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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR - DEPARTAMENTO DE LETRAS


LÍNGUA PORTUGUESA PADRÃO – 2018.1
Professora: Katia Emmerick

Sintaxe de colocação ou de ordem

Sintaxe: Chama-se sintaxe a parte da gramática que descreve as regras pelas quais se
combinam as unidades significativas em frases; a sintaxe se ocupa da colocação das
palavras, umas em relação às outras.

Pode-se, assim, entender, no estudo destas relações, a sintaxe de:

 de colocação
 de concordância
 de regência

A sintaxe de colocação trata da maneira de dispor os termos dentro da oração e as


orações dentro do período.
A colocação, dentro de um idioma, obedece a tendências variadas, quer de ordem
estritamente gramatical, quer de ordem rítmica, psicológica e estilística, que se
coordenam e completam. O maior responsável pela ordem favorita numa língua ou
grupo da língua parece ser a entonação oracional. Entre os casos de colocação usual ou
normal em português sobressaem os reproduzidos abaixo.

 Colocação dos termos na oração e das orações no período


(BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,
2009, p. 726-728)

A norma sintática do português registra os seguintes casos:

1º - sujeito representado por substantivo depois do verbo na passiva pronominal


Consertam-se relógios.

2º - nas orações reduzidas de gerúndio e particípio, o sujeito vem depois do verbo


Terminada a seção, a juíza condenou o réu culpado.

3º - verbo no início das orações que indicam existência ou tempo


Era uma vez um príncipe. Houve discussão. Faz três anos que não o vejo.

4º - verbo no início das subordinadas condicionais e concessivas sem transpositor


Tivesse ele me dito a verdade, tudo acabaria bem.
Acabasse falando comigo, mesmo assim não lhe perdoaria.

5º - nas orações intercaladas de citação, sujeito vem depois do verbo


Suma-se — ordenou o policial.
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6º - nas interrogações introduzidas por pronomes e advérbios, o verbo vem, em geral,


antes do sujeito, desde que o sujeito não seja o pronome interrogativo:
Quem veio aqui? (quem sujeito)
De quem falava você quando chegamos?
Como foi ele passar na fronteira?

o sujeito antes do verbo ou a palavra interrogativa no fim da oração:


De quem você falava? Ele falou o quê?

7º - oração subordinada subjetiva vem normalmente depois do verbo regente


Consta que o trem atrasou.
É aconselhável que não se retirem agora.

8º - oração subordinada adverbial causal iniciada por como vem, em geral, no início do
enunciado de sua principal
Como o tempo melhorou, sairemos agora.

9º - numa sequência de pronomes átonos, vem em primeiro lugar o que funciona como
objeto indireto seguido do objeto direto.

Obs.: Nas ocorrências com o pronome se + me, te, lhe, nos, vos, o se vem sempre em
primeiro lugar:
Ninguém me a contou.
Não se me afiguram boas as soluções.
Pouco se nos dá esse tipo de solução.

10º - diante da negação, o pronome átono pode vir antes ou depois do advérbio não:
Ele não me disse. Ele me não disse (rara)

11º - por elegância e ênfase de expressão, pode-se deslocar para antes do pronome
relativo o predicativo da oração adjetiva
Daniel, professor que foi daquela escola, nunca se dispôs a mudar de
cidade.

 Colocação de Pronomes oblíquos átonos

Na descrição gramatical do português, os termos átono e clítico são sinônimos, embora


possam corresponder a realidades linguísticas diferentes em outros idiomas. Esses
termos denominam os pronomes pessoais cuja acentuação se submete à da forma
verbal a que se conectam: vi-a; não o coloquei no lugar; dei-lhe o livro; já lhe disse;
mexa-se; não se naturalizou.
São átonos justamente porque o valor da sua acentuação depende de outra palavra (um
pronome átono não porta acento próprio). São chamados de clíticos (do verbo gr. klínõ,
“inclinar, apoiar, recostar”) porque, não tendo acentuação própria, se apoiam nos
verbos a que se associam (p. ex.: “fale-me”, expressão em que o acento tônico está na
sílaba fa).
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 Características dos pronomes átonos (clíticos)

a) São dependentes fonologicamente, mas sintaticamente livres


(desempenham alguma função sintática);
b) Não podem aparecer isolados no discurso (são gramemas dependentes).

