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FARMÁCIA

HOSPITALAR

Marcella Gabrielle Mendes Machado


Manipulação de
medicamentos no
âmbito hospitalar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Destacar as principais preparações manipuladas em hospital.


„„ Reconhecer as boas práticas de manipulação de medicamentos.
„„ Descrever a importância da manipulação de doses unitárias e fórmulas
magistrais.

Introdução
Dentre as diversas atividades da farmácia hospitalar, destacam-se por
sua importância a preparação de fórmulas magistrais e oficinais e o fra-
cionamento de especialidades farmacêuticas, as quais são destinadas
a atender às necessidades particulares dos pacientes hospitalizados.
O processo de preparação das fórmulas envolve as etapas de avaliação
farmacêutica da prescrição, a manipulação, o fracionamento de produtos
industrializados, o envase, a rotulagem e a conservação do produto final.
As preparações manipuladas devem ser submetidas a um controle de
qualidade e são de uso exclusivo dos pacientes internados, não devendo
ser comercializadas. A fim de fornecer formulações seguras e eficazes, a
farmácia hospitalar deve seguir os requisitos mínimos conforme as boas
práticas de manipulação de medicamentos.
Neste capítulo, você vai ler sobre os principais produtos manipulados
em hospitais, com enfoque na produção de preparações magistrais e
na unitarização de doses de medicamentos, e também sobre as boas
práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais que devem
ser seguidas pelas unidades hospitalares.
2 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

1 Preparações manipuladas em hospital


A manipulação de fórmulas magistrais e oficinais é uma das mais importantes
áreas de atuação do farmacêutico na Farmácia Hospitalar. A manipulação de
medicamentos tem como objetivo atender de forma individualizada à neces-
sidade do paciente, oferecendo-lhe medicamentos com alta qualidade e muito
seguros. Além disso, ela fornece produtos de interesse não apenas estratégico,
mas também econômico, pois, com a manipulação, é possível tanto fracionar e
diluir os medicamentos industrializados quanto preparar ou diluir germicidas
utilizados na limpeza, na desinfecção, na antissepsia e na esterilização.
Em muitos hospitais de pequeno porte, não é economicamente viável
implantar e manter um serviço de manipulação. Isso porque, para tanto, é
necessário um alto investimento inicial na adequação da estrutura física, na
compra de equipamentos e materiais especializados e, devido ao aumento das
atividades desenvolvidas pela farmácia, também se deve investir, de início, na
contratação de novos funcionários. Sendo assim, é permitida a contratação de
terceiros, contanto que a empresa contratada atenda aos requisitos da resolução.
De acordo com a RDC nº. 67, de 8 de outubro de 2007 (BRASIL, 2007,
documento on-line), que dispõe sobre as Boas Práticas de Manipulação de Pre-
parações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias, a preparação
é um “[...] procedimento farmacotécnico para obtenção do produto manipulado,
compreendendo a avaliação farmacêutica da prescrição, a manipulação, fra-
cionamento de substâncias ou produtos industrializados, envase, rotulagem e
conservação das preparações”. As disposições do regulamento técnico desse
documento e de seus anexos se aplicam à manipulação de medicamentos a
partir de matérias primas/insumos, substâncias de baixo índice terapêutico,
antibióticos, hormônios, citostáticos, substâncias sujeitas a controle especial,
produtos estéreis, medicamentos homeopáticos, doses unitárias e unitarização
de dose de medicamentos.
A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) afirma ser
necessária, em uma unidade de farmácia que conta com as seguintes ativi-
dades, a existência de ambientes específicos para o exercício de cada uma
delas: manipulação de nutrição parenteral (NP); manipulação, fracionamento
e reconstituição de cistostáticos e misturas endovenosas; e manipulação de
radiofármacos.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 3

