forma mais precoce possível,
A pós-carga, também conhecida como resistência tornando-se passível de reversão. A monitoração também
vascular periférica, é sistêmica. Simplificando, a pós- permite a avaliação da resposta do doente ao tratamento.
carga é a resistência ao fluxo do sangue adiante. A reavaliação auxilia os médicos a distinguirem os
doentes em choque compensado daqueles que não
fisiopatologia da perda sanguínea atingem uma resposta compensatória antes que o colapso
circulatório ocorra.
As respostas circulatórias iniciais à perda sanguínea são A maioria dos doentes traumatizados que estão
compensatórias e incluem a progressiva vasoconstrição em choque hemorrágico exige intervenção cirúrgica
das circulações cutânea, muscular e visceral para preservar ou angioembolização precoces para que esse estado
o fluxo sanguíneo para os rins, o coração e o cérebro. A seja revertido. A presença de choque em um doente
resposta habitual à perda aguda de volume circulante vítima de trauma requer o envolvimento imediato de
se dá por meio de um aumento da frequência cardíaca, um cirurgião. Considere providenciar a transferência
na tentativa de preservar o débito cardíaco. Na maioria precoce destes doentes para um centro de trauma quando
das vezes, a taquicardia representa o sinal circulatório estiverem recebendo atendimento inicial em hospitais
mensurável mais precoce do choque. A liberação de despreparados para o tratamento dessas lesões.
catecolaminas endógenas aumenta a resistência vascular
periférica, o que, por sua vez, aumenta a pressão sanguínea AVALIAÇÃO INICIAL DO DOENTE
diastólica e reduz a pressão de pulso. No entanto, esse
aumento da pressão não resulta em aumentos significativos
na perfusão orgânica e na oxigenação tecidual. Idealmente, deve-se reconhecer o estado de choque
Para os doentes nas fases iniciais do choque durante a avaliação inicial. Para tanto, é importante estar
hemorrágico, o retorno venoso é preservado até certo familiarizado com a diferenciação clínica das causas de
limite através do mecanismo compensatório da contração choque – principalmente as causas hemorrágicas e as
do volume sanguíneo no sistema venoso. Esse mecanismo não hemorrágicas.
­46 CAPÍTULO 3 n Choque

Reconhecimento do choque diferenciação clínica das causas de


choque
O profundo choque circulatório, evidenciado pelo
colapso hemodinâmico com inadequada perfusão da No doente traumatizado, o choque pode ser classificado como
pele, dos rins e do sistema nervoso central, é facilmente hemorrágico ou não hemorrágico. Um doente, cujas lesões
reconhecido. Após assegurar ao doente uma via aérea se situam acima do diafragma, pode apresentar evidências
pérvia e uma adequada ventilação, os membros da equipe de perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas,
de trauma devem cuidadosamente avaliar as condições devido a um desempenho cardíaco insuficiente causado
circulatórias do doente para identificar as manifestações por contusão miocárdica, tamponamento cardíaco ou
iniciais do choque, como taquicardia e vasoconstrição pneumotórax hipertensivo, resultando na redução do retorno
periférica. venoso (pré-carga). Para reconhecer e tratar todas as formas de
Confiar exclusivamente na pressão sistólica como choque, o médico deve estar constantemente alerta e observar
indicador de choque pode resultar em reconhecimento cuidadosamente a resposta do doente ao tratamento inicial.
tardio deste estado, pois mecanismos compensatórios A determinação inicial da causa do choque depende
podem prevenir a queda mensurável na pressão sistólica de uma história clínica apropriada e de um minucioso
até que uma perda de 30% da volemia do doente tenha e cuidadoso exame físico. Exames diagnósticos
ocorrido. Avalie cuidadosamente a frequência cardíaca, a complementares, como radiografias de tórax ou de
qualidade do pulso, a frequência respiratória, a perfusão pelve e a avaliação focada para o trauma com o uso de
periférica e a pressão de pulso (diferença entre as ultrassonografia (Focused Assessment with Sonography
pressões sistólica e diastólica). Na maioria dos adultos, for Trauma – FAST), podem confirmar a causa do choque,
a taquicardia e a vasoconstrição cutânea são os sinais entretanto não devem retardar a reanimação apropriada
mais precoces da perda sanguínea. do doente. (Ver vídeo FAST no aplicativo móvel MyATLS.)
Consequentemente, todo doente traumatizado que
se apresentar com a pele fria e taquicárdico deve ser Visão Geral do Choque Hemorrágico
considerado em estado de choque, até prova em contrário.
Ocasionalmente, a perda aguda de volume sanguíneo A hemorragia é a causa mais comum de choque devido
pode estar associada à frequência cardíaca normal ou, ao trauma e virtualmente todo doente politraumatizado
até mesmo, à bradicardia. Nestas circunstâncias, outros tem um componente de hipovolemia. Assim, se sinais de
índices de perfusão devem ser moritorados. choque estiverem presentes, o tratamento é instituído,
A frequência cardíaca normal varia conforme a tipicamente, como se o doente estivesse hipovolêmico.
idade do doente. Considera-se como taquicardia uma Entretanto, enquanto se inicia o tratamento, é importante
frequência superior a 160 batimentos por minuto (bpm) identificar o pequeno número de doentes cuja causa do
no lactente, a 140 bpm nas crianças em idade pré-escolar, choque possui etiologia diversa (exemplo: uma condição
a 120 bpm até a puberdade e acima de 100 bpm no adulto. secundária, como um tamponamento cardíaco, um
Os doentes idosos podem não apresentar taquicardia pneumotórax hipertensivo, um traumatismo raquimedular
devido à sua limitada resposta cardíaca ao estímulo ou uma contusão miocárdica), o que pode complicar a
das catecolaminas ou ao uso de medicamentos, como apresentação do choque hemorrágico.
agentes bloqueadores beta-adrenérgicos. A presença de
marcapasso é outro fator que pode limitar a capacidade
de aumentar a frequência cardíaca. A redução da pressão
de pulso sugere perda sanguínea significativa e ativação
de mecanismos de compensação.
A perda sanguínea maciça pode produzir decréscimos
mínimos nos valores iniciais de hematócrito e na
concentração de hemoglobina. Assim, a presença de um
nível muito baixo de hematócrito, obtido precocemente
após o trauma, sugere uma perda sanguínea significativa
ou uma anemia pré-existente; no entanto, um valor
normal de hematócrito não descarta uma perda
sanguínea significativa. Os valores do déficit de base
e/ou do lactato sérico na gasometria arterial podem
ser úteis para determinar a presença e a gravidade do
choque. Avaliações seriadas desses parâmetros podem
ser utilizadas para monitorar a resposta do doente ao n FIGURA 3-2  Utilizando o ultrassom (FAST) para pesquisar a causa
tratamento instituído. do choque.
AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE 47

A B

C D
n FIGURA 3-3  A avaliação da circulação inclui a determinação rápida da fonte de perda sanguínea. Em adição à perda sanguínea externa, o sangue pode
ser proveniente de quatro outros locais (“no chão e em mais quatro”): A. o tórax; B. o abdome; C. a pelve e o retroperitôneo; e D. ossos longos e partes moles.

Os aspectos específicos do tratamento do choque Choque Cardiogênico


hemorrágico serão discutidos em detalhes na próxima seção A disfunção miocárdica pode ser causada por contusão
deste capítulo, porém o objetivo principal da abordagem cardíaca, tamponamento cardíaco, embolia gasosa, ou,
é identificar esse estado e interromper rapidamente a raramente, por infarto agudo do miocárdio. Deve-se
hemorragia. Fontes potenciais de perda sanguínea – suspeitar de contusão cardíaca quando o mecanismo de
tórax, abdome, pelve, retroperitônio, extremidades e lesão torácica envolve uma rápida desaceleração. Todos os
sangramentos externos – devem ser rapidamente avaliadas doentes que apresentam trauma torácico contuso devem
através de exame físico e de exames complementares. ser continuamente monitorados eletrocardiograficamente
Radiografias de tórax e de pelve, avaliação abdominal para identificar a presença de padrões de lesão ou de
através do FAST ou do lavado peritoneal diagnóstico (LPD) arritmias. (Ver Capítulo 4: Trauma Torácico.) O estado
e sondagem vesical de demora podem ser necessários para de choque pode ser secundário a um infarto agudo do
determinar a fonte do sangramento (n FIGURAS 3-2 e 3-3). miocárdio nos idosos e em outros doentes de alto risco,
como os que apresentam intoxicação exógena por cocaína.
Visão Geral do Choque Não Hemorrágico Portanto, níveis de marcadores de necrose miocárdica
(enzimas cardíacas) podem auxiliar no diagnóstico e
A categoria de choque não hemorrágico inclui o choque no tratamento dos doentes traumatizados na sala de
cardiogênico, o tamponamento cardíaco, o pneumotórax emergência. Do mesmo modo, uma isquemia miocárdica
hipertensivo, o choque neurogênico e o choque séptico. aguda pode ser o fator desencadeante do trauma.
Apesar da ausência de perda sanguínea, a maior parte dos
casos de choque não hemorrágico respondem de forma Tamponamento Cardíaco
transitória à reanimação volêmica. Apesar de ser mais frequentemente encontrado em doentes
que foram vítimas de ferimentos torácicos penetrantes, o
tamponamento cardíaco também pode resultar de traumas
­48 CAPÍTULO 3 n Choque

torácicos contusos. Taquicardia, abafamento de bulhas efeito fisiopatológico da denervação simpática. A apresentação
cardíacas, e veias do pescoço dilatadas e engurgitadas clássica do choque neurogênico é a presença de hipotensão
(turgência jugular) com hipotensão e resposta insuficiente com ausência de taquicardia ou de vasoconstrição cutânea. Os
à reposição volêmica, sugerem tamponamento cardíaco. doentes portadores de traumatismo medular frequentemente
Entretanto, a ausência desses sinais clássicos não exclui a apresentam lesões concomitantes no tronco; portanto, doentes
presença dessa condição. com suspeita ou diagnóstico de choque neurogênico devem
O pneumotórax hipertensivo pode simular um ser tratados inicialmente como portadores de hipovolemia.
tamponamento cardíaco, através de achados que são O insucesso no restabelecimento da perfusão orgânica e
comuns a ambos, como turgência jugular e desvio de da oxigenação tecidual com a reposição volêmica sugere a
traqueia. No entanto, a ausência de murmúrio vesicular presença de hemorragia contínua ou de choque neurogênico.
e o timpanismo à percussão não estão presentes no A monitoração da pressão venosa central pode auxiliar na
tamponamento cardíaco. O ecocardiograma pode ser útil abordagem desse problema, muitas vezes complexo. (Ver
no diagnóstico do tamponamento cardíaco e de rupturas Capítulo 7: Trauma Vertebromedular.)
valvares, porém frequentemente não é viável e não se
encontra imediatamente disponível na sala de emergência. O Choque Séptitco
FAST realizado na sala de emergência é capaz de identificar Choque causado por infecção, imediatamente após o trauma,
um derrame pericárdico, o que sugere o tamponamento é incomum. Entretanto, esse problema pode ocorrer caso a
cardíaco como causa do choque. O tamponamento cardíaco chegada do doente ao serviço de emergência demore algumas
é mais bem tratado através de intervenção cirúrgica formal horas. O choque séptico pode ocorrer particularmente
(toracotomia), pois a pericardiocentese é uma manobra em doentes com ferimentos penetrantes no abdome
apenas temporária, quando a realização de cirurgia imediata com contaminação peritoneal por conteúdo entérico. Os
não for possível. (Ver Capítulo 4: Trauma Torácico.) doentes sépticos que estão hipotensos e afebris são de difícil
diferenciação daqueles em choque hipovolêmico, pois ambos
Pneumotórax Hipertensivo os grupos podem apresentar taquicardia, vasoconstrição
O pneumotórax hipertensivo é uma verdadeira emergência cutânea, diminuição do débito urinário, diminuição da pressão
cirúrgica que requer diagnóstico e tratamento imediatos. Ele sistólica e diminuição da pressão de pulso. Na fase precoce
se desenvolve quando se forma um mecanismo de válvula, do choque séptico, os doentes podem apresentar volume
que permite a entrada de ar no espaço pleural, mas não a sua circulante normal, discreta taquicardia, pele aquecida, pressão
saída. A pressão intrapleural aumenta progressivamente, sistólica próxima da normalidade e ampla pressão de pulso.
causando colapso total do pulmão e desvio do mediastino
para o lado oposto, resultando em redução do retorno
venoso e do débito cardíaco. Os doentes que estão ventilando c hoque hemor r ág ico
espontaneamente, geralmente, manifestam extrema
taquipneia e “fome de ar”, enquanto que os doentes que estão
em ventilação mecânica frequentemente apresentam colapso A hemorragia é a causa mais comum de choque nos
hemodinâmico. A presença de insuficiência respiratória doentes traumatizados. A resposta do doente traumatizado
aguda, de enfisema subcutâneo, de ausência de murmúrio à perda sanguínea torna-se mais complexa em virtude
vesicular, de timpanismo à percussão e de desvio da traqueia das transferências de fluidos entre os diferentes
corrobora com o diagnóstico de pneumotórax hipertensivo compartimentos do organismo, particularmente no
e exige a descompressão torácica imediata, sem esperar por compartimento extracelular. Lesões de partes moles,
uma confirmação radiológica. A descompressão por agulha mesmo que não apresentem hemorragia severa, podem
ou toracocentese resolve temporariamente essa condição resultar em transferências de fluidos ao compartimento
ameaçadora da vida. Na sequência, deve ser realizada a extracelular. A resposta à perda sanguínea deve ser
inserção de um dreno de tórax, utilizando técnica asséptica considerada no contexto dessas transferências de fluidos.
apropriada, (Ver Apêndice G: Estação Prática Ventilação e Devem ser consideradas, também, as alterações associadas
o vídeo de Drenagem Pleural no aplicativo móvel MyATLS.) ao estado de choque severo e prolongado, e aos resultados
fisiopatológicos inerentes à reanimação e à reperfusão.
Choque Neurogênico
Lesões intracranianas isoladas não causam choque, a menos Definição de hemorragia
que haja envolvimento do tronco cerebral. Então, a presença
de choque em um doente com trauma de crânio indica a A hemorragia é definida como uma perda aguda de
necessidade de buscar outra causa de choque. Lesões na medula volume sanguíneo. Embora exista uma considerável
espinhal cervical ou torácica alta podem produzir hipotensão variação individual, o volume sanguíneo de um adulto
através da perda do tônus simpático, o que agrava os efeitos da normal corresponde a aproximadamente 7% do seu
hipovolemia. Por outro lado, a hipovolemia também acentua o peso corporal. Por exemplo, um indivíduo de 70 kg tem
CHOQUE HEMORRÁGICO 49

aproximadamente 5 litros de volume sanguíneo circulante. •• A hemorragia classe III é um estado de hemorragia
complicado, no qual é necessária a reposição de
O volume sanguíneo nos adultos obesos é calculado de cristaloides e, possivelmente, de sangue.
acordo com o seu peso corporal ideal, pois, se considerado
•• A hemorragia classe IV é considerada um evento
o peso real, seu valor poderia ser superestimado de modo pré-terminal; a menos que medidas agressivas
significativo. Para crianças, o volume sanguíneo é calculado sejam adotadas, o doente entrará em óbito dentro
como de 8 a 9% do seu peso corporal (80 a 90 ml/kg). (Ver de poucos minutos. A transfusão sanguínea é
Capítulo 10: Trauma Pediátrico.) necessária.

Classificação fisiológica n TABELA 3-1 resume a perda sanguínea estimada e outras


medidas críticas para os doentes em cada classificação
Os efeitos fisiológicos da hemorragia são divididos em do choque.
quatro classes baseadas em sinais clínicos; essa classificação
é uma ferramenta útil para estimar a porcentagem de perda Hemorragia Classe I: <15% de perda do volume
sanguínea aguda. Os sinais clínicos representam uma sanguíneo
continuação da hemorragia em andamento e servem
somente para guiar o início do tratamento. A reposição Os sintomas clínicos da perda de volume na hemorragia
volêmica subsequente é determinada pela resposta do classe I são mínimos. Em situações não complicadas, ocorre
doente à terapia instituída. O sistema de classificação taquicardia leve. Não ocorrem alterações mensuráveis na
apresentado a seguir é útil para enfatizar os sinais precoces pressão arterial, na pressão de pulso ou na frequência
e a fisiopatologia do estado de choque: respiratória. Desse modo, em doentes saudáveis, essa
•• A hemorragia classe I é exemplificada pela perda volêmica não exige reposição, pois o reenchimento
condição do doador de uma unidade de sangue. capilar e outros mecanismos de compensação conseguirão
•• A hemorragia classe II é representada pela restaurar o volume sanguíneo dentro de 24 horas,
hemorragia não complicada, mas na qual a geralmente sem necessidade de transfusão sanguínea.
reposição de cristaloides é necessária.

tabela 3-1 sinais e sintomas da hemorragia, por classe

CLASSE III CLASSE IV


PARÂMETRO CLASSE I CLASSE II (LEVE) (MODERADA) (SEVERA)

Perda sanguínea <15% 15–30% 31–40% >40%


aproximada

Frequência cardíaca ↔ ↔/↑ ↑ ↑/↑↑

Pressão arterial ↔ ↔ ↔/↓ ↓

Pressão de pulso ↔ ↓ ↓ ↓

Frequência respiratória ↔ ↔ ↔/↑ ↑

Débito Urinário ↔ ↔ ↓ ↓↓

Escala de Coma de ↔ ↔ ↓ ↓
Glasgow

Déficit de basesa 0 a –2 mEq/L –2 a –6 mEq/L –6 a –10 mEq/L –10 mEq/L ou menos

Necessidade de Monitorar Possível Sim Protocolo de


Hemocomponentes transfusão maciça

a
O excesso de bases é a quantidade de bases (HCO3 - em mEq/L) que está acima ou abaixo da taxa normal do organismo. Um valor negativo é
denominado de déficit de bases e indica acidose metabólica.

Informação de: Mutschler A, Nienaber U, Brockamp T, et al. A critical reappraisal of the ATLS classification of hypovolaemic shock: does it really
reflect clinical reality? Resuscitation 2013,84:309–313.
­50 CAPÍTULO 3 n Choque

Hemorragia Classe II: 15 a 30% de perda do


volume sanguíneo armadilhas prevenção
Os sinais clínicos da hemorragia classe II incluem O diagnóstico do • Use todas as informações
taquicardia, taquipneia e redução da pressão de pulso. choque pode passar clínicas, incluindo a
despercebido quando frequência cardíaca,
Este último sinal está relacionado primariamente com
apenas um parâmetro é a pressão arterial, a
um aumento da pressão arterial diastólica, devido ao utilizado. perfusão cutânea e o nível
aumento das catecolaminas circulantes, o que produz um de consciência.
aumento do tônus e da resistência vasculares periféricos. • Quando disponível, obtenha
As alterações na pressão arterial sistólica são mínimas no uma gasometria arterial
com medidas de pH, pO2,
choque hemorrágico inicial; portanto, torna-se importante
pCO2, saturação de oxigênio
a avaliação da pressão de pulso ao invés da pressão arterial e déficit de bases.
sistólica. Outros achados clínicos pertinentes, associados • As medidas da pressão
ao volume de perda sanguínea, incluem mudanças sutis no parcial de CO2 no final da
nível de consciência, como ansiedade, medo e hostilidade. expiração e do lactato sérico
podem trazer informações
Apesar da significativa perda sanguínea e das alterações
adicionais úteis.
cardiovasculares, o débito urinário é apenas levemente
afetado. O débito urinário mensurado costuma ser de 20
Lesões traumáticas em • Sempre obtenha um
a 30 mL por hora em um adulto com hemorragia classe II. idosos podem estar exame de urina.
Perdas hidroeletrolíticas concomitantes podem agravar relacionadas com • Procure evidências sutis
as manifestações clínicas da hemorragia classe II. Alguns infecções subjacentes. de infecção.
doentes incluídos nessa categoria podem, eventualmente,
necessitar de transfusão sanguínea, mas a maior parte dos classe IV frequentemente necessitam de transfusão
doentes com esse volume de perda sanguínea consegue sanguínea rápida e de intervenção cirúrgica imediata.
ser estabilizada inicialmente com soluções cristaloides. Essas decisões baseiam-se na resposta do doente às
técnicas de reanimação iniciais, descritas neste capítulo.
Hemorragia Classe III: 31 a 40% de perda do
volume sanguíneo Fatores de confusão
Os doentes com hemorragia classe III geralmente A classificação fisiológica do choque é útil, entretanto
apresentam sinais clássicos de perfusão inadequada, vários fatores podem confundir e alterar profundamente a
incluindo taquicardia e taquipneia pronunciadas, clássica resposta hemodinâmica à perda aguda de volume
alterações significativas do estado mental e uma sanguíneo circulante; todos os indivíduos envolvidos
queda mensurável da pressão arterial sistólica. Em um na abordagem e na reanimação inicial dos doentes
caso não complicado, esse é o menor volume de perda traumatizados devem prontamente reconhecê-los:
sanguínea que causa uma queda consistente na pressão
arterial sistólica. A prioridade da abordagem inicial é •• Idade do doente
a interrupção da hemorragia, através de intervenção •• Gravidade da lesão, particularmente o tipo de
cirúrgica ou de embolização, se houver necessidade. A trauma e a localização anatômica da lesão
maioria dos doentes incluídos nesta categoria necessitará •• Reposição volêmica no pré-hospitalar
de transfusão de concentrado de hemácias e de outros •• Tempo decorrido entre a lesão e o início do
hemoderivados para reverter o seu estado de choque. tratamento
•• Medicamentos utilizados para doenças crônicas
Hemorragia Classe IV: >40% de perda do volume
sanguíneo É perigoso aguardar que o doente traumatizado se
enquadre em uma classificação fisiológica precisa
O grau de exsanguinação da hemorragia classe IV antes de iniciar a reanimação volêmica apropriada.
constitui uma ameaça imediata à vida. Os sintomas O controle da hemorragia e a reposição volêmica
incluem taquicardia acentuada, redução significativa da balanceada devem ser prontamente iniciados tão
pressão sistólica e presença de uma pressão de pulso muito logo haja suspeita ou presença de sinais e sintomas
estreita ou de uma pressão diastólica não mensurável precoces de perda sanguínea – e não quando a pressão
(a bradicardia pode se desenvolver nos doentes pré- arterial já estiver em queda ou inaudível. Interrompa
terminais). O débito urinário é desprezível e o estado o sangramento.
de consciência está notadamente deprimido. A pele
encontra-se fria e pálida. Os doentes com hemorragia
ABORDAGEM INICIAL DO CHOQUE HEMORRÁGICO 51

ALTERAÇÕES HIDROELETROLÍTICAS de outra etiologia que não a hipovolêmica. O princípio


SECUNDÁRIAS À LESÃO DE PARTES MOLES básico a ser seguido no tratamento é interromper o
sangramento e repor as perdas volêmicas.
As lesões extensas de partes moles e as fraturas comprometem
o estado hemodinâmico do doente traumatizado de duas exame físico
maneiras. A primeira é a perda sanguínea no local lesado,
principalmente no caso de fraturas graves. Por exemplo, O exame físico é dirigido para o diagnóstico imediato
uma fratura de úmero ou de tíbia pode ocasionar perdas das lesões que ameaçam a vida e inclui a avaliação dos
equivalentes a 750 mL de sangue. Uma perda duas vezes ABCDE. O registro e a anotação das condições iniciais são
maior, 1.500 mL, está comumente associada a fraturas de importantes para a monitoração da resposta do doente ao
fêmur, e vários litros de sangue podem ser acumulados em tratamento. Avaliações repetidas dos sinais vitais, do débito
um hematoma retroperitoneal consequente a uma fratura urinário e do nível de consciência são medidas essenciais.
de pelve. Os doentes obesos apresentam risco para perdas A seguir, assim que as condições do doente permitirem,
sanguíneas extensas em lesões de partes moles, mesmo deve ser realizado um exame mais pormenorizado.
na ausência de fraturas. Os idosos também estão em risco
devido à fragilidade da pele e do tecido subcutâneo, que Via Aérea e Respiração
são lesados mais rapidamente e são menos eficazmente
tamponados, em adição às paredes inelásticas dos vasos A primeira prioridade é o estabelecimento de uma via
sanguíneos que não sofrem espasmo ou trombose quando aérea pérvia com ventilação e oxigenação adequadas.
traumatizados ou seccionados. Deve-se fornecer oxigênio suplementar para manter
O segundo fator a ser considerado é o edema que ocorre uma saturação de oxigênio superior a 95%.
nas partes moles traumatizadas, o qual constitui outra fonte
de perda de fluidos. A extensão dessa perda adicional de Circulação: Controle da Hemorragia
fluidos é proporcional à magnitude da lesão de partes moles.
A lesão tecidual acarreta a ativação de resposta inflamatória As prioridades para o manejo da circulação incluem o
sistêmica e a produção e liberação de múltiplas citocinas. controle de hemorragias evidentes, a obtenção de acesso
Muitas dessas substâncias são localmente ativas e exercem venoso adequado e a avaliação da perfusão tecidual. O
profundos efeitos no endotélio vascular, resultando no sangramento por ferimentos externos nas extremidades
aumento da permeabilidade. O edema tecidual resulta da geralmente pode ser controlado através da compressão
transferência de líquidos, fundamentalmente do plasma para direta do local, apesar de perdas sanguíneas maciças
o espaço extravascular, ou extracelular, como resultado das provenientes de extremidades poderem necessitar de
alterações na permeabilidade do endotélio. Esta transferência torniquetes. Um lençol ou uma cinta pélvica podem ser
espolia ainda mais o volume intravascular. utilizados para controlar o sangramento proveniente
de fraturas pélvicas. (Ver vídeo sobre Cinta Pélvica no
aplicativo móvel MyATLS.) Para o controle de hemorragias
armadilha prevenção internas, intervenção cirúrgica ou angioembolização
pode ser necessária. A prioridade é a interrupção do
A perda sanguínea pode • Avalie e aplique curativos
ser subestimada nas precocemente para
sangramento, e não o cálculo de perdas volêmicas.
lesões de partes moles, controlar o sangramento
particularmente em com compressão direta e Disfunção Neurológica: Exame Neurológico
indivíduos obesos e em fechamento temporário.
idosos. • Reavalie os ferimentos, Um exame neurológico sumário determinará o nível
limpe-os e feche-os
definitivamente, uma vez
de consciência do doente, o que é útil na avaliação da
que o doente tenha sido perfusão cerebral. Modificações na função do sistema
estabilizado. nervoso central nos doentes em choque hipovolêmico
não sugerem necessariamente lesões intracranianas
ABORDAGEM INICIAL DO diretas, mas podem refletir apenas a perfusão inadequada
do cérebro. O exame neurológico deve ser repetido após
CHOQUE heMORRÁGICO a perfusão e a oxigenação terem sido restauradas.(Ver
Capítulo 6: Trauma de Crânio.)
O diagnóstico e o tratamento do choque devem ser
realizados quase simultaneamente. Para a maioria Exposição: Exame Completo
dos doentes traumatizados, o tratamento é instituído
inicialmente considerando que o choque seja Depois de realizadas as manobras prioritárias de
hemorrágico, a não ser que existam claras evidências reanimação, o doente deve ser completamente despido
­52 CAPÍTULO 3 n Choque

e cuidadosamente examinado “da cabeça aos pés” subclávia). (Ver Apêndice G: Estação Prática C: Circulação e
para a pesquisa de lesões associadas. Ao despir o doente, o vídeo Punção Intraóssea no aplicativo móvel MyATLS.) A
a prevenção da hipotermia é essencial, pois se trata de uma experiência e a prática do médico são fatores determinantes
condição que pode exacerbar a perda sanguínea através da para avaliar o procedimento ou a maneira mais apropriada
piora da coagulopatia e da acidose metabólica. Para prevenir de estabelecer os acessos venosos. O acesso intraósseo com
a hipotermia, sempre devem ser utilizados fluidos aquecidos, equipamento especialmente desenvolvido para esse fim é
bem como técnicas de reaquecimento externo passivo e ativo. factível em todas as faixas e grupos etários. Esse acesso pode
ser utilizado no hospital até que um acesso intravenoso
Dilatação Gástrica: Descompressão seja obtido, devendo ser descontinuado quando não mais
necessário.
A dilatação gástrica ocorre frequentemente no trauma, Assim que forem inseridos cateteres venosos, amostras
especialmente em crianças, e pode ser causa de hipotensão sanguíneas devem ser coletadas para tipagem sanguínea
inexplicada ou de arritmias cardíacas, comumente e provas cruzadas, para exames laboratoriais adequados,
bradicardia, em decorrência do estímulo vagal. Em doentes para estudos toxicológicos e para teste de gravidez em
inconscientes, a distensão gástrica aumenta o risco de todas as mulheres em idade fértil. Nesse momento,
broncoaspiração de conteúdo gástrico, uma complicação pode ser coletado sangue para gasometria arterial.
potencialmente fatal. Considere realizar a descompressão Uma radiografia de tórax deve ser obtida após tentativa
gástrica através da introdução de uma sonda naso ou de cateterismo venoso central em veias jugulares ou
orogástrica e da sua conexão a um equipamento de aspiração. subclávias, para documentar o posicionamento do cateter
Esteja atento que, apesar do posicionamento adequado da e avaliar a presença de complicações, como pneumotórax
sonda, esta não previne totalmente o risco de aspiração. ou hemotórax. Em situações de emergência, o acesso
venoso central pode não ser inserido em condições
Sondagem Vesical estritamente controladas e totalmente estéreis. Quando
isso ocorre, os acessos venosos devem ser substituídos
A sondagem vesical permite a avaliação da presença de tão logo as condições ambientais e do doente permitam.
hematúria, o que pode indicar o sistema genitourinário
como fonte de sangramento. A monitoração constante Reposição Volêmica Inicial
do débito urinário permite a avaliação contínua da
perfusão renal. A presença de sangue no meato uretral A quantidade de fluido que será necessária para a reanimação
ou de hematomas/lacerações perineais pode indicar uma volêmica do doente é difícil de ser estimada durante a
lesão de uretra, contraindicando a inserção de uma sonda avaliação inicial. Comece administrando um bolus inicial
transuretral antes da confirmação radiológica da integridade de solução isotônica aquecida. A dose habitual é de 1 litro para
da uretra. (Ver Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.) adultos e de 20mL/kg para crianças pesando menos de 40 kg.
O volume total de fluidos de reanimação deve ser baseado
Acesso vascular na resposta do doente à reposição, tendo em mente que a
quantidade de fluido inicial inclui o volume administrado
O acesso ao sistema vascular deve ser obtido rapidamente. durante o atendimento pré-hospitalar. Avalie a resposta
A melhor forma de fazê-lo é através da inserção de dois do doente à reposição volêmica e identifique evidências de
cateteres intravenosos periféricos (calibre mínimo de 18). perfusão de órgãos-alvo e de oxigenação tecidual adequadas.
A taxa de fluxo é proporcional à quarta potência do raio do Observe a resposta do doente durante a administração inicial
cateter e inversamente proporcional ao seu comprimento, de fluidos e tome como base essa resposta para as decisões
como descrito na Lei de Poiseuille. Portanto, cateteres diagnósticas e terapêuticas posteriores. A infusão contínua
intravenosos periféricos curtos e calibrosos são preferíveis de grandes volumes de fluidos e de sangue, na tentativa de
para a rápida infusão de fluidos, ao invés de cateteres longos atingir uma pressão arterial normal, não substitui o controle
e finos. Utilize fluidos aquecidos e bombas de infusão rápida definitivo da hemorragia.
na presença de hemorragias maciças e de hipotensão severa. n TABELA 3-2 resume os protocolos gerais para estabelecer
Os locais mais adequados para os acessos venosos a quantidade de fluidos e de sangue que são geralmente
periféricos no adulto são as veias do antebraço ou necessários durante a reanimação. Caso a quantidade
antecubitais. Isso pode ser desafiador em crianças, idosos, de fluidos necessária para restaurar ou manter a
obesos e em usuários de drogas injetáveis. Caso um acesso perfusão orgânica e a oxigenação tecidual adequadas
venoso periférico não possa ser obtido, considere a punção exceda consideravelmente essas estimativas, reavalie
e a introdução de um acesso intraósseo como medida cuidadosamente a situação e procure por lesões ainda não
temporária. Se as circunstâncias não permitirem o uso diagnosticadas ou outras causas de choque.
de veias periféricas, estará indicada a cateterização de um O objetivo da reanimação é restaurar a perfusão orgânica e a
acesso venoso central (exemplos: veia femoral, jugular ou oxigenação tecidual, o que é obtido através da administração
ABORDAGEM INICIAL DO CHOQUE HEMORRÁGICO 53

tabela 3-2 resposta à reanimação inicial a

RESPOSTA MÍNIMA
RESPOSTA RÁPIDA RESPOSTA TRANSITÓRIA OU AUSENTE

Sinais vitais Retorno ao normal Melhora transitória, recidiva de Persistem anormais


diminuição da pressão arterial e
aumento da frequência cardíaca

Perda sanguínea estimada Mínima (<15 %) Moderada e persistente (15%–40%) Severe (>40%)

Necessidade de transfusão Baixa Moderada a alta Imediata

Preparo do sangue Tipo-específico e com Tipo-específico Liberado em caráter de


provas cruzadas emergência

Necessidade de intervenção Possivelmente Provavelmente Muito provável


cirúrgica

Presença de um cirurgião Sim Sim Sim

a
Solução cristaloide isotônica, até 1.000 ml em adultos; 20ml/kg em crianças.

oxigenação tecidual com a prevenção do ressangramento


armadilha prevenção através da aceitação de uma pressão arterial abaixo do
normal, tem sido denominada “reanimação controlada”,
Choque não • Procure fontes de hemorragia
“reanimação balanceada”, “reanimação hipotensiva” e
responde ao bolus de não controladas: “chão
“hipotensão permissiva”. Essa estratégia de reanimação
cristaloide inicial. e mais quatro” (abdome,
pelve/ retroperitônio, tórax e
pode ser uma ponte para o controle cirúrgico definitivo
extremidades). do sangramento, mas não um substituto.
• Considere uma possível A reposição precoce de sangue e de hemoderivados deve
causa não hemorrágica para o ser considerada em doentes com evidência de hemorragias
choque. classes III e IV. A administração precoce de hemoderivados
• Inicie a transfusão de sangue em uma baixa proporção entre concentrado de hemácias,
e hemoderivados. plasma e plaquetas pode prevenir o desenvolvimento de
• Obtenha consultoria cirúrgica coagulopatia e de trombocitopenia.
para o controle definitivo da
hemorragia.
Avaliação da Resposta à Reposição Volêmica

de soluções de cristaloide e de hemoderivados para substituir Os mesmos sinais e sintomas de perfusão inadequada
o volume intravascular perdido. Entretanto, se a pressão utilizados para o diagnóstico do choque são úteis para avaliar a
arterial do doente aumentar rapidamente antes que a resposta do doente ao tratamento. A normalização da pressão
hemorragia tenha sido definitivamente controlada, pode arterial, da pressão de pulso e da frequência cardíaca são sinais
ocorrer mais sangramento. Por essa razão, a administração de que a perfusão também esteja retornando ao normal,
excessiva de solução cristaloide pode ser prejudicial. entretanto, essas observações não fornecem informações
A reposição volêmica e a prevenção da hipotensão são a respeito da perfusão orgânica e da oxigenação tecidual. A
princípios importantes no manejo inicial dos doentes com melhora do estado do volume intravascular é uma evidência
traumatismos contusos, particularmente nos doentes importante de aumento da perfusão, mas se torna difícil de
com traumatismo craniano associado. No traumatismo quantificar. Já o volume do débito urinário é um indicador
penetrante com hemorragia, retardar a reposição agressiva bastante sensível da perfusão renal; diurese normal, desde
de fluidos, até que o controle definitivo da hemorragia tenha que não influenciada pela administração de diuréticos, lesões
sido alcançado, pode prevenir a ocorrência de sangramento renais ou acentuada hiperglicemia, implica, geralmente, em
adicional; faz-se necessária uma abordagem cuidadosa e fluxo sanguíneo renal satisfatório. Por essa razão, o débito
balanceada através de reavaliações frequentes. A estratégia urinário é um dos principais indicadores para a monitoração da
de realizar o balanço do objetivo da perfusão orgânica e da reanimação e para avaliar a resposta do doente ao tratamento.
­54 CAPÍTULO 3 n Choque

Dentro de certos limites, o débito urinário pode ser teciduais inadequadas. Quando isso ocorre, a velocidade
utilizado para monitorar o fluxo sanguíneo renal. A de infusão pode ser reduzida para taxas de manutenção.
reposição adequada de volume deve restabelecer um valor Usualmente esses doentes apresentam uma perda menor
de débito urinário de aproximadamente 0,5 mL/kg/h do que 15% do seu volume sanguíneo (hemorragia classe
no adulto, enquanto que, para os doentes pediátricos, I). Neste caso, não está indicada a reposição adicional de
é adequado um débito urinário aproximado de 1 mL/ fluidos em bolus ou de transfusão sanguínea. Apesar disso,
kg/h. Para crianças abaixo de 1 ano de idade, devem ser sangue devidamente tipado e com provas cruzadas deve ser
mantidos 2 ml/kg/h. A incapacidade de manter o débito mantido disponível. Durante a avaliação e o tratamento
urinário nesses níveis ou o decréscimo do débito urinário iniciais dos respondedores rápidos, são indispensáveis a
com aumento de densidade sugerem uma reanimação presença e a avaliação por um cirurgião, visto que uma
inadequada. A presença dessa situação deve estimular o intervenção cirúrgica pode ainda se tornar necessária.
médico a aumentar a reposição volêmica e a continuar a
investigação da causa do choque. Resposta Transitória
Os doentes em choque hipovolêmico inicial têm alcalose
respiratória devido à taquipneia, seguida frequentemente Os doentes do segundo grupo, os “respondedores
por acidose metabólica leve, não requerendo tratamento. transitórios”, respondem à reposição volêmica em bolus
Entretanto, a acidose metabólica grave pode surgir quando inicial. Entretanto, eles começam a demonstrar sinais
o choque é severo ou prolongado. A acidose metabólica de deterioração dos índices de perfusão assim que a
decorre do metabolismo anaeróbio devido à perfusão administração de fluidos inicial é reduzida para taxas
tecidual inadequada e à produção de ácido láctico. Sua de manutenção, o que pode indicar reposição volêmica
persistência reflete, habitualmente, uma reanimação inadequada ou a presença de sangramento ativo persistente.
inadequada ou a presença de sangramento ativo. Em doentes A maior parte desses doentes apresenta uma perda sanguínea
em estado de choque, a acidose metabólica é tratada através inicial estimada entre 15% a 40% do seu volume sanguíneo
da reposição de fluidos e sangue, e de intervenções para (hemorragias classes II ou III). A transfusão de sangue e de
controlar a hemorragia. Os valores do lactato e/ou do déficit hemoderivados está indicada, porém o mais importante é
de bases podem ser úteis para determinar a presença e a identificar e reconhecer que esses doentes necessitam de
severidade do choque; a análise seriada desses parâmetros controle cirúrgico ou angiográfico da hemorragia. Uma
pode ser utilizada na avaliação da resposta ao tratamento. O resposta transitória à administração de sangue identifica os
bicarbonato de sódio não deve ser utilizado para o tratamento doentes que persistem com sangramento ativo e que exigem
da acidose metabólica decorrente de choque hipovolêmico. rápida intervenção cirúrgica. Considere também dar início
ao protocolo de transfusão maciça (PTM).
Padrões de resposta do doente
Resposta Mínima ou Ausente
A resposta do doente à reposição inicial de fluidos é a
chave para a determinação do tratamento subsequente. A falta de resposta à administração de cristaloide e de sangue
Estando estabelecidos um diagnóstico preliminar e um na sala de emergência indica a necessidade de intervenção
planejamento terapêutico baseados na avaliação inicial, definitiva imediata (exemplo: cirurgia ou angioembolização)
o médico pode modificar o plano de tratamento de para controlar uma hemorragia exsanguinante. Em casos
acordo com a resposta de cada doente. A observação da muito raros, uma resposta inadequada pode ser devida à
resposta do doente à reanimação inicial pode identificar insuficiência da bomba, resultante de traumatismo cardíaco
os doentes cuja perda sanguínea tenha sido maior do que a fechado, de tamponamento cardíaco ou de pneumotórax
estimada e aqueles com sangramento ativo persistente que hipertensivo. O choque não hemorrágico deve ser sempre
necessitarão de controle cirúrgico de hemorragia interna. considerado no diagnóstico diferencial nesse grupo de
Os padrões de resposta à reposição volêmica inicial podem doentes (hemorragia classe IV). Técnicas de monitoração
ser divididos em três categorias: resposta rápida, resposta avançada, como a ultrassonografia miocárdica são úteis na
transitória e resposta mínima ou ausente. Os sinais vitais e os identificação da causa do choque. O protocolo de transfusão
protocolos de abordagem para os doentes em cada uma das maciça deve ser iniciado nestes doentes (n FIGURA 3-4).
categorias foram destacados previamente (ver Tabela 3-2).
REP OSIÇÃO DE SANGUE
Resposta Rápida

Os doentes deste grupo, denominados “respondedores A decisão de iniciar a transfusão sanguínea baseia-se na
rápidos”, respondem rapidamente à reposição volêmica resposta do doente, como descrito na seção anterior. Os
inicial e se tornam hemodinamicamente normais, não doentes respondedores transitórios ou não-respondedores
apresentando mais sinais de perfusão e oxigenação necessitam de transfusão precoce de concentrado de
REPOSIÇÃO DE SANGUE 55

aquecidas, entretanto, podem ser aquecidos através da


passagem por aquecedores de fluidos intravenosos.

Autotransfusão
Dispositivos ajustáveis aos tubos de drenagem de tórax que
permitem a coleta estéril, a anticoagulação (geralmente
com solução de citrato de sódio e não de heparina) e a
retransfusão do sangue drenado, são comercialmente
disponíveis. A coleta do sangue para autotransfusão deve
ser considerada nos doentes que apresentarem hemotórax
maciço. Esse sangue normalmente possui pequenos níveis
de fatores de coagulação, o que faz com que a transfusão de
plasma e de plaquetas ainda possa ser necessária.
n FIGURA 3-4  Transfusão maciça de hemoderivados em um
doente traumatizado.
transfusão maciça
hemácias, plasma e plaquetas durante a reanimação Um pequeno grupo de doentes em choque necessitará de
inicial. transfusão maciça, mais frequentemente definida como
a transfusão de mais de 10 unidades de concentrado de
SANGUE COM PROVAS CRUZADAS, TIPO hemácias dentro das primeiras 24 horas da admissão
ESPECÍFICO E TIPO O hospitalar, ou mais de 4 unidades dentro da primeira hora.
A administração precoce de concentrado de hemácias,
O objetivo principal da transfusão sanguínea é restabelecer a de plasma e de plaquetas, em uma proporção balanceada
capacidade de transporte de oxigênio do volume intravascular. para evitar a administração excessiva de cristaloides,
Para esse propósito, o sangue com todas as provas cruzadas é pode aumentar a taxa de sobrevivência dos doentes.
preferível, porém esse processo de cruzamento completo exige Essa abordagem tem sido denominada de reanimação
aproximadamente 1 hora na maioria dos bancos de sangue. “balanceada”, “hemostática” ou “de controle de danos”.
Para os doentes que estabilizam rapidamente, deve ser obtido Os esforços simultâneos para rapidamente controlar
e estar disponível sangue com todas as provas cruzadas para o sangramento e minimizar os efeitos deletérios da
transfusão, quando houver indicação. coagulopatia, da hipotermia e da acidose nesses doentes
Caso o sangue com todas as provas cruzadas não esteja são extremamente importantes. Um PTM que inclua
disponível, sangue tipo O é indicado para os doentes com a disponibilidade imediata de sangue e de todos os
hemorragias exsanguinantes. Plasma tipo AB é utilizado hemoderivados deve estar estabelecido, para proporcionar
quando plasma sem provas cruzadas for necessário. Para uma reanimação adequada para esses doentes, pois vastos
evitar sensibilização e complicações futuras, sangue tipo O recursos são necessários para disponibilizar essas volumosas
negativo é preferível para mulheres em idade fértil. Assim quantidades de sangue. A administração apropriada de
que disponível, o uso de sangue tipo específico sem provas hemoderivados tem demonstrado melhorar o desfecho
cruzadas é preferível ao uso de sangue tipo O. Uma exceção nesse grupo de doentes. Pode ser um desafio identificar
a essa regra ocorre quando várias vítimas não identificadas o pequeno grupo de doentes que irá se beneficiar desta
são atendidas simultaneamente, o que implica em grande estratégia, portanto, vários escores têm sido desenvolvidos
risco de troca inadvertida de bolsas de sangue. para auxiliar o médico na decisão de dar início ao PTM,
apesar de nenhum deles ainda ter demonstrado completa
prevenção da hipotermia acurácia. (Ver Escores de Trauma: Revisado e Pediátrico e
Protocolos de Transfusão Maciça no Trauma do ACS TQIP.)
A hipotermia deve ser evitada e revertida quando o doente
apresenta-se hipotérmico à admissão hospitalar. O uso de Coagulopatia
aquecedores de sangue é importante, apesar da sua dificuldade.
A maneira mais eficiente de prevenir a hipotermia em qualquer Traumatismos e hemorragias severas consomem os
doente que receba reposição maciça de cristaloides e de sangue fatores de coagulação e podem levar precocemente à
é o aquecimento dos cristaloides a 39 ºC (102,2 ºF) antes da sua coagulopatia. Essa forma de coagulopatia está presente em
infusão. Isso pode ser conseguido através do armazenamento até 30% dos doentes traumatizados graves à admissão, na
dos cristaloides em estufas aquecidas ou através da infusão ausência de uso prévio de medicamentos anticoagulantes.
utilizando aquecedores de fluidos intravenosos. Sangue e A reposição maciça de fluidos com a resultante diluição de
hemoderivados não podem ser armazenados em estufas plaquetas e de fatores de coagulação, bem como os efeitos
­56 CAPÍTULO 3 n Choque

adversos da hipotermia na agregação plaquetária e na


cascata de coagulação, contribuem para a coagulopatia armadilha prevenção
nos doentes traumatizados.
As medidas do tempo de protrombina, do tempo de Perda sanguínea • Obtenha uma lista de
tromboplastina parcial e da contagem de plaquetas, são descontrolada pode medicamentos assim que
ocorrer em doentes possível.
estudos valiosos na primeira hora, especialmente nos doentes
que fazem uso de • Administre antídotos assim
com história de coagulopatia ou de uso de medicamentos medicamentos que possível.
que alterem a coagulação sanguínea (Ver tabela de Reversão anticoagulantes • Quando disponível, monitore
dos Anticoagulantes no Capítulo 6: Trauma de Crânio). Esses ou antiagregantes a coagulação através de
exames também podem ser úteis no cuidado dos doentes em plaquetários. tromboelastografia (TEG)
ou de tromboelastometria
que não haja informações confiáveis quanto ao seu estado
rotacional (ROTEM).
prévio de coagulação. Testes nos locais de atendimento • Considere administrar
estão disponíveis em várias unidades de emergência. transfusão de plaquetas,
A Tromboelastografia (TEG) e o Tromboelastometria mesmo com contagem
Rotacional (ROTEM) podem ser valiosos na determinação de plaquetas dentro da
normalidade.
da deficiência de fatores de coagulação e dos hemoderivados
apropriados para a correção desta deficiência.
Complicações • Avalie e compare o risco
Alguns locais administram o ácido tranexâmico no ambiente
tromboembólicas de sangramento com o
pré-hospitalar em doentes traumatizados graves, em resposta podem ocorrer após risco de complicações
a estudos recentes que demonstraram um aumento da a administração de tromboembólicas.
sobrevida quando esse medicamento é administrado dentro agentes utilizados para • Quando disponível, monitore
das primeiras 3 horas do trauma. Nesses casos, a primeira dose reverter medicamentos a coagulação com TEG ou
anticoagulantes ROTEM.
é geralmente administrada dentro de 10 minutos e no ambiente
ou antiagregantes
pré-hospitalar; a dose seguinte de 1 grama é infundida durante plaquetários.
8 horas. (Ver Guia a Respeito do Uso de Ácido Tranexâmico no
Pré-hospitalar para Doentes Traumatizados.)
Nos doentes que não necessitam de transfusão maciça, a pressão arterial como uma medida direta do débito
o uso de plaquetas, de crioprecipitado e de plasma fresco cardíaco. A resposta pode ser diferente da esperada nos
congelado deve ser guiado por exames laboratoriais, em doentes idosos, atletas, gestantes, hipotérmicos, em uso
conjunto com os níveis de fibrinogênio e com os princípios de medicamentos ou em portadores de marcapasso ou
da reanimação balanceada. É importante pontuar que muitos de cardioversores desfibriladores implantáveis (CDI).
anticoagulantes e antiagregantes plaquetários de última
geração não são detectados através dos exames convencionais Equiparação da Pressão Arterial ao
de TP, TTPA, RNI ou de contagem de plaquetas. Alguns dos Débito Cardíaco
anticoagulantes orais não possuem antídotos.
Doentes vítimas de traumatismo craniano grave O tratamento do choque hemorrágico requer a correção
são particularmente suscetíveis às anormalidades de da perfusão orgânica inadequada através do aumento do
coagulação. Os parâmetros de coagulação devem ser fluxo sanguíneo para os órgãos e da oxigenação tecidual.
monitorados atentamente nesses doentes; a administração O aumento do fluxo sanguíneo demanda um aumento do
precoce de plasma ou de fatores de coagulação e/ou de débito cardíaco. A lei de Ohm (V = I x R), aplicada à fisiologia
plaquetas aumenta a sobrevida dos doentes que estiverem cardiovascular, estabelece que a pressão sanguínea (V) é
em uso de anticoagulantes ou de antiagregantes plaquetários. proporcional ao débito cardíaco (I) e à resistência vascular
sistêmica (R; pós-carga). Um aumento da pressão sanguínea
reposição de cálcio pode não equivaler a um aumento concomitante do
débito cardíaco ou da reversão do estado de choque. Por
A maioria dos doentes que recebem transfusão de sangue exemplo, um aumento da resistência vascular periférica
não necessita de reposição de cálcio. Quando for necessária, a por meio do uso de vasopressores, sem alteração do débito
administração de cálcio deve ser guiada pela dosagem do cálcio cardíaco, resulta em aumento da pressão sanguínea, mas
ionizado. A suplementação excessiva de cálcio pode ser nociva. não melhora a perfusão e a oxigenação teciduais.

consider açõe s e spec i a is idade avançada


No sistema cardiovascular, o processo de envelhecimento
Considerações especiais no diagnóstico e tratamento produz uma relativa redução da atividade simpática.
do choque incluem considerar, de maneira equivocada, Acredita-se que isso se deva a um déficit na resposta
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS 57

dos receptores às catecolaminas, ao invés da redução da o débito cardíaco pode aumentar até 6 vezes, o
produção destas. A complacência cardíaca diminui com volume de ejeção sistólica pode aumentar em 50% e
a idade e, ao contrário dos doentes mais jovens, os idosos a frequência cardíaca em estado de repouso permanece,
são incapazes de aumentar a frequência cardíaca ou a em média, em torno de 50 bpm. Atletas altamente
eficiência da contração miocárdica quando submetidos treinados possuem uma habilidade extraordinária
a uma perda de volume sanguíneo. para compensar perdas sanguíneas e podem não
A doença vascular aterosclerótica oclusiva faz com manifestar as respostas habituais à hipovolemia,
que muitos órgãos vitais se tornem extremamente mesmo apresentando perdas significativas de sangue.
sensíveis a reduções, mesmo insignificantes, do fluxo
sanguíneo. Muitos doentes idosos apresentam uma gestação
depleção de volume pré-existente, devido ao uso crônico
de diuréticos ou a um estado subclínico de desnutrição. Tendo em vista a hipervolemia fisiológica da gestação,
Por estes motivos, o doente idoso tolera mal a hipotensão torna-se necessária uma perda sanguínea maior para que
secundária à perda sanguínea. Por exemplo, uma pressão se manifestem anormalidades de perfusão na mãe, as quais
arterial sistólica de 100 mmHg pode representar um estado também podem se refletir na redução da perfusão fetal. (Ver
de choque em um doente idoso. O uso de bloqueadores Capítulo 12: Trauma na Gestante e Violência Interconjugal.)
beta-adrenérgicos pode mascarar a taquicardia como
indicador precoce do choque. Outros medicamentos Medicamentos
podem comprometer a resposta sistêmica ao trauma,
quando não a bloqueiam completamente. Tendo em vista Medicamentos específicos podem afetar a resposta
a estreita faixa terapêutica para a reposição volêmica no do doente ao choque. Por exemplo, os bloqueadores
idoso, é prudente considerar precocemente a conveniência dos receptores beta-adrenérgicos e os bloqueadores
de uma monitoração invasiva com o intuito de evitar uma dos canais de cálcio podem alterar significativamente
reposição excessiva ou insuficiente de volume. a resposta hemodinâmica do doente à hemorragia. A
A redução da complacência pulmonar, a diminuição da superdosagem de insulina pode ser responsável por uma
capacidade de difusão e a fraqueza geral da musculatura hipoglicemia e pode ter contribuído para os eventos que
respiratória limitam a resposta do doente idoso ao resultaram no traumatismo. O uso crônico de diuréticos
aumento da demanda de trocas gasosas imposta pelo pode explicar uma hipocalemia inesperada e os agentes
traumatismo. Tal fato compromete a hipóxia celular já anti-inflamatórios não-hormonais podem prejudicar a
prejudicada pela redução do aporte local de oxigênio. agregação plaquetária e aumentar o sangramento.
O envelhecimento glomerular e tubular dos rins reduz
a capacidade do idoso de preservar o volume como Hipotermia
resposta à liberação de hormônios de fase aguda, tais
como a aldosterona, as catecolaminas, a vasopressina e o Os doentes que apresentam hipotermia e choque
cortisol. Os rins são também mais susceptíveis aos efeitos hemorrágico não respondem como o esperado à
do hipofluxo; e a ação de agentes nefrotóxicos, tais como administração de sangue e hemoderivados e à reposição
determinados medicamentos, contrastes radiológicos e de fluidos. Na hipotermia, a coagulopatia pode aparecer
produtos tóxicos da destruição celular, pode prejudicar ou piorar. A temperatura corporal é um sinal vital
ainda mais a função renal. importante a ser monitorado durante a reanimação inicial.
Por todas essas razões, as taxas de mortalidade e de A temperatura esofágica ou vesical é uma medida clínica
morbidade aumentam diretamente com a idade. Apesar acurada da temperatura central. Um doente vítima de
dos efeitos adversos do processo de envelhecimento, as trauma, sob influência de álcool e exposto a temperaturas
comorbidades decorrentes de doenças pré-existentes, baixas, é mais susceptível a apresentar hipotermia em
e a redução geral da “reserva fisiológica” dos doentes resposta à vasodilatação. O rápido reaquecimento em
geriátricos, a maioria desses doentes podem se recuperar ambiente dotado de dispositivos de aquecimento externo
e retornar ao seu estado pré-trauma. O tratamento deve apropriados – lâmpadas de aquecimento; cobertores
começar com uma reanimação precoce e agressiva, bem térmicos; aquecimento de gases respiratórios, de
como com uma monitoração cuidadosa. (Ver Capítulo líquidos intravenosos e de sangue – geralmente corrige
11: Trauma Geriátrico.) a hipotensão e a hipotermia leve a moderada. Técnicas de
reaquecimento central incluem a irrigação das cavidades
Atletas peritoneal ou torácica com soluções de cristaloides a
39 ºC (102,2 ºF); para hipotermia severa, a circulação
As rotinas de treinamento atlético rigoroso alteram extracorpórea está indicada. O melhor tratamento para a
a dinâmica cardiovascular nesse grupo de doentes. hipotermia é a sua prevenção. (Ver Apêndice B: Hipotermia
O volume sanguíneo pode aumentar de 15 a 20%, e Lesões Provocadas pelo Calor.)
­58 CAPÍTULO 3 n Choque

Presença de Marcapasso ou de ou choque neurogênico. A reavaliação constante,


Cardioversor Desfibrilador Implantável especialmente quando a condição do doente está
desviada dos padrões esperados, é a chave para o
Os doentes com marcapasso ou com CDI são incapazes de reconhecimento e o tratamento desses problemas da
responder à perda sanguínea da maneira habitual, pois o forma mais precoce possível.
débito cardíaco é diretamente proporcional à frequência
cardíaca. A frequência cardíaca pode permanecer na taxa
programada do aparelho, independente do estado volêmico TRABALHO EM EQUIPE
do doente. Em um significativo número de doentes que
apresentam defeitos miocárdicos de condução que são Uma das situações mais desafiadoras que a equipe
portadores desses aparelhos, uma forma de monitoração de trauma enfrenta é a abordagem de uma vítima de
adicional pode ser necessária para guiar a reposição trauma em profundo estado de choque. O líder deve
volêmica. Muitos aparelhos podem ser ajustados para direcionar a equipe de forma calma e decisiva, utilizando
aumentar a frequência cardíaca se houver indicação clínica. os princípios do ATLS.
A identificação e o controle das fontes de hemorragia
REAVALIAÇÃO DA RESPOSTA DO DOENTE com a reanimação simultânea envolvem múltiplos
esforços coordenados. O líder da equipe deve assegurar
E PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES que um acesso intravenoso seja obtido de maneira rápida
até mesmo nos casos mais desafiadores. A decisão de
A reposição volêmica inadequada é a complicação ativar o protocolo de transfusão maciça deve ser feita de
mais comum do choque hemorrágico. Os doentes em forma precoce para evitar a tríade letal de coagulopatia,
choque necessitam de tratamento imediato, apropriado hipotermia e acidose. A equipe deve estar ciente da
e agressivo para restaurar a perfusão orgânica. quantidade administrada de fluidos e de hemoderivados,
bem como da resposta fisiológica do doente, e deve
hemorragia contínua realizar os ajustes necessários.
O líder da equipe assegura que as áreas de hemorragia
A principal causa de resposta inadequada à reposição externa estejam controladas e determina quando realizar
volêmica é a hemorragia oculta ou não diagnosticada. exames adicionais, como radiografias de tórax e de pelve,
Esses doentes, também classificados como respondedores FAST e/ou LPD. As decisões referentes à necessidade de
transitórios, exigem investigação persistente para cirurgia ou de angioembolização devem ser tomadas
identificar a fonte de sangramento. Uma intervenção da maneira mais rápida possível e os especialistas
cirúrgica imediata pode ser necessária. necessários devem ser consultados. Quando os recursos
necessários não estiverem disponíveis, a equipe de
Monitoração trauma deve providenciar a transferência precoce e
segura do doente para o tratamento definitivo.
O objetivo da reanimação é restaurar a perfusão orgânica
e a oxigenação tecidual. Esse estado é identificado através
de um débito urinário adequado, do nível de consciência,
r e sumo do c a pítulo
da coloração da pele e do retorno da pressão arterial e da
pressão de pulso para valores normais. A monitoração da 1. Choque é uma anormalidade do sistema circulatório
resposta à reanimação é realizada de forma ótima em um que resulta em perfusão orgânica e oxigenação
ambiente em que são utilizadas técnicas mais sofisticadas. tecidual inadequadas.
Para os doentes idosos e para os que apresentam causas
não hemorrágicas de choque, considere a transferência 2. A hemorragia é a causa do choque na maioria dos
precoce para uma unidade de terapia intensiva ou para doentes traumatizados. O tratamento desses doentes
um centro de trauma. exige o controle imediato da hemorragia e a reposição
de fluidos e de sangue. Interrompa o sangramento.
Reconhecimento de Outros Problemas
3. O diagnóstico e o tratamento do choque devem
Quando um doente apresenta falha na resposta ocorrer simultaneamente.
terapêutica, as causas podem incluir: sangramento não
diagnosticado, tamponamento cardíaco, pneumotórax 4. A avaliação inicial do doente em estado de choque
hipertensivo, problemas ventilatórios, perdas líquidas requer um exame físico cuidadoso à procura de sinais
não reconhecidas, distensão gástrica aguda, infarto de pneumotórax hipertensivo, de tamponamento
do miocárdio, cetoacidose diabética, hipoadrenalismo cardíaco e de outras causas de choque.
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4 TRAUMA TORÁCICO

O trauma torácico é frequente em politraumatizados e apresenta quadros com risco de vida se


não identificado rapidamente durante a avaliação inicial.
CAPÍTULO 4 sumário
ObjeTIVOS

IntroduÇÃO

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES QUE AMEAÇAM A VIDA


• Problemas de Via Aérea
• Problemas de Ventilação
• Problemas de Circulação

AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
• Lesões Torácicas Potencialmente Letais
• Outras Manifestações de Lesões Torácicas

Trabalho em equipe

resumo do capítulo

Bibliografia

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de potencialmente fatais durante a avaliação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: secundária: pneumotórax simples, hemotórax,
tórax instável, contusão pulmonar, lesão cardíaca
1. Identificar e descrever o tratamento das contusa, ruptura aórtica traumática, lesão
lesões que ameaçam a vida durante a avaliação traumática do diafragma e ruptura esofágica contusa
primária: obstrução da via aérea, lesão da árvore (trauma fechado).
traqueobrônquica, pneumotórax hipertensivo,
pneumotórax aberto, hemotórax maciço e 3. Descrever a importância e tratamento do enfisema
tamponamento cardíaco. subcutâneo, lesões torácicas por esmagamento e
fraturas do esterno, costelas e clavículas.
2. Identificar e descrever o tratamento das lesões

63
­64 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

O
trauma torácico é muito frequente e representa Obstrução da Via Aérea
uma importante causa de morte, mesmo em
doentes atendidos nas salas de emergências A obstrução da via aérea pode resultar do edema,
em ambiente hospitalar. No entanto, muitas dessas sangramento ou vômito que é aspirado para a via aérea,
mortes poderiam ser evitadas, desde que o diagnóstico interferindo na troca gasosa. Vários mecanismos de trauma
das causas que ameaçam a vida do doente fossem podem produzir essas alterações. A lesão laríngea pode
identificadas e tratadas durante o atendimento primário. estar associada a grave trauma torácico, ou consequência
Menos de 10% deas lesões torácicas contusas e apenas de trauma direto do pescoço ou por compresssão da cabeça
15% a 30% das lesões torácicas penetrantes requerem clavicular. O deslocamento posterior da cabeça clavicular
intervenção cirúrgica. A maioria dos doentes que sofrem ocasionalmente leva à obstrução da via aérea. Já no trauma
trauma torácico pode ser tratada por procedimentos penetrante que compromete o pescoço ou o tórax as lesões
técnicos simples, treinados e capacitados durante o curso e as hemorragias podem produzir obstrução. Embora a
do ATLS. Muitos dos princípios descritos neste capítulo apresentação clínica seja ocasionalmente sutil, a obstrução
também se aplicam a lesões torácicas iatrogênicas, como aguda da via aérea pelo traumatismo laríngeo é uma lesão
hemotórax ou pneumotórax pós-punção, para acesso potencialmente fatal (ver Capítulo 2: Tratamento de Via
central e lesão esofágica durante a endoscopia. aérea e Ventilação.)
As consequências fisiológicas do trauma torácico são Durante a avaliação primária, procure evidências de
hipoxia, hipercarbia e acidose. Contusão, hematoma falta de ar, como retrações da musculatura intercostal
e colapso alveolar, bem como, alterações nas relações e supraclavicular. Inspecione a orofaringe quanto a
de pressão intratorácica (por exemplo, pneumotórax obstrução por corpo estranho. Ouça o movimento do ar no
hipertensivo e pneumotórax aberto) causam hipoxia nariz, boca e ausculte os campos pulmonares do doente.
e conduzem a acidose metabólica. A hipercarbia causa Ouça o estridor que evidencia uma obstrução parcial das
acidose respiratória e, na maioria das vezes, também vias aéreas superiores ou perceba mudança marcante
ventilação inadequada decorrente de alterações nas na qualidade da voz esperada. Sinta se há crepitação à
relações de pressão intratorácica e rebaixamento do palpação da parede anterior do pescoço.
nível de consciência. Os doentes com sinais de obstrução da via aérea podem
A avaliação inicial e o tratamento de doentes com ser tratados inicialmente com a aspiração de sangue ou
trauma torácico consistem na avaliação primária com vômitos da via aérea. Esta manobra, frequentemente
ressuscitação das funções vitais, avaliação secundária é temporária, sendo necessário obter uma via aérea
detalhada e cuidados definitivos. Como a hipoxia é a definitiva. Palpe à procura de deformidades na região
consequência mais grave de lesão no tórax, o objetivo da articulação esternoclavicular, reduza uma luxação
da intervenção precoce é prevenir e corrigí-la. posterior da cabeça clavícular, estenda os ombros do
Lesões que ameaçam imediatamente a vida devem ser doente para reduzir uma fratura de clavícula, pince a
tratadas de forma rápida e simples. A maioria das lesões clavícula com uma pinça de Backhaus, com o objetivo de
torácicas com risco de vida pode ser tratada com controle aliviar a obstrução por compressão externa. A redução
da via aérea, descompressão do tórax com uma agulha, normalmente permanece estável quando o doente é
descompressão digital e drenagem em selo d´água com colocado na posição supina.
dreno tubular. A avaliação secundária deve levar em
conta o histórico do trauma e manter alto índice de Lesão de Árvore Traqueobrônquica
suspeita, para lesões específicas.
A lesão da traqueia ou de um grande brônquio é uma
AVA LI AÇ ÃO PR IM Á R I A: condição incomum, mas potencialmente fatal. A maioria
das lesões da árvore traqueobrônquica ocorre no limite
LE SÕE S COM R IS CO DE V IDA de 1 polegada (2,54 cm) da carina. Essas lesões podem ser
graves e a maioria dos doentes morre no local. Aqueles
Na avaliação primária do doente com lesões torácicas, que chegam vivos ao hospital têm alta taxa de mortalidade
abordamos inicialmente a via aérea seguida pela consequente às lesões associadas, abordagem de via
ventilação e circulação. Os problemas críticos devem aérea inadequada, ou desenvolvimento de pneumotórax
ser corrigidos à medida que são identificados. hipertensivo ou pneumopericárdio hipertensivo.
As desacelerações abruptas, seguidas de trauma
problemas de via aérea contuso, podem produzir ferimentos na intersecção de um
ponto fixo com um segmento móvel da árvore brônquica.
É fundamental reconhecer e tratar as lesões graves de As explosões geralmente produzem ferimentos graves
vias aéres que põem em risco a vida do doente, durante nas interfaces ar-fluido. Trauma penetrante produz
avaliação primária. ferimentos por laceração direta ou pela energia cinética
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 65

com o efeito de cavitação. A intubação pode provocar ou doente enquanto o colar for retirado. Olhe, observe os
piorar uma lesão da traqueia ou dos brônquios proximais. movimentos respiratórios, veja se estão simétricos. Avalie
Os doentes geralmente apresentam hemoptise, enfisema se a ventilação está adequada. Escute o tórax avaliando os
subcutâneo cervical, pneumotórax hipertensivo e/ou sons pulmonares e identifique ruídos adventícios que possam
cianose. A expansão incompleta do pulmão e uma fístula indicar hemorragia e contusão pulmonar. Palpe para localizar
aérea de alto débito após a drenagem torácica sugerem uma segmentos dolorosos, crepitações ou deformidades.
lesão traqueobrônquica, podendo ser necessário a colocação O aumento na frequência respiratória e a mudança no
de mais de um tubo torácico, para superar este vazamento de padrão dos movimentos da caixa torácica, especialmente
ar significativo. (Ver animação do Tubo Torácico no aplicativo a ocorrência de movimentos respiratórios cada vez mais
móvel MyATLS.) A broncoscopia confirma o diagnóstico. superficiais, constituem-se em evidências, às vezes sutis,
Se houver suspeita de lesão traqueobrônquica, solicite mas indicativos de lesões torácicas ou de hipóxia. A cianose
rapidamente a avaliação de um cirurgião. é um sinal tardio de insuficiência respiratória no doente
O tratamento imediato pode exigir a colocação de traumatizado. A ausência de cianose, entretanto, não implica
uma via aérea definitiva. A intubação de doentes com necessariamente em oxigenação tecidual adequada ou em
lesões traqueobrônquicas é frequentemente difícil, via aérea pérvia. As principais lesões torácicas que afetam
devido à distorção anatômica provocada pelo hematoma a ventilação e que devem ser reconhecidas e abordadas na
paratraqueal, lesões orofaríngeas associadas e/ou a avaliação primária incluem o pneumotórax hipertensivo,
própria lesão traqueobrônquica. Poderão ser necessárias pneumotórax aberto (ferida torácica aspirativa) e hemotórax
manobras avançadas da via aérea, como a colocação de maciço. É imperativo que os médicos reconheçam e tratem
tubo endotraqueal com suporte de fibra óptica após o local essas lesões durante a avaliação primária.
da lesão, ou intubação seletiva do brônquio não afetado.
Nestes doentes, está indicada a abordagem cirúrgica Pneumotórax Hipertensivo
imediata. Em doentes mais estáveis, o tratamento cirúrgico
das lesões traqueobrônquicas pode ser retardado até que O pneumotórax hipertensivo ocorre quando há a formação
a inflamação aguda e o edema regridam. de um mecanismo “valvulado unidirecional” de escape
de ar do pulmão para o espaço pleural (n FIGURA 4-1).O ar
problemas respiratórios entra para a cavidade pleural sem possibilidade de sair,
colapsando completamente o pulmão. O mediastino
O tórax e o pescoço do doente devem ser expostos é deslocado para o lado oposto, diminuindo o retorno
completamente para que se possa avaliar a ventilação venoso e comprimindo o pulmão contralateral. O choque
e os vasos do pescoço. Esta avaliação requer a abertura decorrente desta situação é consequente à acentuada
temporária do colar cervical, neste caso, a imobilização diminuição do retorno venoso determinando uma queda
da coluna cervical dever mantida segurando a cabeça do do débito cardíaco, e é denominado de choque obstrutivo.

Pulmão colabado

Pneumotórax

Desvio do n FIGURA 4-1  Pneumotórax hipertensivo. Uma


mediastino
tii fuga de ar de "válvula unidirecional" ocorre a partir
do pulmão ou através da parede torácica e o ar é
forçado para dentro da cavidade torácica, acabando
por colapsar o pulmão afetado.

Veia Coração
cava
­66 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é


a ventilação mecânica com pressão positiva em doentes
com lesão da pleura visceral. No entanto, o pneumotórax
hipertensivo pode representar a complicação de um
pneumotórax simples devido a um trauma penetrante
ou contuso do tórax no qual não ocorreu o fechamento
da lesão do parênquima pulmonar ou após tentativas mal
direcionadas de inserção de cateter venoso central, seja
por via subclávia ou jugular interna. Ocasionalmente,
o pneumotórax hipertensivo pode resultar de lesões
traumáticas da parede torácica seja porque a lesão constitui
um mecanismo valvular unidirecional, ou porque foi
recoberta, incorretamente, por um curativo oclusivo. O
pneumotórax hipertensivo pode também resultar de fraturas
com grande desvio da coluna torácica. O diagnóstico de
n FIGURA 4-2  Descompressão digital. O pneumotórax
pneumotórax hipertensivo é clínico e resultado do acúmulo hipertensivo pode ser tratado inicialmente aplicando rapidamente a
de ar sob pressão no espaço pleural. O tratamento não deve técnica de descompressão digital.
ser adiado à espera de confirmação radiológica.
Doentes que estão respirando espontaneamente punção e a decompressão não ser bem sucedida. Neste
frequentemente manifestam taquipneia e “sensação caso, a toracostomia digital pode ser uma alternativa
de fome-de-ar” extremos, enquanto doentes ventilados (n FIGURA 4-2; ver também Apêndice G: Estação Prática
mecanicamente manifestam colapso hemodinâmico. O Ventilação.)
pneumotórax hipertensivo é caracterizado por alguns ou A espessura da parede torácica influencia a probabilidade
todos os seguintes sinais e sintomas: de sucesso da descompressão pleural com agulha.
Evidências recentes sugerem que uma agulha de 5 cm
•• Dor torácica atinge o espaço pleural >50% das vezes, enquanto que uma
•• Sensação de "fome de ar" agulha de 8 cm atinge o espaço pleural >90% das vezes.
•• Dispneia importante Os estudos também demonstraram que a colocação do
•• Desconforto respiratório cateter na parede anterior do tórax tem eficácia média em
•• Taquicardia 44% dos doentes. Evidências recentes apoiam a colocação
•• Hipotensão de um cateter (sobre agulha) grande, no quinto espaço,
ligeiramente anterior à linha medioaxilar. No entanto,
•• Desvio da traqueia para o lado contrário da
lesão mesmo com uma agulha de tamanho apropriado o
•• Ausência unilateral de murmúrio vesicular procedimento nem sempre será bem sucedido.
A descompressão com agulha bem sucedida, converte
•• Elevação do hemitórax sem movimento
respiratório o pneumotórax hipertensivo em um pneumotórax
•• Distensão das veias do percoço simples. No entanto, existe a possibilidade de subsequente
pneumotórax como resultado da manobra, então a
•• Cianose, como manifestação tardia
reavaliação contínua do doente é necessária. Após a
Faça uma avaliação respiratória, conforme o descrito descompressão por agulha ou digital, é obrigatório a
acima. A presença de percussão hipersonora, desvio de drenagem torácica em selo d`água.
traqueia contra-lateral, distensão das veias do pescoço
e ausência de sons respiratórios (murmúrio vesicular) Pneumotórax Aberto
são sinais de pneumotórax hipertensivo. A obtenção
da saturação baixa da hemoglobina pela oximetria de O pneumotórax aberto é provocado por grandes
pulso deve estar presente no pneumotórax hipertensivo. ferimentos da parede torácica que permanecem abertos
Quando o ultrassom estiver disponível, o pneumotórax e são denominados ferimentos torácicos aspirativos
hipertensivo poderá ser diagnosticado por intermédio (n FIGURA 4-3). Nestas condições, o equilíbrio entre as
de exame FAST (eFAST) estendido. pressões intratorácica e atmosférica é imediato. O ar
O pneumotórax hipertensivo requer descompressão tende passar pelo local de menor resistência, por isto se
imediata e pode ser tratado inicialmente inserindo-se a abertura da parede torácica for de aproximadamente
rapidamente um grande cateter sobre agulha no espaço dois terços do diâmetro da traqueia ou maior, o ar passará
pleural. Devido à espessura variável da parede torácica, preferencialmente pela lesão da parede a cada inspiração.
pode ocorrer dificuldades técnicas com o cateter como Por isso, a ventilação efetiva é prejudicada, resultando em
torção e outras complicações com a descompressão por hipóxia e hipercarbia.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 67

Pulmão colabado

Pneumotórax

Ferida torácica
aspirativa n FIGURA 4-3  Pneumotórax Aberto.
Grandes ferimentos na parede torácica que
mantêm-se abertos, podem resultar em
pneumotórax aberto, ou ferimento torácico
aspirativo.

Ar

Geralmente, o pneumotórax aberto é diagnosticado e


tratado na cena do trauma pelo pessoal do pré-hospitalar. Os
sinais e sintomas clínicos são dor, dificuldade respiratória,
taquipneia, diminuição dos sons respiratórios e movimento
ruidoso do ar através da parede torácica do lado afetado.
Para o tratamento inicial de um pneumotórax aberto, feche
imediatamente o ferimento com um curativo estéril, grande o
suficientemente para sobrepor as bordas da ferida. Qualquer
curativo oclusivo (gaze vaselinada, lâmina de plástico, etc.)
pode ser usado como medida temporária de modo a permitir
que a avaliação prossiga rapidamente. O ferimento deve ser
coberto com segurança em apenas três lados para produzir
um efeito de válvula unidirecional (n FIGURA 4-4). Quando o
doente inspira, o curativo ocluiu a ferida, impedindo a entrada
do ar. Na expiração, o lado que não está fixado permite o
n FIGURA 4-4  Curativo para Tratamento do Pneumotórax Aberto.
escape de ar de dentro da cavidade pleural. O vedamento
Cubra imediatamente o ferimento com curativo estéril oclusivo,
de todas as quatro bordas do curativo pode fazer com que largoApproved
o suficiente para ultrapassar
Changesasneeded
bordas do ferimento. Date
Fixe-o
oAdvanced Trauma Life Support for Doctors
ar se acumule na cavidade torácica, resultando em um firmemente em três lados para obter o efeito de válvula.
Student Course Manual, 9e
pneumotórax hipertensivo, a menos que um dreno torácico
American College of Surgeons
seja inserido.
Figure# 04.04 Assim que possível, um dreno de tórax deve KB
ser inseridoMedia
Dragonfly longeGroup
do ferimento. Frequentemente o doente
necessitará
10/26/2011da reconstrução cirúrgica da parede torácica. (VerWC
armadilha prevenção
Apêndice G: Estação Prática Ventilação.)
O pneumotórax • Certifique-se de que o
NP hipertensivo curativo oclusivo é fechado
Hemotórax Maciço
desenvolve -se após a em apenas três lados.
colocação do curativo • Tratar o pneumotórax
O acúmulo maior que 1.500 mL de sangue em um sobre a ferida no tórax com a colocação do tubo
hemitórax é classificado como hemotórax maciço, aberto. torácico através da pele
que pode prejudicar de forma significativa o intacta.
esforço respiratório, pela compressão do pulmão
­68 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

impedindo a oxigenação e a ventilação adequadas. de pulso. Os doentes com trauma fechado de tórax estão
Procede-se com uma drenagem do tórax para melhorar em risco de disfunção miocárdica, o que é aumentado
a ventilação e oxigenação e solicita-se uma consulta pela presença de hipoxia e acidose. As disritmias devem
rapidamente com um cirurgião, prosseguindo-se uma ser tratadas de acordo com os protocolos padrão.
reanimação apropriada. Um acúmulo agudo e maciço
de sangue causa hipotensão e choque que será discutido Hemotórax Maciço
adiante neste capítulo.
n TABELA 4-1 mostra as diferentes apresentações do O hemotórax maciço resulta de um rápido acúmulo de
hemotórax hipertensivo e hemotórax maciço. mais de 1.500 ml de sangue, ou um terço ou mais do
volume sanguíneo do doente, na cavidade torácica (n
problemas de circulação FIGURA 4-5). É causado, mais comumente, por ferimentos
penetrantes que comprometem os vasos sistêmicos
As principais lesões torácicas que comprometem a ou hilares. Contudo pode estar presente também no
circulação e que devem ser reconhecidas e abordadas trauma contuso.
durante a avaliação primária são hemotórax maciço, No doente com hemotórax maciço as veias do pescoço
tamponamento cardíaco e parada cardíaca por trauma. podem estar colapsadas devido à grave hipovolemia
A atividade elétrica sem pulsos (AESP) é manifestada ou distendidas quando existir um pneumotórax
por um eletrocardiograma (ECG) que mostra um ritmo, hipertensivo concomitante. Em casos raros, os efeitos
enquanto o doente não possui pulso identificável. Este mecânicos de um hemotórax maciço podem deslocar
quadro pode estar presente no tamponamento cardíaco, o mediastino a ponto de causar a distensão das veias
pneumotórax hipertensivo, ou hipovolemia profunda. cervicais. Um hemotórax maciço é diagnosticado pela
Um trauma torácico contuso grave pode provocar associação de choque com ausência de murmúrio
a ruptura dos átrios ou dos ventrículos e a única vesicular e/ou macicez à percussão de um dos
manifestação pode ser AESP. Outras causas de AESP hemitórax.
incluem hipovolemia, hipoxia, íon hidrogênio (acidose), O hemotórax maciço é tratado inicialmente pela
hipocalemia/hipercalemia, hipoglicemia, hipotermia, reposição do volume sanguíneo e descompressão da
toxinas, tamponamento cardíaco, pneumotórax cavidade torácica, realizadas simultaneamente. Após
hipertensivo e trombose (coronária ou pulmonar). conseguir rápido acesso venoso com cateter calibroso,
Examine a coloração da pele para detectar manchas, inicia-se a infusão de cristaloide e, assim que possível,
cianose e palidez. As veias do pescoço devem ser avaliadas administra-se sangue tipo-específico. O sangue
quanto à distensão, embora possam não estar distendidas removido através do dreno de tórax deve ser coletado
em doentes com hipovolemia concomitante. Ouça a em um dispositivo que permita a autotransfusão.
regularidade e a qualidade dos batimentos cardíacos. Insere-se um único dreno de tórax (nº 28-32 French)
Avalie a frequência, amplitude e regularidade do pulso geralmente ao nível do mamilo, logo anteriormente à
central. Em doentes com hipovolemia, os pulsos distais linha axilar média, simultâneo à reposição rápida de
podem estar ausentes devido à depleção do volume. volume à medida que se completa a descompressão da
Palpar a pele para avaliar a temperatura e determinar cavidade torácica. Se o volume drenado imediatamente
se está seca ou suada. for de aproximadamente 1.500 ml, é muito provável
Mensure a pressão sanguínea e a pressão do pulso e que seja necessário uma toracotomia de urgência para
monitore o doente com eletrocardiografia e oximetria o doente.

tabela 4-1 diferenciando pneumotórax hipertensivo e hemotórax maciço

SINAIS FÍSICOS

SONS POSIÇÃO VEIAS DO MOVIMENTO


CONDIÇÃO RESPIRATÓRIOS PERCUSSÃO TRAQUEAL PESCOÇO TORÁCICO

Pneumotórax Diminuídos ou Hiper-timpânico Desviado Distendidas Expandido


hipertensivo ausentes imóvel

Hemotórax Diminuídos Maciço Centralizada Colapsadas Móvel


maciço
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 69

Pulmão parcialmente colabado

Pleura parietal

Pleura visceral

n FIGURA 4-5  Hemotórax Maciço. Esta condição


Sangue no resulta do rápido acúmulo de mais de 1.500 mL de
espaço pleural sangue ou um terço ou mais do volume sanguíneo do
doente na cavidade torácica.

Alguns doentes que apresentam um débito inicial causar o preenchimento do pericárdio com sangue dos
menor que 1.500 mL, mas continuam sangrando, podem grandes vasos ou vasos epicárdicos do coração (n FIGURA 4-6).
necessitar toracotomia. A decisão não é baseada pelo O tamponamento cardíaco pode desenvolver-se devagar,
volume de sangue que continua drenando por hora (200 permitindo uma avaliação menos urgente, ou rapidamente,
mL/h por 2 a 4 horas), mas sim no estado fisiológico requerendo diagnóstico e tratamento rápidos. A tríade
do doente. A necessidade persistente de transfusões clínica clássica de sons cardíacos abafados, hipotensão
sanguíneas constitui-se em indicação de toracotomia. e elevação da pressão venosa, não está uniformemente
Durante a reanimação do doente, para o cálculo da presente em todos os casos de tamponamento cardíaco. A
reposição total de fluidos: deve-se contabilizar o volume ausculta cardíaca abafada é difícil de se avaliar em uma sala
de sangue perdido imediatamente após a drenagem de reanimação ruidosa e as veias distendidas do pescoço
acrescida do volume que continua drenando a seguir. podem estar ausentes devido à hipovolemia. O sinal de
A coloração do sangue (arterial ou venoso) não é um Kussmaul (ou seja, um aumento da pressão venosa com
bom indicador para avaliar a necessidade ou não de inspiração ao respirar espontaneamente) é uma verdadeira
toracotomia. anormalidade de pressão venosa paradoxal associada ao
Advanced Trauma Lifepenetrantes
Os ferimentos Support for Doctors
da parede anterior do Approved
tamponamento.Changes
AESP needed Date
pode sugerir tamponamento cardíaco,
Student Course Manual, 9e
tórax, entre as linhas dos
American College of Surgeons
mamilos ou posteriores e porém pode ter outras causas, como explicado anteriormente.
KB
mediais
Figure# às escápulas devem alertar o médico para
04.07 a O pneumotórax hipertensivo, particularmente no lado
eventualMedia
Dragonfly necessidade
Group de toracotomia, pela possível esquerdo, pode imitar o tamponamento cardíaco. Devido
10/27/2011
lesão dos grandes vasos, das estruturas hilares WC e à semelhança em seus sinais, o pneumotórax hipertensivo
do coração, com risco potencial de tamponamento pode inicialmente ser confundido com o tamponamento
cardíaco. A toracotomia não deve ser indicada seNPnão cardíaco. A presença de hiperresonância na percussão
houver um cirurgião qualificado presente. indica pneumotórax hipertensivo, enquanto a presença de
sons respiratórios bilaterais indica tamponamento cardíaco.
Tamponamento Cardíaco A avaliação ultra-sonográfica orientada para o trauma
(FAST) é um método rápido e preciso de imagem do
O tamponamento cardíaco é a compressão do coração por coração e pericárdio que pode efetivamente identificar
um acúmulo de líquido no saco pericárdico. Isso resulta tamponamento cardíaco.
em diminuição do débito cardíaco devido à diminuição A acurácia do FAST varia de 90-95% na identificação da
do fluxo de entrada para o coração. O saco pericárdico presença de líquido no saco pericárdico para o operador
humano é uma estrutura fibrosa fixa e uma quantidade experiente (Ver vídeo FAST no aplicativo móvel MyATLS).
relativamente pequena de sangue pode restringir a O hemotórax concomitante pode explicar os exames
atividade cardíaca e interferir com o enchimento cardíaco. falsos positivo e falsos negativo. Lembre-se de que o
O tamponamento cardíaco mais comumente resulta tamponamento pode se desenvolver a qualquer momento
de lesões penetrantes, embora lesões contusas possam durante a fase de reanimação e repetir exames FAST
pode ser necessário. Médicos com experiência em
­70 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

Normal
Normal Pericardial tamponade
Pericardial tamponade

Saco Saco
A Bpericárdico
pericárdico
C
n FIGURA 4-6  Tamponamento Cardíaco. A. Coração normal. B. Tamponamento cardíaco pode ser causado por ferimento penetrante e trauma contuso
do coração, vasos da base e vasos pericárdicos que permitem o saco pericárdio se encher de sangue. C. Ultrassom: mostrando um tamponamento cardíaco.

ultra-sonografia também podem avaliar a disfunção cardíaco, herniação cardíaca e contusão miocárdica
miocárdica e o preenchimento ventricular. grave. Devemos considerar que um evento cardíaco pode
Métodos adicionais de diagnóstico de tamponamento ter sido a causa e portanto preceder o evento traumático.
cardíaco incluem ecocardiografia e/ou janela A parada circulatória é diagnosticada pelos achados
pericárdica, o que pode ser particularmente útil quando clínicos (vítima inconsciente e sem pulso) e requer ação
FAST não está disponível ou é duvidoso. imediata. Cada segundo conta, e não deve haver atraso no
Quando o líquido pericárdico ou o tamponamento monitoramento de ECG ou ecocardiografia. Evidências
são diagnosticados, a toracotomia de emergência ou recentes mostram que alguns doentes em parada
a esternotomia devem ser realizadas por um cirurgião circulatória traumática podem sobreviver (1,9%) se RCP
qualificado o mais rápido possível. A administração fechada e reanimação apropriada forem realizadas. Nos
de Trauma
Advanced
Advanced Traumavolume Lifeaumentará
Support
Life Support a pressão venosa Approved
for Doctors
for Doctors do doente
Approved e Changes
centros
Changes que utilizam
needed
needed DateaDate
toracotomia de reanimação, foi
Student Course Manual, 9e
Student melhorará
Course
American
Manual,
College
9e o débito
of Surgeons
cardíaco transitório, enquanto os relatada mais de 10% de sobrevivência em doentes com
American College of Surgeons KB KBcirúrgica. Se
preparativos
Figure#
Figure# 04.08 04.08 são feitos para a intervenção parada circulatória após trauma penetrante e contuso.
Dragonfly a cirurgia
Dragonfly
Media Media
GroupGroupnão for possível, a pericardiocentese pode Comece a RCP fechada simultaneamente com o
10/27/2011 WC
10/27/2011 ser utilizada como terapêutica, masWCnão constitui um tratamento do ABC. Garanta uma via aérea definitiva
tratamento definitivo para o tamponamento cardíaco com intubação orotraqueal (sem indução assistida por
NP NP
Quando a pericardiocentese subxifoide é utilizada drogas). Execute a ventilação mecânica com 100% de
como manobra temporizadora, é ideal o uso de um oxigênio. Para descomprimir um possível pneumotórax
cateter de tubo grande, ou da técnica de Seldinger, hipertensivo, realize toracostomias digitais ou drenagens
para inserção de um cateter flexível, mas a prioridade torácicas bilaterais. Não é necessária anestesia local, pois
urgente é aspirar o sangue do saco pericárdico. Como o doente está inconsciente. Monitore continuamente
as complicações são comuns com técnicas de inserção o ECG e a saturação de oxigênio e comece a reposição
cega, a pericardiocentese deve representar uma medida volêmica rapidamente por veias de grande calibre ou
de salvamento de último recurso, em ambiente acesso intraósseo. Administre epinefrina (1 mg) e, se a
onde nenhum cirurgião qualificado está disponível fibrilação ventricular estiver presente, trate-a de acordo
para realizar uma toracotomia ou esternotomia. A com os protocolos de ACLS (Advanced Cardiac Life
orientação por ultrassom pode facilitar a inserção Support).
precisa do cateter de tubo grande no espaço pericárdico. Conforme a política local e a disponibilidade de uma
equipe cirúrgica habilitada para tratar estas lesões,
Parada Circulatória Traumática pode-se indicar a toracotomia de reanimação, caso não
haja retorno da circulação espontânea (RPE). Se não
Os doentes traumatizados que estão inconscientes e houver cirurgião disponível para realizar a toracotomia
não têm pulso, incluindo AESP (como observado em e o tamponamento cardíaco for diagnosticado, ou
hipovolemia extrema), fibrilação ventricular e assistolia ainda altamente suspeito, pode ser realizada uma
(parada cardíaca verdadeira), são considerados em pericardiocentese de agulha descompressiva, de
parada circulatória. As causas da parada circulatória preferência guiada por ultrassom.
traumática incluem hipoxia grave, pneumotórax n FIGURA 4-7 apresenta um algoritmo para o tratamento
hipertensivo, hipovolemia profunda, tamponamento da parada circulatória traumática.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 71

Parada circulatória traumática (penetrante ou contusa) sem pulso


RCE - Retorno
Sala de cirurgia Equipe de trauma alertada pelo despacho médico da circulação
com cirurgião espontânea
presente < 2 minutos
RCP fechada em progresso
mandatórios
(Via aérea, compressões cardíacas externas,
intubação orotraqueal, 100% de oxigênio, RCE
acesso IV ou IO, fluídos, adrenalina

Tratamento
ususal
Sem RCE

Descompressão Drenos de
RCE
torácica bilateral tórax

Sem RCE

Toracotomia ânterolateral e
< 3 minutos pericardiotomia vertical

Lesão cardíaca Hipovolemia severa

•Redução da lesão cardíaca Tórax Abdómen


•Liberação do tamponamento (pedículo pulmonar
•Reparo no ferimento cardíaco vasos mediastinais)

Hemostase (clampeamento) Compressão da


aorte descendente

Continue a RCP através das linhas dos graves vasos

Parada cardíaca

RCE Massagem cardíaca interna e/ou choque elétrico interno

Tratamento Óbito (após 30 min de RCP) e temp > 33°C


usual

n FIGURA 4-7  Algoritmo para o tratamento da parada circulatória traumática. ECM = massagem cardíaca externa; OTI = intubação
orotraqueal; IVL = linha intravenosa; IOL = linha intraóssea.
­72 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

•• Pneumotórax simples
avaliação secundá r ia
•• Hemotórax
A avaliação secundária em doentes com trauma torácico •• Tórax instável
envolve exame físico cuidadoso, monitoramento contínuo •• Contusão pulmonar
do ECG e da oximetria de pulso, gasometria arterial,
radiografia de tórax em posição supina desde que não haja •• Trauma cardíaco contuso
suspeita de instabilidade da coluna vertebral e tomografia •• Ruptura traumática da aorta
computadorizada de tórax (CT) em doentes selecionados
com suspeita de lesão na aorta ou da coluna vertebral. •• Lesão traumática do diafragma
Na radiografia de tórax devemos avaliar a expansão •• Ruptura esofágica no trauma contuso
pulmonar, a presença de derrames, bem como a presença
de alargamento do mediastino, desvio da linha média
e perda de detalhes anatômicos. Fraturas de costelas Pneumotórax Simples
múltiplas e particularmente as fraturas da primeiro ou
segundo arco costal sugerem que o tórax e os tecidos O pneumotórax resulta da entrada de ar no
adjacentes foram submetidos a uma força significativa. espaço virtual entre a pleura visceral e a parietal
Deve ser realizado exame do FAST estendido (eFAST) para (n FIGURA 4-8). Normalmente, a cavidade torácica está
detectar pneumotórax e/ou hemotórax. Entretanto outras completamente preenchida pelo pulmão, mantido em
lesões potencialmente fatais não são bem visualizadas pelo íntimo contato com a parede torácica por uma tensão
ultrassom, tornando a radiografia de tórax uma ferramenta superficial existente entre as superfícies pleurais. A
necessária na avaliação de um traumatizado (Ver Apêndice presença de ar no espaço pleural rompe a força de
G: Estação Prática B Ventilação). adesão entre as pleuras visceral e parietal, permitindo
o colapso do pulmão. Isso resulta em alteração na
ferimentos com potencial risco à vida ventilação/perfusão, porque o sangue que perfunde
áreas não ventiladas não é oxigenado.
Ao contrário das condições imediatamente fatais Tanto o trauma penetrante como o contuso podem
que são reconhecidas durante a avaliação primária, causar pneumotórax. A laceração pulmonar com
outras lesões potencialmente letais geralmente não vazamento de ar é a causa mais comum de pneumotórax
são óbvias no exame físico inicial. O diagnóstico requer após um trauma contuso.
um alto índice de suspeita e o uso adequado de exames Realize um exame físico detalhado do tórax quanto a
complementares. Se não diagnosticadas podem levar equimoses, lacerações e contusões. Avalie o movimento
a complicações importantes ou até a morte. da parede torácica e avalie e compare o murmúrio
As oito lesões potencialmente letais que devem ser vesicular em ambos os lados. Na presença de um
identificadas e tratadas durante a avaliação secundária pneumotórax, o murmúrio vesicular está diminuído no
são: lado afetado e a percussão demonstra hipertimpanismo.

Camada muscular Gordura Pele


Pulmão colabado

Pneumotórax

Arcos
costais

Pulmão

Pleura Pleura
visceral parietal

n FIGURA 4-8  Pneumotórax Simples. Resultante da entrada de ar no potencial espaço entre as pleuras visceral e parietal.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 73

O hipertimpanismo é muito difícil de ser observado em também serve de modo significativo como método de
sala de emergência movimentada. monitoração do sangramento. A drenagem de sangue
Uma radiografia de tórax ântero-posterior, em ou líquidos contidos na pleura permite também uma
expiração, pode auxiliar no diagnóstico. Doentes com avaliação mais precisa de potenciais lesões diafragmáticas.
trauma contuso não são candidatos para essa avaliação, Embora muitos fatores estejam envolvidos na decisão
porém nos traumas penetrantes pode ser útil. de operar ou não um doente com hemotórax, os mais
Todo pneumotórax é melhor tratado com a inserção de importantes são o estado fisiológico do doente e o
um dreno de tórax no quarto ou quinto espaço intercostal, volume de sangue eliminado pelo dreno de tórax.
logo anteriormente à linha axilar média. A observação e Como conduta normativa, a exploração cirúrgica deve
a aspiração de um pneumotórax assintomático pode ser ser considerada sempre que a drenagem inicial for
apropriada, mas a escolha deve ser feita por um médico igual ou maior que 1.500 mL de sangue, ou quando a
qualificado; caso contrário deve ser realizada a drenagem drenagem for maior que 200 mL/h durante 2 a 4 horas
torácica. Após a inserção de um dreno de tórax e sua ou quando há necessidade de transfusão contínua de
adaptação a um sistema de selo d’água com ou sem sangue. A decisão final para realizar uma toracotomia
aspiração, é necessário um novo raio-X de tórax para de emergência é o estado hemodinâmico do doente.
confirmar a re-expansão pulmonar. Os doentes vítimas
de pneumotórax traumático ou que tenham risco de
desenvolver um pneumotórax no trans-operatório, não
armadilha prevenção
devem ser submetidos a anestesia geral ou a ventilação
Hemotórax retido. • Assegurar a colocação
mecânica com pressão positiva, até que tenham seu
adequada do tubo torácico.
tórax drenado. Em casos selecionados, por exemplo,
• Consultar o cirurgião.
quando um "pneumotórax subclínico" (ou seja, oculto)
for diagnosticado, a equipe de trauma pode optar pela
observação cuidadosa do doente quanto a sinais clínicos
de expanção do pneumotórax. A abordagem mais segura Tórax Instável e Contusão Pulmonar
é colocar um dreno torácico antes que um pneumotórax
hipertensivo possa se desenvolver. O tórax instável ocorre quando um segmento da parede
Doentes com pneumotórax que necessitem de torácica não tem mais continuidade óssea com o resto
transporte aéreo, também devem ser drenados da caixa torácica e geralmente é consequente a um
previamente, mesmo em cabines pressurizadas. trauma que provoca múltiplas fraturas de costelas, ou
seja, duas ou mais fraturas em dois ou mais lugares,
Hemotórax embora também possa ocorrer quando há uma separação
costocondral de uma única costela do tórax (n FIGURA 4-9).
Hemotórax é definido quando o derrame pleural tem Uma contusão pulmonar é uma lesão no pulmão
sangue acumulado na cavidade pleural (<1.500 mL). A causada por um trauma torácico. Sangue e outros
causa mais comum de hemotórax é a laceração pulmonar fluidos acumulam-se no tecido pulmonar, interferindo
ou a ruptura de um vaso intercostal ou da artéria mamária na ventilação e levando potencialmente à hipoxia. A
interna, consequente tanto ao trauma penetrante quanto contusão pulmonar pode ocorrer sem fratura de costela
ao trauma contuso. As fraturas de coluna torácica também ou no tórax instável, particularmente em doentes
podem levar ao hemotórax. Geralmente este sangramento jovens sem costelas completamente ossificadas. As
é autolimitado e não necessita de tratamento cirúrgico. crianças têm a parede do tórax muito mais flexivel do
Exponha as áreas cervicais e torácica e observe o que os adultos e podem sofrer contusões e outras lesões
movimento da parede torácica. Olhe por lesões penetrantes no tórax interno sem fraturas de costela.
na parede torácica, incluindo a parte posterior do tórax. Nos adultos, as fraturas de costelas estão
Avalie e compare o murmurio vesicular em ambos os frequentemente associadas à contusão pulmonar, sendo
hemitóraces. Normalmente, é difícil ouvir e diferenciar a causa potencialmente mais comum de letalidade.
o som claro pulmonar da percussão no lado normal em A insuficiência respiratória resultante pode ser de
relação ao lado afetado, contralateral. Obtenha uma instalação insidiosa, desenvolvendo-se ao longo do
radiografia de tórax com o doente em posição supina. tempo, ao invés de ocorrer instantaneamente. A reserva
Uma pequena quantidade de sangue será identificada ventilatória limitada pode predispor doentes idosos a
como uma opacidade homogênea no lado afetado. insuficiência respiratória precoce.
O hemotórax agudo suficiente para aparecer no raio-X Um segmento instável da parede torácica pode não
de tórax deve ser tratado com um dreno de tórax de grosso estar aparente no exame físico inicial, particularmente
calibre (no 28 ou 32 French). O dreno de tórax remove logo após o trauma. O esforço respiratório diminuído,
o sangue, diminui o risco de formação de coágulos e combinado com contusão e atelectasia, podem limitar
­74 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

Inspiração Expiração

Seguimento Separação
instável
costocondral

A B

n FIGURA 4-9  Tórax Instável. A presença de um segmento de tórax


instável resulta em ruptura do movimento normal da parede torácica.
A. Tórax instável com múltiplas fraturas de costelas. B. Tórax instável
pela separação costocondral. C. Raio X simples mostrando trauma
torácico associado a fraturas de costelas múltiplas. Um segmento da
parede torácica não possui continuidade óssea com o resto do gradio

C
Advanced Traum a Life SupportforDoctors Approved Changes needed Date
StudentCourse M anual,9e
Am erican College ofSurgeons
o movimento
Figure# 04.06AB
da parede torácica. Musculatura
KB espessa crônica e insuficiência renal, aumentam a probabilidade da
da parede
Dragon ytorácica
M edia Grouptambém pode limitar a visualização necessidade da intubação precoce e ventilação mecânica.
10/26/2011 WC
do movimento anormal do tórax. Se a lesão resultar O tratamento definitivo do tórax instável e da contusão
em contusão pulmonar subjacente significativa, NP pode pulmonar envolve assegurar uma oxigenação adequada,
ocorrer uma hipoxia grave. A limitação do movimento administração criteriosa de fluidos e analgesia adequada
da parede torácica, associado à dor e contusão pulmonar para melhorar a ventilação. A estratégia do tratamento
subjacente pode provocar a insuficiência respiratória. definitivo pode mudar com o tempo a depender da resposta
A observação do movimento respiratório anormal e do doente, garantido pelo monitoramento cuidadoso e
a palpação quanto a crepitação e fraturas de costela ou reavaliação sistemática.
cartilagem podem ajudar o diagnóstico. Uma radiografia A analgesia pode ser alcançada com sedativos
de tórax pode sugerir fraturas de costela múltiplas, mas intravenosos ou anestesia local, que evita a possível
pode não mostrar separação costocondral. depressão respiratória comum durante a analgesia
O tratamento inicial do tórax instável e contusão sistêmica. As opções para administração de anestésicos
pulmonar incluem a administração de oxigênio locais incluem bloqueio intermitente do nervo intercostal
humidificado, ventilação adequada e reanimação e anestesia percutânea intrapleural, extrapleural ou
parcimoniosa de fluídos. Na ausência de hipotensão peridural. Quando usado corretamente, os agentes
sistêmica, a administração de soluções intravenosas de anestésicos locais podem fornecer analgesia excelente e
cristaloides deve ser cuidadosamente controlada, para evitar a necessidade de intubação. No entanto, a prevenção
evitar a sobrecarga de volume, o que pode comprometer da hipóxia é de suma importância para os doentes com
ainda mais as trocas gasosas do doente. trauma e um curto período de intubação e ventilação
Doentes com hipóxia significativa (isto é, PaO2<60 mmHg podem ser necessários. Uma avaliação cuidadosa do índice
[8,6 kPa] ou SaO2<90%), em ar ambiente, podem exigir de troca gasosa do doente, saturação arterial de oxigênio e
intubação e ventilação na primeira hora após o trauma. do trabalho respiratório indicará o tempo adequado para
As doenças prévias associadas, como doença pulmonar intubação e ventilação, caso seja necessária.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 75

pelo eletrocardiograma. Os doentes com contusão


Armadilhas prevenção miocárdica diagnosticada através das anormalidades de
condução apresentam riscos de desenvolver arritmias
Subestimar o • Monitore a saturação arterial. súbitas e devem ser monitorados nas primeiras 24 horas
efeito da contusão • Monitore a capnografia. após o trauma. Após este período, o risco de arritmias
pulmonar. • Correlacione com a
súbitas parece decrescer substancialmente, em função
gasometria.
• Monitore a respiração. disto, nos doentes sem alterações eletrocardiográficas
• Intube, se necessário. podemos dispensar a monitorização.
• Administre solução cristaloide
judiciosamente. Ruptura Traumática de Aorta

A ruptura aórtica traumática é causa comum de morte


súbita após colisões de automóveis ou quedas de grande
Trauma Contuso Cardíaco altura. Se o doente sobrevive ao evento inicial, a recuperação
costuma ser possível desde que a ruptura aórtica seja
Uma recente revisão da literatura demonstra que 50% dos identificada e tratada precocemente. Os doentes com
traumas cardíacos contusos (TCC) foram relacionados ruptura traumática de aorta, potencialmente tratáveis,
a acidentes de veículos motorizados, seguidas de costumam ter uma ruptura incompleta perto do ligamento
atropelamentos, acidentes de moto e, em seguida, a arterioso da aorta. A manutenção da integridade da camada
queda de alturas superiores a 6 metros (20 pés). O trauma adventícia, ou o hematoma mediastinal contido, previnem
cardíaco contuso pode resultar em contusão do músculo exanguinaçao e a morte imediata (n FIGURA 4-10).
cardíaco, ruptura de câmaras cardíacas, dissecção e/ou O sangue pode sair para o mediastino, porém uma
trombose das artérias coronárias ou laceração valvular. característica comum a todos os casos que sobreviveram
A ruptura da câmara cardíaca manifesta-se tipicamente é que eles possuem um hematoma contido. Hipotensão
por tamponamento cardíaco e deve ser reconhecida persistente ou recorrente geralmente é consequência de dois
durante a avaliação primária. No caso de uma ruptura pontos de hemorragia separados ainda não identificados.
atrial, entretanto, ocasionalmente os sinais e sintomas de Embora a ruptura livre de uma lesão completa da aorta
tamponamento podem surgir lentamente. A utilização no hemitórax esquerdo não ocorra e possa evoluir com
precoce do FAST pode facilitar o diagnóstico. hipotensão, geralmente é fatal, a menos que a equipe de
Os membros da equipe de trauma devem considerar a trauma possa repará-la em poucos minutos.
importância do TCC. Doentes com contusão miocárdica
podem queixar-se de desconforto torácico, embora tais
queixas sejam comumente atribuídas a contusões da
parede torácica ou a fraturas do esterno e/ou das costelas.
Ruptura aórtica
O diagnóstico definitivo de contusão miocárdica pode
ser estabelecido apenas através da inspeção direta do
miocárdio. Os sinas e sintomas relevantes clinicamente
da contusão miocárdica são a hipotensão, arritmias ao
exame eletrocardiográfico ou alterações da contratilidade
da parede miocárdica vistas na ecocardiografia
bidimensional. As alterações eletrocardiográficas são
variáveis e podem até indicar um infarto miocárdico
evidente. Os achados eletrocardiográficos mais comuns
são extra-sístoles ventriculares múltiplas, taquicardia
sinusal inexplicada, fibrilação atrial, bloqueio de ramo
(geralmente direito) e alterações do segmento ST. A
elevação da pressão venosa central, na ausência de
uma causa óbvia, pode indicar disfunção ventricular
direita secundária a contusão. Não deve ser desprezado
a possibilidade do evento traumático ter sido provocado
por um episódio de isquemia miocárdica. n FIGURA 4-10 Ruptura Aórtica. A ruptura traumática de aorta é
As troponinas cardíacas podem diagnosticar o infarto uma causa comum de morte súbita apos acidente automobilístico
do miocárdio. Entretanto, seu uso no diagnóstico de ou queda de grande altura. Manter um alto índice de suspeita
lesão cardíaca contusa é inconclusivo e não oferece diante de uma história de desaceleração brusca e características
informação adicional além daquela disponível encontradas nas radiografias de tórax.
­76 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

Sinais e sintomas específicos de ruptura de aorta cirurgião de trauma pode orientar melhor quais os exames
estão frequentemente ausentes. Além da forte suspeita diagnósticos são necessários para cada caso.
despertada pela cinética do trauma em que ocorra uma Os controles da frequência cardíaca e da pressão arterial
desaceleração abrupta, associado ao achado de sinais podem diminuir a probabilidade de ruptura. A dor deve
radiológicos, na radiografia simples de tórax, reforçam primeiramente ser controlada com analgésicos. Se não
a suspeita. Os achados radiológicos, que podem ou não existirem contra-indicações, recomenda-se o controle da
estar presentes e apontam para a possibilidade da lesão frequência cardíaca com um beta-bloqueador de ação curta
aórtica, são: para manter a frequência cardíaca menor que 80 batimentos
por minuto (BPM) e controle de pressão arterial média entre
•• Alargamento do mediastino 60 a 70 mm Hg, como meta. Caso o betabloqueador esmolol
•• Obliteração do botão aórtico não for suficiente ou contra indicado, pode-se utilizar uma
•• Desvio da traqueia para a direita droga bloqueadora dos canais de cálcio (nicardipina); se
isso falhar, nitroglicerina ou nitroprussiato podem ser
•• Rebaixamento do brônquio-fonte esquerdo
cuidadosamente adicionados. A hipotensão é uma contra
•• Elevação do brônquio-fonte direito indicação óbvia a esses medicamentos.
•• Obliteração do espaço entre a artéria pulmonar Um cirurgião qualificado e experiente deve acompanhar
e a aorta (apagamento da janela da artéria e assistir os doentes com lesão traumática da aorta e
pulmonar)
auxiliar no diagnóstico. O tratamento cirúrgico da lesão
•• Desvio do esôfago (sonda nasogástrica) para a envolve ressecção e reparo do segmento lesado ou, em
direita casos selecionados o, reparo primário da lesão que é
•• Alargamento da faixa paratraqueal pouco frequente. O reparo endovascular é a opção mais
•• Alargamento das interfaces para-espinhais comum para abordar a lesão aórtica e tem excelentes
•• Presença de um derrame extrapleural apical resultados a curto prazo. Um acompanhamento criterioso
deve ser realizado após a alta do doente para identificar
•• Hemotórax à esquerda
complicações ao longo prazo.
•• Fratura do primeiro e segundo arcos costais ou A transferência dos doentes com suspeita de ruptura
da escápula
traumática da aorta não deve ser retardada, pois pode
Estes achados radiológicos podem se apresentar como ocorrer ruptura livre do hematoma contido e morte
informações falso-positivas e/ou falso-negativas, porém rápida por exanguinação. Todos os doentes com
raramente (1% a 13%) não serão encontrados achados mecanismo de lesão e achados simples de raios X de tórax
anormais nas radiografias simples de tórax na presença sugestivos de ruptura aórtica devem ser transferidos
de lesões de grandes vasos. Caso haja a mínima suspeita para uma instituição capaz de realizar o diagnóstico
de lesão traumática da aorta, o doente deve ser avaliado rápido e o tratamento desta lesão potencialmente letal.
em um ambiente onde existam condições de confirmar
o diagnóstico e tomar as medidas terapêuticas cabíveis. Ruptura Traumática do Diafragma
A tomografia computadorizada helicoidal do tórax
tem-se mostrado atualmente como um método de grande A ruptura traumática do diafragma é mais comumente
acurácia para triagem dos doentes com suspeita de lesão da diagnosticada do lado esquerdo, talvez porque o fígado
aorta torácica. A tomografia computadorizada helicoidal oblitere o defeito ou proteja o lado direito do diafragma,
do tórax é mandatória, porque os achados da radiografia enquanto podemos detectar a presença do intestino,
simples do tórax, especialmente em posição ortostática o estômago e a sonda nasogástrica com facilidade
não são confiáveis. Quando os resultados da tomografia no lado esquerdo do tórax. O trauma contuso produz
são duvidosos ou inconclusivos, deve ser realizada uma rupturas radiais grandes que levam a herniação (n FIGURA
aortografia. Habitualmente o doente que se encontra 4-11). Enquanto o trauma penetrante produz perfurações
hemodinamicamente anormal não deve ser submetido a pequenas que podem permanecer assimtomáticas por anos.
tomografia. A sensibilidade e especificidade da tomografia As lesões diafragmáticas, frequentemente, não são
helicoidal contrastada é de 100%, resultado dependente diagnosticadas inicialmente, face a interpretações
da tecnologia. Se a tomografia helicoidal do tórax não equivocadas dos achados da radiografia simples do
identificar presença de ruptura de aorta e hematoma do tórax como elevação de cúpula diafragmática, distensão
mediastino, não é necessária nenhuma outra investigação gástrica aguda, hemopneumotórax loculado ou hematoma
de imagem subsequente. Caso a tomografia seja positiva subpulmonar. Se houver suspeita de uma ruptura do
para ruptura de aorta por trauma contuso, a extensão hemidiafragma esquerdo, deve-se inserir uma sonda
da lesão pode ser melhor avaliada pela aortografia. A nasogástrica. Quando a sonda nasogástrica aparece na
ecocardiografia trans-esofágica também parece ser útil cavidade torácica ao raio-X de tórax, torna-se desnecessário
por ser uma ferramenta diagnóstica menos invasiva. O o estudo contrastado. Ocasionalmente o diagnóstico não é
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 77

Pulmão

Mediastino
deslocado
B
Conteúdo
abdominal

n FIGURA 4-11  Ruptura Diafragmática. A.


Trauma contuso produz grandes lesões radiais que
Hérnia
permitem herniação, por outro lado os ferimentos
Diafragma penetrantes produzem pequenas perfurações,
que demoram até anos para desenvolver hérnias
diafragmáticas. B. Radiografia de tórax.
A

feito pelo estudo radiográfico inicial ou CT. Se o diagnóstico diagnóstico, que frequentemente pode ser confirmado
não estiver claro, deve-se realizar um estudo contrastado por estudos contrastados e/ou esofagoscopia.
do trato gastrointestinal. A saída, pelo dreno de tórax, do O tratamento indicado para ruptura de esôfago é a ampla
líquido usado na lavagem peritoneal, também confirma o drenagem do espaço pleural e do mediastino com sutura
diagnóstico. Procedimentos endoscópicos minimamente primária da lesão. Quando realizada nas primeiras horas
invasivos (toracoscopia) podem ser úteis na avaliação do após o trauma, a correção cirúrgica tem um prognóstico
diafragma quando persiste a dúvida diagnóstica. mais satisfatório.
Frequentemente a ruptura do diafragma é descoberta
durante uma intervenção motivada por outra lesão OUTRAS MANIFESTAÇÕES DE LESÕES
abdominal. O tratamento deve ser a sutura primária. Deve- TORÁCICAS
se tomar cuidado ao colocar um tubo torácico em doentes
com suspeita de lesão no diafragma, já que os tubos podem Durante a avaliação secundária, outras lesões torácicas
inadvertidamente ferir o conteúdo abdominal que se significativas como: enfisema de subcutâneo, asfixia
deslocou para a cavidade torácica. traumática, fraturas de costela, esterno, escápula devem
ser diagnosticadas. Embora tais lesões possam não
Ruptura
AdvancedEsofágica no Trauma
Trauma Life Support Contuso
for Doctors Approved
implicar emChanges needed
risco de vida imediato,Datepodem resultar
Student Course Manual, 9e
American College of Surgeons em prejuízos consideráveis para o doente.
KB
O trauma esofágico resulta, mais comumente, de lesões
Figure# 04.10
penetrantes. Embora
Dragonfly Media rara, a lesão contusa do esôfago pode ser
Group Enfisema de Subcutâneo
10/31/2011 WC
causada por uma expulsão forçada do conteúdo gástrico para
o esôfago, decorrente de um golpe forte no abdome superior e O enfisema subcutâneo pode ser o resultado de uma
NP
pode ser fatal se não reconhecida. Esta ejeção forçada produz lesão da via aérea, de lesão pulmonar ou, raramente, de
lacerações lineares no esôfago inferior, permitindo o escape explosão. Embora o enfisema subcutâneo não necessite
para o mediastino. A mediastinite resultante e sua ruptura tratamento, as lesões subjacentes devem ser investigadas.
imediata ou tardia para o espaço pleural causam o empiema. Se for necessária a utilização de ventilação com pressão
O quadro clínico é idêntico ao da ruptura esofágica pós- positiva, deve ser considerada a drenagem do tórax do
emética. Deve-se considerar uma possível lesão esofágica mesmo lado do enfisema subcutâneo, pela possibilidade
em todo o doente que: apresenta um pneumotórax ou de desenvolver um pneumotórax hipertensivo.
hemotórax a esquerda sem fraturas de costela, foi vítima
de golpe em região esternal inferior ou no epigástrio e Lesões Torácicas por Esmagamento
apresenta dor ou quadro de choque fora de proporção
com a lesão aparente e elimina material suspeito através Os achados associados à lesão torácica por esmagamento
do dreno de tórax quando o sangue começa a clarear. incluem pletora em tronco, face e membros superiores
A presença de ar no mediastino também sugere o além de petéquias secundárias à compressão aguda e
transitória da veia cava superior. Podem estar presentes
­78 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

edema maciço e até mesmo edema cerebral. As lesões A existência de fraturas das últimas costelas (10 a 12)
associadas devem ser tratadas. deve aumentar a suspeita de lesões hepática e-esplênica.
Doentes com fraturas de costelas apresentam dor
Fraturas de Costelas, Esterno e Escápula localizada, com piora da dor à palpação e presença de
crepitação. Uma deformidade palpável ou visível sugere
As costelas são os componentes da caixa torácica mais fratura de costela. O raio-X de tórax deve ser solicitado
comumente lesados. De modo geral, as lesões das costelas fundamentalmente para descartar outra lesão intratorácica
são clinicamente significantes. A dor à movimentação e não apenas para identificar fratura de costelas. As fraturas
resulta em restrição dos movimentos respiratórios, o que da cartilagem anterior ou as disjunções costocondrais têm
prejudica a ventilação, a oxigenação e a tosse. A incidência de as mesmas implicações das fraturas de costela, mas não
atelectasias e pneumonias aumenta, de modo significativo, serão vistas no raio-X de tórax. As técnicas radiológicas
na presença de doença pulmonar pré-existente. especiais para o estudo dos arcos costais são onerosas
A escápula, o úmero e a clavícula, juntamente com e podem não detectar todas as lesões das costelas, não
suas inserções musculares, atuam como uma barreira acrescentam nada ao tratamento, além de obrigar o doente
protetora para as costelas superiores (1 a 3). As fraturas a adotar posições dolorosas e não têm utilidade.
da escápula, da primeira e segunda costela ou do Imobilizações, ataduras, cintas costais e fixação externa
esterno sugerem um trauma de alta intensidade, que são contraindicadas. O alívio da dor é importante para
frequentemente estão associadas a trauma de outros permitir uma ventilação adequada. O bloqueio intercostal,
segmentos como trauma de crânio, pescoço, coluna a anestesia epidural, analgésicos sistêmicos são eficazes e
vertebral, pulmões e grandes vasos. Pela gravidade das podem ser necessários. Os controles agressivos e precoces
lesões associadas, a mortalidade pode chegar a 35%. da dor, incluindo o uso de narcóticos sistêmicos e anestesia
As fraturas do esterno e escápulas resultam, geralmente, local ou regional, melhoram o resultado dos doentes com
de um impacto direto. As fraturas de esterno podem fraturas de costelas, esterno e escápula.
ser acompanhadas de contusão pulmonar. Da mesma O uso crescente de TC resultou na identificação de lesões
forma, devemos lembrar a possibilidade de lesão não diagnosticadas, como lesões aórticas mínimas e
cardíaca contusa, sempre que existir lesão do esterno. pneumotórax oculto e hemotórax. O tratamento adequado
Ocasionalmente pode estar indicada a correção cirúrgica dessas lesões ocultas deve ser discutido com o especialista.
de fraturas esternais ou escapulares. Raramente uma
luxação posterior da articulação esterno-clavicular resulta
no deslocamento da extremidade medial da clavícula para Trabalho em equipe
dentro do mediastino causando uma obstrução da veia
cava superior. A redução imediata é obrigatória.
As costelas intermediárias (4 a 9) sofrem a maioria dos O líder da equipe deve:
traumas contusos. A compressão ântero-posterior da
caixa torácica força as costelas para fora, fraturando-as •• Rapidamente estabelecer as competências dos
na sua porção média. A força aplicada diretamente sobre membros da equipe para a realização de técnicas
as costelas tende a fraturá-las e a direcionar os segmentos de descompressão por agulha e drenagem torácica.
fraturados para dentro do tórax aumentando o risco de •• Considerar a necessidade potencial da drenagem
lesões intratorácicas, como pneumotórax. bilateral do tórax e avaliar os recursos disponíveis.
Como regra geral, o doente jovem, apresenta a parede •• Acompanhar os doentes submetidos a
torácica mais elástica, com menor probabilidade de sofrer procedimentos no pré-hospitalar, como
fraturas de costelas. Por conseguinte, a presença de fraturas descompressão por punção ou drenagem do
múltiplas de costelas em doentes jovens implica em uma tórax, avaliar a resposta do doente e determinar a
transferência de força muito maior do que em doentes necessidade de intervenções adicionais.
mais velhos. •• Reconhecer quando a toracotomia beneficiará
A osteopenia é comum em adultos mais velhos; portanto, o doente e agilizar de forma rápida e segura a
várias lesões ósseas, incluindo fraturas de costela, podem transferência do doente, quando indicado, para um
ocorrer mesmo em trauma menor. Esta população pode serviço apropriado e qualificado.
desenvolver hemotórax mais tardiamente e portanto
merece um acompanhamento mais próximo. A presença
de fratura de costela em idosos deve provocar uma
r e sumo do capítulo
preocupação mais significativa, uma vez que a incidência de
pneumonia e mortalidade é dobrada quando comparadas 1. O trauma torácico é comum nos doentes
a doentes mais jovens. (Ver Capítulo 11: Trauma geriátrico.) politraumatizados e condições que ameaçam a vida
do doente podem ser fatais se não identificadas e
BIBLIOGRAFIA 79

tratadas na avaliação primária. Estes doentes podem aorta. J Thorac Cardiovasc Surg 2006;131(3):
ser tratados, ou ter suas condições controladas 594–600.
temporariamente, por medidas relativamente 7. Demetriades D, Velmahos GC, Scalea TM, et
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torácica e a reposição volêmica. A capacidade de injuries: changing perspectives. J Trauma
reconhecer tais lesões e de realizar os procedimentos 2008;64:1415–1419.
necessários para corrigí-las pode salvar a vida do 8. Demetriades D, Velmahos GC, Scalea TM, et al.
doente. Na avaliação primária devemos identificar Operative repair or endovascular stent graft
e tratar a obstrução da via aérea, trauma de laringe, in blunt traumatic thoracic aortic injuries:
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hipertensivo, pneumotórax aberto, hemotórax Surgery of Trauma multicenter study. J Trauma
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pneumotórax simples, hemotórax, contusão 10. Dunham CM, Barraco RD, Clark DE, et al.
pulmonar, tórax instável, lesão cardíaca contusa, Guidelines for emergency tracheal intubation
ruptura traumática da aorta, ruptura traumática immediately following traumatic injury: an EAST
do diafragma e ruptura esôfago, para tanto Practice Management Guidelines Workgroup. J
podemos utilizar de exames complementares Trauma 2003;55:162–179.
como radiografias de tórax, exames laboratoriais 11. Dyer DS, Moore EE, Ilke DN, et al. Thoracic aortic
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­80 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico

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5 TRAUMA ABDOMINAL
E PÉLVICO

Quando não controlado ou não reconhecido, a perda sanguínea decorrente de lesões da


cavidade abdominal e pélvica pode acarretar em morte evitável.
Capítulo 5 sumário
Objetivos Trabalho em equipe

Introdução resumo do capítulo

Anatomia do Abdome Bibliografia

Mecanismo de trauma
• Contuso/Fechado
• Penetrante
• Explosão

Avaliação e atendimento inicial


• História
• Exame Físico
• Complementos do Exame Físico
• Avaliação de Lesões Penetrantes Especificas
• Indicações de Laparotomia
• Avaliação de Outras Lesões Especificas

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de do cirurgião e possíveis intervenções cirúrgicas e/ou
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: hemodinâmicas.