 Regras de colocação dos pronomes átonos (clíticos)

Próclise – antes do verbo


Mesóclise – no meio do verbo
Ênclise – depois do verbo

I. Nas formas verbais simples:

1. Usa-se próclise:
a) se houver palavra negativa; pronomes relativos; pronomes indefinidos;
pronomes demonstrativo; numeral “ambos”;
b) nas orações iniciadas por pronome relativo ou conjunção subordinativa;
c) nas orações interrogativas e optativas (as que exprimem desejo);
d) com verbo no gerúndio antecedido de preposição “em”: Em se plantando tudo
dá.
2. A ênclise é obrigatória para não se iniciar o período com o pronome átono.
3. A próclise é facultativa com advérbio não seguido de vírgula: Sempre me lembro
dele ou Sempre lembro-me dele; e pronome reto: Eu te amo ou Eu amo-te.
4. Com os futuros do presente e do pretérito:
a) próclise facultativa – nos casos das regras em 1 e 3.
b) mesóclise obrigatória – para não se iniciar o período.

II. Nas locuções verbais:

1. Com infinitivo ou gerúndio – ou se une ao verbo auxiliar, conforme as regras I,


ou ênclise ao infinitivo ou gerúndio.
2. Com particípio – só se pode unir ao verbo auxiliar, obedecendo às regras I.

 Emprego de pronomes clíticos em mesóclise


(no futuro do presente e do pretérito)

1. pôr o verbo no infinitivo → avisar; vender; repartir


2. acrescentar o pronome → avisar-lhe; vender-lhe; repartir-lhe
3. acrescentar a desinência → avisar-lhe-ei; vender-lhe-ei; repartir-lhe-ei

Na mesóclise, assim como ocorre na ênclise, os verbos terminados em r, s e z perdem a


letra final quando a eles se seguem os pronomes o, os, a e as, que se transformam em
lo, los, la e los:
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Exs.: beijar → beijaremos → beijá-la-emos


convencer → convenceremos → convencê-la-emos
concluir → concluiremos → conclui-la-ems

Os verbos dizer, fazer e trazer fazem os futuros assim: direi, diria; farei, faria, trarei,
traria, mas, com eles, a mesóclise, diferentemente dos demais verbos, não se forma a
partir do infinitivo e sim, do radical: dir-, far- e trar-.

Exs.: Diremos a verdade a todos. → Di-la-emos a todos. → Dir-lhes-emos a verdade.


Fará o pedido ao professor. → Fá-lo-á ao professor → Far-lhe-á o pedido.
Traremos o abaixo-assinado ao diretor → Trá-lo-emos ao diretor → Trar-lhe-
emos o abaixo-assinado.

Para evitar a mesóclise, basta anteceder à forma de futuro (presente ou pretérito) uma
palavra que atraia o pronome:

Exs.: Di-la-emos a todos. → Nós a diremos a todos.


Fá-lo-á ao professor → Ele o fará ao professor.

 Construção de mesóclises

Modo Indicativo

Futuro do Presente Futuro do Pretérito


(expressa um fato que deve ocorrer num tempo (expressa um fato que pode ocorrer posteriormente a
vindouro, com relação ao momento atual.) um determinado fato passado.)

Comprar (1ª. conjugação)


comprarei: comprá-lo-ei compraria: comprá-lo-ia
comprarás: comprá-lo-ás comprarias: comprá-lo-ias
comprará: comprá-lo-á compraria: comprá-lo-ia
compraremos: comprá-lo-emos compraríamos: comprá-lo-íamos
comprareis: comprá-lo-eis compraríeis: comprá-lo-íeis
comprarão: comprá-los-ão comprariam: comprá-los-iam

Vender (2ª. conjugação)


venderei: vendê-lo-ei venderia: vendê-lo-ia
venderás: vendê-lo-ás venderias: vendê-lo-ias
venderá: vendê-lo-á venderia: vendê-lo-ia
venderemos: vendê-lo-emos venderíamos: vendê-lo-íamos
vendereis: vendê-lo-eis venderíeis: vendê-lo-íeis
venderão: vendê-lo-ão venderiam: vendê-lo-iam