Em uma central de produtos estéreis, 90% das manipulações correspondem


a preparações de administrações intravenosas; devido a isso, em muitos hos-
pitais esse setor é conhecido como Central de Misturas Endovenosas (CME)
(SPORPIRTIS; MORI; YOCHIY, 2008). A manipulação de medicamentos
estéreis na CME engloba desde o fracionamento de medicamentos de alto
custo até a centralização do preparo de esquemas de soroterapia endovenosa.
A manipulação da dose unitária estéril é realizada a partir de fármacos dis-
poníveis comercialmente, sob condições ideais de estabilidade e segurança do
ponto de vista microbiológico e físico-químico, e é dispensada pela farmácia
pronta para administração.
A NP é uma forma de administração artificial que fornece os nutrientes
necessários aos pacientes para os quais a ingestão de alimentos por via oral
ou não é possível, ou é insuficiente. A manipulação da NP pode ser feita na
farmácia hospitalar, desde que os requisitos da Portaria 272, 8 de abril de
1998 (BRASIL, 1998), sejam cumpridos. Por se tratar de uma solução estéril,
a manipulação deve ser realizada em sala limpa classe ISO 7, utilizando-se
cabines de fluxo laminar classe ISO 5 com pressão positiva em relação à
parte externa e sob a responsabilidade do farmacêutico. A passagem do ar nas
cabines de fluxo laminar é feita através de filtros de alta eficiência, HEPA,
forçada por ventiladores. O manipulador deve utilizar paramentação própria
e estéril. O controle de qualidade das preparações de NP deve ser rigoroso, e
amostras das preparações devem ser retiradas para os testes microbiológicos
e de esterilidade.
Entre os medicamentos cuja manipulação pode ser feita pela farmácia
hospitalar, estão os de baixo índice terapêutico, aqueles que apresentam estreita
margem de segurança por sua dose terapêutica ser próxima da dose tóxica.
De acordo com a RDC nº. 67/2007 (BRASIL, 2007, documento on-line),
são considerados fármacos de baixo índice terapêutico “[...] ácido valproico,
aminofilina, carbamazepina, ciclosporina, clindamicina, clonidina, clozapina,
colchicina, digitoxina, digoxina, disopiramida, fenitoína, lítio, minoxidil,
oxcarbazepina, prazosina, primidona, procainamida, quinidina, teofilina,
varfarina, verapamil (cloridrato)”. Antes da manipulação desses medicamentos,
a farmácia deve requerer a inspeção da vigilância sanitária local para que,
somente após a aprovação, esteja liberada para exercer a atividade.
4 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

Aspectos específicos da resolução devem ser atendidos pela manipulação de


produtos que apresentam maior toxicidade e que podem levar a um maior risco
ocupacional e ambiental, como os antibióticos, os hormônios, os citostáticos e
os radiofármacos. Os medicamentos citostáticos são os agentes utilizados na
quimioterapia, que podem ser manipulados na farmácia hospitalar contanto
que recebam cuidados especiais durante a manipulação e a administração.
Na sala de manipulação de medicamentos citostáticos, deve haver pressão
negativa em relação às áreas adjacentes, além de antecâmara e sistema de ar
independente e eficaz. Todos os utensílios utilizados na manipulação devem
ser separados por classe terapêutica, a fim de se evitar contaminação cruzada.
Os manipuladores devem ser treinados por profissionais qualificados, utilizar
equipamentos de proteção individual apropriados e ser submetidos tanto a
exames médicos específicos quanto a um sistema de rodízio no trabalho.
Muitos antissépticos e desinfectantes utilizados no hospital são produzidos
pelo setor de farmácia. A seguir, veja como eles são classificados.

