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Major da Polícia Militar de Mato Grosso, Bacharel e Especialista em Segurança Pública pela Academia de
Polícia Militar Costa Verde e trabalha com roubos a instituições financeiras desde 2009. Nessa trajetorisa de
trabalho passou pelo BOPE, GAECO e ROTAM e atualmente labora no setor de planejamento da PMMT.
Nos tempos áureos de Lampião, entre 1920 a 1938, quando ele morreu, não era
comum ouvir falar em roubos a banco, até mesmo porque não havia tantas agências bancárias.
Entretanto, as ações comandadas por Virgulino possuíam a dimensão do “Domínio de
Cidades”, modalidade criminosa profetizada por Renato Júnior e Ferraço2 para o futuro
próximo.
Os autores de Guerra Federal preveem que chegará o momento em que os ataques, que
hoje acontecem simultaneamente contra os bancos e as policias, serão como quando
protagonizava Lampião, i.e., contra toda possível fonte de renda e concomitantemente contra
qualquer ameaça que houver na cidade,. Tomando, dessa forma, todo o domínio sobre aquela
urbe durante o ataque. Fatos semelhantes são contados em um relatório produzido por um
gerente do Banco do Brasil da cidade de Mossoró – RN, referente ao primeiro semestre de
1927, o que nos habilita a dizer que o próprio Lampião inaugurou a modalidade criminosa que
Rodrigues3 denomina como “Domínio de Cidades”.
2
JÚNIOR, R.; FERRAÇO, L. Guerra federal – retratos do combate a crimes violentos no Brasil. 2018, no
prelo.
3
RODRIGUES, R. M. Do Novo Cangaço ao Domínio de Cidades. 1º ed. Brasília – DF. 2018, no prelo.
Trecho do relatório da Agência Local do Bando do Brasil, datado do primeiro trimestre de 1927. O documento
traz relatos sobre o impacto negativo na econômico local em razão das ações de Virgulino Ferreira (Lampião).
4
BRASIL, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Desempenho Econômico da
Região Nordeste do Brasil 1960-97 (Síntese). 1999, p. 1. Disponível em:
http://www.sudene.gov.br/system/resources/BAhbBlsHOgZmSSI7MjAxMi8wNS8xMC8xN18xOV81MF8zN
DNfRGVzZW1wZW5ob19FY29ub21pY29fZG9fTkUucGRmBjoGRVQ/Desempenho%20Economico%20do
%20NE.pdf. Acesso em 01/07/2016.
5
Ataques a bancos durante o Regime Militar que ocorreram no Sudeste do país.
6
TRIBUNA DO NORTE. Vanzinho conta detalhes do roubo dos 94 milhões no RN. Homepage. 2016.
Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/vanzinho-conta-detalhes-do-roubo-dos-94-milhoes-
no-rn/239147. Acesso em: 28/07/2017.
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Companhia Independente de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga.
obriga os criminosos a se dispersarem pelo país, levando essa modalidade criminosa a vários
estados, inclusive a Mato Grosso.
Mato Grosso começa a sentir os efeitos dessa diáspora de criminosos especializados na
década de 1990 com alguns eventos que deixaram marcas traumáticas no seio da PMMT e da
sociedade mato-grossense. O ano era 1998, em Rondonópolis, uma grande ação criminosa
contra o Banco do Brasil deixa uma pessoa morta. Em 2001, em Vila Rica, um ataque nos
mesmos moldes deixou um policial militar morto e outro ferido. Em 2006, o alvo foi
Guiratinga, onde mais um PM tombou nesse combate injusto. Campinápolis sofria sua
segunda ação em 2008, quando outro jovem policial militar, portando uma pistola Taurus,
encerra sua carreira na luta contra assaltantes armados de fuzis de calibres diversos.
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Nesse ataque, os criminosos conectam fios entre computadores e os caixas eletrônicos e provocam uma pane no
sistema, o que faz com o TAA coloque todo dinheiro para fora, como se fosse um saque.
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Aparelho utilizado para cortar chapar de aço, utilizado por criminosos para abrir os cofres dos TAA.
tesoureiros. O maior exemplo de túnel no Brasil foi o do Banco Central de Fortaleza, em
agosto de 2005, seguido de mais de dez outros túneis pelo Brasil e inclusive Paraguai.
Nos ataques a bases de valores, como o que ocorreu em Campinas/SP, a tecnologia
utilizada pelos assaltantes perpassa por fuzis automáticos de diversos calibres, dentre eles
7,62 e .50, este com capacidade de furar a blindagem de carros fortes e das guaritas das
empresas. A chave dos grandes cofres passa a ser cargas extraordinárias de explosivos em
repetidas detonações, bem como o conhecimento especializado para manuseá-los. E, por fim,
a alta capacidade de planejamento operativo, com ações cronometradas e divisão de tarefas
para mais de cinquenta assaltantes, tudo isso simultaneamente.
O que permanece é a grande incógnita de como contrapor essas ações e seus recursos
abundantes, mesmo porque já restou claro que não há cidade com efetivo policial capaz de
fazer frente a essas ações sem que algo novo seja planejado e implementado no âmbito da
Segurança Pública. Digo isso porque as mencionadas ações já subjugaram as forças de
segurança de Campinas, Santos, Ribeirão Preto e Santo André, todas entre as dez maiores
cidades de São Paulo.
