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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
PROJETO DE GRADUAÇÃO

REQUISITOS E POSSIBILIDADES DE SISTEMAS DE


EMERGÊNCIA DE ALTA POTÊNCIA

JELBENER VINÍCIOS DOS SANTOS AZEREDO

VITÓRIA - ES
Fevereiro/2006
JELBENER VINÍCIOS DOS SANTOS AZEREDO

REQUISITOS E POSSIBILIDADES DE SISTEMAS DE


EMERGÊNCIA DE ALTA POTÊNCIA

Parte manuscrita do Projeto de


Graduação do aluno Jelbener Vinícios
dos Santos Azeredo, apresentado ao
Departamento de Engenharia Elétrica do
Centro Tecnológico da Universidade
Federal do Espírito Santo, para obtenção
do grau de Engenheiro Eletricista.

VITÓRIA – ES
Fevereiro/2006
JELBENER VINÍCIOS DOS SANTOS AZEREDO

REQUISITOS E POSSIBILIDADES DE SISTEMAS DE


EMERGÊNCIA DE ALTA POTÊNCIA

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Wilson Correia Pinto de Aragão


Filho, D. Sc.
Orientador

Eng. Lucio Coutinho Correa


Examinador

Prof. Getúlio Vargas Loureiro, PhD


Examinador

Vitória - ES, fevereiro de 2006.


DEDICATÓRIA

Aos amigos Dermeval Rodrigues, Johnny Sperandio, Renato Bertoldi, Thiago


Negrelli e Thiago Zambom, que foram companheiros nesses longos e difíceis anos
de graduação.

i
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que está presente em todos os momentos


da minha vida.
A Vera, Odete, Vânia, Valdete e Carol; pela paciência, compreensão e
carinho.
A Wilson Aragão, pela orientação.
A todas as pessoas que contribuíram para que esse trabalho fosse
realizado.

ii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Motor Diesel (vista em corte) .................................................................... 12


Figura 2 - Ciclo de Trabalho do Motor de Combustão ............................................... 13
Figura 3 - Bomba Injetora (vista em corte) ................................................................ 14
Figura 4 - Bico Injetor ................................................................................................ 14
Figura 5 - Governador Eletrônico .............................................................................. 15
Figura 6 - Diagrama de Blocos da Regulação de Velocidade ................................... 16
Figura 7 - Sistema de Pré-Aquecimento da Água de Arrefecimento ......................... 17
Figura 8 - Motor de Arranque de um Grupo Gerador ................................................ 18
Figura 9 - Banco de Baterias de um Grupo Gerador ................................................. 18
Figura 10 - Auto-Excitação do Gerador (esquema) ................................................... 19
Figura 11 - Excitação Sem-Escovas (esquema) ....................................................... 20
Figura 12 - Excitação PMG (esquema) ..................................................................... 21
Figura 13 - Acoplamento (vista em corte) ................................................................. 22
Figura 14 - Chave de Transferência Manual ............................................................. 23
Figura 15 - Chave de Transferência a Contatores .................................................... 24
Figura 16 - Chave de Transferência a Disjuntores .................................................... 24
Figura 17 - Arranjo de Instalação com Chave de Transferência ............................... 25
Figura 18 - Diagrama de Blocos de uma UPS........................................................... 27
Figura 19 - UPS em Operação Normal ..................................................................... 29
Figura 20 - UPS Operando Via Bateria ..................................................................... 30
Figura 21 - UPS Operando Via Ramal de Transferência .......................................... 30
Figura 22 - Configuração Usual de um Sistema de Emergência ............................... 32
Figura 23 - Configuração com Reserva a Quente ..................................................... 33
Figura 24 - Configuração em Paralelo Redundante Ativo Distribuído ....................... 34
Figura 25 - Configuração em Paralelo Redundante Ativo Centralizado .................... 35
Figura 26 - Esquema Básico do Sistema de UPS da MLC 1 da CST Arcelor ........... 37
Figura 27 - Esquema do Sistema Elétrico do Shopping Vitória ................................. 38
Figura 28 - Grupo Gerador de 250 kVA (Shopping Vitória) ....................................... 38
Figura 29 - Painel de Comando (Gerador 1 - Shopping Vitória) ................................ 39
Figura 30 - Chave de Transferência (Gerador 1 – Shopping Vitória) ........................ 40
Figura 31 - Grupo Gerador de 450 kVA (Expansão - Shopping Vitória) .................... 41

iii
Figura 32 - Painel do Comando (Gerador 2 - Shopping Vitória) ................................ 41
Figura 33 - Chave de Transferência (Gerador 2 - Shopping Vitória) ......................... 42
Figura 34 - Esquema do Sistema Elétrico do Shopping Praia da Costa ................... 43
Figura 35 - Grupo Gerador de Emergência (Shopping Praia da Costa) .................... 44
Figura 36 - Painel do Grupo Gerador (Shopping Praia da Costa) ............................. 45
Figura 37 - Cobertura para Grupo Gerador ............................................................... 46
Figura 38 - Grupo Gerador em Manutenção (Hospital Santa Rita) ........................... 47
Figura 39 - Painel de Transferência (Hospital Santa Rita) ........................................ 48
Figura 40 - Grupo Gerador Desativado (Hospital Santa Rita) ................................... 48
Figura 41 - Grupo Gerador 1 (CST Arcelor) .............................................................. 49
Figura 42 - Grupo Gerador 3 (CST Arcelor) .............................................................. 50
Figura 43 - Transferência em Rampa de Carga (Esquema de Ligação) ................... 52
Figura 44 - Seqüência de Entrada do Gerador no Horário de Ponta......................... 53
Figura 45 - Condição Normal de Funcionamento ...................................................... 55
Figura 46 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF ..................................... 56
Figura 47 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Barra Comum da
Casa de Força ........................................................................................................... 57
Figura 48 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Casa de Força -
DG-2 em Falha .......................................................................................................... 58
Figura 49 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2 ........................................... 59
Figura 50 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Barra Comum da Casa
de Força .................................................................................................................... 60
Figura 51 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Casa de Força - DG-3
em Falha ................................................................................................................... 61

iv
GLOSSÁRIO

CLP – Controlador Lógico Programável, PLC: Programmer Logical Controller.


CTI – Centro de Tratamento Intensivo
UTI – Unidade de Tratamento Intensivo
MLC 1 – Máquina de Lingotamento Contínuo de Placas N°1.
RMS – Root Mean Square, é o valor médio quadrático de uma onda, também
chamado de valor eficaz.
CA – Corrente alternada, AC: Alternating Current.
CC – Corrente contínua, DC: Direct Current.
CE – Chave estática, SSM:Static Switch Module.
UCP – Unidade Central de Processamento, CPU: Central Processing Unit.
Conversor Elevador – Conversor responsável em conceder um ganho adicional, ou
auxiliar, a um sistema; Conversor Booster.
CPD – Centro de Processamento de Dados.
Reserva a Quente – Hot Standby.
Reserva Girante – Standby.
Ramal de Transferência – By Pass.

v
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ........................................................................................................... I
AGRADECIMENTOS ................................................................................................ II
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ III
GLOSSÁRIO ............................................................................................................ V
SUMÁRIO ................................................................................................................ VI
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9
1.1 Motivação ........................................................................................................ 9
1.2 Definição dos Sistemas................................................................................... 9
1.2.1 Sistema Comercial ................................................................................. 9
1.2.2 Sistema Industrial .................................................................................. 9
1.2.3 Sistema Hospitalar ............................................................................... 10
2 ELEMENTOS DE UM SISTEMA DE EMERGÊNCIA ......................................... 11
2.1 Grupos Geradores ........................................................................................ 11
2.1.1 Motores Diesel .................................................................................... 11
2.1.2 Geradores Síncronos de Corrente Alternada ...................................... 18
2.1.3 Acoplamento ....................................................................................... 21
2.1.4 Sistema de Proteção .......................................................................... 22
2.1.5 Quadro de Transferência Automática ................................................. 23
2.2 Fonte Ininterrupta de Potência ..................................................................... 27
2.2.1 Elementos Principais de uma Fonte Ininterrupta de Potência ............. 27
2.2.2 Modos de Operação ............................................................................ 29
3 CONFIGURAÇÕES DOS SISTEMAS DE EMERGÊNCIA ................................ 31
3.1 Disponibilidade e Confiabilidade ................................................................... 31
3.2 Configuração Padrão .................................................................................... 31
3.3 Configuração com Reserva a Quente ........................................................... 32
3.4 Configuração em Paralelo Redundante ........................................................ 33
4 EXEMPLOS DE SISTEMAS DE EMERGÊNCIA ................................................ 36
4.1 A Fonte Ininterrupta de Potência da MLC 1 – CST Arcelor .......................... 36
4.2 O Sistema de Emergência do Shopping Vitória ............................................ 37
4.3 O Sistema de Emergência do Shopping Praia da Costa............................... 43
4.4 O Sistema de Emergência do Hospital Santa Rita ........................................ 46