„„ Álcoois e derivados: são exemplos desta classe o álcool etílico e


o álcool isopropílico. O álcool etílico na concentração de 70% é muito
conhecido pela sua rápida ação bactericida. Também o álcool gel é
frequentemente produzido na farmácia hospitalar.
„„ Clorexidina: a clorexidina é um dos melhores produtos antissépticos
para aplicar em tecidos orgânicos, com ação em bactérias gram-positivas
e gram-negativas. Alguns exemplos de formulações são clorexidina
degermante 2%, clorexidina aquosa 0,2% e clorexidina solução alco-
ólica 0,5%.
„„ Derivados do iodo: os compostos iodados têm uma função predo-
minantemente antisséptica, embora também sejam utilizados como
desinfetantes de materiais médicos. São exemplos desta classe a tintura
de iodo e o álcool iodado, mais conhecido como lugol.
„„ Sabões: os sabões são muito utilizados por causa de seu poder deter-
gente. No ambiente hospitalar, o sabão na forma líquida é o mais usado
para a limpeza e a higiene das mãos. Alguns exemplos de preparações
são os detergentes neutros, os sabonetes líquidos e os glicerinados.
„„ Sais de prata: o nitrato de prata e a sulfadiazina de prata são os sais de
prata mais conhecidos para fins antissépticos. No ambiente hospitalar,
porém, o seu uso tem sido limitado.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 5

A preparação de dose unitária e a unitarização de doses são procedimentos


de grande importância no âmbito hospitalar e incluem os processos de subdi-
visão da forma farmacêutica, de transformação/derivação e de fracionamento.
De acordo com a RDC nº. 67/2007 (BRASIL, 2007, documento on-line), a dose
unitária pode ser definida como a “[...] adequação da forma farmacêutica à
quantidade correspondente à dose prescrita, preservadas suas características
de qualidade e rastreamento”, e a dose unitarizada, como a “[...] adequação
da forma farmacêutica em doses previamente selecionadas para atendimento
a prescrições nos serviços de saúde” (BRASIL, 2007, documento on-line).
A subdivisão da forma farmacêutica envolve os processos de clivagem
ou partilha, e a transformação/derivação envolve o preparo de uma forma
farmacêutica a partir de outra.
As formas farmacêuticas sólidas (comprimidos, cápsulas e drágeas)
representam o maior volume de produtos a serem fracionados. Diferentemente
das doses unitárias estéreis, o fracionamento das formas sólidas não ocorre
no setor de CME, e sim na seção de farmacotécnica não estéril.
O fracionamento é o procedimento que compreende a subdivisão da emba-
lagem primária do medicamento a partir da sua embalagem original, resultando
em frações menores que mantêm todos os dados de identificação e qualidade
quando obtidos de embalagens primárias fracionáveis. No caso de a embala-
gem primária não ser fracionável, ela deve ser cortada e reembalada em uma
embalagem secundária (plástico transparente) e, em seguida, rotulada com
as informações do medicamento (princípio ativo, dosagem, lote e prazo de
validade). Esse processo de subdivisão pode ser feito de forma automatizada,
utilizando-se robôs, ou de forma manual.
Os medicamentos podem ser reembalados pelos métodos de rotulagem,
em equipamento semiautomático; em câmara de fluxo de ar laminar vertical;
ou de forma manual. O método de rotulagem, que consiste na colocação de
um rótulo identificativo no blister, pode ser automatizado mediante o uso de
um equipamento semiautomático — desde que os blisters tenham tamanhos
compatíveis com o equipamento. Para os medicamentos que necessitam de
condições especiais para a reembalagem, como os injetáveis, essa deve ser
realizada dentro de uma câmara de fluxo de ar. Por fim, quando nenhum dos
métodos citados pode ser empregado para reembalar as formas farmacêuticas,
a reembalagem deve ocorrer de forma manual.
6 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

No entanto, cabe observar que os métodos manuais de rotulagem e embala-


gem dos medicamentos fracionados por recorte do blister estão frequentemente
relacionados a problemas, como, por exemplo, a troca de um medicamento
prescrito por outro e a dificuldade para se rastrear um medicamento caso haja
algum problema com o lote utilizado.
Por fim, saliente-se que o processo de fracionamento também pode com-
prometer a estabilidade e a validade dos medicamentos. A retirada dos com-
primidos e das demais formas sólidas dos blisters e a sua transferência à
embalagem secundária expõem o fármaco ao material de embalagem utilizado,
o que pode resultar em umidade e aumento da temperatura.

