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ELETROMAGNETISMO

Mariana Sacrini Ayres Ferraz


Corrente elétrica
e resistência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Definir o conceito de corrente elétrica.


„ Reconhecer o conceito de resistência elétrica.
„ Identificar as consequências da resistividade elétrica, com destaque
para a condutividade e o efeito Joule.

Introdução
Corrente elétrica e resistores estão corriqueiramente presentes em nossas
vidas. Quer ver como? Usamos corrente elétrica todos os dias, ao acender
uma luz em casa, ao ligar um equipamento doméstico, ou ao trabalhar
em nosso computador para as tarefas diárias. Os resistores também fazem
parte de nossa vida cotidiana. Além de estarem presentes em circuitos
de nossos equipamentos eletrônicos, são os elementos-chaves para o
funcionamento de chuveiros elétricos, aquecedores, ferro de passar,
dentre outros.
Neste capítulo, você vai estudar corrente elétrica e algumas pro-
priedades de materiais condutores — dentre elas, a resistência elétrica,
a resistividade e a condutividade. Entenderá, também, o conceito de
velocidade de deriva e o que é o efeito Joule.

Corrente elétrica
Corrente elétrica nada mais é do que cargas em movimento. Provavelmente, o
primeiro exemplo que virá em sua mente é a corrente elétrica usada em nosso
dia a dia e empregada para acender lâmpadas e ligar equipamentos eletrônicos
e domésticos. Mas, na realidade, correntes elétricas estão presentes em diversos

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2 Corrente elétrica e resistência

fenômenos, como raios, vento solar e até dentro de nossas células, como as
correntes responsáveis pelas atividades neuronais e contrações musculares.
Podemos definir a corrente elétrica
dq
i = dt

A carga líquida total que passa em um determinado ponto durante um


intervalo de tempo de 0 a t é dada pela integral de dq, ou seja:
t
q = ∫ dq = ∫0 i dt

onde i pode ser uma função do tempo.


Se a corrente for estacionária, isto é, uma corrente que não é função do
tempo, a corrente será a mesma em qualquer ponto do condutor em questão.
Outro fato importante é que a carga é conservada. Assim, cada carga que
entrar em um condutor, por uma extremidade, sairá pela outra extremidade.
A unidade do SI para corrente é o Ampère (A). Assim:

1 A = 1 C/s

Em um fio condutor, passa uma corrente de i = 50,0 mA. Em um minuto, quantas


Embora correntes sejam representadas por uma seta em circuitos ou fios,
cargas passam pelo fio?
elas Sabemos
são grandezas
que 1 A éescalares.
igual a 1 C/s.As setas nãoo representam
Convertendo valor da correntevetores,
dada paramas apenas
o Sistema
o sentido do fluxo ao longo do condutor.
Internacional de Unidades, temos que 50 mA = 0,05 A, logo i = 0,05 C/s.
AAFigura 1 mostra
relação entre cargaum exemplo
e corrente de por:
é dada esquema com as setas de corrente. No
esquema, um fio condutor é conectadodqa uma bateria, e as setas vão do polo
i=
positivo para o negativo. Mas as cargas dt que se movem no condutor são os
elétrons, que circulam no sentido oposto ao da seta. Embora as cargas que
Dessa maneira, podemos escrever que:
se movam sejam negativas, a seta da corrente sempre é desenhada como se
as cargas fossem positivas. Isso Cocorre
dq = i dt = 0,05 ∙ 1 min por
C convenção histórica, pois,
uma
= 0,05 ∙ 60s = 3 C
s s
quando foi definida a direção da seta na segunda metade do século XIX, não
Assim, em um minuto, passam 3 C de carga no fio condutor.

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se sabia que os elétrons eram os responsáveis pela corrente nos condutores


(BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012).

i i

+ –
i i
Figura 1. Exemplo de um fio condutor ligado a uma bateria e
setas indicativas da corrente elétrica.

A Figura 2 traz uma representação de diversas situações onde existem


correntes e suas ordens de grandeza. As representações vão desde pA, como
no caso de correntes em neurônios, a GA, no caso das correntes heliosféricas
no vento solar.

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4 Corrente elétrica e resistência

Figura 2. Ordem de grandeza de correntes presentes em diversas situações, como em


ativação de neurônios, marca-passos e leds. Os exemplos vão desde pA até GA.
Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 131).

