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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE


RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

ANA LAURA FERRONATO

A ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA BRASILEIRA E SEU


IMPACTO NA PRODUÇÃO, CONSUMO E EXPORTAÇÃO.

Ribeirão Preto/SP
2022
ANA LAURA FERRONATO

A ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA BRASILEIRA E SEU


IMPACTO NA PRODUÇÃO, CONSUMO E EXPORTAÇÃO.

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC


I apresentado à Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Bacharel em
Administração.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Ribeirão Preto/SP
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha Catalográfica
FEA-RP USP

FERRONATO, Ana Laura

A análise da cadeia produtiva da carne bovina brasileira e seu impacto na


produção, consumo e exportação.
Ana Laura Ferronato
Prof. Dr. Marcos Fava Neves – Ribeirão Preto, 2022.
fls.

Monografia – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade


de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo.

Carne Bovina. Análise Estratégica. Cadeia Produtiva. Sustentabilidade.


I. A análise da cadeia produtiva da carne bovina brasileira e seu impacto na
produção, consumo e exportação.
ANA LAURA FERRONATO

A ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA BRASILEIRA E SEU


IMPACTO NA PRODUÇÃO, CONSUMO E EXPORTAÇÃO.

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC


I apresentado à Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Bacharel em
Administração.

Ribeiro Preto/SP, 2022.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr.: _________________________________________________________


Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________

Prof. Dr.: _________________________________________________________


Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________

Prof. Dr.: _________________________________________________________


Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________
“A persistência é o menor caminho do
êxito”.
(Charles Chaplin)
RESUMO

A demanda por proteína animal no mundo está crescendo e o Brasil se destaca como um dos principais
produtores e exportadores deste bem, devido ao seu potencial geográfico, uso de tecnologia, baixo
custo de produção e técnicas sustentáveis. O setor de carne bovina é significativo para a economia do
país, representando parcela significativa do Produto Interno Bruto, além de impactar seu
desenvolvimento e crescimento. Diante desse cenário, esse estudo tem como objetivo trazer dados
atualizados a respeito do papel global que o Brasil desempenha, indicando os principais importadores,
demanda mundial de alimentos, consumo global e mudanças e transformações segundo a literatura da
área; analisar a cadeia produtiva de carne bovina no país, informando suas etapas, seus valores e
megatendências da área; trazer fatores internos e externos que influenciam diretamente no setor, como
preço e renda, barreiras tarifárias e não-tarifárias, meio ambiente s sustentabilidade, tecnologia e
inovação, logística e transporte, e captura de valor e marketing; além de informar estratégias que o país
pode aplicar para melhorar sua produtividade, competitividade, posicionamento de mercado, imagem
exterior, mitigação de gases efeito estufa, políticas públicas, melhora na infraestrutura, entre outros.
Com todas essas informações, será realizada uma análise SWOT, indicando as forças, fraquezas,
ameaças e oportunidades do setor e será aplicada a metodologia das cinco forças de Porter, onde são
identificados novos entrantes, substitutos, concorrentes, poder de barganha com fornecedores e
consumidores. A metodologia utilizada é de revisão da literatura, buscando trazer as informações e
transformações mais recentes sobre os pontos ressaltados. A finalidade é identificar gargalos, enxergar
oportunidades de melhoria para o setor, identificar os pontos fracos e os desafios a serem enfrentados
para que o Brasil se torne mais competitivo, produza mais e estimule o consumo de carne bovina.

Palavras-chave: Carne Bovina, Análise Estratégica, Cadeia Produtiva, Sustentabilidade


ABSTRACT

The demand for animal protein in the world is growing and Brazil stands out as one of the main producers
and exporters of this good, due to its geographic potential, use of technology, low production cost and
sustainable techniques. The beef sector is significant for the country's economy, representing a
significant portion of the Gross Domestic Product, in addition to impacting its development and growth.
Given this scenario, this study aims to bring updated data regarding the global role that Brazil plays,
indicating the main importers, world demand for food, global consumption and changes and
transformations according to the literature in the area; analyze the beef production chain in the country,
informing its stages, values and megatrends in the area; bringing internal and external factors that
directly influence the sector, such as price and income, tariff and non-tariff barriers, environment and
sustainability, technology and innovation, logistics and transport, and value capture and marketing; in
addition to informing strategies that the country can apply to improve its productivity, competitiveness,
market positioning, external image, mitigation of greenhouse gases, public policies, improvement in
infrastructure, among others. With all this information, a SWOT analysis will be carried out, indicating
the strengths, weaknesses, threats and opportunities of the sector and Porter's five forces methodology
will be applied, where new entrants, substitutes, competitors, bargaining power with suppliers and
consumers are identified. The methodology used is a literature review, seeking to bring the most recent
information and transformations on the highlighted points. The purpose is to identify bottlenecks, see
opportunities for improvement for the sector, identify the weaknesses and challenges to be faced so that
Brazil becomes more competitive, produces more, and stimulates the consumption of beef.

Keywords: Beef, Strategic Analysis, Production Chain, Sustainability.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exportações de carne de gado, por mil toneladas (2000-2016). ............... 15


Figura 2: Análise das Informações de Comércio Exterior. Exportação de carne bovina
brasileira em bilhões de US$..................................................................................... 16
Figura 3: Análise das Informações de Comércio Exterior. Principais destinos para o
produto brasileiro em 2021. ....................................................................................... 17
Figura 4: Representatividade do PIB na Pecuária de Corte no PIB Brasileiro de 2018
.................................................................................................................................. 18
Figura 5: Cadeia produtiva da carne bovina ............................................................. 21
Figura 6: Cadeia produtiva bovina brasileira ............................................................ 23
Figura 7: Consumo de carne bovina nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
.................................................................................................................................. 25
Figura 8: Exigências específicas de determinados países e continentes para a compra
de carne in natura brasileira ...................................................................................... 26
Figura 9: O processo de Segmentação, Alvo e Posicionamento das Redes
Agroalimentares de Carnes ....................................................................................... 33
Figura 10: Modelo de cooperativas pecuaristas. ...................................................... 37
Figura 11: Modelo de associação de pecuaristas .................................................... 38
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9
1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 11
1.2 PROBLEMAS DA PESQUISA ............................................................................. 12
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 12
1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 12
1.2.2 Objetivos específicos........................................................................................ 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 14
2.1 MERCADO DE CARNE BOVINA ........................................................................ 14
2.2 CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA BRASILEIRA ................................. 19
2.3 FATORES QUE INFLUENCIAM NO SETOR DE CARNE BOVINA BRASILEIRO
.................................................................................................................................. 24
2.3.1 Preço e Renda ................................................................................................. 24
2.3.2 Barreiras tarifárias e não-tarifárias ................................................................... 25
2.3.3 Meio ambiente e sustentabilidade .................................................................... 27
2.3.4 Tecnologia e inovação...................................................................................... 30
2.3.5 Logística e transporte ....................................................................................... 31
2.3.6 Captura de valor e Marketing ........................................................................... 32
2.4 ESTRATÉGIAS PARA O BRASIL ....................................................................... 34
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 41
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 44
5 CRONOGRAMA .................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46
9

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, são mais de 7,9 bilhões de pessoas que compõe a população


mundial. Este número deve atingir 8,5 bilhões de habitantes até 2030 e 9,7 bilhões em
2050, com destaque para regiões como África Subsaariana e a Ásia, de acordo com
as projeções das Nações Unidas (UNITED NATION, 2022). Como consequência
desse crescimento, a demanda global de alimentos e energia será impactada.
Neste cenário, o Brasil tem se destacado como um dos principais fornecedores
de alimentos mundiais, devido ao seu potencial geográfico e à sua forte atuação e
produção no setor agropecuário recorrendo ao uso de tecnologia, criação de centros
de pesquisa, “arquitetura” diferenciada nas fazendas, o que permite produzir mais com
menos; além do desenvolvimento de sistemas produtivos sustentáveis e
aperfeiçoamento da legislação ambiental (NEVES, 2016).
O agronegócio é uma das mais importantes fontes geradoras de riqueza do
Brasil. A relevância desse complexo para a economia nacional pode ser medida por
indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB), quantidade de mão de obra
empregada e participação significativa na exportação. O Brasil se destaca na
produção global de suco de laranja (62,2%), soja (37,4%), café (35,9%), laranja
(35,8%), açúcar (18,1%), carne bovina (16,8%), seguidos por óleo de soja, carne de
frango, algodão, milho e carne suína (NEVES et al., 2021). Em relação à participação
do Brasil na exportação global de alimentos, os principais são o complexo de soja
(grãos, farelo e óleo) que se destaca com 35% do total exportado, seguido pelas
carnes com 17% de participação, e por fim, produtos florestais que representam
11,3% (NEVES et al., 2021).
Estima-se que nos próximos 10 anos, o aumento da produtividade será de
15% para 2029, enquanto a expansão da terra para cultivo mundialmente será de
apenas 1,3 %, ou seja, a produção mundial será ampliada, contudo não irão expandir
as áreas geográficas na mesma proporção, resultando em um impacto significativo na
eficácia e na produção das terras já utilizadas. Serão expandidos em 19,6 milhões de
hectares entre 2020 e 2029, e 30% deste aumento corresponderá a Argentina e ao
Brasil (OCDE-FAO, 2020).
A produção agropecuária brasileira é estratégica para o crescimento econômico
do país. Este é responsável por colocar o Brasil em uma das nações mais competitivas
na produção de commodities agroindustriais – produtos que são matérias-primas para
10

