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Judiaria

Desde a Antiguidade até a criação do Estado de Israel, no século XX, os judeus


sempre percorreram e ocuparam diferentes regiões pelo mundo. Por onde passaram
foram-se fixando, e acabaram por exercer grandes atividades intelectuais, comerciais ou
foram perseguidos pelas populações.
Desde a antiguidade e durante várias épocas eles foram deambulando por diferentes
regiões e territórios. Apesar de não possuírem um Estado (território), eram
considerados uma nação (povo) e procuravam conservar sua identidade cultural por
meio da língua, religião, costumes e hábitos.  
Na Europa e mais especificamente na península Ibérica, tinham liberdade religiosa e
influenciaram o desenvolvimento cultural e científico, até ao séc. XI. No entanto desde
sempre foram vítimas de perseguição pelos cristãos, sofrendo vário s ataques e
enclausurados em espaços.
Após o advento dos Direitos Universais do Homem, durante a Revolução Francesa, os
judeus passaram a gozar de certa liberdade religiosa e desenvolveram várias atividades
no continente europeu, em diversos setores, tais como: bancos e indústrias; além de
atividades intelectuais, como: ciências, artes e filosofia (principalmente). Mas até
mesmo no passado recente, eles voltaram a ser perseguidos muitas vezes e até
exterminados nalguns como aconteceu na segunda guerra mundial.
Ao longo do tempo, A progressiva afirmação de uma respublica christiana sob a égide
do Papado necessariamente configurará uma gradual delimitação de fronteiras entre
os vários grupos religiosos: o etnocentrismo cristão-latino define-se também por
oposição à alteridade de judeus e muçulmanos7. Uma das temáticas transversais ao
direito canónico reflete, justamente, a ansiedade sobre os contatos interconfessionais,
na procura de uma estrita delimitação entre as diferentes comunidades em presença.
Delimitação, contudo, definida em função de uma assimetria plenamente assumida
pela Igreja, na construção ideológica de uma hierarquização confessional: a nível
social e simbólico, as minorias étnico-religiosas encontram-se subordinadas aos
cristãos e os respetivos comportamentos a uma progressiva expressão pública da
Christianitas. ( Barros, 38)
Deste modo, os judeus não podem deter qualquer poder sobre os cristãos sendo-lhes
interditos caros públicos. A subordinação do outro necessariamente terá que se refletir
num espaço público, que se pretende cristianizado, também a nível das perceções
sensoriais e dos comportamentos.(Barros 39)
Um dos aspetos mais prementes refere-se, justamente, à coabitação, sendo os cristãos
proibidos de viver sob o mesmo espaço e teto dos judeus e muçulmanos. A diferença
acentuava-se ainda na vestimentária e o da separação espacial. Essas fronteiras
interconfessionais materializavam-se no espaço urbano, na paisagem humana como na
edificada. O soberano determina que “nas vilas grandes” e noutros lugares onde
houvesse mais de dez moradores, lhes fosse designado espaço separado para aí se
instalarem, numa medida que se transforma em ordenação geral do reino. (Marques:
1986)
Assim, também a Guarda que em finais do século XII se vira agraciada por D. Sancho
com uma carta de foral e a elevação a sede de bispado, foi-se verdadeiramente
corporizando como centro urbano e concelhio.(Coelho:12, 1999) com uma judiaria.
Após a edificação de um castelo e a construção de muralhas; com a sua catedral, quatro
paróquias intramuros, além de três outras no arrabalde e estruturada urbanisticamente a
partir das suas ruas principais, a Direita e a de S. Vicente, foi preenchida com casas,
praças e bairros, e uma judiaria. (Coelho: 1999)
Imagem
Religião e vida social no espaço urbano: comunidades judaicas na Beira Interior em finais da
Idade Média 45 *Fonte: Jorge Patrão, Serra da Estrela Portugal, The anciente jewish quarters
rout. The Last secret jews of sepharad, Região de Turismo da Serra da Estrela, Covilhã, 2003

Portanto, a comunidade judaica da Guarda foi durante longos períodos uma das mais
importantes do país e é considerada uma das mais antigas. Está comprovado que
remonta ao século XIII com o aforamento, por parte de D. Dinis, de casas da freguesia
de S. Vicente a famílias judaicas, tendo sido numa delas instalada a sinagoga. Esta era a
judiaria nova, prolongamento de uma mais antiga, a velha, mencionada no foral de
1199. Em fins do século XIV aí residiam cerca de 200 pessoas e, cerca de 50 anos
depois, o número de habitantes de credo judaico já rondaria 600 pessoas que na sua
maioria se dedicava aos ofícios, segundo o historiador Adriano Vasco Rodrigues.