1. Identificar as regiões anatômicas do abdome que 4. Usar os procedimentos diagnósticos apropriados


são críticas na avaliação e atendimento iniciais de para determinar se um paciente tem uma
pacientes traumatizados. hemorragia em curso ou outras lesões que possam
ser causa tardia de morbidade e mortalidade.
2. Reconhecer pacientes que estão em risco de lesões
abdominal e pélvica baseado no mecanismo de 5. Descrever o tratamento precoce de lesões
trauma. abdominais e pélvicas.

3. Identificar pacientes que necessitam de avaliação

83
­84 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

A
avaliação da circulação durante a avaliação A região tóraco-abdominal é a área inferior à linha
primária envolve investigação precoce de dos mamilos anteriormente, à linha infra-escapular
possíveis sangramentos intra-abdominais e/ou posteriormente e superior aos rebordos costais. Esta
pélvicos em pacientes submetidos a traumas contusos. área inclui diafragma, fígado, baço e estômago, e é
Ferimentos penetrantes no tronco, entre a linha dos de certa forma protegida pelo arcabouço costal. Por
mamilos e o períneo, devem ser considerados como causa causa da ascensão do diafragma até o nível do 4º espaço
potencial de lesões intraperitoneais. O mecanismo de intercostal durante a expiração plena, fraturas das
trauma, a intensidade da lesão, sua localização, e o estado costelas inferiores e ferimentos penetrantes abaixo da
hemodinâmico do paciente determinam as prioridades e linha dos mamilos podem lesar vísceras abdominais.
os melhores métodos de avaliação abdominal e pélvica. O flanco é uma área entre a linha axilar anterior e
Lesões abdominais e pélvicas despercebidas continuam a posterior do 6º espaço intercostal até a crista ilíaca.
ser causa de morte evitável após trauma no tronco. Rotura O dorso é a área localizada na região posterior e tem
de víscera oca e sangramento de víscera maciça ou de ossos como limites as linhas axilares posteriores, as pontas
da pelve podem não ser facilmente reconhecidos. Soma-se a das escápulas e as cristas ilíacas. Isso representa a
isso o fato de que a avaliação do paciente é frequentemente região tóraco-abdominal posterior. A musculatura nas
comprometida por intoxicação por álcool, uso de drogas regiões do flanco, dorso e paravertebral atuam como
ilícitas, lesões cerebrais e medulares e lesões a estruturas um mecanismo de proteção parcial de lesões viscerais.
adjacentes, tais como arcos costais e coluna. Perda sanguínea O flanco e o dorso contêm o espaço retroperitoneal. Este
significativa pode estar presente na cavidade abdominal espaço é a área posterior ao revestimento peritoneal do
sem mudanças dramáticas na aparência externa ou volume abdome. Ele contém a aorta abdominal; veia cava inferior;
do abdome e sem sinais óbvios de irritação peritoneal. a maior parte do duodeno, pâncreas, rins e ureteres; a
Qualquer paciente submetido a lesões no tronco por golpes porção posterior do cólon ascendente e descendente; e
diretos, desaceleração, explosão ou penetrações devem ser os componentes retroperitoneais da cavidade pélvica.
considerados como portadores de lesões viscerais, vasculares Lesões de órgãos e vísceras retroperitoneais são de difícil
ou pélvicas até que se prove o contrário. reconhecimento e diagnóstico, pois são bem profundas e
não apresentarão sinais e sintomas inicialmente. Outra
dificuldade diagnóstica é que esse espaço não é acessado
A n atomia do a bdome pelo Lavado Peritoneal Diagnóstico (LPD) e é difícil de
ser adequadamente estudado durante a realização da
Uma revisão da anatomia do abdome com ênfase nas ultrassonografia direcionada para trauma (FAST).
estruturas que são críticas na avaliação e atendimento inicial A cavidade pélvica é limitada pelos ossos pélvicos,
em pacientes traumatizados é demonstrado na (n FIGURA 5-1). consistindo essencialmente na parte inferior dos espaços
O abdome é parcialmente protegido pelo tórax inferior. retro e intraperitoneal. Ela contém o reto, a bexiga e os
O abdome anterior é definido como a área entre os vasos ilíacos e, nas mulheres, os órgãos reprodutores
rebordos costais superiormente, entre os ligamentos internos. A perda de sangue pode ser muito significativa
inguinais e a sínfise púbica inferiormente e a linha axilar nessa região e ocorrer a partir de qualquer ferimento nos
anterior lateralmente. A maioria das vísceras ocas está órgãos pélvicos ou na estrutura óssea.
em risco quando há qualquer lesão no abdome anterior.

Diafragma Fígado Estômago


Baço Aorta Veia cava
abdominal inferior
Região Flanco Rins
toraco- Abdome
Anterior Cólon
abdominal anterior
Abdomen Cólon descendente
ascendente Cavidade
Abdome pélvica
Linha Linha Duodeno
axilar axilar Bexiga
anterior posterior
Órgãos
reprodutivos
Reto

n FIGURA 5-1  Anatomia do Abdome. A. Abdome anterior e região tóraco-abdominal. B. Flanco. C. Dorso. D. Cavidade pélvica.
MECANISMO DE TRAUMA 85

Meca nismo de tr auma

Compreender o mecanismo de trauma facilita a


identificação precoce de possíveis lesões abdominais,
direcionando quais possíveis estudos diagnósticos podem
ser necessários para avaliação e identifica as necessidades
de transferência do paciente. Lesões comuns de traumas
contusos ou penetrantes são descritos nesta seção.

trauma contuso
O impacto direto, como o contato com o volante, guidão
de bicicleta ou motocicleta ou com a intrusão da porta A
em uma colisão de veículos pode causar compressão ou
esmagamento de vísceras abdominopélvicas e da estrutura
óssea da pelve. Tais forças deformam órgãos sólidos e
vísceras ocas podendo causar sua ruptura, acarretando
hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo
intestinal e, consequentemente, peritonite.
O cisalhamento é uma forma de lesão por esmagamento
que pode ocorrer quando um dispositivo de segurança
de restrição é usado de forma inadequada (n FIGURA 5-2A).
Pacientes traumatizados por acidentes automobilísticos
e por queda de altura são submetidos a lesões por
desaceleração, nos quais há um movimento diferente
das porções fixas e móveis do corpo. Exemplos desse tipo
de lesão inclui as lacerações do fígado e do baço, ambos
órgãos móveis que se encontram fixos em seus sítios por
B
ligamentos. Lesões extensas do mesentério do intestino n FIGURA 5-2  Lesão por Cinto Abdominal e Alça de Balde. A. Lesões são
mais comuns quando o cinto de segurança não estiver adequadamente
delgado também são exemplos de lesão por desaceleração colocado. B. Lesão extensa de mesentério (“alça de balde”).
(n FIGURA 5-2B).
Em pacientes vítimas de trauma fechado, os órgãos Ferimentos por arma de fogo podem causar lesões intra-
mais frequentemente acometidos são o baço (40-55%), o abdominais adicionais em decorrência de sua trajetória, do
fígado (35-45%) e o intestino delgado (5-10%). Além disso, efeito de cavitação e da possível fragmentação do projétil.
observa-se também uma incidência de 15% de hematoma Os ferimentos por arma de fogo frequentemente acometem
retroperitoneal nos pacientes com trauma abdominal mais o intestino delgado (50%), o cólon (40%), o fígado
submetidos à laparotomia. Embora os dispositivos de (30%) e as estruturas vasculares abdominais (25%). O
contenção previnam ferimentos mais graves, eles podem tipo de arma, o formato do cano e o tipo de munição
acarretar padrões específicos de lesões, como demonstrado são determinantes do grau de lesão tecidual. As lesões
na n TABELA 5-1. O acionamento do airbag não impede lesão decorrentes de arma do tipo escopeta ou espingarda
abdominal. dependem também da distância entre a arma e o paciente.

trauma penetrante trauma por explosão


Ferimentos por arma branca e projéteis de baixa Ferimentos por arma de fogo podem causar lesões intra-
velocidade causam danos aos tecidos por corte e abdominais adicionais em decorrência de sua trajetória, do
laceração. Ferimentos por projéteis de alta velocidade efeito de cavitação e da possível fragmentação do projétil.
transferem mais energia cinética causando aumento do Os ferimentos por arma de fogo frequentemente acometem
dano ao redor do trajeto do projétil devido à cavitação mais o intestino delgado (50%), o cólon (40%), o fígado
temporária. (30%) e as estruturas vasculares abdominais (25%). O
Ferimentos por arma branca atravessam as estruturas tipo de arma, o formato do cano e o tipo de munição
abdominais adjacentes e mais frequentemente envolvem são determinantes do grau de lesão tecidual. As lesões
o fígado (40%), o intestino delgado (30%), o diafragma decorrentes de arma do tipo escopeta ou espingarda
(20%) e o cólon (15%). (n FIGURA 5-3). dependem também da distância entre a arma e o paciente.
­86 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

O médico assistente deve considerar a possibilidade de


tabela 5-1 lesões associadas a
mecanismos combinados, como penetrante e contuso,
dispositivos de contenção nesses pacientes. Pacientes próximos à fonte da explosão
DISPOSITIVO DE podem apresentar lesões nas membranas timpânicas,
LESÃO pulmões e lesões de vísceras ocas relacionadas a
CONTENÇÃO
onda de pressão de choque. Essas lesões podem ter
Cinto Abdominal • Laceração ou avulsão do apresentações clínicas tardias. A possibilidade de haver
• Compressão mesentério (lesão em alça um ferimento decorrente dessa sobrepressão não deve
• Hiperflexão de balde). atrapalhar o médico na sua abordagem sistemática, que
• Rotura do intestino tem por objetivo a correta identificação e tratamento
delgado ou cólon. dos ferimentos mais comuns decorrentes dos traumas
• Trombose da artéria ilíaca fechados e penetrantes.
ou aorta abdominal.
• Fratura de Chance das
vértebras lombares.
• Lesão duodenal ou armadilha prevenção
pancreática.
Lesão despercebida • Entender o papel do
Cinto de Três Pontos • Rotura das vísceras do abdominal. mecanismo de trauma
• Submergindo abdome superior. na lesão abdominal. Não
subestime a extensão de
(escorregando para • Laceração da íntima ou
transferência de energia
debaixo do cinto) trombose da artéria
para o abdome em
• Compressão inominada, carótida, um trauma abdominal
subclávia ou vertebral. fechado.
• Fratura ou luxação da • Reconhecer que lesões
coluna cervical. pequenas e de baixa
• Fraturas de arcos costais. energia (facadas, por
• Contusão pulmonar. exemplo) podem causar
lesões viscerais e/ou
vasculares.
Air Bag • Abrasões de face e olho.
• Realizar reavaliações
• Contato • Lesões cardíacas. abdominais frequentes,
• Desaceleração • Fraturas da coluna. uma vez que um único
• Flexão (sem cinto de exame não descarta a
contenção) presença de lesões.
• Hiperextensão (sem • Projéteis de alta
cinto de contenção) velocidade podem
provocar lesões
tangenciais na sua
trajetória.
• As trajetórias dos
projéteis podem sofrer
alterações por perda de
energia, criando trajeto
secundário após rechaçar
em estrutura óssea ou
fragmentação. Isto pode
acarretar lesões remotas
(em relação ao ferimento
cutâneo).

Avaliação E TRATAMENTO

Em pacientes hipotensos, o objetivo é determinar


rapidamente se existem lesões abdominais ou pélvicas
n FIGURA 5-3  Lesões por arma branca geralmente causam lesão e se esta é a causa da hipotensão. A história do paciente
do fígado, intestino delgado, diafragma e cólon. e exame físico, associados a métodos diagnósticos
AVALIAÇÃO 87

rápidos e disponíveis, pode confirmar a presença de Inspeção, Ausculta, Percussão e Palpação


lesões abdominais e pélvicas que requerem o controle
urgente da hemorragia. Pacientes hemodinamicamente Na maioria dos casos, o paciente deve estar
normais, sem sinais de peritonite, podem passar completamente despido, para permitir uma inspeção
por uma avaliação mais detalhada com o intuito completa. O abdome anterior e posterior, bem como a
de determinar se existem lesões específicas e que parte inferior do tórax e períneo, devem ser inspecionados
podem causar morbidade e mortalidade tardia. Estas à procura de abrasões e contusões pelos dispositivos de
avaliações devem incluir exames clínicos repetidos para contenção, lacerações, ferimentos penetrantes, corpos
determinar se os sinais de sangramento ou peritonite estranhos empalados, de evisceração de epiplon ou de
aparecem ao longo do tempo. intestino delgado e se existe evidência de gravidez.
Inspecione o flanco, o escroto, a uretra e a área perineal,
História a procura de sangue, de edemas e abrasões. Laceração do
períneo, da vagina, do reto ou nádegas, pode estar associada
Ao avaliar pacientes vítimas de colisões automobilísticas a uma fratura pélvica aberta em pacientes com trauma
é importante obter informações sobre a velocidade do contuso. Dobras cutâneas em pacientes obesos podem
veículo, o tipo de colisão (por exemplo: capotamento, mascarar lesões penetrantes e aumentar a dificuldade
impacto frontal, lateral ou traseiro), a intrusão de de avaliação do abdome e pelve. Para uma completa
partes do veículo no compartimento de passageiros, avaliação do dorso, execute cuidadosamente uma manobra
os tipos de dispositivo de contenção, o acionamento de rolamento (Ver video Rolamento no aplicativo móvel
dos airbags, a posição do paciente no veículo e status MyATLS.)
dos outros ocupantes. No caso de quedas, é importante Ao concluir um rápido exame físico, cubra o paciente com
determinar a altura da queda devido ao potencial cobertores aquecidos para ajudar a prevenir hipotermia.
de lesão relacionada à desaceleração em grandes Embora a ausculta seja necessária, a presença ou a ausência
alturas. Tais informações podem ser fornecidas pelo de ruídos hidroaéreos não se correlacionam necessariamente
paciente, por outros passageiros, pela polícia ou por com a presença efetiva de lesão, e a capacidade de ouvir
integrantes da equipe de atendimento pré-hospitalar. os ruídos hidroaéreos pode estar comprometida em um
Informações sobre sinais vitais, lesões aparentes e ambiente ruidoso como a sala de emergência.
resposta ao tratamento pré-hospitalar também A percussão causa um ligeiro movimento do peritônio
devem ser fornecidas pelos prestadores de cuidado e pode evidenciar sinais de irritação peritoneal. Quando a
pré-hospitalares. sensação positiva à descompressão estiver presente, não
Ao avaliar um paciente vítima de trauma penetrante, procure provas adicionais de irritação, pois pode provocar
devem ser obtidas informações relacionadas ao tempo da dor adicional desnecessária ao paciente.
lesão, ao tipo de arma (faca, revólver, rifle ou escopeta), A defesa abdominal voluntária por parte do paciente
a distância do agressor (importante, particularmente, pode fazer com que o exame abdominal seja pouco
em ferimentos por escopetas, pois a probabilidade de confiável. Por outro lado, defesa involuntária é um sinal
lesões viscerais graves diminui quando a distância é confiável de irritação peritoneal. A palpação também pode
maior que 3 m), ao número de facadas ou tiros que revelar e distinguir dor superficial (parede abdominal)
o paciente recebeu e também quanto ao volume de ou profunda. A presença de um útero gravídico, bem
sangue perdido pela vítima na cena da agressão. Se como a estimativa da idade fetal, também podem ser
possível, deve-se obter informações do paciente sobre a determinados.
localização e a intensidade de qualquer dor abdominal.
Quando os ferimentos são causados por um dispositivo Avaliação da Pelve
explosivo, a probabilidade de lesões viscerais por onda
de choque aumenta com a proximidade do paciente da Como a hemorragia pélvica grave ocorre rapidamente,
explosão e diminui com o aumento dessa distância. o diagnóstico deve ser realizado imediatamente para
que o tratamento adequado seja iniciado. Hipotensão
exame físico inexplicável pode ser inicialmente a única indicação de
ruptura pélvica grave. Instabilidade mecânica do anel
O exame físico abdominal é conduzido numa sequência pélvico deve ser considerado em pacientes com fraturas
sistemática: inspeção, ausculta, percussão e palpação. pélvicas com hipotensão e nenhuma outra fonte de
Deve ser seguida pelo exame da pelve e das nádegas, bem sangramento. A colocação de dispositivos que fechem o
como da uretra, períneo, e, quando indicados exame anel pélvico é uma prioridade e pode ser salvadora nesta
retal e vaginal. Os achados, sejam eles positivos ou circunstância.
negativos, devem ser documentados cuidadosamente Achados de exame físico sugestivos de fratura
no prontuário do paciente. pélvica incluem a evidência de ruptura de uretra
­88 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

(hematoma no escroto ou sangue no meato uretral), Exame Uretral, Perineal, Retal, Vaginal e Glúteo
de discrepância entre o comprimento dos membros ou
de uma deformidade rotacional da perna sem fratura A presença de sangue no meato uretral, sugere
óbvia. Nesses pacientes, a manipulação da pelve pode fortemente uma lesão uretral. Equimose ou hematoma
ser prejudicial, uma vez que pode desalojar um coágulo no escroto e períneo também são sugestivos de lesão
já formado, precipitando assim hemorragia adicional. uretral, embora estes achados possam estar ausentes
A palpação cuidadosa do anel pélvico, em busca de dor precocemente. Em pacientes que sofreram trauma
pode fornecer informações úteis sobre a presença de fraturas contuso, os objetivos do exame retal são avaliar o tônus
pélvicas. A manobra de distração (girar a pelve internamente do esfíncter e integridade da mucosa retal e identificar
e em seguida externamente) da pelve não é recomendada quaisquer fraturas palpáveis da pelve. A palpação da
durante a avaliação precoce das lesões, porque pode piorar próstata não é um sinal confiável de lesão uretral. Nos
ou gerar sangramento pélvico recorrente. pacientes com ferimentos penetrantes, o exame retal
A hemipelve instável migra cranialmente por causa é utilizado para avaliar o tônus do esfíncter e buscar a
das forças musculares e apresenta uma rotação externa presença de sangue na luz do reto, o que pode indicar
secundariamente ao efeito da gravidade sobre a hemipelve uma perfuração intestinal. Não realize cateterismo
instável. A rotação externa da pelve instável resulta em vesical em um paciente com hematoma perineal ou
um acréscimo significativo do volume pélvico que pode sangue no meato uretral, antes de uma avaliação
acomodar grandes volumes de sangue. O uso de cinta deve definitiva de possível lesão da uretra.
ser centrado sobre os trocanteres maiores ao invés das cristas Fragmentos ósseos de fratura pélvica ou ferimentos
ilíacas. A identificação de anormalidades neurológicas penetrantes, podem lacerar a vagina. Realize um
distais ou feridas abertas no flanco, períneo, vagina ou reto exame vaginal na presença de lesões suspeitas, como
podem representar evidências de instabilidade do anel lacerações perineais complexas, fratura pélvica ou
pélvico. Uma radiografia anteroposterior (AP) da pelve é lesão transfixante de pelve por projétil de arma de
um complemento útil para identificar uma fratura pélvica, fogo. Em mulheres menstruadas, que não respondem
atendendo as limitações do exame clínico (Ver Apêndice ao comando verbal, examine a vagina em busca de
G: Estação Prática Circulação). tampões deixados no local, que podem ser foco tardio
de sepse em traumatizados.
A região glútea se estende das cristas ilíacas até
armadilhas prevençÃo as pregas glúteas. As lesões penetrantes nessa área
estão associadas a uma incidência de até 50% de lesões
Manipulação repetida • Manipulação cuidadosa intra-abdominais significativas, incluindo lesão do reto
da fratura pélvica pode do anel pélvico pode abaixo da reflexão peritoneal. Esses ferimentos exigem
agravar as hemorragias. fornecer informações uma busca por tais lesões.
úteis sobre a presença
das fraturas pélvicas;
evite exames repetidos
medidas auxiliares ao exame fisico
da pelve.
• Use uma cinta pélvica Sondas gástricas e urinárias são frequentemente
corretamente para inseridas durante a fase de reanimação, à medida que
limitar precocemente a os problemas com a via aérea, ventilação e circulação
hemorragia.
são diagnosticados e tratados.

Dobras cutâneas em • Examine cada dobra


Sondagem Gástrica e Vesical
pacientes obesos cutânea à procura
podem mascarar lesões de feridas, corpos Os objetivos terapêuticos de inserção de sondas
penetrantes e aumentar estranhos e outras gástricas no início do processo de reanimação são
a dificuldade do exame lesões. aliviar uma possível dilatação gástrica aguda e
abdominal e pélvico.
descomprimir o estômago antes de realizar uma LPD
(quando indicada). Sondas gástricas podem reduzir a
O exame abdominal de • Utilize ferramentas
uma criança pode ser de diagnósticas (por
incidência de aspiração nesses casos. No entanto em
difícil interpretação. exemplo FAST, TC um paciente acordado com reflexo de vômito presente,
ou outro método a sondagem pode provocar o vômito. A presença de
de imagem) quando sangue no conteúdo gástrico sugere lesão no esôfago
necessário para o ou no trato gastrointestinal superior, após a exclusão
correto diagnóstico.
de quaisquer sangramentos da nasofaringe e/ou da
orofaringe. Na presença de fraturas graves da face ou
AVALIAÇÃO 89

suspeita de fratura de base de crânio, a sonda gástrica feito com FAST ou LPD. A única contraindicação para
deve ser inserida pela boca para impedir que atravesse realização desses exames é a indicação de laparotomia.
a placa crivosa e penetre no cérebro. Pacientes com os seguintes achados requerem avaliação
A sondagem vesical durante a reanimação vai aliviar abdominal adicional para identificar ou excluir lesões
retenções, identificar sangramentos, monitorar o intra-abdominais:
débito urinário como índice de perfusão tissular e
descomprimir a bexiga antes da realização de LPD •• Sensório rebaixado
(quando indicado). Uma bexiga cheia facilita a obtenção
•• Sensibilidade alterada
de imagens no FAST. Portanto, se o FAST estiver
indicado, retarde o cateterismo vesical, até que o exame •• Lesões a estruturas adjacentes, como arcos
tenha sido concluído. Hematúria macroscópica é um costais inferiores, pelve e coluna lombar
sinal de trauma do trato genitourinário, incluindo
•• Exame físico não confiável
rins, ureteres e bexiga. A ausência de hematúria não
exclui lesões do trato geniturinário. Na incapacidade •• Perda prolongada de contato com o paciente
de urinar espontaneamente, na presença de fratura como anestesia geral para tratamento de lesões
pélvica instável, de sangue no meato uretral, hematoma extra-abdominais ou estudos radiológicos
escrotal ou equimose perineal, a realização de demorados
uretrografia retrógrada é mandatória para confirmar
a integridade da uretra antes de inserir a sonda vesical. •• Sinal do cinto de segurança com suspeita de
A detecção de lesão uretral durante a avaliação primária lesão intestinal
ou secundária pode necessitar da inserção de uma
sonda suprapúbica por um médico experiente. Quando uma lesão intra-abdominal é suspeitada,
uma série de exames pode fornecer informações
úteis. Entretanto, quando existirem indicações para
armadilhas prevenção transferência, a realização destes exames, atrasando a
transferência, não deve ocorrer, inclusive tomografias.
Em pacientes com fraturas • Evite sonda nasogástrica
n   TABELA 5-2 resume as indicações, vantagens e
do terço médio da face, em lesões de terço
desvantagens do uso da LPD, FAST e TC na avaliação
uma sonda nasogástrica médio da face; use a via
pode passar pelos seios orogástrica.
de traumas abdominais contusos.
da face até a cavidade
craniana. Radiografias no Trauma Abdominal

Pacientes pediátricos têm • Uma sonda nasogástrica Uma radiografia AP do tórax é recomendada na avaliação
incidência alta de distensão é útil em pacientes de pacientes com trauma fechado multissistêmico.
gástrica aguda após trauma. pediátricos para Pacientes hemodinamicamente instáveis com
reduzir risco de ferimentos penetrantes do abdome não necessitam
broncoaspiração e de triagem radiográfica na sala de emergência. Se o
estímulo vagal. paciente está hemodinamicamente normal e tem um
trauma penetrante acima da cicatriz umbilical ou uma
A passagem de uma • Para evitar iatrogenia lesão toracoabdominal suspeita, a realização de uma
sonda gástrica pode ser não force a passagem radiografia de tórax em posição ortostática pode ser útil
impossível em pacientes de sonda nasogástrica
para excluir a presença de hemotórax ou pneumotórax ou,
com hérnia hiatal (mais após muitas tentativas.
ainda, para documentar a presença de ar intraperitoneal.
comum em idosos). Eventualmente será
necessário o auxílio de
Em pacientes hemodinamicamente normais, os orifícios
métodos radiográficos de entrada e saída podem ser marcados com materiais
ou outros exames para metálicos, como clipes ou moedas, para que a radiografia
sua inserção. do abdome em posição supina seja obtida com o intuito
de determinar o trajeto do projétil ou a presença de ar
retroperitoneal. A obtenção de duas incidências (AP e
Outros Estudos lateral) pode permitir a orientação espacial de corpos
estranhos. Uma radiografia AP pélvica pode ser útil
Com preparo e uma equipe organizada, o exame físico no estabelecimento da origem da perda de sangue em
pode ser realizado rapidamente. Em pacientes com pacientes com estado hemodinâmico instável e em
alterações hemodinâmicas, uma rápida exclusão de pacientes com dor pélvica. O paciente acordado, alerta
sangramentos intra-abdominais é necessária e pode ser e sem dor, não necessita de uma radiografia pélvica.
­90 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

tabela 5-2 comparação do lpd, fast e tc no trauma abdominal

LPD FAST TC

Vantagens • Indicação precoce de • Indicação precoce de • Diagnóstico anatômico


laparotomia laparotomia • Não invasivo
• Rápido • Não invasivo • Pode ser repetido
• Pode detectar lesão intestinal • Rápido • Visualiza o retroperitônio
• Realizado na Sala de Trauma • Pode ser repetido • Visualiza tecidos moles e ossos
• Realizado na Sala de Trauma • Visualiza ar extraluminal

Desvantagens • Invasivo • Operador dependente • Alto custo e demorado


• Risco inerente ao • Gás intra-abdominal ou • Exposição a radiação e
procedimento subcutâneo distorcem as contraste
• Necessita descompressão imagens • Pode perder lesões
gástrica e urinária • Pode perder lesões diafragmáticas
• Não pode se repetir diafragmáticas, intestinais e • Pode perder lesões de intestino
• Interfere com interpretação pancreáticas delgado e pancreáticas
da TC ou FAST subsequentes • Não acessa o retroperitônio • Requer transporte da Sala de
• Baixa especificidade • Não visualiza gás extra Trauma
• Perde lesões diafragmáticas luminal
• Obesidade pode limitar
nitidez da imagem

Indicações • Instabilidade hemodinâmica • Instabilidade hemodinâmica • Paciente estável com trauma


no trauma abdominal fechado no trauma abdominal abdominal fechado ou
• Lesões penetrantes fechado penetrante
abdominais sem qualquer • Lesões penetrantes • Trauma penetrante no dorso
indicação imediata de abdominais sem qualquer ou flanco sem qualquer
laparotomia outra indicação imediata de outra indicação imediata de
laparotomia. laparotomia

Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para o O FAST inclui o exame de quatro regiões: o saco
Trauma pericárdico, o espaço hepatorrenal (Espaço de Morrisson),
espaço esplenorrenal e a pelve ou o fundo de saco de
Quando realizado por profissionais devidamente Douglas (n FIGURA 5-5A). Uma vez que o primeiro exame
treinados, o FAST é uma ferramenta considerada aceitável, foi realizado, uma segunda série de imagens pode ser
rápida e executável para a identificação de fluidos obtida para detectar hemoperitônio progressivo (n FIGURA
intraperitoneais (n FIGURA 5-4). Tem a vantagem de poder 5-5B). O FAST pode ser realizado à beira do leito, na sala de
ser repetida e poder detectar tamponamento cardíaco, reanimação ou simultaneamente a outros procedimentos
uma das causas não hipovolêmicas de hipotensão. diagnósticos ou terapêuticos. Ver Apêndice G: Estação
Prática Circulação, e vídeo FAST no aplicativo móvel
armadilha prevenção MyATLS.

FAST falso • Reconhecer que a obesidade


Lavado Peritoneal Diagnóstico
negativo. prejudica as imagens obtidas
pelo FAST. O LPD é outro exame rápido para identificar (n FIGURA
• Manter sempre um alto índice de 5-6). Porque ele pode alterar significativamente exames
suspeição. subsequentes do paciente, a equipe cirúrgica que cuida
• Usar exames diagnósticos do paciente deve executá-la. Note que o LPD requer
alternativos ou repita a avaliação descompressão gástrica e urinária para prevenção de
pelo FAST. complicações. Esta técnica é mais comumente utilizada
• Reconhecer que o FAST não faz em pacientes que estão hemodinamicamente instáveis
diagnóstico em lesão de víscera oca.
com trauma abdominal fechado ou em pacientes
AVALIAÇÃO 91

n FIGURA 5-4  Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para o n FIGURA 5-6  Lavado Peritoneal diagnóstico (LPD). O LPD é um
Trauma (Focused Assessment with Sonography for Trauma - FAST). procedimento invasivo, rápido que é sensível para a detecção de
No FAST usamos tecnologia e ultrassom para detectarmos a presença hemoperitônio.
de hemoperitônio.

portadores de trauma penetrante com múltiplas


entradas ou aparente trajeto tangencial. Finalmente,
pacientes hemodinamicamente estáveis que necessitam
de avaliação abdominal por FAST e TC que não estão
disponíveis podem se beneficiar do uso do LPD. Em locais
onde o FAST e/ou TC estão disponíveis, o LPD raramente
é usado por ser invasivo e requerer habilidade cirúrgica.
Contraindicações relativas para a LPD incluem
cirurgias abdominais prévias, obesidade mórbida,
cirrose avançada e coagulopatia preexistente. Tanto
a técnica aberta como a fechada (Seldinger), realizadas
por acesso infraumbilical, são aceitáveis nas mãos
de médicos treinados. Em pacientes com fraturas
pélvicas a abordagem supraumbilical aberta deve
ser usada, para evitar invadir um hematoma pélvico
pré-peritoneal formado. Em pacientes com gravidez
avançada, uma abordagem aberta acima do fundo
A uterino deve ser usada para evitar lesões no útero. A
aspiração de conteúdo gastrintestinal, de fibras vegetais
ou de bile, através do cateter indica laparotomia. A
aspiração de 10 mL ou mais de sangue em pacientes
hemodinamicamente anormais, requer laparotomia.
(Ver Apêndice G: Estação Prática Circulação.)

Tomografia Computadorizada

A TC é um procedimento diagnóstico que requer o


transporte do paciente para o setor de radiologia
(isto é, removendo o paciente da sala de reanimação),
administração de contrastes endovenosos, e expondo
o mesmo a radiação. A TC é um procedimento
demorado (embora menos demorado com scanners de
B tomógrafos mais modernos) que deve ser usado apenas
em pacientes hemodinamicamente normais em que
n FIGURA 5-5  A. Localizações do probe. B. Imagem de FAST no não haja indicação inicial de uma laparotomia de
quadrante superior direito mostrando o fígado, rim e líquido livre.
­92 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

emergência. Não realize TC se atrasar a transferência solução é infundida na bexiga até que o fluxo pare, que
de um paciente para um centro de trauma. o paciente urine espontaneamente ou que o paciente
A TC fornece informações sobre a presença e a extensão sinta desconforto. Isto é seguido pela instilação de 50
das lesões de órgãos específicos e pode identificar lesões mL adicionais de contraste para assegurar a distensão
de órgãos retroperitoneais e pélvicos, que são difíceis de da bexiga. Radiografias nas incidências AP antes do
avaliar com exame físico, FAST e LPD. As contraindicações contraste, distendida e pós-miccional são essenciais
relativas para a realização da TC incluem a demora em para definitivamente excluir quaisquer lesões vesicais.
se obter um tomógrafo, a falta de colaboração de um A avaliação da bexiga e da pelve pela TC (cistografia por
paciente que não pode ser sedado com segurança e TC) é uma alternativa particularmente útil para fornecer
alergia ao contraste. A TC pode deixar de diagnosticar informações adicionais sobre os rins e os ossos pélvicos.
algumas alterações gastrointestinais, diafragmáticas Suspeita de lesões do sistema urinário são avaliadas
e pancreáticas. Na ausência de lesões hepáticas ou melhor por TC com contraste. Se a TC não estiver
esplênicas, a presença de liquido livre na cavidade disponível a urografia excretora é uma alternativa.
abdominal sugere lesão no trato gastrointestinal e/ou Uma dose elevada e rápida de contraste é realizada com
no mesentério e muitos cirurgiões de trauma acreditam 200 mg de iodo/Kg de peso corporal. A visualização
que este fato seja uma indicação para laparotomia precoce. radiográfica dos cálices renais deverá aparecer 2
minutos após o término da infusão do contraste. A não
Laparoscopia Diagnóstica ou Toracoscopia visualização unilateral indica ausência de um dos rins,
trombose, avulsão da artéria renal ou comprometimento
A laparoscopia diagnóstica é um método aceitável gravíssimo do parênquima renal. A não visualização
para avaliar pacientes hemodinamicamente normais, pode justificar uma avaliação radiológica adicional.
vítimas de trauma penetrante com possibilidade de Lesões isoladas de órgãos gastrointestinais
trajeto tangencial e sem indicação de laparotomia. retroperitoneais (como por exemplo duodeno, cólon
A laparoscopia é útil para diagnosticar lesões ascendente, cólon descendente, reto, vias biliares e
diafragmáticas e penetração peritoneal. A necessidade pâncreas) podem não causar peritonites e não ser detectadas
de anestesia geral limita seu uso.

Exames Contrastados armadilha prevenção


Uma série de exames contrastados pode ajudar no Reconhecimento • Reconhecer os mecanismos
diagnóstico na vigência de suspeita de lesões específicas, tardio de lesões de trauma e lesões intra-
mas eles não devem atrasar o tratamento de pacientes abdominais ou abdominais que podem
hemodinamicamente anormais. Esses exames incluem: pélvicas, levando a causar.
óbito prematuro por • Reconhecer fatores que
•• Uretrografia hemorragia ou tardia podem limitar os resultados
por lesão de víscera do exame físico.
•• Cistografia
oca. • Usar exames diagnósticos
•• Urografia excretora complementares, como
•• Estudo contrastado do tubo digestivo FAST, LPD ou TC.

A uretrografia deve ser realizada antes da inserção de Saber que os • Manter alto índice de
uma sonda vesical, quando houver suspeita de lesão exames físico ou suspeição por lesões
de uretra. O exame é realizado com uma sonda vesical complementares, como abdominais ou pélvicas
número 8 French fixada no meato uretral pelo balonete FAST ou RX, podem nos pacientes obesos com
inflado com 1,5 a 2 mL. Cerca de 30 a 35 mL de contraste estar comprometidos mecanismo de trauma
sem diluição são instilados com uma leve pressão. nos pacientes obesos. compatível.
Nos homens a radiografia é obtida com uma projeção • Reconhecer as limitações dos
anteroposterior, com um pequeno estiramento do pênis exames complementares.
em direção a um dos ombros do paciente. Um estudo
adequado é capaz de mostrar o refluxo de contraste para Saber que lesões • Terapia agressiva e precoce
leves abdominais ou são fundamentais para um
o interior da bexiga.
pélvicas podem levar bom desfecho.
Uma cistografia ou uma cistografia por TC é o método
a sangramento severo • Determine o grau da
mais eficaz para diagnosticar uma rotura intra ou nos idosos assim como coagulopatia e faça a
extraperitoneal da bexiga. Um recipiente com 350 pacientes em uso de reversão, quando possível.
mL de contraste hidrossolúvel é conectado à sonda anticoagulantes.
vesical e elevada a cerca de 40 cm acima do paciente. A
AVALIAÇÃO 93

pelo LPD ou FAST. Quando há suspeita de lesão em uma


dessas estruturas, a realização de uma TC com contraste ou armadilha prevenção
exames contrastados específicos do trato gastrointestinal
alto e baixo e exames de imagens biliopancreáticas também Diagnóstico tardio • PAFs “tangenciais” podem não ser
podem ser úteis. No entanto, esses exames devem ser de lesão abdominal verdadeiramente tangenciais e
guiados pelo cirurgião que cuidará do paciente. em pacientes com penetrarem a cavidade peritoneal.
lesões por arma de • PAFs de alta velocidade podem
AVALIAÇÃO DE LESÕES PENETRANTES fogo tangenciais ao provocar lesão sem penetrar na
ESPECÍFICAS abdome. cavidade pelo seu efeito explosivo.
Isto ocorre mais comumente com
A etiologia da lesão (por exemplo de arma branca ou
bombas e munição militar.
arma de fogo), localização anatômica (por exemplo
toracoabdominal, anterior, posterior ou flanco) e os
recursos disponíveis influenciam a avaliação do trauma
•• Sinais de penetração peritoneal (por exemplo,
abdominal penetrante. Nos ferimentos por arma branca evisceração)
na parede abdominal anterior, as opções incluem exame
físico seriado, FAST ou LPD. A laparoscopia diagnóstica
é um estudo confiável para determinar a penetração Ferimentos Toracoabdominais
peritoneal ou diafragmática em lesões toracoabdominais,
além do escaneamento com TC com duplo (via oral e As opções de avaliação para pacientes sem indicações
endovenoso) ou triplo (via oral, retal e endovenoso) de laparotomias imediatas, mas com possíveis lesões do
contraste. As TCs com duplo ou triplo contraste também diafragma e de estruturas do abdome superior incluem
são úteis nas lesões do flanco e do dorso. Em todos os toracoscopia, laparoscopia, LPD e TC.
casos de trauma penetrante, a cirurgia imediata pode
ser necessária para o diagnóstico e tratamento. Ferimentos da Parede Abdominal Anterior:
Tratamento não Operatório
armadilhas prevenção Aproximadamente 55% a 60% de todos os pacientes com
ferimento por arma branca que penetram o peritônio
Retardar a transferência • Quando há a necessidade
apresentam hipotensão, peritonite ou evisceração
para realização da TC de de transferência para um
abdome. Centro de Trauma não do omento ou do intestino delgado. Esses pacientes
deve ser atrasado para a necessitam de laparotomia de emergência. No entanto,
realização da TC. o tratamento não operatório pode ser considerado em
• A TC deve ser realizada pacientes hemodinamicamente estáveis, sem sinais
caso vá alterar a conduta
de irritação peritoneal ou evisceração. As opções de
após sua realização ou
facilitar a estabilização diagnóstico menos invasivo para estes pacientes (que
do paciente para a podem ter dor no local do ferimento) incluem exames
transferência. físicos seriados por um período de 24 horas (com ou sem
FAST seriado), LPD, TC ou laparoscopia diagnóstica.
Embora um FAST positivo possa ser útil nesta situação,
um FAST negativo não exclui a possibilidade de uma
A maioria das lesões por arma de fogo são tratadas lesão visceral sem um grande volume de líquido intra-
por laparotomia exploradora. A incidência de lesões abdominal. Os exames físicos seriados são muito
intraperitoneais significativas se aproxima de 98% quando trabalhosos, mas têm uma taxa de precisão global de
a penetração peritoneal está presente. Os ferimentos por 94%. A TC e LPD podem permitir o diagnóstico precoce
arma branca podem ser manuseados de forma mais de lesões em pacientes relativamente assintomáticos.
seletiva, mas aproximadamente 30% causam lesão A laparoscopia diagnóstica pode confirmar ou excluir a
intraperitoneal. Assim, as indicações para laparotomia penetração peritoneal, mas é menos útil na identificação
em pacientes com ferimentos abdominais penetrantes de lesões especificas. O cirurgião é quem determina
incluem: quando LPD ou laparoscopia devem ser usados.

•• Instabilidade hemodinâmica Lesões no Flanco e Dorso: Tratamento não


•• Ferimento por arma de fogo com trajetória Operatório
transfixante
•• Sinais de irritação peritoneal
­94 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

A espessura do flanco e dos músculos do dorso protege contraste. O acompanhamento ambulatorial precoce é
as vísceras subjacentes contra lesões causadas por mandatório após um período de observação hospitalar
ferimentos por arma branca e alguns ferimentos por de 24 horas, por causa da apresentação sutil de certas
projétil de arma de fogo. Para aquelas lesões que não lesões colônicas.
têm indicação de laparotomia imediata, as opções O LPD também pode ser usado nestes pacientes como
de diagnóstico menos invasivas incluem exame um teste de triagem precoce. O LPD positivo é indicação
físico seriado (com ou sem o FAST), TC com duplo ou de laparotomia de urgência. No entanto, o LPD pode
triplo contraste e LPD. Em pacientes com ferimentos não identificar lesões do cólon retroperitoneal.
posteriores a linha axilar anterior, o exame físico
seriado na identificação de peritonite é muito preciso na Indicações de laparotomia
detecção de lesões retroperitoneais ou intraperitoneais.
A TC com duplo ou triplo contraste é um estudo Uma avaliação cirúrgica é necessário para determinar
demorado que pode avaliar mais completamente as o tempo e a necessidade de laparotomia (n FIGURA 5-7).
porções retroperitoneais do cólon, no lado da ferida. As seguintes indicações são comumente usadas para
A precisão é comparável à do exame físico seriado. No
entanto, a TC permite um diagnóstico precoce da lesão facilitar o processo de tomada de decisão a este respeito:
quando ela for realizada corretamente. •• Trauma abdominal fechado, com hipotensão,
Raramente, as lesões retroperitoneais podem não com FAST positivo ou evidência clinica de
ser percebidas pelo exame físico seriado ou TC com sangramento intraperitoneal, ou sem outra
fonte de hemorragia

armadilhas prevenção •• Hipotensão com ferida abdominal penetrante


•• Ferimentos por projéteis de arma de fogo que
Lesões por concussão • Faça a investigação para lesões transfixam a cavidade peritoneal
ou explosivas podem abdominais/pélvicas nestes
causar lesão sem a mecanismos de trauma, •• Evisceração
penetração da cavidade mesmo sem evidências
•• Hemorragias do estômago, reto ou trato
peritoneal. externas de feridas.
geniturinário em traumas penetrantes
O exame físico, o • Mantenha um alto nível •• Peritonite
ultrassom e radiografias de suspeição para lesões
são comprometidos abdominais/pélvicas
•• Pneumoperitôneo, ar retroperitoneal ou
no paciente obeso. em pacientes obesos, ruptura do diafragma
As imagens de todas independentemente do
•• TC com contraste que demonstre ruptura do
as radiografias são mecanismo de trauma.
comprometidas e o LPD • A TC é a melhor modalidade
trato gastrointestinal, lesão intraperitoneal
é de difícil execução, se de imagem nesta população. da bexiga, lesão de pedículo renal ou lesão
não impossível na Sala • Em casos selecionados a parenquimatosa visceral severa após
de Trauma. laparotomia diagnóstica deve traumatismo fechado ou penetrante
ser necessária.

Exploração tardia • Todos os pacientes com


nos pacientes instabilidade hemodinâmica
hemodinamicamente devem ser submetidos a
instáveis com lesão laparotomia.
abdominal por arma • Exame físico seriado
branca. não é uma opção nestes
pacientes ou naqueles que
apresentarem peritonite ou
evisceração.
• A TC, o LPD e o FAST não
estão indicados naqueles
pacientes com instabilidade
hemodinâmica e lesão
abdominal penetrante.
n FIGURA 5-7  Laparotomia. A avaliação cirúrgica é necessária para
determinar o momento e a necessidade de laparotomia.
ASSESSMENT AND MANAGEMENT 95

•• Trauma abdominal fechado ou penetrante outro lado, o nível de amilase pode ser elevado por lesões não
com aspiração de conteúdo gastrointestinal, pancreáticas. A TC de duplo contraste pode não identificar
fibras vegetais ou bile no LPD, ou aspiração lesões pancreáticas significativas no período imediato pós-
de 10 mL ou mais de sangue em pacientes trauma (até 8 horas). Pode ser repetido ou outras imagens
hemodinamicamente instáveis. de estudo pancreático realizada se se suspeitar destas lesões.
Caso os achados de imagem sejam inconclusivos, uma
exploração cirúrgica do pâncreas é recomendada.
avaliação de outras lesões específicas
Lesões Geniturinárias
O fígado, o baço e os rins são órgãos predominantemente
envolvidos em trauma abdominal fechado, embora a Trauma no dorso ou nos flancos que resultam em contusões,
incidência relativa de perfuração de víscera oca e as hematomas ou equimoses são marcadores de possíveis
lesões de coluna vertebral lombar aumentem com o uso lesões renais e exigem uma avaliação (TC ou urografia
inadequado do cinto de segurança (ver Tabela 5-1). O excretora) do trato urinário. A hematúria macroscópica já
diagnóstico de lesões no diafragma, duodeno, pâncreas, é um indicativo de avaliação por imagem do trato urinário.
sistema geniturinário e intestino delgado pode ser difícil. Hematúria macroscópica e microscópica em pacientes
A maioria das lesões penetrantes são diagnosticadas na em choque são marcadores para aumento do risco de
laparotomia. lesões renais. Uma TC abdome com contraste venoso pode
documentar a presença e a extensão de uma lesão renal
Lesões do Diafragma contusa, que pode ser tratada de forma não-operatória. A
trombose da artéria renal e a ruptura do pedículo renal por
Lacerações podem ocorrer em quaisquer porções das desaceleração são lesões raras nas quais a hematúria pode
cúpulas diafragmáticas, embora a hemicúpula esquerda estar ausente, embora o paciente possa ter dor abdominal
seja mais frequentemente comprometida. Uma lesão intensa. Urografia excretora, TC ou arteriografia renal,
comum tem cerca de 5 a 10 cm de extensão e envolve podem ser úteis no diagnóstico de ambas.
a região póstero-lateral da hemicúpula diafragmática Uma fratura pélvica anterior geralmente está presente
esquerda. As anormalidades na radiografia de tórax inicial em pacientes com lesão da uretra. As rupturas da uretra são
incluem elevação ou “borramento” do hemidiafragma, divididas em duas: acima (posterior) ou abaixo (anterior)
hemotórax, uma sombra gasosa anormal que obscurece do diafragma urogenital. Uma lesão da uretra posterior
o hemidiafragma ou uma sonda gástrica posicionada geralmente ocorre em pacientes com trauma multissistêmico
acima da linha da hemicúpula diafragmática. No entanto a e fraturas pélvicas. Já a lesão uretral anterior é resultado de
radiografia de tórax inicial pode ser normal num pequeno um trauma a cavaleiro e pode ser uma lesão isolada.
percentual de pacientes. Suspeite deste diagnóstico para
qualquer lesão penetrante toracoabdominal e confirme Lesões de Visceras Ocas
com laparotomia, toracoscopia ou laparoscopia.
As lesões contusas do intestino geralmente são
Lesões Duodenais resultantes de desaceleração brusca que acarreta um
esgarçamento próximo a um ponto fixo de sustentação
A ruptura duodenal é encontrada classicamente em visceral, principalmente quando o cinto de segurança foi
motoristas sem cinto de segurança, envolvidos em usado de maneira incorreta. Lesões intestinais devem ser
colisão automobilística com impacto frontal e pacientes pesquisadas frente a equimoses lineares e transversas
submetidos a golpes diretos sobre o abdome, como na parede abdominal (sinal do cinto de segurança) ou
aqueles produzidos por “guidão” de bicicleta. Um uma fratura lombar com desvio detectada na radiografia
aspirado gástrico hemorrágico ou a presença de ar (fratura de Chance). Embora alguns pacientes possam
retroperitoneal em uma radiografia de abdome ou TC apresentar dor abdominal precoce, o diagnóstico de
deve levantar a suspeita desta lesão. Radiografias de lesão de víscera oca pode ser difícil pois nem sempre
abdome seriadas, TC com duplo contraste ou laparotomia está associada a sangramento significativo.
de urgência são indicados para pacientes com alto risco.
Lesões de Órgãos Sólidos
Lesões Pancreáticas
Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque,
Lesões pancreáticas geralmente resultam de um golpe instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia
epigástrico direto que comprime o pâncreas contra a coluna ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de
vertebral. Um nível inicial de amilase sérica normal não órgão sólido em pacientes hemodinamicamente estáveis,
exclui um trauma pancreático de maior magnitude. Por muitas vezes pode ser tratada não operatoriamente.
­96 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

Internação hospitalar destes pacientes para observação Mecanismo de Trauma e Classificação


cuidadosa e avaliação por um cirurgião é fundamental.
Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque, Lesões do anel pélvico podem ser causadas por acidentes
instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia automobilísticos, acidentes de moto, atropelamentos,
ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de esmagamento direto da pelve ou quedas. As fraturas
órgão sólido em pacientes hemodinamicamente estáveis, pélvicas são classificadas em quatro tipos, com base nos
muitas vezes, pode ser tratada não operatoriamente. padrões de força da lesão: compressão anteroposterior
Internação hospitalar destes pacientes para observação (AP), compressão lateral, cisalhamento vertical e
cuidadosa e avaliação por um cirurgião é fundamental. mecanismos combinados (n FIGURA 5-8).
Compressão AP é frequentemente associada com
armadilhas prevenção colisões frontais de motocicleta e carros. Este mecanismo
produz rotação externa da hemipelve com afastamento
da sínfise púbica e esgarçamento do complexo ligamentar
Lesões diafragmáticas • Realize uma laparotomia,
posterior. O anel pélvico rompido se afasta rompendo
despercebidas em toracoscopia ou
o plexo venoso posterior e os ramos do sistema arterial
lesão penetrante laparoscopia para excluir
ilíaco interno. A hemorragia pode ser grave e fatal.
toracoabdominal. a lesão diafragmática em
A lesão por compressão lateral, que envolve força lateral
ferimentos penetrantes.
diretamente aplicada à pelve, é o mecanismo mais
comum de fratura pélvica em uma colisão de carros.
Lesão despercebida de • Avaliações adicionais
Em contraste com a compressão AP, a hemipelve gira
víscera oca. (exame físico seriado,
internamente durante a compressão lateral reduzindo
TC seriada, ultrassom
o volume pélvico e reduzindo a tensão nas estruturas
seriado, LPD ou
vasculares pélvicas. Esta rotação interna pode direcionar
laparotomia) estão
o púbis ao sistema geniturinário inferior, causando lesões
indicadas quando a lesão
potenciais na bexiga e/ou uretra. A hemorragia e outras
de víscera oca for uma
sequelas de lesão por compressão lateral raramente
suspeita.
são fatais, mas podem produzir morbidade grave e
permanente, e, pacientes idosos podem desenvolver
Fraturas Pélvicas e Lesões Associadas sangramentos significativos por fraturas pélvicas com
este mecanismo. Quando isso ocorre, estes pacientes
Como pacientes com fraturas pélvicas e hipotensão requerem técnicas de controle de hemorragia precoce,
têm uma alta taxa de mortalidade, qualquer tomada de como a angioembolização. Pacientes frágeis e idosos
decisão é fundamental para um bom desfecho clínico. podem sangrar significativamente após um trauma de
Fraturas pélvicas associadas a hemorragia comumente menor intensidade com fraturas de compressão lateral.
apresentam ruptura dos ligamentos ósseos posteriores O cisalhamento vertical da articulação sacro ilíaca
(sacro ilíaco, sacro tuberoso, sacro espinhoso e também pode romper a vascularização ilíaca e causar
fibromuscular do assoalho pélvico) evidenciado por hemorragia grave. Neste mecanismo, uma força de
uma fratura sacral, uma fratura saco ilíaca e/ou luxação cisalhamento de alta energia ocorre ao longo de um
da articulação sacro ilíaca. plano vertical nos aspectos anterior e posterior do anel.

Compressão anteroposterior Compressão lateral Cisalhamento vertical


A (livro aberto) 15-20% dos casos B (fechada) 60-70% dos casos C 5-15% dos casos

n FIGURA 5-8  Fraturas Pélvicas. A. Fratura por compressão. B. Fraturas por compressão lateral. C. Fratura por cisalhamento vertical.
AVALIAÇÃO 97

Este cisalhamento rompe os ligamentos sacrotuberoso em hospitais sem recursos para tratar definitivamente
e sacroespinhoso levando à instabilidade pélvica. Uma a hemorragia associada. Nesses casos, técnicas simples
queda de altura superior a 3,66 metros geralmente resulta podem ser usadas para estabilizar a pelve, antes de
em uma lesão por cisalhamento vertical. transferir o paciente. Como as lesões pélvicas associadas a
A mortalidade em pacientes com todos os tipos de grandes hemorragias rodam externamente a hemipelve,
fraturas pélvicas é aproximadamente uma em cada seis a rotação interna dos membros inferiores também
(variações de 5 a 30%). A mortalidade aumenta para pode reduzir o volume pélvico. Ao aplicar um suporte
cerca de um em cada quatro (variações de 10 a 42%) em diretamente a pelve do paciente é possível estabilizar
pacientes com fratura pélvica fechada e hipotensão. Em a pelve fraturada, reduzindo ainda mais o potencial de
pacientes com fratura pélvica aberta a mortalidade é hemorragia pélvica. Um lençol, cinta pélvica ou outro
de aproximadamente 50%. A hemorragia é o principal dispositivo pode produzir uma fixação temporária
fator potencialmente reversível, que contribui para a eficiente para a pelve instável quando aplicada ao nível
mortalidade. (Ver Apêndice G: Estação Prática Circulação.) dos trocânteres maiores dos fêmures (n FIGURA 5-9). (Ver
também vídeo Cinta Pélvica no aplicativo móvel MyATLS.)
Tratamento Nos casos de lesões por cisalhamento vertical, a tração
longitudinal aplicada através da pele ou do esqueleto
O tratamento inicial de uma fratura pélvica grave também pode ajudar a proporcionar estabilidade. Isso
associada a choque hemorrágico requer tanto o controle deve ser feito com a consulta de um ortopedista.
do sangramento como a reposição volêmica. O controle da Cintas pélvicas externas são um procedimento
hemorragia é obtido por meio de estabilização mecânica de emergência temporário. A aplicação adequada é
do anel pélvico e contrapressão externa. Os pacientes com obrigatória e os pacientes com cinta pélvica exigem
estas lesões podem ser avaliados e tratados inicialmente monitoramento cuidadoso. Cintas apertadas ou as que

A B

C D

n FIGURA 5-9  Estabilização Pélvica. A. Cinta pélvica. B. Estabilização pélvica com lençol. C. Antes de aplicar a cinta pélvica. D. Após a
aplicação da cinta pélvica.
­98 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

armadilhas prevenção Avaliação inicial

Tratamento tardio da • Controle a hemorragia Avaliação cirúrgica e aplicação da cinta pélvica/lençol


hemorragia pélvica. aplicando a cinta pélvica,
angioembolização e/ou
tratamento cirúrgico.
Sangramento intraperitoneal?

Úlcera de pressão • Monitore os pacientes com


SIM NÃO
sobre o trocânter após cinta pélvica para evitar
a permanência da cinta úlceras de pressão.
pélvica por mais de 24 • Desenvolva um plano
horas. terapêutico precoce para o Empacotamento
Laparotomia Angiografia
controle da hemorragia. pélvico

Hipotensão sem • Procure ativamente


Dispositivo para fixação da bacia e controle de sangramento
diagnóstico nos hemorragia subcutânea.
pacientes idosos após • Reconheça que, nos n FIGURA 5-10  Algoritmo de abordagem nas fraturas pélvicas com
história de queda. pacientes idosos, traumas choque hemorrágico.
de baixa energia podem
causar fraturas pélvicas com
sangramentos significativo, transferência precoce para um centro de trauma com
que necessitem de recursos disponíveis.
tratamento agressivo e
transfusões.

trabalho em equipe
permaneceram na posição por períodos prolongado
podem causar lesões na pele ou ulcerações sobre as
proeminências ósseas.
•• A equipe deve ser capaz de determinar as
Para o tratamento definitivo dos pacientes com
prioridades de tratamento e identificar quais
alterações hemodinâmicas relacionadas a uma fratura
pélvica, é necessária uma equipe composta por um os procedimentos ou intervenções simultâneas
cirurgião de trauma, um cirurgião ortopédico, um necessitem ser realizados. O líder da equipe
radiologista intervencionista e um cirurgião vascular. deve reconhecer a necessidade de aplicar uma
A embolização angiográfica é frequentemente utilizada cinta pélvica e garantir a sua correta aplicação
para parar hemorragia arterial relacionada a fraturas enquanto continua a avaliar a resposta do
pélvicas. O empacotamento pré-peritoneal é um método paciente à reanimação.
alternativo para controlar a hemorragia pélvica quando
•• Certifique-se que os membros da equipe
a embolização demorar ou não estiver disponível. As
técnicas de controle da hemorragia não são exclusivas e trabalhem de forma eficaz e rápida para evitar
pode ser necessário mais de uma técnica para o controle qualquer atraso na transferência de um paciente
satisfatório desta. Um cirurgião de trauma experiente deve com lesão abdominal para cuidados definitivos.
construir um plano terapêutico para um paciente com
hemorragia pélvica com base nos recursos disponíveis.
Embora o tratamento definitivo de pacientes com r e sumo do capítulo
choque hemorrágico e fraturas pélvicas seja variável,
um algoritmo terapêutico é mostrado em (n FIGURA 5-10). 1. As três regiões distintas do abdome são a cavidade
São necessários recursos significativos para tratar de peritoneal, o espaço retroperitoneal e a cavidade
pacientes com fraturas pélvicas graves. A consideração pélvica. A cavidade pélvica contém componentes
precoce de transferência para um centro de trauma tanto da cavidade peritoneal quanto do espaço
é essencial. Em ambientes de recursos limitados, a retroperitoneal.
ausência de recursos cirúrgicos e/ou angiográficos
para pacientes hemodinamicamente instáveis com 2. A avaliação precoce com um cirurgião é necessária
fraturas pélvicas ou pacientes hemodinamicamente para um paciente com possíveis lesões intra-
normais com lesão significativa de órgãos sólidos requer abdominais. Uma vez que as funções vitais do
paciente tenham sido reestabelecidas, a avaliação e
BIBLIOGRAFIA 99

o tratamento variam de acordo com o mecanismo •• Angioembolização e empacotamento pélvico


de trauma. •• Selecionar os exames diagnósticos especiais
conforme a necessidade e realizá-los com
3. Pacientes hemodinamicamente instáveis com mínima perda de tempo possível
múltiplas lesões fechadas devem ser avaliados
rapidamente em busca de sangramento •• Manter sempre um alto índice de suspeição
intra-abdominal ou contaminação do trato de possíveis lesões ocultas dos vasos e órgãos
gastrointestinal, através da realização de um FAST retroperitoneais
ou LPD.

4. Os pacientes que necessitam de transferência para


Bibliografia
um centro de trauma devem ser reconhecidos e
estabilizados precocemente sem realizar testes
diagnósticos não essenciais. 1. Agolini SF, Shah K, Jaffe J, et al. Arterial
embolization is a rapid and effective technique
5. Indicações para TC em pacientes hemodinamicamente for controlling pelvic fracture hemorrhage. J
normais incluem a incapacidade de avaliar de forma Trauma 1997;43(3):395–399.
confiável o abdome com exame físico, bem como a 2. Anderson PA, Rivara FP, Maier RV, et al. The
presença de dor abdominal. A decisão de operar é epidemiology of seat belt–associated injuries. J
baseada no(s) órgão(s) específico(s) envolvido(s) e Trauma 1991;31:60–67.
gravidade da lesão. 3. Aquilera PA, Choi T, Durham BH. Ultrasound-
aided supra-pubic cystostomy catheter placement
6. Todos os pacientes com ferimentos penetrantes no in the emergency department. J Emerg Med
abdome com hipotensão, peritonite ou evisceração 2004;26(3):319–321.
necessitam de laparotomia de urgência. Os pacientes 4. Ball CG, Jafri SM, Kirkpatrick AW, et al.
com ferimentos por projétil de arma de fogo que Traumatic urethral injuries: does the digital
tenham transfixado a cavidade peritoneal ou áreas rectal examination really help us? Injury
de vísceras e vasos do retroperitônio, quando 2009Sep;40(9):984–986.
diagnosticados pelo exame físico ou radiográfico, 5. Ballard RB, Rozycki GS, Newman PG, et al. An
também necessitam de laparotomia. Pacientes algorithm to reduce the incidence of false-
assintomáticos com ferimentos por arma branca na negative FAST examinations in patients at
parede abdominal anterior, que tenham penetrado high risk for occult injury. J Am Coll Surg
o peritônio na exploração local da ferida, requerem 1999;189(2):145–150.
uma avaliação mais completa, existindo diversas 6. Boulanger BR, Milzman D, Mitchell K, et al.. Body
alternativas aceitáveis. habitus as a predictor of injury pattern after blunt
trauma. J Trauma 1992;33:228–232.
7. Os pacientes assintomáticos com ferimentos por 7. Boyle EM, Maier RV, Salazar JD, et al. Diagnosis of
arma branca nos flancos ou no dorso, que não são injuries after stab wounds to the back and flank.
obviamente superficiais devem ser avaliados com J Trauma 1997;42(2):260–265.
exame físico seriado ou TC com contraste. 8. Como JJ, Bokhari F, Chiu WC, et al. Practice
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8. O tratamento do trauma fechado e penetrante do management of penetrating abdominal trauma.
abdome e da pelve inclui: J Trauma 2010Mar;68(3):721–733.
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Preperitoneal pelvic packing for hemodyna-
•• Reestabelecer as funções vitais e otimizar a mically unstable pelvic fracture: a paradigm shift.
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•• Reconhecer rapidamente as fontes de 10. Cryer HM, Miller FB, Evers BM, et al. Pelvic fracture
hemorragia, fazendo todo o possível para classification: correlation with hemorrhage. J
controlá-las Trauma 1988;28:973–980.
11. Dalal SA, Burgess AR, Siegel JH, et al. Pelvic
•• Proceder a um exame físico inicial minucioso,
fracture in multiple trauma: classification by
repetindo-o em intervalos regulares
mechanism is key to pattern of organ injury,
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•• Laparotomia Trauma 1989;29:981–1002.
­100 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico

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fractures in blunt trauma patients? J Trauma 2001;50(3):475–479.
2009;66(3):815–820. 44. Ultrasound in the evaluation and management
41. Sosa JL, Baker M, Puente I, et al. Negative of blunt abdominal trauma. Ann Emerg Med
laparotomy in abdominal gunshot wounds: 1997;29(3):357–366.
potential impact of laparoscopy. J Trauma 1995 45. Velmahos GC, Demetriades D, Cornwell EE 3rd.
Feb;38(2):194–197. Transpelvic gunshot wounds: routine laparotomy
42. Takishima T, Sugimota K, Hirata M, et al. Serum or selective management? World J Surg 1998Oct;
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blunt injury to the pancreas: its significance 46. Zantut LF, Ivatury RR, Smith RS, et al. Diagnostic
and limitations. Ann Surg 1997;226(1): and therapeutic laparoscopy for penetrating
70–76. abdominal trauma: a multicenter experience. J
Trauma 1997;42(5):825–829.
6 TRAUMA CRANIENCEFÁLICO

O objetivo principal do tratamento dos doentes com suspeita de trauma craniencefálico


(TCE) é prevenir a lesão cerebral secundária.
Capítulo 6 sumário
Objetivos avaliação secundária

Introdução procedimentos diagnósticos

revisão de anatomia tratamento clínico do trauma craniencefálico


• Couro Cabeludo • Fluidos Intravenosos
• Crânio • Correção da Anticoagulação
• Meninges • Hiperventilação
• Encéfalo • Manitol
• Sistema Ventriccular • Solução Salina Hipertônica
• Compartimentos Intracranianos • Barbitúricos
• Anticonvulsivantes
revisão da fisiologia
• Pressão Intracraniana tratamento cirúrgico
• Doutrina de Monro-Kellie • Lesões do Couro Cabeludo
• Fluxo Sanguíneo Cerebral • Fraturas no Crânio com Afundamento
• Lesões Intracranianas com Efeito de Massa
Classificação das lesões craniencefálicas • Ferimentos Craniencefálicos Penetrantes
• Gravidade da Lesão
• Morfologia Prognóstico

protocolos de tratamento baseado em evidências Morte encefálica


• Tratamento do Trauma Craniencefálico Leve
(Escore na GCS 13–15) Trabalho em equipe
• Tratamento do Trauma Craniencefálico Moderado
(Escore na GCS 9–12) resumo do capítulo
• Tratamento do Trauma Craniencefálico Grave
(Escore na GCS 3–8) Bibliografia

avaliação primária e reanimação


• Via Aérea e Respiração
• Circulação
• Avaliação Neurológica
• Anestésicos, Analgésicos e Sedativos

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 3. Descrever os componentes da avaliação neurológica
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: dirigida.

1. Descrever a anatomia intracraniana básica e os princípios 4. Explicar a importância da reanimação adequada para
fisiológicos da pressão intracraniana, a Doutrina Monro- limitar a lesão cerebral secundária.
Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral.
5. Identificar as considerações para transferência, admissão,
2. Descrever a avaliação primária e a reanimação do doente consulta, e alta do doente com trauma craniencefálico.
com trauma craniencefálico.

103
­104 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

A
s lesões craniencefálicas encontram-se entre retardar a transferência do doente para um centro de
os tipos de trauma mais frequentemente vistos trauma capaz de realizar intervenção neurocirúrgica
nos Departamentos de Emergência (DE). Muitos imediata e definitiva.
doentes com lesões cerebrais graves morrem antes A triagem do doente com TCE depende da gravidade
de chegar ao hospital; de fato, quase 90% das mortes da lesão e dos recursos disponíveis na comunidade em
pré-hospitalares relacionadas ao trauma envolvem questão. Para os hospitais sem cobertura neurocirúrgica,
lesão cerebral. Aproximadamente 75% dos doentes com devem estar em vigor acordos de transferência previamente
lesão cerebral que recebem cuidados médicos podem ser estabelecidos com serviços mais capacitados. Recomenda-
classificados como vítimas de trauma leve, 15% como se que se consulte precocemente um neurocirurgião.
vítimas de trauma moderado e 10% como vítimas de trauma n QUADRO 6-1 Lista de informações importantes para
grave. Dados mais recentes dos EUA estimam 1.700.000 fornecer ao neurocirurgião a respeito do doente com TCE).
traumatismos craniencefálicos (TCE) anualmente,
incluindo 275.000 hospitalizações e 52.000 mortes.
As vítimas sobreviventes de TCE frequentemente r e v is ão de a n atomi a
apresentam dano neurofisiológico que resulta em invalidez,
comprometendo o trabalho e as atividades sociais. Nos Uma revisão da anatomia craniana inclui o couro cabeludo,
EUA, estima-se que anualmente cerca de 80.000 a 90.000 o crânio, as meninges, o encéfalo, o sistema ventricular, e
pessoas sofrem algum tipo de invalidez de longa duração os compartimentos intracranianos (n FIGURA 6-1).
como resultado de trauma craniencefálico. Nos países
europeus, como por exemplo, na Dinamarca, 300 entre couro cabeludo
cada 1 milhão de habitantes sofrem trauma craniencefálico
moderado ou grave anualmente, sendo que mais de um Em razão da sua irrigação abundante, a laceração
terço dessas vítimas requerem reabilitação. Considerando do couro cabeludo pode levar a perdas sanguíneas
essas estatísticas, mesmo uma pequena redução na significativas, choque hemorrágico e mesmo morte.
mortalidade e na morbidade resultantes de trauma Isso é particularmente verdadeiro em doentes com
craniencefálico teria impacto importante na saúde pública. tempo muito longo de transporte.
O objetivo principal do tratamento dos doentes
com suspeita de TCE grave é prevenir a lesão cerebral crânio
secundária. A maneira mais importante para limitar o
dano cerebral secundário e, consequentemente, melhorar A base do crânio é irregular, possibilitando a ocorrência
o resultado do doente é garantir oxigenação adequada de lesões quando o cérebro se desloca e desliza no interior
e manter a pressão arterial suficiente para garantir a do crânio, em decorrência de movimentos de aceleração
perfusão cerebral. Após a realização dos ABCDE, os doentes e desaceleração. A fossa anterior aloja os lobos frontais,
que são identificados por meio da avaliação clínica como a fossa média aloja os lobos temporais e a fossa posterior
doentes com TCE que necessitam de tratamento em um aloja a porção inferior do tronco cerebral e o cerebelo.
centro de trauma, devem ser prontamente transferidos.
Se existir capacidade neurocirúrgica local é crucial que se Meninges
identifiquem lesões com efeito de massa que necessitem
de drenagem cirúrgica, e isso é obtido da melhor maneira As meninges revestem o cérebro e consistem em três
pela realização imediata de tomografia computadorizada camadas: dura-máter, aracnoide e pia-máter (n FIGURA
(TC) do crânio. Entretanto, a obtenção de TC não deve 6-2). A dura-máter é uma membrana resistente e fibrosa

quadro 6-1 lista de informações importantes para fornecer ao


neurocirurgião a respeito do doente com tce

Ao consultar um neurocirurgião sobre um doente com TCE, forneça as seguintes informações:


• Idade do doente • Presença de algum défice neurológico focal
• Mecanismo e hora do trauma • Presença de suspeita de anormalidade do estado
• Estado respiratório e cardiovascular do doente neuromuscular
(particularmente pressão arterial e saturação de oxigênio) • Presença e tipos de lesões associadas
• Resultados da avaliação neurológica, incluindo o escore • Resultados dos exames diagnósticos, particularmente a
da GCS (particularmente a resposta motora), tamanho das TC (se disponível)
pupilas e reatividade à luz • Tratamento da hipotensão ou hipóxia
• Uso de anticoagulantes
REVISÃO DE ANATOMIA 105

Espaço Terceiro Plexo Seio sagital


subaracnoide ventrículo coroide superior

Vilosidades
aracnoides

Seio reto

Cerebelo
Mesencéfalo
Espalo subaracnóide
Aqueduto
cerebral

Quarto ventrículo

Plexo coroide Canal central


da medula
Medula espinhal

n FIGURA 6-1  Visão Geral Tr


Advanced daaum
Anatomia Craniana.
a Life SupportforAs setas
Doctors representam a produção, circulação e reabsorção do fluido cerebroespinhal.
StudentCourse M anual,9e
Am erican College ofSurgeons
Figure# 06.01
Dragon y M edia Group
11/23/2011

Dura-máter: Crânio
Camada periosteal
Camada meningea
Aracnoide Espaço subdural
Vaso sanguíneo Espaço
Pia-máter Subaracnoide

Seio sagital
Cérebro: superior
Massa cinzenta
Massa branca
Foice do cérebro
(apenas na fissura
longitudinal)

n FIGURA 6-2  As meninges cobrem o cérebro e consistem em três camadas: a dura-máter, a aracnoide a pia-máter.

Advanced Traum a Life SupportforDoctors


StudentCourse M anual,9e
Am erican College ofSurgeons
Figure# 06.02
­106 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

que adere firmemente à superfície interna do crânio. funções da memória. O lobo occipital é responsável
Em locais específicos, a dura-máter divide-se em duas pela visão.
superfícies que envolvem grandes seios venosos que O tronco cerebral é constituído pelo mesencéfalo,
permitem a maior parte da drenagem venosa cerebral. O ponte e bulbo. O mesencéfalo e a parte superior
seio sagital na linha média superior drena para os seios da ponte contêm o sistema ativador reticular que
bilaterais transverso e sigmoide, que são frequentemente é responsável pelo estado de alerta. No bulbo, que
maiores no lado direito. A laceração desses seios venosos continua para formar a medula espinhal, alojam-se
pode resultar em hemorragia maciça. centros cardiorrespiratórios vitais. Mesmo pequenas
As artérias meníngeas correm entre a dura-máter lesões no tronco cerebral podem ser acompanhadas
e a superfície interna do crânio no espaço epidural. de défice neurológico grave.
Fraturas cranianas acima dessas artérias podem O cerebelo, responsável principalmente
lacerá-las e resultar em hematoma epidural. A artéria pela coordenação e pelo equilíbrio, projeta-se
meníngea média, que se encontra localizada sobre a posteriormente, na fossa posterior, e forma conexões
fossa temporal, é o vaso meníngeo lesado com maior com a medula espinhal, o tronco cerebral e com os
frequência. Um hematoma em expansão, provocado hemisférios cerebrais.
pela laceração arterial nessa localização pode causar
deterioração rápida e morte. Os hematomas epidurais sistema ventricular
também podem resultar de lesões dos seios durais e de
fraturas da calota craniana, que tendem a expandir mais Os ventrículos são um sistema de espaços e aquedutos
lentamente, e provocam menor pressão sobre o cérebro preenchidos de LCR, localizados no interior do encéfalo.
subjacente. Entretanto, a maioria dos hematomas O LCR é produzido constantemente nos ventrículos e
epidurais representam uma emergência com risco de é absorvido sobre a superfície do encéfalo. A presença
morte, devendo ser avaliados por um neurocirurgião de sangue no LCR pode prejudicar a sua reabsorção,
tão logo quanto possível. produzindo aumento da pressão intracraniana. O
Abaixo da dura-máter situa-se a segunda meninge, a edema e as lesões de massa (por exemplo, hematomas),
membrana aracnoide, que é fina e transparente. Como podem provocar obliteração ou desvio dos ventrículos
a dura-máter não está aderida à aracnoide subjacente, que usualmente são simétricos. Tais alterações podem
existe um espaço potencial (o espaço subdural) ser facilmente identificadas na TC de crânio.
no qual podem ocorrer hemorragias. No trauma
craniencefálico, as veias que vão da superfície do compartimentos intracranianos
cérebro para o seios venosos, no interior da dura (veias
em ponte), podem romper-se levando à formação de O encéfalo é separado em regiões por divisórias
hematoma subdural. de meninges bem resistentes. A tenda do cerebelo
A terceira meninge, a pia-máter, está firmemente ou tentório divide a cavidade intracraniana em
aderida à superfície do cérebro. O líquido compartimento supratentorial e infratentorial. O
cefalorraquidiano (LCR) preenche o espaço entre mesencéfalo passa através de uma abertura no tentório
a aracnoide impermeável e a pia-máter (o espaço conhecida como incisura da tenda do cerebelo. O nervo
subaracnoideo), acolchoando o cérebro e a medula oculomotor (III nervo craniano) passa ao longo da
espinhal. Hemorragia para dentro desse espaço margem da tenda do cerebelo, podendo ser comprimido
preenchido de líquido (hemorragia subaracnoidea) é contra ela durante uma herniação do lobo temporal.
frequentemente acompanhada por contusão cerebral Fibras parassimpáticas, que são constritoras das
ou trauma de grandes vasos na base do encéfalo. pupilas, estão na superfície do III nervo craniano. A
compressão dessas fibras durante a herniação causa
encéfalo dilatação pupilar devida à atividade simpática sem
oposição, frequentemente chamada de pupila dilatada
O encéfalo compreende cérebro, cerebelo e tronco (n FIGURA 6-3).
cerebral. O cérebro é composto pelos hemisférios A região do cérebro que habitualmente hernia
direito e esquerdo, separados pela foice cerebral. O através da incisura tentorial é a parte medial do
hemisfério esquerdo contém os centros da linguagem lobo temporal, conhecida como uncus (n FIGURA 6-4).
em virtualmente todos os indivíduos destros e em mais Herniação do uncus também causa compressão do
de 85% dos indivíduos canhotos. O lobo frontal controla trato corticoespinhal (piramidal) do mesencéfalo.
as funções de execução, as emoções, as funções motoras O trato motor cruza para o lado oposto no forame
e, no lado dominante, a expressão da fala (área motora magno, e a sua compressão resulta em défice motor
da fala). O lobo parietal dirige a função sensorial e a do lado oposto do corpo (hemiplegia contralateral). A
orientação espacial. O lobo temporal regula certas dilatação da pupila ipsilateral associada à hemiplegia
REVISÃO DA FISIOLOGIA 107

doutrina de Monro–Kellie
A doutrina de Monro-Kellie é um conceito simples,
mas de vital importância para a compreensão da
dinâmica da PIC. A doutrina afirma que o volume total
do conteúdo intracraniano deve permanecer constante,
n FIGURA 6-3 Pupilas diferentes com a esquerda maior que a direita. já que o crânio é uma caixa rígida não expansível.
Quando o volume intracraniano aumenta, a PIC
também aumenta. O sangue venoso e o LCR podem
ser comprimidos para fora do espaço intracraniano
dando algum grau de compensação à pressão (n FIGURA
6-5 e n FIGURA 6-6). Assim, na fase inicial após o trauma,
uma massa tal como um coágulo sanguíneo pode
aumentar e a PIC permanecer normal. Entretanto,
uma vez atingido o limite de deslocamento do LCR e
do sangue intravascular, a PIC aumenta rapidamente.

fluxo sanguíneo cerebral


O TCE suficientemente grave para produzir coma
pode causar redução importante do fluxo sanguíneo
cerebral (FSC) durante as primeiras horas após o
trauma. Habitualmente aumenta nos próximos 2 a 3
dias, mas nos doentes que permanecem em coma, o FSC
permanece abaixo do normal por dias ou semanas após o
trauma. Há evidências crescentes que tais níveis baixos
de FSC são inadequados para satisfazer a demanda
n FIGURA 6-4  Herniação Lateral (Uncal). A lesão da artéria
metabólica do cérebro precocemente após o trauma.
meníngea média secundária a uma fratura do osso temporal pode
causar um hematoma epidural temporal. O uncus comprime a Por razões conhecidas e desconhecidas, a isquemia
Advanced rauma
porção superiorT Life Support for Doctors
do tronco cerebral onde se encontra o sistema cerebral regional, e mesmo global, são comuns após o
Student Course Manual, 9e
reticular (diminuindo
American Collegeo escore
of Sur na GCS), o nervo oculomotor
geons trauma craniencefálico grave.
Figure# pupilares)
(alterações 06.04 e o trato corticoespinhal no mesencéfalo
Dragonfly Mediaoup Gr
Os vasos cerebrais pré-capilares têm normalmente
(hemiparesia contralateral).
12/02/2011 a capacidade de contrair ou dilatar reflexamente em
contralateral é a síndrome clássica de herniação do resposta a mudanças na pressão arterial média (PAM).
uncus. Raramente, a lesão de massa pode empurrar o
lado oposto do mesencéfalo contra a margem da tenda
Curva volume-pressão
do cerebelo, provocando hemiplegia e dilatação da
pupila no mesmo lado do hematoma.
Herniação

r e v is ão da fisiolo g i a
PIC (mm Hg)

Os conceitos fisiológicos relacionados ao trauma


craniencefálico incluem a pressão intracraniana, a
doutrina de Monro-Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral. Ponto de
Descompensação

pressão intracraniana Compensação


Volume de Massa
A pressão intracraniana (PIC) elevada pode reduzir a
perfusão cerebral e causar ou exacerbar a isquemia. A n FIGURA 6-5  Curva Volume-Pressão. O conteúdo intracraniano
PIC normal no estado de repouso é aproximadamente pode, inicialmente, compensar a presença de uma nova massa
10 mmHg. Pressões maiores do que 20 mmHg, intracraniana, como um hematoma subdural ou epidural. Uma vez
especialmente se mantidas e refratárias ao tratamento, que o volume dessa massa atinja um limite crítico, frequentemente
são associadas a piores resultados. ocorre um aumento rápido da pressão intracraniana, que pode levar
a redução ou cessação do fluxo sanguíneo cerebral.
­108 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

Estado normal — PIC normal

Volume Volume Encéfalo LCR


venoso arterial

Estado compensado — PIC normal

Volume Volume Encéfalo Massa LCR


venoso arterial

Estado descompensado — PIC elevada

Volume Volume Encéfalo Massa LCR


venoso arterial

75 mL 75 mL

n FIGURA 6-6  A Doutrina Monro–Kellie sobre a Compensação Intracraniana para Massas em Expansão. O volume total do conteúdo
intracraniano permanece constante. Se a adição de uma massa tal como um hematoma resultar na saída forçada de um volume igual de LCR
e sangue venoso para fora do crânio, a PIC permanece normal. Entretanto, quando esses mecanismos de compensação são esgotados, ocorre
um aumento exponencial da PIC mesmo para um pequeno aumento no volume do hematoma. (Adaptado com permissão de Narayan RK:
Head Injury. In: Grossman RG, Hamilton WJ eds., Principles of Neurosurgery. New York, NY: Raven Press, 1991.)
Advanced Traum a Life SupportforDoctors Lorem ipsum
StudentCourse M anual,9e
Para
Am efeitos clínicos,
erican Col a geons
lege ofSurpressão de perfusão cerebral por hipotensão, hipóxia, hipercapnia ou por hipocapnia
(PPC) é e#
Figurdefinida
06.06 como pressão sanguínea arterial média iatrogênica.
(PAM) menos
Dragon a pressão
y M edia Groupintracraniana (PPC = PAM - PIC). Portanto, deve ser feito todo esforço para aumentar
11/23/2011
A PAM entre 50 e 150 mmHg é “auto-regulada” para a perfusão e fluxo sanguíneo cerebrais pela redução
manter o FSC constante (auto-regulação pressórica). O da pressão intracraniana elevada, mantendo o volume
trauma craniencefálico grave pode prejudicar a auto- intravascular e a PAM normais, e restaurando a
regulação pressórica de tal modo que o cérebro fica oxigenação e a ventilação normais. Hematomas e
incapaz de compensar adequadamente as mudanças outras lesões que aumentam o volume intracraniano
na PPC. Assim, se a PAM for muito baixa pode ocorrer devem ser precocemente evacuados. A manutenção da
isquemia e infarto. Se a PAM for muito alta pode ocorrer PPC normal pode ajudar a melhorar o FSC; entretanto,
inchaço com aumento da PIC. a PPC não é igual nem assegura o FSC. Uma vez que os
O vasos cerebrais normalmente também se contraem mecanismos de compensação encontram-se esgotados
ou dilatam em resposta a alterações na pressão parcial e existe um aumento exponencial da PIC, a perfusão
de oxigênio (PaO2) ou na pressão parcial de dióxido cerebral fica comprometida.
de carbono (PaCO2) do sangue (auto-regulação
química). Portanto, a lesão secundária pode ocorrer
CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES CRANIENCEFÁLICAS 109

Morfologia
Classificação das lesões
cr aniencefálicas O trauma craniencefálico pode incluir fraturas de
crânio e lesões intracranianas tais como contusões,
As lesões craniencefálicas são classificadas de várias hematomas, lesões difusas e inchaço resultante de
maneiras. Para efeitos práticos, a gravidade da lesão e edema/hiperemia.
a morfologia serão usadas neste capítulo (n TABELA 6-1).
(Ver também Classificação das Lesões Craniencefálicas Fraturas de Crânio
no aplicativo móvel MyATLS.)
As fraturas de crânio podem ocorrer na calota ou na
gravidade da lesão base do crânio. Elas podem ser lineares ou estreladas
e expostas ou fechadas. Para identificação das fraturas
O escore na Escala GCS é usado como medida clínica da base do crânio habitualmente é necessário o uso de
objetiva da gravidade do trauma craniencefálico (n tomografia computadorizada com “janela” para osso.
TABELA 6-2). (Ver também Ferramenta de cálculo do Os sinais clínicos de fratura de base de crânio incluem a
escore na Escala de Coma de Glasgow no aplicativo equimose periorbital (olhos de guaxinim), a equimose
móvel MyATLS.) Um escore na GCS igual ou inferior retroauricular (sinal de Battle), fístula liquórica através
a 8 tornou-se a definição geralmente aceita de coma do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia) e disfunção
ou trauma craniencefálico grave. Doentes com trauma dos sétimo e oitavo nervos cranianos (paralisia facial e
craniencefálico com escore na GCS de 9 a 12 são perda de audição) que podem ocorrer imediatamente
classificados como “trauma moderado”, e aqueles com ou poucos dias após a lesão inicial. A presença desses
escore de 13 a 15 são designados como “trauma leve". sinais clínicos deve aumentar o índice de suspeita e
Ao avaliar o escore na GCS, quando existe assimetria ajudar na identificação das fraturas da base do crânio.
direita/esquerda ou superior/inferior, é importante Fraturas da base do crânio que atravessam os canais
que se use a melhor resposta motora no cálculo do carotídeos podem lesar as artérias carótidas (dissecção,
escore porque esta é o preditor mais confiável do pseudo-aneurisma ou trombose). Nesses casos deve-se
resultado. Entretanto devem-se anotar as respostas considerar a realização de arteriografia cerebral (angio
efetivas em ambos lados do corpo, face, braços e pernas. TC [ATC] ou por cateterismo arterial).
Fraturas de crânio abertas ou cominutivas podem
estabelecer comunicação direta entre a laceração do

tabela 6-1 classificação do trauma craniencefálico

Gravidade • Leve • Escore na GCS 13–15


• Moderado • Escore na GCS 9–12
• Grave • Escore na GCS 3–8

Morfologia • Fraturas de crânio • Calota • Linear X estrelada


• Com/sem afundamento

• Basilares • Com/sem fístula liquórica


• Com/sem paralisia de nervo

• Lesões Intracranianas • Focais • Epidural


• Subdural
• Intracerebral

• Difusas • Concussão
• Contusões múltiplas
• Lesão hipóxica/isquêmica
• Lesão Axonal

Fonte: Adaptado com permissão de Valadka AB, Narayan RK. Emergency room management of the head-injured patient. In: Narayan RK, Wilberger JE,
Povlishock JT, eds. Neurotrauma. New York, NY: McGraw-Hill, 1996:120.
­110 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

tabela 6-2 escala de coma de glasgow (gcs)

ESCALA ORIGINAL ESCALA REVISADA ESCORE

Abertura Ocular (O) Abertura Ocular (O)


 Espontânea  Espontânea 4
 A estímulo verbal  Ao som 3
 A estímulo doloroso  À pressão 2
 Sem resposta  Ausente 1
 Não testável NT

Resposta Verbal (V) Resposta Verbal (V)


 Orientado  Orientada 5
 Confuso na conversação  Confusa 4
 Palavras inapropriadas  Palavras 3
 Sons incompreensíveis  Sons 2
 Sem resposta  Ausente 1
 Não testável NT

Melhor Resposta Motora (M) Melhor Resposta Motora (M)


 Obedece comandos  A ordens 6
 Localiza a dor  Localizadora 5
 Flexão normal (retirada) à dor  Flexão normal 4
 Flexão anormal (decorticação)  Flexão anormal 3
 Extensão (descerebração)  Extensão 2
 Sem resposta (flacidez)  Ausente 1
 Não testável NT

Escore GCS = (O [4] + V [5] + M [6]); Melhor escore possível = 15; Pior escore possível = 3.
*Se uma área não pode ser avaliada, nenhum escore é dado para aquela região e é considerada “não testável”. Fonte: www.glasgowcomascale.org

couro cabeludo e a superfície cerebral, se a dura-máter cérebro devido a choque prolongado ou apneia que
encontrar-se rota. A importância da fratura de crânio ocorrem imediatamente após o trauma. Nesses casos, a
não deve ser subestimada pois para que ela ocorra é TC pode ser inicialmente normal ou o cérebro aparece
necessária a aplicação de força considerável. Uma com edema difuso com perda da distinção habitual entre
fratura linear da calota craniana em doentes conscientes cinza e branco. Outro padrão difuso, frequentemente
aumenta em cerca de 400 vezes a possibilidade de visto em impactos de alta velocidade ou em lesões por
ocorrência de hematoma intracraniano. desaceleração, pode produzir hemorragias pontilhadas
em todos os hemisférios cerebrais, concentrando-se nos
Lesões Intracranianas limites entre as substâncias cinzenta e branca. Essas
“lesões por cisalhamento” mencionadas como lesão
Lesões intracranianas podem ser classificadas como axonal difusa (LAD) e definem uma síndrome clínica
focais ou difusas, embora as duas formas de lesão de lesão cerebral grave, com desfecho variável, mas
frequentemente coexistam. geralmente reservado.

Lesões Cerebrais Difusas Lesões Cerebrais Focais

Lesões cerebrais difusas variam de concussões leves, As lesões focais incluem os hematomas epidurais, os
nas quais a TC de crânio é habitualmente normal, até hematomas subdurais, as contusões e os hematomas
lesões hipóxicas isquêmicas graves. Nas concussões, intracerebrais (n FIGURA 6-7).
o doente tem um distúrbio neurológico não focal
transitório que frequentemente inclui perda de
consciência. Lesões difusas graves resultam mais
frequentemente de agressão hipóxica, isquêmica ao
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 111

frequentemente parecem assumir a forma do contorno


do cérebro. O comprometimento cerebral subjacente
ao hematoma subdural costuma ser muito mais grave
do que nos hematomas epidurais devido à presença de
lesão parenquimatosa concomitante.

Contusões e Hematomas Intracerebrais

Contusões cerebrais são bastante comuns; eles ocorrem


A B em cerca de 20% a 30% dos traumas craniencefálicos
graves. A maioria das contusões ocorre nos lobos frontal
e temporal, embora possam ocorrer em qualquer parte do
cérebro. As contusões podem, em um período de horas
ou dias, evoluir para formar um hematoma intracerebral
ou uma contusão coalescente com efeito de massa
suficiente para exigir evacuação cirúrgica imediata.
Isso ocorre em aproximadamente 20% dos doentes que
apresentam contusão na TC de crânio inicial. Por esta
razão, doentes com contusão devem ser submetidos a
TC repetidas para avaliar as mudanças no padrão da
C D contusão nas 24 horas após a TC de crânio inicial.
n FIGURA 6-7  TC de Hematomas Intracranianos. A. Hematoma
epidural. B. Hematoma subdural. C. Contusões bilaterais com
hemorragia. D. Hemorragia intraparenquimatosa direita, com
protocolos de tr atamento
desvio de linha média da direita para a esquerda e hemorragias baseados em evidências
biventriculares associadas.
Os protocolos baseados em evidência estão disponíveis
Hematomas Epidurais para o tratamento do TCE. A 4ª edição das Diretrizes da
Brain Trauma Foundation para o Tratamento do Trauma
Hematomas epidurais são relativamente raros, Craniencefálico Grave foi publicada em setembro de
ocorrendo em 0,5% de todos os doentes com trauma 2016 e a sinopse impressa foi publicada no Journal of
craniencefálico e em 9% dos doentes com lesão cerebral Neurosurgery em janeiro de 2017. As novas diretrizes
traumática que estão em coma. Esses hematomas são diferentes em muitos aspectos das diretrizes antigas.
tipicamente adquirem a forma biconvexa ou lenticular Novos níveis de evidência são categorizados da mais
à medida em que empurram a dura aderente em alta qualidade para a mais baixa: níveis I, IIA, IIB e III.
direção oposta à da tabua interna do crânio. Estão As primeiras diretrizes abordando o TCE, Diretrizes
mais frequentemente localizados na região temporal para o Tratamento do Trauma Craniencefálico Grave,
ou temporoparietal e habitualmente resultam da foram publicadas pela Brain Trauma Foundation em 1995,
ruptura da artéria meníngea média causada por uma revisadas em 2000 e atualizadas mais recentemente em
fratura. Esses coágulos em geral têm origem arterial; 2016. Desde então, revisões adicionais baseadas em
entretanto, podem também resultar de ruptura de um evidências foram publicadas a respeito do tratamento
seio venoso importante ou do sangramento da fratura pré-hospitalar do TCE; TCE grave em lactentes, crianças
de crânio. O intervalo lúcido entre o momento da lesão e adolescentes; indicadores prognósticos precoces em
e a deterioração neurológica é a apresentação clássica TCE grave e TCE relacionado ao combate. As diretrizes
do hematoma epidural. do TCE da Brain Trauma Foundation, mencionadas neste
capítulo, podem ser adquiridas no site da fundação:
Hematomas Subdurais http://www.braintrauma.org. Além disso, o Programa
de Aprimoramento do Desempenho do Trauma do
Os hematomas subdurais são mais comuns que os Colégio Americano de Cirurgiões (TQIP) publicou uma
hematomas epidurais ocorrendo em aproximadamente diretriz para o tratamento do TCE em 2015 (Ver ACS
30% dos traumas craniencefálicos graves. Eles TQIP Best Practices in the Management of Traumatic
ocorrem mais frequentemente por dilaceração de Brain Injury.)
vasos superficiais pequenos ou vasos em ponte do Mesmo doentes com TCE aparentemente devastador
córtex cerebral. Contrastando com a forma lenticular na avaliação inicial podem apresentar recuperação
do hematoma epidural à TC, os hematomas subdurais neurológica significativa. O tratamento vigoroso e a
­112 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

compreensão aprimorada da fisiopatologia do TCE, doente com TCE leve que está consciente e falando
especialmente o papel da hipotensão, hipóxia e perfusão pode referir história de desorientação, amnésia ou
cerebral, afetaram significativamente os prognósticos perda momentânea de consciência. A história de
dos doentes. A n TABELA 6-3 é uma visão geral do perda momentânea de consciência pode ser de difícil
tratamento do TCE. confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela
coexistência de abuso de álcool ou de outros tóxicos.
TRATAMENTO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO Nunca atribua alterações do estado mental a fatores
LEVE (ESCORE NA GCS 13-15) de confusão até que a lesão cerebral tenha sido
definitivamente excluída. O tratamento do doente
Trauma craniencefálico leve é definido por um escore com trauma craniencefálico leve está descrito na
de 13 a 15 na GCS após a reanimação. Frequentemente, (n FIGURA 6-8). (Ver também Algoritmo do Tratamento
estes doentes sofrem uma concussão com uma história do TCE leve no aplicativo móvel MyATLS.)
de perda transitória da consciência após um TCE. Um

tabela 6-3 visão geral do tratamento do trauma craniencefálico

Todos os doentes: Realizar o ABCDE com especial atenção para hipóxia e hipotensão.

CLASSIFICAÇÃO 13–15 9–12 3–8


NA GCS TCE LEVE TCE MODERADO TCE GRAVE

Avaliação Iniciala História AMPLA e avaliação neurológica: Avaliação Consulta


Pergunte particularmente pelo uso de neurocirúrgica ou neurocirúrgica ou
anticoagulantes transferência transferência urgente

Alta, se não preencher Para as indicações * Avaliação primária e * Avaliação primária e


critérios de admissão abaixo, internar: reanimação reanimação

* Providenciar a * Intubação e
Determinar Sem TC disponível,
transferência para ventilação para
mecanismo, hora do TC anormal,
avaliação e tratamento proteção da via aérea
trauma, GCS inicial, fratura de crânio,
neurocirúgico
confusão, amnésia fístula liquórica
definitivo * Tratar hipotensão,
lacunar, convulsões,
hipovolemia e hipóxia
gravidade da cefaleia, Défice neurológico
* Avaliação
etc. focal
neurológica dirigido * Avaliação neurológica
dirigida
*Avaliação secundária GCS não retorna
* Avaliação secundária
incluindo avaliação para 15 em 2 horas
e história AMPLA * Avaliação secundária
neurológica dirigida
e história AMPLA

Diagnóstico * TC conforme TC não disponível, * TC em todos os * TC em todos os casos


determinado pelas TC com alteração, casos
Regras para TC de fratura de crânio * Avaliar
Crânio (Tabela 6-3) * Avaliar cuidadosamente
Intoxicação cuidadosamente possibilidade de outras
* Exames de sangue/ significativa possibilidade de outras lesões
urina para álcool e (internar ou lesões
perfil toxicológico observar) *Tipagem sanguínea
* Tipagem sanguínea e prova cruzada,
e prova cruzada, coagulograma
coagulograma

a
Itens marcados com asterisco (*) denotam ação obrigatória.
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 113

tabela 6-3 visão geral do tratamento do trauma craniencefálico (continuação)

Todos os doentes: Realizar o ABCDE com especial atenção para hipóxia e hipotensão.

CLASSIFICAÇÃO 13–15 9–12 TCE 3–8


NA GCS TCE LEVE MODERADO TCE GRAVE

Avaliação * Avaliações * Avaliações seriadas *Avaliações * Avaliações neurológicas


Secundária seriadas até GCS 15 seriadas seriadas frequentes com GCS
e doente não tenha
perseveração ou * Realizar TC de * PaCO2 35-40 mmHg
défice de memória controle se a * Considerar
primeira tiver sido TC de * Manitol, hiperventilação
anormal ou se GCS controle em breve com PaCO2 mínima
* Descartar indicação permanecer menor 12-18 horas de 25 mmHg em casos de
para TC (Tabela 6-4) do que 15 deterioração

* PaCO2 mínima de 25 mmHg,


* Repetir TC (ou exceto com sinais de herniação
transferir) se cerebral. Evitar hiperventilação
estado neurológico nas primeiras 24 h após o
deteriorar trauma, quando o fluxo
sanguíneo cerebral pode ser
reduzido de forma crítica.
Quando hiperventilar, usar
a SjO2 (saturação jugular de
O2 venoso) ou PbTO2 (PaO2
no tecido cerebral), medidas
recomendadas para monitorar
o fornecimento de oxigênio.

* Resolver adequadamente as
lesões intracranianas

Alta * Alta se o doente Obter avaliação * Repetir TC * Transferir o mais rápido


não atender neurocirúrgica se a possível para atendimento
aos critérios de TC ou a avaliação neurocirúrgico definitivo
admissão neurológica for
anormal ou o
estado do doente se
* Alta com deteriorar
Formulário de
Orientações * Consulta de
relacionadas ao retorno médico
TCE e consulta de e avaliação
retorno agendada neuropsicológica se
necessário (pode ser
feita
ambulatorialmente)

a
Itens marcados com asterisco (*) denotam ação obrigatória.
­114 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

Definição: O doente está acordado e pode estar orientado (GCS 13-15)

História
• Nome, idade, sexo, raça, ocupação • Nível subsequente de alerta
• Mecanismo de trauma • Amnésia: retrógrada, anterógrada
• Hora de ocorrência do trauma • Cefaleia: leve, moderada, grave
• Perda de consciência imediatamente • Vômitos
após o trauma

Exame geral para excluir lesões sistêmicas

Avaliação neurológica limitada

Radiografia de coluna cervical e outras se indicado

Níveis sanguíneos de álcool e perfil toxicológico da urina

A realização de TC de crânio é indicada caso existam


critérios de risco moderado ou alto para intervenção
neurocirúrgica (ver Tabela 6-4)

Internar ou Transferir para Alta Hospitalar


o Hospital Adequado

• TC com alteração • O doente não apresenta


• Todos os traumatismos nenhum dos critérios para
craniencefálicos penetrantes internação
• História de perda prolongada • Discutir a necessidade de
de consciência retorno caso apareça qualquer
• Deterioração do nível de um dos sinais e sintomas do
consciência Formulário de Orientações
• Cefaleia moderada a grave relacionadas ao TCE
• Intoxicação significativa por
álcool/drogas
• Fratura de crânio
• Fístula liquórica: rinorreia ou
otorreia
• Lesões significativas associadas
• Falta de acompanhante
confiável em casa
• Escore na GCS anormal (<15)
• Persistência de défices
neurológicos focais

n FIGURA 6-8  Algoritmo para o Tratamento do Trauma Craniencefálico Leve. (Adaptado com permissão de Valadka AB, Narayan RK: Emergency
room management of the head-injured patient, in Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT (eds.): Neurotrauma, New York, McGraw-Hill, 1996.)
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 115

armadilha prevenção tabela 6-4 indicações de tc no


trauma craniencefálico leve
Doente sofre • Mesmo quando um doente
segundo TCE parece estar neurologicamente A TC de crânio é necessária em doentes com trauma
logo após o normal, aconselhe-o a evitar craniencefálico leve (por exemplo, perda de consciência
tratamento atividades que potencialmente testemunhada, amnésia lacunar ou desorientação
inicial para lesão possam levar a uma lesão testemunhada em doente com escore na GCS de 13 a 15) e
cerebral leve. cerebral secundária (por em qualquer um dos seguintes casos:
exemplo, exercícios vigorosos,
esportes de contato e outras Alto risco para intervenção Risco moderado para
atividades que reproduzam ou neurocirúrgica: lesão cerebral na TC
causem sintomas). • Escore na GCS menor • Perda de consciência
• Reavaliação ambulatorial do que 15 até 2 horas (mais do que 5 minutos)
determinará o tempo de retorno após o trauma • Amnésia para fatos
à atividade completa ou a • Suspeita de fratura anteriores ao impacto
necessidade de encaminhamento exposta ou com (mais do que 30 minutos)
para serviços de reabilitação/ afundamento • Mecanismo perigoso
cognitivos. • Qualquer sinal de (por exemplo,
fratura de base de atropelamento de
crânio (por exemplo, pedestre por veículo
hemotímpano, olhos de automotor, ejeção do
A maioria dos doentes com TCE leve evolui com
guaxinim, otorreia ou ocupante de dentro
recuperação sem intercorrências. Entretanto, cerca de 3%
rinorreia, sinal de Battle) do veículo automotor,
desses doentes apresentam piora inesperada que resulta em • Vômitos (mais do que queda de altura maior
disfunção neurológica grave, a menos que a deterioração dois episódios) do que 1 metro ou 5
do estado mental seja identificada precocemente. • Idade superior a 65 anos degraus)
A avaliação secundária é de particular importância • Uso de anticoagulantes*
na avaliação dos doentes com TCE leve. Identifique o
mecanismo de lesão, com particular atenção para a Fonte: Adaptado de Stiell IG, Wells GA, Vandemheen K, et al. The
ocorrência de qualquer perda da consciência, incluindo Canadian CT Head Rule for patients with minor head injury. Lancet 2001;
357:1294.
o tempo de duração de estado não responsivo, qualquer * Doentes em uso de anticoagulantes foram excluídos das Regras
episódio de convulsão e o nível subsequente do estado Canadenses para Realização de TC
de consciência. Determine a duração da amnésia tanto
antes (retrógrada) quanto depois (anterógrada) do evento No caso de se observarem anormalidades na TC, ou se
traumático. O exame seriado e a documentação do escore o doente permanece sintomático ou neurologicamente
na GCS é importante em todos os doentes. A TC é o método anormal, ele deve ser hospitalizado e um neurocirurgião
de imagem preferido, embora a sua obtenção não deva deve ser consultado.
retardar a transferência do doente. Se o doente estiver assintomático, completamente
A TC deve ser realizada em todos os doentes com suspeita acordado e alerta, e neurologicamente normal, ele
de lesão cerebral que apresentem suspeita clínica de fratura poderá ser observado por algumas horas, reexaminado,
exposta de crânio, nos que apresentem qualquer sinal de e se ainda estiver normal, receber alta com segurança.
fratura de base de crânio, ou naqueles que apresentem mais Em condições ideais, o doente recebe alta devendo ficar
do que dois episódios de vômito, ou nos que apresentem aos cuidados de um acompanhante que possa ficar junto
idade superior a 65 anos (n TABELA 6-4). A TC também deve ser dele e observá-lo durante as próximas 24 horas. Tanto
considerada se o doente apresentou perda da consciência o doente como seu acompanhante são orientados de
por mais de cinco minutos, amnésia retrógrada por mais acordo com um protocolo de instruções de manter o
de 30 minutos, um mecanismo de trauma importante, doente sob observação cuidadosa e de trazê-lo de volta
cefaleia grave, convulsões, défice de memória de curto ao serviço de emergência se aparecer cefaleia, se houver
prazo, intoxicação por álcool ou drogas, coagulopatia ou declínio no estado mental ou se houver desenvolvimento
um défice neurológico focal atribuível ao cérebro. de défices neurológicos focais. Em todos os casos, deve
Aplicando esses parâmetros para os doentes com escore ser dado ao doente um protocolo de instruções para alta
de 13 na GCS, aproximadamente 25% deles apresentarão por escrito, que deve ser cuidadosamente revisto pelo
achados indicativos de trauma na TC, e 1,3% necessitarão doente e/ou acompanhante (n FIGURA 6-9). Se o doente não
de intervenção neurocirúrgica. Usando essas regras em está suficientemente alerta ou orientado para entender
doentes com escore de 15 na GCS, 10% apresentarão achados claramente as instruções escritas e verbais, deve-se
na TC e 0,5% necessitarão de intervenção neurocirúrgica. reconsiderar a decisão de alta.
­116 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

Orientações de Alta e Sinais de Alerta para


Doentes com Trauma Craniencefálico Leve
Nome do doente:
Data:
Não encontramos evidências que indicam que o seu trauma
craniencefálico foi grave. Entretanto, novos sintomas e complicações
inesperadas podem desenvolver-se horas ou mesmo dias após o trauma.
As primeiras 24 horas são as mais cruciais e você deve permanecer
junto com um acompanhante confiável, pelo menos durante este período.
Se ocorrer qualquer um dos seguintes sinais, entre em contato com o seu
médico ou retorne ao hospital.

1 Sonolência ou dificuldade crescente de acordar o doente (acorde o


doente a cada 2 horas durante o período de sono)
2 Náusea ou vômito
3 Convulsões ou espasmo
4 Sangramento ou drenagem de líquido aquoso do nariz ou do ouvido
n FIGURA 6-9  Exemplo de
5 Dor de cabeça forte Orientações de Alta e Sinais de
6 Fraqueza ou perda da sensibilidade nos braços ou nas pernas Alerta para Doentes com Trauma
7 Confusão ou comportamento estranho Craniencefálico Leve.

8 Uma pupila (parte preta dos olhos) maior do que a outra, movimentos
estranhos dos olhos, visão dupla ou outros distúrbios visuais
9 Pulso muito lento ou muito rápido, ou padrão respiratório incomum

Se houver inchaço no local do trauma, aplique uma bolsa de gelo, tendo


certeza de que exista um pano ou uma toalha entre a bolsa de gelo e a
pele. Se o inchaço aumentar muito, apesar da aplicação da bolsa de gelo,
entre em contato telefônico conosco ou retorne ao hospital.
Você pode comer e beber normalmente se desejar. Entretanto você NÃO
deve ingerir bebidas alcoólicas por pelo menos 3 dias após o trauma.
Não use qualquer sedativo ou analgésico mais forte do que acetaminofeno
por, pelo menos, 24 horas. Não use medicamentos que contenham aspirina.
Se você tiver qualquer dúvida, ou em caso de emergência, podemos ser
localizados pelo telefone (número do telefone).

Assinatura do médico

TRATAMENTO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO estão confusos ou sonolentos e podem apresentar défice


MODERADO (ESCORE NA GCS 9-12) neurológico focal como hemiparesia. Aproximadamente
10% a 20% desses doentes apresentam piora e entram
Aproximadamente 15% dos doentes com trauma em coma. Por este motivo, é crítico realizar avaliação
craniencefálico examinados no Departamento de neurológica seriada para tratar estes doentes.
Emergência apresentam TCE moderado. Esses doentes são O tratamento do doente com trauma craniencefálico
ainda capazes de obedecer ordens simples, mas em geral moderado encontra-se descrito na (n FIGURA 6-10).
Advanced Traum a Life SupportforDoctors We have found no evidence to indicate that your head injury was serious.
StudentCourse M anual,9e However, new symptoms and unexpected complications can develop hours
Am erican College ofSurgeons or even days after the injury. The first 24 hours are the most crucial and
Figure# 06.09 you should remain with a reliable companion at least during this period.
Dragon y M edia Group If any of the following signs develop, call your doctor or come back to the
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO 117

Todos os doentes com TCE moderado necessitam de


hospitalização para observação em uma unidade com
Definição: Escore na GCS 9-12 capacidade para observação rigorosa da equipe de
enfermagem e frequente reavaliação neurológica nas
Avaliação Inicial primeiras 12 a 24 horas. É recomendada a realização
• O mesmo que para trauma craniencefálico leve, mais exames de uma TC de controle em 24 horas se a TC inicial for
rotineiros de sangue
• A TC de crânio é realizada em todos os casos
anormal ou houver deterioração do estado neurológico.
• Internar ou transferir o doente para uma instituição com
capacidade cirúrgica para tratamento definitivo TRATAMENTO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO
GRAVE (ESCORE NA GCS 3-8)
Após a Internação
Aproximadamente 10% dos doentes vítimas de lesão
• Avaliações neurológicas frequentes
cerebral que são tratados no Departamento de Emergência
• TC de controle se as condições deterioraram ou
preferivelmente antes da alta apresentam lesão cerebral grave. Doentes que sofreram
TCE grave não são capazes de obedecer ordens simples
mesmo após estabilização cardiopulmonar. Embora essa
Se o doente melhora (90%) Se o doente deteriora (10%)
definição inclua um amplo espectro de lesões cerebrais,
ela identifica os doentes que apresentam o maior risco de
sofrerem morbidade e mortalidade significativas. Para
• Alta quando apropriado • Se o doente para de obedecer tais doentes, a abordagem à maneira “vamos esperar
comandos simples, repetir a para ver como fica” pode ser desastrosa e o diagnóstico
• Seguimento ambulatorial
TC e tratar de acordo com o e o tratamento imediatos são de suma importância. Não
protocolo de Tratamento do
Trauma Craniencefálico Grave
retarde a transferência do doente para realizar uma TC.
O tratamento inicial do doente com trauma
craniencefálico grave encontra-se descrito na (n FIGURA
6-11). (Ver também Algoritmo de Tratamento do Trauma

n FIGURA 6-10  Algoritmo para Tratamento do Trauma Craniencefálico Grave no aplicativo móvel MyATLS).
Craniencefálico Moderado. (Adaptado com permissão de Valadka
AB, Narayan RK, Emergency room management of the head-
injured patient. In: Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT, eds.,
avaliação primária e
Neurotrauma. New York, NY: McGraw-Hill, 1996.) reanimação
(Ver também Algoritmo do Tratamento do Trauma A lesão craniencefálica é frequentemente agravada
Craniencefálico Moderado no aplicativo móvel MyATLS.) por agressões secundárias. A taxa de mortalidade em
Na admissão no Departamento de Emergência, antes doentes com TCE grave que apresentam hipotensão à
da avaliação neurológica, deve-se obter uma história admissão é mais do que o dobro do que naqueles que não
breve e assegurar a estabilidade cardiopulmonar. A TC apresentam. A presença de hipóxia somada à hipotensão
de crânio é realizada e um neurocirurgião é contatado, está associada a um aumento relativo no risco de
ou um centro de trauma se for necessária a transferência. mortalidade de 75%. Portanto, em doentes com trauma
craniencefálico grave, é imperativo que a estabilização
cardiopulmonar seja alcançada rapidamente. n QUADRO
armadilha prevenção 6-2 resume as prioridades na avaliação inicial e triagem de
doentes com trauma craniencefálico grave. (Ver também
Um doente com • Reavaliar o doente Apêndice G: Estação Prática de Disfunção Neurológica.)
escore na GCS de frequentemente para detectar
12 deteriora para qualquer declínio no estado via aérea e ventilação
um escore GCS mental.
de 9. • Usar narcóticos e sedativos com A parada respiratória transitória e a hipóxia são comuns
cautela. em doentes com lesão cerebral grave e podem causar
• Quando necessário, usar lesão cerebral secundária. A intubação endotraqueal
o monitoramento de gases precoce deve ser realizada em doentes comatosos.
sanguíneos ou capnografia para
O doente é ventilado com oxigênio a 100% até
garantir ventilação adequada.
que seja colhida gasometria e sejam feitos os ajustes
• Intubar o doente quando a
ventilação for inadequada.
apropriados da FiO2. Oximetria de pulso é uma medida
auxiliar útil e saturações de O2 > 98% são desejáveis.
­118 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

Definição: O doente não é capaz de obedecer comandos


simples por alteração da consciência
(escore GCS 3-8)

Avaliação e Tratamento
• ABCDE • Reavaliação neurológica: n FIGURA 6-11  Algoritmo para
• Avaliação primária e reanimação • GCS Tratamento Inicial do Trauma
• Avaliação secundária e história AMPLA - Abertura ocular Craniencefálico Grave. (Modificado
• Avaliação e tratamento - Resposta motora com licença de Valadka AB,
• Internação ou transferência para um - Resposta verbal Narayan RK, Emergency room
hospital com capacidade para tratamento • Reação pupilar à luz management of the head-injured
neurocirúrgico definitivo • Avaliação neurológica focal patient. In: Narayan RK, Wilberger
• Agentes terapêuticos (habitualmente JE, Povlishock JT, eds., Neurotrauma.
administrados após consulta com o New York, NY: McGraw-Hill, 1996.)
neurocirurgião)
- Manitol
- Evitar hiperventilação nas primeiras 24
horas a menos que haja sinais de herniação
- Solução salina hipertônica

TC de crânio

quadro 6-2 prioridades na avaliação e triagem de doentes com trauma


craniencefálico grave

1. Todos os doentes devem ser submetidos à avaliação para a sala de operação (SO) para uma laparotomia.
primária, aderindo às prioridades do ABCDE. Acesse Após a laparotomia, é realizada TC de crânio. Se houver
inicialmente a via aérea. Se o doente requer controle evidência clínica de massa intracraniana, serão realizadas
da via aérea, realize e documente uma breve avaliação perfurações diagnósticas com broca ou craniotomia na SO
neurológica antes de administrar drogas para a intubação. enquanto se realiza a laparotomia.
Avalie em seguida a efetividade da respiração e monitore a
4. Se após a reanimação a pressão arterial sistólica do doente
saturação de oxigênio.
é > 100 mmHg e o doente apresenta evidência clínica de uma
2. Tão logo a pressão arterial (PA) esteja normalizada, realize possível massa intracraniana (pupilas desiguais ou resposta
uma breve avaliação neurológica, incluindo escore na GCS motora assimétrica), a primeira prioridade é realizar uma
e reatividade pupilar. Se a PA não puder ser normalizada, TC de crânio. A LPD ou o FAST podem ser realizados no DE,
continue para a realização da avaliação neurológica e na área da TC, ou na SO, mas a avaliação e o tratamento
registre a hipotensão. neurológico do doente não devem ser retardados.

3. Se a PA sistólica não puder ser elevada para > 100 mmHg, 5. Em casos limítrofes, isto é, quando a pressão arterial
a prioridade é estabelecer a causa da hipotensão; a sistólica pode ser corrigida temporariamente mas tende
avaliação neurológica passa a ser a segunda prioridade. a diminuir vagarosamente, não se devem medir esforços
Em tais casos, o doente deve ser submetido a uma para realizar uma TC de crânio antes de levar o doente à
ultrassonografia direcionada para trauma (FAST) ou a uma sala de cirurgia para uma laparotomia ou toracotomia. Tais
lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) no Departamento de casos exigem uma profunda avaliação clínica e cooperação
Emergência e pode necesssitar de transferência imediata entre o cirurgião de trauma e o neurocirurgião.

Os parâmetros ventilatórios devem ser ajustados para Circulação


manter a PCO2 de aproximadamente 35 mmHg. Reserve
a hiperventilação dos doentes com lesão craniencefálica De modo geral, a hipotensão não é consequência da lesão
grave para aqueles com deterioração neurológica ou cerebral por si só exceto em estágios terminais, quando
sinais de herniação. Hiperventilação prolongada com sobrevém a insuficiência medular ou quando existe
PCO2 < 25 mmHg não é recomendada (Diretrizes IIB). lesão de medula espinhal concomitante. A hemorragia
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO 119

intracraniana não pode causar choque hemorrágico.


Se o doente está hipotenso, deve-se estabelecer a tabela 6-5 objetivos do tratamento
normovolemia logo que possível utilizando-se produtos da lesão cerebral: clínico, laboratorial
de sangue ou soluções isotônicas conforme a necessidade. e parâmetros de monitorização
Deve-se enfatizar que a avaliação neurológica do
doente hipotenso não é confiável. Doentes hipotensos CATEGORIA PARÂMETRO VALORES NORMAIS
que não respondem a qualquer forma de estímulo
podem recuperar-se e melhorar substancialmente tão Parâmetros PAS ≥ 100 mm Hg
logo a pressão seja restabelecida para níveis normais. Clínicos
A fonte primária da hipotensão deve ser procurada e Temperatura 36–38°C
tratada imediatamente.
Parâmetros Glicose 80–180 mg/dL
Manter a pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 100 Laboratoriais
mmHg para doentes de 50 a 69 anos de idade ou ≥ 110 Hemoglobina ≥ 7 g/dl
mmHg ou mais para doentes de 15 a 49 anos de idade
ou maiores de 70 anos de idade; pode ser considerado
INR ≤ 1,4
para diminuir a mortalidade e melhorar os resultados.
Os objetivos do tratamento incluem parâmetros Na 135–145 meq/dL
clínicos, laboratoriais e de monitoramento. n TABELA 6-5.
PaO2 ≥ 100 mm Hg
avaliação neurológica
PaCO2 35–45 mm Hg
Tão logo tenha sido estabilizado o estado cardiopulmonar
do doente, realiza-se uma avaliação neurológica rápida pH 7.35–7.45
e direcionada. Essa avaliação consiste primariamente
em avaliar o escore na Escala de Coma de Glasgow, a Plaquetas ≥ 75 X 103/mm3
resposta pupilar ao estímulo luminoso e a ocorrência
de défice neurológico localizado. Parâmetros CPP ≥ 60 mm Hg*
É importante reconhecer a presença de fatores de
de confusão na avaliação do doente com trauma Monitori- PIC 5–15 mm Hg*
craniencefálico, incluindo a utilização de drogas, álcool zação
e outras substâncias intoxicantes bem como outras PbtO2 ≥ 15 mm Hg*
lesões associadas. Não deixe passar despercebido o
trauma craniencefálico grave porque o doente também Oximetria de ≥ 95%
se encontra intoxicado. pulso
O estado pós ictal que se segue a uma convulsão
traumática tipicamente piora a resposta do doente por
minutos ou horas. No doente comatoso, a resposta * Dificilmente está disponível no DE ou em locais com recursos
motora pode ser produzida pinçando o músculo trapézio, limitados
pressionando o leito ungueal ou a região supraorbitária. Dados de ACS TQIP Best Practices in the Management of Traumatic
Brain Injury. ACS Committee on Trauma, janeiro 2015.
Quando o doente apresenta diferentes respostas à
estimulação, a melhor resposta motora é indicador
prognóstico mais acurado do que a pior resposta motora. O
teste dos movimentos dos olhos de boneca (oculocefálico), ARMADILHA SoluÇÃO
o teste calórico com água gelada (oculovestibular) e o
teste das respostas da córnea são adiados para um Nota-se que um • Evite o uso de agentes
neurocirurgião. O teste dos olhos de boneca nunca deve doente com LCT fica paralíticos de longa duração
ser tentado antes de excluir lesão da coluna cervical. duração, uma vez que
apreensivo quando o
É importante obter o escore na GCS e realizar o exame estes confundem o exame
efeito de um agente neurológico.
das pupilas antes de administrar sedativos ou relaxantes paralítico de longa • Use benzodiazepínicos para
musculares pois é importante determinar a condição duração termina. tratar agudamente crises
clínica do doente para decidir sobre o tratamento convulsivas; os relaxantes
subsequente. Não se deve utilizar relaxantes musculares musculares mascaram as
de longa duração e sedativos durante a avaliação crises convulsivas ao invés de
tratá-las.
primária. A sedação deve ser evitada, exceto quando o
­120 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

estado de agitação do doente pode colocá-lo em risco. Os alteração no estado clínico do doente e rotineiramente
agentes de curta duração disponíveis são recomendados dentro de 24 horas após a lesão para doentes com contusões
quando paralisia farmacológica ou sedação breve forem intraparenquimatosas subfrontais/temporais, doentes
necessários para intubação endotraqueal segura, ou para que recebem terapia anticoagulante, doentes com mais
a obtenção de resultados diagnósticos com boa qualidade. de 65 anos e doentes com hemorragia intracraniana com
Quando o doente requerer intubação devido a um volume > 10 mL. Ver Apêndice G: Medidas Auxiliares.
comprometimento da via aérea, realize e registre Achados significativos da TC incluem inchaço no couro
uma breve avaliação neurológica antes de administrar cabeludo e hematomas subgaleais na região do impacto.
qualquer sedativo ou relaxante muscular. As fraturas do crânio podem ser melhor visualizadas nas
janelas ósseas, mas geralmente são aparentes mesmo nas
Anestésicos, analgésicos e sedativos janelas de tecidos moles. Os achados cruciais na TC são
hematoma intracraniano, contusões e desvio da linha
Anestésicos, analgésicos e sedativos devem ser usados média (efeito de massa) e obliteração das cisternas da
criteriosamente em doentes com lesão cerebral confirmada base. (Ver n FIGURA 6-7). Um desvio de 5 mm ou mais é
ou suspeita. O uso excessivo desses agentes pode causar frequentemente indicativo de necessidade de cirurgia
um atraso no reconhecimento da progressão de uma lesão para evacuar o coágulo ou contusão causadores do desvio.
cerebral grave, prejudicar a respiração ou resultar em
tratamento desnecessário (p. ex., intubação endotraqueal).
Em vez disso, use agentes de curta duração e facilmente tr atamento clínico do
reversíveis na dose mais baixa necessária para efetivar o tr auma cr aniencefálico
alívio da dor e a sedação leve. Baixas doses de narcóticos
intravenosos podem ser administradas para analgesia e O objetivo principal dos protocolos de cuidados
revertidas com naloxona, se necessário. Benzodiazapinas intensivos é prevenir a lesão secundária em um
IV de ação curta, como midazolam (Midazolam), podem cérebro já lesado. O princípio básico é que, se ao
ser usadas para sedação e revertidas com flumazenil. tecido nervoso lesado for oferecido um ambiente
ótimo para a recuperação, esta pode ser alcançada
Embora o diprovan (Propofol) seja recomendado para o e o neurônio pode recuperar sua função normal. O
controle da PIC, ele não é recomendado para melhora da tratamento clínico do trauma craniencefálico inclui
mortalidade ou resultados em 6 meses. O diprovan pode líquidos intravenosos, correção da anticoagulação,
reduzir morbidade significativa quando usado em altas hiperventilação temporária, manitol, solução salina
doses (IIB). hipertônica, barbitúricos e anticonvulsivantes.

ava li aç ão secundá r i a líquidos intravenosos


Os líquidos intravenosos, sangue e produtos de sangue
Realize avaliações seriadas (observe o escore na GCS, devem ser administrados conforme a necessidade, para
sinais de lateralização e reação pupilar) para detectar a reanimar o doente e para manter a normovolemia. A
deterioração neurológica o quanto antes. O sinal precoce hipovolemia nesses doentes é prejudicial. Também
bem conhecido de herniação do lobo temporal (uncus) deve-se tomar o cuidado de não sobrecarregar o doente
é a dilatação da pupila e perda de sua resposta à luz. com líquidos, e evitar o uso de fluidos hipotônicos. Além
O trauma direto do olho também é causa potencial de disso, o uso de soluções que contêm glicose pode produzir
resposta pupilar anormal e pode dificultar a avaliação hiperglicemia, que se mostrou prejudicial ao cérebro
pupilar. Entretanto, dentro de um cenário de trauma lesado. Portanto, para a reanimação, recomenda-se o uso
craniencefálico, deve-se considerar em primeiro lugar de solução salina isotônica ou de Ringer lactato. Os níveis
a lesão cerebral. Uma avaliação neurológica completa é séricos de sódio devem ser monitorados cuidadosamente
realizada durante a avaliação secundária. Ver Apêndice em doentes com trauma craniencefálico. A hiponatremia
G: Estação Prática de Disfunção Neurológica. está associada ao edema cerebral e deve ser prevenida.

procedimentos diagnósticos Correção da anticoagulação


Tenha cuidado ao avaliar e tratar doentes com TCE
Para doentes com lesão cerebral traumática moderada que estejam recebendo anticoagulação ou terapia
ou grave, deve-se obter uma TC de crânio o mais rápido antiplaquetária. Após a obtenção da razão normalizada
possível após a normalização hemodinâmica. A TC internacional (INR), deve-se obter prontamente uma
também deve ser repetida sempre que houver uma TC desses doentes, quando indicado. Geralmente é
TRATAMENTO CLÍNICO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO 121

necessária uma rápida normalização da anticoagulação hematoma intracraniano em expansão até que a
(n TABELA 6-6). craniotomia de emergência seja realizada.