criação de outros – combinando fatores como investimento em tecnologia e pesquisa,


incrementando exponencialmente sua produtividade (REVISTA USP, 2004). Para
manter as perspectivas de crescimento, considera-se essencial reorganizar, estruturar
e modernizar o modelo institucional que regula e apoia o setor.
Contudo, alguns desafios estruturais – sociais e econômicos – precisam ser
resolvidos. Dentre eles encontram-se a conquista de novos mercados; a redução da
carga tributária, a fim de estimular o empreendedorismo; solução de questões de
infraestrutura logística, tais como transporte, armazenagem e distribuição; barreiras
tarifárias e não tarifárias como excesso de protecionismo estrangeiro e
desorganização interna das instituições (rastreabilidade, desperdícios, defesa
sanitária, etc.); políticas agrícolas; diversificação da riqueza; e reestruturação do
Sistema Nacional de Inovação (JERO, et al., 2019).
Outro desafio enfrentado pelo agronegócio no geral é a conciliação com a
sustentabilidade e preservação do ecossistema. Pela sua natureza, a agropecuária
impacta o meio ambiente. Todavia, é possível conciliar uma agricultura modernizada,
baseada em avanços científicos para minimizar os impactos ambientais e conservar
os recursos naturais (PATERNIANI, 2011). O desenvolvimento sustentável é aquele
que atende as necessidades presentes, sem comprometer com a vida das futuras
gerações (HOLDEN; LINNERUD; BANISTER, 2014).
Houve diversos avanços e transformações ambientais na agropecuária
brasileira, tais como a evolução tecnológica que tem contribuído para o
desenvolvimento de sistemas mais sustentáveis; sistemas integrados de produção,
como a integração lavoura-pecuária-floresta; e na agricultura de baixo carbono (JERO
et al., 2019). Conciliar o aumento da produtividade com o manejo sustentável das
terras é de extrema relevância e pode se tornar uma vantagem competitiva para o
Brasil.
Neste contexto, considerando todos as vantagens e os desafios enfrentados
pelo Brasil em relação à produção de alimentos, esse estudo tem como objetivo
analisar em específico a cadeia de produção de carne bovina brasileira, destacando
os principais pontos de atenção e melhoria, além de ressaltar os pontos positivos já
praticados; visto que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos classifica o
Brasil em 2029 como primeiro exportador de carne bovina - 28,7 % do total - seguido
pela índia (2°), Estados Unidos (3°) e Austrália (4°) (MALAFAIA et al., 2021).
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A pecuária de corte está diante de uma grande oportunidade de crescimento


nas próximas décadas, mas para conseguir alcançar tais oportunidades, o setor
deverá se atentar em aumentar sua produtividade, zelar pelo meio ambiente e bem-
estar animal, aproveitar recursos, fazer o uso de tecnologias, implantar a
rastreabilidade em toda a cadeia de produção, garantir a qualidade e a segurança dos
produtos e contribuir para a inclusão social.

1.1 JUSTIFICATIVA

O agronegócio é um dos carros-chefes precursores da economia brasileira. Os


dados são surpreendentes: o setor passou a participar de 27,5% do Produto Interno
Bruto brasileiro no ano de 2021, segundo o estudo do Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada em parceira com a Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CEPEA, 2021).
De acordo com o estudo feito pela Athenagro, o movimento da agropecuária de
corte no ano de 2021 foi de R$913,14 bilhões de reais, incluindo todas as atividades
da cadeia produtiva, variando de insumos até a venda final (ABIEC, 2022). Do volume
de carne produzido, 25,51% foram destinados ao mercado externo (exportação), e
74,49% para o mercado interno (ABIEC,2022).
O setor de carne bovina brasileiro é extremamente relevante para a economia
do país e ainda existem oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento. O objetivo
desse estudo é analisar e atualizar os pontos que impactam diretamente nesse setor
e mercado, tanto positiva quanto negativamente, e a partir desta análise criar um
framework e compartilhar com atuantes na área planos de ação, destaques e
melhorias para que o Brasil possa se destacar como produtor e exportador mundial.
O Brasil possui capacidade e recursos para atingir um novo patamar de produção,
levando em consideração o bem-estar dos animais e do meio ambiente.
A outra motivação em seguir com esse assunto é o fato da minha família atuar
no setor de pecuária de corte e aprender com os pontos aqui relatados como é
possível melhorar internamente e conquistar novos espaços e oportunidades. Fazer a
análise macro auxilia no posicionamento frente ao mercado, encontrando gaps e
criando planos de ações eficazes, tanto para empresa como para o setor como um
todo.
12

1.2 PROBLEMAS DA PESQUISA

Levando-se em consideração as mudanças e transformações mundiais no


mercado de carne bovina e o aumento da demanda por alimentos, produtividade,
sustentabilidade, inovação, preservação do meio ambiente, comunicação
transparente, rastreabilidade, segurança, o presente estudo propõe-se a sistematizar
os principais fatores e aspectos que impactam diretamente no setor pecuário bovino
brasileiro, encontrando gaps e oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento com
o objetivo de melhorar a produção brasileira e esta se destacar no mercado nacional
e internacional.
Com isso, formulou-se a seguinte problemática para o trabalho: “Diante das
novas demandas mundiais e transformações no mercado, quais os principais fatores
que impactam a cadeia produtiva de carne bovina brasileira e como essa análise pode
influenciar no aumento da produção, consumo e exportação deste produto? ”

1.3 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar e investigar a cadeia produtiva do setor de carne bovina brasileiro,


trazendo pontos significativos e planos de ações que influenciam diretamente no
consumo, produção e exportação deste bem, tendo como base a relevância deste no
mercado nacional e internacional - além da própria economia do país - e adotando
estratégias para melhorar futuramente.

1.2.2 Objetivos específicos

 Compilar as principais visões e informações da relevância que o setor de


carne bovina brasileiro possui no mercado interno e global: Atualizar a
importância do Brasil como fornecedor de carne bovina diante da nova
demanda e necessidade mundial deste alimento; contribuir com novas visões
e dados de exportação e consumos globais, em meio às novas mudanças e
transformações, segundo a literatura da área.
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 Cadeia produtiva da carne bovina: Explicar e entender de forma sucinta as


etapas da cadeia produtiva da carne vermelha, para encontrar gaps e
oportunidades de desenvolvimento e melhoria.
 Informar os fatores que influenciam diretamente no setor: a partir da
revisão da literatura especializada, descrever os principais pontos que
impactam positiva e negativamente no setor, abrangendo diversos assuntos
como sustentabilidade, inovação, tecnologia e economia.
 Estratégias de melhorias para o mercado brasileiro: descrever os principais
motivos que impactam diretamente no crescimento do setor e organizar
estratégias que tem como objetivo expandir o Market Share e atingir um
número maior de consumidores.
 Comparar as principais características do conjunto de processos de F&A’s no
mercado brasileiro;
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MERCADO DE CARNE BOVINA

De acordo com dados publicados pela FAO, o mercado mundial de carne


bovina apresentou um crescimento de 4,2% ao ano entre os anos de 1990 e 1999. O
crescimento da exportação no Brasil deu-se em 1996 devido à ocorrência de uma
doença – febre aftosa ou “mal da vaca louca” - que afetou os rebanhos da Argentina
e União Europeia, os quais eram países concorrentes, reduzindo a participação destes
no mercado mundial e resultando na melhoria da percepção de qualidade do produto
brasileiro (BRANDÃO et al., 2007).
Entre 1996 e 2003, o Brasil passou de 40 para 122 o número de países que
consumiam a carne bovina brasileira (BRANDÃO et al., 2007). Esse crescimento é
consequência do investimento em infraestrutura, modernização na produção,
desenvolvimento de técnicas inovadoras da bovinocultura, alimentação e bem-estar
animal, melhoramento na equipagem, o que contribuiu para o reforço da qualidade da
carne bovina brasileira na visão mundial (PAIXÃO, ALMEIDA, 2020).
Entre 2004 e 2010, o Brasil liderou o ranking mundial nas exportações de carne
vermelha, com recorde no ano de 2007. Houve um crescimento dessas exportações
de 348,6% entre os anos de 2000 e 2007, provenientes de novos acordos comerciais,
capacidade de produção e sanidade do rebanho (AURÉLIO NETO, 2018).
Entre os anos de 2008 e 2011, nota-se uma retração na exportação brasileira,
em decorrência de problemas financeiros enfrentados por países importadores,
havendo uma queda no comércio exterior de carne vermelha (AURÉLIO NETO, 2018).
Todavia, em 2013 o Brasil retorna como principal exportador mundial de carne
bovina, permanecendo entre os três primeiros até o ano de 2016, como ilustra a figura
1.
15

Figura 1: Exportações de carne de gado, por mil toneladas (2000-2016).


