Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ATLS ®
Suporte Avançado de Vida no Trauma®
Décima Edição
Direitos autorais das edições anteriores de 1980, 1982, 1984, 1993, 1997, 2004, 2008 e 2012 para
o Colégio Americano de Cirurgiões.
Advanced Trauma Life Support® e a sigla ATLS® são marcas registradas do Colégio Americano
de Cirurgiões.
Impresso no Brasil.
Dedicamos a Décima Edição do ATLS em memória ao Dr. Norman E. McSwain Jr. Sua abordagem dinâmica,
positiva, calorosa, amigável e edificante para fazer as coisas através do trabalho de sua vida é uma inspiração
constante para aqueles cujas vidas ele tocou. Seu mandato no Comitê de Trauma (COT) do Colégio Americano
de Cirurgiões abrangeu quase exatamente os mesmos 40 anos do curso de ATLS.
O tempo do Dr. McSwain no COT levou-o a um caminho onde, sem sombra de dúvida, se tornou o mais importante
cirurgião, defensor do atendimento pré-hospitalar dos doentes. Ele primeiro trabalhou para desenvolver e,
em seguida, liderou e defendeu, o curso de suporte de vida no trauma no pré-hospitalar (PHTLS) como um
complemento vital e integral para o ATLS. Combinados, esses dois cursos ensinaram mais de 2 milhões de
estudantes em todo o mundo.
Dr. McSwain recebeu todas as honras que o COT pôde conceder e, como última homenagem, temos o prazer de
dedicar esta edição do ATLS à sua memória. Os criadores desta Décima Edição trabalharam diligentemente para
responder à saudação mais comum do Dr. McSwain: "O que você fez para o bem da humanidade hoje?", Oferecendo
o Curso Suporte de Vida Avançado no Trauma, 10ª Edição, juntamente com nossa fervorosa esperança que você
continuará a usá-lo para fazer o bem para toda a humanidade. Obrigado, Dr. McSwain.
Sharon Henry, MD
Karen Brasel, MD
Ronald M. Stewart, MD, FACS
-
PRÓLOGO
O meu primeiro contato com o ATLS foi em San Diego, em O ano de 1976 foi fundamental para melhorar o atendimento
1980, quando era residente. O curso de instrutor foi dirigido ao doente traumatizado. Naquele ano, o cirurgião ortopédico
por Paul E. “Skip” Collicott, MD, FACS, e entre os alunos Dr. James Styner e sua família foram tragicamente envolvidos
meus colegas estava um jovem cirurgião de San Diego, A. em um acidente de avião em um campo de milho de Nebraska.
Brent Eastman, MD, FACS, e um de San Francisco, Donald A resposta médica inadequada daqueles que cuidaram do
D. Trunkey, MD, FACS. Durante o ano seguinte ou nos dois Dr. Styner e sua família o obrigaram-no a agir. Dr. Styner
anos seguintes, nós treinamos todo mundo em San Diego e juntou forças com seu colega, Dr. Paul "Skip" Collicott MD,
isso tornou-se a linguagem e a força de coesão do Sistema FACS, e iniciou um curso intitulado Advanced Trauma Life
de Trauma de San Diego. Foi uma experiência iluminadora, Support (ATLS). Hoje, esse curso inicialmente pequeno se
inspiradora e profundamente pessoal. Num final de semana, tornou um movimento global. O ATLS foi rapidamente adotado
eu fui treinado e ganhei confiança: tornei-me adepto e e promulgado agressivamente pelo Comitê de Trauma. O
habilitado em algo que antes era motivo de ansiedade e primeiro curso foi realizado em 1980, e desde então, o ATLS
confusão. Pela primeira vez, tinha sido apresentado a um foi aperfeiçoado e melhorado diligentemente ano após ano,
“curso organizado”, a padrões de qualidade, a formação e década após década. O curso foi ministrado para mais de um
treinamento prático validados e à verificação das habilidades milhão de estudantes em mais de 75 países. Do Nebraska ao
treinadas. Foi uma experiência de transformação de vida e Haiti, mais de 60% dos cursos da ATLS são agora ministrados
eu escolhi seguir carreira na área de trauma em parte por fora da América do Norte.
causa dessa experiência. Durante esse final de semana, fui Foi também em 1976 que Don Trunkey, MD, FACS e o Comitê
também apresentado ao Colégio Americano de Cirurgiões de Trauma (COT) publicaram o Recursos Hospitalares para o
— no que ele tem de melhor. Cuidado Ideal do Doente Traumatizado, primeiro documento a
A décima edição do ATLS continua uma tradição de definir e desenvolver centros de trauma e sistemas de trauma.
inovação. Aproveita a tecnologia digital e oferece dois tipos Este documento levou diretamente ao Programa de Consulta
de cursos (tradicional e digital) para aumentar o alcance e a e Revisão de Verificação do COT (VRC) e seus 450 centros de
eficácia deste curso histórico. Com o objetivo de comemorar traumas verificados nos Estados Unidos. Esses dois programas
seu 40º aniversário e atualmente usado em mais de 60 países, transformaram o atendimento de doentes traumatizados em
o programa ATLS e sua realização através da Décima Edição todo o mundo, o que salvou centenas de milhares de vidas. O
continuarão a promover práticas seguras de trauma para o ATLS foi concebido como um programa educacional e o VRC
mundo em geral. deveria ser um programa de um conjunto de padrões. Mas, em
Sob a liderança de Sharon Henry, MD, FACS, presidente termos reais, o ATLS padronizou o atendimento de doentes
do Comitê ATLS e Monique Drago, MA, EdD, diretora do traumatizados e o VRC instruiu a comunidade de trauma sobre
Programa de Educação em Trauma, juntamente com a como prestar um tratamento ideal aos mesmos.
excelente equipe do Colégio, conseguimos desenvolver um Assim, 1976 trouxe uma mudança radical e positiva no
programa criado com base na nona edição por Karen Brasel, atendimento ao doente traumatizado. A décima edição do
MD, FACS, e Will Chapleau, EMT-P, RN, TNS. A décima ATLS é a atualização mais inovadora e criativa desde o início do
edição do programa ATLS traz as melhores realizações do curso. Penso que esta questão é um testemunho apropriado para
Colégio Americano de Cirurgiões e seus Fellows para o nível a memória daqueles pioneiros que, em sua opinião, podia haver
superior e, finalmente, onde o doente é o mais beneficiado. um caminho para um futuro melhor para o cuidado do doente
traumatizado. Felicito os pioneiros modernos desta décima
David B. Hoyt, MD, FACS edição. O desenvolvimento desta edição foi liderado por uma
Executive Director equipe com um compromisso semelhante, zelo e uma paixão
American College of Surgeons para melhorar. Minha esperança é que todos que adotarem e
Chicago, Illinois ensinarem o ATLS continuem corajosamente essa busca para
United States melhorar o atendimento aos doentes traumatizados. Ao fazer
isso, podemos honrar adequadamente aqueles pioneiros de 1976.
v
PREFÁCIO
vii
viii PREFÁCIO
APLICATIVO MYATLS PARA CELULAR Comitê de Trauma do ACS, deve ser acompanhada pelo
símbolo legal habitual de propriedade da marca.
O curso continua utilizando o aplicativo
MyATLS para celular que é compatível com
os sistemas iOS e Android. Este aplicativo COMITÊ DE TR AUM A DO
está cheio de conteúdo de referência útil
que pode ser acessado para uso à beira do
COLÉG IO A MER IC A NO DE
leito ou para revisão nas horas livres. O conteúdo inclui: C IRURG IÕES
•• Gráficos interativos, como algoritmos de
tratamento e identificações radiológicas Ronald M. Stewart, MD, FACS
Committee on Trauma, Chair
•• Segmentos de vídeo que demonstram as Chair of the American College of Surgeons Committee on
principais atividades práticas Trauma
•• Calculadoras, como a calculadora pediátrica Witten B. Russ Professor and Chair of the Department of
de superfície queimada, para determinar a Surgery
administração de fluidos UT Health San Antonio
San Antonio, Texas
•• Animações, como o manejo da via aérea e a United States
cricotireoidostomia cirúrgica
Michael F. Rotondo, MD, FACS
Alunos, instrutores, coordenadores e educadores Trauma Program, Medical Director
são encorajados a acessar e usar regularmente esta CEO, University of Rochester Medical Faculty Group
ferramenta importante. Vice Dean of Clinical Affairs–School of Medicine
Professor of Surgery–Division of Acute Care Surgery
VIDEOS COM AS TÉCNICAS Vice President of Administration–Strong Memorial Hospital
President-Elect–American Association for the Surgery of
Como parte do curso, os vídeos estão disponíveis no Trauma
site MyATLS.com e mostram as técnicas críticas com as University of Rochester Medical Center
quais os alunos devem familiarizar-se antes do curso. Rochester, New York
As Sessões de Treinamento Prático durante o curso United States
permitem que os alunos tenham a oportunidade de
aprimorar a execução das técnicas bem como preparar-
se para a avaliação prática. A revisão das técnicas
demonstradas antes de participar das sessões de
COMITÊ DO SUP ORTE
treinamento prático aprimorará a experiência do aluno. AVA NÇADO DE VIDA NO
TR AUM A DO COMITÊ DE
NOTAS EDITOR IAIS TR AUM A DO COLÉG IO
A MER IC A NO DE C IRURG IÕES
O Comitê de Trauma do ACS é referido como Comitê
de Trauma ou Comitê e o(s) presidente(s) do Estado/
Província como Presidente(s) E/P. Sharon M. Henry, MD, FACS
A natureza internacional desta edição do Manual ATLS Committee Chair
ATLS de Alunos pode exigir modificações em termos Anne Scalea Professor of Surgery
comumente utilizados, para facilitar a compreensão por University of Maryland School of Medicine
todos os alunos e instrutores do Programa. University of Maryland Medical Center RA
Advanced Trauma Life Support® e ATLS® são marcas Cowley Shock Trauma Center
registradas de propriedade e de serviços, possuídas pelo Baltimore, Maryland
Colégio Americano de Cirurgiões e não podem ser usadas United States
por indivíduos nem entidades fora da organização do
Comitê de Trauma do ACS para propriedade ou serviços, Saud A. Al Turki, MD, FACS
sem aprovação do ACS. Do mesmo modo, qualquer Ministry of National Guard Health Affairs, King Abdulaziz
reprodução de uma ou de ambas as marcas em conjunção Medical City
direta com o Programa ATLS, dentro da organização do King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
PREFÁCIO ix
Michael Murray, MD
General Surgery Debbie Paltridge, MHlthSc (ED)
Banner Churchill Community Hospital Senior Educator Advisory Board, Chair
Sparks, Nevada Principal Educator
United States Royal Australasian College of Surgeons
Melbourne, Victoria
Australia
REPRESENTANTE DO SUPORTE Joe Acker, EMT-P, MPH
AVANÇADO DE VIDA PARA Executive Director, Birmingham Regional EMS System
ENFERMEIROS NO COMITÊ DE University of Alabama at Birmingham
SUPORTE AVANÇADO DE VIDA Birmingham, Alabama
United States
NO TRAUMA DO COMITÊ DE
TRAUMA DO COLÉGIO Wesam Abuznadah, MD, MEd, FRCS(C ), FACS, RPVI
AMERICANO DE CIRURGIÕES Assistant Professor, Consultant Vascular and Endovascular
Surgery
Associate Dean, Academic and Student Affairs, College
Jan Howard, MSN, RN, Chair, ATCN Committee of Medicine
South Bend, Indiana King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences
United States Jeddah
Saudi Arabia
xii PREFÁCIO
Agienszka Gizzi
Regional and International Programmes Coordinator
The Royal College of Surgeons of England
London
United Kingdom
PREFÁCIO xiii
Martha Romero
ATLS Coordinator
AMDA-Bolivia
Santa Cruz de la Sierra
Bolivia
AGRADECIMENTOS
xv
xvi AGRADECIMENTOS
Jameel Ali, MD, MMedEd, FRCSC, FACS Raphael Bonvin, MD, MME
Professor of Surgery Head of Educational Unit
University of Toronto Faculty of Biology and Medicine
Toronto, Ontario Lausanne
Canada Switzerland
Mahmood Ayyaz, MBBS, FCPS, FRCS, FACS Mary-Margaret Brandt, MD, MHSA, FACS
Professor of Surgery, Services Institute of Medical Sciences; Trauma Director
Councillor and Director, National Residency Programme; St. Joseph Mercy Health System
National Course Director, ATLS Pakistan Ann Arbor, Michigan
Services Hospital United States
College of Physicians and Surgeons Pakistan
Lehore Frank Branicki, MB, BS, DM, FRCS, FRCS(Glasg),
Pakistan FRACS, FCSHK, FHKAM, FCSECSA, FACS
Professor and Chair, Department of Surgery
Mark Bagnall, BMedSc(Hons), MBChB(Hons), MSc, United Arab Emirates University
PhD, MRCS(Eng) Al Ain
Specialist Registrar in General Surgery; General Surgery United Arab Emirates
Representative ATLS UK
Steering Group Susan Briggs, MD, MPH, FACS
United Kingdom Director, International Trauma and Disaster Institute
Massachusetts General Hospital
Andrew Baker, MBChB, FRCS(Orth), FCS(Orth), SA Boston, Massachusetts
Senior Consultant United States
Entabeni Hospital
Durban George Brighton, MBBS, BSc Honors, MSc, PGCE
South Africa Med Ed.
Clinical Entrepreneur Fellow NHS England
Royal Devon and Exeter NHS Foundation Trust
Exeter
England
AGRADECIMENTOS xvii
Troy Browne, MBChB, FCA(SA), FANZCA, FCICM Ian Civil, MBChB, FRACS, FACS
Medical Leader—Anaesthesia, Radiology and Surgical Director of Trauma Services
Services; Director of Intensive Care/High Dependency Unit Auckland City Hospital
Bay of Plenty District Health Board Auckland
Tauranga New Zealand
New Zealand
Keith Clancy, MD, MBA, FACS
Shane Brun, MD, M.Trauma, M.Ed, FFSEM(UK), Trauma Medical Director
FACRRM, FRACGP Geisinger Wyoming Valley Medical Center
Associate Professor Wilkes-Barre, Pennsylvania
James Cook University United States
Queensland
Australia Peter Clements
Stephen Bush, MA(Oxon), FRCS, FRCEM Frederic J. Cole, Jr., MD, FACS
Consultant in Emergency Medicine Legacy Emanuel Medical Center
Leeds Teaching Hospitals Portland, Oregon
Trust Leeds, West Yorkshire United States
United Kingdom
Jaime Cortes-Ojeda, MD, FACS
Jacqueline Bustraan, MSc Chief Department of Surgery
Educational Advisor, Trainer, and Researcher Hospital Nacional de Niños "Dr. Carlos Sáenz Herrera"
Leiden University Medical Center/BOAT (Bustraan San José
Organisation, Advice and Training) Costa Rica
Leiden
The Netherlands Renn J. Crichlow, MD MBA
Orthopaedic Trauma Surgeon
Vilma Cabading St. Vincent Indianapolis Trauma Center
Trauma Courses Office, Deanship of Postgraduate Education OrthoIndy Hospital
King Saud Bin Abdulaziz University for Health Sciences Indianapolis, Indiana
Riyadh United States
Kingdom of Saudi Arabia
Scott D’Amours, MD, FRCS(C), FRACS, FRCS(Glasg)
Sally Campbell, RN, BA Trauma Surgeon, Director of Trauma
ATLS Course Director Liverpool Hospital
Kaiser Medical Center/David Grant Medical Center Sydney, New South Wales
Vacaville/Travis Air Force Base, California Australia
United States
xviii AGRADECIMENTOS
Newton Djin Mori, MD, PhD, FACS Adam Fox, DPM, DO, FACS
General and Trauma Surgeon Assistant Professor of Surgery and Section Chief, Trauma
Hospital das Clinicas–University of São Paulo Division of Trauma Surgery and Critical Care, Rutgers NJMS;
São Paulo, São Paulo Associate Trauma Medical Director, NJ Trauma Center
Brazil Newark, New Jersey
United States
Cristiane de Alencar Domingues, RN, MSN, PhD
Professor Robert Michael Galler, DO, FACS, FACOS
Faculdade das Américas (FAM) Associate Professor, Neurosurgery and Orthopedics;
São Paulo, São Paulo Co-Director, Comprehensive Spine Center, Institute for
Brazil Advanced Neurosciences
Stony Brook University Medical Center
Jay Doucet, MD, FRCSC, FACS Long Island, New York
Professor of Surgery United States
University of California, San Diego
San Diego, California Raj Gandi, MD
United States Trauma Medical Director
JPS Health Network
Julia A. Dunn, MD, MS, FACS Fort Worth, Texas
Medical Director, Trauma Research and Education United States
UC Health Northern Colorado
Loveland, Colorado Naisan Garraway, CD, FRCSC, FACS
United States Medical Director, Trauma Program
Vancouver General Hospital
Lesley Dunstall, RN Vancouver, British Columbia
National Coordinator; EMST/ATLS Australasia Canada
Royal Australasian College of Surgeons
North Adelaide, South Australia Subash Gautam, MB, FRCS(Eng, Edn, and Glasg), FACS
Australia Head of Department
Fujairah Hospital
David Efron, MD, FACS Fujairah
Professor of Surgery; Chief, Division of Acute Care Surgery; United Arab Emirates
Director of Adult Trauma
The Johns Hopkins University School of Medicine Julie Gebhart, PA-C
Baltimore, Maryland Lead Orthopedic Trauma Physician; Assistant Manager,
United States Orthopedic Advanced Practice Providers
OrthoIndy Hospital
Froilan Fernandez, MD, FACS Indianapolis, Indiana
Chair, ACS-COT Chile; Associate Senior Surgical Staff United States
Hospital Del Trabajador
Santiago Agienszka Gizzi
Chile Regional and International Programmes Coordinator
The Royal College of Surgeons of England
John Fildes, MD, FACS London
Foundation Professor; Chair, Surgery; Chief, Division of Acute United Kingdom
Care Surgery; Program Director, Acute Care Surgery Fellowship
University of Nevada, Reno School of Medicine
Las Vegas, Nevada
United States
AGRADECIMENTOS xix
Oscar Guillamondegui, MD, MPH, FACS Roxolana Horbowyj, MD, MSChE, FACS
Professor of Surgery, Trauma Medical Director Assistant Professor of Surgery, Department of Surgery
Vanderbilt University Medical Center Uniformed Services University of the Health Sciences/
Nashville, Tennessee Walter Reed National Military Medical Center
United States Bethesda, Maryland
United States
Betty Jean (B. J.) Hancock, MD, FRCSC, FACS
Associate Professor, Pediatric Surgery and Critical Care David B. Hoyt, MD, FACS
University of Manitoba; Children’s Hospital of Executive Director
Winnipeg/Health Sciences Centre American College of Surgeons
Winnipeg, Manitoba Chicago, Illinois
Canada United States
Haytham Kaafarani, MD, MPH, FACS Sarvesh Logsetty, MD, FACS, FRCS(C)
Patient Safety and Quality Director; Director of Clinical Associate Professor, Director, Manitoba Firefighters Burn Unit
Research, Trauma, Emergency Surgery and Surgical Critical University of Manitoba
Care Winnipeg, Manitoba
Massachusetts General Hospital and Harvard Medical Canada
School
Boston, Massachusetts Siew Kheong Lum, MBBS, FRCSEd, FACS, FRACS
United States (Hon), FAMM, FAMS
Professor of Surgery and ATLS Program Director
Martin Keller, MD, FACS, FAAP Sungai Buloh Hospital
Associate Professor of Surgery Kuala Lumpur
St. Louis Children’s Hospital; Washington University Malaysia
School of Medicine
St. Louis, Missouri Patrizio Mao, MD, FACS
United States Azienda Ospedaliero–Universitaria
San Luigi Gonzaga
John Kortbeek, MD, FRCSC, FACS Orbassano, Torino
Professor, Department of Surgery, Critical Care and Italy
Anaesthesia
Cumming School of Medicine, University of Calgary Sherri Marley, BSN, RN, CEN, TCRN
Calgary, Alberta Clinical Educator for Trauma Services
Canada Eskenazi Hospital
Indianapolis, Indiana
Deborah A. Kuhls, MD, FACS United States
Professor of Surgery
University of Nevada School of Medicine Katherine Martin, MBBS, FRACS
Las Vegas, Nevada Trauma Surgeon
United States Alfred Hospital
Melbourne, Victoria
Sunir Kumar, MD Australia
Cleveland Clinic
Cleveland, Ohio Sean P. McCully, MD, MS
United States Surgical Critical Care Fellow
Department of Surgery
Eric Kuncir, MD, MS, FACS Oregon Health and Science University
Chief, Division of Emergency General Surgery; Clinical Portland, Oregon
Professor of Surgery United States
University of California, Irvine
Orange, California Chad McIntyre, BS, NRP, FP-C
United States Manager, Trauma and Flight Services
UF Health Jacksonville
Claus Falck Larsen, DMSc,MPA Jacksonville, Florida
consultant, United States
Clinic at TraumaCentre
Rigshospitalet Daniel B. Michael, MD, PhD, FACS, FAANS
University of Southern Denmark Director of Neurosurgical Education
Copenhagen William Beaumont Hospital Royal Oak
Denmark Professor of Neurosurgery
Oakland University William Beaumont School of
Gilberto K. K. Leung, MBBS, FRCS, PhD Medicine
Clinical Associate Professor Royal Oak, Michigan
The University of Hong Kong Queen Mary University United States
Pok Fu Lam Director, Michigan Head and Spine Institute
Hong Kong Southfield, Michigan
United States
AGRADECIMENTOS xxi
xxxi
xxxii ANÁLISE GERAL DO CURSO
Taxa de Mortalidade
(para cada 100.000 habitantes)
Os limites e nomes mostrados e as designações utilizadas neste mapa não implicam na expressão Fonte : Organização Mundial de Saúde
de qualquer opinião de quaisquer partes da Saúde Mundial relativo ao status legal de qualquer país, Produção do mapa: Evidência e Pesquisa de Informações
território, cidade ou área ou suas autoridades, ou a respeito da delimitação de suas fronteiras ou limites. World Health : Organização Mundial de Saúde
As linhas pontilhadas e traçadas do mapa representam fronteiras onde ainda não existe total acordo.
WHO2016. Todos os direitos são reservados.
n FIGURA 1 Taxa de mortalidade por acidentes automobilísticos, 2013. Reproduzida com a autorização do Galeria Global de Mapas do
Observatório de Saúde. Genebra: Departamento de Lesões e Prevenção de Violência da Organização Mundial de Saúde; 2016.
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxiii
resultam em geral de apneia, causada por lesões 3mostra a distribuição temporal das mortes por trauma
graves do cérebro ou da medula espinhal alta ou de em comparação com a distribuição trimodal histórica.
ruptura de coração, aorta ou outros grandes vasos.
Muito poucos destes doentes podem ser salvos, devido à
gravidade das lesões. Só a prevenção é capaz de reduzir His tÓR I A
significativamente este pico de mortalidade por trauma.
O segundo pico ocorre dentro de minutos a várias horas
depois do trauma. As mortes que ocorrem durante este Antes de 1980, o atendimento ao traumatizado nos Estados
período são geralmente devidas a hematoma subdural e Unidos era, na melhor das hipóteses, inconsistente. Em
epidural, hemopneumotórax, ruptura de baço, lacerações fevereiro de 1976 ocorreu uma tragédia que mudou a forma
do fígado, fraturas pélvicas e/ou múltiplas outras lesões, de atendimento na “primeira hora” aos traumatizados
associadas a perda significativa de sangue. A hora de ouro do nos Estados Unidos e em muitos lugares do mundo. Um
atendimento pós-trauma é caracterizada pela necessidade ortopedista, pilotando seu próprio avião, caiu numa
de avaliação e reanimação rápidas, que são os princípios plantação de milho, na zona rural de Nebraska. O cirurgião
fundamentais do Suporte Avançado de Vida no Trauma. sofreu lesões de certa gravidade, três de seus filhos sofreram
O terceiro pico, que ocorre de vários dias a semanas traumatismos graves e outro teve lesões leves. Sua esposa
após o trauma inicial, é devido mais frequentemente morreu instantaneamente. O atendimento que ele e sua
a sepse e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. família receberam foi inadequado para os padrões da
O atendimento prestado durante cada uma das fases época. O cirurgião, reconhecendo como o tratamento tinha
precedentes tem impacto na evolução nesta etapa. A sido inadequado, afirmou: “A partir do momento em que
primeira pessoa que atende o traumatizado e cada uma eu posso prestar um atendimento no local, com recursos
das pessoas subsequentes influenciam diretamente o limitados, melhor do que o atendimento que meus filhos
prognóstico do traumatizado a longo prazo. e eu recebemos no primeiro hospital - existe algo errado
A distribuição temporal das mortes reflete os avanços com o sistema e o sistema tem que ser mudado”.
locais e as capacidades dos sistemas de trauma. O Um grupo privado de cirurgiões e clínicos de Nebraska,
desenvolvimento de programas padronizados de a Lincoln Medical Education Foundation (LMEF) e o grupo
treinamento em trauma, melhor atendimento pré- Lincoln-Area Mobile Heart Team Nurses, com a ajuda do
hospitalar e o desenvolvimento de centros de trauma Centro Médico da Universidade de Nebraska, o Comitê de
com equipes exclusivas de trauma e protocolos de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões do Estado de
tratamento do traumatizado alteraram quadro. A n FIGURA Nebraska e os Serviços de Emergência Médica do Sudeste
de Nebraska identificaram a necessidade de treinamento
Distribuição Temporal das Mortes por Trauma Comparado com a em suporte avançado de vida no trauma. Uma combinação
Distribuição Trimodal Histórica
de aulas, demonstrações de procedimentos de reanimação
e treinamentos práticos em laboratório formou o primeiro
400
protótipo do curso ATLS.
300
Em 1978, o ano do primeiro curso ATLS, surgiu uma
Mortes Imediatas
nova abordagem no atendimento das vítimas de traumas
200 Mortes Precoces graves, com risco de vida. Esse protótipo do curso ATLS
Mortes Tardias
Trimodal Histórica
foi testado na prática em conjunto com os Serviços de
Número de Mortes
Apesar da clara evidência do benefício dos sistemas de trauma, eficácia desses sistemas na melhoria dos resultados após a
pouquíssimos estados e regiões foram capazes de estabelecer lesão, mas os sistemas inclusivos são inegavelmente difíceis
um sistema como uma questão de política governamental, de desenvolver, financiar, manter e operar. O sistema tem
e poucos ainda conseguiram cumprir um conjunto de oito uma escala e uma função que o colocam no domínio dos
critérios que haviam sido propostos como pedras angulares serviços públicos essenciais, mas opera dentro do mundo
do design exclusivo do sistema. Consequentemente, modelos da prestação de serviços de saúde, amplamente orientado
inclusivos começaram a ser implementados. pelo mercado. Na maioria das áreas, as dimensões da saúde
O modelo inclusivo, como o nome sugere, propõe que pública do sistema de trauma não são bem reconhecidas
todas as unidades de saúde de uma região estejam envolvidas e não são bem financiadas pelos estados ou regiões. Na
com o atendimento de doentes traumatizados, em um nível falta de um mandato federal ou financiamento federal, a
proporcional ao seu comprometimento, capacidades e responsabilidade de desenvolver sistemas de trauma caiu
recursos. O ideal é que, por meio de suas regulamentações, para os governos estaduais e locais, e o progresso depende
regras e interações com o SME, o sistema funcione para atender muito do interesse e engajamento da liderança pública
de forma eficiente as necessidades individuais de um doente nesse nível. Como resultado, alguns estados têm sistemas
com a instalação mais adequada, com base em recursos e bem organizados e bem financiados, enquanto outros
proximidade. Com base nesse paradigma, os mais gravemente obtiveram pouco sucesso além do nível de coordenação
feridos seriam transportados direta ou rapidamente para que se desenvolveu por meio de interações individuais entre
as instalações de atendimento ao traumatologista de alto os provedores da linha de frente. Embora haja um consenso
nível. Ao mesmo tempo, haveria recursos locais e expertise geral sobre os elementos necessários e a estrutura de um
suficientes para gerenciar os traumatizados menos graves, sistema de trauma, bem como evidências significativas para
evitando assim os riscos e a utilização de recursos incorridos demonstrar que a coordenação desses elementos individuais
para o transporte para uma instalação de alto nível. A noção em um sistema abrangente de atendimento ao trauma leva
de que pessoal altamente qualificado em atendimento ao a melhores resultados após a lesão, esses dados não levaram
traumatizado jamais existiria fora do centro de trauma não a uma ampla implementação de sistemas de trauma em
estava prevista na época em que o ATLS foi criado. Em grande todo o país.
parte devido ao sucesso do ATLS, a capacidade de trauma De uma perspectiva internacional, a implementação do
relativamente sofisticada é agora comumente encontrada sistema de trauma varia até um grau ainda maior, devido
fora de um grande centro urbano tradicional. Essa mudança à ampla gama de estruturas sociais e desenvolvimento
de cenário levou a modificações no conteúdo e foco do curso econômico em países em todo o mundo. Além disso, muitas
ATLS e seu público-alvo. O modelo de sistema inclusivo tem das forças culturais e econômicas que têm impulsionado o
sido a principal estrutura de orientação para o desenvolvimento desenvolvimento de sistemas de trauma nos Estados Unidos
de sistemas nos últimos 10 anos. são únicas, especialmente aquelas relacionadas a altos índices
Apesar de sua aceitação relativamente universal no de violência interpessoal e às várias formas de financiar a
nível teórico, o modelo inclusivo é frequentemente mal assistência à saúde. Como resultado, as abordagens para o
interpretado e mal aplicado: na prática ele é visto como um desenvolvimento do sistema de trauma são muito diferentes.
sistema voluntário no qual todos os hospitais que desejam Em muitos países de renda mais elevada, especialmente
participar estão incluídos em qualquer nível de participação naqueles onde a assistência à saúde já é parte integrante
que escolherem. Essa abordagem falha em cumprir a missão da rede de apoio social, os benefícios de se concentrar a
principal de um sistema de trauma inclusivo: garantir que especialização em assistência ao trauma nos centros de
as necessidades do doente sejam o principal motivador da trauma foram mais facilmente reconhecidos. Além disso,
utilização de recursos. Um sistema inclusivo garante que todos há menos barreiras econômicas na direção do fluxo do doente
os hospitais participem do sistema e estejam preparados para com base na gravidade da lesão. Combinado com o tamanho
cuidar de doentes feridos em um nível compatível com seus relativamente menor de muitos países europeus e com os
recursos, capacidades técnicas e físicas; mas isso não significa menores tempos de transporte para um centro especializado,
que os hospitais sejam livres para determinar seu nível de esses benefícios facilitaram o desenvolvimento funcional
participação com base em seu próprio interesse percebido. As dos sistemas de trauma, seguindo um modelo exclusivo.
necessidades da população de doentes atendidas - avaliadas Em contraste, a maioria dos países de renda baixa e média
objetivamente - são os parâmetros que devem determinar tem infra-estrutura severamente limitada para transporte
o rateio e a utilização dos recursos do sistema, incluindo o de doentes e cuidados definitivos. Essas nações enfrentam
nível e a distribuição geográfica dos centros de trauma no sérios desafios ao fornecer assistência adequada aos
sistema. Quando essa regra é esquecida, a função ideal dos traumatizados e ao fornecer assistência médica em todos os
sistemas sofre e problemas de acesso inadequado ou de super setores. Esses desafios são claramente demonstrados pelas
utilização podem se desenvolver. taxas desproporcionalmente altas de morte relacionadas a
O modelo do sistema de trauma inclusivo foi bem trauma vistas nesses países. Nesses ambientes, o ATLS teve
desenvolvido. Há evidências substanciais para mostrar a talvez seu maior impacto no desenvolvimento de sistemas,
xxxvi ANÁLISE GERAL DO CURSO
levando conhecimento e caminhos básicos do atendimento ao Mudanças no programa refletem padrões de prática
trauma diretamente para os médicos, independentemente da aceitos e verificados, tecnologia não comprovada ou
infraestrutura de saúde. Além disso, o ATLS, em sua essência, métodos experimentais. A natureza internacional
apresenta muitos dos elementos primários de uma abordagem do programa exige que o curso seja adaptável a uma
sistematizada do cuidado, incluindo o conceito de transferência variedade de situações geográficas, econômicas, sociais e
de doentes para instalações mais capazes, conforme a gravidade práticas médicas. Para manter o status atual no Programa
da lesão e a importância da comunicação entre profissionais da ATLS, um indivíduo deve reverificar o treinamento com
área da saúde em vários níveis de atenção. Em muitos países a edição mais recente dos materiais.
de renda baixa e média, o ATLS fornece tanto o ímpeto para Paralelamente ao curso da ATLS, o curso de Suporte de
melhorar o atendimento ao trauma quanto as ferramentas Vida no Trauma Pré-hospitalar (PHTLS), patrocinado pela
básicas para começar a construir um sistema. Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica
O amplo sucesso da ATLS e a construção de uma grande (NAEMT). O curso PHTLS, desenvolvido em cooperação
população de profissionais que entendem os princípios e a com o ACS COT, baseia-se nos conceitos do Programa ACS
abordagem para o tratamento de traumatizados, tanto nos ATLS e é realizado para técnicos de emergência médica,
Estados Unidos quanto internacionalmente, continuam a paramédicos e enfermeiros que prestam cuidados de
ser instrumentais no avanço da implementação de sistemas trauma pré-hospitalar.
de trauma. A ampla disseminação do conhecimento sobre Outros cursos foram desenvolvidos com conceitos e
os cuidados com traumatizados e a importância de tomar filosofias semelhantes. Por exemplo, a Society of Trauma
as decisões corretas estabeleceu um conjunto comum de Nurses oferece o Advanced Trauma Care for Nurses (ATCN),
princípios e uma línguagem comum que serve para iniciar que também é desenvolvido em cooperação com o ACS COT.
mudanças no atendimento ao trauma e agir como uma Os cursos ATCN e ATLS são conduzidos paralelamente uns
força coesiva reunindo os vários componentes de um aos outros; os enfermeiros auditam as palestras do ATLS e
sistema. Esse grupo de profissionais comprometidos com depois participam de estações de habilidades separadas das
o atendimento do traumatizado, a extensa família ATLS, estações de ATLS conduzidas por médicos. Os benefícios
é, em última análise, a fonte da visão geral e da coesão de ter pessoal de trauma pré-hospitalar e intra-hospitalar
necessárias para promover melhorias nos sistemas de falando a mesma “linguagem” são aparentes.
atendimento ao trauma. Eles ligam os muitos elementos
separados de um sistema inclusivo em um todo funcional.
DISSEMINAÇÃO INTERNACIONAL
DESENVOLVIMENTO E Como um projeto piloto, o Programa ATLS foi exportado
DISSEMINAÇÃO DO CURSO para fora da América do Norte em 1986 para a República
de Trinidad e Tobago. O Conselho de Regentes do
O curso da ATLS foi realizado nacionalmente pela ACS deu permissão em 1987 para a promulgação do
primeira vez sob os auspícios do Colégio Americano Programa ATLS em outros países. O Programa ATLS
de Cirurgiões em janeiro de 1980. A promulgação pode ser solicitado por uma organização cirúrgica
internacional do curso começou em 1980. reconhecida ou pelo Capítulo do COT-ACS em outro
O programa cresceu a cada ano em número de cursos e país, correspondendo ao Presidente do Subcomitê do
participantes. Até o momento, o curso treinou mais de 1,5 ATLS, responsável pelo Gabinete do Programa ATLS do
milhão de participantes em mais de 75.000 cursos em todo ACS, Chicago, Illinois. No momento da publicação, os
o mundo. Atualmente, uma média de 50.000 médicos são seguintes 78 países estavam fornecendo ativamente o
treinados a cada ano em mais de 3.000 cursos. O maior curso ATLS para seus profissionais de trauma:
crescimento nos últimos anos tem sido na comunidade
internacional e esse grupo representa atualmente mais 1. Alemanha (German Society for Trauma Surgery
da metade de todas as atividades do ATLS. and Task Force for Early Trauma Care)
O texto do curso é revisado aproximadamente a cada 2. Argentina (Asociação Argentina de Cirugía)
4 anos para incorporar novos métodos de avaliação e
3. Australia (Royal Australasian College of Surgeons)
tratamento que se tornaram partes aceitas da comunidade
de médicos que tratam doentes traumatizados. As 4. Bahréin (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter
revisões do curso incorporam sugestões de membros do and Committee on Trauma)
Subcomitê do ATLS, membros do ACS COT, membros da 5. Belice (College of Physicians and Surgeons of
família internacional ATLS, representantes ao Subcomitê Costa Rica)
do ATLS do Colégio Americano de Emergência Médica e 6. Bolivia (AMDA Bolivia)
do Colégio Americano de Anestesiologistas e instrutores,
coordenadores, educadores e participantes do curso. 7. Brasil (The Brazilian Committee on Trauma)
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxvii
8. Canadá (ACS Chapters and Provincial Committees 39. Itália (ACS Chapter and Committee on Trauma)
on Trauma)Chile (ACS Chapter and Committee on 40. Jamaica (ACS Chapter and Committee on Trauma)
Trauma)
41. Jordania (Royal Medical Services/NEMSGC)
9. Chile (ACS Chapter and Committee on Trauma)
42. Kenia (Surgical Society of Kenya)
10. Ciprés (Cyprus Surgical Society)
43. Kuwait (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter
11. Colombia (ACS Chapter and Committee on and Committee on Trauma)
Trauma) 44. Líbano (Lebanese Chapter of the American College
12. Costa Rica (College of Physicians and Surgeons of of Surgeons)
Costa Rica) 45. Lituania (Lithuanian Society of Traumatology and
13. Cuba (Brazilian Committee on Trauma) Orthopaedics)
14. Curazao (ACS Chapter and Committee on Trauma) 46. Malasia (College of Surgeons, Malaysia)
47. México (ACS Chapter and Committee on Trauma)
15. Dinamarca (ATLS Denmark Fond)
48. Moldavia (Association of Traumatologists and
16. Ecuador (ACS Chapter and Committee on Trauma)
Orthopedics of Republic of Moldova - ATORM)
17. Egito (Egyptian Society of Plastic and 49. Mongolia (Mongolian Orthopedic Association and
Reconstructive Surgeons) National Trauma and Orthopedic Referral Center
18. Emiratos Árabes Unidos (Surgical Advisory of Mongolia)
Committee) 50. Myanmar (Australasian College of Emergency
19. Eslovenia (Slovenian Society of Trauma Surgeons) Medicine, International Federation for Emergency
Medicine and Royal Australasian College Of
20. España (Spanish Society of Surgeons) Surgeons. The local stakeholders included the
21. Estados Unidos e seus territórios (ACS Chapters Myanmar Department of Health and Department
and State Committees on Trauma) of Medical Science).
22. Estonia (Estonia Surgical Association) 51. Nova Zelandia (Royal Australasian College of
Surgeons)
23. Filipinas (Philippine College of Surgeons)
52. Nigeria (Nigerian Orthopaedic Association)
24. Fiji e os países do Pacífico Sudoeste (Royal
Australasian College of Surgeons) 53. Noruega (Norwegian Surgical Society)
54. Omán (Oman Surgical Society)
25. França (Société Française de Chirurgie d’Urgence)
55. Países Baixos (Dutch Trauma Society)
26. Georgia (Georgian Association of Surgeons)
56. Panamá (ACS Chapter and Committee on Trauma)
27. Ghana (Ghana College of Physicians and
Surgeons) 57. Papúa Nueva Guinea (Royal Australasian College
of Surgeons)
28. Grecia (ACS Chapter and Committee on Trauma)
58. Paquistão (College of Physicians and Surgeons
29. Granada (Society of Surgeons of Trinidad and
Pakistan)
Tobago)
59. Paraguai (Sociedad Paraguaya de Cirugía)
30. Haití (Partnership with Region 14)
60. Perú (ACS Chapter and Committee on Trauma)
31. Honduras (Asociacion Quirurgica de Honduras)
61. Portugal (Portuguese Society of Surgeons)
32. Hong Kong (ACS Chapter and Committee on
Trauma) 62. Qatar (Kingdom of Saudi Arabia ACS Chapter and
Committee on Trauma)
33. Hungría (Hungarian Trauma Society)
63. Reino de Arabia Saudita (ACS Chapter and
34. India (Association for Trauma Care of India) Committee on Trauma)
35. Indonesia (Indonesian Surgeons Association) 64. Reino Unido (Royal College of Surgeons of
36. Irán (Persian Orthopedic and Trauma Association) England)
37. Irlanda (Royal College of Surgeons in Ireland) 65. República Checa (Czech Trauma Society)
38. Israel (Israel Surgical Society)
xxxviii ANÁLISE GERAL DO CURSO
1. Tratar primeiro a maior ameaça à vida. O treinamento com o programa ATLS em um país em
2. Nunca permitir que a falta de diagnóstico definitivo desenvolvimento levou à diminuição da mortalidade
impeça a aplicação de um tratamento indicado. por trauma. Em regiões onde os profissionais foram
treinados no programa ATLS, observam-se menores
3. Uma história detalhada não é essencial para iniciar índices per capita de morte por trauma. Em um estudo,
a avaliação de um doente com lesões agudas. uma pequena equipe de trauma, liderada por um médico
com experiência em ATLS, apresentou taxa de sobrevida
O resultado foi o desenvolvimento da abordagem ABCDE equivalente à taxa observada em uma equipe maior
para avaliar e tratar doentes traumatizados. Esses conceitos com mais profissionais, numa região urbana. Além
também se alinham à observação de que o atendimento disso, ocorreram mais sobreviventes inesperados do que
de doentes traumatizados em muitas circunstâncias é um fatalidades inesperadas. Existem muitas evidências de
ANÁLISE GERAL DO CURSO xxxix
que o treinamento com o ATLS melhora o conhecimento ainda existe a necessidade de erradicar o trauma.
básico, as habilidades psicomotoras e a sua utilização O Programa ATLS mudou e continuará a mudar, à
na reanimação, bem como a confiança e o desempenho medida que ocorrem avanços na medicina e mudam
dos profissionais que participaram do programa. as necessidades e expectativas das nossas sociedades.
10. Baxter CR. Volume and electrolyte changes of Surgeons Committee on Trauma. Prehospital
in the early post-burn period. Clin Plast Surg Emerg Care 2014;18:163–173.
1974;4:693–709. 24. Cales RH. Trauma mortality in Orange County:
11. Bazzoli GJ, Madura KJ, Cooper GF, et al.. Progress the effect of implementation of a regional trauma
in the development of trauma systems in the system. Ann Emerg Med 1984;13:1–10.
United States. Results of a national survey. JAMA 25. Cancio L. Airway management and smoke
1995;273:395–401. inhalation injury in the burn patient. Clin Plast
12. Berg MD, Schexnayder SM, Chameides L, et Surg 2009 Oct;36(4):555–567.
al. Part 13: pediatric basic life support: 2010 26. Cancio LC. Initial assessment and fluid
American Heart Association Guidelines for resuscitation of burn patients. Surg Clin North
Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Am 2014 Aug;94(4):741–754.
Cardiovascular Care. Circulation 2010 Nov 2;122(18 27. Cancio LC, Lundy JB, Sheridan RL. Evolving
Suppl 3):S862–875. changes in the management of burns and
13. Biffl WL, Moore EE, Elliott JP, et al. Blunt environmental injuries. Surg Clin North Am 2012
cerebrovascular injuries. Curr Probl Surg Aug;92(4):959–986, ix.
1999;36:505–599. 28. Capizzani AR, Drognonowski R, Ehrlich PF.
14. Borst GM, Davies SW, Waibel BH et al. When Assessment of termination of trauma resuscitation
birds can’t fly: an analysis of interfacility guidelines: are children small adults? J Pediatr
ground transport using advanced life support Surg 2010;45:903–907.
when helicopter emergency medical service is 29. Carcillo JA. Intravenous fluid choices in critically
unavailable. J Trauma 77(2):331–336. ill children. Curr Opin Crit Care 2014;20:396–401.
15. Boulanger BR, Milzman D, Mitchell K, et al. Body 30. Carney N, Ghajar J, Jagoda A, et al. Concussion
habitus as a predictor of injury pattern after blunt guidelines step 1: systematic review of prevalent
trauma. J Trauma 1992;33:228–232. indicators. Neurosurg 2014 Sep;75(Suppl 1):S3–S15.
16. Boyd DR, Dunea MM, Flashner BA. The Illinois 31. Carney N, Totten AM, O’Reilly C, et. al. Guidelines
plan for a statewide system of trauma centers. J for the Management of Severe Traumatic Brain
Trauma 1973;13:24–31. Injury, Fourth Edition. Neurosurg 2017;80(1):6–15.
17. Boyle A, Santarius L, Maimaris C. Evaluation 32. Carta T, Gawaziuk J, Liu S, et al. Use of mineral oil
of the impact of the Canadian CT head rule Fleet enema for the removal of a large tar burn: a
on British practice. Emerg Med J 2004;21(4): case report, J Burns 2015 Mar;41(2):e11–14.
426–428. 33. Celso B, Tepas J, Langland-Orban B, et al. A
18. Braver ER, Trempel RE. Are older drivers actually systematic review and meta-analysis comparing
at higher risk of involvement in collisions outcome of severely injured patients treated in
resulting in deaths or nonfatal injuries among trauma centers following the establishment
their passengers and other road users? Inj Prev of trauma systems. J Trauma 2006;60:371–78;
2004;10:27–29. discussion 8.
19. Bromberg WJ, Collier BC, Diebel LN, et al. Blunt 34. Chames MC, Perlman MD. Trauma during
cerebrovascular injury practice management pregnancy: outcomes and clinical management.
guidelines: the Eastern Association for Clin Obstet Gynecol 2008;51:398.
the Surgery of Trauma. J Trauma 2010;68: 35. Chidester SJ, Williams N, Wang W, et al. A
471– 477. pediatric massive transfusion protocol. J Trauma
20. Brown JB, Stassen NA, Bankey PE et al. Helicopters 2012;73(5):1273–1277.
improve survival in seriously injured patients 36. Clancy K, Velopulos C, Bilaniuk JW, et al.
requiring interfacility transfer for definitive care. Screening for blunt cardiac injury: an Eastern
J Trauma 70(2):310–314. Association for the Surgery of Trauma practice
21. Bruen KJ, Ballard JR, Morris SE, et al. Reduction management guideline. J Trauma 2012 Nov;73(5
of the incidence of amputation in frostbite injury Suppl 4):S301–306.
with thrombolytic therapy. Arch Surg 2007 37. Cohen DB, Rinker C, Wilberger JE. Traumatic
Jun;142(6):546–551; discussion 551–553. brain injury in anticoagulated patients. J Trauma
22. Bulger EM, Arenson MA, Mock CN, et 2006;60(3):553–557.
al. Rib fractures in the elderly. J Trauma 38. Como JJ, Bokhari F, Chiu WC, et al. Practice
2000;48:1040–1046. management guidelines for selective nonoperative
23. Bulger EM, Snyder D, Schoelles C, et al. An management of penetrating abdominal trauma. J
evidence-based prehospital guideline for Trauma 2010 Mar;68(3):721–733.
external hemorrhage control: American College
ANÁLISE GERAL DO CURSO xli
65. Harvey A, Towner E, Peden M, et al. Injury a high-riding or non-palpable prostate? J Trauma
prevention and the attainment of child and 2013 Nov;75(5):913–915.
adolescent health. Bull World Health Organ 79. Kappel DA, Rossi DC, Polack EP, et al. Does the
2009;87(5):390–394. rural Trauma Team development course shorten
66. Hendrickson JE, Shaz BH, Pereira G, et al. the interval from trauma patient arrival to decision
Coagulopathy is prevalent and associated with to transfer? J Trauma 2011;70:315–319.
adverse outcomes in transfused pediatric trauma 80. Kassam-Adams N, Marsac ML, Hildenbrand
patients. J Pediatr 2012;160(2):204–209. A, et al. Posttraumatic stress following
67. Hendrickson JE, Shaz BH, Pereira G, et al. pediatric injury: update on diagnosis, risk
Implementation of a pediatric trauma massive factors, and intervention. JAMA Peds 2013;167:
transfusion protocol: one institution’s experience. 1158–1165.
Transfusion 2012;52(6):1228–1236. 81. Kharbanda AB, Flood A, Blumberg K, et al.
68. Hoffman M, Monroe DM. Reversing targeted Analysis of radiation exposure among pediatric
oral anticoagulants. ASH Education Book patients at national trauma centers. J Trauma
2014;1:518–523. 2013;74:907–911.
69. Holcomb JB, del Junco DJ, Fox EE, et al. The 82. Kirshblum S, Waring W 3rd. Updates for the
prospective, observational, multicenter, International Standards for Neurological
major trauma transfusion (PROMMTT) study: Classification of Spinal Cord Injury.
comparative effectiveness of a time-varying Phys Med Rehabil Clin N Am 2014;25(3):
treatment with competing risks. JAMA Surg 505–517.
2013;148(2):127–136. 83. Knegt CD, Meylaerts SA, Leenen LP. Applicability
70. HRSA(Health Resources and Services of the trimodal distribution of trauma deaths in
Administration.) Model trauma care system plan. a Level I trauma centre in the Netherlands with
In: Administration. Rockville, MD: U.S Department a population of mainly blunt trauma Injury, Int.
of Health and Human Services; 1992. J. Care Injured 2008;39:993—1000.
71. HRSA. Model trauma systems planning and 84. Kobbe P, Micansky F, Lichte P, et al. Increased
evaluation. Rockville, MD: U.S. Department of morbidity and mortality after bilateral femoral
Health and Human Services; 2006. shaft fractures: myth or reality in the era of
72. Hurlbert J, Hadley MN, Walters BC, et al. damage control? Injury 2013 Feb;44(2):221–225.
Pharmacological therapy for acute spinal cord 85. Kochanek PM, Carney N, Adelson PD, et al.
injury. Neurosurg 2013;72(Suppl 2):93–105. Guidelines for the acute medical management of
73. Inaba K, Lustenberger T, Recinos G, et al. Does size severe traumatic brain injury in infants, children,
matter? A prospective analysis of 28-32 versus and adolescents—second edition. Pediatr Crit Med
36-40 French chest tube size in trauma. J Trauma 2012;13(Suppl 1):S1–82.
2012;72(2):422–427. 86. Konda SR, Davidovich RI, Egol KA. Computed
74. Inaba K, Nosanov L, Menaker J, et al. Prospective tomography scan to detect traumatic arthrotomies
derivation of a clinical decision rule for and identify periarticular wounds not requiring
thoracolumbar spine evaluation after blunt surgical intervention: an improvement over
trauma: An American Association for the Surgery the saline load test. J Trauma 2013;27(9):
of Trauma Multi-Institutional Trials Group Study. 498–504.
J Trauma 2015;78(3):459–465. 87. Lai A, Davidson N, Galloway SW, et al.
75. Inaba K, Siboni S, Resnick S, et al. Tourniquet Perioperative management of patients on new oral
use for civilian extremity trauma. J Trauma anticoagulants. Br J Surg 2014 Jun;101(7):742–749.
2015;79(2):232–237. 88. Lansink KW, Leenen LP. Do designated trauma
76. Intimate Partner Violence Facts. www.who.int/ systems improve outcome? Curr Opin Crit Care
violence_injury_prevention/violence/world_ 2007;13:686–90.
report/factsheets/en/ipvfacts.pdf. Accessed April 89. Latenser BA. Critical care of the burn
18, 2017. patient: the first 48 hours. Crit Care Med 2009
77. Jain V, Chari R, Maslovitz S, et al. Guidelines for Oct;37(10):2819–2826.
the management of a pregnant trauma patient. J 90. Lee C, Bernard A, Fryman L, et al. Imaging may
Obstet Gynaecol Can 2015;37(6):553–571. delay transfer of rural trauma victims: a survey of
78. Johnson MH, Chang A, Brandes SB. The value of referring physicians. J Trauma 2009;65:1359–1363.
digital rectal examination in assessing for pelvic 91. Lee TH, Ouellet JF, Cook M, et al. Pericardiocentesis
fracture-associated urethral injury: what defines in trauma: a systematic review. J Trauma
2013;75(4):543–549.
ANÁLISE GERAL DO CURSO xliii
92. Lee PM, Lee C, Rattner P, et al. Intraosseous versus 106. Min L, Burruss S, Morley E, et al. A simple
central venous catheter utilization and performance clinical risk nomogram to predict mortality-
during inpatient medical emergencies. Crit Care associated geriatric complications in severely
Med 2015Jun;43(6):1233–1238. injured geriatric patients. J Trauma 74(4):
93. Leeper WR, Leeper TJ, Yogt K, et al. The role of 1125–1132.
trauma team leaders in missed injuries: does 107. Morrissey BE, Delaney RA, Johnstone AJ, et
specialty matter? J Trauma 2013;75(3):387–390. al.. Do trauma systems work? A comparison of
94. Lewis P, Wright C. Saving the critically injured major trauma outcomes between Aberdeen Royal
trauma patient: a retrospective analysis of Infirmary and Massachusetts General Hospital.
1000 uses of intraosseous access. Emerg Med J Injury 2015;46:150–155.
2015Jun;32( 6):463–467. 108. Morshed S, Knops S, Jurkovich GJ, et al.. The
95. Ley E, Clond M, Srour M, et al. Emergency impact of trauma-center care on mortality and
department crystalloid resuscitation of 1.5 L or function following pelvic ring and acetabular
more is associated with increased mortality in injuries. J Bone Joint Surg Am 2015;97:265–272.
elderly and nonelderly trauma patients. J Trauma 109. Murphy JT, Jaiswal K, Sabella J, et al. Prehospital
2011;70(2):398–400. cardiopulmonary resuscitation in the
96. Li C, Friedman B, Conwell Y, et al. Validity of pediatric trauma patient. J Pediatr Surg 2010
the Patient Health Questionnaire-2 (PHQ-2) in Jul;45(7):1413–1419.
identifying major depression in older people. J 110. Mutschler Amy, Nienaber U, Brockampa T, et al.
Am Geriatr Soc 2007 April;55(4):596–602. A critical reappraisal of the ATLS classification
97. Liu T, Chen JJ, Bai XJ, et al. The effect of obesity of hypovolaemic shock: does it really reflect
on outcomes in trauma patients: a meta-analysis. clinical reality? Resuscitation 2013;84:
Injury 2013 Sep;44(9):1145–1152. 309–313.
98. MacKenzie EJ, Rivara FP, Jurkovich GJ, et al. 111. Nathens AB, Jurkovich GJ, Rivara FP, et al.
A national evaluation of the effect of trauma- Effectiveness of state trauma systems in reducing
center care on mortality. New Engl J Med injury-related mortality: a national evaluation. J
2006;354:366–78. Trauma 2000;48:25–30; discussion 30-31.
99. MacKenzie EJ, Weir S, Rivara FP, et al. The value 112. National Academy of Sciences. Accidental Death
of trauma center care. J Trauma 2010;69:1–10. and Disability: The Neglected Disease of Modern
100. Mathen R, Inaba K, Munera F, et al. Prospective Society. Washington, DC: National Academies
evaluation of multislice computed tomography Press; 1966.
versus plain radiographic cervical spine clearance 113. Natsuhara KM, Yeranosian MG, Cohen JR, et al.
in trauma patients. J Trauma 2007 Jun;62(6):1427. What is the frequency of vascular injury after
101. McCrum ML, McKee J, Lai M, et al. ATLS adherence knee dislocation? Clin Orthop Relat Res 2014
in the transfer of rural trauma patients to a level Sep;472(9):2615–2620.
I facility. Injury 44(9):1241–1245. 114. Neff NP, Cannon JW, Morrison JJ, et al. Clearly
102. McKee JL, Roberts DJ, van Wijngaarden-Stephens defining pediatric mass transfusion: cutting
MH, et al. The right treatment at the right time through the fog and friction using combat data.
in the right place: a population-based, before- J Trauma 2015 Jan;78(1):22–28.
and-after study of outcomes associated with 115. O’Brien CL, Menon M, Jomha NM. Controversies
implementation of an all-inclusive trauma in the management of open fractures. Open Orthop
system in a large Canadian province. Ann Surg J 2014;8:178–184.
2015;261:558–564. 116. O’Malley E, Boyle E, O’Callaghan A, et al. Role
103. Medina O, Arom GA, Yeranosian MG, et al. of laparoscopy in penetrating abdominal
Vascular and nerve injury after knee dislocation: trauma: a systematic review World J Surg 2013
a systematic review. Clin Orthop Relat Res 2014 Jan;37(1):113–122.
Oct;472(1):2984–2990. 117. O’Toole RV, Lindbloom BJ, Hui E, et al. Are
104. Mills WJ, Barei DP, McNair P. The value of the bilateral femoral fractures no longer a marker
ankle-brachial index for diagnosing arterial injury for death? J Orthoped Trauma 2014 Feb;28(2):
after knee dislocation: a prospective study. J 77–81.
Trauma 2004;56:1261–1265. 118. Onzuka J, Worster A, McCreadie B. Is computerized
105. Milzman DP, Rothenhaus TC. Resuscitation tomography of trauma patients associated with
of the geriatric patient. Emerg Med Clin NA a transfer delay to a regional trauma centre?
1996;14:233–244. CJEM:10(3):205–208.
xliv ANÁLISE GERAL DO CURSO
119. Osborn PM, Smith WR, Moore EE, et al. Direct 134. Scaife ER, Rollins MD, Barnhart D, et al. The role
retroperitoneal pelvic packing versus pelvic of focused abdominal sonography for trauma
angiography: a comparison of two management (FAST) in pediatric trauma evaluation. J Ped Surg
protocols for haemodynamically unstable pelvic 2013;48:1377–1383.
fractures. Injury 2009 Jan;40(1):54–60. 135. Schmitt SK, Sexton DJ, Baron EL. Treatment and
120. Osborne Z, Rowitz B. Moore H, et al. Obesity in Prevention of Osteomyelitis Following Trauma
trauma: outcomes and disposition trends. Am J in Adults. UpToDate. http://www.uptodate.
Surg 2014;207(3):387–392; discussion 391–392. com/contents/treatment-and-prevention-of
121. Oyetunji TA, Chang DC, et al. Redefining osteomyelitis-following-trauma-in-adults.
hypotension in the elderly: normotension is not October 29, 2015.
reassuring. Arch Surg 2011 Jul;146(7):865–869. 136. Sheridan RL, Chang P. Acute burn procedures.
122. Palusci VJ, Covington TM. Child maltreatment Surg Clin North Am 2014 Aug;94(4):755–764.
deaths in the U.S. National Child Death Review 137. Shlamovitz GZ, Mower WR, Bergman J, et al. How
Case Reporting System. Child Abuse and Neglect (un)useful is the pelvic ring stability examination
2014;28:25–36. in diagnosing mechanically unstable pelvic
123. Pang JM, Civil I Ng A, Adams D, et al. Is the fractures in blunt trauma patients? J Trauma
trimodal pattern of death after trauma a dated 2009;66(3):815–820.
concept in the 21st century? Trauma deaths in 138. Shrestha B, Holcomb JB, Camp EA, et al. Damage
Auckland 2004. Injury 2008;39:102–106. control resuscitation increases successful
124. Patregnani JT, Borgman MA, Maegele M, et nonoperative management rates and survival
al. Coagulopathy and shock on admission is after severe blunt liver injury. J Trauma
associated with mortality for children with 2015;78(2):336–341.
traumatic injuries at combat support hospitals. 139. Snyder D, Tsou A, Schoelles K. Efficacy of
Pediatr Crit Care Med 2012;13(3):1–5. Prehospital Application of Tourniquets and
125. Petrone P, Talving P, Browder T, et al. Abdominal Hemostatic Dressings to Control Traumatic
injuries in pregnancy: a 155-month study at External Hemorrhage. Washington, DC: National
two level 1 trauma centers. Injury 2011;42(1): Highway Traffic Safety Administration;
47–49. 2014, 145.
126. Pham TN, Gibran NS. Thermal and electrical 140. Sosa JL, Baker M, Puente I, et al. Negative
injuries. Surg Clin North Am 2007 Feb;87(1):185– laparotomy in abdominal gunshot wounds:
206, vii–viii. Review. potential impact of laparoscopy. J Trauma 1995
127. Post AF, Boro T, Eckland JM. Injury to the brain. In: Feb;38(2):194–197.
Mattox KL, Feliciano DV, Moore EE, eds. Trauma. 141. Steinhausen E, Lefering R, Tjardes T, et al. A risk-
7th ed. New York, NY: McGraw-Hill; 2013:356–376. adapted approach is beneficial in the management
128. Pruitt BA. Fluid and electrolyte replacement of bilateral femoral shaft fractures in multiple
in the burned patient. Surg Clin North Am trauma patients: an analysis based on the trauma
1978;58(6):1313–1322. registry of the German Trauma Society. J Trauma
129. Puntnam-Hornstein E. Report of maltreatment 2014;76(5):1288–1293.
as a risk factor for injury death: a prospective 142. Stevens JA. Fatalities and injuries from falls
birth cohort. Child Maltreatment 2011;16: among older adults—United States 1993–2003
163–174. and 2001–2005. MMWR Morb Mortal Wkly Rep
130. Quick JA, Bartels AN, Coughenour JP, et al. 2006;55:1221–1224.
Trauma transfers and definitive imaging: patient 143. Sussman M, DiRusso SM, Sullivan T, et al.
benefit but at what cost? Am Surg 79(3):301–304. Traumatic brain injury in the elderly: increased
131. Richardson JD. Trauma centers and trauma mortality and worse functional outcome at
surgeons: have we become too specialized? J discharge despite lower injury severity. J Trauma
Trauma 2000;48:1-7. 2002;53:219–224.
132. Roberts D, Leigh-Smith S, Faris P, et al. 144. Thomson DP, Thomas SH. Guidelines for air
Clinical presentation of patients with tension medical dispatch. Prehosp Emerg Care 2003
pneumothorax: a systematic review. Ann Surg Apr–Jun;7(2):265–271.
2015;261(6):1068–1078. 145. Tornetta P, Boes MT, Schepsis AA, et al. How
133. Romanowski KS, Barsun A, Pamlieri TL, et al. effective is a saline arthrogram for wounds around
Frailty score on admission predicts outcomes in the knee? Clin Orthop Relat Res 2008;466:432–435.
elderly burn injury. J Burn Care Res 2015;36:1–6.
ANÁLISE GERAL DO CURSO xlv
146. United Nations, Department of Economic and 153. Weiss M, Dullenkopf A, Fischer JE, et al., European
Social Affairs, Population Division (2015). World Paediatric Endotracheal Intubation Study Group.
Population Ageing. Prospective randomized controlled multi-centre
147. United States Bureau of the Census. Population trial of cuffed or uncuffed endotracheal tubes in
projections of the United States by age, sex, race, small children. Br J Anaesth 2009;103(6):867–873.
and Hispanic origin: 1995 to 2050. http://www. 154. West JG, Trunkey DD, Lim RC. Systems of
census.gov/prod/1/pop/p25-1130.pdf . Accessed trauma care. A study of two counties. Arch Surg
April 18, 2017. 1979;114:455–460.
148. Velmahos GC, Demetriades D, Cornwell EE 3rd. 155. Wijdicks EFM, Varelas PN, Gronseth GS,
Transpelvic gunshot wounds: routine laparotomy et al. Evidence-based guideline update:
or selective management? World J Surg 1998 determining brain death in adults. Report of
Oct;22(10):1034–1038. the Quality Standards Subcommittee of the
149. Vercruysse GA, Ingram WL, Feliciano DV. The American Academy of Neurology. Neurology
demographics of modern burn care: should most 2010;74:1911–1918.
burns be cared for by the non-burn surgeon? Am 156. Willett K, Al-Khateeb H, Kotnis R, et al. Risk of
J Surg 2011;201:91–96. mortality: the relationship with associated injuries
150. Walls RM, Murphy MF, eds. The Manual and fracture. Treatment methods in patients with
of Emergency Airway Management. 4th ed. unilateral or bilateral femoral shaft fractures. J
Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; Trauma 2010 Aug;69(2):405–410.
2012. 157. Yelon JA. Geriatric trauma. In: Moore EE, Feliciano
151. Walter J, Doris PE, Shaffer MA. Clinical DV, Mattox K, eds. Trauma. 7th ed. New York, NY:
presentation of patients with acute cervical spine McGraw Hill, 2012.
injury. Ann Emerg Med 1984;13(7):512–515.
152. Washington CW, Grubb RL Jr. Are routine repeat
imaging and intensive care unit admission
necessary in mild traumatic brain injury? J
Neurosurg 2012;116(3):549–557.
SUMÁRIO ABREVIADO
Prólogo v
Prefácio vii
Agradecimentos xv
Análise Geral do Curso xxxi
xlvii
SUMÁRIO DETALHADO
Prólogo v CAPÍTULO 2
VIA AÉREA E VENTILAÇÃO 22
Prefácio vii
Objetivos 23
Agradecimentos xv
Introdução 24
Análise Geral do Curso xxxi
Via Aérea 24
CAPÍTULO 1 Ventilação 26
AVALIAÇÃO E
ATENDIMENTO INICIAIS 2 Tratamento da Via Aérea 27
xlix
l SUMÁRIO DETALHADO
Objetivos 83 CAPÍTULO 7
TRAUMA VERTEBROMEDULAR 128
Introdução 84
Objetivos 129
Anatomia do Abdome 84
Introdução 130
Mecanismo de Trauma 85
Anatomia e Fisiologia 130
Avaliação 86
Documentação das Lesões
Trabalho em Equipe 98 Medulares Traumáticas 135
Bibliografia 238
ATLS ®
Suporte Avançado de Vida no Trauma®
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de descrever as medidas para evitá-las.
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a:
8. Explicar as técnicas de tratamento aplicadas
1. E
xplicar a importância do preparo pré e intra- durante a avaliação primária e a estabilização de
hospitalar para facilitar a rápida reanimação do múltiplas vítimas traumatizadas.
doente traumatizado.
9. Identificar as medidas auxiliares para avaliação
2. Identificar a sequência correta de prioridades para a e tratamento dos traumatizados como parte
avaliação do traumatizado. da avaliação primária e reconhecer as contra-
indicações para utilizá-las.
3. Explicar os princípios da avaliação primária e como eles
se aplicam no atendimento do doente traumatizado. 10. Reconhecer os doentes que necessitam de
transferência para outro Serviço para o tratamento
4. Explicar como o passado médico do paciente definitivo.
e os mecanismos de trauma contribuem para a
identificação das lesões. 11. I dentificar os componentes da avaliação secundária
incluindo as medidas auxiliares pertinentes durante
5. Explicar a necessidade da reanimação imediata a avaliação.
durante a avaliação primária.
12. Discutir a importância da reavaliação do doente
6. Descrever o atendimento inicial de múltiplas que não está respondendo adequadamente ao
vítimas de trauma, utilizando a sequência correta de tratamento e reanimação.
prioridades.
13. Explicar a importância do trabalho em equipe na
7. Identificar as armadilhas associadas com a avaliação avaliação inicial de doentes traumatizados.
inicial e o tratamento de pacientes traumatizados e
3
4 CAPÍTULO 1 n Avaliação e Atendimento Iniciais
A
o tratar os doentes traumatizados, os médicos
avaliam rapidamente as lesões e instituem uma
terapia de preservação da vida. Como o tempo é
crucial, é essencial uma abordagem sistemática que possa
ser aplicada com rapidez e precisão. Essa abordagem,
denominada "avaliação inicial", inclui os seguintes elementos:
•• Preparação
•• Triagem
•• Avaliação primária (ABCDEs) com reanimação
imediata dos doentes com lesões que ameacem
a vida
•• Medidas auxiliares à avaliação primária e à
reanimação
•• Considerar a necessidade de transferência do doente n FIGURA 1-1 Fase Pré-Hospitalar. Durante a fase pré-hospitalar, deve ser
dada ênfase à manutenção da via aérea, controle de sangramento externo
•• Exame secundário (da cabeça aos pés) e história e choque, imobilização do doente e transporte imediato para o hospital
do doente apropriado mais próximo, de preferência um centro de trauma credenciado.
•• Medidas auxiliares à avaliação secundária o hospital de referência antes que a equipe transporte o
doente da cena. Isto permite a mobilização dos membros
•• Reavaliação e monitoração contínuas após a da equipe de trauma do hospital para que todo o pessoal
reanimação
e recursos necessários estejam prontos no serviço de
•• Cuidados definitivos emergência (SE) no momento da chegada deste doente.
Durante a fase pré-hospitalar, os socorristas enfatizam
Os exames primário e secundário devem ser repetidos com a permeabilidade das via aérea, controle do sangramento
frequência para identificar qualquer alteração no estado externo e choque, imobilização do doente e o transporte
do doente que indique a necessidade de intervenções imediato para a hospital apropriado mais próximo,
adicionais. A sequência de avaliação apresentada neste de preferência um centro de trauma credenciado. Os
capítulo reflete uma progressão linear ou longitudinal socorristas devem fazer todos os esforços para abreviar o
de eventos. Contudo, numa situação clínica real, muitas tempo na cena, um conceito que é sugerido pelo Esquema
destas atividades ocorrem simultaneamente. A progressão de Decisão de Triagem de Campo, mostrado na (n FIGURA
longitudinal do processo de avaliação permite ao médico 1-2) e no aplicativo móvel MyATLS.
a oportunidade de rever mentalmente o progresso real de Deve-se dar ênfase também na obtenção e na
uma reanimação de um doente traumatizado. documentação das informações necessárias para a
Os princípios do ATLS® orientam a avaliação e a triagem na chegada ao hospital, incluindo o tempo do
reanimação do doente traumatizado. É necessário trauma, os eventos relacionados ao trauma e a história
o julgamento adequado para determinar quais os do doente. Os mecanismos de trauma podem sugerir
procedimentos necessários, pois nem todos os doentes o grau de lesão, bem como as lesões específicas que
necessitam de todos esses procedimentos. precisam ser avaliadas e tratadas.
O Comitê de Suporte de Vida Pré-Hospitalar em
pr epa r aç ão Trauma da Associação Nacional de Técnicos de
Emergências Médicas, em cooperação com o Comitê
A preparação ocorre em dois cenários clínicos de Trauma (COT) do Colégio Americano de Cirurgiões
diferentes: na cena e no hospital. Durante a fase pré- (ACS), desenvolveu o curso de suporte de vida pré-
hospitalar, todos os eventos devem ser coordenados em hospitalar no trauma (PHTLS). O PHTLS é semelhante
conjunto com os médicos do hospital que irá receber ao curso ATLS no seu formato, embora abranja o
o doente. Durante a fase hospitalar, devem ser feitos atendimento pré-hospitalar dos doentes traumatizados.
preparativos para facilitar a rápida reanimação do A utilização de protocolos de atendimento pré-
doente traumatizado. hospitalar e a possibilidade de obter orientação médica
em tempo real (ou seja, regulação médica direta) podem
fase pré-hospitalar facilitar e melhorar os cuidados iniciados na cena. A
revisão multidisciplinar periódica do atendimento
O entrosamento da equipe do pré-hospitalar pode agilizar ao doente através de um processo de melhoria da
muito o tratamento na cena (n FIGURA 1-1). Idealmente, o qualidade é um componente essencial do programa
sistema pré-hospitalar deve ser estruturado para informar de trauma de cada hospital.
PREPARAÇÃO 5
Avalie a anatomia da lesão Transporte para um centro de trauma. Passo 1 e 2 para identificar a lesão mais
grave do traumatizado. Estes doentes devem ser transportados de preferência
NÃO para o hospital de maior complexidade definido no sistema de trauma.
Passo 2 NÃO
Avalie o mecanismo de Transporte para um centro de trauma dependendo das definições do sistema de
trauma e as evidências trauma, não é necessário que seja o centro de trauma de maior complexidade.
de alta energia
• Queda
˚Adultos > 20 pés ou 6 metros (2 andares)
SIM
˚Crianças > 10 pés ou 3 metros (2-3 vezes a altura da criança)
• Acidente de veículo automotor de alto riso
˚Intrusão, incluindo teto: > 12 polegadas (30 cm) do lado do ocupante;
˚> 18 polegadas (45 cm) qualquer lado
˚Ejeção (parcial ou completa) da vítima do veículo
˚Morte no mesmo compartimento do passageiro
˚Informações da telemetria do veículo consiste com alto riso de lesão
Passo 3 • Auto versus pedestre/bicicleta ou atropelamento com impacto
significativo (>20 mph; 32 km/h) ou com ejeção da vítima
• Acidente de moto >20 mph/32km/h
NÃO
Avalie as considerações Transporte para um centro de trauma ou para um hospital onde se possa
especiais do paciente ou fazer a avaliação e inicial e tratamento das lesões potencialmente graves.
do sistema Considerar a orientação de um médico regulador.
Transporte de acordo
com protocolos
fase hospitalar
O planejamento antes da chegada do doente
traumatizado é essencial (ver lista de verificação pré-
alerta no aplicativo móvel MyATLS.) A passagem do
caso entre os socorristas do pré-hospitalar e aqueles do
hospital receptor deve ser um processo suave, liderado
pelo chefe da equipe de trauma, garantindo que todas as
informações importantes estejam disponíveis para toda
a equipe. Os aspectos críticos da preparação hospitalar
incluem o seguinte:
Tr i ag em vítimas em massa
Em eventos com vítimas em massa, o número de doentes e a
A triagem envolve a classificação dos doentes de acordo gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento
com o tipo de tratamento necessário e os recursos que da instituição e da equipe. Nesta situação, os doentes com
realmente estão disponíveis. A sequência de tratamento maior possibilidade de sobrevida, cujo atendimento implica
baseia-se nas prioridades ABC. (Via aérea com proteção da em menor gasto de tempo, equipamentos, recursos e
coluna cervical, respiração e circulação com controle da pessoal, serão atendidos primeiro. (Ver Apêndice D:
hemorragia). Outros fatores que podem afetar a triagem e Gerenciamento para Desastres e Preparo para Emergências.)
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMULTANEA 7
armadilha prevenção
Falha de • Teste regularmente o equipamento.
equipamento. • Assegure-se de que um equipamento
e baterias sobressalente estejam
prontamente disponíveis.
de um déficit. A coluna cervical é protegida com colar Perda • Reconhecer o estado dinâmico das
cervical. Durante a abordagem e tratamento das vias progressiva da vias aéreas.
via aérea. • Reconhecer as lesões que podem
aéreas, se for necessário, o colar cervical pode ser aberto, resultar em perda progressiva das
enquanto um membro da equipe restringe manualmente vias aéreas.
o movimento da coluna cervical (n FIGURA 1-4). • Reavaliar com frequência o doente
Todo esforço deve ser feito para identificar rapidamente em busca de sinais de deterioração
o comprometimento das vias aéreas e para assegurar uma das vias aéreas.
via aérea definitiva; igualmente importante é reconhecer o
potencial de perda progressiva de via aérea. A reavaliação
frequente da permeabilidade da via aérea é essencial durante a avaliação primária e muitas vezes requerem
para identificar e tratar os doentes que estão perdendo a atenção imediata para garantir uma ventilação efetiva.
capacidade de manter uma via aérea adequada. Uma vez que um pneumotórax hipertensivo compromete
Estabeleça cirurgicamente uma via aérea se a intubação a ventilação e a circulação de forma dramática e aguda,
for contra-indicada ou não puder ser realizada. a descompressão no tórax deve ocorrer imediatamente
quando existir suspeita na avaliação clínica.
respiração e ventilação Todo doente ferido deve receber oxigênio suplementar.
Se o doente não for intubado, o oxigênio deve ser
A permeabilidade das vias aéreas por si só não assegura administrado por um dispositivo de máscara com
ventilação adequada. É necessária uma troca gasosa reservatório para obter oxigenação ideal. Use um oxímetro
adequada para maximizar a oxigenação e a eliminação de pulso para monitorar a saturação adequada de oxigênio
de dióxido de carbono. A ventilação requer uma na hemoglobina. Pneumotórax simples, hemotórax,
função adequada dos pulmões, da parede torácica e fratura de costelas, afundamento de tórax e a contusão
do diafragma; portanto, os médicos devem examinar e pulmonar podem comprometer a ventilação em menor
avaliar rapidamente cada componente. grau e geralmente são identificados durante a avaliação
O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos para secundária. Um pneumotórax simples pode evoluir para
que se possa avaliar adequadamente a distensão das veias pneumotórax hipertensivo quando um doente é intubado
jugulares, a posição da traqueia e a expansibilidade da e ventilado com pressão positiva antes de ter o hemitórax
parede torácica. Ausculte o tórax para assegurar o fluxo descomprimido com um dreno de tórax.
de gás nos pulmões. A inspeção visual e a palpação podem O tratamento da via aérea e ventilação são descritos
detectar lesões na parede torácica que podem comprometer posteriormente em detalhe no Capítulo 2.
a ventilação. A percussão do tórax também pode identificar
anormalidades, mas, durante uma reanimação em um Circulação com controle da hemorragia
ambiente ruidoso, esta avaliação pode ser imprecisa.
Lesões que prejudicam significativamente a ventilação O comprometimento circulatório em doentes trauma-
em curto prazo incluem pneumotórax hipertensivo, tizados pode ser resultado de uma variedade de lesões.
hemotórax massivo, pneumotórax aberto e lesões traqueal Devem ser considerados principalmente: volume
ou brônquica. Essas lesões devem ser identificadas sanguíneo, débito cardíaco e sangramento são importantes.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMULTANEA 9
elétrica sem pulso (AESP) pode indicar tamponamento e excesso de base indicam choque; portanto, a tendência
cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia desses valores pode refletir os resultados da reanimação.
profunda. Quando há bradicardia, condução aberrante
ou extra-sístoles e batimentos prematuros, deve-se sondas urinárias e gástricas
suspeitar imediatamente de hipóxia ou hipoperfusão.
A hipotermia extrema também pode provocar estas A introdução de sondas urinárias e gástricas deve ser
arritmias. (Ver Capítulo 3: Choque.) considerada como parte da fase de reanimação. Uma
amostra de urina deve ser enviada ao laboratório para
oximetria de pulso a realização dos exames de rotina.
n FIGURA 1-5 Os estudos radiográficos são medidas auxiliares n FIGURA 1-6 A monitorização deve ser mantida mesmo durante
importantes no exame primário. o transporte intra-hospitalar.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 13
trauma fechado
Impacto frontal • Fratura de coluna cervical Impacto traseiro • Trauma da coluna cervical
Colisão automobilística • Tórax instável anterior Colisão automobilística • Trauma craniencefálico
• Contusão miocárdica • Lesões de partes moles do
• Deformação do volante • Pneumotórax pescoço
• Impressão do joelho no • Rotura traumática da aorta
painel • Fraturas do baço ou fígado Ejeção do veículo • A ejeção do veículo impede
• Sinal do "olho de boi" no • Fratura posterior/ a previsão de padrões
parabrisas deslocamento da pelve e/ de lesão, mas o doente
ou joelho tem maior risco para
• Trauma craniencefálico praticamente todos os
• Fraturas de face mecanismos de trauma
Médicos podem fazer uma rápida avaliação da acuidade e essa lesão deve ser presumida até que a avaliação da
visual de ambos os olhos através da leitura do Quadro de coluna cervical seja concluída. A avaliação pode incluir
Snellen ou de palavras escritas em rótulos de frasco de séries de radiografias e/ou TC, que devem ser revisadas por
soro ou em um pacote de gaze. A mobilidade ocular deve um médico experiente na detecção radiológica de fraturas
ser avaliada para excluir o bloqueio de músculos extra- da coluna cervical. A avaliação radiográfica pode não ser
oculares devido a fraturas da órbita. Estes procedimentos realizada em pacientes que atendem aos critérios do Estudo
geralmente identificam lesões ópticas não aparentes Nacional de Utilização de Radiografia X de Emergência
de outra forma. Apêndice A: Trauma Ocular apresenta (NEXUS), Critérios de Baixo Risco (NLC) ou C-Spine Rule
informações detalhadas sobre lesões oculares. Canadense (CCR). (Ver Capítulo 7: Traumatismo da Coluna
Vertebral e Medula Espinhal.)
Estruturas Maxilo-Faciais O exame do pescoço inclui inspeção, palpação e
ausculta. Dor ao longo da coluna cervical, enfisema
O exame da face deve incluir a palpação de todas as subcutâneo, desvio da traqueia e fratura de laringe
estruturas ósseas, avaliação da oclusão, exame intraoral podem ser evidenciados em um exame mais detalhado.
e avaliação das partes moles. O trauma maxilofacial As artérias carótidas devem ser palpadas e auscultadas
que não está associado à obstrução da via aérea ou para verificar a presença de frêmitos e sopros. Um
sangramento importante deve ser tratado somente sinal comum de lesão potencial é a marca de cinto de
após a estabilização do doente e as lesões com risco de segurança. A maioria das lesões vasculares cervicais
morte terem sido tratadas. A critério de um especialista, importantes é por trauma penetrante; no entanto, a
o tratamento definitivo pode ser adiado com segurança força do trauma fechado no pescoço ou a lesão por tração
sem comprometer o atendimento. Doentes com fraturas cervical com uma retenção dos ombros pode resultar
do terço médio da face também podem ter uma fratura em ruptura da íntima, dissecção e trombose. O trauma
da placa crivosa. Para esses doentes, a inserção de sonda contuso da carótida pode estar presente em doentes em
gástrica deve ser realizada por via oral. (Ver Capítulo 6: coma ou sem sinais neurológicos. A angiotomografia,
Traumatismo Craniencefálico.) arteriografia ou a ultra-sonografia dúplex podem ser
necessárias a fim de excluir a possibilidade de lesão
vascular cervical importante, quando o mecanismo de
armadilha prevenção trauma sugerir esta possibilidade.
Para os doentes que usam qualquer tipo de capacete,
O edema facial em • Realize o exame ocular
são obrigatórias as medidas de proteção relacionadas a
doentes com trauma antes que o edema se
de face complexo pode desenvolva. uma possível lesão instável de coluna cervical. Deve-se
impossibilitar um exame • Minimizar o tomar extremo cuidado durante a retirada do capacete.
oftalmológico completo. desenvolvimento do A remoção do capacete é descrita no Capítulo 2: Via
edema pela elevação Aérea e Ventilação.
da cabeceira da
Ferimentos cervicais penetrantes podem lesar diferentes
cama (posição de
Trendelenburg invertida órgãos e sistemas. As lesões que se estendem além do
quando há suspeita de platisma não devem ser exploradas manualmente ou
lesões na coluna). com instrumentos no serviço de emergência. Tampouco
devem ser exploradas por profissionais que não sejam
Algumas fraturas • Mantenha um alto índice treinados nos cuidados de tais lesões. É necessária a
maxilofaciais, como fraturas de suspeita e obtenha avaliação de um cirurgião para sua avaliação e tratamento.
nasais, fraturas zigomáticas imagens quando
O achado de hemorragia arterial ativa, hematoma em
não cominutiva e fraturas necessário.
de órbita podem ser • Reavaliar os doentes expansão, frêmito arterial ou comprometimento da
difíceis de se identificar com frequência. via aérea frequentemente exigem avaliação cirúrgica.
precocemente no processo Paralisia isolada ou inexplicada dos membros superiores,
de avaliação. deve levantar a suspeita de lesão de raiz de nervo cervical
e deve ser documentada cuidadosamente.
Doentes com trauma craniencefálico e maxilo-facial devem A inspeção visual do tórax, em sua face anterior e
ser considerados como portadores de lesão instável de posterior, permite identificar lesões como pneumotórax
coluna cervical (fraturas e/ou lesões de ligamentos) e os aberto e grandes segmentos instáveis (tórax flácido).
movimentos cervicais devem ser restringidos. A ausência Uma avaliação completa do tórax requer a palpação
de déficit neurológico não exclui a lesão da coluna cervical, de toda a caixa torácica incluindo clavículas, costelas
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 17
um responsável pelas vias aéreas, enfermeira e técnico doente, a menos que condições imediatas de risco de
de trauma, bem como vários residentes e estudantes de morte sejam óbvias (ou seja,”hands-off hands-over”).
medicina. A especialidade do líder da equipe de trauma Um acrônimo útil para gerenciar esta etapa é MIST:
e do responsável pelas vias aéreas depende da prática
local, mas devem ter um profundo conhecimento •• M - Mecanismo (e tempo) do trauma
prático dos princípios do programa ATLS. •• I - Lesões encontradas e suspeitas
Para atuar de forma eficaz, cada equipe de trauma
deve ter um membro atuando como líder da equipe. •• S - Sinais e sintomas
O líder da equipe supervisiona, verifica e direciona a •• T - Tratamento iniciado
avaliação; idealmente, ele ou ela não está diretamente
envolvido na avaliação em si. O líder de equipe não é À medida que a avaliação (ABC) prossegue, é vital
necessariamente a pessoa mais antiga presente, embora que cada membro saiba o que os outros membros
ele ou ela deva ser treinado pelo curso ATLS e noções descobriram e/ou estão fazendo. Este processo é
básicas de gerenciamento de equipe médica. O líder da facilitado verbalizando-se cada ação e cada achado
equipe supervisiona a preparação para a chegada do em voz alta sem que mais de uma pessoa da equipe
paciente para garantir uma transição suave do ambiente fale ao mesmo tempo. Ordens e pedidos não devem
pré-hospitalar para o hospital. Ele atribui funções e tarefas ser feitos em termos gerais, mas sim direcionados a
aos membros da equipe, garantindo que cada participante um indivíduo, pelo nome. Esse indivíduo então repete
tenha o treinamento necessário para atuar na função a solicitação/pedido e depois confirma sua conclusão
designada. A seguir estão algumas das funções possíveis, e, se aplicável, seu resultado.
dependendo do tamanho e da composição da equipe: O líder da equipe verifica o progresso da avaliação,
resume periodicamente os achados e a condição do
•• Avaliação do doente, incluindo avaliação e doente e solicita especialistas conforme necessário. Ele
abordagem das vias aéreas ou ela também solicitam exames adicionais e, quando
apropriado, sugerem/procedem a transferência do
•• Despir e expor o doente doente.
•• Colocação de equipamentos de monitorização Durante todo o processo, espera-se que todos
os membros da equipe façam comentários, façam
•• Obtenção de acesso venoso e coleta de amostras
perguntas e ofereçam sugestões, quando apropriado.
de sangue Nesse caso, todos os outros membros da equipe devem
•• Servir como escrevente ou realizar o resgistro prestar atenção e seguir as instruções do líder da equipe.
das atividades de ressuscitação Quando o paciente deixa o departamento de
emergência, o líder da equipe conduz uma revisão
Na chegada do doente, o líder da equipe supervisiona “após a ação”. Nesta ocasião, a equipe aborda aspectos
a passagem do caso pelos socorristasr, garantindo que técnicos e emocionais da reanimação e identifica
nenhum membro da equipe comece a trabalhar no oportunidades de melhoria do desempenho da equipe.
Todos os capítulos subsequentes contêm um recurso
especial no fim do capítulo intitulado “Trabalho em
Equipe”. Esse recurso destaca aspectos específicos
da equipe de trauma que se relacionam ao capítulo.
O tópico do trabalho em equipe também é explorado
em detalhes no apêndice E: ATLS e Gerenciamento de
Recursos da Equipe de Trauma.
r e sumo do c a pítulo
2. Os princípios da avaliação primária e secundária shorten the interval from trauma patient
e os protocolos e técnicas nas fases de reanimação arrival to decision to transfer? J Trauma 2011;70:
e tratamento definitivo se aplicam para todos os 315–319.
doentes traumatizados. 9. Lee C, Bernard A, Fryman L, et al. Imaging
may delay transfer of rural trauma victims:
3. A história clínica do doente e o mecanismo de trauma a survey of referring physicians. J Trauma
são importantes para a identificação das lesões. 2009;65:1359–1363.
10. Leeper WR, Leepr TJ, Yogt K, et al. The role
4. As armadilhas associadas com a avaliação inicial of trauma team leaders in missed injuries:
e tratamento de doentes traumatizados devem does specialty matter? J Trauma 2013;75(3):
ser antecipadas e geridas de modo a minimizar o 387–390.
seu impacto. 11. Ley E, Clond M, Srour M, et al. Emergency
department crystalloid resuscitation of 1.5 L or
5. A avaliação inicial deve ser repetida frequentemente more is associated with increased mortality in
e qualquer anormalidade deverá ser reavaliada. elderly and nonelderly trauma patients. J Trauma
2011;70(2):398–400.
6. A identificação precoce de doentes que requeiram 12. Lubbert PH, Kaasschieter EG, Hoorntje LE, et al.
transferência para um Hospital de maior Video registration of trauma team performance
complexidade, melhora o prognóstico. in the emergency department: the results of a
2-year analysis in a level 1 trauma center. J Trauma
2009;67:1412–1420.
Bibliografia 13. Manser T. Teamwork and patient safety in
dynamic domains of healthcare: a review
of the literature. Acta Anaesthesiol Scand
1. American College of Surgeons Committee 2009;53:143–151.
on Trauma. Resources for Optimal Care of the 14. McSwain NE Jr., Salomone J, Pons P, et al., eds.
Injured Patient. Chicago, IL: American College PHTLS: Prehospital Trauma Life Support. 7th ed.
of Surgeons Committee on Trauma; 2006. St. Louis, MO: Mosby/Jems; 2011.
2. CRASH-2 collaborators. The importance of early 15. Nahum AM, Melvin J, eds. The Biomechanics
treatment with tranexamic acid in bleeding of Trauma. Norwalk, CT: Appleton-Century-
trauma patients: an exploratory analysis of the Crofts; 1985.
CRASH-2 randomised controlled trial. Lancet 16. Neugebauer EAM, Waydhas C, Lendemans S,
2011;377(9771):1096–1101. et al. Clinical practice guideline: the treatment
3. Davidson G, Rivara F, Mack C, et al. Validation of patients with severe and multiple traumatic
of prehospital trauma triage criteria for motor injuries. Dtsch Arztebl Int 2012;109(6):102–108.
vehicle collisions. J Trauma 2014; 76:755–766.6. 17. Teixeira PG, Inaba K, Hadjizacharia P, et
4. Esposito TJ, Kuby A, Unfred C, et al. General al. Preventable or potentially preventable
Surgeons and the Advanced Trauma Life Support mortality at a mature trauma center. J Trauma
Course. Chicago, IL: American College of 2007;63(6):1338.
Surgeons, 2008. 18. Wietske H, Schoonhoven L, Schuurmans M, et
5. Fischer, PE, Bulger EM, Perina DG et. al. Guidance al. Pressure ulcers from spinal immobilization in
document for the prehospital use of Tranexamic trauma patients: a systematic review. J Trauma
Acid in injured patients. Prehospital Emergency 2014;76:1131–1141.9.
Care, 2016, 20: 557-59.
6. Guidelines for field triage of injured patients:
recommendations of the National Expert Panel
on Field Triage, 2011. Morbidity and Mortality
Weekly Report 2012;61:1–21.
7. Holcomb JB, Dumire RD, Crommett JW, et
al. Evaluation of trauma team performance
using an advanced human patient simulator
for resuscitation training. J Trauma 2002;
52:1078–1086.
8. Kappel DA, Rossi DC, Polack EP, et al. Does
the rural Trauma Team development course
2 TRATAMENTO DA VIA AÉREA
E DA VENTILAÇÃO
As prioridades iniciais no tratamento do doente traumatizado são garantir uma via aérea
intacta e reconhecer uma via aérea comprometida.ectives
Capítulo 2 sumário
Objetivos controle de oxigenação
Ventilação Bibliografia
• Reconhecimento do Problema
• Sinais Objetivos de Ventilação Inadequada
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 5. Descrever as técnicas para confirmar a adequação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: da ventilação e da oxigenação, incluindo oximetria
de pulso e monitoramento de CO2 expirado.
1. Identificar as situações clínicas em que há o
comprometimento da via aérea 6. Definir o termo “via aérea definitiva”.
23
24 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação
A
oferta inadequada de sangue oxigenado para o frequentes da permeabilidade da via aérea e da adequação
cérebro e outras estruturas vitais é a causa mais da ventilação.
rápida de morte em doentes traumatizados. Durante a avaliação inicial da via aérea, um “doente
Uma via aérea protegida e desobstruída e uma que fala” fornece garantia momentânea de que a via
ventilação adequada são fundamentais para prevenir aérea é patente e não está comprometida. Portanto, a
a hipoxemia. De fato, a garantia de uma via aérea não medida inicial mais importante é conversar com o doente
comprometida, fornecimento adequado de oxigênio e estimular uma resposta verbal. Uma resposta verbal
e suporte à ventilação têm prioridade na assistência e positiva e apropriada, com voz clara, indica que a via
sobre todas as outras condições. Oxigênio suplementar aérea do doente está patente, a ventilação está intacta
deve ser administrado a todos os doentes gravemente e a perfusão cerebral é suficiente. A falta de resposta
traumatizados. ou uma resposta inadequada sugere nível alterado de
As mortes precoces evitáveis devido a problemas na consciência que pode ser resultado de comprometimento
via aérea, geralmente resultam de: da via aérea ou da ventilação, ou de ambos.