Hiperventilação Manitol
A normocapnia é preferida na maioria dos doentes. A O manitol é usado para reduzir a pressão intracraniana
hiperventilação age reduzindo a PaCO2 e produzindo elevada. Utiliza-se, habitualmente, uma solução a 20%
vasoconstricção cerebral. A hiperventilação agressiva (20g de manitol por 100 mL de solução). O manitol
e prolongada pode resultar em isquemia cerebral no não deve ser administrado a doentes hipotensos
cérebro já lesionado, causando vasoconstrição cerebral porque não abaixa a PIC em situação de hipovolemia,
grave e, portanto, prejuízo na perfusão cerebral. além de ser um diurético osmótico potente. Isso
Esse risco é particularmente verdadeiro quando se pode exacerbar a hipotensão e a isquemia cerebral.
permite que a PaCO2 caia abaixo de 30 mmHg (4,0 A deterioração neurológica aguda - como quando
kPa). A hipercarbia (PCO2 > 45 mmHg) promoverá um doente em observação desenvolve uma pupila
vasodilatação e aumentará a pressão intracraniana, dilatada, tem hemiparesia ou perde a consciência - é
devendo, portanto, ser evitada. uma forte indicação para a administração de manitol
em um doente normovolêmico. Nessas condições, o
A hiperventilação profilática (pCO2 < 25 mmHg) não manitol (1 g/kg) deve ser rapidamente (por 5 minutos)
é recomendada (IIB). administrado em bolus e o doente deve ser transportado
imediatamente para a realização de TC ou diretamente
Use a hiperventilação apenas com moderação e pelo para a sala de cirurgia no caso da lesão causadora já ter
período mais limitado possível. Em geral é preferível sido identificada. Se não houver disponibilidade de
manter a PaCO2 em aproximadamente 35 mmHg (4,7 serviço cirúrgico, transferir o doente para o tratamento
kPa), o limite inferior do intervalo de normalidade (35 a definitivo.
45 mmHg). Curtos períodos de hiperventilação (PaCO2
de 25 a 30 mmHg [3,3 a 4,7 kPa]) podem ser necessários Use 0,25-1 g/kg para controlar a PIC elevada;
para tratar o défice neurológico agudo, enquanto outras hipotensão arterial (pressão arterial sistólica < 90
medidas terapêuticas são iniciadas. A hiperventilação mmHg) deve ser evitada.
reduz a PIC em doentes que estão deteriorando com

tabela 6-6 reversão da anticoagulação

ANTICOAGULANTE TRATAMENTO COMENTÁRIOS

Antiagregante plaquetário (p. ex., Plaquetas Pode ser necessário repetir; considerar acetato de
aspirina, plavix) desmopressina (Deamino-Delta-D-Arginina Vasopressina)

Coumadin (varfarina) PFC, vitamina K, Normalizar o INR; evitar sobrecarga de fluido em


concentrado de doentes idosos ou com lesão cardíaca
complexo protrombínico
(Kcentra), Fator VIIa

Heparina Sulfato de protamina Monitorar TPPa

Heparina de baixo peso molecular Sulfato de protamina N/A


p. ex. Lovenox (enoxaparina)

Inibidores diretos da trombina Idarucizumab (Praxbind) Pode ser beneficiado pelo concentrado de complexo
(Pradaxa) protrombínico (p. ex. Kcentra)

Xarelto (rivaroxaban) N/A Pode ser beneficiado pelo concentrado de complexo


protrombínico (p. ex. Kcentra)

PFC: Plasma fresco congelado; INR: Padrão Internacional de Normalização; TPP: Tempo parcial de tromboplastina.
­122 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

Use com monitoração da PIC, a menos que haja absolutamente necessários. Atualmente, fenitoína
evidência de herniação, mantenha Sosm <320 mOsm, (Hidantal) e fosfenitoína são os agentes habitualmente
mantenha a normovolemia e use bolus em vez de empregados na fase aguda. Para adultos, a dose habitual
gotejamento contínuo. de ataque é de 1 g de fenitoína por via intravenosa,
administrada a não mais que 50 mg/min. A dose de
manutenção usual é de 100 mg/8 horas, com a dose
solução salina hipertônica titulada para atingir os níveis séricos terapêuticos. O
diazepam ou lorazepam são frequentemente usados além
A solução salina hipertônica também é usada para da fenitoína em doentes com convulsões prolongadas,
reduzir a PIC elevada, em uma concentração de 3 a até a parada da convulsão. O controle de convulsões
23,4%. A solução salina hipertônica pode ser o agente contínuas pode exigir anestesia geral. É imperativo
preferido para doentes hipotensos já que não age como que a convulsão seja controlada tão logo que possível
diurético. Entretanto, não existe diferença entre o porque convulsões prolongadas (30 a 60 minutos)
manitol e a solução salina hipertônica em relação provavelmente causam lesão cerebral secundária.
à redução da PIC, e nenhuma das duas diminui
adequadamente a PIC em doentes hipovolêmicos. O uso profilático de fenitoína (Hidantal) ou valproato
(Depakene) não é recomendado para prevenir
Barbitúricos crises pós-traumáticas tardias. Recomenda-se a
fenitoína para diminuir a incidência de crises pós-
Os barbitúricos são efetivos na redução da pressão traumáticas precoces (dentro de 7 dias após a lesão),
intracraniana refratária a outras medidas, embora quando se considera que o benefício geral supera
não devam ser usadas na presença de hipotensão as complicações associadas a esse tratamento. No
ou hipovolemia. Além disso, o uso de barbitúricos entanto, crises pós-traumáticas precoces não foram
frequentemente produz hipotensão, portanto não estão associadas a piores resultados (IIA).
indicados na fase aguda da reanimação. A meia vida
longa da maioria dos barbitúricos também prolonga
o tempo para a determinação da morte encefálica, tr ata mento c irúrg ico
uma consideração importante em doentes com lesões
devastadoras e provavelmente incompatíveis com a vida. O tratamento cirúrgico pode ser necessário para lesões
de couro cabeludo, fraturas com afundamento de
Os barbitúricos não são recomendados para induzir crânio, lesões intracranianas de massa e ferimentos
supressão de crises medidas pelo EEG para prevenir penetrantes.
o desenvolvimento de hipertensão intracraniana.
"A administração de altas doses de barbitúrico lesões do couro cabeludo
é recomendada para controlar a PIC elevada
refratária ao tratamento clínico e cirúrgico padrão. É importante limpar e inspecionar a ferida
A normalidade hemodinâmica é essencial antes e cuidadosamente antes da sutura. As causas mais
durante a terapia com barbitúricos (IIB)." comuns de infecção de feridas do couro cabeludo são
a limpeza e o desbridamento inadequados. As perdas
sanguíneas oriundas de ferimentos de couro cabeludo
Anticonvulsivantes podem ser abundantes, especialmente em crianças e
idosos (n FIGURA 6-12). A hemorragia do couro cabeludo
A epilepsia pós-traumática ocorre em cerca de 5% pode ser controlada aplicando-se pressão direta, e
de todos os doentes admitidos no hospital com cauterizando-se ou ligando-se os vasos maiores. Podem
trauma craniencefálico fechados e em 15% daqueles então ser aplicados suturas, clipes ou grampeadores
com trauma craniencefálico grave. Os três fatores apropriados. Deve-se inspecionar cuidadosamente a
principais ligados à alta incidência de epilepsia tardia ferida, sob visão direta, à procura de sinais de fratura
são as convulsões que ocorrem durante a primeira ou de corpos estranhos. A presença de fístula líquórica
semana, o hematoma intracraniano e a fratura com indica que existe laceração da dura-máter associada. O
afundamento de crânio. As convulsões agudas podem neurocirurgião deve ser consultado em todos os casos
ser controladas com anticonvulsivantes, porém o uso com fratura exposta ou afundamento. Não raramente,
precoce de anticonvulsivantes não muda a evolução uma coleção de sangue subgaleal pode ser interpretada
das convulsões pós-traumáticas de longo prazo. Os como uma fratura de crânio. Em tais casos, a presença
anticonvulsivantes também podem inibir a recuperação de fratura pode ser confirmada ou excluída por uma
do cérebro, portanto eles só devem ser usados quando radiografia simples da região e/ou uma TC.
TRATAMENTO CIRÚRGICO 123

conseguir o tratamento definitivo por um neurocirurgião.


O Comitê de Trauma recomenda enfaticamente que
aqueles que antecipam a necessidade desse tratamento
sejam adequadamente treinados por um neurocirurgião.

ferimentos craniencefálicos penetrantes


A TC da cabeça é altamente recomendada para avaliar
doentes com lesão cerebral penetrante. Radiografias
simples de crânio podem ser úteis para avaliar a trajetória
e a fragmentação da bala, bem como a presença de grandes
corpos estranhos e ar intracraniano. Entretanto, quando a TC
estiver disponível, as radiografias simples não são essenciais.
A TC e/ou angiografia convencional são recomendadas em
qualquer lesão cerebral penetrante e quando a trajetória
n FIGURA 6-12  A perda de sangue de ferimentos do couro
cabeludo pode ser extensa, especialmente em crianças. passa através ou perto da base do crânio ou de um seio venoso
dural importante. Hemorragia subaracnoidea importante ou
hematoma tardio também devem levar em consideração a
fraturas de crânio com afundamento realização de exame vascular por imagem. Doentes vítimas
de ferimento penetrante envolvendo as regiões orbitofacial
Para doentes com fraturas de crânio com afundamento, ou pterional devem ser submetidos a angiografia para a
a tomografia computadorizada é valiosa na identificação identificação de aneurisma ou fístula arteriovenosa (AV)
do grau de depressão e, principalmente, na exclusão intracraniana traumática. Quando um aneurisma ou uma
da presença de hematoma intracraniano ou contusão. fístula AV é identificada, recomenda-se tratamento cirúrgico
Geralmente a fratura com afundamento de crânio deve ou endovascular. Imagens de Ressonância Magnética
ser reduzida cirurgicamente se o grau de depressão for podem desempenhar papel importante na avaliação de
maior do que a espessura da calota adjacente, ou se estiver ferimentos penetrantes por madeira ou outros objetos não
exposta e grosseiramente contaminada. As fraturas com magnéticos. A presença de grandes contusões, hematomas
afundamento menos significativo podem ser tratadas ou hemorragia intraventricular na TC está associada a
com segurança com fechamento do ferimento do couro aumento da mortalidade, especialmente quando estão
cabeludo, quando presente. envolvidos ambos hemisférios.
É adequada a utilização de antibioticoterapia profilática
lesões intracranianas com efeito de massa de amplo espectro nos doentes com ferimentos encefálicos
penetrantes, fratura exposta de crânio e fístula liquórica.
As lesões intracranianas com efeito de massa devem ser (Diretrizes para Tratamento de Ferimentos Cerebrais
tratadas por um neurocirurgião. Caso um neurocirurgião Penetrantes, recomendação L3). A monitoração precoce da
não esteja disponível no hospital que recebe de início o PIC é recomendada quando o clínico não é capaz de realizar
doente com lesão intracraniana com efeito de massa, é a avaliação neurológica de forma acurada; quando não está
essencial que se transfira precocemente esse doente para clara a necessidade de evacuar uma lesão em massa; ou
um hospital que possua um neurocirurgião de plantão. Em quando os exames de imagem sugerem uma PIC elevada.
circunstâncias excepcionais, um hematoma intracraniano É apropriado tratar os orifícios de entrada de projétil de
em rápida expansão pode ser iminentemente fatal e pode arma de fogo na cabeça com cuidados locais e com sutura
não permitir tempo para transferência se os cuidados quando essas lesões forem pequenas, não apresentarem
neurocirúrgicos estiverem a uma distância considerável, tecidos desvitalizados nem lesões intracranianas
como em áreas austeras ou remotas. A craniotomia de importantes.
emergência por um não neurocirurgião, em um doente Os objetos que penetram o compartimento
em rápida deterioração, deve ser considerada apenas em intracraniano ou a fossa infratemporal e permanecem
circunstâncias extremas. Um cirurgião treinado para parcialmente exteriorizados (por ex. flechas, facas ou
fazer tal procedimento pode realizá-lo apenas após o chaves de fenda) não devem ser retirados até que sejam
aconselhamento de um neurocirurgião. excluídas possíveis lesões vasculares e que o tratamento
As indicações para a realização de craniotomia por um neurocirúrgico tenha sido estabelecido. A mobilização
médico que não é neurocirurgião são poucas e o seu uso ou a remoção precoce de objetos penetrantes pode levar
como uma manobra heróica, não é recomendado nem a lesão vascular fatal ou a hemorragia intracraniana.
recebe o apoio do Comitê de Trauma. Esse procedimento é A trepanação, que envolve fazer um orifício de 10 a 15
justificado somente quando não houver possibilidade de se mm no crânio, tem sido defendida como um método de
­124 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico

diagnóstico emergencial de hematomas acessíveis em considere fazer esse diagnóstico somente depois que todos
doentes com deterioração neurológica rápida, localizados os parâmetros fisiológicos estiverem normalizados e a
em regiões austeras ou remotas onde os neurocirurgiões e função do sistema nervoso central não seja potencialmente
imagens não estão prontamente disponíveis. Infelizmente, afetada por medicamentos. Como as crianças costumam
mesmo em mãos muito experientes, esses orifícios são se recuperar de lesões cerebrais extremamente graves,
feitos incorretamente e raramente resultam na drenagem considere com cuidado o diagnóstico de morte encefálica
suficiente do hematoma para fazer a diferença clínica. nesses doentes. Se houver alguma dúvida, especialmente
Em doentes que precisam de drenagem do hematoma, em crianças, avaliações seriadas com intervalos de várias
a craniotomia com retalho ósseo (versus um simples horas são úteis para confirmar a impressão clínica inicial.
orifício) é o procedimento definitivo para salvar vidas para Notifique as agências locais de aquisição de órgãos sobre
descomprimir o cérebro. Os membros da equipe de trauma todos os doentes com diagnóstico ou diagnóstico iminente
devem fazer todos os esforços para que um profissional de morte encefálica antes de interromper as medidas
treinado e experiente na execução do procedimento o artificiais de suporte à vida.
execute em tempo hábil.

Pro g nós tico Trabalho em equipe

Todos os doentes devem ser tratados agressivamente O líder da equipe deve:


enquanto se aguarda a consulta com o neurocirurgião.
Isto é particularmente verdadeiro para crianças, que •• Assegurar-se de que a equipe seja capaz de tratar
geralmente possuem capacidade considerável de a lesão cerebral primária com o melhor resultado
possível, impedindo a lesão cerebral secundária.
recuperar-se de traumatismos que parecem devastadores.
•• Reconhecer a importância de tratar a via aérea para
garantir que doentes com lesões craniencefálicas
morte enc efá lic a não sofram hipóxia desnecessária.
•• Reconhecer a necessidade de envolver o
expertise neurocirúrgico na fase apropriada e
O diagnóstico de morte encefálica implica que não há em tempo hábil, principalmente quando um
possibilidade de recuperação da função encefálica. doente requerer intervenção cirúrgica.
A maioria dos especialistas estão de acordo que os •• Garantir a transferência oportuna de doentes com
seguintes critérios devem ser atendidos para estabelecer TCE para um centro de trauma quando necessário.
o diagnóstico de morte encefálica: •• No entanto, o líder da equipe deve garantir que
os doentes com TCE grave sejam transferidos
•• Escore na Escala de Coma de Glasgow = 3 para instalações onde possam ser monitorados
•• Pupilas não reativas adequadamente e observados de perto quanto a
sinais de deterioração.
•• Ausência de reflexos de tronco cerebral (p.
ex., oculocefálico, corneal, olhos de boneca e •• Como alguns doentes requerem intervenção
ausência de reflexo do vômito) neurocirúrgica precoce, ser capaz de priorizar o
tratamento de lesões fatais como hemorragias
•• Ausência de esforço ventilatório espontâneo no com lesões cerebrais.
teste formal de apneia
•• Gerenciar a discussão entre representantes
•• Ausência de fatores de confusão, como de diferentes especialidades cirúrgicas para
intoxicação por álcool ou drogas ou hipotermia garantir que as lesões do doente sejam tratadas na
sequência correta. Por exemplo, um doente que
Estudos complementares, que podem ser utilizados para está exsanguinando por uma fratura pélvica requer
confirmar o diagnóstico de morte encefálica, incluem: controle do sangramento antes de ser transferido
para um procedimento neurocirúrgico.
•• Eletroencefalografia: Nenhuma atividade com
alto ganho
•• Estudos de FSC: Ausência de FSC (p. ex., estudos
com isótopos, estudos com Doppler, estudos de
r e sumo do c a pítulo
FSC com xenônio)
•• Angiografia cerebral 1. A compreensão da anatomia e da fisiologia
intracraniana básica é chave para o tratamento
Certas condições reversíveis, como hipotermia ou coma do trauma craniencefálico.
barbitúrico, podem imitar a morte encefálica; portanto,
BIBLIOGRAFIA 125

2. Doentes com lesões craniencefálicas devem ser 5. Boyle A, Santarius L, Maimaris C. Evaluation
avaliados com eficiência. No doente comatoso, of the impact of the Canadian CT head rule
proteja e mantenha a via aérea por meio da intubação on British practice. Emerg Med J 2004;21(4):
endotraqueal. Realize avaliação neurológica antes 426–428.
de paralisar o doente. Procure lesões associadas, e 6. Carney N, Totten AM, O’Reilly C, Ullman JS, et
relembre que a hipotensão pode afetar a avaliação al.: Guidelines for the Management of Severe
neurológica. Traumatic Brain Injury. Neurosurgery 2017; 80:1
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3. Os membros da equipe de trauma devem 7. Carney N, Ghajar J, Jagoda A, et al. Concussion
familiarizar-se com a Escala de Coma de Glasgow guidelines step 1: systematic review of prevalent
(GCS) e praticar seu uso, bem como a realização de indicators. Neurosurgery 2014Sep;75(Suppl
avaliações neurológicas rápidas e focadas. Reavalie 1):S3–S15.
frequentemente o estado neurológico do doente. 8. Chestnut RM, Marshall LF, Klauber MR, et al. The
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hipoxemia. Trate agressivamente o choque e procure 9. Chibbaro S, Tacconi L. Orbito-cranial injuries
suas causas. Reanime com solução de Ringer lactato, soro caused by penetrating non-missile foreign bo-
fisiológico ou soluções isotônicas salinas equivalentes dies. Experience with eighteen patients. Acta
sem dextrose. Não use soluções hipotônicas. O objetivo Neurochir (Wien) 2006;148(9), 937–941; dis-
da reanimação do doente com trauma craniencefálico cussion 941–942.
é prevenir a lesão cerebral secundária. 10. Clement CM, Stiell IG, Schull MJ, et al. Clinical
features of head injury patients presenting with a
5. Determine a necessidade de transferência, Glasgow Coma Scale score of 15 and who require
internação, consulta ou alta. Entre em contato o neurosurgical intervention. Ann Emerg Med
mais cedo possível com o neurocirurgião. Caso um 2006;48(3):245–251.
neurocirurgião não se encontre disponível no seu 11. Eisenberg HM, Frankowski RF, Contant CR,
hospital, transfira todos os doentes com trauma et al. High-dose barbiturates control elevated
craniencefálico moderado ou grave. intracranial pressure in patients with severe head
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7 TRAUMA
VERTEBROMEDULAR

Como a lesão da coluna vertebral pode ocorrer com traumatismos fechados ou penetrantes,
com ou sem déficits neurológicos, ela deve ser considerada em todos os pacientes com múltiplas
lesões. Esses pacientes requerem a limitação do movimento da coluna para proteger a medula
espinhal de danos adicionais, até que a lesão da coluna vertebral seja descartada.
Capítulo 7 sumário
Objetivos avaliação radiológica
• Coluna Cervical
Introdução • Colunas Torácica e Lombar

Anatomia e fisiologia conduta terapêutica


• Coluna Vertebral • Imobilização da Coluna
• Anatomia da Medula Espinhal • Reposição Volêmica
• Dermátomos • Medicamentos
• Miótomos • Transferências
• Choque Neurogênico versus Choque Medular
• Efeitos em outros Órgãos e Sistemas Trabalho em equipe

classificação das lesões medulares resumo do capítulo


• Nível
• Gravidade do Déficit Neurológico Bibliografia
• Síndromes Medulares
• Morfologia

tipos específicos de lesão espinhal


• Fraturas da Coluna Cervical
• Fraturas da Coluna Torácica
• Fraturas da Junção Tóracolombar (T11 a L1)
• Fraturas da Coluna Lombar
• Ferimentos Penetrantes
• Trauma Contuso das Artérias Carótidas e Vertebrais

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de de coluna e seus aspectos radiográficos que ajudam a
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: identificar estas lesões.

1. Descrever as bases da anatomia e fisiologia da coluna 4. Descrever o atendimento adequado a um paciente


vertebral. com lesão de coluna, durante as primeiras horas após
o trauma.
2. Descrever a avaliação apropriada de um paciente com
suspeita de lesão traumática de coluna e seu registro. 5. Determinar o momento apropriado de avaliar e tratar
o trauma vertebromedular.
3. Identificar os tipos mais comuns de lesões traumáticas

129
­130 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

D
evemos sempre considerar uma lesão da coluna prolongado que pacientes ficam em uma prancha rígida
vertebral, com ou sem déficit neurológico, em e com um colar cervical também pode ser perigoso. Além
doentes com traumas múltiplos. Cerca de 5% de causar muito desconforto em pacientes conscientes,
dos pacientes com trauma craniencefálico (TCE) podem ocorrer graves úlceras de pressão e insuficiência
apresentam lesão associada na coluna, enquanto 25% respiratória, pelo uso prolongado destes equipamentos.
dos pacientes com trauma de coluna têm, pelo menos, Portanto, as pranchas rígidas devem ser usadas somente
um TCE moderado. Aproximadamente 55% das lesões durante o transporte do paciente; todos os esforços devem
traumáticas da coluna ocorrem na região cervical, 15% ser feitos para removê-lo o mais rapidamente dela.
na região torácica, 15% na transição toracolombar e
15% na região lombossacra. Até 10% dos doentes com
fratura da coluna cervical tem uma segunda fratura de A n atomi a e fisiolo g i a
coluna vertebral, não contígua.
Em pacientes com suspeita de lesão na coluna vertebral,
a manipulação excessiva e restrição inadequada do A revisão a seguir inclui a anatomia e fisiologia da
movimento da coluna pode causar danos neurológicos coluna vertebral e da medula, dermátomos, miótomos,
adicionais e piorar o desfecho clínico. Pelo menos 5% dos diferenças entre o choque neurogênico e medular e os
pacientes com lesão da coluna vertebral experimentam o efeitos da lesão da coluna em outros sistemas.
início dos sintomas neurológicos ou a piora dos sintomas
preexistentes após o atendimento no departamento de coluna vertebral
emergência (DE). Estas complicações são devidas à isquemia
ou progressão do edema da medula, mas também podem A coluna vertebral é formada por 7 vértebras cervicais, 12
resultar do movimento excessivo da coluna vertebral. Desde torácicas e 5 lombares além do sacro e do cóccix (n FIGURA 7-1).
que a coluna do paciente esteja devidamente protegida, o A vértebra típica consiste em um corpo vertebral na posição
exame da coluna e a exclusão de lesões medulares podem anterior, que constitui a principal coluna de sustentação. Os
ser adiados com segurança, especialmente na presença corpos vertebrais são separados pelos discos intervertebrais
de alguma instabilidade sistêmica, como, por exemplo, e são fixados entre si, anteriormente e posteriormente, por
hipotensão ou insuficiência respiratória. Para proteger ligamentos longitudinais, respectivamente, anteriores e
a coluna não é necessário que os pacientes fiquem horas posteriores. Póstero-lateralmente, 2 pedículos formam
sobre a prancha rígida; deixá-los deitados em posição os pilares sobre os quais se apoia a parte superior do
supina, sobre uma superfície firme e utilizar medidas de canal vertebral (constituído pelas lâminas). As facetas
proteção da coluna quando se move é suficiente. articulares, os ligamentos interespinhosos e os músculos
A exclusão de lesões da coluna pode ser assegurada para vertebrais são estruturas que contribuem para dar
em pacientes sem défcits neurológicos, ausência de dor estabilidade à coluna.
ou hipersensibilidade ao longo da coluna, evidência A coluna cervical, por causa de sua mobilidade e exposição,
de intoxicação ou outras lesões dolorosas. Nesses é a parte mais vulnerável a lesões. O canal medular é do
casos, a ausência de dor ou a hipersensibilidade ao forame magno até a parte inferior de C-2. A maioria dos
longo da coluna exclui virtualmente a presença de doentes portadores deste tipo de lesão que sobrevive ao
uma lesão vertebral significativa. A possibilidade de trauma apresenta-se neurologicamente normal ao chegar
lesões da coluna cervical pode ser eliminada através de ao hospital. Entretanto, cerca de um terço dos pacientes
ferramentas clínicas, descritas mais tarde nesse capítulo. com lesões da parte superior da coluna cervical (acima de
No entanto, em outros pacientes, como aqueles que estão C3) morre no local do trauma em decorrência de apneia
comatosos ou têm um nível de consciência rebaixado, provocada por perda da inervação central dos nervos
o processo de avaliação da lesão da coluna vertebral é frênicos. Abaixo do nível de C-3, o diâmetro do canal
mais complicado. Nesse caso, o médico precisa obter a medular é bem menor em relação ao diâmetro da medula,
imagem radiográfica apropriada para excluir uma lesão e lesões da coluna vertebral a esse nível apresentam maior
na coluna vertebral. Se as imagens forem inconclusivas, probabilidade de provocar lesões medulares.
restrinja o movimento da coluna vertebral até que sejam A coluna cervical das crianças até 8 anos de idade tem
realizados testes adicionais. Lembre-se, a presença de algumas diferenças significativas em relação a coluna cervical
um colar cervical e de uma prancha rígida pode fornecer dos adultos. Estas diferenças incluem maior flexibilidade
uma falsa sensação de segurança de que o movimento das cápsulas articulares e dos ligamentos interespinhosos,
da coluna vertebral esteja restrito. Se o paciente não facetas articulares planas e corpos vertebrais que são em
estiver corretamente fixado à prancha e o colar não estiver cunha anteriormente e tendem a deslizar anteriormente
adequadamente colocado, o movimento ainda é possível. com a flexão. As diferenças vão diminuindo até os 12 anos
Embora os perigos do movimento excessivo da coluna de idade quando a coluna cervical é mais parecida com a de
vertebral tenham sido bem documentados, o tempo um adulto (Ver Capítulo 10: Trauma Pediátrico.)
ANATOMIA E FISIOLOGIA 131

Curvatura Vértebra
cervical cervical

B Processo espinhoso

Processo Lâmina Processo


articular superior transverso
Curvatura
torácica Vértebra
Discos torácica
intervertebrais Faceta para Forame
arco costal vertebral
Forame
intervertebral
Corpo Pedículo

Curvatura Vértebra
lombar lombar

Sacro
Curvatura
sacral
Cóccix

n FIGURA 7-1  A Coluna. A. A coluna vertebral, visões lateral direita e posterior. B. Uma vértebra torácica típica, visão superior.

A mobilidade da coluna torácica é muito mais e as colunas dorsais. Estes tratos estão distribuídos aos
restrita do que a mobilidade da coluna cervical, além pares e as lesões podem ocorrer uni ou bilateralmente
de proteção adicional conferida pela caixa torácica. na medula espinhal. A localização na medula espinhal,
Assim, a incidência de fraturas torácicas é muito menor. função e os métodos para testar cada trato, são descritos
A maioria das fraturas da coluna torácica são fraturas de na n TABELA 7-1.
compressão em cunha e não estão associadas à lesão da Quando um paciente não tem função sensitiva ou
medula. Entretanto, quando a lesão vertebral ocorre por motora abaixo de um determinado nível, é dito ter uma
fratura–luxação, quase sempre ocorre lesão da medula lesão completa da medula espinhal. A lesão incompleta
devido ao canal medular torácico ser relativamente é aquela em que permanece um certo grau de função
estreito. A junção toracolombar é um fulcro entre a motora ou sensitiva; neste caso, o prognóstico para
região torácica inflexível e os níveis lombares mais recuperação é significativamente melhor que o de uma
móveis. Isso a torna mais vulnerável a lesões, 15% de lesão completa da medula espinhal.
todas as lesões na coluna vertebral ocorrem nesta região.
Advanced Traum a Life SupportforDoctors
StudentCourse M anual,9e
Dermátomos
Approved Changes needed Date
anatomia da medula espinhal
Am erican College ofSurgeons KB Um dermátomo é a área da pele inervada pelos axônios
Figure# 07.01
A medula
Dragon espinhal origina-se na extremidade caudal sensoriais dentro de uma determinada raiz nervosa. O
y M edia Group
da medula
11/23/2011oblonga no forame magno. Em adultos,WC nível sensitivo é o dermátomo mais caudal com função
geralmente termina na altura de L1 como cone medular. sensitiva normal e muitas vezes pode diferir nos dois
Abaixo deste nível está a cauda equina, que é um pouco NP lados do corpo. Para fins práticos, os dermátomos
mais resistente às lesões. Dos muitos tratos da medula cervicais superiores (C1 a C4) são um tanto variáveis em
espinhal, apenas três podem ser avaliados clinicamente: sua distribuição cutânea e não são comumente usados
o trato córtico-espinhal lateral, o trato espino-talâmico para localizar a lesão medular. No entanto, note que
­132 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

tabela 7-1 avaliação clínica dos tratos da medula espinhal

TRATO LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO AVALIAÇÃO

Córtico-espinhal Face póstero-lateral da Força motora ipsilateral Contratura voluntária ou


medula involuntária em resposta aos
estímulos dolorosos

Espino-talâmico Face anterolateral da medula Sensação dolorosa e de Estímulo com agulha


temperatura contralateral

Colunas dorsais Face póstero-medial da Propriocepção, vibração e Sensação da posição dos dedos
medula sensação de toque suave do pé ou da mão, ou pela
ipsilateral sensação de vibração causada
por um diapasão

os nervos supra claviculares (C2 a C4) proporcionam


tabela 7-2 níveis medulares chaves e inervação para a região que recobre o músculo peitoral
suas áreas de inervação ("cervical cape"). A presença de sensibilidade nesta
região pode confundir os examinadores, quando tentam
NÍVEL MEDULAR LESÃO determinar o nível sensorial em pacientes com lesões
cervicais mais baixas. Os pontos de referência em
C5 Área do deltoide
termos de sensibilidade são descritos na n TABELA
7-2 e ilustrados na n FIGURa  7-2 (ver também
C6 1º quirodáctilo
Guia de Dermátomos no aplicativo móvel MyATLS).
As Diretrizes Internacionais para a Classificação
C7 3º quirodáctilo
Neurológica de Lesão Medular, publicado pela American
Spinal Injury Association (ASIA), podem ser utilizadas
C8 5º quirodáctilo para documentar o exame motor e sensitivo. Ela fornece
informações detalhadas sobre o exame neurológico do
T4 Mamilo paciente. Os detalhes relativos ao exame motor estão
contidos no documento.
T8 Apêndice xifoide
Miótomos
T10 Cicatriz umbilical
Cada raiz nervosa inerva mais de um músculo e a maioria
T12 Sínfise púbica dos músculos é inervada por mais de uma raiz nervosa
(geralmente duas). Entretanto, para simplificar o exame,
L4 Face medial da panturrilha certos músculos ou grupos musculares são identificados
como representando uma única raiz nervosa espinhal. Os
L5 Espaço interdigital entre 1º e
miótomos de referência são mostrados na n FIGURA 7-3
2º pododáctilo
(ver também Guia de Miótomos de Nervos no aplicativo
móvel MyATLS). Os músculos de referência devem ser
S1 Face lateral do pé
testados quanto à força em ambos os lados e graduados
em uma escala de 6 pontos (0-5) da força normal à
paralisia (ver Guia de Classificação da Força Muscular
S3 Tuberosidade ísquia
no aplicativo móvel MyATLS). Além disso, o esfíncter anal
externo deve ser testado quanto à contração voluntária
S4 e S5 Região perianal
durante o toque retal.
A documentação precoce e precisa do exame sensorial
e motor do paciente é essencial, para avaliar a melhora
INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL Patient Name_____________________________________ Date/Time of Exam _____________________________
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY
Examiner Name ___________________________________ Signature _____________________________________
(ISNCSCI)
SENSORY SENSORY

RIGHT MOTOR
KEY MUSCLES
KEY SENSORY POINTS
Light Touch (LTR) Pin Prick (PPR)
KEY SENSORY POINTS
Light Touch (LTL) Pin Prick (PPL)
MOTOR
KEY MUSCLES LEFT
ANATOMIA E FISIOLOGIA 133
INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL Patient Name_____________________________________ Date/Time of Exam _____________________________
C2 C2
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY
C3 C3
Examiner Name ___________________________________ Signature _____________________________________
(ISNCSCI)
C4 C2 C4
SENSORY SENSORY
C5 Elbow flexors
Elbow flexors
RIGHT
C5 MOTOR
LEFT
C3
KEY SENSORYC4POINTS
MOTOR
UER Wrist extensors C6 KEY MUSCLES KEY SENSORY POINTS
C6 Wrist extensors Data/Hora
Nome do doente ________________________________ KEY MUSCLES UEL __________________________
do exame
(Upper Extremity Right) PADRÃO INTERNACIONAL
Light TouchPARA
(LTR) Pin Prick (PPR)
T2
Light Touch (LTL) Pin Prick (PPL)
(Upper Extremity Left)
Elbow extensors C7 CLASSIFICAÇÃOC2 NEUROLÓGICA C2
T3 C7 Elbow extensors
Finger flexors C8 0 = absent T4 C5
ome do examinador ____________________________ C2
C8 Finger flexors Assinatura _____________________________________
DE LESÃO C3 MEDULAR T5 C3
Finger abductors (little finger) T1 2 = normal
1 = altered
T6 T1 Finger abductors (little finger) C4
C4
DIREITO
SENSORIAL T2 SENSORIAL MOTORMOTOR
ESQUERDA
T7 C2
T2
NT = not testable
MOTOR C3
Comments (Non-key Muscle? Reason for NT? Pain?): flexors C5CHAVE PONTOS SENSORIAIS T8 CHAVES
PONTOS SENSORIAIS CHAVES C5 Elbow flexors
T3 ElbowMÚSCULOS
C3
0 = absent T9 T1 T3 (SCORING ON MÚSCULOS
Toque leve (TL) Alfinetadas (A) REVERSE C6 SIDE)CHAVE
UER Wrist extensors C6 Toque leve (TL) Alfinetadas (A)
1 = altered
C4
C4 Wrist extensors UEL
(Upper Extremity Right) T4 2 = normal T10 C6
T2 T4 0 = total paralysis (Upper Extremity Left)
Elbow extensors C7 C2 NT = not testable T11 T3 C2 C7 Elbow extensors
T5 C2
T4 C5 T5 1 = palpable or visible contraction
Finger flexors C8 0 = absentC3 T12 C3
2 = active movement, gravity C8
eliminated Finger flexors
T6 T5 T6 3 = active movement, against gravity
0 = absent Finger abductors (little finger) T1 21 == normal C4
altered L1
Palm T6
C2 C4 some resistance
4 = active movement, against T1 Finger abductors (little finger)
1 = altered
T7 T7 T7
2 = normal
Flexor do cotovelo C5 T2
NT = not testable
C3
C3
T2
5 = active movement, against
C5 Flexor doMOTOR
full resistance cotovelo
NT = not testable Comments (Non-key Muscle? Reason for NT? Pain?):
T8 T8
T8 5* = normal corrected for pain/disuse
ESD Extensor do punho C6 T3 S3 0 = absent C4
T9 T1 NT = not testable T3 C6 (SCORING
Extensor do REVERSE SIDE) ESE
ONpunho
(Extremidade Superior T9
Direita) Extensor do cotovelo C7 T4 L2 • 1Key Sensory
= altered
C4
2 = normal
C2
T10
T3
T2 C6 T9 T4 C7
0 = Extensor
total paralysis do cotovelo (Extremidade
T10 Flexor dos dedos
S4-5 NT Points T11
= not testable T4 C5 T10 SENSORY T5 1 = palpable or visible contraction Superior Esquerda)
C8 0 = absentT5 T11 (SCORING ON REVERSE SIDE) C8
2 = Flexor
active dos
movement, dedos
gravity eliminated
T11 T12
T5
T6
Abdutor 0 = do dedo (dedo mínimo) T1 2 = normalT6
1 = altered T6 L1 T1
3 = Abdutor
active do
movement, dedo (dedo
against mínimo)
gravity
T12
absent
NT = not T7
T7 Palm T12 0 = absent
T7
2 = normal
4 = active movement, against some resistance
1 = altered
T2
testable
S2 L3
C3 C8 6 C8 T8 1= altered T2 NT = not 5 = testable
Comentários (Não é músculo
2 = normal
L1= notchave? Motivo NT? Dor?)
T8 C6 C L1 T8 MOTOR
active movement, against full resistance
NT testable
T3 C7 C7
0 = absent T9 T1 T3 5* = normal corrected
NT(PONTUAÇÃO
for pain/disuse
= not testable NO LADO OPOSTO)
1 S3
Hip flexors L2 T9
T4 Dorso = altered
2 = normal
da mão
T10 L2 • Key Sensory
C6 L2 Hip flexors T9
T4 0 = paralisia total
Knee extensors L3
T11
T10
T5
S4-5
NT = not testable Points L3 T10
T5 SENSORY
1 = contração visível ou palpável
LER L4 T12
Knee extensors LELativo,ONsemREVERSE
2 = movimento ação da gravidade
(Lower Extremity Right) Ankle dorsiflexors L4 T11
T6 L1 L4 Ankle dorsiflexors T11 (Lower
T6 (SCORING
Extremity
3 = movimento ativo,Left)
contra a gravidade
SIDE)
0 = absent L5
Long toe extensors L5 1 = altered T12
T7 L3
Palma
da mão L5 Long toe extensorsT12
T7 0 =movimento
4= absent ativo, contra alguma
1== altered
2 = normal
resistência
NTresistência
= not testable
2 = normal S2 C 8 C8 5 movimento ativo, contra total
Ankle plantar flexors S1 NT = not testable L1 L5 S1
T8 C6 C6
C7 C7 S1 Ankle plantar T8 L1
flexors 5* = normal corrigido devido dor/atrofia
S2 Hip flexors L2 T9
S3
L2
• Principais
Dorsum Dorsum
pontos S2 T9 NT =Não testável
L2 Hip flexors
LER S3 Knee extensors L3 T10 S4-5
sensoriais S3 T10 L3 SENSORIAL
Knee extensors LEL
(VAC) Voluntary anal contraction L4 (DAP) Deep anal pressure NO LADO OPOSTO)
(PONTUAÇÃO
S4-5 L4 T11 S4-5 T11
(Yes/No) L4
(Yes/No) (Lower Extremity Right) Ankle dorsiflexors Ankle dorsiflexors (Lower Extremity Left)
L5
Long toe extensors L5 T12 S2 L3 T12 L5
0 = AUSENTE
Long
1 = ALTERADOtoe extensors 2 = NORMAL
NT = NÃO TESTÁVEL
RIGHT TOTALS S1 C8 6 C8 LEFT TOTALS L1
Ankle plantar flexors S1 L1 L5 C6 C
C7 C7 S1 Ankle plantar flexors
(MAXIMUM) (MAXIMUM)
Flexor do quadril L2 S2 Dorsum Dorsum S2 L2 Flexor do quadril EIE
MOTOR SUBSCORES EID Extensor do joelho L3 S3 SENSORY SUBSCORES S3 L3 Extensor do(DAP) joelhoDeep(Extremidade Inferior
(VAC) Voluntary
(Extremidade anal contraction
Inferior analEsquerda)
pressure
UER + UEL = UEMS TOTAL LER + LEL = LEMS TOTAL
S4-5 + LTL L4 + PPL S4-5 = PP TOTAL
Direita) Dorsiflexor
(Yes/No) do tornozelo L4 LTR = LT TOTAL PPR
L4 Dorsiflexor do tornozelo
(Yes/No)
MAX (25) (25) (50) MAX (25) (25) (50) L5
Extensor dos dedos longos L5 MAX (56) (56) (112) MAX (56) (56)
L5LEFT Extensor
TOTALS
(112)
dos dedos longos
RIGHT TOTALS S1
NEUROLOGICAL R Flexor L plantar do3.tornozelo (MAXIMUM)
S1 L5
4. COMPLETE OR INCOMPLETE? (In complete injuries only) Flexor
S1(MAXIMUM)
R plantar
L do tornozelo
NEUROLOGICAL
LEVELS 1. SENSORY
MOTOR SUBSCORES S2 Incomplete = Any sensory or motor function in S4-5 ZONE OF PARTIAL S2
SENSORY
LEVEL OF INJURY SENSORY SUBSCORES
Steps 1-5 for classification
2. MOTOR (NLI) S3 5. ASIA IMPAIRMENT SCALE (AIS) PRESERVATION S3MOTOR
as on reverse (CAV)
UER Contração + UEL anal voluntária= UEMS TOTAL S4-5 LER + LEL = LEMS TOTAL LTR Most caudal level with any innervation
+ LTL = LT TOTAL (PAP) Pressão = PPanal profunda
(Sim/Não)
S4-5 PPR + PPL TOTAL
MAX (25) (25)
This (50)but should
form may be copied freely MAXnot(25) (25) permission from the (50)
be altered without American Spinal
MAXInjury
(56) Association.
(56) (112) MAX (56) REV (Sim/Não)
02/13(56) (112)
Pontuação total à direita Pontuação total à esquerda
NEUROLOGICAL R L 3. NEUROLOGICAL 4. COMPLETE OR INCOMPLETE? (In complete injuries only) R L
(MÁXIMO) (MÁXIMO)
ZONE OF PARTIAL
LEVELS 1. SENSORY LEVEL OF INJURY Incomplete = Any sensory or motor function in S4-5 SENSORY
SUB Steps
PONTUAÇÕES MOTORAS SENSORIAIS PRESERVATION
5. ASIA SUB PONTUAÇÕES
1-5 for classification
as on reverse 2. MOTOR (NLI) IMPAIRMENT SCALE (AIS) Most caudal level with any innervation
MOTOR
ESD + ESE = TOTAL MOTOR EID + EIE = TOTAL MOTOR TLD + TLE = TL TOTAL AD + AE = A TOTAL
SUPERIOR This form may be copied freely but should not be altered without permission from the American Spinal Injury Association.
INFERIOR REV 02/13
MAX (25) (25) (50) MAX (25) (25) (50) MAX (56) (56) (112) MAX (56) (56) (112)
NÍVEIS D E 3. NÍVEL 4. COMPLETA OU INCOMPLETA? Para lesões completas apenas D E
NEUROLÓGICOS 1. SENSORIAL Incompleta = qualquer função sensorial ou motora em S4-5 ZONA DE PRESERVAÇÃO SENSORIAL
NEUROLÓGICO
Passos 1-5 como PARCIAL
2. MOTOR DA LESÃO (NNL) MOTOR

A
classificação do lado oposto 5. ESCALA ASIA DE PERDAS POR IMPARIDADE Nível mais distal com qualquer inervação

Este formulário pode ser copiado livremente, porém não deve ser alterado sem a permissão da Associação Americana de Lesão Medular. REV 11/15

Graduação da Função Muscular ASIA Escala de Imparidade (AIS) Etapas na Classificação


0 = paralisia total A seguinte sequencia é recomendada para determinar a
1 = contração visível ou palpável A = Completa. Nenhuma função sensorial ou motora está classificação dos indivíduos com SCI.
2 = movimento ativo, amplitude completa do movimento , com a eliminação da força da gravidade preservada nos segmentos sacrais S4-5
3 = movimento ativo, amplitude completa do movimento contra a força da gravidade 1. Determinar os níveis sensoriais para os lados direito e esquerdo.
B= Sensorial incompleta. A função sensorial, mas não a O nível sensorial é o dermátomo mais caudal intacto tanto para o toque
4 = movimento ativo, amplitude completa do movimento contra a força da gravidade e aplicação função motora, está preservada abaixo do nível neurológico e leve quanto para agulhadas.
de resistência moderada com a musculatura em uma posição específica
inclui os segmentos sacrais S4-5 (toque leve ou agulhadas em
5 = (normal) movimento ativo, amplitude completa do movimento contra a força da gravidade e aplicação
completa de resistência com posicionamento funcional da musculatura, esperado de uma pessoa não lesionada S4-5 ou pressão anal profunda) E nenhuma função motora está 2. Determinar o nível motor para os lados direito e esquerdo.
preservada a mais de três níveis abaixo ou em ambos os lados Definido como a função do músculo chave mais inferior graduado ao
5* = (normal) movimento ativo, amplitude completa do movimento contra a força da gravidade e aplicação de
resistência suficiente para ser considerada normal se identificado que fatores que inibem o movimento não do corpo. menos como 3 (no teste em posição supina) contando que as funções do
estavam presentes (ex. dor, atrofia) músculo chave representadas pelos segmentos acima desta lesão foram
C = Motora Incompleta. A função motora está preservada nos avaliados como intactos (classificação 5).
NT = não testável (devido imobilização, dor severa de modo que o doente não possa ser avaliado, níveis mais distais do segmento sacral para contração anal
amputação do membro , ou contratura de >50% da amplitude completa do movimento) Nota: em regiões onde não possuem miótomos para serem testados, o
voluntária OU o doente vai de encontro aos critérios para nível motor é presumido ser o mesmo que o nível sensorial, se a função
classificação sensorial incompleta (função sensorial preservada motora testável acima deste nível também for normal.
Graduação Sensorial nos segmentos mais distais dos segmentos sacrais (S4-S5) pelo
0 = Ausente LT, PP ou DAP ) e possui alguma função motora moderada mais 3. Determinar o nível neurológico da lesão.
1 = Alterado, diminuição da sensibilidade ou hipersensibilidade de três níveis abaixo do nível motor ipisilateral em ambos os
2 = Normal
Este se refere ao nível mais caudal do segmento medular com função
NT = Não testável lados do corpo. (Isso inclui funções de músculos chave e não- sensorial e força muscular contra a gravidade (3 ou mais) intacta , desde
chave para determinar a classificação motora incompleta). Para que haja função sensorial e motora normal (intacta) rostralmente
AIS C – menos da metade da função dos músculos chave abaixo respectivamente.
do nível da lesão neurológica devem possuir uma graduação
Quando testar musculatura não-chave muscular menor ou igual a 3. 4. Determinar se a lesão é completa ou incompleta.
Em doentes com aparente classificação AIS B, a função da musculatura não-chave mais de 3 (ex. ausência ou presença de lesão sacral)
níveis abaixo do nível motor de cada lado deve ser testada para classificação mais acurada da D = Motora Incompleta. Classificação motora incompleta
lesão (diferenciar entre AIS B e C). Se contração anal voluntária = não E todas as pontuações sensoriais S4-5=0
conforme definido acima, com ao menos metade (metade ou
E a pressão anal profunda = 0, então a lesão é completa.
Movimento Nível da raiz mais) das funções musculares chave abaixo da lesão neurológica
Caso contrário, a lesão é incompleta.
deve possuir uma graduação muscular maior ou igual a 3.
Ombro: Flexão, extensão, abdução, adução, C5
rotação interna e externa E = Normal. Se as funções sensorial e motora foram testadas 5. Determinar a pontuação da Escala de Imparidade ASIA:
Cotovelo: supinação conforme ISNCSCI foram classificadas como normal em todos A lesão é completa? Se sim, AIS=A e pode registrar
os segmentos, e o doente possui déficits prévios, então a ZPP ( dermátomo e miótomo
Cotovelo: pronação C6 mais inferior de cada lado com
classificação AIS é E. Um doente sem uma classificação SCI
Punho: Flexão inicial, não recebe classificação AIS. NÃO alguma preservação)
Dedo: flexão na articulação proximal, extensão C7
Utilizando ND: para documentar os níveis sensorial, motor e
Polegar: flexão, extensão e abdução no plano do polegar
nível neurológico da lesão (NLI) a Graduação da Escala de A lesão motora é completa? Se sim, AIS = B
Dedo: flexão na articulação do metacarpo C8 Imparidade ASIA e/ou a zona de preservação parcial (ZPP)
NÃO (Não = contração anal voluntária OU função
Polegar: oposição adução e abdução perpendicular quando elas são incapazes de serem determinadas baseada
motora mais de três níveis baixo do nível motor
à palma nos resultados do exame físico.
no mesmo lado, se o doente possui
Dedo: abdução do dedo indicador T1 classificação sensorial incompleta)

Quadril: adução L2 Existem ao menos metade (metade ou mais) dos músculos chave
abaixo do nível neurológico da lesão classificados como 3 ou mais?
Quadril: rotação externa L3
Quadril: extensão, abdução, rotação interna L4 NÃO SIM
Joelho: Flexão
Tornozelo: inversão e eversão AIS=C AIS=D
INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL
Dedo do pé: extensão interfalangeal e metacarpal
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY Se a função sensorial e motora for normal em todos os segmentos, AIS=E
Hálux e dedo: flexão e abdução das falanges distal e proximal L5 Nota: AIS E é usado em testes de acompanhamento quando um indivíduo com
uma SCI documentada recupera sua função normal. Se no teste inicial não for
Hálux: adução S1
B
encontrado nenhum déficit, o indivíduo é neurologicamente intacto; a escala de
Imparidade ASIA não é aplicável.

n FIGURA 7-2  Padrões Internacionais para a Classificação Neurológica da Lesão Medular. A. Avaliação Sensitiva e Motora da Medula
Espinhal. B. Classificações Clínicas das Lesões da Medula Espinhal.
­134 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

C5 Bíceps
C6 Extensor do punho
C7 Tríceps
C8 Flexores dos quirodáctilos
T1 Abdutores dos quirodáctilos

n FIGURA 7-3  Miótomos de Referência.


Miótomos são utilizados para a avaliação do nivel
de função. motora.

L2 Flexor do quadril

L3 Extensor do joelho

L4 Dorsiflexão do pé

L5 Extensor longo dos


pododáctilos

S1 Flexor plantar do
tornozelo

armadilha prevenção ou piora neurológica nos exames subsequentes.


Distração da avaliação • Repita os exames quantas
sensitiva e motora pela dor. vezes forem necessárias.
Choque neurogênico x choque medular
O Choque Neurogênico resulta da perda do tônus
O paciente é capaz de olhar o • Previna o paciente de vasomotor e da inervação simpática para o coração.
exame, o que pode alterar os olhar o exame clínico, ou A lesão na medula espinhal cervical ou torácica alta
achados. o distraia no momento da (T6 ou acima) pode causar comprometimento das
avaliação. vias simpáticas descendentes. A perda resultante do
tônus vasomotor provoca a vasodilatação dos vasos
Um paciente com nível • Presuma lesão medular sanguíneos viscerais e periféricos, redistribuição do
de consciência rebaixado em todos os pacientes, sangue e, consequentemente, hipotensão. A perda
limitará os achados em restrinja o movimento da inervação simpática para o coração pode causar
um exame neurológico da coluna durante o bradicardia ou, pelo menos, incapacidade de responder
definitivo. tratamento das lesões com taquicardia à hipovolemia. No entanto, quando
ameaçadoras da vida, o choque está presente, ainda é necessário descartar
reavalie, e solicite os outras fontes de sangramentos, porque o choque
exames de imagem hipovolêmico (hemorrágico) é o tipo de choque
Advanced Traum aLifenecessários.
SupportforDoctors Approved
mais comum em pacientes Changes
traumatizados needed
e pode Date
StudentCourse M anual,9e estar associado ao choque neurogênico. Os efeitos
Am erican College ofSurgeons KB
Figure# 07.04
Dragon y M edia Group
11/23/2011 WC
DOCUMENTAÇÃO DAS LESÕES MEDULARES TRAUMÁTICAS 135

fisiológicos do choque neurogênico não são revertidos dos nervos espinhais ocorrer através dos foramens e
com reposição volêmica isolada e a ressuscitação ascendem ou descem dentro do canal espinhal antes
maciça pode resultar em sobrecarga líquida e/ou edema de entrar na medula espinhal. Determinar o nível de
pulmonar. O uso criterioso de vasopressores pode ser lesão em ambos os lados é importante.
necessário após uma reposição volêmica moderada Além das medidas iniciais para estabilizar a lesão
e a atropina pode ser usada para tratar a bradicardia óssea, todas as descrições subsequentes do nível de
hemodinamicamente significativa. lesão são baseadas no nível neurológico.
O Choque Medular refere-se à flacidez (perda de
tônus muscular) e à perda de reflexos que ocorrem gravidade do déficit neurológico
imediatamente após a lesão da medula espinhal. Após
um período de tempo, ocorre espasticidade. Lesões medulares podem ser classificadas como:

efeitos da lesão medular em outros •• Paraplegia completa (lesão torácica) ou


sistemas incompleta
•• Tetraplegia completa (lesão cervical) ou
Quando a coluna vertebral do paciente é lesada, a incompleta
principal preocupação deve ser a possibilidade de
insuficiência respiratória. A hipoventilação pode Qualquer função motora ou sensorial abaixo do nível
ocorrer por paralisia dos músculos intercostais (i.e., da lesão constitui uma lesão incompleta e deve ser
lesão da medula espinhal cervical baixa ou torácica documentada adequadamente. Os sinais de uma lesão
alta) ou do diafragma (i.e., lesão de C3 a C5). incompleta incluem qualquer sensação (incluindo
A incapacidade de perceber estímulos dolorosos o reconhecimento da posição) ou movimentos
pode mascarar lesões potencialmente graves em voluntários nos membros inferiores, preservação
qualquer outra parte do corpo, como os sinais clássicos sacral, contração voluntária do esfíncter anal e flexão
de abdome agudo ou dor pélvica associada com voluntária do dedo do pé. Os reflexos sacrais, como o
fraturas da bacia. reflexo bulbo cavernoso ou a contratilidade anal, não
se qualificam como preservação sacral.

Do cumentaç ão da s le sõe s síndromes medulares


medul a r e s tr aum átic a s
Padrões característicos de lesão neurológica são
encontrados em pacientes com lesões da medula
As lesões traumáticas da medula espinhal podem ser espinhal, como síndrome central da medula, síndrome
classificadas de acordo com o nível, a gravidade do déficit anterior da medula e síndrome de Brown-Séquard. É útil
neurológico, o tipo de síndrome medular e a morfologia. reconhecer esses padrões, pois seus prognósticos diferem
das lesões completas e incompletas da medula espinhal.
nível A síndrome central da medula é caracterizada por uma
perda desproporcionalmente maior de força motora nos
O nível ósseo da lesão refere-se ao nível vertebral membros superiores do que nos membros inferiores,
específico ao qual ocorreu dano ósseo. O nível neurológico com diferentes graus de perda sensitiva. Esta síndrome
de lesão descreve o segmento mais caudal da medula geralmente ocorre após uma lesão por hiperextensão em
espinhal que tem função sensitiva e motora normal um paciente com estenose do canal cervical pré-existente.
em ambos os lados do corpo. O nível neurológico O mecanismo é comumente o de uma queda para a frente,
da lesão é determinado principalmente pelo exame resultando em um impacto facial. A síndrome central
clínico. O termo nível sensitivo é usado quando se refere da medula pode ocorrer com ou sem fratura ou luxação
ao segmento mais caudal da medula espinhal com cervical. O prognóstico e a recuperação das lesões são um
função sensitiva normal. O nível motor é definido de pouco melhores do que com outras lesões incompletas.
forma semelhante em relação à função motora, como Estas lesões são frequentemente encontradas em pacientes
o grupo de referência muscular mais baixo que possui idosos, que têm estenose preexistente do canal medular
um grau de força de pelo menos 3 em uma escala de cervical e sofrem queda da própria altura.
6 (0-5) pontos. A zona de preservação parcial é a área A síndrome anterior da medula resulta da lesão nas
logo abaixo do nível de lesão onde algumas funções vias motoras e sensitivas na parte anterior da medula.
sensitivas e/ou motoras são encontradas. Caracteriza-se por paraplegia e perda bilateral das
Frequentemente, há uma discrepância entre os sensações de dor e temperatura. No entanto, as sensações
níveis ósseo e neurológico de lesão devido a entrada da coluna dorsal (i.e., posição, vibração e sensação de
­136 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

pressão profunda) são preservadas. Esta síndrome tem que as lesões da coluna cervical inferior. Além disso,
o pior prognóstico entre as lesões incompletas e ocorre as diferenças anatômicas, o sofrimento emocional e a
mais comumente após a isquemia da medula. incapacidade de comunicação tornam a avaliação da
A síndrome de Brown-Séquard resulta de uma coluna ainda mais desafiadora nessa população. (Ver
hemissecção da medula, geralmente devido a um trauma Capítulo 10: Trauma Pediátrico.)
penetrante. Em sua forma pura, a síndrome consiste Os tipos específicos de lesões traumáticas da coluna
em perda ipsilateral motora (trato corticoespinhal) e cervical são luxação atlanto-occipital, fratura de atlas
da sensação de posição (coluna dorsal), associada à (C1), subluxação por rotação em C1 e fraturas do áxis (C2).
perda contralateral de dor e sensação de temperatura,
começando de um a dois níveis abaixo do nível de lesão Luxação Atlanto-Occipital
(trato espinotalâmico). Mesmo quando a síndrome é
causada por uma lesão penetrante direta à medula, As luxações crânio-cervical são incomuns e resultam de
geralmente existe algum grau de recuperação. movimentos acentuados de flexão e tração, de natureza
traumática. A maioria dos pacientes com esta lesão
Morfologia morre por destruição do tronco encefálico e apneia, ou
apresenta lesões neurológicas extremamente graves
As lesões traumáticas da coluna vertebral podem ser (por exemplo, dependência do ventilador e tetraplegia).
descritas como fraturas, fraturas-luxações, lesões Os pacientes podem sobreviver se forem prontamente
medulares sem anormalidades radiográficas (SCIWORA) ressuscitados na cena do trauma. A luxação atlanto-
e lesões penetrantes. Cada uma dessas categorias pode occipital é uma causa comum de morte nos casos de
ser descrita como estável ou instável. No entanto, síndrome do bebê sacudido.
determinar a estabilidade de um tipo particular de
lesão nem sempre é fácil e, mesmo entre os especialistas, Fraturas do Atlas (C1)
pode haver discordância. Particularmente durante o
tratamento inicial, todos os pacientes com evidência O atlas é um anel ósseo delicado com superfícies
radiográfica de lesão e todos aqueles com déficits articulares largas. As fraturas do atlas representam
neurológicos devem ser considerados como tendo uma aproximadamente 5% das fraturas da coluna cervical
lesão na coluna vertebral instável. A movimentação da e até 40% das fraturas do atlas estão associadas a
coluna desses pacientes deve ser restrita, e a mudança fraturas do áxis (C2). A fratura C1 mais comum é uma
de decúbito e/ou reposicionamento requer pessoal fratura por explosão da vértebra (fratura de Jefferson).
treinado usando técnica de rolamento em bloco até O mecanismo típico de lesão é o sobrecarga axial, que
a consulta com um especialista, tipicamente um ocorre quando um objeto pesado cai verticalmente na
neurocirurgião ou ortopedista. cabeça ou quando um paciente cai, batendo a sua cabeça
em uma posição relativamente neutra. As fraturas de
Jefferson consistem na ruptura anterior e posterior
tip os e specíficos de le s ão do anel de C1, com subsequente deslocamento lateral
das massas laterais. A fratura é melhor visualizada
da colun a em uma radiografia transoral (boca aberta) da região
C1 a C2 e pela tomografia computadorizada axial (TC)
As lesões da coluna vertebral de especial preocupação (n FIGURA 7-4).
no contexto do trauma incluem fraturas da coluna Essas fraturas geralmente não estão associadas a
cervical, fraturas da coluna torácica, fraturas da junção lesões da medula espinhal; no entanto, elas são instáveis
toracolombar, fraturas lombares, lesões penetrantes e e devem ser tratadas inicialmente com um colar cervical
lesões contusas das artérias carótidas e vertebrais. rígido apropriado. As fraturas unilaterais ou de massa
lateral não são incomuns e tendem a ser lesões estáveis.
fraturas da coluna cervical No entanto, trate todas essas fraturas como instáveis
até que o paciente seja examinado por um especialista,
As lesões na coluna cervical podem resultar de um geralmente um neurocirurgião ou ortopedista.
ou de vários dos seguintes mecanismos de lesão:
compressão axial, flexão, extensão, rotação, flexão Subluxação por Rotação em C1
lateral e tração.
A lesão da coluna vertebral em crianças é um evento A subluxação por rotação em C1 é mais frequentemente
relativamente raro, ocorrendo em menos de 1% dos vista em crianças. Pode ocorrer espontaneamente,
casos. Nota-se que as lesões da coluna cervical superior após traumatismo de grande ou pequeno porte, com
em crianças (C1 - C4) são quase duas vezes mais comuns infecções das vias áereas superiores ou acompanhando
TIPOS ESPECÍFICOS DE LESÃO NA COLUNA 137

n FIGURA 7-4  Fratura de Jefferson. Radiografia transoral n FIGURA 7-5  Fraturas do Odontoide. TC evidenciando fratura do
mostrando uma fratura de Jefferson. Essa fratura envolve a ruptura odontoide do tipo II, que acomete sua base.
dos anéis anteriores e posteriores de C1, com deslocamento lateral
da mesma.

a artrite reumatóide. O paciente apresenta uma Fraturas dos Elementos Posteriores


rotação persistente da cabeça (torcicolo). Nesta lesão,
o odontoide não está equidistante das duas massas A fratura típica do enforcado envolve os elementos
laterais de C1. Não force o paciente a corrigir a rotação, posteriores de C2 - a parte interarticular (n FIGURA 7-6).
ele deve ser imobilizado com a cabeça em posição Este tipo de fratura geralmente é causado por uma lesão
rodada mesmo e encaminhado para o centro de por hiperextensão. Certifique-se de que os pacientes
referência e tratamento especializado. com esta fratura sejam mantidos em colar cervical rígido
adequado até que haja cuidados especializados.
Fratura do Axis (C2)
Fraturas e Luxações (C3 a C7)
O axis é a maior vértebra cervical e tem o formato
mais incomum. Assim, é susceptível a várias fraturas, A área de maior flexão e extensão da coluna cervical
dependendo da força e direção do impacto. As fraturas ocorre a nível de C5 - C6 e, portanto, está mais vulnerável
de C2 representam aproximadamente 18% de todas a lesões. Em adultos, o nível mais comum de fratura
as fraturas da coluna cervical. As fraturas do axis que vertebral cervical é C5, e o nível mais comum de subluxação
os emergencistas observarão incluem fraturas do é C5 - C6. Outras lesões incluem subluxação dos processos
odontoide e fraturas dos elementos posteriores. articulares (incluindo as luxações das facetas articulares
uni ou bilaterais) e fraturas das lâminas, processos
Fraturas do Odontoide espinhosos, pedículos ou massas laterais. Raramente
ocorrem rupturas ligamentares sem que ocorram fraturas
Aproximadamente 60% das fraturas de C2 envolvem o ou deslocamentos das facetas articulares.
processo odontoide, uma protuberância óssea de forma A incidência de lesão neurológica aumenta
bem definida que se projeta para cima e normalmente significativamente com as luxações das facetas e é
está em contato com o arco anterior de C1. O processo muito mais severa com facetas luxadas bilateralmente.
odontoide é mantido fixo pelo ligamento transverso. As
fraturas do tipo I normalmente envolvem a extremidade Fraturas da coluna torácica
do odontoide e são relativamente incomuns. As fraturas
do tipo II ocorrem na base e são as mais comuns (n FIGURA As fraturas da coluna torácica podem ser classificadas
7-5). Em crianças com menos de 6 anos de idade, a epífise em quatro grandes categorias: lesões em cunha por
pode ser mais proeminente e se assemelhar a uma fratura compressão anterior, lesões por explosão, fraturas de
neste nível. As fraturas odontóides do tipo III ocorrem Chance e fraturas-luxações.
na base e se estendem obliquamente no corpo do axis. A sobrecarga axial com flexão produz uma lesão
em cunha por compressão anterior. O encunhamento
geralmente é pequeno e a redução anterior do corpo
vertebral raramente é mais que 25% da face posterior.
­138 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

A B C
n FIGURA 7-6  Fratura do Enforcado (setas). Reconstrução de TC. A. Axial; B. Sagital paramediana; e C. Sagital na linha mediana. Note a
angulação anterior e a distância excessiva entre os processos espinhosos de C1 e C2 (setas duplas).

Devido à rigidez da caixa torácica, a maioria dessas da coluna torácica geralmente resultam em déficits
fraturas são estáveis. neurológicos completos.
A lesão por explosão é causada por compressão Fraturas de compressão simples geralmente são
vertical-axial. estáveis e muitas vezes tratadas com um colete rígido.
As fraturas de Chance são fraturas transversas no corpo As fraturas por explosão, as fraturas de Chance e as
vertebral (n FIGURA 7-7). Elas são causadas por flexão em fraturas-luxações são extremamente instáveis e quase
torno de um eixo anterior à coluna vertebral (hiperflexão) sempre requerem fixação interna.
e são mais frequentemente observadas após colisões
automobilísticas em que o paciente usava cinto de Fraturas da junção toracolombar
segurança de dois pontos e colocado inadequadamente. (T11 a L1)
As fraturas de Chance podem estar associadas com lesões
viscerais retroperitoneal e abdominal. As fraturas ao nível da junção toracolombar são devidas
Devido à orientação das facetas articulares, as fraturas- à imobilidade da coluna torácica em comparação com
luxações são relativamente incomuns na coluna torácica a coluna lombar. Como essas fraturas, na maioria das
e lombar. Essas lesões quase sempre resultam de flexão vezes, resultam de uma combinação de hiperflexão e
extrema ou traumatismo contuso severo na coluna rotação, geralmente são instáveis. Dentre os pacientes
vertebral, o que provoca a ruptura dos elementos que correm um risco particular para este tipo de lesão,
posteriores (pedículos, facetas e lâmina) da vértebra. estão os que caem de grande altura e os motoristas
O canal torácico da coluna vertebral é estreito em relação usando cinto de segurança que, no momento do
à medula espinhal, de modo que as fraturas-luxações impacto, sofrem uma flexão severa com grande
transferência de energia cinética.
A medula espinhal termina como o cone medular
aproximadamente no nível de L1. Lesões nesta parte
da medula geralmente resultam em disfunção vesical
e intestinal, bem como diminuição da sensação e
força nos membros inferiores. Pacientes com fraturas
toracolombares são particularmente vulneráveis ao
movimento rotacional, por isso seja extremamente
cuidadoso ao fazer o rolamento em bloco. (Ver vídeo
Movimentação em bloco no aplicativo móvel MyATLS.)

fraturas lombares
Os sinais radiográficos associados a uma fratura
lombar são semelhantes aos das fraturas torácicas e
toracolombares. Entretanto, por acometerem apenas a
n FIGURA 7-7  Fraturas de Chance. Radiografia mostrando uma cauda equina, a probabilidade de um déficit neurológico
fratura de Chance, que é uma fratura transversa pelo corpo vertebral. completo é muito menor com essas lesões.
AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA 139

lesões penetrantes
ava li aç ão r a dioló g ic a
As lesões penetrantes frequentemente resultam em um
déficit neurológico completo quando a medula está no O exame clínico cuidadoso e uma avaliação radiológica
caminho do agente envolvido (na maioria das vezes, um completa são fundamentais na identificação de uma
projétil de arma de fogo ou arma branca). Esses déficits lesão significativa de coluna.
também podem resultar da transferência de energia
associada a um projétil de alta velocidade que passa perto coluna cervical
da medula ao invés de atravessá-la. As lesões penetrantes
da coluna geralmente são estáveis, a menos que o projétil Muitos pacientes traumatizados têm um colar cervical
destrua uma porção significativa da vértebra. colocado pelos serviços médicos de emergência (EMS) na
cena. As diretrizes atuais pré-hospitalares da imobilização
lesões contusas das artérias carótidas da coluna vertebral permitem maior flexibilidade no
e vertebrais uso de prancha longa e colar cervical. Com o uso de
ferramentas de decisão e triagem clínica, como a Canadian
O traumatismo contuso do pescoço pode causar lesões C-Spine Rule (CCR; n FIGURA 7-8) e a National Emergency
arteriais carotídeas e vertebrais; o reconhecimento e X-Radiography Utilization Study (NEXUS n FIGURA 7-9),
tratamento precoce dessas lesões podem reduzir o risco o colar cervical e imobilizadores laterais de cabeça
de acidente vascular cerebral do paciente. Indicações podem ser retirados em muitos desses pacientes sem
específicas para a pesquisa dessas lesões incluem a necessidade de imagens radiológicas.
fraturas de C1 a C3, fraturas cervicais com subluxação Existem duas opções para pacientes que necessitam
e fraturas envolvendo o forame transverso. de avaliação radiográfica da coluna cervical. Em locais

Regra Canadense da Coluna Cervical (Canadian C-Spine Rule - CCR)

Para pacientes conscientes (ECG = 15) e


estáveis aonde há suspeita de lesão cervical

Algum fator de alto risco


que obrigue uma radiografia?
1. Idade >65 anos
2. Mecanismo de trauma Mecanismo de trauma:
3. Parestesia nas extremidades • Queda maior ou igual a
1 metro
• Sobrecarga axial na cabeça n FIGURA 7-8  Regra Canadense da Coluna
NÃO SIM • Acidente automobilístico: Cervical (CCR). Uma ferramenta para decisão
- Alta velocidadade
clínica na avaliação da coluna cervical.
Algum fator de baixo risco (> 100 Km/h)
- Capotamento Adaptado de Stiell IG, Vandemheen KL, et
que permita a avaliação
segura da mobilidade? - Ejeção al. The Canadian C-spine rule of radiography
1. Colisão automobilística • Veículos motorizados in alert and stable patients. JAMA
traseira de lazer 2001;286:1841-1848.
2. Paciente sentado na Sala de • Acidentes de bicicleta
Emergência
3. Deambulando
4. Início tardio de dor cervical
5. Sem dor na linha mediana
posterior cervical

SIM

Consegue rodar o pescoço


ativamente (45º a direita e
a esquerda)

SIM NÃO

Sem radiografia Radiografia


­140 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

National Emergency X-Radiography Utilization Study Explicações:


(NEXUS) Criteria - Critérios NEXUS Com objetivo de esclarecer apenas. Não há uma definição
precisa para os critérios individuais do NEXUS, que estão
Apresenta TODOS os critérios de baixo risco? sujeitos a interpretação individual dos médicos.
1 . Sem dor na linha mediana posterior da coluna cervical
e... 1 . Dor na linha mediana posterior da coluna cervical é
2. Sem evidência de intoxicação exógena considerada quando há dor na palpação da linha mediana
posterior da cervical, desde a base do crânio até a
e... proeminência da 1ª vértebra torácica.
3. Nível normal de consciência
e...
4. Sem déficit neurológico focal 2. Os pacientes serão considerados intoxiccados se eles
e... tiverem os seguintes critérios:
5. Nenhuma lesão grave (distração) • História recente de intoxicação ou consumo de substância
entorpecente relatada pelo paciente ou testemunha
• Evidência de sinais de intoxicação no exame físico, tais
SIM NÃO como odor de álcool, fala embaralhada, ataxia, achados
cerebelares ou outros achados compatíveis com
intoxicação. Também será considerado intoxicado se os
Sem Radiografia Radiografia testes sanguíneos vierem positivos para drogas
(incluindo o álcool, mas não limitado a ele).
Mnemônico NEXUS
3. Um nível alterado de consciência inclui qualquer um dos
N– Neurologic déficit seguintes critérios:
déficit neurológico
E – EtOH (alcohol)/intoxication • Escala de Coma de Glasgow >15
álcool/intoxicação • Desorientação no tempo e no espaço
• Incapacidade de se lembrar de 3 objetos em 5 minutos
X– eXtreme distracting injury(ies)
• Resposta lenta ou inadequada aos estímulos externos
lesões graves que causam distração
• Outros
U– Unable to provide history (altered level of consciousness)
incapaz de relatar seu histórico (nível de consciência alterado) 4. Qualquer queixa neurológica focal (anamnese) ou achado
S – Spinal tenderness (midline) (exame físico - sensitivo ou motor)
sensibilidade na coluna (linha média)
5. Não há definição precisa do que é uma lesão dolorosa que
desvia a atenção. Inclui qualquer condição que o examinador
considere incapacitar o paciente a colaborar no exame físico
n FIGURA 7-9  National Emergency X-RadiographyUtilization de uma segunda lesão (cervical). Exemplos incluem, mas não
Study (NEXUS) Criteria and Mnemonic (Critérios e Mnemônicos se limitam a:
NEXUS). Uma ferramenta de decisão clínica para a avaliação da • Qualquer fratura de ossos longos
coluna cervical. Adaptado de Hoffman JR, Mower WR, Wolfson • Lesão abdominal que requer consulta com o cirurgião
• Laceração extensa, desenluvamento ou esmagamento
AB, et al. Validity of a set of clinical criteria to rule out injury to the • Grandes queimados
cervical spine in patients with blunt trauma. National Emergency X • Qualquer outra lesão que leve uma disfunção aguda
Radiography Utilization Study Group. N Engl J Med 2000;343:94-99.
O médico pode considerar qualquer lesão que ele julgar
que atrapalhe a capacidade do paciente em se concentrar
no exame.

com tecnologia disponível, a modalidade de escolha é a A incidência AP da coluna cervical auxilia na


Tomografia Computadorizada (TC) multidetector (MDCT) identificação de luxações unilaterais das facetas
do occipital para T1 com reconstruções sagital e coronal. articulares, mesmo em casos em que pouca ou nenhuma
Em locais onde esse exame não está disponível, devem luxação é vista na radiografia lateral.
ser obtidas radiografias que mostram do osso occipital Se as imagens forem de boa qualidade e adequadamente
a T1, incluindo lateral, anteroposterior (AP) e transoral interpretadas, as lesões na coluna cervical instáveis podem
para a identificação do odontoide. ser detectadas com uma sensibilidade superior a 97%. Um
Na incidência lateral devem ser visualizadas a base do médico qualificado para interpretar essas imagens deve
crânio, todas as sete vértebras cervicais e a primeira vértebra rever a série completa de radiografias da coluna cervical
torácica. Pode ser necessário puxar os ombros do paciente antes que ela seja considerada normal. Não remova o colar
para baixo para que não passe despercebida uma lesão na cervical até que sejam feitas as avaliações neurológica e da
coluna cervical inferior. Se as sete vértebras cervicais não coluna cervical, incluindo a palpação da coluna vertebral
forem visualizadas no filme lateral, obtenha uma radiografia durante o movimento voluntário em todos os sentidos, e
em posição de nadador para examinar a área cervical inferior sejam excluídas as lesões.
e torácica alta. Quando a parte inferior da coluna cervical não é
A incidência transoral para a visualização do odontoide visualizada adequadamente nas radiografias ou são
deve incluir todo o processo odontoide e as articulações identificadas áreas suspeitas de lesões, a avaliação com
direita e esquerda de C1 e C2. MDCT deve ser obtida. Os exames MDCT podem ser
CONDUTA GERAL 141

usados no lugar das radiografias simples para avaliar lateral; entretanto, note que a MDCT possui sensibilidade
a coluna cervical. superior.
É possível que os pacientes tenham uma lesão ligamentar Nas imagens em AP, observe o alinhamento vertical dos
incompleta isolada que resulte em instabilidade sem fratura pedículos e a distância entre os pedículos de cada vértebra.
associada e/ou subluxação. Pacientes com dor cervical e Fraturas instáveis geralmente causam o aumento da
radiografia normal devem ser avaliados por imagem de distância entre os pedículos. As incidências laterais
ressonância magnética (RM) ou por imagens de raios-X em detectam subluxações, fraturas por compressão e fraturas
flexão-extensão. Os raios-X de flexão-extensão da coluna de Chance.
cervical podem detectar instabilidade oculta ou determinar A tomografia computadorizada é particularmente
a estabilidade de uma fratura conhecida. Quando o paciente útil para detectar fraturas dos elementos posteriores
tiver que ser transferido, a pesquisa radiográfica da coluna (pedículos, lâmina e processos espinhosos) e determinar
pode ser adiada para a o serviço que receberá o paciente, o grau de comprometimento do canal causado por
enquanto se mantém a imobilização da coluna vertebral. fraturas por explosão. As reconstruções sagitais e
Em nenhuma circunstância, os médicos deverão forçar coronais das imagens axiais devem ser realizadas.
o pescoço do paciente a uma posição que provoca dor. Assim como na coluna cervical, uma série completa
Todos os movimentos devem ser voluntários. Obtenha de radiografias de alta qualidade deve ser devidamente
essas radiografias sob a supervisão direta e controle de um interpretada e descartadas lesões por um médico qualificado,
médico experiente em sua interpretação. antes que as precauções de movimentação da coluna sejam
Em alguns pacientes com lesão significativa nos tecidos retiradas. No entanto, devido à possibilidade de úlceras
moles, o espasmo muscular para vertebral pode limitar por pressão, não espere a interpretação radiográfica final
severamente o grau de flexão e extensão que o paciente antes de retirar o paciente da prancha rígida.
permite. A ressonância magnética pode ser a ferramenta
mais sensível para identificar lesões nos tecidos moles
se realizada dentro de 72 horas após a lesão. No entanto,
armadilha prevenção
os dados relativos à correlação da instabilidade da
Uma avaliação secundária • Tenha certeza de
coluna cervical com achados de MRI positiva ainda são
inadequada resulta na realizar uma avaliação
insuficientes.
falha em reconhecer neurológica detalhada
Aproximadamente 10% dos pacientes com fratura uma lesão medular, durante a avaliação
cervical têm uma segunda fratura de coluna vertebral não particularmente as secundária ou após o
contígua. Este fato justifica uma varredura radiológica incompletas. tratamento das lesões
completa da coluna vertebral em pacientes com fratura ameaçadoras da vida.
cervical.
Na presença de déficits neurológicos, recomenda-se a Há dificuldade em avaliar • Para estes pacientes
RM para detectar qualquer lesão compressiva de tecido a presença de lesão faça avaliações
mole que não possa ser detectada nas radiografias simples medular em pacientes detalhadas repetidas
ou MDCT, como um hematoma epidural ou hérnia de com rebaixamento do após o tratamento das
disco traumática. A RM também pode detectar contusões nível de consciência e lesões ameaçadoras da
ou rupturas da medula espinhal, lesões de partes moles aqueles que dão entrada vida.
em estado de choque.
e de ligamentos paravertebrais. No entanto, a RM não é
viável em pacientes com instabilidade hemodinâmica.
Esses estudos especializados devem ser realizados a
critério de um especialista em cirurgia da coluna.
n QUADRO 7-1 apresenta normas para a avaliação de conduta g er a l
pacientes traumatizados com suspeita de lesão na coluna
vertebral.
O tratamento básico das lesões de coluna e medula
coluna torácica e lombar espinhal inclui imobilização, reposição volêmica,
medicações e transferência, se indicado. (Ver Apêndice
As indicações para a radiografia da coluna torácica e G: Estação Prática D Défice Neurológico.)
lombar são essencialmente as mesmas para a coluna
cervical. Onde disponível, a varredura por MDCT da imobilização da coluna vertebral
coluna torácica e lombar deve ser usada como o exame
de escolha. As imagens de reconstruções da MDCT do Os profissionais do atendimento pré-hospitalar
tórax/abdome/pelve podem ser usadas. Se o MDCT não costumam imobilizar o paciente antes de transportá-lo
estiver disponível, obtenha imagens radiográficas AP e para o Serviço de emergência. Sempre que se suspeite de
­142 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

quadro 7-1 normas para a triagem de pacientes com suspeita de lesões na coluna

Os pacientes traumatizados podem ter lesões medulares não Em crianças, a complementação com TC é opcional. Se
reconhecidas, certifique-se de restringir a movimentação da toda a coluna cervical pode ser visualizada e encontra-se
coluna vertebral até que possam ser submetidos a exames normal, o colar pode ser removido após a avaliação
clínicos e de imagem apropriados. apropriada por um médico habilidoso no exame e
tratamento de pacientes com lesões na coluna vertebral.
Suspeitas de lesões de coluna cervical Liberar a coluna cervical é particularmente importante
em pacientes que necessitam de cuidados pulmonares ou
1. A presença de paraplegia ou tetraplegia é evidência de abordagens diversas que seriam comprometidas pela
presuntiva de instabilidade de coluna. incapacidade de mobilizar o paciente.
2. Use ferramentas de tomada de decisão clínicas validadas, 5. Na dúvida, mantenha o colar adequadamente
como a Canadian C-Spine Rule (CCR) e NEXUS para ajudar a posicionado.
determinar a necessidade de avaliação radiográfica e clínica
da coluna cervical. É extremamente improvável que os
pacientes que estejam acordados, alertas, conscientes, exame suspeita de lesão da coluna
neurológico normal, sem dor cervical, ausência de dor na toracolombar
linha média e sem lesões distrativas apresentem fratura ou
instabilidade da coluna cervical. Com o paciente em posição 1. A presença de paraplegia ou perda de sensibilidade
supina, remova o colar cervical e palpe a coluna vertebral. no tórax ou no abdome é evidência presuntiva de
Se não houver dor significativa, peça ao paciente que mova instabilidade da coluna.
voluntariamente seu pescoço de um lado para o outro, flexione
2. Os pacientes que estão neurologicamente normais,
e estenda o pescoço dele. Nunca force o pescoço do paciente.
acordados, alertas e conscientes, sem mecanismo de
Se não houver dor, as radiografias da coluna cervical não são
trauma significativo e sem dor ou sensibilidade na linha
necessárias e o colar pode ser removido com segurança.
média posterior na região toracolombar, provavelmente
3. Pacientes com dor no pescoço ou sensibilidade na linha não apresentarão lesão instável. Radiografias
média requerem pesquisa radiográfica. Cabe ao médico toracolombares podem não ser necessárias.
excluir uma lesão na coluna vertebral. Quando a tomografia
3. Os pacientes com dor ou sensibilidade na palpação
estiver disponível, todos esses pacientes devem fazer MDCT
da coluna, déficits neurológicos, nível de consciência
do occipital a T1 com reconstruções sagital e coronal.
alterado ou mecanismo significativo de trauma devem
Quando a tomografia não estiver disponível, os pacientes
ser submetidos à triagem com MDCT. Se o MDCT não
devem ser submetidos a exames de radiografias da coluna
estiver disponível, obtenha radiografias AP e laterais de
cervical nas incidências laterais, AP e transoral para avaliar
toda a coluna torácica e lombar. Todas as imagens devem
o odontoide. As áreas suspeitas ou inadequadamente
ser de boa qualidade e interpretadas como normais
visualizadas nas radiografias requerem MDCT. As imagens
por um médico qualificado antes que se removam as
radiográficas de coluna cervical devem ser avaliadas para:
imobilizações e proteções da coluna.
• Deformidade óssea/fratura dos processos ou corpo
4. Consultar um médico experiente na avaliação e
vertebral
tratamento das lesões de coluna, em todos os pacientes
• Desalinhamento posterior do corpo vertebral
que se suspeite ou se detecte lesão de coluna.
(invadindo a parte anterior do canal vertebral)
• Aumento da distância entre os processos espinhosos 5. Avalie rapidamente pacientes com ou sem déficits
• Estreitamento do canal vertebral neurológicos (por exemplo, tetraplegia ou paraplegia) e
• Aumento do espaço das partes moles pré-vertebrais remova-os da prancha rígida o mais rápido possível. Um
paciente que é deixado em uma prancha rígida por mais
Se essas radiografias forem normais, o colar cervical pode
de 2 horas corre alto risco de úlceras por pressão.
ser removido para obter imagens em flexão e extensão.
Um médico qualificado pode obter radiografias laterais de 6. Pacientes traumatizados que necessitem de cirurgia
coluna cervical com o paciente flexionando e estendendo de emergência antes da avaliação completa da coluna,
voluntariamente o pescoço. Se as imagens não mostram devem ser cuidadosamente transportados, assumindo
subluxação, a coluna cervical do paciente pode ser que uma lesão instável na coluna está presente. O
considerada sem lesão e o colar retirado. No entanto, se colar cervical deve ser mantido e utilize a técnica
algumas dessas imagens forem suspeitas ou duvidosas, de rolamento em bloco quando forem colocados e
reaplique o colar e consulte um especialista em coluna. retirados da mesa de cirurgia. Não deixe o paciente sobre
uma prancha rígida durante a cirurgia. A equipe cirúrgica
4. Os pacientes que têm um nível de consciência alterado
deve ter um cuidado especial em proteger o pescoço o
ou que sejam incapazes de descrever seus sintomas
máximo possível durante a cirurgia. O anestesista deve
necessitam de imagens. Idealmente, obtenha MDCT do
ser informado sobre o estado da avaliação.
occipital a T1 com cortes axiais e reconstruções sagital e
coronais. Quando esta tecnologia não estiver disponível,
as radiografias em lateral, AP e transoral para avaliação
do odontoide com complementação de TC nas áreas
suspeitas ou mal visualizadas são suficientes.
CONDUTA GERAL 143

lesão de coluna, o paciente deve ser imobilizado desde conforto, com o movimento da coluna vertebral restrito.
acima até abaixo do local suspeito, até que a lesão tenha Da mesma forma, um colar cervical pode não encaixar
sido excluída. Isto é realizado simplesmente colocando em pacientes obesos, então use imobilizadores de cabeça
o paciente em decúbito dorsal sem girar ou dobrar a e ataduras para imobilizar o pescoço. O preenchimento
coluna vertebral, em uma superfície firme com um colar complementar é muitas vezes necessário. As tentativas de
cervical rígido e de tamanho apropriado. Lembre-se alinhar a coluna vertebral para a imobilização em prancha
de manter a imobilização da coluna vertebral até que longa não são recomendadas se elas causarem dor.
uma lesão seja excluída. Ocasionalmente, pacientes Um colar semirrígido não garante a restrição completa
chegam no ED sem colar cervical, situações essas em do movimento da coluna cervical. A complementação
que o médico deve seguir as diretrizes para tomada com tirantes e imobilizadores laterais de cabeça fixos à
de decisão para determinar a necessidade de imagem prancha longa é mais eficaz. Em alguns casos, o uso de
de coluna cervical e colocação de colar cervical rígido. pranchas rígidas é recomendado para a retirada rápida
Os médicos não devem tentar reduzir uma deformidade no resgate do paciente (Ver EMS Spinal Precautions
óbvia. As crianças podem ter torcicolo e os pacientes and the use of the Long Backboard: Position Statement
idosos podem ter uma doença degenerativa severa da by the National Association of EMS Physicians and
coluna vertebral que faz com que eles tenham uma American College of Surgeons Committee on Trauma).
deformidade cifótica não-traumática na coluna vertebral. A manobra do rolamento é realizada para avaliar
Esses pacientes devem ser deixados em uma posição de a coluna e remover a prancha longa, limitando a

A B

C D
n FIGURA 7-10  Rolamento em Bloco com Quatro Pessoas. Pelo menos quatro pessoas são necessárias para o rolamento do paciente e
remoção da prancha rígida e/ou exame do dorso. A. Uma pessoa segura a cabeça para o controle da coluna cervical e outras duas ficam
ao lado do paciente para controlar o corpo e as extremidades. B. À medida que o paciente é rolado, três pessoas mantêm o alinhamento
da coluna cervical enquanto C. a quarta pessoa remove a prancha e examina o dorso. D. Uma vez que a prancha é removida, três pessoas
recolocam o paciente em posição supina enquanto mantêm o alinhamento da coluna.
­144 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular

movimentação da coluna. (n FIGURA 7-10; ver também


vídeo Movimentação em Bloco no aplicativo móvel Trabalho em equipe
MyATLS). O líder da equipe determina quando esse
procedimento poderá ser realizado. Uma pessoa fica
designada para manter o alinhamento e a imobilização •• A equipe de trauma deve assegurar uma
da cabeça e pescoço. Indivíduos posicionados no mesmo imobilização adequada da coluna vertebral
lado do tronco do paciente evitam manualmente a durante as avaliações primárias e secundárias,
rotação segmentar, a flexão, a extensão, desalinhamento bem como durante o transporte de pacientes
lateral ou encurvamento do tórax ou do abdome com lesão medular diagnosticada ou suspeita.
durante o rolamento do paciente. Uma outra pessoa
•• Enquanto a coluna vertebral do paciente estiver
fica responsável por mover as pernas do paciente, e a
protegida, um exame detalhado pode ser
quarta pessoa remove a prancha e examina o dorso.
postergado com segurança até o paciente ficar
estável.
reposição volêmica
•• Embora muitas vezes haja opiniões clínicas
Caso não se suspeite ou não se detecte hemorragia diferentes, a equipe de trauma deve garantir a
ativa, a hipotensão persistente deve ser interpretada realização de um exame completo e adequado
como sendo por choque neurogênico. Pacientes com da coluna vertebral. O líder da equipe deve
choque hipovolêmico geralmente tem taquicardia, decidir o tempo apropriado para este exame.
enquanto, aqueles com choque neurogênico clássico,
tem bradicardia. Quando a pressão arterial não melhora
após a infusão de líquidos e não se encontrou focos de r e sumo do c a pítulo
sangramentos, o uso criterioso de vasopressores estaria
indicado. Fenilefrina, dopamina ou norepinefrina são
recomendados. A administração excessiva de líquidos 1. A coluna vertebral é constituída por vértebras
pode causar edema pulmonar em pacientes com choque cervicais, torácicas e lombares. A medula
neurogênico. Se existem dúvidas quanto a volemia do espinhal contém três tratos importantes: o trato
paciente, o uso do ultrassom ou monitoração invasiva corticoespinhal, o trato espinotalâmico e as colunas
para estimar o estado volêmico do paciente poderá ser dorsais.
útil. Deve ser passada a sonda vesical para monitorar
a diurese e prevenir distensão vesical. 2. Atentar-se primeiro a lesões com risco de morte,
minimizando o movimento da coluna vertebral.
Medicações Restringir o movimento da coluna do paciente até
que as fraturas vertebrais e as lesões da medula
Não existem evidências suficientes para indicar o uso espinhal tenham sido excluídas. Obtenha consulta
de corticosteroides nas lesões da medula espinhal. precoce com um neurocirurgião e/ou cirurgião
ortopedista, sempre que uma lesão na coluna
Transferências vertebral é suspeita ou detectada.

Os pacientes com fraturas de coluna ou déficits 3. Documentar o histórico e exame físico do paciente
neurológicos devem ser transferidos para um centro para estabelecer uma base, parâmetro inicial
capaz de realizar o tratamento definitivo (Ver Capítulo para qualquer alteração no estado neurológico
13: Transferência para o Tratamento Definitivo e Critérios do paciente.
para Transferência Interhospitalar no aplicativo móvel
MyATLS.) O procedimento mais seguro consiste em 4. Obtenha imagens, quando indicado, assim que as
transferir o paciente depois do contato com o líder lesões que ameaçam a vida sejam estabillizadas.
da equipe de trauma e/ou o especialista em coluna.
Estabilize o paciente e aplique medidas necessárias para 5. As lesões da medula espinhal podem ser completas
a sua imobilização, tais como talas, pranchas rígidas ou incompletas e podem envolver qualquer nível
e/ou colar semirrígido. Lembre-se de que as lesões da medula espinhal.
de coluna cervical acima de C6 podem resultar em
perda parcial ou total da função respiratória. Se existir 6. Quando necessário, transfira pacientes com
qualquer dúvida a respeito da eficiência da ventilação, fraturas vertebrais ou lesões da medula espinhal
o paciente deve ser intubado antes de ser transferido. para um serviço capaz de fornecer cuidados
Demora desnecessária deve ser evitada. definitivos com segurança e o mais rápido possível.
BIBLIOGRAFIA 145

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8 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO

Lesões no sistema musculoesquelético são comuns em doentes vítimas de trauma. A


demora no reconhecimento e tratamento dessas lesões podem acarretar hemorragias que
ameaçam a vida ou podem provocar a perda de um membro.
Capítulo 8 sumário
Objetivos • Contusões e Lacerações
• Lesões Articulares e Ligamentares
Introdução • Fraturas

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO DE DOENTES Princípios de imobilização


COM LESÕES DE EXTREMIDADES QUE AMEAÇAM A VIDA • Fraturas de Fêmur
• Hemorragia Arterial Grave e Amputação Traumática • Lesões de Joelho
• Fratura de Fêmur Bilateral • Fraturas de Tíbia
• Síndrome de Crush • Fraturas de Tornozelo
• Lesões dos Membros Superiores e Mãos
medidas auxiliares na avaliação primária
• Imobilização de Fraturas controle da dor
• Estudos Radiográficos
lesões associadas
avaliação secundária
• História lesões ósseas ocultas
• Exame Físico
Trabalho em equipe
Lesões que colocam o membro em risco
• Fraturas Expostas e Lesões Articulares resumo do capítulo
• Lesões Vasculares
• Síndrome Compartimental Bibliografia
• Lesão Neurológica Secundária à Fratura-Luxação

Outras lesões de extremidades

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 4. Descrever os elementos chave da avaliação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: secundária em doentes com trauma
musculoesquelético, incluindo história e exame
1. Explicar a importância das lesões
físico.
musculoesqueléticas em doentes com múltiplas
lesões. 5. D
escrever os princípios da avaliação inicial de
lesões que comprometem os membros.
2. D
escrever as prioridades no atendimento
e reanimação dos doentes com lesões de 6. Explicar os princípios do atendimento inicial
extremidades, distinguindo rapidamente lesões de doentes com contusões, lacerações, lesões
potencialmente fatais daquelas menos urgentes. articulares e ligamentares, e fraturas.
3. Identificar as medidas auxiliares necessárias no 7. Descrever os princípios da imobilização adequada
tratamento imediato de hemorragia potencialmente de doentes com lesões musculoesqueléticas.
fatal causada por lesões de extremidades.

149
­150 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

A
s lesões do sistema musculoesquelético lesões musculoesqueléticas, a fim de assegurar uma
ocorrem em muitos doentes que sofrem trauma boa evolução. Apesar da avaliação cuidadosa, as fraturas
fechado. Essas lesões frequentemente possuem e lesões de partes moles podem não ser inicialmente
aparência dramática, mas raramente causam risco reconhecidas em doentes com múltiplas lesões.
imediato à vida ou ao membro. Entretanto, as lesões A reavaliação contínua do doente é necessária para
musculoesqueléticas têm o potencial para distrair a identificar todas as lesões.
equipe de lesões mais urgentes e com maior prioridade
de atendimento. Primeiro, o médico precisa reconhecer
a presença de lesões de extremidades potencialmente
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E
fatais durante a avaliação primária e compreender sua REANIMAÇÃO DE DOENTES
associação com lesões torácicas e abdominais graves. COM LESÕES DE EXTREMIDADE
O profissional também deve estar familiarizado com a POTENCIALMENTE FATAIS
anatomia da extremidade para estar apto a proteger o
doente de sequelas e antecipar e prevenir complicações.
Lesões musculoesqueléticas graves indicam que o Durante a avaliação primária, é imperativo
doente foi submetido a forças significativas (n FIGURA reconhecer e controlar hemorragias oriundas de lesões
8-1). Por exemplo, um doente com fratura de ossos longos musculoesqueléticas.
nos membros superiores e inferiores possui um risco Lesões de extremidades potencialmente fatais
maior de ter também lesões internas de tronco. Fratura incluem hemorragia arterial grave, fratura bilateral
instável da pelve e fraturas expostas de fêmur podem de fêmur e síndrome de Crush. (A ruptura pélvica é
estar acompanhadas de risco de hemorragia abundante. descrita no Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
Lesões por esmagamento graves causam a liberação Lacerações profundas de partes moles podem
de mioglobina pelo músculo, que pode se acumular comprometer grandes vasos e acarretar hemorragia
nos túbulos renais e causar falência renal. Edema em exsanguinante. A melhor forma de controlar a hemorragia
compartimentos musculofasciais intactos pode causar é por meio da compressão direta. Hemorragia oriunda
síndrome compartimental aguda que, se não for de fraturas de ossos longos podem ser significantes;
diagnosticada e tratada, pode levar ao comprometimento as fraturas de fêmur, em particular, frequentemente
e perda do membro. Embolia gordurosa é incomum, resultam em perda sanguínea importante. A redução
mas é uma complicação potencialmente fatal de fratura apropriada de fraturas pode reduzir a perda sanguínea
de ossos longos, podendo causar falência pulmonar e e melhorar o efeito de tamponamento do músculo e da
comprometimento da função cerebral. fáscia. Se a fratura for exposta, a aplicação de curativo
O trauma musculoesquelético não justifica a compressivo estéril geralmente controla a hemorragia.
alteração das prioridades de reanimação ABCDE, mas Uma reanimação com fluidos adequada é uma medida
sua presença representa um desafio para os médicos. complementar importante.
Lesões musculoesqueléticas não podem ser ignoradas
e tratadas posteriormente; pelo contrário, os médicos armadilha prevenção
devem tratar o doente como um todo, incluindo as
Perda sanguínea • Reconhecer que fraturas de
decorrente de lesões fêmur e qualquer fratura
musculoesqueléticas exposta de ossos longos
que não são com lesões importantes
imediatamente de partes moles são fontes
reconhecidas. significativas de hemorragia.

HEMORRAGIA ARTERIAL GRAVE E


AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA
Ferimentos penetrantes nas extremidades podem
resultar em lesão vascular arterial grave. Trauma
contuso com fratura de extremidade ou luxação
próximos a uma artéria podem causar a ruptura desta.
Essas lesões podem provocar hemorragias significativas
n FIGURA 8-1  Lesões graves indicam que o doente foi submetido a aplicação através de ferimentos abertos ou nas partes moles.
de força significativa, e é possível haver perda sanguínea importante. Doentes que sofreram uma amputação traumática
151
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO

apresentam risco particular de hemorragia com risco o horário da aplicação do torniquete foi documentado.
à vida e podem requerer a aplicação de um torniquete. Nesses casos, é essencial uma avaliação imediata de
um cirurgião, devendo-se levar em consideração a
Avaliação transferência precoce ao centro de trauma.
Se o tempo para intervenção cirúrgica for superior a 1
Avalie todas as extremidades lesadas quanto à presença hora, uma única tentativa de desinsulflar o torniquete
de hemorragia aparente, perda de pulso palpável e pode ser considerada em um doente estável. Os riscos
mudanças na qualidade do pulso, alterações no Doppler do uso do torniquete aumentam com o tempo; se o
e índice tornozelo/braquial. O índice tornozelo/braquial torniquete precisar ser mantido no local por um tempo
é determinado mensurando-se o valor da pressão arterial prolongado para salvar a vida, a escolha da vida em
sistólica no tornozelo do membro inferior lesionado e detrimento do membro deve ser feita.
dividindo-se pela pressão arterial sistólica do membro O uso da arteriografia e outras ferramentas diagnósticas
superior não lesionado. Uma extremidade fria, pálida e é indicado apenas em doentes reanimados que não
sem pulso indica a interrupção do suprimento sanguíneo possuam anormalidades hemodinâmicas; outros doentes
arterial. Um hematoma em rápida expansão sugere lesão com lesões vasculares evidentes requerem cirurgia
vascular significativa. imediata. Se houver suspeita ou confirmação de uma
lesão arterial grave, consulte imediatamente um cirurgião
Tratamento especialista em trauma vascular e de extremidades.
A aplicação de clamp vascular em ferimentos abertos
Uma abordagem gradual para controlar a hemorragia com hemorragia ativa enquanto o doente está no
começa com a pressão manual direta sobre o ferimento departamento de emergência não é recomendada,
(bleedingcontrol.org fornece treinamento para leigos em a menos que um vaso superficial seja claramente
controle de hemorragias). Um curativo compressivo é identificado. Se houver uma fratura associada a um
então aplicado, utilizando-se uma pilha de gaze mantida no ferimento aberto com hemorragia, realinhe e imobilize
local por uma bandagem elástica para concentrar a pressão a fratura enquanto uma segunda pessoa aplica pressão
sobre a ferida. Se a hemorragia persistir, aplique pressão direta sobre o ferimento. Se possível, as luxações devem
direta na artéria proximal à lesão. Caso a hemorragia ser reduzidas; se não for possível reduzir a luxação, uma
continue, considere a aplicação de um torniquete manual intervenção ortopédica de emergência deve ser solicitada.
(como um dispositivo de molinete) ou um torniquete A amputação, uma forma grave de fratura exposta que
pneumático aplicado diretamente sobre a pele (n FIGURA 8-2). resulta na perda de uma extremidade, é um evento traumático
Aperte o torniquete até que a hemorragia pare. Um para o doente, tanto física como emocionalmente. Doentes
torniquete aplicado corretamente deve ocluir o fluxo com amputação traumática podem se beneficiar do uso
arterial, pois a oclusão apenas do sistema venoso pode do torniquete. É necessária uma avaliação e intervenção
aumentar a hemorragia e resultar em edema e cianose da de um cirurgião. Certas mutilações de extremidades com
extremidade. Um torniquete pneumático pode exigir uma isquemia prolongada, lesão nervosa e danos musculares
pressão superior a 250 mmHg nos membros superiores podem requerer uma amputação. A amputação pode salvar
e 400 mmHg nas extremidades inferiores. Assegure que a vida de um doente com anormalidades hemodinâmicas
decorrentes de lesão de extremidade.
Embora o potencial para reimplante deva ser
considerado nos membros superiores, deve-se levar em
consideração as outras lesões do doente. Um doente com
múltiplas lesões que necessita de reanimação agressiva
e/ou cirurgia de emergência da extremidade ou outras
lesões não é um candidato para reimplante. O reimplante
geralmente é realizado em doentes com lesão isolada de
extremidade. Para o tratamento e tomada de decisão,
transporte os pacientes vítimas de amputação traumática
de extremidade superior para uma equipe cirúrgica
especialista em procedimentos de reimplante.
Nesses casos, lave bem a parte amputada em solução
isotônica (p. ex., Ringer lactato) e envolva-a em gaze estéril
umedecida. Então envolva a parte em uma toalha estéril
umedecida, coloque em uma sacola plástica e transporte
n FIGURA 8-2  O uso criterioso do torniquete pode salvar vidas e/ou junto com o doente em um recipiente resfriado com gelo
o membro na presença de hemorragia ativa. picado. Tenha cuidado para não congelar a parte amputada.
­152 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

fraturas de fêmur bilateral Tratamento

Doentes que apresentam fratura de fêmur bilateral Iniciar infusão precoce e agressiva de fluidos intravenosos
possuem um risco significativamente maior de durante a reanimação é fundamental para proteger
complicações e morte. Essas fraturas indicam que o os rins e prevenir a insuficiência renal em doentes
paciente foi submetido a uma força significativa e com rabdomiólise. A insuficiência renal induzida
devem alertar aos médicos sobre a possibilidade de pela mioglobina pode ser prevenida com a expansão
lesões associadas. Comparados com pacientes com fluídica intravascular, alcalinização da urina através
fratura de fêmur unilateral, esses doentes apresentam da administração de bicarbonato e diurese osmótica.
maior risco de perda sanguínea significativa, lesões
associadas graves, complicações pulmonares, falência
múltipla de órgãos e morte. Esses doentes devem MEDIDA S AUX ILI A RES À
ser avaliados e tratados da mesma forma do que
aqueles com fratura de fêmur unilateral. Considere a
AVA LI AÇÃO PRIM Á RI A
transferência precoce para um centro de trauma.
As medidas auxiliares à avaliação primária de doentes
portadores de trauma musculoesquelético incluem
armadilha prevenção imobilização de fraturas e estudos radiográficos,
quando a fratura é suspeita como sendo a causa do
Demora na • Transfira doentes com
choque.
transferência para um lesão vascular e fratura
centro de trauma. concomitante para um
centro de trauma com
imobilização de fraturas
capacidade cirúrgica
vascular e ortopédica. O objetivo inicial da imobilização de fraturas é realinhar
• Fratura bilateral de fêmur a extremidade lesionada o mais próximo possível da
resulta em um significativo posição anatômica e prevenir o excesso de movimento
aumento no risco de no local da fratura. Isso é feito aplicando-se uma tração
complicações e morte; para realinhar a extremidade e mantendo a tração
esses doentes se beneficiam com um dispositivo de imobilização (n FIGURA 8-3).
da transferência precoce A aplicação adequada da tração auxilia no controle
para um centro de trauma.
da hemorragia, reduz a dor e previne posterior
comprometimento neurovascular e de partes moles.
Se uma fratura exposta estiver presente, não alinhe o
síndrome de crush osso exposto para dentro do ferimento, pois as fraturas

A síndrome de Crush, ou rabdomiólise traumática, refere-


se aos efeitos clínicos da lesão muscular que, se não for
tratada, pode causar insuficiência renal aguda e choque.
Essa condição é vista em indivíduos que apresentam
significativa lesão muscular por esmagamento, mais
frequentemente na coxa ou panturrilha. A lesão
muscular é uma combinação da lesão muscular direta,
isquemia e morte celular com liberação de mioglobina.

Avaliação

A mioglobina produz urina de coloração âmbar escura


positiva para hemoglobina. O exame de mioglobina pode
ser solicitado para confirmar sua presença. Urina de A B
coloração âmbar na presença de creatinoquinase sérica
n FIGURA 8-3  O objetivo inicial da imobilização de fraturas é
de 10.000 U/L ou mais é indicativo de rabdomiólise realinhar a extremidade lesionada para o mais próximo possível da
quando os níveis de mioglobina na urina não estão posição anatômica e prevenir movimentação no local da fratura. A.
disponíveis. A rabdomiólise pode levar à acidose Encurtamento e rotação externa da perna direita em decorrência
metabólica, hipercalemia, hipocalcemia e coagulação de fratura no terço médio do fêmur B. Aplicação de tração com
intravascular disseminada. estabilização da perna em posição anatômica normal.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 153

expostas necessitam de desbridamento cirúrgico. Em aparentes de imediato. (Ver Biomecânica da Lesão.)


doentes com fratura exposta, remova a contaminação O médico deve reconstruir mentalmente a cena do
grosseira e partículas de sujeira do ferimento e incidente, considerar outras potenciais lesões que o
administre doses de antibiótico de acordo com o peso doente pode apresentar e determinar o máximo possível
o mais precocemente possível. (Ver Apêndice G: Estação das seguintes informações:
Prática Circulação.)
Médicos qualificados podem tentar reduzir a luxação. 1. Qual era a localização do doente antes da colisão?
Se a redução for bem-sucedida, imobilize em posição Em uma colisão automobilística, a localização do
anatômica com imobilizadores pré-fabricados, doente antes do incidente (p. ex., motorista ou
travesseiros ou gesso para manter a extremidade passageiro) pode sugerir o tipo de fratura – por
reduzida na posição. exemplo, uma fratura lateral por compressão da
Se a redução não for realizada com sucesso, imobilize pelve pode resultar de uma colisão lateral.
a articulação na posição em que ela foi encontrada. 2. Qual era a localização do doente após a colisão –
Aplique imobilizadores o mais precocemente possível, dentro ou fora do veículo? Estava fazendo uso do
pois eles ajudam a controlar a hemorragia e a dor. cinto de segurança ou o airbag foi acionado? Essas
Entretanto, os esforços de reanimação devem ter informações podem indicar certos padrões de lesão.
prioridade sobre a imobilização. Avalie o estado Se o doente foi ejetado, determine a distância que
neurovascular da extremidade antes e após a o doente foi arremessado, assim como em que
manipulação e imobilização. condições ele atingiu o solo. A ejeção geralmente
resulta em padrões de lesão graves e imprevisíveis.
estudos radiográficos
3. O veículo estava danificado externamente, por
Embora estudos radiográficos sejam apropriados exemplo, teve a frente amassada devido a um
durante a avaliação secundária para a maioria das impacto frontal? Essa informação levanta a
lesões de extremidades, eles podem ser realizados suspeita de luxação de quadril.
durante a avaliação primária quando existe a suspeita 4. O veículo teve seu interior, como o painel,
de que uma fratura é a causa do choque. A decisão sobre danificado? Esse achado indica uma grande
quais estudos radiográficos obter e quando obtê-los é probabilidade de lesão dos membros inferiores.
determinada pelos achados físicos e clínicos do doente,
5. O doente caiu? Se sim, qual foi a altura e em que
seu estado hemodinâmico e mecanismo de trauma.
posição o doente foi encontrado? Essas infor-
mações auxiliam a identificar o espectro das lesões.

avali aç ão secundá r i a 6. O doente foi esmagado por algum objeto? Em


caso afirmativo, identifique o peso do objeto, o
local da lesão e a duração da aplicação do peso
A história e o exame físico são elementos importantes nesse local. Dependendo se uma superfície
na avaliação secundária de doentes portadores de lesões óssea, subcutânea ou área muscular foi atingida,
musculoesqueléticas. diferentes graus de lesão de partes moles podem
ocorrer, variando de uma simples contusão a uma
História grave lesão por desluvamento com síndrome
compartimental e perda de partes moles.
Os aspectos chave da história do doente são: mecanismo 7. Ocorreu uma explosão? Em caso afirmativo, qual
de trauma, ambiente, estado anterior ao trauma, foi a magnitude e qual era a distância do doente
fatores predisponentes, observações e cuidados em relação ao local da explosão? Um indivíduo
pré-hospitalares. próximo à explosão pode sofrer lesão primária
em decorrência da força da onda de explosão.
Uma lesão secundária pode ser causada por
Mecanismo de Lesão debris e outros objetos acelerados devido à força
da explosão (p. ex., fragmentos), ocasionando
As informações obtidas do doente, familiares, equipe ferimentos penetrantes, lacerações e contusões.
pré-hospitalar e de transporte, e testemunhas no local O doente também pode ser arremessado
da cena devem ser documentadas e incluídas como violentamente contra o chão ou outros objetos em
parte do prontuário do doente. É particularmente consequência do efeito da explosão, acarretando
importante determinar o mecanismo de trauma, que lesões musculoesqueléticas e outras lesões (lesão
pode auxiliar a identificar lesões que podem não ser terciária por explosão).
­154 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

n FIGURA 8-4  Os pontos de impacto


variam de acordo com o veículo e o
indivíduo, por exemplo, de acordo com
a altura do veículo e o tamanho e idade
do doente.

8. O doente estava envolvido em uma colisão entre


veículo e pedestre? Lesões musculoesqueléticas Observações e Cuidados Pré-Hospitalares
seguem padrões previsíveis, tomando-se como
base o tamanho e a idade do doente (n FIGURA 8-4). Todas as observações e cuidados pré-hospitalares devem
ser reportados e documentados. Achados no local do
incidente que podem auxiliar a identificar lesões incluem:
Ambiente
•• O horário da lesão, especialmente se houver
A equipe de atendimento pré-hospitalar deve ser hemorragia ativa, fratura exposta e demora
para chegar ao hospital.
questionada a respeito das seguintes informações
sobre o ambiente após a colisão: •• Posição em que o doente foi encontrado.
•• Hemorragia ou poças de sangue na cena, incluindo
1. O doente sofreu uma fratura exposta em um quantidade estimada de sangue perdido.
ambiente contaminado? •• Extremidades de ossos ou fraturas que possam
2. O doente foi exposto a temperaturas extremas? ter sido expostas.
•• Ferimentos abertos próximos de fraturas
3. Havia fragmentos de vidro quebrado, o que evidentes ou em locais com suspeita de fraturas.
também pode causar lesões no examinador?
•• Deformidades ou luxações evidentes.
4. Havia alguma fonte de contaminação bacteriana,
bem como sujeira, fezes de animais, água doce ou •• Qualquer mecanismo de esmagamento que
salgada? possa resultar em síndrome de Crush.
•• Presença ou ausência de função motora e/ou
Essas informações podem auxiliar o médico a antecipar sensorial em cada extremidade.
problemas e determinar o início do tratamento com •• Qualquer demora nos procedimentos de
antibióticos. retirada ou transporte.
•• Alterações na função, perfusão ou estado
Estado Anterior ao Trauma e Fatores neurológico do membro, especialmente após
Predisponentes a imobilização ou durante o transporte para o
hospital.
Quando possível, determine quais eram as condições •• Redução de fraturas ou luxações durante a
de saúde do doente antes da lesão. Essa informação retirada ou imobilização na cena.
pode modificar a compreensão do estado do doente, •• Curativos realizados e talas aplicadas, dando
ajudar a determinar o regime terapêutico e os resultados atenção especial para a possibilidade de ter sido
do tratamento. Uma história AMPLA deve ser obtida, aplicada pressão excessiva sobre proeminências
incluindo informações sobre a tolerância do doente a ósseas, que pode resultar em lesões por
compressão de nervos periféricos ou síndrome
atividades físicas e nível de atividade, ingestão de bebidas compartimental.
alcoólicas e/ou outros tipos de drogas, problemas ou
•• Horário da colocação do torniquete, se aplicável.
doenças emocionais e lesões musculoesqueléticas
prévias.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 155

exame físico
tabela 8-1 deformações em
Para um exame completo, o doente deve ser luxações articulares mais comuns
completamente despido, tomando-se cuidado para
evitar a hipotermia. As lesões evidentes de extremidades ARTICU-
geralmente são imobilizadas antes que o doente chegue LAÇÃO DIREÇÃO DEFORMIDADE
ao departamento de emergência. A avaliação das
extremidades do doente traumatizado tem três objetivos: Ombro Anterior Assume uma forma
retangular

1. Identificar as lesões que podem colocar a vida em Posterior Fica travado em


risco (avaliação primária). rotação interna

2. Identificar lesões que podem colocar o membro em


Cotovelo Posterior O olécrano
risco (avaliação secundária). faz saliência
3. Proceder a uma revisão sistemática a fim de evitar posteriormente
que quaisquer lesões musculoesqueléticas passem
despercebidas (reavaliação contínua). Quadril Anterior Fletido,
abduzido, rodado
A avaliação do trauma musculoesquelético inclui externamente
examinar e conversar com o doente, palpando as Posterior Fletido,
extremidades e realizando uma revisão lógica e aduzido, rodado
sistemática de cada extremidade. Para evitar que alguma internamente
lesão passe despercebida, a avaliação da extremidade
deve incluir quatro componentes: pele, que protege o Joelho Antero-posterior Perda do contorno
normal, estendido
doente da perda excessiva de fluidos e infecções, função *Pode reduzir-se
neuromuscular, estado circulatório e integridade de ossos espontaneamente
antes que o exame
e ligamentos . (Ver Apêndice G: Avaliação Secundária.) físico seja realizado

Olhe e Pergunte Tornozelo A mais comun é Rodado


a lateral externamente,
maléolo medial
Avalie visualmente as extremidades quanto à coloração proeminente
e perfusão, presença de ferimentos, deformidades (p.
ex., angulação ou encurtamento), edema e escoriações. Articulação A mais comun é Deslocamento
Uma rápida inspeção visual de todo o doente irá auxiliar subtalar a lateral lateral do osso do
calcâneo
a identificar fontes de hemorragia externa importantes.
A palidez acentuada de uma extremidade sugere a
falta de fluxo arterial. Extremidades edemaciadas na
altura de grandes grupos musculares pode indicar sinal de comprometimento funcional. Quando o doente
uma lesão por esmagamento prestes a evoluir para colabora, os membros da equipe de trauma podem avaliar
síndrome compartimental. Edema ou equimose sobre a função muscular e nervosa solicitando ao doente para
uma articulação ou ao seu redor, ou ainda no tecido movimentar grupos musculares importantes. A habilidade
subcutâneo que recobre um osso, é sinal de trauma de movimentar todas as principais articulações em toda a
musculoesquelético. A deformidade de uma extremidade sua extensão de movimento costuma indicar que a unidade
é um sinal evidente de trauma significativo. A n TABELA neuromuscular está intacta e a articulação está estável.
8-1 descreve as deformidades articulares comuns.
Inspecione todo o corpo do doente à procura de Palpe
ferimentos e abrasões. Ferimentos abertos podem não
ser evidentes quando localizados no dorso; role o doente Palpe as extremidades para avaliar a sensibilidade da pele
cuidadosamente em bloco para procurar possíveis lesões (função neurológica) e identificar áreas de sensibilidade,
nessa região. (Ver vídeo Rolamento em Bloco no aplicativo as quais podem indicar possíveis fraturas. A perda da
móvel MyATLS) Qualquer ferimento aberto no membro, sensibilidade à dor e ao toque indica a presença de lesão
com fratura associada, é considerado fratura exposta até medular ou de nervos periféricos. Áreas de sensibilidade
que um cirurgião prove o contrário. ou dor à palpação dos músculos pode indicar contusão
Observar a função motora espontânea da extremidade muscular ou fratura. Se a dor, a sensibilidade e o edema
do doente ajuda a identificar qualquer comprometimento estiverem associados a uma deformidade ou movimento
neurológico e/ou muscular. Se o doente estiver inconsciente, anormal através do osso, deve-se suspeitar de fratura. Não
a ausência de movimentos espontâneos pode ser o único
­156 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

tente provocar crepitação ou demonstrar movimentos


anormais do membro.
A estabilidade articular pode ser diagnosticada
simplesmente por meio da realização do exame clínico.
Movimentos anormais através do segmento articular
indicam ruptura ligamentar ou tendínea. Palpe a articulação
para identificar qualquer edema e sensibilidade dos
ligamentos, bem como a presença de fluido intra-articular.
Em seguida, a estimulação cautelosa dos ligamentos pode
ser realizada. Dor excessiva pode mascarar a movimentação
anormal do ligamento em virtude da reação de defesa por
meio de contração muscular ou espasmo; nessas condições,
o exame deve ser repetido posteriormente.