Em Pernambuco, o alvo foi a própria Recife. Por sua vez, no Paraguai, a ação foi
contra a segunda maior e mais importante cidade daquele país. E se engana aquele que pensa
que as cidades menores estão livres, o que importa para esses criminosos é o dinheiro e, onde
ele estiver, esses criminosos estão dispostos a buscá-lo.
Para ilustrar, citamos as ações semelhantes ocorridas em Marabá (271.594 habitantes)
e Redenção (75.556 habitantes), ambas no Pará. Tomando como base apenas essas
ocorrências fica fácil inferir que não há em Mato Grosso uma cidade que possa ser
considerada segura e imune a essa nova modalidade criminosa, e que, segundo
Rodrigues10, deverá evoluir em breve para o “Domínio de Cidades”.
10
RODRIGUES, 2017.
Outro ponto foi levantado por Uchoa11, em seu artigo sobre o tema e que exploramos
em entrevista, é a maior rentabilidade dessas ações contra bases de valores e a menor
vulnerabilidade dos criminosos em uma eventual intervenção policial, o que torna essas ações
mais lucrativas e seguras. Uchoa aponta que o montante roubado em cada ação contra base de
valor equivale, aproximadamente, a 20 assaltos a banco na modalidade “Novo Cangaço”, o
que pode ser mais um indicativo de que essas ações tendem a aumentar a cada dia. Nessa
esteira, o número sempre superior a 30 criminosos munidos de fuzis de última geração e farta
munição coloca em xeque o aparato de segurança pública de pronta resposta das cidades,
tornando, assim, a ação criminosa extremamente segura para os seus executores.
Se fosse propor alguma possível solução para esse problema sem precedente, indicaria
dois:
A primeira seria a confecção de um Plano de Defesa, começando pelas cidades onde
há bases de transporte de valores, como Sinop, Rondonópolis, Barra do Garças e Cuiabá. Em
Mato Grosso, houve duas ocorrências de roubo a banco que só foram possíveis de serem
solucionadas em razão da confecção de bloqueios nas vias de acesso durante as ações
criminosas. Os fatos ocorreram em Campos de Júlio, em 09 de agosto de 2012, e Comodoro,
em 30 de outubro de 2012. Nas referidas ações todo o dinheiro foi recuperado e os criminosos
foram presos ou mortos.
A segunda seria a implementação de uma Força Tarefa, em nível de Secretaria de
Segurança, com a participação efetiva do maior número possível de órgãos ligados a
segurança presentes no estado. Sempre digo que o potencial de produtividade de uma Força
Tarefa é diretamente proporcional a sua capilaridade dentro dos órgãos de segurança.
Exemplificando, pode-se mencionar o modelo de Força Tarefa implementado pelas
Secretarias de Segurança da Bahia e do Piauí, que vêm dando um basta nas ações criminosas
contra instituições financeiras e ao crime organizado daqueles estados. Ou quem sabe um
modelo de atuação sistemática, como já houve entre a PMMT e o GEACO, de julho de 2011 a
dezembro de 2014. Modelo semelhante pode ser encontrado em Goiás entre a Polícia Militar e
a Polícia Federal, que vem produzindo resultados invejáveis.
Recentemente muito se ouve mencionar a respeito de falta de inteligência dentro dos
órgãos que compõem o sistema de segurança, mas os especialistas param por aí, sem indicar
como é possível transformar a teoria em prática. A falta de inteligência apontada nada mais é
11
UCHOA, R. F. Ataque às bases de transporte de valores: um crime comum no Brasil? Federação Nacional
dos Policiais Federais, 2017. Disponível em: http://www.fenapef.org.br/ataques-as-bases-de-transporte-de-
valores-um-crime-comum-no-brasil/. Acesso em: 28/07/2017.
do que a ausência de comunicação entre os atores da segurança pública. Para aqueles que se
habilitem a contra-argumentar a teoria proposta, sugiro rever os dados criminais do país e, se
houvesse comunicação inteligente, tais não estariam em ascenção como se vê, a exemplo do
número12 de mortes violentas intencionais no país entre 2011 e 2016. Ou seja, se existe
comunicação e integração como muitos prolatam, é provável que não esteja sendo feito da
forma correta a fazer frente a escalada da criminalidade.
Por fim, o mais importante é encarar a escalada dos grandes crimes contra as
instituições financeiras como um fato e, como tal, um problema que está prestes a acontecer,
inclusive em Mato Grosso, portanto, precisamos nos preparar para ele, seja com “inteligência
inteligente” ou com planejamento. E mais importante que preservar o patrimônio será evitar
que vidas sejam perdidas durante ações cinematográficas de extrema violência em afronta aos
poderes constituídos.
12
Segundo publicações anuais realizadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública os números referentes as
mortes violentas intencionais no Brasil saltaram de 48.084 em 2011 (6º Anuário publicado em 2012) para
61.283 em 2016 (11º Anuário publicado em 2017).