Densidade de corrente e velocidade de deriva


Em um condutor, as cargas irão se movimentar seguindo o sentido do campo
elétrico, quando, por exemplo, estiver ligado a uma bateria. Cargas positivas
fluirão no sentido do campo e cargas negativas fluirão no sentido oposto. A

densidade de corrente J é uma grandeza vetorial, que aponta na direção do
campo, e foi introduzida para descrever o fluxo. O módulo da densidade de
corrente é o valor da corrente i dividida pela área da seção transversal A do
ponto no condutor em questão:
i
J=
A

A unidade no SI é Ampère por metro quadrado (A/m2).


A corrente i, então, que passa por uma seção transversal de um condutor,
está relacionada com a densidade de corrente por:
i = ∫ J  dA

onde dA é o vetor perpendicular ao elemento de área dA. A multiplicação


escalar significa que apenas o fluxo que chega à direção de dA será contabi-
lizado para a corrente que passa naquela área do condutor.

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Se pudéssemos olhar um condutor bem de perto, veríamos que os elétrons


não se movem todos no sentido da corrente. Na verdade, eles movem-se em
sentidos aleatórios. Mas, quando se considera todo o conjunto de elétrons,
em uma dada região, verá que eles apresentam uma velocidade resultante no
sentido oposto do campo elétrico, formando a corrente i, muito menor que a
velocidade individual de cada elétron. Essa é a chamada velocidade de deriva
vd. A Figura 3 mostra um esquema dos elétrons movendo-se em um fio condutor

de corrente i, campo elétrico E, densidade de corrente J e velocidade de deriva
vd . De fato, os elétrons em um condutor de cobre têm módulo de velocidade
da ordem de 106 m/s, enquanto que a corrente em uma casa tem velocidade de
deriva da ordem de 10 -3 m/s (HALLIDAY; RESNICK, R.; WALKER, 2016).

E J vd

Figura 3. Esquema de uma corrente de elétrons i em um fio condutor com campo elétrico
E , densidade de corrente J e velocidade de deriva vd.
Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 133).

A velocidade de deriva relaciona-se com a densidade da seguinte forma:



J = (ne)v→d

onde n é o número de cargas, ou portadores de carga, por unidade de volume,


e e é o valor da carga. Assim, ne é a densidade volumétrica de carga, cuja

unidade no SI é Coulomb por metro cúbico (C/m3). Para cargas positivas, J e

vd apontam para a mesma direção; já, para cargas negativas, J e vd apontam
para direções opostas.

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6 Corrente elétrica e resistência

Em um condutor de largura a = 3,0 mm e espessura b = 200,0μm, passa uma corrente


i de 12,0 mA. Sabendo que o número de portadores de carga é n = 2,0 ∙ 1024 m-3, qual
é a densidade de corrente no condutor e a velocidade de deriva?
A densidade de corrente é J = i ÷ A. A área da seção transversal do condutor é dada
pela largura multiplicada pela espessura. Substituindo os valores, temos que:

12,0 ∙ 10–3
J= = 2,0 ∙ 104 A/m2
3,0 ∙ 10–3 200,0 ∙ 10–6

A velocidade de deriva é dada por vd = J ÷ ne. Substituindo os valores, encontramos:

2,0 ∙ 104
vd = = 6,2 ∙ 10–2 = 6,2 cm/s
2,0 ∙ 1024 1,6 ∙10-19

Resistência e resistividade
Se, em condutores de materiais diferentes, for aplicada a mesma diferença
de potencial, a corrente resultante em cada um deles será diferente. Esse fato
ocorre devido à resistência do material, ou seja, quanto o material resiste à
passagem da corrente. Podemos definir a resistência R de um condutor como
a Voltagem V aplicada entre dois pontos, dividida pela corrente
V
R=
i

A unidade no SI para a resistência é Volt por Ampère, o que é chamado


de Ohm (Ω). Ou seja:
1 Ω = 1V/A

Um condutor pode ser utilizado para fornecer uma resistência específica


em um circuito. Tal condutor é chamado de resistor. Quanto maior o resistor,
menor será a corrente elétrica, o que pode ser visto reescrevendo a equação
anterior como i = V ÷ R. Assim como, quanto menor a resistência, maior será
a corrente elétrica.
Outra maneira de interpretar essa questão da resistência seria olhando para o
campo elétrico e a densidade e corrente, ao invés da voltagem e corrente — ou