vi
4.5 O Sistema Diesel de Emergência da Área de Utilidades – CST Arcelor ....... 49
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 51
APÊNDICE A ......................................................................................................... 52
APÊNDICE B ......................................................................................................... 55
Condição Normal de Funcionamento .................................................................. 55
Falha na Barra de 3,3 kV da CRAAF .................................................................. 55
Falha na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Barra Comum da Casa de Força...... 56
Falha na Barra de 3,3 kV do AF2 ........................................................................ 58
Falha na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Barra Comum da Casa de Força ........... 59
Falha na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Casa de Força – DG-3 em Falha ........... 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 62

vii
RESUMO

As fontes de energia elétrica de emergência são importantes porque


asseguram a confiabilidade necessária a quaisquer serviços, especialmente
àqueles ditos essenciais, que são uma necessidade crescente nos dias
atuais.
Em vários ramos de atividades, as interrupções do fornecimento de
energia elétrica representam um alto risco de prejuízos que muitas vezes não
são apenas financeiros. A segurança de pessoas também está envolvida em
vários casos. Grandes shoppings, hipermercados, hospitais e muitas unidades
industriais dos mais diversos ramos de atividade, não podem prescindir de um
sistema de geração de energia de emergência.
Portanto, foi elaborado um estudo sobre os principais equipamentos
usados nos sistemas de emergência e suas principais características, bem
como as maneiras pelas quais os sistemas se comportam na ocasião de uma
falha da alimentação principal.
Confiabilidade e segurança no abastecimento são requisitos
preponderantes na escolha da filosofia do sistema de emergência.

viii
9

1 INTRODUÇÃO

1.1 Motivação

A perda da alimentação de uma carga devida a uma falha do sistema


da concessionária (como o blecaute, por exemplo) é sempre um fato
indesejado. Para resolver esse problema é que são elaborados sistemas que
possam atuar na ocorrência de uma emergência. O projeto de um sistema
desse tipo decorre da avaliação dos requisitos que a carga exige, tais como a
potência necessária e os equipamentos que devem funcionar
ininterruptamente. Uma vez definidos esses requisitos, pode-se escolher o
tipo de sistema de emergência a ser instalado.

1.2 Definição dos Sistemas

1.2.1 Sistema Comercial

Um estabelecimento comercial de grande porte, como um shopping center,


apresenta uma distribuição de cargas dividida em cargas comuns (condomínio) e as
cargas de cada loja, separadamente. As cargas de condomínio são tipicamente
elevadores, escadas rolantes, bombas d’água, ar condicionado e iluminação. De
modo geral, um estabelecimento comercial desses recebe energia da concessionária
em 11,4 kV ou 13,8 kV. Subestações particulares são responsáveis por abaixar a
tensão até os níveis desejados (440 V, 380 V, 220 V ou 127 V). Uma eventual falha
no fornecimento de energia pela concessionária iria causar um desconforto, pois a
parada de elevadores e o desligamento das lâmpadas de um local com uma grande
concentração de pessoas podem causar pânico.

1.2.2 Sistema Industrial

Em uma indústria o sistema elétrico tem cargas dos mais variados tipos, e
com as mais variadas funções e importâncias no processo. São vários motores
10

elétricos e seus acionamentos, CLP, pontes rolantes, etc. As grandes empresas


recebem energia em alta tensão (69 kV ou 138 kV) e fazem a devida conversão
dessa energia. Algumas empresas possuem sua própria geração de energia, e ficam
conectadas à rede da concessionária para o caso de falha do seu sistema, além de
outras razões. No que diz respeito a uma falta de energia na indústria, podem ser
perdidas toneladas de matéria prima ou várias horas de produção do produto final, o
que pode gerar como conseqüência milhares de reais de prejuízo. Para que isso não
aconteça, ou se minimize, deve-se ter um sistema de emergência confiável.

1.2.3 Sistema Hospitalar

O sistema elétrico de um hospital é também alimentado pela concessionária


em alta tensão. Existem vários equipamentos que precisam estar ligados
ininterruptamente e que são sensíveis a variações de tensão e freqüência. As
instalações de um hospital devem ser capazes de não apresentar níveis altos de
queda de tensão e harmônicos, a fim de não serem prejudiciais aos equipamentos.
O sistema de emergência de um hospital deve preservar essas características, e ser
robusto o suficiente para suprir as necessidades da carga. Alguns equipamentos
devem imprescindivelmente, funcionar de modo ininterrupto. São eles: respiradores
artificiais, monitores de freqüência cardíaca, desfibriladores, e outros equipamentos
do CTI e da UTI. Vidas humanas podem ser salvas através do uso desses
equipamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina o uso
de sistemas de suprimento de energia em emergência através de legislações como
a RDC-50/02 [22]. A segurança das pessoas é muito importante, sobretudo em
instalações hospitalares. Por esses motivos é que o sistema de geração de energia
de emergência de um hospital deve ser o mais confiável possível.
11

2 ELEMENTOS DE UM SISTEMA DE EMERGÊNCIA

Os sistemas de emergência devem conter elementos que garantam a


continuidade da alimentação das cargas selecionadas em projeto para funcionar
ininterruptamente. Esses elementos são basicamente geradores (a Diesel, em sua
maioria), juntamente com as chaves de transferência e as fontes ininterruptas de
potência.

2.1 Grupos Geradores

Chama-se “grupo gerador” o conjunto de motor de combustão e gerador de


corrente alternada, destinado ao suprimento de energia elétrica produzida a partir do
consumo de combustível, geralmente gás ou óleo Diesel. Em função dos
consumidores de energia elétrica a que se destinam, os grupos geradores são
construídos com características especiais que os tornam apropriados para diversas
aplicações. Para o dimensionamento adequado do grupo gerador, deve-se
considerar qual o tipo de carga que será alimentada; quais as condições e
características do local, tais como temperatura, altitude, nível de contaminação do ar
por partículas sólidas; qual é o regime de operação do grupo gerador e também
quais são os seus níveis de ruído acústico. Este estudo focalizará os grupos
geradores a Diesel. O motivo disso é que os geradores Diesel são usados na
maioria das aplicações e também nos sistemas exemplificados no Capítulo 4.

2.1.1 Motores Diesel [2, 18]

Os motores Diesel são máquinas térmicas alternativas, de combustão


interna, destinadas ao suprimento de energia mecânica ou força motriz de
acionamento. O nome é devido a Rudolf Diesel, engenheiro francês nascido em
Paris, que desenvolveu o primeiro motor em Augsburg – Alemanha, no período de
1893 a 1898. Um motor Diesel é composto de um mecanismo capaz de transformar
os movimentos alternativos dos pistões em movimento rotativo da árvore de
manivelas, através da qual se transmite energia mecânica aos equipamentos
acionados, no caso o gerador de corrente alternada. Esse mecanismo tem como
12

blocos principais o bloco de cilindros, os cabeçotes, o cárter, a seção dianteira e a


seção traseira. No bloco de cilindros se encontra o conjunto de cilindros, compostos
estes pelos pistões com anéis de segmento, camisas, bielas, árvores de manivelas e
de comando de válvulas, com mancais e buchas. Na maioria dos motores, o bloco
de cilindros é construído de ferro fundido e usinado para receber a montagem dos
componentes. Os cabeçotes são como “tampões” para os cilindros, e acomodam os
mecanismos das válvulas de admissão e escape, bicos injetores e canais de
circulação do líquido de arrefecimento. O cárter é o reservatório do óleo lubrificante
do motor. É construído em ferro fundido, liga de alumínio ou chapa de aço
estampada. A seção dianteira é a parte onde se alojam as engrenagens de
distribuição de movimentos para os acessórios externos, tais como bombas d’água,
ventilador, etc. Na seção traseira estão o volante e sua carcaça, para montagem do
equipamento acionado. A vista em corte de um motor a óleo Diesel está ilustrada na
Figura 1:

Figura 1 - Motor Diesel (vista em corte)