Doentes com um nível alterado de consciência estão
•• Falha em avaliar adequadamente a via aérea em risco de comprometimento da via aérea e geralmente
•• Falha em reconhecer a necessidade de uma requerem uma via aérea definitiva. Via aérea definitiva é
intervenção na via aérea definida como um tubo locado na traqueia, com o balonete
•• Incapacidade de estabelecer uma via aérea insuflado abaixo das cordas vocais e conectado a uma
•• Incapacidade de reconhecer a necessidade de fonte de ventilação assistida enriquecida com oxigênio.
um plano alternativo no contexto de repetidas Doentes inconscientes com traumatismo craniencefálico,
tentativas de intubação malsucedidas doentes menos responsivos devido ao uso de álcool e/
•• Falha em reconhecer uma via aérea mal locada ou outras drogas e doentes com lesões torácicas podem
ou em utilizar técnicas apropriadas para
garantir o posicionamento correto do tubo ter comprometimento da mecânica ventilatória. Nesses
doentes, a intubação endotraqueal serve para assegurar
•• Deslocamento de uma via anteriormente
estabelecida uma via aérea, fornecer oxigênio suplementar, auxiliar
•• Não reconhecer a necessidade de ventilação a ventilação e prevenir a aspiração. A manutenção da
oxigenação e a prevenção da hipercarbia são fundamentais
Existem muitas estratégias e equipamentos para o no tratamento de doentes traumatizados, especialmente
manejo da via aérea em doentes traumatizados. É de naqueles que sofreram traumatismos cranianos.
fundamental importância levar em conta o contexto em Além disso, doentes com queimaduras faciais e
que o atendimento deste doente está acontecendo. Os com potencial lesão por inalação correm risco de
equipamentos e as estratégias que têm sido associados comprometimento respiratório insidioso (n FIGURA
a maior taxa de sucesso são aqueles que são bem 2-1). Por essa razão, deve-se considerar a intubação
conhecidos e usados regularmente no cenário específico. precoce nesta situação.
Equipamentos de via aérea recentemente desenvolvidos Em qualquer doente traumatizado, é importante
podem ter um desempenho ruim em mãos destreinadas. antecipar a possibilidade de vômitos e saber como agir
v i a a ér e a
reconhecimento do problema
O comprometimento da via aérea pode ser súbito
e completo, insidioso e parcial, e/ou progressivo e
recorrente. Embora a taquipneia esteja frequentemente
relacionada à dor ou ansiedade, ou ambos, ela pode ser
um sinal sutil, porém precoce, de comprometimento da n FIGURA 2-1 Doentes com queimaduras de face e/ou possível lesão
via aérea e/ou comprometimento ventilatório. Portanto, por inalação correm risco de comprometimento respiratório insidioso,
é fundamental a avaliação inicial e as reavaliações logo, considerar a intubação precoce.
VIA AÉREA 25
caso isso ocorra. A presença de conteúdo gástrico na geral, sedação e relaxamento muscular podem levar à
orofaringe representa risco significativo de aspiração, obstrução da via aérea por diminuição ou ausência de tônus
que pode ocorrer na próxima inspiração do doente. Dessa muscular. A compreensão do tipo de trauma é mandatória
forma, estão indicadas a aspiração imediata da orofaringe para proporcionar um manejo adequado da via aérea,
e a rotação em bloco do doente para o decúbito lateral. antecipando-se os riscos. A intubação endotraqueal pode
ser necessária para manter a permeabilidade da via aérea.
armadilha prevenção Trauma Cervical
Aspiração após vômito. • Garanta que o equipamento
Os ferimentos penetrantes do pescoço podem causar
de aspiração esteja
lesões vasculares com hematomas significativos,
funcionante e disponível.
• Esteja preparado para
resultando em deslocamento e obstrução da via aérea.
lateralizar o doente Pode ser necessário estabelecer uma via aérea cirúrgica
enquanto restringe o com emergência se o deslocamento e a obstrução
movimento da coluna impedirem a intubação endotraqueal. A hemorragia
cervical se indicado. decorrente de lesões vasculares adjacentes pode ser
maciça, exigindo tratamento cirúrgico.
O trauma cervical contuso ou penetrante podem
Trauma Maxilofacial causar rotura da laringe ou da traqueia, seguido de
obstrução da via aérea e/ou sangramento maciço na
O trauma de face exige uma abordagem agressiva, porém árvore traqueobrônquica. Nessas condições, torna-se
cuidadosa da via aérea (n FIGURA 2-2). Esse tipo de trauma imperativo assegurar uma via aérea definitiva.
frequentemente acontece quando um passageiro sem Lesões cervicais envolvendo ruptura da laringe e da
cinto de segurança é arremessado contra o para-brisa traqueia, ou compressão da via aérea por hemorragia
ou o painel em uma colisão automobilística. Traumas em partes moles do pescoço, podem causar obstrução
do terço médio facial podem ocasionar fraturas e parcial da via aérea. Inicialmente, doentes com essa
luxações que comprometem a nasofaringe e a orofaringe. grave lesão de via aérea podem conseguir manter a
Fraturas faciais podem ser associadas a hemorragia, permeabilidade da via aérea e a ventilação. Entretanto,
edema, aumento de secreções e avulsões dentárias se houver suspeita de comprometimento da via aérea,
que aumentam a dificuldade para a manutenção da deve-se garantir uma via áerea definitiva. Para evitar
permeabilidade da via aérea. Fraturas da mandíbula, a exacerbação de uma lesão de via aérea existente, o
principalmente fraturas bilaterais do corpo, podem tubo endotraqueal deve ser inserido cuidadosamente
levar à perda do suporte estrutural da via aérea, e pode e, preferencialmente, sob visualização direta. A perda
ocorrer obstrução quando em posição supina. Doentes da permeabilidade da via aérea pode ser precipitada,
que se recusam a permanecer em decúbito dorsal podem e uma via aérea cirúrgica está usualmente indicada.
apresentar dificuldade para a manutenção da via aérea
ou para a eliminação de secreções. Além disso, anestesia Trauma de Laringe
1. Rouquidão
2. Enfisema subcutâneo
3. Fratura palpável
móvel). Esforço respiratório indica uma ameaça também pode ser usada em doentes intubados
iminente à ventilação do doente. para confirmar o correto posicionamento do
2. Ausculte o tórax bilateralmente. Diminuição tubo na via aérea do doente.
ou ausência de murmúrio vesicular em um
ou em ambos os lados do tórax deve alertar o
médico quanto à presença de lesão torácica.
tr ata mento da v i a a ér e a
(Ver Capítulo 4: Trauma Torácico). Atente
para o aumento da frequência respiratória do A avaliação da permeabilidade da via aérea e da
doente – a taquipneia pode indicar insuficiência qualidade da ventilação deve ser feita de forma rápida e
respiratória. precisa. A oximetria de pulso e a medida do CO2 expirado
3. Use o oxímetro de pulso para medir a saturação são fundamentais. Se alguma alteração for identificada
de oxigênio no sangue e a perfusão periférica, ou se houver supeita de comprometimento da via
mas observe que este dispositivo não garante aérea, medidas devem ser tomadas imediatamente
que a ventilação esteja adequada. Além disso, para melhorar a oxigenação e reduzir o risco de piora
uma saturação baixa de oxigênio pode ser do comprometimento ventilatório. Essas medidas
indicação de hipoperfusão ou choque.
incluem técnicas básicas para a manutenção da via
4. Use capnografia em doentes respirando áerea, medidas para instalação de via aérea definitiva
espontaneamente e intubados para avaliar (inclusive a via aérea cirúrgica) e métodos para fornecer
se a ventilação está adequada. A capnografia suporte ventilatório. Como todas essas medidas podem
ocasionar alguma movimentação no pescoço do doente,
armadilha prevenção é importante a restrição do movimento da coluna em
todos os doentes traumatizados com risco de lesão
Falha em • Monitore a frequência respiratória medular até que lesão vertebromedular tenha sido
reconhecer do doente e o esforço respiratório. excluída por medidas auxiliares radiológicas e avaliação
• Obtenha gasometria arterial ou clínica.
ventilação
venosa. A oferta de alto fluxo de oxigênio deve ser realizada
inadequada.
• Obtenha capnografia contínua. tanto antes como após a instituição de medidas para o
controle da via aérea. A sonda de aspiração com ponta
A B
C D
n FIGURA 2-3 Remoção do Capacete. A remoção correta do capacete deve ser realizada por duas pessoas. Enquanto uma pessoa realiza o
alinhamento manual da cabeça e do pescoço (A), a outra pessoa “abre” o capacete lateralmente. Em seguida, a segunda pessoa remove o
capacete (B) com cuidado para não ferir o nariz e a região occipital. Uma vez removido o capacete, a primeira pessoa segura a cabeça do doente
(C), enquanto a segunda pessoa realiza a restrição do movimento da coluna (D).
28 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação
rígida é fundamental e deve estar sempre disponível. •• Trauma maxilofacial ou mandibular graves
Doentes com fraturas faciais podem apresentar fraturas •• Abertura limitada da boca
da placa crivosa associadas e a introdução de sondas
•• Obesidade
através do nariz pode resultar na passagem da sonda
para o interior da caixa craniana. •• Variações anatômicas (p.ex., micrognatismo,
prognatismo e pescoço curto)
Doentes usando capacete e que necessitem de
abordagem da via aérea, precisam que sua cabeça e •• Doentes pediátricos
pescoço sejam mantidos em posição neutra durante a Quando tais dificuldades são encontradas, médicos
remoção do capacete. (n FIGURA 2-3; ver também vídeo de mais experientes devem auxiliar.
Retirada do Capacete no aplicativo MyATLS). Este é um O mnemônico LEMOM é uma ferramenta útil para
procedimento para duas pessoas: uma pessoa restringe avaliar o potencial de dificuldade da intubação. (n QUADRO
o movimento da coluna cervical por baixo, enquanto 2-1; ver também Avaliação LEMOM no aplicativo MyATLS).
a segunda pessoa expande os lados do capacete e o LEMOM se mostrou útil na avaliação pré-anestésica e vários
remove por cima. Em seguida, os médicos restabelecem a de seus componentes são particularmente relevantes no
restrição do movimento da coluna cervical e asseguram a trauma (p. ex., lesão da coluna cervical e abertura limitada
imobilização da cabeça e pescoço do doente com um colar da boca). Procure por evidências de via aérea difícil (p.
cervical semirrígido, durante a abordagem da via aérea. ex., boca ou mandíbula pequenas, micrognatismo,
Pode ser necessário usar um cortador de capacete para prognatismo ou trauma facial). Qualquer obstrução
removê-lo enquanto se estabiliza a cabeça e o pescoço óbvia da via aérea apresenta um desafio imediato e a
em doentes com lesão da coluna cervical diagnosticada. restrição do movimento da coluna vertebral cervical é
necessária na maioria dos doentes após traumatismo
antecipando a via aérea difícil contuso, aumentando a dificuldade de se estabelecer uma
via aérea. Confie no julgamento clínico e na experiência
Antes de tentar a intubação, deve-se avaliar a via aérea para determinar se a intubação assistida por drogas deve
do doente para prever a dificuldade do procedimento. ser utilizada imediatamente.
Fatores que indicam possíveis dificuldades nas
manobras da via aérea incluem: esquema de decisão da via aérea
•• Lesão da coluna cervical n FIGURA 2-4
fornece um esquema para determinar
•• Artrite grave da coluna cervical o fluxo apropriado para o manejo da via aérea. Este
L = (Look Externally) Olhe Externamente: Procure por Em doentes em decúbito dorsal, o médico pode estimar
características que são conhecidas por causar intubação a pontuação de Mallampati pedindo ao doente para abrir
ou ventilação difícil (p. ex., boca ou mandíbula pequenas, a boca completamente e sobressair a língua; a luz da
prognatismo ou trauma facial). laringoscopia é direcionada de cima para a hipofaringe para
avaliar a extensão visível.
E = (Evaluate) Avalie a Regra 3-3-2: Para permitir o
alinhamento dos eixos faríngeo, laríngeo e oral e, portanto, O = Obstrução: Qualquer condição que leve à obstrução da via
uma fácil intubação, observe as seguintes relações: aérea tornará a laringoscopia e a ventilação difíceis.
• A distância entre os dentes incisivos deve ser de pelo N = (Neck Mobility) Mobilidade Cervical: Este é um
menos 3 dedos. (3) requisito vital para a intubação bem-sucedida. Em um
• A distância entre o osso hioide e o mento deve ser de pelo doente com lesões não traumáticas, os médicos podem
menos 3 dedos. (3) avaliar facilmente a mobilidade pedindo ao doente para
• A distância entre a proeminência tireoidea e o assoalho da colocar o mento no peito e estender o pescoço olhando
boca deve ser de pelo menos 2 dedos. (2) para o teto. Os doentes que necessitam de restrição do
movimento da coluna vertebral cervical obviamente não
M = Mallampati: Certifique-se de que a hipofaringe apresentam movimento do pescoço e, portanto, são mais
seja adequadamente visualizada. Esse processo é feito difíceis de serem intubados.
tradicionalmente pela classificação de Mallampati.
Continua
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 29
Class I: soft palate, uvula, Class II: soft palate, Class III: soft palate, Class IV: hard palate
fauces,de
Classificação pillars visible Essa classificação
Mallampati. é usada
uvula, fauces para visualização
visible baseda
ofhipofaringe.
uvula visibleClasse I: palato only
mole,visible
úvula, fauces e
pilares inteiramente visíveis; Classe II: palato mole, úvula e fauces parcialmente visíveis; Classe III: palato mole e base da úvula
visíveis; Classe IV: apenas palato duro visível.
Esteja Preparado
Equipamentos:
Aspirador, O2, cânulas orofaríngeas (Guedel) e nasofaríngeas,
dispositivo bolsa-válvula-máscara, laringoscópio, guia introdutor
de intubação (bougie), dispositivos extraglóticos, kit para
cricotireoidostomia por punção e cirúrgica, tubos endotraqueis
(vários tamanhos), oxímetro de pulso, detector de CO2 e medicamentos.
Pré-oxigene
n FIGURA 2-4 Esquema de Decisão
O2 +/- dispositivo bolsa-válvula-máscara +/-
cânula orofaríngea +/- cânula nasofaríngea de Via Aérea. Os médicos usam
esse algoritmo para determinar o
Consegue oxigenar? NÃO Via Aérea Definitiva/Cirúrgica fluxo apropriado para o manejo da
via aérea do doente traumatizado.
SIM Muitos centros desenvolveram outros
algoritmos detalhados. Certifique-se
de revisar e aprender o padrão usado
Avalie a anatomia da via aérea
Antecipe a dificuldade da intubação
DIFÍCIL pelas equipes em seu sistema de
trauma.
FÁCIL
INSUCESSO
Em doentes com rebaixamento do nível de consciência, A cânula nasofaríngea é inserida em uma narina e
a base da língua pode cair e obstruir a hipofaringe. Essa passada suavemente para a orofaringe posterior. Deve
forma de obstrução pode ser prontamente corrigida pelas estar bem lubrificada e ser inserida na narina que parece
manobras de elevação do mento e tração da mandíbula. estar desobstruída. Se houver resistência durante a
A manutenção da permeabilidade da via aérea pode inserção da cânula por possível obstrução, pare e
ser alcançada com uma cânula oro ou nasofaríngea. tente na outra narina. Este procedimento não deve
Manobras empregadas para permeabilizar a via aérea ser realizado em doentes com suspeita ou potencial
podem causar ou agravar lesões cervicais, portanto, fratura da placa cribiforme. (Ver Apêndice G: Estação
a imobilização da coluna é fundamental durante a Prática A: Via Aérea e vídeo de Inserção de Via Aérea
execução desses procedimentos. Nasofaríngea no aplicativo My ATLS.)
Elevação do Mento
Tração da Mandíbula
NP
TRATAMENTO DA VIA AÉREA 31
B
n FIGURA 2-7 Técnica Alternativa para Inserção da Cânula
Orofaríngea.
Advanced rauma
T A. Nesta
Life técnica,
Support a cânulaAppr
for Doctors orofaríngea
oved é inserida
Changes needed com Date
aStudent
curvatura
Coursevoltada
Manual,para
9e cima até que se atinja o palato mole. B. O
American College of geons
Sur KB
dispositivo
Figur
e# 02.06ABé então girado 180 graus, deslizando-o sobre a língua.
Não use esta
Dragonfly técnica
Media
oupGr em crianças. Nota:
WC O movimento da coluna cervical
09/19/2011
deve ser restrito, no entanto, o procedimento de restrição do movimento
da coluna não está sendo demonstrado NP na figura para enfatizar a técnica
n FIGURA 2-9 Dispositivo supraglótico i-gel®. A ponta do n FIGURA 2-11 Exemplo de um tubo esofágico multilúmen.
dispositivo deve estar localizada na abertura superior do esôfago. O
manguito deve estar localizado na “armação” laríngea e os incisivos com um balão e a outra via é usada para ventilar. Um
devem estar apoiados integralmente no bloco de mordida.
detector de CO2 fornecerá evidências de ventilação
da via aérea. O tubo esofágico multilúmen deve ser
removido e/ou uma via aérea definitiva providenciada
após avaliação apropriada. O CO2 ao final da expiração
deve ser monitorado pois fornece dados úteis sobre
ventilação e perfusão.
n TABELA 2-1 descreve as indicações para uma via aérea pode ser obtida. Entretanto, uma radiografia de perfil
definitiva. de coluna cervical normal não exclui a possibilidade de
A urgência da condição do doente e as indicações para lesão da coluna cervical.
intervenção na via aérea determinam o caminho e o A intubação orotraqueal é a via preferida para
método apropriados a serem utilizados. A ventilação proteger a via aérea. Em algumas situações específicas
assistida contínua é facilitada pelo uso de sedação e dependendo da experiência do médico, a intubação
suplementar, analgésicos ou relaxantes musculares, nasotraqueal pode ser uma alternativa para doentes com
conforme indicação. A avaliação do quadro clínico respiração espontânea. Ambas as técnicas são seguras e
do doente e o uso do oxímetro de pulso podem ser eficazes quando realizadas adequadamente, embora a
úteis para determinar a necessidade de uma via aérea via orotraqueal seja mais comumente utilizada e resulte
definitiva, a urgência desse procedimento e inferir em menos complicações na unidade de terapia intensiva
a eficácia da via aérea instalada. A possibilidade de (UTI) (p. ex., sinusite e necrose por pressão). Se o doente
haver lesão concomitante da coluna cervical é uma apresenta apneia, está indicada a intubação orotraqueal.
das grandes preocupações na avaliação do doente que Fraturas de face, seio frontal, base de crânio e placa
necessita de intervenção sobre a via aérea. cribiforme são contraindicações relativas à intubação
nasotraqueal. Evidência de fratura nasal, olhos de
Intubação Endotraqueal guaxinim (equimose periorbitária bilateral), sinal de
Battle (equimose retroauricular) e possíveis fístulas
Embora seja importante estabelecer a presença ou liquóricas (rinorreia ou otorreia) são sinais dessas lesões.
ausência de uma fratura da coluna vertebral, não obtenha Assim como na intubação orotraqueal, tome precauções
estudos radiológicos, como tomografia computadorizada para restringir o movimento da coluna cervical.
ou radiografias da coluna vertebral, até estabelecer uma Se os médicos decidirem realizar a intubação
via aérea definitiva quando necessário. Doentes com orotraqueal, recomenda-se a técnica de três pessoas
escore na GCS de 8 ou menos, requerem intubação com restrição do movimento da coluna cervical (ver
imediata. Se não houver necessidade imediata de vídeo de Via Aérea Avançada no aplicativo MyATLS).
intubação, a avaliação radiológica da coluna cervical A pressão na cricoide durante a intubação endotraqueal
pode reduzir o risco de aspiração, embora também possa
tabela 2-1 indicações para reduzir a visão da laringe. A manipulação laríngea pela
via aérea definitiva pressão para trás, para cima e para a direita (BURP) na
cartilagem tireoide pode ajudar a visualizar as cordas
NECESSIDADE DE NECESSIDADE DE VENTILA- vocais. Quando a adição de pressão cricoide comprometer
PROTEÇÃO DA VIA AÉREA ÇÃO OU OXIGENAÇÃO a visão da laringe, essa manobra deve ser descontinuada
ou reajustada. Mãos adicionais são necessárias para
Fraturas maxilofaciais Esforço respiratório administrar drogas e realizar a manobra de BURP.
graves inadequado Ao longo dos anos, dispositivos alternativos de
• Risco de aspiração de • Taquipneia
sangue e/ou vômitos • Hipóxia
intubação foram desenvolvidos para integrar técnicas
• Hipercarbia de vídeo e imagem óptica. Doentes traumatizados
• Cianose podem se beneficiar de seu uso por profissionais
• Combatividade experientes em circunstâncias específicas. É obrigatória
a avaliação cuidadosa da situação, a disponibilidade de
Trauma cervical equipamento e pessoal, e a existência de planos de resgate.
• Hematoma cervical • Mudança progressiva n FIGURA 2-12 ilustra a intubação através da máscara
• Lesões de laringe ou • Uso da musculatura
traqueia acessória
laríngea de intubação. Uma vez que a máscara é
• Lesão por inalação e • Paralisia dos músculos da introduzida, um tubo endotraqueal é inserido,
queimaduras de face respiração permitindo uma técnica de intubação às cegas.
• Estridor • Respiração abdominal O introdutor de tubo traqueal Eschmann (ITTE),
• Alteração da voz também conhecido como bougie elástico (GEB), pode
ser usado quando a pessoa encontra uma via aérea
problemática (n FIGURA 2-13). Os médicos usam o GEB
Trauma craniencefálico • Deterioração neurológica quando as cordas vocais de um doente não podem ser
• Inconciência ou herniação visualizadas por laringoscopia direta. De fato, o uso
• Combatividade • Apneia por perda de
consciência ou paralisia
do GEB permitiu a intubação rápida de quase 80% dos
neuromuscular doentes pré-hospitalares nos quais a laringoscopia
direta era difícil.
34 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação
B
n FIGURA 2-12 Intubação através de uma máscara laríngea para
intubação. A. Uma vez que a máscara laríngea é introduzida, B. um
tubo endotraqueal é inserido, permitindo assim uma técnica de
intubação às “cegas”.
C
n FIGURA 2-14 Inserção de um GEB para ajudar em intubações. A. O
GEB é lubrificado e colocado na parte de trás da epiglote com a ponta
inclinada em direção à frente do pescoço. B. Deslize-o sob a epiglote
e manobre-o às cegas para dentro da traqueia. C. A colocação do GEB
na traqueia pode ser detectada pelos “cliques” à medida que a sua
ponta passa pelos anéis cartilaginosos da traqueia.
presença de CO2 no ar exalado indica que a via aérea 1. Tenha um plano que inclua a possibilidade de
foi obtida com sucesso, mas não garante a posição realizar uma via aérea cirúrgica em caso de falha
correta do tubo endotraqueal dentro da traqueia (p. ex., do procedimento. Saiba onde seu equipamento
de via aérea de resgate está localizado.
a intubação do tronco principal ainda é possível). Se
o CO2 não for detectado, ocorreu intubação esofágica. 2. Certifique-se de que o aspirador e a pressão
O correto posicionamento do tubo dentro da traqueia positiva sejam funcionantes.
é melhor confirmado pela radiografia de tórax, uma 3. Preoxigene o doente com oxigênio a 100%.
vez excluída a possibilidade de intubação esofágica. Os 4. Aplique pressão sobre a cartilagem cricoide.
indicadores colorimétricos de CO2 não são úteis para
monitoramento fisiológico ou avaliação da adequação 5. Administre uma droga indutora (p. ex.,
etomidato, 0,3 mg/kg) ou sedativo, de acordo com
da ventilação, o que requer análise de gasometria arterial
o protocolo local.
ou análise contínua de dióxido de carbono expirado.
Depois de determinar a posição correta do tubo, 6. Administre 1 a 2 mg/kg de succinilcolina
fixe-o. Se o doente for movimentado, reavalie o intravenosa (a dose habitual é de 100 mg).
posicionamento do tubo por meio de ausculta pulmonar Depois que o doente relaxar:
bilateral para a presença de murmúrios vesiculares
simétricos e reavalie o CO2 exalado. 7. Intube o doente por via orotraqueal.
Se a intubação orotraqueal não for bem-sucedida na 8. Insufle o balonete e confirme o correto
primeira tentativa, ou se a fenda glótica for difícil de posicionamento do tubo auscultando o tórax do
ser visualizada, use um GEB e inicie os preparativos doente e determinando a presença de CO2 no ar
para a abordagem da via aérea difícil. exalado.
9. Libere a pressão cricoide.
armadilha prevenção 10. Ventile o doente
O etomidato não afeta negativamente a pressão
Inabilidade para • Utilize dispositivos de resgate
intubar. para a via aérea. sanguínea ou a pressão intracraniana, mas pode
• Realize uma cricotireoideostomia diminuir a função adrenal e não está universalmente
por punção seguida de via aérea disponível. Esta droga fornece sedação adequada, o
cirúrgica. que é vantajoso para esses doentes. Use etomidato e
• Estabeleça uma via aérea cirúrgica.
outros sedativos com bastante cuidado para evitar a
perda da via aérea à medida que o doente for sedado.
Falha no • Cheque frequentemente o
Em seguida, administre succinilcolina, que é uma droga
equipamento. equipamento.
• Assegure-se de que o de curta duração. Tem um início rápido (< 1 minuto) e
equipamento esteja disponível. duração de 5 minutos ou menos.
A complicação mais perigosa do uso de sedativos
e agentes bloqueadores neuromusculares é a
Intubação Assistida por Drogas (IAD) incapacidade de estabelecer uma via aérea. Se a
intubação endotraqueal não for bem-sucedida, o
Em alguns casos, a intubação é possível e é segura sem doente deve ser ventilado com um dispositivo de
o uso de drogas. O uso de medicamentos anestésicos, bolsa-válvula-máscara até que a paralisia se resolva;
sedativos e bloqueadores neuromusculares para intubação por esse motivo, drogas de ação prolongada não são
endotraqueal em doentes traumatizados é potencialmente rotineiramente usadas na IAD. Devido ao potencial
perigoso. Todavia, ocasionalmente, a necessidade de de hipercalemia grave, a succinilcolina deve ser usada
uma via aérea justifica o risco de se administrar esses com cautela em doentes com lesões por esmagamento
medicamentos; por isso, é importante conhecer sua graves, grandes queimaduras e lesões elétricas. Extrema
farmacologia, ter habilidade nas técnicas de intubação cautela é justificada em doentes com insuficiência
endotraqueal e ser capaz de garantir uma via aérea renal crônica preexistente, paralisia crônica e doença
cirúrgica, se necessário. A intubação assistida por drogas neuromuscular crônica.
é indicada em doentes que precisam de controle da via Agentes indutores, como tiopental e sedativos, são
aérea, mas têm reflexo do vômito intacto, especialmente potencialmente perigosos em doentes traumatizados
aqueles que sofreram trauma craniencefálico. com hipovolemia. Padrões de prática, preferências
por determinados medicamentos e procedimentos
A técnica para intubação assistida por drogas é a seguinte: específicos para o manejo da via aérea variam entre as
instituições. O princípio crítico é que o indivíduo que
usa essas técnicas deve conhecer os protocolos usados
36 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação
em sua instituição, precisa ser criterioso e habilidoso e a 15 L/min (40 a 50 psi) por meio de uma conexão em
ser capaz de detectar e tratar as possíveis complicações. Y ou por meio de um tubo que apresente um orifício
cortado na lateral. A insuflação intermitente, um
Via Aérea Cirúrgica segundo sim e quatro segundos não, é realizada com o
posicionamento do polegar sobre a extremidade aberta
A impossibilidade de intubação da traqueia é uma do conector em Y ou sobre o orifício lateral. (Ver vídeo
indicação clara para o uso do plano alternativo de da Cricotireoidostomia no aplicativo MyATLS.)
abordagem da via aérea que inclui a máscara laríngea, o O doente traumatizado pode ser oxigenado
tubo laríngeo e a via aérea cirúrgica. A via aérea cirúrgica adequadamente por 30 a 45 minutos usando-se essa
(p. ex., cricotireoidostomia ou traqueostomia) está técnica. Durante os quatro segundos em que o oxigênio
indicada quando há presença de edema de glote, fratura não é ofertado sob pressão, ocorre alguma expiração.
de laringe, hemorragia orofaríngea grave que obstrua a Como essa expiração não é adequada, existe um
via aérea, ou quando o tubo endotraqueal não puder ser acúmulo lento e gradativo de dióxido de carbono, o que
posicionado entre as cordas vocais. A cricotireoidostomia limita o uso desta técnica, especialmente em doentes
cirúrgica é preferível à traqueostomia para a maioria dos com traumatismo craniencefálico.
doentes que necessitam de uma via aérea cirúrgica, Use a oxigenação percutânea transtraqueal com cautela
porque ela é mais fácil de ser realizada, apresenta menor quando há suspeita de obstrução completa da área da glote
sangramento associado e requer um tempo menor para por corpo estranho. A insuflação a jato pode provocar
sua execução do que uma traqueostomia de emergência. barotrauma importante, incluindo ruptura pulmonar
com pneumotórax hipertensivo. Portanto, deve-se prestar
Cricotireoidostomia por Punção muita atenção ao fluxo de entrada e saída de ar.
controle de oxigenação
A melhor maneira de se ofertar ar oxigenado é através de
n FIGURA 2-15 Cricotireoidostomia por Punção. Este procedimento é
uma máscara facial com reservatório de oxigênio bem
realizado colocando-se um cateter sobre uma agulha ou sobre um fio ajustada, com uma taxa de fluxo de pelo menos 10 L/min.
usando a técnica de Seldinger. Nota: O movimento da coluna cervical deve ser Outros métodos (p. ex., cateter nasal, cânula nasal, e máscara
restrito, no entanto, o procedimento de restrição do movimento da coluna não está não reinalante) podem melhorar a concentração de oxigênio
sendo demonstrado na figura para enfatizar a técnica de inserção da via aérea. inspirado.
CONTROLE DE OXIGENAÇÃO 37
Proeminência da
cartilagem tireoide
Cartilagem tireoide
Entalhe Membrana cricotireoidea
Cartilagem cricoide
Traqueia
B C D
n FIGURA 2-16 Cricotireoidostomia Cirúrgica. A. Palpe a proeminência da cartilagem tireoidea, o espaço entre a cartilagem tireoide e a
cricoide e a fúrcula esternal para orientação. B. Faça uma incisão na pele sobre a membrana cricotireoidea e cuidadosamente incise a membrana
transversalmente. C. Insira uma pinça hemostática ou de bisturi na incisão e gire-a 90 graus para abrir a via aérea. D. Insira um tubo endotraqueal
ou um tubo de traqueostomia de tamanho adequado na incisão da membrana cricotireoidea, direcionando o tubo distalmente para dentro da
traqueia.
38 CAPÍTULO 2 n Tratamento da Via Aérea e da Ventilação
Como as alterações da oxigenação ocorrem pessoas, sempre que possível. (Ver vídeo de Ventilação
rapidamente e não podem ser detectadas clinicamente, Bolsa-Válvula-Máscara no aplicativo MyATLS.)
deve-se utilizar sempre a oximetria de pulso. É A intubação do doente com hipoventilação e/ou
inestimável quando são previstas dificuldades na em apneia pode não ser bem-sucedida inicialmente,
intubação ou na ventilação, inclusive durante o e demandar múltiplas tentativas. O doente deve
transporte de doentes gravemente traumatizados. ser ventilado periodicamente durante tentativas
A oximetria de pulso é um método não invasivo de prolongadas de intubação. Todos os esforços devem ser
medida contínua da saturação de oxigênio do sangue feitos para otimizar as condições de intubação e assegurar
arterial. Não se trata de medida da pressão parcial de o sucesso do procedimento na primeira tentativa.
oxigênio (PaO2) e, dependendo da posição da curva de Realizada a intubação traqueal, inicia-se ventilação
dissociação da oxihemoglobina, a PaO2 pode variar assistida com pressão positiva. Dependendo da
amplamente (n TABELA 2-2). Entretanto, uma saturação disponibilidade de equipamento, pode ser empregado
maior ou igual a 95%, medida pela oximetria de pulso, um respirador a volume ou a pressão. O médico
é forte evidência que corrobora para uma oxigenação deve permanecer alerta para possíveis complicações
arterial periférica adequada (PaO2 > 70 mm Hg ou 9,3 KPa). secundárias a alterações da pressão intratorácica, que
A oximetria de pulso requer perfusão periférica intacta podem transformar um pneumotórax simples em
e não permite fazer a distinção entre oxihemoglobina, um pneumotórax hipertensivo ou, ainda, causar um
carboxihemoglobina ou metahemoglobina, o que limita pneumotórax secundário ao barotrauma.
sua aplicabilidade no doente com vasoconstrição intensa Mantenha a oxigenação e a ventilação antes, durante e
e no doente com intoxicação por monóxido de carbono. A imediatamente após a obtenção da via aérea definitiva.
anemia profunda (hemoglobina < 5 g/dL), e a hipotermia Evite períodos prolongados ou ausentes de oxigenação
(< 30 oC ou 86 oF) reduzem a confiabilidade do método. e ventilação.
Entretanto, na maioria dos doentes traumatizados, a
oximetria de pulso é útil como uma monitoração contínua
da saturação de oxigênio e oferece uma avaliação imediata armadilhas prevenção
das intervenções terapêuticas.
Má vedação da máscara • Cubra o espaço entre as
em um doente bochechas e a gengiva
tabela 2-2 pao2 aproximada versus níveis desdentado. com gaze para melhorar o
de saturação da hemoglobina pelo o2 ajuste da máscara.
3. Aprahamian C, Thompson BM, Finger WA, et in complete airway obstructions canine model.
al. Experimental cervical spine injury model: J Trauma 1989;29(6):774–781.
evaluation of airway management and splint- 17. Fremstad JD, Martin SH. Lethal complication
ing techniques. Ann Emerg Med 1984;13(8): from insertion of nasogastric tube after
584–587. severe basilar skull fracture. J Trauma 1978;
4. Arslan ZI, Yildiz T, Baykara ZN, et al. 18:820–822.
Tracheal intubation in patients with rigid 18. Gataure PS, Vaughan RS, Latto IP. Simulated
collar immobilisation of the cervical spine: a difficult intubation: comparison of the gum
comparison of Airtraq and LMA C Trach devices. elastic bougie and the stylet. Anaesthesia
Anaesthesia 2009;64(12):1332–1336. Epub 2009; 1996;1:935–938.
Oct 22. 19. Greenberg RS, Brimacombe J, Berry A, et al.
5. Asai T, Shingu K. The laryngeal tube. Br J Anaesth A randomized controlled trial comparing
2005;95(6):729–736. the cuffed oropharyngeal airway and the
6. Bathory I, Frascarolo P, Kern C, et al. Evaluation laryngeal mask airway in spontaneously
of the GlideScope for tracheal intubation in breathing anesthetized adults. Anesthesiology
patients with cervical spine immobilisation by 1998;88(4):970–977.
a semi-rigid collar. Anaesthesia 2009;64(12): 20. Grein AJ, Weiner GM. Laryngeal mask airway
1337–1341. versus bag-mask ventilation or endotracheal
7. Bergen JM, Smith DC. A review of etomidate intubation for neonatal resuscitation. Cochrane
for rapid sequence intubation in the emergency Database Syst Rev 2005;(2):CD003314.
department. J Emerg Med 1997;15(2):221–230. 21. Grmec S, Mally S. Prehospital determination of
8. Brantigan CO, Grow JB Sr. Cricothyroidotomy: tracheal tube placement in severe head injury.
elective use in respiratory problems requiring Emerg Med J 2004;21(4):518–520.
tracheotomy. J Thorac Cardiovasc Surg 1976;71: 22. Guildner CV. Resuscitation—opening the airway:
72–81. a comparative study of techniques for opening
9. Combes X, Dumerat M, Dhonneur G. Emergency an airway obstructed by the tongue. J Am Coll
gum elastic bougie-assisted tracheal intubation Emerg Physicians 1976;5:588–590.
in four patients with upper airway distortion. 23. Hagberg C, Bogomolny Y, Gilmore C, et al. An
Can J Anaesth 2004;51(10):1022–1024. evaluation of the insertion and function of a
10. Crosby ET, Cooper RM, Douglas MJ, et al. new supraglottic airway device, the King LT,
The unanticipated difficult airway with during spontaneous ventilation. Anesth Analg
recommendations for management. Can J 2006;102(2):621–625.
Anaesth 1998;45(8):757–776. 24. Iserson KV. Blind nasotracheal intubation. Ann
11. Danzl DF, Thomas DM. Nasotracheal intubation Emerg Med 1981;10:468.
in the emergency department. Crit Care Med 25. Jabre P, Combes X, Leroux B, et al. Use of the gum
1980;8(11):667–682. elastic bougie for prehospital difficult intubation.
12. Davies PR, Tighe SQ, Greenslade GL, et al. Am J Emerg Med 2005;23(4):552–555.
Laryngeal mask airway and tracheal tube insert- 26. Jorden RC, Moore EE, Marx JA, et al. A com-
ion by unskilled personnel. Lancet 1990;336 parison of PTV and endotracheal ventilation
(8721):977–979. in an acute trauma model. J Trauma 1985;
13. Dogra S, Falconer R, Latto IP. Successful 25(10):978–983.
difficult intubation. Tracheal tube placement 27. Kidd JF, Dyson A, Latto IP. Successful difficult
over a gum-elastic bougie. Anaesthesia 1990; intubation. Use of the gum elastic bougie.
45(9):774–776. Anaesthesia 1988;43:437–438.
14. Dorges V, Ocker H, Wenzel V, et al. Emergency 28. Kress TD, Balasubramaniam S. Cricothyroidotomy.
airway management by non-anaesthesia house Ann Emerg Med 1982;11:197–201.
officers—a comparison of three strategies. Emerg 29. Latto IP, Stacey M, Mecklenburgh J, et al. Survey
Med J 2001;18(2):90–94. of the use of the gum elastic bougie in clinical
15. El-Orbany MI, Salem MR, Joseph NJ. The Eschmann practice. Anaesthesia 2002;57(4):379–384.
tracheal tube introducer is not gum, elastic, or a 30. Levinson MM, Scuderi PE, Gibson RL, et al.
bougie. Anesthesiology 2004;101(5);1240; author Emergency percutaneous and transtracheal
reply 1242–1244. ventilation. J Am Coll Emerg Physicians 1979;
16. Frame SB, Simon JM, Kerstein MD, et al. Percu- 8(10):396–400.
taneous transtracheal catheter ventilation (PTCV)
BIBLIOGRAFIA 41
31. Levitan R, Ochroch EA. Airway management and 42. Phelan MP. Use of the endotracheal bougie
direct laryngoscopy. A review and update. Crit introducer for difficult intubations. Am J Emerg
Care Clin 2000;16(3):373–388, v. Med 2004;22(6):479–482.
32. Liu EH, Goy RW, Tan BH, et al. Tracheal intu- 43. Reed MJ, Dunn MJ, McKeown DW. Can an airway
bation with videolaryngoscopes in patients assessment score predict difficulty at intubation
with cervical spine immobilization: a random- in the emergency department? Emerg Med J
ized trial of the Airway Scope and the Glide 2005;22(2):99–102.
Scope. Br J Anaesth 2009 Sep;103(3):446–451. 44. Reed MJ, Rennie LM, Dunn MJ, et al. Is the
33. Macintosh RR. An aid to oral intubation. BMJ “LEMON” method an easily applied emergency
1949;1:28. airway assessment tool? Eur J Emerg Med
34. Majernick TG, Bieniek R, Houston JB, et al. 2004;11(3);154–157.
Cervical spine movement during orotracheal 45. Russi C, Miller L, Hartley MJ. A comparison of
intubation. Ann Emerg Med 1986;15(4):417–420. the King- LT to endotracheal intubation and
35. Morton T, Brady S, Clancy M. Difficult airway Combitube in a simulated difficult airway.
equipment in English emergency departments. Prehosp Emerg Care 2008;12(1):35–41.
Anaesthesia 2000;55(5):485–488. 46. Seshul MB Sr, Sinn DP, Gerlock AJ Jr. The Andy
36. Nocera A. A flexible solution for emergency Gump fracture of the mandible: a cause of
intubation difficulties. Ann Emerg Med 1996; respiratory obstruction or distress. J Trauma
27(5):665–667. 1978;18:611–612.
37. Noguchi T, Koga K, Shiga Y, et al. The gum 47. Silvestri S, Ralls GA, Krauss B, et al. The
elastic bougie eases tracheal intubation while effectiveness of out-of-hospital use of continuous
applying cricoid pressure compared to a stylet. end-tidal carbon dioxide monitoring on the rate
Can J Anaesth 2003;50(7):712–717. of unrecognized misplaced intubation within a
38. Nolan JP, Wilson ME. An evaluation of the gum regional emergency medical services system.
elastic bougie. Intubation times and incidence Ann Emerg Med 2005;45(5):497–503.
of sore throat. Anaesthesia 1992; 47(10):878–881. 48. Smith CE, Dejoy SJ. New equipment and
39. Nolan JP, Wilson ME. Orotracheal intubation in techniques for airway management in trauma.
patients with potential cervical spine injuries. An Curr Opin Anaesthesiol 2001;14(2):197–209.
indication for the gum elastic bougie. Anaesthesia 49. Walls RM, Murphy MF, Luten RC, eds. The
1993;48(7):630–633. Manual of Emergency Airway Management. 3rd
40. Oczenski W, Krenn H, Dahaba AA, et al. Compli- ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams &
cations following the use of the Combitube, tra- Wilkins, 2008.
cheal tube and laryngeal mask airway. Anaesthe- 50. Walter J, Doris PE, Shaffer MA. Clinical
sia 1999;54(12):1161–1165. presentation of patients with acute cervical spine
41. Pennant JH, Pace NA, Gajraj NM. Role of the injury. Ann Emerg Med 1984;13(7):512–515.
laryngeal mask airway in the immobile cervical 51. Yeston NS. Noninvasive measurement of blood
spine. J Clin Anesth 1993;5(3):226–230. gases. Infect Surg 1990;90:18–24.
3 CHOQUE
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 5. Descrever a abordagem inicial adequada do choque
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: hemorrágico nos doentes traumatizados.
43
44 CAPÍTULO 3 n Choque
O
passo inicial na abordagem do choque em associadas. O choque séptico é infrequente, entretanto
um doente traumatizado é reconhecer a sua deve ser considerado nos doentes cuja chegada à sala de
presença. Uma vez identificado o choque, inicie emergência tenha sido postergada por muitas horas. Nos
o tratamento baseado na provável causa. A definição doentes idosos, a razão subjacente ou a causa precipitante
de choque – uma anormalidade do sistema circulatório da lesão traumática pode ser uma infecção não reconhecida,
que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual mais comumente uma infecção do trato urinário.
inadequadas – também guia a equipe de trauma para A responsabilidade do médico no atendimento do
seu diagnóstico e tratamento. O diagnóstico do choque doente se inicia com o reconhecimento da presença do
no doente traumatizado é baseado em uma síntese de choque. Inicie o tratamento imediatamente e identifique
achados clínicos e exames laboratoriais. Nenhum sinal a sua causa provável. A resposta do doente ao tratamento
vital ou teste laboratorial isolado é capaz de diagnosticar inicial, associada aos achados das avaliações primária
o choque de forma definitiva. e secundária, habitualmente fornece informações
O segundo passo na abordagem do choque é identificar a suficientes para determinar a causa do choque. A
sua provável causa e ajustar o tratamento adequadamente. hemorragia é a causa mais comum de choque nos
Nos doentes traumatizados, esse processo está relacionado doentes traumatizados.
ao mecanismo de trauma. Em sua maioria, os traumatizados
em choque apresentam hipovolemia. Podem, entretanto,
apresentar também choque cardiogênico, obstrutivo,
FISIOPATOLOGIA DO CHOQUE
neurogênico e/ou, raramente, séptico. Como exemplo, o
pneumotórax hipertensivo pode reduzir o retorno venoso Uma visão geral da fisiologia cardíaca e da fisiopatologia
e produzir choque obstrutivo. O tamponamento cardíaco da perda sanguínea é essencial para a compreensão do
também produz choque obstrutivo, pois a presença de estado de choque.
sangue no interior do saco pericárdico inibe a contratilidade
miocárdica e o débito cardíaco. Esses diagnósticos devem fisiologia cardíaca básica
ser considerados pelos membros da equipe de trauma
principalmente nos doentes com potenciais lesões acima do O débito cardíaco é definido como o volume de sangue
diafragma. O choque neurogênico resulta de lesão extensa bombeado pelo coração a cada minuto. Esse valor é
da medula cervical ou torácica alta, causado pela perda determinado através da multiplicação da frequência
do tônus simpático e pela vasodilatação subsequente. O cardíaca pelo volume sistólico (a quantidade de sangue
choque não resulta de trauma de crânio isolado, a menos ejetado a cada contração cardíaca). O volume sistólico
que o tronco cerebral esteja envolvido, apresentando, neste é classicamente determinado pela pré-carga, pela
caso, prognóstico reservado. As vítimas de lesão medular contratilidade miocárdica e pela pós-carga (n FIGURA 3-1).
podem apresentar, inicialmente, choque por vasodilatação A pré-carga expressa o volume de retorno venoso para
e hipovolemia, especialmente se houver múltiplas lesões o coração e é determinada pela capacitância venosa,
Frequência
cardíaca Volume sistólico Débito cardíaco
(batimentos (mL/batimento) (L/minuto)
por minuto)
Artérias Sistêmicas
pelo estado da volemia e pela diferença entre a pressão de compensação é limitado. A maneira mais efetiva
venosa sistêmica média e a pressão do átrio direito. A de restaurar o débito cardíaco, a perfusão aos órgãos-
diferença entre estas pressões determina o fluxo venoso. alvo e a oxigenação tecidual, é o restabelecimento do
O sistema venoso pode ser considerado um reservatório retorno venoso ao normal, por meio da identificação e
ou um sistema de capacitância, dentro do qual o volume da interrupção da fonte de sangramento. A reposição
sanguíneo é dividido em dois componentes: volêmica permitirá a recuperação do estado de choque
somente se o sangramento estiver controlado.
1. O primeiro componente representa o volume A nível celular, as células inadequadamente
de sangue que permaneceria no circuito de perfundidas e oxigenadas ficam privadas de substratos
capacitância caso a pressão do sistema fosse igual essenciais para o metabolismo aeróbico normal e para
a zero. Esse componente não contribui para a a produção de energia. Inicialmente, a compensação
pressão venosa sistêmica média. ocorre através da mudança para o metabolismo
2. O segundo componente representa o volume anaeróbico, o que resulta na formação de ácido lático e no
venoso que contribui para a pressão venosa desenvolvimento de acidose metabólica. Caso o choque
sistêmica média. Estima-se que cerca de 70% do seja prolongado, pode resultar em dano subsequente
volume sanguíneo total esteja contido no circuito aos órgãos-alvo e em disfunção de múltiplos órgãos.
venoso. A complacência do sistema venoso
A administração de quantidades apropriadas de soluções
envolve uma relação entre o volume venoso
e a pressão venosa. Esse gradiente de pressão eletrolíticas isotônicas, de sangue e de hemoderivados
movimenta o fluxo venoso e, portanto, o volume ajuda a combater esse processo. O tratamento deve
de retorno venoso ao coração. A perda sanguínea ser focado na reversão do estado de choque através da
espolia esse componente de volume venoso e interrupção do sangramento e da promoção de oxigenação
reduz o gradiente de pressão; consequentemente, adequada, ventilação e apropriada reanimação volêmica.
o retorno venoso é reduzido. Acessos intravenosos devem ser obtidos rapidamente.
O controle definitivo da hemorragia e a restauração
O volume de sangue venoso que retorna para o coração do adequado volume circulante são os objetivos do
determina o comprimento das fibras musculares tratamento do choque hemorrágico. Vasopressores são
miocárdicas após o enchimento ventricular ao final da contraindicados como primeira linha de tratamento do
diástole. De acordo com a lei de Starling, o comprimento choque hemorrágico, pois pioram a perfusão tecidual.
das fibras musculares está relacionado com as propriedades Monitore frequentemente os índices de perfusão do
contráteis do músculo cardíaco. A contratilidade doente, para que qualquer deterioração na sua condição
miocárdica é a bomba que movimenta o sistema. possa ser detectada de forma mais precoce possível,
A pós-carga, também conhecida como resistência tornando-se passível de reversão. A monitoração também
vascular periférica, é sistêmica. Simplificando, a pós- permite a avaliação da resposta do doente ao tratamento.
carga é a resistência ao fluxo do sangue adiante. A reavaliação auxilia os médicos a distinguirem os
doentes em choque compensado daqueles que não
fisiopatologia da perda sanguínea atingem uma resposta compensatória antes que o colapso
circulatório ocorra.
As respostas circulatórias iniciais à perda sanguínea são A maioria dos doentes traumatizados que estão
compensatórias e incluem a progressiva vasoconstrição em choque hemorrágico exige intervenção cirúrgica
das circulações cutânea, muscular e visceral para preservar ou angioembolização precoces para que esse estado
o fluxo sanguíneo para os rins, o coração e o cérebro. A seja revertido. A presença de choque em um doente
resposta habitual à perda aguda de volume circulante vítima de trauma requer o envolvimento imediato de
se dá por meio de um aumento da frequência cardíaca, um cirurgião. Considere providenciar a transferência
na tentativa de preservar o débito cardíaco. Na maioria precoce destes doentes para um centro de trauma quando
das vezes, a taquicardia representa o sinal circulatório estiverem recebendo atendimento inicial em hospitais
mensurável mais precoce do choque. A liberação de despreparados para o tratamento dessas lesões.
catecolaminas endógenas aumenta a resistência vascular
periférica, o que, por sua vez, aumenta a pressão sanguínea AVALIAÇÃO INICIAL DO DOENTE
diastólica e reduz a pressão de pulso. No entanto, esse
aumento da pressão não resulta em aumentos significativos
na perfusão orgânica e na oxigenação tecidual. Idealmente, deve-se reconhecer o estado de choque
Para os doentes nas fases iniciais do choque durante a avaliação inicial. Para tanto, é importante estar
hemorrágico, o retorno venoso é preservado até certo familiarizado com a diferenciação clínica das causas de
limite através do mecanismo compensatório da contração choque – principalmente as causas hemorrágicas e as
do volume sanguíneo no sistema venoso. Esse mecanismo não hemorrágicas.
46 CAPÍTULO 3 n Choque
A B
C D
n FIGURA 3-3 A avaliação da circulação inclui a determinação rápida da fonte de perda sanguínea. Em adição à perda sanguínea externa, o sangue pode
ser proveniente de quatro outros locais (“no chão e em mais quatro”): A. o tórax; B. o abdome; C. a pelve e o retroperitôneo; e D. ossos longos e partes moles.
torácicos contusos. Taquicardia, abafamento de bulhas efeito fisiopatológico da denervação simpática. A apresentação
cardíacas, e veias do pescoço dilatadas e engurgitadas clássica do choque neurogênico é a presença de hipotensão
(turgência jugular) com hipotensão e resposta insuficiente com ausência de taquicardia ou de vasoconstrição cutânea. Os
à reposição volêmica, sugerem tamponamento cardíaco. doentes portadores de traumatismo medular frequentemente
Entretanto, a ausência desses sinais clássicos não exclui a apresentam lesões concomitantes no tronco; portanto, doentes
presença dessa condição. com suspeita ou diagnóstico de choque neurogênico devem
O pneumotórax hipertensivo pode simular um ser tratados inicialmente como portadores de hipovolemia.
tamponamento cardíaco, através de achados que são O insucesso no restabelecimento da perfusão orgânica e
comuns a ambos, como turgência jugular e desvio de da oxigenação tecidual com a reposição volêmica sugere a
traqueia. No entanto, a ausência de murmúrio vesicular presença de hemorragia contínua ou de choque neurogênico.
e o timpanismo à percussão não estão presentes no A monitoração da pressão venosa central pode auxiliar na
tamponamento cardíaco. O ecocardiograma pode ser útil abordagem desse problema, muitas vezes complexo. (Ver
no diagnóstico do tamponamento cardíaco e de rupturas Capítulo 7: Trauma Vertebromedular.)
valvares, porém frequentemente não é viável e não se
encontra imediatamente disponível na sala de emergência. O Choque Séptitco
FAST realizado na sala de emergência é capaz de identificar Choque causado por infecção, imediatamente após o trauma,
um derrame pericárdico, o que sugere o tamponamento é incomum. Entretanto, esse problema pode ocorrer caso a
cardíaco como causa do choque. O tamponamento cardíaco chegada do doente ao serviço de emergência demore algumas
é mais bem tratado através de intervenção cirúrgica formal horas. O choque séptico pode ocorrer particularmente
(toracotomia), pois a pericardiocentese é uma manobra em doentes com ferimentos penetrantes no abdome
apenas temporária, quando a realização de cirurgia imediata com contaminação peritoneal por conteúdo entérico. Os
não for possível. (Ver Capítulo 4: Trauma Torácico.) doentes sépticos que estão hipotensos e afebris são de difícil
diferenciação daqueles em choque hipovolêmico, pois ambos
Pneumotórax Hipertensivo os grupos podem apresentar taquicardia, vasoconstrição
O pneumotórax hipertensivo é uma verdadeira emergência cutânea, diminuição do débito urinário, diminuição da pressão
cirúrgica que requer diagnóstico e tratamento imediatos. Ele sistólica e diminuição da pressão de pulso. Na fase precoce
se desenvolve quando se forma um mecanismo de válvula, do choque séptico, os doentes podem apresentar volume
que permite a entrada de ar no espaço pleural, mas não a sua circulante normal, discreta taquicardia, pele aquecida, pressão
saída. A pressão intrapleural aumenta progressivamente, sistólica próxima da normalidade e ampla pressão de pulso.
causando colapso total do pulmão e desvio do mediastino
para o lado oposto, resultando em redução do retorno
venoso e do débito cardíaco. Os doentes que estão ventilando c hoque hemor r ág ico
espontaneamente, geralmente, manifestam extrema
taquipneia e “fome de ar”, enquanto que os doentes que estão
em ventilação mecânica frequentemente apresentam colapso A hemorragia é a causa mais comum de choque nos
hemodinâmico. A presença de insuficiência respiratória doentes traumatizados. A resposta do doente traumatizado
aguda, de enfisema subcutâneo, de ausência de murmúrio à perda sanguínea torna-se mais complexa em virtude
vesicular, de timpanismo à percussão e de desvio da traqueia das transferências de fluidos entre os diferentes
corrobora com o diagnóstico de pneumotórax hipertensivo compartimentos do organismo, particularmente no
e exige a descompressão torácica imediata, sem esperar por compartimento extracelular. Lesões de partes moles,
uma confirmação radiológica. A descompressão por agulha mesmo que não apresentem hemorragia severa, podem
ou toracocentese resolve temporariamente essa condição resultar em transferências de fluidos ao compartimento
ameaçadora da vida. Na sequência, deve ser realizada a extracelular. A resposta à perda sanguínea deve ser
inserção de um dreno de tórax, utilizando técnica asséptica considerada no contexto dessas transferências de fluidos.
apropriada, (Ver Apêndice G: Estação Prática Ventilação e Devem ser consideradas, também, as alterações associadas
o vídeo de Drenagem Pleural no aplicativo móvel MyATLS.) ao estado de choque severo e prolongado, e aos resultados
fisiopatológicos inerentes à reanimação e à reperfusão.
Choque Neurogênico
Lesões intracranianas isoladas não causam choque, a menos Definição de hemorragia
que haja envolvimento do tronco cerebral. Então, a presença
de choque em um doente com trauma de crânio indica a A hemorragia é definida como uma perda aguda de
necessidade de buscar outra causa de choque. Lesões na medula volume sanguíneo. Embora exista uma considerável
espinhal cervical ou torácica alta podem produzir hipotensão variação individual, o volume sanguíneo de um adulto
através da perda do tônus simpático, o que agrava os efeitos da normal corresponde a aproximadamente 7% do seu
hipovolemia. Por outro lado, a hipovolemia também acentua o peso corporal. Por exemplo, um indivíduo de 70 kg tem
CHOQUE HEMORRÁGICO 49
aproximadamente 5 litros de volume sanguíneo circulante. •• A hemorragia classe III é um estado de hemorragia
complicado, no qual é necessária a reposição de
O volume sanguíneo nos adultos obesos é calculado de cristaloides e, possivelmente, de sangue.
acordo com o seu peso corporal ideal, pois, se considerado
•• A hemorragia classe IV é considerada um evento
o peso real, seu valor poderia ser superestimado de modo pré-terminal; a menos que medidas agressivas
significativo. Para crianças, o volume sanguíneo é calculado sejam adotadas, o doente entrará em óbito dentro
como de 8 a 9% do seu peso corporal (80 a 90 ml/kg). (Ver de poucos minutos. A transfusão sanguínea é
Capítulo 10: Trauma Pediátrico.) necessária.
Pressão de pulso ↔ ↓ ↓ ↓
Débito Urinário ↔ ↔ ↓ ↓↓
Escala de Coma de ↔ ↔ ↓ ↓
Glasgow
a
O excesso de bases é a quantidade de bases (HCO3 - em mEq/L) que está acima ou abaixo da taxa normal do organismo. Um valor negativo é
denominado de déficit de bases e indica acidose metabólica.
Informação de: Mutschler A, Nienaber U, Brockamp T, et al. A critical reappraisal of the ATLS classification of hypovolaemic shock: does it really
reflect clinical reality? Resuscitation 2013,84:309–313.
50 CAPÍTULO 3 n Choque
e cuidadosamente examinado “da cabeça aos pés” subclávia). (Ver Apêndice G: Estação Prática C: Circulação e
para a pesquisa de lesões associadas. Ao despir o doente, o vídeo Punção Intraóssea no aplicativo móvel MyATLS.) A
a prevenção da hipotermia é essencial, pois se trata de uma experiência e a prática do médico são fatores determinantes
condição que pode exacerbar a perda sanguínea através da para avaliar o procedimento ou a maneira mais apropriada
piora da coagulopatia e da acidose metabólica. Para prevenir de estabelecer os acessos venosos. O acesso intraósseo com
a hipotermia, sempre devem ser utilizados fluidos aquecidos, equipamento especialmente desenvolvido para esse fim é
bem como técnicas de reaquecimento externo passivo e ativo. factível em todas as faixas e grupos etários. Esse acesso pode
ser utilizado no hospital até que um acesso intravenoso
Dilatação Gástrica: Descompressão seja obtido, devendo ser descontinuado quando não mais
necessário.
A dilatação gástrica ocorre frequentemente no trauma, Assim que forem inseridos cateteres venosos, amostras
especialmente em crianças, e pode ser causa de hipotensão sanguíneas devem ser coletadas para tipagem sanguínea
inexplicada ou de arritmias cardíacas, comumente e provas cruzadas, para exames laboratoriais adequados,
bradicardia, em decorrência do estímulo vagal. Em doentes para estudos toxicológicos e para teste de gravidez em
inconscientes, a distensão gástrica aumenta o risco de todas as mulheres em idade fértil. Nesse momento,
broncoaspiração de conteúdo gástrico, uma complicação pode ser coletado sangue para gasometria arterial.
potencialmente fatal. Considere realizar a descompressão Uma radiografia de tórax deve ser obtida após tentativa
gástrica através da introdução de uma sonda naso ou de cateterismo venoso central em veias jugulares ou
orogástrica e da sua conexão a um equipamento de aspiração. subclávias, para documentar o posicionamento do cateter
Esteja atento que, apesar do posicionamento adequado da e avaliar a presença de complicações, como pneumotórax
sonda, esta não previne totalmente o risco de aspiração. ou hemotórax. Em situações de emergência, o acesso
venoso central pode não ser inserido em condições
Sondagem Vesical estritamente controladas e totalmente estéreis. Quando
isso ocorre, os acessos venosos devem ser substituídos
A sondagem vesical permite a avaliação da presença de tão logo as condições ambientais e do doente permitam.
hematúria, o que pode indicar o sistema genitourinário
como fonte de sangramento. A monitoração constante Reposição Volêmica Inicial
do débito urinário permite a avaliação contínua da
perfusão renal. A presença de sangue no meato uretral A quantidade de fluido que será necessária para a reanimação
ou de hematomas/lacerações perineais pode indicar uma volêmica do doente é difícil de ser estimada durante a
lesão de uretra, contraindicando a inserção de uma sonda avaliação inicial. Comece administrando um bolus inicial
transuretral antes da confirmação radiológica da integridade de solução isotônica aquecida. A dose habitual é de 1 litro para
da uretra. (Ver Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.) adultos e de 20mL/kg para crianças pesando menos de 40 kg.
O volume total de fluidos de reanimação deve ser baseado
Acesso vascular na resposta do doente à reposição, tendo em mente que a
quantidade de fluido inicial inclui o volume administrado
O acesso ao sistema vascular deve ser obtido rapidamente. durante o atendimento pré-hospitalar. Avalie a resposta
A melhor forma de fazê-lo é através da inserção de dois do doente à reposição volêmica e identifique evidências de
cateteres intravenosos periféricos (calibre mínimo de 18). perfusão de órgãos-alvo e de oxigenação tecidual adequadas.
A taxa de fluxo é proporcional à quarta potência do raio do Observe a resposta do doente durante a administração inicial
cateter e inversamente proporcional ao seu comprimento, de fluidos e tome como base essa resposta para as decisões
como descrito na Lei de Poiseuille. Portanto, cateteres diagnósticas e terapêuticas posteriores. A infusão contínua
intravenosos periféricos curtos e calibrosos são preferíveis de grandes volumes de fluidos e de sangue, na tentativa de
para a rápida infusão de fluidos, ao invés de cateteres longos atingir uma pressão arterial normal, não substitui o controle
e finos. Utilize fluidos aquecidos e bombas de infusão rápida definitivo da hemorragia.
na presença de hemorragias maciças e de hipotensão severa. n TABELA 3-2 resume os protocolos gerais para estabelecer
Os locais mais adequados para os acessos venosos a quantidade de fluidos e de sangue que são geralmente
periféricos no adulto são as veias do antebraço ou necessários durante a reanimação. Caso a quantidade
antecubitais. Isso pode ser desafiador em crianças, idosos, de fluidos necessária para restaurar ou manter a
obesos e em usuários de drogas injetáveis. Caso um acesso perfusão orgânica e a oxigenação tecidual adequadas
venoso periférico não possa ser obtido, considere a punção exceda consideravelmente essas estimativas, reavalie
e a introdução de um acesso intraósseo como medida cuidadosamente a situação e procure por lesões ainda não
temporária. Se as circunstâncias não permitirem o uso diagnosticadas ou outras causas de choque.
de veias periféricas, estará indicada a cateterização de um O objetivo da reanimação é restaurar a perfusão orgânica e a
acesso venoso central (exemplos: veia femoral, jugular ou oxigenação tecidual, o que é obtido através da administração
ABORDAGEM INICIAL DO CHOQUE HEMORRÁGICO 53
RESPOSTA MÍNIMA
RESPOSTA RÁPIDA RESPOSTA TRANSITÓRIA OU AUSENTE
Perda sanguínea estimada Mínima (<15 %) Moderada e persistente (15%–40%) Severe (>40%)
a
Solução cristaloide isotônica, até 1.000 ml em adultos; 20ml/kg em crianças.
de soluções de cristaloide e de hemoderivados para substituir Os mesmos sinais e sintomas de perfusão inadequada
o volume intravascular perdido. Entretanto, se a pressão utilizados para o diagnóstico do choque são úteis para avaliar a
arterial do doente aumentar rapidamente antes que a resposta do doente ao tratamento. A normalização da pressão
hemorragia tenha sido definitivamente controlada, pode arterial, da pressão de pulso e da frequência cardíaca são sinais
ocorrer mais sangramento. Por essa razão, a administração de que a perfusão também esteja retornando ao normal,
excessiva de solução cristaloide pode ser prejudicial. entretanto, essas observações não fornecem informações
A reposição volêmica e a prevenção da hipotensão são a respeito da perfusão orgânica e da oxigenação tecidual. A
princípios importantes no manejo inicial dos doentes com melhora do estado do volume intravascular é uma evidência
traumatismos contusos, particularmente nos doentes importante de aumento da perfusão, mas se torna difícil de
com traumatismo craniano associado. No traumatismo quantificar. Já o volume do débito urinário é um indicador
penetrante com hemorragia, retardar a reposição agressiva bastante sensível da perfusão renal; diurese normal, desde
de fluidos, até que o controle definitivo da hemorragia tenha que não influenciada pela administração de diuréticos, lesões
sido alcançado, pode prevenir a ocorrência de sangramento renais ou acentuada hiperglicemia, implica, geralmente, em
adicional; faz-se necessária uma abordagem cuidadosa e fluxo sanguíneo renal satisfatório. Por essa razão, o débito
balanceada através de reavaliações frequentes. A estratégia urinário é um dos principais indicadores para a monitoração da
de realizar o balanço do objetivo da perfusão orgânica e da reanimação e para avaliar a resposta do doente ao tratamento.
54 CAPÍTULO 3 n Choque
Dentro de certos limites, o débito urinário pode ser teciduais inadequadas. Quando isso ocorre, a velocidade
utilizado para monitorar o fluxo sanguíneo renal. A de infusão pode ser reduzida para taxas de manutenção.
reposição adequada de volume deve restabelecer um valor Usualmente esses doentes apresentam uma perda menor
de débito urinário de aproximadamente 0,5 mL/kg/h do que 15% do seu volume sanguíneo (hemorragia classe
no adulto, enquanto que, para os doentes pediátricos, I). Neste caso, não está indicada a reposição adicional de
é adequado um débito urinário aproximado de 1 mL/ fluidos em bolus ou de transfusão sanguínea. Apesar disso,
kg/h. Para crianças abaixo de 1 ano de idade, devem ser sangue devidamente tipado e com provas cruzadas deve ser
mantidos 2 ml/kg/h. A incapacidade de manter o débito mantido disponível. Durante a avaliação e o tratamento
urinário nesses níveis ou o decréscimo do débito urinário iniciais dos respondedores rápidos, são indispensáveis a
com aumento de densidade sugerem uma reanimação presença e a avaliação por um cirurgião, visto que uma
inadequada. A presença dessa situação deve estimular o intervenção cirúrgica pode ainda se tornar necessária.
médico a aumentar a reposição volêmica e a continuar a
investigação da causa do choque. Resposta Transitória
Os doentes em choque hipovolêmico inicial têm alcalose
respiratória devido à taquipneia, seguida frequentemente Os doentes do segundo grupo, os “respondedores
por acidose metabólica leve, não requerendo tratamento. transitórios”, respondem à reposição volêmica em bolus
Entretanto, a acidose metabólica grave pode surgir quando inicial. Entretanto, eles começam a demonstrar sinais
o choque é severo ou prolongado. A acidose metabólica de deterioração dos índices de perfusão assim que a
decorre do metabolismo anaeróbio devido à perfusão administração de fluidos inicial é reduzida para taxas
tecidual inadequada e à produção de ácido láctico. Sua de manutenção, o que pode indicar reposição volêmica
persistência reflete, habitualmente, uma reanimação inadequada ou a presença de sangramento ativo persistente.
inadequada ou a presença de sangramento ativo. Em doentes A maior parte desses doentes apresenta uma perda sanguínea
em estado de choque, a acidose metabólica é tratada através inicial estimada entre 15% a 40% do seu volume sanguíneo
da reposição de fluidos e sangue, e de intervenções para (hemorragias classes II ou III). A transfusão de sangue e de
controlar a hemorragia. Os valores do lactato e/ou do déficit hemoderivados está indicada, porém o mais importante é
de bases podem ser úteis para determinar a presença e a identificar e reconhecer que esses doentes necessitam de
severidade do choque; a análise seriada desses parâmetros controle cirúrgico ou angiográfico da hemorragia. Uma
pode ser utilizada na avaliação da resposta ao tratamento. O resposta transitória à administração de sangue identifica os
bicarbonato de sódio não deve ser utilizado para o tratamento doentes que persistem com sangramento ativo e que exigem
da acidose metabólica decorrente de choque hipovolêmico. rápida intervenção cirúrgica. Considere também dar início
ao protocolo de transfusão maciça (PTM).
Padrões de resposta do doente
Resposta Mínima ou Ausente
A resposta do doente à reposição inicial de fluidos é a
chave para a determinação do tratamento subsequente. A falta de resposta à administração de cristaloide e de sangue
Estando estabelecidos um diagnóstico preliminar e um na sala de emergência indica a necessidade de intervenção
planejamento terapêutico baseados na avaliação inicial, definitiva imediata (exemplo: cirurgia ou angioembolização)
o médico pode modificar o plano de tratamento de para controlar uma hemorragia exsanguinante. Em casos
acordo com a resposta de cada doente. A observação da muito raros, uma resposta inadequada pode ser devida à
resposta do doente à reanimação inicial pode identificar insuficiência da bomba, resultante de traumatismo cardíaco
os doentes cuja perda sanguínea tenha sido maior do que a fechado, de tamponamento cardíaco ou de pneumotórax
estimada e aqueles com sangramento ativo persistente que hipertensivo. O choque não hemorrágico deve ser sempre
necessitarão de controle cirúrgico de hemorragia interna. considerado no diagnóstico diferencial nesse grupo de
Os padrões de resposta à reposição volêmica inicial podem doentes (hemorragia classe IV). Técnicas de monitoração
ser divididos em três categorias: resposta rápida, resposta avançada, como a ultrassonografia miocárdica são úteis na
transitória e resposta mínima ou ausente. Os sinais vitais e os identificação da causa do choque. O protocolo de transfusão
protocolos de abordagem para os doentes em cada uma das maciça deve ser iniciado nestes doentes (n FIGURA 3-4).
categorias foram destacados previamente (ver Tabela 3-2).
REP OSIÇÃO DE SANGUE
Resposta Rápida
Os doentes deste grupo, denominados “respondedores A decisão de iniciar a transfusão sanguínea baseia-se na
rápidos”, respondem rapidamente à reposição volêmica resposta do doente, como descrito na seção anterior. Os
inicial e se tornam hemodinamicamente normais, não doentes respondedores transitórios ou não-respondedores
apresentando mais sinais de perfusão e oxigenação necessitam de transfusão precoce de concentrado de
REPOSIÇÃO DE SANGUE 55
Autotransfusão
Dispositivos ajustáveis aos tubos de drenagem de tórax que
permitem a coleta estéril, a anticoagulação (geralmente
com solução de citrato de sódio e não de heparina) e a
retransfusão do sangue drenado, são comercialmente
disponíveis. A coleta do sangue para autotransfusão deve
ser considerada nos doentes que apresentarem hemotórax
maciço. Esse sangue normalmente possui pequenos níveis
de fatores de coagulação, o que faz com que a transfusão de
plasma e de plaquetas ainda possa ser necessária.
n FIGURA 3-4 Transfusão maciça de hemoderivados em um
doente traumatizado.
transfusão maciça
hemácias, plasma e plaquetas durante a reanimação Um pequeno grupo de doentes em choque necessitará de
inicial. transfusão maciça, mais frequentemente definida como
a transfusão de mais de 10 unidades de concentrado de
SANGUE COM PROVAS CRUZADAS, TIPO hemácias dentro das primeiras 24 horas da admissão
ESPECÍFICO E TIPO O hospitalar, ou mais de 4 unidades dentro da primeira hora.
A administração precoce de concentrado de hemácias,
O objetivo principal da transfusão sanguínea é restabelecer a de plasma e de plaquetas, em uma proporção balanceada
capacidade de transporte de oxigênio do volume intravascular. para evitar a administração excessiva de cristaloides,
Para esse propósito, o sangue com todas as provas cruzadas é pode aumentar a taxa de sobrevivência dos doentes.
preferível, porém esse processo de cruzamento completo exige Essa abordagem tem sido denominada de reanimação
aproximadamente 1 hora na maioria dos bancos de sangue. “balanceada”, “hemostática” ou “de controle de danos”.
Para os doentes que estabilizam rapidamente, deve ser obtido Os esforços simultâneos para rapidamente controlar
e estar disponível sangue com todas as provas cruzadas para o sangramento e minimizar os efeitos deletérios da
transfusão, quando houver indicação. coagulopatia, da hipotermia e da acidose nesses doentes
Caso o sangue com todas as provas cruzadas não esteja são extremamente importantes. Um PTM que inclua
disponível, sangue tipo O é indicado para os doentes com a disponibilidade imediata de sangue e de todos os
hemorragias exsanguinantes. Plasma tipo AB é utilizado hemoderivados deve estar estabelecido, para proporcionar
quando plasma sem provas cruzadas for necessário. Para uma reanimação adequada para esses doentes, pois vastos
evitar sensibilização e complicações futuras, sangue tipo O recursos são necessários para disponibilizar essas volumosas
negativo é preferível para mulheres em idade fértil. Assim quantidades de sangue. A administração apropriada de
que disponível, o uso de sangue tipo específico sem provas hemoderivados tem demonstrado melhorar o desfecho
cruzadas é preferível ao uso de sangue tipo O. Uma exceção nesse grupo de doentes. Pode ser um desafio identificar
a essa regra ocorre quando várias vítimas não identificadas o pequeno grupo de doentes que irá se beneficiar desta
são atendidas simultaneamente, o que implica em grande estratégia, portanto, vários escores têm sido desenvolvidos
risco de troca inadvertida de bolsas de sangue. para auxiliar o médico na decisão de dar início ao PTM,
apesar de nenhum deles ainda ter demonstrado completa
prevenção da hipotermia acurácia. (Ver Escores de Trauma: Revisado e Pediátrico e
Protocolos de Transfusão Maciça no Trauma do ACS TQIP.)
A hipotermia deve ser evitada e revertida quando o doente
apresenta-se hipotérmico à admissão hospitalar. O uso de Coagulopatia
aquecedores de sangue é importante, apesar da sua dificuldade.
A maneira mais eficiente de prevenir a hipotermia em qualquer Traumatismos e hemorragias severas consomem os
doente que receba reposição maciça de cristaloides e de sangue fatores de coagulação e podem levar precocemente à
é o aquecimento dos cristaloides a 39 ºC (102,2 ºF) antes da sua coagulopatia. Essa forma de coagulopatia está presente em
infusão. Isso pode ser conseguido através do armazenamento até 30% dos doentes traumatizados graves à admissão, na
dos cristaloides em estufas aquecidas ou através da infusão ausência de uso prévio de medicamentos anticoagulantes.
utilizando aquecedores de fluidos intravenosos. Sangue e A reposição maciça de fluidos com a resultante diluição de
hemoderivados não podem ser armazenados em estufas plaquetas e de fatores de coagulação, bem como os efeitos
56 CAPÍTULO 3 n Choque
dos receptores às catecolaminas, ao invés da redução da o débito cardíaco pode aumentar até 6 vezes, o
produção destas. A complacência cardíaca diminui com volume de ejeção sistólica pode aumentar em 50% e
a idade e, ao contrário dos doentes mais jovens, os idosos a frequência cardíaca em estado de repouso permanece,
são incapazes de aumentar a frequência cardíaca ou a em média, em torno de 50 bpm. Atletas altamente
eficiência da contração miocárdica quando submetidos treinados possuem uma habilidade extraordinária
a uma perda de volume sanguíneo. para compensar perdas sanguíneas e podem não
A doença vascular aterosclerótica oclusiva faz com manifestar as respostas habituais à hipovolemia,
que muitos órgãos vitais se tornem extremamente mesmo apresentando perdas significativas de sangue.
sensíveis a reduções, mesmo insignificantes, do fluxo
sanguíneo. Muitos doentes idosos apresentam uma gestação
depleção de volume pré-existente, devido ao uso crônico
de diuréticos ou a um estado subclínico de desnutrição. Tendo em vista a hipervolemia fisiológica da gestação,
Por estes motivos, o doente idoso tolera mal a hipotensão torna-se necessária uma perda sanguínea maior para que
secundária à perda sanguínea. Por exemplo, uma pressão se manifestem anormalidades de perfusão na mãe, as quais
arterial sistólica de 100 mmHg pode representar um estado também podem se refletir na redução da perfusão fetal. (Ver
de choque em um doente idoso. O uso de bloqueadores Capítulo 12: Trauma na Gestante e Violência Interconjugal.)
beta-adrenérgicos pode mascarar a taquicardia como
indicador precoce do choque. Outros medicamentos Medicamentos
podem comprometer a resposta sistêmica ao trauma,
quando não a bloqueiam completamente. Tendo em vista Medicamentos específicos podem afetar a resposta
a estreita faixa terapêutica para a reposição volêmica no do doente ao choque. Por exemplo, os bloqueadores
idoso, é prudente considerar precocemente a conveniência dos receptores beta-adrenérgicos e os bloqueadores
de uma monitoração invasiva com o intuito de evitar uma dos canais de cálcio podem alterar significativamente
reposição excessiva ou insuficiente de volume. a resposta hemodinâmica do doente à hemorragia. A
A redução da complacência pulmonar, a diminuição da superdosagem de insulina pode ser responsável por uma
capacidade de difusão e a fraqueza geral da musculatura hipoglicemia e pode ter contribuído para os eventos que
respiratória limitam a resposta do doente idoso ao resultaram no traumatismo. O uso crônico de diuréticos
aumento da demanda de trocas gasosas imposta pelo pode explicar uma hipocalemia inesperada e os agentes
traumatismo. Tal fato compromete a hipóxia celular já anti-inflamatórios não-hormonais podem prejudicar a
prejudicada pela redução do aporte local de oxigênio. agregação plaquetária e aumentar o sangramento.
O envelhecimento glomerular e tubular dos rins reduz
a capacidade do idoso de preservar o volume como Hipotermia
resposta à liberação de hormônios de fase aguda, tais
como a aldosterona, as catecolaminas, a vasopressina e o Os doentes que apresentam hipotermia e choque
cortisol. Os rins são também mais susceptíveis aos efeitos hemorrágico não respondem como o esperado à
do hipofluxo; e a ação de agentes nefrotóxicos, tais como administração de sangue e hemoderivados e à reposição
determinados medicamentos, contrastes radiológicos e de fluidos. Na hipotermia, a coagulopatia pode aparecer
produtos tóxicos da destruição celular, pode prejudicar ou piorar. A temperatura corporal é um sinal vital
ainda mais a função renal. importante a ser monitorado durante a reanimação inicial.
Por todas essas razões, as taxas de mortalidade e de A temperatura esofágica ou vesical é uma medida clínica
morbidade aumentam diretamente com a idade. Apesar acurada da temperatura central. Um doente vítima de
dos efeitos adversos do processo de envelhecimento, as trauma, sob influência de álcool e exposto a temperaturas
comorbidades decorrentes de doenças pré-existentes, baixas, é mais susceptível a apresentar hipotermia em
e a redução geral da “reserva fisiológica” dos doentes resposta à vasodilatação. O rápido reaquecimento em
geriátricos, a maioria desses doentes podem se recuperar ambiente dotado de dispositivos de aquecimento externo
e retornar ao seu estado pré-trauma. O tratamento deve apropriados – lâmpadas de aquecimento; cobertores
começar com uma reanimação precoce e agressiva, bem térmicos; aquecimento de gases respiratórios, de
como com uma monitoração cuidadosa. (Ver Capítulo líquidos intravenosos e de sangue – geralmente corrige
11: Trauma Geriátrico.) a hipotensão e a hipotermia leve a moderada. Técnicas de
reaquecimento central incluem a irrigação das cavidades
Atletas peritoneal ou torácica com soluções de cristaloides a
39 ºC (102,2 ºF); para hipotermia severa, a circulação
As rotinas de treinamento atlético rigoroso alteram extracorpórea está indicada. O melhor tratamento para a
a dinâmica cardiovascular nesse grupo de doentes. hipotermia é a sua prevenção. (Ver Apêndice B: Hipotermia
O volume sanguíneo pode aumentar de 15 a 20%, e Lesões Provocadas pelo Calor.)
58 CAPÍTULO 3 n Choque
5. O manejo do choque hemorrágico inclui uma patients with penetrating torso injuries. N Engl
hemostasia rápida e uma reanimação balanceada J Med 1994;331(17):1105–1109.
com cristaloides e sangue. 6. Brohi K, Cohen MJ, Ganter MT, et al. Acute
coagulopathy of trauma: hypoperfusion induces
6. As classes de hemorragia e as respostas às systemic anticoagulation and hyperfibrinolysis.
intervenções servem para guiar a reanimação. J Trauma 2008;64(5):1211–1217.
7. Bruns B, Lindsey M, Rowe K, et al. Hemoglobin
7. Considerações especiais no diagnóstico e no drops within minutes of injuries and predicts
tratamento do choque incluem diferenças nas need for an intervention to stop hemorrhage. J
respostas ao choque nos extremos de idade, em Trauma 2007Aug;63(2):312–315.
atletas, na gestação, na hipotermia e na presença 8. Bunn F, Roberts I, Tasker R, et al. Hypertonic
de algumas medicações ou de marcapasso/CDI. versus near isotonic crystalloid for fluid
Evite a armadilha de equiparar a pressão arterial resuscitation in critically ill patients. Cochrane
ao débito cardíaco. Database Syst Rev 2004;3:CD002045.
9. Burris D, Rhee P, Kaufmann C, et al. Controlled
resuscitation for uncontrolled hemorrhagic
r ecursos a dic ion a is shock. J Trauma 1999;46(2):216–223.
10. Carrico CJ, Canizaro PC, Shires GT. Fluid
The STOP the Bleeding Campaign resuscitation following injury: rationale for
Rossaint et al. Critical Care 2013;17(2):136 the use of balanced salt solutions. Crit Care Med
http://ccforum.com/content/17/2/136 1976;4(2):46–54.
11. Chernow B, Rainey TG, Lake CR. Endogenous
ACS TQIP Massive Transfusion in Trauma Guidelines and exogenous catecholamines in critical care
https://www.facs.org/~/media/files/quality%20 medicine. Crit Care Med 1982;10:409.
programs/trauma/tqip/massive%20transfusion%20 12. Cogbill TH, Blintz M, Johnson JA, et al. Acute
in%20trauma%20guildelines.ashx gastric dilatation after trauma. J Trauma
1987;27(10):1113–1117.
Management of Bleeding and Coagulopathy Follow- 13. Cook RE, Keating JF, Gillespie I. The role of
ing Major Trauma: An Updated European Guideline angiography in the management of haemorrhage
Spahn et al. Critical Care 2013;17(2):R76 from major fractures of the pelvis. J Bone Joint
http://ccforum.com/content/17/2/R76 Surg Br 2002;84(2):178–182.
14. Cooper DJ, Walley KR, Wiggs BR, et al. Bicarbonate
does not improve hemodynamics in critically ill
Bibliografia patients who have lactic acidosis. Ann Intern Med
1990;112:492.
15. Cotton BA, Au BK, Nunez TC, et al. Predefined
1. Abou-Khalil B, Scalea TM, Trooskin SZ, et al. massive transfusion protocols are associated
Hemodynamic responses to shock in young with a reduction in organ failure and postinjury
trauma patients: need for invasive monitoring. complications. J Trauma 2009;66:41–49.
Crit Care Med 1994;22(4):633–639. 16. Cotton BA, Dossett LA, Au BK, et al. Room for
2. Alam HB, Rhee P. New developments in fluid (performance) improvement: provider-related
resuscitation. Surg Clin North Am 2007;87(1): factors associated with poor outcomes in massive
55–72. transfusion. J Trauma 2009;67(5):1004–1012.
3. Asensio JA, Murray J, Demetriades D, et al. 17. Davis JW, Kaups KL, Parks SN. Base deficit
Penetrating cardiac injuries: a prospective study is superior to pH in evaluating clearance of
of variables predicting outcomes. J Am Coll Surg acidosis after traumatic shock. J Trauma 1998
1998;186(1):24–34. Jan;44(1):114–118.
4. Baumann Kreuziger LM, Keenan JC, Morton CT, et 18. Davis JW, Parks SN, Kaups KL, et al. Admission
al. Management of the bleeding patient receiving base deficit predicts transfusion requirements
new oral anticoagulants: a role for prothrombin and risk of complications. J Trauma 1997Mar;
complex concentrates. Biomed Res Int 2014; 42(3):571–573.
2014:583794. 19. Dent D, Alsabrook G, Erickson BA, et al. Blunt
5. Bickell WH, Wall MJ, Pepe PE, et al. Immediate splenic injuries: high nonoperative management
versus delayed fluid resuscitation for hypotensive rate can be achieved with selective embolization.
J Trauma 2004;56(5):1063–1067.
60 CAPÍTULO 3 n Choque
20. Dutton RP, Mackenzie CF, Scalea TM. Hypotensive predictor of survival. J Trauma 1987;Sep
resuscitation during active hemorrhage: 1;27(9):1019–1024.
impact on in-hospital mortality. J Trauma 35. Kaplan LJ, Kellum JA. Initial pH, base deficit,
2002;52(6):1141–1146. lactate, anion gap, strong ion difference, and strong
21. Eastridge BJ, Salinas J, McManus JG, et ion gap predict outcome from major vascular
al. Hypotension begins at 110 mm Hg: injury. Crit Care Med 2004;32(5):1120–1124.
redefining “hypo-tension” with data. J Trauma 36. Karmy-Jones R, Nathens A, Jurkovich GJ, et al.
2007Aug;63(2):291–299. Urgent and emergent thoracotomy for penetrating
22. Fangio P, Asehnoune K, Edouard A, et al. Early chest trauma. J Trauma 2004;56(3):664–668;
embolization and vasopressor administration discussion 668–669.
for management of life-threatening hemorrhage 37. Knudson MM, Maull KI. Nonoperative manage-
from pelvic fracture. J Trauma 2005;58(5):978– ment of solid organ injuries: past, present, and
984; discussion 984. future. Surg Clin North Am 1999;79(6):1357–1371.
23. Ferrara A, MacArthur JD, Wright HK, et al. 38. Kragh JF Jr, Walters TJ, Baer DG, et al. Survival
Hypothermia and acidosis worsen coagulopathy with emergency tourniquet use to stop bleeding
in patients requiring massive transfusion. Am J in major limb trauma. Ann Surg 2009Jan;249
Surg 1990;160(5):515. (1):1–7.
24. Glover JL, Broadie TA. Intraoperative auto- 39. Kruse JA, Vyskocil JJ, Haupt MT. Intraosseous: a
transfusion. World J Surg 1987;11(1):60–64. flexible option for the adult or child with delayed,
25. Granger DN. Role of xanthine oxidase and difficult, or impossible conventional vascular
granulocytes in ischemia-reperfusion injury. access. Crit Care Med 2015Jun;22(50):728–729.
Heart Circ Physiol 1988;255(6):H1269–H1275. 40. Lai A, Davidson N, Galloway SW, et al. Perio-
26. Greaves I, Porter KM, Revell MP. Fluid perative management of patients on new
resuscitation in pre-hospital trauma care: a con- oral anticoagulants. Br J Surg 2014Jun;101 (7):
sensus view. J R Coll Surg Edinb 2002;47(2): 742–749.
451–457. 41. Lee PM, Lee C, Rattner P, et al. Intraosseous versus
27. Hak DJ. The role of pelvic angiography in central venous catheter utilization and perfor-
evaluation and management of pelvic trauma. mance during inpatient medical emergencies.
Orthop Clin North Am 2004;35(4):439–443, v. Crit Care Med 2015Jun;43(6):1233–1238.
28. Hampton DA, Fabricant LJ, Differding J, et al. 42. Lewis P, Wright C. Saving the critically injured
Prehospital intravenous fluid is associated with trauma patient: a retrospective analysis of
increased survival in trauma patients. J Trauma 1000 uses of intraosseous access. Emerg Med J
2013;75(1):S9. 2015Jun;32(6):463–467.
29. Harrigan C, Lucas CE, Ledgerwood AM, et al. Serial 43. Lucas CE, Ledgerwood AM. Cardiovascular and
changes in primary hemostasis after massive renal response to hemorrhagic and septic shock.
transfusion. Surgery 1985;98(4):836–844. In: Clowes GHA Jr, ed. Trauma, Sepsis and Shock:
30. Hoffman M, Monroe DM. Reversing targeted The Physiological Basis of Therapy. New York, NY:
oral anticoagulants. ASH Education Book Marcel Dekker; 1988:187–215.
2014;1:518–523. 44. Mandal AK, Sanusi M. Penetrating chest
31. Holcomb JB, del Junco DJ, Fox EE, et al. The wounds: 24 years’ experience. World J Surg
prospective, observational, multicenter, 2001;25(9):1145–1149.
major trauma transfusion (PROMMTT) study: 45. Martin MJ, Fitz Sullivan E, Salim A, et al.
comparative effectiveness of a time-varying Discordance between lactate and base deficit in
treatment with competing risks. JAMA Surg the surgical intensive care unit: which one do you
2013;148(2):127–136. trust? Am J Surg 2006;191(5):625–630.
32. Holcomb JB, Wade CE, Michalek JE, et al. 46. McManus J, Yershov AL, Ludwig D, et al. Radial
Increased plasma and platelet to red blood pulse character relationships to systolic blood
cell ratios improves outcome in 466 massively pressure and trauma outcomes. Prehosp Emerg
transfused civilian trauma patients. Ann Surg Care 2005;9(4):423–428.
2008Sep;248(3):447–458. 47. Mizushima Y, Tohira H, Mizobata Y, et al. Fluid
33. Hoyt DB. Fluid resuscitation: the target from an resuscitation of trauma patients: how fast is
analysis of trauma systems and patient survival. the optimal rate? Am J Emerg Med 2005;23(7):
J Trauma 2003;54(5):S31–S35. 833–837.
34. Jurkovich GJ, Greiser WB, Luterman A, et al. 48. Novak L, Shackford SR, Bourguignon P, et
Hypothermia in trauma victims: an ominous al. Comparison of standard and alternative
BIBLIOGRAFIA 61
IntroduÇÃO
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
• Lesões Torácicas Potencialmente Letais
• Outras Manifestações de Lesões Torácicas
Trabalho em equipe
resumo do capítulo
Bibliografia
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de potencialmente fatais durante a avaliação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: secundária: pneumotórax simples, hemotórax,
tórax instável, contusão pulmonar, lesão cardíaca
1. Identificar e descrever o tratamento das contusa, ruptura aórtica traumática, lesão
lesões que ameaçam a vida durante a avaliação traumática do diafragma e ruptura esofágica contusa
primária: obstrução da via aérea, lesão da árvore (trauma fechado).
traqueobrônquica, pneumotórax hipertensivo,
pneumotórax aberto, hemotórax maciço e 3. Descrever a importância e tratamento do enfisema
tamponamento cardíaco. subcutâneo, lesões torácicas por esmagamento e
fraturas do esterno, costelas e clavículas.
2. Identificar e descrever o tratamento das lesões
63
64 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
O
trauma torácico é muito frequente e representa Obstrução da Via Aérea
uma importante causa de morte, mesmo em
doentes atendidos nas salas de emergências A obstrução da via aérea pode resultar do edema,
em ambiente hospitalar. No entanto, muitas dessas sangramento ou vômito que é aspirado para a via aérea,
mortes poderiam ser evitadas, desde que o diagnóstico interferindo na troca gasosa. Vários mecanismos de trauma
das causas que ameaçam a vida do doente fossem podem produzir essas alterações. A lesão laríngea pode
identificadas e tratadas durante o atendimento primário. estar associada a grave trauma torácico, ou consequência
Menos de 10% deas lesões torácicas contusas e apenas de trauma direto do pescoço ou por compresssão da cabeça
15% a 30% das lesões torácicas penetrantes requerem clavicular. O deslocamento posterior da cabeça clavicular
intervenção cirúrgica. A maioria dos doentes que sofrem ocasionalmente leva à obstrução da via aérea. Já no trauma
trauma torácico pode ser tratada por procedimentos penetrante que compromete o pescoço ou o tórax as lesões
técnicos simples, treinados e capacitados durante o curso e as hemorragias podem produzir obstrução. Embora a
do ATLS. Muitos dos princípios descritos neste capítulo apresentação clínica seja ocasionalmente sutil, a obstrução
também se aplicam a lesões torácicas iatrogênicas, como aguda da via aérea pelo traumatismo laríngeo é uma lesão
hemotórax ou pneumotórax pós-punção, para acesso potencialmente fatal (ver Capítulo 2: Tratamento de Via
central e lesão esofágica durante a endoscopia. aérea e Ventilação.)
As consequências fisiológicas do trauma torácico são Durante a avaliação primária, procure evidências de
hipoxia, hipercarbia e acidose. Contusão, hematoma falta de ar, como retrações da musculatura intercostal
e colapso alveolar, bem como, alterações nas relações e supraclavicular. Inspecione a orofaringe quanto a
de pressão intratorácica (por exemplo, pneumotórax obstrução por corpo estranho. Ouça o movimento do ar no
hipertensivo e pneumotórax aberto) causam hipoxia nariz, boca e ausculte os campos pulmonares do doente.
e conduzem a acidose metabólica. A hipercarbia causa Ouça o estridor que evidencia uma obstrução parcial das
acidose respiratória e, na maioria das vezes, também vias aéreas superiores ou perceba mudança marcante
ventilação inadequada decorrente de alterações nas na qualidade da voz esperada. Sinta se há crepitação à
relações de pressão intratorácica e rebaixamento do palpação da parede anterior do pescoço.
nível de consciência. Os doentes com sinais de obstrução da via aérea podem
A avaliação inicial e o tratamento de doentes com ser tratados inicialmente com a aspiração de sangue ou
trauma torácico consistem na avaliação primária com vômitos da via aérea. Esta manobra, frequentemente
ressuscitação das funções vitais, avaliação secundária é temporária, sendo necessário obter uma via aérea
detalhada e cuidados definitivos. Como a hipoxia é a definitiva. Palpe à procura de deformidades na região
consequência mais grave de lesão no tórax, o objetivo da articulação esternoclavicular, reduza uma luxação
da intervenção precoce é prevenir e corrigí-la. posterior da cabeça clavícular, estenda os ombros do
Lesões que ameaçam imediatamente a vida devem ser doente para reduzir uma fratura de clavícula, pince a
tratadas de forma rápida e simples. A maioria das lesões clavícula com uma pinça de Backhaus, com o objetivo de
torácicas com risco de vida pode ser tratada com controle aliviar a obstrução por compressão externa. A redução
da via aérea, descompressão do tórax com uma agulha, normalmente permanece estável quando o doente é
descompressão digital e drenagem em selo d´água com colocado na posição supina.
dreno tubular. A avaliação secundária deve levar em
conta o histórico do trauma e manter alto índice de Lesão de Árvore Traqueobrônquica
suspeita, para lesões específicas.
