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Amor (im)provável

Um dia, estava eu poisada numa flor, a observar a


paisagem, quando avistei um pássaro num ramo de uma
árvore. Ele, atraído pelo colorido das minhas asas,
aproximou-se de mim e exclamou:
– És tão bonita! Como te chamas?
– O meu nome é Margarida – respondi eu. – Sou a
borboleta mais nova da minha família.
– Sabes, eu ando a pensar fazer uma viagem para
conhecer o mundo e gostaria de levar alguém comigo.
Queres acompanhar-me?

5ºB

– Sim! – respondi. – E como te chamas?


– Luke – respondeu o pássaro. – Podemos marcar já
a viagem?
– Claro! – exclamei. – Podemos partir no sábado. O
que achas?
– Por mim está ótimo – respondeu Luke – então até
sábado!
– Até!
Passaram uns dias e já era sábado. Eu nem
acreditava. Os dias passaram a voar! Estava um dia lindo,
um céu azul brilhante, sem nuvens, um sol tão radiante que
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fazia reluzir a água dos poços. O campo onde tínhamos
combinado encontrar-nos estava verde, mas um verde
intenso, e o cheiro das flores era tão profundo que até me
apetecia ficar ali.
E ali estava eu pousada numa flor, à espera do meu
companheiro de viagem. “Será que ele se esqueceu?
Será que só estava a brincar comigo? E se ele está por
aí, perdido, porque se esqueceu do lugar que
marcámos?” Bem... vou parar de delirar e esperar mais
um pouco, enquanto aprecio a paisagem.
Mas não tardou muito. Ele chegou.
– Olá, Margarida! – cumprimentou-me o Luke. – Estás
cada vez mais bonita!
– Olá, Luke! Oh! Obrigada! – agradeço – Pensava que
te tinhas esquecido da viagem. Coloquei até a hipótese de
tu estares só a brincar comigo.
– Eu, brincar? Claro que não! Eu era incapaz de fazer
isso a uma borboleta tão bela quanto tu!
– Se o dizes... – respondi eu com uma certa
desconfiança, pois não era todos os dias que aparecia um
pássaro a querer passear pelo mundo e a tratar-me tão
bem. Há que duvidar. – Já vi que hoje alguém acordou
muito bem-disposto!
– Estou sempre bem-disposto. Então, quando se trata
de viagens e descobertas, reúno todas as minhas energias
– respondeu-me o Luke, muito alegremente.
– Tudo pronto? – perguntei.
– Sim. Podemos ir. – afirmou, com uma certa ânsia.

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Levantámos voo. Ia ser um longo percurso, mas
estávamos preparados.
– Nunca me imaginei a voar pelo mundo na
companhia da borboleta mais bela que já vi! – exclamou o
Luke, enquanto admirava as minhas lindas asas, umas
asas, em vários tons de azul, mas que, nos seus extremos,
tinham um tom esverdeado e um verdadeiro retoque de
perfeição.
– Pois... Eu também nunca me imaginei a voar com
um pássaro. Isto dava uma história, não dava? “A borboleta
e o pássaro à descoberta do mundo”. Poético! – ironizei.
Ele riu-se. Para ser sincera, é uma experiência nova,
mas até estava a gostar. Ele é super simpático, um amor
em pessoa.
– Já estamos quase em Nova York. Queres parar um
pouco? – perguntou.
– Sim. Confesso que estou a ficar um pouco cansada.
– desabafei. – E se parássemos na Estátua da Liberdade?
– Oh!, sim! É uma bela ideia. Também já está a
escurecer.
Quando estávamos a aterrar, o Luke deu um jeito e
partiu uma asa. Foi um desastre. Então, decidi procurar
uma ave que nos pudesse ajudar.
– Luke! – exclamei. – Aguenta um pouco! Vou em
busca de ajuda.
– Obrigado, Margarida! – agradeceu.
Eu estava de rastos, mesmo muito cansada, quase
sem forças para voar, mas não podia abandonar o meu

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companheiro. Foi então que vi um pássaro fêmea, vestido
de enfermeira.
– Olá, senhora enfermeira! Poderia ajudar-me?
– Sim, claro! Qual é a emergência? Parece estar
preocupada!
– Então, o meu amigo pássaro, ao aterrar, partiu uma
asa e precisamos de o curar!
Vi a expressão de preocupada da enfermeira, que me
disse:
– Por favor, mostre-me o caminho!
Quando chegámos, ela foi rapidamente em direção ao
Luke.
– Olá, senhora enfermeira!
– Olá! Vou começar a tratar da sua asa. Se estiver a
magoá-lo, diga.
– Compreendido.
Eu estive sempre ao lado dele… A única coisa em que
ele conseguia pensar era na sua enfermeira, muito bonita!
Não parava de falar das suas lindas penas cor-de-laranja e
dos seus olhos verdes como os campos de onde partimos.
– Pronto! Finalmente acabei.
– Obrigado! – agradeceu. – Mas, antes de ir, como se
chama?
– Serena. E, já agora, podes tratar-me por “tu”.