Dividir (3ª. conjugação)


dividirei: dividi-lo-ei dividiria: dividi-lo-ia
dividirás: dividi-lo-ás dividirias: dividi-lo-ias
dividirá: dividi-lo-á dividiria: dividi-lo-ia
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dividiremos: dividi-lo-emos dividiríamos: dividi-lo-íamos


dividireis: dividi-lo-eis dividiríeis: dividi-lo-íeis
dividirão: dividi-lo-ão dividiriam: dividi-lo-iam

 Emprego dos particípios duplos

Há verbos que têm duas formas de particípio: uma regular em -ado ou -ido; e outra
irregular, reduzida. Esses verbos são denominados verbos abundantes. Os verbos
abundantes estão perdendo a forma regular, em virtude da preferência pela forma
irregular mais curta.

1. As formas regulares (particípio em -ado ou -ido) são empregadas na voz ativa com os
auxiliares ter ou haver (os tempos compostos):

Exs.: A escola tinha (ou havia) expulsado o menino.


Tenho (ou hei) aceitado muito trabalho.
Tínhamos (ou havíamos) limpado toda a casa.
A secretária tinha (ou havia) imprimido o relatório.
Os bombeiros tinham (ou haviam) salvado o gato.
O povo não tinha (ou havia) elegido Temer.

2. As formas irregulares, particípio curto, reduzido, são usadas na voz passiva com os
Auxiliares ser ou estar:

Exs.: O menino foi expulso pela escola.


O trabalho foi aceito.
Temer não foi eleito pelo povo.
O ladrão foi pego em flagrante.
A roupa já está seca.
O gato estava salvo.

3. A forma irregular varia em gênero e número. A regular fica invariável:

Exs.: Inoculações propositais de varíola tinham matado os índios.


Os índios foram mortos.
Os bombeiros tinham salvado os gatos.
Os gatos estavam salvos.
Eles haviam entregado os documentos.
Os documentos foram entregues por eles.
As secretárias haviam imprimido os relatórios.
Os relatórios foram impressos pelas secretárias.

Observações:

1. As locuções (verbo auxiliar + particípio) não admitem, de modo algum, pronomes


enclíticos.
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2. Os verbos trazer, chegar e empregar têm apenas particípio regular: trazido, chegado
e empregado. As formas trago, chego e empregue não são aceitáveis:

Exs.: O ônibus tinha chegado tarde. (*O ônibus tinha chego tarde.)
O livro foi trazido por mim. (*O livro foi trago por mim.)
A vírgula está empregada erradamente. (*A vírgula está empregue
erradamente.)

2. As formas regulares ganhado, gastado e pagado são evitadas na língua culta. Na


sincronia atual, usam-se: ganho, gasto e pago, com qualquer auxiliar, “sendo que a
última substitui completamente o pagado.”
Contudo, as formas ganhado, gastado e pagado são bastante produtivas, tanto com o
auxiliar ter quanto com o ser. O emprego da forma trago (ao invés de trazido), rechaçada
pela norma, pode se dar por analogia com outras formas irregulares que,
contrariamente, gozam de prestígio (como ganho, gasto e pago).

3. O verbo vir tem como forma de particípio vindo, a mesma do gerúndio. Seus derivados
também: advindo, intervindo, provindo, sobrevindo.

 Verbos que apresentam somente particípio IRREGULAR

De acordo com Cunha e Cintra (1985)1, “há alguns verbos de 2ª e 3ª conjugação que
possuem apenas particípio irregular”, a saber:

 Abrir – aberto (reabrir, desabrir, entreabrir...)


 Cobrir – coberto (descobrir, encobrir, recobrir...)
 Dizer – dito (redizer, desdizer...)
 Escrever – escrito (reescrever, descrever, sobrescrever, subscrever...)
 Fazer – feito (refazer, desfazer...)
 Pôr – posto (antepor, dispor, entrepor, interpor, justapor, pospor,
prepor, propor, repor, sobpor, sobrepor, subpor,
superpor...)
 Ver – visto (rever, antever, prever, entrever...)
 Vir – vindo (provir, advir, intervir, sobrevir...)

1
CUNHA e CINTRA. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985,
p. 429.

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