A farmácia hospitalar deve adquirir, de preferência, medicamentos disponíveis co-


mercialmente em embalagens primárias fracionáveis. A ANVISA disponibiliza em seu
site uma lista de medicamentos com apresentações fracionáveis, indicando o insumo
farmacêutico ativo, a empresa responsável pela sua produção, a apresentação, o número
do registro e o vencimento do registro. Acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/txCVN

2 Boas práticas de manipulação de


medicamentos
A fim de garantir a qualidade, a segurança e a efetividade das preparações ma-
nipuladas, além de promover o seu uso racional, a RDC nº. 67/2007 (BRASIL,
2007) dispõe sobre as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais
e Oficinais para Uso Humano em farmácias. Nela, encontram-se os requisitos
mínimos exigidos em relação à estrutura física, aos equipamentos e aos re-
cursos humanos; à aquisição, ao armazenamento e ao controle de qualidade
das matérias-primas; à avaliação da prescrição médica pelo farmacêutico;
à manipulação (incluindo o fracionamento), à conservação, ao transporte e
à dispensação das preparações manipuladas. Para a manipulação de formu-
lações de NP, a farmácia deve atender aos requisitos da Portaria 272/1998.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 7

No Quadro 1, são descritas as condições mínimas em termos de estrutura


física, equipamentos e recursos humanos para a preparação de fórmulas magistrais
e oficinais. Para a manipulação de formulações estéreis, além da estrutura física
relatada, deve haver sala de limpeza, higienização e esterilização; sala de pesagem;
sala de manipulação e envase exclusiva; área para revisão; área para quarentena,
rotulagem e embalagem; e antecâmara para paramentação. Os equipamentos
utilizados na manipulação de preparações estéreis devem ser efetivamente este-
rilizados por vapor, por aquecimento a seco ou por meio de outro método.

Quadro 1. Requisitos mínimos de infraestrutura e recursos humanos para a preparação


de medicamentos manipulados em hospitais

Domínios Requisitos

Estrutura Área ou sala para as atividades administrativas


física Área ou sala de armazenamento
Área ou sala de controle de qualidade
Sala ou local de pesagem de matérias-primas
Sala(s) de manipulação
Área de dispensação
Vestiário
Sala de paramentação
Sanitários
Área ou local para lavagem de utensílios e materiais de
embalagem
Depósito de material de limpeza

Equipa- Balança de precisão, devidamente calibrada, com registros e


mentos instalada em local que ofereça segurança e estabilidade
Pesos padrão rastreáveis
Vidraria verificada contra um padrão calibrado ou adquirida de
fornecedores credenciados pelos laboratórios da rede brasileira
de calibração, quando for o caso
Sistema de purificação de água
Refrigerador para a conservação de produtos termolábeis
Termômetros e higrômetros
Bancadas revestidas de material liso, resistente e de fácil limpeza
Lixeiras com tampa, pedal e saco plástico devidamente
identificadas
Armário fechado, de material liso, resistente e de fácil limpeza,
para o armazenamento de matérias-primas e produtos fotolábeis
e/ou sensíveis à umidade

(Continua)
8 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

(Continuação)

Quadro 1. Requisitos mínimos de infraestrutura e recursos humanos para a preparação


de medicamentos manipulados em hospitais

Domínios Requisitos

Recursos Manipulação de antineoplásicos: 1 farmacêutico para


humanos cada 50 preparações de quimioterapia e 1 auxiliar de
farmácia para cada 100 preparações de quimioterapia
Manipulação de outras misturas intravenosas: 1 farmacêutico
por turno e 1 auxiliar de farmácia por turno
Manipulação de medicamentos não estéreis, fracionamento e
unitarização: 1 farmacêutico por turno durante as operações
de manipulação e 1 auxiliar de farmácia de farmácia por turno

Fonte: Adaptado de Brasil (2007).

