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Capítulo 3
A fitoterapia é uma prá tica terapê utica milenar que utiliza as plantas medicinais
como forma de prevençã o, tratamento e cura de diversas doenças. A busca por alternativas
terapê uticas naturais tem ganhado cada vez mais importâ ncia, devido à crescente
preocupaçã o com os efeitos colaterais e à resistê ncia aos medicamentos convencionais. A
fitoterapia se destaca como uma abordagem promissora, pois, alé m de possuir uma
grande variedade de plantas medicinais, també m apresenta menor toxicidade e custo
reduzido em comparaçã o com os medicamentos sinté ticos (SAAD et al., 2021).
Dentre as plantas medicinais utilizadas na fitoterapia, a Mikania glomerata,
popularmente conhecida como guaco, tem sido amplamente estudada devido à s suas
propriedades terapê uticas no tratamento de doenças respirató rias. O guaco é conhecido
por suas propriedades broncodilatadoras, anti-inflamató rias e antitussı́genas, sendo
tradicionalmente utilizado no alı́vio de condiçõ es como asma, bronquite e tosse (COSTA et
al., 2019).
Alé m dos benefı́cios terapê uticos, essa planta també m apresenta um perfil quı́mico
interessante, com a presença de diversos metabó litos secundá rios. Estudos tê m
demonstrado a presença de compostos como cumarinas, flavonoides, terpenoides e
esteroides em sua composiçã o, que contribuem para as propriedades medicinais
atribuı́das à planta (SILVA, 2022).
No contexto do Sistema Unico de Saú de (SUS), a fitoterapia tem ganhado destaque
como uma estraté gia para a promoçã o da saú de e para o tratamento de doenças, inclusive
as respirató rias. O SUS reconhece a eficá cia, o baixo custo e a importâ ncia dos fitoterá picos
e indica o guaco como um dos medicamentos integrantes da Relaçã o Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME) (FILHO; ZANCHETI, 2020).
Com a chegada da pandemia de COVID-19, a importâ ncia do uso de plantas
medicinais, como a Mikania glomerata, no tratamento alternativo de doenças
respirató rias, tornou-se ainda mais evidente. A busca por terapias complementares e
alternativas ganhou destaque, impulsionada pela necessidade de encontrar opçõ es
eficazes e acessı́veis para auxiliar no enfrentamento da doença. A utilizaçã o do Mikania
glomerata como parte da terapê utica alternativa no tratamento da COVID-19 tem
despertado o interesse de pesquisadores, que buscam investigar seus possı́veis efeitos
bené ficos e trazer contribuiçõ es no contexto do SUS (SANTOS et al., 2019).
Diante desse cená rio, este artigo teve como objetivo analisar o uso da fitoterapia
pelo SUS e como a Mikania glomerata (guaco) contribui no tratamento alternativo de
doenças respirató rias, com enfoque na COVID-19. Para isso, foram abordados aspectos
histó ricos do uso de plantas medicinais na cultura popular, a utilizaçã o de fitoterá picos no
SUS para o tratamento de doenças respirató rias e a importâ ncia do guaco no â mbito desse
sistema no tratamento dessas enfermidades.
O uso de plantas medicinais é uma prá tica tã o antiga quanto a civilizaçã o humana.
Desde entã o, conforme sinalizado por Saad et al. (2021), esforços tê m sido feitos para
aprimorar as plantas medicinais ou produzir seus produtos em grandes quantidades
mediante vá rias tecnologias. Nesse sentido, a natureza é uma fonte de compostos com
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potencial para tratar diversas doenças, muitos dos quais sã o transmitidos de geraçã o em
geraçã o, por meio da sabedoria e cultura popular (DE SOUZA et al., 2021). Diante disso, os
farmacê uticos estã o sempre procurando novas opçõ es terapê uticas para tratar as diversas
doenças que afetam os seres humanos (COSTA et al., 2019).
Os autores sinalizam que isso ocorre, pois a Amazô nia e a Mata Atlâ ntica sã o
exemplos de regiõ es que possuem diversidade de macro e microespé cies, tanto de
ambientes terrestres quanto aquá ticos, que produzem compostos estruturalmente ú nicos,
alé m de serem as principais fontes de medicamentos em muitos paı́ses, contando,
inclusive, com regiõ es ainda inexploradas (DE SOUZA et al., 2021).
