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Resumo: A presente revisão sistemática quantifica os estudos clínicos que referem ação terapêutica sobre
Diabetes mellitus (DM), publicados, entre 2010 e 2013, em três bases de dados científicas (SciELO, Science
Direct e Springer), sobre as plantas medicinais indicadas na RENISUS. Dos 21.357 artigos encontrados
nas bases de dados pesquisadas, a análise dos artigos foi realizada inicialmente a partir da leitura do
título do artigo, observando quais mencionavam termos relacionados com DM. Os artigos selecionados
na primeira etapa foram analisados por meio da leitura do Abstratc, sendo selecionados os artigos que
mencionavam algum tipo de tratamento efetivo. Por fim, o texto dos artigos selecionados na segunda
etapa da pesquisa foi avaliado integralmente, a fim de selecionar os artigos de interesse que comprovam
potencial antidiabético. Essa triagem resultou em 33 artigos que comprovam ação terapêutica de plantas
da RENISUS para o tratamento de DM.
Palavras-chave: Revisão. Fitoterápicos. Artigos.
INTRODUÇÃO
O Diabetes mellitus (DM) já é considerado uma epidemia mundial. Trata-se de um
dos mais importantes distúrbios crônicos conhecidos, devido ao significativo número
de portadores, acarretando índices elevados de morbidade e mortalidade (GOMES et
al., 2012).
A forma mais comum de DM corresponde ao tipo 2 (DM2), responsável por
aproximadamente 90% de todos os casos de diabetes no mundo. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), há em média 220 milhões de pessoas com
diabetes, e esse número tende a aumentar significativamente durante os próximos
anos, devendo dobrar até 2030 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009).
Até recentemente, os adultos representavam o principal segmento da população
acometida pela doença, entretanto o número de crianças e adolescentes com DM2 vem
aumentando consideravelmente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005; LI
et al., 2012).
Fatores genéticos e ambientais têm sido relacionados ao desenvolvimento e
complicações de DM2 (KOPELMEN, 2000). As manifestações clínicas geralmente
encontradas em pacientes com o distúrbio metabólico são caracterizadas por transtornos
metabólicos consequentes de um quadro de hiperglicemia, resultante do acúmulo de
glicose nos tecidos (DING et al., 2012; RAMAN et al., 2012). O DM2 também é
caracterizado por vários graus de resistência à insulina e deficiência relativa na sua
secreção (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2010).
A estimativa dos custos com os portadores de diabetes no ano de 2002 no Brasil foi
de cerca de 40 milhões de reais, o custo mais alto da América Latina. Gastos médios
com pessoas com DM alcançam até o triplo do que com pessoas não afetadas com a
doença (BARCELÓ et al., 2003). Esses dados bastariam para justificar a busca de
novos compostos eficazes para o tratamento do DM a partir de plantas medicinais mais
acessíveis à população.
A utilização de plantas medicinais tem desempenhado um papel importante em
todo o mundo no tratamento e prevenção de doenças humanas há milhares de anos
e continua como fonte de inovação na descoberta de novas drogas (MEGRAJ et al.,
2011). No que se refere ao DM, muitas espécies vegetais são citadas na literatura
como adjuvantes no seu tratamento, atenuando os sintomas e possíveis efeitos
colaterais (CECÍLIO et al., 2008). Estima-se que existam mais de 1.200 plantas com
atividade antidiabética, tendo que um terço desse total sido estudado e cientificamente
comprovado (CHANG et al., 2013).
Na composição dessas plantas medicinais com propriedades hipoglicêmicas existem
diversos compostos bioativos responsáveis por aumentar a produção de insulina, como
glicosídeos, alcaloides, terpenos, flavonoides e carotenoides, por exemplo (MALVIYA;
JAIN; MALVIYA, 2010).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Na presente revisão, foram analisados artigos científicos publicados a partir da
criação da RENISUS, no período de janeiro de 2010 a fevereiro de 2013, em três
bases de dados científicas: Science Direct, Springer e Scientific Electronic Library Online
(SciELO). Na pesquisa, foram considerados todos os artigos científicos disponibilizados
como texto completo e gratuito nas bases de pesquisa, independente do idioma. O
descritor utilizado na consulta nessas bases de dados foi o nome científico das 71 plantas
medicinais, conforme citadas na RENISUS.
A análise foi dividida em três etapas. A primeira etapa constituiu-se na leitura do
título dos artigos, em que foram selecionados apenas aqueles com termos relacionados
com DM. Em seguida, partiu-se para a segunda etapa, na qual foi lido o Abstratc dos
artigos incluídos na primeira fase, dentre os quais foram escolhidos os que mencionavam
algum tipo de tratamento efetivo para DM com as plantas de interesse. Por fim, na
terceira e última etapa, foi avaliado o texto integral dos artigos selecionados na segunda
etapa, a fim de eleger os que comprovam algum tipo de ação terapêutica para DM.
O critério de seleção dos artigos de interesse foi incluir os estudos que comprovam
ação terapêutica em DM, a partir do estudo de alguma das plantas medicinais da
lista da RENISUS. Foram descartados artigos de revisão e outros que abordavam
os constituintes químicos dos vegetais. Também foram excluídos os artigos que
mencionavam somente o uso empírico das plantas, além de trabalhos realizados a partir
de entrevistas semiestruturadas. Cabe salientar, ainda, que foram eliminados os artigos
repetidos nas bases de dados.
RESULTADOS
A triagem inicial resultou na seleção de 21.357 publicações nas três bases de dados:
SciELO, Science Direct e Springer. A segunda etapa consistiu na avaliação dos títulos
desses estudos, sendo selecionados 487 artigos que possuíam relação com DM. A Tabela
1 informa a quantidade de artigos analisados e a quantidade de artigos selecionados em
cada base de dados, por planta medicinal de interesse.