2.1.1.1 Princípio de Funcionamento

O princípio básico de funcionamento do motor Diesel consiste em um ciclo


no qual ele aspira ar, que após ser comprimido no interior dos cilindros, recebe o
combustível sob pressão superior àquela que o ar se encontra. A combustão
13

acontece por auto-ignição quando o combustível entra em contato com o ar


aquecido pela pressão elevada. Geralmente, esse ciclo de trabalho tem a duração
de quatro tempos.
O ciclo estende-se por duas rotações da árvore de manivelas, ou seja,
quatro cursos do pistão. No 1° tempo, com o pistão em movimento descendente,
ocorre a admissão do ar. Geralmente uma ventoinha empurra o ar para o cilindro
(turbocompressão). No 2° tempo, com o pistão subindo, acontece a compressão.
Antes de o pistão completar o curso, ocorre a auto-ignição. No 3° tempo, com o
pistão descendo, há a expansão dos gases e transferência de energia ao pistão. No
4° tempo, os gases de escape são expelidos pelo movimento ascendente do pistão.
Esses quatro tempos estão ilustrados na Figura 2:

Figura 2 - Ciclo de Trabalho do Motor de Combustão

2.1.1.2 Sistemas de Injeção de Combustível e Regulação de Velocidade

O sistema de injeção de combustível é composto de uma bomba injetora e


bicos injetores. A bomba injetora consiste em uma bomba de pistões que regula a
pressão e dosagem para cada cilindro. Na maioria dos motores Diesel, utiliza-se
uma bomba em linha dotada de um pistão para cada cilindro e acionada pela árvore
de Cames, que impulsiona o combustível quando o pistão atinge o ponto de início de
injeção, no final do tempo de compressão. Para que as bombas injetoras funcionem,
elas são instaladas no motor sincronizadas com os movimentos da árvore de
manivelas. A vista em corte de uma bomba injetora é mostrada na Figura 3:
14

Figura 3 - Bomba Injetora (vista em corte)

Acoplados à bomba injetora, estão os bicos injetores. Eles são instalados


nos cabeçotes e têm a finalidade de suprir o óleo Diesel pulverizado em forma de
névoa. A foto de um bico injetor aparece na Figura 4:

Figura 4 - Bico Injetor


15

No motor Diesel, a rotação depende da quantidade de combustível injetada


e da carga aplicada ao motor. Para se fazer a regulação da rotação do motor
quando ela tende a cair (quando a carga aumenta) ou a subir (quando a carga
diminui), é usado um dispositivo chamado governador. O governador assegura o
controle da dosagem de combustível em função das solicitações da carga. No caso
de geradores isso é essencial, pois a rotação está diretamente ligada à freqüência
da tensão gerada, que deve ser constante. Isso significa que a cada equipamento
elétrico que liga ou desliga, o governador deve corrigir a quantidade de combustível
injetada, a fim de minimizar as variações da rotação. É importante ressaltar que,
para aplicações de geradores que funcionam em regime permanente (algumas
horas), os motores usados têm rotações baixas (600 ou 700 rpm); e para aplicações
de emergência são usados motores de alta rotação (1800 ou 3600 rpm).
Os governadores podem ser mecânicos, hidráulicos ou eletrônicos. Os
mecânicos são constituídos por um sistema de contrapesos, molas e articulações.
São mais baratos, têm precisão de regulação de cerca de 3%, e podem ser usados
em equipamentos que são pouco sensíveis a variações de freqüência. Os
governadores hidráulicos têm maior precisão que os mecânicos e podem ser usados
independentemente da bomba injetora. São compostos por um sistema de
contrapesos girantes, que fazem o papel de sensor de rotação e uma bomba
hidráulica para produzir a pressão de óleo necessária ao acionamento. Por serem
caros e necessitarem de um arranjo especial para a montagem no motor não são
muito usados. Os governadores eletrônicos estão sendo cada vez mais usados,
devido a melhor precisão de regulação e a redução no custo nos últimos anos. Eles
são feitos basicamente de um sensor magnético, que exerce a função de captador
de rotação; um regulador eletrônico, que é a unidade de controle; e um atuador. A
foto de um governador eletrônico pode ser vista na Figura 5:

Figura 5 - Governador Eletrônico


16

O sensor magnético é uma bobina enrolada sobre um núcleo


ferromagnético. De acordo com a rotação do motor, essa bobina induz pulsos de
corrente elétrica que são captados pelo regulador. A quantidade de pulsos por
segundo captada é comparada com um sinal de referência. Havendo diferença, o
regulador altera o fluxo de corrente no atuador, que efetua as correções na injeção
de óleo Diesel. O diagrama de blocos simplificado do controle é descrito na Figura 6.

Figura 6 - Diagrama de Blocos da Regulação de Velocidade

2.1.1.3 Sistemas de Lubrificação e Arrefecimento

O sistema de lubrificação do motor Diesel consiste em um cárter a óleo,


montado sob o bloco; uma bomba de circulação forçada, geralmente do tipo de
engrenagem, acionada pela árvore de manivelas do motor; um regulador de
pressão, que é uma válvula da própria bomba; um trocador de calor (ou radiador) do
óleo lubrificante; filtros de fluxo integral e de desvio; e ainda sensores de pressão e
manômetros. Em grupos geradores existem sistemas de pré-lubrificação que
funcionam em conjunto com o motor de arranque, fazendo circular óleo lubrificante
sob pressão durante a partida do motor Diesel. Existem, também, sistemas que
injetam óleo durante certo tempo em intervalos determinados. O objetivo é fazer com
que o motor Diesel receba a lubrificação necessária durante a partida, prevenindo
desgastes prematuros.
O sistema de arrefecimento é simples, usando água como meio refrigerante.
Apenas em regiões muito frias a água deve ser tratada com aditivos que abaixam
seu ponto de congelamento. Uma bomba centrífuga é responsável por promover a
circulação da água pelo circuito que passa pelo motor e o radiador. No caso de
grupos geradores de emergência, a água de arrefecimento deve permanecer em
uma temperatura um pouco acima da ambiente e próxima da temperatura de
trabalho do motor. Para isso, existe um sistema de pré-aquecimento, dotado de um
resistor (de potência entre 2 e 4 kW) imerso numa derivação do circuito de
refrigeração. Esse sistema pode ser visto na Figura 7. Termostatos monitoram a
17

temperatura, e segundo valores pré-ajustados, o resistor é ligado e desligado.


Manter a água de arrefecimento em uma temperatura de aproximadamente 40°C
possibilita que o grupo gerador possa assumir a carga de emergência em um tempo
menor.

Figura 7 - Sistema de Pré-Aquecimento da Água de Arrefecimento

2.1.1.4 Sistema de Partida e Baterias

Os dispositivos de partida (ou arranque) do motor podem ser elétricos,


pneumáticos ou a mola. A partida a mola é feita apenas em motores de baixa
potência, inferior a 100 cv. A partida pneumática é usada somente em aplicações
específicas onde não se possa usar a partida elétrica. Na maioria dos casos, usa-se
a partida elétrica, pois é a opção mais viável e de menor custo. O motor de arranque
é de corrente contínua, sua potência varia entre 0,6 a 1,2 cv, e é alimentado em 12
ou 24 V. Essa alimentação é feita através de baterias. Além do motor de partida, o
banco de baterias supre os dispositivos auxiliares que permanecem ligados, tais
como lâmpadas de sinalização, bobina de frenagem elétrica, unidades de controle,
etc. A Figura 8 e a Figura 9 mostram, respectivamente, as fotos do motor de partida
e do banco de baterias de um grupo gerador.
18

Figura 8 - Motor de Arranque de um Grupo Gerador

Figura 9 - Banco de Baterias de um Grupo Gerador

2.1.2 Geradores Síncronos de Corrente Alternada [2, 6, 15, 19]

Segundo a teoria de máquinas rotativas, concebida pelo inglês Michael


Faraday em 1831, quando há movimento relativo entre um condutor e um campo
magnético surge uma tensão induzida. Esse é o princípio que rege todos os
geradores elétricos. Os geradores síncronos são máquinas cuja freqüência da força
eletromotriz é diretamente proporcional ao número de pólos magnéticos e à
velocidade de rotação.
19

2.1.2.1 Aspectos Construtivos

Na máquina síncrona, o enrolamento de campo é alimentado por uma fonte


CC (excitatriz) e a armadura é ligada diretamente à carga. Quando o rotor gira na
velocidade síncrona, acionado pela máquina primária (no caso, o motor Diesel), a
máquina desenvolve sua função de gerador, ou seja, surge uma tensão de saída
trifásica alternada nos terminais da armadura. Para manter a tensão de saída
constante deve-se regular a tensão CC do circuito de campo. Para isso, existe um
circuito regulador de tensão que compensa as variações de carga. Esse circuito
basicamente colhe a tensão de saída do gerador, compara com um sinal de
referência e comanda a excitatriz.
A excitação do gerador síncrono pode ser feita de duas maneiras básicas:
auto-excitação ou excitação independente.
Na auto-excitação, existe um retificador controlado a tiristores que utiliza a
tensão alternada fornecida pelo gerador para alimentar em corrente contínua o
circuito de campo. A condução de corrente se faz por meio de dois anéis com
escovas, montados no eixo do gerador. Como o retificador usa a tensão gerada pela
própria máquina síncrona, é essencial que haja um magnetismo residual na partida
do gerador. Uma desvantagem desse sistema é que por ter tiristores controlados a
pulsos de tensão, harmônicos são gerados na rede, o que pode prejudicar o
funcionamento de equipamentos sensíveis. O esquema da auto-excitação do
gerador é visto na Figura 10.