A importâ ncia de compreender o uso das plantas medicinais decorre també m do
fato de que elas possuem princı́pios ativos que ajudam no tratamento das doenças e
podem levar até mesmo à cura, sendo utilizadas na forma de chá s ou infusõ es (SAAD et
al., 2021). Ademais, conforme apontam Santos et al. (2019), atualmente, há vá rios fatores
que tê m impulsionado a utilizaçã o das plantas como recurso medicinal, incluindo o
elevado custo dos medicamentos sinté ticos produzidos industrialmente, a dificuldade de
acesso da populaçã o aos cuidados mé dicos e a tendê ncia de recorrer a produtos de origem
natural.
Nesse sentido, necessá rio se faz compreender sobre a fitoterapia, que é a ciê ncia a
qual trata do uso terapê utico de plantas medicinais e fitoterá picos em pessoas doentes,
cujo termo foi introduzido pelo mé dico francê s Henry Leclerc (1870–1955), reconhecido
internacionalmente e que deve ser entendido como uma distinçã o clara da medicina
fitoterá pica nã o cientı́fica (COSTA et al., 2019).
Contudo, existem evidê ncias cientı́ficas da eficá cia das plantas medicinais
utilizadas na fitoterapia, muitas delas no â mbito do SUS, que podem ser encontradas em
á reas mé dicas, principalmente na farmá cia, onde se concentra essencialmente nos
compostos, em seus efeitos, nos benefı́cios e riscos (FILHO; ZANCHETT, 2020).
Conforme o estudo desenvolvido por Santos et al. (2019), que aborda o
conhecimento tradicional sobre plantas medicinais na conservaçã o da biodiversidade
amazô nica, por meio de uma pesquisa realizada a partir de entrevistas com ribeirinhos e
agricultores familiares na regiã o amazô nica do Brasil, os resultados mostraram que as
plantas medicinais sã o importantes na cultura e na subsistê ncia dessas comunidades,
alé m de serem utilizadas como alternativas terapê uticas em algumas situaçõ es.
Os autores destacam a importâ ncia de valorizar o conhecimento tradicional sobre
o uso das plantas medicinais e integrá -lo à s polı́ticas de conservaçã o da biodiversidade
(FILHO; ZANCHETI, 2020), ratificando o entendimento de Borges e Sales (2018) quanto à
importâ ncia da temá tica devido à notoriedade que esta vem ganhando como meio de
valorizaçã o da cultura e dos saberes tradicionais.
Assim, por se tratar de recurso tradicionalmente usado como remé dio popular
para tratar as doenças respirató rias, recentemente, deu-se inı́cio a algumas discussõ es
sobre o uso do extrato de M. glomerata para o tratamento da COVID-19 (pandemia
instaurada no Brasil e no mundo em março de 2020).
o tratamento de doenças ligadas à s vias respirató rias, entre elas, tosse, asma, rouquidã o e
bronquite (BRASIL, 2018; 2021). A planta que lhe dá origem també m é conhecida como
erva-de-serpentes, cipó -catinga ou erva-de-cobra e se trata de uma trepadeira volú vel de
folhas simples de até 15 centı́metros de comprimento e 7 centı́metros de largura, cuja
composiçã o quı́mica é constituı́da de sesquiterpenos e diterpenos, estigmasterol,
flavonoides, cumarinas, resinas, taninos, saponinas, guacosı́deos e á cido clorogê nico,
sendo seu marcador quı́mico a cumarina (DE MELO; SAWAYA, 2015).
A atividade farmacoló gica da espé cie Mikania glomerata é realizada desde longa
data, mas existem poucos estudos visando preparar produtos padronizados que garantam
uma produçã o uniforme, doses eficazes e estabilidade (BRASIL, 2018). Os estudos
disponı́veis, a exemplo de Garcia (2017), sobre a avaliaçã o da atividade broncodilatadora
do xarope de guaco, e de Groeler (2020), acerca do processo de extraçã o da Mikania
glomerata, indicam que a principal forma farmacê utica utilizada, contendo derivado da
droga vegetal, é o xarope.
Nesse sentido, os estudos iniciais demonstraram que a Mikania glomerata pode ter
propriedades antivirais e anti-inflamató rias e que estas podem ser ú teis no tratamento de
algumas doenças respirató rias, incluindo a COVID-19. No entanto, esses estudos ainda sã o
limitados, sendo necessá rias mais pesquisas para confirmar a eficá cia da M. glomerata no
tratamento dessa doença.