A aquisição de matérias-primas deve ser supervisionada pelo farmacêutico,


o qual deve qualificar os fornecedores em relação aos critérios de qualidade,
assegurando que todos os produtos entregues sejam acompanhados do cer-
tificado de análise emitido pelo fabricante ou fornecedor. As especificações
técnicas para as matérias-primas devem conter nome da matéria-prima com
o DCB, ensaios de qualidade realizados e as metodologias de análise, limites
de aceitação quantitativos e qualitativos, condições de armazenamento e
demais precauções. Para insumos farmacêuticos ativos e adjuvantes, deve-se
informar a referência de monografia nacional ou de compêndios internacionais
reconhecidos pela ANVISA.
A qualidade das matérias-primas é avaliada pela análise, no momento do
recebimento, do seu laudo técnico e pela realização, no mínimo, dos seguintes
testes: verificação dos caracteres organolépticos, solubilidade, pH, peso,
volume, ponto de fusão e densidade.
Antes do início da manipulação, o farmacêutico deve avaliar a prescrição
médica, considerando a viabilidade, a concentração, a compatibilidade físico-
-química e farmacológica dos componentes, a dose e a via de administração.
Devem-se realizar os cálculos necessários para a manipulação da formulação
e registrá-los, atentando-se aos fatores de conversão, correção e equivalência.
Caso o farmacêutico identifique interações graves ou incompatibilidade entre
os componentes da fórmula, ou, ainda, se ele constatar que a dose prescrita
ultrapassa os limites farmacológicos, é preciso entrar em contato com o médico
prescritor a fim de discutir a prescrição.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 9

A farmácia deve dispor dos procedimentos operacionais para a manipulação


de cada forma farmacêutica preparada na unidade hospitalar, e os excipientes
utilizados na manipulação das formulações devem ser padronizados a partir
de um embasamento técnico-científico que justifique o seu uso. A manipu-
lação das preparações estéreis deve ser realizada com métodos assépticos,
tomando-se todas as precauções necessárias para que se evite contaminação.
A água utilizada na preparação de formulações estéreis deve ser obtida por
destilação ou por osmose reversa e deve obedecer às características descritas
na farmacopeia.
As preparações devem ser realizadas sob orientação e responsabilidade
do farmacêutico, que deve registrá-las no Livro de Registro de Receituário ou
equivalente eletrônico, a fim de garantir a rastreabilidade dos produtos e dos
procedimentos realizados. O registro deve conter as informações referentes
a cada medicamento, a saber: a Denominação Comum Brasileira (DCB);
o nome comercial ou genérico e o nome do fabricante; o número do lote e a
data de validade do fabricante; o número de identificação criado pela unidade
hospitalar; a data da submissão do medicamento ao preparo de doses unitárias
ou a unitarização de doses; a data de validade da farmácia; a operação reali-
zada na preparação (p. ex., transformação, subdivisão da forma farmacêutica,
fracionamento); a forma farmacêutica, a concentração da substância ativa e o
número de unidades antes e após a preparação; e a identificação do funcionário
que efetuou o procedimento.
A farmácia também deve manter em registro as ordens de manipulação,
que, de acordo com a RDC nº. 67/2007 (BRASIL, 2007, documento on-line),
devem apresentar:

a) Número de ordem do Livro de Receituário; b) Descrição da formulação


contendo todos os componentes (inclusive os excipientes) e concentrações;
c) Lote de cada matéria-prima, fornecedor e quantidade pesada; d) Nome e
assinatura dos responsáveis pela pesagem e manipulação; e) Visto do farma-
cêutico; f) Data da manipulação; g) No caso da forma farmacêutica "cápsulas",
deve constar, ainda, o tamanho e a cor da cápsula utilizada.

