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A concepção de circuitos magnéticos e sua analogia com circuitos elétricos foi devidamente
abordada no último conteúdo, no qual foram trabalhados os conceitos de força magnetomotriz
f.m.m. , relutância magnética ℜ e a lei de Ohm do magnetismo, ou lei de Hopkinson, exposta
na Eq. 1.
N⋅i=ℜ⋅Φ[ Ae ] (1)
Os exemplos mostrados até então consideram circuitos magnéticos compostos por núcleos
contínuos, ou seja, inteiramente formados por material de alta permeabilidade. Dentre os dispositivos
comuns de apresentarem essa topologia, tem-se transformadores e indutores em geral. Porém, há
dispositivos eletromagnéticos, como contatores, relés, solenoides, fechaduras magnéticas, motores e
geradores elétricos e diversos outros são compostos por circuitos que possuem uma ou mais regiões
de ar ao longo do caminho magnético médio. Essa fração do caminho magnético preenchida por ar é
denominada entreferro. A Fig. 1 apresenta um circuito magnético composto por uma região de
entreferro.
Em circuitos compostos por núcleos de alta permeabilidade magnética, as linhas de fluxo magnético
tendem a se concentrarem no interior do material. É dessa forma que o fluxo magnético é canalizado
para as regiões de interesse. Entretanto, eventualmente, há algumas linhas de fluxo magnético que
fecham seus caminhos pelo ar, embora sua quantidade é relativamente desprezível na maioria dos
casos. O fluxo magnético que circula por fora do núcleo é denominado fluxo de dispersão, ou Φl 1
como mostra a Fig. 2.
Em geral, os circuitos magnéticos que contém entreferro são analisados da mesma forma que um
circuito magnético convencional sem entreferro. A região de ar é calculada como uma relutância
qualquer, devendo ser alterado apenas o valor da permeabilidade magnética que, no caso, deve ser
utilizado o valor μ 0 .
Não há especificamente um valor de permeabilidade magnética que seja limiar, a partir da qual
devam ser desconsideradas as relutâncias do núcleo, essa simplificação deve ser analisada para
cada circuito especificamente. No âmbito da disciplina de Eletromagnetismo, os enunciados de
problemas e questões trarão a informação sob algum dos formatos a seguir:
• Será informado que a permeabilidade magnética do núcleo é muito maior que a do ar;
• A expressão μ material ≫μ0 , onde o símbolo ≫ significa “muito maior” pode ser informada;
• Pode ser expressa em função da permeabilidade relativa, onde μ r≫1 ;
• A permeabilidade magnética pode ser considerada próxima a infinito5 μ →∞ ; ou,
• Será afirmado que as relutâncias do núcleo são desprezíveis.
Em geral, no contexto desta disciplina, quando for informado o valor numérico de μr do material
do núcleo, sua relutância deve ser considerada no cálculo.
Como exemplo de circuito composto por entreferros, considere o dispositivo apresentado na Fig. 5,
fabricado com material de alta permeabilidade magnética, ou seja, com μ≫μ 0 , alimentado por
4 No âmbito desta disciplina, não será necessário aplicar compensação de seção transversal por conta do
fluxo de dispersão, sendo essa parte do conteúdo apenas informativa.
5 Não há, de fato, qualquer material de permeabilidade magnética infinita. Porém, pode-se encontrar materiais
de permeabilidade magnética relativa de valores bastante significativos, como 10000 ou 12000 . A
diferença de relutância entre os núcleos desses materiais e o entreferro é tamanha que pode-se considerar o
núcleo como um curto-circuito magnético.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA - CAMPUS FLORIANÓPOLIS
uma bobina com N =400[espiras ] , percorridas por uma corrente i=1,5[ A] e com dois
entreferros sendo que suas informações são: g 1=1[cm] , S 1=2 [cm 2 ] , g 2 =8[mm] e
2
S 2=1[cm ] .
Com a definição dos pontos, pode-se pressupor a existência de 11 relutâncias no sistema. A Fig.
apresenta a representação gráfica do circuito com a inclusão das relutâncias identificadas no circuito.
Repare que as relutâncias referentes aos entreferros foram identificadas de forma diferenciada. A
opção pela identificação distinta é uma sugestão para resolução do circuito, uma vez que reforça a
informação que aquelas relutâncias são diferentes das demais. Porém, com exceção das relutâncias
dos entreferros, as demais podem ser consideradas nulas, pois o enunciado do problema afirmou
que a permeabilidade magnética do núcleo é muito maior que μ 0 .
Repare que o aspecto final do circuito apresentado na Fig. 9 é significativamente mais simples que o
definido pela Fig. 8. Para facilitar a abordagem didática da análise do circuito, será efetuado um
redesenho do mesmo circuito na Fig. 10, de forma que seja mais evidente a identificação da conexão
em paralelo das relutâncias ℜg1 e ℜg2 .