A lesão da traqueia ou de um grande brônquio é uma
AVA LI AÇ ÃO PR IM Á R I A: condição incomum, mas potencialmente fatal. A maioria
das lesões da árvore traqueobrônquica ocorre no limite
LE SÕE S COM R IS CO DE V IDA de 1 polegada (2,54 cm) da carina. Essas lesões podem ser
graves e a maioria dos doentes morre no local. Aqueles
Na avaliação primária do doente com lesões torácicas, que chegam vivos ao hospital têm alta taxa de mortalidade
abordamos inicialmente a via aérea seguida pela consequente às lesões associadas, abordagem de via
ventilação e circulação. Os problemas críticos devem aérea inadequada, ou desenvolvimento de pneumotórax
ser corrigidos à medida que são identificados. hipertensivo ou pneumopericárdio hipertensivo.
As desacelerações abruptas, seguidas de trauma
problemas de via aérea contuso, podem produzir ferimentos na intersecção de um
ponto fixo com um segmento móvel da árvore brônquica.
É fundamental reconhecer e tratar as lesões graves de As explosões geralmente produzem ferimentos graves
vias aéres que põem em risco a vida do doente, durante nas interfaces ar-fluido. Trauma penetrante produz
avaliação primária. ferimentos por laceração direta ou pela energia cinética
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 65
com o efeito de cavitação. A intubação pode provocar ou doente enquanto o colar for retirado. Olhe, observe os
piorar uma lesão da traqueia ou dos brônquios proximais. movimentos respiratórios, veja se estão simétricos. Avalie
Os doentes geralmente apresentam hemoptise, enfisema se a ventilação está adequada. Escute o tórax avaliando os
subcutâneo cervical, pneumotórax hipertensivo e/ou sons pulmonares e identifique ruídos adventícios que possam
cianose. A expansão incompleta do pulmão e uma fístula indicar hemorragia e contusão pulmonar. Palpe para localizar
aérea de alto débito após a drenagem torácica sugerem uma segmentos dolorosos, crepitações ou deformidades.
lesão traqueobrônquica, podendo ser necessário a colocação O aumento na frequência respiratória e a mudança no
de mais de um tubo torácico, para superar este vazamento de padrão dos movimentos da caixa torácica, especialmente
ar significativo. (Ver animação do Tubo Torácico no aplicativo a ocorrência de movimentos respiratórios cada vez mais
móvel MyATLS.) A broncoscopia confirma o diagnóstico. superficiais, constituem-se em evidências, às vezes sutis,
Se houver suspeita de lesão traqueobrônquica, solicite mas indicativos de lesões torácicas ou de hipóxia. A cianose
rapidamente a avaliação de um cirurgião. é um sinal tardio de insuficiência respiratória no doente
O tratamento imediato pode exigir a colocação de traumatizado. A ausência de cianose, entretanto, não implica
uma via aérea definitiva. A intubação de doentes com necessariamente em oxigenação tecidual adequada ou em
lesões traqueobrônquicas é frequentemente difícil, via aérea pérvia. As principais lesões torácicas que afetam
devido à distorção anatômica provocada pelo hematoma a ventilação e que devem ser reconhecidas e abordadas na
paratraqueal, lesões orofaríngeas associadas e/ou a avaliação primária incluem o pneumotórax hipertensivo,
própria lesão traqueobrônquica. Poderão ser necessárias pneumotórax aberto (ferida torácica aspirativa) e hemotórax
manobras avançadas da via aérea, como a colocação de maciço. É imperativo que os médicos reconheçam e tratem
tubo endotraqueal com suporte de fibra óptica após o local essas lesões durante a avaliação primária.
da lesão, ou intubação seletiva do brônquio não afetado.
Nestes doentes, está indicada a abordagem cirúrgica Pneumotórax Hipertensivo
imediata. Em doentes mais estáveis, o tratamento cirúrgico
das lesões traqueobrônquicas pode ser retardado até que O pneumotórax hipertensivo ocorre quando há a formação
a inflamação aguda e o edema regridam. de um mecanismo “valvulado unidirecional” de escape
de ar do pulmão para o espaço pleural (n FIGURA 4-1).O ar
problemas respiratórios entra para a cavidade pleural sem possibilidade de sair,
colapsando completamente o pulmão. O mediastino
O tórax e o pescoço do doente devem ser expostos é deslocado para o lado oposto, diminuindo o retorno
completamente para que se possa avaliar a ventilação venoso e comprimindo o pulmão contralateral. O choque
e os vasos do pescoço. Esta avaliação requer a abertura decorrente desta situação é consequente à acentuada
temporária do colar cervical, neste caso, a imobilização diminuição do retorno venoso determinando uma queda
da coluna cervical dever mantida segurando a cabeça do do débito cardíaco, e é denominado de choque obstrutivo.
Pulmão colabado
Pneumotórax
Veia Coração
cava
66 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
Pulmão colabado
Pneumotórax
Ferida torácica
aspirativa n FIGURA 4-3 Pneumotórax Aberto.
Grandes ferimentos na parede torácica que
mantêm-se abertos, podem resultar em
pneumotórax aberto, ou ferimento torácico
aspirativo.
Ar
impedindo a oxigenação e a ventilação adequadas. de pulso. Os doentes com trauma fechado de tórax estão
Procede-se com uma drenagem do tórax para melhorar em risco de disfunção miocárdica, o que é aumentado
a ventilação e oxigenação e solicita-se uma consulta pela presença de hipoxia e acidose. As disritmias devem
rapidamente com um cirurgião, prosseguindo-se uma ser tratadas de acordo com os protocolos padrão.
reanimação apropriada. Um acúmulo agudo e maciço
de sangue causa hipotensão e choque que será discutido Hemotórax Maciço
adiante neste capítulo.
n TABELA 4-1 mostra as diferentes apresentações do O hemotórax maciço resulta de um rápido acúmulo de
hemotórax hipertensivo e hemotórax maciço. mais de 1.500 ml de sangue, ou um terço ou mais do
volume sanguíneo do doente, na cavidade torácica (n
problemas de circulação FIGURA 4-5). É causado, mais comumente, por ferimentos
penetrantes que comprometem os vasos sistêmicos
As principais lesões torácicas que comprometem a ou hilares. Contudo pode estar presente também no
circulação e que devem ser reconhecidas e abordadas trauma contuso.
durante a avaliação primária são hemotórax maciço, No doente com hemotórax maciço as veias do pescoço
tamponamento cardíaco e parada cardíaca por trauma. podem estar colapsadas devido à grave hipovolemia
A atividade elétrica sem pulsos (AESP) é manifestada ou distendidas quando existir um pneumotórax
por um eletrocardiograma (ECG) que mostra um ritmo, hipertensivo concomitante. Em casos raros, os efeitos
enquanto o doente não possui pulso identificável. Este mecânicos de um hemotórax maciço podem deslocar
quadro pode estar presente no tamponamento cardíaco, o mediastino a ponto de causar a distensão das veias
pneumotórax hipertensivo, ou hipovolemia profunda. cervicais. Um hemotórax maciço é diagnosticado pela
Um trauma torácico contuso grave pode provocar associação de choque com ausência de murmúrio
a ruptura dos átrios ou dos ventrículos e a única vesicular e/ou macicez à percussão de um dos
manifestação pode ser AESP. Outras causas de AESP hemitórax.
incluem hipovolemia, hipoxia, íon hidrogênio (acidose), O hemotórax maciço é tratado inicialmente pela
hipocalemia/hipercalemia, hipoglicemia, hipotermia, reposição do volume sanguíneo e descompressão da
toxinas, tamponamento cardíaco, pneumotórax cavidade torácica, realizadas simultaneamente. Após
hipertensivo e trombose (coronária ou pulmonar). conseguir rápido acesso venoso com cateter calibroso,
Examine a coloração da pele para detectar manchas, inicia-se a infusão de cristaloide e, assim que possível,
cianose e palidez. As veias do pescoço devem ser avaliadas administra-se sangue tipo-específico. O sangue
quanto à distensão, embora possam não estar distendidas removido através do dreno de tórax deve ser coletado
em doentes com hipovolemia concomitante. Ouça a em um dispositivo que permita a autotransfusão.
regularidade e a qualidade dos batimentos cardíacos. Insere-se um único dreno de tórax (nº 28-32 French)
Avalie a frequência, amplitude e regularidade do pulso geralmente ao nível do mamilo, logo anteriormente à
central. Em doentes com hipovolemia, os pulsos distais linha axilar média, simultâneo à reposição rápida de
podem estar ausentes devido à depleção do volume. volume à medida que se completa a descompressão da
Palpar a pele para avaliar a temperatura e determinar cavidade torácica. Se o volume drenado imediatamente
se está seca ou suada. for de aproximadamente 1.500 ml, é muito provável
Mensure a pressão sanguínea e a pressão do pulso e que seja necessário uma toracotomia de urgência para
monitore o doente com eletrocardiografia e oximetria o doente.
SINAIS FÍSICOS
Pleura parietal
Pleura visceral
Alguns doentes que apresentam um débito inicial causar o preenchimento do pericárdio com sangue dos
menor que 1.500 mL, mas continuam sangrando, podem grandes vasos ou vasos epicárdicos do coração (n FIGURA 4-6).
necessitar toracotomia. A decisão não é baseada pelo O tamponamento cardíaco pode desenvolver-se devagar,
volume de sangue que continua drenando por hora (200 permitindo uma avaliação menos urgente, ou rapidamente,
mL/h por 2 a 4 horas), mas sim no estado fisiológico requerendo diagnóstico e tratamento rápidos. A tríade
do doente. A necessidade persistente de transfusões clínica clássica de sons cardíacos abafados, hipotensão
sanguíneas constitui-se em indicação de toracotomia. e elevação da pressão venosa, não está uniformemente
Durante a reanimação do doente, para o cálculo da presente em todos os casos de tamponamento cardíaco. A
reposição total de fluidos: deve-se contabilizar o volume ausculta cardíaca abafada é difícil de se avaliar em uma sala
de sangue perdido imediatamente após a drenagem de reanimação ruidosa e as veias distendidas do pescoço
acrescida do volume que continua drenando a seguir. podem estar ausentes devido à hipovolemia. O sinal de
A coloração do sangue (arterial ou venoso) não é um Kussmaul (ou seja, um aumento da pressão venosa com
bom indicador para avaliar a necessidade ou não de inspiração ao respirar espontaneamente) é uma verdadeira
toracotomia. anormalidade de pressão venosa paradoxal associada ao
Advanced Trauma Lifepenetrantes
Os ferimentos Support for Doctors
da parede anterior do Approved
tamponamento.Changes
AESP needed Date
pode sugerir tamponamento cardíaco,
Student Course Manual, 9e
tórax, entre as linhas dos
American College of Surgeons
mamilos ou posteriores e porém pode ter outras causas, como explicado anteriormente.
KB
mediais
Figure# às escápulas devem alertar o médico para
04.07 a O pneumotórax hipertensivo, particularmente no lado
eventualMedia
Dragonfly necessidade
Group de toracotomia, pela possível esquerdo, pode imitar o tamponamento cardíaco. Devido
10/27/2011
lesão dos grandes vasos, das estruturas hilares WC e à semelhança em seus sinais, o pneumotórax hipertensivo
do coração, com risco potencial de tamponamento pode inicialmente ser confundido com o tamponamento
cardíaco. A toracotomia não deve ser indicada seNPnão cardíaco. A presença de hiperresonância na percussão
houver um cirurgião qualificado presente. indica pneumotórax hipertensivo, enquanto a presença de
sons respiratórios bilaterais indica tamponamento cardíaco.
Tamponamento Cardíaco A avaliação ultra-sonográfica orientada para o trauma
(FAST) é um método rápido e preciso de imagem do
O tamponamento cardíaco é a compressão do coração por coração e pericárdio que pode efetivamente identificar
um acúmulo de líquido no saco pericárdico. Isso resulta tamponamento cardíaco.
em diminuição do débito cardíaco devido à diminuição A acurácia do FAST varia de 90-95% na identificação da
do fluxo de entrada para o coração. O saco pericárdico presença de líquido no saco pericárdico para o operador
humano é uma estrutura fibrosa fixa e uma quantidade experiente (Ver vídeo FAST no aplicativo móvel MyATLS).
relativamente pequena de sangue pode restringir a O hemotórax concomitante pode explicar os exames
atividade cardíaca e interferir com o enchimento cardíaco. falsos positivo e falsos negativo. Lembre-se de que o
O tamponamento cardíaco mais comumente resulta tamponamento pode se desenvolver a qualquer momento
de lesões penetrantes, embora lesões contusas possam durante a fase de reanimação e repetir exames FAST
pode ser necessário. Médicos com experiência em
70 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
Normal
Normal Pericardial tamponade
Pericardial tamponade
Saco Saco
A Bpericárdico
pericárdico
C
n FIGURA 4-6 Tamponamento Cardíaco. A. Coração normal. B. Tamponamento cardíaco pode ser causado por ferimento penetrante e trauma contuso
do coração, vasos da base e vasos pericárdicos que permitem o saco pericárdio se encher de sangue. C. Ultrassom: mostrando um tamponamento cardíaco.
ultra-sonografia também podem avaliar a disfunção cardíaco, herniação cardíaca e contusão miocárdica
miocárdica e o preenchimento ventricular. grave. Devemos considerar que um evento cardíaco pode
Métodos adicionais de diagnóstico de tamponamento ter sido a causa e portanto preceder o evento traumático.
cardíaco incluem ecocardiografia e/ou janela A parada circulatória é diagnosticada pelos achados
pericárdica, o que pode ser particularmente útil quando clínicos (vítima inconsciente e sem pulso) e requer ação
FAST não está disponível ou é duvidoso. imediata. Cada segundo conta, e não deve haver atraso no
Quando o líquido pericárdico ou o tamponamento monitoramento de ECG ou ecocardiografia. Evidências
são diagnosticados, a toracotomia de emergência ou recentes mostram que alguns doentes em parada
a esternotomia devem ser realizadas por um cirurgião circulatória traumática podem sobreviver (1,9%) se RCP
qualificado o mais rápido possível. A administração fechada e reanimação apropriada forem realizadas. Nos
de Trauma
Advanced
Advanced Traumavolume Lifeaumentará
Support
Life Support a pressão venosa Approved
for Doctors
for Doctors do doente
Approved e Changes
centros
Changes que utilizam
needed
needed DateaDate
toracotomia de reanimação, foi
Student Course Manual, 9e
Student melhorará
Course
American
Manual,
College
9e o débito
of Surgeons
cardíaco transitório, enquanto os relatada mais de 10% de sobrevivência em doentes com
American College of Surgeons KB KBcirúrgica. Se
preparativos
Figure#
Figure# 04.08 04.08 são feitos para a intervenção parada circulatória após trauma penetrante e contuso.
Dragonfly a cirurgia
Dragonfly
Media Media
GroupGroupnão for possível, a pericardiocentese pode Comece a RCP fechada simultaneamente com o
10/27/2011 WC
10/27/2011 ser utilizada como terapêutica, masWCnão constitui um tratamento do ABC. Garanta uma via aérea definitiva
tratamento definitivo para o tamponamento cardíaco com intubação orotraqueal (sem indução assistida por
NP NP
Quando a pericardiocentese subxifoide é utilizada drogas). Execute a ventilação mecânica com 100% de
como manobra temporizadora, é ideal o uso de um oxigênio. Para descomprimir um possível pneumotórax
cateter de tubo grande, ou da técnica de Seldinger, hipertensivo, realize toracostomias digitais ou drenagens
para inserção de um cateter flexível, mas a prioridade torácicas bilaterais. Não é necessária anestesia local, pois
urgente é aspirar o sangue do saco pericárdico. Como o doente está inconsciente. Monitore continuamente
as complicações são comuns com técnicas de inserção o ECG e a saturação de oxigênio e comece a reposição
cega, a pericardiocentese deve representar uma medida volêmica rapidamente por veias de grande calibre ou
de salvamento de último recurso, em ambiente acesso intraósseo. Administre epinefrina (1 mg) e, se a
onde nenhum cirurgião qualificado está disponível fibrilação ventricular estiver presente, trate-a de acordo
para realizar uma toracotomia ou esternotomia. A com os protocolos de ACLS (Advanced Cardiac Life
orientação por ultrassom pode facilitar a inserção Support).
precisa do cateter de tubo grande no espaço pericárdico. Conforme a política local e a disponibilidade de uma
equipe cirúrgica habilitada para tratar estas lesões,
Parada Circulatória Traumática pode-se indicar a toracotomia de reanimação, caso não
haja retorno da circulação espontânea (RPE). Se não
Os doentes traumatizados que estão inconscientes e houver cirurgião disponível para realizar a toracotomia
não têm pulso, incluindo AESP (como observado em e o tamponamento cardíaco for diagnosticado, ou
hipovolemia extrema), fibrilação ventricular e assistolia ainda altamente suspeito, pode ser realizada uma
(parada cardíaca verdadeira), são considerados em pericardiocentese de agulha descompressiva, de
parada circulatória. As causas da parada circulatória preferência guiada por ultrassom.
traumática incluem hipoxia grave, pneumotórax n FIGURA 4-7 apresenta um algoritmo para o tratamento
hipertensivo, hipovolemia profunda, tamponamento da parada circulatória traumática.
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA 71
Tratamento
ususal
Sem RCE
Descompressão Drenos de
RCE
torácica bilateral tórax
Sem RCE
Toracotomia ânterolateral e
< 3 minutos pericardiotomia vertical
Parada cardíaca
n FIGURA 4-7 Algoritmo para o tratamento da parada circulatória traumática. ECM = massagem cardíaca externa; OTI = intubação
orotraqueal; IVL = linha intravenosa; IOL = linha intraóssea.
72 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
•• Pneumotórax simples
avaliação secundá r ia
•• Hemotórax
A avaliação secundária em doentes com trauma torácico •• Tórax instável
envolve exame físico cuidadoso, monitoramento contínuo •• Contusão pulmonar
do ECG e da oximetria de pulso, gasometria arterial,
radiografia de tórax em posição supina desde que não haja •• Trauma cardíaco contuso
suspeita de instabilidade da coluna vertebral e tomografia •• Ruptura traumática da aorta
computadorizada de tórax (CT) em doentes selecionados
com suspeita de lesão na aorta ou da coluna vertebral. •• Lesão traumática do diafragma
Na radiografia de tórax devemos avaliar a expansão •• Ruptura esofágica no trauma contuso
pulmonar, a presença de derrames, bem como a presença
de alargamento do mediastino, desvio da linha média
e perda de detalhes anatômicos. Fraturas de costelas Pneumotórax Simples
múltiplas e particularmente as fraturas da primeiro ou
segundo arco costal sugerem que o tórax e os tecidos O pneumotórax resulta da entrada de ar no
adjacentes foram submetidos a uma força significativa. espaço virtual entre a pleura visceral e a parietal
Deve ser realizado exame do FAST estendido (eFAST) para (n FIGURA 4-8). Normalmente, a cavidade torácica está
detectar pneumotórax e/ou hemotórax. Entretanto outras completamente preenchida pelo pulmão, mantido em
lesões potencialmente fatais não são bem visualizadas pelo íntimo contato com a parede torácica por uma tensão
ultrassom, tornando a radiografia de tórax uma ferramenta superficial existente entre as superfícies pleurais. A
necessária na avaliação de um traumatizado (Ver Apêndice presença de ar no espaço pleural rompe a força de
G: Estação Prática B Ventilação). adesão entre as pleuras visceral e parietal, permitindo
o colapso do pulmão. Isso resulta em alteração na
ferimentos com potencial risco à vida ventilação/perfusão, porque o sangue que perfunde
áreas não ventiladas não é oxigenado.
Ao contrário das condições imediatamente fatais Tanto o trauma penetrante como o contuso podem
que são reconhecidas durante a avaliação primária, causar pneumotórax. A laceração pulmonar com
outras lesões potencialmente letais geralmente não vazamento de ar é a causa mais comum de pneumotórax
são óbvias no exame físico inicial. O diagnóstico requer após um trauma contuso.
um alto índice de suspeita e o uso adequado de exames Realize um exame físico detalhado do tórax quanto a
complementares. Se não diagnosticadas podem levar equimoses, lacerações e contusões. Avalie o movimento
a complicações importantes ou até a morte. da parede torácica e avalie e compare o murmúrio
As oito lesões potencialmente letais que devem ser vesicular em ambos os lados. Na presença de um
identificadas e tratadas durante a avaliação secundária pneumotórax, o murmúrio vesicular está diminuído no
são: lado afetado e a percussão demonstra hipertimpanismo.
Pneumotórax
Arcos
costais
Pulmão
Pleura Pleura
visceral parietal
n FIGURA 4-8 Pneumotórax Simples. Resultante da entrada de ar no potencial espaço entre as pleuras visceral e parietal.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 73
O hipertimpanismo é muito difícil de ser observado em também serve de modo significativo como método de
sala de emergência movimentada. monitoração do sangramento. A drenagem de sangue
Uma radiografia de tórax ântero-posterior, em ou líquidos contidos na pleura permite também uma
expiração, pode auxiliar no diagnóstico. Doentes com avaliação mais precisa de potenciais lesões diafragmáticas.
trauma contuso não são candidatos para essa avaliação, Embora muitos fatores estejam envolvidos na decisão
porém nos traumas penetrantes pode ser útil. de operar ou não um doente com hemotórax, os mais
Todo pneumotórax é melhor tratado com a inserção de importantes são o estado fisiológico do doente e o
um dreno de tórax no quarto ou quinto espaço intercostal, volume de sangue eliminado pelo dreno de tórax.
logo anteriormente à linha axilar média. A observação e Como conduta normativa, a exploração cirúrgica deve
a aspiração de um pneumotórax assintomático pode ser ser considerada sempre que a drenagem inicial for
apropriada, mas a escolha deve ser feita por um médico igual ou maior que 1.500 mL de sangue, ou quando a
qualificado; caso contrário deve ser realizada a drenagem drenagem for maior que 200 mL/h durante 2 a 4 horas
torácica. Após a inserção de um dreno de tórax e sua ou quando há necessidade de transfusão contínua de
adaptação a um sistema de selo d’água com ou sem sangue. A decisão final para realizar uma toracotomia
aspiração, é necessário um novo raio-X de tórax para de emergência é o estado hemodinâmico do doente.
confirmar a re-expansão pulmonar. Os doentes vítimas
de pneumotórax traumático ou que tenham risco de
desenvolver um pneumotórax no trans-operatório, não
armadilha prevenção
devem ser submetidos a anestesia geral ou a ventilação
Hemotórax retido. • Assegurar a colocação
mecânica com pressão positiva, até que tenham seu
adequada do tubo torácico.
tórax drenado. Em casos selecionados, por exemplo,
• Consultar o cirurgião.
quando um "pneumotórax subclínico" (ou seja, oculto)
for diagnosticado, a equipe de trauma pode optar pela
observação cuidadosa do doente quanto a sinais clínicos
de expanção do pneumotórax. A abordagem mais segura Tórax Instável e Contusão Pulmonar
é colocar um dreno torácico antes que um pneumotórax
hipertensivo possa se desenvolver. O tórax instável ocorre quando um segmento da parede
Doentes com pneumotórax que necessitem de torácica não tem mais continuidade óssea com o resto
transporte aéreo, também devem ser drenados da caixa torácica e geralmente é consequente a um
previamente, mesmo em cabines pressurizadas. trauma que provoca múltiplas fraturas de costelas, ou
seja, duas ou mais fraturas em dois ou mais lugares,
Hemotórax embora também possa ocorrer quando há uma separação
costocondral de uma única costela do tórax (n FIGURA 4-9).
Hemotórax é definido quando o derrame pleural tem Uma contusão pulmonar é uma lesão no pulmão
sangue acumulado na cavidade pleural (<1.500 mL). A causada por um trauma torácico. Sangue e outros
causa mais comum de hemotórax é a laceração pulmonar fluidos acumulam-se no tecido pulmonar, interferindo
ou a ruptura de um vaso intercostal ou da artéria mamária na ventilação e levando potencialmente à hipoxia. A
interna, consequente tanto ao trauma penetrante quanto contusão pulmonar pode ocorrer sem fratura de costela
ao trauma contuso. As fraturas de coluna torácica também ou no tórax instável, particularmente em doentes
podem levar ao hemotórax. Geralmente este sangramento jovens sem costelas completamente ossificadas. As
é autolimitado e não necessita de tratamento cirúrgico. crianças têm a parede do tórax muito mais flexivel do
Exponha as áreas cervicais e torácica e observe o que os adultos e podem sofrer contusões e outras lesões
movimento da parede torácica. Olhe por lesões penetrantes no tórax interno sem fraturas de costela.
na parede torácica, incluindo a parte posterior do tórax. Nos adultos, as fraturas de costelas estão
Avalie e compare o murmurio vesicular em ambos os frequentemente associadas à contusão pulmonar, sendo
hemitóraces. Normalmente, é difícil ouvir e diferenciar a causa potencialmente mais comum de letalidade.
o som claro pulmonar da percussão no lado normal em A insuficiência respiratória resultante pode ser de
relação ao lado afetado, contralateral. Obtenha uma instalação insidiosa, desenvolvendo-se ao longo do
radiografia de tórax com o doente em posição supina. tempo, ao invés de ocorrer instantaneamente. A reserva
Uma pequena quantidade de sangue será identificada ventilatória limitada pode predispor doentes idosos a
como uma opacidade homogênea no lado afetado. insuficiência respiratória precoce.
O hemotórax agudo suficiente para aparecer no raio-X Um segmento instável da parede torácica pode não
de tórax deve ser tratado com um dreno de tórax de grosso estar aparente no exame físico inicial, particularmente
calibre (no 28 ou 32 French). O dreno de tórax remove logo após o trauma. O esforço respiratório diminuído,
o sangue, diminui o risco de formação de coágulos e combinado com contusão e atelectasia, podem limitar
74 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
Inspiração Expiração
Seguimento Separação
instável
costocondral
A B
C
Advanced Traum a Life SupportforDoctors Approved Changes needed Date
StudentCourse M anual,9e
Am erican College ofSurgeons
o movimento
Figure# 04.06AB
da parede torácica. Musculatura
KB espessa crônica e insuficiência renal, aumentam a probabilidade da
da parede
Dragon ytorácica
M edia Grouptambém pode limitar a visualização necessidade da intubação precoce e ventilação mecânica.
10/26/2011 WC
do movimento anormal do tórax. Se a lesão resultar O tratamento definitivo do tórax instável e da contusão
em contusão pulmonar subjacente significativa, NP pode pulmonar envolve assegurar uma oxigenação adequada,
ocorrer uma hipoxia grave. A limitação do movimento administração criteriosa de fluidos e analgesia adequada
da parede torácica, associado à dor e contusão pulmonar para melhorar a ventilação. A estratégia do tratamento
subjacente pode provocar a insuficiência respiratória. definitivo pode mudar com o tempo a depender da resposta
A observação do movimento respiratório anormal e do doente, garantido pelo monitoramento cuidadoso e
a palpação quanto a crepitação e fraturas de costela ou reavaliação sistemática.
cartilagem podem ajudar o diagnóstico. Uma radiografia A analgesia pode ser alcançada com sedativos
de tórax pode sugerir fraturas de costela múltiplas, mas intravenosos ou anestesia local, que evita a possível
pode não mostrar separação costocondral. depressão respiratória comum durante a analgesia
O tratamento inicial do tórax instável e contusão sistêmica. As opções para administração de anestésicos
pulmonar incluem a administração de oxigênio locais incluem bloqueio intermitente do nervo intercostal
humidificado, ventilação adequada e reanimação e anestesia percutânea intrapleural, extrapleural ou
parcimoniosa de fluídos. Na ausência de hipotensão peridural. Quando usado corretamente, os agentes
sistêmica, a administração de soluções intravenosas de anestésicos locais podem fornecer analgesia excelente e
cristaloides deve ser cuidadosamente controlada, para evitar a necessidade de intubação. No entanto, a prevenção
evitar a sobrecarga de volume, o que pode comprometer da hipóxia é de suma importância para os doentes com
ainda mais as trocas gasosas do doente. trauma e um curto período de intubação e ventilação
Doentes com hipóxia significativa (isto é, PaO2<60 mmHg podem ser necessários. Uma avaliação cuidadosa do índice
[8,6 kPa] ou SaO2<90%), em ar ambiente, podem exigir de troca gasosa do doente, saturação arterial de oxigênio e
intubação e ventilação na primeira hora após o trauma. do trabalho respiratório indicará o tempo adequado para
As doenças prévias associadas, como doença pulmonar intubação e ventilação, caso seja necessária.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 75
Sinais e sintomas específicos de ruptura de aorta cirurgião de trauma pode orientar melhor quais os exames
estão frequentemente ausentes. Além da forte suspeita diagnósticos são necessários para cada caso.
despertada pela cinética do trauma em que ocorra uma Os controles da frequência cardíaca e da pressão arterial
desaceleração abrupta, associado ao achado de sinais podem diminuir a probabilidade de ruptura. A dor deve
radiológicos, na radiografia simples de tórax, reforçam primeiramente ser controlada com analgésicos. Se não
a suspeita. Os achados radiológicos, que podem ou não existirem contra-indicações, recomenda-se o controle da
estar presentes e apontam para a possibilidade da lesão frequência cardíaca com um beta-bloqueador de ação curta
aórtica, são: para manter a frequência cardíaca menor que 80 batimentos
por minuto (BPM) e controle de pressão arterial média entre
•• Alargamento do mediastino 60 a 70 mm Hg, como meta. Caso o betabloqueador esmolol
•• Obliteração do botão aórtico não for suficiente ou contra indicado, pode-se utilizar uma
•• Desvio da traqueia para a direita droga bloqueadora dos canais de cálcio (nicardipina); se
isso falhar, nitroglicerina ou nitroprussiato podem ser
•• Rebaixamento do brônquio-fonte esquerdo
cuidadosamente adicionados. A hipotensão é uma contra
•• Elevação do brônquio-fonte direito indicação óbvia a esses medicamentos.
•• Obliteração do espaço entre a artéria pulmonar Um cirurgião qualificado e experiente deve acompanhar
e a aorta (apagamento da janela da artéria e assistir os doentes com lesão traumática da aorta e
pulmonar)
auxiliar no diagnóstico. O tratamento cirúrgico da lesão
•• Desvio do esôfago (sonda nasogástrica) para a envolve ressecção e reparo do segmento lesado ou, em
direita casos selecionados o, reparo primário da lesão que é
•• Alargamento da faixa paratraqueal pouco frequente. O reparo endovascular é a opção mais
•• Alargamento das interfaces para-espinhais comum para abordar a lesão aórtica e tem excelentes
•• Presença de um derrame extrapleural apical resultados a curto prazo. Um acompanhamento criterioso
deve ser realizado após a alta do doente para identificar
•• Hemotórax à esquerda
complicações ao longo prazo.
•• Fratura do primeiro e segundo arcos costais ou A transferência dos doentes com suspeita de ruptura
da escápula
traumática da aorta não deve ser retardada, pois pode
Estes achados radiológicos podem se apresentar como ocorrer ruptura livre do hematoma contido e morte
informações falso-positivas e/ou falso-negativas, porém rápida por exanguinação. Todos os doentes com
raramente (1% a 13%) não serão encontrados achados mecanismo de lesão e achados simples de raios X de tórax
anormais nas radiografias simples de tórax na presença sugestivos de ruptura aórtica devem ser transferidos
de lesões de grandes vasos. Caso haja a mínima suspeita para uma instituição capaz de realizar o diagnóstico
de lesão traumática da aorta, o doente deve ser avaliado rápido e o tratamento desta lesão potencialmente letal.
em um ambiente onde existam condições de confirmar
o diagnóstico e tomar as medidas terapêuticas cabíveis. Ruptura Traumática do Diafragma
A tomografia computadorizada helicoidal do tórax
tem-se mostrado atualmente como um método de grande A ruptura traumática do diafragma é mais comumente
acurácia para triagem dos doentes com suspeita de lesão da diagnosticada do lado esquerdo, talvez porque o fígado
aorta torácica. A tomografia computadorizada helicoidal oblitere o defeito ou proteja o lado direito do diafragma,
do tórax é mandatória, porque os achados da radiografia enquanto podemos detectar a presença do intestino,
simples do tórax, especialmente em posição ortostática o estômago e a sonda nasogástrica com facilidade
não são confiáveis. Quando os resultados da tomografia no lado esquerdo do tórax. O trauma contuso produz
são duvidosos ou inconclusivos, deve ser realizada uma rupturas radiais grandes que levam a herniação (n FIGURA
aortografia. Habitualmente o doente que se encontra 4-11). Enquanto o trauma penetrante produz perfurações
hemodinamicamente anormal não deve ser submetido a pequenas que podem permanecer assimtomáticas por anos.
tomografia. A sensibilidade e especificidade da tomografia As lesões diafragmáticas, frequentemente, não são
helicoidal contrastada é de 100%, resultado dependente diagnosticadas inicialmente, face a interpretações
da tecnologia. Se a tomografia helicoidal do tórax não equivocadas dos achados da radiografia simples do
identificar presença de ruptura de aorta e hematoma do tórax como elevação de cúpula diafragmática, distensão
mediastino, não é necessária nenhuma outra investigação gástrica aguda, hemopneumotórax loculado ou hematoma
de imagem subsequente. Caso a tomografia seja positiva subpulmonar. Se houver suspeita de uma ruptura do
para ruptura de aorta por trauma contuso, a extensão hemidiafragma esquerdo, deve-se inserir uma sonda
da lesão pode ser melhor avaliada pela aortografia. A nasogástrica. Quando a sonda nasogástrica aparece na
ecocardiografia trans-esofágica também parece ser útil cavidade torácica ao raio-X de tórax, torna-se desnecessário
por ser uma ferramenta diagnóstica menos invasiva. O o estudo contrastado. Ocasionalmente o diagnóstico não é
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA 77
Pulmão
Mediastino
deslocado
B
Conteúdo
abdominal
feito pelo estudo radiográfico inicial ou CT. Se o diagnóstico diagnóstico, que frequentemente pode ser confirmado
não estiver claro, deve-se realizar um estudo contrastado por estudos contrastados e/ou esofagoscopia.
do trato gastrointestinal. A saída, pelo dreno de tórax, do O tratamento indicado para ruptura de esôfago é a ampla
líquido usado na lavagem peritoneal, também confirma o drenagem do espaço pleural e do mediastino com sutura
diagnóstico. Procedimentos endoscópicos minimamente primária da lesão. Quando realizada nas primeiras horas
invasivos (toracoscopia) podem ser úteis na avaliação do após o trauma, a correção cirúrgica tem um prognóstico
diafragma quando persiste a dúvida diagnóstica. mais satisfatório.
Frequentemente a ruptura do diafragma é descoberta
durante uma intervenção motivada por outra lesão OUTRAS MANIFESTAÇÕES DE LESÕES
abdominal. O tratamento deve ser a sutura primária. Deve- TORÁCICAS
se tomar cuidado ao colocar um tubo torácico em doentes
com suspeita de lesão no diafragma, já que os tubos podem Durante a avaliação secundária, outras lesões torácicas
inadvertidamente ferir o conteúdo abdominal que se significativas como: enfisema de subcutâneo, asfixia
deslocou para a cavidade torácica. traumática, fraturas de costela, esterno, escápula devem
ser diagnosticadas. Embora tais lesões possam não
Ruptura
AdvancedEsofágica no Trauma
Trauma Life Support Contuso
for Doctors Approved
implicar emChanges needed
risco de vida imediato,Datepodem resultar
Student Course Manual, 9e
American College of Surgeons em prejuízos consideráveis para o doente.
KB
O trauma esofágico resulta, mais comumente, de lesões
Figure# 04.10
penetrantes. Embora
Dragonfly Media rara, a lesão contusa do esôfago pode ser
Group Enfisema de Subcutâneo
10/31/2011 WC
causada por uma expulsão forçada do conteúdo gástrico para
o esôfago, decorrente de um golpe forte no abdome superior e O enfisema subcutâneo pode ser o resultado de uma
NP
pode ser fatal se não reconhecida. Esta ejeção forçada produz lesão da via aérea, de lesão pulmonar ou, raramente, de
lacerações lineares no esôfago inferior, permitindo o escape explosão. Embora o enfisema subcutâneo não necessite
para o mediastino. A mediastinite resultante e sua ruptura tratamento, as lesões subjacentes devem ser investigadas.
imediata ou tardia para o espaço pleural causam o empiema. Se for necessária a utilização de ventilação com pressão
O quadro clínico é idêntico ao da ruptura esofágica pós- positiva, deve ser considerada a drenagem do tórax do
emética. Deve-se considerar uma possível lesão esofágica mesmo lado do enfisema subcutâneo, pela possibilidade
em todo o doente que: apresenta um pneumotórax ou de desenvolver um pneumotórax hipertensivo.
hemotórax a esquerda sem fraturas de costela, foi vítima
de golpe em região esternal inferior ou no epigástrio e Lesões Torácicas por Esmagamento
apresenta dor ou quadro de choque fora de proporção
com a lesão aparente e elimina material suspeito através Os achados associados à lesão torácica por esmagamento
do dreno de tórax quando o sangue começa a clarear. incluem pletora em tronco, face e membros superiores
A presença de ar no mediastino também sugere o além de petéquias secundárias à compressão aguda e
transitória da veia cava superior. Podem estar presentes
78 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
edema maciço e até mesmo edema cerebral. As lesões A existência de fraturas das últimas costelas (10 a 12)
associadas devem ser tratadas. deve aumentar a suspeita de lesões hepática e-esplênica.
Doentes com fraturas de costelas apresentam dor
Fraturas de Costelas, Esterno e Escápula localizada, com piora da dor à palpação e presença de
crepitação. Uma deformidade palpável ou visível sugere
As costelas são os componentes da caixa torácica mais fratura de costela. O raio-X de tórax deve ser solicitado
comumente lesados. De modo geral, as lesões das costelas fundamentalmente para descartar outra lesão intratorácica
são clinicamente significantes. A dor à movimentação e não apenas para identificar fratura de costelas. As fraturas
resulta em restrição dos movimentos respiratórios, o que da cartilagem anterior ou as disjunções costocondrais têm
prejudica a ventilação, a oxigenação e a tosse. A incidência de as mesmas implicações das fraturas de costela, mas não
atelectasias e pneumonias aumenta, de modo significativo, serão vistas no raio-X de tórax. As técnicas radiológicas
na presença de doença pulmonar pré-existente. especiais para o estudo dos arcos costais são onerosas
A escápula, o úmero e a clavícula, juntamente com e podem não detectar todas as lesões das costelas, não
suas inserções musculares, atuam como uma barreira acrescentam nada ao tratamento, além de obrigar o doente
protetora para as costelas superiores (1 a 3). As fraturas a adotar posições dolorosas e não têm utilidade.
da escápula, da primeira e segunda costela ou do Imobilizações, ataduras, cintas costais e fixação externa
esterno sugerem um trauma de alta intensidade, que são contraindicadas. O alívio da dor é importante para
frequentemente estão associadas a trauma de outros permitir uma ventilação adequada. O bloqueio intercostal,
segmentos como trauma de crânio, pescoço, coluna a anestesia epidural, analgésicos sistêmicos são eficazes e
vertebral, pulmões e grandes vasos. Pela gravidade das podem ser necessários. Os controles agressivos e precoces
lesões associadas, a mortalidade pode chegar a 35%. da dor, incluindo o uso de narcóticos sistêmicos e anestesia
As fraturas do esterno e escápulas resultam, geralmente, local ou regional, melhoram o resultado dos doentes com
de um impacto direto. As fraturas de esterno podem fraturas de costelas, esterno e escápula.
ser acompanhadas de contusão pulmonar. Da mesma O uso crescente de TC resultou na identificação de lesões
forma, devemos lembrar a possibilidade de lesão não diagnosticadas, como lesões aórticas mínimas e
cardíaca contusa, sempre que existir lesão do esterno. pneumotórax oculto e hemotórax. O tratamento adequado
Ocasionalmente pode estar indicada a correção cirúrgica dessas lesões ocultas deve ser discutido com o especialista.
de fraturas esternais ou escapulares. Raramente uma
luxação posterior da articulação esterno-clavicular resulta
no deslocamento da extremidade medial da clavícula para Trabalho em equipe
dentro do mediastino causando uma obstrução da veia
cava superior. A redução imediata é obrigatória.
As costelas intermediárias (4 a 9) sofrem a maioria dos O líder da equipe deve:
traumas contusos. A compressão ântero-posterior da
caixa torácica força as costelas para fora, fraturando-as •• Rapidamente estabelecer as competências dos
na sua porção média. A força aplicada diretamente sobre membros da equipe para a realização de técnicas
as costelas tende a fraturá-las e a direcionar os segmentos de descompressão por agulha e drenagem torácica.
fraturados para dentro do tórax aumentando o risco de •• Considerar a necessidade potencial da drenagem
lesões intratorácicas, como pneumotórax. bilateral do tórax e avaliar os recursos disponíveis.
Como regra geral, o doente jovem, apresenta a parede •• Acompanhar os doentes submetidos a
torácica mais elástica, com menor probabilidade de sofrer procedimentos no pré-hospitalar, como
fraturas de costelas. Por conseguinte, a presença de fraturas descompressão por punção ou drenagem do
múltiplas de costelas em doentes jovens implica em uma tórax, avaliar a resposta do doente e determinar a
transferência de força muito maior do que em doentes necessidade de intervenções adicionais.
mais velhos. •• Reconhecer quando a toracotomia beneficiará
A osteopenia é comum em adultos mais velhos; portanto, o doente e agilizar de forma rápida e segura a
várias lesões ósseas, incluindo fraturas de costela, podem transferência do doente, quando indicado, para um
ocorrer mesmo em trauma menor. Esta população pode serviço apropriado e qualificado.
desenvolver hemotórax mais tardiamente e portanto
merece um acompanhamento mais próximo. A presença
de fratura de costela em idosos deve provocar uma
r e sumo do capítulo
preocupação mais significativa, uma vez que a incidência de
pneumonia e mortalidade é dobrada quando comparadas 1. O trauma torácico é comum nos doentes
a doentes mais jovens. (Ver Capítulo 11: Trauma geriátrico.) politraumatizados e condições que ameaçam a vida
do doente podem ser fatais se não identificadas e
BIBLIOGRAFIA 79
tratadas na avaliação primária. Estes doentes podem aorta. J Thorac Cardiovasc Surg 2006;131(3):
ser tratados, ou ter suas condições controladas 594–600.
temporariamente, por medidas relativamente 7. Demetriades D, Velmahos GC, Scalea TM, et
simples como intubação, ventilação, drenagem al. Diagnosis and treatment of blunt aortic
torácica e a reposição volêmica. A capacidade de injuries: changing perspectives. J Trauma
reconhecer tais lesões e de realizar os procedimentos 2008;64:1415–1419.
necessários para corrigí-las pode salvar a vida do 8. Demetriades D, Velmahos GC, Scalea TM, et al.
doente. Na avaliação primária devemos identificar Operative repair or endovascular stent graft
e tratar a obstrução da via aérea, trauma de laringe, in blunt traumatic thoracic aortic injuries:
lesão da árvore traqueobrônquica, pneumotórax results of an American Association for the
hipertensivo, pneumotórax aberto, hemotórax Surgery of Trauma multicenter study. J Trauma
maciço, tamponamento cardíaco e parada 2008;64:561–571.
circulatória traumática. 9. Dulchavsky SA, Schwarz KL, Kirkpatrick AW, et
al. Prospective evaluation of thoracic ultrasound
2. Na avaliação secundária devemos identificar e in the detection of pneumothorax. J Trauma 2001;
tratar as lesões com risco potencial de vida como (50):201–205.
pneumotórax simples, hemotórax, contusão 10. Dunham CM, Barraco RD, Clark DE, et al.
pulmonar, tórax instável, lesão cardíaca contusa, Guidelines for emergency tracheal intubation
ruptura traumática da aorta, ruptura traumática immediately following traumatic injury: an EAST
do diafragma e ruptura esôfago, para tanto Practice Management Guidelines Workgroup. J
podemos utilizar de exames complementares Trauma 2003;55:162–179.
como radiografias de tórax, exames laboratoriais 11. Dyer DS, Moore EE, Ilke DN, et al. Thoracic aortic
e eletrocardiograma. injury: how predictive is mechanism and is chest
computed tomography a reliable screening tool?
3. Muitas manifestações do traumatismo torácico são A prospective study of 1,561 patients. J Trauma
acompanhados de alto risco de lesões associadas, 2000;48(4):673–82; discussion 682–683.
incluindo enfisema de subcutâneo, esmagamento 12. Ekeh AP, Peterson W, Woods RJ, et al. Is
de tórax e lesões nas costelas, escápula e esterno. chest x-ray an adequate screening tool for the
diagnosis of blunt thoracic aortic injury? J Trauma
2008;65:1088–1092.
Bibliografia 13. Flagel B, Luchette FA, Reed RL, et al. Half a
dozen ribs: the breakpoint for mortality. Surgery
2005;138:717–725.
1. Ball CG, Williams BH, Wyrzykowski AD, et 14. Harcke HT, Pearse LA, Levy AD, et al. Chest wall
al. A caveat to the performance of pericardial thickness in military personnel: implications for
ultrasound in patients with penetrating cardiac needle thoracentesis in tension pneumothorax.
wounds. J Trauma 2009;67(5):1123–1124. Mil Med 2007;172(120):1260–1263.
2. Brasel KJ, Stafford RE, Weigelt JA, et al. Treat- 15. Heniford BT, Carrillo EG, Spain DA, et al. The role
ment of occult pneumothoraces from blunt of thoracoscopy in the management of retained
trauma. J Trauma 1999;46(6):987–990; discussion thoracic collections after trauma. Ann Thorac
990–991. Surg 1997;63(4):940–943.
3. Bulger EM, Edwards T, Klotz P, et al. Epidural 16. Hershberger RC, Bernadette A, Murphy M, et al.
analgesia improves outcome after multiple rib Endovascular grafts for treatment of traumatic
fractures. Surgery 2004;136(2):426–430. injury to the aortic arch and great vessels. J
4. Callaham M. Pericardiocentesis in traumatic and Trauma 2009;67(3):660–671.
nontraumatic cardiac tamponade. Ann Emerg 17. Hopson LR, Hirsh E, Delgado J, et al. Guidelines
Med 1984;13(10):924–945. for withholding or termination of resuscitation
5. Clancy K, Velopulos C,, Bilaniuk JW, et al. in prehospital traumatic cardiopulmonary
Screening for blunt cardiac injury: an Eastern arrest: a joint position paper from the National
Association for the Surgery of Trauma practice Association of EMS Physicians Standards
management guideline. J Trauma 2012;73(5 Suppl and Clinical Practice Committee and the
4):S301–S306. American College of Surgeons Committee
6. Cook J, Salerno C, Krishnadasan B, et al. The on Trauma. Prehosp Emerg Care 2003;7(1):
effect of changing presentation and management 141–146.
on the outcome of blunt rupture of the thoracic
80 CAPÍTULO 4 n Trauma Torácico
18. Hopson LR, Hirsh E, Delgado J, et al. Guidelines with multiple system trauma. J Trauma
for withholding or termination of resuscitation 1988;28:914–920.
in prehospital traumatic cardiopulmonary arrest. 33. Reed AB, Thompson JK, Crafton CJ, et al. Timing
J Am Coll Surg 2003;196(3),475–481. of endovascular repair of blunt traumatic
19. Hunt PA, Greaves I, Owens WA. Emergency thoracic aortic transections. J Vasc Surg
thoracotomy in thoracic trauma—a review. Injury 2006;43(4):684–688.
2006;37(1):1–19. 34. Rhee PM, Acosta J, Bridgeman A, et al. Survival
20. Inaba K, Branco BC, Eckstein M, et al. Optimal after emergency department thoracotomy:
positioning for emergent needle thoracostomy: a review of published data from the past 25 years.
cadaver-based study. J Trauma 2011;71:1099–1103. J Am Coll Surg 2000;190(3):288–298.
21. Inaba K, Lustenberger T, Recinos G, et al. Does 35. Richardson JD, Adams L, Flint LM. Selective
size matter? A prospective analysis of 28-32 management of flail chest and pulmonary
versus 36-40 French chest tube size in trauma. J contusion. Ann Surg 1982;196(4):481–487.
Trauma 2012;72(2):422–427. 36. Roberts D, Leigh-Smith S, Faris P, et al.
22. Karalis DG, Victor MF, Davis GA, et al. The role Clinical presentation of patients with tension
of echocardiography in blunt chest trauma: pneumothorax: a systematic review. Ann Surg
a transthoracic and transesophageal echo- 2015;261(6):1068–1078.
cardiography study. J Trauma 1994;36(1):53–58. 37. Rosato RM, Shapiro MJ, Keegan MJ, et al. Cardiac
23. Karmy-Jones R, Jurkovich GJ, Nathens AB, et al. injury complicating traumatic asphyxia. J Trauma
Timing of urgent thoracotomy for hemorrhage 1991;31(10):1387–1389.
after trauma: a multicenter study. Archives of 38. Rozycki GS, Feliciano DV, Oschner MG, et al.
Surgery 2001;136(5):513–518. The role of ultrasound in patients with possi-
24. Lang-Lazdunski L, Mourox J, Pons F, et al. Role of ble penetrating cardiac wounds: a prospective
videothoracoscopy in chest trauma. Ann Thorac multicenter study. J Trauma 1999;46(4):542–551.
Surg 1997;63(2):327–333. 39. Simon B, Cushman J, Barraco R, et al. Pain
25. Lee TH1, Ouellet JF, Cook M, et al. management in blunt thoracic trauma: an EAST
Pericardiocentesis in trauma: a systematic Practice Management Guidelines Workgroup. J
review. J Trauma 2013;75(4):543–549. Trauma 2005;59:1256–1267.
26. Lockey D, Crewdson K, Davies G. Traumatic 40. Sisley AC, Rozyycki GS, Ballard RB, et al.
cardiac arrest: who are the survivors? Ann Emerg Rapid detection of traumatic effusion using
Med 2006;48(3):240–244. surgeon-performed ultrasonography. J Trauma
27. Marnocha KE, Maglinte DDT, Woods J, et al. 1998;44:291–297.
Blunt chest trauma and suspected aortic rupture: 41. Smith MD, Cassidy JM, Souther S, et al.
reliability of chest radiograph findings. Ann Transesophageal echocardiography in the
Emerg Med 1985;14(7):644–649. diagnosis of traumatic rupture of the aorta. N
28. Meyer DM, Jessen ME, Wait MA. Early evacuation Engl J Med 1995;332:356–362.
of traumatic retained hemothoraces using 42. Søreide K, Søiland H, Lossius HM, et al.
thoracoscopy: a prospective randomized trial. Resuscitative emergency thoracotomy in a
Ann Thorac Surg 1997;64(5):1396–1400. Scandinavian trauma hospital—is it justified?
29. Mirvis SE, Shanmugantham K, Buell J, et al. Use of Injury 2007;38(1):34–42.
spiral computed tomography for the assessment 43. Stafford RE, Linn J, Washington L. Incidence and
of blunt trauma patients with potential aortic management of occult hemothoraces. Am J Surg
injury. J Trauma 1999;45:922–930. 2006;192(6):722–726.
30. Moon MR, Luchette FA, Gibson SW, et al. 44. Swaaenburg JC, Klaase JM, DeJongste MJ, et al.
Prospective, randomized comparison of epidural Troponin I, troponin T, CKMB-activity and CKMG-
versus parenteral opioid analgesia in thoracic mass as markers for the detection of myocardial
trauma. Ann Surg 1999;229:684–692. contusion in patients who experienced blunt
31. Powell DW, Moore EE, Cothren CC, et al. Is trauma. Clin Chim Acta 1998;272(2):171–181.
emergency department resuscitative thora- 45. Tehrani HY, Peterson BG, Katariya K, et al.
cotomy futile care for the critically injured Endovascular repair of thoracic aortic tears. Ann
patient requiring prehospital cardiopulmonary Thorac Surg 2006;82(3):873–877.
resuscitation? J Am Coll Surg 2004;199(2): 46. Weiss RL, Brier JA, O’Connor W, et al. The
211–215. usefulness of transesophageal echocardio-
32. Ramzy AI, Rodriguez A, Turney SZ. Management graphy in diagnosing cardiac contusions. Chest
of major tracheobronchial ruptures in patients 1996;109(1):73–77.
BIBLIOGRAFIA 81
47. Wilkerson RG, Stone MB. Sensitivity of 48. Woodring JH. A normal mediastinum in
bedside ultrasound and supine anteroposterior blunt trauma rupture of the thoracic aorta
chest radiographs for the identification of and brachiocephalic arteries. J Emerg Med
pneumothorax after blunt trauma. [Review] [24 1990;8:467–476.
refs] Acad Emerg Med 2010;17(1):11–17.
5 TRAUMA ABDOMINAL
E PÉLVICO
Mecanismo de trauma
• Contuso/Fechado
• Penetrante
• Explosão
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de do cirurgião e possíveis intervenções cirúrgicas e/ou
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: hemodinâmicas.
83
84 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico
A
avaliação da circulação durante a avaliação A região tóraco-abdominal é a área inferior à linha
primária envolve investigação precoce de dos mamilos anteriormente, à linha infra-escapular
possíveis sangramentos intra-abdominais e/ou posteriormente e superior aos rebordos costais. Esta
pélvicos em pacientes submetidos a traumas contusos. área inclui diafragma, fígado, baço e estômago, e é
Ferimentos penetrantes no tronco, entre a linha dos de certa forma protegida pelo arcabouço costal. Por
mamilos e o períneo, devem ser considerados como causa causa da ascensão do diafragma até o nível do 4º espaço
potencial de lesões intraperitoneais. O mecanismo de intercostal durante a expiração plena, fraturas das
trauma, a intensidade da lesão, sua localização, e o estado costelas inferiores e ferimentos penetrantes abaixo da
hemodinâmico do paciente determinam as prioridades e linha dos mamilos podem lesar vísceras abdominais.
os melhores métodos de avaliação abdominal e pélvica. O flanco é uma área entre a linha axilar anterior e
Lesões abdominais e pélvicas despercebidas continuam a posterior do 6º espaço intercostal até a crista ilíaca.
ser causa de morte evitável após trauma no tronco. Rotura O dorso é a área localizada na região posterior e tem
de víscera oca e sangramento de víscera maciça ou de ossos como limites as linhas axilares posteriores, as pontas
da pelve podem não ser facilmente reconhecidos. Soma-se a das escápulas e as cristas ilíacas. Isso representa a
isso o fato de que a avaliação do paciente é frequentemente região tóraco-abdominal posterior. A musculatura nas
comprometida por intoxicação por álcool, uso de drogas regiões do flanco, dorso e paravertebral atuam como
ilícitas, lesões cerebrais e medulares e lesões a estruturas um mecanismo de proteção parcial de lesões viscerais.
adjacentes, tais como arcos costais e coluna. Perda sanguínea O flanco e o dorso contêm o espaço retroperitoneal. Este
significativa pode estar presente na cavidade abdominal espaço é a área posterior ao revestimento peritoneal do
sem mudanças dramáticas na aparência externa ou volume abdome. Ele contém a aorta abdominal; veia cava inferior;
do abdome e sem sinais óbvios de irritação peritoneal. a maior parte do duodeno, pâncreas, rins e ureteres; a
Qualquer paciente submetido a lesões no tronco por golpes porção posterior do cólon ascendente e descendente; e
diretos, desaceleração, explosão ou penetrações devem ser os componentes retroperitoneais da cavidade pélvica.
considerados como portadores de lesões viscerais, vasculares Lesões de órgãos e vísceras retroperitoneais são de difícil
ou pélvicas até que se prove o contrário. reconhecimento e diagnóstico, pois são bem profundas e
não apresentarão sinais e sintomas inicialmente. Outra
dificuldade diagnóstica é que esse espaço não é acessado
A n atomia do a bdome pelo Lavado Peritoneal Diagnóstico (LPD) e é difícil de
ser adequadamente estudado durante a realização da
Uma revisão da anatomia do abdome com ênfase nas ultrassonografia direcionada para trauma (FAST).
estruturas que são críticas na avaliação e atendimento inicial A cavidade pélvica é limitada pelos ossos pélvicos,
em pacientes traumatizados é demonstrado na (n FIGURA 5-1). consistindo essencialmente na parte inferior dos espaços
O abdome é parcialmente protegido pelo tórax inferior. retro e intraperitoneal. Ela contém o reto, a bexiga e os
O abdome anterior é definido como a área entre os vasos ilíacos e, nas mulheres, os órgãos reprodutores
rebordos costais superiormente, entre os ligamentos internos. A perda de sangue pode ser muito significativa
inguinais e a sínfise púbica inferiormente e a linha axilar nessa região e ocorrer a partir de qualquer ferimento nos
anterior lateralmente. A maioria das vísceras ocas está órgãos pélvicos ou na estrutura óssea.
em risco quando há qualquer lesão no abdome anterior.
n FIGURA 5-1 Anatomia do Abdome. A. Abdome anterior e região tóraco-abdominal. B. Flanco. C. Dorso. D. Cavidade pélvica.
MECANISMO DE TRAUMA 85
trauma contuso
O impacto direto, como o contato com o volante, guidão
de bicicleta ou motocicleta ou com a intrusão da porta A
em uma colisão de veículos pode causar compressão ou
esmagamento de vísceras abdominopélvicas e da estrutura
óssea da pelve. Tais forças deformam órgãos sólidos e
vísceras ocas podendo causar sua ruptura, acarretando
hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo
intestinal e, consequentemente, peritonite.
O cisalhamento é uma forma de lesão por esmagamento
que pode ocorrer quando um dispositivo de segurança
de restrição é usado de forma inadequada (n FIGURA 5-2A).
Pacientes traumatizados por acidentes automobilísticos
e por queda de altura são submetidos a lesões por
desaceleração, nos quais há um movimento diferente
das porções fixas e móveis do corpo. Exemplos desse tipo
de lesão inclui as lacerações do fígado e do baço, ambos
órgãos móveis que se encontram fixos em seus sítios por
B
ligamentos. Lesões extensas do mesentério do intestino n FIGURA 5-2 Lesão por Cinto Abdominal e Alça de Balde. A. Lesões são
mais comuns quando o cinto de segurança não estiver adequadamente
delgado também são exemplos de lesão por desaceleração colocado. B. Lesão extensa de mesentério (“alça de balde”).
(n FIGURA 5-2B).
Em pacientes vítimas de trauma fechado, os órgãos Ferimentos por arma de fogo podem causar lesões intra-
mais frequentemente acometidos são o baço (40-55%), o abdominais adicionais em decorrência de sua trajetória, do
fígado (35-45%) e o intestino delgado (5-10%). Além disso, efeito de cavitação e da possível fragmentação do projétil.
observa-se também uma incidência de 15% de hematoma Os ferimentos por arma de fogo frequentemente acometem
retroperitoneal nos pacientes com trauma abdominal mais o intestino delgado (50%), o cólon (40%), o fígado
submetidos à laparotomia. Embora os dispositivos de (30%) e as estruturas vasculares abdominais (25%). O
contenção previnam ferimentos mais graves, eles podem tipo de arma, o formato do cano e o tipo de munição
acarretar padrões específicos de lesões, como demonstrado são determinantes do grau de lesão tecidual. As lesões
na n TABELA 5-1. O acionamento do airbag não impede lesão decorrentes de arma do tipo escopeta ou espingarda
abdominal. dependem também da distância entre a arma e o paciente.
Avaliação E TRATAMENTO
(hematoma no escroto ou sangue no meato uretral), Exame Uretral, Perineal, Retal, Vaginal e Glúteo
de discrepância entre o comprimento dos membros ou
de uma deformidade rotacional da perna sem fratura A presença de sangue no meato uretral, sugere
óbvia. Nesses pacientes, a manipulação da pelve pode fortemente uma lesão uretral. Equimose ou hematoma
ser prejudicial, uma vez que pode desalojar um coágulo no escroto e períneo também são sugestivos de lesão
já formado, precipitando assim hemorragia adicional. uretral, embora estes achados possam estar ausentes
A palpação cuidadosa do anel pélvico, em busca de dor precocemente. Em pacientes que sofreram trauma
pode fornecer informações úteis sobre a presença de fraturas contuso, os objetivos do exame retal são avaliar o tônus
pélvicas. A manobra de distração (girar a pelve internamente do esfíncter e integridade da mucosa retal e identificar
e em seguida externamente) da pelve não é recomendada quaisquer fraturas palpáveis da pelve. A palpação da
durante a avaliação precoce das lesões, porque pode piorar próstata não é um sinal confiável de lesão uretral. Nos
ou gerar sangramento pélvico recorrente. pacientes com ferimentos penetrantes, o exame retal
A hemipelve instável migra cranialmente por causa é utilizado para avaliar o tônus do esfíncter e buscar a
das forças musculares e apresenta uma rotação externa presença de sangue na luz do reto, o que pode indicar
secundariamente ao efeito da gravidade sobre a hemipelve uma perfuração intestinal. Não realize cateterismo
instável. A rotação externa da pelve instável resulta em vesical em um paciente com hematoma perineal ou
um acréscimo significativo do volume pélvico que pode sangue no meato uretral, antes de uma avaliação
acomodar grandes volumes de sangue. O uso de cinta deve definitiva de possível lesão da uretra.
ser centrado sobre os trocanteres maiores ao invés das cristas Fragmentos ósseos de fratura pélvica ou ferimentos
ilíacas. A identificação de anormalidades neurológicas penetrantes, podem lacerar a vagina. Realize um
distais ou feridas abertas no flanco, períneo, vagina ou reto exame vaginal na presença de lesões suspeitas, como
podem representar evidências de instabilidade do anel lacerações perineais complexas, fratura pélvica ou
pélvico. Uma radiografia anteroposterior (AP) da pelve é lesão transfixante de pelve por projétil de arma de
um complemento útil para identificar uma fratura pélvica, fogo. Em mulheres menstruadas, que não respondem
atendendo as limitações do exame clínico (Ver Apêndice ao comando verbal, examine a vagina em busca de
G: Estação Prática Circulação). tampões deixados no local, que podem ser foco tardio
de sepse em traumatizados.
A região glútea se estende das cristas ilíacas até
armadilhas prevençÃo as pregas glúteas. As lesões penetrantes nessa área
estão associadas a uma incidência de até 50% de lesões
Manipulação repetida • Manipulação cuidadosa intra-abdominais significativas, incluindo lesão do reto
da fratura pélvica pode do anel pélvico pode abaixo da reflexão peritoneal. Esses ferimentos exigem
agravar as hemorragias. fornecer informações uma busca por tais lesões.
úteis sobre a presença
das fraturas pélvicas;
evite exames repetidos
medidas auxiliares ao exame fisico
da pelve.
• Use uma cinta pélvica Sondas gástricas e urinárias são frequentemente
corretamente para inseridas durante a fase de reanimação, à medida que
limitar precocemente a os problemas com a via aérea, ventilação e circulação
hemorragia.
são diagnosticados e tratados.
suspeita de fratura de base de crânio, a sonda gástrica feito com FAST ou LPD. A única contraindicação para
deve ser inserida pela boca para impedir que atravesse realização desses exames é a indicação de laparotomia.
a placa crivosa e penetre no cérebro. Pacientes com os seguintes achados requerem avaliação
A sondagem vesical durante a reanimação vai aliviar abdominal adicional para identificar ou excluir lesões
retenções, identificar sangramentos, monitorar o intra-abdominais:
débito urinário como índice de perfusão tissular e
descomprimir a bexiga antes da realização de LPD •• Sensório rebaixado
(quando indicado). Uma bexiga cheia facilita a obtenção
•• Sensibilidade alterada
de imagens no FAST. Portanto, se o FAST estiver
indicado, retarde o cateterismo vesical, até que o exame •• Lesões a estruturas adjacentes, como arcos
tenha sido concluído. Hematúria macroscópica é um costais inferiores, pelve e coluna lombar
sinal de trauma do trato genitourinário, incluindo
•• Exame físico não confiável
rins, ureteres e bexiga. A ausência de hematúria não
exclui lesões do trato geniturinário. Na incapacidade •• Perda prolongada de contato com o paciente
de urinar espontaneamente, na presença de fratura como anestesia geral para tratamento de lesões
pélvica instável, de sangue no meato uretral, hematoma extra-abdominais ou estudos radiológicos
escrotal ou equimose perineal, a realização de demorados
uretrografia retrógrada é mandatória para confirmar
a integridade da uretra antes de inserir a sonda vesical. •• Sinal do cinto de segurança com suspeita de
A detecção de lesão uretral durante a avaliação primária lesão intestinal
ou secundária pode necessitar da inserção de uma
sonda suprapúbica por um médico experiente. Quando uma lesão intra-abdominal é suspeitada,
uma série de exames pode fornecer informações
úteis. Entretanto, quando existirem indicações para
armadilhas prevenção transferência, a realização destes exames, atrasando a
transferência, não deve ocorrer, inclusive tomografias.
Em pacientes com fraturas • Evite sonda nasogástrica
n TABELA 5-2 resume as indicações, vantagens e
do terço médio da face, em lesões de terço
desvantagens do uso da LPD, FAST e TC na avaliação
uma sonda nasogástrica médio da face; use a via
pode passar pelos seios orogástrica.
de traumas abdominais contusos.
da face até a cavidade
craniana. Radiografias no Trauma Abdominal
Pacientes pediátricos têm • Uma sonda nasogástrica Uma radiografia AP do tórax é recomendada na avaliação
incidência alta de distensão é útil em pacientes de pacientes com trauma fechado multissistêmico.
gástrica aguda após trauma. pediátricos para Pacientes hemodinamicamente instáveis com
reduzir risco de ferimentos penetrantes do abdome não necessitam
broncoaspiração e de triagem radiográfica na sala de emergência. Se o
estímulo vagal. paciente está hemodinamicamente normal e tem um
trauma penetrante acima da cicatriz umbilical ou uma
A passagem de uma • Para evitar iatrogenia lesão toracoabdominal suspeita, a realização de uma
sonda gástrica pode ser não force a passagem radiografia de tórax em posição ortostática pode ser útil
impossível em pacientes de sonda nasogástrica
para excluir a presença de hemotórax ou pneumotórax ou,
com hérnia hiatal (mais após muitas tentativas.
ainda, para documentar a presença de ar intraperitoneal.
comum em idosos). Eventualmente será
necessário o auxílio de
Em pacientes hemodinamicamente normais, os orifícios
métodos radiográficos de entrada e saída podem ser marcados com materiais
ou outros exames para metálicos, como clipes ou moedas, para que a radiografia
sua inserção. do abdome em posição supina seja obtida com o intuito
de determinar o trajeto do projétil ou a presença de ar
retroperitoneal. A obtenção de duas incidências (AP e
Outros Estudos lateral) pode permitir a orientação espacial de corpos
estranhos. Uma radiografia AP pélvica pode ser útil
Com preparo e uma equipe organizada, o exame físico no estabelecimento da origem da perda de sangue em
pode ser realizado rapidamente. Em pacientes com pacientes com estado hemodinâmico instável e em
alterações hemodinâmicas, uma rápida exclusão de pacientes com dor pélvica. O paciente acordado, alerta
sangramentos intra-abdominais é necessária e pode ser e sem dor, não necessita de uma radiografia pélvica.
90 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico
LPD FAST TC
Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para o O FAST inclui o exame de quatro regiões: o saco
Trauma pericárdico, o espaço hepatorrenal (Espaço de Morrisson),
espaço esplenorrenal e a pelve ou o fundo de saco de
Quando realizado por profissionais devidamente Douglas (n FIGURA 5-5A). Uma vez que o primeiro exame
treinados, o FAST é uma ferramenta considerada aceitável, foi realizado, uma segunda série de imagens pode ser
rápida e executável para a identificação de fluidos obtida para detectar hemoperitônio progressivo (n FIGURA
intraperitoneais (n FIGURA 5-4). Tem a vantagem de poder 5-5B). O FAST pode ser realizado à beira do leito, na sala de
ser repetida e poder detectar tamponamento cardíaco, reanimação ou simultaneamente a outros procedimentos
uma das causas não hipovolêmicas de hipotensão. diagnósticos ou terapêuticos. Ver Apêndice G: Estação
Prática Circulação, e vídeo FAST no aplicativo móvel
armadilha prevenção MyATLS.
n FIGURA 5-4 Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para o n FIGURA 5-6 Lavado Peritoneal diagnóstico (LPD). O LPD é um
Trauma (Focused Assessment with Sonography for Trauma - FAST). procedimento invasivo, rápido que é sensível para a detecção de
No FAST usamos tecnologia e ultrassom para detectarmos a presença hemoperitônio.
de hemoperitônio.
Tomografia Computadorizada
emergência. Não realize TC se atrasar a transferência solução é infundida na bexiga até que o fluxo pare, que
de um paciente para um centro de trauma. o paciente urine espontaneamente ou que o paciente
A TC fornece informações sobre a presença e a extensão sinta desconforto. Isto é seguido pela instilação de 50
das lesões de órgãos específicos e pode identificar lesões mL adicionais de contraste para assegurar a distensão
de órgãos retroperitoneais e pélvicos, que são difíceis de da bexiga. Radiografias nas incidências AP antes do
avaliar com exame físico, FAST e LPD. As contraindicações contraste, distendida e pós-miccional são essenciais
relativas para a realização da TC incluem a demora em para definitivamente excluir quaisquer lesões vesicais.
se obter um tomógrafo, a falta de colaboração de um A avaliação da bexiga e da pelve pela TC (cistografia por
paciente que não pode ser sedado com segurança e TC) é uma alternativa particularmente útil para fornecer
alergia ao contraste. A TC pode deixar de diagnosticar informações adicionais sobre os rins e os ossos pélvicos.
algumas alterações gastrointestinais, diafragmáticas Suspeita de lesões do sistema urinário são avaliadas
e pancreáticas. Na ausência de lesões hepáticas ou melhor por TC com contraste. Se a TC não estiver
esplênicas, a presença de liquido livre na cavidade disponível a urografia excretora é uma alternativa.
abdominal sugere lesão no trato gastrointestinal e/ou Uma dose elevada e rápida de contraste é realizada com
no mesentério e muitos cirurgiões de trauma acreditam 200 mg de iodo/Kg de peso corporal. A visualização
que este fato seja uma indicação para laparotomia precoce. radiográfica dos cálices renais deverá aparecer 2
minutos após o término da infusão do contraste. A não
Laparoscopia Diagnóstica ou Toracoscopia visualização unilateral indica ausência de um dos rins,
trombose, avulsão da artéria renal ou comprometimento
A laparoscopia diagnóstica é um método aceitável gravíssimo do parênquima renal. A não visualização
para avaliar pacientes hemodinamicamente normais, pode justificar uma avaliação radiológica adicional.
vítimas de trauma penetrante com possibilidade de Lesões isoladas de órgãos gastrointestinais
trajeto tangencial e sem indicação de laparotomia. retroperitoneais (como por exemplo duodeno, cólon
A laparoscopia é útil para diagnosticar lesões ascendente, cólon descendente, reto, vias biliares e
diafragmáticas e penetração peritoneal. A necessidade pâncreas) podem não causar peritonites e não ser detectadas
de anestesia geral limita seu uso.
A uretrografia deve ser realizada antes da inserção de Saber que os • Manter alto índice de
uma sonda vesical, quando houver suspeita de lesão exames físico ou suspeição por lesões
de uretra. O exame é realizado com uma sonda vesical complementares, como abdominais ou pélvicas
número 8 French fixada no meato uretral pelo balonete FAST ou RX, podem nos pacientes obesos com
inflado com 1,5 a 2 mL. Cerca de 30 a 35 mL de contraste estar comprometidos mecanismo de trauma
sem diluição são instilados com uma leve pressão. nos pacientes obesos. compatível.
Nos homens a radiografia é obtida com uma projeção • Reconhecer as limitações dos
anteroposterior, com um pequeno estiramento do pênis exames complementares.
em direção a um dos ombros do paciente. Um estudo
adequado é capaz de mostrar o refluxo de contraste para Saber que lesões • Terapia agressiva e precoce
leves abdominais ou são fundamentais para um
o interior da bexiga.
pélvicas podem levar bom desfecho.
Uma cistografia ou uma cistografia por TC é o método
a sangramento severo • Determine o grau da
mais eficaz para diagnosticar uma rotura intra ou nos idosos assim como coagulopatia e faça a
extraperitoneal da bexiga. Um recipiente com 350 pacientes em uso de reversão, quando possível.
mL de contraste hidrossolúvel é conectado à sonda anticoagulantes.
vesical e elevada a cerca de 40 cm acima do paciente. A
AVALIAÇÃO 93
A espessura do flanco e dos músculos do dorso protege contraste. O acompanhamento ambulatorial precoce é
as vísceras subjacentes contra lesões causadas por mandatório após um período de observação hospitalar
ferimentos por arma branca e alguns ferimentos por de 24 horas, por causa da apresentação sutil de certas
projétil de arma de fogo. Para aquelas lesões que não lesões colônicas.
têm indicação de laparotomia imediata, as opções O LPD também pode ser usado nestes pacientes como
de diagnóstico menos invasivas incluem exame um teste de triagem precoce. O LPD positivo é indicação
físico seriado (com ou sem o FAST), TC com duplo ou de laparotomia de urgência. No entanto, o LPD pode
triplo contraste e LPD. Em pacientes com ferimentos não identificar lesões do cólon retroperitoneal.
posteriores a linha axilar anterior, o exame físico
seriado na identificação de peritonite é muito preciso na Indicações de laparotomia
detecção de lesões retroperitoneais ou intraperitoneais.
A TC com duplo ou triplo contraste é um estudo Uma avaliação cirúrgica é necessário para determinar
demorado que pode avaliar mais completamente as o tempo e a necessidade de laparotomia (n FIGURA 5-7).
porções retroperitoneais do cólon, no lado da ferida. As seguintes indicações são comumente usadas para
A precisão é comparável à do exame físico seriado. No
entanto, a TC permite um diagnóstico precoce da lesão facilitar o processo de tomada de decisão a este respeito:
quando ela for realizada corretamente. •• Trauma abdominal fechado, com hipotensão,
Raramente, as lesões retroperitoneais podem não com FAST positivo ou evidência clinica de
ser percebidas pelo exame físico seriado ou TC com sangramento intraperitoneal, ou sem outra
fonte de hemorragia
•• Trauma abdominal fechado ou penetrante outro lado, o nível de amilase pode ser elevado por lesões não
com aspiração de conteúdo gastrointestinal, pancreáticas. A TC de duplo contraste pode não identificar
fibras vegetais ou bile no LPD, ou aspiração lesões pancreáticas significativas no período imediato pós-
de 10 mL ou mais de sangue em pacientes trauma (até 8 horas). Pode ser repetido ou outras imagens
hemodinamicamente instáveis. de estudo pancreático realizada se se suspeitar destas lesões.
Caso os achados de imagem sejam inconclusivos, uma
exploração cirúrgica do pâncreas é recomendada.
avaliação de outras lesões específicas
Lesões Geniturinárias
O fígado, o baço e os rins são órgãos predominantemente
envolvidos em trauma abdominal fechado, embora a Trauma no dorso ou nos flancos que resultam em contusões,
incidência relativa de perfuração de víscera oca e as hematomas ou equimoses são marcadores de possíveis
lesões de coluna vertebral lombar aumentem com o uso lesões renais e exigem uma avaliação (TC ou urografia
inadequado do cinto de segurança (ver Tabela 5-1). O excretora) do trato urinário. A hematúria macroscópica já
diagnóstico de lesões no diafragma, duodeno, pâncreas, é um indicativo de avaliação por imagem do trato urinário.
sistema geniturinário e intestino delgado pode ser difícil. Hematúria macroscópica e microscópica em pacientes
A maioria das lesões penetrantes são diagnosticadas na em choque são marcadores para aumento do risco de
laparotomia. lesões renais. Uma TC abdome com contraste venoso pode
documentar a presença e a extensão de uma lesão renal
Lesões do Diafragma contusa, que pode ser tratada de forma não-operatória. A
trombose da artéria renal e a ruptura do pedículo renal por
Lacerações podem ocorrer em quaisquer porções das desaceleração são lesões raras nas quais a hematúria pode
cúpulas diafragmáticas, embora a hemicúpula esquerda estar ausente, embora o paciente possa ter dor abdominal
seja mais frequentemente comprometida. Uma lesão intensa. Urografia excretora, TC ou arteriografia renal,
comum tem cerca de 5 a 10 cm de extensão e envolve podem ser úteis no diagnóstico de ambas.
a região póstero-lateral da hemicúpula diafragmática Uma fratura pélvica anterior geralmente está presente
esquerda. As anormalidades na radiografia de tórax inicial em pacientes com lesão da uretra. As rupturas da uretra são
incluem elevação ou “borramento” do hemidiafragma, divididas em duas: acima (posterior) ou abaixo (anterior)
hemotórax, uma sombra gasosa anormal que obscurece do diafragma urogenital. Uma lesão da uretra posterior
o hemidiafragma ou uma sonda gástrica posicionada geralmente ocorre em pacientes com trauma multissistêmico
acima da linha da hemicúpula diafragmática. No entanto a e fraturas pélvicas. Já a lesão uretral anterior é resultado de
radiografia de tórax inicial pode ser normal num pequeno um trauma a cavaleiro e pode ser uma lesão isolada.
percentual de pacientes. Suspeite deste diagnóstico para
qualquer lesão penetrante toracoabdominal e confirme Lesões de Visceras Ocas
com laparotomia, toracoscopia ou laparoscopia.
As lesões contusas do intestino geralmente são
Lesões Duodenais resultantes de desaceleração brusca que acarreta um
esgarçamento próximo a um ponto fixo de sustentação
A ruptura duodenal é encontrada classicamente em visceral, principalmente quando o cinto de segurança foi
motoristas sem cinto de segurança, envolvidos em usado de maneira incorreta. Lesões intestinais devem ser
colisão automobilística com impacto frontal e pacientes pesquisadas frente a equimoses lineares e transversas
submetidos a golpes diretos sobre o abdome, como na parede abdominal (sinal do cinto de segurança) ou
aqueles produzidos por “guidão” de bicicleta. Um uma fratura lombar com desvio detectada na radiografia
aspirado gástrico hemorrágico ou a presença de ar (fratura de Chance). Embora alguns pacientes possam
retroperitoneal em uma radiografia de abdome ou TC apresentar dor abdominal precoce, o diagnóstico de
deve levantar a suspeita desta lesão. Radiografias de lesão de víscera oca pode ser difícil pois nem sempre
abdome seriadas, TC com duplo contraste ou laparotomia está associada a sangramento significativo.
de urgência são indicados para pacientes com alto risco.
Lesões de Órgãos Sólidos
Lesões Pancreáticas
Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque,
Lesões pancreáticas geralmente resultam de um golpe instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia
epigástrico direto que comprime o pâncreas contra a coluna ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de
vertebral. Um nível inicial de amilase sérica normal não órgão sólido em pacientes hemodinamicamente estáveis,
exclui um trauma pancreático de maior magnitude. Por muitas vezes pode ser tratada não operatoriamente.
96 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico
n FIGURA 5-8 Fraturas Pélvicas. A. Fratura por compressão. B. Fraturas por compressão lateral. C. Fratura por cisalhamento vertical.
AVALIAÇÃO 97
Este cisalhamento rompe os ligamentos sacrotuberoso em hospitais sem recursos para tratar definitivamente
e sacroespinhoso levando à instabilidade pélvica. Uma a hemorragia associada. Nesses casos, técnicas simples
queda de altura superior a 3,66 metros geralmente resulta podem ser usadas para estabilizar a pelve, antes de
em uma lesão por cisalhamento vertical. transferir o paciente. Como as lesões pélvicas associadas a
A mortalidade em pacientes com todos os tipos de grandes hemorragias rodam externamente a hemipelve,
fraturas pélvicas é aproximadamente uma em cada seis a rotação interna dos membros inferiores também
(variações de 5 a 30%). A mortalidade aumenta para pode reduzir o volume pélvico. Ao aplicar um suporte
cerca de um em cada quatro (variações de 10 a 42%) em diretamente a pelve do paciente é possível estabilizar
pacientes com fratura pélvica fechada e hipotensão. Em a pelve fraturada, reduzindo ainda mais o potencial de
pacientes com fratura pélvica aberta a mortalidade é hemorragia pélvica. Um lençol, cinta pélvica ou outro
de aproximadamente 50%. A hemorragia é o principal dispositivo pode produzir uma fixação temporária
fator potencialmente reversível, que contribui para a eficiente para a pelve instável quando aplicada ao nível
mortalidade. (Ver Apêndice G: Estação Prática Circulação.) dos trocânteres maiores dos fêmures (n FIGURA 5-9). (Ver
também vídeo Cinta Pélvica no aplicativo móvel MyATLS.)
Tratamento Nos casos de lesões por cisalhamento vertical, a tração
longitudinal aplicada através da pele ou do esqueleto
O tratamento inicial de uma fratura pélvica grave também pode ajudar a proporcionar estabilidade. Isso
associada a choque hemorrágico requer tanto o controle deve ser feito com a consulta de um ortopedista.
do sangramento como a reposição volêmica. O controle da Cintas pélvicas externas são um procedimento
hemorragia é obtido por meio de estabilização mecânica de emergência temporário. A aplicação adequada é
do anel pélvico e contrapressão externa. Os pacientes com obrigatória e os pacientes com cinta pélvica exigem
estas lesões podem ser avaliados e tratados inicialmente monitoramento cuidadoso. Cintas apertadas ou as que
A B
C D
n FIGURA 5-9 Estabilização Pélvica. A. Cinta pélvica. B. Estabilização pélvica com lençol. C. Antes de aplicar a cinta pélvica. D. Após a
aplicação da cinta pélvica.
98 CAPÍTULO 5 n Trauma Abdominal e Pélvico
trabalho em equipe
permaneceram na posição por períodos prolongado
podem causar lesões na pele ou ulcerações sobre as
proeminências ósseas.
•• A equipe deve ser capaz de determinar as
Para o tratamento definitivo dos pacientes com
prioridades de tratamento e identificar quais
alterações hemodinâmicas relacionadas a uma fratura
pélvica, é necessária uma equipe composta por um os procedimentos ou intervenções simultâneas
cirurgião de trauma, um cirurgião ortopédico, um necessitem ser realizados. O líder da equipe
radiologista intervencionista e um cirurgião vascular. deve reconhecer a necessidade de aplicar uma
A embolização angiográfica é frequentemente utilizada cinta pélvica e garantir a sua correta aplicação
para parar hemorragia arterial relacionada a fraturas enquanto continua a avaliar a resposta do
pélvicas. O empacotamento pré-peritoneal é um método paciente à reanimação.
alternativo para controlar a hemorragia pélvica quando
•• Certifique-se que os membros da equipe
a embolização demorar ou não estiver disponível. As
técnicas de controle da hemorragia não são exclusivas e trabalhem de forma eficaz e rápida para evitar
pode ser necessário mais de uma técnica para o controle qualquer atraso na transferência de um paciente
satisfatório desta. Um cirurgião de trauma experiente deve com lesão abdominal para cuidados definitivos.
construir um plano terapêutico para um paciente com
hemorragia pélvica com base nos recursos disponíveis.
Embora o tratamento definitivo de pacientes com r e sumo do capítulo
choque hemorrágico e fraturas pélvicas seja variável,
um algoritmo terapêutico é mostrado em (n FIGURA 5-10). 1. As três regiões distintas do abdome são a cavidade
São necessários recursos significativos para tratar de peritoneal, o espaço retroperitoneal e a cavidade
pacientes com fraturas pélvicas graves. A consideração pélvica. A cavidade pélvica contém componentes
precoce de transferência para um centro de trauma tanto da cavidade peritoneal quanto do espaço
é essencial. Em ambientes de recursos limitados, a retroperitoneal.
ausência de recursos cirúrgicos e/ou angiográficos
para pacientes hemodinamicamente instáveis com 2. A avaliação precoce com um cirurgião é necessária
fraturas pélvicas ou pacientes hemodinamicamente para um paciente com possíveis lesões intra-
normais com lesão significativa de órgãos sólidos requer abdominais. Uma vez que as funções vitais do
paciente tenham sido reestabelecidas, a avaliação e
BIBLIOGRAFIA 99
12. Demetriades D, Rabinowitz B, Sofianos C, et al. 25. McCarthy MC, Lowdermilk GA, Canal DF, et
The management of penetrating injuries of the al. Prediction of injury caused by penetrating
back: a prospective study of 230 patients. Ann wounds to the abdomen, flank, and back. Arch
Surg 1988;207:72–74. Surg 1991;26:962–966.
13. Dischinger PC, Cushing BM, Kerns TJ. Injury 26. Mendez C, Gubler KD, Maier RV. Diagnostic
patterns associated with direction of impact: accuracy of peritoneal lavage in patients with
drivers admitted to trauma centers. J Trauma pelvic fractures. Arch Surg 1994;129(5):477–481.
1993;35:454–459. 27. Meyer DM, Thal ER, Weigelt JA, et al. The
14. Ditillo M, Pandit V, Rhee P, et al. Morbid obesity role of abdominal CT in the evaluation of
predisposes trauma patients to worse outcomes: stab wounds to the back. J Trauma 1989;29:
a National Trauma Data Bank analysis. J Trauma 1226–1230.
2014Jan;76(1):176–179. 28. Miller KS, McAnnich JW. Radiographic assess-
15. Esposito TJ, Ingraham A, Luchette FA, et al. ment of renal trauma: our 15-year experience. J
Reasons to omit digital rectal exam in trau- Urol 1995;154(2 Pt 1):352–355.
ma patients: no fingers, no rectum, no useful 29. O’Malley E, Boyle E, O’Callaghan A, et al. Role
additional information. J Trauma 2005Dec; of laparoscopy in penetrating abdominal
59(6):1314–1319. trauma: a systematic review. World J Surg 2013
16. Fabian TC, Croce MA. Abdominal trauma, Jan;37(1):113–122.
including indications for laparotomy. In: 30. Osborn PM, Smith WR, Moore EE, et al.
Mattox LK, Feliciano DV, Moore EE, eds. Trauma. Direct retroperitoneal pelvic packing versus
East Norwalk, CT: Appleton & Lange; 2000: pelvic angiography: a comparison of two
583–602. management protocols for haemodynamically
17. Felder S, Margel D, Murrell Z, et al. Usefulness unstable pelvic fractures.. Injury 2009Jan;40(1):
of bowel sound auscultation: a prospective 54–60.
evaluation. J Surg Educ 2014;71(5):768–773. 31. Osborne Z, Rowitz B. Moore H, et al. Obesity in
18. Holmes JF, Harris D, Battistella FD. Performance trauma: outcomes and disposition trends. Am J
of abdominal ultrasonography in blunt trauma Surg 2014 207(3):387–392; discussion 391–392.
patients with out-of-hospital or emergency 32. Phillips T, Sclafani SJA, Goldstein A, et al. Use
department hypotension. Ann Emerg Med of the contrast-enhanced CT enema in the
2004;43(3):354–361. management of penetrating trauma to the flank
19. Huizinga WK, Baker LW, Mtshali ZW. Selective and back. J Trauma 1986;26:593–601.
management of abdominal and thoracic 33. Poblemann T, Gasslen A, Hufner T, et al.
stab wounds with established peritoneal Extraperitoneal packing at laparotomy. Presented
penetration: the eviscerated omentum. Am J at OTA-AAST Annual meeting Oct 12–14, 2000,
Surg 1987;153:564–568. San Antonio, Texas.
20. Johnson MH, Chang A, Brandes SB. The value of 34. Reid AB, Letts RM, Black GB. Pediatric chance
digital rectal examination in assessing for pelvic fractures: association with intraabdominal in-
fracture-associated urethral injury: what defines juries and seat belt use. J Trauma 1990;30:384–391.
a high-riding or non-palpable prostate? J Trauma 35. Robin AP, Andrews JR, Lange DA, et al. Selective
2013Nov;75(5):913–915. management of anterior abdominal stab wounds.
21. Knudson MM, McAninch JW, Gomez R. Hematuria J Trauma 1989;29:1684–1689.
as a predictor of abdominal injury after blunt 36. Routt ML Jr, Simonian PT, Swiontkowski MF.
trauma. Am J Surg 1992;164(5):482–486. Stabilization of pelvic ring disruptions. Orthop
22. Koraitim MM. Pelvic fracture urethral Clin North Am 1997;28(3):369–388.
injuries: the unresolved controversy. J Urol 37. Rozycki GS, Ballard RB, Feliciano DV, et al.
1999;161(5):1433–1441. Surgeon-performed ultrasound for the assessment
23. Liu M, Lee C, Veng F. Prospective comparison of truncal injuries: lessons learned from 1540
of diagnostic peritoneal lavage, computed patients. Ann Surg 1998;228(4):557–565.
tomographic scanning, and ultrasonography 38. Rozycki GS. Abdominal ultrasonography in
for the diagnosis of blunt abdominal trauma. J trauma. Surg Clin North Am 1995;75:175–191.
Trauma 1993;35:267–270. 39. Shackford SR, Rogers FB, Osler TM, et al. Fo-
24. Liu T, Chen JJ, Bai XJ, et al. The effect of obesity cused abdominal sonography for trauma: the
on outcomes in trauma patients: a meta-analysis. learning curve of nonradiologist clinicians in
Injury 2013 Sep;44(9):1145–1152. detecting hemoperitoneum. J Trauma 1999;46(4):
553–562.
BIBLIOGRAFIA 101
40. Shlamovitz GZ, Mower WR, Bergman J, et al. How 43. Udobi KF, Rodriguez A, Chiu WC, Scalea TM. Role
(un)useful is the pelvic ring stability examination of ultrasonography in penetrating abdominal
in diagnosing mechanically unstable pelvic trauma: a prospective clinical study. J Trauma
fractures in blunt trauma patients? J Trauma 2001;50(3):475–479.
2009;66(3):815–820. 44. Ultrasound in the evaluation and management
41. Sosa JL, Baker M, Puente I, et al. Negative of blunt abdominal trauma. Ann Emerg Med
laparotomy in abdominal gunshot wounds: 1997;29(3):357–366.
potential impact of laparoscopy. J Trauma 1995 45. Velmahos GC, Demetriades D, Cornwell EE 3rd.
Feb;38(2):194–197. Transpelvic gunshot wounds: routine laparotomy
42. Takishima T, Sugimota K, Hirata M, et al. Serum or selective management? World J Surg 1998Oct;
amylase level on admission in the diagnosis of 22(10):1034–1038.
blunt injury to the pancreas: its significance 46. Zantut LF, Ivatury RR, Smith RS, et al. Diagnostic
and limitations. Ann Surg 1997;226(1): and therapeutic laparoscopy for penetrating
70–76. abdominal trauma: a multicenter experience. J
Trauma 1997;42(5):825–829.
6 TRAUMA CRANIENCEFÁLICO
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 3. Descrever os componentes da avaliação neurológica
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: dirigida.
1. Descrever a anatomia intracraniana básica e os princípios 4. Explicar a importância da reanimação adequada para
fisiológicos da pressão intracraniana, a Doutrina Monro- limitar a lesão cerebral secundária.
Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral.
5. Identificar as considerações para transferência, admissão,
2. Descrever a avaliação primária e a reanimação do doente consulta, e alta do doente com trauma craniencefálico.
com trauma craniencefálico.
103
104 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
A
s lesões craniencefálicas encontram-se entre retardar a transferência do doente para um centro de
os tipos de trauma mais frequentemente vistos trauma capaz de realizar intervenção neurocirúrgica
nos Departamentos de Emergência (DE). Muitos imediata e definitiva.
doentes com lesões cerebrais graves morrem antes A triagem do doente com TCE depende da gravidade
de chegar ao hospital; de fato, quase 90% das mortes da lesão e dos recursos disponíveis na comunidade em
pré-hospitalares relacionadas ao trauma envolvem questão. Para os hospitais sem cobertura neurocirúrgica,
lesão cerebral. Aproximadamente 75% dos doentes com devem estar em vigor acordos de transferência previamente
lesão cerebral que recebem cuidados médicos podem ser estabelecidos com serviços mais capacitados. Recomenda-
classificados como vítimas de trauma leve, 15% como se que se consulte precocemente um neurocirurgião.
vítimas de trauma moderado e 10% como vítimas de trauma n QUADRO 6-1 Lista de informações importantes para
grave. Dados mais recentes dos EUA estimam 1.700.000 fornecer ao neurocirurgião a respeito do doente com TCE).
traumatismos craniencefálicos (TCE) anualmente,
incluindo 275.000 hospitalizações e 52.000 mortes.
As vítimas sobreviventes de TCE frequentemente r e v is ão de a n atomi a
apresentam dano neurofisiológico que resulta em invalidez,
comprometendo o trabalho e as atividades sociais. Nos Uma revisão da anatomia craniana inclui o couro cabeludo,
EUA, estima-se que anualmente cerca de 80.000 a 90.000 o crânio, as meninges, o encéfalo, o sistema ventricular, e
pessoas sofrem algum tipo de invalidez de longa duração os compartimentos intracranianos (n FIGURA 6-1).
como resultado de trauma craniencefálico. Nos países
europeus, como por exemplo, na Dinamarca, 300 entre couro cabeludo
cada 1 milhão de habitantes sofrem trauma craniencefálico
moderado ou grave anualmente, sendo que mais de um Em razão da sua irrigação abundante, a laceração
terço dessas vítimas requerem reabilitação. Considerando do couro cabeludo pode levar a perdas sanguíneas
essas estatísticas, mesmo uma pequena redução na significativas, choque hemorrágico e mesmo morte.
mortalidade e na morbidade resultantes de trauma Isso é particularmente verdadeiro em doentes com
craniencefálico teria impacto importante na saúde pública. tempo muito longo de transporte.
