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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS ANANINDEUA
FACULDADE DE HISTÓRIA
HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA HISTÓRICA
PROFa Dra. SIDIANA DA CONSOLAÇÃO FERREIRA DE MACÊDO

ITHALO ISRAELL SILVA DE SOUZA


JOÃO PEDRO DA SILVA FERREIRA
JORGE ANDRÉ FERREIRA

Caixa de Memórias - Entrevistas sobre:


Qual o momento da história do Brasil você se lembra?

ANANINDEUA
2023
INTRODUÇÃO:
O intuito das entrevistas partiu-se do pressuposto descrito por Michael Pollak a partir
da tese de caracterização da memória relacionando-a com a identidade social a partir da
história oral. O enfoque principal da entrevista girou em torno do relato a respeito do período
do Governo Fernando Collor de Mello (1990 - 1992), e os relatos dão ênfase no chamado
“Plano Collor”, que foi popularmente conhecido e associado ao nome do então presidente da
república da época, entretanto, seu nome oficial era “Plano Brasil novo”, tal plano foi uma
série de medidas econômicas e tinha o intuito de controlar a hiperinflação e estabilizar a
economia brasileira, em virtude disso, diversas medidas foram propostas, como:
congelamento de depósitos em conta corrente e poupança, fim dos incentivos fiscais e
substituição da moeda Cruzado novo pelo Cruzeiro.

ENTREVISTA I:
Ao utilizar a senhora Rita Silva Ferreira como fonte para falar sobre esse período
histórico, utilizou-se como base a ideia de Michael Pollack de que a memória do indivíduo
está para relacionar os eventos vividos e consequentemente serem relatados como uma fonte
devido à interação do indivíduo com o meio social na época. A priori, o diálogo teve início
com o questionamento sobre o que ela tinha como principal memória desse evento e, de
início foi relatado que ocorreu um pronunciamento oficial do então presidente Fernando
Collor a respeito dessas mudanças que iriam ser impostas e a reação imediata da dona Rita foi
um misto de revolta e perplexidade, pois sabia que provavelmente aquele plano iria provocar
um trauma enorme na vida da população, haja vista que era nítido que o governo estava
cometendo ali uma grande violência econômica contra a população; Em seguida, outro
questionamento feito foi de como ficou o comércio após o decreto do plano Collor e, a
resposta foi que para não fecharem as portas, os donos de bares e restaurantes passaram a
aceitar cheques e a vender fiado, em todas as partes negócios estavam sendo desfeitos, com
viagens canceladas e até casamentos adiados.
Em suma, ao longo de toda a entrevista ficou constatado que as memórias existentes
sobre o Plano Collor foram que tal medida foi extremamente nociva para a população, com
prejuízos incalculáveis e irreversíveis para a população em todos os âmbitos.
ENTREVISTA II:
Tomando como base a ideia de Michael Pollack de identidade social a partir da
história oral e do conceito de Jacques Le Goff de que a memória é uma representação do
passado sendo histórica e social, essa entrevista foi sendo direcionada.
Assim como todos os diálogos e entrevistas essa também foi pautada sobre o período
de governo de Fernando Collor, com o foco voltado principalmente sobre o plano econômico
desse governo. O indivíduo utilizado como fonte oral para essa pesquisa foi o senhor José
Maria Silva Ferreira, que na época tinha 30 anos. À princípio o questionamento inicial foi a
respeito da lembrança que o mesmo tinha sobre Fernando Collor e, a resposta foi que Collor
tinha sido um antigo presidente do Brasil que acabou por renunciar o cargo não muito tempo
após assumir, em seguida, o questionamento foi sobre o que o mesmo lembrava sobre a
mudança do Cruzado novo para o Cruzeiro e também sobre o que o senhor lembrava sobre o
Plano econômico do Collor (Plano Collor) e, a resposta obtida foi que o pano Cruzado que foi
feito para que houvesse uma aumento salarial significativo acabou sendo algo ruim a médio
prazo, pois, acabou por resultar em um congelamento dos produtos no mercado que resultou
no aumento dos produtos e com isso possibilitou posteriormente o retorno do Cruzeiro como
moeda oficial, posteriormente a isso, a resposta sobre o Plano Collor, foi que o mesmo foi
muito ruim para a sociedade em todos os sentidos e, durante essa resposta foi relatado um
exemplo de um conhecido do senhor José, no qual esse amigo apenas 3 dias após o
lançamento desse plano, tirou a sua própria vida, pois, havia caído em depressão ao saber que
suas economias depositadas na caderneta de poupança tinham sido bloqueadas e, com esse
dinheiro ele planejava comprar um apartamento para sua família. Ademais, durante a
entrevista foi relato sobre problemas no comércio, sobre como o comércio não tinha mais um
fluxo notável e que a variedade era quase inexistente e, assim como a maioria das entrevistas
até aqui, foi relatado o quanto o plano foi nocivo em todas as camadas da sociedade.

