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Breve Relato sobre Genealogia Judaica no Brasil

Israel Blajberg

O Brasil é conhecido como "a maior nação católica do mundo". No entanto, considerando o
legado do DNA, muitos brasileiros brancos podem descer remotamente de judeus portugueses
e cristãos novos que chegaram após 1500, para escapar da Inquisição, conhecidos como
Conversos", "Marranos", "Cripto-Judeus" ou "Anussim". Se eles não fossem obrigados ao
longo dos séculos a abjurar sua religião, possivelmente o Brasil não seria hoje tão
predominantemente católico.

Nos 517 anos de presença judaica no Brasil, desde a descoberta em 1500 pelo almirante Pedro
Alvares Cabral, muitas outras ondas de imigração chegaram, tornando a genealogia judaica no
Brasil um importante campo de pesquisa, especialmente na atualidade, uma vez que descobrir
ancestrais pode garantir uma segunda cidadania em países como Polônia, Portugal e Itália,
como aconteceu com 30 membros da família Arruda do Ceará, os quais obtiveram a cidadania
portuguesa certificando sua descendência ao longo de 15 gerações de Branca Dias, uma
antepassada judia falecida em 1558.

Um marco significativo foi o breve período de 1630 a 1654, durante o Brasil Holandês, quando
foi estabelecida a primeira comunidade judaica das Américas, no Recife, a capital colonial
Mauritia. Os judeus prosperaram na indústria açucareira sob liberdade de crença, e
construíram a primeira sinagoga das Américas, Kahal Kaddosh Zur Israel (Santa Comunidade
Rochedo de Israel). Após a derrota e a expulsão dos holandeses, os judeus se dispersaram pelo
interior e pelo mundo afora, como em Amsterdã, onde o primeiro rabino brasileiro Isaac
Aboab da Fonseca construiu a sinagoga portuguesa, até hoje em funcionamento. Outros
judeus chegaram ainda a uma ilha remota habitada por Índios, hoje conhecida como Nova
York.

Até 1808 manteve-se um incipiente cripto-judaísmo no Brasil, mas a invasão de Portugal por
Napoleão modificou este quadro. A Corte transferiu-se para o Brasil, com Dom João VI abrindo
os portos da antiga Colônia a todos os países, favorecendo correntes migratórias da Inglaterra,
Alsácia e Marrocos. Os judeus marroquinos chegaram em certo número à Amazônia e ao Pará,
no início do Ciclo de Borracha, subindo o Grande Rio até Iquitos no Peru. Em 1870, a guerra
franco-prussiana motiva a chegada de judeus da Alsácia-Lorena, e em 1900, o barão Maurice
de Hirsch funda as colônias de Philipson (Santa Maria) e 4 Irmãos (Erechim) no sul do Brasil,
através da JCA – Jewish Colonization Association. Pequenos núcleos são estabelecidos no
Norte, Bahia e Rio, bem como em vários pontos do Brasil.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento na imigração judaica, proveniente da


Polônia, Romênia, Alemanha, Áustria, França e Bélgica. As concentrações urbanas cresceram
no Rio e São Paulo, e também nas pequenas comunidades no interior. Em 1933, os refugiados
do nazismo começaram a chegar da Alemanha, Áustria e Itália, geralmente com boa formação
e muitos profissionais especializados. Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil recebeu
refugiados de Guerra e sobreviventes do Holocausto, e após o conflito do Canal de Suez em
1956, refugiados do Egito.
Havendo apenas cripto-judeus, a população judaica no Brasil diminuiu consideravelmente
entre 1654 e 1808, aumentando lentamente em seguida até o início do século XX. Durante a
Primeira Guerra Mundial, de 5 a 7 mil judeus estavam presentes no Brasil, numero que se
elevou a cerca de 55 mil durante a Segunda Guerra Mundial, predominantemente imigrantes.

Nas últimas décadas, como em outras partes do mundo, as famílias de maior renda
desenvolveram um processo de mudança para regiões mais nobres das cidades, o que
evidentemente também incluiu as famílias judaicas, mas ao contrário dos EUA, as pequenas
comunidades praticamente se extinguiram, determinando a concentração demográfica da
presença judaica principalmente nas capitais de 13 dos 26 Estados, totalizando cerca de 120
mil pessoas, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Do acima exposto, podemos dizer que a pesquisa genealogica judaica no Brasil pode ser uma
ferramenta poderosa, trabalhando em terreno fértil para descobrir muitas informações.
Paradoxalmente no entanto, a genealogia judaica não é tão popular no Brasil como em outros
países, e o mesmo se aplica à genealogia em geral. Com efeito, alguns obstáculos se
apresentam para o pesquisador, em um país onde somente nas últimas décadas se
estabeleceram sociedades históricas judaicas e arquivos, sempre enfrentando dificuldades por
falta de recursos, espaço adequado e pessoal e tecnologias especializadas, mesmo que
compensadas por um forte compromisso de alguns voluntários e funcionários dedicados.
Outro obstáculo relevante para o pesquisador estrangeiro provavelmente pode ser a língua
portuguesa, pois o inglês ainda não é amplamente utilizado; A maior parte da literatura
relevante e páginas da Internet estão em português.