Faz-se necessário que os medicamentos e os saneantes manipulados sejam


submetidos a ensaios de controle de qualidade com base na Farmacopeia
Brasileira ou outro compêndio oficial reconhecido pela ANVISA. Os resul-
tados encontrados em cada um dos ensaios devem ser registrados na ordem
de manipulação. Todas as preparações devem ser analisadas no que respeita à
descrição, ao aspecto e aos caracteres organolépticos. As preparações sólidas
também devem ser analisadas quanto ao peso médio; as preparações semis-
10 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

sólidas, quanto ao peso e ao pH (quando aplicável); e as líquidas não estéreis,


quanto ao pH, ao peso ou ao volume antes do envase.
Além de a esses testes de controle de qualidade supracitados, as preparações
estéreis devem ser submetidas também à inspeção visual de todas as amostras,
ao teste de esterilidade e ao teste de endotoxinas bacterianas (exceto para
preparações oftálmicas).
Os produtos manipulados devem ser conservados de acordo com os pro-
cedimentos escritos na farmácia, garantindo-se a manutenção das suas espe-
cificações e a sua integridade até o momento da dispensação para a equipe
de enfermagem. Para as preparações termossensíveis, o acondicionamento
deve ser feito em geladeira exclusiva para a conservação de medicamentos.
De acordo com a RDC nº. 67/2007 (BRASIL, 2007), o prazo de validade das
preparações de dose unitária varia de acordo com o tipo de operação realizada.
Para as unidades fracionadas sem o rompimento da embalagem primária,
o prazo de validade será igual ao que foi determinado pelo fabricante; para
as unidades fracionadas com o rompimento da embalagem primária, o prazo
de validade será de, no máximo, 25% do tempo remanescente informado
na embalagem do produto original; para preparações por transformação ou
subdivisão da forma farmacêutica, o período de uso deve ser de até 48 horas
após a sua preparação, à exceção dos casos em que haja recomendação espe-
cífica do fabricante.

3 A importância da manipulação de doses


unitárias e fórmulas magistrais
Cuidados específicos para a recuperação da saúde são demandados pelos
pacientes hospitalizados, entre os quais estão indivíduos de diferentes idades
e sexos, com debilidades e capacidades físicas diversas, evidenciando que a
atividade de manipulação é altamente necessária e benéfica. O profissional
farmacêutico dentro do contexto hospitalar deve garantir o uso seguro e racio-
nal dos medicamentos prescritos pelo médico. Com isso, vem a necessidade
implícita de se obterem formas farmacêuticas e doses individualizadas de
medicamentos a partir da manipulação.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 11

A produção de medicamentos na farmácia hospitalar apresenta diversas


vantagens, destacando-se entre elas o atendimento às necessidades parti-
culares de cada paciente, já que em muitas situações o medicamento pode
estar indisponível industrialmente na dosagem e na forma farmacêutica mais
adequada para o tratamento. Como exemplo, segundo Thompson (2013),
há os pacientes pediátricos e geriátricos, que muitas vezes precisam de doses
de medicamentos que não estão disponíveis comercialmente, sendo, desse
modo, necessária a manipulação de fórmulas específicas para se atender
farmacologicamente a esses grupos.
Outras situações que justificam o benefício da preparação de formulações
em hospitais são listadas a seguir.

„„ Alguns medicamentos estão disponíveis apenas na forma farmacêutica


sólida, como comprimidos ou cápsulas, e há pacientes que não podem ou
não conseguem engolir a medicação na forma farmacêutica fabricada.
Nesses casos, a transformação/derivação do medicamento pode ser útil.
„„ Associação de medicamentos: há diversas condições clínicas que pre-
cisam ser tratadas com vários medicamentos ao mesmo tempo. Para
facilitar o tratamento, o médico pode prescrever uma formulação que
possibilite a associação de mais de uma substância ativa.
„„ Alguns pacientes podem ser alérgicos a algum excipiente utilizado pela
indústria farmacêutica.
„„ Alguns pacientes, especialmente crianças, aderem melhor ao tratamento
quando há adição de flavorizantes no medicamento para tornar o seu
sabor mais aceitável.
„„ Produtos de baixos volumes de produção podem ser descontinuados
pela indústria farmacêutica;
„„ Há escassez periódica de medicamentos pela indústria farmacêutica.
„„ Para atendimento dermatológico, os medicamentos podem ser manipu-
lados de acordo com o tipo de pele do paciente. Esses produtos também
podem ser úteis para pacientes com predisposição a reações alérgicas.
„„ Relação médico-farmacêutico-paciente: sempre que necessário o médico
prescritor e o farmacêutico responsável pela manipulação mantêm con-
tato, garantindo a qualidade do produto a ser administrado ao paciente.

