O episódio inicia-se com o conector mas («Mas, neste passo, assi
prontos estando» - est. 70) a marcar o contraste entre a calmaria descrita anteriormente e a violência da tempestade que se avizinha. Os marinheiros acordam, repentinamente, com o apito do comandante para a manobra, pois o vento aumenta e avista-se uma nuvem negra. Ainda os navegadores não tinham terminado as manobras de preparação para a tempestade, quando o temporal cai sobre a embarcação. O terror é grande, pois a embarcação está a destruir-se e o vento não para. Ouvem-se gritos de desespero; as aves marítimas, lembrando-se do último naufrágio, manifestam tristeza; e os golfinhos, não se sentindo seguros, fogem. Nunca se viu tamanha tempestade. Nem Vulcano fabricou tantos raios para Eneias na guerra dos Gigantes, nem Júpiter lançou tantos relâmpagos no dilúvio. As enormes ondas derrubam montes, os terríveis ventos arrancam árvores e as areias do fundo do mar vêm para a superfície.
2.º parte: súplica de Vasco da Gama
(est. 80-83) Vasco da Gama vendo-se perdido, confuso e impotente perante a tempestade, agora que estava tão perto de alcançar o seu objetivo, resolve pedir ajuda a Deus, argumentando que já ultrapassaram muitos perigos em nome da fé. Menciona que com aquela viagem não pretendem ofender mas servir a Deus. Refere também que são felizes aqueles que morreram em luta pela fé em África. Apesar da súplica de Gama, a tempestade aumenta a sua violência: os ventos gritavam como "touros Indómitos" (est. 84) e os «Relâmpagos medonhos» (est. 84) não paravam.
3.ª parte: intervenção de Vénus
(est. 85-91) Luís de Camões narra que a deusa Vénus, ao ver o estado do mar e o perigo que corria a armada portuguesa, sentiu medo e ira. Vénus diz de imediato que aquela situação é obra do atrevimento de Baco, ele queria criar obstáculos mas que não irá permitir tal maldade. A protetora dos portugueses desce ao mar e ordena às ninfas que se enfeitem com coroas de flores para acalmar os ventos. Estes, ao verem as belas ninfas, ficam sem forças para lutar e a ninfa Orítia ameaça o seu amante, o vento Bóreas, que, se não terminar com a tempestade, em vez de o amar vai passar a temê-lo. Galateia também prometeu amor ao feroz vento Noto e as outras ninfas, de igual modo, amansaram os seus amantes. Assim, Vénus prometeu favorecer os ventos com seus amores e estes ser-lhe-iam leais durante a viagem dos navegadores portugueses.
Chegada à Índia (est. 92-94)
Já tinha amanhecido, quando os marinheiros avistaram a terra. A tempestade tinha passado e o temor também, quando o piloto de Melinde diz que aquela “Terra é de Calecu”, a Índia que procuravam. Luís de Camões conta que Vasco da Gama, com enorme emoção e de joelhos no chão, ergue as mãos para o céu e dá graças a Deus.