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– Serena!... Que nome lindo! – exclamou ele,
envergonhado. – E se amanhã fosses dar uma volta
comigo e com a Margarida? Aposto que ias gostar.
– Uau! Que boa ideia! Então, amanhã, aqui às 10
horas. Ok?
– Sim. Concordo – respondemos em coro.
– Então, até amanhã! – despediu-se a Serena.
– Até amanhã!
Passadas umas horas, já era manhã. O Luke ainda
está a dormir e eu aproveitei para ir em busca de alguma
coisa para comermos.
Fui procurando, até que vi uma loja chamada
“Almondine Bakery”, que me despertou muito a atenção,
com uma montra cheira de doces, chocolates, pastéis e um
pão quentinho, a sair do forno… Vinha de lá um aroma tão
apetitoso que, se ficasse ali mais alguns minutos, sem
comer um bocadinho, ia acontecer-me como ao cão do
Pereirinha. Aproveitei o facto de estar ali para comer e levei
um pouco para o Luke. “Acho que estou a começar a
gostar dele, mas é quase impossível um romance entre
uma borboleta e um pássaro…”.
Quando voltei ao cimo da Estátua, para meu espanto,
a enfermeira já lá estava e eles estavam muito juntinhos!
“Estão a beijar-se??!! Isto é possível??!!”
– Desculpem! Estou a interromper alguma coisa? –
perguntei, envergonhada.
– Na…a…n…na…não… Então, o que trazes aí? –
perguntou o Luke.

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– Nada de mais. Só um pedaço de pão quente para o
nosso pequeno-almoço.
– Obrigado, Margarida! – agradeceu-me ele.
A partir desse dia, as coisas começaram a ficar muito
estranhas. Ele só queria saber da sua nova namorada, já
não quis continuar a viagem e eu, literalmente, sentia-me
uma vela no meio deles.
Já se tinham passado alguns dias e, de acordo com
as minhas contas, eu só tinha mais 3 dias de vida e o meu
melhor amigo praticamente nem para mim falava. Estava
na hora de ter uma conversa com ele.
Decidida, fui à procura dele e, quando o encontrei, ele
estava a chorar. Fiquei realmente muito preocupada.
– O que se passa, Luke?
– Foi ela… a Serena… Ia ter com ela e encontrei-a
com outro pássaro. Foi uma desilusão. Não acredito que
me fui apaixonar por uma bruxa daquelas! – respondeu,
sem conseguir conter as lágrimas.
– Oh!... Que pena! Estavas tão feliz com ela…
Também te trago notícias tristes… Vou morrer dentro de 3
dias…
– Nãoooo!!!... Não é possível!!.... Isso não pode
acontecer!!... Por favor… não vás!!... Preciso de ti…
Desculpa, Margarida – implorou.

8 B – Prof. Francisco Magalhães

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Ao saber daquela triste notícia, Margarida desatou num
pranto sem fim. Ia perder o seu adorável amigo, por quem
nutria uma paixão secreta.
Passado o impacto daquela triste revelação, limpou as
lágrimas e pensou «Se assim é, o melhor é parar de chorar
e revelar-lhe os meus verdadeiros sentimentos!»
Se melhor o pensou, melhor o fez. Um pouco encabulada,
olhou-o na maior profundeza do seu olhar e confessou-lhe:
– Sabes, Luke, eu... eu...
– Tu?! Tu, o quê? – perguntou ele, temendo que a sua
revelação lhe roubasse aquela bela amizade. E, muito
ansioso, exclamou:
– Já percebi! Por causa do que te disse, já não queres
conhecer o mundo comigo. Afinal, só te restam três dias de
vida, o que é muito pouco tempo para tão grande viagem.
Ao ouvir estas palavras, Margarida criou coragem e
disse:
Agora que sei o teu segredo, vou revelar-te outro.
Estou apaixonada por ti e sei que um pássaro não ama
uma borboleta, mas como prova do meu amor vou
acompanhar-te nessa viagem até ao último momento da
minha existência.

Turma
R8 - CER

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