A aná lise dos dados foi realizada identificando padrõ es, tendê ncias e informaçõ es
relevantes para o tema em estudo, utilizando a aná lise de conteú do proposta por Aquino
(2017). No total, foram encontrados 214 artigos relacionados à temá tica geral: “Mikania
glomerata no tratamento fitoterá pico respirató rio oferecido pelo SUS”.
Apó s a aplicaçã o dos crité rios de exclusã o, chegou-se a 111 artigos. Ao considerar
o perı́odo de interesse de 2017 a 2022, reduziu-se para 57 e, ao se restringir aos estudos
que abordavam a eficá cia do guaco e o seu uso durante a pandemia da COVID-19, chegou-
se a um total de 16 artigos relevantes para a pesquisa.
A fitoterapia, que consiste no uso terapê utico de plantas medicinais para prevenir,
tratar e curar doenças, tem se tornado uma opçã o cada vez mais valorizada no contexto
da saú de pú blica. No Brasil, em especial no Sistema Unico de Saú de (SUS), tem havido um
crescente investimento na produçã o e utilizaçã o de fitoterá picos como alternativa aos
medicamentos industrializados (SANTOS et al., 2019).
No entanto, apesar dos benefı́cios potenciais dos fitoterá picos, vá rios desafios
ainda sã o enfrentados na sua utilizaçã o, conforme sinalizado por Costa e colaboradores
(2019) ao enfatizarem sobre a importâ ncia deles na atençã o primá ria à saú de, com
destaque para a sua potencial eficá cia e segurança para o tratamento de diversas doenças.
No entanto, a falta de padronizaçã o dos extratos vegetais e a ausê ncia de regulamentaçã o
na produçã o e comercializaçã o desses medicamentos sã o questõ es que precisam ser
abordadas (OLIVEIRA et al., 2017).
Outro ponto a ser considerado refere-se à necessidade de investimentos em
pesquisas para comprovar a eficá cia e segurança das terapias fitoterá picas, bem como a
importâ ncia da formaçã o de profissionais de saú de capacitados no uso dessas terapias,
com destaque para o papel do farmacê utico (GARCIA, 2017), considerados aspectos
fundamentais para embasar o planejamento terapê utico e o uso clı́nico de plantas e
fitoterá picos.
No contexto da pesquisa sobre o uso da fitoterapia pelo SUS e o papel da Mikania
glomerata (guaco) no tratamento alternativo de doenças respirató rias, estudos
especı́ficos tê m fornecido importantes contribuiçõ es, como o de Oliveira e colaboradores
(2017), em que os autores avaliaram a eficá cia da Mikania glomerata no tratamento
alternativo de doenças respirató rias no SUS, concluindo que o uso do guaco, na forma de
xarope fitoterá pico, pode ser uma alternativa eficaz e mais acessı́vel em comparaçã o aos
medicamentos convencionais.
No estudo realizado por Garcia (2017), em que o autor buscou avaliar a atividade
broncodilatadora do xarope de guaco por meio de ensaio clı́nico randomizado, controlado
e duplo-cego, os resultados demonstraram uma melhora significativa na funçã o pulmonar
dos participantes que receberam o xarope de guaco em comparaçã o ao grupo que recebeu
placebo e, alé m disso, o xarope de guaco foi bem tolerado, apresentando poucos efeitos
colaterais relatados.
Considerando tais informaçõ es, é evidente que a fitoterapia, particularmente o uso
da Mikania glomerata, possui um potencial terapê utico relevante no tratamento
alternativo de doenças respirató rias. A aná lise crı́tica das evidê ncias cientı́ficas existentes,
aliada à abordagem interdisciplinar envolvendo aspectos quı́micos, bioló gicos e
nutricionais das plantas medicinais, tem se mostrado fundamental para embasar a
eficá cia e segurança dessas terapias (FILHO; ZANCHETT, 2020)
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Nesse sentido, Oliveira e colaboradores (2020) apresentaram uma revisã o sobre o uso de
fitoterá picos no combate aos sintomas da COVID-19, abordando seus possı́veis
mecanismos de açã o, com destaque para algumas plantas que tê m sido utilizadas na
medicina tradicional e que possuem atividades antivirais, imunomodulató rias e anti-
inflamató rias. No entanto, ressaltaram a necessidade de estudos clı́nicos bem controlados
para comprovar a eficá cia desses fitoterá picos no tratamento da COVID-19.