Avaliação da Circulação
n FIGURA 8-5  Palidez cutânea associada com fratura e luxação irá
levar rapidamente à necrose de partes moles. O propósito da rápida
Palpe os pulsos distais de cada extremidade e avalie o redução da lesão é prevenir a necrose por pressão das partes moles
tempo de reenchimento capilar dos dedos. Quando a da região lateral do tornozelo.
hipotensão dificulta a palpação do pulso, pode-se utilizar
um Doppler para detectar o fluxo sanguíneo de uma Caso haja demora na obtenção dos estudos radiográficos,
extremidade. O sinal do Doppler deve ser trifásico para deve-se realizar redução ou realinhamento imediatos
assegurar que não exista qualquer lesão proximal. A perda da extremidade, a fim de restabelecer o suprimento
da sensibilidade de distribuição “em luva ou meia” pode sanguíneo arterial, bem como reduzir a pressão sobre
ser um sinal precoce de comprometimento vascular. a pele. O alinhamento pode ser mantido por meio da
Em doentes hemodinamicamente normais, discrepâncias utilização de técnicas de imobilização adequadas.
entre pulsos, pele fria, palidez, parestesia e até mesmo
anormalidades motoras são sinais sugestivos de lesão
arterial. Ferimentos abertos e fraturas nas proximidades LESÕES QUE COLO C A M O
de artérias podem ser indícios da presença de lesão arterial.
A luxação de joelho pode reduzir-se espontaneamente e MEMBRO EM RIS CO
pode apresentar-se sem nenhuma anormalidade externa
grosseira ou alterações radiográficas até que o exame físico Lesões de extremidade que podem comprometer o
da articulação seja realizado e a instabilidade seja detectada membro incluem fraturas expostas e lesões articulares,
clinicamente. Um índice tornozelo-braquial menor do que lesões vasculares, síndrome compartimental e lesões
0,9 indica a presença de fluxo arterial anormal secundário neurológicas secundárias à fratura ou luxação.
à lesão ou doença vascular periférica. Hematomas em
expansão e hemorragias pulsáteis provenientes de um FRATURAS E LESÕES ARTICULARES EXPOSTAS
ferimento aberto também são indicativos de lesão arterial.
As fraturas e lesões articulares expostas representam
Estudo Radiográfico uma comunicação entre o ambiente externo e o osso ou
articulação (n FIGURA 8-6). Para que isso ocorra, o músculo
O exame clínico de doentes com lesões e a pele devem estar lesionados e o grau de lesão das
musculoesqueléticas geralmente sugerem a necessidade partes moles é proporcional à energia aplicada. Essa lesão,
de estudos radiográficos. Sensibilidade associada a juntamente com a contaminação bacteriana, torna as
deformidade óssea frequentemente corresponde a fraturas expostas propensas a desenvolver infecções,
uma fratura. Se o doente estiver hemodinamicamente problemas de cicatrização e de função.
normal, obtenha um estudo radiográfico. A presença de
coleções líquidas, sensibilidade anormal ou deformidade Avaliação
nas articulações sugere lesão articular ou luxação que
deve ser estudada por meio de estudos radiográficos. A A presença de uma fratura exposta ou um ferimento
única razão para não se realizar um estudo radiográfico aberto da articulação deve ser imediatamente identificada.
antes de realizar a redução de uma luxação ou fratura é O diagnóstico de uma fratura exposta baseia-se no exame
a presença de comprometimento vascular ou de ruptura físico da extremidade que apresenta, necessariamente,
iminente da pele. Essa condição é comumente vista em um ferimento aberto no mesmo segmento do membro
fraturas-luxação do tornozelo (n FIGURA 8-5). com uma fratura. Não se deve explorar a ferida.
LESÕES QUE COLOCAM O MEMBRO EM RISCO 157

pulsos distais. Deve-se fazer a profilaxia para o tétano.


(Ver Imunização antitetânica.)

armadilha prevenção
Falha em administrar • Reconhecer a infecção
antibioticoterapia como um risco potencial
precoce em doentes em doentes portadores de
com fraturas expostas. fraturas expostas.
• Administrar doses
adequadas de antibióticos
apropriados, de acordo com
o peso, assim que houver
suspeita de fratura exposta.
n FIGURA 8-6  Exemplo de fratura exposta. Fraturas expostas
e luxações são lesões propensas a problemas como infecção,
dificuldade de cicatrização e disfunção do membro.
lesões vasculares
A documentação das feridas abertas inicia-se na fase
pré-hospitalar com a descrição inicial da lesão e qualquer Deve-se suspeitar fortemente da presença de lesão
tratamento realizado na cena. Quando há uma ferida vascular sempre que for constatada a existência de
aberta sobre uma articulação ou nas proximidades desta, insuficiência vascular de um membro após um trauma,
deve-se presumir que essa lesão está em conexão com a seja ele contuso, penetrante, aberto, fechado, por
articulação ou nela penetra. A presença de uma lesão aberta esmagamento ou por torção.
de articulação pode ser identificada utilizando-se a TC.
Se a TC indicar a presença de ar no interior da articulação Avaliação
na extremidade afetada é um forte indício de uma lesão
aberta. Se a TC não estiver disponível, considerar a infusão O membro pode parecer inicialmente viável, pois muitas
de solução salina ou corante na articulação para determinar vezes a extremidade possui alguma circulação colateral
se a cavidade articular se comunica com a ferida. Se houver que garante um fluxo sanguíneo suficiente. Uma lesão
suspeita de uma lesão articular aberta, deve-se solicitar vascular parcial faz com que, distalmente à lesão, o
a avaliação de um ortopedista, uma vez que exploração membro apresente redução da temperatura e que haja
cirúrgica e desbridamento podem ser indicados. alongamento do tempo de enchimento capilar, bem
como diminuição do pulso periférico e alteração do índice
Tratamento tornozelo/braquial. Quando existe a interrupção completa
do fluxo sanguíneo, o segmento distal da extremidade
As decisões de tratamento devem ser baseadas na torna-se frio e pálido e não há pulsos palpáveis.
história completa do incidente e avaliação da lesão. Trate
com antibiótico, o mais precocemente possível, todos Tratamento
os doentes com fraturas expostas. As cefalosporinas de
primeira geração são necessárias para todos os doentes A interrupção do aporte sanguíneo a uma extremidade deve
com fraturas expostas (n TABELA 8-2). Uma demora ser reconhecida prontamente e as medidas terapêuticas
maior do que 3 horas para iniciar a administração de cabíveis devem ser tomadas em caráter de emergência.
antibióticos aumenta o risco de infecções. A revascularização cirúrgica precoce é necessária
Remova toda a contaminação grosseira e partículas para restaurar o fluxo arterial de uma extremidade
de sujeira do ferimento o mais brevemente possível isquêmica. A necrose muscular inicia quando existe
e cubra o ferimento com curativo umedecido estéril. uma interrupção do fluxo arterial por mais de 6 horas.
Aplique imobilização adequada após descrever Os nervos são mais sensíveis à anóxia. Se houver fratura
detalhadamente o ferimento e determinar se existe associada, corrija-a tracionando gentilmente o membro,
algum comprometimento circulatório, neurológico e realinhando-o e mantendo a extremidade imobilizada.
de partes moles. É necessária a pronta avaliação de um Essa manobra geralmente é suficiente para restabelecer
cirurgião. O doente deve ser adequadamente reanimado o fluxo sanguíneo a uma extremidade isquêmica quando
e, se possível, estabilizado hemodinamicamente. A existe uma oclusão arterial causada por deformidade ou
seguir, procede-se ao desbridamento cirúrgico das encurtamento do membro em decorrência de uma fratura.
feridas, à estabilização das fraturas e à confirmação dos
­158 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

tabela 8-2 guia de administração de antibiótios intravenosos

SE ALERGIA A
PENICILINA (NO
CEFALOSPORINAS DE LUGAR DE AMINOGLICOSÍDEO PIPERACILINA/
PRIMEIRA GERAÇÃO CEFALOSPORINAS (COBERTURA GRAM- TAZOBACTAM
(COBERTURA GRAM- DE PRIMEIRA NEGATIVA) (COBERTURA DE
POSITIVA) GERAÇÃO) AMPLO ESPECTRO
FRATURAS GRAM-POSITIVO E
EXPOSTAS CEFAZOLINA CLINDAMICINA GENTAMICINA NEGATIVO)

Ferimento <1 cm, <50 kg: 1 g Q 8 h <80 kg: 600 mg Q 8 h


com contaminação 50–100 kg: 2 g Q 8 h >80 kg: 900 mg Q 8 h
ou lesão de partes >100 kg: 3 g Q 8 h
moles mínima

Ferimento 1-10 cm, <50 kg: 1 g Q 8 h <80 kg: 600 mg Q 8 h


com lesão moderada 50–100 kg: 2 g Q 8 h >80 kg: 900 mg Q 8 h
de partes moles, >100 kg: 3 g Q 8 h
fratura cominutiva

Lesão severa de <50 kg: 1 g Q 8 h <80 kg: 600 mg Q 8 h Dose de ataque no PS:
partes moles e 50–100 kg: 2 g Q 8 h >80 kg: 900 mg Q 8 h
contaminação >100 kg: 3 g Q 8 h 2,5 mg/kg para
substancial com crianças (ou <50 kg)
lesão vascular 5 mg/kg para adultos
associada
(p. ex., 150 lb=340 mg)

Campo, água parada, 3,375 g Q 6 h (<100 kg)


solo contaminado,
independentemente 4,5 g Q 6 h (>100 kg)
do tamanho da lesão
** se alérgico a
penicilina, consultar
o departamento de
doenças infecciosas
ou farmacêutico.

Fonte: Schmitt SK, Sexton DJ, Baron EL. Treatment and Prevention of Osteomyelitis Following Trauma in Adults. UpToDate. http://www.uptodate.com/
contents/treatment-and-prevention-of-osteomyelitis-following-trauma-in-adults. October 29, 2015; O’Brien CL, Menon M, Jomha NM. Controversies in
the management of open fractures. Open Orthop J 2014;8:178–184.

Quando houver lesão arterial concomitante com uma Portanto, é necessário realizar e documentar a avaliação
luxação, o médico deve se atentar para realizar manobras neurovascular da extremidade antes e após a imobilização.
de redução suaves. Caso contrário, ele deve simplesmente O comprometimento vascular pode ser identificado pela
imobilizar a articulação lesionada e consultar um perda ou alteração do pulso distal, mas a dor excessiva
cirurgião. Uma angiotomografia pode ser realizada para após a imobilização deve ser investigada. Doentes com
avaliar a extremidade, mas tal procedimento não deve talas também podem ter comprometimento vascular.
retardar o restabelecimento do fluxo arterial e é indicado Afrouxe imediatamente imobilizadores, talas gessadas
apenas após a avaliação de um cirurgião. e curativos circunferenciais se houver qualquer sinal de
O potencial para comprometimento vascular existe comprometimento vascular e então reavalie a circulação.
mesmo quando a extremidade lesionada é imobilizada.
LESÕES QUE COLOCAM O MEMBRO EM RISCO 159

síndrome compartimental •• Pressão prolongada e localizada sobre a


extremidade
A síndrome compartimental desenvolve-se quando •• Aumento da permeabilidade capilar secundária
a pressão no compartimento osteofacial do músculo à revascularização da musculatura
é suficiente para produzir isquemia e necrose •• Queimaduras
subsequente. A isquemia pode ser causada pelo aumento
do tamanho do conteúdo do compartimento (p. ex., •• Atividade física excessiva
hemorragia intracompartimental ou edema secundário à O n QUADRO 8-1 lista os sintomas da síndrome
revascularização de uma extremidade isquêmica) ou pela compartimental. O diagnóstico precoce é o aspecto central
diminuição das dimensões do compartimento (p. ex., no tratamento da síndrome compartimental. Um alto
curativo apertado). A síndrome compartimental pode índice de suspeição é importante, sobretudo quando o
ocorrer em qualquer lugar onde o músculo esteja contido doente possui alteração do nível de consciência e é incapaz
dentro de um espaço fechado delimitado pela fáscia. de responder apropriadamente à dor. A ausência de pulso
Lembre que, em determinadas circunstâncias, a pele distal palpável é um achado incomum e tardio, e não é
também pode funcionar como uma membrana inelástica. necessário para o diagnóstico de síndrome compartimental.
As regiões nas quais a síndrome compartimental ocorre O tempo de reenchimento capilar também não é confiável
com maior frequência incluem perna, antebraço, pés, para o diagnóstico. Fraqueza ou paralisia da musculatura
mãos, região glútea e coxa (n FIGURA 8-7). no membro afetado é um sinal tardio e indica lesão nervosa
A demora no reconhecimento e tratamento da ou muscular. O diagnóstico clínico baseia-se no mecanismo
síndrome compartimental é catastrófica e pode resultar do trauma e nos sinais clínicos associados a um alto índice
em défice neurológico, necrose muscular, contratura de suspeita. Se o pulso estiver anormal, a possibilidade de
isquêmica, infecção, demora na cicatrização de fraturas uma lesão vascular próxima à lesão deve ser considerada.
e possível amputação. Quando se suspeita de síndrome compartimental, a
medida da pressão intracompartimental pode auxiliar
Avaliação no diagnóstico. Pressão tecidual superior a 30 mmHg
sugere diminuição do fluxo sanguíneo capilar, o que pode
Qualquer lesão de extremidades pode causar síndrome provocar lesão anóxica ao músculo e ao nervo. A pressão
compartimental. Entretanto, certas lesões ou atividades sanguínea também é importante: quanto menor for a
são consideradas de maior risco, incluindo: pressão sistêmica, menor será a pressão compartimental
necessária para provocar a síndrome compartimental.
•• Fraturas de tíbia e antebraço O diagnóstico da síndrome compartimental é clínico. A
•• Lesões imobilizadas com curativos apertados mensuração da pressão é apenas uma medida para auxiliar
ou gesso no diagnóstico.
•• Lesão por esmagamento grave
quadro 8-1 sinais e sintomas da
síndrome compartimental
Compartimento
anterior • Dor maior que a esperada e desproporcional ao
estímulo ou à lesão
Compartimento Tíbia • Dor ao estiramento passivo da musculatura afetada
lateral
• Edema tenso do compartimento
Compartimento • Parestesia ou alteração da sensibilidade distal ao
posterior compartimento afetado
profundo
Fíbula Nervos e
veias
Tratamento

A síndrome compartimental é uma agressão cuja evolução


Compartimento depende do tempo e da pressão. Quanto maior for a pressão
superficial posterior
do compartimento e quanto mais tempo ela permanecer
n FIGURA 8-7  Síndrome Compartimental. Tal condição ocorre elevada, maior será o grau de dano neuromuscular e
quando a pressão no interior do compartimento osteofascial consequente défice funcional. Se houver suspeita de
aumenta, causando isquemia e necrose subsequente. A ilustração de
uma secção transversal da parte inferior da perna mostra a anatomia síndrome compartimental, afrouxe imediatamente
e as relações dos quatro compartimentos musculofasciais. curativos, imobilizações e talas gessadas da extremidade
­160 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

afetada e consulte imediatamente um cirurgião. O A determinação do comprometimento neurológico é


único tratamento para a síndrome compartimental é importante e as alterações progressivas, por ventura
a fasciotomia (n FIGURA 8-8). A demora na realização da existentes, devem ser documentadas.
fasciotomia pode resultar em mioglobinúria, que pode Ao exame físico, costuma-se notar deformidade
causar diminuição da função renal. A avaliação de um da extremidade. A avaliação da função nervosa
cirurgião deve ser feita precocemente em caso de suspeita geralmente requer um doente cooperativo. Para cada
ou diagnóstico comprovado de síndrome compartimental. nervo periférico, é importante que se confirme, de
modo sistemático, a preservação da função motora
LESÃO NEUROLÓGICA SECUNDÁRIA À voluntária e da sensibilidade. As n  TABELA 8-3 e n TABELA
FRATURA OU LUXAÇÃO 8-4 discriminam a avaliação dos nervos periféricos dos
membros superiores e inferiores, respectivamente (Ver
Uma fratura ou, em particular, uma luxação pode causar também Avalição dos Nervos Periféricos dos Membros
lesão neurológica significativa devido à proximidade Superiores e Avaliação dos Nervos Periféricos dos
do nervo com a articulação e o osso (p. ex., compressão Membros inferiores no aplicativo móvel App MyATLS.)
do nervo ciático resultante da luxação posterior do A avaliação da musculatura deve incluir a palpação do
quadril e da lesão do nervo axilar por luxação anterior do músculo durante a contração.
ombro). A recuperação funcional do membro depende do Na maioria dos doentes traumatizados portadores de
reconhecimento precoce e tratamento adequado da lesão. múltiplas lesões, é difícil proceder à avaliação inicial
da função nervosa. Entretanto, a avaliação deve ser
Avaliação repetida continuamente, principalmente depois que o
Um exame minucioso do sistema neurológico é essencial doente estiver estabilizado. A progressão de qualquer
em doentes portadores de lesão musculoesquelética. disfunção indica que a compressão sobre os nervos
continua. O aspecto mais importante da avaliação
neurológica é a documentação de sua evolução ao
armadilha prevenção longo do tempo. Essa informação também é importante
para decidir quanto à realização de um eventual
Demora no • Manter alto índice de suspeita procedimento cirúrgico.
reconhecimento em qualquer doente com lesão
da síndrome musculoesquelética aguda.
compartimental.
Tratamento
• Estar ciente de que a síndrome
compartimental pode ser de difícil
A lesão deve ser reduzida e imobilizada. Esse
diagnóstico em doentes com nível
de consciência alterado.
procedimento deve ser feito cuidadosamente por
• Reavaliar frequentemente, em médicos qualificados, seguido pela reavaliação
busca de sinais de síndrome neurológica do membro. Se a redução foi realizada com
compartimental, aqueles doentes sucesso, o médico que conduzirá o caso no tratamento
com nível de consciência alterado. subsequente deverá ser notificado de que a articulação
encontrava-se luxada e que foi reduzida com sucesso.

A B
n FIGURA 8-8  Fasciotomia para Tratamento da Síndrome Sompartimental. A. Foto do intraoperatório mostrando fasciotomia do antebraço
decorrente de síndrome de Crush. B. Foto pós-cirúrgica mostrando uma incisão medial da perna para descompressão da síndrome.
OUTRAS LESÕES DOS MEMBROS 161

lesão vascular e/ou neurológica. Em geral, as lacerações


Outras lesões dos membros requerem desbridamento e fechamento. Se o ferimento se
estender até abaixo do nível da fáscia, torna-se necessária
Outras lesões significativas de extremidades incluem uma intervenção cirúrgica para um desbridamento mais
contusões, lacerações, lesões articulares e fraturas. completo e para avaliar se existem outras lesões mais
profundas.
Contusões e lacerações As contusões são habitualmente reconhecidas pela
presença de dor, edema e sensibilidade. Se o doente for
Qualquer contusão e/ou ferimento, por mais simples avaliado precocemente, as contusões são tratadas por meio da
que seja, deve ser avaliado à procura de uma possível imobilização da parte lesada e aplicação de compressas frias.

tabela 8-3 avaliação dos nervos periféricos dos membros superiores

NERVO MOTOR SENSAÇÃO LESÃO

Ulnar Abdução do dedo indicador Dedo mínimo Lesão do cotovelo

Mediano distal Contração com oposição tenar Dedo indicador Lesão do punho

Mediano, interósseo Flexão da ponta do indicador Nenhuma Fratura supracondiliana do


anterior úmero (crianças)

Musculocutâneo Flexão do cotovelo Face lateral do Diáfise distal do úmero e


antebraço luxação anterior do ombro

Radial Extensão do polegar, dos dedos Face dorsal da mão Colo distal do úmero, luxação
entre o polegar e do metacarpo entre 1º e 2º dedos anterior do ombro

Axilar Deltoide Face lateral do ombro Luxação anterior do ombro,


fratura proximal do úmero

tabela 8-4 avaliação dos nervos periféricos dos membros inferiores

NERVO MOTOR SENSAÇÃO LESÃO

Femoral Extensão do joelho Face anterior do joelho Fratura de ramos púbicos

Obturador Adução do quadril Face medial da coxa Fratura do anel obturador

Tibial posterior Flexão do hálux Planta do pé Luxação do joelho

Fistula superficial Eversão do tornozelo Face dorsolateral do pé Fratura do colo da fíbula,


luxação do joelho

Fibular profundo Dorsiflexão do tornozelo/hálux Face dorsolateral do pé entre Fratura do colo da fíbula,
o hálux e o segundo dedo síndrome compartimental

Ciático Dorsiflexão do tornozelo ou Pé luxação porterior do quadril


flexão plantar

Glúteo superior Abdução do quadril Porção superior da nádega Fratura de acetábulo

Glúteo inferior Extensão do quadril pelo glúteo maior Porção inferior da nádega Fratura de acetábulo
­162 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

A síndrome de Crush e o desluvamento interno devem a uma posição próxima à anatômica após a lesão e
ser suspeitados de acordo com o mecanismo de trauma. podem não ser facilmente identificadas. Em doentes
A síndrome de Crush pode ter início súbito e causar com múltiplas lesões ligamentares de joelho, a luxação
desvascularização e necrose muscular. A avulsão de pode estar presente e colocar o membro em risco para
partes moles pode desconectar a pele da fáscia profunda, lesão neurovascular. Geralmente é necessária a avaliação
permitindo o acúmulo de quantidades significativas de de um cirurgião para estabilização da articulação.
sangue na cavidade resultante (p. ex., lesão de Morel-Lavallée).
Alternativamente, a pele pode ter seu suprimento sanguíneo Fraturas
interrompido e apresentar necrose após alguns dias. Essa área
pode apresentar abrasões sobrepostas ou lesões de pele que As fraturas são definidas como soluções de continuidade
podem ser indícios de uma lesão muscular grave e potencial do córtex ósseo. Podem estar associadas a mobilidade
para síndrome de Crush. Essas lesões de partes moles podem anormal, lesão de partes moles, crepitação óssea e dor.
ser avaliadas melhor quando se tem conhecimento do As fraturas podem ser abertas ou fechadas.
mecanismo de trauma e palpando-se especificamente a área
lesada. Considere obter a avaliação de um cirurgião, pois a Avaliação
drenagem ou o desbridamento podem ser necessários.
O risco de tétano aumenta em ferimentos que ocorreram O exame da extremidade geralmente revela a existência
há mais de 6 horas, apresentam contusões e/ou abrasões, de dor, edema, deformidade, hiperestesia, crepitação e
apresentam profundidade superior a 1 cm, produzidos por mobilidade anormal no local da fratura. A mobilização
projéteis de alta velocidade, causados por queimaduras de do foco da fratura à procura de crepitações ou mobilidade
calor ou frio, e apresentam contaminação significativa, anormal é dolorosa e pode aumentar a lesão das partes
particularmente ferimentos com tecidos desnervados ou moles. Essas manobras raramente são necessárias para
isquêmicos (Ver Imunização Antitetânica.) realizar o diagnóstico e não devem ser realizadas de forma
rotineira ou repetida. Reavalie periodicamente o estado
lesões articulares e de ligamentos neurovascular do membro fraturado, principalmente se
um dispositivo de imobilização estiver sendo utilizado.
Quando a articulação apresenta uma lesão significativa, Estudos radiográficos em ângulos retos entre si confirmam
porém sem resultar em luxação, geralmente não representa a história e os achados físicos de fratura (n FIGURA 8-9).
um risco para a vitalidade do membro. Entretanto, o Dependendo do estado hemodinâmico do doente, o estudo
diagnóstico e tratamento precoce são importantes para radiográfico pode precisar ser adiado até que o doente esteja
que não haja comprometimento da função do membro. estabilizado. Os estudos radiográficos do provável foco de
fratura devem incluir as articulações proximais e distais, a fim
Avaliação de descartar luxações ocultas e outras lesões concomitantes.

Geralmente, o doente que apresenta lesões articulares


refere ter sofrido algum impacto anormal sobre a articulação,
por exemplo, um impacto na região tibial anterior impelindo
o joelho para trás, impacto na face lateral da perna que
empurra o joelho para dentro ou uma queda sobre o braço
estendido que ocasiona uma hiperextensão do cotovelo.
O exame físico demonstra hiperestesia ao longo dos
ligamentos comprometidos. Frequentemente ocorre uma
hemartrose, a não ser que a cápsula articular se rompa e
o sangue se espalhe nas partes moles. A movimentação
passiva do ligamento afetado revela instabilidade. O
exame radiológico geralmente não revela nenhuma lesão;
entretanto, pode permitir a identificação de pequenas
fraturas de avulsão nos pontos onde os ligamentos se
inserem ou se originam.
A B
Tratamento n FIGURA 8-9  A história e o exame físico são confirmados por estudos
radiográficos realizados em incidências perpendiculares entre si. A.
As lesões articulares devem ser imobilizadas e reavaliadas Incidência AP do fêmur distal. B. Incidência lateral do fêmur distal.
Avaliação radiográfica satisfatória do osso longo lesionado deve incluir duas
quanto ao estado neurológico e vascular do membro incidências ortogonais, porém toda a extensão do osso deve ser visualizada.
distal à lesão. As luxações de joelho geralmente retornam Assim, as imagens apresentadas acima por si só são inadequadas.
CONTROLE DA DOR 163

Tratamento fraturas de tíbia


A imobilização deve incluir as articulações acima e Imobilize as fraturas de tíbia para diminuir a dor e
abaixo da fratura. Após a imobilização, os estados lesões de partes moles subsequentes e reduzir o risco
neurológico e vascular do membro devem ser de síndrome compartimental. Caso prontamente
reavaliados. É necessária a avaliação de um cirurgião disponíveis, podem ser utilizados aparelhos gessados,
caso se planeje qualquer tratamento posterior. para imobilizar a perna, o joelho e o tornozelo.

fraturas de tornozelo
Princípios da imobilização
As fraturas de tornozelo podem ser imobilizadas com
talas acolchoadas a fim de diminuir a dor e evitar a
A menos que estejam associadas a lesões que ponham pressão sobre proeminências ósseas (n FIGURA 8-10).
em risco a vida do doente, as lesões de extremidades
podem ser imobilizadas durante a avaliação secundária.
armadilha prevenção
Entretanto, essas lesões devem ser imobilizadas
antes que o doente seja transportado. Avalie o estado
Aplicação de tração • Evite o uso de tração em
neurovascular do membro antes e após imobilização
em uma extremidade extremidades com fraturas
ou realinhamento da fratura.
com fratura de tíbia/ de fêmur e tíbia/fíbula
fíbula associada pode combinadas.
Fraturas do fêmur resultar em lesão • Utilize uma imobilização
neurovascular. posterior longa com
As fraturas de fêmur podem ser imobilizadas
associação de tala gessada na
temporariamente com talas de tração (ver n FIGURA 8-3;
extremidade inferior.
ver também vídeo Imobilização com Tração no aplicativo
móvel MyATLS). A força de tração exercida pelo
dispositivo é aplicada distalmente, no nível do tornozelo
ou na superfície da pele. Na sua porção proximal, a tala LESÕES DE EXTREMIDADE SUPERIOR E MÃO
é empurrada contra a coxa e o quadril por meio de um
anel que se apoia nas nádegas, no períneo e na virilha. A mão pode ser temporariamente imobilizada em
Uma tração excessiva pode provocar lesão da pele do posição anatômica e funcional, com o punho em ligeira
pé, do tornozelo ou do períneo. Devido ao risco de flexão dorsal e dedos gentilmente fletidos em 45 graus
comprometimento neurovascular após a aplicação da no nível das articulações metacarpofalangeanas.
tala de tração, deve-se realizar a avaliação dos estados Essa posição geralmente pode ser obtida por meio da
neurológico e vascular do membro antes e após a sua imobilização da mão sobre um rolo grande de gaze,
aplicação. Não aplique a tala de tração em doentes que utilizando-se uma pequena tala de antebraço.
apresentam fratura de tíbia ipsilateral. As fraturas de O antebraço e o punho são imobilizados estendidos
quadril podem ser imobilizadas de maneira semelhante sobre talas acolchoadas. O cotovelo é imobilizado em
com um dispositivo de tração, mas é mais conveniente posição fletida, utilizando-se talas acolchoadas ou
que sejam imobilizadas por meio de tração na pele ou imobilizando-o contra o corpo por meio de uma tipoia.
em uma bota de tração feita de espuma, posicionando O braço costuma ser imobilizado apoiado contra o
o joelho em ligeira flexão. Uma forma simples de corpo ou utilizando-se tipoia ou faixas que podem ser
imobilizar um membro inferior é enfaixando-o junto aplicadas como uma bandagem toracoabdominal. As
ao membro contralateral. lesões do ombro são tratadas com tipoia e faixas ou por
um curativo feito à moda de Velpeau.
lesões de joelho
Para garantir a estabilidade e oferecer conforto
controle da dor
ao doente, podem ser utilizados dispositivos de
imobilização de joelho disponíveis comercialmente O uso adequado de dispositivos de imobilização diminui
ou talas ou aparelhos gessados longos. O joelho não significativamente o desconforto e a dor, reduzindo a
deve ser imobilizado em extensão completa, mas mobilidade das estruturas comprometidas pela lesão.
permanecer em flexão de aproximadamente 10 Se a dor não for aliviada ou retornar, a imobilização
graus, a fim de diminuir o estiramento das estruturas deve ser retirada e o membro deve ser reavaliado. O
neurovasculares. uso de analgésicos é indicado para doentes com lesão
­164 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

A B
n FIGURA 8-10  Imobilização de Fratura de Tornozelo. Observe o uso extensivo do aparelho gessado e tala gessada posterior. A. Tala gessada
posterior fixada no local com bandagem elástica. B. Aparelho gessado completo.

articular ou fratura. Os doentes que não aparentam ter tabela 8-5 lesões musculoesqueléticas:
dor e desconforto significativos na presença de uma comumente despercebidas ou lesões associadas
grande fratura podem ter outras lesões associadas as
quais interferem na percepção sensorial (p. ex., lesão LESÃO ASSOCIADA/
intracraniana ou medular) ou estar sob a influência de LESÃO NÃO IDENTIFICADA
álcool e/ou drogas.
O alívio efetivo da dor requer a administração de • Fratura de clavícula • Lesão torácica grave,
narcóticos, os quais devem ser administrados em • Fratura de escápula especialmente contusão
pequenas doses por via intravenosa e repetidos se • Fratura e/ou luxação pulmonar e fratura de arcos
necessário. Os sedativos devem ser administrados com de ombro costais
cautela em doentes com lesão isolada de extremidades, • Dissociação escapulotorácica
bem como ao realizar a redução de uma luxação. Toda
vez que se administram analgésicos ou sedativos em um • Fratura/luxação de • Lesão de artéria braquial
doente traumatizado, existe a possibilidade de parada ombro • Lesão dos nervos mediano,
respiratória. Por isso, equipamentos de reanimação ulnar e radial
adequados e naloxona devem estar prontamente
disponíveis. • Fratura de fêmur • Fratura de colo de fêmur
O bloqueio neurológico regional exerce papel • Lesão ligamentar do joelho
importante no alívio da dor e na redução de determinadas • Luxação posterior do quadril
fraturas. Antes de realizar o bloqueio, é essencial avaliar
e documentar qualquer lesão nervosa. Sempre tenha em • Luxação posterior • Fratura de fêmur
mente o risco para síndrome compartimental, uma vez do joelho • Luxação posterior do quadril
que essa condição pode ser mascarada em doentes que
foram submetidos ao bloqueio neurológico regional. • Luxação do joelho • Lesão de artéria e nervo
• Fratura-luxação de poplíteo
platô tibial
lesões associadas
• Fratura de calcâneo • Fratura ou lesão de coluna
Em consequência de mecanismos de trauma comuns, • Fratura-luxação do talus e
algumas lesões musculoesqueléticas costumam estar calcâneo
associadas a uma segunda lesão que não é aparente • Fratura do platô tibial
de imediato ou pode até mesmo passar despercebida
(n TABELA 8-5). • Fratura exposta • 70% de incidência de lesões
Os passos para reconhecer e tratar essas lesões não esqueléticas associadas
incluem:
RESUMO DO CAPÍTULO 165

1. Rever a história do trauma, especialmente o •• Considerando-se que as lesões


mecanismo de trauma, para determinar quais musculoesqueléticas com risco potencial à vida
outras lesões podem estar presentes. podem ser identificadas durante a avaliação da
2. Reavaliar completamente todas as extremidades, circulação, o líder da equipe deve rapidamente
com ênfase especial nas mãos, punhos, pés, orientar a equipe a controlar a hemorragia externa
articulações acima e abaixo de fraturas e de
luxações. utilizando curativos compressivos, imobilizadores
ou torniquetes, conforme necessário. A habilidade
3. Examinar visualmente o dorso do doente,
da equipe de trauma para trabalhar em diferentes
incluindo a coluna e a pelve.
tarefas simultaneamente é particularmente
4. Documentar ferimentos abertos e lesão de partes
relevante neste cenário.
moles que podem indicar uma lesão instável.
5. Rever os estudos radiográficos obtidos na •• Mais de um membro da equipe pode ser necessário
avaliação secundária para identificar lesões para aplicar a tala de tração e o líder deve direcionar
pouco perceptíveis que podem estar associadas a outras pessoas ou especialistas (p. ex., cirurgião
traumatismos mais evidentes. vascular e ortopedista) para auxiliar a equipe.
•• A equipe deve estar apta a reconhecer lesões que
lesões ósseas ocultas ameacem o membro e realizar o relato acurado
ao líder para que este possa tratá-las ao mesmo
Nem todas as lesões podem ser diagnosticadas durante a tempo que outras lesões potencialmente fatais
avaliação inicial. Articulações e ossos que estão cobertos de via aérea, respiração e circulação.
ou bem acolchoados no interior de regiões musculares
podem ter lesões ocultas. Identificar fraturas sem desvio •• Assegure que uma avaliação secundária completa
ou lesões de ligamentos articulares pode ser difícil, seja realizada, para que nenhuma lesão passe
particularmente se o doente não responde a estímulos ou despercebida. Lesões ocultas são particularmente
se existem outras lesões graves. É importante reconhecer comuns em doentes com nível de consciência
que é comum que tais lesões sejam descobertas dias após alterado ou inconscientes, e o líder deve assegurar
o trauma – por exemplo, quando o doente está sendo a reavaliação dos membros em tempo oportuno
mobilizado. Portanto, é essencial reavaliar o doente para que lesões não passem despercebidas.
repetidamente e relatar essas possibilidades a outros
membros da equipe de trauma e à família do doente. r e sumo do capítulo
armadilha prevenção 1. As lesões musculoesqueléticas podem apresentar
risco à vida e ao membro.
Lesões ocultas podem • Role o doente e retire
não ser identificadas todas as roupas para
durante a avaliação assegurar uma avaliação
2. O objetivo da avaliação primária no trauma
primária ou secundária. completa e evitar a falta musculoesquelético é identificar lesões que podem
de identificação de lesões. comprometer o membro e/ou a vida. Apesar de
• Repita a avaliação da incomuns, as lesões musculoesqueléticas que
cabeça aos pés quando o comprometem a vida devem ser prontamente
doente estiver estável para avaliadas e tratadas. A abordagem inicial do
identificar lesões ocultas. controle de hemorragia é feita por meio da aplicação
de pressão direta, imobilização e torniquetes.

3. A maioria das lesões de extremidades são


Trabalho em equipe identificadas e tratadas durante a avaliação
secundária. A história completa do trauma e
um exame físico minucioso, incluindo despir
•• Lesões musculoesqueléticas, em especial fraturas
completamente o doente, são fundamentais para
expostas, frequentemente possuem aparência
identificar lesões musculoesqueléticas.
dramática e podem distrair os membros da
equipe de condutas de reanimação prioritárias. O 4. É essencial reconhecer e tratar as lesões arteriais, a
líder da equipe deve assegurar que os membros síndrome compartimental, fraturas expostas, lesões
priorizem as lesões que causam risco à vida. por esmagamento e luxações em tempo adequado.
­166 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético

5. O conhecimento do mecanismo de lesão e a história 10. Kobbe P, Micansky F, Lichte P, et al. Increased
do evento podem guiar os médicos na busca de morbidity and mortality after bilateral femoral
lesões potenciais associadas. shaft fractures: myth or reality in the era of
damage control? Injury 2013Feb;44(2):221–225.
6. A imobilização precoce de fraturas e luxações 11. Konda SR, Davidovich RI, Egol KA. Computed
podem prevenir complicações e sequelas tardias. tomography scan to detect traumatic arthrotomies
Uma avaliação neurovascular minuciosa deve ser and identify periarticular wounds not requiring
realizada antes e após a aplicação de imobilização surgical intervention: an improvement over the
ou dispositivos de tração. saline load test. J Trauma 2013;27(9):498–504.
12. Kostler W, Strohm PC, Sudkamp NP. Acute
Agradecimento especial a Julie Gebhart, PA-C, Lead compartment syndrome of the limb. Injury
Orthopedic Physician Assistant, e Renn Crichlow, MD, 2004;35(12):1221–1227.
Orthopedic Trauma Surgeon, OrthoIndy e St. Vincent 13. Lakstein D, Blumenfeld A, Sokolov T, et al.
Trauma Center, por toda ajuda e colaboração neste projeto, Tourniquets for hemorrhage control on the
assim como fornecendo grande parte das fotos usadas battlefield: a 4-year accumulated experience. J
neste capítulo. Trauma 2003;54(5 Suppl):S221–S225.
14. Mabry RL. Tourniquet use on the battlefield. Mil
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Bibliografia 15. Medina O, Arom GA, Yeranosian MG, et al.
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use of tourniquets on the battlefield. Mil Med
2005;170(9):770–775.
9 LESÕES TÉRMICAS

Em todos doentes com lesões térmicas, identificar e tratar as lesões mecânicas


associadas e manter a normalidade hemodinâmica com reposição volêmica.
Capítulo 9 sumário
Objetivos • Antibióticos
• Imunização do Tétano
Introdução
lesões causadas por queimaduras específicas
Avaliação primária e reanimação do doente • Queimaduras Químicas
queimado • Queimaduras Elétricas
• Interrupção do Processo de Queimadura • Queimaduras Causadas por Piche Quente
• Estabelecer o Controle da Via Aérea • Queimaduras que Indicam Maus Tratos
• Assegurar Ventilação Adequada
• Tratamento da Circulação na Reanimação do Choque transferência de doentes
Causado pela Queimadura • Critérios de transferência
• Procedimentos de Transferência
avaliação do doente queimado
• História Lesões por frio: efeitos teciduais locais
• Área de Superfície Corporal • Tipos de Lesão por Frio
• Profundidade da Queimadura • Tratamento do Congelamento e das Lesões Não
Congelantes
avaliação secundária e medidas auxiliares
• Folha de R egistro Lesões por frio: Hipotermia sistêmica
• Exames Básicos para Doentes com Queimaduras Graves
• Circulação Periférica em Queimaduras Circunferenciais Trabalho em equipe
de Extremidades
• Sondagem Gástrica Resumo do capítulo
• Narcóticos, Analgésicos e Sedativos
• Cuidados com a Ferida Bibliografia

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de doente queimado.


aprendizado do curso ATLS, você estará apto a:
5. Descrever as características específicas das
1. Explicar como a fisiopatologia específica das queimaduras que afetam a avaliação secundária.
queimaduras afeta a abordagem do doente queimado
quando comparado com outras lesões traumáticas. 6. D
escrever os mecanismos comuns de queimaduras
e explicar o impacto desses mecanismos na
2. Identificar os problemas específicos que podem ser abordagem dos doentes queimados.
encontrados na avaliação inicial dos doentes com
queimaduras. 7. Listar os critérios para a transferência de doentes
com queimaduras para os centros de queimados.
3. D
escrever como abordar os problemas específicos
que podem ser encontrados na avaliação inicial dos 8. Descrever os efeitos das lesões causadas pelo frio
doentes com queimaduras. sobre os tecidos e o tratamento inicial de doentes
com lesões devido à exposição ao frio.
4. Estimar a extensão das queimaduras do doente
queimado, incluindo o tamanho e profundidade da 9. Descrever o manejo de doentes com hipotermia,
queimadura e desenvolver um plano priorizado para incluindo os riscos do reaquecimento.
abordagem de emergência das lesões específicas do

169
­170 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

L
esões térmicas são uma das principais causas Interromper o processo de queimadura
de morbidade e mortalidade, mas a adesão aos
princípios básicos da reanimação do trauma Remover completamente toda roupa do doente para
inicial e a oportuna aplicação de medidas simples de interromper o processo de queimadura; no entanto a
emergência pode ajudar a minimizar seu impacto. roupa aderida à pele não deve ser arrancada. Tecidos
Os maiores princípios da abordagem da lesão sintéticos podem inflamar e queimar rapidamente em altas
térmica incluem manter um alto índice de suspeita temperaturas e derretem formando resíduos aquecidos
da presença de comprometimento da via aérea após que continuam a queimar o doente. Ao mesmo tempo,
inalação de fumaça e o consequente edema causado pela tome cuidado para evitar a hipotermia. Reconhecer que as
queimadura; identificar e abordar as lesões mecânicas tentativas realizadas no local do atendimento para apagar
associadas; manter a normalidade hemodinâmica com o fogo (por exemplo, "Parar, molhar e rolar"), embora
reposição de volume; controlar a temperatura; e remover necessário, pode levar a contaminação da queimadura
o doente do ambiente hostil. Os médicos também devem com resíduos ou água contaminada.
tomar medidas para prevenir e tratar as potenciais Tenha cuidado ao remover qualquer roupa que esteja
complicações específicas causadas pelas queimaduras. contaminada por produtos químicos. Escove qualquer pó
Por exemplo, rabdomiólise e arritmias cardíacas, que químico seco da ferida. Os cuidadores também podem
podem estar associadas com queimaduras elétricas; ser feridos e devem evitar o contato direto com o produto
desenvolvimento de síndrome compartimental abdominal químico. Depois de retirar o pó, descontamine as áreas
e de extremidades, que podem ocorrer após excessivas de queimadura enxaguando com irrigação abundante
reposições volêmicas decorrentes da queimadura; e ocultar com solução salina morna ou lavagem em banho quente,
lesões oculares devido a fogo ou explosões. quando as instalações estão disponíveis e o doente é
A diferença mais significativa entre queimaduras e capaz de ajudar.
outras lesões é que as consequências das queimaduras Uma vez que o processo de queimadura foi
estão diretamente relacionadas com a extensão da interrompido, cubra o doente com lençol quente, limpo
resposta inflamatória para a lesão. Quanto maior e mais e seco para prevenir a hipotermia.
profunda a queimadura, pior a inflamação. Dependendo
da causa, a energia transferida e o edema resultante Providenciar controle da via aérea
podem não ser evidentes imediatamente; por exemplo,
lesão causada por fogo é mais rapidamente evidente do A via aérea pode ficar obstruída não só da lesão direta (por
que os ferimentos causados por substâncias químicas exemplo, lesão por inalação), mas também pelo edema
— um fator importante no tratamento das lesões maciço resultante da lesão causada pela queimadura.
causadas por queimadura. Monitorar de perto os acessos Edema normalmente não está presente imediatamente,
intravenosos para garantir que eles não se percam pelo e sinais de obstrução podem inicialmente ser sutis, até
aumento do edema nas áreas queimadas do doente. que o doente piore. É essencial a avaliação inicial para
Regularmente verificar as fixações do tubo orotraqueal determinar a necessidade de intubação endotraqueal.
e sonda nasogástrica para garantir que eles não estejam
muito apertados e que as etiquetas de identificação
estejam soltas e não circunferencialmente colocadas.
Nota: Lesões causadas pelo calor, incluindo a
exaustão e a insolação, serão discutidas no Apêndice
B: Hipotermia e Ferimentos causados pelo calor.

Ava li aç ão inic i a l e
r e a nim aç ão de doente s
com queim a dur a s

Medidas salva-vidas para os doentes com lesões causadas


por queimadura incluem interromper o processo de
queimadura, garantir que a via aérea e ventilação estejam n FIGURA 9-1  Fatores que aumentam o risco de obstrução de via
adequadas e estabelecer acesso intravenoso. aérea superior são: extensão e profundidade da queimadura,
queimaduras localizadas na cabeça e face, lesão inalatória, trauma
associado, e queimaduras no interior da boca.
AVALIAÇÃO INICIAL E REANIMAÇÃO DE DOENTES COM QUEIMADURAS 171

Fatores que aumentam o risco de obstrução da via aérea prolongado, intube o doente antes do transporte. Estridor
superior são o tamanho e profundidade das queimaduras, pode ocorrer tardiamente e indica a necessidade imediata
queimaduras localizadas na cabeça e face, lesão por de intubação. Queimaduras circunferenciais do pescoço
inalação, trauma local, queimaduras localizadas no podem levar a inchaço dos tecidos ao redor da via aérea;
interior da boca (n FIGURA 9-1). Queimaduras localizadas portanto, intubação precoce também está indicada para
na face e boca causam edema localizado e apresentam queimaduras de espessura total circunferencial do pescoço.
um risco maior de comprometimento da via aérea. Por
terem a via aérea menor, as crianças têm um risco maior
de problemas de obstrução da via aérea.
História de queimadura com confinamento em um
armadilha prevenção
ambiente fechado ou sinais de lesão de vias aéreas na chegada
Via aérea obstruída • Reconhecer a inalação de
ao departamento da emergência (ED) garantem a obtenção de em doente com fumaça como uma causa
vias aéreas definitiva do doente. Lesões térmicas da faringe lesão térmica pode potencial de obstrução da via
podem produzir edema acentuado da via aérea superior, não estar presente aérea decorrentes de lesão
sendo a proteção precoce da via aérea fundamental. As imediatamente. por partículas e substâncias
manifestações clínicas da lesão por inalação podem ser sutis químicas.
• Avalie o doente para queimaduras
e não aparecem com frequência nas primeiras 24 horas. Se circunferenciais do pescoço e
o médico atendente aguarda exames radiológicos de lesão tórax, que podem comprometer
pulmonar ou alterações na gasometria sanguínea, o edema a via respiratória e as trocas
da via aérea pode progredir e impedir a intubação, e uma via gasosas.
aérea cirúrgica pode ser necessária. • Doentes com lesão por
inalação estão em risco para
Quando em dúvida, examine a orofaringe do doente para obstrução brônquica por
detectar sinais de inflamação, lesão da mucosa, presença secreções e detritos, e podem
de fuligem e edema na faringe, tomando cuidado para exigir a broncoscopia. Coloque
não ferir ainda mais a área. Embora a laringe proteja a uma cânula de tamanho
via aérea subglótica da lesão térmica direta, a via aérea é adequado na via aérea — de
preferência um tamanho 8 mm
extremamente susceptível à obstrução como resultado da de diâmetro interno (ID) (tubo
exposição ao calor. Segundo a American Burn Life Support endotraqueal mínimo 7,5 mm
(ABLS) as indicações para intubação precoce são: ID em adultos).

•• Sinais de obstrução da via aérea (rouquidão,


estridor, uso de músculos respiratórios
acessórios, retração esternal)
assegure ventilação adequada
•• Extensão da queimadura (área de superfície Lesão direta da via aérea inferior é rara e geralmente
corporal queimada > 40%-50%)
está associada a inalação de vapor superaquecido ou
•• Queimaduras faciais extensas e profundas gases inflamáveis. Preocupações com a ventilação estão
•• Queimaduras no interior da boca relacionadas com três situações: hipóxia, intoxicação por
•• Edema significativo ou risco para edema de monóxido de carbono e lesão por inalação de fumaça.
orofaringe A hipóxia pode estar relacionada à lesão
•• Dificuldade para deglutir inalatória, ventilação inadequada por queimaduras
circunferenciais no tórax ou lesões traumáticas torácicas
•• Sinais de comprometimento respiratório:
incapacidade para eliminar as secreções não relacionadas à queimadura. Deve-se administrar
brônquicas, fadiga respiratória, ventilação ou oxigênio suplementar com ou sem intubação.
oxigenação deficientes Sempre considere a possível ocorrência de exposição
•• Diminuição do nível de consciência onde os reflexos ao monóxido de carbono (CO) em doentes queimados em
de proteção das vias respiratórias são prejudicados ambientes fechados. O diagnóstico da intoxicação por CO
•• Necessidade de transferência do doente grande é feito primariamente pela história de exposição e medida
queimado com comprometimento de vias direta da carboxihemoglobina (HbCO). Doentes com níveis
aéreas sem pessoal qualificado para intubá-lo de CO inferiores a 20% não costumam apresentar sinais e
durante o transporte sintomas. Níveis mais elevados de CO podem resultar em:
Um nível de carboxihemoglobina superior a 10% em •• cefaleia e náusea (20% a 30%)
um doente que estava envolvido em um incêndio também
•• confusão (30% a 40%)
sugere lesão por inalação. Transferência para um centro
de queimados está indicada para doentes com suspeita de •• coma (40% a 60%)
lesão por inalação; no entanto, se o tempo de transporte for •• morte (> 60%)
­172 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

A coloração vermelho-cereja da pele é rara e pode ocorrer lesão inalatória. Partículas de fumaça se instalam nos
somente no doente moribundo. A grande afinidade do bronquíolos distais, levando a danos e morte das células da
CO pela hemoglobina (240 vezes a do oxigênio), faz com mucosa. O dano das vias respiratórias leva a uma resposta
que ele desloque o oxigênio da molécula de hemoglobina inflamatória aumentada, que por sua vez leva ao aumento
e desvie a curva de dissociação da oxihemoglobina para a de extravasamento capilar, resultando em aumento da
esquerda. O CO dissocia-se muito lentamente e sua meia- necessidade de infusão de líquidos e problemas na difusão
vida é de 4 horas se o doente respira ar ambiente. Em razão de oxigênio. Além disso, as células necróticas tendem a
da meia-vida de HbCO poder ser reduzida a 40 minutos morrer e obstruir a via aérea. Clearance diminuído da
pela inalação de oxigênio a 100%, qualquer doente que via aérea produz obstruções que resultam em um risco
pode ter sido exposto ao CO deve receber oxigênio de alto aumentado de pneumonia. Não apenas o cuidado dos
fluxo (100%) através de uma máscara de não-reinalação. doentes com lesão de inalação é mais complexo, mas a
É importante colocar um tubo endotraqueal (ETT) mortalidade é o dobro quando comparado com outros
de tamanho adequado para a realização de ventilação, indivíduos queimados que não sofreram inalação.
limpeza de secreções e broncoscopia. Devem ser A Associação Americana de Queimadura definiu dois
utilizados tubos endotraqueais de pelo menos 7,5 mm critérios para o diagnóstico da lesão por inalação por fumaça:
ou maior em adultos e 4.5 mm em crianças. (1) exposição a um agente combustível, e (2) sinais de exposição
Determinações de gasometria arterial devem ser obtidas à fumaça na via aérea inferior, abaixo das cordas vocais,
como uma linha de base para avaliar a condição pulmonar visualizados pela broncoscopia. A possibilidade de lesão
do doente. No entanto, medida de PaO2 arterial não por inalação por fumaça é muito maior se a queimadura
confiável sugere envenenamento por CO, porque uma ocorreu em um lugar fechado. Exposição prolongada também
pressão parcial de CO de apenas 1 mm Hg resulta em aumenta a probabilidade de lesão por inalação por fumaça.
um nível de HbCO de 40% ou maior. Portanto, medidas Como uma linha de base para avaliar o estado pulmonar
basais de HbCO devem ser obtidas e 100% de oxigênio de um doente com lesão por inalação de fumaça, o
deve ser administrado. Se a dosagem de HbCO não está médico atendente deve obter uma radiografia de tórax e
disponível e o doente esteve envolvido em incêndio determinação de gasometria arterial. Esses valores podem
em um ambiente fechado, o tratamento empírico com deteriorar-se ao longo do tempo; valores normais na
oxigênio a 100% durante 4 a 6 horas é razoável como um admissão não excluem lesão por inalação. O tratamento da
tratamento eficaz para a intoxicação pelo CO e com poucas lesão por inalação de fumaça é favorável. Um doente com
desvantagens. Uma exceção é o doente portador de doença uma alta probabilidade de lesão por inalação de fumaça,
pulmonar obstrutiva crônica, que deve ser monitorizado associado a uma queimadura significativa (ou seja, maior
atentamente quando é administrado oxigênio a 100%. que 20% de área de superfície corporal total [ASCT] em
Oximetria de pulso não pode ser utilizada como regra um adulto, ou superior a 10% ASCT em doentes com
em envenenamento por monóxido de carbono, porque menos de 10 anos ou maiores que 50 anos de idade) deve
a maioria dos oxímetros não consegue distinguir a ser intubado. Se a condição hemodinâmica do doente e
oxihemoglobina da carboxyhemoglobina. Em um lesão na coluna vertebral foram excluídas, eleve a cabeça
doente com intoxicação pelo CO, o oxímetro pode ler e o tórax do doente a 30 graus para ajudar a reduzir o
saturação de 98% a 100% e que não reflete a saturação edema de parede do pescoço e tórax. Se uma queimadura
de oxigênio real do doente, que deve ser obtida a partir de de espessura total da parede torácica anterior e lateral
gasometria arterial. Uma discrepância entre a gasometria leva a severa restrição de movimento de parede do tórax,
arterial e o oxímetro pode ser explicada pela presença de mesmo na ausência de uma queimadura circunferencial,
carboxihemoglobina ou uma amostra venosa inadvertida. a escarotomia na parede torácica pode ser necessária.
Pode ocorrer Inalação de cianeto, a partir dos produtos
de combustão em queimaduras que ocorrem em espaços Tratamento da circulação com a
confinados e, nesse caso o médico atendente deve reanimação do choque causado pela
consultar um centro de queimados ou de controle de queimadura
veneno. Um sinal de potencial toxicidade do cianeto é sua
persistente e inexplicável profunda acidose metabólica. Em doentes gravemente queimados, a avaliação do volume
Não há nenhum papel para a terapia de oxigênio sanguíneo circulante costuma ser difícil. Além disso,
hiperbárico na reanimação primária de um doente com doentes gravemente queimados podem ser portadores de
lesão crítica por queimadura. Uma vez que os princípios outras lesões que também causem choque hipovolêmico.
do ATLS são seguidos para estabilizar o doente, consulte O choque deve ser tratado segundo os princípios de
o centro de queimados local para outras orientações se a reanimação conforme já assinalado anteriormente. Ver
oxigenoterapia hiperbárica poderá beneficiar o doente. Capítulo 3: Choque. A reanimação com fluidos para o
Produtos de combustão, incluindo partículas de tratamento da queimadura também deve ser realizada. Em
carbono e vapores tóxicos, são causas importantes de contraste com a reanimação para outros tipos de trauma
AVALIAÇÃO INICIAL E REANIMAÇÃO DE DOENTES COM QUEIMADURAS 173

nos quais o déficit de líquidos é geralmente secundário


à perda hemorrágica, a reanimação por queimadura é armadilha prevenção
necessária para substituir as perdas líquidas contínuas de
extravasamento capilar devido à inflamação. Portanto, Cateteres • Lembre-se que o edema leva
os médicos assistentes devem fornecer líquidos para intravenosos e tempo para desenvolver.
tubo endotraqueal • Use cateteres longos
reanimação de doentes com queimaduras parcial profunda
podem mobilizar intravenosos para compensar o
e de espessura total maior que 20% SCT, tomando cuidado após a reanimação. edema inevitável que ocorrerá.
para não exagerar na reanimação (n FIGURA 9-2). • Não cortar tubos endotraqueais
Após estabelecer a permeabilidade da via aérea e avaliar regularmente seu
e identificar e tratar as lesões que implicam em risco posicionamento.
iminente de vida, devem ser providenciados acessos
venosos. Para tanto, devem-se estabelecer imediatamente Americana de Queimados para refletir preocupações
acessos venosos com cateter de grande calibre (no mínimo sobre excesso de reanimação quando é utilizada a fórmula
# 16G) introduzido em veia periférica. Se a extensão da de Parkland tradicional. As diretrizes do consenso atual
queimadura não permitir a introdução do cateter através orientam que a reanimação com fluidos deve ser iniciada
de pele íntegra, faça a punção através da pele queimada. com 2 mL de Ringer lactato x peso do corpo do doente em kg
Tendo em vista a alta incidência de flebites e flebites x % ASCQ para queimaduras de segundo e terceiro graus.
sépticas nas veias safenas, os membros superiores são O volume de líquido estimado é então oferecido da
preferíveis aos inferiores para o acesso venoso. Se acessos seguinte maneira: metade do volume total estimado é
venosos periféricos não podem ser obtidos, considere o administrado nas primeiras 8 horas após a queimadura. Por
acesso venoso central ou infusão intraóssea. exemplo um homem de 100 Kg com 80% de ASCT queimada
Deve-se iniciar a infusão com solução cristalóide necessita de 2 x 80 x 100 = 16.000 mL em 24 h. Metade
isotônica, preferencialmente com solução de Ringer lactato. desse volume calculado (8.000 mL) deve ser infundido nas
Esteja ciente de que o edema resultante pode desalojar primeiras 8 horas, portanto o doente deve receber 1.000 a
linhas intravenosa periféricas. Considere a colocação de 2.000 mL /hora. O restante deve ser administrado nas 16
cateteres mais longos em queimaduras maiores. horas seguintes.
Aferições da pressão arterial podem ser difíceis de obter É importante entender que qualquer fórmula de reposição
e podem não ser confiáveis em doentes com queimaduras serve apenas para uma estimativa da necessidade inicial.
graves. Inserir um cateter urinário permanente em todos Após essa quantidade inicial a reposição volêmica oferecida
os doentes que estão recebendo fluidos de reanimação de deve ser ajustada e baseada no debito urinário de 0,5mL/kg/h
queimados e monitore a saída de urina para avaliar a perfusão. em adultos e 1 mL/kg/h para crianças menores de 30 Kg.
Diurese osmótica (por exemplo, glicosúria ou uso de manitol) A taxa real de volume que um doente necessita depende
pode aumentar o débito urinário superestimando a perfusão. da gravidade da queimadura, porque queimaduras maiores
A infusão inicial de fluidos utilizada anteriormente para e mais profundas exigem proporcionalmente mais volume.
reanimação do queimado foi atualizada pela Associação Lesão por inalação também aumenta a quantidade de
volume necessária. Se a taxa de infusão inicial de fluidos
falhar em produzir um débito urinário adequado, aumente a
reposição até que a meta de produção de urina seja alcançada.
No entanto, não diminua vertiginosamente a taxa de infusão
venosa pela metade nas primeiras 8 horas; pelo contrário,
a redução na taxa de infusão IV deve ser baseada no débito
urinário. Bolus de fluido devem ser evitados a menos que
o doente esteja hipotenso. Débito urinário baixo é melhor
tratado com infusão de mais volume.
Reanimação de doentes pediátricos com queimaduras
(n FIGURA 9-3) deve iniciar com 3 mL/kg/% ASCQ; isto
equilibra uma exigência maior de volume de reanimação
devido à maior área de superfície por unidade de massa
corpórea com o menor volume intravascular, aumentando
o risco de sobrecarga de volume. Crianças muito pequenas
n FIGURA 9-2  Doentes com queimaduras necessitam reanimação com (ou seja, < 30 kg), devem receber os fluidos de manutenção
solução de Ringer lactato começando em 2 mL por quilograma de peso de glicose (glicose 5% em Ringer lactato), além do fluido
corporal por porcentagem ASCQ de queimaduras de espessura parcial de reanimação de queimadura n TABELA 9-1 apresenta as
e queimaduras de espessura total durante as primeiras 24 horas para taxas de fluido ajustadas ao débito urinário esperado
manter a adequada perfusão, titulada a cada hora. de acordo com o tipo de queimadura.
­174 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

armadilha prevenção
Reanimação a • Administração de líquidos
mais ou a menos deve ser baseada na resposta
de doentes fisiológica do doente,
queimados. ajustando-se a quantidade
de volume para mais ou para
menos baseada no débito
urinário.
• Reconhecer os fatores que
alteram a reposição volêmica
e o débito urinário, como as
lesões por inalação, idade do
doente, insuficiência renal,
diuréticos e álcool.
• Taquicardia é um marcador
n FIGURA 9-3  Reanimação de doentes pediátricos queimados deve pobre durante a reanimação
equilibrar a exigência maior de volume de reanimação devido à maior do doente queimado. Utilize
área de superfície corpórea por unidade de massa corpórea com o menor outros parâmetros para melhor
volume intravascular, que aumenta o risco de sobrecarga de volume. avaliar a resposta fisiológica à
reposição volêmica.
É importante compreender que reanimação a menos
resulta em hipoperfusão e lesão orgânica final. Reanimação
a mais resulta em aumento do edema, que pode levar a multifatorial, incluindo reanimação a mais ou infusão de
complicações, tais como progressão de profundidade de grandes volumes de solução salina durante a reanimação.
queimadura ou síndrome compartimental abdominal
e de extremidades. O objetivo da reanimação é manter
o delicado equilíbrio de perfusão adequada conforme ava li aç ão do doente
indicado pelo débito urinário.
Arritmias cardíacas podem ser o primeiro sinal de hipóxia
e distúrbios hidroeletrolíticos ou ácido-base; portanto, Além de uma história clínica detalhada (AMPLA), é
o eletrocardiograma (ECG) deve ser realizado quando importante estimar o tamanho da área de superfície
ocorrem distúrbios do ritmo cardíaco. Acidemia persistente corporal queimada e a profundidade da lesão causada
em doentes com lesões decorrentes de queimadura pode ser pela queimadura.

tabela 9-1 quantidade de volume a ser infundido e débito urinário esperado


de acordo com o tipo de queimadura

CATEGORIA DA VOLUME DE LÍQUIDO A SER


QUEIMADURA IDADE E PESO INFUNDIDO DÉBITO URNIÁRIO

Queimadura por fogo Adultos e adolescente 2 mL RL x Kg x ASC 0,50 mL/Kg/h


ou água quente (≥14 anos)
30–50 mL/h

Crianças (<14 anos) 3 mL RL x Kg x ASC 1 mL/Kg/h

Lactantes e crianças 3 mL RL x Kg x ASC 1 mL/Kg/h


jovens (≤30 Kg)
+ solução glicosada de manutenção

Queimadura elétrica Todas as idades 4 mL RL x Kg x ASCQ até diurese clara 1-1,5 mL/Kg/h até diurese
clara

RL = solução de Ringer lactato; ASCT = área de superfície corpórea total


AVALIAÇÃO DO DOENTE 175

História cardíaca, pulmonar e/ou renal e uso de medicamentos.


A existência prévia de alergia ou de hipersensibilidade
A história das circunstâncias em que ocorreu a lesão é também é importante. Alguns doentes podem tentar o
extremamente valiosa no tratamento do doente queimado. suicídio por queimaduras e o médico deve estar atento à
A vítima pode sofrer lesões associadas durante as tentativas essa possibilidade. Além disso a história do doente deve
para escapar do fogo. Explosões podem arremessar o doente ser condizente com o padrão de queimadura. Se a história
a distância e provocar fraturas ou lesões internas, como lesões for “suspeita” o médico assistente deve se preocupar com a
do SNC, miocárdicas, pulmonares e abdominais. É essencial possibilidade de maus tratos. Também deve ser investigado
que se determine o momento em que ocorreu a queimadura. o estado de imunização do doente contra o tétano.
Na existência de queimaduras em ambientes fechados deve-
se suspeitar de lesão por inalação e lesão cerebral anóxica se área de superfície corpórea queimada
houver associação com perda de consciência.
A história clínica, obtida através do doente ou da família, A “regra dos nove” é uma regra prática e útil para determinar
deve incluir um breve interrogatório sobre doenças a extensão da queimadura (n FIGURA 9-4). O corpo de um
preexistentes: diabetes, hipertensão arterial, doença adulto é dividido em regiões anatômicas que representam

Pediátrico
9% 9%

4.5%
4,5%
4.5%
4,5% 4.5%
4,5%
4.5%
4,5%
13%
18%

2.5% 2.5%
2,5% 2,5%

7% 7% 7%
7%

Adulto
4,5%
4.5% 4,5%
4.5%
n FIGURA 9-4  Regra dos Nove. Este guia
prático é utilizado para avaliar a gravidade das
queimaduras e determinar a quantidade de
volume a ser administrado. O corpo do adulto
geralmente é dividido em áreas de superfície de
18% 9% cada e/ou frações ou múltiplos de 9%.

18%
4.5%
4,5% 4.5%
4,5% 4.5%
4,5% 4.5%
4,5%

1%

9% 9% 9% 9%

Advanced Traum a Life SupportforDoctors


StudentCourse M anual,8e
Am erican College ofSurgeons
Figure# 09.01
Dragon y M edia Group
11/26/07
­176 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

9%, ou múltiplos de 9%, da superfície corporal total. A área com aspecto de cera. A superfície é indolor e geralmente
de superfície corporal (ASC) da criança é consideravelmente seca e pode ser vermelha e não mudar de cor à compressão
diferente daquela do adulto. Na criança, a cabeça corresponde local. Há pouco edema no tecido com queimadura de
a uma porcentagem maior e os membros inferiores a uma espessura total, no entanto a área ao redor da queimadura
porcentagem menor do que no adulto. A porcentagem pode apresentar um edema significativo.
da superfície corporal total que corresponde à cabeça de
uma criança é duas vezes maior que a do adulto normal. A ava li aç ão secundá r i a e
palma da mão do doente (incluindo os dedos) representa
aproximadamente 1% de sua superfície corporal.A regra medida s aux ili a r e s
dos nove ajuda a avaliar a extensão das queimaduras
com distribuição irregular e é a ferramenta preferencial Aspectos fundamentais da avaliação secundária e medidas
para calcular e documentar a extensão da queimadura. auxiliares incluem exame físico; documentação; exames
básicos, incluindo exames laboratoriais e radiografias;
manutenção da circulação periférica em queimaduras
armadilha prevenção circunferenciais de extremidades; sondagem gástrica;
narcóticos, analgésicos e sedativos; cuidados com a ferida;
Estimar a • Não incluir áreas de lesões
queimadura a superficiais na estimativa do
antibióticos; e Imunização antitetânica.
mais ou a menos. tamanho da área queimada.
• Utilize a regra dos nove Documentação
reconhecendo que as crianças
possuem cabeça proporcionalmente Logo após a admissão do doente no departamento de
maior que os adultos.
• Para cálculo de área queimada
emergência, deve ser iniciado o preenchimento de
irregular utilize a palma da mão do uma folha de registro, descrevendo o tratamento que
doente junto com os dedos que lhe foi ministrado, incluindo a quantidade de fluidos
representam 1% de área corpórea administrados e um diagrama mostrando a área e a
queimada. profundidade das queimaduras. Esta folha de registro
• Lembre-se de rodar o doente para
avaliar seu dorso.
deve acompanhar o doente quando for transferido para
uma unidade de queimados.

Exames Básicos para Doentes com


profundidade da queimadura Queimaduras Importantes
A profundidade da queimadura é importante para avaliar Deve-se obter amostras para hemograma, tipagem
sua gravidade, para planejar o tratamento da ferida e sanguínea e provas cruzadas, HbCO (carboxihemoglobina),
para prever os resultados funcionais e cosméticos finais. glicemia, eletrólitos e teste de gravidez em todas as
Queimaduras de primeiro grau ou superficiais (p. ex.: mulheres em idade fértil. Uma amostra de sangue arterial
queimadura solar), são caracterizadas por eritema, dor também deve ser retirada para determinação da gasometria
e ausência de bolhas. Elas não determinam risco de vida e dosagem de HbCO. Deve ser realizada uma radiografia
e geralmente não necessitam reposição endovenosa de de tórax nos doentes intubados ou com suspeita de lesão
fluidos. A discussão deste tipo de queimadura não será por inalação de fumaça, que pode ser repetida conforme
aprofundada neste capítulo. a necessidade. Outras radiografias podem ser solicitadas
Queimaduras de segundo grau ou de espessura parcial são para avaliar lesões associadas.
caracterizadas pela aparência vermelha ou mosqueada e
presença de edema e bolhas. Podem ser de espessura parcial Manutenção da circulação
superficial ou espessura parcial profunda. Queimaduras de periférica em queimaduras
espessura parcial superficiais são úmidas, dolorosamente circunferenciais de extremidades
hipersensíveis (mesmo à corrente de ar), caracterizadas
pela aparência rósea e dolorosas ao toque (n  FIGURA 9-5 O objetivo da avaliação da circulação periférica no doente
A e B). Queimaduras de espessura parcial profunda são queimado é excluir a síndrome compartimental. A síndrome
mais secas, menos dolorosas, com bolhas, avermelhadas compartimental é causada pelo aumento da pressão dentro
ou manchadas na aparência e menos dolorosas ao toque do compartimento muscular, o que interfere na perfusão das
(n FIGURA 9-5 C). estruturas dentro desse compartimento. Em queimaduras,
Queimaduras de terceiro grau ou de espessura total esta condição resulta da combinação da diminuição de
costumam ser escuras e ter aparência de couro (n FIGURA elasticidade da pele e do aumento do edema dos tecidos
9-5 D). A pele também pode apresentar-se translúcida, ou moles. A perfusão da musculatura do compartimento é a
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIO E MEDIDAS AUXILIARES 177

Epiderme Espessura parcial,


segundo grau

Derme
Epiderme Espessura parcial,
segundo grau

Tecido
Derme
Subcutâneo

Tecido
• Bolhas
• Subcutâneo
Dolorosa
• Superfície úmida
ou “lacrimejante”
• Bolhas
• Dolorosa
• Superfície úmida
ou “lacrimejante”

Epiderme
Espessura total,
terceiro grau
Derme
Epiderme
Espessura total, C
Tecido terceiro grau
Subcutâneo
Derme

• Aparência de couro
Tecido ou
• Esbranquiçada
Subcutâneo
mosqueada
• Tecido morto
•• Geralmente indolor
Aparência de couro
• Esbranquiçada ou
mosqueada
• Tecido morto
• Geralmente indolor

B D
n FIGURA 9-5  Profundidade da Queimadura. A. Queimadura de espessura parcial superficial. B. Queimadura de espessura parcial.
C. Queimadura de espessura parcial profunda. D. Queimadura de espessura total em membro superior e dorso.

•• Inchaço tenso do compartimento afetado


maior preocupação relacionada às extremidades. Apesar •• Parestesias ou alteração da sensibilidade distal
da necessidade de uma pressão compartimental maior no compartimento afetado
que a pressão arterial sistólica para que haja ausência de
pulso distal à queimadura, uma pressão compartimental Um alto índice de suspeita é necessário quando os
>30 mmHg pode causar necrose do músculo. A partir do doentes são capazes de cooperar com o exame clínico.
momento que o pulso está ausente pode ser tarde demais Síndrome compartimental também pode ocorrer devido
para salvar o músculo. Portanto, o médico deve estar atento a queimaduras circunferenciais no tórax, levando a um
para os sinais de síndrome compartimental: maior pico de pressão inspiratório ou no abdome levando
•• Dor maior que a esperada e desproporcional ao a síndrome compartimental abdominal. Escarotomias
estímulo ou lesão torácica e abdominal realizadas ao longo das linhas
axilares anteriores combinadas com uma incisão em cruz
•• Dor ao estiramento passivo do músculo afetado
­178 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

na linha clavicular e junção do tórax e abdome geralmente cuidados com a ferida


aliviam o problema.
Para manter a circulação periférica em doentes com As queimaduras de espessura parcial (segundo grau) são
queimaduras circunferenciais de extremidades, o médico dolorosas quando o ar passa sobre a superfície queimada. A
assistente deve: cobertura da área queimada com um pano limpo aplicado
delicadamente impede o contato com o ar corrente e alivia
•• Remover todas as joias e placas de identificação a dor. Não se deve romper as bolhas ou aplicar agentes
de alergia das extremidades do doente. antissépticos nessa fase. Qualquer substância aplicada
•• Avaliar a circulação distal, observando se há previamente deve ser removida antes que possam ser
cianose, se o enchimento capilar é lento, ou se usados agentes antibacterianos tópicos apropriados. A
existem sinais progressivos de comprometimento
neurológico, por exemplo, parestesia e dor aplicação de compressas frias pode causar hipotermia.
em tecidos profundos. A avaliação de pulsos Não use água fria em doentes com queimaduras extensas
periféricos em doentes queimados é realizada (> 10% ASCQ). Uma queimadura recente é uma área
com maior segurança por ultra-som Doppler. limpa que deve ser protegida da contaminação. Quando
•• A dificuldade circulatória que resulta da necessário, limpe uma ferida suja com soro fisiológico
queimadura circunferencial de um membro estéril. Garanta que todos os indivíduos que forem entrar
pode ser aliviada pela escarotomia, mas sempre em contato com a ferida usem luvas e avental e minimize
após consultar um cirurgião. As escarotomias o número de cuidadores sem equipamento de proteção
não costumam ser necessárias nas primeiras 6
horas após uma queimadura. no ambiente do doente.
•• Um procedimento de fasciotomia raramente
se torna necessário. Entretanto, pode ser armadilha prevenção
indicado para restaurar a circulação em doentes
com trauma ósseo associado, com lesões
Doente desenvolve • Lembre que o edema
por esmagamento, com lesão elétrica de alta
lesão em tecidos demora para aparecer.
voltagem ou com queimaduras acometendo
profundos devido a • Reavalie ou evite curativos
tecidos abaixo da aponeurose.
constrição do curativo. circunferenciais.
•• Embora diagramas de escarotomia padrão • Remova anéis e roupas que
geralmente são seguidos, sempre tente fazer causem constrição.
uma incisão na pele através da área queimada
e não na pele não queimada (se a pele não
Doente desenvolve • Reconheça que a
queimada está presente). Lembrar que a pele
lesão de tecidos pele queimada é
queimada irá provavelmente ser desbridada no
centro de queimaduras. profundos decorrentes inelástica. Queimaduras
de queimaduras circunferenciais
constritivas. podem necessitar de
escarotomias.
sondagem gástrica
Antibióticos
A sonda gástrica deve ser colocada e mantida aberta
se o doente apresentar náusea, vômitos, distensão Antibióticos profiláticos não estão indicados na fase
abdominal, ou se a queimadura envolver mais de 20% inicial logo após as queimaduras. Os antibióticos devem
ASCQ. Em tais doentes, é essencial que a sonda gástrica ser reservados para o tratamento de infecções.
seja colocada e esteja funcionando antes de uma eventual
transferência. imunização anti-tetânica
Narcóticos, analgésicos e sedativos É muito importante a determinação do estado de
imunização do doente. (Ver Imunização Antitetânica.)
O doente portador de queimaduras extensas pode estar
ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à hipovolemia
mais do que à dor. Consequentemente, responde melhor ao
lesões específicas por
oxigênio ou à administração de líquidos, do que ao uso de queimaduras
analgésicos, narcóticos ou sedativos que podem mascarar
os sinais de hipoxemia ou hipovolemia. Os narcóticos, os Embora a maioria dos ferimentos sejam por queimadura
analgésicos e os sedativos devem ser administrados em térmica, existem outras causas de queimaduras
doses pequenas e frequentes e apenas por via intravenosa. que merecem especial consideração, incluindo as
Lembre-se que o simples ato de cobrir a queimadura já queimaduras químicas, elétricas e as causadas pelo piche
leva ao alívio da dor. quente, bem como as queimaduras que indiquem abuso.
LESÕES ESPECÍFICAS POR QUEIMADURAS 179

queimadura químicas no sulco palpebral. Há queimaduras específicas (como


queimaduras por ácido hidrofluorídrico) que requerem
A lesão química pode resultar da exposição a ácidos, consulta a um centro de queimados. É importante
álcalis, ou derivados do petróleo. Queimaduras ácidas determinar a natureza do produto químico e, se possível,
causam uma necrose de coagulação do tecido circundante, obter uma cópia das informações do fabricante para
que impede a penetração do ácido em certa medida. pesquisar a respeito da toxicidade local e sistêmica da
Queimaduras por álcalis são geralmente mais graves do substância. Cuidadores também devem tomar cuidado
que queimaduras por ácido, porque o álcali penetra mais para se proteger da exposição inadvertida durante o
profundamente devido à necrose de liquefação do tecido. processo de descontaminação.
É essencial remover rapidamente o produto químico
e cuidar imediatamente da ferida. As queimaduras queimaduras elétricas
químicas são influenciadas pela duração do contato,
pela concentração e pela quantidade do agente químico. As queimaduras elétricas resultam do contato de uma
Se o produto químico for em pó seco e ainda estiver fonte de energia elétrica com o corpo do doente. O
depositado na pele, deve-se removê-lo antes de iniciar corpo pode servir como condutor da energia elétrica
a irrigação com água. Logo após, irrigue imediatamente e o calor gerado resulta em lesão térmica dos tecidos.
o local com grandes quantidades de água aquecida, por Diferentes velocidades de perda de calor por parte de
pelo menos 20 a 30 minutos, utilizando uma ducha tecidos superficiais e profundos são responsáveis pela
ou mangueira (n FIGURA 9-6). Queimaduras por álcalis coexistência de pele aparentemente normal com necrose
necessitam de irrigação mais prolongada. Agentes muscular profunda. Portanto, as queimaduras elétricas
neutralizantes não têm vantagem sobre a lavagem com frequentemente são mais graves do que parecem à
água, pois a reação com estes produtos, por si só, produz inspeção externa, e as extremidades, especialmente os
calor e causa maior lesão tecidual. As queimaduras dos dedos estão particularmente propensos à lesão. Além
olhos por álcalis exigem irrigação contínua durante as disso, a corrente elétrica passa por vasos sanguíneos e
primeiras 8 horas após a queimadura. Para facilitar esta nervos e pode causar trombose local e lesão nervosa.
irrigação, pode-se fixar uma cânula de pequeno calibre Graves ferimentos elétricos geralmente resultam em
contratura da extremidade afetada. Uma mão contraída
com um pequeno orifício de entrada elétrica deve alertar
armadilha prevenção o médico atendente que uma lesão de tecidos moles
profundos é provavelmente muito mais extensa do que é
Doente apresenta • Obter as informações visível a olho nu (n FIGURA 9-7). Doentes com queimaduras
queimadura química do fabricante a respeito
elétricas frequentemente necessitam de fasciotomias e
e exposição a da substância em
componente não questão ou contatar o devem ser transferidos precocemente para um centro
conhecido. Centro Toxicológico de queimados no início de seu tratamento.
para identificar potencial
toxicidade da referida
substância.

n FIGURA 9-7  Queimadura Elétrica. Uma mão contraída com um


pequeno orifício de entrada elétrica deve alertar o médico atendente
que a lesão de tecidos moles profundos é provavelmente muito mais
n FIGURA 9-6  Queimadura Química. Remova imediatamente o produto extensa do que é visível a olho nu. Este doente precisou de uma
químico utilizando grande quantidade de água, durante pelo menos 20
fasciotomia volar do antebraço para descomprimir o músculo.
a 30 minutos.
­180 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

O atendimento imediato de um doente com queimadura piche derretido pode ser muito alta — até 232° C — quando
elétrica grave inclui a atenção à via aérea e à respiração, o retirado do caldeirão. Um fator complicador é a adesão do
estabelecimento de acesso venoso em membro que não tenha piche quente à pele e infiltração das roupas, resultando
sido afetado, a monitoração eletrocardiográfica e a sondagem em contínua transferência de calor. Tratamento inclui
vesical de demora da bexiga. A eletricidade pode causar refrigeração rápida do piche e cuidado para evitar trauma
arritmias cardíacas que podem evoluir para parada cardíaca. adicional ao remover o piche. Vários métodos são descritos
Monitorização prolongada é indicada para doentes que na literatura; o mais simples é o uso de óleo mineral para
demonstram a lesão da queimadura, perda de consciência, dissolver o piche. O óleo é inerte, seguro na pele lesada e
exposição a alta tensão (> 1.000 volts) ou anormalidades do disponível em grandes quantidades.
ritmo cardíaco ou arritmias na avaliação inicial.
Como a eletricidade causa contrações forçadas dos padrões de queimadura que indicam abuso
músculos, o médico deve examinar o doente para
procurar lesões musculoesqueléticas associadas, É importante para o médico atendente ter a consciência
incluindo a possibilidade de lesões vertebromedulares. A de que o ferimento de queimadura intencional pode
rabdomiólise decorrente da propagação elétrica através do ocorrer tanto em crianças como em adultos. Os doentes
músculo provoca liberação de mioglobina que pode causar que são incapazes de controlar seu ambiente, tais como
insuficiência renal aguda. Nestas circunstâncias, não cabe os muito jovens e os muito velhos, são particularmente
esperar a confirmação laboratorial antes de instituir a vulneráveis ao abuso e negligência. Queimaduras circulares
terapia para mioglobinúria. Se a urina estiver escura, deve- e queimaduras com bordas claras e padrões únicos devem
se considerar a presença de hemocromógenos. Segundo levantar suspeitas; elas podem indicar que um cigarro ou
as diretrizes do consenso da Associação Americana outro objeto quente (por exemplo, o ferro de engomar) foi
de Queimaduras (American Burn Association – ABA) a colocado em contato com a pele do doente. Queimaduras
fórmula para iniciar a reanimação por ferimentos de nas solas dos pés da criança geralmente sugerem que a
queimaduras elétricas é 4 mL / kg / % ASCQ para garantir criança foi colocada em pé na banheira com água quente.
uma produção urinária de 100 mL/ h em adultos e 1-1,5 Por outro lado, derramar água quente sobre ele ou ela,
mL/ kg / h em crianças com menos de 30 kg. Uma vez que com contato dos pés na banheira fria pode proteger a parte
a urina se torna clara de pigmentação, diminuir a infusão inferior do pé. Queimadura localizada na face posterior
de fluidos IV para garantir um débito urinário padrão de das pernas e nádegas pode indicar que um doente idoso
0.5mL/kg/h. Consultar uma unidade de queimados do foi colocado sentado em uma banheira com água quente.
local antes de iniciar infusão de bicarbonato ou manitol. Lesões antigas causadas por queimaduras em um cenário
de uma nova lesão traumática, como uma fratura, também
queimadura por piche quente devem levantar a suspeita de abuso. Acima de tudo, o
mecanismo e o padrão das lesões devem coincidir com a
Em ambientes industriais, indivíduos podem sofrer lesões história da lesão.
secundárias por piche quente ou asfalto. A temperatura do
tr ansferência de doentes
armadilha prevenção
Os critérios para transferência de doentes para centros
Doente com • Lembre-se que, em queimaduras de queimados foram estabelecidos pela Associação
queimadura elétricas, a lesão muscular pode Americana de Queimados.
elétrica que ocorrer com poucos sinais
evolui com externos de lesão.
insuficiência • Dosagem urinária positiva para Critérios para transferência
renal. mioglobina indica a necessidade
de administração de fluidos para Os seguintes tipos de queimaduras geralmente
aumentar o débito urinário. necessitam transferência para um centro de queimados:
• Avaliar repetidamente o doente
vítima de queimadura elétrica
no sentido de diagnosticar 1. Queimaduras de espessura parcial
precocemente a síndrome comprometendo mais que 10% ASCQ.
compartimental e a necessidade 2. Queimaduras envolvendo a face, mãos, pés,
da realização de fasciotomia.
genitália, períneo, ou comprometendo a pele
• Doente com queimadura
elétrica pode apresentar
sobre as principais articulações.
arritmias cardíacas e precisa 3. Queimaduras de terceiro grau em qualquer
estar monitorizado e realizar grupo etário.
ecocardiografia.
4. Queimaduras elétricas, incluindo lesões por raios.
LESÕES POR FRIO: EFEITOS TECIDUAIS LOCAIS 181

5. Queimaduras químicas.
6. Lesões por inalação. armadilha prevenção
7. Queimaduras em doentes com doenças prévias
que podem complicar o atendimento, prolongar Doente “perde” a • Reavaliar frequentemente a
intubação durante o permeabilidade da via aérea
a recuperação, ou elevar a mortalidade (por transporte. antes da transferência.
exemplo, diabetes, insuficiência renal). • Quando o doente apresenta
8. Qualquer doente queimado com trauma fatores de risco para lesão
concomitante (por exemplo, fraturas) na qual a por inalação ou recebeu
queimadura aumenta o risco de morbidade ou quantidades significativas de
fluidos para reanimação, entre
mortalidade. Em tais casos, se o trauma representa em contato com a instituição
um maior risco imediato, o doente pode ser que irá receber o doente
inicialmente estabilizado em um centro de trauma para discutir a necessidade
antes de ser transferido para uma unidade de de intubação antes da
queimados. A avaliação médica é necessária em tais transferência..
situações e deve ser considerada em conjunto com os
protocolos de controle médico regional e de triagem. Doente refere muita • Providenciar adequada
9. Crianças com queimaduras atendidas em hospitais dor nas trocas de analgesia antes da
curativo. manipulação do curativo.
sem pessoal qualificado ou sem equipamentos • Utilizar curativos não-
específicos para seu cuidado devem ser transferidas aderentes e lençóis limpos para
para um centro de queimados que atenda crianças. prevenção de contaminação
antes da transferência.
10. Queimaduras em doentes que irão necessitar de
suporte especial, tanto do ponto de vista social
como emocional, ou de reabilitação prolongada. O hospital que recebe • Assegurar as informações
o doente queimado apropriadas referentes ao
não é capaz de concluir doente queimado através
Em razão destes critérios serem tão abrangentes, o sobre o tamanho da de formulários próprios de
queimadura informada
médico atendente pode optar por consultar um centro nos documentos de transferências.
de queimados e determinar um plano de tratamento transferência.
adequado que evite a transferência. Por exemplo, no caso
de um doente com queimadura de espessura parcial em O hospital que recebe • Assegurar que as
mão ou rosto, que tenha um controle álgico adequado o doente queimado informações apropriadas
não é capaz de referentes a quantidade
com medicação via oral e possa ter suas queimaduras concluir a respeito de fluidos administrados e
tratadas à nível ambulatorial, pode evitar os custos de da quantidade de débito urinário do doente
fluidos administrados
transferência imediata para um centro de queimados. informada nos queimado sejam enviadas
documentos de com o doente.
transferência.
procedimentos de transferências
A transferência de qualquer doente deve ser planejada com
o médico do centro de queimados. Qualquer informação Tipos de lesões por frio
pertinente sobre exames, temperatura, pulso, líquidos
administrados e débito urinário, deve ser registrada em Dois tipos de lesão por frio são vistos no doente
folha adequada e enviada junto com o doente. Também traumatizado: Congelamento e lesão não congelante.
deve ser encaminhada qualquer outra informação que
seja considerada importante tanto para o médico que Congelamento
encaminha o doente como para o médico que irá receber
esse doente queimado. O congelamento é devido a lesão do tecido por formação de
cristais de gelo causando lesão de membrana celular, oclusão
microvascular e anóxia tecidual subsequente (n FIGURA 9-8). O
le sõe s p or fr io: efeitos dano tecidual também pode resultar da lesão de reperfusão
tec idua is lo c a is que ocorre no reaquecimento. O congelamento é classificado
em graus, primeiro, segundo, terceiro e quarto graus de
A gravidade das lesões por frio depende da temperatura, acordo com a profundidade de envolvimento.
da duração da exposição, das condições ambientais,
do grau de proteção conferida pelas roupas e do 1. Congelamento de primeiro grau: hiperemia e
estado de saúde do doente. Temperaturas mais baixas, edema estão presentes sem necrose da pele.
imobilização, exposição prolongada, umidade, presença 2. Congelamento de segundo grau: formação
de doença vascular periférica e de feridas abertas são de vesícula grande, clara acompanhada de
hiperemia e edema com necrose de pele de
fatores que aumentam a gravidade da lesão. espessura parcial.
­182 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

surgir complicações de infecção local, como celulite,


linfangite ou gangrena. Bons cuidados higiênicos locais
podem evitar a ocorrência da maioria destas lesões.

Tratamento do Congelamento e das


Lesões Não Congelantes
O tratamento deve ser imediato para reduzir a duração do
congelamento dos tecidos. Entretanto, o reaquecimento
não deve ser iniciado se existir o risco de um novo
congelamento. Roupas úmidas e apertadas devem ser
substituídas por cobertores aquecidos e, desde que
possa ingerir líquidos, o doente deve receber líquidos
quentes por via oral. As medidas iniciais a serem tomadas
incluem a colocação da parte afetada em água circulante
n FIGURA 9-8  Congelamento. O congelamento é devido à lesão a 40 oC (104 oF) até que ocorra o retorno da perfusão e
dos tecidos por formação de cristais de gelo dentro das células e por a coloração volte a ser rosada (o que leva, usualmente,
oclusão microvascular que resulta em anóxia tecidual.
20 a 30 minutos). A melhor forma de conseguir, isto é,
3. Congelamento de terceiro grau: necrose no ambiente hospitalar, em um grande tanque como
do tecido subcutâneo e de espessura total uma banheira de hidromassagem com água circulante.
e comumente com formação de vesículas
hemorrágicas. O calor seco deve ser evitado, assim como esfregar ou
massagear a área. O processo de reaquecimento pode ser
4. Congelamento de quarto grau: ocorre necrose extremamente doloroso, sendo essencial que se utilizem
de pele de espessura total, incluindo o músculo e
osso com posterior necrose. analgésicos adequados (narcóticos, infundidos por via IV).
Durante o reaquecimento, recomenda-se a monitoração
Embora a parte do corpo afetada se apresente cardíaca. Aquecimento de grandes áreas pode resultar
inicialmente endurecida, fria, branca e anestesiada, a em síndrome de reperfusão, com acidose, hipercalemia
aparência da lesão muda durante o curso do tratamento e inchaço local; portanto, monitore o ritmo cardíaco e a
na medida que a área é aquecida e torna-se perfundida. perfusão periférica durante o reaquecimento do doente.
O regime de tratamento inicial se aplica a todos os graus
de lesão, e muitas vezes a classificação inicial da lesão Cuidados Locais no Congelamento
não é prognóstica. O tratamento cirúrgico final do
congelamento depende do nível de demarcação dos O objetivo do tratamento das lesões devidas a congelamento
tecidos perfundidos. Esta delimitação pode levar de é preservar os tecidos danificados, prevenindo a infecção,
semanas a meses para chegar a uma fase final. evitando abrir vesículas não infectadas e elevando a parte
afetada que é deixada exposta ao ar ambiente. Os tecidos
Lesão não Congelante lesados devem ser protegidos por uma tenda ou por outro
dispositivo de modo a não exercer pressão sobre eles.
A lesão não congelante é devida ao comprometimento Quando do tratamento de doentes com hipotermia,
do endotélio microvascular, estase e oclusão vascular. é importante reconhecer as diferenças entre o
O termo pé (ou mão) de trincheira ou pé (ou mão) de reaquecimento passivo e ativo. Reaquecimento passivo
imersão descreve um tipo de lesão não congelante que envolve colocar o doente em um ambiente que reduza
pode acometer as mãos ou os pés, que afeta tipicamente a perda de calor (por exemplo, usando roupas secas e
soldados, marinheiros ou pescadores e que resulta da cobertores) e se baseia no mecanismo de termorregulação
exposição crônica a ambiente úmido e a temperaturas intrínseca do doente para gerar calor e elevar a temperatura
pouco acima do ponto de congelamento, ou seja 1,6 oC do corpo. Este método é usado para hipotermia leve. O
a 10 oC. Embora o pé inteiro possa parecer preto, pode reaquecimento ativo envolve fornecer fontes adicionais de
não haver destruição de tecidos profundos. O quadro energia de calor para o doente (por exemplo, administrar
evolui através da alternância de vaso-espasmo e de solução endovenosa aquecida, colocação de almofadas
vasodilatação arterial. Os tecidos afetados apresentam-se aquecidas em áreas de alto fluxo vascular como a virilha e
frios e anestesiados no início e evoluem para a hiperemia axila e iniciar desvio circulatório). O reaquecimento ativo
em 24 a 48 horas. Com a hiperemia surge uma sensação é usado para doentes com hipotermia moderada e grave.
intensa e dolorosa de queimação e de disestesia, assim Embora os doentes possam encontrar-se desidratados,
como lesões teciduais caracterizadas por edema, formação apenas raramente a perda de líquidos é suficientemente
de bolhas, vermelhidão, equimoses e ulcerações. Podem grande a ponto de exigir medidas de reanimação com
RESUMO DO CAPÍTULO 183

o uso de soluções endovenosas. A adoção de medidas (89.6 oF). A hipotermia é comum em doentes traumatizados
de profilaxia antitetânica depende do estado prévio de graves, mas a queda progressiva da temperatura central pode
imunização do doente. O uso de antibióticos por via ser limitada com a infusão de fluídos e sangue aquecidos,
sistêmica deve ser reservado para infecções já instaladas. exposição sensata do doente, e aquecimento do ambiente.
As feridas devem ser mantidas limpas e as bolhas não Evitar a hipotermia iatrogênica durante a exposição e infusão
infectadas devem ser deixadas intactas por 7 a 10 dias, de líquidos é importante, pois a hipotermia pode piorar a
com o intuito de oferecer um curativo biológico estéril, coagulopatia e afetar a função orgânica.
capaz de favorecer a epitelização subjacente. A nicotina e, Os sinais de hipotermia e seu tratamento são
portanto, o tabaco, assim como quaisquer outros agentes explicados em mais detalhes no Apêndice B: Hipotermia
vasoconstritores devem ser evitados. Atividades físicas e lesões térmicas.
mais intensas são proibidas até a resolução do edema.
Numerosas medidas adjuvantes foram tentadas para
restaurar o fornecimento de sangue ao tecido afetado pelo
frio. Infelizmente, em sua maioria, todas mostraram-se
Trabalho em equipe
ineficazes. Bloqueio simpático (por exemplo, simpatectomia
ou drogas) e agentes vasodilatadores não provaram serem O líder da equipe deve:
úteis para alterar a progressão da lesão aguda causada pelo
frio. Da mesma forma, heparina e oxigenoterapia hiperbárica •• Certificar-se de que a equipe de trauma
também falharam em demonstrar benefícios substanciais reconhece os aspectos específicos do
de tratamento. Várias séries de casos retrospectivos têm tratamento de doentes com queimadura e é
sugerido que agentes trombolíticos podem mostrar alguma capaz de aplicar os princípios do ATLS nesse
tipo de doente.
promessa, mas apenas quando a terapia trombolítica for
administrada nas primeiras 23 horas da lesão congelante. •• Ajudar a equipe a reconhecer a importância
No caso das lesões por frio em geral, a avaliação de limitar a exposição do doente a fim de
da profundidade e extensão das lesões teciduais não minimizar a hipotermia e infecção da área
costuma ser precisa até que ocorra a demarcação da área queimada.
afetada. Para tanto podem ser necessárias semanas ou •• Incentivar a equipe de trauma a comunicar-se
mesmo meses de observação. Por isso, o desbridamento precoce e regularmente sobre os desafios de
cirúrgico precoce ou a amputação raramente são reanimar um doente queimado (por exemplo,
indicados na fase inicial, a não ser que ocorra infecção. acesso IV e necessidade de escarotomias).

le sõe s p or fr io: r e sumo do c a pítulo


hip oter mi a sis têmic a
1. Queimaduras são exclusivas; a inflamação/
Doentes traumatizados também são suscetíveis à hipotermia edema causada pela queimadura pode não ser
e qualquer grau de hipotermia em doentes traumatizados imediatamente evidente e requer a compreensão
pode ser danoso. Entende-se por hipotermia o estado no qual da sua fisiopatologia.
a temperatura central do doente cai abaixo de 36 oC (96.8 oF)
e por hipotermia grave a temperatura central abaixo de 32 oC 2. Medidas salvadoras para doentes com queimaduras
incluem interromper o processo de queimadura,
reconhecendo a lesão por inalação e garantindo
armadilha prevenção uma via aérea pérvia, oxigenação e ventilação
adequadas e rapidamente conseguir um acesso
Doente se torna • Lembre-se, a termorregulação é venoso e iniciar a reposição volêmica.
hipotérmico. difícil em doentes portadores de
lesão por queimaduras. 3. Reanimação volêmica é necessária para manter a
• Se for irrigar as queimaduras. utilize perfusão decorrente da perda de fluidos causadas
solução salina aquecida. pela inflamação. A resposta inflamatória que conduz
• Aqueça o ambiente. as necessidades circulatórias está diretamente
• Utilize lâmpadas de aquecimento relacionada ao tamanho e profundidade da
e cobertores para reaquecer o queimadura. Apenas queimaduras de segundo
doente
e terceiro graus são incluídas no cálculo da
• Use fluidos EV aquecidos.
reposição volêmica. A “regra dos nove” é uma
­184 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas

regra prática e útil para determinar a extensão 4. Cancio LC. Initial assessment and fluid re-
da queimadura. A área de superfície corporal da suscitation of burn patients. Surg Clin North Am
criança é consideravelmente diferente. Na criança, 2014 Aug;94(4):741–754.
a cabeça corresponde a uma percentagem maior e 5. Cancio LC, Lundy JB, Sheridan RL. Evolving
os membros inferiores a uma percentagem menor changes in the management of burns and envi-
do que no adulto. ronmental injuries. Surg Clin North Am 2012
Aug;92(4):959–986, ix.
4. Deve-se ter atenção especial aos problemas próprios 6. Carta T, Gawaziuk J, Liu S, et al. Use of mineral
das queimaduras. A intoxicação por monóxido oil Fleet enema for the removal of a large tar
de carbono deve ser suspeitada e diagnosticada. burn: a case report, J Burns, 2015 Mar;41(2):
Queimaduras circunferenciais podem necessitar e11-4.
de escarotomia. 7. Gentilello LM, Cobean RA, Offner PJ, et al.
Continuous arteriovenous rewarming: rapid
5. Outras causas de queimaduras devem ser reversal of hypothermia in critically ill patients.
reconhecidas e iniciado o tratamento adequado. J Trauma 1992;32(3):316–327.
Queimaduras químicas requerem retirada imediata 8. Gonzaga T, Jenebzadeh K, Anderson CP,
das roupas e irrigação com grande quantidade Mohr WJ, Endorf FW, Ahrenholz DH. Use of
de água para evitar mais lesão. Queimaduras intraarterial thrombolytic therapy for acute
elétricas podem estar associadas com grandes treatment of frostbite in 62 patients with review
lesões ocultas. Doentes com queimaduras têm of thrombolytic therapy in frostbite. J Burn Care
um risco aumentado de hipotermia. A analgesia Res, 2015.
adequada não pode ser subestimada. 9. Halebian P, Robinson N, Barie P, et al. Whole
body oxygen utilization during carbon monoxide
6. A Associação Americana de Queimaduras poisoning and isocapneic nitrogen hypoxia. J
identificou os tipos de queimaduras que geralmente Trauma 1986;26:110–117.
necessitam transferência para um centro de 10. Jurkovich GJ. Hypothermia in the trauma patient.
queimados. Os princípios de transferência são In: Maull KI, Cleveland HC, Strauch GO, et al., eds.
semelhantes aos doentes não queimados, mas Advances in Trauma. Vol. 4. Chicago, IL: Yearbook;
incluem uma avaliação precisa da profundidade 1989:11–140.
e extensão da queimadura. 11. Jurkovich GJ, Greiser W, Luterman A, et al. Hy-
pothermia in trauma victims: an ominous
7. O tratamento inicial dos doentes com lesões por predictor of survival. J Trauma 1987;27:
frio inclui realizar o ABCDEs da reanimação, 1019–1024.
reconhecer o tipo e extensão da lesão por frio, 12. Latenser BA. Critical care of the burn patient:
medir a temperatura central do doente, iniciar um the first 48 hours. Crit Care Med 2009 Oct;37
registro de tratamento, e iniciar precocemente as (10):2819–2826.
técnicas de reaquecimento. 13. Moss J. Accidental severe hypothermia. Surg
Gynecol Obstet 1986;162:501–513.
14. Mozingo DW, Smith AA, McManus WF,
et al. Chemical burns. J Trauma 1988;28:
Bibliografia 642–647.
15. Perry RJ, Moore CA, Morgan BD, et al. Determining
the approximate area of burn: an inconsist-
1. Baxter CR. Volume and electrolyte changes ency investigated and reevaluated. BMJ 1996;
in the early postburn period. Clin Plast Surg 312:1338.
1974;4:693–709. 16. Pham TN, Gibran NS. Thermal and electrical
2. Bruen KJ, Ballard JR, Morris SE, et al. Reduction injuries. Surg Clin North Am 2007 Feb;87(1):185–
of the incidence of amputation in frostbite 206, vii–viii. Review.
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10 TRAUMA PEDIÁTRICO

Traumatismos ainda são a causa mais comum de óbitos e sequelas na infância. A morbidade
e mortalidade ultrapassam todas as principais doenças da criança e do adulto jovem, sendo o
trauma o maior problema de saúde pública e de atendimento nesta população.
Capítulo 10 sumário
Objetivos Trauma abdominal
• Avaliação
Introdução • Métodos Diagnósticos Auxiliares
• Abordagem Não Operatória
Tipos e padrões de lesões • Lesões Viscerais Específicas

características próprias dos doentes pediátricos traumatismO craniencefálicO


• Tamanho, Forma e Área de Superfície Corporal • Avaliação
• Esqueleto • Abordagem
• Status Fisiológico
• Efeitos a Longo Prazo traumatismo vértebromedular
• Equipamento • Diferenças Anatômicas
• Considerações Radiológicas
Via aérea
• Anatomia Trauma musculoesquelético
• Abordagem • História
• Perda Sanguínea
respiração • Considerações Especiais sobre o Esqueleto Imaturo
• Respiração e Ventilação • Princípios de Imobilização
• Punção e Drenagem Pleura
maus tratos
Circulação e choque
• Reconhecimento de Alteração Circulatória Prevenção
• Determinação do Peso e Volemia
• Acesso Venoso Trabalho em equipe
• Ressucitação Volêmica e de Hemocomponentes
• Diurese resumo do capítulo
• Termorregulação
Bibliografia
reanimação cardiopulmonar

trauma torácico

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de aos doentes pediátricos, as diferenças anatômicas e
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: fisiológicas que afetam a ressuscitação e a diferença
dos equipamentos quando comparados ao trauma
1. Identificar as características próprias da criança de adultos.
como doente traumatizado, incluindo os tipos
e padrões de lesão, diferenças anatômicas e 3. Identificar padrões de lesão associados a maus
fisiológicas da criança, em comparação ao adulto e tratos na infância e descrever os elementos que
os efeitos a longo prazo das lesões. levam à suspeita desta condição.

2. Descrever a abordagem primária do trauma 4. Listar o ABCDE da prevenção de acidentes.


pediátrico, incluindo questões próprias relacionadas

187
­188 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

T
raumatismos continuam sendo a causa mais
comum de mortes e sequelas na infância. tabela 10-1 mecanismos de trauma
Mais de 10 milhões de crianças são atendidas comuns e padrões de associação de
nas emergências dos Estados Unidos por ano para lesão em doentes pediátricos
tratamento de lesões traumáticas, o que representa
quase 1 em cada 6 crianças. Mais de 10.000 crianças MECANISMO
morrem anualmente devido a lesões graves nos DE TRAUMA PADRÕES COMUNS DE LESÃO
Estados Unidos. A morbimortalidade desta doença
ultrapassa todas as principais doenças em crianças e Atropelamento • Baixa velocidade: fraturas de
adultos jovens, fazendo com que o trauma seja o maior membros inferiores
• Alta velocidade: politraumatismo,
problema de saúde pública e de atendimento nesta
lesões de cabeça e pescoço,
população. Mundialmente, acidentes automobilísticos fraturas de membros inferiores
são a principal causa de mortes de adolescentes. Falhas
na abordagem da via aérea, no suporte de ventilação Ocupante de • Sem dispositivo de segurança:
e no reconhecimento e tratamento de hemorragias veículo politraumatismo, lesões de
abdominais e intracranianas situam-se nas principais cabeça e pescoço, lacerações de
causas de insucesso na reanimação da criança face e de couro cabeludo
• Com dispositivo de segurança:
traumatizada; por isso, a aplicação dos princípios do
lesões torácicas e abdominais,
ATLS para atendimento da criança traumatizada tem fraturas lombares
impacto significativo na sobrevida final.
Queda de altura • Baixa: fraturas de membros

Tipos e padrões de lesões superiores


• Média: lesões de cabeça e
pescoço, fraturas de membros
inferiores e superiores
Acidentes associados a veículos automotores são a
• Alta: politraumatismo, lesões de
principal causa de morte em crianças em todas as faixas cabeça e pescoço, fraturas de
etárias. A criança pode ser tanto ocupante do veículo, membros superiores e inferiores
pedestre ou ciclista. Mortes causadas por afogamento,
incêndios, homicídios e quedas seguem os acidentes Queda de • Sem capacete: Lesões de cabeça
de transporte, em ordem decrescente. Maus tratos bicicleta e pescoço, lacerações de face
na infância são relacionados à grande maioria dos e couro cabeludo, fraturas de
membros superiores
homicídios em lactentes (menores de 12 meses de
• Com capacete: Fraturas de
idade), enquanto lesões por projéteis de arma de fogo membros superiores
são a principal causa em crianças e adolescentes. As • Lesões com o guidon: lesões intra-
quedas são responsáveis pela maioria dos traumatismos abdominais
na criança, mas é infrequente que causem morte.
Mecanismos de trauma contusos e as características
físicas das crianças resultam em traumatismos
multissistêmicos, que são a regra, e não a exceção. c a r ac ter ís tic a s própr i a s
A n TABELA 10-1 demonstra os mecanismos de
trauma comuns e os padrões de associação de lesões
dos doente s pedi átr icos
em doentes pediátricos.Apesar do fato de que o
estado clínico raramente deteriore na maioria das As prioridades de avaliação e atendimento de lesões
crianças traumatizadas e que a maioria delas não nas crianças são as mesmas dos adultos. Entretanto,
tem alterações hemodinâmicas, persiste o fato de as características anatômicas e fisiológicas próprias
que a condição de algumas crianças com lesões da infância são associadas a diferentes mecanismos
multissistêmicas irão deteriorar seu estado clínico de trauma, produzindo padrões distintos de lesão. Por
rapidamente, e complicações graves serão decorrentes exemplo, os traumatismos contusos mais graves são os
disso. Assim, esses doentes devem ser transferidos que envolvem o cérebro. Consequentemente, apneia,
precocemente para um centro capaz de tratar a hipoventilação e hipóxia ocorrem com frequência
crianças politraumatizada. cinco vezes maior que hipovolemia e hipotensão em
O organograma (ver Figura 1-2 no Capítulo 1) e o doentes pediátricos traumatizados graves. Portanto,
Pediatric Trauma Score n TABELA 10-2 são ferramentas os protocolos de tratamento de trauma pediátrico
úteis para identificar precocemente os doentes enfatizam a necessidade de ser agressivo na abordagem
pediátricos com lesões multissistêmicas. das via aérea e ventilação.
CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DOS DOENTES PEDIÁTRICOS 189

tabela 10-2 pediatric trauma score

SCORE

COMPONENTE +2 +1 -1

Peso >20 kg 10–20 kg <10 kg

Via Aérea Normal Cânula oro ou nasofaríngea Intubado, cricotiroidotomia ou


oxigênio traqueostomia

Pressão Arterial >90 mm Hg; pulsos e 50–90 mm Hg; pulsos carotídeos <50 mm Hg; pulsos fracos ou
Sistólica perfusão periférica ou femorais palpáveis ausentes

Nível de Alerta Obnibulado ou qualquer perda Coma, sem resposta


Consciência de consciência

Fratura Ausentes e sem suspeita Única, fechada Exposta ou múltipla

Lesões Cutâneas Ausentes Contusão, abrasão, laceração <7 Perda de tecido ou qualquer
cm sem comprometer fáscia orifício relacionado a ferimentos
de arma de fogo ou arma branca
que ultrapasse a fáscia.

Total:

Fonte: Adaptado com permissão de Tepas JJ, Mollitt DL, Talbert JL, et al. The pediatric trauma score as a predictor of injury severity in the injured
child. Journal of Pediatric Surgery 1987; 22(1)15.

tamanho, forma e superfície corporal ossos contíguos às respectivas lesões. Por exemplo, fraturas
de arcos costais são incomuns nas crianças, ao contrário
Como a criança tem menor massa corpórea, o impacto das contusões pulmonares, que são muito comuns. Outros
da energia, por exemplo, de paralamas, para-choques tecidos moles do tórax, coração e mediastino também
e de quedas resulta em maior força aplicada por podem ter lesões significativas sem evidência de fraturas.
unidade de área corporal. Essa energia mais intensa é A identificação de fraturas de crânio e de arcos costais em
transmitida para um corpo que possui menos gordura, crianças sugere transferência maciça de energia e associação
tecido conjuntivo e maior proximidade entre os órgãos. de lesões de órgãos próximos a elas, como lesões cerebrais
Esses fatores explicam a alta incidência de lesões e contusões pulmonares, que devem ser suspeitadas.
múltiplas observadas na população pediátrica. Além
disso, a cabeça é proporcionalmente maior em crianças Status psicológico
mais novas, causando alta incidência de lesões cerebrais
contusas nesta faixa etária. Há muitas ramificações psicológicas significantes dos
A relação entre superfície corpórea e volume corporal traumatismos em crianças. Em crianças pequenas, a
é maior ao nascimento e diminui com o crescimento instabilidade emocional frequentemente leva a um
da criança. Como consequência, a perda de calor é um comportamento regredido, quando estresse, dor e outras
fator de estresse importante em crianças. A hipotermia ameaças percebidas interferem no ambiente da criança.
pode se instalar rapidamente e complicar o tratamento A capacidade de interação da criança com pessoas
do doente pediátrico com hipotensão. desconhecidas e em situações difíceis é limitada, o que torna
difícil coletar dados da história, assim como ter cooperação
esqueleto nas manipulações, especialmente se causarem dor.
Médicos que entendam essas características e que tenham
O esqueleto pediátrico tem calcificação incompleta, contém a intenção de persuadir e acalmar uma criança traumatizada
múltiplos centros de crescimento ósseo ativos e é mais têm maior possibilidade de estabelecer um bom contato, o
flexível que o do adulto. Por essas razões, há com frequência que facilita a avaliação e compreensão das lesões físicas e
lesões de órgãos internos sem associação com fraturas de psicológicas da criança. Além disso, a presença de pais ou
­190 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

responsáveis durante a avaliação e tratamento, inclusive atrasará a transferência de doentes que precisam de
durante a reanimação, pode ajudar o médico no tratamento estrutura de maior complexidade.
inicial da criança traumatizada, minimizando os medos e Não obstante, a qualidade de vida a longo prazo de
ansiedades naturais da criança traumatizada. crianças traumatizadas é surpreendentemente robusta,
mesmo que em muitos casos eles tenham que lidar com
efeitos a longo prazo desafios físicos por toda a vida. A maioria desses doentes
reportam uma boa ou excelente qualidade de vida e
Uma importante consideração ao se tratar de crianças conseguem empregos e bons salários como adultos, o que
traumatizadas é o efeito que a lesão pode ter no justifica as iniciativas de reanimação agressiva, mesmo
crescimento e desenvolvimento subsequentes. Ao para doentes pediátricos cujo status fisiológico inicial,
contrário dos adultos, as crianças devem não só se por exemplo, a escala de coma de Glasgow sugerisse o
recuperar dos efeitos do evento traumático, mas contrário.
também continuar o processo normal de crescimento e
desenvolvimento. Os efeitos fisiológicos e psicológicos Equipamento
da lesão neste processo não devem ser subestimados,
especialmente em casos que envolvem função a longo Equipamento adequado imediatamente disponível é
prazo, deformidade de crescimento ou desenvolvimento essencial para o sucesso no atendimento inicial da criança
subsequente anormal. Crianças com uma lesão menor traumatizada (n TABELA 10-3; ver também Equipamento
podem ter períodos prolongados de disfunção cerebral, Pediátrico no aplicativo móvel MyATLS). Uma fita baseada
ajustamento psicológico ou do sistema orgânico. no comprimento, como a Broselow® Pediatric Emergency
Algumas evidências sugerem que aproximadamente Tape, é uma ferramenta ideal para a rápida determinação
60% das crianças que tiveram traumatismo do peso, baseado no comprimento, para volumes
multissistêmico têm alterações de personalidade de reposição volêmica apropriados, dose de drogas e
residuais um ano após a alta hospitalar e 50% têm tamanhos dos equipamentos. Através da aferição da altura
limitações cognitivas e físicas. Disfunções sociais, da criança, o seu peso estimado pode ser determinado
afetivas e de aprendizado estão presentes em metade prontamente. Um lado da fita provê as drogas e suas doses
das crianças que tiveram lesões graves. Além disso, os recomendadas para doentes pediátricos, através do peso.
traumatismos na infância têm impacto significativo na O outro lado identifica os equipamentos necessários para
família, com distúrbios emocionais e de personalidade os doentes pediátricos com base no seu comprimento (n
em dois terços dos irmãos de crianças traumatizadas. FIGURA 10-1). Os médicos devem familiarizar-se com as
Frequentemente, o trauma da criança impõe tensões fitas de reanimação, assim como no seu uso.
no casamento dos pais, inclusive problemas financeiros
e também de emprego. O trauma não afeta apenas a
sobrevida da criança, mas também a qualidade de vida
armadilha prevenção
da criança nos anos a seguir.
Administração • Reconhecer a necessidade
Deve-se atentar para fraturas e lesões de vísceras
incorreta de doses de dose pelo peso e o uso da
parenquimatosas: lesões que afetem a placa de
de soluções e fita para estimar o peso.
crescimento podem resultar em crescimento anormal
do osso fraturado. Se o osso for o fêmur, pode resultar medicamentos.
em alteração do comprimento da perna, causando
incapacidade permanente para andar e correr. Se a Desenvolvimento de • Reconhecer a importância
fratura ocorrer através da placa de crescimento de uma hipotermia. da superfície corporal
ou mais vértebras torácicas, pode causar escoliose, da criança, controlar o
cifose ou até uma giba. Uma lesão grave do baço pode ambiente e aquecer a
necessitar de esplenectomia. A perda do baço predispõe criança.
ao risco de sepse pós-esplenectomia e de morte por
tempo prolongado.
A radiação ionizante, comumente usada para avaliação via aérea
de doentes traumatizados, aumenta o risco de algumas
neoplasias e deve ser usada somente nas seguintes O “A” do ABCDE do atendimento inicial é o mesmo em
circunstâncias: quando a informação necessária não crianças e em adultos. Estabelecer via aérea segura para
pode ser obtida de forma prática ou rápida por outros garantir adequada oxigenação tecidual é o primeiro
meios; a informação obtida mudará o tratamento do objetivo. A causa mais comum de parada cardíaca em
doente; a informação é obtida com o mínimo de radiação crianças é a falha em se obter via aérea e/ou mantê-la,
possível para o doente; a obtenção da informação não associada à falta de oxigenação. Portanto, via aérea na
VIA AÉREA 191

tabela 10-3 equipamento pediátrico a

VIA AÉREA E RESPIRAÇÃO

SONDA SONDA
IDADE E MÁSCARA ORO- BOLSA LARIN- TUBO ASPIRA-
PESO DE O2 TRAQUEAL MÁSCARA GOSCÓPIO ET GUIA ÇÃO

RNPT RNPT, RN Lactente Lactente 0 reto 2.5–3.0 s/ 6 Fr 6–8 Fr


3 kg balonete

0–6 m RN Lactente, Lactente 1 reto 3.0–3.5 s/ 6 Fr 8 Fr


3.5 kg pequena balonete

6–12 m Pediátrica Pequena Pediátrica 1 reto 3.5–4.0 6 Fr 8-10 Fr


7 kg c/ ou s/
balonete

1–3 a Pediátrica Pequena Pediátrica 1 reto 4.0–4.5 6 Fr 10 Fr


10–12 kg c/ ou s/
balonete

4–7 a Pediátrica Média Pediátrica 2 reto e 5.0–5.5 c/ 14 Fr 14 Fr


16–18 kg curvo balonete

8–10 a Adulto Média, Pediátrica, 2-3 reto e 5.5–6.5 c/ 14 Fr 14 Fr


24–30 kg grande adulto curvo balonete

CIRCULAÇÃO EQUIPAMENTO COMPLEMENTAR

CATE-
TER
PESO E CATETER TUBO DRENO URINÁ- COLAR
IDADE MANGUITO EV OG/NG TÓRAX RIO CERVICAL

RNPT RNPT, RN 22–24 ga 8 Fr 10-14 Fr 5 Fr —


3 kg

0–6 m RN, lactente 22 ga 10 Fr 12-18 Fr 6 Fr ou —


3.5 kg 5–8 Fr

6–12 m Lactente, pediátrica 22 ga 12 Fr 14-20 Fr 8 Fr Pequeno


7 kg

1–3 a Pediátrica 20-22 ga 12 Fr 14-24 Fr 10 Fr Pequeno


10–12 kg

4–7 a Pediátrica 20 ga 12 Fr 20-28 Fr 10-12 Fr Médio


16–18 kg

8–10 a Pediátrica, adulto 18-20 ga 14 Fr 28-32 Fr 12 Fr Médio


24–30 kg

Use uma fita de reanimação baseada na altura, como a fita de BroselowTM.


a

Use o maior cateter EV que se conseguir obter, com uma chance razoável de sucesso em sua punção.
b
­192 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

A B
n FIGURA 10-1  Fita de Reanimação. A. A fita de reanimação baseada no comprimento como a Broselow® Pediatric Emergency Tape, é ideal
para determinar rapidamente o peso, assim como volumes, doses de drogas e tamanhos de equipamentos.B. Detalhe demonstrando doses e
equipamentos recomendados para doentes pediátricos baseados em seu peso.

criança é a primeira prioridade. (Ver também Capítulo Plano da face não


2: Via Aérea e Abordagem Ventilatória e Estação Prática paralelo com coluna
A: Via Aérea.)