Figura 10 - Auto-Excitação do Gerador (esquema)


20

O sistema de excitação independente é montado no próprio eixo do gerador.


Esse sistema é constituído por um gerador de corrente contínua alimentado por um
regulador externo. Em geradores mais antigos, esse gerador de corrente contínua
era um dínamo, com escovas e comutador de lâminas de cobre. Atualmente é usado
um pequeno gerador de corrente alternada de pólos fixos, cuja corrente gerada no
induzido rotativo é retificada por uma ponte retificadora de onda completa girante,
que transfere corrente contínua diretamente ao circuito de campo, e sem utilizar
escovas para isso. Esse tipo de excitação é chamado de excitação sem-escovas
(brushless). A Figura 11 ilustra esse esquema.

Figura 11 - Excitação Sem-Escovas (esquema)

Há, também, um sistema de excitação por ímã permanente, ou PMG


(Permanent Magnet Generator). Conforme o esquema da Figura 12 tem-se uma
excitatriz auxiliar, constituída de um campo magnético constante produzido por um
ímã permanente (PMG) que gira no interior de um enrolamento fixo (armadura do
PMG). A tensão fornecida à excitatriz é proveniente apenas do sistema PMG,
independente da tensão da carga. Para se fazer a regulação de tensão e alimentar o
campo da máquina também são usados, respectivamente, um circuito regulador e
uma ponte retificadora rotativa.
21

Figura 12 - Excitação PMG (esquema)

2.1.3 Acoplamento [2]

Para se fazer a ligação entre os eixos do motor Diesel e do gerador síncrono


é utilizado um acoplamento elástico, capaz de absorver vibrações provindas de
possíveis desbalanceamentos das massas girantes e variações de carga, bem como
pequenos desalinhamentos axiais ou radiais. Para que haja um bom funcionamento
do grupo gerador, é essencial o alinhamento dos centros dos eixos. Isso evita o
desgaste prematuro dos rolamentos do gerador e dos mancais do motor Diesel.
Dentre os diversos acoplamentos destinados à montagem de grupos geradores, o
mais aplicado é o do tipo Elco, que tem montagem simples e menor custo. A Figura
13 mostra um acoplamento Elco visto em corte. Na peça B existem pinos com
mangas de borracha A que se encaixam nos furos existentes na peça C. A peça B
geralmente é aparafusada ao volante do motor Diesel enquanto a peça C é montada
por meio de chaveta no eixo do gerador. Entre as peças B e C deixa-se uma
pequena folga (cerca de 4,0 mm) a fim de que os esforços axiais não sejam
transmitidos à árvore de manivelas do motor Diesel.
22

Figura 13 - Acoplamento (vista em corte)

Por causa da grande elasticidade dos elementos que o compõem, o


acoplamento nivela grandes diferenças de alinhamento radial, axial e angular e é
isento de manutenção.

2.1.4 Sistema de Proteção [2]

Uma eventual deficiência de funcionamento dos sistemas de lubrificação ou


de refrigeração do motor Diesel, por exemplo, pode ocasionar sérias avarias e muito
tempo de parada de fornecimento. Para fins de prevenção dessas falhas, os grupos
geradores têm sistemas de proteção atuante, que incluem: um pressostato de óleo
lubrificante, que comanda a parada do motor se a pressão do óleo lubrificante cai
abaixo de um valor pré-determinado; um termostato para a água de refrigeração,
que também comanda a parada do motor se a temperatura se eleva mais que um
valor pré-determinado; um sensor de sobrevelocidade, que geralmente comanda a
parada do motor quando a velocidade ultrapassa em 20% a rotação nominal; um
sensor de nível da água de refrigeração que aciona um dispositivo de alarme
quando há necessidade de completar o nível do sistema de refrigeração; um sensor
de freqüência (freqüencímetro), que supervisiona tanto a freqüência gerada pelo
grupo quanto a freqüência da rede da concessionária.
O grupo gerador possui um sistema de supervisão e controle que
comumente é chamado de USCA (Unidade de Supervisão de Corrente Alternada),
que monitora as variáveis necessárias ao bom funcionamento do grupo e comanda
as suas ações. A USCA é uma unidade de controle eletrônica, que recebe as
23

informações monitoradas pelos sensores descritos anteriormente e comanda a


partida ou a parada do grupo gerador. Esse comando pode ser feito remotamente,
de modo manual ou de modo automático.

2.1.5 Quadro de Transferência Automática [12, 17]

O quadro de transferência automática é onde se encontra a Chave de


Transferência Automática (CTA), que faz a comutação entre a alimentação normal
da rede e a alimentação via gerador de emergência.
O quadro de transferência é uma parte muito importante de uma instalação
onde se utiliza um grupo gerador como fonte alternativa de energia. Para fazer a
comutação das cargas para serem supridas pela rede ou pelo gerador de
emergência são usadas chaves comutadoras que vão desde o tipo faca, manual,
como mostrado na Figura 14, até as mais sofisticadas construções com controles
eletrônicos digitais, comandos e sinalizações remotas.

Figura 14 - Chave de Transferência Manual

As chaves de transferência para os grupos geradores trifásicos são, em sua


grande maioria, tripolares. As chaves manuais são do tipo faca, feitas para operação
sem carga, e, portanto não são interessantes quando se trata de comutação de
grupos geradores. As chaves automáticas são constituídas de pares de contatores,
como na Figura 15, ou disjuntores motorizados, como na Figura 16, com comandos
à distância para abertura e fechamento. Um contator ou disjuntor é responsável por
comutar a alimentação normal, via rede da concessionária, e o outro aciona a
alimentação via grupo gerador de emergência. Em grupos geradores, não utilizar
24

uma chave de transferência pode causar danos a pessoas e às instalações, como:


queima de equipamentos devido ao retorno da energia fornecida pela
concessionária; energização indevida da rede elétrica, podendo vitimar eletricistas
que estejam trabalhando na rede, se esta não estiver devidamente aterrada e
corretamente protegida.

Figura 15 - Chave de Transferência a Contatores

Figura 16 - Chave de Transferência a Disjuntores

As chaves de transferência devem ser dotadas de intertravamento


mecânico, a fim de não permitir que seja fechado um curto-circuito entre a rede e o
grupo gerador. As chaves a contatores ou disjuntores têm um intertravamento
elétrico adicional feito através de contatos auxiliares.
Na maioria das aplicações, o grupo gerador de emergência é utilizado para
prover suprimento apenas às cargas que são essenciais na instalação. Então,
quando acontece uma falha na alimentação da rede, a chave de transferência retira
25

a rede do circuito e comuta o gerador de emergência como fonte de alimentação. O


arranjo elétrico básico é mostrado na Figura 17.