Fonte: (USDA, 2016)

A carne vermelha além de ser exportada, ela também é consumida


internamente e em grande quantidade. No ano de 2016, as exportações equivaleram
a 18% da produção total de carne bovina, enquanto 82% permaneceram para o
mercado interno brasileiro (NEVES, 2018). Mesmo o Brasil sendo considerado um dos
principais exportadores deste produto, a maior parcela da produção ainda é destinada
ao consumo interno.
Desde então, o Brasil vem crescendo e se desenvolvendo a cada ano em
produção, tecnologia e exportação. No ano de 2020, mesmo no meio da crise mundial
por conta da pandemia do COVID-19, as vendas de produtos relacionados ao
agronegócio tiveram alta de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior,
atingindo US$ 31,40 bilhões. A carne de boi representou 45,3% do valor exportado
das carnes do quadrimestre, e a China representou quase metade das vendas
brasileiras (CARVALHO ALVES PAIXÃO, MIDORI YADA DE ALMEIDA, v. 17, n 2, p
556-566, 2020).
O Brasil bateu recorde de US$ 1,25 bilhões em exportação de carne bovina no
ano de 2022. Em 2021, como demonstra a figura 2, a exportação deste produto
representou 2,84% de participação nas exportações totais e ocupou o 5° lugar no
ranking (MDIC, 2021).
16

Figura 2: Análise das Informações de Comércio Exterior. Exportação de carne bovina brasileira em
bilhões de US$.
Fonte: (MDIC, 2021)

Para o ano de 2022, é esperado que a cadeia produtiva brasileira seja


expandida em 2,5%, guiada pelo crescimento da demanda global e pelos preços
elevados do boi. Contudo, para este ano de 2022, também é esperado um aumento
dos custos de produção especialmente de ração, inflação generalizada e clima
instável devido ao fenômeno natural La Niña, o que impactam diretamente nas
plantações de milho e soja, assim como as condições das pastagens, tendo como
consequência o aumento no custo de produção (USDA, 2022).
De acordo com dados da ABIEC, em 2021 os Estados Unidos representaram
17,87% da produção global de carne bovina, seguido pelo Brasil com 13,66% e pela
China com 9,49%. Dentre os cinco maiores importadores da carne bovina brasileira
em quantidade, encontram-se a China em primeiro lugar (39,2%), seguida por Hong
Kong (11,91%), Estados Unidos (7,52%), Chile (5,99%) e União Europeia (4,19%)
(ABIEC, 2022).
Conforme figura 3, a bovinocultura por si só já é responsável por 3% da
exportação total de produtos da economia brasileira, sendo assim esse setor é
considerado significativamente relevante para a economia nacional e internacional.
17

Figura 3: Análise das Informações de Comércio Exterior. Principais destinos para o produto brasileiro
em 2021.
Fonte: (MDIC, 2021)

O Brasil é beneficiado pela sua ampla expansão territorial e por fontes


alimentícias apropriadas, estimulando e expandindo a criação de bovinos no país.
Dentre os diferenciais competitivos brasileiros, encontram-se a genética bovina
melhorada e adaptada ao ambiente, tecnologia necessária para expandir a
produtividade, grande extensão de terras e com produção pecuária relativamente de
baixo custo (ZUCCHI; CAIXETA FILHO, 2010).
Segundo dados da ABIEC, as áreas territoriais do Brasil são dividias em:
42,38% são compostas por vegetação nativa, 17,67% são representados por
pastagens de uso exclusivo, 9,63% com vegetação nativa com aptidão agrícola fora
do bioma amazônico. (ABIEC, 2019). Isso indica que o Brasil é um dos países de
maior extensão geográfica e preservação ambiental.
Pelo ponto de vista social, devido à complexidade da cadeia produtiva de carne
bovina, além de a atividade ter significativa participação no Produto Interno Bruto
Brasileiro a atividade é uma importante fonte geradora de empregos diretos e indiretos
(ZUCCHI; CAIXETA FILHO, 2010).
Como demonstra a figura 4, em 2018, o PIB da pecuária de corte representou
8,7% do total do país, somando R$ 597,22 bilhões.
18

Figura 4: Representatividade do PIB na Pecuária de Corte no PIB Brasileiro de 2018


Fonte: (ABIEC, 2022)

A produção de carne bovina brasileira é majoritariamente realizada em


sistemas de pastagens (90%) existindo a possibilidade de finalizar o ciclo produtivo
conduzindo o gado para o sistema intensivo, terminado para abate. Ainda há áreas
com capacidade para extensão, pois algumas estão sendo subutilizadas ou em estado
de degradação, através do melhor uso das áreas já existentes e aumento da taxa de
lotação – cabeças por hectares (ABIEC, 2015).
A taxa de lotação de animais por hectare no Brasil ainda é muito baixa e este
fato ocorre devido ao perfil da pecuária que é majoritariamente extensivo – aquela
realizada a pasto, com baixo investimento em pastagem, suplementação nutricional e
técnicas reprodutivas. Neste cenário, há uma grande oportunidade de intensificação
com reforma de pastagens, fertilização e suplementação animal (NEVES, 2018).
A criação de animais no pasto tem influência direta na redução custo de
produção pois neste caso o boi se alimenta majoritariamente de pastagem, enquanto
nos outros países precisam utilizar de mais insumos como grãos, silagem, sais
minerais etc. De acordo com um estudo realizado pelo Benchmark (2015), o custo de
produção de bovinos estaria em torno de 200 dólares por 100 quilos de peso vivo, o
que é baixo comparado aos países europeus (Alemanha, Espanha, França, Irlanda),
Estados Unidos e México. Esses baixos custos estão relacionados a terras, pastagem
e mão de obra.
Devido ao menor custo de produção, o Brasil consegue ofertar a carne bovina
por um preço mais competitivo em relação aos seus concorrentes no mercado
19

mundial, tornando-se mais atrativo. O preço é uma variável relevante da capacidade


de competição entre os fornecedores, sendo que o preço abaixo do praticado no
mercado internacional é considerado competitivo (Lucena e Souza, 2011 p. 195),
como acontece na produção de carne bovina brasileira.
Além da criação de gados em pastagens impactar no preço, ela também
interfere na segurança alimentar, visto que a complementação da dieta dos bovinos
com ração desencadeou a febre aftosa em outros países. Ademais, os frigoríficos
focaram em atingir variados nichos de mercados através da tipificação das carnes,
como também investiram na produtividade para adentrar em mercados internacionais
com preços competitivos, adotando selos de qualidade e origem do produto
(ORDOÑEZ et al., 2007).
Devido à grande relevância da carne bovina brasileira mundialmente, grandes
grupos frigoríficos reconhecidos internacionalmente se originaram no Brasil. O JBS –
Friboi se originou no Estado de Goiás em 1953 e é a maior empresa do mundo de
produtos de origem animal; o frigorífico Minerva é a terceira maior empresa de carne
do Brasil e se expandiu para países como Argentina, Paraguai, Chile e Colômbia
(NEVES, 2018).
Para aproveitar as oportunidades que surgem no mercado internacional para a
cadeia da carne bovina brasileira, o país deve se atentar a alguns pontos relevantes
como status sanitário, bem-estar animal, sustentabilidade, inovação tecnológica,
aumento da produtividade, tendências de consumo, crescimento populacional dentre
outros fatores.

2.2 CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA BRASILEIRA

A carne é uma importante fonte de proteína na dieta do ser humano e seu


consumo depende de fatores religioso, socioeconômicos, ética, tradições e crenças.
Desde 1990, a cadeia produtiva de carne vermelha brasileira passou por um processo
de modernização em sua produção e sistemas organizacionais, tendo como
resultados uma elevada produtividade, maior competitividade e qualidade (MALAFAIA
et al., 2021).
A cadeia de carne bovina é considerada completa. Isso significa que todos os
seus elos estão presentes, indicando muita maturidade e o negócio está plenamente
20

desenvolvido; a cadeia é considerada uma das mais complexas quanto à estrutura e


aos agentes envolvidos (TIRADO et al., 2008).
Segundo Zucchi (2010), a cadeia de produção da carne bovina brasileira é
dividida da seguinte maneira: antes da porteira, que são atividades que englobam os
suprimentos de insumos antes da fazenda; durante a porteira, que se refere ao abate,
processamento e distribuição; e após a porteira, que são o atendimento ao
consumidor final nacional e internacional, e atividades de apoio de pesquisas.
A maior porcentagem do valor gerado na cadeia produtiva encontra-se após a
porteira, quando o gado deixa a fazenda (atividade industrial, transporte, distribuição
pelo atacado e varejo), representando 74% do movimento financeiro bruto do setor da
carne bovina. Isso acontece porque consideramos o valor bruto de cada venda
realizada, e não pelo valor agregado de cada uma (NEVES et al., 2012).
Dentre as atividades consideradas na etapa antes da fazenda, encontram-se:
genética, suplementação alimentar, defensivos agrícolas, fertilizantes, suplementos
minerais, vitaminas e aditivos, produtos veterinários, cercas, combustíveis, brincos,
tratores e implementos. Na etapa dentro da fazenda, são considerados os abates dos
animais (boi gordo, vacas, novilha e vitelo). Por fim, na etapa depois da porteira,
encontram-se a venda de carne e subprodutos para distribuidores e atacadistas e
exportação para outros países. (NEVES et al., 2012).
A Cadeia produtiva da carne bovina é ilustrada na figura 5.
21

Figura 5: Cadeia produtiva da carne bovina


Fonte: Adaptado de Barcellos, 2002.