Anatomia
Quanto menor a criança, maior a desproporção entre
o tamanho do crânio e a face. Por isso há propensão de
a laringe posterior se anteriorizar, como resultado da A
flexão passiva da coluna cervical devido à proeminência
occipital. Para evitar a flexão passiva da coluna Plano da face
paralelo com coluna
cervical, o plano da face deve manter-se paralelo ao
da prancha em posição neutral, ao invés da “posição de
cheirador” (n FIGURA 10-2A). A colocação de um coxim
de aproximadamente 2,5 cm de altura abrangendo o
dorso em lactentes (menores de 1 ano de idade) ou em
crianças menores (de 1 a 3 anos de idade) preserva o
alinhamento neutro da coluna (n FIGURA 10-2B).
Diferenças anatômicas na criança afetam a avaliação e
B
abordagem da via aérea. Os tecidos moles da orofaringe n FIGURA 10-2  Posicionamento para Manutenção da Via Aérea. A.
de um lactente são proporcionalmente maiores quando Posicionamento impróprio de uma criança, para manutenção da via
comparadas aos tecidos da cavidade oral, o que dificulta aérea pérvia. A desproporção entre o tamanho do crânio da criança
a visualização da laringe. A laringe da criança tem e sua face, promove à anteriorização da faringe posterior. O occipicio
alargado, causa uma passível flexão da coluna cervical.
forma de funil, o que propicia o acúmulo de secreções
B. Posicionamento apropriado da criança para manutenção de sua
na retrofaringe. A laringe e as cordas vocais têm posição
via aérea. A flexão passiva da coluna é evitada, mantendo o plano
mais altas e mais anteriorizada no pescoço. As cordas da face paralelo à coluna, em uma neutra posição, ao contrário da
vocais são mais difíceis de visualizar quando a cabeça “posição do cheirador”. Esse plano e alinhamento neutro é possível
da criança está em posição supina, normal e anatômica com o posicionamento de um coxim de 2,5 cm que compreenda todo
durante a intubação do que quando em posição ótima o tronco do recém-nascido ou lactente.
para proteção da coluna cervical.
A traqueia do lactente tem aproximadamente 5 cm de
comprimento e cresce até 7 cm por volta dos 18 meses do tubo de intubação e/ou barotrauma. A ponta do
de idade. A falta de cuidado com o fato de a traqueia ser tubo deve progredir (em cm) três vezes o tamanho
curta pode resultar em intubação seletiva do brônquio adequado do tubo. Por exemplo, um tubo 4.0 deve ser
direito, ventilação inadequada, deslocamento acidental posicionado a 12 cm da gengiva.
VIA AÉREA 193

abordagem cerebral. Preocupações antigas sobre a possibilidade


destes tubos causarem necrose traqueal não são
Na criança que respire espontaneamente com a via mais relevantes devido ao novo design dos tubos.
aérea parcialmente obstruída, deve-se manter o plano Idealmente, a pressão do balonete deve ser medida
da face paralelo ao da prancha ou maca, enquanto se assim que possível e uma pressão menor do que <30
mantém o alinhamento neutro da coluna cervical. A mm Hg é considerada segura.
manobra de elevação da mandíbula combinada com Uma fita de reanimação baseada no comprimento,
a imobilização bimanual da coluna cervical é usada como a Broselow® Pediatric Emergency Tape,
para desobstruir a via aérea. Após aspiração da boca e também mostra os tamanhos apropriados de tubos
da orofaringe e retirada de corpos estranhos, deve-se endotraqueais. Entretanto, tenha à mão dois tubos a
administrar oxigênio suplementar. Se o doente estiver mais que a do tamanho previsto, um de um número
inconsciente, deve-se proceder a métodos mecânicos maior e um de um número menor que o previsto. Se for
de manutenção da via aérea. Antes de tentar métodos utilizar um guia para facilitar a intubação endotraqueal,
mecânicos para estabelecer a via aérea, a criança deve tenha certeza de que a ponta do guia não ultrapasse
estar completamente pré-oxigenada. o tubo.
A maioria dos centros de trauma usam um protocolo
Cânula Orofaríngea para intubação de emergência, chamado de intubação
assistida por drogas, antes conhecido como intubação
Deve-se colocar a cânula orofaríngea quando a criança de sequência rápida. Deve-se ter muita atenção com o
estiver inconsciente, pois pode ocorrer vômito se os peso da criança, sinais vitais (pulso e pressão arterial)
reflexos estiverem intactos. Não se deve colocar a cânula e nível de consciência para determinar qual parte do
orofaríngea com a curvatura para cima nem rodá-la algoritmo de intubação assistida por drogas (n FIGURA
180 graus, pois pode haver hemorragia secundária a 10-3) deve ser usada. (Ver também Intubação Pediátrica
traumatismo de partes moles da orofaringe. A cânula Assistida por Drogas no aplicativo móvel MyATLS.)
orofaríngea deve ser colocada delicada e diretamente Deve-se pré-oxigenar crianças que necessitam via
na orofaringe, com a curvatura para baixo. O uso de aérea definitiva. Lactentes têm reflexo vagal mais
uma espátula para afastar a lingual pode ser útil. acentuado que crianças maiores e adultos e podem
evoluir com bradicardia devido à estimulação direta
Intubação Orotraqueal da laringe. Bradicardia em crianças (> 1 ano de idade)
é mais frequente secundária à hipóxia. O tratamento
A intubação orotraqueal está indicada em crianças profilático com sulfato de atropina deve ser considerado
traumatizadas em várias situações, tais como: em lactentes que serão submetidos à intubação assistida
por drogas, mas não é necessário para todas as crianças.
•• criança com traumatismo craniano grave que
necessita de ventilação controlada.
Intubação Assistida por Drogas (IAD) em Doentes Pediátricos
•• criança na qual não é possível manter a via
aérea. Preoxigenar
Sulfato de atropina
•• criança com sinais de insuficiência respiratória. (apenas em lactentes; menores que 1 ano de idade) 0,1 0,5 mg
•• criança em hipovolemia profunda, que tem
rebaixamento do nível de consciência ou será Sedar
Hipovolêmico Nomovolêmico
submetida a algum procedimento cirúrgico.
Etomidato 0,1 mg/kg, ou Etomidato 0,3 mg/kg, ou
Midazolam 0,1 mg/kg Midazolam 0,1 mg/kg
A intubação orotraqueal é o meio mais confiável de
se obter a via aérea e ventilação na criança. A menor Paralisar*
área da via aérea da criança é o anel da cricoide, que se Succinilcolina Vecurônio Rocurônio
constitui em um selo natural ao redor de uma sonda <10 kg: 2 mg/kg <10 kg: 2 mg/kg <10 kg: 2 mg/kg
endotraqueal sem balonete. Dispositivo amplamente >10 kg: 1mg/kg >10 kg: 1mg/kg >10 kg: 1mg/kg
utilizado por adequar a anatomia natural da via aérea
da criança. (Ver vídeo de Intubação Endotraqueal em Intubar, verificar a posição do tubo
lactentes, no aplicativo móvel MyATLS.) No entanto, *Proceder de acordo com o julgamento clínico/nível de experiência
o uso de tubos com balonete em crianças pequenas
promove o benefício de melhorar a ventilação e o n FIGURA 10-3  Algoritmo para intubação assistida por drogas para
controle do CO2, resultando em melhora da perfusão doentes pediátricos.
­194 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

A atropina diminui as secreções orais e facilita a Cricotireoidostomia


visualização dos parâmetros para intubação.
Após a intubação, a posição do tubo deve ser checada Quando não se pode manter a ventilação por bolsa-
clinicamente (ver abaixo) e, se correta, deve-se fixar o valva-máscara ou por intubação orotraqueal, uma
tubo com cuidado. Se não for possível intubar a criança via aérea de resgate como mascara laríngea ou
após o bloqueio neuromuscular, deve-se ventilar o cricotireoidostomia podem ser necessários. A ventilação
doente com oxigênio a 100% com bolsa-valva-máscara, com cricotireoidostomia por punção e ventilação a
até que se possa assegurar a via aérea definitiva. jato da membrana é adequada temporariamente para
A intubação orotraqueal realizada com visualização oxigenação, mas não para a ventilação, pois pode
direta e imobilização e proteção da coluna cervical é o ocorrer hipercarbia progressiva. A via aérea com
método preferencial de obtenção de via aérea segura. máscara laríngea é apropriada para lactentes e crianças
A intubação nasotraqueal não deve ser realizada em menores, mas a sua colocação requer experiência e pode
crianças, pois requer um procedimento às cegas na causar distensão gástrica, se a ventilação for muito
nasofaringe, que tem ângulo agudo, em direção à glote vigorosa.
de posição ântero-superior, dificultando a progressão A cricotireoidostomia cirúrgica é raramente indicada
do tubo no trajeto. O risco potencial de penetrar a placa em lactentes e crianças pequenas. Pode ser realizada em
crivosa ou de lesão dos tecidos moles mais proeminentes crianças cuja membrana cricotireoideana for palpada
na nasofaringe (adenoide) causando hemorragia facilmente (normalmente aos 12 anos).
também contraindica o uso da via nasotraqueal para
obtenção da via aérea. armadilha prevenção
Uma vez ultrapassada a glote, o tubo deve ser
posicionado 2 a 3 cm abaixo das cordas vocais e deve ser
Oxigenação do Use a regra mnemônica DOPE
fixado cuidadosamente. A regra de ouro para o correto
doente diminui. como um lembrente de causas
posicionamento do tubo endotraqueal é que a gengiva
frequentes de dessaturação:
deve estar a um comprimento 3 vezes o tamanho do
• D— Deslocamento. Podem
mesmo. As técnicas primárias de confirmação, tais
ocorrer facilmente, visto que
como a ausculta de ambos os hemitórax nas axilas
a traqueia é curta. Certifique a
devem ser realizadas, para confirmar que não houve
posição do tubo e reconheça os
intubação seletiva e que ambos os lados estão sendo
problemas precocemente. Uma
adequadamente ventilados. Um dispositivo secundário
boa monitorização, sobretudo
de confirmação, como o capnógrafo, o detector
no transporte, ajuda-nos a ficar
colorimétrico do CO2 expirado ou um dispositivo com
atentos a esse problema.
detector esofágico devem então ser usados, além do
• O—Obstrução. Pode ocorrer por
raio X que avalia a altura do tubo endotraqueal.
secreções ou acotovelamento,
Devido ao fato de a traqueia ser curta em crianças
visto que o diâmetro desses
menores, qualquer movimento da cabeça pode
tubos são menores. Aspirar
deslocar o tubo endotraqueal ou mesmo extubar
as secreções, pode ajudar,
inadvertidamente, ou ainda causar seletivação da cânula
mas a troca do tubo, pode ser
ou tosse por irritação da carina pela ponta do tubo. Essas
necessária.
condições podem não ser detectadas clinicamente, até
• P—Pneumotórax. Pneumotórax
que o doente apresente deterioração. Assim, a ausculta
hipertensivo pode ocorrer
deve ser realizada periodicamente para assegurar a
com a ventilação mecânica.
adequada posição do tubo e para detectar a possível
Descompressão deve ser
evolução para insuficiência respiratória.
realizada quando ocorrer.
Se houver qualquer dúvida a respeito do
• E—Equipamento. Podem haver
posicionamento correto do tubo endotraqueal que
falhas do equipamento: como
não possa ser resolvida rapidamente, deve-se trocá-
ventiladores, oxímetros e na
lo imediatamente. O uso da regra mnemônica
fonte de oxigênio. Certifique-se
DOPE (D para deslocamento, O para obstrução, P
que o equipamento está
para pneumotórax, E para equipamento) é útil para
funcionando e use equipamento
relembrar as causas comuns de piora clínica em doentes
de reserva quando necessário.
intubados.
CIRCULAÇÃO E CHOQUE 195

Os drenos de tórax devem ser proporcionalmente


respiração menores (ver n TABELA 10-3) e devem ser locados criando
um túnel por cima do arco costal acima da incisão,
O fator chave para a avaliação e abordagem da em direção superior e posterior na cavidade pleural.
respiração nos doentes pediátricos é o reconhecimento Entretanto, o tamanho deve ser apenas o suficiente
de uma troca gasosa deficiente. Isso pode ocorrer para drenagem do hemitórax. A confecção do túnel
tanto na fase de oxigenação quanto na eliminação de é particularmente importante em crianças devido ao
gás carbônico; devido a alterações da ventilação por fato de que a parede torácica tem espessura menor. O
problemas mecânicos como pneumotórax, contusão local de drenagem é o mesmo em crianças e em adultos:
pulmonar e aspiração. Nesses casos, deve-se considerar quinto espaço intercostal, entre as linhas axilar e média.
a drenagem torácica e a ventilação assistida como (Ver Capítulo 4: Trauma Torácico, e Estação Prática B:
medidas reparadoras. Respiração.)

ventilação e respiração
Circulação e choque
A frequência respiratória em crianças diminui com o
crescimento. Um lactente tem frequência respiratória de Fatores chave para a avaliação e tratamento da
30 a 40 vezes por minuto, enquanto uma criança maior circulação em doentes pediátricos traumatizados
tem frequência respiratória de 15 a 20 vezes por minuto. são: o reconhecimento de alterações circulatórias;
O volume corrente espontâneo varia de 4 a 6 mL/kg determinação acurada do peso e da volemia do doente;
para lactentes e crianças, embora possam ser necessários reposição volêmica com cristaloides e com sangue;
volumes maiores durante a ventilação assistida de 6 a acessos venosos e avaliação da resposta à reanimação,
8 mL/kg e, ocasionalmente, até 10 mL/kg. Apesar do como diurese e controle da temperatura.
fato de que a maioria dos dispositivos bolsa-máscara
usados em doentes pediátricos serem desenhados para Reconhecimento da alteração
limitar a pressão exercida manualmente na via aérea circulatória
da criança, volumes ou pressões excessivas durante
a ventilação assistida aumentam substancialmente o As lesões em crianças podem causar perda sanguínea
potencial de barotrauma iatrogênico devido à imaturidade significativa. A criança tem maior reserva funcional,
e fragilidade da árvore respiratória e dos alvéolos. Se que permite a manutenção da pressão arterial sistólica
for usado um dispositivo bolsa-máscara de adulto para em níveis normais, mesmo na presença de choque. (n
ventilar uma criança, há aumento significativo do risco FIGURA 10-4). A criança precisa perder mais de 30% da
de barotrauma. O uso de dispositivo bolsa-máscara volemia para que manifeste diminuição na pressão
pediátrico é recomendado para crianças menores de 30 kg. arterial sistólica e isso pode confundir os médicos
Hipóxia é a causa mais comum de parada cardíaca em que não estão familiarizados com as sutilezas das
crianças. Entretanto, antes que haja parada cardíaca, alterações fisiológicas manifestas em crianças
a hipoventilação causa acidose respiratória, que é a
alteração mais comum do equilíbrio ácido-básico durante Repercussão Fisiológica: Alterações Hemodinâmicas
a reanimação de crianças traumatizadas. Com ventilação
e perfusão adequadas, a criança é capaz de manter um
pH relativamente normal. Na ausência de ventilação e
perfusão adequadas, corrigir a acidose com bicarbonato
de sódio pode piorar a hipercarbia e a acidose.

punção e drenagem pleural


Normal

Lesões que causam descontinuidade na pleura – por


exemplo, hemotórax, pneumotórax e hemopneumotórax, Frequência cardíaca

têm consequências parecidas em adultos e em crianças. Pressão arterial


Débito cardíaco

Essas lesões são tratadas com drenagem pleural, precedida


de toracocentese descompressiva acima do terceiro arco
costal, na linha hemiclavicular. Deve-se ter cuidado ao se % de perda de sangue

usar cateteres de 14 a 18-gauge em lactentes e crianças,


pois quanto maior o cateter, maior a chance de causar n FIGURA 10-4  Impacto Fisiológico das Alterações Hemodinâmicas
pneumotórax, ao invés de curá-lo. em Doentes Pediátricos.
­196 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

em choque. Taquicardia e diminuição da perfusão (sinais vitais normais por faixa etária estão demostrados
periférica frequentemente são as únicas chaves para na n TABELA 10-5.) A hipotensão na criança representa
o reconhecimento precoce da hipovolemia e início um estado de choque descompensado e indica perda
precoce da reanimação volêmica. Assim que possível, a sanguínea de mais de 45% da volemia. A taquicardia
avaliação de um cirurgião é essencial para o tratamento muda para bradicardia na hipotensão e esta mudança
adequado da criança traumatizada. pode ocorrer de repente em lactentes. As alterações
A resposta mais precoce da criança à hipovolemia é a fisiológicas devem ser tratadas com a infusão rápida
taquicardia, que também pode ser causada por dor, medo de cristaloide isotônico e sangue.
e estresse psicológico. Outros sinais mais sutis de perda
sanguínea em crianças são: a diminuição progressiva
dos pulsos periféricos; pinçamento da pressão de pulso armadilha prevenção
em menos de 20 mm Hg; diminuição do turgor da
pele (que substitui sudorese em lactentes e crianças Não reconhecer o choque • Reconhecer que a
pequenas); extremidades frias, quando comparadas em uma criança. taquicardia pode ser o
à pele que recobre o dorso e diminuição do nível de único sinal alterado.
consciência, com menor resposta à dor. A hipotensão • Reconhecer que a
e outros índices de perfusão inadequada, tais como criança tem uma
diurese, devem ser monitorizados continuamente, resposta fisiológica mais
mas normalmente se manifestam mais tardiamente. eficaz.
As mudanças nas funções orgânicas estão descritas • Reconhecer que os
na n TABELA 10-4. sinais vitais variam com
A pressão sistólica normal média em crianças é de a idade.
90 mmHg somada ao dobro da idade da criança em • Reavalie seu doente
anos. O limite inferior de normalidade da pressão sempre que houver
sistólica em crianças é 70 mm Hg mais duas vezes a alteração de consciência
idade da criança em anos. A pressão diastólica deve e cutânea.
ser aproximadamente dois terços da pressão sistólica.

tabela 10-4 resposta sistêmica de acordo com a perda de sangue em crianças

PERDA SANGUÍNEA PERDA SANGUÍNEA PERDA SANGUÍNEA


LEVE MODERADA GRAVE
SISTEMA (<30%) (30%–45%) (>45%)

Cardiovascular Aumento da frequência Aumento da frequência Taquicardia seguida de


cardíaca; pulsos periféricos cardíaca; pulsos periféricos bradicardia, pulsos centrais
finos e fracos; pressão sistólica finos e fracos; pressão sistólica muito fracos ou ausentes,
normal (80–90 + 2 x idade em normal (80–90 + 2 x idade em ausência de pulsos periféricos;
anos); pressão de pulso normal anos); pressão de pulso normal hipotensão (<70 + 2 x idade em
anos); pinçamento da pressão
de pulso (ou pressão diastólica
indetectável)

Sistema Nervoso Ansioso, irritado, confuso Letárgico, sonolento, responde Comatoso


Central à dora

Pele Fria, diminuição do turgor, tempo Cianótico; prolongamento Pálido e frio


de enchimento capilar lento importante do tempo de
enchimento capilar

Débito Urináriob Baixo ou muito baixo Mínimo Nenhum

a
Pode-se observar a diminuição da resposta à dor neste nível de perda sanguínea (30%–45%) por diminuição da reação à dor quando da punção
de acessos venosos periféricos.
b
Após esvaziamento inicial da bexiga pela sonda vesical. Limite inferior de normalidade é 2 ml/kg/h (lactente), 1.5 ml/kg/h (criança pequena),
1 ml/kg/h (criança maior), e 0.5 ml/kg/h (adolescente). Contraste IV pode aumentar a diurese falsamente.
CIRCULAÇÃO E CHOQUE 197

tabela 10-5 sinais vitais e normais por idade

FREQUÊNCIA PRESSÃO FREQUÊNCIA DÉBITO


PESO CARDÍACA ARTERIAL RESPIRATÓRIA URINÁRIO
IDADE (em kg) (batimentos/min) (mm Hg) (respirações/min) (mL/kg/h)

Lactente 0–10 <160 >60 <60 2.0


0–12 meses

Lactente 10-14 <150 >70 <40 1.5


1–2 anos

Pré-escolar 14-18 <140 >75 <35 1.0


3–5 anos

Escolar 18-36 <120 >80 <30 1.0


6–12 anos

Adolescente 36-70 <100 >90 <30 0.5


≥13 anos

Determinação do peso e volemia femoral usando a técnica de Seldinger ou um jelco


de tamanho apropriado. Se esses procedimentos não
Frequentemente, é difícil para profissionais do tiverem sucesso, um médico com habilidade e expertise
departamento de emergência estimar o peso de uma
criança, particularmente se não estão habituados a
trabalhar com crianças. Sempre a melhor maneira de
determinar o peso é perguntando ao responsável. Se não
há o responsável, uma fita baseada em tamanho, pode
ser de grande ajuda. Ela auxilia em estimar o peso na
reanimação volêmica e na prescrição de várias drogas.
Um último método para a estimativa do peso pode ser
através da fórmula peso= 2 x idade + 10.
O objetivo final de uma reanimação é o
restabelecimento rápido do volume circulatório que
pode ser estimado em: 80 mL/kg até 1 ano, 75 ml/Kg A
entre 1 e 3 anos e 70 ml/kg nos acima de 3 anos.

VENOSOS
Acessos venosos em uma criança com choque pode
ser um desafio, mesmo em mãos experientes. O
choque hipovolêmico grave, normalmente, ocorre
como resultado de lesões de órgãos intratorácicos,
intra-abdominais ou de vasos. Os acessos venosos
preferenciais devem ser os periféricos. Se não for
possível por essa via após duas tentativas, deve-se B
considerar a realização de punção intraóssea realizada
com uma agulha de punção de medula óssea, 18 n FIGURA 10-5  Infusão Intraóssea, A. Distal femur, B. Tibia
gauge em lactentes, 15 gauge em crianças pequenas. Proximal. Se o acesso não for possível em duas tentativas, considere
(n FIGURA 10-5; ver também Punção Intraóssea no a infusão via cateter de medula óssea (18 gauge em lactentes, 15
aplicativo móvel MyATLS.) Outra alternativa é a punção gauge em crianças menores).
­198 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

pode realizar uma dissecção venosa com segurança. restrito de cristaloides e na administração mais rápida
Entretanto, esta alternativa deve ser o último recurso, e balanceada de concentrado de hemácias, plasma
pois esse procedimento raramente é realizado em fresco congelado e plaquetas. Essa alternativa parece
menos de 10 minutos, mesmo em mãos experientes, ser mais eficaz contra a tríade letal da hipotermia,
enquanto a punção intraóssea pode ter acesso à medula acidose e coagulopatia induzida pelo trauma e tem
em menos de 1 minuto, mesmo por profissionais com sido associado com melhores resultados no adulto
habilidade e expertise limitados. (Ver Apêndice G: gravemente traumatizado.
Estação Prática Circulação.) Há um movimento em centros de trauma pediátricos
Locais preferenciais para acessos venosos em crianças: americanos no sentido de restringir a infusão de
cristaloide e favorecer a reanimação balanceada
•• Punção periférica (duas tentativas)—Fossa em hemocomponentes com evidência de choque
antecubital, veia(s) safena(s) no tornozelo hemorrágico, apesar de haver ainda poucos estudos
•• Punção intraóssea—(1) Tíbia anteromedial, (2) que suportam esse tratamento. A estratégia básica
fêmur distal. Complicações desse procedimento desse tratamento seria a infusão inicial de um bolus
incluem celulite, osteomielite, síndrome de 20 mL/ kg de cristaloides, seguido de uma infusão
compartimentar e fratura iatrogênica. O local de 10-20 mL/Kg de concentrado de hemácias e 10-20
preferido para punção intraóssea é a tíbia mL/kg de plasma fresco congelado, além de plaquetas,
proximal, abaixo da tuberosidade da tíbia. Um tipicamente como parte do protocolo pediátrico de
local alternativo é o fêmur distal, apesar de a transfusão maciça. Um número limitado de trabalhos
tíbia proximal contralateral ser preferida. A tem avaliado essa estratégia em crianças e as pesquisas
punção intraóssea não deve ser realizada em ainda não demonstraram um aumento da sobrevida.
uma extremidade com suspeita de fratura. Para estabelecimentos que carecem de banco de sangue,
a reanimação com cristaloides é uma alternativa
•• Punção de veia profunda—Veia(s) Femoral(is) apropriada até a transferência do doente para um
•• P
unção de Veia cervical—Veia(s) centro maior.
Jugular(es) Externa(s) ou Subclávias (só para Deve-se monitorizar a criança traumatizada para
especialistas pediátricos; não usar se houver resposta ao tratamento volêmico. O retorno da
comprometimento da via aérea ou se a criança normalidade hemodinâmica será indicado quando
estiver com colar cervical) houver:
•• D
issecção venosa—Veia(s) safena(s) no
•• Diminuição da frequência cardíaca (atenção a
tornozelo
faixa normal de acordo com a idade)
•• Melhora do sensório
REANIMAÇÃO Volêmica e de •• Retorno dos pulsos periféricos
Hemocomponentes •• Retorno da coloração da pele
A reanimação volêmica para as crianças traumatizadas •• Aquecimento das extremidades
é baseada no peso, com o objetivo de restabelecer
•• Aumento da pressão sistólica até sua faixa
o volume intravascular perdido. Evidências de
normal.
hemorragia estarão presentes com uma perda de
25% do volume circulatório. A estratégia inicial de •• Aumento da pressão de pulso (>20 mm Hg)
reanimação volêmica, nas edições prévias do ATLS,
•• Débito urinário de 1 a 2 mL/kg/hora (a
consistia em uma reposição de solução cristaloide
depender da idade)
aquecida, isotônica em 20 mL/Kg, podendo ser repetida
até em duas vezes, a depender da resposta volêmica.
Se a criança apresentasse sinal de permanência do As crianças normalmente apresentam três respostas
sangramentos, após o segundo ou terceiro bolus, à ressuscitação volêmica:
concentrado de hemácias a 10 mL/kg deveria ser
fornecido. 1. A condição da maioria das crianças será
Avanços recentes na reanimação de adultos vítimas estabilizada utilizando apenas cristaloides, sem
de trauma com choque hemorrágico resultaram em necessidade de sangue. Essas crianças serão
uma transição da reanimação cristaloide para uma consideradas “responsivas”. Algumas crianças
reposição mais a favor de uma reanimação baseada no responderão com cristaloide e sangue.
“controle de danos”. Essa reposição consiste no uso mais
TRAUMA TORÁCICO 199

2. Algumas crianças responderão ao volume A diurese combinada à concentração urinária


inicial de cristaloides e sangue, mas depois constituem um excelente método de determinar a
apresentarão deterioração, esse grupo é adequada reanimação volêmica. Uma vez restaurado o
chamado de “resposta transitória”. volume circulante, a diurese deve retornar ao normal. A
3. Outras não responderão ao volume de cristaloides sondagem vesical facilita o controle da diurese da criança
e sangue desde o início e são referidos como não que está recebendo volume substancial para a reanimação.
responsivos ou ausência de resposta.

Resposta transitória ou ausência de resposta são Termorregulação


grupos de doentes candidatos a infusão de mais
hemocomponentes, ativação do protocolo de transfusão A alta relação entre superfície corpórea e massa corporal
maciça e cirurgia precoce. Similar ao tratamento do em crianças aumenta a troca com o ambiente e afeta
adulto, a administração precoce de sangue em doentes diretamente a capacidade de regulação da temperatura
refratários parece ser apropriada. central. As maiores taxas metabólicas, pele fina e falta
O diagrama para reanimação é uma ferramenta útil de tecido celular subcutâneo contribuem para o aumento
no tratamento inicial da criança vítima de trauma (n de perda de calor por evaporação e perda calórica. A
FIGURA 10-6). (Ver também Diagrama de Reanimação hipotermia pode causar refratariedade no tratamento das
para Doentes Pediátricos com Hemodinâmica Normal lesões, aumento no tempo de coagulação e efeitos adversos
e Anormal no aplicativo móvel MyATLS.) na função do sistema nervosa central. Enquanto a criança
estiver exposta durante a avaliação inicial e reanimação,
deve-se utilizar lâmpadas, aquecedores e colchões térmicos
débito urinário para mantê-la aquecida. Deve-se também aquecer a sala de
atendimento, além dos líquidos intravenosos, derivados de
A diurese varia com a idade. O objetivo para lactentes sangue e gases inalados. Uma vez terminada a reanimação
até um ano de idade é de 1-2 mL/kg/h; para crianças inicial, deve-se cobrir a criança com cobertores aquecidos
acima de um ano até adolescentes o valor é de 1-1,5 mL/ para evitar perdas de calor desnecessárias.
kg/h e 0,5 mL/kg/h para adolescentes.

r e ANIMAÇÃO
Consultar o cirurgião
c a r diopulmon a r
20 0L/kg de solução de Ringer lactato em bolus

Crianças submetidas à reanimação cardiopulmonar no


Hemodinamicamente Hemodinamicamente local do acidente e que têm retorno da função circulatória
Normal Anormal espontânea antes da chegada ao centro de trauma têm
chance de 50% de evoluírem sem sequelas neurológicas. As
Avaliação CH crianças que chegam à sala de emergência ainda em parada
ulterior 10 mL/kg cardiorrespiratória têm péssimo prognóstico. Crianças
que estiverem em procedimento de reanimação por mais
Consegue rodar o pescoço de 15 minutos antes da entrada na sala de emergência ou
Normal
ativamente (45ºAnormal
a direita e que tiverem pupilas fixas à admissão têm pouca chance de
a esquerda)
sobreviver. Nos casos em que a criança chega ao hospital
em procedimento prolongado de reanimação (RCP), os
Avaliação Operar esforços de reanimação prolongados não são benéficos.
ulterior
Apenas 8% das lesões em crianças incluem o tórax.

Transferir se Transferir se
necessário necessário trauma torácico

Observar Operar Observar Operar


O traumatismo torácico também é um indicador de
de traumatismos de órgãos e sistemas, pois mais de
dois terços das crianças com trauma torácico têm
n FIGURA 10-6  Diagrama de Reanimação Volêmica: para doentes lesões múltiplas concomitantes. A cinemática do
com hemodinâmica normal e anormal.
­200 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

trauma e a anatomia do tórax infantil são diretamente estimular uma conversa calma com a criança, questionar
responsáveis pelo espectro de lesões observado. se há dor abdominal e fazer a palpação abdominal
A maioria das lesões torácicas em crianças são causadas superficial gentilmente, para avaliar se há resistência da
por mecanismos fechados, principalmente por veículos musculatura abdominal. A palpação profunda e dolorosa
automotores. A flexibilidade e complacência da parede do abdome deve ser evitada no primeiro contato, para
torácica faz com que as forças transmitidas no trauma evitar a resistência voluntária, que pode mascarar os
atinjam o parênquima pulmonar subjacente, causando achados do exame abdominal .
contusões pulmonares. Fraturas de arcos costais e lesões Grande parte das crianças estressadas e que estão
de mediastino não são frequentes, mas, se presentes, chorando engolem grandes quantidades de ar. Se o
indicam grande transferência de energia. As lesões epigástrio estiver distendido, a inserção de uma sonda
torácicas específicas são similares às encontradas em gástrica para descompressão do estômago deve ser
adultos, divergindo apenas em frequência. realizada. A sonda orogástrica deve ser preferida em
A mobilidade das estruturas mediastinais faz com que a lactentes. A distensão diminui com a descompressão
criança seja mais suscetível ao pneumotórax hipertensivo, gástrica e facilita o exame mais cuidadoso e torna o
que é a lesão de risco iminente de vida mais frequente exame físico mais confiável.
na infância. O pneumomediastino é raro e benigno na A presença da marca do cinto se segurança aumenta a
maioria dos casos. A ruptura traumática do diafragma, possibilidade de lesões intra-abdominais, especialmente
a ruptura traumática da aorta, a transecção da aorta, se associada à fratura lombar, líquido livre na cavidade
grandes rupturas de brônquios principais, tórax instável peritoneal ou frequência cardíaca >120.
e contusões miocárdicas são raramente encontradas O exame abdominal em doentes inconscientes não
na infância. Quando identificadas, o seu tratamento é varia muito com a idade. A sondagem vesical facilita
o mesmo do adulto. Lesões graves raramente ocorrem a avaliação do abdome. Como as distensões gástrica e
isoladamente e são frequentemente um dos componentes vesical podem causar resistência e dor abdominal, estes
do traumatismo multissistêmico grave. achados devem ser interpretados com cautela até que
A incidência de traumatismos torácicos penetrantes esses órgãos possam ser esvaziados através de sondas.
aumenta após os 10 anos de idade e eles devem ser
tratados da mesma forma que nos adultos.
Diferentemente de doentes adultos, a maioria das lesões métodos diagnósticos auxiliares
torácicas nas crianças podem ser diagnosticadas com
radiografias de tórax. Tomografia de tórax raramente Os métodos auxiliares de diagnóstico para o
é necessária na avaliação das lesões contusas e deve ser trauma abdominal em crianças são a tomografia
reservada para casos cujos achados iniciais não podem computadorizada (TC), o FAST e a lavagem peritoneal
ser justificados apenas pela radiografia padrão. diagnóstica (LPD).
A maioria dos traumatismos torácicos pediátricos
são tratados com a combinação de drenagem pleural
e monitorização. Toracotomia, normalmente, não é Tomografia Computadorizada
necessária na criança. (Ver também Capítulo 4: Trauma
Torácico e Apêndice B, Estação Prática B: Respiração.) O advento da tomografia helicoidal permite
avaliação e identificação rápidas e precisas das lesões.
A TC é frequentemente utilizada para avaliar crianças
trauma abdominal com traumatismos fechados do abdome, que têm
estabilidade hemodinâmica. A TC deve estar disponível
A maioria das lesões abdominais são decorrentes de imediatamente, deve ser realizada precocemente e não
mecanismos fechados relacionados a acidentes com deve atrasar o tratamento. A TC de abdome deve ser
veículos automotores e quedas. Lesões graves requerem rotineiramente realizada com contrastes endovenosos
o pronto envolvimento de um cirurgião e crianças em de acordo com a prática local.
choque hemorrágico, com traumatismos fechados ou A identificação de lesões abdominais à TC em doentes
penetrantes, devem ser operadas prontamente. pediátricos estáveis hemodinamicamente permite a
realização de tratamento não operatório. A avaliação
precoce do cirurgião é essencial para estabelecer a base
Avaliação e definir se e quando o tratamento cirúrgico pode ser
indicado. Em centros que não possuem equipe cirúrgica
Lactentes e crianças pequenas, normalmente, estão e que vão transferir a criança traumatizada, é justificável
muito assustadas ao chegar na sala de emergência, realizar a TC antes do transporte desde que a criança
o que pode dificultar o exame abdominal. Deve-se
TRAUMA ABDOMINAL 201

esteja estável, que não vá atrasar a transferência e que Lavado Peritoneal Diagnóstico
seja necessário.
Crianças traumatizadas que necessitam de avaliação A lavagem peritoneal diagnóstica (DPL) pode ser
tomográfica, frequentemente precisam de sedação para utilizada para detecção de sangramento intra-abdominal
evitar movimentos durante o exame afim de evitar artefatos. em crianças com instabilidade hemodinâmica que não
Portanto, a criança que precisa de reanimação e sedação podem ser transportadas para a TC com segurança ou
para a TC deve ser acompanhada por um médico experiente quando a TC ou o FAST não estiverem imediatamente
no manejo da via aérea pediátrica e em acessos venosos. disponíveis e a presença de sangue indicará tratamento
Entretanto, a TC não é isenta de risco. Há previsão de cirúrgico imediato. Esta situação raramente ocorre. A
desenvolvimento de cânceres fatais na proporção de até 1 maioria dos doentes pediátricos tem lesões abdominais
em cada 1.000 doentes pediátricos que foram submetidos com hemorragia autolimitada e não tem instabilidade
à TC quando crianças. Assim, a necessidade do diagnóstico hemodinâmica. Portanto, o achado de sangue à LPD
preciso das lesões internas deve ser balanceada com o risco de não indica cirurgia necessariamente em uma criança
neoplasia tardio. Certamente todo esforço deve ser feito para estável hemodinamicamente.
evitar TC antes da transferência para o centro de trauma que Deve-se utilizar solução cristalóide aquecida, 10 mL/kg
proverá o tratamento definitivo e também para evitar repetir (máximo de 1.000 mL) para a LPD. Como a parede abdominal
a TC no centro de trauma, a não ser que seja absolutamente da criança é relativamente fina quando comparada à do
necessário. Quando a avaliação tomográfica for necessária, adulto é preciso cuidado à abertura da cavidade, para
deve-se manter a radiação em níveis mínimos (As Low evitar lesões iatrogênicas a vísceras abdominais, mesmo
As Reasonably Achievable - ALARA). Para limitar a doses quando utilizando a técnica aberta. A LPD é útil apenas
mínimas, a TC deve ser realizada apenas quando necessário e para diagnóstico de lesões de vísceras intra-abdominais,
quando os resultados determinarem mudanças na conduta; pois os órgãos retroperitoneais não são avaliados de forma
deve-se cortar apenas as áreas de interesse e usar a menor confiável por esta técnica. A avaliação do líquido efluente
dose de radiação possível. da LPD é a mesma em crianças e em adultos.
A LPD só deve ser realizada pelo cirurgião que fará o
tratamento definitivo da criança, pois a LPD pode interferir
Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para nas avaliações abdominais subsequentes ao exame físico
Trauma (FAST) ou nos exames de imagem, que são a base para a decisão
sobre a necessidade de cirurgia.
Apesar do fato de que o FAST está disponível desde os anos 90
para avaliação do trauma abdominal em crianças, a eficácia
do seu uso em crianças com lesões abdominais tem apenas tratamento não operatório
modesta sensibilidade para detecção do hemoperitônio em
crianças pequenas, quando os estudos com metodologia Na maioria dos centros de trauma, especialmente nos
mais rigorosa são analisados. Entretanto, o seu uso como pediátricos, realize-se o tratamento seletivo não operatório
extensão do exame abdominal em crianças traumatizadas de lesões de órgãos parenquimatosos em crianças
está se desenvolvendo rapidamente e tem a vantagem de que estáveis hemodinamicamente. A presença de líquido
o exame pode ser repetido. Alguns autores demonstraram intraperitoneal à TC ou FAST, o grau da lesão ou a presença
que o FAST pode detectar pequenas quantidades de sangue de extravasamento de contraste não necessariamente
intra-abdominal em doentes pediátricos traumatizados, um indicam a laparotomia. Foi bem demonstrado que o
achado que dificilmente está associado a lesões graves. Se o sangramento de lesões esplênicas, hepáticas ou renais
achado for de grande quantidade de sangue, a probabilidade de normalmente é autolimitado. Portanto, a TC ou FAST
haver alguma lesão significativa é maior. Entretanto, mesmo positivos para sangue não indica laparotomia em crianças
nesses doentes, a indicação cirúrgica é baseada não apenas na estáveis ou que estabilizam rapidamente com a reposição
quantidade de sangue intraperitoneal encontrado, mas pela volêmica inicial. Se a criança não recuperar a condição
instabilidade hemodinâmica e sua resposta ao tratamento. hemodinâmica e um procedimento diagnóstico realizado
O FAST pode não identificar lesões intra-parenquimatosas for positivo para sangue, deve-se indicar a laparotomia
isoladas, que são responsáveis por um terço das lesões de prontamente para controle da hemorragia.
órgãos parenquimatosos em crianças. Em resumo, não Quando for escolhido o tratamento não operatório,
se deve confiar no FAST para excluir a presença de lesões a criança deve ser observada em um ambiente que
intra-abdominais. Se uma pequena quantidade de líquido tenha cuidados pediátricos intensivos e a supervisão
livre no abdome for observada e a criança estiver estável continuada de um cirurgião especializado no
hemodinamicamente, deve-se proceder à TC. tratamento de crianças traumatizadas. Nos locais com
poucos recursos, deve-se considerar a cirurgia.
­202 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

A angioembolização para o tratamento de órgãos Crianças restringidas apenas com cinto de segurança
sólidos em crianças é uma opção, mas deve ser realizada de duas pontas têm risco aumentado de lesões de alças
somente em centros com experiência em procedimentos intestinais especialmente quando houver marca do cinto
invasivos pediátrico e que contam com centro cirúrgico. de segurança na parede do abdome ou quando houver
O tratamento não operatório de uma lesão uma fratura lombar de flexão (fratura de Chance). Todo
parenquimatosa confirmada é uma decisão do cirurgião, doente que tiver este mecanismo e esses achados deve ser
assim como a decisão de operar o doente. Portanto, o considerado como tendo alto risco da presença de lesão
cirurgião deve supervisionar o tratamento de doentes do trato gastrointestinal, até que se prove o contrário.
pediátricos traumatizados. Lesões que penetram o peritônio podem ocorrer
em quedas sobre objetos proeminentes devido à
proximidade do peritônio do períneo. A ruptura de
lesões viscerais específicas uma víscera oca sempre requer cirurgia imediata. (Ver
também Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
Várias lesões de vísceras abdominais são mais
comuns em crianças que em adultos. Lesões causadas
pelo guidão da bicicleta ou a contusão do cotovelo trauma craniencefálico
no quadrante superior da criança ou mecanismos
associados à marca do cinto de segurança são comuns
e nelas há compressão das vísceras entre a parede As informações dadas no Capítulo 6: Trauma
abdominal anterior e a coluna posteriormente. Este tipo Craniencefálico também se aplicam aos doentes
de lesão também pode ser decorrente de maus tratos. pediátricos. Esta seção enfatiza pontos adicionais
Traumatismo contuso do pâncreas ocorre com específicos da criança.
mecanismos similares e seu tratamento depende A maioria dos traumatismos craniencefálicos na
da extensão da lesão. Lesões de alça de delgado população pediátrica são causados por colisões de veículos
próximas ao ligamento de Treitz são mais frequentes automotores, maus tratos, acidentes com bicicletas e
em crianças que em adultos, assim como as lesões quedas. Dados do registro nacional de trauma pediátrico
mesentéricas e avulsões de alças de delgado. Estas indicam que é imperativo o entendimento da interação
lesões têm diagnóstico tardio, frequentemente devido do SNC com lesões extracranianas, pois a hipotensão
à sintomatologia inicial ser inespecífica. Rupturas de e a hipóxia das lesões associadas têm efeito deletério
bexiga também são mais comuns em crianças que em sobre o prognóstico das lesões intracranianas. A falta
adultos, porque a bacia da criança é mais rasa. de atenção aos ABCDEs e às lesões associadas aumenta
de forma significativa a mortalidade decorrente da lesão
cranioencefálica. Assim como nos adultos, é raro que
armadilha prevenção a hipotensão seja causada por TCE isolado e deve-se
investigar de forma agressiva as outras causas para a
Demora para • Reconheça que a criança que irá hipotensão.
transferir para ser transferida, normalmente O cérebro da criança é anatomicamente diferente do
realização de TC. não se beneficiará da imagem adulto. Ele dobra de tamanho nos primeiros 6 meses
realizada no primeiro hospital.
de vida e atinge 80% do tamanho do cérebro do adulto
por volta dos 2 anos de idade. O espaço subaracnoide é
Demora em • Reconheça que o risco dessa
relativamente menor e portanto oferece menor proteção
ao cérebro devido ao menor amortecimento existente.
reconhecer lesão de lesão é baseado no mecanismo
Assim, é maior a probabilidade de lesão estrutural do
víscera oca. de trauma.
parênquima cerebral. O fluxo cerebral normal aumenta
• Reavaliações contínuas devem
progressivamente até próximo de duas vezes os níveis
ser realizadas. do adulto perto da idade de 5 anos e depois diminui. Isso
• Reconheça a necessidade promove maior susceptibilidade do cérebro da criança
de envolver o cirurgião à hipóxia e hipercarbia em casos de choque.
precocemente.

Demora para indicar • Reconheça que a instabilidade Avaliação


laparotomia. persistente em criança vítima
de trauma abdominal requer Crianças e adultos diferem na resposta ao TCE e isso
laparotomia. influencia a avaliação da criança traumatizada. As
principais diferenças são descritas a seguir:
TRAUMA CRANIENCEFÁLICO 203

1. O prognóstico do TCE em crianças é melhor que tabela 10-6 resposta verbal


nos adultos. Entretanto, em crianças menores
de 3 anos de idade é pior em comparação as RESPOSTA VERBAL V-SCORE
respectivas lesões em crianças maiores. Crianças
são particularmente susceptíveis às lesões Palavras apropriadas e ou 5
cerebrais secundárias produzidas por choque, que sorriso social, fixa e segue olhar
causa diminuição na perfusão cerebral; hipóxia,
convulsões ou hipertermia. O efeito combinado Chora, mas consolável 4
do choque e da hipóxia no cérebro traumatizado
é devastador, mas o choque é o pior fator de risco Persistente irritado 3
isolado. A reposição volêmica rápida e adequada
e a prevenção da hipóxia são mandatórias. Agitado, inconsolável 2

2. Apesar de infrequente, pode haver perda


Ausente 1
sanguínea significativa nos espaços subgaleal,
intraventricular ou epidural. Isso acontece em
decorrência do fato de as suturas cranianas
estarem abertas, assim com as fontanelas em 8. Como é frequente a hipertensão intracraniana
lactentes. O tratamento é reposição adequada em crianças, a avaliação neurocirúrgica para
da volemia, assim como nas outras perdas indicar monitorização da pressão intracraniana
sanguíneas de outras partes do corpo. deve ser precoce, durante a reanimação da
3. O lactente que ainda tem a fontanela e as suturas criança com as seguinte características: (a)
abertas tolera mais a expansão de uma massa ECG < 8, ou escore motor de 1 ou 2; (b) Lesões
intracraniana ou edema e os sinais dessas múltiplas associadas a TCE que necessitam
condições podem ser sutis, até que ocorra rápida de reposição volêmica significativa, cirurgia
descompensação. Por isso, um lactente que torácica ou abdominal imediata ou cuja
não esteja em coma, mas tenha abaulamento avaliação e estabilização forem prolongadas; (c)
da fontanela ou diástase das suturas deve ser TC de crânio com sinais de hemorragia cerebral,
tratado como um TCE grave. Avaliação precoce edema cerebral ou herniação transtentorial
da neurocirurgia é essencial. ou cerebelar. A abordagem da pressão
intracraniana é essencial para otimizar a pressão
4. Vômitos e amnésia são comuns após TCE em
de perfusão cerebral.
crianças e não necessariamente são devidos ao
aumento da pressão intracraniana. Entretanto, 9. As doses de medicamentos devem ser
vômitos persistentes ou que aumentam em determinadas de acordo com o tamanho da
frequência devem ser avaliados com TC de crânio. criança e em conjunto com o neurocirurgião.
Drogas normalmente utilizadas em crianças
5. Convulsões pós trauma (que ocorrem logo
incluem solução salina hipertônica a 3% e
após o trauma) são comuns em crianças e são
manitol para reduzir a pressão intracraniana.
normalmente autolimitadas. Toda convulsão
Levetirecetam e fenitoína são usadas para
merece investigação com TC de crânio.
convulsões.
6. Crianças têm menos lesões focais que os adultos,
mas a hipertensão intracraniana causada por Critérios para identificar doentes com baixo risco de
edema é mais comum. É necessária rápida lesões cranioencefálicas, cervicais e abdominais são
reposição volêmica. Se a volemia não for disponíveis. Isso diminui a realização de tomografias
restaurada rapidamente, o prognóstico do TCE (n FIGURA 10-7).
é muito pior, devido à lesão secundária. TC de
emergência é vital para identificação das crianças
que necessitam de cirurgia de emergência. TRATAMENTO
7. A Escala de Coma de Glasgow (ECG) é útil
quando aplicada à faixa etária pediátrica. O tratamento das lesões cerebrais traumáticas da
Entretanto, o componente verbal deve ser criança inclui acesso rápido e precoce dos ABCDEs,
modificado para crianças menores de 4 anos de acionamento e envolvimento do neurocirurgião desde
idade (n TABELA 10-6). o início do tratamento. Avaliação sequencial rápida
e adequada, com atenção para a prevenção da lesão
­204 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

GCS=14 ou outros sinais de estado TC de Crânio


neurológico alterado, ou fratura de SIM
recomendada
crânio palpável 13,9% da população
4,4% risco de LCT
NÃO

Hematoma no couro cabeludo na região Observação versus TC com base em


occipital ou parietal, ou temporal ou outros fatores clínicos incluindo:
histórica de perda de consciência maior SIM
• Experiência clínica
ou igual a 5 seg. ou mecanismo de trauma 32,6% da população • Achados múltiplos versus isolados
importante, ou não agindo normalmente • Piora dos sinais ou sintomas após
0,9% risco de LCT
observação no departamento de
53,5 da população emergência
NÃO
<0,02% risco de LCT • Idade < 3 meses
• Preferência dos pais

TC não recomendada

GCS=14 ou outros sinais de estado TC recomendada


mental alterado +, ou sinais de fratura SIM
de base de crânio 14,0% da população
4,3% risco de LCT
NÃO

História de perda da consiência, ou de Observação versus TC com base em


vômitos, ou mecanismo de trauma SIM outros achados clínicos incluindo:
importânte ++, ou cefaleia intensa • Experiência clínica
27,7% da população
0,9% risco de LCT • Achados múltiplos x isolados
58,3% da população • Piora dos sinais ou sintomas após
NÃO observação no departamento de
<0,05% risco de LCT
emergência
• Preferência dos pais
TC não recomendada
B
n FIGURA 10-7  Rede de Pesquisa Aplicada a Cuidados de Emergência (PECARN) Critérios para TC de Crânio. Algoritmo sugerido para realização
de TC em crianças menores do que 2 anos (A) e para aqueles com 2 ou a mais anos (B) com ECG de 14 -15 após TCE.*
GCS=Glasgow Coma Scale. TCE – Trauma de crânio . PDC=perda de consciência.
* Dados obtidos de derivação combinadas e populações validadas.
† Outros sinais de alterações do estado mental: agitação, sonolência, questionamentos repetitivos ou resposta lenta à comunicação verbal.
‡ Mecanismo de trauma significativos: acidente automobilístico com ejeção, morte de outro passageiro, atropelamento; pedestres ou ciclistas
sem capacete atingidos por um veículo automotor; quedas maiores do que 0,9 m (3 pés) (ou maiores do que 1,5 m [5 pés] por superfície B);
colisão da cabeça com objeto de alto impacto.
§ Doentes com certos achados isolados (i.e., sem outros achados diagnósticos de TCE), como perda de consciência isolada, cefaleia, vômitos
e certos tipos de cefalohematomas em crianças maiores do que 3 meses, possuem risco mínimo de lesão intraparenquimatosa significativa,
menor do que 1%.
¶ O risco de lesão intrapaqrenquimatosa normalmente é menor do que o risco de malignidade por TC. Assim sendo a TC não é recomendada
para a maioria dos doentes desse grupo.
(Reimpresso com permissão de Kuperman N, Holmes JF, Dayan PS, et al. Identification of children at very low risk of clinically important brain
injuries after head trauma: a prospective cohort study. Lancet 374: 2009; 1160–1170.)
TRAUMA RAQUIMEDULAR 205

cerebral secundária – isto é, hipóxia e hipoperfusão. considerações radiológicas


Intubação endotraqueal precoce com oxigenação e
ventilação adequadas pra evitar progressão da lesão A presença de pseudosubluxação frequentemente
do SNC. Tentativas de intubação orotraqueal em complica a avaliação radiográfica da coluna cervical
crianças não cooperativas dificultam o acesso e podem da criança. Aproximadamente 40% das crianças
aumentar a pressão intracraniana. Os médicos devem menores de 7 anos de idade têm deslocamento anterior
considerar os riscos e benefícios da intubação da criança de C2/C3 e 20% das crianças com idade de até 16 anos
e podem usar sedação farmacológica e bloqueadores possuem este fenômeno. Este achado radiológico é
neuromusculares para facilitar a intubação. frequentemente visto também em C3/C4. Pode ser
A solução salina hipertônica e o manitol causam observado deslocamento de mais de 3 mm quando
hiperosmolaridade e aumento dos níveis de sódio no estas articulações são estudadas com as manobras de
cérebro, diminuindo o edema cerebral e a pressão no flexão e extensão.
compartimento intracraniano com lesões. Eles têm o Quando a subluxação é vista na radiografia de perfil da
benefício adicional de serem agentes que melhoram o coluna cervical, deve-se ter certeza de que se trata realmente
fluxo sanguíneo e diminuem a resposta inflamatória. de subluxação ou de um a lesão da coluna cervical. A
Como em todos doentes traumatizados deve-se pseudosubluxação das vértebras cervicais se pronuncia
reavaliar continuamente todos os parâmetros. (Ver com a flexão da coluna cervical que ocorre quando a criança
também Capítulo 6: Trauma Craniencefálico e Apêndice se deita em decúbito dorsal numa superfície endurecida.
G: Estação Prática Disfunção Neurológica.) Para corrigir esta anomalia radiográfica, deve-se colocar
a cabeça da criança em posição neutral com um coxim de
aproximadamente 2,5 cm de altura, desde o ombro até a
trauma raquimedular pelve, mas não na cabeça e repetir o raio X (ver Figura 10.2).
A subluxação verdadeira não vai desaparecer com esta
As informações dadas no Capítulo 7: Traumatismo manobra e indica avaliação ulterior adicional. As lesões
Raquimedular também se aplicam aos doentes cervicais normalmente são identificadas por alterações
pediátricos. Esta seção enfatiza pontos específicos no exame neurológico e pelo achado de uma área de
das lesões raquimedulares pediátricas. aumento de partes moles, contratura muscular ou uma
O traumatismo raquimedular é incomum – apenas deformidade em degrau quando da palpação cuidadosa
5% dos TRM ocorrem na faixa etária pediátrica. Para da coluna cervical.
crianças menores de 10 anos de idade, a causa mais O aumento da distância entre o processo odontoide
frequente destas lesões são os acidentes com veículos e o arco anterior de C1 ocorre em aproximadamente
automotores. Para crianças com idades entre 10 e 14 20% das crianças pequenas. Distâncias maiores que
anos, os acidentes com veículos automotores e esportivos o limite superior da normalidade para a população
respondem igualmente para a ocorrência destas lesões. adulta são frequentemente observadas.
Os centros de crescimento ósseo podem parecer
fraturas. A sincondrose odontoide basilar aparece como
diferenças anatômicas uma área radioluscente na base do processo odontoide,
especialmente em crianças menores de 5 anos. A epífise
As diferenças anatômicas em crianças que devem ser apical do odontoide aparece como separações na
consideradas em relação ao TRM são: radiografia do odontoide e são frequentemente achadas
nas idades de 5 a 11 anos. O centro de crescimento do
•• Ligamentos interespinhosos e cápsulas processo espinhoso pode parecer uma fratura da ponta
articulares mais flexíveis. do processo espinhoso.
•• Corpos vertebrais com posicionamento anterior Crianças podem possuir lesões de medula sem
e tendem a escorregar para frente com a flexão. achados anormais radiográficos (“spinal cord injury
•• Articulações planas. without radiographic abnormalities” - SCIWORA) mais
•• A criança tem a cabeça muito maior quando comumente que adultos. Exames de coluna cervical
comparada ao pescoço. Assim, há maior normais são vistos em mais de dois terços das crianças
angulação e o fulcro é mais alto na coluna que têm TRM. Assim, se houver suspeita de lesão cervical,
cervical, o que causa mais lesões em nível de C3. baseada em história e exame neurológico, um raio X de
•• As placas de crescimento não estão fechadas coluna cervical normal não exclui a presença de TRM.
e os centros de crescimento não estão Quando houver dúvida sobre a integridade da coluna
completamente formados. cervical e da medula, deve-se considerar a existência
•• As forças aplicadas ao pescoço mais proximal de uma lesão instável da coluna cervical e manter a
são relativamente maiores que no adulto.
­206 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

imobilização cervical e da cabeça da criança, além de Considerações Especiais Sobre o


obter avaliação apropriada. Esqueleto Imaturo
TC e RNM não devem ser solicitadas de rotina em
doentes pediátricos, assim radiografias podem ser o Os ossos crescem em comprimento quando osso
método de investigação inicial. Indicações para TC novo é colocado perto da fise, próximo às superfícies
e RNM incluem exames radiológicos insuficientes, articulares. Lesões nesta área próxima à fise, antes do
achados neurológicos no exame físico, anormalidades seu fechamento, podem retardar o desenvolvimento
nas radiografias e avaliação da coluna em doentes com normal do osso ou alterar seu desenvolvimento. Lesões
TCE. TC pode não detectar lesões de ligamentos que de esmagamento na fise normalmente são difíceis de
são mais comuns em crianças. diagnosticar radiograficamente e têm pior prognóstico.
TRM em crianças são tratados da mesma forma que A natureza imatura e flexível dos ossos da criança
nos adultos. A avaliação de um cirurgião de coluna pode levar à chamada fratura em galho verde. Tais
deve ser precoce. (Ver também Capítulo 7: Trauma fraturas são incompletas, com angulação mantida pela
Raquimedular e Apêndice G: Estação Prática Disfunção cortical na superfície côncava. A fratura em “fivela”
Neurológica.) vista em crianças pequenas envolve angulação pela
impactação da cortical com uma linha de fratura
radioluscente. Ambos os tipos de fratura podem ser
trauma musculoesquelético sugestivos de maus tratos em doentes com histórias
vagas, inconsistentes ou incongruentes. Fraturas
Os procedimentos iniciais do trauma supracondilianas no cotovelo ou joelho têm alto risco
musculoesquelético na criança são similares aos dos de lesão vascular concomitante e também lesão da
adultos, com cuidados especiais sobre lesões potenciais placa de crescimento ósseo.
nos núcleos de crescimento ósseo.

imobilização de fraturas
anamnese
A simples imobilização de extremidades fraturadas em
A história do doente é de importância vital. Em crianças normalmente é suficiente até que a avaliação
crianças pequenas, o diagnóstico radiográfico de ortopédica seja realizada. Fraturas com evidências de lesões
fraturas e deslocamentos é difícil, devido à falta de vasculares requerem avaliação de emergência para evitar
calcificação ao redor da epífise e da presença da fise sequelas da isquemia. Uma única tentativa de redução da
(placa de crescimento). Informações sobre a magnitude, fratura para restaurar o fluxo sanguínea deve ser tentada,
mecanismo e tempo do trauma facilitam a correlação seguida da imobilização ou tração da extremidade.
com os achados de exame físico e radiográficos. (Ver também Capítulo 8: Trauma Musculoesquelético e
Evidências radiográficas de fraturas em diferentes Apêndice G: Estação Prática Disfunção Neurológica.)
fases de consolidação devem alertar o médico para a
possibilidade de maus tratos, assim como fraturas de
membros inferiores em crianças pequenas que ainda armadilha prevenção
não deambulam.
Dificuldade em identificar • Reconhece as
fraturas. limitações dos exames
perda sanguínea radiológicos, sobretudo
na área de crescimento.
A perda sanguínea associada a fraturas de ossos longos • Use a anamnese,
e pelve é proporcionalmente menor em crianças que comportamento,
em adultos. A perda sanguínea relativa a uma fratura mecanismo de trauma
fechada de fêmur tratada adequadamente é associada e exame físico para
à queda de 4% do hematócrito, o que não é suficiente aumentar a suspeição.
para causar choque. Instabilidade hemodinâmica
na presença de uma fratura isolada de fêmur deve Maus tratos • Suspeite quando o
indicar avaliação de outras fontes de sangramento, despercebidos. mecanismo e a lesão
frequentemente no abdome.
não se correlacionam.
MAUS TRATOS 207

maus tratos tabela 10-7 desenvolvimento do bebê

Qualquer criança que tenha alguma lesão intencional IDADE HABILIDADES


resultante de atos de cuidadores deve ser considerada
como sendo maus tratos. O homicídio é a causa mais 1 mês • Levanta a cabeça quando em decúbito
comum de lesão fatal no primeiro ano de vida. Crianças que dorsal
• Responde a sons
sofrem trauma não acidental possuem lesões mais graves • Olha para as pessoas
e mortalidade 6 vezes maior do que a criança com lesões
acidentais. Portanto, a história e avaliação cuidadosas da 2 meses • Vocaliza
criança com suspeita de maus tratos são de importância • Segue objetos que cruzam o campo visual
crítica para a prevenção de morte eventual, especialmente • Sustenta a cabeça por períodos curtos
em crianças menores de 2 anos de idade. Os médicos devem
suspeitar de maus tratos na infância quando: 3 meses • Reconhece rostos familiares
• Sustenta a cabeça
•• Existe discrepância entre a história e o grau • Segue objetos em movimento
de lesões físicas – por exemplo, uma criança
pequena perde a consciência ou tem lesões 4 meses • Sorri
significativas após cair do sofá ou da cama, • Gargalha
fraturas ao brincar com irmãos ou outras • Suporta o peso nas pernas
crianças, ou fraturas de membros inferiores em • Vocaliza quando falam com ele
crianças que ainda não deambulam.
5 meses • Distingue cores básicas
•• Intervalo de tempo prolongado entre o trauma e a • Brinca com mãos e pés
procura por atendimento médico.
•• Há história de traumatismos de repetição e de 6 meses • Segue sons e vozes
atendimentos em diferentes hospitais. • Imita sons
• Vira em ambas as direções
•• A história do trauma muda ou é diferente entre os
parentes e cuidadores. 7 meses • Senta sem apoio
• Arrasta objetos em sua direção
•• História de visitas frequentes a hospitais ou ao
médico.
8 meses • Fala "mama" ou "papa" para os pais
•• Os pais não respondem de forma adequada, ou • Passa objetos de uma mão para outra
são evasivos, ou não obedecem as ordens médicas
– por exemplo, abandonam a criança na sala de 9 meses • Fica em pé com apoio
emergência.
•• O mecanismo de trauma não é plausível com o 10 meses • Pega objetos usando a pinça
• Engatinha com o abdome fora do chão
estágio de desenvolvimento da criança (n TABELA
10-7).
11 meses • Gosta de brincadeiras como "bate
palminhas" e "cadê o nenê"
Os seguintes achados, em um exame físico cuidadoso, • Brinca e fica em pé por alguns segundos
sugerem uma criança com maus-tratos e exigem uma
melhor investigação: 12 meses • Imita as ações de outras pessoas
• Pede o que quer com gestos
•• Equimoses múltiplas (em diferentes estágios de
cicatrização)
•• Fraturas de ossos longos em crianças menores
•• Evidência de lesões traumáticas prévias de 3 anos de idade
repetidas, como cicatrizes antigas ou fraturas
•• Ruptura de vísceras sem antecedente de trauma
consolidadas ao raio X
fechado de grande intensidade
•• Lesões periorais
•• Hematomas subdurais múltiplos,
•• Lesões perineais ou perianais especialmente sem fratura de crânio recente
­208 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico

•• Hemorragia retiniana que os benefícios da prevenção eficiente são para a vida


toda (n QUADRO 10-1). Evitamos grandes rupturas sociais
•• Lesões bizarras, como mordidas, marcas de
e familiares associadas ao trauma na infância e também
queimadura por cigarro ou marcas de cordas
para cada dólar investido na prevenção, economiza-se
•• Queimaduras de segundo e terceiro graus quatro dólares no atendimento hospitalar.
nitidamente demarcadas
•• Fraturas de crânio ou de arcos costais em Trabalho em equipe
crianças menores de 24 meses de idade

Em muitos países, os médicos são obrigados por O tratamento de crianças vítimas de trauma é
lei a reportar incidentes de maus tratos na infância um desafio quer requer uma equipe coordenada.
às autoridades governamentais, mesmo em casos Idealmente, as crianças deveriam ser tratadas em locais
apenas suspeitos. Crianças vítimas de maus tratos estão com profissionais especializados (médicos, enfermeiros
em risco de vida e ninguém é beneficiado quando o e equipe) que tenham experiência no tratamento de
incidente não é reportado. O sistema protege os médicos trauma pediátrico.
da responsabilidade de identificação confirmada ou Deve-se orientar previamente as funções de cada um
suspeita de casos de maus tratos. da equipe, durante a reanimação do doente, a fim de
Embora os procedimentos de denúncia possam variar, assegurar a sequência correta do atendimento.
normalmente são conduzidos por serviços sociais ou No entanto, na realidade, a maioria das crianças
departamentos de direitos humanos. O processo de serão tratadas em locais com recursos pediátricos
denúncia de maus tratos em crianças ganha importância limitados. Nesses locais uma equipe de adultos terá a
quando se sabe que 33% das crianças vítimas de maus responsabilidade de atender a criança traumatizada e
tratos que morreram ou chegam mortas ao hospital, devem possuir:
nos Estados Unidos e no Reino Unido, tinham história
de episódios prévios de maus tratos que não foram •• Um líder em trauma que tenha experiência
reportados ou não foram levados a sério. no tratamento de doentes críticos e que seja
familiar com os recursos pediátricos para
Prevenção atender as crianças.
•• Profissional com habilidades básicas no
tratamento da via aérea.
A maior armadilha do trauma pediátrico é não prevenir
o trauma antes de ter ocorrido. Mais de 80% dos •• Profissional com habilidades no tratamento da
traumatismos da infância poderiam ser prevenidos via aérea difícil.
com a aplicação de estratégias simples em casa e na •• Habilidade de obtenção de acesso vascular, seja
comunidade. Os ABCDEs da prevenção do trauma foram
ele percutâneo ou via intraósseo.
descritos e precisam de atenção em uma população em
•• Conhecimento sobre reanimação volêmica.

quadro 10-1 abcdes da prevenção •• Equipamento apropriado para as diferentes


faixas etárias.
• Analyse - analise os dados sobre o trauma •• Atenção às doses de medicamentos.
– Vigilância local dos traumas
• Build - construa coalizões locais •• Envolvimento precoce de um profissional com
– Parcerias com hospitais experiência em pediatria, de preferência um
• Communicate - comunique o problema cirurgião pediátrico.
– Lesões são preveníveis •• Conhecimento e acesso a pediatras ou médicos
• Develop - desenvolva atividades de prevenção de família para ajudar no tratamento de
– Crie ambientes mais seguros comorbidades e outros problemas.
• Evaluate - avalie as intervenções
– Vigilância constante do trauma •• Inclusão da família da criança durante todo o
tratamento.
Fonte: Pressley JC, Barlow B, Durkin M, et al. A national program for •• É particularmente importante dialogar após o
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11 TRAUMA NO IDOSO

Ao manejar doentes geriátricos com trauma, os efeitos do envelhecimento na função


fisiológica e o impacto de doenças pré-existentes e o uso de medicamentos pelo idoso não
podem ser subestimados.
Capítulo 11 sumário
Objetivos Tipos de lesão
• Fraturas de Costelas
Introdução • Trauma Craniencefálico
• Fraturas de Pelve
Efeitos do envelhecimento e Impacto de
condições pré-existentes Circunstâncias especiais
• Uso Prévio de Medicamentos
Mecanismo de lesão • Abuso no Idoso
• Quedas • Estabelecendo Metas de Cuidado
• Acidentes de Automóvel
• Queimaduras Trabalho em equipe
• Traumas Penetrantes
resumo do capítulo
avaliação inicial com reanimação
• Via Aérea Bibliografia
• Respiração
• Circulação
• Disfunção Neurológica
• Exposição e Ambiente

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 4. Discutir as características únicas de tipos
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: específicos de lesão visto em idosos, tais como
fraturas de costelas, traumatismo craniencefálico
1. Explicar as alterações fisiológicas que ocorrem com e fraturas pélvicas.
o envelhecimento e como elas afetam as lesões
geriátricas e a resposta do doente idoso ao trauma. 5. I dentificar as causas e sinais de maus-tratos mais
comuns e formular uma estratégia para a gestão de
2. Identificar os mecanismos de lesão comumente situações de abuso no idoso.
encontrados em doentes idosos.

3. D
escrever a avaliação inicial com reanimação e o
manejo das lesões críticas em doentes geriátricos
utilizando os princípios do ABCDE do ATLS.

215
­216 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso

A
maioria dos países no mundo está experimentando adequada identificação do doente idoso em risco de
um crescimento na proporção de idosos em sua morte e uma abordagem terapêutica bem coordenada,
população. Adultos mais velhos compõem o frequentemente multidisciplinar, além de um enfoque
segmento de mais rápido crescimento da população dos terapêutico agressivo. Por estas razões, a avaliação
Estados Unidos. Na verdade, até 2050 quase metade da completa dos doentes geriátricos em um centro de
população mundial vai viver em um país onde pelo menos trauma melhora seus resultados.
20% da população é de pessoas acima de 60 anos, e um
quarto vai viver em um país onde as pessoas mais velhas
correspondem a mais de 30% da população. Eeitos do envelhecimento e
Envelhecimento da população é esperado para ser impacto das condições
uma das mais significativas transformações sociais do pré-existentes
século XXI. Esta geração vai viver mais do que a anterior
e terá acesso a cuidados de saúde de alta qualidade.
Além disso, a crescente mobilidade e estilos de vida Diminuição da função celular, levando à falência de
ativos dos indivíduos idosos de hoje coloca-os com risco órgãos, é parte do processo de envelhecimento. Portanto,
aumentado para ferimentos graves. Trauma agora é a o envelhecimento é caracterizado pela deterioração de
quinta causa principal de morte na população idosa. mecanismos adaptativos e homeostáticos que causam
Doentes com trauma geriátrico representam um desafio um aumento da susceptibilidade ao estresse do trauma.
único para as equipes de trauma. Embora os mecanismos Esta condição é comumente descrita como diminuição
de lesão possam ser semelhantes àqueles para a população da reserva fisiológica. Lesões, geralmente toleradas
mais jovem, dados bem-estabelecidos demonstram pelo doentes mais jovens, podem levar a resultados
aumento da mortalidade de adultos idosos com trauma devastadores em doentes idosos.
de semelhante gravidade. Falha na triagem de doentes Existem várias evidências mostrando que condições
idosos, mesmo aqueles com lesões críticas, pode ser em pré-existentes (CPEs) têm impacto na morbimortalidade.
parte responsável pela mortalidade atribuída. Em um estudo recente, os investigadores identificaram
Claro que o erro na triagem é apenas um fator que cinco CPEs que influenciaram os resultados em doentes
influencia a mortalidade no trauma geriátrico. Senescência vítimas de trauma: cirrose, coagulopatia, doença pulmonar
dos sistemas orgânicos, tanto anatomicamente como obstrutiva crônica (DPOC), doenças isquêmicas do coração
fisiologicamente, doenças pré-existentes e fragilidade, e diabetes mellitus. No estudo com mais de 3.000 doentes,
todos desempenham um papel que coloca os idosos um quarto dos indivíduos com idade superior a 65 anos,
vítimas de trauma em maior risco. Maus-tratos, abuso possuía uma dessas cinco CPEs. Doentes com uma ou mais
de substâncias e depressão são fatores adicionais a serem dessas condições eram quase duas vezes mais propensos a
considerados, e a triagem pode ser realizada por meio de morrer do que aqueles sem CPEs. Os mesmos pesquisadores
várias ferramentas. Resultados aceitáveis dependem da relataram sobre a interação entre a lesão e fatores do

Homens Mulheres
Previsão do aumento da mortalidade

Previsão do aumento da mortalidade

0.5 3+ condições 0.5 3+ condições


1-2 condições 1-2 condições
0 condições 0 condições
0.4 0.4

0.3 30% risco 0.3 30% risco

0.2 0.2

0.1 0.1
20 30 40 50 60 70 80 90 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade (por década) Idade (por década)
A B
n FIGURA 11-1  Risco de mortalidade associada a complicações geriátricas ou morte, por idade e número de condições pré-existentes para A.
homens e B. mulheres. Nota-se que o risco de morte aumenta com um número crescente de condições pré-existentes e a idade. Fonte: Adaptado
com permissão de Min L, Burruss, S, Morley E, et al. A simple clinical risk nomogram to predict mortality-associated geriatric complications in
severely injured geriatric patients. J Trauma Acute Care Surg 2013;74(4):1125–1132. Copyright © 2013 Lippincott Williams & Wilkins.
AVALIAÇÃO INICIAL COM REANIMAÇÃO 217

hospedeiro, que incluíam a idade, gênero e CPEs (n FIGURA descobriram que os idosos estão particularmente em risco
11-1). Embora a gravidade da lesão tenha sido a principal por causa da diminuição do tempo de reação, audição e
determinante da mortalidade, outros fatores do hospedeiro visão prejudicadas e a incapacidade de escapar do local em
também desempenharam um papel significativo. chamas. Líquidos quentes derramados na perna que, em um
doente jovem, pode reepitalizar mais rapidamente devido
a um número adequado de folículos pilosos, resultará em
Mec a nismo de tr aum a uma queimadura de espessura total em doentes idosos
devido à escassez desses folículos pilosos. O envelhecimento
Mecanismos comuns de trauma encontrados em doentes dos sistemas orgânicos dos doentes idosos vítimas de
idosos incluem quedas, acidentes automobilísticos, queimadura tem um grande impacto sobre os resultados;
queimaduras e ferimentos penetrantes. alterações na pele dos idosos são óbvias, e a incapacidade
deste doente para atender as demandas fisiológicas
quedas associadas às queimaduras provavelmente tem grande
influência no resultado e sobrevida.
O risco de queda aumenta com a idade, e as quedas são o
mecanismo mais comum de ferimento fatal na população lesões penetrantes
idosa. Quedas não fatais são mais comuns em mulheres, e as
fraturas são mais comuns em mulheres que caem. As quedas De longe, o traumatismo não penetrante é o mecanismo
são a causa mais comum de traumatismo craniencefálico predominante de lesão em adultos idosos; no entanto,
(TCE) em idosos. Quase metade das mortes associadas com um número significativo de pessoas com idade superior a
quedas da própria altura é resultado de TCE. Metade dos 65 anos é vítima de ferimentos penetrantes. Na verdade,
doentes idosos que sofrem uma fratura de quadril já não será lesão penetrante é a quarta causa mais comum de morte
capaz de viver de forma independente. Fatores de risco para traumática em indivíduos de 65 anos ou mais. Muitas
as quedas incluem idade avançada, deficiência física, história mortes associadas a ferimentos por projétil de arma de
de queda anterior, uso de medicação, demência, marcha fogo estão relacionadas a automutilação ou suicídio.
instável e deficiências visuais, cognitivas e neurológicas.
Fatores ambientais, tais como tapetes soltos, iluminação avaliação inicial com
insuficiente e superfícies escorregadias ou irregulares,
contribuem para aumentar o risco de queda. reanimação

acidentes automobilísticos Como em todos os doentes vítimas de trauma, a


aplicação dos princípios do ATLS na avaliação e manejo
Em geral, as pessoas idosas dirigem menos milhas, de adultos idosos segue a metodologia do ABCDE. Os
em estradas menos movimentadas e em velocidades médicos devem levar em consideração os efeitos do
mais baixas do que os jovens. Eles também tendem a envelhecimento sobre os sistemas e órgãos e suas
dirigir mais durante o dia. Assim, a maioria das mortes implicações para o cuidado desses doentes, conforme
no trânsito de idosos ocorre durante o dia e nos finais descrito na n TABELA 11-1. (Ver também Efeitos do
de semana, e normalmente envolvem outros veículos. Envelhecimento no aplicativo móvel MyATLS.)
Fatores contribuintes que aumentam o risco para acidentes
de automóvel em idosos incluem um tempo de reação via aérea
mais lento, aumento da área cega, mobilidade cervical
limitada, diminuição da audição e comprometimento A via aérea dos idosos apresenta desafios específicos para
cognitivo. Além disso, problemas médicos, como infarto do o médico atendente. Devido ao fato de que os adultos
miocárdio, acidente vascular cerebral e disritmias podem idosos têm significativa perda de reflexos de proteção
resultar em condições que precipitam uma colisão. das vias respiratórias, oportuna tomada de decisão para
estabelecer uma via aérea definitiva pode ser uma medida
queimaduras salvadora de vidas. Os doentes podem ter dentaduras
que podem soltar e obstruir a via aérea. Se a dentadura
Queimaduras podem ser particularmente devastadoras em não está obstruindo a via aérea, deixe-a no lugar durante
doentes idosos. Há muito tempo se conhece o impacto da a ventilação bolsa-máscara, o que melhora o ajuste da
idade na mortalidade por queimadura; no entanto, apesar da máscara. Alguns doentes idosos são desdentados, que
significativa diminuição na mortalidade nos doentes mais torna mais fácil intubar, mas ventilação bolsa-máscara
jovens, a mortalidade associada a pequenas e moderadas é mais difícil. Alterações artríticas da coluna cervical e
queimaduras em adultos idosos permanece elevada. Ao da abertura de boca podem dificultar o manejo da via
analisar as mortes por incêndios estruturais, pesquisadores aérea do idoso (n FIGURA 11-2). Ao realizar intubação
­218 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso

tabela 11-1 efeitos da idade nos sistemas orgânicos e implicações no cuidado

SISTEMA ORGÂNICO ALTERAÇÃO FUNCIONAL IMPLICAÇÃO NO CUIDADO

Cardíaco • Declínio da função • Alteração da “resposta clássica” a


Brain mass Stroke
• Diminuição na sensibilidade às catecolaminas hipovolemia
• Diminuição da massa muscular • Risco de isquemia cardíaca
Eye disease • Aterosclerose dos vasos coronarianos • AumentoDiminished hearing
do risco de arritmias
• Aumento da pós-carga • Elevação da pressão arterial basal
• Débito cardíaco inalterado
Depth perception
• Frequência cardíaca inalterada (β bloqueadores) Sense of smell and taste

Pulmonar Discrimination
• Cifoescoliose torácica • Risco aumentado de insuficiência
Saliva production
of colors • Diminuição do diâmetro transverso torácico respiratória
• Reduzida capacidade residual funcional • Risco aumentado para pneumonia
• Diminuição da troca gasosa • Baixa tolerância às fraturas de costelas
Pupillary response
• Diminuição do reflexo de tosse Esophageal activity
• Diminuição da função mucociliar
• Aumento da colonização orofaríngea
Respiratory Cardiac stroke
vital capacity volume and rate
Renal • Perda da massa renal • Exames laboratoriais renais de rotina podem
• Diminuição no ritmo de filtração glomerular estar normais (não mostrando alteração)
Renal function(RFG) • CorreçãoHeart
da dosedisease and high
de medicações na
• Diminuição na sensibilidade ao hormônio insuficiência renal
blood pressure
antidiurético (ADH) e aldosterona • Diminuição na habilidade de concentrar
2- to 3-inch loss urina
in height Kidney
• Fluxo urinário disease
pode estar normal com
hipovolemia
Impaired blood flow • Aumento do risco de insuficiência renal aguda
Gastric secretions
to lower leg(s)
Pele/Partes moles/ •
Perda de massa corpórea • Aumento do risco de fraturas
Musculoesquelético •
Osteoporose • Diminuição da mobilidade
Number of
Degeneration Alterações nas articulações e cartilagens
• • Dificuldade na intubação oral
of the joints •
Alterações degenerativas (incluindo coluna •
body cells
Risco de lesão de pele devido a
cervical) imobilidade
• Perda da elasticidade cutânea e gordura • Aumento do risco deof
Elasticity hipotermia
skin
Total body water
subcutânea • Mudanças na reabilitação
Thinning of epidermis
EndócrinoNerve damage• Diminuição na produção e resposta à tiroxina • Hipotireoidismo oculto
• Diminuição da dehidroepiandrosterona (DHEA)
(peripheral neuropathy) 15%–30%
• Estado relativo body fat
de hipercortisonismo
• Aumento do risco de infecções

n FIGURA 11-2  Alterações artríticas podem complicar o manejo da


via aérea e coluna cervical. Esta imagem de ressonância magnética,
sagital ponderada em T2, mostra graves alterações degenerativas
multiníveis que afetam os espaços discais e elementos posteriores,
associados a severa estenose do canal medular, compressão da
medula e pequenos focos de mielomalácia a nível de C4-C5.
AVALIAÇÃO INICIAL COM REANIMAÇÃO 219

de sequência rápida, reduzir as doses de barbitúricos, como hemodinamicamente normal. Mesmo que o doente
benzodiazepínicos e outros sedativos para entre 20% e idoso possa ter uma frequência cardíaca e débito cardíaco
40% para minimizar o risco de depressão cardiovascular. fixos, em resposta à hipovolemia, isso implicará em
Principais alterações fisiológicas e considerações aumento da resistência vascular sistêmica. Além disso,
para o manejo e abordagem na avaliação da via aérea uma vez que muitos doentes idosos têm hipertensão pré-
são listadas na n TABELA 11-2. existente, uma pressão arterial aparentemente aceitável
pode verdadeiramente refletir um estado relativo de
respiração hipotensão. Uma recente pesquisa identifica uma
pressão arterial sistólica de 110 mm Hg a ser utilizada
Mudanças na conformidade dos pulmões e parede como limite para a identificação de hipotensão arterial
torácica resultam em maior trabalho da respiração com em adultos com mais de 65 anos de idade.
o envelhecimento. Esta alteração coloca o doente idoso É crítico identificar doentes com hipoperfusão tecidual
em alto risco para insuficiência respiratória. Devido ao significativa. Várias metodologias têm sido empregadas
fato de que o envelhecimento provoca uma resposta e continuam a ser usadas para fazer este diagnóstico. Elas
cardíaca reprimida à hipóxia, a insuficiência respiratória incluem dosagem de déficit de base e lactato no soro, índice
pode se apresentar insidiosamente em adultos idosos. de choque e pontos de extremidade de tecido-específica.
A interpretação clínica e laboratorial das informações Reanimação de doentes geriátricos com hipoperfusão é
pode ser difícil devido a presença de doença respiratória a mesma que para todos os outros doentes e baseia-se na
pré-existente ou alterações não patológicas na ventilação administração apropriada de fluido e sangue.
associadas com a idade. Frequentemente, as decisões O doente idoso com evidência de insuficiência
para proteger a via aérea do doente idoso e providenciar circulatória, até que seja provado o contrário, deve estar
a ventilação mecânica podem e devem ser feitas antes sangrando. Considere o uso precoce de monitoração
do agravamento da função respiratória. avançada (por exemplo, pressão venosa central
Principais alterações fisiológicas e considerações [PVC], ecocardiografia e ultrassonografia) para guiar
para o manejo e abordagem na avaliação da respiração a ressuscitação ideal, dado o potencial para a doença
e ventilação são listadas na n TABELA 11-3. cardiovascular pré-existente. Além disso, os médicos
precisam reconhecer que um evento fisiológico (por
Circulação exemplo, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio,
arritmia) pode ter provocado o incidente, levando a lesão.
Alterações relacionadas com o envelhecimento do sistema Principais alterações fisiológicas e considerações para
cardiovascular colocam o doente idoso traumatizado em o manejo e abordagem na avaliação da circulação são
risco significativo para ser categorizado erroneamente listadas na n TABELA 11-4.

tabela 11-2 alterações fisiológicas e considerações no manejo: via aérea

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES


DA IDADE CONSIDERAÇÕES NO MANEJO

• Alterações da boca e coluna cervical por artrite • Perda da dentição


• Macroglossia • Uso de laringoscópio e cânulas de intubação de tamanho apropriado
• Diminuição dos reflexos de proteção • Colocação de gaze entre a gengiva e a bochecha para impedir a saída
de ar ao usar a ventilação com máscara

tabela 11-3 alterações fisiológicas e considerações no manejo: respiração

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES


DA IDADE CONSIDERAÇÕES NO MANEJO

• Aumento da cifoescoliose • Reserva respiratória limitada; identificar insuficiência respiratória


• Diminuição da Capacidade Residual Funcional (CRF) precocemente
• Diminuição da troca gasosa • Manejar fraturas de costela prontamente
• Diminuição do reflexo da tosse • Assegurar a aplicação adequada de ventilação mecânica
• Diminuição da limpeza mucociliar da via aérea
­220 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso

tabela 11-4 alterações fisiológicos e considerações no manejo: circulação

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA


IDADE CONSIDERAÇÕES NO MANEJO

• Doença cardíaca pré-existente ou Hipertensão • Procurar por evidência de hipoperfusão tecidual


• Perda da “resposta clássica” à hipovolemia • Manejar fraturas de costela prontamente
• Probabilidade de medicamentos cardiológicos • Assegurar a aplicação adequada de ventilação mecânica

normal. A doença degenerativa da coluna vertebral


armadi- prevenção coloca os doentes idosos em risco de fraturas e lesão
lha medular mesmo com quedas de baixa energia cinética
como a queda da própria altura. A identificação
Falha em • Não equiparar pressão arterial e precoce e suporte apropriado — incluindo correção
reconhecer o choque. de anticoagulação terapêutica — pode melhorar os
choque. • Reconhecer a possibilidade de resultados em doentes idosos.
hipertensão arterial pré-existente e, Principais alterações fisiológicas e considerações
quando possível, obter história clínica.
• Utilizar marcadores sanguíneos como
para o manejo e abordagem na avaliação da disfunção
lactato e déficit de bases (base excess) neurológica são listadas na n TABELA 11-5.
para avaliar a existência de choque.
• Utilizar métodos não invasivos como Exposição e ambiente
a ecocardiografia para avaliar a função
cardíaca global e o status de volume.
• Reconhecer o potencial de perda
Alterações musculoesqueléticas associadas ao
sanguínea decorrente de lesão de processo de envelhecimento apresentam preocupações
partes moles, fratura pélvica e de específicas durante este aspecto da avaliação inicial do
ossos longos doente idoso de trauma. Perda de gordura subcutânea,
deficiências nutricionais, condições médicas crônicas
e pré-existentes, terapias médicas colocam os doentes
Disfunção neurológica idosos em risco de hipotermia e complicações
decorrentes da imobilidade (úlceras de pressão e
Traumatismo craniencefálico (TCE) é um problema delirium). A avaliação rápida e, quando possível, a
de proporções epidêmicas na população idosa. O remoção precoce da prancha rígida e colar cervical,
envelhecimento faz com que a dura-máter esteja irão minimizar essas complicações.
mais aderente ao crânio, aumentando assim o risco As principais alterações fisiológicas e considerações
de hematoma peridural. Além disso, os doentes mais para o manejo e abordagem na avaliação da exposição
idosos utilizam medicamentos anticoagulantes e e ambiente são listadas na n TABELA 11-6.
antiplaquetários para condições médicas pré-existentes.
Esses dois fatores colocam o indivíduo idoso de alto risco
para hemorragia intracraniana. A doença aterosclerótica le sõe s e specífic a s
é comum com o envelhecimento e pode contribuir para
a lesão cerebral primária ou secundária. Atrofia cerebral Lesões específicas comuns na população idosa incluem
moderada pode permitir que a patologia intracraniana fraturas de costelas, traumatismo craniencefálico e
apresente-se inicialmente com um exame neurológico fraturas pélvicas.

tabela 11-5 alterações fisiológicas e considerações no manejo: disfunção neurológica

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA IDADE CONSIDERAÇÕES NO MANEJO

• Atrofia cerebral • Uso liberal da tomografia computadorizada para identificar


• Doença degenerativa da medula lesões cerebrais e medulares
• Presença de doença neurológica ou psiquiátrica pré-existente • Assegurar reversão precoce dos efeitos das medicações
anticoagulantes e antiplaquetárias
LESÕES ESPECÍFICAS 221

tabela 11-6 alterações fisiológicas e considerações no manejo: exposição e ambiente

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA IDADE CONSIDERAÇÕES NO MANEJO

• Perda da gordura subcutânea • Avaliar precocemente e retirar o colar cervical e a prancha


• Perda da elasticidade da pele longa assim que possível
• Mudanças esqueléticas decorrentes da artrite • Colocar almofadas nas proeminências ósseas quando
• Deficiências nutricionais necessário
• Prevenir a hipotermia

fraturas de costelas oral, medicamentos por via intravenosa, transdérmica ou


anestésicos regionais. Administração de narcóticos em
Doentes idosos têm maior risco de fraturas de costelas, doentes idosos deve ser realizada com cautela e somente
devido às alterações anatômicas da parede torácica e perda em ambiente adequado para o monitoramento de perto
de densidade óssea. A causa mais comum de fraturas de do doente. Evitar efeitos desfavoráveis, particularmente
costelas é a queda da própria altura, ao nível do solo, seguida depressão e delirium, é de suma importância.
por acidentes de automóvel. A principal complicação em
doentes idosos com fraturas de costelas é a pneumonia. Trauma craniencefálico
Na população idosa, a incidência de pneumonia pode ser
tão alta quanto 30%. Risco de mortalidade aumenta com Há provas contundentes de que a população geriátrica
cada costela adicional fraturada. possui maior risco de mortalidade e morbidade associada ao
Os principais objetivos do tratamento são o controle da dor TCE. Este aumento da mortalidade não está necessariamente
e a higiene pulmonar. Controle da dor pode incluir medicação relacionado à magnitude da lesão, mas sim a incapacidade
do doente idoso de se recuperar. Até hoje existem poucas
armadilha prevenção recomendações específicas para cada idade no manejo de
TCE. Delirium, demência e depressão podem ser difíceis
Alteração respiratória • Reconhecer o potencial de se distinguir dos sinais de lesão cerebral. O manejo de
que aparece após queda para deterioração da doentes idosos com TCE que estão utilizando medicamentos
com fraturas de costelas. função pulmonar em anticoagulantes e/ou antiplaquetárias é particularmente
doentes idosos com desafiador, e a mortalidade destes doentes é maior.
fraturas de costelas.
Uso liberal de tomografia computadorizada para o
• Providenciar analgesia
efetiva. diagnóstico é particularmente importante em doentes
• Avaliar adequadamente a idosos, com alterações pré-existentes como atrofia
toalete pulmonar. cerebral, demência e acidente vascular cerebral e podem
• Reconhecer as dificultar o diagnóstico clínico de TCE. Além disso, uma
comorbidades dos
agressiva e precoce reversão da terapia anticoagulante pode
doentes e seu impacto
na resposta ao trauma e melhorar o resultado. Este resultado pode ser conseguido
medicações. rapidamente com o uso de concentrado complexo de
protrombina (CCP), plasma, e medidas padrão como o
Doente desenvolve • Obter o histórico de uso de vitamina K. O status da coagulação do doente pode
delirium após receber medicamentos utilizados não estar anormal em doentes tomando medicamentos
grandes doses de e avaliar as interações anticoagulantes mais recentes. Infelizmente, os agentes
narcóticos. com outras medicações.
de reversão específicos ainda não estão disponíveis para
• Utilizar pequenas
doses de narcóticos de muitos dos mais recentes inibidores diretos da trombina
curta duração quando e inibidores de anti-Xa, e um status de coagulação normal
necessário. pode ser difícil de ser alcançado. (Ver Tabela 6-5 Manejo
• Considerar alternativas de Anticoagulantes no Capítulo 6.)
não narcóticas.
• Utilizar analgésicos
transdérmicos, fraturas pélvicas
bloqueadores ou
epidurais quando Fraturas pélvicas na população idosa resultam mais
possível. comumente de quedas da própria altura, ao nível
do solo. Como a idade dos doentes, a incidência de
­222 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso

osteoporose também aumenta linearmente; a maioria Muitas vezes, vários tipos de abusos ocorrem
dos indivíduos acima de 60 anos tem algum grau de simultaneamente. Multifacetada em causas, os maus-
osteoporose. A mortalidade de fratura pélvica é quatro tratos em idosos, muitas vezes não são reconhecidos e são
vezes maior em doentes mais idosos do que em doentes subnotificados. Sinais de maus-tratos podem ser sutis (por
mais jovens. A necessidade de transfusão de sangue, exemplo, falta de higiene e desidratação) e podem passar
até mesmo para fraturas aparentemente estáveis, é despercebidos. Maus-tratos físicos ocorrem em até 14% de
significativamente maior do que a observada em uma admissões em trauma geriátrico, resultando em uma maior
população mais jovem. Adultos mais velhos também têm mortalidade quando comparada com doentes mais jovens.
uma permanência hospitalar muito maior e são menos Achados físicos, sugerindo maus-tratos no idoso são
propensos a voltar a um estilo de vida independente listados no n QUADRO 11-1.
após a alta. Prevenção de queda é o ponto fundamental A presença de achados físicos sugestivos de maus-
para reduzir a mortalidade associada a fraturas pélvicas. tratos merece um histórico detalhado. Se a história entra
em conflito com os achados físicos ou revela um atraso
intencional no tratamento, imediatamente, as autoridades
c ircuns tâ nc i a s e spec i a is competentes devem ser comunicadas para investigação
futura. Se a suspeita de maus-tratos se confirma, tome as
Circunstâncias especiais que requerem maior atenção no medidas adequadas, incluindo a remoção do doente idoso
tratamento de doentes idosos incluem medicamentos, da situação abusiva.De acordo com o Centro Nacional de
maus-tratos e estabelecimento de metas de atendimento. Abuso ao Idoso nos Estados Unidos da América (National
Center on Elder Abuse), mais do 1 em cada 10 adultos idosos
Medicamentos podem experimentar algum tipo de maus-tratos, mas
apenas 1 em cada 5 ou menos desses casos são relatados.
Betabloqueadores são usados em aproximadamente 20% Uma abordagem multidisciplinar é necessária para
dos doentes idosos com doença arterial coronariana e em abordar os componentes de cuidados para as vítimas
10% dos doentes com hipertensão arterial. O bloqueio idosas de maus-tratos.
fisiológico inerente da resposta esperada à hipovolemia
pode fornecer obstáculos de triagem e tratamento. Estabelecendo metas de cuidado
Anticoagulação, antiagregantes plaquetários e uso
de inibidores diretos da trombina causam problemas Trauma é a quinta causa principal de morte em doentes
significativos para o doente com hemorragia. A rápida acima de 65 anos. Entre os doentes de trauma, os idosos
identificação do tipo de droga e o uso de um agente para compreendem apenas 12% da população total; mas,
sua reversão (se disponível) podem salvar a vida do doente. surpreendentemente, eles representam quase 30%

abuso no idoso quadro 11-1 achados físicos suges-


tivos de maus-tratos no idoso
Ao avaliar um doente idoso ferido, membros da equipe
devem considerar a possibilidade de abuso. Abuso no • Contusões que afetam a região interna dos braços, face
idoso é definido como qualquer imposição intencional interna das coxas, palma da mão, planta do pé, couro
de lesão, confinamento irracional, intimidação ou cabeludo, orelha (pavilhão auricular), área da mastoide,
castigo cruel, o que resulta em dano físico, dor, angústia nádegas
mental ou outra privação intencional por um familiar • Contusões múltiplas e agrupadas
• Abrasões na área axilar (indicando restrição) ou punho e
ou cuidador que são necessários para evitar danos
tornozelos (indicando amarraduras)
físicos, angústia mental ou doença mental. Abusos nos
• Lesão nasal em ponte e na região temporal (agressão
idosos podem ser tão comuns como abusos em crianças. enquanto usava óculos)
Abuso no idoso pode ser dividido em seis categorias: • Equimose periorbital
• Lesão oral
1. Abuso físicos • Alopecia de padrão incomum
2. Abuso sexual • Úlcera de pressão não tratada ou úlceras em áreas não-
lombos sacrais
3. Negligência • Fraturas não tratadas
4. Abuso psicológico • Fraturas não envolvendo o quadril, úmero ou vértebra
• Lesões em vários estágios de evolução
5. Exploração financeira e material
• Lesões nos olhos ou nariz
6. Violação dos direitos • Queimadura por contato ou escaldadura
• Hemorragia por escalpe ou hematoma
BIBLIOGRAFIA 223

das mortes causadas por trauma. Sem dúvida, idade ser úteis no cuidado de doentes em situações
avançada contribui para o aumento da morbidade e difíceis.
mortalidade. Doenças médicas pré-existentes podem
acompanhar a fisiologia do envelhecimento. Uma
abordagem centrada no doente deve incluir discussões
r e sumo do c a pítulo
iniciais com o doente e sua família sobre metas de
cuidado e de tratamento. No cenário de trauma, é 1. Adultos idosos são atualmente o segmento de mais
importante inicialmente ter um diálogo aberto para rápido crescimento da população. Provedores de
encorajar a comunicação. Muito doentes já discutiram trauma verão um número crescente de idosos feridos.
seus desejos em relação a terapias para manutenção
da vida antes de ocorrer um evento agudo. A consulta 2. O doente idoso apresenta desafios únicos para a equipe
precoce com os serviços de cuidados paliativos pode de trauma. A influência de alterações na anatomia e
ser útil na determinação de limitações no atendimento, fisiologia, bem como o impacto de condições médicas
bem como abordagens paliativas efetivas para aliviar pré-existentes, influenciará nos resultados.
os sintomas do doente.
3. Mecanismos comuns de lesão incluem quedas,
acidentes de automóvel, queimaduras e ferimentos
Trabalho em equipe penetrantes.

•• Equipes de trauma estão cada vez mais 4. A sequência de avaliação inicial e a reanimação são
participando do manejo do trauma na as mesmas para adultos mais jovens; no entanto,
população idosa. a exclusiva anatomia e fisiologia dos doentes mais
•• Devido a condições médicas pré-existentes e as idosos influenciará no sincronismo, magnitude e
potenciais complicações da terapia com drogas resultado final.
antiagregantes e anticoagulantes, o manejo
bem-sucedido do trauma geriátrico permanece 5. Lesões comuns em idosos incluem fraturas de costelas,
desafiador. Uma equipe de trauma com uma traumatismo craniencefálico e fraturas pélvicas.
compreensão das mudanças anatômicas e A compreensão do impacto do envelhecimento e
fisiológicas relacionadas ao envelhecimento as influências sobre as armadilhas vistas com estas
pode ter um impacto positivo no resultado final lesões resultará em melhores resultados.
do manejo do doente idoso traumatizado.
6. O impacto do uso de medicamentos, os maus-tratos
•• Ativação precoce da equipe de trauma pode com os idosos e o estabelecimento de metas de cuidado
ser necessária para doentes idosos que não são características únicas do tratamento do doente
satisfazem os critérios tradicionais para sua idoso traumatizado. A identificação precoce dessas
ativação. Uma lesão simples, como uma fratura situações influenciará nos cuidados e resultados.
de tíbia, em uma pessoa idosa frágil pode
rapidamente tornar-se fatal.
•• O efeito de drogas cardíacas, tais como Bibliografia
betabloqueadores, podem alterar a resposta
fisiológica típica da hemorragia, dificultando
a interpretação tradicional dos sinais vitais. O 1. American College of Surgeons, Committee on
membro da equipe responsável pelo manejo da Trauma, National Trauma Data Bank (NTDB).
circulação deve assegurar que o líder da equipe http://www.facs.org/trauma/ntdb. Accessed
seja informado mesmo de pequenas alterações May 12, 2016.
nos parâmetros fisiológicos, e deve avaliar o 2. Braver ER, Trempel RE. Are older drivers actually
status da perfusão para rapidamente identificar at higher risk of involvement in collisions
e manejar hemorragias catastróficas. resulting in deaths or nonfatal injuries among
their passengers and other road users? Inj Prev
•• Os resultados para doentes idosos
2004;10:27–29.
traumatizados são frequentemente pobres.
3. Bulger EM, Arenson MA, Mock CN, et al. Rib
O líder da equipe deve considerar diretivas
fractures in the elderly. J Trauma 2000;48:
avançadas de tratamento dos doentes e
1040–1046.
reconhecer os objetivos para o cuidado do
4. Li C, Friedman B, Conwell Y, et al. Validity of
doente. Muitas vezes, os membros da equipe
the Patient Health Questionnaire-2 (PHQ-2) in
fornecem pareceres ou sugestões que podem
­224 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso

identifying major depression in older people. J and 2001–2005. MMWR Morb Mortal Wkly Rep
Am Geriatr Soc 2007 April;55(4):596–602. 2006; 55:1221–1224.
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14:233–244. mortality and worse functional outcome at
6. Min L, Burruss S, Morley E, et al. A simple clinical discharge despite lower injury severity. J Trauma
risk nomogram to predict mortality-associated 2002; 53:219–224.
geriatric complications in severely injured 11. United Nations, Department of Economic and
geriatric patients J Trauma 74(4):1125–1132. Social Affairs, Population Division (2015). World
Copyright © 2013 Lippincott Williams & Wilkins. Population Ageing.
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among older adults—United States 1993–2003
12 TRAUMA NA GESTANTE E
VIOLÊNCIA CONJUGAL

Embora a gravidez provoque alterações na fisiologia normal e na respostas às lesões e à


reanimação , a sequência da avaliação inicial e do tratamento de pacientes grávidas é a
mesma de todos os demais pacientes de trauma.
Capítulo 12 sumário
Objetivos Avaliação e tratamento
• Avaliação Primária e Reanimação
Introdução • Auxiliares para Avaliação Primária e Reanimação
• Avaliação Secundária
Anatomia e alterações fisiológicas na gravidez • Cuidado Definitivo

diferenças anatômicas Cesária perimortem


• Volume e Composição do Sangue
• Hemodinâmica violência conjugal
• Sistema Respiratório
• Sistema Gastrointestinal Trabalho em equipe
• Sistema Urinário
• Sistema Músculo Esquelético resumo do capítulo
• Sistema Neurológico
recursos adicionais
Mecanismo de trauma
• Trauma Fechado Bibliografia
• Trauma Penetrante

gravidade do trauma

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de métodos de avaliação que se aplicam a ambos os
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: doentes (mãe e feto).

1. Identificar as alterações anatômicas e fisiológicas da 4. Assinalar as indicações de intervenção cirúrgica


gravidez incluídos os seus efeitos no tratamento da peculiares à doente grávida traumatizada.
doente.
5. Explicar o potencial para isoimunização e a
2. Identificar e discutir os mecanismos de trauma da necessidade para terapia com imunoglobulina na
gestante e do feto. gestante vítima de trauma.

3. Assinalar as prioridades de tratamento e os 6. Identificar os padrões próprios da violência.

227
­228 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

A
gravidez provoca grandes mudanças fisiológicas
e modificações nas relações anatômicas que
afetam praticamente todos os órgãos do
corpo humano. Essas mudanças na estrutura e na
função podem influenciar a avaliação da gestante
traumatizada, alterando os sinais e os sintomas das
lesões, a abordagem e as respostas às medidas de
reanimação, e a interpretação dos exames laboratoriais.
A gravidez pode também afetar os padrões do trauma 40
36
e a gravidade das lesões. 32
O médico que atende uma mulher grávida vítima Umbigo 28

de traumatismo deve lembrar que está atendendo (materno)


24
20
dois doentes: mãe e feto. Entretanto, as prioridades 16

do atendimento inicial adotadas para uma mulher 12

grávida traumatizada são as mesmas aplicadas para a Sínfise


não grávida. O melhor tratamento inicial para o feto, pública
além de sua avaliação precoce, é a adoção das melhores
medidas de reanimação para a mãe. Técnicas de avaliação
e monitoração devem permitir o acompanhamento
tanto da mãe quanto do feto. O estudo radiológico, se
necessário na fase aguda do tratamento, não deve ser
contra-indicado por causa da gravidez. Um cirurgião e
um obstetra experiente devem ser consultados desde o
início para a avaliação da gestante traumatizada. n FIGURA 12-1  Alterações da Altura do Fundo Uterino na Gravidez. À
medida que o útero aumenta o intestino é empurrado cranialmente de
tal forma que ocupa o abdome superior. Como resultado, o intestino
Alterações anatômicas e fica um pouco protegido no trauma abdominal contuso, enquanto o

fisiológicas da gravidez útero e seu conteúdo (feto e placenta) se tornam mais vulneráveis.

Entender as alterações anatômicas e fisiológicas À medida que o útero aumenta, o intestino é


da grávida, bem como a relação fisiológica entre empurrado em direção cranial, deslocando-se cada vez
mãe e feto é essencial para que se consiga o melhor mais para a parte superior do abdome. Como resultado,
atendimento para ambos. Tais alterações incluem o intestino acaba sendo parcialmente protegido no
diferenças na anatomia, composição e volume do trauma abdominal contuso, enquanto o útero e seu
sangue, hemodinâmica, bem como mudanças nos conteúdo (feto e placenta) se tornam mais vulneráveis.
sistemas respiratório, gastrointestinal, urinário, Entretanto, traumas penetrantes que acometem o
musculoesquelético e neurológico. abdome superior nas fases tardias da gestação podem
resultar em lesões intestinais complexas em decorrência
deste deslocamento em direção cranial.
difer enç a s a n atômic a s Durante o primeiro trimestre, as paredes do útero
são mais espessas, o seu tamanho é pequeno e ele se
O útero permanece em localização intrapélvica até a encontra protegido pelos ossos da pelve. Durante o
12ª semana de gestação, quando então começa a deixar segundo trimestre, o útero sai de sua proteção pélvica,
a pelve. Em torno da 20ª semana o útero alcança a mas o pequeno feto permanece móvel e protegido por
cicatriz umbilical, e entre a 34ª e a 36ª semanas de grande quantidade de líquido amniótico. O líquido
gestação ele atinge o rebordo costal (n FIGURA 12-1; ver amniótico pode causar embolia e coagulação intravascular
também Alterações da Altura Uterina na Gravidez no disseminada após traumatismo, desde que ganhe acesso
aplicativo móvel MyATLS). Os sinais clínicos de irritação ao espaço intravascular. No terceiro trimestre, o útero
peritoneal são menos evidentes nas grávidas; assim, é grande e suas paredes são finas. Quando o feto se
quando se suspeita de uma lesão mais grave, deve-se apresenta em posição occipital, sua cabeça costuma
progredir a investigação com mais exames. Durante estar dentro da pelve, enquanto que o restante de seu
as últimas 2 semanas de gestação, o fundo uterino corpo é exposto acima do anel pélvico (n  FIGURA 12-2).
frequentemente desce à medida que a cabeça fetal se Fraturas pélvicas na gestação avançada podem resultar
encaixa na pelve. em fraturas do crânio do feto ou lesões intracranianas
graves. Contrariamente ao que ocorre com o miométrio,
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ 229

Parede do útero
Placenta
Cordão umbilical
Feto Saco amniótico
Sinfíse púlbica Líquido amniótico

Bexiga urinária Arcos costais


comprimida

Uretra

Vagina

Períneo

Ânus

Colo uterino Reto Veia cava


(comprimido) inferior comprimida Linha axilar média

n FIGURA 12-2  Feto a Termo em Apresentação Cefálica. As vísceras abdominais são deslocadas e comprimidas em direção à região superior do
abdome. Isso resulta na sua proteção relativa contra lesões contusas, porém aumenta o risco de lesão intestinal complexa em decorrência de
lesão penetrante no abdome superior. A elevação do diafragma pode requerer o posicionamento do dreno de tórax em um espaço intercostal
mais elevado.

que é elástico, a placenta possui elasticidade reduzida. Esta O número de glóbulos brancos aumenta durante a
falta de elasticidade dos tecidos placentários resulta em gravidez. Não é incomum que se detectem leucitoses de
uma vulnerabilidade às forças de cisalhamento na interface 15.000/mm3 durante a gravidez e que esse número alcance
útero-placentária, que podem levar ao descolamento da 25.000/mm3 durante o trabalho de parto. Os níveis séricos de
placenta. Embora se encontrem muito dilatados durante fibrinogênio e de muitos outros fatores de coagulação estão
a gestação, os vasos placentários são particularmente discretamente elevados. O tempo de protrombina e o tempo
sensíveis à estimulação por catecolaminas. A redução de tromboplastina parcial ativada podem estar diminuídos,
abrupta do volume circulante da mãe pode resultar mas os tempos de sangramento e coagulação não se alteram.
em profundo aumento na resistência vascular uterina, n TABELA 12-1 Apresenta os valores laboratoriais normais
reduzindo a oxigenação fetal a despeito dos sinais vitais na gravidez comparados com os valores da paciente não
da mãe se manterem normais. grávida. (Ver também Valores Laboratoriais Normais na
Gravidez no aplicativo móvel MyATLS.)
volume e composição do sangue
Hemodinâmica
O volume plasmático aumenta progressivamente durante
a gestação, alcançando o nível mais elevado em torno da Os fatores hemodinâmicos importantes para serem
34a semana. O aumento do volume de células vermelhas considerados na grávida traumatizada são o débito
é proporcionalmente menor, o que resulta em redução cardíaco, frequência cardíaca, pressão sanguínea, e
do hematócrito (anemia fisiológica da gravidez). No final alterações no eletrocardiograma.
da gestação, um valor de hematócrito entre 31 e 35% é
normal. Doentes gestantes saudáveis podem perder Débito Cardíaco
1.200 a 1.500 mL de seu volume sanguíneo, antes que se
percebam sinais e sintomas de hipovolemia. Entretanto, Depois da 10ª semana de gestação, o débito cardíaco
esta perda sanguínea pode resultar em sofrimento fetal que aumenta em 1,0 a 1,5 litros por minuto como decorrência
é evidenciado por uma frequência cardíaca fetal anormal. do aumento do volume plasmático e da redução da
­230 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

Hipertensão em doentes gestantes podem sinalizar pré-


tabela 12-1 valores laboratoriais
normais na grávida vs não grávida eclampsia se associada a proteinúria.

VALOR GRÁVIDA NÃO GRÁVIDA


Pressão Venosa
Hematócrito 32%–42% 36%–47%
A pressão venosa central (PVC) de repouso é variável na
gravidez, mas a resposta à administração de volume é
Glóbulos Brancos 5.000–12.000 μL 4000–10000 μL
semelhante à da doente não-grávida. A hipertensão venosa
dos membros inferiores é normal no terceiro trimestre.
pH Arterial 7.40–7.45* 7.35–7.45

Alterações Eletrocardiográficas
Bicarbonato 17–22 mEq/L 22–28 mEq/L
O eixo pode estar desviado para a esquerda em cerca
PaCO2 25–30 mm Hg 30–40 mm Hg de 15 graus. O achatamento ou a inversão da onda T
(3.3–4.0 kPa) (4,0–5,33 kPa)
em D3, AVF e nas derivações precordiais podem ser
normais. As extrassístoles podem ocorrer com maior
Fibrinogênio 3,79 g/L (terceiro 1,8-4 g/L frequência durante a gravidez.
trimestre)

PaO2 100–108 mmHg 95–100 mmHg


armadilha prevenção
pH 7,40-7,45 7,40
Não reconhecer as • Revisar a fisiologia na
* Alcalose respiratória compensada e reserva respiratória diminuída. alterações anatômicas e gravidez com a equipe de
fisiológicas que ocorrem atendimento.
durante a gestação.
resistência vascular do útero e da placenta, estruturas
que recebem cerca de 20% do débito cardíaco da
gestante durante o terceiro trimestre de gravidez. Este
aumento de débito cardíaco pode ser influenciado de sistema respiratório
modo significativo pela posição materna durante a
segunda metade da gravidez. Em posição supina, a O volume minuto aumenta primariamente como
compressão da veia cava pode reduzir o débito cardíaco resultado do aumento do volume corrente. A hipocapnia
em 30% em decorrência da redução do retorno venoso (PaCO2 de 30 mm Hg) é comum ao final da gravidez. Na
dos membros inferiores. gestação, níveis de PaCO2 de 35 a 40 mm Hg podem
refletir a iminência de uma insuficiência respiratória.
Frequência Cardíaca A diminuição do volume residual parece ser devida
a alterações anatômicas na cavidade torácica e está
A frequência cardíaca aumenta gradualmente de 10 a 15 associada à elevação diafragmática e a alterações
batimentos por minuto durante a gravidez, alcançando pulmonares, parenquimatosas e vasculares, visíveis
seus valores máximos no terceiro trimestre. Esta na radiografia de tórax. Sendo assim, é importante a
alteração da frequência cardíaca deve ser considerada na
interpretação da taquicardia secundária à hipovolemia.
armadilha prevenção
Pressão Arterial
Falhar em reconhecer • Prever as mudanças na
A gravidez resulta numa queda de 5 a 15 mm Hg nas que PCO2 normal pode ventilação que ocorrem na
pressões sistólica e diastólica durante o segundo trimestre. indicar insuficiência gravidez.
A termo, a pressão arterial retorna a níveis próximos do respiratória iminente • Monitorar a ventilação na
normal. Algumas mulheres, quando em posição supina, gravidez avançada pela
durante a gravidez.
podem exibir hipotensão (síndrome hipotensiva supina) medida dos gases arteriais.
devido à compressão da veia cava inferior. Esta hipotensão • Reconhecer que pacientes
é corrigida quando se reduz a pressão uterina sobre a grávidas devem ser
veia cava inferior conforme descrito neste capítulo. hipocapneicas.
MECANISMO DO TRAUMA 231

manutenção de uma oxigenação arterial adequada na O sistema venoso da pelve que envolve o útero
reanimação da gestante traumatizada. gravídico e se encontra aumentado e engurgitado pode
A diminuição do volume residual parece ser devida desencadear uma hemorragia retroperitoneal maciça
a alterações anatômicas na cavidade torácica e está após um trauma contuso associado a fratura de pelve.
associada à elevação diafragmática e a alterações
pulmonares, parenquimatosas e vasculares, visíveis sistema neurológico
na radiografia de tórax. Sendo assim, é importante a
manutenção de uma oxigenação arterial adequada na A eclâmpsia é uma complicação do final da gravidez que
reanimação da gestante traumatizada. pode simular trauma craniano. Ela deve ser considerada
quando ocorrem convulsões acompanhadas por
hipertensão, hiperreflexia, proteinúria e edema
sistema gastrointestinal periférico. A interconsulta com um neurologista
e um obstetra costuma ser de grande ajuda para o
O tempo de esvaziamento gástrico é prolongado diagnóstico diferencial entre eclampsia e outras causas
durante a gravidez, desta maneira a descompressão de convulsões.
gástrica precoce é particularmente importante para
evitar a aspiração de conteúdo gástrico. Os intestinos
são deslocados para a parte superior do abdome e
armadilha prevenção
podem estar protegidos pelo útero. A posição do baço
Confundir eclâmpsia • Obter uma tomografia
e do fígado na gestação não se altera.
com trauma de crânio para excluir
hemorragia intracraniana.
sistema urinário craniencefálico.
• Manter alto nível de
suspeita para a eclâmpsia
A filtração glomerular e o fluxo plasmático renal quando as convulsões
aumentam durante a gravidez enquanto que níveis forem acompanhadas de
plasmáticos de uréia e creatinina caem à metade dos hipertensão, proteinúria
valores normais observados antes da gravidez. A e edema periférico em
glicosúria é comum na gestação. pacientes de trauma grávidas.

sistema Musculoesquelético
A sínfise púbica é alargada no 7º mês (4 a 8 mm). Mec a nismo de tr aum a
Os espaços das articulações sacroilíacas também
aumentam. Esses aspectos devem ser considerados na descreve a incidência de mecanismos
n TABELA 12-2
interpretação das radiografias da bacia (n FIGURA 12-3). de trauma na gravidez. Na maioria das vezes, os
mecanismos de trauma são semelhantes àqueles que

tabela 12-2 incidência dos


mecanismos de trauma na gravidez

MECANISMO PERCENTAGEM

Colisão de veículos motorizados 49

Quedas 25

Agressão 18

Ferimento projétil de arma de fogo 4

Queimaduras 1
n FIGURA 12-3  Radiografia mostrando a cabeça do feto encaixada
na pelve com uma sínfise púbica normal e articulação sacroilíaca Fonte: Chames MC, Pearlman MD. Trauma during pregnancy: outcomes
direita levemente alargada. and clinical management. Clin Obstet Gynecol, 2008;51:398
­232 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

ocorrer por compressão súbita, por desaceleração, por


tabela 12-3 incidência de trauma
efeito de contragolpe ou por cisalhamento que resulta
abdominal fechado e penetrante em descolamento placentário.
na gravidez Comparando com a mulher grávida usando cinto
de segurança envolvida em uma colisão, a mulher
MECANISMO PERCENTAGEM grávida sem cinto tem maior risco de trabalho de parto
prematuro e morte fetal. O tipo de cinto interfere na
Fechado 91 frequência de ruptura uterina e de morte fetal. O uso de
cintos que protegem apenas a bacia permite a projeção
Penetrante 9 para frente e a compressão do útero, possibilitando a
Projétil de arma de fogo 73 ruptura uterina ou o descolamento de placenta. Esses
Arma branca 23 cintos, se usados numa posição mais alta, sobre o
Múltiplos projéteis (shotgun) 4 útero, podem produzir lesão uterina por ação direta
sobre o útero por ocasião do impacto. O uso de cinto de
Fonte: Dados de Petrone P, Talving P, Browder T, et al. Abdominal segurança de três pontos reduz a possibilidade de lesão
injuries in pregnancy: a 155-month study at two level 1 trauma centers. fetal direta ou indireta, tanto por aumentar a superfície
Injury, 2011;42(1):47–49.
sobre a qual se dissipa a força de desaceleração como por
evitar a flexão anterior da mãe sobre o útero gravídico.
acometem a mulher não-grávida. Algumas diferenças Dessa maneira, na avaliação global da gestante que
devem ser reconhecidas na gestante que sofrem trauma sofreu um traumatismo físico, é importante que se
fechado ou aberto. A incidência de trauma abdominal investigue se ela estava utilizando algum tipo de cinto
fechados e penetrantes na gravidez é mostrada na n de segurança e, em caso afirmativo, qual o tipo de cinto.
TABELA 12-3. Parece não haver nenhum aumento de riscos específicos
nas grávidas ocasionados pelo airbag dos veículos.
trauma fechado
trauma penetrante
A parede abdominal, o miométrio e o líquido amniótico
atuam protegendo o feto de lesões diretas secundárias ao Com o aumento progressivo do útero, as outras vísceras
trauma fechado. A presença de contusões e escoriações ficam relativamente protegidas nos traumas penetrantes,
externas da parede abdominal, como demonstrado na enquanto aumenta a probabilidade de lesão do útero.
n FIGURA 12-4, são sinais de possível trauma fechado do Por sua densidade, a musculatura uterina no início da
útero. Apesar disso, quando a parede abdominal sofre gravidez pode absorver uma grande quantidade da energia
um impacto contra um objeto rígido como o painel ou o do projétil, reduzindo sua velocidade e diminuindo a
volante do carro, ou quando a gestante é golpeada com probabilidade de lesão de outras vísceras. Da mesma forma,
um instrumento contuso, podem ocorrer traumatismos o feto e o líquido amniótico também absorvem energia e
diretos ao feto. O traumatismo indireto do feto pode contribuem para diminuir a velocidade do projétil. Em
decorrência, a incidência de lesões viscerais maternas
se reduz, fato este que explica o prognóstico materno
favorável em ferimentos penetrantes que afetam o útero
gravídico. Contrariamente, o prognóstico fetal costuma ser
sombrio quando existe uma lesão uterina penetrante.

g r av ida de da le s ão
A gravidade das lesões maternas determina o prognóstico
tanto materno quanto fetal. Consequentemente o tipo de
tratamento a ser adotado deve ser ditado pela gravidade
das lesões maternas. Todas as gestantes com traumas
graves devem ser internadas em serviços que possuem
recursos cirúrgicos e obstétricos. Mesmo gestantes com
traumas leves devem ser observadas cuidadosamente,
pois ocasionalmente mesmo traumatismos de pequena
n FIGURA 12-4  Contusões e escoriações externas na parede monta podem estar associados a descolamento de
abdominal são sinais de possível trauma fechado uterino. placenta e morte fetal.
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO 233

Avaliação e tratamento tipo específico estão indicadas para manter a hipervolemia


fisiológica da gravidez. Vasopressores devem ser o último
Para garantir os resultados mais favoráveis tanto para a recurso para restaurar a pressão sanguínea materna, pois
mãe quanto para o feto, recomenda-se que se avalie e se sua ação reduz o fluxo sanguíneo uterino, resultando em
reanime inicialmente a mãe e que se proceda à avaliação hipóxia fetal. Além dos testes laboratoriais indicados para
do feto antes de realizar a avaliação secundária da mãe. doentes de trauma, deve-se incluir na avaliação da gestante
o nível de fibrinogênio, já que seu valor pode dobrar ao final
avaliação primária e reanimação da gravidez; o nível de fibrinogênio dentro dos parâmetros
de normalidade pode sinalizar início de coagulação
Materno intravascular disseminada (DIC).

Assegure-se da permeabilidade da via aérea, da ventilação


adequada e do volume circulatório efetivo. Quando se torna armadilha prevenção
necessário o suporte ventilatório, a intubação deve ser feita,
considerando manter a PCO2 ideal para a idade gestacional da Falha em deslocar o • Lateralizar a 15-20 graus todas
doente (aproximadamente 30 mm Hg ao final da gestação). útero para a esquerda as doentes que parecem
A compressão da veia cava pelo útero pode reduzir o clinicamente estar grávidas
em uma doente
(segundo e terceiro trimestre,
retorno venoso ao coração, diminuindo o débito cardíaco grávida hipotensa.
elevando. o lado direito em
e agravando o choque. O útero deve ser deslocado
10-15 cm.
manualmente para a esquerda a fim de aliviar a pressão sobre
a veia cava inferior. Se a doente precisar ficar imobilizada
em posição supina, ela ou a prancha podem ser rodadas Feto
em bloco 15 graus para seu lado esquerdo e apoiada com
um coxim, consequentemente mantendo as precauções O exame do abdome na gestante traumatizada reveste-
com a coluna e descomprimindo a veia cava (n FIGURA 12-5; se de importância crítica pois, a identificação rápida de
ver também Imobilização Adequada da Doente Gestante no lesões maternas graves e a determinação da viabilidade
aplicativo móvel MyATLS .) fetal dependem de um exame bem conduzido. A principal
Em virtude do aumento de seu volume intravascular, a causa de morte fetal é o choque materno e a morte da
gestante pode perder uma parte significativa de seu volume mãe. A segunda causa de óbito fetal é o descolamento de
circulante antes que ocorram taquicardia, hipotensão e placenta. O descolamento de placenta pode ser sugerido
outros sinais de hipovolemia. Desta feita, o feto pode estar por hemorragia vaginal (70% dos casos), por dor à palpação
em sofrimento e a placenta privada de perfusão vital, enquanto uterina, por contrações uterinas frequentes, por tetania
as condições da mãe e os sinais vitais parecem estar estáveis. A uterina ou por irritabilidade do útero (que se contrai quando
reanimação com cristaloides e a reposição precoce de sangue tocado); n FIGURA 12-6A. Trinta por cento dos descolamentos
de placenta após trauma podem não exibir hemorragia
vaginal. A ultrassonografia uterina pode mostrar a lesão,
porém o teste não é definitivo. A tomografia também pode
demonstrar o descolamento de placenta (n FIGURA 12-6A e
C). No final da gestação, o descolamento da placenta pode
ocorrer após lesões relativamente pequenas.
A ruptura uterina é uma lesão rara, sugerida pelo achado
de dor abdominal, de defesa, de rigidez, ou de descompressão
brusca positiva especialmente se existe choque profundo.
Na gestação avançada, não raramente os sinais de irritação
peritoneal são difíceis de ser avaliados em decorrência da
expansão do abdome e do adelgaçamento da musculatura
da parede abdominal. Outros achados anormais sugestivos
de ruptura uterina incluem a posição anormal do feto (por
exemplo, posição oblíqua ou transversa), a facilidade de
palpar partes fetais que se exteriorizam através de rupturas do
n FIGURA 12-5  Imobilização Adequada da Doente Gestante. Se útero e impossibilidade de palpar facilmente o fundo uterino
a doente necessitar de imobilização em posição supina, ela ou quando existe ruptura. Evidências radiológicas de ruptura
a prancha podem ser rodadas 15 graus, em bloco, para seu lado uterina incluem extremidades fetais estendidas, posição fetal
esquerdo e apoiadas com um estabilizador, mantendo as precauções anormal, ou ar intraperitoneal livre. A exploração cirúrgica
com a coluna e descomprimindo a veia cava. pode ser necessária para se diagnosticar a ruptura uterina.
­234 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

A B C
n FIGURA 12-6  Descolamento prematuro de placenta. A. Ocorre o descolamento da placenta do útero. B. Secção axial e C. Coronal do abdome
e pelve demonstrando descolamento prematuro da placenta.

Na maioria dos casos de ruptura uterina ou de viabilidade fetal. Os batimentos cardíacos fetais devem
descolamento de placenta, a doente queixa-se de dor ser monitorados em toda mulher grávida traumatizada.
abdominal ou de cólicas. Sinais de hipovolemia podem O exame intermitente e repetido com Doppler pode ser
estar presentes em ambas as situações acima mencionadas. usado para detectar batimentos cardíacos fetais após 10
Os batimentos cardíacos fetais podem ser ouvidos semanas de gestação. A monitoração fetal contínua com
com um Doppler (gestação a partir da 10ª semana). A um tocodinamômetro cardíaco é útil após 20 a 24 semanas
monitoração fetal contínua deve ser feita após 20 a 24 de gestação. A frequência cardíaca normal para o feto situa-
semanas de gestação. As doentes que não apresentam se entre 120 a 160 batimentos por minuto. Sempre que
fatores de risco para perda fetal devem ficar com se constatam oscilações da frequência cardíaca do feto,
monitoração contínua por 6 horas, enquanto as com quando existem desacelerações repetidas, quando há
fatores de risco para perda fetal ou descolamento de ausência de aceleração, quando há variabilidade de um
placenta devem ficar monitoradas par 24 horas. Os batimento para outro, ou quando as contrações uterinas se
fatores de risco materno são frequência cardíaca >110, tornam frequentes, deve-se suspeitar da iminência de uma
índice de gravidade de lesão (ISS) >9, evidência de descompensação fetal e ou materna (por exemplo, hipóxia
descolamento de placenta, frequência cardíaca fetal e/ou acidose) e providenciar de imediato uma interconsulta
>160 ou <120, se foi ejetada para fora do veículo em uma obstétrica.
colisão de auto, atropelamento ou colisão de motocicleta. Os exames radiológicos indicados devem ser realizados
porque certamente os benefícios serão maiores que os riscos
Medidas Auxiliares na Avaliação potenciais para o feto. Entretanto, deve ser evitada a repetição
primária e na Reanimação desnecessária de radiografias.