Figura 17 - Arranjo de Instalação com Chave de Transferência

Considerando a possibilidade de manutenção ou reparos na chave ou em


todo o sistema de transferência, é conveniente a instalação de uma chave de desvio.
Esta permite que as cargas sejam alimentadas diretamente pela rede ou pelo
gerador, sem utilizar a chave de transferência, permitindo que esta possa ser
desativada temporariamente ou removida para reparos.
Em um quadro de transferência automática existem elementos sensores da
rede, que são capazes de perceber as falhas de tensão ou freqüência e fechar um
contato para a partida do grupo gerador. Esses sensores são relés de subtensão,
sobretensão e freqüência, que têm seus parâmetros ajustados de acordo com os
requisitos da instalação. Alguns grupos geradores utilizam-se apenas de relés de
subtensão e freqüência, ou então somente de relé de subtensão. Via de regra, eles
têm um ajuste de tempo de confirmação da falha, a fim evitar partidas do gerador em
decorrência de transitórios na rede da concessionária. Geralmente esse tempo varia
de 2 a 5 segundos de acordo com a susceptibilidade da carga. Um hospital, por
exemplo, necessita que seu sistema de emergência atue com mais rapidez do que o
sistema de um edifício comercial. O ajuste dos relés em muitos casos é feito para
variações de 20% na tensão e 5% na freqüência, para mais ou para menos. Nos
grupos geradores, às vezes esses relés são encontrados como parte integrante da
USCA.
26

Sabe-se que cada carga tem suas características próprias, de acordo com a
natureza dos equipamentos alimentados. Por exemplo, um shopping center difere
fundamentalmente de uma indústria com a mesma carga instalada. Enquanto no
shopping center predominam as cargas de iluminação, elevadores e ar-
condicionado, na indústria a carga predominante será de motores elétricos. O grupo
gerador deve estar dimensionado para atender a essas peculiaridades.
Na ocorrência de uma falta de energia, o grupo gerador de emergência
dotado de sistema de transferência automática é acionado, e, no intervalo de 10 a
15 segundos assume as cargas. Esse tempo é suficiente para que todos os circuitos
sejam desenergizados e os motores elétricos parem de girar. Entretanto quando do
retorno da concessionária, o sistema aciona o desligamento do gerador e o
religamento da rede, um após o outro, num intervalo de 100 a 200 ms. Isso faz com
que, na ocasião da volta da rede, os motores, por inércia, ainda estejam girando
praticamente na mesma rotação. O mesmo ocorre nas transferências onde se
utilizam os geradores nos horários de ponta, quando no início se transfere a carga
da rede para o gerador e no final, quando ocorre a devolução da carga para a rede.
Acontece que os motores em movimento, sem receber energia, atuam como
geradores, e a energia gerada pode percorrer o circuito no sentido inverso, no
intervalo de tempo da transferência, que irá se contrapor à tensão fornecida pela
fonte que assume a carga, produzindo perturbações que podem ocasionar queima
de equipamentos sensíveis. É recomendável que, quando possível, se faça a
transferência em um intervalo de tempo pré-programado, desligando-se uma fonte e
aguardando o tempo suficiente para que todos os motores da instalação parem
antes de ser feita a ligação da outra fonte.
Pode-se usar, no caso de prédios comerciais que têm vários elevadores, um
relé programado para fechar um contato durante o tempo suficiente para que todos
os elevadores sejam desligados no andar térreo (ou então no andar mais próximo de
onde se encontram), permanecendo desligados até que a transferência se realize.
Essa solução permite que os elevadores sejam acionados um após o outro, na
transferência da rede para o grupo gerador no horário de ponta, reduzindo o valor do
transitório de corrente de partida, que seria bem maior se todos partissem ao mesmo
tempo.
27

A forma mais indicada para a entrada de grupos geradores no horário de


ponta é a transição fechada, em paralelo com a concessionária, em rampa de carga.
A configuração desse arranjo está descrita no Apêndice A.

2.2 Fonte Ininterrupta de Potência [7, 9, 10]

A Fonte Ininterrupta de Potência é um equipamento que é instalado em linha


com a carga que se quer manter alimentada ininterruptamente. Ela é comumente
chamada de No-Break ou UPS (Uninterruptible Power Supply). Na ocasião de falta
de energia, a UPS supre a carga durante um tempo determinado. O esquema de
uma UPS é mostrado na Figura 18, a seguir:

Figura 18 - Diagrama de Blocos de uma UPS

2.2.1 Elementos Principais de uma Fonte Ininterrupta de Potência

Os principais elementos da Fonte Ininterrupta de Potência são descritos a


seguir:

2.2.1.1 Retificador
O bloco retificador consiste em uma ponte de tiristores a 6 pulsos, onde a
tensão alternada trifásica de entrada é convertida em tensão contínua regulada.
Essa tensão regulada é usada para suprir o inversor e também prover carga para o
banco de baterias.
28

2.2.1.2 Inversor de Freqüência


O inversor converte a tensão contínua em tensão alternada trifásica com
valor RMS e freqüência constantes. O inversor é completamente independente e
isolado da tensão CA de entrada.

2.2.1.3 Sistema de Controle


O controle da UPS é feito através de uma unidade microprocessada. A
interface entre o operador e essa unidade acontece através um painel de
monitoramento composto por um mostrador e um teclado.

2.2.1.4 Ramal de Transferência Automático


O ramal de transferência automático é constituído por cabos elétricos e uma
chave estática feita de tiristores. Por ser bastante rápida, a chave estática é usada
para fazer uma transferência ininterrupta da carga do inversor para a alimentação
principal. Isso acontece quando o sistema de controle detecta uma falha do inversor,
uma condição de sobrecarga ou um curto-circuito. Quando a falha é corrigida, a
carga é automaticamente transferida de volta para o inversor.

2.2.1.5 Ramal de Transferência Manual


As chaves manuais Q1 e Q2 possibilitam que a carga da UPS seja
transferida para a fonte principal, proporcionando a manutenção do equipamento.

2.2.1.6 Proteção contra Alimentação Reversa


Os contatores K6 e K7 são abertos automaticamente em caso de defeitos
internos do sistema ou erros durante os procedimentos de manutenção.

2.2.1.7 Banco de Baterias


Quando a alimentação principal falha, as baterias fornecem tensão CC para
alimentar o inversor, e assim suprir a carga. O estado das baterias é testado via
algoritmo controlado pela UPS. Isso implica em advertência antecipada no caso de
baterias com problemas. O carregador de baterias é projetado para ter um nível de
ondulação baixo, o que eleva a vida útil do banco.
29

2.2.2 Modos de Operação

2.2.2.1 Operação Normal


Durante a operação normal da UPS, o retificador converte a tensão de
entrada CA em tensão CC. Essa tensão CC é usada para suprir o inversor de
freqüência, bem como carregar o banco de baterias. Após a saída do retificador, a
tensão passa por um conversor elevador CC/CC, e então chega às entradas do
carregador de baterias e do inversor de freqüência. O inversor é responsável por
converter a tensão CC em tensão CA regulada. Enquanto isso, o mostrador reporta
o nível de carregamento da bateria e o eventual tempo de autonomia com a carga
atual. Na Figura 19, a cor verde ilustra os elementos que estão ativados nesse modo
de operação.

Figura 19 - UPS em Operação Normal

2.2.2.2 Operação com Falha da Alimentação Principal


Quando acontece uma falha na rede de alimentação principal, o banco de
baterias supre o inversor com tensão contínua. Com isso, a carga continua sendo
alimentada pelo circuito do inversor. Essa situação está ilustrada na Figura 20.
Durante a descarga das baterias, o mostrador da UPS acusa quanto tempo de
autonomia ainda resta ao banco. Quando o banco de baterias está na iminência de
ter sua descarga total, o sistema dá um sinal de alarme, e se prepara para fazer o
desligamento.
30

Figura 20 - UPS Operando Via Bateria

2.2.2.3 Operação Via Ramal de Transferência


Nesse caso, a carga é alimentada pela chave estática do ramal de
transferência e o inversor de freqüência permanece desligado (na cor vermelha, na
Figura 21). Esse arranjo é feito quando há falha no inversor, sobrecarga em sua
saída, queda de tensão no inversor ou o contator está aberto para fazer manutenção
do inversor.

Figura 21 - UPS Operando Via Ramal de Transferência


31

3 CONFIGURAÇÕES DOS SISTEMAS DE EMERGÊNCIA [3, 11]

Como vimos anteriormente, os sistemas de emergência usados nas


instalações possuem como elementos os grupos geradores, os quadros de
transferência e as UPS. Existem algumas maneiras de configuração de um sistema
de emergência. A escolha da configuração adequada para cada instalação depende
da disponibilidade e da confiabilidade que são requeridas à instalação, de acordo
com os requisitos da carga.

3.1 Disponibilidade e Confiabilidade

A disponibilidade está relacionada ao tempo por ano que se deve ter


suprimento à carga. A disponibilidade ideal para uma instalação é 100%, ou seja,
operação contínua 24 horas por dia, 365 dias por ano. Uma disponibilidade de
99,99%, por exemplo, significa que em 365 x 24 = 8760 horas há uma
indisponibilidade de 0,01%, ou seja, 0,876 hora ou aproximadamente 53 minutos de
interrupção por ano. Para algumas cargas, interrupções dessa ordem não são
admissíveis. Atualmente, as instalações bem dotadas de recursos de suprimento de
emergência podem assegurar uma disponibilidade de até 99,999%, ou 5,26 minutos
de interrupções por ano.
Um sistema de emergência é confiável quando ele apresenta um valor
mínimo de falhas no decorrer de sua operação. A confiabilidade dos sistemas é
medida pelo parâmetro MTBF – Mean Time Between Failures, que é o Tempo Médio
Entre Falhas do sistema [3]. Quanto mais elevado o MTBF, mais confiável é o
sistema.