A judiaria tinha o seu início junto à Porta d’El-Rei e estendia-se até ao adro da igreja de
S. Vicente, limitada pela muralha e pela Rua Direita que dava acesso àquela Porta. Em
1465 este acesso foi fechado devido aos protestos dos cristãos. Os usos e costumes
praticados pelas populações judaicas, eram tidos como um ritual imprescindível na sua
vida, por isso mesmo em tempos conturbados, esses costumes não eram abandonados,
sendo muitas vezes feitos às
escondidas, ou apenas relatados de mães para filhos. Porém tanto os costumes como as
festividades, tinham uma origem comum, a História Bíblica
A presença de uma comunidade judaica na Guarda, está documentada desde a primeira
metade do século XIII. Com uma localização muito especifica dentro da malha urbana,
a Judiaria situava-se no interior do pano de muralhas e nas proximidades dos principais
eixos viários da cidade, a Rua de S. Vicente e a antiga Rua Direita (atual Rua Francisco
de Passos), ruas percorridas intensiva e quotidianamente pelas gentes locais e por
forasteiros, o que permitia e favorecia o desenvolvimento da atividade comercial dos
membros desta comunidade. Uma das suas referências mais importantes era a
Sinagoga, documentada na Chancelaria de D. Dinis, quando em 1295 a comunidade
aforou ao monarca uma casa com quintã. Embora inicialmente a comunidade judaica da
Guarda, se tenha instalado na Rua da Judiaria (atual Rua do Amparo) entre a Porta d’el
Rei e as proximidades do Largo de São Vicente (atual Rua da Trindade), ao longo da
Idade Média o aumento populacional da comunidade levou à ocupação dos espaços
mais a norte, o que é testemunhado, a partir do século XIV, pela Rua Nova da Judiaria.
Com a promulgação do Édito de Expulsão dos Judeus pelo rei D. Manuel I, em 1496,
também a comunidade Judaica da Guarda teve de optar pelo êxodo ou pela conversão,
mesmo que aparente.
Surgem assim as cruzes gravadas no granito das ombreiras de portas e janelas estão
relacionadas com o este facto. Ao ser instituída a Santa Inquisição em Portugal, no
século XVI começaram as perseguições aos judeus e muitos deles foram forçados à
conversão ou à fuga. "Aos convertidos, é atribuído, por vezes, o nome de cristãos-
novos, os quais, para demonstrar a sua adesão ao novo credo, podem ter marcado nas
ombreiras das suas casas símbolos cruciformes", adianta o documento. Os que optaram
pela fuga, abandonaram as casas, posteriormente ocupadas por famílias cristãs, que,
através da marcação de cruciformes, podem, como refere também o roteiro, "ter
procurado a purificação e a sacralização de um espaço anteriormente habitado por
judeus".
Cármen Balesteros adianta que os cruciformes registados no centro histórico
"ultrapassam a área da antiga judiaria, sendo mesmo no seu exterior que se encontra um
maior número" destas marcas.
Possui a cidade um roteiro das Marcas Mágico-Religiosas no Centro Histórico onde se
divulga cruzes e marcas cruciformes existentes em ombreiras de 48 portas e janelas de
edifícios da parte antiga da cidade, uma valiosa herança patrimonial, resultante de uma
pluralidade cultural e religiosa, O percurso sugerido começa na Praça Velha, onde se
encontra a Sé Catedral, seguindo por diversas ruas do centro histórico, passando, entre
outros, pelos largos de S. Vicente e do Passo do Biu, pelas portas do Sol e D"El Rei e
pelas ruas do Amparo, de D. Sancho I e de Rui de Pina. Embora no guia surjam apenas
48 marcas mágico-religiosas, atualmente já estão identificadas 89, que se estendem por
um conjunto de 23 ruas. 

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