Maternas avaliação secundária


Se possível, após o exame físico, a doente deve ser monitorada A avaliação secundária deve seguir os mesmos padrões
em decúbito lateral esquerdo. A monitoração da resposta adotados na doente não-grávida. Ver Capítulo 1: Avaliação
da PVC à reposição volêmica pode ser extremamente útil e tratamento inicial. As indicações para tomografia
para manter a hipervolemia necessária na gravidez. A computadorizada abdominal, LPD e FAST são as mesmas.
monitoração materna deve incluir a oximetria de pulso e Entretanto, se a LPD for realizada, o catéter deve ser
a determinação da gasometria arterial. Lembre-se que o posicionado acima da cicatriz umbilical utilizando-se a
bicarbonato materno costuma ser baixo durante a gestação. técnica aberta. Deve-se prestar atenção para a presença
de contrações uterinas, que sugerem um trabalho de
Fetais parto prematuro, ou de contrações tetânicas do útero que
sugerem o descolamento prematuro de uma placenta.
A consulta a um obstetra deve ser feita já que o sofrimento A avaliação do períneo deve incluir um exame pélvico de
fetal pode ocorrer em qualquer momento e sem qualquer acordo com os padrões habituais, de maneira ideal realizada
advertência. Os batimentos fetais são um indicador sensível por um médico treinado para atendimento obstétrico. A
do estado volêmico sanguíneo materno bem como da presença de líquido amniótico na vagina, evidenciado por
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 235

um pH maior que 4,5, sugere ruptura da bolsa. Durante o exclui graus de hemorragia menores, mas ainda capazes
exame, devem ser avaliadas a presença de apagamento e de sensibilizar a mãe Rh-negativa. Todas as gestantes Rh-
dilatação do colo uterino, a apresentação fetal e a relação negativas traumatizadas devem ser consideradas candidatas
entre a apresentação fetal e as espinhas isquiáticas. para a terapêutica com imunoglobulina Rh, a menos que o
Visto que a hemorragia vaginal no terceiro trimestre pode trauma seja longe do útero (por exemplo, uma lesão distal
indicar descolamento de placenta e morte iminente do feto, isolada de extremidade). A terapêutica com imunoglobulina
torna-se fundamental um exame vaginal. Deve-se evitar deve ser instituída nas primeiras 72 horas após o trauma.
exames vaginais repetidos. A decisão pela cesariana deve ser n TABELA 12-4 resume os cuidados à doente gestante vítima
tomada em conjunto com o obstetra. A dose de radiação em de trauma.
uma tomografia de abdome/pélvis aproxima-se a 25mGy e,
radiações fetais menores que 50mGy não estão associadas a
malformações fetais ou risco maior de perda fetal. cesariana " Peri mortem "
A internação hospitalar é obrigatória quando há hemorragia
vaginal, irritabilidade uterina, dor, sensibilidade ou cólicas Poucas são as evidências de literatura a favor da cesariana
abdominais, evidência de hipovolemia, alteração ou “post mortem” em gestantes vítimas de traumas e que sofrem
ausência de batimentos fetais ou perda de líquido amniótico. parada cardíaca por hipovolemia. Lembre, o sofrimento
A internação deve ser realizada em unidade que possua fetal pode existir quando a mãe não tem alterações
recursos para propiciar monitoração e tratamento adequado hemodinâmicas, e à medida que progride, a instabilidade
fetal e materno. O feto pode estar correndo riscos mesmo materna compromete a sobrevida do feto. Quando a mãe
quando o traumatismo materno é aparentemente leve. apresenta parada cardíaca por hipovolemia, o feto já sofreu
um prolongado período de hipóxia. Quando a parada
tratamento definitivo cardíaca da mãe ocorre por outras causas, a cesariana “peri
mortem” pode ser bem sucedida, desde que seja realizada
Deve-se consultar o obstetra sempre que se constatem ou dentro de 4 a 5 minutos após a parada cardíaca.
sejam suspeitados problemas específicos envolvendo o útero.
No descolamento placentário extenso ou na embolia por
líquido amniótico, pode ocorrer a coagulação intravascular violência doméstic a
disseminada, causando depleção do fibrinogênio, de outros
fatores de coagulação e de plaquetas. Essa coagulopatia de A violência doméstica é uma causa significativa de
consumo pode ocorrer e evoluir rapidamente. Na presença traumatismos em mulheres durante a coabitação, o
de embolia por líquido amniótico, que implica em risco casamento e a gestação, independente da origem étnica,
de vida e/ou de coagulação intravascular disseminada, a influência cultural ou estado sócio-econômico. Dezessete
evacuação uterina deve ser feita em caráter de urgência, por cento de doentes grávidas traumatizadas foram
juntamente com a reposição de plaquetas, de fibrinogênio vítimas do trauma provocado por outra pessoa e sessenta
e de outros fatores de coagulação, quando necessário. por cento delas sofrem episódios repetidos de violência
As consequências da hemorragia feto-materna incluem doméstica. Segundo estimativas do Departamento de
não apenas a anemia fetal e a morte, mas também a Justiça dos Estados Unidos da América do Norte, dois a
isoimunização quando a mãe é Rh-negativa. Já que pequenas quatro milhões de mulheres por ano e aproximadamente
quantidades como 0,01 mL de sangue Rh-positivo podem metade de todas as mulheres durante a sua existência,
sensibilizar 70% das doentes Rh-negativas, a presença de sofrem alguma forma de abuso. Mundialmente,
hemorragia feto-materna numa mãe Rh-negativa justifica aproximadamente 10-69% das mulheres relatam já ter
a terapêutica com imunoglobulina Rh. Embora o teste de sido vítima de violência doméstica.
Kleihauer-Betke (esfregaço de sangue materno capaz de A suspeita de violência doméstica deve ser documentada
permitir a detecção de hemácias fetais na circulação materna) e comunicada. Estas agressões podem resultar em
indique hemorragia feto-materna, um teste negativo não incapacidades e morte. Elas representam um grande
número de atendimentos na unidade de emergência.
armadilha prevenção Apesar da maioria das vítimas ser composta por mulheres,
40% de todos os casos de violência doméstica identificados
Falha em reconhecer • Administrar terapia nos Estados Unidos da América são relatados por homens.
a necessidade de imunoglobulina Rh a todas as Entre os indicadores que podem sugerir a ocorrência de
mães Rh negativas lesionadas violência doméstica, incluem-se os seguintes:
tratamento com
imunoglobulina Rh na a menos que a lesão seja em
•• Lesões desproporcionais à história referida
local remoto do útero (e.g.:
mãe Rh negativa.
extremidade distal isolada) •• Redução da auto estima, depressão e tentativas
de suicídio
­236 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

tabela 12-4 trauma na paciente obstétrica: uma ferramenta à beira do leito

SINAIS VITAIS

Posição Profilaxia e tratamento da hipotensão > 20 semanas, decúbito lateral esquerdo.

Hipotensão Veja "Tratamentos", abaixo. Fluídos EV Transfusão

Hipertensão Critérios: ≥140 sistólica, >90 diastólica Trate: >160 sistólica, >110 diastólica

Monitoração Fetal >20 semanas; iniciar assim que possível

Se atenção obstétrica não disponível, estabilize e transfira imediatamente.

Sangramento Vaginal Trate hipotensão como acima, consulta obstétrica, Rh negativo recebe imunogloulina Rh.

EXAMES (ALÉM DOS USUAIS EM TRAUMA)

Hemograma Hematócrito baixo

Teste de Kleihauer-Betke Rh-negativo

Coagulograma RNI, TTP, fibrinogênio, Coombs indireto

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

• Solicitar nas memas indicações gerais como em pacientes não grávidas.


• Em acordo com radiologista e considere substituir o Rx pelo Ultrassom quando possível.
• Proteger abdome, pelve, e pescoço quando possível.

TRATAMENTOS (AS MEDICAÇÕES LISTADAS SÃO COMUMENTE RECOMENDADAS)

Fluídos EV Pacientes requerem maiores volumes quando hipotensas; evite soro glicosado.

Oxigênio Para evitar hipóxia fetal, administrar oxigênio em alta concentração.

Intubação e indução em sequência rápida Indicação para os procedimentos, geralmente similares a não grávidas.

Analgesia Utilize o quanto necessário, e informe o Obstetra as doses e frequência se o parto


for antecipado.

Antieméticos metoclopramida 5–10 mg EV ou IM

ondasentrona 4–8 mg EV

Antibióticos ceftriaxona 1 g EV

clindamicina (se alérgica a penicilina) 600 mg EV

Transfusão anticorpo citomegalovirus—negativo leucorredução

Continua
TRABALHO DE EQUIPE 237

tabela 12-4 trauma na paciente obstétrica: uma ferramenta à beira do leito (continuação)

TRATAMENTOS (AS MEDICAÇÕES LISTADAS SÃO COMUMENTE RECOMENDADAS)

Rh-negativo Imunoglobulina Rh 1 ampola (300 g) IM

Tétano Vacina tétano/difteria é segura

Hipertensão PA >160 sist., >110 dias labetalol 10–20 mg EV em bolus

Convulsões Eclâmpcia sulfato de magnésio 4–6 Gm EV em 15–20 minutos

Não-eclâmpcia lorazepam 1–2 mg/min EV

Reanimação ACLS >20 sem. Paciente em decúbito lateral esquerdo. Se não houver o retorno de circulação expontânea
após 4 minutos de reanimação, considererar parto cesáreo em feto viável.

CONDUTA

Internação e Monitorização 4 horas de monitorização de feto potencialmente viável

Alta Acompanhamento imediato por obstetra

Adaptado com permissão de American College of Emergency Physicians. Clinical and Practice Management Resources. Trauma in the Obstetric Patient:
A Bedside Tool, http://www.acep.org. Accessed May 16, 2016.

•• Auto abuso
quadro 12-1 perguntas de triagem para •• Consultas frequentes a serviços de emergência
avaliação da segurança imediata ou a consultórios médicos
•• Sintomas sugestivos de uso de drogas
1. Você está em perigo imediato? •• Auto acusação pelas lesões apresentadas
2. Seu cônjuge encontra-se nesta instituição agora? •• O parceiro insiste em estar presente durante a
avaliação clínica e o exame físico e monopoliza
3. Você quer (ou tem que ir) para casa com seu cônjuge? a discussão
4. Você tem algum lugar seguro para onde ir? Estes indicadores apenas levantam a suspeita de possível
violência doméstica e devem servir para iniciar uma
5. Houve ameaça ou abuso direto dos seus filhos (caso ele/a
investigação mais profunda. As perguntas do n QUADRO
tenha filhos)?
12-1, quando são feitas de forma não acusatória e sem a
6. Você teme que sua vida possa estar em perigo? presença do companheiro, detectam 65 a 70% das vítimas
de violência doméstica. Quando há suspeita de violência
7. A violência tornou-se pior ou mais assustadora? Está se doméstica, devem ser mobilizados os serviços sociais ou
tornando mais frequente? os órgãos públicos competentes.
8. Seu cônjuge usa armas, álcool ou drogas?

Trabalho em equipe
9. Seu cônjuge já segurou você ou seus filhos contra sua
vontade?

10. Seu cônjuge já a vigiou, seguiu ou perseguiu?


•• O líder da equipe deve rememorar junto ao
11. O seu cônjuge já ameaçou matar você, a si mesmo ou seus
grupo das importantes alterações anatômicas
filhos
e fisiológicas associadas à gestação que podem
Reimpresso com permissão de Family Violence Prevention Fund, San interferir na avaliação das pacientes grávidas
Francisco, CA. Copyright 2002. com lesões traumáticas.
­238 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal

•• O grupo deve ter em mente que, embora sejam 6. A presença de indicadores que sugerem violência
dois pacientes, a missão prioritária é garantir doméstica pode servir para iniciar futuras
uma reanimação efetiva da mãe. investigações e proteger a vítima.
•• O líder da equipe deve notificar o obstetra de
plantão e o serviço de obstetrícia da chegada
iminente de uma paciente grávida com lesões Fonte s a dic ion a is
traumáticas. r efer ente s a V iolênc i a
•• O grupo deve manter um alto índice de suspeita domé s tic a
para violências domésticas e documentar
cuidadosamente todas as lesões.
National Coalition Against Domestic Violence, PO Box
18749, Denver, CO 80218-0749; 303-839-1852

r e sumo do c a pítulo https://www.ted.com/talks/leslie_morgan_steiner


_why_domestic_violence_victims_don_t_leave

1. Durante a gestação ocorrem alterações anatômicas http://phpa.dhmh.maryland.gov/mch/Pages/IPV.aspx


e fisiológicas importantes e previsíveis que podem
influenciar a avaliação e o tratamento da doente http://www.cdc.gov/violenceprevention/intimate
grávida traumatizada. Atenção deve também partnerviolence/
ser dada ao feto, o segundo doente desta dupla
peculiar, tão logo a mãe, seu “meio ambiente”, http://www.cdc.gov/violenceprevention/pdf/ipv
tenha sido estabilizada. Um cirurgião qualificado -nisvs-factsheet-v5-a.pdf</arul>
e um obstetra devem ser chamados desde o início
para avaliar a gestante vítima de trauma. Se um
serviço de obstetrícia não estiver disponível, deve-
se considerar a possibilidade de transferência para
Bibliografia
serviço onde seja disponível.

2. A parede abdominal, miométrio uterino e o líquido 1. ACEP Clinical Policies Committee and Clinical
amniótico agem como amortecedor de um trauma Policies Subcommittee on Early Pregnancy.
direto no feto em um trauma fechado. A medida American College of Emergency Physicians.
que o útero gravídico aumenta de tamanho, o Clinical policy: critical issues in the initial
restante das vísceras abdominais são relativamente evaluation and management of patients
protegidas num trauma penetrante, enquanto a presenting to the emergency department in early
probabilidade da lesão uterina aumenta. pregnancy. Ann Emerg Med 2003;41:122–133.
2. Adler G, Duchinski T, Jasinska A, et al. Fibrinogen
3. A reposição de líquidos e sangue deve ser agressiva, fractions in the third trimester of pregnancy and
para corrigir e prevenir o choque hipovolêmico da in puerperium. Thromb Res 2000;97:405–410.
mãe e do feto. Avaliar e reanimar primeiro a mãe, a 3. American College of Emergency Physicians.
seguir avaliar o feto antes de conduzir a avaliação Clinical and Practice Management Resources.
secundária da mãe. Trauma in the Obstetric Patient: A Bedside Tool.
http://www.acep.org. Accessed May 16, 2016.
4. Deve-se estar atento para detectar situações 4. American College of Radiology. Practice
peculiares à gestante traumatizada, como trauma Parameter. http://www.acr.org/~/media/
penetrante ou fechado do útero, descolamento 9e2ed55531fc4b4fa53ef3b6d3b25df8.pdf.
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sensibilizar a mãe Rh negativa. Todas as vítimas 6. Chames MC, Perlman MD. Trauma
de trauma grávidas Rh-negativa devem receber during pregnancy: outcomes and clinical
tratamento com imunoglobulina Rh, a menos que management. Clin Obstet Gynecol 2008;
a possibilidade de lesão do útero seja remota. 51:398.
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­240 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

13 TRANSFERÊNCIA PARA O
TRATAMENTO DEFINITIVO

A decisão de transferir um doente para outra instituição para tratamento definitivo é


influenciada pelas lesões identificadas e suspeitas, pela evolução esperada dessas
lesões e pela capacidade de diagnosticar e tratar prontamente, especialmente as
lesões potencialmente fatais.
Capítulo 13 sumário
Objetivos protocolos de transferência
• Informações do Médico do Hospital de Origem
Introdução • Informação para a Equipe de Transporte
• Documentação
Determinação da necessidade de transferência • Tratamento durante o Transporte
do doente
• Fatores de transferência Transferência de dados
• Tempo de transferência
Trabalho em equipe
Tratamento antes da transferência
resumo do capítulo
responsabilidade da transferência
• Médico que encaminha Bibliografia
• Médico que recebe

Modos de transporte

OBJETIVOS

Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de comunicação médico-médico, documentação e
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: determinação do modo de transporte.

1. Identificar os doentes traumatizados que necessitam 3. Identificar os doentes que precisam de mais exames
de transferência de uma instituição de cuidados de imagem e/ou estabilização antes da transferência.
primários para outra de nível mais avançado.
4. Reconhecer a necessidade de fornecer cuidados
2. Descrever as responsabilidades dos médicos contínuos durante a transferência para garantir que
que encaminha e que recebe o doente durante o doente chegue ao hospital de destino na melhor
o processo de transferência para um hospital de condição possível.
nível mais elevado de atendimento, incluindo

241
­242 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

O
curso Advanced Trauma Life Support® é destinado de transferir doentes com múltiplas lesões sem
a treinar médicos para que estejam melhor anormalidades hemodinâmicas evidentes pode ser
habilitados para avaliar, estabilizar e preparar menos óbvia. Portanto, a diligência em reconhecer a
o doente traumatizado para o tratamento definitivo. necessidade de transferência precocemente é crítica.
Qualquer que seja o tratamento definitivo, suporte e Para ajudar os médicos a determinar quais doentes
monitoração em uma unidade de terapia intensiva (UTI), necessitam de cuidados em uma instituição de maior nível
admissão em uma unidade de menor complexidade, de complexidade, o Comitê de Trauma do ACS recomenda
ou intervenção cirúrgica, ele exige a presença e o o uso de determinados índices fisiológicos, mecanismos
envolvimento ativo de uma equipe com habilidades e de trauma, padrões de lesões e dados da história. Esses
conhecimento para tratar as lesões apresentadas pelo fatores também ajudam os médicos a decidir quais
doente. Se o tratamento definitivo não puder ser realizado doentes estáveis podem se beneficiar da transferência.
no hospital local, o doente necessita de transferência para Diretrizes sugeridas para transferência interhospitalar
um hospital que tenha os recursos e a capacidade para cuidar quando as necessidades de um doente excedem os
dele. Idealmente, esta instituição deve ser um centro de recursos disponíveis são descritas na n TABELA 13-1. É
trauma verificado e o nível de complexidade do atendimento importante observar que essas diretrizes são flexíveis e
deve estar de acordo com a necessidade do doente. devem levar em consideração as circunstâncias locais.
A decisão de transferir um doente para outra instituição Certas avaliações clínicas do estado fisiológico são úteis
depende de suas lesões e dos recursos locais. A decisão para determinar a necessidade de transferência para uma
sobre quais doentes precisam ser transferidos, quando e instituição que ofereça um maior nível de complexidade
como a transferência ocorrerá, é baseada no julgamento de cuidado. Os doentes que exibem evidência de choque,
médico. Evidências apoiam o conceito de que o prognóstico deterioração fisiológica significativa ou deterioração
de um traumatizado é melhor se doentes gravemente progressiva do estado neurológico requerem o mais alto
feridos forem tratados num centro de trauma. Ver ACS nível de complexidade de cuidado e provavelmente se
COT Resources for Optimal Care of the Injured Patient; beneficiarão da transferência em tempo hábil (n FIGURA 13-1).
Guidelines for Trauma System Development and Trauma Doentes estáveis com trauma abdominal contuso e
Center Verification Processes and Standards. lesões hepáticas ou esplênicas documentadas podem
O princípio fundamental do tratamento do traumatizado ser candidatos a tratamento não-operatório, exigindo
é não causar dano adicional. De fato, o nível de a disponibilidade imediata de sala operatória e equipe
complexidade do atendimento do doente traumatizado cirúrgica qualificada. Um cirurgião geral ou de trauma deve
deve melhorar de forma consistente a cada etapa, desde supervisionar o manejo não operatório, independentemente
a cena do incidente até a instituição que possa oferecer o da idade do doente. Se a instituição não estiver preparada
que o doente necessita e o tratamento apropriado. para intervenção cirúrgica de urgência, esses doentes
devem ser transferidos para um centro de trauma.
Doentes com lesões específicas, combinação de lesões
Determinação da Necessidade (particularmente as que envolvem o cérebro) e/ou história
de Transferência do Doente indicando lesão por alta transferência de energia podem
estar em risco de morte e são candidatos a transferência
A grande maioria dos doentes recebe o tratamento
completo no hospital local e, nestes casos, sua transferência
torna-se desnecessária. É essencial que os médicos
avaliem suas próprias capacidades e limitações, bem
como as de sua instituição, para permitir a diferenciação
precoce entre doentes que podem ser atendidos com
segurança no hospital local e aqueles que necessitam
de transferência para cuidados definitivos.

fatores de transferência
Os doentes que necessitam de transferência imediata
podem ser prontamente identificados com base em
dados fisiológicos, lesões específicas identificadas
e mecanismo de trauma. Doentes com trauma
craniencefálico grave (escore na GCS de 8 ou menos) e
n FIGURA 13-1 As equipes de trauma avaliam rapidamente os
hipotensão são facilmente reconhecidos e necessitam doentes para determinar a necessidade de transferência para nível
de transferência urgente. No entanto, a necessidade de maior complexidade de atendimento.
DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE TRANSFERÊNCIA DO DOENTE 243

tabela 13-1 diretrizes para rápida triagem e transporte

CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
PRIMÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?

Via Aérea Comprometimento da Via Aérea Intubação, CO2 exalado, oxímetro de pulso, ECG, S
radiografia de tórax

Alto risco para perda da Monitorar ECG, oxímetro de pulso, gasometria S


permeabilidade da via aérea

Respiração Pneumotórax hipertensivo Agulha, dedo, dreno de tórax S

Hemotórax, pneumotórax aberto Radiografia de tórax, dreno de tórax S

Hipóxia/hipoventilação Intubação S

Circulação Hipotensão Acesso IV/IO confiável, fluidos IV aquecidos, S


controle externo da hemorragia por pressão direta,
agentes hemostáticos tópicos ou torniquetes

Fratura pélvica Radiografia da pelve, cinta pélvica ou lençol S

Lesão vascular (sinais de Acesso IV/IO confiável, fluidos IV aquecidos, S


gravidade, tal qual hematoma em controle externo da hemorragia por pressão direta,
expansão e sangramento ativo) agentes hemostáticos tópicos ou torniquetes

Fratura exposta Redução, curativo e imobilização S

Distensão abdominal/peritonite FASTa S

Défice GCS < 13 Intubação se GCS < 9b S


Neurológico

Doente intoxicado que não pode Sedação, intubação S


ser avaliado

Evidência de paralisia Restrição do movimento da coluna; monitoração para S


choque neurogênico

Exposição Severa hipotermia Aquecimento externo S

CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
SECUNDÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?

Crânio e Fratura de crânio com TCc S


Encéfalo afundamento ou ferimento
penetrante

Maxilofacial Lesão ocular, fraturas TCc S


expostas, laceração complexa,
sangramento nasofaríngeo
contínuo

Nota: Avaliar e tomar a decisão de transferir nos primeiros 15–30 minutos da chegada do líder da equipe de trauma.
a. Realizar apenas se interferir na decisão de transferir.
b. Doentes com escore na GCS 9–13 podem requerer intubação, dependendo das circunstâncias clínicas e da discussão com o médico que recebe.
c. Realizar somente em doentes hemodinamicamente normais nos quais os resultados afetarão a decisão de transferir ou o cuidado prestado
antes da transferência.

Continua
­244 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

tabela 13-1 diretrizes para rápida triagem e transporte (continuação)

CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
SECUNDÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?

Pescoço Hematoma, crepitação, dor ou TCc S


deformidade na linha média

c
Tórax Múltiplas fraturas de arcos Radiografia do tórax, FAST , TCc S
costais, tórax instável, contusão
pulmonar, mediastino alargado,
pneumomediastino

c
Abdome Defesa, descompressão brusca FAST, LPD , TCc S
positiva

Períneo/Reto/ Laceração Proctosigmoidoscopiac, exame especularc S


Vagina

Neurológico Défice Radiografiasc, TCc, RMNc S

Musculo- Fraturas complexas ou múltiplas ou Radiografias das extremidadesc, Radiografia S


esquelético luxações ou lesões vertebrais de colunac, ou TCc

Outros Fatores Idade, múltiplas comorbidades,


gravidez, queimadura

Nota: Avaliar e tomar a decisão de transferir nos primeiros 15–30 minutos da chegada do líder da equipe de trauma.
a. Realizar apenas se interferir na decisão de transferir.
b. Doentes com escore na GCS 9–13 podem requerer intubação, dependendo das circunstâncias clínicas e da discussão com o médico que recebe.
c. Realizar somente em doentes hemodinamicamente normais nos quais os resultados afetarão a decisão de transferir ou o cuidado prestado
antes da transferência.

precoce para um centro de trauma. Doentes idosos devem ser A morte de outro indivíduo envolvido no incidente
considerados para transferência mesmo com lesões menos traumático sugere a possibilidade de lesão oculta grave nos
graves (por exemplo, múltiplas fraturas de costelas e doentes sobreviventes. Nestes casos é obrigatória uma cuidadosa
anticoagulados) devido a sua reserva fisiológica limitada e avaliação do doente, mesmo quando não há sinais evidentes
risco potencial para doenças relacionadas às comorbidades. de lesão grave.
Doentes obesos raramente necessitam de transferência
especificamente por causa de seu peso, exceto em casos Tempo de transferência
extremos em que a tomografia computadorizada não pode
ser obtida devido ao tamanho do doente ou necessidade de O desfecho do doente está diretamente relacionado ao
equipamento especial para um procedimento cirúrgico. tempo decorrido entre o trauma e o tratamento definitivo
A via aérea difícil, frequentemente associada à obesidade, realizado adequadamente. Em instituições sem cobertura
pode exigir a intubação precoce antes da transferência, de emergência em tempo integral, a pontualidade da
quando houver risco de que o estado mental ou o estado transferência depende, em parte, da rapidez com que
respiratório se deteriorem durante o transporte. o médico de sobreaviso chega no Departamento de
O abuso de álcool e/ou outras drogas é comum a todas Emergência (DE). Consequentemente, as equipes de
as formas de trauma e é particularmente importante ser trauma devem desenvolver uma comunicação eficaz
identificado já que essas substâncias podem alterar a percepção com o sistema pré-hospitalar para identificar os doentes
da dor e mascarar achados físicos significativos. Alterações na que precisam que um médico esteja presente no DE no
resposta do doente podem estar relacionadas ao álcool e/ou momento da chegada (n FIGURA 13-2). Além disso, o médico
drogas, mas a lesão cerebral nunca deve ser excluída como assistente deve comprometer-se a responder ao DE antes
uma possível causa de mudança no estado mental, mesmo da chegada de doentes gravemente traumatizados.
na presença dos mesmos. Se o médico examinador não tiver A cronologia da transferência inter-hospitalar varia
certeza, a transferência para uma instituição de nível superior de acordo com a distância entre as instituições, com
de complexidade pode ser apropriada. os recursos disponíveis para a transferência, com as
TRATAMENTO ANTES DA TRANSFERÊNCIA 245

De fato, pesquisas têm demonstrado que grande parte


do tempo de atraso entre a lesão e a transferência está
relacionado à realização de estudos diagnósticos, apesar
da falta de um cirurgião para fornecer o tratamento
definitivos. Frequentemente, as tomografias realizadas
antes da transferência para o tratamento definitivo são
repetidas na chegada ao centro de trauma, tornando a
necessidade de uma TC pré-transferência questionável.
Múltiplas varreduras resultam em aumento da exposição
à radiação e custos hospitalares adicionais, bem como
um atraso na transferência para o tratamento definitivo.

Tratamento antes da
n FIGURA 13-2 Uma comunicação eficaz com o sistema pré-hospitalar
transferência
deve ser desenvolvida para identificar doentes que necessitam da
presença de um médico no DE no momento da sua chegada. O doente deve ser reanimado e tentativas para
estabilizá-lo da melhor maneira possível devem ser
características da instituição local e com os procedimentos feitas, baseando-se no esquema sugerido abaixo:
necessários antes que o doente possa ser transferido
com segurança. Se houver recursos disponíveis e os 1. Via aérea
procedimentos necessários puderem ser executados a. Inserir uma via aérea ou um tubo endotraqueal,
rapidamente, lesões com risco à vida devem ser tratadas se necessário. Estabelecer um limiar baixo para
antes do transporte do doente. Esse tratamento pode intubar doentes com GCS alterado, mesmo
exigir intervenção cirúrgica para garantir que o doente acima de 8, quando houver preocupação com
uma possível deterioração e discutir essa
esteja na melhor condição possível para a transferência. decisão com o médico que receberá o doente.
Intervenção antes da transferência requer julgamento.
b. Realizar aspiração.
Depois de reconhecer a necessidade de transferência,
agilize os preparativos. Não realize procedimentos c. Inserir uma sonda gástrica em todos os doentes
intubados e naqueles não intubados com
diagnósticos (por exemplo, lavagem peritoneal diagnóstica evidência de distensão gástrica. Como esse
[LPD] ou tomografia computadorizada [TC]) que não procedimento pode induzir o vômito e provocar
alterem o plano de cuidados. No entanto, procedimentos aspiração, usar o bom julgamento clínico quando
que tratam ou estabilizam uma condição imediatamente os doentes estiverem agitados ou intoxicados.
fatal podem ser rapidamente realizados. 2. Respiração
Apesar do princípio de que a transferência não deve ser a. Determinar a frequência respiratória e
atrasada para procedimentos diagnósticos, uma parcela administrar oxigênio suplementar.
significativa das vítimas de trauma transferidas para b. Providenciar ventilação mecânica, quando
centros de trauma regionais é submetida à tomografia necessário.
computadorizada no hospital primário, levando a um
c. Realizar a drenagem torácica, se necessário.
aumento no tempo de permanência antes da transferência. Doentes com pneumotórax diagnosticado ou
suspeito devem ter o tórax drenado quando
armadilha prevenção são transportados por via aérea.
3. Circulação
Atrasar a transferência • Considerar a transferência a. Controlar o sangramento externo, observando
de um doente para o precocemente no processo o tempo de colocação do torniquete quando
tratamento definitivo. de avaliação. este é usado.
• Determinar rapidamente
as necessidades do doente b. Estabelecer dois acessos venosos de grosso
e as capacidades da calibre e iniciar a infusão de solução
instituição. cristaloide.
• Solicitar apenas exames c. Restaurar as perdas de volume sanguíneo
que identifiquem lesões usando cristaloide e sangue para obter uma
potencialmente fatais reanimação balanceada (ver Capítulo 3: Choque)
que possam ser tratadas e manter a reposição durante a transferência.
ou estabilizadas antes da
transferência. d. Inserir uma sonda vesical de demora para
monitorar o débito urinário.
­246 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

e. Monitorar o ritmo e a frequência cardíaca do


doente. armadilha prevenção
f. Transportar doentes no final da gestação
em decúbito lateral esquerdo para melhorar Comunicação • Use uma lista de verificação de
o retorno venoso. Se indicado, restringir o inadequada entre transferência para garantir que
movimento da coluna. Assegurar-se que o a equipe que todos os principais aspectos do
hospital receptor seja capaz de tratar tanto a encaminha e a que atendimento prestado sejam
mãe quanto o bebê. recebe o doente. devidamente comunicados à
4. Sistema nervoso central equipe de transporte.
• Verifique se cópias dos registros
a. Fornecer ventilação assistida ao doente médicos e radiografias são
inconsciente. preparadas e fornecidas à equipe
b. Administrar manitol ou solução salina de transporte.
hipertônica, se necessário, quando
aconselhado pelo médico receptor. Preparação • Identifique e inicie os esforços
c. Restringir o movimento da coluna inadequada para de reanimação para todas as
vertebral em doentes com lesão de coluna o transporte, condições de risco à vida.
diagnosticada ou suspeita. aumentando a • Assegure-se de que os acordos de
probabilidade de transferência estejam em vigor para
5. Realizar estudos diagnósticos adequados (estudos deterioração do permitir a determinação rápida da
diagnósticos sofisticados, como tomografia doente durante a melhor instituição de recebimento
computadorizada e aortografia, geralmente transferência. com base nas lesões do doente.
não são indicados; quando indicado, a obtenção • Confirme se todos os equipamentos
desses estudos não deve atrasar a transferência). de transporte do doente estão pré-
a. Obter radiografias de tórax, pelve e preparados e prontos para uso em
extremidades. todos os momentos.

b. Obter exames de sangue necessários.


c. Determinar o ritmo cardíaco e a saturação requerem restrição da movimentação da coluna vertebral
da hemoglobina (eletrocardiografia [ECG] e e são colocados na posição supina com restrições do
oximetria de pulso). punho/perna. Se a sedação for necessária, o doente deve
6. Ferimentos (Nota: A realização destes ser intubado. Portanto, antes de administrar qualquer
procedimentos não deve retardar a transferência.) sedativo, o médico responsável deve: assegurar que o
a. Limpar e cobrir os ferimentos após controlar a ABCDE do doente seja adequadamente tratado; aliviar a
hemorragia externa. dor do doente, se possível (por exemplo, imobilização de
b. Administrar a profilaxia do tétano. fraturas e administração de pequenas doses de narcóticos
c. Administrar antibióticos, quando indicado. endovenosos) e tentar acalmar e tranquilizar o doente.
Lembre-se, benzodiazepínicos, fentanil, propofol e
7. Fraturas
ketamina são todos perigosos em doentes hipovolêmicos,
a. Aplicar talas e tração apropriadas. doentes intoxicados e doentes com com TCE. O manejo
da dor, a sedação e a intubação devem ser realizados pelo
A agitação presente na avaliação inicial, na reanimação indivíduo mais habilidoso nesses procedimentos. (Ver
e no preparo para a transferência do doente traumatizado Capítulo 2: Tratamento da Via Aérea e da Ventilação.)
frequentemente faz com que outros detalhes logísticos
sejam deixados para um segundo plano. Isto pode resultar
em falha ao incluir certos itens que deveriam ser enviados responsabilidade da transferência
com o doente, como radiografias, resultados de exames
laboratoriais, descrições do processo de avaliação e
tratamento realizados no hospital local. Para garantir que A responsabilidade específica da transferência é de ambas as
todos os componentes importantes do tratamento tenham partes, do médico que encaminha e do médico que recebe.
sido abordados, use uma lista de verificação. As listas de
verificação podem ser impressas ou carimbadas no envelope médico que encaminha
da radiografia ou no prontuário médico do doente para fazer
com que o médico que encaminha o doente não esqueça de O médico que encaminha é o responsável por iniciar a
incluir todas as informações pertinentes. (Ver Checklist para transferência para a instituição que receberá o doente e pela
Transferência no aplicativo móvel MyATLS.) escolha da modalidade apropriada de transporte e do nível
O tratamento de doentes combativos e não coopera- de complexidade de atendimento necessário para garantir
tivos com um nível alterado de consciência é difícil e um tratamento adequado durante o percurso. O médico
potencialmente perigoso. Esses doentes geralmente que encaminha deve consultar o médico que receberá o
RESPONSABILIDADE DA TRANSFERÊNCIA 247

doente e estar completamente familiarizado com o sistema informações vitais sejam comunicadas. A omissão de
de transporte, com sua capacidade, e com os preparativos informações pode retardar a identificação de lesões e o
para o tratamento do doente durante o transporte. Dentro atendimento, o que pode influenciar o resultado do doente.
das capacidades de sua instituição, o médico de referência O SBAR (Situação, Histórico, Avaliação e Recomendação)
deve estabilizar a condição do doente antes de transferi-lo é uma ferramenta de transferência comumente usada
para outra instituição. O processo de transferência é iniciado para melhorar a segurança do doente, facilitando a
enquanto os esforços da reanimação estão em andamento. comunicação de informações específicas do mesmo. A
A transferência entre hospitais é acelerada por meio n TABELA 13-2 descreve um modelo de instrumento ABC-
do estabelecimento de acordos de transferência. Eles SBAR para transferência de doentes traumatizados.
proporcionam um movimento consistente e eficiente Quando não houver uma equipe de atendimento
de doentes entre instituições. Além disso, esses acordos específica e adequada para transferir o doente, certifique-
permitem o feedback ao hospital de referência e se de que uma enfermeira ou um médico acompanhe o
aumentam a eficiência e a qualidade do tratamento do doente. Todo o monitoramento e tratamento prestados
doente durante esse processo. durante o transporte são cuidadosamente documentados.
Fornecer um resumo completo e sucinto do doente Doentes pediátricos necessitam de cuidados
usando um modelo padronizado é útil para garantir que especializados e frequentemente é indicada a transferência

tabela 13-2 modelo de formulário abc-sbar para transferência de doentes traumatizados

ACRÔNIMO SIGNIFICADO INFORMAÇÃO A SER FORNECIDA

A Via Aérea

Todos os problemas de via aérea, respiração e circulação identificados e as


B Respiração
intervenções realizadas

C Circulação

S Situação Nome do Doente


Idade
Hospital que Encaminha
Nome do Médico que encaminha
Nome da Enfermeira
Indicação da transferência
Local da venóclise
Fluido e velocidade
Outras intervenções realizadas

B Histórico Histórico do Evento


História AMPLA
Hemocomponentes
Medicamentos administrados (data e hora)
Imagens realizadas
Imobilizações

A Avaliação Sinais vitais


Achados do exame físico pertinentes
Resposta do doente ao tratamento

R Recomendação Modo de transporte


Nível de cuidado do transporte
Intervenções medicamentosas durante o transporte
Avaliações e intervenções necessárias
­248 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

armadilha prevenção
Comunicação • Inicie o processo de
inadequada ou transferência imediatamente,
inapropriada entre a ou seja, ao identificar a
equipe que encaminha necessidade de transferência
e a que recebe, para o tratamento definitivo.
resultando em perda • Especifique todas as lesões
de informações críticas identificadas, enfatizando
para o atendimento do condições com risco à vida.
doente. • Forneça todas as informações
pertinentes sobre as lesões
do doente, os cuidados
recebidos, a resposta do
doente aos cuidados e o
motivo da transferência.
n FIGURA 13-3 Equipe de trauma, recebendo o doente transferido
para uma instituição de tratamento pediátrico. Dependendo por transporte aéreo.
das circunstâncias locais, este pode ser um centro de trauma
de adultos com capacidade pediátrica. As equipes de
transporte devem estar familiarizadas com o transporte quadro 13-1 perguntas que podem
ajudar na determinação do modo
seguro de doentes pediátricos, incluindo a necessidade
de transporte apropriado
de manejo de via aérea, dosagem de medicamentos e as
medidas auxiliares da avaliação primária.
• A condição clínica do doente requer a minimização do
tempo de transporte?
médico que recebe
• O doente necessita de avaliação ou tratamento

O médico que recebe deve ser consultado para garantir que específico ou tempo dependente, que não esteja
a instituição receptora proposta seja qualificada, capaz e disponível na unidade de origem?
esteja disposta a aceitar o doente e concordar com a intenção • O doente está em uma área inacessível ao transporte
da transferência. O médico que recebe deve auxiliar o terrestre?
médico que encaminha na organização da transferência • Quais são as condições meteorológicas atuais e
para que a modalidade adequada e o nível de complexidade previstas ao longo da rota de transporte?
de atendimento estejam disponíveis durante o transporte. • O peso do doente (mais o peso do equipamento e
Caso o médico e o hospital propostos inicialmente para da equipe de transporte) está dentro dos limites
receber o doente se encontrem impossibilitados de aceitá-lo, permitidos para o transporte aéreo?
eles devem auxiliar na busca de uma instituição alternativa.
• Para transportes inter-hospitalares, existe heliponto e/
A qualidade do atendimento oferecido durante
ou aeroporto perto do hospital de origem?
o transporte também é de vital importância para o
• O doente precisa de cuidados intensivos (por
prognóstico do doente. Somente pela comunicação direta
entre os médicos que encaminham e os que recebem o exemplo, monitoramento, medicamentos específicos,
doente, as condições do doente a ser transferido podem equipamento específico) durante o transporte, que não
ser claramente delineadas. estejam disponíveis no transporte terrestre?
• O uso de transporte terrestre local deixaria a área local
Modos de tr a nsp orte sem cobertura adequada de serviços de atendimento
pré-hospitalar?
O princípio de não causar dano adicional é o mais importante • Se o transporte terrestre local não for uma opção,
requisito na escolha do modo de transportar o doente. as necessidades do doente (e do sistema) podem
Transporte terrestre, aquático e aéreo podem ser seguros ser atendidas por um serviço regional de transporte
e efetivos em seguir este princípio e nenhum meio de
terrestre crítico disponível (por exemplo, sistemas
transporte é intrinsecamente melhor do que o outro. (n FIGURA
especializados de transporte de superfície operados
13-3). Fatores locais tais como disponibilidade, geografia,
por hospitais e/ou programas médicos aéreos)?
custo e clima são os principais fatores para se determinar qual
o meio de transporte a se utilizar em uma dada circunstância.
O n  QUADRO 13-1 lista perguntas gerais a serem feitas na Reimpresso com a permissão de Thomson DP, Thomas SH. Guidelines for
determinação do modo de transporte apropriado. Air Medical Dispatch. Prehospital Emergency Care 2003; Apr–Jun;7(2):265–71.
PROTOCOLOS DE TRANSFERÊNCIA 249

A transferência inter-hospitalar do doente gravemente transferência. O meio de comunicação de TI (tecnologia


traumatizado é potencialmente perigosa, a menos que sua da informação) aceitável mais aprimorado pode ser usado
condição esteja estabilizada de maneira ótima antes do para evitar atrasos na transferência.
transporte, que a equipe de transporte esteja adequadamente
treinada e que a provisão tenha sido feita para lidar com Tratamento durante o transporte
problemas inesperados durante o transporte. Para assegurar
que a transferência seja feita de modo seguro, é necessário Uma equipe treinada deve transferir o doente,
que cirurgiões de trauma estejam envolvidos no treinamento, levando-se em conta suas condições e seus potenciais
na educação continuada e participem dos programas de riscos durante o transporte. O tratamento durante o
melhoria de qualidade destinados a aprimorar as equipes transporte normalmente inclui:
e a elaborar protocolos pertinentes. Os cirurgiões também •• Monitoração dos sinais vitais e da oximetria de
devem estar ativamente envolvidos no desenvolvimento pulso
e na manutenção dos sistemas de atendimento ao trauma.
Ver “Appropriate use of Helicopter Emergency Medical
Services for transport of trauma patients: Guidelines from
the Emergency Medical System Subcommittee, Committee
armadilha prevenção
on Trauma, American College of Surgeons.”
Tubos endotraqueais • Certifique-se de que o
e acessos venosos equipamento necessário
deslocados ou mal para a reintubação e a
protocolos de transferência posicionados durante o punção venosa acompanhe
transporte o doente.
• Verifique se a equipe de
Quando não existem protocolos para transferência transporte é capaz de
de doentes, são sugeridas as seguintes diretrizes realizar o procedimento e
referentes às informações do médico do hospital de tratar quaisquer possíveis
origem, informações para a equipe de transporte, complicações que ocorram.
documentação e tratamento durante o transporte. • Certifique-se de que os
tubos e os acessos venosos
Informações do Médico do Hospital estejam adequadamente
protegidos.
de Origem
Falha em antecipar a • Muitas vezes não há
O médico que determina a necessidade de transferência
deterioração da condição como prever se o estado
deve comunicar-se diretamente com o médico que neurológica do doente neurológico irá mudar
receberá o doente no hospital. O ABC-SBAR (consulte a ou estado hemodinâmico nos doentes idosos,
n TABELA 13-2) pode servir como uma lista de verificação durante o transporte intoxicados e com trauma
para o relatório telefônico entre os médicos e o relatório craniencefálico. Dessa
verbal para a equipe de transporte. maneira, em alguns casos,
está indicada a proteção
Informações para a Equipe de Transporte da via aérea em doentes
com GCS > 8 durante o
As informações sobre a condição e as necessidades do doente transporte.
• O médico que transporta
durante a transferência devem ser comunicadas à equipe de
deve considerar a
transporte (consulte o ABC-SBAR na n TABELA 13-2).
possibilidade de
alteração neurológica
Documentação e decidir intubar o
doente com potencial
Um registro escrito dos problemas, o tratamento realizado comprometimento da via
e o estado clínico do doente no momento da transferência, aérea antes do transporte.
assim como certos achados no exame físico (p. ex., imagens • O cirurgião receptor deve
radiológicas), devem acompanhar o doente (n FIGURA 13-4). oferecer aconselhamento
A mídia digital pode ser transmitida para a instituição de se a decisão de intubar
referência para agilizar a transferência de informações e não estiver evidente com
base na consideração
disponibilizar imagens para revisão à distância; quando a
do padrão de lesão e do
transmissão eletrônica não é possível, a transmissão por
tempo de transporte.
fax dos relatórios pode ser usada para evitar atrasos na
n FIGURA 13-4 Modelo de Formulário de transferência. Este formulário inclui todas as informações que devem ser enviadas com o doente
FORMULÁRIO DE TRANSFERÊNCIA INTER-HOSPITALAR UNIVERSAL
(Uso Opcional)
Etiqueta de identificação do doente
DATA DA TRANSFERÊNCIA: HORÁRIO DA TRANSFERÊNCIA: HORÁRIO ESTIMADO DE CHEGADA: TRANSFERIDO DE: PARA:
TIPO DE TRANSPORTE DIAGNÓSTICO RELACIONADO À TRANSFERÊNCIA MOTIVO DA TRANSFERÊNCIA:  Alto Nível de Cuidado  Intervenção Cardíaca
INFORMAÇÕES DO

 Intervenção AVC  Trauma adulto  Trauma pediátrico  Referência de especialidade  Mão  Olho  Queimado Adulto  Queimado Pediátrico  Outro
DOENTE

NOME DO DOENTE: SOBRENOME NOME DATA DE NASCIMENTO IDADE  M  F GRÁVIDA?  S  N DUM


ORDENS MÉDICAS PARA TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO DA VIDA (OMTMV): Documentos  S  N; Anexado  S  N
CONTATO : Sobrenome:_ __________ Nome: ___________________ Grau de parentesco: ______ TELEFONE: Dia ____ Noite _____ Celular
Contato está com o Doente?  S  N, Contato Notificado da Transferência?  S (data _____ hora ____)  N , Contato a Caminho do Hospital de Destino?  S  N
INFORMAÇÃO FORNECIDA AO CONTATO: __________
CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

Representante de Saúde/ Procuração/ Guardião Legal;  S  N SOBRENOME ____________________ NOME: ______________


Data: ___ Hora: ___ Altura: ___ Peso____Kg. Temp; ___ FC: ____ FR: ___ PA: ___ Sat. ____, O2/N. Cânula ____L, Escore de Dor ____ Numérica Facial
Via Aérea: Espontânea ML King TOT; Tamanho: ____ Profundidade ___ em Ventilação  S  N ; Modo Ventilatório: ___ ; Tolerando  S  N, SNG  S  N RCP  S  N
PERTINENTE À TRANSFERÊNCIA
AVALIAÇÃO DO DOENTE (MAIS

GCS: ____ AO: ___ RM: __ RV: __= Total Diâmetro pupilar (mm) D ___ E____ ECG:  S  N; Ritmo Anormal __________
SISTEMAS DE AVALIAÇÃO E

ALERGIAS: IMUNIZAÇÕES/ DATAS DE TRIAGEM Gripe ____, Tétano ___, Pneumonia ____, PPD ____ Pos.  Neg
HISTÓRICO DE SAÚDE

Achados Anormais Histórico de Saúde


Cardiovascular:  Ponte de Safena  Doença Coronária  Cardioversor/Desfibrilador Automático Implantável  IAM  Marcapasso  Stent  Outros:
RECENTE)

Gastrointestinal:
Genito-urinário:  Falência Renal
Cabeça e pescoço:
Tegumentar:
Músculoesqueletico:
Nervoso/neurológico  AIT  AVC  Desvios  MAV  Hemorragia  Outros
Tórax/pumonar “respiratório”:  Traqueostomia
MEDICAÇÕES EM USO: Anticoagulantes  S  N , Nome: ____________________________________________ Outros: __________________________________
PRECAUÇÕES DE ISOLAMENTO:  nenhuma  Staphylococcus aureus multi resistente  Enterococcus resistente à vancomicina  Beta-lactamase de espectro estendido  Clostridium difficile  Colonizado  Outros _____________________ Local:_______
TOTAL INFUNDIDO: Componentes Sanguíneos Administrados: Concentrado de Hemácias/____ unidades, Plasma Fresco Congelado/____unidades, Plaquetas/___ unidades, Outros: ___/unidades
TOTAL DE PERDAS: _____ Anulado  SVD  SNG  Dreno de Tórax _____ Perda Sanguínea Estimada _____ Para Queimados: Total de Cristaloides Administrado __ _ Data Início__ _ Hora ____
TRATAMENTOS

EXAMES LABORATORIAIS: Hemácias: __ Temp Coagulação: __ CMP ___ Troponina ___ Mioglobina___ Outros ___. Exames de Imagem: Filmes Enviados  S  N RX___ _ TC_ __ RNM: ______ Outros: _____
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
MEDICAÇÕES ADMINISTRADAS ANTES DA TRANSFERÊNCIA: Antibióticos, Reanimação, Sedativos/Paralíticos/ Trombolíticos/TPA, Outros
Medicação Dose Data Hora Medicação Dose Data Hora
TEMPO ESPECÍFICO

TRAUMA: Data da Lesão: _____ Hora da Lesão _____ Óbito no mesmo acidente  S  N, Membro da Família  S  N, O doente foi notificado  S  N
Mecanismo da Lesão :  Colisão Automobilística  MCC  Ped.  ATV  Bicicleta  Espancamento  Esfaqueamento  Cortes/Perfurações  FAF  Queimadura  Queda  Afogamento  Explosão  Outros
Proteção da Coluna:  Prancha Rígida  Colar Cervical  Cinta Pélvica  Imobilização de Extremidades; ___MSD ___MSE ___MID ___MIE  Rolo de Toalha/Reforço  Outros_
Observações Socias:  Suspeita de Violência Doméstica  Criança/Idoso  Suspeita  Negligência  Abuso, Comunicado?  S  N. Para Quem?
Médico Responsável pelo Encaminhamento: Médico Responsável pelo Recebimento:
Contato da Instituição de Origem: Contato da Instituição de Destino:

para a instituição de destino.


Formulário Preenchido por: data: hora:
­250
BIBLIOGRAFIA 251

•• Suporte contínuo do sistema cardiorrespiratório para tratar imediatamente as condições que


ameaçam a vida e só podem ser gerenciadas por
•• Reposição volêmica balanceada contínua
especialistas em instituições específicas.
•• Uso de medicamentos apropriados, sob •• Após o aceite da transferência do doente
orientação de um médico ou em conformidade para o tratamento definitivo, os membros da
com protocolos estabelecidos equipe colaborarão para preparar os registros
•• Manutenção da comunicação com um médico para transferência, incluindo laudos de
ou uma instituição durante a transferência exames, dados do tratamento, medicamentos
administrados e radiografias realizadas.
•• Manutenção de um registro pormenorizado
durante a transferência
r e sumo do c a pítulo
Ao se preparar para, e durante o transporte, lembre-se
de que durante o transporte aéreo, mudanças na altitude 1. Doentes cujas lesões excedem a capacidade de
levam a mudanças na pressão do ar. Como isso pode tratamento definitivo de uma instituição devem ser
aumentar o tamanho do pneumotórax e piorar a distensão identificados precocemente durante a avaliação e
gástrica, considere cuidadosamente a colocação de um a reanimação. Capacidades individuais do médico
tubo torácico ou tubo gástrico. Precauções semelhantes assistente, capacidades institucionais e diretrizes
dizem respeito a qualquer dispositivo insuflado por ar. Por para transferência devem ser conhecidos. Acordos de
exemplo, durante voos prolongados, talvez seja necessário transferência e protocolos podem agilizar o processo.
diminuir a pressão das talas pneumáticas ou do balão do
tubo endotraqueal. Ao transportar doentes pediátricos, 2. Lesões com risco à vida devem ser identificadas
preste atenção especial ao tamanho dos equipamentos e e tratadas na medida do possível na instituição
à experiência da equipe antes do transporte. de origem. Procedimentos e exames que não são
necessários para estabilizar o doente não devem
ser realizados.
Tr a nsfer ênc i a de da dos
3. Deve haver clara comunicação entre o médico que
encaminha e o médico que recebe, e a equipe de
As informações que acompanham o doente devem incluir transporte. O ABC-SBAR é um modelo útil para
informações demográficas e históricas pertinentes ao garantir que as principais informações sobre o
trauma. A transmissão uniforme de informações é obtida doente sejam comunicadas.
por meio da utilização de um formulário de transferência
estabelecido, como o exemplo mostrado na Figura 13-4. 4. A equipe de transporte deve ter a habilidade
Além das informações já descritas, proporciona espaço adequada para administrar os cuidados necessários
para registro de dados de forma organizada e sequencial ao doente, a fim de garantir que o nível de
- sinais vitais, função do sistema nervoso central (SNC) atendimento recebido pelo mesmo não diminua.
e débito urinário - durante a reanimação inicial e o
período de transporte. 5. Considerações devem ser feitas ao decidir quem
deve ser transferido ao tratar-se de grupos de
doentes especiais.Acordos de transferência
Trabalho em equipe predefinidos podem agilizar o processo.

•• Quando o nível de complexidade de


atendimento exigido excede a capacidade da Bibliografia
unidade de tratamento, o líder da equipe de
trauma deve trabalhar com rapidez e eficiência
para iniciar e concluir a transferência para o
atendimento definitivo. 1. American College of Surgeons Committee
•• Outros membros da equipe podem ajudar on Trauma. Resources for Optimal Care of the
o líder da equipe, comunicando-se com a Injured Patient. Chicago, IL: American College
instituição receptora, enquanto o líder da of Surgeons; 2006.
equipe de trauma permanece focado no doente. 2. Bledsoe BE, Wesley AK, Eckstein M, et
al. Helicopter scene transport of trauma
•• O líder da equipe garante a rápida preparação para a
transferência, limitando os exames (especialmente patients with nonlife-threatening injuries:
tomografias computadorizadas) àqueles necessários
­252 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo

a meta-analysis. J Trauma 2006;60: 10. McCrum ML, McKee J, Lai M, et al. ATLS adherence
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Transfer times to definitive care facilities are
too long: a consequence of an immature trauma
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APÊNDICES

APÊNDICE A Trauma Ocular 257

APÊNDICE B Hipotermia e Lesões pelo Calor 265

APÊNDICE C Incidentes com Vítimas em Massa, Traumas em


Ambientes Hostis e Conflitos Armados
(Aula Opcional) 275

APÊNDICE D Conduta em Desastre e Prontidão para Emergências


(Aula Opcional) 289

APÊNDICE E ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 303

APÊNDICE F Cenários de Triagem 317

APÊNDICE G Estações Práticas 335


APÊNDICE A n Trauma Ocular 257

Apêndice A
T RAUMA OCULAR

OBJETIVOS

1. Compreender a anatomia básica da órbita e ocular. 7. Identificar sinais de hemorragia retrobulbar e


explicar as necessidades para tratamento imediato e
2. Descrever uma anamnese focada para o trauma
encaminhamento.
ocular.
8. Descrever o tratamento de lesões oculares que
3. Descrever um exame sistemático da órbita e seu
resultam da exposição a produtos químicos.
conteúdo.
9. Identificar os sinais de lesão com ruptura do globo
4. Descrever como avaliar a pressão intraocular.
ocular e descrever seu manejo inicial antes de
5. Compreender as características das lacerações da consultar um oftalmologista.
pálpebra que requerem encaminhamento para um
10. Compreender as características das lesões
especialista.
oculares que requerem encaminhamento a um
6. Descrever o teste de coloração com fluoresceína e oftalmologista.
sua utilidade.

N
a medicina militar, médicos e pessoal de apoio há pelo humor vítreo - uma solução de sódio, cloreto e
muito citam o mantra “vida, membros ou visão” outros íons. O segmento posterior do globo está entre
para descrever o que constitui uma verdadeira o cristalino e a retina, e é preenchido com humor vítreo
emergência médica. Embora o atendimento médico de - uma substância clara e gelatinosa. O nervo óptico está
emergência tenha mudado com o tempo, esse conceito na parte de trás do olho; viaja através do cone muscular,
ainda é válido. O olho é realmente importante, mas através da órbita e depois para o cérebro. n FIGURA A-1
normalmente não é avaliado até que o doente seja fornece uma revisão da anatomia do olho.
considerado estável. O globo inclui os anexos dos músculos extraoculares
Pequenas abrasões e lacerações no olho e nas à esclera. A esclera e os músculos são cobertos por um
pálpebras são comuns em doentes politraumatizados. epitélio chamado conjuntiva, que se estende da junção
Este apêndice tem como escopo descrever as poucas córnea-esclera sobre a esclera e depois se volta para cobrir
lesões oculares que podem cegar um doente se não forem o interior das pálpebras. Os músculos extraoculares
tratadas nas primeiras horas após o trauma. Entender se juntam para formar um “cone”, que é coberto por
os fundamentos do exame oftalmológico após a lesão uma bainha semelhante à da fáscia chamada cápsula
começa com uma revisão da anatomia básica do olho. de Tenon. Essa cobertura por fáscia minimamente
distensível limita a capacidade de expansão desses
músculos; assim, a hemorragia nessa área pode produzir
r e v is ão da a n atomi a uma síndrome compartimental.
O complexo globo-cone-muscular situa-se na órbita do
A córnea é a camada transparente que forma o olho, que é uma cavidade em forma de pera formada por
limite anterior do espaço conhecido como câmara ossos que separam o compartimento orbital do tecido
anterior, e é contígua à esclera. O interior do globo é dos seios da face e do cérebro. As pálpebras têm anexos
dividido em segmentos anteriores e posteriores pelo tendinosos (tendões cantais) medial e temporalmente
cristalino. O segmento anterior inclui a córnea, esclera, na órbita óssea, que impedem que o globo avance. Esse
conjuntiva, íris e cristalino. O espaço entre a córnea e arranjo cria outro espaço com expansão limitada, onde
a íris é chamado de câmara anterior e está preenchido a síndrome do compartimento também pode ocorrer.

257
­258 APÊNDICE A n Trauma Ocular

Esclera
Tendão
Cantal Fórnix
Músculos
extraoculares Conjuntiva
Mácula

Fóvea
Ossos da
órbita Íris
Pupila Cristalino

Nervo
ótico
Câmara
anterior
Retina
A B
n FIGURA A-1  Anatomia anterior e posterior

em cada olho. Observe sempre se o doente normalmente


Ava li aç ão usa óculos ou lentes de contato e, em caso afirmativo,
se estes dispositivos são usados para longe ou perto
Como todas as outras avaliações, a avaliação do trauma (visão de leitura). Se um erro de refração for conhecido,
ocular inclui uma história e exame físico direcionados. As mas o doente não tiver óculos, peça ao doente que olhe
comorbidades prévias ao trauma assim como o histórico de através de um orifício pequeno, o que minimiza o erro de
visão do doente podem ser pertinentes. A avaliação precisa refração e permite verificar a visão. Para fazer um furo,
do trauma ocular pode alterar o desfecho do doente, pegue um pedaço de papel ou papelão e use uma caneta
especialmente em um ambiente no qual o atendimento esferográfica ou clipe de papel para fazer um furo de
oftalmológico de emergência não está disponível. aproximadamente 0,2 mm no centro do mesmo. Se um
oclusor do tipo pinhole profissional estiver disponível,
História use-o para obter resultados um pouco mais precisos.

A obtenção da história necessária para tratar o trauma Pupilas


ocular é a mesma que para qualquer outro trauma.
Inclui uma revisão completa dos sistemas e o histórico Se o doente estiver usando lentes de contato, elas devem
médico do doente. Certifique-se de perguntar o tempo ser removidas. As pupilas devem ser iguais, redondas,
e o mecanismo da lesão. Outras informações específicas reativas e sem um defeito pupilar aferente. Uma pupila
a serem obtidas durante a anamnese são descritas na lenta ou pouco reativa indica uma possível anormalidade
seção de exame físico a seguir. cerebral, como acidente vascular cerebral ou herniação.
Esteja ciente de que esses achados não indicam
exame físico tipicamente patologia ocular. No entanto, é importante
notar que uma pupila pode ficar aumentada devido
Sempre que possível, todo o exame oftalmológico a trauma contuso (por exemplo, ruptura do esfíncter
deve documentar os três “sinais vitais” do olho: visão, pupilar), cirurgia pregressa e outros processos de doença
pupilas e pressão intraocular. Essas funções fornecerão ocular. Quando um exame anormal de pupila resulta
ao médico informações importantes sobre a integridade de uma causa ocular isolada, a pupila frequentemente
básica do olho. Além disso, o exame físico inclui também mantém alguma reatividade à luz, mesmo que seja um
a avaliação do segmento anterior e posterior do olho. tamanho diferente. O histórico médico do doente deve
refletir uma história ocular passada positiva; se isso não
Visão ocorrer, deve-se seguir na investigação e exames serão
necessários para avaliar uma patologia intracraniana.
Um exame de visão pode ser tão simples quanto segurar Ao verificar a disfunção do nervo óptico, use o “teste
um cartão de teste de visão ou qualquer material de da lanterna oscilante” para procurar um defeito pupilar
leitura em uma distância apropriada e registrar a visão aferente. Quando houver suspeita em relação à disfunção
APÊNDICE A n Trauma Ocular 259

do nervo óptico relacionada ao trauma, consulte um medindo a partir da parede lateral da órbita até o nariz
oftalmologista para um exame detalhado. de cada lado e, em seguida, determinando quanto do
globo se projeta para além dessa linha imaginária.
Pressão Intraocular Em um exame normal, quando você empurra
suavemente o olho através da pálpebra, você sentirá
Dispositivos portáteis de tonometria, como o Tono-pen, que o globo ocular se desloca pouco em direção posterior.
estão agora disponíveis em muitas salas de emergência. Quando isso não ocorre, há resistência à retropulsão,
Esses medidores melhoraram a capacidade do médico de indicando a possibilidade de aumento da pressão atrás
verificar pressões oculares em diversas situações do doente. do olho, como na hemorragia retrobulbar. Outro sinal
Ao usar dispositivos de tonometria de mão, abra a de hemorragia retrobulbar é quando o globo empurra as
pálpebra tomando cuidado para não empurrar o globo pálpebras, criando uma pressão tal que a pálpebra fica
ocular, pois isso pode elevar falsamente a pressão do tensa e não pode ser afastada do olho. Por fim, ao avaliar
olho. Certifique-se de que os dedos que retraem as as feridas da periórbita, sempre inspecione as lacerações
pálpebras estejam apoiados na órbita óssea e não no para garantir que não tenham espessura total e elimine a
globo. Obtenha sempre 2-3 medições de cada olho, com possibilidade da presença de corpos estranhos ocultos.
a maior percentagem de confiabilidade no Tono-Pen (a Mesmo que o globo pareça não ser afetado, qualquer
pressão ocular normal é entre 8 e 21 mmHg). A leitura corpo estranho penetrando na órbita exige um exame
de “dados” ou “%” na caneta indica a probabilidade de oftalmológico imediato para determinar se o globo
que essa leitura seja precisa. É importante notar que as está aberto.
leituras podem variar com a ventilação mecânica, as Músculos extraoculares: para doentes que podem
manobras de Valsalva e a pressão acidental no globo obedecer a comandos, peça que sigam o dedo para cima,
ocular durante a abertura dos olhos. Quando possível, para baixo e para os lados. Movimento ocular restrito pode
anestesiar o olho com gotas oftálmicas de anestésico ser decorrente da presença de pressão intraorbital elevada,
tópico (por exemplo, proparacaína) se o doente não de fraturas orbitárias, ou de lesão muscular ou nervosa.
estiver totalmente sedado. Caso contrário, o doente pode Pálpebras, cílios e bolsa lacrimal: Examine as
piscar excessivamente ou apertar as pálpebras quando pálpebras para procurar por lacerações e observe se
a ponta do instrumento tocar o olho. elas são de espessura total ou parcial. A porção nasal
Sem um tonômetro, você pode de maneira grosseira das pálpebras superior e inferior contém as cavidades
estimar a pressão do olho pressionando delicadamente e canalículos superiores e inferiores, que drenam as
com os dois dedos indicadores em cada lado do olho com lágrimas da superfície ocular. As lágrimas correm pela
as pálpebras fechadas. Se você não tem certeza do que puncta, depois pelos canalículos até o saco lacrimal e
é normal, pressione o seu próprio olho ou o olho não depois pelo ducto nasolacrimal até o nariz.
afetado do doente da mesma maneira e comparar. O Lacerações de espessura total requerem um reparo
mais importante, avaliar se o doente tem um olho mais cirúrgico por um cirurgião familiarizado com a anatomia
firme no lado lesionado. de drenagem da pálpebra e canal lacrimal. Embora este
Se houver suspeita de lesão aberta de globo ocular, procedimento não precise acontecer imediatamente,
não verifique a pressão no olho, porque você pode o reparo dentro de 72 horas após a lesão aumenta a
conduzir ainda mais para o interior da cavidade o probabilidade de sucesso. Se o sistema de ducto
conteúdo intraocular do olho. Nesses casos, verificar a nasolacrimal estiver envolvido, é ideal que o reparo
acuidade visual e realizar uma inspeção visual apenas. ocorra antes do início do edema tecidual, portanto é
necessário que um especialista seja consultado assim
Exame Anterior que identificar o problema. Esteja especialmente atento
às lacerações palpebrais que se alinham com as lacerações
O exame anterior aborda vários aspectos da anatomia do conjuntivais ou corneanas, porque elas são frequentemente
olho: a periórbita, músculos extraoculares, pálpebras, associadas a lesões abertas do globo ocular.
cílios, sacos lacrimais, conjuntiva, esclera, córnea, íris, Conjuntiva, esclera e córnea: Observe quanto a
câmara anterior e cristalino. presença de qualquer hemorragia subconjuntival e
Periórbita: Observe quanto à presença de qualquer sua extensão; quanto mais extensas forem, maior a
equimose ou lacerações ao redor do olho. Avalie a presença probabilidade de o próprio globo ter sofrido ferimentos
de eventual protusão do globo ocular. Isso pode ser feito substanciais. Se a conjuntiva estiver lacerada, preste
com as pálpebras abertas ou fechadas, olhando para baixo muita atenção à esclera subjacente, que também
enquanto o doente está deitado e determinando se um pode estar lesada. Mais uma vez, uma lesão como
olho está mais anteriorizado que o outro. Isso também essa pode indicar lesões abertas do globo ocular.
pode ser avaliado radiograficamente usando o corte Verifique também se há lacerações ou escoriações da
axial de uma tomografia de crânio através das órbitas, conjuntiva, esclera e córnea, observando sua relação
­260 APÊNDICE A n Trauma Ocular

com as lacerações das pálpebras. Para verificar se há sangue na parte inferior se a gravidade tiver deslocado
lesões sutis da conjuntiva e/ou da córnea, realizar o as células do sangue para baixo. Um hifema pode levar
teste de coloração com fluoresceína: a uma pressão intraocular drasticamente elevada e
pode indicar um trauma significativo para o globo. É
1. Anestesie o olho com gotas anestésicas tópicas. importante consultar um oftalmologista imediatamente
2. Usando uma tira de fluoresceína úmida, coloque se esse diagnóstico for feito.
algumas gotas de fluoresceína no olho. (O Cristalino: O cristalino é tipicamente claro em pessoas
doente pode precisar piscar para distribuir jovens ou aparece em vários tons de amarelo em doentes com
completamente o corante.) mais de 40 anos (por exemplo, indicando uma catarata). O
3. Utilize uma luz azul (lâmpada de Wood ou cristalino está envolto em uma cápsula transparente e firme.
oftalmoscópio) no olho. Se a cápsula é violada, o cristalino fica branco, muitas vezes
inchando com o tempo. Essa lesão pode induzir inflamação
4. O corante irá fluorescer no espectro verde e
intraocular significativa e pressão intraocular elevada, a
realçar a área do epitélio que foi lesada.
menos que haja uma lesão concomitante grande no globo.
As abrasões da córnea ou conjuntiva podem ser Se o exame indicar uma cápsula de cristalino violada, é
tratadas com pomada oftálmica simples. As lacerações provável que haja uma lesão aberta do globo ocular e o olho
da córnea ou da esclera são mais preocupantes porque, possa conter um corpo estranho.
quando têm espessura total, indicam lesões abertas
do globo ocular. Esta lesão requer consulta imediata Exame Posterior
com um oftalmologista para posterior avaliação. Por
último, se você notar que o doente está usando lentes de O exame ocular do segmento posterior pode ser difícil,
contato; remova as mesmas, uma vez que o uso de lentes especialmente se a pupila for pequena devido a sedativos
de contato por um longo período de tempo aumenta ou analgésicos. Normalmente você pode observar a
muito o risco de úlceras de córnea infectadas. O teste presença de um reflexo vermelho (ou seja, reflexo laranja
de coloração com fluoresceína também pode ser útil na avermelhado da luz da retina) no mínimo. Se a pupila for
identificação de úlceras de córnea infectadas e lesões maior, você pode usar um oftalmoscópio para visualizar
abertas do globo ocular. o nervo óptico e/ou a retina posterior, o que ainda assim
Íris: A íris é um músculo esponjoso e distensível que não é um exame completo. Caso não possa avaliar a parte
geralmente é redondo e reativo à luz. Se a pupila for posterior do olho, não poderá excluir a possibilidade de
redonda e reativa à luz, mas ligeiramente maior que a pupila hemorragia vítrea, descolamento de retina ou outra
do olho não afetado, o doente provavelmente terá uma patologia. Ao contrário dos descolamentos de retina
ruptura do esfíncter pupilar. Este tipo de lesão geralmente espontâneos, os descolamentos de retina traumáticos ou
ocorre com trauma contuso no globo. No entanto, se a outras patologias posteriores geralmente não são tratados
pupila não for redonda, exames complementares passam com cirurgia de emergência. No entanto, certifique-se
a ser necessários. Com ferimentos menores no globo, de notificar o oftalmologista quanto aos achados, pois
o mesmo pode manter sua forma, entretanto a pupila a hemorragia vítrea causada por trauma geralmente é
terá uma aparência irregular “pontiaguda”. Olhe para resultado de uma força significativa e com isto, o olho corre
a íris ocluindo o orifício no globo ou saindo da esclera o risco de apresentar lesões mais graves concomitantes.
ou córnea na direção em que a pupila está apontando:
este é o local onde a lesão de espessura total da córnea lesões oculares específicas
ou laceração escleral deve ser observada.
Câmara anterior: a câmara anterior deve ser
relativamente profunda; isto é, a íris deve ser plana Doentes politraumatizados apresentam alto risco para
com um ângulo de aproximadamente 45 graus entre o muitas lesões oculares. Esta seção descreve alguns dos
plano da íris e a curva da córnea, e estar cheia de humor ferimentos mais sensíveis ao tempo e de maior risco para
vítreo claro. Quando a íris está perto da córnea, ou a perda de visão que os membros da equipe de trauma
câmara anterior é “superficial”, o humor vítreo pode estar podem encontrar.
vazando devido a uma lesão aberta do globo ocular. Olhe
atentamente para a presença de liquido de aspecto turvo, FRATURAS DE ÓRBITA E HEMORRAGIAS
o que pode indicar a presença de glóbulos vermelhos. RETROBULBARES
O sangue na câmara anterior, conhecido como hifema,
apresenta duas formas: (1) disperso, com glóbulos As fraturas da órbita podem causar sangramento no
vermelhos flutuando no humor vítreo, tornando a visão cone muscular ou ao redor dele. Estes compartimentos
do doente e sua visão do olho vaga; (2) em camadas, são limitados pela inserção dos tendões da pálpebra
com sangue no topo da íris; ou em camadas, com o aos anexos ósseos dos cantis medial e lateral. Se o
APÊNDICE A n Trauma Ocular 261

sangramento for significativo o suficiente, pode de irrigação e colocá-la sobre a ponte do nariz, para que
desenvolver uma síndrome compartimental que seja drenada nos dois olhos. Não deixe de chamar o
obstrua o suprimento de sangue para o nervo óptico especialista oftalmológico para notificá-lo da situação.
e globo. Os sinais de hemorragia retrobulbar com Ao lavar o olho do doente, obtenha detalhes sobre o
síndrome compartimental incluem redução da acuidade produto químico. Por exemplo, se o produto é ácido ou
visual, pressão ocular elevada, proptose assimétrica base, é líquido, pó ou outro material sólido? Soluções
(bulbo ocular), resistência à retropulsão e pálpebras alcalinas são geralmente mais prejudiciais ao olho e
tensas contra o globo (“olho duro como pedra”). muitas vezes exigem mais irrigação para normalizar o
A tomografia computadorizada pode revelar pH (~ 7,0). Os pós têm pequenos grânulos que podem
hemorragia retrobulbar, mas somente o exame clínico facilmente ficar presos nos fórnices superiores e
determinará se esse sangramento está causando uma inferiores do olho. Esta situação, por vezes, requer
síndrome compartimental e requer tratamento. A perda a inversão das pálpebras e lavagem direta com soro
da visão pode ocorrer após cerca de uma hora e meia de fisiológico utilizando-se uma seringa de 10 cc para
suprimento de sangue prejudicado, com isto o tratamento desalojar os grânulos.
imediato é imperativo. Caso suspeite da presença uma Após cada litro de solução, ou a cada 30 minutos,
hemorragia retrobulbar causando uma síndrome pare a irrigação, espere 5 a 10 minutos e verifique o pH
compartimental, entre em contato imediatamente das lágrimas. Enquanto aguarda, considera-se ideal
com um profissional que tenha a capacidade de começar o exame oftalmológico. Quando o pH é neutro
realizar cantotomia e cantólise. A cantotomia isolada (~ 7.0), você pode parar de irrigar o olho. Se o pH não for
(isto é, seccionando somente a derme) não melhora a neutro, continue este ciclo de irrigação, libere o fórnice
síndrome do compartimento retrobulbar. É a cantólise e verifique o pH até que as lágrimas fiquem neutras.
que aumenta o tamanho do compartimento orbital, o Este processo pode exigir várias horas e litros de solução
que equivale a realizar uma fasciotomia. salina, portanto, paciência e perseverança são cruciais.
Não retardar o tratamento com cantotomia e cantólise, Se tiver dúvidas sobre se todo o produto químico foi
obtendo uma tomografia computadorizada para removido dos olhos, continue a lavar até o oftalmologista
comprovação adicional de hemorragia. chegar para examinar o doente. Com base no exame
Fraturas orbitais também podem resultar no oftalmológico, o tratamento provavelmente incluirá
encarceramento dos músculos extraoculares no local pomadas antibióticas, analgésicos orais e colírios para
da fratura óssea. O reparo dentro de 48 horas após o inflamação e pressão ocular elevada.
trauma é recomendado para evitar isquemia muscular
e danos permanentes; assim, solicite o parecer de um ruptura do globo ocular
especialista para avaliar essa condição. Fraturas maiores
com significativo deslocamento ósseo têm menor As rupturas do globo ocular incluem as lesões que têm
probabilidade de causar dano muscular e isquemia. penetração de espessura total através da esclera ou
Fraturas maiores geralmente ocorrem em adultos; córnea. O tamanho e a extensão das lesões penetrantes
encarceramento e fraturas menores são mais comuns variam consideravelmente. Algumas lesões são tão
em crianças, cujos ossos são menos frágeis. pequenas que um microscópio é necessário para o
diagnóstico; outros envolvem corpos estranhos visíveis
queimaduras químicas ainda alojados no olho. Sinais de um globo aberto incluem
uma pupila pontiaguda, câmara anterior rasa, laceração
Queimaduras químicas são verdadeiras emergências da córnea ou esclera, tecido pigmentado anormal que
oftalmológicas e devem ser tratadas assim que o doente empurra através da esclera ou córnea, e a presença de
chegar. O tratamento inicial envolve irrigação abundante numerosos glóbulos vermelhos ou brancos flutuantes
do olho afetado e requer poucos equipamentos. (vistos no exame de lâmpada de fenda) no humor vítreo.
Idealmente, um litro de soro fisiológico ou Ringer lactato Um teste de Seidel pode localizar pequenos
normal (use água da torneira somente quando soluções vazamentos de humor vítreo da câmara anterior. Para
estéreis não estão disponíveis) é conectado a uma lente realizar um teste de Seidel, anestesie o olho, molhe a
Morgan. Coloque a lente no olho e incline a cabeça do tira de fluoresceína e limpe a tira sobre a área suspeita
doente para que o fluido escorra na direção da têmpora enquanto o doente não pisca. A fluoresceína não diluída
(e não no outro olho). Se uma lente Morgan não estiver aparece laranja escuro na luz normal; mas se houver
disponível, corte um pedaço de tubo IV para maximizar o vazamento, ele ficará laranja ou verde claro quando
fluxo. Quando possível, o doente pode segurar a ponta do visto sob luz azul.
tubo no aspecto nasal do olho para que o liquido irrigado Embora muitos escores para avaliação do trauma
escorra do local. Quando ambos os olhos precisam de ocular tenham sido desenvolvidos para determinar
irrigação, você pode conectar uma cânula nasal ao fluido o grau e o prognóstico da lesão do globo ocular, o
­262 APÊNDICE A n Trauma Ocular

tratamento inicial de todos os casos de ruptura é o 6. Solicite uma tomografia computadorizada (somente
mesmo. Uma vez identificada a condição, consulte se o doente for ser tratado em sua instituição)
imediatamente um especialista e descreva a situação. com cortes finos através das órbitas para avaliar
Preparar o doente para cirurgia ou transferência, porque a presença de corpo estranho ou outras lesões
as rupturas do globo ocular são emergências cirúrgicas oculares. Cada hospital tem um protocolo orbital
que requerem intervenção imediata em doentes ligeiramente diferente para isso, mas geralmente
hemodinamicamente estáveis. Enquanto aguarda a os cortes são de 1 mm ou menos. Para tanto não é
transferência do doente ou consulta especializada, as necessário o uso de contraste endovenoso.
seguintes medidas devem ser adotadas: Quando você suspeitar que há uma ruptura do globo
ocular, chame o oftalmologista para exame imediato
1. Cubra o olho afetado com um protetor rígido. Se a fim de obter um diagnóstico definitivo. Essas lesões
um corpo estranho estiver saindo do olho, corte devem ser tratadas imediatamente após o diagnóstico.
uma espuma ou um copo de papel para acomodar
o corpo estranho. Nunca coloque um curativo
sob pressão, gaze ou outro material macio sob
r e sumo
a proteção rígida, pois a pressão pode forçar o
conteúdo para fora do olho Além disso, gazes ou 1. Um exame ocular completo no exame secundário
curativos para olho podem aderir à íris ou outros pode identificar lesões oculares sutis que
conteúdos oculares expostos, que podem então podem ameaçar a perda de visão se não forem
ser retirados do olho ao remover tais curativos. tratadas imediatamente. Nesses casos, consulte
2. Utilize antibióticos IV. As fluoroquinolonas são imediatamente um oftalmologista.
a única classe de antibióticos que penetram no
vítreo em concentrações terapêuticas quando 2. Outras preocupações relacionadas ao olho podem
administradas por via intravenosa ou oral. A frequentemente esperar até que o oftalmologista
gatifloxacina e a levofloxacina são preferidas do hospital esteja disponível durante o dia para
em relação às fluoroquinolonas mais antigas, mais exames e avaliação.
devido às concentrações vítreas mais altas da
dosagem oral. As formulações IV são preferidas 3. Quando tiver dúvidas, consulte imediatamente o
para doentes com restrições a ingesta por via oral oftalmologista, este irá então determinar o melhor
que aguardam cirurgia. Se as fluoroquinolonas momento para o exame oftalmológico.
estiverem indisponíveis, administre antibióticos
de amplo espectro IV que cubram agentes
bacterianos Gram negativos e Gram positivos e bibliografia
certifique-se quanto à imunização para tétano.
3. Explique ao doente a importância de minimizar o 1. Bagheri N, Wajda B, Calvo C, et al. The Wills Eye
movimento dos olhos, se possível. O movimento Manual. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott
muscular extraocular pode causar mais extrusão Williams & Wilkins, 2016.
do conteúdo intraocular. Os movimentos oculares 2. Hariprasad SM, Mieler WF, Holz ER. Vitreous
são integrados no cérebro, então mover o olho and aqueous penetration of orally administered
bom faz com que o olho ferido também se mova. gatifloxacin in humans. Arch Ophthalmol
4. Trate dor, náusea e tosse. As manobras de 2003;121(3):345–350.
Valsalva podem aumentar a pressão na 3. Hayreh SS, Jonas JB. Optic disk and retinal nerve
parte posterior do olho (através do sistema fiber layer damage after transient central retinal
venoso), portanto reduza sempre que possível artery occlusion: an experimental study in rhesus
a intensidade destes fenômenos para ajudar a monkeys. Am J Ophthalmol 2000;129(6),786–795.
manter o conteúdo intraocular dentro do olho. 4. Herbert EN, Pearce IA, McGalliard J, et al.
Se o doente estiver intubado ou tiver uma via Vitreous penetration of levofloxacin in the
aérea estabelecida, certifique-se de que o mesmo uninflamed phakic human eye. Br J Ophthalmol
não está recebendo pressão positiva excessiva ou 2002;86:387–389.
apresentando tosse. 5. Yung CW, Moorthy RS, Lindley D, et al. Efficacy
of lateral canthotomy and cantholysis in orbital
5. Minimize a manipulação do olho. Não realize hemorrhage. Ophthal Plast. Reconstr Surg
nenhum exame além da acuidade visual e
1994;10(2),137–141.
observação. Esta é a avaliação necessária antes
da chegada do oftalmologista.
Apêndice B
H IPOTERMIA E LESÕES PELO CALOR

OBJETIVOS

1. Identificar os problemas encontrados nas lesões 4. Definir os dois níveis de lesão pelo calor.
por exposição ao ambiente.
5. Descrever o tratamento adequado para hipotermia e
2. Explicar os mecanismos e riscos causados pela lesões pelo calor.
hipotermia e lesões pelo calor aos doentes
traumatizados.
3. Definir os três níveis de hipotermia.

O
corpo se esforça para manter a temperatura hipotermia grave, e a temperatura medida pode variar
constante entre 36,4°C e 37,5°C. Exposição a de acordo com o sítio corporal, perfusão e temperatura
temperaturas extremas podem anular essa ambiente.
termorregulação, aumentando ou diminuindo a Hipotermia aguda ocorre rapidamente com exposição
temperatura corporal central. Alterações significativas súbita ao frio, como na imersão em água fria ou em
na temperatura corporal resultam em efeitos sistêmicos avalanches. A rápida exposição a temperaturas
com risco de vida. A exposição ambiental pode ser a baixas bloqueia a capacidade do organismo manter
única lesão, ou pode complicar lesões traumáticas. a normotermia, mesmo quando a produção de calor é
máxima. A hipotermia leva cerca de 30 minutos para
ser estabelecida.
hipotermia Hipotermia subaguda ocorre em conjunto com o
esgotamento das reservas de energia do corpo. Ela
Hipotermia é definida como temperatura corporal é acompanhada de hipovolemia, e seu tratamento
central abaixo de 35°C (95°F). Na ausência de lesão requer administração de fluidos e reaquecimento do
traumática concomitante, a hipotermia pode ser paciente. Hipotermia subcrônica ocorre quando há
classificada em leve (35°C a 32°C), moderada (32° exposição prolongada ao frio leve e a termorregulação
a 30°C) ou grave (abaixo de 30°C). Hipotermia na é inadequada para contê-lo. Um exemplo clássico é o
presença de lesão traumática deve ser preocupante. de um paciente idoso com queda e fratura de quadril,
Ela ocorre em 10% dos pacientes traumatizados imóvel no chão em temperatura ambiente baixa.
e até 1/3 dos pacientes com lesões críticas (Índice Ambientes frios e úmidos oferecem maior risco de
de severidade do trauma - ISS > ou igual a 16 ). A produzir hipotermia. Desastres e guerras são cenários
associação entre hipotermia e lesão traumática comuns para hipotermia. mas ela também pode
pode levar ao aumento da mortalidade e disfunção acontecer em ambientes urbanos entre os sem-teto,
orgânica. Portanto, na presença de lesões traumáticas, em associação com o uso de álcool e drogas, e mesmo
diferentes limiares de classificação são recomendados: quando indivíduos jovens e saudáveis participam de
leve é 36°C, moderada <36°C a 32°C, e grave abaixo atividades ou trabalho ao ar livre.
de 32°C. A hipotermia também pode ser classificada Idosos são particularmente suscetíveis à hipotermia
clinicamente, usando o sistema suíço de estadiamento devido à sua capacidade prejudicada de aumentar a
(n TABELA B-1). Este sistema é preferível sobre o método produção de calor, e maior tendência a perder calor
tradicional quando a temperatura corporal central devido a vasoconstrição. Nos EUA metade das mortes
não pode ser aferida. São necessários termômetros por hipotermia ocorrem em adultos com mais de 65 anos.
calibrados para baixas temperaturas para detectar Crianças também são mais propensas por possuírem uma

265
­266 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor

tabela b-1 estadiamento e manejo de hipotermia acidental

SINTOMAS TEMPERATURA
a
ESTADIO CLÍNICOS CENTRAL TÍPICA TRATAMENTO

1 Tremores conscientes 35°C a 32°C Roupas e ambiente aquecido, bebidas doces e quentes, e
movimentos ativos (se possível)

2 Consciência alterada, < 32°C a 28°C Monitorização cardíaca, movimentos mínimos e


sem tremores cautelosos para evitar arritmias, decúbito horizontal e
imobilização, isolamento de corpo inteiro, reaquecimento

3 Inconscientes e sem < 28°C a 24°C Tratamento como no estadio 2, manejo de vias aéreas,
tremores, sinais vitais ECMO ou CPB em casos de instabilidade cardíaca
presentes refratária ao tratamento medicamentoso

4 Ausência de sinais vitais < 24°C Tratamento como no estadio 3, RCP e até 3 doses de
epinefrina (1 mg) e desfibrilação, com doses adicionais
baseadas na resposta clínica; reaquecimento com ECMO ou
CPB (se disponível) ou RCP com reaquecimento externo ativo
ou interno altermativo

CPB = Bypass cardiopulmonar.


CPR = Reanimação cardiopulmonar.
ECMO = Membrana de oxigenação extracorpórea.
a
Risco de parada cardíaca aumenta significativamente com temperatura abaixo de 32° e aumenta substancialmente com temperatura abaixo de 28°C.

Adaptado com permissão de: Brown DJA, Brugger H, Boyd J, Paal P. Accidental hypothermia. New England Journal of Medicine 2012; 367: 1930-8.

maior superfície corpórea e fontes de energia limitadas. perda de habilidades motoras finas. Na hipotermia
Ambas as populações estão mais suscetíveis devido a grave os pacientes têm as pupilas fixas e dilatadas,
capacidade limitada de se remover do ambiente frio bradicardia, hipotensão, edema pulmonar, apneia ou
devido a limitações de resistência e mobilidade. parada cardíaca.
O risco de hipotermia é uma preocupação especial Frequência cardíaca e pressão arterial são variáveis,
no paciente traumatizado porque ele é exposto para e a ausência de atividade respiratória ou cardíaca não
exames, recebem fluidos em temperatura ambiente, é incomum em pacientes que se recuperam. Como a
e recebem medicamentos que interferem na sua hipotermia pode deprimir gravemente as frequências
capacidade de manter a temperatura corpórea, tal como respiratória e cardíaca, os pacientes devem ser
os bloqueadores neuromusculares. cuidadosamente monitorados.
Hipotermia está presente em até 1/3 dos pacientes
com trauma grave. Profissionais de saúde podem limitar efeitos fisiológicos
ainda mais a perda de temperatura administrando
fluidos e sangue aquecidos, e mantendo o ambiente O débito cardíaco cai proporcionalmente ao grau da
aquecido. Determinar a temperatura central é essencial hipotermia, e arritmias cardíacas iniciam próximos
para o diagnóstico, e termômetros especiais capazes aos 33°C. Os achados de ECG são inespecíficos e podem
de registrar temperaturas baixas são necessários em incluir as ondas J de Osborn. Estas aparecem como
pacientes com suspeita de hipotermia severa ou grave uma deflexão para cima após o complexo QRS. A
fibrilação ventricular começa a ficar muito comum em
Sinais temperaturas abaixo de 28°C, e pode ocorrer assistolia
com temperatura abaixo de 25°C. Os medicamentos
Tremor está presente em pacientes levemente cardiológicos e a desfibrilação não são normalmente
hipotérmicos. A pele é fria ao toque devido a efetivos na presença de acidose, hipóxia e hipotermia.
vasoconstrição. Hipotermia moderada resulta em Em geral, esses métodos de tratamento devem ser
confusão mental, amnésia, apatia, fala arrastada e postergados até que o doente esteja aquecido até pelo
APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor 267

menos 28°C. Devido ao alto potencial de irritabilidade


cardíaca, acesso venoso periférico – ou se necessário, tabela b-2 técnicas de reaquecimento
acesso venoso central femoral – são as preferências
para acesso. Quando os acessos subclávio e jugular TÉCNICA DE NÍVEL DE
são usados, não se deve avançar o fio guia ou cateter REAQUECIMENTO HIPOTERMIA
até o coração. Administrar oxigênio a 100% enquanto
o paciente é aquecido. Não deixe que as tentativas REAQUECIMENTO PASSIVO
de reaquecer ativamente o paciente atrasem sua
transferência para um ambiente de cuidados intensivos. • Paciente seco Hipotermia leve
• Ambiente aquecido 35°C a 32°C
TRATAMENTO • Calafrio
• Cobertores ou roupas
aquecidas
A atenção imediata é voltada ao ABCDE, incluindo o
• Cobrir a cabeça
início da reanimação cardiopulmonar (RCP) e acesso
venoso em caso de parada cardiopulmonar. Evite a
REAQUECIMENTO ATIVO
perda de calor removendo o paciente do ambiente
frio e substituindo roupas molhadas e frias por
Externo Leve (HT I) (35°C a 32°C)
cobertor quente. Administrar oxigênio através de uma • Colchão aquecido e moderada (HT II) < 32°C
máscara com reservatório. Usar a técnica adequada • Água morna, cobertor, a 28°C
de reaquecimento, conforme determinado pela bolsa de água quente
temperatura central, condição clínica do paciente, • Imersão em água quente
técnicas disponíveis, e experiência da equipe de trauma • Aquecedores de externos
(n TABELA B-2).
O tratamento da hipotermia leve normalmente é Interno Moderada (HT II) < 32°C a
não-invasivo, com reaquecimento externo passivo. A • Fluidos intravenosos 28°C e grave (HT III and IV)
temperatura deve ser repetida em busca de quedas que aquecidos < 28°C a < 24°C
necessitem de técnicas adicionais de reaquecimento. • Lavagem gástrica ou
Hipotermia moderada é tratada com reaquecimento colônica
• Lavagem peritonial
passivo em uma sala aquecida usando cobertores
• Lavagem mediastinal
quentes e fluidos intravenosos aquecidos. Hipotermia
• Ventilação com ar
grave necessita de técnicas de reaquecimento ativo. aquecido
Administrar ar umidificado e aquecido pela ventilação
mecânica. A infusão de fluidos aquecidos através Reaquecimento Hipotermia grave (HT III
de sonda vesical, de diálise peritoneal, ou dreno de extracorpóreo and IV) < 28°C a
tórax é mais efetiva. Em casos de hipotermia grave • Hemodiálise < 24°C
realizar reaquecimento ativo assistido por ECMO, • Reaquecimento
pois um aumento rápido é obtido por essa técnica; arteriovenoso contínuo
Valores entre 1,5 a 10 graus são relatados. Equipamento (RAVC)
especial e equipe treinada são necessários. Estes • Reaquecimento
pacientes exigem monitoramento rigoroso das funções venovenoso
orgânicas. contínuo(RVVC)
n FIGURA B-1 apresenta um algoritmo com estratégias
• Bypass cardiopulmonar

de aquecimento para pacientes com trauma após a Adaptado com permissão de Spence R. Cold Injury. In Cameron
chegada ao hospital, baseado no grau de hipotermia. JL,editor. Current Surgical Therapy, 7th ed. St. Louis, MO: Mosby, 2001.
Cuidados devem ser tomados para identificar
a presença de um ritmo cardíaco organizado, se Tratar o paciente em um ambiente de cuidados
houver, provavelmente estes pacientes apresentam intensivos sempre que possível. Procure por lesões
circulação suficiente para o seu metabolismo reduzido, ocultas e condições associadas (diabetes, sepse e ingestão
e o início de compressões torácicas vigorosas podem de álcool ou drogas), tratando-as prontamente. Obter
converter esse ritmo em fibrilação. Se não existe ritmo amostra de sangue para hemograma, coagulograma,
organizado, RCP deve ser iniciada e mantida enquanto dosagem de fibrinogênio, eletrólitos, glicemia,
o paciente é reaquecido ou se houver outras indicações álcool, toxinas, testes de função hepática e culturas.
de descontinuá-la. Entretanto, o exato papel da RCP Trate qualquer anormalidade adequadamente; por
como um complemento ao reaquecimento permanece exemplo, hipoglicemia requer administração de glicose
controverso. endovenosa.
­268 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor

Avaliação Hospitalar

Cuidados iniciais
• Obter temperatura
• Identificar sinais de hipotermia
(tremores, vasoconstrição, alteração do nível de consciência)
• Remover roupas molhadas, aquecimento do ambiente
• Fluidos EV e cobertores aquecidos
• Aferir temperatura a cada 15 minutos

TC Protocolo ATLS, Cirurgia x


ressuscitação e Angiografia
estabilização

Observação

Avaliação contínua da temperatura

32°C 32°C a 36°C 37°C


36°C
ou mais

* Parar o aquecimento
* Controle da
temperatura

Aquecimento nível 3 Aquecimento nível 2 Aquecimento nível 1

• Monitorar continuamente • Ambientes e fluidos • Ambiente aquecido

+ +
a temperatura aquecidos • Fluidos EV aquecidos
• Considerar precocemente: • Almofadas aquecidas • Cobertor aquecido
o Lavagem de cavidade • Manta térmica • Manta térmica
o ECMO/bypass • Ventilação humidificada • Reavaliar a cada 15 minutos
o RAVC/RVVC • Roupa com circulação de
o Transferir paciente, se não água
houver recursos disponíveis • Reavaliar a cada 5 minutos

n FIGURA B-1  Estratégias de aquecimento no trauma. Um algoritmo para terapia precoce em pacientes com hipotermia no trauma.
Adaptado com a permissão de Perlman R, Callum J, Laflammel C, Tien H, Nascimento B, Beckett A, & Alam A. (2016). A recommended early
goal-directed management guideline for the prevention of hypothermia-related transfusion, morbidity, and mortality in severely injured
trauma patients. Critical Care, 20:107

Determinar a morte pode ser difícil em pacientes apresente pulso central ou respiração, ou um potássio
comAdvanced
hipotermia grave.
Trauma Life Em pacientes
Support que parecem ter
for Doctors superior a 10 mmol/L. Outra exceção é o paciente
sofrido umaCourse
Student parada cardíaca
Manual, 10e ou morte como resultado hipotérmico que apresenta uma lesão fatal (ferimento
American College
da hipotermia, of Surgeons
não os declare mortos até que tenham transcerebral por tiro, exanguinação completa, etc.).
Figure# B.01
feito todos os esforços para reaquecê-los. Lembre-
Dragonfly
se do axioma: Media Group
"Você não está morto até que você
3/1/2017, 3/20/2017,
esteja quente
4/13/2017
e morto" Uma exceção a essa regra é um
paciente com hipotermia que tenha sofrido um evento
anóxico enquanto ainda está normotérmico e não
APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor 269

incluir encefalopatia, rabdomiólise, insuficiência


le sõe s p or c a lor renal aguda, síndrome da insuficiência respiratória
aguda, lesão miocárdica, lesão hepatocelular, isquemia
Doenças relacionadas ao calor são comuns no mundo ou infarto intestinal, e complicações hematológicas
todo. Nos Estados Unidos ,a exposição ao calor é como coagulação intravascular disseminada (CID) e
responsálvel por aproximadamente 600 mortes a cada trombocitopenia. n TABELA B-3 compara os achados
ano. Exaustão e insolação , as formas mais sérias de físicos nos pacientes com exaustão por calor e
lesão pelo calor, são condições comuns e preveníveis. insolação.
A temperatura central corporal excessiva, inicia uma Existem duas formas de insolação. Clássica, ou
cascata de eventos inflamatórios patológicos que leva Insolação passiva, frequentemente ocorre durante
à exaustão por calor leve e, se não tratada, eventual ondas de aquecimento e envolve exposição passiva ao
falência de múltiplos órgãos e morte. A severidade ambiente. Os indivíduos afetados são principalmente
da insolação correlaciona-se com a duração da crianças, idosos, e pessoas com problemas físicos
hipertermia. A rápida redução da temperatura corporal ou mentais. Uma criança deixada em um veículo
é associada a uma maior sobrevivência. Certifique-se estacionado ao sol, com pouca ventilação é uma
de avaliar pacientes com hipertermia quanto ao uso forma clássica de insolação passiva. Os mecanismos
de drogas psicotrópicas ou um histórico de exposição homeostáticos falham sob altas temperaturas ambiente.
a anestésicos. Insolação por esforço geralmente ocorre em pessoas
jovens, saudáveis e fisicamente ativas envolvidas
Tipos de lesão por calor em exercícios extenuantes ou que trabalham em
locais quente e úmido. A insolação ocorre quando a
Exaustão por calor é uma desordem comum, causada temperatura corporal central aumenta e o sistema
pela exceciva perda de água corporal, depleção termoregulador falha em responder adequadamente.
eletrolítica, ou ambos. Isso representa um espectro A taxa de mortalidade devido à insolação varia de 10%
de sintomas mal definidos, incluindo cefaleia, náuseas, a mais de 33% em doentes com insolação clássica. Os
vômitos, tontura, mal estar, e mialgia. Distingue-se indivíduos que sobrevivem podem apresentar danos
da insolação por ter nível de consciência inalterado neurológicos permanentes. Doentes com insolação
e temperatura corporal inferior a 39°C (102.2°F). Sem geralmente estarão taquicárdicos e taquipneicos.
tratamento, a exaustão por calor pode potencialmente Eles podem estar hipotensos ou normotensos com
levar à insolação. pressão de pulso aumentada. A temperatura corporal
Exaustão por calor é uma condição sistêmica é ≥ 40°C (104°F). A pele geralmente está quente e seca
ameaçadora à vida que inclui (1) temperatura corporal ou pegajosa e diaforética. As enzimas hepáticas e
central elevada ≥ 40°C (104°F); (2) envolvimento do musculares estarão elevadas em praticamente todos
sistema nervoso central na forma de tontura, confusão, os casos. Desidratação, baixo condicionamento físico,
irritabilidade, agressividade, apatia, desorientação, falta de aclimatação, privação do sono, e obesidade
convulsões, ou coma; e (3) resposta inflamatória aumentam a probabilidade de desenvolver insolação
sistêmica com falência de múltiplos órgãos que pode por esforço.

tabela b-3 achados físicos em doentes com exaustão por calor e insolação

ACHADOS FÍSICOS EXAUSTÃO POR CALOR INSOLAÇÃO

Sintomas Dor de cabeça, náuseas, Dor de cabeça, náuseas, vômitos, tontura, mal estar, mialgia,
vômitos, tontura, mal estar confusão mental, irritabilidade, desorientação, convulsão, coma
e mialgia

Temperatura < 39° C (102.2° F) ≥ 40° C (104° F)

Sinais sistêmicos Síncope, PA diminuída Encefalopatia, lesão hepatocelular, coagulação intravascular


disseminada (CID), insuficiência renal aguda, taquipneia, síndrome
do esforço respiratório agudo, arritmia
­270 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor

Fisiopatologia à CID. A fibrinólise também é altamente ativada. A


normalização da temperatura corporal central inibe
Por meio das diversas respostas fisiológicas que a fibrinólise, mas inibe a ativação da coagulação. Esse
ajudam a controlar o balanceamento da produção padrão se assemelha ao observado na sepse.
e dissipação de calor, o corpo humano é capaz de A insolação e sua progressão e a disfunção de múltiplos
manter a temperatura corporal central em torno de órgãos ocorre devido a uma interação complexa
37°C (98.6°F) a despeito de ser exposto a condições entre as alterações fisiológicas agudas associadas
ambientais extremas. O calor é gerado por processos à hipertermia (ex., falência circulatória, hipóxia, e
metabólicos e pela exposição ao ambiente. aumento da demanda metabólica), a citotoxidade direta
A primeira resposta a uma temperatura corporal do calor, e as respostas inflamatórias e de coagulação
central elevada é a vasodilatação periférica, e aumento do hospedeiro.
da perda por radiação. Entretanto, se a temperatura do
ar ambiente for maior do que a temperatura corporal, a tratamento
hipertermia é exacerbada. A sudorese é necessária para
dissipar o calor quando a temperatura ambiente excede Ao tratar lesões pelo calor, preste atenção especial à
37°C (98.6°F). A temperatura ambiente e a umidade proteção da via aérea, ventilação adequada e reanimação
relativa do ar podem afetar a eficiência da dissipação com fluidos pois a broncoaspiração e a hipóxia são
de calor. A maioria das pessoas podem produzir 1.5 L de causas de morte importantes. Inicialmente, administre
suor por hora, aumentando para 2.5 L em atletas com oxigênio a 100%; após o resfriamento, utilize o resultado
bom condicionamento físico. A vasodilatação cutânea da gasometria arterial para guiar a oferta de oxigênio.
pode aumentar o fluxo sanguíneo periférico de 5% para Doentes com nível de consciência alterado, hipercapnia
mais de 20% do débito cardíaco total. significativa, ou hipóxia persistente devem ser intubados e
A informação enviada pelas vias eferentes aos ventilados mecanicamente. Obtenha gasometria arterial,
neurônios sensíveis à temperatura, no hipotálamo eletrólitos, creatinina, e níveis de nitrogênio da ureia no
pré-óptico anterior resulta em uma resposta sangue o mais precocemente possível. Insuficiência renal
termorregulatória. Essa resposta inclui, não apenas e rabdomiólise são vistos frequentemente em doentes
mudanças autonômicas, como aumento do fluxo com insolação. Obtenha RX de tórax. Use métodos
sanguíneo periférico e sudorese, mas também padronizados para tratar a hipoglicemia, hipercalemia,
mudanças comportamentais como remoção de roupas e acidose. A hipocalemia pode se tornar aparente e
ou se mover para áreas mais frescas. A termorregulação necessitar de reposição de potássio, principalmente
adequada depende de uma hidratação adequada. A quando a acidose é corrigida. Crises convulsivas podem
adaptação cardiovascular normal ao stress por calor ser tratadas com benzodiazepínicos.
severo é aumentar o débito cardíaco para mais de 20 L/ A pronta correção da hipertermia por meio do
min. Essa resposta pode ser prejudicada pela depleção resfriamento imediato e suporte das funções dos
de sal e água, doença cardíaca, ou medicações que sistemas orgânicos são os dois objetivos terapêuticos
interferem na função cardíaca (como betabloqueadores) em doentes com insolação.
resultando no aumento à susceptibilidade à insolação. O rápido resfriamento aumenta a sobrevivência. O
Quando a resposta fisiológica normal falha em dissipar objetivo é reduzir a temperatura corporal para < 39°C
o calor, a temperatura corporal central aumenta em até 30 min. Inicie as medidas de resfriamento assim
constantemente até alcançar 41°C a 42°C (105.8°F a que possível, no local do atendimento e a caminho do
107.6°F), ou temperatura crítica máxima. departamento de emergência. Spray de água e fluxo de
Ao nível celular, a exposição excessiva ao calor ar sobre o paciente são ideais no ambiente pré-hospitalar.
pode levar à desnaturação de proteínas, fosfolipídeos Como alternativa, aplique pacotes de gelo nas áreas de
e lipoproteínas, e liquefação da membrana lipídica. grande fluxo sanguíneo (ex., virilhas, pescoço, e axilas).
Isso resulta em colapso cardiovascular, falência de Apesar dos especialistas geralmente concordarem a
múltiplos órgãos, e finalmente morte. Uma reação respeito da necessidade do resfriamento rápido e efetivo
inflamatória por extresse ao calor coordenada envolve de doentes hipertérmicos com insolação, existe um
as células endoteliais, leucócitos, e células epiteliais debate a respeito da melhor maneira de se fazê-lo. O
em uma tentativa de proteção contra lesão tecidual método de resfriamento baseado na condução – ou seja, a
e promover a cura. Uma variedade de citocinas são imersão no gelo iniciada em alguns minutos após o início
produzidas em resposta ao calor interno ou ambiental. da insolação por esforço — é rápida, segura e efetiva
As citocinas mediam a febre e a leucocitose, e essas em jovens, saudáveis, pessoal militar bem treinado ou
aumentam a síntese de proteínas de fase aguda. Lesão atletas. Não utilize esse método em doentes idosos pois
de células endoteliais e trombose microvascular difusa isso pode aumentar a mortalidade ao invés de diminuí-la.
são características proeminentes da insolação, levando
APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor 271

Alternativamente, use um dispositivo de resfriamento


commercial. quadro b-1 medicamentos e drogas
Em eventos com vítimas em massa com insolação que podem exacerbar a insolação
clássica, a unidade de resfriamento corporal (URC)
pode alcançar excelentes taxas de resfriamento com • Álcool
aumento da sobrevivência. A URC envolve pulverizar • Alfa adrenérgicos
sobre os doentes, água com temperatura de 15°C (59°F) • Anfetaminas
e circulando ar que atinge o corpo a uma temperatura • Anticolinérgicos
de 30°C a 35°C (86°F a 95°F). Essa técnica é bem • Anti-histamínicos
tolerada e permite o monitoramento e reanimação • Antipsicóticos
ideais de doentes inconscientes e hemodinamicamente • Benzodiazepínicos
instáveis. As modalidades de resfriamento não • Betabloqueadores
invasivas e bem toleradas como pacotes de gelo, • Bloqueadores dos Canais de Cálcio
lençol de gaze umedecida, e ventiladores — sozinhas • Clopidogrel (Plavix)
ou em combinação —podem representar alternativas • Cocaína
razoáveis pois são acessíveis e de fácil aplicação. A • Diuréticos
sobrevivência e o desfecho da insolação são diretamente • Ecstasy
relacionados ao tempo necessário para iniciar a terapia • Laxativos
e resfriamento do doente a uma temperatura ≤ 39°C • Litium (Lithobid, Lithane)
(102.2°F). • Neurolépticos
• Fenotiazinas
Farmacologia • Agonistas da tireoide
• Antidepressivos tricíclicos
No caso de hipertermia maligna relacionada a agentes
anestésicos ou síndrome neuropilética maligna,
dantrolene (Dantrium, Revonto) reduz a contração e da hipertremia, coma prolongado, hipercaçemia, e
excitação e diminui a temperatura corporal central. oliguria e falência renal.
Dantrolene não tem mostrado eficácia em reduzir a
temperatura corporal central quando usado para tratar
insolação. r e sumo
Algumas medicações podem aumentar
potencialmente o risco de insolação por esforço.
Exemplos dessas medicações incluem, mas não As lesões devido exposição ao frio e ao calor não são
estão limitados a álcool, qualquer estimulante de apenas queimaduras ou congelamento, mas podem
uso controlado ou de venda livre, cafeína ou bebidas resultar em alterações sistêmicas na regulação térmica
energéticas, diuréticos, inibidores da enzima de e homeostase. É importante compreender a etiologia
conversão angiotensina (especialmente se combinado e tratamento das lesões por exposição.
com diuréticos) anti-histamínicos, e anti-colinérgicos.
Anfetaminas e salicilatos em altas dosagens podem
elevar o ponto de ajuste do hipotálamo. Medicações Bibliografia
antipsicóticas e antidepressivas como litium (Lithobid,
Lithane) e inibidores seletivos da recaptação de
serotonina podem interferir com os mecanismos Lesões pelo Frio
termorreguladores. Quando possível, obtenha o 1. Avellanasa ML, Ricart A, Botella J, et al.
histórico de medicações do doente com seus familiares, Management of severe accidental hypothermia.
equipe do pré-hospitalar e/ou com o próprio doente. Med Intensiva 2012;36:200–212.
n QUADRO B-1 lista algumas medicações e drogas que 2. Brown DJA, Brugger H, Boyd J, Paal P. Accidental
podem agravar a insolação. hypothermia. New England Journal of Medicine
2012; 367: 193-8.
Prognóstico 3. Castellani JW, Young AJ, Ducharme MB, et
al. American College of Sports Medicine
Fatores associados a um mal prognóstico incluem position stand: prevention of cold injuries
hipotensão, necessidade de intubação, coagulopatia, during exercise. [Review]. Med Sci Sports Exer
idosos, temperatura > 41°C (105.8°F), longa duração 2006;38(11):2012–2029.
­272 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor

4. Dunne B, Christou E, Duff O, et al. 2. Yeo TP. Heat stroke: a comprehensive review.
Extracorporeal-assisted rewarming in the AACN Clin Issues 2004;15(2):280–293.
management of accidental deep hypothermic
cardiac arrest: a systematic review of the Insolação
literature. Heart, Lung and Circul 2014;23(11): 1. Casa DJ, Armstrong LE, Kenny GP, et al. Exertional
1029–1035. heat stroke: new concepts regarding cause and
5. Guly H. History of accidental hypothermia. care. Curr Sports Med Reports 2012;11:115–123.
Resuscitation 2011;82:122–125. 2. Hadad E, Rav-Acha M, Heled Y, et al. A review of
6. Hildebrand F, Giannoudis PV, van Griensven M, cooling methods. Sports Med 2004;34(8):501–511.
et al. Pathophysiologic changes and effects of 3. Lipman GS, Eifling KP, Ellis MA, et al. Wilderness
hypothermia on outcome in elective surgery and Medical Society practice guidelines for the
trauma patients. Am J Surg 2004;187(3):363–371. prevention and treatment of heat-related
7. Konstantinidis A, Inaba K, Dubose J, et al. The illness: 2014 update. Wilderness & Environ Med
impact of nontherapeutic hypothermia on 2013;24(4):351–361.
outcomes after severe traumatic brain injury. J 4. Raukar N, Lemieux R, Finn G, et al. Heat
Trauma 2011;71(6):1627–1631. illness—a practical primer. Rhode Island Med J
8. Larach MG. Accidental hypothermia. Lancet 2015;98(7):28–31.
1995;345(8948):493–498. 5. Sharyn Ireland, Ruth Endacott, Peter Cameron,
9. Mallett ML. Accidental hypothermia. QJM Mark Fitzgerald, Eldho Paul. The incidence and
2002;95(12):775–785. significance of accidental hypothermia in major
10. Perlman R, Callum J, Laflammel C, Tien trauma—A prospective observational study.
H, Nascimento B, Beckett A, & Alam A. A Resuscitation 2001;82(3):300–306.
recommended early goal-directed management 6. Søreide K. Clinical and translational effects of
guideline for the prevention of hypothermia- hypothermia in major trauma patients: From
related transfusion, morbidity, and mortality pathophysiology to prevention, prognosis and
in severely injured trauma patients. Critical Care potential preservation. Injury, Int. J. Care Injured
2016;20:107. 2014;45:647–654.
11. Petrone P, Asensio JA, Marini CP. Management of 7. Spence R. Cold Injury. In Cameron JL,editor.
accidental hypothermia and cold injury. Current Current Surgical Therapy, 7th St. Louis, MO:
Prob Surg 2014;51:417–431. Mosby, 2001.

Lesões pelo Calor


1. Glazer JL. Management of heatstroke and
heat exhaustion. Am Fam Physician 2005;71
(11):2133–2140.
Apêndice C
INCIDENTES COM VÍTIMAS EM MASSA,
TRAUMAS EM AMBIENTES HOSTIS E
CONFLITOS ARMADOS (AULA OPCIONAL)

OBJETIVOS

1. Descrever como os eventos com vítimas em massa 6. Rever os princípios de cuidados de vítimas em ambientes
geram um padrão de atendimento à população táticos (Tactical Combat Casualty Care – TCCC).
afetada.
7. Descrever o conceito de Suporte de Vida Avançado
2. Descrever as ferramentas para o tratamento de no Trauma em Ambiente Operacional (ATLS-OE) –
vítimas em massa. currículo complementar.

3. Listar as prioridades de tratamento de um indivíduo 8. Definir os princípios do manejo de incidentes com


em uma situação com vítimas em massa. vítimas em massa provocados de forma intencional
e com atiradores ativos.
4. Discutir os desafios no tratamento de vítimas em
massa.

5. Discutir os desafios para o cuidado de vítimas em


ambientes hostis e com recursos limitados.

A
habilidade em prover um atendimento de atendimento do local. O gerenciamento efetivo de um
qualidade ao traumatizado em um ambiente com desastre não é usual; requer uma padronização de atitudes
recursos limitados, incluindo áreas de conflito, diferentes que reconhece a necessidade do atendimento
desastres ou outros ambientes austeros, pode variar das vítimas e garante a segurança dos profissionais de
muito. No pior dos cenários, o tratamento adequado pode saúde. “Adapte-se e resolva” é o slogan a ser considerado.
estar disponível apenas por meio do envio de recursos O ATLS teve sua origem no Nebraska, após a queda
externos para o local do conflito ou desastre. Os muitos de um avião em que as vítimas receberam atendimento
desafios associados ao bom funcionamento do manejo do inadequado em um ambiente hostil. Embora comumente
desastre ou conflito irá afetar todos os escalões ou níveis de visto como algo para ser utilizado em situações ideais, o
cuidados, desde o local da lesão até a transferência da vítima ATLS promove uma base estruturada para o tratamento
para um centro de trauma terciário (quando possível). de vítimas em massa, em ambientes hostis e com recursos
Todos os provedores de saúde nestes ambientes devem limitados. Informações adicionais e mais profundas podem
compreender essas limitações e como elas impactarão de ser encontradas no curso de Gerenciamento de Desastres e
forma significativa no cuidado às vítimas, bem como as Preparação para Emergências (Disaster Management and
estratégias disponíveis para reduzir essas barreiras. Um Emergency Preparedness – DMEP) do Colégio Americano
amplo conhecimento da situação é de extrema importância de Cirurgiões (ACS).
nesses cenários.
Os desastres ocorrem globalmente, em decorrência
de causas naturais, tecnológicas e conflitos humanos.
tratamento das vítimas em massa
Nenhuma comunidade está imune. Mesmo os hospitais
mais sofisticados podem se tornar um local hostil após Um evento com vítimas em massa existe quando o número
um desastre, devido a limitação de recursos disponíveis de vítimas excede os recursos para prestar os cuidados
e número de vítimas que superam a capacidade de individuais completos, tipicamente em uma situação

275
­276 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

de informações incompletas e incertas a respeito da integrada e coordenada de planejamento, operações,


evolução do evento. Durante um evento com vítimas logística e finanças/administração. O comando de
em massa, os paradigmas do cuidado mudam do melhor incidentes é responsável pela resposta geral, a fim de
possível para cada indivíduo para o melhor possível para garantir a segurança dos socorristas, salvar vidas, estabilizar
o maior número de vítimas. Este padrão de tratamento o incidente e preservar a propriedade e o ambiente. Os
para a população é diferente dos cuidados rotineiros cuidados médicos das vítimas caem sob a responsabilidade
ao doente traumatizado, em que todos os recursos são do setor de operações do ICS. As vítimas de desastre
mobilizados para o tratamento específico de um doente. requerem mais cuidados básicos do que cuidados
No contexto de um desastre, as decisões tomadas em especializados, portanto os cuidados de saúde funcionam de
relação a uma vítima podem impactar no tratamento maneira mais geral em uma resposta a desastres. Médicos
de outras devido às limitações de recursos disponíveis especializados podem, por exemplo, fazer parte da força
e circunstâncias. O aumento da mortalidade pode ser tarefa de logística e transporte de vítimas.
resultante da falha em tomar decisões. A triagem é uma ferramenta de decisões sistemática
A disposição das vítimas logo após um desastre refere- utilizada para classificar as vítimas de acordo com a
se à relação entre estas, os recursos e considerações prioridade de atendimento, dadas as necessidades da
situacionais. As características das vítimas incluem lesões vítima, recursos e situação. O objetivo da triagem é fazer
que ameaçam imediatamente a vida, gravidade das lesões o “melhor para a maioria”, em vez de “tudo para todos”. A
e a possibilidade de sobrevivência. A impossibilidade de triagem efetiva é um processo interativo feito em todas as
sobrevivência pode ser absoluta (p. ex., queimadura de fases dos cuidados às vítimas. Em casa fase, um profissional
3º grau em 100% da superfície corporal) e relativa (p. ex., de cuidados críticos experiente deve servir como oficial de
lesões extensas que consomem recursos que poderiam triagem. A triagem não é um processo de decisão única, e
ser utilizados para salvar mais de uma vítima). sim uma sequência de decisões dinâmicas. As vítimas, os
As considerações sobre os recursos incluem aquilo que recursos e as situações mudam, levando ao refinamento
está disponível (p. ex., espaço, equipe, materiais, sistemas) das decisões de triagem. O ICS pode prover informações a
para o cuidado e transferência (transporte, rodovias), respeito do número e tipos de vítimas esperados e recursos
assim como o tempo necessário para reabastecimento disponíveis para possibilitar as decisões de triagem.
dos suprimentos e transporte de outras vítimas. As decisões de triagem no local do incidente identificam
A situação envolve a progressão do evento, eventos primeiramente quem está vivo, removendo essas vítimas
secundários (p. ex., eventos adicionais relacionados ao para um local seguro, longe da cena, em um ponto de
evento inicial, como explosões secundárias, colapso de concentração de vítimas. A próxima decisão de triagem
estruturas e alagamento após o rompimento de uma determina quem está criticamente ferido (p. ex., quem
barragem) e condições ambientais (p. ex., hora do dia, apresenta lesões potencialmente fatais). A utilização
clima e relevo). de um sistema de triagem na cena é muito útil. Um
método muito utilizado é o SALT (Classificar, Avaliar,
armadilha prevenção Intervenções para Salvar a Vida, Tratamento/Transporte),
que rapidamente identifica os feridos utilizando a resposta
Os recursos chave • Reconhecer e comunicar as
a comandos verbais, presença de respiração, presença
são esgotados prioridades de atendimento a de sangramento de difícil controle. Essa triagem inicial
durante o todos os membros da equipe. permite a identificação de indivíduos feridos utilizando
atendimento de • Manter a consciência da um código de cor que categoriza as vítimas de acordo com
apenas algumas situação comunicando-se sua gravidade (n QUADRO C-1). Essa abordagem auxilia a
poucas vítimas. por meio da estrutura de separar rapidamente os doentes mais graves. As vítimas
comando para saber a que conseguem caminhar para outro ponto de triagem
quantidade de potenciais
vítimas e recursos
disponíveis.
quadro c-1 categorias de triagem salt

1. Imediato: lesões potencialmente fatais que requerem


FERRAMENTAS PARA O CUIDADO EFETIVO tratamento imediato
DAS VÍTIMAS EM MASSA 2. Urgente: lesões que requerem tratamento em até 6
horas
O comando de incidentes e a triagem são ferramentas 3. Não urgente: vítimas que conseguem deambular ou
doentes psiquiátricos
essenciais para o cuidado efetivo de vítimas em massa. O
Sistema de Comando de Incidentes (Incident Comand 4. Expectante: possui lesões graves, incompatíveis com a
vida ou sem recursos para tratar no momento
System – ICS) é uma ferramenta administrativa que
5. Morto
transforma organizações existentes em uma resposta
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 277

ou que conseguem mover um membro espontaneamente tratar outras vítimas. O acesso venoso e a administração
geralmente não possuem lesões que ameacem a vida, de volume são considerações secundárias para o rápido
ao passo que aquelas que não se movem geralmente são tratamento do sangramento. Em vítimas conscientes,
portadoras de lesões graves ou estão mortas. Entre aqueles fluidos orais podem ser apropriados no tratamento da
doentes criticamente feridos, alguns irão sobreviver e hipovolemia. Nas situações de escalpelamento, pode-se
outros não. A triagem é um processo dinâmico e deve ser utilizar pontos com sutura contínua. As fraturas de ossos
repetido com maior foco e discriminação conforme as longos podem ser reduzidas e imobilizadas com materiais
vítimas se movem para longe da cena para outros locais improvisados para reduzir o sangramento e a dor.
de cuidados médicos. O tratamento típico de um doente vítima de trauma
Cada categoria de vítima deve ter uma área definida para passa rapidamente da avaliação primária com
concentração e tratamento. Vítimas classificadas como reanimação para avaliação secundária e tratamento
imediatas devem ter acesso rápido à sala de emergência. definitivo. No entanto, os provedores podem precisar
As vítimas urgentes podem inicialmente ser tratadas em adiar a avaliação secundária e os cuidados definitivos
ambulatórios. As vítimas não urgentes podem permanecer a favor de identificar e gerenciar tantas vítimas quanto
fora das principais áreas de tratamento em prédios possível com lesões potencialmente fatais. Assim
adjacentes. Os expectantes devem ter sua própria área e, sendo, a avaliação secundária e o tratamento definitivo
apesar de não ser esperado que sobrevivam, esses doentes podem ser postergados após a avaliação primária e
não devem ser identificados como mortos, pois uma vez reanimação. Além da ultrassonografia direcionada para
que se tenha recursos disponíveis e a situação esteja sob o trauma (FAST), há um pequeno papel dos exames
controle podem ser realizadas manobras e procedimentos na laborartoriais e de imagem na primeira fase de avaliação
tentativa de salvar suas vidas sem prejuízo a outros doentes. das vítimas em massa – uma simples técnica radiológica
e máquina de raio X podem realizar estudos radiográficos
prioridades de tratamento convencionais em cerca de seis doentes por hora.

