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Paweł Klimas

6. Corrente Elétrica
Condução elétrica
Numerosas experiencias mostram que existem materiais com propriedade de conduzir
corrente elétrica.

Metais: Cu, Au, Ag,… Soluções: NaCl+H2O,….. Gases ionizados (plasma)

O fenômeno da condução elétrica é descrito utilizando terminologia técnica:


1. corrente elétrica,
2. intensidade da corrente,
3. densidade da corrente.

Paweł Klimas, Universidade Federal de Santa Catarina


Corrente elétrica
Microscopicamente: qualquer movimento de carga elétrica constitui uma corrente
elétrica. No nível microscópico existe movimento de elétrons em átomos, movimento
térmico de partículas carregadas. Como estes movimentos são sempre presentes,
sempre há correntes elétricas microscópicas.

Macroscopicamente: a existência de correntes microscópicas não sempre lava a uma


corrente macroscópica. A corrente macroscópica é nula quando as correntes
microscópicas cancelam. O cancelamento ocorre porque num elemento de volume
macroscópico existe o mesmo numero de partículas com velocidade ~ v do que com
a velocidade ~v . No caso de um movimento coletivo de uma grande de fração de
cargas aparece corrente elétrica macroscópica.

Movimento coletivo de cargas é causado por campo elétrico externo. No nível


macroscópico a corrente elétrica é dada pelo movimento coletivo de cargas.

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Intensidade de corrente elétrica
Intensidade de corrente elétrica é a quantidade da carga elétrica que atravessa uma
seção numa unidade de tempo.

quantidade escalar
unidade: 1 AMPERE
q dq 1C
I= I= 1A =
t dt 1s
1 Ampere representa
1C 1C
⇡ 19 C
= 6.2 · 1018 elétrons
1e 1.6 · 10
S
direção de corrente

corrente de cargas NEGATIVAS


flui no sentido OPOSTO a direção
em qual cargas se movem
trajetória real trajetória efetiva

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Densidade de corrente elétrica
quantidade vetorial; descreve Intensidade total de corrente pela superfície “S”
distribuição de corrente Z
I= J~ · d~a
Corrente em uma solução

S
solução Linhas da
corrente I = J~ · n̂ a
J~

Corrente em plasma
intensidade de corrente pela área
orientada
J~ d~a

dI = J~ · d~a

“I” é uma especie de fluxo de “J”

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Como a densidade da corrente depende de carga e a velocidade de partículas carregadas?

consideramos movimento efetivo (componente coletiva) de cargas

movimento real é irrelevante devido a cancelamentos de correntes microscópicas aleatórias

consideramos um cilindro pequeno em qual linhas da corrente são paralelas

densidade de cargas dentro de cilindro ⇢


velocidade de arraste ~v
altura de cilindro é tal que no intervalo ∆t
todas as partículas contidas de entro dele
passam pela base
V = ~a · (~v t)
carga que atravessa a base do cilindro

~a = n̂ a q = ⇢ V = [⇢ ~v · ~a] t
I = J~ · ~a I
~v t
J~ = ⇢ ~v

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Comentários:

Densidade de corrente, velocidade de arraste e densidade de cargas,


em geral, dependem de coordenadas

Quando existem “N” tipos de portadores de carga, a densidade de corrente é


igual a soma de contribuições de diferentes tipos de portadores
N
X
J~ = qi ni ~vi
i=1
ni concentração (densidade) de portadores
qi cargas de portadores
~vi velocidades de arraste de portadores
Dimensão física de densidade de corrente

C m C A
[J] = 3 · = 2 = 2
m s m s m

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Conservação de carga elétrica

Carga elétrica é conservada. O que J~


vamos fazer aqui é verbalizar este n̂
fato na linguagem matemática.

Consideramos carga elétrica cuja densidade é V


S
uma função de coordenadas espaciais e do
tempo
⇢(t, ~r) J~
e de similarmente para densidade de corrente
~ ~r) n̂
J(t,
Intensidade de corrente
I
Escolhemos uma região compacta “V” com dq
borda “S” =I= J~ · d~a
dt S
Definimos carga “q(t)” como carga total dentro Sinal menos: quando o fluxo é positivo, I>0, a
de volume “V” carga elétrica sai da região V. Assumindo a
conservação de carga concluímos que carga total
dentro de V deve diminuir. Dai, dq/dt<0.

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Z
Carga elétrica dentro da região V em tempo “t” q(t) = ⇢(t, ~r)d3 x
V

Se a região for fixa (não depende de tempo) então


Z Z
d 3 @⇢ 3
⇢(t, ~r) d x = d x
dt V V @t

Aplicamos teorema de Gauss para integral de superfície


Z Z
@⇢ 3 ~ · J~ d3 x
d x= r
V @t V

As duas integrais tem o mesmo domínio, portanto podemos escrever


Z ✓ ◆
@⇢ ~ ~
+ r · J d3 x = 0
V @t
Esta integral é nula para qualquer região V. Isto é possível somente quando o integrando for
nulo
Equação de continuidade: equação
@⇢ ~ ~
+r·J =0 diferencial (local) que descreve a
@t
conservação de carga elétrica

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Lei de Ohm
Ao aplicar campo elétrico externo, as cargas livres dentro de material condutor começam
mover-se coletivamente (aparece corrente elétrica macroscópica).