3.2 Configuração Padrão

A configuração de sistema mostrada na Figura 22 é a usada na maioria das


instalações. Ela tem um MTBF de 310.000 horas e dá uma disponibilidade de
99,996%, o que resulta em aproximadamente 21 minutos de indisponibilidade. Em
operação normal, a rede faz o suprimento de todas as cargas da instalação. Na
ocorrência de uma falha da rede, o grupo gerador assume as cargas do ramal de
emergência, que possui as cargas essenciais e as cargas críticas. Em caso de falha
32

do grupo gerador de emergência, a UPS fica responsável pela alimentação das


cargas críticas da instalação.

Figura 22 - Configuração Usual de um Sistema de Emergência

3.3 Configuração com Reserva a Quente

Pode-se, também, fazer a configuração de um sistema de emergência com


duas UPS. A unidade UPS 2 (reserva) alimenta o ramal de transferência da unidade
1 (principal), de forma que, ocorrendo uma falha na UPS principal, a unidade reserva
já está conectada e pronta para a operação. Essa configuração, mostrada na Figura
23, é chamada de associação de UPS em série ou Reserva a Quente. Apesar de
apresentar um MTBF de 500.000 horas e disponibilidade de 99,998%, essa
configuração não é muito usada, pois tem a desvantagem de manter uma unidade
em plena carga e a outra em vazio, o que resulta em diferentes níveis de desgaste
dos componentes.
33

Figura 23 - Configuração com Reserva a Quente

3.4 Configuração em Paralelo Redundante

Há, ainda, a configuração chamada de em paralelo redundante, que


apresenta como filosofia manter unidades reserva para a ocasião de falha, mas
dividir a carga entre todas as unidades na operação normal, ou seja, todas as
unidades ficam ativas. O sistema Paralelo Redundante tem menos problemas em
relação a desgastes diferenciados dos componentes e apresenta um índice de
falhas inferior, se comparado com o sistema com Reserva a Quente. Basicamente,
os sistemas com configuração em paralelo redundante podem ser do tipo ativo
distribuído, apresentando cada unidade de UPS com a sua própria chave de ramal
de transferência, como o da Figura 24; ou do tipo ativo centralizado, com um único
ramal de transferência para todo o sistema, mostrado na Figura 25. A idéia do
sistema Paralelo Redundante é que uma unidade seja mantida como reserva para o
sistema, no caso de falha de outra. Logo, se a instalação requer uma potência P,
essa potência deve ser suprida pelo número de UPS menos um. Para o exemplo de
três UPS, as cargas devem ser supridas por duas, na ocorrência de falta de uma.
Essa alternativa é chamada redundância simples, e pela relação custo/benefício, é a
34

mais utilizada. Outra alternativa é a redundância total, onde o sistema tem potência
igual a 2P, de maneira que há reserva para todas as unidades da instalação. Além
do alto custo, essa alternativa não apresenta vantagens significativas em relação à
redundância simples.

Figura 24 - Configuração em Paralelo Redundante Ativo Distribuído


35

Figura 25 - Configuração em Paralelo Redundante Ativo Centralizado


36

4 EXEMPLOS DE SISTEMAS DE EMERGÊNCIA

4.1 A Fonte Ininterrupta de Potência da MLC 1 – CST Arcelor [4, 8]

Na MLC 1 da CST Arcelor, existe um sistema de emergência baseado em


UPS para alimentação dos CLP importantes no processo. Esse sistema é composto
de 2 (duas) UPS SitePro, da General Electric, que trabalham de forma paralela e
redundante. Isso quer dizer que, no caso de falha da UPS principal, existe um
segundo sistema capaz de alimentar a carga em questão. Essa contingência é
importante porque as cargas que são supridas por esse sistema são CLP que não
devem ter sua alimentação desligada. O arranjo elétrico desse sistema de
emergência é descrito no esquema básico da Figura 26. A alimentação do conjunto
de UPS é feita através de um painel de distribuição com tensão de 440 V. Antes de
chegar às entradas dos No-Break, cada alimentação passa por um transformador
trifásico de 440 V / 380 V, 50 kVA. Isso se deve ao fato de a entrada das UPS ser
380 V e o padrão para níveis de baixa tensão na CST é 440 V e 220 V. Da mesma
maneira, na saída do conjunto de emergência há um transformador abaixador de
380 V para 220 V, pois a saída da UPS é 380 V e os CLP são alimentados por 220
V. Cada UPS tem uma potência instalada de 40 kVA. Os painéis das UPS, NB1 e
NB2, ficam dispostos na sala elétrica da MLC1. As duas UPS estão conectadas em
rede entre si, e em caso de falha do painel NB1, imediatamente o painel NB2 passa
a assumir a carga. Os bancos de baterias B-NB1 e B-NB2 têm painéis exclusivos, e
estão ligados em paralelo entre si, a fim de que no evento de falta de energia, a
autonomia do conjunto de emergência seja de aproximadamente 2 horas. Ainda
tem-se um outro transformador de 440 V / 380 V, 50 kVA, cuja saída é conectada
diretamente a 3 (três) chaves seccionadoras com fusíveis. As duas primeiras chaves
são conectadas cada uma em uma entrada do ramal de transferência das UPS e a
terceira vai diretamente ao transformador de 380 V / 220 V, 50 kVA. Esse arranjo é
importante no caso da necessidade de se fazer manutenção ou algum ajuste nos
parâmetros das UPS sem que ocorra o desligamento da carga.
37

Figura 26 - Esquema Básico do Sistema de UPS da MLC 1 da CST Arcelor

4.2 O Sistema de Emergência do Shopping Vitória

O sistema de geração de emergência do Shopping Vitória, localizado


na região da Enseada do Suá – Vitória/ES, consiste em dois subsistemas
distintos e sem ligação entre si, que alimentam as cargas do ramal de
emergência (cerca de 30% da carga instalada: iluminação, bombas e
elevadores). A filosofia de ligação é a mesma nos dois subsistemas e é
mostrada na Figura 27:
38

Figura 27 - Esquema do Sistema Elétrico do Shopping Vitória

O subsistema 1, que supre a área do shopping anterior à expansão,


possui uma potência nominal de 250 kVA. A foto do grupo gerador é mostrada
na Figura 28.

Figura 28 - Grupo Gerador de 250 kVA (Shopping Vitória)


39

Um painel de comando com uma chave de transferência a contatores


montada pela Stemac, cuja foto é mostrada na Figura 29, faz a comutação
entre a alimentação da concessionária e a alimentação pelo gerador.

Figura 29 - Painel de Comando (Gerador 1 - Shopping Vitória)

Em situação normal, todas as cargas (as do quadro de alimentação


normal e do quadro de alimentação de emergência) são alimentadas pela
Escelsa. No caso de falta de energia, ou seja, uma falha na rede por um
tempo superior a 10 segundos, o painel de comando, através da chave de
transferência, permite que a alimentação seja feita pelo grupo gerador. O
gerador entra imediatamente alimentando as cargas dos quadros de
emergência. Em caso de uma falta de energia em um tempo pequeno, menor
que 10 segundos, a chave de transferência não faz essa comutação.
No painel de comando do grupo gerador Stemac de 250 kVA, a chave
de transferência possui dois contatores intertravados mecanicamente, que
são responsáveis pela alimentação via concessionária ou via gerador Diesel.
A foto em detalhe desses contatores pode ser vista na Figura 30:
40

Figura 30 - Chave de Transferência (Gerador 1 – Shopping Vitória)

No restabelecimento da energia, a chave de transferência volta com a


alimentação vinda da concessionária, mas ainda o grupo gerador continua
funcionando em vazio durante 3 minutos, a fim de garantir que a rede da
Escelsa esteja realmente estabilizada. Se durante esse período acontecer
outra falha, o gerador volta a alimentar as cargas prioritárias
automaticamente.
Em um quadro chamado de quadro de emergência estão ligados os
No-Break, que alimentam as cargas de mais alta prioridade (lâmpadas anti-
pânico), que correspondem a cerca de 10% da carga instalada. No caso de
falha do gerador diesel, o conjunto de No-Break alimenta essas cargas de
iluminação de emergência. Os No-Break são do fabricante GPL e têm saída
em 220 V. Para alimentar as cargas em 380 V são usados transformadores
elevadores.
Para a área da expansão do Shopping Vitória existe um outro grupo
gerador montado pela Stemac, de 450 kVA, mostrado na Figura 31.
41

Figura 31 - Grupo Gerador de 450 kVA (Expansão - Shopping Vitória)

De modo análogo ao conjunto 1, há uma chave de transferência


responsável pela comutação rede/gerador. A Figura 32 e a Figura 33 mostram
os contatores Telemecanique da chave do subsistema 2. Há também um
conjunto No-Break que é responsável pela alimentação das cargas mais
prioritárias.