A avaliação primária do ATLS promove a estrutura para desafios


a avaliação inicial da vítima e consequente intervenção.
A avaliação clínica simples e as intervenções são A comunicação é o maior desafio na resposta a
fundamentais em ambientes hostis e de guerra. Soluções desastres em todos os ambientes. Frequentemente os
criativas envolvem a improvisação de materiais para sistemas de comunicação normais ficam inoperantes,
abordar as ameaças à vida. Por exemplo, uma intervenção e múltiplas agências e organizações, cada qual com
inicial na via aérea pode ser interrompida, assim como seus procedimentos e taxonomias, são colocadas juntas
uma intubação orotraqueal, em um doente inconsciente, sob estresse com protocolos e equipamentos com
quando o tubo endotraqueal e os recursos para tratar interoperabilidade limitados. Mesmo a equipe de trauma
a vítima após a intubação não estiverem disponíveis. pode ser prejudicada devido à composição com membros
A via aérea cirúrgica pode ser considerada, utilizando que normalmente não trabalham juntos. A aplicação do
tubos que estejam disponíveis, como a estrutura oca de Sistema de Comando de Incidentes Nacional – Sistema
uma caneta. A imobilização cervical pode ser feita com a de Comando de Incidentes (ICS) melhora a resposta e
utilização de cobertores enrolados ou sapatos da vítima. a comunicação. Os planos de comunicação devem ser
Oxigênio suplementar geralmente está indisponível. revisados regularmente com a prática de simulados de
Na ausência de estetoscópio e esfigmomanômetro, a desastres. Uma boa comunicação também proporcionará
avaliação do pneumotórax hipertensivo pode ser realizada informações valiosas sobre o evento, planos disponíveis,
com um ouvido no tórax e a checagem do pulso (carotídeo e recursos, reduzindo portanto o medo e os rumores.
60 mmHg, femoral 70 mmHg, radial 80 mmHg). A A opções de transporte geralmente são limitadas;
descompressão com agulha requer dispositivos longos em qualquer veículo pode ser utilizado para a remoção de
vítimas obesas ou musculosas. Drenos de tórax podem ser vítimas, inclusive ônibus, carros e barcos. A segurança
usados com uma “válvula de Heimlich”, construída com é um desafio em razão do ambiente e das condições
o corte de um dedo da luva de borracha sobre um tubo. de conflito. Essas condições devem ser enfatizadas,
A circulação é tratada interrompendo-se o sangramento. planejadas e praticadas em simulações. A proteção da
Os torniquetes comerciais são um investimento útil para os instituição é uma função chave do chefe de operações
hospitais, serviços médicos de emergência e suprimentos do ICS. A logística é um desafio em virtude do sistema
para desastres. Apesar de menos efetivos que os de suprimentos imediatos da maioria dos hospitais.
dispositivos comerciais, os torniquetes também podem ser Essa função pode ser facilitada pela provisão regional
feitos com cintos, roupas ou cabos e podem ser utilizados mútua de suprimentos e ordens de fornecimento.
para tratar o sangramento de extremidades mutiladas Os governos estatuais e regionais podem fornecer
ou amputadas. Essa conduta libera os socorristas para recursos; entretanto, observou-se demora de 96
­278 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

horas ou mais da mobilização completa em eventos e reposição de fluidos e eletrólitos (ver Capítulo 9: Lesões
passados. Térmicas). As equipes de descontaminação e segurança
Voluntários em massa e autoadmissão podem são especialmente vulneráveis.
sobrecarregar o local com muitos provedores que não Os problemas psicossociais são dominantes na recuperação
possuem credenciamento ou funções indeterminadas. em longo prazo e podem estar mais acentuados em
Eles devem ser administrados por meio de um plano que ambientes hostis e de conflitos. Os profissionais de saúde
controla o acesso até que sejam aceitavelmente avaliados. estão sob risco de distúrbios psicossociais em decorrência
Juntar equipes de assistência médica antecipadamente de um desastre, tais como estresse, e estes podem ser
pode prevenir essa dificuldade. atenuados por meio de campanhas de conscientização,
Populações especiais e vulneráveis incluem crianças, idosos, boa comunicação e exames. Hábitos saudáveis e práticas
obesos, aqueles com doenças psiquiátricas e doentes em home organizacionais podem aumentar a capacidade de
care em diálise e ventiladores mecânicos. A declaração de adaptação antes que o desastre ocorra. Monitorar a equipe
desastre ou emergência por um oficial responsável suspende e a si mesmo por sinais de reações de estresse é importante;
muitas regulamentações de atenção à saúde. As instituições bom humor, pausas e tranquilidade podem elevar o moral.
devem se planejar para aceitar vítimas de trauma mesmo
que não sejam um centro de trauma. Similarmente, vítimas
de queimaduras e doentes pediátricos poderão ser tratados
DESAFIOS EM AMBIENTES
inicialmente em centros não especializados. A perda ou TÁTICOS, HOSTIS E COM
evacuação de instituições pode ocasionar uma demanda extra RESTRIÇÃO DE RECURSOS
em unidades de diálise, ventiladores mecânicos e farmácias.
Trenós de evacuação e macas devem estar disponíveis para Embora o ATLS tenha criado fundamentos críticos
auxiliar na remoção de doentes obesos. para o cuidado de doentes nos ambientes civil e militar
Lesões multidimensionais são lesões complexas, que moderno, a experiência durante conflitos extensos
não costumam ser vistas na prática diária e que podem no Iraque e Afeganistão também ditou modificações
ocorrer em um desastre. Tais lesões podem ser resultantes militares específicas nos princípios e práticas padrões
da alta energia provenientes de armas de fogo e explosivos. ATLS em decorrência dos múltiplos desafios e aspectos
Os ferimentos por projétil de arma de fogo de alta energia, particulares em prover cuidados ao doente traumatizado
como rifles, resultam de energia linear e cavitação (radial), nesses ambientes com restrições severas de recursos.
o que provoca desvitalização do tecido e destruição além do Fatores adicionais incluem realizar procedimentos em
trajeto. Explosões com alta energia, como aquelas causadas meio a conflitos armados, equipamentos básicos e recursos
pelo uso de explosivos comerciais ou militares e dispositivos especializados limitados, limitações de suprimentos e
improvisados, causam destruição multidimencional reabastecimento, ausência da ampla gama de modernos
em decorrência de quatro mecanismos: lesão primária equipamentos diagnósticos e terapêuticos (p. ex.,
devido à onda de pressão supersônica, lesão secundária tomografia, angiografia) e infraestrutura local para cuidados
causada pelos fragmentos, lesão terciária provocada significativamente danificada ou até mesmo inexistente.
pelo impacto de objetos presentes no ambiente ou lesões O ambiente tático ou hostil apresenta uma ampla variedade
penetrantes causadas por estes, e lesões quaternárias como de ameaças, lesões, recursos humanos e disponibilidade de
queimaduras, esmagamentos ou infecções. materias médicos que devem ser considerados durante o
Um padrão proeminente de lesões inclui múltiplas planejamento e execução de cuidados. Além disso, muitos
amputações traumáticas e lesão cerebral traumática. desses mesmos desafios podem ser aplicáveis aos cuidados
Explosivos de baixa energia, como bombas de pólvora em ambientes civis remotos, embora geralmente em menor
ou panelas de pressão, tendem a produzir lesão secundária grau. A n TABELA C-1 compara os fatores que impactam
devido a fragmentos em um raio menor; entretanto, nos cuidados ao doente traumatizado nos ambientes civis
indivíduos próximos a essas explosões podem apresentar urbano, rural e tático/desastres.
lesões extensas e amputação. O tratamento dos ferimentos
inclui o controle do sangramento e o desbridamento do Segurança e comunicação
tecido desvitalizado, além da avaliação do trajeto e pesquisa
de fragmentos de ossos nas partes moles. Podem ocorrer Uma situação tática em qualquer ambiente restrito é
áreas de tecido viável em meio ao tecido desvitalizado. altamente dinâmica, resultando em vários graus de ameaças.
A perda de infraestrutura e ambientes hostis podem levar Tanto as preocupações internas quanto externas a respeito
à desidratação, problemas na regulação da temperatura de segurança devem ser consideradas para proteção da
corporal e lesões por calor, incluindo cãimbras, exaustão equipe e dos doentes. As medidas podem precisar incluir a
e intermação tanto nas vítimas quanto nos profissionais presença de seguranças armados ou policiais, dependendo
de saúde. A prevenção dessas lesões incluem aclimatação da situação e do ambiente, bem como restrições de acesso ao
por 3-5 dias, ciclos de trabalho com períodos de descanso local, revistas e verificação de documentos de identificação
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 279

TABELA C-1 COMPARAÇÃO DOS FATORES DE IMPACTO NO CUIDADO À VÍTIMA DE


TRAUMA NOS AMBIENTES CIVIS URBANO, RURAL E TÁTICO/DESASTRES

CIVIL URBANO CIVIL RURAL TÁTICO/DESASTRE

Nível de ameaça nenhum nenhum elevado

Recursos prontamente disponíveis podem ser limitados altamente limitados

Pessoal excesso limitados porém pode fixo e limitado


expandir

Suprimentos/ completamente equipado, adequadamente equipado, recursos limitados,


Equipamentos reabastecimento reabastecimento demorado reabastecimento altamente
prontamente disponível demorado

Serviços especializados todos os serviços serviços especializados ausência de serviços


disponíveis especializados localmente disponíveis especializados prontamente
limitados disponíveis

Disponibilidade de imediatamente disponível disponível, porém o tempo muito variável, pode não ter
transfêrencia de transporte é prolongado opção de transferência

Eventos com múltiplas incomum raro comum


vítimas ou vítimas em
massa

da equipe, doentes e visitantes, e revista de veículos e pessoas velocidade, se comparadas a ferimentos encontrados em
em busca de armas. Dependendo do ambiente, considerações ambientes civis. Apesar do fato de dispositivos explosivos
chave de infraestrutura, como energia elétrica, iluminação e improvisados serem mais frequentemente encontrados
comunicação, também podem influenciar drasticamente na em cenários de guerra, seu uso está crescendo como arma
segurança do local. Embora essas necessidades de segurança de escolha em eventos de vítimas em massa intencionais
geralmente sejam mais evidentes em conflitos armados, nacionais e internacionais. Essas armas altamente letais
medidas devem ser tomadas para assegurar que os planos e incapacitantes produzem um complexo ferimento
operacionais de cada instituição atendam totalmente a multidimensional que pode incluir componentes de
outros cenários, como quando a instituição atinge sua lesões penetrantes, contusas, pressão de explosão primária,
capacidade máxima de atendimento ou foi incapacitada esmagamento e queimaduras. A morbidade depende da
devido a um desastre natural, tumulto ou evento de vítimas distância em que se encontrava o dispositivo, extensão da
em massa intencional. área de cobertura e qualquer dispositivo de proteção que
Da mesma forma, as comunicações interna e externa possa ter sido colocado. As equipes de trauma devem ser
confiáveis continuam a ser um desafio. A falta de treinadas a procurar por ferimentos internos, incluindo
interoperabilidade do sistema e dependência da infraestrutura lesões vasculares, uma vez que os doentes frequentemente
nativa, como linhas telefônicas fixas vulneráveis, redes de apresentam uma complexa combinação de ferimentos,
computadores e sistemas de telefonia móvel, são frequentes variando desde amputações traumáticas a pequenos
limitações da comunicação. Infelizmente, falhas e interrupções ferimentos penetrantes múltiplos com grandes variações
na comunicação continuam sendo problemas comuns em de profundidade e trajetos que são extremamente difíceis
ambientes rurais, táticos e desastres; entretanto, planos de de avaliar sem o auxílio de exames de imagem.
contingência devem ser estabelecidos previamente.
CUIDADOS AO DOENTE TRAUMATIZADO
ferimentos de guerra NO AMBIENTE MILITAR
Os profissionais de saúde em ambientes táticos devem CUIDADO DE FERIDOS EM COMBATE TÁTICO
considerar um padrão de ferimento ímpar associado
a ferimentos de guerra, incluindo o potencial para O precedente para a modificação dos cursos de
desvitalização e destruição tecidual significativa, treinamento de trauma civil para incorporar as
potencializado pelos efeitos balísticos de munições de alta necessidades específicas dos militares pode ser
­280 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

encontrado nos exemplares dos livros Suporte de Vida via aérea e respiração. Essa abordagem é baseada em
ao Trauma no Ambiente Pré-Hospitalar (Prehospital achados consistentes de que a maior causa de morte
Trauma Life Suport - PHTLS) e Cuidado de Feridos em potencialmente evitável nos campos de batalha
Combate Tático (Tatical Combat Casualty Care - TCCC). modernos (mais de 90%) são decorrentes de hemorragias
Incialmente desenvolvido como um treinamento para o não contidas. Outras intervenções enfatizadas nessa
Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos, o fase incluem estabelecer uma via aérea definitiva,
TCCC tem sido implementado nos campos de batalha e se necessário, descompressão de pneumotórax
é o padrão de cuidados pré-hospitalares em combates. hipertensivo, reanimação balanceada utilizando
Uma edição militar do livro Suporte de Vida ao Trauma hipotensão permissiva, controle da dor, administração
no Ambiente Pré-Hospitalar foi desenvolvida para dar de antibióticos, se indicado, e preparo para o transporte
suporte a este treinamento. para a próxima fase de cuidados.
A ampla implementação e treinamento de todo o pessoal
de combate como primeiros socorristas habilitados Cuidados Táticos de Retirada
tem resultado na diminuição de mortes preveníveis em
combate. Atualmente, o TCCC e o PHTLS representam um Os cuidados táticos de retirada são realizados uma vez
enorme sucesso do esforço colaborativo entre o Comitê do que a vítima tenha sido colocada em uma plataforma
Departamento de Defesa dos Estados Unidos no Cuidado médica de retirada (Medical Evacuation Plataform -
de Feridos em Combate Tático, o Comitê de Trauma do MEDEVAC). Isso inclui os cuidados prestados desde
Colégio Americano de Cirurgiões e a Associação Nacional o local da lesão e durante o transporte para o local de
de Técnicos de Emergências Médicas. cuidados médicos de maior nível indicado. Os cuidados
O TCCC divide os pontos de cuidados da lesão em três durante esta fase têm como foco a continuidade das
fases: (1) Cuidados sob fogo cruzado, (2) Cuidados Táticos intervenções realizadas previamente na fase de cuidados
em Campo e (3) Retirada Tática. táticos em campo, avaliação e tratamento de qualquer
lesão adicional que ameace a vida ou o membro e
Cuidados Sob Fogo Cruzado iniciar a reanimação com fluidos, controle da dor e
antibioticoterapia se esta ainda não tiver sido iniciada.
A fase de Cuidados Sob Fogo Cruzado envolve os Uma avaliação mais detalhada e melhores opções de
cuidados prestados por algum companheiro de intervenção são indicadas nessa fase de cuidados.
batalha ou pela unidade médica ou soldado na cena O pensamento nesta fase é minimizar intervenções
do incidente enquanto o primeiro socorrista e a vítima desnecessárias e não urgentes e focar no transporte
ainda estão sob fogo cruzado direto ou indireto. O foco rápido para um nível mais alto de cuidados.
primário desta fase de cuidados médicos em campo
é a superioridade tática e a supressão dos ataques. A ATLS NO AMBIENTE OPERACIONAL (ATLS-OE)
única intervenção médica nesta fase é o controle de
sangramentos ativos, geralmente por meio da aplicação Assim como o TCCC é para o PHTLS, o ATLS no Ambiente
de torniquetes e/ou curativos hemostáticos. Esses Operacional (ATLS-OE) é um curso de instrução que
itens podem ser autoaplicados ou realizados por um enfatiza a importância em manter a consciência da
companheiro de combate ou médico combatente. situação enquanto presta cuidados em um ambiente
potencialmente hostil, com restrição de recursos e
Cuidados Táticos em Campo recursos humanos limitados. A situação diferenciada
e fatores ambientais em cenários operacionais
Na segunda fase, os cuidados são realizados pelo médico frequentemente incluem recursos ou cadeia de
ou soldado uma vez que já não estejam mais sob fogo suprimentos severamente restritos, capacidade de
cruzado. Os cuidados táticos em campo podem ser comunicação variável, opções de transporte limitadas,
altamente variáveis dependendo da configuração da cena, situações climáticas extremas e mudanças dinâmicas
mas todos os esforços devem ser realizados para minimizar da segurança do ambiente. Além disso, o número de
o tempo entre a lesão e a chegada a uma instituição de vítimas, gravidade e tipos de lesão, e mecanismos de
cuidados médicos com capacidade cirúrgica. Além disso, trauma vistos em combates modernos ou até mesmo em
o reengajamento com o inimigo pode acontecer e essa desastres de larga escala podem ser consideravelmente
possibilidade deve ser sempre considerada. diferentes quando comparados com os padrões de
Nesta fase, os cuidados pré-hospitalares críticos e trauma civis.
a avaliação e tratamento do doente traumatizado O ambiente operacional ou de combate envolve desafios
devem ser conduzidos. Em contraste com a abordagem específicos que exigem que os provedores de saúde estejam
ABCDE enfatizada nos padrões ATLS, o TCCC enfatiza sempre atentos. Esses desafios raramente apresentam
o controle de hemorragias (o C) primeiro, seguido pela um problema no ambiente civil estável, apesar de alguns
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 281

desses conceitos serem também aplicáveis no ambiente preparação para uma retirada segura para o próximo
rural. Os provedores de saúde que prestam cuidados em nível de cuidados (avaliação quaternária). A n FIGURA
ambientes remotos precisam não apenas realizar cuidados C-1 demonstra os componentes do ATLS-OE.
de alta qualidade como também com equipe, suprimentos
e tecnologias para realização de exames restritos. O ATLS- Avaliação Zero
OE enfatiza o grande desafio, como descrito anteriormente,
e disponibiliza aos alunos informações que são essenciais O curso ATLS aborda brevemente o preparo para receber
para o sucesso no atendimento nesses ambientes. doentes vítimas de trauma conforme eles fluem do
O ATLS-OE incorpora esse assunto adicional de duas ambiente pré-hospitalar para o ambiente hospitalar.
maneiras; (1) mediante a adição/suplementação de A avaliação zero é implícita, mas não é caracterizada
informações militares relevantes nas principais aulas do especificamente ou formalizada como uma avaliação
ATLS ou estações práticas e (2) por meio da adição de aulas nomeada separadamente. O ATLS-OE formaliza essa
específicas de conteúdo militar ao programa. Por exemplo, preparação para receber as vítimas como um conceito
novos tópicos como consciência do ambiente, controle de crítico para o aluno. Embora esse preparo seja fundamental
danos e dinâmica de grupo têm sido adicionados. para qualquer doente gravemente ferido, é absolutamente
Enquanto os cursos ATLS padrão ensinam a avaliação crítico como um primeiro passo realizar uma triagem
primária e secundária, o ATLS-OE também reforça adequada no cenário com múltiplas vítimas. Esse processo
a importância da avaliação terciária. Uma vez que o enfatiza a importância de uma análise precisa dos recursos
doente tenha alcançado o tratamento definitivo, a locais, da equipe, da experiência e das condições ambientais
avaliação terciária é realizada para assegurar que todas e operacionais e qualquer desafio potencial ou previsto na
as lesões foram identificadas e nenhuma foi “esquecida”. preparação para a chegada de uma ou mais vítimas.
Uma base fundamental do ATLS-OE é a adição de dois A avaliação zero identifica problemas com a equipe
componentes que devem ser incorporados na avaliação e/ou sistemas que possam não ter sido identificados
do trauma; a avaliação zero e a avaliação quaternária. ou minimizados até o momento e que podem afetar
Os cuidados iniciais ao trauma em ambientes hostis significativamente as decisões durante a avaliação
requerem uma consideração cuidadosa das capacidades inicial. São fatores e problemas que o aluno pode não ter
internas e fatores externos (avaliação zero). Ademais, considerado, mas que podem ser tão ou mais importantes
os doentes costumam ser rapidamente transportados que as lesões do doente ou intervenções necessárias. A
para diversas instituições e requerem atenção na avaliação zero orienta como os doentes são triados e

ATLS-OE Avaliação Zero


• Situação tática
• Equipe
Preparo antes da chegada
• Recursos de retirada
• Número de potenciais vítimas
• Logística/suprimentos disponíveis • Capacidade para cuidados críticos
Avaliação Primária • Capacidade de retenção • Capacidade de reanimação
Identificar e tratar lesões que ameaçam a • Segurança cirúrgica
vida
X Hemorragias grave
(uso do torniquete)
A Via Aérea
B Respiração AVALIAÇÃO QUATERNÁRIA
C Circulação Avaliação Secundária
D Disfunção Preparo para Transferência
Identificar todas as lesões
Neurológica • Estabilidade para transferência
• Realizar exame físico x necessidade de cuidados de
E Exposição
completo da cabeça aos pés outro nível
• Medidas auxiliares • Necessidade de transporte
• Capacidade da instituição que
Avaliação Terciária receberá o doente
• Necessidade de cuidados
Reavaliar para identificar lesões que críticos
tenham passado despercebidas • Tempo para retirada/método
•• Rever todos os exames de imagem • Atrasos na retirada (fatores
•• Focar em lesões musculoesqueléticas climáticos/táticos/etc.)
•• Avaliar a eficácia da reanimação • Reanimação em andamento?

n FIGURA C-1  O ATLS-OE incorpora o uso do torniquete na avaliação primária (X) e as novas avaliações zero e quaternária.
­282 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

priorizados, que tipos ou padrões de lesão excedem as A avaliação quaternária formaliza esse preparo
capacidades locais ou habilidades disponíveis, e quais para a transferência. Esse preparo deve ser repetido a
recursos estão se esgotando ou estão indisponíveis. cada transferência na cadeia de retirada. No ambiente
Esses fatores incluem o seguinte: operacional, o tempo de transporte pode variar de
alguns minutos até algumas horas. Essa incerteza deve
•• Quantos e quais são os tipos de profissionais de ser considerada não apenas no preparo para o transporte
saúde disponíveis? como também na prontidão deste. As capacidades de
•• Quais especialidades médicas e cirúrgicas estão cuidados durante o transporte também devem ser
disponíveis? consideradas em vista da probabilidade de variações
das instalações de transporte, profissionais disponíveis
•• Qual a quantidade e qual a tipagem de no percurso, equipamentos, suprimentos, medicações,
componentes sanguíneos disponíveis? ambiente e potencial para ameaças externas.
•• Existe escassez de algum suprimento? Quais? Avaliar a resposta do doente à reanimação é
fundamental. O potencial para alcançar os resultados
•• A reposição de suprimentos, inclusive de
de reanimação desejados versus os recursos disponíveis
componentes sanguíneos, está disponível?
para alcançar esses resultados são considerações
•• Existe a necessidade de realizar a transfusão de importantes. Embora seja desejável que o doente
sangue total? gravemente ferido esteja clinicamente estável, tenha
•• Quais os dispositivos para oxigenação tido uma avaliação completa com todas as lesões
disponíveis e qual a disponibilidade? identificadas e tenha sido reanimado de acordo com
os padrões para alcançar os objetivos finais, isso
•• A comunicação direta para a transferência do geralmente não é possível no ambiente operacional.
doente está disponível, caso seja necessário? Os suprimentos limitados de recursos críticos como
•• Qual a situação tática? A segurança do local é componentes sanguíneos e a capacidade limitada da
adequada? maioria das instalações de tratamento (como equipe
cirúrgica avançada) fazem com que tratamentos
A instabilidade e o caos inerentes a ambientes hostis prolongados e transfusões maciças sejam praticamente
reforçam a importância da prática da avaliação zero. impossíveis. Assim, frequentemente a escolha entre a
As decisões de triagem e prioridades da avaliação melhor das duas situações quase ideais deve ser feita
inicial podem mudar rapidamente conforme fatores e o doente deve ser encaminhado para transferência o
situacionais e capacidade de cuidados evoluem com o mais breve possível ou em uma fase de reanimação mais
tempo entre os eventos. Nesses ambientes em que os tênue que geralmente é realizada no ambiente civil.
recursos humanos físicos se tornam mais limitados, A seguir estão algumas considerações adicionais
as decisões de triagem ficam cada vez mais difíceis de sobre o preparo dos doentes para transporte no
serem tomadas. ambiente operacional:

Avaliação Quaternária •• As condições climáticas ou ações hostis irão


impossibilitar o transporte de vítimas?
Apesar de os padrões ATLS enfatizarem a preparação •• Quais tratamentos de suporte devem
para a transferência de um doente lesado do local de acompanhar o doente (ventilação, aspiração,
atendimento primário para um centro de trauma, isso etc.), qual o potencial para complicações
geralmente envolve uma única transferência, a uma durante o caminho e quais problemas nos
distância relativamente curta e com uma equipe médica equipamentos podem ocorrer?
completa. Em contraste, um doente em um ambiente
operacional pode necessitar de múltiplas transferências, •• A equipe de retirada possui as habilidades
a longas distâncias, enquanto a reanimação está sendo para manejar o doente gravemente ferido e
realizada. Não é incomum que um doente seja submetido equipamento de suporte para o transporte?
a uma cirurgia para controle de danos e seja transferido •• Quais medicamentos, fluidos, componentes
para uma instituição minutos ou horas após a cirurgia/ sanguíneos e outros tratamentos de reanimação
lesão. Essas transferências geralmente são feitas por ou suporte podem ser realizados efetivamente e
helicóptero em um ambiente que continua sendo prontamente durante transporte?
extremamente desafiador. Portanto, para minimizar
•• Quais equipamentos são necessários para
a probabilidade de intercorrências ou complicações
prevenir a hipotermia, lesão ocular e de ouvido/
durante o transporte, deve-se ter uma atenção criteriosa
lesões auditivas durante o transporte?
ao preparar o doente para um transporte seguro.
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 283

•• Conselho de Hartford IV: Apelo ao Aumento da


Implementação do ATLS-OE Resiliência Nacional (1 de março de 2016)

Atualmente, o ATLS-OE é oferecido a todos os novos Dada a alta volatilidade dos eventos com atiradores,
oficiais militares, por intermédio do Instituto de o primeiro passo mais importante é a supressão de
Treinamento de Defesa Médica de Prontidão e da ameaças através das autoridades públicas. Entretanto, as
Universidade de Serviço Uniformizado, e em breve estará prioridades imediatas do controle rápido de hemorragia
disponível para todos os programas militares do ATLS. de extremidades realizado por socorristas treinados e o
transporte rápido daqueles com hemorragias internas
não compressíveis devem ser considerados.
AUMENTANDO A SOBREVIÊNCIA EM Eventos críticos em uma resposta integrada a um evento
INCIDENTES COM ATIRADORES ATIVOS com atirador são representados pela sigla THREAT:
E EVENTOS COM VÍTIMAS EM MASSA
PROVOCADOS INTENCIONALMENTE •• Threat suppression - supressão de ameaças
•• Hemorrhage control - controle de hemorragias
No período de 2000 a 2013, houve nos Estados Unidos •• Rapid Extrication - retirada rápida
160 eventos com atiradores ativos, com 1.043 vítimas
•• Assessment by medical providers - avaliação
e 486 mortes. Similarmente, durante o período de
por profissionais da saúde
1983 a 2002, houve mais de 36.000 incidentes com
explosivos com 6.000 vítimas e aproximadamente •• Transport to definitive care - transporte para o
700 mortes. O mais preocupante é que os eventos com tratamento definitivo
atiradores ativos têm aumentado nos últimos anos, e a
alta letalidade desses eventos não pode ser ignorada. Utilizando as lições aprendidas na experiência militar
com o TCCC, o controle de hemorragia externa precoce
o consenso de Hartford deve ser de responsabilidade da pessoa que estiver mais
próxima da vítima na cena e as autoridades públicas devem
Com esses eventos em mente, na sequência do trágico ser treinadas e equipadas para controlar hemorragias
tiroteio da escola de ensino fundamental Sandy Hook, com o uso de torniquetes e agentes hemostáticos. Da
em Connecticut, em 2012, e a explosão na Maratona de mesma forma, as equipes de emergências médicas e o
Boston, em 2013, o Comitê Conjunto de Desenvolvimento corpo de bombeiros devem alterar as táticas operacionais
de Políticas Nacionais para Aumentar a Sobrevivência a e desenvolver novos paradigmas de coordenação de
Atiradores Ativos e Eventos Intencionais com Vítimas gerenciamento de emergências para avançar em apoio
em Massa foi estabelecido pelo Colégio Americano de à rápida retirada de vítimas.
Cirurgiões em colaboração com os líderes de diversas
instituições federais, incluindo o Conselho de Segurança campanha pare o sangramento
Nacional, as agências policiais e federais dos Estados
Unidos, o corpo de bombeiros e as organizações médicas Em resposta a essas recomendações, a Casa Branca
de emergência e diversas organizações chaves de saúde. lançou a iniciativa “Pare o Sangramento” em outubro
Os esforços do comitê têm sido um apelo à nação para de 2015, com o objetivo de prover às pessoas que
aumentar a capacidade de sobrevivência a esses eventos testemunham situações de emergências as ferramentas
e para treinar socorristas e o público leigo no controle e o conhecimento para conter sangramentos que
da hemorragia. As recomendações do comitê se referem ameacem a vida. Em um mandado de saúde pública,
ao Consenso de Hartford, e atualmente consistem em semelhante ao ensino de reanimação cardiopulmonar
quatro relatórios: (RCP) e à manobra de Heimlich, o público leigo deve
ser treinado no controle imediato de hemorragias ou
•• Consenso de Hartford I: aumentar a “curativo amigo”. Os equipamentos apropriados para
sobrevivência a Eventos com Atiradores Ativos controle de sangramentos (luvas, torniquetes, curativos
(1 de junho de 2013) hemostáticos) devem estar prontamente disponíveis
•• Consenso de Hartford II: Atiradores Ativos e para toda a equipe de emergência em “kits de controle
Eventos Intencionais com Vítimas em Massa (1 de hemorragia” acessíveis ao público e tão identificáveis
de setembro de 2013) quanto os desfibriladores externos automáticos (DEA).
Por fim, o treinamento por si só não é suficiente, o
•• Consenso de Hartford III: Implementação do
público leigo deve ser encorajado a agir em situações
Controle de Hemorragias (1 de julho de 2015) de emergência (n FIGURA C-2).
­284 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

PARE
O SANGRAMENTO

SALVE UMA VIDA

1 APLIQUE PRESSÃO DIRETA

2 APLIQUE CURATIVO E PRESSIONE

3 APLIQUE TORNIQUETE

ENVOLVA GIRE TRAVE HORA

LIGUE 192/193
n FIGURA C-2  Campanha Pare o Sangramento encoraja o público leigo a agir.
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 285

controle do sangramento para feridos recursos adicionais


O Controle do Sangramento para Feridos (B-Con)
é um rápido curso modular desenvolvido pela Sistema de Comando de Incidentes
Associação Nacional de Técnicos de Emergências https://www.fema.gov/incident-command-
Médicas com a coparticipação do Comitê de Trauma system-resources
do Colégio Americano de Cirurgiões em apoio à
campanha nacional “Pare o Sangramento”. O curso Lesões por explosão
foi desenvolvido tanto para pessoas leigas que https://emergency.cdc.gov/masscasualties/
irão realizar o primeiro atendimento sem nenhum blastinjury-mobile-app.asp
treinamento médico quanto para profissionais de saúde,
adaptado dos princípios do TCCC/PHTLS. Esse curso Perigos Químicos e Radiológicos
faz uma introdução aos conceitos de pressão direta, https://www.remm.nlm.gov/
torniquetes, curativos hemostáticos e manobras básicas https://chemm.nlm.nih.gov/
de via aérea. Um módulo adicional para profissionais
inclui uma introdução aos princípios THREAT. Para Pare o Sangramento/Consenso de Hartford/Curso de
mais informações a respeito do curso B-Com, acesse Controle de Sangramento para Feridos
www.bleedingcontrol.org ou entre em contato com o https://www.facs.org/about-acs/hartford-
responsável nacional pelo ATLS ou com o responsável consensus
internacional de região. https://bleedingcontrol.org

ATLS no Ambiente Operacional


r e sumo Para mais informações sobre o ATLS -OE, o
Responsável (militar) pela região XIII deve ser
1. Incidentes com vítimas em massa mudam os contatado através do escritório do programa ATLS.
paradigmas fundamentais de atendimento de o
melhor para um indivíduo para o melhor para o
maior número de pessoas. Bibliografia
2. As ferramentas para melhorar o atendimento a
vítimas em massa incluem o estabelecimento e 1. Auf der Heide E. Disaster Response: Principles of
comunicação de um sistema de triagem e o uso de Preparation and Coordination. St. Louis, MO: C.V.
um Sistema de Comando de Incidentes. Mosby Company; July 1989.
2. Beninati W, Meyer MT, Carter TE. The critical care
3. Os desafios após um incidente com vítimas em air transport program. Crit Care Med 2008;36(7
massa são imediatos (grande quantidade e tipos Suppl):S370–376.
de vítimas, segurança, recursos, comunicação, 3. Blair JP, Schweit KW. A Study of Active
transporte) e a longo prazo (fadiga, desidratação, Shooter Incidents, 2000–2013. Texas State
problemas psicológicos). University and Federal Bureau of Investigation.
Washington, DC: U.S. Department of
4. Os princípios do ATLS fornecem uma estrutura para Justice; 2014.
avaliação e tratamento de lesões potencialmente 4. Bulger E, Snyder D, Schoelles K, et al. An
fatais em todas as situações e ambientes; entretanto, evidence-based prehospital guideline for
esses princípios devem ser adaptados à situação de external hemorrhage control. American
acordo com os recursos disponíveis. College of Surgeons Committee on
Trauma. Prehosp Emerg Care 2014;18(2):
5. Ambientes hostis e operacionais requerem maior 163–173.
consciência situacional e avaliação detalhada antes 5. Butler FK, Blackbourne LH. Battlefield trauma
da chegada e da transferência, devido à restrição care then and now: a decade of Tactical Combat
de recursos. Casualty Care. J Trauma 2012;73(6 Suppl
5):S395–S402.
6. A campanha Pare o Sangramento oferece à 6. Butler FK, Giebner SD, McSwain N, et al., eds.
população um treinamento para controle de Prehospital Trauma Life Support Manual. 8th ed.,
hemorragias e encoraja a sua ação. military version. Burlington, MA: Jones and
Bartlett Learning; 2014.
­286 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados

7. Butler FK, Hagmann J, Butler EG. Tactical combat 15. Kotwal RS, Montgomery HR, Kotwal BM, et al.
casualty care in special operations. Milit Med Eliminating preventable death on the battlefield.
1996;161(Suppl):3–16. Arch Surgery 2011;146(12):1350–1358.
8. Disaster and Mass Casualty Subcommittee, 16. Kragh JF Jr, Walters TJ, Baer DG, et al. Practical
American College of Surgeons’ Committee on use of emergency tourniquets to stop bleeding
Trauma. Disaster Management and Emergency in major limb trauma. J Trauma 2008;64(Suppl
Preparedness Manual (DMEP®). Chicago, IL: 2):S38–S50.
American College of Surgeons; 2016. 17. Kragh JF Jr, Walters TJ, Baer DG, et al. Survival
9. Eastridge BJ, Mabry RL, Seguin P, et al. Prehospital with emergency tourniquet use to stop bleeding
death on the battlefield (2001–2011): implications in major limb trauma. Ann Surg 2009;249(1):1–7.
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of bleeding control—if you see something, the American College of Emergency Physicians,
do something. Bull Am Coll Surg 2015;100(7): American College of Surgeons Committee on
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United States twenty-year experience with 2005;9(4):416–422.
bombing incidents: implications for terrorism
preparedness and medical response. J Trauma
2005; Dec;59(6):1436-44.
Apêndice D
CONDUTA EM DESASTRES E PRONTIDÃO PARA
EMERGÊNCIAS (AULA OPCIONAL)

OBJETIVOS

1. Definir os termos incidentes com múltiplas vítimas 5. Descrever o sistema de comando de incidentes (SCI)
(IMV) e eventos com vítimas em massa (EVM). correspondente que foi adotado na sua área de
prática específica.
2. Explicar as diferenças entre IMV e EVM.
6. Descrever o papel dos princípios do ATLS no
3. D
escrever a abordagem “todos os perigos” e sua gerenciamento de desastres.
importância no gerenciamento de desastres.

4. Identificar as quatro fases do atendimento em


desastres e descrever os elementos-chave de cada
fase com respeito ao tratamento de lesões agudas.

O
s desastres contemporâneos não seguem regras. A desastre está comprometida pela demanda excessiva de
gestão dos procedimentos médicos dos desastres recursos, capacitações e estruturas organizacionais.
de hoje, sejam naturais ou feitos pelo homem, Incidentes com múltiplas vítimas (IMV) são
é um dos desafios mais significativos enfrentados pelas situações nas quais recursos médicos (ou seja, ativos pré-
equipes de trauma hoje. O atendimento ao desastre hospitalares e hospitalares) são muito utilizados, mas não
não é o mesmo que o atendimento convencional ao sobrecarregados. Eventos com vítimas em massa (EVM)
trauma. O atendimento a desastres requer uma mudança resultam quando os números de vítimas são grandes o
fundamental nos cuidados prestados às vítimas para suficiente para interromper os serviços de saúde na
alcançar o objetivo de proporcionar o maior bem para o comunidade ou região afetada. A demanda pelos recursos
maior número de indivíduos; cuidados de gerenciamento sempre excedem o fornecimento de materiais em um
de crises têm precedência sobre os padrões tradicionais de evento com vítimas em massa. É importante determinar
atendimento. As demandas de atendimento a vítimas de o equilíbrio entre o que é necessário versus o que está
desastres mudaram ao longo da última década, no âmbito disponível em termos de recursos humanos e materiais.
do atendimento ao trauma, aos tipos de ameaças e ao Qualquer hospital deve determinar seus próprios limites,
campo de operações. O curso ATLS oferece uma abordagem reconhecendo que seu plano de desastre deve abordar IMV e
estrutural para os desafios da medicina de desastres. EVM. As prioridades do ATLS são as mesmas para IMV e EVM.
Embora desastres em geral ocorram sem aviso prévio, a Como na maioria das disciplinas, especialistas em
prontidão para emergências - o preparo e a antecipação gerenciamento de desastres desenvolveram uma
das contingências que se seguem como resultado dos nomenclatura única para seus campos e regiões em todo
desastres aumenta a capacidade do sistema de atendimento o mundo (n QUADRO D-1). Os princípios básicos são os
à saúde em responder aos desafios impostos. Tal prontidão mesmos, assim como os princípios do ATLS.
é responsabilidade institucional e pessoal de cada unidade
de saúde e de cada profissional. Adesão aos mais altos
padrões de qualidade da prática médica, consistentes
a nec e s sida de
com os recursos médicos disponíveis, serve como melhor
diretriz para o desenvolvimento de planos para desastres. A gestão de desastres (prontidão e resposta) constitui
Comumente a capacidade de responder a situações de as principais áreas de conhecimento que preparam as

289
­290 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

QUADRO D-1 TERMINOLOGIA USADA NO GERENCIAMENTO DE DESASTRES

Cuidados Agudos O atendimento precoce de vítimas de Eventos de Vítimas em Massa (EVM) Evento que causa
desastres é fornecido no campo e/ou no hospital por um grande número de vítimas suficientemente grande para
equipes multidisciplinares de trauma. interromper os serviços de saúde da comunidade/região afetada.
Área de Operações A subdivisão geográfica estabelecida em Incidentes de Múltiplas Vítimas (IMV) Uma circunstância
torno de um local de desastre; apenas pessoal qualificado na qual os recursos de atendimento ao doente estão
para resposta a desastres tem permissão para entrar. sobrecarregados, mas não insuficientes.
Ponto de Coleta de Acidentes (PCC) Um local seguro Cuidados Minimamente Aceitáveis O nível mais baixo
dentro do perímetro externo da área de operações onde os apropriado de intervenções médicas e cirúrgicas que salvam
doentes são submetidos à triagem e, se possível, reanimação vidas (cuidados de gerenciamento de crises) fornecidas na
inicial. fase aguda do desastre.
QBRNE Acrônimo de agentes químicos, biológicos, Mitigação Atividades que os estabelecimentos e profissionais
radiológicos, nucleares e explosivos (incluindo incendiários). de saúde realizam na tentativa de diminuir a gravidade
Corredor de Descontaminação Uma instalação fixa e o impacto de um desastre potencial. Isso inclui o
ou implantável para descontaminação de doentes estabelecimento de locais alternativos para o atendimento
contaminados. O local de descontaminação é organizado em de vítimas em massa, locais de triagem fora do hospital e
três zonas: a zona quente, a zona morna e a zona fria. procedimentos antes de um desastre para a transferência de
Desastre Um incidente natural ou antrópico, seja ele doentes estáveis para outras instalações médicas permitindo
interno (originado dentro do hospital) ou externo (originado o atendimento de vítimas de desastres.
fora do hospital) no qual as necessidades dos doentes Equipamento de Proteção Individual (EPI) Roupas e
sobrecarregam os recursos necessários para cuidar deles. equipamentos especiais usados pelo pessoal de resposta a
Serviços Médicos de Emergência (SME) Profissionais de desastres para evitar a autocontaminação por HAZMATs.
saúde incluindo socorristas, enfermeiros e médicos, que Preparação Técnica Atividades que os estabelecimentos
prestam cuidados pré-hospitalares como parte de uma de saúde e provedores comprometem-se a desenvolver
resposta organizada a emergências médicas. capacidade e identificar recursos que podem ser usados
Centro de Operações de Emergência (COE) Sede da Central caso ocorra um desastre.
Comando (CC), um centro de coordenação para as múltiplas Recuperação Atividades projetadas para auxiliar as unidades
agências/organizações ou jurisdições envolvidas na resposta a de saúde e profissionais a retomarem as operações normais
desastres. O COE é estabelecido em um local seguro fora da após a solução de uma situação de desastre.
área de operações, geralmente em um local fixo, e composto Resposta Atividades que os estabelecimentos e
por representantes das principais organizações envolvidas na profissionais de saúde realizam na prestação de cuidados
resposta a desastres. de gerenciamento de crises aos doentes na fase aguda do
Produtos Perigosos (HAZMATs) Qualquer material (químico, desastre.
biológico, radioativo ou explosivo) que represente riscos Equipes de Busca e Resgate (SAR) Especialistas médicos e
potenciais à vida, saúde, bem-estar e segurança humana. não-médicos treinados para localizar, resgatar e realizar a
Análise de Vulnerabilidade de Risco (HVA) Uma análise estabilização médica inicial de vítimas de desastres presas
da probabilidade e gravidade dos riscos colocados à saúde e em espaços confinados.
segurança de uma comunidade por vários materiais perigosos Capacidade de Sobrecarga Os recursos extras (pessoal e
(Intercorrências industriais, desastres naturais e climáticos). equipamento) que podem ser implantados em um desastre
Sistema de Comando de Incidentes Hospitalares (SCIH) (por exemplo, ventiladores com equipe de cuidados
Uma modificação do SCI para hospitais. (Hospitais intensivos adequados para cuidar de doentes).
normalmente adotam suas próprias versões deste sistema.) Capacidade Estrutural Os recursos extras (equipamentos)
Comando de Incidente ou Comandante do Incidente (CI) A que realmente possam ser usados em desastre (por
autoridade final que estabelece objetivos e prioridades para exemplo, ventiladores extras sem equipe de cuidados
a resposta a desastres e mantém a responsabilidade geral intensivos adequados para cuidar de doentes).
pelo incidente. Central de Comando (CC) Uma estrutura de comando de
Posto de Comando de Incidente Sede para o comando incidente única que permite que todas as organizações que
do incidente no local do desastre, estabelecido em locais respondem ao desastre trabalhem sob uma única estrutura
seguros dentro da área de operações. de comando.
Sistema de Comando de Incidentes (SCI) Uma estrutura Armas de Destruição em Massa (ADMs) Materiais perigosos
organizacional que fornece orientação geral para o usados, ou destinados a serem usados, com o propósito
gerenciamento da resposta a desastres. explícito de prejudicar ou destruir a vida humana.
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 291

equipes de trauma para aplicar os princípios do ATLS 3. Fases de Resposta - Emergência


durante desastres naturais e provocados pelo homem. A 4. Recuperação - Restauração
aplicação bem-sucedida desses princípios durante o caos
que normalmente ocorre após essas catástrofes requer Na maioria dos países, os planos locais e regionais de
familiaridade com a resposta a desastres e conhecimento resposta a desastres são desenvolvidos de acordo com os
das condições médicas prováveis de serem encontradas. planos de ressonância nacional. Especialistas médicos
Desastres envolvendo armas de destruição em massa multidisciplinares devem estar envolvidos em todas as
e eventos terroristas são desafios particulares para quatro fases de gestão com relação aos componentes
as equipes de trauma. Setenta por cento dos ataques médicos do plano operacional.
terroristas envolvem o uso de armas explosivas com o Os membros da equipe de trauma devem estar
potencial de causar lesões multidimensionais. Explosões preparados para participar de todos os aspectos da
produzem lesões explosivas que são complexas devido resposta médica a desastres, e eles são qualificados
aos múltiplos mecanismos de lesão que resultam (por exclusivamente para isso. Os princípios do ATLS são
exemplo, lesões por explosão primária, secundária, aplicáveis tanto aos cuidados pré-hospitalares quanto
terciária e quaternária). O curso ATLS foca o atendimento aos hospitais, e todos os provedores devem estar
inicial das lesões traumáticas encontradas em tais familiarizados com o conteúdo do curso ATLS. Garantir
desastres complexos, fornecendo uma estrutura de a segurança do cenário e determinar a necessidade de
ordem para avaliar a lesão multifacetada. descontaminação das vítimas de desastres afetadas
estão entre as primeiras prioridades da resposta a
desastres antes de iniciar o atendimento médico tanto
a a bor dag em no local do desastre quanto no hospital.

O conceito-chave na gestão contemporânea de desastres O COMANDO DE INCIDENTES/SISTEMA DE


é a abordagem “todos os perigos” para a preparação para GESTÃO DE INCIDENTES
desastres. Essa abordagem é baseada em um único plano
para todos os desastres que é flexível e inclui pontos de Os provedores de serviços médicos não podem usar
ramificação que levam a ações específicas, dependendo estruturas tradicionais de comando ao participar de
do tipo de desastre encontrado. Semelhante ao ABC uma resposta a desastres. O Sistema de Comando de
do atendimento ao trauma, a resposta a desastres Incidentes (SCI) é uma estrutura chave a ser usada em
inclui preocupações básicas de saúde pública e todas as quatro fases do gerenciamento de desastres
médicas que são semelhantes em todos os desastres, para garantir a coordenação entre todas as organizações
independentemente da etiologia. O ABC da resposta potencialmente respondendo ao desastre. O SCI é um
médica aos desastres inclui (1) busca e salvamento; sistema modular e adaptável para todos os incidentes
(2) triagem; (3) cuidado definitivo; e (4) evacuação. e instalações e é o padrão aceito para todas as respostas
Exclusivo para os desastres é o grau em que certas a desastres. O Sistema de Comando de Incidentes
capacidades são necessárias em desastres específicos Hospitalares (SCIH) é uma adaptação do SCI para uso
e o grau em que a assistência externa (ou seja, local, hospitalar. Ele permite uma coordenação eficaz nas
regional, nacional) é necessária. A avaliação rápida atividades de preparação e resposta a desastres com
determinará quais desses elementos são necessários organizações pré-hospitalares, de saúde pública, de
na fase aguda do desastre. As equipes de trauma são as segurança pública e outras organizações de resposta.
únicas qualificadas para participar em todas as etapas do O sistema de trauma é um componente importante
atendimento médico a desastre, por sua qualificação em do SCI. Várias organizações e países modificaram a
triagem, cirurgia de emergência, atendimento a doentes estrutura do SCI para atender às suas necessidades
críticos e capazes de tomar decisões rapidamente. organizacionais específicas.
Requisitos funcionais, não títulos, determinam
a hierarquia do SCI. O SCI é organizado em cinco
fa se s de mane jo atividades principais de gerenciamento (Comando
de de sa s tre s de Incidentes, Operações, Planejamento, Logística e
Finanças/Administração). As principais atividades
dessas categorias estão listadas no n QUADRO D-2.
A abordagem de saúde pública para o gerenciamento A estrutura do SCI é a mesma, independentemente
de desastres consiste em quatro fases distintas: do desastre. A diferença está no conhecimento
específico do pessoal-chave. Uma parte importante
1. Preparação (Planejamento - Treinamento) do planejamento de desastres hospitalares é identificar
2. Mitigação - Vulnerabilidade a Perigos o comandante do incidente e outras posições-chave
­292 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

podem exigir que cada hospital funcione com pouco ou


quadro d-2 sistema de comando de nenhum apoio externo. Terremotos, inundações, tumultos,
incidentes, equipe e atividades contaminação radioativa e incidentes envolvendo infra-
estrutura podem exigir que um hospital individual opere de
Comandante do Incidente (CI) forma isolada. Podem existir situações que interrompam
• Define objetivos e prioridades e mantém a a infraestrutura da comunidade e impeçam o acesso ao
responsabilidade geral pelo desastre.
• O CI é auxiliado pelo Oficial de Ligação, pelo Oficial de
centro médico. Por essa razão, é vital que cada hospital
Informação Pública e pelo Oficial de Segurança. desenvolva um plano de desastre que reflita com precisão
sua análise de vulnerabilidade a riscos.
Operações Os hospitais devem ser capazes de implantar pessoal,
• Realizar operações para executar o Plano de Ação do equipamento e recursos suficientes para cuidar de um
Incidente (PAI).
• Direcionar todos os recursos de desastre, incluindo pessoal
aumento no volume de doentes que é aproximadamente
médico 20% maior do que sua linha de base. Com demasiada
frequência, os planos de emergência hospitalar utilizam
Planejamento a capacidade de surto apenas em referência ao número
• Desenvolver Plano(s) de Ação do Incidente. de pessoal, camas ou bens adicionais (por exemplo,
• Coletar e avaliar informações.
• Manter o status dos recursos.
ventiladores e monitores) que podem ser colocados
em serviço por ocasião de um MCE. Por outro lado, a
Logística capacidade de surto refere-se ao número de leitos adicionais
• Fornecer recursos e suporte para atender às necessidades que podem ser providos de pessoal, ou ao número de
de incidentes, incluindo necessidades de resposta. ventiladores e monitores com pessoal qualificado que
Finanças/Administração
pode operar o equipamento no atendimento aos doentes.
• Monitorar custos, executar contratos, fornecer
aconselhamento jurídico. Preparação Hospitalar
• Manter registros de pessoal.
A preparação hospitalar para desastres inclui
antes que ocorra um desastre. Os cargos devem ser planejamento e treinamento. A preparação envolve as
ocupados 24 horas por dia, 7 dias por semana. Cada atividades que um hospital se compromete a identificar
pessoa na estrutura de comando deve supervisionar riscos, desenvolver capacidade e identificar recursos que
apenas 3 a 7 pessoas. Esta abordagem é significativamente podem ser usados caso ocorra um desastre interno ou
diferente da estruturas de comando hospitalar. Todos os externo. Essas atividades incluem fazer uma avaliação
provedores devem aderir à estrutura do SCI para garantir de risco da área, desenvolver um plano de desastres para
que eles se integrem com sucesso na resposta ao desastre. todos os perigos que é revisado regularmente e revisto
conforme necessário, e fornecer treinamento para
PREPAração desastres que seja necessário para permitir que esses
planos sejam implementados quando indicado. Todos
Preparação Comunitária os planos devem incluir treinamento em prontidão
emergencial apropriada às habilidades dos indivíduos
O planejamento de desastres, seja em nível local, regional que estão sendo treinados e às funções específicas
ou nacional, envolve uma ampla gama de indivíduos e que eles serão solicitados a realizar em um desastre.
recursos. Todos os planos devem envolver as principais É importante que os indivíduos façam o que estão
organizações médicas e de saúde pública da comunidade, familiarizados, se possível. O treinamento cruzado
bem como as autoridades de segurança pública (por de capacidades funcionais também é importante na
exemplo, bombeiros, policiais, etc.). resposta a desastres.
As populações com necessidades especiais apresentam A preparação do hospital deve incluir os seguintes passos:
desafios únicos na preparação para emergências em todos
os níveis, incluindo os hospitais. As crianças, os idosos, as •• Providenciar meios de comunicação,
populações de estabelecimentos de longa permanência, os considerando todas as contingências, como
deficientes (tanto físicos como mentais), os pobres e os sem- perda de telefones fixos e circuitos celulares.
teto têm necessidades especiais nas atividades de preparação •• Providenciar armazenamento de equipamentos,
e resposta a desastres. Todos os planos de desastre devem suprimentos e quaisquer recursos especiais que
levar em conta esses grupos, que são frequentemente possam ser necessários com base na análise de
negligenciados no gerenciamento de desastres. vulnerabilidade a perigos locais (VPL).
Embora uma abordagem regional para o planejamento •• Identificar prioridades em todas as quatro fases
seja ideal para o gerenciamento de MCEs, as circunstâncias do ciclo de desastres.
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 293

•• Executar acordos pré-desastres para coordenação de uma instalação. Os simulados práticos de


transportar vítimas e/ou doentes internados exercício em campo empregam pessoas e equipamentos
para outras instalações, caso a instalação local reais e podem envolver departamentos/organizações
fique saturada ou inutilizada. hospitalares específicos. Os exercícios de campo podem
•• Planejar a mobilização de recursos de surto ter um escopo limitado (ou seja, teste do serviço de
para cuidar de doentes que já estão no hospital, descontaminação ou departamento de emergência) ou
bem como as vítimas de desastres que chegam. envolver toda a organização. A preparação para desastres
deve incluir exercícios práticos para determinar a
•• Fornecer treinamento em gerenciamento de verdadeira magnitude dos problemas do sistema.
desastres a não médicos e médicos. Os exercícios em massa devem incluir três fases:
preparação, gerenciamento de exercícios e tratamento
O planejamento também deve antecipar os elementos do doente. Durante a fase de preparação, áreas funcionais
necessários na situação real do desastre e incluir esses de responsabilidade são claramente definidas para
procedimentos: que possam ser avaliadas objetivamente. A fase de
gerenciamento de exercícios envolve uma avaliação
•• Instituir precauções de segurança, incluindo objetiva de todos os principais papéis funcionais no SCI. A
bloqueio hospitalar, se necessário. fase de tratamento do doente envolve a avaliação objetiva
•• Mobilize a equipe de comando de incidentes de capacidades funcionais bem definidas, como triagem
para o centro de comando de incidentes e reanimação inicial.
pré-designado.
Planejamento Pessoal
•• Notifique o pessoal em serviço e fora de serviço.
•• Ativar o plano de desastre do hospital. O planejamento de desastres familiares é uma parte
vital da preparação para desastres hospitalares antes
•• Prepare áreas de descontaminação, triagem e
do evento, tanto para o hospital quanto para seus
tratamento.
funcionários. A maioria dos profissionais de saúde tem
•• Ativar equipes de desastres hospitalares responsabilidades familiares e, se estiverem preocupados
previamente identificadas com base nas com a saúde e a segurança de suas famílias, podem ficar
capacidades funcionais. desconfortáveis - ou até incapazes - de cumprir suas
•• Desenvolver planos para assegurar a viabilidade do responsabilidades profissionais durante um evento de
fluxo unidirecional de doentes do departamento desastre. Os hospitais precisam planejar várias maneiras
de emergência para as unidades de internação. Isso de ajudar os profissionais de saúde a cumprir suas
inclui disponibilizar as camas do departamento de responsabilidades tanto para o hospital quanto para suas
emergência para os doentes que chegarem mais famílias. Entre essas necessidades estão a assistência na
tarde. Muitas vezes os doentes menos atingidos identificação de recursos alternativos para o atendimento
chegam primeiro ao hospital; triagem para áreas de crianças e adultos dependentes e a garantia de que
fora do departamento de emergência para permitir todos os funcionários desenvolvam planos de desastres
a chegada de doentes mais críticos. familiares. Todos os planos de resposta específicos do
hospital dependem da mobilização de pessoal adicional,
•• Avaliar as necessidades dos doentes cujo primeiro dever em qualquer desastre será garantir
hospitalizados para determinar se recursos a saúde e a segurança de si e de suas famílias.
adicionais podem ser adquiridos para cuidar deles
ou se devem ser dispensados ou transferidos.
•• Verificar suprimentos (por exemplo, sangue, bus c a e r e s g ate
fluidos, medicamentos) e outros materiais
(alimentos, água, energia e comunicações) Muitos desastres, tanto naturais como feitos pelo
essenciais para manter as operações do hospital, homem, envolvem um grande número de vítimas em
de preferência por um mínimo de 72 horas. estruturas em colapso. Muitos países, incluindo os
•• Estabelecer um centro de informações públicas Estados Unidos, desenvolveram equipes especializadas
e fornecer instruções regulares ao pessoal do de busca e resgate como parte integrante de seus planos
nacionais de desastres. Os sistemas locais de serviços de
hospital e às famílias.
emergência médica (SME) também têm ativos de busca e
Existem vários tipos de treinamentos e exercícios de salvamento como parte de suas equipes e frequentemente
desastre. Exercícios de mesa usam cenários escritos e usam pessoal hospitalar para auxiliar na reanimação e
verbais para avaliar a eficácia do plano global de desastres e amputações de campo. Membros das equipes de busca e
­294 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

salvamento (SAR) recebem treinamento especializado Triagem Médica de Campo - Nível 2


em espaço confinado e outros ambientes e geralmente
incluem o seguinte pessoal: A triagem médica é a rápida categorização de doentes
por profissionais médicos experientes em um local de
•• Especialistas médicos de cuidados agudos coleta de vítimas ou no hospital (instalação médica fixa
•• Especialistas técnicos conhecedores de ou móvel). O pessoal médico que realiza a triagem deve
materiais perigosos, engenharia estrutural, ter conhecimento de várias lesões/doenças causadas
operação de equipamentos pesados e por desastres. Muitos hospitais usam triagem de
metodologia de busca e resgate técnico desastre em seus departamentos de emergência para
melhor familiarizar os prestadores de serviços médicos
•• Cães treinados e seus manipuladores com as categorias de triagem.

•• Vermelho—São necessárias intervenções que


triagem de vítimas de desastre salvem a vida (vias aéreas, ventilação, circulação).
•• Amarelo—Intervenções de salvamento
A triagem é um dos aspectos mais importantes e imediato não são necessárias.
psicologicamente desafiadores da resposta médica do •• Verde—É necessário cuidados médicos mínimos
desastre, tanto durante as fases pré-hospitalar como ou nenhum, ou o doente tem danos psicogênicos.
hospitalar da resposta a desastres. Isto é especialmente
verdadeiro para os desastres que ocorrem em ambientes •• Preto—O doente está morto.
austeros, onde os recursos e os recursos de evacuação
são limitados. Triagem Médica de Campo - Nível 3
A triagem de desastre é significativamente diferente
da triagem convencional. O objetivo da triagem A triagem de evacuação atribui prioridades às vítimas
convencional de trauma é fazer o bem maior para o doente de desastres para transferência para instalações médicas.
individual. A gravidade da lesão/doença é o principal O objetivo é a evacuação apropriada (por terra ou por
determinante da categoria de triagem quando recursos ar) das vítimas de acordo com a gravidade da lesão, a
adequados estão disponíveis para o cuidado do doente. probabilidade de sobrevivência e os recursos disponíveis.
Em contraste, o objetivo da triagem de desastre é fazer o Uma categoria de triagem, a categoria expectante ou
“maior bem para o maior número de doentes”. Em um paliativa, é exclusiva dos eventos de vítimas em massa.
evento de grande número de vítimas, os doentes críticos Os doentes são classificados como “expectantes” se
têm maior chance de sobreviver com o menor gasto de não se espera que eles sobrevivam devido à gravidade
tempo e recursos (isto é, equipamentos, suprimentos e dos ferimentos (grandes lesões por esmagamento ou
pessoal) são tratados primeiro. Os princípios do ATLS, queimaduras extensas na superfície do corpo) ou doenças
embora modificados em desastres, ainda orientam subjacentes e / ou recursos limitados. A categoria expectante
as equipes de trauma na triagem das vítimas com os de triagem foi desenvolvida pela primeira vez, dada a
ferimentos contusos e penetrantes vistos em desastres. ameaça da guerra química durante os conflitos militares.
Tradicionalmente, essa categoria de vítimas de
níveis de triagem em desastres desastres foi classificada como amarela ou atrasada.
Atualmente, a maioria dos sistemas EMS e hospital
A triagem é um processo dinâmico e redundante de tomada classifica os doentes em expectativa como uma
de decisões que combina as necessidades dos doentes com categoria separada de triagem com uma designação
os recursos disponíveis. A triagem ocorre em muitos de cores diferente e administra os cuidados paliativos.
níveis diferentes à medida que os doentes passam da A classificação da categoria expectante de vítimas de
cena do desastre para o atendimento médico definitivo. desastre permanece controversa e deve ser decidida no
momento do desastre.
Triagem Médica de Campo - Nível 1
erro de triagem
A triagem médica de campo envolve a rápida
categorização das vítimas de desastres que Erros de triagem, sob a forma de triagem e subtriagem,
potencialmente precisam de atendimento médico estão sempre presentes no caos dos desastres. A
imediato “onde estão” ou em um centro de triagem triagem excessiva ocorre quando doentes não críticos,
de vítimas. Os doentes são designados como agudos sem lesões que ameaçam a vida, são designados para
ou não agudos. O código de cores pode ser usado. cuidados urgentes. Quanto maior a incidência de doentes
com excesso de triagem, mais o sistema médico fica
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 295

sobrecarregado. A subtriagem ocorre quando doentes


gravemente feridos que necessitam de cuidados médicos
De s conta min aç ão
imediatos são atribuídos a uma categoria inferior.
Subtriagem leva a atrasos no tratamento médico, bem A descontaminação é a remoção de materiais
como aumento da mortalidade e morbidade. perigosos, de pessoas ou equipamentos contaminados
sem contaminar mais o doente e o ambiente, incluindo
armadilha prevenção hospitais e equipes de resgate. A descontaminação pode
ser necessária após desastres naturais e provocados
pelo homem.
Os prestadores de Triagem básica na gravidade
serviços médicos da lesão e probabilidade As equipes pré-hospitalar e hospitalar devem
realizam super- de sobrevivência, e não determinar rapidamente a probabilidade de vítimas
triagem de crianças e considerações emocionais de contaminadas em um desastre e proceder de acordo. A
mulheres grávidas. idade e sexo. descontaminação deve ser realizada antes de os doentes
entrarem no departamento de emergência. Não fazer
As vítimas de lesões Embora a mortalidade seja isso pode resultar em contaminação e subsequente
por explosão são significativa, baseie a triagem
quarentena de toda a instalação. A segurança hospitalar
super-triadas devido das vítimas sobreviventes
ao mecanismo de nos princípios da ATLS e na e a polícia local podem ser obrigadas a bloquear uma
lesão. gravidade da lesão, e não na instalação para impedir que doentes contaminados
etiologia do desastre. entrem no hospital. Eventos como o ataque terrorista
usando o agente nervoso Sarin em Tóquio em 1995
mostraram que até 85% dos doentes chegam ao centro
tratamento médico definitivo de saúde sem descontaminação pré-hospitalar.
Os princípios básicos em resposta a qualquer
Cuidados médicos definitivos referem-se a cuidados que incidente com materiais perigosos são os mesmos,
irão definir conduta em vez de simplesmente estabilizar independentemente dos agentes envolvidos. Remoção
a condição de uma vítima. O atendimento maximamente de roupas e jóias pode reduzir a contaminação em
aceitável para todas as vítimas de desastres não é possível até 85%, especialmente com agentes biológicos e
nos estágios iniciais do desastre, dado o grande número radioativos. Para se protegerem durante a descontami-
de doentes em um evento de grande número de vítimas. nação, os médicos devem usar o nível apropriado de
Nos estágios iniciais do desastre, o atendimento ao equipamento de proteção individual.
trauma minimamente aceitável (ou seja, o atendimento O local para descontaminação é organizado em três
de gerenciamento de crises) para fornecer intervenções zonas: a zona quente, a zona morna e a zona fria.
que salvam vidas é necessário para proporcionar o maior
benefício para o maior número de indivíduos. A cirurgia •• A zona quente é a área de contaminação. A área
de controle de danos é um componente importante deve ser isolada imediatamente para evitar
dos cuidados de gerenciamento de crises. Em muitos mais contaminação e vítimas.
desastres, os hospitais são destruídos e o transporte •• A zona morna é a área onde ocorre a
para instalações médicas pode não ser viável, ou o descontaminação. A zona morna deve estar
meio ambiente pode estar contaminado. Para garantir “a favor do vento” e “acima” da zona quente.
a capacidade de surto, muitos hospitais usam instalações Antídotos intramusculares (IM) e procedimentos
móveis que podem fornecer uma resposta gradual e médicos, como o controle da hemorragia,
flexível para o atendimento ao trauma. podem ser administrados aos doentes antes da
descontaminação pelo pessoal médico usando
E vacuaç ão equipamentos de proteção adequados.
•• A zona fria é a área onde o doente
A evacuação é frequentemente necessária em descontaminado é levado para cuidados
desastres, tanto na cena do desastre como para definitivos, se necessário, e disposição
facilitar a transferência de doentes para outros (transferência para outras instalações ou alta).
hospitais. Os prestadores de cuidados agudos, além
de seu conhecimento médico, devem estar cientes A escolha da técnica de descontaminação
das alterações fisiológicas decorrentes do ambiente (descontaminação bruta versus descontaminação
hipobárico e da diminuição da pressão parcial de total) depende do número de vítimas, gravidade
oxigênio que pode ocorrer durante a evacuação do da contaminação, gravidade das lesões e recursos
doente por uma aeronave. disponíveis. Existem dois tipos de descontaminação:
­296 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

•• A descontaminação bruta consiste em remover Lesões por explosão envolvem, portanto, trauma
as roupas e jóias do doente e, se possível, irrigar contuso e penetrante. Por fim, o colapso estrutural
todo o corpo do doente com água. As vítimas pode resultar em lesões por esmagamento, detritos
podem ser enxaguadas com mangueiras de significativos que induzem problemas respiratórios
água e sprays. e nas vias respiratórias, e incêndio que pode resultar
em lesão térmica. O conhecimento das diretrizes do
•• A descontaminação total é mais demorada ATLS para o manejo de lesões traumáticas é essencial
e cara. Muitos hospitais usam tendas de para os profissionais que estão no tratamento de tais
descontaminação portáteis para este fim. lesões complexas.

Mecanismos de lesão por explosão incluem:


armadilhas prevenção
•• Lesão por Explosão Primária - Lesões resultantes
Contaminação da • Identifique doentes
instalação, levando à que necessitam de dos efeitos diretos da onda de choque e que afetam
quarentena. descontaminação. principalmente os órgãos que contêm gás: o trato
• Descontamine os doentes que gastrointestinal, o pulmão e o ouvido médio.
precisam antes da admissão
na instalação. •• Lesão Secundária por Explosão - Lesões
• Assegure-se de que os resultantes de doentes atingidos por objetos
fornecedores que realizam e fragmentos que foram acelerados pela
a descontaminação estejam explosão. IEDs e outros dispositivos explosivos
devidamente treinados e
costumam estar cheios de parafusos, pregos ou
usem EPI adequado para o
agente envolvido.
outros objetos pontiagudos.
• Designar pessoal de •• Lesão por Explosão Terciária - Lesões resultantes
segurança para proteger das vítimas serem lançadas pelos ventos fortes
as entradas para impedir a
produzidos pelas ondas de impacto.
admissão não intencional de
doentes contaminados. •• Lesão por Explosão Quaternária - Todos os
outros ferimentos causados por explosivos,
como queimaduras, lesões por esmagamento
e inalações tóxicas (monóxido de carbono,
poeira, gases quentes).
tipos de ferimentos específicos
Os fatores prognósticos que afetam a mortalidade e
A seguir estão as descrições das principais a morbidade incluem orientação da vítima à explosão,
características, considerações especiais e diretrizes magnitude da explosão, ambiente da explosão (exterior
de tratamento para lesões e doenças por explosão, versus interior versus embaixo d'água), colapso estrutural,
produtos químicos e radioativos. precisão da triagem e recursos médicos disponíveis.

lesões por explosão lesões e doenças químicas


Lesões por explosões são lesões com vários níveis de risco Há várias considerações especiais no cuidado de lesões e
de vida. A onda de choque é uma onda de sobrepressão doenças químicas, sejam elas agentes nervosos, agentes
supersônica criada por explosivos de alta potência. Essa asfixiantes, agentes pulmonares ou agentes vesicantes.
onda pode produzir lesões nas interfaces do fluido Agentes nervosos (por exemplo, Tabun [GA], Sarin
do ar, de modo que potencialmente possa resultar [GB], Soman [GD] e VX) entram no corpo por via
em lesão pulmonar e gastrointestinal. Dispositivos percutânea (através da pele) ou por inalação (através dos
explosivos improvisados (IEDs) são bombas caseiras e/ pulmões). Eles afetam o sistema nervoso colinérgico,
ou dispositivos destrutivos projetados para matar ou tanto o sistema muscarínico (músculos lisos e glândulas
incapacitar pessoas e são um desafio particular para exócrinas) quanto o sistema nicotínico (músculos
os membros da equipe de trauma. Estes dispositivos esqueléticos, nervos pré-ganglionares, medula supra-
são às vezes embalados com projéteis que resultam renal). Agentes nervosos interrompem os mecanismos
em múltiplas lesões penetrantes. O vento da explosão normais pelos quais os nervos se comunicam com
é capaz de jogar a vítima em objetos estacionários. músculos, glândulas e outros nervos.
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 297

Os sintomas da exposição do agente nervoso após vesicantes incluem eritema e vesículas, conjuntivite,
grande exposição a líquidos ou vapores incluem perda dor e desconforto respiratório superior.
de consciência, convulsões, apneia e paralisia flácida. Agentes antimotim, como cloroacetofenona (CN)
Asfixiantes são substâncias químicas que interferem e clorobenzalmalononitrila (CS), são gases lacrimais
com a capacidade do corpo de realizar o metabolismo ou lacrimatórios. Os sintomas da exposição incluem
aeróbico. Um exemplo é o cianeto de hidrogênio, um ardor nos olhos e na pele, desconforto respiratório e
veneno mortal que causa a morte em poucos minutos. broncoespasmo.
Os sintomas de uma grande exposição a um asfixiante Considerações especiais no cuidado de lesões
incluem perda de consciência, convulsões, apneia e químicas são delineadas nos n QUADROS D-3 E D-4.
parada cardíaca.
Agentes pulmonares são substâncias que causam lesões radioativas e doenças
edema, tal como fosgio e cloro.
Os agentes vesicantes são substâncias que causam Existem dois tipos principais de radiação ionizante:
eritema (vermelhidão) e vesículas (bolhas) na pele,
bem como lesões nos olhos, vias aéreas e outros órgãos. 1. Radiação eletromagnética (radiação externa: raios
Mostarda de enxofre e Lewisite são exemplos de gama e raios-x).—tecido, irradiando vítimas, mas
agentes vesicantes. Os sintomas de exposição a agentes não deixando radioatividade para trás.

quadro d-3 considerações especiais no cuidado de danos químicos

Agentes Nervosos Agentes Pulmonares


• Ventilação com oxigênio • Rescisão de exposição
• Sucção de secreções das vias aéreas • Oxigênio/ventilação, conforme necessário
• Atropina (antídoto) - afeta os sintomas do sistema muscarínico • Nenhuma atividade física!
• Pralidoxima (2-PAM) (antídoto) - afeta os sintomas do sistema Agentes Vesicantes
nicotínico. O momento da administração da 2-PAM é crítico, • Decontaminação
porque a ligação dos agentes nervosos à colinesterase • Manejo sintomático das lesões
(enzima responsável pela quebra do neurotransmissor Agentes antimotim (gases lacrimais/lacrimatórios)
acetilcolina) pode se tornar irreversível com o tempo • Geralmente não apresenta risco de vida
• Diazepam - tratamento para convulsões • Manejo sintomático das lesões
• DuoDote - injetor automático simples (atropina + pralidoxima) • Irrigação salina normal para olhos ou água fria e
• Kit Mark 1 - auto-injetores de cloreto de atropina + pralidoxima detergente líquido para as áreas afetadas do corpo.
Agentes Asfixiantes • CN (cloroacetofenona) e CS (clorobenzilideno
• Ventilação com oxigênio malononitrilo) mais comuns.
• Kit de antídoto de cianeto ou hidroxocobalamina IV (de
preferência)

quadro d-4 toxidromes clássicos

Exposição a Agentes Nervosos (Sistema Muscarínico) Exposição aos Sintomas do Agente Nervoso (Sistema
Nicotínico)
SLUDGE* DUMBELS*
MTW(t)HF^
Salivação, Diarréia,
Lacrimejamento Urina, micção • Midríase
Urina, micção Miose • Taquicardia
Defecação Bradicardia, Broncorreia, Broncoespasmo • W fraqueza (muscular)
Gastroenterite Emese • (t)Hipertensão, hiperglicemia
Emese Lacrimejamento • Faciculações
Salivação, Secreções, Sudorese
^ Efeitos Nicotínicos
* Efeitos muscarínicos tratados com atropina
­298 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

2. Radiação de partículas (partículas alfa e beta) - Não Princípios da gestão de emergência de vítimas de
penetra facilmente nos tecidos. (A quantidade radiação incluem:
de radiação absorvida pelas células é medida em
Grays (Gy) ou novo padrão internacional de dose •• Aderir aos princípios convencionais da triagem
de radiação, o rad 1 Gy = 100 rad.) de traumas, porque os efeitos da radiação são
retardados.
A exposição à radiação pode consistir em
contaminação externa, corpo inteiro ou localizado •• Realize a descontaminação antes, durante ou
ou contaminação interna. Com contaminação após a estabilização inicial, dependendo da
externa, detritos radioativos são depositados no corpo gravidade da lesão.
e na roupa. Com contaminação interna, os detritos •• Reconheça que os detectores de radiação têm
radioativos são inalados, ingeridos ou absorvidos. limitações específicas e muitos detectores
Assuma a contaminação externa e interna ao responder
medem apenas radiação beta e gama.
a desastres envolvendo agentes radioativos.
•• A cirurgia de emergência e o fechamento
Gerenciamento de Emergência de Vítimas de de feridas cirúrgicas devem ser realizados
Radiação precocemente em vítimas de exposição à
radiação.
Os efeitos médicos da radiação incluem dano tecidual
focal e necrose, síndrome de radiação aguda (ARS, n •• Os reatores nucleares contêm uma mistura
QUADRO D-5), e efeitos a longo prazo que podem persistir específica de elementos radioativos.
semanas a décadas, como câncer de tireoide, leucemia Comprimidos de iodo são eficazes apenas
e catarata. contra os efeitos do iodo radioativo na tireoide.

n QUADRO D-6 descreve as características chave de


quadro d-5 síndrome de radiação diversos cenários de ameaças radioativas.
aguda (sra)
quadro d-6 cenários de ameaças de radiação
• Grupo de sub-síndromes clínicas que se desenvolvem
agudamente (dentro de alguns segundos a vários dias)
Detonações Nucleares
após a exposição à radiação ionizante penetrante acima
Três tipos de lesões resultam de detonações nucleares:
de doses de 1 Gy (100 rads) em todo o corpo.
• Lesões por explosão - ondas de sobreposição
• SRA afeta diferentes sistemas, dependendo da dose
• Ferimentos térmicos - queimaduras por flash e chama
total de radiação recebida.
• Lesões por radiação - irradiação por ondas gama e
• Baixas doses prejudicam predominantemente o sistema
neutrons e detritos radioativos (precipitação)
hematopoiético.
Derretimento de um Reator Nuclear
• Doses crescentes danificam o sistema gastrointestinal,
• O núcleo deve superaquecer, fazendo com que o
o sistema cardiovascular e o sistema nervoso central,
combustível nuclear derreta
nessa ordem.
• Deve ocorrer falha de confinamento, liberando materiais
• Quanto maior a exposição, mais cedo aparecerão os
radioativos no ambiente
sintomas e pior será o prognóstico.
Dispersão de Radiação (bomba suja)
Fase Prodrômica
• Explosivo convencional projetado para espalhar material
• Sintomas - náuseas, vômitos, diarreia, fadiga
radioativo
Fase Latente
• Nenhuma explosão nuclear
• Duração da variável de fase dependendo do nível de
Dispersão Radiológica Simples
exposição
• Dispositivo radioativo simples que emite radioatividade
• Sintomas e sinais - relativamente assintomáticos, fadiga,
sem explosão
depressão da medula óssea
• Uma contagem reduzida de linfócitos pode ocorrer
dentro de 48 horas e é um indicador clínico da
gravidade da radiação.
Doença Manifesta a r m a dilh a s
• Sintomas - sintomas clínicos associados a lesões no
sistema principal (medula, intestinal, neurovascular)
Morte ou Recuperação As quatro armadilhas comuns na resposta médica
a desastres são sempre as mesmas - segurança,
comunicações, erros de triagem, e recursos em excesso.
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 299

médicos precisam incorporar os princípios-chave do


armadilha prevenção atendimento a desastres.
O objetivo da resposta médica do desastre, tanto pré-
Segurança • Inclua provisões de segurança em hospitalar quanto hospitalar, é reduzir a mortalidade
inadequada. planos de desastre. crítica associada a um desastre. A taxa de mortalidade
• Esteja preparado para redirecionar/ crítica é definida como a porcentagem de sobreviventes
limitar o fluxo para o hospital. gravemente feridos que morrem subsequentemente.
• Esteja atento ao ambiente Inúmeros fatores influenciam a taxa de mortalidade
(consciência situacional). crítica, incluindo:

Comunicação • Não assuma que os telefones fixos •• Precisão de triagem, particularmente a


falha. e celulares funcionarão. incidência de triagem excessiva de vítimas
• Tenha backup, como corredores •• Movimentação rápida de doentes para cuidados
e rádios walkie-talkie disponíveis definitivos
para uso.
•• Implementação de procedimentos de controle
de danos
Triagem em • Pegue os recursos disponíveis em
excesso. consideração. •• Coordenação de preparação para desastres regionais
• Use cuidados minimamente
aceitáveis (cuidados de Bibliografia
gerenciamento de crises).

Sub-triagem. • Use pessoal treinado em triagem 1. Ahmed H, Ahmed M, et al. Syrian revolution:
rápida para executar essa tarefa. a field hospital under attack. Am J Disaster Med
• Aplique os ABCDs dentro da 2013;8(4); 259–265.
estrutura de fazer maior bem para 2. American Academy of Pediatrics (Foltin GL,
o maior número de doentes. Schonfeld DJ, Shannon MW, eds.). Pediatric
Terrorism and Disaster Preparedness: A Resource
Capacidade • Lembre-se que capacidade não é a for Pediatricians. AHRQ Publication No. 06-
inadequada mesma coisa que competência. 0056-EF. Rockville, MD: Agency for Healthcare
para gerenciar • Faça provisões para a obtenção Research and Quality; 2006. http://www.ahrq.
o fluxo de do pessoal e equipamento org/research/pedprep/resource.htm. Accessed
doentes. necessários para alinhar February 26, 2008.
capacidade e competência. 3. Bartal C, Zeller L, Miskin I, et al. Crush syndrome:
saving more lives in disasters, lessons learned
from the early-response phase in Haiti. Arch
As lições aprendidas com os desastres anteriores são Intern Med 2011;171(7):694–696.
inestimáveis para nos ensinar como nos preparar 4. Born C, Briggs SM, Ciraulo DL, et al. Disasters and
melhor para elas. mass casualties: II. Explosive, biologic, chemical,
and nuclear agents. J Am Acad of Orthop Surg
2007;15:8:461–473.
r e sumo 5. Briggs, SM. Advanced Disaster Medical Response,
Manual for Providers. 2nd ed. Woodbury, CT: Cine-
Med; 2014.
Uma abordagem consistente de desastres por parte de 6. Committee on Trauma, American College of
todas as organizações, incluindo hospitais, com base Surgeons. Disaster Management and Emergency
na compreensão de suas características comuns e da Preparedness Course. Chicago, IL: American
resposta que elas exigem, está se tornando a prática College of Surgeons; 2009.
aceita em todo o mundo. O principal objetivo em um 7. Gutierrez de Ceballos JP, Turegano-Fuentes
evento é reduzir a mortalidade e a morbidade causadas F, Perez-Diaz D, et al. 11 March 2004: the
pelo desastre. O curso ATLS é um ativo importante para terrorist bomb explosions in Madrid, Spain—
atingir esses objetivos. an analysis of the logistics, injuries sustained
As diretrizes do ATLS para o gerenciamento de and clinical management of casualties treated
lesões traumáticas são aplicáveis a todas as situações at the closest hospital. Crit Care 2005;9:
de desastre. Todos os prestadores de serviços 104–111.
­300 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências

8. Holden, PJ. Perspective: the London attacks—a 15. Pediatric Task Force, Centers for Bioterrorism
chronicle. N Engl J Med 2005;353:541–550. Preparedness Planning, New York City Department
9. Kales SN, Christiani DC. Acute chemical of Health and Mental Hygiene (Arquilla B, Foltin
emergencies. N Engl J Med 2004;350(8):800–808. G, Uraneck K, eds.). Children in Disasters: Hospital
10. Kearns, R, Skarote, MB, Peterson, J, et al. Guidelines for Pediatric Preparedness. 3rd ed. New
Deployable, portable and temporary hospitals; York: New York City Department of Health and
one state’s experiences through the years, Am J Mental Hygiene; 2008. https://www1.nyc.gov/
Disaster Med 2014;9(3):195–207. assets/doh/downloads/pdf/bhpp/hepp-peds-
11. Latifi, R, Tilley, E. Telemedicine for disaster childrenindisasters-010709.pdf. Accessed
management: can it transform chaos into an January 4, 2017.
organized, structured care from the distance? 16. Sechriest, VF, Wing V, et al. Healthcare delivery
Am J Dis Medicine 2014;9(1):25–37. aboard US Navy hospital ships following
12. Lin G, Lavon H, Gelfond R, et al. Hard times call earthquake disasters: implications for future
for creative solutions: medical improvisations at disaster relief missions. Am J of Disaster Med
the Israel Defense Forces Field Hospital in Haiti. 2012;7(4):281–294.
Am J Disaster Med 2010 May–June;5(3):188–192. 17. Sever MS, Vanholder R, Lameire N. Management
13. Mettler FA, Voelz GL. Major radiation exposure— of crush-related injuries after disasters. N Engl J
what to expect and how to respond. N Engl J Med Med 2006;354(10):1052–1063.
2002;346(20):1554–1561. 18. Weiner DL, Manzi SF, Briggs SM, et al. Response
14. Musolino SV, Harper FT. Emergency response to challenges and lessons learned from hurricanes
guidance for the first 48 hours after the outdoor Katrina and Rita: a national perspective. Pediatrics
detonation of an explosive radiological dispersal 2011;128:S31.
device. Health Phys 2006;90(4):377–385.
Apêndice E
ATLS E EQUIPE DE TRAUMA
MANEJO DE RECURSOS

OBJETIVOS

1. Descrever a configuração da Equipe de Trauma 5. Descrever como uma equipe pode efetivamente
(TEAM). realizar o protocolo ATLS.

2. Identificar funções e responsabilidades do líder da 6. Descrever as melhores práticas de comunicação


equipe. entre membros da equipe.

3. Discutir as qualidades de uma liderança eficaz. 7. Descrever áreas de conflito em potencial dentro
de uma equipe de trauma e os princípios gerais de
4. Listar os papéis e responsabilidades. gestão.

A
pesar dos avanços no atendimento ao trauma, as treinado no ATLS® pode funcionar com outras pessoas
principais ameaças à segurança do doente tem para oferecer um excelente atendimento de equipe com
sido atribuídas a falhas no trabalho em equipe e um objetivo comum. No mundo da saúde de hoje, muitas
quebra de comunicação. No dinâmico e único ambiente equipes têm pouca chance de preparar ou praticar juntos;
do departamento de emergência (DE), o tratamento no entanto, o conhecimento do TEAM pela equipe de
complexo do trauma requer um trabalho em equipe trauma oferece a todos os membros meios para otimizar
multiprofissional e um gerenciamento de recursos o desempenho.
excelentes. O sucesso requer não apenas competência Este apêndice também aborda como o modelo ATLS®
individual em Suporte Avançado de Vida no Trauma se ajusta confortavelmente ao TEAM, descreve as
(ATLS®), mas também uma equipe de trauma bem qualidades de um líder de equipe eficaz, sugere maneiras
coordenada. de integrar membros da equipe de trauma a novas equipes
Este apêndice descreve os princípios de gerenciamento e descreve a comunicação eficaz nesse cenário. Para
de recursos da equipe destinados a fazer o melhor uso os propósitos deste apêndice, “líder” em um contexto
do pessoal, recursos e informações disponíveis. O de ATLS é entendido como representando a pessoa
gerenciamento de recursos da equipe é um conjunto que gerencia, lidera ou assume o papel dominante na
de estratégias e planos para fazer o melhor uso dos ressuscitação de uma vítima de trauma multissistêmico.
recursos, informações, equipamentos e pessoas
disponíveis. Historicamente, o ATLS® concentrou-
se nas melhores práticas de avaliação e tratamento configuração da equipe de trauma
para um único médico que atende vítimas de traumas
multissistêmicos. Na verdade, as equipes geralmente As equipes de trauma são compostas idealmente por um
prestam assistência ao trauma; portanto, o trabalho em grupo de pessoas que trabalham exclusivamente com os
equipe é uma parte fundamental do protocolo do ATLS®. doentes de trauma. No entanto, na maioria das instituições
Para funcionar bem como parte de uma equipe, o isso não é possível, portanto, as equipes precisam ser
indivíduo deve estar familiarizado com todas as etapas flexíveis e adaptar-se aos recursos disponíveis.
individuais necessárias para alcançar o melhor resultado Uma equipe de trauma deve, no mínimo, ser composta
possível. Este apêndice demonstra como um médico por:

303
­304 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

•• Líder de equipe (médico experiente em sucesso da equipe de trauma. A comunicação abrange


atendimento de trauma) informações sobre o estado físico do doente (de acordo
com o ABCDEs) e as orientações do líder da equipe
•• Atendente da Via Aérea (especializado no
em resposta a essas informações. Frequentemente,
manejo de vias aéreas), referido como Doutor A membros adicionais se juntam à equipe após o início da
•• Assistente de Via Aérea ressuscitação. O líder da equipe deve, então, comunicar
a esses últimos os papéis que desempenharão e quais
•• Segundo Atendente, referido como Doutor B
devem ser suas contribuições. (Informações adicionais
•• Dois enfermeiros, referidos como Assistente A sobre a comunicação dentro de uma equipe de trauma
e Assistente B são fornecidas mais adiante neste apêndice).
Muitas equipes de trauma não têm oportunidade
Pessoal adicional deve incluir, sempre que possível: de treinar ou trabalhar como uma equipe consistente,
portanto, a coesão e o respeito mútuo podem ser mais
•• Um secretário/coordenador difíceis de promover. O ATLS® fornece aos membros da
equipe uma linguagem comum para entender as ações e
•• Maqueiros/técnicos/auxiliares de enfermagem
os processos de pensamento um do outro, principalmente
•• Técnicos de radiologia ao priorizar as interações durante avaliação inicial.
O feedback ou debriefing “pós-ação”, depois que o
•• Especialistas (por exemplo, neurocirurgião,
doente tenha sido transferido para cuidados definitivos,
cirurgião ortopédico, cirurgião vascular)
pode ser valioso para reforçar o comportamento eficaz
da equipe e destacar áreas de excelência. Igualmente,
A equipe deve ter acesso a outras áreas do hospital, pode proporcionar aos indivíduos oportunidades de
incluindo o tomógrafo, o centro de angiografia, centro compartilhar opiniões e discutir melhorias do atendimento.
cirúrgico e as unidades de tratamento intensivo.
A composição da equipe e pessoal de substituição
variam de país para país e entre instituições. No entanto,
paPÉIS E RESPONSABILIDADES
a composição da equipe e os procedimentos operacionais DO LÍDER DE EQUIPE
padrões - incluindo protocolos de transferência para
outras instalações - devem sempre ser acordados e O líder da equipe é finalmente o responsável pela equipe
estabelecidos antes do recebimento dos doentes. e seu trabalho. Vários elementos da liderança de equipe
podem afetar a eficácia da equipe e o resultado do
atendimento. Isso inclui preparação da equipe, atenção
cARACTERÍSTICAS DE UMA BEM às informações na passagem do caso da equipe pré-
SUCEDIDA equipe DE TRAUMA ATLS® hospitalar, direcionamento da equipe, responder às
informações solicitadas, debriefing ou feedback com a
Uma equipe de trauma bem sucedida e eficaz exige um equipe e também conversar com a família/amigos do
bom líder com experiência não apenas no atendimento, doente. Um checklist para o líder da equipe de trauma é
mas também na liderança e no direcionamento da apresentada no n QUADRO E-1.
equipe. Os líderes de equipe de trauma não precisam
ser necessariamente os médicos mais antigos. Mais PREPARANDO A EQUIPE
importante é a sua experiência no atendimento de
acordo com os princípios do ATLS®, particularmente A preparação é um dos papéis mais importantes do
sua exposição a um amplo espectro de cenários clínicos. líder da equipe. n QUADRO E-2 resume o processo de
Eles exigem amplo conhecimento sobre como lidar instrução da equipe de trauma.
com situações desafiadoras e a capacidade de dirigir a
equipe enquanto tomam decisões cruciais. Eles devem Recebendo o doente
estar preparados para assumir a responsabilidade final
pelas ações da equipe. Independentemente da sua O ato da passagem do caso e entrega do doente envolve
experiência clínica, os líderes e os membros da equipe transferir a responsabilidade de um sistema para outro.
compartilham um objetivo comum: lutar pelo melhor Na medicina, isso geralmente significa a transferência
resultado possível para o doente. dos cuidados e da responsabilidade profissional.
Princípios de comunicação podem ser desafiados No atendimento de vítimas graves, a transferência
em situações estressantes com doentes gravemente é geralmente entre a equipe de atendimento
feridos. No entanto, a comunicação entre o líder e os pré-hospitalar e o líder da equipe de trauma no
membros da equipe é vital e um fator chave para o departamento de emergência (DE). É fundamental
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 305

quadro e-1 checklist para o líder da equipe de trauma

• Apresentar a equipe e atribuir papéis. • Verificar os resultados das investigações realizadas com
rapidez e precisão.
• Identifique o secretário.
• Certifique-se de que os familiares estão cientes do que
• Explique como a equipe irá se comunicar e usar os
está acontecendo.
intervalos de tempo.
• Chame membros adicionais da equipe de especialistas
• Garantir que todos os membros da equipe cumpram as
quando necessário.
precauções universais.
• Planejamento dos cuidados definitivos e transferência,
• Certifique-se de que os assistentes estejam disponíveis
comunicar-se com o médico receptor, quando apropriado.
para ajudar os membros da equipe.
• Verifique se a documentação está completa para a
• Priorizar o atendimento do doente durante a avaliação
transferência.
primária.
• Discutir com a equipe.
• Solicitar intervenções diagnósticas e procedimentos
clínicos adequados, assegurar que eles sejam realizados
com rapidez e precisão.

quadro e-2 líder de equipe instruindo a equipe de trauma

• Apresente-se e garanta que todos os membros saibam • Enfatize que informações importantes sobre a avaliação
que você é o líder da equipe. primária devem ser comunicadas diretamente a você, líder
da equipe.
• Peça aos membros da equipe para se apresentarem a você
e aos outros membros quando eles chegarem. • Dê instruções claras sobre quaisquer procedimentos
necessários durante a avaliação primária e estabeleça a
• Estabeleça os níveis de habilidade dos membros da prioridade dessas medidas.
equipe, especialmente sua competência para executar
procedimentos práticos e atribuir funções de forma • Explique que “intervalos de tempo” ocorrem em
adequada. Estabeleça que os auxiliares de enfermagem aproximadamente 2, 5 e 10 minutos. Estes dão a
estejam familiarizados com o ambiente, particularmente oportunidade de rever a condição do doente e planejar
com a localização dos equipamentos. reanimação adicional.

• Atribuir o papel de secretário a um membro adequado da • Enfatize que os membros da equipe que precisam de
equipe e garantir que a documentação adequada seja feita. suporte, equipamento, medicamentos ou recursos
adicionais devem se comunicar diretamente com você, o
• Assegure-se de que os membros da equipe usem as líder da equipe.
precauções universais para se proteger adequadamente
de doenças infecciosas. • Cumprimente todos os membros adicionais que
chegam para ajudar a equipe, mesmo que sua ajuda
• Explique o procedimento da passagem de caso da equipe não seja imediatamente necessária. Atribuir funções e
pré-hospitalar. responsabilidades quando apropriado. Por exemplo,
um neurocirurgião pode não ser necessário durante a
• Garantir que os membros da equipe saibam como avaliação primária, mas pode ser necessário ao decidir se
comunicar achados positivos e negativos importantes um doente necessita de craniotomia e/ou monitoramento
durante a avaliação inicial, especialmente quando a da pressão intracraniana.
condição do doente se deteriorar.

transmitir informações importantes e relevantes para a •• Mecanismo


equipe assumir sem demora ou discussões prolongadas.
O mnemônico MIST é uma excelente ferramenta •• Injúrias sofridas
de transferência que pode ser usada em um ambiente •• Sinais e sintomas
sob pressão para garantir a transferência segura de
informações sem perda de detalhes importantes: •• Tratamento e transporte
­306 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

Os processos de transferência podem variar de país O líder dá instruções claras sobre os procedimentos,
para país e entre instituições de saúde e municípios; garante que eles sejam executados com segurança
no entanto, existem duas opções principais: e de acordo com os princípios do ATLS®. Ele ou ela
toma decisões sobre as medidas auxiliares à avaliação
1. A equipe pré-hospitalar passa o caso para o primária, orienta a reavaliação quando apropriada e
líder da equipe, enquanto a equipe de trauma determina como responder a quaisquer complicações
transfere o doente para a sala de emergência e inesperadas, como falha na intubação ou acesso
continua a ressuscitação. O líder da equipe, em vascular, orientando os membros da equipe sobre o que
seguida, relaciona as informações importantes à fazer a seguir ou solicitando recursos adicionais. O líder
sua equipe durante a avaliação primária. da equipe também providencia os cuidados definitivos
2. A equipe pré-hospitalar passa o caso para toda apropriados, garante que a transferência seja realizada
a equipe na chegada à sala de emergência. Esse com segurança e rapidez, também faz o contato com
processo exige um breve período de silêncio o médico que realizará os cuidados definitivos. O
enquanto a equipe escuta as informações. acrônimo SBAR fornece um modelo padrão para
garantir a inclusão de todas as informações pertinentes
Qualquer opção é aceitável desde que a informação ao se comunicar com as instalações de referência ou
seja entregue de forma clara e concisa (n QUADRO E-3). de recebimento (ver Capítulo 13, Transferência para
Pode ser útil para a equipe pré-hospitalar registrar Tratamentos Definitivos).
os dados em um quadro branco ao qual a equipe e
seu líder podem se referir. Essas informações podem DISCUSSÃO COM a equipe
incluir um histórico AMPLA (ver Capítulo 1: Avaliação
e Atendimento Iniciais). A discussão com a equipe oferece uma oportunidade
para os membros da equipe refletirem sobre os cuidados
DIRECIONANDO A EQUIPE E RESPONDENDO prestados ao doente. Áreas de sucesso e áreas que
À INFORMAÇÃO requerem melhorias podem ser identificadas, o que pode
melhorar o desempenho futuro. Idealmente, a discussão
O líder da equipe é responsável por coordenar a equipe com a equipe ocorre imediatamente ou tão logo possível
e responder às informações durante o atendimento ao após o evento e inclui todos os membros da equipe. Siga
doente. Como ele ou ela deve manter a supervisão geral um protocolo reconhecido que inclua perguntas como:
em todos os momentos e responder rapidamente às
informações da equipe, o líder da equipe não se envolve •• O que foi bem?
na realização de procedimentos clínicos. •• O que poderíamos ter feito diferente?
•• O que aprendemos para a próxima vez?
•• Há algumas ações que precisamos fazer
quadro e-3 passagem do caso pela antes da próxima vez (por exemplo, receber
equipe pré-hospitalar treinamento especial, solicitar recursos ou
equipamentos adicionais)?
• Peça silêncio à equipe.

• Assegurar que uma pessoa fale de cada vez. FALANDO COM FAMÍLIA/AMIGOS DO
DOENTE
• Garantir que não seja necessário um procedimento
imediato (por exemplo, tratamento da via aérea O líder da equipe de trauma é responsável por
obstruída). comunicar-se com a família/amigos do doente sobre
as lesões e os cuidados imediatos do doente. Portanto, o
• Use ferramentas como MIST e AMPLA para garantir que
líder da equipe deve ser um indivíduo com experiência
informações completas sejam coletadas.
em conversar com doentes e parentes sobre situações
• Concentre-se nos ABCDEs e estabeleça quais intervenções
difíceis. Se necessário, os líderes de equipe podem
foram realizadas e como o doente respondeu. buscar treinamento adicional nessas habilidades.
Falar sobre os doentes gravemente traumatizados é
• Anote os intervalos de tempo críticos, como o tempo uma das áreas mais difíceis de comunicação entre
para extricação e transporte. médicos e famílias. O líder da equipe deve assegurar
que as linhas de comunicação com os parentes sejam
• Registre as informações de contato da família / amigos do mantidas em todos os momentos, enquanto continua
doente. a liderar a equipe e garantir o melhor atendimento
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 307

possível ao trauma. Este trabalho pode ser um dos mais


desafiadores sobre ser um líder de equipe de trauma
n QUADRO E-4 fornece dicas para uma comunicação eficaz
em tais situações.
Se o líder da equipe precisar deixar o doente para falar
com a família/amigos, ele deverá aguardar até que a
condição dele esteja adequadamente estabilizada e
nomear outro membro da equipe para continuar com a
reanimação. Se a comunicação precoce com a família/
amigos do doente for necessária antes que o líder da
equipe possa deixar o doente, um membro da equipe de
enfermagem pode ser chamado para falar com os parentes
e mantê-los atualizados até que o líder da equipe chegue.
Essa abordagem também pode fornecer uma oportunidade
para a equipe começar a desenvolver um relacionamento
com a família. Uma discussão precoce com a família/ n FIGURA E-1  A comunicação com a família e os amigos ocorre em
um espaço privado e silencioso. Idealmente, o líder da equipe, uma
amigos também pode fornecer informações importantes enfermeira, consultores especializados e líderes religiosos podem
sobre a história médica do doente ou comorbidades que ser incluídos quando apropriado.
podem ser comunicadas à equipe durante o processo de
reanimação. Diretrizes avançadas ou ordens de não reanimar
(DNR) devem ser discutidas com os parentes, se
apropriado. Quando informações e decisões difíceis
precisam ser discutidas com os familiares, geralmente é
quadro e-4 dicas para se comunicar aconselhável dar tempo à família e espaço para reflexão,
com a familia/amigos do doente movendo-os brevemente para uma sala adjacente à
sala de reanimação (n FIGURA E-1). No entanto, algumas
• Tente encontrar uma sala silenciosa onde todos pessoas preferem permanecer com o doente em todos
(incluindo você) possam estar sentados. os momentos, e seus desejos devem ser respeitados
sempre que possível. Embora as diretrizes variem por
instituição, seguem as diretrizes gerais relacionadas
• Sempre tenha outro membro da equipe com você. Se você
à família/amigos presentes na sala de ressuscitação:
tem que sair de repente, ele ou ela pode ficar com a família.

•• Dedicar um membro da equipe para ficar


• Apresente-se e estabeleça quem são os membros da com a família/amigos e explicar o que está
família ou amigos e o que eles já sabem. acontecendo.
•• Permitir que a família/amigos saiam e retornem
• Garanta à família/amigos que os outros membros da a qualquer momento.
equipe continuam cuidando do doente. •• Assegurar-se de que a família/amigos saibam
que podem escolher não testemunhar seus
parentes submetidos a procedimentos invasivos.
• Explique as coisas com clareza e repita fatos importantes.
•• Permita que a família/amigos façam perguntas e
permaneçam perto de seu parente ferido, se isso
• Permita tempo para perguntas e seja honesto se você não prejudicar o trabalho da equipe de trauma.
não souber as respostas.
Embora permaneça sensível às preocupações da
• Não use frases prontas e nem dê falsas esperanças. família/amigos, o líder da equipe deve lembrar que
a responsabilidade final da equipe e fazer o melhor
possível para o doente
• Se apropriado, enfatize que o doente não está sentindo
dor ou sofrimento.

• Esteja preparado para diferentes reações, incluindo


liderança efetiva
raiva, frustração e culpa.
Fortes habilidades de liderança podem melhorar o
desempenho e a eficácia da equipe, mesmo em situações
• Antes de deixar a família, explique o que acontecerá a
desafiadoras. A prática médica requer competência,
seguir e quando eles serão atualizados novamente.
bem como proficiência em habilidades de trabalho
­308 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

em equipe e liderança. Revisão da literatura revela


que, através de uma infinidade de publicações sobre o quadro e-5 comportamentos consistentes
assunto, não há consenso sobre a definição de liderança. com uma liderança eficaz
Teorias e pesquisas sobre liderança estão longe de estar
completas, e as ideias mudaram ao longo do tempo • Mostrar uma preocupação sincera
refletindo influências sociais, políticas, econômicas
e tecnológicas. No entanto, evidências de pesquisas • Estar acessível
consideráveis sugerem que a liderança da equipe afeta
o desempenho da equipe. • Permitir e encorajar a mudança
O trabalho da liderança teoricamente amplia a visão
do líder, os bons líderes são reconhecidos como pessoas • Apoiar uma cultura de desenvolvimento
que têm uma ampla gama de habilidades, qualidades
pessoais e compreensão organizacional. A liderança é um • Focar no esforço da equipe, inspirando os outros
processo relacional e compartilhado, e são as interações
das pessoas que trabalham em colaboração que criam a • Agir decisivamente
liderança, independentemente do papel que ocupam.
• Construir uma visão compartilhada
QUALIDADES E COMPORTAMENTOS DE UMA
LIDERANÇA EFICAZ • Relacionamento interpessoal

Três principais qualidades de liderança destacada • Resolver problemas complexos


foram identificadas em entrevistas com líderes. Líderes
proeminentes: • Proporcionar mudanças com sensibilidade

1. Pensam sistematicamente, vendo toda a imagem


com um senso de propósito. facilite e sustente um nível favorável de inovação,
2. Percebem que os relacionamentos são o caminho exploração de ideias e aprendizado coletivo dentro
para o desempenho e, portanto, atendem aos da equipe.
membros de sua equipe como parceiros. O clima é um tema comum em grande parte da
pesquisa sobre liderança e trabalho em equipe. Equipes
3. Mostram humildade, reconhecem sua altamente funcionais têm uma atmosfera que apoia
incapacidade de alcançar tudo e sua necessidade a contribuição individual e efetivamente distribui a
de confiar nos outros membros da equipe. atividade em toda a equipe. Um objetivo comum claro,
composição suficiente da equipe e um sentimento de
A inteligência emocional é considerada um pré- satisfação com as realizações da equipe estão ligados
requisito para uma liderança eficaz. Estudos sobre a um forte clima de equipe.
liderança autêntica afirmam que a liderança é
positivamente afetada pela “medida em que um líder funções e responsabilidades
está ciente e exibe padrões de abertura e clareza em seu
comportamento em relação aos outros, compartilhando dos membros da equipe
as informações necessárias para tomar decisões,
aceitando sugestões de outros e revelando seus valores, Embora todos os membros da equipe precisem entender
motivos e sentimentos pessoais de uma maneira que os papéis e responsabilidades do líder da equipe, o
permita aos seguidores avaliar com mais precisão a conceito de “seguidores” enfatiza a importância de cada
competência e a moralidade das ações do líder.” n membro da equipe em contribuir para o atendimento
QUADRO E-5 lista comportamentos que são consistentes ao trauma. Esta seção aborda as maneiras pelas quais
com uma liderança eficaz. os membros da equipe de trauma podem se preparar
melhor e contribuir para um ótimo atendimento ao
Cultura e clima doente como parte da equipe.
Pode ser assustador tanto para o médico inexperiente
Um atributo-chave de um líder eficaz é a capacidade quanto para outro profissional as primeiras vezes
de criar a cultura mais apropriada para o trabalho ser atendendo em uma equipe de trauma. Um bom líder de
realizado. O líder deve ter conhecimento suficiente equipe facilitará a integração dos membros da equipe na
sobre a cultura na qual o trabalho deve ser feito e a equipe, mas existem maneiras de ajudar os indivíduos.
capacidade de promover uma cultura que encoraje, Todos os que se preocupam com o atendimento ao
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 309

trauma podem ajudar a garantir que os recém-chegados vez, pode afetar a participação social nas equipes.
ao ATLS® sejam integrados da forma mais positiva Respostas emocionais e os significados que atribuímos
possível, não apenas para o cuidado ideal do doente, a experiências altamente estressantes podem
mas também para contribuir para o desenvolvimento desempenhar um papel na formação da identidade de
contínuo da prestação de cuidados através do trabalho um integrante e determinar como ele ou ela funciona no
em equipe do ATLS®. trabalho em equipe futura. Os efeitos adversos podem
resultar das experiências dos novatos em novas equipes,
o membro da equipe ATLS® por isso toda a equipe se beneficia de garantir que os
recém-chegados estejam bem integrados à equipe.
É importante que os membros da equipe do ATLS®
compreendam o que uma equipe ATLS® faz, o papel do Responsabilidades dos membros da equipe
líder da equipe, as funções dos membros da equipe, a
estrutura da equipe, a aplicação do ATLS® na equipe, Os membros individuais da equipe são responsáveis por
estratégias de comunicação eficazes e armadilhas estarem disponíveis para responder a uma solicitação de
comuns de trabalho em equipe. uma equipe de trauma. As principais responsabilidades
dos membros da equipe ATLS® incluem preparação,
As diretrizes gerais para os membros da equipe ATLS® recebimento do caso do doente, avaliação e tratamento
incluem: do doente e participação na avaliação pós-ação.

1. Os membros da equipe não agem isoladamente. Preparando-se para a Chegada do Doente


Por mais breve que seja o tempo de preparação,
cada pessoa deve ser apresentada por nome e Como membro da equipe, assegure-se de estar ciente de
função na equipe. Por exemplo, “Olá, meu nome suas funções, responsabilidades e recursos. Familiarize-
é Sanya. Eu trabalho para a equipe cirúrgica se com o layout da sala de reanimação e a localização
de plantão. Eu posso ajudar com a avaliação dos recursos. Reconhecer que você é responsável por
inicial, mas especialmente com problemas de sua própria segurança e garantir que esteja sempre
circulação”. De repente, chegar e se juntar à protegido contra o risco de infecção, usando as
equipe sem uma introdução pode confundir e precauções universais.
até mesmo distrair outros membros.
2. Esteja ciente e seguro sobre suas competências e Passagem do Caso
nunca hesite em pedir ajuda. Se o líder da equipe
lhe pedir para realizar um procedimento que você Normalmente, a equipe pré-hospitalar irá passar para
se sinta desconfortável em fazer, peça ajuda. o líder da equipe, que garante que a informação seja
rapidamente acessível a todos os membros da equipe.
3. Entenda o impacto do seu comportamento sobre Quando orientados a fazê-lo pelo líder da equipe, os
os outros membros da equipe. Discutir durante membros da equipe podem começar a avaliar o doente
uma decisão clínica afetará negativamente o mesmo durante a passagem do caso. Quando a equipe
funcionamento da equipe. pré-hospitalar está passando a toda a equipe, é vital
4. Quando você não concorda com o que está que os membros da equipe ouçam essa transferência
acontecendo, expresse razoável e calmamente suas e mantenham o nível de ruído no mínimo, para que
preocupações. Todos têm direito a uma opinião todos possam ouvir claramente a equipe pré-hospitalar.
e um bom líder de equipe escuta todos na equipe
antes de tomar decisões clínicas importantes.
Avaliação e Tratamento do Doente
5. Confie no líder e em outros membros da equipe.
Todos estão trabalhando em uma situação
Todos os membros da equipe devem rápida e
estressante e querem o que é melhor para
efetivamente desempenhar suas funções atribuídas.
o doente. Cada membro da equipe merece
Avalie o doente de acordo com os princípios do ATLS®
respeito, independentemente do papel.
e comunique seus achados diretamente ao líder da
equipe, garantindo que ele tenha ouvido as informações.
A confiança é um fator essencial na eficácia de uma Os membros da equipe podem ser solicitados a realizar
equipe, embora possa ser mais difícil estabelecer em determinados procedimentos pelo líder ou podem
equipes que não trabalham regularmente juntas. ser orientados a avaliar o doente. Os membros da
Além disso, experiências clínicas precoces afetam equipe que estão realizando as intervenções devem
o desenvolvimento da identidade, o que, por sua manter o líder da equipe ciente de seu progresso e
­310 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

informar imediatamente sobre quaisquer dificuldades


encontradas. tabela e-1 critérios para ativação
Os membros da equipe devem comunicar todas as da equipe de trauma
informações ao líder. A comunicação ou discussão
entre os membros da equipe que não envolvem o líder CATEGORIA CRITÉRIOS
podem gerar confusão e decisões conflitantes sobre as
próximas etapas. Mecanismo de • Quedas > 5 metros
Trauma • Acidentes em alta velocidade
Participando da Discussão • Ejetados do veículo
• Colisão em alta velocidade
O feedback mostra correlação com os resultados • Pedestre, ciclista ou motociclista
gerais de desempenho da equipe. O membro da >30Km/h
equipe deve participar da discussão em quase todas • Óbito no mesmo veículo
as circunstâncias. Ele dá aos membros da equipe
uma chance de discutir como o doente foi atendido Lesões • Lesões em mais de duas regiões
e, particularmente, identificar tanto pontos positivos Especificas • Ferimento penetrante em cabeça,
quanto quaisquer ações que devam ser tomadas antes pescoço, tronco ou proximal de
que façam parte da equipe na próxima vez. A discussão membros
também dá a toda equipe oportunidades para considerar • Amputações
a necessidade de cursos ou treinamentos. • Queimaduras > 15% em adultos, 10%
em crianças or envolvendo via aérea
us a ndo o ATLS® • Obstrução de via aérea

em equipe Alterações • Sístolica < 90 mm Hg


fisiológicas • Pulso > 130
Estratégias específicas da avaliação de doentes estão • FR < 10 or > 30
descritas no manual ATLS® do estudante. Esta seção • GCS score < 14/15
descreve os papéis específicos que os membros da • Lesão de tórax em paciente com
equipe de trauma assumem enquanto atendem o doente mais de 70 anos
de acordo com esses princípios. • Gravidez > 24 semanas com lesão
em tronco
chegada do doente
n TABELA E-1 apresenta exemplos de critérios para treinado para colocar uma máscara laríngea (LMA) ou
ativação da equipe de trauma, embora estes possam tubo endotraqueal usando drogas apropriadas quando
variar em cada instituição. necessário para o doente
O líder da equipe recebe o caso, garante que todas as Quando houver suspeita de lesão da coluna cervical,
informações importantes sejam transferidas rapidamente o médico estabelecerá a via aérea enquanto restringe o
para os membros da equipe e estabelece os aspectos mais movimento da coluna cervical. Este procedimento requer
importantes da passagem do caso usando a abordagem um assistente para estabilizar o pescoço e restringir o
ABCDE para priorizar as lesões identificadas pelos movimento da coluna vertebral durante a intubação.
socorristas pré-hospitalares. Em algum momento uma O assistente da via aérea ajuda o médico A, fornecendo
história AMPLA deve ser obtida, embora informações equipamento apropriado e drogas para intubação.
completas sobre o doente podem não estar disponíveis O médico A, encarregado da via aérea, informa o líder
nessa passagem de caso. da equipe, em intervalos regulares, sobre as medidas
tomadas para proteger as vias aéreas. Se em algum
CONTROLE DA VIA AÉREA E RESTRIÇÃO DO momento a via aérea se tornar difícil de estabelecer, o
MOVIMENTO DA COLUNA CERVICAL Médico A deve informar o líder da equipe imediatamente.

A proteção de uma via aérea é geralmente o papel ventilação e respiração


do anestesista ou de um médico de pronto-socorro
treinado em técnicas de via aérea (Médico A). O médico A primeira responsabilidade do médico B é avaliar
A deve, no mínimo, ter habilidades básicas em via rapidamente a ventilação e estabelecer se ela é
aérea e conhecer as indicações para a obtenção de via satisfatória usando a abordagem ATLS® padrão e
aérea definitiva. Idealmente, o Médico A tem que estar segura. O médico B relata seus achados ao líder da
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 311

equipe e garante que ele ouviu com clareza. Se um


doente apresentar lesões torácicas com risco de morte,
o médico B poderá ter que realizar urgentemente uma
toracostomia com agulha, ou drenagem de tórax.

CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE


HEMORRAGIAS
Se o Médico B não identificar nenhum problema com
risco de morte ao examinar o tórax do doente, ele ou
ela poderá então prosseguir para avaliar a circulação,
novamente pelas técnicas padrões do ATLS®. No entanto,
se o Médico B for necessário para realizar intervenções n FIGURA E-2  Secretários dedicados são treinados para documentar
para reestabelecer a ventilação e respiração, um terceiro completamente todas as informações.
componente da equipe pode ser solicitado para avaliar
e auxiliar na circulação. Áreas de potencial hemorragia não é realizada. Após a exposição, cubra o doente com
devem ser identificadas e o acesso intravenoso deve ser cobertores aquecidos para manter a temperatura corporal.
estabelecido com a reanimação volêmica apropriada.
Os membros da equipe que estão auxiliando os médicos Registro das informações
na avaliação da respiração e da circulação devem estar
bem familiarizados com o layout da sala de emergência, O registro das informações é um papel importante e,
particularmente a localização de equipamentos como em algumas jurisdições, é realizada por um secretário
acessos venosos centrais, agulhas intraósseas e conjuntos dedicado que foi treinado para documentar todas as
rápidos de transfusões. Eles devem ser competentes para informações de maneira apropriada (n FIGURA E-2). Quando
configurar e usar esses acessórios. os secretários não estão disponíveis, a documentação é
Se o fechamento da bacia for necessário para limitar feita após o atendimento ao doente. É responsabilidade
o sangramento pélvico, dois médicos podem ser do líder da equipe garantir que o secretário esteja ciente
necessários para aplicá-lo. Um médico especialista de todas as informações e achados importantes. O líder
pode se juntar à equipe e ser útil para essa função, da equipe também deve garantir que a documentação
particularmente um especialista em ortopedia. Todos os inclua quaisquer decisões significativas sobre cuidados
médicos qualificados como prestadores de ATLS® devem definitivos ou investigações urgentes. Muitas fichas de
ser capaz de aplicar com segurança uma cinta pélvica. trauma usam o sistema ABCDE, portanto, informações
importantes podem ser registradas à medida que a
DéficIT neurológico equipe relaciona seus achados com o líder da equipe.

O Médico A, que está estabelecendo a via aérea,


geralmente pode determinar a pontuação da Escala de
Coma de Glasgow (GCS) do doente e avaliar o tamanho
GARANTINDO UMA COMUNICAÇÃO
da pupila enquanto está posicionado na cabeça do EFICAZ DA EQUIPE
doente. Para um doente que necessite de intubação
imediata ou urgente, o médico que estabelece a via Pouco importa quão competente é o atendimento clínico
aérea deve observar a pontuação da escala de Glasgow se a equipe de trauma não se comunicar de forma efetiva
e o tamanho da pupila antes de administrar qualquer e eficiente. A comunicação não é apenas um conjunto
medicamento. de ações a serem realizadas; envolve um contexto
experiencial compartilhado e um entendimento coletivo
Exposição e ambiente do propósito da atividade da equipe.
Estudos em equipes de atenção primária à saúde
É fundamental expor completamente o doente, cortando descobriram que o tempo estruturado para a tomada
as roupas para examiná-lo. Durante a exposição, uma de decisões, a formação de equipes e a coesão da equipe
inspeção visual completa do doente pode ser realizada influenciaram a comunicação entre elas. Não reservar
e quaisquer lesões óbvias devem imediatamente ser tempo para reuniões regulares para esclarecer papéis,
relatadas ao líder da equipe. Este procedimento pode ser definir metas, alocar tarefas, desenvolver e incentivar a
realizado por assistentes de enfermagem ou por equipe participação e gerenciar a mudança foram inibidores da
médica, se apropriado. Nesta fase a avaliação secundária boa comunicação entre as equipes. Variação de status,
poder, educação e assertividade dentro de uma equipe
­312 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

podem contribuir para uma comunicação deficiente. A •• Decidir o uso apropriado de reanimação
formação profissional conjunta e as reuniões regulares balanceada versus reanimação volêmica
facilitam a comunicação para equipes multiprofissionais. tradicional.
Além disso, diferentes profissões podem ter problemas •• Determinar objetivos e metas da reanimação.
na comunicação relacionados a variações em como as
informações são processadas, analiticamente versus •• Decidir se deve ativar o protocolo de transfusão
intuitivamente. Além disso, há uma maior valorização maciça.
da informação entre os membros do mesmo grupo •• Determinar quando parar de reanimar um
profissional e os estereótipos podem ocorrer entre doente traumatizado porque medidas adicionais
membros de diferentes profissões. Para reduzir tais de reanimação poderiam ser inúteis.
vieses, expectativas claras devem ser definidas para a
equipe de trauma. Todas essas situações são difíceis de abordar ao lidar
No contexto de uma equipe atendendo traumas com uma vítima de traumatismo grave e as maneiras
multissistêmicos: pelas quais elas são tratadas variam de acordo com os
padrões e recursos locais. É impossível fornecer uma
•• A comunicação entre um membro e um líder de solução única para cada um desses exemplos, mas as
equipe deve ser direta e bidirecional. diretrizes gerais para lidar com conflitos são úteis.
•• O membro da equipe deve passar as informações Lembre-se de que todos os membros da equipe devem
e o líder da equipe deve confirmar se ouviu e ter a oportunidade de dar sugestões sobre o atendimento
compreendeu as informações. do doente (durante os intervalos de tempo). No entanto,
o líder da equipe tem responsabilidade final pelo
•• Os intervalos de tempo de 2, 5 e 10 minutos podem gerenciamento do doente. Todas as ações que afetam
permitir a discussão ou revisão dos achados. o doente devem ser feitas no melhor interesse dele.
•• Toda a comunicação deve ocorrer em tom de voz Muitos conflitos e confrontos sobre o atendimento
normal. de doentes com traumas surgem porque os médicos
não têm certeza de suas próprias competências e
•• A comunicação não deve se tornar uma
não querem ou relutam em dizê-lo. Se os médicos
discussão extensiva sobre o doente. Decisões
não tiverem a experiência para atender um doente
complexas podem exigir discussão entre os
traumatizado e discordarem entre si, devem envolver
membros da equipe, mas devem sempre ser
imediatamente um médico mais experiente, que pode
conduzidas com calma e profissionalmente.
ajudar a resolver a situação e ter um resultado positivo
Faça essas discussões um pouco distante do
tanto para o doente quanto para a equipe. Os líderes de
doente, especialmente se ele ou ela estiver
equipe de trauma tendem a ser médicos mais experientes,
consciente.
mas, dependendo dos recursos, outros médicos podem
estar atuando como líderes de equipe de trauma. Nesta
situação, é vital ter um médico mais experiente disponível
resolvendo conflitos para apoio na tomada de decisões desafiadoras.
Discussões entre médicos podem se tornar mais
difíceis de resolver quando os médicos acreditam
A equipe de trauma deve funcionar como uma firmemente que suas condutas são as que deve ser
unidade coesiva que avalia e trata o doente para o seguidas. Nesses casos, pode ser útil envolver até
melhor resultado possível. Na maioria dos casos, todos mesmo o diretor médico do trauma. Eles podem ajudar
os membros da equipe atendem o doente da melhor nas decisões, particularmente onde os protocolos ou
maneira possível. Infelizmente, como em qualquer diretrizes hospitalares estão disponíveis.
campo de assistência médica, surgem controvérsias Dilemas éticos também podem causar conflitos entre
e conflitos. Exemplos de fontes de conflito incluem: os membros da equipe de trauma. Os exemplos podem
incluir a decisão de interromper a reanimação de um
•• Tomar uma decisão difícil sobre se um doente doente gravemente ferido ou de reanimar doentes
requer uma tomografia computadorizada com sangue ou hemoderivados quando as opiniões
urgente ou uma laparotomia imediata. religiosas do doente não permitem tal ação. Lembre-se
•• Determinar o melhor tratamento para o de que o aconselhamento especializado está disponível
sangramento de uma fratura pélvica: radiologia sobre esses assuntos. O líder da equipe de trauma ou um
intervencionista ou tamponamento pélvico representante designado pode buscar mais informações
pré-peritoneal. ou apoio que possa ajudar na melhor decisão para o
doente.
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 313

A grande maioria das equipes de trauma trabalha 7. Burke CS, Stagl KC, Klein C, et al. What type of
bem em conjunto e obtém resultados positivos para leadership behaviors are functional in teams? A
seus doentes. Quando surgem controvérsias, elas são meta-analysis. Leadership Q 2006;17:288–307.
tratadas profissional e calmamente, se possível, longe 8. Cant S, Killoran A. Team tactics: a study of nurse
do doente que está sendo reanimado. Muito pode ser collaboration in general practice. Health Ed J
aprendido nas discussões sobre os desafios de lidar 1993;52(4):203–208.
com vítimas de trauma. Quanto mais doentes a equipe 9. Chowdhury S. The role of affect- and cognition-
tratar, mais experientes os membros se tornam e mais based trust in complex knowledge sharing. J
claras essas situações serão abordadas. Os membros da Managerial Issues 2005;17(3):310–327.
equipe de trauma podem se preparar para o seu papel 10. Collins J. Good to Great. London, UK: Random
aprendendo os princípios do ATLS®, bem como os House; 2001.
fundamentos do desempenho dentro da equipe médica. 11. Dreachslin JL, Hunt PL, Sprainer E.
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Onde os recursos permitem, o melhor atendimento Developing expert medical teams: towards an
de uma vítima de trauma é por uma equipe de trauma evidence based approach. Acad Emerg Med 2008
treinada com um líder de equipe competente e Nov;15:11:1025–1036.
qualificado. Os princípios do ATLS® são fundamentais 13. Field R, West MA. Teamwork in primary
para o funcionamento da equipe de trauma. Todos health care, 2: Perspectives from practices. J
os membros devem ser treinados no ATLS® e com Interprofessional Care 1995;9(2):123–130.
experiência na sala de reanimação. Os líderes de 14. Goleman D, Boyatzis R, McKee A. Primal
equipe de trauma exigem habilidades e competências Leadership: Unleashing the Power of Emotional
específicas, bem como uma experiência considerável Intelligence. Boston, MA: Harvard Business Press;
na prestação de cuidados de trauma, de acordo com 2013.
os padrões ATLS®. Os membros da equipe podem se 15. Helmich E, Bolhuis S, Laan R, et al. Entering
preparar para o tratamento do trauma e aprender com medical practice for the very first time: emotional
suas experiências em diferentes equipes de trauma. talk, meaning and identity development. Med
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­314 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos

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27. Thylefors I, Persson O, Hellstrom D. Team types, Saddle River, NJ: Prentice Hall; 2009.
perceived efficiency and team climate in Swedish
cross-professional teamwork. J Interprofessional
Care 2005;19(2):102–114.
Apêndice F
C ENÁRIOS DE TRIAGEM

OBJETIVOS

1. Definir triagem. 3. Aplicar os princípios de triagem nos cenários reais.

2. Explicar os princípios gerais de triagem e os fatores


que devem ser considerados no processo de
triagem.