Materiais diferentes respondem diferentemente ao campo aplicado. Esta resposta é


caraterizada pela condutividade elétrica - coeficiente de proporcionalidade entre densidade
de corrente e a intensidade de campo elétrico

J~ = E
~ LEI DE OHM

— condutividade elétrica
A m A
[ ]= 2 · =
m V Vm

Esta lei representa relação local entre densidade de corrente e o campo elétrico
(caraterística de material)

Resistividade
1 V
⇢ := [⇢] = ·m
A

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Resistividade

Depende de temperatura

O caracter de dependência varia com tipo de material

Condutor Semicondutor Supercondutor

⇢ ⇢ ⇢

T T T

T0 Tc temperatura
critica
⇢0 ⇢0 ↵
d⇢
⇢(T ) = ⇢(T T0 ) = ⇢(T0 ) + (T T0 ) + . . .
dT T =T0

Exemplo: alumínio
⇢(T ) = ⇢0 [1 + ↵(T T0 ) + . . .]
1
↵ = 0.0039 K

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Versão macroscópica da Lei de Ohm Intensidade de corrente
Z
Va Vb I= J~ · d~a = JS
S
n̂ V V
S J~ = ES =
l
S = 1 l
S

l V
I= Lei de Ohm
Simplificamos: R
~ = E n̂
E E = const
1 l l
J~ = J n̂ J = const R := =⇢ Resistência elétrica
S S
Voltagem
Z b
~ · d~l = El Dimensão física: OHM
V = Va Vb = E
a
V
Frequentemente é utilizada a notação
[R] = =⌦
A

V ⌘V
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Exemplo: resistor em forma de cone
L
Escolhemos “r” como a variável

b r b a L
r x= r
a x
=
L b a
x
x
L
dx = dr
b a
dx
Z b
⇢ L dr
Disco em x tem resistência R=
⇡b a a r2
dx
dR(x) = ⇢ 2 ✓ ◆
⇡r
⇢ L 1 1
Resistência total é a soma de resistências dos discos =
finos
⇡b a a b
Z L
dx ⇢L
R= ⇢ 2
0 r (x) R=
⇡ ab

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Modelo de condutividade
O fenômeno de resistência representa a ‘’dificuldade’’ que portadores de carga encontram para
deslocar-se dentro de um meio material. Isto levanta a questão sobre a causa física da resistência.
Para responder (ou tentar responder) esta questão devemos considerar algum modelo de
condutividade.

Modelos de condutividade

Clássicos Quânticos
Modelo de Drude Modelo de Fermi
Modelo de bandas
Grandezas envolvidas:
Exemplo: Avaliamos densidade de elétrons de condução em cobre (Cu). O cobre tem 1 elétron de
valência portanto numero de elétrons de condução deve ser igual a numero de átomos. Densidade
molar de cobre: ⇢ = 7.11 cm3 /mol. Número de Avogadro: NA = 6.022 · 1023 particulas/mol .
Dividindo número de Avogadro por densidade molar temos n = 8.5 · 1022 particulas/cm3 .
Esta densidade corresponde com densidade de elétrons de condução. A grandeza desta quantidade é
comparável com números caraterísticas em teoria cinética de gases. Isto significa que podemos tratar
os elétrons de condução como uma espécie de gás — GÁS DE ELÉTRONS.

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Modelo de Drude

Formulado em 1900

Postulados:

1. Elétrons formam gás perfeito.


Elétrons espalham—se nos
átomos da rede cristalina (este
espalhamento é responsável
por o fenômeno de resistência
elétrica).
2. Todos os elétrons (de valência)
contribuem para condução
elétrica.

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Velocidade quadrática média

Queremos determinar o valor da velocidade típica dos elétrons em gás “clássico”

Energia cinética media de elétrons em gás:


1 ⌦ 2↵
hEi = me v
2
Principio de equipartição: cada graus de liberdade de sistema com temperatura
“T” carrega a energia
1
kB T
2
23 J 5 eV
Constante de Boltzmann: kB = 1.38 · 10 = 8.61 · 10
K K
Cada elétron tem 3 graus de liberdade portanto
3 1 ⌦ 2↵ ⌦ 2 ↵ 3kB T
k B T = me v v =
2 2 me

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Isto permite definir uma velocidade caraterística — velocidade quadrática media


r
p 3kB T
2
vqm := hv i =
me

Substituindo: T = 330 K m 5
vqm = 1.17 · 10
me = 9.1 · 10 31
kg s

Esta é a velocidade no modelo de gás clássico.