Do ponto de vista econômico, a manipulação de medicamentos permite


a redução de custos do hospital e contribui para uma gestão coerente de
recursos, a exemplo do fracionamento de fármacos injetáveis adquiridos da
indústria farmacêutica.
12 Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar

As doses unitárias manipuladas pelo hospital permitem que o sistema de


distribuição seja pelo Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose
Unitária (SDMDU). Conforme Jara (2012), esse é o sistema de distribuição mais
seguro e eficiente, uma vez que, por meio dele, ocorre a distribuição ordenada
dos medicamentos a partir das doses unitárias, identificadas de acordo com o
horário para cada paciente e prontas para serem a ele diretamente administra-
das, isto é, sem que seja necessária manipulação pela equipe de enfermagem.
Além disso, com a distribuição por dose unitária, reduzem-se os erros de
medicação e os estoques nos setores da equipe de enfermagem. O tempo para
armazenamento e preparo da medicação pela enfermagem também é reduzido
quando são utilizadas doses unitárias, o que traz como consequência positiva
uma maior disponibilidade de tempo para assistência ao paciente. O sistema
de distribuição por doses unitárias também permite um controle mais efetivo
sobre os medicamentos e aumenta a integração do farmacêutico com os demais
membros da equipe de saúde.
Por fim, observe-se que, se as embalagens não forem violadas, as doses
dos medicamentos que não foram administradas ao paciente podem retornar
à farmácia para reutilização, evitando o desperdício e contribuindo, dessa
forma, para a diminuição das despesas com medicamentos.

BRASIL. Ministério da saúde. Resolução – RDC nº. 67, de 8 de outubro de 2007. Dispõe
sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso
Humano em farmácias. Brasília, 8 out. 2007. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/anvisa/2007/rdc0067_08_10_2007.html. Acesso em: 17 fev. 2020.
BRASIL. Ministério da saúde. Portaria nº. 272, de 8 de abril de 1998. Brasília, 8 abr. 1998. Dis-
ponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1998/prt0272_08_04_1998.
html. Acesso em: 17 fev. 2020.
JARA, M. C. Unitarização da dose e segurança do paciente: responsabilidade da far-
mácia hospitalar ou da indústria farmacêutica? Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde, v.3, nº.
3, p. 33–37, jul./set. 2012. Disponível em: http://www.sbrafh.org.br/v1/public/artigos/
RBFHSSV3N3_Artigo06_ID199.pdf. Acesso em: 17 fev. 2020.
SPORPIRTIS, S; MORI, A. L. P. M; YOCHIY, A. Farmácia clínica e atenção farmacêutica. 5
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008: 107‑109 p.
THOMPSON, J. E.; DAVIDOW, L. W. A prática farmacêutica na manipulação de medica-
mentos. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Manipulação de medicamentos no âmbito hospitalar 13

Leituras recomendadas
GOMES, M. J. V. de M.; REIS, A. M. M. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia
hospitalar. Rio de Janeiro: Atheneu, 2003.
GOMES, T. C. B. Produção de medicamentos a nível hospitalar. 2016. 65 f. Dissertação (Mes-
trado em Ciências Farmacêuticas) — Instituto Superior De Ciências Da Saúde Egas Mo-
niz, Almada, 2016. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/17662/1/
Gomes_Tom%c3%a1s_Carvalheiro_Baptista.pdf. Acesso em: 17 fev. 2020.

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