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seja, pensando nas propriedades elétricas do material. Podemos daí, definir a


resistividade do material ρ como:
E
ρ=
J

A unidade da resistividade no SI seria a unidade de E dividida pela unidade


de J, o que nos leva à unidade de Ohm-metro (Ωm). Ou seja:
V/m V m2 V m Ωm
= = =
A/m2 m A A

Lembremos que o campo elétrico e a densidade de corrente são grandezas


vetoriais. Ou seja, a equação da resistividade pode ser reescrita na forma
vetorial como:
E = ρJ

Uma observação importante a ser feita é que as equações da resistividade


só são válidas para materiais considerados como isotrópicos, ou seja, materiais
cujas propriedades elétricas são iguais em todas as direções.
Outra grandeza bastante utilizada é a condutividade σ. A condutividade
de algum material é o inverso da resistividade. Assim:
1
σ=
ρ

E sua unidade no SI é (Ωm)-1.


A resistência de um fio condutor, por exemplo, pode ser obtida a partir
do conhecimento da resistividade do material. Suponha um fio condutor de
comprimento L, área de seção transversal A, e diferença de potencial entre
suas extremidades é V. Se as linhas de corrente forem uniformes nesse fio,
podemos dizer que o campo elétrico e a densidade de corrente serão constantes,
e dados por:
V
E=
L
e
i
J=
A

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8 Corrente elétrica e resistência

Como a resistividade é dada por ρ = E/J, substituindo as equações de E e


J, encontramos que:
V/L V A
ρ= = i
i/A L

Sabemos que R = V ÷ i, então:

A
ρ=R
L
L
R=ρ
A

Um fio condutor de cobre tem área de seção transversal A = 2,0 ∙ 10-4 m2 e comprimento
L = 0,5 m. Qual a sua resistência? Use ρ = 1,7 ∙ 10 -8 Ωm.

Sabemos que a relação entre a resistividade e a resistência é dada por:

ρL
R=
A

Assim, substituindo os valores:

1,7 ∙ 10–8 0,5


R= = 42,5 ∙ 10–6 = 42,5μΩ
2,0 ∙ 10–4

Efeito Joule
Quando uma corrente elétrica flui por um condutor, este transforma energia elé-
trica em energia térmica, esquentando o material. Olhando microscopicamente
o fenômeno, os elétrons da corrente elétrica, ao passarem por um condutor,

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chocam-se com os átomos do mesmo. Por causa dos choques existentes, parte
da energia cinética é transferida para os átomos do material, aumentando a
agitação e consequentemente, a temperatura. Esse efeito é conhecido como
efeito Joule.
Esse fenômeno foi essencial para a criação de diversos equipamentos que
precisam de aquecimento, utilizados por nós. Como exemplo, podemos citar
ferros de passar, aquecedores, fornos elétricos, chuveiro, dentre outros.
As desvantagens estariam no aquecimento indesejado, como fios e toma-
das que aquecem demais e podem derreter. O próprio condutor pode sofrer
alterações devido a altas temperaturas. De fato, a resistividade do material
tem uma dependência com a temperatura. Quanto maior a temperatura, maior
a resistividade, ou seja, a altas temperaturas, a resistência à passagem da
corrente aumenta. A Figura 4 mostra a variação da resistividade do cobre em
função da temperatura.

10
Resistividade (10–8 Ω.m)

Temperatura ambiente

2
T0 , ρ0

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (K)
Figura 4. Dependência da resistividade ρ do cobre com a temperatura T.
A linha vertical marca o ponto referente à temperatura ambiente, T0 = 293 K
e ρ0 = 1,69 ∙ 10-8Ωm.
Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, p. 120).

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BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magne-
tismo. Porto Alegre: AMGH, 2012.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 10.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 3.

Leitura recomendada
EFEITO JOULE. O efeito Joule. [S.l.]: Efeito Joule, 2008. Disponível em: <https://www.
efeitojoule.com/2008/04/efeito-joule.html>. Acesso em: 19 fev. 2018.

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