Além do alto potencial da produção de carne bovina brasileira, o parque da


indústria frigorifica já presente no país, possui uma capacidade de produção maior do
que o explorado atualmente. Segundo Macedo e Lima (2011), o setor de indústria
frigorífica brasileiro apresenta uma competição global intensa, demandando
investimentos em sua capacidade e expansão.
Tais investimentos exigem recursos financeiros de longo prazo para tal que
dificilmente são cobertos pela própria indústria. Sendo assim, investimentos de
terceiros são necessários, e essa ação estratégica tem impacto direto na
competitividade produtiva da cadeia bovina brasileira no mundo, aumentando as
escalas das operações, aprofundando a concentração e centralização do capital na
indústria de carne e derivados, visando o aumento da liderança mundial. A grande
22

concentração em grandes empresas nacionais trouxe benefícios à cadeia em relação


ao mercado e competitividade internacional, além de garantir segurança e qualidade
(MACEDO; LIMA, 2011).
As inovações tecnológicas no setor de carne bovina brasileira são para
atenderem as exigências internacionais dos mercados importadores e dos órgãos
reguladores, como por exemplo o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação
de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV), cujo objetivo é rastrear informações ao longo
de toda a vida do animal para fornecer ao consumidor a melhor qualidade (AURELIO
NETO, 2018).
No Brasil ainda existem os agentes facilitadores que potencializam a
capacidade produtiva, dentre eles se encontram a Pesquisa e o Desenvolvimento em
que os órgãos públicos investem; Impostos Agregados que influenciam diretamente
no preço final do produto; Transporte predominantemente rodoviário para
movimentação dentro do país; Rastreabilidade; e Financiamento com políticas
governamentais próprias de incentivo à produção (NEVES et al., 2012).
A produção pecuária brasileira prioriza tecnologias de capital intensivo com
melhores performances técnicas e econômicas. As soluções chaves tem sido
sistemas de produção integrados, melhoramento genético, gerenciamento e
recuperação de pastagens e boas práticas de produção (MALAFAIA et al., 2021).
A cadeia produtiva de carne bovina brasileira é considerada uma das mais
modernas mundialmente. Ela possui vantagens climáticas, geográficas, tecnológicas,
governamentais e estruturais como citado anteriormente. O valor agregado e a
relevância dos frigoríficos brasileiros têm influência direta no desempenho e na
capacidade de produção da carne vermelha; são eles os responsáveis em modernizar
e escalar as operações para que consigam aumentar sua produção e competitividade.
De acordo com G.C. Malafaia et al. (2021), algumas megatendências foram
estudadas e analisadas para a próxima década destinada à cadeia produtiva bovina
brasileira, os quais são destacados no quadro 1.
23

Figura 6: Cadeia produtiva bovina brasileira

TIPO DESCRIÇÃO

Essa tendência inclui redução nos resíduas medicinais,


AVANÇOS BIOLÓGICOS logística reversa na medicina veterinária, eliminar questões
NA GESTÃO DE que dizem respeito à segurança alimentar na carne brasileira
RESÍDUOS e mudança na ideologia que retira a carne das escolhas de
mercado.

TRANSFORMAÇÃO Controle de doenças biológicas, animais geneticamente


BIOTECNOLÓGICA NA modificados, exportação genética e suprir a demanda por
PECUÁRIA proteínas.

Reforma de pastagem, adaptação de requerimentos


INTENSIFICAÇÃO
internacionais e boas práticas de produção.

Estratégias de bem-estar animal, certificados, eliminação de


BEM-ESTAR ANIMAL vacinação compulsória e aceitabilidade dos consumidores
destes produtos.

Menor perda econômica, transformação tecnológica, mais


CONCENTRAÇÃO especialização, conexão em propagandas e marketing e
posicionamento.

Aumento de requerimentos para demandas de matérias


primas, avanço na qualidade da carne e sistemas de
gerenciamento sustentáveis; ir de acordo com as
QUALIDADE
necessidades do mercado doméstico e estrangeiro; e cadeia
produtiva baseada na demanda de mercado e mudanças no
perfil do consumidor.

Adicionar valor; integração do sistema produtivo no digital;


ORIGEM DA CARNE transparência no sistema e designação de origem;
consumidor buscando novas experiências gastronômicas.

Alguns intermediários irão deixar a cadeia de suprimentos;


otimização na automação de processos, reduzindo custos,
DIGITAL aumentando a produtividade e qualidade; interação com
marketing digital; qualidade e sustentabilidade irão melhorar
nas demandas dos consumidores.

O êxodo rural irá impactar negativamente a aquisição de


mão de obra; a automação irá compensar parte da escassez
ESCASSEZ DE MÃO DE de trabalhadores; demanda por colaboradores mais
OBRA especializados; crescimento de vendas no meio digital (e-
commerce); consumidores preferindo mais variedades de
carne
24

Biotecnologia e toda a cadeia produtiva da carne brasileira


EXPORTAÇÃO voltada para a sustentabilidade; exportação de genética,
BRASILEIRA animais vivos, carnes, subprodutos para países emergentes;
crescimento do consumo no mercado interno.

Fonte: Elaboração do autor adaptado de MALAFAIA et al. (2021)

Tais tendências fazem parte de toda a cadeia produtiva, desde a parte de insumos,
produção, industrialização, distribuição, comercialização e consumo. De forma
sucinta, o Brasil terá que aumentar a produção para suprir novos mercados, de forma
sustentável e com o uso significativo de tecnologia e automação de processos. Novas
formas de consumir e diferentes demandas serão pontos de cuidado, assim como a
comunicação das boas práticas de produção da carne e o bem-estar animal. Saber a
origem do produto, rastreabilidade, segurança alimentar e encaixar nos padrões
internacionais também serão desafios para Brasil.

2.3 FATORES QUE INFLUENCIAM NO SETOR DE CARNE BOVINA BRASILEIRO

2.3.1 Preço e Renda

São diversos os fatores que influenciam o setor de carne bovina brasileiro.


Dentre eles, os mais relevantes são de ordem econômica, tais como renda da
população, o preço da carne e o preço dos produtos concorrentes, como carne de
frango, suína, ovos e demais proteínas (MALAFAIA et al., 2020). Se o consumidor não
possui renda, ele passa a selecionar melhor suas proteínas para consumo e aumenta
a demanda por aquela de menor valor agregado.
Nos próximos anos, o consumo de carne bovina deve crescer
aproximadamente 90% devido ao fato de os países emergentes passarem a consumir
mais como consequência do aumento de renda per capita destes países (NEVES et
al., 2012). A figura 6 ilustra essa premissa.
25

Figura 7: Consumo de carne bovina nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.


Fonte: FAO (2011)

No caso da população brasileira, de maneira geral observou-se que quanto


maior a renda familiar, maior é o consumo de carne, tanto in natura quanto
processada. Produtos de maior valor agregado, como presunto ou “cortes de
primeira”, têm seu consumo aumentado em relação a elevação da renda; por outro
lado, o consumo de “carnes de segunda”, salsicha, linguiça, têm relação inversa,
quanto menor a renda, maior o seu consumo (NEVES et al., 2012).

2.3.2 Barreiras tarifárias e não-tarifárias

Em relação aos países importadores de carne bovina brasileira, eles zelam


muito pelo controle de qualidade, barreira sanitária e segurança alimentar
principalmente após a pandemia da COVID-19 e os casos da doença Febre Aftosa.
Quanto maior a confiança em relação a qualidade do produto recebido, maior será a
visibilidade do país exportador, e para inserir a carne brasileira no mercado externo,
os produtores estão se adaptando às exigências internacionais (AURELIO NETO,
2018).
Apesar de os frigoríficos brasileiros apresentarem extrema preocupação com
os cuidados sanitários e a segurança alimentar, os consumidores estão buscando
mais qualidade nos produtos, se tornando mais exigentes. De acordo com Ransolin
(2019), há exigências específicas para determinados países e continentes para a
compra de carne in natura brasileira, como identificados na figura 7.
26

Figura 8: Exigências específicas de determinados países e continentes para a compra de carne in


natura brasileira
Fonte: NEVES (2018)

De acordo com Neves (2018), todos os frigoríficos presentes no Brasil são


fiscalizados por órgãos públicos nas esferas nacional, estadual e municipal; dentre
eles:

- SIF: Serviço de Inspeção Federal é monitorado pelo MAPA – Ministério da


Agricultura Pecuária e Abastecimento – e aqueles cujo possuem o certificado,
podem comercializar seus produtos nacionalmente e para aqueles países que
aceitam tal certificado. É o de mais alto nível no país.
- SIE: Serviço de Inspeção Estadual realizado pelas agências de defesa
agropecuária estaduais, podendo comercializar os produtos apenas dentro
do estado em questão.
- SIM: Serviço de Inspeção Municipal, responsáveis pelas secretarias da
agricultura em cada cidade, comercializando seus produtos apenas no limite
municipal (NEVES, 2018).