E
ste é um exercício de auto-avaliação, para ser •• A triagem é contínua em cada nível.
completado antes de sua chegada ao curso. Por
favor, leia as informações contidas nas páginas
seguintes antes de ler os cenários e de responder Segurança vem primeiro
suas questões. Esta sessão de treinamento prático é
conduzida em uma discussão em grupo durante o curso, O socorrista pode correr mais risco para si próprio ao
onde sua participação é esperada. Ao completar esta precipitar-se para uma cena perigosa, aumentando o
sessão, seu instrutor revisará as respostas. número de vítimas da ocorrência. O objetivo no resgate
O objetivo desta sessão é aplicar os princípios de é extricar rapidamente o indivíduo da cena e não gerar
triagem em trauma em cenários com múltiplas vítimas. mais pessoas traumatizadas que certamente seria
contra-producente. A triagem só deve começar quando o
socorrista está seguro de que não será outro traumatizado.
Definiç ão de tr i ag em Deve estar ciente da possibilidade de um segundo acidente.
(Ex. colapso estrutural, fogo, soterramento, explosões, e
Triagem é o processo pelo qual se prioriza o tratamento colisões de veículos adicionais). Algumas cenas podem
de doentes durante eventos de vítimas em massa. necessitar da segurança de bombeiros, apoio de resgate, ou
forças de segurança antes da entrada do pessoal médico.
Pr incípios de tr i ag em FAÇA O MELHOR PARA O MAIOR NÚMERO DE
DOENTES USANDO OS RECURSOS DISPONÍVEIS
Os princípios de triagem são:
Fazer o melhor para a maioria dos doentes usando os
•• Reconhecer que o resgate seguro é a primeira recursos disponíveis é a principal regra de orientação na
prioridade. triagem. Eventos com múltiplas vítimas por definição
•• Fazer o melhor para a maioria dos doentes não excedem os recursos disponíveis. Todavia,
usando recursos disponíveis. eventos de vítimas em massa, excedem os recursos
•• Tomar decisões oportunas. médicos disponíveis e requerem triagem; o prestador
de cuidados, o local, o sistema e/ou a instituição é
•• Preparar a triagem para ocorrer em múltiplos níveis. incapaz de gerenciar o número de vítimas utilizando
•• Conhecer e entender os recursos disponíveis. métodos padronizados. Intervenções padronizadas de
•• Planejar e ensaiar as respostas com exercícios atendimento, evacuações e procedimentos não podem
práticos. ser completados (para cada lesão) em cada doente dentro
do intervalo de tempo usual. Os princípios de triagem
•• Determinar os tipos e categorias de triagem
com antecedência. são aplicados quando o número de vítimas excedem

317
­318 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

as capacidades médicas que estão imediatamente local do incidente. Assim que os socorristas chegarem
disponíveis para prestar o atendimento usual e rotineiro. ao local eles falarão diretamente com o comandante da
cena. Para eventos de vítimas em massa um comandante
tomando uma decisão oportuna médico hospitalar do incidente é o responsável por dirigir
a resposta do hospital.
Tempo é essencial durante a triagem. O aspecto mais
difícil deste processo é tomar a decisão médica sem as Planejamento e treinamento
informações completas. Aquele que realiza a triagem (ou
oficial de triagem) deve ser capaz de avaliar rapidamente A triagem deve ser planejada e treinada sempre que possível.
a cena e o número de vítimas, deter-se em doentes Eventos que possuem grande probabilidade de ocorrer na
individuais por curtos períodos e realizar determinações área local são um bom ponto de partida para o planejamento
imediatas de triagem para cada doente. Decisões de e treinamento do atendimento de vítimas em massa. Por
triagem são normalmente realizadas decidindo quais exemplo, simule um evento de vítimas em massa de uma
lesões dos doentes constituem o maior risco imediato queda de avião caso a instituição fique próximo a um
à vida. Assim, as prioridades de via aérea, respiração, grande aeroporto, derramamento químico se próxima a
circulação e estado neurológico do ATLS são as mesmas uma ferrovia movimentada, ou de um terremoto se em uma
prioridades usadas para tomada de decisão na triagem. região de tremores de terra. O ensaio específico para cada
Desta forma, geralmente, problemas da via aérea são mais tipo de desastre não é possível, mas o planejamento geral e
rapidamente letais do que problemas da respiração, que uma afinação precisa da resposta institucional baseada na
por sua vez são mais rapidamente letais do que problemas prática de exercícios são possíveis e necessários.
da circulação, os quais são mais rapidamente letais do que
lesões neurológicas. Todas as informações disponíveis, DETERMINE OS TIPOS DE CATEGORIA DE
incluindo os sinais vitais, quando disponíveis, devem ser TRIAGEM
usadas para tomar cada decisão de triagem.
O título e a cor de cada categoria de triagem devem ser
a triagem ocorre em múltiplos níveis determinados no nível de um sistema abrangente como
parte do planejamento e treinamento. Várias opções são
Triagem não é um evento ou uma decisão de uma única vez utilizadas ao redor do mundo. Um método simples e comum
nem de um único lugar. Triagem ocorre primeiramente na é usar etiquetas com as cores do semáforo: vermelho,
cena ou local do evento quando as decisões são tomadas amarelo e verde. Vermelho indica lesão com risco de vida
em relação a qual doente tratar primeiro e a sequência que requer intervenção imediata e/ou cirurgia. Amarelo
em que os doentes serão evacuados. A triagem ocorre indica lesões que podem se tornar comprometedoras da vida
normalmente fora do hospital para determinar para onde ou de um membro, caso o atendimento seja retardado por
os doentes serão transportados dentro da instituição (ex. várias horas. Doentes verdes são os feridos que caminham e
emergência, sala de cirurgia, unidade de terapia intensiva sofreram apenas traumatismos leves. Estes doentes podem,
ou enfermaria). A triagem ocorre novamente na área pré- às vezes, ser usados para auxiliar seu próprio atendimento
operatória quando decisões são tomadas sobre a sequência e o cuidado de outros. Preto é frequentemente usado para
em que os doentes serão operados. As condições dos marcar os doentes mortos.
doentes podem melhorar ou piorar com as intervenções e Muitos sistemas acrescentam outra cor como a azul ou cinza
com o tempo, assim são realizadas triagens diversas vezes. para doentes “expectantes” – aqueles que apresentam lesões
tão graves que, diante do número de vítimas que necessitam
conheça e entenda os recursos atendimento, a decisão é tomada para apenas oferecer-lhes
disponíveis tratamento paliativo enquanto se atende primariamente os
doentes vermelhos (e talvez alguns amarelos). Doentes que
Decisões de triagem ideais são feitas com conhecimento são classificados como expectantes devido à gravidade de suas
e entendimento dos recursos disponíveis em cada nível lesões seriam normalmente a primeira prioridade em situações
ou estágio do atendimento do doente. O oficial de triagem onde existem apenas duas ou três vítimas necessitando
também deve estar imediatamente alerta das modificações atendimento imediato. Entretanto, as regras, protocolos e
dos recursos, tanto para mais como para menos. padrões de atendimento mudam diante do evento de vítimas
Um cirurgião com conhecimento do sistema de saúde em massa. Lembre-se: “realize o melhor para o maior número
local pode ser o Oficial de triagem intra-hospitalar de doentes utilizando os recursos disponíveis”. (Veja também
ideal porque ele compreende todos os componentes informação de triagem em Apêndice C: Atendimento ao
do funcionamento do hospital, incluindo as salas de Trauma com Vítimas Múltiplas, em Ambientes Hostis e
cirurgia. Este arranjo não funcionará em situações com Conflitos Militares e Apêndice D: Preparação e Resposta a
um número limitado de cirurgiões e não se aplica ao Desastres.
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 319

a triagem é contínua “elevação” na categoria de triagem, talvez de amarelo


para vermelho. Em outros, uma fratura exposta pode ser
A triagem deve ser contínua e repetida a cada nível descoberta depois do término da triagem inicial, exigindo
ou local onde for necessária. A vigilância constante e uma “elevação” na categoria de verde para amarelo.
reavaliação vão identificar doentes cujas circunstâncias Um grupo importante que requer retriagem é a categoria
mudaram, seja por alterações no estado fisiológico expectante. Embora a triagem inicial classifique um
ou por disponibilidade de recursos. À medida que o doente como portador de traumatismos irrecuperáveis,
evento de vítimas em massa continua a se desdobrar, isto pode mudar depois de que todos os vermelhos (ou
a necessidade de retriagem torna-se evidente. A talvez vermelhos e alguns amarelos) tenham sidos
fisiologia de doentes traumatizados não é constante atendidos ou evacuados (por exemplo, um doente
nem previsível, especialmente considerando a avaliação jovem com 90% de superfície corporal queimada pode
rápida e limitada exigida durante a triagem. Alguns sobreviver caso surja a disponibilidade de um centro
doentes deterioram inesperadamente e requerem uma de queimados).

cenário de Triagem I
Tiroteio em Massa em um Shopping Center

cenário
Você é avisado de que em uma área segura de um shopping center 6 pessoas são feridas em um tiroteio em massa. O
atirador matou-se. Você rapidamente examina a situação e determina que as condições dos doentes são as seguintes:

DOENTE A—Um homem jovem gritando. “Por favor ajude-me, minha perna está me matando"
DOENTE B—Uma mulher jovem com cianose e taquipneia e está respirando ruidosamente.
DOENTE C—Um homem idoso deitado em uma poça de sangue com a perna esquerda da calça encharcada
em sangue.
DOENTE D—Um homem jovem está deitado de bruços e imóvel.
DOENTE E—Um homem jovem está xingando e gritando que alguém deveria ajudá-lo ou ele chamará seu advogado.
DOENTE F—Uma adolescente deitada no chão chorando e segurando o abdome.

PERGUNTAS PARA RESPOSTAS


1. Para cada doente qual o problema primário requerendo tratamento?

DOENTE A—Um homem jovem gritando. “Por favor ajude-me, minha perna está me matando"
Possível lesão/Problema:

DOENTE B—Uma mulher jovem com cianose e taquipneia e está respirando ruidosamente.
Possível lesão/Problema:

DOENTE C—Um homem idoso deitado em uma poça de sangue com a perna esquerda da calça encharcada
em sangue.
Possível lesão/Problema:

DOENTE D—Um homem jovem está deitado de bruços e imóvel.
Possível lesão/Problema:

DOENTE E—Um homem jovem está xingando e gritando que alguém deveria ajudá-lo ou ele chamará seu advogado.
Possível lesão/Problema:

(continua)
­320 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem I (continuação)

DOENTE F—Uma adolescente deitada no chão chorando e segurando o abdome.


Possível lesão/Problema:

2. Estabeleça as prioridades para avaliação posterior colocando um número (1 a 6 onde 1 é a prioridade maior
e 6 a menor) no espaço próximo de cada letra do doente.

Doente A
Doente B
Doente C
Doente D
Doente E
Doente F

3. Brevemente delineie seu raciocínio para priorizar os doentes desta maneira.

PRIORIDADE DOENTE JUSTIFICATIVA

4. Brevemente descreva as manobras de suporte básico de vida e/ou técnicas adicionais de avaliação que você
usaria para posteriormente avaliar o problema.

MANOBRA DE SUPORTE BÁSICO DE VIDA E/OU TÉCNICAS DE


PRIORIDADE DOENTE AVALIAÇÃO ADICIONAIS

6
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 321

cenário de triagem II
Tiroteio em Massa em um Shopping Center (cont.)

Continuação do cenário DE TRIAGEM I


1. Caracterize os doentes de acordo para que recebam cuidados de Suporte Básico de Vida (BLS) e/ou Suporte
Avançado de Vida (ALS), e descreva qual esse cuidado deveria ser. (Doentes estão listados em ordem de
prioridade como identificados no Cenário de Triagem I).

DOENTE BLS OU ALS DESCRIÇÃO DO CUIDADO

BLS ALS

BLS ALS

BLS ALS

BLS ALS

BLS ALS

BLS ALS

2. Priorize a transferência dos doentes e identifique o destino. Forneça um breve raciocínio para sua escolha de destino.

DESTINO

CENTRO DE HOSPITAL MAIS


PRIORIDADE DOENTE TRAUMA PRÓXIMO JUSTIFICATIVA

3. Em situações envolvendo múltiplos doentes, que critério você usaria para identificar e priorizar o tratamento
destes doentes?



(continua)
­322 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem II (continuação)

4. Que pistas você pode extrair de qualquer doente que possa ajudar na triagem?



5. Quais lesões ou sintomas dos doentes devem receber tratamento na cena, antes do pessoal pré-hospitalar chegar?



6. Após o pessoal do Pré-hospitalar chegar, que tratamentos devem ser instituídos e que princípios governam
a ordem de início de tais tratamentos?



7. Em situações de traumas múltiplos, quais doentes devem ser transportados? Quais devem ser transportados
mais tarde?



8. Quais doentes podem ter tratamento retardado e serem transportado mais tarde?




APÊNDICE F n Cenários de Triagem 323

cenário de triagem III


Explosão e Incêndio num Trailer

cenário
A Polícia estava conduzindo uma blitz de um trailer suspeito de ter um laboratório de droga ilícita,
metanfetamina, quando ocorreu uma explosão e o trailer foi tomado em chamas. Você recebeu notificação
de que 2 ambulâncias com 5 doentes da cena estão na entrada do Hospital: um policial e quatro pessoas que
estavam no trailer, incluindo uma criança. Eles foram trazidos para seu pequeno hospital, no departamento
de emergência, com a coluna imobilizada com prancha longa e com colar cervical.
Os doentes feridos são os seguintes:

doente A

Um homem de 45 anos, policial, que entrou no trailer para retirar a criança, está tossindo e expectorando
material carbonáceo. Apresenta chamuscamento dos pelos da face e do cabelo. A voz está normal, ele se
queixa de dor nas mãos que apresentam eritema e bolhas em formação.
Sinais vitais são: PAS=120 mmHg, FC=100 bpm, e FR=30 irpm.

doente B

Uma menina de 6 anos que foi carregada para fora do trailer pelo Doente A está assustada e chorosa. Queixa-
se de dor nas queimaduras (eritema/bolhas) que acometem as costas, as nádegas e a porção posterior de
ambas as pernas.
Sinais vitais são: PA=110X70 mmHg, FC=100 bpm, e FR=25 irpm.

doente C

Um homem de 62 anos está tossindo, chiando e expectorando catarro com partículas de carvão. Sua voz está
rouca e responde apenas a estímulo doloroso. Há eritema, bolhas, e a pele está carbonizada na face e pescoço,
parede anterior do tórax e do abdome, queimaduras circunferenciais nas quatro extremidades poupando os
vincos da virilha e genitais.
Sinais vitais são: PA=80X40 mmHg, FC=140 bpm e FR=35 irpm.

doente D

Uma mulher de 23 anos está obnubilada, mas responde à dor, à movimentação do úmero e da perna direitas.
Não há deformidade óbvia do braço e a coxa está edemaciada imobilizada no dispositivo de tração.
Sinais vitais são: PA=140X90 mmHg, FC=110 bpm e FR=32 irpm.

doente E

Um homem de 30 anos está alerta, pálido e queixa-se de dor na pelve. Existe evidência clínica de fratura, com
distensão e dor abdominal à palpação. Na face anterior do tórax, abdome e coxas há eritema e bolhas. Ele
também apresenta uma laceração na fronte. Ele tem um líquido oleoso e pungente nos braços e no peito.
Sinais vitais são: PA=130X90 mmHg; FC=90 bpm e FR=25 irpm.

(continua)
­324 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem III (continuação)

O atendimento das prioridades deste cenário pode ter como base as informações obtidas por exame feito a
distância. Embora exista dúvida sobre qual doente é o mais grave, uma decisão deve ser tomada para prosseguir
com as melhores informações disponíveis no momento.

1. Qual(is) doente(s) tem trauma associado e/ou lesão por inalação, além das queimaduras da superfície corpórea?

2. Usando a tabela abaixo:

a. Estabeleça as prioridades de atendimento na sala de emergência de seu hospital, colocando um número


(de 1 a 5, onde 1 representa a maior prioridade e 5 a menor prioridade) no espaço designado para cada
letra do doente na coluna “Prioridade de Tratamento”.
b. Identifique qual doente apresenta trauma associado e/ou lesão de via aérea e escreva “sim ou não” e
assinale na coluna apropriada “Associado”.
c. Estime a porcentagem de área de superfície corporal queimada (SCQ) para cada doente e anote a
porcentagem de cada doente na coluna “% SCQ”.
d. Identifique qual doente deve ser transferido para um centro de queimados e/ou centro de trauma, e
escreva “sim ou não” e na coluna “Transferência”.
e. Estabeleça as prioridades de transferência e coloque os números de prioridade na coluna “Prioridades
de Transferência”.

LESÕES ASSOCIADAS
(SIM/NÃO)
PRIORI- PRIORI-
DADE DE DADE DE
TRATA- LESÃO TRANS- TRANS-
MENTO POR QUEI- % FERÊNCIA FERÊNCIA
DOENTE (1–5) INALAÇÃO TRAUMA MADURA SCQ (SIM/NÃO) (1–5)

3. Descreva as precauções necessárias que os staffs necessitam tomar para avaliar e tratar estes doentes
tendo em vista a produção de metanfetamina.





APÊNDICE F n Cenários de Triagem 325

cenário de triagem IV
Lesão por Frio

cenário
Você está no hospital quando recebe um telefonema relatando que cinco membros da família de um médico estavam
passeando em veículos motorizados para neve sobre a superfície de um lago, quando o gelo partiu. Quatro membros
da família caíram no lago. O médico não caiu no lago e foi em busca de socorro. O tempo de resposta do socorro
básico e avançado foi de 15 minutos. Quando as unidades de suporte básico e avançado de vida chegaram, uma vítima
conseguiu sair do lago e retirou outra vítima da água. Dois indivíduos permaneceram submersos, foram encontrados,
resgatados e removidos do lago por mergulhadores. A equipe de resgaste deu a seguinte informação da cena:

DOENTE A—O menino de 10 anos de idade, neto do médico, foi removido do lago pela equipe de resgate.
O monitor do ECG mostra assistolia.
DOENTE B—A mulher de 65 anos de idade, esposa do médico, foi removida do lago pela equipe de resgate.
O monitor do ECG mostra assistolia.
DOENTE C—A mulher de 35 anos de idade, filha do médico, que estava no lago e foi retirada com a ajuda
de sua cunhada, apresenta abrasões na parede anterior do tórax. PAS=90 mmHg.
DOENTE D—A mulher de 35 anos de idade, nora do médico, que estava submersa e conseguiu sair do lago,
não apresenta sinais de trauma. PAS=110 mmHg.
DOENTE E— O médico, com 76 anos, aposentado, que não caiu na água, não apresenta queixas a não ser
frio nas mãos e nos pés.

1. Estabeleça as prioridades para transporte da cena para a sala de emergência e dê uma breve explicação
para as suas decisões.

PRIORIDADE
DE TRANS-
PORTE DOENTE JUSTIFICATIVA

2. Ao chegar à sala de emergência, a temperatura corpórea central deve ser medida em todos os doentes. As
temperaturas corporais centrais dos doentes são:

DOENTE A: 29°C
DOENTE B: 34°C
DOENTE C: 33°C
DOENTE D: 35°C
DOENTE E: 36°C

(continua)
­326 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem IV (continuação)

Descreva brevemente suas razões para o restante da avaliação primária, reanimação e avaliação secundária
de cada doente.

JUSTIFICATIVA PARA PERMANÊNCIA DE AVALIAÇÃO PRIMÁRIA,


PRIORIDADE DOENTE REANIMAÇÃO E AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

5
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 327

cenário de triagem V
Colisão de Ônibus

cenário
Você é o único médico no Pronto-Socorro de um hospital comunitário de 100 leitos. Conta com a ajuda de uma
enfermeira e de uma auxiliar de enfermagem. Há 10 minutos você foi comunicado por rádio que ambulâncias
vão chegar com vítimas de colisão de um único ônibus de passageiros. O ônibus aparentemente perdeu
controle, saiu da rodovia, e capotou diversas vezes. Foi reportado que a velocidade antes do acidente era de
104 Km/h. Não há mais informações além de que dois dos passageiros do ônibus morreram na cena. Chegam
duas ambulâncias trazendo cinco doentes que eram os ocupantes do ônibus. Os doentes são:

doente A

Homem de 57 anos, motorista do ônibus. Aparentemente sofreu um trauma torácico. Com o impacto, foi
jogado contra o para-brisa. Chega em franca insuficiência respiratória. A lesões incluem: matéria que aparenta
ser massa encefálica no seu cabelo sobre uma fratura de crâneo palpável, deformidade angulada no antebraço
esquerdo, e múltiplas escoriações na face anterior do tórax.
Os sinais vitais são: PA=88X60 mmHg, FC=150 bpm, FR=40 rpm e escore GCS=4.

doente B

Mulher de 45 anos, passageira, aparentemente não estava usando cinto de segurança. No impacto ela foi ejetada
do ônibus. À admissão está em franca insuficiência respiratória. A equipe do pré-hospitalar fez uma avaliação
preliminar e passa-lhe as informações a seguir, Lesões: (1) trauma maxilofacial grave com hemorragia do nariz
e da boca, (2) fratura de antebraço esquerdo, com desvio e (3) múltiplas escoriações na face anterior do tórax.
Os sinais vitais são: PA=150X80 mmHg, FC=120 bpm, FR=40 irpm e escore GCS=8.

doente C

Homem de 48 anos, passageiro, achado debaixo do ônibus. Dizem-lhe que chegou confuso, respondendo com
lentidão a estímulos verbais. Tem múltiplas escoriações de face, tórax e abdome. O murmúrio vesicular está
abolido à esquerda e tem muita dor à palpação do abdome.
Os sinais vitais são: PA=90X50 mmHg, FC=140 bpm, FR=35 irpm e escore GCS=12.

doente D

Mulher de 25 anos, retirada do banco de trás do ônibus. Grávida de 8 meses, com comportamento histérico,
queixa-se de dor abdominal. Tem múltiplas escoriações na face e no abdome. Informam-no que tem muita
dor à palpação do abdome. Está em trabalho de parto.
Os sinais vitais são: PA=120X80 mmHg, FC=100 bpm e FR=25 irpm.

doente E

Menino de 6 anos, retirado dos bancos traseiros do ônibus. No local estava acordado e falando. Agora responde
a estímulos dolorosos apenas com choro. Tem escoriações múltiplas e deformidade na perna direita. Apresenta
ainda sangue seco ao redor do nariz e da boca.
Os sinais vitais: PA=110X70 mmHg, FC=180 bpm, FR=35 irpm.

(continua)
­328 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem V (continuação)

1. Descreva os passos que devem ser seguidos para triar estes cinco doentes.

2. Estabeleça as prioridades para seus doentes, colocando um número (1 a 5, sendo 1 a prioridade mais elevada
e 5 a menor) no espaço antes da letra de cada doente.

Doente A Doente D
Doente B Doente E
Doente C

3. Assinale, resumidamente, os motivos da sua priorização para os doentes.

PRIORIDADE DOENTE JUSTIFICATIVA

4. Resumidamente descreva as manobras de suporte básico de vida e/ou técnicas de diagnóstico que você
utilizaria para progredir no cuidado destes doentes.

MANOBRAS DE SUPORTE BÁSICO DE VIDA E/OU


PRIORIDADE DOENTE TÉCNICAS DIAGNÓSTICAS ADICIONAIS

5
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 329

cenário de triagem VI
Terremoto e Tsunami

CENáRIO
Em uma cidade costeira de 15.000 habitantes ocorreu um terremoto de magnitude 7,2, seguido de um tsunami
que avançou 4 Km para o interior. Na sequência houve uma explosão e incêndio em um reator de energia
nuclear próximo. Muitas estruturas colabaram, algumas vítimas ficaram presas no seu interior. Outras podem
ter sido “carregadas” para o mar. Algumas das estradas de saída da região estão bloqueadas por enchentes ou
deslizamentos de terra. Os serviços locais como eletricidade e rede de água estão interrompidos. A temperatura
atual é de 13 oC, e está começando a chover; o por do sol será em 2h.
Os bombeiros e paramédicos encontraram a seguinte cena:

vítimas

Dois técnicos são trazidos da planta de energia nuclear:

• O primeiro tem 40% de SCQ com queimaduras de segundo e terceiro graus. Medição com o contador
Geiger mostra que ele está contaminado com material radioativo.
• A segunda técnica não apresenta queimaduras, está confusa e vomita continuamente. Também apresenta
radioatividade em suas vestes.

Os paramédicos triaram 47 residentes do entorno que estavam feridos.

• 12 vítimas da categoria Vermelha


-- 8 com queimaduras extensas (20% a 50% SCQ) de 2o e 3o graus
• 8 vítimas de categoria Amarela
-- 3 com queimaduras focais de 2o grau (< 10% SCQ)
• 23 vítimas de categoria Verde
-- 10 com deformidades dolorosas de extremidades
• 5 vítimas de categoria Azul ou Expectante
-- 3 com queimaduras catastróficas de 2o e 3o graus (> 75% SCQ)

falecidos

Pelo menos 6 técnicos da planta nuclear e cinco residentes da área estão mortos, incluindo um lactente
com uma lesão craniencefálica fatal. Muitas outras pessoas estão desaparecidas.
Foram chamadas duas companhias de bombeiros e duas ambulâncias adicionais. O hospital da comunidade
local possui 26 leitos vagos, 5 profissionais de atendimento primário, 2 cirurgiões, 1 dos quais se encontra em
férias. O centro de trauma mais próximo encontra-se a 120 km de distância, e o centro de queimados mais
próximo encontra-se a mais de 320 km de distância.

1. Deve-se iniciar o plano de desastre da comunidade? Por que, ou por que não?

2. Caso seja declarado um evento de vítimas em massa, quem deve ser o comandante médico do incidente?

(continua)
­330 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem VI (continuação)

3. Qual é a primeira consideração do comandante médico do incidente na cena?



4. Qual é a segunda consideração do comandante médico de incidente na cena?



5. Quais considerações devem ser levadas em conta nas operações médicas na cena?

6. Quais mudanças que a presença de radioatividade promovem na triagem, tratamento e remoção?



7. Qual o significado das categorias de triagem vermelha, amarela, verde, azul e preta?

8. Designadas as categorias da questão 7, quais os doentes que devem ser removidos para o hospital; por qual
meio de transporte; e em qual ordem?

9. Quais os esforços que devem ser feitos pelo comandante médico do incidente para auxiliar na resposta e
na recuperação?


APÊNDICE F n Cenários de Triagem 331

cenário de triagem VII


Explosão de Bomba Suicida em um Comício Político

CENáRIO
Uma explosão de bomba suicida foi comunicada em um comício político à noite. A região fica a 30 minutos do
seu centro de trauma nível II. Você é convocado para a cena como um dos oficiais de triagem. O relato inicial
revela 12 óbitos e 40 feridos. Muitas equipes de regate estão ocupadas com a evacuação.
Você chega a uma área onde você encontra 3 corpos e 6 doentes feridos. As condições dos 6 doentes feridos
são as seguintes:

doente A

Um rapaz, consciente e alerta, possui uma pequena ferida penetrante no pescoço, logo à esquerda da traqueia,
com edema leve do pescoço, rouquidão, sem sangramento ativo.

doente B

Um rapaz está encharcado em sangue, pálido e letárgico, porém responsivo a comandos verbais. Ambas as
pernas estão deformadas e ligadas apenas por pele e tecido muscular delgado abaixo dos joelhos.

doente C

Uma moça está reclamando de falta de ar, com taquipneia, cianose e múltiplas pequenas feridas penetrantes
no tórax à esquerda.

doente D
Um homem de meia-idade possui múltiplas feridas penetrantes no lado esquerdo do abdome e flanco
esquerdo, apresentando-se pálido e queixando-se de dor abdominal intensa. Queimaduras de segundo e
terceiro graus são visíveis no abdome inferior.

doente E

Um idoso, com falta de ar e expectorando escarro hemoptoico, encontra-se desorientado e tem múltiplas
equimoses e lacerações na parte superior do tronco.

doente F

Um rapaz tem uma ferida na face anterior da perna direita, com fragmento ósseo visível projetando pela ferida,
e está reclamando de dor intensa. Não apresenta sangramento ativo.

(continua)
­332 APÊNDICE F n Cenários de Triagem

cenário de triagem VII (continuação)

Questões para responder


1. Baseada na informação, descreva os problemas A, B, C potenciais para cada doente:

PROBLEMMAS POTENCIAIS PROBLEMAS POTENCIAIS PROBLEMAS POTEN-


DOENTE DE VIAS AÉREAS DE VENTILAÇÃO CIAIS DE CIRCULAÇÃO

2. Quais manobras de suporte de vida iniciais podem ser prestadas antes de transportar para um centro de
trauma (assumindo que há equipamento pré-hospitalar típico disponível neste momento)?

DOENTE A—Medidas iniciais de suporte de vida:




DOENTE B—Medidas iniciais de suporte de vida:


DOENTE C—Medidas iniciais de suporte de vida:


DOENTE D— Medidas iniciais de suporte de vida:


DOENTE E— Medidas iniciais de suporte de vida:


DOENTE F— Medidas iniciais de suporte de vida:

3. Que outras considerações você deve ter em mente durante a triagem na cena deste incidente?




APÊNDICE F n Cenários de Triagem 333

4. Descreva a transferência para o centro de trauma de cada doente em ordem de prioridade com seus motivos
(1 sendo o mais prioritário e 6 o menos)

PRIORIDADE DE
TRANSFERÊNCIA DOENTE JUSTIFICATIVA

5. Quais deveriam ser suas principais considerações de atendimento na chegada dos doentes no centro de
trauma?




Apêndice G
ESTAÇÕES PRÁTICAS

ESTAÇÃO PRÁTICA A Via Aérea 337

ESTAÇÃO PRÁTICA B Ventilação 345

ESTAÇÃO PRÁTICA C Circulação 349

ESTAÇÃO PRÁTICA D Disfunção Neurológica 357

ESTAÇÃO PRÁTICA E Medidas Auxiliares à Avaliação Primária 365

ESTAÇÃO PRÁTICA F Avaliação Secundária 371

335
Estação Prática A
V IA AÉREA

Parte 1: Manobras básicas PARTE 3: VIA AÉREA INFANTIL E


• Inserção da Cânula Nasofaríngea CRICOTIREOIDOSTOMIA
• Uso Seguro do Aspirador • Intubação Endotraqueal Infantil
• Inserção da Cânula Orofaríngea (Guedel) • Cricotireoidostomia com Agulha
• Ventilação com Bolsa-Máscara com Uma Pessoa • Cricotireoidostomia Cirúrgica
• Ventilação com Bolsa-Máscara com Duas Pessoas

Parte 2: manobras avançadas


• Inserção da Máscara Laríngea (ML)
• Inserção do Tubo Laríngeo (TL)
• Intubação Orotraqueal

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

Parte 1: Manobras Básicas na Via Aérea Parte 2: Manobras Avançadas na Via Aérea

1. Avaliar a permeabilidade da via aérea em um cenário 1. Inserir um dispositivo supraglótico ou extraglótico em


simulado de doente traumatizado. um manequim.

2. A
plicar uma máscara não re-inalante para maximizar 2. Citar as indicações para uma via aérea definitiva.
a oxigenação.
3. Tentar a intubação orotraqueal em um manequim.
3. Aplicar um oxímetro de pulso.
Parte 3: Via Aérea Infantil e Cricotireoidostomia
4. R
ealizar a tração de mandíbula em um manequim
para obter uma via aérea adequada. 1. Rever o manejo básico da via aérea pediátrica.

5. D
emonstrar a aspiração da via aérea em um 2. Tentar intubação endotraqueal em um manequim.
manequim.
3. Identificar marcos anatômicos para a cricotireoidostomia.
6. I nserir uma cânula nasofaríngea e orofaríngea em
um manequim. 4. Realizar uma cricotireoidostomia com agulha e
descrever as opções de oxigenação.
7. R
ealizar a ventilação com bolsa-máscara com uma e
duas pessoas em um manequim. 5. Realizar a cricotireoidostomia cirúrgica em um
modelo.

337
­338 APÊNDICE G n Estações Práticas

PARTE 1: ESTAÇÃO PR ÁTICA DAS MANOBRAS BÁSICAS DA VIA AÉREA

tr eINAMENTOS INCLUSOS USO SEGURO DA ASPIRAÇÃO


NESTA ESTAÇÃo PR ÁTICA
PASSO 1. Ligar o vácuo, selecionando um ponto médio
•• Inserção da cânula nasofaríngea (150 mm Hg) ao invés de vácuo total (300 mm
•• Uso seguro do aspirador Hg).
•• Inserção da cânula orofaríngea (Guedel)
PASSO 2. Abrir suavemente a boca, inspecionando
•• Ventilação com bolsa-máscara com uma pessoa o sangramento, lacerações ou dentes
•• Ventilação com bolsa-máscara com duas pessoas quebrados. Procurar a presença de fluido
visível, sangue ou detritos.

INSERÇÃO DA CÂNULA PASSO 3. Colocar delicadamente o aspirador na


orofaringe e nasofaringe, mantendo a ponta
NASOFARÍNGEA (CNF) do dispositivo de sucção sempre visível.

Nota: Não use a cânula nasofaríngea em um doente com


suspeita de fraturas de face ou de base de crânio. INSERÇÃO DA CÂNULA
PASSO 1. Examinar as fossas nasais para afastar
OROFARÍNGEA (GUEDEL)
qualquer obstrução aparente (pólipos,
fraturas, hemorragia). PASSO 1. Selecionar o tamanho adequado da cânula.
O tamanho correto é o que corresponde da
PASSO 2. Selecionar o tamanho adequado da cânula. rima oral do doente até o lóbulo da orelha
Verificar o diâmetro da narina para
determinar o maior tamanho que passará PASSO 2. Abrir a boca do doente com a técnica dos
facilmente pela mesma. dedos cruzados (técnica da tesoura).

PASSO 3. Untar a cânula nasofaríngea com um PASSO 3. Inserir um abaixador de língua sobre a língua
lubrificante hidrossolúvel ou com água. do doente, o mais posteriormente possível,
para abaixá-la adequadamente, tomando
PASSO 4. Com a cabeça do doente em posição neutra, cuidado para não provocar náusea.
fique ao lado do mesmo. Segurando o
CNF como um lápis, insira gentilmente a PASSO 4. Inserir o tubo posteriormente, deslizando-o
ponta da cânula na narina e direcione-a gentilmente sobre a curvatura da língua, até
posteriormente em direção ao ouvido. que a aba do tubo se apoie sobre os lábios
do doente. O tubo não deve empurrar a
PASSO 5. Inserir gentilmente a cânula nasofaríngea língua para trás levando à obstrução da via
através da narina na hipofaringe com um aérea. Uma técnica alternativa de inserção,
ligeiro movimento de rotação, até que a denominada método de rotação, envolve
falange repouse contra a narina. Se durante a inserir a cânula de ponta-cabeça de modo
inserção a CNF encontrar alguma resistência, que sua ponta fique voltada para o céu da
remova-a e tente inserí-la do outro lado. boca do doente. À medida que se insere a
Se a CNF fizer com que o doente tussa ou cânula, ela é girada 180 graus até que a aba
engasgue, retire-a levemente para aliviar a pare nos lábios e/ou nos dentes do doente.
tosse ou o engasgo e prossiga. Esta manobra não deve ser usada em crianças.

PASSO 6. Reavaliar o doente para garantir que agora PASSO 5. Remover o abaixador de língua.
a via aérea é patente.
PASSO 6. Reavaliar o doente garantindo que a via aérea
esteja agora patente.
APÊNDICE G n Estações Práticas 339

TÉCNICA DE VENTILAÇÃO COM TÉCNICA DE VENTILAÇÃO COM


BOLSA-MÁSCARA COM UMA PESSOA BOLSA-MÁSCARA COM DUAS PESSOAS

PASSO 1. Selecionar o tamanho adequado da máscara PASSO 1. Selecionar o tamanho adequado da máscara
para ajustar-se à face do doente. A máscara deve para ajustar-se à face do doente.
se estender da metade proximal do nariz até o
PASSO 2. Conectar uma fonte de oxigênio ao dispositivo
queixo.
de ventilação e ajustar o fluxo de oxigênio
PASSO 2. Conectar uma fonte de oxigênio ao dispositivo para 15 L/minuto.
de ventilação e ajustar o fluxo de oxigênio
para 15 L/minuto. PASSO 3. Certificar-se que a via aérea do doente esteja
PASSO 3. Certificar-se que a via aérea do doente esteja patente (uma cânula orofaríngea irá prevenir
patente (uma cânula orofaríngea irá prevenir a obstrução da língua).
a obstrução da língua).
PASSO 4. A primeira pessoa coloca a máscara na face do
PASSO 4. Aplicar a máscara sobre o nariz e a boca do
doente, assegurando uma vedação adequada
doente com a mão dominante, assegurando
com as duas mãos., realizando a manobra de
uma boa vedação. Isto é realizado mimetizando
tração da mandíbula. Pode ser mais fácil para
a letra ‘C’ com o polegar e o indicador enquanto
o médico iniciante, usar a técnica de apoio
traciona-se a mandíbula contra a máscara com
da eminência tenar (ou polegar para baixo).
os outros três dedos da mão.
Garantir uma vedação firme da máscara à face
PASSO 5. Iniciar a ventilação pressionando a bolsa com com as duas mãos.
a mão não-dominante
PASSO 6. Avaliar se a ventilação está adequada PASSO 5. A segunda pessoa ventila o doente apertando
observando-se o movimento do tórax do doente. o balão com as duas mãos.
PASSO 7. Ventilar o doente desta maneira a cada 5
PASSO 6. A eficiência da ventilação é avaliada
segundos.
observando o movimento torácico do doente.

PARTE 2 : MANOBRAS AVANÇADAS DA VIA AÉREA

TREINAMENTOS INCLUSOS PASSO 2. Escolher o tamanho correto da ML: 3 para


mulheres pequenas, 4 para mulheres grandes
NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA e homens pequenos e 5 para homens grandes.

•• Inserção da Máscara Laríngea (ML) PASSO 3. Verificar se a ML está estéril e não tenha dano
visível; checar se o lúmen está limpo.
•• Inserção do Tubo Laríngeo (TL)
•• Intubação Orotraqueal PASSO 4. Insuflar o balão da ML para certificar-se de
que não há vazamento.

PASSO 5. Antes de tentar inserir a ML deve-se esvaziar


INSERÇÃO DA M Á SCARA completamente o balão e lubrificá-lo.
LARÍNGEA (ML)
PASSO 6. Pedir para um assistente restringir a
movimentação da coluna cervical do doente.
PASSO 1. Certificar-se de que a ventilação e a
oxigenação utilizadas são adequadas e que PASSO 7. Segurar a Máscara Laríngea com a mão
há um aspirador imediatamente disponível dominante como uma caneta, com o dedo
na eventualidade do doente vomitar. indicador na junção entre o balão e o cabo
­340 APÊNDICE G n Estações Práticas

e a abertura da máscara orientada sobre a PASSO 9. Rodar o tubo de volta para a linha média logo
língua. que a ponta atingir a parede posterior da faringe.

PASSO 8. Passar a Máscara por trás dos incisivos superiores PASSO 10. Sem forçar excessivamente, avançar o tubo
com o cabo paralelo ao tórax do doente e o até a base do conector alinhar-se com os
indicador apontando para quem está intubando. dentes e a gengiva.

PASSO 9. Empurrar a ML lubrificada para a posição, PASSO11. Insuflar os balões com o volume mínimo
ao longo da curva palato-faringea com o necessário para vedar a via aérea no pico de
indicador mantendo pressão e guiando o tubo. pressão ventilatória.

PASSO 10. Insuflar o balão com o volume indicado no PASSO 12. Ao mesmo tempo que ventila delicadamente
cabo. o doente para avaliar a ventilação, retire o
tubo até que a ventilação fique fácil com fluxo
PASSO11. Checar o posicionamento ventilando com de ar livre (o maior volume corrente com a
máscara e balão. menor pressão na via aérea).

PASSO12. Confirmar o posicionamento correto pela PASSO 13. Existem marcas de referência na extremidade
ausculta, movimento do tórax e idealmente proximal do tubo que quando alinhadas com
pela verificação do CO2 com a capnografia. os dentes superiores indicam a profundidade
da inserção.

INSERÇÃO DO TUBO PASSO14. Confirmar o posicionamento correto pela


LARÍNGEO (TL) ausculta, movimento do tórax e idealmente
pela verificação do CO2 com a capnografia.

PASSO 1. Certificar-se de que a ventilação e a oxigenação PASSO 15. Reajustar a insuflação dos balões para vedar
utilizadas são adequadas e que há um o sistema.
aspirador imediatamente disponível na
eventualidade do doente vomitar. PASSO16. Fixe o tubo laríngeo ao doente com fitas
adesivas ou outros dispositivos. Ainda podem
PASSO 2. Escolher tamanho adequado de TL. ser utilizados bloqueadores de mordida.

PASSO 3. Inspecionar o TL para assegurar a esterilização,


se o lúmen está limpo e sem nenhum dano INTUB AÇÃO OROTRAQUEAL
visível.
PASSO 1. Certificar-se que a ventilação e a oxigenação
PASSO 4. Insuflar o balão do TL e checar se não há utilizadas são adequadas e que um
vazamento. Então, desinsuflá-lo. aspirador está imediatamente disponível
na eventualidade do doente vomitar.
PASSO 5. Aplicar lubrificante a base de água na
extremidade distal biselada e face posterior PASSO 2. Escolher corretamente o tamanho do tubo
do tubo, com cuidado para não obstruir as endotraqueal (TET).
aberturas ventilatórias.
PASSO 3. Verificar se está estéril e não tenha dano
PASSO 6. Pedir para um assistente restringir a visível; checar se o lúmen está limpo.
movimentação da coluna cervical do doente.
PASSO 4. Insuflar o balão do TET e checar se não há
PASSO 7. Segurar o tubo laríngeo pelo conector com a vazamento.
mão dominante e com a outra mão manter a
boca aberta tracionando o mento. PASSO 5. Conectar a lâmina do laringoscópio ao cabo
e verificar a intensidade da luz.
PASSO 8. Com o tubo rodado lateralmente 45 a 90
graus, introduzir a ponta na boca e avançar PASSO 6. Avaliar a dificuldade da intubação pela regra
atrás da base da língua. mnemônica (LEMON).
APÊNDICE G n Estações Práticas 341

PASSO 7. Um assistente deve imobilizar manualmente PASSO13. Uma vez que a intubação tenha ocorrido,
o pescoço e a cabeça. O pescoço do doente não ventilar com a bolsa. Insuflar o balão com
deve ser hiperextendido nem hiperfletido ar suficiente para fornecer uma vedação
durante este procedimento. adequada. Não hiperinsuflar o balão.

PASSO 8. Segurar o laringoscópio com a mão esquerda PASSO14. Observar visualmente os movimentos da
(mesmo que não seja a mão dominante do caixa torácica durante a ventilação.
operador).
PASSO15. Auscultar o tórax e o abdome com
PASSO 9. Inserir o laringoscópio no lado direito da estetoscópio para conferir a posição do tubo.
boca do doente, deslocando a língua para
esquerda. PASSO16. Confirmar a correta posição do tubo pela
presença de CO2. Um RX de tórax é útil para
PASSO 10. Identificar visualmente a epiglote e a seguir, avaliar a profundidade da inserção do tubo
as cordas vocais. A manipulação externa da (p.ex. intubação seletiva) mas, ele não exclui
laringe para trás, para cima, para a direita e a intubação esofágica.
com pressão (BURP) pode ajudar a melhorar
a visualização. PASSO 17. Fixar o tubo. Se o doente for transportado,
a posição do tubo deve ser reavaliada.
PASSO 11. Inserir delicadamente o tubo endotraqueal
na traqueia sem aplicar pressão sobre os PASSO 18. Se ainda não foi feito, conectar um oxímetro
dentes e as partes moles da boca. de pulso a um dos dedos do doente (a perfusão
periférica deve estar preservada) para medir
PASSO 12. Se a intubação endotraqueal não for realizada e monitorar o nível de saturação de oxigênio
antes que a SatO2 caia abaixo de 90%, ventile do doente e fornecer uma avaliação imediata
com um dispositivo bolsa-máscara e mude de intervenções terapêuticas.
a abordagem utilizando o GEB.

PARTE 3: VIA AÉREA INFANTIL E CRICOTIREOIDOSTOMIA

TREINAMENTOS INCLUSOS PASSO 2. Selecionar o tubo sem balão e de tamanho


apropriado, que deve ter o mesmo diâmetro
NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA da narina ou do quinto dedo da mão da
criança. Conectar a lâmina do laringoscópio
•• Intubação Endotraqueal Infantil ao cabo e verificar a intensidade da luz.

•• Cricotireoidostomia com Agulha PASSO 3. Um assistente deve imobilizar manualmente


•• Cricotireoidostomia Cirúrgica o pescoço e a cabeça. O pescoço do doente não
deve ser hiperextendido nem hiperfletido
durante este procedimento.
INTUB AÇÃO TRAQUEAL
PASSO 4. Segurar o laringoscópio com a mão esquerda
INFANTIL (mesmo que não seja a mão dominante do
operador).
PASSO 1. Certificar-se que a ventilação e a oxigenação
são adequadas e que o equipamento de PASSO5. Inserir o laringoscópio no lado direito da
aspiração está prontamente disponível no boca do doente, deslocando a língua para
caso do doente vomitar. esquerda.
­342 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO 6. Identificar visualmente a epiglote e a seguir, as PASSO2. Colocar o doente na posição supina. Um
cordas vocais. A manipulação externa da laringe assistente deve imobilizar manualmente o
para trás, para cima, para a direita e com pressão pescoço e a cabeça.
(BURP) pode ajudar a melhorar a visualização.
PASSO3. Montar um cateter agulhado de calibre
PASSO 7. Inserir o tubo endotraqueal não mais que 2 número 12G ou 14G, de 8,5 cm, em uma
cm (após as cordas vocais). seringa de 5 a 10 mL.

PASSO 8. Checar cuidadosamente o posicionamento PASSO 4. Preparar o pescoço para a cirurgia, usando
do tubo, ventilando com dispositivo bolsa- esponjas com antissépticos.
válvula-máscara, observando se a insuflação
dos pulmões e auscultando o tórax e o PASSO5. Palpar a membrana cricotireoidea
abdome com um estetoscópio. Confirmar anteriormente, entre a cartilagem tireoide
o correto posicionamento do tubo pela e a cartilagem cricoide. Estabilizar a traqueia
presença de CO2. Um R-X de tórax é útil para com o polegar e o indicador de uma das mãos
avaliar a profundidade da inserção do tubo para evitar movimento lateral da traqueia
(i.e., intubação do brônquio-fonte) mas, ele durante o procedimento.
não exclui a intubação esofágica.
PASSO 6. Puncionar a pele na linha média com a agulha
PASSO 9. Se não conseguir a intubação endotraqueal número 12G ou 14G, conectada à seringa,
em 30 segundos ou no mesmo tempo que o diretamente sobre a membrana cricotireoidea.
operador prenda a respiração, interromper as
tentativas, ventilar o doente com dispositivo PASSO 7. Direcionar a agulha em ângulo de 45º distal-
bolsa-máscara antes de tentar novamente. mente, aplicando pressão negativa na seringa.

PASSO 10. Fixar o tubo. Se o doente for transportado, PASSO 8. Inserir cuidadosamente a agulha através da
a posição do tubo deve ser reavaliada. metade inferior da membrana cricotireoidea,
aspirando-a à medida que a agulha avança. A
PASSO11. Instalar um detector de CO2 no tubo adição de 2-3 mL de solução salina à seringa
endotraqueal entre o adaptador e o ajudará a reconhecer a entrada de ar.
dispositivo de ventilação para confirmar
se o tubo endotraqueal está na traqueia. PASSO 9. Aspiração de ar significa penetração na luz
da traqueia.
PASSO 12. Conectar um oxímetro de pulso a um dos dedos
do doente (a perfusão periférica deve estar PASSO10. Remover a seringa e retirar a agulha ao
preservada) para medir e monitorar o nível de mesmo tempo que se avança o cateter para
saturação de oxigênio. O oxímetro de pulso é útil baixo, tomando cuidado para não perfurar
para monitorar de forma contínua os níveis de a parede posterior da traqueia.
saturação de oxigênio e fornece uma avaliação
imediata das intervenções terapêuticas. PASSO11. Conectar o equipamento de insuflação a
jato ao cateter ou conectar a seringa de 3 mL
com um conector de tubo endotraqueal 7.5
Cricotireoidostomia por Punção e fixar o cateter ao pescoço do doente.

PASSO 1. Montar e preparar o tubo de oxigênio fazendo PASSO12. A ventilação intermitente pode ser provi-
um orifício perto de uma das extremidades denciada com o equipamento de insuflação
do tubo. Conectar a outra extremidade a jato conectado ao cateter tampando-se o
do tubo a uma fonte de oxigênio, capaz orifício do tubo de oxigênio com o polegar por
de fornecer 50 psi - libras por polegada 1 segundo e destampando-o por 4 segundos.
quadrada - ou mais no registro de saída e Após retirar o polegar do orifício do tubo,
providenciar que o oxigênio flua livremente ocorre expiração passiva ou com um dispositivo
através do tubo. Alternativamente, conectar bolsa-válvula-máscara conectado a seringa com
uma bolsa máscara a uma seringa de 3 mL, conector. Nota: A PaO2 pode ser mantida em
sem êmbolo a um conector de um tubo níveis adequados por apenas 30 a 45 minutos, e o
endotraqueal de 7.5 mm. acúmulo de CO2 pode ocorrer mais rapidamente.
APÊNDICE G n Estações Práticas 343

PASSO 13. Continuar observando a insuflação dos PASSO10. Observar as insuflações pulmonares e
pulmões e auscultar o tórax para verificar auscultar o tórax para verificar se a ventilação
se a ventilação está adequada. Prestar se faz adequadamente. Confirmar a presença
muita atenção a saída de ar para evitar de C02 e obter um R-X de tórax.
um barotrauma, que poderá causar
um pneumotórax. É possível auxiliar PASSO11. Fixar o tubo endotraqueal ou o tubo de
esta exalação aplicando-se pressão, traqueostomia ao doente para evitar
cuidadosamente, ao tórax se não se observar deslocamentos.
a saída de ar dos pulmões na ausência de uma
lesão grave do tórax.
Links para Aprendizado Futuro
Cricotireoidostomia Cirúrgica
Problemas na via aérea e ventilação podem ser
confundidos. É de vital importância ter a capacidade
PASSO 1. Colocar o doente na posição supina. Um de avaliar rapidamente onde está o comprometimento.
assistente deve imobilizar manualmente o A suplementação de oxigênio é um dos primeiros passos
pescoço e a cabeça. no tratamento de doentes traumatizados. A avaliação
da via aérea é o primeiro passo e requer reavaliação
PASSO 2. Palpar a cartilagem tireoide, cricoide e a frequentemente e em conjunto com qualquer
fúrcula esternal para orientação anatômica. deterioração do doente. A falta de habilidades básicas
para manter a oxigenação e ventilação adequadas
PASSO 3. Preparar o equipamento necessário. geralmente indica a necessidade de usar habilidades
mais avançadas. A falha em obter uma via aérea usando
PASSO 4. Preparar o local para a cirurgia e anestesia, habilidades avançadas pode exigir a obtenção de uma
se o doente estiver consciente. via aérea por punção ou cirúrgica.

PASSO 5. Estabilizar a cartilagem tireoide com a mão Após o curso ATLS — Cada aluno tem experiência
não dominante e mantenha a estabilização diferente com as habilidades ensinadas na estação
até que a traqueia seja intubada. prática da via aérea. É importante que todos os alunos
pratiquem essas habilidades sob supervisão apropriada
PASSO 6. Fazer uma incisão longitudinal e cranialmente após retornarem ao local de trabalho. A capacidade
de 2 a 3 cm na pele sobre a membrana de identificar doentes com obstrução da via aérea e
cricotireoideana com a mão dominante, usar manobras simples para auxiliar na ventilação são
afastando as bordas da pele para diminuir o habilidades importantes que podem salvar vidas. O
sangramento. Identificar a membrana crico- aluno deve procurar oportunidades em seu ambiente
tireoideana e realizar uma incisão transversa clínico para praticar essas habilidades e desenvolver
da mesma. Cuidado: Para evitar lesão desne- mais conforto ao usá-las. Obter mais experiência e
cessária, não corte ou remova as cartilagens especialização, principalmente com habilidades
cricoide e/ou tireoide. avançadas na via aérea, é importante se essas forem
provavelmente realizadas na prática clínica.
PASSO 7. Inserir uma pinça hemostática ou um
afastador traqueal dentro da incisão e girá-lo Mace SE and Khan N. Needle cricothyrotomy. Emerg
90o para abrir a via aérea. Med Clin North Am. 2008;26(4):1085.

PASSO 8. Inserir um tubo endotraqueal ou um tubo Gaufberg SV and Workman TP. Needle
de traqueostomia de tamanho apropriado cricothyroidotomy set up. Am J Emerg Med. 2004; 22(1):
(usualmente número 5 ou 6), com 37–39.
balão, através da incisão da membrana
cricotireoideana, direcionando o tubo Nota: Videos das atividades práticas estão disponíveis
distalmente para dentro da traqueia. Caso no aplicativo móvel MyATLS.
se utilize um tubo endotraqueal, inserir
somente até a não visualização do “cuff” a
fim de evitar intubação do brônquio-fonte.

PASSO 9. Insuflar o balão e ventilar o doente.


Estação Prática B
VENTILAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

1. Avaliar e reconhecer ventilação e oxigenação ade- vivo anestesiado ou em um cadáver.


quadas em uma simulação de doente traumatizado.
7. Realizar uma toracostomia digital em um simulador,
2. Identificar doentes traumatizados com insuficiência manequim, animal vivo anestesiado ou um cadáver.
respiratória
8. Inserir um dreno de tórax num simulador, manequim,
3. I nterpretar a radiografia de tórax de forma animal vivo anestesiado ou em um cadáver.
sistematizada em doentes traumatizados.
9. Discutir as diferenças básicas entre lesão torácica
4. Reconhecer os sinais radiográficos de lesões no adulto e na criança.
potencialmente fatais.
10. Explicar a importância do controle adequado da dor
5. I dentificar marcos apropriados para a descompressão após um trauma torácico.
com agulha e colocação de dreno de tórax.
11. Listar as etapas requeridas para uma transferência
6. Demonstrar como realizar a descompressão com agulha segura em um doente traumatizado com um problema
do espaço pleural em um simulador, manequim, animal ventilatório.

TR EIN A MENTOS INC LUSOS PASSO2. Procurar por evidências de insuficiência


NE S TA E S TAÇ ÃO PR ÁTIC A respiratória.
•• Taquipneia
•• Uso de musculatura acessória da respiração
•• Avaliação da Ventilação
•• Movimentos anormal/asimétrico da
•• Interpretação da Radiografia de Tórax
parede respiratória
•• Toracostomia Digital e Dreno de Tórax
•• Cianose (achado tardio)
•• Descompressão com Agulha
PASSO 3. Sentir ar ou fluido.
•• Uso da Fita de Broselow
•• Hipertimpanismo à percussão
•• Macicez à percussão
AVA LI AÇ ÃO R E SPIR ATÓR I A
•• Crepitação

PASSO1. Procurar sinais de obstrução parcial ou


comprometimento da via aérea. INTER PR E TAÇ ÃO DO R X DE
•• Murmúrio vesicular ausente ou
TÓR A X
assimétrico
O mnemônico DRSABCDE é útil na interpretação
•• Sons adicionais (p.ex., sons indicativos de do RX de tórax no ambiente de cuidados de doentes
hemotórax) traumatizados:

345
­346 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO1. D—Detalhes (nome, demografia, tipo de intercostal na linha hemiclavicular.) Para


filme, data e hora) adultos (especialmente com tecido subcutâneo
mais espesso), usar o 4º ou 5º espaço intercostal
PASSO 2. R—R-X obtido (qualidade da imagem) anterior à linha axilar média.
•• Rotação
PASSO 4. Anestesiar o local se o tempo e a fisiologia
•• Inspiração—5–6 arcos costais na linha permitirem.
anterior médio-clavicular (pouco
inspirado) ou 8–10 arcos acima do PASSO5. Inserir um cateter sobre a agulha de 5 cm
diafragma hiperexpandido para adultos menores; 8 cm para adulto
•• Foto (todo campo pulmonar é visto?) maiores) com uma seringa Luer-Lok de 10
mL conectada à pele. Direcionar a agulha
•• Exposição penetração apenas sobre a costela para o espaço
PASSO3. S—Soft tissues (tecidos moles) e ossos. intercostal, aspirando a seringa enquanto
Procurar por enfisema e avaliar as fraturas avança. (Adicionar 3 mL de solução salina
das clavículas, escápulas, costelas (as pode ajudar na identificação do ar aspirado).
fraturas da 1ª e 2ª costelas podem sinalizar
lesão aórtica) e esterno. PASSO 6. Perfurar a pleura

PASSO4. A—Via aérea e mediastino. Procurar por PASSO 7. Retirar a seringa e ouvir a fuga de ar quando a
sinais de ruptura da aorta: mediastino agulha entrar no espaço pleural para indicar
alargado, borramento do botão aórtico, alívio do pneumotórax hipertensivo. Avance
desvio da traqueia para a direita, tampa o cateter para o espaço pleural.
pleural, elevação e desvio para a direita do
brônquio fonte direito, perda da janela aorto- PASSO8. Estabilizar o cateter e preparar-se para a
pulmonar, depressão do brônquio principal inserção do dreno torácico.
esquerdo e desvio do esôfago para a direita.
Procure por ar no mediastino.
TORACOSTOMIA DIGITAL E
PASSO5. B—Respiração, campos pulmonares, DRNAGEM DE TÓRA X
pneumotórax, consolidação (contusão
pulmonar), lesões cavitárias
PASSO 1. Reunir suprimentos, campos estéreis e kit de
PASSO 6. C—Circulação, tamanho do coração, formato antissepsia para drenagem de tórax (bandeja)
das bordas da posição, faixa aórtica e dreno torácico de tamanho adequado (28-32
F). Prepare o selo d´água e o coletor.
PASSO7. D—Forma do diafragma, ângulos, bolha
gástrica, ar subdiafragmático PASSO 2. Posicionar o doente com o braço ipsilateral
estendido acima e flexionado no cotovelo (a
PASSO8. E—Extras: tubo endotraqueal, monitor de menos que seja impedido por outras lesões).
pressão venosa central, sonda nasogástrica, Usar um assistente para manter o braço
eletrodos de ECG, dreno torácico, marca-passos nessa posição

PASSO 3. Ampliar e cobrir a parede torácica lateral,


incluindo o mamilo, no campo operatório.
descompressão com agulha
PASSO4. Identificar o local para inserção do dreno
PASSO1. Avaliar o tórax e o estado respiratório do torácico no 4º ou 5º espaço intercostal. Este
paciente. local corresponde ao nível do mamilo ou sulco
infra-mamário. O local de inserção deve estar
PASSO 2. Administrar oxigênio de alto fluxo e ventilar entre as linhas anterior e média axilar.
se necessário.
PASSO 5. Realizar anestesia local para incluir a pele,
PASSO 3. Preparar cirurgicamente o local escolhido para tecido subcutâneo, periósteo da costela e
punção. (Para doentes pediátricos, o 2º espaço pleura. Enquanto o anestésico local entra
APÊNDICE G n Estações Práticas 347

em vigor, usar o dreno de tórax para medir PASSO 13. Obter uma radiografia do tórax.
a profundidade da inserção. Pré-avaliar a
profundidade estimada do dreno torácico, PASSO 14. Reavaliar o doente.
colocando a ponta perto da clavícula com
uma curva suave do tubo para a incisão.
Avaliar a marcação no dreno do tórax que USO DA FITA DE
se correlaciona com a incisão, garantindo
que o orifício sentinela esteja no espaço
REANIMAÇÃO PEDI ÁTRICA
pleural. Muitas vezes, as marcas no dreno
do tórax serão de 10 a 14 na pele, dependendo PASSO 1. Desdobre a fita de reanimação pediátrica.
da quantidade de tecido subcutâneo (por
exemplo, doentes obesos). PASSO 2. Coloque a fita ao longo da lateral do instrutor
de tarefa de tubo torácico para estimar o peso
PASSO6. Fazer uma incisão de 2 a 3 cm paralela às e anotar a zona de cor.
costelas no local predeterminado, e dissecar
os tecidos subcutâneos logo acima da costela. PASSO 3. Leia o tamanho do equipamento a ser usado
com o paciente, anotando o tamanho do
PASSO7. Perfurar a pleura parietal com a ponta da dreno torácico.
pinça hemostática enquanto segura-se o
instrumento perto da ponta para evitar a
inserção súbita e profunda do instrumento e
LINKS para APRENDIZADO FUTURO
a lesão das estruturas subjacentes. Avançar
a pinça sobre a costela e abra-a para alargar Reavaliar a respiração com frequência durante a
a abertura pleural. Tome cuidado para avaliação primária e a reanimação. Revise o aplicativo
não penetrar demais a pinça na cavidade móvel MyATLS para demonstrações em vídeo de
torácica, pois, o alargamento do orifício procedimentos. Além disso, www.trauma.org fornece
será ineficaz. Confirmar a saída de ar ou descrições do manejo de uma variedade de lesões
fluido. Com um dedo enluvado e esterilizado, torácicas em doentes traumatizados.
faça uma varredura para limpar quaisquer
aderências e coágulos (ou seja, realizar uma Após o ATLS—Pratique usando uma abordagem
toracostomia digital). estruturada para a leitura do RX de tórax antes de
observar a interpretação do radiologista para melhorar
PASSO8. Colocar uma pinça hemostática na sua proficiência. Revise a demonstração em vídeo
extremidade distal do dreno e outra pinça na MyATLS da inserção do dreno torácico antes de realizar
extremidade proximal do mesmo usando-a o procedimento para reforçar etapas do processo.
como um guia e avançar a inserção do
dreno no espaço pleural até a profundidade
desejada.

PASSO9. Observar e ouvir o movimento do ar e a


drenagem de sangue; o "embaçamento" do
dreno de tórax à expiração também pode
indicar que o tubo está no espaço pleural.

PASSO10. Retirar a pinça e conectar o dreno a um


coletor em selo d´água. Uma fita adesiva
pode ser utilizada para assegurar a conexão
entre o dreno e o coletor.

PASSO 11. Fixar o dreno à pele com fio de sutura, não


absorvível.

PASSO 12. Aplicar um curativo estéril e prendê-lo com


fita adesiva larga.
Estação Prática C
CIRCULAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

1. Diagnosticar a presença de ambos os tipos de compreendendo suas indicações e contraindicações


choque, compensado e não compensado. para o uso de dispositivos de tração para fraturas de
fêmur.
2. Determinar o tipo de choque presente.
7. R
econhecer a necessidade de reavaliação do doente
3. Escolher a reposição volêmica apropriada. e reanimação adicional com base na resposta do
doente ao tratamento.
4. D
emonstrar em um modelo a aplicação de uma
abordagem em etapas para controlar a hemorragia 8. R
econhecer quais doentes necessitam de controle
externa aplicando pressão direta, empacotamento definitivo da hemorragia (i.e., operatório e/ou
da ferida e aplicação de um torniquete. cateter based) e/ou transferir para um nível mais
elevado de cuidado.
5. D
emonstrar o acesso intraósseo em um modelo e
discutir outras opções de acesso vascular e suas 9. Descrever e demonstrar (opcionalmente) as
indicações. indicações e técnicas de acesso venoso central,
flebotomia, lavado peritoneal diagnóstico (LDP) e
6. D
emonstrar a aplicação de um dispositivo pericardiocentese.
de estabilização pélvica para fraturas pélvica

•• Punção da Veia Subclávia: Abordagem Infra-


TREINAMENTOS INCLUSOS clavicular— Treinamento Opcional
NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA
•• Flebotomia— Treinamento Opcional
•• Pericardiocentese Guiada por Ultrassom—
•• Empacotamento da Ferida
Treinamento Opcional
•• Aplicação do Torniquete
•• Aplicação da Tala de Tração (Demonstração) EMPACOTAMENTO DA FERIDA
•• Colocação do Dispositivo Intraósseo, Inserção
Umeral PASSO 1. Exponha totalmente a ferida e corte a roupa,
•• Colocação do Dispositivo Intraósseo, Inserção se não foi feito anteriormente.
Proximal á Tíbia
PASSO2. Use compressas de gaze para parar o
•• Aplicação da Cinta Pélvica ou Outro Dispositivo sangramento e identifique a área geral que
de Estabilização Pélvica está sangrando.
•• Lavagem Peritoneal Diagnóstica (LPD) —
Treinamento Opcional PASSO 3. Coloque uma pilha de compressas de gaze sobre
essa área e pressione com firmeza. Mantenha
•• Punção da Veia Femoral: Técnica de por 5-10 minutos se estiver usando gaze ou 3
Seldinger— Treinamento Opcional minutos se estiver usando gaze hemostática.

349
­350 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO4. Se o sangramento for controlado, prenda PASSO7. Bloqueie a haste do torniquete no lugar
as compressas de gaze com uma atadura no clipe de corda de vento. O sangramento
elástica ou não ou uma mecha auto-aderente agora está controlado.
(3M Coban™). Consulte cirurgião de trauma,
vascular ou ortopedista, com base no tipo de lesão. PASSO8. Cole a faixa auto-aderente restante sobre
a haste, através do grampo do torniquete e
PASSO5. Se o sangramento não for controlado continue em volta do braço ou da perna do
e houver uma cavidade, use um dedo doente o máximo possível.
enluvado ou uma pinça para colocar a gaze
na ferida, garantindo que a gaze alcance a PASSO9. Prenda a haste e a pulseira com a alça do
base da ferida. Coloque mais gaze até que molinete. Segure a alça, aperte-a e cole-a
a ferida esteja bem embalada. Mantenha no gancho oposto ao clipe do torniquete.
a pressão por mais 3 minutos e reavalie.
Pode ser usada gaze impregnada com um PASSO10. Anote a hora em que o torniquete foi
agente hemostático tópico, se disponível. aplicado. Se você tem um marcador, pode
A gaze sem um agente hemostático pode escrevê-lo diretamente no torniquete.
ser tão eficaz para o empacotamento da
ferida quanto a gaze tratada com um PASSO 11. Se o sangramento não for interrompido com
agente hemostático. Feridas grandes podem um torniquete e for tão apertado quanto
exigir vários pensos de gaze para embalar possível, coloque um segundo, se disponível,
totalmente a ferida. Embale com o máximo logo acima do primeiro. Aperte-o como antes.
de gaze que couber na ferida e empurre
ainda mais, se puder. Se esses passos não
controlarem o sangramento, prossiga com APLICAÇÃO DA TALA DE
a colocação do torniquete enquanto aguarda TRAÇÃO
a consulta cirúrgica.

PASSO1. Considere a necessidade de analgesia


APLICAÇÃO de tor nique te antes de aplicar um dispositivo de tração e
de a plic aç ão de comb ate selecione o mais apropriado a ser usado.

PASSO 2. Meça a tala na perna não afetada do paciente


PASSO 1. Insira a extremidade ferida (braço ou perna) quanto ao comprimento.
através do torniquete de aplicação de combate .
PASSO3. Assegure-se de que o alça almofadada
PASSO 2. Coloque o torniquete próximo ao local da seja colocada sob as nádegas e adjacente
hemorragia , o mais distal possível. Não à tuberosidade isquiática. A extremidade
coloque em uma articulação. distal do dispositivo deve se estender além
do tornozelo em aproximadamente 15 cm.
PASSO 3. Puxe a cinta aderente firmemente e prenda-a
com firmeza. Certifique-se de remover toda a PASSO 4. Alinhe o fêmur aplicando manualmente a
folga. tração através do tornozelo.

PASSO 4. Cole a faixa ao redor da extremidade. Não PASSO5. Depois de obter o realinhamento, levante
adira a faixa após o clipe. suavemente a perna para permitir que o
assistente deslize a tala sob a extremidade,
PASSO5. Torça a haste do torniquete até que o de modo que a porção acolchoada da tala
sangramento pare. fique encostada na tuberosidade isquiática.

PASSO6. Assegure-se de que o sangramento arterial PASSO6. Reavalie o estado neurovascular da


esteja controlado. O torniquete deve ser extremidade lesada após aplicar tração.
apertado e pode ser doloroso se o doente
estiver consciente. PASSO 7. Assegure-se de que as cintas de imobilização
estão posicionadas para apoiar a coxa e a
panturrilha.
APÊNDICE G n Estações Práticas 351

PASSO8. Posicione a cinta do tornozelo ao redor do em crianças. (Ao usar uma agulha lisa, sem uma
mesmo e do pé do doente, e enquanto um broca, oriente a agulha perpendicularmente ao
assistente mantém a tração manual na perna. A local de entrada e aplique pressão em conjunto
cinta inferior deve ser ligeiramente mais curta com um movimento de torção até que se sinta
que, ou pelo menos do mesmo comprimento, uma “perda de resistência”, e, a agulha entrar
e as duas tiras cruzadas superiormente. na cavidade medular.)

PASSO 9. Prenda a cinta do tornozelo ao gancho de tração PASSO6. Segure o dispositivo no lugar e aperte o
enquanto o assistente mantém a tração e apoio gatilho firmemente. Continue a segurar o
manual. Aplique tração gradativamente, hub da agulha enquanto gira o estilete para
utilizando o manopla da catraca até que a fora do eixo com rotações no sentido anti-
extremidade pareça estável ou até que a dor horário. A agulha deve estar firmemente
e o espasmo muscular sejam aliviados. assentada no osso (primeira confirmação
da colocação). Coloque o estilete em um
PASSO 10. Verifique novamente o pulso após aplicar a recipiente para objetos cortantes.
tração. Se a perfusão da extremidade distal
à lesão parecer pior, solte-a gradualmente. PASSO7. Coloque o curativo EZ-Stabilizer sobre o
hub. Conecte um conjunto de extensão EZ-
PASSO 11. Prenda as correias restantes. Connect™ preparado ao hub, firmemente
seguro, torcendo-o no sentido horário. Puxe
PASSO12. Reavaliar frequentemente o estado as abas do curativo EZ-Stabilizer para expor
neurovascular da extremidade. Documente o adesivo e aplique-o na pele.
o estado neurovascular do paciente após
cada manipulação da extremidade. PASSO8. Aspirar para confirmar a saída de sangue
/medula óssea (segunda confirmação da
colocação).
PUNÇÃO/INFUSÃO INTRAÓSSEA
PELO ÚMERO PASSO 9. Prenda o braço no lugar através do abdome.

PASSO10. Conecte uma seringa com soro fisiológico à


PASSO1. Flexione o cotovelo do doente e gire agulha e lave, observando se ocorre inchaço
internamente o braço, colocando a mão do local ou dificuldade de lavagem. Injete
doente no abdome com o cotovelo próximo ao lidocaína se o doente estiver alerta e sentir
corpo e a mão pronada. O local de inserção é o dor com infusão.
ponto mais proeminente do tubérculo maior.

PASSO 2. Use o(s) seu(s) polegar(es) para deslizar para PUNÇÃO/INFUSÃO INTRAÓSSEA
cima o eixo anterior do úmero até sentir VIA INSERÇÃO PROXIMAL DA
o tubérculo maior, cerca de 1 cm (1/3 pol) TÍBIA
acima do colo cirúrgico.

PASSO 3. Prepare o local usando uma solução antisséptica. PASSO 1. Coloque o doente em decúbito dorsal. Selecione
uma extremidade inferior não lesionada,
PASSO 4. Remova a tampa da agulha e aponte a ponta para coloque um acolchoamento suficiente sob o
baixo em um ângulo de 45 graus em relação ao joelho para efetuar uma flexão aproximada
plano horizontal. O ângulo correto resultará no de 30 graus do joelho e deixe o calcanhar
eixo da agulha perpendicular à pele. Empurre do paciente repousar confortavelmente no
a ponta da agulha através da pele até que a colchonete ou na maca.
ponta alcance o osso. A marca de 5 mm deve
estar visível acima da pele para confirmação PASSO 2. Identifique o local da punção - a superfície ântero-
do comprimento adequado da agulha. medial da tíbia proximal, aproximadamente
um dedo (1 a 3 cm) abaixo do tubérculo.
PASSO 5. Perfure suavemente o úmero a 2 cm (3/4 pol) ou
até que a borda do dispositivo atinja a pele de um PASSO3. Limpe a pele ao redor do local da punção e
adulto. Pare quando você sentir o "pop" ou “give” cubra a área.
­352 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO 4. Se o doente estiver acordado, use um anestésico ser limitada à ressuscitação de emergência
local no local da punção. do paciente e descontinuada assim que outro
acesso venoso tenha sido obtido.
PASSO5. Inicialmente, em um ângulo de 90 graus,
introduzir uma agulha de aspiração de medula
óssea curta (roscada ou lisa), de grande calibre, APLICAÇÃO DA CINTA PÉLVICA
(ou uma agulha espinhal de calibre 18 curta OU OUTRO DISPOSITIVO DE
com estilete) na pele e no periósteo, com o ESTABILIZ AÇÃO PÉLVICA
bisel da agulha dirigido para o pé e afastado
da placa epifisária.
PASSO1. Selecionar o dispositivo adequado de
PASSO 6. Depois de localizar o osso, direcione a agulha estabilização pélvica.
a uma distância de 45 a 60 graus da placa
epifisária. Usando um movimento suave de PASSO2. Identificar os pontos de referência para
torção ou perfuração, avance a agulha através aplicação, concentrando-se nos trocânteres
do córtex ósseo e na medula óssea. maiores.

PASSO7. Retire o estilete e coloque na agulha uma PASSO 3. Gire internamente e se oponha aos tornozelos,
seringa de 10 mL com aproximadamente 6 pés ou dedões usando fita adesiva ou gaze
mL de solução salina estéril. Delicadamente, de rolo.
pegue o êmbolo da seringa. A aspiração da
medula óssea na seringa significa a entrada PASSO4. Deslize o dispositivo dos pés para cabeça,
na cavidade medular. centralizando-o sobre os trocânteres maiores.
Duas pessoas em lados opostos seguram o
PASSO 8. Injete a solução salina na agulha para expelir dispositivo na parte inferior e superior
qualquer coágulo que possa obstruir a agulha. e o colocam proximalmente na posição.
Se a solução salina passar facilmente pela Alternativamente, ou coloque o dispositivo sob
agulha e não houver evidência de inchaço, a o doente, restringindo o movimento da coluna
agulha provavelmente está localizada no local vertebral e com o mínimo de manipulação
apropriado. Se a medula óssea não foi aspirada, da pelve, girando o doente lateralmente.
conforme descrito no PASSO 7, mas a agulha Coloque o dispositivo dobrado embaixo do
é liberada facilmente ao injetar a solução doente, alcançando a menor distância possível
salina e não há evidência de inchaço, a agulha do doente. Gire em outra direção e puxe a
provavelmente está no local apropriado. Além extremidade do dispositivo completamente.
disso, a colocação correta da agulha é indicada Se estiver usando um lençol, cruze os membros
se a agulha permanecer ereta sem suporte e e prenda com grampos ou grampo de toalha.
a solução intravenosa fluir livremente sem
evidência de infiltração subcutânea. PASSO 5. Role o doente de volta para o supino e prenda
o dispositivo anteriormente. Certifique-se
PASSO 9. Conecte a agulha ao tubo intravenoso de grande de que o dispositivo esteja adequadamente
calibre e inicie a infusão fluida. Cuidadosamente preso com tensão adequada, observando a
aparafuse a agulha na cavidade medular até rotação interna dos membros inferiores, o
que o centro da agulha repouse sobre a pele que indica o fechamento pélvico.
do paciente e o fluxo livre continue. Se uma
agulha lisa for usada, ela deve ser estabilizada
em um ângulo de 45 a 60 graus em relação à
LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO
superfície ântero-medial da perna do doente. (LPD) – PRÁTICA OPCIONAL
PASSO 10. Cubra com gaze estéril. Mantenha a agulha e
o equipo no lugar. PASSO 1. Obtenha o consentimento informado, se o
tempo permitir.
PASSO 11. Rotineiramente reavaliar a colocação da agulha
intraóssea, assegurando que ela permaneça PASSO 2. Descomprima o estômago e a bexiga urinária
através do córtex ósseo e no canal medular. inserindo uma sonda gástrica e um sonda
Lembre-se de que a infusão intra-óssea deve vesical.
APÊNDICE G n Estações Práticas 353

PASSO 3. Depois de colocar uma máscara, um avental


estéril e luvas, prepare cirurgicamente pUNÇÃO DA VEIA FEMORAL
o abdome (margem costal para a – TÉCNICA DE SELDINGER –
região pubiana e flanco para o flanco,
anteriormente).
PR ÁTICA OPCIONAL

PASSO 4. Injetar anestésico local com epinefrina na linha Nota: A técnica asséptica deve ser usada ao executar este
média, logo abaixo do umbigo, até o nível da procedimento.
fáscia. Permita que o tempo tenha efeito.
PASSO 1. Colocar o doente em decúbito dorsal.
PASSO 5. Fazer uma incisão vertical da pele e tecido
subcutâneo até a fáscia. PASSO 2. Limpar a pele ao redor do local da punção
venosa e cobrir a área.
PASSO 6. Afastar as bordas fasciais com afastadores e
elevar e incisar a fáscia até o peritônio. Faça PASSO 3. Localizar a veia femoral palpando-se a artéria
um pequeno corte no peritônio, entrando na femoral. A veia está medial à artéria femoral
cavidade peritoneal. (lembre-se do mnemônico NAVEL, de lateral
para medial: nervo, artéria, veia, espaço
PASSO 7. Inserir um cateter de diálise peritoneal na vazio, linfático). Mantenha um dedo na
cavidade peritoneal. artéria para facilitar a localização anatômica
e evitar a inserção do cateter na artéria. Use
PASSO 8. Avançar o cateter em direção à pelve. ultrassom para identificar a artéria femoral
e visualizar a introdução da agulha na veia.
PASSO 9. Conectar o cateter de diálise a uma seringa
e aspirar. PASSO4. Se o doente estiver acordado, use um
anestésico local no local da punção venosa.
PASSO 10. Se for aspirado sangue ou matéria orgânica,
o doente deve ser levado para laparotomia. PASSO5. Introduzir uma agulha de grosso calibre
Se não, infundir 1 L de solução cristaloide com uma seringa de 10 mL com 0,5 a 1 mL
isotônica aquecida (10 mL/kg em uma de solução salina. Direcione a agulha em
criança) no peritônio através do tubo direção à cabeça do doente, inserindo a
endovenoso conectado ao cateter de diálise. agulha diretamente sobre a veia femoral.
Mantenha a agulha e a seringa paralelas ao
PASSO 11. Agitar suavemente o abdome para distribuir plano frontal.
o líquido por toda a cavidade peritoneal e
aumentar a mistura com o sangue. PASSO6. Dirigindo a agulha em sentido cranial e
posteriormente, avançá-la lentamente
PASSO 12. Se a condição do doente for estável, permita enquanto gentilmente retira-se o êmbolo
que o fluido permaneça alguns minutos antes da seringa.
de colocar o saco de líquido intravenoso no
chão e permitir que o líquido peritoneal seja PASSO 7. Quando um fluxo livre de sangue aparecer na
drenado do abdome. O retorno adequado do seringa, remover a seringa e ocluir a agulha
fluido é > 20% do volume infundido. com um dedo para evitar embolia gasosa.
Se a veia não for inserida, retirar a agulha e
PASSO 13. Após o retorno do fluido, envie uma amostra redirecioná-la. Se duas tentativas não forem
para o laboratório para coloração de Gram bem sucedidas, um clínico mais experiente
e contagens de eritrócitos e leucócitos. Um deve tentar o procedimento, se disponível.
teste positivo e, portanto, a necessidade de
intervenção cirúrgica é indicada por 100.000 PASSO 8. Inserir o fio-guia e remover a agulha.
glóbulos vermelhos (hemácias)/mm3 ou
mais, mais de 500 glóbulos brancos/mm3, ou PASSO 9. Fazer uma pequena incisão na pele no ponto
uma coloração de Gram positiva para fibras de entrada do fio, passar o dilatador (ou o
ou bactérias alimentares. Uma lavagem introdutor do dilatador combinados) sobre
negativa não exclui lesões retroperitoneais, o fio e remova a pressão de retenção do
como lesões pancreáticas e duodenais. dilatador no local de saída do fio (ou remova
­354 APÊNDICE G n Estações Práticas

o dilatador se a combinação de introdutor for clavícula em direção ao ângulo superior


usada). da extremidade esternal da clavícula
(em direção ao dedo colocado na fossa
PASSO10. Inserir o cateter através do fio-guia para supra-esternal).
garantir o fluxo sanguíneo livre. Se estiver
usando um introdutor, aspirar. PASSO8. Avançar lentamente a agulha enquanto
retirar suavemente o êmbolo da seringa.
PASSO11. Lave o cateter ou introdutor com soro
fisiológico e tampão ou inicie a infusão fluida. PASSO 9. Quando um fluxo livre de sangue aparecer na
seringa, remover a seringa e ocluir a agulha
PASSO 12. Fixar o cateter no lugar (com uma sutura), com um dedo para evitar embolia gasosa.
vista a área de acordo com o protocolo local. Se a veia não for inserida, retirar a agulha e
redirecioná-la. Se duas tentativas não forem
PASSO 13. Tape o tubo intravenoso no lugar. bem sucedidas, um clínico mais experiente
deve tentar o procedimento, se disponível.
PASSO 14. Mudar a localização do cateter assim que for
possível. PASSO10. Insira o fio-guia enquanto monitora-se o
eletrocardiograma quanto a anormalidades
de ritmo.
punção da veia Subclávia:
acesso Infraclavicular — PASSO 11. Retirar a agulha enquanto segura-se o fio-
prática Opcional guia no lugar.

PASSO12. Usar uma lâmina 11 para incisar a pele ao


Nota: A técnica asséptica deve ser usada ao executar este redor do local de saída do fio-guia. Inserir
procedimento. o dilatador sobre o fio guia para dilatar a
área sob a clavícula. Remover o dilatador,
PASSO 1. Colocar o doente em decúbito dorsal, com deixando o fio no lugar. Passar o cateter sobre
a cabeça pelo menos 15 graus para baixo, o fio até uma profundidade predeterminada
para distender as veias do pescoço e evitar (a ponta do cateter deve estar acima do átrio
embolia gasosa. Somente se uma lesão direito para administração de fluidos).
na coluna cervical for excluída, a cabeça
do paciente pode ser afastada do local da PASSO 13. Conectar o cateter ao tubo intravenoso.
punção venosa.
PASSO14. Fixar o cateter firmemente na pele (com
PASSO2. Limpar bem a pele ao redor do local da uma sutura), cubra a área de acordo com o
punção venosa e cubra a área. protocolo local.

PASSO3. Se o doente estiver acordado, use um PASSO 15. Colar a fita intravenosa no lugar.
anestésico local no local da punção venosa.
PASSO16. Obter um R-X de tórax para confirmar a
PASSO4. Introduzir uma agulha de grosso calibre, posição da linha intravenosa e identificar
acoplada a uma seringa de 10 mL com 0,5 um possível pneumotórax.
a 1 mL de soro fisiológico, 1 cm abaixo da
junção do terço médio e medial da clavícula.
FLEBOTOMIA – PR ÁTICA
PASSO 5. Após transpor a pele, com o bisel da agulha
para cima, expelir o plugue da pele que pode OPCIONAL
ocluir a agulha.

PASSO 6. Segure a agulha e a seringa paralelamente PASSO1. Limpar a pele ao redor do local escolhido
ao plano frontal. para a incisão e prepare a área para cirurgia.

PASSO 7. Direcionar a agulha medialmente, levemente PASSO2. Se o doente estiver acordado, usar um
cefálica e posteriormente abaixo da anestésico local no local da punção venosa.
APÊNDICE G n Estações Práticas 355

PASSO3. Fazer uma incisão cutânea transversal de PASSO 6. Avaliar o doente para verificar se ocorreu
espessura total através da área anestesiada algum deslocamento mediastinal, que pode
até um comprimento de 2,5 cm (1 polegada). ter causado um deslocamento significativo
do coração.
PASSO4. Por dissecação romba, usando uma pinça
hemostática curva, identificar a veia e PASSO 7. Puncionar a pele 1 a 2 cm abaixo e à esquerda
dissecá-la, isoladamente. da junção xifocondral, com uma angulação
de 45º em relação à pele.
PASSO 5. Elevar e dissecar a veia por uma distância de
aproximadamente 2 cm (3/4 de polegada) PASSO 8. Avançar a agulha com cuidado, em sentido
para liberá-la de seu leito. cranial, apontando-a para a ponta inferior
da escápula esquerda. Seguir a agulha com
PASSO 6. Ligar a veia distalmente, deixando a sutura o ultrassom.
no lugar para usá-la para tração.
PASSO9. Avançar o cateter agulhado. Remover a
PASSO7. Passar um fio ao redor da veia em uma agulha.
direção cefálica.
PASSO 10. Quando a ponta da agulha penetrar no saco
PASSO 8. Fazer uma venotomia pequena e transversal pericárdico cheio de sangue, retirar, tanto
e dilatar suavemente a veia com a ponta de sangue incoagulável quanto possível.
uma pinça hemostática fechada.
PASSO11. Após completada a aspiração, remover a
PASSO9. Introduzir uma sonda plástica através da seringa e adaptar uma torneirinha de três
venotomia e prendê-la no lugar amarrando vias, deixando-a fechada. O cateter pode ser
a ligadura superior ao redor da veia e da suturado ou fixado com fita no local e coberto
cânula. Para evitar a saída, inserir a cânula com um pequeno curativo para permitir nova
a uma distância adequada da veia. descompressão a caminho da cirurgia ou
transferido para um outro hospital.
PASSO 10. Conectar o tubo intravenoso à sonda e fechar
a incisão com suturas separadas. PASSO12. Se persistirem sinais de tamponamento,
a torneirinha deve ser aberta e o saco
PASSO 11. Aplicar um curativo estéril. pericárdico aspirado novamente. Este
processo pode ser repetido se os sinais
de tamponamento persistirem, antes do
tratamento definitivo.
PERICARDIOCENTESE COM
ULTRA-SOM – PR ÁTICA
OPCIONAL LINKS para APRENDIZADO FUTURO

PASSO1. Monitorar os sinais vitais do doente e o O choque pode se desenvolver ao longo do tempo,
eletrocardiograma (ECG) antes, durante e portanto é necessária uma reavaliação frequente.
após o procedimento. Hemorragia é a causa mais comum de choque no doente
traumatizado, mas outras causas podem ocorrer e
PASSO 2. Usar ultrassom para identificar o derrame. devem ser investigadas. O aplicativo móvel MyATLS
fornece demonstrações em vídeo da maioria dos
PASSO 3. Preparar cirurgicamente a região xifoidea procedimentos. Visite também www.bleedingcontrol.
e subxifoidea, se o tempo o permitir. org para mais informações sobre controle de
hemorragia externa. Visite https://www.youtube.
PASSO 4. Anestesiar o ponto de punção, se necessário. com/ watch?v=Wu- KVibUGNM para ver um vídeo
demonstrando a abordagem intraóssea do úmero e
PASSO5. Adaptar uma seringa vazia de 50 mL com https://www.youtube. com / watch? v = OwLoAHrdpJA
uma torneirinha de três vias, a um catéter para ver o vídeo da abordagem guiada por ultrassom
agulhado de 15 cm ou mais, calibre 16 a 18 G. para pericardiocentese.
Estação Prática D
DÉFICE NEUROLÓGICO

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

1. F
azer um breve exame neurológico, incluindo bloco do doente, removendo a prancha e revendo as
o cálculo da pontuação da Escala de Coma de imagens da coluna cervical e T C de crânio.
Glasgow (GCS), realizando um exame pupilar e
examinando o doente para sinais de lateralização. 5. I dentificar os sinais, sintomas e tratamento do
choque neurogênico.
2. I dentificar a utilidade e as limitações das
ferramentas de decisão de TC de crânio. 6. D
emonstrar técnica adequada de remoção de
capacete.
3. I dentificar a utilidade e as limitações das
ferramentas de decisão de imagens da coluna 7. Identificar os sinais e sintomas de lesão medular em
cervical. um doente simulado.

4. R
ealizar uma avaliação adequada da coluna enquanto 8. Demonstrar a transferência de um doente com
restringe o movimento da coluna vertebral, incluindo neurotrauma para outra instituição ou médico.
a avaliação da coluna vertebral, a movimentação em

TREINAMENTOS INCLUSOS PASSO2. Iluminar os olhos com a luz, e observar a


NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA resposta pupilar.

Determinar o Novo Score GCS


•• Exame Neurológico Breve ou Focalizado
PASSO 3. Avaliar a abertura do olho.
•• Avaliação da Coluna Cervical
•• Transferência de Comunicação A. Observar os fatores que interferem na
•• Remoção de Capacete comunicação, capacidade de responder e
outras lesões.
•• Exame Neurológico Detalhado
•• Remoção da Prancha Longa da Coluna B. Observar a abertura dos olhos.

•• Avaliação de Exames de TC de Crânio C. Se a resposta não for espontânea, estimule


•• Avaliação de Imagens da Coluna Cervical o doente, falando ou gritando.

D. Se não houver resposta, aplique pressão


EX AME NEUROLÓGICO na ponta do dedo, trapézio ou entalhe
BREVE OU FOCALIZADO supra-orbital.

E. Classificar a resposta em uma escala de não


Exame das pupilas testável (NT), 1–4.

PASSO 1. Observar o tamanho e a forma da pupila. PASSO 4. Avaliar a resposta verbal.

357
­358 APÊNDICE G n Estações Práticas

A. Observar os fatores que interferem na restringe o movimento da coluna cervical


comunicação, capacidade de responder e do doente.
outras lesões.
PASSO 2. Informar ao doente que você irá examiná-lo.
B. Observar o conteúdo da fala. O doente deve responder verbalmente em
vez de acenar com a cabeça.
C. Se não for espontâneo, estimular falando
ou gritando. PASSO3. Palpar a coluna cervical posterior em busca
de deformidade, inchaço e sensibilidade.
D. Se não houver resposta, aplicar pressão na ponta Observar o nível de qualquer anormalidade.
do dedo, trapézio ou entalhe supra-orbital. Procurar por feridas penetrantes ou contusões.
Se a coluna cervical for um problema e o doente
E. Classificar a resposta em uma escala de NT, 1–5. não tiver déficits neurológicos, prossiga para
o PASSO 4. Se não, pare, substitua o colar
PASSO 5. Avaliar a resposta motora. cervical e obter imagens.

A. Observar os fatores que interferem na PASSO 4. Pedir ao doente para virar cuidadosamente a
comunicação, capacidade de responder e cabeça de um lado para o outro. Observar se
outras lesões. há dor ou se ocorre qualquer parestesia. Se
não, vá para PASSO 5. Se sim, pare, reaplicar
B. Observar os movimentos dos lados direito e o colar cervical e obter imagens.
esquerdo do corpo.
PASSO5. Pedir ao doente para estender e flexionar
C. Se a resposta não for espontânea, estimular o pescoço (por exemplo, “olhe para trás e
o doente falando ou gritando. depois encoste o queixo no peito”). Observar
se há dor ou se ocorre qualquer parestesia. Se
D. Se não houver resposta, aplique pressão na não, e o doente não estiver comprometido,
ponta do dedo, trapézio ou entalhe supra- cabeça lesionada ou em outra categoria de
orbital (se não for contraindicado pela lesão). alto risco, conforme definido pelo NEXUS
Criteria ou pela Canadian C-Spine Rule (CCR),
E. Classificar a resposta em uma escala de NT, 1–6. interromper o uso do colar cervical. Se sim,
reaplicar o colar cervical e obter imagens.
PASSO 6. Calcular a pontuação total do GCS e registre
seus componentes individuais.
cOMUNICAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA
Avaliar para Qualquer Evidência de
sinais de Lateralização PASSO 1. Usar o método ABC SBAR para garan-tir a
comunicação completa.
PASSO7. Avaliar o movimento das extremidades
superiores. A. Via Aérea

PASSO 8. Determinar a força da extremidade superior B. Respiração/Ventilação


bilateralmente e compare lado a lado.
C. Circulação
PASSO9. Avaliar o movimento das extremidades
inferiores. D. Situação

PASSO 10. Determinar a força das extremidades inferiores •• Nome do doente


bilateralmente e comparar lado a lado. •• Idade
•• Hospital de referência
AVALIAÇÃO DA COLUNA CERVICAL •• Nome do médico de referência
•• Nome da enfermeira relatora
PASSO1. Remover a frente do colar cervical, se
presente, enquanto uma segunda pessoa •• Indicação para transferência
APÊNDICE G n Estações Práticas 359

•• Local do acesso IV dispositivo primeiro. Se o capacete fornecer


•• Velocidade e fluido IV cobertura facial completa, o nariz do doente
impedirá a remoção do capacete. Para
•• Outras intervenções concluídas limpar o nariz, incline o capacete para trás
e levante-o sobre o nariz do doente.
E. Antecedentes
PASSO 5. Durante este processo, a segunda pessoa deve
•• Eventos restringir o movimento da coluna cervical
•• Avaliação AMPLE a partir de baixo para evitar a inclinação da
cabeça.
•• Produtos sanguíneos
•• Medicações dadas (data e hora) PASSO 6. Depois de remover o capacete, continue a
restrição do movimento da coluna cervical,
•• Imagens realizadas
aplique um colar cervical.
•• Imobilizações
PASSO7. Se as tentativas de remoção do capacete
F. Avaliação resultarem em dor e parestesia, remover
o capacete com um cortador fundido.
•• Sinais vitais Usar também um cortador para remover
o capacete se houver evidência de lesão
•• Achados pertinentes do exame físico
na coluna cervical no R-X ou por exame.
•• Resposta do doente ao tratamento Estabilizar a cabeça e o pescoço durante
este procedimento; isto é conseguido
G. Recomendação dividindo o capacete no plano coronal
através das orelhas. A camada externa rígida
•• Modo de transporte é removida facilmente e a camada interna é
então incisada e removida anteriormente.
•• Nível de cuidado de transporte
Mantendo o alinhamento neutro da cabeça
•• Intervenção médicas no transporte e do pescoço, remova as partes posteriores
•• Avaliações e intervenções necessárias do capacete.

r e tir a da de c a pac e te exaME NEUROLÓGICO DETALHADO


PASSO 1. Uma pessoa estabiliza a cabeça e o pescoço
do doente colocando uma das mãos em PASSO1. Examinar as pupilas quanto ao tamanho,
cada lado do capacete com os dedos na forma e reatividade da luz.
mandíbula do doente. Esta posição impede
o deslizamento se a correia estiver solta. PASSO 2. Reavaliar a nova pontuação do GCS.

PASSO 2. A segunda pessoa corta ou afrouxa a alça do PASSO 3. Realizar um exame de nervo craniano com
capacete nos anéis-D. os olhos do doente abertos e fechados; mova
os olhos para a direita, para a esquerda,
PASSO3. A segunda pessoa coloca uma mão na para cima e para baixo; sorria largamente;
mandíbula no ângulo, posicionando o estenda a língua; e encolha os ombros.
polegar de um lado e os dedos do outro. A
outra mão aplica pressão debaixo da cabeça PASSO4. Examinar os dermátomos para sensação
na região occipital. Essa manobra transfere a de toque leve, observando áreas onde há
responsabilidade de restringir o movimento perda sensorial. Examinar essas áreas para
cervical à segunda pessoa. sensibilidade a picada, observar o nível mais
baixo onde há sensibilidade.
PASSO 4. A primeira pessoa então expande o capacete
lateralmente para limpar as orelhas e remove PASSO 5. Examinar os miótomos para o movimento
cuidadosamente o capacete. Se o capacete ativo e avalie a força (0-5) do movimento,
tiver uma cobertura de rosto, remova este observando se limitado pela dor.
­360 APÊNDICE G n Estações Práticas

•• Levanta o cotovelo ao nível do ombro - verbalmente se sentir dor durante o exame


deltóide, C5 das costas.
•• Flexiona o antebraço - bíceps, C6 PASSO3. Remover todos os blocos, fitas e tiras que
•• Estende o antebraço - tríceps, C7 prendem o doente à prancha, se ainda não o
tiverem feito. Os membros inferiores podem
•• Flexiona o pulso e os dedos, C8 ser temporariamente protegidos juntamente
•• Espalha os dedos, T1 com gaze ou fita para facilitar o movimento.
•• Flexiona o quadril - iliopsoas, L2 PASSO 4. Todo o pessoal assume seus papéis: O gerente
•• Estende o joelho - quadríceps, L3 a L4 de cabeça e pescoço coloca as mãos sob os
ombros do doente, com as palmas para cima,
•• Flexiona o joelho - isquiotibiais, L4 – L5 a S1
os cotovelos e os antebraços paralelos ao
•• Dedão do Dorsiflexo - extensor longo do pescoço para impedir o movimento da coluna
hálux, L5 vertebral cervical. O cuidador do tronco coloca
as mãos no ombro e na parte superior da
•• Plantar flexiona o tornozelo -
pélvis do doente, atravessando o doente. A
gastrocnêmio, S1 terceira pessoa cruza a mão da segunda pessoa,
colocando uma das mãos na pélvis e a outra
PASSO6. Idealmente, teste os reflexos do doente nos nas extremidades inferiores. (Nota: Se o doente
cotovelos, joelhos e tornozelos (este passo é tiver fraturas, talvez seja necessário atribuir
menos informativo no cenário de emergência). uma quinta pessoa a esse membro.)

PASSO 5. O gerente de cabeça e pescoço garante que a


remoção de prancha rígida equipe esteja pronta para se movimentar e,
em seguida, a equipe move o doente como
Nota: Prender adequadamente o doente a uma prancha longa é uma unidade individual para o seu lado.
a técnica básica para imobilizar a coluna. Em geral, isso é feito
no ambiente pré-hospitalar; o doente chega ao hospital com o PASSO 6. Examinar as costas.
movimento da coluna vertebral já restrito por estar preso a uma
prancha longa, com o colo cervical no lugar e a cabeça presa ao PASSO 7. Realizar o toque retal, se indicado.
longo da prancha. A prancha longa fornece uma imobilização
eficaz e permite transferências seguras do doente com um número PASSO 8. Na direção do cuidador de cabeça e pescoço,
mínimo de assistentes. No entanto, pranchas de coluna dorsal não retornar o doente para a posição supina.
acolchoadas podem logo tornar-se desconfortáveis para doentes Se as extremidades foram amarradas ou
conscientes e representam um risco significativo de úlceras de coladas, remova as amarras.
pressão nas proeminências ósseas posteriores (occipital, escápula,
sacro e calcanhares). Portanto, o doente deve ser transferido da
padiola para uma maca firme, bem acolchoada ou superfície
avaliação da tc de crÂnio
equivalente, assim que puder ser feita com segurança. Continuar
a restringir o movimento da coluna vertebral até que a imagem Nota: Os passos descritos aqui para avaliar uma tomografia
e o exame apropriados excluam a lesão medular. computadorizada de crânio fornecem uma abordagem
para avaliar patologias significativas com risco de vida.
PASSO1. Reunir quatro pessoas e atribua funções:
uma para estabilizar a cabeça e o pescoço PASSO1. Confirmar se as imagens são do doente
do doente e liderar o movimento; um para correto e se a varredura foi realizada sem
cuidar o tronco; e um para cuidar os quadris contraste intravenoso.
e pernas. A quarta pessoa examinará a
coluna, realizará o exame retal, se indicado, PASSO2. Avaliar o componente do couro cabeludo
e removerá a prancha. para contusão ou inchaço que pode indicar
um local de trauma externo.
PASSO2. Informar ao doente que ele ou ela será
virado para o lado para remover a prancha e PASSO3. Avaliar para fraturas do crânio. Lembrar-
examinar as costas. Instrua o doente a colocar se de que as linhas de sutura podem ser
as mãos no peito, se for capaz, e a responder confundidas com fraturas. Os trechos de
APÊNDICE G n Estações Práticas 361

mísseis podem aparecer como áreas lineares C. Examinar processos espinhosos.


de baixa atenuação.
PASSO3. Avaliar a cartilagem, incluindo o exame
PASSO4. Avaliar os giros e sulcos quanto à simetria. dos espaços de disco cartilaginosos para
Procurar por hematomas subdurais e estreitamento ou alargamento.
hematomas epidurais.
PASSO 4. Avaliar o odontoide.
PASSO5. Avaliar os hemisférios cerebrais e
cerebelares. Comparar lado a lado para A. Examinar o contorno do odontoide.
densidade e simetria. Procurar por áreas
de alta atenuação que possam representar B. Examinar o espaço predental (3 mm).
contusão ou lesão por cisalhamento.
C. Examinar o clivus; deve apontar para o
PASSO 6. Avaliar os ventrículos. Procurar por simetria odontoide
ou distorção. O aumento da densidade
representa hemorragia intraventricular. PASSO 5. Avaliar as partes moles extra-axiais.

PASSO7. Determinas as mudanças. Hematoma ou A. Examinar o espaço extra-axial e as partes moles:


inchaço pode causar desvio da linha média. Um
deslocamento de mais de 5 mm é considerado •• 7 mm em C3
indicativo da necessidade de cirurgia. •• 3 cm em C7

PASSO 8. Avaliar as estruturas maxilofaciais. Procurar


por fraturas e fluidos nos seios. Lembrar-se Links para aprendizado futuro
das quatro coisas que causam o aumento da
densidade: contraste, coágulo, celularidade
(tumor) e calcificação. “New” Glasgow Coma Scale: www.glasgowcomascale.org

Brain Trauma Foundation Guidelines: Carney M,


AVALIAÇÃO DAS IMAGENS DA Totten AM, Reilly C, Ullman JS et al. “Guidelines for
COLUNA CERVICAL the Management of Severe Traumatic Brain Injury,
4th Edition” 2016: Brain Trauma Foundation. www.
braintrauma.org
Nota: Antes de interpretar o raio-x, confirme o nome do
doente e a data do exame. “New Orleans Criteria” for CT scanning in minor
head injury: Haydel MJ, Preston CA, Mills TJ, Luber S,
PASSO 1. Avaliar a adequação e o alinhamento. Blaudeau E, DeBlieux PMC. Indications for computed
tomography in patients with minor head injury. N Engl
A. Identificar a presença de todas as 7 vértebras J Med. 2000;343:100-105
cervicais e o aspecto superior de T1
“Canadian Head CT rules”:
B. Identificar
•• Stiell IG, Lesiuk H, Wells GA, et al. The
•• Linha anterior da vértebra Canadian CT Head Rule Study for patients
•• Linha espinal anterior with minor head injury: rationale, objectives,
•• Linha espinal posterior and methodology for phase I (derivation).
Ann Emerg Med. 2001;38:160-169. 25. Stiell
•• Processos espinhosos IG, Lesiuk H, Wells GA, et al. Canadian CT
Head Rule Study for patients with minor head
PASSO 2. Avaliar o osso.
injury: methodology for phase II (validation
A. Examinar todas as vértebras para preservar and economic analysis). Ann Emerg Med.
a altura e a integridade do córtex ósseo. 2001;38:317-322.

B. Examinar as facetas.
­362 APÊNDICE G n Estações Práticas

•• NEXUS criteria: Hoffman JR, Wolfson AB, Todd C-Spine Rule by triage nurses in the emergency
K, Mower WR (1998). “Selective cervical spine department. CMAJ. 2010 Aug 10. 182(11):1173-9.
radiography in blunt trauma: methodology of
the National Emergency X-Radiography Utilization Após o ATLS - Avaliar quais procedimentos existem
Study (NEXUS).”. Ann Emerg Med. 32 (4): 461–9. em seu ambiente de prática para avaliar rapidamente
os doentes com trauma craniencefálico (TCE). Sua
Canadian C-spine rules: configuração de prática tem um protocolo para
prevenção de lesão cerebral secundária quando o TCE
•• Stiell IG, Wells GA, Vandemheen KL, Clement é diagnosticado? Avaliar também quais procedimentos
CM, Lesiuk H, De Maio VJ, et al. The Canadian existem em seu ambiente de prática para a imobilização
C-spine rule for radiography in alert and da coluna. Todos os membros da equipe que lidam com
stable trauma patients. JAMA. 2001 Oct 17. doentes traumatizados são educados adequadamente
nesses procedimentos? Avaliar seu ambiente de prática
286(15):1841-8.
sobre como a coluna cervical é avaliada e depurada (se
•• Stiell IG, Clement CM, O’Connor A, Davies apropriado). Todos os membros da equipe que avaliam
B, Leclair C, Sheehan P, et al. Multicentre doentes traumatizados são adequadamente educados
prospective validation of use of the Canadian
Estação Prática E
EXAMES AUXILIARES

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

1. Identificar o posicionamento apropriado de um 5. Explicar o valor da radiografia da pelve ântero-


probe de ultra-som para os exames FAST e eFAST. posterior (AP) para identificar o potencial de perda
2. I dentificar o fluido em imagens fixas ou vídeo do maciça de sangue e descrever as manobras que
exame FAST. podem ser usadas para reduzir o volume pélvico e
controlar o sangramento.
3. Identificar evidência de pneumotórax ao ultra-som
em imagens de vídeo de um exame eFAST. 6. Usar uma abordagem estruturada para interpretar
um raio-x da coluna ou TC (com base na preferência
4. U
sar uma abordagem estruturada para interpretar
do diretor do curso).
uma radiografia do tórax e identificar as lesões
presentes (veja a Estação Prática B Ventilação). 7. Usar uma abordagem estruturada para avaliar uma
radiografia pélvica.

TREINAMENTOS INCLUSOS
NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA

•• Realizar um Exame FAST e Posicionar


Adequadamente os Probes
•• Realizar um Exame eFAST e Posicionar
Adequadamente os Probes
•• Identificar um eFAST Anormal em Imagens
Estáticas ou de Vídeo
•• Identificar Fluido no Vídeo de FAST ou Imagens
Fixas de FAST
•• Avaliar as Imagens da Coluna Torácica e Lombar
n FIGURA G-1 
•• Interpretar um Raio X da Pelve
o marcador do probe para a direita (n FIGURA
REALIZAR UM EXAME FAST E G-1).O ângulo da probe é superficial e o fígado
é usado como uma janela acústica.
POSICIONAR ADEQUADAMENTE
OS PROBES PASSO 2. Deslocar-se para a vista do quadrante superior
direito. Colocar o marcador do probe em
PASSO1. Usar um probe de baixa frequência (3,5 direção à cabeça no plano coronal na linha
mHz). Começar com o coração para garantir axilar anterior (n FIGURA G-2). Girar o probe
que o ganho seja definido adequadamente. obliquamente e deslize em direção cefálica
Fluido dentro do coração aparecerá preto. para caudal para visualizar o diafragma,
Colocar o probe no espaço sub-xifoídeo, com fígado e rim.

365
­366 APÊNDICE G n Estações Práticas

n FIGURA G-2  n FIGURA G-3 

n FIGURA G-4  n FIGURA G-5 

PASSO 3. Examinar o quadrante superior esquerdo. deslizar o probe caudalmente (n FIGURA G-7).
Posicionar o marcador do probe em direção Examinar 2 ou 3 espaços. Incluindo mais
à cabeça no plano coronal (n FIGURA G-3). espaços aumenta a sensibilidade.
Começar a deslizar em direção mais cefálica
do que à direita e mais posterior. Começar PASSO2. Avaliar os diafragmas direito e esquerdo
na linha axilar média. Girar o probe obliqua- usando a mesma posição do probe para
mente e visualizar o diafragma, baço e rim. a avaliação do espaço peri-hepático e
periesplênico (n FIGURA G-8), deslizando o probe
PASSO4. (Idealmente, a bexiga está cheia.) Colocar em um espaço costal cefálico (n FIGURA G-9).
o probe acima da pube com o marcador do
probe apontando para a direita (n FIGURA IDENTIFICAR e-FAST ANORMAL
G-4). Procurar fluido, que aparece como uma
OU EM IMAGENS DE VÍDEO
faixa escura. Girar o probe 90 graus para que
o marcador aponte para a cabeça (n FIGURA
G-5). Procurar por fluido. PASSO 1. Procurar por um deslizamento do pulmão.
Se você não encontrar nenhum, procurar
REALIZAR UM EXAME eFAST E por pulso de pulmão.
DEMONSTRAR O POSICIONAMENTO PASSO 2. Procurar por caudas de cometa.
ADEQUADO DA SONDA
PASSO 3. Procurar por sinal de beira-mar, código de
PASSO1. Colocar o probe no segundo ou terceiro barras ou estratosfera no modo M. Código
espaço intercostal na linha clavicular média de barras e sinais da estratosfera indicam
em uma orientação sagital (n FIGURA G-6), e pneumotórax.
APÊNDICE G n Estações Práticas 367

n FIGURA G-6  n FIGURA G-7 

n FIGURA G-8  n FIGURA G-9 

PASSO4. Procurar áreas pretas ou anecoides acima AVA LI A R A S IM AG ENS DA


do diafragma.
COLUN A TOR ÁC IC A E
LOMB A R (OP C ION A IS)
IDENTIFIC A R O FLUIDO NO
Nota: Antes de interpretar o raio-x, confirmar o nome do
V ÍDEO FA S T OU EM IM AG ENS doente e a data do exame.
E S TÁTIC A S DO FA S T
PASSO 1. Avaliar o alinhamento dos corpos vertebrais/
PASSO1. Na janela pericárdica, procurar uma faixa angulação da coluna vertebral.
preta de fluido que separa o pericárdio
hiperecoico do miocárdio cinzento. Esta PASSO 2. Avaliar o contorno dos corpos vertebrais.
faixa representa fluido.
PASSO 3. Avaliar os espaços discais.
PASSO2. Olhar para o espaço hepato-renal. O
líquido intraperitoneal tem uma aparência PASSO 4. Avaliar a invasão do corpo vertebral no canal.
hipoecoica ou anecoica preta.

PASSO 3. Olhar para o espaço espleno-renal. O sangue INTERPRETAR UM R X DA PELVE


aparecerá como uma tira hipo-ecoica ou
anecoica nesta área. Nota: Antes de interpretar o raio-x, confirme o nome do
doente e a data do exame.
PASSO 4. Olhar ao redor da bexiga para uma área de
hipoecogenicidade. PASSO 1. Verificar a interrupção das linhas arqueadas
e íleo-isquiais, incluindo a sínfise púbica.
PASSO5. Certificar-se de ter visualizado completa- A sínfise púbica deve ser inferior a 1 cm na
mente todos os espaços antes de declarar gravidez e inferior a 0,5 cm em adultos não
um negativo de exame. grávidas.
­368 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO 2. Verificar se há alargamento ou deslocamento LINKS PARA APRENDIZADO FUTURO


das articulações sacroilíacas. Verificar os
processos transversos de L-5 porque eles
podem se romper com a ruptura sacroilíaca. Após o ATLS - Reveja o vídeo de realização do FAST no
aplicativo móvel MyATLS. Após este curso, aproveite a
PASSO3. Verificar o sacro em busca de evidência oportunidade para realizar o FAST e o eFAST em seus
de fratura. Os arcos do forame podem ser doentes para melhorar seu conforto com o uso desta
interrompidos por fraturas sacrais. tecnologia. Além disso, faça um esforço para interpretar
as radiografias da pelve, sozinho, antes do radiologista.
PASSO 4. Verificar o acetábulo bilateralmente quanto
a interrupção e luxação femoral. Verificar
a cabeça do fêmur e pescoço para ruptura
bilateralmente.
Estação Prática F
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

OBJETIVOS DE APRENDIZADO

1. A
valiar um doente simulado com múltiplas 4. Demonstrar imobilização de uma fratura em um
lesões usando a sequência correta de prioridades cenário de doente de trauma simulado.
e técnicas de gerenciamento para a avaliação
secundária do doente. 5. A
valiar um doente de trauma simulado quanto a
evidências de síndrome compartimental.
2. R
eavaliar um doente que não esteja respondendo
adequadamente à reanimação e ao tratamento. 6. R
econhecer o doente que precisará de transferência
para cuidados definitivos.
3. Demonstrar redução de fratura em um cenário de
doente de trauma simulado. 7. Aplicar um colar cervical.

TREINAMENTOS INCLUSOS •• L—líquidos e última refeição


NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA •• E—exposição e ambiente

•• Realizar uma Avaliação Secundária em um PASSO 2. Obter a história do evento de produção de


Doente Traumatizado Simulado lesões e identifique os mecanismos de lesão.
•• Reduzir e Imobilizar uma Fratura em um
cabeça e maxilofacial
Doente Traumatizado Simulado
•• Aplicar um Colar Cervical em um Doente PASSO 3. Avaliar as áreas da cabeça e maxilofacial.
Traumatizado Simulado
A. Inspecionar e palpar a cabeça e o rosto
•• Avaliar a Presença de Síndrome inteiramente em busca de lacerações,
Compartimental contusões, fraturas e lesões térmicas.

B. Reavaliar as pupilas.
REALI Z AR AVALIAÇÃO
SECUNDÁ RIA EM UM DOENTE C. Reavaliar o nível de consciência e a pontuação
TRAUMATI Z ADO SIMULADO da Escala de Coma de Glasgow (GCS).

D. Avaliar os olhos em busca de hemorragia,


PASSO1. Obter o histórico AMPLE do doente, da lesão penetrante, acuidade visual, luxação
família ou do pessoal pré-hospitalar. do cristalino e presença de lentes de contato.

•• A—alergias E. Avaliar a função do nervo craniano.

•• M—medicamentos F. Inspecionar os condutos auditivos e as


narinas em busca de débito de líquido
•• P—passado histórico, doenças e gestações cefalorraquidiano.

371
­372 APÊNDICE G n Estações Práticas

G. Inspecionar a boca em busca de evidências C. Percutir o abdome para pesquisar


de sangramento e líquido cefalorraquidiano, descompressão brusca.
lacerações de partes moles e dentes soltos.
D. Palpar o abdome por sensibilidade, proteção
muscular involuntária, dor à descompressão
Coluna cervical e pescoço e útero gravídico.

PASSO 4. Avaliar a coluna cervical e o pescoço.


PEríneo/reto/vagina
A. Verificar se há sinais de lesão contusa
e penetrante, desvio traqueal e uso de PASSO 7. Avaliar o períneo. Olhar para:
músculos respiratórios acessórios. •• Contusões e hematomas
B. Palpar para sensibilidade, deformidade, •• Lacerações
inchaço, enfisema subcutâneo, desvio •• Sangramento uretral
traqueal e simetria de pulsos.
PASSO8. Realizar uma avaliação retal em doentes
C. Auscultar as artérias carótidas, se sopros. selecionados para identificar a presença de
sangue retal. Isso inclui a verificação de:
D. Restringir o movimento da coluna vertebral •• Tônus do esfíncter anal
cervical quando a lesão é possível.
•• Integridade da parede intestinal
•• Fragmentos ósseos
tórax
PASSO 9. Realizar uma avaliação vaginal em doentes
PASSO 5. Avaliar o tórax. selecionados. Olhar para:

A. Inspecionar a parede torácica anterior, •• Presença de sangue na cúpula vaginal


lateral e posterior em busca de sinais de •• Lacerações vaginais
lesão contusa e penetrante, uso de músculos
respiratórios acessórios e excursões
respiratórias bilaterais.
MUSCUloesquelético
B. Auscultar a parede torácica anterior e as
bases posteriores quanto ao murmúrio PASSO 10. Fazer uma avaliação musculoesquelética.
vesicular bilateralmente e sons cardíacos. A. Inspecionar as extremidades superior
e inferior quanto a evidências de
C. Palpar a parede torácica inteira em busca lesão contusa e penetrante, incluindo
de evidência de lesão contusa e penetrante, contusões, lacerações e deformidades.
enfisema subcutâneo, sensibilidade e
crepitação. B. Palpar as extremidades superior e inferior
para sensibilidade, crepitação, movimento
D. Percutir para pesquisar hipertimpanismo anormal e sensação
ou macicez. C. Palpar todos os pulsos periféricos quanto a
presença, ausência e igualdade.
D. Avaliar a pelve em busca de evidências de
ABDome fratura e hemorragia associada.
PASSO 6. Avaliar o abdome. E. Inspecionar e palpar as espinhas torácicas
e lombares em busca de evidências de
A. Inspecionar o abdome anterior e posterior lesões contusas e penetrantes, incluindo
em busca de sinais de lesão contusa e contusões, lacerações, sensibilidade,
penetrante e sangramento interno. deformidade e sensação (enquanto
restringe o movimento da coluna vertebral
B. Auscultar a presença de ruídos hidroaéreos. em doentes com possível lesão medular).
APÊNDICE G n Estações Práticas 373

APLICAR UM COLAR CERVICAL


NEUROLógico
EM UM DOENTE TRAUMATIZADO
PASSO 11. Realizar uma avaliação neurológica. SIMULADO
A. Reavaliar as pupilas e o nível de consciência.
PASSO 1. Colocar o doente em decúbito dorsal.
B. Determinar a pontuação do escore GCS.
C. Avaliar as extremidades superior e PASSO 2. Colocar os dedos estendidos contra o pescoço
inferior quanto às funções motoras e do doente. Seu dedo mindinho deve quase
sensoriais. estar tocando o ombro do doente. Contar
quantos dedos você leva para alcançar o
D. Observar para sinais de lateralização. queixo. Lembrar-se de dimensionar um
colar cervical não é uma ciência exata; os
tamanhos disponíveis são limitados, então
REDUZIR E IMOBIBIL Z AR UMA fazer sua melhor estimativa.
FRATURA EM UM DOENTE DE
TRAUMA SIMULADO PASSO3. Encontrar o colar de tamanho apropriado
ou use um colar ajustável, se disponível.

PASSO1. Assegurar-se de que os ABCDEs foram PASSO4. Pedir a outro médico para restringir o
avaliados e os problemas com risco de vida movimento da coluna cervical do doente,
foram resolvidos. ficando de pé na cabeceira da cama e
segurando cada lado da cabeça.
PASSO 2. Expor completamente a extremidade e retirar
toda a roupa. PASSO 5. Deslizar a parte posterior do colar atrás do
pescoço do doente, tomando cuidado para
PASSO 3. Limpar e cobrir as feridas abertas. não mover o pescoço.

PASSO4. Realizar um exame neurovascular da PASSO6. Colocar a porção anterior do colarinho,


extremidade. certificando-se de colocar o queixo do doente
no suporte de queixo.
PASSO 5. Providenciar analgesia.
PASSO 7. Prender o colar com os ganchos e presilhas,
PASSO 6. Selecionar o tamanho e o tipo apropriados de tornando-a confortável o suficiente para
splint. Incluir a articulação acima e abaixo impedir a flexão, mas permitindo que o
da lesão. doente abra a boca.

PASSO 7. Acolchoar as proeminências ósseas que serão


cobertas pela tala. AVALIAR POR PRESENÇA DE
SÍNDROME COMPARTIMENTAL
PASSO8. Apoiar manualmente a área fraturada e
aplicar a tala de tração na porção distal abaixo
da fratura e uma contra-tração logo acima da PASSO 1. Avaliar o grau de dor - é maior que o esperado
articulação. e desproporcional ao estímulo ou lesão?

PASSO9. Reavaliar o estado neurovascular da PASSO2. Determinar se há dor no alongamento


extremidade. passivo do músculo afetado.

PASSO 10. Colocar a extremidade na tala e segurá-la. PASSO3. Determinar se há alteração da sensação ou
parestesia distal ao compartimento afetado.
PASSO 11. Obter consulta ortopédica.
PASSO4. Determinar se há inchaço tenso do
compartimento afetado.
­374 APÊNDICE G n Estações Práticas

PASSO5. Palpar os compartimentos musculares LINKS PARA APRENDIZADO FUTURO


da extremidade e comparar a tensão na
extremidade lesionada com a tensão na
extremidade não lesada. A assimetria pode Revisar o vídeo da avaliação secundária no aplicativo
ser um achado importante. móvel MyATLS.

PASSO6. As pressões dos compartimentos podem Após o ATLS - Reconhecer que a avaliação secundária
ser medidas, mas o diagnóstico é clínico. é semelhante ao exame físico abrangente aprendido na
Medições de pressão podem ser úteis em faculdade de medicina. Incorpora a história AMPLE e
doentes inconscientes ou com problemas leva em conta o mecanismo do trauma. É fácil, portanto,
neurológicos. encontrar oportunidades no ambiente de prática para
continuar a praticar as habilidades aprendidas nesta
PASSO7. Reavaliar frequentemente o doente, estação prática de avaliação secundária.
porque a síndrome compartimental pode
se desenvolver com o tempo.

PASSO8. Obter consulta cirúrgica ou ortopédica


precoce.

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