O objetivo principal do tratamento dos doentes
com suspeita de TCE grave é prevenir a lesão cerebral crânio
secundária. A maneira mais importante para limitar o
dano cerebral secundário e, consequentemente, melhorar A base do crânio é irregular, possibilitando a ocorrência
o resultado do doente é garantir oxigenação adequada de lesões quando o cérebro se desloca e desliza no interior
e manter a pressão arterial suficiente para garantir a do crânio, em decorrência de movimentos de aceleração
perfusão cerebral. Após a realização dos ABCDE, os doentes e desaceleração. A fossa anterior aloja os lobos frontais,
que são identificados por meio da avaliação clínica como a fossa média aloja os lobos temporais e a fossa posterior
doentes com TCE que necessitam de tratamento em um aloja a porção inferior do tronco cerebral e o cerebelo.
centro de trauma, devem ser prontamente transferidos.
Se existir capacidade neurocirúrgica local é crucial que se Meninges
identifiquem lesões com efeito de massa que necessitem
de drenagem cirúrgica, e isso é obtido da melhor maneira As meninges revestem o cérebro e consistem em três
pela realização imediata de tomografia computadorizada camadas: dura-máter, aracnoide e pia-máter (n FIGURA
(TC) do crânio. Entretanto, a obtenção de TC não deve 6-2). A dura-máter é uma membrana resistente e fibrosa
Vilosidades
aracnoides
Seio reto
Cerebelo
Mesencéfalo
Espalo subaracnóide
Aqueduto
cerebral
Quarto ventrículo
Dura-máter: Crânio
Camada periosteal
Camada meningea
Aracnoide Espaço subdural
Vaso sanguíneo Espaço
Pia-máter Subaracnoide
Seio sagital
Cérebro: superior
Massa cinzenta
Massa branca
Foice do cérebro
(apenas na fissura
longitudinal)
n FIGURA 6-2 As meninges cobrem o cérebro e consistem em três camadas: a dura-máter, a aracnoide a pia-máter.
que adere firmemente à superfície interna do crânio. funções da memória. O lobo occipital é responsável
Em locais específicos, a dura-máter divide-se em duas pela visão.
superfícies que envolvem grandes seios venosos que O tronco cerebral é constituído pelo mesencéfalo,
permitem a maior parte da drenagem venosa cerebral. O ponte e bulbo. O mesencéfalo e a parte superior
seio sagital na linha média superior drena para os seios da ponte contêm o sistema ativador reticular que
bilaterais transverso e sigmoide, que são frequentemente é responsável pelo estado de alerta. No bulbo, que
maiores no lado direito. A laceração desses seios venosos continua para formar a medula espinhal, alojam-se
pode resultar em hemorragia maciça. centros cardiorrespiratórios vitais. Mesmo pequenas
As artérias meníngeas correm entre a dura-máter lesões no tronco cerebral podem ser acompanhadas
e a superfície interna do crânio no espaço epidural. de défice neurológico grave.
Fraturas cranianas acima dessas artérias podem O cerebelo, responsável principalmente
lacerá-las e resultar em hematoma epidural. A artéria pela coordenação e pelo equilíbrio, projeta-se
meníngea média, que se encontra localizada sobre a posteriormente, na fossa posterior, e forma conexões
fossa temporal, é o vaso meníngeo lesado com maior com a medula espinhal, o tronco cerebral e com os
frequência. Um hematoma em expansão, provocado hemisférios cerebrais.
pela laceração arterial nessa localização pode causar
deterioração rápida e morte. Os hematomas epidurais sistema ventricular
também podem resultar de lesões dos seios durais e de
fraturas da calota craniana, que tendem a expandir mais Os ventrículos são um sistema de espaços e aquedutos
lentamente, e provocam menor pressão sobre o cérebro preenchidos de LCR, localizados no interior do encéfalo.
subjacente. Entretanto, a maioria dos hematomas O LCR é produzido constantemente nos ventrículos e
epidurais representam uma emergência com risco de é absorvido sobre a superfície do encéfalo. A presença
morte, devendo ser avaliados por um neurocirurgião de sangue no LCR pode prejudicar a sua reabsorção,
tão logo quanto possível. produzindo aumento da pressão intracraniana. O
Abaixo da dura-máter situa-se a segunda meninge, a edema e as lesões de massa (por exemplo, hematomas),
membrana aracnoide, que é fina e transparente. Como podem provocar obliteração ou desvio dos ventrículos
a dura-máter não está aderida à aracnoide subjacente, que usualmente são simétricos. Tais alterações podem
existe um espaço potencial (o espaço subdural) ser facilmente identificadas na TC de crânio.
no qual podem ocorrer hemorragias. No trauma
craniencefálico, as veias que vão da superfície do compartimentos intracranianos
cérebro para o seios venosos, no interior da dura (veias
em ponte), podem romper-se levando à formação de O encéfalo é separado em regiões por divisórias
hematoma subdural. de meninges bem resistentes. A tenda do cerebelo
A terceira meninge, a pia-máter, está firmemente ou tentório divide a cavidade intracraniana em
aderida à superfície do cérebro. O líquido compartimento supratentorial e infratentorial. O
cefalorraquidiano (LCR) preenche o espaço entre mesencéfalo passa através de uma abertura no tentório
a aracnoide impermeável e a pia-máter (o espaço conhecida como incisura da tenda do cerebelo. O nervo
subaracnoideo), acolchoando o cérebro e a medula oculomotor (III nervo craniano) passa ao longo da
espinhal. Hemorragia para dentro desse espaço margem da tenda do cerebelo, podendo ser comprimido
preenchido de líquido (hemorragia subaracnoidea) é contra ela durante uma herniação do lobo temporal.
frequentemente acompanhada por contusão cerebral Fibras parassimpáticas, que são constritoras das
ou trauma de grandes vasos na base do encéfalo. pupilas, estão na superfície do III nervo craniano. A
compressão dessas fibras durante a herniação causa
encéfalo dilatação pupilar devida à atividade simpática sem
oposição, frequentemente chamada de pupila dilatada
O encéfalo compreende cérebro, cerebelo e tronco (n FIGURA 6-3).
cerebral. O cérebro é composto pelos hemisférios A região do cérebro que habitualmente hernia
direito e esquerdo, separados pela foice cerebral. O através da incisura tentorial é a parte medial do
hemisfério esquerdo contém os centros da linguagem lobo temporal, conhecida como uncus (n FIGURA 6-4).
em virtualmente todos os indivíduos destros e em mais Herniação do uncus também causa compressão do
de 85% dos indivíduos canhotos. O lobo frontal controla trato corticoespinhal (piramidal) do mesencéfalo.
as funções de execução, as emoções, as funções motoras O trato motor cruza para o lado oposto no forame
e, no lado dominante, a expressão da fala (área motora magno, e a sua compressão resulta em défice motor
da fala). O lobo parietal dirige a função sensorial e a do lado oposto do corpo (hemiplegia contralateral). A
orientação espacial. O lobo temporal regula certas dilatação da pupila ipsilateral associada à hemiplegia
REVISÃO DA FISIOLOGIA 107
doutrina de Monro–Kellie
A doutrina de Monro-Kellie é um conceito simples,
mas de vital importância para a compreensão da
dinâmica da PIC. A doutrina afirma que o volume total
do conteúdo intracraniano deve permanecer constante,
n FIGURA 6-3 Pupilas diferentes com a esquerda maior que a direita. já que o crânio é uma caixa rígida não expansível.
Quando o volume intracraniano aumenta, a PIC
também aumenta. O sangue venoso e o LCR podem
ser comprimidos para fora do espaço intracraniano
dando algum grau de compensação à pressão (n FIGURA
6-5 e n FIGURA 6-6). Assim, na fase inicial após o trauma,
uma massa tal como um coágulo sanguíneo pode
aumentar e a PIC permanecer normal. Entretanto,
uma vez atingido o limite de deslocamento do LCR e
do sangue intravascular, a PIC aumenta rapidamente.
r e v is ão da fisiolo g i a
PIC (mm Hg)
75 mL 75 mL
n FIGURA 6-6 A Doutrina Monro–Kellie sobre a Compensação Intracraniana para Massas em Expansão. O volume total do conteúdo
intracraniano permanece constante. Se a adição de uma massa tal como um hematoma resultar na saída forçada de um volume igual de LCR
e sangue venoso para fora do crânio, a PIC permanece normal. Entretanto, quando esses mecanismos de compensação são esgotados, ocorre
um aumento exponencial da PIC mesmo para um pequeno aumento no volume do hematoma. (Adaptado com permissão de Narayan RK:
Head Injury. In: Grossman RG, Hamilton WJ eds., Principles of Neurosurgery. New York, NY: Raven Press, 1991.)
Advanced Traum a Life SupportforDoctors Lorem ipsum
StudentCourse M anual,9e
Para
Am efeitos clínicos,
erican Col a geons
lege ofSurpressão de perfusão cerebral por hipotensão, hipóxia, hipercapnia ou por hipocapnia
(PPC) é e#
Figurdefinida
06.06 como pressão sanguínea arterial média iatrogênica.
(PAM) menos
Dragon a pressão
y M edia Groupintracraniana (PPC = PAM - PIC). Portanto, deve ser feito todo esforço para aumentar
11/23/2011
A PAM entre 50 e 150 mmHg é “auto-regulada” para a perfusão e fluxo sanguíneo cerebrais pela redução
manter o FSC constante (auto-regulação pressórica). O da pressão intracraniana elevada, mantendo o volume
trauma craniencefálico grave pode prejudicar a auto- intravascular e a PAM normais, e restaurando a
regulação pressórica de tal modo que o cérebro fica oxigenação e a ventilação normais. Hematomas e
incapaz de compensar adequadamente as mudanças outras lesões que aumentam o volume intracraniano
na PPC. Assim, se a PAM for muito baixa pode ocorrer devem ser precocemente evacuados. A manutenção da
isquemia e infarto. Se a PAM for muito alta pode ocorrer PPC normal pode ajudar a melhorar o FSC; entretanto,
inchaço com aumento da PIC. a PPC não é igual nem assegura o FSC. Uma vez que os
O vasos cerebrais normalmente também se contraem mecanismos de compensação encontram-se esgotados
ou dilatam em resposta a alterações na pressão parcial e existe um aumento exponencial da PIC, a perfusão
de oxigênio (PaO2) ou na pressão parcial de dióxido cerebral fica comprometida.
de carbono (PaCO2) do sangue (auto-regulação
química). Portanto, a lesão secundária pode ocorrer
CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES CRANIENCEFÁLICAS 109
Morfologia
Classificação das lesões
cr aniencefálicas O trauma craniencefálico pode incluir fraturas de
crânio e lesões intracranianas tais como contusões,
As lesões craniencefálicas são classificadas de várias hematomas, lesões difusas e inchaço resultante de
maneiras. Para efeitos práticos, a gravidade da lesão e edema/hiperemia.
a morfologia serão usadas neste capítulo (n TABELA 6-1).
(Ver também Classificação das Lesões Craniencefálicas Fraturas de Crânio
no aplicativo móvel MyATLS.)
As fraturas de crânio podem ocorrer na calota ou na
gravidade da lesão base do crânio. Elas podem ser lineares ou estreladas
e expostas ou fechadas. Para identificação das fraturas
O escore na Escala GCS é usado como medida clínica da base do crânio habitualmente é necessário o uso de
objetiva da gravidade do trauma craniencefálico (n tomografia computadorizada com “janela” para osso.
TABELA 6-2). (Ver também Ferramenta de cálculo do Os sinais clínicos de fratura de base de crânio incluem a
escore na Escala de Coma de Glasgow no aplicativo equimose periorbital (olhos de guaxinim), a equimose
móvel MyATLS.) Um escore na GCS igual ou inferior retroauricular (sinal de Battle), fístula liquórica através
a 8 tornou-se a definição geralmente aceita de coma do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia) e disfunção
ou trauma craniencefálico grave. Doentes com trauma dos sétimo e oitavo nervos cranianos (paralisia facial e
craniencefálico com escore na GCS de 9 a 12 são perda de audição) que podem ocorrer imediatamente
classificados como “trauma moderado”, e aqueles com ou poucos dias após a lesão inicial. A presença desses
escore de 13 a 15 são designados como “trauma leve". sinais clínicos deve aumentar o índice de suspeita e
Ao avaliar o escore na GCS, quando existe assimetria ajudar na identificação das fraturas da base do crânio.
direita/esquerda ou superior/inferior, é importante Fraturas da base do crânio que atravessam os canais
que se use a melhor resposta motora no cálculo do carotídeos podem lesar as artérias carótidas (dissecção,
escore porque esta é o preditor mais confiável do pseudo-aneurisma ou trombose). Nesses casos deve-se
resultado. Entretanto devem-se anotar as respostas considerar a realização de arteriografia cerebral (angio
efetivas em ambos lados do corpo, face, braços e pernas. TC [ATC] ou por cateterismo arterial).
Fraturas de crânio abertas ou cominutivas podem
estabelecer comunicação direta entre a laceração do
• Difusas • Concussão
• Contusões múltiplas
• Lesão hipóxica/isquêmica
• Lesão Axonal
Fonte: Adaptado com permissão de Valadka AB, Narayan RK. Emergency room management of the head-injured patient. In: Narayan RK, Wilberger JE,
Povlishock JT, eds. Neurotrauma. New York, NY: McGraw-Hill, 1996:120.
110 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
Escore GCS = (O [4] + V [5] + M [6]); Melhor escore possível = 15; Pior escore possível = 3.
*Se uma área não pode ser avaliada, nenhum escore é dado para aquela região e é considerada “não testável”. Fonte: www.glasgowcomascale.org
couro cabeludo e a superfície cerebral, se a dura-máter cérebro devido a choque prolongado ou apneia que
encontrar-se rota. A importância da fratura de crânio ocorrem imediatamente após o trauma. Nesses casos, a
não deve ser subestimada pois para que ela ocorra é TC pode ser inicialmente normal ou o cérebro aparece
necessária a aplicação de força considerável. Uma com edema difuso com perda da distinção habitual entre
fratura linear da calota craniana em doentes conscientes cinza e branco. Outro padrão difuso, frequentemente
aumenta em cerca de 400 vezes a possibilidade de visto em impactos de alta velocidade ou em lesões por
ocorrência de hematoma intracraniano. desaceleração, pode produzir hemorragias pontilhadas
em todos os hemisférios cerebrais, concentrando-se nos
Lesões Intracranianas limites entre as substâncias cinzenta e branca. Essas
“lesões por cisalhamento” mencionadas como lesão
Lesões intracranianas podem ser classificadas como axonal difusa (LAD) e definem uma síndrome clínica
focais ou difusas, embora as duas formas de lesão de lesão cerebral grave, com desfecho variável, mas
frequentemente coexistam. geralmente reservado.
Lesões cerebrais difusas variam de concussões leves, As lesões focais incluem os hematomas epidurais, os
nas quais a TC de crânio é habitualmente normal, até hematomas subdurais, as contusões e os hematomas
lesões hipóxicas isquêmicas graves. Nas concussões, intracerebrais (n FIGURA 6-7).
o doente tem um distúrbio neurológico não focal
transitório que frequentemente inclui perda de
consciência. Lesões difusas graves resultam mais
frequentemente de agressão hipóxica, isquêmica ao
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 111
compreensão aprimorada da fisiopatologia do TCE, doente com TCE leve que está consciente e falando
especialmente o papel da hipotensão, hipóxia e perfusão pode referir história de desorientação, amnésia ou
cerebral, afetaram significativamente os prognósticos perda momentânea de consciência. A história de
dos doentes. A n TABELA 6-3 é uma visão geral do perda momentânea de consciência pode ser de difícil
tratamento do TCE. confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela
coexistência de abuso de álcool ou de outros tóxicos.
TRATAMENTO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO Nunca atribua alterações do estado mental a fatores
LEVE (ESCORE NA GCS 13-15) de confusão até que a lesão cerebral tenha sido
definitivamente excluída. O tratamento do doente
Trauma craniencefálico leve é definido por um escore com trauma craniencefálico leve está descrito na
de 13 a 15 na GCS após a reanimação. Frequentemente, (n FIGURA 6-8). (Ver também Algoritmo do Tratamento
estes doentes sofrem uma concussão com uma história do TCE leve no aplicativo móvel MyATLS.)
de perda transitória da consciência após um TCE. Um
Todos os doentes: Realizar o ABCDE com especial atenção para hipóxia e hipotensão.
* Providenciar a * Intubação e
Determinar Sem TC disponível,
transferência para ventilação para
mecanismo, hora do TC anormal,
avaliação e tratamento proteção da via aérea
trauma, GCS inicial, fratura de crânio,
neurocirúgico
confusão, amnésia fístula liquórica
definitivo * Tratar hipotensão,
lacunar, convulsões,
hipovolemia e hipóxia
gravidade da cefaleia, Défice neurológico
* Avaliação
etc. focal
neurológica dirigido * Avaliação neurológica
dirigida
*Avaliação secundária GCS não retorna
* Avaliação secundária
incluindo avaliação para 15 em 2 horas
e história AMPLA * Avaliação secundária
neurológica dirigida
e história AMPLA
a
Itens marcados com asterisco (*) denotam ação obrigatória.
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 113
Todos os doentes: Realizar o ABCDE com especial atenção para hipóxia e hipotensão.
* Resolver adequadamente as
lesões intracranianas
a
Itens marcados com asterisco (*) denotam ação obrigatória.
114 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
História
• Nome, idade, sexo, raça, ocupação • Nível subsequente de alerta
• Mecanismo de trauma • Amnésia: retrógrada, anterógrada
• Hora de ocorrência do trauma • Cefaleia: leve, moderada, grave
• Perda de consciência imediatamente • Vômitos
após o trauma
n FIGURA 6-8 Algoritmo para o Tratamento do Trauma Craniencefálico Leve. (Adaptado com permissão de Valadka AB, Narayan RK: Emergency
room management of the head-injured patient, in Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT (eds.): Neurotrauma, New York, McGraw-Hill, 1996.)
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO BASEADO EM EVIDÊNCIAS 115
8 Uma pupila (parte preta dos olhos) maior do que a outra, movimentos
estranhos dos olhos, visão dupla ou outros distúrbios visuais
9 Pulso muito lento ou muito rápido, ou padrão respiratório incomum
Assinatura do médico
n FIGURA 6-10 Algoritmo para Tratamento do Trauma Craniencefálico Grave no aplicativo móvel MyATLS).
Craniencefálico Moderado. (Adaptado com permissão de Valadka
AB, Narayan RK, Emergency room management of the head-
injured patient. In: Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT, eds.,
avaliação primária e
Neurotrauma. New York, NY: McGraw-Hill, 1996.) reanimação
(Ver também Algoritmo do Tratamento do Trauma A lesão craniencefálica é frequentemente agravada
Craniencefálico Moderado no aplicativo móvel MyATLS.) por agressões secundárias. A taxa de mortalidade em
Na admissão no Departamento de Emergência, antes doentes com TCE grave que apresentam hipotensão à
da avaliação neurológica, deve-se obter uma história admissão é mais do que o dobro do que naqueles que não
breve e assegurar a estabilidade cardiopulmonar. A TC apresentam. A presença de hipóxia somada à hipotensão
de crânio é realizada e um neurocirurgião é contatado, está associada a um aumento relativo no risco de
ou um centro de trauma se for necessária a transferência. mortalidade de 75%. Portanto, em doentes com trauma
craniencefálico grave, é imperativo que a estabilização
cardiopulmonar seja alcançada rapidamente. n QUADRO
armadilha prevenção 6-2 resume as prioridades na avaliação inicial e triagem de
doentes com trauma craniencefálico grave. (Ver também
Um doente com • Reavaliar o doente Apêndice G: Estação Prática de Disfunção Neurológica.)
escore na GCS de frequentemente para detectar
12 deteriora para qualquer declínio no estado via aérea e ventilação
um escore GCS mental.
de 9. • Usar narcóticos e sedativos com A parada respiratória transitória e a hipóxia são comuns
cautela. em doentes com lesão cerebral grave e podem causar
• Quando necessário, usar lesão cerebral secundária. A intubação endotraqueal
o monitoramento de gases precoce deve ser realizada em doentes comatosos.
sanguíneos ou capnografia para
O doente é ventilado com oxigênio a 100% até
garantir ventilação adequada.
que seja colhida gasometria e sejam feitos os ajustes
• Intubar o doente quando a
ventilação for inadequada.
apropriados da FiO2. Oximetria de pulso é uma medida
auxiliar útil e saturações de O2 > 98% são desejáveis.
118 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
Avaliação e Tratamento
• ABCDE • Reavaliação neurológica: n FIGURA 6-11 Algoritmo para
• Avaliação primária e reanimação • GCS Tratamento Inicial do Trauma
• Avaliação secundária e história AMPLA - Abertura ocular Craniencefálico Grave. (Modificado
• Avaliação e tratamento - Resposta motora com licença de Valadka AB,
• Internação ou transferência para um - Resposta verbal Narayan RK, Emergency room
hospital com capacidade para tratamento • Reação pupilar à luz management of the head-injured
neurocirúrgico definitivo • Avaliação neurológica focal patient. In: Narayan RK, Wilberger
• Agentes terapêuticos (habitualmente JE, Povlishock JT, eds., Neurotrauma.
administrados após consulta com o New York, NY: McGraw-Hill, 1996.)
neurocirurgião)
- Manitol
- Evitar hiperventilação nas primeiras 24
horas a menos que haja sinais de herniação
- Solução salina hipertônica
TC de crânio
1. Todos os doentes devem ser submetidos à avaliação para a sala de operação (SO) para uma laparotomia.
primária, aderindo às prioridades do ABCDE. Acesse Após a laparotomia, é realizada TC de crânio. Se houver
inicialmente a via aérea. Se o doente requer controle evidência clínica de massa intracraniana, serão realizadas
da via aérea, realize e documente uma breve avaliação perfurações diagnósticas com broca ou craniotomia na SO
neurológica antes de administrar drogas para a intubação. enquanto se realiza a laparotomia.
Avalie em seguida a efetividade da respiração e monitore a
4. Se após a reanimação a pressão arterial sistólica do doente
saturação de oxigênio.
é > 100 mmHg e o doente apresenta evidência clínica de uma
2. Tão logo a pressão arterial (PA) esteja normalizada, realize possível massa intracraniana (pupilas desiguais ou resposta
uma breve avaliação neurológica, incluindo escore na GCS motora assimétrica), a primeira prioridade é realizar uma
e reatividade pupilar. Se a PA não puder ser normalizada, TC de crânio. A LPD ou o FAST podem ser realizados no DE,
continue para a realização da avaliação neurológica e na área da TC, ou na SO, mas a avaliação e o tratamento
registre a hipotensão. neurológico do doente não devem ser retardados.
3. Se a PA sistólica não puder ser elevada para > 100 mmHg, 5. Em casos limítrofes, isto é, quando a pressão arterial
a prioridade é estabelecer a causa da hipotensão; a sistólica pode ser corrigida temporariamente mas tende
avaliação neurológica passa a ser a segunda prioridade. a diminuir vagarosamente, não se devem medir esforços
Em tais casos, o doente deve ser submetido a uma para realizar uma TC de crânio antes de levar o doente à
ultrassonografia direcionada para trauma (FAST) ou a uma sala de cirurgia para uma laparotomia ou toracotomia. Tais
lavagem peritoneal diagnóstica (LPD) no Departamento de casos exigem uma profunda avaliação clínica e cooperação
Emergência e pode necesssitar de transferência imediata entre o cirurgião de trauma e o neurocirurgião.
estado de agitação do doente pode colocá-lo em risco. Os alteração no estado clínico do doente e rotineiramente
agentes de curta duração disponíveis são recomendados dentro de 24 horas após a lesão para doentes com contusões
quando paralisia farmacológica ou sedação breve forem intraparenquimatosas subfrontais/temporais, doentes
necessários para intubação endotraqueal segura, ou para que recebem terapia anticoagulante, doentes com mais
a obtenção de resultados diagnósticos com boa qualidade. de 65 anos e doentes com hemorragia intracraniana com
Quando o doente requerer intubação devido a um volume > 10 mL. Ver Apêndice G: Medidas Auxiliares.
comprometimento da via aérea, realize e registre Achados significativos da TC incluem inchaço no couro
uma breve avaliação neurológica antes de administrar cabeludo e hematomas subgaleais na região do impacto.
qualquer sedativo ou relaxante muscular. As fraturas do crânio podem ser melhor visualizadas nas
janelas ósseas, mas geralmente são aparentes mesmo nas
Anestésicos, analgésicos e sedativos janelas de tecidos moles. Os achados cruciais na TC são
hematoma intracraniano, contusões e desvio da linha
Anestésicos, analgésicos e sedativos devem ser usados média (efeito de massa) e obliteração das cisternas da
criteriosamente em doentes com lesão cerebral confirmada base. (Ver n FIGURA 6-7). Um desvio de 5 mm ou mais é
ou suspeita. O uso excessivo desses agentes pode causar frequentemente indicativo de necessidade de cirurgia
um atraso no reconhecimento da progressão de uma lesão para evacuar o coágulo ou contusão causadores do desvio.
cerebral grave, prejudicar a respiração ou resultar em
tratamento desnecessário (p. ex., intubação endotraqueal).
Em vez disso, use agentes de curta duração e facilmente tr atamento clínico do
reversíveis na dose mais baixa necessária para efetivar o tr auma cr aniencefálico
alívio da dor e a sedação leve. Baixas doses de narcóticos
intravenosos podem ser administradas para analgesia e O objetivo principal dos protocolos de cuidados
revertidas com naloxona, se necessário. Benzodiazapinas intensivos é prevenir a lesão secundária em um
IV de ação curta, como midazolam (Midazolam), podem cérebro já lesado. O princípio básico é que, se ao
ser usadas para sedação e revertidas com flumazenil. tecido nervoso lesado for oferecido um ambiente
ótimo para a recuperação, esta pode ser alcançada
Embora o diprovan (Propofol) seja recomendado para o e o neurônio pode recuperar sua função normal. O
controle da PIC, ele não é recomendado para melhora da tratamento clínico do trauma craniencefálico inclui
mortalidade ou resultados em 6 meses. O diprovan pode líquidos intravenosos, correção da anticoagulação,
reduzir morbidade significativa quando usado em altas hiperventilação temporária, manitol, solução salina
doses (IIB). hipertônica, barbitúricos e anticonvulsivantes.
necessária uma rápida normalização da anticoagulação hematoma intracraniano em expansão até que a
(n TABELA 6-6). craniotomia de emergência seja realizada.
Hiperventilação Manitol
A normocapnia é preferida na maioria dos doentes. A O manitol é usado para reduzir a pressão intracraniana
hiperventilação age reduzindo a PaCO2 e produzindo elevada. Utiliza-se, habitualmente, uma solução a 20%
vasoconstricção cerebral. A hiperventilação agressiva (20g de manitol por 100 mL de solução). O manitol
e prolongada pode resultar em isquemia cerebral no não deve ser administrado a doentes hipotensos
cérebro já lesionado, causando vasoconstrição cerebral porque não abaixa a PIC em situação de hipovolemia,
grave e, portanto, prejuízo na perfusão cerebral. além de ser um diurético osmótico potente. Isso
Esse risco é particularmente verdadeiro quando se pode exacerbar a hipotensão e a isquemia cerebral.
permite que a PaCO2 caia abaixo de 30 mmHg (4,0 A deterioração neurológica aguda - como quando
kPa). A hipercarbia (PCO2 > 45 mmHg) promoverá um doente em observação desenvolve uma pupila
vasodilatação e aumentará a pressão intracraniana, dilatada, tem hemiparesia ou perde a consciência - é
devendo, portanto, ser evitada. uma forte indicação para a administração de manitol
em um doente normovolêmico. Nessas condições, o
A hiperventilação profilática (pCO2 < 25 mmHg) não manitol (1 g/kg) deve ser rapidamente (por 5 minutos)
é recomendada (IIB). administrado em bolus e o doente deve ser transportado
imediatamente para a realização de TC ou diretamente
Use a hiperventilação apenas com moderação e pelo para a sala de cirurgia no caso da lesão causadora já ter
período mais limitado possível. Em geral é preferível sido identificada. Se não houver disponibilidade de
manter a PaCO2 em aproximadamente 35 mmHg (4,7 serviço cirúrgico, transferir o doente para o tratamento
kPa), o limite inferior do intervalo de normalidade (35 a definitivo.
45 mmHg). Curtos períodos de hiperventilação (PaCO2
de 25 a 30 mmHg [3,3 a 4,7 kPa]) podem ser necessários Use 0,25-1 g/kg para controlar a PIC elevada;
para tratar o défice neurológico agudo, enquanto outras hipotensão arterial (pressão arterial sistólica < 90
medidas terapêuticas são iniciadas. A hiperventilação mmHg) deve ser evitada.
reduz a PIC em doentes que estão deteriorando com
Antiagregante plaquetário (p. ex., Plaquetas Pode ser necessário repetir; considerar acetato de
aspirina, plavix) desmopressina (Deamino-Delta-D-Arginina Vasopressina)
Inibidores diretos da trombina Idarucizumab (Praxbind) Pode ser beneficiado pelo concentrado de complexo
(Pradaxa) protrombínico (p. ex. Kcentra)
PFC: Plasma fresco congelado; INR: Padrão Internacional de Normalização; TPP: Tempo parcial de tromboplastina.
122 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
Use com monitoração da PIC, a menos que haja absolutamente necessários. Atualmente, fenitoína
evidência de herniação, mantenha Sosm <320 mOsm, (Hidantal) e fosfenitoína são os agentes habitualmente
mantenha a normovolemia e use bolus em vez de empregados na fase aguda. Para adultos, a dose habitual
gotejamento contínuo. de ataque é de 1 g de fenitoína por via intravenosa,
administrada a não mais que 50 mg/min. A dose de
manutenção usual é de 100 mg/8 horas, com a dose
solução salina hipertônica titulada para atingir os níveis séricos terapêuticos. O
diazepam ou lorazepam são frequentemente usados além
A solução salina hipertônica também é usada para da fenitoína em doentes com convulsões prolongadas,
reduzir a PIC elevada, em uma concentração de 3 a até a parada da convulsão. O controle de convulsões
23,4%. A solução salina hipertônica pode ser o agente contínuas pode exigir anestesia geral. É imperativo
preferido para doentes hipotensos já que não age como que a convulsão seja controlada tão logo que possível
diurético. Entretanto, não existe diferença entre o porque convulsões prolongadas (30 a 60 minutos)
manitol e a solução salina hipertônica em relação provavelmente causam lesão cerebral secundária.
à redução da PIC, e nenhuma das duas diminui
adequadamente a PIC em doentes hipovolêmicos. O uso profilático de fenitoína (Hidantal) ou valproato
(Depakene) não é recomendado para prevenir
Barbitúricos crises pós-traumáticas tardias. Recomenda-se a
fenitoína para diminuir a incidência de crises pós-
Os barbitúricos são efetivos na redução da pressão traumáticas precoces (dentro de 7 dias após a lesão),
intracraniana refratária a outras medidas, embora quando se considera que o benefício geral supera
não devam ser usadas na presença de hipotensão as complicações associadas a esse tratamento. No
ou hipovolemia. Além disso, o uso de barbitúricos entanto, crises pós-traumáticas precoces não foram
frequentemente produz hipotensão, portanto não estão associadas a piores resultados (IIA).
indicados na fase aguda da reanimação. A meia vida
longa da maioria dos barbitúricos também prolonga
o tempo para a determinação da morte encefálica, tr ata mento c irúrg ico
uma consideração importante em doentes com lesões
devastadoras e provavelmente incompatíveis com a vida. O tratamento cirúrgico pode ser necessário para lesões
de couro cabeludo, fraturas com afundamento de
Os barbitúricos não são recomendados para induzir crânio, lesões intracranianas de massa e ferimentos
supressão de crises medidas pelo EEG para prevenir penetrantes.
o desenvolvimento de hipertensão intracraniana.
"A administração de altas doses de barbitúrico lesões do couro cabeludo
é recomendada para controlar a PIC elevada
refratária ao tratamento clínico e cirúrgico padrão. É importante limpar e inspecionar a ferida
A normalidade hemodinâmica é essencial antes e cuidadosamente antes da sutura. As causas mais
durante a terapia com barbitúricos (IIB)." comuns de infecção de feridas do couro cabeludo são
a limpeza e o desbridamento inadequados. As perdas
sanguíneas oriundas de ferimentos de couro cabeludo
Anticonvulsivantes podem ser abundantes, especialmente em crianças e
idosos (n FIGURA 6-12). A hemorragia do couro cabeludo
A epilepsia pós-traumática ocorre em cerca de 5% pode ser controlada aplicando-se pressão direta, e
de todos os doentes admitidos no hospital com cauterizando-se ou ligando-se os vasos maiores. Podem
trauma craniencefálico fechados e em 15% daqueles então ser aplicados suturas, clipes ou grampeadores
com trauma craniencefálico grave. Os três fatores apropriados. Deve-se inspecionar cuidadosamente a
principais ligados à alta incidência de epilepsia tardia ferida, sob visão direta, à procura de sinais de fratura
são as convulsões que ocorrem durante a primeira ou de corpos estranhos. A presença de fístula líquórica
semana, o hematoma intracraniano e a fratura com indica que existe laceração da dura-máter associada. O
afundamento de crânio. As convulsões agudas podem neurocirurgião deve ser consultado em todos os casos
ser controladas com anticonvulsivantes, porém o uso com fratura exposta ou afundamento. Não raramente,
precoce de anticonvulsivantes não muda a evolução uma coleção de sangue subgaleal pode ser interpretada
das convulsões pós-traumáticas de longo prazo. Os como uma fratura de crânio. Em tais casos, a presença
anticonvulsivantes também podem inibir a recuperação de fratura pode ser confirmada ou excluída por uma
do cérebro, portanto eles só devem ser usados quando radiografia simples da região e/ou uma TC.
TRATAMENTO CIRÚRGICO 123
diagnóstico emergencial de hematomas acessíveis em considere fazer esse diagnóstico somente depois que todos
doentes com deterioração neurológica rápida, localizados os parâmetros fisiológicos estiverem normalizados e a
em regiões austeras ou remotas onde os neurocirurgiões e função do sistema nervoso central não seja potencialmente
imagens não estão prontamente disponíveis. Infelizmente, afetada por medicamentos. Como as crianças costumam
mesmo em mãos muito experientes, esses orifícios são se recuperar de lesões cerebrais extremamente graves,
feitos incorretamente e raramente resultam na drenagem considere com cuidado o diagnóstico de morte encefálica
suficiente do hematoma para fazer a diferença clínica. nesses doentes. Se houver alguma dúvida, especialmente
Em doentes que precisam de drenagem do hematoma, em crianças, avaliações seriadas com intervalos de várias
a craniotomia com retalho ósseo (versus um simples horas são úteis para confirmar a impressão clínica inicial.
orifício) é o procedimento definitivo para salvar vidas para Notifique as agências locais de aquisição de órgãos sobre
descomprimir o cérebro. Os membros da equipe de trauma todos os doentes com diagnóstico ou diagnóstico iminente
devem fazer todos os esforços para que um profissional de morte encefálica antes de interromper as medidas
treinado e experiente na execução do procedimento o artificiais de suporte à vida.
execute em tempo hábil.
2. Doentes com lesões craniencefálicas devem ser 5. Boyle A, Santarius L, Maimaris C. Evaluation
avaliados com eficiência. No doente comatoso, of the impact of the Canadian CT head rule
proteja e mantenha a via aérea por meio da intubação on British practice. Emerg Med J 2004;21(4):
endotraqueal. Realize avaliação neurológica antes 426–428.
de paralisar o doente. Procure lesões associadas, e 6. Carney N, Totten AM, O’Reilly C, Ullman JS, et
relembre que a hipotensão pode afetar a avaliação al.: Guidelines for the Management of Severe
neurológica. Traumatic Brain Injury. Neurosurgery 2017; 80:1
6-13.
3. Os membros da equipe de trauma devem 7. Carney N, Ghajar J, Jagoda A, et al. Concussion
familiarizar-se com a Escala de Coma de Glasgow guidelines step 1: systematic review of prevalent
(GCS) e praticar seu uso, bem como a realização de indicators. Neurosurgery 2014Sep;75(Suppl
avaliações neurológicas rápidas e focadas. Reavalie 1):S3–S15.
frequentemente o estado neurológico do doente. 8. Chestnut RM, Marshall LF, Klauber MR, et al. The
role of secondary brain injury in determining
4. A reanimação adequada é importante para limitar a outcome from severe head injury. J Trauma
lesão cerebral secundária. Previna a hipovolemia e a 1993;34:216–222.
hipoxemia. Trate agressivamente o choque e procure 9. Chibbaro S, Tacconi L. Orbito-cranial injuries
suas causas. Reanime com solução de Ringer lactato, soro caused by penetrating non-missile foreign bo-
fisiológico ou soluções isotônicas salinas equivalentes dies. Experience with eighteen patients. Acta
sem dextrose. Não use soluções hipotônicas. O objetivo Neurochir (Wien) 2006;148(9), 937–941; dis-
da reanimação do doente com trauma craniencefálico cussion 941–942.
é prevenir a lesão cerebral secundária. 10. Clement CM, Stiell IG, Schull MJ, et al. Clinical
features of head injury patients presenting with a
5. Determine a necessidade de transferência, Glasgow Coma Scale score of 15 and who require
internação, consulta ou alta. Entre em contato o neurosurgical intervention. Ann Emerg Med
mais cedo possível com o neurocirurgião. Caso um 2006;48(3):245–251.
neurocirurgião não se encontre disponível no seu 11. Eisenberg HM, Frankowski RF, Contant CR,
hospital, transfira todos os doentes com trauma et al. High-dose barbiturates control elevated
craniencefálico moderado ou grave. intracranial pressure in patients with severe head
injury. J Neurosurg 1988;69:15–23.
Bibliografia 12. Faul M, Xu L, Wald MM, et al. Traumatic brain
injury in the United States: emergency depart-
ment visits, hospitalizations, and deaths. Atlanta,
1. Amirjamshidi A, Abbassioun K, Rahmat GA: Centers for Disease Control and Prevent-
H. Minimal debridement or simple wound ion, National Center for Injury Prevention and
closure as the only surgical treatment in war Control; 2010.
victims with low-velocity penetrating head 13. Giri BK, Krishnappa IK, Bryan RMJ, et al. Regional
injuries. Indications and management protocol cerebral blood flow after cortical impact injury
based upon more than 8 years’ follow-up of complicated by a secondary insult in rats. Stroke
99 cases from Iran–Iraq conflict. Surg Neurol 2000;31:961–967.
2003;60(2):105–110; discussion 110–111. 14. Gonul E, Erdogan E, Tasar M, et al. Penetrating
2. Andrews BT, Chiles BW, Olsen WL, et al. The orbitocranial gunshot injuries. Surg Neurol
effect of intra-cerebral hematoma location 2005;63(1):24–30; discussion 31.
on the risk of brainstem compression and 15. Injury Prevention & Control: Traumatic
on clinical outcome. J Neurosurg 1988;69: Brain Injury & Concussion. http://www.cdc.
518–522. gov/traumaticbraininjury/. Accessed May
3. Atkinson JLD. The neglected prehospital phase 4, 2012.
of head injury: apnea and catecholamine surge. 16. Johnson U, Nilsson P, Ronne-Engstrom E, et al.
Mayo Clin Proc 2000;75(1):37–47. Favorable outcome in traumatic brain injury
4. Aubry M, Cantu R, Dvorak J, et al. Summary and patients with impaired cerebral pressure
agreement statement of the first International autoregulation when treated at low cerebral
Conference on Concussion in Sport, Vienna 2001. perfusion pressure levels. Neurosurgery 2011;
Phys Sportsmed 2002;30:57–62 (copublished in 68:714–722.
Br J Sports Med 2002;36:3–7 and Clin J Sport Med 17. Management of Penetrating Brain Injury J Trauma
2002;12:6–12). 2001; 51(2) supplement/August.
126 CAPÍTULO 6 n Trauma Craniencefálico
18. Marion DW, Spiegel TP. Changes in the and economic analysis). Ann Emerg Med
management of severe traumatic brain injury: 2001;38(3):317–322.
1991–1997. Crit Care Med 2000;28:16–18. 32. Stiell IG, Lesiuk H, Wells GA, et al. The Canadian
19. McCror, P, Johnston K, Meeuwisse W, et al. CT Head Rule Study for patients with minor
Summary and agreement statement of the 2nd head injury: rationale, objectives, and method-
International Conference on Concussion in Sport, ology for phase I (derivation). Ann Emerg Med
Prague 2004. Br J Sports Med 2005;39:196–204. 2001;38(2):160–169.
20. Mower WR, Hoffman JR, Herbert M, et al. 33. Stiell IG, Wells GA, Vandemheen K, et al. The
Developing a decision instrument to guide Canadian CT Head Rule for patients with minor
computed tomographic imaging of blunt head head injury. Lancet 2001;357(9266):1391–1396.
injury patients. J Trauma 2005;59(4):954–959. 34. Sultan HY, Boyle A, Pereira M, et al. Application
21. Muizelaar JP, Marmarou A, Ward JD, et al. of the Canadian CT head rules in managing minor
Adverse effects of prolonged hyperventilation head injuries in a UK emergency department:
in patients with severe head injury: a randomized implications for the implementation of the NICE
clinical trial. J Neurosurg 1991;75:731–739. guidelines. Emerg Med J 2004;21(4):420–425.
22. Part 1: Guidelines for the management of 35. Temkin NR, Dikman SS, Wilensky AJ, et al. A
penetrating brain injury. Introduction and randomized, double-blind study of phenytoin
methodology. J Trauma 2001;51(2 Suppl):S3–S6. for the prevention of post-traumatic seizures.
23. Part 2: Prognosis in penetrating brain injury. J N Engl J Med 1990;323:497–502.
Trauma 2001;51(2 Suppl):S44–S86. 36. Wijdicks EFM, Varelas PN, Gronseth GS,
24. Post AF, Boro T, Eckland JM: Injury to the Brain et al. Evidence-based guideline update:
In: Mattox KL, Feliciano DV, Moore EE, eds. Determining brain death in adults. Report of
Trauma. 7th ed. New York, NY: McGraw-Hill; the Quality Standards Subcommittee of the
2013:356–376. American Academy of Neurology. Neurology
25. Robertson CS, Valadka AB, Hannay HJ, et al. 2010;74:1911–1918.
Prevention of secondary ischemic insults 37. Valadka AB, Narayan RK. Emergency room
after severe head injury. Crit Care Med 1999; management of the head-injured patient. In:
27:2086–2095. Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT, eds.
26. Rosengart AJ, Huo D, Tolentino J, et al. Outcome Neurotrauma. New York, NY: McGraw-Hill,
in patients with subarachnoid hemorrhage 1996:120.
treated with antiepileptic drugs. J Neurosurg 38. Narayan RK: Head Injury. In: Grossman RG,
2007;107:253–260. Hamilton WJ eds., Principles of Neurosurgery.
27. Rosner MJ, Rosner SD, Johnson AH. Cerebral New York, NY: Raven Press, 1991
perfusion pressure management protocols and 39. Carney N, Totten AM, O’Reilly C, Ullman JS et.
clinical results. J Neurosurg 1995;83:949–962. al. Guidelines for the Management of severe
28. Sakellaridis N, Pavlou E, Karatzas S, et al. Com- Traumatic Brain Injury, Fourth Edition.
parison of mannitol and hypertonic saline in the Neurosurgery 0:1–10, 2016 DOI: 10.1227/
treatment of severe brain injuries. J Neurosurg NEU.0000000000001432
2011;114:545–548. 40. Washington CW, Grubb RL, Jr. Are routine repeat
29. Smits M, Dippel DW, de Haan GG, et al. External imaging and intensive care unit admission
validation of the Canadian CT Head Rule and necessary in mild traumatic brain injury? J
the New Orleans Criteria for CT scanning Neurosurg. 2012;116(3):549-557.
in patients with minor head injury. JAMA 41. Cohen DB, Rinker C, Wilberger JE. Traumatic
2005;294(12):1519–1525. brain injury in anticoagulated patients. J Trauma.
30. Stiell IG, Clement CM, Rowe BH, et al. Comparison 2006;60(3):553-557.
of the Canadian CT Head Rule and the New 42. Prehospital Emergency care supplement to
Orleans Criteria in patients with minor head volume 12 (1) Jan/March 2004 Guidelines for
injury. JAMA 2005;294(12):1511–1518. prehospital management of traumatic brain
31. Stiell IG, Lesiuk H, Wells GA, et al. Canadian CT injury 2nd edition.
head rule study for patients with minor head 43. www.glasgowcomascale.org
injury: methodology for phase II (validation
7 TRAUMA
VERTEBROMEDULAR
Como a lesão da coluna vertebral pode ocorrer com traumatismos fechados ou penetrantes,
com ou sem déficits neurológicos, ela deve ser considerada em todos os pacientes com múltiplas
lesões. Esses pacientes requerem a limitação do movimento da coluna para proteger a medula
espinhal de danos adicionais, até que a lesão da coluna vertebral seja descartada.
Capítulo 7 sumário
Objetivos avaliação radiológica
• Coluna Cervical
Introdução • Colunas Torácica e Lombar
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de de coluna e seus aspectos radiográficos que ajudam a
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: identificar estas lesões.
129
130 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular
D
evemos sempre considerar uma lesão da coluna prolongado que pacientes ficam em uma prancha rígida
vertebral, com ou sem déficit neurológico, em e com um colar cervical também pode ser perigoso. Além
doentes com traumas múltiplos. Cerca de 5% de causar muito desconforto em pacientes conscientes,
dos pacientes com trauma craniencefálico (TCE) podem ocorrer graves úlceras de pressão e insuficiência
apresentam lesão associada na coluna, enquanto 25% respiratória, pelo uso prolongado destes equipamentos.
dos pacientes com trauma de coluna têm, pelo menos, Portanto, as pranchas rígidas devem ser usadas somente
um TCE moderado. Aproximadamente 55% das lesões durante o transporte do paciente; todos os esforços devem
traumáticas da coluna ocorrem na região cervical, 15% ser feitos para removê-lo o mais rapidamente dela.
na região torácica, 15% na transição toracolombar e
15% na região lombossacra. Até 10% dos doentes com
fratura da coluna cervical tem uma segunda fratura de A n atomi a e fisiolo g i a
coluna vertebral, não contígua.
Em pacientes com suspeita de lesão na coluna vertebral,
a manipulação excessiva e restrição inadequada do A revisão a seguir inclui a anatomia e fisiologia da
movimento da coluna pode causar danos neurológicos coluna vertebral e da medula, dermátomos, miótomos,
adicionais e piorar o desfecho clínico. Pelo menos 5% dos diferenças entre o choque neurogênico e medular e os
pacientes com lesão da coluna vertebral experimentam o efeitos da lesão da coluna em outros sistemas.
início dos sintomas neurológicos ou a piora dos sintomas
preexistentes após o atendimento no departamento de coluna vertebral
emergência (DE). Estas complicações são devidas à isquemia
ou progressão do edema da medula, mas também podem A coluna vertebral é formada por 7 vértebras cervicais, 12
resultar do movimento excessivo da coluna vertebral. Desde torácicas e 5 lombares além do sacro e do cóccix (n FIGURA 7-1).
que a coluna do paciente esteja devidamente protegida, o A vértebra típica consiste em um corpo vertebral na posição
exame da coluna e a exclusão de lesões medulares podem anterior, que constitui a principal coluna de sustentação. Os
ser adiados com segurança, especialmente na presença corpos vertebrais são separados pelos discos intervertebrais
de alguma instabilidade sistêmica, como, por exemplo, e são fixados entre si, anteriormente e posteriormente, por
hipotensão ou insuficiência respiratória. Para proteger ligamentos longitudinais, respectivamente, anteriores e
a coluna não é necessário que os pacientes fiquem horas posteriores. Póstero-lateralmente, 2 pedículos formam
sobre a prancha rígida; deixá-los deitados em posição os pilares sobre os quais se apoia a parte superior do
supina, sobre uma superfície firme e utilizar medidas de canal vertebral (constituído pelas lâminas). As facetas
proteção da coluna quando se move é suficiente. articulares, os ligamentos interespinhosos e os músculos
A exclusão de lesões da coluna pode ser assegurada para vertebrais são estruturas que contribuem para dar
em pacientes sem défcits neurológicos, ausência de dor estabilidade à coluna.
ou hipersensibilidade ao longo da coluna, evidência A coluna cervical, por causa de sua mobilidade e exposição,
de intoxicação ou outras lesões dolorosas. Nesses é a parte mais vulnerável a lesões. O canal medular é do
casos, a ausência de dor ou a hipersensibilidade ao forame magno até a parte inferior de C-2. A maioria dos
longo da coluna exclui virtualmente a presença de doentes portadores deste tipo de lesão que sobrevive ao
uma lesão vertebral significativa. A possibilidade de trauma apresenta-se neurologicamente normal ao chegar
lesões da coluna cervical pode ser eliminada através de ao hospital. Entretanto, cerca de um terço dos pacientes
ferramentas clínicas, descritas mais tarde nesse capítulo. com lesões da parte superior da coluna cervical (acima de
No entanto, em outros pacientes, como aqueles que estão C3) morre no local do trauma em decorrência de apneia
comatosos ou têm um nível de consciência rebaixado, provocada por perda da inervação central dos nervos
o processo de avaliação da lesão da coluna vertebral é frênicos. Abaixo do nível de C-3, o diâmetro do canal
mais complicado. Nesse caso, o médico precisa obter a medular é bem menor em relação ao diâmetro da medula,
imagem radiográfica apropriada para excluir uma lesão e lesões da coluna vertebral a esse nível apresentam maior
na coluna vertebral. Se as imagens forem inconclusivas, probabilidade de provocar lesões medulares.
restrinja o movimento da coluna vertebral até que sejam A coluna cervical das crianças até 8 anos de idade tem
realizados testes adicionais. Lembre-se, a presença de algumas diferenças significativas em relação a coluna cervical
um colar cervical e de uma prancha rígida pode fornecer dos adultos. Estas diferenças incluem maior flexibilidade
uma falsa sensação de segurança de que o movimento das cápsulas articulares e dos ligamentos interespinhosos,
da coluna vertebral esteja restrito. Se o paciente não facetas articulares planas e corpos vertebrais que são em
estiver corretamente fixado à prancha e o colar não estiver cunha anteriormente e tendem a deslizar anteriormente
adequadamente colocado, o movimento ainda é possível. com a flexão. As diferenças vão diminuindo até os 12 anos
Embora os perigos do movimento excessivo da coluna de idade quando a coluna cervical é mais parecida com a de
vertebral tenham sido bem documentados, o tempo um adulto (Ver Capítulo 10: Trauma Pediátrico.)
ANATOMIA E FISIOLOGIA 131
Curvatura Vértebra
cervical cervical
B Processo espinhoso
Curvatura Vértebra
lombar lombar
Sacro
Curvatura
sacral
Cóccix
n FIGURA 7-1 A Coluna. A. A coluna vertebral, visões lateral direita e posterior. B. Uma vértebra torácica típica, visão superior.
A mobilidade da coluna torácica é muito mais e as colunas dorsais. Estes tratos estão distribuídos aos
restrita do que a mobilidade da coluna cervical, além pares e as lesões podem ocorrer uni ou bilateralmente
de proteção adicional conferida pela caixa torácica. na medula espinhal. A localização na medula espinhal,
Assim, a incidência de fraturas torácicas é muito menor. função e os métodos para testar cada trato, são descritos
A maioria das fraturas da coluna torácica são fraturas de na n TABELA 7-1.
compressão em cunha e não estão associadas à lesão da Quando um paciente não tem função sensitiva ou
medula. Entretanto, quando a lesão vertebral ocorre por motora abaixo de um determinado nível, é dito ter uma
fratura–luxação, quase sempre ocorre lesão da medula lesão completa da medula espinhal. A lesão incompleta
devido ao canal medular torácico ser relativamente é aquela em que permanece um certo grau de função
estreito. A junção toracolombar é um fulcro entre a motora ou sensitiva; neste caso, o prognóstico para
região torácica inflexível e os níveis lombares mais recuperação é significativamente melhor que o de uma
móveis. Isso a torna mais vulnerável a lesões, 15% de lesão completa da medula espinhal.
todas as lesões na coluna vertebral ocorrem nesta região.
Advanced Traum a Life SupportforDoctors
StudentCourse M anual,9e
Dermátomos
Approved Changes needed Date
anatomia da medula espinhal
Am erican College ofSurgeons KB Um dermátomo é a área da pele inervada pelos axônios
Figure# 07.01
A medula
Dragon espinhal origina-se na extremidade caudal sensoriais dentro de uma determinada raiz nervosa. O
y M edia Group
da medula
11/23/2011oblonga no forame magno. Em adultos,WC nível sensitivo é o dermátomo mais caudal com função
geralmente termina na altura de L1 como cone medular. sensitiva normal e muitas vezes pode diferir nos dois
Abaixo deste nível está a cauda equina, que é um pouco NP lados do corpo. Para fins práticos, os dermátomos
mais resistente às lesões. Dos muitos tratos da medula cervicais superiores (C1 a C4) são um tanto variáveis em
espinhal, apenas três podem ser avaliados clinicamente: sua distribuição cutânea e não são comumente usados
o trato córtico-espinhal lateral, o trato espino-talâmico para localizar a lesão medular. No entanto, note que
132 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular
Colunas dorsais Face póstero-medial da Propriocepção, vibração e Sensação da posição dos dedos
medula sensação de toque suave do pé ou da mão, ou pela
ipsilateral sensação de vibração causada
por um diapasão
RIGHT MOTOR
KEY MUSCLES
KEY SENSORY POINTS
Light Touch (LTR) Pin Prick (PPR)
KEY SENSORY POINTS
Light Touch (LTL) Pin Prick (PPL)
MOTOR
KEY MUSCLES LEFT
ANATOMIA E FISIOLOGIA 133
INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL Patient Name_____________________________________ Date/Time of Exam _____________________________
C2 C2
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY
C3 C3
Examiner Name ___________________________________ Signature _____________________________________
(ISNCSCI)
C4 C2 C4
SENSORY SENSORY
C5 Elbow flexors
Elbow flexors
RIGHT
C5 MOTOR
LEFT
C3
KEY SENSORYC4POINTS
MOTOR
UER Wrist extensors C6 KEY MUSCLES KEY SENSORY POINTS
C6 Wrist extensors Data/Hora
Nome do doente ________________________________ KEY MUSCLES UEL __________________________
do exame
(Upper Extremity Right) PADRÃO INTERNACIONAL
Light TouchPARA
(LTR) Pin Prick (PPR)
T2
Light Touch (LTL) Pin Prick (PPL)
(Upper Extremity Left)
Elbow extensors C7 CLASSIFICAÇÃOC2 NEUROLÓGICA C2
T3 C7 Elbow extensors
Finger flexors C8 0 = absent T4 C5
ome do examinador ____________________________ C2
C8 Finger flexors Assinatura _____________________________________
DE LESÃO C3 MEDULAR T5 C3
Finger abductors (little finger) T1 2 = normal
1 = altered
T6 T1 Finger abductors (little finger) C4
C4
DIREITO
SENSORIAL T2 SENSORIAL MOTORMOTOR
ESQUERDA
T7 C2
T2
NT = not testable
MOTOR C3
Comments (Non-key Muscle? Reason for NT? Pain?): flexors C5CHAVE PONTOS SENSORIAIS T8 CHAVES
PONTOS SENSORIAIS CHAVES C5 Elbow flexors
T3 ElbowMÚSCULOS
C3
0 = absent T9 T1 T3 (SCORING ON MÚSCULOS
Toque leve (TL) Alfinetadas (A) REVERSE C6 SIDE)CHAVE
UER Wrist extensors C6 Toque leve (TL) Alfinetadas (A)
1 = altered
C4
C4 Wrist extensors UEL
(Upper Extremity Right) T4 2 = normal T10 C6
T2 T4 0 = total paralysis (Upper Extremity Left)
Elbow extensors C7 C2 NT = not testable T11 T3 C2 C7 Elbow extensors
T5 C2
T4 C5 T5 1 = palpable or visible contraction
Finger flexors C8 0 = absentC3 T12 C3
2 = active movement, gravity C8
eliminated Finger flexors
T6 T5 T6 3 = active movement, against gravity
0 = absent Finger abductors (little finger) T1 21 == normal C4
altered L1
Palm T6
C2 C4 some resistance
4 = active movement, against T1 Finger abductors (little finger)
1 = altered
T7 T7 T7
2 = normal
Flexor do cotovelo C5 T2
NT = not testable
C3
C3
T2
5 = active movement, against
C5 Flexor doMOTOR
full resistance cotovelo
NT = not testable Comments (Non-key Muscle? Reason for NT? Pain?):
T8 T8
T8 5* = normal corrected for pain/disuse
ESD Extensor do punho C6 T3 S3 0 = absent C4
T9 T1 NT = not testable T3 C6 (SCORING
Extensor do REVERSE SIDE) ESE
ONpunho
(Extremidade Superior T9
Direita) Extensor do cotovelo C7 T4 L2 • 1Key Sensory
= altered
C4
2 = normal
C2
T10
T3
T2 C6 T9 T4 C7
0 = Extensor
total paralysis do cotovelo (Extremidade
T10 Flexor dos dedos
S4-5 NT Points T11
= not testable T4 C5 T10 SENSORY T5 1 = palpable or visible contraction Superior Esquerda)
C8 0 = absentT5 T11 (SCORING ON REVERSE SIDE) C8
2 = Flexor
active dos
movement, dedos
gravity eliminated
T11 T12
T5
T6
Abdutor 0 = do dedo (dedo mínimo) T1 2 = normalT6
1 = altered T6 L1 T1
3 = Abdutor
active do
movement, dedo (dedo
against mínimo)
gravity
T12
absent
NT = not T7
T7 Palm T12 0 = absent
T7
2 = normal
4 = active movement, against some resistance
1 = altered
T2
testable
S2 L3
C3 C8 6 C8 T8 1= altered T2 NT = not 5 = testable
Comentários (Não é músculo
2 = normal
L1= notchave? Motivo NT? Dor?)
T8 C6 C L1 T8 MOTOR
active movement, against full resistance
NT testable
T3 C7 C7
0 = absent T9 T1 T3 5* = normal corrected
NT(PONTUAÇÃO
for pain/disuse
= not testable NO LADO OPOSTO)
1 S3
Hip flexors L2 T9
T4 Dorso = altered
2 = normal
da mão
T10 L2 • Key Sensory
C6 L2 Hip flexors T9
T4 0 = paralisia total
Knee extensors L3
T11
T10
T5
S4-5
NT = not testable Points L3 T10
T5 SENSORY
1 = contração visível ou palpável
LER L4 T12
Knee extensors LELativo,ONsemREVERSE
2 = movimento ação da gravidade
(Lower Extremity Right) Ankle dorsiflexors L4 T11
T6 L1 L4 Ankle dorsiflexors T11 (Lower
T6 (SCORING
Extremity
3 = movimento ativo,Left)
contra a gravidade
SIDE)
0 = absent L5
Long toe extensors L5 1 = altered T12
T7 L3
Palma
da mão L5 Long toe extensorsT12
T7 0 =movimento
4= absent ativo, contra alguma
1== altered
2 = normal
resistência
NTresistência
= not testable
2 = normal S2 C 8 C8 5 movimento ativo, contra total
Ankle plantar flexors S1 NT = not testable L1 L5 S1
T8 C6 C6
C7 C7 S1 Ankle plantar T8 L1
flexors 5* = normal corrigido devido dor/atrofia
S2 Hip flexors L2 T9
S3
L2
• Principais
Dorsum Dorsum
pontos S2 T9 NT =Não testável
L2 Hip flexors
LER S3 Knee extensors L3 T10 S4-5
sensoriais S3 T10 L3 SENSORIAL
Knee extensors LEL
(VAC) Voluntary anal contraction L4 (DAP) Deep anal pressure NO LADO OPOSTO)
(PONTUAÇÃO
S4-5 L4 T11 S4-5 T11
(Yes/No) L4
(Yes/No) (Lower Extremity Right) Ankle dorsiflexors Ankle dorsiflexors (Lower Extremity Left)
L5
Long toe extensors L5 T12 S2 L3 T12 L5
0 = AUSENTE
Long
1 = ALTERADOtoe extensors 2 = NORMAL
NT = NÃO TESTÁVEL
RIGHT TOTALS S1 C8 6 C8 LEFT TOTALS L1
Ankle plantar flexors S1 L1 L5 C6 C
C7 C7 S1 Ankle plantar flexors
(MAXIMUM) (MAXIMUM)
Flexor do quadril L2 S2 Dorsum Dorsum S2 L2 Flexor do quadril EIE
MOTOR SUBSCORES EID Extensor do joelho L3 S3 SENSORY SUBSCORES S3 L3 Extensor do(DAP) joelhoDeep(Extremidade Inferior
(VAC) Voluntary
(Extremidade anal contraction
Inferior analEsquerda)
pressure
UER + UEL = UEMS TOTAL LER + LEL = LEMS TOTAL
S4-5 + LTL L4 + PPL S4-5 = PP TOTAL
Direita) Dorsiflexor
(Yes/No) do tornozelo L4 LTR = LT TOTAL PPR
L4 Dorsiflexor do tornozelo
(Yes/No)
MAX (25) (25) (50) MAX (25) (25) (50) L5
Extensor dos dedos longos L5 MAX (56) (56) (112) MAX (56) (56)
L5LEFT Extensor
TOTALS
(112)
dos dedos longos
RIGHT TOTALS S1
NEUROLOGICAL R Flexor L plantar do3.tornozelo (MAXIMUM)
S1 L5
4. COMPLETE OR INCOMPLETE? (In complete injuries only) Flexor
S1(MAXIMUM)
R plantar
L do tornozelo
NEUROLOGICAL
LEVELS 1. SENSORY
MOTOR SUBSCORES S2 Incomplete = Any sensory or motor function in S4-5 ZONE OF PARTIAL S2
SENSORY
LEVEL OF INJURY SENSORY SUBSCORES
Steps 1-5 for classification
2. MOTOR (NLI) S3 5. ASIA IMPAIRMENT SCALE (AIS) PRESERVATION S3MOTOR
as on reverse (CAV)
UER Contração + UEL anal voluntária= UEMS TOTAL S4-5 LER + LEL = LEMS TOTAL LTR Most caudal level with any innervation
+ LTL = LT TOTAL (PAP) Pressão = PPanal profunda
(Sim/Não)
S4-5 PPR + PPL TOTAL
MAX (25) (25)
This (50)but should
form may be copied freely MAXnot(25) (25) permission from the (50)
be altered without American Spinal
MAXInjury
(56) Association.
(56) (112) MAX (56) REV (Sim/Não)
02/13(56) (112)
Pontuação total à direita Pontuação total à esquerda
NEUROLOGICAL R L 3. NEUROLOGICAL 4. COMPLETE OR INCOMPLETE? (In complete injuries only) R L
(MÁXIMO) (MÁXIMO)
ZONE OF PARTIAL
LEVELS 1. SENSORY LEVEL OF INJURY Incomplete = Any sensory or motor function in S4-5 SENSORY
SUB Steps
PONTUAÇÕES MOTORAS SENSORIAIS PRESERVATION
5. ASIA SUB PONTUAÇÕES
1-5 for classification
as on reverse 2. MOTOR (NLI) IMPAIRMENT SCALE (AIS) Most caudal level with any innervation
MOTOR
ESD + ESE = TOTAL MOTOR EID + EIE = TOTAL MOTOR TLD + TLE = TL TOTAL AD + AE = A TOTAL
SUPERIOR This form may be copied freely but should not be altered without permission from the American Spinal Injury Association.
INFERIOR REV 02/13
MAX (25) (25) (50) MAX (25) (25) (50) MAX (56) (56) (112) MAX (56) (56) (112)
NÍVEIS D E 3. NÍVEL 4. COMPLETA OU INCOMPLETA? Para lesões completas apenas D E
NEUROLÓGICOS 1. SENSORIAL Incompleta = qualquer função sensorial ou motora em S4-5 ZONA DE PRESERVAÇÃO SENSORIAL
NEUROLÓGICO
Passos 1-5 como PARCIAL
2. MOTOR DA LESÃO (NNL) MOTOR
A
classificação do lado oposto 5. ESCALA ASIA DE PERDAS POR IMPARIDADE Nível mais distal com qualquer inervação
Este formulário pode ser copiado livremente, porém não deve ser alterado sem a permissão da Associação Americana de Lesão Medular. REV 11/15
Quadril: adução L2 Existem ao menos metade (metade ou mais) dos músculos chave
abaixo do nível neurológico da lesão classificados como 3 ou mais?
Quadril: rotação externa L3
Quadril: extensão, abdução, rotação interna L4 NÃO SIM
Joelho: Flexão
Tornozelo: inversão e eversão AIS=C AIS=D
INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL
Dedo do pé: extensão interfalangeal e metacarpal
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY Se a função sensorial e motora for normal em todos os segmentos, AIS=E
Hálux e dedo: flexão e abdução das falanges distal e proximal L5 Nota: AIS E é usado em testes de acompanhamento quando um indivíduo com
uma SCI documentada recupera sua função normal. Se no teste inicial não for
Hálux: adução S1
B
encontrado nenhum déficit, o indivíduo é neurologicamente intacto; a escala de
Imparidade ASIA não é aplicável.
n FIGURA 7-2 Padrões Internacionais para a Classificação Neurológica da Lesão Medular. A. Avaliação Sensitiva e Motora da Medula
Espinhal. B. Classificações Clínicas das Lesões da Medula Espinhal.
134 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular
C5 Bíceps
C6 Extensor do punho
C7 Tríceps
C8 Flexores dos quirodáctilos
T1 Abdutores dos quirodáctilos
L2 Flexor do quadril
L3 Extensor do joelho
L4 Dorsiflexão do pé
S1 Flexor plantar do
tornozelo
fisiológicos do choque neurogênico não são revertidos dos nervos espinhais ocorrer através dos foramens e
com reposição volêmica isolada e a ressuscitação ascendem ou descem dentro do canal espinhal antes
maciça pode resultar em sobrecarga líquida e/ou edema de entrar na medula espinhal. Determinar o nível de
pulmonar. O uso criterioso de vasopressores pode ser lesão em ambos os lados é importante.
necessário após uma reposição volêmica moderada Além das medidas iniciais para estabilizar a lesão
e a atropina pode ser usada para tratar a bradicardia óssea, todas as descrições subsequentes do nível de
hemodinamicamente significativa. lesão são baseadas no nível neurológico.
O Choque Medular refere-se à flacidez (perda de
tônus muscular) e à perda de reflexos que ocorrem gravidade do déficit neurológico
imediatamente após a lesão da medula espinhal. Após
um período de tempo, ocorre espasticidade. Lesões medulares podem ser classificadas como:
pressão profunda) são preservadas. Esta síndrome tem que as lesões da coluna cervical inferior. Além disso,
o pior prognóstico entre as lesões incompletas e ocorre as diferenças anatômicas, o sofrimento emocional e a
mais comumente após a isquemia da medula. incapacidade de comunicação tornam a avaliação da
A síndrome de Brown-Séquard resulta de uma coluna ainda mais desafiadora nessa população. (Ver
hemissecção da medula, geralmente devido a um trauma Capítulo 10: Trauma Pediátrico.)
penetrante. Em sua forma pura, a síndrome consiste Os tipos específicos de lesões traumáticas da coluna
em perda ipsilateral motora (trato corticoespinhal) e cervical são luxação atlanto-occipital, fratura de atlas
da sensação de posição (coluna dorsal), associada à (C1), subluxação por rotação em C1 e fraturas do áxis (C2).
perda contralateral de dor e sensação de temperatura,
começando de um a dois níveis abaixo do nível de lesão Luxação Atlanto-Occipital
(trato espinotalâmico). Mesmo quando a síndrome é
causada por uma lesão penetrante direta à medula, As luxações crânio-cervical são incomuns e resultam de
geralmente existe algum grau de recuperação. movimentos acentuados de flexão e tração, de natureza
traumática. A maioria dos pacientes com esta lesão
Morfologia morre por destruição do tronco encefálico e apneia, ou
apresenta lesões neurológicas extremamente graves
As lesões traumáticas da coluna vertebral podem ser (por exemplo, dependência do ventilador e tetraplegia).
descritas como fraturas, fraturas-luxações, lesões Os pacientes podem sobreviver se forem prontamente
medulares sem anormalidades radiográficas (SCIWORA) ressuscitados na cena do trauma. A luxação atlanto-
e lesões penetrantes. Cada uma dessas categorias pode occipital é uma causa comum de morte nos casos de
ser descrita como estável ou instável. No entanto, síndrome do bebê sacudido.
determinar a estabilidade de um tipo particular de
lesão nem sempre é fácil e, mesmo entre os especialistas, Fraturas do Atlas (C1)
pode haver discordância. Particularmente durante o
tratamento inicial, todos os pacientes com evidência O atlas é um anel ósseo delicado com superfícies
radiográfica de lesão e todos aqueles com déficits articulares largas. As fraturas do atlas representam
neurológicos devem ser considerados como tendo uma aproximadamente 5% das fraturas da coluna cervical
lesão na coluna vertebral instável. A movimentação da e até 40% das fraturas do atlas estão associadas a
coluna desses pacientes deve ser restrita, e a mudança fraturas do áxis (C2). A fratura C1 mais comum é uma
de decúbito e/ou reposicionamento requer pessoal fratura por explosão da vértebra (fratura de Jefferson).
treinado usando técnica de rolamento em bloco até O mecanismo típico de lesão é o sobrecarga axial, que
a consulta com um especialista, tipicamente um ocorre quando um objeto pesado cai verticalmente na
neurocirurgião ou ortopedista. cabeça ou quando um paciente cai, batendo a sua cabeça
em uma posição relativamente neutra. As fraturas de
Jefferson consistem na ruptura anterior e posterior
tip os e specíficos de le s ão do anel de C1, com subsequente deslocamento lateral
das massas laterais. A fratura é melhor visualizada
da colun a em uma radiografia transoral (boca aberta) da região
C1 a C2 e pela tomografia computadorizada axial (TC)
As lesões da coluna vertebral de especial preocupação (n FIGURA 7-4).
no contexto do trauma incluem fraturas da coluna Essas fraturas geralmente não estão associadas a
cervical, fraturas da coluna torácica, fraturas da junção lesões da medula espinhal; no entanto, elas são instáveis
toracolombar, fraturas lombares, lesões penetrantes e e devem ser tratadas inicialmente com um colar cervical
lesões contusas das artérias carótidas e vertebrais. rígido apropriado. As fraturas unilaterais ou de massa
lateral não são incomuns e tendem a ser lesões estáveis.
fraturas da coluna cervical No entanto, trate todas essas fraturas como instáveis
até que o paciente seja examinado por um especialista,
As lesões na coluna cervical podem resultar de um geralmente um neurocirurgião ou ortopedista.
ou de vários dos seguintes mecanismos de lesão:
compressão axial, flexão, extensão, rotação, flexão Subluxação por Rotação em C1
lateral e tração.
A lesão da coluna vertebral em crianças é um evento A subluxação por rotação em C1 é mais frequentemente
relativamente raro, ocorrendo em menos de 1% dos vista em crianças. Pode ocorrer espontaneamente,
casos. Nota-se que as lesões da coluna cervical superior após traumatismo de grande ou pequeno porte, com
em crianças (C1 - C4) são quase duas vezes mais comuns infecções das vias áereas superiores ou acompanhando
TIPOS ESPECÍFICOS DE LESÃO NA COLUNA 137
n FIGURA 7-4 Fratura de Jefferson. Radiografia transoral n FIGURA 7-5 Fraturas do Odontoide. TC evidenciando fratura do
mostrando uma fratura de Jefferson. Essa fratura envolve a ruptura odontoide do tipo II, que acomete sua base.
dos anéis anteriores e posteriores de C1, com deslocamento lateral
da mesma.
A B C
n FIGURA 7-6 Fratura do Enforcado (setas). Reconstrução de TC. A. Axial; B. Sagital paramediana; e C. Sagital na linha mediana. Note a
angulação anterior e a distância excessiva entre os processos espinhosos de C1 e C2 (setas duplas).
Devido à rigidez da caixa torácica, a maioria dessas da coluna torácica geralmente resultam em déficits
fraturas são estáveis. neurológicos completos.
A lesão por explosão é causada por compressão Fraturas de compressão simples geralmente são
vertical-axial. estáveis e muitas vezes tratadas com um colete rígido.
As fraturas de Chance são fraturas transversas no corpo As fraturas por explosão, as fraturas de Chance e as
vertebral (n FIGURA 7-7). Elas são causadas por flexão em fraturas-luxações são extremamente instáveis e quase
torno de um eixo anterior à coluna vertebral (hiperflexão) sempre requerem fixação interna.
e são mais frequentemente observadas após colisões
automobilísticas em que o paciente usava cinto de Fraturas da junção toracolombar
segurança de dois pontos e colocado inadequadamente. (T11 a L1)
As fraturas de Chance podem estar associadas com lesões
viscerais retroperitoneal e abdominal. As fraturas ao nível da junção toracolombar são devidas
Devido à orientação das facetas articulares, as fraturas- à imobilidade da coluna torácica em comparação com
luxações são relativamente incomuns na coluna torácica a coluna lombar. Como essas fraturas, na maioria das
e lombar. Essas lesões quase sempre resultam de flexão vezes, resultam de uma combinação de hiperflexão e
extrema ou traumatismo contuso severo na coluna rotação, geralmente são instáveis. Dentre os pacientes
vertebral, o que provoca a ruptura dos elementos que correm um risco particular para este tipo de lesão,
posteriores (pedículos, facetas e lâmina) da vértebra. estão os que caem de grande altura e os motoristas
O canal torácico da coluna vertebral é estreito em relação usando cinto de segurança que, no momento do
à medula espinhal, de modo que as fraturas-luxações impacto, sofrem uma flexão severa com grande
transferência de energia cinética.
A medula espinhal termina como o cone medular
aproximadamente no nível de L1. Lesões nesta parte
da medula geralmente resultam em disfunção vesical
e intestinal, bem como diminuição da sensação e
força nos membros inferiores. Pacientes com fraturas
toracolombares são particularmente vulneráveis ao
movimento rotacional, por isso seja extremamente
cuidadoso ao fazer o rolamento em bloco. (Ver vídeo
Movimentação em bloco no aplicativo móvel MyATLS.)
fraturas lombares
Os sinais radiográficos associados a uma fratura
lombar são semelhantes aos das fraturas torácicas e
toracolombares. Entretanto, por acometerem apenas a
n FIGURA 7-7 Fraturas de Chance. Radiografia mostrando uma cauda equina, a probabilidade de um déficit neurológico
fratura de Chance, que é uma fratura transversa pelo corpo vertebral. completo é muito menor com essas lesões.
AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA 139
lesões penetrantes
ava li aç ão r a dioló g ic a
As lesões penetrantes frequentemente resultam em um
déficit neurológico completo quando a medula está no O exame clínico cuidadoso e uma avaliação radiológica
caminho do agente envolvido (na maioria das vezes, um completa são fundamentais na identificação de uma
projétil de arma de fogo ou arma branca). Esses déficits lesão significativa de coluna.
também podem resultar da transferência de energia
associada a um projétil de alta velocidade que passa perto coluna cervical
da medula ao invés de atravessá-la. As lesões penetrantes
da coluna geralmente são estáveis, a menos que o projétil Muitos pacientes traumatizados têm um colar cervical
destrua uma porção significativa da vértebra. colocado pelos serviços médicos de emergência (EMS) na
cena. As diretrizes atuais pré-hospitalares da imobilização
lesões contusas das artérias carótidas da coluna vertebral permitem maior flexibilidade no
e vertebrais uso de prancha longa e colar cervical. Com o uso de
ferramentas de decisão e triagem clínica, como a Canadian
O traumatismo contuso do pescoço pode causar lesões C-Spine Rule (CCR; n FIGURA 7-8) e a National Emergency
arteriais carotídeas e vertebrais; o reconhecimento e X-Radiography Utilization Study (NEXUS n FIGURA 7-9),
tratamento precoce dessas lesões podem reduzir o risco o colar cervical e imobilizadores laterais de cabeça
de acidente vascular cerebral do paciente. Indicações podem ser retirados em muitos desses pacientes sem
específicas para a pesquisa dessas lesões incluem a necessidade de imagens radiológicas.
fraturas de C1 a C3, fraturas cervicais com subluxação Existem duas opções para pacientes que necessitam
e fraturas envolvendo o forame transverso. de avaliação radiográfica da coluna cervical. Em locais
SIM
SIM NÃO
usados no lugar das radiografias simples para avaliar lateral; entretanto, note que a MDCT possui sensibilidade
a coluna cervical. superior.
É possível que os pacientes tenham uma lesão ligamentar Nas imagens em AP, observe o alinhamento vertical dos
incompleta isolada que resulte em instabilidade sem fratura pedículos e a distância entre os pedículos de cada vértebra.
associada e/ou subluxação. Pacientes com dor cervical e Fraturas instáveis geralmente causam o aumento da
radiografia normal devem ser avaliados por imagem de distância entre os pedículos. As incidências laterais
ressonância magnética (RM) ou por imagens de raios-X em detectam subluxações, fraturas por compressão e fraturas
flexão-extensão. Os raios-X de flexão-extensão da coluna de Chance.
cervical podem detectar instabilidade oculta ou determinar A tomografia computadorizada é particularmente
a estabilidade de uma fratura conhecida. Quando o paciente útil para detectar fraturas dos elementos posteriores
tiver que ser transferido, a pesquisa radiográfica da coluna (pedículos, lâmina e processos espinhosos) e determinar
pode ser adiada para a o serviço que receberá o paciente, o grau de comprometimento do canal causado por
enquanto se mantém a imobilização da coluna vertebral. fraturas por explosão. As reconstruções sagitais e
Em nenhuma circunstância, os médicos deverão forçar coronais das imagens axiais devem ser realizadas.
o pescoço do paciente a uma posição que provoca dor. Assim como na coluna cervical, uma série completa
Todos os movimentos devem ser voluntários. Obtenha de radiografias de alta qualidade deve ser devidamente
essas radiografias sob a supervisão direta e controle de um interpretada e descartadas lesões por um médico qualificado,
médico experiente em sua interpretação. antes que as precauções de movimentação da coluna sejam
Em alguns pacientes com lesão significativa nos tecidos retiradas. No entanto, devido à possibilidade de úlceras
moles, o espasmo muscular para vertebral pode limitar por pressão, não espere a interpretação radiográfica final
severamente o grau de flexão e extensão que o paciente antes de retirar o paciente da prancha rígida.
permite. A ressonância magnética pode ser a ferramenta
mais sensível para identificar lesões nos tecidos moles
se realizada dentro de 72 horas após a lesão. No entanto,
armadilha prevenção
os dados relativos à correlação da instabilidade da
Uma avaliação secundária • Tenha certeza de
coluna cervical com achados de MRI positiva ainda são
inadequada resulta na realizar uma avaliação
insuficientes.
falha em reconhecer neurológica detalhada
Aproximadamente 10% dos pacientes com fratura uma lesão medular, durante a avaliação
cervical têm uma segunda fratura de coluna vertebral não particularmente as secundária ou após o
contígua. Este fato justifica uma varredura radiológica incompletas. tratamento das lesões
completa da coluna vertebral em pacientes com fratura ameaçadoras da vida.
cervical.
Na presença de déficits neurológicos, recomenda-se a Há dificuldade em avaliar • Para estes pacientes
RM para detectar qualquer lesão compressiva de tecido a presença de lesão faça avaliações
mole que não possa ser detectada nas radiografias simples medular em pacientes detalhadas repetidas
ou MDCT, como um hematoma epidural ou hérnia de com rebaixamento do após o tratamento das
disco traumática. A RM também pode detectar contusões nível de consciência e lesões ameaçadoras da
ou rupturas da medula espinhal, lesões de partes moles aqueles que dão entrada vida.
em estado de choque.
e de ligamentos paravertebrais. No entanto, a RM não é
viável em pacientes com instabilidade hemodinâmica.
Esses estudos especializados devem ser realizados a
critério de um especialista em cirurgia da coluna.
n QUADRO 7-1 apresenta normas para a avaliação de conduta g er a l
pacientes traumatizados com suspeita de lesão na coluna
vertebral.
O tratamento básico das lesões de coluna e medula
coluna torácica e lombar espinhal inclui imobilização, reposição volêmica,
medicações e transferência, se indicado. (Ver Apêndice
As indicações para a radiografia da coluna torácica e G: Estação Prática D Défice Neurológico.)
lombar são essencialmente as mesmas para a coluna
cervical. Onde disponível, a varredura por MDCT da imobilização da coluna vertebral
coluna torácica e lombar deve ser usada como o exame
de escolha. As imagens de reconstruções da MDCT do Os profissionais do atendimento pré-hospitalar
tórax/abdome/pelve podem ser usadas. Se o MDCT não costumam imobilizar o paciente antes de transportá-lo
estiver disponível, obtenha imagens radiográficas AP e para o Serviço de emergência. Sempre que se suspeite de
142 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular
quadro 7-1 normas para a triagem de pacientes com suspeita de lesões na coluna
Os pacientes traumatizados podem ter lesões medulares não Em crianças, a complementação com TC é opcional. Se
reconhecidas, certifique-se de restringir a movimentação da toda a coluna cervical pode ser visualizada e encontra-se
coluna vertebral até que possam ser submetidos a exames normal, o colar pode ser removido após a avaliação
clínicos e de imagem apropriados. apropriada por um médico habilidoso no exame e
tratamento de pacientes com lesões na coluna vertebral.
Suspeitas de lesões de coluna cervical Liberar a coluna cervical é particularmente importante
em pacientes que necessitam de cuidados pulmonares ou
1. A presença de paraplegia ou tetraplegia é evidência de abordagens diversas que seriam comprometidas pela
presuntiva de instabilidade de coluna. incapacidade de mobilizar o paciente.
2. Use ferramentas de tomada de decisão clínicas validadas, 5. Na dúvida, mantenha o colar adequadamente
como a Canadian C-Spine Rule (CCR) e NEXUS para ajudar a posicionado.
determinar a necessidade de avaliação radiográfica e clínica
da coluna cervical. É extremamente improvável que os
pacientes que estejam acordados, alertas, conscientes, exame suspeita de lesão da coluna
neurológico normal, sem dor cervical, ausência de dor na toracolombar
linha média e sem lesões distrativas apresentem fratura ou
instabilidade da coluna cervical. Com o paciente em posição 1. A presença de paraplegia ou perda de sensibilidade
supina, remova o colar cervical e palpe a coluna vertebral. no tórax ou no abdome é evidência presuntiva de
Se não houver dor significativa, peça ao paciente que mova instabilidade da coluna.
voluntariamente seu pescoço de um lado para o outro, flexione
2. Os pacientes que estão neurologicamente normais,
e estenda o pescoço dele. Nunca force o pescoço do paciente.
acordados, alertas e conscientes, sem mecanismo de
Se não houver dor, as radiografias da coluna cervical não são
trauma significativo e sem dor ou sensibilidade na linha
necessárias e o colar pode ser removido com segurança.
média posterior na região toracolombar, provavelmente
3. Pacientes com dor no pescoço ou sensibilidade na linha não apresentarão lesão instável. Radiografias
média requerem pesquisa radiográfica. Cabe ao médico toracolombares podem não ser necessárias.
excluir uma lesão na coluna vertebral. Quando a tomografia
3. Os pacientes com dor ou sensibilidade na palpação
estiver disponível, todos esses pacientes devem fazer MDCT
da coluna, déficits neurológicos, nível de consciência
do occipital a T1 com reconstruções sagital e coronal.
alterado ou mecanismo significativo de trauma devem
Quando a tomografia não estiver disponível, os pacientes
ser submetidos à triagem com MDCT. Se o MDCT não
devem ser submetidos a exames de radiografias da coluna
estiver disponível, obtenha radiografias AP e laterais de
cervical nas incidências laterais, AP e transoral para avaliar
toda a coluna torácica e lombar. Todas as imagens devem
o odontoide. As áreas suspeitas ou inadequadamente
ser de boa qualidade e interpretadas como normais
visualizadas nas radiografias requerem MDCT. As imagens
por um médico qualificado antes que se removam as
radiográficas de coluna cervical devem ser avaliadas para:
imobilizações e proteções da coluna.
• Deformidade óssea/fratura dos processos ou corpo
4. Consultar um médico experiente na avaliação e
vertebral
tratamento das lesões de coluna, em todos os pacientes
• Desalinhamento posterior do corpo vertebral
que se suspeite ou se detecte lesão de coluna.
(invadindo a parte anterior do canal vertebral)
• Aumento da distância entre os processos espinhosos 5. Avalie rapidamente pacientes com ou sem déficits
• Estreitamento do canal vertebral neurológicos (por exemplo, tetraplegia ou paraplegia) e
• Aumento do espaço das partes moles pré-vertebrais remova-os da prancha rígida o mais rápido possível. Um
paciente que é deixado em uma prancha rígida por mais
Se essas radiografias forem normais, o colar cervical pode
de 2 horas corre alto risco de úlceras por pressão.
ser removido para obter imagens em flexão e extensão.
Um médico qualificado pode obter radiografias laterais de 6. Pacientes traumatizados que necessitem de cirurgia
coluna cervical com o paciente flexionando e estendendo de emergência antes da avaliação completa da coluna,
voluntariamente o pescoço. Se as imagens não mostram devem ser cuidadosamente transportados, assumindo
subluxação, a coluna cervical do paciente pode ser que uma lesão instável na coluna está presente. O
considerada sem lesão e o colar retirado. No entanto, se colar cervical deve ser mantido e utilize a técnica
algumas dessas imagens forem suspeitas ou duvidosas, de rolamento em bloco quando forem colocados e
reaplique o colar e consulte um especialista em coluna. retirados da mesa de cirurgia. Não deixe o paciente sobre
uma prancha rígida durante a cirurgia. A equipe cirúrgica
4. Os pacientes que têm um nível de consciência alterado
deve ter um cuidado especial em proteger o pescoço o
ou que sejam incapazes de descrever seus sintomas
máximo possível durante a cirurgia. O anestesista deve
necessitam de imagens. Idealmente, obtenha MDCT do
ser informado sobre o estado da avaliação.
occipital a T1 com cortes axiais e reconstruções sagital e
coronais. Quando esta tecnologia não estiver disponível,
as radiografias em lateral, AP e transoral para avaliação
do odontoide com complementação de TC nas áreas
suspeitas ou mal visualizadas são suficientes.
CONDUTA GERAL 143
lesão de coluna, o paciente deve ser imobilizado desde conforto, com o movimento da coluna vertebral restrito.
acima até abaixo do local suspeito, até que a lesão tenha Da mesma forma, um colar cervical pode não encaixar
sido excluída. Isto é realizado simplesmente colocando em pacientes obesos, então use imobilizadores de cabeça
o paciente em decúbito dorsal sem girar ou dobrar a e ataduras para imobilizar o pescoço. O preenchimento
coluna vertebral, em uma superfície firme com um colar complementar é muitas vezes necessário. As tentativas de
cervical rígido e de tamanho apropriado. Lembre-se alinhar a coluna vertebral para a imobilização em prancha
de manter a imobilização da coluna vertebral até que longa não são recomendadas se elas causarem dor.
uma lesão seja excluída. Ocasionalmente, pacientes Um colar semirrígido não garante a restrição completa
chegam no ED sem colar cervical, situações essas em do movimento da coluna cervical. A complementação
que o médico deve seguir as diretrizes para tomada com tirantes e imobilizadores laterais de cabeça fixos à
de decisão para determinar a necessidade de imagem prancha longa é mais eficaz. Em alguns casos, o uso de
de coluna cervical e colocação de colar cervical rígido. pranchas rígidas é recomendado para a retirada rápida
Os médicos não devem tentar reduzir uma deformidade no resgate do paciente (Ver EMS Spinal Precautions
óbvia. As crianças podem ter torcicolo e os pacientes and the use of the Long Backboard: Position Statement
idosos podem ter uma doença degenerativa severa da by the National Association of EMS Physicians and
coluna vertebral que faz com que eles tenham uma American College of Surgeons Committee on Trauma).
deformidade cifótica não-traumática na coluna vertebral. A manobra do rolamento é realizada para avaliar
Esses pacientes devem ser deixados em uma posição de a coluna e remover a prancha longa, limitando a
A B
C D
n FIGURA 7-10 Rolamento em Bloco com Quatro Pessoas. Pelo menos quatro pessoas são necessárias para o rolamento do paciente e
remoção da prancha rígida e/ou exame do dorso. A. Uma pessoa segura a cabeça para o controle da coluna cervical e outras duas ficam
ao lado do paciente para controlar o corpo e as extremidades. B. À medida que o paciente é rolado, três pessoas mantêm o alinhamento
da coluna cervical enquanto C. a quarta pessoa remove a prancha e examina o dorso. D. Uma vez que a prancha é removida, três pessoas
recolocam o paciente em posição supina enquanto mantêm o alinhamento da coluna.
144 CAPÍTULO 7 n Trauma Vertebromedular
Os pacientes com fraturas de coluna ou déficits 3. Documentar o histórico e exame físico do paciente
neurológicos devem ser transferidos para um centro para estabelecer uma base, parâmetro inicial
capaz de realizar o tratamento definitivo (Ver Capítulo para qualquer alteração no estado neurológico
13: Transferência para o Tratamento Definitivo e Critérios do paciente.
para Transferência Interhospitalar no aplicativo móvel
MyATLS.) O procedimento mais seguro consiste em 4. Obtenha imagens, quando indicado, assim que as
transferir o paciente depois do contato com o líder lesões que ameaçam a vida sejam estabillizadas.
da equipe de trauma e/ou o especialista em coluna.
Estabilize o paciente e aplique medidas necessárias para 5. As lesões da medula espinhal podem ser completas
a sua imobilização, tais como talas, pranchas rígidas ou incompletas e podem envolver qualquer nível
e/ou colar semirrígido. Lembre-se de que as lesões da medula espinhal.
de coluna cervical acima de C6 podem resultar em
perda parcial ou total da função respiratória. Se existir 6. Quando necessário, transfira pacientes com
qualquer dúvida a respeito da eficiência da ventilação, fraturas vertebrais ou lesões da medula espinhal
o paciente deve ser intubado antes de ser transferido. para um serviço capaz de fornecer cuidados
Demora desnecessária deve ser evitada. definitivos com segurança e o mais rápido possível.
BIBLIOGRAFIA 145
25. Patel JC, Tepas JJ, Mollitt DL, et al. Pediatric cord injury: the myth challenged through a
cervical spine injuries: defining the disease. J structured analysis of published literature.
Pediatr Surg 2001;36:373–376. Spine J 2006;6(3):335–343.
26. Pieretti-Vanmarcke R, Velmahos GC, Nance 31. Sixta S, Moore FO, Ditillo MF, et al. Screening
ML, et al. Clinical clearance of the cervical for thoracolumbar spinal injuries in blunt
spine in blunt trauma patients younger than trauma: An Eastern Association for the Surgery
3 years: a multi-center study of the American of Trauma practice management guideline. J
Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Trauma 2012;73(5, Suppl 4):S326–S332.
2009;67:543–550. 32. Stiell IG, Clement CM, Grimshaw J, et al.
27. Position statement. EMS spinal precautions Implementation of the Canadian C-Spine Rule:
and the use of the long backboard; National prospective 12 centre cluster randomised trial.
Association of EMS Physicians and American BMJ 2009;339:b4146.
College of Surgeons Committee on Trauma. 33. Stiell IG, Wells GA, Vandemheen KL, et al.
Prehospital Emergency Care 2013;17;392–393. The Canadian C-Spine rule of radiography
28. Ryken TC, Hadley MN, Walters BC, et al. Guide- in alert and stable trauma patients. JAMA
lines for the management of acute cervical 2001;286:1841–1848.
spine and spinal cord injuries. Chapter 5—Radio- 34. Vaillancourt C, Stiell IG, Beaudoin T, et al. The
graphic assessment. Neurosurgery 2013;72(3, out-of-hospital validation of the Canadian
Suppl 2): 54–72. C-Spine Rule by paramedics. Ann Emerg Med
29. Sanchez B, Waxman K, Jones T, et al. Cervical 2009Nov;54(5):663–671.
spine clearance in blunt trauma: evaluation 35. Vicellio P, Simon H, Pressman B, et al. A
of a computed tomography-based protocol. J prospective multicenter study of cervical spine
Trauma2005;59(1):179–183. injury in children. Pediatrics 2001Aug;108(2):E20.
30. Sayer FT, Kronvall E, Nilsson OG. Methyl-
prednisolone treatment in acute spinal
8 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 4. Descrever os elementos chave da avaliação
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: secundária em doentes com trauma
musculoesquelético, incluindo história e exame
1. Explicar a importância das lesões
físico.
musculoesqueléticas em doentes com múltiplas
lesões. 5. D
escrever os princípios da avaliação inicial de
lesões que comprometem os membros.
2. D
escrever as prioridades no atendimento
e reanimação dos doentes com lesões de 6. Explicar os princípios do atendimento inicial
extremidades, distinguindo rapidamente lesões de doentes com contusões, lacerações, lesões
potencialmente fatais daquelas menos urgentes. articulares e ligamentares, e fraturas.
3. Identificar as medidas auxiliares necessárias no 7. Descrever os princípios da imobilização adequada
tratamento imediato de hemorragia potencialmente de doentes com lesões musculoesqueléticas.
fatal causada por lesões de extremidades.