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Após definido e simplificado o esquemático do circuito magnético, pode-se determinar os valores das
relutâncias magnéticas referentes aos entreferros. Para ambos os trechos, o enunciado do problema
forneceu os respectivos valores de seção transversal S 1 e S 2 , bem como os comprimentos6
l g1 e l g2 . A Eq. 2 apresenta os respectivos cálculos e valores finais para as relutâncias dos
entreferros.
l g1 1⋅10
−2
l g2 8⋅10−3
ℜg1= = ℜg2= =
μ 0⋅S 1 4⋅π⋅10−7⋅2⋅10−4 μ0⋅S 2 4⋅π⋅10−7⋅1⋅10−4
(2)
ℜg1=39,789 M [ ]
Ae
Wb
ℜg2=63,662 M
Ae
Wb[ ]
Para a determinação da relutância equivalente de elementos conectados em paralelo, segue-se a
mesma formulação utilizada para resistências em paralelo de circuitos elétricos. A aplicação dos
valores na fórmula adequada e o valor da relutância equivalente total ℜtot estão dispostos na Eq. 3
}
1 1 1
= +
1
=
ℜtot ℜg1 ℜg2
1
+
1
→ ℜtot =24,485 M
Ae
Wb [ ] (3)
A representação gráfica com a relutância equivalente total do circuito é apresentada na Fig. 11.
N⋅i
N⋅i=ℜtot⋅Φtot → Φ tot =
ℜtot
(4)
400⋅1,5
Φtot = =24,5μ [Wb ]
24,485⋅10 6
Para calcular os fluxos Φ1 e Φ 2 , deve-se analisar o circuito da Fig. 10. Repare que, por tratar-
se de um circuito paralelo, a força magnetomotriz é a mesma7. Assim, pode-se determinar os fluxos
com cálculos independentes, como ilustra a Eq. 5.
Repare que a lei de Kirchoff das correntes é válida para circuitos magnéticos. No nó de interconexão
entre o fluxo Φtot , Φ1 e Φ 2 , a soma dos fluxos deve ser nula. Ou seja, a soma dos fluxos
que estão entrando no nó deve ser igual a soma dos fluxo que estão saindo do nó. De fato, como
exposto na Eq. 6, a relação mantém-se coerente com a teoria.
Φ1=15,08μ [Wb]
Φ 2=9,42 μ [Wb ] }
→ Φtot =Φ 1+Φ 2=24,5μ [Wb] (6)
Para calcular o campo magnético que foi solicitado, basta aplicar as operações inversas das
equações clássicas de fluxo magnético e a relação constitutiva B=μ⋅H [T ] . Considere
inicialmente o entreferro 1 , uma vez conhecido o fluxo magnético Φ1 , pode-se utilizar a seção
transversal para determinar o valor da indução magnética B . O valor de θ referente à função
cos (θ) da fórmula do fluxo magnético pode ser considerado nulo 8, uma vez que a dedução das
equações dos circuitos magnéticos já estabeleceu essa condição. A Eq. 7 mostra o cálculo e o valor
obtido para B1 , ou seja, a indução magnética na região do entreferro 1 .
Φ1
Φ1= B1⋅S 1⋅cos(θ) → B1=
S1
(7)
15,08⋅10−6
B1 = =75,4 m[T ]
2⋅10−4
7 Da mesma forma que a f.e.m. , ou tensão elétrica, é a mesma em circuitos elétricos de resistências
conectadas em paralelo.
8 Se o valor do ângulo θ é nulo, o resultado da função é unitário: cos (0º)=1 . Então, apenas para
circuitos magnéticos a equação do fluxo magnético toma a forma Φ=B⋅S [Wb ] .
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B
B1=μ 0⋅H 1 → H 1= μ 01
(8)
75,4⋅10−3
H 1=
4⋅π⋅10 −7
=60 k[ ]
A
m
B 94,2⋅10−3
Φ 9,42⋅10−6 H 2= μ 02 =
B2 = 2 = 4⋅π⋅10
−7
S2 1⋅10−4 (9)
B 2=94,2 m[T ] H 2=75 k [ ]
A
m
Por fim, é apresentada na Fig. 12, o resultado de uma simulação de circuito magnético desenvolvida
em software específico. Repare que na representação das linhas de campo, a maior parte do fluxo
magnético é concentrada no interior do núcleo enquanto há poucas linhas de dispersão e uma leve
distorção das linhas na região do entreferro, por conta do espraiamento de fluxo.
H fio=
i
[ ]
A
2⋅π⋅r m
H esp=
i A
2⋅r m [ ] H bob =
N⋅i A
l m [ ] F =B⋅i⋅l⋅sin (θ)[ N ]
ΔB
U =B⋅l⋅⃗v⋅sin (θ)[V ] U =−N⋅Δ Φ [V ] U =R⋅i [V ] U =−N⋅S⋅cos (θ)⋅ [V ]
Δt Δt
U
e (t)= N⋅B⋅S⋅ω⋅sin(ω⋅t)[V ] ω=2⋅π⋅f
rad
s [ ] U eficaz = pico [V ]
√2
P=U⋅i[W ]