O valor mais próximo aos valores verdadeiros da velocidade pode ser calculado levando em conta
as propriedades quânticas dos elétrons. Utilizando o modelo de gás de Fermi calculamos
velocidade de Fermi (para Cu). Valor desta velocidade é considerado como valor caraterístico de
velocidade de elétrons.
~ vF ⇡ 10 vqm
34 vF = (3⇡ 2 n)1/3
~ = 1.054 · 10 Js me
31 Velocidade em
me = 9.1 · 10 kg m 6 modelo clássico é um
vF = 1.57 · 10
n = 8.5 · 1028 eletrons/m3 s ordem de grandeza
mais baixa

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Velocidade de arraste
Queremos determinar o valor da velocidade de arraste dos elétrons.

A velocidade de arraste relaciona-se com movimento coletivo de elétrons. Este movimento é responsável
por deslocamento macroscópico de elétrons no interior de condutor.

O conhecimento do valor desta velocidade é essencial para calcular livre caminho medio, isto é, a
distancia percorrida por elétron entre dois consecutivos espalhamentos. Ao saber valor de livre caminho
medio podemos testar se a ideia de espalhamento de elétrons nos átomos da rede cristalina é razoável.

Ao aplicar campo elétrico, os elétrons começam se deslocar no sentido do campo


elétrico. Isto leva a uma densidade macroscópica da corrente

J~ = ne~vd
~vd = h~v i
concentração velocidade
carga elétrica
de elétrons de arraste
(velocidade caraterística media)

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J~
~
E I
S vd =
neS

A Exemplo: Fio de cobre, de raio 2mm


conduzindo a corrente elétrica I = 1A

V I = 1A
3 2
S = ⇡(2 · 10 ) m2
Integramos sobre seção reta de fio condutor
n = 8.5 · 1028 m 3

19
J~ = J n̂ d~a = da n̂ ~vd = vd n̂ e = 1.6 · 10 C

Z Z vd = 5.85 · 10 6
m/s
J~ · d~a = ne ~vd · d~a
S S
⇡ 2.1 cm/h
Esta velocidade é 10 ordens de grandeza
I vd S menor que a velocidade quadrática media!

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Livre caminho medio


Livre caminho medio é a distancia percorrida por elétron entre duas colisões consecutivas. Não se trata
de um elétron especifico, mas de um elétron “representativo” do sistema com a velocidade característica -
velocidade quadrática media ou (melhor) velocidade de Fermi.

Tempo medio entre duas colisões: um parâmetro com dimensão de tempo que relaciona
momento linear de elétron que se move com velocidade de arraste e a força elétrica
atuando neste elétron.

~ ⌧ e ~
me~vd = eE ~vd = E⌧
me

Energia media de elétron Tempo medio entre


Força quando sobre
calculada usando velocidade duas colisões
elétron
de arraste

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Utilizando a relação entre densidade de Livre caminho medio


corrente e a velocidade de arraste

e

ne 2 hli = vF ⌧
J~ = ne~vd = ne ~ ⌧ =
E ~
⌧E
me me
Exemplo: cobre (Cu)
Substituindo na Lei de Ohm J~ = ~
E hli = (1.57 · 106 m
· 10 14
s )(2.5 s)
8
me = 3.9 · 10 m = 390Å
⌧= 2
e n Para a velocidade clássica (quadrática media)
o valor esta 10 vezes menor.

Exemplo: Para cobre (Cu) valor experimental


Espaçamento entre dois átomos vizinhos em cobre
de resistividade
a = 2.6Å
1 8
= 1.7 · 10 ⌦m Isto significa que o elétron percorre 390/2.6=150
espaçamentos entre duas colisões consecutivas.
Difícil acreditar que isto seria possível.
14 Para um calculo clássico o valor é 10 vezes menor
⌧ = 2.5 · 10 s (cancelamento de erros em modelo de Drude)

Concluímos que elétrons não podem se espalhar


nos átomos!

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Se o espalhamento de elétrons nos átomos da rede cristalina não é razoável então


qual é a causa da resistência elétrica?

Resposta: A rede cristalina vibra e estas vibrações são quantizadas. Eles comportam-
se como quase-particular. Estas quase-particular são chamadas fônons.
Os elétrons colidem com fônons e fornecem sua energia cinética para rede através
destas colisões.

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Efeito Joule
Campo elétrico aplicado a material condutor Densidade de potencia
realiza trabalho sobre elétrons da condução. Va Vb

Estes elétrons fornecem sua energia a rede


cristalina (colisão elétron-fônon). S
O aumento da energia da rede manifesta-se
em suas vibrações. Ou seja, aumenta a
l
temperatura do material condutor.
Quantidade de potencia associada com um
trecho de fio condutor
Trabalho realizado pelo campo elétrico sobre
carga ∆q deslocada numa diferença de ( V )2 (E l)2
P =I V = = 1 l
potenciais V:=Va- Vb R S
P = E 2 (S l)
W =V
|{z} q =VI t
P t Densidade de volume
Potencia potencia

P =VI ~ 2 ~ ~ 1 ~2
P = E =E·J = J
[P ] = V A = W (Watt)
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