149
150 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético
A
s lesões do sistema musculoesquelético lesões musculoesqueléticas, a fim de assegurar uma
ocorrem em muitos doentes que sofrem trauma boa evolução. Apesar da avaliação cuidadosa, as fraturas
fechado. Essas lesões frequentemente possuem e lesões de partes moles podem não ser inicialmente
aparência dramática, mas raramente causam risco reconhecidas em doentes com múltiplas lesões.
imediato à vida ou ao membro. Entretanto, as lesões A reavaliação contínua do doente é necessária para
musculoesqueléticas têm o potencial para distrair a identificar todas as lesões.
equipe de lesões mais urgentes e com maior prioridade
de atendimento. Primeiro, o médico precisa reconhecer
a presença de lesões de extremidades potencialmente
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E
fatais durante a avaliação primária e compreender sua REANIMAÇÃO DE DOENTES
associação com lesões torácicas e abdominais graves. COM LESÕES DE EXTREMIDADE
O profissional também deve estar familiarizado com a POTENCIALMENTE FATAIS
anatomia da extremidade para estar apto a proteger o
doente de sequelas e antecipar e prevenir complicações.
Lesões musculoesqueléticas graves indicam que o Durante a avaliação primária, é imperativo
doente foi submetido a forças significativas (n FIGURA reconhecer e controlar hemorragias oriundas de lesões
8-1). Por exemplo, um doente com fratura de ossos longos musculoesqueléticas.
nos membros superiores e inferiores possui um risco Lesões de extremidades potencialmente fatais
maior de ter também lesões internas de tronco. Fratura incluem hemorragia arterial grave, fratura bilateral
instável da pelve e fraturas expostas de fêmur podem de fêmur e síndrome de Crush. (A ruptura pélvica é
estar acompanhadas de risco de hemorragia abundante. descrita no Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
Lesões por esmagamento graves causam a liberação Lacerações profundas de partes moles podem
de mioglobina pelo músculo, que pode se acumular comprometer grandes vasos e acarretar hemorragia
nos túbulos renais e causar falência renal. Edema em exsanguinante. A melhor forma de controlar a hemorragia
compartimentos musculofasciais intactos pode causar é por meio da compressão direta. Hemorragia oriunda
síndrome compartimental aguda que, se não for de fraturas de ossos longos podem ser significantes;
diagnosticada e tratada, pode levar ao comprometimento as fraturas de fêmur, em particular, frequentemente
e perda do membro. Embolia gordurosa é incomum, resultam em perda sanguínea importante. A redução
mas é uma complicação potencialmente fatal de fratura apropriada de fraturas pode reduzir a perda sanguínea
de ossos longos, podendo causar falência pulmonar e e melhorar o efeito de tamponamento do músculo e da
comprometimento da função cerebral. fáscia. Se a fratura for exposta, a aplicação de curativo
O trauma musculoesquelético não justifica a compressivo estéril geralmente controla a hemorragia.
alteração das prioridades de reanimação ABCDE, mas Uma reanimação com fluidos adequada é uma medida
sua presença representa um desafio para os médicos. complementar importante.
Lesões musculoesqueléticas não podem ser ignoradas
e tratadas posteriormente; pelo contrário, os médicos armadilha prevenção
devem tratar o doente como um todo, incluindo as
Perda sanguínea • Reconhecer que fraturas de
decorrente de lesões fêmur e qualquer fratura
musculoesqueléticas exposta de ossos longos
que não são com lesões importantes
imediatamente de partes moles são fontes
reconhecidas. significativas de hemorragia.
apresentam risco particular de hemorragia com risco o horário da aplicação do torniquete foi documentado.
à vida e podem requerer a aplicação de um torniquete. Nesses casos, é essencial uma avaliação imediata de
um cirurgião, devendo-se levar em consideração a
Avaliação transferência precoce ao centro de trauma.
Se o tempo para intervenção cirúrgica for superior a 1
Avalie todas as extremidades lesadas quanto à presença hora, uma única tentativa de desinsulflar o torniquete
de hemorragia aparente, perda de pulso palpável e pode ser considerada em um doente estável. Os riscos
mudanças na qualidade do pulso, alterações no Doppler do uso do torniquete aumentam com o tempo; se o
e índice tornozelo/braquial. O índice tornozelo/braquial torniquete precisar ser mantido no local por um tempo
é determinado mensurando-se o valor da pressão arterial prolongado para salvar a vida, a escolha da vida em
sistólica no tornozelo do membro inferior lesionado e detrimento do membro deve ser feita.
dividindo-se pela pressão arterial sistólica do membro O uso da arteriografia e outras ferramentas diagnósticas
superior não lesionado. Uma extremidade fria, pálida e é indicado apenas em doentes reanimados que não
sem pulso indica a interrupção do suprimento sanguíneo possuam anormalidades hemodinâmicas; outros doentes
arterial. Um hematoma em rápida expansão sugere lesão com lesões vasculares evidentes requerem cirurgia
vascular significativa. imediata. Se houver suspeita ou confirmação de uma
lesão arterial grave, consulte imediatamente um cirurgião
Tratamento especialista em trauma vascular e de extremidades.
A aplicação de clamp vascular em ferimentos abertos
Uma abordagem gradual para controlar a hemorragia com hemorragia ativa enquanto o doente está no
começa com a pressão manual direta sobre o ferimento departamento de emergência não é recomendada,
(bleedingcontrol.org fornece treinamento para leigos em a menos que um vaso superficial seja claramente
controle de hemorragias). Um curativo compressivo é identificado. Se houver uma fratura associada a um
então aplicado, utilizando-se uma pilha de gaze mantida no ferimento aberto com hemorragia, realinhe e imobilize
local por uma bandagem elástica para concentrar a pressão a fratura enquanto uma segunda pessoa aplica pressão
sobre a ferida. Se a hemorragia persistir, aplique pressão direta sobre o ferimento. Se possível, as luxações devem
direta na artéria proximal à lesão. Caso a hemorragia ser reduzidas; se não for possível reduzir a luxação, uma
continue, considere a aplicação de um torniquete manual intervenção ortopédica de emergência deve ser solicitada.
(como um dispositivo de molinete) ou um torniquete A amputação, uma forma grave de fratura exposta que
pneumático aplicado diretamente sobre a pele (n FIGURA 8-2). resulta na perda de uma extremidade, é um evento traumático
Aperte o torniquete até que a hemorragia pare. Um para o doente, tanto física como emocionalmente. Doentes
torniquete aplicado corretamente deve ocluir o fluxo com amputação traumática podem se beneficiar do uso
arterial, pois a oclusão apenas do sistema venoso pode do torniquete. É necessária uma avaliação e intervenção
aumentar a hemorragia e resultar em edema e cianose da de um cirurgião. Certas mutilações de extremidades com
extremidade. Um torniquete pneumático pode exigir uma isquemia prolongada, lesão nervosa e danos musculares
pressão superior a 250 mmHg nos membros superiores podem requerer uma amputação. A amputação pode salvar
e 400 mmHg nas extremidades inferiores. Assegure que a vida de um doente com anormalidades hemodinâmicas
decorrentes de lesão de extremidade.
Embora o potencial para reimplante deva ser
considerado nos membros superiores, deve-se levar em
consideração as outras lesões do doente. Um doente com
múltiplas lesões que necessita de reanimação agressiva
e/ou cirurgia de emergência da extremidade ou outras
lesões não é um candidato para reimplante. O reimplante
geralmente é realizado em doentes com lesão isolada de
extremidade. Para o tratamento e tomada de decisão,
transporte os pacientes vítimas de amputação traumática
de extremidade superior para uma equipe cirúrgica
especialista em procedimentos de reimplante.
Nesses casos, lave bem a parte amputada em solução
isotônica (p. ex., Ringer lactato) e envolva-a em gaze estéril
umedecida. Então envolva a parte em uma toalha estéril
umedecida, coloque em uma sacola plástica e transporte
n FIGURA 8-2 O uso criterioso do torniquete pode salvar vidas e/ou junto com o doente em um recipiente resfriado com gelo
o membro na presença de hemorragia ativa. picado. Tenha cuidado para não congelar a parte amputada.
152 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético
Doentes que apresentam fratura de fêmur bilateral Iniciar infusão precoce e agressiva de fluidos intravenosos
possuem um risco significativamente maior de durante a reanimação é fundamental para proteger
complicações e morte. Essas fraturas indicam que o os rins e prevenir a insuficiência renal em doentes
paciente foi submetido a uma força significativa e com rabdomiólise. A insuficiência renal induzida
devem alertar aos médicos sobre a possibilidade de pela mioglobina pode ser prevenida com a expansão
lesões associadas. Comparados com pacientes com fluídica intravascular, alcalinização da urina através
fratura de fêmur unilateral, esses doentes apresentam da administração de bicarbonato e diurese osmótica.
maior risco de perda sanguínea significativa, lesões
associadas graves, complicações pulmonares, falência
múltipla de órgãos e morte. Esses doentes devem MEDIDA S AUX ILI A RES À
ser avaliados e tratados da mesma forma do que
aqueles com fratura de fêmur unilateral. Considere a
AVA LI AÇÃO PRIM Á RI A
transferência precoce para um centro de trauma.
As medidas auxiliares à avaliação primária de doentes
portadores de trauma musculoesquelético incluem
armadilha prevenção imobilização de fraturas e estudos radiográficos,
quando a fratura é suspeita como sendo a causa do
Demora na • Transfira doentes com
choque.
transferência para um lesão vascular e fratura
centro de trauma. concomitante para um
centro de trauma com
imobilização de fraturas
capacidade cirúrgica
vascular e ortopédica. O objetivo inicial da imobilização de fraturas é realinhar
• Fratura bilateral de fêmur a extremidade lesionada o mais próximo possível da
resulta em um significativo posição anatômica e prevenir o excesso de movimento
aumento no risco de no local da fratura. Isso é feito aplicando-se uma tração
complicações e morte; para realinhar a extremidade e mantendo a tração
esses doentes se beneficiam com um dispositivo de imobilização (n FIGURA 8-3).
da transferência precoce A aplicação adequada da tração auxilia no controle
para um centro de trauma.
da hemorragia, reduz a dor e previne posterior
comprometimento neurovascular e de partes moles.
Se uma fratura exposta estiver presente, não alinhe o
síndrome de crush osso exposto para dentro do ferimento, pois as fraturas
Avaliação
exame físico
tabela 8-1 deformações em
Para um exame completo, o doente deve ser luxações articulares mais comuns
completamente despido, tomando-se cuidado para
evitar a hipotermia. As lesões evidentes de extremidades ARTICU-
geralmente são imobilizadas antes que o doente chegue LAÇÃO DIREÇÃO DEFORMIDADE
ao departamento de emergência. A avaliação das
extremidades do doente traumatizado tem três objetivos: Ombro Anterior Assume uma forma
retangular
Avaliação da Circulação
n FIGURA 8-5 Palidez cutânea associada com fratura e luxação irá
levar rapidamente à necrose de partes moles. O propósito da rápida
Palpe os pulsos distais de cada extremidade e avalie o redução da lesão é prevenir a necrose por pressão das partes moles
tempo de reenchimento capilar dos dedos. Quando a da região lateral do tornozelo.
hipotensão dificulta a palpação do pulso, pode-se utilizar
um Doppler para detectar o fluxo sanguíneo de uma Caso haja demora na obtenção dos estudos radiográficos,
extremidade. O sinal do Doppler deve ser trifásico para deve-se realizar redução ou realinhamento imediatos
assegurar que não exista qualquer lesão proximal. A perda da extremidade, a fim de restabelecer o suprimento
da sensibilidade de distribuição “em luva ou meia” pode sanguíneo arterial, bem como reduzir a pressão sobre
ser um sinal precoce de comprometimento vascular. a pele. O alinhamento pode ser mantido por meio da
Em doentes hemodinamicamente normais, discrepâncias utilização de técnicas de imobilização adequadas.
entre pulsos, pele fria, palidez, parestesia e até mesmo
anormalidades motoras são sinais sugestivos de lesão
arterial. Ferimentos abertos e fraturas nas proximidades LESÕES QUE COLO C A M O
de artérias podem ser indícios da presença de lesão arterial.
A luxação de joelho pode reduzir-se espontaneamente e MEMBRO EM RIS CO
pode apresentar-se sem nenhuma anormalidade externa
grosseira ou alterações radiográficas até que o exame físico Lesões de extremidade que podem comprometer o
da articulação seja realizado e a instabilidade seja detectada membro incluem fraturas expostas e lesões articulares,
clinicamente. Um índice tornozelo-braquial menor do que lesões vasculares, síndrome compartimental e lesões
0,9 indica a presença de fluxo arterial anormal secundário neurológicas secundárias à fratura ou luxação.
à lesão ou doença vascular periférica. Hematomas em
expansão e hemorragias pulsáteis provenientes de um FRATURAS E LESÕES ARTICULARES EXPOSTAS
ferimento aberto também são indicativos de lesão arterial.
As fraturas e lesões articulares expostas representam
Estudo Radiográfico uma comunicação entre o ambiente externo e o osso ou
articulação (n FIGURA 8-6). Para que isso ocorra, o músculo
O exame clínico de doentes com lesões e a pele devem estar lesionados e o grau de lesão das
musculoesqueléticas geralmente sugerem a necessidade partes moles é proporcional à energia aplicada. Essa lesão,
de estudos radiográficos. Sensibilidade associada a juntamente com a contaminação bacteriana, torna as
deformidade óssea frequentemente corresponde a fraturas expostas propensas a desenvolver infecções,
uma fratura. Se o doente estiver hemodinamicamente problemas de cicatrização e de função.
normal, obtenha um estudo radiográfico. A presença de
coleções líquidas, sensibilidade anormal ou deformidade Avaliação
nas articulações sugere lesão articular ou luxação que
deve ser estudada por meio de estudos radiográficos. A A presença de uma fratura exposta ou um ferimento
única razão para não se realizar um estudo radiográfico aberto da articulação deve ser imediatamente identificada.
antes de realizar a redução de uma luxação ou fratura é O diagnóstico de uma fratura exposta baseia-se no exame
a presença de comprometimento vascular ou de ruptura físico da extremidade que apresenta, necessariamente,
iminente da pele. Essa condição é comumente vista em um ferimento aberto no mesmo segmento do membro
fraturas-luxação do tornozelo (n FIGURA 8-5). com uma fratura. Não se deve explorar a ferida.
LESÕES QUE COLOCAM O MEMBRO EM RISCO 157
armadilha prevenção
Falha em administrar • Reconhecer a infecção
antibioticoterapia como um risco potencial
precoce em doentes em doentes portadores de
com fraturas expostas. fraturas expostas.
• Administrar doses
adequadas de antibióticos
apropriados, de acordo com
o peso, assim que houver
suspeita de fratura exposta.
n FIGURA 8-6 Exemplo de fratura exposta. Fraturas expostas
e luxações são lesões propensas a problemas como infecção,
dificuldade de cicatrização e disfunção do membro.
lesões vasculares
A documentação das feridas abertas inicia-se na fase
pré-hospitalar com a descrição inicial da lesão e qualquer Deve-se suspeitar fortemente da presença de lesão
tratamento realizado na cena. Quando há uma ferida vascular sempre que for constatada a existência de
aberta sobre uma articulação ou nas proximidades desta, insuficiência vascular de um membro após um trauma,
deve-se presumir que essa lesão está em conexão com a seja ele contuso, penetrante, aberto, fechado, por
articulação ou nela penetra. A presença de uma lesão aberta esmagamento ou por torção.
de articulação pode ser identificada utilizando-se a TC.
Se a TC indicar a presença de ar no interior da articulação Avaliação
na extremidade afetada é um forte indício de uma lesão
aberta. Se a TC não estiver disponível, considerar a infusão O membro pode parecer inicialmente viável, pois muitas
de solução salina ou corante na articulação para determinar vezes a extremidade possui alguma circulação colateral
se a cavidade articular se comunica com a ferida. Se houver que garante um fluxo sanguíneo suficiente. Uma lesão
suspeita de uma lesão articular aberta, deve-se solicitar vascular parcial faz com que, distalmente à lesão, o
a avaliação de um ortopedista, uma vez que exploração membro apresente redução da temperatura e que haja
cirúrgica e desbridamento podem ser indicados. alongamento do tempo de enchimento capilar, bem
como diminuição do pulso periférico e alteração do índice
Tratamento tornozelo/braquial. Quando existe a interrupção completa
do fluxo sanguíneo, o segmento distal da extremidade
As decisões de tratamento devem ser baseadas na torna-se frio e pálido e não há pulsos palpáveis.
história completa do incidente e avaliação da lesão. Trate
com antibiótico, o mais precocemente possível, todos Tratamento
os doentes com fraturas expostas. As cefalosporinas de
primeira geração são necessárias para todos os doentes A interrupção do aporte sanguíneo a uma extremidade deve
com fraturas expostas (n TABELA 8-2). Uma demora ser reconhecida prontamente e as medidas terapêuticas
maior do que 3 horas para iniciar a administração de cabíveis devem ser tomadas em caráter de emergência.
antibióticos aumenta o risco de infecções. A revascularização cirúrgica precoce é necessária
Remova toda a contaminação grosseira e partículas para restaurar o fluxo arterial de uma extremidade
de sujeira do ferimento o mais brevemente possível isquêmica. A necrose muscular inicia quando existe
e cubra o ferimento com curativo umedecido estéril. uma interrupção do fluxo arterial por mais de 6 horas.
Aplique imobilização adequada após descrever Os nervos são mais sensíveis à anóxia. Se houver fratura
detalhadamente o ferimento e determinar se existe associada, corrija-a tracionando gentilmente o membro,
algum comprometimento circulatório, neurológico e realinhando-o e mantendo a extremidade imobilizada.
de partes moles. É necessária a pronta avaliação de um Essa manobra geralmente é suficiente para restabelecer
cirurgião. O doente deve ser adequadamente reanimado o fluxo sanguíneo a uma extremidade isquêmica quando
e, se possível, estabilizado hemodinamicamente. A existe uma oclusão arterial causada por deformidade ou
seguir, procede-se ao desbridamento cirúrgico das encurtamento do membro em decorrência de uma fratura.
feridas, à estabilização das fraturas e à confirmação dos
158 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético
SE ALERGIA A
PENICILINA (NO
CEFALOSPORINAS DE LUGAR DE AMINOGLICOSÍDEO PIPERACILINA/
PRIMEIRA GERAÇÃO CEFALOSPORINAS (COBERTURA GRAM- TAZOBACTAM
(COBERTURA GRAM- DE PRIMEIRA NEGATIVA) (COBERTURA DE
POSITIVA) GERAÇÃO) AMPLO ESPECTRO
FRATURAS GRAM-POSITIVO E
EXPOSTAS CEFAZOLINA CLINDAMICINA GENTAMICINA NEGATIVO)
Lesão severa de <50 kg: 1 g Q 8 h <80 kg: 600 mg Q 8 h Dose de ataque no PS:
partes moles e 50–100 kg: 2 g Q 8 h >80 kg: 900 mg Q 8 h
contaminação >100 kg: 3 g Q 8 h 2,5 mg/kg para
substancial com crianças (ou <50 kg)
lesão vascular 5 mg/kg para adultos
associada
(p. ex., 150 lb=340 mg)
Fonte: Schmitt SK, Sexton DJ, Baron EL. Treatment and Prevention of Osteomyelitis Following Trauma in Adults. UpToDate. http://www.uptodate.com/
contents/treatment-and-prevention-of-osteomyelitis-following-trauma-in-adults. October 29, 2015; O’Brien CL, Menon M, Jomha NM. Controversies in
the management of open fractures. Open Orthop J 2014;8:178–184.
Quando houver lesão arterial concomitante com uma Portanto, é necessário realizar e documentar a avaliação
luxação, o médico deve se atentar para realizar manobras neurovascular da extremidade antes e após a imobilização.
de redução suaves. Caso contrário, ele deve simplesmente O comprometimento vascular pode ser identificado pela
imobilizar a articulação lesionada e consultar um perda ou alteração do pulso distal, mas a dor excessiva
cirurgião. Uma angiotomografia pode ser realizada para após a imobilização deve ser investigada. Doentes com
avaliar a extremidade, mas tal procedimento não deve talas também podem ter comprometimento vascular.
retardar o restabelecimento do fluxo arterial e é indicado Afrouxe imediatamente imobilizadores, talas gessadas
apenas após a avaliação de um cirurgião. e curativos circunferenciais se houver qualquer sinal de
O potencial para comprometimento vascular existe comprometimento vascular e então reavalie a circulação.
mesmo quando a extremidade lesionada é imobilizada.
LESÕES QUE COLOCAM O MEMBRO EM RISCO 159
A B
n FIGURA 8-8 Fasciotomia para Tratamento da Síndrome Sompartimental. A. Foto do intraoperatório mostrando fasciotomia do antebraço
decorrente de síndrome de Crush. B. Foto pós-cirúrgica mostrando uma incisão medial da perna para descompressão da síndrome.
OUTRAS LESÕES DOS MEMBROS 161
Mediano distal Contração com oposição tenar Dedo indicador Lesão do punho
Radial Extensão do polegar, dos dedos Face dorsal da mão Colo distal do úmero, luxação
entre o polegar e do metacarpo entre 1º e 2º dedos anterior do ombro
Fibular profundo Dorsiflexão do tornozelo/hálux Face dorsolateral do pé entre Fratura do colo da fíbula,
o hálux e o segundo dedo síndrome compartimental
Glúteo inferior Extensão do quadril pelo glúteo maior Porção inferior da nádega Fratura de acetábulo
162 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético
A síndrome de Crush e o desluvamento interno devem a uma posição próxima à anatômica após a lesão e
ser suspeitados de acordo com o mecanismo de trauma. podem não ser facilmente identificadas. Em doentes
A síndrome de Crush pode ter início súbito e causar com múltiplas lesões ligamentares de joelho, a luxação
desvascularização e necrose muscular. A avulsão de pode estar presente e colocar o membro em risco para
partes moles pode desconectar a pele da fáscia profunda, lesão neurovascular. Geralmente é necessária a avaliação
permitindo o acúmulo de quantidades significativas de de um cirurgião para estabilização da articulação.
sangue na cavidade resultante (p. ex., lesão de Morel-Lavallée).
Alternativamente, a pele pode ter seu suprimento sanguíneo Fraturas
interrompido e apresentar necrose após alguns dias. Essa área
pode apresentar abrasões sobrepostas ou lesões de pele que As fraturas são definidas como soluções de continuidade
podem ser indícios de uma lesão muscular grave e potencial do córtex ósseo. Podem estar associadas a mobilidade
para síndrome de Crush. Essas lesões de partes moles podem anormal, lesão de partes moles, crepitação óssea e dor.
ser avaliadas melhor quando se tem conhecimento do As fraturas podem ser abertas ou fechadas.
mecanismo de trauma e palpando-se especificamente a área
lesada. Considere obter a avaliação de um cirurgião, pois a Avaliação
drenagem ou o desbridamento podem ser necessários.
O risco de tétano aumenta em ferimentos que ocorreram O exame da extremidade geralmente revela a existência
há mais de 6 horas, apresentam contusões e/ou abrasões, de dor, edema, deformidade, hiperestesia, crepitação e
apresentam profundidade superior a 1 cm, produzidos por mobilidade anormal no local da fratura. A mobilização
projéteis de alta velocidade, causados por queimaduras de do foco da fratura à procura de crepitações ou mobilidade
calor ou frio, e apresentam contaminação significativa, anormal é dolorosa e pode aumentar a lesão das partes
particularmente ferimentos com tecidos desnervados ou moles. Essas manobras raramente são necessárias para
isquêmicos (Ver Imunização Antitetânica.) realizar o diagnóstico e não devem ser realizadas de forma
rotineira ou repetida. Reavalie periodicamente o estado
lesões articulares e de ligamentos neurovascular do membro fraturado, principalmente se
um dispositivo de imobilização estiver sendo utilizado.
Quando a articulação apresenta uma lesão significativa, Estudos radiográficos em ângulos retos entre si confirmam
porém sem resultar em luxação, geralmente não representa a história e os achados físicos de fratura (n FIGURA 8-9).
um risco para a vitalidade do membro. Entretanto, o Dependendo do estado hemodinâmico do doente, o estudo
diagnóstico e tratamento precoce são importantes para radiográfico pode precisar ser adiado até que o doente esteja
que não haja comprometimento da função do membro. estabilizado. Os estudos radiográficos do provável foco de
fratura devem incluir as articulações proximais e distais, a fim
Avaliação de descartar luxações ocultas e outras lesões concomitantes.
fraturas de tornozelo
Princípios da imobilização
As fraturas de tornozelo podem ser imobilizadas com
talas acolchoadas a fim de diminuir a dor e evitar a
A menos que estejam associadas a lesões que ponham pressão sobre proeminências ósseas (n FIGURA 8-10).
em risco a vida do doente, as lesões de extremidades
podem ser imobilizadas durante a avaliação secundária.
armadilha prevenção
Entretanto, essas lesões devem ser imobilizadas
antes que o doente seja transportado. Avalie o estado
Aplicação de tração • Evite o uso de tração em
neurovascular do membro antes e após imobilização
em uma extremidade extremidades com fraturas
ou realinhamento da fratura.
com fratura de tíbia/ de fêmur e tíbia/fíbula
fíbula associada pode combinadas.
Fraturas do fêmur resultar em lesão • Utilize uma imobilização
neurovascular. posterior longa com
As fraturas de fêmur podem ser imobilizadas
associação de tala gessada na
temporariamente com talas de tração (ver n FIGURA 8-3;
extremidade inferior.
ver também vídeo Imobilização com Tração no aplicativo
móvel MyATLS). A força de tração exercida pelo
dispositivo é aplicada distalmente, no nível do tornozelo
ou na superfície da pele. Na sua porção proximal, a tala LESÕES DE EXTREMIDADE SUPERIOR E MÃO
é empurrada contra a coxa e o quadril por meio de um
anel que se apoia nas nádegas, no períneo e na virilha. A mão pode ser temporariamente imobilizada em
Uma tração excessiva pode provocar lesão da pele do posição anatômica e funcional, com o punho em ligeira
pé, do tornozelo ou do períneo. Devido ao risco de flexão dorsal e dedos gentilmente fletidos em 45 graus
comprometimento neurovascular após a aplicação da no nível das articulações metacarpofalangeanas.
tala de tração, deve-se realizar a avaliação dos estados Essa posição geralmente pode ser obtida por meio da
neurológico e vascular do membro antes e após a sua imobilização da mão sobre um rolo grande de gaze,
aplicação. Não aplique a tala de tração em doentes que utilizando-se uma pequena tala de antebraço.
apresentam fratura de tíbia ipsilateral. As fraturas de O antebraço e o punho são imobilizados estendidos
quadril podem ser imobilizadas de maneira semelhante sobre talas acolchoadas. O cotovelo é imobilizado em
com um dispositivo de tração, mas é mais conveniente posição fletida, utilizando-se talas acolchoadas ou
que sejam imobilizadas por meio de tração na pele ou imobilizando-o contra o corpo por meio de uma tipoia.
em uma bota de tração feita de espuma, posicionando O braço costuma ser imobilizado apoiado contra o
o joelho em ligeira flexão. Uma forma simples de corpo ou utilizando-se tipoia ou faixas que podem ser
imobilizar um membro inferior é enfaixando-o junto aplicadas como uma bandagem toracoabdominal. As
ao membro contralateral. lesões do ombro são tratadas com tipoia e faixas ou por
um curativo feito à moda de Velpeau.
lesões de joelho
Para garantir a estabilidade e oferecer conforto
controle da dor
ao doente, podem ser utilizados dispositivos de
imobilização de joelho disponíveis comercialmente O uso adequado de dispositivos de imobilização diminui
ou talas ou aparelhos gessados longos. O joelho não significativamente o desconforto e a dor, reduzindo a
deve ser imobilizado em extensão completa, mas mobilidade das estruturas comprometidas pela lesão.
permanecer em flexão de aproximadamente 10 Se a dor não for aliviada ou retornar, a imobilização
graus, a fim de diminuir o estiramento das estruturas deve ser retirada e o membro deve ser reavaliado. O
neurovasculares. uso de analgésicos é indicado para doentes com lesão
164 CAPÍTULO 8 n Trauma Musculoesquelético
A B
n FIGURA 8-10 Imobilização de Fratura de Tornozelo. Observe o uso extensivo do aparelho gessado e tala gessada posterior. A. Tala gessada
posterior fixada no local com bandagem elástica. B. Aparelho gessado completo.
articular ou fratura. Os doentes que não aparentam ter tabela 8-5 lesões musculoesqueléticas:
dor e desconforto significativos na presença de uma comumente despercebidas ou lesões associadas
grande fratura podem ter outras lesões associadas as
quais interferem na percepção sensorial (p. ex., lesão LESÃO ASSOCIADA/
intracraniana ou medular) ou estar sob a influência de LESÃO NÃO IDENTIFICADA
álcool e/ou drogas.
O alívio efetivo da dor requer a administração de • Fratura de clavícula • Lesão torácica grave,
narcóticos, os quais devem ser administrados em • Fratura de escápula especialmente contusão
pequenas doses por via intravenosa e repetidos se • Fratura e/ou luxação pulmonar e fratura de arcos
necessário. Os sedativos devem ser administrados com de ombro costais
cautela em doentes com lesão isolada de extremidades, • Dissociação escapulotorácica
bem como ao realizar a redução de uma luxação. Toda
vez que se administram analgésicos ou sedativos em um • Fratura/luxação de • Lesão de artéria braquial
doente traumatizado, existe a possibilidade de parada ombro • Lesão dos nervos mediano,
respiratória. Por isso, equipamentos de reanimação ulnar e radial
adequados e naloxona devem estar prontamente
disponíveis. • Fratura de fêmur • Fratura de colo de fêmur
O bloqueio neurológico regional exerce papel • Lesão ligamentar do joelho
importante no alívio da dor e na redução de determinadas • Luxação posterior do quadril
fraturas. Antes de realizar o bloqueio, é essencial avaliar
e documentar qualquer lesão nervosa. Sempre tenha em • Luxação posterior • Fratura de fêmur
mente o risco para síndrome compartimental, uma vez do joelho • Luxação posterior do quadril
que essa condição pode ser mascarada em doentes que
foram submetidos ao bloqueio neurológico regional. • Luxação do joelho • Lesão de artéria e nervo
• Fratura-luxação de poplíteo
platô tibial
lesões associadas
• Fratura de calcâneo • Fratura ou lesão de coluna
Em consequência de mecanismos de trauma comuns, • Fratura-luxação do talus e
algumas lesões musculoesqueléticas costumam estar calcâneo
associadas a uma segunda lesão que não é aparente • Fratura do platô tibial
de imediato ou pode até mesmo passar despercebida
(n TABELA 8-5). • Fratura exposta • 70% de incidência de lesões
Os passos para reconhecer e tratar essas lesões não esqueléticas associadas
incluem:
RESUMO DO CAPÍTULO 165
5. O conhecimento do mecanismo de lesão e a história 10. Kobbe P, Micansky F, Lichte P, et al. Increased
do evento podem guiar os médicos na busca de morbidity and mortality after bilateral femoral
lesões potenciais associadas. shaft fractures: myth or reality in the era of
damage control? Injury 2013Feb;44(2):221–225.
6. A imobilização precoce de fraturas e luxações 11. Konda SR, Davidovich RI, Egol KA. Computed
podem prevenir complicações e sequelas tardias. tomography scan to detect traumatic arthrotomies
Uma avaliação neurovascular minuciosa deve ser and identify periarticular wounds not requiring
realizada antes e após a aplicação de imobilização surgical intervention: an improvement over the
ou dispositivos de tração. saline load test. J Trauma 2013;27(9):498–504.
12. Kostler W, Strohm PC, Sudkamp NP. Acute
Agradecimento especial a Julie Gebhart, PA-C, Lead compartment syndrome of the limb. Injury
Orthopedic Physician Assistant, e Renn Crichlow, MD, 2004;35(12):1221–1227.
Orthopedic Trauma Surgeon, OrthoIndy e St. Vincent 13. Lakstein D, Blumenfeld A, Sokolov T, et al.
Trauma Center, por toda ajuda e colaboração neste projeto, Tourniquets for hemorrhage control on the
assim como fornecendo grande parte das fotos usadas battlefield: a 4-year accumulated experience. J
neste capítulo. Trauma 2003;54(5 Suppl):S221–S225.
14. Mabry RL. Tourniquet use on the battlefield. Mil
Med 2006;171(5):352–356.
Bibliografia 15. Medina O, Arom GA, Yeranosian MG, et al.
Vascular and nerve injury after knee dislocation:
a systematic review. Clin Orthop Relat Res
1. Beekley AC, Starnes BW, Sebesta JA. Lessons 2014Oct;472(1):2984–2990.
learned from modern military surgery. Surg Clin 16. Mills WJ, Barei DP, McNair P. The value of the
North Am 2007;87(1):157–184, vii. ankle-brachial index for diagnosing arterial
2. Brown CV, Rhee P, Chan L, et al. Preventing injury after knee dislocation: a prospective study.
renal failure in patients with rhabdomyolysis: J Trauma 2004;56:1261–1265.
do bicarbonate and mannitol make a difference? 17. Natsuhara KM. Yeranosian MG, Cohen JR, et
J Trauma 2004;56:1191. al. What is the frequency of vascular injury
3. Bulger EM, Snyder D, Schoelles C, et al. An after knee dislocation? Clin Orthop Relat Res
evidence-based prehospital guideline for 2014Sep;472(9):2615–2620.
external hemorrhage control: American College 18. Ododeh M. The role of reperfusion-induced injury
of Surgeons Committee on Trauma. Prehospital in the pathogenesis of the crush syndrome. N
Emergency Care 2014;18:163–173. Engl J Med 1991;324:1417–1421.
4. Clifford CC. Treating traumatic bleeding in a 19. Okike K, Bhattacharyya T. Trends in the
combat setting. Mil Med 2004;169(12 Suppl): management of open fractures. A critical analysis.
8–10, 14. J Bone Joint Surg Am 2006;88:2739–2748.
5. Elliot GB, Johnstone AJ. Diagnosing acute 20. Olson SA, Glasgow RR. Acute compartment
compartment syndrome. J Bone Joint Surg Br syndrome in lower extremity musculoskeletal
2003;85:625–630. trauma. J Am Acad Orthop Surg 2005;13(7):436–444.
6. German Trauma Society. Prehospital (section 21. O’Brien CL, Menon M, Jomha NM. Controversies
1). Emergency room, extremities (subsection in the management of open fractures. Open
2.10). In: S3—Guideline on Treatment of Patients Orthop J 2014;8:178–184.
with Severe and Multiple Injuries. (English version 22. O’Toole RV, Lindbloom BJ, Hui E, et al. Are
AWMF-Registry No. 012/019). Berlin: German bilateral femoral fractures no longer a marker
Trauma Society (DGU). for death? J Orthoped Trauma 2014 Feb;28(2):
7. Gustilo RB, Mendoza RM, Williams DN. Problems 77–81.
in the management of type III (severe) open 23. Schmitt SK, Sexton DJ, Baron EL. Treatment and
fractures: a new classification of type III open Prevention of Osteomyelitis Following Trauma
fractures. J Trauma 1985;24:742. in Adults. UpToDate. http://www.uptodate.
8. Inaba K, Siboni S, Resnick S, et al. Tourniquet com/contents/treatment-and-prevention-of-
use for civilian extremity trauma. J Trauma osteomyelitis-following-trauma-in-adults.
2015:79(2):232–237. October 29, 2015.
9. King RB, Filips D, Blitz S, et al. Evaluation 24. Steinhausen E, Lefering R, Tjardes T, et al. A
of possible tourniquet systems for use in the risk-adapted approach is beneficial in the
Canadian Forces. J Trauma 2006;60(5):1061–1071. management of bilateral femoral shaft fractures
BIBLIOGRAFIA 167
in multiple trauma patients: an analysis based 28. Walters TJ, Wenke JC, Kauvar DS, et al. Effectiv-
on the trauma registry of the German Trauma eness of self-applied tourniquets in human
Society. J Trauma 2014;76(5):1288– 1293. volunteers. Prehosp Emerg Care 2005;9(4):416–422.
25. Tornetta P, Boes MT, Schepsis AA, et al. How 29. Welling DR, Burris DG, Hutton JE, et al. A balanced
effective is a saline arthrogram for wounds approach to tourniquet use: lessons learned and
around the knee? Clin Orthop Relat Res. relearned. J Am Coll Surg 2006;203(1):106–115.
2008;466:432–435. 30. Willett K, Al-Khateeb H, Kotnis R, et al. Risk
26. Ulmer T. The clinical diagnosis of compartment of mortality: the relationship with associated
syndrome of the lower leg: are clinical findings injuries and fracture. Treatment methods in
predictive of the disorder? J Orthop Trauma patients with unilateral or bilateral femoral shaft
2002;16(8):572–577. fractures. J Trauma 2010 Aug;69(2):405–410.
27. Walters TJ, Mabry RL. Issues related to the
use of tourniquets on the battlefield. Mil Med
2005;170(9):770–775.
9 LESÕES TÉRMICAS
OBJETIVOS
169
170 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas
L
esões térmicas são uma das principais causas Interromper o processo de queimadura
de morbidade e mortalidade, mas a adesão aos
princípios básicos da reanimação do trauma Remover completamente toda roupa do doente para
inicial e a oportuna aplicação de medidas simples de interromper o processo de queimadura; no entanto a
emergência pode ajudar a minimizar seu impacto. roupa aderida à pele não deve ser arrancada. Tecidos
Os maiores princípios da abordagem da lesão sintéticos podem inflamar e queimar rapidamente em altas
térmica incluem manter um alto índice de suspeita temperaturas e derretem formando resíduos aquecidos
da presença de comprometimento da via aérea após que continuam a queimar o doente. Ao mesmo tempo,
inalação de fumaça e o consequente edema causado pela tome cuidado para evitar a hipotermia. Reconhecer que as
queimadura; identificar e abordar as lesões mecânicas tentativas realizadas no local do atendimento para apagar
associadas; manter a normalidade hemodinâmica com o fogo (por exemplo, "Parar, molhar e rolar"), embora
reposição de volume; controlar a temperatura; e remover necessário, pode levar a contaminação da queimadura
o doente do ambiente hostil. Os médicos também devem com resíduos ou água contaminada.
tomar medidas para prevenir e tratar as potenciais Tenha cuidado ao remover qualquer roupa que esteja
complicações específicas causadas pelas queimaduras. contaminada por produtos químicos. Escove qualquer pó
Por exemplo, rabdomiólise e arritmias cardíacas, que químico seco da ferida. Os cuidadores também podem
podem estar associadas com queimaduras elétricas; ser feridos e devem evitar o contato direto com o produto
desenvolvimento de síndrome compartimental abdominal químico. Depois de retirar o pó, descontamine as áreas
e de extremidades, que podem ocorrer após excessivas de queimadura enxaguando com irrigação abundante
reposições volêmicas decorrentes da queimadura; e ocultar com solução salina morna ou lavagem em banho quente,
lesões oculares devido a fogo ou explosões. quando as instalações estão disponíveis e o doente é
A diferença mais significativa entre queimaduras e capaz de ajudar.
outras lesões é que as consequências das queimaduras Uma vez que o processo de queimadura foi
estão diretamente relacionadas com a extensão da interrompido, cubra o doente com lençol quente, limpo
resposta inflamatória para a lesão. Quanto maior e mais e seco para prevenir a hipotermia.
profunda a queimadura, pior a inflamação. Dependendo
da causa, a energia transferida e o edema resultante Providenciar controle da via aérea
podem não ser evidentes imediatamente; por exemplo,
lesão causada por fogo é mais rapidamente evidente do A via aérea pode ficar obstruída não só da lesão direta (por
que os ferimentos causados por substâncias químicas exemplo, lesão por inalação), mas também pelo edema
— um fator importante no tratamento das lesões maciço resultante da lesão causada pela queimadura.
causadas por queimadura. Monitorar de perto os acessos Edema normalmente não está presente imediatamente,
intravenosos para garantir que eles não se percam pelo e sinais de obstrução podem inicialmente ser sutis, até
aumento do edema nas áreas queimadas do doente. que o doente piore. É essencial a avaliação inicial para
Regularmente verificar as fixações do tubo orotraqueal determinar a necessidade de intubação endotraqueal.
e sonda nasogástrica para garantir que eles não estejam
muito apertados e que as etiquetas de identificação
estejam soltas e não circunferencialmente colocadas.
Nota: Lesões causadas pelo calor, incluindo a
exaustão e a insolação, serão discutidas no Apêndice
B: Hipotermia e Ferimentos causados pelo calor.
Ava li aç ão inic i a l e
r e a nim aç ão de doente s
com queim a dur a s
Fatores que aumentam o risco de obstrução da via aérea prolongado, intube o doente antes do transporte. Estridor
superior são o tamanho e profundidade das queimaduras, pode ocorrer tardiamente e indica a necessidade imediata
queimaduras localizadas na cabeça e face, lesão por de intubação. Queimaduras circunferenciais do pescoço
inalação, trauma local, queimaduras localizadas no podem levar a inchaço dos tecidos ao redor da via aérea;
interior da boca (n FIGURA 9-1). Queimaduras localizadas portanto, intubação precoce também está indicada para
na face e boca causam edema localizado e apresentam queimaduras de espessura total circunferencial do pescoço.
um risco maior de comprometimento da via aérea. Por
terem a via aérea menor, as crianças têm um risco maior
de problemas de obstrução da via aérea.
História de queimadura com confinamento em um
armadilha prevenção
ambiente fechado ou sinais de lesão de vias aéreas na chegada
Via aérea obstruída • Reconhecer a inalação de
ao departamento da emergência (ED) garantem a obtenção de em doente com fumaça como uma causa
vias aéreas definitiva do doente. Lesões térmicas da faringe lesão térmica pode potencial de obstrução da via
podem produzir edema acentuado da via aérea superior, não estar presente aérea decorrentes de lesão
sendo a proteção precoce da via aérea fundamental. As imediatamente. por partículas e substâncias
manifestações clínicas da lesão por inalação podem ser sutis químicas.
• Avalie o doente para queimaduras
e não aparecem com frequência nas primeiras 24 horas. Se circunferenciais do pescoço e
o médico atendente aguarda exames radiológicos de lesão tórax, que podem comprometer
pulmonar ou alterações na gasometria sanguínea, o edema a via respiratória e as trocas
da via aérea pode progredir e impedir a intubação, e uma via gasosas.
aérea cirúrgica pode ser necessária. • Doentes com lesão por
inalação estão em risco para
Quando em dúvida, examine a orofaringe do doente para obstrução brônquica por
detectar sinais de inflamação, lesão da mucosa, presença secreções e detritos, e podem
de fuligem e edema na faringe, tomando cuidado para exigir a broncoscopia. Coloque
não ferir ainda mais a área. Embora a laringe proteja a uma cânula de tamanho
via aérea subglótica da lesão térmica direta, a via aérea é adequado na via aérea — de
preferência um tamanho 8 mm
extremamente susceptível à obstrução como resultado da de diâmetro interno (ID) (tubo
exposição ao calor. Segundo a American Burn Life Support endotraqueal mínimo 7,5 mm
(ABLS) as indicações para intubação precoce são: ID em adultos).
A coloração vermelho-cereja da pele é rara e pode ocorrer lesão inalatória. Partículas de fumaça se instalam nos
somente no doente moribundo. A grande afinidade do bronquíolos distais, levando a danos e morte das células da
CO pela hemoglobina (240 vezes a do oxigênio), faz com mucosa. O dano das vias respiratórias leva a uma resposta
que ele desloque o oxigênio da molécula de hemoglobina inflamatória aumentada, que por sua vez leva ao aumento
e desvie a curva de dissociação da oxihemoglobina para a de extravasamento capilar, resultando em aumento da
esquerda. O CO dissocia-se muito lentamente e sua meia- necessidade de infusão de líquidos e problemas na difusão
vida é de 4 horas se o doente respira ar ambiente. Em razão de oxigênio. Além disso, as células necróticas tendem a
da meia-vida de HbCO poder ser reduzida a 40 minutos morrer e obstruir a via aérea. Clearance diminuído da
pela inalação de oxigênio a 100%, qualquer doente que via aérea produz obstruções que resultam em um risco
pode ter sido exposto ao CO deve receber oxigênio de alto aumentado de pneumonia. Não apenas o cuidado dos
fluxo (100%) através de uma máscara de não-reinalação. doentes com lesão de inalação é mais complexo, mas a
É importante colocar um tubo endotraqueal (ETT) mortalidade é o dobro quando comparado com outros
de tamanho adequado para a realização de ventilação, indivíduos queimados que não sofreram inalação.
limpeza de secreções e broncoscopia. Devem ser A Associação Americana de Queimadura definiu dois
utilizados tubos endotraqueais de pelo menos 7,5 mm critérios para o diagnóstico da lesão por inalação por fumaça:
ou maior em adultos e 4.5 mm em crianças. (1) exposição a um agente combustível, e (2) sinais de exposição
Determinações de gasometria arterial devem ser obtidas à fumaça na via aérea inferior, abaixo das cordas vocais,
como uma linha de base para avaliar a condição pulmonar visualizados pela broncoscopia. A possibilidade de lesão
do doente. No entanto, medida de PaO2 arterial não por inalação por fumaça é muito maior se a queimadura
confiável sugere envenenamento por CO, porque uma ocorreu em um lugar fechado. Exposição prolongada também
pressão parcial de CO de apenas 1 mm Hg resulta em aumenta a probabilidade de lesão por inalação por fumaça.
um nível de HbCO de 40% ou maior. Portanto, medidas Como uma linha de base para avaliar o estado pulmonar
basais de HbCO devem ser obtidas e 100% de oxigênio de um doente com lesão por inalação de fumaça, o
deve ser administrado. Se a dosagem de HbCO não está médico atendente deve obter uma radiografia de tórax e
disponível e o doente esteve envolvido em incêndio determinação de gasometria arterial. Esses valores podem
em um ambiente fechado, o tratamento empírico com deteriorar-se ao longo do tempo; valores normais na
oxigênio a 100% durante 4 a 6 horas é razoável como um admissão não excluem lesão por inalação. O tratamento da
tratamento eficaz para a intoxicação pelo CO e com poucas lesão por inalação de fumaça é favorável. Um doente com
desvantagens. Uma exceção é o doente portador de doença uma alta probabilidade de lesão por inalação de fumaça,
pulmonar obstrutiva crônica, que deve ser monitorizado associado a uma queimadura significativa (ou seja, maior
atentamente quando é administrado oxigênio a 100%. que 20% de área de superfície corporal total [ASCT] em
Oximetria de pulso não pode ser utilizada como regra um adulto, ou superior a 10% ASCT em doentes com
em envenenamento por monóxido de carbono, porque menos de 10 anos ou maiores que 50 anos de idade) deve
a maioria dos oxímetros não consegue distinguir a ser intubado. Se a condição hemodinâmica do doente e
oxihemoglobina da carboxyhemoglobina. Em um lesão na coluna vertebral foram excluídas, eleve a cabeça
doente com intoxicação pelo CO, o oxímetro pode ler e o tórax do doente a 30 graus para ajudar a reduzir o
saturação de 98% a 100% e que não reflete a saturação edema de parede do pescoço e tórax. Se uma queimadura
de oxigênio real do doente, que deve ser obtida a partir de de espessura total da parede torácica anterior e lateral
gasometria arterial. Uma discrepância entre a gasometria leva a severa restrição de movimento de parede do tórax,
arterial e o oxímetro pode ser explicada pela presença de mesmo na ausência de uma queimadura circunferencial,
carboxihemoglobina ou uma amostra venosa inadvertida. a escarotomia na parede torácica pode ser necessária.
Pode ocorrer Inalação de cianeto, a partir dos produtos
de combustão em queimaduras que ocorrem em espaços Tratamento da circulação com a
confinados e, nesse caso o médico atendente deve reanimação do choque causado pela
consultar um centro de queimados ou de controle de queimadura
veneno. Um sinal de potencial toxicidade do cianeto é sua
persistente e inexplicável profunda acidose metabólica. Em doentes gravemente queimados, a avaliação do volume
Não há nenhum papel para a terapia de oxigênio sanguíneo circulante costuma ser difícil. Além disso,
hiperbárico na reanimação primária de um doente com doentes gravemente queimados podem ser portadores de
lesão crítica por queimadura. Uma vez que os princípios outras lesões que também causem choque hipovolêmico.
do ATLS são seguidos para estabilizar o doente, consulte O choque deve ser tratado segundo os princípios de
o centro de queimados local para outras orientações se a reanimação conforme já assinalado anteriormente. Ver
oxigenoterapia hiperbárica poderá beneficiar o doente. Capítulo 3: Choque. A reanimação com fluidos para o
Produtos de combustão, incluindo partículas de tratamento da queimadura também deve ser realizada. Em
carbono e vapores tóxicos, são causas importantes de contraste com a reanimação para outros tipos de trauma
AVALIAÇÃO INICIAL E REANIMAÇÃO DE DOENTES COM QUEIMADURAS 173
armadilha prevenção
Reanimação a • Administração de líquidos
mais ou a menos deve ser baseada na resposta
de doentes fisiológica do doente,
queimados. ajustando-se a quantidade
de volume para mais ou para
menos baseada no débito
urinário.
• Reconhecer os fatores que
alteram a reposição volêmica
e o débito urinário, como as
lesões por inalação, idade do
doente, insuficiência renal,
diuréticos e álcool.
• Taquicardia é um marcador
n FIGURA 9-3 Reanimação de doentes pediátricos queimados deve pobre durante a reanimação
equilibrar a exigência maior de volume de reanimação devido à maior do doente queimado. Utilize
área de superfície corpórea por unidade de massa corpórea com o menor outros parâmetros para melhor
volume intravascular, que aumenta o risco de sobrecarga de volume. avaliar a resposta fisiológica à
reposição volêmica.
É importante compreender que reanimação a menos
resulta em hipoperfusão e lesão orgânica final. Reanimação
a mais resulta em aumento do edema, que pode levar a multifatorial, incluindo reanimação a mais ou infusão de
complicações, tais como progressão de profundidade de grandes volumes de solução salina durante a reanimação.
queimadura ou síndrome compartimental abdominal
e de extremidades. O objetivo da reanimação é manter
o delicado equilíbrio de perfusão adequada conforme ava li aç ão do doente
indicado pelo débito urinário.
Arritmias cardíacas podem ser o primeiro sinal de hipóxia
e distúrbios hidroeletrolíticos ou ácido-base; portanto, Além de uma história clínica detalhada (AMPLA), é
o eletrocardiograma (ECG) deve ser realizado quando importante estimar o tamanho da área de superfície
ocorrem distúrbios do ritmo cardíaco. Acidemia persistente corporal queimada e a profundidade da lesão causada
em doentes com lesões decorrentes de queimadura pode ser pela queimadura.
Queimadura elétrica Todas as idades 4 mL RL x Kg x ASCQ até diurese clara 1-1,5 mL/Kg/h até diurese
clara
Pediátrico
9% 9%
4.5%
4,5%
4.5%
4,5% 4.5%
4,5%
4.5%
4,5%
13%
18%
2.5% 2.5%
2,5% 2,5%
7% 7% 7%
7%
Adulto
4,5%
4.5% 4,5%
4.5%
n FIGURA 9-4 Regra dos Nove. Este guia
prático é utilizado para avaliar a gravidade das
queimaduras e determinar a quantidade de
volume a ser administrado. O corpo do adulto
geralmente é dividido em áreas de superfície de
18% 9% cada e/ou frações ou múltiplos de 9%.
18%
4.5%
4,5% 4.5%
4,5% 4.5%
4,5% 4.5%
4,5%
1%
9% 9% 9% 9%
9%, ou múltiplos de 9%, da superfície corporal total. A área com aspecto de cera. A superfície é indolor e geralmente
de superfície corporal (ASC) da criança é consideravelmente seca e pode ser vermelha e não mudar de cor à compressão
diferente daquela do adulto. Na criança, a cabeça corresponde local. Há pouco edema no tecido com queimadura de
a uma porcentagem maior e os membros inferiores a uma espessura total, no entanto a área ao redor da queimadura
porcentagem menor do que no adulto. A porcentagem pode apresentar um edema significativo.
da superfície corporal total que corresponde à cabeça de
uma criança é duas vezes maior que a do adulto normal. A ava li aç ão secundá r i a e
palma da mão do doente (incluindo os dedos) representa
aproximadamente 1% de sua superfície corporal.A regra medida s aux ili a r e s
dos nove ajuda a avaliar a extensão das queimaduras
com distribuição irregular e é a ferramenta preferencial Aspectos fundamentais da avaliação secundária e medidas
para calcular e documentar a extensão da queimadura. auxiliares incluem exame físico; documentação; exames
básicos, incluindo exames laboratoriais e radiografias;
manutenção da circulação periférica em queimaduras
armadilha prevenção circunferenciais de extremidades; sondagem gástrica;
narcóticos, analgésicos e sedativos; cuidados com a ferida;
Estimar a • Não incluir áreas de lesões
queimadura a superficiais na estimativa do
antibióticos; e Imunização antitetânica.
mais ou a menos. tamanho da área queimada.
• Utilize a regra dos nove Documentação
reconhecendo que as crianças
possuem cabeça proporcionalmente Logo após a admissão do doente no departamento de
maior que os adultos.
• Para cálculo de área queimada
emergência, deve ser iniciado o preenchimento de
irregular utilize a palma da mão do uma folha de registro, descrevendo o tratamento que
doente junto com os dedos que lhe foi ministrado, incluindo a quantidade de fluidos
representam 1% de área corpórea administrados e um diagrama mostrando a área e a
queimada. profundidade das queimaduras. Esta folha de registro
• Lembre-se de rodar o doente para
avaliar seu dorso.
deve acompanhar o doente quando for transferido para
uma unidade de queimados.
Derme
Epiderme Espessura parcial,
segundo grau
Tecido
Derme
Subcutâneo
Tecido
• Bolhas
• Subcutâneo
Dolorosa
• Superfície úmida
ou “lacrimejante”
• Bolhas
• Dolorosa
• Superfície úmida
ou “lacrimejante”
Epiderme
Espessura total,
terceiro grau
Derme
Epiderme
Espessura total, C
Tecido terceiro grau
Subcutâneo
Derme
• Aparência de couro
Tecido ou
• Esbranquiçada
Subcutâneo
mosqueada
• Tecido morto
•• Geralmente indolor
Aparência de couro
• Esbranquiçada ou
mosqueada
• Tecido morto
• Geralmente indolor
B D
n FIGURA 9-5 Profundidade da Queimadura. A. Queimadura de espessura parcial superficial. B. Queimadura de espessura parcial.
C. Queimadura de espessura parcial profunda. D. Queimadura de espessura total em membro superior e dorso.
O atendimento imediato de um doente com queimadura piche derretido pode ser muito alta — até 232° C — quando
elétrica grave inclui a atenção à via aérea e à respiração, o retirado do caldeirão. Um fator complicador é a adesão do
estabelecimento de acesso venoso em membro que não tenha piche quente à pele e infiltração das roupas, resultando
sido afetado, a monitoração eletrocardiográfica e a sondagem em contínua transferência de calor. Tratamento inclui
vesical de demora da bexiga. A eletricidade pode causar refrigeração rápida do piche e cuidado para evitar trauma
arritmias cardíacas que podem evoluir para parada cardíaca. adicional ao remover o piche. Vários métodos são descritos
Monitorização prolongada é indicada para doentes que na literatura; o mais simples é o uso de óleo mineral para
demonstram a lesão da queimadura, perda de consciência, dissolver o piche. O óleo é inerte, seguro na pele lesada e
exposição a alta tensão (> 1.000 volts) ou anormalidades do disponível em grandes quantidades.
ritmo cardíaco ou arritmias na avaliação inicial.
Como a eletricidade causa contrações forçadas dos padrões de queimadura que indicam abuso
músculos, o médico deve examinar o doente para
procurar lesões musculoesqueléticas associadas, É importante para o médico atendente ter a consciência
incluindo a possibilidade de lesões vertebromedulares. A de que o ferimento de queimadura intencional pode
rabdomiólise decorrente da propagação elétrica através do ocorrer tanto em crianças como em adultos. Os doentes
músculo provoca liberação de mioglobina que pode causar que são incapazes de controlar seu ambiente, tais como
insuficiência renal aguda. Nestas circunstâncias, não cabe os muito jovens e os muito velhos, são particularmente
esperar a confirmação laboratorial antes de instituir a vulneráveis ao abuso e negligência. Queimaduras circulares
terapia para mioglobinúria. Se a urina estiver escura, deve- e queimaduras com bordas claras e padrões únicos devem
se considerar a presença de hemocromógenos. Segundo levantar suspeitas; elas podem indicar que um cigarro ou
as diretrizes do consenso da Associação Americana outro objeto quente (por exemplo, o ferro de engomar) foi
de Queimaduras (American Burn Association – ABA) a colocado em contato com a pele do doente. Queimaduras
fórmula para iniciar a reanimação por ferimentos de nas solas dos pés da criança geralmente sugerem que a
queimaduras elétricas é 4 mL / kg / % ASCQ para garantir criança foi colocada em pé na banheira com água quente.
uma produção urinária de 100 mL/ h em adultos e 1-1,5 Por outro lado, derramar água quente sobre ele ou ela,
mL/ kg / h em crianças com menos de 30 kg. Uma vez que com contato dos pés na banheira fria pode proteger a parte
a urina se torna clara de pigmentação, diminuir a infusão inferior do pé. Queimadura localizada na face posterior
de fluidos IV para garantir um débito urinário padrão de das pernas e nádegas pode indicar que um doente idoso
0.5mL/kg/h. Consultar uma unidade de queimados do foi colocado sentado em uma banheira com água quente.
local antes de iniciar infusão de bicarbonato ou manitol. Lesões antigas causadas por queimaduras em um cenário
de uma nova lesão traumática, como uma fratura, também
queimadura por piche quente devem levantar a suspeita de abuso. Acima de tudo, o
mecanismo e o padrão das lesões devem coincidir com a
Em ambientes industriais, indivíduos podem sofrer lesões história da lesão.
secundárias por piche quente ou asfalto. A temperatura do
tr ansferência de doentes
armadilha prevenção
Os critérios para transferência de doentes para centros
Doente com • Lembre-se que, em queimaduras de queimados foram estabelecidos pela Associação
queimadura elétricas, a lesão muscular pode Americana de Queimados.
elétrica que ocorrer com poucos sinais
evolui com externos de lesão.
insuficiência • Dosagem urinária positiva para Critérios para transferência
renal. mioglobina indica a necessidade
de administração de fluidos para Os seguintes tipos de queimaduras geralmente
aumentar o débito urinário. necessitam transferência para um centro de queimados:
• Avaliar repetidamente o doente
vítima de queimadura elétrica
no sentido de diagnosticar 1. Queimaduras de espessura parcial
precocemente a síndrome comprometendo mais que 10% ASCQ.
compartimental e a necessidade 2. Queimaduras envolvendo a face, mãos, pés,
da realização de fasciotomia.
genitália, períneo, ou comprometendo a pele
• Doente com queimadura
elétrica pode apresentar
sobre as principais articulações.
arritmias cardíacas e precisa 3. Queimaduras de terceiro grau em qualquer
estar monitorizado e realizar grupo etário.
ecocardiografia.
4. Queimaduras elétricas, incluindo lesões por raios.
LESÕES POR FRIO: EFEITOS TECIDUAIS LOCAIS 181
5. Queimaduras químicas.
6. Lesões por inalação. armadilha prevenção
7. Queimaduras em doentes com doenças prévias
que podem complicar o atendimento, prolongar Doente “perde” a • Reavaliar frequentemente a
intubação durante o permeabilidade da via aérea
a recuperação, ou elevar a mortalidade (por transporte. antes da transferência.
exemplo, diabetes, insuficiência renal). • Quando o doente apresenta
8. Qualquer doente queimado com trauma fatores de risco para lesão
concomitante (por exemplo, fraturas) na qual a por inalação ou recebeu
queimadura aumenta o risco de morbidade ou quantidades significativas de
fluidos para reanimação, entre
mortalidade. Em tais casos, se o trauma representa em contato com a instituição
um maior risco imediato, o doente pode ser que irá receber o doente
inicialmente estabilizado em um centro de trauma para discutir a necessidade
antes de ser transferido para uma unidade de de intubação antes da
queimados. A avaliação médica é necessária em tais transferência..
situações e deve ser considerada em conjunto com os
protocolos de controle médico regional e de triagem. Doente refere muita • Providenciar adequada
9. Crianças com queimaduras atendidas em hospitais dor nas trocas de analgesia antes da
curativo. manipulação do curativo.
sem pessoal qualificado ou sem equipamentos • Utilizar curativos não-
específicos para seu cuidado devem ser transferidas aderentes e lençóis limpos para
para um centro de queimados que atenda crianças. prevenção de contaminação
antes da transferência.
10. Queimaduras em doentes que irão necessitar de
suporte especial, tanto do ponto de vista social
como emocional, ou de reabilitação prolongada. O hospital que recebe • Assegurar as informações
o doente queimado apropriadas referentes ao
não é capaz de concluir doente queimado através
Em razão destes critérios serem tão abrangentes, o sobre o tamanho da de formulários próprios de
queimadura informada
médico atendente pode optar por consultar um centro nos documentos de transferências.
de queimados e determinar um plano de tratamento transferência.
adequado que evite a transferência. Por exemplo, no caso
de um doente com queimadura de espessura parcial em O hospital que recebe • Assegurar que as
mão ou rosto, que tenha um controle álgico adequado o doente queimado informações apropriadas
não é capaz de referentes a quantidade
com medicação via oral e possa ter suas queimaduras concluir a respeito de fluidos administrados e
tratadas à nível ambulatorial, pode evitar os custos de da quantidade de débito urinário do doente
fluidos administrados
transferência imediata para um centro de queimados. informada nos queimado sejam enviadas
documentos de com o doente.
transferência.
procedimentos de transferências
A transferência de qualquer doente deve ser planejada com
o médico do centro de queimados. Qualquer informação Tipos de lesões por frio
pertinente sobre exames, temperatura, pulso, líquidos
administrados e débito urinário, deve ser registrada em Dois tipos de lesão por frio são vistos no doente
folha adequada e enviada junto com o doente. Também traumatizado: Congelamento e lesão não congelante.
deve ser encaminhada qualquer outra informação que
seja considerada importante tanto para o médico que Congelamento
encaminha o doente como para o médico que irá receber
esse doente queimado. O congelamento é devido a lesão do tecido por formação de
cristais de gelo causando lesão de membrana celular, oclusão
microvascular e anóxia tecidual subsequente (n FIGURA 9-8). O
le sõe s p or fr io: efeitos dano tecidual também pode resultar da lesão de reperfusão
tec idua is lo c a is que ocorre no reaquecimento. O congelamento é classificado
em graus, primeiro, segundo, terceiro e quarto graus de
A gravidade das lesões por frio depende da temperatura, acordo com a profundidade de envolvimento.
da duração da exposição, das condições ambientais,
do grau de proteção conferida pelas roupas e do 1. Congelamento de primeiro grau: hiperemia e
estado de saúde do doente. Temperaturas mais baixas, edema estão presentes sem necrose da pele.
imobilização, exposição prolongada, umidade, presença 2. Congelamento de segundo grau: formação
de doença vascular periférica e de feridas abertas são de vesícula grande, clara acompanhada de
hiperemia e edema com necrose de pele de
fatores que aumentam a gravidade da lesão. espessura parcial.
182 CAPÍTULO 9 n Lesões Térmicas
o uso de soluções endovenosas. A adoção de medidas (89.6 oF). A hipotermia é comum em doentes traumatizados
de profilaxia antitetânica depende do estado prévio de graves, mas a queda progressiva da temperatura central pode
imunização do doente. O uso de antibióticos por via ser limitada com a infusão de fluídos e sangue aquecidos,
sistêmica deve ser reservado para infecções já instaladas. exposição sensata do doente, e aquecimento do ambiente.
As feridas devem ser mantidas limpas e as bolhas não Evitar a hipotermia iatrogênica durante a exposição e infusão
infectadas devem ser deixadas intactas por 7 a 10 dias, de líquidos é importante, pois a hipotermia pode piorar a
com o intuito de oferecer um curativo biológico estéril, coagulopatia e afetar a função orgânica.
capaz de favorecer a epitelização subjacente. A nicotina e, Os sinais de hipotermia e seu tratamento são
portanto, o tabaco, assim como quaisquer outros agentes explicados em mais detalhes no Apêndice B: Hipotermia
vasoconstritores devem ser evitados. Atividades físicas e lesões térmicas.
mais intensas são proibidas até a resolução do edema.
Numerosas medidas adjuvantes foram tentadas para
restaurar o fornecimento de sangue ao tecido afetado pelo
frio. Infelizmente, em sua maioria, todas mostraram-se
Trabalho em equipe
ineficazes. Bloqueio simpático (por exemplo, simpatectomia
ou drogas) e agentes vasodilatadores não provaram serem O líder da equipe deve:
úteis para alterar a progressão da lesão aguda causada pelo
frio. Da mesma forma, heparina e oxigenoterapia hiperbárica •• Certificar-se de que a equipe de trauma
também falharam em demonstrar benefícios substanciais reconhece os aspectos específicos do
de tratamento. Várias séries de casos retrospectivos têm tratamento de doentes com queimadura e é
sugerido que agentes trombolíticos podem mostrar alguma capaz de aplicar os princípios do ATLS nesse
tipo de doente.
promessa, mas apenas quando a terapia trombolítica for
administrada nas primeiras 23 horas da lesão congelante. •• Ajudar a equipe a reconhecer a importância
No caso das lesões por frio em geral, a avaliação de limitar a exposição do doente a fim de
da profundidade e extensão das lesões teciduais não minimizar a hipotermia e infecção da área
costuma ser precisa até que ocorra a demarcação da área queimada.
afetada. Para tanto podem ser necessárias semanas ou •• Incentivar a equipe de trauma a comunicar-se
mesmo meses de observação. Por isso, o desbridamento precoce e regularmente sobre os desafios de
cirúrgico precoce ou a amputação raramente são reanimar um doente queimado (por exemplo,
indicados na fase inicial, a não ser que ocorra infecção. acesso IV e necessidade de escarotomias).
regra prática e útil para determinar a extensão 4. Cancio LC. Initial assessment and fluid re-
da queimadura. A área de superfície corporal da suscitation of burn patients. Surg Clin North Am
criança é consideravelmente diferente. Na criança, 2014 Aug;94(4):741–754.
a cabeça corresponde a uma percentagem maior e 5. Cancio LC, Lundy JB, Sheridan RL. Evolving
os membros inferiores a uma percentagem menor changes in the management of burns and envi-
do que no adulto. ronmental injuries. Surg Clin North Am 2012
Aug;92(4):959–986, ix.
4. Deve-se ter atenção especial aos problemas próprios 6. Carta T, Gawaziuk J, Liu S, et al. Use of mineral
das queimaduras. A intoxicação por monóxido oil Fleet enema for the removal of a large tar
de carbono deve ser suspeitada e diagnosticada. burn: a case report, J Burns, 2015 Mar;41(2):
Queimaduras circunferenciais podem necessitar e11-4.
de escarotomia. 7. Gentilello LM, Cobean RA, Offner PJ, et al.
Continuous arteriovenous rewarming: rapid
5. Outras causas de queimaduras devem ser reversal of hypothermia in critically ill patients.
reconhecidas e iniciado o tratamento adequado. J Trauma 1992;32(3):316–327.
Queimaduras químicas requerem retirada imediata 8. Gonzaga T, Jenebzadeh K, Anderson CP,
das roupas e irrigação com grande quantidade Mohr WJ, Endorf FW, Ahrenholz DH. Use of
de água para evitar mais lesão. Queimaduras intraarterial thrombolytic therapy for acute
elétricas podem estar associadas com grandes treatment of frostbite in 62 patients with review
lesões ocultas. Doentes com queimaduras têm of thrombolytic therapy in frostbite. J Burn Care
um risco aumentado de hipotermia. A analgesia Res, 2015.
adequada não pode ser subestimada. 9. Halebian P, Robinson N, Barie P, et al. Whole
body oxygen utilization during carbon monoxide
6. A Associação Americana de Queimaduras poisoning and isocapneic nitrogen hypoxia. J
identificou os tipos de queimaduras que geralmente Trauma 1986;26:110–117.
necessitam transferência para um centro de 10. Jurkovich GJ. Hypothermia in the trauma patient.
queimados. Os princípios de transferência são In: Maull KI, Cleveland HC, Strauch GO, et al., eds.
semelhantes aos doentes não queimados, mas Advances in Trauma. Vol. 4. Chicago, IL: Yearbook;
incluem uma avaliação precisa da profundidade 1989:11–140.
e extensão da queimadura. 11. Jurkovich GJ, Greiser W, Luterman A, et al. Hy-
pothermia in trauma victims: an ominous
7. O tratamento inicial dos doentes com lesões por predictor of survival. J Trauma 1987;27:
frio inclui realizar o ABCDEs da reanimação, 1019–1024.
reconhecer o tipo e extensão da lesão por frio, 12. Latenser BA. Critical care of the burn patient:
medir a temperatura central do doente, iniciar um the first 48 hours. Crit Care Med 2009 Oct;37
registro de tratamento, e iniciar precocemente as (10):2819–2826.
técnicas de reaquecimento. 13. Moss J. Accidental severe hypothermia. Surg
Gynecol Obstet 1986;162:501–513.
14. Mozingo DW, Smith AA, McManus WF,
et al. Chemical burns. J Trauma 1988;28:
Bibliografia 642–647.
15. Perry RJ, Moore CA, Morgan BD, et al. Determining
the approximate area of burn: an inconsist-
1. Baxter CR. Volume and electrolyte changes ency investigated and reevaluated. BMJ 1996;
in the early postburn period. Clin Plast Surg 312:1338.
1974;4:693–709. 16. Pham TN, Gibran NS. Thermal and electrical
2. Bruen KJ, Ballard JR, Morris SE, et al. Reduction injuries. Surg Clin North Am 2007 Feb;87(1):185–
of the incidence of amputation in frostbite 206, vii–viii. Review.
injury with thrombolytic therapy. Arch 17. Pruitt BA. Fluid and electrolyte replacement in
Surg 2007 Jun;142(6):546–551; discussion the burned patient. Surg Clin North Am 1978,
551–553. 58;6:1313–1322.
3. Cancio L. Airway management and smoke 18. Reed R, Bracey A, Hudson J, et al. Hypothermia
inhalation injury in the burn patient. Clin Plast and blood coagulation: dissociation between
Surg 2009 Oct;36(4):555–567. enzyme activity and clotting factor levels. Circ
Shock 1990;32:141–152.
BIBLIOGRAFIA 185
19. Saffle JR, Crandall A, Warden GD. Cataracts: a 22. Sheridan RL, Chang P. Acute burn procedures.
long-term complication of electrical injury. J Surg Clin North Am 2014 Aug;94(4):755–764.
Trauma 1985;25:17–21. 23. Stratta RJ, Saffle JR, Kravitz M, et al. Management
20. Schaller M, Fischer A, Perret C. of tar and asphalt injuries. Am J Surg 1983;146:
Hyperkalemia: a prognostic factor during 766–769.
acute severe hypo-thermia. JAMA 1990;264: 24. Vercruysse GA, Ingram WL, Feliciano DV. The
1842–1845. demographics of modern burn care: should most
21. Sheehy TW, Navari RM. Hypothermia. Ala J Med burns be cared for by the non-burn surgeon? Am
Sci 1984;21(4):374–381. J Surg 2011;201:91–96.
10 TRAUMA PEDIÁTRICO
Traumatismos ainda são a causa mais comum de óbitos e sequelas na infância. A morbidade
e mortalidade ultrapassam todas as principais doenças da criança e do adulto jovem, sendo o
trauma o maior problema de saúde pública e de atendimento nesta população.
Capítulo 10 sumário
Objetivos Trauma abdominal
• Avaliação
Introdução • Métodos Diagnósticos Auxiliares
• Abordagem Não Operatória
Tipos e padrões de lesões • Lesões Viscerais Específicas
trauma torácico
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de aos doentes pediátricos, as diferenças anatômicas e
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: fisiológicas que afetam a ressuscitação e a diferença
dos equipamentos quando comparados ao trauma
1. Identificar as características próprias da criança de adultos.
como doente traumatizado, incluindo os tipos
e padrões de lesão, diferenças anatômicas e 3. Identificar padrões de lesão associados a maus
fisiológicas da criança, em comparação ao adulto e tratos na infância e descrever os elementos que
os efeitos a longo prazo das lesões. levam à suspeita desta condição.
187
188 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
T
raumatismos continuam sendo a causa mais
comum de mortes e sequelas na infância. tabela 10-1 mecanismos de trauma
Mais de 10 milhões de crianças são atendidas comuns e padrões de associação de
nas emergências dos Estados Unidos por ano para lesão em doentes pediátricos
tratamento de lesões traumáticas, o que representa
quase 1 em cada 6 crianças. Mais de 10.000 crianças MECANISMO
morrem anualmente devido a lesões graves nos DE TRAUMA PADRÕES COMUNS DE LESÃO
Estados Unidos. A morbimortalidade desta doença
ultrapassa todas as principais doenças em crianças e Atropelamento • Baixa velocidade: fraturas de
adultos jovens, fazendo com que o trauma seja o maior membros inferiores
• Alta velocidade: politraumatismo,
problema de saúde pública e de atendimento nesta
lesões de cabeça e pescoço,
população. Mundialmente, acidentes automobilísticos fraturas de membros inferiores
são a principal causa de mortes de adolescentes. Falhas
na abordagem da via aérea, no suporte de ventilação Ocupante de • Sem dispositivo de segurança:
e no reconhecimento e tratamento de hemorragias veículo politraumatismo, lesões de
abdominais e intracranianas situam-se nas principais cabeça e pescoço, lacerações de
causas de insucesso na reanimação da criança face e de couro cabeludo
• Com dispositivo de segurança:
traumatizada; por isso, a aplicação dos princípios do
lesões torácicas e abdominais,
ATLS para atendimento da criança traumatizada tem fraturas lombares
impacto significativo na sobrevida final.
Queda de altura • Baixa: fraturas de membros
SCORE
COMPONENTE +2 +1 -1
Pressão Arterial >90 mm Hg; pulsos e 50–90 mm Hg; pulsos carotídeos <50 mm Hg; pulsos fracos ou
Sistólica perfusão periférica ou femorais palpáveis ausentes
Lesões Cutâneas Ausentes Contusão, abrasão, laceração <7 Perda de tecido ou qualquer
cm sem comprometer fáscia orifício relacionado a ferimentos
de arma de fogo ou arma branca
que ultrapasse a fáscia.
Total:
Fonte: Adaptado com permissão de Tepas JJ, Mollitt DL, Talbert JL, et al. The pediatric trauma score as a predictor of injury severity in the injured
child. Journal of Pediatric Surgery 1987; 22(1)15.
tamanho, forma e superfície corporal ossos contíguos às respectivas lesões. Por exemplo, fraturas
de arcos costais são incomuns nas crianças, ao contrário
Como a criança tem menor massa corpórea, o impacto das contusões pulmonares, que são muito comuns. Outros
da energia, por exemplo, de paralamas, para-choques tecidos moles do tórax, coração e mediastino também
e de quedas resulta em maior força aplicada por podem ter lesões significativas sem evidência de fraturas.
unidade de área corporal. Essa energia mais intensa é A identificação de fraturas de crânio e de arcos costais em
transmitida para um corpo que possui menos gordura, crianças sugere transferência maciça de energia e associação
tecido conjuntivo e maior proximidade entre os órgãos. de lesões de órgãos próximos a elas, como lesões cerebrais
Esses fatores explicam a alta incidência de lesões e contusões pulmonares, que devem ser suspeitadas.
múltiplas observadas na população pediátrica. Além
disso, a cabeça é proporcionalmente maior em crianças Status psicológico
mais novas, causando alta incidência de lesões cerebrais
contusas nesta faixa etária. Há muitas ramificações psicológicas significantes dos
A relação entre superfície corpórea e volume corporal traumatismos em crianças. Em crianças pequenas, a
é maior ao nascimento e diminui com o crescimento instabilidade emocional frequentemente leva a um
da criança. Como consequência, a perda de calor é um comportamento regredido, quando estresse, dor e outras
fator de estresse importante em crianças. A hipotermia ameaças percebidas interferem no ambiente da criança.
pode se instalar rapidamente e complicar o tratamento A capacidade de interação da criança com pessoas
do doente pediátrico com hipotensão. desconhecidas e em situações difíceis é limitada, o que torna
difícil coletar dados da história, assim como ter cooperação
esqueleto nas manipulações, especialmente se causarem dor.
Médicos que entendam essas características e que tenham
O esqueleto pediátrico tem calcificação incompleta, contém a intenção de persuadir e acalmar uma criança traumatizada
múltiplos centros de crescimento ósseo ativos e é mais têm maior possibilidade de estabelecer um bom contato, o
flexível que o do adulto. Por essas razões, há com frequência que facilita a avaliação e compreensão das lesões físicas e
lesões de órgãos internos sem associação com fraturas de psicológicas da criança. Além disso, a presença de pais ou
190 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
responsáveis durante a avaliação e tratamento, inclusive atrasará a transferência de doentes que precisam de
durante a reanimação, pode ajudar o médico no tratamento estrutura de maior complexidade.
inicial da criança traumatizada, minimizando os medos e Não obstante, a qualidade de vida a longo prazo de
ansiedades naturais da criança traumatizada. crianças traumatizadas é surpreendentemente robusta,
mesmo que em muitos casos eles tenham que lidar com
efeitos a longo prazo desafios físicos por toda a vida. A maioria desses doentes
reportam uma boa ou excelente qualidade de vida e
Uma importante consideração ao se tratar de crianças conseguem empregos e bons salários como adultos, o que
traumatizadas é o efeito que a lesão pode ter no justifica as iniciativas de reanimação agressiva, mesmo
crescimento e desenvolvimento subsequentes. Ao para doentes pediátricos cujo status fisiológico inicial,
contrário dos adultos, as crianças devem não só se por exemplo, a escala de coma de Glasgow sugerisse o
recuperar dos efeitos do evento traumático, mas contrário.
também continuar o processo normal de crescimento e
desenvolvimento. Os efeitos fisiológicos e psicológicos Equipamento
da lesão neste processo não devem ser subestimados,
especialmente em casos que envolvem função a longo Equipamento adequado imediatamente disponível é
prazo, deformidade de crescimento ou desenvolvimento essencial para o sucesso no atendimento inicial da criança
subsequente anormal. Crianças com uma lesão menor traumatizada (n TABELA 10-3; ver também Equipamento
podem ter períodos prolongados de disfunção cerebral, Pediátrico no aplicativo móvel MyATLS). Uma fita baseada
ajustamento psicológico ou do sistema orgânico. no comprimento, como a Broselow® Pediatric Emergency
Algumas evidências sugerem que aproximadamente Tape, é uma ferramenta ideal para a rápida determinação
60% das crianças que tiveram traumatismo do peso, baseado no comprimento, para volumes
multissistêmico têm alterações de personalidade de reposição volêmica apropriados, dose de drogas e
residuais um ano após a alta hospitalar e 50% têm tamanhos dos equipamentos. Através da aferição da altura
limitações cognitivas e físicas. Disfunções sociais, da criança, o seu peso estimado pode ser determinado
afetivas e de aprendizado estão presentes em metade prontamente. Um lado da fita provê as drogas e suas doses
das crianças que tiveram lesões graves. Além disso, os recomendadas para doentes pediátricos, através do peso.
traumatismos na infância têm impacto significativo na O outro lado identifica os equipamentos necessários para
família, com distúrbios emocionais e de personalidade os doentes pediátricos com base no seu comprimento (n
em dois terços dos irmãos de crianças traumatizadas. FIGURA 10-1). Os médicos devem familiarizar-se com as
Frequentemente, o trauma da criança impõe tensões fitas de reanimação, assim como no seu uso.
no casamento dos pais, inclusive problemas financeiros
e também de emprego. O trauma não afeta apenas a
sobrevida da criança, mas também a qualidade de vida
armadilha prevenção
da criança nos anos a seguir.
Administração • Reconhecer a necessidade
Deve-se atentar para fraturas e lesões de vísceras
incorreta de doses de dose pelo peso e o uso da
parenquimatosas: lesões que afetem a placa de
de soluções e fita para estimar o peso.
crescimento podem resultar em crescimento anormal
do osso fraturado. Se o osso for o fêmur, pode resultar medicamentos.
em alteração do comprimento da perna, causando
incapacidade permanente para andar e correr. Se a Desenvolvimento de • Reconhecer a importância
fratura ocorrer através da placa de crescimento de uma hipotermia. da superfície corporal
ou mais vértebras torácicas, pode causar escoliose, da criança, controlar o
cifose ou até uma giba. Uma lesão grave do baço pode ambiente e aquecer a
necessitar de esplenectomia. A perda do baço predispõe criança.
ao risco de sepse pós-esplenectomia e de morte por
tempo prolongado.
A radiação ionizante, comumente usada para avaliação via aérea
de doentes traumatizados, aumenta o risco de algumas
neoplasias e deve ser usada somente nas seguintes O “A” do ABCDE do atendimento inicial é o mesmo em
circunstâncias: quando a informação necessária não crianças e em adultos. Estabelecer via aérea segura para
pode ser obtida de forma prática ou rápida por outros garantir adequada oxigenação tecidual é o primeiro
meios; a informação obtida mudará o tratamento do objetivo. A causa mais comum de parada cardíaca em
doente; a informação é obtida com o mínimo de radiação crianças é a falha em se obter via aérea e/ou mantê-la,
possível para o doente; a obtenção da informação não associada à falta de oxigenação. Portanto, via aérea na
VIA AÉREA 191
SONDA SONDA
IDADE E MÁSCARA ORO- BOLSA LARIN- TUBO ASPIRA-
PESO DE O2 TRAQUEAL MÁSCARA GOSCÓPIO ET GUIA ÇÃO
CATE-
TER
PESO E CATETER TUBO DRENO URINÁ- COLAR
IDADE MANGUITO EV OG/NG TÓRAX RIO CERVICAL
Use o maior cateter EV que se conseguir obter, com uma chance razoável de sucesso em sua punção.
b
192 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
A B
n FIGURA 10-1 Fita de Reanimação. A. A fita de reanimação baseada no comprimento como a Broselow® Pediatric Emergency Tape, é ideal
para determinar rapidamente o peso, assim como volumes, doses de drogas e tamanhos de equipamentos.B. Detalhe demonstrando doses e
equipamentos recomendados para doentes pediátricos baseados em seu peso.
Anatomia
Quanto menor a criança, maior a desproporção entre
o tamanho do crânio e a face. Por isso há propensão de
a laringe posterior se anteriorizar, como resultado da A
flexão passiva da coluna cervical devido à proeminência
occipital. Para evitar a flexão passiva da coluna Plano da face
paralelo com coluna
cervical, o plano da face deve manter-se paralelo ao
da prancha em posição neutral, ao invés da “posição de
cheirador” (n FIGURA 10-2A). A colocação de um coxim
de aproximadamente 2,5 cm de altura abrangendo o
dorso em lactentes (menores de 1 ano de idade) ou em
crianças menores (de 1 a 3 anos de idade) preserva o
alinhamento neutro da coluna (n FIGURA 10-2B).
Diferenças anatômicas na criança afetam a avaliação e
B
abordagem da via aérea. Os tecidos moles da orofaringe n FIGURA 10-2 Posicionamento para Manutenção da Via Aérea. A.
de um lactente são proporcionalmente maiores quando Posicionamento impróprio de uma criança, para manutenção da via
comparadas aos tecidos da cavidade oral, o que dificulta aérea pérvia. A desproporção entre o tamanho do crânio da criança
a visualização da laringe. A laringe da criança tem e sua face, promove à anteriorização da faringe posterior. O occipicio
alargado, causa uma passível flexão da coluna cervical.
forma de funil, o que propicia o acúmulo de secreções
B. Posicionamento apropriado da criança para manutenção de sua
na retrofaringe. A laringe e as cordas vocais têm posição
via aérea. A flexão passiva da coluna é evitada, mantendo o plano
mais altas e mais anteriorizada no pescoço. As cordas da face paralelo à coluna, em uma neutra posição, ao contrário da
vocais são mais difíceis de visualizar quando a cabeça “posição do cheirador”. Esse plano e alinhamento neutro é possível
da criança está em posição supina, normal e anatômica com o posicionamento de um coxim de 2,5 cm que compreenda todo
durante a intubação do que quando em posição ótima o tronco do recém-nascido ou lactente.
para proteção da coluna cervical.
A traqueia do lactente tem aproximadamente 5 cm de
comprimento e cresce até 7 cm por volta dos 18 meses do tubo de intubação e/ou barotrauma. A ponta do
de idade. A falta de cuidado com o fato de a traqueia ser tubo deve progredir (em cm) três vezes o tamanho
curta pode resultar em intubação seletiva do brônquio adequado do tubo. Por exemplo, um tubo 4.0 deve ser
direito, ventilação inadequada, deslocamento acidental posicionado a 12 cm da gengiva.
VIA AÉREA 193
ventilação e respiração
Circulação e choque
A frequência respiratória em crianças diminui com o
crescimento. Um lactente tem frequência respiratória de Fatores chave para a avaliação e tratamento da
30 a 40 vezes por minuto, enquanto uma criança maior circulação em doentes pediátricos traumatizados
tem frequência respiratória de 15 a 20 vezes por minuto. são: o reconhecimento de alterações circulatórias;
O volume corrente espontâneo varia de 4 a 6 mL/kg determinação acurada do peso e da volemia do doente;
para lactentes e crianças, embora possam ser necessários reposição volêmica com cristaloides e com sangue;
volumes maiores durante a ventilação assistida de 6 a acessos venosos e avaliação da resposta à reanimação,
8 mL/kg e, ocasionalmente, até 10 mL/kg. Apesar do como diurese e controle da temperatura.
fato de que a maioria dos dispositivos bolsa-máscara
usados em doentes pediátricos serem desenhados para Reconhecimento da alteração
limitar a pressão exercida manualmente na via aérea circulatória
da criança, volumes ou pressões excessivas durante
a ventilação assistida aumentam substancialmente o As lesões em crianças podem causar perda sanguínea
potencial de barotrauma iatrogênico devido à imaturidade significativa. A criança tem maior reserva funcional,
e fragilidade da árvore respiratória e dos alvéolos. Se que permite a manutenção da pressão arterial sistólica
for usado um dispositivo bolsa-máscara de adulto para em níveis normais, mesmo na presença de choque. (n
ventilar uma criança, há aumento significativo do risco FIGURA 10-4). A criança precisa perder mais de 30% da
de barotrauma. O uso de dispositivo bolsa-máscara volemia para que manifeste diminuição na pressão
pediátrico é recomendado para crianças menores de 30 kg. arterial sistólica e isso pode confundir os médicos
Hipóxia é a causa mais comum de parada cardíaca em que não estão familiarizados com as sutilezas das
crianças. Entretanto, antes que haja parada cardíaca, alterações fisiológicas manifestas em crianças
a hipoventilação causa acidose respiratória, que é a
alteração mais comum do equilíbrio ácido-básico durante Repercussão Fisiológica: Alterações Hemodinâmicas
a reanimação de crianças traumatizadas. Com ventilação
e perfusão adequadas, a criança é capaz de manter um
pH relativamente normal. Na ausência de ventilação e
perfusão adequadas, corrigir a acidose com bicarbonato
de sódio pode piorar a hipercarbia e a acidose.
em choque. Taquicardia e diminuição da perfusão (sinais vitais normais por faixa etária estão demostrados
periférica frequentemente são as únicas chaves para na n TABELA 10-5.) A hipotensão na criança representa
o reconhecimento precoce da hipovolemia e início um estado de choque descompensado e indica perda
precoce da reanimação volêmica. Assim que possível, a sanguínea de mais de 45% da volemia. A taquicardia
avaliação de um cirurgião é essencial para o tratamento muda para bradicardia na hipotensão e esta mudança
adequado da criança traumatizada. pode ocorrer de repente em lactentes. As alterações
A resposta mais precoce da criança à hipovolemia é a fisiológicas devem ser tratadas com a infusão rápida
taquicardia, que também pode ser causada por dor, medo de cristaloide isotônico e sangue.
e estresse psicológico. Outros sinais mais sutis de perda
sanguínea em crianças são: a diminuição progressiva
dos pulsos periféricos; pinçamento da pressão de pulso armadilha prevenção
em menos de 20 mm Hg; diminuição do turgor da
pele (que substitui sudorese em lactentes e crianças Não reconhecer o choque • Reconhecer que a
pequenas); extremidades frias, quando comparadas em uma criança. taquicardia pode ser o
à pele que recobre o dorso e diminuição do nível de único sinal alterado.
consciência, com menor resposta à dor. A hipotensão • Reconhecer que a
e outros índices de perfusão inadequada, tais como criança tem uma
diurese, devem ser monitorizados continuamente, resposta fisiológica mais
mas normalmente se manifestam mais tardiamente. eficaz.
As mudanças nas funções orgânicas estão descritas • Reconhecer que os
na n TABELA 10-4. sinais vitais variam com
A pressão sistólica normal média em crianças é de a idade.
90 mmHg somada ao dobro da idade da criança em • Reavalie seu doente
anos. O limite inferior de normalidade da pressão sempre que houver
sistólica em crianças é 70 mm Hg mais duas vezes a alteração de consciência
idade da criança em anos. A pressão diastólica deve e cutânea.
ser aproximadamente dois terços da pressão sistólica.
a
Pode-se observar a diminuição da resposta à dor neste nível de perda sanguínea (30%–45%) por diminuição da reação à dor quando da punção
de acessos venosos periféricos.
b
Após esvaziamento inicial da bexiga pela sonda vesical. Limite inferior de normalidade é 2 ml/kg/h (lactente), 1.5 ml/kg/h (criança pequena),
1 ml/kg/h (criança maior), e 0.5 ml/kg/h (adolescente). Contraste IV pode aumentar a diurese falsamente.
CIRCULAÇÃO E CHOQUE 197
VENOSOS
Acessos venosos em uma criança com choque pode
ser um desafio, mesmo em mãos experientes. O
choque hipovolêmico grave, normalmente, ocorre
como resultado de lesões de órgãos intratorácicos,
intra-abdominais ou de vasos. Os acessos venosos
preferenciais devem ser os periféricos. Se não for
possível por essa via após duas tentativas, deve-se B
considerar a realização de punção intraóssea realizada
com uma agulha de punção de medula óssea, 18 n FIGURA 10-5 Infusão Intraóssea, A. Distal femur, B. Tibia
gauge em lactentes, 15 gauge em crianças pequenas. Proximal. Se o acesso não for possível em duas tentativas, considere
(n FIGURA 10-5; ver também Punção Intraóssea no a infusão via cateter de medula óssea (18 gauge em lactentes, 15
aplicativo móvel MyATLS.) Outra alternativa é a punção gauge em crianças menores).
198 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
pode realizar uma dissecção venosa com segurança. restrito de cristaloides e na administração mais rápida
Entretanto, esta alternativa deve ser o último recurso, e balanceada de concentrado de hemácias, plasma
pois esse procedimento raramente é realizado em fresco congelado e plaquetas. Essa alternativa parece
menos de 10 minutos, mesmo em mãos experientes, ser mais eficaz contra a tríade letal da hipotermia,
enquanto a punção intraóssea pode ter acesso à medula acidose e coagulopatia induzida pelo trauma e tem
em menos de 1 minuto, mesmo por profissionais com sido associado com melhores resultados no adulto
habilidade e expertise limitados. (Ver Apêndice G: gravemente traumatizado.
Estação Prática Circulação.) Há um movimento em centros de trauma pediátricos
Locais preferenciais para acessos venosos em crianças: americanos no sentido de restringir a infusão de
cristaloide e favorecer a reanimação balanceada
•• Punção periférica (duas tentativas)—Fossa em hemocomponentes com evidência de choque
antecubital, veia(s) safena(s) no tornozelo hemorrágico, apesar de haver ainda poucos estudos
•• Punção intraóssea—(1) Tíbia anteromedial, (2) que suportam esse tratamento. A estratégia básica
fêmur distal. Complicações desse procedimento desse tratamento seria a infusão inicial de um bolus
incluem celulite, osteomielite, síndrome de 20 mL/ kg de cristaloides, seguido de uma infusão
compartimentar e fratura iatrogênica. O local de 10-20 mL/Kg de concentrado de hemácias e 10-20
preferido para punção intraóssea é a tíbia mL/kg de plasma fresco congelado, além de plaquetas,
proximal, abaixo da tuberosidade da tíbia. Um tipicamente como parte do protocolo pediátrico de
local alternativo é o fêmur distal, apesar de a transfusão maciça. Um número limitado de trabalhos
tíbia proximal contralateral ser preferida. A tem avaliado essa estratégia em crianças e as pesquisas
punção intraóssea não deve ser realizada em ainda não demonstraram um aumento da sobrevida.
uma extremidade com suspeita de fratura. Para estabelecimentos que carecem de banco de sangue,
a reanimação com cristaloides é uma alternativa
•• Punção de veia profunda—Veia(s) Femoral(is) apropriada até a transferência do doente para um
•• P
unção de Veia cervical—Veia(s) centro maior.