Por volta de meados do século 20, quase todas as sociedades de imigrantes e algumas
bibliotecas judaicas, escolas e certas organizações no Brasil desapareceram ou se fundiram,
com a conseqüente perda de documentação. O declínio da língua iídiche contribuiu para tanto,
bem como mudanças geográficas e até incêndios, como o ocorrido na Sociedade de Ostrowiec
– Polonia, no Edificio Balança-mas-não-cai na Praça XI, e o desabamento total do prédio da Rua
do Rosário que abrigava a Biblioteca Israelita.

Tudo isso contribuiu para degradação da memória das instituições judaicas, para não
mencionar o descarte puro e simples de documentos, quando entidades eram extintas ou
fundidas umas com as outras. Apenas mais recentemente tem havido maior interesse em
preservar a memória da comunidade.

Alem de algumas poucas fontes internas da comunidade judaica, existem também fontes
relevantes de informações genealógicas e históricas judaicas, sendo as principais os
estabelecimentos notariais, as Cúrias, Arquidioceses e diversas agências arquivisticas federais,
estaduais e municipais, que podem abrigar informações valiosas e confiáveis úteis para o
pesquisador. No âmbito governamental, a principal entidade é o Arquivo Nacional, Rio de
Janeiro, (www.arquivonacional.gov.br), que possui registros de entrada de passageiros nos
portos brasileiros, abrangendo o periodo 1920-1960.

O LDS (Mormons) fez um extenso trabalho no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, on-line em
https://familysearch.org/search/collection/1932363, Brasil, Immigration Cards, 1900-1965.
Trata-se de Índices e imagens de cartões de imigração criados pelos consulados brasileiros em
vários países do mundo e apresentados no porto de entrada pelos estrangeiros, fossem
turistas ou imigrantes.

Na área militrar temos o Arquivo do Exército (www.ahex.ensino.eb.br), Marinha


(www1.mar.mil.br/dphdm) e Força Aérea (https://www.facebook.com/cendoc.fab).

Biblioteca Nacional (https://www.bn.gov.br/) - Av Rio Branco 219 - Rio de Janeiro, é o


depositário oficial de todos os livros impressos no Brasil. As coleções podem ser pesquisadas
em http://acervo.bn.br/sophia_web/

Existem algumas organizações no exterior que mantêm referências substanciais sobre o Brasil,
sendo as principais as Arquivos de Amsterdã (Brasil holandês 1630-1654) e Arquivo Nacional
Torre do Tombo - Lisboa (http://antt.dglab.gov.pt/) o principal repositório da Colônia do Brasil
de 1500 a 1822, incluindo os registros da Inquisição e os nomes dos cristãos-novos arrolados
em processos.

O Centro da História Judaica, Nova York, detém arquivos sobre o Brasil, incluindo jornais,
revistas e edições de um rico Boletim - Gerações (Gerações), publicado pela Sociedade
Brasileira de Genealogia Judaica - SBGJ, uma sociedade que operou nos anos 90.

Entre Os arquivos particulares temos - CBG - Colégio Brasileiro de Genealogia


(http://www.cbg.org.br/novo/), Av. Augusto Severo, 8, 20021-040 Rio de Janeiro - RJ, tel. 55-
21 2221-6000, aberto para consulta às terças-feiras - 2-5 PM. Também a Fundação FGV -
Getulio Vargas, http://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais/consulta, possui muitos arquivos
sobre personalidades judaicas.

Recentemente, o principal jornal O GLOBO inaugurou um novo site com todas as edições
desde a primeira em 29 de julho, 1925: http://acervo.oglobo.globo.com/. Todos os obituários
e avisos funerários de quase um século também podem ser recuperados.

Os cursos de pós-graduação no Brasil começaram em 1970 e, desde então, cresceu muito o


número de teses de mestrado / doutorado em monografias sobre a história do judeu
brasileiro, que geralmente contém informações úteis para genealogistas. Todas as
universidades brasileiras possuem um banco de dados desses trabalhos.

Existem 5 Organizações Judaicas dedicadas à História e à Genealogia:

O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro - AHJB foi incorporado ao Museu Judeu de São Paulo
(MJSP). Provavelmente o mais completo arquivo judeu no Brasil, cdm@museujudaicosp.org.br,
tel 55-11-3088 0879

Instituto Cultural Judaico Marc Chagall é especializado em História judaica no estado do Rio
Grande do Sul, incluindo as colônias estabelecidas pela JCA há 1 século. Rua General João
Telles 329, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, @icjmcrs, icjmc@hotmail.com, tel 55-51-3019-
4600
Instituto Cultural Judaico Brasileiro Bernardo Schulman possui uma biblioteca e arquivos
históricos sobre os judeus do Estado do Paraná. saraschulman@gmail.com

Arquivo Historico Judaico de Pernambuco - Arquivos sobre judeus do estado de Pernambuco,


sede da primeira sinagoga das Américas. tnkaufman@gmail.com

IHIM - Instituto Histórico Israelita Mineiro - História judaica do estado de Minas Gerais, tel 55-
31-3226-7848, ihimmg@outlook.com

A Confederação Israelita do Brasil (http://www.conib.org.br/ comunidades) é a entidade de


cúpula congregando as 13 Federações judaicas estaduais.

