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O que é ser intelectual?

Edward Said:

“o intelectual é um indivíduo com um papel público específico na sociedade, que não


pode ser reduzido simplesmente a um profissional sem rosto, um membro competente
de uma classe que apenas trata da sua vida. A questão fundamental para mim, penso
eu, é o fato de o intelectual ser um indivíduo dotado de uma faculdade para representar,
corporizar, articular uma mensagem, um ponto de vista, uma atitude, filosofia ou
opinião para [...] um público”. (Said 2000: 28)

Milton Santos:

“Ser intelectual é exercer diariamente a rebeldia contra conceitos assentados, tornados


respeitáveis, mas falsos. É também aceitar o papel de criador e propagador do
desassossego [...] de produtor do escândalo, se necessário” (Santos, 2004, p. 169)

UMA DISCUSSÃO ACERCA DO QUE SIGNIFICA SER UM(A) INTELECTUAL NEGRO(A),


2018, publicado em Revista de Teoria da História, Volume 19, Número 1, Junho/2018

Entrevistadores: Fernando Baldraia (FU-Berlin/Mecila) e Marcello Felisberto Morais de


Assunção (DLCV-USP) Entrevistados: Adélia Mathias, Muryatan Barbosa, Natasha A.
Kelly, Deivison Mendes Faustino, Uhuru Phalafala e Marcus Vinicius Rosa

Na tradição greco-romana, aquela que marca identitariamente a sociedade ocidental, o


intelectual é alguém, antes de mais nada, distante da realidade sensível. (...) Essa
particularidade cosmogônica tem uma origem histórica determinada: um modo de
produção escravista onde quem transformava a realidade objetiva eram os escravos.
Então a transformação, a prática e a própria experiência sensível eram vistas sempre
com muita desconfiança. (...) Na origem do termo intelectual tá uma ideia de que o
intelectual é aquele que se dedica a atividade teórica e essa atividade tá separada da
atividade sensível, da prática sensível.

Na tradição kemético-kongo-yorubá, que marca algumas tradições africanas, a


produção intelectual está sempre implicada com a práxis, seja pela transformação (ou
diálogo) direta da natureza seja no diálogo ou tentativa de interferir no sobrenatural.

Adélia Mathias:

Acredito que ser um/a intelectual negro/a significa passar por barreiras inimagináveis
para outros sujeitos, porque vai contra o imaginário coletivo de que na tríade alma,
mente e corpo o que sobrou para os negros da diáspora foi o corpo, a dimensão de
menor valor.

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