Jugular(es) Externa(s) ou Subclávias (só para Deve-se monitorizar a criança traumatizada para
especialistas pediátricos; não usar se houver resposta ao tratamento volêmico. O retorno da
comprometimento da via aérea ou se a criança normalidade hemodinâmica será indicado quando
estiver com colar cervical) houver:
•• D
issecção venosa—Veia(s) safena(s) no
•• Diminuição da frequência cardíaca (atenção a
tornozelo
faixa normal de acordo com a idade)
•• Melhora do sensório
REANIMAÇÃO Volêmica e de •• Retorno dos pulsos periféricos
Hemocomponentes •• Retorno da coloração da pele
A reanimação volêmica para as crianças traumatizadas •• Aquecimento das extremidades
é baseada no peso, com o objetivo de restabelecer
•• Aumento da pressão sistólica até sua faixa
o volume intravascular perdido. Evidências de
normal.
hemorragia estarão presentes com uma perda de
25% do volume circulatório. A estratégia inicial de •• Aumento da pressão de pulso (>20 mm Hg)
reanimação volêmica, nas edições prévias do ATLS,
•• Débito urinário de 1 a 2 mL/kg/hora (a
consistia em uma reposição de solução cristaloide
depender da idade)
aquecida, isotônica em 20 mL/Kg, podendo ser repetida
até em duas vezes, a depender da resposta volêmica.
Se a criança apresentasse sinal de permanência do As crianças normalmente apresentam três respostas
sangramentos, após o segundo ou terceiro bolus, à ressuscitação volêmica:
concentrado de hemácias a 10 mL/kg deveria ser
fornecido. 1. A condição da maioria das crianças será
Avanços recentes na reanimação de adultos vítimas estabilizada utilizando apenas cristaloides, sem
de trauma com choque hemorrágico resultaram em necessidade de sangue. Essas crianças serão
uma transição da reanimação cristaloide para uma consideradas “responsivas”. Algumas crianças
reposição mais a favor de uma reanimação baseada no responderão com cristaloide e sangue.
“controle de danos”. Essa reposição consiste no uso mais
TRAUMA TORÁCICO 199
r e ANIMAÇÃO
Consultar o cirurgião
c a r diopulmon a r
20 0L/kg de solução de Ringer lactato em bolus
Transferir se Transferir se
necessário necessário trauma torácico
trauma e a anatomia do tórax infantil são diretamente estimular uma conversa calma com a criança, questionar
responsáveis pelo espectro de lesões observado. se há dor abdominal e fazer a palpação abdominal
A maioria das lesões torácicas em crianças são causadas superficial gentilmente, para avaliar se há resistência da
por mecanismos fechados, principalmente por veículos musculatura abdominal. A palpação profunda e dolorosa
automotores. A flexibilidade e complacência da parede do abdome deve ser evitada no primeiro contato, para
torácica faz com que as forças transmitidas no trauma evitar a resistência voluntária, que pode mascarar os
atinjam o parênquima pulmonar subjacente, causando achados do exame abdominal .
contusões pulmonares. Fraturas de arcos costais e lesões Grande parte das crianças estressadas e que estão
de mediastino não são frequentes, mas, se presentes, chorando engolem grandes quantidades de ar. Se o
indicam grande transferência de energia. As lesões epigástrio estiver distendido, a inserção de uma sonda
torácicas específicas são similares às encontradas em gástrica para descompressão do estômago deve ser
adultos, divergindo apenas em frequência. realizada. A sonda orogástrica deve ser preferida em
A mobilidade das estruturas mediastinais faz com que a lactentes. A distensão diminui com a descompressão
criança seja mais suscetível ao pneumotórax hipertensivo, gástrica e facilita o exame mais cuidadoso e torna o
que é a lesão de risco iminente de vida mais frequente exame físico mais confiável.
na infância. O pneumomediastino é raro e benigno na A presença da marca do cinto se segurança aumenta a
maioria dos casos. A ruptura traumática do diafragma, possibilidade de lesões intra-abdominais, especialmente
a ruptura traumática da aorta, a transecção da aorta, se associada à fratura lombar, líquido livre na cavidade
grandes rupturas de brônquios principais, tórax instável peritoneal ou frequência cardíaca >120.
e contusões miocárdicas são raramente encontradas O exame abdominal em doentes inconscientes não
na infância. Quando identificadas, o seu tratamento é varia muito com a idade. A sondagem vesical facilita
o mesmo do adulto. Lesões graves raramente ocorrem a avaliação do abdome. Como as distensões gástrica e
isoladamente e são frequentemente um dos componentes vesical podem causar resistência e dor abdominal, estes
do traumatismo multissistêmico grave. achados devem ser interpretados com cautela até que
A incidência de traumatismos torácicos penetrantes esses órgãos possam ser esvaziados através de sondas.
aumenta após os 10 anos de idade e eles devem ser
tratados da mesma forma que nos adultos.
Diferentemente de doentes adultos, a maioria das lesões métodos diagnósticos auxiliares
torácicas nas crianças podem ser diagnosticadas com
radiografias de tórax. Tomografia de tórax raramente Os métodos auxiliares de diagnóstico para o
é necessária na avaliação das lesões contusas e deve ser trauma abdominal em crianças são a tomografia
reservada para casos cujos achados iniciais não podem computadorizada (TC), o FAST e a lavagem peritoneal
ser justificados apenas pela radiografia padrão. diagnóstica (LPD).
A maioria dos traumatismos torácicos pediátricos
são tratados com a combinação de drenagem pleural
e monitorização. Toracotomia, normalmente, não é Tomografia Computadorizada
necessária na criança. (Ver também Capítulo 4: Trauma
Torácico e Apêndice B, Estação Prática B: Respiração.) O advento da tomografia helicoidal permite
avaliação e identificação rápidas e precisas das lesões.
A TC é frequentemente utilizada para avaliar crianças
trauma abdominal com traumatismos fechados do abdome, que têm
estabilidade hemodinâmica. A TC deve estar disponível
A maioria das lesões abdominais são decorrentes de imediatamente, deve ser realizada precocemente e não
mecanismos fechados relacionados a acidentes com deve atrasar o tratamento. A TC de abdome deve ser
veículos automotores e quedas. Lesões graves requerem rotineiramente realizada com contrastes endovenosos
o pronto envolvimento de um cirurgião e crianças em de acordo com a prática local.
choque hemorrágico, com traumatismos fechados ou A identificação de lesões abdominais à TC em doentes
penetrantes, devem ser operadas prontamente. pediátricos estáveis hemodinamicamente permite a
realização de tratamento não operatório. A avaliação
precoce do cirurgião é essencial para estabelecer a base
Avaliação e definir se e quando o tratamento cirúrgico pode ser
indicado. Em centros que não possuem equipe cirúrgica
Lactentes e crianças pequenas, normalmente, estão e que vão transferir a criança traumatizada, é justificável
muito assustadas ao chegar na sala de emergência, realizar a TC antes do transporte desde que a criança
o que pode dificultar o exame abdominal. Deve-se
TRAUMA ABDOMINAL 201
esteja estável, que não vá atrasar a transferência e que Lavado Peritoneal Diagnóstico
seja necessário.
Crianças traumatizadas que necessitam de avaliação A lavagem peritoneal diagnóstica (DPL) pode ser
tomográfica, frequentemente precisam de sedação para utilizada para detecção de sangramento intra-abdominal
evitar movimentos durante o exame afim de evitar artefatos. em crianças com instabilidade hemodinâmica que não
Portanto, a criança que precisa de reanimação e sedação podem ser transportadas para a TC com segurança ou
para a TC deve ser acompanhada por um médico experiente quando a TC ou o FAST não estiverem imediatamente
no manejo da via aérea pediátrica e em acessos venosos. disponíveis e a presença de sangue indicará tratamento
Entretanto, a TC não é isenta de risco. Há previsão de cirúrgico imediato. Esta situação raramente ocorre. A
desenvolvimento de cânceres fatais na proporção de até 1 maioria dos doentes pediátricos tem lesões abdominais
em cada 1.000 doentes pediátricos que foram submetidos com hemorragia autolimitada e não tem instabilidade
à TC quando crianças. Assim, a necessidade do diagnóstico hemodinâmica. Portanto, o achado de sangue à LPD
preciso das lesões internas deve ser balanceada com o risco de não indica cirurgia necessariamente em uma criança
neoplasia tardio. Certamente todo esforço deve ser feito para estável hemodinamicamente.
evitar TC antes da transferência para o centro de trauma que Deve-se utilizar solução cristalóide aquecida, 10 mL/kg
proverá o tratamento definitivo e também para evitar repetir (máximo de 1.000 mL) para a LPD. Como a parede abdominal
a TC no centro de trauma, a não ser que seja absolutamente da criança é relativamente fina quando comparada à do
necessário. Quando a avaliação tomográfica for necessária, adulto é preciso cuidado à abertura da cavidade, para
deve-se manter a radiação em níveis mínimos (As Low evitar lesões iatrogênicas a vísceras abdominais, mesmo
As Reasonably Achievable - ALARA). Para limitar a doses quando utilizando a técnica aberta. A LPD é útil apenas
mínimas, a TC deve ser realizada apenas quando necessário e para diagnóstico de lesões de vísceras intra-abdominais,
quando os resultados determinarem mudanças na conduta; pois os órgãos retroperitoneais não são avaliados de forma
deve-se cortar apenas as áreas de interesse e usar a menor confiável por esta técnica. A avaliação do líquido efluente
dose de radiação possível. da LPD é a mesma em crianças e em adultos.
A LPD só deve ser realizada pelo cirurgião que fará o
tratamento definitivo da criança, pois a LPD pode interferir
Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para nas avaliações abdominais subsequentes ao exame físico
Trauma (FAST) ou nos exames de imagem, que são a base para a decisão
sobre a necessidade de cirurgia.
Apesar do fato de que o FAST está disponível desde os anos 90
para avaliação do trauma abdominal em crianças, a eficácia
do seu uso em crianças com lesões abdominais tem apenas tratamento não operatório
modesta sensibilidade para detecção do hemoperitônio em
crianças pequenas, quando os estudos com metodologia Na maioria dos centros de trauma, especialmente nos
mais rigorosa são analisados. Entretanto, o seu uso como pediátricos, realize-se o tratamento seletivo não operatório
extensão do exame abdominal em crianças traumatizadas de lesões de órgãos parenquimatosos em crianças
está se desenvolvendo rapidamente e tem a vantagem de que estáveis hemodinamicamente. A presença de líquido
o exame pode ser repetido. Alguns autores demonstraram intraperitoneal à TC ou FAST, o grau da lesão ou a presença
que o FAST pode detectar pequenas quantidades de sangue de extravasamento de contraste não necessariamente
intra-abdominal em doentes pediátricos traumatizados, um indicam a laparotomia. Foi bem demonstrado que o
achado que dificilmente está associado a lesões graves. Se o sangramento de lesões esplênicas, hepáticas ou renais
achado for de grande quantidade de sangue, a probabilidade de normalmente é autolimitado. Portanto, a TC ou FAST
haver alguma lesão significativa é maior. Entretanto, mesmo positivos para sangue não indica laparotomia em crianças
nesses doentes, a indicação cirúrgica é baseada não apenas na estáveis ou que estabilizam rapidamente com a reposição
quantidade de sangue intraperitoneal encontrado, mas pela volêmica inicial. Se a criança não recuperar a condição
instabilidade hemodinâmica e sua resposta ao tratamento. hemodinâmica e um procedimento diagnóstico realizado
O FAST pode não identificar lesões intra-parenquimatosas for positivo para sangue, deve-se indicar a laparotomia
isoladas, que são responsáveis por um terço das lesões de prontamente para controle da hemorragia.
órgãos parenquimatosos em crianças. Em resumo, não Quando for escolhido o tratamento não operatório,
se deve confiar no FAST para excluir a presença de lesões a criança deve ser observada em um ambiente que
intra-abdominais. Se uma pequena quantidade de líquido tenha cuidados pediátricos intensivos e a supervisão
livre no abdome for observada e a criança estiver estável continuada de um cirurgião especializado no
hemodinamicamente, deve-se proceder à TC. tratamento de crianças traumatizadas. Nos locais com
poucos recursos, deve-se considerar a cirurgia.
202 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
A angioembolização para o tratamento de órgãos Crianças restringidas apenas com cinto de segurança
sólidos em crianças é uma opção, mas deve ser realizada de duas pontas têm risco aumentado de lesões de alças
somente em centros com experiência em procedimentos intestinais especialmente quando houver marca do cinto
invasivos pediátrico e que contam com centro cirúrgico. de segurança na parede do abdome ou quando houver
O tratamento não operatório de uma lesão uma fratura lombar de flexão (fratura de Chance). Todo
parenquimatosa confirmada é uma decisão do cirurgião, doente que tiver este mecanismo e esses achados deve ser
assim como a decisão de operar o doente. Portanto, o considerado como tendo alto risco da presença de lesão
cirurgião deve supervisionar o tratamento de doentes do trato gastrointestinal, até que se prove o contrário.
pediátricos traumatizados. Lesões que penetram o peritônio podem ocorrer
em quedas sobre objetos proeminentes devido à
proximidade do peritônio do períneo. A ruptura de
lesões viscerais específicas uma víscera oca sempre requer cirurgia imediata. (Ver
também Capítulo 5: Trauma Abdominal e Pélvico.)
Várias lesões de vísceras abdominais são mais
comuns em crianças que em adultos. Lesões causadas
pelo guidão da bicicleta ou a contusão do cotovelo trauma craniencefálico
no quadrante superior da criança ou mecanismos
associados à marca do cinto de segurança são comuns
e nelas há compressão das vísceras entre a parede As informações dadas no Capítulo 6: Trauma
abdominal anterior e a coluna posteriormente. Este tipo Craniencefálico também se aplicam aos doentes
de lesão também pode ser decorrente de maus tratos. pediátricos. Esta seção enfatiza pontos adicionais
Traumatismo contuso do pâncreas ocorre com específicos da criança.
mecanismos similares e seu tratamento depende A maioria dos traumatismos craniencefálicos na
da extensão da lesão. Lesões de alça de delgado população pediátrica são causados por colisões de veículos
próximas ao ligamento de Treitz são mais frequentes automotores, maus tratos, acidentes com bicicletas e
em crianças que em adultos, assim como as lesões quedas. Dados do registro nacional de trauma pediátrico
mesentéricas e avulsões de alças de delgado. Estas indicam que é imperativo o entendimento da interação
lesões têm diagnóstico tardio, frequentemente devido do SNC com lesões extracranianas, pois a hipotensão
à sintomatologia inicial ser inespecífica. Rupturas de e a hipóxia das lesões associadas têm efeito deletério
bexiga também são mais comuns em crianças que em sobre o prognóstico das lesões intracranianas. A falta
adultos, porque a bacia da criança é mais rasa. de atenção aos ABCDEs e às lesões associadas aumenta
de forma significativa a mortalidade decorrente da lesão
cranioencefálica. Assim como nos adultos, é raro que
armadilha prevenção a hipotensão seja causada por TCE isolado e deve-se
investigar de forma agressiva as outras causas para a
Demora para • Reconheça que a criança que irá hipotensão.
transferir para ser transferida, normalmente O cérebro da criança é anatomicamente diferente do
realização de TC. não se beneficiará da imagem adulto. Ele dobra de tamanho nos primeiros 6 meses
realizada no primeiro hospital.
de vida e atinge 80% do tamanho do cérebro do adulto
por volta dos 2 anos de idade. O espaço subaracnoide é
Demora em • Reconheça que o risco dessa
relativamente menor e portanto oferece menor proteção
ao cérebro devido ao menor amortecimento existente.
reconhecer lesão de lesão é baseado no mecanismo
Assim, é maior a probabilidade de lesão estrutural do
víscera oca. de trauma.
parênquima cerebral. O fluxo cerebral normal aumenta
• Reavaliações contínuas devem
progressivamente até próximo de duas vezes os níveis
ser realizadas. do adulto perto da idade de 5 anos e depois diminui. Isso
• Reconheça a necessidade promove maior susceptibilidade do cérebro da criança
de envolver o cirurgião à hipóxia e hipercarbia em casos de choque.
precocemente.
TC não recomendada
imobilização de fraturas
anamnese
A simples imobilização de extremidades fraturadas em
A história do doente é de importância vital. Em crianças normalmente é suficiente até que a avaliação
crianças pequenas, o diagnóstico radiográfico de ortopédica seja realizada. Fraturas com evidências de lesões
fraturas e deslocamentos é difícil, devido à falta de vasculares requerem avaliação de emergência para evitar
calcificação ao redor da epífise e da presença da fise sequelas da isquemia. Uma única tentativa de redução da
(placa de crescimento). Informações sobre a magnitude, fratura para restaurar o fluxo sanguínea deve ser tentada,
mecanismo e tempo do trauma facilitam a correlação seguida da imobilização ou tração da extremidade.
com os achados de exame físico e radiográficos. (Ver também Capítulo 8: Trauma Musculoesquelético e
Evidências radiográficas de fraturas em diferentes Apêndice G: Estação Prática Disfunção Neurológica.)
fases de consolidação devem alertar o médico para a
possibilidade de maus tratos, assim como fraturas de
membros inferiores em crianças pequenas que ainda armadilha prevenção
não deambulam.
Dificuldade em identificar • Reconhece as
fraturas. limitações dos exames
perda sanguínea radiológicos, sobretudo
na área de crescimento.
A perda sanguínea associada a fraturas de ossos longos • Use a anamnese,
e pelve é proporcionalmente menor em crianças que comportamento,
em adultos. A perda sanguínea relativa a uma fratura mecanismo de trauma
fechada de fêmur tratada adequadamente é associada e exame físico para
à queda de 4% do hematócrito, o que não é suficiente aumentar a suspeição.
para causar choque. Instabilidade hemodinâmica
na presença de uma fratura isolada de fêmur deve Maus tratos • Suspeite quando o
indicar avaliação de outras fontes de sangramento, despercebidos. mecanismo e a lesão
frequentemente no abdome.
não se correlacionam.
MAUS TRATOS 207
Em muitos países, os médicos são obrigados por O tratamento de crianças vítimas de trauma é
lei a reportar incidentes de maus tratos na infância um desafio quer requer uma equipe coordenada.
às autoridades governamentais, mesmo em casos Idealmente, as crianças deveriam ser tratadas em locais
apenas suspeitos. Crianças vítimas de maus tratos estão com profissionais especializados (médicos, enfermeiros
em risco de vida e ninguém é beneficiado quando o e equipe) que tenham experiência no tratamento de
incidente não é reportado. O sistema protege os médicos trauma pediátrico.
da responsabilidade de identificação confirmada ou Deve-se orientar previamente as funções de cada um
suspeita de casos de maus tratos. da equipe, durante a reanimação do doente, a fim de
Embora os procedimentos de denúncia possam variar, assegurar a sequência correta do atendimento.
normalmente são conduzidos por serviços sociais ou No entanto, na realidade, a maioria das crianças
departamentos de direitos humanos. O processo de serão tratadas em locais com recursos pediátricos
denúncia de maus tratos em crianças ganha importância limitados. Nesses locais uma equipe de adultos terá a
quando se sabe que 33% das crianças vítimas de maus responsabilidade de atender a criança traumatizada e
tratos que morreram ou chegam mortas ao hospital, devem possuir:
nos Estados Unidos e no Reino Unido, tinham história
de episódios prévios de maus tratos que não foram •• Um líder em trauma que tenha experiência
reportados ou não foram levados a sério. no tratamento de doentes críticos e que seja
familiar com os recursos pediátricos para
Prevenção atender as crianças.
•• Profissional com habilidades básicas no
tratamento da via aérea.
A maior armadilha do trauma pediátrico é não prevenir
o trauma antes de ter ocorrido. Mais de 80% dos •• Profissional com habilidades no tratamento da
traumatismos da infância poderiam ser prevenidos via aérea difícil.
com a aplicação de estratégias simples em casa e na •• Habilidade de obtenção de acesso vascular, seja
comunidade. Os ABCDEs da prevenção do trauma foram
ele percutâneo ou via intraósseo.
descritos e precisam de atenção em uma população em
•• Conhecimento sobre reanimação volêmica.
14. Cloutier DR, Baird TB, Gormley P, et al. patients: a better alternative. J Pediatr Surg 2000;
Pediatric splenic injuries with a contrast blush: 35:155–159.
successful nonoperative management without 28. Haricharan RN, Griffin RL, Barnhart DC, et al.
angiography and embolization. J Pediatr Surg Injury patterns among obese children involved
2004;39(6):969–971. in motor vehicle collisions. J Pediatr Surg
15. Cook SH, Fielding JR, Phillips JD. Repeat 2009;44:1218–1222.
abdominal computed tomography scans after 29. Harris BH, Schwaitzberg SD, Seman TM, et al. The
pediatric blunt abdominal trauma: missed hidden morbidity of pediatric trauma. J Pediatr
injuries, extra costs, and unnecessary radiation Surg 1989;24:103–106.
exposure. J Pediatr Surg 2010;45:2019–2024. 30. Harvey A, Towner E, Peden M, et al. Injury
16. Cooper A, Barlow B, DiScala C, et al. Mortality prevention and the attainment of child and
and truncal injury: the pediatric perspective. J adolescent health. Bull World Health Organ
Pediatr Surg 1994;29:33. 2009;87(5):390–394.
17. Cooper A, Barlow B, DiScala C. Vital signs and 31. Hendrickson JE, Shaz BH, Pereira G, et al.
trauma mortality: the pediatric perspective. Coagulopathy is prevalent and associated
Pediatr Emerg Care 2000;16:66. with adverse outcomes in transfused pediatric
18. Corbett SW, Andrews HG, Baker EM, et trauma patients. J Pediatr 2012;160(2):
al. ED evaluation of the pediatric trauma 204–209.
patient by ultrasonography. Am J Emerg Med 32. Hendrickson JE, Shaz BH, Pereira G, et al.
2000;18(3):244–249. Implementation of a pediatric trauma massive
19. Davies DA, Ein SH, Pearl R, et al. What is the transfusion protocol: one institution’s expe-
significance of contrast “blush” in pediatric rience. Transfusion 2012;52(6):1228–1236.
blunt splenic trauma? J Pediatr Surg 2010;45: 33. Herzenberg JE, Hensinger RN, Dedrick DE, et al.
916–920. Emergency transport and positioning of young
20. Dehmer JJ, Adamson WT. Massive transfusion children who have an injury of the cervical spine.
and blood product use in the pediatric trauma J Bone Joint Surg Am 1989;71:15–22.
patient. Semin Pediatr Surg 2010;19(4):286–291. 34. Holmes JF, Brant WE, Bond WF, et al. Emergency
21. DiScala C, Sage R, Li G, et al. Child maltreatment department ultrasonography in the evaluation
and unintentional injuries. Arch Pediatr Adolesc of hypotensive and normotensive children
Med 2000;154:16–22. with blunt abdominal trauma. J Pediatr Surg
22. Dressler AM, Finck CM, Carroll CL, et al. Use of 2001;36(7):968–973.
a massive transfusion protocol with hemostatic 35. Holmes JF, Gladman A, Chang CH. Performance
resuscitation for severe intraoperative bleeding of abdominal ultrasonography in pediatric blunt
in a child. J Pediatr Surg 2010;45(7):1530–1533. trauma patients: a meta-analysis. J Pediatr Surg
23. Emery KH, McAneney CM, Racadio JM, et al. 2007;42:1588–1594.14.
Absent peritoneal fluid on screening trauma 36. Holmes J, Lillis K, Monroe D, et al. Identifying
ultrasonography in children: a prospective children at very low risk of intra-abdominal
comparison with computed tomography. J Pediatr injuries undergoing acute intervention. Acad
Surg 2001;36(4):565–569. Emerg Med 2011;18:S161.
24. Estroff JM, Foglia RP, Fuchs JR. A comparison of 37. Holmes JF, London KL, Brant WE, et al. Isolated
accidental and nonaccidental trauma: it is worse intraperitoneal fluid on abdominal computed
than you think. J Emerg Med 2015;48:274–270. tomography in children with blunt trauma. Acad
25. Fastle RK, Roback MG. Pediatric rapid Emerg Med 2000;7(4):335–341.
sequence intubation: incidence of reflex 38. Kassam-Adams N, Marsac ML, Hildenbrand A,
bradycardia and effects of pretreatment with et al. Posttraumatic stress following pediatric
atropine. Pediatr Emerg Care 2004; 20(10): injury; Update on diagnosis, risk factors, and
651–655. intervention. JAMA Peds 2013;167:1158–1165.
26. Global Burden of Diseases Pediatric Collaboration. 39. Kharbanda AB, Flood A, Blumberg K, et al.
Global and National Burden of Diseases and Analysis of radiation exposure among pediatric
Injuries Among Children and Adolescents patients at national trauma centers. J Trauma
Between 1990 and 2013, Findings from the Global 2013;74: 907–911.
Burden of Disease 2013 Study. JAMA Pediatrics 40. Kuppermann N, Holmes JF, Dayan PS, et al., for
2014;170:263–283. the Pediatric Emergency Care Applied Research
27. Hannan E, Meaker P, Fawell L, et al. Predicting Network (PECARN): Identification of children at
inpatient mortality for pediatric blunt trauma very low risk of clinically important brain injuries
BIBLIOGRAFIA 211
after head trauma: a prospective cohort study. traumatic injuries at combat support hospitals.
Lancet 2009;374:1160–1170. Pediatr Crit Care Med 2012;13(3):1–5.
41. Leonard JC, Kuppermann N, Olsen C, et al., for 54. Pershad J, Gilmore B. Serial bedside emergency
the Pediatric Emergency Care Applied Research ultrasound in a case of pediatric blunt abdominal
Network. Factors associated with cervical spine trauma with severe abdominal pain. Pediatr
injury in children following blunt trauma. Ann Emerg Care 2000;16(5):375–376.
Emerg Med 2011;58:145–155. 55. Pieretti-Vanmarcke R, Vehmahos GC, Nance
42. Lutz N, Nance ML, Kallan MJ, et al. Incidence ML, et al. Clinical clearance of the cervical
and clinical significance of abdominal wall spine in blunt trauma patients younger than
bruising in restrained children involved in 3 years: a multi-center study of the American
motor vehicle crashes. J Pediatr Surg 2004;39(6): Association for the Surgery of Trauma. J Trauma
972–975. 2009;67:543–550.
43. McAuliffe G, Bissonnette B, Boutin C. Should the 56. Pigula FA, Wald SL, Shackford SR, et al. The
routine use of atropine before succinylcholine effect of hypotension and hypoxia on children
in children be reconsidered? Can J Anaesth with severe head injuries. J Pediatr Surg
1995;42(8):724–729. 1993;28:310–316.
44. McVay MR, Kokoska ER, Jackson RJ, et al. 57. Pressley J, Barlow B, Durkin M, et al. A national
Throwing out the “grade” book: management program for injury prevention in children and
of isolated spleen and liver injury based on adolescents: the Injury Free Coalition for Kids. J
hemodynamic status. J Pediatr Surg 2008;43: Urban Health 2005;82:389–402.
1072–1076. 58. Puntnam-Hornstein E: Report of maltreatment
45. Murphy JT, Jaiswal K, Sabella J, et al. Prehospital as a risk factor for injury death: a prospective
cardiopulmonary resuscitation in the birth cohort. Child Maltreatment 2011;16:163–174.
pediatric trauma patient. J Pediatr Surg 2010 59. Rana AR, Drogonowski R, Breckner G, et al.
Jul;45(7):1413–1419. Traumatic cervical spine injuries: characteristics
46. National Safety Council. Injury Facts. Itasca, IL: of missed injuries. J Pediatr Surg 2009;44:
National Safety Council; 2016. 151–155.
47. Neal MD, Sippey M, Gaines BA, et al. Presence 60. Retzlaff T, Hirsch W, Till H, et al. Is sonography
of pneumomediastinum after blunt trauma in reliable for the diagnosis of pediatric
children: what does it really mean? J Pediatr Surg blunt abdominal trauma? J Pediatr Surg
2009;44(7):1322–1327. 2010;45(5):912–915.
48. Neff NP, Cannon JW, Morrison JJ, et al. Clearly 61. Rice HE, Frush DP, Farmer D, et al., APSA
defining pediatric mass transfusion: cutting Education Committee. Review of radiation risks
through the fog and friction using combat data. from computed tomography: essentials for the
2014;78:21–28. pediatric surgeon. J Pediatr Surg 2007;42:603–607.
49. Paddock HN, Tepas JJ, Ramenofsky ML. 62. Rogers CG, Knight V, MacUra KJ. High-grade
Management of blunt pediatric hepatic and renal injuries in children—is conservative
splenic injury: similar process, different outcome. management possible? Urology 2004;64:
Am Surg 2004;70:1068–1072. 574–579.
50. Palusci VJ, Covington TM: Child maltreatment 63. Rothrock SG, Pagane J. Pediatric rapid sequence
deaths in the U.S. National Child Death Review intubation incidence of reflex bradycardia and
Case Reporting System. Child Abuse & Neglect effects of pretreatment with atropine. Pediatr
2014;38:25–36. Emerg Care 2005;21(9):637–638.
51. Paris C, Brindamour M, Ouimet A, et al. Predictive 64. Sasser SM, Hunt RC, Faul M, et al. Guidelines for
indicators for bowel injury in pediatric patients field triage of injured patients: recommenda-
who present with a positive seat belt sign tions of the National Expert Panel on Field
after motor vehicle collision. J Pediatr Surg Triage. Morb Mortal Wkly Rep 2012;61(RR-1):
2010;45:921–924. 1–21.
52. Patel JC, Tepas JJ. The efficacy of focused 65. Scaife ER, Rollins MD, Barnhart D, et al. The role
abdominal sonography for trauma (FAST) as of focused abdominal sonography for trauma
a screening tool in the assessment of injured (FAST) in pediatric trauma evaluation. J Ped Surg
children. J Pediatr Surg 1999;34:44–47. 2013;48:1377–1383.
53. Patregnani JT, Borgman MA, Maegele M, et 66. Schwaitzberg SD, Bergman KS, Harris BW.
al. Coagulopathy and shock on admission is A pediatric trauma model of continuous
associated with mortality for children with hemorrhage. J Pediatr Surg 1988;23:605–609.
212 CAPÍTULO 10 n Trauma Pediátrico
67. Soudack M, Epelman M, Maor R, et al. Experience severity: an objective assessment. J Trauma
with focused abdominal sonography for trauma 1988;28:425–429.
(FAST) in 313 pediatric patients. J Clin Ultrasound 72. Tollefsen WW, Chapman J, Frakes M, et al.
2004;32(2):53–61. Endotracheal tube cuff pressures in pediatric
68. Soundappan SV, Holland AJ, Cass DT, et al. patients intubated before aeromedical transport.
Diagnostic accuracy of surgeon-performed Pediatr Emerg Care 2010 May;26(5):361–363.
focused abdominal sonography (FAST) in 73. Tourtier JP, Auroy Y, Borne M, et al. Focused
blunt paediatric trauma. Injury 2005;36(8): assessment with sonography in trauma as a
970–975. triage tool. J Pediatr Surg 2010;45(4):849; author
69. Stylianos S. Compliance with evidence-based reply 849.
guidelines in children with isolated spleen or 74. Van der Sluis CK, Kingma J, Eisma WH, et al.
liver injury: a prospective study. J Pediatr Surg Pediatric polytrauma: short-term and long-term
2002;37:453–456. outcomes. J Trauma 1997;43(3):501–506.
70. Tepas JJ, DiScala C, Ramenofsky ML, et al. 75. Weiss M, Dullenkopf A, Fischer JE, et al., European
Mortality and head injury: the pediatric Paediatric Endotracheal Intubation Study Group.
perspective. J Pediatr Surg 1990;25:92–96. Prospective randomized controlled multi-centre
71. Tepas JJ, Ramenofsky ML, Mollitt DL, et al. The trial of cuffed or uncuffed endotracheal tubes in
Pediatric Trauma Score as a predictor of injury small children. Br J Anaesth 2009;103(6):867–873.
11 TRAUMA NO IDOSO
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de 4. Discutir as características únicas de tipos
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: específicos de lesão visto em idosos, tais como
fraturas de costelas, traumatismo craniencefálico
1. Explicar as alterações fisiológicas que ocorrem com e fraturas pélvicas.
o envelhecimento e como elas afetam as lesões
geriátricas e a resposta do doente idoso ao trauma. 5. I dentificar as causas e sinais de maus-tratos mais
comuns e formular uma estratégia para a gestão de
2. Identificar os mecanismos de lesão comumente situações de abuso no idoso.
encontrados em doentes idosos.
3. D
escrever a avaliação inicial com reanimação e o
manejo das lesões críticas em doentes geriátricos
utilizando os princípios do ABCDE do ATLS.
215
216 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso
A
maioria dos países no mundo está experimentando adequada identificação do doente idoso em risco de
um crescimento na proporção de idosos em sua morte e uma abordagem terapêutica bem coordenada,
população. Adultos mais velhos compõem o frequentemente multidisciplinar, além de um enfoque
segmento de mais rápido crescimento da população dos terapêutico agressivo. Por estas razões, a avaliação
Estados Unidos. Na verdade, até 2050 quase metade da completa dos doentes geriátricos em um centro de
população mundial vai viver em um país onde pelo menos trauma melhora seus resultados.
20% da população é de pessoas acima de 60 anos, e um
quarto vai viver em um país onde as pessoas mais velhas
correspondem a mais de 30% da população. Eeitos do envelhecimento e
Envelhecimento da população é esperado para ser impacto das condições
uma das mais significativas transformações sociais do pré-existentes
século XXI. Esta geração vai viver mais do que a anterior
e terá acesso a cuidados de saúde de alta qualidade.
Além disso, a crescente mobilidade e estilos de vida Diminuição da função celular, levando à falência de
ativos dos indivíduos idosos de hoje coloca-os com risco órgãos, é parte do processo de envelhecimento. Portanto,
aumentado para ferimentos graves. Trauma agora é a o envelhecimento é caracterizado pela deterioração de
quinta causa principal de morte na população idosa. mecanismos adaptativos e homeostáticos que causam
Doentes com trauma geriátrico representam um desafio um aumento da susceptibilidade ao estresse do trauma.
único para as equipes de trauma. Embora os mecanismos Esta condição é comumente descrita como diminuição
de lesão possam ser semelhantes àqueles para a população da reserva fisiológica. Lesões, geralmente toleradas
mais jovem, dados bem-estabelecidos demonstram pelo doentes mais jovens, podem levar a resultados
aumento da mortalidade de adultos idosos com trauma devastadores em doentes idosos.
de semelhante gravidade. Falha na triagem de doentes Existem várias evidências mostrando que condições
idosos, mesmo aqueles com lesões críticas, pode ser em pré-existentes (CPEs) têm impacto na morbimortalidade.
parte responsável pela mortalidade atribuída. Em um estudo recente, os investigadores identificaram
Claro que o erro na triagem é apenas um fator que cinco CPEs que influenciaram os resultados em doentes
influencia a mortalidade no trauma geriátrico. Senescência vítimas de trauma: cirrose, coagulopatia, doença pulmonar
dos sistemas orgânicos, tanto anatomicamente como obstrutiva crônica (DPOC), doenças isquêmicas do coração
fisiologicamente, doenças pré-existentes e fragilidade, e diabetes mellitus. No estudo com mais de 3.000 doentes,
todos desempenham um papel que coloca os idosos um quarto dos indivíduos com idade superior a 65 anos,
vítimas de trauma em maior risco. Maus-tratos, abuso possuía uma dessas cinco CPEs. Doentes com uma ou mais
de substâncias e depressão são fatores adicionais a serem dessas condições eram quase duas vezes mais propensos a
considerados, e a triagem pode ser realizada por meio de morrer do que aqueles sem CPEs. Os mesmos pesquisadores
várias ferramentas. Resultados aceitáveis dependem da relataram sobre a interação entre a lesão e fatores do
Homens Mulheres
Previsão do aumento da mortalidade
0.2 0.2
0.1 0.1
20 30 40 50 60 70 80 90 20 30 40 50 60 70 80 90
Idade (por década) Idade (por década)
A B
n FIGURA 11-1 Risco de mortalidade associada a complicações geriátricas ou morte, por idade e número de condições pré-existentes para A.
homens e B. mulheres. Nota-se que o risco de morte aumenta com um número crescente de condições pré-existentes e a idade. Fonte: Adaptado
com permissão de Min L, Burruss, S, Morley E, et al. A simple clinical risk nomogram to predict mortality-associated geriatric complications in
severely injured geriatric patients. J Trauma Acute Care Surg 2013;74(4):1125–1132. Copyright © 2013 Lippincott Williams & Wilkins.
AVALIAÇÃO INICIAL COM REANIMAÇÃO 217
hospedeiro, que incluíam a idade, gênero e CPEs (n FIGURA descobriram que os idosos estão particularmente em risco
11-1). Embora a gravidade da lesão tenha sido a principal por causa da diminuição do tempo de reação, audição e
determinante da mortalidade, outros fatores do hospedeiro visão prejudicadas e a incapacidade de escapar do local em
também desempenharam um papel significativo. chamas. Líquidos quentes derramados na perna que, em um
doente jovem, pode reepitalizar mais rapidamente devido
a um número adequado de folículos pilosos, resultará em
Mec a nismo de tr aum a uma queimadura de espessura total em doentes idosos
devido à escassez desses folículos pilosos. O envelhecimento
Mecanismos comuns de trauma encontrados em doentes dos sistemas orgânicos dos doentes idosos vítimas de
idosos incluem quedas, acidentes automobilísticos, queimadura tem um grande impacto sobre os resultados;
queimaduras e ferimentos penetrantes. alterações na pele dos idosos são óbvias, e a incapacidade
deste doente para atender as demandas fisiológicas
quedas associadas às queimaduras provavelmente tem grande
influência no resultado e sobrevida.
O risco de queda aumenta com a idade, e as quedas são o
mecanismo mais comum de ferimento fatal na população lesões penetrantes
idosa. Quedas não fatais são mais comuns em mulheres, e as
fraturas são mais comuns em mulheres que caem. As quedas De longe, o traumatismo não penetrante é o mecanismo
são a causa mais comum de traumatismo craniencefálico predominante de lesão em adultos idosos; no entanto,
(TCE) em idosos. Quase metade das mortes associadas com um número significativo de pessoas com idade superior a
quedas da própria altura é resultado de TCE. Metade dos 65 anos é vítima de ferimentos penetrantes. Na verdade,
doentes idosos que sofrem uma fratura de quadril já não será lesão penetrante é a quarta causa mais comum de morte
capaz de viver de forma independente. Fatores de risco para traumática em indivíduos de 65 anos ou mais. Muitas
as quedas incluem idade avançada, deficiência física, história mortes associadas a ferimentos por projétil de arma de
de queda anterior, uso de medicação, demência, marcha fogo estão relacionadas a automutilação ou suicídio.
instável e deficiências visuais, cognitivas e neurológicas.
Fatores ambientais, tais como tapetes soltos, iluminação avaliação inicial com
insuficiente e superfícies escorregadias ou irregulares,
contribuem para aumentar o risco de queda. reanimação
Pulmonar Discrimination
• Cifoescoliose torácica • Risco aumentado de insuficiência
Saliva production
of colors • Diminuição do diâmetro transverso torácico respiratória
• Reduzida capacidade residual funcional • Risco aumentado para pneumonia
• Diminuição da troca gasosa • Baixa tolerância às fraturas de costelas
Pupillary response
• Diminuição do reflexo de tosse Esophageal activity
• Diminuição da função mucociliar
• Aumento da colonização orofaríngea
Respiratory Cardiac stroke
vital capacity volume and rate
Renal • Perda da massa renal • Exames laboratoriais renais de rotina podem
• Diminuição no ritmo de filtração glomerular estar normais (não mostrando alteração)
Renal function(RFG) • CorreçãoHeart
da dosedisease and high
de medicações na
• Diminuição na sensibilidade ao hormônio insuficiência renal
blood pressure
antidiurético (ADH) e aldosterona • Diminuição na habilidade de concentrar
2- to 3-inch loss urina
in height Kidney
• Fluxo urinário disease
pode estar normal com
hipovolemia
Impaired blood flow • Aumento do risco de insuficiência renal aguda
Gastric secretions
to lower leg(s)
Pele/Partes moles/ •
Perda de massa corpórea • Aumento do risco de fraturas
Musculoesquelético •
Osteoporose • Diminuição da mobilidade
Number of
Degeneration Alterações nas articulações e cartilagens
• • Dificuldade na intubação oral
of the joints •
Alterações degenerativas (incluindo coluna •
body cells
Risco de lesão de pele devido a
cervical) imobilidade
• Perda da elasticidade cutânea e gordura • Aumento do risco deof
Elasticity hipotermia
skin
Total body water
subcutânea • Mudanças na reabilitação
Thinning of epidermis
EndócrinoNerve damage• Diminuição na produção e resposta à tiroxina • Hipotireoidismo oculto
• Diminuição da dehidroepiandrosterona (DHEA)
(peripheral neuropathy) 15%–30%
• Estado relativo body fat
de hipercortisonismo
• Aumento do risco de infecções
de sequência rápida, reduzir as doses de barbitúricos, como hemodinamicamente normal. Mesmo que o doente
benzodiazepínicos e outros sedativos para entre 20% e idoso possa ter uma frequência cardíaca e débito cardíaco
40% para minimizar o risco de depressão cardiovascular. fixos, em resposta à hipovolemia, isso implicará em
Principais alterações fisiológicas e considerações aumento da resistência vascular sistêmica. Além disso,
para o manejo e abordagem na avaliação da via aérea uma vez que muitos doentes idosos têm hipertensão pré-
são listadas na n TABELA 11-2. existente, uma pressão arterial aparentemente aceitável
pode verdadeiramente refletir um estado relativo de
respiração hipotensão. Uma recente pesquisa identifica uma
pressão arterial sistólica de 110 mm Hg a ser utilizada
Mudanças na conformidade dos pulmões e parede como limite para a identificação de hipotensão arterial
torácica resultam em maior trabalho da respiração com em adultos com mais de 65 anos de idade.
o envelhecimento. Esta alteração coloca o doente idoso É crítico identificar doentes com hipoperfusão tecidual
em alto risco para insuficiência respiratória. Devido ao significativa. Várias metodologias têm sido empregadas
fato de que o envelhecimento provoca uma resposta e continuam a ser usadas para fazer este diagnóstico. Elas
cardíaca reprimida à hipóxia, a insuficiência respiratória incluem dosagem de déficit de base e lactato no soro, índice
pode se apresentar insidiosamente em adultos idosos. de choque e pontos de extremidade de tecido-específica.
A interpretação clínica e laboratorial das informações Reanimação de doentes geriátricos com hipoperfusão é
pode ser difícil devido a presença de doença respiratória a mesma que para todos os outros doentes e baseia-se na
pré-existente ou alterações não patológicas na ventilação administração apropriada de fluido e sangue.
associadas com a idade. Frequentemente, as decisões O doente idoso com evidência de insuficiência
para proteger a via aérea do doente idoso e providenciar circulatória, até que seja provado o contrário, deve estar
a ventilação mecânica podem e devem ser feitas antes sangrando. Considere o uso precoce de monitoração
do agravamento da função respiratória. avançada (por exemplo, pressão venosa central
Principais alterações fisiológicas e considerações [PVC], ecocardiografia e ultrassonografia) para guiar
para o manejo e abordagem na avaliação da respiração a ressuscitação ideal, dado o potencial para a doença
e ventilação são listadas na n TABELA 11-3. cardiovascular pré-existente. Além disso, os médicos
precisam reconhecer que um evento fisiológico (por
Circulação exemplo, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio,
arritmia) pode ter provocado o incidente, levando a lesão.
Alterações relacionadas com o envelhecimento do sistema Principais alterações fisiológicas e considerações para
cardiovascular colocam o doente idoso traumatizado em o manejo e abordagem na avaliação da circulação são
risco significativo para ser categorizado erroneamente listadas na n TABELA 11-4.
osteoporose também aumenta linearmente; a maioria Muitas vezes, vários tipos de abusos ocorrem
dos indivíduos acima de 60 anos tem algum grau de simultaneamente. Multifacetada em causas, os maus-
osteoporose. A mortalidade de fratura pélvica é quatro tratos em idosos, muitas vezes não são reconhecidos e são
vezes maior em doentes mais idosos do que em doentes subnotificados. Sinais de maus-tratos podem ser sutis (por
mais jovens. A necessidade de transfusão de sangue, exemplo, falta de higiene e desidratação) e podem passar
até mesmo para fraturas aparentemente estáveis, é despercebidos. Maus-tratos físicos ocorrem em até 14% de
significativamente maior do que a observada em uma admissões em trauma geriátrico, resultando em uma maior
população mais jovem. Adultos mais velhos também têm mortalidade quando comparada com doentes mais jovens.
uma permanência hospitalar muito maior e são menos Achados físicos, sugerindo maus-tratos no idoso são
propensos a voltar a um estilo de vida independente listados no n QUADRO 11-1.
após a alta. Prevenção de queda é o ponto fundamental A presença de achados físicos sugestivos de maus-
para reduzir a mortalidade associada a fraturas pélvicas. tratos merece um histórico detalhado. Se a história entra
em conflito com os achados físicos ou revela um atraso
intencional no tratamento, imediatamente, as autoridades
c ircuns tâ nc i a s e spec i a is competentes devem ser comunicadas para investigação
futura. Se a suspeita de maus-tratos se confirma, tome as
Circunstâncias especiais que requerem maior atenção no medidas adequadas, incluindo a remoção do doente idoso
tratamento de doentes idosos incluem medicamentos, da situação abusiva.De acordo com o Centro Nacional de
maus-tratos e estabelecimento de metas de atendimento. Abuso ao Idoso nos Estados Unidos da América (National
Center on Elder Abuse), mais do 1 em cada 10 adultos idosos
Medicamentos podem experimentar algum tipo de maus-tratos, mas
apenas 1 em cada 5 ou menos desses casos são relatados.
Betabloqueadores são usados em aproximadamente 20% Uma abordagem multidisciplinar é necessária para
dos doentes idosos com doença arterial coronariana e em abordar os componentes de cuidados para as vítimas
10% dos doentes com hipertensão arterial. O bloqueio idosas de maus-tratos.
fisiológico inerente da resposta esperada à hipovolemia
pode fornecer obstáculos de triagem e tratamento. Estabelecendo metas de cuidado
Anticoagulação, antiagregantes plaquetários e uso
de inibidores diretos da trombina causam problemas Trauma é a quinta causa principal de morte em doentes
significativos para o doente com hemorragia. A rápida acima de 65 anos. Entre os doentes de trauma, os idosos
identificação do tipo de droga e o uso de um agente para compreendem apenas 12% da população total; mas,
sua reversão (se disponível) podem salvar a vida do doente. surpreendentemente, eles representam quase 30%
das mortes causadas por trauma. Sem dúvida, idade ser úteis no cuidado de doentes em situações
avançada contribui para o aumento da morbidade e difíceis.
mortalidade. Doenças médicas pré-existentes podem
acompanhar a fisiologia do envelhecimento. Uma
abordagem centrada no doente deve incluir discussões
r e sumo do c a pítulo
iniciais com o doente e sua família sobre metas de
cuidado e de tratamento. No cenário de trauma, é 1. Adultos idosos são atualmente o segmento de mais
importante inicialmente ter um diálogo aberto para rápido crescimento da população. Provedores de
encorajar a comunicação. Muito doentes já discutiram trauma verão um número crescente de idosos feridos.
seus desejos em relação a terapias para manutenção
da vida antes de ocorrer um evento agudo. A consulta 2. O doente idoso apresenta desafios únicos para a equipe
precoce com os serviços de cuidados paliativos pode de trauma. A influência de alterações na anatomia e
ser útil na determinação de limitações no atendimento, fisiologia, bem como o impacto de condições médicas
bem como abordagens paliativas efetivas para aliviar pré-existentes, influenciará nos resultados.
os sintomas do doente.
3. Mecanismos comuns de lesão incluem quedas,
acidentes de automóvel, queimaduras e ferimentos
Trabalho em equipe penetrantes.
•• Equipes de trauma estão cada vez mais 4. A sequência de avaliação inicial e a reanimação são
participando do manejo do trauma na as mesmas para adultos mais jovens; no entanto,
população idosa. a exclusiva anatomia e fisiologia dos doentes mais
•• Devido a condições médicas pré-existentes e as idosos influenciará no sincronismo, magnitude e
potenciais complicações da terapia com drogas resultado final.
antiagregantes e anticoagulantes, o manejo
bem-sucedido do trauma geriátrico permanece 5. Lesões comuns em idosos incluem fraturas de costelas,
desafiador. Uma equipe de trauma com uma traumatismo craniencefálico e fraturas pélvicas.
compreensão das mudanças anatômicas e A compreensão do impacto do envelhecimento e
fisiológicas relacionadas ao envelhecimento as influências sobre as armadilhas vistas com estas
pode ter um impacto positivo no resultado final lesões resultará em melhores resultados.
do manejo do doente idoso traumatizado.
6. O impacto do uso de medicamentos, os maus-tratos
•• Ativação precoce da equipe de trauma pode com os idosos e o estabelecimento de metas de cuidado
ser necessária para doentes idosos que não são características únicas do tratamento do doente
satisfazem os critérios tradicionais para sua idoso traumatizado. A identificação precoce dessas
ativação. Uma lesão simples, como uma fratura situações influenciará nos cuidados e resultados.
de tíbia, em uma pessoa idosa frágil pode
rapidamente tornar-se fatal.
•• O efeito de drogas cardíacas, tais como Bibliografia
betabloqueadores, podem alterar a resposta
fisiológica típica da hemorragia, dificultando
a interpretação tradicional dos sinais vitais. O 1. American College of Surgeons, Committee on
membro da equipe responsável pelo manejo da Trauma, National Trauma Data Bank (NTDB).
circulação deve assegurar que o líder da equipe http://www.facs.org/trauma/ntdb. Accessed
seja informado mesmo de pequenas alterações May 12, 2016.
nos parâmetros fisiológicos, e deve avaliar o 2. Braver ER, Trempel RE. Are older drivers actually
status da perfusão para rapidamente identificar at higher risk of involvement in collisions
e manejar hemorragias catastróficas. resulting in deaths or nonfatal injuries among
their passengers and other road users? Inj Prev
•• Os resultados para doentes idosos
2004;10:27–29.
traumatizados são frequentemente pobres.
3. Bulger EM, Arenson MA, Mock CN, et al. Rib
O líder da equipe deve considerar diretivas
fractures in the elderly. J Trauma 2000;48:
avançadas de tratamento dos doentes e
1040–1046.
reconhecer os objetivos para o cuidado do
4. Li C, Friedman B, Conwell Y, et al. Validity of
doente. Muitas vezes, os membros da equipe
the Patient Health Questionnaire-2 (PHQ-2) in
fornecem pareceres ou sugestões que podem
224 CAPÍTULO 11 n Trauma no Idoso
identifying major depression in older people. J and 2001–2005. MMWR Morb Mortal Wkly Rep
Am Geriatr Soc 2007 April;55(4):596–602. 2006; 55:1221–1224.
5. Milzman DP, Rothenhaus TC. Resuscitation of 10. Sussman M, DiRusso SM, Sullivan T, et al.
the geriatric patient. Emerg Med Clin of NA. 1996; Traumatic brain injury in the elderly: increased
14:233–244. mortality and worse functional outcome at
6. Min L, Burruss S, Morley E, et al. A simple clinical discharge despite lower injury severity. J Trauma
risk nomogram to predict mortality-associated 2002; 53:219–224.
geriatric complications in severely injured 11. United Nations, Department of Economic and
geriatric patients J Trauma 74(4):1125–1132. Social Affairs, Population Division (2015). World
Copyright © 2013 Lippincott Williams & Wilkins. Population Ageing.
7. Oyetunji TA, Chang DC, et al. Redefining 12. United States Census: http://www.census.gov/
hypotension in the elderly: normotension is not prod/1/pop/p25-1130.pdf . Accessed June 2016.
reassuring. Arch Surg. 2011 Jul ;146(7):865-9. 13. Yelon JA. Geriatric trauma. In Moore EE, Feliciano
8. Romanowski KS, Barsun A, Pamlieri TL, et al. DV, and Mattox K, eds. Trauma 7th ed. McGraw
Frailty score on admission predicts outcomes in Hill, 2012.
elderly burn injury. J Burn Care Res 2015;36:1–6.
9. Stevens JA. Fatalities and injuries from falls
among older adults—United States 1993–2003
12 TRAUMA NA GESTANTE E
VIOLÊNCIA CONJUGAL
gravidade do trauma
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de métodos de avaliação que se aplicam a ambos os
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: doentes (mãe e feto).
227
228 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal
A
gravidez provoca grandes mudanças fisiológicas
e modificações nas relações anatômicas que
afetam praticamente todos os órgãos do
corpo humano. Essas mudanças na estrutura e na
função podem influenciar a avaliação da gestante
traumatizada, alterando os sinais e os sintomas das
lesões, a abordagem e as respostas às medidas de
reanimação, e a interpretação dos exames laboratoriais.
A gravidez pode também afetar os padrões do trauma 40
36
e a gravidade das lesões. 32
O médico que atende uma mulher grávida vítima Umbigo 28
fisiológicas da gravidez útero e seu conteúdo (feto e placenta) se tornam mais vulneráveis.
Parede do útero
Placenta
Cordão umbilical
Feto Saco amniótico
Sinfíse púlbica Líquido amniótico
Uretra
Vagina
Períneo
Ânus
n FIGURA 12-2 Feto a Termo em Apresentação Cefálica. As vísceras abdominais são deslocadas e comprimidas em direção à região superior do
abdome. Isso resulta na sua proteção relativa contra lesões contusas, porém aumenta o risco de lesão intestinal complexa em decorrência de
lesão penetrante no abdome superior. A elevação do diafragma pode requerer o posicionamento do dreno de tórax em um espaço intercostal
mais elevado.
que é elástico, a placenta possui elasticidade reduzida. Esta O número de glóbulos brancos aumenta durante a
falta de elasticidade dos tecidos placentários resulta em gravidez. Não é incomum que se detectem leucitoses de
uma vulnerabilidade às forças de cisalhamento na interface 15.000/mm3 durante a gravidez e que esse número alcance
útero-placentária, que podem levar ao descolamento da 25.000/mm3 durante o trabalho de parto. Os níveis séricos de
placenta. Embora se encontrem muito dilatados durante fibrinogênio e de muitos outros fatores de coagulação estão
a gestação, os vasos placentários são particularmente discretamente elevados. O tempo de protrombina e o tempo
sensíveis à estimulação por catecolaminas. A redução de tromboplastina parcial ativada podem estar diminuídos,
abrupta do volume circulante da mãe pode resultar mas os tempos de sangramento e coagulação não se alteram.
em profundo aumento na resistência vascular uterina, n TABELA 12-1 Apresenta os valores laboratoriais normais
reduzindo a oxigenação fetal a despeito dos sinais vitais na gravidez comparados com os valores da paciente não
da mãe se manterem normais. grávida. (Ver também Valores Laboratoriais Normais na
Gravidez no aplicativo móvel MyATLS.)
volume e composição do sangue
Hemodinâmica
O volume plasmático aumenta progressivamente durante
a gestação, alcançando o nível mais elevado em torno da Os fatores hemodinâmicos importantes para serem
34a semana. O aumento do volume de células vermelhas considerados na grávida traumatizada são o débito
é proporcionalmente menor, o que resulta em redução cardíaco, frequência cardíaca, pressão sanguínea, e
do hematócrito (anemia fisiológica da gravidez). No final alterações no eletrocardiograma.
da gestação, um valor de hematócrito entre 31 e 35% é
normal. Doentes gestantes saudáveis podem perder Débito Cardíaco
1.200 a 1.500 mL de seu volume sanguíneo, antes que se
percebam sinais e sintomas de hipovolemia. Entretanto, Depois da 10ª semana de gestação, o débito cardíaco
esta perda sanguínea pode resultar em sofrimento fetal que aumenta em 1,0 a 1,5 litros por minuto como decorrência
é evidenciado por uma frequência cardíaca fetal anormal. do aumento do volume plasmático e da redução da
230 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal
Alterações Eletrocardiográficas
Bicarbonato 17–22 mEq/L 22–28 mEq/L
O eixo pode estar desviado para a esquerda em cerca
PaCO2 25–30 mm Hg 30–40 mm Hg de 15 graus. O achatamento ou a inversão da onda T
(3.3–4.0 kPa) (4,0–5,33 kPa)
em D3, AVF e nas derivações precordiais podem ser
normais. As extrassístoles podem ocorrer com maior
Fibrinogênio 3,79 g/L (terceiro 1,8-4 g/L frequência durante a gravidez.
trimestre)
manutenção de uma oxigenação arterial adequada na O sistema venoso da pelve que envolve o útero
reanimação da gestante traumatizada. gravídico e se encontra aumentado e engurgitado pode
A diminuição do volume residual parece ser devida desencadear uma hemorragia retroperitoneal maciça
a alterações anatômicas na cavidade torácica e está após um trauma contuso associado a fratura de pelve.
associada à elevação diafragmática e a alterações
pulmonares, parenquimatosas e vasculares, visíveis sistema neurológico
na radiografia de tórax. Sendo assim, é importante a
manutenção de uma oxigenação arterial adequada na A eclâmpsia é uma complicação do final da gravidez que
reanimação da gestante traumatizada. pode simular trauma craniano. Ela deve ser considerada
quando ocorrem convulsões acompanhadas por
hipertensão, hiperreflexia, proteinúria e edema
sistema gastrointestinal periférico. A interconsulta com um neurologista
e um obstetra costuma ser de grande ajuda para o
O tempo de esvaziamento gástrico é prolongado diagnóstico diferencial entre eclampsia e outras causas
durante a gravidez, desta maneira a descompressão de convulsões.
gástrica precoce é particularmente importante para
evitar a aspiração de conteúdo gástrico. Os intestinos
são deslocados para a parte superior do abdome e
armadilha prevenção
podem estar protegidos pelo útero. A posição do baço
Confundir eclâmpsia • Obter uma tomografia
e do fígado na gestação não se altera.
com trauma de crânio para excluir
hemorragia intracraniana.
sistema urinário craniencefálico.
• Manter alto nível de
suspeita para a eclâmpsia
A filtração glomerular e o fluxo plasmático renal quando as convulsões
aumentam durante a gravidez enquanto que níveis forem acompanhadas de
plasmáticos de uréia e creatinina caem à metade dos hipertensão, proteinúria
valores normais observados antes da gravidez. A e edema periférico em
glicosúria é comum na gestação. pacientes de trauma grávidas.
sistema Musculoesquelético
A sínfise púbica é alargada no 7º mês (4 a 8 mm). Mec a nismo de tr aum a
Os espaços das articulações sacroilíacas também
aumentam. Esses aspectos devem ser considerados na descreve a incidência de mecanismos
n TABELA 12-2
interpretação das radiografias da bacia (n FIGURA 12-3). de trauma na gravidez. Na maioria das vezes, os
mecanismos de trauma são semelhantes àqueles que
MECANISMO PERCENTAGEM
Quedas 25
Agressão 18
Queimaduras 1
n FIGURA 12-3 Radiografia mostrando a cabeça do feto encaixada
na pelve com uma sínfise púbica normal e articulação sacroilíaca Fonte: Chames MC, Pearlman MD. Trauma during pregnancy: outcomes
direita levemente alargada. and clinical management. Clin Obstet Gynecol, 2008;51:398
232 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal
g r av ida de da le s ão
A gravidade das lesões maternas determina o prognóstico
tanto materno quanto fetal. Consequentemente o tipo de
tratamento a ser adotado deve ser ditado pela gravidade
das lesões maternas. Todas as gestantes com traumas
graves devem ser internadas em serviços que possuem
recursos cirúrgicos e obstétricos. Mesmo gestantes com
traumas leves devem ser observadas cuidadosamente,
pois ocasionalmente mesmo traumatismos de pequena
n FIGURA 12-4 Contusões e escoriações externas na parede monta podem estar associados a descolamento de
abdominal são sinais de possível trauma fechado uterino. placenta e morte fetal.
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO 233
A B C
n FIGURA 12-6 Descolamento prematuro de placenta. A. Ocorre o descolamento da placenta do útero. B. Secção axial e C. Coronal do abdome
e pelve demonstrando descolamento prematuro da placenta.
Na maioria dos casos de ruptura uterina ou de viabilidade fetal. Os batimentos cardíacos fetais devem
descolamento de placenta, a doente queixa-se de dor ser monitorados em toda mulher grávida traumatizada.
abdominal ou de cólicas. Sinais de hipovolemia podem O exame intermitente e repetido com Doppler pode ser
estar presentes em ambas as situações acima mencionadas. usado para detectar batimentos cardíacos fetais após 10
Os batimentos cardíacos fetais podem ser ouvidos semanas de gestação. A monitoração fetal contínua com
com um Doppler (gestação a partir da 10ª semana). A um tocodinamômetro cardíaco é útil após 20 a 24 semanas
monitoração fetal contínua deve ser feita após 20 a 24 de gestação. A frequência cardíaca normal para o feto situa-
semanas de gestação. As doentes que não apresentam se entre 120 a 160 batimentos por minuto. Sempre que
fatores de risco para perda fetal devem ficar com se constatam oscilações da frequência cardíaca do feto,
monitoração contínua por 6 horas, enquanto as com quando existem desacelerações repetidas, quando há
fatores de risco para perda fetal ou descolamento de ausência de aceleração, quando há variabilidade de um
placenta devem ficar monitoradas par 24 horas. Os batimento para outro, ou quando as contrações uterinas se
fatores de risco materno são frequência cardíaca >110, tornam frequentes, deve-se suspeitar da iminência de uma
índice de gravidade de lesão (ISS) >9, evidência de descompensação fetal e ou materna (por exemplo, hipóxia
descolamento de placenta, frequência cardíaca fetal e/ou acidose) e providenciar de imediato uma interconsulta
>160 ou <120, se foi ejetada para fora do veículo em uma obstétrica.
colisão de auto, atropelamento ou colisão de motocicleta. Os exames radiológicos indicados devem ser realizados
porque certamente os benefícios serão maiores que os riscos
Medidas Auxiliares na Avaliação potenciais para o feto. Entretanto, deve ser evitada a repetição
primária e na Reanimação desnecessária de radiografias.
um pH maior que 4,5, sugere ruptura da bolsa. Durante o exclui graus de hemorragia menores, mas ainda capazes
exame, devem ser avaliadas a presença de apagamento e de sensibilizar a mãe Rh-negativa. Todas as gestantes Rh-
dilatação do colo uterino, a apresentação fetal e a relação negativas traumatizadas devem ser consideradas candidatas
entre a apresentação fetal e as espinhas isquiáticas. para a terapêutica com imunoglobulina Rh, a menos que o
Visto que a hemorragia vaginal no terceiro trimestre pode trauma seja longe do útero (por exemplo, uma lesão distal
indicar descolamento de placenta e morte iminente do feto, isolada de extremidade). A terapêutica com imunoglobulina
torna-se fundamental um exame vaginal. Deve-se evitar deve ser instituída nas primeiras 72 horas após o trauma.
exames vaginais repetidos. A decisão pela cesariana deve ser n TABELA 12-4 resume os cuidados à doente gestante vítima
tomada em conjunto com o obstetra. A dose de radiação em de trauma.
uma tomografia de abdome/pélvis aproxima-se a 25mGy e,
radiações fetais menores que 50mGy não estão associadas a
malformações fetais ou risco maior de perda fetal. cesariana " Peri mortem "
A internação hospitalar é obrigatória quando há hemorragia
vaginal, irritabilidade uterina, dor, sensibilidade ou cólicas Poucas são as evidências de literatura a favor da cesariana
abdominais, evidência de hipovolemia, alteração ou “post mortem” em gestantes vítimas de traumas e que sofrem
ausência de batimentos fetais ou perda de líquido amniótico. parada cardíaca por hipovolemia. Lembre, o sofrimento
A internação deve ser realizada em unidade que possua fetal pode existir quando a mãe não tem alterações
recursos para propiciar monitoração e tratamento adequado hemodinâmicas, e à medida que progride, a instabilidade
fetal e materno. O feto pode estar correndo riscos mesmo materna compromete a sobrevida do feto. Quando a mãe
quando o traumatismo materno é aparentemente leve. apresenta parada cardíaca por hipovolemia, o feto já sofreu
um prolongado período de hipóxia. Quando a parada
tratamento definitivo cardíaca da mãe ocorre por outras causas, a cesariana “peri
mortem” pode ser bem sucedida, desde que seja realizada
Deve-se consultar o obstetra sempre que se constatem ou dentro de 4 a 5 minutos após a parada cardíaca.
sejam suspeitados problemas específicos envolvendo o útero.
No descolamento placentário extenso ou na embolia por
líquido amniótico, pode ocorrer a coagulação intravascular violência doméstic a
disseminada, causando depleção do fibrinogênio, de outros
fatores de coagulação e de plaquetas. Essa coagulopatia de A violência doméstica é uma causa significativa de
consumo pode ocorrer e evoluir rapidamente. Na presença traumatismos em mulheres durante a coabitação, o
de embolia por líquido amniótico, que implica em risco casamento e a gestação, independente da origem étnica,
de vida e/ou de coagulação intravascular disseminada, a influência cultural ou estado sócio-econômico. Dezessete
evacuação uterina deve ser feita em caráter de urgência, por cento de doentes grávidas traumatizadas foram
juntamente com a reposição de plaquetas, de fibrinogênio vítimas do trauma provocado por outra pessoa e sessenta
e de outros fatores de coagulação, quando necessário. por cento delas sofrem episódios repetidos de violência
As consequências da hemorragia feto-materna incluem doméstica. Segundo estimativas do Departamento de
não apenas a anemia fetal e a morte, mas também a Justiça dos Estados Unidos da América do Norte, dois a
isoimunização quando a mãe é Rh-negativa. Já que pequenas quatro milhões de mulheres por ano e aproximadamente
quantidades como 0,01 mL de sangue Rh-positivo podem metade de todas as mulheres durante a sua existência,
sensibilizar 70% das doentes Rh-negativas, a presença de sofrem alguma forma de abuso. Mundialmente,
hemorragia feto-materna numa mãe Rh-negativa justifica aproximadamente 10-69% das mulheres relatam já ter
a terapêutica com imunoglobulina Rh. Embora o teste de sido vítima de violência doméstica.
Kleihauer-Betke (esfregaço de sangue materno capaz de A suspeita de violência doméstica deve ser documentada
permitir a detecção de hemácias fetais na circulação materna) e comunicada. Estas agressões podem resultar em
indique hemorragia feto-materna, um teste negativo não incapacidades e morte. Elas representam um grande
número de atendimentos na unidade de emergência.
armadilha prevenção Apesar da maioria das vítimas ser composta por mulheres,
40% de todos os casos de violência doméstica identificados
Falha em reconhecer • Administrar terapia nos Estados Unidos da América são relatados por homens.
a necessidade de imunoglobulina Rh a todas as Entre os indicadores que podem sugerir a ocorrência de
mães Rh negativas lesionadas violência doméstica, incluem-se os seguintes:
tratamento com
imunoglobulina Rh na a menos que a lesão seja em
•• Lesões desproporcionais à história referida
local remoto do útero (e.g.:
mãe Rh negativa.
extremidade distal isolada) •• Redução da auto estima, depressão e tentativas
de suicídio
236 CAPÍTULO 12 n Trauma na Gestante e Violência Conjugal
SINAIS VITAIS
Hipertensão Critérios: ≥140 sistólica, >90 diastólica Trate: >160 sistólica, >110 diastólica
Sangramento Vaginal Trate hipotensão como acima, consulta obstétrica, Rh negativo recebe imunogloulina Rh.
Fluídos EV Pacientes requerem maiores volumes quando hipotensas; evite soro glicosado.
Intubação e indução em sequência rápida Indicação para os procedimentos, geralmente similares a não grávidas.
ondasentrona 4–8 mg EV
Antibióticos ceftriaxona 1 g EV
Continua
TRABALHO DE EQUIPE 237
tabela 12-4 trauma na paciente obstétrica: uma ferramenta à beira do leito (continuação)
Reanimação ACLS >20 sem. Paciente em decúbito lateral esquerdo. Se não houver o retorno de circulação expontânea
após 4 minutos de reanimação, considererar parto cesáreo em feto viável.
CONDUTA
Adaptado com permissão de American College of Emergency Physicians. Clinical and Practice Management Resources. Trauma in the Obstetric Patient:
A Bedside Tool, http://www.acep.org. Accessed May 16, 2016.
•• Auto abuso
quadro 12-1 perguntas de triagem para •• Consultas frequentes a serviços de emergência
avaliação da segurança imediata ou a consultórios médicos
•• Sintomas sugestivos de uso de drogas
1. Você está em perigo imediato? •• Auto acusação pelas lesões apresentadas
2. Seu cônjuge encontra-se nesta instituição agora? •• O parceiro insiste em estar presente durante a
avaliação clínica e o exame físico e monopoliza
3. Você quer (ou tem que ir) para casa com seu cônjuge? a discussão
4. Você tem algum lugar seguro para onde ir? Estes indicadores apenas levantam a suspeita de possível
violência doméstica e devem servir para iniciar uma
5. Houve ameaça ou abuso direto dos seus filhos (caso ele/a
investigação mais profunda. As perguntas do n QUADRO
tenha filhos)?
12-1, quando são feitas de forma não acusatória e sem a
6. Você teme que sua vida possa estar em perigo? presença do companheiro, detectam 65 a 70% das vítimas
de violência doméstica. Quando há suspeita de violência
7. A violência tornou-se pior ou mais assustadora? Está se doméstica, devem ser mobilizados os serviços sociais ou
tornando mais frequente? os órgãos públicos competentes.
8. Seu cônjuge usa armas, álcool ou drogas?
Trabalho em equipe
9. Seu cônjuge já segurou você ou seus filhos contra sua
vontade?
•• O grupo deve ter em mente que, embora sejam 6. A presença de indicadores que sugerem violência
dois pacientes, a missão prioritária é garantir doméstica pode servir para iniciar futuras
uma reanimação efetiva da mãe. investigações e proteger a vítima.
•• O líder da equipe deve notificar o obstetra de
plantão e o serviço de obstetrícia da chegada
iminente de uma paciente grávida com lesões Fonte s a dic ion a is
traumáticas. r efer ente s a V iolênc i a
•• O grupo deve manter um alto índice de suspeita domé s tic a
para violências domésticas e documentar
cuidadosamente todas as lesões.
National Coalition Against Domestic Violence, PO Box
18749, Denver, CO 80218-0749; 303-839-1852
2. A parede abdominal, miométrio uterino e o líquido 1. ACEP Clinical Policies Committee and Clinical
amniótico agem como amortecedor de um trauma Policies Subcommittee on Early Pregnancy.
direto no feto em um trauma fechado. A medida American College of Emergency Physicians.
que o útero gravídico aumenta de tamanho, o Clinical policy: critical issues in the initial
restante das vísceras abdominais são relativamente evaluation and management of patients
protegidas num trauma penetrante, enquanto a presenting to the emergency department in early
probabilidade da lesão uterina aumenta. pregnancy. Ann Emerg Med 2003;41:122–133.
2. Adler G, Duchinski T, Jasinska A, et al. Fibrinogen
3. A reposição de líquidos e sangue deve ser agressiva, fractions in the third trimester of pregnancy and
para corrigir e prevenir o choque hipovolêmico da in puerperium. Thromb Res 2000;97:405–410.
mãe e do feto. Avaliar e reanimar primeiro a mãe, a 3. American College of Emergency Physicians.
seguir avaliar o feto antes de conduzir a avaliação Clinical and Practice Management Resources.
secundária da mãe. Trauma in the Obstetric Patient: A Bedside Tool.
http://www.acep.org. Accessed May 16, 2016.
4. Deve-se estar atento para detectar situações 4. American College of Radiology. Practice
peculiares à gestante traumatizada, como trauma Parameter. http://www.acr.org/~/media/
penetrante ou fechado do útero, descolamento 9e2ed55531fc4b4fa53ef3b6d3b25df8.pdf.
de placenta, embolia por líquido amniótico, Accessed May 17, 2016.
isoimunização e ruptura prematura da bolsa. 5. Berry MJ, McMurray RG, Katz VL. Pulmonary and
ventilatory responses to pregnancy, immersion,
5. Uma pequena hemorragia fetomaterna é capaz de and exercise. J Appl Physiol 1989;66(2):857–862.
sensibilizar a mãe Rh negativa. Todas as vítimas 6. Chames MC, Perlman MD. Trauma
de trauma grávidas Rh-negativa devem receber during pregnancy: outcomes and clinical
tratamento com imunoglobulina Rh, a menos que management. Clin Obstet Gynecol 2008;
a possibilidade de lesão do útero seja remota. 51:398.
BIBLIOGRAFIA 239
7. Curet MJ, Schermer CR, Demarest GB, et 22. Lee D, Contreras M, Robson SC, et al.
al. Predictors of outcome in trauma during Recommendations for the use of anti-D
pregnancy: identification of patients who immunoglobulin for Rh prophylaxis. British
can be monitored for less than 6 h. J Trauma Blood Transfusion Society and Royal College of
2000;49:18–25. Obstetricians and Gynaecologists. Transfus Med
8. Eisenstat SA, Sancroft L. Domestic violence. N 1999;9:93–97.
Engl J Med 1999;341:886–892. 23. Mattox KL, Goetzl L. Trauma in pregnancy. Crit
9. Family Violence Prevention Fund. (2002). Care Med 2005;33:S385–S389.
National consensus guidelines on identifying and 24. Metz TD, Abbott JT. Uterine trauma in pregnancy
responding to domestic violence victimization in after motor vehicle crashes with airbag de-
health care settings. San Francisco, CA: Author. ployment: a 30-case series. J Trauma 2006;61:
www. endabuse.org/programs/healthcare/files/ 658–661.
Consensus.pdf 25. Minow M. Violence against women—a
10. Feldhaus KM, Koziol-McLain J, Amsbury HL, et challenge to the Supreme Court. N Engl J Med
al. Accuracy of 3 brief screening questions for 1999;341:1927–1929.
detecting partner violence in the emergency 26. Pearlman MD, Tintinalli JE, Lorenz RP. Blunt
department. JAMA 1997;277:1357–1361. trauma during pregnancy. N Engl J Med 1991;
11. Goodwin T, Breen M. Pregnancy outcome and 323:1606–1613.
fetomaternal hemorrhage after noncatastrophic 27. Pearlman M, Tintinalli J, Lorenz R. A prospective
trauma. Am J Obstet Gynecol 1990;162:665–671. controlled study of outcome after trauma
12. Grisso JA, Schwarz DF, Hirschinger N, et al. during pregnancy. Am J Obstet Gynecol 1990;
Violent injuries among women in an urban area. 162:1502–1510.
N Engl J Med 1999;341:1899–1905. 28. Petrone P, Talving P, Browder T, et al. Abdominal
13. Hamburger KL, Saunders DG, Hovey M. Pre- injuries in pregnancy: a 155-month study at two
valence of domestic violence in community level 1 trauma centers. Injury 2011;42(1):47–49.
practice and rate of physician inquiry. Fam Med 29. Schoenfeld A, Ziv E, Stein L, et al. Seat belts in
1992;24:283–287. pregnancy and the obstetrician. Obstet Gynecol
14. Hellgren M. Hemostasis during normal preg- Surv 1987;42:275–282.
nancy and puerperium. Semin Thromb Hemost 30. Scorpio R, Esposito T, Smith G, et al. Blunt
2003;29(2):125–130. trauma during pregnancy: factors affecting fetal
15. Hyde LK, Cook LJ, Olson LM, et al. Effect of motor outcome. J Trauma 1992;32:213–216.
vehicle crashes on adverse fetal outcomes. Obstet 31. Sela HY, Weiniger, CF, Hersch M, et al. The
Gynecol 2003;102:279–286. pregnant motor vehicle accident casualty.
16. Ikossi DG, Lazar AA, Morabito D, et al. Profile Adherence to basic workup and admission
of mothers at risk: an analysis of injury and guidelines. Ann Surg 2011;254(2).
pregnancy loss in 1,195 trauma patients. J Am 32. Shah AJ, Kilcline BA. Trauma in pregnancy.
Coll Surg 2005;200:49–56. Emerg Med Clin North Am 2003;21:615–629.
17. Intimate Partner Violence Facts. www.who.int/ 33. Sims CJ, Boardman CH, Fuller SJ. Airbag
violence_injury_prevention/violence/world_ deployment following a motor vehicle accident
report/factsheets/en/ipvfacts.pdf. Accessed May in pregnancy. Obstet Gynecol 1996;88:726.
17, 2016. 34. Sisley A, Jacobs LM, Poole G, et al. Violence
18. Jain V, Chari Radha, Maslovitz S, et al. Guidelines in America: a public health crisis—domestic
for the management of a pregnant trauma violence. J Trauma 1999;46:1105–1113.
patient. J Obstet Gynaecol Can 2015;37(6):553–571. 35. Statement on Domestic Violence. Bull Am Coll
19. Kissinger DP, Rozycki GS, Morris JA, et al. Trauma Surg 2000;85:26.
in pregnancy—predicting pregnancy outcome. 36. Towery RA, English TP, Wisner DW. Evaluation
Arch Surg 1991;125:1079–1086. of pregnant women after blunt injury. J Trauma
20. Klinich KD, Schneider LW, Moore JL et al. 1992;35:731–736.
Investigations of crashes involving pregnant 37. Tsuei BJ. Assessment of the pregnant trauma
occupants. Annu Proc Assoc Adv Automot Med patient. Injury 2006;37:367–373.
2000;44:37–55. 38. Weinberg L, Steele RG, Pugh R, et al. The pregnant
21. Kyriacou DN, Anglin D, Taliaferro E, et trauma patient. Anaesth Int Care 2005;33:
al. Risk factors for injury to women from 167–180.
domestic violence. N Engl J Med 1999;341:
1892–1898.
240 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo
13 TRANSFERÊNCIA PARA O
TRATAMENTO DEFINITIVO
Modos de transporte
OBJETIVOS
Após a leitura deste capítulo e a compreensão dos tópicos de comunicação médico-médico, documentação e
aprendizado do curso ATLS, você estará apto a: determinação do modo de transporte.
1. Identificar os doentes traumatizados que necessitam 3. Identificar os doentes que precisam de mais exames
de transferência de uma instituição de cuidados de imagem e/ou estabilização antes da transferência.
primários para outra de nível mais avançado.
4. Reconhecer a necessidade de fornecer cuidados
2. Descrever as responsabilidades dos médicos contínuos durante a transferência para garantir que
que encaminha e que recebe o doente durante o doente chegue ao hospital de destino na melhor
o processo de transferência para um hospital de condição possível.
nível mais elevado de atendimento, incluindo
241
242 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo
O
curso Advanced Trauma Life Support® é destinado de transferir doentes com múltiplas lesões sem
a treinar médicos para que estejam melhor anormalidades hemodinâmicas evidentes pode ser
habilitados para avaliar, estabilizar e preparar menos óbvia. Portanto, a diligência em reconhecer a
o doente traumatizado para o tratamento definitivo. necessidade de transferência precocemente é crítica.
Qualquer que seja o tratamento definitivo, suporte e Para ajudar os médicos a determinar quais doentes
monitoração em uma unidade de terapia intensiva (UTI), necessitam de cuidados em uma instituição de maior nível
admissão em uma unidade de menor complexidade, de complexidade, o Comitê de Trauma do ACS recomenda
ou intervenção cirúrgica, ele exige a presença e o o uso de determinados índices fisiológicos, mecanismos
envolvimento ativo de uma equipe com habilidades e de trauma, padrões de lesões e dados da história. Esses
conhecimento para tratar as lesões apresentadas pelo fatores também ajudam os médicos a decidir quais
doente. Se o tratamento definitivo não puder ser realizado doentes estáveis podem se beneficiar da transferência.
no hospital local, o doente necessita de transferência para Diretrizes sugeridas para transferência interhospitalar
um hospital que tenha os recursos e a capacidade para cuidar quando as necessidades de um doente excedem os
dele. Idealmente, esta instituição deve ser um centro de recursos disponíveis são descritas na n TABELA 13-1. É
trauma verificado e o nível de complexidade do atendimento importante observar que essas diretrizes são flexíveis e
deve estar de acordo com a necessidade do doente. devem levar em consideração as circunstâncias locais.
A decisão de transferir um doente para outra instituição Certas avaliações clínicas do estado fisiológico são úteis
depende de suas lesões e dos recursos locais. A decisão para determinar a necessidade de transferência para uma
sobre quais doentes precisam ser transferidos, quando e instituição que ofereça um maior nível de complexidade
como a transferência ocorrerá, é baseada no julgamento de cuidado. Os doentes que exibem evidência de choque,
médico. Evidências apoiam o conceito de que o prognóstico deterioração fisiológica significativa ou deterioração
de um traumatizado é melhor se doentes gravemente progressiva do estado neurológico requerem o mais alto
feridos forem tratados num centro de trauma. Ver ACS nível de complexidade de cuidado e provavelmente se
COT Resources for Optimal Care of the Injured Patient; beneficiarão da transferência em tempo hábil (n FIGURA 13-1).
Guidelines for Trauma System Development and Trauma Doentes estáveis com trauma abdominal contuso e
Center Verification Processes and Standards. lesões hepáticas ou esplênicas documentadas podem
O princípio fundamental do tratamento do traumatizado ser candidatos a tratamento não-operatório, exigindo
é não causar dano adicional. De fato, o nível de a disponibilidade imediata de sala operatória e equipe
complexidade do atendimento do doente traumatizado cirúrgica qualificada. Um cirurgião geral ou de trauma deve
deve melhorar de forma consistente a cada etapa, desde supervisionar o manejo não operatório, independentemente
a cena do incidente até a instituição que possa oferecer o da idade do doente. Se a instituição não estiver preparada
que o doente necessita e o tratamento apropriado. para intervenção cirúrgica de urgência, esses doentes
devem ser transferidos para um centro de trauma.
Doentes com lesões específicas, combinação de lesões
Determinação da Necessidade (particularmente as que envolvem o cérebro) e/ou história
de Transferência do Doente indicando lesão por alta transferência de energia podem
estar em risco de morte e são candidatos a transferência
A grande maioria dos doentes recebe o tratamento
completo no hospital local e, nestes casos, sua transferência
torna-se desnecessária. É essencial que os médicos
avaliem suas próprias capacidades e limitações, bem
como as de sua instituição, para permitir a diferenciação
precoce entre doentes que podem ser atendidos com
segurança no hospital local e aqueles que necessitam
de transferência para cuidados definitivos.
fatores de transferência
Os doentes que necessitam de transferência imediata
podem ser prontamente identificados com base em
dados fisiológicos, lesões específicas identificadas
e mecanismo de trauma. Doentes com trauma
craniencefálico grave (escore na GCS de 8 ou menos) e
n FIGURA 13-1 As equipes de trauma avaliam rapidamente os
hipotensão são facilmente reconhecidos e necessitam doentes para determinar a necessidade de transferência para nível
de transferência urgente. No entanto, a necessidade de maior complexidade de atendimento.
DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE TRANSFERÊNCIA DO DOENTE 243
CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
PRIMÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?
Via Aérea Comprometimento da Via Aérea Intubação, CO2 exalado, oxímetro de pulso, ECG, S
radiografia de tórax
Hipóxia/hipoventilação Intubação S
CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
SECUNDÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?
Nota: Avaliar e tomar a decisão de transferir nos primeiros 15–30 minutos da chegada do líder da equipe de trauma.
a. Realizar apenas se interferir na decisão de transferir.
b. Doentes com escore na GCS 9–13 podem requerer intubação, dependendo das circunstâncias clínicas e da discussão com o médico que recebe.
c. Realizar somente em doentes hemodinamicamente normais nos quais os resultados afetarão a decisão de transferir ou o cuidado prestado
antes da transferência.
Continua
244 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo
CONSIDERAR
AVALIAÇÃO INTERVENÇÕES E MEDIDAS AUXILIARES A TRANSFE-
SECUNDÁRIA ACHADOS SEREM REALIZADOS NO HOSPITAL LOCAL RÊNCIA?
c
Tórax Múltiplas fraturas de arcos Radiografia do tórax, FAST , TCc S
costais, tórax instável, contusão
pulmonar, mediastino alargado,
pneumomediastino
c
Abdome Defesa, descompressão brusca FAST, LPD , TCc S
positiva
Nota: Avaliar e tomar a decisão de transferir nos primeiros 15–30 minutos da chegada do líder da equipe de trauma.
a. Realizar apenas se interferir na decisão de transferir.
b. Doentes com escore na GCS 9–13 podem requerer intubação, dependendo das circunstâncias clínicas e da discussão com o médico que recebe.
c. Realizar somente em doentes hemodinamicamente normais nos quais os resultados afetarão a decisão de transferir ou o cuidado prestado
antes da transferência.
precoce para um centro de trauma. Doentes idosos devem ser A morte de outro indivíduo envolvido no incidente
considerados para transferência mesmo com lesões menos traumático sugere a possibilidade de lesão oculta grave nos
graves (por exemplo, múltiplas fraturas de costelas e doentes sobreviventes. Nestes casos é obrigatória uma cuidadosa
anticoagulados) devido a sua reserva fisiológica limitada e avaliação do doente, mesmo quando não há sinais evidentes
risco potencial para doenças relacionadas às comorbidades. de lesão grave.
Doentes obesos raramente necessitam de transferência
especificamente por causa de seu peso, exceto em casos Tempo de transferência
extremos em que a tomografia computadorizada não pode
ser obtida devido ao tamanho do doente ou necessidade de O desfecho do doente está diretamente relacionado ao
equipamento especial para um procedimento cirúrgico. tempo decorrido entre o trauma e o tratamento definitivo
A via aérea difícil, frequentemente associada à obesidade, realizado adequadamente. Em instituições sem cobertura
pode exigir a intubação precoce antes da transferência, de emergência em tempo integral, a pontualidade da
quando houver risco de que o estado mental ou o estado transferência depende, em parte, da rapidez com que
respiratório se deteriorem durante o transporte. o médico de sobreaviso chega no Departamento de
O abuso de álcool e/ou outras drogas é comum a todas Emergência (DE). Consequentemente, as equipes de
as formas de trauma e é particularmente importante ser trauma devem desenvolver uma comunicação eficaz
identificado já que essas substâncias podem alterar a percepção com o sistema pré-hospitalar para identificar os doentes
da dor e mascarar achados físicos significativos. Alterações na que precisam que um médico esteja presente no DE no
resposta do doente podem estar relacionadas ao álcool e/ou momento da chegada (n FIGURA 13-2). Além disso, o médico
drogas, mas a lesão cerebral nunca deve ser excluída como assistente deve comprometer-se a responder ao DE antes
uma possível causa de mudança no estado mental, mesmo da chegada de doentes gravemente traumatizados.
na presença dos mesmos. Se o médico examinador não tiver A cronologia da transferência inter-hospitalar varia
certeza, a transferência para uma instituição de nível superior de acordo com a distância entre as instituições, com
de complexidade pode ser apropriada. os recursos disponíveis para a transferência, com as
TRATAMENTO ANTES DA TRANSFERÊNCIA 245
Tratamento antes da
n FIGURA 13-2 Uma comunicação eficaz com o sistema pré-hospitalar
transferência
deve ser desenvolvida para identificar doentes que necessitam da
presença de um médico no DE no momento da sua chegada. O doente deve ser reanimado e tentativas para
estabilizá-lo da melhor maneira possível devem ser
características da instituição local e com os procedimentos feitas, baseando-se no esquema sugerido abaixo:
necessários antes que o doente possa ser transferido
com segurança. Se houver recursos disponíveis e os 1. Via aérea
procedimentos necessários puderem ser executados a. Inserir uma via aérea ou um tubo endotraqueal,
rapidamente, lesões com risco à vida devem ser tratadas se necessário. Estabelecer um limiar baixo para
antes do transporte do doente. Esse tratamento pode intubar doentes com GCS alterado, mesmo
exigir intervenção cirúrgica para garantir que o doente acima de 8, quando houver preocupação com
uma possível deterioração e discutir essa
esteja na melhor condição possível para a transferência. decisão com o médico que receberá o doente.
Intervenção antes da transferência requer julgamento.
b. Realizar aspiração.
Depois de reconhecer a necessidade de transferência,
agilize os preparativos. Não realize procedimentos c. Inserir uma sonda gástrica em todos os doentes
intubados e naqueles não intubados com
diagnósticos (por exemplo, lavagem peritoneal diagnóstica evidência de distensão gástrica. Como esse
[LPD] ou tomografia computadorizada [TC]) que não procedimento pode induzir o vômito e provocar
alterem o plano de cuidados. No entanto, procedimentos aspiração, usar o bom julgamento clínico quando
que tratam ou estabilizam uma condição imediatamente os doentes estiverem agitados ou intoxicados.
fatal podem ser rapidamente realizados. 2. Respiração
Apesar do princípio de que a transferência não deve ser a. Determinar a frequência respiratória e
atrasada para procedimentos diagnósticos, uma parcela administrar oxigênio suplementar.
significativa das vítimas de trauma transferidas para b. Providenciar ventilação mecânica, quando
centros de trauma regionais é submetida à tomografia necessário.
computadorizada no hospital primário, levando a um
c. Realizar a drenagem torácica, se necessário.
aumento no tempo de permanência antes da transferência. Doentes com pneumotórax diagnosticado ou
suspeito devem ter o tórax drenado quando
armadilha prevenção são transportados por via aérea.
3. Circulação
Atrasar a transferência • Considerar a transferência a. Controlar o sangramento externo, observando
de um doente para o precocemente no processo o tempo de colocação do torniquete quando
tratamento definitivo. de avaliação. este é usado.
• Determinar rapidamente
as necessidades do doente b. Estabelecer dois acessos venosos de grosso
e as capacidades da calibre e iniciar a infusão de solução
instituição. cristaloide.
• Solicitar apenas exames c. Restaurar as perdas de volume sanguíneo
que identifiquem lesões usando cristaloide e sangue para obter uma
potencialmente fatais reanimação balanceada (ver Capítulo 3: Choque)
que possam ser tratadas e manter a reposição durante a transferência.
ou estabilizadas antes da
transferência. d. Inserir uma sonda vesical de demora para
monitorar o débito urinário.
246 CAPÍTULO 13 n Transferência para o Tratamento Definitivo
doente e estar completamente familiarizado com o sistema informações vitais sejam comunicadas. A omissão de
de transporte, com sua capacidade, e com os preparativos informações pode retardar a identificação de lesões e o
para o tratamento do doente durante o transporte. Dentro atendimento, o que pode influenciar o resultado do doente.
das capacidades de sua instituição, o médico de referência O SBAR (Situação, Histórico, Avaliação e Recomendação)
deve estabilizar a condição do doente antes de transferi-lo é uma ferramenta de transferência comumente usada
para outra instituição. O processo de transferência é iniciado para melhorar a segurança do doente, facilitando a
enquanto os esforços da reanimação estão em andamento. comunicação de informações específicas do mesmo. A
A transferência entre hospitais é acelerada por meio n TABELA 13-2 descreve um modelo de instrumento ABC-
do estabelecimento de acordos de transferência. Eles SBAR para transferência de doentes traumatizados.
proporcionam um movimento consistente e eficiente Quando não houver uma equipe de atendimento
de doentes entre instituições. Além disso, esses acordos específica e adequada para transferir o doente, certifique-
permitem o feedback ao hospital de referência e se de que uma enfermeira ou um médico acompanhe o
aumentam a eficiência e a qualidade do tratamento do doente. Todo o monitoramento e tratamento prestados
doente durante esse processo. durante o transporte são cuidadosamente documentados.
Fornecer um resumo completo e sucinto do doente Doentes pediátricos necessitam de cuidados
usando um modelo padronizado é útil para garantir que especializados e frequentemente é indicada a transferência
A Via Aérea
C Circulação
armadilha prevenção
Comunicação • Inicie o processo de
inadequada ou transferência imediatamente,
inapropriada entre a ou seja, ao identificar a
equipe que encaminha necessidade de transferência
e a que recebe, para o tratamento definitivo.
resultando em perda • Especifique todas as lesões
de informações críticas identificadas, enfatizando
para o atendimento do condições com risco à vida.
doente. • Forneça todas as informações
pertinentes sobre as lesões
do doente, os cuidados
recebidos, a resposta do
doente aos cuidados e o
motivo da transferência.
n FIGURA 13-3 Equipe de trauma, recebendo o doente transferido
para uma instituição de tratamento pediátrico. Dependendo por transporte aéreo.
das circunstâncias locais, este pode ser um centro de trauma
de adultos com capacidade pediátrica. As equipes de
transporte devem estar familiarizadas com o transporte quadro 13-1 perguntas que podem
ajudar na determinação do modo
seguro de doentes pediátricos, incluindo a necessidade
de transporte apropriado
de manejo de via aérea, dosagem de medicamentos e as
medidas auxiliares da avaliação primária.
• A condição clínica do doente requer a minimização do
tempo de transporte?
médico que recebe
• O doente necessita de avaliação ou tratamento
O médico que recebe deve ser consultado para garantir que específico ou tempo dependente, que não esteja
a instituição receptora proposta seja qualificada, capaz e disponível na unidade de origem?
esteja disposta a aceitar o doente e concordar com a intenção • O doente está em uma área inacessível ao transporte
da transferência. O médico que recebe deve auxiliar o terrestre?
médico que encaminha na organização da transferência • Quais são as condições meteorológicas atuais e
para que a modalidade adequada e o nível de complexidade previstas ao longo da rota de transporte?
de atendimento estejam disponíveis durante o transporte. • O peso do doente (mais o peso do equipamento e
Caso o médico e o hospital propostos inicialmente para da equipe de transporte) está dentro dos limites
receber o doente se encontrem impossibilitados de aceitá-lo, permitidos para o transporte aéreo?
eles devem auxiliar na busca de uma instituição alternativa.