Figura 32 - Painel do Comando (Gerador 2 - Shopping Vitória)


42

Figura 33 - Chave de Transferência (Gerador 2 - Shopping Vitória)

No ano de 2005, a última ocorrência de falta de energia e uso do


conjunto de emergência foi em 23 de outubro. Essa suspensão do
fornecimento foi programada com antecedência pela Escelsa, pois se tratava
de um desligamento na alimentação da vizinhança para realizar manutenção
na rede do bairro. Nesse dia o grupo gerador funcionou perfeitamente.
As manutenções dos grupos geradores e dos No-Break são feitas
pelas empresas Stemac e GPL, respectivamente. Essas manutenções são
feitas periodicamente, de modo programado.
Os grupos geradores são ligados semanalmente pela equipe de
manutenção do Shopping Vitória e têm seu funcionamento monitorado por
cerca de 30 minutos. Além disso, anualmente, o Corpo de Bombeiros de
Vitória realiza testes e simulações no grupo gerador a fim de assegurar a
confiabilidade do sistema de emergência do shopping center.
A atuação dos grupos geradores se limita ao fornecimento de energia
em caráter de emergência. Quanto ao procedimento realizado nos horários de
picos de demanda, os técnicos de operação do shopping realizam o
43

desligamento de algumas cargas de ar-condicionado para que a demanda


total não ultrapasse a contratada junto à Escelsa. Essa prática pode causar
desconforto aos clientes. O mais recomendável seria que um sistema de
geração que atuasse para suprir a necessidade nos horários de pico.

4.3 O Sistema de Emergência do Shopping Praia da Costa

O Shopping Praia da Costa tem uma filosofia de seu sistema de emergência


semelhante à do Shopping Vitória, mas com uma diferença: no horário de ponta, que
são três horas entre 17h e 22h nos dias úteis, um conjunto de grupos geradores
Diesel assume a carga para evitar sobretarifa da concessionária. O esquema básico
do sistema encontrado no shopping está na Figura 34.

Figura 34 - Esquema do Sistema Elétrico do Shopping Praia da Costa

O conjunto de emergência consiste em um grupo gerador de 450 kVA, que


entra em funcionamento quando é verificada uma falha no sistema da Escelsa por
um tempo maior que 12 segundos. De maneira análoga ao sistema do Shopping
44

Vitória, quando a rede volta ao seu funcionamento normal, a chave de transferência


(que é a contatores, idêntica à do Gerador 1 do Shopping Vitória) faz a comutação
para a volta da alimentação da Escelsa. Durante um tempo de cerca de 3 minutos o
gerador fica funcionando em vazio, para fins de contingência caso a rede torne a
falhar. Como pode ser visto na Figura 35, o painel de comando fica localizado ao
lado do grupo gerador.

Figura 35 - Grupo Gerador de Emergência (Shopping Praia da Costa)

Esse painel, que é visto em detalhe na Figura 36, monitora temperatura,


rotação e pressão do motor, além de tensão, corrente e freqüência.
45

Figura 36 - Painel do Grupo Gerador (Shopping Praia da Costa)

O circuito de emergência alimenta cargas prioritárias como iluminação,


bombas e elevadores. No caso de falha do grupo gerador, não existem UPS
dedicadas para o suprimento do circuito de iluminação. Há conjuntos autônomos de
iluminação de emergência, dotados de lâmpadas e baterias. Essa solução em
muitas instalações é adotada, de maneira equivocada, por razões de custos. Segue-
se o seguinte raciocínio: Em uma instalação com 15 pontos de luz de 100 W seria
preciso uma UPS de 1,0 kVA, que custa em média R$ 1000,00, para alimentar no
máximo 10 pontos de luz em situação de emergência. Uma instalação de
emergência com lâmpadas autônomas poderia usar 15 conjuntos de 20 W, cada um
custando R$ 50,00, num total de R$ 750,00. A aparente vantagem das lâmpadas
autônomas é notável, mas acontece que esses conjuntos precisam de manutenção
freqüente e testes para verificar se os seus desempenhos estão satisfatórios. Além
disso, o nível de iluminamento das lâmpadas é baixo se comparado com o que pode
ser alcançado ligando as lâmpadas da instalação normal à UPS. Por isso torna-se
mais vantajoso investir em uma UPS para a iluminação de emergência.
Para suprir energia no horário de ponta de demanda, o shopping dispõe de
um sistema particular de geração a Diesel, custeado pelas lojas âncoras (os
estabelecimentos de grande porte do shopping). Esse sistema é composto de quatro
grupos geradores de 450 kVA, cada um com sua USCA. As USCA são conectadas
entre si, formando uma rede. No horário de pico, os geradores são ligados e uma
chave faz a transferência de carga da concessionária para o sistema, em um
46

barramento de 11,4 kV. Ao término do horário de ponta, faz-se a comutação de volta


para a rede. Devido ao controle de tensão e freqüência feito pelas USCA, as
transições rede-gerador e gerador-rede são feitas de forma suave. A tensão do
grupo gerador é sincronizada em relação à tensão da rede antes de ser efetuada a
comutação. Durante as três horas diárias de pico de demanda, a fonte de energia
elétrica do shopping é o grupo dos quatro geradores. A tensão dos geradores, antes
de alimentar as cargas, passa por um transformador elevador, que converte os 440
V gerados em 11,4 kV.

4.4 O Sistema de Emergência do Hospital Santa Rita

O Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória/ES, tem um sistema de


emergência composto de dois grupos geradores a Diesel, também sem nenhuma
ligação entre si. O esquema de ligação do sistema de emergência é idêntico ao
esquema da Figura 27 (página 38), usado no Shopping Vitória. O primeiro grupo
gerador é uma cobertura da Caterpillar, com 450 kVA de potência, como a mostrada
na Figura 37.

Figura 37 - Cobertura para Grupo Gerador

As vantagens do uso de coberturas são que elas reduzem de maneira


significativa os níveis de ruído acústico e oferecem proteção contra as intempéries.
Com isso, a cobertura no hospital Santa Rita fica instalada ao ar livre, dispensando a
necessidade de uma sala para acondicioná-la. O outro grupo gerador a Diesel do
hospital tem 90 kVA de potência, e fica instalado em uma sala elétrica. No mês de
47

novembro de 2005, esse grupo gerador estava passando por uma manutenção
geral, onde estavam sendo verificadas as condições tanto do motor quanto do
gerador síncrono e do acoplamento. A Figura 38 mostra uma foto desse grupo
gerador em manutenção.

Figura 38 - Grupo Gerador em Manutenção (Hospital Santa Rita)

O painel de transferência é composto de um CLP que faz o comando da


chave de transferência automática, a disjuntores, como pode ser vista na Figura 39.
48

Figura 39 - Painel de Transferência (Hospital Santa Rita)

Nessa mesma sala, existe um grupo gerador a Diesel de 450 kVA, que está
desativado, e cuja foto é mostrada na Figura 40.

Figura 40 - Grupo Gerador Desativado (Hospital Santa Rita)

Para o CPD do hospital e os equipamentos do CTI e da UTI, que devem


funcionar ininterruptamente, existem UPS dedicadas instaladas junto aos
equipamentos, para fazer o suprimento de energia no caso de falha no sistema de
geração a Diesel de emergência.
49

Segundo a equipe técnica de manutenção elétrica do hospital, o sistema de


emergência é confiável e são realizados testes semanais para avaliar suas
condições.