O Brasil tem apenas um Museu do Holocausto - Museu do Holocausto de Curitiba - tem dados
sobre sobreviventes, especialmente do estado do Paraná.
www.facebook.com/MuseuShoaCuritiba/

Entre os livros em português de interesse genealógico temos:

DICIONARIO SEFARADI DE SOBRENOMES, FAIGUENBOIM, GUILHERME - CAMPAGNARO, ANNA


ROSA - VALADARES, PAULO, inclui novos cristãos, convertidos, marranos, tem 12.000
sobrenomes e 17.000 Entradas.

BENCHIMOL, Samuel. Eretz Amazônia - Os Judeus na Amazônia. Amazonas: Comitê Israelita do


Amazonas, 1998.

MALAMUD, Samuel. Documentário. Rio de Janeiro: Imago, 1992. Recordando a Praça Onze.
Rio de Janeiro Kosmos, 1988.

WOLFF, Frieda & Egon. Publicaram 47 livros de 1970 a 2001, muitos de interesse genealógico,
como

Breve História da Sociedade do Cemitério Israelita de São Paulo. São Paulo, Scisp, 1989.

Campos - Ascenção e Declínio de uma Coletividade. Rio de Janeiro, Cemitério Comunal


Israelita, 1986.

Documentos V. Rio de Janeiro: edição dos autores, 1994.

Sepulturas Israelitas. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Judaicos, 1976.

Sepulturas Israelitas II. Rio de Janeiro, Cemitério Comunal Israelita, 1983.

Sepulturas Israelitas III. Rio de Janeiro, Cemitério Comunal Israelita, 1987.

Blajberg, Israel. SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE, 2008, AHIMTB / FIERJ, e Estrela de David
no Cruz do Sul, 2015, AHIMTB / FIERJ / CONIB. Livros sobre soldados judeus nas Forças
Armadas brasileiras desde a descoberta em 1500, com mais de 1000 nomes.

Muitos recursos da web detêm dados sobre o Brasil, como:

CD AVOTAYNU, agora um banco de dados em AVOTAYNU Back Issues (1985-2011), Revista


Internacional de Genealogia judaica. Existem 58 entradas para o Brasil.
Cemitérios: Registro Mundial de Sepulturas - JewishGen Online (JOWBR), Brasil (30 cemitérios,
23679 sepulturas), Cemitério Vilar dos Telles, 4210 sepulturas; Porto Alegre - 2 cemitérios,
2610 sepulturas; Vila Rosaly, 2 cemitérios, 13611 sepulturas.

https: //www.geni.com/projects/Brasil-Portal/7439

ancestry.com

findmypast.com

passengerlists.de

familysearch.org

jewishgen.org

Os Arquivos Centrais para a História do Povo Judeu Jerusalém (CAHJP) http : //cahp.nli.org.il/

Arquivos do Joint - http: //archives.jdc.org/explore-the-archives/searchable-lists.html

Ellis Island e outros portos de imigração em trânsito para / do Brasil

www .libertyellisfoundation.org / passenger

http: //www.stevemorse.org/

244 entradas no Brasil, em Yizkor Books and Trade Directorories

http: //genealogyindexer.org

Baron Hirsch Colonies Descendamts

http: //firs8.wixsite.com/judeus-da-coloniahttp:

www.amazoniajudaica.org/167563/

Servidores Civis do Governo Federal

www.portaltransparencia.gov.br/servidores/Servidor-ListaServidores.asp

Listas Online de telefones:

www.102busca.com.br/busca/home.asp,

www. telelistas.net/

Comunidades em facebook.com:

Descendentes de Judeus de Ostrowiec,

Polonia Judaica Brasil

Não sabemos como seria o Brasil se todos os judeus e cristãos-novos da época colonial
pudessem ter praticado sua religião livremente, como fizeram durante o Brasil holandês de
1630 a 1654.

Permaneceriam eles judeus? Não sabemos a resposta, nem se eles estariam aqui no Brasil ou
qualquer outra parada que os acolhesse em busca de um mundo melhor. As únicas certezas
são que ao longo dos séculos fomos fieis à Lei de Moisés, tementes a D_us, o Grande Arquiteto
do Universo, sendo hoje tão brasileiros quanto qualquer outro brasileiro.
Autor: Israel Blajberg, Engenheiro e Professor. Brasileiro nato de primeira geração, de
ascendência polonesa (1945). Escreve sobre genealogia judaica, história e viagens. Autor de 2
livros sobre soldados brasileiros judeus desde 1500.

iblajberg@poli.ufrj.br

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