• Para transportes inter-hospitalares, existe heliponto e/
A qualidade do atendimento oferecido durante
ou aeroporto perto do hospital de origem?
o transporte também é de vital importância para o
• O doente precisa de cuidados intensivos (por
prognóstico do doente. Somente pela comunicação direta
entre os médicos que encaminham e os que recebem o exemplo, monitoramento, medicamentos específicos,
doente, as condições do doente a ser transferido podem equipamento específico) durante o transporte, que não
ser claramente delineadas. estejam disponíveis no transporte terrestre?
• O uso de transporte terrestre local deixaria a área local
Modos de tr a nsp orte sem cobertura adequada de serviços de atendimento
pré-hospitalar?
O princípio de não causar dano adicional é o mais importante • Se o transporte terrestre local não for uma opção,
requisito na escolha do modo de transportar o doente. as necessidades do doente (e do sistema) podem
Transporte terrestre, aquático e aéreo podem ser seguros ser atendidas por um serviço regional de transporte
e efetivos em seguir este princípio e nenhum meio de
terrestre crítico disponível (por exemplo, sistemas
transporte é intrinsecamente melhor do que o outro. (n FIGURA
especializados de transporte de superfície operados
13-3). Fatores locais tais como disponibilidade, geografia,
por hospitais e/ou programas médicos aéreos)?
custo e clima são os principais fatores para se determinar qual
o meio de transporte a se utilizar em uma dada circunstância.
O n QUADRO 13-1 lista perguntas gerais a serem feitas na Reimpresso com a permissão de Thomson DP, Thomas SH. Guidelines for
determinação do modo de transporte apropriado. Air Medical Dispatch. Prehospital Emergency Care 2003; Apr–Jun;7(2):265–71.
PROTOCOLOS DE TRANSFERÊNCIA 249
Intervenção AVC Trauma adulto Trauma pediátrico Referência de especialidade Mão Olho Queimado Adulto Queimado Pediátrico Outro
DOENTE
GCS: ____ AO: ___ RM: __ RV: __= Total Diâmetro pupilar (mm) D ___ E____ ECG: S N; Ritmo Anormal __________
SISTEMAS DE AVALIAÇÃO E
ALERGIAS: IMUNIZAÇÕES/ DATAS DE TRIAGEM Gripe ____, Tétano ___, Pneumonia ____, PPD ____ Pos. Neg
HISTÓRICO DE SAÚDE
Gastrointestinal:
Genito-urinário: Falência Renal
Cabeça e pescoço:
Tegumentar:
Músculoesqueletico:
Nervoso/neurológico AIT AVC Desvios MAV Hemorragia Outros
Tórax/pumonar “respiratório”: Traqueostomia
MEDICAÇÕES EM USO: Anticoagulantes S N , Nome: ____________________________________________ Outros: __________________________________
PRECAUÇÕES DE ISOLAMENTO: nenhuma Staphylococcus aureus multi resistente Enterococcus resistente à vancomicina Beta-lactamase de espectro estendido Clostridium difficile Colonizado Outros _____________________ Local:_______
TOTAL INFUNDIDO: Componentes Sanguíneos Administrados: Concentrado de Hemácias/____ unidades, Plasma Fresco Congelado/____unidades, Plaquetas/___ unidades, Outros: ___/unidades
TOTAL DE PERDAS: _____ Anulado SVD SNG Dreno de Tórax _____ Perda Sanguínea Estimada _____ Para Queimados: Total de Cristaloides Administrado __ _ Data Início__ _ Hora ____
TRATAMENTOS
EXAMES LABORATORIAIS: Hemácias: __ Temp Coagulação: __ CMP ___ Troponina ___ Mioglobina___ Outros ___. Exames de Imagem: Filmes Enviados S N RX___ _ TC_ __ RNM: ______ Outros: _____
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
MEDICAÇÕES ADMINISTRADAS ANTES DA TRANSFERÊNCIA: Antibióticos, Reanimação, Sedativos/Paralíticos/ Trombolíticos/TPA, Outros
Medicação Dose Data Hora Medicação Dose Data Hora
TEMPO ESPECÍFICO
TRAUMA: Data da Lesão: _____ Hora da Lesão _____ Óbito no mesmo acidente S N, Membro da Família S N, O doente foi notificado S N
Mecanismo da Lesão : Colisão Automobilística MCC Ped. ATV Bicicleta Espancamento Esfaqueamento Cortes/Perfurações FAF Queimadura Queda Afogamento Explosão Outros
Proteção da Coluna: Prancha Rígida Colar Cervical Cinta Pélvica Imobilização de Extremidades; ___MSD ___MSE ___MID ___MIE Rolo de Toalha/Reforço Outros_
Observações Socias: Suspeita de Violência Doméstica Criança/Idoso Suspeita Negligência Abuso, Comunicado? S N. Para Quem?
Médico Responsável pelo Encaminhamento: Médico Responsável pelo Recebimento:
Contato da Instituição de Origem: Contato da Instituição de Destino:
a meta-analysis. J Trauma 2006;60: 10. McCrum ML, McKee J, Lai M, et al. ATLS adherence
1257–1266. in the transfer of rural trauma patients to a level
3. Borst GM, Davies SW, Waibel BH et al. When I facility. Injury 44(9):1241–1245.
birds can’t fly: an analysis of interfacility 11. Mullins PJ, Veum-Stone J, Helfand M, et al.
ground transport using advanced life support Outcome of hospitalized injured patients after
when helicopter emergency medical service is institution of a trauma system in an urban area.
unavailable. J Trauma 77(2):331–336. JAMA 1994;271:1919–1924.
4. Brown JB, Stassen NA, Bankey PE et al. Helicopters 12. Onzuka J, Worster A, McCreadie B. Is comput-
improve survival in seriously injured patients erized tomography of trauma patients associat-
requiring interfacility transfer for definitive care. ed with a transfer delay to a regional trauma
J Trauma 70(2):310–314. centre? CJEM:10(3):205–208.
5. Champion HR, Sacco WJ, Copes WS, et al. A 13. Quick JA, Bartels AN, Coughenour JP, et al.
revision of the trauma score. J Trauma 1989; Trauma transfers and definitive imaging: patient
29:623–629. benefit but at what cost? Am Surg 79(3):301–304.
6. Compton J, Copeland K, Flanders S, et al. 14. Scarpio RJ, Wesson DE. Splenic trauma. In:
Implementing SBAR across a large multihospital Eichelberger MR, ed. Pediatric Trauma: Prevention,
health system. Joint Commission J Quality and Acute Care, Rehabilitation. St. Louis, MO: Mosby
Patient Safety 2012;38:261–268. Yearbook 1993; 456–463.
7. Doucet J, Bulger E, Sanddal N, et al.; endorsed 15. Schoettker P, D’Amours S, Nocera N, et al.
by the National Association of EMS Physicians Reduction of time to definitive care in trauma
(NAEMSP). Appropriate use of helicopter patients: effectiveness of a new checklist system.
emergency medical services for transport of Injury 2003;34:187–190.
trauma patients: guidelines from the Emergency 16. Sharar SR, Luna GK, Rice CL, et al. Air trans-
Medical System Subcommittee, Committee on port following surgical stabilization: an ex-
Trauma, American College of Surgeons. J Trauma tension of regionalized trauma care. J Trauma
2013 Oct 75(4):734–741. 1988;28:794–798.
8. Edwards C, Woodard, E. SBAR for maternal 17. Thomson DP, Thomas SH. Guidelines for Air
transports: going the extra mile. Nursing for Medical Dispatch. Prehospital Emergency Care
Women’s Health 2009;12:516–520. 2003; Apr–Jun;7(2):265–71.
9. Harrington DT, Connolly M, Biffl WL, et al.
Transfer times to definitive care facilities are
too long: a consequence of an immature trauma
system. Ann Surg 241(6):961–968.
APÊNDICES
Apêndice A
T RAUMA OCULAR
OBJETIVOS
N
a medicina militar, médicos e pessoal de apoio há pelo humor vítreo - uma solução de sódio, cloreto e
muito citam o mantra “vida, membros ou visão” outros íons. O segmento posterior do globo está entre
para descrever o que constitui uma verdadeira o cristalino e a retina, e é preenchido com humor vítreo
emergência médica. Embora o atendimento médico de - uma substância clara e gelatinosa. O nervo óptico está
emergência tenha mudado com o tempo, esse conceito na parte de trás do olho; viaja através do cone muscular,
ainda é válido. O olho é realmente importante, mas através da órbita e depois para o cérebro. n FIGURA A-1
normalmente não é avaliado até que o doente seja fornece uma revisão da anatomia do olho.
considerado estável. O globo inclui os anexos dos músculos extraoculares
Pequenas abrasões e lacerações no olho e nas à esclera. A esclera e os músculos são cobertos por um
pálpebras são comuns em doentes politraumatizados. epitélio chamado conjuntiva, que se estende da junção
Este apêndice tem como escopo descrever as poucas córnea-esclera sobre a esclera e depois se volta para cobrir
lesões oculares que podem cegar um doente se não forem o interior das pálpebras. Os músculos extraoculares
tratadas nas primeiras horas após o trauma. Entender se juntam para formar um “cone”, que é coberto por
os fundamentos do exame oftalmológico após a lesão uma bainha semelhante à da fáscia chamada cápsula
começa com uma revisão da anatomia básica do olho. de Tenon. Essa cobertura por fáscia minimamente
distensível limita a capacidade de expansão desses
músculos; assim, a hemorragia nessa área pode produzir
r e v is ão da a n atomi a uma síndrome compartimental.
O complexo globo-cone-muscular situa-se na órbita do
A córnea é a camada transparente que forma o olho, que é uma cavidade em forma de pera formada por
limite anterior do espaço conhecido como câmara ossos que separam o compartimento orbital do tecido
anterior, e é contígua à esclera. O interior do globo é dos seios da face e do cérebro. As pálpebras têm anexos
dividido em segmentos anteriores e posteriores pelo tendinosos (tendões cantais) medial e temporalmente
cristalino. O segmento anterior inclui a córnea, esclera, na órbita óssea, que impedem que o globo avance. Esse
conjuntiva, íris e cristalino. O espaço entre a córnea e arranjo cria outro espaço com expansão limitada, onde
a íris é chamado de câmara anterior e está preenchido a síndrome do compartimento também pode ocorrer.
257
258 APÊNDICE A n Trauma Ocular
Esclera
Tendão
Cantal Fórnix
Músculos
extraoculares Conjuntiva
Mácula
Fóvea
Ossos da
órbita Íris
Pupila Cristalino
Nervo
ótico
Câmara
anterior
Retina
A B
n FIGURA A-1 Anatomia anterior e posterior
do nervo óptico relacionada ao trauma, consulte um medindo a partir da parede lateral da órbita até o nariz
oftalmologista para um exame detalhado. de cada lado e, em seguida, determinando quanto do
globo se projeta para além dessa linha imaginária.
Pressão Intraocular Em um exame normal, quando você empurra
suavemente o olho através da pálpebra, você sentirá
Dispositivos portáteis de tonometria, como o Tono-pen, que o globo ocular se desloca pouco em direção posterior.
estão agora disponíveis em muitas salas de emergência. Quando isso não ocorre, há resistência à retropulsão,
Esses medidores melhoraram a capacidade do médico de indicando a possibilidade de aumento da pressão atrás
verificar pressões oculares em diversas situações do doente. do olho, como na hemorragia retrobulbar. Outro sinal
Ao usar dispositivos de tonometria de mão, abra a de hemorragia retrobulbar é quando o globo empurra as
pálpebra tomando cuidado para não empurrar o globo pálpebras, criando uma pressão tal que a pálpebra fica
ocular, pois isso pode elevar falsamente a pressão do tensa e não pode ser afastada do olho. Por fim, ao avaliar
olho. Certifique-se de que os dedos que retraem as as feridas da periórbita, sempre inspecione as lacerações
pálpebras estejam apoiados na órbita óssea e não no para garantir que não tenham espessura total e elimine a
globo. Obtenha sempre 2-3 medições de cada olho, com possibilidade da presença de corpos estranhos ocultos.
a maior percentagem de confiabilidade no Tono-Pen (a Mesmo que o globo pareça não ser afetado, qualquer
pressão ocular normal é entre 8 e 21 mmHg). A leitura corpo estranho penetrando na órbita exige um exame
de “dados” ou “%” na caneta indica a probabilidade de oftalmológico imediato para determinar se o globo
que essa leitura seja precisa. É importante notar que as está aberto.
leituras podem variar com a ventilação mecânica, as Músculos extraoculares: para doentes que podem
manobras de Valsalva e a pressão acidental no globo obedecer a comandos, peça que sigam o dedo para cima,
ocular durante a abertura dos olhos. Quando possível, para baixo e para os lados. Movimento ocular restrito pode
anestesiar o olho com gotas oftálmicas de anestésico ser decorrente da presença de pressão intraorbital elevada,
tópico (por exemplo, proparacaína) se o doente não de fraturas orbitárias, ou de lesão muscular ou nervosa.
estiver totalmente sedado. Caso contrário, o doente pode Pálpebras, cílios e bolsa lacrimal: Examine as
piscar excessivamente ou apertar as pálpebras quando pálpebras para procurar por lacerações e observe se
a ponta do instrumento tocar o olho. elas são de espessura total ou parcial. A porção nasal
Sem um tonômetro, você pode de maneira grosseira das pálpebras superior e inferior contém as cavidades
estimar a pressão do olho pressionando delicadamente e canalículos superiores e inferiores, que drenam as
com os dois dedos indicadores em cada lado do olho com lágrimas da superfície ocular. As lágrimas correm pela
as pálpebras fechadas. Se você não tem certeza do que puncta, depois pelos canalículos até o saco lacrimal e
é normal, pressione o seu próprio olho ou o olho não depois pelo ducto nasolacrimal até o nariz.
afetado do doente da mesma maneira e comparar. O Lacerações de espessura total requerem um reparo
mais importante, avaliar se o doente tem um olho mais cirúrgico por um cirurgião familiarizado com a anatomia
firme no lado lesionado. de drenagem da pálpebra e canal lacrimal. Embora este
Se houver suspeita de lesão aberta de globo ocular, procedimento não precise acontecer imediatamente,
não verifique a pressão no olho, porque você pode o reparo dentro de 72 horas após a lesão aumenta a
conduzir ainda mais para o interior da cavidade o probabilidade de sucesso. Se o sistema de ducto
conteúdo intraocular do olho. Nesses casos, verificar a nasolacrimal estiver envolvido, é ideal que o reparo
acuidade visual e realizar uma inspeção visual apenas. ocorra antes do início do edema tecidual, portanto é
necessário que um especialista seja consultado assim
Exame Anterior que identificar o problema. Esteja especialmente atento
às lacerações palpebrais que se alinham com as lacerações
O exame anterior aborda vários aspectos da anatomia do conjuntivais ou corneanas, porque elas são frequentemente
olho: a periórbita, músculos extraoculares, pálpebras, associadas a lesões abertas do globo ocular.
cílios, sacos lacrimais, conjuntiva, esclera, córnea, íris, Conjuntiva, esclera e córnea: Observe quanto a
câmara anterior e cristalino. presença de qualquer hemorragia subconjuntival e
Periórbita: Observe quanto à presença de qualquer sua extensão; quanto mais extensas forem, maior a
equimose ou lacerações ao redor do olho. Avalie a presença probabilidade de o próprio globo ter sofrido ferimentos
de eventual protusão do globo ocular. Isso pode ser feito substanciais. Se a conjuntiva estiver lacerada, preste
com as pálpebras abertas ou fechadas, olhando para baixo muita atenção à esclera subjacente, que também
enquanto o doente está deitado e determinando se um pode estar lesada. Mais uma vez, uma lesão como
olho está mais anteriorizado que o outro. Isso também essa pode indicar lesões abertas do globo ocular.
pode ser avaliado radiograficamente usando o corte Verifique também se há lacerações ou escoriações da
axial de uma tomografia de crânio através das órbitas, conjuntiva, esclera e córnea, observando sua relação
260 APÊNDICE A n Trauma Ocular
com as lacerações das pálpebras. Para verificar se há sangue na parte inferior se a gravidade tiver deslocado
lesões sutis da conjuntiva e/ou da córnea, realizar o as células do sangue para baixo. Um hifema pode levar
teste de coloração com fluoresceína: a uma pressão intraocular drasticamente elevada e
pode indicar um trauma significativo para o globo. É
1. Anestesie o olho com gotas anestésicas tópicas. importante consultar um oftalmologista imediatamente
2. Usando uma tira de fluoresceína úmida, coloque se esse diagnóstico for feito.
algumas gotas de fluoresceína no olho. (O Cristalino: O cristalino é tipicamente claro em pessoas
doente pode precisar piscar para distribuir jovens ou aparece em vários tons de amarelo em doentes com
completamente o corante.) mais de 40 anos (por exemplo, indicando uma catarata). O
3. Utilize uma luz azul (lâmpada de Wood ou cristalino está envolto em uma cápsula transparente e firme.
oftalmoscópio) no olho. Se a cápsula é violada, o cristalino fica branco, muitas vezes
inchando com o tempo. Essa lesão pode induzir inflamação
4. O corante irá fluorescer no espectro verde e
intraocular significativa e pressão intraocular elevada, a
realçar a área do epitélio que foi lesada.
menos que haja uma lesão concomitante grande no globo.
As abrasões da córnea ou conjuntiva podem ser Se o exame indicar uma cápsula de cristalino violada, é
tratadas com pomada oftálmica simples. As lacerações provável que haja uma lesão aberta do globo ocular e o olho
da córnea ou da esclera são mais preocupantes porque, possa conter um corpo estranho.
quando têm espessura total, indicam lesões abertas
do globo ocular. Esta lesão requer consulta imediata Exame Posterior
com um oftalmologista para posterior avaliação. Por
último, se você notar que o doente está usando lentes de O exame ocular do segmento posterior pode ser difícil,
contato; remova as mesmas, uma vez que o uso de lentes especialmente se a pupila for pequena devido a sedativos
de contato por um longo período de tempo aumenta ou analgésicos. Normalmente você pode observar a
muito o risco de úlceras de córnea infectadas. O teste presença de um reflexo vermelho (ou seja, reflexo laranja
de coloração com fluoresceína também pode ser útil na avermelhado da luz da retina) no mínimo. Se a pupila for
identificação de úlceras de córnea infectadas e lesões maior, você pode usar um oftalmoscópio para visualizar
abertas do globo ocular. o nervo óptico e/ou a retina posterior, o que ainda assim
Íris: A íris é um músculo esponjoso e distensível que não é um exame completo. Caso não possa avaliar a parte
geralmente é redondo e reativo à luz. Se a pupila for posterior do olho, não poderá excluir a possibilidade de
redonda e reativa à luz, mas ligeiramente maior que a pupila hemorragia vítrea, descolamento de retina ou outra
do olho não afetado, o doente provavelmente terá uma patologia. Ao contrário dos descolamentos de retina
ruptura do esfíncter pupilar. Este tipo de lesão geralmente espontâneos, os descolamentos de retina traumáticos ou
ocorre com trauma contuso no globo. No entanto, se a outras patologias posteriores geralmente não são tratados
pupila não for redonda, exames complementares passam com cirurgia de emergência. No entanto, certifique-se
a ser necessários. Com ferimentos menores no globo, de notificar o oftalmologista quanto aos achados, pois
o mesmo pode manter sua forma, entretanto a pupila a hemorragia vítrea causada por trauma geralmente é
terá uma aparência irregular “pontiaguda”. Olhe para resultado de uma força significativa e com isto, o olho corre
a íris ocluindo o orifício no globo ou saindo da esclera o risco de apresentar lesões mais graves concomitantes.
ou córnea na direção em que a pupila está apontando:
este é o local onde a lesão de espessura total da córnea lesões oculares específicas
ou laceração escleral deve ser observada.
Câmara anterior: a câmara anterior deve ser
relativamente profunda; isto é, a íris deve ser plana Doentes politraumatizados apresentam alto risco para
com um ângulo de aproximadamente 45 graus entre o muitas lesões oculares. Esta seção descreve alguns dos
plano da íris e a curva da córnea, e estar cheia de humor ferimentos mais sensíveis ao tempo e de maior risco para
vítreo claro. Quando a íris está perto da córnea, ou a perda de visão que os membros da equipe de trauma
câmara anterior é “superficial”, o humor vítreo pode estar podem encontrar.
vazando devido a uma lesão aberta do globo ocular. Olhe
atentamente para a presença de liquido de aspecto turvo, FRATURAS DE ÓRBITA E HEMORRAGIAS
o que pode indicar a presença de glóbulos vermelhos. RETROBULBARES
O sangue na câmara anterior, conhecido como hifema,
apresenta duas formas: (1) disperso, com glóbulos As fraturas da órbita podem causar sangramento no
vermelhos flutuando no humor vítreo, tornando a visão cone muscular ou ao redor dele. Estes compartimentos
do doente e sua visão do olho vaga; (2) em camadas, são limitados pela inserção dos tendões da pálpebra
com sangue no topo da íris; ou em camadas, com o aos anexos ósseos dos cantis medial e lateral. Se o
APÊNDICE A n Trauma Ocular 261
sangramento for significativo o suficiente, pode de irrigação e colocá-la sobre a ponte do nariz, para que
desenvolver uma síndrome compartimental que seja drenada nos dois olhos. Não deixe de chamar o
obstrua o suprimento de sangue para o nervo óptico especialista oftalmológico para notificá-lo da situação.
e globo. Os sinais de hemorragia retrobulbar com Ao lavar o olho do doente, obtenha detalhes sobre o
síndrome compartimental incluem redução da acuidade produto químico. Por exemplo, se o produto é ácido ou
visual, pressão ocular elevada, proptose assimétrica base, é líquido, pó ou outro material sólido? Soluções
(bulbo ocular), resistência à retropulsão e pálpebras alcalinas são geralmente mais prejudiciais ao olho e
tensas contra o globo (“olho duro como pedra”). muitas vezes exigem mais irrigação para normalizar o
A tomografia computadorizada pode revelar pH (~ 7,0). Os pós têm pequenos grânulos que podem
hemorragia retrobulbar, mas somente o exame clínico facilmente ficar presos nos fórnices superiores e
determinará se esse sangramento está causando uma inferiores do olho. Esta situação, por vezes, requer
síndrome compartimental e requer tratamento. A perda a inversão das pálpebras e lavagem direta com soro
da visão pode ocorrer após cerca de uma hora e meia de fisiológico utilizando-se uma seringa de 10 cc para
suprimento de sangue prejudicado, com isto o tratamento desalojar os grânulos.
imediato é imperativo. Caso suspeite da presença uma Após cada litro de solução, ou a cada 30 minutos,
hemorragia retrobulbar causando uma síndrome pare a irrigação, espere 5 a 10 minutos e verifique o pH
compartimental, entre em contato imediatamente das lágrimas. Enquanto aguarda, considera-se ideal
com um profissional que tenha a capacidade de começar o exame oftalmológico. Quando o pH é neutro
realizar cantotomia e cantólise. A cantotomia isolada (~ 7.0), você pode parar de irrigar o olho. Se o pH não for
(isto é, seccionando somente a derme) não melhora a neutro, continue este ciclo de irrigação, libere o fórnice
síndrome do compartimento retrobulbar. É a cantólise e verifique o pH até que as lágrimas fiquem neutras.
que aumenta o tamanho do compartimento orbital, o Este processo pode exigir várias horas e litros de solução
que equivale a realizar uma fasciotomia. salina, portanto, paciência e perseverança são cruciais.
Não retardar o tratamento com cantotomia e cantólise, Se tiver dúvidas sobre se todo o produto químico foi
obtendo uma tomografia computadorizada para removido dos olhos, continue a lavar até o oftalmologista
comprovação adicional de hemorragia. chegar para examinar o doente. Com base no exame
Fraturas orbitais também podem resultar no oftalmológico, o tratamento provavelmente incluirá
encarceramento dos músculos extraoculares no local pomadas antibióticas, analgésicos orais e colírios para
da fratura óssea. O reparo dentro de 48 horas após o inflamação e pressão ocular elevada.
trauma é recomendado para evitar isquemia muscular
e danos permanentes; assim, solicite o parecer de um ruptura do globo ocular
especialista para avaliar essa condição. Fraturas maiores
com significativo deslocamento ósseo têm menor As rupturas do globo ocular incluem as lesões que têm
probabilidade de causar dano muscular e isquemia. penetração de espessura total através da esclera ou
Fraturas maiores geralmente ocorrem em adultos; córnea. O tamanho e a extensão das lesões penetrantes
encarceramento e fraturas menores são mais comuns variam consideravelmente. Algumas lesões são tão
em crianças, cujos ossos são menos frágeis. pequenas que um microscópio é necessário para o
diagnóstico; outros envolvem corpos estranhos visíveis
queimaduras químicas ainda alojados no olho. Sinais de um globo aberto incluem
uma pupila pontiaguda, câmara anterior rasa, laceração
Queimaduras químicas são verdadeiras emergências da córnea ou esclera, tecido pigmentado anormal que
oftalmológicas e devem ser tratadas assim que o doente empurra através da esclera ou córnea, e a presença de
chegar. O tratamento inicial envolve irrigação abundante numerosos glóbulos vermelhos ou brancos flutuantes
do olho afetado e requer poucos equipamentos. (vistos no exame de lâmpada de fenda) no humor vítreo.
Idealmente, um litro de soro fisiológico ou Ringer lactato Um teste de Seidel pode localizar pequenos
normal (use água da torneira somente quando soluções vazamentos de humor vítreo da câmara anterior. Para
estéreis não estão disponíveis) é conectado a uma lente realizar um teste de Seidel, anestesie o olho, molhe a
Morgan. Coloque a lente no olho e incline a cabeça do tira de fluoresceína e limpe a tira sobre a área suspeita
doente para que o fluido escorra na direção da têmpora enquanto o doente não pisca. A fluoresceína não diluída
(e não no outro olho). Se uma lente Morgan não estiver aparece laranja escuro na luz normal; mas se houver
disponível, corte um pedaço de tubo IV para maximizar o vazamento, ele ficará laranja ou verde claro quando
fluxo. Quando possível, o doente pode segurar a ponta do visto sob luz azul.
tubo no aspecto nasal do olho para que o liquido irrigado Embora muitos escores para avaliação do trauma
escorra do local. Quando ambos os olhos precisam de ocular tenham sido desenvolvidos para determinar
irrigação, você pode conectar uma cânula nasal ao fluido o grau e o prognóstico da lesão do globo ocular, o
262 APÊNDICE A n Trauma Ocular
tratamento inicial de todos os casos de ruptura é o 6. Solicite uma tomografia computadorizada (somente
mesmo. Uma vez identificada a condição, consulte se o doente for ser tratado em sua instituição)
imediatamente um especialista e descreva a situação. com cortes finos através das órbitas para avaliar
Preparar o doente para cirurgia ou transferência, porque a presença de corpo estranho ou outras lesões
as rupturas do globo ocular são emergências cirúrgicas oculares. Cada hospital tem um protocolo orbital
que requerem intervenção imediata em doentes ligeiramente diferente para isso, mas geralmente
hemodinamicamente estáveis. Enquanto aguarda a os cortes são de 1 mm ou menos. Para tanto não é
transferência do doente ou consulta especializada, as necessário o uso de contraste endovenoso.
seguintes medidas devem ser adotadas: Quando você suspeitar que há uma ruptura do globo
ocular, chame o oftalmologista para exame imediato
1. Cubra o olho afetado com um protetor rígido. Se a fim de obter um diagnóstico definitivo. Essas lesões
um corpo estranho estiver saindo do olho, corte devem ser tratadas imediatamente após o diagnóstico.
uma espuma ou um copo de papel para acomodar
o corpo estranho. Nunca coloque um curativo
sob pressão, gaze ou outro material macio sob
r e sumo
a proteção rígida, pois a pressão pode forçar o
conteúdo para fora do olho Além disso, gazes ou 1. Um exame ocular completo no exame secundário
curativos para olho podem aderir à íris ou outros pode identificar lesões oculares sutis que
conteúdos oculares expostos, que podem então podem ameaçar a perda de visão se não forem
ser retirados do olho ao remover tais curativos. tratadas imediatamente. Nesses casos, consulte
2. Utilize antibióticos IV. As fluoroquinolonas são imediatamente um oftalmologista.
a única classe de antibióticos que penetram no
vítreo em concentrações terapêuticas quando 2. Outras preocupações relacionadas ao olho podem
administradas por via intravenosa ou oral. A frequentemente esperar até que o oftalmologista
gatifloxacina e a levofloxacina são preferidas do hospital esteja disponível durante o dia para
em relação às fluoroquinolonas mais antigas, mais exames e avaliação.
devido às concentrações vítreas mais altas da
dosagem oral. As formulações IV são preferidas 3. Quando tiver dúvidas, consulte imediatamente o
para doentes com restrições a ingesta por via oral oftalmologista, este irá então determinar o melhor
que aguardam cirurgia. Se as fluoroquinolonas momento para o exame oftalmológico.
estiverem indisponíveis, administre antibióticos
de amplo espectro IV que cubram agentes
bacterianos Gram negativos e Gram positivos e bibliografia
certifique-se quanto à imunização para tétano.
3. Explique ao doente a importância de minimizar o 1. Bagheri N, Wajda B, Calvo C, et al. The Wills Eye
movimento dos olhos, se possível. O movimento Manual. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott
muscular extraocular pode causar mais extrusão Williams & Wilkins, 2016.
do conteúdo intraocular. Os movimentos oculares 2. Hariprasad SM, Mieler WF, Holz ER. Vitreous
são integrados no cérebro, então mover o olho and aqueous penetration of orally administered
bom faz com que o olho ferido também se mova. gatifloxacin in humans. Arch Ophthalmol
4. Trate dor, náusea e tosse. As manobras de 2003;121(3):345–350.
Valsalva podem aumentar a pressão na 3. Hayreh SS, Jonas JB. Optic disk and retinal nerve
parte posterior do olho (através do sistema fiber layer damage after transient central retinal
venoso), portanto reduza sempre que possível artery occlusion: an experimental study in rhesus
a intensidade destes fenômenos para ajudar a monkeys. Am J Ophthalmol 2000;129(6),786–795.
manter o conteúdo intraocular dentro do olho. 4. Herbert EN, Pearce IA, McGalliard J, et al.
Se o doente estiver intubado ou tiver uma via Vitreous penetration of levofloxacin in the
aérea estabelecida, certifique-se de que o mesmo uninflamed phakic human eye. Br J Ophthalmol
não está recebendo pressão positiva excessiva ou 2002;86:387–389.
apresentando tosse. 5. Yung CW, Moorthy RS, Lindley D, et al. Efficacy
of lateral canthotomy and cantholysis in orbital
5. Minimize a manipulação do olho. Não realize hemorrhage. Ophthal Plast. Reconstr Surg
nenhum exame além da acuidade visual e
1994;10(2),137–141.
observação. Esta é a avaliação necessária antes
da chegada do oftalmologista.
Apêndice B
H IPOTERMIA E LESÕES PELO CALOR
OBJETIVOS
1. Identificar os problemas encontrados nas lesões 4. Definir os dois níveis de lesão pelo calor.
por exposição ao ambiente.
5. Descrever o tratamento adequado para hipotermia e
2. Explicar os mecanismos e riscos causados pela lesões pelo calor.
hipotermia e lesões pelo calor aos doentes
traumatizados.
3. Definir os três níveis de hipotermia.
O
corpo se esforça para manter a temperatura hipotermia grave, e a temperatura medida pode variar
constante entre 36,4°C e 37,5°C. Exposição a de acordo com o sítio corporal, perfusão e temperatura
temperaturas extremas podem anular essa ambiente.
termorregulação, aumentando ou diminuindo a Hipotermia aguda ocorre rapidamente com exposição
temperatura corporal central. Alterações significativas súbita ao frio, como na imersão em água fria ou em
na temperatura corporal resultam em efeitos sistêmicos avalanches. A rápida exposição a temperaturas
com risco de vida. A exposição ambiental pode ser a baixas bloqueia a capacidade do organismo manter
única lesão, ou pode complicar lesões traumáticas. a normotermia, mesmo quando a produção de calor é
máxima. A hipotermia leva cerca de 30 minutos para
ser estabelecida.
hipotermia Hipotermia subaguda ocorre em conjunto com o
esgotamento das reservas de energia do corpo. Ela
Hipotermia é definida como temperatura corporal é acompanhada de hipovolemia, e seu tratamento
central abaixo de 35°C (95°F). Na ausência de lesão requer administração de fluidos e reaquecimento do
traumática concomitante, a hipotermia pode ser paciente. Hipotermia subcrônica ocorre quando há
classificada em leve (35°C a 32°C), moderada (32° exposição prolongada ao frio leve e a termorregulação
a 30°C) ou grave (abaixo de 30°C). Hipotermia na é inadequada para contê-lo. Um exemplo clássico é o
presença de lesão traumática deve ser preocupante. de um paciente idoso com queda e fratura de quadril,
Ela ocorre em 10% dos pacientes traumatizados imóvel no chão em temperatura ambiente baixa.
e até 1/3 dos pacientes com lesões críticas (Índice Ambientes frios e úmidos oferecem maior risco de
de severidade do trauma - ISS > ou igual a 16 ). A produzir hipotermia. Desastres e guerras são cenários
associação entre hipotermia e lesão traumática comuns para hipotermia. mas ela também pode
pode levar ao aumento da mortalidade e disfunção acontecer em ambientes urbanos entre os sem-teto,
orgânica. Portanto, na presença de lesões traumáticas, em associação com o uso de álcool e drogas, e mesmo
diferentes limiares de classificação são recomendados: quando indivíduos jovens e saudáveis participam de
leve é 36°C, moderada <36°C a 32°C, e grave abaixo atividades ou trabalho ao ar livre.
de 32°C. A hipotermia também pode ser classificada Idosos são particularmente suscetíveis à hipotermia
clinicamente, usando o sistema suíço de estadiamento devido à sua capacidade prejudicada de aumentar a
(n TABELA B-1). Este sistema é preferível sobre o método produção de calor, e maior tendência a perder calor
tradicional quando a temperatura corporal central devido a vasoconstrição. Nos EUA metade das mortes
não pode ser aferida. São necessários termômetros por hipotermia ocorrem em adultos com mais de 65 anos.
calibrados para baixas temperaturas para detectar Crianças também são mais propensas por possuírem uma
265
266 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor
SINTOMAS TEMPERATURA
a
ESTADIO CLÍNICOS CENTRAL TÍPICA TRATAMENTO
1 Tremores conscientes 35°C a 32°C Roupas e ambiente aquecido, bebidas doces e quentes, e
movimentos ativos (se possível)
3 Inconscientes e sem < 28°C a 24°C Tratamento como no estadio 2, manejo de vias aéreas,
tremores, sinais vitais ECMO ou CPB em casos de instabilidade cardíaca
presentes refratária ao tratamento medicamentoso
4 Ausência de sinais vitais < 24°C Tratamento como no estadio 3, RCP e até 3 doses de
epinefrina (1 mg) e desfibrilação, com doses adicionais
baseadas na resposta clínica; reaquecimento com ECMO ou
CPB (se disponível) ou RCP com reaquecimento externo ativo
ou interno altermativo
Adaptado com permissão de: Brown DJA, Brugger H, Boyd J, Paal P. Accidental hypothermia. New England Journal of Medicine 2012; 367: 1930-8.
maior superfície corpórea e fontes de energia limitadas. perda de habilidades motoras finas. Na hipotermia
Ambas as populações estão mais suscetíveis devido a grave os pacientes têm as pupilas fixas e dilatadas,
capacidade limitada de se remover do ambiente frio bradicardia, hipotensão, edema pulmonar, apneia ou
devido a limitações de resistência e mobilidade. parada cardíaca.
O risco de hipotermia é uma preocupação especial Frequência cardíaca e pressão arterial são variáveis,
no paciente traumatizado porque ele é exposto para e a ausência de atividade respiratória ou cardíaca não
exames, recebem fluidos em temperatura ambiente, é incomum em pacientes que se recuperam. Como a
e recebem medicamentos que interferem na sua hipotermia pode deprimir gravemente as frequências
capacidade de manter a temperatura corpórea, tal como respiratória e cardíaca, os pacientes devem ser
os bloqueadores neuromusculares. cuidadosamente monitorados.
Hipotermia está presente em até 1/3 dos pacientes
com trauma grave. Profissionais de saúde podem limitar efeitos fisiológicos
ainda mais a perda de temperatura administrando
fluidos e sangue aquecidos, e mantendo o ambiente O débito cardíaco cai proporcionalmente ao grau da
aquecido. Determinar a temperatura central é essencial hipotermia, e arritmias cardíacas iniciam próximos
para o diagnóstico, e termômetros especiais capazes aos 33°C. Os achados de ECG são inespecíficos e podem
de registrar temperaturas baixas são necessários em incluir as ondas J de Osborn. Estas aparecem como
pacientes com suspeita de hipotermia severa ou grave uma deflexão para cima após o complexo QRS. A
fibrilação ventricular começa a ficar muito comum em
Sinais temperaturas abaixo de 28°C, e pode ocorrer assistolia
com temperatura abaixo de 25°C. Os medicamentos
Tremor está presente em pacientes levemente cardiológicos e a desfibrilação não são normalmente
hipotérmicos. A pele é fria ao toque devido a efetivos na presença de acidose, hipóxia e hipotermia.
vasoconstrição. Hipotermia moderada resulta em Em geral, esses métodos de tratamento devem ser
confusão mental, amnésia, apatia, fala arrastada e postergados até que o doente esteja aquecido até pelo
APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor 267
de aquecimento para pacientes com trauma após a Adaptado com permissão de Spence R. Cold Injury. In Cameron
chegada ao hospital, baseado no grau de hipotermia. JL,editor. Current Surgical Therapy, 7th ed. St. Louis, MO: Mosby, 2001.
Cuidados devem ser tomados para identificar
a presença de um ritmo cardíaco organizado, se Tratar o paciente em um ambiente de cuidados
houver, provavelmente estes pacientes apresentam intensivos sempre que possível. Procure por lesões
circulação suficiente para o seu metabolismo reduzido, ocultas e condições associadas (diabetes, sepse e ingestão
e o início de compressões torácicas vigorosas podem de álcool ou drogas), tratando-as prontamente. Obter
converter esse ritmo em fibrilação. Se não existe ritmo amostra de sangue para hemograma, coagulograma,
organizado, RCP deve ser iniciada e mantida enquanto dosagem de fibrinogênio, eletrólitos, glicemia,
o paciente é reaquecido ou se houver outras indicações álcool, toxinas, testes de função hepática e culturas.
de descontinuá-la. Entretanto, o exato papel da RCP Trate qualquer anormalidade adequadamente; por
como um complemento ao reaquecimento permanece exemplo, hipoglicemia requer administração de glicose
controverso. endovenosa.
268 APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor
Avaliação Hospitalar
Cuidados iniciais
• Obter temperatura
• Identificar sinais de hipotermia
(tremores, vasoconstrição, alteração do nível de consciência)
• Remover roupas molhadas, aquecimento do ambiente
• Fluidos EV e cobertores aquecidos
• Aferir temperatura a cada 15 minutos
Observação
* Parar o aquecimento
* Controle da
temperatura
+ +
a temperatura aquecidos • Fluidos EV aquecidos
• Considerar precocemente: • Almofadas aquecidas • Cobertor aquecido
o Lavagem de cavidade • Manta térmica • Manta térmica
o ECMO/bypass • Ventilação humidificada • Reavaliar a cada 15 minutos
o RAVC/RVVC • Roupa com circulação de
o Transferir paciente, se não água
houver recursos disponíveis • Reavaliar a cada 5 minutos
n FIGURA B-1 Estratégias de aquecimento no trauma. Um algoritmo para terapia precoce em pacientes com hipotermia no trauma.
Adaptado com a permissão de Perlman R, Callum J, Laflammel C, Tien H, Nascimento B, Beckett A, & Alam A. (2016). A recommended early
goal-directed management guideline for the prevention of hypothermia-related transfusion, morbidity, and mortality in severely injured
trauma patients. Critical Care, 20:107
Determinar a morte pode ser difícil em pacientes apresente pulso central ou respiração, ou um potássio
comAdvanced
hipotermia grave.
Trauma Life Em pacientes
Support que parecem ter
for Doctors superior a 10 mmol/L. Outra exceção é o paciente
sofrido umaCourse
Student parada cardíaca
Manual, 10e ou morte como resultado hipotérmico que apresenta uma lesão fatal (ferimento
American College
da hipotermia, of Surgeons
não os declare mortos até que tenham transcerebral por tiro, exanguinação completa, etc.).
Figure# B.01
feito todos os esforços para reaquecê-los. Lembre-
Dragonfly
se do axioma: Media Group
"Você não está morto até que você
3/1/2017, 3/20/2017,
esteja quente
4/13/2017
e morto" Uma exceção a essa regra é um
paciente com hipotermia que tenha sofrido um evento
anóxico enquanto ainda está normotérmico e não
APÊNDICE B n Hipotermia e Lesões pelo Calor 269
tabela b-3 achados físicos em doentes com exaustão por calor e insolação
Sintomas Dor de cabeça, náuseas, Dor de cabeça, náuseas, vômitos, tontura, mal estar, mialgia,
vômitos, tontura, mal estar confusão mental, irritabilidade, desorientação, convulsão, coma
e mialgia
4. Dunne B, Christou E, Duff O, et al. 2. Yeo TP. Heat stroke: a comprehensive review.
Extracorporeal-assisted rewarming in the AACN Clin Issues 2004;15(2):280–293.
management of accidental deep hypothermic
cardiac arrest: a systematic review of the Insolação
literature. Heart, Lung and Circul 2014;23(11): 1. Casa DJ, Armstrong LE, Kenny GP, et al. Exertional
1029–1035. heat stroke: new concepts regarding cause and
5. Guly H. History of accidental hypothermia. care. Curr Sports Med Reports 2012;11:115–123.
Resuscitation 2011;82:122–125. 2. Hadad E, Rav-Acha M, Heled Y, et al. A review of
6. Hildebrand F, Giannoudis PV, van Griensven M, cooling methods. Sports Med 2004;34(8):501–511.
et al. Pathophysiologic changes and effects of 3. Lipman GS, Eifling KP, Ellis MA, et al. Wilderness
hypothermia on outcome in elective surgery and Medical Society practice guidelines for the
trauma patients. Am J Surg 2004;187(3):363–371. prevention and treatment of heat-related
7. Konstantinidis A, Inaba K, Dubose J, et al. The illness: 2014 update. Wilderness & Environ Med
impact of nontherapeutic hypothermia on 2013;24(4):351–361.
outcomes after severe traumatic brain injury. J 4. Raukar N, Lemieux R, Finn G, et al. Heat
Trauma 2011;71(6):1627–1631. illness—a practical primer. Rhode Island Med J
8. Larach MG. Accidental hypothermia. Lancet 2015;98(7):28–31.
1995;345(8948):493–498. 5. Sharyn Ireland, Ruth Endacott, Peter Cameron,
9. Mallett ML. Accidental hypothermia. QJM Mark Fitzgerald, Eldho Paul. The incidence and
2002;95(12):775–785. significance of accidental hypothermia in major
10. Perlman R, Callum J, Laflammel C, Tien trauma—A prospective observational study.
H, Nascimento B, Beckett A, & Alam A. A Resuscitation 2001;82(3):300–306.
recommended early goal-directed management 6. Søreide K. Clinical and translational effects of
guideline for the prevention of hypothermia- hypothermia in major trauma patients: From
related transfusion, morbidity, and mortality pathophysiology to prevention, prognosis and
in severely injured trauma patients. Critical Care potential preservation. Injury, Int. J. Care Injured
2016;20:107. 2014;45:647–654.
11. Petrone P, Asensio JA, Marini CP. Management of 7. Spence R. Cold Injury. In Cameron JL,editor.
accidental hypothermia and cold injury. Current Current Surgical Therapy, 7th St. Louis, MO:
Prob Surg 2014;51:417–431. Mosby, 2001.
OBJETIVOS
1. Descrever como os eventos com vítimas em massa 6. Rever os princípios de cuidados de vítimas em ambientes
geram um padrão de atendimento à população táticos (Tactical Combat Casualty Care – TCCC).
afetada.
7. Descrever o conceito de Suporte de Vida Avançado
2. Descrever as ferramentas para o tratamento de no Trauma em Ambiente Operacional (ATLS-OE) –
vítimas em massa. currículo complementar.
A
habilidade em prover um atendimento de atendimento do local. O gerenciamento efetivo de um
qualidade ao traumatizado em um ambiente com desastre não é usual; requer uma padronização de atitudes
recursos limitados, incluindo áreas de conflito, diferentes que reconhece a necessidade do atendimento
desastres ou outros ambientes austeros, pode variar das vítimas e garante a segurança dos profissionais de
muito. No pior dos cenários, o tratamento adequado pode saúde. “Adapte-se e resolva” é o slogan a ser considerado.
estar disponível apenas por meio do envio de recursos O ATLS teve sua origem no Nebraska, após a queda
externos para o local do conflito ou desastre. Os muitos de um avião em que as vítimas receberam atendimento
desafios associados ao bom funcionamento do manejo do inadequado em um ambiente hostil. Embora comumente
desastre ou conflito irá afetar todos os escalões ou níveis de visto como algo para ser utilizado em situações ideais, o
cuidados, desde o local da lesão até a transferência da vítima ATLS promove uma base estruturada para o tratamento
para um centro de trauma terciário (quando possível). de vítimas em massa, em ambientes hostis e com recursos
Todos os provedores de saúde nestes ambientes devem limitados. Informações adicionais e mais profundas podem
compreender essas limitações e como elas impactarão de ser encontradas no curso de Gerenciamento de Desastres e
forma significativa no cuidado às vítimas, bem como as Preparação para Emergências (Disaster Management and
estratégias disponíveis para reduzir essas barreiras. Um Emergency Preparedness – DMEP) do Colégio Americano
amplo conhecimento da situação é de extrema importância de Cirurgiões (ACS).
nesses cenários.
Os desastres ocorrem globalmente, em decorrência
de causas naturais, tecnológicas e conflitos humanos.
tratamento das vítimas em massa
Nenhuma comunidade está imune. Mesmo os hospitais
mais sofisticados podem se tornar um local hostil após Um evento com vítimas em massa existe quando o número
um desastre, devido a limitação de recursos disponíveis de vítimas excede os recursos para prestar os cuidados
e número de vítimas que superam a capacidade de individuais completos, tipicamente em uma situação
275
276 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados
ou que conseguem mover um membro espontaneamente tratar outras vítimas. O acesso venoso e a administração
geralmente não possuem lesões que ameacem a vida, de volume são considerações secundárias para o rápido
ao passo que aquelas que não se movem geralmente são tratamento do sangramento. Em vítimas conscientes,
portadoras de lesões graves ou estão mortas. Entre aqueles fluidos orais podem ser apropriados no tratamento da
doentes criticamente feridos, alguns irão sobreviver e hipovolemia. Nas situações de escalpelamento, pode-se
outros não. A triagem é um processo dinâmico e deve ser utilizar pontos com sutura contínua. As fraturas de ossos
repetido com maior foco e discriminação conforme as longos podem ser reduzidas e imobilizadas com materiais
vítimas se movem para longe da cena para outros locais improvisados para reduzir o sangramento e a dor.
de cuidados médicos. O tratamento típico de um doente vítima de trauma
Cada categoria de vítima deve ter uma área definida para passa rapidamente da avaliação primária com
concentração e tratamento. Vítimas classificadas como reanimação para avaliação secundária e tratamento
imediatas devem ter acesso rápido à sala de emergência. definitivo. No entanto, os provedores podem precisar
As vítimas urgentes podem inicialmente ser tratadas em adiar a avaliação secundária e os cuidados definitivos
ambulatórios. As vítimas não urgentes podem permanecer a favor de identificar e gerenciar tantas vítimas quanto
fora das principais áreas de tratamento em prédios possível com lesões potencialmente fatais. Assim
adjacentes. Os expectantes devem ter sua própria área e, sendo, a avaliação secundária e o tratamento definitivo
apesar de não ser esperado que sobrevivam, esses doentes podem ser postergados após a avaliação primária e
não devem ser identificados como mortos, pois uma vez reanimação. Além da ultrassonografia direcionada para
que se tenha recursos disponíveis e a situação esteja sob o trauma (FAST), há um pequeno papel dos exames
controle podem ser realizadas manobras e procedimentos na laborartoriais e de imagem na primeira fase de avaliação
tentativa de salvar suas vidas sem prejuízo a outros doentes. das vítimas em massa – uma simples técnica radiológica
e máquina de raio X podem realizar estudos radiográficos
prioridades de tratamento convencionais em cerca de seis doentes por hora.
horas ou mais da mobilização completa em eventos e reposição de fluidos e eletrólitos (ver Capítulo 9: Lesões
passados. Térmicas). As equipes de descontaminação e segurança
Voluntários em massa e autoadmissão podem são especialmente vulneráveis.
sobrecarregar o local com muitos provedores que não Os problemas psicossociais são dominantes na recuperação
possuem credenciamento ou funções indeterminadas. em longo prazo e podem estar mais acentuados em
Eles devem ser administrados por meio de um plano que ambientes hostis e de conflitos. Os profissionais de saúde
controla o acesso até que sejam aceitavelmente avaliados. estão sob risco de distúrbios psicossociais em decorrência
Juntar equipes de assistência médica antecipadamente de um desastre, tais como estresse, e estes podem ser
pode prevenir essa dificuldade. atenuados por meio de campanhas de conscientização,
Populações especiais e vulneráveis incluem crianças, idosos, boa comunicação e exames. Hábitos saudáveis e práticas
obesos, aqueles com doenças psiquiátricas e doentes em home organizacionais podem aumentar a capacidade de
care em diálise e ventiladores mecânicos. A declaração de adaptação antes que o desastre ocorra. Monitorar a equipe
desastre ou emergência por um oficial responsável suspende e a si mesmo por sinais de reações de estresse é importante;
muitas regulamentações de atenção à saúde. As instituições bom humor, pausas e tranquilidade podem elevar o moral.
devem se planejar para aceitar vítimas de trauma mesmo
que não sejam um centro de trauma. Similarmente, vítimas
de queimaduras e doentes pediátricos poderão ser tratados
DESAFIOS EM AMBIENTES
inicialmente em centros não especializados. A perda ou TÁTICOS, HOSTIS E COM
evacuação de instituições pode ocasionar uma demanda extra RESTRIÇÃO DE RECURSOS
em unidades de diálise, ventiladores mecânicos e farmácias.
Trenós de evacuação e macas devem estar disponíveis para Embora o ATLS tenha criado fundamentos críticos
auxiliar na remoção de doentes obesos. para o cuidado de doentes nos ambientes civil e militar
Lesões multidimensionais são lesões complexas, que moderno, a experiência durante conflitos extensos
não costumam ser vistas na prática diária e que podem no Iraque e Afeganistão também ditou modificações
ocorrer em um desastre. Tais lesões podem ser resultantes militares específicas nos princípios e práticas padrões
da alta energia provenientes de armas de fogo e explosivos. ATLS em decorrência dos múltiplos desafios e aspectos
Os ferimentos por projétil de arma de fogo de alta energia, particulares em prover cuidados ao doente traumatizado
como rifles, resultam de energia linear e cavitação (radial), nesses ambientes com restrições severas de recursos.
o que provoca desvitalização do tecido e destruição além do Fatores adicionais incluem realizar procedimentos em
trajeto. Explosões com alta energia, como aquelas causadas meio a conflitos armados, equipamentos básicos e recursos
pelo uso de explosivos comerciais ou militares e dispositivos especializados limitados, limitações de suprimentos e
improvisados, causam destruição multidimencional reabastecimento, ausência da ampla gama de modernos
em decorrência de quatro mecanismos: lesão primária equipamentos diagnósticos e terapêuticos (p. ex.,
devido à onda de pressão supersônica, lesão secundária tomografia, angiografia) e infraestrutura local para cuidados
causada pelos fragmentos, lesão terciária provocada significativamente danificada ou até mesmo inexistente.
pelo impacto de objetos presentes no ambiente ou lesões O ambiente tático ou hostil apresenta uma ampla variedade
penetrantes causadas por estes, e lesões quaternárias como de ameaças, lesões, recursos humanos e disponibilidade de
queimaduras, esmagamentos ou infecções. materias médicos que devem ser considerados durante o
Um padrão proeminente de lesões inclui múltiplas planejamento e execução de cuidados. Além disso, muitos
amputações traumáticas e lesão cerebral traumática. desses mesmos desafios podem ser aplicáveis aos cuidados
Explosivos de baixa energia, como bombas de pólvora em ambientes civis remotos, embora geralmente em menor
ou panelas de pressão, tendem a produzir lesão secundária grau. A n TABELA C-1 compara os fatores que impactam
devido a fragmentos em um raio menor; entretanto, nos cuidados ao doente traumatizado nos ambientes civis
indivíduos próximos a essas explosões podem apresentar urbano, rural e tático/desastres.
lesões extensas e amputação. O tratamento dos ferimentos
inclui o controle do sangramento e o desbridamento do Segurança e comunicação
tecido desvitalizado, além da avaliação do trajeto e pesquisa
de fragmentos de ossos nas partes moles. Podem ocorrer Uma situação tática em qualquer ambiente restrito é
áreas de tecido viável em meio ao tecido desvitalizado. altamente dinâmica, resultando em vários graus de ameaças.
A perda de infraestrutura e ambientes hostis podem levar Tanto as preocupações internas quanto externas a respeito
à desidratação, problemas na regulação da temperatura de segurança devem ser consideradas para proteção da
corporal e lesões por calor, incluindo cãimbras, exaustão equipe e dos doentes. As medidas podem precisar incluir a
e intermação tanto nas vítimas quanto nos profissionais presença de seguranças armados ou policiais, dependendo
de saúde. A prevenção dessas lesões incluem aclimatação da situação e do ambiente, bem como restrições de acesso ao
por 3-5 dias, ciclos de trabalho com períodos de descanso local, revistas e verificação de documentos de identificação
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 279
Disponibilidade de imediatamente disponível disponível, porém o tempo muito variável, pode não ter
transfêrencia de transporte é prolongado opção de transferência
da equipe, doentes e visitantes, e revista de veículos e pessoas velocidade, se comparadas a ferimentos encontrados em
em busca de armas. Dependendo do ambiente, considerações ambientes civis. Apesar do fato de dispositivos explosivos
chave de infraestrutura, como energia elétrica, iluminação e improvisados serem mais frequentemente encontrados
comunicação, também podem influenciar drasticamente na em cenários de guerra, seu uso está crescendo como arma
segurança do local. Embora essas necessidades de segurança de escolha em eventos de vítimas em massa intencionais
geralmente sejam mais evidentes em conflitos armados, nacionais e internacionais. Essas armas altamente letais
medidas devem ser tomadas para assegurar que os planos e incapacitantes produzem um complexo ferimento
operacionais de cada instituição atendam totalmente a multidimensional que pode incluir componentes de
outros cenários, como quando a instituição atinge sua lesões penetrantes, contusas, pressão de explosão primária,
capacidade máxima de atendimento ou foi incapacitada esmagamento e queimaduras. A morbidade depende da
devido a um desastre natural, tumulto ou evento de vítimas distância em que se encontrava o dispositivo, extensão da
em massa intencional. área de cobertura e qualquer dispositivo de proteção que
Da mesma forma, as comunicações interna e externa possa ter sido colocado. As equipes de trauma devem ser
confiáveis continuam a ser um desafio. A falta de treinadas a procurar por ferimentos internos, incluindo
interoperabilidade do sistema e dependência da infraestrutura lesões vasculares, uma vez que os doentes frequentemente
nativa, como linhas telefônicas fixas vulneráveis, redes de apresentam uma complexa combinação de ferimentos,
computadores e sistemas de telefonia móvel, são frequentes variando desde amputações traumáticas a pequenos
limitações da comunicação. Infelizmente, falhas e interrupções ferimentos penetrantes múltiplos com grandes variações
na comunicação continuam sendo problemas comuns em de profundidade e trajetos que são extremamente difíceis
ambientes rurais, táticos e desastres; entretanto, planos de de avaliar sem o auxílio de exames de imagem.
contingência devem ser estabelecidos previamente.
CUIDADOS AO DOENTE TRAUMATIZADO
ferimentos de guerra NO AMBIENTE MILITAR
Os profissionais de saúde em ambientes táticos devem CUIDADO DE FERIDOS EM COMBATE TÁTICO
considerar um padrão de ferimento ímpar associado
a ferimentos de guerra, incluindo o potencial para O precedente para a modificação dos cursos de
desvitalização e destruição tecidual significativa, treinamento de trauma civil para incorporar as
potencializado pelos efeitos balísticos de munições de alta necessidades específicas dos militares pode ser
280 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados
encontrado nos exemplares dos livros Suporte de Vida via aérea e respiração. Essa abordagem é baseada em
ao Trauma no Ambiente Pré-Hospitalar (Prehospital achados consistentes de que a maior causa de morte
Trauma Life Suport - PHTLS) e Cuidado de Feridos em potencialmente evitável nos campos de batalha
Combate Tático (Tatical Combat Casualty Care - TCCC). modernos (mais de 90%) são decorrentes de hemorragias
Incialmente desenvolvido como um treinamento para o não contidas. Outras intervenções enfatizadas nessa
Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos, o fase incluem estabelecer uma via aérea definitiva,
TCCC tem sido implementado nos campos de batalha e se necessário, descompressão de pneumotórax
é o padrão de cuidados pré-hospitalares em combates. hipertensivo, reanimação balanceada utilizando
Uma edição militar do livro Suporte de Vida ao Trauma hipotensão permissiva, controle da dor, administração
no Ambiente Pré-Hospitalar foi desenvolvida para dar de antibióticos, se indicado, e preparo para o transporte
suporte a este treinamento. para a próxima fase de cuidados.
A ampla implementação e treinamento de todo o pessoal
de combate como primeiros socorristas habilitados Cuidados Táticos de Retirada
tem resultado na diminuição de mortes preveníveis em
combate. Atualmente, o TCCC e o PHTLS representam um Os cuidados táticos de retirada são realizados uma vez
enorme sucesso do esforço colaborativo entre o Comitê do que a vítima tenha sido colocada em uma plataforma
Departamento de Defesa dos Estados Unidos no Cuidado médica de retirada (Medical Evacuation Plataform -
de Feridos em Combate Tático, o Comitê de Trauma do MEDEVAC). Isso inclui os cuidados prestados desde
Colégio Americano de Cirurgiões e a Associação Nacional o local da lesão e durante o transporte para o local de
de Técnicos de Emergências Médicas. cuidados médicos de maior nível indicado. Os cuidados
O TCCC divide os pontos de cuidados da lesão em três durante esta fase têm como foco a continuidade das
fases: (1) Cuidados sob fogo cruzado, (2) Cuidados Táticos intervenções realizadas previamente na fase de cuidados
em Campo e (3) Retirada Tática. táticos em campo, avaliação e tratamento de qualquer
lesão adicional que ameace a vida ou o membro e
Cuidados Sob Fogo Cruzado iniciar a reanimação com fluidos, controle da dor e
antibioticoterapia se esta ainda não tiver sido iniciada.
A fase de Cuidados Sob Fogo Cruzado envolve os Uma avaliação mais detalhada e melhores opções de
cuidados prestados por algum companheiro de intervenção são indicadas nessa fase de cuidados.
batalha ou pela unidade médica ou soldado na cena O pensamento nesta fase é minimizar intervenções
do incidente enquanto o primeiro socorrista e a vítima desnecessárias e não urgentes e focar no transporte
ainda estão sob fogo cruzado direto ou indireto. O foco rápido para um nível mais alto de cuidados.
primário desta fase de cuidados médicos em campo
é a superioridade tática e a supressão dos ataques. A ATLS NO AMBIENTE OPERACIONAL (ATLS-OE)
única intervenção médica nesta fase é o controle de
sangramentos ativos, geralmente por meio da aplicação Assim como o TCCC é para o PHTLS, o ATLS no Ambiente
de torniquetes e/ou curativos hemostáticos. Esses Operacional (ATLS-OE) é um curso de instrução que
itens podem ser autoaplicados ou realizados por um enfatiza a importância em manter a consciência da
companheiro de combate ou médico combatente. situação enquanto presta cuidados em um ambiente
potencialmente hostil, com restrição de recursos e
Cuidados Táticos em Campo recursos humanos limitados. A situação diferenciada
e fatores ambientais em cenários operacionais
Na segunda fase, os cuidados são realizados pelo médico frequentemente incluem recursos ou cadeia de
ou soldado uma vez que já não estejam mais sob fogo suprimentos severamente restritos, capacidade de
cruzado. Os cuidados táticos em campo podem ser comunicação variável, opções de transporte limitadas,
altamente variáveis dependendo da configuração da cena, situações climáticas extremas e mudanças dinâmicas
mas todos os esforços devem ser realizados para minimizar da segurança do ambiente. Além disso, o número de
o tempo entre a lesão e a chegada a uma instituição de vítimas, gravidade e tipos de lesão, e mecanismos de
cuidados médicos com capacidade cirúrgica. Além disso, trauma vistos em combates modernos ou até mesmo em
o reengajamento com o inimigo pode acontecer e essa desastres de larga escala podem ser consideravelmente
possibilidade deve ser sempre considerada. diferentes quando comparados com os padrões de
Nesta fase, os cuidados pré-hospitalares críticos e trauma civis.
a avaliação e tratamento do doente traumatizado O ambiente operacional ou de combate envolve desafios
devem ser conduzidos. Em contraste com a abordagem específicos que exigem que os provedores de saúde estejam
ABCDE enfatizada nos padrões ATLS, o TCCC enfatiza sempre atentos. Esses desafios raramente apresentam
o controle de hemorragias (o C) primeiro, seguido pela um problema no ambiente civil estável, apesar de alguns
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 281
desses conceitos serem também aplicáveis no ambiente preparação para uma retirada segura para o próximo
rural. Os provedores de saúde que prestam cuidados em nível de cuidados (avaliação quaternária). A n FIGURA
ambientes remotos precisam não apenas realizar cuidados C-1 demonstra os componentes do ATLS-OE.
de alta qualidade como também com equipe, suprimentos
e tecnologias para realização de exames restritos. O ATLS- Avaliação Zero
OE enfatiza o grande desafio, como descrito anteriormente,
e disponibiliza aos alunos informações que são essenciais O curso ATLS aborda brevemente o preparo para receber
para o sucesso no atendimento nesses ambientes. doentes vítimas de trauma conforme eles fluem do
O ATLS-OE incorpora esse assunto adicional de duas ambiente pré-hospitalar para o ambiente hospitalar.
maneiras; (1) mediante a adição/suplementação de A avaliação zero é implícita, mas não é caracterizada
informações militares relevantes nas principais aulas do especificamente ou formalizada como uma avaliação
ATLS ou estações práticas e (2) por meio da adição de aulas nomeada separadamente. O ATLS-OE formaliza essa
específicas de conteúdo militar ao programa. Por exemplo, preparação para receber as vítimas como um conceito
novos tópicos como consciência do ambiente, controle de crítico para o aluno. Embora esse preparo seja fundamental
danos e dinâmica de grupo têm sido adicionados. para qualquer doente gravemente ferido, é absolutamente
Enquanto os cursos ATLS padrão ensinam a avaliação crítico como um primeiro passo realizar uma triagem
primária e secundária, o ATLS-OE também reforça adequada no cenário com múltiplas vítimas. Esse processo
a importância da avaliação terciária. Uma vez que o enfatiza a importância de uma análise precisa dos recursos
doente tenha alcançado o tratamento definitivo, a locais, da equipe, da experiência e das condições ambientais
avaliação terciária é realizada para assegurar que todas e operacionais e qualquer desafio potencial ou previsto na
as lesões foram identificadas e nenhuma foi “esquecida”. preparação para a chegada de uma ou mais vítimas.
Uma base fundamental do ATLS-OE é a adição de dois A avaliação zero identifica problemas com a equipe
componentes que devem ser incorporados na avaliação e/ou sistemas que possam não ter sido identificados
do trauma; a avaliação zero e a avaliação quaternária. ou minimizados até o momento e que podem afetar
Os cuidados iniciais ao trauma em ambientes hostis significativamente as decisões durante a avaliação
requerem uma consideração cuidadosa das capacidades inicial. São fatores e problemas que o aluno pode não ter
internas e fatores externos (avaliação zero). Ademais, considerado, mas que podem ser tão ou mais importantes
os doentes costumam ser rapidamente transportados que as lesões do doente ou intervenções necessárias. A
para diversas instituições e requerem atenção na avaliação zero orienta como os doentes são triados e
n FIGURA C-1 O ATLS-OE incorpora o uso do torniquete na avaliação primária (X) e as novas avaliações zero e quaternária.
282 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados
priorizados, que tipos ou padrões de lesão excedem as A avaliação quaternária formaliza esse preparo
capacidades locais ou habilidades disponíveis, e quais para a transferência. Esse preparo deve ser repetido a
recursos estão se esgotando ou estão indisponíveis. cada transferência na cadeia de retirada. No ambiente
Esses fatores incluem o seguinte: operacional, o tempo de transporte pode variar de
alguns minutos até algumas horas. Essa incerteza deve
•• Quantos e quais são os tipos de profissionais de ser considerada não apenas no preparo para o transporte
saúde disponíveis? como também na prontidão deste. As capacidades de
•• Quais especialidades médicas e cirúrgicas estão cuidados durante o transporte também devem ser
disponíveis? consideradas em vista da probabilidade de variações
das instalações de transporte, profissionais disponíveis
•• Qual a quantidade e qual a tipagem de no percurso, equipamentos, suprimentos, medicações,
componentes sanguíneos disponíveis? ambiente e potencial para ameaças externas.
•• Existe escassez de algum suprimento? Quais? Avaliar a resposta do doente à reanimação é
fundamental. O potencial para alcançar os resultados
•• A reposição de suprimentos, inclusive de
de reanimação desejados versus os recursos disponíveis
componentes sanguíneos, está disponível?
para alcançar esses resultados são considerações
•• Existe a necessidade de realizar a transfusão de importantes. Embora seja desejável que o doente
sangue total? gravemente ferido esteja clinicamente estável, tenha
•• Quais os dispositivos para oxigenação tido uma avaliação completa com todas as lesões
disponíveis e qual a disponibilidade? identificadas e tenha sido reanimado de acordo com
os padrões para alcançar os objetivos finais, isso
•• A comunicação direta para a transferência do geralmente não é possível no ambiente operacional.
doente está disponível, caso seja necessário? Os suprimentos limitados de recursos críticos como
•• Qual a situação tática? A segurança do local é componentes sanguíneos e a capacidade limitada da
adequada? maioria das instalações de tratamento (como equipe
cirúrgica avançada) fazem com que tratamentos
A instabilidade e o caos inerentes a ambientes hostis prolongados e transfusões maciças sejam praticamente
reforçam a importância da prática da avaliação zero. impossíveis. Assim, frequentemente a escolha entre a
As decisões de triagem e prioridades da avaliação melhor das duas situações quase ideais deve ser feita
inicial podem mudar rapidamente conforme fatores e o doente deve ser encaminhado para transferência o
situacionais e capacidade de cuidados evoluem com o mais breve possível ou em uma fase de reanimação mais
tempo entre os eventos. Nesses ambientes em que os tênue que geralmente é realizada no ambiente civil.
recursos humanos físicos se tornam mais limitados, A seguir estão algumas considerações adicionais
as decisões de triagem ficam cada vez mais difíceis de sobre o preparo dos doentes para transporte no
serem tomadas. ambiente operacional:
Atualmente, o ATLS-OE é oferecido a todos os novos Dada a alta volatilidade dos eventos com atiradores,
oficiais militares, por intermédio do Instituto de o primeiro passo mais importante é a supressão de
Treinamento de Defesa Médica de Prontidão e da ameaças através das autoridades públicas. Entretanto, as
Universidade de Serviço Uniformizado, e em breve estará prioridades imediatas do controle rápido de hemorragia
disponível para todos os programas militares do ATLS. de extremidades realizado por socorristas treinados e o
transporte rápido daqueles com hemorragias internas
não compressíveis devem ser considerados.
AUMENTANDO A SOBREVIÊNCIA EM Eventos críticos em uma resposta integrada a um evento
INCIDENTES COM ATIRADORES ATIVOS com atirador são representados pela sigla THREAT:
E EVENTOS COM VÍTIMAS EM MASSA
PROVOCADOS INTENCIONALMENTE •• Threat suppression - supressão de ameaças
•• Hemorrhage control - controle de hemorragias
No período de 2000 a 2013, houve nos Estados Unidos •• Rapid Extrication - retirada rápida
160 eventos com atiradores ativos, com 1.043 vítimas
•• Assessment by medical providers - avaliação
e 486 mortes. Similarmente, durante o período de
por profissionais da saúde
1983 a 2002, houve mais de 36.000 incidentes com
explosivos com 6.000 vítimas e aproximadamente •• Transport to definitive care - transporte para o
700 mortes. O mais preocupante é que os eventos com tratamento definitivo
atiradores ativos têm aumentado nos últimos anos, e a
alta letalidade desses eventos não pode ser ignorada. Utilizando as lições aprendidas na experiência militar
com o TCCC, o controle de hemorragia externa precoce
o consenso de Hartford deve ser de responsabilidade da pessoa que estiver mais
próxima da vítima na cena e as autoridades públicas devem
Com esses eventos em mente, na sequência do trágico ser treinadas e equipadas para controlar hemorragias
tiroteio da escola de ensino fundamental Sandy Hook, com o uso de torniquetes e agentes hemostáticos. Da
em Connecticut, em 2012, e a explosão na Maratona de mesma forma, as equipes de emergências médicas e o
Boston, em 2013, o Comitê Conjunto de Desenvolvimento corpo de bombeiros devem alterar as táticas operacionais
de Políticas Nacionais para Aumentar a Sobrevivência a e desenvolver novos paradigmas de coordenação de
Atiradores Ativos e Eventos Intencionais com Vítimas gerenciamento de emergências para avançar em apoio
em Massa foi estabelecido pelo Colégio Americano de à rápida retirada de vítimas.
Cirurgiões em colaboração com os líderes de diversas
instituições federais, incluindo o Conselho de Segurança campanha pare o sangramento
Nacional, as agências policiais e federais dos Estados
Unidos, o corpo de bombeiros e as organizações médicas Em resposta a essas recomendações, a Casa Branca
de emergência e diversas organizações chaves de saúde. lançou a iniciativa “Pare o Sangramento” em outubro
Os esforços do comitê têm sido um apelo à nação para de 2015, com o objetivo de prover às pessoas que
aumentar a capacidade de sobrevivência a esses eventos testemunham situações de emergências as ferramentas
e para treinar socorristas e o público leigo no controle e o conhecimento para conter sangramentos que
da hemorragia. As recomendações do comitê se referem ameacem a vida. Em um mandado de saúde pública,
ao Consenso de Hartford, e atualmente consistem em semelhante ao ensino de reanimação cardiopulmonar
quatro relatórios: (RCP) e à manobra de Heimlich, o público leigo deve
ser treinado no controle imediato de hemorragias ou
•• Consenso de Hartford I: aumentar a “curativo amigo”. Os equipamentos apropriados para
sobrevivência a Eventos com Atiradores Ativos controle de sangramentos (luvas, torniquetes, curativos
(1 de junho de 2013) hemostáticos) devem estar prontamente disponíveis
•• Consenso de Hartford II: Atiradores Ativos e para toda a equipe de emergência em “kits de controle
Eventos Intencionais com Vítimas em Massa (1 de hemorragia” acessíveis ao público e tão identificáveis
de setembro de 2013) quanto os desfibriladores externos automáticos (DEA).
Por fim, o treinamento por si só não é suficiente, o
•• Consenso de Hartford III: Implementação do
público leigo deve ser encorajado a agir em situações
Controle de Hemorragias (1 de julho de 2015) de emergência (n FIGURA C-2).
284 APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados
PARE
O SANGRAMENTO
3 APLIQUE TORNIQUETE
LIGUE 192/193
n FIGURA C-2 Campanha Pare o Sangramento encoraja o público leigo a agir.
APÊNDICE C n Incidentes com Vítimas em Massa, Trauma em Ambientes Hostis e Conflitos Armados 285
7. Butler FK, Hagmann J, Butler EG. Tactical combat 15. Kotwal RS, Montgomery HR, Kotwal BM, et al.
casualty care in special operations. Milit Med Eliminating preventable death on the battlefield.
1996;161(Suppl):3–16. Arch Surgery 2011;146(12):1350–1358.
8. Disaster and Mass Casualty Subcommittee, 16. Kragh JF Jr, Walters TJ, Baer DG, et al. Practical
American College of Surgeons’ Committee on use of emergency tourniquets to stop bleeding
Trauma. Disaster Management and Emergency in major limb trauma. J Trauma 2008;64(Suppl
Preparedness Manual (DMEP®). Chicago, IL: 2):S38–S50.
American College of Surgeons; 2016. 17. Kragh JF Jr, Walters TJ, Baer DG, et al. Survival
9. Eastridge BJ, Mabry RL, Seguin P, et al. Prehospital with emergency tourniquet use to stop bleeding
death on the battlefield (2001–2011): implications in major limb trauma. Ann Surg 2009;249(1):1–7.
for the future of combat casualty care. J Trauma 18. Morrison JJ, Oh J, Dubose, JJ, et al. En route
2012;73(6 Suppl 5):S431–S437. care capability from point of injury impacts
10. Jacobs LM Jr. Joint Committee to Create a National mortality after severe wartime injury. Ann Surg
Policy to Enhance Survivability from Mass 2013;257(2):330–334.
Casualty Shooting Events: Hartford Consensus 19. National Association of Emergency Medical
II. JACS 2014;218(3):476–478. Technicians. TCCC-MP Guidelines and
11. Jacobs LM, Joint Committee to Create a National Curriculum. http://www.naemt.org/education/
Policy to Enhance Survivability from Intentional TCCC/guidelines_curriculum. Accessed
Mass Casualty and Active Shooter Events. September 17, 2015.
The Hartford Consensus III: implementation 20. SALT mass casualty triage: concept endorsed by
of bleeding control—if you see something, the American College of Emergency Physicians,
do something. Bull Am Coll Surg 2015;100(7): American College of Surgeons Committee on
20–26. Trauma, American Trauma Society, National
12. Jacobs LM, Wade DS, McSwain NE, et al. The Association of EMS Physicians, National Disaster
Hartford consensus: THREAT, a medical disaster Life Support Education Consortium, and State
preparedness concept. JACS 2013;217(5): and Territorial Injury Prevention Directors
947–953. Association. Disaster Med Public Health Prep 2008
13. Joint Trauma System. TCCC Guidelines and Dec;2(4):245–246.
Resources. http://www.usaisr.amedd.army. 21. Walters TJ, Wenke JC, Kauvar DS, et al.
mil/10_jts.html. Accessed September 17, 2015. Effectiveness of self-applied tourniquets
14. Kapur GB, Hutson HR, Davis MA, Rice PL. The in human volunteers. Prehosp Emerg Care
United States twenty-year experience with 2005;9(4):416–422.
bombing incidents: implications for terrorism
preparedness and medical response. J Trauma
2005; Dec;59(6):1436-44.
Apêndice D
CONDUTA EM DESASTRES E PRONTIDÃO PARA
EMERGÊNCIAS (AULA OPCIONAL)
OBJETIVOS
1. Definir os termos incidentes com múltiplas vítimas 5. Descrever o sistema de comando de incidentes (SCI)
(IMV) e eventos com vítimas em massa (EVM). correspondente que foi adotado na sua área de
prática específica.
2. Explicar as diferenças entre IMV e EVM.
6. Descrever o papel dos princípios do ATLS no
3. D
escrever a abordagem “todos os perigos” e sua gerenciamento de desastres.
importância no gerenciamento de desastres.
O
s desastres contemporâneos não seguem regras. A desastre está comprometida pela demanda excessiva de
gestão dos procedimentos médicos dos desastres recursos, capacitações e estruturas organizacionais.
de hoje, sejam naturais ou feitos pelo homem, Incidentes com múltiplas vítimas (IMV) são
é um dos desafios mais significativos enfrentados pelas situações nas quais recursos médicos (ou seja, ativos pré-
equipes de trauma hoje. O atendimento ao desastre hospitalares e hospitalares) são muito utilizados, mas não
não é o mesmo que o atendimento convencional ao sobrecarregados. Eventos com vítimas em massa (EVM)
trauma. O atendimento a desastres requer uma mudança resultam quando os números de vítimas são grandes o
fundamental nos cuidados prestados às vítimas para suficiente para interromper os serviços de saúde na
alcançar o objetivo de proporcionar o maior bem para o comunidade ou região afetada. A demanda pelos recursos
maior número de indivíduos; cuidados de gerenciamento sempre excedem o fornecimento de materiais em um
de crises têm precedência sobre os padrões tradicionais de evento com vítimas em massa. É importante determinar
atendimento. As demandas de atendimento a vítimas de o equilíbrio entre o que é necessário versus o que está
desastres mudaram ao longo da última década, no âmbito disponível em termos de recursos humanos e materiais.
do atendimento ao trauma, aos tipos de ameaças e ao Qualquer hospital deve determinar seus próprios limites,
campo de operações. O curso ATLS oferece uma abordagem reconhecendo que seu plano de desastre deve abordar IMV e
estrutural para os desafios da medicina de desastres. EVM. As prioridades do ATLS são as mesmas para IMV e EVM.
Embora desastres em geral ocorram sem aviso prévio, a Como na maioria das disciplinas, especialistas em
prontidão para emergências - o preparo e a antecipação gerenciamento de desastres desenvolveram uma
das contingências que se seguem como resultado dos nomenclatura única para seus campos e regiões em todo
desastres aumenta a capacidade do sistema de atendimento o mundo (n QUADRO D-1). Os princípios básicos são os
à saúde em responder aos desafios impostos. Tal prontidão mesmos, assim como os princípios do ATLS.
é responsabilidade institucional e pessoal de cada unidade
de saúde e de cada profissional. Adesão aos mais altos
padrões de qualidade da prática médica, consistentes
a nec e s sida de
com os recursos médicos disponíveis, serve como melhor
diretriz para o desenvolvimento de planos para desastres. A gestão de desastres (prontidão e resposta) constitui
Comumente a capacidade de responder a situações de as principais áreas de conhecimento que preparam as
289
290 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências
Cuidados Agudos O atendimento precoce de vítimas de Eventos de Vítimas em Massa (EVM) Evento que causa
desastres é fornecido no campo e/ou no hospital por um grande número de vítimas suficientemente grande para
equipes multidisciplinares de trauma. interromper os serviços de saúde da comunidade/região afetada.
Área de Operações A subdivisão geográfica estabelecida em Incidentes de Múltiplas Vítimas (IMV) Uma circunstância
torno de um local de desastre; apenas pessoal qualificado na qual os recursos de atendimento ao doente estão
para resposta a desastres tem permissão para entrar. sobrecarregados, mas não insuficientes.
Ponto de Coleta de Acidentes (PCC) Um local seguro Cuidados Minimamente Aceitáveis O nível mais baixo
dentro do perímetro externo da área de operações onde os apropriado de intervenções médicas e cirúrgicas que salvam
doentes são submetidos à triagem e, se possível, reanimação vidas (cuidados de gerenciamento de crises) fornecidas na
inicial. fase aguda do desastre.
QBRNE Acrônimo de agentes químicos, biológicos, Mitigação Atividades que os estabelecimentos e profissionais
radiológicos, nucleares e explosivos (incluindo incendiários). de saúde realizam na tentativa de diminuir a gravidade
Corredor de Descontaminação Uma instalação fixa e o impacto de um desastre potencial. Isso inclui o
ou implantável para descontaminação de doentes estabelecimento de locais alternativos para o atendimento
contaminados. O local de descontaminação é organizado em de vítimas em massa, locais de triagem fora do hospital e
três zonas: a zona quente, a zona morna e a zona fria. procedimentos antes de um desastre para a transferência de
Desastre Um incidente natural ou antrópico, seja ele doentes estáveis para outras instalações médicas permitindo
interno (originado dentro do hospital) ou externo (originado o atendimento de vítimas de desastres.
fora do hospital) no qual as necessidades dos doentes Equipamento de Proteção Individual (EPI) Roupas e
sobrecarregam os recursos necessários para cuidar deles. equipamentos especiais usados pelo pessoal de resposta a
Serviços Médicos de Emergência (SME) Profissionais de desastres para evitar a autocontaminação por HAZMATs.
saúde incluindo socorristas, enfermeiros e médicos, que Preparação Técnica Atividades que os estabelecimentos
prestam cuidados pré-hospitalares como parte de uma de saúde e provedores comprometem-se a desenvolver
resposta organizada a emergências médicas. capacidade e identificar recursos que podem ser usados
Centro de Operações de Emergência (COE) Sede da Central caso ocorra um desastre.
Comando (CC), um centro de coordenação para as múltiplas Recuperação Atividades projetadas para auxiliar as unidades
agências/organizações ou jurisdições envolvidas na resposta a de saúde e profissionais a retomarem as operações normais
desastres. O COE é estabelecido em um local seguro fora da após a solução de uma situação de desastre.
área de operações, geralmente em um local fixo, e composto Resposta Atividades que os estabelecimentos e
por representantes das principais organizações envolvidas na profissionais de saúde realizam na prestação de cuidados
resposta a desastres. de gerenciamento de crises aos doentes na fase aguda do
Produtos Perigosos (HAZMATs) Qualquer material (químico, desastre.
biológico, radioativo ou explosivo) que represente riscos Equipes de Busca e Resgate (SAR) Especialistas médicos e
potenciais à vida, saúde, bem-estar e segurança humana. não-médicos treinados para localizar, resgatar e realizar a
Análise de Vulnerabilidade de Risco (HVA) Uma análise estabilização médica inicial de vítimas de desastres presas
da probabilidade e gravidade dos riscos colocados à saúde e em espaços confinados.
segurança de uma comunidade por vários materiais perigosos Capacidade de Sobrecarga Os recursos extras (pessoal e
(Intercorrências industriais, desastres naturais e climáticos). equipamento) que podem ser implantados em um desastre
Sistema de Comando de Incidentes Hospitalares (SCIH) (por exemplo, ventiladores com equipe de cuidados
Uma modificação do SCI para hospitais. (Hospitais intensivos adequados para cuidar de doentes).
normalmente adotam suas próprias versões deste sistema.) Capacidade Estrutural Os recursos extras (equipamentos)
Comando de Incidente ou Comandante do Incidente (CI) A que realmente possam ser usados em desastre (por
autoridade final que estabelece objetivos e prioridades para exemplo, ventiladores extras sem equipe de cuidados
a resposta a desastres e mantém a responsabilidade geral intensivos adequados para cuidar de doentes).
pelo incidente. Central de Comando (CC) Uma estrutura de comando de
Posto de Comando de Incidente Sede para o comando incidente única que permite que todas as organizações que
do incidente no local do desastre, estabelecido em locais respondem ao desastre trabalhem sob uma única estrutura
seguros dentro da área de operações. de comando.
Sistema de Comando de Incidentes (SCI) Uma estrutura Armas de Destruição em Massa (ADMs) Materiais perigosos
organizacional que fornece orientação geral para o usados, ou destinados a serem usados, com o propósito
gerenciamento da resposta a desastres. explícito de prejudicar ou destruir a vida humana.
APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências 291
•• A descontaminação bruta consiste em remover Lesões por explosão envolvem, portanto, trauma
as roupas e jóias do doente e, se possível, irrigar contuso e penetrante. Por fim, o colapso estrutural
todo o corpo do doente com água. As vítimas pode resultar em lesões por esmagamento, detritos
podem ser enxaguadas com mangueiras de significativos que induzem problemas respiratórios
água e sprays. e nas vias respiratórias, e incêndio que pode resultar
em lesão térmica. O conhecimento das diretrizes do
•• A descontaminação total é mais demorada ATLS para o manejo de lesões traumáticas é essencial
e cara. Muitos hospitais usam tendas de para os profissionais que estão no tratamento de tais
descontaminação portáteis para este fim. lesões complexas.
Os sintomas da exposição do agente nervoso após vesicantes incluem eritema e vesículas, conjuntivite,
grande exposição a líquidos ou vapores incluem perda dor e desconforto respiratório superior.
de consciência, convulsões, apneia e paralisia flácida. Agentes antimotim, como cloroacetofenona (CN)
Asfixiantes são substâncias químicas que interferem e clorobenzalmalononitrila (CS), são gases lacrimais
com a capacidade do corpo de realizar o metabolismo ou lacrimatórios. Os sintomas da exposição incluem
aeróbico. Um exemplo é o cianeto de hidrogênio, um ardor nos olhos e na pele, desconforto respiratório e
veneno mortal que causa a morte em poucos minutos. broncoespasmo.
Os sintomas de uma grande exposição a um asfixiante Considerações especiais no cuidado de lesões
incluem perda de consciência, convulsões, apneia e químicas são delineadas nos n QUADROS D-3 E D-4.
parada cardíaca.
Agentes pulmonares são substâncias que causam lesões radioativas e doenças
edema, tal como fosgio e cloro.
Os agentes vesicantes são substâncias que causam Existem dois tipos principais de radiação ionizante:
eritema (vermelhidão) e vesículas (bolhas) na pele,
bem como lesões nos olhos, vias aéreas e outros órgãos. 1. Radiação eletromagnética (radiação externa: raios
Mostarda de enxofre e Lewisite são exemplos de gama e raios-x).—tecido, irradiando vítimas, mas
agentes vesicantes. Os sintomas de exposição a agentes não deixando radioatividade para trás.
Exposição a Agentes Nervosos (Sistema Muscarínico) Exposição aos Sintomas do Agente Nervoso (Sistema
Nicotínico)
SLUDGE* DUMBELS*
MTW(t)HF^
Salivação, Diarréia,
Lacrimejamento Urina, micção • Midríase
Urina, micção Miose • Taquicardia
Defecação Bradicardia, Broncorreia, Broncoespasmo • W fraqueza (muscular)
Gastroenterite Emese • (t)Hipertensão, hiperglicemia
Emese Lacrimejamento • Faciculações
Salivação, Secreções, Sudorese
^ Efeitos Nicotínicos
* Efeitos muscarínicos tratados com atropina
298 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências
2. Radiação de partículas (partículas alfa e beta) - Não Princípios da gestão de emergência de vítimas de
penetra facilmente nos tecidos. (A quantidade radiação incluem:
de radiação absorvida pelas células é medida em
Grays (Gy) ou novo padrão internacional de dose •• Aderir aos princípios convencionais da triagem
de radiação, o rad 1 Gy = 100 rad.) de traumas, porque os efeitos da radiação são
retardados.
A exposição à radiação pode consistir em
contaminação externa, corpo inteiro ou localizado •• Realize a descontaminação antes, durante ou
ou contaminação interna. Com contaminação após a estabilização inicial, dependendo da
externa, detritos radioativos são depositados no corpo gravidade da lesão.
e na roupa. Com contaminação interna, os detritos •• Reconheça que os detectores de radiação têm
radioativos são inalados, ingeridos ou absorvidos. limitações específicas e muitos detectores
Assuma a contaminação externa e interna ao responder
medem apenas radiação beta e gama.
a desastres envolvendo agentes radioativos.
•• A cirurgia de emergência e o fechamento
Gerenciamento de Emergência de Vítimas de de feridas cirúrgicas devem ser realizados
Radiação precocemente em vítimas de exposição à
radiação.
Os efeitos médicos da radiação incluem dano tecidual
focal e necrose, síndrome de radiação aguda (ARS, n •• Os reatores nucleares contêm uma mistura
QUADRO D-5), e efeitos a longo prazo que podem persistir específica de elementos radioativos.
semanas a décadas, como câncer de tireoide, leucemia Comprimidos de iodo são eficazes apenas
e catarata. contra os efeitos do iodo radioativo na tireoide.
Sub-triagem. • Use pessoal treinado em triagem 1. Ahmed H, Ahmed M, et al. Syrian revolution:
rápida para executar essa tarefa. a field hospital under attack. Am J Disaster Med
• Aplique os ABCDs dentro da 2013;8(4); 259–265.
estrutura de fazer maior bem para 2. American Academy of Pediatrics (Foltin GL,
o maior número de doentes. Schonfeld DJ, Shannon MW, eds.). Pediatric
Terrorism and Disaster Preparedness: A Resource
Capacidade • Lembre-se que capacidade não é a for Pediatricians. AHRQ Publication No. 06-
inadequada mesma coisa que competência. 0056-EF. Rockville, MD: Agency for Healthcare
para gerenciar • Faça provisões para a obtenção Research and Quality; 2006. http://www.ahrq.
o fluxo de do pessoal e equipamento org/research/pedprep/resource.htm. Accessed
doentes. necessários para alinhar February 26, 2008.
capacidade e competência. 3. Bartal C, Zeller L, Miskin I, et al. Crush syndrome:
saving more lives in disasters, lessons learned
from the early-response phase in Haiti. Arch
As lições aprendidas com os desastres anteriores são Intern Med 2011;171(7):694–696.
inestimáveis para nos ensinar como nos preparar 4. Born C, Briggs SM, Ciraulo DL, et al. Disasters and
melhor para elas. mass casualties: II. Explosive, biologic, chemical,
and nuclear agents. J Am Acad of Orthop Surg
2007;15:8:461–473.
r e sumo 5. Briggs, SM. Advanced Disaster Medical Response,
Manual for Providers. 2nd ed. Woodbury, CT: Cine-
Med; 2014.
Uma abordagem consistente de desastres por parte de 6. Committee on Trauma, American College of
todas as organizações, incluindo hospitais, com base Surgeons. Disaster Management and Emergency
na compreensão de suas características comuns e da Preparedness Course. Chicago, IL: American
resposta que elas exigem, está se tornando a prática College of Surgeons; 2009.
aceita em todo o mundo. O principal objetivo em um 7. Gutierrez de Ceballos JP, Turegano-Fuentes
evento é reduzir a mortalidade e a morbidade causadas F, Perez-Diaz D, et al. 11 March 2004: the
pelo desastre. O curso ATLS é um ativo importante para terrorist bomb explosions in Madrid, Spain—
atingir esses objetivos. an analysis of the logistics, injuries sustained
As diretrizes do ATLS para o gerenciamento de and clinical management of casualties treated
lesões traumáticas são aplicáveis a todas as situações at the closest hospital. Crit Care 2005;9:
de desastre. Todos os prestadores de serviços 104–111.
300 APÊNDICE D n Conduta em Desastres e Prontidão para Emergências
8. Holden, PJ. Perspective: the London attacks—a 15. Pediatric Task Force, Centers for Bioterrorism
chronicle. N Engl J Med 2005;353:541–550. Preparedness Planning, New York City Department
9. Kales SN, Christiani DC. Acute chemical of Health and Mental Hygiene (Arquilla B, Foltin
emergencies. N Engl J Med 2004;350(8):800–808. G, Uraneck K, eds.). Children in Disasters: Hospital
10. Kearns, R, Skarote, MB, Peterson, J, et al. Guidelines for Pediatric Preparedness. 3rd ed. New
Deployable, portable and temporary hospitals; York: New York City Department of Health and
one state’s experiences through the years, Am J Mental Hygiene; 2008. https://www1.nyc.gov/
Disaster Med 2014;9(3):195–207. assets/doh/downloads/pdf/bhpp/hepp-peds-
11. Latifi, R, Tilley, E. Telemedicine for disaster childrenindisasters-010709.pdf. Accessed
management: can it transform chaos into an January 4, 2017.
organized, structured care from the distance? 16. Sechriest, VF, Wing V, et al. Healthcare delivery
Am J Dis Medicine 2014;9(1):25–37. aboard US Navy hospital ships following
12. Lin G, Lavon H, Gelfond R, et al. Hard times call earthquake disasters: implications for future
for creative solutions: medical improvisations at disaster relief missions. Am J of Disaster Med
the Israel Defense Forces Field Hospital in Haiti. 2012;7(4):281–294.
Am J Disaster Med 2010 May–June;5(3):188–192. 17. Sever MS, Vanholder R, Lameire N. Management
13. Mettler FA, Voelz GL. Major radiation exposure— of crush-related injuries after disasters. N Engl J
what to expect and how to respond. N Engl J Med Med 2006;354(10):1052–1063.
2002;346(20):1554–1561. 18. Weiner DL, Manzi SF, Briggs SM, et al. Response
14. Musolino SV, Harper FT. Emergency response to challenges and lessons learned from hurricanes
guidance for the first 48 hours after the outdoor Katrina and Rita: a national perspective. Pediatrics
detonation of an explosive radiological dispersal 2011;128:S31.
device. Health Phys 2006;90(4):377–385.
Apêndice E
ATLS E EQUIPE DE TRAUMA
MANEJO DE RECURSOS
OBJETIVOS
1. Descrever a configuração da Equipe de Trauma 5. Descrever como uma equipe pode efetivamente
(TEAM). realizar o protocolo ATLS.