As exigências de cada país variam de acordo com as necessidades de cada


um deles. Nos casos de países da Ásia, Oriente Médio, Europa Central e Rússia, as
exigências são menores devido à necessidade de suprir a demanda interna. Nos
países da União Europeia, as exigências são maiores com o objetivo de proteger o
mercado interno, dificultando a entrada de carne brasileira (RANSOLIN, 2019).
Mesmo com essas barreiras sanitárias e fitossanitárias, o Brasil ainda se
destaca no número de exportações de carne bovina de todos os tipos (in natura,
processada e em miúdos). As crises sanitárias da União Europeia e Argentina tornou
o momento atual importante para que o país se consolidasse como exportador para
mercados mais exigentes. Simultaneamente, as respostas tecnológicas e de inovação
27

na cadeia produtiva da carne bovina foi fundamental para o aumento da


competitividade dela, dando suporte a todos os elos da cadeia e afetando
positivamente seu desempenho (TIRADO et al., 2008).
Embora a participação brasileira no mercado internacional seja expressiva, a
participação da carne brasileira no mercado internacional ainda não atingiu seu
potencial máximo e os preços recebidos pelos produtos brasileiros ainda são
considerados baixos. Dentre os fatores que causam o acesso restrito e os menores
preços são as barreiras tarifárias e não-tarifárias (sanitárias e técnicas, como citado
anteriormente) (WAQUIL; ALVIM, 2015).
Entende-se por barreiras tarifárias como um imposto sobre as mercadorias
importadas de outros países, podendo ser específicas, que são fixas e cobradas por
unidade do produto; ou podem ser tarifas ad valorem, cujo impostos são cobrados
como uma fração do valor dos produtos importados (SCHWANTES; CAMPOS; LÍRO,
2012).
Os países em desenvolvimento tendem a impor maiores barreiras tarifárias,
como exemplo a China (25%) e a Tarifa Externa Comum do MERCOSUL (TEC –
11,5%); enquanto países desenvolvidos como Estados Unidos, União Europeia,
Japão, em geral não aplicam barreiras tarifárias nas importações de carne bovina
brasileira. Contudo, as barreiras sanitárias (não-tarifárias), praticadas pelos países
desenvolvidos, tendem a ser mais impactantes nos acordos comerciais do que as
barreiras tarifárias (WAQUIL; ALVIM, 2015).
O setor agrícola está entre os mais sensíveis às negociações. As dificuldades,
em grande parte, estão associadas às diferenças econômica entre países
negociadores e às especificidades das atividades agrícolas. Por parte dos países
desenvolvidos, há argumentos como segurança alimentar e preservação do meio
ambiente; enquanto para países em desenvolvimento, há justificativa de proteção
seletiva, por meio de barreiras comerciais tarifárias (WAQUIL; ALVIM, 2015).

2.3.3 Meio ambiente e sustentabilidade

As mudanças climáticas levam às novas abordagens de desenvolvimento


sustentáveis, levando em consideração interações complexas entre sistemas
climáticos ecológicos e sociais, combinando adaptação e mitigação e evoluindo
continuamente para acompanhar tais mudanças. O mercado global está monitorando
28

de perto a cadeia produtiva bovina brasileira, a fim de aumentar a sustentabilidade e


a transparência em todo o sistema (KANASHIRO; FRAISSE, 2015).
O agronegócio está indo em direção à uma transformação de orientação do
mercado, onde é combinado qualidade com quantidade, ou seja, produzir mais com o
mesmo e em melhor qualidade, e a cadeia produtiva bovina é uma das principais que
serão impactadas por esse caminho. A demanda irá priorizar alimentos mais naturais
e de qualidade elevada. (MALAFAIA et al., 2021).
Muitas ferramentas vêm sendo implementadas para assegurar as boas práticas
de produção, rastreabilidade na cadeia produtiva, monitoramento do meio ambiente,
indicadores econômicos e sociais, assim como requerimentos para serem utilizados
nas barreiras comerciais entre mercados globais. Questões focadas em
sustentabilidade, principalmente na área da Amazônia Legal, vem sendo desenvolvida
por diversas organizações, publicas, privadas e não-governamentais, para
acompanhar a cadeia brasileira (KANASHIRO; FRAISSE, 2015).
No Brasil, o Governo Federal e a própria indústria frigorífica incentivam ao
pecuarista a desenvolver práticas agropecuárias sustentáveis, que vão desde
incentivos fiscais até assessoria técnica para produtores. Um exemplo é o programa
da Embrapa, nomeado Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (BPA), que
são normas e procedimentos a serem observados, visando os sistemas mais rentáveis
e competitivos e o oferecimento de produtos seguros (NEVES, 2012).
Outra ação importante que ocorre no país é a Integração Lavoura-Pecuária-
Floresta (ILPF), destacando o melhor desempenho dos animais, maior produtividade
da lavoura, redução da emissão de gases estufa, recuperação de pasto degradado,
redução do uso de defensivos agrícolas, melhoria do solo e maior eficiência do uso
de fertilizantes, e como resultado, vantagem econômica para o produtor (NEVES,
2012).
Além das ações citadas anteriormente, ainda é praticado o aproveitamento de
resíduos (dejetos) animais para a produção de gás (que é utilizado para gerar energia
elétrica) e composto orgânico (adubo para ser utilizado em lavouras), sendo possível
utilizar de certificados de redução de emissão de gases estufa (GEE), ganhando
visibilidade e vantagem competitiva nos demais mercados (NEVES, 2012).
Novos requerimentos serão demandados na aquisição de insumos, como carne
de qualidade e a prática de sistema sustentáveis, provenientes de produtos biológicos
e bem-estar animal em propriedades rurais. Este movimento já é observado por
29

diversos países estrangeiros, mas será também visto por uma grande parcela de
consumidores brasileiros, em termos da qualidade do produto (MALAFAIA, 2021).
Crenças individuais podem influenciar a forma como consumidores interpretam
segurança alimentar e como avaliam benefícios e riscos. Neste cenário, marcas fortes
e certificados têm sido críticos para empresas comprovarem para seus consumidores
que o produto é de qualidade e conquistar sua confiança. É por isso que certificados
tem sido um dos atributos de escolhas de consumidores no momento da compra, além
da preferência e considerar pagar mais caro por um produto que leve esse selo
(LUCCHESE-CHEUNG et al., 2021).
Outro atributo decisivo no momento da compra do consumidor é a
rastreabilidade do produto (saber qual a sua origem) e diferenciação do produto
baseado nas garantias de qualidade da carne, aumentando a confiança do
consumidor no sistema de produção. Em paralelo, os Stakeholders sempre buscam
garantir qualidade do bem-estar animal, da origem dos produtos e dos sistemas de
produção através de selos e certificados, garantindo o melhoramento genético e
tecnologias nos processos de produção, rastreabilidade e integração na nutrição
animal (LUCCHESE-CHEUNG et al., 2021).
Em todo o estágio da cadeia produtiva da carne brasileira, tem se buscado
atender as práticas de bem-estar dos animais, pois os benefícios econômicos e
qualitativos são distribuídos por todos os integrantes da cadeia. O Brasil possui as
vantagens de o gado ser criado em pasto (se aproximando do habitat natural dele),
possuir disponibilidade de solo, clima e recursos humanos, oferecendo a seus
consumidores um produto de qualidade, respeito ao bem-estar animal, em volumes
crescentes e preços competitivos (NEVES, 2012).
A moderna pecuária brasileira de pasto é o meio de produção de
proteína animal em escala mais sustentável que será reconhecido pelo mundo. O
Brasil conta com a melhor tecnologia de produção e técnicas de manejo de pastagens
tropicais, os bovinos serem tratado com dignidade desde o início e há a captação de
carbono através das pastagens de qualidade. É preciso utilizar as ferramentas de
marketing para apresentar essas vantagens mundialmente (NEVES, 2012).
30

2.3.4 Tecnologia e inovação

A escassez de recursos e de alimentos global, a maior consciência a respeito


da saúde e o impacto ambiental estão fazendo com que países emergentes busquem
por novas tecnologias, para intensificar as atuais áreas de produção (impactando
positivamente a produtividade), além de produzir alimentos alternativos criados em
laboratórios e à base de plantas (plant-based), a fim de suprir a demanda mundial de
alimentos (MALAFAIA et al., 2021).
Máquinas e tecnologias precisas vêm sendo desenvolvidas a fim de aumentar
a produtividade no campo e nas fazendas. Máquinas autônomas e controladas
remotamente levam à aceleração dos processos, precisão nas operações e menores
riscos e acidentes. São tecnologias aplicadas em confinamentos, integração e
semiconfinamento. Todas as tecnologias têm como objetivo aproximar o campo ao
digital, melhorando a produtividade e a precisão dos processos e das operações
(CASAGRANDA et al., 2021).
No que se refere a questões que viabilizam o aumento da produtividade, é
imprescindível ampliar as técnicas de melhoramento entre os pequenos e médios
produtores para aumentar a produção de bezerros de alta qualidade. Um desafio para
esses produtores são a ausência de ferramentas de gestão na propriedade, além da
necessidade de mão de obra qualificada, algo bastante deficiente nas propriedades
(NEVES, 2012).
Para auxiliar esses pequenos e médios produtores, é importante a
disseminação dessas técnicas de melhoramento genético entre eles; deveria existir
uma remuneração para os pecuaristas que utilizam dessa técnica; oferta de linhas de
crédito para ter acesso a touros e investir em genética; além de programas de manejo
de pastagem e desenvolvimento de produtos para nutrição (NEVES, 2012).
Outra questão fundamental é o crescimento global da oferta e demanda por
alimentos plant-based (APB) que têm transformado tecnologicamente e evoluído a
indústria de alimentos e bebidas. Em um relatório divulgado pela BIS Research (2019)
revela que esse mercado global de bebidas e alimentos à base de planta, irá
movimentar 80,43 bilhões de dólares até o ano de 2024, com uma taxa de crescimento
de 13,82% (NETO et al., 2020).
O alimento plant-based atende um perfil heterogêneo, pois agregam
consumidores de perfil vegetariano, mas também consumidores que buscam reduzir
31

a ingestão de alimentos de origem animal. As populações vegetarianas e vegana vêm


crescendo de forma bastante significativa nos últimos anos, especialmente entre 2016
e 2022 (NETO et al.,2020).
Dessa forma, avança no mundo todo a produção de alimentos denominados
plant-based, ou seja, produtos elaborados apenas com matéria-prima vegetal; advinda
da necessidade de suprir a demanda internacional de alimentos, demanda de
inovação e conveniência dos produtos.
Outra tendência na indústria de alimentos é a carne cultivada em laboratório
para suprir a demanda futura de proteína, apesar de que o Brasil já vem adotando
estratégias sustentáveis como Carne Carbono Neutro, ILPF (integração Lavoura
Pecuária Floresta), BEA (Bem-estar Animal) e biodigestores (JACINTO, 2022).
A carne de laboratório tem origem da medicina humana, cujo processo é retirar
células de músculos de animais vivos (aves, suínos, bovinos e ovinos), modificar tais
células em laboratório, convertendo-as em células musculares que se transformam
em fibras, que então são utilizadas para fazer produtos à base de carne. Contudo,
ainda não é certa a aceitação deste produto por parte dos consumidores, visto que os
alimentos “plant-based” que tiveram boa aceitação no início, hoje são vistos como ultra
processados (JACINTO, 2022).
Ainda de acordo com a autora supracitada, a criação de gados em pasto é uma
vantagem, visto que a pequena escala de produção de carne em laboratório requer
elevado custo de energia e, portanto, emissões de carbono que podem ser mais
prejudiciais a longo prazo do que comparado que a produção de carne natural.