ENTREVISTA III:
Baseando-se nas obras de Michael Pollak, "Memória e identidade Social” e
“Memória, esquecimento e silêncio”, podemos perceber a construção de uma memória
coletiva, que suplementa a memória real do acontecido, pois como iremos perceber no relato
de Andrea Pantoja da Silva, que no período pesquisado tinha 21 anos, percebe-se-a que a uma
construção sucinta e direta dos fatos, o que evidencia a tomada da memória coletiva, que
constitui e cria uma sensação de pertencimento, intergrupal, e em relação ao período Collor,
um pertencimento a memória nacional, negativa do período, que a época era contrastada pela
memória oficial do Estado Brasileiro, que tentava enquadrar a memória nacional, em um
sentido mais positivo (principalmente em relação ao confisco) e mais nacionlista e patriótica.
Segundo o relato de Andrea Pantoja da Silva de Souza “A economia não ia bem das
pernas no governo Collor, inflação alta, custo de vida alta, era notório que algo ia ser feito,
porém não esperávamos dormir com o dinheiro no banco e acordar com ele bloqueado. O
comunicado Foi feito pela ministra Zélia bem tarde da noite, não houve tempo para nada,
muitas pessoas perderam sua única fonte de economia, já que o juros era alto e muita gente
vivia disso e não acho que esta decisão tenha ajudado muito, pois logo o descontentamento
do povo chegou e o impeachment do Collor.”
Percebe-se que o vivido na época, o real, e substituído por uma memória linear e
enquadrada dos acontecimentos, e ao se analisar o período é visível a tentativa do Estado,
chefiado por Fernando Collor, de enquadrar uma memória positiva, relacionada à queda da
inflação por um breve período em 1990. Porém, Pollak (1989) entende que não se pode forçar
um enquadramento, ou seja, construí-lo arbitrariamente sem base histórica e principalmente
sem aderência dos indivíduos que constroem aquela memória. Dessa forma, há um conflito
entre memória oficial, a memória individual de quem foi afetado pelo confisco e pelas outras
políticas econômicas na época. Assim, a memória coletiva foi criando a versão de que o
confisco foi extremamente ruim (o que se comprova certo, a inflação não é combatida e volta
mais forte, várias pessoas ficaram doentes em decorrência da notícia do confisco e outras
morreram), porém, um fato interessante, a memória coletiva constrói que o motivo do
impeachment de Fernando Collor, foi o confisco e as decorrências catastróficas que ele
acarreta, mas o então presidente foi investigado, condenado e afastado da presidência da
república pelo congresso nacional por diversos casos de corrupção (ligados a campanha
presidencial, caixa 2, propina e ao tesoureiro PC Farias). Nota-se que a memória se funde e
substitui a realidade dos acontecimentos e dos fatos históricos, ou por ser doloroso demais o
pelo próprio enquadramento histórico proposto pela classe dominante e a própria mídia que
representa seus interesses, com o intuito de afastar a corrupção, ou o ideal de corrupção, de
políticos que representam sua ideologia e seus interesses.

ENTREVISTA IV:
A entrevista foi realizada com o objetivo compreender o contexto social a partir da
classe popular, as consequências do confisco da poupança e o congelamento da conta
bancária de todos os brasileiros da época, que foi uma ação realizada pelo presidente da
época Fernando Collor de Mello. Com isso, foi um acontecimento histórico que continua na
memória coletiva da sociedade brasileira.
A primeira pessoa entrevistada foi Felisbela de Oliveira e têm 68 anos, primeiramente
aviso que foi uma entrevista rápida e pouco produtiva, pois ela não se lembrava muito do seu
cotidiano durante esse acontecimento, e com isso ela relata dois períodos de vivência em
intervalos de meses ainda durante esse período de agressão econômica, no qual se trata de
quando vivia com seu pai, e posteriormente quando passou a viver com seu marido, no
primeiro período que se passa durante o convívio com seu pai ela afirma como foi difícil o
dia a dia devido não ter dinheiro para comprar comida ou pagar as contas, isso resultou em
um desespero para os familiares que viviam na residência, em relação ao segundo período
quando ela passou a viver com seu marido ela afirma que o congelamento da conta bancária
pouco prejudicou sua vida devido não ter dinheiro na sua conta bancária para usufruir,
posteriormente perguntei se conhecia alguém que tenha sido prejudicado por essa ação, e a
resposta foi que não.

ENTREVISTA V:
O segundo entrevistado foi Antônio Valdeci, marido de dona Felisbela de Oliveira e
tem 58 anos, a entrevista dele foi um pouco mais longa e um pouco mais detalhada na
questão de malefícios, mas o cotidiano foi totalmente esquecido e com isso aborda a apenas
os problemas decorridos da demissão que sucedeu, e a partir disso discorrer das necessidades
que passou no período como não podendo pagar as contas e comer relata também como
algumas pessoas próximas como alguns de seus patrões chegaram a tirar a própria vida
devido a perda do dinheiro.
Em ambas as entrevistas citei o processo que levaria ao impeachment do presidente da
época Fernando Collor de Mello, falaram com estavam ansiosos para esse processo ter um
fim e suas vidas voltarem à normalidade, sendo um caso específico de seu Antonio Valdeci
devido a não ter implicado muito na vida de dona Felisbela de Oliveira, eles acompanharam
somente via mídia televisiva e não foram às ruas pedir a saída do presidente.
Caixa de memórias: explorar lembranças, reviver a história.
REFERÊNCIAS
LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e Memória. 5° ed. Campinas, SP: editora da
Unicamp, 2003. Pp.419-476.

POLLACK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol. 5. N°10. 1992. p. 200-212.

POLLACK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos. Rio de


Janeiro, vol. 2. N°3. 1989. p. 3-15.

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