3. Discutir as qualidades de uma liderança eficaz. 7. Descrever áreas de conflito em potencial dentro
de uma equipe de trauma e os princípios gerais de
4. Listar os papéis e responsabilidades. gestão.
A
pesar dos avanços no atendimento ao trauma, as treinado no ATLS® pode funcionar com outras pessoas
principais ameaças à segurança do doente tem para oferecer um excelente atendimento de equipe com
sido atribuídas a falhas no trabalho em equipe e um objetivo comum. No mundo da saúde de hoje, muitas
quebra de comunicação. No dinâmico e único ambiente equipes têm pouca chance de preparar ou praticar juntos;
do departamento de emergência (DE), o tratamento no entanto, o conhecimento do TEAM pela equipe de
complexo do trauma requer um trabalho em equipe trauma oferece a todos os membros meios para otimizar
multiprofissional e um gerenciamento de recursos o desempenho.
excelentes. O sucesso requer não apenas competência Este apêndice também aborda como o modelo ATLS®
individual em Suporte Avançado de Vida no Trauma se ajusta confortavelmente ao TEAM, descreve as
(ATLS®), mas também uma equipe de trauma bem qualidades de um líder de equipe eficaz, sugere maneiras
coordenada. de integrar membros da equipe de trauma a novas equipes
Este apêndice descreve os princípios de gerenciamento e descreve a comunicação eficaz nesse cenário. Para
de recursos da equipe destinados a fazer o melhor uso os propósitos deste apêndice, “líder” em um contexto
do pessoal, recursos e informações disponíveis. O de ATLS é entendido como representando a pessoa
gerenciamento de recursos da equipe é um conjunto que gerencia, lidera ou assume o papel dominante na
de estratégias e planos para fazer o melhor uso dos ressuscitação de uma vítima de trauma multissistêmico.
recursos, informações, equipamentos e pessoas
disponíveis. Historicamente, o ATLS® concentrou-
se nas melhores práticas de avaliação e tratamento configuração da equipe de trauma
para um único médico que atende vítimas de traumas
multissistêmicos. Na verdade, as equipes geralmente As equipes de trauma são compostas idealmente por um
prestam assistência ao trauma; portanto, o trabalho em grupo de pessoas que trabalham exclusivamente com os
equipe é uma parte fundamental do protocolo do ATLS®. doentes de trauma. No entanto, na maioria das instituições
Para funcionar bem como parte de uma equipe, o isso não é possível, portanto, as equipes precisam ser
indivíduo deve estar familiarizado com todas as etapas flexíveis e adaptar-se aos recursos disponíveis.
individuais necessárias para alcançar o melhor resultado Uma equipe de trauma deve, no mínimo, ser composta
possível. Este apêndice demonstra como um médico por:
303
304 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos
• Apresentar a equipe e atribuir papéis. • Verificar os resultados das investigações realizadas com
rapidez e precisão.
• Identifique o secretário.
• Certifique-se de que os familiares estão cientes do que
• Explique como a equipe irá se comunicar e usar os
está acontecendo.
intervalos de tempo.
• Chame membros adicionais da equipe de especialistas
• Garantir que todos os membros da equipe cumpram as
quando necessário.
precauções universais.
• Planejamento dos cuidados definitivos e transferência,
• Certifique-se de que os assistentes estejam disponíveis
comunicar-se com o médico receptor, quando apropriado.
para ajudar os membros da equipe.
• Verifique se a documentação está completa para a
• Priorizar o atendimento do doente durante a avaliação
transferência.
primária.
• Discutir com a equipe.
• Solicitar intervenções diagnósticas e procedimentos
clínicos adequados, assegurar que eles sejam realizados
com rapidez e precisão.
• Apresente-se e garanta que todos os membros saibam • Enfatize que informações importantes sobre a avaliação
que você é o líder da equipe. primária devem ser comunicadas diretamente a você, líder
da equipe.
• Peça aos membros da equipe para se apresentarem a você
e aos outros membros quando eles chegarem. • Dê instruções claras sobre quaisquer procedimentos
necessários durante a avaliação primária e estabeleça a
• Estabeleça os níveis de habilidade dos membros da prioridade dessas medidas.
equipe, especialmente sua competência para executar
procedimentos práticos e atribuir funções de forma • Explique que “intervalos de tempo” ocorrem em
adequada. Estabeleça que os auxiliares de enfermagem aproximadamente 2, 5 e 10 minutos. Estes dão a
estejam familiarizados com o ambiente, particularmente oportunidade de rever a condição do doente e planejar
com a localização dos equipamentos. reanimação adicional.
• Atribuir o papel de secretário a um membro adequado da • Enfatize que os membros da equipe que precisam de
equipe e garantir que a documentação adequada seja feita. suporte, equipamento, medicamentos ou recursos
adicionais devem se comunicar diretamente com você, o
• Assegure-se de que os membros da equipe usem as líder da equipe.
precauções universais para se proteger adequadamente
de doenças infecciosas. • Cumprimente todos os membros adicionais que
chegam para ajudar a equipe, mesmo que sua ajuda
• Explique o procedimento da passagem de caso da equipe não seja imediatamente necessária. Atribuir funções e
pré-hospitalar. responsabilidades quando apropriado. Por exemplo,
um neurocirurgião pode não ser necessário durante a
• Garantir que os membros da equipe saibam como avaliação primária, mas pode ser necessário ao decidir se
comunicar achados positivos e negativos importantes um doente necessita de craniotomia e/ou monitoramento
durante a avaliação inicial, especialmente quando a da pressão intracraniana.
condição do doente se deteriorar.
Os processos de transferência podem variar de país O líder dá instruções claras sobre os procedimentos,
para país e entre instituições de saúde e municípios; garante que eles sejam executados com segurança
no entanto, existem duas opções principais: e de acordo com os princípios do ATLS®. Ele ou ela
toma decisões sobre as medidas auxiliares à avaliação
1. A equipe pré-hospitalar passa o caso para o primária, orienta a reavaliação quando apropriada e
líder da equipe, enquanto a equipe de trauma determina como responder a quaisquer complicações
transfere o doente para a sala de emergência e inesperadas, como falha na intubação ou acesso
continua a ressuscitação. O líder da equipe, em vascular, orientando os membros da equipe sobre o que
seguida, relaciona as informações importantes à fazer a seguir ou solicitando recursos adicionais. O líder
sua equipe durante a avaliação primária. da equipe também providencia os cuidados definitivos
2. A equipe pré-hospitalar passa o caso para toda apropriados, garante que a transferência seja realizada
a equipe na chegada à sala de emergência. Esse com segurança e rapidez, também faz o contato com
processo exige um breve período de silêncio o médico que realizará os cuidados definitivos. O
enquanto a equipe escuta as informações. acrônimo SBAR fornece um modelo padrão para
garantir a inclusão de todas as informações pertinentes
Qualquer opção é aceitável desde que a informação ao se comunicar com as instalações de referência ou
seja entregue de forma clara e concisa (n QUADRO E-3). de recebimento (ver Capítulo 13, Transferência para
Pode ser útil para a equipe pré-hospitalar registrar Tratamentos Definitivos).
os dados em um quadro branco ao qual a equipe e
seu líder podem se referir. Essas informações podem DISCUSSÃO COM a equipe
incluir um histórico AMPLA (ver Capítulo 1: Avaliação
e Atendimento Iniciais). A discussão com a equipe oferece uma oportunidade
para os membros da equipe refletirem sobre os cuidados
DIRECIONANDO A EQUIPE E RESPONDENDO prestados ao doente. Áreas de sucesso e áreas que
À INFORMAÇÃO requerem melhorias podem ser identificadas, o que pode
melhorar o desempenho futuro. Idealmente, a discussão
O líder da equipe é responsável por coordenar a equipe com a equipe ocorre imediatamente ou tão logo possível
e responder às informações durante o atendimento ao após o evento e inclui todos os membros da equipe. Siga
doente. Como ele ou ela deve manter a supervisão geral um protocolo reconhecido que inclua perguntas como:
em todos os momentos e responder rapidamente às
informações da equipe, o líder da equipe não se envolve •• O que foi bem?
na realização de procedimentos clínicos. •• O que poderíamos ter feito diferente?
•• O que aprendemos para a próxima vez?
•• Há algumas ações que precisamos fazer
quadro e-3 passagem do caso pela antes da próxima vez (por exemplo, receber
equipe pré-hospitalar treinamento especial, solicitar recursos ou
equipamentos adicionais)?
• Peça silêncio à equipe.
• Assegurar que uma pessoa fale de cada vez. FALANDO COM FAMÍLIA/AMIGOS DO
DOENTE
• Garantir que não seja necessário um procedimento
imediato (por exemplo, tratamento da via aérea O líder da equipe de trauma é responsável por
obstruída). comunicar-se com a família/amigos do doente sobre
as lesões e os cuidados imediatos do doente. Portanto, o
• Use ferramentas como MIST e AMPLA para garantir que
líder da equipe deve ser um indivíduo com experiência
informações completas sejam coletadas.
em conversar com doentes e parentes sobre situações
• Concentre-se nos ABCDEs e estabeleça quais intervenções
difíceis. Se necessário, os líderes de equipe podem
foram realizadas e como o doente respondeu. buscar treinamento adicional nessas habilidades.
Falar sobre os doentes gravemente traumatizados é
• Anote os intervalos de tempo críticos, como o tempo uma das áreas mais difíceis de comunicação entre
para extricação e transporte. médicos e famílias. O líder da equipe deve assegurar
que as linhas de comunicação com os parentes sejam
• Registre as informações de contato da família / amigos do mantidas em todos os momentos, enquanto continua
doente. a liderar a equipe e garantir o melhor atendimento
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 307
trauma podem ajudar a garantir que os recém-chegados vez, pode afetar a participação social nas equipes.
ao ATLS® sejam integrados da forma mais positiva Respostas emocionais e os significados que atribuímos
possível, não apenas para o cuidado ideal do doente, a experiências altamente estressantes podem
mas também para contribuir para o desenvolvimento desempenhar um papel na formação da identidade de
contínuo da prestação de cuidados através do trabalho um integrante e determinar como ele ou ela funciona no
em equipe do ATLS®. trabalho em equipe futura. Os efeitos adversos podem
resultar das experiências dos novatos em novas equipes,
o membro da equipe ATLS® por isso toda a equipe se beneficia de garantir que os
recém-chegados estejam bem integrados à equipe.
É importante que os membros da equipe do ATLS®
compreendam o que uma equipe ATLS® faz, o papel do Responsabilidades dos membros da equipe
líder da equipe, as funções dos membros da equipe, a
estrutura da equipe, a aplicação do ATLS® na equipe, Os membros individuais da equipe são responsáveis por
estratégias de comunicação eficazes e armadilhas estarem disponíveis para responder a uma solicitação de
comuns de trabalho em equipe. uma equipe de trauma. As principais responsabilidades
dos membros da equipe ATLS® incluem preparação,
As diretrizes gerais para os membros da equipe ATLS® recebimento do caso do doente, avaliação e tratamento
incluem: do doente e participação na avaliação pós-ação.
podem contribuir para uma comunicação deficiente. A •• Decidir o uso apropriado de reanimação
formação profissional conjunta e as reuniões regulares balanceada versus reanimação volêmica
facilitam a comunicação para equipes multiprofissionais. tradicional.
Além disso, diferentes profissões podem ter problemas •• Determinar objetivos e metas da reanimação.
na comunicação relacionados a variações em como as
informações são processadas, analiticamente versus •• Decidir se deve ativar o protocolo de transfusão
intuitivamente. Além disso, há uma maior valorização maciça.
da informação entre os membros do mesmo grupo •• Determinar quando parar de reanimar um
profissional e os estereótipos podem ocorrer entre doente traumatizado porque medidas adicionais
membros de diferentes profissões. Para reduzir tais de reanimação poderiam ser inúteis.
vieses, expectativas claras devem ser definidas para a
equipe de trauma. Todas essas situações são difíceis de abordar ao lidar
No contexto de uma equipe atendendo traumas com uma vítima de traumatismo grave e as maneiras
multissistêmicos: pelas quais elas são tratadas variam de acordo com os
padrões e recursos locais. É impossível fornecer uma
•• A comunicação entre um membro e um líder de solução única para cada um desses exemplos, mas as
equipe deve ser direta e bidirecional. diretrizes gerais para lidar com conflitos são úteis.
•• O membro da equipe deve passar as informações Lembre-se de que todos os membros da equipe devem
e o líder da equipe deve confirmar se ouviu e ter a oportunidade de dar sugestões sobre o atendimento
compreendeu as informações. do doente (durante os intervalos de tempo). No entanto,
o líder da equipe tem responsabilidade final pelo
•• Os intervalos de tempo de 2, 5 e 10 minutos podem gerenciamento do doente. Todas as ações que afetam
permitir a discussão ou revisão dos achados. o doente devem ser feitas no melhor interesse dele.
•• Toda a comunicação deve ocorrer em tom de voz Muitos conflitos e confrontos sobre o atendimento
normal. de doentes com traumas surgem porque os médicos
não têm certeza de suas próprias competências e
•• A comunicação não deve se tornar uma
não querem ou relutam em dizê-lo. Se os médicos
discussão extensiva sobre o doente. Decisões
não tiverem a experiência para atender um doente
complexas podem exigir discussão entre os
traumatizado e discordarem entre si, devem envolver
membros da equipe, mas devem sempre ser
imediatamente um médico mais experiente, que pode
conduzidas com calma e profissionalmente.
ajudar a resolver a situação e ter um resultado positivo
Faça essas discussões um pouco distante do
tanto para o doente quanto para a equipe. Os líderes de
doente, especialmente se ele ou ela estiver
equipe de trauma tendem a ser médicos mais experientes,
consciente.
mas, dependendo dos recursos, outros médicos podem
estar atuando como líderes de equipe de trauma. Nesta
situação, é vital ter um médico mais experiente disponível
resolvendo conflitos para apoio na tomada de decisões desafiadoras.
Discussões entre médicos podem se tornar mais
difíceis de resolver quando os médicos acreditam
A equipe de trauma deve funcionar como uma firmemente que suas condutas são as que deve ser
unidade coesiva que avalia e trata o doente para o seguidas. Nesses casos, pode ser útil envolver até
melhor resultado possível. Na maioria dos casos, todos mesmo o diretor médico do trauma. Eles podem ajudar
os membros da equipe atendem o doente da melhor nas decisões, particularmente onde os protocolos ou
maneira possível. Infelizmente, como em qualquer diretrizes hospitalares estão disponíveis.
campo de assistência médica, surgem controvérsias Dilemas éticos também podem causar conflitos entre
e conflitos. Exemplos de fontes de conflito incluem: os membros da equipe de trauma. Os exemplos podem
incluir a decisão de interromper a reanimação de um
•• Tomar uma decisão difícil sobre se um doente doente gravemente ferido ou de reanimar doentes
requer uma tomografia computadorizada com sangue ou hemoderivados quando as opiniões
urgente ou uma laparotomia imediata. religiosas do doente não permitem tal ação. Lembre-se
•• Determinar o melhor tratamento para o de que o aconselhamento especializado está disponível
sangramento de uma fratura pélvica: radiologia sobre esses assuntos. O líder da equipe de trauma ou um
intervencionista ou tamponamento pélvico representante designado pode buscar mais informações
pré-peritoneal. ou apoio que possa ajudar na melhor decisão para o
doente.
APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos 313
A grande maioria das equipes de trauma trabalha 7. Burke CS, Stagl KC, Klein C, et al. What type of
bem em conjunto e obtém resultados positivos para leadership behaviors are functional in teams? A
seus doentes. Quando surgem controvérsias, elas são meta-analysis. Leadership Q 2006;17:288–307.
tratadas profissional e calmamente, se possível, longe 8. Cant S, Killoran A. Team tactics: a study of nurse
do doente que está sendo reanimado. Muito pode ser collaboration in general practice. Health Ed J
aprendido nas discussões sobre os desafios de lidar 1993;52(4):203–208.
com vítimas de trauma. Quanto mais doentes a equipe 9. Chowdhury S. The role of affect- and cognition-
tratar, mais experientes os membros se tornam e mais based trust in complex knowledge sharing. J
claras essas situações serão abordadas. Os membros da Managerial Issues 2005;17(3):310–327.
equipe de trauma podem se preparar para o seu papel 10. Collins J. Good to Great. London, UK: Random
aprendendo os princípios do ATLS®, bem como os House; 2001.
fundamentos do desempenho dentro da equipe médica. 11. Dreachslin JL, Hunt PL, Sprainer E.
Conceptualizing diversity and leadership:
evidence from 10 cases. Educ Management Admin
r e sumo & Leadership 2006 April;34:151–165.
12. Fernandez R, Nozenilek JA, Hegerty CB, et al.
Onde os recursos permitem, o melhor atendimento Developing expert medical teams: towards an
de uma vítima de trauma é por uma equipe de trauma evidence based approach. Acad Emerg Med 2008
treinada com um líder de equipe competente e Nov;15:11:1025–1036.
qualificado. Os princípios do ATLS® são fundamentais 13. Field R, West MA. Teamwork in primary
para o funcionamento da equipe de trauma. Todos health care, 2: Perspectives from practices. J
os membros devem ser treinados no ATLS® e com Interprofessional Care 1995;9(2):123–130.
experiência na sala de reanimação. Os líderes de 14. Goleman D, Boyatzis R, McKee A. Primal
equipe de trauma exigem habilidades e competências Leadership: Unleashing the Power of Emotional
específicas, bem como uma experiência considerável Intelligence. Boston, MA: Harvard Business Press;
na prestação de cuidados de trauma, de acordo com 2013.
os padrões ATLS®. Os membros da equipe podem se 15. Helmich E, Bolhuis S, Laan R, et al. Entering
preparar para o tratamento do trauma e aprender com medical practice for the very first time: emotional
suas experiências em diferentes equipes de trauma. talk, meaning and identity development. Med
Educ 2012;46:1074–1087.
16. Komaki JL, Desselles ML, Bowman ED. Definitely
Bibliografia not a breeze: extending an operant model of
effective supervision to teams. J Appl Psychol
1989;74:522–529.
1. Alimo-Metcalfe B. A critical review of leadership 17. Kozlowski SW, Gully SM, Salas E, et al.
theory. In: Lewis R, Leonard S, Freedman A, eds. Team leadership and development: theory,
The Psychology of Organizational Development, principles and guidelines for training leaders
Leadership and Change. London, UK: Wiley and teams. In: Beyerlein MM, Johnson DA,
Blackwell; 2013. Beyerlein ST, eds. Advances in Interdisciplinary
2. Avery GC. Understanding Leadership. London, Studies of Work Teams: Team Leadership (Vol 3).
UK: Sage Publications; 2004. Greenwich, CT: Elsevier Science/JAI Press; 1996:
3. Avolio BJ, Sosik JJ, Jung DI, et al. Leadership 253–291.
models, methods, and applications. Handbook 18. Lim B-C, Ployhart RE. Transformational
of Psychology: Industrial and Organizational leadership: relations to the five-factor model
Psychology (Vol. 12). Hoboken, NJ: John Wiley and team performance in typical and maximum
& Sons; 2003:277–307. contexts. J Appl Psychol 2004 Aug;89(4):
4. Blakar RM. Communication: A Social Perspective 610–621.
on Clinical Issues. Oxford, UK: Oxford University 19. Micklan MS, Rodger SS. Effective health care
Press; 1985. teams: a model of six characteristics developed
5. Brewer N, Wilson C, Beck K. Supervisory behavior from shared perceptions J Interprofessional Care
and team performance among police patrol 2005;19(4):358–370.
sergeants. J Occup Organ Psych 1994:67; 69–78. 20. Newell S, David G, Chand D. An analysis of trust
6. Burford B. Group processes in medical education: among globally distributed work teams in an
learning from social identity theory. Med Educ organizational setting. Knowledge and Process
2012;46:143–152. Management 2007;14(3):158–168.
314 APÊNDICE E n ATLS e Equipe de Trauma Manejo de Recursos
21. Ostrom TM, Carpenter, SL, Sedikides C, et al. 28. Tonkin TH. Authentic Leadership: A Literature
Differential processing of in-group and out-group Review. Virginia Beach, VA: Regent University,
information. J Pers Soc Psychol 1993;64:21–34. School of Leadership Studies; 2010.
22. Politis J. The connection between trust 29. Walumbwa FO, Wang P, Wang H, et al.
and knowledge management; what are its Psychological processes linking authentic
implications for team performance? J Knowledge leadership to follower behaviors. Leadership
Management 2003;7(5):55–67. Quarterly 2010; 21:901–914.
23. Rath T, Conchie B. Strengths Based Leadership. 30. Weick K. The collapse of sense making in
New York, NY: Gallup Press; 2008. organizations: The Mann Gulch Disaster. Adm
24. Riggio RE, Chaleff I, Blumen-Lipman J. The Art Sci Quarterly 1993;38:628–652.
of Followership: How Great Followers Create Great 31. West MA, Field R. Teamwork in primary health
Leaders and Organizations. San Francisco, CA: care, 1: perspectives from organizational
Jossey-Bass; 2008. psychology. J Interprofessional Care 1995;9(2):
25. Salas E, Rosen MA, King H. Managing teams 117–122.
managing crises: principles of teamwork to 32. Wilder DA. Some determinants of the persuasive
improve patient safety in the emergency room and power of in-groups and out-groups: organization
beyond. Theor Issues Ergon Sci 2007;8:381–394. of information and attribution of independence.
26. Schein EH. Organizational Culture and Leadership. J Pers Soc Psychol 1990;59:1202–1213.
3rd ed. San Francisco, CA: Jossey-Bass; 2004. 33. Yukl G. Leadership in Organizations. 7th ed. Upper
27. Thylefors I, Persson O, Hellstrom D. Team types, Saddle River, NJ: Prentice Hall; 2009.
perceived efficiency and team climate in Swedish
cross-professional teamwork. J Interprofessional
Care 2005;19(2):102–114.
Apêndice F
C ENÁRIOS DE TRIAGEM
OBJETIVOS
E
ste é um exercício de auto-avaliação, para ser •• A triagem é contínua em cada nível.
completado antes de sua chegada ao curso. Por
favor, leia as informações contidas nas páginas
seguintes antes de ler os cenários e de responder Segurança vem primeiro
suas questões. Esta sessão de treinamento prático é
conduzida em uma discussão em grupo durante o curso, O socorrista pode correr mais risco para si próprio ao
onde sua participação é esperada. Ao completar esta precipitar-se para uma cena perigosa, aumentando o
sessão, seu instrutor revisará as respostas. número de vítimas da ocorrência. O objetivo no resgate
O objetivo desta sessão é aplicar os princípios de é extricar rapidamente o indivíduo da cena e não gerar
triagem em trauma em cenários com múltiplas vítimas. mais pessoas traumatizadas que certamente seria
contra-producente. A triagem só deve começar quando o
socorrista está seguro de que não será outro traumatizado.
Definiç ão de tr i ag em Deve estar ciente da possibilidade de um segundo acidente.
(Ex. colapso estrutural, fogo, soterramento, explosões, e
Triagem é o processo pelo qual se prioriza o tratamento colisões de veículos adicionais). Algumas cenas podem
de doentes durante eventos de vítimas em massa. necessitar da segurança de bombeiros, apoio de resgate, ou
forças de segurança antes da entrada do pessoal médico.
Pr incípios de tr i ag em FAÇA O MELHOR PARA O MAIOR NÚMERO DE
DOENTES USANDO OS RECURSOS DISPONÍVEIS
Os princípios de triagem são:
Fazer o melhor para a maioria dos doentes usando os
•• Reconhecer que o resgate seguro é a primeira recursos disponíveis é a principal regra de orientação na
prioridade. triagem. Eventos com múltiplas vítimas por definição
•• Fazer o melhor para a maioria dos doentes não excedem os recursos disponíveis. Todavia,
usando recursos disponíveis. eventos de vítimas em massa, excedem os recursos
•• Tomar decisões oportunas. médicos disponíveis e requerem triagem; o prestador
de cuidados, o local, o sistema e/ou a instituição é
•• Preparar a triagem para ocorrer em múltiplos níveis. incapaz de gerenciar o número de vítimas utilizando
•• Conhecer e entender os recursos disponíveis. métodos padronizados. Intervenções padronizadas de
•• Planejar e ensaiar as respostas com exercícios atendimento, evacuações e procedimentos não podem
práticos. ser completados (para cada lesão) em cada doente dentro
do intervalo de tempo usual. Os princípios de triagem
•• Determinar os tipos e categorias de triagem
com antecedência. são aplicados quando o número de vítimas excedem
317
318 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
as capacidades médicas que estão imediatamente local do incidente. Assim que os socorristas chegarem
disponíveis para prestar o atendimento usual e rotineiro. ao local eles falarão diretamente com o comandante da
cena. Para eventos de vítimas em massa um comandante
tomando uma decisão oportuna médico hospitalar do incidente é o responsável por dirigir
a resposta do hospital.
Tempo é essencial durante a triagem. O aspecto mais
difícil deste processo é tomar a decisão médica sem as Planejamento e treinamento
informações completas. Aquele que realiza a triagem (ou
oficial de triagem) deve ser capaz de avaliar rapidamente A triagem deve ser planejada e treinada sempre que possível.
a cena e o número de vítimas, deter-se em doentes Eventos que possuem grande probabilidade de ocorrer na
individuais por curtos períodos e realizar determinações área local são um bom ponto de partida para o planejamento
imediatas de triagem para cada doente. Decisões de e treinamento do atendimento de vítimas em massa. Por
triagem são normalmente realizadas decidindo quais exemplo, simule um evento de vítimas em massa de uma
lesões dos doentes constituem o maior risco imediato queda de avião caso a instituição fique próximo a um
à vida. Assim, as prioridades de via aérea, respiração, grande aeroporto, derramamento químico se próxima a
circulação e estado neurológico do ATLS são as mesmas uma ferrovia movimentada, ou de um terremoto se em uma
prioridades usadas para tomada de decisão na triagem. região de tremores de terra. O ensaio específico para cada
Desta forma, geralmente, problemas da via aérea são mais tipo de desastre não é possível, mas o planejamento geral e
rapidamente letais do que problemas da respiração, que uma afinação precisa da resposta institucional baseada na
por sua vez são mais rapidamente letais do que problemas prática de exercícios são possíveis e necessários.
da circulação, os quais são mais rapidamente letais do que
lesões neurológicas. Todas as informações disponíveis, DETERMINE OS TIPOS DE CATEGORIA DE
incluindo os sinais vitais, quando disponíveis, devem ser TRIAGEM
usadas para tomar cada decisão de triagem.
O título e a cor de cada categoria de triagem devem ser
a triagem ocorre em múltiplos níveis determinados no nível de um sistema abrangente como
parte do planejamento e treinamento. Várias opções são
Triagem não é um evento ou uma decisão de uma única vez utilizadas ao redor do mundo. Um método simples e comum
nem de um único lugar. Triagem ocorre primeiramente na é usar etiquetas com as cores do semáforo: vermelho,
cena ou local do evento quando as decisões são tomadas amarelo e verde. Vermelho indica lesão com risco de vida
em relação a qual doente tratar primeiro e a sequência que requer intervenção imediata e/ou cirurgia. Amarelo
em que os doentes serão evacuados. A triagem ocorre indica lesões que podem se tornar comprometedoras da vida
normalmente fora do hospital para determinar para onde ou de um membro, caso o atendimento seja retardado por
os doentes serão transportados dentro da instituição (ex. várias horas. Doentes verdes são os feridos que caminham e
emergência, sala de cirurgia, unidade de terapia intensiva sofreram apenas traumatismos leves. Estes doentes podem,
ou enfermaria). A triagem ocorre novamente na área pré- às vezes, ser usados para auxiliar seu próprio atendimento
operatória quando decisões são tomadas sobre a sequência e o cuidado de outros. Preto é frequentemente usado para
em que os doentes serão operados. As condições dos marcar os doentes mortos.
doentes podem melhorar ou piorar com as intervenções e Muitos sistemas acrescentam outra cor como a azul ou cinza
com o tempo, assim são realizadas triagens diversas vezes. para doentes “expectantes” – aqueles que apresentam lesões
tão graves que, diante do número de vítimas que necessitam
conheça e entenda os recursos atendimento, a decisão é tomada para apenas oferecer-lhes
disponíveis tratamento paliativo enquanto se atende primariamente os
doentes vermelhos (e talvez alguns amarelos). Doentes que
Decisões de triagem ideais são feitas com conhecimento são classificados como expectantes devido à gravidade de suas
e entendimento dos recursos disponíveis em cada nível lesões seriam normalmente a primeira prioridade em situações
ou estágio do atendimento do doente. O oficial de triagem onde existem apenas duas ou três vítimas necessitando
também deve estar imediatamente alerta das modificações atendimento imediato. Entretanto, as regras, protocolos e
dos recursos, tanto para mais como para menos. padrões de atendimento mudam diante do evento de vítimas
Um cirurgião com conhecimento do sistema de saúde em massa. Lembre-se: “realize o melhor para o maior número
local pode ser o Oficial de triagem intra-hospitalar de doentes utilizando os recursos disponíveis”. (Veja também
ideal porque ele compreende todos os componentes informação de triagem em Apêndice C: Atendimento ao
do funcionamento do hospital, incluindo as salas de Trauma com Vítimas Múltiplas, em Ambientes Hostis e
cirurgia. Este arranjo não funcionará em situações com Conflitos Militares e Apêndice D: Preparação e Resposta a
um número limitado de cirurgiões e não se aplica ao Desastres.
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 319
cenário de Triagem I
Tiroteio em Massa em um Shopping Center
cenário
Você é avisado de que em uma área segura de um shopping center 6 pessoas são feridas em um tiroteio em massa. O
atirador matou-se. Você rapidamente examina a situação e determina que as condições dos doentes são as seguintes:
DOENTE A—Um homem jovem gritando. “Por favor ajude-me, minha perna está me matando"
DOENTE B—Uma mulher jovem com cianose e taquipneia e está respirando ruidosamente.
DOENTE C—Um homem idoso deitado em uma poça de sangue com a perna esquerda da calça encharcada
em sangue.
DOENTE D—Um homem jovem está deitado de bruços e imóvel.
DOENTE E—Um homem jovem está xingando e gritando que alguém deveria ajudá-lo ou ele chamará seu advogado.
DOENTE F—Uma adolescente deitada no chão chorando e segurando o abdome.
DOENTE A—Um homem jovem gritando. “Por favor ajude-me, minha perna está me matando"
Possível lesão/Problema:
DOENTE B—Uma mulher jovem com cianose e taquipneia e está respirando ruidosamente.
Possível lesão/Problema:
DOENTE C—Um homem idoso deitado em uma poça de sangue com a perna esquerda da calça encharcada
em sangue.
Possível lesão/Problema:
DOENTE D—Um homem jovem está deitado de bruços e imóvel.
Possível lesão/Problema:
DOENTE E—Um homem jovem está xingando e gritando que alguém deveria ajudá-lo ou ele chamará seu advogado.
Possível lesão/Problema:
(continua)
320 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
2. Estabeleça as prioridades para avaliação posterior colocando um número (1 a 6 onde 1 é a prioridade maior
e 6 a menor) no espaço próximo de cada letra do doente.
Doente A
Doente B
Doente C
Doente D
Doente E
Doente F
4. Brevemente descreva as manobras de suporte básico de vida e/ou técnicas adicionais de avaliação que você
usaria para posteriormente avaliar o problema.
6
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 321
cenário de triagem II
Tiroteio em Massa em um Shopping Center (cont.)
BLS ALS
BLS ALS
BLS ALS
BLS ALS
BLS ALS
BLS ALS
2. Priorize a transferência dos doentes e identifique o destino. Forneça um breve raciocínio para sua escolha de destino.
DESTINO
3. Em situações envolvendo múltiplos doentes, que critério você usaria para identificar e priorizar o tratamento
destes doentes?
(continua)
322 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
4. Que pistas você pode extrair de qualquer doente que possa ajudar na triagem?
5. Quais lesões ou sintomas dos doentes devem receber tratamento na cena, antes do pessoal pré-hospitalar chegar?
6. Após o pessoal do Pré-hospitalar chegar, que tratamentos devem ser instituídos e que princípios governam
a ordem de início de tais tratamentos?
7. Em situações de traumas múltiplos, quais doentes devem ser transportados? Quais devem ser transportados
mais tarde?
8. Quais doentes podem ter tratamento retardado e serem transportado mais tarde?
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 323
cenário
A Polícia estava conduzindo uma blitz de um trailer suspeito de ter um laboratório de droga ilícita,
metanfetamina, quando ocorreu uma explosão e o trailer foi tomado em chamas. Você recebeu notificação
de que 2 ambulâncias com 5 doentes da cena estão na entrada do Hospital: um policial e quatro pessoas que
estavam no trailer, incluindo uma criança. Eles foram trazidos para seu pequeno hospital, no departamento
de emergência, com a coluna imobilizada com prancha longa e com colar cervical.
Os doentes feridos são os seguintes:
doente A
Um homem de 45 anos, policial, que entrou no trailer para retirar a criança, está tossindo e expectorando
material carbonáceo. Apresenta chamuscamento dos pelos da face e do cabelo. A voz está normal, ele se
queixa de dor nas mãos que apresentam eritema e bolhas em formação.
Sinais vitais são: PAS=120 mmHg, FC=100 bpm, e FR=30 irpm.
doente B
Uma menina de 6 anos que foi carregada para fora do trailer pelo Doente A está assustada e chorosa. Queixa-
se de dor nas queimaduras (eritema/bolhas) que acometem as costas, as nádegas e a porção posterior de
ambas as pernas.
Sinais vitais são: PA=110X70 mmHg, FC=100 bpm, e FR=25 irpm.
doente C
Um homem de 62 anos está tossindo, chiando e expectorando catarro com partículas de carvão. Sua voz está
rouca e responde apenas a estímulo doloroso. Há eritema, bolhas, e a pele está carbonizada na face e pescoço,
parede anterior do tórax e do abdome, queimaduras circunferenciais nas quatro extremidades poupando os
vincos da virilha e genitais.
Sinais vitais são: PA=80X40 mmHg, FC=140 bpm e FR=35 irpm.
doente D
Uma mulher de 23 anos está obnubilada, mas responde à dor, à movimentação do úmero e da perna direitas.
Não há deformidade óbvia do braço e a coxa está edemaciada imobilizada no dispositivo de tração.
Sinais vitais são: PA=140X90 mmHg, FC=110 bpm e FR=32 irpm.
doente E
Um homem de 30 anos está alerta, pálido e queixa-se de dor na pelve. Existe evidência clínica de fratura, com
distensão e dor abdominal à palpação. Na face anterior do tórax, abdome e coxas há eritema e bolhas. Ele
também apresenta uma laceração na fronte. Ele tem um líquido oleoso e pungente nos braços e no peito.
Sinais vitais são: PA=130X90 mmHg; FC=90 bpm e FR=25 irpm.
(continua)
324 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
O atendimento das prioridades deste cenário pode ter como base as informações obtidas por exame feito a
distância. Embora exista dúvida sobre qual doente é o mais grave, uma decisão deve ser tomada para prosseguir
com as melhores informações disponíveis no momento.
1. Qual(is) doente(s) tem trauma associado e/ou lesão por inalação, além das queimaduras da superfície corpórea?
LESÕES ASSOCIADAS
(SIM/NÃO)
PRIORI- PRIORI-
DADE DE DADE DE
TRATA- LESÃO TRANS- TRANS-
MENTO POR QUEI- % FERÊNCIA FERÊNCIA
DOENTE (1–5) INALAÇÃO TRAUMA MADURA SCQ (SIM/NÃO) (1–5)
3. Descreva as precauções necessárias que os staffs necessitam tomar para avaliar e tratar estes doentes
tendo em vista a produção de metanfetamina.
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 325
cenário de triagem IV
Lesão por Frio
cenário
Você está no hospital quando recebe um telefonema relatando que cinco membros da família de um médico estavam
passeando em veículos motorizados para neve sobre a superfície de um lago, quando o gelo partiu. Quatro membros
da família caíram no lago. O médico não caiu no lago e foi em busca de socorro. O tempo de resposta do socorro
básico e avançado foi de 15 minutos. Quando as unidades de suporte básico e avançado de vida chegaram, uma vítima
conseguiu sair do lago e retirou outra vítima da água. Dois indivíduos permaneceram submersos, foram encontrados,
resgatados e removidos do lago por mergulhadores. A equipe de resgaste deu a seguinte informação da cena:
DOENTE A—O menino de 10 anos de idade, neto do médico, foi removido do lago pela equipe de resgate.
O monitor do ECG mostra assistolia.
DOENTE B—A mulher de 65 anos de idade, esposa do médico, foi removida do lago pela equipe de resgate.
O monitor do ECG mostra assistolia.
DOENTE C—A mulher de 35 anos de idade, filha do médico, que estava no lago e foi retirada com a ajuda
de sua cunhada, apresenta abrasões na parede anterior do tórax. PAS=90 mmHg.
DOENTE D—A mulher de 35 anos de idade, nora do médico, que estava submersa e conseguiu sair do lago,
não apresenta sinais de trauma. PAS=110 mmHg.
DOENTE E— O médico, com 76 anos, aposentado, que não caiu na água, não apresenta queixas a não ser
frio nas mãos e nos pés.
1. Estabeleça as prioridades para transporte da cena para a sala de emergência e dê uma breve explicação
para as suas decisões.
PRIORIDADE
DE TRANS-
PORTE DOENTE JUSTIFICATIVA
2. Ao chegar à sala de emergência, a temperatura corpórea central deve ser medida em todos os doentes. As
temperaturas corporais centrais dos doentes são:
DOENTE A: 29°C
DOENTE B: 34°C
DOENTE C: 33°C
DOENTE D: 35°C
DOENTE E: 36°C
(continua)
326 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
Descreva brevemente suas razões para o restante da avaliação primária, reanimação e avaliação secundária
de cada doente.
5
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 327
cenário de triagem V
Colisão de Ônibus
cenário
Você é o único médico no Pronto-Socorro de um hospital comunitário de 100 leitos. Conta com a ajuda de uma
enfermeira e de uma auxiliar de enfermagem. Há 10 minutos você foi comunicado por rádio que ambulâncias
vão chegar com vítimas de colisão de um único ônibus de passageiros. O ônibus aparentemente perdeu
controle, saiu da rodovia, e capotou diversas vezes. Foi reportado que a velocidade antes do acidente era de
104 Km/h. Não há mais informações além de que dois dos passageiros do ônibus morreram na cena. Chegam
duas ambulâncias trazendo cinco doentes que eram os ocupantes do ônibus. Os doentes são:
doente A
Homem de 57 anos, motorista do ônibus. Aparentemente sofreu um trauma torácico. Com o impacto, foi
jogado contra o para-brisa. Chega em franca insuficiência respiratória. A lesões incluem: matéria que aparenta
ser massa encefálica no seu cabelo sobre uma fratura de crâneo palpável, deformidade angulada no antebraço
esquerdo, e múltiplas escoriações na face anterior do tórax.
Os sinais vitais são: PA=88X60 mmHg, FC=150 bpm, FR=40 rpm e escore GCS=4.
doente B
Mulher de 45 anos, passageira, aparentemente não estava usando cinto de segurança. No impacto ela foi ejetada
do ônibus. À admissão está em franca insuficiência respiratória. A equipe do pré-hospitalar fez uma avaliação
preliminar e passa-lhe as informações a seguir, Lesões: (1) trauma maxilofacial grave com hemorragia do nariz
e da boca, (2) fratura de antebraço esquerdo, com desvio e (3) múltiplas escoriações na face anterior do tórax.
Os sinais vitais são: PA=150X80 mmHg, FC=120 bpm, FR=40 irpm e escore GCS=8.
doente C
Homem de 48 anos, passageiro, achado debaixo do ônibus. Dizem-lhe que chegou confuso, respondendo com
lentidão a estímulos verbais. Tem múltiplas escoriações de face, tórax e abdome. O murmúrio vesicular está
abolido à esquerda e tem muita dor à palpação do abdome.
Os sinais vitais são: PA=90X50 mmHg, FC=140 bpm, FR=35 irpm e escore GCS=12.
doente D
Mulher de 25 anos, retirada do banco de trás do ônibus. Grávida de 8 meses, com comportamento histérico,
queixa-se de dor abdominal. Tem múltiplas escoriações na face e no abdome. Informam-no que tem muita
dor à palpação do abdome. Está em trabalho de parto.
Os sinais vitais são: PA=120X80 mmHg, FC=100 bpm e FR=25 irpm.
doente E
Menino de 6 anos, retirado dos bancos traseiros do ônibus. No local estava acordado e falando. Agora responde
a estímulos dolorosos apenas com choro. Tem escoriações múltiplas e deformidade na perna direita. Apresenta
ainda sangue seco ao redor do nariz e da boca.
Os sinais vitais: PA=110X70 mmHg, FC=180 bpm, FR=35 irpm.
(continua)
328 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
1. Descreva os passos que devem ser seguidos para triar estes cinco doentes.
2. Estabeleça as prioridades para seus doentes, colocando um número (1 a 5, sendo 1 a prioridade mais elevada
e 5 a menor) no espaço antes da letra de cada doente.
Doente A Doente D
Doente B Doente E
Doente C
4. Resumidamente descreva as manobras de suporte básico de vida e/ou técnicas de diagnóstico que você
utilizaria para progredir no cuidado destes doentes.
5
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 329
cenário de triagem VI
Terremoto e Tsunami
CENáRIO
Em uma cidade costeira de 15.000 habitantes ocorreu um terremoto de magnitude 7,2, seguido de um tsunami
que avançou 4 Km para o interior. Na sequência houve uma explosão e incêndio em um reator de energia
nuclear próximo. Muitas estruturas colabaram, algumas vítimas ficaram presas no seu interior. Outras podem
ter sido “carregadas” para o mar. Algumas das estradas de saída da região estão bloqueadas por enchentes ou
deslizamentos de terra. Os serviços locais como eletricidade e rede de água estão interrompidos. A temperatura
atual é de 13 oC, e está começando a chover; o por do sol será em 2h.
Os bombeiros e paramédicos encontraram a seguinte cena:
vítimas
• O primeiro tem 40% de SCQ com queimaduras de segundo e terceiro graus. Medição com o contador
Geiger mostra que ele está contaminado com material radioativo.
• A segunda técnica não apresenta queimaduras, está confusa e vomita continuamente. Também apresenta
radioatividade em suas vestes.
falecidos
Pelo menos 6 técnicos da planta nuclear e cinco residentes da área estão mortos, incluindo um lactente
com uma lesão craniencefálica fatal. Muitas outras pessoas estão desaparecidas.
Foram chamadas duas companhias de bombeiros e duas ambulâncias adicionais. O hospital da comunidade
local possui 26 leitos vagos, 5 profissionais de atendimento primário, 2 cirurgiões, 1 dos quais se encontra em
férias. O centro de trauma mais próximo encontra-se a 120 km de distância, e o centro de queimados mais
próximo encontra-se a mais de 320 km de distância.
1. Deve-se iniciar o plano de desastre da comunidade? Por que, ou por que não?
2. Caso seja declarado um evento de vítimas em massa, quem deve ser o comandante médico do incidente?
(continua)
330 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
5. Quais considerações devem ser levadas em conta nas operações médicas na cena?
7. Qual o significado das categorias de triagem vermelha, amarela, verde, azul e preta?
8. Designadas as categorias da questão 7, quais os doentes que devem ser removidos para o hospital; por qual
meio de transporte; e em qual ordem?
9. Quais os esforços que devem ser feitos pelo comandante médico do incidente para auxiliar na resposta e
na recuperação?
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 331
CENáRIO
Uma explosão de bomba suicida foi comunicada em um comício político à noite. A região fica a 30 minutos do
seu centro de trauma nível II. Você é convocado para a cena como um dos oficiais de triagem. O relato inicial
revela 12 óbitos e 40 feridos. Muitas equipes de regate estão ocupadas com a evacuação.
Você chega a uma área onde você encontra 3 corpos e 6 doentes feridos. As condições dos 6 doentes feridos
são as seguintes:
doente A
Um rapaz, consciente e alerta, possui uma pequena ferida penetrante no pescoço, logo à esquerda da traqueia,
com edema leve do pescoço, rouquidão, sem sangramento ativo.
doente B
Um rapaz está encharcado em sangue, pálido e letárgico, porém responsivo a comandos verbais. Ambas as
pernas estão deformadas e ligadas apenas por pele e tecido muscular delgado abaixo dos joelhos.
doente C
Uma moça está reclamando de falta de ar, com taquipneia, cianose e múltiplas pequenas feridas penetrantes
no tórax à esquerda.
doente D
Um homem de meia-idade possui múltiplas feridas penetrantes no lado esquerdo do abdome e flanco
esquerdo, apresentando-se pálido e queixando-se de dor abdominal intensa. Queimaduras de segundo e
terceiro graus são visíveis no abdome inferior.
doente E
Um idoso, com falta de ar e expectorando escarro hemoptoico, encontra-se desorientado e tem múltiplas
equimoses e lacerações na parte superior do tronco.
doente F
Um rapaz tem uma ferida na face anterior da perna direita, com fragmento ósseo visível projetando pela ferida,
e está reclamando de dor intensa. Não apresenta sangramento ativo.
(continua)
332 APÊNDICE F n Cenários de Triagem
2. Quais manobras de suporte de vida iniciais podem ser prestadas antes de transportar para um centro de
trauma (assumindo que há equipamento pré-hospitalar típico disponível neste momento)?
3. Que outras considerações você deve ter em mente durante a triagem na cena deste incidente?
APÊNDICE F n Cenários de Triagem 333
4. Descreva a transferência para o centro de trauma de cada doente em ordem de prioridade com seus motivos
(1 sendo o mais prioritário e 6 o menos)
PRIORIDADE DE
TRANSFERÊNCIA DOENTE JUSTIFICATIVA
5. Quais deveriam ser suas principais considerações de atendimento na chegada dos doentes no centro de
trauma?
Apêndice G
ESTAÇÕES PRÁTICAS
335
Estação Prática A
V IA AÉREA
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Parte 1: Manobras Básicas na Via Aérea Parte 2: Manobras Avançadas na Via Aérea
2. A
plicar uma máscara não re-inalante para maximizar 2. Citar as indicações para uma via aérea definitiva.
a oxigenação.
3. Tentar a intubação orotraqueal em um manequim.
3. Aplicar um oxímetro de pulso.
Parte 3: Via Aérea Infantil e Cricotireoidostomia
4. R
ealizar a tração de mandíbula em um manequim
para obter uma via aérea adequada. 1. Rever o manejo básico da via aérea pediátrica.
5. D
emonstrar a aspiração da via aérea em um 2. Tentar intubação endotraqueal em um manequim.
manequim.
3. Identificar marcos anatômicos para a cricotireoidostomia.
6. I nserir uma cânula nasofaríngea e orofaríngea em
um manequim. 4. Realizar uma cricotireoidostomia com agulha e
descrever as opções de oxigenação.
7. R
ealizar a ventilação com bolsa-máscara com uma e
duas pessoas em um manequim. 5. Realizar a cricotireoidostomia cirúrgica em um
modelo.
337
338 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO 3. Untar a cânula nasofaríngea com um PASSO 3. Inserir um abaixador de língua sobre a língua
lubrificante hidrossolúvel ou com água. do doente, o mais posteriormente possível,
para abaixá-la adequadamente, tomando
PASSO 4. Com a cabeça do doente em posição neutra, cuidado para não provocar náusea.
fique ao lado do mesmo. Segurando o
CNF como um lápis, insira gentilmente a PASSO 4. Inserir o tubo posteriormente, deslizando-o
ponta da cânula na narina e direcione-a gentilmente sobre a curvatura da língua, até
posteriormente em direção ao ouvido. que a aba do tubo se apoie sobre os lábios
do doente. O tubo não deve empurrar a
PASSO 5. Inserir gentilmente a cânula nasofaríngea língua para trás levando à obstrução da via
através da narina na hipofaringe com um aérea. Uma técnica alternativa de inserção,
ligeiro movimento de rotação, até que a denominada método de rotação, envolve
falange repouse contra a narina. Se durante a inserir a cânula de ponta-cabeça de modo
inserção a CNF encontrar alguma resistência, que sua ponta fique voltada para o céu da
remova-a e tente inserí-la do outro lado. boca do doente. À medida que se insere a
Se a CNF fizer com que o doente tussa ou cânula, ela é girada 180 graus até que a aba
engasgue, retire-a levemente para aliviar a pare nos lábios e/ou nos dentes do doente.
tosse ou o engasgo e prossiga. Esta manobra não deve ser usada em crianças.
PASSO 6. Reavaliar o doente para garantir que agora PASSO 5. Remover o abaixador de língua.
a via aérea é patente.
PASSO 6. Reavaliar o doente garantindo que a via aérea
esteja agora patente.
APÊNDICE G n Estações Práticas 339
PASSO 1. Selecionar o tamanho adequado da máscara PASSO 1. Selecionar o tamanho adequado da máscara
para ajustar-se à face do doente. A máscara deve para ajustar-se à face do doente.
se estender da metade proximal do nariz até o
PASSO 2. Conectar uma fonte de oxigênio ao dispositivo
queixo.
de ventilação e ajustar o fluxo de oxigênio
PASSO 2. Conectar uma fonte de oxigênio ao dispositivo para 15 L/minuto.
de ventilação e ajustar o fluxo de oxigênio
para 15 L/minuto. PASSO 3. Certificar-se que a via aérea do doente esteja
PASSO 3. Certificar-se que a via aérea do doente esteja patente (uma cânula orofaríngea irá prevenir
patente (uma cânula orofaríngea irá prevenir a obstrução da língua).
a obstrução da língua).
PASSO 4. A primeira pessoa coloca a máscara na face do
PASSO 4. Aplicar a máscara sobre o nariz e a boca do
doente, assegurando uma vedação adequada
doente com a mão dominante, assegurando
com as duas mãos., realizando a manobra de
uma boa vedação. Isto é realizado mimetizando
tração da mandíbula. Pode ser mais fácil para
a letra ‘C’ com o polegar e o indicador enquanto
o médico iniciante, usar a técnica de apoio
traciona-se a mandíbula contra a máscara com
da eminência tenar (ou polegar para baixo).
os outros três dedos da mão.
Garantir uma vedação firme da máscara à face
PASSO 5. Iniciar a ventilação pressionando a bolsa com com as duas mãos.
a mão não-dominante
PASSO 6. Avaliar se a ventilação está adequada PASSO 5. A segunda pessoa ventila o doente apertando
observando-se o movimento do tórax do doente. o balão com as duas mãos.
PASSO 7. Ventilar o doente desta maneira a cada 5
PASSO 6. A eficiência da ventilação é avaliada
segundos.
observando o movimento torácico do doente.
•• Inserção da Máscara Laríngea (ML) PASSO 3. Verificar se a ML está estéril e não tenha dano
visível; checar se o lúmen está limpo.
•• Inserção do Tubo Laríngeo (TL)
•• Intubação Orotraqueal PASSO 4. Insuflar o balão da ML para certificar-se de
que não há vazamento.
e a abertura da máscara orientada sobre a PASSO 9. Rodar o tubo de volta para a linha média logo
língua. que a ponta atingir a parede posterior da faringe.
PASSO 8. Passar a Máscara por trás dos incisivos superiores PASSO 10. Sem forçar excessivamente, avançar o tubo
com o cabo paralelo ao tórax do doente e o até a base do conector alinhar-se com os
indicador apontando para quem está intubando. dentes e a gengiva.
PASSO 9. Empurrar a ML lubrificada para a posição, PASSO11. Insuflar os balões com o volume mínimo
ao longo da curva palato-faringea com o necessário para vedar a via aérea no pico de
indicador mantendo pressão e guiando o tubo. pressão ventilatória.
PASSO 10. Insuflar o balão com o volume indicado no PASSO 12. Ao mesmo tempo que ventila delicadamente
cabo. o doente para avaliar a ventilação, retire o
tubo até que a ventilação fique fácil com fluxo
PASSO11. Checar o posicionamento ventilando com de ar livre (o maior volume corrente com a
máscara e balão. menor pressão na via aérea).
PASSO12. Confirmar o posicionamento correto pela PASSO 13. Existem marcas de referência na extremidade
ausculta, movimento do tórax e idealmente proximal do tubo que quando alinhadas com
pela verificação do CO2 com a capnografia. os dentes superiores indicam a profundidade
da inserção.
PASSO 1. Certificar-se de que a ventilação e a oxigenação PASSO 15. Reajustar a insuflação dos balões para vedar
utilizadas são adequadas e que há um o sistema.
aspirador imediatamente disponível na
eventualidade do doente vomitar. PASSO16. Fixe o tubo laríngeo ao doente com fitas
adesivas ou outros dispositivos. Ainda podem
PASSO 2. Escolher tamanho adequado de TL. ser utilizados bloqueadores de mordida.
PASSO 7. Um assistente deve imobilizar manualmente PASSO13. Uma vez que a intubação tenha ocorrido,
o pescoço e a cabeça. O pescoço do doente não ventilar com a bolsa. Insuflar o balão com
deve ser hiperextendido nem hiperfletido ar suficiente para fornecer uma vedação
durante este procedimento. adequada. Não hiperinsuflar o balão.
PASSO 8. Segurar o laringoscópio com a mão esquerda PASSO14. Observar visualmente os movimentos da
(mesmo que não seja a mão dominante do caixa torácica durante a ventilação.
operador).
PASSO15. Auscultar o tórax e o abdome com
PASSO 9. Inserir o laringoscópio no lado direito da estetoscópio para conferir a posição do tubo.
boca do doente, deslocando a língua para
esquerda. PASSO16. Confirmar a correta posição do tubo pela
presença de CO2. Um RX de tórax é útil para
PASSO 10. Identificar visualmente a epiglote e a seguir, avaliar a profundidade da inserção do tubo
as cordas vocais. A manipulação externa da (p.ex. intubação seletiva) mas, ele não exclui
laringe para trás, para cima, para a direita e a intubação esofágica.
com pressão (BURP) pode ajudar a melhorar
a visualização. PASSO 17. Fixar o tubo. Se o doente for transportado,
a posição do tubo deve ser reavaliada.
PASSO 11. Inserir delicadamente o tubo endotraqueal
na traqueia sem aplicar pressão sobre os PASSO 18. Se ainda não foi feito, conectar um oxímetro
dentes e as partes moles da boca. de pulso a um dos dedos do doente (a perfusão
periférica deve estar preservada) para medir
PASSO 12. Se a intubação endotraqueal não for realizada e monitorar o nível de saturação de oxigênio
antes que a SatO2 caia abaixo de 90%, ventile do doente e fornecer uma avaliação imediata
com um dispositivo bolsa-máscara e mude de intervenções terapêuticas.
a abordagem utilizando o GEB.
PASSO 6. Identificar visualmente a epiglote e a seguir, as PASSO2. Colocar o doente na posição supina. Um
cordas vocais. A manipulação externa da laringe assistente deve imobilizar manualmente o
para trás, para cima, para a direita e com pressão pescoço e a cabeça.
(BURP) pode ajudar a melhorar a visualização.
PASSO3. Montar um cateter agulhado de calibre
PASSO 7. Inserir o tubo endotraqueal não mais que 2 número 12G ou 14G, de 8,5 cm, em uma
cm (após as cordas vocais). seringa de 5 a 10 mL.
PASSO 8. Checar cuidadosamente o posicionamento PASSO 4. Preparar o pescoço para a cirurgia, usando
do tubo, ventilando com dispositivo bolsa- esponjas com antissépticos.
válvula-máscara, observando se a insuflação
dos pulmões e auscultando o tórax e o PASSO5. Palpar a membrana cricotireoidea
abdome com um estetoscópio. Confirmar anteriormente, entre a cartilagem tireoide
o correto posicionamento do tubo pela e a cartilagem cricoide. Estabilizar a traqueia
presença de CO2. Um R-X de tórax é útil para com o polegar e o indicador de uma das mãos
avaliar a profundidade da inserção do tubo para evitar movimento lateral da traqueia
(i.e., intubação do brônquio-fonte) mas, ele durante o procedimento.
não exclui a intubação esofágica.
PASSO 6. Puncionar a pele na linha média com a agulha
PASSO 9. Se não conseguir a intubação endotraqueal número 12G ou 14G, conectada à seringa,
em 30 segundos ou no mesmo tempo que o diretamente sobre a membrana cricotireoidea.
operador prenda a respiração, interromper as
tentativas, ventilar o doente com dispositivo PASSO 7. Direcionar a agulha em ângulo de 45º distal-
bolsa-máscara antes de tentar novamente. mente, aplicando pressão negativa na seringa.
PASSO 10. Fixar o tubo. Se o doente for transportado, PASSO 8. Inserir cuidadosamente a agulha através da
a posição do tubo deve ser reavaliada. metade inferior da membrana cricotireoidea,
aspirando-a à medida que a agulha avança. A
PASSO11. Instalar um detector de CO2 no tubo adição de 2-3 mL de solução salina à seringa
endotraqueal entre o adaptador e o ajudará a reconhecer a entrada de ar.
dispositivo de ventilação para confirmar
se o tubo endotraqueal está na traqueia. PASSO 9. Aspiração de ar significa penetração na luz
da traqueia.
PASSO 12. Conectar um oxímetro de pulso a um dos dedos
do doente (a perfusão periférica deve estar PASSO10. Remover a seringa e retirar a agulha ao
preservada) para medir e monitorar o nível de mesmo tempo que se avança o cateter para
saturação de oxigênio. O oxímetro de pulso é útil baixo, tomando cuidado para não perfurar
para monitorar de forma contínua os níveis de a parede posterior da traqueia.
saturação de oxigênio e fornece uma avaliação
imediata das intervenções terapêuticas. PASSO11. Conectar o equipamento de insuflação a
jato ao cateter ou conectar a seringa de 3 mL
com um conector de tubo endotraqueal 7.5
Cricotireoidostomia por Punção e fixar o cateter ao pescoço do doente.
PASSO 1. Montar e preparar o tubo de oxigênio fazendo PASSO12. A ventilação intermitente pode ser provi-
um orifício perto de uma das extremidades denciada com o equipamento de insuflação
do tubo. Conectar a outra extremidade a jato conectado ao cateter tampando-se o
do tubo a uma fonte de oxigênio, capaz orifício do tubo de oxigênio com o polegar por
de fornecer 50 psi - libras por polegada 1 segundo e destampando-o por 4 segundos.
quadrada - ou mais no registro de saída e Após retirar o polegar do orifício do tubo,
providenciar que o oxigênio flua livremente ocorre expiração passiva ou com um dispositivo
através do tubo. Alternativamente, conectar bolsa-válvula-máscara conectado a seringa com
uma bolsa máscara a uma seringa de 3 mL, conector. Nota: A PaO2 pode ser mantida em
sem êmbolo a um conector de um tubo níveis adequados por apenas 30 a 45 minutos, e o
endotraqueal de 7.5 mm. acúmulo de CO2 pode ocorrer mais rapidamente.
APÊNDICE G n Estações Práticas 343
PASSO 13. Continuar observando a insuflação dos PASSO10. Observar as insuflações pulmonares e
pulmões e auscultar o tórax para verificar auscultar o tórax para verificar se a ventilação
se a ventilação está adequada. Prestar se faz adequadamente. Confirmar a presença
muita atenção a saída de ar para evitar de C02 e obter um R-X de tórax.
um barotrauma, que poderá causar
um pneumotórax. É possível auxiliar PASSO11. Fixar o tubo endotraqueal ou o tubo de
esta exalação aplicando-se pressão, traqueostomia ao doente para evitar
cuidadosamente, ao tórax se não se observar deslocamentos.
a saída de ar dos pulmões na ausência de uma
lesão grave do tórax.
Links para Aprendizado Futuro
Cricotireoidostomia Cirúrgica
Problemas na via aérea e ventilação podem ser
confundidos. É de vital importância ter a capacidade
PASSO 1. Colocar o doente na posição supina. Um de avaliar rapidamente onde está o comprometimento.
assistente deve imobilizar manualmente o A suplementação de oxigênio é um dos primeiros passos
pescoço e a cabeça. no tratamento de doentes traumatizados. A avaliação
da via aérea é o primeiro passo e requer reavaliação
PASSO 2. Palpar a cartilagem tireoide, cricoide e a frequentemente e em conjunto com qualquer
fúrcula esternal para orientação anatômica. deterioração do doente. A falta de habilidades básicas
para manter a oxigenação e ventilação adequadas
PASSO 3. Preparar o equipamento necessário. geralmente indica a necessidade de usar habilidades
mais avançadas. A falha em obter uma via aérea usando
PASSO 4. Preparar o local para a cirurgia e anestesia, habilidades avançadas pode exigir a obtenção de uma
se o doente estiver consciente. via aérea por punção ou cirúrgica.
PASSO 5. Estabilizar a cartilagem tireoide com a mão Após o curso ATLS — Cada aluno tem experiência
não dominante e mantenha a estabilização diferente com as habilidades ensinadas na estação
até que a traqueia seja intubada. prática da via aérea. É importante que todos os alunos
pratiquem essas habilidades sob supervisão apropriada
PASSO 6. Fazer uma incisão longitudinal e cranialmente após retornarem ao local de trabalho. A capacidade
de 2 a 3 cm na pele sobre a membrana de identificar doentes com obstrução da via aérea e
cricotireoideana com a mão dominante, usar manobras simples para auxiliar na ventilação são
afastando as bordas da pele para diminuir o habilidades importantes que podem salvar vidas. O
sangramento. Identificar a membrana crico- aluno deve procurar oportunidades em seu ambiente
tireoideana e realizar uma incisão transversa clínico para praticar essas habilidades e desenvolver
da mesma. Cuidado: Para evitar lesão desne- mais conforto ao usá-las. Obter mais experiência e
cessária, não corte ou remova as cartilagens especialização, principalmente com habilidades
cricoide e/ou tireoide. avançadas na via aérea, é importante se essas forem
provavelmente realizadas na prática clínica.
PASSO 7. Inserir uma pinça hemostática ou um
afastador traqueal dentro da incisão e girá-lo Mace SE and Khan N. Needle cricothyrotomy. Emerg
90o para abrir a via aérea. Med Clin North Am. 2008;26(4):1085.
PASSO 8. Inserir um tubo endotraqueal ou um tubo Gaufberg SV and Workman TP. Needle
de traqueostomia de tamanho apropriado cricothyroidotomy set up. Am J Emerg Med. 2004; 22(1):
(usualmente número 5 ou 6), com 37–39.
balão, através da incisão da membrana
cricotireoideana, direcionando o tubo Nota: Videos das atividades práticas estão disponíveis
distalmente para dentro da traqueia. Caso no aplicativo móvel MyATLS.
se utilize um tubo endotraqueal, inserir
somente até a não visualização do “cuff” a
fim de evitar intubação do brônquio-fonte.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
345
346 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO4. A—Via aérea e mediastino. Procurar por PASSO 7. Retirar a seringa e ouvir a fuga de ar quando a
sinais de ruptura da aorta: mediastino agulha entrar no espaço pleural para indicar
alargado, borramento do botão aórtico, alívio do pneumotórax hipertensivo. Avance
desvio da traqueia para a direita, tampa o cateter para o espaço pleural.
pleural, elevação e desvio para a direita do
brônquio fonte direito, perda da janela aorto- PASSO8. Estabilizar o cateter e preparar-se para a
pulmonar, depressão do brônquio principal inserção do dreno torácico.
esquerdo e desvio do esôfago para a direita.
Procure por ar no mediastino.
TORACOSTOMIA DIGITAL E
PASSO5. B—Respiração, campos pulmonares, DRNAGEM DE TÓRA X
pneumotórax, consolidação (contusão
pulmonar), lesões cavitárias
PASSO 1. Reunir suprimentos, campos estéreis e kit de
PASSO 6. C—Circulação, tamanho do coração, formato antissepsia para drenagem de tórax (bandeja)
das bordas da posição, faixa aórtica e dreno torácico de tamanho adequado (28-32
F). Prepare o selo d´água e o coletor.
PASSO7. D—Forma do diafragma, ângulos, bolha
gástrica, ar subdiafragmático PASSO 2. Posicionar o doente com o braço ipsilateral
estendido acima e flexionado no cotovelo (a
PASSO8. E—Extras: tubo endotraqueal, monitor de menos que seja impedido por outras lesões).
pressão venosa central, sonda nasogástrica, Usar um assistente para manter o braço
eletrodos de ECG, dreno torácico, marca-passos nessa posição
em vigor, usar o dreno de tórax para medir PASSO 13. Obter uma radiografia do tórax.
a profundidade da inserção. Pré-avaliar a
profundidade estimada do dreno torácico, PASSO 14. Reavaliar o doente.
colocando a ponta perto da clavícula com
uma curva suave do tubo para a incisão.
Avaliar a marcação no dreno do tórax que USO DA FITA DE
se correlaciona com a incisão, garantindo
que o orifício sentinela esteja no espaço
REANIMAÇÃO PEDI ÁTRICA
pleural. Muitas vezes, as marcas no dreno
do tórax serão de 10 a 14 na pele, dependendo PASSO 1. Desdobre a fita de reanimação pediátrica.
da quantidade de tecido subcutâneo (por
exemplo, doentes obesos). PASSO 2. Coloque a fita ao longo da lateral do instrutor
de tarefa de tubo torácico para estimar o peso
PASSO6. Fazer uma incisão de 2 a 3 cm paralela às e anotar a zona de cor.
costelas no local predeterminado, e dissecar
os tecidos subcutâneos logo acima da costela. PASSO 3. Leia o tamanho do equipamento a ser usado
com o paciente, anotando o tamanho do
PASSO7. Perfurar a pleura parietal com a ponta da dreno torácico.
pinça hemostática enquanto segura-se o
instrumento perto da ponta para evitar a
inserção súbita e profunda do instrumento e
LINKS para APRENDIZADO FUTURO
a lesão das estruturas subjacentes. Avançar
a pinça sobre a costela e abra-a para alargar Reavaliar a respiração com frequência durante a
a abertura pleural. Tome cuidado para avaliação primária e a reanimação. Revise o aplicativo
não penetrar demais a pinça na cavidade móvel MyATLS para demonstrações em vídeo de
torácica, pois, o alargamento do orifício procedimentos. Além disso, www.trauma.org fornece
será ineficaz. Confirmar a saída de ar ou descrições do manejo de uma variedade de lesões
fluido. Com um dedo enluvado e esterilizado, torácicas em doentes traumatizados.
faça uma varredura para limpar quaisquer
aderências e coágulos (ou seja, realizar uma Após o ATLS—Pratique usando uma abordagem
toracostomia digital). estruturada para a leitura do RX de tórax antes de
observar a interpretação do radiologista para melhorar
PASSO8. Colocar uma pinça hemostática na sua proficiência. Revise a demonstração em vídeo
extremidade distal do dreno e outra pinça na MyATLS da inserção do dreno torácico antes de realizar
extremidade proximal do mesmo usando-a o procedimento para reforçar etapas do processo.
como um guia e avançar a inserção do
dreno no espaço pleural até a profundidade
desejada.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
349
350 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO4. Se o sangramento for controlado, prenda PASSO7. Bloqueie a haste do torniquete no lugar
as compressas de gaze com uma atadura no clipe de corda de vento. O sangramento
elástica ou não ou uma mecha auto-aderente agora está controlado.
(3M Coban™). Consulte cirurgião de trauma,
vascular ou ortopedista, com base no tipo de lesão. PASSO8. Cole a faixa auto-aderente restante sobre
a haste, através do grampo do torniquete e
PASSO5. Se o sangramento não for controlado continue em volta do braço ou da perna do
e houver uma cavidade, use um dedo doente o máximo possível.
enluvado ou uma pinça para colocar a gaze
na ferida, garantindo que a gaze alcance a PASSO9. Prenda a haste e a pulseira com a alça do
base da ferida. Coloque mais gaze até que molinete. Segure a alça, aperte-a e cole-a
a ferida esteja bem embalada. Mantenha no gancho oposto ao clipe do torniquete.
a pressão por mais 3 minutos e reavalie.
Pode ser usada gaze impregnada com um PASSO10. Anote a hora em que o torniquete foi
agente hemostático tópico, se disponível. aplicado. Se você tem um marcador, pode
A gaze sem um agente hemostático pode escrevê-lo diretamente no torniquete.
ser tão eficaz para o empacotamento da
ferida quanto a gaze tratada com um PASSO 11. Se o sangramento não for interrompido com
agente hemostático. Feridas grandes podem um torniquete e for tão apertado quanto
exigir vários pensos de gaze para embalar possível, coloque um segundo, se disponível,
totalmente a ferida. Embale com o máximo logo acima do primeiro. Aperte-o como antes.
de gaze que couber na ferida e empurre
ainda mais, se puder. Se esses passos não
controlarem o sangramento, prossiga com APLICAÇÃO DA TALA DE
a colocação do torniquete enquanto aguarda TRAÇÃO
a consulta cirúrgica.
PASSO 4. Cole a faixa ao redor da extremidade. Não PASSO5. Depois de obter o realinhamento, levante
adira a faixa após o clipe. suavemente a perna para permitir que o
assistente deslize a tala sob a extremidade,
PASSO5. Torça a haste do torniquete até que o de modo que a porção acolchoada da tala
sangramento pare. fique encostada na tuberosidade isquiática.
PASSO8. Posicione a cinta do tornozelo ao redor do em crianças. (Ao usar uma agulha lisa, sem uma
mesmo e do pé do doente, e enquanto um broca, oriente a agulha perpendicularmente ao
assistente mantém a tração manual na perna. A local de entrada e aplique pressão em conjunto
cinta inferior deve ser ligeiramente mais curta com um movimento de torção até que se sinta
que, ou pelo menos do mesmo comprimento, uma “perda de resistência”, e, a agulha entrar
e as duas tiras cruzadas superiormente. na cavidade medular.)
PASSO 9. Prenda a cinta do tornozelo ao gancho de tração PASSO6. Segure o dispositivo no lugar e aperte o
enquanto o assistente mantém a tração e apoio gatilho firmemente. Continue a segurar o
manual. Aplique tração gradativamente, hub da agulha enquanto gira o estilete para
utilizando o manopla da catraca até que a fora do eixo com rotações no sentido anti-
extremidade pareça estável ou até que a dor horário. A agulha deve estar firmemente
e o espasmo muscular sejam aliviados. assentada no osso (primeira confirmação
da colocação). Coloque o estilete em um
PASSO 10. Verifique novamente o pulso após aplicar a recipiente para objetos cortantes.
tração. Se a perfusão da extremidade distal
à lesão parecer pior, solte-a gradualmente. PASSO7. Coloque o curativo EZ-Stabilizer sobre o
hub. Conecte um conjunto de extensão EZ-
PASSO 11. Prenda as correias restantes. Connect™ preparado ao hub, firmemente
seguro, torcendo-o no sentido horário. Puxe
PASSO12. Reavaliar frequentemente o estado as abas do curativo EZ-Stabilizer para expor
neurovascular da extremidade. Documente o adesivo e aplique-o na pele.
o estado neurovascular do paciente após
cada manipulação da extremidade. PASSO8. Aspirar para confirmar a saída de sangue
/medula óssea (segunda confirmação da
colocação).
PUNÇÃO/INFUSÃO INTRAÓSSEA
PELO ÚMERO PASSO 9. Prenda o braço no lugar através do abdome.
PASSO 2. Use o(s) seu(s) polegar(es) para deslizar para PUNÇÃO/INFUSÃO INTRAÓSSEA
cima o eixo anterior do úmero até sentir VIA INSERÇÃO PROXIMAL DA
o tubérculo maior, cerca de 1 cm (1/3 pol) TÍBIA
acima do colo cirúrgico.
PASSO 3. Prepare o local usando uma solução antisséptica. PASSO 1. Coloque o doente em decúbito dorsal. Selecione
uma extremidade inferior não lesionada,
PASSO 4. Remova a tampa da agulha e aponte a ponta para coloque um acolchoamento suficiente sob o
baixo em um ângulo de 45 graus em relação ao joelho para efetuar uma flexão aproximada
plano horizontal. O ângulo correto resultará no de 30 graus do joelho e deixe o calcanhar
eixo da agulha perpendicular à pele. Empurre do paciente repousar confortavelmente no
a ponta da agulha através da pele até que a colchonete ou na maca.
ponta alcance o osso. A marca de 5 mm deve
estar visível acima da pele para confirmação PASSO 2. Identifique o local da punção - a superfície ântero-
do comprimento adequado da agulha. medial da tíbia proximal, aproximadamente
um dedo (1 a 3 cm) abaixo do tubérculo.
PASSO 5. Perfure suavemente o úmero a 2 cm (3/4 pol) ou
até que a borda do dispositivo atinja a pele de um PASSO3. Limpe a pele ao redor do local da punção e
adulto. Pare quando você sentir o "pop" ou “give” cubra a área.
352 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO 4. Se o doente estiver acordado, use um anestésico ser limitada à ressuscitação de emergência
local no local da punção. do paciente e descontinuada assim que outro
acesso venoso tenha sido obtido.
PASSO5. Inicialmente, em um ângulo de 90 graus,
introduzir uma agulha de aspiração de medula
óssea curta (roscada ou lisa), de grande calibre, APLICAÇÃO DA CINTA PÉLVICA
(ou uma agulha espinhal de calibre 18 curta OU OUTRO DISPOSITIVO DE
com estilete) na pele e no periósteo, com o ESTABILIZ AÇÃO PÉLVICA
bisel da agulha dirigido para o pé e afastado
da placa epifisária.
PASSO1. Selecionar o dispositivo adequado de
PASSO 6. Depois de localizar o osso, direcione a agulha estabilização pélvica.
a uma distância de 45 a 60 graus da placa
epifisária. Usando um movimento suave de PASSO2. Identificar os pontos de referência para
torção ou perfuração, avance a agulha através aplicação, concentrando-se nos trocânteres
do córtex ósseo e na medula óssea. maiores.
PASSO7. Retire o estilete e coloque na agulha uma PASSO 3. Gire internamente e se oponha aos tornozelos,
seringa de 10 mL com aproximadamente 6 pés ou dedões usando fita adesiva ou gaze
mL de solução salina estéril. Delicadamente, de rolo.
pegue o êmbolo da seringa. A aspiração da
medula óssea na seringa significa a entrada PASSO4. Deslize o dispositivo dos pés para cabeça,
na cavidade medular. centralizando-o sobre os trocânteres maiores.
Duas pessoas em lados opostos seguram o
PASSO 8. Injete a solução salina na agulha para expelir dispositivo na parte inferior e superior
qualquer coágulo que possa obstruir a agulha. e o colocam proximalmente na posição.
Se a solução salina passar facilmente pela Alternativamente, ou coloque o dispositivo sob
agulha e não houver evidência de inchaço, a o doente, restringindo o movimento da coluna
agulha provavelmente está localizada no local vertebral e com o mínimo de manipulação
apropriado. Se a medula óssea não foi aspirada, da pelve, girando o doente lateralmente.
conforme descrito no PASSO 7, mas a agulha Coloque o dispositivo dobrado embaixo do
é liberada facilmente ao injetar a solução doente, alcançando a menor distância possível
salina e não há evidência de inchaço, a agulha do doente. Gire em outra direção e puxe a
provavelmente está no local apropriado. Além extremidade do dispositivo completamente.
disso, a colocação correta da agulha é indicada Se estiver usando um lençol, cruze os membros
se a agulha permanecer ereta sem suporte e e prenda com grampos ou grampo de toalha.
a solução intravenosa fluir livremente sem
evidência de infiltração subcutânea. PASSO 5. Role o doente de volta para o supino e prenda
o dispositivo anteriormente. Certifique-se
PASSO 9. Conecte a agulha ao tubo intravenoso de grande de que o dispositivo esteja adequadamente
calibre e inicie a infusão fluida. Cuidadosamente preso com tensão adequada, observando a
aparafuse a agulha na cavidade medular até rotação interna dos membros inferiores, o
que o centro da agulha repouse sobre a pele que indica o fechamento pélvico.
do paciente e o fluxo livre continue. Se uma
agulha lisa for usada, ela deve ser estabilizada
em um ângulo de 45 a 60 graus em relação à
LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO
superfície ântero-medial da perna do doente. (LPD) – PRÁTICA OPCIONAL
PASSO 10. Cubra com gaze estéril. Mantenha a agulha e
o equipo no lugar. PASSO 1. Obtenha o consentimento informado, se o
tempo permitir.
PASSO 11. Rotineiramente reavaliar a colocação da agulha
intraóssea, assegurando que ela permaneça PASSO 2. Descomprima o estômago e a bexiga urinária
através do córtex ósseo e no canal medular. inserindo uma sonda gástrica e um sonda
Lembre-se de que a infusão intra-óssea deve vesical.
APÊNDICE G n Estações Práticas 353
PASSO 4. Injetar anestésico local com epinefrina na linha Nota: A técnica asséptica deve ser usada ao executar este
média, logo abaixo do umbigo, até o nível da procedimento.
fáscia. Permita que o tempo tenha efeito.
PASSO 1. Colocar o doente em decúbito dorsal.
PASSO 5. Fazer uma incisão vertical da pele e tecido
subcutâneo até a fáscia. PASSO 2. Limpar a pele ao redor do local da punção
venosa e cobrir a área.
PASSO 6. Afastar as bordas fasciais com afastadores e
elevar e incisar a fáscia até o peritônio. Faça PASSO 3. Localizar a veia femoral palpando-se a artéria
um pequeno corte no peritônio, entrando na femoral. A veia está medial à artéria femoral
cavidade peritoneal. (lembre-se do mnemônico NAVEL, de lateral
para medial: nervo, artéria, veia, espaço
PASSO 7. Inserir um cateter de diálise peritoneal na vazio, linfático). Mantenha um dedo na
cavidade peritoneal. artéria para facilitar a localização anatômica
e evitar a inserção do cateter na artéria. Use
PASSO 8. Avançar o cateter em direção à pelve. ultrassom para identificar a artéria femoral
e visualizar a introdução da agulha na veia.
PASSO 9. Conectar o cateter de diálise a uma seringa
e aspirar. PASSO4. Se o doente estiver acordado, use um
anestésico local no local da punção venosa.
PASSO 10. Se for aspirado sangue ou matéria orgânica,
o doente deve ser levado para laparotomia. PASSO5. Introduzir uma agulha de grosso calibre
Se não, infundir 1 L de solução cristaloide com uma seringa de 10 mL com 0,5 a 1 mL
isotônica aquecida (10 mL/kg em uma de solução salina. Direcione a agulha em
criança) no peritônio através do tubo direção à cabeça do doente, inserindo a
endovenoso conectado ao cateter de diálise. agulha diretamente sobre a veia femoral.
Mantenha a agulha e a seringa paralelas ao
PASSO 11. Agitar suavemente o abdome para distribuir plano frontal.
o líquido por toda a cavidade peritoneal e
aumentar a mistura com o sangue. PASSO6. Dirigindo a agulha em sentido cranial e
posteriormente, avançá-la lentamente
PASSO 12. Se a condição do doente for estável, permita enquanto gentilmente retira-se o êmbolo
que o fluido permaneça alguns minutos antes da seringa.
de colocar o saco de líquido intravenoso no
chão e permitir que o líquido peritoneal seja PASSO 7. Quando um fluxo livre de sangue aparecer na
drenado do abdome. O retorno adequado do seringa, remover a seringa e ocluir a agulha
fluido é > 20% do volume infundido. com um dedo para evitar embolia gasosa.
Se a veia não for inserida, retirar a agulha e
PASSO 13. Após o retorno do fluido, envie uma amostra redirecioná-la. Se duas tentativas não forem
para o laboratório para coloração de Gram bem sucedidas, um clínico mais experiente
e contagens de eritrócitos e leucócitos. Um deve tentar o procedimento, se disponível.
teste positivo e, portanto, a necessidade de
intervenção cirúrgica é indicada por 100.000 PASSO 8. Inserir o fio-guia e remover a agulha.
glóbulos vermelhos (hemácias)/mm3 ou
mais, mais de 500 glóbulos brancos/mm3, ou PASSO 9. Fazer uma pequena incisão na pele no ponto
uma coloração de Gram positiva para fibras de entrada do fio, passar o dilatador (ou o
ou bactérias alimentares. Uma lavagem introdutor do dilatador combinados) sobre
negativa não exclui lesões retroperitoneais, o fio e remova a pressão de retenção do
como lesões pancreáticas e duodenais. dilatador no local de saída do fio (ou remova
354 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO3. Se o doente estiver acordado, use um PASSO 15. Colar a fita intravenosa no lugar.
anestésico local no local da punção venosa.
PASSO16. Obter um R-X de tórax para confirmar a
PASSO4. Introduzir uma agulha de grosso calibre, posição da linha intravenosa e identificar
acoplada a uma seringa de 10 mL com 0,5 um possível pneumotórax.
a 1 mL de soro fisiológico, 1 cm abaixo da
junção do terço médio e medial da clavícula.
FLEBOTOMIA – PR ÁTICA
PASSO 5. Após transpor a pele, com o bisel da agulha
para cima, expelir o plugue da pele que pode OPCIONAL
ocluir a agulha.
PASSO 6. Segure a agulha e a seringa paralelamente PASSO1. Limpar a pele ao redor do local escolhido
ao plano frontal. para a incisão e prepare a área para cirurgia.
PASSO 7. Direcionar a agulha medialmente, levemente PASSO2. Se o doente estiver acordado, usar um
cefálica e posteriormente abaixo da anestésico local no local da punção venosa.
APÊNDICE G n Estações Práticas 355
PASSO3. Fazer uma incisão cutânea transversal de PASSO 6. Avaliar o doente para verificar se ocorreu
espessura total através da área anestesiada algum deslocamento mediastinal, que pode
até um comprimento de 2,5 cm (1 polegada). ter causado um deslocamento significativo
do coração.
PASSO4. Por dissecação romba, usando uma pinça
hemostática curva, identificar a veia e PASSO 7. Puncionar a pele 1 a 2 cm abaixo e à esquerda
dissecá-la, isoladamente. da junção xifocondral, com uma angulação
de 45º em relação à pele.
PASSO 5. Elevar e dissecar a veia por uma distância de
aproximadamente 2 cm (3/4 de polegada) PASSO 8. Avançar a agulha com cuidado, em sentido
para liberá-la de seu leito. cranial, apontando-a para a ponta inferior
da escápula esquerda. Seguir a agulha com
PASSO 6. Ligar a veia distalmente, deixando a sutura o ultrassom.
no lugar para usá-la para tração.
PASSO9. Avançar o cateter agulhado. Remover a
PASSO7. Passar um fio ao redor da veia em uma agulha.
direção cefálica.
PASSO 10. Quando a ponta da agulha penetrar no saco
PASSO 8. Fazer uma venotomia pequena e transversal pericárdico cheio de sangue, retirar, tanto
e dilatar suavemente a veia com a ponta de sangue incoagulável quanto possível.
uma pinça hemostática fechada.
PASSO11. Após completada a aspiração, remover a
PASSO9. Introduzir uma sonda plástica através da seringa e adaptar uma torneirinha de três
venotomia e prendê-la no lugar amarrando vias, deixando-a fechada. O cateter pode ser
a ligadura superior ao redor da veia e da suturado ou fixado com fita no local e coberto
cânula. Para evitar a saída, inserir a cânula com um pequeno curativo para permitir nova
a uma distância adequada da veia. descompressão a caminho da cirurgia ou
transferido para um outro hospital.
PASSO 10. Conectar o tubo intravenoso à sonda e fechar
a incisão com suturas separadas. PASSO12. Se persistirem sinais de tamponamento,
a torneirinha deve ser aberta e o saco
PASSO 11. Aplicar um curativo estéril. pericárdico aspirado novamente. Este
processo pode ser repetido se os sinais
de tamponamento persistirem, antes do
tratamento definitivo.
PERICARDIOCENTESE COM
ULTRA-SOM – PR ÁTICA
OPCIONAL LINKS para APRENDIZADO FUTURO
PASSO1. Monitorar os sinais vitais do doente e o O choque pode se desenvolver ao longo do tempo,
eletrocardiograma (ECG) antes, durante e portanto é necessária uma reavaliação frequente.
após o procedimento. Hemorragia é a causa mais comum de choque no doente
traumatizado, mas outras causas podem ocorrer e
PASSO 2. Usar ultrassom para identificar o derrame. devem ser investigadas. O aplicativo móvel MyATLS
fornece demonstrações em vídeo da maioria dos
PASSO 3. Preparar cirurgicamente a região xifoidea procedimentos. Visite também www.bleedingcontrol.
e subxifoidea, se o tempo o permitir. org para mais informações sobre controle de
hemorragia externa. Visite https://www.youtube.
PASSO 4. Anestesiar o ponto de punção, se necessário. com/ watch?v=Wu- KVibUGNM para ver um vídeo
demonstrando a abordagem intraóssea do úmero e
PASSO5. Adaptar uma seringa vazia de 50 mL com https://www.youtube. com / watch? v = OwLoAHrdpJA
uma torneirinha de três vias, a um catéter para ver o vídeo da abordagem guiada por ultrassom
agulhado de 15 cm ou mais, calibre 16 a 18 G. para pericardiocentese.
Estação Prática D
DÉFICE NEUROLÓGICO
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
1. F
azer um breve exame neurológico, incluindo bloco do doente, removendo a prancha e revendo as
o cálculo da pontuação da Escala de Coma de imagens da coluna cervical e T C de crânio.
Glasgow (GCS), realizando um exame pupilar e
examinando o doente para sinais de lateralização. 5. I dentificar os sinais, sintomas e tratamento do
choque neurogênico.
2. I dentificar a utilidade e as limitações das
ferramentas de decisão de TC de crânio. 6. D
emonstrar técnica adequada de remoção de
capacete.
3. I dentificar a utilidade e as limitações das
ferramentas de decisão de imagens da coluna 7. Identificar os sinais e sintomas de lesão medular em
cervical. um doente simulado.
4. R
ealizar uma avaliação adequada da coluna enquanto 8. Demonstrar a transferência de um doente com
restringe o movimento da coluna vertebral, incluindo neurotrauma para outra instituição ou médico.
a avaliação da coluna vertebral, a movimentação em
357
358 APÊNDICE G n Estações Práticas
A. Observar os fatores que interferem na PASSO 4. Pedir ao doente para virar cuidadosamente a
comunicação, capacidade de responder e cabeça de um lado para o outro. Observar se
outras lesões. há dor ou se ocorre qualquer parestesia. Se
não, vá para PASSO 5. Se sim, pare, reaplicar
B. Observar os movimentos dos lados direito e o colar cervical e obter imagens.
esquerdo do corpo.
PASSO5. Pedir ao doente para estender e flexionar
C. Se a resposta não for espontânea, estimular o pescoço (por exemplo, “olhe para trás e
o doente falando ou gritando. depois encoste o queixo no peito”). Observar
se há dor ou se ocorre qualquer parestesia. Se
D. Se não houver resposta, aplique pressão na não, e o doente não estiver comprometido,
ponta do dedo, trapézio ou entalhe supra- cabeça lesionada ou em outra categoria de
orbital (se não for contraindicado pela lesão). alto risco, conforme definido pelo NEXUS
Criteria ou pela Canadian C-Spine Rule (CCR),
E. Classificar a resposta em uma escala de NT, 1–6. interromper o uso do colar cervical. Se sim,
reaplicar o colar cervical e obter imagens.
PASSO 6. Calcular a pontuação total do GCS e registre
seus componentes individuais.
cOMUNICAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA
Avaliar para Qualquer Evidência de
sinais de Lateralização PASSO 1. Usar o método ABC SBAR para garan-tir a
comunicação completa.
PASSO7. Avaliar o movimento das extremidades
superiores. A. Via Aérea
PASSO 2. A segunda pessoa corta ou afrouxa a alça do PASSO 3. Realizar um exame de nervo craniano com
capacete nos anéis-D. os olhos do doente abertos e fechados; mova
os olhos para a direita, para a esquerda,
PASSO3. A segunda pessoa coloca uma mão na para cima e para baixo; sorria largamente;
mandíbula no ângulo, posicionando o estenda a língua; e encolha os ombros.
polegar de um lado e os dedos do outro. A
outra mão aplica pressão debaixo da cabeça PASSO4. Examinar os dermátomos para sensação
na região occipital. Essa manobra transfere a de toque leve, observando áreas onde há
responsabilidade de restringir o movimento perda sensorial. Examinar essas áreas para
cervical à segunda pessoa. sensibilidade a picada, observar o nível mais
baixo onde há sensibilidade.
PASSO 4. A primeira pessoa então expande o capacete
lateralmente para limpar as orelhas e remove PASSO 5. Examinar os miótomos para o movimento
cuidadosamente o capacete. Se o capacete ativo e avalie a força (0-5) do movimento,
tiver uma cobertura de rosto, remova este observando se limitado pela dor.
360 APÊNDICE G n Estações Práticas
B. Examinar as facetas.
362 APÊNDICE G n Estações Práticas
•• NEXUS criteria: Hoffman JR, Wolfson AB, Todd C-Spine Rule by triage nurses in the emergency
K, Mower WR (1998). “Selective cervical spine department. CMAJ. 2010 Aug 10. 182(11):1173-9.
radiography in blunt trauma: methodology of
the National Emergency X-Radiography Utilization Após o ATLS - Avaliar quais procedimentos existem
Study (NEXUS).”. Ann Emerg Med. 32 (4): 461–9. em seu ambiente de prática para avaliar rapidamente
os doentes com trauma craniencefálico (TCE). Sua
Canadian C-spine rules: configuração de prática tem um protocolo para
prevenção de lesão cerebral secundária quando o TCE
•• Stiell IG, Wells GA, Vandemheen KL, Clement é diagnosticado? Avaliar também quais procedimentos
CM, Lesiuk H, De Maio VJ, et al. The Canadian existem em seu ambiente de prática para a imobilização
C-spine rule for radiography in alert and da coluna. Todos os membros da equipe que lidam com
stable trauma patients. JAMA. 2001 Oct 17. doentes traumatizados são educados adequadamente
nesses procedimentos? Avaliar seu ambiente de prática
286(15):1841-8.
sobre como a coluna cervical é avaliada e depurada (se
•• Stiell IG, Clement CM, O’Connor A, Davies apropriado). Todos os membros da equipe que avaliam
B, Leclair C, Sheehan P, et al. Multicentre doentes traumatizados são adequadamente educados
prospective validation of use of the Canadian
Estação Prática E
EXAMES AUXILIARES
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
TREINAMENTOS INCLUSOS
NESTA ESTAÇÃO PR ÁTICA
365
366 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO 3. Examinar o quadrante superior esquerdo. deslizar o probe caudalmente (n FIGURA G-7).
Posicionar o marcador do probe em direção Examinar 2 ou 3 espaços. Incluindo mais
à cabeça no plano coronal (n FIGURA G-3). espaços aumenta a sensibilidade.
Começar a deslizar em direção mais cefálica
do que à direita e mais posterior. Começar PASSO2. Avaliar os diafragmas direito e esquerdo
na linha axilar média. Girar o probe obliqua- usando a mesma posição do probe para
mente e visualizar o diafragma, baço e rim. a avaliação do espaço peri-hepático e
periesplênico (n FIGURA G-8), deslizando o probe
PASSO4. (Idealmente, a bexiga está cheia.) Colocar em um espaço costal cefálico (n FIGURA G-9).
o probe acima da pube com o marcador do
probe apontando para a direita (n FIGURA IDENTIFICAR e-FAST ANORMAL
G-4). Procurar fluido, que aparece como uma
OU EM IMAGENS DE VÍDEO
faixa escura. Girar o probe 90 graus para que
o marcador aponte para a cabeça (n FIGURA
G-5). Procurar por fluido. PASSO 1. Procurar por um deslizamento do pulmão.
Se você não encontrar nenhum, procurar
REALIZAR UM EXAME eFAST E por pulso de pulmão.
DEMONSTRAR O POSICIONAMENTO PASSO 2. Procurar por caudas de cometa.
ADEQUADO DA SONDA
PASSO 3. Procurar por sinal de beira-mar, código de
PASSO1. Colocar o probe no segundo ou terceiro barras ou estratosfera no modo M. Código
espaço intercostal na linha clavicular média de barras e sinais da estratosfera indicam
em uma orientação sagital (n FIGURA G-6), e pneumotórax.
APÊNDICE G n Estações Práticas 367
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
1. A
valiar um doente simulado com múltiplas 4. Demonstrar imobilização de uma fratura em um
lesões usando a sequência correta de prioridades cenário de doente de trauma simulado.
e técnicas de gerenciamento para a avaliação
secundária do doente. 5. A
valiar um doente de trauma simulado quanto a
evidências de síndrome compartimental.
2. R
eavaliar um doente que não esteja respondendo
adequadamente à reanimação e ao tratamento. 6. R
econhecer o doente que precisará de transferência
para cuidados definitivos.
3. Demonstrar redução de fratura em um cenário de
doente de trauma simulado. 7. Aplicar um colar cervical.
B. Reavaliar as pupilas.
REALI Z AR AVALIAÇÃO
SECUNDÁ RIA EM UM DOENTE C. Reavaliar o nível de consciência e a pontuação
TRAUMATI Z ADO SIMULADO da Escala de Coma de Glasgow (GCS).
371
372 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO1. Assegurar-se de que os ABCDEs foram PASSO4. Pedir a outro médico para restringir o
avaliados e os problemas com risco de vida movimento da coluna cervical do doente,
foram resolvidos. ficando de pé na cabeceira da cama e
segurando cada lado da cabeça.
PASSO 2. Expor completamente a extremidade e retirar
toda a roupa. PASSO 5. Deslizar a parte posterior do colar atrás do
pescoço do doente, tomando cuidado para
PASSO 3. Limpar e cobrir as feridas abertas. não mover o pescoço.
PASSO 10. Colocar a extremidade na tala e segurá-la. PASSO3. Determinar se há alteração da sensação ou
parestesia distal ao compartimento afetado.
PASSO 11. Obter consulta ortopédica.
PASSO4. Determinar se há inchaço tenso do
compartimento afetado.
374 APÊNDICE G n Estações Práticas
PASSO6. As pressões dos compartimentos podem Após o ATLS - Reconhecer que a avaliação secundária
ser medidas, mas o diagnóstico é clínico. é semelhante ao exame físico abrangente aprendido na
Medições de pressão podem ser úteis em faculdade de medicina. Incorpora a história AMPLE e
doentes inconscientes ou com problemas leva em conta o mecanismo do trauma. É fácil, portanto,
neurológicos. encontrar oportunidades no ambiente de prática para
continuar a praticar as habilidades aprendidas nesta
PASSO7. Reavaliar frequentemente o doente, estação prática de avaliação secundária.
porque a síndrome compartimental pode
se desenvolver com o tempo.