També m merece atençã o o estudo realizado por De Souza et al. (2021) que abordou
sobre a utilizaçã o terapê utica da Mikania glomerata e o seu potencial no tratamento da
COVID-19, com base em estudos pré -clı́nicos, que mostraram a atividade antiviral e anti-
inflamató ria em outros coronavı́rus relacionados, destacando-se, no entanto, a
necessidade de maiores estudos clı́nicos para avaliar essa eficá cia e realizar um controle
de qualidade adequado para garantir a segurança e eficá cia desse e de outros fitoterá picos
derivados de plantas medicinais.
Outro trabalho que se propô s a realizar uma revisã o da literatura sobre o uso de
plantas medicinais, no contexto da pandemia de COVID-19, foi apresentado por Morais
(2021), no qual o autor levantou estudos que investigaram a atividade antiviral e
imunomoduladora de diversas plantas, alé m de pesquisas sobre o uso dessas plantas
como terapia complementar para sintomas da COVID-19, concluindo que o uso de plantas
medicinais pode ser uma opçã o complementar interessante para o manejo dos sintomas
da COVID-19.
Ainda em 2021, a Mikania glomerata constou do Formulário de Fitoterápicos da
Farmacopeia Brasileira, publicado pela ANVISA. A planta é indicada para o tratamento de
afecçõ es das vias respirató rias superiores, como tosse e resfriados, sendo utilizada
principalmente na forma de xarope. O formulá rio traz informaçõ es sobre a identificaçã o,
as açõ es terapê uticas, a posologia, as precauçõ es e outras informaçõ es relevantes sobre o
uso dessa e de outras plantas medicinais (BRASIL, 2021).
De acordo com a pesquisa de Campos, Do Nascimento e Da Silva (2021), foi
observado um aumento significativo na popularidade do medicamento fitoterá pico à base
de Mikania glomerata, durante o perı́odo de 2020 a 2021, amplamente utilizado no
tratamento de doenças respirató rias, como tosse, gripe e bronquite, devido à s suas
propriedades analgé sicas e anti-inflamató rias, uma vez que a sua eficá cia, no alı́vio dos
sintomas relacionados a essas condiçõ es, tem sido destacada no â mbito da saú de.
Quanto à necessidade de açõ es polı́ticas voltadas a resolver as questõ es
relacionadas à COVID-19, em especial no que se refere aos grupos vulnerá veis. Ferrante,
Duczmal e Steinmetzz (2021) debateram sobre a falta de acesso a serviços bá sicos de
saú de bem como de medidas de proteçã o especı́ficas para essas populaçõ es, destacando
que essa ausê ncia de atuaçã o do governo contribuiu para a disseminaçã o do vı́rus e para
o aumento do nú mero de mortes nas comunidades de vulnerá veis, com foco nos grupos
indı́genas e quilombolas.
As afirmaçõ es feitas pelos autores ratificam o sinalizado por Santos e
colaboradores (2019) de que, para alé m da necessidade de valorizar os saberes
tradicionais sobre plantas medicinais na regiã o amazô nica e de sua importâ ncia na
conservaçã o da biodiversidade local, fazem-se necessá rias a implementaçã o de polı́ticas
pú blicas que reconheçam e valorizem esses saberes e a preservaçã o da biodiversidade
amazô nica para a saú de humana.
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Ademais, sobre os serviços farmacê uticos e seu papel fundamental para o uso
racional do Guaco como medicamento fitoterá pico, De Souza e colaboradores (2021)
destacam que os serviços prestados por esses profissionais fornecem informaçõ es e
orientaçõ es sobre a forma farmacê utica, concentraçã o e dosagem adequada.
Com base nas sı́nteses dos estudos apresentados, podemos perceber que a
fitoterapia tem se mostrado uma alternativa interessante para o tratamento de diversas
doenças, incluindo as respirató rias. A Mikania glomerata vem sendo amplamente
estudada por suas propriedades medicinais, especialmente no tratamento de doenças
respirató rias, incluindo a COVID-19. Alé m disso, a fitoterapia tem se mostrado uma
abordagem promissora na primá ria à saú de, especialmente no SUS, em que a utilizaçã o de
plantas medicinais pode ser uma alternativa eficaz e acessı́vel para muitas pessoas,
devendo, dessa forma, compor o interesse dos farmacê uticos quanto aos seus processos e
à sua utilizaçã o.
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