4.5 O Sistema Diesel de Emergência da Área de Utilidades – CST Arcelor

O sistema de energia elétrica de emergência da Área de Utilidades da CST


Arcelor tem como principal finalidade alimentar cargas prioritárias nos níveis de
tensão em 3,3 kV e 440 V, nas situações em que ocorrer falta de tensão no circuito
de alimentação normal, ou seja, em emergência ou eventual parada programada.
O sistema é constituído de três grupos geradores, com motores de quatro
tempos com injeção direta e lubrificação forçada, partida a ar comprimido, rotação
controlada por regulador hidráulico e com parada automática contra sobrevelocidade
e baixa pressão de óleo lubrificante. Os geradores síncronos são de pólos salientes
e rotativos. A excitação é realizada através de anéis coletores e escovas e por uma
excitatriz estática [1]. O primeiro (DG-1) e o segundo (DG-2) têm potência de 2500
kVA, e o terceiro (DG-3) possui 2000 kVA. Todos os geradores produzem tensão
alternada em 3,3 kV. A Figura 41 mostra a foto do grupo gerador 1 e a Figura 42
mostra o grupo gerador 3.

Figura 41 - Grupo Gerador 1 (CST Arcelor)


50

Figura 42 - Grupo Gerador 3 (CST Arcelor)

As cargas prioritárias são a sala elétrica da Central de Recirculação de Água


para os Altos Fornos (CRAAF) e a sala elétrica do Alto Forno 2 (AF2). Este sistema
é parte integrante do sistema de geração e distribuição de energia elétrica da CST
Arcelor. Os geradores Diesel e a sala elétrica localizam-se na CRAAF, e sua
operação e manutenção é de responsabilidade das equipes de Operação do Centro
de Energia e Manutenção da Área de Utilidades.
A CST Arcelor possui um moderno sistema de supervisão, que permite a
operação e o monitoramento de todas as variáveis relativas a todo o sistema elétrico
e a operação do sistema Diesel de emergência. Nesse sistema, a Casa de Força é
sempre a primeira opção para alimentar a sala elétrica da CRAAF e/ou a sala
elétrica do AF2; o DG-2 fica disponível para atender à CRAAF; o DG-3 fica
disponível para atender o AF2 e o DG-1 é sempre reserva dos geradores Diesel de
emergência 2 e 3. Da maneira que está arranjado, o sistema de emergência
contempla todas as possibilidades de falta de energia. O suprimento na condição de
emergência se dá 30 segundos após a ocorrência da falta, para que haja tempo para
as preparações das respectivas áreas. Os detalhes do procedimento operacional
desse sistema estão descritos no Apêndice B.
51

5 CONCLUSÕES

O estudo descrito através deste trabalho possibilitou o conhecimento dos


grupos geradores e UPS usados em um sistema de emergência, bem como a
maneira em que eles são dispostos na instalação.
Para que fosse elaborado o capítulo 4, que descreve exemplos de sistemas
de emergência em variadas instalações elétricas, foi necessário realizar uma série
de visitas técnicas aos ambientes de um shopping center, um hospital e uma
indústria. Nessas visitas, foi possível conferir que a escolha do arranjo do sistema de
emergência depende dos requisitos que a carga exige e dos atributos que se quer
dar ao sistema. Pode-se, por exemplo, escolher um sistema em paralelo redundante
para cargas muito críticas. Outrossim, a geração de energia no horário de ponta
pode ser feita através de um grupo gerador Diesel. Essas possibilidades são
utilizadas de acordo as relações de confiabilidade, custo e benefício de cada arranjo
e a necessidade da instalação.
52

APÊNDICE A [2, 16]

A transferência em rampa de carga é feita em transição fechada, ou seja, em


paralelo com a rede, durante um intervalo de tempo pré-programado. O sistema
deve monitorar, através de transformadores de corrente, a energia circulante e
regular a injeção de combustível no motor Diesel. O esquemático do diagrama trifilar
de ligação é mostrado na Figura 43. A utilização da transferência em rampa de carga
requer as proteções definidas pela concessionária local.

Figura 43 - Transferência em Rampa de Carga (Esquema de Ligação)


53

A transferência com rampa de carga é feita sincronizando o grupo gerador


com a rede, comandando a manobra dos disjuntores 52U e 52G, chamados
disjuntores de paralelismo. O paralelismo é feito por um sincronizador automático,
que controla a tensão e a freqüência do grupo gerador e verifica se a seqüência de
fases está correta. Para o suprimento no horário de ponta, temos a seqüência
mostrada na Figura 44:

Figura 44 - Seqüência de Entrada do Gerador no Horário de Ponta

O sistema faz a supervisão do fluxo de corrente e mantém a dosagem de


combustível para que no momento do fechamento do disjuntor 52G o gerador não
entre em carga nem seja motorizado pela rede. Uma vez fechado o 52G, tem-se
início o processo de transferência de carga numa taxa incremental programada.
Esse processo ocorre até ser atingida a potência nominal do grupo gerador. Logo
depois de atingida a potência nominal, o disjuntor 52U fecha.
Para a transferência do gerador para a rede, primeiramente o grupo gerador
entra em sincronismo com a rede, e o disjuntor 52U é fechado. Inicia-se o processo
inverso de transferência gradual da carga. Quando 100% da carga estão sendo
supridos pela rede, o disjuntor 52G abre e o grupo gerador é desligado.
54

Esse mesmo arranjo pode ser utilizado também para fornecer energia em
um regime no qual o grupo gerador permanece em paralelo com a rede suprindo
somente a energia que exceder à demanda prefixada para a rede da concessionária.
55

APÊNDICE B [1, 20]

Condição Normal de Funcionamento

A Figura 45 mostra o arranjo feito quando o sistema está sendo alimentado


em sua configuração normal. Nos diagramas a seguir, os elementos em verde
encontram-se desligados e os em vermelho encontram-se ligados. Portanto, em
situação normal de funcionamento, os três geradores ficam desligados e seus
respectivos disjuntores permanecem abertos. A Barra 1 é alimentada pela Casa de
Força, a Barra 2 é alimentada pela CRAAF e a Barra 3 é alimentada pela sala do
AF2.

Figura 45 - Condição Normal de Funcionamento

Falha na Barra de 3,3 kV da CRAAF

No caso de falta de energia no barramento da CRAAF, o sistema faz o


suprimento da Barra 2 via Casa de Força. Para isso, ocorre o fechamento do
disjuntor 52EB, indicado pela seta na Figura 46. Para fins de contingência para uma
possível falha na alimentação feita pela Casa de Força, o grupo gerador DG-2 fica
em reserva girante.
56

Figura 46 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF

Falha na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Barra Comum da Casa de Força

Quando é detectada falta de tensão tanto na barra de 3,3 kV da CRAAF


quanto na barra comum de 3,3 kV da Casa de Força, disjuntor 52E2 é fechado e o
suprimento da Barra 2 é realizado através do DG-2. É dada a partida no DG-1, que
fica em situação de reserva girante. Os disjuntores 52E1 e 52EB permanecem
abertos, como pode ser visto na Figura 47.
57

Figura 47 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Barra Comum da Casa de Força

Falha na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Casa de Força – DG-2 em Falha


A Figura 48 mostra que na situação de falta de tensão na CRAAF e na Casa
de Força, e falha no grupo gerador DG-2, o sistema alimenta a Barra 1 e a Barra 2
através do DG-1. Os disjuntores 52E1 e 52EB são fechados e os disjuntores 52E2 e
52EF1 são abertos.
58

Figura 48 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV da CRAAF e na Casa de Força - DG-2 em Falha

Falha na Barra de 3,3 kV do AF2

Na ocorrência de falha na sala elétrica do Alto Forno 2, a alimentação da


Barra 3 virá da Casa de Força, através do fechamento do disjuntor 52EF6, indicado
na Figura 49. O sistema dá a partida no grupo gerador DG-3, para que ele fique em
situação de reserva girante.
59

Figura 49 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2

Falha na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Barra Comum da Casa de Força

Na ocorrência de falta tanto na sala elétrica do AF2 quanto na barra comum


da Casa de Força, o disjuntor 52E3 é fechado e o DG-3 alimenta a Barra 3. Como
opção de contingência, o DG-1 fica ligado em vazio. Essa situação é mostrada na
Figura 50.
60

Figura 50 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Barra Comum da Casa de Força

Falha na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Casa de Força – DG-3 em Falha

No caso de falta de tensão na sala elétrica do AF2, na barra comum de 3,3


kV da Casa de Força e o grupo gerador DG-3 apresentar falha, o sistema realiza o
fechamento dos disjuntores 52E1 e 52EF6. Com isso, o gerador DG-1 fica
responsável pela alimentação da Barra 1 e da Barra 3, como pode ser visto na
Figura 51.
61

Figura 51 - Falta de Tensão na Barra de 3,3 kV do AF2 e na Casa de Força - DG-3 em Falha
62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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