Tabela 1: Total de artigos analisados e selecionados
Após selecionados os artigos, 487, na segunda etapa, partiu-se para a terceira fase
da análise, que teve como foco a leitura do Abstratc. Nessa etapa foram selecionados 146
trabalhos que mencionavam tratamento efetivo para DM por meio do uso de alguma
das plantas medicinais de interesse.
Como pode ser observado na Tabela 2, as plantas citadas foram as que tiveram
estudos relacionados com o DM publicados nas bases de dados consultadas, sendo
que somente uma espécie é nativa do Brasil, Apuleia ferrea (Pau-ferro). Ainda, das 17
plantas com potencial antidiabético, uma já é disponibilizada no SUS como fitoterápico,
Uncaria tomentosa (Unha-de-gato). Das 71 plantas da lista da RENISUS, 17 possuem
pesquisa(s) comprovando atividade terapêutica para DM, por meio de estudos pré-
clínicos in vitro e ou in vivo.
DISCUSSÃO
O uso de terapias alternativas para o tratamento de enfermidades crônico-
degenerativas representa importante ganho nos investimentos humanos e financeiros
empregados na área da saúde no Brasil (BORGES et al., 2008).
O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta, detém um valioso
conhecimento tradicional associado ao uso de plantas medicinais e tem o potencial
necessário para desenvolvimento de pesquisas que resultem em tecnologias e terapias
eficazes (BRASIL, 2006b). Esta biodiversidade contribuiu para que o uso das plantas
medicinais seja considerado um campo estratégico para o Brasil, cujo maior potencial
econômico da biodiversidade está na descoberta de novas drogas derivadas diretamente
ou sintetizadas a partir de recursos biológicos (BRITO, 2010).
A produção científica nacional vem crescendo desde 1985, quando foram
publicados mais de 2 mil artigos, o que representou 33% da produção latino-americana
e 0,47% da produção mundial. Em 2007 foram cerca de 20 mil publicações de
brasileiros em revistas estrangeiras (LIMA et al., 2007). Este aumento em pesquisa
está em concordância com os resultados encontrados na presente revisão, sendo que dos
33 estudos de interesse para DM, seis pesquisas com importantes resultados científicos
foram desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, durante o período de análise desta
revisão. Tal dado sugere que houve incremento em pesquisa científica no Brasil após a
criação da RENISUS, ao menos voltadas ao DM. Assim sendo, torna-se imprescindível
continuar fomentando a realização de estudos científicos, tendo em vista a importância
dos seus resultados tanto individuais como sociais.
Por se tratar de uma doença crônica prevalente, o DM é alvo de pesquisas na
busca por novos métodos de tratamento que possibilitem o uso de plantas medicinais,
contribuindo para triagens etnofarmacológicas que permitam o aporte a pesquisas que
relacionem o potencial de espécies vegetais capazes de auxiliar no tratamento dessa
condição patológica (CECÍLIO et al., 2008).
A utilização a longo prazo de espécies vegetais prova que elas são capazes de
substituir muitas drogas sintéticas com conhecidos efeitos colaterais. Sendo assim,
a medicina popular pode complementar a terapia tradicional, oferecendo novas
perspectivas terapêuticas (BASCH et al., 2003).
A curcumina é um dos fitoquímicos ativos encontrados com elevada concentração
em plantas das espécies Zingiberaceae (GOLAN et al., 2009), o que explica a
quantidade de trabalhos e resultados encontrados para as plantas Curcuma longa e
Zingiber officinale.
A partir das publicações sobre o potencial antidiabético, constata-se que algumas
plantas medicinais apresentam importantes efeitos hipoglicêmicos com atividade igual
e às vezes até mais potentes se comparados a medicamentos hipoglicemiantes sintéticos
(ARIF et al., 2014). Assim, novas investigações devem ser realizadas a fim de avaliar o
potencial antidiabético e o efeito tóxico destas plantas, objetivando o desenvolvimento
de novos fitoterápicos.
CONCLUSÃO
Esta revisão da literatura acrescenta mais dados científicos pois existem
inúmeras plantas com propriedades hipoglicêmicas. Muitas plantas exercem efeito
hipoglicemiante, atribuído a vários mecanismos de ação, porém algumas plantas
utilizadas podem ser tóxicas e requerem estudos posteriores.
Dos 21.357 estudos encontrados nas bases de dados pesquisadas, apenas 33
comprovam ação terapêutica em DM a partir do uso de alguma das plantas medicinais
da lista da RENISUS. Ainda, das 17 plantas com potencial antidiabético evidenciado,
apenas uma já é disponibilizada no SUS como fitoterápico, Uncaria tomentosa e, somente
uma espécie é nativa do Brasil, Apuleia ferrea.
Curcuma longa com 10 estudos, Zingiber officinale, Allium sativum e Momordica
charantia com três estudos realizados são as plantas com maior número de estudos
sobre DM publicados nas bases de dados consultadas durante o período de janeiro de
2010 a fevereiro de 2013.
A cultura de utilizar plantas medicinais deve ser incentivada através de estudos
que comprovem a eficácia terapêutica em seres humanos, contribuindo para estabelecer
um perfil seguro como um adjuvante no tratamento contínuo em pacientes, buscando
acompanhar correlatamente, a evolução das complicações. Tais parâmetros podem
encorajar o uso tradicional de espécies medicinais desde que previamente prescritas e
consequentemente, diminuir a exposição da população a práticas inseguras.
Os resultados deste estudo fornecem subsídios teóricos para discussões sobre
tratamentos alternativos à base de plantas medicinais como um adjuvante no controle
dos níveis glicêmicos em pacientes portadores de DM.
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