2.3.5 Logística e transporte

Um ponto importante a se considerar quando falamos sobre algum produto


comercializado nacional e internacionalmente, é a logística de transporte deste bem.
Em relação às exportações de carne bovina brasileira, os principais modais utilizados
são o de transporte rodoviário e marítimo para alcançar mercados externos distantes.
Praticamente todo o território brasileiro possui o modal rodoviário, sendo o maior
responsável do transporte de cargas internamente pelo Brasil (AURÉLIO NETO,
2018).
Os portos litorâneos apresentam pontos fixos da rede logística no comércio
externo brasileiro, tendo um papel relevante na logística de exportação brasileira.
32

Esses pontos são compostos por frigoríficos, centros de distribuição e


armazenamento, navios de carga, portos nacionais, e portos estrangeiros. São nesses
pontos fixos que circulam diversas mercadorias como carnes, grãos, minérios,
produtos industrializados, dentre outros, de maneira que é configurado como nós da
rede logística nacional (AURÉLIO NETO, 2018).
Apesar de o Brasil possuir esses pontos fixos de logística, é essencial melhorar
a situação das rodovias já existentes, além de expandir as malhas rodoviárias e
ferroviárias em algumas regiões do país. A melhoria na logística também engloba a
ampliação na capacidade de carga e escoamento dos portos, além da manutenção,
que poderiam ser alcançadas por meio de privatização de portos (NEVES, 2012).
Os obstáculos operacionais existentes na infraestrutura do Brasil aumentam os
custos de escoamento e reduz a competitividade das exportações. Tais obstáculos
precisam ser superados, mesmo que já tenha tido uma evolução tecnológica que
proporcionou desdobramentos no setor de transporte e comunicação, ampliando os
fluxos de deslocamentos de matéria-prima e produtos, com novas formas de
estocagem e distribuição e integrações entre modais (BARAT, 2012).
Uma alternativa às rodovias, seriam os modais ferroviários. Estes são mais
vantajosos economicamente para o transporte territorial de cargas para longas
distâncias, apesar da menor flexibilidade. Um dos principais fatores no ganho de
competitividade é selecionar o modal que tenha menor custo. Entretanto, para
transportar carnes é necessário parcerias entre frigoríficos e as empresas detentoras
de malhas ferroviárias, para implementar um número maior de vagões frigoríficos
(AURELIO NETO, 2018).
Em suma, uma boa estratégia para a logística de transporte de cargas seria
concentrar as rodovias para transportar as carnes entre os frigoríficos até pontos
ferroviários, e através deste, percorrer distâncias mais longas até os portos litorâneos
para o escoamento para os demais países.

2.3.6 Captura de valor e Marketing

A imagem de algum bem ou serviço, pode ser modificada através do Marketing.


Ele envolve os atributos de preço, comunicação, distribuição, produto, pesquisa de
mercado, inovação, qualidade, serviços ao consumidor, embalagem dentre outros. É
possível ganhar a confiança e credibilidade internacional e nacional se bem trabalhado
33

e utilizado o Marketing, impactando diretamente na competitividade do país (NEVES,


2016).
A pecuária de corte tem como objetivo produzir carne para atender a demanda
do mercado consumidor. Os consumidores brasileiros e o mercado exterior estão mais
exigentes e informados no que diz respeito ao produto adquirido e sua qualidade,
buscando a satisfação. Para que a satisfação seja atingida, é importante que toda a
cadeia bovina esteja alinhada no mesmo objetivo, buscando melhores resultados e
qualidades, utilizando de todas as ferramentas disponíveis para tal (BARCELLOS,
SAAB; NEVES, 2013).
As empresas estão buscando atender as necessidades dos clientes,
promovendo a diferenciação dos produtos e vínculo de confiança entre os dois elos
da cadeia. Uma forma de atingir esse objetivo é investir em estratégias e planejamento
de marketing, criando uma imagem confiável e de qualidade de maneira a agregar
valor, segmentar e selecionar mercados, analisando o comportamento de compra dos
consumidores e diferenciando a oferta.
O marketing preenche a lacuna entre as diferentes necessidades de produtores
e consumidores. É possível compreender as necessidades dos consumidores,
orientar os produtores sobre o que produzir e quanto produzir, criar uma imagem
emocional do produto e agregar valor. A concorrência exige que atua de forma
competitiva.
Algumas estratégias atualmente empregadas são a segmentação de mercado,
seleção de mercado-alvo e diferenciação e posicionamento da oferta (FIGURA 7).
Devido à apresentação constante inovação e evolução dos produtos aos
consumidores e ao curto ciclo de vida destes, é essencial a inovação de mercadorias
e serviços, como selos de qualidade e de certificação, para o sucesso da empresa. A
figura 8 exemplifica essa narrativa.

Figura 9: O processo de Segmentação, Alvo e Posicionamento das Redes Agroalimentares de Carnes


Fonte: Neves et al., (2000).
34

Para atender as necessidades da sociedade moderna, é interessante que o


pecuarista produza uma carne mais macia, cortes uniformes e atender rigorosamente
às normas sanitárias, ambientais e trabalhistas. Simultaneamente a isso, os
frigoríficos devem incentivar os produtores a produzirem carne de maior qualidade,
através do melhoramento genético e manejo da pastagem (NEVES, 2012).
Uma estratégia interessante para ser utilizada juntamente com a estratégia de
marketing, são os certificados que garantem o processo de produção e qualidade do
produto, sendo considerada uma diferenciação do produto, com o objetivo de
satisfazer o cliente em determinadas condições. Ele trona válido a autenticidade da
conformidade de um produto ou processo em relação as normas e padrões
estabelecidos, assegurando ao consumidor que o produto ou processo cumpre os
requisitos mínimos de qualidade (BARCELLOS et al., 2004).
As certificações atreladas à carne bovina são visadas à diferenciação do
produto, segurança alimentar e completar a rastreabilidade. A rastreabilidade de
alimentos passou a ser obrigatória na União Europeia no ano de 2005, assegurando
a origem do produto e proporcionando informações das atividades ao longo da cadeia
produtiva. A rastreabilidade prometeu melhores preços, facilidade e controles da
cadeia produtiva brasileira (BARCELLOS et al.,2004).
Capturar valor aos produtos do agronegócio brasileiro é um grande desafio para
o país. É necessário aplicar ferramentas de marketing, principalmente a inteligência
de marketing, prospecção de novos mercados e compradores potenciais, inovação de
produtos, serviços e marcas, comunicação e a exploração de nichos de mercado
(NEVES, 2016).

2.4 ESTRATÉGIAS PARA O BRASIL

O setor agropecuário brasileiro e mundial tem buscado atender a demanda


crescente de alimentos, fibra e energia. Simultaneamente à necessidade de aumento
de produtividade, crescem as restrições para expansão de novas áreas para uso
agropecuário. Nesse contexto, em relação à bovinocultura, o aumento do rebanho e
a diminuição de áreas para tal, torna-se necessário o uso intensificado de pastagens,
combinação otimizada de recursos, melhorias de técnicas de manejo, utilização de
sistemas de produção integrados e incremento da suplementação alimentar (ALVES
et al., 2015).
35

Somados a isso existem algumas preocupações e exigências vinda de


mercados internacionais em relação a cadeia produtiva da carne bovina. O bem-estar
animal, conservação do solo e da água, mitigação da emissão de gases efeito estufa
(GEEs), o sequestro de carbonos, rastreabilidade dos alimentos, segurança alimentar,
inovação e uso de tecnologias, são pautas extremamente importantes que precisam
ser levadas em consideração. Sendo cumpridas e respeitadas tais regras, o Brasil
possui uma oportunidade adicional para a exportação do seu produto
internacionalmente.
Algumas iniciativas já estão sendo realizadas pelo Governo Federal em
parceira com as indústrias frigoríficas no Brasil. Dentre elas encontra-se o programa
desenvolvido pelo Embrapa, nomeado Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de
Corte que ensinam os pecuaristas a observarem um conjunto de normas e
procedimentos, tornando os sistemas mais rentáveis e competitivos e assegurando
práticas sustentáveis (NEVES, 2012).
No que diz respeito à necessidade do aumento da produtividade sem
comprometer com novas áreas de pastagem e de forma sustentável, uma estratégia
interessante é o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). É um sistema
que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas na mesma área,
proporcionando a máxima produção de alimentos, fibras e energia, através de um
cultivo consorciado, rotacionando ou em sucessão (BALBINO; BARCELLOS; STONE,
2011).
O sistema ILPF é capaz de permitir a intensificação sustentável através do uso
mais eficiente da terra, diversificação da produção, melhor uso de recursos naturais e
insumos, bem-estar animal, sequestro de carbono e consequentemente a mitigação
da emissão de gases efeito estufa (ALVES et al., 2015).
Segundo Balbino, Barcellos e Stone (2011), outras vantagens também são
percebidas na utilização deste sistema:

 Práticas de manejo ambiental e uso de equipamentos que melhoram a


eficiência do sistema e seu monitoramento;
 Viabilidade econômica do sistema de produção com segurança alimentar;
 Tecnologias de alta precisão para maior eficiência no uso das terras;
 Fontes alternativas de energia (álcool, fibra, madeira e biodiesel);
 Sistemas de gestão e certificação ambiental, fortalecendo a
competitividade a partir de estratégias preventivas de antecipação de
problemas ambientais entre outros.
36

O conceito de “Carne Carbono Neutro” foi desenvolvido para sanar os desafios


mencionados anteriormente, difundir a importância estratégica da sustentabilidade
nas cadeias produtivas associadas a carne e otimizar uso de insumos e fatores de
produção. Ele é um selo concedido às produções de carne bovina sob o sistema de
integração e com introdução obrigatória do componente arbóreo, que neutraliza o
metano emitido pelo rebanho de forma a agregar valor à carne produzida nestes
sistemas (ALVES et al., 2015).
Outro aspecto fundamental é a preocupação com o bem-estar animal. A
Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) define bem-estar animal como “o
estado físico e mental de um animal em relação às condições em que o mesmo vive
e morre”. O bem-estar do animal é um fator significativo na segmentação de mercados
de produtos e uma preocupação ética cada vez mais relevante na escolha do
consumidor. Neste cenário, ficam claras as necessidades de sistema de gestão que
vão além da regulamentação de conformidades, além da criação de campanhas de
sensibilização e educação dos elos da cadeia (ALVES et al., 2020).
Os clientes internacionais exigem a qualidade do produto, assim como a
qualidade dos processos de produção. Um exemplo é o mercado europeu que possui
uma declarada preferência por padrões elevados de bem-estar animal de produção.
Dessa forma, é interessante que todo o elo da cadeia produtiva da carne bovina
respeite o bem-estar animal, pois os benefícios qualitativos e econômicos serão
distribuídos a todos os integrantes da cadeia produtiva. As informações sobre os
animais no decorrer da cadeia, tornam-se atributos do produto (OLIVEIRA; BORTOLI;
BARCELLOS, 2008).
O Brasil possui forte aderência às tendências de consumo encontradas na
Europa, Ásia e América do Norte e 21% dos consumidores internos do país, possui
como atributos no momento da compra são o bem-estar animal, saudabilidade, ética
e sustentabilidade, desde que amparados por selos de qualidade e outras informações
a respeito da origem dos produtos (ALVES et al., 2020). Adicionalmente, é cada vez
maior a preocupação com certificação por parte de consumidores de carne de outros
países, englobando todas as etapas da cadeia produtiva.
Certificação é o processo pelo qual se estabelecem padrões e regras que
precisam ser cumpridas, o que resulta em um selo de adequação. Podem ser de
âmbito público ou privado, e seus benefícios são diversos, como enriquecer as
informações para a decisão dos consumidores, permitir a diferenciação dos produtos
37

e agregação de valor e identificar pontos que precisam sem melhorados na cadeia


produtiva e intervenções de correção (ALVES et al., 2020).
O desafio para o Brasil é, portanto, continuar promovendo a diferenciação da
carne brasileira, a fim de garantir a oferta de produtos com valor agregado a mercados
que tendem a pagar mais pela diferenciação do produto e que agreguem
rastreabilidade e certificação em todos os elos da cadeia produtiva, repassando
informações detalhadas para dar segurança e confiança aos consumidores, como
mitigação de gases efeito estufa, tipo de criação e nutrição, dentre outras (NEVES,
2012).
Para facilitar a disseminação de tecnologia no campo para pequenos e médios
produtores, compartilhamento de informações e ensinamentos, ferramentas de gestão
de propriedade, técnicas de inovação, rastreabilidade e certificação para manter a
qualidade dos produtos, ações coletivas como cooperativas e associações são
estratégias interessantes.
Tanto o associativismo e o cooperativismo são formas de governança que
organizam classes com interesses semelhantes para a realização de ações em
conjunto. A diferença entre os dois é que o cooperativismo, conforme figura 10, possui
fins comerciais, que visam certos lucros e viabilizam negócios entre os cooperados e
o mercado; o associativismo, de acordo com a ilustração da figura 11, possui o escopo
de representatividade social, política e defesa dos interesses de classe dentre outros
(SEBRAE, 2017).

Figura 10: Modelo de cooperativas pecuaristas.


Fonte: Markestrat (2021)
38

Figura 11: Modelo de associação de pecuaristas


Fonte: Markestrat (2021)

No meio agropecuário, as atividades da cooperativa variam desde a compra e


venda de insumos, comercialização dos produtos de seus cooperados, facilita a
concessão de crédito aos produtores, agrega valor ao produto através da
verticalização e que possui baixo custo operacional por ser coordenada pelos seus
participantes. Os pecuaristas possuem controle da qualidade dos animais e obtêm de
oportunidades para se posicionarem no mercado, oferecendo produtos Premium e
agregando valor. (NEVES et al.,2018).
O associativismo costuma ser mais comum que o cooperativismo no ramo da
pecuário. Isso acontece devido ao fato de as associações surgirem com o intuito de
se conectar com as necessidades e as realidades de um determinado grupo,
resolvendo problemas e conquistando maior influência no mercado. Os benefícios da
associação para os produtores é o acesso a informações, serviços, tecnologias, maior
organização da produção, assistências técnicas e treinamentos, o que tem impacto
direto na competitividade de pequenos e médios produtores, que sozinhos talvez não
conseguiriam (NEVES et al., 2018).
Além desses pontos citados anteriormente, a organização de pecuaristas e
atividades coletivas ainda podem trazer outras oportunidades para o setor, como
(NEVES, 2016):

 Ações para o melhoramento genético dos animais;


 Estabelecimento do padrão na qualidade e produção;
 Ações para a certificação internacional e verticalização da cadeia
produtiva;
 Parceria com outros grupos e associações para troca de informações e
experiências;
 Ações para incentivar o consumo de carne.
39

Tais ações coletivas de pecuaristas geram oportunidades e podem suprir


alguns desafios enfrentados pelo Brasil na produção de carne bovina, como as
barreiras sanitárias impostas pelos países importadores, controle da qualidade na
cadeia produtiva, diferenciação do produto brasileiro, uso de novas tecnologias para
aumentar a produtividade, disseminação de conhecimento de técnicas sustentáveis e
rastreabilidade.
Outra estratégia para garantir maior eficiência e competitividade do Brasil no
mercado exterior, além de estimular a produção e consumo interno e diminuir os
custos de produção, são as políticas públicas e legislações tributárias. Política pública
consiste em um programa de ação governamental, do qual o Estado elabora metas,
define prioridades, realiza orçamentos e meios de execução para cumprir os
compromissos (NUNES, 2020).
Investimento público em infraestrutura básica são aspectos de alta relevância,
que visa o escoamento de produtos, modernização de portos, estímulos de
investimentos privados em infraestrutura de armazenagem qualitativa, encontrando
diferentes padrões de qualidade dos produtos. Um exemplo é a questão do transporte
e logística brasileiro, cujo qual é constituído majoritariamente por malha rodoviária; o
Governo deve agilizar e incentivar os processos de privatização de sistema de
transporte e portos, tendo em vista sua insuficiência e visando melhorar sua
competitividade e distribuição (NEVES, 2012).
Há conjunto de políticas que influenciam diretamente na dinâmica do
agronegócio, como as políticas econômicas, trabalhista, ambiental, de crédito etc.,
pois estas viabilizaram sua origem e expansão. A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), por exemplo, teve um papel fundamental na incorporação
do cerrado ao sistema produtivo nacional, desenvolvendo tecnologias para o
melhoramento da fertilidade do solo e adaptação de recursos na região (LEITE; WESZ
JUNIOR, 2014).
O Programa de Boas Práticas Agropecuárias, desenvolvido pela EMBRAPA, é
mais um exemplo de um excelente método que contempla ótimas diretrizes de
produção, assim como linhas de financiamento disponibilizadas no âmbito da
Agricultura de Baixo Carbono. Além disso, o crédito rural foi um instrumento
determinante na modernização na agropecuária, aumento das exportações e
reestruturação da “economia do agronegócio” (LEITE; WESZ JUNIOR, 2014).
40

Outra ação importante para estimular o consumo e exportação da carne bovina


brasileira é posicionar o país no mercado internacional através de estratégias e
planejamentos de marketing, promover o produto e trabalhar a imagem externa do
Brasil. O marketing tem como papel a administração e demanda de bens e serviços,
através do estímulo do consumo desses bens que possuem características
intrínsecas, com a finalidade de atender as necessidades e desejos dos consumidores
(COBRA, 2009).
O agronegócio é um setor muito competitivo na economia. O marketing
desempenha um importante papel no setor, uma vez que preenche uma lacuna
existente entre as diferentes necessidades dos produtores e consumidores; é possível
compreender as necessidades dos consumidores e orientar os produtores na decisão
sobre o que e qual quantidade precisam ser produzidas, além de informar aos
consumidores a respeito da qualidade e origem dos produtos (BARCELLOS, 2002).
Uma vez que o Brasil possui diversas vantagens competitivas em relação aos
outros países, como baixo custo de produção, gado criado solto em pasto, tecnologia
e inovação no campo, melhoramento genético dentre outros citados neste estudo, é
imprescindível que o país saiba se comunicar internacionalmente e conquiste novos
nichos de mercado através da diferenciação de seu produto.
As estratégias de marketing devem compreender o consumidor, as tendências,
criar uma imagem emocional do produto e comunicar de maneira eficiente as suas
qualidades para agregar valor ao produto. As condições básicas para uma campanha
eficiente de marketing de carne bovina brasileira são a segurança higiênico-sanitária,
valor nutricional garantido, qualidade sensorial e a rastreabilidade do produto em toda
a cadeia produtiva (PINEDA; ROCHA, 2002).
A diferenciação de um produto, a fim de satisfazer o cliente, somente será
garantida se o processo de produção ou sua qualidade intrínseca forem atestados ou
certificados. A certificação atua de maneira paralela as estratégias de marketing e
torna válido a autenticidade da conformidade de um produto ou processo o em relação
as normas ou padrões estabelecidos, assegurando que os requisitos mínimos são
cumpridos (BARCELLOS et al., 2004).
O Brasil possui significativas vantagens competitivas em relação à produção de
carne bovina comparado a seus concorrentes, contudo, ainda possui muitos desafios
a serem enfrentados. O posicionamento no mercado internacional, a comunicação
transparente, controle sanitário, políticas públicas favoráveis, técnicas sustentáveis,
41

uso de tecnologia e inovação na área são alguns pontos que precisam de atenção
para que o país se destaque ainda mais na produção e exportação do produto.

3 METODOLOGIA

O intuito deste estudo é compreender a relevância do setor de carne bovina


brasileiro para se destacar como grande fornecedor mundial deste alimento, além de
analisar as mudanças, os principais fatores que impactam o setor e as perspectivas
futuras provenientes dessas transformações no mercado.
Neste cenário, a pesquisa assume um caráter descritivo, estabelecendo
relações entre os impactos e as tendências. Esse tema envolve diversos estudos e
análises já consolidados, indicando um assunto que possui certa familiaridade por
parte da academia e do mercado. Logo, este estudo tem como objetivo juntar visões
variadas e complexas a respeito do tema e atualizar a visão desta área. Devido ao
propósito de conhecer a realidade estudada, características e problemas, a pesquisa
possui caráter descritivo (ZANELLA, 2013).
Em relação a abordagem adotada para tratar o problema da pesquisa,
classifica-se o estudo como qualitativo, pois não utiliza de elementos estatísticos para
analisar e coletar dados. Entende-se por pesquisa qualitativa aquela cujos aspectos
não podem ser mensurados, concentrando-se no levantamento de novas informações
(ZANELLA, 2013). A pesquisa é voltada para a compreensão do funcionamento do
mercado, suas motivações e influências que conduzem tal realidade.
O método do trabalho consiste em um levantamento extensivo de informações
baseado na literatura do tema, utilizando predominantemente o método de revisão
bibliográfica. O motivo de ter escolhido o método de revisão bibliográfica se deu pelo
volume e variedade de dados disponíveis a respeito do tema, a partir de livros, artigos
científicos, materiais provenientes de agentes de mercado, pesquisas, textos e outros
materiais publicados em bibliotecas virtuais, além de sites oficiais do Governo. O
intuito é construir sinergias entre as contribuições acadêmicas para construir o
embasamento de tópicos, capturando opiniões e visões de especialistas do setor de
carnes bovinas.
O caráter da pesquisa é qualitativo, descritivo e baseado em revisões
bibliográficas. Dessa forma, o estudo se propõe a conduzir um mapeamento de
42

materiais já publicados sobre o tema e a literatura de dados secundários através de


levantamento e análises de dados nacionais e internacionais. Além de entender de
forma aprofundada os fatores que impactam diretamente na produção, consumo e
exportação de carne bovina brasileira, essa revisão também proporcionou
compreender melhor as lacunas existentes a serem exploradas nesse setor, gerando
oportunidades de desenvolvimento dessa área no país.
Assim, a metodologia busca se basear em uma série de artigos provenientes
da academia e do mercado, encontrar eventuais lacunas, identificar oportunidades
para o setor e trazer uma visão atualizada de personalidades influentes do setor. Para
finalizar o estudo, essas informações foram organizadas de forma sucinta e didática
para gerar conclusões, considerações, planos de ações e novos insights a respeito do
tema, tendo em vista os objetivos apresentados.
O método prioritário a ser utilizado é a revisão bibliográfica como uma
alternativa de juntar diversos pontos de vista e pesquisas já realizadas do setor,
explorando os mais variados materiais sobre o tema disponíveis, mapeando
conhecimento para criar o embasamento da pesquisa. Com o aprofundamento da
revisão bibliográfica, foram encontradas categorias de análise diante dos tópicos
explorados, conduzindo a análise a partir da qualificação de materiais compilados em
relação ao tema.
Inicialmente foram selecionados materiais que abordassem dados a respeito
da atual produção, exportação, consumo da carne bovina brasileira, identificando sua
relevância em relação ao mercado internacional deste produto. Projeções,
expectativas e tendências futuras deste setor também foram analisadas, assim como
dados sociais e econômicos pelo site oficial do Departamento de Assuntos
Econômicos e Sociais das Nações Unidas.
Avergou-se as vantagens de produzir carne bovina no Brasil, em relação a
outros países que se destacam mundialmente, segundo os dados de produção e
oferta do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Foram utilizados
dados da exportação brasileira e sua relevância no mercado internacional através dos
dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), com
o intuito de localizar os principais importadores da carne bovina brasileira, volume e
participação no valor das exportações, principais portos e frigoríficos.
Foram analisados dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) sobre as projeções do setor para os próximos anos.
43

Do cenário macro, o estudo foi direcionado para assuntos mais específicos que
impactam diretamente no setor de carne bovina brasileiro. Dentre eles encontram-se
os aspectos sustentáveis, do meio ambiente, tecnologia no setor, cadeia produtiva,
inovação, barreiras tarifárias e não tarifárias, estratégias e planejamento de marketing,
tendências de consumo, atributos do consumidor no momento da compra, políticas
agrícolas, logística e transporte.
Há de ressaltar que durante o levantamento bibliográfico, a busca da
estruturação teórica foi conduzida por meio de plataformas como Google Scholar,
Scielo, Elsevier, Books Google e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações.
Quanto às fontes buscadas, considerou-se a variedade da literatura frente as
contínuas transformações e atualizações do setor que compõem o objeto de estudo
dessa pesquisa. Foi priorizado literaturas a partir do ano de 2000, por mais que
tenham diversas literaturas que embasaram para as pesquisas atuais.
O levantamento bibliográfico é um meio de promover maior entendimento sobre
o tema abordado. Pelo fato de o estudo conter um aspecto qualitativo, por meio da
análise complexa dos dados obtidos nestes estudos e aborda alguns aspectos
subjetivos pois os direcionadores para este formato de análise costumam buscar por
relações e comparativos entre categorias e/ou temas. O objetivo é descrever o
conteúdo das mensagens capturadas.
Para a condução desse formato de forma consistente, foram desenvolvidas três
fases fundamentais. A primeira fase é a pré-análise do tema, constituindo-se de leitura
de diversos artigos que envolviam o tema, para ter um primeiro contato e levantar
alguns pontos e desenvolver o fluxo que o trabalho tomaria sequência. Em seguida,
foi realizada uma pesquisa mais aprofundada sobre assuntos satélites, que se
relacionam com o tema principal, a fim de ampliar a visão sobre o setor. Por fim, foi
feita uma análise desses dados e informações pelo pesquisador, interpretando,
posicionando e desenvolvendo conclusões sobre o tema (HOFFMAN-
CÂMARA,2013).
44

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Através da revisão da literatura sobre o setor da carne vermelha brasileira,


serão realizadas duas análises estratégicas baseadas nos pontos descritos
anteriormente. A primeira será a análise SWOT, que engloba as forças, fraquezas,
ameaças e oportunidades do setor, onde será organizada as ideias e encaixadas
nesses blocos. Em seguida, será aplicado o método das 5 Forças de Porter, que
identifica os concorrentes do setor, os substitutos, os novos entrantes e o poder de
barganha dos fornecedores e consumidores.
O objetivo de realizar tais análises é organizar os pontos já ressaltados para
identificar gargalos e encontrar oportunidades de crescimento, aumentando a
competitividade do Brasil no setor. É entender como esses pontos afetam na
produção, consumo e exportação do produto.
45

5 CRONOGRAMA

Atividades Set/22 Out/22 Nov/22 Dez/22 Jan/23 Fev/23 Mar/23 Abr/23 Mai/23 Jun/23

Definição do
tema e escopo A
geral do OK
trabalho

Revisão
bibliográfica e
O
definição da
OK
metodologia e
cronograma

Entrega do TCC
1

Pesquisar novas
literaturas

Análise de
dados,
resultados
obtidos e
conclusões

Fazer a análise
SWOT e 5
Forças de
Porter do setor

Entrega TCC 2
46

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